Revista Leite & Derivados - Edição 158

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ISSN 1807-9733 Nº 158 • Ano XXII Novembro/ Dezembro 2015

Balança, mas não cai Em balanço exclusivo, executivos reconhecem ano difícil, mas enaltecem conquistas do setor Vitrine

Confira os equipamentos que foram destaque em 2015

E 2016?

Analista do Cepea revela o que esperar do próximo ano

Exótico e rentável

Os benefícios de leites incomuns, como de alce, lhama e jumenta




SUMÁRIO

NOVEMBRO/DEZEMBRO 2015

CAPA Principais executivos do setor fazem detalhado balanço sobre 2015

24 Entrevista Analista do Cepea revela o que a indústria láctea deve esperar de 2016

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Internacional Expert brasileiro no mercado

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internacional estreia como colaborador

Espaço Embrapa A importância das questões ambientais na pecuária leiteira

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06Editorial /32Vitrine de Equipamentos /34Produção 49Índice de Anunciantes

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• editorial •

Um momento de reflexão José Danghesi

O ano de 2015 certamente não será esquecido tão cedo pela indústria brasileira. A perigosa combinação entre déficit fiscal, trapalhadas econômicas e oportunismo político travou o País e, sobretudo, carregou o cenário de incertezas para 2016. É impossível prever quando a conjuntura nacional retomará o vigor de anos anteriores. Resta-nos aguardar que, o quanto antes, governo e Congresso entrem finalmente em acordo e aprovem o pacote de medidas que pode recolocar a economia nos eixos. Enquanto as picuinhas políticas seguem travando a retomada do crescimento, sem exceção, todos os setores nacionais foram – em menor ou maior escala – afetados pela perda do poder de compra da população. A questão é avaliar o tamanho do rombo. E, sobretudo, como cada segmento tem se reinventado para superar a crise político-econômica. É nessa linha de reflexão que construímos boa parte desta edição. A partir de uma reportagem que envolveu um complexo trabalho de apuração, realizado ao longo dos últimos meses, a repórter Thais Ito fez um balanço fundamental sobre o mercado lácteo brasileiro em 2015.

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Dezenas de executivos, especialistas e entidades fizeram sua avaliação sobre a conjuntura atual. E a conclusão é realista e, por que não, otimista: se o setor sofreu com os efeitos da crise, ele soube encontrar novas oportunidades e preparar boas bases para 2016. Algumas chances, entretanto, ainda precisam ser melhor aproveitadas. Como detalha uma profunda avaliação de nosso novo colaborador Bernhard J. Smid, um dos maiores especialistas brasileiros no mercado lácteo internacional, o setor tem desperdiçado grandes oportunidades de ampliar sua exportação, sobretudo após o embargo da Rússia aos principais países produtores de leite. O material, cuidadosamente levantado por Smid, faz um balanço imperdível sobre cada região importadora de lácteos. Esperamos, assim, que possamos contribuir com a sólida evolução do setor em 2016. Tenham todos um excelente final de ano. Boa leitura e aproveitem as festas!

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Colaboradores: Leo Martins, Emerson Freire, Ricardo Torres, Marcus Vinícius Alves, Marcelo Tárraga, Marcela Gava CONSELHO EDITORIAL Adriano G. da Cruz, Alex Augusto Gonçalves, Anderson de S. Sant’Ana, Ariene G. F. Van Dender, Carlos Augusto Oliveira, Célia Lucia L. F. Ferreira, Douglas Barbin, Glaucia Maria Pastore, Guilherme A. Vieira, Jesuí V. Visentainer, José Alberto B. Portugal, José de Assis Fonseca Faria, José Renaldi F. Brito, Lincoln de C. Neves Fº, Luiza C. Albuquerque, Marcos Fava Neves, Nelson Tenchini, Paulo Henrique F. da Silva, Ricardo Calil, Susana Marta Isay Saad, Walkiria H. Viotto PERIODICIDADE: Bimestral (mensal em julho e agosto)

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N O V EMBRO /D E Z E MBRO 2015

• Entrevista •

O setor equilibrista Thais Ito

O

status de imprescindível tem resguardado certo privilégio ao leite frente às dificuldades vividas em outros setores. No entanto, o cerco vem se fechando e pressionando sua imunidade, tanto no que se refere aos produtores quanto à indústria. Esse é um dos assuntos elucidados em entrevista exclusiva com Wagner Hiroshi Yanaguizawa, analista do mercado de leite no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Yanaguizawa também aborda o histórico do preço pago ao produtor: apesar de apresentar uma recuperação desde o início de 2015, ele registra um patamar abaixo da média nos últimos 10 anos. O que se vive hoje, explica o analista, é consequência do desempenho positivo de 2013, que gerou um estoque incapaz de ser absorvido pelo mercado. Neste ponto, a estiagem que tanto prejudicou a agropecuária na virada do ano passado foi positiva, pois evitou que a produção se acumulasse ainda mais. Ao traçar uma ampla análise do setor, o especialista do Cepea elenca fatores que contribuíram para o avanço de mais de 80% da produção na região Sul, como a pre-

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Wagner Hiroshi Yanaguizawa, analista do mercado de leite no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP

sença intensa da propriedade familiar. Yanaguizawa também aponta a ausência de assistência técnica como o maior gargalo do setor. E, por isso, acredita que o Programa Leite Saudável do Governo Federal pode dar um novo rumo ao mercado.


Entre altos custos, baixa demanda e previsรฃo de queda de preรงos, analista do Cepea avalia perspectivas do cenรกrio lรกcteo

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• Entrevista • Em relação à balança comercial, ele explica que o saldo positivo recente, alcançado em julho, foi impulsionado pelo fortalecimento do dólar ante o real e pela conjuntura internacional. Mas atenta: “A balança comercial do volume ainda é negativa, ou seja, ainda somos importadores de leite”. Confira a entrevista completa com Wagner Hiroshi Yanaguizawa, analista do Cepea, e entenda por que os preços do setor devem cair em 2016.

Em um balanço geral, como foi 2015 para o setor lácteo brasileiro?

O consumo teve uma grande redução este ano, trazendo menores margens para a indústria e o atacado

Este ano está sendo bem complicado para o setor como um todo. Do lado do produtor, os custos de produção só têm aumentado, principalmente, por conta da crise energética, que elevou os gastos com energia (em algumas regiões o reajuste chegou a mais de 100%). Os combustíveis também tiveram grandes reajustes e influenciaram nos custos. Com relação aos insumos, os que têm maior ponderação no COE (Custo Operacional Efetivo), de aproximadamente 40%, são os concentrados (milho e farelo de soja), que nos últimos meses têm registrado grandes aumentos nos preços de venda. Além disso, o preço de outros insumos, como medicamentos, suplementação mineral e adubos fosfatados, sofreu influência do dólar.

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Por parte da indústria, a crise econômica que o País enfrenta tem reduzido consideravelmente o consumo de alguns derivados lácteos. Temos um estudo sobre elasticidade-renda que demonstrou que o consumo de muitos derivados está atrelado diretamente ao seu poder de compra. Portanto, ele tem comportamento igual ao da carne vermelha: se o consumidor está com o seu poder de compra fragilizado, dará preferência ao consumo de carnes de suínos e frangos, pois são mais baratos. Para os derivados de leite, o consumidor deixará de comprar queijo, iogurte, etc., ou substituirá por uma marca mais barata. Assim, o consumo teve uma grande redução este ano, trazendo menores margens para a indústria e o atacado.

A região Sul tem se destacado em termos de elevação de produção: entre 2003 e 2014, produziu 88,5% a mais, enquanto a região líder do Brasil, a Sudeste, registrou crescimento de 30,1%. O que cada região vem apresentando de avanços em relação à produção leiteira?

Os investimentos que vêm ocorrendo na atividade desde o final de 2013 têm contribuído com os avanços de produção e produtividade de leite. Como o Brasil é um país


continental, o tipo de manejo dos animais e da propriedade pode ter grande diferença quando comparamos regiões distintas. O aumento de produção na região Sul, na minha opinião, está atrelado às condições edafoclimáticas favoráveis para a atividade leiteira e, principalmente, com relação à raça Holandesa, que é predominante na região. A raça Holandesa é considerada de aptidão para leite, porém, por ser de origem europeia, ela consegue se adaptar melhor ao clima da região Sul. No sudeste do estado, o produtor tem que utilizar um cruzamento de raças Holandesas com Zebuína (Raça Gir é a mais comum), que gera o padrão Girolando. É necessário esse cruzamento com Gir, pois é uma raça com resistência a condições de estresse térmico, algo fundamental para essa região. Os solos de melhor qualidade e, consequentemente, mais caros dos estados do Sul, geram uma maior competitividade no setor (também com a agricultura), o que pode ter contribuído para o aumento de produção. Também no Sul, a produção familiar é muito mais intensa, uma vez que as propriedades típicas são bem menores quando comparadas com o Sudeste. Com isso, o proprietário participa mais ativamente da tomada de decisões, o que reflete diretamente na qualidade e quantidade de leite produzido.

Quais as perspectivas para a produção em 2016? No Cepea nós não trabalhamos com previsão, mas, pelo que tem acontecido neste ano, acredito que a melhora no setor como um todo só irá começar a acontecer quando a situação econômica e financeira do País melhorar, o que ainda é muito incerto.

No Sul, a produção familiar é muito mais intensa. Com isso, o proprietário participa mais ativamente da tomada de decisões

A variação de preços médios pagos ao produtor em 2015 tem acompanhado a mesma oscilação entre 2004 e 2014, mas abaixo dos valores dos últimos anos. Como explicar o cenário de preços de 2015?

Para explicar este cenário é preciso retomar o que vem acontecendo desde 2013. Brevemente, 2013 foi um ano de demanda bastante aquecida para o setor. Com isso, o preço conseguiu se sustentar em patamares bastante elevados quando comparados com os anos anteriores (foi recorde de preços na nossa série histórica). Dessa forma, o produtor conseguiu se capitalizar e percebemos que, nacionalmente, isso resultou em investimentos dentro da atividade, seja na compra de animais com melhor genética, na reforma das pastagens ou na compra de produtos de melhor qualidade.

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• Entrevista • Estas melhorias levaram a um grande aumento de produção e produtividade em 2014. O nosso ICAP-L (Índice de Captação de Leite) registrou um aumento de aproximadamente 11% na captação de leite por parte das indústrias naquele ano. Como o mercado não estava preparado para absorver todo este aumento de oferta, a indústria começou a acumular estoques e, com isso, os preços caíram por nove meses consecutivos (de junho/14 a fev/15) até que os estoques se regularizassem. A queda de preços por um período muito longo explica os patamares de preços tão baixos neste ano. E mesmo no período de entressafra, quando os preços pagos ao produtor se recuperam, ainda não foi possível atingir os mesmos patamares de 2013/2014. A situação só não foi pior porque o período de estiagem no final de 2014 e início de 2015 impediu uma maior produção de leite (as pastagens não receberam chuvas e não conseguiram se desenvolver o suficiente para suprir as necessidades alimentares dos animais), o que poderia saturar ainda mais o mercado.

