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Foto: Antonio Scarpinetti

Da iniciação científica para o mundo 5

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 16 a 29 de novembro de 2015 - ANO XXIX - Nº 644 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

A ciência que antevê o futuro 3e4

Duas pesquisas da Unicamp, feitas em áreas distintas e marcadas pela interdisciplinaridade, são emblemáticas do universo dos estudos científicos que antecipam cenários. Na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), Carlos Renato Belo Azevedo criou ferramenta que projeta o comportamento do mercado financeiro. O trabalho, fundamentado em conceitos da Engenharia Antecipatória e orientado pelo professor Fernando José Von Zuben, recebeu o Prêmio Capes de Tese 2015. No Instituto de Química (IQ), com colaboração de pesquisadores do Centro de Componentes Semicondutores (CCS), a química Cecília de Carvalho Castro e Silva e o professor Lauro Tatsuo Kubota desenvolveram um dispositivo que, com uma gota de sangue, indica o surgimento do câncer de mama antes mesmo do aparecimento do nódulo.

Ilustração: Luis Paulo Silva | Imagem: sxc.hu [freeimages]

Biossensor desenvolvido no Instituto de Química e no CCS: identificando proteína presente em cerca de 30% dos casos de câncer de mama

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Aumenta o impacto de pesquisas feitas em SP Mapa de partos revela o peso da desigualdade

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País ganha primeiro banco público de dados genômico Testes mostram potencial bioativo de 5 frutas nativas

Estudos de psicologia viram alvo de apostas Consórcio internacional para o combate ao câncer Prêmio de US$ 3 milhões contempla 1,3 mil físicos

TELESCÓPIO

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Campinas, 16 a 29 de novembro de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Instabilidade antártica

Medo de matemática

A capa de gelo que cobre a metade ocidental da Antártida é instável e pode começar a se lançar ao mar nas próximas décadas, num processo inexorável de longo prazo capaz de elevar o nível do mar em até três metros, diz trabalho publicado no periódico PNAS. “Em nossas simulações, com resolução horizontal de 5 km, a região se desequilibra após 60 anos de taxas de derretimento como as observadas atualmente. A partir daí, a instabilidade da capa de gelo marítima se manifesta por completo, e não é contida pela topografia”, escrevem os autores, vinculados à Universidade de Potsdam, na Alemanha.

Algumas pessoas podem se beneficiar da “ansiedade matemática” – sentimento de desconforto e nervoso diante de problemas matemáticos – diz um par de estudos publicados no periódico Psychological Science. O senso comum sugere que a ansiedade deve reduzir a capacidade da pessoa de realizar operações matemáticas, e isso é verdade em muitos casos. Mas, para estudantes motivados a enfrentar o desafio da matemática, a ansiedade mostrou efeitos positivos, melhorando os resultados em testes. De acordo com os autores dos estudos, a motivação por trás da ansiedade – se uma sensação de ameaça ou o desejo de se sair bem – afeta o efeito da emoção sobre o resultado. O primeiro estudo envolveu duas centenas de crianças de 12 anos, e o segundo, universitários. Em ambos os casos, o impacto da ansiedade no resultado foi mediado pela motivação subjacente.

Apicultores pré-históricos Os sinais mais antigos da exploração de abelhas de mel (Apis mellifera) por seres humanos são traços de cera de abelha descobertos em cerâmicas de nove mil anos atrás, encontradas na Anatólia (Turquia), diz artigo publicado na revista Nature. Os autores explicam que a cera de abelhas tem uma composição química muito estável, o que permite seu uso como uma espécie de “impressão digital” no estudo de artefatos antigos. A convivência de humanos e abelhas aparece em arte egípcia de cinco mil anos atrás, e também é deduzida a partir de artefatos da Idade da Pedra, mas os vestígios de Anatólia são a mais antiga prova física do uso de material derivado de abelhas pela humanidade. Os autores do trabalho na Nature, que envolveu uma ampla colaboração internacional, não se limitaram a identificar os vestígios mais antigos da associação entre homens e abelhas, mas também mapearam a presença de cera de abelha em cerâmicas pré-históricas da Europa, Oriente Médio e Norte da África.

Apostas científicas Um mercado de apostas sobre quais estudos escolhidos para o “Projeto Reprodutibilidade: Psicologia”, que buscou confirmar as descobertas anunciadas em dezenas de artigos científicos da área psicológica – e que concluiu que menos da metade das conclusões anunciadas na literatura era reprodutível – se saiu melhor em prever esse resultado do que uma pesquisa de opinião realizada entre especialistas, aponta estudo publicado na PNAS.

Enquanto o Projeto Reprodutibilidade ainda estava em andamento, cerca de 40 pesquisadores envolvidos responderam a uma pesquisa de opinião sobre qual a chance que viam de cada estudo sob escrutínio ser reproduzido. Esses mesmos pesquisadores participaram de uma bolsa de apostas, onde receberiam US$ 1 se apostassem num estudo que acabaria reproduzido, ou nada, se apostassem num estudo “errado”. A pesquisa de opinião previu o resultado do Projeto Reprodutibilidade com apenas 50% de precisão, mas a bolsa de apostas se saiu bem melhor, com o preço médio de fechamento dos lances em US$ 0,55, o que se traduz numa previsão de consenso de que 55% dos trabalhos seriam reproduzidos. Esse consenso de mostrou apenas um pouco mais otimista do que a realidade. Já um modelo matemático construído com base no jogo previu os resultados individuais com 71% de precisão, bem superior aos 50% da pesquisa de opinião. Psicólogos ouvidos sobre o assunto pela revista Nature levantaram duas hipóteses sobre o resultado: os participantes podem ter sido mais criteriosos no jogo do que ao responder à pesquisa, porque havia dinheiro envolvido; ou a própria dinâmica do mercado pode ter permitido que cada jogador ajustasse seu ponto de vista a partir do comportamento dos demais, possibilidade que a pesquisa de opinião não oferece. Outro resultado do estudo foi uma estimativa da probabilidade de uma hipótese psicológica ser verdadeira, dado que um artigo publicado afirma que ela é: a mediana ficou em 56%. Após uma replicação, essa estimativa mediana sobe para perto de 100%.

Foto: Eric Tourneret/Divulgação

Mudança climática nos oceanos

Estrelas antigas no bojo Uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo poloneses, americanos, britânicos, suecos e franceses anuncia, na revista Nature, a descoberta de centenas de estrelas com baixo índice de ferro no chamado bojo da galáxia, a região abaulada localizada próxima ao centro. Uma dessas estrelas tem apenas 0,01% do ferro encontrado no Sol. A pouca presença de metal sugere que estas são estrelas muito antigas, formadas antes que o espaço fosse enriquecido pelos elementos pesados dispersados na morte das primeiras gerações de astros do Universo. Teoricamente, essas estrelas mais antigas deveriam se acumular junto ao centro das galáxias, mas a maioria das avistadas até agora foi encontrada nas regiões mais externas, o chamado halo galáctico. Essa discrepância costuma ser explicada por processos químicos ocorridos no bojo galáctico, ao longo de bilhões de anos. O trabalho agora publicado na Nature confirma a existência de uma população de estrelas de baixa metalicidade em órbitas estreitas junto ao bojo.

Cooperação contra o câncer Um grupo de centros de pesquisa médica dos Estados Unidos e da Europa anunciou, no início de novembro, a formação de um consórcio para a partilha de informação genética sobre tumores malignos. Chamado GENIE (sigla em inglês para Genômica, Evidência, Neoplasia, Informação, Intercâmbio), o projeto tem por objetivo criar um banco de dados global conectando as características genéticas de tumores aos resultados obtidos com diferentes terapias. O programa, patrocinado pela Associação de Combate ao Câncer dos Estados Unidos, espera gerar novas hipóteses de pesquisa, que podem levar a estudos clínicos ou informar estudos já em andamento. Um gráfico explicativo do GENIE está disponível online (em inglês), neste endereço: http://www.aacr. org/Documents/GENIE_InfoGraph.pdf

Mais de mil físicos dividem prêmio milionário

A edição mais recente da revista Science dedica uma seção especial ao impacto da mudança climática nos oceanos da Terra, incluindo revisões da literatura científica sobre os efeitos da variação do clima na vida marinha e nas populações humanas que dependem diretamente do mar para viver. A seção é complementada por artigos de opinião e reportagens. A revisão sobre os efeitos da mudança na vida marinha alerta para os riscos de modificação nas cadeias alimentares e de extinções. Já a análise de estudos sobre os efeitos na vida humana afirma que os principais prejudicados diretos – pequenos Estados insulares e as populações costeiras de baixa renda – serão os que menos contribuíram para o efeito estufa. Os artigos de opinião advertem para o impacto da mudança nas temperaturas oceânicas sobe o clima global, a acidificação dos mares e a saúde dos corais. Um editorial da Science nota progressos na conscientização sobre a mudança climática, mas adverte que ainda resta muito a ser feito.

Colmeia de ‘Apis mellifera’ no interior de uma árvore oca, fotografada na França

O prêmio Nobel de Física deste ano foi concedido, em outubro, a dois pesquisadores, Takaaki Kajita e Arthur McDonald, por terem provado que as partículas subatômicas chamadas neutrinos podem mudar uma característica fundamental – apelidada de “sabor” – enquanto viajam pelo espaço. A demonstração da mudança de sabor permitiu estabelecer que os neutrinos têm massa, resolvendo um antigo dilema da física. Agora no início de novembro, os mais de 1,3 mil físicos envolvidos nos vários experimentos que estabeleceram a oscilação de sabor dos neutrinos (incluindo Kajita e McDonald) foram lembrados e tornaram-se ganhadores do Prêmio Breakthrough (“Ruptura” ou “Importante Avanço”, em inglês) de Física Fundamental. Essa premiação foi anunciada no Centro de Pesquisa Ames da Nasa, nos Estados Unidos. O Breakthrough é um prêmio de US$ 3 milhões, que será dividido entre os diferentes grupos de pesquisa. Os organizadores do Breakthrough negam que a premiação, inédita, de um número tão grande de pesquisadores tenha sido uma crítica ao caráter personalista do Nobel – que reconhece, no máximo, três ganhadores por categoria – lembrando que a decisão sobre os agraciados é feita antes do anúncio dos Nobéis.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

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Incertezas minimizadas Estudo vencedor do Prêmio Capes usa métodos da Engenharia Antecipatória para delinear cenários futuros

Foto: Antoninho Perri

O cientista da computação Carlos Renato Azevedo, autor da tese: “Nós buscamos informações no passado para traçar cenários futuros, que por sua vez guiarão as decisões do presente”

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

ciência ainda não conseguiu desenvolver um método para prever o futuro. O amanhã ao amanhã pertence. Entretanto, estudos na área da Engenharia Antecipatória, que utilizam o suporte da chamada Inteligência Artificial (IA), já conseguem traçar tendências e delinear, com boa margem de êxito, cenários passíveis de serem concretizados mais à frente. Em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, o cientista da computação Carlos Renato Belo Azevedo valeu-se dos recursos da Engenharia Antecipatória para projetar o comportamento do mercado financeiro. Ao buscar identificar decisões de compra e venda de ações que mantivessem abertas as opções futuras de um investidor fictício, a ferramenta aumentou a riqueza acumulada deste em cerca de 60%, mesmo sem ter sido programada explicitamente para maximizar os ganhos financeiros no longo prazo. O trabalho, que foi orientado pelo professor Fernando José Von Zuben, recebeu o Prêmio Capes de Tese 2015. De acordo com Azevedo, a Engenharia Antecipatória procura integrar todo o conhecimento disponível acerca de um determinado tema, com o propósito de apontar possíveis cenários futuros. Assim, no caso do mercado financeiro, é importante que o modelo computacional seja alimentado com diferentes tipos de informação, como as oscilações dos papéis na bolsa, a movimentação das principais empresas do segmento e até o perfil do investidor, que pode ser mais ou menos afeito a correr riscos. “Dito de modo simplificado, nós buscamos informações no passado para traçar cenários futuros, que por sua vez guiarão as decisões do presente”, explica o autor da tese. O princípio, conforme o pesquisador, é válido tanto para atender aos interesses de uma pessoa quanto de uma corporação. “Ao imaginarmos esses cenários futuros e as consequências que eles podem trazer para o ‘autor do pensamento’, o que se espera é que as decisões no presente sejam mais robustas e mais tolerantes às

incertezas”, acrescenta. Com frequência, observa Azevedo, os modelos matemáticos empregados nesse tipo de exercício de predição procuram reduzir a complexidade do mundo. Assim, a tradição é abastecer o programa somente com informações consideradas relevantes para solucionar um problema específico. “No meu trabalho, eu procurei ir além desse conceito. Obviamente, o sistema contempla modelos matemáticos e simulações computacionais. No entanto, eu também explorei no trabalho outras áreas do conhecimento. Li vários artigos sobre psicologia, sociologia, biologia, economia comportamental etc. Ou seja, adotei um caminho transdisciplinar, de modo a tornar a abordagem mais abrangente. É importante recorrer às mais variadas áreas do saber para constituir sistemas inteligentes que nos auxiliem a tomar as melhores decisões”, pondera. Um cuidado que o cientista da computação procurou tomar em relação ao sistema que desenvolveu foi dotá-lo da capacidade de “aprender” com suas próprias ações e de preservar a flexibilidade em relação às opções que se apresentarão no futuro. Complicado de entender? Azevedo destrincha essa questão. “A ideia é a de não se comprometer rigidamente, durante o processo decisório, com um tipo de preferência. Desse modo, se o cenário delineado sofrer uma grande transformação, em razão de mudanças na conjuntura econômica, por exemplo, sempre haverá a chance de se alterar essa decisão para adequá-la ao novo momento. Dessa maneira, o investidor tem a alternativa de ser mais agressivo em situações favoráveis e mais conservador em ocasiões adversas”, detalha. O pesquisador conta que validou a ferramenta no contexto do mercado financeiro, levando em consideração dados reais das bolsas de valores de Londres, Hong Kong e também do Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York. Azevedo trabalhou, ainda, com mercados simulados. “As duas abordagens foram importantes porque elas permitiram que o sistema analisasse tanto mercados cujos papeis apresentam grande variabilidade, quanto mercados mais estáveis, nos quais os cenários são mais fáceis de serem capturados”.

