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SETEMBRO • 2015 @jornalesquina

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Brasília, DF

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Brasília, DF

SETEMBRO • 2015 @jornalesquina

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parques

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Minoria dos parques no DF tem estrutura, diz IBRAM em meio à capital em pleno crescimento, mas de abismos sociais. De encontros improváveis. Na poesia de Renato Russo, inclusive, foi onde nasceu o amor de Eduardo e Mônica. Para respirar o mais humano do que existe em um espaço urbano, repórteres do Esquina visitaram seis parques instalados em diferentes regiões no Distrito Federal que não são consagrados no gosto da maioria, mas que são prioritários para diferentes comunidades. Só que, nem só de ar puro vivem esses lugares, como ambientalistas detectaram. A equipe encontrou problemas diversos, como lixo, falta de segurança, áreas incendiadas, invasão, descuidos com fauna e flora, e até com a drenagem.

Neste mês, inclusive, o Distrito Federal faz campanhas pela preservação do cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil. Para não ficar apenas em um marco temporal, em relação ao que os repórteres observaram, será necessária mais do que ação governamental, que, por enquanto, também é ineficaz. É preciso que a população se conscientize que um papel jogado no chão pode fazer toda a diferença. Imagine o despejo de um lixo inteiro. Como será a “selva brasiliense” daqui a 20 anos? Isso terá direta relação com o que se faz dos espaços de natureza hoje. Bemvindo a uma voltinha por esses parques.

Helena Azeredo

helena.azeredo@terra.com.br

Burle Marx: ocupação irregular e degradação

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roblemas relacionados à ocupação do espaço público ameaçam o equilíbrio do Parque Burle Marx, no Noroeste, um dos bairros mais jovens da cidade. Em área do parque está instalada a Associação dos Pilotos de Ultraleve de Brasília, o que tem gerado grande polêmica. A entidade tem uma pista de pouso no local onde funciona uma escola de aviação. Para o presidente da associação, Everardo Ribeiro, o espaço foi cedido legalmente pelo governo há 19 anos. Ele acredita na "convivência pacífica". sem prejuízo para a sociedade. O caso está no Tribunal de Justiça do DF que deverá tomar a decisão. O analista ambiental Paulo Cezar Mendes Ramos considera que, embora a construção tenha sido autorizada pelo IBRAM, existe impacto ambiental com desmatamento e abalo do terreno com a instalação da pista. O especialista cita ainda a eliminação de diversos indivíduos de espécies do cerrado, as quais o parque foi criado para proteger, além de árvores, arbustos, ervas, orquídeas, musgos liquens, enfim, eliminação de uma grande riqueza de formas e associações vegetais. Outro problema a ser solucionado é a necessidade de desocupação da área onde hoje funciona o depósito de carros apreendidos do Detran, também instalado em área do parque. O assunto vem sendo conversado entre os órgãos, segundo o IBRAM. Consultado, o DETRAN não se pronunciou. Além dessas ocupações que não têm relação com o parque, o lugar sofreu com um incêndio que devastou boa parte da mata nativa em julho. A situação motivou descontentamento na população, que passou a cobrar das autoridades medidas para a execução das obras.

Histórico

O Parque de Uso Múltiplo Burle Marx, antigo Parque Ecológico Norte, está situado dentro da Área de Expansão Urbana do Plano Piloto, entre a Asa Norte e o Bairro Noroeste. O espaço foi criado em 1990 e tem hoje a finalidade conservar áreas verdes, promover a recuperação de áreas degradadas. Além disso, os ambientalistas querem a revegetação com espécies nativas e exóticas, e ainda estimular o desenvolvimento da educação ambiental. No entanto, o quadro hoje mostra que a vocação do parque está longe de ser alcançada. O Instituto Brasília Ambiental - IBRAM realizou, em setembro, consulta pública sobre o Estudo Preliminar do Plano de Ocupação do Parque Burle Marx, para estabelecer as diretrizes de implantação. De acordo com o IBRAM, há hoje grupo de trabalho com a finalidade de criar um conselho gestor do parque, para trazer a sociedade civil organizada para acompanhar a gestão dessas áreas e envolve-las nas decisões. A analista ambiental e moradora do Noroeste, Maria Augusta Fernandes, faz parte do grupo “Amigos do Parque Burle Marx” e está em constante vigilância sobre os assuntos do parque. Ela vê com bons olhos a iniciativa do IBRAM. “A gente tem sempre que acreditar, é uma chance, vamos tentar”, disse ela.

