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Foto: Antonio Scarpinetti

RUMO AOS 50

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A Orquestra Sinfônica da Unicamp, que executará a ópera Don Giovanni, dia 30, e estará na abertura oficial das comemorações, no dia 5

A encenação no dia 30 de setembro da ópera Don Giovanni, de Mozart, no Theatro Municipal de Paulínia, e uma solenidade presidida no dia 5 de outubro pelo reitor José Tadeu Jorge, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas, darão início às comemorações do cinquentenário da Unicamp, a ser completado em 5 de outubro de 2016. “Tivemos o cuidado de definir uma programação qualificada e abrangente que pudesse retratar a história da Universidade e, também, delinear o seu futuro”, afirma a professora Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, presidente da comissão responsável pela organização dos eventos comemorativos.

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Campinas, 28 de setembro a 4 de outubro de 2015 - ANO XXIX - Nº 639 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Diversidade e intolerância O professor Renato Ortiz, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, fala sobre o seu novo livro,“Universalismo e Diversidade”, e opina sobre as manifestações de intolerância política no Brasil, entre as quais a pichação de que foi alvo o corpo docente de sua unidade. O Jornal da Unicamp publica a carta escrita por Ortiz sobre o episódio.

Protesto promovido por lideranças indígenas, no ano passado, em frente ao Ministério da Justiça, em Brasília

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Um biopolímero feito com óleo de mamona Extratos naturais retardam deterioração de alimentos

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A rotina de enfermeiros no tratamento de transplantados

Genética humana é destaque na ‘Science’

Noel Rosa, João Gilberto e a prosódia em canções

Poder não seduz as mulheres, diz artigo

Decisões coletivas, das abelhas aos neurônios

TELESCÓPIO

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Campinas, 20 de maio a 2 de junho de 2013

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Genética humana na ‘Science’ A edição mais recente da revista Science traz uma seção especial de artigos sobre os avanços na compreensão da genética humana, que inclui revisões de literatura sobre o uso do sequenciamento na detecção de mutações, a vinculação de doenças ao DNA mitocondrial, a questão da influência genética em doenças psiquiátricas e os estudos sobre mutações somáticas – que não são herdadas dos pais – no surgimento do câncer. O pacote é acompanhado por um editorial, assinado por Arthur Beaudet, do Departamento de Genética Humana e Molecular do Baylor College, que aponta as perspectivas abertas pelas tecnologias de análise genética para a seleção de embriões humanos in vitro, antes da implantação no útero. Ele diz que a combinação das técnicas já existentes com outras que se encontram em desenvolvimento deverá permitir “evitar a ocorrência de um grande número de distúrbios hereditários, ou causados por alterações de um único gene, em crianças concebidas in vitro”. Também escreve: “Além disso, se novas tecnologias permitirem a coleta de células fetais do aparelho circulatório da mãe durante o primeiro trimestre da gravidez, esses diagnósticos poderão, em teoria, detectar graves variações genéticas deletérias, ou mutações, em todas as gestações, permitindo que os pais analisem a possibilidade de interrupção da gravidez”.

Editando embriões Pesquisadores do Instituto Francis Crick, um novo centro de pesquisa biomédica baseado em Londres, pediram às autoridades britânicas autorização para editar o DNA de embriões humanos. A notícia do pedido foi dada, originalmente, pelo jornal The Guardian, e posteriormente confirmada pela Nature. A revista lembra que a edição do genoma de embriões humanos para fins terapêuticos – por exemplo, eliminando uma sequência de DNA responsável por uma doença, antes da implantação no útero – é ilegal no Reino Unido, mas que os cientistas do Francis Crick pretendem utilizar a técnica apenas para fins de pesquisa. Cientistas chineses haviam anunciado, em abril, a edição do genoma de embriões humanos numa tentativa de eliminar o gene responsável por uma doença sanguínea, a talassemia beta. O estudo foi realizado em embriões inviáveis, que não teriam meios de se desenvolver, mesmo se implantados num útero.

O estudo será do tipo coorte, em que pesquisadores acompanham a evolução do estado de saúde de um grupo de voluntários. Um dos desafios da Iniciativa de Medicina de Precisão será construir uma coorte realmente representativa da população americana. Os voluntários terão seu DNA coletado e passarão por avaliações de saúde periódicas, incluindo exames de sangue. Dispositivos móveis serão usados para monitorar os deslocamentos geográficos (que podem ser associados à exposição a contaminantes, como a poluição do ar), a qualidade do sono e os padrões de atividade diária. O plano poder acessado neste link: http://www.nih.gov/news/health/ sep2015/od-17.htm

Buraco negro de porte médio Um buraco negro de 5 mil massas solares foi descoberto por uma equipe de pesquisadores, liderados por cientistas da Nasa, numa galáxia a 14 milhões de anos-luz da Terra. Se confirmada, esta representará apenas a segunda descoberta de um buraco negro de massa intermediária – muito menor que os gigantescos buracos negros que habitam o centro das galáxias, mas muito maior que os chamados buracos negros de massa estelar conhecidos, que contam com apenas algumas dezenas de massas solares. A primeira descoberta do tipo, anunciada em agosto de 2014, havia sido feita pela mesma equipe que assina o novo artigo, publicado no Astrophysical Journal Letters. O novo candidato a buraco negro de massa intermediária é conhecido como NGC1313X-1. Trata-se de uma das mais poderosas fontes de raios X no universo próximo, e sua caracterização como buraco negro pode ajudar a explicar essa radiação intensa.

Explicando supergaláxias As chamadas galáxias submilimétricas distantes – que recebem esse nome não por serem minúsculas, mas porque são especialmente brilhantes na faixa de ondas submilimétricas do espectro eletromagnético – são as mais luminosas e as que apresentam maior taxa de formação de estrelas do Universo, produzindo novos astros num ritmo mil vezes maior que o da Via-Láctea. Astrônomos ainda não conseguem explicar esse excesso de atividade, mas um novo modelo a respeito é apresentado na revista Nature. “Descobrimos que grupos de galáxias, residindo em halos de matéria escura de grande massa, têm taxas elevadas de formação de estrelas, com um pico de 500 a 1000 massas solares ao ano” por um período de um bilhão de anos, escrevem os autores, vinculados a instituições dos Estados Unidos. Esses resultados apoiam a teoria de que essas galáxias são naturais e duradouras, contrariando a ideia de que a fase de intensa formação de estrelas ocorreria por conta de algum evento catastrófico, como colisões galácticas, e teriam curta duração.

Decisões coletivas Abelhas em colmeias, formigas em formigueiros e talvez, até, neurônios em cérebros tomam decisões de modo descentralizado, sem uma liderança clara e sem que nenhum dos membros do grupo tenha acesso a toda a informação relevante. “Decisões descentralizadas são tomadas com o uso de processos que envolvem uma busca de informação com retroalimentação positiva e escolhas consensuais, por meio da detecção de quórum”, explica artigo publicado no periódico Science Advances. Os autores, da Universidade Carnegie Mellon e do Santa Fe Institute, apresentam um modelo matemático para esse tipo de decisão coletiva, baseado num mecanismo de teoria das probabilidades chamado urna de Pólya. Foto: Divulgação/ESO

A região central da galáxia NGC1313, onde se encontra o novo buraco negro de massa intermediária descoberto por astrônomos dos Estados Unidos

Nesse esquema, imagina-se que cada opção disponível seja representada por uma cor. Um número igual de bolinhas das várias cores em questão é colocado numa urna, e então removem-se dali bolinhas ao acaso, uma a uma. Cada vez que uma bolinha é retirada, ela é devolvida à urna, e feito o acréscimo de uma bola extra, da mesma cor que a sorteada. Assim, a probabilidade de uma cor voltar a ser selecionada aumenta cada vez que ela é escolhida, num processo que pode ser descrito matematicamente. No modelo proposto, o processo segue até que se atinja um quórum pré-determinado de uma das cores, sem necessidade de chegar a um resultado unânime. O processo simula uma situação em que uma formiga, por exemplo, encontra uma fonte de alimento e “recruta” outras para explorá-la, efetivamente levando o formigueiro a “decidir” caminhar na direção indicada. “Esse mecanismo comum proposto oferece meios robustos e eficazes para um sistema descentralizado navegar as perdas e ganhos entre velocidade e precisão, e tomar decisões razoavelmente boas e rápidas, em ambientes diversos”, diz o artigo. “Além disso, a escolha por consenso exibe uma aversão sistêmica a risco, mesmo quando os indivíduos não neutros quanto a isso. Isto também é adaptativo”.

Mulheres e poder Artigo assinado por três pesquisadoras da Harvard Business School, publicado no periódico PNAS, aponta a existência de “uma disparidade de gênero profunda e consistente nos objetivos de vida centrais das pessoas”, com mulheres vendo posições de mando e de poder como menos desejáveis. Diz o artigo: “Em nove estudos, com mais de 4.000 participantes, descobrimos que, na comparação com os homens, as mulheres têm mais objetivos na vida, põem menos importância em objetivos relacionados ao poder, associam mais resultados negativos às posições de poder (como falta de tempo), veem posições de poder como menos desejáveis e tendem a aproveitar menos as oportunidades de progresso profissional”. As autoras acrescentam que as mulheres “consideram as posições de alto nível tão acessíveis quanto os homens”, mas que enxergam menos vantagens em alcançá-las. “Nossas descobertas revelam que homens e mulheres têm percepções diversas sobre como será o exercício de uma posição de poder”.

