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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015 - ANO XXIX - Nº 645 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti

Números que traduzem a realidade 4a9

Cinco pesquisas desenvolvidas na Unicamp, todas fundamentadas em números e/ou estatísticas, projetam cenários sobre a nossa realidade.

Tese investiga qualidade de vida da dona de casa Mapeamento retrata a juventude de São Paulo Os componentes históricos da desigualdade social Estudo questiona conceito de país de classe média O papel secundário da policial nas fileiras da PM

Operários trabalham em obra na cidade de São Luís, capital maranhense: dados mostram que o Nordeste foi a região que registrou a maior redução no número de miseráveis

Lua de Marte vai dar anel ao planeta

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O controle de conflitos nas redes de P&D

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Homeopáticos podem ser vetados na Inglaterra

Ensaio no cinema é tema de livro

Floresta fossilizada é descoberta na Noruega

TELESCÓPIO

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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

E depois de Paris?

Generosidade e desigualdade

Estrela tempestuosa

Floresta tropical fossilizada no Norte

Em artigo de opinião publicado na revista Nature, os especialistas em política internacional e meio ambiente David G. Victor e James P. Leape advertem que as negociações em Paris sobre a mudança climática, no início de dezembro, terão de ser seguidas por mecanismos de monitoramento e pressão para que empresas e países sejam compelidos a cumprir os compromissos que assumirem. “Manter as empresas envolvidas será o principal desafio”, escrevem os autores. “É fácil para as companhias assumir compromissos quando a mídia global e as lideranças políticas estão olhando. É mais difícil implementar mudanças quando a concorrência acirrada torna arriscado investir em tecnologias e práticas menos poluentes, mas mais caras”. O artigo também menciona a necessidade de se criar um mecanismo para avaliar os avanços nacionais, e de se estabelecer um sistema de punição caso países voltem atrás em suas promessas. Os autores citam o Brasil como exemplo positivo de conciliação entre queda de desmatamento e aumento da produção agrícola, no período entre 2005 e 2013.

Pessoas ricas são menos generosas em sociedades onde a desigualdade econômica é mais acentuada, sugere levantamento realizado nos Estados Unidos e publicado no periódico PNAS. Os autores, das universidades de Toronto e Stanford, analisaram os resultados de uma pesquisa realizada com mais de mil americanos, e que incluía a opção de se fazer uma doação real, e ainda um segundo estudo com mais de 700 voluntários e que também permitia doações. Os resultados indicam, segundo os autores, que pessoas mais ricas são, em média, menos generosas que as demais apenas em situações de desigualdade exacerbada ou de percepção exacerbada de desigualdade. “Isso desafia a visão de que os indivíduos de renda elevada são necessariamente mais egoístas”, diz o artigo, “e sugere um modo, até então não documentado, pelo qual a distribuição desigual de recursos prejudica o bem-estar coletivo”.

Pesquisadores do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics anunciam a descoberta de uma estrela anã vermelha – muito menor e mais fria que o Sol – extremamente ativa, produzindo tempestades magnéticas e labaredas de plasma com uma frequência até então inesperada para esse tipo de astro. Uma labareda emitida por essa estrela atingiu brilho 10 mil vezes maior que uma emissão típica do Sol. O astro, a 35 anos-luz de nós, completa uma rotação em torno de si mesmo a cada quatro horas. O Sol leva quase um mês para girar em torno de seu eixo. Os autores da descoberta, que será publicada no periódico The Astrophysical Journal, acreditam que essa estrela pode ter implicações para a busca de vida fora da Terra: estrelas anãs vermelhas são as mais comuns do Universo, e se a maioria delas seguir o padrão descrito, de intensa atividade magnética, será improvável que tenham planetas habitáveis em seus sistemas.

Florestas tropicais fossilizadas, onde os tocos das árvores ainda se encontram preservados no lugar, foram descobertas por pesquisadores britânicos no arquipélago de Svalbard, território norueguês no Oceano Ártico. Datadas do Período Devoniano (cerca de 380 milhões de anos atrás) essas florestas cresceram originalmente na região do equador, antes que a deriva dos continentes levasse Svalbard para sua posição atual, num deslocamento de cerca de 80º para o norte. Os autores do artigo que descreve a descoberta, publicado no periódico Geology, acreditam que o crescimento de florestas como estas pode ter sido a causa da queda abrupta na concentração de CO2 na atmosfera terrestre, registrada no Devoniano, quando começaram a surgir as primeiras grandes árvores na Terra. O carbono teria sido retirado do ar pela fotossíntese que permitiu o crescimento das plantas de grande porte. As florestas primordiais eram extremamente densas, com intervalos médios de 20 centímetros entre as árvores.

Homeopatia em debate

Evolução em ação

O Departamento de Saúde da Inglaterra anunciou, em meados de novembro, o início de um processo de consultas que pode levar à inclusão dos medicamentos homeopáticos numa lista de remédios vetados no sistema público, chamada ‘Agenda 1” do NHS (o sistema inglês de saúde pública, análogo ao SUS brasileiro). Essa lista relaciona os medicamentos que os clínicos gerais vinculados ao NHS estão impedidos de receitar, por serem considerados ineficazes ou por existirem drogas equivalentes com preço menor. A inclusão de um medicamento na “Agenda 1” impede que ele seja adquirido com verbas públicas. As consultas têm início após pressão exercida pela ONG Good Thinking Society, fundada pelo jornalista de ciência Simon Singh, e da publicação, em 2010, de um relatório da comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Baixa do Parlamento Britânico que considerou a homeopatia ineficaz e indigna de financiamento público.

Análise do DNA de 230 seres humanos que viveram na Eurásia Ocidental entre 8.500 e 2.300 anos atrás revela processos de seleção natural sobre partes do genoma ligadas à cor da pele, dieta, sistema imunológico e estatura, diz artigo publicado na revista Nature. O sinal mais forte de seleção, escrevem os autores, envolve a parte do genoma responsável pela tolerância a lactose – a capacidade de continuar digerindo leite na idade adulta. Essa característica só teria se tornado frequente na Europa cerca de 4.000 anos atrás. O segundo sinal mais forte trata da disseminação de um gene para pele clara, praticamente fixado nas populações europeias atuais, mas muito mais raro em tempos antigos. Ao todo, foram encontrados 12 trechos do genoma que parecem ter sofrido pressão seletiva no período estudado, durante a adaptação das populações à prática da agricultura em climas mais frios e altitudes elevadas.

Imagem microscópica de órgãos Uma nova técnica para a produção de imagens do fluxo sanguíneo em vasos microscópicos no interior de órgãos é descrita na revista Nature. Baseada no uso de ultrassom, a ferramenta promete ultrapassar os limites atuais de resolução e penetração dessa tecnologia. O artigo na Nature descreve o uso do novo processo no cérebro de um rato vivo. Os autores rastrearam o deslocamento de minúsculas bolhas de gás, com diâmetro máximo de 3 micrômetros, injetadas na corrente sanguínea dos animais. Essas bolhas já foram aprovadas para uso clínico, segundo nota divulgada pelo periódico. O artigo informa a produção de imagens a uma taxa de 500 quadros por segundo, com pixels do tamanho de células do sangue e a uma profundidade de 10 milímetros abaixo da superfície do tecido. Os autores, da França e do Reino Unido, referem-se à nova técnica como “microscopia de localização ultrarrápida por ultrassom”.

Floresta tropical ameaçada no Sul De 36% a 57% das espécies de árvores da Floresta Amazônica podem ser consideradas ameaçadas de extinção, diz artigo publicado no periódico Science Advances, do mesmo grupo responsável pela revista Science. A pesquisa, que teve participação de dezenas de cientistas de diversos países, inclusive de universidades federais brasileiras e da Unicamp, envolveu trabalho de campo, com medição do diâmetro das árvores e coleta de amostras, e modelos de computador. Do modelo emergiram dois cenários. Um, pressupondo a continuidade das tendências atuais, prevê a destruição de cerca de 40% da floresta Amazônica até 2050. Outro, supondo forte intervenção governamental, antecipa uma destruição de 21%. No primeiro cenário, mais de 8 mil espécies de árvores estarão ameaçadas; no segundo, mais de 5 mil.

Foto: ESPCI/INSERM/CNRS

‘Dance seu doutorado’ premia estudo sobre água O prêmio “Dance seu Doutorado”, concedido anualmente pela Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) e pela revista Science para o pesquisador que melhor explicar sua tese de doutorado num vídeo de dança, foi vencido pela cientista social Florence Metz, da Universidade de Berna, na Suíça. Segundo a Science, esta é a primeira vez, nos oito anos de existência do prêmio, que ele é conquistado por um representante das Ciências Sociais. A tese de Metz trata da necessidade de conciliar interesses diversos na elaboração de políticas de conservação de água. “Elaborar boas políticas é como criar um bom espetáculo de dança”, diz o vídeo ganhador. “É um compromisso entre o que é possível e o que seria melhor”. O número de Metz pode ser assistido no YouTube, em: https://youtu.be/iRUDC1PiPAo.

Fobos dará anel a Marte Fobos, a maior das luas de Marte, tem uma órbita que a leva a se aproximar cada vez mais da superfície do planeta. Astrônomos preveem que, dentro de alguns milhões de anos, ela deverá se desintegrar no espaço, por causa das forças de maré cada vez maiores, ou colidir com Marte. Em artigo publicado no periódico Nature Geoscience, dois pesquisadores dos Estados Unidos calculam que a parte menos sólida da lua – composta por material fraco e pulverizado – será dispersada pelas forças de maré dentro de até 40 milhões de anos, dando a Marte um anel que perdurará por até 100 milhões de anos e terá densidade comparável aos anéis de Saturno. Já o núcleo consolidado de Fobos colidirá com o planeta. Sistema vascular do cérebro de um rato, visualizado em nível microscópico

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015

O sucesso está no relacionamento Pesquisa aponta que êxito das Redes de P&D depende mais da capacidade de gerenciar conflitos que da competência técnica dos participantes MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

sucesso dos projetos colaborativos no âmbito da inovação depende mais da capacidade dos envolvidos (empresas e instituições públicas e privadas) de gerenciar problemas que da competência técnica para gerar novos produtos e processos. A conclusão faz parte da pesquisa de pós-doutorado do pesquisador Bruno Brandão Fischer, desenvolvida junto ao Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. “As questões tecnológicas são necessárias, mas insuficientes para o êxito das redes de pesquisa e desenvolvimento”, afirma o autor do trabalho. A pesquisa realizada por Fischer contemplou Redes de P&D europeias, mais especificamente da Espanha, França, Alemanha, Itália e Reino Unido. Estas, de acordo com ele, são constituídas tanto por empresas quanto por diferentes instituições, com o objetivo de impulsionar a inovação. “Trata-se de um movimento que vem ganhando força expressiva desde a década de 1980. Ao contrário do que se imagina intuitivamente, essas empresas e instituições ‘abrem’ frequentemente sua base de conhecimento para interagir umas com as outras, com a finalidade de gerar conhecimento e inovação. Ainda que isto represente certo nível de risco, é uma abordagem estratégica importante para expandir as capacidades dos participantes”, explica. A experiência tem sido tão profícua, entende o pesquisador, que não é raro que algumas redes abriguem empresas concorrentes. Um exemplo citado por ele foi a

criação, por parte das indústrias automobilísticas, de uma plataforma de software compartilhado, com a finalidade de desenvolver novos protótipos de automóveis. Participam da experiência empresas como a Daimler, Volvo, Volkswagen, Nissan-Renault, Fiat e GM. “Embora cada empresa se coloque numa situação de grande exposição diante de suas concorrentes, ganhos importantes podem surgir dessa colaboração, desde que o relacionamento entre os participantes seja gerenciado de forma eficiente”, pondera. E é justamente a questão do relacionamento entre os membros de uma Rede de P&D que tem se revelado o ponto mais nevrálgico para o êxito desse modelo de desenvolvimento do conhecimento e da inovação, segundo o autor da pesquisa. Conforme Fischer, as relações entre empresas e organizações não estão livres de fricções. Esses atritos definem, em boa medida, como se dará a interação entre as partes envolvidas. “Assim, é indispensável que, diante da impossibilidade de evitar problemas dessa ordem, os parceiros estejam preparados para lidar com eles”, pontua. Os tipos mais comuns de ruído no relacionamento entre os integrantes de uma Rede de P&D, aponta a pesquisa, são a desistência de um dos parceiros durante a realização do projeto, as dificuldades de comunicação por causa das diferenças de idiomas e culturas e as divergências de ordem gerencial. “As principais questões levantadas pelo estudo indicam que a capacidade de gestão de problemas ocorridos durante a realização de um projeto de P&D em rede é um fator fundamental para o alcance dos objetivos tecnológicos e comerciais das empresas. Mais que isso, os resultados demonstram que esta capacida-

de gerencial é mais relevante que a própria capacidade técnica de geração de novos produtos e processos em uma estrutura de rede”, atesta o autor do trabalho. A pesquisa identificou, ainda, que o papel de intermediador de conflitos desempenhado pelo Programa Eureka, iniciativa que busca fomentar a inovação e a integração entre empresas, universidades e institutos de pesquisas no contexto europeu, é de extrema importância para a qualidade gerencial das redes de P&D. “Outro aspecto de interesse central diz respeito aos problemas ocasionados pela imprevisibilidade de comportamento dos membros de uma rede de P&D. Neste caso, quando ocorrem mudanças nos objetivos ou interesses de uma determinada parte, os resultados obtidos pelos parceiros podem ser negativamente afetados. Essa fonte de conflito tende a ser mais significativa que as barreiras culturais e de idioma e das eventuais instabilidades causadas por divergências de interesses no campo concorrencial”, informa o pesquisador. Fischer observa que não existe uma receita pronta para evitar os conflitos, dado que não é possível prever quais deles surgirão e em que fase do projeto ocorrerão. “O que se pode concluir, com bom grau de precisão, é que estes problemas são inevitáveis. Inevitáveis, mas solucionáveis. A conclusão por trás disso é que as empresas devem dedicar recursos financeiros e humanos para monitorar e gerenciar eventuais conflitos advindos dos processos interativos envolvidos em redes de P&D com objetivo de gerar inovações”, reforça. O fomento às atividades de P&D em redes, segundo Fischer, é uma estratégia de suma importância para o desenvolvimento das capacidades de inovação das em-

presas, setores e países. “É uma forma de fazer com que o conhecimento flua através de diferentes organizações e possa gerar ganhos conjuntos. A União Europeia adota uma série de medidas para apoiar essa forma de cooperação. Infelizmente, o marco institucional no Brasil quanto a este tipo de projeto ainda é muito carente de propostas concretas e de recursos financeiros, tanto no âmbito público quanto no privado”, diz. A metodologia aplicada na pesquisa, de acordo com o seu autor, envolveu principalmente a aplicação de modelos de regressão ordinal. Em outros termos, foram utilizadas equações que permitem entender os efeitos de um determinado grupo de indicadores sobre alguns quesitos de interesse. No caso em questão, o foco foi direcionado principalmente para o entendimento sobre quais são os fatores que afetam o desempenho tecnológico e comercial de redes internacionais de P&D. As fontes dos dados foram questionários de pesquisa aplicados e coletados pelo Programa Eureka junto a empresas que participaram de redes internacionais de P&D no ambiente europeu. Para desenvolver a pesquisa, Fischer contou com apoio financeiro do Centro de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial, vinculado ao Ministério de Economia e Competitividade do Governo Espanhol; da Agência Espanhola Extenda e do Fórum Europeu para Estudos em Políticas de Pesquisa e Inovação. Atualmente, ele atua como pesquisador em estágio de pós-doutorado no DPCT-IG, em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que analisa o empreendedorismo de alto conteúdo tecnológico. Foto: Antonio Scarpinetti

