Acupuntura e moxabustão no tratamento de displasia coxofemoral em cadela

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FACULDADE DE JAGUARIÚNA

MATHEUS DANIEL BURATO BERNO

Acupuntura e Moxabustão no Tratamento de Displasia Coxofemoral em Cadela – Relato de Caso

JAGUARIÚNA 2017


MATHEUS DANIEL BURATO BERNO

Acupuntura e Moxabustão no Tratamento de Displasia Coxofemoral em Cadela – Relato de Caso Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação Lato Sensu de Acupuntura Veterinária, apresentado à Faculdade de Jaguariúna

Orientadora: Profª. Msc. Adriana Resmond Cruz

JAGUARIÚNA 2017


Dedico este artigo a meus pais, Silvia e Vitor, por todo o amor e apoio que depositaram em mim, sem vocĂŞs, eu nada seria.


AGRADECIMENTOS

Primeiramente sou muito grato a Deus e aos Amigos Espirituais, por terem me dado a chance de estar seguindo este caminho. Agradeço aos meus pais, Silvia e Vitor, por sempre estarem do meu lado, por seu amor incondicional, e por me aguentarem nos momentos de estresse. Agradeço à Professora Adriana, minha orientadora, amiga, por sempre estar ali para tudo que precisei, me dando forças para seguir adiante, me ensinando tantas coisas, dando conselhos e sugestões, meu muito obrigado. Quero também agradecer às colegas de turma, Ariani, Camilla, Débora, Gabi, Katita, Lygia, Máh Packer, por estarem do meu lado, pelas brincadeiras, pelas alegrias compartilhadas, pelas horas estudadas, enfim, pela companhia. Agradeço também à pessoa que me mostrou o “mundo mágico” da “macumba chinesa”, Ana Paula, amiga minha que sempre me ajudou, deu muitas broncas, me ensinou muito sobre a vida e a acupuntura, meu obrigado. Agradeço também ao Instituto Bioethicus, seus professores e palestrantes, Professora Malu, Professor Stelio e Professor Jean, pelos ensinamentos, ideias, duvidas tiradas, pelo carinho e paciência com o qual nos ensinam esta arte antiga e nova ao mesmo tempo, para que assim possamos tentar tirar e com certeza aliviar as dores daqueles que não podem falar por si mesmos.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1........................................................................................................

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FIGURA 2........................................................................................................

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FIGURA 3........................................................................................................

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FIGURA 4........................................................................................................

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BERNO, Matheus Daniel Burato. Acupuntura e Moxabustão no Tratamento de Displasia Coxofemoral em Cadela – Relato de Caso. Jaguariúna, 2017. 26p. Trabalho de Conclusão do Curso De Pós-Graduação Lato Sensu Em Acupuntura Veterinária – Faculdade de Jaguariúna, Jaguariúna, 2017. RESUMO A displasia coxofemoral (DCF) é uma doença do desenvolvimento que afeta principalmente raças de cães grandes, e raramente afeta gatos. O desenvolvimento anormal da articulação coxofemoral leva a instabilidade da mesma, levando o paciente a ter dor, e levando a um quadro de doença articular degenerativa. O diagnóstico é feito principalmente através da radiografia do quadril. O tratamento convencional depende da idade do paciente, tamanho, e disponibilidade financeira do proprietário. A acupuntura é um tratamento que pode ser usado como complementação ao tratamento convencional, demonstrando efeitos muito promissores, principalmente em desordens neurológicas e musculoesqueléticas. Na Medicina Veterinária Tradicional Chinesa, a DCF é comumente definida como um padrão da chamada Síndrome Bi, ou síndrome da obstrução dolorosa. Seu tratamento neste caso pode ser feito através da inserção de agulhas em pontos específicos pelo corpo do paciente. A moxabustão é uma técnica da acupuntura em que se queima a moxa em uma região próxima ao acupontos, promovendo o estimulo necessário para o tratamento. No presente relato é demonstrado um caso onde a paciente, uma cadela da raça São Bernardo apresentou dificuldade de se manter em estação e de movimentação, onde foram realizadas dez sessões de acupuntura e moxabustão, e trazendo assim a diminuição da dor, e restaurando a capacidade de se movimentar da paciente. Palavras Chave: Doença Articular Degenerativa, Medicina Veterinária Tradicional Chinesa, Acupontos, Medicina Complementar.