Devolvendo calor ao espaço Estudo de 1 milhão Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), maior órgão financiador de pesquisa médica do mundo, preparam planos para um ambicioso estudo envolvendo 1 milhão de voluntários, a fim de avaliar as conexões entre genética e saúde. A chamada Iniciativa de Medicina de Precisão será “uma ferramenta importante e potente para pesquisadores que trabalham em diversas questões de saúde”, disse o diretor dos NIH, Francis Collins. O projeto, apresentado em meados de setembro, deverá permitir a descoberta de genes e biomarcadores que influenciam no risco de doenças e na ação de medicamentos.

Um cristal de sílica capaz de enviar calor ao espaço, irradiando luz infravermelha numa faixa para a qual a atmosfera terrestre é transparente – e, portanto, sem contribuir para o efeito estufa – é descrito no periódico PNAS por pesquisadores da Universidade Stanford. “O frio do universo é um recurso termodinâmico enorme, mas surpreendentemente pouco explorado”, escrevem os autores. “Sua utilização direta na Terra representa, portanto, uma importante fronteira para a pesquisa de energias renováveis”. O cristal descrito no artigo, criado a partir da abertura de depressões micrométricas numa placa de sílica de 500 micrômetros de espessura, é transparente e, colocado sob um painel solar, não reduziu a capacidade do equipamento em gerar energia, mas diminuiu sua temperatura em até 13º C.

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Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Polímero testado na FEQ é biocompatível e poderá ser usado em próteses

Grupo desenvolve plástico à base de óleo de mamona Foto: Antonio Scarpinetti

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

esquisadores da Unicamp desenvolveram um método para a produção de plásticos biocompatíveis, que potencialmente podem ser usados em próteses e outras aplicações médicas, a partir de matérias-primas naturais como óleo de mamona e ácido cítrico, o mesmo encontrado na laranja e no limão. Esse uso do ácido cítrico já gerou uma patente para a Universidade, e é apresentado na tese de doutorado “Síntese de biopolímeros a partir de óleo de mamona para aplicações médicas”, defendida pela pesquisadora colombiana Natalia Lorena Parada Hernández na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp e orientada pela professora Maria Regina Wolf Maciel, do Departamento de Processos Químicos da FEQ. “O óleo de mamona já foi usado na produção de próteses, só que trazia alguns problemas já identificados nas aplicações e reportados na literatura”, disse o pesquisador e docente Rubens Maciel Filho, do Departamento de Desenvolvimento de Processos e Produtos (DDPP) da FEQ. Maciel falou ao Jornal da Unicamp ao lado da coorientadora da tese, Maria Ingrid Rocha Barbosa Schiavon. Dentre esses problemas estava a reatividade química do material – o polímero não era totalmente inerte. Este é um problema que o uso do ácido cítrico minimiza significantemente, disseram os pesquisadores. “É preciso garantir que o polímero seja biocompatível, avaliando se ele é tóxico, ou não, para a célula”, descreveu Maciel. “Ele não pode causar mal algum à célula. Um biomaterial deve ser inerte, ou ter interações benéficas, por exemplo possibilitando uma integração do tecido vivo, em que o tecido do corpo humano comece a crescer usando-o como base”. “Muitos biopolímeros usam solventes tóxicos durante a síntese”, acrescentou Ingrid. “Buscamos livrar ao máximo toda a cadeia produtiva do polímero de agentes que possam trazer alguma toxicidade”.

Maria Ingrid Rocha Barbosa Schiavon, coorientadora, e o óleo de mamona: cuidados com a toxidade

Foto: Divulgação

Foto: Antonio Scarpinetti

PROCESSO

Os pesquisadores explicam que a produção de polímeros, como poliésteres, a partir do óleo de mamona envolve um processo chamado epoxidação, em que o óleo se torna quimicamente reativo, e uma “cura”, quando as cadeias reativas de moléculas se ligam formando uma rede tridimensional, dando origem ao polímero. O processo de epoxidação contou com a colaboração do doutorando Anderson de Jesus Bonon, gerando também uma patente para a Unicamp. “A epoxidação do óleo de mamona é a transformação do óleo no monômero que será a matéria-prima de partida para a síntese do polímero”, explicou a pesquisadora. Dentro desse processo não foi feito uso de qualquer solvente que apresente potencial toxicidade. Já o ácido cítrico entra na “cura”, ligando as redes de moléculas e garantindo que o plástico se mantenha rígido e inerte. Maciel disse que os testes para avaliar a toxicidade do plástico de mamona com ácido cítrico em células vivas já foram realizados, e prevê novos ensaios envolvendo animais e, mais para o futuro, em seres humanos, em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e seguindo rigorosas diretrizes éticas. “Essa tese tem uma contribuição muito interessante, que é a de agregar valor a um produto que o Brasil produz, que é o óleo de mamona. E todo o conceito e o desenvolvimento desse biomaterial se deu dentro dos preceitos de que não deve atacar, não deve prejudicar o corpo humano em hipótese alguma. Ele precisa ser desenvolvido e produzido sem qualquer tipo de solvente ou produto químico que altere ou que faça mal para o corpo humano. É um desafio você fazer algo realmente só com reagentes que permitam depois o uso desse polímero como biopolímero, compatível com a saúde humana”, disse Maciel.

PATENTE

Além de, em princípio, não apresentar toxicidade, o polímero criado na FEQ tem outras características atraentes: “Tem boa resistência química, resistência mecânica con-

Natalia Parada Hernández, autora da tese: pesquisas continuam no pós-doutorado

siderada boa para aplicações que não requerem muita rigidez e alta absorção de impacto, o que significa que ele tem muito potencial para ser utilizado, inicialmente, na construção de matrizes para crescimento celular [scaffolds]”, explicou Maciel. Além disso, ele pode ser utilizado na produção de películas para a proteção de ferimentos ou no auxílio à cicatrização. “Se você tem uma área do corpo que requer um esforço físico maior, é necessário o desenvolvimento de um polímero mais rígido, que suporte esse tipo de tensão ou de esforço. Se a aplicação for para recobrir uma área para a recuperação de uma úlcera ou ferimento que requeira o uso de um filme, ou como parte de um agente que melhore a cicatrização de pessoas que têm doenças como diabetes, por exemplo, é possível produzir o polímero de forma que seja mais flexível”, exemplificou. “É um material com uma flexibilidade muito grande em termos de possíveis aplicações. Agora que o processo foi desenvolvido, abrem-se caminhos para trabalhar em condições apropriadas que permitam obter produtos com características desejadas, destinada a aplicações específicas.” O uso do ácido cítrico na “cura” do plástico já foi patenteado no Brasil, com apoio da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), e agora os pesquisadores têm interesse em proteger o invento internacionalmente. Maciel acredita que essa inovação tecnológica gerada na Unicamp irá interessar à indústria, já que ela será usada em produtos personalizados e de alto valor agregado. “A produção de biomateriais não é uma commodity ou um material que possa ser adquirido facilmente, principalmente para aplicações específicas”, disse. “A tendência com os desenvolvimentos já realizados e as pes-

O professor Rubens Maciel Filho: uso do ácido cítrico minimiza os riscos

quisas em andamento é desenvolver partes customizadas, que atendam inclusive pacientes que hoje fazem uso do SUS com dificuldades de pagarem por materiais importados. Muitas pessoas acabam isoladas da sociedade e do mercado de trabalho por terem uma deficiência que pode ser corrigida ou minimizada, permitindo sua reinserção social. O desenvolvimento dos biomateriais e, depois, do dispositivo nas características desejadas envolve muita tecnologia, desde a formação do monômero até a constituição do material final no formato exato para implantação”.

FUTURO

A autora da tese, Natalia Lorena Parada Hernández, deve retornar ao Brasil para dar continuidade à pesquisa no pós-doutorado. “Ela deve fazer os testes que faltam e também participar conosco na otimização e na ampliação das formas de processamento e sua conexão com a obtenção das características desejadas do material”, disse Maciel.

Publicação Tese: “Síntese de biopolímeros a partir de óleo de mamona para aplicações médicas” Autora: Natalia Lorena Parada Hernández Orientadora: Maria Regina Wolf Maciel Coorientadora: Maria Ingrid Rocha Barbosa Schiavon Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)

Com base em experiências anteriores, o pesquisador acredita que as primeiras aplicações do novo plástico de mamona podem estar prontas num prazo não muito longo. “Dependendo da aplicação, e de a Natália continuar com essas atividades, o material para o tratamento de úlceras de pele, por exemplo, deve estar pronto, depois de todos os testes, dentro de dois anos”, estima. “Já outros tipos de aplicação, como próteses, envolvem um tempo maior, porque é preciso realizar testes in vivo e avaliar os resultados. Pela experiência que temos das pesquisas em andamento com outros materiais, esse tempo, no mínimo, dobraria”. A chegada efetiva ao mercado, por sua vez, envolve prazos maiores, por conta das exigências de órgãos reguladores como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

EDUCAÇÃO

Tanto Ingrid quanto Maciel destacaram o envolvimento de estudantes de iniciação científica e de pós-graduação. “O projeto chama muito a atenção dos nossos estudantes, pela aplicação em si e pelo contexto social no qual está inserido, uma vez que potencialmente irá permitir o acesso da população mais carente a tratamentos que façam uso destes biomateriais”, disse o pesquisador. Ambos também afirmam que o desenvolvimento de biomateriais e a elaboração do produto funcional envolvem um trabalho interdisciplinar que reúne esforços de pesquisadores e estudantes de várias áreas como Engenharia Química, Engenharia Mecânica e Medicina, e posiciona o Biofabris (Instituto Nacional de Biofabricação), onde o trabalho foi desenvolvido, em posição de destaque, até mesmo no cenário internacional.


