A medicina veterinária tradicional chinesa e técnicas complementares na cicatrização de feridas

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FACULDADE DE JAGUARIÚNA

PAULA APARECIDA BONATTI RAMOS

A MEDICINA VETERINÁRIA TRADICIONAL CHINESA E TÉCNICAS COMPLEMENTARES NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS Revisão de literatura

Jaguariúna 2017


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PAULA APARECIDA BONATTI RAMOS

A MEDICINA VETERINÁRIA TRADICIONAL CHINESA E TÉCNICAS COMPLEMENTARES NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS Revisão de literatura

Monografia apresentada à Faculdade Jaguariúna, como parte integrante do Curso de Especialização “Lato Sensu” em Acupuntura Veterinária.

Orientadora: Maria do Carmo Fernandez Vailati

Jaguariúna 2017


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AGRADECIMENTOS

À minha família que sempre norteia minha caminhada e aos amigos que encontrei nesta estrada.


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RESUMO RAMOS, Paula Aparecida Bonatti. A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E TÉCNICAS COMPLEMENTARES NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS: Revisão de literatura, Trabalho de conclusão de curso em Acupuntura Veterinária, Faculdade de Jaguariúna, Jaguariúna, 2017.

A pele é fundamental para a defesa e sobrevivência e a perda de sua integridade pode resultar em desequilíbrio fisiológico substancial, incapacidade ou mesmo em morte. O estudo da cicatrização e tratamento de feridas cutâneas possui extrema importância em medicina veterinária devido à alta freqüência de atendimentos a animais acometidos por lesões de diferentes tipos e origens. A utilização de materiais e técnicas que visem auxiliar a cicatrização tem por objetivo melhor os sintomas e A função das estruturas envolvidas, reduzir o tempo de tratamento do paciente e os custos aos tutores. A Medicina Tradicional Chinesa pode atuar nestes casos, através principalmente da acupuntura ou eletroacupuntura, da moxabustão e da aplicação de laserterapia nos pontos de acupuntura. Geralmente apresenta-se como coadjuvante, complementando todo um tratamento. A ozonioterapia, como uma técnica complementar, também tem demonstrado excelentes resultados nos processos de cicatrização e reparação tecidual. Nos casos que, em decorrência da gravidade das lesões esta recuperação não possa ser obtida em sua totalidade, esses tratamentos oferecem uma importante melhora na qualidade de vida desses animais.

Palavras chave: acupuntura, moxabustão, lesões cutâneas, reparação tecidual.


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RESUMEN RAMOS, Paula Aparecida Bonatti. LA MEDICINA TRADICIONAL CHINA Y TÉCNICAS COMPLEMENTARIAS EN LA CICATRIZACIÓN DE HERIDAS, Revisión de literatura, Trabajo de conclusión de curso en Acupuntura Veterinaria, Facultad de Jaguariúna, Jaguariúna, 2017.

La piel es fundamental para la defensa y sobrevivencia, siendo que la pérdida de la integridad de la misma puede resultar en desequilibrio fisiológico importante, en incapacidad o incluso muerte. El estudio de la cicatrización y tratamiento de heridas cutáneas es de extrema importancia en la práctica de la medicina veterinaria consecuente de la alta frecuencia de atendimientos en animales afectados por lesiones de diferentes tipos y orígenes. La utilización de materiales y técnicas que pretendan auxiliar la cicatrización tiene por objetivo la mejora de los síntomas y retorno de la función de las estructuras involucradas, reducción en el tiempo de tratamiento del paciente y el costo a los tutores. La Medicina Tradicional China puede ser eficaz en estos casos, a través de la acupuntura principalmente, moxibustión, utilización de terapia con laser y electroacupuntura. Generalmente se presenta como coadyuvante a terapias convencionales permitiendo un tratamiento integral. El tratamiento con ozono, como técnicas complementarias, también ha demostrado tener excelentes resultados. En los casos en donde en consecuencia de la gravedad de las lesiones esta recuperación no llegue satisfactoriamente a su totalidad, representa una importante alternativa en la mejora de la cualidad de vida de estos animales.

Palabras clave: acupuntura, moxibustión, lesiones cutáneas, reparación tecidual


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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AP

acupuntura

AsGa

Arseneto de Galio

DNA

ácido desoxirribonucléico

Hz

hertz

J

joule

LLLT

laser terapêutico de baixa frequência.

mA

miliamper

MTC

medicina tradicional chinesa

nm

nanômetro

RNA

ácido ribonucleico


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................08 2. REVISÃO DE LITERATURA ..............................................................................09 2.1.

