Revista Leite & Derivados - Edição 157

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ISSN 1807-9733 Nº 157 • Ano XXII Setembro/ Outubro 2015

RODA, EVOLUI, MODERNIZA Um balanço sobre os passos necessários para uma conquista histórica: a modernização do setor lácteo brasileiro Conjuntura

Erros e acertos do Plano de Investimento em Logística

Grandes negócios

TecnoCarne & Leite neutraliza efeitos da crise

Minúsculas e poderosas As novas embalagens que conquistaram o mercado externo




SUMÁRIO

SETEMBRO/OUTUBRO 2015

CAPA Um guia completo sobre modernização dos laticínios brasileiros

26 Eventos TecnoCarne & Leite aponta caminhos ao momento difícil do País

38 Tecnologia A aposta externa que pode potencializar

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os ganhos com refrigeração

Entrevista Executiva do setor discute a mais nova tendência do mercado: as pequenas embalagens

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06Editorial /12Empresas & Negócios /16SAla de Negócios /18Conjuntura - Logística /24Espaço Epamig /36nfográfico – Modernização /49Índice de Anunciantes

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• editorial •

O desafio da modernização José Danghesi Algumas visíveis e consistentes transformações consolidaram a for-

percebo que ainda temos muito o que aprender”, resume

ça da cadeia láctea brasileira nos últimos anos. Determinadas empresas,

Alessandro Rios, presidente do laticínio Verde Campo. “O

amparadas por inovação tecnológica e qualificação de mão-de-obra, atin-

que eu mais vejo no Brasil atualmente é a busca por de-

giram um padrão notável de modernização. Um avanço gradual que se tra-

senvolvimento tecnológico. Muitas fábricas têm procurado

duziu em evolução de parques industriais e em diversificação da oferta ao

melhorar seus processos para que o produto tenha mais

consumidor.

qualidade com menor custo”, pondera Ângelo Faria, dire-

Essas melhorias consistentes, entretanto, não escondem um fato: o setor lácteo nacional ainda tem um longo caminho até atingir o patamar de referência mundial. Se algumas empresas – ou mesmo determinados nichos – já avançaram solidamente, a fotografia completa carece de maior nitidez. A modernização, afinal, não pode ser localizada. Precisa referenciar toda a estrutura do mercado. Para compreender melhor as oportunidades oferecidas pela modernização, a Revista Leite & Derivados fez uma extensa reportagem sobre o

tor da A9 Projetos. Não é apenas o setor, contudo, que precisa buscar a modernização. Há, também, além dos entraves internos, os sérios problemas conjunturais, como os gargalos em transporte e logística, que resultam em desperdício de tempo e dinheiro. Desafio que poderia ser sanado pelo recente Programa de Investimento em Logística – não fos-

tema, procurando avaliar com seriedade as dificuldades enfrentadas pelo se-

se a inoportuna ocasião de seu lançamento. Ainda assim,

tor. E a conclusão parece unânime: a cadeia láctea brasileira, de fato, precisa

como demonstramos em matéria especial, algumas solu-

evoluir em determinados pontos. Mas os desafios são passíveis de supera-

ções simples podem minimizar boa parte dessas barreiras. A rota para o futuro parece traçada. Que o setor

ção e, se equacionados, podem proporcionar um salto irreversível. “Acompanho de perto o mercado lácteo internacional e a estrutura das empresas de laticínios instaladas em outros países. Diante delas,

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• Entrevista •

Pequenas e eficientes

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ma importante tendência de mercado começa a consolidar-se no cenário mundial. Preocupado com a praticidade dos produtos e a possibilidade de gastar menos por uma bebida de melhor qualidade, o consumidor está investindo em embalagens menores, com volumes inferiores a 200ml. E essa mudança de comportamento, como demonstram os números, já está impactando diretamente a cadeia láctea mundial.

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Em entrevista exclusiva, executiva da SIG avalia a mais recente tendência do mercado: as embalagens minúsculas Itamar Cardin

Uma das mais importantes companhias do setor, a SIG Combibloc viu suas embalagens cartonadas combiblocXSlim, disponíveis em pequenos volumes de 80, 90, 100, 110, 125, 150 e 180 ml, tornaremse líder de vendas em algumas regiões. Tendência que, segundo Oliver Ihloff, gerente de produto da combiblocXSlim, deve consolidar-se nos próximos anos. “Globalmente, embalagens pequenas para bebidas, com volumes inferiores a 200ml, têm apresentado altas taxas de crescimento, especialmente na Ásia, América do Sul e Oriente Médio”, explica Ihloff. Na Ásia, nos Estados Unidos e na África, segundo a empresa, a combiblocXSlim já foi muito bem recebida. E, agora, a companhia apostou em um menor formato

também na Indonésia. A novidade vem por meio de parceria com a Frisian Flag Indonesia, uma subsidiária da Royal Friesland Campina N.V., que lançou o leite sabor chocolate e morango ‘Frisian Flag’ em combiblocXSlim de 80ml. Mas, diante dessa nova e aparentemente irreversível tendência, como reagirá o setor lácteo brasileiro? Para entender melhor as oportunidades que se abrem ao mercado nacional, bem como a dinâmica dessas novas embalagens, a Leite & Derivados realizou uma entrevista exclusiva com Luciana Galvão, head de marketing da SIG Combibloc para as Américas. Confira, a seguir, os principais trechos da conversa.

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• Entrevista • // Mercado em expansão O segredo dessas embalagens reside na conveniência da portabilidade, na porção correta para o público infantil e em permitir o acesso a produtos premium a partir de um desembolso viável. Globalmente, embalagens pequenas para bebidas, com volumes inferiores a 200 ml, têm apresentado altas taxas de crescimento, especialmente na Ásia, América do Sul e Oriente Médio.

mados nutracêuticos, cujo valor no mercado aumenta ano a ano.

Suplemento alimentar

Os nutracêuticos pertencem ao grupo dos alimentos funcionais que oferece benefícios de saúde para o consumidor. Além dos aspectos nutricionais, eles também são desenvolvidos para oferecer benefícios médicos e Market share evitar doenças ou aliviar Entre 2013 e 2019, o númesintomas. As substâncias ro de embalagens para bebidas ativas dos nutracêuticos de pequenos formatos deve resão consideradas alimenLuciana Galvão, head de marketing da SIG Combibloc para as Américas gistrar uma taxa anual de crescitos e não remédios. E as mento de 5,4%; e a embalagem pessoas consomem procartonada está se beneficiando dutos como estes como desta tendência. Enquanto a embalagem cartonaum suplemento da dieta natural, de forda registrou um market share de 58,4%, neste segma a fazer algo para sua saúde sem se mento de pequenos volumes, em 2013, este número preocupar com os efeitos negativos dos deve chegar a 61,4% em 2019. remédios.

Valor agregado

Mercado brasileiro

As embalagens cartonadas pequenas são uma opção para uma grande variedade de produtos, inclusive, com valor agregado. Elas permitem que os fabricantes de bebidas ofereçam produtos em quantidades adequadas às necessidades dos consumidores, a um preço competitivo.

As embalagens de pequenos volumes são excelentes para o mercado brasileiro sob diversos aspectos, pois existe uma preferência por embalagens que possibilitem o consumo fora de casa, em movimento.

Saudabilidade

Sinergia de mercado

Um bom exemplo de aplicação são os produtos da moda com apelos de saudabilidade, como os cha-

Sem dúvida estas embalagens têm total sinergia com as necessidades do

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mercado brasileiro e estão disponíveis para nossos clientes locais. Oferecemos toda a gama de volumes - 80, 90, 100, 110, 125, 150 e 180 ml. Por hora não podemos divulgar lançamentos, visto que os projetos são sigilosos.

Funcionalidade das embalagens Gostaria de destacar dois [aspectos importantes]. O primeiro deles é atender às necessidades do público infantil, pois o volume é adequado e a caixinha pequena cabe nas mãos das crianças. O segundo é possibilitar um menor desembolso em um produto premium. As embalagens pe-

quenas podem conter produtos diferenciados que são oferecidos a um preço mais atraente e acessível.

Máquina flexível Com a máquina de envase para a combiblocXSlim, é possível envasar, de forma rápida e segura, uma grande variedade de bebidas e responder com flexibilidade às demandas do mercado. O volume pode ser escolhido de acordo com a necessidade dos consumidores. Pode-se envasar leite e produtos lácteos, bem como bebidas não carbonatadas. E as pequenas embalagens podem ter orifícios de 6 mm e 8 mm, para inserção de canudo, possibilitando, inclusive, o consumo de bebidas mais cremosas.

