Maternidade em três atos a experiência do espetáculo da vida

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SETEMBRO • 2015 @jornalesquina

Maternidade em três atos: a experiência do espetáculo da vida

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Saúde

Vida Ativa

Escolha

Saúde

Foto: Arquivo Pessoal

Conheça a trajetória, quase epopéica de uma brasiliense que aprendeu, em diferentes partos, o que era melhor para ela

SETEMBRO • 2015 @jornalesquina

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Escolha ou obrigação: Motivos que levam à vida mais ativa

Laís Rodrigues

lais.cristyne@hotmail.com

Mesmo com 66% dos brasilienses acima do peso, sedentarismo torna-se apenas opção

Larissa Rocha

larissajoana.rocha@gmail.com

Daniella Bazzi

daniella.bazzi@gmail.com

Débora disse que no primeiro parto estava sentindo muitas dores e aceitou a anestesia oferecida. Por conta disso, no momento do parto, não conseguiu fazer força, o que necessitou a realização de diversas manobras.

O segundo ato

O atendimento não foi considerado tranquilo. “Quando cheguei ao hospital ainda sem meu médico, a médica que me recebeu insistiu diversas vezes em fazer o exame de toque, mesmo eu já tendo dito que o médico havia feito logo antes de eu chegar ao hospital”, relembra. Na hora do parto, ela entende que houve maior respeito com aquele momento tão importante na vida dela. “O médico que me atendeu só ficou observando, não sofri intervenção medicinal alguma”, contou. Além disso, Débora havia solicitado que nenhum colírio fosse colocado nos olhos do bebê. O esposo cortou o cordão umbilical e todos os primeiros atendimentos ao bebê foram realizados dentro do quarto em que estava.

O terceiro ato

Para o nascimento de Estela, que ocorreu em março deste ano, ela conseguiu ser atendida pelo mesmo médico e ter a assistência de uma doula, também. Débora contou que no início tinha medo da dor, mas depois a real preocupação era de algo dar errado durante o parto. “Tive muito medo nos três partos, mas tinha mais medo ainda em

A cada gestação Débora e Eduardo buscaram mais conhecimentos sobre como tornar ainda mais humanizado o nascimento dos filhos

de

ter que realizar uma cesárea”, relembrou. Ela contou que, após o parto, o sentimento muda totalmente. “Me senti uma heroína. Ser mãe é uma transformação grandiosa, é o momento voltado para seu interior”, disse.

O coro

O esposo de Débora, Eduardo Benon, 28, disse que a Lei do Acompanhante é fundamental. “Eu me senti seguro, pois sabia estar legalmente amparado caso alguém negasse minha entrada”, contou. “Durante toda a gestação eu estava próximo, apoiando como podia, buscando nunca interferir no momento inadequado, pois há momentos que são da mãe”, afirmou Eduardo. O pai disse que em cada parto o sentimento é diferente, mas sempre solidário. “É um momento surreal”, completou Eduardo antes de ser interrompido por Débora: “é maravilhoso!”. Débora acredita que, para a escolha do parto, a mulher tem de pensar além do seu bem-estar, pensar no bebê. Ao ser questionada sobre o que a humanização significa para ela, disse segura:

“Humanizar

é, acima de tudo, aceitar a escolha da gestante” Hora do aplauso

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epidemia

Eduardo presenciou os três partos da esposa. Na foto, ele acompanha Débora durante o nascimento da filha Estela em março desse ano

Foto: Arquivo Pessoal

Já na sua segunda gestação, ela contou que as condições financeiras estavam melhores, logo procurou por grupos, fisioterapia, aulas de yoga, acupuntura. Conversou com doulas e pesquisou mais ainda sobre o assunto. Em seguida encontrou um médico que realizava o parto totalmente humanizado. “É difícil encontrar esse tipo de médico, pois é um parto que demanda muito tempo”, disse. Théo nasceu em março de 2013, em uma piscina inflável cedida pela doula de Débora.

vive

Foto: Daniella Bazzi

“As assistentes começaram a empurrar minha barriga. No fim, não fui eu quem a fiz nascer”