“A gente tem sempre que acreditar, é uma chance, vamos tentar”

Olhos d’Água: degradação ambiental

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Parque Olhos d´Água, na Asa Norte, sofre de um problema invisível para os frequentadores. A infiltração da água da chuva já tem causado erosão no lugar, já que essas águas descem da via L2 e afetam o solo. O problema foi detectado depois que uma área vizinha ao parque, na entrequadra comercial, em um lote escriturado do governo, foi incorporado ao parque. Estudos, levantamentos e laudos mostraram que havia ali uma nascente e, por se tratar de área de preservação, passou a integrar a área do parque. A iniciativa de incorporação do terreno partiu dos moradores das redondezas, em defesa da preservação do meio ambiente. “Foram feitas obras, mas o problema ainda não foi resolvido”, esclarece a coordenadora de parques do IBRAM Marcela Versiani. “O local está bem degradado, a vegetação é exótica. Tem pouca coisa do cerrado lá”, disse o administrador do parque Edeon Vaz.

Drenagem

Consultada sobre o problema, a NOVACAP informou que já existe um projeto pronto para retirar água que passa no Parque, para ser despejada no Lago Paranoá, conforme solicitação do Ministério Público. Não existe previsão para do início das obras. Segundo o administrador do parque Edeon Vaz o local recebe diariamente 900 a 1.000 pessoas e, nos finais de semana, em torno de 1.400. “Entre as atividades que o parque oferece primeiramente está a parte lúdica. As pessoas vêm descansar aproveitar a natureza. As atividades físicas são as trilhas de caminhada, porque o local tem um relevo

diferenciado e exige mais da pessoa numa caminha, numa corrida”, relata.

Parceria

O professor de educação física Fernando Barreira participa há cinco anos de projeto, de prática de atividade física no parque para pessoas de 55 a 95 anos, com permanência média de 60 pessoas, por meio de contrato assinado com o IBRAM. As atividades são feitas três vezes por semana durante uma hora. Além das aulas, o grupo participa de viagens, passeios almoços e desfruta de boa convivência. Inserido numa região onde a mentalidade da consciência ambiental é mais amadurecida, os frequentadores ajudam a fiscalizar e cuidar do parque. O administrador conta que existem os programas de educação ambiental nas escolas próximas do parque e a administração orienta quanto às limitações de uso. Todas as semanas são recebidas turmas de escolas de diversas idades.

“Foram feitas obras, mas o problema ainda não foi resolvido”

Júlia Campos

campossjulia@gmail.com

Lago do Cortado: caminho para o (re)abandono

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m 2012, o Parque Ecológico Lago do Cortado se encontrava totalmente degradado, com cercas arrancadas, sem segurança e moradores de rua residiam no local. O lugar foi fechado para revitalização e entregue em dezembro de 2013. O investimento foi de aproximadamente R$ 1,5 milhão. O parque recebeu uma passarela ecológica, banheiros e guarita de segurança, além da reforma da sede e da quadra poliesportiva. Hoje, em 2015 o cenário é diferente. Ao visitar o Lago do Cortado é possível ver que os sinais de abandono voltam a aparecer. A principal reclamação é a falta de segurança. Em junho deste ano, uma jovem de 14 anos foi encontrada morta com sinais de violência à beira do córrego. Dentro do parque existe uma base do Grupo Tático Operacional (GTOP). O empresário e frequentador do local Alexander Ramos diz que a presença da polícia não resolve a insegurança no lugar, pois eles ficam distantes da convivência com os frequentadores “Não adianta nada eles ficarem lá em cima assistindo televisão”. A reportagem do Esquina presenciou o consumo de drogas no local. Segundo a Polícia Militar

do Distrito Federal, diariamente é realizado patrulhamento com viaturas e moto, e que ações de pessoas em atitudes suspeitas podem ser denunciadas via 190 ou diretamente no 2º Batalhão telefone 3910.1700.

