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Foto: Antoninho Perri

Carlos Vogt, agora emérito, fala sobre ensino, linguística e poesia

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O ex-reitor Carlos Vogt (foto), que recebeu no último dia 16 o título de professor emérito da Unicamp, relembra momentos de sua trajetória na Universidade, analisa os desafios do ensino superior e fala sobre o lugar de suas áreas de atuação – linguística, poesia e jornalismo – no mundo de hoje.

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015 - ANO XXIX - Nº 641 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Menos pública, mais inacessível

Manifestantes protestam contra o fechamento de escolas estaduais paulistas, em ato ocorrido no último dia 6 em São Paulo

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Pesquisa coordenada pela Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE) revela o avanço de diferentes tendências de privatização da educação básica em 15 países da América Latina e do Caribe. O estudo conclui que é cada vez mais recorrente, inclusive no Brasil, o uso de mecanismos institucionais e políticos que possibilitam a transferência, direta ou indiretamente, das responsabilidades da educação pública para o setor privado lucrativo. O trabalho foi organizado pelas professoras Theresa Maria de Freitas Adrião, (FE-Unicamp) e Teise de Oliveira Guaranha Garcia (FFCL-USP).

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O SUS e a fitoterapia nos ‘quatro Brasis’

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A invisibilidade dos alunos com dificuldades

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Os ritos de resistência em aldeias Yanomami


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015

Levedura silvestre é opção

para a produção de biodiesel ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

possível produzir biodiesel a partir do óleo extraído de um microrganismo que utiliza resíduo industrial – o glicerol – no seu desenvolvimento. Foi o que apurou estudo de doutorado defendido pela engenheira de alimentos Susan Hartwig Duarte, orientado pelo professor colaborador da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Francisco Maugeri Filho. Para chegar a essa conclusão, Susan explorou leveduras silvestres (uma classe de microrganismos) isoladas de ecossistemas brasileiros, como a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal e a Floresta Amazônica. Ao final, estudou um conjunto de 129 leveduras e selecionou aquelas com maior potencial de acúmulo lipídico, por proporcionar um maior volume de óleo. A levedura que apresentou um maior potencial nesse aspecto foi a LEB-M3, sigla batizada no Laboratório de Engenharia de Bioprocessos da FEA. Por essa razão, ela passou a ser o foco das análises de Susan e do Grupo de Pesquisa de Engenharia de Bioprocessos, liderado por Maugeri. A autora da tese conseguiu produzir lipídios (biomoléculas) desse microrganismo presente na natureza, gerando quantidades significativas de óleo no interior da célula da levedura. A pesquisadora fez uso de glicerol como fonte de energia para o crescimento do microrganismo e, com base nas características do óleo produzido, sugeriu que ele poderá ser destinado à produção de biodiesel. A investigação de Susan, aponta Maugeri, teve em vista o aproveitamento de uma matéria-prima de baixo custo e que atualmente é um grande problema para a indústria de biocombustível. “É que a produção de biodiesel gera uma grande porcentagem de volume do óleo utilizado em glicerol bruto,

Engenheira de alimentos explora microrganismos da flora brasileira que infelizmente não demonstra ainda uma finalidade muito específica, e a sua purificação representaria um alto custo”, informa. Para o orientador da tese, a intenção era alcançar uma mercadoria de maior valor agregado para aplicação desse glicerol bruto, de modo a obter combustível do óleo produzido ou destiná-lo para aplicações mais nobres como por exemplo na indústria de alimentos. “Isso porque o óleo resultante desse microrganismo tem qualidade muito próxima à de um óleo vegetal, sobretudo por conter ácidos graxos como o ômega 3 e o ômega 6, tidos como boas gorduras”, sublinha. O docente opina que esse óleo, provavelmente, tem características muito interessantes para emprego na indústria petroquímica e também farmacêutica e cosmética.

SELEÇÃO Segundo Susan, todas as leveduras que apresentam mais de 20% da sua massa seca em lipídios podem ser classificadas como leveduras oleaginosas. A pesquisadora destaca que fez uma identificação genotípica da levedura oleaginosa selecionada no projeto como uma Candida sp. Além disso, meios de cultivo, otimização de meio e parâmetros de cultivo, como agitação/aeração, foram estudados em biorreator de bancada. Ela também analisou o perfil de ácido graxo do material produzido, de grande relevância para a identificação dos possíveis

usos para o óleo. Verificou então que esse perfil era parecido com o dos óleos vegetais, principalmente aqueles usados na produção de biodiesel. Esses lipídios, conforme a autora, são formados intracelularmente e não são fáceis de serem extraídos porque a célula do microrganismo é bastante rígida. Portanto, a doutoranda recorreu a um estudo de ruptura celular, em busca de um método eficiente e alternativo para recuperar o óleo. Nesta etapa, avaliou diferentes técnicas físicas e químicas para romper a célula e facilitar a posterior extração. A pesquisadora também optou por fazer alguns experimentos de extração do óleo com dióxido de carbono supercrítico (que tem a densidade próxima à de um líquido e possui baixa viscosidade se difundindo como um gás). Trata-se de uma tecnologia nova e indicada para a extração de compostos de microrganismos, além de ser menos agressiva. “Os resultados foram bastante promissores”, garante. Tem mais: como o processamento de biodiesel requer um catalisador (normalmente o mais adotado industrialmente são catalisadores químicos), Susan escolheu uma enzima para catalisar a reação, que no caso foi a lipase. As enzimas, entre tantas vantagens de aplicação neste processo, podem ser reutilizadas quando sofrem imobilização num suporte adequado. “Quando a produção de biodiesel chegava a um determinado rendimento, a enzima tinha condições de ser reutilizada. É que, quando imobilizada, mostra maior estabilidade, garantindo que não ocorram modificações nas características que são desejáveis no processo.” A pesquisadora acredita que ainda não exista no setor industrial a produção de biodiesel por lipídios microbianos no qual adotem-se enzimas como catalisadoras. “Assim, esse nosso processo é algo muito inovador.” Foto: Antonio Scarpinetti

EXPERIÊNCIA Durante o seu doutorado, Susan esteve visitando a Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha, onde permaneceu por seis meses para uma missão bem-definida: aplicar o óleo obtido para a produção de biodiesel. Esta parte do trabalho foi realizada sob orientação do professor espanhol Francisco Valero no Laboratório de Biocatálise Aplicada. O grupo dessa Universidade, revela, já somava experiência na parte de produção de biodiesel com enzimas, porém com óleos de outras origens. “Levamos para lá o óleo de levedura e ele foi muito bem-aceito”, realça. De acordo com Susan, essa pesquisa permitiu ver uma fonte alternativa de óleo para a produção de biodiesel, porque as fontes de óleo mais empregadas no momento são a soja, o amendoim, a mamona e o girassol, entre outros, que exigem o seu plantio em grandes áreas de terra cultiváveis, o que acabaria competindo com o setor alimentício – uma disputa por espaço de terra. A pesquisadora relata que o maior gargalo do seu estudo esteve na etapa de ruptura celular e de extração dos lipídios. A seu ver, também deveriam ser estudadas e colocadas em prática metodologias menos agressivas para a recuperação de óleos. É que, em laboratório, via de regra utiliza-se o clorofórmio e o metanol para extração, e, no setor industrial, o hexano. Ocorre que esses solventes são potencialmente tóxicos. Com isso, existe a necessidade de buscar novas alternativas para evitar danos, inclusive pela inalação desses solventes. Hoje em dia, revela a doutoranda, todo diesel empregado no transporte público brasileiro deve conter 7% de biodiesel em sua composição. Essa é uma exigência da lei e por isso é relevante desvendar outras novidades na produção de biodiesel para cumprir o que designa a legislação. Cada vez mais tem sido estimulado no país o aumento do percentual de biodiesel adicionado ao diesel, visto que este biocombustível não é originado do petróleo, porque acima de tudo é uma fonte renovável de energia, constata a engenheira de alimentos.

Publicações - DUARTE, S.H., DEL PESO, G., CANET, A., BENAIGES, M.D., MAUGERI, F., VALERO, F.B. Enzymatic biodiesel synthesis from yeast oil using immobilized recombinant Rhizopus oryzae lipase. Bioresource Technolgy, v. 183, p. 175-80, 2015. - DUARTE, S.H., ANSOLIN, M., MAUGERI, F. Cultivation of Candida sp. LEB-M3 in glycerol: Lipid accumulation and prediction of biodiesel quality parameters. Bioresource Technology, v. 161, p. 416-22, 2014.

Tese: “Produção e extração de lipídeos microbianos para síntese enzimática de biodiesel” Autora: Susan Hartwig Duarte Orientador: Francisco Maugeri Filho Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: CNPq e Capes O professor Francisco Maugeri Filho, orientador da pesquisa, e a engenheira de alimentos Susan Hartwig Duarte: solução está na natureza

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015

Geógrafo investiga especificidades do macrossistema de saúde nos “quatro Brasis”

O SUS que não se vê Fotos: Divulgação

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

ecorrendo a conceitos da geografia, tese de doutorado defendida no Instituto de Geociências (IG) demonstra que o território brasileiro é “SUS dependente” e que todas as pessoas aqui residentes, incluindo estrangeiros, utilizam e dependem do Sistema Único de Saúde de uma maneira ou de outra. Foi seu projeto de mestrado sobre um programa municipal de fitoterápicos em Campinas, depois validado como pesquisa de doutorado pela banca de qualificação, que permitiu ao geógrafo Luis Henrique Leandro Ribeiro fazer uma leitura do SUS como um macrossistema de saúde, assim caracterizado pela pluralidade de redes técnicas e políticas, de organizações e centros de comando, de escalas de ação e de fluxos, e pela capacidade de moldar e ser moldado pelas especificidades de cada lugar. “A assistência médico-hospitalar é apenas um dos componentes deste macrossistema, mas o mais lembrado quando nos referimos a ele, o que leva à equação simplista de que 75% dos brasileiros são ‘SUS dependentes’ e 25% podem pagar planos de saúde; que o SUS é para pobres”, observa Luis Ribeiro. “Isso é equivocado, pois a sua leitura como um macrossistema mostra que os procedimentos de alta complexidade, em sua maioria (quase 100% dos transplantes, por exemplo), são realizados pelo SUS; que mais da metade dos médicos trabalha no sistema; que os maiores especialistas têm sua formação com recursos públicos; que os melhores centros de pesquisa em saúde ainda são públicos; e que nas campanhas de imunização e na urgência e emergência o SUS atua hegemonicamente, assim como nas ações de prevenção e atenção primária.” Orientada pelo professor Márcio Cataia e financiada pela Fapesp, a tese intitulada “Território e macrossistema de saúde: os programas de fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS)” pretende, nas palavras do autor, ler o SUS em suas visibilidades e invisibilidades, tanto no que possui de notável e extraordinário, quanto de corriqueiro e despercebido. “O mote da pesquisa foi compreender como o SUS integra à medicina tradicional diversas práticas de medicina complementar e alternativa – e como o território condiciona e é condicionado pela existência de programas de fitoterapia no sistema. Lembrei-me de um caso de queimadura num posto de Campinas, quando ao paciente foi receitado gel de babosa produzido por uma farmácia de manipulação municipal que serve à rede pública – um dos serviços pioneiros no país.” Com o objetivo de analisar, do ponto de vista da geografia, de que maneira o serviço municipal consegue promover a sinergia técnica entre um saber local e a estratégia política de produção e distribuição de fitoterápicos, Luis Ribeiro investigou 14 programas de fitoterapia e foi a campo em 24 municípios, totalizando 81 entrevistas nas quatro macrorregiões brasileiras. “Seguimos a definição dos ‘quatro Brasis’ de Milton Santos e Maria Laura Silveira, em referência à Região Concentrada (Sudeste e Sul), Centro-Oeste, Nordeste e Amazônica. Esta regionalização se baseia na difusão diferencial do meio técnico-científico-informacional pelo território – modernizações expressas tanto na formação do Sistema Único de Saúde quanto na valorização recente das plantas medicinais e fitoterápicos.”