Brasil

A médica Marta Teixeira explicou que a recuperação do parto normal é geralmente mais rápida que uma cesárea. “O parto normal é fisiológico, em torno de seis a oito horas. A maioria das mulheres já está recuperada

Para Débora informação é fundamental para a escolha do parto

cesáreas, diz governo

O Ministério da Saúde reconhece que o Brasil vive uma epidemia de cesáreas. Dos 2.905.789 partos no Brasil em 2012, 55,6% foram por cesarianas. Dos 1.877.505 partos no SUS, 40% foram por cesarianas. Dos 502.812 partos realizados na saúde suplementar, 84,6% foram por cesarianas. O Ministério alerta que cesáreas feitas sem necessidade aumentam a probabilidade de surgimento de problemas respiratórios para o recém-nascido e o risco de morte materna. Para o maior esclarecimento em relação às vantagens do parto normal, é distribuída no Sistema Único de Saúde (SUS) a Caderneta da Gestante, que traz informações para ela e a família, como os riscos de uma cesárea desnecessária, dicas para uma boa vivência do parto e desconstruir o mito de que o parto normal é sinônimo de dor e sofrimento. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também está trabalhando para promover o parto normal e reduzir o número de cesáreas desnecessárias na rede privada. A Resolução 368, por exemplo, determina a entrega do Cartão da Gestante, baseada no modelo de Caderneta da Gestante distribuído pelo Ministério da Saúde para informar as mulheres sobre seus direitos e saúde.

O funcionário público Vitor Mendes, 39 anos, corre três vezes por semana. “Corro desde os 17 anos, na rua ou no parque, cerca de 20 minutos.” Ele contou que não possui hábitos tão saudáveis e que está acima do peso. Disse não fumar nem beber. As atividades têm o objetivo de fazer com ele se sinta bem. O incentivo à pratica de atividades físicas vem da infância. “Mesmo estando acima do peso, eu não desisto do que gosto. A corrida me faz bem. Quando corro de manhã cedo, vem a sensação do bem-estar, e, no fim do dia, o estresse vai embora. E ainda tem o futebol com os amigos, uma vez por semana, todos acima do peso (risos).” A pesquisa “A prática de esporte no Brasil”, do Ministério do Esporte, realizada em 2013 e publicada em 2015, mostra que 28,5% dos brasileiros são praticantes de atividade física. “Eu sempre pratiquei atividade física um pouquinho. É necessário. Com a idade, mais ainda”, diz Maria Emília, 75 anos. Mesmo com artrose no joelho, ela não deixou de fazer o que gosta: caminhar. “Gosto de fazer uma caminhada. Não faço com mais frequência por problema de artrose no joelho. Mas é indispensável na idade da gente.” Além da caminhada, a aposentada faz hidroginástica, uma alternativa de menor impacto para o joelho. Foto: Alexandra Kalogeraas

O primeiro ato

E

Escolha

m Brasília, quinta-feira, o despertador toca às 3h30 da manhã. Mirian levanta-se e alongase. A tarefa é cozinhar e preparar as marmitas do dia. Quantidades na medida para café da manhã, lanches, almoço e jantar. 6h, hora da corrida. Enquanto isso, em Planaltina-DF, seu José termina de tomar café e recebe uma ligação de uma senhora chamando-o para limpar o quintal. Ele anota o endereço e, esquecendo-se de perguntar o nome da mulher, sai para realizar esse trabalho e pedala por 20 minutos até lá. São 8h. De volta ao centro de Brasília, Roger verifica a agenda, e os compromissos do dia estão marcados para o período da tarde. Então, com o período da manhã livre, sai para pedalar. O dia só está começando. Energia. Disposição. Frequência. Apesar de 34% utilizarem esses fatores, é por meio da ausência deles que o Distrito Federal apresenta 50% de pessoas acima do peso e 16% obesos, segundo a pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, publicada neste ano. “A organização mundial da saúde prevê um aumento significativo das chamadas doenças crônico-degenerativas associadas à hipocinesia. A hipocinesia é a falta de movimento. O avanço da tecnologia fez o ser humano gastar menos energia durante o dia”, explicou Marcelo Bóia, professor de educação física. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a inatividade física é o quarto principal fator de risco de morte no mundo.