O autor da tese diz que foi possível constatar, a partir desse procedimento, que nos mercados nos quais os níveis de previsibilidade são muito baixos, a tentativa de extrapolar as informações para identificar tendências mais atrapalha que ajuda. “Nesse caso, o sistema normalmente é afetado por muitos ‘ruídos’”, informa. Quanto aos mercados nos quais as tendências são mais previsíveis, continua Azevedo, foi possível notar que certos subconjuntos de papéis de investimento, quando combinados, apresentam um padrão de comportamento que permite aumentar a previsibilidade de longo prazo. Mas se um dos princípios da metodologia adotada pelo autor da tese é aprender com o passado para delinear o futuro, até que ponto é recomendável regredir para poder vislumbrar o que está por vir? O cientista da computação afirma que esta definição vai depender do comportamento do mercado analisado. Se ele muda com grande velocidade, é indicado dar maior peso aos dados mais recentes. “Se o mercado não varia tanto, vale a pena regredir um pouco mais e aproveitar informações mais antigas. É preciso calibrar o modelo para encontrar o ponto ótimo. Tanto numa situação quanto noutra, o importante é tornar o sistema flexível, de modo a tornar as decisões igualmente flexíveis”, reafirma. Embora tenha sido validado no âmbito do mercado financeiro, o sistema desenvolvido por Azevedo pode ser aplicado a outros segmentos. Aproveitando um exemplo fornecido pela reportagem, acerca das incertezas geradas pelo processo de mudanças climáticas globais, o autor da tese entende que a ferramenta poderia de fato ser útil, por exemplo, na tomada de decisões referentes ao futuro de um setor do agronegócio. “É sabido que existem posições conflitantes sobre o tema. Qual cenário traçado pelos cientistas vai se concretizar? Ou será que nenhum deles vai se confirmar? Embora ainda não seja possível prever o futuro, por meio da Engenharia Antecipatória nós poderíamos usar os dados disponíveis, mesmo que sejam incompatíveis entre si, para traçar um plano de ação cauteloso para minimizar um eventual impacto na produção de alimentos”, assegura.

Para Azevedo, o fato de a sua tese de doutoramento ter sido contemplada com o Prêmio Capes (Área de Engenharias IV) representa um reconhecimento importante ao seu trabalho. “Ao mesmo tempo, a premiação aumenta a minha responsabilidade de continuar produzindo pesquisas de elevada qualidade. É importante registrar que uma pesquisa como esta não é feita por uma pessoa apenas. Eu tive a sorte de contar com a orientação do professor Von Zuben e com a colaboração e incentivo de diversos professores e colegas da pós-graduação. Devo admitir que fiquei surpreso com o prêmio, mas muito satisfeito por perceber que um trabalho com viés multidisciplinar foi contemplado na área de engenharia”. A mensagem que a tese tenta passar, completa Azevedo, é de que é importante continuar realizando pesquisas relacionadas à inteligência humana. “Nós não sabemos ao certo o que é a inteligência, embora existam várias definições a respeito. Ao estudar esse tema de forma holística, com a mente aberta, acredito que tenha dado uma pequena contribuição nesse sentido. Uma área do conhecimento não é capaz de dar conta, sozinha, de um tema tão complexo como o comportamento antecipatório. Eu trago a minha visão a respeito do assunto. Outras certamente virão, de modo a enriquecer o nosso entendimento sobre ele”, pontua o cientista da computação, que contou com bolsa de estudo concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Publicação Tese: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Autor: Carlos Renato Belo Azevedo Orientador: Fernando José Von Zuben Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Financiamento: Fapesp e CNPq


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Sensor detecta estágio inicial (e invisível) do câncer de mama

Dispositivo permite, com uma gota de sangue, identificar proteína antes do surgimento de nódulos

Fotos: Antonio Scarpinetti

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

ma pesquisa inédita do Instituto de Química (IQ) da Unicamp permitiu a fabricação de um dispositivo altamente sensível, do tamanho de uma moeda de cinquenta centavos com 64 sensores integrados, capaz de identificar precocemente o câncer de mama, o mais frequente entre as mulheres, com 8,2 milhões de óbitos anuais em todo o mundo, conforme relatório divulgado em 2013 pela Agência Internacional para a Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), órgão vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS). O dispositivo, desenvolvido pela pesquisadora Cecília de Carvalho Castro e Silva e pelo professor Lauro Tatsuo Kubota, pode detectar de forma bastante simples e em poucos minutos a presença de uma proteína que indica o surgimento de um tumor mamário, ainda em seu estágio de pré-desenvolvimento, antes do aparecimento do nódulo. O exame com o dispositivo, que ainda não foi testado em seres vivos, permitirá a detecção do câncer por meio de uma única gota de sangue. A pesquisadora Cecília de Carvalho Castro e Silva explica que o biossensor é capaz de identificar a proteína HER2 (Human Epidermal Growth Factor Receptor 2, na sigla em inglês) que, em quantidades anormais, se expressa em 25% a 30% dos casos de câncer de mama. A proteína HER2 torna-se desta forma, conforme a estudiosa, um importante biomarcador para o câncer mamário. “Estudos demonstram que há células em desenvolvimento no tecido mamário antes do aparecimento do tumor. Portanto, antes do surgimento de um nódulo, seria possível detectar precocemente o câncer de mama. Os métodos tradicionais utilizam o exame do toque da mama e a mamografia. No exame do toque a mulher só consegue identificar o câncer quando o nódulo já está com um centímetro ou mais. Na mamografia é possível detectar nódulos de até quatro milímetros. Nestes casos o câncer já está instalado e, muitas vezes, pode ser tarde”, observa Cecília Castro e Silva. Ainda de acordo com ela, o objetivo foi desenvolver uma ferramenta analítica para que pacientes ou grupos de riscos pudessem fazer o monitoramento, mês a mês, nos níveis desta proteína. “Muitos estudos mostram que, seis meses antes da paciente começar a desenvolver o tumor, os níveis do HER2 no soro sanguíneo aumentam, passando do que seria um nível normal de 12 nanogramas por mililitros, até chegar ao estágio de 15 nanogramas por mililitros ou mais”, relaciona. O dispositivo capaz de fazer esta detecção foi elaborado como um tipo de transis-

Publicação Tese: “Desenvolvimento de biossensores do tipo transistor de efeito de campo a base de grafeno (GraFETs) decorados com nanopartículas de ouro aplicados na detecção ultrassensível de biomarcadores de câncer de mama” Autora: Cecilia de Carvalho Castro e Silva Orientador: Lauro Tatsuo Kubota Unidades: Instituto de Química (IQ) e Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Financiamento: Fapesp e CNPq

O biossensor: desenvolvido à base de grafeno modificado com nanopartículas de ouro, identifica a proteína HER2, presente em 25% a 30% dos casos de câncer de mama

nica é possível sintetizar essa monocamada de átomos de carbono de até quatro polegadas”, pontua Cecília Castro e Silva, que é graduada em química pela Universidade Estadual de Maringá. Após o período de um ano nos Estados Unidos, financiado pelo programa federal Ciência sem Fronteiras, Cecília e o professor Lauro Kubota começaram a trabalhar com a fabricação do dispositivo e os processos envolvendo a área de microeletrônica. Nesta etapa, houve a colaboração de técnicos e pesquisadores do Centro de Componentes Semicondutores (CCS) da Unicamp, coordenado pelo docente José Alexandre Diniz, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). “Um ponto importante a salientar é que para desenvolver este dispositivo nós aprendemos o funcionamento e a fabricação do transistor. E isso não é uma tarefa trivial para um químico. Nós não pedimos simplesmente a um engenheiro elétrico para desenvolver o transistor, mas com o auxílio dele, desenvolvemos o dispositivo. Isso porque nós queríamos aprender a fazer o transistor, entender o seu funcionamento para utilizar o seu princípio de acordo com nossos objetivos. Nós, agora, conseguimos configurar o transistor da forma que acreditamos ser a melhor para fazer a detecção. Isso é um ganho muito relevante”, avalia o orientador Lauro Kubota. Além das parcerias, a pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) em Bioanalítica, coordenado pelo professor Lauro Kubota. Os INCTs são centros de excelência criados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A Unicamp possui nove INCTs até o momento.

POTENCIALIDADES

O professor Lauro Tatsuo Kubota, orientador da pesquisa: “Um ponto importante a salientar é que para desenvolver este dispositivo nós aprendemos o funcionamento e a fabricação do transistor”

A química Cecília de Carvalho Castro e Silva, autora da tese: “Muitos estudos mostram que, seis meses antes da paciente começar a desenvolver o tumor, os níveis do HER2 no soro sanguíneo aumentam”

tor de efeito de campo à base de grafeno modificado com nanopartículas de ouro. A pesquisadora explica que a condutividade elétrica nestes dispositivos pode ser modulada através da interação com espécies químicas e biológicas. A ultrassensibilidade deste biossensor foi possível graças a três fatores, conforme a autora do trabalho: o tipo de grafeno empregado; a incorporação das nanopartículas de ouro; e a imobilização orientada de anticorpos sobre o grafeno. Os anticorpos, proteínas produzidas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar bactérias, vírus ou células tumorais, foram utilizados como elementos receptores do dispositivo. “O biossensor possui uma folha de grafeno com nanopartículas de ouro. Estas partículas estão imobilizadas, e foi isso que permitiu um nível de detecção ainda maior. Depois que estas partículas de ouro são imobilizadas sobre o grafeno, fizemos a imobilização dos anticorpos. Os anticorpos reconhecem especificamente esta proteína HER2. Portanto, quando estes anticorpos interagem com essa proteína, há mudanças nos valores de condutividade. E nós conseguimos associar a concentração deste biomarcador com as mudanças na condutividade do dispositivo”, revela.

Utilizando estas três estratégias, o dispositivo com 64 sensores é capaz de identificar uma quantidade da proteína HER2 de até 500 fentogramas por mililitros, ou seja, um volume dez vezes elevado a menos quinze gramas por mililitros. Além da ultrassensibilidade, o método elaborado prevê o desenvolvimento em larga escala do biossensor. O dispositivo foi desenvolvido como parte da tese de doutorado de Cecília Castro e Silva, defendida recentemente junto ao Programa de Pós-Graduação do IQ. O estudo, orientado pelo docente Lauro Tatsuo Kubota, do Departamento de Química Analítica da Unidade, faz parte de uma linha de pesquisa destinada à criação de sensores eletroquímicos para detecção de espécies de interesse biológico, farmacêutico e ambiental. Uma parte dos experimentos foi realizada na Rutgers University, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, por meio de doutorado sanduíche entre as duas instituições. Em Nova Jersey, no laboratório coordenado pelo professor Manish Chhowalla, a pesquisadora realizou a síntese e caracterização do grafeno. “Sintetizamos via processo de deposição química em fase de vapor. Por esta téc-

O dispositivo apresenta uma série de potencialidades, conforme o orientador Lauro Kubota. “Nós poderíamos, por exemplo, em cada um dos 64 biossensores, desenvolver procedimentos para o reconhecimento de marcadores para diferentes tipos de doença. Portanto, com uma simples gota de sangue, seria possível, no futuro, um diagnóstico completo do indivíduo”, prevê. Neste ponto, Cecília Castro e Silva informa que o próximo passo da pesquisa é trabalhar no sentido de mobilizar diferentes tipos de anticorpos para o reconhecimento de diferentes biomarcadores para o câncer de mama. “Teríamos um teste extremamente exato, conseguindo detectar, por exemplo, se aquela mulher está expressando outros tipos de biomarcadores para o câncer de mama, não apenas aquele oriundo da proteína HER2. Portanto, mais mulheres poderiam ser diagnosticadas pelo teste.” Além disso, a miniaturização do dispositivo permite que ele possa ser produzido em larga escala a um custo relativamente baixo. A pesquisadora ressalta que o biossensor poderá ser fabricado em substratos plásticos, o que baratearia ainda mais o custo, tornando-o, ao mesmo tempo, descartável, por conta do tipo de amostra utilizada. “Poderíamos ainda fazer com que este substrato flexível se torne biocompatível. Isso permitirá, por exemplo, que no futuro estes dispositivos possam ser bioimplantáveis, fazendo um monitoramento contínuo, tanto em mulheres que estão em tratamento, quanto nos grupos de risco”, acrescenta.