FISIOPATOGENIA DAS FERIDAS...................................................09

2.2.

CICATRIZAÇÃO..................................................................................09

2.3.

MEDICINA VETERINÁRIA TRADICIONAL CHINESA...............11

2.4.

ACUPUNTURA ....................................................................................12

2.5.

ELETROACUPUNTURA .....................................................................15

2.6.

TERAPIA A LASER .............................................................................16

2.7.

MOXABUSTÃO.....................................................................................17

2.8.

OZONIOTERAPIA ...............................................................................18

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................19 4. REFERÊNCIAS ......................................................................................................20


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1. INTRODUÇÃO

A cicatrização de feridas envolve inúmeros componentes celulares e bioquímicos, tornando-se um processo fisiológico complexo. A possibilidade de acelerar a cicatrização e o fechamento de lesões cutâneas, através da associação de técnicas diferenciadas e de recursos químicos, tem sido de grande procura no tratamento clinico veterinário, pois a resolução tende a ocorrer de forma mais rápida e com melhores resultados funcionais e estéticos (BEHEREGARAY, 2009). Considerando oferecer alternativas para acelerar o processo cicatricial em feridas, a Medicina Veterinária Tradicional Chinesa aparece como um tratamento a mais para a melhora e o restabelecimento do organismo. Na medicina veterinária, a associação da acupuntura através das técnicas de eletroacupuntura, farmacupuntura, laserpuntura e da moxabustão aos tratamentos alopáticos ocidentais é um ponto de grande importância, pois garante a potencialização do tratamento decorrente do sinergismo entre ambas (FOGANHOLLI, 2007). Atualmente a ozonioterapia, que consiste no emprego do gás ozônio com fins terapêuticos, também tem se mostrado como um excelente complemento para a resolução deste tipo de lesão (URRUCHI, 2016). Como as feridas ocorrem rotineiramente na clínica veterinária e às vezes podem ser de difícil tratamento, o objetivo deste trabalho foi fazer uma revisão de literatura sobre as técnicas auxiliares na cicatrização de feridas abordando a medicina veterinária tradicional chinesa e a ozoniterapia.


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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. FISIOPATOGENIA DAS FERIDAS

O termo ferida é utilizado como sinônimo de lesão tecidual, deformidade ou solução de continuidade que pode atingir desde a derme até estruturas mais profundas. É uma lesão caracterizada pela ruptura da continuidade normal da estrutura da pele (BEHEREGARAY, 2009). As feridas podem ser classificadas quanto à sua espessura, etiologia, ao conteúdo microbiano presente, ao tipo de cicatrização, ao grau de abertura e ao tempo de duração (CAMPOS, 2007). Quanto à espessura podem ser superficial ou profunda, quanto etiologia, podem ser traumáticas, cirúrgicas/intencionais, iatrogênicas, patológicas ou ulcerativas; quanto ao conteúdo microbiano, podem ser assépticas, contaminadas ou infectadas; quanto ao tipo de cicatrização, podem ser de cicatrização por primeira intenção, de cicatrização por segunda intenção ou de cicatrização por terceira intenção; quanto ao grau de abertura, podem ser abertas ou fechadas; quanto ao tempo de duração, podem ser agudas ou crônicas (SANTOS, 2009) Em relação à MVTC, as feridas são classificadas como tipo Yang ou tipo Yin de acordo com suas características e também analisando o organismo como um todo (SCHOEN, 2006).

2.2. CICATRIZAÇÃO

A cicatrização é um processo fisiológico e dinâmico que busca restaurar a continuidade dos tecidos. Conhecer a fisiopatologia da cicatrização e os fatores que podem