Abandono

Outro problema é a quantidade de lixo dentro e nos arredores do parque. São alimentos, papelão, móveis, pias, sanitários jogados pela população diariamente. Quando está no período de chuva, tudo que está fora entra para o parque. A coordenadora de parques do Distrito Federal Marcela Versiani, diz que existe fiscalização e um setor de educação ambiental, mas a questão é muito mais de conscientização “As pessoas precisam entender que aquilo ali é um parque, uma área de preservação e não um terreno baldio”. O Parque Lago do Cortado corre o risco de mais uma vez ser esquecido. Onde antes era possível ver famílias e momentos de descontração, hoje é tomado pelo tráfico de drogas, moradores de rua e lixo. O conceito de parque se perde e a falta de preservação e de cuidado dão lugar ao abandono.

Saburo Onoyama: do lazer ao lixo

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ixo, lixo, lixo, lixo, lixo, lixo... Andar pelo o Parque Ecológico Saburo Onoyama é encontrar a falta de civilidade dos frequentadores e ineficiência do sistema público em recolher os restos do que deveria ser um parque. O Saburo Onoyama recebe mais de três mil visitantes todos os finais de semana. Diante dessa demanda de frequentadores, o impacto ambiental é maior. Já no estacionamento é possível ver a quantidade de lixo nos arredores da mata. A população que visita não tem a consciência de que cada um é responsável pelos seus resíduos. Enquanto isso, quem sofre é o parque. Em 2012, foram investidos R$ 2 milhões para a revitalização do local que estava completamente abandonado. Hoje, após quase um ano da data de entrega, os espaços reformados estão preservados. Mas, a educação ambiental dos frequentadores deixa a desejar. Segundo o Instituto Brasília Ambiental (IBRAM), o Saburo Onoyama é o parque mais visitado pela fiscalização, devido a quantidade de visitas que recebe. A cabeleireira, Silvana

Andrade diz que a primeira vez que voltou ao local após a reforma, ficou impressionada como as coisas mudaram “Quando eu vim aqui pela última vez, cada centímetro estava jogado. Aí você olha assim hoje tanta gente aproveitando, é tão bom”.

Conscientização

O casal Carine Queiroz e Rodrigo Nunes, costuma ir sempre ao parque com a filha por ser perto de casa, mas confessa que em dias de mais movimento é possível ver a falta de bom senso das pessoas “O povo não tem educação, acha que porque o lugar é público pode deixar aqui” diz o professor de inglês. A coordenadora de parques do Distrito Federal Marcela Versiani diz que o Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) tem apoio do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) para retirada de entulho e lixo, mas o trabalho conjunto com a população é fundamental. Um espaço aberto à comunidade precisa ser preservado por quem frequenta. O espaço revitalizado hoje, não pode ser tomado pelo lixo amanhã.

Foto: Júlia Campos

semanais para conferência da situação de cada um, conforme informa. A quantidade de parques em uma cidade ajuda a avaliar inclusive a qualidade de vida de um povo. Em São Paulo, em plena “selva urbana”, o Ibirapuera fica lotado nos finais de semana. Em Nova Iorque, o Central Park é um dos principais cartões postais de uma das cidades mais movimentadas do mundo. Na Ásia, governos têm incentivado para que a população deixe seu dia-a-dia atribulado para respirar ar puro. Em Brasília, o Parque da Cidade é considerado um ponto raro de encontro democrático de moradores do plano piloto e de todas as outras regiões administrativas. Tudo

Foto: Júlia Campos

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Instituto Brasília Ambiental (Ibram) considera que apenas 18 dos 71 parques administrados pelo órgão têm estrutura para funcionamento no Distrito Federal. Segundo o instituto, foram inaugurados parques sem as condições adequadas ou sem a categorização para a qual o espaço seria vocacionado. “Todos foram criados de forma aleatória”, critica a coordenadora de parques, Marcela Versiani. Ela acrescenta que, nesses 18, há características em comum, como ação de equipes de agentes, profissionais de vistoria e condições de receber a população. Nos lugares em que os parques ainda não foram implantados, são feitas visitas

Foto: Helena Azeredo

Dos 18 parques aptos a receber a população, a Reportagem apontou seis do grupo que apresentam falhas

Nome: Saburo Onoyama

Nome: Lago do Cortado

Tipo: Parque Ecológico

Tipo: Parque Ecológico

Área: 34,34 hectares

Área: 56,35 hectares

Funcionamento: 6h00 às 18h00, todos os dias

Funcionamento: 6h00 às 18h00, todos os dias.

