Efeito da eletroacupuntura em lesões de nervos periféricos: relato de caso em equino e bovino

Page 1

FACULDADE DE JAGUARIÚNA

GUSTAVO MORANDINI REGINATO

EFEITO DA ELETROACUPUNTURA EM LESÕES DE NERVOS PERIFÉRICOS: RELATO DE CASO EM EQUINO E BOVINO

Jaguariúna 2017


GUSTAVO MORANDINI REGINATO

EFEITO DA ELETROACUPUNTURA EM LESÕES DE NERVOS PERIFÉRICOS: RELATO DE CASO EM EQUINO E BOVINO

Trabalho de Conclusão de Curso de Pósgraduação lato sensu em Acupuntura Veterinária, apresentado à Faculdade de Jaguariúna, SP. Área de Acupuntura Veterinária.

Orientador: Professor Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim

Jaguariúna 2017


GUSTAVO MORANDINI REGINATO

Este exemplar corresponde à redação final da Monografia de graduação defendida por Gustavo Morandini Reginato e aprovada pela Comissão julgadora em __/__/__.

Professor Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim Orientador

Nome do componente da banca

Nome do componente da banca

Jaguariúna 2017


DEDICATÓRIA

À minha mãe e avó, Lucinane e Nicinha, Ao meu avô, Alceu Morandini Aos meu amigos, Ao Professor e Orientador, Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim.


AGRADECIMENTOS

Agradeço ao apoio da minha família, sempre importante para todos meus passos. Agradeço ao meu avô, Alceu Moradini, por todos os valores morais e ensinamentos que me passou enquanto em vida. Agradeço a presença de meus amigos ao meu lado, que fazem com que cada etapa seja mais fácil de ser cumprida. Agradeço ao Professores Doutor Jean Guilherme Fernandes Joaquim e Stélio Pacca Loureiro Luna pelos ensinamentos teóricos e de vida que nos passam a cada aula e conversa. A toda equipe do Instituto Bioethicus, pela vontade verdadeira de ensinar e nos tratar bem.


“A pureza de espírito e a ociosidade são incompatíveis”. Mahatma Gandhi


MORANDINI, Gustavo. Efeito da eletroacupuntura em lesões de nervos periféricos: relato de caso em equino e bovino. 2017. 21f. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária – Instituto Bioethicus, Botucatu, SP, 2017.

RESUMO

A paresia de um membro indica a disfunção parcial da função muscular voluntária deste devido à lesão nervosa. Já a claudicação é relativacionada a lesões no sistema musculoesquelético. A diferenciação de neuropatia e miopatia pode ser feita com exame clínico, exame bioquímico enzimático, eletromiografia, e eventualmente com recursos mais modernos como a ressonância magnética e, por isso nem sempre é fácil de ser realizada na rotina clínica de grandes animais. Pesquisas mais recentes têm demonstrado que o uso da eletroacupuntura favorece a regeneração de nervos periféricos lesionados. O presente trabalho relata o tratamento com eletroacupuntura de uma suposta lesão de nervo radial em um equino e um bovino.

Palavras-chave: Medicina Tradicional Chinesa. Acupuntura. Grandes animais. Reabilitação


MORANDINI, Gustavo. Efeito da eletroacupuntura em lesões de nervos periféricos: relato de caso em equino e bovino. 2017. 21f. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária – Instituto Bioethicus, Botucatu, SP, 2017.

ABSTRACT

The paresis of a limb indicates the partial dysfunction of this voluntary muscle function due to the nerve injury. The lameness is related to lesions in the musculoskeletal system. The differentiation of neuropathy and myopathy can be made with careful clinical examination, enzymatic biochemical examination, electromyography and possibly with more modern resources such as magnetic resonance imaging and, therefore, it is not always easy to be performed in the clinical routine of large animals. More recent research has shown that the use of electro-acupuncture favors the regeneration of injured peripheral nerves. The present study reports the treatment with electroacupuncture of an alleged radial nerve injury in an equine and a bovine.