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Da Unicamp para o mundo Fotos: Antonio Scarpinetti

Trabalhos mostrados no Congresso de Iniciação Científica poderão ser acessados em qualquer parte do planeta ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

Congresso de Iniciação Científica da Unicamp, um evento já consolidado no país, sairá da circunscrição regional para ganhar o certame mundial. Todos os trabalhos apresentados no congresso receberão um número DOI (Digital Object Identifier), que é uma espécie de identificação que permitirá acompanhar e localizar essas publicações na internet em qualquer ponto do planeta. Com isso, os trabalhos terão uma maior visibilidade internacional. Essa será uma das novidades do XXIII Congresso de Iniciação Científica, que acontecerá nos dias 17 a 19 deste mês no Ginásio Multidisciplinar da Universidade (GMU). A cerimônia de abertura acontece no dia 17, às 13h30, no Centro de Convenções. O congresso é promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade. Nesse encontro, serão apresentados 1.353 trabalhos, com a participação de 1.514 alunos inscritos, notando-se um ligeiro aumento nos números em relação ao ano passado, quando 1.348 trabalhos foram apresentados e 1.485 alunos se inscreveram. É que nos dois últimos anos, a PRP iniciou uma campanha para aumentar a participação dos alunos bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), estratégia que se mostrou exitosa. No ano passado, o número saltou de 46 para 118 alunos bolsistas da Fapesp e, nessa versão do evento, saltou para 122 alunos, já representando quase 10% do total de trabalhos inscritos no evento. A estimativa é de que circularão no GMU e no Centro de Convenções 7.500 pessoas ao longo dos três dias. Veja a programação em http://www. prp.rei.unicamp.br/pibic/congressos/xxiiicongresso/. Outra novidade é que esse ano a PRP convidou os alunos dos colégios técnicos da Unicamp para participarem do evento. O Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) confirmou presença e apresentará os melhores trabalhos da Feira de Ciências, que aconteceu no último mês de outubro. Os alunos desse colégio virão a se somar aos alunos do Programa de Bolsas de Iniciação Científica do Ensino Médio (Pibic-EM) que já participam do congresso. Além do mais, a Agência de Inovação Inova Unicamp também terá importante presença no congresso. Essa participação deverá conferir ainda mais peso ao evento, já que a Inova sempre apresenta o conhecimento produzido na instituição e os trabalhos de uma iniciação científica cuja vertente é tecnológica.

A professora Gláucia Maria Pastore, pró-reitora de Pesquisa: “A Unicamp, ao criar um ambiente de pesquisa, está se gabaritando para se tornar um centro formador de pesquisadores de alta capacitação”

Trabalhos expostos em 2014 no Congresso de Iniciação Científica da Unicamp: edição deste ano teve 1.353 pesquisas inscritas

A Inova atua na Unicamp identificando oportunidades e promovendo atividades de estímulo à inovação e ao empreendedorismo, ampliando o impacto do ensino, da pesquisa e da extensão. Entre os papéis que a Inova desempenha, está o depósito de patentes. A equipe produz um perfil referente à tecnologia com o propósito de destacar seu diferencial, seu potencial mercadológico e de comercialização. Com o pesquisador, os analistas da Inova Unicamp realizam o pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Em seguida, essa tecnologia é divulgada às empresas interessadas em continuar o seu desenvolvimento até que o produto seja levado ao mercado. Segundo a professora Gláucia Maria Pastore, titular da pasta da PRP, todos os incrementos que o Congresso de Iniciação Científica da Unicamp tem produzido vêm fazendo com que adquira mais importância, seja pela qualidade dos trabalhos apresentados, seja pelo apoio dos orientadores dos trabalhos, seja pela organização. “Tudo leva a crer que realmente a aposta na iniciação científica é um grande gol”, afirma. Todas as modificações implementadas, conforme a pró-reitora, visam atender da melhor forma possível o público que vai assistir às apresentações e que vai se apresentar. “Nesse momento, também a PRP está muito estimulada pelo comentário elogioso que o Pibic da Unicamp recebeu do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Temos a certeza de que esse resultado é graças à qualidade advinda dos trabalhos”, ressalta. Fernando Coelho, atual coordenador do evento e assessor da PRP, conta que o congresso vem evoluindo nos últimos anos com o objetivo de se transformar em um evento de iniciação científica cuja relevância seja cada vez mais acentuada. “Não queremos cumprir apenas uma etapa exigida pelo CNPq. A ideia é chamar a atenção para o congresso porque a qualidade dos trabalhos é excelente, os alunos participam intensa-

mente e isso faz com que apareça a primeira semente da pesquisa da Unicamp, que já começa com a iniciação científica, gerando, com certeza, muitos frutos.” Coelho credita às campanhas boa parte da responsabilidade por trazer mais alunos de iniciação científica e do Pibic-EM para a Unicamp, atraindo mais olhares e projetos para o congresso. “Não temos a mínima dúvida acerca disso”, ressalta. Nas últimas edições, o mote do evento tem sido “A pesquisa da Unicamp começa aqui”. “Pois é assim mesmo que nós acreditamos”, garante. No ano que vem, o evento deverá ser aberto para a comunidade externa à Unicamp (Universidades e Centros de Pesquisa da região) dentro do contexto dos 50 anos da Unicamp. “Talvez possamos aproveitar essa deixa e ‘vitaminar’ ainda mais o evento. Fazemos um trabalho que outras instituições da região gostariam de fazer, e o fato de acontecer na Unicamp acaba trazendo ainda mais prestígio para a nossa Universidade”, assinala Coelho.

CONCEITO

A professora Gláucia Pastore adianta que existe uma discussão na PRP junto ao CNPq para que em breve o congresso seja aberto a todas as outras instituições de ensino superior, para que o trabalho se qualifique mais ainda e coloque em discussão vários grupos de pesquisa. “Ainda não fizemos isso porque estamos avaliando como essa introdução deverá ser realizada, enxergando todas as possibilidades, entre elas a questão espacial e a infraestrutura necessária”, pontua. Ela aponta que um dos maiores obstáculos ao crescimento do evento é a dificuldade de encontrar espaço adequado para sediá-lo. O Congresso de Iniciação Científica é destinado a alunos de graduação da Unicamp e busca estimular os jovens nas atividades, metodologias, conhecimentos e práticas de desenvolvimento tecnológico e processos de inovação. Sua evolução depende muito de qual é o conceito, a qualificação e a atenção e

interesse que se coloca na iniciação científica, além do seu impacto. Para Gláucia Pastore, o congresso é realmente a base do que vai ser a pós-graduação na Universidade. “Isso faz com que os olhares estejam mais atentos a essa entrada no Sistema de Ciência e Tecnologia, que claramente tem o start com a iniciação científica”, reflete. O aluno que opta pela pós-graduação, comenta ela, depois de ter feito a iniciação científica, já entra em uma outra escala, podendo até ser dispensado do mestrado e ingressar direto no doutorado, como alguns cursos da Unicamp já permitem. “Essa experiência também conta pontos quando ele concorre a uma vaga no mercado de trabalho.” Na opinião da pró-reitora, os alunos fazem muito bem esse trabalho porque já tiveram um treinamento do que é uma análise aprofundada de dados, como se relata isso e como se expõe. “São atributos que desejamos para um aluno de pós-graduação”, diz. “Então acho que a Unicamp, ao criar um ambiente de pesquisa, está se gabaritando para se tornar um centro formador de pesquisadores de alta capacitação.” Todo ano, o congresso lança o convite para que uma comissão externa de especialistas de alto nível avalie os trabalhos inscritos na Unicamp. Eles exprimem muita dificuldade em selecionar os melhores. Com o resultado, os alunos premiados tomam parte de uma cerimônia realizada no Conselho Universitário (Consu), órgão máximo da Universidade. Em geral, a solenidade de premiação é presidida pelo reitor da Unicamp e acompanhada por todos os pró-reitores. “Esse é um dos meios encontrados pela instituição para inserir alunos de graduação na pesquisa, estimulando-os a desenvolver projetos desde o primeiro ano. E o meu convite é que todos estejam participando. Será um grande prazer receber vocês: orientadores, professores, alunos, familiares e visitantes. Que toda nossa comunidade prestigie o evento e que cada unidade valorize seus alunos, pois eles são de fato muito bons”, salienta a pró-reitora Gláucia Pastore.

Fernando Coelho, coordenador do evento e assessor da PRP: “A ideia é chamar a atenção para o congresso porque a qualidade dos trabalhos é excelente, os alunos participam intensamente”


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Colaboração internacional alavanca impacto de pesquisas feitas em SP Fotos: Antonio Scarpinetti

Levantamento foi conduzido por professor do IG a partir de base de dados CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

impacto das pesquisas realizadas com participação de professores das universidades públicas baseadas no Estado de São Paulo tem aumentado nos últimos dez anos, à medida que aumenta também a proporção de estudos feitos com colaboração internacional. No Brasil como um todo, porém, tanto o impacto – medido como número médio de citações por artigo – quanto a taxa de colaboração internacional das universidades mostramse virtualmente estagnados na comparação entre 2004 e 2014. Esses dados, compilados na base Web of Science, da Thomson Reuters, pelo professor Renato Pedrosa, do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, aparecem em tabela publicada na edição de setembro da revista Pesquisa Fapesp. “Esse é um assunto já explorado, estudado e conhecido”, disse o pesquisador. “Sabe-se que aumentar colaboração internacional sempre aumenta a visibilidade. Você pode dizer que a visibilidade é medida pelo impacto, pelas citações. Ela não é, necessariamente, um indicador de qualidade”, adverte. “Mas indica que essa ciência está sendo mais vista, mais usada no mundo, o que no fim das contas acaba sendo um indicador de qualidade”. Um dos dados destacados por Pedrosa é o impacto relativo – a proporção entre o número médio de citações por publicação de uma instituição ou país em relação à média mundial. Todas as estaduais paulistas tiveram avanço na comparação entre 2004 e 2014: a USP viu seu impacto mundial relativo passar de 78% da média mundial para 84%; a Unesp, de 59% para 63%; e a Unicamp, de 73% para 95%. Das universidades baseadas no Estado, a que atingiu maior impacto mundial relativo foi a Universidade Federal do ABC (UFABC), com 226% da média mundial. “Um aspecto que provavelmente puxa esse número da Federal do ABC para cima é que ela é mais voltada para ciências e engenharia – Física, Química, Biologia, tendem a ter mais citações que a outras áreas”, explica Pedrosa. “Por exemplo, se você olhar para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ele tem um impacto relativo global parecido, de mais de 200%. Mas se você olhar só o impacto dos artigos de Física, o CBPF chega mais perto da média mundial”.

O professor Renato Pedrosa: “Há uma tendência crescente, no Brasil em geral e nas universidades paulistas, de aumentar a colaboração internacional”

Laboratório na Unicamp: impacto mundial relativo de pesquisas desenvolvidas na Universidade saltou de 73% para 95% nos últimos dez anos

“Com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio, que é excelente em matemática, é o contrário: a matemática tem uma tradição de poucas citações. Então o IMPA, quando é comparado em relação à média geral, aparece lá embaixo. Mas se você utilizar só matemática, muda de figura. É preciso cuidado nessas comparações”. Ele lembra que o número de publicações computadas nos dados não inclui todo tipo de documento – livros, por exemplo, não estão representados. “Esses dados, portanto, não se aplicam tão bem a todas as áreas. Se aplicam melhor às áreas das ciências básicas, razoavelmente bem às engenharias, à Medicina, mas às ciências humanas não se aplicam bem”, disse. “Então, quando a gente vai analisar por área, tem que tomar cuidado para não fazer afirmações muito fortes sobre a área de ciências humanas”.

