O uso da medicina veterinária complementar na reabilitação clínica de gavião-carijó

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FACULDADE DE JAGUARIÚNA

Caroline Giuseppa Spera

O USO DA MEDICINA VETERINÁRIA COMPLEMENTAR NA REABILITAÇÃO CLÍNICA DE GAVIÃO-CARIJÓ (Rupornis magnirostris) DE CATIVEIRO – RELATO DE CASO

Jaguariúna 2017


FACULDADE DE JAGUARIÚNA

Caroline Giuseppa Spera

O USO DA MEDICINA VETERINÁRIA COMPLEMENTAR NA REABILITAÇÃO CLÍNICA DE GAVIÃO-CARIJÓ (Rupornis magnirostris) DE CATIVEIRO – RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Acupuntura Veterinária da Faculdade de Jaguariúna.

ORIENTADORA: Msc. Maria Isabel Paiva

Jaguariúna 2017


SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................................1 ABSTRACT..........................................................................................................2 1. INTRODUÇÃO..........................................................................................3 2. OBJETIVOS..............................................................................................5 3. REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................6 4. RELATO DE CASO.................................................................................12 5. DISCUSSÃO...........................................................................................15 6. CONCLUSÃO..........................................................................................16 7. REFERÊNCIAS.......................................................................................17


O

USO

DA

MEDICINA

VETERINÁRIA

COMPLEMENTAR

NA

REABILITAÇÃO CLÍNICA DE GAVIÃO-CARIJÓ (Rupornis magnirostris) DE CATIVEIRO – RELATO DE CASO

Resumo

A Medicina Veterinária Complementar combina os tratamentos de forma particular e individual buscando a melhora do paciente como um todo. O trauma é a principal casuística dos centros de triagem e reabilitação de animais selvagens. Esse trabalho tem como objetivo relatar a reabilitação clínica e a recuperação funcional do membro pélvico esquerdo de um gavião-carijó (Rupornis magnirostris) de cativeiro em treinamento para falcoaria que sofreu um trauma e perdeu a dor superficial e profunda e estava com propriocepção diminuída. Foram realizadas sessões semanais com acupuntura, moxabustão, laserpuntura, eletroacupuntura e exercícios de fisioterapia. A melhora foi gradual e após 8 sessões de tratamento com medicina veterinária complementar, houve a reabilitação completa do animal e o retorno as atividades cotidianas e ao treino.

Palavras-chave: medicina veterinária complementar, reabilitação de animais selvagens, gavião-carijó.


O

USO

DA

REABILITAÇÃO

MEDICINA E

VETERINÁRIA

RECUPERAÇÃO

COMPLEMENTAR

CLÍNICA

DE

NA

GAVIÃO-CARIJÓ

(Rupornis magnirostris) DE CATIVEIRO – RELATO DE CASO

Abstract The Complementary Veterinary Medicine combines the treatments in a private and individual way seeking the improvement of the patient as a whole. Trauma is the main casuistic of wildlife screening and rehabilitation centers. This work aims to report the clinical rehabilitation and functional recovery of the left pelvic limb of a male, adult Roadside hawk (Rupornis magnirostris) in training for falconry.

Weekly

sessions

were

held

with

acupuncture,

moxibustion,

laserpuncture, electroacupuncture and physical therapy exercises. The improvement

was

gradual

and

after

8

sessions

of

treatment

with

complementary veterinary medicine, there was the complete rehabilitation of the animal and the return to the daily activities and to the training.

Key words: complementary veterinary medicine, wildlife rehabilitation, roadsidehawk.