Preços médios pagos ao produtor - “Média Brasil” (MG, PR, RS, SC, SP, GO e BA) Valores reais – R$/litro (deflacionados pelo IPCA Set/15) 2013 1,25

R$/ Litro

1,15

2012

1,05 0,95

2010

0,85 0,75 Fonte: Cepea-Esalq/USP

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O que esperar dos preços em 2016? Que fatores devem influenciá-los? Novamente, não trabalhamos com previsão. Porém, existe uma sazonalidade anual no comportamento dos preços do leite pago ao produtor. Seguindo essa lógica, o período em que estamos (outubro) é de chuvas em grande parte do Sudeste e Centro-Oeste. Então, já é esperado pelo mercado um aumento na oferta de leite. Se a oferta aumenta, tende a ocorrer quedas nos preços. Foi o que começou a acontecer desde setembro/15 e tende a se prolongar até o final do primeiro trimestre do ano que vem, quando o período das águas termina e começa a entressafra. Paralelo a isso, em dezembro, janeiro e parte de fevereiro é período de férias escolares. Com isso, o consumo de leite em pó (item da merenda) tem redução, o que contribui para as quedas de preços.

Ainda em relação às perspectivas de preços pagos ao produtor, como elas devem impactar o setor de derivados? De uma forma geral, a maioria dos derivados acompanha o preço da matéria-prima que é comprada pela indústria. Como estamos em período de queda de preços, a tendência é que os derivados sigam o mesmo comportamento. Vale lembrar que existem fatores regionais de oferta e demanda que podem dar um comportamento diferente para esses preços. Mas como não trabalhamos com previsão e o momento econômico está muito incerto, não me sinto seguro para passar mais alguma informação sobre essas perspectivas.


O Mapa lançou em setembro o Programa Leite Saudável, que pretende capacitar 80 mil pequenos produtores de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Qual é a importância desta e de outras iniciativas do primeiro ano de gestão da ministra Kátia Abreu?

Após 15 meses de déficit, o leite brasileiro registrou resultado positivo na balança comercial em julho deste ano. O que possibilitou essa retomada? O principal fator que contribuiu para a balança comercial positiva foi a desvalorização do real frente ao dólar. Com isso, o produto nacional ganhou mais competitividade no mercado internacional, aumentando as vendas. Agosto e setembro apresentaram quedas de importação e exportação, causando uma queda nesse saldo positivo. O balanço do mês de julho, então, foi o grande responsável por essa mudança, pois foi quando as importações caíram 14,8% em volume e 9,2% em valor monetário, com relação ao mês anterior. Isto ocorreu devido aos aumentos de produção nos principais países do mundo, o que tem gerado quedas consecutivas no preço do leite em pó (principal produto importado). Já as exportações cresceram 110% em volume e 105% em valor monetário, um aumento de 120% em volume de leite em pó e 192% de leite condensado. Os dois principais mercados foram Venezuela (86%) e Angola (2,7%). Vale lembrar que o saldo positivo da balança desde julho é com relação à receita. A balança comercial do volume ainda é negativa, ou seja, ainda somos importadores de leite.

Pensando no lado do produtor de leite, o maior gargalo da atividade está na ausência de assistência técnica

Nós, do Cepea, vamos todos os anos a campo fazer coleta de dados primários de custo de produção e, com isso, temos contato direto com muitos produtores. Pensando no lado do produtor de leite, o maior gargalo da atividade está na ausência de assistência técnica para o produtor. Os pequenos produtores, que possuem grande importância na produção nacional, são muito carentes de informação técnica e de mercado. Ao mesmo tempo, um aumento de produção demanda um esforço muito menor por parte deles, quando comparado a produtores considerados grandes. Como a média de produção por vaca no Brasil ainda é muito baixa (4,2 litros segundo a Produção de Pecuária Municipal-2014), fica claro o grande potencial de produção que ainda temos que explorar. Com isso, este programa poderá contribuir para esse desenvolvimento.

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• Entrevista • Ainda em relação a exportações, que fatores podem ser decisivos para garantir um desempenho positivo do Brasil em 2016? Não trabalhamos com esta previsão.

Apesar da onda pessimista na conjuntura nacional, a indústria de leite Longa Vida, por exemplo, estima encerrar o ano com crescimento de 1,5% de vendas. Podemos dizer que

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o mercado lácteo é mais resistente que outros? Este ano, o setor lácteo está sendo atingido pela crise, como várias outras commodities. Porém, o leite UHT, por ser um item da cesta básica, consegue manter um patamar de demanda mais elevado quando comparado com outros lácteos. Mas o consumo de queijos, manteiga, iogurtes e leite em pó vem caindo consideravelmente, como relatam nossos colaboradores desde o início do ano.


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• Internacional •

Perspectivas do setor lácteo no mercado internacional O Brasil e o mundo após o embargo russo a produtos lácteos, e as consequências no comércio exterior Bernhard J. Smid*

O

ano de 2014 foi especialmente dinâmico para o setor lácteo brasileiro, que teve um crescimento significativo de vendas ao exterior em comparação com os anos anteriores. Este aumento deve-se a condições favoráveis para a produção de leite, sobretudo no que se refere a condições climáticas adequadas, baixo custo dos insumos e preços internacionais favoráveis. Entretanto, 2014 também foi marcado por decisivas mudanças políticas internacionais, que influenciaram diretamente o comércio de lácteos. No segundo semestre de 2014, o setor teve importantes ocorrências, como o embargo da Rússia a produtos da União Europeia, Estados Unidos, Austrália, Canadá e Noruega. Este aspecto é extremamente relevante, uma vez que a Nova Zelândia e a União Europeia são os principais produtores do setor, responsá-

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veis por quase 50% do comércio internacional – os Estados Unidos, com cerca de 15% das exportações, estão em terceiro. Na outra ponta, no que se refere às importações, a China e a Rússia têm sido os principais compradores. O embargo russo, assim, acarretou em significativas mudanças comerciais. A produção dos tradicionais exportadores para o país precisou ser absorvida pelo mercado local, resultando na redução do valor do produto a fim de estimular o consumo. Alternativamente, os principais produtores tiveram que buscar outras soluções, como ampliar as vendas a outros mercados. É importante destacar que o embargo russo “sacolejou” os preços internacionais e desequilibrou o mercado global. Na Europa, até antes do embargo russo, o preço médio


do leite por 100 quilos era de 36,97 euros (US$ 41,46); e, em julho de 2015, caiu para 29,70 euros (US$ 33,31). No que se refere à Rússia, o embargo fez com que o país buscasse outros fornecedores de lácteos. Assim, o Brasil foi visto como possível solução dos problemas. Entretanto, as primeiras vendas brasileiras para os russos aconteceram somente no fim do ano, uma vez que as plantas nacionais precisavam cumprir às exigências fitossanitárias locais. Havia, ainda, a necessidade de conhecer detalhes da demanda desse mercado, além de realizar as primeiras transações comerciais. O mercado russo é, sem dúvida, uma oportunidade para a ampliação das exportações brasileiras. Porém, quando se analisa estrategicamente, há a necessidade de con-

siderar-se algumas variáveis. A principal, nesse caso, é o questionamento de até quando haverá o embargo. E, consequentemente, se as empresas brasileiras que estão exportando à Rússia terão futuramente de competir com os produtos dos países embargados. Ao se fazer uma análise estratégica quanto a potenciais mercados externos, há de considerar-se também a evolução das importações de cada país, além de aspectos de grande relevância e que frequentemente são menosprezados, como acordos bilaterais, tendências de consumo e logística. Para a elaboração de uma estratégia de médio e longo prazos, as empresas brasileiras precisam considerar as características de diversos países. Considerando este aspecto, no que se refere às importações de lácteos, a Ásia e o Oriente Médio são regiões de grande destaque. Há, assim, uma crescente demanda na China, Irã, Indonésia e Filipinas, apesar da recente retração das compras

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• Internacional • chinesas, que pode ser considerada temporária. Também merecem atenção os mercados de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Japão, Singapura, Malásia e Tailândia. Fora do eixo Ásia-Oriente Médio, Argélia, África do Sul e Gana são potenciais mercados estratégicos. Apesar do crescimento da população mundial, a produção de leite deverá cair ligeiramente até 2024, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Estima-se, ainda, que 75% do aumento da produção ocorrerá em países em desenvolvimento, mas, ao invés da elevação de rebanhos, projeta-se o crescimento da produtividade. Em comparação com a década anterior, esse aumento é uma mudança de paradigma, uma vez que a expansão ocorrida no passado consistia, basicamente, na ampliação do rebanho leiteiro. Observando o contexto internacional, a Índia deve ser a maior produtora de leite em 2024. Já o Brasil, mesmo com o aumento de produção, estará em 7º lugar, atrás de Rússia, Paquistão, China, EUA, Índia e União Europeia. Segundo as expectativas internacionais, é estimada uma expansão do comércio de lácteos até 2024. A OCDE, por exemplo, projeta crescimento anual do consumo de manteiga (1,6%), queijo (2,2%), leite em pó desnatado (2,8%) e leite em pó integral (2,4%). Entre os exportadores, Estados Unidos, União Europeia, Nova Zelândia e Austrália deverão ser responsáveis, juntos, pela exportação de 73% do queijo, 80% do leite em pó integral, 85% da manteiga e 87% do leite em pó desnatado. Estimativa da produção de leite no período de 2012-2014 e 2024 2013-14

2024

União Europeia Índia Estados Unidos China Paquistão Federação Rússia Brasil Nova Zelandia Turquia Ucrânia México Argentina Austrália Canadá Japão Colômbia 0

25

50

75

100

125

150

175

200

225 Mt

Source: OECD/FAO (2015), “OECD-FAO Agricultural Outlook”, OECD Agriculture statistics (database), http:// dx.doi.org/10.1787/agr-outl-data-en. – StatLink: http:/dx.doi.org/10.1787/888933229531