Keywords: Traditional Chinese Medicine. Acupuncture. Great animals. Rehabilitation


SUMÁRIO 1

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9

2

REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................. 10 2.1 PARESTESIA .............................................................................................................................. 10 2.2 LESÕES DOS NERVOS PERIFÉRICOS .......................................................................................... 11 2.3 TRATAMENTO DE LESÕES DOS NERVOS PERIFÉRICOS ............................................................. 12 2.4 ELETROESTIMULAÇÃO ............................................................................................................. 13

3

RELATO DE CASO................................................................................................................... 14

4

DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 16

5

CONCLUSÃO............................................................................................................................. 19

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 20


9

1 INTRODUÇÃO

A claudicação em consequência à lesão de nervos periféricos em equinos possui baixa incidência (EMOND et al., 2016), porém, após anestesia é uma das complicações mais frequentes (FRANCI et al., 2006; LORENZ & KORNEGAY, 2006) e por trauma ou compressão em bovinos (JOAQUIM & LUNA, 2014). O elevado tempo de anestesia (>90 min), o decúbito lateral (JOHNSTON et al., 2004) e a baixa pressão arterial no período transanestésico são fatores de risco para a ocorrência de neuropatia/miopatia pós anestésica em equinos (BIDWEL et al., 2007). A eletroacupuntura faz o estímulo de acupontos por passagem de corrente elétrica. Geralmente associa-se agulha com um aparelho que produz esta corrente, ou então se faz o estímulo elétrico transcutâneo, os quais conseguem fazer um estímulo por tempo e frequência adequados, o que seria mais difícil com a manipulação das agulhas apenas (SHOEN, 2006). O presente relato de caso tem como finalidade relatar dois casos de lesão do nervo radial de duas causas diferentes e o tratamento instituido com a eletroacupuntura. Além disso, trazer conceitos de tipos de lesões nos nervos periféricos e as formas de tratamento com a eletroacupuntura.


10

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Parestesia

A paresia de um membro indica a disfunção parcial da função muscular voluntária deste devido à lesão nervosa. Já a claudicação é relacionada a lesões em sistema musculoesquelético. Casos de monoparesia, geralmente ocorrem devido a lesões de nervos periféricos, sendo o quadro clínico compatível com lesões do tipo neurônio motor inferiore (NMI). Para se identificar e localizar o tipo de lesão pode-se realizar o pinçamento de regiões cutâneas, as quais vão auxiliar na localização da lesão nervosa. Lesões compressivas dos nervos periféricos podem causar desmienilização sem ruptura do axônio, e geralmente o prognóstico é bom (LORENZ et al., 2011). O exame de bioquímica sérica pode indicar a ocorrência de miosites pós anestésicas (SERTEYN et al., 1988), o uso da eletromiografia também é indicado para um diagnóstico e prognóstico mais precisos (LORENZ & KORNEGAY, 2006; QUAN & BIRD, 1999). Mais recentemente tem-se utilizado a neurografia por ressonância magnética a fim de se obter um diagnóstico ainda mais acurado (BÄUMER et al., 2016). Os NMIs têm origem nos nervos cranianos ou na matéria cinzenta em diferentes partes ao longo da medula espinhal. A partir dos corpos celulares dos neurônios, localizados no sistema nervoso central, se prolongamos axônios,que se conectam através dasplacas motoras aos músculos, formando a unidade motora. A contração muscular é, portanto, dependente da interligação dos neurônios motores com a musculatura (QUAN & BIRD, 1999). Dependendo do sinal clínico observado no animal é possível, então, ponderar onde há probabilidade de se localizar a lesão nervosa (LORENZ et al., 2011). Os neurônios motores são divididos, principalmente, em corpo celular, axônio e células de Schwann, conforme figura 1. Cada nervo periférico é constituído por vários fascículos que são unidos por estruturas de tecido conjuntivo denominado de epineuro, a mais externa, e dentro dele, evolvendo os fascículos está o perineuro e entre eles está o endoneuro composto também por pequenos vasos e fluido extracelular (QUAN & BIRD, 1999).