1. INTRODUÇÃO

A acupuntura consiste no tratamento através da inserção de agulhas em pontos específicos e pré-estabelecidos a fim de atingir um efeito terapêutico e homeostático. A acupuntura faz parte de um conjunto de conhecimentos teórico-empíricos denominado de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) (SCHOEN, 2006). Na medicina veterinária, a acupuntura é indicada para tratamento de diversas enfermidades, e em casos de distúrbios neurológicos, musculares e cutâneos, apresenta grandes benefícios e altos índices de recuperação (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2010). A moxabustão é uma técnica de aquecimento dos acupontos pela queima da erva Artemísia vulgaris que possui propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, dispersa o frio e a umidade, regula a circulação e a fortalece a energia vital (YAMAMURA, 2001). A laserpuntura é a estimulação dos acupontos, utilizando-se irradiação de laser não térmico e de baixa potência, sendo classificada como uma forma de fototerapia (BAXTER et al., 2008). As principais indicações para esse tipo de terapia são: para acelerar os processos de cicatrização e de remodelação e reparo ósseo, analgesia, restabelecimento da função neural após injúria, contenção do processo de inflamação e a regulação do sistema imunológico e outras (BAXTER et al., 2008). A eletroacupuntura têm como finalidade aumentar os estímulos gerados pelas agulhas de acupuntura, tornando-os mais intensos que a manipulação manual. Os estímulos elétricos podem ser aplicados utilizando-se um eletrocondutor denominado de estimulação transcutânea (DIAS, 2015). A fisioterapia melhora a qualidade de vida dos animais, diminui o tempo de recuperação dos pacientes, ajuda a prevenir futuras lesões, melhora a dor aguda e crônica além de evitar complicações resultantes do desuso do membro (MONK, 2006). O contato do homem com os animais selvagens tem sido cada vez mais comum. Essa proximidade gera um impacto negativo na população desses


animais devido a destruição de seus habitats e diminuição da disponibilidade de presas naturais (PUERTO, 2012). Muitos animais são encaminhados a centros de triagem e reabilitação com grande diversidade de lesões e alterações clínicas (CRISTIANE, 2011). Os traumas são os responsáveis pela maior porcentagem da casuística e diversos são os estudos e levantamentos com estes animais (ABREU, 2011). Acupuntura, moxabustão, laserpuntura, eletroacupuntura e exercícios de fisioterapia compõe um grupo de terapias “não convencionais” classificado como medicina veterinária complementar. A utilização desses tratamentos tem sido cada vez maior, pois quando combinadas apresentam resultados surpreendentes e efetivos. . Esse trabalho tem como objetivo relatar a reabilitação clínica e a recuperação funcional do membro pélvico esquerdo de um gavião-carijó (Rupornis magnirostris) de cativeiro em treinamento para falcoaria que sofreu um trauma e perdeu a dor superficial e profunda e estava com propriocepção diminuída. O tratamento foi realizado com técnicas que compõe a medicina veterinária complementar, dentre elas a acupuntura, moxabustão, laserterapia, eletroacupuntura e exercícios de fisioterapia.


2. OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivos: 1 – Relatar a recuperação e resposta ao tratamento em um gavião-carijó de cativeiro que sofreu um trauma em membro pélvico esquerdo 2 – Descrever o tratamento realizado baseado em técnicas que compõe a medicina veterinária complementar, dentre elas a acupuntura, moxabustão, laserterapia, eletroacupuntura e exercícios de fisioterapia.


1. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 MEDICINA VETERINÁRIA COMPLEMENTAR

A Medicina Veterinária Complementar é um termo referente a uma abrangência de tratamentos “não convencionais” para diversos tipos de doenças e que considera o bem-estar do paciente como um todo. Não trata apenas os sinais clínicos ou condições individuais, combina os tratamentos para melhor servir as necessidades de cada paciente.

3.2 GAVIÃO-CARIJÓ

Pertencente a Ordem Acciptiforme e Família Accipitdae, o gavião-carijó (Figura 1) é uma ave com peso de aproximadamente 300 gramas e 30 a 40 cm de tamanho, presente no México, Argentina e em todo o território brasileiro (SANTOS; COPATTI; ROSADO, 2009). Possui diversas variações de empenamento durante sua maturação quando adultos, apresentam a ponta do bico preta com a base amarelada, cabeça e parte superior das asas marrons, peito ferruginoso e barriga e pernas barradas (BROWN, 1997). Possui hábito alimentar diurno, caçando grandes insetos, alguns répteis, anfíbios, pequenas cobras, pássaros e morcegos (SICK, 1997). Em consequência do crescimento da população humana, das cidades, de construções urbanas e do cultivo de monoculturas sobre a mata nativa, o contato do homem com os animais selvagens tem sido cada vez mais comum. Essa proximidade gera um impacto negativo na população desses animais devido a destruição de seus habitats e diminuição da disponibilidade de presas naturais (PUERTO, 2012). Desta forma muitos animais são encaminhados a centros de triagem e reabilitação com grande diversidade de lesões e alterações clínicas (CRISTIANE, 2011). Os traumas são os responsáveis pela maior porcentagem da casuística e diversos são os estudos e levantamentos com estes animais (ABREU, 2011).


