Uso da medicina complementar em osteossarcoma em cães

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FACULDADE DE JAGUARIÚNA

BIANCA MARQUES PORTO ULIANO

REVISÃO DE LITERATURA: USO DA MEDICINA COMPLEMENTAR EM OSTEOSSARCOMA EM CÃES

Jaguariúna 2017


BIANCA MARQUES PORTO ULIANO

REVISÃO DE LITERATURA: USO DA MEDICINA COMPLEMENTAR EM OSTEOSSARCOMA EM CÃES

Trabalho de Conclusão de Curso de Pósgraduação lato sensu em Acupuntura Veterinária, apresentado à Faculdade de Jaguariúna, SP. Área de Acupuntura Veterinária.

Orientador: Professor Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim

Jaguariúna 2017


BIANCA MARQUES PORTO ULIANO

REVISÃO DE LITERATURA: USO DA MEDICINA COMPLEMENTAR EM OSTEOSSARCOMA EM CÃES

Este exemplar corresponde à redação final da Monografia de graduação defendida por Bianca Marques Porto Uliano e aprovada pela Comissão julgadora em __/__/__.

Professor Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim Orientador

Nome do componente da banca

Nome do componente da banca

Jaguariúna 2017


DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Tarcisa e Eduardo, Ao meu irmão Gabriel, Aos amigos. A todos que amam os animais. Ao meu Professor e Orientador, Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida. Agradeço a presença de minha mãe Tarcisa e a eterna presença no meu coração do meu pai Eduardo e do meu irmão Gabriel. Agradeço meu Professor Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim, pelo apoio e amizade. A todos os Professores do Instituto Bioethicus, muito obrigada por todos os ensinamentos. A todos os funcionários da Bioethicus por sempre nos receber tão bem. A todos os colegas de sala, cada um de vocês tem um lugar no meu coração. Agradeço a todos os amigos queridos que fazem parte da minha vida.


"As nuvens sempre passam. Podem ser nuvens claras ou escuras, mas sempre passam. Talvez tenha que chover uma tempestade, mas ela também passa. Compreenda que você não é a nuvem, você é o céu." Sri Prem Baba


ULIANO, Bianca. Revisão de Literatura: Uso da Medicina Complementar em

Osteossarcoma em Cães. 2017. 23f. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária – Instituto Bioethicus, Botucatu, SP, 2017.

RESUMO

A Medicina Tradicional Chinesa está cada vez mais presente na Medicina Veterinária convencional como tratamento adjuvante em pacientes oncológicos. A acupunctura e a fitoterapia, técnicas da Medicina Oriental, são muito utilizadas antes, durante e após tratamentos quimioterápicos para reduzir os efeitos colaterais das medicações. Atualmente, Hospitais públicos e particulares oferecem a acupuntura como parte do tratamento, sendo esta já inclusa nos convênios médicos. Este estudo tem o objetivo de reunir diversas técnicas da Medicina Tradicional Chinesa e sua aplicação em oncologia veterinária. No decorrer desta revisão serão mencionados os acupontos mais recomendados para aplicação em casos de câncer, especialmente no osteossarcoma. É fundamental unir as medicinas ocidental e oriental, com suas diferentes terapias para uma melhor resposta da abordagem terapêutica do paciente oncológico.

Palavras-chave: Medicina Complementar. Acupuntura. Oncologia. Tratamento


ULIANO, Bianca. Revisão de Literatura: Uso da Medicina Complementar em

Osteossarcoma em Cães. 2017. 23f. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária – Instituto Bioethicus, Botucatu, SP, 2017.

ABSTRACT

Traditional Chinese Medicine is increasingly present in conventional veterinary medicine as adjuvant treatment in cancer patients. Acupuncture and phytotherapy, Oriental medicine techniques, are widely used before, during and after chemotherapy to reduce the side effects of medications. Currently, public and private hospitals offer acupuncture as part of the treatment, which is already included in medical covenants. This study aims to gather several techniques of Traditional Chinese Medicine and its application in veterinary oncology. During this review will be mentioned the most recommended acupoints for application in cases of cancer, especially in osteosarcoma. It is essential to unite Western and Eastern medicines, with their different therapies, to better respond to the therapeutic approach of cancer patients.

