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Campinas, 14 a 31 de dezembro de 2015 - ANO XXIX - Nº 646 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Foto: Daniel Mordzinski | Arte: Edinilson Tristão

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Livro lançado pela Ed

itora da Unicamp expõ

e o universo do escrito

r argentino.

2e3 A melhor alternativa para 5 o descarte do plástico PLA A negação da cidadania 8 no sistema carcerário O pioneirismo do editor 12 Arnaldo Barreto Modelagem matemática na música e nos alimentos

O Jornal da Unicamp volta a circular em fevereiro de 2016


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Campinas, 14 a 31 de dezembro de 2015

Em dueto, a música

e a matemática

Foto: Antonio Scarpinetti

Pesquisa utiliza modelos matemáticos para analisar as características sonoras da flauta andina poderia servir como ferramenta pedagógica para o ensino de música tanto num conservatório quanto na universidade”, ilustra o autor da dissertação.

OSSO DE CONDOR

O engenheiro eletricista Aldo Díaz, autor da dissertação: “Este tipo de estudo pode levar à produção de sons musicalmente interessantes cuja geração seria impossível por meios mecânicos, como através de tubos de ar ou cordas”

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

inda que as pessoas não se deem conta, a matemática está relacionada a uma série de outras áreas, a música entre elas. As escalas musicais podem ser compreendidas, em boa medida, por meio dos números. Ocorre que o vínculo entre a matemática e a música pode se tornar ainda mais estreito. A primeira pode contribuir, por exemplo, para a preservação da herança artística e cultural deixada pela segunda. É isso o que revela a dissertação de mestrado do engenheiro eletricista Aldo André Díaz Salazar, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. O autor utilizou modelos matemáticos para analisar as características sonoras da quena, uma tradicional flauta andina. O trabalho foi orientado pelo professor Rafael Santos Mendes. Nascido no Peru, Díaz também é músico. Seu instrumento preferido é o teclado. A opção pela quena como objeto de investigação nasceu da constatação de que existe uma linha de pesquisa, em nível mundial, voltada à análise de instrumentos musicais de origem aborígene. “Há diversos estudos em torno instrumentos de origem asiática e europeia, mas pouca coisa sobre instrumentos andinos. Eu optei por pela quena, por ser uma flauta milenar, de grande valor cultural, que remonta à época da civilização inca. Trata-se de um instrumento que ainda é utilizado pelas culturas andinas, desde o Equador até o Chile”, explica. Ao longo da pesquisa, o engenheiro eletricista utilizou modelos matemáticos para analisar as características sonoras da flau-

ta andina. O esforço de Díaz foi identificar atributos que caracterizam o instrumento e que o diferenciam de outros. “Por isso, também analisei as características da flauta doce e escaleta, para ter parâmetros de comparação”, acrescenta. Um dos aspectos investigados pelo pesquisador foi o espectro dos sons emitidos por cada um dos instrumentos. Dentre os atributos identificados, o principal foi o que os especialistas classificam de “ruído espectral”. Trata-se do som produzido naturalmente por instrumentos melódicos como a quena. “É um ruído inerente ao instrumento. No caso da flauta andina, ele está ligado ao sopro. No do violino, está relacionado à fricção do arco com a corda. Em termos mais simples, o sopro imprime um selo específico ao som da quena, que eu procurei identificar e distinguir”, diz. Em engenharia elétrica, prossegue Díaz, o ruído é frequentemente considerado um sinal indesejado. No caso de uma ligação telefônica, o ruído interfere negativamente na comunicação. Em se tratando de um instrumento musical, no entanto, o ruído é o elemento que lhe confere personalidade própria. “Se manipularmos o som de modo a extrair esse ruído, o ouvido humano será capaz de perceber que aquele instrumento está emitindo um som ‘artificial’”. Ao comparar a sonoridade dos três instrumentos, Díaz constatou a existência de diferenças claras entre eles, mesmo quando produzem a mesma nota musical. Segundo o engenheiro eletricista, a quantidade de harmônicos, que conferem características ao som, varia de um instrumento para outro. “Cada harmônico está associado à frequência que o instrumento produz numa nota. Se eu tocar a nota lá na flauta e a mes-

ma nota no violão, os sons gerados apresentarão diferenças de timbre. Esse timbre, por sua vez, está relacionado a inúmeras características, uma delas o ruído espectral”, pormenoriza. Na avaliação que fez dos três instrumentos, Díaz identificou que as quantidades de harmônicos da flauta doce se aproximam mais da quena. “A flauta doce tem entre 12 a 19 harmônicos, enquanto que a quena tem de 7 a 12. Já a escaleta produz uma quantidade bem maior de harmônicos, entre 20 e 48, visto que o seu som é gerado a partir do acionamento de uma palheta. Esse mecanismo interfere na quantidade de harmônicos. Em termos de ruídos, também foi possível constatar que a quena e a flauta doce apresentam maior similitude”, informa. O uso de modelos matemáticos para a identificação dos atributos dos instrumentos musicais pode contribuir, conforme o engenheiro eletricista, para o desenvolvimento de sonoridades expandidas em relação aos métodos tradicionais de produção sonora. “Em outras palavras, este tipo de estudo pode levar à produção de sons musicalmente interessantes cuja geração seria impossível por meios mecânicos, como através de tubos de ar ou cordas ou, ainda, manipular seus atributos, de maneira a gerar efeitos musicais”, infere. Outra aplicação possível, acrescenta Díaz, é o uso desse tipo de ferramenta com vistas à preservação da herança musical de uma sociedade, no caso a andina. “Uma possibilidade é gerar um conjunto de padrões que representem as características da quena. Isso, por sua vez, poderia gerar um banco de dados para preservar o som do instrumento. Esse repositório também

A quena é um instrumento de sopro tradicional da cultura andina. Escavações arqueológicas encontraram exemplares dessa flauta que datam de 2.500 anos. Ainda hoje, de acordo com Díaz, a quena é tocada em países latinos, notadamente no Peru. “Nos anos 70 e 80, a quena foi o principal instrumento musical de exportação do Peru. Por causa do seu timbre único, ela tem sido utilizada em variados gêneros, da música de concerto ao rock, passando pelo jazz e musica pop”, informa. Apesar dessa importância, reconhece o engenheiro eletricista, a quena é mais popular no exterior que no Peru. De acordo com o pesquisador, as flautas mais antigas normalmente eram fabricadas com ossos de animais, como condor e veado. “Atualmente, são utilizados outros tipos de materiais, como bambu, madeira ou plástico. Obviamente, o tipo de material, a dimensão, o design e até mesmo o padrão dos orifícios tonais podem interferir nas características sonoras do instrumento. A quena nada mais é que um tubo perfurado. A diferença é que ela não tem um canal de insuflação, o popular bico. Tem simplesmente uma embocadura em formato de V ou U. A técnica consiste em soprar de tal maneira que a coluna de ar atinja o fio da embocadura e produza o som”, ensina. Díaz fez a graduação em Engenharia Elétrica no Peru. Ele conta que decidiu dar continuidade aos estudos na Unicamp a partir das informações recebidas de amigos que já estudavam na Universidade. “Em determinado momento, fiz contato com o professor Rafael Mendes e manifestei meu desejo de desenvolver uma pesquisa com esse tema. Como ele também tinha interesse no assunto, acertei minha vinda para cá. Considero um privilégio estudar numa instituição como a Unicamp, que tem uma excelente infraestrutura de ensino e pesquisa”, avalia o autor da dissertação, que contou com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Atualmente, o pesquisador dá sequência aos estudos no doutorado. Ele continua trabalhando na área de processamento de sinais, mas desta vez a investigação está relacionada a imagens e não mais a som. “A ideia, no futuro, é juntar som e imagem para buscar resultados ainda mais interessantes. Gostaria de convidar outros estudantes para ingressar nesse campo da ciência, que apesar de muito interessante, ainda é pouco explorado”, finaliza.

Publicação Dissertação: “Análise de instrumentos musicais através do expoente hurst de banda harmônica estudo comparativo da quena e de outros instrumentos de sopro” Autor: Aldo André Díaz Salazar Orientador: Rafael Santos Mendes Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

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Modelagem determina o grau de contaminação de alimentos Microbiologia preditiva revela o comportamento de micro-organismos

Fotos: Antonio Scarpinetti

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

professor Anderson de Souza Sant’Ana, responsável pelo Laboratório de Microbiologia Quantitativa de Alimentos (LMQA), do Departamento de Ciências de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, desenvolve linha de pesquisa em que é utilizada a chamada microbiologia preditiva. Ela nada mais é do que o emprego de modelos matemáticos e ferramentas estatísticas que permitem descrever o comportamento de micro-organismos em alimentos. Os micro-organismos de particular importância em alimentos podem ser basicamente situados em três grupos: deteriorantes, patogênicos e benéficos. Todo esse espectro é coberto pela linha de pesquisa desenvolvida no LMQA que, com o emprego da denominada microbiologia quantitativa, estuda a presença, o desenvolvimento e o comportamento dos micro-organismos nos alimentos e seu impacto na saúde humana e na segurança e estabilidade dos alimentos. Além de coordenar as atividades de pesquisa no Laboratório o docente ministra disciplinas na graduação em Engenharia de Alimentos e na pós-graduação em Ciência de Alimentos. A abordagem que traduz o comportamento microbiano através de modelos matemáticos, permite prever o que vai acontecer com um micro-organismo nas condições em que os alimentos se encontram sem necessidade de ir a campo, ao laboratório ou a uma planta piloto, o que permite gestão com economia de recursos e ao mesmo tempo decisões rápidas. Tratando-se, portanto, de um tema extremamente relevante, de interesse industrial e de governos ao redor do mundo, os conceitos da modelagem preditiva vêm sendo introduzidos em disciplinas de graduação e pós-graduação em que o docente atua na FEA. O professor lembra que, até uns 20 anos atrás, a microbiologia de alimentos tinha uma abordagem essencialmente qualitativa. A partir daí passou a ser estudada com a utilização cada vez maior de modelos matemáticos e ferramentas estatísticas, que permitem não somente entender como os micro-organismos se comportam nos alimentos, mas também determinar seu impacto na qualidade do alimento, na saúde pública e no custo de produção. Com efeito, a microbiologia quantitativa, ou preditiva, ou modelagem, tem aplicação, por exemplo, na definição da vida útil dos alimentos, no desenvolvimento de novas formulações, na análise de riscos, constituindo ferramenta utilizada em nível mundial para definição de níveis apropriados de proteção à saúde. Assim é que, cada país, define os níveis toleráveis de contaminação dos produtos que importa. O controle dessas exigências têm implicações econômicas no comércio mundial. As modelagens empregadas na microbiologia preditiva permitem os controles necessários tanto da produção e comercialização industrial como de commodities. Segundo Anderson, o LMQA se orienta com base em dois principais objetivos: ampliar a colaboração com outros laboratórios da FEA, da Unicamp e de outras universidades brasileiras e, também, estender o seu grau de internacionalização. Assim é que trabalham nele alunos de iniciação cientifica e bolsistas do Serviço de Atendimento ao Estudante (SAE) da Unicamp, de mestrado e doutorado, pesquisadores colaboradores, tanto do país como do exterior. “Mantemos colaboração com outros laboratórios da nossa unidade e universidade, com outras instituições de pesquisa do Brasil e do mundo. Nosso intuito é intercambiar alunos com o exterior e com outras universidades brasileiras”, diz ele.

DISSERTAÇÕES APRESENTADAS

Desde o seu ingresso como professor da FEA- Unicamp, em 2013, os orientados do professor Anderson de Souza Sant’Ana já defenderam quatro dissertações de mestrado e a primeira defesa de doutorado deverá ocorrer no primeiro semestre do próximo ano. A primeira dissertação concluída, de Leonardo do Prado Silva, teve como tema o “Uso de meta-análise como ferramenta na avalição de dados disponíveis na literatura sobre a inativação de microrganismo por métodos físicos e químicos”. Basicamente, o trabalho centrou-se em uma coleta de grande quantidade de dados na literatura sobre a inativação de um micro-organismo - o Alicyclobacillus acidoterrestris - deteriorador de sucos de frutas, dos quais o Brasil é grande exportador, e que pode sobreviver ao processo de pasteurização. Do mesmo trabalho constou um estudo sobre a inativação de três patógenos, Salmonella spp, Escherichia coli, Listeria monocytogenes, por diferentes sanificantes utilizados na higienização de vegetais oferecidos no mercado e prontos para consumo, cuja demanda vem aumentando cada vez mais. No caso, o objetivo foi desenvolver modelos preditivos com base em uma quantidade grande de dados da literatura, o

Pesquisadores e amostras no Laboratório de Microbiologia Quantitativa de Alimentos, FEA: parcerias internacionais

Foto: Antonio Scarpinetti

O professor Anderson de Souza Sant’Ana, coordenador das pesquisas: empregando modelos matemáticos e ferramentas estatísticas

Docente é editor de duas publicações Anderson, conjuntamente com o professor Alejandro Marangoni, da Universidade de Guelph, Canadá, é editor do periódico Current Opinion in Food Science. A ideia da publicação surgiu na FEA e o projeto foi encabeçado por ele junto à Elsevier, uma das maiores editoras científicas do mundo. Criada em 2014, a revista publica apenas artigos de revisão. Ele considera que o fato da FEA e a Unicamp estarem envolvidas na sua criação mostra o prestígio da Universidade e sua capacidade de produzir ciência de qualidade e impacto na área de Ciência de Alimentos. Anderson também é editor-chefe, desde 2013, da Food Reserch International, uma revista também da Elsevier, tradicional, consolidada na publicação tanto de artigos originais quanto de artigos de revisão. Seu foco está nos trabalhos que explicam os mecanismos relacionados a toxicologia, química, nutrição, tecnologia, engenharia e microbiologia de alimentos.