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• Empresas & Negócios • Embaré dobra investimento em seus 80 anos

Essas informações foram publicadas em nosso portal. Acesse e confira outras notícias: www. leiteederivados.com.br

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Embaré tem inúmeros motivos para comemorar em 2015. Sexta maior empresa de lácteos do País, com capacidade de processamento de 2,1 milhões de litros de leite in natura por dia, a companhia está completando 80 anos e vem colhendo excelentes resultados financeiros. Apenas nos primeiros meses de 2015, segundo detalha Hamilton Antunes, presidente da Embaré, a empresa obteve alta no faturamento superior a 15%. Assim, embalada pelo bom resultado, decidiu mais que dobrar o aporte previsto para o ano, investindo R$ 60 mi-

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lhões na infraestrutura da fábrica. “Estamos prospectando novos mercados de atuação e ocupando áreas antes dominadas por empresas que estão em dificuldades”, explica Antunes. “Vamos diversificar o mix de produtos e aumentar a eficiência energética por meio de equipamentos que gerem gás metano para utilização nas caldeiras.” Com sede administrativa em Belo Horizonte e filial em Recife, além de uma extensa rede de representantes no País, a Embaré elege uma trinca de conceitos que tem

norteado seu desenvolvimento ao longo dessas décadas. E, apostando na manutenção desses pilares, espera sustentar o ritmo de crescimento nos próximos anos. “A Embaré sempre norteou sua produção por três diretrizes essenciais: tecnologia moderna, mão-de-obra qualificada e matéria-prima de primeira qualidade. A expansão das vendas dos nossos produtos segue em ritmo crescente nos mercados interno e externo e está sustentada pela qualidade e por novas estratégias de negócios”, completa o presidente da Embaré.


Lindt promove campanha com Roger Federer

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ma das maiores estrelas da história do tênis mundial tornou-se peça-chave de uma campanha da Lindt. Desde primeiro de setembro, a empresa de chocolates premium está realizando a promoção “Conheça o Roger Federer na Suíça”, que levará um cliente com acompanhante para conhecer o tenista. Além de viajar para a Suíça e de conhecer Federer, o vencedor da promoção também visitará a sede da Lindt, em Zurique. Já os 2º e 3º lugares receberão uma mochila autografada pelo tenista e recheada do produto Lindor Balls. Os clientes

sorteados até o 10º lugar, por sua vez, ganharão um quilo de chocolate. Fundada há 170 anos, a marca possui oito unidades de produção na Europa e nos Estados Unidos, com cerca de 9 mil funcionários. Os produtos da Lindt são distribuídos por várias empresas subsidiárias e sucursais, além de uma rede global de distribuidores independentes em todo o mundo.

Tableplast apresenta nova caixa de passagem cos para automação. Os produtos já estão disponíveis para comercialização.

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Tableplast do Brasil apresentou ao mercado nacional a caixa de passagem da série Excellent, que pode ser usada na colocação de equipamentos elétricos ou eletrôni-

A série Excellent é composta por seis tamanhos, sendo que cada medida tem três profundidades, totalizando 18 modelos. Possui, ainda, códigos com proteção IP 65 sem vedação na tampa, podendo ser utilizada com água sob pressão, e códigos com proteção IP 67 com vedação, que pode ser submersa até um metro de profundidade. Além disso, a série Excellent assegura para o mesmo código duas opções de colocação da tampa na base. E permite a instalação de componentes elétricos, devido a possível colocação de chassis.

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• Empresas & Negócios • Duas Rodas entra

no mercado de nutrição animal

A Danfoss consolida

oportunidades

e cresce 14%

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s resultados do grupo Danfoss, um dos maiores fabricantes de componentes mecânicos da Dinamarca, com forte atuação no setor de refrigeração, ultrapassaram as expectativas da companhia. A receita líquida subiu 14% no semestre e os ganhos estão em igual nível a 2014. Segundo informações da empresa, a receita líquida atingiu US$ 3 bilhões, contra US$ 2,6 bilhões do mesmo período do ano anterior. A melhora inclui as vendas adicionais provenientes da fabricante de drives Vacon, empresa que a Danfoss adquiriu em 2014. “Ao todo, tem sido um bom primeiro semestre para nós. Continuamos a entregar fortes resultados e, por termos foco em oportunidades de crescimento, em grande parte somos capazes de contrabalançar suavidade em alguns dos nossos mercados”, comenta Niels B. Christiansen, presidente e CEO da Danfoss. “Por conseguinte, temos atualizado nossa expectativa para o ano inteiro de crescimento do resultado líquido para 9% a 14%”, acrescenta o executivo.

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crise não está abalando os planos da Duas Rodas. Mesmo com o cenário econômico incerto, a empresa acaba de lançar a Statera, divisão voltada para o mercado de nutrição animal. Seu foco será no desenvolvimento de ingredientes para rações para pets e animais de produção, snacks, treats e gourmet (molhos). Líder nacional na fabricação de aromas e produtos para a indústria de alimentos e bebidas, a Duas Rodas promete oferecer um “extenso portfólio de soluções específicas de alta performance com linhas de Sistemas Funcionais, Bioingredientes, Especialidades, Sabores e Corantes”, segundo informa a empresa. Para o gerente de desenvolvimento de nutrição animal da Duas Rodas, Silvio Luiz Alago, estes blends trazem benefícios como a melhora da porosidade das partículas, a potencialização da digestibilidade e o aumento da performance. “A nova plataforma de negócios reforça o posicionamento estratégico da Duas Rodas, de ser uma empresa inovadora, consolidada e em intenso processo de expansão no mercado nacional e internacional”, acrescenta Hilton Siqueira Leonetti, diretor comercial da empresa.


Congresso reúne executivos mundiais do setor lácteo Na Vitrine

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etworking é um dos pilares para que uma empresa decole. Mesmo que essa interação não promova negócios de início, estar em contato com outros profissionais sempre agrega conteúdo e informações. Assim, para os colaboradores do setor lácteo, os dias 18 e 19 de novembro trarão imperdíveis oportunidades de mercado. Durante esses dois dias, na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, ocorre o Latin America Dairy Congress (LADC), que reunirá os principais executivos mundiais do segmento. Inspirado no Global Dairy Congress, realizado na Europa há nove anos e considerado um dos melhores eventos internacionais do setor, o LADC discutirá temas relacionados à estratégia, consumo, inovação, fusões e aquisições, mercados, empreendedorismo e marketing. “Será um evento seleto para cerca de 200 pessoas, apresentando mais de 20 palestras com insights poderosos dadas por líderes mundiais do setor. É um evento de líderes para líderes, com networking único”, explica Marcelo Pereira Carvalho, diretor da AgriPoint Consultoria, uma das organizadoras do evento. Para garantir a participação no evento é necessário acessar: www.ladc. com.br. Os valores variam de R$ 1.440 a R$ 2 mil. As vagas são limitadas. Outras informações estarão disponíveis em (19) 3432-2199 ou ladc@milkpoint.com.br.

Iogurte embelezador Em parceria com a revista Boa Forma, o laticínio Verde Campo desenvolveu o iogurte Grego Boa Forma, um produto que faz bem à pele. Seu segredo é a presença do Colágeno Verisol, o único com ação cientificamente comprovada na textura e na firmeza da pele.

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• Sala de Negócios •

O ouro branco Tiago Debortoli, gerente comercial de negócios leite e fábrica de ração da Prodap

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Brasil, reconhecido internacionalmente por suas riquezas, encabeça o ranking mundial de vários setores, como a produção de cana de açúcar, de café e de soja. O País também se destaca no mercado leiteiro, em que figura como 5º produtor mundial, conforme dados do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg). A produção leiteira é a base econômica de muitas famílias nacionais e, por isso, mantém fortes

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características artesanais e tradicionalistas, difíceis de serem transformadas. A motivação para criar gado de leite, durante muito tempo, envolveu mais escolhas pessoais e afetivas do que financeiras. Mas os números do mercado mostram atualmente que o cenário é outro. Um levantamento realizado pela Embrapa Gado de Leite, detalhando os custos de cooperados que atendem laticínios de Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, aponta que a produção leiteira rendeu, em 2014, mais do que muitas aplicações financeiras. Surpreendendo o mercado, o leite alcançou uma valorização anual de 23,8%, enquanto a Bolsa de Valores teve retração de 2,9% e as aplicações mais seguras apresentaram índices inferiores - poupança de 7,1%, dólar de 13,3% e ouro de 14%. Ou seja, o leite está valendo mais que o ouro. Mas não se deixe seduzir por esse número, pois, assim como em qualquer outro tipo de investimento, é preciso fazer as escolhas certas para otimizar a valorização. E o primeiro passo a ser dado, no caso da produção leiteira, é encará-la realmente como uma empresa, que precisa dar lucro.