11

Figura 1. Anatomia do nervo motor normal e as principais lesões encontradas (QUAN & BIRD, 1999).

2.2 Lesões dos Nervos Periféricos

As lesões nervosas são classificadas de acordo com as diferentes áreas comprometidas do nervo. A neuropraxia ocorre quando há apenas desmielinização focal do nervo, a axoniotmese é graduada em três, sendo a primeira quando há degeneração axonal com manutenção do endoneuro, a segunda com manutenção do perineuro e a terceira com manutenção do epineuro, já a neurotmese ocorre quando há ruptura total dos tecidos conjuntivos (QUAN & BIRD, 1999). O nervo radial tem origem em C7, C8, T1 e alguns casos em T2 também, e inerva os músculos tríceps braquial, extensor carpo radial, ulnar lateral, extensor digital lateral, extensor digital comum. Este nervo pode ser lesado e levar a uma paresia do membro afetado. Elas geralmente ocorrem devido à fratura de úmero e rádio, e ainda quando ocorrem situações que levem à isquemia do nervo, tais como compressão por garrote e decúbito prolongado (LORENZ et al., 2011). A paralisia completa do nervo radial se apresenta com a dificuldade óbvia de extensão do membro torácico, podendo ocorrer emboletamento constante e dificuldade na flexão dos dígitos e carpo, uma vez que estas articulações são inervadas por ele. Já a paralisia incompleta se dá por claudicação leve


12

ao passo, com pequena dificuldade de extensão do membro, que fica mais evidente ao trote (XIE & PREAST, 2011). A claudicação em consequência à lesão de nervos periféricos em equinos possui baixa incidência (EMOND et al., 2016), porém, após anestesia é uma das complicações mais frequentes (FRANCI et al., 2006; LORENZ & KORNEGAY, 2006). A miopatia, junto com a parada cardíaca e fraturas, são as complicações mais comuns encontradas no período pós anestésico de equinos (JOHNSTON et al., 2004). Franci et al. (2006) fizeram um estudo retrospectivo em que encontraram uma ocorrência de neuropatia/miopatia pós anestésica de 1,73%, já Johnston et al. (2004) encontraram uma ocorrência de 0,81%. O elevado tempo de anestesia (>90 min), o decúbito lateral (JOHNSTON et al., 2004) e a baixa pressão arterial no período transanestésico são fatores de risco para a ocorrência de neuropatia/miopatia pós anestésica em equinos (BIDWEL et al., 2007).

2.3 Tratamento de Lesões dos Nervos Periféricos

O tratamento instituído convencionalmente consiste em aplicação de corticóides, fisioterapia, proteção do membro para evitar feridas secundárias (LORENZ & KORNEGAY, 2006). Romnet al. (1987) afirmaram que o uso de corrente elétrica de baixa intensidade sobre o nervo ciático seccionado aumentou sua regeneração quando comparado com os animais que não receberam o tratamento elétrico, Nix & Hopf (1983) e Rozman et al. (2000) obtiveram resultados semelhantes. Pesquisas mais recente têm demonstrado que o uso da eletroacupuntura também favorece a regeneração de nervos periféricos quando expostos a lesões (ESCODRO, et al., 2011; JOAQUIM & LUNA, 2014; LA et al., 2005; LIU et al., 2015; SHAO et al., 2003). Na Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC) a paresia por lesão do nervo radial é classificada como estagnação de Chi, e afeta, principalmente, os Canais do Triplo Aquecedor (TA), Intestino Delgado (ID) e Intestino Grosso (IG). Para o tratamento pela MVTC, a estratégia é ativar o Xue, descontrair tendões e músculos e desobstruir os meridianos, podendo-se utilizar agulha seca, aquapuntura ou eletroacupuntura (XIE & PREAST, 2011). A eletroacupuntura faz o estímulo de acupontos por passagem de corrente elétrica. Geralmente associa-se agulha com um aparelho que produz esta corrente, ou então se faz o estímulo elétrico transcutâneo, os quais conseguem fazer um estímulo por tempo e frequência adequados, o que seria mais difícil com a manipulação das agulhas apenas. As variações desta técnica permitem que se tenham estímulos de tonificação ou sedação. A tonificação é obtida quando se utiliza corrente de baixa freqüência (2 a 15 Hz) e a sedação com altas frequências (25 a 150 Hz). Ainda como conceito de aplicação da técnica, sabe-se que diferentes partes do corpo possuem diferentes níveis de condutividade elétrica, cabeça e face possuem mais condutividade que tronco que possui mais do que