Key-words: Complementary Medicine. Acupuncture. Oncology. Treatment.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 9 2 MEDICINA COMPLEMENTAR ..................................................................................... 10 2.1 O Câncer ....................................................................................................................... 10 2.2 Osteossarcoma .............................................................................................................. 11 2.2.1 Fígado ................................................................................................................ 12 2.2.2 Rim..................................................................................................................... 13 2.3 Acupuntura e o Câncer ................................................................................................. 13 2.4 Acupuntura no controle da dor ..................................................................................... 15 2.5 Moxabustão .................................................................................................................. 17 2.6 Fitoterapia ..................................................................................................................... 18 2.7 Homeossiniatria ............................................................................................................ 18 3 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 20 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 21


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1 INTRODUÇÃO

A presente revisão tem a finalidade de acrescentar ao universo da Medicina Veterinária a importância da Medicina Tradicional Chinesa – MTC – através da acupuntura e fitoterapia na prevenção e tratamento do câncer, especialmente no “osteossarcoma” (MOLASSIOTIS; FERNANDEZ-ORTEGA, 2005). A Acupuntura é reconhecida pela OMS, Organização Mundial da Saúde, como um método de tratamento complementar e, foi considerada como uma especialidade da Medicina Veterinária pelo Conselho Federal da Medicina Veterinária em 1995 através da ABRAVET, Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária (SZABÓ; ANGELI; JOAQUIM; GAMA; LUNA, 2006). A Acupuntura é uma ramo da Medicina Tradicional Chinesa que estimula pontos específicos e estratégicos do corpo, para prevenção e tratamento de doenças, proporcionando homeostase e diminuição da dor. Nesta técnica, podemos utilizar diferentes técnicas para estímulo dos acupontos tais como agulhas chinesas, moxabustão, laser, aquapuntura, farmacopuntura, hemopuntura, homeossiniatria, acupressão, massagem e demais estímulos (SCHOEN, 2006).


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2 MEDICINA COMPLEMENTAR

2.1 O Câncer

Oncologia vem do grego e quer dizer estudo do volume. Isto se refere ao tumor, que antigamente era visualizado principalmente na sua forma externa, por apresentar e proporcionar ao órgão, tecido, aumento de volume, tumoração (JERICÓ; NETO; KOGIKA, 2015). O câncer se desenvolve no núcleo celular, resultando em uma mutação genética e mitose desconcontrolada. Em decorrência da alteração celular, o câncer irá se multiplicar de forma anaeróbia, tendo como seu inimigo o oxigênio. As células cancerígenas destroem as células normais transformando o metabolismo em anaeróbico (hipóxia), onde o motor é o hidrogênio, produzindo toxinas que impedem o funcionamento normal do organismo, através da produção de ácido lático que se transforma em glicose, tornando o ambiente ácido e tóxico, impedindo a chegada e a permanência de nutrientes, destruindo as células vizinhas e saudáveis. As células saudáveis realizam o metabilismo aeróbico, através do oxigênio. O único nutriente que passa e interage no ambiente tóxico é a glicose. O sistema imunológico não reage com efetividade no ambiente ácido. As células doentes são ácidas no meio extracelular e alcalinas no intracelular, ao contrário da célula saudável. A partir do momento que há melhora da oxigenação, ocorre a morte de células cancerígenas (MOLASSIOTIS; FERNANDEZ-ORTEGA, 2005).). A principal fonte de energia do câncer vem do carboidrato e, portanto, deve ser evitado o seu uso na dieta. O carboidrato se transforma em glicose e esta é a principal fonte de alimentação do câncer (ANDREA BENI, 2014). De forma diferente de alguns anos atrás, o câncer não é mais reconhecido somente como hereditário. 5-10% dos cânceres podem ser transmitidos geneticamente e os outros 90% são decorrentes da interação dos genes, do estilo de vida e da alimentação (INTELIZANO, 2004). As causas que contribuem para o aparecimento dos cânceres são multifatoriais. O crescimento tumoral pode se desenvolver com a exposição à radiação ionizante, raio x, raio gama, luz ultravioleta, como também a susbtâncias químicas (agrotóxicos, cigarros), poluição, presença de alta quantidade de flúor na água e metais