HISTÓRICO

Segundo Ribeiro, no bojo da Contracultura dos anos 1960 surgiu um movimento global de valorização do uso de plantas medicinais sob novas bases, intensificado pelo ideário ecologista (Conferência sobre Meio Ambiente de Estocolmo, em 1972), e depois pela Conferência sobre Cuidados Primários em Saúde (1978), que resultou na Declaração de Alma-Ata (Cazaquistão), em apoio à adoção de uma medicina de caráter mais preventivo em sistemas nacionais. No Brasil, as chamadas práticas de medicina complementar e alternativa começaram a ser difundidas nos anos 80, no contexto de redemocratização, quando alguns municípios começaram a adotá-las por conta própria.

dades de compra e aquisição no mercado dos insumos, devido a fornecedores não capacitados e à qualidade dos produtos. “Dos programas que visitei, grande parte estava desativada pela Anvisa para adequar seus laboratórios às normas.” O geógrafo atenta que mesmo no Estado de São Paulo, que possui as variáveis da técnica, da ciência e da informação mais disseminadas e capilarizadas, enfrentam-se obstáculos para incluir fitoterápicos no sistema público. “É o estado da Região Concentrada onde mais se cria programas – e onde mais se extingue. São Paulo conta com o maior número de universidades e de profissionais formados para práticas complementares, mais de 80% da indústria de fitoterápicos (além de boa fatia da produção de extratos) e os três principais atacadistas de plantas medicinais. Mas se estas variáveis possibilitam uma política de incorporação dessas práticas, ao mesmo tempo verifica-se alta taxa de mortalidade, interrupção ou descontinuidade de experiências.”

INVISIBILIDADES

Banca de ervas na avenida Getúlio Vargas, na cidade pernambucana de Olinda, e cultivo de massa verde no horto da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza: impasses na área de fitoterápicos

O geógrafo Luis Henrique Leandro Ribeiro, autor da tese: “O mote da pesquisa foi compreender como o SUS integra à medicina tradicional diversas práticas de medicina complementar e alternativa”

Ainda conforme o pesquisador, nos anos 90, após a criação do SUS, registrou-se um aumento no número de programas de fitoterapia. “O programa de Campinas, por exemplo, surgiu das rodas de conversa de uma médica com usuários de posto de saúde, levantando as espécies mais utilizadas e para quais fins. A médica recorria ao CPQBA [Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas] da Unicamp, que fazia a identificação botânica e validava a eficácia e a segurança das plantas. De mais de 60 espécies inicialmente levantadas, cerca de dez obtiveram validação para entrar no sistema.” Luis Ribeiro aponta a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, instituída em 2006, como a grande disseminadora dos programas de fitoterápicos no SUS, que eram 21 em 1997 e saltaram para 346 em 2008 e 815 em 2012. “Um problema é que, na análise qualitativa, identificamos uma fase anterior e outra posterior à política do governo: antes havia cerca de 80% de

farmácias municipais de manipulação e 20% de particulares – indicando um predomínio de programas horizontalizados, vinculados a práticas e saberes locais, mais próximos do ideário do movimento da Reforma Sanitária Brasileira que culminou na fundação do SUS.” O geógrafo constatou que na segunda fase esta relação se inverte: em 815 municípios, 80% recorriam a fitoterápicos industrializados e 20% a farmácias municipais, indicando programas mais insensíveis às práticas e heranças dos lugares. “Trata-se de um processo de cooptação desses programas pela racionalidade da biomedicina – aqui entendida não apenas por sua base técnica, científica, clínica e laboratorial, mas também por sua associação com uma corporação de profissionais (no caso, os médicos), grandes empresas (de equipamentos, insumos farmacêuticos e prestadores de serviços) e o Estado. É o que acabou predominando no subsistema de fitoterapia do SUS.”

CONSTRANGIMENTOS O autor da tese ressalta que o modelo para os programas do país é o Farmácia Viva, do Ceará, que se responsabiliza por todas as etapas de produção: cultivo da massa verde, beneficiamento, oficina ou farmácia de manipulação (para pomadas, géis, cápsulas, xaropes) e dispensação. “O professor Francisco Matos idealizou o Farmácia Viva em 1983, a partir do horto da Universidade Federal do Ceará. Ele ficou notório por suas andanças pelo Nordeste, levantando e identificando espécies nas comunidades: juntou a prática e saber local com a capacidade técnica-científica-informacional e as normas.” Entretanto, é raro um programa que consiga cumprir todas as etapas, conforme Luis Ribeiro, que elaborou um quadro sintetizando os “constrangimentos e fatores limitantes à existência do subsistema de fitoterapia no SUS”, sendo os principais: descontinuidades e rupturas em função de mudanças no governo municipal e resistência dos gestores e também dos médicos; e falta de controle sobre a matéria-prima e dificul-

Durante a pesquisa, o autor da tese diz ter identificado dois campos de invisibilidades do SUS, enquanto principal força estruturante do macrossistema de saúde brasileiro. “Um dos campos é a produção deliberada de um SUS que ‘não se vê’, principalmente pelas grandes empresas de comunicação (impressa e televisiva), um certo ‘silenciamento’ da presença do SUS. Outro campo de invisibilidades reside na relativa incapacidade ou limitação do SUS em ler, registrar e incorporar práticas e saberes locais, silenciando sobre essas heranças culturais e institucionais.” O pesquisador observa que ambas as invisibilidades são expressões da dualidade do SUS: duas forças que o movem, sendo uma delas a sua força fundante na Assembleia Constituinte, visando um sistema público e universal de saúde. “O macrossistema de saúde brasileiro é dual, mas não dualista: realiza a saúde como um direito social e o sistema como espaço de transformação política, mas também dá espaço a uma força que realiza a saúde como mercadoria e lócus de acumulação de capital.” Para realizar suas ações foi necessária ao sistema uma base material, como as unidades de saúde, que passaram a existir de forma suficiente e mais integrada no território brasileiro a partir dos anos 1970. A questão é que boa parte desta materialidade está fora do controle direto da gestão única e pública do sistema. “A ditadura militar promoveu intensa transferência desta base hospitalar e ambulatorial para grandes grupos privados. A indústria farmacêutica, parte da materialidade necessária, já era de base privada, sendo que a chegada das multinacionais resultou na internacionalização da produção nos 1950. E os serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, surgidos com mais intensidade a partir dos 80, também são majoritariamente privados ou corporativos.” Luis Ribeiro conclui que uma dificuldade do SUS, portanto, é ter parte da base material seguindo uma lógica mercantil, o que se acentuará com a abertura irrestrita da área de serviços e prestadores de saúde ao capital estrangeiro aprovada em janeiro de 2015. “Há uma força de inércia que dificulta a inserção no SUS de práticas não hegemônicas (entre elas a fitoterapia), bem como a sua realização mais plena como projeto de transformação política, o que se deve em grande medida à força hegemônica diretiva do macrossistema: a biomedicina enquanto associação entre corporação médica, grandes empresas e Estado.”

Publicação Tese: “Território e macrossistema de saúde: os programas de fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS)” Autor: Luis Henrique Leandro Ribeiro Orientador: Márcio Cataia Unidade: Instituto de Geociências (IG) Financiamento: Fapesp


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015

Ex-reitor Vogt recebe título de Fotos: Antoninho Perri

Cerimônia de outorga, no Centro de Convenções, contou com a presença da comunidade universitária e de convidados MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

linguista, poeta e ex-reitor da Unicamp Carlos Vogt recebeu no último dia 16 de outubro o título de professor emérito da Universidade, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à ciência, à cultura e à Universidade. A cerimônia, presidida pelo reitor José Tadeu Jorge, foi realizada no Centro de Convenções da Unicamp e contou com a presença de estudantes, funcionários, docentes e convidados. A concessão da honraria fez parte da programação de comemoração dos 50 anos da Unicamp, que serão completados oficialmente em 5 de outubro de 2016. Na entrevista que segue, Vogt fala da satisfação por ter recebido a homenagem, relembra momentos de sua carreira na instituição e faz considerações sobre a missão da universidade pública e o futuro do jornalismo. Também faz uma reflexão sobre a ética. “A questão ética não é simples, e é menos simples ainda numa sociedade como a nossa, que é polifônica, multifacetada e fragmentada do ponto de vista dos valores e ideologias. Então, encontrar faróis que joguem luz sobre os comportamentos não é fácil. Quando o mundo é dividido apenas entre bem e mal, isso se torna um pouco mais simples. Entretanto, quando surgem muitos tons de cinza, as coisas se complicam muito”. Jornal da Unicamp - O senhor ocupou as mais destacadas funções na Unicamp, inclusive a mais importante delas, de reitor. Também foi presidente da Fapesp, secretário de Estado e recebeu diferentes tipos de honrarias. Que importância tem o título de professor emérito que o senhor acaba de receber da Universidade? Carlos Vogt - Do ponto de vista da relação com a Unicamp, onde eu pude cumprir toda a minha carreira acadêmica e profissional, penso que é uma forma de reconhecimento recíproco. De um lado, há o reconhecimento da Universidade, através dos seus órgãos de representação, que acataram a sugestão de concessão do título feita pelo Departamento de Linguística, minha célula de origem. De outro lado, é uma forma de reconhecimento minha em relação à instituição. Eu sempre tive com a Unicamp uma relação de afeição. Essa relação criou, digamos assim, uma subjetividade na qual se estabeleceu um modo de convivência importante para mim e também para a Universidade. As duas partes conseguiram enriquecer essa relação de diferentes maneiras. JU - Quando exatamente teve início essa relação? Vogt - Na primeira vez que visitei a Unicamp, eu ainda era garoto. Meu primeiro contato com a Universidade foi em 1969. O campus de Barão Geraldo era um canteiro de obras. A Reitoria funcionava no Centro de Campinas. A parte administrativa funcionava onde hoje está o Cotuca. Aqui havia somente alguns barracões. Eu vim para conversar com o professor Fausto Castilho para tratar da minha possível participação no grupo que criaria o Departamento de Linguística. Isso foi em outubro de 1969. Em novembro eu fui contratado. Depois, fui para a França para fazer o mestrado. Em 1970 eu já estava aqui dando aula junto com meus colegas de departamento. A partir daí eu fui desenvolvendo com a Universidade uma relação que meu trouxe muita satisfação e alegria. É verdade que eu e outros professores passamos por momentos críticos dentro da Unicamp, mas também por momentos de consolidação da instituição. Isso ajudou a criar amarras afetivas e sentimentais. JU - O projeto de criação do Departamento de Linguística foi considerado muito ousado para a época, não? Vogt - Sim, foi um projeto novo e ousado. Diferentemente da tradição, nós optamos por vincular o departamento ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas [IFCH] e não a uma faculdade de Letras. Era um projeto novo do ponto de vista da ambição, num momento em que a Linguística era apontada como a ciência-piloto dentro das Ciências Humanas, sobretudo na perspectiva do Estruturalismo e da Gramática Transformacional. Era um momento em que se pretendia, com a Linguística, criar um modelo epistemológico que pudesse trabalhar o de-