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// Leite em pó integral A importação de leite em pó integral teve alguns destaques nos últimos anos: China, Argélia e Emirados Árabes Unidos. Ao analisar estes países, buscando incrementar as exportações brasileiras, há de considerar-se alguns aspectos importantes: 1. a influência de políticas governamentais / estrutura política do país; 2. a existência de acordos bilaterais entre os países importadores e exportadores, que refletem diretamente no preço do produto comercializado; 3. a identificação dos principais países produtores e a sua evolução no comércio internacional; 4. a potencialidade de outros mercados próximos aos mercados-alvo; 5. a logística necessária para a concretização das vendas; 6. os aspectos culturais e religiosos que podem refletir no consumo. No caso da China, apesar de ser produtor de lácteos, o país tem tido uma crescente demanda. Nos próximos anos, estima-se que ele continuará a ser o principal comprador mundial, porém, a taxas bem mais modestas do que em comparação à última década. É importante destacar que o produto lácteo chinês não é considerado de grande qualidade, fazendo com que o importado seja bem aceito. Entretanto, estima-se que ocorra a reestruturação do setor, possibilitando uma redução da demanda chinesa pelo produto estrangeiro. Em relação às oportunidades


de exportação brasileira à China, é importante observar que ela possui um acordo comercial com a Nova Zelândia, o que facilita as negociações entre as empresas dos dois países. Adicionalmente, em termos logísticos, a proximidade entre eles é um fator favorável ao se comparar com o Brasil. Localizada em uma região inóspita para a produção de lácteos, a Argélia compra uma quantidade significativa para suprir sua demanda. Em termos comerciais, é preciso considerar seus elos históricos e culturais com a França, resultando na proximidade comercial entre os dois países. É importante destacar, ainda, sua estrutura política, tradicionalmente fechada às relações internacionais. Mas, aos poucos, vem ocorrendo uma abertura internacional. Os Emirados Árabes Unidos, por sua vez, apresentam uma estrutura extremamente favorável ao comércio internacional, o que faz com que seja um hub para outros países da região. Seu governo, por exemplo, tem um claro posicionamento favorável ao comércio e à atração de novos negócios, enquanto a grande internacionalidade de sua população facilita a entrada dos importados. Outros países de destaque na importação de leite em pó são: Singapura, Omã, Sri Lanka, Indonésia, Filipinas e Nigéria. No caso do Brasil, que historicamente tem sido um importador do produto, estima-se que as compras sejam significativamente diminuídas em detrimento da crescente produção doméstica, elevada por programas voltados ao produtor rural. No que se refere aos principais produtores de leite em pó integral, a exportação tem sido liderada pela Nova Zelândia, cujo volume deve continuar crescendo nos próximos anos. Entretanto, segundo estimativas da FAO, a participação deve cair consideravelmente na Europa, que enfocará outros produtos, e na Argentina, devido à queda na produção. Segundo a OCDE, até 2024, a Nova Zelândia será responsável por 56% do mercado internacional de leite em pó integral.

// Leite em pó desnatado A expectativa futura é de crescimento na comercialização internacional do leite em pó desnatado. Apesar das variações recentes quanto aos principais importadores, a tendência é de que os mercados continuem a crescer na

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• Internacional • China, México, Indonésia, Rússia, Argélia, Filipinas e Malásia. Em menor ritmo, há também a expectativa de aumento para Vietnã, Arábia Saudita, Egito, Tailândia e Singapura. Aproximadamente 70% do leite em pó desnatado vendido no mundo é proveniente dos Estados Unidos, Europa e Nova Zelândia. Entretanto, destaca-se o rápido crescimento da Índia. Para 2024, as projeções indicam que Estados Unidos e União Europeia serão responsáveis por, respectivamente, 32% e 30% das exportações. Já a principal demanda virá de países em desenvolvimento.

// Manteiga A demanda internacional por manteiga é tradicionalmente proveniente de Rússia (o maior consumidor mundial), sudoeste da Ásia e Oriente Médio (Arábia Saudita e Irã). A China também tem comprado consideráveis quantidades, da mesma forma como outros produtos lácteos, mas essa demanda tem oscilado. A Nova Zelândia é o principal exportador mundial de manteiga. Em segundo lugar está a União Europeia, que tanto importa como exporta. Antes do embargo, as importações provenientes da Rússia equivaliam a aproximadamente 25% do total negociado pela UE, que migrou suas vendas para o Oriente Médio e o norte da África, com um aumento de quase 70%. É importante notar que, antes do embargo, os Estados Unidos eram o principal fornecedor de manteiga para essas regiões. Já a Rússia tem aumentado sua produção local, o que deve levar futuramente a um declínio de suas importações. Por outro lado, estima-se o aumento de compra por China, Arábia Saudita e Egito. De acordo com a OCDE, a Nova Zelândia deverá continuar como líder mundial na exportação de manteiga, correspondendo a 48% do mercado em 2024, embora projete-se um incremento da participação de outros países.

// Queijos Aproximadamente 40% da demanda internacional de queijos é proveniente de Rússia, Japão, Estados Unidos e Arábia Saudita. Com o embargo russo em 2014, porém, o mercado sofreu significativa alteração.

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Até meados de 2014, a União Europeia era responsável por suprir 33% da demanda internacional (excluindo deste total o volume de queijos negociado entre os países do próprio bloco). Apenas para a Rússia, a UE respondia por um terço das vendas. Com o início do embargo, no entanto, a produção inicialmente destinada aos queijos foi transferida para leite em pó e manteiga. Ainda assim, até 2024, a OCDE estima que a União Europeia será responsável por 38% das exportações de queijo. Desta forma, as vendas europeias devem crescer aproximadamente 4% ao ano, seguidas pelas de Estados Unidos (3,5%), Austrália (3,4%) e Nova Zelândia (2,4%). Há, ainda, uma tendência de que o consumo de queijo aumente, principalmente nos países em desenvolvimento, a uma média de 3,6% ao ano. A expectativa nos países desenvolvidos é de um crescimento inferior, correspondendo a cerca de 0,4% ao ano até 2024.

// O embargo e o Brasil Com o embargo russo, estimava-se que a Rússia substituiria a demanda de produtos lácteos por países menos tradicionais. Nesta categoria, enquadravam-se Brasil e Índia. Porém, apesar de terem ocorrido vendas, as negociações não refletiram a expectativa gerada. As minguadas exportações brasileiras para a Rússia são, sem dúvida, um sinal de alerta, tanto para as autoridades governamentais que estão promovendo a inserção dos produtos lácteos no exterior, quanto às associações que representam os interesses dos produtores e exportadores. Mesmo com a possibilidade de vender a um novo mercado, e com o diferencial de estar sem a concorrência dos principais produtores mundiais, as exportações brasileiras estão muito abaixo do esperado.


Exportações de produtos lácteos para a Rússia provenientes do Brasil 2014

2015 (jan a out)

Produtos Valor FOB

Volume

Valor FOB

Volume

Manteiga

3.070.982

838.400

387.030

182.000

Queijos fundidos

0

0

802.428

176.529

Queijo Roquefort

0

0

162.659

27.523

Queijo de massa semi-dura

0

0

30.898

4.640

Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor

No Oriente Médio, o destaque quanto às exportações brasileiras é o creme de leite (concentrado e adocicado), que tem sido vendido particularmente à Arábia Saudita, Emirados Árabes, Kuwait e Omã. Destes, é notório o crescimento à Arábia Saudita e a contínua expansão ao Catar.

Exportações de produtos lácteos para o Oriente Médio provenientes do Brasil

Cremes de leite (concentrado e adocicado)

Produto / País

2010

Arábia 1.502.562 Saudita

2011 1.174.388

2012

2013

2014

2015 (jan - out)

7.745.036 11.766.950 11.993.788 10.178.756

Barein

392.171

459.633

484.006

567.566

566.165

460.433

Catar

526.240

668.947

707.531

814.057

1.020.671

722.764

1.568.672

1.296.250

1.476.582

1.842.967

1.258.489

Kuwait 1.486.390 UAE

1.748.023

2.255.264

2.072.451

2.625.918

2.691.049

2.404.941

Iraque

35.514

0

0

0

0

0

Jordânia

343.676

426.738

0

78.990

36.180

0

0

0

450.600

0

0

Líbano 1.490.549 Omã

397.465

427.153

617.611

512.691

715.992

581.312

Síria

829.181

789.611

0

0

0

0

Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor

Ainda no Oriente Médio, observa-se uma significativa retração na presença da manteiga brasileira, não ocorrendo exportação em 2015 (até outubro), apesar das vendas em 2014 terem alcançado o montante de US$ 3.737.827,00. A significativa retração é um provável reflexo da maior participação do produto europeu, que buscou no Oriente Médio uma alternativa após o embargo russo. Exportações de produtos lácteos para o Oriente Médio provenientes do Brasil Produto / País 2010

Manteiga

Fica, então, a pergunta: onde é que as entidades e profissionais do setor estão falhando? Sem dúvida, houve toda uma burocracia para adequar as plantas produtoras às exigências russas, o que fez com que as primeiras exportações ocorressem somente no final de 2014. Porém, as vendas em 2015 não decolaram. É notória a necessidade de trabalhar as oportunidades externas de forma responsável e cuidadosa, estudando as demandas e os hábitos da população, o mercado local e a identificação de possíveis parceiros. Sem isso, por melhor que sejam, as oportunidades podem não render resultados concretos.

2011

2012

2013

2014

2015 (Jan - out)

Arábia Saudita

268.335

676.676

0

0

400.000

0

Barein

47.765

0

0

0

1.250.830

0

Catar

161.122

0

86.667

0

94.371

0

Kuwait

1.648.545

1.429.986

144.247

103.674

585.117

0

UAE

200.000

0

0

0

491.165

0

Iêmen

2.001.163

231.687

415.275

182.923

839.466

0

Jordânia

279.725

82.800

0

0

76.878

0

Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor

21


N O V EMBRO /D E Z E MBRO

2015

• Internacional • A África é um mercado promissor para os produtos brasileiros, particularmente para o leite condensado, que tem aumentado a penetração em diversos países. Um exemplo é Angola, que tem sido um importante comprador. Entretanto, houve retração dos principais produtos

comercializados internacionalmente: leite em pó e manteiga. Também na África verifica-se o aumento da presença dos produtos europeus e, consequentemente, a retração dos brasileiros.

Exportações de produtos lácteos para a África provenientes do Brasil Produto / País

Leite em Pó Integral

Leite condensado

2010

2012

2013

2014

2015 (Jan - out) 64.214

Angola

331.535

24.524

4.299

6.731

191.773

Argélia

8.431.800

4.306.500

0

0

32.683.550

0

Congo

0

0

0

0

124.300

0 0

Costa do Marfim

0

0

0

0

492.000

Egito

0

0

0

0

3.910.000

0

Guiné Equatorial

285.464

594.573

397.524

549.133

310.233

55.128

Moçambique

174.000

0

0

300

0

0

Nigéria

0

0

0

0

245.000

0

Senegal

940.317

0

0

0

229.514

0 9.691.084

Angola

10.540.140

10.221.747

10.237.740

9.985.689

10.697.526

Argélia

231.318

45.471

0

0

0

0

Cabo Verde

28.714

4.686

0

0

0

32.053

Benin

0

0

0

0

46.842

0

Egito

0

0

0

0

232.414

130.117

Guiné Equatorial

2.083.960

3.497.341

2.160.801

1.117.217

194.897

184.796

Líbia

0

0

0

88.102

567.660

619.048

Maurício

199.161

363.588

261.457

353.704

344.580

46.116

África do Sul

0

58.200

96.768

93.744

0

0

Togo

0

0

0

0

0

139.866

Tunísia

2.009.841

2.444.574

1.770.590

1.888.891

1.827.194

743.975

Angola

0

0

0

16.162

2.095

2.340

Costa do Marfim

0

0

0

0

210.000

0

Egito

5.713.258

330.970

742.753

0

7.870.387

1.828.119 0

Marrocos

1.443.530

856.582

192.528

0

0

Butter Oil

Argélia

0

4.169.700

814.411

578.295

6.475.073

0

Queijo Mussarela

Angola

304.764

286.519

643.392

597.104

565.728

345.914

Gana

312.029

665.257

470.753

486.144

809.741

280.562

Requeijão

Angola

165.329

15.226

110.502

10.053

30.608

19.715

Queijos ralados

Angola

1.609

995

1.901

0

0

0

Cabo Verde

0

0

0

0

1.788

936

Angola

0

0

6.479

2.547

2.911

0

Angola

0

0

0

0

1.124

0

Angola

8.857

7.407

19.523

22.733

32.049

30.932

Angola

807.304

634.489

368.056

346.241

389.648

95.444

Angola

23.954

19.657

96.824

87.880

67.947

0

Angola

4.368

10.439

481

3.292

12.479

9.724

Queijos fundido Queijo roquefort Queijos massa dura Queijos massa semi-dura Queijos massa macia Doce de Leite

Fonte: Aliceweb, MDIC. Compilação: O Autor

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2011


É necessário destacar que, no comércio exterior, não se deve vender de forma negligente, ou seja, sem continuidade anual. Deve-se organizar-se de maneira estruturada e promover os produtos no mercado-alvo, ampliando visibilidade e alavancando novas oportunidades. Esse trabalho bem estruturado é o que está faltando para o Brasil crescer nas vendas externas, afinal, se não é realizado marketing e promoção comercial, quem vai comprar um produto desconhecido em um mercado atendido por outros produtos de boa qualidade e de reconhecimento internacional? É necessário, assim, um trabalho bem estruturado para que o Brasil seja competitivo no mercado internacional.