determinará a necessidade e o destino dos investimentos. Tudo começa com uma coleta de dados consistentes, nas áreas produtiva e financeira, que servirão de base à tomada de decisão. A partir daí são definidos os indicadores, baseados em benchmarks internos ou externos, e as metas a serem perseguidas. A doutrinação dos colaboradores para uma cultura focada em resultados é outro fator estratégico no processo de profissionalização do negócio. Eles são a engrenagem da mudança e nos darão as informações necessárias para compreender a rotina da fazenda e os pontos focais de atenção. O investimento em nutrição do rebanho também pode fazer toda a diferença no resultado financeiro. Com o balanceamento da dieta para todas as categorias e a oferta de um suplemento mineral de qualidade, conseguimos ala-

A chave para o sucesso do negócio rural está na gestão. É ela que determinará a necessidade e o destino dos investimentos Atuando há 10 anos com consultoria em fazendas, percebi que o principal erro dos produtores é manter o foco no “custo mínimo”, enquanto a estratégia ideal seria a do “lucro máximo” – dois termos com significados e resultados diferentes. A profissionalização do negócio se inicia com a elaboração de um planejamento estratégico, procedimento que determinará os caminhos para o alcance dos objetivos. Na maioria das vezes, percebemos que 80% dos problemas são causados por 20% dos fatores. Assim, é preciso focar os esforços nos itens de maior impacto dentro do custo, desprendendo-se de qualquer vaidade. Modernizar a propriedade, investindo em tecnologia e infraestrutura, é sempre o pensamento inicial. Mas a chave para o sucesso do negócio rural está na gestão. É ela que

vancar o desempenho produtivo dos animais e, consequentemente, o lucro do negócio. Na Prodap, acreditamos que a combinação de soluções em gestão, tecnologia e nutrição animal pode transformar a realidade de um negócio. Não são raros os cases de fazendas que, ao adotar essas medidas, conseguiram reduzir o custo do leite e diminuir a sensibilidade das oscilações de preço do mercado, mesmo contando com um processo produtivo enxuto e uma estrutura otimizada de instalações e pessoas. Esta é a realidade do novo agronegócio, que exige cada dia mais eficiência “porteira adentro” para poder vislumbrar um futuro sustentável do negócio.

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• Conjuntura •

Desvio de rota Enquanto Programa de Investimento em Logística avança em marcha lenta, especialistas apontam caminhos para reduzir custos logísticos

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Brasil é apenas o 57o país mais competitivo do mundo, segundo ranking do Fórum Econômico Mundial de 2014-2015. O “tamanho do mercado” (9º maior), a “educação superior” e a “sofisticação das empresas” são alguns dos pilares que sustentam o desempenho brasileiro. Mas alguns entraves já recorrentes da economia, como alerta o próprio relatório do Fórum, colocam o País atrás de nações como Panamá (48° lugar), Costa Rica (51º lugar) e África do Sul (56º lugar). Um desses graves problemas, entretanto, ameaçou ser encarado de frente pelo Governo Federal. Neste ano, o anúncio da nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL), em junho, acendeu a chama de otimismo em relação a um dos grandes gargalos que enfraquecem a competitividade brasileira: a infraestrutura, classificada pelo Fórum Econômico Mundial como repleta de “deficiências persistentes”. O novo pacote de concessões, que vislumbra investimentos em rodovias (R$ 66,1 bilhões), ferrovias (R$ 86,4 bilhões), portos (R$ 37,4 bilhões) e aeroportos (R$ 8,5 bilhões),

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divulgação

Thais Ito

“Se totalmente aplicado, o PIL poderia diminuir cinco pontos percentuais dos custos logísticos”, calcula Afrânio Kieling, do SETCERGS


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divulgação

• Conjuntura • Contudo, a instabilidade econômica e política, o envolvimento de grandes companhias de infraestrutura em operações judiciais e a perda do grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, em setembro, são alguns dos elementos que ofuscam o otimismo em relação ao PIL, conforme aponta o professor de estratégia e gestão pública da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. Enquanto esse caminho não se concretiza, ele e outros especialistas apontam meios para driblar as dificuldades vividas no País, que ocupa apenas a 76ª posição no ranking mundial de infraestrutura. Mapear custos logísticos e apostar na colaboração entre empresas são algumas das dicas do professor Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, para reduzir gastos

// Caminhos lácteos

poderia ser um verdadeiro turning point da competividade brasileira. Há quem arrisque dizer que o pacote seria capaz de reduzir os custos logísticos pela metade, mas o consenso é de que o lançamento do programa não ocorreu em momento favorável. “Seria um imenso avanço para nos tornar mais competitivos. Estamos em boa época para exportar, seria uma grande saída para o País. Nesse momento de dificuldade, deveríamos exportar tudo o que podemos e diminuir as importações”, defende Afrânio Kieling, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (SETCERGS). “Se totalmente aplicado, o PIL poderia diminuir cinco pontos percentuais dos custos logísticos.” Esses custos mencionados por Kieling representam, em média, 11,19% dos gastos das empresas brasileiras. O dado vem de um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC) com 111 companhias - inclusive do setor de agronegócio e de bens de consumo - que respondem por cerca de 17% do PIB brasileiro.

Concentrado principalmente no mercado interno, o setor lácteo não seria tão favorecido a curto prazo por investimentos em portos e ferrovias como a cadeia cárnea, por exemplo. “Há um problema adicional: a retirada do leite em fazendas, que costuma ocorrer a cada dois dias em estradas vicinais de pequeno porte que, em geral, não são pavimentadas e estão sob administração municipal ou estadual, não estão sendo contempladas pelo PIL”, explica Rodolfo Silva, diretor de operações da Genoa, empresa que presta consultoria em processos de logística. “Isso impacta diretamente a competitividade dos laticínios.” Uma possível solução seria adotar modelos de simulação e de otimização, que podem gerar redução de 20% nos custos operacionais - “já chegamos até a 50%” -, de acordo com Silva. Ele explica que a simulação permite realizar um planejamento estratégico da cadeia logística a partir do dimensionamento da frota que atenderá as fazendas, permitindo estimar quantos caminhões são realmente necessários e, assim, reduzir o número de ativos. “Podemos ‘testar’ a logística antes de ir para o mundo real”, resume.

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Já o modelo de otimização responde pelo operacional. “É a roteirização. Ou seja, o sequenciamento das atividades, indicando qual será a melhor rota, horários e ordem de atendimento para reduzir os custos totais”, esclarece Silva. “A logística de ‘pick and delivery’ [coleta e entrega] é comum em todas as indústrias. É um processo custoso, cada viagem ou quilômetro a mais onera a competitividade. A adoção de modelos científicos como esses consegue reduzir o número de viagens realizadas, de quilômetros percorridos e de caminhões na frota.” A complexidade dos problemas logísticos, como demonstra os modelos da Genoa, exige um cuidadoso trabalho de análise. Algumas soluções, no entanto, estão bem próximas. Foi o que concluiu a paranaense Stival Alimentos, uma indústria de beneficiamento e produção que trabalha com queijo ralado, entre outros itens, após dividir-se em duas empresas.

Respostas que valem ouro Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral, recomenda às empresas uma autoanálise em relação à gestão de custos logísticos para ajudar a reduzir seus impactos. Confira o guia de perguntas sugerido pelo especialista e monte seu plano de ação:

1- Quais são os gargalos logísticos que afetam os custos das nossas operações? Realizar o mapeamento deles é o primeiro passo para encontrar as ações para mitigá-los. 2- Quais são os parceiros com quem devemos nos juntar para reduzir nossos custos logísticos? “Muitas empresas contratam as mesmas transportadoras ou dependem da oferta de matéria-prima das mesmas regiões. Elas conversam pouco entre elas sobre a formação de seus custos porque temem que o concorrente os conheça. Recomendo quebrar barreiras e caminhar na direção do movimento colaborativo para reduzir custos logísticos”, argumenta Resende. 3- Será que nossa estrutura logística é a mais adequada ou poderíamos ter uma estrutura mais enxuta? A tendência das empresas agora é “cortar gordura”. “Quando vivem períodos de estabilidade e de altas margens, as empresas não costumam se preocupar com gastos em logística. Agora é questão de se perguntar onde podem reduzir custos”, conclui.