Carlos Vogt recebe o título de professor emérito do reitor José Tadeu Jorge, em cerimônia no Centro de Convenções: ex-reitor ingressou na Unicamp em 1969

senvolvimento das Ciências Humanas. Era um modelo extremamente original. Para minha satisfação pessoal, eu entrei num processo que já estava “turbinado”, tanto pelos sonhos do professor Fausto Castilho quanto pelo entusiasmo do professor Zeferino Vaz. Então, eu tive a oportunidade de viver a infância, as crises de adolescência e a maturidade da Universidade. JU - Por falar em amadurecimento da Unicamp, o senhor esteve à frente de vários projetos que contribuíram para o desenvolvimento da Universidade. Destacaria alguma dessas iniciativas? Vogt - Como gestor, eu tive a oportunidade de contribuir para a consolidação da Universidade. Isso foi feito, por exemplo, com o Projeto Qualidade, que impulsionou a qualificação acadêmica dos nossos docentes. Também tive muita satisfação em criar as condições para o lançamento do Escritório de Transferência de Tecnologia e para a abertura dos cursos noturnos. Depois, quando deixei a Reitoria, tive a oportunidade de criar o Labjor [Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo], junto com o Alberto Dines e o professor José Marques de Melo, por meio do qual oferecemos o primeiro programa de pós-graduação do Brasil em jornalismo científico e cultural e, posteriormente, o mestrado. JU - Com base em toda a experiência que o senhor mesmo relatou, como enxerga o futuro da universidade pública no Brasil, o da Unicamp em particular? Vogt - Eu tenho a impressão que a universidade pública no Brasil tem dois grandes desafios a enfrentar. Um deles está relacionado com os passos a serem dados na direção da consolidação do papel das instituições na pesquisa e na produção de novos conhecimentos. Penso que a universidade consolidou a sua capacidade de atuação na área de pesquisa, inclusive com inserção internacional. Agora é preciso que ela se abra para atrair pesquisadores de fora, que venham buscar aqui referências para o desenvolvimento dos seus estudos. Nesse sentido, penso que um dos projetos que a Unicamp poderia assumir seria um programa voltado para o pós-doutorado. Algo que se constitua em ação institucional e estratégica. Pensando no ensino, acredito que a Universidade tem um grande desafio, que seria elaborar um plano de expansão de oferta de vagas na graduação. Não se trata de tarefa trivial, obviamente. Mas vamos ter que enfrentar as dificuldades. Essa tarefa pode ser facilitada se formos além dos limites impostos pelas metodologias e tecnologias tradicionais ligadas à educação. Com as limitações que temos no momento, é difícil pensar que vamos conseguir cumprir as metas contidas no Plano Nacional de Educação, que fala na inclusão de 37 milhões de alunos nos próximos dez anos. Nesse sentido, penso que é fundamental que as nossas universidades públicas, a Unicamp inclusive, exerçam um papel de liderança na adoção de recursos baseados nas tecnologias da comunicação e da informação, para que seja possível desenhar um grande projeto de política pública capaz de cumprir as metas dadas. Os objetivos

são ambiciosos, mas factíveis, principalmente se aproveitarmos esses novos recursos. Obviamente, eu falo isso pensando na Univesp [Universidade Virtual do Estado de São Paulo, da qual é presidente], que tem não apenas um forte relacionamento com as universidades, mas também a capacidade de, junto com elas e com o Centro Paula Souza, conduzir um processo nesse sentido. Se quisermos contribuir para o avanço econômico e social do país, isso precisará ser feito. JU - Como coordenador do Labjor, de que forma o senhor tem acompanhado a crise pela qual atravessa o jornalismo brasileiro? Vogt - Essa crise tem, em boa medida, relação com o que falei sobre a educação. Cada vez mais, surgem desafios. Ao mesmo tempo, ocorrem mudanças no cenário das comunicações. No caso do jornalismo, toda a questão está relacionada com as novas mídias, que criaram e vão continuar criando novas condições de comunicação e informação. Essas novas mídias, se não forem incorporadas, tenderão a produzir situações negativas para a atuação da imprensa dentro de um modelo tradicional. Os jornais, por exemplo, já têm uma forte presença no campo virtual, com seus sites, blogs etc. Essas novas tecnologias mudaram não somente o plano de negócio das empresas jornalísticas, mas também as condições de relacionamento entre o emissor e o leitor. Tal dinâmica é muito forte. Os jornais já não têm mais o papel de informadores. Hoje, cumprem uma função muito mais analítica. Do ponto de vista do espaço de circulação, os jornais sofreram uma importante restrição. Basta ver que alguns são distribuídos gratuitamente no semáforo, trazendo ao leitor uma sinopse das notícias. Ou seja, mudou o perfil do negócio. Essa mudança foi percebida rapidamente por alguns, que se adaptaram. Outros, entretanto, levaram mais tempo para perceber. De todo modo, penso que os jornais não vão desaparecer, mas vão mudar a sua organização e as formas de relação com o público leitor. JU - Qual a sua avaliação sobre a qualidade da divulgação científica no Brasil? Vogt - O Labjor acompanhou as transformações que ocorreram nesse segmento. O Labjor foi criado em 1994. Em 1997, propusemos a criação do curso de especialização, que teve início em 1999; veio depois o mestrado em 2008 e estamos, agora, com o projeto de doutorado tramitando na Capes. A especialização foi o primeiro curso dessa natureza no país. Formamos muitos profissionais e fomos assistindo ao nascimento de várias iniciativas que mostraram quanto o jornalismo científico e a divulgação da ciência estavam se organizando, se desenvolvendo e se institucionalizando. Ao mesmo tempo, as próprias instituições de fomento foram se dando conta disso. A Fapesp criou programa de bolsas. O CNPq também tomou iniciativas importantes no sentido de valorizar a atividade de divulgação que acompanha a pesquisa. Em vários dos programas da Fapesp, há o estímulo ao pesquisador para criar formas de comunicação com a sociedade.


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professor emérito da Unicamp em que as relações humanas são fortemente marcadas pela instantaneidade e pela efemeridade?

“Eu sempre tive com a Unicamp uma relação de afeição. Essa relação criou, digamos assim, uma subjetividade na qual se estabeleceu um modo de convivência importante para mim e também para a Universidade”

“A sociedade foi formando consciência de que uma de suas características fundamentais é estar sustentada pelas tecnologias de informação e comunicação e, consequentemente, pelo desenvolvimento científico”

JU - Em seu livro “A Utilidade do Conhecimento”, lançado em maio deste ano, o senhor estabelece conexões entre o conhecimento e os princípios da ética. Nestes tempos de atentados profundos à ética, que conhecimento nos falta para revigorarmos esses princípios?

“Nós temos uma sociedade na qual a versão caminha simultaneamente com o acontecimento. De certa maneira, isso retira do acontecimento a sua ontologia, que é transferida para a representação do acontecimento”

Ademais, a questão da comunicação da ciência passou a integrar uma necessidade da sociedade contemporânea. A sociedade foi formando consciência de que uma de suas características fundamentais é estar sustentada pelas tecnologias de informação e comunicação e, consequentemente, pelo desenvolvimento científico. O conhecimento, nesse sentido, é fator estruturante das relações sociais. Nunca é demais lembrar que não há ciência sem comunicação. É sob a forma da comunicação que se dá a validação ou a refutação de testes e propostas.

Vogt - A questão da instantaneidade constitui também um grande desafio. Uma condição que permite que alguém construa uma narrativa sobre o mundo é o distanciamento mínimo de tempo e espaço em relação ao acontecimento. Não é possível narrar o acontecimento enquanto ele está acontecendo. É possível descrevê-lo, como faz o locutor de futebol. Mas não é possível narrá-lo. Essa distância representa uma “encrenca”. Nós temos uma sociedade na qual a versão caminha simultaneamente com o acontecimento. De certa maneira, isso retira do acontecimento a sua ontologia, que é transferida para a representação do acontecimento. Isso passa a dar realidade e concretude não ao que se representa, mas à sua representação. Essa é uma questão que traz obviamente várias consequências. Penso que essa reflexão precisa continuar a ser feita por diferentes áreas, como a filosofia e a literatura. Pode ser feita também pela poesia. Penso que a poesia tem um papel importante nesse processo na medida em que ela, como expressão poética do mundo, contribui para divulgar o conhecimento científico. Hoje, o conhecimento científico se faz e se produz por meio de uma linguagem altamente codificada, num nível em que apenas os iniciados conseguem estabelecer efetivamente a comunicação. Há, portanto, a necessidade de se buscar formas de comunicação da ciência que não fiquem restritas ao círculo dos iniciados. Essas formas de comunicação precisam promover a abertura da linguagem. A linguagem precisa sair do nível de abstração da pura demonstração lógica para ingressar no campo da comunicação sensível. É preciso sair da expressão digital da linguagem para a expressão analógica, baseada nas metáforas, nas imagens etc. Em outras palavras, é preciso sensibilizar os conceitos para que a sociedade como um todo consiga acompanhar, tendo como referência a sua própria vivência. O desafio é sair de uma comunicação fechada para uma comunicação aberta. Trata-se de um processo de aprendizado para todos, inclusive para cientistas e jornalistas. Esse trajeto, que vai do hermético para o aberto, é o trajeto que vai da linguagem da ciência para a poesia. A poesia tem, portanto, papelchave nesse esforço de comunicação.

Mais que isso, o papel da ciência na sociedade é tão importante que os modelos de governança da própria ciência foram mudando. Aquilo que era algo particular dos cientistas ou dos governos passou a necessitar de uma participação cada vez mais aberta da sociedade, que por sua vez ampliou a sua influência sobre as decisões de governança da ciência. Penso que ainda há muito espaço para se trabalhar nesse campo. JU - Perguntando agora ao linguista, poeta e escritor. Quais os papéis da linguagem e da poesia num contexto

Vogt - Uma das grandes conquistas do mundo ocidental teve origem na sociedade grega dos séculos VI e V antes de Cristo. Foi o momento do nascimento da tragédia grega como gênero literário e também da filosofia. Esse instante foi importante porque estava ocorrendo a transição de uma sociedade organizada sob os princípios das relações heroicas e da concepção da justiça como vingança, para uma sociedade que começa a estabelecer os parâmetros da justiça social. Os conflitos deixam de ser resolvidos pela luta para serem resolvidos pelo conjunto da sociedade, por meio dos seus representantes. A tragédia é importante porque procura representar esse estado de coisas, essa transição. Desse ponto em diante, todo o processo vai sendo sofisticado com o decorrer dos séculos: as instituições vão se consolidando e a democracia vai amadurecendo. A despeito disso, ainda convivemos hoje com muitas trevas, inclusive aquelas presentes no ser humano. Recentemente, tivemos o episódio daquela chacina em São Paulo, cuja motivação foi a mais primitiva possível - a vingança. Temos um quadro em que a sociedade avança e as instituições se fortalecem, mas ao mesmo tempo continuamos convivendo com os instintos primitivos da nossa herança biológica. A questão ética não é simples, e é menos simples ainda numa sociedade como a nossa, que é polifônica, multifacetada e fragmentada do ponto de vista dos valores e ideologias. Então, encontrar faróis que joguem luz sobre os comportamentos não é fácil. Quando o mundo é dividido apenas entre bem e mal, isso se torna um pouco mais simples. Entretanto, quando surgem muitos tons de cinza, as coisas se complicam muito. JU - O senhor tem novos planos para a Unicamp? Vogt - Bem, eu continuo atuando no Labjor. O projeto novo é a implantação do programa de doutorado, cuja proposta está em tramitação. Também sigo trabalhando na Univesp dentro da linha do meu comentário anterior, de estabelecer condições para o desenvolvimento de um projeto de expansão da graduação do Estado de São Paulo, em colaboração com as universidades públicas, o Centro Paula Souza e o governo estadual.