Mirian iniciou o curso de educação física este ano

Fora da curva

Mirian de França, 47 anos, corre todos os dias da semana e pratica exercícios físicos, como natação, pedal e musculação. “Tudo começou na escola. Eu sempre gostei das aulas de educação física, de jogar vôlei, handball. Eu sempre fui muito ativa.” A funcionária pública explicou que, durante a infância, não tinha videogame nem TV a cabo, como as crianças de hoje, então costumava a brincar embaixo do prédio. Enquanto Mirian pratica exercício físico, o que seria uma simples atividade física para José Vianna, 88 anos, virou um hábito de vida a partir do momento em que ele adotou a bicicleta como meio de transporte. “Eu não gosto do trânsito de hoje. As carteiras que estão saindo hoje em dia são de muita pouca prática. Tem uns bons de roda e tem uns ruins de roda.” Hoje, o aposentado trocou o carro e moto pela bicicleta. A diferença entre o exercício físico praticado por Mirian e a atividade física do José é esclarecida pelo professor Bóia. “Quando se fala de atividade física, é qualquer tipo de esforço ou qualquer tipo de energia gasta pelo organismo, diferente daquela que você tem em repouso. Quando você fala de exercício, você tem um objetivo a ser alcançado: melhorar o funcionamento cardiovascular, melhorar os níveis de força, melhorar a resistência muscular localizada; o exercício não vem só com o objetivo de gastar energia.” www.uniceub.br/jornalesquina

Arte: Fernanda Roza

José Vianna pratica excercícios físicos desde 1948

Foto: Lais Rodrigues

V

ocê vê o tanto que é capaz”. Esse é o sentimento de Débora Benon, funcionária pública brasiliense, de 27 anos, após o parto. A servidora pública tem três filhos: Marina, Théo e Estela. Ela contou que na primeira gestação começou a pesquisar sobre o parto humanizado e buscar por um médico que realizasse esse tipo de procedimento. “O convênio me informou que eu só encontraria por fora, mas indicaram um que estaria em processo de humanização”, falou.

Foto: Alexandra Kalogeraas

e, até mesmo no dia seguinte, estão em condição de receber alta”, falou. Mas Marta Teixeira reforçou que a escolha do parto é algo totalmente individual. “Não existe um parto melhor que outro. É algo absolutamente individual. Existe um parto melhor para cada mulher, mas a Secretaria sempre preza pelo mais natural e com menos intervenção possível”, informou. Há palestras nos Centros de Saúde em cada trimestre da gestação, com presença de médicos e enfermeiras, em que os tipos de partos são apresentados. “Além de desmitificar o parto normal, os palestrantes vão incentivar sempre a tentativa dele”, informou. Ela contou que as gestantes também podem fazer visitação às maternidades, que ações como essa também fazem parte da humanização do parto.

OMS recomenda 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana para maiores de 18 anos

Escolher mudar o estilo de vida também foi necessário para Roger Burdino, 41 anos. Sedentário, sem horários definidos para comer e dormir, Roger ainda consumia duas carteiras de cigarro por dia. O publicitário começou a ganhar peso. Alguns sintomas começaram a surgir. “Na adolescência, eu era atleta, corria e jogava bola quase todos os dias. A partir dos 23 anos, passei a me alimentar mal e comecei a fumar. Foi aí que tudo desandou. Meu metabolismo mudou”, lembra. Conscientemente e dentro das próprias limitações, Roger começou a praticar atividades físicas. Com incentivos de Mirian e acompanhamento médico, mudou o estilo de vida. A rotina é flexível, com pedal, musculação, aeróbico e alimentação equilibrada todos os dias da semana. “Não me privo de nada na alimentação, mantenho a moderação. Se exagero, tenho que pegar pesado no exercício do dia seguinte.” Quando o exercício físico é realizado na academia, o companheiro é o par de fone de ouvidos; no parque, é Mirian.


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