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pesados como alumínio, chumbo e mercúrio. O estresse, também, é um dos causadores do câncer (JERICÓ; NETO; KOGIKA, 2015). A lesão repetitiva dos tecidos pode levar a reposição mitótica rápida dessas células, e quanto mais rápida a mitose, maior a probabilidade de mutações gênicas o que contribui para surgimento dos oncogenes e da neoplasia (GEHDOO, 2006). O ambiente ácido é propício para o desenvolvimento do câncer devido ao sistema imunológico não atuar neste ambiente. Células cancerígenas secretam proteínas dextrogenas, dificultando a ação do sistema imune. As células tumorais apresentam diferenças nas estruturas físicas e bioquímicas, podendo atingir a corrente sanguínea por não se aderirem às outras células. Para seu crescimento e desenvolvimento, células neoplásicas formam novos vasos – angiogênese – ao seu redor e assim competem pelos nutrientes com células normais (MOLASSIOTIS; FERNANDEZ-ORTEGA, 2005). Outro fator decorrente do câncer são as síndromes paraneoplásicas, as quais trazem ao animal diversas alterações como a queda da imunidade, anemia, trombocitopenia, leucocitose neutrofílica, coagulação intravascular disseminada, hipergamaglobulinemia, alterações neurológicas, caquexia e doenças intercorrentes como as inflamações crônicas, sofrimento celular, aparecimento de bactérias, fungos e vírus diversos, carência de nutrientes ômega 3, falta de Vitamina D3 e estresse (JERICÓ; NETO; KOGIKA, 2015). Atualmente, com o avanço da medicina, os animais de companhia tem uma expectativa de vida maior.. Com o diagnóstico precoce, há maior sucesso no tratamento das eventuais neoplasias malignas que aparecem com a senilidade. A eutanásia é um recurso usado em situação extrema, pois a medicina do envelhecimento, que é o estudo do câncer, traz alternativas de tratamento. Embora a medicina do envelhecimento tenha por escopo tratar de animais idosos, o câncer surge em muitos animais jovens (DALECK; FONSECA; CANOLA, 2002). Pela Medicina Tradicional Chinesa, o câncer é caracterizado como um desequilíbrio antigo, decorrente de fatores internos e externos como, por exemplo invasão de fatores patogênicos externos, exposição às toxinas ambientais, falta de exercício e fatores emocionais (SCHOEN, 2006).

2.2 Osteossarcoma

Osteossarcoma é um tumor maligno que deriva de osteoblastos mutantes. Acomete cães de várias idades e raças, sendo mais comum em cães idosos e de grandes


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portes, como Golden Retriever, Pastor Alemão, Greyhound e São Bernardo. Na maioria dos casos, o câncer surge nos ossos longos, como tíbia, fémur, rádio e úmero, podendo aparecer em demais ossos como vértebra e costelas. O diagnóstico é feito através do raio-x e tomografia (OLIVEIRA; SILVEIRA, 2008). Quando a doença ocorre em membros, a amputação é indicada para cessar o foco das células neoplásicas e, em seguida, indica-se a quimioterapia para prevenir metástase pois este câncer tem alto grau de malignidade e propensão de invadir outros tecidos. Por ser uma doença que causa dor e incômodo, estudamos alternativas para uma melhor qualidade de vida do animal (GAYNON; MUIR; WILLIAM, 2009). O osteossarcoma pode disseminar facilmente para outros ossos, para os pulmões ou outros órgãos (JERICÓ; NETO; KOGIKA, 2015). A presença do flúor na água aumenta o índice de osteossarcoma em cães (MORAES, 2016). Osteossarcoma tem baixo índice de cura. Após a cirurgia de amputação do membro afetado, no prazo de um ano pode ocorrer metástase pulmonar, com a sobrevida aproximada de seis meses. Com o tratamento quimioterápico, o animal pode sobreviver até dois anos (OWEN et al., 1977). Pela Medicina Tradicional Chinesa, o osteossarcoma é um padrão de excesso que inclui a presença de fleuma, estagnação de Xue e calor tóxico (SCHOEN, Allen M. 2006).