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Campinas, 19 a 25 d

Pesquisa alerta para privatização Fotos: Antoninho Perri

Estudo aponta o avanço de diferentes tendências de privatização em 15 países da AL e do Caribe

A professora Theresa Adrião, uma das organizadoras do levantamento: “A privatização acentua as desigualdades e dificulta o acesso à escola”

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

aíses da América Latina e Caribe vivenciam o avanço de diferentes tendências de privatização da educação básica, processo que prejudica o acesso da sociedade a esse direito fundamental. A constatação faz parte da pesquisa intitulada “Tendências da privatização da educação na América Latina e no Caribe”, coordenada pela Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE), rede que articula diversos grupos e entidades em defesa da educação. O trabalho de investigação foi organizado pelas professoras Theresa Maria de Freitas Adrião, da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, e Teise de Oliveira Guaranha Garcia, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFCL) da USP, campus de Ribeirão Preto. De acordo com a professora Theresa Adrião, o objetivo da pesquisa, que contemplou 15 países [Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Paraguai, Peru, República Dominicana, México, Nicarágua e Haiti], foi identificar e debater os mecanismos e tendências que induzem à privatização da educação básica na América Latina e Caribe. A docente explica que as tendências identificadas são variadas e com diferentes graus de complexidade e consequências para a manutenção de sistemas públicos de ensino, considerados fundamentais para a garantia do acesso e da permanência na escola. De maneira geral, prossegue a pesquisadora, o que tem ocorrido na região é o uso de mecanismos institucionais e políticos que possibilitam a transferência, direta ou indiretamente, das responsabilidades da educação pública para o setor privado lucrativo. Assim, um dos modelos de privatização, classificado no relatório final do estudo como “exógeno”, é concretizado por meio do repasse de recursos públicos para o setor privado. “Em alguns países, corporações que visam exclusivamente o lucro têm pressionado o poder público a subsidiar escolas privadas, em geral de baixo custo, no lugar de constituir redes públicas de educação. Em outros países, tem-se a oferta educativa ampliada por meio do pagamento de ‘cheques-ensino’, modelo que se assenta numa falsa ideia de que as famílias, e aqui se trata das famílias pobres, poderiam ‘escolher’ uma escola privada para seus filhos e que esta, por ser privada, seria melhor que a pública”. Por causa desse movimento, conforme a docente da Unicamp, está havendo uma gradativa substituição de um modelo pelo outro em vários países. Os casos identificados pelos sujeitos entrevistados no estudo indicam essa tendência para Brasil, Chile e Colômbia. A pesquisa também identificou que existe a privatização “endógena”, caracterizada pela incorporação, por parte da gestão pública e, por consequência, da escola pública, de valores e práticas do mercado, como modelos de gestão fundados no alcance de resultados. Experiências do tipo foram encontradas em países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Honduras, México e Peru. Outro apontamento importante da investigação, conforme a professora Theresa Adrião, foi a emergência e a consolidação, em determinados contextos, de novas formas de privatização da educação pública. Entre esses novos formatos estão os programas de atribuição da responsabilidade

pela educação às comunidades locais; os processos de governança corporativa no campo educativo, que permitem que empresas privadas participem da tomada de decisões a respeito da política de educação; e a financeirização da educação básica, que transforma as matrículas públicas em “commodities no mercado financeiro”. A pesquisa analisou todas essas tendências considerando as implicações para a efetivação do direito humano à educação, o qual exige a participação direta do Estado no financiamento e na gestão dos sistemas públicos de educação como condição para que ocorra o que a CLADE e a comunidade internacional identificam como elementos de operacionalização do direito à Educação: disponibilidade, acessibilidade, aceitação e adaptabilidade. “A privatização acentua as desigualdades e dificulta o acesso à escola”, sustenta a docente da FE. Um ponto importante a ser considerado ao analisar esse fenômeno, assinala a professora Theresa Adrião, é que o processo de privatização ocorre em uma região na qual a educação básica obrigatória é uma conquista recente da sociedade. “Na maior parte dos países, essa conquista ainda não foi concretizada, ou seja, está em construção. Com o avanço da lógica das corporações privadas, o direito humano à educação tem corrido sérios riscos”, reforça. Quando elementos fundamentais da prática educativa são colocados nas mãos do setor corporativo, como o desenvolvimento de conteúdos pedagógicos, dos livros didáticos e de softwares educativos, bem como o desenho das avaliações institucionais, acrescenta a coordenadora do estudo, o caráter público e democrático da educação é colocado em xeque, visto que esta fica submetida a uma lógica essencialmente mercantil.

Questionada sobre o caso específico do Brasil, a professora Theresa Adrião informa que o processo de privatização da educação básica tem se aprofundado no país. “Aqui, a situação é ainda mais evidente que na Argentina, para ficar em um único exemplo. Podemos verificar uma crescente destinação de subsídios públicos para o setor privado, movimento que segue na contramão do que seria desejável, inclusive considerando que durante o período analisado houve aumento do gasto público com o setor. O atendimento em creches e escolas de educação infantil está passando por isso. Ao delegar a missão para terceiros (organizações sociais, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - Oscip) ou introduzir as parcerias público-privadas [PPPs], os governos objetivamente transformam a educação em um serviço”, aponta a docente da Unicamp. Uma maneira de resistir ao processo de privatização da educação básica, principalmente quando se trata de ampliar a sua obrigatoriedade, é dar conhecimento à sociedade das implicações desse movimento, entende a professora Theresa Adrião. “Nós, na academia, fazemos isso por meio da publicação de artigos, da organização e participação em eventos científicos e da atuação conjunta com setores organizados da sociedade civil. Também contribuímos com a formação de recursos humanos qualificados dentro da perspectiva da defesa da educação pública de qualidade. Um exemplo disso é que cinco de nossos orientandos de graduação e pós-graduação participaram da pesquisa. Outra ‘trincheira’ fundamental é o ativismo, como o exercido pela CLADE e pelas entidades ligadas a ela. Esse conjunto de organizações levam suas posições e argumentos para inúmeros fóruns de discussão, disputando orientações em

agências como a Unesco, [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], Fórum Mundial de Educação, Organização dos Estados IberoAmericanos [OEI] etc”.

METODOLOGIA O estudo “Tendências da privatização da educação na América Latina e no Caribe” exigiu um grande esforço por parte dos pesquisadores, de acordo com a professora Theresa Adrião. Inicialmente, foi realizado um levantamento das Constituições e das legislações nacionais relativas à educação básica. Num segundo momento, um questionário foi encaminhado para as organizações que integram a CLADE e para especialistas em política educacional dos 15 países contemplados na investigação, indicados por essas organizações. “A análise das respostas possibilitou a construção de um inventário acerca da percepção que as organizações e os especialistas têm sobre os processos de privatização”, esclarece a docente da FE. Por último, os participantes da pesquisa buscaram dados estatísticos que pudessem subsidiar a compreensão do fenômeno da privatização. “Para os países em que havia dados disponíveis, consideramos a taxa de matrícula na educação básica nas redes pública e privada durante o período de 2005 a 2011. Também consideramos informações disponíveis nas bolsas de valores dos países da região, para identificar a abertura de empresas da área da educação nos principais mercados de capitais”, pormenoriza a professora Theresa Adrião. O relatório completo do estudo coordenado pela CLADE pode ser acessado por meio do seguinte endereço eletrônico: http://www.campanaderecho educacion.org/v2/.


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de outubro de 2015

o da da educação educação na América Latina Ampliando o fosso Pesquisa revela que professores isolam alunos com mais dificuldades de aprendizagem

na sala de aula

Ainda de acordo com a docente, a formação dos professores é muito deficitária, sobretudo no aspecto da inclusão e do trabalho com a diversidade. “Eles são formados para lidar com uma determinada parcela da população e não é isso que encontram em sala de aula. Os professores saem de suas formações imaginando que vão apenas encontrar alunos ideais, mas encontram estudantes reais, alunos deficientes, surdos, cegos... É essa diversidade que a escola necessita repensar”, acrescenta. Neste sentido, destaca Letícia Ioshida, tradicionalmente a escola tem uma expectativa para um aluno ‘ideal’. “O aluno que já chega com uma base de aprendizado e atende às expectativas, serve para a escola. O outro é isolado, marginalizado, e acaba fracassando. Este estudante passa a não gostar da escola, pois, a partir do momento em que frustra estas expectativas de aluno ‘ideal’, deixa de ser considerado como um aluno da escola.”

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

um contexto em que uma em cada cinco crianças de oito anos não sabe ler frases, como apontou avaliação divulgada em setembro pelo Ministério da Educação (MEC), uma pesquisa da Unicamp concluída recentemente revela que a atuação de professores em sala de aula amplia ainda mais o fosso entre aqueles alunos que fracassam e os que têm sucesso no processo de aprendizagem. O estudo, conduzido junto a professoras de escolas públicas estaduais do Ensino Fundamental I de Campinas, identificou que, em geral, estas profissionais deixam de lado os alunos que têm mais dificuldade de aprendizado, enquanto deveria ocorrer o contrário. A pesquisa se baseou no relato das próprias professoras sobre suas percepções em relação a crianças com dificuldades escolares. “Pelo estudo, percebemos que as professoras se posicionam e dão melhor retorno no ambiente escolar para aquelas crianças que têm menos dificuldade de aprendizagem. Já as crianças que mais precisam, como as que apresentam, por exemplo, dislexia, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade e outras dificuldades de leitura e escrita, são relegadas”, constata a psicóloga Letícia da Silveira Ioshida, autora do trabalho. A pesquisa foi desenvolvida por ela como dissertação de mestrado junto ao Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Prof. Dr. Gabriel O. S. Porto” (Cepre) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. A docente Ivani Rodrigues Silva, do curso de graduação em Fonoaudiologia, orientou a pesquisa. Ivani Rodrigues também atua como professora na pós-graduação, no Programa em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da FCM. Letícia Ioshida explica que as crianças com dificuldades, com os quais as professoras se sentem incapazes de lidar, são, muitas vezes, encaminhadas para serviços especializados. Isso acontece, por exemplo, com os alunos que são atendidos no próprio Cepre, por meio de um estágio de leitura e escrita, realizado com o auxílio de graduandos do curso de Fonoaudiologia. “As professoras entendem que aquele problema está fora da alçada delas e já encaminham os alunos para um serviço especializado. Inclusive, pelo estudo, identificamos algumas posturas destas profissionais no sentido de justificar a própria atitude de relegarem estes alunos. Elas falam: ‘ah, ele fica na dele mesmo, ele não participa porque é assim...’ Ou seja, as professoras atribuem este desânimo do estudante com dificuldade a um traço de personalidade, mas ao mesmo tempo, elas não incentivam estes alunos como fazem com os estudantes que se destacam”, ressalta.

OLHAR E POSICIONAMENTO A autora da pesquisa esclarece a importância do “olhar” do professor e a maneira como posiciona os alunos e se posiciona diante deles. Tal postura em sala de aula seria fundamental, de acordo com ela, no impacto em atitudes positivas ou negativas dos alunos no processo de aprendizado. Dentre as posturas desejáveis, a pesquisadora salienta o que ela denominou de “pedagogia culturalmente sensível”, termo cunhado pelo estudioso Frederick Erickson.

ESTAGIÁRIAS A psicóloga Letícia da Silveira Ioshida, autora do trabalho: “As professoras entendem que aquele problema está fora da alçada delas e já encaminham os alunos para um serviço especializado”

Além de investigar as percepções de professores, o trabalho também avaliou como as estagiárias que cursam o 6º semestre do curso de fonoaudiologia da Unicamp lidam com os alunos com dificuldade de aprendizado encaminhados à clínica escola que funciona no Cepre. Conforme Ivani Silva, que coordena o estágio na Unidade, os resultados da pesquisa junto a este grupo de universitárias foi importante para “dar feedback em relação às áreas do curso de fonoaudiologia cuja reflexão deve ser intensificada.” “São alunos em formação, não são profissionais ainda. Uma das nossas hipóteses é que o aluno da fonoaudiologia necessita, nessa fase de sua formação, de mais experiência com essa temática. Ao estarem mais próximos da área educacional, eles podem avaliar, de forma mais efetiva, essa situação.”

METODOLOGIA

A professora Ivani Silva, orientadora da dissertação: “As salas deveriam ser menos lotadas, os professores deveriam ter mais oportunidade e tempo para fazer cursos e reciclagens”

Trata-se, segundo Letícia Ioshida, de aproveitar as experiências e vivências que as crianças trazem consigo e implementar estratégias de envolvimento, permitindo que os alunos se posicionem. É fundamental neste processo tomar o estudante como um sujeito com potencialidades, respeitando suas peculiaridades, acolhendo suas sugestões e tópicos e incentivando-o a manifestar-se. “Se o profissional posiciona o aluno como capaz, como aquele que pode aprender, isso vai influenciar positivamente esta criança. O posicionamento do professor vai desde olhar para o aluno, falar num tom de voz mais afetivo, chamar pelo nome, fazer um reforço verbal, até incentivar a iniciativa argumentativa. O que não pode acontecer é o profissional achar o estudante incapaz, não chamá-lo para fazer atividades, entre outras atitudes”, exemplifica. Para Ivani Silva, atitudes negativas acabam favorecendo ainda mais o fracasso do aluno em sala de aula. “As crianças, encaminhadas com dificuldades, estão fracassando na escola. E as professoras entendem que a escola deve lidar mais com aqueles que estão

aprendendo e não com os que não aprendem. Portanto, muitas crianças em processo de aquisição de leitura e escrita poderiam beneficiar se tivessem sido melhores posicionadas pelas professoras ou pela equipe escolar.”