O pesquisador Bruno Fischer, autor do estudo: “O que se pode concluir, com um bom grau de precisão, é que problemas são inevitáveis, mas solucionáveis. A conclusão por trás disso é que as empresas devem dedicar recursos financeiros e humanos para monitorar e gerenciar eventuais conflitos advindos dos processos interativos envolvidos em redes de P&D”


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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015

Mulher remunerada apresenta vida mais saudável, aponta investigação Foto: Antonio Scarpinetti

Estudo conclui que trabalho doméstico está associado a transtornos mentais ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

inquenta e cinco por cento das brasileiras com 16 anos ou mais são economicamente ativas e acumulam tarefas por causa das demandas profissionais e do cuidado com a família e o domicílio. Já 30% das mulheres são consideradas economicamente inativas, estando nesse segmento as donas de casa, apesar da sua rotina de afazeres domésticos que chega a 34 horas de trabalho semanais. Estudo de doutorado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) realizado no município de Campinas apontou que, mesmo trabalhando fora e acumulando atividades profissionais e domésticas, ainda assim as trabalhadoras remuneradas apresentaram melhor saúde mental e bem-estar do que as donas de casa. A investigação mostrou que ser dona de casa está associada a uma maior prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) e a uma pior qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). “A ausência de trabalho remunerado associou-se aos piores indicadores de saúde mental”, concluiu Caroline Senicato, autora da pesquisa. Entre as mulheres de alto nível socioeconômico (com melhor escolaridade e maior renda familiar per capita), ter um trabalho remunerado ou ser dona de casa não afetou a qualidade de vida. As que tinham nível socioeconômico intermediário e baixo, entre as quais as donas de casa, apresentaram pior qualidade de vida relacionada à saúde, sobretudo quanto a aspectos ligados à saúde mental. Essa pesquisa foi feita no Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS), que fica no Departamento de Saúde Coletiva da FCM, o qual monitora as condições de saúde da população e analisa dados de mortalidade para o município.

HISTÓRIA

O crescimento das mulheres no mercado de trabalho e a escassez de dados brasileiros sobre as condições de saúde das donas de casa aguçaram o interesse de Caroline. Cerca de 90% delas têm uma jornada de trabalho de 34 horas semanais, muito próxima da jornada das trabalhadoras remuneradas, mas sem receber nada. Há 50 anos, os efeitos do trabalho na saúde da mulher eram pouco estudados. As pesquisas se voltavam ao trabalho masculino na indústria. Também a visão da saúde das mulheres em geral se atinha aos aspectos reprodutivos. Quando muito se avançava na saúde ocupacional nos aspectos dos efeitos nocivos do trabalho sobre a reprodução e o concepto. Entre 1970 e 1980, vieram os primeiros estudos internacionais sobre o efeito do trabalho remunerado na saúde da mulher, que

segmentos de intermediário e baixo nível socioeconômico, as donas de casa apresentaram pior QVRS do que as trabalhadoras remuneradas, mas não houve diferenças no alto estrato socioeconômico. “É plausível que, nos segmentos com piores condições socioeconômicas, as donas de casa tenham poucas perspectivas de desenvolvimento e satisfação pessoal, e isso se reflita desfavoravelmente na saúde e bem-estar dessas mulheres”, esclareceu a doutoranda. Já no terceiro objetivo, a autora aprofundou sua análise sobre os fatores associados à saúde mental feminina. O instrumento SRQ-20, da Organização Mundial da Saúde, faz o rastreamento de casos suspeitos de TMC em países em desenvolvimento. Caracterizam-se como TMC sintomas depressivos, estado de ansiedade, irritabilidade, insônia, fadiga, dificuldade de memória e concentração e queixas somáticas. Caroline verificou que os TMC, além de serem mais prevalentes nas donas de casa, também foram mais frequentes nas mulheres sem companheiro, com muitos filhos, com comportamentos alimentares inadequados, que dormem pouco, com doenças crônicas e que sofreram algum tipo de violência.

POLÍTICAS

Trabalhadora em saída de fábrica em Campinas

atingiram o auge nas décadas de 1980 e de 1990. Mas não permitiam generalizações diante da especificidade da realidade cultural e da condição feminina de cada país. As diferenças de gênero, por exemplo, interferem no modo de encarar o emprego feminino e as atividades da dona de casa. Em alguns países, o trabalho feminino fora de casa é pouco aceito e, em outros, é apoiado. Daí o valor de estudos nacionais e locais para ampliar o conhecimento sobre as diferenças na situação de saúde das mulheres, segundo inserção ou não no mercado de trabalho, e gerar subsídios à elaboração e implementação de políticas públicas. As principais estratégias do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres do triênio 2013-2015 incluem a eliminação das desigualdades de gênero e sociais no trabalho, além de buscar propiciar uma saúde integral das mulheres centrada nos direitos sexuais e reprodutivos, e o enfrentamento de todas as formas de violência. Buscam-se a igualdade entre homens e mulheres no trabalho, e a autonomia econômica feminina.

INSTRUMENTOS

Os dados do Inquérito de Saúde de Campinas (ISACamp), coordenado pela professora da FCM Marilisa Berti de Azevedo Barros, orientadora da tese, permitiram descrever o perfil de saúde e explorar os comportamentos e a qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadoras remuneradas e donas de casa. Foram utilizados dados de 2008 e 2009. Três mil entrevistas domiciliares foram feitas com adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (mais de 60 anos). A tese ficou focada em 668 mulheres com 18 a 64 anos que compunham os segmentos de trabalhadoras remuneradas e de donas de casa. As desempregadas, aposentadas e estudantes não foram incluídas no presente estudo. Foto: Divulgação

Caroline Senicato, autora da pesquisa: “A ausência de trabalho remunerado associou-se aos piores indicadores de saúde mental”

Os dados do ISACamp foram coletados mediante questionário composto de vários instrumentos internacionais traduzidos e validados no Brasil, como o Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), que avalia os casos suspeitos de TMC; o The Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form – SF-36 (SF-36), que avalia a QVRS; o Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT), que verifica o uso abusivo de álcool; e o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), que avalia a atividade física no lazer, deslocamento, trabalho e atividades domésticas. Todos esses instrumentos foram empregados no estudo.

RESULTADOS

A autora observou dois segmentos de mulheres socialmente distintos. As donas de casa eram mais velhas, tinham menor escolaridade, mais filhos, a maioria tinha companheiro e menor renda familiar per capita em relação às trabalhadoras remuneradas. Caroline dividiu o estudo em três objetivos. No primeiro, analisou a associação de uma série de doenças crônicas (hipertensão, diabetes, doenças do coração, entre outras), problemas de saúde (dor de cabeça e nas costas, alergia, problema emocional, tontura), presença de TMC, relato de acidentes, violência e avaliação que a mulher fazia da própria saúde com a situação da mulher de ser trabalhadora remunerada ou ser dona de casa. Ao examinar os comportamentos, a autora avaliou a frequência do consumo e o uso abusivo de álcool, tabagismo, dieta alimentar, atividade física no lazer e nas atividades domésticas, e duração diária do sono. As donas de casa mostraram maiores prevalências de problemas emocionais referidos e de TMC, mas não houve diferenças entre trabalhadoras remuneradas e donas de casa em relação às condições de saúde física, exceto menor prevalência de asma, bronquite e enfisema nas donas de casa. Também não foram verificadas diferenças nos comportamentos relacionados à saúde. Para atender ao segundo objetivo, a pesquisadora avaliou o bem-estar de trabalhadoras remuneradas e de donas de casa por meio do instrumento SF-36, que avalia QVRS, mensurando o impacto das condições de saúde/doença sobre a funcionalidade do organismo, o bem-estar físico e mental, e o desempenho em atividades sociais. Nesse instrumento, o componente físico compreendeu as escalas de capacidade funcional, aspectos físicos e dor, e o componente mental compreendeu as escalas de aspectos sociais, emocionais e saúde mental. As escalas de vitalidade e de saúde geral fizeram parte dos dois componentes. Conforme a pesquisadora, ser dona de casa associou-se com a pior QVRS sobretudo nos aspectos mentais, mas esta associação é modificada pelo nível socioeconômico. Nos

O trabalho de Caroline converge para quatro eixos centrais que podem contribuir para um melhor nível de saúde das mulheres e podem ser trabalhados pelas políticas públicas: ações que favoreçam o aumento da inserção feminina no mercado de trabalho; acesso à escolarização; valorização do trabalho doméstico; e atenção à saúde mental feminina. Ela ressalta o valor das políticas sociais no acesso à educação e à inserção da mulher no mercado de trabalho. “Para diminuir as desigualdades em saúde, deve-se investir em educação e criar meios que permitam que as mulheres trabalhem, como a implantação de creches para as crianças, mas sem desvalorizar o trabalho doméstico.” O tempo gasto com os afazeres domésticos pelas donas de casa é próximo à jornada de trabalho remunerado, mas suas conquistas em termos previdenciários são incipientes e recentes. Elas precisam ter um tempo mínimo de contribuição para se aposentar e ter direito ao auxílio-doença, por exemplo, e muitas desconhecem até este direito”, enfatizou Caroline. A autora do estudo acentua que, dentro das ações de saúde, o papel da equipe de saúde na detecção e abordagem de quadros de comprometimento da saúde mental das donas de casa é importantíssimo, por isso é necessário capacitação e apoio às equipes, já que elas são a porta de entrada dessas mulheres no sistema de saúde.

INQUÉRITO POPULACIONAL

O ISACamp é um inquérito domiciliar de base populacional que investiga várias dimensões da saúde da população de Campinas. Ele também possibilita a incorporação de novos indicadores para a vigilância da situação de saúde da população e de segmentos demográficos e sociais do município. Recentemente, foi encerrada a atividade de campo do ISACamp 2014/15, o terceiro ISACamp do município, sendo que um outro projeto, o ISACamp-Nutri 2014/2015, está ainda em campo abordando questões sobre o consumo alimentar, estado nutricional e hábitos alimentares. O segundo desdobramento do ISACamp 2104/15 é o projeto ISACampSono 2015, que analisará os aspectos relacionados à duração, qualidade e distúrbios do sono da população de Campinas.

Publicação Tese: “Saúde e trabalho em mulheres adultas: estudo de base populacional no município de Campinas, São Paulo” Autora: Caroline Senicato Orientadora: Marilisa Berti de Azevedo Barros Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Fapesp


Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015

Trabalho elaborado pelo IE e Nepo identifica áreas mais vulneráveis CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

pedido da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (SDHC) da Prefeitura de São Paulo, a Unicamp produziu um “mapa da juventude” da capital paulista, apontando os perfis e as principais carências da população de 15 a 29 anos pelos distritos e subprefeituras da cidade. O trabalho foi conduzido pelo Instituto de Economia (IE) e pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo), sob coordenação dos pesquisadores Marcelo Weishaupt Proni, então diretor associado do IE, e Estela María García de Pinto da Cunha, na época coordenadora do Nepo. “Uma excelente contribuição deste projeto foi ter disponibilizado as informações de forma georreferenciada”, disse Cunha. “Porque o mapa permite ao gestor observar cada um dos indicadores e identificar áreas de maior ou menor vulnerabilidade num aspecto específico. É uma visualização rápida muito valiosa para subsidiar o seu trabalho. Acredito que isso seja uma excelente contribuição do projeto para a secretaria”, disse. “O que motivou a pesquisa foi a necessidade de reunir informações, montar bancos de dados, para subsidiar as políticas públicas em várias áreas, mas com foco nas questões que afetam diretamente os jovens”, acrescentou Proni. “São 96 distritos no município de São Paulo”, lembrou o pesquisador. “A prefeitura quis contar com uma base de dados ampla, que permitisse ver tendências, porque a ideia era perceber os movimentos mais gerais: quais são os distritos em que cresce mais a população jovem, onde houve melhorias mais expressivas do ponto de vista do emprego, da saúde... Com essa finalidade foram definidos oito eixos temáticos”. O mapa congrega dados de perfil sociodemográfico, habitação, educação, trabalho, saúde, violência, proteção social, cultura e cidadania digital dos jovens, extraídos de fontes secundárias, como o censo demográfico do IBGE. “A ideia da Coordenação da Juventude era primeiro montar esse mapa com base nos dados disponíveis”, disse ele. Esses dados permitiram a construção de uma série histórica para os indicadores, indo de 2000 até, em alguns casos, 2013. E essa série poderá ser atualizada de forma permanente. “Entregamos à secretaria uma proposta de metodologia e um banco de dados”, disse Cunha. “Tendo essa metodologia e o banco, organizado em planilhas, é possível incorporar dados novos e atualizar os indicadores. Ou seja, a secretaria já tem independência técnica para fazer a atualização permanente do mapa”. “Jovens”, na definição usada para a elaboração do mapa, são as pessoas de 15 a 29 anos, subdivididas em três faixas etárias: de 15 a 19, 20 a 24 e 25 a 29. “Na bibliografia internacional e nas estatísticas divulgadas pelas Nações Unidas, a faixa etária da juventude geralmente compreende pessoas entre 15 e 24 anos”, disse Proni. “No Brasil, as políticas públicas do governo federal ampliaram essa faixa, então a gente tem as políticas para jovens alcançando de 15 a 29 anos”. Nesse intervalo mais amplo, explicou ele, é importante a distinção entre grupos etários. “É diferente a situação de um jovem de 25 anos que já é pai de família, e outro de 15 que mora com os pais”.