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• Conjuntura •

Empresa se divide em duas companhias - uma exclusivamente para o transporte de carga - e reduz 10% dos custos com logística e transporte

“Há cerca de dois anos, todo custo de logística compunha as despesas gerais, então não tínhamos uma visão de quanto o custo do frete representava porque misturávamos as contas”, relata Alexandre Stival, presidente da companhia. Ao criar a própria transportadora, Stival não só buscou discernir os gastos referentes à logística, mas também abrir a possibilidade de gerar mais renda com os caminhões. “Antes, o caminhão ia para São Paulo ou Brasília, por exemplo, e voltava vazio porque não podia pegar frete. Hoje, ele volta carregado e dando lucro graças à criação desse novo serviço para terceiros”, conta Stival, que comemorou a redução de 10% nos custos logísticos, acarretando em um aumento de cerca de 0,5% no lucro final.

// Caminhos brasileiros De acordo com o estudo da FDC citado anteriormente, as rodovias representam 81,7% das vias de transporte utilizadas pelas

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empresas brasileiras, enquanto as ferrovias respondem por 14,6% dessa distribuição. A expansão da malha ferroviária foi destacada como um dos fatores essenciais para reduzir os custos logísticos. Não é à toa: quase 44% das despesas das companhias nacionais são impactadas pelo transporte de longa distância.Além de elogiar a multimodalidade de outros países como fator de eficiência e economia, como a combinação de transporte de cargas em ferrovia e rodovia, o professor Paulo Resende ressalta outros dois fatores que nos diferenciam dos líderes do ranking de infraestrutura, como Hong Kong, Alemanha e Reino Unido. E o primeiro deles é a cultura de planejamento de longo prazo. “O País tem essa cultura de investir de acordo com a agenda eleitoral”, critica.

“A segunda questão é que vários desses países líderes já concluíram que orçamento público não é suficiente - e nem precisa ser - para arcar com todas as respostas às demandas por logísticas em diversos setores”, defende. Para o professor, a participação da iniciativa privada é essencial para manter altos níveis e estabilidade de investimentos. De olho em 2016, Resende é enfático ao afirmar que a perspectiva em relação ao investimento é pessimista. “Mas otimista no que se refere à capacidade dos laticínios e demais indústrias de realizar a perfeita leitura do mercado e tomar as decisões apropriadas”, conclui.

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• Espaço EPAMIG • Ensino e pesquisa garantem qualidade na formação técnica

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passagem do tempo fez bem ao Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT). Os recémcompletados 80 anos de atuação em Juiz de Fora (MG), comemorados em maio deste ano, demonstram que a instituição tem fôlego para muito mais. Desde 1935, o ILCT formou cerca de 2,3 mil técnicos em leite e derivados que, atuando em indústrias, empresas laticinistas e instituições de ensino, são os principais responsáveis por difundir as tecnologias ensinadas em salas de aula e em laboratórios. “A integração entre ensino, pesquisa e fábrica de laticínios faz do ILCT referência entre as instituições do Brasil e do exterior que difundem tecnologia na formação de novos técnicos em leite e derivados. No ILCT o técnico aprende fazendo”, ressalta Regina Mancini, coordenadora de Ensino. Entre os diferenciais do curso técnico estão o caráter essencialmente prático do treinamento, que possibilita o ingresso imediato no mercado, e o dinamismo da grade curricular, permitindo adequação aos interesses do setor. Todos os alunos que concluem o curso têm estágio assegurado e, entre esses, cerca de 80% são absorvidos pelas próprias empresas onde estagiam. “Além de ser uma instituição tradicional de ensino, o ILCT mantém parcerias com empresas multinacionais e realiza projetos de pesquisa em leite e derivados que complementam a formação do aluno”, ressalta Regina Mancini. O ILCT é uma unidade da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

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(EPAMIG) e, além do curso técnico, oferece cursos de formação básica de pequena duração, definidos segundo a demanda do setor laticinista. O treinamento é voltado para atualização de conhecimentos técnicos nas áreas de queijos, doce de leite, microbiologia e físico-química do leite e derivados, análise sensorial, sorvetes, fermentados e projetos industriais. As aulas acontecem nos laboratórios da fábrica-escola do ILCT, onde há equipamentos e condições adequadas para a realização de pesquisas, salas específicas para aulas e três laboratórios de Tecnologia e Desenvolvimento de Produtos. Nos últimos dois anos, cerca de 250 alunos de todo o Brasil participaram dos cursos rápidos.

// No coração dos ex-alunos Os próprios ex-alunos se encarregam de contar a história desses 80 anos. “A ‘Cândido Tostes’ representa o alicerce de minha vida profissional. Nela eu entrei como um menino de 15 anos vindo de Carrancas, no Sul de Minas, e saí aos 18 com as ferramentas iniciais e a coragem de um jovem mais amadurecido para ingressar no mundo laticinista”, relembra Múcio Mansur


Cláudio Furtado Soares, chefe geral do ILCT

Furtado, senior principal application specialist da DuPont Brasil. Nas lembranças do gerente técnico da Tate & Lyle Gemacom Tech, Rodrigo Stephani, estão guardados sentimentos de respeito, admiração e paixão. “Respeito, por ser uma instituição de projeção internacional, que promove há 80 anos o desenvolvimento de tecnologias no Brasil; admiração, pois como instituição de ensino, assume importante papel social, permitindo que sonhos se realizem ao inserir seus profissionais no mercado de trabalho; paixão, palavra forte, mas que representa o meu mais profundo sentimento todas as vezes que retorno ao ILCT, pois foi ali que começou a minha trajetória profissional”, recorda. Um ex-aluno em especial está de volta ao ILCT após 40 anos de formado. Graduado em administração pela Universidade Federal de Viçosa e doutor em

Engenharia de Produção/Inovação Tecnológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o professor Cláudio Furtado Soares está assumindo a chefia geral do ILCT. “Assumir a chefia geral desta instituição, patrimônio histórico de Minas e do País, é uma grande honraria. Como ex-aluno farei tudo para assegurar a excelência do ILCT, e com respeito e humildade conto com a colaboração de todos”, assegura Soares.

// Inscrições abertas A partir de 23 de novembro, o ILCT estará com inscrições abertas para o processo seletivo do Curso Técnico em Leite e Derivados. São oferecidas 30 vagas para o primeiro semestre letivo de 2016, às quais podem concorrer candidatos com o ensino médio completo, ou equivalente, e os matriculados na 2ª ou 3ª série do ensino médio. As provas se-

rão realizadas em 12 de dezembro, nas dependências do ILCT, em Juiz de Fora. As inscrições poderão ser feitas pelo site www.candidotostes.com.br, até 10 de dezembro, na secretaria do ILCT (rua Tenente Luiz de Freitas, 116 - Santa Terezinha) ou por procuração. O formulário e os detalhes estão disponíveis na internet. A taxa é de R$ 50. As provas serão aplicadas em duas etapas, com 40 questões de múltipla escolha cada: de 8h às 11h30 (Português, Matemática e História) e de 13h30 às 17h (Geografia, Física, Química e Biologia). As aulas começam em 1º de fevereiro de 2016. O curso tem duração de dois anos. O profissional formado atua no planejamento, orientação e supervisão dos processos de industrialização do leite e derivados, desde a fase da produção até o controle de qualidade e comercialização do produto final.

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Os extensos passos da

modernização Embora distância para cenário internacional seja grande, setor lácteo brasileiro dá primeiros passos rumo a uma decisiva modernização Júlio Simões

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mbora figure entre os maiores produtores de leite do mundo, o Brasil ainda tenta superar gargalos históricos para se tornar uma potência láctea global. Buscando catalisar esse processo, o governo apostou em um plano recente de desenvolvimento, com ações diversificadas que podem dar competitividade ao setor. No entanto, como o País sofre com baixa produtividade e tem pouca tradição em inovação e qualificação, equiparar a produção nacional aos níveis de modernidade internacional parece um sonho distante. Ainda mais a uma nação onde as políticas públicas costumam avançar em lentos passos de formiga. O sonho, porém, não deixa de existir. Sobretudo porque algumas alternativas já começam a brotar dentro do solo fértil do setor. Na incessante busca por modernizar suas estruturas e adequar-se ao padrão externo, muitos laticínios têm percebido que investir em tecnologia está diretamente ligado à melhoria do produto final. “O que eu mais vejo no Brasil atualmente é a busca por desenvolvimento tecnológico. Muitas fábricas têm procurado melhorar seus processos para que o produto tenha mais qualidade com menor custo”, assegura Ângelo Faria, diretor da A9 Projetos, especializada em montagem e modernização de laticínios. Mas, embora as iniciativas de modernização sejam cada vez mais comuns, a distância para o cenário internacional ainda é grande. O caminho a ser percorrido, assim, como ressalta Faria, será extenso. “De forma geral, há defasagem [entre os mercados]. É preciso evoluir, garantir repetibilidade sem alterar a qualidade. No Brasil, alguns processos ainda são muito mais manuais do que lá fora, tanto no processo líquido do leite quanto no encaixotamento e acondicionamento dele e dos derivados nas embalagens.”