* Bernhard J. Smid, profissional da área de comércio exterior, é consultor sênior na área de promoção comercial internacional, prospecção e desenvolvimento de novos mercados, representação de interesses setoriais e empresariais. Atua como diretor comercial internacional na empresa Allinkd. Academicamente, é graduado em comércio exterior, possui mestrado em negócios internacionais pela Munich Business School (Alemanha) e MBA em comércio exterior e negociações internacionais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Residente em Brasília, Bernhard pode ser contatado nos telefones (61) 9229-5099 ou (61) 3053-0275, eMails: bsmid@allinkd. com ou bernhardsmid@yahoo.de. LinkedIn: https:// br.linkedin.com/in/bsmid

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N O V EMBRO /D E Z E MBRO

2015

• Capa •

O ano do desafio Em balanço exclusivo, especialistas, técnicos e executivos do setor traçam um panorama sobre o turbulento ano de 2015 Thais Ito

D

esafiador. É assim que o mercado lácteo define 2015. Pudera: inflação atingindo 8,5% (entre janeiro e outubro), incertezas nos planos econômico e político, dólar batendo a casa dos R$ 4. Embora o real desvalorizado favoreça a receita das exportações, também eleva os custos de produção. As margens, assim, estão pressionadas. Mas nem tudo é uma tragédia. O setor lácteo vem encontrando meios de driblar o pessimismo, conforme apontam depoimentos de representantes do setor, e pode até se beneficiar pelas mudanças de hábitos alimentares que a conjuntura impulsiona. Segundo uma pesquisa da Kantar Worldpanel, neste ano, os brasileiros alteraram seus padrões de consumo e deram prioridade à categoria de leites e derivados. Os lácteos, que ocupavam a 12a posição da pirâmide alimentar observada em 2008, agora são responsáveis pelo 3o maior gasto da alimentação doméstica. Pode ser uma oportunidade para chamar a atenção de quem está priorizando o setor. “O desafio é adequar seus custos ao preço que o consumidor pode pagar pelo seu produto. Como? Criatividade, economia, gestão”, desafia César Helou, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV). Mesmo em um ano adverso, a entidade estima um incremento de 1,5% na produção de leite UHT.

24

Se o ano foi difícil, ele trouxe também grandes novidades, como o lançamento do Programa Leite Saudável. Com um pacote de R$ 387 milhões, a iniciativa busca melhorar a competividade do setor por meio de ações em sete eixos - assistência técnica gerencial, melhoramento genético, política agrícola, sanidade animal, qualidade do leite, marco regulatório e ampliação de mercados - com 80 mil produtores de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O setor está com água na boca. 2015 também foi marcado pelo fortalecimento do segmento “zero lactose”. A categoria, segundo dados da Tetra Pak, cresceu 64% neste ano em relação a 2014. Outra tendência, anunciada pela Mintel para 2016, vem ganhando fortes contornos no Brasil: produtos com uma história legítima para contar. “É uma tendência redes de supermercado venderem produtos artesanais porque consumidores querem cada vez mais produtos com histórias, ‘de origem’”, afirma Fernando Oliveira, dono da loja de queijos artesanais A Queijaria. Prova disso é a recente contratação de Oliveira pelo Grupo Pão de Açúcar para selecionar produtores brasileiros que fornecerão queijos artesanais à rede. “Consumidores têm flertado com a origem dos produtos, ingredientes e histórias inspiradoras”, explica Jenny Zegler, analista da Mintel. A demanda - ou, ao menos, a curiosidade - existe: neste ano, a feira de queijos artesanais promovida por A Queijaria atraiu cerca de 20 mil visitantes em um sábado paulistano, segundo os organizadores. É um setor que definitivamente pode crescer. “Boas práticas têm ajudado produtores a valorizar seus produtos em 30% ao ano”, garante Oliveira. Entre oportunidades e dificuldades, 2015 foi, afinal, um bom ano para o mercado lácteo? Confira relatos de algumas das principais referências do setor.


“O setor de sorvetes contribui positivamente para a economia brasileira, uma vez que gera 80 mil empregos diretos, possui um faturamento anual de US$ 6 bilhões e compreende oito mil empresas, sendo 90% micro e pequenas empresas. Entre 2003 e 2014, o consumo aumentou 90,5%, passando de 685 milhões de litros para 1,305 bilhão de litros, um crescimento acima da média de outros setores. Porém, esta tendência de aumento no consumo e no volume de produção tende a mudar este ano devido à queda no poder aquisitivo do consumidor e à alta nos custos de produção. Até outubro, são notados momentos de retração. Para fechar o ano com saldo positivo, é necessário apostar em criatividade, inovação e redução de custos para aproveitar o verão, período em que as vendas aumentam consideravelmente.”

divulgação

Freada congelante

Eduardo Weisberg, presidente da Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS)

“O cenário econômico de 2015 foi de incertezas, porém trouxe oportunidades, principalmente relacionadas à exportação. Geralmente o setor de alimentos sofre menos na crise e, por isso, prevemos um crescimento no volume de vendas. Tivemos importantes lançamentos neste ano, como as embalagens termoformadas para o Minas Frescal e a nossa Linha Zero Lactose. Essa linha foi criada para atender a uma demanda crescente no mercado, já que muitos consumidores eram obrigados a abrir mão do prazer e da nutrição proporcionados pelos queijos devido à intolerância à lactose. Outro fator importante foram as exportações, principalmente para a Rússia, que desde julho abriu espaço para o mercado de lácteos do Brasil. As negociações estão aquecidas e os embarques também avançam.

divulgação

Oportunidades

Gabriela Colombo, gerente de marketing da Tirolez

divulgação

Cifras que importam “No geral, em 2015, acreditamos que foi e será um ano de redução de consumo e, por consequência, de uma provável redução de margens de todos os setores. As indústrias também sofrerão pelo aumento de custos, principalmente os financeiros. Na nossa área de atuação, de produtos importados, a desvalorização do real produzirá os mesmos efeitos acima mencionados.”

Luciano Almendary, presidente da importadora e distribuidora Allfood

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N O V EMBRO /D E Z E MBRO

2015

“2015 foi um ano de muitos desafios. Primeiramente sofremos com a greve dos caminhoneiros, depois passamos por um período de estiagem e posteriormente por muitas chuvas. Isso tudo afetou o setor lácteo, principalmente na captação de leite. Aliado a isso, a cadeia produtiva (produtor, indústria e varejo) sofreu com o aumento de custos internos, principalmente pelo elevado custo da energia elétrica, o aumento de custos dos insumos, de embalagem e de mão de obra. Todo este contexto, somado à retração do consumo dos itens da cesta láctea e à redução do poder de compra da população, transformou 2015 em um ano de superação. O perfil do consumidor mudou e as indústrias, de um modo geral, precisaram se adequar a esse Edson Martins, diretor de mercado novo perfil, por isso tiveram que se reinventar, olhar para dentro da Tirol do seu negócio, fazer ajustes que eram necessários e passavam desapercebidos, ouvir seus consumidores, adequar produtos, lançar itens que realmente satisfaçam o desejo de compra e reorganizar a logística de distribuição. O ano se resumiu em inúmeros desafios e dezenas de oportunidades. Quem soube usar o que o mercado proporcionou, transformou desafios e oportunidades em sinergia e volume de negócios.”

Aproximação neozelandesa “O ano de 2015 foi, sem dúvida, um ano de muitos desafios, em especial ligados às áreas de política e economia. A instabilidade política e econômica gera uma incerteza muito grande entre os agentes de mercado. Isso, a meu ver, leva ao agrave ainda maior da situação. Com a incerteza, as empresas param de investir, e ainda restringem a sua atividade com o medo de a situação se deteriorar, e isso cria um círculo vicioso. Sem os investimentos e com contenções, a situação acaba piorando mesmo. Em relação ao agronegócio, o ano de 2015 não foi ruim. Foi o único setor da economia que conseguiu apresentar algum Nádia Alcantara, gerente de resultado positivo, mas a desvalorização cambial tem um peso desenvolvimento de agronegócios da New muito grande nas perspectivas para o setor, em especial no que Zealand Trade & Enterprise (NZTE) tange ao aumento dos custos de produção, que restringe muito a margem do produtor. Soma-se a isso uma atividade global menor em relação ao consumo, em especial em relação à China. O Brasil hoje é muito dependente das exportações para a China em relação à soja, e o setor poderá sentir o efeito da desaceleração do consumo naquele país da mesma forma como a Nova Zelândia sentiu neste ano de 2015, e continuará sentindo

26

divulgação

Ano de superação

divulgação

• Capa •


em 2016. Os preços pagos ao produtor por quilo de sólidos de leite sofreram queda importante em função da queda do valor do leite em pó no mercado internacional, e isso tem levado a algumas mudanças no setor, que vinha investindo a passos largos. Hoje, os produtores neozelandeses estão mais cautelosos e atentos aos seus custos. Já em relação aos investimentos neozelandeses no Brasil, na área específica de agronegócios no que se refere a empresas que têm interesse em atuar no mercado brasileiro, estamos percebendo um maior interesse. Há cerca de 1 ou 2 anos, o Brasil estava com custos proibitivos em relação aos investimentos externos, em especial de empresas de pequeno e médio porte – isso em função dos altos custos de mão de obra, aluguéis e mesmo de obras para infraestrutura. Hoje, a crise local dá espaços a oportunidades para alguns empresários cujos projetos passaram a ter uma viabilidade econômica ‘melhorada’ e, portanto, são mais atrativos do que eram no passado. “

Avante! Thais Ito

“Em termos de mercado interno, a impressão que temos é que a oferta esteve muito ajustada à demanda. No mercado internacional, houve dois momentos. No primeiro, não existiam muitas expectativas em relação ao crescimento das exportações e havia um foco muito forte nas embarcações para a Venezuela, principalmente com leite em pó. Em um segundo momento, fruto principalmente de uma recuperação dos preços internacionais de lácteos somado à relação cambial entre dólar e real, passamos a ter uma competitividade maior e um embarque maior para a Rússia. Hoje, podemos falar que temos um fluxo de queijos e de manteiga que está indo para o mercado russo. Isso é importante porque o grande desafio que temos em termos de mercado internacional é a diMarcelo Martins, diretor executivo versificação. Um desafio novo é a China. Estamos trabalhando na da Viva Lácteos tradução dos regulamentos técnicos dos requisitos para exportar para lá. Neste ano, há uma expectativa também de iniciar um projeto com a Apex para trabalhar a promoção comercial dos produtos lácteos brasileiros em feiras, para formar agendas de rodadas de negócio e trazer estrangeiros para conhecer o setor lácteo brasileiro. Do ponto de vista institucional, um fato importante foi a criação do programa Leite Saudável por parte do Mapa, que hoje tem um foco muito grande no setor lácteo. Existe uma agenda positiva e um orçamento razoável para se trabalhar assistência técnica, atualização de marcos regulatórios, acessos a mercados internacionais. Hoje, de certa forma, o setor está internamente muito estruturado e organizado. Do ponto de vista institucional, o setor lácteo está sendo visto e lembrado, principalmente nas ações que estão sendo desenvolvidas pelo Poder Executivo Federal.”