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Livro de Renato Ortiz faz apanhado Foto: Antonio Scarpinetti

Para professor do IFCH, debates acerca do comum e do diverso alimentam tensão vista por ele como mal-estar contemporâneo CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Universalismo e Diversidade”, mais recente livro do pesquisador e docente Renato Ortiz, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, propõe uma discussão crítica da emergência da diversidade como novo valor universal. “Transformar a diversidade num valor universal é um oximoro. Mas isso é interessante, revela uma tensão que caracteriza o mundo em que vivemos”, disse Ortiz. O pesquisador lembra que a crítica do velho universalismo dos iluministas, e do mal realizado em seu nome — do imperialismo, do colonialismo, do racismo — já foi feita, mas que a diversidade ainda não foi pensada de forma crítica. “Ninguém diria: ‘Sou contra a diversidade’”, exemplificou. “Veja, não estou defendendo o ponto de vista contrário a ela. A questão é: se você não pode sequer formular a pergunta, é porque o termo já se encontra positivado, a ponto de não se perceber mais as coisas de outra maneira”. “É importante entender que não é mais possível falar do mundo através de uma perspectiva eurocêntrica”, ressalta. “Mas, dando um passo à frente, não podemos reduzi-lo às identidades específicas. É preciso falar das duas coisas: o comum e o diverso. Surge assim uma tensão, o que denominei de mal-estar contemporâneo”. Para Ortiz, isso significa que o tema da diversidade não está vinculado às diferenças culturais propriamente ditas. “Porque o passado era muito mais rico em diferenças culturais do que hoje”, lembra. “Significa que foi no contexto atual que tais diferenças adquiriram outro sentido”. A ideia do livro, explica ele, é apresentar e problematizar os diferentes níveis em que o tema da diversidade aparece. “No mercado, nas ciências sociais, na questão política, na questão dos direitos, na questão do relativismo. Tratam-se, portanto, de dimensões diferentes trabalhadas dentro de uma mesma sintonia, a problemática do universalismo e da diversidade”. O pesquisador também comentou o acirramento da intolerância política no Brasil, exemplificada, recentemente, na pichação da frase “morte aos comunistas da Unicamp” numa das paredes externas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, acirramento que se dá neste mesmo momento de crescente valorização da diversidade (leia carta de Ortiz sobre o episódio na página 5). “Creio que no caso brasileiro, no momento atual, o tema da intolerância vincula-se diretamente à polarização política”, disse. “O discurso agressivo, naturalizado pela linguagem partidária, passa a ser válido em nossas relações pessoais”. Ele vê na pichação “o embrião de uma cultura autoritária, na qual a intolerância torna-se natureza, código de comportamento a ser exaltado pelo desprezo e destruição do outro”. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista de Renato Ortiz ao Jornal da Unicamp. Jornal da Unicamp - Como a diversidade emerge como valor? Renato Ortiz - A diversidade é um tema do mundo global. Sem ele não haveria sua valorização. Essa é a ideia central. Quando o mundo era composto apenas de nações ricas e pobres, ou civilizações “superiores” e “inferiores”, a questão não se colocava. Ninguém diria na década de 1950, quando os Estados Unidos invadem a Coreia, que deveríamos preservar a diversidade. Tratava-se simplesmente de uma operação imperialista, de um sistema de dominação que se impunha, como antes, o colonialismo britânico ou francês. A questão da diversidade surge quando percebemos que vivemos num mesmo lugar, o planeta Terra. Um mundo moderno

e tecnológico. Mas nele existem diferenciações. Como estabelecer agora as identidades? Regionais, nacionais, culturais? O processo de globalização evidencia uma realidade comum, mercado e tecnologias globais. Entretanto, as diferenças manifestam-se no âmbito da esfera cultural. Por isso a discussão sobre a diversidade situase, sobretudo, neste nível. É preciso entender que a noção de diversidade, tal como a compreendemos, é recente. Ela não existia desta forma no passado. A afirmação: “a diversidade da sociedade helênica na Antiguidade” faz pouco sentido. Nesta época existiam os gregos e os bárbaros, ou seja, os não gregos. O tema tampouco era importante no contexto da Idade Média ou do Iluminismo. JU - Mas o capitalismo é realmente o mesmo em todo o mundo? Ou há “capitalismos”? Renato Ortiz - Se a resposta fosse “sim”, as coisas seriam difíceis para os economistas, cada mercado funcionaria de maneira regional, com lógicas independentes. Não faria sentido falarmos de uma lógica capitalista, ela seria negada pela “diversidade” dos mercados. Isso não ocorre, porém, com a esfera da cultura. Nela se inserem as tensões identitárias, ou seja, a valorização das diferenças. JU - Falando sobre as tensões entre o universal e o diverso: há perspectivas que se propõem universais, como a dos direitos humanos. Renato Ortiz - Sim. Há um fato curioso. Em 1947, a ONU pede a um grupo de antropólogos americanos um texto para ser anexado à Declaração dos Direitos Humanos. O resultado é decepcionante. Imbuídos do relativismo cultural da época, esses antropólogos chegam à conclusão de que seria impossível falar em direitos humanos. Isso seria contrário à “diversidade cultural” dos povos indígenas. Tal perspectiva seria hoje impensável. Todo antropólogo, sobretudo etnólogo, justifica a defesa dos povos indígenas invocando os direitos humanos. Este é o argumento que legitima a reivindicação dos direitos negados. Isso indica como a questão do universal e da diversidade transformou-se ao longo do século 20. Por isso, um dos capítulos do livro refere-se ao relativismo cultural. Este tipo de proposta teórica encerra, justamente, esta tensão entre o particular e o universal que procuro trabalhar nos ensaios. JU - Não é estranho que a globalização traga uma valorização da diversidade, e não seu oposto, um acirramento dos conflitos? Um choque violento, digamos, entre civilização norte-americana e civilização chinesa? Renato Ortiz - Não existe uma civilização chinesa, tampouco uma civilização norte-americana. O que se tem é a realização da modernidade na China e nos Estados Unidos. Postular a ideia de uma civilização autóctone é postular a existência de um mundo independente, como se cada unidade possuísse uma centralidade própria, independente das outras. Cada país tem uma história específica, isso marca a sua especificidade, mas a modernidade-mundo é algo que os atravessa a todos. JU - Então a diversidade é apenas uma faceta da universalização do capitalismo? Renato Ortiz - Não creio, a ideia de universalização também é polissêmica, e depende do que você quer dizer com universal (há no livro todo um capítulo sobre a polissemia das palavras). Para os filósofos iluministas, ele era sinônimo do ser humano, ou seja, todos os homens; para os sociólogos que estudaram as religiões, identificava-se apenas a algumas delas: cristianismo, islamismo, judaísmo, etc. Na situação de globalização a polissemia dos termos, universal e diversidade, evidencia que eles são redefinidos dentro de um outro contexto.

O professor Renato Ortiz, autor do livro “Universalismo e Diversidade”: “Postular a ideia de uma civilização autóctone é postular a existência de um mundo independente, como se cada unidade possuísse uma centralidade própria, independente das outras”

JU - A redefinição não é, então, instável? Renato Ortiz - Isso não é instabilidade. São redefinições. Deveríamos nos perguntar: o que estamos dizendo com universalismo ou diversidade quando consideramos o mundo dentro desses parâmetros. A crítica ao eurocentrismo é uma forma de evitarmos considerar como “universal” uma narrativa que, na verdade, foi criada a partir de uma província do mundo, a Europa ocidental. Mas devemos também ser críticos, ou seja, reflexivos, em relação à nossa contemporaneidade, e distinguir diversidade de pluralismo ou de desigualdade. JU - A promoção da diversidade, às vezes, é criticada como uma tentativa de transformar o mundo num “zoológico humano” para turistas europeus... Renato Ortiz - Existe certamente uma “indústria da diversidade” explorada em escala global, muitas vezes ela recupera a velha ideia de exotismo do século 19. Mas esta é apenas uma das faces do problema. Pois existe também o lado dos direitos culturais, que trabalha a noção de diversidade dentro de outra perspectiva. JU - E também há a ideia de que o discurso do valor da diversidade protege tiranos, que o reivindicam para oprimir seus próprios povos. Renato Ortiz - Isso também é possível. Em alguns países asiáticos existe, inclusive, o argumento de que a democracia seria um conceito alheio à “diversidade cultural” autóctone. O exemplo confirma minhas suspeitas em relação à problemática. A polissemia do termo permite que ele seja utilizado em situações as mais diversas e contraditórias. Na verdade, o uso da ideia de diversidade encontra-se vinculado à valorização das identidades, particularmente a identidade nacional. Esta é a forma de se situar num mundo comum, partilhado por todos. JU - A valorização da identidade é uma compensação para a perda do poder nacional, num mundo globalizado?