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Já Celso Costa Moreira, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), não encara a modernização como grande problema. A principal dificuldade, segundo ele, é o alto valor investido em cada etapa da operação. “Estamos preparados tecnologicamente, mas não para competir em relação a custos de produção e a suportar as oscilações de preços do mercado internacional”, alerta. “Para termos crescimento consistente da produção leiteira, é fundamental participar efetivamente do mercado internacional. Porém, essa inserção só será possível quando a cadeia do leite fizer o seu dever de casa quanto a custos de produção e qualidade. Sem isso, é utópico imaginar o leite brasileiro competindo no mercado mundial”, acrescenta Moreira.

// Modernização profissional Outro nó a ser desatado pela indústria láctea é o da qualificação técnica de seus profissionais. Para a professora Laura Fernandes Melo Correia, coordenadora do curso de Ciência e Tecnologia de Laticínios da Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG), a capacitação da mãode-obra é “um dos principais desafios” e deve ser encarada como prioridade.


“Nossa indústria é marcada por grande tradicionalismo, onde várias gerações se dedicam ao ‘negócio de família’. Isso precisa ser vencido para dar lugar a novas formas de se produzir, com mais qualidade e sustentabilidade”, comenta Laura, que ainda aponta um extenso caminho até que a indústria nacional iguale a infraestrutura dos principais mercados do setor. “Temos muitos pequenos laticínios que ainda utilizam tecnologia arcaica em suas plantas, muitas vezes sucateadas. Isso, aliado à falta de conhecimento técnico, faz com que muitas dessas empresas apenas sobrevivam no mercado”, explica. Por outro lado, a coordenadora relata que já existem alguns laticínios com visão mais próxima à de grandes players, capazes de produzir à nível internacional. Estas indústrias, interessadas na troca de conhecimento, acabam procurando instituições de ensino e pesquisa para formalizar parcerias. Um exemplo concreto de “modernidade” vem com o laticínio Verde Campo. Em dois anos, a empresa investiu cerca de US$ 20 milhões para ampliar a estrutura, melhorar a eficiência e aumentar a capacidade de processamento. Assim, até o fim de 2015, a companhia mineira de Lavras acredita que dobrará a capacidade produtiva, processando 6 milhões de litros por mês. “Acompanho de perto o mercado lácteo internacional e a estrutura das empresas de laticínios instaladas em outros países. Diante delas, percebo que ainda temos muito o que aprender, no que se refere ao emprego de tecnologias mais avançadas de gestão e produção. O nosso desafio é trazer e adaptar parte dessas tecnologias para as empresas e a realidade brasileira”, comenta Alessandro Rios, presidente do laticínio. “Acreditamos que uma produção eficiente é fruto da combinação de tecnologia e, principal-

Laura Correia, da UFV: “Temos muitos pequenos laticínios que ainda utilizam tecnologia arcaica em suas plantas, muitas vezes sucateadas”

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// Plano de modernização Ao discursar na abertura da Expointer, uma feira agropecuária internacional realizada no início de setembro em Esteio, cidade próxima a Porto Alegre, a ministra Kátia Abreu definiu o plano de melhoria de competitividade do leite brasileiro como um projeto “robusto”. Em Verde Campo investiu US$ 20 milhões e espera dobrar capacidade produtiva

Meu medo é que essa garra e essa visão de mercado tenham como obstáculo a pesada máquina burocrática, diz Celso Moreira, do Silemg mente, de pessoas. Por isso, investimos sistematicamente nestas duas áreas, buscando tecnologia de ponta e oferecendo capacitação à nossa equipe, a fim de aumentar e garantir não só a eficiência, mas também a segurança dos processos internos”, completa. Atualmente, a Verde Campo implementa projetos ligados ao planejamento estratégico, à capacitação de gestores e à automatização dos principais processos produtivos. “Acreditamos que, para alcançar e manter o sucesso de um

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seguida, anunciou a liberação de R$ 86,8 milhões para impulsionar o setor lácteo do Rio Grande do Sul, uma das primeiras ações do novo projeto, que prevê investimento inicial de R$ 300 milhões. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), este primeiro aporte para o estado beneficiará 18 mil produtores rurais de 132 municípios gaúchos.


Leandro Bifano

O projeto, apesar de bastante elogiado pelo setor, ainda gera desconfiança. Para a professora Laura Fernandes Melo Correia, da UFV-MG, a proposta é “interessante” por “interligar, pela primeira vez, áreas fundamentais a melhorias e ao aumento da competitividade no setor de lácteos”. Mesmo assim, ela pondera: “É um primeiro passo e acredito que o grande desafio, além da implantação, será a continuidade, já que políticas públicas têm contra si o fato de serem interrompidas mediante a troca de pessoas ou de visões no comando.” Já Celso Costa Moreira, do Silemg, embora elogie a disposição da ministra, acrescenta que teme a lentidão dos processos. “Meu medo é que essa garra e essa visão de mercado tenham como obstáculo principal a pesada máquina burocrática estatal que impede, por exemplo, a aprovação do RIISPOA [Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal], o que, por si só, já seria um passo fundamental para reduzir o tempo de tramitação no Mapa”. Mesmo assim, para ele, o projeto “merece aplausos”. As barreiras, afinal, podem ser dribladas: “Dificuldade foi inventada para ser superada.” Ângelo Faria, da A9 Projetos, também acredita que o programa terá de alterar algumas regras do sistema vigente. “De fato, o Mapa não ajuda diretamente a melhorar a tecnologia de fábrica, só fiscaliza o que está dentro ou fora do padrão. Ainda assim, a legislação do SIF [Serviço de Inspeção Federal] é defasada se comparada aos padrões internacionais. Ela contribui para a qualidade do produto, mas há fábricas que, mesmo defasadas tecnologicamente, atendem ao padrão. Não é por essa legislação que vamos atingir o nível internacional”, decreta. Os caminhos parecem traçados. O setor lácteo brasileiro, aos poucos, por meio de uma combinação de iniciativas privadas e públicas, dá seus primeiros passos rumo a uma crucial e irrevogável modernização. Que não sejam esses passos de formiga – e sem vontade.

Alessandro Rios, do Verde Campo: Acompanho de perto a estrutura dos laticínios de outros países. Diante deles, percebo que temos muito o que aprender

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Guia de modernização dos laticínios

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passos

para modernizar uma planta de leite e derivados

Com o objetivo de fornecer diretrizes para aqueles que pensam em modernizar – ou mesmo iniciar – uma planta industrial de produção láctea, a Revista Leite & Derivados elaborou um guia de instalação e modernização de laticínios, com foco em plantas de pequeno porte. Produzido com a colaboração do gestor Ângelo Faria (A9 Projetos), o guia busca familiarizar o empreendedor aos termos e processos, incentivando-o a buscar conhecimento e orientando-o na contratação de especialistas. Boa leitura e excelentes negócios.

1.ESTRATÉGIA

Concentre-se mais na inteligência competitiva do que no custo. Nesta etapa, analise detalhadamente quatro itens: a) Mercado regional - Pesquise o mercado antes de decidir onde ficará a planta. Processar produtos ligados à cultura local e que possam ter mercado expandido ou adaptado pode ser um diferencial; b) Logística – Busque os melhores modais e as formas de distribuição para aumentar a capilaridade; c) Valor agregado - Crie uma referência: pequeno volume precisa compensar a margem maior para ter viabilidade e dar estabilidade ao negócio. Pensar detalhadamente nisso antes de começar pode trazer benefícios adiante;

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d) Viabilidade - Considere estudar atentamente algumas análises financeiras, como cálculos de payback descontado, valor presente líquido, taxa de retorno e custos operacionais. A vida do seu negócio depende disto.

2.PLANEJAMENTO

São muitos os detalhes a serem considerados antes de realizar a implantação de um laticínio, mas sete são fundamentais: a) Localização - Deve ser apropriada para instalações industriais, gerar menor impacto ambiental, ter relevo adequado e ser de fácil acesso; b) Produtos - Defina os itens a serem produzidos com base em pesquisas de mercado e em análises de oportunidades; c) Fluxos - Determine os fluxos de produção para cada produto e analise os requisitos necessários para dimensionamento e detalhamento do projeto; d) Indicadores - Estabeleça indicadores de capacidade, performance, eficiência, perdas e custo de manutenção para a escolha das tecnologias; e) Requisitos - Busque superar normas e atingir padrões de alta qualificação, com atenção à saúde, segurança e meio ambiente; f) Ingredientes - Invista em Pesquisa & Desenvolvimento para criar produtos inovadores;


g) Embalagem - Crie soluções que facilitem a vida do consumidor. A embalagem tem fundamental influência na decisão de compra.