Figura

1.

Gavião-carijó

(Rupornis

magnirostris).

Fonte:

http://www.wikiaves.com, foto de Aisse Gaertner. Acesso em 10/12/2016.

3.3 ACUPUNTURA

A acupuntura consiste no tratamento através da inserção de agulhas em pontos específicos e pré-estabelecidos a fim de atingir um efeito terapêutico e homeostático. A acupuntura faz parte de um conjunto de conhecimentos teórico-empíricos denominado de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) (SCHOEN, 2006). A MTC considera que a saúde é consequência do funcionamento ideal das funções psiconeuroendócrinas, além das influências do código genético e de fatores extrínsecos como hábitos de vida, alimentação, clima e qualidade do ambiente que vive (MACIOCIA, 2007). Fisiologicamente o agulhamento promove a estimulação do sistema neuro-humoral liberando hormônios e neuropeptídios na musculatura, medula espinhal e encéfalo, que mudam a percepção da dor e influenciam na regulação do organismo (SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2010). O efeito analgésico promovido pela acupuntura pode ser explicado por vários mecanismos. Um dos mecanismos descreve que a inserção da agulha


promove a estimulação de fibras nervosas aferentes do tipo I e II e fibras A deltas, que são responsáveis por enviar impulsos nervosos à medula (JÚNIOR, 2012). Na medula ocorre a modulação desse estímulo e a liberação de encefalinas e dinorfinas (TAFFAREL & FREITAS, 2009). Outro mecanismo se refere à estimulação de pontos específicos do encéfalo referentes à dor, que promove a liberação de neurotransmissores como a serotonina e a noroepinefrina. Esses neurotransmissores são responsáveis por evitar que o estímulo da dor ascenda pela via espinotalâmica (JÚNIOR, 2012). Além de promover a sensação de bem-estar pela liberação de betaendorfinas na corrente sanguínea e no líquido encéfalo raquidiano (TAFFAREL & FREITAS, 2009). O trauma resultante da inserção das agulhas, promove a ativação do fator tecidual XII que resulta na produção de plasminogênio, proteínas químicas e prostaglandinas, além de provocar a degranulação dos mastócitos. Os mastócitos são responsáveis pela liberação de heparina, histamina, bradicinina e proteases que promovem relaxamento muscular, vasodilatação e modulam a resposta imune (XIE & PREAST, 2011). Na medicina veterinária, a acupuntura é indicada para tratamento de diversas enfermidades, e em casos de distúrbios neurológicos, musculares e cutâneos, apresenta grandes benefícios e altos índices de recuperação (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2010).

3.4 MOXABUSTÃO

O termo “moxa” originou-se no Japão a partir da expressão “moekusa”, que significa “erva que queima” (SCHOEM, 2006). A moxabustão é uma técnica de aquecimento dos acupontos pela queima da erva Artemísia vulgaris, Família Asteraceae. Este estímulo ser de forma direta, utilizando-se cones diretamente sobre a pele, ou indireta, com um bastão e sem contato direto com a pele (ALTMAN, 2006).