RESULTADOS

O mapa da juventude mostra um crescimento da população jovem em alguns distritos e diminuição em outros; e uma melhoria nas condições de vida dos jovens paulistanos desde 2000. “Na zona sul e na zona leste há uma maior porcentagem de jovens com diferentes carências”, disse Proni. “E há uma sobreposição de carências: os mais vulneráveis são aqueles que residem em moradias precárias, têm renda familiar per capita baixa, chance menor de completar o ensino médio, inserção informal no mercado de trabalho...”. Em geral, os distritos da área central do município apresentam os melhores indicadores, mas as melhorias são mais perceptíveis na periferia da cidade. “Na zona leste reside uma população enorme, mas durante muito tempo o cres-

5 Foto: Antonio Scarpinetti

Mapeamento traça perfil da juventude paulistana

Jovens participam de passeio ciclístico em São Paulo

cimento da cidade foi desordenado, as políticas públicas não alcançavam aquelas pessoas. Em 2015, fomos fazer o lançamento do mapa, junto com outros produtos da Secretaria, na Cidade Tiradentes, que é lá no extremo da zona leste. Dá para perceber uma mudança visível: para quem conheceu o que era Cidade Tiradentes dez anos atrás e o que é hoje, é nítido que melhorou bastante, houve uma urbanização, agora existem escolas equipadas, postos de saúde, programas sociais. Mas, em comparação com outros distritos da cidade, continua com uma série de carências comparativas”, relatou o ex-diretor associado do IE. Ao mesmo tempo em que o mapa permite ver a mudança que houve desde 2000, disse Proni, mostrando que os indicadores melhoraram em vários aspectos, também revela que os contrastes permanecem muito grandes. “As desigualdades dentro da cidade continuam, embora possam ter diminuído em vários aspectos. A redução das desigualdades depende da combinação de crescimento econômico com políticas sociais universais e programas de redistribuição de renda. É importante que a geração de empregos seja acompanhada de uma oferta ampla de bens e serviços públicos, contribuindo assim para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Mas, isso não basta. É preciso manter políticas focalizadas nos grupos mais vulneráveis, nas carências mais graves”. Nos indicadores mais básicos, a melhora foi maior entre aqueles que tinham condições piores. “Os jovens, até o começo da década passada, até 2003, mais ou menos, sofriam muito com o desemprego. Isso mudou com a possibilidade do jovem continuar estudando e ter um emprego formal, mesmo que fosse para ganhar um salário mínimo. Isso melhorou muito a condição de vida de jovens de baixa renda”. “Agora, sobre essa crise econômica atual, o mapa também pode ser útil. A crise afeta mais as populações vulneráveis socialmente, então é importante ter um mapa para saber onde essas populações estão. É nesses momentos que os jovens mais precisam de políticas focalizadas, de uma rede de proteção social”, ponderou.

MÉDIAS E DADOS

Tanto Proni quanto Cunha destacam que o objetivo do mapa não foi produzir um retrato, ou perfil, do jovem paulistano, mas sim revelar as especificidades da juventude em cada distrito da capital. “Não estávamos atrás desse perfil. Não é o que a secretaria solicitou”, disse a excoordenadora do Nepo. “Queríamos saber onde estavam localizados, espacialmente, os adolescentes mais vulneráveis, isso sim nos importava. Queríamos saber como a Secretaria de Saúde, segundo nossos indicadores de saúde, teria de atuar em programa de assistência à gravidez adolescente, ou onde há

mais registro de mortes violentas, ou onde se localizam os mais vulneráveis dos domicílios com chefia feminina e renda comparativamente menor”, exemplificou. “Geralmente, as médias enganam muito”, afirmou o ex-diretor associado do IE. “A ideia do mapa é mostrar as diferenças. Porque os dados agregados, para o município, a prefeitura já tinha. A riqueza do mapa está exatamente no contraste, por exemplo, entre um distrito de mais alta renda, onde o perfil é mais do jovem branco que mora com os pais, e algumas áreas da periferia onde a população negra é muito maior. A riqueza do mapa está justamente nisso, em localizar onde existe uma probabilidade maior de ter um jovem que não estuda nem trabalha, o chamado nem-nem, onde é mais provável você encontrar mulheres jovens com mais carência de assistência médica, onde a violência afeta mais os homens jovens, e assim por diante”. Cunha recordou o trabalho cuidadoso de desagregação de dados feito no Nepo, para transformar os registros agregados divulgados pelo censo demográfico ou disponíveis nas secretarias municipais em indicadores mais desagregados e localizados geograficamente.

“Esse estudo requeria uma primeira etapa de levantamento das fontes de dados disponíveis, a atualização dessas fontes, ou seja, em que período temporal dispomos desses dados, e uma consolidação. Para isso, primeiramente, foi feito um mapeamento do que já se tinha divulgado, para que período temporal, com que abrangência territorial, já que nos foi pedido desagregar nos 96 distritos do município”, relatou. “E assim, poder afirmar que mesmo precisando de uma determinada estimativa desagregada por distrito, a consistência e/ou a cobertura não nos permitiria realizar uma inferência científica”. “Sabíamos que havia dados que tinham limitações para serem utilizados”, disse. “Por isso, tivemos o cuidado de analisar estas dimensões”. No relatório final do mapa (disponível online na página www.portaldajuventude.prefeitura.sp.gov.br/noticia/mapa-da-juventude-de-sao-paulo/) constam, por exemplo, as dificuldades no levantamento de dados sobre violência, apresentando alta subnotificação de crimes contra a mulher assim como a dificuldade em acessar as bases de dados oficiais da Secretaria da Segurança Pública do Estado, referentes à população jovem. Foto: Antoninho Perri

O professor Marcelo Proni, um dos coordenadores do projeto: “Uma excelente contribuição deste projeto foi ter disponibilizado as informações de forma georreferenciada”


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Campinas, 30 de novembro

Estudos analisam a desigualdad

Pesquisas que fundamentam tese e dissertação do Instituto de Economia faz

Um problema estrutural LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

evolução da desigualdade social no Brasil, no período de 1950 a 2010, é o tema da dissertação de mestrado de Rodrigo Luis Comini Curi, orientada pelo professor Waldir José de Quadros e apresentada no Instituto de Economia (IE). O autor analisa as mudanças na estrutura e na mobilidade social nestas seis décadas para demonstrar que a desigualdade é um problema estrutural, que remonta ao período colonial, e não apenas fruto de conjunturas econômicas e sociais. “Nos momentos em que o crescimento econômico gerou condições para a universalização de um padrão de vida de qualidade para a população, o Estado se posicionou de forma plutocrática [em favor dos mais ricos] e autoritária, com pouca atenção às questões sociais”, observa o economista entre suas conclusões. Considerando a desigualdade não apenas em relação a rendimentos, mas também a fatores como o acesso a serviços de qualidade, a propriedade da riqueza, os monopólios de ascensão social e o papel do Estado na sociedade, Rodrigo Curi divide sua análise em três períodos: 1950 a 1980, em que o país cresceu economicamente e consolidou e desenvolveu sua estrutura industrial, mas ao mesmo tempo em que se ampliaram as desigualdades, bem como o desamparo à base social rural e à urbana que se formava; os anos 80 e 90, de fim do crescimento econômico e da desestruturação do Estado pela política neoliberal, acarretando grave crise social; e de 2002 a 2010 (governo Lula), de recuperação do crescimento (mas calcado no consumo de massa) e de melhorias sociais (porém insuficientes). Interessado em entender porque a desigualdade social no Brasil era uma característica tão marcante e que perdurava ao longo do tempo, Curi recebeu de seu orientador um artigo por ele assinado, recorrendo a uma estratificação social que foge da convencional baseada na renda. “O professor Waldir Quadros mostra no artigo que a cúpula da sociedade vive há trinta anos na letargia, sem que se permita espaços de acesso para as classes inferiores. Ele me fez voltar aos anos 1950, quando o país até então predominantemente agrário começou a consolidar sua estrutura industrial, com uma urbanização acelerada. No entanto, esta modernização da economia só fez a desigualdade crescer, pois não veio acompanhada de um projeto de inclusão social.” O autor do estudo lembra que eram cerca de 41 milhões de pessoas vivendo no campo, vilarejos e pequenas cidades, contra 10 milhões nas grandes cidades em formação. “Na lógica rural havia o monopólio da terra por um pequeno contingente de grandes proprietários, no topo da pirâmide e, no extremo inverso, a imensa maioria de trabalhadores em terras alheias: pequenos assalariados (temporários ou permanentes), posseiros e parceiros. Na ausência de direitos para os trabalhadores e com a expansão da fronteira agrícola, veio a reprodução deste monopólio. Na década de 60, os 10% mais ricos se apropriavam de 39,6% da renda, e os 5% mais ricos, de 11,9%, uma concentração significativa.” Na opinião do economista, sem a reforma agrária tão sonhada na época, o que se praticou no meio rural foi a expulsão dos trabalhadores. O fluxo migratório que foi de 7 milhões de pessoas nos anos 50, passou para 12,8 milhões nos 60 e atingiu 15,8 milhões nos 70; em três décadas, o nível de urbanização saltou de 36,16% em 1950 para 67,59% em 1980, não apenas inchando as metrópoles, mas multiplicando as grandes e médias cidades pelo país. “Os migrantes acabaram gerando uma urbanização forçada

e o mercado de trabalho que se formou foi concorrencial e selvagem: milhões chegaram sem emprego e sem experiência, tornando-se mão de obra barata e lucrativa para as empresas. É nesse sentido que se dá a lógica exclusão: não houve atenção do Estado para lidar com esta população – somente para modernizar a economia.” Rodrigo Curi afirma que esta lógica se fortalece com a ditadura militar e a repressão aos movimentos sociais antes aglutinados em busca de um desenvolvimento progressista. “O grande crescimento econômico nos anos 70 permitiria gerar as estruturas necessárias para inclusão desta população, mas simplesmente não houve interesse. É correto que se promoveu uma dinamização expressiva na estrutura social, uma diminuição da pobreza, grande geração de emprego e maior possibilidade de ascensão – o trabalhador tinha esperança de colocar os filhos em condições melhores. Porém, também foi ampliado o leque social, considerando os diferentes grupos e estilos de vida da sociedade, e ainda na presença de uma massa com padrão miserável.” Na visão de Curi, se havia uma expectativa de que a modernização da economia e a industrialização resolveriam a questão da exclusão e da pobreza no Brasil, ela minguou a partir da década de 80, quando se perdeu o único elemento gerador da dinamização social, que era o crescimento econômico. “Não foram criados mecanismos internos que pudessem sustentar o crescimento, que se deu muito baseado no financiamento externo, sem uma política de inovação e de mecanismos de financiamento interno capazes de modernizar a indústria de forma independente. Ao contrário do modelo desenvolvimentista, o Estado perdeu sua capacidade de intervenção no meio econômico, embora a estrutura industrial, grosso modo, tenha se mantido, o que contribuiu para não piorar a questão do desemprego.”

REGRESSÃO SOCIAL O autor da dissertação salienta que, sem a criação de uma infraestrutura social mais justa e igualitária mesmo com intenso progresso material nos anos de expansão acelerada, a crise nas décadas seguintes só poderia levar a uma regressão social violenta. “Era inevitável. Nos anos 90 vem a mudança de orientação política, nos moldes do Consenso de Washington e da visão neoliberal, com o desmantelamento do Estado (orientado a ser apenas o facilitador das trocas de mercado) e da estrutura produtiva (com a privatização de grandes estatais e a vinda de investimento direto estrangeiro).”

Foto: Antonio Scarpinetti

Operários trabalham em obra em São Luís, Maranhão: Nordeste registrou redução considerável no número de miseráveis

A política neoliberal, prossegue o economista, impôs nas empresas uma lógica de produção vinda de fora, com a racionalização e precarização do trabalho, e a perda de direitos sociais importantes conquistados anteriormente. “Ao fim do crescimento econômico somou-se o fim da mobilidade social e o aumento das desigualdades no país. Após a implementação do Plano Real, a proporção do número de pobres manteve-se praticamente estável, de 24,7% em 1995 para 22,6% em 1999 – nível próximo ao de meados dos 80 (23,7% em 1986). O controle inflacionário se fazia necessário, pois é um custo expressivo para os pobres. Porém o modo como foi concebido, com uma inserção externa calcada principalmente no mercado, acabou por deteriorar as condições de trabalho populacional e a dependência de um contexto externo favorável para o crescimento econômico e geração de empregos, fato que contrasta com a posição central do Estado no desenvolvimento econômico das décadas entre 1950 e 1970”.

OS REMEDIADOS

No último capítulo da dissertação, Rodrigo Curi aborda o período do governo Lula (2002-210), comprometido com políticas voltadas para a melhoria do padrão de vida dos mais pobres e beneficiado por um momento de recuperação do crescimento econômico – decorrência principalmente do comércio exterior de commodities. “Houve melhorias sociais muito importantes no sentido de cumprir com a dívida de duas décadas de crise, através da orientação voltada Foto: Antoninho Perri

ao combate das necessidades mais urgentes como a fome, bem como a programas de transferência de renda, crédito e valorização do salário mínimo. Dinamizou-se o consumo e, com a volta do crescimento, a questão do emprego também melhorou.” A dissertação traz dados sobre a estratificação social entre 2003 e 2009, que apontam a saída de 35 milhões de pessoas da condição de miséria e de outras 36 milhões que galgaram camadas superiores. “Se apresentou neste momento uma expansão significativa do que chamamos de baixa classe média, denominada por alguns autores de ‘nova classe média’ (termo, na nossa visão, inadequado), que foi muito valorizada na propaganda política para criar a imagem de um ‘país de classe média’. Na verdade, são pessoas que têm acesso aos bens de consumo com base no endividamento, mas não têm acesso a educação de qualidade e ao plano de saúde para a família; moram em habitações precárias de bairros com carência de saneamento básico e de segurança – na expressão do professor Quadros, não são mais que remediados.” Na opinião de Curi, assim como nos governos anteriores, não houve foco nos problemas estruturais e na abertura de acessos para que as camadas baixas atingissem um padrão de vida civilizado. “As melhorias sociais são importantes, mas insuficientes e limitadas, não se sustentam ao longo do tempo. Para isso é preciso, por exemplo, uma estrutura industrial para manter a geração de empregos e um Estado mais ativo e menos compromissado com o superávit primário e, principalmente, com o controle inflacionário, permitindo-se assim ter maior espaço para realizar gastos sociais.” Rodrigo Curi conclui o trabalho afirmando que, diante destes cenários, a desigualdade vai se reproduzindo, havendo a necessidade de ser tratada como um problema político, impossível de ser eliminado apenas com crescimento econômico. “Creio que a dissertação contribui com a noção de que a questão merece um enfoque político e amplo, buscando um debate entre o Estado e a população, principalmente do núcleo de mudança (baixa classe média e massa trabalhadora), para que juntos possam criar um projeto unificado de nação.”