3.TECNOLOGIA

Da recepção à estocagem, a tecnologia aplicada está diretamente relacionada à qualidade dos produtos e à classificação da indústria. a) Layout: Dê atenção especial à implantação, pois influenciará em logística interna e externa, fluxo de pessoas, custos operacionais e crescimento modular; b) Processos: Desenvolva e especifique cada fase dos processos segundo as características dos produtos; c) Equipamentos: Analise o custo-benefício e não se baseie apenas em preço e marca.

Avalie também performance, custo de manutenção e segurança do maquinário; d) Edificações: Adote um sistema construtivo adequado para cada área, o que reduz custos e melhora a qualidade da obra. Atenção para fechamentos leves, acabamentos sanitários, revestimentos argamassados, coberturas com econômicos e áreas de manobras amplas e acessos seguros; e) Instalações: Projete bem toda infraestrutura mecânica e elétrica, especifique materiais de acordo com os equipamentos e compatibilize com o projeto civil. Na parte mecânica adote materiais com rastreabilidade e, na parte elétrica, escolha produtos de qualidade, que tenham disponibilidade para reposição por compra direta. Por fim, escolha empresas de montagens certificadas, com qualificação técnica comprovada e que tenham treinamentos de segurança.

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4.TRATAMENTO DO LEITE

O leite, por ser um produto completo, é também muito sensível aos tratamentos industriais, que podem manter ou alterar suas propriedades como gordura, proteína, lactose e sais, impactando em sabor, cor, aroma e textura. Em cada fase de processos como resfriamento, aquecimento, centrifugação, homogeneização e estocagem devem existir componentes como bombas, trocadores de calor, válvulas, tanques e tubulações devidamente calculados e específicos segundo a composição do produto, considerando-se viscosidade, propriedades térmicas, vazão e padrão dos produtos finais.

5.ENVASE

É fundamental analisar bem o mercado, os segmentos e as oportunidades, especialmente quanto a integração da máquina com a embalagem e o produto, além da performance de produção, dos custos das peças de reposição e do atendimento pós-venda. Para pequenas plantas o ideal é manter pequenos estoques, só com peças de alto giro, e ter fornecedores preparados para atender rapidamente as demandas. É preciso atenção quanto à performance das máquinas, análise de consumo, perdas e eficiência. Tais indicadores darão suporte às decisões, permitindo identificar o valor mais justo e a viabilidade de cada opção.

6.SISTEMAS DE LIMPEZA

O CIP (Clean In Place) é o método mais indicado para atender processos e equipamentos em limpeza por circuito fechado. Sua aplicação deve ser desenvolvida e dimensionada para cada processo específico, visando atingir a eficiência técnica. Uma unidade de CIP que funcione corretamente pode ter menor consumo de água e de produtos químicos, reduzir tempo de paradas e garantir assepsia dos processos. Evitar unificação de proces34

sos diferentes nas chamadas “Centrais CIP” pode eliminar perdas de produtos fora dos padrões ou, pior, reclamações de consumidor.

7.ACONDICIONAMENTO

É a fase em que o produto já envasado recebe embalagens secundárias para chegar até a gôndola. O ideal é realizar este processo da maneira mais automatizada possível e, mesmo que não seja possível inicialmente, é recomendável ter espaço para suportar automação. A adoção do acondicionamento automático deve trazer benefícios legais e em custos para laticínios de todos os portes.

8.UTILIDADES

As utilidades, de maneira geral, são: água potável, águas industriais, ar comprimido, vapor, energia elétrica e gás. Recursos vitais para a operação industrial, elas normalmente compõem boa parte do custo de transformação e, às vezes, por serem imprescindíveis, são interpretadas como contas compulsórias. Porém, se usadas boas tecnologias, forem bem dimensionadas e adotadas fontes corretas, podem ser o diferencial competitivo de uma indústria.

9. REQUERIMENTOS TÉCNICOS E LICENÇAS Todo projeto, independentemente do porte, deve ser pautado pelas legislações do Ministério da Agricultura, pelas Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para saúde e segurança e pelas Normas Ambientais dos órgãos licenciadores estaduais e municipais. Quando o investidor atenta à saúde, segurança e meio ambiente desde o início, aumenta as chances de conseguir as licenças que, inclusive, ajudam a aprovar financiamentos bancários.


10. GERENCIAMENTO DO PROJETO Todo projeto de sucesso é resultado de um bom gerenciamento, mas nem todo projeto bem gerenciado será de sucesso. É fundamental que, desde a estratégia até a implantação final, sejam adotadas boas práticas de gestão adequadas para cada negócio, empresa ou investidor. O PMBOK reconhecido no mundo inteiro é um conjunto de boas práticas que podem ser utilizadas desde a forma simples até a complexa, embora deva-se aplicar apenas aquilo que caiba em cada empreendimento.

10 benefícios práticos

em gerir bem os projetos: 1. Empreendimento revela estratégia do investidor; 2. Todos interessados participam ou são considerados; 3. Obtenção de recursos financeiros necessários; 4. Desembolso de acordo com planejado e orçado; 5. Mitigação de riscos gerenciais e administrativos; 6. Equipe alinhada com objetivos; 7. Compras planejadas e com melhor negociação; 8. Definições claras de funções e atividades; 9. Menor tempo de implantação; 10. Entregas dentro dos padrões esperados;

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• Capa • O passo-a-passo de um laticínio de qualidade Colaboração: prof. Italo Tuler Perrone (Universidade Federal de Viçosa)

3 FILTRAGEM Após as primeiras análises, o leite segue para o filtro, onde se retira possíveis resíduos macroscópicos. Dependendo do volume processado e do tamanho do laticínio, é usado um filtro duplo paralelo, que permite fácil limpeza sem interromper o processo.

4 CENTRIFUGAÇÃO

É a etapa onde se separa a gordura do leite. A partir deste creme, é produzido manteiga, creme de leite, sorvete e chantilly, cada qual com seu processo. O leite, por sua vez, será padronizado em seu teor de gordura.

2 RETIRADA DE AMOSTRA

As análises para a avaliação da qualidade do leite iniciam-se ainda na fazenda, por meio do teste do alizarol e da retirada de amostras individuais de cada produtor. Ao chegar ao laticínio, elas são analisadas juntamente com uma amostra do leite de conjunto (leite de diferentes produtores que vem misturado no mesmo caminhão-tanque). Enquanto as amostras que atenderem aos padrões são recebidas e descarregadas, as reprovadas são devolvidas ao produtor.

1 RECEPÇÃO E PESAGEM

Depois de chegar à fábrica em caminhões vindos das fazendas, o leite cru é pesado e armazenado a temperaturas entre 4 e 7 graus Celsius. Em todas as etapas os processos são controlados por rígidas medidas sanitárias para evitar a contaminação do produto final. 36


6 HOMOGENEIZAÇÃO

Teoricamente, é a divisão e a separação dos glóbulos de gordura do leite. Na prática, é o processo que impede a formação de nata no leite pasteurizado e melhora o aspecto visual (mais branco), a durabilidade, a palatabilidade e a digestão do alimento.

5 PADRONIZAÇÃO

Nesta etapa, a gordura separada anteriormente é reincorporada para padronizar o teor de cada tipo de leite: integral (mínimo de 3%), semidesnatado (0,6 a 2,9%) e desnatado (máximo de 0,5%).

7 PASTEURIZAÇÃO

- Tipos de leite:

Método criado pelo francês Louis Pasteur, usa o calor para eliminar as bactérias patogênicas do leite, aumentando seu tempo de vida quando conservado em refrigeração. Esse processo também ajuda a melhorar a qualidade de queijos e iogurtes derivados. A partir daqui, seguindo etapas de evaporação a vácuo e secagem por atomização, é possível produzir leite em pó.