A artemísia é uma planta ramosa e aromática, originária da Europa, Ásia e norte da África. Está presente na América do Norte, sendo cultivada em hortas e jardins com finalidade ornamental e medicinal. As flores são pequenas, com coloração branca ou amarela (FILHO, 2015). Possui propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, dispersa o frio e a umidade, regula a circulação e a fortalece a energia vital (YAMAMURA, 2001). A ação da temperatura e de fatores não térmicos como a fumaça, radiação infravermelha e propriedades farmacológicas da planta, seriam responsáveis pelos efeitos terapêuticos da moxabustão (CHIU, 2013). A elevação da temperatura local também desencadeia a degranulação de mastócitos e promove a queda na viscosidade e densidade sanguínea, aumentando consequentemente o fluxo sanguíneo local promovendo o alívio da dor (HUANG; SHEU, 2013). Na MTC, a moxabustão também possui como uma de suas finalidades aquecer e mover Qi e o Xue no tratamento de doenças provocadas pelo frio e umidade, estagnação de Qi e Xue além de fortalecer o Qi vital, ou energia vital. Além disso, o calor também promove estímulos que regularizam as funções fisiológicas por intermédio dos meridianos (SCHOEN, 2006). A técnica mais realizada na medicina veterinária é a moxabustão de forma indireta, que evita o contato direto com o pêlo. Os bastões utilizados são feitos de lã ou pó grosso de Artemísia, são envolvidos firmemente em cilindros de aproximadamente 15 cm a 30 cm de comprimento e 1,25 cm de diâmetro. A extremidade do bastão acesa é mantida aproximadamente 1,0 a 2,5 cm acima da pele, sobre o acuponto ou região a ser tratada (SHOEN, 2006).

3.5 LASERPUNTURA

A sigla LASER se refere à expressão “Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation”, que significa a amplificação da luz por emissão de radiação estimulada (VEÇOSO, 1993). A laserpuntura é a estimulação dos acupontos, utilizando-se irradiação de laser não térmico e de baixa potência


(600 a 904 mW) sendo classificada como uma forma de fototerapia (BAXTER et al., 2008). O meio de produção do laser de baixa potência pode ser por gás hélioneônio (HeNe) ou baseado em um iodo semicondutor de arsenieto de gálio (AsGa). O laser do tipo AsGa é infravermelho, de emissão pulsada e comprimento de onda de 904 nm. Por produzir uma onda de comprimento maior, o laser de AsGa indicado para tratamento de processos lesivos profundos, como por exemplo artroses e tendinites; e o laser de HeNe, por produzir uma onda mais curta (600 mW), está indicado para lesões mais superficiais, como por exemplo feridas cutâneas (VEÇOSO, 1993). Na laserpuntura são utilizadas potencias que variam de 1 mW e mais de 30 mW, sendo mais usada na faixa de 3-10 mW. A intensidade pode variar de 25 a 1000 mW/cm2, com maior utilização na faixa de 75-300 mW/cm². A dose geralmente utilizada varia de 1J a mais de 3J por ponto de acupuntura (WHITTAKER, 2004). Seus efeitos biomoduladores são resultantes da interação fotoquímica, fotofísica e fotobiológica celular. Ao penetrar no tecido, a energia é absorvida produzindo estimulação ou inibição de atividades enzimáticas. Além disso, estimula os processos fisiológicos cicatriciais, observando-se uma ação mediadora do laser na inflamação e na ativação do sistema imunológico (WHITTAKER, 2004). As principais indicações para esse tipo de terapia são: para acelerar os processos de cicatrização e de remodelação e reparo ósseo, analgesia, restabelecimento da função neural após injúria, normalização da função hormonal, contenção do processo de inflamação e a regulação do sistema imunológico e outras (BAXTER et al., 2008). A laserpuntura apresenta algumas vantagens em comparação com a acupuntura tradicional pois necessita de menor tempo de tratamento, pode se realizar a aplicação em pontos de difícil acesso com agulhas, é indolor e asséptica (EPELBAUM, 2007).