BERNO, Matheus Daniel Burato. Acupuncture and Moxibustion in the Treatment of Hip Dysplasia in Female Dog – Case Report. Jaguariúna, 2017. 26p. Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Acupuntura Veterinária – Faculdade de Jaguariúna, Jaguariúna, 2017.

ABSTRACT Hip dysplasia (HD) is a developmental disease that mainly affects large dog breeds, and rarely affects cats. Abnormal development of the hip joint leads to articular instability, leading the patient to have pain, and leading to degenerative joint disease. The diagnosis is made mainly through the radiograph of the hip. Conventional treatment depends on the patient's age, size, and financial availability of the owner. Acupuncture is a treatment that can be used as a complement to conventional treatment, demonstrating very promising effects, especially in neurological and musculoskeletal disorders. In Traditional Chinese Veterinary Medicine, HD is commonly defined as a pattern of the so-called Bi Syndrome, or painful obstruction syndrome. Their treatment in this case can be done by inserting needles at specific points through the patient's body. Moxibustion is an acupuncture technique in which moxa is burned in a region close to the acupoints, promoting the stimulus necessary for treatment. In the present report, a case was demonstrated where the patient, a female dog from the São Bernardo breed, presented difficulty in keeping herself in station and in movement, ten sessions of acupuncture and moxibustion were performed, thus reducing pain and restoring the ability to move of the patient.

Keywords: Degenerative Articular Disease, Traditional Chinese Veterinary Medicine, Acupoints, Complementary Medicine.


SUMÁRIO:

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................

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2. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................

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2.1 Medicina Ocidental.........................................................................

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2.2 Medicina Tradicional Chinesa........................................................

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3. RELATO DE CASO...................................................................................

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4. DISCUSSÃO..............................................................................................

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5. CONCLUSÃO............................................................................................

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................

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1. INTRODUÇÃO

A DCF (displasia coxofemoral) ocorre devido ao desenvolvimento anormal da articulação coxofemoral, levando à instabilidade da mesma, que leva o paciente a ter uma incongruência articular, subluxação ou luxação completa da cabeça do fêmur, e doença articular degenerativa (esta última principalmente em pacientes caninos idosos) (DA ROZA et al., 2014; FOSSUM, 2015). A DCF é uma enfermidade com causas multifatoriais, tanto hereditárias quanto ambientais tem papel no desenvolvimento dessa anormalidade de tecidos ósseos e musculares, sendo os fatores genéticos primariamente determinantes (FOSSUM, 2015). Todas as raças caninas podem ser acometidas, porém a doença é mais comum em raças de porte grande, como Rottweiller, Labrador, Pastor Alemão e São Bernardo. Em algumas raças, a prevalência é acima de 70%, sendo a doença ortopédica mais comum dos cães. Raramente é observada em felinos (VIEIRA et al., 2010 ; DA ROZA et al., 2014). A acupuntura (AP) destaca-se como modalidade médico-terapêutica fundamentada na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e consiste na sua forma mais comum a inserção de agulhas em pontos cutâneos específicos, denominados acupontos, localizados em 12 pares de canais de energia nomeados meridianos (PERRUPATO e QUIRINO, 2014). A Moxabustão é uma técnica em que ocorre a queima de moxa (Artemisia vulgaris) ou outras ervas, sobre a pele próxima ao acuponto. O calor e a essência da moxa aquecem o Qi (energia) e o sangue nos meridianos e canais colaterais, e então aumentando seu fluxo em caso de estagnação. Esta técnica também tonifica o Yang Qi (Qi nutritivo), elimina umidade e frio interno, e algumas formas de calor tóxico local (XIE & PREAST, 2011). O objetivo deste artigo é relatar um caso de sucesso no tratamento conservativo de displasia coxofemoral com uso de acupuntura e moxabustão, sem efeitos colaterais, e trazendo qualidade de vida para o paciente..