Renato Ortiz - Não creio. Veja o caso da construção da identidade nacional. Ela se fazia, sobretudo, dentro das fronteiras de uma determinada nação. Por exemplo, o Brasil. Havia diversas maneiras de defini-la: um país mestiço (Gilberto Freyre), um país triste (Paulo Prado), um país “alienado” (intelectuais do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o Iseb). Apesar dessas diferenças, elas partilhavam um terreno comum: postulava-se a existência de um único Brasil, de uma cultura específica, enfim, de um território no qual seria possível, no seu interior, e apenas no seu interior, definir o que seria “o” brasileiro. No mundo atual, isso torna-se inviável. O “território” nacional não pode mais ser pensado como uma unidade independente de sua posição no espaço da modernidade-mundo. A formulação da identidade nacional, para ser convincente, deve ser redefinida (o que significa, ela não desaparece) levando-se em consideração o novo contexto. Outro exemplo, que seria o inverso de sua pergunta: o mercado. Para vender seus produtos em escala global, os administradores de empresas e os homens de marketing introduzem em suas práticas mercadológicas o tema da diversidade. O mercado é global, mas não é homogêneo; existem segmentos de mercado. Neste caso valoriza-se a diversidade para se “ganhar poder”, isto é, agregar aos produtos comercializados um valor simbólico que os diferencie uns dos outros. JU - Se a diversidade é um valor, e assim os pontos de vista também se diversificam, de onde pode partir o olhar crítico? Renato Ortiz - Eu diria que a primeira coisa a ser feita é livrar-nos do senso comum. Ou seja, as explicações apressadamente avançadas em nosso cotidiano. Este é, sobretudo, o caso do discurso veiculado na mídia nacional e internacional. Ele repete os argumentos e nos dá a impressão de se constituir numa verdade. E acrescento: hoje existe um senso comum planetário. Tem-se, às vezes, a impressão que o mundo vai explodir; haveria tantas diferenças que não poderíamos mais contê-las. Penso que


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Campinas, 28 de setembro a 4 de outubro de 2015

crítico das dimensões da diversidade o contrário é mais verdadeiro: porque o mundo está conectado, discute-se mais a diversidade. Sublinho: “discute-se mais” e não “existe mais”. Consideremos o exemplo dos idiomas. Há cinco mil anos, existiam muito mais línguas do que hoje. Muitas delas desapareceram (as razões são inúmeras). Do ponto de vista linguístico, o mundo contemporâneo é menos “diversificado” do que o foi no passado. Entretanto, com o surgimento de um idioma central, o inglês, redefine-se a hierarquia das línguas na situação de globalização. Neste caso, a questão da diversidade torna-se relevante. Por outro lado, é um equívoco pensar que os problemas atuais decorrem da diversidade das culturas ou dos costumes. Isso é apenas uma maneira de ocultar a realidade dos conflitos: imigração, problemas ecológicos, guerras, desenvolvimento desigual, pobreza, fome, indústria bélica, etc. Veja, no passado, precisamente no século 19, dizia-se que os problemas do mundo é que falávamos muitas línguas. Um único idioma, “perfeito”, “universal”,

resolveria os problemas dos homens. Por isso foram inventadas as línguas artificiais como o esperanto ou o volapuque. Pregava-se assim o fim dos idiomas, à medida em que eles desaparecessem, e falássemos uma única língua, não mais haveria discórdia entre nós, todos se entenderiam. Claro, este tipo de diagnóstico é uma ilusão, mas ela foi confortavelmente alimentada entre nós durante mais de um século. Pergunto: alguém hoje em sã consciência defenderia tal perspectiva? JU - A diversidade traz, consigo, a questão da tolerância... Renato Ortiz - A questão da tolerância recoloca-se, sobretudo, no contexto da globalização, no qual as diferenças entre os países, os costumes, as crenças religiosas, os modos de vida, são colocadas lado a lado. É como se a diversidade espacial manifestasse-se de maneira sincrônica. Os ideais de equidade são, desta forma, desafiados. Eles deixam de ser uma afirmação abstrata (o que é importante) para serem testados na prática. Um exemplo: a

questão dos refugiados do Oriente Médio na Europa. Por um lado existe a afirmação da livre circulação dos indivíduos no interior da Comunidade Europeia; existe ainda toda uma tradição de asilo político aos refugiados. Entretanto, a outra face da moeda é mais sombria, a crise econômica que se arrasta desde 2008, o nacionalismo dos países do Leste Europeu, o ideário de direita que concebe o imigrante como um perigo para a “raça” branca. A questão da “diversidade” torna-se assim um tema controverso. Ela significa simultaneamente, “pluralismo” e “ameaça”. Creio que este tipo de situação estará cada vez mais presente em nossas vidas, de uma certa forma ela decorre das contradições de nossa contemporaneidade. A resposta deve, portanto, ser encontrada no nível da política: como enfrentarmos os novos desafios sem cairmos na tentação do autoritarismo e da discriminação. JU - Se o mundo globalizado, de certa forma, força a aceitação da diversidade, o que explica fenômenos de intolerância e

Carta aos Colegas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp Foto: Reprodução

RENATO ORTIZ

Morte aos comunistas da Unicamp”. A frase estava escrita na parede de entrada do prédio da direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. O lugar escolhido era estratégico, ao subir as escadas a mensagem podia ser vista no seu brilho ofuscante. Minha reação foi de espanto, permaneci imóvel diante do texto, nunca havia visto algo assim em minha vida universitária. No dia seguinte, ao chegar no Instituto, os dizeres tinham sido apagados. “Morte aos comunistas”. A segunda parte da frase é genérica não tem intenção de ser precisa. Dificilmente, após o colapso da União Soviética, ela poderia dirigir-se àqueles que se consideram “comunistas”. Não, o termo possui uma conotação polissêmica: “esquerda”, “canalha”, “safado”, “petista”, “corrupto”. A denominação deve ser suficientemente ampla para dar a impressão que a pessoa que escreve situa-se na condição fictícia de que é possível falar “contra todos”. Ela estaria indefesa, ameaçada pelas forças estranhas que a rodeiam. A primeira parte da sentença é, no entanto, clara, límpida, lembra a palavra de ordem do fascismo: morte. Não há nenhuma dubiedade no que é dito: os adversários devem ser aniquilados. Creio que foi precipitado apagar o grafite. Ele deveria, temporariamente, permanecer no muro, vestígio e testemunho da estupidez que nos cerca. Temos a ilusão que a universidade, um lugar de liberdade e debate, estaria ao abrigo dessas coisas. Engano. As fissuras sociais nos atingem diretamente. Existe atualmente na sociedade brasileira um clima explícito de cretinice, ela não se envergonha de si mesmo, orgulhosa, torna-se pública, revelando sua face distorcida. Pior, não se contenta em circunscrever-se aos espaços dos partidos ou dos movimentos políticos, invade o cotidiano, as conversas, amizades, relações de trabalho. A intolerância sente-se confortável, à vontade para se apresentar como um código moral duvidoso. “Morte”, “Comunista”. As palavras não nos machucam diretamente mas contém uma potencialidade inquietante, a passagem da intenção

polarização como os vistos na atual cena política brasileira, e que se manifestam, por exemplo, na recente pichação “morte aos comunistas da Unicamp” deixada na parede do Instituto? Renato Ortiz - Creio que no caso brasileiro (no momento atual) o tema da intolerância vincula-se diretamente à polarização política. Há uma disputa em termos político-partidária que se torna explícita na cena pública. É como se estivéssemos em estado eleitoral permanente. Dentro desta perspectiva, os excessos são, não apenas tolerados, mas incentivados. Trata-se de uma arma para enfraquecer e derrubar o adversário. O problema é que este “estado das coisas” não se restringe ao domínio da política, ele transborda suas fronteiras e começa a invadir nosso cotidiano (a grande mídia é em boa parte responsável disso). O discurso agressivo, naturalizado pela linguagem partidária, passa a ser válido em nossas relações pessoais. As acusações de ordem institucional (por exemplo: Lava-Jato) são transferidas para o plano social e cultural, legitimando uma série de atitudes violentas que não mais se envergonham de si mesmas. A divergência em relação a uma determinada interpretação das coisas transforma-se em suspeita de um mal maior. Todorov [Tzvetan Todorov, filósofo e cientista social franco-búlgaro] utiliza um termo sugestivo para se referir às crenças totalitárias: “a tentação do bem”. Ao pensá-la de maneira absoluta, em oposição ao “mal”, ela pode se impor pela persuasão ou pela força. “Morte aos comunistas” significa isso. Trata-se do embrião de uma cultura autoritária na qual a intolerância torna-se natureza, código de comportamento a ser exaltado pelo desprezo e destruição do outro. JU - Ressurge a necessidade de nos lembrarmos de nossa humanidade comum. Renato Ortiz - Não creio que o tema da humanidade, enquanto conceito filosófico e abstrato, seja assim tão central. Não importa tanto o que se define como comum, como pensavam os iluministas. Ou seja, sem tal definição o destino dos homens estaria comprometido. A realidade é que já “vivemos juntos”, “estamos todos no mesmo barco”, o problema é que se trata de um barco conflitivo; é a maneira de “estarmos juntos” que importa, ou seja, a política que iremos traçar no momento de enfrentamento das crises, conflitos e divergências. Não é o conceito de humanidade que está em crise, mas o de política.