Localização: Área especial - Taguatinga Sul

Localização: QNF/QNJ - Taguatinga Norte Matheus Nery

matheusmnery@gmail.com

Três Meninas: só durante o dia

Ficha do Parque Nome: Parque Burle Marx Tipo: Parque de Uso Múltiplo Área: 280 hectares Localização: Entre a Asa Norte e o Setor Habitacional Noroeste

Foto: Helena Azeredo

Foto: Helena Azeredo

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Nome: Parque Olhos d’Água Tipo: Parque Ecológico e de Uso Múltiplo Área: 21,57 hectares Funcionamento: 6h00 as 19h00, todos os dias Localização: SQN 413 e SQN 414 www.uniceub.br/jornalesquina

em tudo são flores no Parque Três Meninas, na Samambaia. Os frequentadores reclamam da falta de iluminação e de segurança no local. O espaço é fechado ao público às 19h, mas ninguém costuma entrar no lugar assim que escurece o dia. Com poucos postes de luz, e apenas em locais específicos, a pista de cooper torna-se inutilizável. ‘’Já começa a ficar escuro, na hora de fechar o parque tem lugar que não dá pra ver nada’’, afirma o estudante Guilherme Santos, de 17 anos. A falta de segurança ainda é o principal problema no parque. Frequentador do parque há um ano, Leandro Cagalli afirmou que gosta do ambiente, mas que o espaço não é protegido. O auxiliar administrativo informou que não vê patrulhamento policial no lugar. “A presença da Polícia Militar já deixaria a sensação de segurança’’, concluiu. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram), que é responsável pelo Parque Três Meninas, informou sobre falta de segurança no local. Será realizado um trabalho pela Secretaria do Meio Ambiente, em parceria com a www.uniceub.br/jornalesquina

Secretaria de Segurança, para viabilizar, após a recategorização do Parque, a contratação de segurança. Em nota, a Polícia Militar afirmou fazer patrulhamento periódico no local. Ainda, segundo a PM, nos finais de semana e feriados há policiamento fixo no parque. A equipe da reportagem, contudo, visitou o local e não notou policiamento no Três Meninas.

História

Antes de Samambaia ser uma região administrativa, a cidade fazia parte da área rural de Taguatinga. Em volta, eram apenas fazendas e chácaras. Não havia, ainda, características urbanas na região. Entre os moradores da zona rural residia a família Marinho, cujo patriarca, Inezil, adquiriu terras no local na década de 60 para viver com a esposa e as três filhas. Nessa época, o Governo do Distrito Federal (GDF) comprou as terras de volta. Dois anos depois, instalou provisoriamente a sede da administração, da recém criada Samambaia, no casarão onde morava a família Marinho.

Águas Claras: risco no circuito

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primido pelos arranha-céus, e pelas avenidas cada vez mais movimentadas, o parque de Águas Claras, encravado no centro da cidade, tem mais de 90 hectares é o único refúgio para os moradores da região administrativa. O espaço foi revitalizado no ano passado. Havia moradores que reclamavam da falta de iluminação. Após as reformas, esse problema foi resolvido. No entanto, o correcorre do lado de fora é migrado para dentro do circuito. Moradores reclamam da falta de segurança para quem for andar de bicicleta, skate, patins e patinete corrida.

O problema é que os quatro circuitos são compartilhados entre todos. Não há pistas exclusivas, o que pode afastar família com crianças, por exemplo. Algumas curvas são bem fechadas e não permitem observar quem segue no sentido . Para se ter uma noção, em umas das curvas há um sinal de cuidado aos ciclistas. Segundo o Instituto Brasília Ambiental (IBRAM), há um projeto para a construção de uma ciclovia no parque de Águas Claras. Mas ainda não há informações sobre prazo para início ou custo.

Nome: Três Meninas

Nome: Águas Claras

Tipo: Parque Ecológico

Tipo: Parque Ecológico

Área: 66,53 hectares

Área: 86,10 hectares

Funcionamento: 6h00 às 18h00, todos os dias.

Funcionamento: 6h00 às 18h00, todos os dias.

Localização: Quadras 609 a 611 - Samambaia

Localização: Av. Castanheiras - Centro Águas Claras


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