13

os membros, por exemplo, sendo indicada a colocação de agulhas em locais de condutividade elétrica semelhantes (SHOEN, 2006).

2.4 Eletroestimulação . Os aparelhos de eletrocupuntura permitem uma série de regulagens para melhor se adaptar ao estímulo que se deseja. Alguns conceitos básicos de importância para o correto uso da eletroacupuntura estão descritos abaixo: Corrente elétrica É o fluxo de elétrons mensurado em amperes e que pode ser direta ou monofásica e alternada ou bifásica. No primeiro o fluxo é unidirecional e o segundo é a associação de corrente positiva com negativa. Voltagem Voltagem é mensurada em volt e é, basicamente, a pressão elétrica que faz com que se tenha maior ou menor fluxo de elétrons na corrente. Resistência e condutividade São dois termos antagônicos, sendo o primeiro referente à restrição do fluxo da corrente e o segundo é a facilidade de fluxo. Frequência Frequência é mensurada em Hertz (Hz) e é utilizada para predizer a quantidade de impulsos elétricos que percorrem por segundo em uma corrente. Amplitude ou duração da onda É mensurada em milissegundos ou microssegundos e é utilizada para medir a duração do estímulo elétrico. Polaridade Polaridade é a direção da corrente, sendo que esta vai do negativo para o positivo (SHOEN, 2006). Indicações e contraindicações As indicações da eletroacupuntura são primariamente relacionadas a nevralgias e traumas e degenerações do sistema nervoso, mas também é utilizada para analgesia, espasmos musculares e atrofias (XIE & PREAST, 2011). A eletroacupuntura é contra-indicada em processos agudos ativos, animais prenhes, esgotados, cardiopatas (SHOEN, 2006). Tendo como base as vantagens obtidas com o uso dessas técnicas, o objetivo deste trabalho é relatar dois casos de provável paresia do membro torácico por lesão de nervo radial que


14

ocorreram em um equino e um bovino e que foram tratados com eletroacupuntura com resultado satisfatório.

3

RELATO DE CASO

Foi atendido um equino, fêmea, oito anos, sem raça definida, 350 kg, com escore de condição corporal de 4/9 e submetido à anestesia para remoção de tecido acometido por pitiose em membro pélvico esquerdo na Unidade Didática Clínico-Hospitalar da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo. O protocolo anestésico utilizado na contenção do animal para procedimentos clínico-cirúrgicos foi 0,02 mg/kg de detomidina como medicação pré anestésica, 2 mg/kg de cetamina e 0,1 mg/kg de midazolam para indução anestésica e então 100 mg/kg de éter gliceril guaiacol com 0,01 mg/kg de detomidina e 2 mg/kg de cetamina para a manutenção. O procedimento cirúrgico durou 100 minutos e foi feito na própria sala de indução e recuperação anestésica, que possui piso forrado por duas camadas de EVA e lona de algodão por cima deste. Em nenhum momento do transcirúrgico o animal apresentou pressão arterial média abaixo de 75 mmHg. A recuperação anestésica durou 90 minutos. Quando o animal se manteve em estação, apresentava impotência funcional do membro torácico direito, com cotovelo abaixo da linha do abdômen, emboletamento, visível dificuldade de extensão do membro e flexão do carpo (Figura 2), sugerindo ser um quadro de neuropatia pós anestésica afetando o nervo radial causada pelo decúbito e compressão mecânica do membro.