SISTEMA ENGESSADO A orientadora da pesquisa pondera, no entanto, que não se trata de culpar a figura do professor. Ela afirma que as condições do sistema de ensino atual, tanto público quanto privado, provocam situações como as relatadas pela pesquisa. As classes são superlotadas, a remuneração é baixa e falta tempo e oportunidades para cursos de formação e de reciclagem, critica Ivani Silva. “O sistema de ensino é engessado. As salas deveriam ser menos lotadas, os professores deveriam ter mais oportunidade e tempo para fazer cursos e reciclagens. Para poder ter um salário mais digno, o profissional acaba dando aula em várias escolas. Mesmo dentro da escola particular é uma estrutura vigente: salas numerosas e professores que têm que dar conta de tudo. Portanto, a estrutura escolar precisa ser repensada.”

O trabalho apontou atitudes que auxiliam ou prejudicam o desempenho acadêmico e a autoestima em sala de aula ou nos atendimentos realizados no Cepre, além de verificar semelhanças e diferenças nos relatos das professoras e estagiárias. De acordo com Letícia Ioshida, a coleta de dados foi realizada em seis escolas por meio de entrevistas semiestruturadas com as professoras e com as estagiárias, sendo registradas por meio de gravações em áudio. Posteriormente foram realizadas as transcrições e análise dos dados. “Fizemos um estudo qualitativo. Professoras e estagiárias foram entrevistadas sobre desempenho acadêmico, relações interpessoais, comportamento e estratégias para trabalhar com as crianças. O tratamento dos dados foi realizado por meio de análise de conteúdo. O objetivo do estudo foi contribuir para a educação no sentido de identificar posturas e intervenções que podem beneficiar ou prejudicar a criança, possibilitando reflexão e planejamento do trabalho com estratégias mais eficazes.”

Publicação Dissertação: “Percepções sobre crianças com dificuldades escolares” Autora: Letícia da Silveira Ioshida Orientadora: Ivani Rodrigues Silva Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015

Espetáculo marca abertura oficial do cinquentenário Além de concerto, noite teve lançamentos da Editora e exposição documental Fotos: Antoninho Perri

O reitor José Tadeu Jorge durante o discurso: “Comemorações abrangem todas as áreas do conhecimento humano”

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

apresentação do espetáculo Concertato, que reúne música erudita e encenação cômica, marcou na noite do último dia 5 o 49º aniversário da Unicamp e abriu oficialmente a série de atividades que celebrarão, ao longo dos próximos 12 meses, o cinquentenário da Universidade, que será completado em 5 de outubro de 2016. A peça foi acompanhada por integrantes da Alta Administração da instituição, professores, funcionários, estudantes e convidados. Além da apresentação do concerto-espetáculo, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a noite de celebração contou com o lançamento de seis livros que

fazem parte da série Unicamp Ano 50, produzida pela Editora da Unicamp. Ao todo, a coleção conta com 50 obras. Também foi aberta, no saguão do mesmo auditório, uma exposição documental composta por elementos visuais, textuais e sonoros que contam diferentes aspectos sobre a trajetória da Universidade. Posteriormente, a mostra será ampliada e levada para um espaço na Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL). Depois, a exposição percorrerá locais fora da instituição. Ainda como parte das comemorações, a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) lançou uma coleção de produtos com a marca da Universidade. De acordo com a professora Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, presidente da comissão organizadora dos eventos comemorativos do cinquentenário, a instituição fez questão de iniciar as celebrações por um evento artístico.

Cena do Concertato, espetáculo músicoteatral: fusão de linguagens no palco

“Teremos ao longo do ano diversas atividades artísticas, culturais, esportivas, científicas e festivas. O objetivo é lembrar a comunidade universitária e mostrar à sociedade que a Unicamp não apenas tem sido original e inovadora, mas tem procurado cumprir com o seu compromisso social”, disse. O reitor José Tadeu Jorge destacou que as comemorações pelo jubileu de ouro da Unicamp precisavam ser extensas, visto que as contribuições dadas pela Universidade à sociedade não poderiam ser representadas apenas em uma sessão solene. “Essas comemorações têm a cara da Unicamp, pois contam com dança, música, teatro, cinema, ciência, educação etc. Ou seja, abrangem todas as áreas do conhecimento humano”, afirmou. Tadeu Jorge lembrou que 5 de outubro, além de ser a data de fundação da Univer-

Geopolítica é o 1º tema

da série ‘Perspectivas’ Foto: Antonio Scarpinetti

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

o âmbito dos eventos acadêmicos e científicos em comemoração ao Jubileu de Ouro da Universidade, foi aberto no último dia 8 o ciclo de debates “Perspectivas Unicamp 50 Anos”, programados para ocorrer até setembro de 2016, no Centro de Convenções. A série será constituída de 11 eventos distintos, envolvendo temas atuais com relevância política, econômica, social, cultural, artística e científica, contando com a participação de pesquisadores e intelectuais da Universidade e de outras instituições brasileiras e do exterior. “Geopolítica mundial: que novos caminhos teremos?”, foi o tema da primeira mesa-redonda, na parte da manhã, abordando as novas estruturas do poder mundial (EUA, Europa, China, Rússia); o conflito abrangente do Oriente Médio; os limites para a atuação dos BRICS; o papel da América Latina e do Brasil. À tarde, na segunda mesa, foram analisados a reestruturação possível do capitalismo; a continuidade (ou profundas alterações) da globalização; e o papel futuro da China. Wilson Cano, docente do Instituto de Economia (IE) e coordenador de 12 mesas do ciclo “Perspectivas Unicamp 50 Anos”, disse que os debates estarão centrados nas crises política, econômica, hídrica e energética pelas quais o Brasil vem passando. “Iniciamos o evento com a discussão de grandes problemas políticos externos e internos que hoje afligem elevado número de países. Há muito que a geopolítica deixou de ser um impenetrável e enigmático xadrez internacional, atraindo cada vez mais reflexões no mundo científico e político.” A Queda do Muro de Berlim em 1989, segundo Cano, trouxe a ilusão de que viveríamos uma fase de maior tranquilidade e paz nas relações internacionais, mas

Plateia acompanha os debates: na pauta, discussões acerca da conjuntura nacional e internacional

que temos hoje um capitalismo muito mais feroz a partir da transformação das multinacionais em grandes empresas transnacionais. “Se a antiga bipolaridade acabou, vimos o espetacular ressurgimento da China e renascimento da Rússia e da Índia, que junto com o Brasil criaram os Brics – e há muito mais nevoeiro nesse horizonte do que promissoras certezas. A pergunta que colocamos é: o que sobrará para nós no cenário mundial? A expectativa é de que esse evento nos mostre caminhos que poderemos seguir.” O debate sobre geopolítica mundial foi coordenado pelo cientista político Sebastião Velasco e Cruz, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), tendo como participantes o economista Juan Arturo Guillén Romo, da Universidade Autônoma Metropolitana (México); o historiador e ensaísta político Perry Anderson, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos); e o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, do Instituto Rio Branco. “O desafio desta

sidade, também é o Dia Mundial do Professor, a data da implantação da república em Portugal e o dia de São Benedito. “São simbolismos que ajudam a explicar o sucesso da Universidade em tão pouco tempo, que nos remetem às nossas origens e que nos lembram de nossos compromissos com a inclusão social”, considerou.

CONCERTATO

Concertato é um espetáculo músicoteatral que conta com a participação da Orquestra Sinfônica da Unicamp e dos atores Carlos Simoni e Ricardo Puccetti, ambos integrantes do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais (Lume). A direção artística é de Denise Garcia e a regência, da maestrina Cinthia Alireti. A produção é de Fernando Vasconcelos e Cynthia Margareth.

mesa é perscrutar o futuro da política internacional, os desafios da geopolítica, levando em conta o momento atual”, afirmou o coordenador. Velasco também saiu em defesa da universidade pública, que está sob ataques neste momento de crise. “Estamos mergulhados numa crise política profunda de natureza sem precedentes e numa crise econômica politicamente determinada. Com efeito, à medida que a crise se agrava, nossos detratores começam a pregar publicamente que, para resolver problemas de caixa dos governos, as universidades públicas devem ser privatizadas. Quando aqui nos reunimos, festejamos a história de êxitos da Unicamp e dizemos alto e bom som que o programa nefasto que os detratores nos oferecem não será vitorioso, que encontrarão uma resistência tenaz e a Unicamp estará na linha de frente.” A professora Ítala D’Ottaviano, coordenadora da Comissão Unicamp Ano 50, lembrou que este ciclo de debates dava continuidade às celebrações iniciadas em 30 de setembro, com a encenação da ópera “Don Giovanni”, de Mozart, inteiramente produzida pela Universidade. “Hoje temos a abertura dos eventos acadêmicocientíficos e, para esta série ‘Perspectivas Unicamp 50 Anos’, com mesas-redondas mensais, tomamos muito cuidado na seleção de temas relevantes e desafiantes para a contemporaneidade. Por meio desses debates, a Unicamp reafirma seu papel de protagonista no cenário nacional e internacional.” Representando o reitor José Tadeu Jorge na cerimônia de abertura, a professora Teresa Atvars, pró-reitora de Desenvolvimento Universitário, ressaltou o objetivo do evento de abordar temas relevantes do mundo contemporâneo para os quais os governos não possuem nem políticas nem soluções. “Isso se deve ao fato de serem assuntos extremamente complexos, com muitas facetas e de uma interdisciplinaridade única. É esta reflexão que queremos promover neste ano de debates, deixando um legado para a sociedade brasileira e para conhecimento internacional.”

CRISE DO CAPITALISMO

A segunda mesa do ciclo “Perspectivas Unicamp 50 Anos” foi sobre “Crise do capitalismo internacional: reestruturação ou nova desordem?”, coordenada pelo professor Luiz Gonzaga Belluzzo, do IE/Unicamp, com a participação de Jan Kregel, do Instituto de Economia Bard College Levy e da Universidade do Texas (EUA); Pierre Salama, da Universidade de Paris 13 (França); e Riccardo Bellofiore, da Universidade de Bergamo (Itália).


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015 ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

elações de poder ainda permeiam a vida das populações indígenas no Brasil. Uma das bandeiras, a luta pela terra e pela garantia da manutenção de seu modo de vida, parece estar longe de ter um fim. Um estudo de mestrado do Instituto de Geociências (IG) mostrou que a intrusão da Rodovia Perimetral BR-210 no Estado de Roraima, na década de 1970, trouxe para os indígenas Yawaripë (subgrupo Yanomami) epidemias, doenças e desestruturação socioespacial. Apesar da desestruturação ainda ser intensa nessas aldeias, têm havido ações dos próprios Yanomami para recuperação da sua cultura como forma de resistência e resgate das características culturais que foram, aos poucos, desaparecendo com a intrusão da rodovia e de não indígenas em seu território, dentre eles garimpeiros, mineradores, madeireiros, produtores agrícolas modernizados, assentados rurais de projetos do Incra. A intrusão da rodovia modificou as relações sociais e a autonomia sobre os deslocamentos migratórios do grupo pelo território. Impedidos de exercerem seus costumes, pelo contato massivo com trabalhadores da construtora da rodovia e outros agentes, os Yawaripë tiveram alterações na base técnica da sua vida coletiva, o que exigiu transformações no comportamento e na forma de uso do território. O que está em jogo é o regime de propriedade da terra e as relações de poder sobre o uso do território. Essa é a constatação da antropóloga Cíntia dos Santos Pereira da Silva em estudo orientado pelo docente do Instituto de Geociências (IG) Vicente Eudes Lemos Alves. Cíntia começou a pesquisar os Yawaripë em 2013 e fez trabalho de campo em Roraima em 2014. Os Yawaripë habitam as comunidades de Serrinha e Cachoeirinha, distantes uma da outra cerca de 1 km, com uma população em torno de 145 habitantes (segundo dados DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena, de 2014). Nessa imersão, buscou analisar o fio condutor do processo de desestruturação social gerado pela intrusão da rodovia, além de revelar, através de análise das práticas socioespaciais, como esse grupo resiste à desestruturação total do seu modo de vida. A antropóloga permaneceu 15 dias em trabalho de campo, visitou a terra indígena e fez pesquisas na capital, em órgãos públicos e na Hutukara Associação Yanomami (HAY). Durante a visita, foi acompanhada por funcionários do Instituto Socioambiental e da HAY. Como ela não é falante da língua Yanomami (conjunto linguístico: Yanomam, Yanomami, Ninam ou Yanam e Sanima), precisou de ajuda na tradução dos diálogos. Os funcionários do Instituto Socioambiental e alguns Yanomami que trabalham na HAY fizeram essa ponte. Mesmo com o processo de desestruturação socioespacial, averiguou a especialista, eles ainda mantêm algumas tradições. “Esse processo, imposto pela intrusão da rodovia e pelo contato com não indígenas, culminou no enfraquecimento das tradições e práticas Yanomami, convergindo para degradação socioespacial, mortes e epidemias”, lamenta.