3.6 ELETROACUPUNTURA

A eletroacupuntura têm como finalidade aumentar os estímulos gerados pelas agulhas de acupuntura, tornando-os mais intensos que a manipulação manual. Os estímulos elétricos podem ser aplicados utilizando-se um eletrocondutor denominado de estimulação transcutânea (DIAS, 2015). Com relação à frequência de eletroacupuntura, estudos relatam que 2 Hz acelera a liberação de encefalina, betaendorfina e endomorfina; e 100 Hz aumenta seletivamente a liberação de dinorfina. A combinação dessas duas frequências leva à produção simultânea destes quatro peptídeos opióides gerando um efeito terapêutico potente e efetivo (STENER-VRCTORIN, 2001). A estimulação dos pontos de acupuntura por corrente elétrica potencializa a analgesia, sendo utilizada em diversas afecções neurológicas por promover neuroplasticidade e alívio da dor central e periférica (DIAS, 2015). A eletroacupuntura bilateral produz analgesia com efeito duradouro, e a baixa frequência elétrica libera endorfinas e encefalinas enquanto que o estímulo da alta frequência libera serotonina, epinefrina e norepinefrina. Esses mediadores endógenos além de aliviarem a dor geram bem-estar, fazendo com que o animal retome as suas atividades, inclusive o apetite (CASSU et al, 2008).

3.7 FISIOTERAPIA

A fisioterapia melhora a qualidade de vida dos animais, diminui o tempo de recuperação dos pacientes, ajuda a prevenir futuras lesões, melhora a dor aguda e crônica além de evitar complicações resultantes do desuso do membro (MONK, 2006). Atua beneficiando tanto tecidos moles como articulações, tendões, ossos e ligamentos (PEREZ, 2012). Reduz o processo inflamatório em articulações, melhora a homeostasia e a biomecânica articular, mantém a


nutrição dos tecidos e diminui a progressão das alterações degenerativas (MONK, 2006). O tratamento fisioterápico em pacientes veterinários ortopédicos teve um aumento significativo na última década trazendo múltiplos benefícios aos pacientes (MOLSA et al, 2014).

2. RELATO DE CASO

Um gavião-carijó (Rupornis magnirostris) pertencente ao Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens (CEMPAS) da FMVZ-Unesp Campus Botucatu, estava em processo de reabilitação e iniciando treinamento para falcoaria com o objetivo de melhorar suas condições de voo, aumento da massa muscular e readaptação. A falcoaria utiliza técnicas para adestramento de aves de rapina sendo realizada

pela

sociedade

desde

750

d.C

(http://www.iaf.org/HistoryFalconry.php). O animal foi encontrado pela Polícia Ambiental após ter sido atropelado e encaminhado ao CEMPAS, onde foi diagnosticado uma fratura de fêmur esquerdo e de úmero esquerdo. As lesões ósseas foram cicatrizadas e consolidadas

espontâneamente

sem

intervenção

cirúrgica

porém,

a

movimentação do membro torácico ficou comprometida e a amplitude da articulação do ombro diminuída. Na tentativa de reestabelecer a musculatura peitoral e retorno das atividade do membro torácico, foi iniciado o treinamento para falcoaria. Para a realização dos treinos, é necessário que o animal fique atrelado a um tronco de madeira chamado de “banco” (Figura 2).


Figura

2.

Animal

atrelado

ao

banco

de

falcoaria.

Fonte:

http://falcoariaonline.com.

Na primeira semana de treinamento, o animal sofreu um acidente ficando pendurado pela trela sendo encontrado pela manhã do dia seguinte com o membro pélvico esquerdo paralisado. Na palpação não evidenciou-se nenhuma lesão além do calo ósseo pré-existente no fêmur devido a fratura antiga. Nos exames de radiografia não foi evidenciado nenhuma nova lesão e o animal começou a ser medicado com Meloxicam 0,2 mg/kg SID e massagem no membro com Dimetilsulfóxido DMSO SID por 5 dias, porém sem melhoras clínicas. Iniciou-se o tratamento com acupuntura, moxabustão, eletroacupuntura, laserpuntura e exercícios de fisioterapia (Figura 3). Foram realizadas 8 sessões de acupuntura acompanhado de eletroterapia e seis sessões de terapia fotodinâmica acompanhada de fisioterapia totalizando dois meses de tratamento. Após a segunda sessão de eletroacupuntura o animal apresentou resposta clínica movimentando ligeiramente o membro antes paralisado. Porém com reflexos diminuídos, arresponsivo a estímulos de apreensão e dor profunda ausente. No decorrer de quatro sessões 4 (duas sessões de eletroacupuntura e duas de laserpuntura) de tratamento o animal recuperou os reflexos do