POLÍTICAS DE FOMENTO

Além de mostrar que o crescimento no impacto relativo foi acompanhado por um crescimento nas colaborações internacionais – no caso da Unicamp, a proporção de publicações que contava com pelo menos um autor da universidade e um internacional passou de 25%, em 2004, para 32%, em 2014 – os números demonstram que os artigos com colaboração de fora do país obtêm visibilidade ainda maior que a média. No Brasil inteiro, o índice de impacto relativo das publicações, em 2014, era de 68%. Isolando-se apenas as colaborações internacionais, a taxa salta para 126%. Na Unicamp,

especificamente, onde o impacto relativo das publicações em geral fica em 95%, o das parcerias internacionais chega a 167%. “As lições que saem deste gráfico são: a internacionalização e a colaboração internacional ajudam na visibilidade; há uma tendência crescente, no Brasil em geral e nas universidades aqui de São Paulo, de aumentar a colaboração internacional”, disse Pedrosa. “Isso, provavelmente, como está acontecendo em todas as universidades, tem a ver com políticas nacionais e estaduais de fomento”, acredita. “Em São Paulo, a Fapesp sempre incentiva muito, tanto por meio de convênios e chamadas para projetos internacionais, mas também na própria maneira de incentivar que pesquisadores tenham experiência internacional, valorizar isso na avaliação de projetos”. “O Ciência Sem Fronteiras pode ter algum impacto nisso, mas acho que os resultados ainda não aparecem nestes números, porque o programa começou a enviar pessoas em 2011, e a maior parte é de graduação”, disse. “Agora, o fato de ter o programa, de expor o brasileiro, expor o professor daqui, que acaba se comunicando com alguém lá fora – é possível que tenha um impacto, mas ninguém mediu ainda. O programa poderia ser aperfeiçoado, tem vários problemas, mas seu futuro parece incerto, não há previsão de novas bolsas para 2016”. A respeito da estagnação dos números gerais do Brasil – que saiu de 31% de artigos em colaboração internacional em 2004 para 33% em 2014, e de um impacto relativo de 70% para 68% – Pedrosa diz que não há uma causa clara conhecida. Ele lembra que, há alguns anos, a Web of Science absorveu um grande número de periódicos brasileiros que, por serem publicados em português, não têm grande visibilidade internacional, o que pode ter deprimido os números. “Pode ter um pouco a ver com a expansão recente das universidades federais, muitas ainda estão começando. Outra coisa é em cima das revistas brasileiras que entraram na base”, disse. “Mas é uma coisa que já deveria estar mudando, por causa desse fenômeno que está acontecendo, de maior participação internacional. Tem alguma coisa no resto do Brasil, que talvez não seja tão forte em São Paulo, e que está puxando para baixo”.

DIÁLOGO

Além dos dados da tabela produzida para a Fapesp, que tratam de instituições baseadas em São Paulo e dos números do Brasil como um todo, Pedrosa também vem levantando informações sobre os efeitos da internacionalização da produção científica de diferentes países.

“Vários países estão subindo muito nesta escala de porcentagem de colaboração internacional, e o Brasil está ficando um pouco para trás, porque a média mundial está crescendo”, disse ele. “A média do Brasil cresce, mas a mundial cresce junto”. “Aumentar as colaborações internacionais é até mais importante do que aumentar o número do impacto, porque mostra que você está conseguindo conversar com o mundo, em termos de ciência”, opinou Pedrosa. “As citações são um resultado disso. Claro, há áreas em que talvez isso não faça muito sentido, mas em todas as áreas de ciências naturais, e na Economia, na Educação, é importante dialogar com o mundo e não só olhar para o próprio umbigo”. O pesquisador lembra que o Brasil se tornou um lugar para onde a comunidade científica internacional passou a olhar com mais atenção. “As pessoas têm interesse em fazer pesquisa em parceria com o Brasil. Acredito que veremos um crescimento em áreas de Ciências Sociais, Ciências Humanas, energia, inclusão social, políticas públicas”.

CRISE

“Agora estamos em crise, o Brasil virou país em crise econômica, mas teve uma coisa muito forte no interesse pelo Brasil, essa coisa se propagou pelo mundo”, disse. “O Ciência Sem Fronteiras tornou o Brasil muito mais visível para instituições para as quais o Brasil não era mais que um nome”. O cenário econômico atual deve dificultar o aprofundamento da internacionalização, prevê Pedrosa. “A crise aumentará a dificuldade para nós, tanto de mandar gente quanto de trazer gente, de financiar projetos, depois de alguns anos em que foi razoavelmente fácil financiar idas e vindas”, disse. “Há uma preocupação muito grande para a pesquisa e a pós-graduação, com os cortes recentes na Capes”, afirmou. “Isso vai se refletir nos próximos anos na produção científica brasileira, que deve deixar de crescer como vinha acontecendo até recentemente”. O pesquisador lembra que os efeitos dos cortes realizados agora só aparecerão nas estatísticas dentro de alguns anos, quando os projetos agora em andamento estiverem finalizados. “Não é uma coisa que vamos ver já, mas a partir de 2017, 2018, poderemos ver uma estagnação, por exemplo, no número de novos doutores”, disse. “O efeito nas bolsas, nos programas, aparece no ano que vem. Mas o efeito nas publicações, no número de doutores formados, vai aparecer daqui a três, quatro, cinco anos. E é ruim porque, quando você vê o efeito, já passou na época de arrumar, talvez porque não havia recursos para arrumar. Teremos, então, que fazer um esforço para recuperar o terreno perdido”.


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O peso da desigualdade em indicadores sobre partos Estudo pode nortear mudanças nas práticas e na gestão do sistema de saúde na RMC Fotos: Antoninho Perri

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

stá concluída uma ampla pesquisa avaliando os indicadores de saúde materna e perinatal e sua associação com fatores socioeconômicos em 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC), bem como as rotinas de assistência ao parto em 16 maternidades públicas. A conclusão geral é de que, apesar do bom nível de desenvolvimento da região, permanecem desigualdades socioeconômicas que impactam os indicadores de saúde de mães e bebês, com piores resultados em adolescentes e mulheres com menor escolaridade e renda; em relação a práticas de saúde, que algumas rotinas são excessivas e outras precisam ser melhoradas; e, ainda, que o poder econômico faz aumentar a taxa de cesáreas nos municípios da região. “Nascer na Região Metropolitana de Campinas: avanços e desafios” é o título da tese de doutorado da enfermeira Fátima Filomena Mafra Christóforo, orientada pela professora Eliana Martorano Amaral e defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Antes de sua execução, o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp e apresentado à Diretoria Regional de Saúde VII de Campinas, à Câmara Temática de Saúde da RMC (órgão consultivo composto pelos secretários de Saúde) e a todas as maternidades públicas e mistas onde foi realizado; obteve ainda o apoio do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP). Agora, os resultados serão discutidos em seminário com representantes da DRSVII e dos municípios e hospitais envolvidos na pesquisa, buscando-se caminhos para minimizar os problemas detectados. “O foco da tese é a avaliação da qualidade dos serviços ofertados para, a partir daí, propor alguma intervenção junto ao serviço de saúde, de forma integrada com a Secretaria de Estado e a Diretoria Regional”, afirma a professora Eliana Amaral. “O outro aspecto foi associar os resultados com os diferentes segmentos da população. Apesar de estarmos em região com alto poder aquisitivo e grande acesso aos serviços de saúde, ainda existem bolsões de necessidade, que procuramos identificar e verificar como estão distribuídos pelos municípios. O maior interesse da tese não está na discussão puramente acadêmica, e sim em subsidiar mudanças nas práticas e na gestão do sistema de saúde da região.” Fátima Christóforo explica que dois estudos compuseram a tese: o primeiro, ecológico, com base nos indicadores disponíveis no Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e Censo de 2010 do IBGE; e o segundo descrevendo as práticas de atenção ao parto em 16 maternidades, entrevistando gestores dos serviços obstétricos, médicos e enfermeiros. A RMC conta com 30 serviços, sendo 13 privados, 10 mistos (privados conveniados ao SUS) e sete públicos. Participaram do estudo sete serviços públicos e nove serviços mistos, que oferecem 54,8% dos 649 leitos obstétricos disponíveis.

PRÁTICAS DE ATENÇÃO Entre as práticas excessivas utilizadas durante o trabalho de parto estão o uso da ocitocina (hormônio) na maioria das parturientes, em 10 maternidades, e a episiotomia (incisão efetuada na região do períneo), também em quase todas as parturientes, em nove instituições. “A ocitocina é um hormônio que a mulher possui no corpo e que provoca as contrações”, explica Eliana Amaral. “É pouco provável que a maioria delas precise do medicamento sintético; trata-se de prática que vem sendo mantida desde quando procedimentos para acelerar o parto eram vistos como naturais. O mesmo em relação à episiotomia, que era uma prática recomendada anteriormente para 100% dos casos – hoje, recomenda-se que sua indicação seja seletiva. A Unicamp não recorre à episiotomia de rotina há quase 20 anos, mas vemos que a informação científica ainda não chegou à prática de serviços tão próximos. Daí, a necessidade de estudos como este, que estimulem a avaliação da qualidade do cuidado.” Fátima Christóforo constatou que as práticas qualificadas na atenção ao parto ocorrem na maioria dos aspectos e em grande parte das maternidades, como o rastreamento para HIV e sífilis (em todas as 16); disponibilidade de protocolos para cuidado nos casos de hipertensão grave na gestação e profilaxia de infecção do recém-nascido por Streptococcus do grupo B (em 15 hospitais); manejo ativo

Parto em hospital da região de Campinas: tese aponta que poder econômico faz aumentar a taxa de cesáreas

há mais gente acompanhando o parto do que o trabalho de parto – o companheiro não está participando de todo o processo. As maternidades alegam que possuem apenas uma sala coletiva e que é preciso respeitar a privacidade das outras pacientes. No Caism da Unicamp, temos quartos separados para o casal, mas antes das reformas físicas, procurávamos garantir a presença separando os leitos com cortinas. Uma das conclusões relevantes deste estudo é a necessidade de políticas públicas para promover adaptações também na estrutura física.”

INDICADORES DE SAÚDE

do 3º período do parto para evitar a hemorragia pós-parto (em 14); utilização rotineira do partograma para registrar a frequência de contrações, dilatação e batimentos cardíacos fetais (13); acolhimento com classificação de risco (10); e a presença de acompanhante durante o trabalho de parto (9) e no parto (14). “Por outro lado, diante da alta incidência de cesáreas, surpreendeu encontrar cinco maternidades que não confirmaram o uso de antibiótico para prevenir infecções após a cirurgia.” Na opinião de Eliana Amaral, três problemas constatados na pesquisa são bastante preocupantes: a indisponibilidade de sangue e derivados em quatro hospitais (dois deles públicos exclusivos), a falta de condições para cuidar de gestantes em estado crítico (observada em oito) e a dificuldade de transporte para encaminhar as pacientes até outros hospitais (dois). “A falta de hemoderivados em um quarto dos hospitais é muito grave, pois o sangramento após o parto, por alguma complicação, pode colocar em risco a vida da mãe em menos de 30 minutos. A falta de condições de atendimento em situações de emergência é inadmissível. Nesta região metropolitana, com todo o acesso disponível aos recursos, temos um problema de gestão por parte das instituições e do sistema de saúde, que devem qualidade mínima do cuidado.” A orientadora da tese também defende adaptações físicas nos hospitais para facilitar o acesso de acompanhante durante o trabalho de parto. “A presença de um acompanhante contribui para melhorar a evolução do trabalho de parto e aumentar a taxa de parto natural. Mas vemos que

De acordo com a autora da pesquisa, os piores indicadores de saúde materna e perinatal estão nos municípios com piores indicadores socioeconômicos, localizados a norte, nordeste e alguns a sudoeste da RMC. “Em 12 cidades, mais de 50% das mulheres que fizeram parte do estudo não tiveram o apoio de um parceiro para suprir as necessidades e a educação do filho; em 11 municípios, mais de 20% da população tinha chefia feminina. As adolescentes são mais de 15% das mães em sete cidades; a gravidez na adolescência é marcante em regiões com maiores carências em saúde e educação, sendo indicador de risco perinatal, e frequentemente associado com a ausência de um parceiro.” Os dados mostram que a renda menor ou igual a um salário mínimo, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), a renda média domiciliar per capita, a maior presença de mães adolescentes, o analfabetismo e o tempo de estudo menor que oito anos estão correlacionados com o menor número de consultas pré-natais e com as taxas de mortalidade perinatal. “Um aspecto a salientar do estudo é a existência desses bolsões de necessidade social e de gravidez na adolescência, que vão trazer resultados piores para a vida das mães e das crianças”, afirma Eliana Amaral. “Há necessidade de identificar e focar nesses bolsões para qualificar a atenção oferecida na gravidez e no parto, indo além de políticas genéricas como a de orientar as adolescentes quanto ao impacto da gravidez precoce.” Fátima Christóforo confirmou na pesquisa o aumento de cesáreas na Região Metropolitana de Campinas: a média é de mais de 60% em 14 municípios, chegando a 70% em áreas de maior poder aquisitivo, por vezes associada com taxas mais elevadas de mortalidade perinatal e de prematuridade. “O índice menor de partos cesáreos em regiões carentes se deve não apenas à questão financeira (não poder pagar pelo procedimento), mas também ao fato de essas mulheres geralmente procurarem instituições públicas, onde a condução do parto segue mais estritamente as recomendações técnicas.” Eliana Amaral observa que na cesárea eletiva, mesmo que a idade gestacional seja devidamente calculada, por vezes a criança apresenta dificuldades respiratórias. “Sabemos hoje que a data ideal para cesárea é 37 semanas. Nota-se certa angústia para antecipar o procedimento e, junto, vem o risco de prematuridade ou ‘parto no termo precoce’, como dizemos hoje. A cesárea é uma cirurgia muito importante quando indicada e faz parte da rotina da obstetrícia, mas tem sido utilizada em excesso, especialmente no sistema privado. A sociedade e os profissionais têm se movimentado para mudar essa cultura.” Na opinião da docente da Unicamp, há uma clara “inequidade” na assistência ao parto mesmo numa região em que é possível oferecer todos os recursos para práticas qualificadas de saúde. “Faltam alguns recursos onde seriam necessários e ocorre o uso inadequado de outros. O poder financeiro acaba conduzindo a procedimentos excessivos. Tomando-se os jovens de classe média e média alta com menos de 30 anos, pouquíssimos nasceram de parto normal. Fazer cesárea virou quase um símbolo de status, não se entendendo o parto vaginal como o processo natural que permite o crescimento e amadurecimento do bebê. Trata-se de um fenômeno mundial, baseado na percepção da cesárea como mais confortável e também mais segura.”