Pichação no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp: para Ortiz, “no caso brasileiro, no momento atual, o tema da intolerância vincula-se diretamente à polarização política”

ao ato, da agressão verbal à violência física. Resta-nos a indignação, dizer não a esta deriva autoritária, expor sua arrogância e falsidade. A indignação é um sentimento de repulsa, retira-nos da passividade, recorda-nos

que o presente é frágil e as conquistas que conhecemos nada têm de perenes, permanentes. Renato Ortiz, 10 setembro de 2015

SERVIÇO Título: Universalismo e Diversidade Autor: Renato Ortiz Editora: Boitempo Páginas: 176 Preço: R$ 39,00


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Campinas, 28 de setembr

Unicamp define programação

Atividades serão realizadas ao longo de um ano e contemplarão os cam MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

Unicamp dará início nos próximos dias 30 de setembro e 5 de outubro a uma série de celebrações pelo seu cinquentenário, que será completado em 5 de outubro de 2016. A primeira atividade, que terá caráter de pré-abertura da programação, será a encenação da ópera Don Giovanni, de autoria de Wolfgang Amadeus Mozart, no Theatro Municipal de Paulínia. A peça, concebida como ópera-escola, contará com a participação da Orquestra Sinfônica da Universidade e de um coro formado por estudantes do curso de Música do Instituto de Artes (IA). A abertura oficial das comemorações pelos 50 anos da instituição, que se estenderão por 12 meses, ocorrerá no dia 5 de outubro. Após uma solenidade presidida pelo reitor José Tadeu Jorge, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), haverá a apresentação do espetáculo músico-teatral intitulado Concertato, que reunirá a Orquestra Sinfônica da Unicamp e os atores do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais (Lume). Em seguida, será inaugurada no salão de entrada do auditório uma exposição histórica que exibirá diversos documentos sobre a fundação e a trajetória da Universidade. Uma mostra mais ampla a ser inaugurada em março de 2015, em espaço da Biblioteca Central, será posteriormente levada a locais fora da instituição. De acordo com a professora Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, presidente da comissão responsável pela organização dos eventos comemorativos dos 50 anos da Unicamp, a exposição dará início, por sua vez, ao projeto Descobertas, coordenado pelo professor Jônatas Manzolli, cuja proposta é criar uma peça musical a partir das interações registradas entre os visitantes e os elementos da mostra. “Tivemos o cuidado de definir uma programação qualificada e abrangente que pudesse retratar a história da Universidade e, também, delinear o seu futuro. Outra preocupação foi propor atividades que pudessem estreitar ainda mais as relações da instituição com as comunidades interna e externa”, explica. Na entrevista que segue, a docente apresenta um painel sobre as ações que marcarão os 50 anos da Unicamp.

Foto: Divulgação

Jornal da Unicamp - Como serão comemorados os 50 anos da Unicamp? Ítala D’Ottaviano - Nós teremos um ano inteiro de atividades para marcar o cinquentenário. A abertura oficial da programação ocorrerá no dia 5 de outubro próximo, em uma solenidade presidida pelo reitor José Tadeu Jorge, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas. A atividade contará com a presença da comunidade universitária, de convidados e de personagens que ajudaram a construir a história da Universidade. Nesse dia, haverá a apresentação de um espetáculo músico-teatral intitulado Concertato, que reunirá a Orquestra Sinfônica da Unicamp. No mesmo dia, teremos a abertura de uma exposição de documentos históricos da Unicamp, que ficará no local por um determinado período e depois será levada, de forma ampliada, para a Biblioteca Central, para os outros campi e também para espaços fora da instituição. Essa mostra, diga-se, deflagrará um projeto multimídia coordenado pelo professor Jônatas Manzolli, denominado Descobertas. A proposta é que os visitantes interajam com os elementos da exposição, por meio de um processo que será memorizado por computadores. Toda essa memorização dará origem a uma peça musical, que será lançada em um evento marcado para junho de 2016. JU - Há um evento agendado para uma data anterior à da cerimônia oficial de abertura das comemorações, não? Ítala D’Ottaviano - Sim, temos um evento que fará a pré-abertura da programação. Trata-se da primeira ópera produzida pela Unicamp. A peça escolhida é a Don Giovanni, de Mozart, uma das mais importantes do gênero. Esta ópera-escola, como é classificada, reunirá a Orquestra Sinfônica da Unicamp e atores do Lume. Ela será apresentada nos dias 30 de setembro e 1º de outubro no Theatro Municipal de Paulínia, com entrada franca. Após a pré-abertura e a abertura oficial das celebrações, haverá o lançamento, em 7 de outubro, dia internacional do cinema, do filme-escola O Crime da Cabra, que também foi

Apresentações da Orquestra Sinfônica da Unicamp, do Lume e do coral Zíper na Boca, entre outras atrações, integram a programação do cinquentenário da Universidade


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ro a 4 de outubro de 2015

o para comemorar seus 50 anos

mpos científico, acadêmico, cultural e artístico Fotos: Antonio Scarpinetti

A professora Ítala D’Ottaviano, presidente da comissão responsável pela organização dos eventos comemorativos: “Tivemos o cuidado de definir uma programação qualificada e abrangente que pudesse retratar a história da Universidade e, também, delinear o seu futuro”

produzido pela Universidade. Esse lançamento ocorrerá no Cinemark do Shopping Iguatemi. O filme foi dirigido pela professora Ariane Porto, do Instituto de Artes, e contou com a participação especial dos atores Lima Duarte, Arlete Salles e Laura Cardoso e também do chef de cozinha Claude Troisgos. JU - A Unicamp também lançará uma série de 50 livros para comemorar seus 50 anos. Que obras são essas? Ítala D’Ottaviano - Sim, será uma série especial batizada de Unicamp Ano 50, produzida pela Editora da Unicamp. Na cerimônia de abertura, no dia 5 de outubro, serão lançados cinco desses 50 títulos. Os demais serão lançados ao longo do ano comemorativo. Nessa série, a ênfase é para livros que tenham relação com a história da Universidade. Um deles, por exemplo, conta a trajetória do Departamento de Enfermagem, que recentemente foi elevado à condição de faculdade. Outro título conta a história da Química no Brasil. Este foi escrito ao longo de muitos anos pelo professor Carlos Alberto Filgueiras, da Universidade Federal de Minas Gerais, que é membro do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp. Também lançaremos um volume especial sobre a história da Unicamp. A série abrangerá temas distribuídos por todas as áreas do conhecimento. JU - Além da ópera e do filme produzidos pela Unicamp, que outras atividades artísticas e culturais marcarão as comemorações do cinquentenário? Ítala D’Ottaviano - Nós promoveremos durante o ano comemorativo uma série de 30 concertos especiais da Orquestra Sinfônica da Unicamp. E o mesmo número de apresentações do coral Zíper na Boca, que completará 30 anos em outubro próximo. Os espetáculos ocorrerão tanto na Unicamp quanto em espaços externos à Universidade. Teremos apresentações em Piracicaba, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, e em Limeira, cujas negociações estão em andamento. Durante o período de comemoração pelos 50 anos, desenvolveremos o Projeto Transmídia Maestro Carlos Gomes, para homenagear o compositor campineiro. O projeto é composto por uma ópera inédita sobre a vida de Carlos Gomes, um longa-metragem para cinema e uma minissérie televisiva. JU - Quais eventos serão realizados nos campos científico e acadêmico?