Publicação

Rodrigo Luis Comini Curi, autor da dissertação: “As melhorias sociais são importantes, mas insuficientes e limitadas, não se sustentam ao longo do tempo”

Dissertação: “Um estudo sobre a evolução da estrutura social e da desigualdade no Brasil (1950-2010)” Autor: Rodrigo Luis Comini Curi Orientador: Waldir José de Quadros Unidade: Instituto de Economia (IE)


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o a 13 de dezembro de 2015

de e a expansão da classe média

zem apanhado histórico de diferentes fases da conjuntura econômica do país MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

ntre 2004 e 2012, cerca de 35 milhões de brasileiros, número próximo ao da população da Argentina, deixaram a condição de miséria e ascenderam para a baixa classe média, graças ao crescimento da economia do país e às políticas sociais implementadas pelo governo federal. A despeito do avanço social experimentado por esse contingente no período, o Brasil não se transformou em um país de classe média, como interpretam alguns analistas. A conclusão é da tese de doutorado do economista Daniel de Mattos Höfling, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Waldir José de Quadros. De acordo com Höfling, a baixa classe média é diferente da classe média tradicional, formada a partir dos anos 1970. Esta última é constituída por pessoas que exercem profissões como professor universitário, advogado, engenheiro etc, que normalmente possuem casa própria e têm acesso à saúde, educação, lazer e cultura. “Ainda que tenham avançado socialmente, os integrantes da baixa classe média seguem em grande medida apartados do acesso a esses bens e serviços. Para esse segmento, o lazer, por exemplo, se dá basicamente por meio do consumo, ou seja, pela visita ao shopping. São brasileiros que deixaram a condição de miséria, mas ainda passam por dificuldades estruturais. Abandonaram a pobreza, mas encontram-se distantes do que imaginamos como padrão de vida de classe média”, afirma o economista. Uma das novidades da pesquisa, conforme o autor, emergiu por causa da metodologia empregada, que não se ateve somente à questão da renda, como ocorre na maioria das análises sobre o tema. “O estudo também contemplou o aspecto da ocupação para poder identificar não somente quantos são os componentes da baixa classe média, mas também em quais segmentos eles atuam. Nós consideramos as dez principais ocupações exercidas pelos integrantes da baixa classe média. O que pudemos constatar é que a maioria dessas pessoas se concentra em quatro principais profissões: vendedor, escriturário, operário da construção civil e trabalhador doméstico”, elenca Höfling. Esse conjunto de trabalhadores, reforça o economista, teve a vida melhorada nos anos tomados para análise, mas segue sendo um segmento muito suscetível aos humores da economia. “São trabalhadores que exercem atividades precarizadas, sazonais ou que não exigem maiores qualificações. Assim, num momento de crise como o que estamos vivendo, esse grupo costuma ser o mais afetado, por exemplo, pelo desemprego. Ainda não temos dados fechados da PNAD [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)] de 2014, mas as informações preliminares indicam que parte desse contingente retornou à condição anterior, justamente por causa dos efeitos da crise econômica”, diz. Um aspecto que explica essa tendência de regressão, prossegue o autor da tese de doutorado, é o fato de o crescimento econômico que contribuiu para a expansão da baixa classe média no país ter sido fundado em modelo não sustentável. O avanço da economia brasileira no período, observa Höfling, foi impulsionado principalmente pela exportação de commodities, aproveitando um momento de grande apetite do mercado internacional, notadamente o chinês. “O grande problema é que a economia não pode ficar dependente desse modelo primário exportador. Trata-se de uma alternativa que tem limite, e esse limite já foi atingido”, considera. A crítica presente no trabalho do economista é dirigida justamente ao pensamento exageradamente otimista, segundo o qual os ganhos sociais obtidos pelos integrantes da baixa classe média

Nem tanto ao mar

Foto: Antonio Scarpinetti

Segundo Daniel Höfling, autor da tese, embora um contingente de 35 milhões de pessoas tenha deixado a condição de miséria entre 2004 e 2012, o Brasil não se transformou em um país de classe média

teriam consolidado o Brasil como um país de classe média. “Nosso estudo é de caráter suprapartidário. Ou seja, não tem compromisso com esta ou aquela corrente ideológica. O que nós entendemos é que houve, sim, uma melhora nas condições sociais de uma parcela significativa da população brasileira no período analisado. Muitas pessoas deixaram a linha da miséria. Além disso, mais jovens ingressaram na universidade e vemos mais trabalhadores de baixa renda em lugares an-

tes frequentados apenas pela elite. Tudo isso é inquestionável. Entretanto, é preciso tomar cuidado para não considerar que nada mais precisa ser feito, pois já teríamos atingindo o patamar de país desenvolvido. Essa visão é equivocada, visto que estamos bem longe disso”, adverte Höfling. Entre os desafios que o país precisa superar para alcançar um estágio acima do atual, continua o economista, estão a definição de uma política de Estado voltada à industria-

Ocupações: Quantidade, Participação e Renda Média - Brasil (2004) Ocupação Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados

Quantidade

Participação

Renda Média*

1.395.831

7,34

1.276,71

Escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos

787.951

4,14

1.301,19

Gerentes de produção e operações

708.748

3,73

1.441,83

Condutores de veículos sobre rodas (distribuidor de mercadorias)

648.933

3,41

1.326,05

Trabalhadores de estruturas de alvenaria

635.932

3,34

1.184,93

Produtores agrícolas

584.842

3,07

1.271,68

Trabalhadores dos serviços domésticos em geral

388.502

2,04

1.106,19

Guardas e vigias

346.825

1,82

1.186,51

Condutores de veículos sobre rodas (transporte particular)

320.960

1,69

1.327,39

Produtores na pecuária

312.970

1,65

1.294,82

Total

6.131.494

32,23

-

Total de todos os ocupados da Baixa Classe Média

19.019.790

100

1.085,34

Ocupações: Quantidade, Participação e Renda Média - Brasil (2012) Ocupação

Quantidade

Participação

Renda Média*

Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados

3.081.663

8,26

1.186,01

Trabalhadores de estruturas de alvenaria

1.831.243

4,14

1.250,08

Escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos

1.799.857

4,82

1.233,90

Trabalhadores dos serviços domésticos em geral

1.454.007

3,9

1.119,12

Condutores de veículos sobre rodas (distribuidor de mercadorias)

1.135.162

3,04

1.336,87

Ajudantes de obras civis

871.536

2,34

1.085,82

Cozinheiros

831.857

2,23

1.131,87

Trabalhadores nos de manutenção e conservação de edifícios e logradouros

736.934

1,98

1.085,70

Garçons, Barmen e copeiros

669.312

1,79

1.169,21

Trabalhadores nos serviços de higiene e embelezamento

661.166

1,77

1.215,72

Total

13.072.737

35,04

-

Total de todos os ocupados da Baixa Classe Média

37.312.391

100

1.064,64

* R$ a preços de outubro de 2013(INPC: IPEA/PNAD)

Brasil, Evolução do Padrão de Vida entre 2004 e 2012, Y per capita familiar Padrão de Vida

Nº Pessoas (2004)

Nº Pessoas (2012)

Participação (2004)

Participação (2012)

Alta Classe Média

11.311.362

16.995.736

6,17

8,51

Média Classe Média

18.268.915

29.909.432

9,96

14,98

Baixa Classe Média

52.379.593

82.387.989

28,55

41,26

Massa Trabalhadora

55.361.298

48.057.045

30,18

24,07

Miseráveis

41.911.784

14.190.380

22,89

7,11

Ignorado

4.126.301

8.148.325

2,25

4,08

183.439.253

199.688.907

100

100

Total

lização e o investimento principalmente em educação, saúde e infraestrutura. “Muita coisa ainda precisa ser feita. A educação básica, por exemplo, não sofreu mudanças significativas nos últimos anos”, pontua o pesquisador. Para sustentar a sua investigação, Höfling promoveu um estudo histórico, cujo ponto de partida foi a década de 1930. Esse cuidado trouxe contribuições importantes para a pesquisa, como conta o economista. Segundo ele, uma compreensão que surgiu da investigação é que a classe média tradicional é fruto do período de industrialização e consolidação do Estado Nacional. “Os integrantes desse segmento foram trabalhar em órgãos do Estado ou na indústria ou serviços relacionados à indústria. A baixa classe média, porém, resulta de condições diferentes. Ela não nasce de um cenário de mudança estrutural. Em boa medida, ela surge na esteira de um ciclo de consumo e da expansão de crédito”, esclarece Höfling.

REGIÕES

Além de analisar o Brasil de modo geral, a tese de doutorado também desmembrou os dados para as cinco regiões do país. O que mais chamou a atenção nesse caso, conforme o economista, foi o desempenho do Centro-Oeste, onde a baixa classe média experimentou uma ascensão mais acentuada que nas demais regiões. “Em boa medida, essa ascensão ocorreu por causa do agronegócio. Não do agronegócio em si, mas do dinamismo que ele empresta à economia local, impulsionando setores como o comércio e a construção civil”, detalha o economista. Outra região que apresentou bom comportamento foi a Nordeste, esta por causa da combinação do crescimento econômico com a ampliação das políticas sociais, notadamente as que promovem a transferência de renda. “Houve uma redução absoluta considerável do número de miseráveis no Nordeste. Quanto ao Sul e Sudeste, o que pudemos observar foi uma melhora no padrão de vida principalmente do trabalhador doméstico, que passou a ganhar um pouco mais e a ter um maior poder de negociação das condições de trabalho”, aponta Höfling.

Publicação Tese: “A baixa classe média no Brasil sob a ótica social e ocupacional” Autor: Daniel de Mattos Höfling Orientador: Waldir José de Quadros Unidade: Instituto de Economia (IE)


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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015

Mulher é relegada a papel Estudo mostra que inserção feminina nas atividades policiais tem caráter complementar no campo da segurança pública

Fotos: Divulgação

Policiais na década de 1950: passados 60 anos, alguns setores ainda veem as mulheres como ameaça à identidade e à tradição

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

m 1955, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SP) promoveu a primeira experiência do Brasil de inserção das mulheres nas atividades policiais, tornando-se, deste modo, um paradigma de modernização para as corporações policiais do país. Passados 60 anos do ingresso das primeiras mulheres na área de segurança pública, uma pesquisa da Unicamp aponta que a presença do feminino na Polícia Militar de SP é vista, muitas vezes, como uma ameaça à identidade e tradição policial. O estudo, conduzido junto ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp pelo historiador e sociólogo Marcos Santana de Souza, também revelou a existência de um zoneamento de gênero não institucionalizado, marcando, claramente, as funções para mulheres e homens. Conforme constatou o autor da pesquisa, é relegado ao trabalho feminino um caráter eminentemente complementar no campo da segurança pública. O trabalho, que traçou uma etnografia do feminino na polícia, acaba de ser contemplado com o Prêmio Capes de Teses 2015. “O efetivo feminino na Polícia Militar do Estado de São Paulo representa aproximadamente 10% do efetivo total, que é constituído por cerca de 100 mil policiais. A maior parte destas mulheres atua nos setores administrativos com o argumento de uma maior compatibilidade entre as suas características físicas e psicológicas e a natureza do trabalho interno”, revela Marcos de Souza. Ele exemplifica citando que apenas em 2014 o Regimento da Cavalaria da PM, um dos setores mais tradicionais e antigos da corporação, passou a empregar mulheres nas atividades de policiamento. O estudioso da Unicamp acrescenta que situações semelhantes também acontecem nas unidades operacionais e especializadas, como a Rota, o Batalhão de Choque e o Grupamento Aéreo, cuja presença feminina ainda é mínima. “Há uma concepção de que mulher tem que estar ocupando uma função interna, doméstica, numa dimensão privada. E os homens, por serem ‘senhores’ do espaço público, têm que estar nas atuações e abordagens. Existe uma ideia na instituição de que a presença da mulher enfraqueceria a identidade policial e a própria confiança do trabalho prestado à população. Por este motivo a PM se mostra refratária à presença feminina, especialmente nas unidades operacionais”, afirma. Marcos de Souza relata que outro setor que permanece sob a supremacia masculina é o dos órgãos de apoio ligados à instrução, importantes para a reprodução da cultura institucional baseada nos valores militares. Embora a participação feminina tenha crescido expressivamente, os homens constituem a maioria absoluta nestes espaços, estimada atualmente em 79,83%. O autor da pesquisa informa ainda que as características femininas são vistas, muitas vezes, como elementos que poderiam vulnerabilizar as operações policiais e a unicidade da tropa, tão cultuada na corporação. A presença feminina também apresentaria um risco à dimensão do segredo e do silêncio, própria do trabalho policial, acrescenta. “Esta suposta ameaça se justificaria sob a crença de que as mulheres não se entregariam plenamente ao trabalho em função dos compromissos com a ‘casa’. Neste caso,

elas teriam uma disposição ‘natural’ para a quebra de segredos, da lealdade e da confiança do grupo. Esta seria uma justificativa para que elas sejam de antemão afastadas da convivência nessas searas de domínio quase absoluto dos homens.” Por outro lado, pondera o sociólogo, existem aspectos apontando que as mulheres conseguiram ampliar sua presença na instituição, a despeito dessas restrições, veladas ou não. Além disso, diversos avanços na instituição podem ser observados como a unificação dos quadros masculino e feminino da PM em 2011, gerando oportunidades mais igualitárias de carreira ao público feminino dentro da corporação. Marcos de Souza menciona também o próprio ingresso das mulheres em setores tradicionais, como o 2º Batalhão de Choque, o Regimento de Cavalaria, entre outros. “Essa presença foi possível porque a experiência se mostrou exitosa. A população começou a ver bons resultados no trabalho e na presença feminina na PM. E também para a própria instituição foi interessante porque esta presença vai ser ampliada em momentos de crise, em que, muitas vezes, abusos cometidos por policiais vão ganhar