Publicação

A professora Eliana Martorano Amaral (à esq.), orientadora, e a enfermeira Fátima Filomena Mafra Christóforo, autora da tese: avaliando a qualidade dos serviços

Tese: “Nascer na Região Metropolitana de Campinas: avanços e desafios” Autora: Fátima Filomena Mafra Christóforo Orientadora: Eliana Martorano Amaral Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)


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Fapesp lança primeiro banco público de dados genômico Foto: Antoninho Perri

Seu objetivo principal é a criação de um quadro comum de abordagens que permita o compartilhamento responsável, voluntário e seguro de dados genômicos e clínicos. “A pesquisa na área de genômica humana tem sido feita há vários anos no Brasil e por vários grupos, mas esses dados nunca foram tornados públicos em um banco organizado, como tem sido feito por décadas nos Estados Unidos e na Europa”, afirma Iscia Lopes-Cendes, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, pesquisadora do BRAINN e responsável pela formatação dos dados.

PERFIL GENÉTICO ACESSÍVEL

A professora Iscia Lopes-Cendes, responsável pela formatação dos dados: “A ideia é que o BIPMed possa servir a qualquer pesquisador na América Latina para depositar dados genômicos”

AGÊNCIA FAPESP

om o objetivo de permitir a implantação no Brasil da chamada medicina de precisão, foi lançado no último dia 13, na sede da Fapesp, em São Paulo, o Brazilian Initiative on Precision Medicine – BIPMed, banco público de dados genômico inédito no país, com informações reunidas ao longo de vários anos, a partir de estudos realizados em diferentes instituições e grupos de pesquisa. Primeiro banco online a agrupar grande quantidade de informações genômicas na América Latina, o BIPMed é resultado do trabalho de pesquisa envolvendo cinco Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fapesp: o Centro de Pesquisa em Engenharia e Ciências Computacionais (CCES, na sigla em inglês), o Centro de Pesquisa em Terapia Celular (CTC), o Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC, na sigla em inglês), e o Centro de

BIPMed estará baseado em uma plataforma eletrônica Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID, na sigla em inglês), liderados pelo Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN, na sigla em inglês). Inicialmente, o BIPMed estará baseado em uma plataforma eletrônica, construída segundo diretrizes e princípios da Aliança Global para Genômica e Saúde (GA4GH, na sigla em inglês), iniciativa internacional que reúne mais de 300 instituições de pesquisa da área da saúde, formada para acelerar o potencial da medicina genômica por meio da troca de informações entre pesquisadores, em benefício da saúde humana.

De acordo com a pesquisadora, a acessibilidade a esse tipo de informação deverá ajudar no avanço da pesquisa nessa área no Brasil, pois muitos pesquisadores passarão a usar dados que reflitam a diversidade genética da população brasileira, em vez de dados de referência de outros grupos populacionais, de distintas regiões do mundo, atualmente disponíveis. No futuro, espera-se que o banco ofereça também dados fenotípicos da população brasileira. O BIPMed será a primeira plataforma deste tipo na América Latina, mas poderá ser usado online por médicos e cientistas de todo o mundo, para compartilhar e obter informações sobre vários aspectos da medicina genômica e da saúde humana, bem como para apoiar a divulgação e a formação. “A ideia é que o BIPMed possa servir a qualquer pesquisador na América Latina para depositar dados genômicos, sejam de referência (indivíduos normais, representativos da população) ou de grupos de pacientes, para que o banco aumente progressivamente a quantidade dos dados oferecidos”, explica Lopes-Cendes. Conceitualmente, a medicina de precisão considera o conhecimento científico-tecnológico como base para a medicina do século 21, a partir da investigação translacional, da me-

dicina genômica e da medicina personalizada. Desse modo, a medicina de precisão propõe um novo nível de integração de dados para a melhoria dos cuidados com a saúde humana.

SOBRE OS CEPIDS ENVOLVIDOS

Sediado na Unicamp, o BRAINN concentra-se na investigação dos mecanismos que levam à epilepsia e ao acidente vascular cerebral (AVC), assim como os danos causados por sua progressão. Desenvolve pesquisas nas áreas de genética, neurobiologia, farmacologia, neuroimagem, ciência da computação, robótica, física e engenharia, com aplicações na prevenção, no diagnóstico, no tratamento e na reabilitação. Também na Unicamp, o CCES dedica-se ao desenvolvimento e à aplicação de métodos computacionais avançados para solucionar problemas de fronteira nas ciências e nas engenharias, com o objetivo de promover avanços substantivos em inovação tecnológica e difusão nesta área do conhecimento, denominada e-Science. Ainda na Unicamp, o OCRC tem como desafio buscar soluções para a obesidade, doença que resulta do desequilíbrio entre ingestão calórica e gasto energético, geralmente associado a diabetes, hipertensão, aterosclerose e alguns tipos de câncer. Sediado na USP, o CTC tem seu foco na pesquisa básica e aplicada em células-tronco. O CTC estuda as características moleculares, celulares e biológicas de células normais e patológicas, e a avaliação crítica de seu potencial uso terapêutico. Já o CRID, também na USP, busca produzir conhecimento científico e identificar novos alvos terapêuticos, com base em vários campos das Ciências Biomédicas ligados à pesquisa básica (genética, biologia molecular e celular, imunologia, farmacologia e patologia) e à pesquisa clínica (reumatologia, imunologia, infectologia e dermatologia), além da bioinformática.

Genes de eucalipto são selecionados CAROLINA OCTAVIANO Especial para o JU

esquisadores do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp participaram do desenvolvimento do banco de dados Eucanext, que inclui sequências de genes expressos de eucalipto em diversas condições e espécies e genomas completos já sequenciados. Deste banco de dados, cinco genes, que, isoladamente, podem contribuir para os processos de formação da madeira e resistência a estresses em espécies de eucaliptos, foram transferidos, recentemente, para uma empresa que atua no desenvolvimento e produção de mudas florestais. “Todos esses dados servem de ponto de partida para diversos estudos funcionais de interesse, especialmente os processos moleculares envolvidos na formação da madeira, fonte de biomassa para diversos setores industriais, e genes particulares relacionados com tais processos. Assim, as informações contidas nesse banco nos guiaram na seleção de cinco genes”, afirma o professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, responsável pelos estudos. O professor comenta que a perspectiva é de que a empresa licenciada utilize estes genes para fins de melhoramento genético em eucaliptos, já modificados geneticamente. “A empresa poderá manipular os genes em árvores já melhoradas. O objetivo é criar clones com características pontuais modificadas. Essa tecnologia pode gerar uma vantagem competitiva em relação àqueles que trabalham apenas com o melhoramento genético tradicional”, defende. As pesquisas que culminaram na escolha destes cinco genes do banco de dados Eucanext começaram em 2007, a partir de um

convênio de cooperação entre a Unicamp e uma empresa do setor de papel e celulose, que buscava o desenvolvimento de pesquisas que permitissem compreender as bases genéticas da formação e qualidade da madeira de eucalipto. O professor comenta que, desde que os estudos foram iniciados, já se vislumbrava uma oportunidade real de mercado. “A ideia foi, desde o início, prospectar genes com potencial de serem modificados em eucalipto para obter ganhos em características de interesse industrial”, aponta o professor. Os cinco genes transferidos foram selecionados durante o desenvolvimento da tese de doutorado da então aluna Marcela Mendes Salazar. O estudo, com base na comparação entre três espécies de eucalipto com importância industrial – E. globulus, E. grandis e E. urophylla -, buscava genes e metabolismos chave para as principais vias de formação da madeira e as características diferenciais de adaptabilidade de cada uma destas espécies. “A partir deste último estudo, os cinco genes potenciais foram selecionados”, completa Pereira. Participaram também da formação do banco de dados Eucanext os pesquisadores Eduardo Leal Oliveira Camargo, Marcelo Falsarella Carazolle, Jorge Lepikson Neto, Leandro Costa Nascimento, e o então aluno de graduação Wesley Leoricy Marques. Na opinião de Pereira, a Agência de Inovação Inova Unicamp teve um papel importante na formatação do contrato - tanto para o convênio de cooperação quanto para a transferência dos materiais genéticos - e na intermediação dos contatos com as duas empresas. Ele defende que o acompanhamento de profissionais da Inova Unicamp foi primordial para o estabelecimento do contrato. “A Inova auxiliou os pesquisadores do LGE a elaborar um documento de transferência de tecnologia e também intermediou todos os contatos com as empresas e o Laboratório, no sentido de propor sugestões de cláusulas

Foto: Adriana Pavanelli

O professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador dos estudos: “Todos esses dados servem de ponto de partida para diversos estudos funcionais de interesse”

do contrato, tirar dúvidas sobre questões de multa, formas de liberação do material, etc. A abertura do processo interno na Unicamp foi de responsabilidade da Inova, que acompanhou toda tramitação até a assinatura do documento”, relembra. O Brasil é líder mundial na produção de celulose, fazendo com que o eucalipto tenha uma grande importância econômica. Em 2013, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção primária florestal somou R$ 18,7 bilhões. Deste valor, a silvicultura contribuiu com 76,1% e R$ 14,1 bilhões, sendo o eucalipto a principal espécie florestal da silvicultura nacional - responsável por 98,5% do total produzido de carvão vegetal e por 68,8% da produção de lenha. Por este motivo, o professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, responsável pelas pesquisas

que originaram o banco de dados Eucanext, defende que o melhoramento genético é determinante para alavancar ainda mais a produtividade brasileira. “Espera-se que o transgênico gerado com os genes identificados neste trabalho possua as características de interesse (maior qualidade da madeira e resistência a estresses). Desse modo, a produtividade e a qualidade dos produtos serão maiores e, aliadas às características de clima e solo do país, contribuirão para a manutenção da posição que o Brasil alcançou no mercado mundial de celulose”, argumenta. Realizado entre 2002 e 2008, o Projeto Genolyptus teve a participação da Unicamp e de outras seis universidades, da Embrapa e de 14 empresas do ramo florestal e proporcionou que o eucalipto tivesse o genoma completamente mapeado, em um projeto liderado por pesquisadores do país.


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Dissertação investiga efeitos antioxidantes do ‘leite de alpiste’

Amostra de alpiste em laboratório: faltam estudos científicos sobre a semente

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

ocorrência de casos de diabetes na família, inclusive com complicações da doença que levaram à perda de entes queridos, influíram para que a engenheira de alimentos Michele Christine Machado de Oliveira aceitasse de pronto o foco sugerido por seu orientador, professor Marcelo Alexandre Prado, para a dissertação de mestrado: investigar os efeitos antioxidantes e hipoglicemiantes (de diminuição dos níveis de glicose) do extrato aquoso de alpiste. O diferencial da dissertação está no fato de que existem diversos relatos populares sobre o consumo do chamado “leite de alpiste” como tratamento alternativo para diabetes, mas são escassos os estudos científicos sobre a semente. “Os relatos na internet falam em ‘leite de alpiste’, quando na verdade se trata de um extrato aquoso. Para o projeto, eu segui exatamente a forma como as pessoas preparam esse extrato, a partir de uma média entre as dosagens relatadas em várias fontes”, conta Michele Oliveira, que apresentou a dissertação na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. “O alpiste foi deixado de molho em água por doze horas, na geladeira, com a troca dessa primeira água para bater as sementes no liquidificador; depois do processo de filtragem, o extrato era administrado aos animais de laboratório.” A autora observa na dissertação que, desde 1997, o alpiste (Phalaris canariensis L.) vem sendo avaliado como alimento humano e ingrediente funcional na indústria de alimentos. A etnofarmacologia (ciência que estuda o conhecimento popular sobre fármacos) relata seu uso como agente redutor da pressão arterial e, em forma de chá, como coadjuvante no tratamento de hipertensão, diabetes mellitus e taxas elevadas de colesterol, associado ou não a outras formas de terapia convencional. O “leite de alpiste”, especificamente, serviria para o controle da glicemia em indivíduos diabéticos. Os resultados obtidos por Michele Oliveira nesta primeira pesquisa centrada em tal especificidade, no entanto, contrariam a crença popular. “O alpiste e seu extrato mostraram potencial nutritivo como fontes de fibras, amido, proteínas e ácidos graxos poli-insaturados (ômega-6). Mas o extrato aquoso, apesar dos compostos fenólicos, apresentou atividade antioxidante intermediária, não relevante para combater o diabetes induzido em animais de laboratório. Ou seja: não controlou os níveis glicêmicos, não apresentou efeitos sobre a massa corporal, consumo de água e ração, assim como nos parâmetros bioquímicos, de eletrólitos e hematológicos.”