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2. REVISÃO DE LITERATURA:

2.1. Medicina Ocidental:

A DCF é definida como doença biomecânica representada pela disparidade entre massa muscular primária e rápido crescimento ósseo, causada principalmente por predisposição genética, mas com ação de outros fatores, como rápido crescimento, exercícios intensos, constituição alimentar e ambiente em que vive o animal (DA SILVA et al., 2009). Ganho de peso e crescimento causados por uma ingestão de alimentos excessiva leva a uma incongruência no desenvolvimento dos tecidos moles de suporte, ou seja, uma falha do desenvolvimento muscular do paciente, que não se desenvolvem e atingem a maturidade ao mesmo tempo em que o esqueleto, resultando na instabilidade articular, contribuindo para a DCF. Inflamação sinovial devido à traumas leves repetitivos também são importantes. Com a sinovite, há um aumento do liquido sinovial, o que contribui para a instabilidade da articulação coxofemoral devido a uma ação parecida com sucção, produzida por uma leve camada de liquido articular normal entre as superfícies articulares. Tais fatores desenvolvem uma lassidão da articulação do quadril, e consequente subluxação, que levam o paciente a desenvolver os sinais clínicos e alterações articulares precoces. Com a subluxação, a capsula articular fica distendida, o que causa dor e claudicação. O acetábulo se deforma facilmente pela subluxação dorsal e ininterrupta pela cabeça do fêmur. A ação de pistão pela cabeça do fêmur, causa uma subluxação dinâmica do acetábulo a cada passo que o paciente faz, provocando inclinação da superfície acetabular, de um plano horizontal, para um plano mais vertical. Reduzindo a área de superfície articular, concentrando o estresse de sustentação sobre uma área pequena da articulação coxofemoral. Podendo causar fraturas do osso trabecular poroso do acetábulo, aumentando o grau de dor e claudicação. Respostas fisiológicas da lassidão articular incluem a fibroplasia proliferativa da capsula articular e o aumento em espessura do osso trabecular. Alterações estas que aliviam a dor causada pelo entorse capsular e fraturas trabeculares, Porém, a superfície articular continua diminuída, o que leva a esgotar prematuramente a cartilagem articular, expondo fibras subcondrais de dor, e levando o paciente a apresentar claudicação (DA ROZA et al., 2014; FOSSUM, 2015).