CONGRESSO Coube ainda ao docente, em parceria com a Elsevier, a organização da IX Conferência Internacional de Modelagem Preditiva em Alimentos, realizada em setembro último na cidade do Rio de Janeiro, viabilizada graças aos apoios do CNPq, da Capes e da Pró-Reitora de Pesquisa da Unicamp. Foram submetidos mais de 300 trabalhos, número que ele considera bastante expressivo, considerando-se que se trata de um encontro com temática mais específica. Nele estiveram presentes 180 pesquisadores dos cinco continentes e foram apresentados trabalhos de alto nível. O objetivo dessa conferência é discutir aspectos de qualidade e segurança dos alimentos através da utilização da microbiologia preditiva e da avaliação quantitativa de riscos. Essa edição foi a primeira na América do Sul. As anteriores tiveram como sede a Austrália, EUA e principalmente Europa.

que se denomina de meta-análise. Os três micro-organismos patogênicos em questão foram selecionados por serem os mais presentes em alimentos e por causa do volume de doenças e mortalidades que lhe estão associadas. A segunda dissertação, de Juliana Lane Paixão dos Santos, deteve-se na “Modelagem preditiva da deterioração de pães integrais multigrãos por fungos filamentosos”. Trata-se de um trabalho extenso porque se ateve a diferentes abordagens. Inicialmente a pesquisadora foi a uma empresa produtora de pães integrais para avaliação da incidência e da quantificação dos fungos presentes na matéria-prima, no ambiente de processamento e no produto final. Na sequência utilizou a ferramenta da microbiologia preditiva para definir uma formulação desses pães que lhe garantisse maior vida útil. Ela conseguiu, por exemplo, atingir uma vida útil de 21 dias de certos pães, variando na formulação o pH, a concentração de conservantes, a atividade da água e a temperatura de estocagem. Com o prolongamento da vida útil decorre redução de perdas e consumidores mais satisfeitos. A última parte do trabalho envolveu a utilização de um sistema de microscopia para captar imagens de como o fungo germina. A terceira dissertação apresentada, realizada em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), examina a “Ocorrência de fungos e aflatoxinas, cinética da degradação de aflatoxinas durante a torração e modelagem probabilística do risco de exposição pelo consumo de amendoim”. O trabalho, desenvolvido por Lígia Manoel Martins, teve como objetivos: 1) isolar e identificar espécies de Aspergillus section Flavi de amendoim; investigar a capacidade de produção de aflatoxinas pelas cepas isoladas; avaliar a presença de aflatoxinas nas amostras de amendoim; 2) determinar a cinética de destruição das aflatoxinas durante a etapa de torração do amendoim; e 3) realizar uma modelagem probabilística da exposição de aflotoxinas pelo consumo de amendoim no Brasil. Para Anderson, trata-se de outro trabalho bastante completo que procura entender desde como a quantidade de fungos e de aflatoxinas no amendoim se comportam durante a torração, que envolve temperaturas acima de 160 °C. No final, um modelo matemático simula diversos cenários que, levando em conta as quantidades da toxina presentes e de amendoim consumido, permite estimar o risco de desenvolvimento de câncer. Por fim, a quarta dissertação, também realizada em colaboração com o Ital, por Rachel Bertoldo, tem como tema o “Aspergillus section Nigri em bulbos de cebola - ocorrência, identificação e produção de fumonisina B2 e ocratoxina A”. Trata-se de um produto consumido in natura e foi estudado o papel desses fungos na deterioração e nas perdas pós-colheita da cebola. Eles se manifestam na casca dessa raiz na forma de pontos pretos facilmente observáveis e, com o tempo, acabam entrando no interior da cebola deteriorando-a, constituindo um dos grandes causadores de perdas pós-colheita. No próximo ano, em tese de dourado, uma aluna do LMQA, apresentará um trabalho envolvendo probióticos. O docente esclarece: “Estamos trabalhando com uma nova classe de probióticos, que são os probióticos esporulados, que diferentemente dos utilizados em produtos lácteos, são muito mais resistentes ao processamento de alimentos e podem ser adicionados a produtos que são cozidos ou assados, caso dos pães. Não temos ainda no Brasil pães probióticos porque as bactérias probóticas tradicionais seriam inativadas durante o assamento em fornos. Os esporos por sua vez têm uma resistência térmica e química bastante grande. Trata-se de um novo caminho de pesquisa que estamos seguindo”.


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Soma de fatores potencializa

predição de câncer de boca LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

m novo sistema para auxiliar na determinação do melhor tratamento e prognóstico de pacientes com câncer de boca é o resultado de dois anos de colaboração entre pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) e da Finlândia, dentro do Programa Ciência sem Fronteiras. Para a pesquisa foram avaliadas amostras de aproximadamente 600 pacientes de diversas universidades finlandesas e de hospitais oncológicos do município de Cascavel (PR). Dois estudos já foram publicados em revistas internacionais, ao passo que o sistema vem sendo replicado de forma independente em instituições do Chile, Rio de Janeiro e Natal, na expectativa de confirmação dos resultados. O professor Ricardo Della Coletta, que coordena os trabalhos pela FOP, explica que o sistema foi denominado BD: B de budding (referente a pequenas ilhas de células tumorais) e D de depth of invasion (profundidade de invasão). “Nossa ideia é bem simples. Existem dois fatores já demonstrados como marcadores de melhor tratamento para o paciente com câncer de boca na sua forma mais agressiva, considerados importantes quando avaliados individualmente: um deles é a profundidade da invasão do tumor, e o outro, a presença de budding (ilhas com cinco ou menos células tumorais) no fronte invasivo. O que fizemos foi juntar esses dois fatores e demonstrar que, somados, eles superam os valores individuais, potencializando a predição.” Segundo o docente da Unicamp, um primeiro estudo, demonstrando que o sistema BD correlaciona a doença com a sobrevida do paciente, foi publicado no International Journal of Maxillofacial Surgery; e um segundo, demonstrando que este método é superior a três sistemas tradicionais, inclusive ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi publicado na revista Oral Diseases. “A nossa expectativa, agora, é que outros pesquisadores apliquem o sistema BD e encontrem os mesmos resultados em determinar a perspectiva de sobrevida e de risco de recidiva no paciente com câncer de boca. Isso já está ocorrendo na Universidade de Valparaiso (Chile), com a qual mantemos uma parceria nesta área, bem como no Rio de Janeiro e em Natal – são estudos independentes e que, por isso, considero de grande validade.” Ricardo Coletta observa que marcadores úteis na determinação do melhor tratamento para os pacientes com tumores, bem como a evolução que a doença possa ter (prognóstico) é o que todo pesquisador da área vem buscando há décadas. “O mesmo ocorre em relação ao câncer de boca, com várias propostas apresentadas, mas sem que se chegue a uma aplicação rotineira na clínica médica. Com esses marcadores podemos predizer se o comportamento do câncer é hostil, o que exige uma conduta diferente, com tratamentos mais especializados para maior controle da doença. É o que queremos: ter controle maior da doença.” No caso do câncer de boca, acrescenta o professor da FOP, um mesmo tumor pode se comportar de uma forma no paciente A e de outra completamente diferente no pa-

Colaboração entre pesquisadores da Unicamp e de universidade finlandesa rende estudos publicados em duas revistas internacionais ciente B, por serem geneticamente heterogêneos. “Ainda que os pacientes tenham a mesma idade e apresentem o tumor na mesma região, os conjuntos de materiais genéticos regulados (ou, no caso, desregulados) são diferentes. Daí a tendência de caminharmos para um tratamento cada vez mais individualizado, a fim de aumentar a chance de cura. O que temos hoje para o câncer de boca é um protocolo de tratamento que sabemos inadequado, pois há 30 ou 40 anos não vemos uma melhora na taxa de sobrevida do paciente – a taxa de mortalidade é a mesma. Se os inúmeros progressos que tivemos nessas décadas (em cirurgia, radioterapia e quimioterapia) não se refletem em ganho de sobrevida, significa que algo está errado, que não estamos tratando de maneira adequada.”

PREVALÊNCIA

Coletta pondera que a prevalência do câncer de boca pode ser considerada elevada, quando retirados da balança os de próstata e de mama, que estão disparados à frente. “Temos mais de meio milhão de registros de câncer por ano no Brasil e cerca de 3% são de boca, que ocupa o 6º lugar entre os homens e o 10º ou 11º entre as mulheres – os homens são mais afetados porque o tumor está intimamente ligado a fatores de risco como o consumo por anos a fio de cigarro (ou qualquer tipo de tabaco) e de álcool. No início, muitas vezes ainda não são tumores, mas lesões potencialmente malignas, com cem por cento de cura quando tratadas. Se essas lesões brancas ou avermelhadas evoluem para a ulceração, já temos um processo de transformação em tumor. Geralmente é esta ferida que leva a pessoa a procurar atendimento”. Segundo o pesquisador, apesar de a lesão ser facilmente visualizada, seja pelo dentista ou médico, seja num autoexame, o perfil deste paciente é daquele com tumor em estágio avançado, o que é sempre pior em todo tipo de câncer quanto à expectativa de sobrevida e de cura. “Outro aspecto do perfil é o baixo nível socioeconômico, o que implica maior ignorância e não frequência ao dentista e médico, mesmo que o paciente sinta alguma anomalia em sua boca. Mas também existe a possibilidade de profissionais de saúde não preparados para identificar a lesão.” O professor da FOP explica que, diagnosticado o tumor, é feito o chamado estadiamento clínico ou TNM, a fim de determinar o quanto ele é extenso e a possível disseminação para outros órgãos – o T da sigla representa o tamanho do tumor; N, o número de linfonodos (gânglios) Fotos: Antoninho Perri

O professor Ricardo Della Coletta na FOP e com a professora finlandesa Tuula Salo: método é superior a três sistemas tradicionais

ou metástases lifonodais no pescoço; e M, a metástase a distância, ou seja, a presença do tumor em outros órgãos. É baseado no TNM que o tratamento e o prognóstico são determinados. “Felizmente, a metástase a distância é rara em câncer de boca, ocorrendo apenas em estágios por demais avançados. Mas quanto maior o tamanho do tumor, maior a presença de linfonodos, e o prognóstico e o tratamento já mudam consideravelmente. Por isso, a importância do diagnóstico mais precoce possível.”

PROTOCOLO Um entrave apontado por Ricardo Coletta é que a OMS recomenda uma classificação histológica para cânceres de boca datada de 1922 – trata-se de um sistema de classificação para orientar o tratamento clínico. “A literatura traz uma série de estudos demonstrando que essa classificação histológica não reflete com fidelidade o comportamento do tumor, não responde a todos os casos. Ela é utilizada pelos médicos até hoje por ser de aplicação simples e rápida, não tomando mais que um minuto do patologista obrigado a verificar o resultado de centenas de exames por dia.” De acordo com o docente, o que pesquisadores do mundo todo procuram, a exemplo do seu grupo na FOP e da professora Tuula Salo na Finlândia, é um método que substitua o sistema recomendado pela OMS, e some com as informações clínicas (TNM), aumentando a capacidade de resposta e de predição do melhor tratamento e melhor prognóstico para o paciente. “Ao longo dos anos vários sistemas já foram propostos, mas alguns não refletiam adequadamente o comportamento do tumor, enquanto outros eram complexos e, em pese seu valor em termos de pesquisa, sua difícil aplicação acabou acarretando em desuso. Portanto, continua sendo mais cômodo adotar o sistema oficial.”

APLICAÇÃO DO BD Coletta lembra que este trabalho conjunto com a professora Tuula Salo começou há dois anos, primeiramente reunindo amostras de tumores junto a pacientes da Finlândia e do Brasil e, depois, apenas amostras brasileiras. “A avaliação de 600 casos é bastante representativa para o câncer de boca, pois diz respeito a toda a evolução da doença: é um material bastante extenso e rico em informações, vindo de pacientes acompanhados ao longo de dez anos. O projeto é financiado pela Capes (Pesquisador Visitante, junto ao Programa Ciências sem Fronteiras), o que permitiu as idas e vindas da professora Salo e de seus alunos. Um dos frutos deste trabalho é a tese de doutorado de Iris Swazaki Calone, que desenvolve suas atividades em Cascavel.” Pelo sistema BD, esclarece o pesquisador, a lâmina histológica visualizada no microscópio é avaliada em dois aspectos: a profundidade do tumor, atentando-se para a marca de 4 milímetros na régua (acima desta medida, o prognóstico é bom, e abaixo, ruim); e a existência de pequenas ilhas tumorais na área por onde o tumor avança. “Os tumores são classificados em três grupos: aqueles que não apresentam profundidade nem ilhas (o melhor prognóstico); que apresentam um desses dois aspectos (de risco intermediário); e que têm profundidade maior que quatro milímetros e também a presença de budding (o pior prognóstico).” Ricardo Coletta informa que o tumor de alta profundidade e com budding aumenta em cinco vezes a probabilidade de óbito no prazo de cinco anos, e em quatro vezes o risco de recidiva. “Isso significa que o paciente precisaria de um tratamento mais intenso e agressivo. No entanto, hoje, o tratamento para A ou B é a cirurgia e a radioterapia, sem considerar esse diferencial de comportamento biológico. Minha expectativa é que nosso trabalho seja útil não para resolver, mas para dar um passo em direção a um melhor tratamento e cura dos pacientes com câncer na boca. A média de mortes está entre 40% e 50%: para alguns o tratamento é mais difícil, mas para outros podemos oferecer o melhor possível – e isso é frustrante. Está faltando algo.”