a opinião pública. Portanto, sobretudo nos anos de 1990, há uma ampliação considerável no efetivo feminino e nos campos de atuação, muito por conta dessa ideia de modernização e de uma tentativa de reformular a imagem da polícia”, situa. Um marco neste sentido aconteceu em 2001, com a nomeação da tenente-coronel Fátima Duarte, a primeira mulher da história da Polícia Militar de São Paulo a assumir o comando de um batalhão e ter, sob a sua responsabilidade, policiais de ambos os sexos. O pesquisador ressalta que a nomeação, assim como investimentos no policiamento escolar e comunitário, em campanhas publicitárias e na aproximação com órgãos de imprensa, visava reformular a imagem da corporação, desgastada por episódios de abusos cometidos por policiais. “Apela-se, assim, para o elemento feminino como recurso para mudança da percepção social em torno da polícia”, pontua. O autor do estudo acrescenta que as mulheres ouvidas durante a pesquisa relataram a percepção de que avançaram significativamente na profissão, apesar da permanência de alguns entraves. De modo geral, segundo Marcos de Souza, os entrevistados vinculam

os preconceitos contra as mulheres na polícia à permanência do machismo no conjunto da sociedade brasileira, da qual a PM não seria uma exceção. Outro aspecto relevante apontado pelo trabalho é que a inserção feminina na PM tem tornado a rotina policial menos dura e hostil, tanto para mulheres como para homens. “Quando se está num universo policial e militar essa dimensão do cuidado e da diferença não costuma ser observada. Estes profissionais, homens e mulheres, estão num ambiente extremamente hostil do qual os direitos fundamentais não são respeitados, muitas vezes. E a inserção feminina traz, de alguma forma, essa questão da diferença para a problematização, de que o policial tem família, de que ele é um sujeito com seus dramas, com suas dificuldades e que precisa ser ouvido e compreendido.” A tese de Marcos de Souza, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais do IFCH, ainda concorre ao Grande Prêmio Capes, que será anunciado no dia 10 de dezembro de 2015. Outras duas teses da Unicamp, também premiadas entre as melhores de 2014 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), também disputarão o Grande Prêmio. O historiador, formado pela Universidade Federal de Sergipe com mestrado em sociologia, foi orientado em seu estudo pela professora do IFCH Mariza Corrêa, que atua como pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu. Além do estudo etnográfico, o pesquisador buscou entender os sentidos do trabalho policial feminino na corporação paulista com a realização de entrevistas em profundidade com 44 policiais militares masculinos e femininos de diferentes círculos hierárquicos e com o auxílio de análise documental. Os registros sobre a presença feminina foram colhidos junto ao Comando da Polícia Militar de São Paulo, Academia de Polícia Militar do Barro Branco, Arquivo do Museu da Polícia Militar de São Paulo e Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES). “A contribuição do meu trabalho está no sentido de analisar a presença das mulheres na PM e compreender como estas diferenças de gênero são pensadas do ponto de vista institucional, e também como estas diferenças marcam a atuação das policias. Trata-se de uma reflexão sobre as representações sociais de gênero que ainda permanecem, mesmo num momento em que a mulher conquistou espaços e ascendeu socialmente”, contextualiza. Marcos de Souza também considera que seu estudo abre perspectivas para a compreensão de como esta presença feminina, com todas as suas implicações, reflete no trabalho prestado e desenvolvido pela instituição à população. “A sociedade brasileira demanda, cada vez mais, por maior segurança, uma vez que o Brasil é um dos países que tem um dos mais altos índices de homicídio do mundo. Torna-se, portanto, essencial refletir sobre como a população pensa este tipo de enfrentamento da violência e, ao mesmo tempo, distingue posições e expectativas para homens e mulheres no campo policial. Acredito que outras pesquisas relacionadas à polícia devam ser desenvolvidas e ampliadas considerando a perspectiva de gênero, especialmente no campo na sociologia da violência.”

‘SOU POLICIAL,

MAS SOU MULHER’

O sociólogo Marcos Santana de Souza, autor do estudo: “Há uma concepção de que mulher tem que ocupar uma função interna, doméstica”

A frase que dá título à tese de Marcos de Souza foi colhida a partir do depoimento de uma policial que atua no Pelotão de Choque da Polícia Militar do Paraná, concedido para uma rede de televisão, afiliada da TV Band. Embora de outro Estado, a expressão é muito recorrente, segundo o pesquisador da Unicamp. A sua escolha para nomear o trabalho foi motivada pelas múltiplas dimensões e demandas que nela se revelam, justifica o autor da pesquisa. “Em determinado momento da entrevista, a policial fala da vaidade e da imagem policial, como se fossem elementos distintos, que não se casassem. Ela vai dizer, por exemplo, que tem que manter uma postura, se manter séria, fardada, mas que ela não abria mão nem do rímel, nem do batom. Ou seja: ‘sou policial, mas sou mulher, não posso esquecer-me disso.’ E essa dimensão


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secundário na PM, aponta tese foi algo que percebi nas demais entrevistas porque é uma cobrança institucional, também, o fato de ser feminina na corporação. Há um esforço institucional da polícia em mostrar esta compatibilidade e fazer com que as policiais não percam de vista que ser mulher é necessariamente ser feminina, o que representa uma clara forma de regulação dos comportamentos.” Ainda de acordo com o estudioso, em “sou policial, mas sou mulher”, há a percepção do feminino como elemento restritivo da experiência de ser e estar na polícia. “O ‘mas’, como conjunção adversativa, deixa evidenciado o sentido de contraste ou compensação do feminino na profissão. A frase, portanto, aponta exatamente para esse sentido polissêmico da existência humana e dos desafios e interesses que orientam o lugar das mulheres no campo policial: elas querem ser vistas como profissionais capazes, mas não desejam ao mesmo tempo ver esquecido ou negligenciado o fato de serem mulheres, mães, esposas e irmãs”, analisa. Marcos de Souza acrescenta que numa ordem focada nos preceitos militares, vistos como essencialmente masculinos, as mulheres compreendem que “ser mulher” impõe restrições, pesados testes de competência, discriminação e amarguras. “Neste ambiente, elas seguem lidando com as estruturas, afastando-se da idealização traçada nos primeiros tempos com a Polícia Feminina, quando o trabalho desenvolvido era eminentemente assistencial e voltando para o atendimento de mulheres, crianças e idosos. Elas apresentam novas formas de ser mulher diante de transformações sociais diversas que informam contradições, incertezas e esperanças.”

Publicações Artigos SOUZA, Marcos Santana de. A violência da ordem: polícia e representações sociais. São Paulo: Annablume, 2012. Novos espaços do feminino: trabalho, gênero e corporações militares no Brasil. In: Sociais e Humanas, Santa Maria, v. 24, n. 02, jul/dez 2011, p. 133-147. “Elas não servem pra guerra”: presença feminina e representações sociais de gênero na polícia militar de Sergipe. – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2009 (monografia de especialização em “violência, criminalidade e políticas públicas”).

Tese: “‘Sou policial, mas sou mulher’: gênero e representações sociais na Polícia Militar de São Paulo” Autor: Marcos Santana de Souza Orientadora: Mariza Corrêa Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: Capes

Trecho da tese em que o sociólogo Marcos Santana de Souza analisa as duas imagens acima: “Na primeira imagem, policiais da Rota são representados com armamento pesado em posição defensiva, além de portarem arma no coldre. Como marcas distintivas dos policiais, estão a boina negra, específica dos membros da unidade desde os anos 1970, o braçal e a expressão cerrada. A seriedade e/ou braveza estampada na face indica que não se trata de uma polícia voltada para a aproximação amistosa com o público, mas para intervenções duras nas quais o diálogo não opera como recurso estratégico. Nas imagens os policiais aparecem prontos para o combate. A segunda representação percorre caminho oposto ao vincular a imagem do policial a de crianças pela via do amparo e da proteção. Em oposição à fisionomia fechada e brava dos policiais da Rota, destaca-se a expressão serena do policial, que traz um bebê no colo e, segurando com a outra mão, segue com uma garota que o olha carregando um pequeno urso de pelúcia. As duas representações são marcas das perspectivas traçadas pela instituição nas últimas décadas e que visam tanto reforçar a tradição e corresponder às demandas sociais em torno de um tipo de atuação policial dura quanto ‘reformar’ a imagem da corporação junto ao público externo, focando na dimensão cidadã da polícia e na proteção dos mais indefesos”.

O ‘Baile da Espada’ e a ilusão perdida pelas ruas De modo institucional, a presença feminina é reverenciada como expressão do caráter moderno e democrático da Polícia Militar. Tais expectativas levariam as policiais a viverem a experiência de uma “ilusão”, segundo Marcos de Souza. No trabalho, ele exemplifica este sentimento com o relato de uma entrevistada no contexto do “Baile da Espada”, ocorrido durante a festa de formatura da Academia de Polícia Militar do Barro Branco. O pesquisador, que acompanhou a cerimônia em duas ocasiões, conta que aspirantes e seus padrinhos dançam ao som de valsas sob os olhares orgulhosos de parentes e amigos, num espaço prestigiado por seus superiores e por autoridades civis. O baile de formatura funciona como um rito que marca o ingresso no oficialato e o desejo de ascensão social e de reconhecimento. “Era basicamente sobre esse desejo que se referia a minha entrevistada quando definiu a festa, marcada por luxo e por um protocolo extenso de exigências dos participantes e convidados, como uma ‘ilusão’ a ser negada pela realidade das ruas e também dos quartéis, na complexa missão de enfrentar o crime numa sociedade desigual e violenta como a sociedade brasileira”, relata. “No caso das mulheres, como pude acompanhar, o baile surgia ainda como uma promessa, bastante transitória, é verdade, de

Peças publicitárias exaltam o trabalho de mulheres na corporação: efetivo feminino representa 10% do contingente da Polícia Militar

reconhecimento de feminilidade para além das molduras disponíveis no cotidiano policial e de uma participação em iguais termos com os homens. As marcas da diferença feminina, longe de constituírem restrições, eram reverenciadas, uma vez que elas haviam superado, através do esforço pessoal, os mesmos desafios reservados aos homens. Na festa, a beleza e a sensualidade da farda feminina, presente na longa saia com abertura lateral e no uso mais acentuado de maquiagem, era parte de um passaporte conquistado pelas mulheres nas práticas e discursos que transitam entre igualdade e diferença”, completa.

O RECEIO À MASCULINIZAÇÃO Ainda conforme o historiador, uma maior concentração do público feminino nos trabalhos internos tem por objetivo não apenas explorar aquelas que seriam competências próprias das mulheres como “maior senso de organização”, “sensibilidade”, “capacidade de comunicação”, mas também para evitar que em contato com as ruas as mulheres “sofram” com o risco de masculinização de suas atitudes, assim como de “inversão” de sua sexualidade. Tais aspectos, segundo ele, deslegitimariam socialmente o emprego feminino na atividade policial, tendo em vista as expectativas reservadas a esse público dentro e fora da corporação. “Neste sentido, as diferenças de gênero, longe de serem minimizadas no campo policial militar, são em grande medida reforçadas com vistas

a definir, a priori, espaços e atribuições para homens e mulheres. Especialmente no interior dos quartéis, as mulheres, com sua ‘sensibilidade’, ajudariam a restaurar as forças e ‘curar as feridas’ dos homens, ‘naturalmente’ inclinados à ‘guerra’.” Marcos de Souza esclarece que o receio em torno da masculinização das mulheres na polícia é um elemento bastante difuso não apenas entre os policiais, mas na própria sociedade. Ele cita o caso da sargento Alessandra, com 18 anos de serviço. A profissional relata a experiência do marido professor sobre as representações sociais no ambiente de trabalho de como seria o comportamento da esposa. “Muitos não sabem que ele é marido de uma policial militar, nem imaginam. Tem gente que com ele trabalha há cinco anos numa escola e ninguém sabe que ele é casado com uma policial militar, porque ele preferiu não falar”, conta a sargento, em depoimento para o pesquisador. “Segundo Alessandra, as reações costumavam ser de certa desconfiança ou marcadas por comentários inconvenientes para o marido, que, por vezes, ouvia termos como ‘sargentona’ das pessoas para se referirem às mulheres na polícia, além de questionamentos sobre o cotidiano do casal, a exemplo de quem ‘mandava’ no relacionamento”, explica Marcos de Souza.