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Animais que podem desenvolver a DCF tem a doença articular degenerativa secundaria que é agravada por fatores externos, como atividade física intensa, nutrição inadequada, sobrepeso e piso inadequado do ambiente em que vive (DA ROZA et al., 2014). É percebido dificuldade nos animais acometidos em se levantar e deitar, momentos em que normalmente há vocalização por sensibilidade dolorosa. Relutância em andar, correr, pular, subir escadas, podendo andar em “saltos de coelho” também são sinais clínicos comuns. É relatada como sinal clínico presente, a hipotrofia muscular de membros pélvicos, de acordo com a severidade do caso. Esse fato parece estar relacionado à compensação de peso para os membros torácicos, na tentativa de diminuir dores e desconforto na articulação. Após o tratamento conservador em pacientes jovens, estes podem melhorar espontaneamente após a formação de tecido cicatricial ao redor da articulação, eliminando a subluxação. Em pacientes adultos, a dor é causada principalmente pela doença articular degenerativa (DAD) secundária à DCF. (DA SILVA et al., 2009; DA ROZA et al., 2014). Ao exame físico, é observado normalmente dor à palpação/extensão do quadril, amplitude de movimentos diminuída, hipotrofia da musculatura pélvica, presença de crepitação na articulação, devido à erosão articular e osteófitos presentes e lassidão articular em animais mais jovens (DA ROZA et al., 2014). O diagnóstico correto da DCF como a causa desses sinais clínicos, é baseado na idade do paciente, sua raça, histórico, achados clínicos e principalmente as alterações radiográficas (FOSSUM, 2015). A DCF caracteriza-se radiograficamente pelo arrasamento acetabular, achatamento da cabeça do fêmur, subluxação ou luxação coxofemoral e alterações secundárias. O exame radiográfico deve ser feito na posição ventro-dorsal com os membros posteriores bem estendidos e rotacionados internamente de modo que a patela fique sobre os sulcos trocleares. Os fêmures devem ficar paralelos entre si e em relação à coluna vertebral e a pélvis em simetria. Procedendo-se desta forma, a radiografia poderá revelar anormalidades da articulação que não seriam facilmente vistas em outras posições. Partindo desse posicionamento, a articulação coxofemoral do paciente poderá ser classificada em cinco graus diferentes de displasia (ROCHA et al., 2008; DA ROZA et al., 2014): A. Articulação sem nenhum grau de deformidade. B. Articulação com boa congruência e próximo ao normal C. Leves sinais de DCF D. DCF moderada

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E. DCF severa, com subluxação da cabeça do fêmur. O tratamento conservativo baseia-se no uso de analgésicos, antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) e até mesmo os esteroidais (AIEs) (amenizando a dor do animal, possibilitando uma melhor movimentação), pode ser feito também o controle de peso do animal, fisioterapia (natação, caminhadas), evitar que o animal ande sobre superfícies lisas, administração de nutracêuticos, e a utilização da acupuntura, trazendo bons resultados (ROCHA et al., 2008, DA ROZA et al., 2014). Os tratamentos cirúrgicos variam de acordo com a idade do paciente, para os casos considerados de maior gravidade, a técnica mais moderna, porém, de alto custo, é de implantar uma prótese total do quadril, este procedimento é praticado apenas em cães com mais de dois anos, uma vez que os ossos necessitam de estar bem formados para suportarem os implantes. Outras técnicas usadas: osteotomia tripla, em cachorros até aos 12 meses, podese recorrer a esta cirurgia, desde que não apresentem artrite; dartroplastia, procedimento mais recente, para cães jovens que não têm as condições necessárias para uma osteotomia tripla ou prótese total da anca; osteotomia da cabeça do fêmur, a excisão da cabeça do fêmur é um procedimento utilizado em último recurso; colocefalectomia; osteotomia intratocantérica; acetabuloplastia; pectinectomia; denervação da cápsula articular (ROCHA et al, 2008, DA ROZA et al, 2014). No caso da denervação da capsula articular, foram observados em estudos 32,6% de dor recidivante em 3,5 anos como período de avaliação. Fato relacionado com uma possível reinervação da cápsula articular coxofemoral ou com alguma outra patologia manifestando-se após a cirurgia (SELMI et al., 2008). A osteotomia pélvica tripla tem como efeitos adversos, o estreitamento do canal pélvico, levando à constipação e estrangúria, podendo também causar paralisias dos nervos no local cirúrgico, incongruência persistente da articulação, falhas dos implantes, além do risco de infecção da ferida cirúrgica (DE MORAES et al., 2015). No caso da colocefalectomia, pode-se ocorrer a ressecção incompleta do colo femoral, que causa dor e diminuição da função, envolvendo os nervos e tecidos fibrosos adjacentes (DE MORAES et al., 2015).