Publicação Dissertação: “Caracterização do extrato aquoso de alpiste (Phalaris canariensis L.) e avaliação dos efeitos antioxidantes e hipoglicemiantes” Autora: Michele Christine Machado de Oliveira Orientador: Marcelo Alexandre Prado Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)

O trabalho realizado pela engenheira de alimentos foi minucioso, partindo da caracterização tanto da semente como do extrato aquoso em relação a proteínas, lipídeos, umidade, etc. Os compostos fenólicos foram determinados pelo método Folin Ciocalteu e a atividade antioxidante avaliada por meio de três metodologias (ABTS, DPPH e ORAC); já a avaliação da atividade hipoglicemiante em animais se deu com tratamentos por 28 e por 87 dias, utilizando dosagens do extrato aquoso de 250, 500 e 1.000 miligramas por quilo (mg/kg), via oral. Os animais foram monitorados semanalmente quanto à massa corporal, glicemia e consumo de água e ração; depois dos experimentos, os exames de influência sobre a massa dos órgãos, bioquímicos e de sangue e urina possibilitaram verificar a ação do extrato de alpiste no diabetes. Segundo Michele, um resultado interessante na identificação de ácidos graxos no extrato aquoso foi o índice de 53% de ácido linoleico (ômega-6), uma fonte muito rica que pode, realmente, estar contribuindo na redução do índice glicêmico desta população. “Já em relação a atividades antioxidantes, o alpiste fica bem próximo do arroz, cevada, aveia e do sorgo, constituindo uma atividade intermediária. No extrato aquoso, porém, a quantidade de proteínas se manteve, mas a quantidade de lipídeos, fibras, cinzas e amido diminuíram por causa da remoção das cascas, do peneiramento e das filtrações, e o resultado em termos de atividade antioxidante e de compostos fenólicos não foi tão elevado como o esperado – não constatamos a propriedade contra diabetes em que a população acredita.”

TESTES IN VIVO Para os ensaios in vivo a autora contou com o auxílio de sua coorientadora, doutora Débora Barbosa Vendramini Costa, e da equipe da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do CPQBA(Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) da Unicamp, a fim de se certificar da não toxidade do extrato aquoso de

Fotos: Antonio Scarpinetti

Engenheira de alimentos faz caracterização da semente e do extrato aquoso em relação a proteínas, lipídeos e umidade

alpiste, e depois trabalhou com seis grupos de animais, cuidando da preparação e administrando diariamente a solução popular. “A não toxidade é interessante para futuros trabalhos, pois poderíamos estudar doses superiores do extrato – de dois mil miligramas por quilo – e talvez obter um efeito significativo. São necessários mais estudos para termos certeza de que o extrato realmente não possui qualquer ação contra diabetes.” A engenheira de alimentos constatou que os animais diabéticos, tendo recebido tratamento ou não, apresentaram os mesmos comportamentos: comiam, bebiam água e urinavam em excesso, ao mesmo tempo em que emagreciam. “Com o tratamento, os efeitos eram relativamente amenizados – bebiam e urinavam menos – mas sem significância na medição global. Pode ser que algumas pessoas, ao tomarem o extrato, sintam de fato esta diminuição, mas é um efeito muito pontual: no teste de glicemia, compilando os dados de 28 e de 87 dias de tratamento, não vimos alterações importantes.” Na opinião de Michele Oliveira, o teste de 87 dias, sugerido pela banca de qualificação para avaliar a sobrevida dos animais, foi conclusiva de todo o seu estudo. “O teste de 28 dias é um passo inicial para avaliação do aumento glicêmico característico do

diabetes, doença que pode trazer ao longo do tempo outras complicações, tais como problemas vasculares. Ao finalizar o experimento mais longo, notei que os animais, além das alterações nas enzimas hepáticas e renais, apresentavam catarata em um ou ambos os olhos e se tornaram mais agressivos.” Considerando que se trata do primeiro trabalho sobre o extrato aquoso de alpiste e o tempo limitado do mestrado, a autora finalizou a dissertação com sugestões para pesquisas futuras, como por exemplo, rea- lizar a extração com outros tipos de solventes e avaliar a atividade antioxidante e ação antidiabética. “Outra sugestão é estudar as propriedades da casca do alpiste, apesar da crença popular de que ela é cancerígena e, por isso, os passarinhos comem apenas o interior da semente. No teste com animais, tive a preocupação de tirar o máximo de cascas, quando provavelmente os compostos antioxidantes estavam na parte externa ou mesmo na primeira água que foi trocada. Também sugiro estudos para outras doenças, como câncer, hipertensão e obesidade, sendo que vemos sites citando benefícios do alpiste em casos de cirrose, obesidade e tonicidade muscular, entre outras patologias.”

A engenheira de alimentos Michele Christine Machado de Oliveira, autora da dissertação: “O extrato aquoso, apesar dos compostos fenólicos, apresentou atividade antioxidante intermediária”


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Painel da semana  Aula aberta em Agroecologia - No dia 16 de novembro, às 11 horas, na Sala UL21 da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira-SP, acontece a Aula aberta em Agroecologia : “Caminhos da pesquisa de campo em agroecologia: uma apreensão do endógeno”. Será com a professora Laura De Biase. A organização é da Rede de Agroecologia da Unicamp (RAU). O evento gratuito é aberto a interessados. Mais detalhes no link http://www.cisguanabara.unicamp.br/redeagroecologia/inicio.htm  Cidade conectada - O Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) da Unicamp e a Rede Franco-brasileira de Pesquisa sobre Análise do Discurso Digital (A2DI) organizam, em co-parceria, o evento Cidade Conectada: discurso, interação e mobilidade - VIII Encontro Internacional Saber Urbano e Linguagem, que acontecerá nos dias 17 e 18 de novembro, no Labeurb. O evento contará com conferências e mesas-redondas e objetiva promover um amplo debate sobre os discursos nos espaços digital e urbano. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-7900 ou link www.labeurb.unicamp.br/ cidadeconectada  Congresso de Iniciação Científica - Nesta edição, 1.514 alunos efetuaram inscrições para participar do XXIII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp e 1553 irão apresentar trabalhos, de 17 a 19 de novembro, no Ginásio Multidisciplinar da

Unicamp. Consulte o programa completo no link http://www.prp. rei.unicamp.br/pibic/congressos/xxiiicongresso/. Mais detalhes pelos telefones 19-3521-4891/3521-5196 ou e-mail pibic@reitoria. unicamp.br  Museus de arte - Intitulado Museus de arte: acolhendo a diversidade de públicos, a próxima edição do Fórum Permanente de Arte, Cultura e Lazer acontece no dia 18 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento será transmitido pela TV Unicamp. Inscrições, programação e outras informações, no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/arte68.html  Desigualdades socioeconômicas e estado de saúde dos idosos brasileiros (1998-2008) - Tema será apresentado pela Dra. Luciana Correia Alves, dia 18 de novembro, às 12h30, no auditório do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”. O encontro faz parte da série Tempo de Debate, evento organizado pelo NEPO. Mais informações pelo telefone 19-3521-0363.  Impactos da Internet e das mídias móveis no desenvolvimento social - Tema será discutido na próxima edição do Fórum Permanente de Sociedade e Desenvolvimento. O evento acontece no dia 19 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum está sob a responsabilidade da professora Iara Beleli, do Núcleo de Estudos do Gênero (Pagu). Seu público-alvo são docentes, funcionários, alunos, a comunidade externa e interessados no assunto. Inscrições, programação e outras informações: http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/soc_e_desenv13.html  Vestibular 2016 - A primeira fase do Vestibular Unicamp 2016 será realizada no dia 22 de novembro de 2015 e a segunda fase acontecerá nos dias 17, 18 e 19 de janeiro de 2016. Antes da primeira fase, haverá provas de Habilidades Específicas para candidatos aos cursos de Música (no período de 24 a 28 de setembro). Para os demais cursos (Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança), as provas de Habilidades Específicas ocorrerão no período de 25 a 28 de janeiro de 2016. A primeira chamada será divulgada pela Comvest dia 12 de fevereiro, para matrícula não presencial entre os dias 13 e 14 de fevereiro.

Eventos futuros  Computação musical - O XV Simpósio Brasileiro de Computação Musical (SBCM) será realizado no dia 23 de novembro, das 9 às 22 horas, no Centro de Convenções e no Instituto de Artes (IA) da Unicamp. A organização é do professor Jose Eduardo Fornari Novo Junior, do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NiCS). O público-alvo do evento são estudantes, professores e interessados em música, computação e tecnologia. Mais informações podem ser obtidas na página eletrônica http://compmus.ime. usp.br/sbcm2015/node/2, telefone 19-3521-7923 ou e-mail beth@ nics.unicamp.br

Destaque

 Repositórios institucionais - No dia 24 de novembro, às 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), acontece o Fórum Permanente de Ciência, Tecnologia e Informação “Repositórios institucionais: instrumento para visibilidade, disseminação e preservação da população científica”. O evento será transmitido pela TV Unicamp. Às 9h30 haverá o lançamento do Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp por Regiane Alcântara Eliel, coordenadora do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU). Inscrições, programação e outras informações no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/index.php?idArea=3  XIII Encontro Nacional de Compositores Universitários - Evento acontece entre 30 de novembro e 10 de dezembro, no Instituto de Artes (IA), na Casa do Lago da Unicamp e no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas. O Evento é anual e itinerante e objetiva fomentar a difusão e o debate sobre a composição e a criação musical em seu contexto atual. O público-alvo são alunos, professores, compositores, e interessados em música e composição. Para mais detalhes sobre o evento acesse o site http://encun.nics.unicamp.br/. Informe-se sobre o envio de trabalhos pelo e-mail encun2015@gmail.com.  WOCEP - Organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), o I workshop do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp (WOCEP) da Unicamp acontece nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro. A abertura do workshop será às 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). As inscrições podem ser feitas no site http://www.prp.rei.unicamp.br/wocep/. O objetivo é discutir e divulgar aspectos e perspectivas sobre a ética em pesquisa envolvendo seres humanos com fins de emergir a proposta da permanente troca de conhecimentos, aprendizados e saberes. O evento tem como público-alvo docentes, pesquisadores e funcionários; alunos de graduação, alunos de pós-graduação, e instituições de ensino e pesquisa. O auditório da FCM fica à rua Tessália Vieira de Camargo 126, no campus da Unicamp. Acesse o programa completo no link https://www.google.com/url?q=http://www.prp.unicamp.br/ files/PROGRAMACAO__WOCEP.pdf&sa=D&usg=AFQjCNF7kjGVI ouhvHVJ_Zw35JX9T13aKg. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail cep@fcm.unicamp.br.

Teses da semana  Biologia - “Participação de SIRT1 no aumento da sensibilidade periférica a insulina de camundongos submetidos a dieta hipoproteica” (mestrado). Candidata: Sarah Rickli. Orientador: professor Everardo Magalhães Carneiro. Dia 17 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do prédio da CPG do IB.  Ciências Médicas - “Desenvolvimento e validação de protocolo para reutilização de cateteres e eletrofisiologia não tunelados no hospital de clinicas da Universidade Estadual de Campinas” (mestrado). Candidata: MIrtes Loeschner Leichsenring. Orientador: professor Plinio Trabasso. Dia 16 de novembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da Otorrino da FCM.