15

Figura 2. Animal após recuperação anestésica com provável lesão de nervo radial (acervo pessoal, 2016).

De forma imediata e ainda na recuperação anestésica, foi realizada a técnica de eletroacupuntura alternada densa-dispersa (3 Hz – 15 Hz) por 20 minutos nos acupontos TA15 - ID9, VB21 - TA14, P5 - IG6, IG10 - TA10. O animal foi então conduzido à baia com necessidade de auxilio para locomoção. Após 10 horas animal não apresentava nenhum sinal clínico de paresia ou claudicação (Figura 3).

Figura 3. Animal 10 horas após o tratamento com eletroacupuntura (acervo pessoal, 2016).

Na mesma instituição foi atendido um bovino, nelore, macho, de 10 meses, 109 kg, com histórico de claudicação há cinco dias. Após o diagnóstico de fratura proximal de rádio completa, o membro foi estabilizado com muleta de Thomas por 31 dias. Retirada a muleta, o animal apresentava sinais semelhantes ao equino descrito acima e associado aum quadro de atrofia muscular evolvendo principalmente o tríceps braquial sugerindo uma lesão de nervo radial devido à compressão pelo gesso durante o tempo de imobilização. Ainda era possível observar uma hipotrofia de músculos, devido ao desuso do membro, principalmente dos músculos supraespinhoso, infraespinhoso e bíceps braquial (Figura 4), Optou-se pela realização de eletroacupuntura no mesmo modo supracitado. Foram necessárias três sessões, realizadas em duas semanas, com intervalos de xx dias entre as mesmas, para que a movimentação do membro voltasse a uma condição satisfatória.


16

Figura 4. Bovino apresentando sinais sugestivos de paresia do membro por neuropatia do nervo radial acompanhada por atrofia muscular (acervo pessoal, 2016).

4

DISCUSSÃO

A diferenciação de neuropatia de miopatia não é simples de ser realizada na rotina clínica sem que se tenha amplo conhecimento da neurologia e clínica e que se tenha os equipamentos específicos para isso (BÄUMER et al., 2016; LORENZ & KORNEGAY, 2006; QUAN & BIRD, 1999). Estes dois animais passaram apenas por avaliação clínica, porém sugere-se que em ambos tenha ocorrido uma lesão nervosa do tipo neuropraxia já que, segundo QUAN & BIRD (1999), esse tipo de lesão possui uma recuperação rápida, sendo de no máximo 12 semanas, já que o bloqueio da condução nervosa existe apenas por uma desmielinização do segmento afetado, diferentemente de axoniotmese e da neurotmese que chegam a demorar de dois a 18 meses, dependendo do grau de comprometimento e das terapias associadas para recuperação nervosa. . Apesar da neuropatia/miopatia pós anetésica em equinos ser relacionada à baixa pressão arterial e elevado peso corpóreo, no caso do equino relatado, não ocorreu estes fatores, já que o ECC era inferior ao desejado num equino sadio e ainda a pressão arterial média não foi inferior a75 mmHg em nenhum momento do transcirúrgico. Porém alguns fatores são coincidentes com aqueles descritos por autores na literatura consultada, que citam o elevado tempo de decúbito (>90min), o fato