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2.2. Medicina Tradicional Chinesa:

Doenças musculoesqueléticas (como a DCF, DAD, artrites, doença de disco intervertebral, entre outras) tem na acupuntura um tratamento eficaz e muito responsivo. Essas desordens, na Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC), são chamadas de Síndromes Bi, onde há a penetração de fatores patogênicos externos nos meridianos principais e secundários, acometendo as articulações dos membros e a coluna vertebral, promovendo bloqueio de Qi e sangue nas articulações, levando a ocorrer estagnações. Suas manifestações clínicas são: dor principalmente, inchaço, peso na articulação, fraqueza muscular (YAMAMURA, 2001; XIE & PREAST, 2011). As manifestações da síndrome Bi dependem do tipo de fator patogênico que provocou o bloqueio e a estagnação de Qi (YAMAMURA, 2001). Os fatores patogênicos externos Vento, Frio e Umidade ocorrem por exposição prolongada em ambientes com muito vento, ambientes frios e úmidos. Ocorre também quando há transpiração decorrente de exercícios físicos ou trabalho físico intenso. A combinação entre os três fatores (frio – umidade – vento) invade o organismo, causando então bloqueios no fluxo de Qi. No entanto, um desses fatores deve dominar, assim classificando a síndrome em tipos Vento (caracterizada por dor migratória), Fria (caracterizada por dor severa) ou Umidade (caracterizada por rigidez, dor e sensação de peso) (XIE & PREAST, 2011; PASQUINI, 2013). Caso a síndrome Bi se torne crônica, esta leva o nome de síndrome Bi óssea, no qual os ossos são afetados. Doenças como a DCF, DAD, espondilose e doença do disco intervertebral são exemplos dessa síndrome (XIE & PREAST, 2011). A obstrução que persiste nas articulações, devido aos fatores patogênicos externos, leva ao acúmulo de fluidos, que então se transformam em Fleuma, que evolui para o aparecimento de deformidades articulares (PASQUINI, 2013). Enquanto as síndromes Bi do tipo vento, umidade ou frio são padrões de excesso, a síndrome Bi óssea é um padrão de deficiência, envolvendo deficiências de Yang, Yin ou Qi do Rim (XIE & PREAST, 2011).

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3. RELATO DE CASO:

No dia 17 de setembro de 2016, foi atendida no Hospital Veterinário da FAEF – Garça, uma canino fêmea da Raça São Bernardo, de nome Bella, com seis anos de idade, aproximadamente 55 Kg (quilogramas) de peso, e queixa da proprietária de que o animal não conseguia andar há aproximadamente sete dias, com episódios onde o animal tentava se levantar, mas não conseguia. Durante a anamnese foi observado que o animal procurava lugares mais quentes, ficava ao sol, eliminava urina de coloração amarelo claro, em grandes quantidades, sem odores fortes. Ao exame físico foi notado hipotrofia da musculatura dos membros pélvicos, não foi possível realizar exames de propriocepção devido ao tamanho do animal e sua incapacidade de se manter em estação, embora exames neurológicos indicavam preservação de dor superficial e profunda, além de capacidade de movimento de membros pélvicos. Foi coletado hemograma da paciente, o qual não apresentou alterações, e foi encaminhada para a realização de exames de imagem radiográficos (figuras 1 e 2), para se descobrir o provável diagnóstico do animal, onde foi evidenciada leve alteração na vertebra L3-L4, indicativo de um inicio de espondilose, e alterações em região de acetábulo (arrasamento da fossa acetabular) e engrossamento do colo femoral, indicando doença articular degenerativa, Displasia Coxofemoral.

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Figura 1: Radiografia da paciente, posição ventro-dorsal. Arquivo pessoal

Figura 2: Radiografia da paciente, posição latero-lateral esquerda. Arquivo pessoal 15