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acelerá-la ou retardá-la proporciona uma melhor avaliação e a escolha do tratamento mais adequado (MANDELBAUM, 2003). A pele, quando lesada, inicia imediatamente uma resposta para tentar se reequilibrar, denominada cicatrização, que ocorre por meio de um processo dinâmico, interdependente, contínuo e complexo, cuja finalidade é restaurar os tecidos lesados (CAMPOS, 2007). O processo cicatricial é composto pelas seguintes fases: inflamatória, proliferativa e de maturação, descritas a seguir:  Fase inflamatória Inicia-se após a injúria tecidual. Essa fase representa uma tentativa para limitar o dano, parando o sangramento, selando a superfície da ferida e removendo qualquer tecido necrótico, fragmentos estranhos ou bactérias presentes. Essa fase depende da atividade plaquetária e da cascata de coagulação, além de inúmeros mediadores químicos e das células inflamatórias, como os leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e linfócitos. A combinação de intensa vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular levam ao achado clínico de inflamação, caracterizado por rubor, edema, calor e dor (MANDELBAUM, 2003; BALBINO, 2005; LAUREANO, 2011).  Fase Proliferativa ou Fibroblástica e de Deposição de Matriz Extracelular Nessa fase verifica-se um franco predomínio de mecanismos celulares que permitem a produção de uma nova barreira permeável (reepitelização), neovasos (angiogénese) e reestruturação da integridade da derme (fibroplasia). Esse estágio é caracterizado pela formação de tecido granuloso, que consiste de leito capilar, fibroblasto, macrófagos e rede de colágeno, fibronectina e ácido hialurônico (MANDELBAUM, 2003; BALBINO, 2005; LAUREANO, 2011).  Fase de maturação ou de Remodelamento Essa é a última das fases; ocorre no colágeno e na matriz; dura meses e é responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do tamanho da cicatriz e do eritema. Reformulações dos colágenos, melhoria nos componentes das fibras colágenas, reabsorção de água são eventos que permitem uma conexão que aumenta a força da cicatriz e diminui sua


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espessura. Apesar da rede de colágeno causar contração da ferida e um aumento na força, ela também resulta em uma cicatriz, que é mais frágil e menos elástica do que a pele normal (MANDELBAUM, 2003; BALBINO, 2005; LAUREANO, 2011).

2.3. MEDICINA VETERINÁRIA TRADICIONAL CHINESA

A Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC) data de mais de 4000 anos. É baseada nas forças complementares Yin e Yang, que são opostos polares e, no entanto, também são complementares e interdependentes. Um não pode existir sem o outro porque ambos formam o todo (TORRO, 1997; XINNONG, 1999; SCOGNAMILLO-SZABO, 2001). Na saúde individual, Yin e Yang estão balanceados, de acordo com a MVTC, uma doença ocorre quando existe um desequilíbrio entre essas forças. Existem quatro possíveis estados de desequilíbrio entre Yin e Yang: excesso de Yin, excesso de Yang, deficiência de Yin e deficiência de Yang (XIE, 2012; WEN, 1985). Na MTC a vida também deve estar apoiada e controlada pelos cinco tesouros: Jing, Qi, Shen, sangue (Xue) e fluido corpóreo. São substâncias fundamentais que mantém as atividades vitais normais do organismo. Obstrução ou quantidades insuficientes resultam em alterações ou doenças (XINNONG, 1999; XIE, 2012). Todas estas teorias combinam-se para atingir o equilíbrio orgânico e consequentemente a saúde. Acupuntura, moxabustão e fitoterapia são os pilares da medicina chinesa para tratamento das patologias referentes à pele. Esse objetivo pode ser obtido através da auto-regulação do organismo e do estímulo da imunidade (XIE, 2012). Além da Acupuntura tradicional usando somente as agulhas, o estímulo nos pontos de acupuntura também pode ser realizado com diversas técnicas, entre elas a eletroacupuntura, laserpuntura e farmacupuntura. A Moxabustão consiste em aplicação de


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calor em nos pontos de acupuntura ou regiões específicas através de um bastão aquecido de Artemísia vulgaris (SCHOEN, 2006; FOGANHOLLI, 2007; DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1994). Em relação à MVTC, as feridas também podem ser do tipo Yang ou do tipo Yin de acordo com suas características. Na maioria das vezes são do tipo Yang, pois se apresentam como calor, excesso e exterior; são agudas, apresentam como sintoma vermelhidão, edema, secreção e dor localizada. Os distúrbios do tipo Yin são geralmente causados por frio, deficiência e interior, e tendem a ser de natureza crônica, úmida e com hiperpigmentação (SCHOEN, 2006). Segundo Xie (2011), as feridas podem ser divididas em três padrões: calor tóxico, estagnação de Qi / Xue e deficiência de Qi. No processo de cicatrização, os fatores que aumentam a estagnação do Qi e do Xue, o acúmulo de umidade e calor ou o desequilíbrio de outros órgãos - Zang Fu, devido às emoções reprimidas e exacerbadas, falta de exercícios e alimentação de má qualidade, podem agravar as lesões cutâneas retardando esse processo (SCHOEN, 2006).