 Computação - “Semi e Weighted Semi-Nonnegative Matrix Factorization: estudo comparativo” (mestrado). Candidato: Eric Velten de Melo. Orientador: professor Jacques Wainer. Dia 16 de novembro de 2015, às 14 horas, no auditórido do IC.  Educação Física - “Coordenação do nado crawl em nadadores competitivos usando diferentes tamanhos de parachutes” (mestrado). Candidato: Diego Fortes de Souza Salgueiro. Orientador: professor Orival Andries Junior. Dia 18 de novembro de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Crítica à metodologia dos indicadores para designar o espaço urbano” (mestrado). Candidato: Osmar da Silva Laranjeiras. Orientador: professor Lauro Luiz Francisco Filho. Dia 19 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses 2 do prédio de salas de aula da FEC.  Engenharia de Alimentos - “Prospecção, clonagem, produção, purificação e caracterização de enzimas do sistema lignocelulolítico de Bacillus licheniformis CBMAI 1609” (doutorado). Candidato: Evandro Antonio de Lima. Orientadora: professora Helia Harumi Sato. Dia 16 de novembro de 2015, às 14 horas, no salão nobre da FEA.  Engenharia Química - “Detecção e localização de vazamentos em tubulações de gás de baixa pressão por meio de sensores acústicos e processamento matemático de sinais” (doutorado). Candidata: Rejane Barbosa Santos. Orientadora: professora Ana Maria Frattini Fileti. Dia 17 de novembro de 2015, às 10 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Desenvolvimento de um processo fermentativo extrativo para produção de etanol por arraste gasoso” (doutorado). Candidato: Gustavo Henrique Santos Florês Ponce. Orientadora: professora Maria Regina Wolf Maciel. Dia 19 de novembro de 2015, às 8h30, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Análise das variáveis operacionais de um processo de produção de papel visando maior eficiência da operação” (mestrado). Candidato: Francisco Elpidio Viana Barbosa. Orientador: professor José Vicente Hallak D´angelo. Dia 19 de novembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Física - “Propriedades ópticas de pontos quânticos acoplados com gás de portadores” (mestrado). Candidato: Helder Faria Andriolo. Orientador: professor José Antônio Brum. Dia 17 de novembro de 2015, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Linguagem - “A rua e a universidade: gritos e sussurros na representação de si e do outro” (doutorado). Candidato: Carlos Alberto Casalinho. Orientadora: professora Maria José Rodrigues Faria Coracini. Dia 19 de novembro de 2015, às 10h30, no anfiteatro do IEL.  Química - “Síntese de nanopartículas de ouro suportadas em sílicas mesoporosas funcionalizadas com cloreto de 3-n-propilpiridínio e sua aplicação em sensores eletroquímicos” (doutorado). Candidato: Lucas Samuel Soares dos Santos. Orientador: professor Yoshitaka Gushikem. Dia 19 de novembro de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

do Portal

‘Redações 2015’ é lançado com o selo Unicamp Ano 50 livro “Redações 2015”, contendo uma coletânea de 20 textos produzidos por candidatos do último Vestibular Unicamp, foi lançado em cerimônia conduzida pelo reitor José Tadeu Jorge no último dia 9 na sala do Conselho Universitário (Consu). A publicação é uma parceria entre a Pró-Reitoria de Graduação (PRP), a Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) e a Editora da Unicamp. As redações foram selecionadas por professores de diferentes áreas disciplinares e o objetivo é que o livro sirva como referência para os futuros candidatos. Os autores das melhores redações receberam um diploma de honra ao mérito durante a cerimônia de lançamento. O reitor Tadeu Jorge chamou atenção para o selo “Unicamp Ano 50” impresso no livro, destacando a influência que a Universidade exerceu neste período para a melhoria também do ensino médio, através do seu Vestibular. “Certamente, a existência de uma redação com temas sempre atuais foi um dos instrumentos utilizados pela Unicamp para forçar reflexões e, inclusive, algumas alterações curriculares no ensino médio. Na história dos 50 Anos podemos incluir o nosso Vestibular como um marco e, por esta razão, o livro desse ano tem um significado simbólico muito maior.” Na prova de redação do Vestibular Unicamp 2015, que passou a ser realizada na segunda fase, os estudantes foram solicitados a produzir dois textos de gêneros diversos: uma análise sobre o tema da humanização no atendimento à saúde, escrita em registro formal; e uma carta-convite de alunos à comunidade escolar para discutir ações contra a violência. “Redações 2015” traz 10 textos de cada uma das propostas da prova, com autores de várias cidades paulistas (como Itapetininga, Guarulhos, Botucatu, Santa Rita do Passa Quatro, Campinas e Limeira), além de Salvador (BA). O livro, em formato de bolso, pode ser adquirido pela página da Editora da Unicamp: www.editora.unicamp.br

O professor Petrilson Alan Pinheiro, coordenador Acadêmico da Comvest, considera que a publicação demonstra o interesse contínuo da Comissão para os Vestibulares em estabelecer uma interlocução com a educação básica, discutindo aspectos relativos à compreensão dos processos de leitura e escrita como um instrumento potencial de mudanças – e não apenas de seleção de candidatos. “Os trabalhos apresentados e discutidos neste livro procuram desconstruir um ideal de produção de escrita pregado em muitas escolas e cursinhos. Ao lidar com diferentes gêneros discursivos, o candidato pode refletir acerca de aspectos sociais, históricos e culturais; a pensar como autor e não como alguém executando uma tarefa mecânica de escrita.” O coordenador geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta, disse que o livro de redações já se tornou uma tradição e é um marco importante da história do Vestibular Unicamp. “Todos sabemos dos problemas que o nosso ensino fundamental e médio enfrenta nas questões da língua portuguesa. Esta ação da Universidade deve ser vista não apenas como uma premiação aos autores das redações, mas também como exemplo de estilo a todos os alunos que farão vestibular nesta e outras instituições. Quero desejar sucesso a esses alunos em suas futuras profissões.” O professor Luís Alberto Magna, próreitor de Graduação, elogiou o empenho da banca elaboradora da prova de redação, que considera um diferencial a ponto de incentivar a publicação da 17ª edição do livro. “De minha parte, li todas as redações como um leitor comum, que busca informações sobre os temas propostos. E chama a atenção como os alunos, mesmo numa situação de estresse, conseguiram discorrer com precisão e discernimento sobre problemas agudos da sociedade, chegando a um texto altamente inteligível. Como leitor comum, quero parabenizar cada um dos autores aqui publicados por seu estilo e também por terem sido os melhores entre todos os concorrentes.”

Foto: Antoninho Perri

O reitor José Tadeu Jorge e o aluno Antonio Henrique Torres Vianna, que teve texto sobre humanização no atendimento à saúde selecionado para o livro

Como seu diretor executivo, o professor Eduardo Guimarães lembrou que o papel da Editora da Unicamp é colocar em circulação uma produção de interesse para a vida acadêmica, científica e intelectual, mas que o livro de redações também faz parte do processo educacional que busca a formação de pessoas. “Nenhum profissional será mais do que mediano se não souber escrever. Além da competência específica, ele só terá completude de ação se souber escrever bem, como parte da comunicação que dá uma qualidade suplementar aos profissionais.” Antonio Henrique Torres Vianna, aluno do Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca), prestou vestibular para midialogia e teve seu texto sobre humanização no atendimento à saúde selecionado para o livro. “Escolhi midialogia por ser um curso ino-

vador e que me agrada bastante por convergir em várias de conhecimento e da tecnologia; acho que encontrei a base para me desenvolver como comunicador. Sou músico e também gosto de escrever – leio e faço muita poesia – e de todas as técnicas de expressão. Daí, minha facilidade de escrita.” Sandra Nakashita é mãe de Diego, candidato a medicina que conseguiu a proeza de ter dois textos (um sobre cada tema) selecionados para “Redações 2015”, mas que não pôde comparecer à cerimônia de entrega do diploma de honra ao mérito. “Fiz questão de vir porque é motivo de muito orgulho para nós. Moramos em Guarulhos e, por causa da proximidade, o Diego vai fazer medicina na Pinheiros [USP]. Mas tenho uma filha e espero que realize o sonho de termos pelo menos um deles vindo para cá.” (Luiz Sugimoto)


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Da inovação à transferência de tecnologia

Estudo sugere que condicionantes endógenos e exógenos interferem nas políticas de C&T no país

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

s instituições públicas de ciência e tecnologia (C&T), e de pesquisa e de ensino, têm sido pressionadas a dar respostas e a contribuir para enfrentar os muitos desafios da sociedade, isso no Brasil e no exterior. Ainda que tais instituições tenham múltiplos papéis – gerar conhecimento, formar recursos humanos e promover o avanço da ciência –, esta pressão tem se concentrado no papel e na contribuição das pesquisas para a inovação. Uma inquietação em especial salta aos olhos: nem tudo o que é produzido é utilizado. Então o que impede a tecnologia de ser transformada em inovação no Brasil? Estudo de doutorado do Instituto de Economia (IE), que teve como foco a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sugeriu que alguns condicionantes endógenos e exógenos perpassam a falta de definição de C&T para o desenvolvimento econômico do país. Esses fatores, em alguns momentos, agem ajudando e em outros inibindo a transferência de tecnologia, particularmente na agricultura. Cássia Isabel Costa Mendes, autora do trabalho, concluiu que, “no árido panorama da relação entre ciência e inovação, é preciso se aproximar mais dos agentes do sistema nacional de inovação para desenvolver tecnologias ainda mais apropriadas ao ambiente produtivo e social”. Mesmo a Embrapa, que se desponta como caso exitoso nesse cenário, também sofre pressão para mostrar que seus trabalhos continuam impactando positivamente o agronegócio brasileiro. De outra via, a empresa tem sido questionada quanto à apropriação, pelos agricultores e pela sociedade, das tecnologias dos seus pesquisadores. Ela enfrenta problemas para transferir suas tecnologias para aqueles que dela deveriam se beneficiar? A burocracia dificulta o desenrolar de um processo que necessita ser muito fluido, dinâmico, flexível para responder às múltiplas situações e exigências do mercado e da sociedade? Ou é um pouco de tudo? Para saber o que de fato ocorre, Cássia entrevistou 57 especialistas em inovação tecnológica e transferência de tecnologia agrícola: representantes de setores do Sistema Nacional de Inovação na Agricultura, de instituições públicas e privadas nacionais e internacionais, de pesquisa, ensino, extensão rural, governo, produtores rurais e dirigentes de empresas líderes de agronegócio. Com base nas entrevistas, ela analisou os fatores que estariam condicionando a transformação dos conhecimentos e tecnologias gerados nos Institutos Públicos de Pesquisa (IPP) em Inovação. Adotou o conceito de inovação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que envolve produto, processo ou serviço, novo ou melhorado, em uso produtivo e social.

APROXIMAÇÃO

Entre os fatores externos avaliados, a pesquisa sinalizou que a C&T tem um papel protagonista no país, porém somente no papel. Na prática, sua inserção no aparelho produtivo é frágil, e a política pública não possui mecanismos para transformar a tecnologia de bancada em inovação, nem para incentivar seu uso nas empresas em geral. A atual estruturação das cadeias produtivas globais, realça Cássia, requer certa subordinação do agricultor às práticas propostas pelas empresas líderes e difundidas entre os agricultores pela rede de prestação de serviços financeiros e tecnológicos das próprias empresas. Sabe-se que os pacotes tecnológicos existem e que para os agricultores é ‘cômodo’ adotá-los como parte de uma relação mais ampla, que envolve financiamento, compra e venda antecipada de insumos e de produtos, garantia de armazenagem e transporte, e assistência técnica. De acordo com Antônio Márcio Buainain, docente do IE e orientador da tese, o jogo do mercado é mais pesado e complexo, e a tecnologia é apenas uma parte (nem sempre a mais relevante). Se a oferta tecnológica não

Fotos: Antonio Scarpinetti

Cássia Isabel Costa Mendes, autora do trabalho: “No árido panorama da relação entre ciência e inovação, é preciso se aproximar mais dos agentes do sistema nacional de inovação”

modelo deve buscar uma maior conexão com o ambiente externo, para trabalhar no contexto de redes, numa contínua interação entre agentes do sistema nacional de inovação na agricultura. Para essa inovação ser efetiva, afirma ela, é preciso que participem do processo inovativo os agentes de P&D e os agentes responsáveis pela produção, comercialização, distribuição e assistência técnica de inovação. Este é um pressuposto do modelo interativo de inovação. A interação e a complementariedade de competências entre os agentes são condições para revigorar ainda mais a Embrapa, no contexto da nova fase de desenvolvimento agrário brasileiro e das forças motrizes da agricultura de dimensões nacional e mundial. A Embrapa precisa operar com competências que vão além da pesquisa, sublinha a autora, intensificar suas interações com instituições que detêm competências de mercado não associadas apenas à C&T e à P&D, visto que, sozinha, ela não responde a todas as iniciativas de inovação agrícola. Graças aos resultados desse estudo, Cássia, que também fez mestrado no IE, acaba de receber o prêmio de melhor tese em Administração Rural do Conselho Federal de Administração da organização do 53º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia e Rural (Sober), em João Pessoa.

MODELO

O professor Antônio Márcio Buainain, orientador da tese: “Os determinantes da exclusão não têm a ver com a qualidade da tecnologia e sim com fatores fora do seu alcance”

está envolvida neste jogo, que inclui desde o financiamento até a comercialização, dificilmente vai se tornar dominante. O agricultor, considera o professor, torna-se cada vez mais subordinado às cadeias produtivas, e as opções tecnológicas estão muito distantes dele. Em casos extremos, cabe-lhe aceitar ou não a tecnologia oferecida. Entretanto, se não aceitar, está fora da cadeia de suprimento. “Tal subordinação tem impacto na transferência de tecnologia pela Embrapa, em especial nas cadeias em que a empresa tem pouca atuação.” Cássia comenta que, além disso, a fragilidade do sistema de extensão rural impacta principalmente os pequenos agricultores, que não recebem a atenção das grandes corporações e não estão plenamente inseridos nas cadeias mais dinâmicas do agronegócio. Então o desmantelamento da extensão rural, relata ela, produz pressões para que a Embrapa assuma este vazio institucional, o que tem trazido confusões no interior da empresa. Por um lado há aqueles que favorecem uma contribuição mais ativa em atividades de extensão, para viabilizar a transferência de tecnologia; por outro lado, há aqueles que entendem que este papel extrapola os limites de uma empresa de P&D, cuja competência é voltada a estas atividades e cujos recursos já são insuficientes frente à crescente pressão para gerar tecnologia. “Independentemente das opiniões contrárias, a pesquisa constatou que falta clareza sobre o modelo de extensão rural adequado para colaborar no processo de transferência de tecnologia pela Embrapa”, informa a pesquisadora.