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Painel da semana  UniversIDADE - Programa receberá, até 30 de novembro, as inscrições de interessados em ministrar oficinas ou palestras, no primeiro semestre de 2016. Podem se inscrever docentes, alunos, funcionários e profissionais externos ao Campus. Mais detalhes pelo e-mail programa. universidade@reitoria.unicamp.br ou telefone 19-3521-8059.  XIII Encontro Nacional de Compositores Universitários - Evento acontece entre 30 de novembro e 10 de dezembro, no Instituto de Artes (IA), na Casa do Lago da Unicamp e no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas. O evento é anual e itinerante e objetiva fomentar a difusão e o debate sobre a composição e a criação musical em seu contexto atual. O público-alvo são alunos, professores, compositores, e interessados em música e composição. Para mais detalhes sobre o evento acesse o site http://encun.nics.unicamp.br/. Informese sobre o envio de trabalhos pelo e-mail encun2015@gmail.com.  Novo curso - A Unicamp lança no dia 30 de novembro mais um curso dos Massive Open Online Course (MOOCs) pelo Coursera, uma plataforma educacional aberta e gratuita. É o curso “Como aprimorar e monetizar seu aplicativo para iOS e Apple Watch”, sob a responsabilidade do professor do Instituto de Biologia (IB) Eduardo Galembeck. Já parte com 244 alunos pré-inscritos. Leia mais: http://www.unicamp. br/unicamp/noticias/2015/11/17/unicamp-lanca-dia-30-novo-curso-naplataforma-coursera  WOCEP - Organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), o I workshop do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp (WOCEP) da Unicamp acontece nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro. A abertura do workshop será às 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). As inscrições podem ser feitas no site http://www. prp.rei.unicamp.br/wocep/. O objetivo é discutir e divulgar aspectos e perspectivas sobre a ética em pesquisa envolvendo seres humanos com fins de emergir a proposta da permanente troca de conhecimentos, aprendizados e saberes. O evento tem como público-alvo docentes, pesquisadores e funcionários; alunos de graduação, alunos de pósgraduação, e instituições de ensino e pesquisa. O auditório da FCM fica à rua Tessália Vieira de Camargo 126, no campus da Unicamp. Acesse o programa completo no link https://www.google.com/url?q=http://www. prp.unicamp.br/files/PROGRAMACAO__WOCEP.pdf&sa=D&usg=AFQ jCNF7kjGVIouhvHVJ_Zw35JX9T13aKg. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail cep@fcm.unicamp.br.  PRP e você - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) organiza no dia 30 de novembro, às 14h30, no Auditório do Instituto de Economia (IE), o evento PRP e Você. O objetivo é apresentar as ações e os programas que a PRP disponibiliza para apoiar a pesquisa, buscando uma maior aproximação e integração com a comunidade. O público-alvo do evento são docentes e pesquisadores. Mais informações pelo telefone 19 35214891 ou e-mail eventos.prp@reitoria.unicamp.br  Economia solidária - A Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), órgão da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), organiza no dia 1 de dezembro, das 9 às 17 horas, a Feira de Economia Solidária. A Feira será realizada na rua dos Flamboyants, localizada entre o Restaurante Administrativo (RA) e o prédio da Engenharia Básica. No local, além da comercialização de comidas típicas, bebidas e produtos orgânicos/artesanais, ocorrem atividades musicais e roda de capoeira. A Feira pertence à Rede de Economia Solidária de Campinas, associação que está sob a responsabilidade da Secretaria de Trabalho e Renda da Prefeitura do município. Seu objetivo é promover a inclusão de pessoas que produzam algum tipo de produto artesanal com vistas à sua comercialização a preço justo. A Feira é aberta ao público em geral. Outros detalhes podem ser obtidos mediante contato com o telefone 19-3521-2936 ou e-mail cac@reitoria.unicamp.br.  Selo comemorativo - Como parte da celebração de seus 50 anos, a Unicamp contará com um selo comemorativo lançado pelos Correios do Brasil (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos). A medida foi acertada no dia 8 de outubro durante encontro entre o reitor José Tadeu Jorge e representantes da empresa. Além do selo, também será lançado o carimbo comemorativo, que é uma marca postal com tempo determinado de utilização destinada a tornar oficial o lançamento de selos. O lançamento do selo está previsto para o dia 1º de dezembro. Saiba mais sobre as comemorações dos 50 anos no link http://www.50anos.unicamp.br/  Fronteiras da gestão em ciência, tecnologia e inovação - Seminário acontece no dia 2 de dezembro, às 9 horas, no Au-

ditório 2 da Agência para a Formação Profissional (AFPU). O objetivo é reunir especialistas e interessados na temática de planejamento e avaliação em ciência, tecnologia e inovação com vistas a debater, refletir e propor rumos para a CTI no Brasil. O evento é parte das comemorações do Laboratório de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. Mais detalhes no site do evento: http://www.ige.unicamp.br/geopi/20anos/#tab-id-3  Ciência do desporto - O VI Congresso de Ciência do Desporto e V Simpósio Internacional de Ciência do Desporto acontecem, de 2 a 4 de dezembro, no Centro de Convenções da Unicamp. Mais detalhes na página eletrônica do evento http://www.fef.unicamp.br/fef/ccd2015  BRALE 2015 - O seminário internacional Cooperação, intercâmbio e mobilidade na graduação acontece no dia 9 de dezembro, às 9 horas, na Sala Nova Iorque da Casa do Professor Visitante (CPV) da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). Trata-se de uma nova oportunidade para aprofundar as ações de parceria, intercâmbio e cooperação entre o Brasil, a Alemanha e outras nações amigas como o Canadá. O seminário encerra o Programa Unibral: Parcerias Universitárias para a educação superior, que nos anos de 2014 e 2015 propiciou com o apoio da Capes e do DAAD alemão missões científicas, conclusão de créditos em disciplinas para alunos nos dois países (10 bolsistas alemães no Brasil e 9 bolsistas brasileiros na Alemanha), além de discussões qualificadas visando a aproximação curricular, publicação e geração de relatórios qualificados das pesquisas. O programa UNIBRAL, que tem seu lastro no acordo de cooperação com a Universidade de Siegen propiciou uma intensa troca cultural, experiências práticas em estágios aos estudantes brasileiros e uma abertura ainda maior da Unicamp para iniciativas enriquecedoras que colocam a América latina e suas universidades com grande reputação no centro das discussões sobe internacionalização da educação superior. O evento tem como público-alvo professores, pesquisadores e alunos ex-intercambistas. A organização do seminário é da Faculdade de Educação e DAAD Brasil. Mais detalhes no site www.fe.unicamp.br/brale2015, telefone 19-35215564 ou e-mail eventofe@unicamp.br  Inovação pedagógica - O Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas à Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp promove, dia 9 de dezembro, às 9 horas, no Salão Nobre da FE, o III Simpósio Internacional de Inovação em Educação, com o tema central “Inovação Pedagógica”. Este ano será lançado o Prêmio “Professor Inovador 2015” cuja missão é estimular os professores de escolas públicas e particulares a desenvolverem projetos e práticas pedagógicas inovadoras em sala de aula, objetivando uma melhoria do processo de ensino e aprendizagem. Veja detalhes sobre a programação do simpósio no link http://www.lantec.fe.unicamp.br/inova2015/  Posse da Cipa - A cerimônia de posse dos novos membros da CIPA-Unicamp para a Gestão 2015-2016 acontece no dia 9 de dezembro, às 10 horas, no Auditório II da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU), localizado no prédio da Diretoria Geral da Administração (DGA). A solenidade será realizada em conjunto com a CIPA-Funcamp. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-7532.  TEDxUnicamp 2015 - No dia 9 de dezembro, das 13h30 às 17 horas, o Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) da Unicamp, organiza, no Centro de Convenções, a próxima edição do TEDxUnicamp 2015. O evento será composto por palestras de professores e pesquisadores da área e objetiva apresentar os resultados das mais recentes de pesquisas acadêmicas. O evento está sob a responsabilidade de Jose Eduardo Fornari Novo Junior (NICS). Mais detalhes no link http://www.ted.com/tedx/events/14828  Prêmio Capes de Tese 2015 - Três pesquisas desenvolvidas na Unicamp foram contempladas com o Prêmio Capes de Tese 2015 e outras nove receberam Menção Honrosa, outorgados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior para as melhores teses de doutorado defendidas em 2014. As pesquisas foram selecionadas em cada uma das 48 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes nos cursos de pós-graduação. A cerimônia de entrega dos prêmios acontecerá no dia 10 de dezembro de 2015, em Brasília. Leia mais no link http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2015/09/02/ unicamp-tem-3-premios-capes-e-9-mencoes-honrosas

Teses da semana  Artes - “Lynxfilm: uma contribuição à memória do audiovisual paulista” (doutorado). Candidata: Cybelle Angélique Ribeiro Tedesco. Orientador: professor Nuno César Pereira de Abreu. Dia 27 de novembro de 2015, às 10 horas, na sala 2 da Pós-graduação do IA. “Nicolas Vlavianos: uma poética de tradição hierática e moderna na escultura” (doutorado). Candidata: Eliane Cristina Gallo Aquino. Orientador: professor Marco Antonio Alves do Valle. Dia 1 de dezembro de 2015, às 14 horas, na Pós-graduação em Artes Visuais do IA. “Wesley Duke Lee: Um estudo de caso do Triunfo de Maximiliano I e os Trabalhos de Eros em uma análise de sua poética” (mestrado). Candidato: Thales Caetano Lira. Orientador: professor Marco Antonio Alves do Valle. Dia 11 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala 03 da Pósgraduação do IA.  Biologia - “Efeitos da deficiência de hormônios sexuais e má nutrição (dieta cafeteria ou restrição proteica) sobre o metabolismo ósseo e ratas Wistar adultas” (mestrado). Candidata: Victoria Padula de Quadros. Orientadora: professora Maria Cristina Cintra Gomes Marcondes. Dia 25 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala IB11 do prédio da CPG do IB. “Demografia e genética de populações de Bathysa australis (Rubiaceae) na Floresta Ombrófila Densa Montana e Submontana do Parque Estadual da Serra do Mar, SP” (doutorado). Candidata: Talita Soares Reis. Orientador: professor Flavio Antonio Maës dos Santos. Dia 4 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala IB11 do prédio da Pós-graduação do IB.  Computação - “Geração semiautomática de máquinas finitas de estados estendidas a partir de documento de padronização do domínio aeroespacial” (doutorado). Candidata: Juliana Galvani Greghi. Orientadora: professora Eliane Martins. Dia 26 de novembro de 2015, às 14 horas, no auditórido do IC.

Destaque

 Economia - “Transformações recentes da pecuária de corte no Brasil” (mestrado). Candidata: Mariane Crespolini dos Santos. Orientadora: professora Ivette Raymunda Luna Huamani. Dia 10 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.  Educação Física - “Prevalência de lesões em Triathlon de longa distância-Ironman” (mestrado). Candidata: Silvia Helena Fusco Ferracini. Orientador: professor Orival Andries Junior. Dia 23 de novembro de 2015, às 9 horas, na sala de aula 4/5 da FEF. “Tradução, adaptação cultural e validação do ‘Body Image Guilt and Shame Scale’ (BIGSS) para a língua portuguesa no Brasil” (doutorado). Candidata: Jane Domingues de Faria Oliveira. Orientadora: professora Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes Tavares. Dia 23 de novembro de 2015, às 10 horas, no auditório da FEF. “A escola recebe a Copa do Mundo no Brasil” (mestrado). Candidata: Rebeca Signorelli Miguel. Orientadora: professora Elaine Prodócimo. Dia 27 de novembro de 2015, às 9 horas, na sala de aula 04/05 da FEF. “Diferença, inclusão e educação física: significados atribuídos pelas crianças” (mestrado). Candidata: Flávia Martinelli Ferreira. Orientador: professor Jocimar Daolio. Dia 30 de novembro de 2015, às 9: horas, no auditório da FEF. “O circo na formação inicial em Educação Física: Inovações docentes, potencialidades circences” (doutorado). Candidato: Bruno Barth Pinto Tucunduva. Orientador: professor Marco Antônio Coelho Bortoleto. Dia 30 de novembro de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF. “Análise das variáveis cinemáticas do salto triplo de atletas de elite em ambiente de competição” (mestrado). Candidato: Márcio Vianna Prudêncio. Orientador: professor Sergio Augusto Cunha. Dia 1 de dezembro de 2015, às 9 horas, no auditório da FEF. “Parâmetros norteadores da detecção e seleção de talentos no voleibol feminino do Estado de São Paulo” (mestrado). Candidata: Caroline Tosini Felicissimo. Orientador: professor Paulo Cesar Montagner. Dia 11 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Caracterização de plataforma logística para organizações sociais” (doutorado). Candidata: Christiane Lima Barbosa. Orientador: professor Orlando Fontes Lima Junior. Dia 30 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses 3 do prédio de salas de aula da FEC. “Gestão de risco de preços e risco de liquidez no mercado de energia elétrica: uma metodologia adaptada ao Brasil” (doutorado). Candidato: Mikio Kawai Junior. Orientador: professor Paulo Sérgio Franco Barbosa. Dia 30 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa 2 do prédio de salas de aula da FEC. “Análise do comportamento de estacas pré-moldada e mista, instrumentadas, em solo sedimentar da região do Recife/PE” (mestrado). Candidato: Eduardo Oliveira de Melo. Orientador: professor Paulo José Rocha de de Albuquerque. Dia 3 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses 2 do prédio de salas de aula da FEC. “Aplicação do método dos elementos de contorno no estudo da propagação de fissura discreta para modelos coesivos” (doutorado). Candidato: Paulo Cesar Gonçalves. Orientador: professor Leandro Palermo Junior. Dia 11 de dezembro de 2015, às 9h30, na sala de defesa de teses 3 do prédio de salas de aula da FEC.  Engenharia de Alimentos - “Influência da redução de gordura e da adição de concentrado proteico de soro nas características do queijo Prato durante a maturação” (doutorado). Candidata: Lígia Dozena Domingos. Orientadora: professora Walkiria Hanada Viotto. Dia 25 de novembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro II do DTAda FEA. “Efeito do processamento à alta pressão isostática nas características de queijo minas frescal” (mestrado). Candidato: Franklin Junior Moreira da Silva. Orientador: professor Marcelo Cristianini. Dia 25 de novembro de 2015, às 15 horas, no auditório I do DTA (Carnes) da FEA. “Avaliação da resistência térmica de G. stearothermophilus e do efeito de binômios de processamento sobre a vida de prateleira de leite longa vida em embalagens flexíveis” (mestrado). Candidata: Fabiane Matias dos Anjos. Orientador: professor José de Assis Fonseca Faria. Dia 13 de novembro de 2015, às 10 horas, no auditório II do Departamento de Tecnologia de Alimentos da FEA. “Extração e precipitação de curcuminóides (Curcuma longa l.) utilizando líquidos pressurizados e fluidos supercríticos” (doutorado). Candidato: Juan Felipe Osório Tobón. Orientadora: professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate. Dia 4 de dezembro de 2015, às 9 horas, no salão nobre da FEA.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Esquemas de retransmissão baseados no protocolo decodifica-e-encaminha em redes cognitivas do tipo underlay” (doutorado). Candidato: Edgar Eduardo Benítez Olivo. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 23 de novembro de 2015, às 14 horas,na sala PE12 da FEEC. “Análise de desempenho de um sistema OFDM em um canal com efeito Doppler e prefixo cíclico curto” (mestrado). Candidato: Lucas Emerson dos Reis Garcia. Orientador: professor Celso de Almeida. Dia 25 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. “Esquemas distribuídos para seleção de múltiplas antenas em redes com retransmissores do tipo amplifica-e-encaminha” (doutorado). Candidata: Diana Cristina González González. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 26 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. “Análise e implementação de um sistema de comunicações sem fio em portadora única utilizando rádio definido por software” (mestrado). Candidato: Segundo Gerardo Gamarra Quispe. Orientador: professor Luís Geraldo Pedroso Meloni. Dia 27 de novembro de 2015, às 10 horas, na sala PE11 do prédio de CPG da FEEC. “Caracterização de fibras com microlentes cônicos para acoplamento” (mestrado). Candidato: Jorge Rufino Fernandez Herrera. Orientador: professor Hugo Enrique Hernandez Figueroa. Dia 30 de novembro de 2015, às 14 horas, na CPG da FEEC. “Software de controle para sistema de processamento de materiais e dispositivos por laser ultravioleta” (mestrado). Candidata: Patrícia S. Domingues. Orientador: professor Jacobus W. Swart. Dia 3 de dezembro de 2015, às 10 horas, no prédio da Pós-graduação da FEEC. “Proteção de distância para linhas de transmissão de energia de meio comprimento de onda” (doutorado). Candidato: Renzo Grover Fabián Espinoza. Orientadora: professora Maria Cristina Dias Tavares. Dia 4 de