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Reciclagem é alternativa para descarte de plástico Estudo desenvolvido na FEQ avaliou processo com menor impacto ambiental para a destinação final do PLA Fotos: Antonio Scarpinetti

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

m estudo desenvolvido na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp apontou a reciclagem mecânica como a alternativa com o menor impacto ambiental para a destinação final do plástico PLA (poli (ácido láctico)) ou (poli (lactídeo)). Além da reciclagem mecânica, foram avaliadas a reciclagem química e a compostagem, o processo mais empregado para o descarte do plástico, por se tratar de um polímero biodegradável, que se degenera através da ação de micro-organismos naturais como bactérias, fungos e algas. Graças ao emprego de um aditivo químico, a reciclagem mecânica produziu um material com características viáveis para a reutilização do plástico. Isso também contribuiu para gerar um menor impacto ambiental uma vez que, com parte do material descartado, foi possível elaborar um novo produto. A compostagem foi considerada o processo com maior impacto ambiental. Neste caso, não seria possível reaproveitar o plástico. O estudo, conduzido pela engenheira química Marina Fernandes Cosate de Andrade, considerou três categorias para a avaliação do impacto ambiental para o descarte do plástico analisado: mudanças climáticas, toxicidade humana e uso de recursos fósseis. Na categoria mudanças climáticas foi considerado o potencial de aquecimento global pela emissão de gases que contribuem para o efeito estufa; em toxicidade humana foi avaliado o efeito e o acúmulo de substâncias químicas tóxicas no ambiente humano; e em recursos fósseis quantificou-se o uso de combustível fóssil equivalente em todo o processo de produção. Nas três categorias avaliadas, a reciclagem mecânica apresentou o menor impacto ambiental, seguida pela reciclagem química e depois pela compostagem. O consumo de energia elétrica foi o insumo que mais contribuiu no impacto total para as reciclagens, sendo a reciclagem química a maior consumidora, seguida da reciclagem mecânica e da compostagem. Ainda pouco utilizado no Brasil, o PLA possui grande potencial para substituir os plásticos derivados do petróleo. Além de biodegradável, o plástico é considerado um biopolímero por ser produzido a partir de fontes renováveis, como o milho ou a cana-de-açúcar, por meio da fermentação de açúcares dos seus carboidratos. “Normalmente, o destino final deste plástico é feito via compostagem, método que permite as condições de temperatura e umidade para que ele possa ser degradado pelos micro-organismos. Só que o Brasil não apresenta muitas usinas de compostagem. Por isso resolvemos avaliar alternativas de descarte”, relata Marina Cosate de Andrade.

mente difundidas no Brasil, uma das principais características do PLA é pouco explorada. O trabalho da Marina tem relevância neste sentido, porque abre perspectiva para uma destinação mais nobre para este plástico, de modo que ele possa ser reaproveitado como produto”, avalia a professora Ana Rita Morales, que coordena linha de pesquisa na área de polímeros e meio ambiente. A docente pondera, no entanto, para a importância de se considerar situações em que não é possível realizar a reciclagem, casos em que o PLA já está comprometido com sujeiras ou impurezas. Nestas situações, a pesquisa demonstrou que a biodegradação pela compostagem é a melhor forma de destino, por causar a completa degradação do polímero e por consequência o desaparecimento do resíduo. A professora Ana Rita Morales informa que, no Brasil, algumas empresas já utilizam o plástico PLA. O material, de acordo com ela, é um termoplástico com propriedades mecânicas comparáveis ao Poliestireno (PS) e ao PET. Em alguns países da Europa ele é bastante usado em embalagens rígidas, filmes flexíveis, copo de bebidas frias e garrafas. O PLA, além de biodegradável, possui atributos como transparência, brilho e resistência mecânica, desejáveis para diversas aplicações industriais.

CICLO DE VIDA

Amostra do plástico pesquisado: biopolímero é produzido a partir de fontes renováveis

Ainda conforme a pesquisadora da FEQ, por se tratar de um poliéster, o PLA poderia ser reciclado pelo método mecânico ou químico, ambos bastante desenvolvidos no país, sobretudo para o reaproveitamento do PET (Poli (tereftalato de etileno)). “Identificamos que o PLA poderia ser reciclado mecanicamente por meio do processamento do polímero residual. O plástico é extrudado em fios e então transformado em grânulos para produzir um plástico reciclado. Outra alternativa seria a reciclagem química, a degradação química do material de maneira que ele voltasse a ser um monômero, podendo ser usado na polimerização para produzir o PLA novamente”, explica a engenheira química, graduada pela Unicamp. Um dos desafios da reciclagem mecânica, o melhor processo avaliado, foi reaproveitar o PLA mantendo o resíduo reciclado com boas propriedades para a fabricação de novos produtos. Neste ponto, Marina Cosate de Andrade informa que o emprego, como aditivo, de um extensor de cadeia, possibilitou a recuperação das principais propriedades do PLA.

Marina Fernandes Cosate de Andrade, autora da dissertação: reciclagem mecânica apresentou o menor impacto ambiental

O extensor de cadeia é um produto químico multifuncional que aumenta a massa molar dos polímeros em uma reação rápida, sem etapas de purificação. “Nos ensaios de reciclagem mecânica, sem o aditivo, ocorreram perdas nas propriedades do PLA, como a diminuição da massa molar, aumento do índice de fluidez e da estabilidade térmica”, justifica. A pesquisa desenvolvida por Marina Cosate de Andrade integra dissertação de mestrado defendida recentemente junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da FEQ. O estudo, que contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi orientado pela docente Ana Rita Morales, que atua no Departamento de Engenharia de Materiais e Bioprocessos (DEMBio) da Unidade. “Normalmente o fim de vida do PLA é a biodegradação em condições de compostagem, sendo necessárias condições específicas para sua total decomposição. Mas, como as usinas de compostagem não são ampla-

Para analisar a melhor alternativa do ponto de vista ambiental para o descarte do PLA, Marina Cosate de Andrade empregou o método Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Ela esclarece que o emprego deste método foi realizado em parceria com o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), tendo o pesquisador Otavio Cavalett como principal colaborador e coorientador do estudo. “A Avaliação de Ciclo de Vida é uma metodologia empregada para determinar impactos ambientais de um produto, processo ou serviço, considerando-se todas as etapas do ciclo de vida. A ACV avalia quantitativamente os impactos ambientais derivados do uso de energia, uso de matérias-primas, resíduos e emissões por todos os estágios de vida. Deste modo, esta avaliação pode fornecer informações ambientais bastante relevantes para a tomada de decisão quanto ao projeto de seu processo de produção, uso e descarte”, explica a engenheira química.

Publicações COSATE, M. F. ; FONSECA, G. ; LOPES, M. ; MORALES, A. R. ; MEI, L. H. I. . Study of the mechanical and chemical recycling of poly(lactic acid) PLA. In: Frontiers in Polymer Science, 2015, Riva del Garda. Anais do Frontiers in Polymer Science, 2015. p. P3.016. Dissertação: “Estudo da Avaliação e Ciclo de Vida do PLA: comparação entre a reciclagem química, mecânica e compostagem”. Autora: Marina Fernandes Cosate de Andrade Orientadora: Ana Rita Morales Coorientador: Otavio Cavalett Unidade: Faculdade de Engenharia Química da Unicamp Financiamento: Capes e Fapesp

A professora Ana Rita Morales, orientadora da pesquisa: “O trabalho abre perspectiva para uma destinação mais nobre ao plástico”


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Campinas, 14 a 31 de

Da física e da matemática ao

Livro lançado pela Editora da Unicamp traz 11 entrevistas conced MARTA AVANCINI Especial para o JU

ano era 1938. Vivendo uma “crise espiritual”, Ernesto Sabato decide recusar uma bolsa para trabalhar como físico em pesquisas sobre radiação atômica num renomado laboratório europeu, mudando o rumo de sua história: “(...) sentia que o mundo da matemática era alheio ao mundo dos homens. Esse universo dos símbolos se me afigurava um ópio platônico. E assim, quando me deram a bolsa para trabalhar no Laboratoire Curie, de Paris, senti que na realidade partia para iniciar uma nova vida, no mundo da literatura e da pintura, as duas coisas que desde pequeno me atraíam misteriosamente”. É dessa maneira que o escritor, ensaísta e artista plástico argentino descreve o processo que o levou ao rompimento com o mundo da ciência para ingressar no das artes, num movimento que o levaria a ser consagrado como um dos maiores romancistas do século XX. O depoimento faz parte de Entre o sangue e as letras, obra inédita no Brasil e recém-publicada pela Editora da Unicamp. O livro compila 11 entrevistas concedidas por Sabato a Carlos Catania no final dos anos 1980. Catania - escritor, ator, diretor teatral e também argentino - era amigo pessoal de Sabato. Propôs a ele a realização da uma longa entrevista, a fim de que o escritor pudesse expressar, nas próprias palavras, seu pensamento acerca de sua vida, de sua obra e de temas de seu interesse. A maior parte dos encontros ocorreu na casa de Sabato, mas também em locais públicos, como hotéis, cafés e até nas ruas de Buenos Aires – o que empresta mais vitalidade ao texto, na percepção do tradutor da obra e professor do Instituto de Artes da Unicamp, João-Francisco Duarte Jr.. “Embora Catania, idealizador desses diálogos e que se afigura uma espécie de entrevistador, tivesse em mente alguns temas básicos e necessários, as conversas fluem sem impedimentos, sem tropeços ou intercorrências provocadas por questões pré-estabelecidas”, descreve Duarte Jr.. Mesmo em meio às derivações, digressões e interrupções causadas por terceiros, a obra apresenta uma unidade, uma linha de exposição de fatos e de reflexões bastante lógica e coerente, começando pela infância de Sabato no primeiro encontro e terminando com discussões acerca de sua obra no último, reitera o tradutor. O resultado é semelhante a uma conversa íntima e aberta entre amigos.

TEMAS FUNDAMENTAIS A vida pessoal, com informações biográficas e históricas, os episódios marcantes e as crises são o fio condutor da obra - assim como as questões que compõem o universo filosófico de Ernesto Sabato. Logo na primeira entrevista, na qual ele relembra sua vida escolar, compreende-se seu percurso da matemática e da física à literatura:

“Sim, durante um ano permaneci espantosamente solitário. Sentia-me isolado nas aulas, sentia-me ridículo, um menino do interior, do campo, sentia que o mundo era hostil e horrível, imperfeito. Até que assisti pela primeira vez à demonstração de um teorema de geometria. Senti uma espécie de êxtase, descobri um mundo perfeito e exato, belo e incorruptível. Não sabia que acabava de descobrir o universo platônico. Então, naquele momento maravilhoso, iniciou-se uma nova etapa em minha vida, assinalada por uma eterna luta entre as trevas e a luz, entre o mundo dos homens e o universo das ideias”. A matemática, comenta o tradutor no prefácio do livro, torna-se um porto seguro para Sabato, um refúgio das agruras e incertezas cotidianas. “Deste modo, foi carregando essa espécie de tábua de salvação até que ele se tornou adulto e fez da matemática e da física, em que se doutorou, a esfera de sua primeira atuação profissional”. No entanto, na Paris do final dos anos 1930, onde vivia e realizava seus estudos, Sabato convivia com os surrealistas. “De dia trabalhava entre eletrômetros, e de noite me reunia com os surrealistas no Dôme, como uma honrada dona de casa que à noite exercesse a prostituição”, conta Sabato. Tal como Doutor Jeckill e Mister Hyde (na descrição do entrevistador), Sabato mergulhara numa profunda cisão, enxergando a ciência como “a culpada por uma crescente desumanização, ao proscrever pensamento mágico e ficar unicamente como pensamento lógico”. A aproximação com os surrealistas funcionava como um contraponto a esta constatação; eles representavam, para o escritor, o extremo oposto à razão. Reflexões como essas transformam as entrevistas a Catania num campo de expressão que ultrapassa o contexto histórico e os episódios da biografia de Sabato. Remetem, diferentemente, a questões de ordem filosófica e existenciais inerentes à (eterna) busca do ser humano pela construção de seu universo de sentido. Expressam também uma visão de mundo aberta, pouco afeita a hierarquias e à rigidez. Nesse sentido, o tradutor Duarte Jr. identifica os temas que atravessam transversalmente as entrevistas. No campo das artes e da estética, destacam-se a ausência de hierarquia e evolução nas artes e a aversão e o repúdio à “polícia da língua”, que, a partir de códigos gramaticais estabelecidos, definem quais seriam as formas adequadas de expressão linguística. A defesa incondicional das liberdades individuais e do direito à livre expressão, paralelamente à crença num sistema judicial alicerçado na prerrogativa do direito de defesa de todo cidadão é outro tema caro a Sabato, constituindo-se numa de suas frentes de atuação: ele presidiu a comissão que conduziu as investigações sobre os desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983). Os trabalhos resultaram no histórico documento Nunca Mais, que reconstitui o cenário de impunidade e violações de direitos humanos, que resultaram em 9 mil pessoas desaparecidas, num universo estimado de 30 mil mortos.

Foto: Antoninho Perri

Ernesto Sabato durante discurso na cerimônia em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp, em agosto de 1994: livro expõe ideário e angústias do escritor argentino

A SEMENTE DA ESPERANÇA A obra de Ernesto Sabato destaca-se por compor um retrato fiel da complexa e angustiante experiência humana. “Não escrevi para ganhar dinheiro, nem prêmios, nem pela vaidade de me ver impresso. Pode lhe parecer excessivo, porém escrevi para aguentar a existência. Por isso meus livros são tão desagradáveis e não os recomendo a ninguém. E ainda mais: vigiei cuidadosamente para que meus filhos não os lessem, ao menos enquanto foi possível, quando eram adolescentes”, revela Sabato numa das entrevistas a Catania. Nessa medida, pontua o professor Duarte Jr., as angústias e desesperos que marcam os três romances que chegaram a ser publicados – O túnel, Sobre heróis e tumbas e Abadon, o exterminador – foram experienciados pelo próprio Sabato. “Como ele mesmo afirma, sempre foi um indivíduo atormentado, tanto pelas iniquidades sociais quanto pela aparente ausência de sentido para a existência humana”, comenta o tradutor. Por isso, escrever não lhe trazia paz. “Primeiro, devido à sua severa autocrítica, julgando amiúde que o trabalho concluído não estava bem realizado – algumas de suas obras foram salvas do fogo por sua esposa, Matilde. Depois, porque, de acordo com suas próprias palavras, o ato de escrever não lhe era realmente prazeroso, e sim um fardo, uma condenação”, aprofunda o tradutor.

Numa das entrevistas, porém, Sábato deixa entrever uma fenda de luz, uma abertura, em meio ao mergulho nos meandros do psiquismo e do comportamento humano. Demonstra certa fé na existência humana: “nosso instinto de vida nos incita, apesar de tudo, a lutar, e isso é o bastante, pelo menos para mim. Não estamos completamente isolados. Os fugazes instantes de comunhão diante da beleza, que às vezes se experimenta com outros homens, bem como os momentos de solidariedade em face da dor, assemelham-se a pontes frágeis e transitórias que fazem os seres humanos se comunicarem por sobre o abismo sem fundo da solidão”.