membro e resposta a dor profunda, passando a utilizar o membro para se empoleirar porém ainda sem propriocepção. Com o passar das sessões de eletroacupuntura, moxa, laseracupuntura acompanhado de exercícios de fisioterapia, o animal apresentou melhora progressiva em tônus muscular, reflexos e propriocepção. Os pontos de acupuntura utilizados foram o E36, Be54, Bai Hui, VB30 e Liu Feng. Ao término de 2 meses de tratamento, totalizando 8 sessões de terapia complementar, o animal teve alta médica utilizando o seu membro para empoleirar, apreender suas presas, se alimentar e descansar, retomando suas atividades diárias e aos treinos.

Figura 3. Paciente deste trabalho em uma das sessões de laserpuntura.


3. DISCUSSÃO

Os pontos foram escolhidos para analgesia, desordem de Jin e fraqueza dos membros pélvicos. O E36 é um ponto Mar e age como tônico geral de Qi, fortalece os membros pélvicos e ativa a resposta motora e psíquica geral. O ponto Be54 é ponto mestre dos membros pélvicos. O VB30 tem indicação para fraqueza de membros pélvicos, fortalecimento da musculatura pela nutrição do Xue e Jin. O Bai Hui é um ponto utilizado para fortalecimento dos membros pélvicos, tonificação geral de Qi e analgesia. O Liu Feng está indicado para paresia e paralisia de membros (LOBO JÚNIOR, 2012; XIE & PREAST, 2011). O efeito da acupuntura se dá pelo trauma local gerado pela inserção das agulhas, que leva a ativação de fator tecidual XII e resulta na produção de plasminogênio, proteínas químicas e prostaglandinas. Além de ocorrer a degranulação de mastócitos, que são responsáveis pela liberação de heparina, histamina, bradicinina e proteases, que geram um aumento do fluxo sanguíneo local, da resposta imune e consequentemente relaxamento da musculatura (XIE & PREAST, 2011). A moxabustão desencadeia a degranulação de mastócitos e promove a queda na viscosidade e densidade sanguínea que aumenta o fluxo sanguíneo local e promove analgesia (HUANG; SHEU, 2013). Também possui como uma de suas finalidades aquecer e mover Qi e o Xue no tratamento de doenças provocadas pelo frio e umidade, estagnação de Qi e Xue além de fortalecer o Qi vital (SCHOEM, 2006). Segundo Whittaker (2004) a laserpuntura é utilizada principalmente para controlar a inflamação e analgesia. Além desses benefícios, foi utilizada buscando-se acelerar a cicatrização dos tendões e manter as articulações saudáveis. A eletroacupuntura potencializa a analgesia, promove neuroplasticidade e alívio da dor central e periférica auxiliando na recuperação e cicatrização de lesões graves em tecido nervoso, tendões e ligamentos (DIAS, 2015).


Os exercícios de fisioterapia foram empregados para diminuir o tempo de recuperação da animal, analgesia, além de evitar complicações resultantes do desuso do membro como por exemplo, a atrofia da musculatura. Beneficiam mantendo a mobilidade das articulações e agem na nutrição dos tecidos e diminuição da progressão das alterações degenerativas (MONK, 2006).

4. CONCLUSÃO

Esse trabalho relata a melhora clínica e reabilitação motora de um gavião-carijó que foi submetido ao tratamento com medicina veterinária complementar com as técnicas de acupuntura, moxabustão, laserpuntura, eletroacupuntura e exercícios de fisioterapia. O animal que perdeu a movimentação do membro pélvico, se recuperou totalmente após as terapias. Houve o retorno da sensibilidade, propriocepção, controle da dor e recuperação total da funcionalidade do membro. Conclui-se que o tratamento com a medicina veterinária complementar traz inúmeros benefícios e rapidez na recuperação do paciente.


5. REFERÊNCIAS

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