INTRUSÃO

As interferências na aldeia aconteceram mais a partir da década de 1970, quando iniciou a construção da rodovia BR-210 no território Yanomami. O traçado da rodovia cortou o território onde habitam os Yawaripë, além de outros subgrupos Yanomami. Os Yawaripë foram os mais atingidos. Eles estavam mais próximos do limite leste da terra indígena (limite com municípios como Caracaraí e Mucajaí). Com isso, a intrusão impôs vários deslocamentos involuntários que concorreram para um papel desestruturante da vida socioespacial desse grupo. Hoje, é muito difícil fazer um censo nas aldeias, em especial pelas características socioterritoriais desses grupos, que são marcadas por mudanças permanentes de suas habitações, e pelo relativo isolamento dessas populações. Não obstante, desde 1973 verifica-se uma dramática redução no contingente da população indígena, em virtude de mortes por conflitos com não indígenas, sobretudo por epidemias resultantes do contato não indígena. Só em 1990, esse grupo iniciou uma recuperação demográfica lenta e gradual. Os Yawaripë ficam mais isolados dos outros Yanomami e, em alguns momentos, têm um maior contato com os não indígenas do que com os próprios Yanomami. Um dos objetivos da pesquisa foi observar, a partir do método comparativo-dialético e da análise da teoria da Morfologia Social, de Émile Durkeim e Marcel Mauss, como houve

Sob as bênçãos do xamã Dissertação detalha ações de resistência de indígenas de Roraima Fotos: Cíntia dos Santos Pereira da Silva/Divulgação

Na foto maior, casa coletiva à esq., ao fundo casa nucleofamiliar, e à dir., instalação da escola para a comunidade; abaixo, imagem do círculo concêntrico de uma aldeia Yanomami (à esq.) e casa coletiva Yawaripë

a desestruturação social desse grupo através da investigação da sua vida social, suas técnicas e seus processos de resistência à intrusão dos objetos técnicos no território Yanomami. A pesquisadora comparou a morfologia social das aldeias Yanomami com a morfologia social das aldeias Yawaripë.

CHABUNO

Cíntia ressalta que grande parte das aldeias Yanomami são compostas de casas coletivas de círculos concêntricos, que são ressonâncias do uso do território onde o centro é o lugar do coletivo. No círculo central, fica a casa coletiva – o Chabuno. No espaço interaldeão, os círculos são divididos conforme as atividades nos microespaços do cotidiano. O círculo que se distancia 5 km da casa coletiva é a área de uso imediato. À 10 km de distância, em outro círculo, têm as atividades individuais (caça, pesca, roça, coleta familiar diária). Num raio de 10 a 20 km, ocorrem as expedições de caça e coleta plurifamiliar. “Esses círculos fazem parte da conformação socioespacial dos Yanomami e da manutenção do seu modo de vida”, conta Cíntia. Os Yanomami são organizados e vivem dentro dos círculos internos. Há uma lógica espacial de distribuição das atividades cotidianas, sendo que as famílias da aldeia vivem todas no Chabuno (círculo maior), e cada família possui um espaço determinado. A área central, chamada Yano a miamo (praça central), é o espaço multifuncional dos rituais fúnebres, de pajelança e xamânicos, além de ser o lugar de celebração das alianças com outras aldeias Yanomami. Foto: Antoninho Perri

Eles vivem no Chabuno de dois a três anos. Nesse período, a colheita e a caça diminuem. Então percebem que está na hora de montar outro Chabuno em outro lugar. A distância que eles estipulam para o próximo domicílio é a distância suficiente para que o novo Chabuno tenha alimentos, o que não exclui a possibilidade de um retorno ao sítio antigo para colhê-los. Pode ser que, dali a 20-30 anos, eles voltem e tenham que reconstruir outra moradia no lugar do sítio antigo. Por isso, a necessidade de se manter a eficiência da utilização do espaço e da lógica de sua ocupação. É curioso que, enquanto o Chabuno vai sendo reconstruído, eles montam abrigos temporários próximos à nova construção, até que ela fique pronta. “Ficou claro que eles migram em seu território para não fazer uso extremo dos recursos naturais. Os Yanomami acreditam que, para a sobrevivência do ciclo da caça e da agricultura, é necessário um período de recuperação”, contextualiza a mestranda.

XAMÃ

Nos processos de resistência dos Yawaripë contra essa ‘guerra genocida’, tem a figura do xamã. A técnica é a mediação do homem e da natureza. Ele é o único capaz de se conectar e traduzir os ensinamentos dos espíritos Xapiripë na proteção da aldeia. O xamã é aquele que detém o conhecimento do mundo terreno e é o único que pode manter os membros da aldeia em segurança contra investidas cosmológicas, bruxaria e ataques de guerreiros. Dessa forma, os fenômenos da natureza, a oferta de caça, pesca, plantação, fertilidade dos solos, todos esses elementos estão interligados e são controlados pela interferência dos xamãs. “Devido ao contato com o não indígena, também houve degradação ecológica, recrudescimento demográfico, desnutrição e mortes. Por isso o valor de se resgatar o papel do xamã nas aldeias Yawaripë”, defende.

LATIFÚNDIOS

A antropóloga Cíntia dos Santos Pereira da Silva: “As políticas de distintos governos não são em prol dos indígenas e sim dos grandes produtores agrícolas”

A terra dos Yanomami é a única demarcada de modo contínuo em maior extensão para uma etnia no país, estando situada tanto no Brasil quanto na Venezuela. Além dos 19.338 Yanomami que habitam a terra indígena, há também cerca de 471 Yekuana (falantes da língua Karib), de acordo com o DSEI (2011). Cíntia avaliou os Yawaripë para entender o processo de desestruturação social e pela necessidade de discutir agora a intrusão de técnicas e materialidades no seu território. Também pelo fato de ser o grupo que mais sofreu com a intrusão da BR-210, como é possível observar (além de outros elementos) no tipo de construção das casas (modelo regional) com telhado, porta e janelas.

Esse episódio trouxe todo tipo de contato, a priori com empregados da construtora da rodovia e com fazendeiros que arrendaram pequenas propriedades nos arredores da terra indígena. Posteriormente, adentraram o território Yanomami próximo às habitações Yawaripë. A região recebeu loteamentos de terra (por assentamento) e latifundiários. O que ocorria no entorno, entrou na terra. “Quando se está no limite, é difícil respeitá-lo sem uma política de proteção efetiva do Estado e dos órgãos de proteção dos indígenas”, salienta. “Os fazendeiros devastam a terra para plantar com vistas ao agronegócio. Isso tem graves implicações na fauna e na flora, culminando em degradação ambiental.” Por conta disso, os Yawaripë começaram a não ter mais alimento porque a caça fugiu e porque não conseguiam mais plantar. Não dava mais para pescar, pois o rio foi poluído e, assim, não tinham como sobreviver. Passaram a precisar de assistência e, em alguns casos, a mendigar para sobreviver. Após um longo processo de luta, o grupo tem conseguido retirar fazendeiros de suas terras. Contudo, há necessidade de políticas eficazes dos órgãos para que isso não volte a ocorrer. O apoio da Hutukara está trazendo para as duas comunidades Yawaripë a chance de recuperar as suas atividades cotidianas e socioespaciais. A associação fez, em 2013, o encontro de xamãs na aldeia Yawaripë. Esse encontro, além de outras atividades da HAY, tem como objetivo trazer para essas comunidades a possibilidade de recuperar suas atividades sociocosmológicas. O processo de desestruturação foi muito grave, mas, para a recuperação das características socioespaciais, o xamã tem um papel fundamental, por trazer para a aldeia o resgate das características socioculturais dos Yanomami, comenta Cíntia. Os Yanomami devem buscar aproximação e, a partir daí, recuperar uma parte da cultura que se perdeu com o contato com o não indígena. São 45 anos desse contato. “As políticas de distintos governos não são em prol dos indígenas e sim dos grandes produtores agrícolas. Estes são problemas de ontem e de hoje. Então a luta continua.”

Publicação Dissertação: “Os Yawaripë Yanomami: da intrusão da rodovia perimetral norte aos processos de resistência dos povos da floresta” Autora: Cíntia dos Santos Pereira da Silva Orientador: Vicente Eudes Lemos Alves Unidade: Instituto de Geociências (IG)


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015

Destaque

do Portal

Unicamp lança Botão de Pânico Unicamp lançou no último dia 14 um aplicativo para dispositivos móveis (sistemas Android e IOS) batizado de Botão de Pânico. A ferramenta permite que o usuário vinculado à Universidade acione de forma rápida o sistema de Vigilância do Campus de Barão Geraldo em situações consideradas de emergência. Nos testes preliminares, o tempo médio de resposta do atendimento às ocorrências foi de cinco minutos. Junto com o Botão de Pânico, também foi lançado o Canal Bidirecional de comunicação com a comunidade universitária. As duas iniciativas fazem parte das ações do programa Campus Tranquilo, sob responsabilidade da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). Participaram da cerimônia de lançamento das ferramentas o reitor José Tadeu Jorge; o coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Penteado Crósta; o vice-reitor executivo de Administração, Oswaldo da Rocha Grassiotto; e a pró-reitora de Pesquisa, Gláucia Pastore. De acordo com Alvaro Crósta, o investimento em iniciativas voltadas à ampliação da segurança da comunidade universitária e dos visitantes é uma das preocupações da Universidade. A proposta, assinalou o coordenador-geral, já constava do programa de gestão formulado à época do processo de escolha de reitor. Alvaro Crósta afirmou que a Unicamp decidiu desenvolver o Botão de Pânico após ampla discussão com a comunidade interna. “Trata-se de uma solução criativa, que envolveu o trabalho e o empenho de muitas pessoas, de diferentes unidades e órgãos da Universidade”, acrescentou. A parte técnica foi desenvolvida por profissionais do Centro de Computação (CCUEC). Para utilizar o Botão de Pânico o interessado tem que acessar uma play store e baixar o aplicativo, que é gratuito. Em seguida, terá que preencher um cadastro com seus dados pessoais e funcionais, como matrícula, local de trabalho e número do telefone celular, caso seja docente ou funcionário da Unicamp. Estudantes devem preencher o número do registro acadêmico. Uma vez validado o aplicativo, a pessoa só precisará abri-lo para tocar o Botão de Pânico, que tem a cor vermelha. Assim que a ferramenta é acionada, um sinal sonoro é emitido na central de monitoramento. Em seguida, um atendente identificará a localização do pedido de socorro no painel de controle e acionará,

via rádio, o vigilante mais próximo. Nesse meio tempo, o atendente também tentará contato via celular com o usuário, para tentar obter informações complementares sobre a ocorrência. O Botão de Pânico também poderá ser utilizado quando o usuário estiver fora do campus. Nesse caso, porém, a ferramenta oferecerá a opção de acionamento da Polícia Militar, por exemplo. O aplicativo conta com um recurso que registra as informações sobre cada solicitação, como dia, local, tipo de ocorrência e nome do vigilante acionado. Esse conjunto de dados ajudará a avaliar o aplicativo, bem como auxiliará no planejamento de novas ações na área de segurança. O reitor José Tadeu Jorge lembrou que os índices de violência registrados no cam-