Trechos do livro EDUCAR É PROMOVER O ASSOMBRO “[...] é bom lembrar que ‘educar’ significa desenvolver, realizar aquilo que existe potencialmente na criança, fazer crescer o germe que ela traz em seu espírito, fazendo com que chegue a procriar. O labor do mestre, tal como o via Sócrates, consistia bem mais no de uma parteira do que no de um fabricante. E como o mestre suscita tal processo? Promovendo o assombro ante os profundos e misteriosos problemas que a realidade exibe. Por menos que se considere, tudo é assombroso”.

A AUSÊNCIA DE PROGRESSO NA ARTE “A ideia do Progresso – e há que escrever, neste caso, com maiúscula – foi um dos grandes pilares do século XVIII e, sobretudo, do século XIX, ainda que também perdure na maioria das pessoas no presente século. Não se deve pensar que os séculos terminem ao mesmo tempo para todos, ao som de um apito: no século XIX havia escritores como Dostoiévski e pensadores como Nietzsche e Kierkegaard que não apenas já faziam parte deste nosso tempo como, em meio ao otimismo

universal de então, conseguiam ver a catástrofe que cairia sobre nós. E, ao contrário,o presente está cheio de escritores e pensadores que se creem do século XX, mas pertencem ao XIX. De qualquer forma, há progresso no pensamento puro e na ciência, não na arte. A arte não progride, pelo mesmo motivo que não progridem os sonhos: por acaso os pesadelos de nossa época são melhores do que os da época do José bíblico?”.

O ROMANCE COMO REBELIÃO

“A autêntica rebelião e a verdadeira síntese não poderiam provir senão daquela atividade do espírito que nunca separou o inseparável: o romance. Devido à sua hibridez mesma, por estar a meio caminho entre as ideias e as paixões, ele está destinado a produzir a real integração do homem cindido; ao menos suas realizações mais vastas e complexas. Nesses romances de ponta se produz a síntese que o existencialismo fenomenológico recomenda. Nem a pura objetividade da ciência, nem a pura subjetividade da rebelião primeira: a realidade desde um eu; a síntese entre o eu e o mundo, entre a inconsciência e a consciência, entre a sensibilidade e o intelecto.”

SERVIÇO Título: Entre o sangue e as letras Autor: Ernesto Sabato Tradução, prefácio e notas: JoãoFrancisco Duarte Jr. Editora da Unicamp Páginas: 256 Preço: R$ 40,00


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e dezembro de 2015

o universo do homem cindido

didas por Ernesto Sabato a Carlos Catania no final dos anos 1980 Fotos: Reprodução

Foto: João Pina/Reprodução

Quem foi Considerado um dos mais importantes escritores hispanoamericanos do século XX, Ernesto Sabato dedicou-se principalmente à literatura e à pintura, após abandonar uma promissora carreira de pesquisador na área da física. Ao longo de 99 anos de vida – ele morreu em 2011, dois meses antes de se tornar centenário -, publicou três romances, além de ensaios sobre a condição humana, entre eles: Nós e o universo, O escritor e seus fantasmas e Antes do fim. Sua obra de ficção foi reconhecida por escritores como Albert Camus e Thomas Mann. Em 1984, recebeu o Prêmio de Literatura em Língua Castelhana Miguel de Cervantes, concedido pelo Ministério da Cultura da Espanha. É Doutor Honoris Causa da Universidade de Murcia (Espanha), Universidade de Rosário (Argentina), Universidade de Turim (Itália) e da Unicamp (veja texto).

Acima, cenas de repressão durante a ditadura militar argentina; à direita, generais escondem o rosto durante julgamento em Buenos Aires: Sabato presidiu a comissão que investigou violações dos direitos humanos

‘Em breve, o atraso será uma das grandes virtudes do ser humano’ Abaixo, trechos do discurso de agradecimento de Ernesto Sabato na cerimônia em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp, em 16 de agosto de 1994. A tradução foi feita pelo escritor e jornalista Eustáquio Gomes, à época coordenador da Assessoria de Imprensa da Unicamp e editor do Jornal da Unicamp, que publicou uma matéria sobre a vinda do escritor argentino a Campinas.

PROFESSOR Experimento sempre uma espécie de pudor quando me chamam professor. Fui professor, ensinei relatividade e teoria quântica ao retornar do Laboratório Curie, quando já estava intimimamente resolvido, aliás, a abandonar a ciência para sempre. E assim que esse tratamento me coloca em uma situação um pouco delicada. Sofri muito por causa dessa troca (da ciência pela literatura). Não creiam que foi fácil. Essas trocas aparentemente abruptas e aparentemente arbitrárias que eu fiz obedeciam a uma consciência anterior muito autêntica, eram quase uma obrigação.

IDEOLOGIAS Agora se diz que as ideologias chegaram ao fim. Mas isso não quer dizer que tenha chegado o fim também para os ideais. Sempre haverá ideal onde haja alguém lutando para que uma criança não passe fome, como sempre será um ideal que não haja raças perseguidas, nem pobres oprimidos, nem classes dominadas. Eu desprezaria um filho meu que não se importasse com essas coisas.

MORTE Ainda há pouco estive mal, por conta de uma gripe viral. Um amigo, grande médico e grande sujeito, disse-me: “Ernesto, vamos ter que te internar”. Mais tarde me confessou que estive a ponto de morrer. Eu disse: “Se tenho que morrer, que seja em minha cama, à antiga. Não me ponham aparelhos eletrônicos” - essas famosas e sinistras salas de terapia intensiva, a que me referi em Homens e Engrenagens, já em 1951, e pelo que fui tantas vezes taxado de reacionário. Não vejo o que

pode haver de reacionário em alguém preferir estar com sua mãe, sua mulher e seus filhos na hora da morte. Parece que estão compreendendo, por fim, essa verdade óbvia. Agora se permite às vezes que haja na sala um membro da família. Garanto que isso cura mais que todos os aparelhos, todos os remédios e todos os tubos.

VELHICE Lamentavelmente, somos uma sociedade sem anciãos. Nos Estados Unidos não há avós, não se os vê na rua. Ou estão recolhidos porque têm frio, cobertos com trapos nas esquinas, ou estão em clínicas geriátricas de luxo. Nas velhas culturas o avô era o sábio da família. Enquanto o pai terçava lanças com outras tribos e a mãe tecia ou cuidava da comida, o avô tinha o filho menor sob seus cuidados e passava o tempo narrando-lhe as velhas tradições de sua tribo. Assim essas tradições eram transmitidas a cada geração nova. Num colóquio em Dacar, certa vez, ouvi de um poeta senegalês: “Para nós, a morte de um ancião, de um sábio da Foto: Antoninho Perri

PROGRESSO Em breve, o atraso será uma das grandes virtudes do ser humano. Em breve teremos de ir buscar sabedoria nas poucas aldeias que ainda possa haver na Polinésia. Por vezes me chamam de reacionário, como num programa de televisão em que eu disse coisas inocentes como estas, que entretanto são verdadeiras. Uns dizem: “Que há com Sabato? Por que não se muda então para uma aldeia africana?”. Respondo: “Já não há aldeias, foram todas arrasadas desde que por lá passaram os imperialistas ingleses, americanos e franceses”. Na verdade desde que as mulheres africanas, com seus formosíssimos vestidos que elas próprias teciam, tiveram-nos substituídos por porcarias fabricadas em Manchester — e a isso se chama progresso.

LER Às vezes me param na rua para me perguntar o que ler. Eu digo: leiam o que lhes apaixona. Nada que se faz sem paixão vale a pena. E em segundo lugar, não leiam novidades. Esperem uns dez anos.

MATEMÁTICA Ainda muito cedo decidi me dedicar às matemáticas, e logo à fisica-matemática, que também tem sua beleza; melhor, tem uma grande beleza. Uma teoria como a da relatividade, por exemplo, se me afigura uma espécie de catedral construída com teoremas. Tudo isso me fascinou. Continuei a escrever pequenas coisas, pintando outras, até que um professor — um grande professor de física que eu tinha, porque tínhamos grandes professores no colégio da Universidad de La Plata — me estimulou a fazer um doutorado em física-matemática. Comecei a fazê-lo e foi por essa época que começaram para mim as vicissitudes alheias à matemática, as tribulações, as ditaduras, a necessidade de justiça, de luta pela liberdade. Encontrei-me então em meio a um tumulto que era quase o contrário do que havia aprendido com as matemáticas. E assim foi que abandonei os estudos durante cinco ou seis anos para lutar pela liberdade, pela justiça social.

tribo, corresponde ao que é para vocês o incêndio de uma biblioteca”. Hoje é como se as pessoas morressem todas aos quarenta anos.

MODA

Sabato (centro) entra no Centro de Convenções da Unicamp no dia em que foi homenageado pela Universidade: “Agora se diz que as ideologias chegaram ao fim. Mas isso não quer dizer que tenha chegado o fim também para os ideais”

Os franceses, quando descobriram o existencialismo, converteram-no em moda. O existencialismo vem dos gregos, como se sabe. Um dia, se bem me recordo, havia um artigo de Sartre ao lado de um vestido de época. Uma combinação de metafísica e moda feminina. Não digo que todos os franceses sejam assim. Tenho grandes amigos franceses e alguns são grandes homens. Basta pensar em homens como Pascal, que abandonou a geometria, mesmo sendo o gênio matemático que era, para converter-se numa espécie de místico. Não estou falando dos franceses, mas de uma certa tendência de certos franceses. Um arquétipo, na verdade.


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Campinas, 14 a 31 de dezembro de 2015

Pesquisa do IFCH investiga transformações do modelo carcerário brasileiro CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

sistema carcerário brasileiro funciona numa lógica que nega a cidadania do detento, empurrando-o para os braços de organizações criminosas, disse ao Jornal da Unicamp o pesquisador Paulo de Tarso da Silva Santos, autor da tese de doutorado “Políticas públicas de segurança e as transformações do modelo carcerário brasileiro: a negação da cidadania em marcha”, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Esse projeto de destruição da cidadania do “preso” ganha forma na década de 40, mas se agrava com a instauração da ditadura de 1964. “Essa lógica se materializa na era Vargas”, disse Santos, referindo-se à ditadura de Getúlio Vargas durante o Estado Novo (1937-1945). “Em Vargas, o modelo jurídico, principalmente a questão penitenciária, vai trabalhar marcadamente com a questão do: ou você entra no mundo do trabalho, ou está fora da cidadania. Você não terá cidadania se não estiver no mundo do trabalho”, explica o pesquisador, citando a imposição da carteira de trabalho como instrumento de cidadania e as leis contra “vadiagem”. Ao mesmo tempo em que converte a situação de mão de obra em condição para a cidadania, Vargas tenta mediar os conflitos entre capital e trabalho com a implantação da legislação trabalhista, “mas não trata da histórica desigualdade social”. “Então, temos um contingente absurdo de pessoas na pobreza, no atraso, no latifúndio... Que o problema do Brasil é esse: não dá para olhar a Era Vargas e esquecer que, aí mais uma vez, se faz necessária uma abordagem multidisciplinar; é um país de base escravocrata, cuja lógica é a da fazenda. Então é a lógica do mando, da opressão, sempre direcionada aos desfavorecidos”, explica. “Sempre é uma relação de mando, e quando Estado incorpora isso, fica mais complicado”, ressalta. “Na era Vargas, você tem este modelo caracterizado, formatado, para servir ao capital: porque o projeto era de construir o capitalismo brasileiro. Mas é um projeto nacional. Quem era o inimigo? Externo! Era o Brasil contra os outros”.

GOLPE DE 64

“Na ditadura militar, isso muda”, descreve o pesquisador. “No que se adota a lógica da política de segurança nacional, o inimigo passa a ser interno”. Com a ditadura, aprofunda-se a lógica de um aparato repressivo do Estado por meio da polícia. “Ali se vê a militarização da polícia se efetivando. E, apesar dessa militarização, os índices de criminalidade quadruplicam a partir de 1964. Porque, além de tudo, você cria uma promiscuidade que é o que a gente vê hoje, a polícia corrompida”, disse. “O que se tem, a partir de 64, a definição da negação da cidadania como modelo. Ninguém está preocupado com o porquê de a pessoa chegar ao crime. ‘Mas tem gente que nasce ruim!’, dizem por aí. O sujeito não tem pai, não tem mãe, não tem escola, não tem Estado, sobrou o quê para ele?” Nem o fim da ditadura, nem a chegada ao poder de sobreviventes da repressão institucionalizada foram capazes de reverter essa tendência. “Durante a ditadura, há a consolidação de um aparato policial, de um corporativismo que vai impregnar o Estado de forma a amarrar todo e qualquer projeto de transformação. Se você pegar o pósCarandiru [referência ao massacre de 111 presos por policiais militares paulistas na Casa de Detenção de São Paulo, de 1992]

A supressão da cidadania nas celas

Foto: Divulgação

Detentos em presídio: para o autor da pesquisa, “a lógica do encarceramento em massa vem dos Estados Unidos”

todo e qualquer projeto que foi tentado de modernização, foi barrado. Veja o tamanho da bancada da arma. Temos uma bancada da arma no Congresso Nacional. Isso não é fruto de um episódio isolado, mas de uma história que se construiu, e 64 é o ponto de partida, que consolida essa instituição, determina esse modelo de militarização, cria, através disso, um Estado paralelo, que julga, condena e executa com pena de morte”, lembra. “Vejam-se os números, que agora estão aflorando na imprensa, por conta das câmeras de vigilância. O número de execuções, o número de assassinatos da polícia paulista, por exemplo, está alarmante e ninguém mais sabe o que fazer para controlar isso”.