do Portal

Docentes da Unicamp ganham o Jabuti ois professores da Unicamp, Roberto Romano, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e Ennio Peres da Silva, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), foram agraciados com o Prêmio Jabuti de 2015, a mais tradicional premiação da área literária no Brasil, promovida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Romano foi contemplado com o primeiro lugar na categoria “Tradução”, pelo livro Spinoza Obra Completa, da Editora Perspectiva. São coautores da obra Jacob Guinsburg e Newton Cunha. Peres obteve a terceira colocação na categoria “Engenharias, Tecnologias e Informática”, com o livro Fontes Renováveis de Energia, da Editora Livraria da Física. O professor Romano considerou a premiação de Spinoza Obra Completa com o Jabuti com um importante reconhecimento ao seu trabalho. Ele fez questão de ressaltar que a tradução da obra, que é composta por quatro volumes, ficou a cargo dos professores Guinsburg e Cunha. “Eu desempenhei mais o papel de consultor, recomendando obras de Spinoza, cedendo alguns livros e dando, por

assim dizer, suporte filosófico aos trabalhos. Também tive a oportunidade de escrever o prefácio de um dos volumes, tratando sobre o tema da ética”, disse. Segundo o docente do IFCH, um aspecto importante de Spinoza Obra Completa é o fato de o livro trazer um compêndio da gramática hebraica, o que ajuda o leitor a entender o contexto no qual os textos bíblicos, minuciosamente analisados pelo filósofo holandês, foram produzidos. “Outro ponto a ser destacado é que é muito importante que, nestes tempos de reduções drásticas do financiamento à pesquisa, uma obra relacionada à pesquisa fundamental seja contemplada com esse prêmio”, considerou Romano. O professor Ennio Peres afirmou que ficou surpreso, mas muito satisfeito com a premiação do seu livro. “De fato, não era algo que eu não esperava. Mas fico feliz em saber que a obra mereceu esse tipo de avaliação por parte do corpo de jurados do Prêmio Jabuti”. Segundo ele, o livro foi produzido com base numa coleção de imagens e apontamentos apresentados em sala de aula, na disciplina

de Planejamento de Sistemas Energéticos, ministrada na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). Para ter tempo de escrever o livro, Ennio Peres teve que recorrer a licenças-prêmios e a período sabático. “Do contrário, não conseguiria dar conta da empreitada”. O docente do IFGW revelou que mais difícil que escrever a obra foi obter imagens para publicação. “No Brasil, a burocracia é muito grande. Por isso é que o livro traz mais imagens de hidrelétricas norte-americanas que brasileiras”. No livro, Ennio Peres trata sobre as fontes de energia renovável com maior potencial no Brasil, como eólica, hidrelétrica e solar. Há também um capítulo sobre o hidrogênio, assunto no qual o docente é especialista. A obra também compara os impactos provocados ambientais provocados pelo uso das fontes alternativas e as fósseis. “Procurei fazer um texto coloquial, para atingir um público mais amplo. Entretanto, na parte final do livro há anexos que permitem maior aprofundamento sobre os temas abordados”, informou. (Manuel Alves Filho)

dezembro de 2015, às 9 horas, na sala PE11 da CPG da FEEC. “PRIVAPP: Uma abordagem extensiva para auxiliar o projeto de aplicações web com proteção de privicidade” (doutorado). Candidata: Tania Basso. Orientador: professor Mario Jino. Dia 4 de dezembro de 2015, às 9 horas, na FEEC. “Processo de calibração em campo dos amplificadores Raman distribuídos contra-propagantes para funcionamento no modo de controle automático de ganho” (mestrado). Candidato: Benjamin Sarti. Orientador: professor Max Henrique Machado Costa. Dia 10 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC. “Matgrafvoice: sistema de tratamento matemático e visualização tátil de funções matemáticas através de uma impressora Braille” (de mestrado). Candidata: Lorena Del Cisne León Quiñonez. Orientador: professor Luiz Cesar Martini. Dia 10 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala da CPG da FEEC. “Equalização global do espectro de canais amplificados durante a transmissão em uma rede óptica com diferente número de nós” (doutorado). Candidato: Eduardo Cavalcanti Magalhães. Orientador: professor Aldario Chrestani Bordonalli. Dia 11 de dezembro de 2015, às 14 horas, na FEEC. “Estudo e simulações computacionais das propriedades eletrostáticas associadas à forma hemisfério-sobre-um-poste de emissores de elétrons por efeito de campo, baseados no método de elementos finitos” (doutorado). Candidato: Davi Sabbag Roveri. Orientador: professor Marco Antonio Robert Alves. Dia 11 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Análise de processos críticos na implementação de projetos de manufatura enxuta utilizando as diretrizes de gerenciamento de projetos” (mestrado). Candidato: Alex Toshio Sano. Orientador: professor Rosley Anholon. Dia 9 de dezembro de 2015, às 10 horas, no auditório DEMM da FEM.  Engenharia Química - “Sistema de localização de vazamento de gás por dispositivo acústico-eletrônico de deslocamento interno” (mestrado). Candidato: Flavio Gonçalves Cavalieri. Orientadora: professora Ana Maria Frattini Fileti. Dia 27 de novembro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Bioadsorção de íons metálicos em sistemas simples e competitivos preparados a partir de diferentes macrófitas” (doutorado). Candidata: Lívia Katia dos Santos Lima. Orientadora: professora Melissa Gurgel Adeodato Vieira. Dia 27 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Física - “Competição entre anisotropias perpendiculares em bicamadas de CoCrPt/Ni resolvida por ressonância ferromagnética” (mestrado). Candidato: Gabriel Soares. Orientador: professor Fanny Béron. Dia 27 de novembro de 2015, às 14 horas, no auditório da Pósgraduação do prédio D do IFGW. “Projeto, caracterização e análise de microrressonadores óticos acoplados em plataforma SOI” (mestrado). Candidato: Guilherme Fórnias Machado de Rezende. Orientador: professor Newton Cesário Frateschi. Dia 9 de dezembro de 2015, às 14 horas, no auditório da Pósgraduação do prédio D do IFGW.  Geociências - “A pesquisa de inovação como instrumento para mensuração da adoção/difusão de tecnologia” (mestrado). Candidato: Luis Otávio Lucas. Orientador: professor André Tosi Furtado. Dia 9 de dezembro de 2015, às 10 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “O outro na escola: algumas representações a respeito das diferenças” (doutorado). Candidata: Luciana Cabral Figueirêdo. Orientadora: professora Marilda do Couto Cavalcanti. Dia 24 de novembro de 2015, às 13h30, no anfiteatro do IEL. “Tradução e estudo de “La Tía fingida”” (mestrado). Candidato: Rafael Augusto Bonin Bisoffi. Orientador: professor Alexandre Soares Carneiro. Dia 3 de dezembro de 2015, às 10 horas, no anfiteatro do IEL. “Do Bronze a Homero: história, autoria, ethos militar na Ilíada e ethos econômico, comercial e emergente na Odisseia” (doutorado). Candidato: João Miguel Moreira Auto. Orientador: professor Flávio Ribeiro de Oliveira. Dia 11 de dezembro de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Bifurcações genéricas em sistemas planares de Filippov” (doutorado). Candidata: Juliana Fernandes Larrosa. Orientador: professor Marco Antonio Teixeira. Dia 27 de novembro de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Estudo de estratégia de contenção do crescimento de micro-organismos patogênicos em alimentos” (doutorado). Candidata: Roberta Regina Delboni. Orientador: professor Hyun Mo Yang. Dia 1 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Modelos matemáticos para otimização do confinamento de bovinos de corte” (mestrado profissional). Candidato: Paulo Víctor Campagnoli França. Orientadora: professora Carla Taviane Lucke da Silva Ghidini. Dia 2 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Representações de superalgebras de funções” (doutorado). Candidato: Lucas Henrique Calixto. Orientador: professor Adriano Adrega de Moura. Dia 4 de dezembro de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Modelagem matemática e simulação computacional da influência de poluentes e da velocidade de corrente na dinâmica populacional de macrófitas aquáticas” (doutorado). Candidato: José Carlos Rubianes Silva. Orientador: professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer. Dia 9 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala 226 do Imecc. “A transformada fuzzy aplicada em problema de valor inicial com condição inicial incerta” (mestrado). Candidato: Glauco Aparecido de Campos. Orientador: professor Laecio Carvalho de Barros. Dia 9 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “O uso de algoritmos e programação no ensino de matemática” (mestrado profissional). Candidato: Daniel Tebaldi Santos. Orientador: professor Lúcio Tunes dos Santos. Dia 10 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Métodos de L’Hôpital para resolução de equações lineares utilizando cônicas” (mestrado profissional). Candidato: Yuri Graham Vaciloto Ferreira de Lima. Orientador: professor Eduardo Sebastiani Ferreira. Dia 10 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala 321 do Imecc.  Odontologia - “Avaliação da acurácia entre o diagnóstico clínico e os achados histopatológicos das alterações pulpares degenerativas e inflamatórias” (doutorado). Candidato: José Neto da Costa. Orientadora: professora Ana Lúcia Carrinho Ayroza Rangel. Dia 27 de novembro de 2015, às 9 horas, no Salão Nobre da FOP. “Efeito do tratamento periodontal no controle glicêmico de pacientes idosos portadores de diabetes tipo 2: revisão sistemática e metanálise” (mestrado profissional). Candidata: Livia Fernandes Probst. Orientador: professor Eduardo Hebling. Dia 27 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Avaliação comparativa da morfologia condilar de pacientes com hiperplasia condilar unilateral e com deformidade dentofacial classe iii” (doutorado). Candidato: Douglas Rangel Goulart. Orientador: professor Marcio de Moraes. Dia 4 de dezembro de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Análise das propriedades físicas, químicas e antimicrobianas da resina para fixação de bráquetes com diferentes concentrações de amônias quaternárias” (mestrado). Candidata: Mari Miura Sugii. Orientador: professor Flávio Henrique Baggio Aguiar. Dia 11 de dezembro de 2015, às 8h30 horas, na sala de Seminários da Periodontia da FOP. “Análise fotoelástica da distribuição de tensões em próteses fixas implantorretidas de três elementos” (doutorado). Candidata: Mariana Agustinho Rodrigues. Orientador: professor Guilherme Elias Pessanha Henriques. Dia 11 de dezembro de 2015, às 9 horas, na sala da congregação da FOP. “Análise do secretoma de fibroblastos associados ao carcinoma espinocelular oral” (doutorado). Candidata: Elizabete Bagordakis Pinto. Orientador: professor Ricardo Della Coletta. Dia 11 de dezembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 1 da FOP. “Concentração de íon flúor em folhas de eucalipto localizadas ao redor de uma indústria de alumínio” (doutorado). Candidato: Fabrício Narciso Olivati. Orientador: professor Jaime Aparecido Cury. Dia 11 de dezembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 2 da FOP.  Química - “Reações de esterificação e de epoxidação enzimática. Síntese de ambrox e de outros derivados a partir da coronarina-D e avaliação da atividade antiproliferativa “in vitro” de alguns derivados sintetizados” (doutorado). Candidata: Rosa Maria Teixeira Tagé Biaggio. Orientador: professor Paulo Mitsuo Imamura. Dia 27 de novembro de 2015, às 14h30, no miniauditório do IQ. “Caracterização estrutural e funcional das chaperonas moleculares SsHSP21.5-mt e SsHSP22.3-cp de Saccharum spp. (cana-de-açúcar)” (doutorado). Candidata: Glaucia Melina Squizato Pinheiro. Orientador: professor Calos Henrique Inácio Ramos. Dia 10 de dezembro de 2015, às 13h30, no miniauditório do IQ. “Preparação e caracterização de filmes compósitos contendo nanopartículas de TiO2 e óxido de grafeno reduzido para estudos da fotooxidação da água e aplicação em células solares” (doutorado). Candidata: Andreia de Morais. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 11 de dezembro de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ.


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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015 ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

orte encefálica é a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. Isto significa que, como resultado de severa agressão ou de um ferimento grave no cérebro, o sangue que vem do corpo (e o supre) é bloqueado. As funções cerebrais morrem. É nesse momento que muitas famílias são acionadas a doarem os órgãos de seus entes queridos. Mas há famílias que resistem à doação, pois esse processo ainda é entrecortado por mitos e crenças. Apesar de algumas famílias optarem pela doação de órgãos, elas ainda se ressentem da falta de suporte psicológico e social do Sistema Único de Saúde (SUS) após o procedimento. Essa foi a conclusão de um estudo de doutorado desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) por Marli Elisa Nascimento Fernandes. “Vejo que é necessário oferecer maior apoio socioemocional aos familiares frente à sua vivência no processo de doação”, constatou ela. Marli, que é assistente social, sugeriu em sua tese que o SUS e o Sistema Nacional de Transplante (SNT) criem uma rede de cuidados às famílias de potenciais doadores e de doadores efetivos de órgãos no Brasil. A autora do trabalho espera que isso seja encarado como política nacional para agraciar essas famílias em suas necessidades. Outras práticas de atenção e gestão na saúde também poderão ser discutidas para impactar o fortalecimento dos vínculos familiares pósdoação e aumentar os índices de captação. A pesquisa de doutorado, realizada entre 2012 e 2013, foi sobre a percepção das famílias de doadores de órgãos múltiplos sobre o processo de doação. “Obtivemos um olhar da família em relação à doação que acontece no SNT”, informou. A doutoranda explicou que faz parte da rotina do SNT uma entrevista com a família do paciente para ver se ela consente a doação de múltiplos órgãos. Para detectar morte encefálica no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, expôs ela, são necessários vários testes, que contam principalmente com a participação de dois neurologistas, realizados com base no protocolo de verificação de morte encefálica. Após uma avaliação clínica e laboral, vem o diagnóstico e a manutenção do potencial doador. A equipe de saúde avalia se esse paciente possui condições de ser doador e oferece à família essa possibilidade.