Ítala D’Ottaviano - Teremos dois eventos nesse sentido, ambos muito importantes. O primeiro deles, batizado de Colóquios Unicamp Ano 50 – de professor para professor, será composto por nove conferências, a serem realizadas ao longo do ano. Estas serão ministradas, aos sábados, no Centro de Convenções, por docentes da Unicamp de reconhecido destaque em suas áreas de atuação. As conferências serão destinadas a professores do ensino fundamental e médio das redes públicas de ensino de Campinas, Limeira e Piracicaba. Serão abordados temas relevantes da filosofia, arte, cultura, educação, saúde etc. A conferência de abertura será feita pelo reitor José Tadeu Jorge, no dia 24 de outubro, que falará sobre Universidade e Ensino. Os interessados em participar deverão fazer inscrição por meio do nosso site [www.50anos.unicamp.br]. O outro evento é chamado Perspectivas Unicamp 50 anosDa Universidade para a Sociedade. A proposta, nesse caso, é lançar o olhar para o futuro, o futuro da Unicamp inclusive. A iniciativa será voltada à comunidade acadêmica em geral. Serão 11 eventos, constituídos por 19 mesas-redondas. Especialistas da Unicamp e de universidades brasileiras e estrangeiras discutirão temas relacionados à geopolítica, habitação, mobilidade urbana, economia brasileira e internacional, educação, inovação tecnológica, arte, ciência e cultura. O primeiro evento correrá dia 8 de outubro, no Centro de Convenções. Queremos mostrar, com este projeto, que a Unicamp pretende manter o protagonismo nas discussões e propostas sobre assuntos relevantes para a sociedade. JU - Que outras iniciativas merecem destaque? Ítala D’Ottaviano - Bem, temos várias outras iniciativas importantes. Os Correios, por exemplo, lançarão um selo comemorativo pelos 50 anos da Universidade. Também teremos eventos que estão sendo organizados diretamente pelas unidades de ensino e pesquisa, centros, núcleos e órgãos da Universidade. Estas serão incorporadas à programação oficial dos 50 anos e serão divulgadas no site. De toda forma, eu destaco algumas das ações já definidas. Uma delas é a Feira Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorrerá em outubro na Unicamp, conjuntamente com a Feira Municipal de Ciência e Tecnologia, organizada pela Prefeitura. Em 2016, a Universidade realizará uma Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação própria, que contará com a participação das unidades de ensino e pesquisa, centros e núcleos interdisciplinares de pesquisa.

Também em outubro próximo teremos na Unicamp a reunião dos pró-reitores de extensão das universidades que compõem o Grupo Montevideo, organizada pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários [Preac]. Outro destaque é para o Simpósio de Profissionais da Unicamp [Simtec], que ocorrerá em setembro de 2016. Trata-se de um evento organizado pelos funcionários da Universidade, integrantes das diversas carreiras, com o intuito de proporcionar aos profissionais da instituição a oportunidade de divulgarem suas experiências, bem como seus potenciais. Haverá uma série de premiações, homenagens e títulos a serem outorgados pela Universidade. JU - Algo no campo da internacionalização? Ítala D’Ottaviano - Claro, essa é uma área de extrema importância para a Unicamp. Fomos procurados pelas universidades de Brunel e Bath, ambas do Reino Unido, que estão juntamente com a Unicamp na relação das melhores escolas superiores do mundo com menos de 50 anos. Vamos promover eventos em conjunto com cada uma delas, tanto aqui quanto na Inglaterra. Isso deverá ocorrer em novembro próximo e no início de 2016. Além disso, existe a possibilidade de promovermos um evento maior, reunindo as oito universidades com menos de 50 anos que completarão igualmente o cinquentenário em 2016. A ideia é que isso ocorra aqui na Unicamp em 2016. O objetivo é aprofundar a cooperação entre as instituições e discutir estratégias para que elas avancem em seus projetos ao longo dos próximos 50 anos. JU - Já está definido que evento encerrará o ano de comemorações? Ítala D’Ottaviano - Estamos definindo. Esse evento será realizado no dia 5 de outubro de 2016, data em que a Unicamp completa 50 anos. Haverá uma sessão solene do Conselho Universitário, seguida de uma atividade acadêmica e de uma atividade artística. Os detalhes serão acertados nas próximas semanas. É importante destacar que a Universidade está obtendo patrocínios para a realização dos eventos que marcarão o seu cinquentenário.

Confira a programação e saiba mais sobre as celebrações e a história da Unicamp no endereço: www.50anos.unicamp.br


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Campinas, 28 de setembro a 4 de outubro de 2015

Pesquisa da FCM é premiada Foto: Edmilson Montalti

Estudo avaliou possível interação de genes em transplantes de células em pacientes com doenças hematológicas EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU

pesquisa “Influência da ausência dos ligantes HLA para os receptores KIR na incidência de DECH agudo no TCPH alogênico, HLA compatível, aparentado e sem depleção de linfócitos T.”, da bióloga e pós-doutoranda da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp Daniela Maira Cardozo, ganhou o prêmio “Ricardo Pasquini” de melhor trabalho concedido a jovens pesquisadores pela Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO). O prêmio foi entregue durante o Congresso da entidade, ocorrido no final de agosto, em Foz do Iguaçu. A orientação da pesquisa foi do médico Carmino Antônio de Souza e teve apoio da Fapesp. No caso do transplante alogênico, existe a possibilidade de as células do doador (o enxerto) reagirem contra o organismo do paciente (o hospedeiro), mesmo que o doador seja um irmão ou irmã. Esta reação é conhecida como doença enxerto contra hospedeiro (DECH), que pode se manifestar de forma aguda ou crônica. A forma aguda costuma acorrer nos primeiros sessenta dias e pode comprometer a pele, fígado ou trato gastrointestinal. O objetivo do estudo foi avaliar a possível interação dos genes KIR e HLA no curso clínico do transplante de células progenitoras hematopoiéticas, HLA compatível, aparentado e sem depleção de linfócitos T, em pacientes com doenças hematológicas. O estudo prospectivo foi realizado no Hemocentro da Unicamp, com 50 pacientes, de 2008 a 2014.

Os doadores de medula óssea também foram incluídos na pesquisa e acompanhados durante o período. “Embora seja aceito que a interação KIRHLA possa ter influência no resultado dos transplantes haploidênticos, não há consenso sobre essa influência nos transplantes HLA compatíveis. Existem estudos que relatam benefícios, enquanto outros demonstram que a interação KIR-HLA não influencia no resultado do transplante”, explica Daniela. Os genes KIR e HLA de classe I foram genotipados pela reação em cadeia da polimerase, com o protocolo de sequência específica de oligonucleotídeos (PCR-SSO) utilizando o kit de genotipagem comercial KIR e HLA. Os pacientes foram agrupados baseado na presença dos ligantes HLA Bw4 e/ou Cw, combinados com o genótipo KIR dos respectivos doadores. Segundo o biólogo Fernando Guimarães, a etapa mais difícil da pesquisa foi obter amostras e informações dos pacientes. “É o ponto mais sensível em estudos com seguimento de longo prazo, porque depende de uma boa coordenação entre a equipe clínica e a de pesquisa”, explicou o pesquisador que desenvolveu seu pós-doutorado em tratamento de neoplasias hematológicas no Instituto Karolinska, em Estocolmo, Suécia. Quatro possíveis combinações dos ligantes HLA para os KIR inibitórios foram consideradas no estudo: Cw heterozigoto (C1C2) com Bw4 (presença de três ligantes); Cw heterozigoto (C1C2) sem Bw4 (presença de dois ligantes); Cw homozigoto (C1C1 ou C2C2) com Bw4 (presença de dois ligantes); e Cw homozigoto (C1C1 ou C2C2) sem Bw4 (presença de um ligante).

Daniela Maira Cardozo, Fernando Guimarães e Rodrigo Fernandes da Silva: realizado no Hemocentro, estudo prospectivo foi feito com 50 pacientes, de 2008 a 2014

De acordo com a pesquisa, pacientes com todos os ligantes HLA para os receptores KIR presentes tiveram incidência acumulativa mais alta para doença de enxerto contra hospedeiro (DECH) agudo, quando comparados com pacientes com um ou mais ligantes para KIR ausentes. A sobrevida global dos pacientes com doenças mieloides foi maior no grupo com um ou mais ligantes HLA para KIR ausentes, quando comparados com grupo com todos os ligantes para KIR presentes. “Os resultados revelam uma associação entre a ausência de ligantes HLA para os receptores inibitórios KIR e a incidência de DECH agudo. Sustentam, ainda, o benefício da ausência do ligante para KIR no resultado do transplante em pacientes com doenças mieloides”, diz Daniela.

Pesquisa: “Influência da ausência dos ligantes HLA para os receptores KIR na incidência de DECH agudo no TCPH alogênico, HLA compatível, aparentado e sem depleção de linfócitos T.” Autores: Daniela Maira Cardozo, Amanda Vansan Marangon, Rodrigo Fernandes da Silva, Francisco José Aranha, Carmino Antônio de Souza, Fernando Guimarães Orientador: Carmino Antônio de Souza Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Apoio: Fapesp

Cotuca expõe projetos inovadores Trabalhos foram desenvolvidos por alunos do ensino técnico de vários Estados Fotos: Antoninho Perri

Pôsteres e protótipos expostos no ginásio do Cotuca: participação de 1,2 mil estudantes

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

ma série de protótipos que indicam soluções para problemas simples, como o monitoramento do consumo de água residencial ou o reaproveitamento da água fria que sai do chuveiro com aquecimento a gás, ou mesmo na hora de encontrar uma vaga para estacionar o carro, ou levar literatura para o público jovem em objetos do cotidiano. As inovações ficaram espalhadas em apresentações de alunos de várias partes do Brasil no ginásio do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), que realizou na última quinta-feira, dia 24, a V Mostra de Trabalhos de Cursos Técnicos. Cerca de 1.200 estudantes de ensino médio e técnico de São Paulo (SP), Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ), Paraná (PR), Rio Grande do Sul (RS) e Bahia (BA) apresentaram mais de 500 projetos.