VINGANÇA A negação da cidadania da pessoa que comete um crime encontra apoio na opinião pública, ou “publicada”, como diz Santos. “A partir do século 20, o foco das políticas de segurança, na definição do problema, deixa de ser o criminoso e passa a ser a vítima. E aí se passa, inclusive, a aceitar a lógica da vingança”, adverte. “Porque o pressuposto de que a vítima é que tem de ser preservada – não que ela não deva ser –, mas a ideia fixa de que o problema é salvar a vítima, não me permite olhar para a origem e as causas do problema”. “À medida que a vítima se torna prioridade, num modelo de democracia representativa onde o Estado faz o que a opinião pública,

ou a opinião publicada, exige, entra-se nesse pânico de guerra de todos contra todos, um pânico moral”, descreve. “E o que a pessoa presa sabe, mesmo que se esforce para se recuperar, é que nunca mais vai ser aceita, porque já tem uma ficha suja”. “Quando você focaliza na vítima, você apaga a possibilidade de cobrar ou de viabilizar que o governo, o Estado, reconstrua essa história”, afirma o pesquisador. “Se quero resolver o problema da vítima, preciso resolver o problema do criminoso. Ah, mas isso garante que vai acabar o crime? Lógico que não! Mas você não entra num processo autopropulsor como o que estamos vivendo”.

CIDADANIA PARALELA

A lógica do encarceramento em massa, lembra Santos, vem dos Estados Unidos, e como instrumento de redução da criminalidade e recuperação do criminoso, “não funciona em lugar nenhum”. “Lá, nos EUA, a diferença é que a não-cidadania, definida pelo próprio Estado, não se dá com os mesmos níveis de crueldade que aqui”. “É natural imaginar que o foco na vítima é o mais correto, que o Estado tem de defender o cidadão de bem”, reconhece Santos. “Mas não se pode dizer que alguém não é cidadão. O Estado tem de defender qualquer cidadão, independentemente se ele é de bem ou não. Esse é o papel do Estado. Se o cidadão delinquiu, quando eu o ponho numa cadeia, isso não quer dizer que o EstaFoto: Antoninho Perri

Publicação Tese: “Políticas públicas de segurança e as transformações do modelo carcerário brasileiro: a negação da cidadania em marcha” Autor: Paulo de Tarso da Silva Santos Orientador: Andrei Koerner Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)

O pesquisador Paulo de Tarso da Silva Santos, autor da tese: “A pessoa presa sabe, mesmo que se esforce para se recuperar, que nunca mais vai ser aceita”

do perdeu a responsabilidade. Ao contrário: a sua responsabilidade aumenta para com esse cidadão. Porque é preciso pegar os elementos antropológicos, históricos, sociológicos e ver: por que chegou a isso? Então, quando eu saio do criminoso e focalizo na vítima, eu crio um problema, aí sim, quase insolúvel”. Se o criminoso encarcerado ou o expresidiário não é mais visto um cidadão e nem como alvo legítimo de políticas públicas, outras formas de organização aparecem. “Quando se vê o desenrolar desse processo, nos últimos 15, 20 anos, aparece aí o PCC. E que instituição é essa? Porque ela já está se consolidando como instituição, econômica e política. Todo mundo sabe que o governo de São Paulo teve que negociar com o PCC para poder continuar gerindo o Estado”, disse. “Da mesma forma que todo mundo sabe, e são vários os livros, autores até da Unicamp mesmo que já discutiram a questão do PCC, que surgiu uma nova relação e uma nova gestão de presídios na era pós-PCC. Eles estão construindo toda uma lógica de gestão, de definição de limites e de regras. Por exemplo, acabou a questão do estupro dentro do presídio, questão dos assassinatos, rebelião são só eles que determinam. Você tem uma organização ali, política e econômica”. Santos dá um exemplo: “Se for assassinado, hoje cedo, o líder de um ponto de tráfico, depois do almoço já tem outro no lugar dele. E todo mundo já sabe quem será o outro, caso ele venha a faltar. E a família dele não vai ter falta nenhuma. O PCC tem previdência!” O pesquisador reluta em chamar esse sistema de “cidadania paralela”, mas reconhece que há algo parecido acontecendo. “Não sei como nominar isso. Você cria uma condição paralela que não sei se é uma cidadania, porque você está ligado aos interesses de um grupo específico que não é público, não é coletivo”, afirma. “Por outro lado, quem está submetido a isso está pensando o quê? Bom, se o Estado não está me dando nada, esses aqui pelo menos estão. Se eu for aceitar a lógica do Estado, vou ter de encarar policial invadindo a minha casa. Aqui, eles me dão segurança. Se faltar ambulância, eles me levam. Se faltar gás, eles dão. É complicadíssimo isso”. “Ou você resgata a cidadania desde sempre, ou não tem solução”, acredita. “Porque você não tem como combater esse tipo de comportamento. E provavelmente a solução que será dada não será uma solução satisfatória para a grande maioria. Porque aí vai ter uma outra lógica de comando, uma outra lógica de poder, uma outra lógica de viabilização. E aí é de dentro para fora, não de fora para dentro”.


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Em busca de nova terapêutica Fotos: Antoninho Perri/Reprodução

Pesquisa investiga o uso do ultrassom de baixa potência no estímulo às proteínas envolvidas na formação do osso MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

e maneira geral, as pessoas estão acostumadas a ver o ultrassom como um equipamento utilizado pela Medicina para produzir imagens diagnósticas. Embora esta seja uma das aplicações da tecnologia, ela está longe de ser a única. O ultrassom também pode ser utilizado para fins terapêuticos quando sua potência é diminuída para 30 mW/cm2. Com base nisso, pesquisa realizada em modelo animal pelo médico ortopedista Carlos Vinícius Buarque de Gusmão junto ao Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental, ligado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, constatou que o ultrassom de baixa potência, quando aplicado em ossos íntegros e saudáveis, aumenta a atividade de proteínas envolvidas na formação do tecido ósseo. O trabalho foi orientado pelo professor William Dias Belangero. Gusmão deu início aos estudos em torno do ultrassom de baixa potência ainda na iniciação científica, e deu continuidade durante o início do mestrado, que foi convertido para doutorado direto pela comissão de pósgraduação. O médico ortopedista explica que a ciência já tinha conhecimento de que o osso responde a estímulos mecânicos. É por isso que as pessoas ganham massa óssea ao fazerem exercícios físicos regularmente. “O contrário também é verdadeiro. Os astronautas, por exemplo, perdem massa óssea quando estão no espaço, pois a diminuição da força da gravidade reduz as forças exercidas sobre os ossos”, explica. Sabendo disso e que o ultrassom, que emite ondas mecânicas, poderia estimular o crescimento do tecido ósseo, o professor Luiz Romariz Duarte desenvolveu, em 1977, um ultrassom de baixa potência, com o objetivo de simular o processo natural de recuperação óssea. “Nos testes que fez com osso fraturado, o professor Duarte verificou que o uso terapêutico do ultrassom de fato estimulava o aumento da massa óssea. Um dado importante sobre esse método é que ele tem efeito sobre ossos íntegros e ossos fraturados, mas aparentemente não tem efeito positivo sobre ossos íntegros que apresentem algum tipo de doença, como a osteoporose”, esclarece. Nos testes que desenvolveu no Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental, mais especificamente no Laboratório de Biomateriais Ortopédicos (Labimo), o médico ortopedista analisou inicialmente quais os efeitos do ultrassom de baixa potência sobre o osso íntegro e saudável. Na época, a abordagem foi inovadora, visto que os experimentos eram feitos até então em culturas de células. “Foi um desafio e tanto estabelecer os protocolos para esse tipo de procedimento”, lembra. Nessa primeira fase, os ossos eram estimulados durante 7, 14 e 21 dias. Já na segunda etapa, o estímulo era feito somente por 7 dias. Nesse último caso, os ossos submetidos ao tratamento com o ultrassom eram removidos 5, 30 ou 60 minutos após o último estímulo e posteriormente analisados. O objetivo era estabelecer uma curva das atividades das proteínas envolvidas no processo de formação do osso, e assim identificar os efeitos moleculares dessa ação mecânica. “O que nós apuramos foi que todas as proteínas envolvidas no mecanismo de formação do osso foram significativamente aumentadas após uma semana de estímulo”, revela o autor das pesquisas.

Equipamento usado nas pesquisas: análise dos efeitos do ultrassom de baixa potência sobre o osso íntegro e saudável

Foto: Antoninho Perri

O médico ortopedista Carlos Vinícius Gusmão, autor do estudo: “O que nós apuramos foi que todas as proteínas envolvidas no mecanismo de formação do osso foram significativamente aumentadas após uma semana de estímulo com o ultrassom de baixa potência”

Uma dessas proteínas, acrescenta Gusmão, é a IRS-1, que também está envolvida na resposta celular a estímulos hormonais. “Como nossa equipe tem uma parceria com o laboratório coordenado pelo professor Mário Saad, e ele tinha anticorpo disponível, nós decidimos testar se proteínas ativadas por hormônios também seriam ativadas pelas ondas mecânicas do ultrassom de baixa potência. A conclusão a que chegamos é que as vias de sinalização hormonal e as vias de sinalização do estímulo mecânico se comunicam. Essa comunicação pode explicar porque a associação de estímulo mecânico e estímulo hormonal tem efeito potencializado sobre o aumento da massa óssea”, diz. A descoberta foi o mote principal de um artigo escrito por Gusmão, que foi premiado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e referendado pela Sociedade Internacional de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia (Sicot). Graças a esse reconhecimento, o pesquisador foi convidado para apresentar os resultados

das pesquisas em um congresso realizado pela Sicot na China. “Foi uma oportunidade excelente. Tive a chance de trocar ideias com pesquisadores de diversas partes do mundo e de abrir perspectivas para futuras colaborações”, diz. O médico ortopedista reconhece que a ciência ainda não conseguiu decifrar com precisão que mecanismos estão envolvidos no aumento da massa óssea obtido por meio de estímulos mecânico e hormonal. “São respostas que ainda temos que buscar. Nós demos um passo importante nessa direção, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, entende. A despeito disso, o pesquisador considera que as descobertas feitas até aqui abrem possibilidades para o desenvolvimento, no futuro, de novos métodos preventivos e terapêuticos na área da ortopedia. “Ao compreendermos melhor as respostas moleculares aos estímulos, nós poderemos, por hipótese, estabelecer rotinas e definir as melhores abordagens para estimular a formação da massa óssea”, exemplifica.

Esse método terapêutico seria especialmente útil no caso de pessoas que sofrem traumas ou apresentam alguma doença óssea, como a osteoporose. “Como não é um método invasivo, o uso do ultrassom de baixa potência, combinado com outros tipos de tratamento, poderia acelerar a recuperação do paciente, reduzindo assim tempo de internação e os custos hospitalares”, infere. Ainda segundo Gusmão, há situações nas quais as fraturas apresentam complicações, e por isso não se consolidam. Nesse caso, a única alternativa é fazer uma nova cirurgia para corrigir o problema. “Se conseguirmos promover essa consolidação por meio de estímulos mecânicos e hormonais, podemos eliminar a necessidade de uma segunda operação”. O próximo passo da pesquisa, conforme Gusmão, envolverá a avaliação do comportamento das proteínas em diferentes situações. “Vamos realizar experimentos com osso com lesão [perfuração induzida], com osso fraturado, com osso fraturado e operado, com osso fraturado e não operado e com osso operado com e sem complicação. O objetivo é testar diversos tipos de situação, para tentarmos entender um pouco mais sobre as vias envolvidas no processo de formação do tecido ósseo através dos estímulos mecânico e hormonal”, adianta o médico ortopedista. Gusmão destaca que, embora a sua pesquisa pertença ao campo da Medicina, ela tem caráter multidisciplinar. “Os aspectos presentes nesse tipo de estudo são muito complexos, o que exige o aporte de várias áreas do conhecimento. Nesse caso, nós tivemos a colaboração de profissionais da Biologia, da Engenharia, da Bioquímica etc”, relaciona o pesquisador, que contou com bolsa de iniciação científica concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

ESTÍMULO O médico ortopedista fez a graduação em Medicina na própria Unicamp. O principal fator que fez com que ele optasse por estudar na Universidade foi o modelo de ensino adotado pela instituição, que está intimamente vinculado à pesquisa. “Eu sempre gostei de pesquisar. Ter tido a chance de participar do programa de iniciação científica, que coloca o jovem em contato com os métodos científicos de forma precoce, foi muito importante para mim. Isso fez toda a diferença na minha vida profissional. Eu deixei de ir a festas ou aproveitar completamente as férias para ficar no laboratório por escolha própria. Se eu pudesse aconselhar os estudantes de graduação, eu diria para que eles façam iniciação científica. A experiência é muito importante, a despeito se eles pretendem ingressar ou não na carreira acadêmica”, avalia.