17

do decúbito ser lateral e ainda, a superfície do decúbito não ser acolchoada da melhor forma possível. (BIDWEL et al., 2007; JOHNSTON et al., 2004). É importante salientar que a lesão observada no bovino relatado ocorreu por uma compressão de longo tempo, provavelmente, devido a uma falha no acolchoamento do gesso, sendo o local de maior compressão a região do tríceps e, portanto do nervo radial, devido às características desse tipo de imobilização. Apesar de ter sido utilizado o gesso sintético com intuito de ter maior durabilidade e menor peso quando comparado a atadura gessada, aquele tem um peso relativamente elevado o que é agravado pelo fato de ser uma imobilização de grande extensão, sendo necessário o uso de muito material, o que faz que o peso aumente ainda mais. Isso dificulta a locomoção, ainda mais em se tratando de um animal jovem que possui menor força física. Além disso, esta técnica visa o uso de uma extensão, além do gesso, em material rígido a fim de promover maior estabilidade, o que também aumenta o risco de compressão nervosa pela dureza do material e o mesmo ser difícil de deixar acolchoado de forma satisfatória devido ao seu formato e localização. O fato deste bovino ter ficado longo tempo com a compressão nervosa e ainda com dificuldade de se locomover devido à dor da fratura, ao peso do gesso e à imobilização, fez com que houvesse uma atrofia muscular não só dos grupos musculares inervados pelo nervo radial, principalmente o m. tríceps braquial, como também houvesse uma hipotrofia por desuso de músculos importantes para a correta projeção do membro torácico ao andar, que são principalmente os infra e supraespinhosos e com menor gravidade, o bíceps braquial. Isso fez com que a recuperação do animal fosse mais lenta, já que após as três sessões realizadas, ele insinuava a correta movimentação do membro, porém, acredita-se que não havia força muscular suficiente para completar o movimento. Além disso, o calo ósseo formado comprometia as musculaturas do antebraço do animal, envolvendo principalmente os músculos extensor digital lateral, extensor digital comum, extensor carpo radial e extensor ulnar do carpo. Dessa forma, conclui-se que a fisioterapia ou fisioacupuntura é fundamental quando em casos de hipotrofia muscular. Ainda em se tratando de lesões de nervos periféricos, podemos utilizar o termo atrofia pois há ausência da inervação em muitos casos. Na Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC) a paresia do membro torácico, por lesão do nervo radial, é classificada como estagnação de Chi na MVTC, o foco de tratamento foi, portanto, ativar o Xue, descontrair tendões e músculos e desobstruir os meridianos comprometidos (XIE & PREAST, 2011), Os meridianos que são mais comprometidos nos casos de lesões no nervo radial são os Canais do Triplo Aquecedor (TA), Intestino Delgado (ID) e Intestino Grosso (IG), por isso que nestes dois casos, a maioria dos pontos escolhidos são pertencentes à estes meridianos (TA 10, 14 e 15, ID 9, IG 6 e 10) (Figura 5). Esse tratamento pode ser feito de várias formas, desde massagem ao longo dos meridianos, uso de agulha seca, estímulo por aquapuntura e eletroacupuntura (SHOEN, 2006). Como a eletroacupuntura tem a característica de manter um estímulo constante e de frequência difícil de ser alcançada apenas com o estímulo manual (SHOEN, 2006), esta técnica é melhor indicada nos casos de


18

lesões nervosas por permitir, uma recuperação mais rápida quando comparada com o estímulo das agulhas feito manualmente ou a não realização do estímulo nos meridianos estagnados (LA et al., 2005). Como o nervo radial tem origem em C7, C8, T1 e alguns casos em T2 também, e inerva os músculos tríceps braquial, extensor carpo radial, ulnar lateral, extensor digital lateral, extensor digital comum, é importante observar a importância local dos pontos utilizados. Observar na figura 5 que o ponto TA 15 está muito próximo à origem do nervo radial, o VB 21 está logo acima do plexo braquial, assim como TA 14 mais distalmente. Os pontos ID 9, TA 10, IG 10 e IG 6 estão acima dos locais por onde o nervo radial percorre e os músculos inervados por ele, ou seja, estes pontos visam ter uma ação direta na inervação afetada pela lesão e permitir que a eletroestimulação seja realizada diretamente no foco da lesão tendo um efeito mais intessante. Figura 5. Localização dos acupontos utilizados no tratamento dos animais, sendo à esquerda a vista

medial do membro torácico e à direita a vista lateral (adaptado de BUDRAS et al., 2009 e XIE & PREAST, 2011). Além da ação local dos pontos já citados acima, temos alguns outros efeitos deles, o ponto IG6 é um ponto Luo, o que faz dele um ponto importe para desobstruir o canal que está comprometido, já que possui a característica de comunicação com o meridiano acoplado (P7), tendo um efeito homeostático entre eles. O ponto IG10 é um ponto indicado para situações de fraqueza generalizada e paralisia de membro torácico, sendo um ponto de grande importância do conjunto utilizado. O meridiano do pulmão percorre grande parte de seu trajeto no membro torácico, sendo