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Com os sinais clínicos, e a constatação do pulso da paciente (em corda, lento, e fraco de ambos os lados), e conjunto com a observação da língua (pálida, pegajosa e úmida), foi identificado o padrão de deficiência de Yang do Rim, e síndrome Bi Óssea em articulação coxofemoral. Foi oferecido à paciente o serviço de acupuntura, e foram feitos os seguintes acupontos: VG20 (meridiano do Vaso Governador, para acalmar a mente), B18, B19, B20, B21, B23, B28 (meridiano da Bexiga, para ajudar a eliminar umidade, circular o Qi e sangue, e como pontos locais), Bai Hui (ponto local), E36 (meridiano do Estômago, para dor e tonificação geral do organismo), VB39 (meridiano da Vesícula Biliar, para fortalecer o Qi dos ossos), BP6 (meridiano do Baço/Pâncreas, para tonificar o sangue, e paralisia/paresia de membros pélvicos) e F3 (meridiano do Fígado, para ajudar a movimentar o Qi e o sangue), o animal sentiu certo incomodo em pontos locais em articulação coxofemoral, portanto foi evitado agulhar estes pontos (figuras 6 a 8). O tratamento foi feito da seguinte forma: Neste caso foram utilizadas agulhas da marca Dongbang®, de tamanho 0,25 mm por 30 mm (figura 3), moxa bastão de Artemísia, fabricada por Wujiang City Shenli Medical & Health Material Co. Ltda (figura 4). As sessões de acupuntura ocorriam a cada sete dias, e eram feitas em duas partes, na primeira a paciente recebia o tratamento com agulhas, durante 15 minutos, e após a colocação das agulhas, então a paciente recebia tratamento com aplicação de moxa, com a utilização de um aplicador de moxa “Therm” (figura 5), no meridiano da bexiga, a partir do acuponto B11, até o acuponto B28, e passando pela articulação coxofemoral (acupontos VB29, VB30, B53 e B54) durante cinco minutos, bilateralmente, ou enquanto a paciente estivesse sem incômodos.

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Figura 3: Agulhas de Acupuntura utilizadas no tratamento. Arquivo Pessoal

Figura 4: BastĂŁo de Moxa utilizado no tratamento. Arquivo pessoal

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Figura 5: Aplicador de Moxa “Therm”. Arquivo Pessoal Os acupontos utilizados neste caso, tem as seguintes funções e localizações, segundo Yamamura (2001) e Xie e Preast (2011): 3.1. B-11 Da-Zhu (Grande Lançadeira) Indicação: ponto de influência de ossos; ponto de encontro dos canais do ID, B, TA, VB e VG. Utilizado em osteoartrites, DDIV, dores cervicais, toracolombares, em ombro, claudicações, tosse e febre. Localização: borda cranial da escápula, 1,5 tsun lateral ao processo espinhoso de T1 3.2. B-18 Gan Shu (Associação de Fígado) Indicação: ponto de associação do fígado, harmoniza e faz circular o Qi, utilizado para doenças hepáticas, desordens oculares, dor toracolombar. Localização: superfície dorsolateral da coluna, 1,5 tsun lateral à borda caudal do processo espinhoso de T10. 3.3. B-19 Dan Shu (Associação de Vesícula Biliar) Indicação: ponto de associação da vesícula biliar, harmoniza e faz circular o Qi, utilizado para doenças hepáticas e das vias biliares, dor toracolombar. Localização: superfície dorsolateral da coluna, 1,5 tsun lateral à borda caudal do processo espinhoso de T11. 3.4. B-20 Pi Shu (Associação de Baço/Pâncreas)