A mostra começou em 2008, com a apresentação de trabalhos internos, mas foi crescendo ano a ano e hoje é uma das poucas com esta dimensão no Estado de SP. “Nosso objetivo é contribuir para a melhoria do ensino técnico para que as escolas, professores e alunos tenham motivação para trabalhar com novos desafios ao longo do ano”, afirmou o diretor do Cotuca, Alan César Ikuo Yamamoto. A coordenadora científica do Cotuca, Cintia Kimie Aihara Nicoletti, salientou que os trabalhos apresentados na mostra “vêm ganhando corpo melhor, inclusive algumas formatações do curso já foram alteradas para contemplar uma maior integração das áreas de conhecimento, por exemplo”. No formato de um evento científico, os alunos participam com sessões orais, apresentações de protótipos e pôsteres. Os melhores trabalhos são avaliados e recebem certificados. “Buscamos aproximá-los da necessidade do conhecimento prévio, da metodologia científica e da necessidade da busca de informações teóricas para depois levar à prá-

tica”, complementa Cintia. De acordo com ela, os avaliadores são profissionais que estão inseridos no mercado seja no meio científico ou na indústria. “Nós formamos para o mercado”, complementou. Os alunos do Instituto Federal do Paraná lotaram um ônibus e viajaram a madrugada toda, desde Londrina, para participar da mostra em Campinas. Henrique Villasboa Pereira veio apresentar um sistema de monitoramento do gasto de água em residências, que por meio de um sensor, envia dados para um celular sinalizando o status do consumo. O professor Jefferson Sussumo de Aguiar acompanhava a equipe. “Participamos desde 2013. Lá em Londrina os alunos se preparam o ano inteiro para vir”. Do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, campus de Divinópolis, o aluno André Almeida Gonçalves mostrava seus protótipos: garrafinhas de água e um pufe com trechos da literatura de Paulo Leminski, Machado de Assis ou Ferreira Gullar. “Nossa ideia é produzir produtos

para divulgar literatura para o pessoal do ensino médio que tem pouco contato com os livros no cotidiano”.

DESAFIO

Durante a mostra também houve um desafio na área de metrologia patrocinado pela empresa Mahle. A competição foi uma das novidades desta edição e consistiu no desenvolvimento de um método de medição de espessura em parede de bronzinas, peças empregadas para reduzir o atrito e servir de apoio e guia para outras peças giratórias. O gerente de inovação da empresa, André Ferrarese, afirmou que foi a primeira vez que propuseram um desafio de inovação para a escola técnica. “O desafio termina com três propostas de projetos, e todos mostraram um olhar diferenciado daquilo que a gente já tinha investigado. Mesmo aquele projeto menos detalhado traz um elemento novo que nos coloca para pensar”, salientou.


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Campinas, 28 de setembro a 4 de outubro de 2015

Extratos inibem oxidação de alimentos, demonstra estudo Fotos: Antonio Scarpinetti

Quatro compostos naturais retardam degradação de produtos cárneos ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

s extratos de uva, de chá verde, de mate e de alecrim mostraram um importante desempenho antioxidante em alimentos como hambúrguer bovino, suíno, de frango e naqueles produzidos com 100% de carne de frango mecanicamente separada. Até 60 dias, esses extratos conseguiram inibir mais de 80% da oxidação lipídica, reação que diminui o tempo de vida e o valor nutritivo dos produtos, podendo gerar compostos nocivos à saúde. Foi o que sinalizou estudo de mestrado de Camila de Souza Paglarini realizado na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). A pesquisadora estudou esses quatro extratos comerciais por ser uma tendência atual a reformulação de produtos cárneos com a adição de compostos naturais, pela sua capacidade antioxidante – a qual retarda a degradação do alimento. Ela também avaliou esses extratos porque as indústrias de ingredientes e aditivos já têm disponíveis diversos deles, que podem ser adicionados aos produtos cárneos. Seu objetivo foi testar a eficiência dos extratos disponíveis no mercado. Conforme Camila, as aplicações dos extratos podem ser muitas e, na indústria, há diferentes categorias de produtos cárneos. “No nosso caso, fizemos uma introdução inovadora porque ainda não há uma regulamentação quanto ao uso desses produtos. Entretanto, como são ingredientes naturais, a indústria pode pleiteá-los junto ao Ministério da Saúde para elaborar seus registros.” A expectativa de Camila, que é engenheira de alimentos, é trazer para os órgãos legislativos brasileiros a possibilidade de elaborar produtos cárneos mais saudáveis e de estar regulamentando o uso dos extratos. “Serão necessários mais estudos sensoriais, mas estamos mostrando aqui que é possível adotá-los”, constata. O projeto da mestranda iniciou com o emprego de extratos naturais como antioxidantes em diferentes produtos cárneos. A atividade foi realizada entre 2013 e 2014 no Laboratório de Carnes e Derivados da FEA. O motivo? É que as reações da oxidação lipídica, além de reduzir a qualidade desses produtos, torna-os ranços, com perda de sabor e alteração de cor, o que contribui para a redução da sua vida de prateleira. O uso de aditivos sintéticos hoje não é mais desejado pelo consumidor e nem pela indústria, que almeja colocar em seus produtos apelos mais favoráveis, diminuindo a vilania que repousa sobre os produtos cárneos. Os extratos avaliados nesse estudo mostraram que podem colaborar para reduzir o uso dos aditivos sintéticos, no caso os antioxidantes. “O hambúrguer foi o alimento escolhido para ser investigado, por ser um veí-

Algumas das amostras usadas nos experimentos: pesquisadora testou compostos de uva, chá verde, mate e alecrim

culo capaz de empregar ingredientes naturais que possuem potencial antioxidante e por ser amplamente consumido e aceito pela população, principalmente nas cadeias de fast-food”, relata Marise Aparecida Rodrigues Pollonio, professora da FEA e orientadora do trabalho.

HAMBÚRGUER

Na fase de testes, os hambúrgueres foram processados, como ocorre comumente no setor industrial. “Trabalhamos também com um produto muito interessante que ainda não é tão disponível no mercado, porém que tende a crescer – o hambúrguer pré-cozido”, conta a docente. Esse produto já vem pronto, embalado, congelado e pode conter em sua formulação até 30% de carne de frango mecanicamente separada, uma matéria-prima extremamente suscetível à oxidação lipídica. Ainda que ela aumente o valor agregado, produz muita instabilidade com relação à qualidade. Marise comenta que essa oxidação envolve um conjunto de reações químicas catalisadas por oxigênio, luz, calor, presença de metais e componentes da própria formulação. E tem como veículo os ácidos graxos poli-insaturados, presentes na matéria-prima cárnea. A carne para fazer esses produtos contém proteína, gordura e umidade como componentes mais destacados. Essa gordura, que a compõe naturalmente, colabora para aumentar a tendência à oxidação lipídica. “Quando aquecemos um produto e o consumimos imediatamente, ele tem o sabor desejado. Se consumimos esse produto horas depois, o sabor fica alterado provavelmente por causa da oxidação. Esses produtos são congelados após o processamento, pré-cozidos ou aparecem na forma de produtos frescais”, descreve a professora. Só que, durante o congelamento, as reações não param. Então é possível que o consumidor faça a compra do produto e vá elaborar seu hambúrguer quase próximo do prazo final de validade. Até lá, esse produto já poderá ter ficado rançoso, alterado e com menor suculência. “Isso é oxidação lipídica. Essa reação precisa ser inibida ou reduzida”, alerta Marise. Embora as reações de oxidação sejam muito comuns em vários sistemas metabólicos, elas também podem interferir prejudicando a saúde humana. Alguns desses intermediários da oxidação lipídica são compostos tóxicos que podem criar ligações cruzadas com as proteínas. Esse fenômeno é menos grave do que a perda sensorial desse produto. “Mas, ao reduzir ou inibir a oxidação lipídica nos produtos cárneos, também temos como efeito a melhora do produto em relação à saúde”, observa a orientadora.

EXTRATOS

A professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio, orientadora do trabalho: vida de prateleira maior

De acordo com Camila, em geral as pessoas procuram adquirir produtos cárneos para um consumo mais rápido, na era do fast-food. A sua matéria-prima é a carne, mas tais produtos contêm ingredientes como os aditivos, que podem melhorar a sua vida de prateleira e a sua qualidade sensorial bem como nutricional. “Dentre os produtos cárneos, vários já vêm prontos e são de rápido consumo, como a salsicha e a mortadela, amplamente consumidas pela população mundial. Elas tanto têm uma conservação quanto uma vida de prateleira longa e maior, não precisando ser conservadas congeladas”, garante Camila. Isso se deve à formulação e a vários aditivos utilizados. No caso do hambúrguer, na rotulagem, a indústria aponta quatro meses de conservação em freezer (-12ºC). Contudo, a conservação doméstica em congelador vai até dois meses de vida de prateleira, por ter uma temperatura menor: no máximo -10ºC.

A pesquisadora Camila de Souza Paglarini, autora da dissertação: em busca de produtos cárneos mais saudáveis

Nas pesquisas, carne processada e in natura O Laboratório de Carnes e Derivados da FEA tem duas linhas de pesquisa principais. A linha pela qual Marise Pollonio é responsável trata do processamento de produtos cárneos de modo geral e, de modo específico, a reformulação de produtos cárneos. Conforme a docente, atualmente os produtos cárneos sofrem uma grande pressão de diferentes órgãos, seja da saúde, dos próprios consumidores, da mídia, por serem ricos em gordura e apresentarem alto teor de sal. Desta forma, a carne vem sendo associada, via de regra, à ocorrência de algumas doenças crônicas.