19

localmente importante para alterações neste membro, o que nos fez escolher o acuponto P5. O ponto ID9, além de um ponto localmente importante, também analgésico, sendo importante nas lesões de membros torácicos. Os pontos do meridiano TA e o VB 21 são comumente utilizados para lesões do membro torácico por possuir local como já foi (XIE & PREAST, 2011). Como existem poucos trabalhos na literatura relatando lesões em NMIs em equinos e bovinos, há uma dificuldade em comparar a recuperação destes animais de forma que nos mostre que a eletroacupuntura realmente auxiliou a melhora clínica. Isso foi feito com base em estudos encontrados na literatura, principalmente com ratos, nos quais provaram que há melhora da recuperação nervosa com o uso desta técnica (ESCODRO, et al., 2011; JOAQUIM & LUNA, 2014; LA et al., 2005; LIU et al., 2015; SHAO et al., 2003). A partir dos casos acima, vislumbrou-se um novo procedimento a fim de inibir a recorrência deste tipo de lesão nos animais submetidos à anestesia, convencionando-se o seguinte procedimento: animais que forem submetidos a procedimento anestésico ou sedativo, por tempo acima de 30 minutos, em decúbito lateral, serão colocados sobre um colchão, estimando-se que a recuperação anestésica pode demorar, o que acrescentaria um maior tempo de decúbito aumentando-se os riscos de lesões decorrentes da compressão de nervos periféricos. Nas situações nas quais o animal também mantiver baixa pressão arterial durante o transcirúrgico e por longo período na mesa cirúrgica, o mesmo também deverá ficar sobre um colchão na recuperação anestésica. Nestes casos, o colchão só será removido quando o animal começar a demonstrar sinais de querer se levantar ou quando ficar em posição esternal. O inconveniente deste método de recuperação está na necessidade de remoção do colchão, por este poder atrapalhar no momento do animal ficar em estação, o que torna a recuperação mais perigosa para os assistentes, por terem que entrar na sala de recuperação para remover o colchão que se encontra embaixo do animal.

5 CONCLUSÃO

A eletroacupuntura, de baixa frequência no modo denso-disperso, obteve efeito positivo na recuperação da contração muscular destes animais e mostra-se uma terapia complementar de fácil aplicação na rotina clínica de grandes animais. Outros estudos controlados são necessários nestas espécies para que seja validada a melhor técnica na recuperação neuromotora com relação a pontos e frequências de estímulos neuromuscular.