 Conferência com Sandrine Reboul-Touré - O Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb), em parceria com o POEHMAS, promove uma conferência com a professora Sandrine ReboulTouré, da Universidade de Paris III. O evento acontece no dia 20 de outubro, às 8h30, na sala de defesa de teses do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Sandrine Reboul-Touré falará sobre “Quelle analyse du discours pour a vulgarisation scientifique?”. O evento tem como público-alvo alunos de graduação, pós-graduação, pesquisadores e interessados no assunto. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-8970 ou e-mail publabe@unicamp.br  Congresso da Socine - Com o tema “Cinemas em Redes”, a Unicamp, por meio do Instituto de Artes (IA), sedia, de 20 a 23 de outubro, a 19ª edição do Congresso anual da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE), a maior sociedade acadêmica de estudos de cinema e do audiovisual da América do Sul. No evento serão apresentados trabalhos de professores e pesquisadores, mestrandos e doutorandos, além de palestras e mostras de filmes. Mais detalhes no link www.iar.unicamp.br/socine ou e-mail gilsobrinho@iar.unicamp.br

 A lei da água - O documentário “A lei da água” será apresentado no dia 19 de outubro, das 9 às 12 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A ação faz parte da programação

Junto com o Botão de Pânico, foi lançado também o Canal Bidirecional de comunicação com a comunidade universitária,

Cerimônia de lançamento: ferramentas permitem acionamento rápido do Sistema de Vigilância em casos de emergência

 Inovações em atividades curriculares - Seminário organizado pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA2) está marcado para ocorrer em 9 de novembro, às 9 horas, no auditório da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp. Inscrições e encaminhamento de trabalhos, até 19 de outubro. Mais detalhes no site http://inovacoes.ea2.unicamp.br/

 Semana de saneamento e ambiente - Alunos de pósgraduação em Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) organizam, de 19 a 23 de outubro, no anfiteatro da FEC, a I Semana de Saneamento e Ambiente (SSA). Durante o evento serão expostas pesquisas que demonstram novas visões e tecnologias, desenvolvidas por jovens pesquisadores e por renomados palestrantes brasileiros. Públicoalvo: interessados na temática. Mais detalhes na página eletrônica https://www.facebook.com/Semana-de-Saneamento-e-AmbienteSSA-Fecunicamp-110495202633622/timeline/ ou e-mail ssaunicamp@gmail.com

CANAL BIDIRECIONAL

abrigado no site do Serviço de Informação ao Cidadão (SIC) da Unicamp. A ferramenta é composta por duas facilidades. Uma delas é um chat, por meio do qual qualquer pessoa pode entrar em contato com a Universidade e solicitar informações sobre a instituição. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 7h00 às 17h30. O atendimento de forma presencial e por telefone continua funcionando normalmente. A outra facilidade é uma área de notícias, por intermédio da qual os interessados poderão encaminhar, para divulgação, informações que considerem de interesse geral da comunidade universitária. O objetivo da medida é facilitar a comunicação de docentes, funcionários e estudantes com a Universidade e vice-versa. (Manuel Alves Filho) Foto: Antoninho Perri

do Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos de 2015 (Ecocine), que este ano aborda o tema água e saúde.

Painel da semana

pus de Barão Geraldo são muito inferiores aos de Barão Geraldo e de Campinas. Segundo ele, nem por isso a Unicamp deixa de se comprometer com a busca por novas soluções para ampliar a segurança dos integrantes da comunidade interna e visitantes. “Temos que trabalhar para que o índice de violência seja zero. Isso é uma utopia? Provavelmente, sim. Mas não há lugar mais adequado para se ter utopias que a Universidade. Com o lançamento deste aplicativo, a Unicamp dá mostras de que é capaz de buscar meios para avançarmos em direção a esse objetivo”, considerou.

 Exposição do Laboratório Móvel da Sanasa - No dia 20 de outubro, das 10 às 11h30 e das 14 às 15h30, no Estacionamento do Espaço Cultural Casa do Lago, haverá exposição do Laboratório Móvel da Sanasa. A ação faz parte da programação do Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos de 2015 (Ecocine), que este ano aborda o tema: Água e saúde. A Casa do Lago fica à rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. O evento é aberto ao público em geral. Mais detalhes no site http:// ecocine.eco.br/programacao.html ou telefone 19-3521-8071.  Copa GGBS de Futebol Society 2015 - A cerimônia de encerramento e premiação da Copa GGBS de Futebol Society 2015 acontece no dia 20 de outubro, às 11 horas, no auditório II da AFPU (Prédio da DGA). O evento é aberto à participação de docentes, alunos e funcionários. Atletas e funcionários que se destacaram durante a realização do evento também receberão prêmios. Mais informações pelo telefone 19-3521-1453.  III Escola de Primavera dos Intérpretes do Brasil - Evento acontece no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, de 21 a 23 de outubro. Está organizado em formato de aulas e

comentários, com espaço para questões formuladas pelos alunos a partir da leitura prévia de textos sugeridos. Neste ano, a Escola foi pensada a partir da temática das interpretações regionais do Brasil. A proposta é a de refletir tanto sobre as formações sociais específicas - o sertão, o interior, o sul – como sobre os aspectos gerais que perpassam essas formações – a mobilidade, a cultura material, a psicologia. Enfim, os muitos brasis contidos em um só Brasil. A III Escola começa com uma reflexão sobre o significado de interpretar o Brasil e qual a conexão entre passado, presente e futuro nesse processo. Mais detalhes pelo link www.escoladeprimavera.org  Eleição da Cipa - A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho (Cipa) organiza eleição nos dias 21 e 22 de outubro. O objetivo é eleger a nova gestão para o período de 10 de dezembro de 2015 até 9 de dezembro de 2016. A eleição acontece em todos os Campi da Unicamp e o voto é obrigatório para docentes e funcionários. A Cipa-Unicamp segue a Norma Regulamentadora do Trabalho nº 5 do Ministério do Trabalho e Emprego, e tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-7532 ou e-mail cipa@unicamp.br  2ª Caminhada Fotográfica da Unicamp - Com o tema “Construindo com Ciências a Unicamp Sustentável”, a 2ª Caminhada Fotográfica da Unicamp acontece no sábado, dia 24 de outubro, das às 8 às 12h30. O evento está inserido nas atividades da II Mostra Unicamp de Fotografia e é realizado em comemoração aos 50 anos da Universidade. A Caminhada é organizada pelo Núcleo de Fotógrafos Amadores da Unicamp (Nufau) e pelo Circuito do saber (Cirsa). O evento é aberto à participação da comunidade. Interessados em participar podem se inscrever no site http://caminhadafotografica.wix.com/nufau. O percurso definido pela organização vai da Praça da Paz até o Museu Exploratório de Ciências (MC) da Unicamp. O evento propõe uma atividade cultural e saudável com o objetivo de difundir o amor pela fotografia, reunir pessoas e fortalecer as relações ou interações humanas, trocar ideias, conhecimentos e principalmente inspirar novos olhares. Mais detalhes pelos telefones 19-3521-7151 / 996061588 ou e-mail chicao@unicamp.br

Teses da semana  Artes - “A audição notacional em músicos profissionais: um estudo sobre a construção imagética da partitura musical diante das

limitações da memória” (doutorado). Candidato: Ronaldo da Silva. Orientador: professor Ricardo Goldemberg. Dia 19 de outubro de 2015, às 14 horas, na sala 3 da Pós-graduação do IA.  Biologia - “Constituintes químicos e avaliação das atividades biológicas do óleo essencial de Hyptis spicigera (Lamiaceae) e do seu complexo de inclusão em β-ciclodextrina” (mestrado). Candidata: Maísa Alineri Ramos. Orientador: professor Marcos José Salvador. Dia 22 de outubro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco O do IB.  Ciências Médicas - “Análise molecular dos genes KCNJ1, ABCC8, GCK e INS em pacientes com diabetes mellitus neonatal” (mestrado). Candidata: Adriana Mangue Esquiaveto Aun. Orientadora: professora Sofia Helena Valente De Lemos Marini. Dia 21 de outubro de 2015, às 14 horas, no CBMEG. “O tecido adiposo marrom e sua conexão com o hipotálamo” (doutorado). Candidata: Briana Rachid Dias Vieira. Orientador: professor Licio Augusto Velloso. Dia 23 de outubro de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do Gastrocentro.  Computação - “Uma arquitetura para negociação e gerenciamento de SLA de redes virtuais definidas por software baseada em classes de QoS” (doutorado). Candidato: Rafael Lopes Gomes. Orientador: professor Edmundo Roberto Mauro Madeira. Dia 23 de outubro de 2015, às 13h30, no auditório do IC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Usando ontologias para recuperar evidências de anotação clínicas” (mestrado). Candidato: Jan Carl Beeck Pepper. Orientador: professor Ivan Luiz Marques Ricarte. Dia 19 de outubro de 2015, às 10 horas, no PE da FEEC.  Engenharia Química - “Simulação e otimização da síntese de poliestireno funcionalizado via polimerização radicalar por transferência de átomo” (doutorado). Candidato: Roniérik Pioli Vieira. Orientadora: professora Liliane Maria Ferrareso Lona. Dia 22 de outubro de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Geociências - “Leitura geográfica sobre a política dos recursos hídricos no Brasil: o comitê de bacia hidrográfica do rio Miranda (MS)” (doutorado). Candidata: Vera Lucia Freitas Marinho. Orientador: professor Edvaldo Cesar Moretti. Dia 21 de outubro de 2015, às 14 horas, na sala A do DGRN do IG.  Odontologia - “Relação entre as classificações de risco, utilizadas para organização da demanda em saúde bucal em município de pequeno porte de São Paulo” (mestrado profissional). Candidato: João Peres Neto. Orientadora: professora Maria da Luz Rosario e Sousa. Dia 19 de outubro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 4 da FOP.


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Pesquisa investiga fluxo salivar de transplantados Cirurgião-dentista avalia pacientes submetidos a tratamento de doenças oncohematológicas Foto: Antoninho Perri