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N O V EMBRO /D E Z E MBRO

2015

• Capa •

“O ano de 2015 foi mais desafiador que o de 2014. Os custos de produção no campo aumentaram por causa do efeito do câmbio nos grãos e nos insumos importados, enquanto os preços pagos ao produtor não aumentaram suficientemente para voltar aos patamares do ano passado em termos deflacionados. Para a indústria, o desafio foi o enfraquecimento da demanda, o que tornou mais difícil repassar preços no atacado e no varejo. Os setores de leite UHT e queijo devem fechar o ano com crescimento, enquanto o leite pasteurizado deve fechar com queda. Para o setor de leite em pó, os baixos preços internacionais e as importações do Mercosul, especialmente no primeiro semestre, levaram a preços baixos no mercado doméstico e a margens mais apertadas.”

divulgação

Tenso

Andres Padilla, analista sênior do setor de bebidas e laticínios do Rabobank Brasil

Saldo positivo “O ano de 2015 está sendo desafiador para praticamente todas as indústrias e cadeias, e isso não seria diferente para o setor de leites e derivados. A crise financeira, agravada pelas intempéries ocorridas em diferentes regiões do Brasil (enchentes no Sul, seca no Sudeste, etc.), está entre os principais desafios. Por outro lado, apesar das dificuldades, podemos dizer que o saldo é positivo. Tudo indica que, tanto os produtores rurais, quanto as indústrias de laticínios, na média, obtiveram uma recuperação de preço em relação ao segundo semestre de 2014. Vivian Leite, diretora de marketing da É importante destacar que, em momentos turbulentos, Tetra Pak Brasil as escolhas dos consumidores ficam mais racionais. Desta forma, as marcas e categorias de maior valor agregado e também as de menor desembolso ganham importância. Por isso, é primordial investir na diversificação do portfólio e oferecer ao consumidor novas opções. Sobre o desempenho do setor, praticamente todas as categorias lácteas devem apresentar crescimento em 2015. Para leite UHT, por exemplo, estimamos o crescimento na ordem de 2,9% em volume, comparando 2014 com 2015. De acordo com dados internos da Tetra Pak, a categoria de leite zero lactose cresce mais de 64% no período. As demais categorias (creme de leite, leite condensado e leites aromatizados) também apresentam crescimento. No entanto, os produtos diferenciados, como cremes gourmet e leite aromatizado com grãos, crescem expressivamente.”

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“Apesar de os suplementos minerais representarem um valor relativamente baixo no custo de produção do leite, notamos no gráfico que eles apresentaram um aumento inferior ao dólar, mas maior do que o preço do leite. As tendências futuras dos preços dos insumos minerais que entram na composição dos custos são muito dependentes da variação cambial. O mercado de suplementos minerais para bovinos de leite é dependente da rentabilidade da atividade que atualmente está muito pressionada pelos aumentos do milho e da soja, que também foram influenciados pela forte desvalorização do real frente ao dólar.”

divulgação

Alimentando negócios

Sergio Morgulis, diretor da Minerthal

“Na indústria de nutrição animal, 2015 vem se tornando um ano muito complicado devido à alta do dólar. Muitos insumos usados na alimentação, como vitaminas e aditivos, são importados e têm seus preços majorados nesta situação, elevando também os custos de produção e pressionando a lucratividade de toda a cadeia. Outro ponto de preocupação é o pessimismo do setor e a insegurança para se investir em novos projetos, produtos ou na introdução de novas tecnologias. Apesar dos desafios, a Trouw Nutrition avançou muito em seus negócios no Brasil em 2015, consolidando-se como uma das líderes de mercado em nutrição de aves, suínos e peixes, e iniciando desde junho os negócios em nutrição de vacas leiteiras, área em que a empresa investe muito e projeta um crescimento rápido e vigoroso nos próximos meses.”

divulgação

Mercado nutrido

Geraldo Filgueiras Neto, gerente nacional-bovinos leite da Trouw Nutrition Brasil

Investir para crescer “Para a nossa empresa, o ano de 2015 foi de crescimento. Apesar do momento delicado que o País vem passando, da instabilidade econômica e da recente valorização do dólar, a Ageon conseguiu ultrapassar o crescimento esperado para o ano, conquistando uma maior parcela do mercado e ampliando ainda mais a sua linha de produtos. Fizemos vários investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o que permitiu o lançamento de novos produtos. Luciana Catão, gerente de vendas e marketing da Ageon Electronic Controls

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N O V EMBRO /D E Z E MBRO

2015

• Capa •

divulgação

Sob pressão 1

Lucas Bispo, gerente de tecnologia industrial leite e derivados da FOSS

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“Analisando os últimos dois anos do nosso País, percebemos que praticamente todos os setores foram afetados pelo cenário político-econômico em que vivemos. Entretanto, além da tão temida ‘crise’, temos enfrentado algumas questões que vieram impactar especificamente o mercado nacional de lácteos. Uma delas é o mercado internacional. Desde 2014, a China e a Rússia, que são os maiores importadores de leite no mundo, sofreram reduções drásticas em suas importações. Os chineses, que vinham absorvendo uma imensa fatia da produção mundial de leite e soro, diminuíram em 50% suas importações devido aos seus altos estoques. Os russos reduziram em 42% suas importações devido à proibição da entrada de produtos lácteos exportados da Europa, EUA e Austrália. Com isso, a oferta se tornou muito maior do que a demanda e os preços despencaram. Por outro lado, esta situação da Rússia está abrindo novas possibilidades de exportação para o Brasil. A tendência é que os reflexos na exportação de leite em pó apareçam com maior expressividade a partir de meados de 2016. No mercado nacional, houve o impacto da falta de chuva em algumas regiões, dificultando a captação de leite. Ainda assim, a produção leiteira conseguiu crescer 5%. Porém, a situação econômica afetou o consumo de lácteos e seus derivados, que somente cresceu 3%. Este descompasso ocasionou desvalorização do preço do leite, gerando grandes desafios para os produtores, somados aos custos cada vez mais elevados de produção. Tal situação levou alguns produtores a se utilizarem de meios ilegais, como adulteração do leite, principalmente com água, ureia ou formaldeído. Para o nosso negócio, os efeitos foram diversos. Alguns clientes optaram por investir em nossos instrumentos para diminuir as perdas, já que foi um ano de baixa lucratividade. Outros clientes escolheram nossas soluções para detecção de adulterantes após a repercussão da Operação Leite Compensado. Outros acharam importante investir em nossos analisadores para redução de custos com mão de obra, ou para terem maior agilidade no recebimento de matéria-prima e tomadas de decisão, podendo inclusive realizar o pagamento do leite de acordo com o seu teor proteico, por exemplo. Ainda houve aqueles que não tiveram condições de investir em melhorias e optaram por retomar os projetos em 2016, na expectativa de que o cenário econômico mude até lá.”


“O mercado do leite começou bem o ano de 2015, mas, a partir do segundo trimestre, começamos a sentir a queda que perdura até os dias de hoje. Um dos motivos desta queda é a [falta de] liberação de crédito para o financiamento ao produtor. Atrelada a esta dificuldade, o produtor está tendo uma redução de sua rentabilidade com os custos de ração animal e inflação, aumentando o custo do leite e a tendência de queda dos preços nos próximos meses (preço ao produtor caiu em outubro após 6 meses de alta). A produção de leite no Brasil deve cair 2% no segundo semestre de 2015 e 1% nos seis primeiros meses de 2016, em comparativos anuais.”

divulgação

Sob pressão 2

Antonio Giovanelli, gerente de vendas da Heatcraft

divulgação

Sem crise “2015 foi tido como um ano desafiador em relação ao cenário macroeconômico para o Brasil. Em nossa empresa, não notamos danos referentes à baixa de pedidos para este setor; muito pelo contrário, manteve-se estável e, em algumas épocas do ano, mostrou-se uma demanda crescente, confirmando o que já era esperado por nós.”

Claudiomir Vieira, diretor presidente da Mirainox

“O leite longa vida (UHT) alcança mais de 90% dos lares brasileiros e representa 60% de todo o leite de consumo. A produção em 2015 deve chegar a 6,7 bilhões de litros. O crescimento médio nos últimos 5 anos foi de 4% ao ano. Em 2015, em função da retração econômica, deve chegar a 1,5%. Com a crise, todos os derivados caíram. Queijos, por exemplo, que cresciam 8% a 9% aa, terão um crescimento aproximado de 4%. A Prozyn teve excelentes resultados em lácteos devido ao consumo da enzima Lactase para produtos com restrição de dietas em lactose. Mas foi esse produto especificamente que trouxe o destaque de 2015.”