2.2.1 Fígado

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, o fígado é responsável pelo fluxo de energia, ‘QI’. A estagnação de ‘QI’ prejudica a circulação do sangue ‘XUE’ e podem surgir tumores, massas ou aumento de volume. ‘QI’ e ‘XUE’ em equilíbrio mantém o organismo nutrido (MACIOCIA, 1996). Vários são os fatores que acometem a estagnação de energia ‘QI’. A Medicina Tradicional Chinesa através da acupuntura, auxilia nos fatores emocionais, na dor e na ausência de energia vital (MOLASSIOTIS; FERNANDEZ-ORTEGA, 2005).


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2.2.2 Rim

O rim tem como funções importantes controlar a água, a recepção do Qi, comandar os ossos, abastecer o cérebro, produzir a medula e armazenar a essência (Jing). A essência é composta pelo Jing Prê-Celestial ou congênita (recebido dos pais no momento da fecundação) e pelo Jing Pós Celestial (originário dos alimentos) (YAMAMURA, 2004). O câncer pode surgir por uma deficiência de Jing, ou seja, uma falha na imunidade, sendo importante o tratamento de seu meridiano ao tratar osteossarcoma (DRAEHMPAEHL; ZOHMANN, 1997).

2.3 Acupuntura e o Câncer

Por não existir padronização do tratamento,, a sociedade médica ainda tem restrições com a indicação da Medicina Chinesa no tratamento de câncer (INTELIZANO, 2004). Umas das maneiras de se tratar o câncer é induzir a ‘apoptose’, inibir a ‘angiogênese’ e reforçar o sistema imunológico (HARENDRA; PAREKH; MING, 2009). A Medicina Tradicional Chinesa trata o câncer observando o organismo como um todo e não através de uma visão fragmentada. É uma visão holística, que estimula a melhora integral do sistema imune, colaborando no tratamento do paciente oncológico, na tentativa de reduzir os efeitos agressivos da quimioterapia ao organismo, pois as drogas quimioterápicas agem destruindo todas as células que sofrem rápida multiplicação, e entre elas estão inclusas células saudáveis. (MOLASSIOTIS; FERNANDEZ-ORTEGA, 2005). A acupuntura, dentre outros efeitos, traz o benefício de fluir a energia QI que antes estava bloqueada. A energia bloqueada produz dor, rigidez e disfunção dos órgãos, por não permitir que o sangue percorra livremente o seu caminho. Os órgãos que costumam reter energia são: fígado, estômago e intestino grosso. Acupontos importantes para o livre fluxo de “QI”:


14 Tabela 1 –

PONTOS E TÉCNICAS DE

COMENTÁRIOS DO AUTOR

TRATAMENTO E36

 TÔNICO GERAL DE ‘QI’

B19

 REMOVE A ESTAGNAÇÃO DE QI DO FÍGADO

B24

 MAR DO ‘QI’

B26

 PORTÃO DO ‘QI’ FONTE-YUAN

VB24, VB34 e F3

 REMOVEM ESTAGNAÇÃO DO ‘QI’ DO FÍGADO  TONIFICANTE GERAL DO ‘QI’

VC6

Fonte: Xie, Preast (2011).

A acupuntura atua como fator importante no combate ao estresse emocional e orgânico, reduzindo o mal estar e vômitos, produzidos pelo tratamento quimioterápico (DUNDEE; YANG, 1989). Pacientes submetidos a quimioterapia em conjunto com a eletroacupuntura não tiveram decréscimo de células ‘T’ e ‘Natural Killer’, prevenindo a imunossupressão quimioterápica (YE et al., 2002). Pelos ensinamentos da Medicina Tradicional Chinesa, há dois mecanismos primários que são a apoptose e angiogênese que se propõem como responsáveis pela transmissão da eficácia terapêutica contra uma ampla gama de cânceres, combatendo a proliferação de células doentes que são resistentes à terapia convencional (HARENDRA; PAREKH; MING, 2009). Pacientes humanos oncológicos relataram diminuição de náusea e vômito ao serem tratados com o acuponto Pericárdio 6 durante o tratamento quimioterápico. Além disso, puderam retirar medicações contra o vômito, que os deixavam sedados (DUNDEE; YANG, 1989). Outros exemplos de acupontos para náusea e vômito: IG11, E25, E36, BP4, B14, B20, B21, B22, B40, PC8, VB34, PC7 PC8, VB17, VC12 e VC17 (XIE; PREAST, 2011). A seguir, acupontos sugeridos para tratar osteossarcoma:


15 Tabela 2 –

PONTOS E TÉCNICAS DE TRATAMENTO

COMENTÁRIOS DO AUTOR

P9

 INFLUENCIA PULSO E VASOS

IG10 E VG14

 TRATAM IMUNODEFICIÊNCIA

BP10

 TIRA ESTRAGNAÇÃO DE SANGUE E CALOR TÓXICO

B11

 INFLUENCIA OS OSSOS

B17

 INFLUENCIA O SANGUE

B23 E B53

TRANSPORTAM QI AOS RINS

R3

 TONIFICA O YUAN QI (QI ORIGINAL)

VB39

 TRATA DESORDENS HEMATOPOÉTICAS Fonte: Xie, Preast (2011).

2.4 Acupuntura no controle da dor

A neurofisiologia traz à luz aspectos fisiológicos da acupuntura, além dos antigos conceitos energéticos. Estes aspectos, podem explicar principalmente seus efeitos no controle da dor, em pacientes oncológicos. A acupuntura age no sistema humoral, como também atua no sistema neural, produzindo substâncias químicas de ação tanto local como sistêmica, liberando prostaglandinas e hormônios (YAMAMURA, 2004). Mulheres que foram submetidas à cirurgia oncológica de mama e receberam acupuntura no pós cirúrgico, obtiveram alívio da dor, melhora do sono, melhora da movimentação dos membros e sensação de bem-estar (ALEM; GURGEL, 2008). As medicinas devem ser utilizadas de forma interativas, para o benefício do paciente e aliviar a dor do animal com câncer. A acupuntura age nos trajetos neuromusculares, tratando a dor através da neuromodulação pelas vias periféricas, centrais e autonômicas. A neuromodulação traz respostas neuro-humorais e neuroendócrinas. O uso da acupuntura diminui a inflamação pois atua no eixo hipotálamo – pituitária – adrenal. Áreas cerebrais responsáveis pela dor são estimuladas pela acupuntura. Além de diminuir a inflamação, a acupuntura reduz a dor crônica, liberando fluxo sanguíneo muscular, diminuindo o tônus simpático, agindo como relaxante do sistema nervoso central, diminuindo as dores agudas ou crônicas, de origem somática ou visceral (GAYNON; MUIR; WILLIAM, 2009; RUIXIN; LIXING, 2012).


16 Figura 1 – Mecanismos da dor induzida pela neoplasia óssea

Fonte: Paley, Carole, Bennett, Michael, Johnson, Mark (2011). Figura 2 – Mecanismos analgesia por acupuntura

Fonte: Paley, Carole, Bennett, Michael, Johnson, Mark (2011).


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A maior parte dos pacientes oncológicos sofrem de dor, seja causada pela invasão do câncer em tecidos adjacentes, ou pela quimioterapia. As neoplasias ósseas ou articulares são as que causam mais dor (GAYNON; MUIR III; WILLIAM, 2009). A acupuntura tem o propósito de diminuir sintomas e reduzir as dosagens dos fármacos (DUNDEE; YANG, 1989). Há resultados clínicos e fisiológicos que comprovam a eficiência da acupuntura no controle da dor e aumento da imunidade orgânica, com consequente benefício de qualidade de vida do animal, contribuindo para a medicina veterinária como uma aliada a tratamentos de diversas doenças e especialmente no câncer. Ao agir como fonte de diminuição da dor, a acupuntura exerce efeito, também, antidepressivo (RUIXIN; LIXING, 2012). A dor e a baixa imunidade são consequências da quimioterapia e a acupuntura tem sido muito utilizada para o controle da dor e do aumento da imunidade, trazendo uma recepção melhor do tratamento convencional. A acupuntura promove o alívio do estresse e aumenta a capacidade das células natural killers (NK) (MOLASSIOTIS; FERNANDEZ-ORTEGA, 2005). A seguir, acupontos para alívio da dor: E36, BP6, BP10, VB34, IG11, B23, B40, B60, IG4, TA5, BP21, ID9, F3, Pontos Shu’s e VG’s (GAYNON; MUIR; WILLIAM, 2009; MACIOCIA, 1996, XIE, H.; PREAST, V. 2011).