2.4. ACUPUNTURA

A técnica pode ser usada pela ativação de pontos específicos através da inserção de agulhas nos pontos dos meridianos ou podem-se introduzir as agulhas ao redor da lesão ou da dor, técnica conhecida como “cercar o dragão”, essa é uma técnica simples e comum, nesse caso, os pontos não são locais dos meridianos e sim as próprias áreas problemáticas. (SILVÉRIO-LOPES, 2013) Segundo a MTC, do ponto de vista fisiológico e patológico, a pele está relacionada ao Pulmão. A saúde da pele também depende do Qi e do Xue e também do Rim e Baço-Pâncreas. Normalmente, o Qi circula livremente por todo o corpo sem nenhum bloqueio. Se houver algum distúrbio decorrente de trauma, patógenos ou emoções, o fluxo é bloqueado. Qi e Xue estão intimamente relacionados. O Sangue pode falhar de movimentar


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adequadamente e estagnar, devido a uma obstrução no fluxo normal ou pelo seu acúmulo em uma área. Sua estagnação pode ser provocada pela estagnação de Qi (MACIOCIA, 2007; SCHWARTZ, 2008; XIE, 2012). O Pulmão governa o Qi e a respiração e, em particular, está encarregado da inalação do ar. Sua função é dispersar o Wei Qi (Qi de defesa) e os Líquidos Corporais pelo corpo, que servem para proteger contra invasões e fornecer calor, umidade e nutrição à pele e aos músculos. Por isso é que se diz que eles controlam a pele e os pêlos (MACIOCIA, 2007; SCHOEN, 2006). A seleção de pontos para melhorar a pele pode ser os pontos de imunomodulação e homeostasia, para harmonizar Pulmão e tonificar Baço Pâncreas, com a intenção de secar umidade, limpar calor, dispersar vento e fleuma. Exemplos de pontos são: P-9, IG-4, IG-11, E-36, BP-6, BP-10, C-7, B-13, B-20, VB-20, VB-34, F-3, VG-14 (TORRO, 1997; SCHOEN, 2006; XIE, 2011). Além disso, pode-se empregar a clássica técnica de inserção de agulha chamada de “cercar o dragão”, que são pontos locais para ajudar no efeito antiinflamatório, analgésico e estimulante do processo de cicatrização. As agulhas são inseridas oblíqua ou transversalmente ao longo da borda da lesão; são direcionadas para o centro da lesão e formam um padrão circular ao redor da área afetada (TORRO, 1997; MACIOCIA, 2007; XIE, 2011). Segundo Torro (1997), Schoen (2006) e Xie (2011) a ação dos pontos são: P-9 regulariza e harmoniza o Qi do Pulmão, transforma a mucosidade e a umidade calor, é o ponto de tonificação do meridiano do Pulmão IG-4 tonifica o Wei Qi, melhora a imunomodulação, transforma a mucosidade e a umidade calor, expele o Vento, remove e obstrução do canal, tonifica Qi e consolida o Exterior, harmoniza a subida e a descida do Qi; IG-11 dissipa o Calor e esfria o sangue, remove as obstruções do canal e o calor do canal, elimina o vento, cessa o prurido, regula Qi e o Sangue, é um ponto para imunomodulação; E-36 harmoniza e tonifica o Qi do Pulmão e de tonificação geral;


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BP-6 ponto mestre do abdômen inferior, dissolve umidade e umidade-calor, tonifica o Qi do Rim e do Baço Pâncreas, a essência e o Xue, promove homeostasia, harmoniza a via das águas; BP-10 esfria, tonifica e remove estagnação do sangue e elimina calor, é o “mar de sangue”; C-7 harmoniza o Qi do Coração, acalma o Shen, nutre o Sangue do Coração, harmoniza o Ying Qi; B-13 harmoniza e tonifica o Qi do Pulmão, faz a limpeza do falso calor do Pulmão, clareia o Calor, acalma a mente, regula o Qi Nutritivo e Defensivo, é ponto Shu do Pulmão; B-20 harmoniza a energia yang e o Qi do Baço, do Estômago, do Aquecedor médio e do Fígado, drena a umidade e a água em excesso, melhora umidade e calor; é o ponto Shu do Baço Pâncreas; VB-20 ativa a circulação do sangue, retira vento, fortalece a mente, retira vento e calor do fígado; VB-34 regula e tonifica o Fígado, é o ponto mestre dos tendões e ligamentos; F-3 move Qi e Xue para resolver estagnação; VG-14 expele o Vento, remove calor, pacifica o Vento interno, tonifica a deficiência;