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Campinas, 14 a 31 de dezembro de 2015  Vestibular - A segunda fase do Vestibular Unicamp 2016 será realizada nos dias 17, 18 e 19 de janeiro de 2016. As provas de Habilidades Específicas para candidatos aos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança ocorrerão no período de 25 a 28 de janeiro de 2016 (Música, de 24 a 28 de setembro de 2015). A primeira chamada será divulgada pela Comvest dia 12 de fevereiro, para matrícula não presencial entre os dias 13 e 14 de fevereiro.  Curso de férias do IEL - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp oferecerá dois cursos de pós-graduação para o período de férias. O primeiro, “Multimodalidade e construção de sentidos no meio digital”, é organizado pela professora Inês Signorini e será realizado no dia 18 de janeiro de 2016, das 8 às 13 horas, na sala de aula do IEL. Seu público-alvo são portadores de diploma de nível superior. Outro curso em oferecimento é o de “Tópicos em história das ideias linguísticas”. Ele acontecerá de 25 de janeiro a 5 de fevereiro de 2016. A organização é da professora Sheila Elias de Oliveira. Mais informações pelo telefone 19-3521-1506 ou e-mail cpgiel@iel.unicamp.br

Teses da semana DIA 14

Painel da semana  Avaliação do PIBID Letras - Com o tema “Diversidade linguístico-cultural, práticas escolares e formação inicial em Letras”, com as seis escolas parceiras, em Campinas e em Valinhos, o Seminário de Avaliação do PIBID Letras Unicamp 2015 ocorre no dia 14 de dezembro, às 8h30, no Auditório do Instituto de Linguagem (IEL). Os professores Márcia Mendonça, Anna Bentes e Marcos Lopes organizam o evento. O público-alvo são estudantes, licenciandos, professores e pesquisadores. Mais detalhes pelo e-mail mendonca.mrs@gmail.com  Mobilidade de técnicos administrativos - A Vice-Reitoria de Relações Internacionais (Vreri) e a Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU) iniciam o “Programa de Mobilidade de Funcionários Técnicos Administrativos de 2016 – América do Sul” da Associação de Universidades Grupo Montevidéu (AUGM). O programa propicia aos servidores técnico-administrativos da Unicamp a possibilidade de realização de estágio internacional, de curta duração, nas universidades do Grupo AUGM, em áreas correlatas com a de atuação no campus. Funcionários das áreas administrativas (especialização e supervisores) que realizaram o Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG/PDG-S) são os participantes do Edital do Programa. As inscrições podem ser feitas até 14 de dezembro, no link http://www.internationaloffice.unicamp.br/inscricoes/. O objetivo central desta relação é promover a cooperação interinstitucional entre as universidades, formar e qualificar servidores e contribuir para o processo de internacionalização do campus. Mais informações pelo e-mail afpu@reitoria.unicamp.br  Economia solidária - A Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), órgão da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), organiza no dia 15 de dezembro, das 9 às 17 horas, uma edição especial da Feira de Economia Solidária. A Feira será realizada na rua dos Flamboyants, localizada entre o Restaurante Administrativo (RA) e o prédio da Engenharia Básica. No local, além da comercialização de comidas típicas, bebidas e produtos orgânicos/artesanais, ocorrem atividades musicais e roda de capoeira. A Feira pertence à Rede de Economia Solidária de Campinas. Seu objetivo é promover a inclusão de pessoas que produzam algum tipo de produto artesanal com vistas à sua comercialização a preço justo. A Feira é aberta ao público em geral. Outros detalhes podem ser obtidos mediante contato com o telefone 19-3521-2936 ou e-mail cac@reitoria.unicamp.br.  Exposições - A Galeria de Arte do Instituto de Artes (GAIA) da Unicamp sedia, até 15 de dezembro, as seguintes exposições: “Narrações”, de Lena Bergstein; “Vila Nova Cannaã”, de Gabriel Pereira, e “A arte e a escrita na história da arte - Narrações”, de alunos do curso de Arte e Escrita na História da Arte. A Galeria fica à rua Sérgio Buarque de Holanda, no piso térreo da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL). Visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6561.  Novos livros - Desconhecer (Ateliê Editorial), livro de poesias de Ricardo Lima, funcionário da Editora da Unicamp, será lançado no dia 15 de dezembro, às 18 horas, no Empório do Nono, à rua Albino J. B. de Olveira 1128, em Barão Geraldo, Campinas-SP. A publicação traz ilustrações inéditas da professora Lygia Eluf, do Instituto de Artes (IA). Ainda no Empório, no mesmo dia e horário, será lançado o livro Manual de flutuação para amadores, do docente Marcos Siscar, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Já, no dia 16 de dezembro, às 16 horas, na Sala do Conselho Universitário (Consu), no prédio da Secretaria Geral (SG), o diretor acadêmico da Unicamp, Orlando Carlos Furlan, lança o livro “Sem limites – o poder de viver eu potencial”.  Veja a luz como nunca viu - Até o final de dezembro, no Laboratório de Plasma do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), acontece a exposição “Veja a luz como nunca viu”. A mostra, que é coordenada pelo professor Joaquin José Lunazzi (IFGW), baseia-se na experiência adquirida e em experimentos realizados em seus cinquenta anos de carreira. A exposição contém um módulo inicial de óptica geométrica, outro de óptica ondulatória, e um específico para aplicações como holografia, comunicações ópticas e iluminação. A mostra, que comemora o Ano Internacional da Luz, é aberta ao público em geral e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, às 14 e 15 horas. Mais detalhes podem ser obtidos pelo telefone 19-3521-2451.

Eventos futuros  Saberes Universitários - A revista “Saberes Universitários” prorrogou para 5 de janeiro de 2016, o prazo para submissão de trabalhos escritos por profissionais vinculados a Universidades brasileiras e do exterior. Os textos devem ser submetidos diretamente na página da publicação http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/index.php/saberes, após adequação às normas do periódico. Os originais devem ser digitados em formato word, contendo título e resumo em português e inglês (abstract), conforme template disponível na página. A revista aceita colaborações em português, inglês e espanhol para todas as seções: artigos, revisões, comunicações, debates, relatos de experiência e rResenhas. Os textos submetidos serão avaliados por membros do conselho editorial e pareceristas ad hoc. “Saberes Universitários” destina-se à publicação de trabalhos originais relacionados às atividades desenvolvidas por funcionários técnicos e administrativos das Universidades do Brasil e do Exterior, bem como trabalhos de pesquisadores e docentes que apresentem relevância para o desenvolvimento das atividades técnicas e administrativas no âmbito universitário. Mais informações pelo e-mailafelix@unicamp.br.  Ciência & Arte nas Férias - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp realiza, de 6 de janeiro a 5 de fevereiro de 2016, a XVI edição do Programa Ciência & Arte nas Férias. No período, 226 estudantes do ensino médio de escolas públicas de Campinas e região estarão no Campus para o desenvolvimento de atividades de pesquisas em diversos laboratórios, sob a orientação de docentes da Universidade. A abertura oficial ocorre no dia 6 de janeiro, às 9 horas, no Auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Já a cerimônia de encerramento acontece no dia 5 de fevereiro, às 14 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Após a solenidade de encerramento, o público poderá visitar a exposição dos trabalhos do Programa, no Ginasinho da Faculdade de Educação Física (FEF). O objetivo do Ciência & Arte nas Férias é atrair jovens talentos para a pesquisa artística e fomentar o interesse pelo ensino de ciências e artes. Mais detalhes podem ser obtidos pelo e-mail ciencianasferias@reitoria.unicamp.br ou telefones (19) 3521-2973/3521-4614. Conheça a lista dos alunos selecionados para a edição de 2016 n link http://www.prp.rei.unicamp. br/ciencianasferias/2016/docs/APROVADOS_CAF_2016.pdf

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS “Vivências de casais que optaram por não ter filhos” (doutorado). Candidata: Silvia Mayumi Obana Gradvohl. Orientadora: professora Maria José Duarte Osis. Dia 14 de dezembro de 2015, às 13h30, na sala Amarela. FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO “Análise quantitativa do carregamento vertical dinâmico aplicado ao pavimento brasileiro pela suspensão dianteira dos veículos comerciais” (doutorado). Candidato: Pablo Yugo Yoshiura Kubo. Orientador: professor Cassio Eduardo Lima de Paiva. Dia 14 de dezembro de 2015, às 9h30 horas, na sala de defesa de teses 3 do prédio de salas de aula da FEC. FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO “Dois códigos corretores de erro BCH para comunicações ópticas: implementação em FPGA e comparações” (mestrado). Candidato: Diego Brito de Carvalho. Orientador: professor Max H. M. Costa. Dia 14 de dezembro de 2015, às 10 horas, na FEEC. “Análise dos impactos técnicos resultantes da variabilidade de geração de curto prazo de sistemas fotovoltaicos” (mestrado). Candidata: Mariana Granzoto Lopes. Orientadora: professora Fernanda Caseño Trindade Arioli. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. INSTITUTO DE ARTES “Grupo de percussão e aprendizagem musical: um estudo multicaso no contexto de dois grupos brasileiros” (doutorado). Candidato: Rodrigo Gudin Paiva. Orientador: professor Fernando Augusto de Almeida Hashimoto. Dia 14 de dezembro, às 14 horas, na sala 3 CPG. “O teatro moderno no começo do século XX no Brasil: Roberto Gomes, texto e cena” (mestrado). Candidata: Bianca de Cássia Almeida. Orientadora: professora Larissa de O. Neves Catalão. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala de reuniões do Barracão do IA. INSTITUTO DE BIOLOGIA “Fatores moduladores da assembleia de Tanaidacea (Crustacea) associada às algas calcárias em costões rochosos” (mestrado). Candidata: Simone Aparecida Dena Silva. Orientadora: professora Fosca Pedini Pereira Leite. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do prédio da Pós-graduação do IB. INSTITUTO DE ECONOMIA “Capital social e políticas de combate à pobreza rural no Brasil: uma abordagem em redes” (doutorado). Candidata: Patricia Andrade de Oliveira e Silva. Orientador: professor José Maria Ferreira Jardim da Silveira. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 34 do pavilhão da Pós-graduação do IE. “Impacto do consumo das famílias sobre as emissões de GEE entre 1995 e 2009” (doutorado). Candidato: Lúcio Flavio da Silva Freitas. Orientador: professor Ademar Ribeiro Romeiro. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14h30, na pós-graduação, sala 23. INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM “Livro I das Pônticas de Ovídio: comentário e tradução” (mestrado). Candidata: Natália Cristina Grosso. Orientadora: professora Patrícia

Destaque

Prata. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. INSTITUTO DE FÍSICA “Nanopartículas de prata produzidas por ablação a laser deionizada” (mestrado). Candidato: Nelson Fabián Villegas Borrero. Orientador: professor Francisco das Chagas Marques. Dia 14 de dezembro, às 10 horas, no auditório da pós-graduação, prédio D, sala 03. INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS “Características geológicas e geoquímicas das crostas polimétalicas (Fe-Me-Co) das áreas alpha e bravo da elevação do rio Grande (ERG)” (mestrado). Candidato: Jairo Cleber de Oliveira Pessoa. Orientador: professor Roberto Perez Xavier. Dia 14 de dezembro de 2015, às 14 horas, no DGRN. INSTITUTO DE QUÍMICA “Desenvolvimento e caracterização de módulo solar de células de TiO2/corante com eletrólito gel” (mestrado). Candidato: Marcelo Kioshi Hirata. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 14 de dezembro de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ. DIA 15 FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO “Aplicação do método dos elementos de contorno na análise de instabilidade de placas perfuradas” (mestrado). Candidato: Romildo Aparecido Soares Junior. Orientador: professor Leandro Palermo Junior. Dia 15 de dezembro de 2015, às 9h30, na sala de defesa de teses 2 do prédio de salas de aula da FEC. FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO “Modelagem computacional de dados estocásticos multivariáveis no espaço de estado de séries temporais e de sistemas dinâmicos por decomposição ortogonal (mestrado). Candidata: Marleny Alicia Charagua Javier. Orientador: professor Celso Pascoli Bottura. Dia 15 de dezembro de 2015, às 9 horas, no PE 37, prédio CPG/ FEEC. “Análise da potência reativa e perfil de tensão baseado na identificação de não solução via parâmetro do algoritmo de pontos interiores” (doutorado). Candidato: Rodrigo Gonçalves. Orientador: professor Anésio dos Santos Junior. Dia 15 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Detecção ótima e subótima para um radar meteorológico com três antenas fixas de feixe largo” (mestrado). Candidato: Fernando Darío Almeida García. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos. Dia 15 de dezembro de 2015, às 14 horas, na PE 12, prédio da CPG/FEEC. FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA “Análise técnica e econômica de recuperação energética de resíduos sólidos urbanos: estudo de caso para a cidade de Campinas” (mestrado). Candidato: Pedro Drumond Junior. Orientador: professor Joaquim Eugênio Abel Seabra. Dia 15 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala KE. INSTITUTO DE ARTES “A dramaturgia performativa de Rodrigo García e a produção de corporeidades” (mestrado). Candidata: Camila Damasceno Silva. Orientador: professor Matteo Bonfitto Jr.. Dia 15 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala 2 da PPG-IA. “Dramaturgia híbrida: o corpo que dança e o trabalho com as ações físicas a partir de experiências no teatro Varasanta” (mestrado). Candidata: Daniela Rolim Machado Moreno Zuliani. Orientadora: professora Daniela Gatti. Dia 15 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 3 da Pós-graduação do IA. INSTITUTO DE COMPUTAÇÃO “Balanceamento de carga ciente de energia em data centers distribuídos” (mestrado). Candidato: Rodrigo Augusto Cardoso da Silva. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia: 15 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório do IC, sala 85 - IC 2. INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM “Memórias de um escritor bem-comportado (Autran Dourado)” (doutorado). Candidata: Ana Cecília Água de Melo. Orientador: professor Orna Messer Levin. Dia 15 de dezembro de 2015, às 14 horas,n o anfiteatro do IEL. INSTITUTO DE MATEMÁTICA, ESTATÍSTICA E COMPUTAÇÃO CIENTÍFICA “A álgebra das equações polinomiais e sua solubilidade” (mestrado profissional). Candidato: Kiscinger Muniz de Carvalho. Orientador: professor Ricardo Miranda Martins. Dia 15 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.

do Portal

Unicamp é a 24ª dos BRICS Unicamp alcançou a 24ª posição no ranking de universidades dos BRICS e economias emergentes para 2016, elaborado pela revista britânica Times Higher Education (THE). Essa colocação representa um avanço em relação à listagem de 2015, onde a Universidade aparecia no 27º lugar. Esse ranking elenca instituições de 48 países considerados “emergentes” ou “fronteiras econômicas” pela companhia britânica de índices econômicos FTSE. Segundo nota emitida pela THE, apenas 35 desses países têm universidades entre as 200 melhores do ranking. Segundo o editor de rankings da publicação, Phil Blatty, a listagem “usa os mesmos 13 indicadores, exigentes e rigorosos, do Ranking Mundial de Universidades” também elaborado pela publicação. “Portanto, as instituições têm de apresentar altos padrões de ensino, pesquisa, perfil internacional e laços com a indústria”. Segundo Blatty, o fato de a Unicamp aparecer entre as 200 melhores universidades das economias emergentes “é uma grande conquista”. Para o coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Crósta, “a ascensão da Unicamp para a 24ª posição no Ranking BRICS-Países Emergentes do Times Higher Education é motivo de grande satisfação”. Crósta destaca ainda que “muito mais do que um resultado isolado, ele vem se

Foto: Antonio Scarpinetti

O coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Crósta: “A ascensão da Unicamp para a 24ª posição no Ranking BRICS-Países Emergentes do Times Higher Education é motivo de grande satisfação”

somar a outras conquistas recentes da Unicamp nos mais importantes rankings acadêmicos internacionais. Isso é fruto da qualidade e da consistência crescentes dos nossos indicadores, e também da forma como a Unicamp é vista e reconhecida pela comunidade internacional”. (Carlos Orsi)