2.5 Moxabustão

O significado da palavra moxabustão é picar e queimar. Picar porque os chineses utilizavam a ‘moxa’ de forma direta, ou seja, queimando o local. No ocidente, a moxabustão é mais utilizada sobre a agulha ou estimulando o local desejado. A moxabustão melhora a função celular imune e também pode ser utilizada em acupontos de imunidade como VG14 e Bai Hui (YAMAMURA, 2004). A moxabustão é apresentada como um charuto, preenchido por uma erva chinesa chamada Artemisia vulgaris. Sua função é aquecer para mover o sangue, auxiliando no tratamento do câncer, diminuindo a dor e o vômito induzidos pela quimioterapia, levando o paciente a uma melhor qualidade de vida. A moxabustão aumenta o número de células NK (Natural Killer), que combatem as células neoplásicas (RUIXIN; LIXING, 2012).


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2.6 Fitoterapia

Na China, a Fitoterapia – uso de plantas medicinais pela via oral no tratamento e cura das doenças – é amplamente utilizada. A acupuntura, aliada à fitoterapia, promovem um tratamento exclusivo, único a cada animal, com raros protocolos e, por isso, visto com reservas pela Medicina Ocidental (HARENDRA; PAREKH; MING, 2009). O objetivo do tratamento é diminuir a dor e revigorar o sangue, promover a circulação e desobstrução da estagnação local. Para tanto, indicamos Bone Stasis Formula (JT) para o tratamento do Osteossarcoma e Xue Fu Zhu Yu Tang, para vários tipos de câncer (XIE; PREAST, 2010). A raiz da “Scutellaria Baiacalensis”, conhecida como ‘raiz dourada’ ou ‘Huang Qin’ tem ação antiinflamatória, antiviral e bacteriana e antineoplásica, agindo na pro apoptose e antiproliferativa. Seu principal mecanismo é inibir marcadores pro inflamatóricos e proliferadores de células tumorais (HARENDRA; PAREKH; MING, 2009). A ‘Cúrcuma longa’ e a ‘Scutellaria Baicalensis’ bloqueiam o processo de angiogênese, causado pela célula neoplásica. Sem a presença de vascularização, o tumor não sobrevive. A sinergia entre a Cúrcuma longa e a quimioterapia causa diminuição das células neoplásticas. ‘Cephalotaxus hainanensis’ e ‘camptotheca acuminata’ também agem como anticancer. ‘Rhizoma Zedoariae’ e ‘rabdosia rubescens’ têm propriedades anti cancerígenas e podem ser co administradas com a quimioterapia. ‘Pteris semipinnata l.’, ‘berberis amurensis’, ‘panax ginsenoside’ agem também na inibição do crescimento de células cancerígenas. (HARENDRA; PAREKH; MING, 2009). Thoresen (2006) tratou com fitoterapia e acupuntura cânceres como osteosarcomas, carcinomas mamários e linfomas.

2.7 Homeossiniatria

A aplicação subcutânea da medicação homeopática “Viscum album (d3)”, no acupunto para tratamento de imunodeficiência, o Vaso Governador 14 causa efeito antitumoral e imunoestimulante.

O Viscum álbum Linnaeus é uma planta semiparasita

composta por lectinas, viscotoxinas e polissacarídeos, apresentam propriedades citotóxicas


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em células tumorais, estimula células natural killer (NK) e induz a apoptose seletiva de células cancerígenas. É administrado 1 ml da solução de duas ou três vezes por semana pela via parenteral, já que as lectinas são inativadas pelo sistema digestório. No osteossarcoma, é indicado a aplicação por cinco anos (CONCEIÇÃO, 2008). O uso do Viscum álbum reduz os efeitos colaterais da quimioterapia, como fadiga, infecções e perda de pelos. Mulheres com tumores de mama que receberam Viscum durante o tratamento quimioterápico tiveram uma melhor qualidade de vida (FIGUEIREDO, 2014).


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3 CONCLUSÃO

A Medicina Complementar e suas técnicas podem auxiliar no manejo de animais com câncer, porém a literatura carece de trabalhos completes que reforcem essa indicação.


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REFERÊNCIAS

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