Leite Pasteurizado: High Temperature Short Time (HTST) - 75 Celsius / 15 a 20s Leite Longa Vida: Ultra High Temperature (UHT) / Ultra Alta Temperatura (UAT) - 130 a 150 Celsius / 3 a 5s (necessita homogeneização) vantagens: custo menor de transporte e armazenamento, resistência ao transporte de longa distância, valor nutricional equivalente ao pasteurizado desvantagens: é indicado para consumo, mas não para a produção de queijos e derivados. Leite Esterilizado - 120 Celsius / 10 min elimina todas as bactérias e ocorre com o produto já dentro da embalagem. Não tem uso comercial no Brasil

8 ARMAZENAMENTO E EMBALAGEM O leite pasteurizado é embalado em filmes plásticos, conhecidos popularmente por “barriga mole”, enquanto o leite UHT ou UAT é envasado de forma asséptica em embalagens cartonadas, que possibilitam diferentes formatos e diferentes funcionalidades. O leite pasteurizado deve ser armazenado e distribuído sob refrigeração, enquanto o leite UHT ou UAT pode ser mantido à temperatura ambiente. 37


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rota contra

a crise

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TecnoCarne & Leite minimiza efeitos da crise, surpreende expositores e aponta rotas para um Brasil que tenta reencontrar seu caminho Itamar Cardin

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O

s desafios pareciam estampados em cada estande montado na TecnoCarne & Leite – 12ª Feira Internacional de Tecnologia para a Indústria da Carne e do Leite. Pequenos que fossem, embora perceptíveis, eles eram como pequenas logomarcas de um momento peculiar, cunhadas em sucessivos erros econômicos e na interminável voracidade da política brasileira. Mas a TecnoCarne & Leite, realizada entre os dias 11 e 13 de agosto, no São Paulo Expo, demonstrou algo crucial a um Brasil que enfrenta uma severa crise conjuntural. Os entraves, reais e preocupantes, precisam ser encarados com coragem. E, diante de ta-

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Os executivos respondem: por que participar da TecnoCarne? Carlos Freitas, diretor comercial da América Latina da Budenheim

É a primeira vez que participamos e nosso intuito é expor a marca, ficar mais conhecido. Procuramos focar algumas especialidades, para não competir com o produto local. Nosso foco principal é o rendimento. Odair Gomes, gerente comercial da CSV Refrigeração Industrial

Aqui é o lugar ideal para a área de refrigeração, toda a cadeia frigorífica e láctea está presente.

manha incerteza, há uma importante rota alternativa para minimizar os impactos da turbulência: reforçar a presença de mercado e investir com criatividade. Assim, pautada por um certo receio conjuntural e, ao mesmo tempo, pela força crescente do setor de proteína animal, a TecnoCarne & Leite surpreendeu os expositores. E dois pontos foram cruciais para garantir a resposta que o mercado tanto esperava: qualificação do público visitante e uma imensa quantidade de negócios realizados. Mais de 500 marcas nacionais e internacionais, provenientes de países como Estados Unidos, Uruguai, Espanha, China, Nova Zelândia e Alemanha, foram expostas durante o evento. Visitantes de 20 países, por sua vez, ao lado de influentes empresários brasileiros, concretizaram compras em todos os segmentos da cadeia de proteína animal.

Arnaldo Marinaro, gerente de desenvolvimento da Energyarc

Divulgação de produto é sempre importante para o negócio. Então, aqui, estou buscando tornar minha marca conhecida na cabeça do expositor. Fabiano Babichi de Gois, diretor da Incomaf

É uma feira grande, renomada, que nos ajuda com a aproximação dos clientes. E essa aproximação é importante porque demonstra o quanto estamos preparados para atendê-los.

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Meeting Business gerou quase R$ 10 milhões em apenas duas horas

Os negócios das empresas participantes, segundo estimativas da organização, devem ser alavancados em até 20%. Apenas o Meeting Business, um formato inovador de rodada de negócios, unindo os elos mais distintos da cadeia, gerou quase R$ 10 milhões em apenas duas horas. Já o Ciclo de Palestras – com oito apresentações gratuitas – garantiu informação, inovação e debates de qualidade. O resultado, assim, foi uma feira que reiterou não só a estabilidade do setor, como indicou possíveis caminhos às turbulências nacionais. “A TecnoCarne cumpriu o seu papel em ser uma plataforma de negócios e conteú-

As empresas respondem: em um momento de crise econômica e turbulência política, qual a importância da TECNOCARNE & LEITE?

Shiguen

Foss

A feira ajuda a divulgar produtos novos e a nos aproximar dos clientes. Ela é importante ainda mais em um momento como este, em que o mercado está fraco, onde o cliente compra mais pela manutenção do que investe em novidades. Paulo Alves, gerente técnico

É muito importante mostrar que ainda é fundamental investir para otimizar os processos. Em um momento como este o importante não é aumentar, mas otimizar. Jessica Catelano, do departamento de marketing

Farenzena

Montemil

Essa feira é o termômetro de como o Brasil está. O importante nesse momento é divulgar o produto, porque sempre há compradores presentes. Denis Farenzena, diretor

Em um momento de crise você não pode se esconder, é fundamental aparecer ao mercado, mostrar que está inteiro. Mas, até agora, praticamente não tivemos mudanças. O que nos preocupa é 2016. Edimar de Assis, diretor

Fimaco do Brasil Neste ano, aqueles que estão expondo mostraram ao mercado que não estão sendo afetados. Rafael Mohr, do departamento comercial

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Dânica O reflexo da crise vem para todos. Então é sempre bom nos apresentarmos, porque isso reforça a posição frente ao

mercado. E, nesse momento, é fundamental buscar esse posicionamento. Walmyr Stryevski, gerente comercial

Mastercorp Esse é o momento de ser agressivo no mercado. Precisamos estar focados em novos clientes, em fazer prospecções. E aqui as pessoas vêm prontas para comprar. Jair Stofella, do departamento de marketing

Usinox A feira surpreendeu e está atendendo todas as expectativas. Esperávamos dificuldades por conta da crise, mas ela está sendo muito positiva. Lázaro Luiz Hemeque, diretor


Ciclo de Palestras garantiu informação, inovação e debates de qualidade

do que ajuda a desenvolver esse setor tão fundamental para a economia brasileira”, aponta José Danghesi, diretor da feira. “Mesmo com o difícil momento econômico e pelos tantos gargalos de infraestrutura que não permitem um crescimento maior e mais rápido, a cadeia da indústria de processamento de proteína animal mostra que está disposta a investir para tornar seus processos mais eficientes, ágeis e com qualidade superior”, acrescenta.

// A importância da feira Diante das dificuldades macroeconômicas, a TecnoCarne & Leite foi apontada por grande parte dos expositores como um evento fundamental no calendário de 2015, capaz de dinamizar

os negócios e trazer importantes alternativas. “A feira ultrapassa o nível nacional, atinge a América do Sul, há representantes de diversos países, o que é ainda mais importante em um momento como esse”, avalia Enri Tunkel, gerente de marketing LAM de refrigeração industrial da Danfoss. Já Ulisses Cason, vice-presidente de Marketing da Sealed Air divisão Food Care na América Latina, sintetiza a importância da feira em três pontos principais: demonstrar que a empresa está com “saúde”, apresentar novidades e comunicar alterações. “O principal objetivo é trazer material e ferramenta que nos ajude neste momento difícil. E o balanço está sendo positivo, a feira está indo além das expectativas.” E, se depender do resulta-

do da TecnoCarne & Leite, as empresas têm reais motivos para apostar na melhora da situação econômica, mesmo que os números conjunturais ainda estejam desfavoráveis. “A feira atendeu muito bem as expectativas, sobretudo dentro da atual situação do País”, avalia André Trama, gerente de operações da Jarvis. Análise essa, aliás, que foi compartilhada por dezenas de expositores. “A concretização de negócios foi boa, superou nossas expectativas”, afirma Marco Antonio Magolbo, diretor da Handtmann. “O movimento foi bom, recebemos muitos clientes e fizemos muitas prospecções”, acrescenta Thais Cini, analista de marketing da Fortress. “Tínhamos uma preocupação,

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por conta da crise, mas superou as expectativas. Tem público de muita qualidade”, completa Eduardo Gualtieri, diretor comercial da Dal Pino.