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Indicação: ponto de assentimento do baço, harmoniza a energia yang do baço; harmoniza o Qi do baço, estômago, do aquecedor médio e do fígado, faz aumentar a energia da terra, drena a umidade e a água em excesso, afasta a umidade e umidade calor. Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo espinhoso de T12. 3.5. B-21 Wei Shu (Associação de Estômago) Indicação: ponto de assentimento do estômago; doenças gastrointestinais, fraqueza generalizada; drena a umidade em excesso, afasta a umidade e umidade calor. Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo espinhoso dorsal de T13. 3.6. B-23 Shen Shu (Associação do Rim) Indicação: Ponto de assentimento/transporte dorsal do rim; usado para tonificar o rim e yin geral do organismo. Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, lateral a borda caudal do processo espinhoso dorsal de L2. 3.7. B-28 Pang Guang Shu (Associação de Bexiga) Indicação: ponto de assentimento da bexiga, fortalece região lombar (dor lombossacra), incontinência urinaria, disúria. Localização: primeiro espaço intervertebral sacral (S1 e S2) meio tsun lateral à linha média dorsal, entre o sacro, e a borda medial da asa do íleo. 3.8. B-53 Bao Huang (Envoltório da Bexiga) Indicação: dor coxofemoral e lombosacral. Localização: região gluteal lateral, no nível de B28, caudal á tuberosidade coxal. 3.9. B-54 Ba-Shan ou Zhi-Bian (Aderir à Montanha) Indicação: ponto mestre de membros pélvicos, fortalece região lombossacra, dissolve umidade-calor, dor coxofemoral e lombosacral, osteoartrite. Localização: na articulação coxofemoral, no nível do hiatus sacrococcígeo, dorsal ao trocanter maior do fêmur. 3.10. E-36 Zu San Li ou Hou San Li (Três Distâncias do Pé) Indicação: maior ponto de tonificação geral do organismo; regulariza, fortalece e harmoniza o Qi do baço e estômago, tonifica o Qi nutritivo, Qi e Xue.

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Localização: Lateral a crista da tíbia, na porção lateral ao músculo tibial cranial. 3.11. VB-29 Ju-Liao (Fenda do Agachamento, ou Morar na Cavidade Óssea) Indicação: ponto onde ocorre a intersecção dos meridianos da VB e Chong Mai, osteoartrite, dor coxofemoral e lombosacral, paresia e paralisia de membros pélvicos. Localização: articulação coxofemoral, em uma depressão cranial ao trocanter maior do fêmur. 3.12. VB-30 Huan-Tiao (Salto Circular) Indicação: ponto onde ocorre a intersecção dos meridianos da VB e B, osteoartrite, dor coxofemoral e lombosacral, paresia e paralisia de membros pélvicos. Localização: articulação coxofemoral, em meia distancia entre entre o trocanter maior do fêmur e a tuberosidade isquiática. 3.13. VB-39 Xuan Zhong (Sino Suspenso) Indicação: Ponto de reunião da medula óssea, espinal e cérebro, ponto mar da medula; harmoniza a vesícula; fortalece o Qi dos ossos, sangue e encéfalo. Localização: Na superfície lateral do membro pélvico, distal ao joelho, próximo ao maléolo lateral da fíbula, em uma depressão na borda caudal da fíbula (oposto ao BP-6, na face medial). 3.14. BP-6 San-Yin-Jiao (União dos Três Yins) Indicação: ponto mestre de abdômen caudal, trato urogenital, paresia ou paralisia de membros pélvicos, tonifica o sangue e o yin. Localização: na superfície medial do membro pélvico, três tsun proximal á ponta do maléolo medial, na borda caudal da tíbia, oposto ao VB-39. 2.2.8. F-3 Tai Chong (Onda Suprema, Grande Impulsão) Indicação: ponto fonte do fígado, ponto riacho e terra, harmoniza o Qi e sangue. Localização: superfície medial do membro pélvico, entre o segundo e terceiro metatarso, na altura da articulação metatarsofalangeana. 3.15. VG-4 Ming-men (Portão da Vida) Indicação: fortalece o yang, dispersa umidade, indicado para dor toracolombar.

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Localização: linha média dorsal, depressão entre os processos espinhosos dorsais de L2 e L3. 3.16. VG-20 Bai-Hui (Cem Encontros) Indicação: ponto de intersecção dos cainais do VG e B; acalma a mente, relaxa tendões e músculos, distúrbios de Shen, epilepsia, desordens do sono, reanima a inconsciência. Localização: linha média dorsal, em linha traçando desde a ponta das orelhas, no topo da cabeça, no nível dos canais auriculares. 3.17. Bai-Hui canino (Cem Encontros) Indicação: ponto extra que tonifica o yang utilizado em paralisia e paresia de membros pélvicos, dor coxofemoral, lombossacral, diarreia, doença de disco intervertebral. Localização: linha média dorsal, entre as vertebras L7 e S1.