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Zero lactose, mil oportunidades

Magali Carregã, gerente comercial e técnica da Prozyn

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2015

• Vitrine de Equipamentos •

O ano das novidades Confira as máquinas e os produtos que movimentaram o mercado e foram destaque em 2015

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ão faltaram grandes novidades ao mercado lácteo em 2015. Se o ano foi turbulento do ponto de vista político-econômico, o setor soube se reinventar e criou interessantes oportunidades. É o caso, por exemplo, das categorias “zero lactose” e “premium”, que movimentaram o mercado consumidor e impediram uma brusca queda nos negócios. O mesmo parece ter ocorrido em outra ponta da cadeia. Enquanto os laticínios se desdobravam para minimizar o impacto do difícil momento, a indústria de fornecedores manteve seu habitual dinamismo e trouxe importantes novidades, que certamente ajudaram a impulsionar o mercado lácteo em 2015. Um dos bons exemplos é a Casa Forte. Com a apresentação de seu Chiller (Gerador de água gelada), um equipamento com gás freon e unidade de frio

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de alta performance, a empresa garantiu um novo diferencial ao mercado: a recuperação da água em apenas uma hora. Outra novidade apresentada pelo grupo foi o Monobloco com capacidades de até 500Kg/h, 1000 Kg/h e 2000 Kg/h. Criado para fatiar, filar e moldar a massa de mussarela, a máquina diminui a mão-de-obra e aumenta o rendimento em torno de 2%. Já a Mirainox trouxe envasadoras manuais, semiautomáticas e automáticas para copos, potes e garrafas, todas com sistema de dosagem nas laterais, dupla camada, bomba positiva, tanque de equilíbrio, selagem em alumínio, rosqueadeira e posicionador de tampas. Os equipamentos, segundo a empresa, permitem “o uso de diversos tipos de embalagens, redondas e quadrada”, além do “acionamento através de CLP e IHM Touchscreen (painel de comando sensível ao toque)”. Possibilitam, ainda, dosagem de


Envasadora automática para copo com tampa da Mirainox

líquidos, semipastosos e pastosos, aceitando o uso de polpa de frutas. Há 45 anos no mercado, “onde tradição e qualidade fazem parte para o melhor aproveitamento do seu leite”, a Casa das Desnatadeiras destaca seus serviços em aço inox, além de equipamentos novos e usados, desnatadeiras de 50 a 1000 litros por hora (todas em aço inox), batedeira de manteiga, material de laboratório, acessórios para fabricação e

Chiller da Casa Forte

Câmara fria modulável da Zero Grau

equipamentos para a pasteurização de leite (processo lento). A Hiper Centrifugation, por sua vez, lista seus inúmeros serviços oferecidos ao mercado lácteo em 2015, como desnatadeiras, padronizadoras e clarificadoras para leite e soro, peças de reposição e assistência técnica preventiva e corretiva. Com equipamentos destinados a distribuidoras de bebidas e indústrias de alimentos congelados, entre outros segmentos, a Zero Grau apre-

Alfa Laval BRPX-510 da Hiper Centrifugation

Monobloco da Casa Forte

sentou suas minicâmaras. Tratam-se, segundo a empresa, de máquinas práticas e funcionais, “com um único objetivo: atender a necessidade do cliente”. Quando utilizado na temperatura de -20ºC, com a opção de prateleiras, o equipamento assume a função de freezer. É, portanto, ideal para o armazenamento de produtos congelados, “podendo ser comercializado para panificadoras, indústrias de alimentos congelados e polpa de frutas”.

Máquina da Casa das Desnatadeiras

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• Produção •

Utilização do leite de Dra. Maria Izabel Merino de Medeiros, Pesquisadora Científica – Segurança de Alimentos, APTA – Polo Regional Centro Oeste, Bauru, SP

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vĂĄrias espĂŠcies animais

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• Produção • Resumo Durante os últimos nove mil anos o leite tem sido a base do sustento de muitas culturas. O consumo de seus determinados tipos, porém, depende da região e das espécies de animais disponíveis. Devido às suas propriedades físico-químicas e organolépticas e sua maior disponibilidade, o leite de vaca é o mais consumido e utilizado na produção de laticínios no Brasil e no Mundo. Na Europa destaca-se também o consumo do leite de cabra e ovelha e, em alguns lugares, verificamos o de jumenta, de égua, de iaque, de búfala, de rena, de camelo fêmea e de outras camélidas, como a lhama, a alpaca e a fêmea do alce.

Legislação no Brasil O leite de vaca é o mais importante para a dieta humana e o que tem mais aplicações industriais. As vacas começaram a ser domesticadas há 11 mil anos com duas linhas maternas distintas, uma para as europeias e outra para as índicas. Devido à sua importância e sua disponibilidade, a legislação brasileira define “leite” e suas principais implicações sanitárias no Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA, em TÍTULO VIII - Inspeção Industrial e Sanitária do Leite e Derivados, no CAPÍTULO I - Leite em Natureza, onde observa-se: Art. 475 - Entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie de que proceda. Art. 476 - Considera-se leite normal, o produto que apresente: 1- caracteres normais; 2- teor de gordura mínimo de 3% (três por cento); 3- acidez em graus Dornic entre 15 e 20 (quinze e vinte);

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4- densidade a 15ºC (quinze graus centígrados) entre 1.028 (mil e vinte e oito) e 1.033 (mil e trinta e três); 5- lactose - mínimo de 4,3% (quatro e três décimos por cento); 6- extrato seco desengordurado - mínimo 8,5% (oito e cinco décimos por cento); 7 - extrato seco total - mínimo 11,5% (onze e cinco décimos por cento); 8- índice crioscópico mínimo - -55ºC (menos cinquenta e cinco graus centígrados); 9- índice refratométrico no soro cúprico a 20ºC (vinte e graus centígrados) não inferior a 37º (trinta e sete graus) Zeiss. Art. 480 - A produção de leite das espécies caprina, ovina e outras ficam sujeitas às mesmas determinações do presente Regulamento, satisfeitas às exigências para sua identificação. Art. 481 - A composição média do leite das espécies caprinas, ovina e outras, bem como as condições de sua obtenção, serão determinadas quando houver produção intensiva desse produto. Art. 482 - É obrigatória a produção de leite em condições higiênicas desde a fonte de origem seja qual for a quantidade produzida e seu aproveitamento. Parágrafo único - Esta obrigatoriedade se estende ao trato do gado leiteiro, à ordenha, ao vasilhame e ao transporte. Art. 486 - Só se permite o aproveitamento de leite de vaca, de cabra, da ovelha e de outras espécies, quando: 1- as fêmeas se apresentem clinicamente sãs e em bom estado de nutrição; 2- não estejam no período final de gestação, nem na fase colostral;


Na Europa destaca-se o consumo do leite de cabra e ovelha e, em alguns lugares, verificamos o de jumenta, de égua, de iaque, de búfala, de rena, de camelo fêmea e de outras camélidas 3- não reajam à prova de tuberculose (tuberculina) nem apresentem reação positiva às provas do diagnóstico da brucelose, obedecidos aos dispositivos da legislação em vigor. Parágrafo único - Qualquer alteração no estado de saúde dos animais, capaz de modificar a qualidade do leite, justifica a condenação do produto para fins alimentícios e de toda a quantidade a que tenha sido misturado. As fêmeas em tais condições devem ser afastadas do rebanho, em caráter provisório ou definitivo. Art. 488 - É obrigatório o afastamento da produção leiteira das fêmeas que: 1- se apresentem em estado de magreza extrema ou caquéticas; 2- sejam suspeitas ou atacadas de doenças infectocontagiosas; 3- se apresentem febris, com mamite, diarreia, corrimento vaginal ou qualquer manifestação patológica, a juízo da autoridade sanitária. Parágrafo único - O animal afastado da produção só pode voltar à ordenha após exame procedido por Médico Veterinário oficial.

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• Produção • Diferentes espécies Em outros países e mesmo aqui no Brasil, ainda que em menor escala que o leite de vaca, também é consumido o leite e derivados de outras espécies. • Leite de Búfala: Este animal foi domesticado em 3000 a.C. na Mesopotâmia e os árabes trouxeram-no para o Oriente Médio durante a Idade Média. Seu uso em certas zonas da Europa data dessa época. O leite de búfalas, dadas suas características peculiares, é matéria-prima ideal para a elaboração de diversos tipos de queijo, principalmente a tradicional mozzarella, um tipo fresco de massa filada, originário da Itália, no século XVI. Sua produção com leite de búfalas lhe confere sabor, aroma e textura inigualáveis. Pode ser moldado em diversos formatos, tais como bolas, nozinhos, tranças ou barras, sendo embalados em soro ou não, e consumidos como entrada, aperitivo ou componentes na elaboração de diversos pratos. Os produtos elaborados com leite de búfala possuem grande aceitação no Brasil e no mundo.

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• Leite de Iaque: Este animal de pelagem longa contribui de forma decisiva na alimentação das populações do Tibete e da Ásia Central. Possui um leite rico em proteínas e em gorduras (sua concentração é superior à da de vaca). Além do queijo, servido em cubículos brancos, o leite de iaque produz o chá de manteiga salgada (po cha, em tibetano), provavelmente a primeira opção a ser oferecida a visitantes em casas, monastérios e outros locais da região. • Leite de Ovelha: Mundialmente, o leite de ovelha é muito apreciado não somente pelas qualidades gastronômicas, mas também por sua inocuidade para pessoas que possuem intolerância à lactose. Normalmente consome-se na forma de queijos, iogurte, sorvetes e, com menos frequência, na de leite fluido. Os primeiros ovinos com aptidão leiteira no Brasil foram importados da França, em 1992, pela cabanha Dedo Verde, localizada no município de Viamão (RS) – a raça introduzida foi a Lacaune. Este leite é muito valorizado pela cultura mediterrânea. Em 2012, no World Cheese Awards, celebrado em Birmingham (Reino Unido), o Queijo Manchego Gran Reserva, da Dehesa de los Llanos, elaborado em uma cidade histórica da Espanha (província de Albacete), foi eleito entre 2.700 queijos como o melhor do mundo e descrito pelo júri como “um queijo impressionante, brilhante (luminoso), com notas mais altas e harmônicas e um intenso e aromático sabor final”.


• Leite de Cabra: Possui sabor e aroma fortes. O leite caprino é um pouco diferente do de ovelha, principalmente no sabor, pois contém uma maior quantidade de sais, o que lhe dá um gosto levemente salgado. Além disso, é rico em caseinatos e apresenta maiores níveis de cálcio. Em sua composição o leite de cabra apresenta maior teor de α-caseína que, aliado ao tamanho das micelas de gordura menores, quando comparado ao leite de vaca, confere-lhe características medicinais. É, assim, utilizado no controle de problemas de intolerância ao leite de outras espécies, problemas respiratórios como asma e bronquite e problemas gastrointestinais. Com este leite se fabrica queijo, iogurte e cosméticos. Dentre as raças especializadas destacam-se as cabras Saanen, Pardo Alpina, Toggenbourg, Alpina Americana e Anglo-Nubiana.