MODELO

Em sua fase inicial, conta a doutoranda, essa empresa adotou com êxito o modelo tradicional linear de transferência de tecno-

logia, tendo a fonte (pesquisa) de um lado e o receptor (produtor rural) de outro, com a intermediação da extensão. Ocorre que as condições atuais são outras, e este modelo já não responde mais à realidade. A agricultura passou a ficar mais complexa, surgiram novos desafios e uma maior presença da iniciativa privada, exigindo da Embrapa a necessidade de desenvolver pesquisas em parcerias. Neste novo contexto, ter ou não o serviço de extensão, provavelmente não resolveria o problema da transferência. Ao mesmo tempo, milhões de pequenos agricultores foram incorporados à agenda de políticas públicas da década de 1990 com a criação do Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf), tornando-se stakeholders do sistema de inovação. “Falhou o modelo inicial porque não havia um sistema de extensão rural eficaz. A Embrapa sempre teve tecnologias que poderiam e podem alavancar esses produtores excluídos tecnologicamente, mas elas não chegaram e ainda não chegam a eles.” Para Buainain, a questão que ora se impõe é o que a Embrapa deve fazer para mitigar ou superar este deficit? Muito pouco, opina, “porque os determinantes da exclusão não têm a ver com a qualidade da tecnologia e sim com fatores fora do seu alcance, desde o financiamento até o acesso aos mercados”.

INTERAÇÃO

Avaliando a Embrapa, Cássia notou que a adoção da sua tecnologia decorre do seu modelo de gestão. A empresa trata, entende, analisa e percebe os fatores que influem na transferência da tecnologia. Mas ela carece de um modelo de gestão organizacional sistêmico e horizontal que se reflita numa governança transversal da pesquisa. Esse

A Embrapa é um dos paradigmas da política científica e tecnológica do país. Conforme Buainain, pesou muito o fato de, ao ser criada há 43 anos, seus fundadores perceberem que uma empresa de pesquisa se faz com recursos humanos qualificados. Foi então que encaminhou cerca de 1.000 pesquisadores para estudarem no exterior. “Naquele momento, não estava gerando tecnologia. Estava criando essas condições.” A empresa percebeu que tinha que lidar com fatores mais urgentes da agricultura. Fez uma década de investimentos, e surgiram tecnologias-chaves à ocupação do Cerrado. O que era visto como impróprio, em razão da tecnologia da época, é hoje a principal área agrícola do país. Tecnologias como fixação biológica de nitrogênio no solo impulsionaram o Brasil. A Embrapa criou uma ferramenta em que a própria planta fixa esse elemento e reduz o uso de nitrogenados, que são 80% importados. Também trouxe a tecnologia do cultivo mínimo, suprimindo as atividades de aração e gradação de terra. Antigamente, a terra ficava exposta, pois essa tecnologia era de países frios. “Vinha o inverno e protegia o solo. Com o calor, os microrganismos eram destruídos, e o solo endurecia. Havia problemas de compactação por causa das máquinas. Era inviável uma agricultura nessas condições”, reconhece Buainain. Atualmente, com a tecnologia do cultivo mínimo, o solo não fica mais exposto às condições do tempo. Aumentou a produtividade, reduziu custos e propiciou o plantio de duas safras. Só se plantava no verão. Agora, o Brasil caminha para usar a terra 365 dias por ano. “Enquanto nos países do Norte a terra ‘hiberna’ no inverno, no nosso país, quando sai a safrinha, entra o gado, sai o gado e entra nova safra e tem ainda o aproveitamento da floresta. O rendimento é alto. Esse é o programa Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)”, informa o orientador.

Publicação Tese: “Transferência de tecnologia da Embrapa: rumo à inovação” Autora: Cássia Isabel Costa Mendes Orientador: Antônio Márcio Buainain Unidade: Instituto de Economia (IE) Financiamento: Embrapa


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Campinas, 16 a 29 de novembro de 2015

Fotos: Reprodução

Na sequência, frutos de bacupari-mirim, cereja do Rio Grande, e grumixama: análises das sementes, cascas, polpas e folhas

Estudos atestam potencial bioativo de frutas nativas CÉSAR MAIA Especial para o JU

ma linha de pesquisa desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, em parceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), busca identificar o potencial bioativo de frutas nativas brasileiras. Para tanto, o estudo analisou tanto a atividade antioxidante quanto a composição fenólica de cinco espécies frutíferas nativas. São elas: G. brasiliensis, E. leitonii, E. involucrata, E. brasiliensis e E. myrcianthes, popularmente conhecidas, respectivamente, como bacuparimirim, araçá-piranga, cereja do Rio Grande, grumixama e ubajaí. Os resultados já demonstraram grande potencial antioxidante das frutas nativas, o que evidencia um possível efeito positivo em sistemas biológicos. Nos ensaios realizados na FOP é possível afirmar, por exemplo, que os frutos grumixama, ubajaí e bacupari-mirim possuem também importante atividade anti-inflamatória. Segundo o professor Pedro Luiz Rosalen, da Área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica da FOP, o diferencial da pesquisa está, justamente, em analisar a polpa, a semente, a casca e a folha de frutas muito conhecidas e até disponíveis para comercialização, mas nunca exploradas cientificamente. “Algumas, infelizmente, estão em processo de extinção”, lamenta o pesquisador, que contou no estudo com a parceria do professor Severino Matias de Alencar, do Departamento de Agroindústria, da Esalq. Rosalen e Alencar atestam que as informações obtidas no estudo permitem recomendar o consumo frequente dessas frutas. Tanto por sua segurança como pelo elevado poder antioxidante e possíveis efeitos antiinflamatórios demonstrados in vivo. “Nosso papel consiste em reforçar o consumo racional de frutas, estimulando a sua produção e impulsionando a economia”, afirma Rosalen. De acordo com os pesquisadores, o Brasil possui uma imensa diversidade biológica, na qual muitos compostos bioativos poderiam ser encontrados e utilizados em benefício da sociedade. Os processos de degradação do meio ambiente e a introdução de espécies exóticas, no entanto, acabam contribuindo para que muitas plantas nativas permaneçam esquecidas. “Isto reflete, logicamente, na pequena quantidade de estudos sobre a composição química e o potencial biológico de espécies”, atesta o professor Rosalen. Uma das primeiras motivações ao iniciar as investigações foi a de contribuir para se evitar o surgimento de doenças degenerativas e obter mais qualidade de vida a partir do consumo regular de frutas. A prevenção de doenças crônicas, entre as quais o diabetes, o estresse oxidativo e a osteoporose, é constantemente associada ao consumo de alimentos ricos em atividade antioxidantes de metabólitos secundários dos vegetais, principalmente, os fenólicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, inclusive, o consumo regular de frutas como elemento altamente benéfico para se evitar essas doenças.

PRÓXIMO PASSO Uma vez demonstrada as atividades antiinflamatória e antioxidante das frutas estudadas, os pesquisadores pretendem, num futuro próximo, desenvolver estudos que agreguem valor e, assim, tenham potencial de comercialização. “É nossa intenção caracterizá-las e tentar despertar o interesse agronômico para que elas se transformem em plantios comerciais, a exemplo do que ocorreu com o açaí, fruta hoje popularizada e encontrada até mesmo nos Estados Unidos”, destaca Severino Alencar. Atualmente, as propriedades dos frutos permitem o uso como alimento funcional, na extração de corantes e para composição de cosméticos. O agronegócio do açaí é um exemplo desta vasta utilização, pois trouxe desenvolvimento especialmente para uma área em que não havia atividade comercial, as terras protegidas, beneficiando produtores nelas radicados. Eles não tinham fonte de sustento e, hoje, com a colheita do açaí e sua utilização industrial, as comunidades estão se beneficiando da atividade econômica. “Há 10 anos eles viviam em absoluta pobreza e, graças à descoberta das propriedades de uma planta exótica nativa brasileira, estão se mantendo na atividade. Não se tinha conhecimento algum, mas, com os estudos científicos, de repente, constatou-se que o açaí é importante fonte de compostos fenólicos, com atividades antioxidante, anti-inflamatória, antimicrobiana e corante”, explicam.

METODOLOGIA Num primeiro momento da pesquisa, o professor Severino Alencar investigou as atividades antioxidantes das plantas. A partir daí, foram selecionadas três plantas com maior potencial e, uma delas, a grumixama,

apresentou atividade anti-inflamatória significativa, equivalente ao controle positivo anti-inflamatório, que são as drogas. No quesito de atividade antioxidante, as três demonstraram quantidades significativas, mas a grumixama se destacou. No geral, as folhas apresentaram atividades antioxidante e anti-inflamatória bastante interessantes e muito semelhantes ou até superiores aos das frutas que são consumidas in natura. Como as folhas não são ingeridas, uma sugestão é que o insumo possa ser misturado ao alimento. Isto seria interessante para a indústria de alimentos ou para a farmacêutica. “As pessoas não consomem o antioxidante na forma bruta, mas sim, em medicamentos, em cosméticos ou em produtos de higiene”, explica Rosalen. No caso da grumixama, ubajaí e bacupari, elas foram as que apresentaram ótimos resultados antiinflamatórios, sendo que a maior concentração foi encontrada na polpa. Para chegar aos resultados apresentados, foram utilizadas sete metodologias e em cada uma observou-se um aspecto diferente. Segundo Rosalen, é difícil determinar todas as propriedades das plantas, uma vez que a pesquisa é um processo de evolução. Entretanto, a partir do momento em que o conhecimento é gerado, novos produtos, publicações e informações para a sociedade vão surgindo. O docente destacou ainda a importância de o fruto possuir capacidade antioxidante. “Normalmente nós temos muitas reações de oxidação em nosso corpo que causam o envelhecimento e fazem surgir doenças crônicas, tais como, diabetes, artrites e hipertensão, entre outras doenças”, argumenta. Todas elas envolvem um processo antioxidativo de morte celular. Isso significa que o organismo da pessoa, com o passar do tempo, vai Foto: César Maia

Os professores Pedro Luiz Rosalen (à direita) e Severino Matias de Alencar durante pesquisa em laboratório da FOP, em Piracicaba: resultados demonstraram grande potencial antioxidante das espécies estudadas

perdendo a capacidade de neutralizar essas reações de oxidação e o fato de ingerir frutas, como é o recomendado pela OMS, evita uma série de doenças, como as já citadas. É sabido que as frutas possuem compostos essenciais para a nutrição do ser humano. Quando se ingere uma fruta, o organismo está absorvendo vitaminas, óleos, oligoelementos e aminoácidos, que são importantes para uma dieta balanceada. Entretanto, as frutas que foram estudadas têm outros compostos, como os fenólicos, que não têm uma atividade dietética, mas protetora. Um alimento com essa característica de proteção, ou seja, a de conservar seu estado de saúde é chamado de alimento funcional, um dos grandes temas de pesquisas em todo mundo. “São alimentos que podem aumentar a qualidade de vida, não só nutrir, mas proteger. Por isso, queremos acrescentar valor comercial a essas frutas nativas. Provada a qualidade biológica, ela ganha status de alimento”, argumenta Rosalen.

COOPERAÇÃO O trabalho de cooperação entre a FOP e Esalq teve início em 2003 com o principal objetivo de desenvolver pesquisas com própolis. O professor Severino Alencar busca identificar compostos químicos, produtos naturais e seu isolamento, enquanto o professor Pedro Rosalen avalia algumas de suas propriedades biológicas. A pesquisa conta ainda com a participação dos pesquisadores Massararo Ikegaki, da Universidade Federal de Alfenas, Ramiro Murata, da Universidade Southern Califórnia, e Jonas Paschoal, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP. Participam também os alunos de pós-graduação Juliana Infante (Esalq/USP), Adna Massarioli (Esalq/USP), Jackeline Cintra Soares (Esalq/USP), Josy Goldoni Lazarini, Marcelo Franchin (FOP) e Carina Denny. A Universidade de La Frontera, do Chile, também colabora no projeto, desenvolvendo uma linha de pesquisa em que estudam frutas e cogumelos comestíveis nativos do país. “Estamos fazendo troca de conhecimento. O convênio permitiu que recebêssemos recentemente a visita do professor Fernando Gonzalo Romero Nejía para estudos em nosso laboratório”, explica Rosalen. Este intercâmbio com o Chile também conta com apoio bilateral da Fapesp. Além disso, a agência de fomento também apoia o professor Severino Alencar com uma bolsa de auxílio pesquisa, para incrementar uma série de estudos com plantas de frutas nativas brasileiras. A Fapesp autorizou também duas bolsas de estudo, destinadas para orientandos de cada professor. As plantas pesquisadas são oriundas de dois sítios localizados no interior de São Paulo: “Estância das Frutas” (Rio Claro) e “Frutas Raras” (Campina do Monte Alegre). As duas propriedades comercializam as plantas e têm, em seus objetivos, a preservação da coleção. O produtor de Campina do Monte Alegre possui a maior coleção de frutas nativas do Brasil, somando três mil mudas plantadas.


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