Figura 6: 1ª sessão, acuponto VG20. Arquivo Pessoal

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Figura 7: 1ÂŞ sessĂŁo de acupuntura, agulhas em acupontos do meridiano da bexiga. Arquivo pessoal

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Figura 8: 1ª sessão de acupuntura, evidenciando agulhas nos acupontos dos membros pélvicos. Arquivo pessoal Como o paciente também não defecava havia algum tempo, foi feito enema com solução fisiológica, mas mesmo assim o animal não defecou no ambulatório, e foi liberado com receitas de Condroton® 1000 mg (um comprimido a cada 24 horas durante 30 dias) e prednisona (0,5 mg/kg a cada 24 horas durante sete dias, e após esse período, 0,5 mg/kg, a cada 48 horas, durante sete dias), e foi combinado que seria feito uma sessão de acupuntura por semana, no domicilio da proprietária, até que o animal tivesse melhora significativa Na segunda sessão, a proprietária relatou melhora, e o animal estava conseguindo defecar sozinha, conseguia se movimentar por pouco tempo, mas não ficava em estação, sua movimentação era “agachada” como mostra na figura 9, nesta sessão, como o animal ficava agitado ao colocar muitas agulhas, foi optado por utilizar menos agulhas, sendo os acupontos utilizados: VG20, B11, VG4, Bai Hui, B28, VB39, e BP6, e também foi iniciado tratamento com bastão de moxa (Artemisia vulgaris) sendo aplicado utilizando um aplicador de moxa “Therm” no meridiano da bexiga, desde B11 até B28, passando pela articulação

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coxofemoral (acupontos VB29, VB30, B53 e B54, que são muito utilizados nestes casos). A partir da terceira sessão, o animal conseguia se movimentar com maior facilidade e por mais tempo.

Figura 9: 3ª sessão. Arquivo pessoal

Durante o tratamento, a proprietária parou de administrar o condroton por conta própria, após os 30 dias prescritos, sem o nosso conhecimento, e a paciente ficou sem medicação alguma durante grande parte do tratamento. Na quarta sessão, o animal conseguiu ficar em estação após a sessão, mas não sustentava o próprio peso por muito tempo, somente após a quinta sessão, o animal conseguiu andar em estação, mas por pouco tempo (figura 10).

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Figura 10: 5ª sessão. Arquivo pessoal

A cada sessão, a paciente apresentava discreta melhora, foram feitas mais cinco sessões, com intervalo de uma semana entre cada tratamento, culminando na décima sessão, em que a paciente conseguia até trotar, e manter-se em estação por tempo indeterminado, praticamente voltando a ter o comportamento normal. Após a décima sessão, a proprietária do paciente não mais procurou o serviço de acupuntura. Aproximadamente quatro meses após a ultima sessão, a proprietária entrou em contato, e disse que a paciente estava muito bem, não teve mais dificuldades para andar, que estava apresentando o comportamento normal para ela.

4. DISCUSSÃO

No caso apresentado, Bella se mostrou uma paciente com várias dificuldades ao início do tratamento, e, como a própria proprietária deixou de administrar algumas medicações prescritas, a paciente ficou durante algumas sessões somente com o tratamento da acupuntura e moxabustão, o que nos mostra que é um tratamento conservativo 25


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muito eficaz, e mesmo sem as medicações, somente houve progresso no curso do tratamento, sem ocorrer nenhuma recaída. Hoje a paciente se apresenta bem, demonstrando comportamento normal para a espécie, com qualidade de vida restaurada.

5. CONCLUSÃO

A acupuntura e moxabustão se mostraram eficazes para o tratamento dos sinais clínicos da DCF, diminuindo a dor, fortalecendo a musculatura, restaurando desta forma a capacidade de deambulação do animal.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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