• Leite de Camelo Fêmea: O camelo, um animal distante dos bovídeos e caprídeos (cabras e ovelhas), foi domesticado em 2500 a.C. na Ásia Central. Nos últimos anos, pesquisas demonstram que é desses animais que virá um dos superalimentos do futuro (camelos ou dromedários, não é preciso saber a diferença entre eles quando

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• Produção • o assunto é nutrição). O leite dos camelídeos está há centenas de anos presente na dieta dos beduínos, garantindo uma combinação completa de proteínas, vitaminas e carboidratos necessários para a vida dura no deserto. • Leite de Lhama e de Alpaca: São animais comuns na Cordilheira dos Andes, localizada na América do Sul, e sua produção láctea se destina principalmente ao consumo local. Não tem, assim, grande projeção industrial. • Leite de Cervídeos: Em diversas populações próximas ao Ártico, é frequente o consumo do leite de cervídeos, como a rena (Rangifer tarandus) e a fêmea do alce (Alces alces). Este último, por exemplo, se comercializa na Rússia e na Suécia. A Moose House em Bjurholm, na Suécia, é conhecida pelos laticínios de alce e por produzir um dos queijos mais caros do mundo – 300 euros o quilo. • Leite de Égua: A produção de leite de égua é importante para muitas populações das estepes da Ásia Central (Mongólia, Quirguistão, Cazaquistão e outras regiões), em especial para a produção de um derivado fermentado chamado Kumis, que é consumido cru e tem um poderoso efeito laxante. Este leite tem conteúdo mais elevado em hidratos de carbono que o de cabra ou o de vaca e, por

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isso, é melhor para fermentados alcoólicos. Estima-se que, na Rússia, existam 230 mil cavalos dedicados à produção de Kumis. • Leite de Jumenta: O leite de jumenta é um dos mais semelhantes ao humano quanto à composição. Estudos foram realizados com êxito para administrá-lo como alimento a crianças alérgicas à proteína do leite de vaca. Também existem granjas na Bélgica que produzem leite de jumenta para uso da indústria cosmética. O queijo de leite de jumenta é considerado o mais caro do mundo. A iguaria, fabricada em uma fazenda em Zasavica, a 80 km de Belgrado, na Sérvia, é vendida a mil euros o quilo.

Considerações Finais Segundo a FAO, o rebanho bovino produz 83% da produção mundial de leite, seguido de búfalos (13%), caprinos (2%), ovelhas (1%) e camelos (0,3%). O restante é dividido por outras espécies, como equinos e iaques. Cerca de um terço da produção de leite nos países em desenvolvimento vem de búfalas, cabras, camelas e ovelhas. Nos países desenvolvidos, quase todo o leite é produzido por vacas. É fato que o leite e seus derivados possuem uma inesgotável fonte de riqueza nutricional, de proteínas, minerais e vitaminas, ocupando um lugar absolutamente insubstituível na alimentação humana. Com tantas opções e novos sabores, o melhor a se fazer é provar!


Referências

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Zeder, Melinda A., and Brian Hesse. “The initial domestication of goats (Capra hircus) in the Zagros Mountains 10,000 years ago.” Science 287.5461 (2000): 2254-2257.

Sites: http://www1.folha.uol.com.br/turismo/1152369-culinaria-do-tibete-foi-criada-para-a-sobrevivencia. shtml http://www.bufalo.com.br/laticinios.html http://colunas.revistaepoca.globo.com/viajologia/ tag/mongolia/ http://www.casadaovelha.com.br/ovinocultura. html http://www.mundoemsabores.com.br/voce-conhece-o-manchego-eleito-o-melhor-queijo-do-mundo-em-2012/ http://gastronomiagastroenterologica.blogspot. com.br/2011/04/o-inicio-da-dieta-mediterraneaqueijos.html http://www.fao.org/agriculture/dairy-gateway/ milk-production/dairy-animals/en/#.VhfQN_lVhBd

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• Espaço Embrapa • Kennya Beatriz Siqueira e Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, e Fabio Homero Diniz e Vanessa da Fonseca Pereira, analistas da Embrapa Gado de Leite

Meio ambiente e pecuária leiteira: adaptações e impactos Introdução A pecuária leiteira, importante atividade da economia brasileira, envolve diretamente cerca de 1.350.000 produtores. Em 2014, o Brasil produziu 35,2 bilhões de litros de leite, sendo o quinto maior produtor do mundo (IBGE, 2015). De acordo com estimativas da CNA (2015), essa produção gerou R$ 41,7 bilhões em 2014, o que equivale a 22,9% do valor gerado pela pecuária e 8,5% pela agropecuária brasileira. Se incluirmos a indústria de laticínios na análise, a importância do setor fica ainda mais evidente, visto que ela faturou R$ 55,2 bilhões no ano passado, configurando-se como o terceiro maior segmento da indústria alimentícia do Brasil (ABIA, 2015). Dian-

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te da importância do setor, existe uma crescente preocupação com a vulnerabilidade às variações e mudanças climáticas. Meio ambiente e produção agropecuária são temas interligados, de modo que um interfere diretamente no bom funcionamento do outro. Entre os diversos aspectos relacionados ao meio ambiente, nos últimos anos, muito tem se falado sobre os impactos da agropecuária no clima. Estimativas de emissão de gases de efeito estufa (GEE) pelos animais colocaram a pecuária em evidência como uma das grandes vilãs ao clima do planeta. A produção leiteira, contudo, também sofre com as mudanças climáticas. Assim, um dos grandes dilemas da atualidade é como aumentar


Fonte: FAO (2015)

Figura 1: Estimativas de mudanças absolutas na temperatura média anual (a) e na precipitação média anual (b) de 1980-2010 a 2035-2065

a produção de leite para atender à demanda crescente da população sem causar grandes impactos ao meio ambiente e, consequentemente, ao clima. Ou seja, é crescente a pressão para se produzir de forma mais eficiente e sustentável. Diante disso, como forma de proporcionar melhor entendimento para os agentes do setor, este artigo tem por objetivo apresentar uma revisão dos resultados científicos encontrados até o momento não só para o impacto da produção de leite sobre o clima, mas também ao impacto das mudanças climáticas sobre a oferta leiteira brasileira.

// Impactos do clima sobre o leite brasileiro Mais do que qualquer outro segmento econômico, a agropecuária é altamente dependente das condições climáticas. De acordo com FAO (2015), o conhecimento dos impactos das mudanças climáticas na agricultura se expandiu nos últimos 20 anos. Os resultados de vários estudos convergem para o fato de que as alterações no clima irão afetar fundamentalmente os padrões da produção mundial de alimentos. Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2014), as mudanças climáticas na América Latina afetarão diretamente vários ecossistemas

e setores nas próximas décadas. Assim, a agricultura sofreria com: a redução da quantidade e da qualidade do fluxo de água e, portanto, do potencial de irrigação; a intensificação da aridez, da degradação e da desertificação da terra; o aumento da incidência e dos impactos de pragas e doenças dos cultivos; a diminuição do número de espécies vegetais e animais e as mudanças dos limites dos biomas; as alterações nos serviços dos ecossistemas (como sequestro de carbono, biodiversidade funcional e fluxos ambientais) necessários para manter a produtividade nas áreas agrícolas atuais. Como muitas das raças bovinas empregadas na produção de leite são sensíveis à temperatura e umidade excessivas, as mudanças climáticas podem afetar significativamente a produção de leite. Assim, a pecuária leiteira pode ser impactada de diversas formas, desde o estresse causado pelo aumento da temperatura do planeta até o aumento da incidência de doenças, além de mudanças na qualidade e na disponibilidade de alimento e de água para o gado. A FAO (2015) estima que os impactos das mudanças climáticas nas pastagens terão um efeito mínimo (menos de 2%) na produção mundial de leite até 2050. No entanto, o impacto no Brasil pode ser maior, principalmente devido à redução das chuvas e ao aumento da temperatura, conforme mostra a Figura 1.

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Figura 2: Perdas previstas na produtividade das pastagens (%) em 2030, no cenário pessimista, em relação ao ano de 2010 PRODUÇÃO PERDIDA - PASTAGEM 2030 - Pessimista

PERDA DE PRODUÇÃO (%) SEM PERDAS 0 a 10 10 a 20 20 a 30 30 a 40 40 a 50 50 a 60 60 a 70 70 a 80 > 80

Fonte: ASSAD et al. (2013)

Em estudo do Banco Mundial realizado no Brasil estimou-se que a Região Sul, atualmente uma potência leiteira, poderá perder até 5 milhões de hectares de terras adequadas à agricultura devido às mudanças climáticas. As perdas em todo o País poderão chegar a cerca de 10 milhões de hectares na área de pastagem apta à produção agrícola até 2030. No entanto, os resultados indicam que a maior parte da perda poderia estar alocada às áreas de pastagens atualmente pouco produtivas. Além disso, o estudo sugere um movimento no sentido da intensificação sustentável da produção, ao invés de promover mudanças na estrutura e no tamanho das propriedades (ASSAD et al., 2013). Uma das consequências das mudanças ambientais que mais afetaria os produtores de leite é o aumento do custo de produção. Em estudo realizado nos Estados Unidos investigou-se quais fatores de produção seriam mais economicamente afetados pelas mudanças do clima. E os resultados mostraram que os gastos referentes ao estresse calórico do rebanho e à alimentação do gado contribuíram mais para o aumento do custo de produção de leite. Assim, os autores estimaram que o custo de produção de leite pode aumentar de 1% a 18%, dependendo do panorama (CALIL et al., 2012). Mesmo em um cenário de baixos níveis de aquecimento global, a produtividade de grãos e de demais culturas deve sofrer um impacto negativo em regiões tropicais e de baixa latitude, como é o caso do Brasil (FAO, 2015). Assad e Pinto (2008) estimaram que a produção de grãos nacional poderá sofrer impactos de até R$ 4 bilhões em 2050, sendo que a soja responde por cerca de 50% dessas perdas. Isso certamente afetará o preço da ração do gado de leite. Margulis et al. (2010) utilizaram dois cenários para avaliar os impactos das alterações climáticas sobre algumas lavouras brasileiras. Para o cultivo do milho, até 2020, a área produtiva poderá diminuir em 12% nos dois cenários, enquanto para a soja essa redução pode chegar a 24%. Fernandes et al. (2011) corroboraram com esses resultados, prevendo que a produção de soja nacional pode diminuir em até 30% até 2020.

Assad et al. (2013) aperfeiçoaram os modelos anteriores e projetaram que o impacto climático sobre a área plantada de soja no Brasil pode variar de -13% a -24% até 2020. Já para a pastagem a variação pode ser de -34,4% a -37,1% até 2020 e de -34,9% a -38,3% até 2030. A Figura 2 mostra as áreas que podem ser mais afetadas no cenário pessimista. Na Região Nordeste, especificamente nos estados de Alagoas, Bahia e Sergipe, Silva et al. (2010) estimaram redução de 8,04% nas áreas propícias à produção de leite, considerando-se um cenário mais otimista. O estudo, entretanto, também projeta elevação de estresse térmico animal mesmo em meses mais frios, o que pode afetar a produtividade. No cenário mais pessimista, nos meses mais quentes, as regiões mais afetadas


seriam o norte e o litoral da Bahia. Para mitigar os efeitos do clima, os autores propõem melhorias no manejo nutricional dos animais, emprego de sombra natural ou artificial e utilização de raças menos sensíveis ao estresse térmico.