DIA 16 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS “Avaliação da visão funcional em crianças com deficiência visual e múltipla deficiência: subsídios para orientações aos responsáveis e aos professores” (mestrado). Candidata: Isabela Maria Reis Barbosa. Orientadora: professora Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto. Dia 16 de dezembro de 2015, às 9h30, no salão da congregação. FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO “Procedimento para retrofit do desempenho termoenergético de edifícios de ensino através da aplicação de estratégias passivas de condicionamento” (doutorado). Candidato: Luciana Oliveira Fernandes. Orientadora: professora Lucila Chebel Labaki. Dia: 16 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa 3, prédio de sala de aulas da FEC. FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA “Análise de critérios em priorização de projetos: proposta de um modelo de analise dos aspectos estratégicos e técnicos para priorização de projetos” (doutorado). Candidata: Fernanda Malagutti. Orientador: professor Olívio Novaski. Dia 16 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala KD da FEM. INSTITUTO DE COMPUTAÇÃO “Implementação eficiente das funções de resumo criptográfico: SHA-3 e QUARK” (mestrado). Candidato: Roberto Cabral Rabêlo Filho. Orientador: professor Julio César López Hernández. Dia: 16 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório do IC, sala 85 - IC 2. INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM “Historicização e institucionalização das masculinidades no Brasil” (doutorado). Candidato:Fábio Araújo Oliveira. Orientadora: professora Carolina Maria Rodríguez Zuccolillo. Dia 16 de dezembro de 2015, às 9 horas, no auditório do IEL. “A salvação do mundo na Igreja Batista: sobre o funcionamento do discurso missionário no final do século XX e início do século XXI” (doutorado). Candidata: Daiane Rodrigues de Oliveira Bitencourt. Orientador: professor Sírio Possenti. Dia 16 de dezembro de 2015, às 13h30, na sala dos Colegiados do IEL. INSTITUTO DE FÍSICA “Quantum currents in the coherent states representation” (doutorado). Candidato: Matheus Veronez. Orientador: professor Marcus Aloizio Martinez de Aguiar. Dia 16 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório de pós-graduação, prédio D. DIA 17 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS “Infecções bacterianas no transplante de fígado: características epidemiológicas, bactérias multirresistentes e fatores de risco” (doutorado). Candidato: Tiago Seva Pereira. Orientadora: professora Raquel Silveira Bello Stucchi. Dia 17 de dezembro de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do Gastrocentro. FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA “Influência do coágulo sanguíneo na revitalização de canais radiculares em dentes de cães” (doutorado). Candidato: Frederico Campos Manhães. Orientadora: professora Adriana de Jesus Soares. Dia 17 de dezembro de 2015, às 8h30 horas, na sala da Congregação da FOP. “Análise das tensões e desajustes ao redor de implantes sob diferentes técnicas de transferência” (mestrado). Candidata: Bruna Gabriela Araújo Ximenes. Orientador: professor Mauro Antonio de Arruda Nóbilo. Dia 17 de dezembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 4 da FOP. INSTITUTO DE ARTES “Causos dos Pés de Minas: registros, estudos e transcriação cênica de uma prática popular” (mestrado). Candidato: Luís Carlos Negri. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 17 de dezembro de 2015, às 10 horas, na Pós-graduação do IA. INSTITUTO DE BIOLOGIA “Monitoramento participativo da pesca na comunidade de Tarituba, Paraty-RJ: conciliando conservação e pesca artesanal” (mestrado). Candidata: Ana Carolina Esteves Dias. Orientadora: professora Cristiana Simão Seixas. Dia 17 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa do prédio da Pós-graduação do IB. INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM “Augusto dos Anjos ou incipit tragoedia: as máscaras de Dioniso na poesia de Eu” (doutorado). Candidato: Fábio Martinelli Casemiro. Orientador: professor Marcos Antonio Siscar. Dia 17 de dezembro de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. INSTITUTO DE FÍSICA “Determinação das propriedades ópticas estáticas e dinâmicas em tecidos biológicos com simulação Monte Carlo” (mestrado). Candidato: Edwin Johan Forero Torres. Orientador: professor Rickson Coelho Mesquita. Dia: 17 de dezembro de 2015, às 10 horas, no auditório da pósgraduação, prédio D, Sala 03 do IFGW. “Propriedades óticas de nanofios de InAsP/InP heteroestruturados na fase wurtzita”(mestrado). Candidato: Vladimir Roger Miranda La Hera. Orientador: professor Fernando Iikawa. Dia 17 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório da pós-graduação, prédio D, Sala 03 do IFGW. DIA 18 FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA “Efeitos do treinamento concorrente sobre as células satélites musculares de idosos” (doutorado). Candidato: Miguel Soares Conceição. Orientadora: professora Cláudia Regina Cavaglieri. Dia 18 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF. FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO “Efeito da administração sistêmica de nanotubo de carbono de paredes múltiplas (MWCNT) sobre a resposta imune no microambiente tumoral de camundongos portadores de carcinoma pulmonar de Lewis” (mestrado). Candidata: Ingrid Alves Rosa. Orientador: professor Vitor Baranauskas (In Memoriam). Orientador Acadêmico: professor Yaro Burian Júnior. Dia 18 de dezembro de 2015, às 9 horas, na FEEC. “Proposta e desenvolvimento de um sistema não-intrusivo baseado em energy harvesting para aplicação na detecção de fraudes em instalações elétricas” (doutorado). Candidato: Flávio José de Oliveira Morais. Orientador: professor José Antonio Siqueira Dias. Dia 18 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa dee teses da CPG da FEEC. FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA “Analise da Associação de Agentes Antimicrobianos a Biopolímeros para o controle de biofilmes em ambientes susceptíveis ao desenvolvimento de contaminantes oriundos de água” (doutorado). Candidata: Raquel Vannucci Capelletti. Orientadora: professora Angela Maria Moraes. Dia 18 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de tese, bloco D. INSTITUTO DE COMPUTAÇÃO “Diversity-oriented multimodal and interactive information retrieval” (doutorado). Candidato: Rodrigo Tripodi Calumby. Orientador: professor Ricardo da Silva Torres. Dia: 18 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório do IC, sala 85 - IC 2. INSTITUTO DE QUÍMICA “Estudos reológicos e por RMN no domínio do tempo de espumas líquidas” (mestrado). Candidata: Ana Paula Bodemeier. Orientador: professor Edvaldo Sabadini. Dia 18 de dezembro de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. DIA 21 INSTITUTO DE ECONOMIA “Desindustrialização no Estado de São Paulo entre 1989 e 2010” (mestrado). Candidato: Leonel Oliveira Mattos. Orientador: professor Fernando Cézar de Macedo Mota. Dia 21 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE. “A internacionalização das grandes empresas brasileiras e a política de apoio do BNDES” (mestrado). Candidata: Sarah Franciscangelis. Orientador: professor Plinio Soares de Arruda Samapio Junior. Dia 21 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório Jorge Tápia do IE. “Bancos, “shadow banks” e moeda endógena: desafios à política monetária do federal reserve no século XXI” (doutorado). Candidata: Olivia Maria Bullio Mattos. Orientadora: professora Simone Silva de Deos. Dia 21 de dezembro de 2015, às 15 horas, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.


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Campinas, 14 a 31 de dezembro de 2015

ARTIGO

por: Marcello Musto

O avanço da extrema direita na Europa Foto: Divulgação

sexto maior país da União Europeia em número de habitantes fez uma guinada à direita. Depois de ter se afirmado nas presidenciais de maio, o partido populista Lei e Justiça venceu as eleições polonesas, obtendo não apenas 39% dos votos, mas a maioria absoluta no Parlamento. Diferentemente dos recorrentes apelos ao nacionalismo e à palavra de ordem “primeiro aos poloneses”, as reivindicações do Lei e Justiça no campo da economia se concentraram na promessa de aumentar os gastos sociais, melhorar os salários e reduzir a idade para a aposentadoria. Um programa de esquerda, em um país onde a esquerda defendeu o neoliberalismo e ocupa, atualmente, uma posição absolutamente marginal – situação que se repete em outros lugares do continente. Nos últimos vinte anos, o poder de decisão na Europa transitou em grande parte da esfera política àquela econômica. A economia se tornou um âmbito separado e intocável, que faz escolhas decisivas, porém fora do alcance do controle democrático. A uniformidade na essência das decisões tomadas pelos governos de muitas nações e, em geral, a crescente hostilidade de grande parte da opinião pública em relação à tecnocracia de Bruxelas, contribuíram para provocar uma grande mudança no cenário europeu.

O VENTO POPULISTA Os bipartidarismos instituídos, como aqueles espanhol e grego, implodiram. O mesmo rumo parece tomar a bipolaridade dos casos italiano e francês, da qual havia derivado uma nítida divisão de votos entre posicionamentos de centro-direita e de centro-esquerda. O panorama político europeu foi modificado – sem considerar a alternativa ao neoliberalismo proposta por Syriza e Podemos, que merece uma reflexão à parte – pelo acentuado crescimento dos índices de abstenção, o surgimento de partidos populistas e o notável avanço das forças de extrema direita. O primeiro fenômeno se manifestou no momento das eleições legislativas de quase todos os Estados europeus. O segundo, por sua vez, nasceu com a onda anti-europeísta. Nos últimos anos, surgiram novos movimentos políticos declarados “pós-ideológicos”, que se guiaram pela denúncia genérica contra a corrupção do sistema ou o euroceticismo. Em 2006, com base nesses princípios, o Partido Pirata foi fundado na Suécia e na Alemanha; em 2009, o Movimento 5 Estrelas se tornou a primeira força política na Itália, com 25,5% dos votos. Em 2013, nasceu em Berlim o Alternativa para a Alemanha. Em 2014, foi a vez do O Rio (TP) na Grécia e do crescimento em escala nacional do Ciudadanos (C’s), movimento fundado na Catalunha em 2006. No mesmo período, organizações partidárias já há tempos existentes se afirmaram com propostas políticas parecidas. O caso mais ilustrativo é o do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP), que com 26,6% dos votos se tornou a primeira força nas últimas eleições europeias, acima do Manica.

A “NOVA” FACE DA DIREITA O terceiro fenômeno aparece quando os efeitos da crise econômica começaram a ser sentidos de forma mais intensa, momento em que os partidos xenófobos, nacionalistas e neofascistas viram crescer enormemente seus votos. Em alguns casos, mudaram seu discurso político, substituindo a clássica divisão entre a direita e a esquerda pelo conflito “entre os de cima e os de baixo”. Nessa nova polarização, esses partidos se candidataram como representantes da última parcela, o povo, contra o establishment, ou seja, as forças que se alternaram no governo favorecendo o superpoder do mercado. Tradução de Patricia Villen

Marcello Musto ensina teoria sociológica na York University (Toronto, Canadá). É autor de livros e artigos publicados em diversos países, dentre os quais ‘Ripensare Marx e i marxismi’ (Carocci, 2011) e ‘Trabalhadores, uni-vos!’ (Boitempo, 2014). Também organizou ‘Marx for Today’ (Routledge, 2012); ‘Tras las huellas de un fantasma. La actualidad de Karl Marx’ (Siglo XXI, 2011); ‘Karl Marx’s “Grundrisse”’ (Routledge, 2008)

O aparato ideológico desses movimentos políticos mudou. O componente racista foi, em muitos casos, colocado em segundo plano em relação às temáticas econômicas. A oposição às políticas imigratórias – já cegas e restritivas – aplicadas na União Europeia se reforçou, recorrendo antes à guerra entre os pobres que à discriminação baseada na cor da pele ou na fé religiosa. Em um contexto de desemprego de massa e de grave conflito social, a xenofobia inflou por meio da propaganda que apresentava os imigrantes como os principais responsáveis pelos problemas relativos ao emprego e aos serviços sociais. Essa mudança de rota certamente influenciou no resultado da Frente Nacional na França, que alcançou 25,2% dos votos nas eleições municipais de 2015. Na Europa, o partido de Marine Le Pen fez alianças com outras forças políticas consolidadas que pedem, há tempos, a saída do euro, a revisão dos tratados sobre imigração e a retomada da soberania nacional. Entre elas, as mais representativas são a Liga Norte na Itália, cujos resultados eleitorais melhoraram, a ponto de ela se tornar a primeira força de centro-direita nas eleições municipais de 2015; o Partido da Liberdade austríaco, que conseguiu 20,5% dos votos nas eleições nacionais de 2013 e mais de 30% nas eleições municipais de Viena em 2015; e o Partido para Liberdade holandês, que obteve 13,3% nas eleições europeias. Pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial, as forças de extrema direita alcançaram resultados expressivos em outras regiões da Europa. Na Suíça, as eleições recentes, de outubro de 2015, foram decididas com 29,4% dos votos para o Partido do Povo Suíço, organização da ultradireita xenófoba e promotora do referendo, aprovado em 2009, para proibir a construção de novas torres de mesquitas. Também na Escandinávia, a extrema direita representa uma realidade bem consolidada. Na pátria por excelência do “modelo nórdico”, o Democratas Suecos, fundado em 1988 pela fusão de diversos grupos neonazistas, foi o terceiro partido mais votado nas eleições legislativas de 2014, com 12,8% dos votos.

Na Dinamarca e na Finlândia, dois partidos criados em 1995 alcançaram resultados ainda mais surpreendentes, transformando-se na segunda força política desses países. O Partido Popular Dinamarquês foi o movimento político mais votado nas últimas eleições europeias, com 26,6%. Esse sucesso foi confirmado nas eleições legislativas de 2015, que na sequência lhe proporcionaram a maioria no governo. Depois das eleições de 2015, às cadeiras do governo de Helsinki ascenderam também os Verdadeiros Finlandeses, com 17,6% dos votos. Por fim, na Noruega, com 16,3% dos votos, o Partido do Progresso chegou pela primeira vez ao governo com posicionamentos políticos igualmente reacionários. A destacada e quase uniforme afirmação desses partidos numa região onde as organizações do movimento operário exercitaram uma indiscutível hegemonia por longos anos foi possível também porque os partidos de extrema direita se apropriaram de batalhas e temáticas que no passado eram caras à esquerda, tanto a socialdemocrata, quanto a comunista. A ascensão da direita adveio não somente fazendo apelo às clássicas campanhas reacionárias, mas também àquelas contra a globalização, a chegada de novos refugiados ou solicitantes de refúgio e o espectro da “islamização” da sociedade. Na base de seu sucesso esteve, sobretudo, a reivindicação de políticas tradicionalmente de esquerda, a favor do Estado Social. Trata-se, entretanto, de um novo tipo de welfare. Não mais universal, inclusivo e solidário, como aquele do passado, mas fundado em um princípio diferente: o acesso a direitos e serviços exclusivamente aos membros da preexistente comunidade nacional. Ao amplo apoio das zonas rurais e de província, despovoadas e com taxa de desemprego recorde, a extrema direita escandinava reuniu, assim, aquele da classe operária que, em grande parte, cedeu à chantagem da “imigração ou Estado Social”.