// Inovações tecnológicas Não foram apenas os bons negócios e o público qualificado, entretanto, que marcaram a 12ª edição da TecnoCarne & Leite. Reforçando uma de suas características centrais, de servir como grande vitrine de inovações tecnológicas, a feira apresentou máquinas e equipamentos que prometem ser grande destaque no mercado de proteína animal. A Güntner, por exemplo, apostou na sustentabilidade. Em busca de inovação e de desenvolvimento de produtos e tecnologia, a empresa apresentou o ECOSS Autonomous, um sistema de monitoramento inteligente utilizado na linha de Condensadores Evaporativos ECOSS. Responsável por monitorar parâmetros de temperatura e pressão do refrigerante, o sistema oferece uma interface única e uma solução com-

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pleta para todo o processo. Permite, ainda, redução do consumo de água e dos custos com tratamento químico. “É uma solução que traz muita praticidade. O usuário pode simplesmente plugá-la e o equipamento funcionará por um longo tempo, porque sua vida útil e sua confiabilidade é grande”, comenta Oscar Baldin, engenheiro de produtos da Güntner. Outra companhia a apostar em uma interface amigável foi a Johnson Controls. Durante a TecnoCarne & Leite a empresa lançou nacionalmente o controlador Frick Quantum HD, com maior flexibilidade de comunicação e display touch de alta definição, que oferece visualização clara das informações do compressor. “Seu diferencial é a configuração de alta definição e o touch screen. A reação será muito positiva, é um importante avanço”, antecipa José Augusto Castro Chagas, gerente de refrigeração industrial América Latina da Johnson Controls Building Efficiency. Com o slogan “Re-imagine a Eficiência Operacional”, por sua vez, a Sealed Air divisão Food Care apresentou novidades em uma linha de produção automatizada. Um dos equipamentos em demonstração era a máquina de embalagem VS9X, que revelou ao público como “produtividade, higiene, manutenção e monitoramento de desempenho podem atuar em conjunto com sucesso”, conforme detalha a empresa. “A TecnoCarne é uma boa oportunidade para que os clientes vejam na prática como seguimos inovando em sistemas, serviços, produtos e


equipamentos de embalagem e higiene”, comenta Ulisses Cason, da Sealed Air. “Estes são desenvolvidos para proporcionar um desempenho ótimo, com maior eficiência operacional e diminuição das perdas, culminando em real criação de valor e menores custos totais.” Preocupação com despesas também inspirou o lançamento da GEA, o Xtremely Efficcient Compressor Design, uma unidade compressora de baixo custo de manutenção e alta eficiência energética. “Temos uma tecnologia de ponta que traz redução de consumo de energia. Muitas empresas em momento de expansão precisam de um freezer e procuram a GEA, para aumentar a produtividade e reduzir consumo de energia”, explica Paulo Mariotto, presidente da divisão de refrigeração da América Latina. Confira a seguir alguns destaques da TecnoCarne.

Algumas Novidades da TecnoCarne & Leite

Esteira certificada Responsável por inventar o primeiro transportador espiral do mercado, a Ashworth apresentou as esteiras Advantage, as primeiras para transportadores espirais da indústria a serem aprovadas pelo USDA (o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Projetadas segundo a resistência das varetas de aço inoxidável, elas não sofrem flexão.

Tecnologia japonesa

Combo de novidades

Menos manutenção

A Mayekawa, multinacional japonesa com 90 anos de know-how em sistemas de produção de frio industrial e processamento robótico de alimentos, apresentou suas unidades compressoras para refrigeração industrial. Os equipamentos, conhecidos popularmente como Compressores Mycom, proporcionam alta eficiência energética.

Uma série de novidades esteve presente no estande da Mebrafe, como o RETMAC, um resfriador tubular de água para chiller, e os túneis contínuos, tanto da linha helicoidal como da linha de retenção variável. Os equipamentos, segundo a empresa, visam a alta produtividade e a redução no consumo de energia.

A Intralox apresentou a esteira Intralox Autoempilhável, a primeira esteira modular plástica empilhável para aplicações de resfriamento e congelamento em espirais. Sua tecnologia única, devido ao mecanismo de bloqueio da esteira, reduz tempo de paradas e manutenção.

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• Tecnologia •

Congelar

para lucrar

Mercado brasileiro de refrigeração recebe aposta estrangeira que pode potencializar qualidade do setor lácteo Thais Ito

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ão há rebaixamento de nota de crédito que trave a expansão da cadeia láctea brasileira. O desenvolvimento gradual do segmento, independentemente de problemas políticos e econômicos, que têm afastado alguns investidores estrangeiros, está atraindo importantes multinacionais do setor. Hasteando a bandeira da inovação, a empresa neozelandesa Milmeq está sondando o mercado nacional com a missão de oferecer tecnologias de refrigeração capazes de melhorar a qualidade dos alimentos. E uma das promessas da companhia é reduzir o tempo de congelamento dos produtos alimentícios. Quanto mais rápido o processo, mais eficiente é a conservação do sabor e o prolongamento da vida útil, segundo explica Michael Lightfoot, CEO e presidente da companhia, em entrevista exclusiva à Revista Leite & Derivados. “Algumas empresas levam 48 horas para congelar os produtos, mas nós podemos oferecer um processo pela metade deste prazo, economizando energia e reduzindo o custo por item, o que aumenta os lucros da empresa”, assegura Lightfoot. O processo de inovação da Milmeq tem raízes que se entrelaçam com a história de sua terra natal. Uma das razões para que a Nova Zelândia tenha sucesso em inovação em diversos setores, segundo o executivo, é seu isolamento geográfico. “Está longe de tudo, separada de outros países. Não temos de quem copiar, então muitas coisas foram desenvolvidas lá mesmo”, justifica. “Somos especializados e motivados pela inovação. Desenvolvemos, por exemplo, o túnel de congelamento rápido.”

“Temos planos de ter um forte legado aqui no Brasil”, assegura o presidente da neozelandesa Milmeq

Esse túnel, segundo detalha Lightfoot, é automático e normalmente dispensa interação manual. Ele move o produto para dentro durante o tempo necessário ao processo de congelamento - geralmente de 24 horas. Ao final dessa etapa, o produto é conduzido automaticamente para o setor de embalagem. Atualmente, a empresa conta com um time de projetistas que desenvolvem novos produtos. Lightfoot ressalta que a equipe de inovação é utilizada inclusive no momento de resolver problemas levados pelos clientes. “Juntamos engenheiros, projetistas, colaboradores de chão de fábrica para pesquisar e desenvolver um modo mais inteligente de realizar as coisas.”

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• Tecnologia • Atenta à crescente demanda global por proteína animal, a Milmeq pretende oferecer suas soluções para grandes fornecedores, mesmo que eles não atuem no mercado interno. “A China, por exemplo, é um mercado que não produz o suficiente para atender toda a população, então trabalhamos com clientes que querem exportar para a China. Isto é crescimento para nós”, pontua.

Confira outros destaques do setor em 2015

Condensadora promete economia de 30% A multinacional norte-americana Heatcraft apresenta a nova versão da condensadora Slim da marca Flexcold. O equipamento, segundo a empresa, pode atingir uma economia média de 30% em relação à concorrência. “Com a economia financeira alcançada, é possível que, se revertida em litros de leite, ela apresente uma economia da ordem de 730 litros de leite ao ano”, comunica. Em adequação ao Protocolo de Montreal, que prevê a eliminação gradativa do gás refrigerante R22, a condensadora opera com outro fluido – o R404A. Outro diferencial é o quadro de controle eletrônico acoplado à unidade condensadora, “que oferece a possibilidade de dimensionamento especificamente para a unidade condensadora de acordo com o volume do tanque e o número de ordenhas, oferecendo ao produtor segurança e garantia da qualidade”.

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Por fim, a tecnologia do scroll, com 70% menos de peças móveis em relação a outros compressores, promete menos ruído, menor vibração e mais eficiência, “diminuindo o desgaste do equipamento e o aumento de sua vida útil”.

Um datalogger à prova d’água Um dos destaques da gaúcha Akso é o datalogger de temperatura e umidade AK174. Segundo a empresa, o instrumento é totalmente à prova d’água - com grau de proteção IP67 - e possui conexão USB direta com o computador, permitindo o download de todos os dados coletados e a análise dos mesmos sob a forma de tabela ou gráfico.

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Vitrine de Refrigeração –

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Em visita ao Brasil no fim do ano passado, Lightfoot sinalizou a intenção de ampliar a presença da empresa no País, com foco no processamento de alimentos primários, incluindo laticínios, carne vermelha, aves, frutos do mar e horticultura. “Temos planos de ter um forte legado aqui no Brasil”, enfatiza o executivo.

“Além disso, ele tem uma excelente exatidão de ±0.5°C e ±3%UR e sua faixa de medição vai de -30 a 85°C e 0 a 100%UR”, complementa a empresa. “Seu visor LCD mostra simultaneamente os valores de temperatura e umidade atuais, registros de máximas e mínimas e alarmes de alta e baixa.” O equipamento tem capacidade para 43.000 registros com intervalos configuráveis pelo próprio usuário e apresenta sinalização dos alarmes de temperatura e umidade via LEDs.

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• Índice de anunciantes • ABC Itaperuna.....................................................................................................11

Horizonte Amidos............................................................................................21

Biomérieux............................................................................................................33

Latin America........................................................................................................ 7

Casa Forte................................................................................................................ 5

Mirainox.................................................................................................................49

Fispal Tecnologia.....................................................................................2ª capa

Multifrio................................................................................................................ 23

Higex.........................................................................................................................35

SIG..................................................................................................................4ª capa

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