No trabalho realizado por Ito et al (2002) sob o título “Efeito da acupuntura na cicatrização por segunda intenção de feridas em membro posterior de equinos”, os pontos trabalhados foram: E-36, P-1, P-9, P-10, BP-6, F-13, B-20, B-23, IG-11 e laserpuntura através da técnica de “cercar o dragão”. Já Ortunho et al (2014) utilizaram a técnica de “cercar o dragão” com agulha seca. Nesses trabalhos os resultados foram satisfatórios.

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2.5. ELETROACUPUNTURA

A eletroacupuntura é a passagem de eletricidade através de pontos de acupuntura, sendo usada pela primeira vez na China, na década de 1930, e tornou-se popular a partir dos anos 70, sendo bastante usada para o controle da dor, para auxiliar na melhora de transtornos físicos e induzir analgesia em procedimentos cirúrgicos (BEHEREGARAY, 2009). A

eletroestimulação

incrementa

a

resposta

inflamatória,

o

que

provavelmente faz com que o processo de eliminação de detritos celulares e contaminantes seja acelerado e conseqüentemente a cicatrização da área afetada ocorra de forma mais rápida, favorecendo o restabelecimento da estrutura e função dos tecidos. A eletroestimulação pode produzir um nível mais elevado e mais contínuo de estimulação do que o produzido manualmente (SILVERIO-LOPES, 2013). O uso de eletroacupuntura demonstrou ser eficaz em estimular o processo cicatricial, promover rápida reparação da lesão, favorecendo o restabelecimento da estrutura e função dos tecidos. (BEHEREGARAY, 2009) BEHEREGARAY et al (2014), demonstraram que a eletroacupuntura promoveu uma redução gradual do tecido necrótico em coelhos, nos sinais de infecção e exsudação e da dor durante a manipulação da ferida. Houve também um aumento do tecido de granulação e da área de contração da ferida. Os autores utilizaram a inserção de agulhas de acupuntura de 0,25x15mm em pontos equidistantes a meio centímetro da borda da ferida, sendo estas, conectadas ao aparelho de eletroacupuntura a uma frequência de 60 Hz, pulso alternado assimétrico intermitente e corrente alternada, variando de 8 a 20 mA durante 10 minutos.

2.6. TERAPIA A LASER / LASERPUNTURA


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Esta terapia consiste no uso de lasers de baixa intensidade (“frios”) também conhecidos como LLLT (Laser terapêutico de baixa freqüência) e são utilizados como agentes terapêuticos, mostrando propriedades antiinflamatórias, analgésicas e de aceleração da cicatrização de feridas, propiciando um processo de cicatrização mais confortável ao paciente e a redução do uso de medicamentos (SILVERIO-LOPES, 2013; FRÖNER, 2007; PEDRO, 2009). Os LLLTs podem ser utilizados para estimular pontos de acupuntura ou incidir por varredura sobre a própria ferida, utilizando-se filme plástico para possibilitar o contato do aparelho com a área lesada (SILVA, 2013; PEDRO, 2009). Possui as vantagens de ser um método não invasivo e asséptico, seu uso ser indolor e ser aplicado num curto período de tempo (PEDRO, 2009). Na medicina veterinária, esses efeitos são desejáveis, já que muitos dos tratamentos pós-cirúrgicos ou de cicatrização de feridas geram grande desconforto ao animal, como dor e tempo de cicatrização prolongado (HAYASHI, 2005). Os efeitos do LLLT na aceleração da cicatrização de feridas têm sido atribuídos ao estímulo de vários sistemas biológicos, como estimulação da circulação sanguínea, aumento da proliferação e atividade celular, da síntese de DNA e RNA, da atividade linfática, da quantidade de fibroblastos e consequentemente da produção de colágeno, modulação da produção dos fatores de crescimento e redução na produção de prostaglandinas. Como alguns processos são estimulados e outros inibidos, o laser é considerado uma ferramenta de biomodulação (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1994; PEDRO, 2009; ALMEIDA, 2010). Silveira et al (2009) utilizaram um laser de baixa potência (AsGa), onda pulsada, comprimento de onda de 904 nm, potência de pico de 15 mW, frequência de 2000 Hz, tempo de pulso de 180 ns, área de secção transversal do feixe de 0,07 cm², e tempo de aplicação com 2 J/cm² e 4 J/cm² e concluíram que laser estimula a atividade antioxidante e protege a célula contra danos oxidativos durante o processo de cicatrização em ratos.