PERIGO NO LESTE Até mesmo em diversos países do Leste europeu, a extrema direita conseguiu se reorganizar depois do fim dos regimes pro-soviéticos. A União Nacional Ataque na

Bulgária, o Partido Eslovaco Nacional e o Partido Grande Romênia são algumas das forças políticas que conseguiram bons resultados eleitorais e presença no Parlamento. Nessa área da Europa, o caso mais alarmante é o da Hungria. Em seguida à introdução de severas medidas de austeridade aplicadas pelo Partido Socialista húngaro, em acordo com as intimações da Troika, e à grave crise inflacionária derivada, subiu ao poder o Partido Fidesz. Além das medidas para purificar a magistratura e estabelecer o controle da grande mídia, em 2012, o governo húngaro introduziu uma nova constituição com viés fortemente autoritário. Para compor essa realidade já ameaçadora, desde 2010, o Movimento por uma Hungria Melhor (Jobbik) se tornou o terceiro partido do país (com 20,5% dos votos nas eleições de 2014). Mas, diferentemente das forças presentes na Europa ocidental e escandinava, Jobbik representa o clássico exemplo – hoje dominante no Leste – de formações de extrema direita que continuam a se valer do ódio contra as minorias (em particular aquela cigana), o antissemitismo e o anticomunismo como principais instrumentos de propaganda e de ação. Enfim, completam esse panorama as várias organizações neonazistas espalhadas em diversas áreas da Europa. Um exemplo é o Aurora Dourada, que com 9,4% nas eleições europeias de 2014 e 7% nas eleições de setembro de 2015 afirmou-se, em ambos os casos, como a terceira força política da Grécia. Nesses anos, portanto, os partidos de extrema direita nitidamente ampliaram seu apoio em quase todas as partes da Europa. Muitas vezes, conseguiram hegemonizar o debate político e, em alguns casos, a entrar no governo. A crescente expansão da União Europeia deslocou à direita o centro de gravidade político do continente, como testemunharam as rígidas posições extremistas assumidas pelos governos da Europa oriental durante a recente crise na Grécia e diante da chegada de povos em fuga dos palcos de guerra. Trata-se de uma epidemia muito preocupante, para a qual é impossível pensar em uma resposta sem combater o vírus que a gerou: o mantra neoliberal hoje ainda tão em voga em Bruxelas.


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Campinas, 14 a 31 de dezembro de 2015 Fotos: Antonio Scarpinetti

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

Coleção Biblioteca Infantil Melhoramentos, com um total de 100 exemplares, acaba de completar um século em 2015. Idealizada pelo educador campineiro Arnaldo de Oliveira Barreto (1869-1925), ela foi lançada em 1915, tendo como primeiro livro O Patinho Feio, de Hans C. Andersen, que até 1958 havia vendido 135 mil exemplares. O livro A Menina do Narizinho Arrebitado, primeira obra de Monteiro Lobato, foi lançada apenas em 1920. Quando isso aconteceu, a coleção de Barreto já era muito lida. “Não é justo atribuir só a Monteiro Lobato os louros pelo estabelecimento da literatura infantil brasileira”, conclui Maria das Dores Soares Maziero em tese de doutorado, defendida na Faculdade de Educação (FE). “A importância de Lobato é que ele foi um criador. Barreto não, mas continuou com uma tradição de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm. Fez adaptações e foi criador quando convidou o artista gráfico F. Richter para ilustrar as histórias, quando editou livros em formato reduzido, com histórias contadas em poucas páginas, que despertavam o interesse das crianças. Ele também fez a divulgação das obras, deu visibilidade à coleção e levou-a às escolas e às crianças”, destaca ela. Segundo a pesquisadora, graduada em Letras pela PUC-Campinas e que em sua tese foi orientada pela professora da FE Norma Sandra de Almeida Ferreira, há muito ainda para se estudar sobre a literatura infantil brasileira, sob o aspecto da leitura. “Uma pena é que muitas outras obras, a exemplo do que ocorreu com essa coleção, se perderam, o que não significa que elas não existiram. Então o meu trabalho mostra, além do valor da coleção, uma possibilidade de pesquisa, tendo em vista a recuperação de 193 livrinhos de diferentes edições, possível graças ao advento dos sebos virtuais.” O presente estudo abordou a Coleção Biblioteca Infantil Melhoramentos, da Editora Melhoramentos, que em 1915 era Weiszflog Irmãos e que até hoje é a editora que mais publica obras para as crianças no Brasil. Eram livros inovadores na época, por se tratar de volumes pequenos, contrastando com os de tamanho maior, encontrados até então para as crianças. Os volumes, em série, traziam no máximo quatro histórias em cada livro. Do ponto de vista do conteúdo, Barreto não trouxe inovação, porque a coleção que ele idealizou reunia histórias que as crianças já conheciam: O Patinho Feio, Branca de Neve, Cinderela, mas, quanto ao formato, o livro trouxe uma nova proposta. Era quase um livro de bolso, em um tempo em que esse formato não havia se popularizado. Maria das Dores diz que o subtítulo de sua tese brinca com a ideia dos livros serem pequenos e de serem para o público infantil: “Histórias de ternura para mãos pequeninas”. “O tamanho sugere que as crianças podem ler sozinhas, ao contrário dos livros maiores, que pressupõem que um adulto leia para elas.” Uma das sacadas da coleção foram as ilustrações, feitas pelo artista tcheco Franz Richter que, radicado no Brasil, tornou-se Foto: Divulgação

Primeiros passos Maria das Dores Soares Maziero, autora da tese, e alguns dos títulos analisados na pesquisa: recuperação de 193 livros

Francisco Richter, Franta Richter ou apenas F. Richter. Tais ilustrações eram inéditas, visto que na época não havia no mercado livros tão coloridos, exceto os estrangeiros. O Patinho Feio foi o primeiro livro editado a quatro cores no Brasil, por isso quiçá tenha ficado tanto tempo no imaginário dos leitores. A linguagem era simples. Barreto procurou esse resultado, pelas experiências que teve com a educação de crianças. Atuou como professor, inspetor de ensino e diretor da Escola Normal Caetano de Campos, na cidade de São Paulo. Em Campinas, dirigiu o Colégio Culto à Ciência, de 1906 a 1911. “Meu estudo se restringiu à primeira fase (de 1915 até 1925) da coleção, coordenada por Barreto, no esforço de situá-la no panorama da literatura brasileira para a infância e de levantar possíveis contribuições para a formação deste gênero no Brasil”, comenta.

FOCO Ao pesquisar em seu mestrado mitos gregos na literatura para crianças no Brasil, a doutoranda teve a curiosidade de saber qual havia sido a primeira publicação para crianças nesse universo. Encontrou O Velocino de Ouro, no Centro Mário Covas, em São Paulo, que conta a história de Jasão em busca da pele de ouro de um carneiro, que tinha propriedades mágicas. Tempos depois, em buscas feitas na Estante Virtual, encontrou uma primeira edição de O Velocino de Ouro, de 1915, juntamente com outros três títulos da coleção. Foi o que faltava para instigá-la a querer saber mais. Verificou haver uma lista de títulos publicados. Começou a colecionar a série. Achou curioso que, ao pesquisar os livros que falavam da literatura infantil no país, não achava informações pormenorizadas sobre a coleção que tinha despertado sua atenção. Só havia descrição de que ela tinha sido lançada em 1915 e terminado em 1958, e que seu idealizador era Barreto. Apenas uma das obras pesquisadas se referia nominalmente aos 28 títulos da primeira fase. Contudo, não apareciam minúcias sobre o conteúdo das histórias. Foram quatro anos para a pesquisadora reunir a coleção completa, obtida em sebos. Nesta saga, encontrou várias edições dos mesmos títulos.

AVALIAÇÃO

O educador campineiro Arnaldo de Oliveira Barreto, idealizador da coleção da Melhoramentos: pioneirismo

Maria das Dores avaliou sobretudo a materialidade dos livros (o projeto gráfico). Observou a capa, as ilustrações, o modo como se trabalhava com a linguagem e com o conteúdo: o tipo de histórias que o editor escolheu e se elas já tinham aparecido em outras obras. O tipo de história escolhido por Barreto foram os contos de fada, adaptados de Andersen, dos Irmãos Grimm e de Perrault. Ele também adaptou livros mais extensos, como Memórias de um Burro, da Condessa de Ségur, com 316 páginas, condensadas em apenas 71.

Ela também mapeou as transformações das obras. “Os livros da primeira fase eram de capa dura, bege e com o desenho de uma avozinha contando histórias às crianças, elemento identificador da coleção. Na fase final, a capa era azul e de papelão, com uma ilustração que aparecia no interior da obra.” Enquanto a primeira fase chamava para uma unidade maior, a oralidade (a avó estava contando histórias para as crianças), a segunda (sob a coordenação de Lourenço Filho, que prosseguiu com a série depois de 1925) chamava para o mundo da leitura. Para saber a que se referia aquela ilustração, a criança teria que ler o livro. As duas fases tinham traços bem distintos. Lourenço Filho promoveu mudanças na linguagem, encurtou histórias, tirou expressões que traziam medo às crianças, remodelou a coleção. “Mas eu me centrei nos livros da primeira fase, que foram publicados do modo como Barreto tinha planejado”, ressalta. Foi ele o idealizador da coleção, o responsável pela adaptação dos textos, o editor e, como tinha trabalhado em jornais de Campinas (foi até proprietário de O Correio de Campinas, juntamente com Alberto Sarmento e Basílio de Magalhães), fez também a revisão e as correções das provas tipográficas. Os dois editores se destacaram muito no cenário da literatura nacional. Porém, do ponto de vista da educação, Lourenço Filho foi o mais renomado, afirma. Integrou a Escola Nova e não se sobressaiu só no campo das obras infantis. Publicou uma biblioteca pedagógica e tinha influência muito forte na Editora Melhoramentos. Já Barreto vinha da geração dos pioneiros ligados à Escola Normal Caetano de Campos. Teve importante atuação na fundação dos grupos escolares e na reforma do ensino primário do Estado de São Paulo, entretanto morreu cedo, aos 46 anos.

GARIMPO A coleção deixou de ser publicada em 1958. “Reunir todos os exemplares foi uma tarefa difícil. Acredito que não exista um conjunto de tantas edições da coleção nem em bibliotecas públicas como a Monteiro Lobato, em São Paulo, onde há muitas obras infantis antigas. Meu faro de pesquisadora e a persistência de procurar diariamente os títulos nos sebos virtuais ajudaram a alcançar este resultado”, relata. A doutoranda fez contato com livreiros de vários Estados brasileiros e recebeu muitos livros do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. “Os de capa azul, que ainda faltavam, consegui em um sebo de Belo Horizonte, que os havia comprado de uma professora aposentada. Já os de capa dura são os mais raros e difíceis de encontrar, tanto que não tenho todos os títulos publicados na primeira fase apenas com esse tipo de capa.” Ao abordar o valor desses livros, Maria das Dores sublinha que a Biblioteca Infantil Melhoramentos foi muito relevante para

a formação da literatura infantil brasileira. Ela considera que o fato de os livros serem seriados acabou motivando o gosto pela leitura. Como na contracapa já vinham os números publicados, a criança fazia a coleção sabendo quais seriam os próximos títulos. Muitos desses livros comprados dos sebos traziam dedicatórias que, avaliadas por Maria das Dores, puderam indicar o público dessas obras. Eram crianças com idade entre seis e 13 anos. Elas indicavam que os livros eram presenteados principalmente por mães, pais, professoras. Em vários deles, a pesquisadora encontrou dedicatórias das professoras a alunos, dizendo que o presente era pelo desempenho, dedicação e assiduidade. Maria das Dores deduziu que esses livros circularam tanto na família quanto na escola. Viu, inclusive, dedicatórias bastante sugestivas, como uma em que quem deu o livrinho de presente assinava como Papai Noel, sendo a obra endereçada para um amiguinho. Ela revela que, por uma coincidência, obteve vários livros que pertenceram a um mesmo leitor. Recorda o caso de uma garota, da década de 1930, que escrevia com letra floreada, na página de rosto: “Este livro pertence à menina Olga Badini”. Tinha também um garoto, o Caíto, da década de 1940. A madrinha deu a ele alguns livros da Biblioteca Infantil Melhoramentos. Na dedicatória, algumas páginas estavam coladas. “Aí, como era com caneta tinteiro, fui até o espelho e consegui ler. Recomendava que Caíto lesse sempre, pois a leitura enobrecia. Acho que ele não queria ler aquilo e colou. Ficou só com uma parte da dedicatória: ‘ao Caíto, no seu aniversário, um presente da madrinha’”. Para Maria das Dores, as dedicatórias foram muito esclarecedoras. Alguns livros pertenceram a bibliotecas, vindo acompanhados por carimbos e regulamentos. Outros, foram de crianças que os ganharam em ocasiões especiais. Muitas colavam nas páginas iniciais cromos, decalques e registravam o nome com seu próprio carimbo. “Esses livros fizeram um percurso que mostrou que eles circularam por vários espaços e foram muito destacados na época. Mas, por serem livros menores, e não tão caros, eles talvez não tenham tido a merecida valorização”, reflete.

Publicação Tese: “Arnaldo Barreto e a Biblioteca Infantil Melhoramentos (19151925): histórias de ternura para mãos pequeninas” Autora: Maria das Dores Soares Maziero Orientadora: Norma Sandra de Almeida Unidade: Faculdade de Educação (FE)


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