// Impactos da produção de leite sobre o clima O último relatório do IPCC (2014) assegura que as mudanças climáticas estão acontecendo, com os gases de efeito estufa nos níveis mais altos de que se tem registro na história. Esses maiores níveis são considerados “extremamente prováveis” de ser a principal causa das mudanças climáticas. A pecuária leiteira é uma atividade que exerce grande impacto no clima do planeta, por causa da emissão de metano, que é um dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Isso ocorre porque os bovinos produzem metano no seu processo digestivo e o eliminam via respiração e eructação. Apesar de serem apontados como vilões do meio ambiente, os ruminantes são responsáveis por aproximadamente 5% do total dos gases de efeito estufa emitidos por atividades antropogênicas. Mas, futuramente, as emissões desses gases podem tornar-se pretexto para a criação de barreiras não tarifárias à exportação de carne e leite do Brasil. O processo de fermentação-ruminação é uma evolução das espécies ruminantes de milhares de anos. O problema é que, no mesmo processo que gera os gases de efeito estufa, a fermentação realizada pelos microrganismos ruminais capacita os ruminantes a aproveitarem alimentos fibrosos (pastagens, silagens e fenos) não utilizados para alimentação humana. Esta capacidade garante o suprimento de grande parte da demanda por alimentos da crescente população mundial. Em 2012 estimou-se que o setor agrícola brasileiro emitiu cerca de 370 bilhões de gigagramas de GEE. Desse total, aproximadamente 59% são originários da fermentação entérica do rebanho bovino, mas os gases provenientes do reba-

nho leiteiro representam apenas 8% das emissões (FAO, 2015). Para entender as diferenças entre a intensidade de emissão de GEE pelos diferentes sistemas de produção, é interessante analisar dados do Global Livestock Environment Assessment Model (GLEAM) da FAO. De acordo com esse banco de dados, a intensidade de emissão de gases pela pecuária leiteira mundial varia de pouco menos de 50 até cerca de 180 Kg de CO2 equivalente por Kg de proteína, sendo que, em média, os sistemas de produção de leite geram 84 Kg de CO2 equivalente por Kg de proteína. Esses valores refletem diferenças nas condições agroecológicas, nas práticas adotadas na fazenda e no gerenciamento da cadeia de suprimentos (GLEAM, 2015). Assim, Gerber et al. (2013) afirmam que são essas diferenças que trazem oportunidades para mitigação. No entanto, Foote e Joy (2014) ressaltam que a atividade leiteira tem outros impactos ambientais, além da emissão de GEE. Existem muitas externalidades geradas pela produção de leite, como, por exemplo, a poluição das águas e a deterioração dos solos. Ou seja, a sustentabilidade na atividade está diretamente relacionada com os impactos ambientais, econômicos e sociais provocados, de modo que os sistemas de produção e as técnicas adotadas têm grande importância sobre a eficiência dessa atividade, bem como sobre as externalidades ambientais geradas no processo. Neste contexto, a FAO lançou recentemente uma publicação com a revisão de 900 estudos sobre a mitigação de GEE na pecuária. Nela são apresentadas técnicas para mitigação do efeito estufa, aplicáveis a diferentes sistemas de produção. Em suma, a publicação conclui que melhorar a qualidade da forragem e a eficiência global do uso dos nutrientes na dieta animal é uma maneira efetiva de reduzir os impactos ambientais da pecuária. Além disso, o estudo indica que muitos suplementos para a alimentação animal têm potencial de redução da emissão de metano pelos ruminantes (HRISTOV et al., 2013). O efeito potencial provocado pelo uso concomitante de duas ou mais técnicas de mitigação

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• Espaço Embrapa • do efeito estufa, porém, deve ser considerado. Pesquisa realizada no Reino Unido estimou uma redução de 45% na emissão de GEE, por litro de leite fluido, quando cinco – dentre oito – práticas de mitigação foram aplicadas simultaneamente em fazendas leiteiras (DEL PRADO et al., 2010). Na Índia, um software desenvolvido para orientar produtores de leite no balanceamento da ração dos animais em lactação, a partir dos recursos alimentares disponíveis e das misturas de minerais específicos de cada região, gerou bons resultados tanto em termos de lucratividade das fazendas quanto em termos dos impactos ao meio ambiente. O crescimento da renda líquida dos produtores foi de 10-15%, resultado do aumento da produção e da redução dos custos de alimentação. A eficiência da produção medida em kg de leite de vaca produzido por kg de ração utilizada passou de 0,58 para 0,66. Por fim, a redução na emissão de metano entérico foi de 15-20% por kg de leite produzido (FAO, 2012).

ticas ao escolher um produto lácteo (BAILEY et al., 2014). As empresas podem, portanto, utilizar o tema para ampliar os mercados onde atuam e agregar valor aos seus produtos, o que favoreceria toda a cadeia. Discussões sobre como reduzir as emissões de GEE têm focado tanto em alterações na cadeia de produção e abastecimento de alimentos como na demanda, por meio de mudanças significativas nos padrões de consumo. Medidas políticas que levam a reduções radicais no consumo de alimentos de origem animal têm sido propostas como meio de reduzir as emissões globais de GEE. Entretanto, a avaliação do impacto climático da produção de diferentes alimentos deve levar em consideração seu valor nutricional. Pesquisas realizadas nos países nórdicos mostraram a importância de se considerar a densidade de nutrientes do alimento em relação à emissão de GEE. Após avaliarem a emissão gerada para a produção de leite, refrigerantes, suco

Resultados indicam que pequenas mudanças na rotina de produção de leite podem ter impacto na emissão de gases de efeito estufa Esses resultados indicam que pequenas mudanças na rotina de produção de leite podem ter impacto na emissão de gases de efeito estufa. E, se pensarmos nos efeitos multiplicadores dessas mudanças, os impactos podem ser ainda maiores. Além disso, é importante ressaltar que mudanças de atitude do setor lácteo podem também causar impactos sobre os consumidores. Atualmente, estes estão mostrando mais interesse pelo impacto sobre o meio ambiente. Pesquisa realizada em 12 países, incluindo o Brasil, em 2014, entrevistou pelo menos 1000 consumidores em cada região para avaliar a consciência ambiental. Os resultados mostram que 72% dos entrevistados brasileiros se preocupam com as mudanças climá-

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de laranja, cerveja, vinho, água mineral gasosa e bebidas de soja e aveia, os pesquisadores verificaram que, para cada 100 g de leite, 99 g de equivalente CO2 eram gerados, um dos valores mais elevados do grupo. Entretanto, quando a comparação considerou a quantidade de nutrientes, o leite apresentou vantagem devido ao seu alto valor nutricional, evidenciando que a produção de refrigerantes, por exemplo, gera menos GEE, mas também não tem contribuição significativa para a alimentação humana (SMEDMAN et al., 2010). Esse resultado representa um argumento convincente às críticas que a pecuária recebe. Merece, portanto, ser divulgado junto aos consumidores e às instituições ligadas ao meio ambiente. No Brasil, em parceria com outras 15 insti-


Foto: Luiz Gustavo Ribeiro Pereira

Figura 3:

tuições, a Embrapa vem desenvolvendo o projeto PECUS-RumenGases, que tem como principal objetivo avançar conceitualmente e desenvolver estratégias para a mitigação de emissões de metano por ruminantes nos trópicos. É necessário conhecer de forma detalhada essa emissão de GEE e desenvolver estratégias de mitigação, seja por melhoria nos sistemas de produção ou por inclusão de ingredientes alimentares nas dietas dos animais. Um dos objetivos do projeto foi implantar um laboratório referência em métodos de avaliação de metano entérico em ruminantes no Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária, em Coronel Pacheco-MG. No laboratório existem câmaras respirométricas (Figura 3), que são usadas para quantificar a emissão de gases pelo método considerado padrão mundial. A emissão de metano representa perda de energia, ou seja, parte da dieta consumida pelo animal não é transformada em carne ou leite, mas perdida na forma de metano. Assim, a qualidade do alimento está diretamente relacionada à geração de metano, sendo que alimentos de qualidade inferior, ricos em fibra de baixa digestibilidade e pobres em proteína, tendem a sofrer processos fermentativos que favorecem a produção de metano. Já dietas de melhor qualidade, além de gerarem menor emissão de metano por alimento ingerido, garantem maior eficiência no desempenho dos animais, reduzindo a idade de abate e garantindo maior produção de leite. Assim, é possível produzir mais e emitir menos metano por unidade de carne ou leite gerado.

Câmaras respirométricas instaladas no centro de referência em avaliação de metano entérico no Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária, em Coronel Pacheco-MG O projeto RumenGases vem permitindo a avaliação de estratégias de mitigação que estão relacionadas às práticas de manejo ou à inclusão de ingredientes à dieta. A adição de óleos tem sido alvo de pesquisas mundiais e, para cada 1% de óleo acrescido, estima-se uma redução de aproximadamente 5% na emissão de metano. Os resultados sugerem que esta é uma estratégia efetiva em condições tropicais e com gado Girolando. O manejo intensivo de pastagens é outra estratégia que tem se revelado promissora. Assim, para reduzir as emissões de metano, os resultados do projeto vêm permitindo concluir que a inclusão de ingredientes nas dietas deve ser considerada como opção, e não como solução do problema. Deve, portanto, estar associada às práticas de avanço de eficiência produtiva, as quais devem envolver melhorias no manejo alimentar, reprodutivo e sanitário. A melhor maneira de mitigar a emissão de gases de efeito estufa na propriedade é melhorar a eficiência do sistema de produção.

// Considerações finais Estudos evidenciam que a mudança climática é uma realidade e que o mundo precisa rever seus padrões de consumo e produção. Portanto, a intensificação das mudanças climáticas poderá demandar adequação nos sistemas de produção. Este trabalho mostrou um conjunto de importantes pesquisas que buscam respostas às questões emergentes associadas à relação bidirecional entre pecuária e meio ambiente. A pe-

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N O V EMBRO /D E Z E MBRO

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• Espaço Embrapa • cuária está sendo duplamente pressionada para atender à demanda de alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos adversos ao meio ambiente, criando um cenário de oportunidades para melhoria de eficiência e sustentabilidade da produção de leite. É possível mitigar as emissões de gases de efeitos estufa pela pecuária. Exemplos de soluções são: manejo adequado de dejetos sólidos e efluentes, manejo das unidades de produção animal e manejo das pastagens. As possibilidades para reduzir as emissões devem ser baseadas em tecnologias e práticas que melhorem a eficiência produtiva dos animais e rebanhos. Portanto, deve-se continuar investindo em pesquisas como as mencionadas acima, além de apostar na divulgação das informações geradas, de modo a balizar cientificamente as decisões de produtores e consumidores. Dada a importância da pecuária leiteira no Brasil, as avaliações dos seus efeitos sobre o meio ambiente devem levar em conta, além das externalidades negativas, as eventuais externalidades positivas (econômicas, sociais e ambientais). Assim, é possível direcionar o setor com base na relação entre benefício e custo das possíveis soluções para as questões ambientais. Igualmente importante é considerar os efeitos ao longo de toda a cadeia produtiva, o que é estimado por metodologias como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que possui as vertentes ambiental, econômica e social. Com base nos avanços das pesquisas, é possível estabelecer políticas públicas de apoio e incentivo a sistemas de produção mais equilibrados e eficientes, que servirão como catalizadores da mitigação de gases de efeito estufa pela pecuária. Com a conscientização e participação de todos, o grande desafio da pecuária leiteira brasileira neste século, que é produzir de forma sustentável, poderá ser alcançado.

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