AMOSTRA

O HC da Unicamp tem em suas dependências a OPO (Organização de Procura de Órgãos). Dentro do banco de dados da OPO, Marli selecionou 135 doadores de órgãos e obteve uma amostra de 30. Telefonou para as famílias convidando-as a participarem do estudo. A amostra final foi composta de 12 famílias. Somente sete aceitaram participar do estudo. Cinco se recusaram por terem dificuldades emocionais para abordar o assunto. Foi marcada uma única entrevista. Cinco famílias foram entrevistadas no domicílio e duas no hospital. A ideia era falar sobre a doação. As famílias lamentaram a falta de suporte psicológico e social do SUS quando ainda ocorre a elaboração do luto. Elas contaram que se sentiram excluídas do processo. Algumas famílias inclusive relataram que tiveram que custear o próprio suporte psicológico para enfrentar a dor da perda, mesmo com uma condição financeira muito precária.

Publicações Artigo Fernandes, M.E.N.; Bittencourt, Z.Z.L.C.; Boin, I.F.S.B. Experiencing organ donation: feelings of relatives after consent. Rev. Latino-Am. Enfermagem, 23(5):82-7, 2015.

Tese: “Percepção das famílias de doadores de órgãos sobre o processo de doação” Autora: Marli Elisa Nascimento Fernandes Orientadora: Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin Coorientadora: Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

No limiar da morte Tese sugere criação de rede que dê apoio às famílias de potenciais doadores e de doadores efetivos de órgãos

Foto: Antoninho Perri

A assistente social Marli Elisa Nascimento Fernandes, autora da tese: “Vejo que é necessário oferecer maior apoio aos familiares”

Segundo Marli, a maioria dos participantes que aprovaram a doação foram homens (pais). Já a maioria dos doadores eram mulheres na faixa dos 27 anos e que tiveram morte causada por traumatismo crânio-encefálico (TCE), encefalopatia anóxica e acidente vascular cerebral (AVC). As famílias lembraram que, quando o ente querido morre, muitas providências precisam ser tomadas. E isso tem que acontecer mesmo elas estando emocionalmente desestabilizadas, depois de enfrentarem uma morte precoce, inesperada e repentina. Sem falar que muitas não estão economicamente estáveis e não têm convênio médico privado. Algumas queixas delas envolveram a questão do curto tempo que decorre entre a morte encefálica e a entrevista sobre a doação. As famílias consideraram muito rápida a intervenção e muitas se mostraram incomodadas com isso. Por outro lado, elas também enfatizaram a demora na liberação do corpo do familiar: entre 36 e 48 horas. De acordo com Marli, depois que o órgão é doado, tem que seguir para o Instituto Médico Legal (IML), e a espera pode se prolongar muito. Nesse processo, comentou, somente é possível falar em doação após ter sido constatada a morte cerebral. Com isso, o tempo não pode ser excessivamente longo, porque é crucial que os órgãos sejam mantidos na mais perfeita condição. “Essa demora acaba sendo muito triste para a família”, lamentou. Mas as famílias entrevistadas não abordaram apenas os aspectos negativos da doação. Também chamou a atenção da doutoranda a motivação dos familiares para fazerem a doação. Eles afirmaram que se sentiram recompensados em ajudar outras pessoas que ainda vivem e precisam desses órgãos. Muitos citaram que receberam grande apoio do Serviço de Enfermagem e do Serviço Social e, embora reconhecendo que a situação era muito difícil, por envolver morte, a motivação das famílias tinha duas razões especiais: a sua crença e as campanhas jornalísticas. As entrevistadas falaram das vivências (falaram sobre a morte encefálica e a condução do processo), do sentimento (de não ter o acompanhamento), da percepção (da falta de apoio do SUS) e da motivação (que envolve os quatro temas) para a doação de órgãos. Conforme Marli, a percepção foi o todo neste processo.

PROPOSTA

A falta de apoio do SUS foi uma deixa para que Marli e sua orientadora, a docente da FCM Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin, elaborassem uma proposta na tese para a criação de uma rede de cuidados da família do potencial doador de órgãos para transplante.

A OPO do HC O Brasil é referência em transplantes e, atualmente, mais de 95% deste procedimento é financiado pelo SUS, que é o maior sistema público de transplantes do mundo. Apesar disso, a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) aponta que o país tem 44% de recusa familiar em relação à doação e há hoje 13 doadores por milhão de habitantes. “Esses dados estão muito aquém das necessidades dos pacientes em lista de espera. Isso mostra que é muito difícil conseguir um transplante”, afirmou Marli. A OPO surgiu em 1993 e, após a regulamentação da lei de doação em 1997, ela teve papel fundamental para o desenvolvimento da captação e transplantes da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Atualmente, essa unidade é considerada a primeira em captação das centrais no interior de São Paulo.

A proposta é que a equipe da OPO e dos profissionais da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) já identifiquem o potencial doador e acionem a Unidade Básica de Saúde e o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) para oferecer suporte psicológico e social à família, independentemente de haver doação ou não. Neste caso, explicou a doutoranda, que também teve coorientação da professora Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt, o profissional da equipe faria uma contrarreferência junto à rede, encaminhando essas famílias para um acompanhamento de no mínimo três meses. “Apesar do processo de interiorização e de elaboração do luto não ter prazo fechado, ter alguém da rede onde eles moram, e poder lhes dar apoio, é uma grande conquista.” A assistente social chegou a consultar a Organização Nacional de Transplantes (ONT) da Espanha, a maior referência mundial em transplantes, hoje com mais de 35 doadores por milhão de habitantes (mais que o dobro do Brasil). A resposta foi que naquele país não há acompanhamento pós-doação, consoante proposto por Marli. “Nosso projeto é portanto pioneiro”, comemorou. A pesquisadora faz um apelo às autoridades ligadas ao SUS. “Se não houver cuidado com as famílias, dificilmente haverá doação”, acentuou Marli, que atua como supervisora da Área de Internação do HC e integra a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos para Transplante, vinculada à OPO.

A OPO abrange em média 124 municípios e trabalha com a notificação de potenciais doadores. Possui uma equipe multiprofissional que faz a entrevista com as famílias. Como é o processo após a família consentir a doação? A OPO tem que notificar as Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) para que os pacientes que estão na lista de espera tenham compatibilidade para receber o órgão. O processo começa identificando o potencial doador e depois são feitos os exames para comprovar a morte encefálica. É realizada a entrevista com a família e, quando se notifica a morte encefálica, essa informação tem que ser encaminhada para a CNCDO, do Ministério da Saúde. Vai rodar uma lista do paciente que está em espera. A CNCDO verifica as pessoas que têm compatibilidade para receber a doação.

Depoimentos de familiares “No primeiro momento, eu não queria doar, mas depois, lembrando que ela deixou sua vontade de ser doadora para ajudar a salvar outras vidas, o que mais me incentivou em fazer a doação foi respeitar o desejo dela.” “... Acho que o SUS devia proporcionar apoio da assistência e psicólogo pois nós tivemos que pagar um psicólogo para meu filho e também eu paguei atendimento psiquiátrico.” “A mídia tem influência para doar, mas acho que passa muito pouco... Acho que a família doadora é que deveria ser a propaganda para incentivar a doação...” “O que motivou a gente foi mais o desejo de poder ajudar, porque infelizmente para minha filha não teria mais nada o que fazer, e ela poderia ajudar outras crianças da idade dela...”


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Campinas, 30 de novembro a 13 de dezembro de 2015

Longe do mainstream Foto: Divulgação

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

conceito de ensaio no cinema vem sendo debatido mais intensamente no Brasil nos últimos cinco anos, mas ainda é quase total a ausência de bibliografia a respeito, limitando-se a textos esparsos. “O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea” (Hucitec Editora) é o primeiro livro que procura cobrir a multiplicidade de temas a ele relacionados, organizado pelo professor Francisco Elinaldo Teixeira, do Departamento de Cinema do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Tratase de uma coletânea de textos de 14 autores locais e internacionais em torno da reflexão e da prática do filme-ensaio. Eli Teixeira explica que o conceito de ensaio no cinema remonta ao período clássico, nos anos 1920, quando dos debates que estabeleceram três grandes domínios: a ficção, o documentário e o cinema experimental de vanguarda. “Esse quarto domínio – o ensaio na forma que sugerimos hoje – vai conquistar terreno no período moderno do cinema (pós-guerra), mas ainda na condição que chamo no livro de proto-ensaio: o conceito passa a ser proposto, no âmbito da teoria e da história do cinema, dentro do campo do documentário – e depois como parâmetro para a análise de filmes (filmes-ensaio).” Segundo o organizador da coletânea, a discussão começou a ganhar corpo no Brasil no início dos anos 2000, com o advento da cultura digital. “Este livro entra na história e na teoria do cinema através de grandes temas da atualidade: a questão da performance, que vem das artes cênicas e que estamos nos esforçando em traduzir para o campo das artes visuais; do sound design (desenho sonoro), visto que hoje é praticamente impossível analisar um filme sem considerar a construção da imagem sonora; do live cinema (cinema ao vivo), em que o processo de criação e de edição se expõe ao vivo, com a presença junto ao público do realizador e de toda a parafernália técnica; e, por fim, do conceito de ensaio, tanto na teoria (cine-ensaio) quanto na prática fílmica (filme-ensaio).” Eli Teixeira observa que o filme-ensaio não conta uma história, embora tome muito como referência a ficção, o documentário e o experimental, sobretudo esses dois últimos. “Ele discute e problematiza idéias, trata das circunstâncias e estados de espírito do processo de realização, incluindo sempre o realizador, seja em corpo, seja em voz – traz

Ilustração de Francisco Elinaldo Teixeira para o livro “O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea”

para primeiro plano o olhar subjetivo do ensaísta, criando um circuito entre o eu e o mundo, o público e o privado. Em termos de construção, sua consistência é heterodoxa, apropriando-se do material dos outros três domínios, mas sem a pretensão totalizante, é sempre uma espécie de work in progress

(trabalho em progressão), uma obra aberta. É uma linha de fuga em relação à concepção tradicional de cinema: o pensamento é o foco. Por isso, o filme-ensaio possui um circuito bastante restrito e alternativo, sobretudo dos museus e galerias e de mostras que fogem do cinema mainstream.”

O professor da Unicamp organizou o livro em duas partes, a primeira intitulada “Lapidando um conceito: cartografias do ensaio no cinema”, reunindo sete textos mais teóricos. “Há uma série de convergências e divergências sobre como compor o conceito deste quarto domínio, que diz respeito à cultura pós-moderna. É um desafio que advém de um grande momento de inflexão dos parâmetros da imagem, primeiro com a emergência da imagem-vídeo e depois com a irrupção da imagem digital. Isso trouxe uma série de facilidades para o realizador, sobretudo a possibilidade de inclusão do seu entorno, da sua intimidade – o filme-ensaio vai trabalhar muito nessa fronteira entre o privado e o público.” A segunda parte da antologia – “Balizando um conceito: o filme-ensaio e a diversidade de suas práticas” – contém seis textos investigando de vários ângulos a materialização do ensaio por diferentes realizadores contemporâneos. “Na obra se articulam cine-ensaio e filme-ensaio, ou seja, o conceitual e a prática fílmica. Os conceitos do cinema sempre pressupõem um corpus de filmes que os sustentam, numa maneira de retirar da abstração uma conotação de operação meramente especulativa e, desse modo, por demais difusa para se converter em instrumento analítico eficaz. No momento realizo uma pesquisa, específica sobre a produção ensaística no cinema brasileiro, que vai resultar em outro livro.” De acordo com Eli Teixeira, um grande debate ocorrido no contexto internacional foi do filme-ensaio como uma derivação do documentário, que se alimentaria intensamente deste domínio e também dos procedimentos experimentais. “A revolução tecnológica propiciou inúmeras experimentações das vanguardas, a partir das quais surgiram os filmes-ensaio. Aqui no Brasil se deu algo parecido, com seu nascimento ligado à década bastante experimental dos 70, a forte conexão com o documentário nos 80 e trocas intensas com esses dois domínios dos 90 para cá. O conceito de cinema experimental tinha desaparecido por conta de querelas do debate entre modernidade e pós-modernidade e é importante trazer esta discussão de volta.” “O Ensaio no Cinema: Formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea” foi lançado oficialmente primeiro em São Paulo, no dia 25 de setembro, e no dia 22 de outubro, durante o Congresso Anual da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), que teve sua 19ª edição realizada na Unicamp. O lançamento de livros é uma tradição deste evento, onde foram apresentados trabalhos de professores, pesquisadores, mestrandos e doutorandos, além de palestras e mostras de filmes. Foto: Antoninho Perri

Os autores Alfredo Suppia Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Multimeios e professor do Departamento de Cinema (Decine) da Unicamp Antonio Weinrichter López Escritor e programador cinematográfico, atualmente professor associado da Universidade Carlos III de Madri (Espanha) Candida Maria Monteiro Doutora em design pela PUC-Rio, onde é pesquisadora e professora do Departamento de Comunicação. Carlos Ebert Diretor e fotógrafo de cinema, televisão e publicidade, membro da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) Cecília Mello Professora de cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), doutora em cinema pela Universidade de Londres Francisco Elinaldo Teixeira Chefe do Departamento de Cinema, professor na graduação em Midialogia e na pós-graduação em Multimeios do IA/Unicamp, organizador do livro Gilberto Alexandre Sobrinho Professor de televisão, cinema e vídeo no IA/ Unicamp; professor visitante na Universidade de San Francisco (EUA)

Henri Arraes Gervaiseau Cineasta e professor da ECA/USP e professor convidado pela Université Sorbonne Nouvelle Paris III Ismail Xavier Professor aposentado pela ECA/USP, membro do Conselho Consultivo da Cinemateca Brasileira Joel Pizzini Cineasta, pesquisador e professor da PUC/RJ e da Faculdade de Artes do Paraná, foi artista residente da Unicamp Marcius Freire Professor associado (livre-docente) do Departamento de Cinema e da Pós-Graduação em Multimeios da Unicamp Robert Stam Professor da Universidade de Nova York, lecionou na Tunísia, na França e no Brasil (USP, UFF, UFMG) Rodrigo Gontijo Artista multimídia, pesquisador e documentarista, doutorando e mestre em Multimeios pelo IA/UNICAMP Sarah Yakhni Cientista social, documentarista, cineasta premiada como diretora e roteirista, doutora em Multimeios pela Unicamp

O professor Francisco Elinaldo Teixeira, organizador do livro: “Na obra se articulam cine-ensaio e filme-ensaio, ou seja, o conceitual e a prática fílmica”


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