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2.7. MOXABUSTÃO

A moxabustão trata e previne doenças por intermédio da aplicação de calor em pontos de acupuntura ou em certas localizações do corpo. É o uso do calor por meio da queima de uma erva sobre ou acima da pele. A erva usada (Artemisia vulgaris) está relacionada com a família do crisântemo (XINNONG, 1999; DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1994). A Moxabustão pode ser direta, que é a queima dos cones de moxa diretamente sobre a pele em pontos de acupuntura selecionados, e indireta que evita o contato direto da moxa com a pele, podendo-se utilizar sobre um meio isolante (XINNONG, 1999). Essa técnica pode ser feita em cima dos pontos distais da lesão escolhidos para acupuntura bem como em cima da própria lesão tomando os cuidados básicos para esta técnica (HAYASHI, 2005). Em animais só é utilizada a indireta, em que o bastão de moxa é mantido de 1 a 2,5 cm acima do acupunto ou da lesão, movido lentamente em formato circular ou para cima e para baixo, ou mesmo fazendo uma varredura pela área a ser tratada (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN,1994; XINNONG, 1999). O calor e a essência da erva aquecem o Qi e o sangue nos meridianos e, desta forma, aumentam o fluxo em caso de estagnação, revigora também o Yang Qi e elimina algumas formas de calor tóxico local (XIE, 2011).

2.8. OZONIOTERAPIA

O gás ozônio foi descoberto em 1840 pelo pesquisador alemão Dr. Christian Friedrich Schoenbein. Em 1857, o físico Dr. Werner Von Siemens, desenvolveu o Gerador de Alta Frequência, aparelho que forma o gás ozônio através de descargas elétricas em átomos de oxigênio. A ozonioterapia médica é utilizada desde o século XIX. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) médicos alemães e ingleses utilizaram o ozônio para o


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tratamento de feridas em soldados, conforme já publicado na revista THE LANCET, nos anos 1916 e 1917 (ABOZ, 2017). O ozônio medicinal é obtido através de um equipamento chamado gerador de ozônio. A utilização do gás ozônio (O³) como método terapêutico é justificado por suas propriedades viricida, fungicida e bactericida, baseadas no seu mecanismo de ação resultante da oxidação da membrana celular e dos componentes citoplasmáticos, contribui também para o processo de neoformação, facilita a formação do tecido de granulação, produção de fibroblastos e organização do colágeno. O gás também pode servir como ativador imunológico quando administrado em vias específicas de forma sistêmica (URRUCHI, 2017). As concentrações e modo de aplicação variam de acordo com a afecção a ser tratada, já que a concentração de ozônio determina o tipo de efeito biológico e o modo de aplicação relaciona-se à sua ação no organismo. A aplicação tópica pode ser na forma de “bagging” ou direta através da associação de um veículo, água bidestilada ou óleo previamente ozonizado. O tratamento tópico, com bag deve ser feito com material ozônioresistente, cujas bordas são vedadas junto à pele para limitar a área de atuação do gás e o gás circula neste sistema fechado por um período determinado, geralmente 30 minutos (URRUCHI, 2017). A ozonioterapia consiste em um método muito eficiente para o tratamento de lesões cutâneas. É uma modalidade terapêutica auxiliar aos métodos convencionais, possui baixo custo e fácil aplicação, características que justificam o incentivo da sua utilização na rotina do médico veterinário (VILARINDO, 2013).


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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A acupuntura e suas variantes que podem ser a eletroacupuntura e a laserpuntura, a moxabustão, bem como a ozonioterapia e a terapia a laser, garantem a potencialização da descontaminação da ferida e por consequência, acelera a cicatrização. Essas técnicas se mostraram eficazes em estimular o processo cicatricial, promovendo uma rápida reparação da lesão, e isto favorece o restabelecimento da estrutura e função dos tecidos e geralmente não são invasivas tornando-se de fácil aplicação na rotina do médico veterinário.


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4. REFERÊNCIAS

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