20

REFERÊNCIAS

BÄUMER, P.; KELE, H.; XIA, A. WEILER, M.; SCHWARZ, D.; BENDSZUS, M.; PHAM, M. Posterior interosseous neuropathy supinator syndrome vs fascicular radial neuropathy. American Academy of Neurology, v. 87, n. 18, p. 1884-1891, 2016. BIDWELL, L. A.; BRAMLAGE L. R.; ROOD, W. A. Equine perioperative fatalities associated with general anaesthesia at a private practice – a retrospective case series. Veterinary Anaesthesia and Analgesia, v. 34, p. 23–30, 2007. BUDRAS, K. D.; SACK, W. O.; ROCK, S. Anatomy of the horse. Germany: Schlütersche, 2009. EMOND, A. L.; BERTONI, L.; SEIGNOUR, M.; COUDRY V.; DENOIX J. M. Peripheral neuropathy of a forelimb in horses: 27 cases (2000–2013). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 249, n. 10, p. 1187-1195, November 15, 2016. ESCODRO, P. B.; TONHOLO, J.; HUNZIKER, A. R. O.; ESCODRO, L. O.; LIMA5, C. F. L.; BERNARDO, J. O.; FONSECA, L. S.; OLIVEIRA, C. F.Eletro-acupuntura no tratamento de paralisia do nervo facial em equino: relato de dois casos. Acta Veterinaria Brasilica, v.5, n.2, p.207-212, 2011. FRANCI, P.; LEECE, E. A.; BREARLEYJ, C. Postanaesthetic myopathy/neuropathy in horses undergoing magnetic resonance imaging compared to horses undergoing surgery. Equine Veterinary Journal, v. 38,n. 6, p. 497-501, 2006. JOAQUIM, J.G.F.; LUNA, S.P.L. Rehabilitation of cattle with acupuncture and complementary medicine. In: 40th Annual IVAS and 15th Annual ItVAS Joint Congress on Veterinary Acupuncture, 2014, Firenze. Proceedings of the 40th Annual IVAS and 15th Annual ItVAS Joint Congress on Veterinary Acupuncture. Red Hook, Dutchess, NY: Curran and Associates, 2014. v.1. p.277 – 283. JOHNSTON, G. M.; EASTMENT, J. K.; TAYLOR, P. M.; WOOD, J. L. N.Is isoflurane safer than halothane in equine anaesthesia? Results from a prospective multicentre randomised controlled trial. Equine Veterinary Journal, v.36, n.1, p. 64-71, 2004. LA, J. L.; JALALI, S.; SHAMI, S. A. Morphological studies on crushed sciatic nerve of rabbits with electroacupuncture or diclofenac sodium treatment. American Journal of Chinese Medicine, v. 33, n. 4, p. 663-669, 2005. LIU, X. T.; TAO, X.; MA, T. M.; MA, X. D.; YAN, H. C.; TIAN, L.; LIU, P. Effect of electroacupuncture stimulation of different tissues at "Huantiao" (gb 30) acupoint on expression of phosphorylated JNK and c-jun in spinal cord of rats with sciatic nerve injury. Zhen Ci Yan Jiu, v. 40, n. 5, p. 373-7, October, 2015. LORENZ, M. D.; COATES, J. R.; KENT, M. Handbook of Veterinary Neurology. 5ª edição. Riverport Lane, St. Louis, Missouri, USA: Elsevier Saunders, 2011. LORENZ, M. D.; KORNEGAY, J. N. Neurologia Veterinária. 4ª edição. Barueri, SP: Manole, 2006.


21

NIX, W. A. and HOPF, H. C. Electrical Stimulation of Regenerating Nerve and its Effect on Motor Recovery. Brain Research, v. 272, p. 21-25, 1983. QUAN, D. AND BIRD, S. J. Nerve conduction studies and electromyography in the evaluation of peripheral nerve injuries. The University of Pennsylvania Orthopaedic Journal, v.12: 45–51, 1999. ROMAN, G. C.; STRAHLENDORF, H. K.; COATES, P. W.; ROWLEY, B. A. Stimulation of sciatic nerve regeneration in the adult rat by low-intensity electric current. Experimental Neurology, v. 98, p. 222-232, 1987. ROZMAN, J.; ZORKO, B.; SELISKAR, A. Regeneration of the radial nerve in a dog influenced by electrical stimulation. Pflügers Arch - Eur J Physiol., v. 439, p. 184-186, 2000. SERTEYN, D.; DEBY-DUPONT, G.; PINCEMAIL, J.; MOTTART, E.; PHILIPPART, C.; LAMY, M. Equine postanaesthetic myositis: thromboxanes, prostacyclin and prostaglandin E2 production. Veterinary Research Communications, v. 12, p. 219-226, 1988. SHAO, S. J.; SHAN, B. Z.; JIANG, J.; YAN, Z. G. Comparative experimental study on treatment of rat's injured sciatic nerve with electroacupuncture and Buyang Huanwu Decoction. Journal of Chinese Integrative Medicine, v. 1, n. 1, 2003. SHOEN, A. M. Acupuntura Veterinária: da arte antiga à Medicina Moderna. 2ª edição. São Paulo: Roca, 2006. XIE, H.; PREAST, V. Acupuntura Veterinária Xie. Ames, Iowa, USA: MedVet, 2011.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.