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

Transplante de Medula Óssea ou Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas (TCTH) é uma modalidade terapêutica amplamente utilizada para a cura de doenças hematológicas ou de outros tecidos, de insuficiências medulares e de distúrbios congênitos da hematopoiese. Apesar dos recentes avanços, o TCTH alogênico – aquele em que a medula óssea ou células progenitoras hematopoiéticas provêm de um doador compatível — não está isento de complicações. Cerca de 80% dos pacientes submetidos ao TCTH alogênico apresentam complicações orais, que podem ser classificadas em agudas e tardias, de acordo com o momento em que se manifestam e o tipo de sequela gerada. As complicações orais agudas mais frequentes incluem a mucosite oral (feridas na boca), infeções recorrentes, dor, e sangramento. Dentre as complicações tardias orais, destacam-se a Doença do Enxerto-Contra-Hospedeiro, cáries progressivas, o desenvolvimento de novos tumores em boca, além de alterações na composição e fluxo da saliva, que podem gerar problemas sérios e irreversíveis. Diversas complicações orais estão relacionadas às alterações salivares encontradas nos pacientes submetidos ao TCTH alogênico, tais como a hipossalivação; xerostomia (sensação de boca seca); alterações do paladar; cáries progressivas e generalizadas; infecções fúngicas, virais e bacterianas recorrentes, entre outras. Estas complicações impactam significativamente na qualidade de vida destes pacientes, gerando importante morbidade. Embora estudos tenham correlacionado a presença de danos de variável extensão às glândulas salivares e, consequentemente, à saliva destes pacientes como uma sequela tardia do TCTH alogênico, a sua influência sobre as alterações precoces do fluxo salivar, assim consideradas aquelas que ocorrem antes do esperado, não estão completamente elucidadas. Soma-se a isso a inexistência de um critério padronizado para a avaliação clínica da hipossalivação (diminuição da excreção de saliva) para este grupo de pacientes, o que dificulta um diagnóstico precoce e retarda medidas que contribuam para minimizar seus efeitos deletérios. O Grupo de Odontologia e Medicina Oral da Unidade de Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas, do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Hospital de Clínicas/Hemocentro da Unicamp vem estudando, ao longo das últimas duas décadas, as alterações orais relacionadas ao TCTH alogênico, com o objetivo de melhor compreendê-las e manejá-las da forma mais adequada. Diante desse cenário, o cirurgião-dentista Vinicius Rabelo Torregrossa avaliou em sua dissertação de mestrado a influência do TCTH alogênico sobre alterações precoces do fluxo salivar, correlacionando os resultados obtidos do fluxo salivar com dados clínicos do transplante. Além disso, também foram validados critérios clínicos para o diagnóstico da hipossalivação nestes pacientes, através do desenvolvimento de um sistema de pontuação que permita caracterizar as situações de boca seca. Pós-graduando pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-Unicamp), onde a dissertação foi apresentada, ele realizou o trabalho no Hemocentro da Universidade, sob a orientação da também cirurgiã-dentista e professora Maria Elvira Pizzigatti Correa, coordenadora do ambulatório de odontologia do Hemocentro Campinas. Maria Elvira lembra que após a quimioterapia, a boca e a saliva apresentam alterações, causando sequelas que podem se estender pelo resto da vida. Para ela, “um diagnóstico precoce das alterações quantitativas salivares, aliado à análise individual do risco de complicações orais, pode permitir um manejo preventivo adequado, essencial para o suporte de pacientes submetidos ao TCTH”. O trabalho do cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar oncohematológica visa propiciar ao paciente um atendimento holístico integral, onde são realizados tratamentos que ele teria dificuldade em conseguir fora do Hemocentro.

Publicação Dissertação: “A influência do transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas no fluxo salivar” Autor: Vinicius Rabelo Torregrossa Orientadora: Maria Elvira Pizzigatti Correa Unidades: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

A orientadora, professora Maria Elvira Pizzigatti Correa, e o autor do estudo, Vinicius Rabelo Torregrossa: critérios clínicos específicos

O TRABALHO No primeiro capítulo da publicação o autor apresenta um estudo prospectivo e retrospectivo, com base na coleta pacientes e utilização de um banco de dados disponível na unidade, que envolveu 69 pacientes adultos submetidos ao primeiro TCTH alogênico, entre os anos de 2010 e 2014, no Hospital de Clínicas da Unicamp/Hemocentro. Nesse período, foram realizadas coletas de amostras de saliva e determinação do fluxo salivar, além da avaliação da condição de saúde oral e grau de mucosite dos pacientes. Também foram aplicados critérios clínicos específicos para o diagnóstico de hipossalivação, antes do início do regime de condicionamento, e após 8 a 10 dias da infusão da medula, para efeito de um acompanhamento sistemático e comparativo. Os resultados mostraram que a hipossalivação não foi um achado comum no período avaliado. Além disso, o aumento do fluxo salivar encontrado durante a fase de mucosite pode ter sofrido influência do efeito sinérgico causado pela presença de uma saliva mais viscosa aliada à dificuldade de deglutição, responsáveis por gerar um aumento do volume residual de saliva na cavidade oral desses pacientes, dando uma falsa impressão de hipersalivação entre os dias 8 e 10 pós-transplante. O segundo capítulo da dissertação envolveu um estudo transversal desenvolvido entre os anos de 2006 e 2014, onde foram avaliados 120 pacientes submetidos ao primeiro TCTH alogênico no Hospital de Clínicas da Unicamp/ Hemocentro. Foram validados cinco de um total de oito critérios clínicos de hipossalivação, que possibilitou o desenvolvimento de um Sistema de Pontuação para a Boca Seca (SPBS), baseado nos seguintes critérios: 1) alta aderência da espátula de madeira na mucosa jugal; 2) ausência de lago sublingual; 3) saliva espessa e viscosa; 4) ausência de secreção salivar após ordenha do ducto protídeo; 5) impressão do paciente sobre a sensação de boca seca. Para os autores, o SPBS mostrou-se uma ferramenta confiável para o diagnóstico de hipossalivação na população estudada. Para Vinicius e Maria Elvira, o grande diferencial deste segundo estudo está no fato de propor uma ferramenta capaz de diagnosticar a condição de hipossalivação através de parâmetros clínicos fáceis de serem aplicados pela equipe de enfermagem e médica, que está em contato constante com os pacientes, que não são de uso exclusivo do cirurgião dentista.

DECORRÊNCIAS A caracterização da boca seca pode determinar dois tipos de ações. A mais imediata é a introdução de medidas paliativas que contribuam para melhor lubrificação da boca e conforto do paciente, de efeito temporário. A outra envolve o enquadramento dos pacientes com o diagnóstico de hipossalivação em um protocolo específico, com o objetivo de minimizar os efeitos adversos advindos da falta de saliva. Nele são considerados, por exemplo, o controle de infecções periodontais e das cáries dentais, e principalmente a educação em saúde bucal através de melhorias higiene bucal, que pode ser acompanhada da prescrição de bochechos à base de flúor em maior intensidade e/ou frequência.

Como no Hemocentro esses pacientes são acompanhados sistematicamente após o transplante de medula, as orientações previstas no protocolo são revistas e reforçadas, quando necessário. A preocupação é sempre minimizar ao longo do tempo os inevitáveis efeitos adversos na boca dos indivíduos submetidos ao TCTH, contribuindo para a manutenção da saúde bucal e maior conforto dos pacientes. Todavia, mais que isso, o estudo permite que as complicações orais decorrentes do TCTH alogênico sejam mais bem compreendidas e dimensionadas, possibilitando o seu manejo mais adequado. A orientadora considera que duas grandes lições podem ser tiradas do estudo. A de que as alterações salivares acontecem em uma fase muito precoce do transplante, logo nos primeiros dias após sua realização, e que provavelmente o padrão salivar mantenha-se alterado, mesmo após a recuperação do paciente. Por esse motivo, as alterações salivares no contexto do TCTH precisam ser mais bem estudadas e entendidas para um melhor atendimento dos pacientes. A segunda é a de que o teste proposto pode ser utilizado como ferramenta eficaz para caracterizar e diagnosticar a hipossalivação na população estudada, possibilitando pronta adoção das medidas necessárias.

MULTIDISCIPLINARIDADE A professora Elvira destaca a importância do conhecimento adquirido pelo cirurgião-dentista na atuação em uma equipe multidisciplinar de oncohematologia. “Temos que agradecer a oportunidade de aprendizado proporcionada pela convivência com uma equipe multidisciplinar como a nossa, que permite um diálogo franco, além da paciência e generosidade dos pacientes durante as consultas. É uma experiência que não se vivencia nos cursos de graduação”. Merece também destaque o empenho e a trajetória de Vinicius. Em 2011, ele se inscreveu no então recém-criado curso de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde, oferecido pelo Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia, quando acabara de concluir a graduação. Selecionado, ele concluiu o curso de dois anos, que tinha o objetivo de formar um profissional com condições de trabalhar em um hospital, dentro de um ambiente multiprofissional, possibilidade esta que dificilmente ocorre na graduação em odontologia. “No hospital tive contato com a rotina da UTI, com as enfermarias das áreas de transplantes, de cardiologia, enfrentando situações com que aprendi a lidar. Fiquei apaixonado pelo trabalho e me interessei particularmente pelo atendimento aos pacientes com doença oncohematológica”, diz ele. Terminada a residência ele se candidatou a uma vaga no curso de pós-graduação em estomatopatologia, em nível de mestrado, oferecido pela FOP/Unicamp, realizando o sonho de fazer uma pós-graduação na Unicamp, por considerá-la uma experiência enriquecedora. Diante do seu interesse em trabalhar na área de hematologia, foi encaminhado ao Hemocentro do HC da Universidade para ser orientado por Maria Elvira. Entusiasmado, ele afirma: “A experiência se confirmou maravilhosa e dentro das expectativas do que eu pretendia e desejava. Aqui existe uma gama de pacientes com perfis que pretendia estudar, que vão desde as coagulopatias hereditárias ou adquiridas, passando pelos portadores de doenças oncohematológicas, até o transplante de medula óssea. Além do que, contei com a experiente e dedicada orientação da professora Elvira”.


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Campinas, 19 a 25 de outubro de 2015

Livro de Tacca retrata colecionadores de fotos LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Colecionadores privados de fotografia no Brasil” é o novo livro de Fernando de Tacca, professor do Instituto de Artes (IA), lançado na abertura do IV Seminário Studium, que aconteceu no último dia 9. O livro é o resultado de entrevistas com proprietários de seis coleções, atuantes no contexto da afirmação da fotografia brasileira enquanto críticos, curadores, pensadores e alguns também como fotógrafos. São eles, Joaquim Paiva, Nakagawa Matuck, Rubens Fernandes Junior, Silvio Frota, Eder Chiodetto e o casal Georgia Quintas e Alexandre Belém. “A fotografia tem sido tema de meu interesse há bastante tempo e percebi que, nos estudos fotográficos, praticamente não havia publicações sobre colecionadores particulares de fotografias modernas e contemporâneas. Daí, a ideia de um projeto nesse sentido”, afirma Fernando de Tacca. “Com exceção de Silvio Frota, já conhecia todos os colecionadores, que relatam a fotografia dos anos 1980, quando comecei a fotografar. Houve muita facilidade de contato.” Segundo o professor do IA, a pesquisa não focou a coleção e sim a figura do colecionador, visto que existem apenas dados fragmentados sobre cada um. “A preocupação foi saber quem é esse personagem, como pensa, como monta sua coleção. Todos foram muito generosos, pois por se tratar da reconstituição de uma trajetória de vida, as conversas foram longas e exigiu paciência para as dúvidas que surgiram depois. Por exemplo, para entrevistar

Foto: Antonio Scarpinetti

o empresário Silvio Frota, não precisei ir a Fortaleza; conversamos na passagem dele por São Paulo, numa sala que ele mesmo alugou no hotel.” O livro está sendo distribuído gratuitamente, condição exigida para utilização dos recursos do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, que o autor conquistou em 2014. “Creio que reuni o grupo mais importante de colecionadores de fotografia contemporânea e moderna. Mas cito algumas coleções que estão dentro do contexto maior de ‘coleções de arte’, como de Marcoantonio Vilaça, Gilberto Chateaubriand, Figueiredo Derraz, Carlos Leal e Edmar Cid Ferreira, entre outras. A fotografia é parte dessas coleções de arte, o que exige outra metodologia, estando aí o mote para uma nova pesquisa”.

SEMINÁRIO STUDIUM Fernando de Tacca é também coordenador do IV Seminário Studium, que tem como tema “Os lugares do fotográfico na cena contemporânea” e é organizado pela revista Studium, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais e Museu de Artes Visuais (MAV). A palestra de abertura foi concedida pelo professor Jorge Coli, que falou sobre “A fotografia, o tempo, a morte”. O evento prosseguiu com “Relatos e imersões em grandes eventos fotográficos”, em 16 de outubro. “Encontro com o artista: trajetórias e processos criativos” acontecerá em 30 de outubro; “Coleções museológicas: perspectivas e ações”, em 6 de novembro. Paralelamente, ocorreu a mostra “O Personagem fotógrafo no cinema”, que foi de 13 a 16 de outubro, na Casa do Lago.

Fernando de Tacca, professor do IA: “A preocupação foi saber quem é esse personagem, como pensa, como monta sua coleção”

Coleção Nakagawa Matuck

Coleção Rubens Fernandes Junior

“Tesão no Forró”, Nair Benedicto Coleção Eder Chiodetto

“Luz Teimosa”, Fernando Lemos Coleção Silvio Frota

“Cabeças de Vento”, Ana Almeida

“Batida Policial aos Travestis e Prostitutas”, Juca Martins

Coleção Joaquim Paiva

“Paisagens Marinhas #1”, Cássio Vasconcelos


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