A mortadela, por exemplo, pode ter um tempo um pouco maior porque contém antioxidantes e conservantes como o nitrito e o ascorbato, que estendem um pouco mais a sua vida útil. Já, em se tratando do hambúrguer congelado, não é permitido adicionar esses compostos. É o caso também dos empanados e dos nuggets. Eles também não devem ser conservados por prazo superior a 60 dias. Poderiam até ter uma vida de prateleira maior, não fosse a alteração do sabor. Não existe um histórico anterior do desempenho dos compostos comerciais. “Essa talvez seja a maior contribuição do trabalho de Camila – o uso dos extratos naturais comerciais. Outros estudos mais comumente realizados baseiam-se na obtenção das matérias-primas naturais e extração em laboratório”, expõe a professora. “Ocorre que, do ponto de vista industrial, isso é muito complicado. Muitas empresas oferecem seus extratos com o apelo de ser antioxidantes, mas será que são mesmo? Qual seria o desempenho desses extratos comerciais?”, indaga Camila. “Por isso testamos diferentes extratos”, responde. Numa primeira etapa, foram testados mais de dez extratos. A mestranda optou pelos que apresentaram maior potencial antioxidante. “Encontramos resultados muito positivos contra a oxidação lipídica, estendendo a vida de prateleira, com menos ‘problemas’ em relação à qualidade”, diz a pesquisadora.

Reformular os produtos cárneos para tornálos mais saudáveis, entendendo os fenômenos e conseguindo explicar isso para o consumidor, faz parte da estratégia dessa linha de pesquisa, que consiste em melhorar a estrutura desses produtos cárneos sem que eles percam a sua identidade e qualidade. Outra linha desse laboratório envolve a qualidade da carne. Ela trabalha com diferentes espécies de carnes in natura, principalmente a bovina. Essa linha discute por exemplo maciez, textura, cor e sabor de alimentos, e a influência das condições de abate.

Esses extratos substituem os aditivos sintéticos, que possuem diversas limitações. A tendência ao uso dos antioxidantes de ingredientes naturais é muito forte mundialmente e é ditada pela Europa, país onde fazem isso de uma maneira competente em uma série de produtos. Uma dona de casa vai servir para os seus filhos um lanche. O hambúrguer é uma matriz. As mesmas aplicações encontradas para ele podem ser recomendadas para os empanados, para os reestruturados e para as almôndegas. “Esses produtos, pelo pré-cozimento, aumentam muito a estabilidade à oxidação lipídica. Agregando-se um extrato natural, eles elevam a vida de prateleira desse produto, melhorando sua imagem diante dos consumidores”, revela Marise.

Publicação Dissertação: “Utilização de extratos comerciais derivados de plantas em produtos cárneos: avaliação da atividade antioxidante” Autora: Camila de Souza Paglarini Orientadora: Marise Aparecida Rodrigues Pollonio Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)


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Campinas, 28 de setembro a 4 de outubro de 2015

Painel da semana  Mass of the Children - A obra “Mass of the Children”, de John Rutter, será executada pela primeira vez no Brasil, pela Orquestra Comunitária da Unicamp com a participação dos corais Jovem e Infanto-juvenil Canarinhos da Terra da Unicamp, pelo Canarinhos da Terra do Núcleo Jundiaí, e pelo Madrigal Vivace. A regência geral será de Vastí Atique. As apresentações ocorrem nos dias 28 de setembro, em missa para as crianças, às 20h30, na Igreja do Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora; e no dia 4 de outubro, às 11h30, no Domingo no Lago, evento organizado pelo Espaço Cultural Casa do Lago. A Casa do Lago fica à rua Érico Veríssimo 1011, no Campus da Unicamp. O Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora está localizado na rua Baronesa Geraldo de Resende 330, no bairro do Guanabara, em Campinas-SP. Entrada franca. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-7017 ou e-mail canarinhos@hotmail.com  Deleuze e máquinas e devires e ... - O Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho) da Faculdade de Educação (FE) organiza, entre 28 e 30 de setembro, no Centro de Convenções da Unicamp, o VI Seminário Conexões “Deleuze e Máquinas e Devires e ...”. A abertura do evento será às 9 horas. Inscrições, programação e outras informações no link http://seminarioconexoes.wix.com/ conexoes, e-mail acamorim@unicamp.br ou telefone 19-3521-5647.

 Homenagem aos secretários - No dia 30 de setembro, às 8h30, no auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) organiza evento para homenagear os funcionários que exercem atividades secretariais e administrativas na Universidade. Mais informações pelo telefone 193521-4903 ou e-mail crist@reitoria.unicamp.br  Unicamp 50 anos - Para marcar a pré-abertura dos 50 anos da Universidade Estadual de Campinas, a Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU) e a Ópera Estúdio apresentam a emblemática ópera “Don Giovanni”, de W. A. Mozart (1756/1791), no Theatro Municipal de Paulínia, nos dias 30 de setembro e 1º de outubro. A entrada é gratuita. A montagem tem direção musical e regência do maestro Abel Rocha, titular da Orquestra Sinfônica de Santo André; direção cênica de Matteo Bonfitto, professor do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, e coordenação de Angelo Fernandes, diretor do Ópera Estúdio. Leia mais: http://www.unicamp. br/unicamp/eventos/2015/09/14/opera-don-giovanni-de-mozart-marca-pre-estreia-dos-50-anos-da-unicamp  Planejamento avançado na agricultura - Evento marcado para ocorrer no dia 30 de setembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, tratará do tema “Sistemas de planejamento avançado na agricultura: avanços e desafios no setor sucroenergético”. O Fórum está sob a responsabilidade do professor Luiz Henrique Antunes Rodrigues. Mais detalhes na página eletrônica http:// www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno78.html, telefone 19- 3521-4759 ou e-mail sonia. mazzariol@reitoria.unicamp.br  Cidade: modos de fazer, modos de usar - No dia 30 de setembro, às 18 horas, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA), a professora Janaina Pamplona da Costa (IG-Unicamp), organiza a palestra ‘Cidade: modos de fazer, modos de usar’. A atividade faz parte da disciplina Planejamento Territorial do Curso de Geografia da Unicamp e é aberta ao público em geral. Mais detalhes sobre o evento podem ser obtidos pelo telefone 19-3521-4561 ou no e-mail jpamplona@ige.unicamp.br

Eventos futuros  As ilustrações geocientíficas no ensino secundário - No dia 6 de outubro, às 14 horas, na sala EB-16 do prédio da Engenharia Básica, o professor Edson Roberto de Souza (IG-Unicamp) profere a palestra “As ilustrações geocientíficas no ensino secundário: representações da dinâmica interna da Terra”. Trata-se da primeira tese defendida na Unicamp em regime de co-tutela. O diploma de Souza será expedido pela Unicamp e também pela Universidad de Girona, na Espanha. Mais detalhes: cedrec@ige.unicamp.br  Festa do livro - De 7 a 8 de outubro, das 10 às 21 horas, acontece a 23a Festa do Livro da Editora da Unicamp, no pátio do Ciclo Básico 2, Campus Unicamp. Como já vem sendo feito desde 2002, a Editora da Unicamp oferece duas vezes por ano a oportunidade para

Destaque

que alunos, docentes e funcionários da Universidade, bem como o público em geral, possam adquirir livros a preços diferenciados. O objetivo é estimular a leitura e a formação de bibliotecas pessoais. O evento trará mais de 480 títulos com descontos de 50% e 70%. Mais informações pelos telefones 19-3521-7728 / 3521-7786 ou email vendas@editora.unicamp.br  Dez anos do Unicamp Ventures - O Grupo Unicamp Ventures apresenta um balanço de seus dez anos de existência no dia 7 de outubro, às 14 horas, no auditório 5 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O objetivo do Grupo é consolidar e ampliar a rede de empreendedores oriundos da Universidade. O encontro é apoiado pela Agência de Inovação Inova Unicamp. Mas informações pelo telefone 19-3521-2623 ou e-mail carolina.octaviano@inova. unicamp.br  Jogos olímpicos em debate - No dia 8 de outubro será realizado o Fórum Permanente de Sociedade e Desenvolvimento com o tema “Jogos Olímpicos em debate: um olhar das Ciências Humanas”. Os temas propostos envolvem o debate em torno dos impactos dos megaeventos para a sociedade, das instituições esportivas, dos atletas e de outras manifestações para além dos Jogos Olímpicos, tais como os Jogos Olímpicos dos trabalhadores, Jogos Mundiais Militares e Jogos Olímpicos Gays. O evento ocorrerá no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), das 9 às 17 horas. Mais informações pelo telefone 19-3521-4759. A programação completa está no site http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/soc_e_desenv10.html  Congresso de Extensão da AUGM - A Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PREAC) da Unicamp e a Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM) realizam, de 9 a 12 de outubro, o 2º Congresso de Extensão da AUGM com o tema “A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. A abertura do evento ocorre no dia 9, às 19 horas, no Centro de Convenções. O Congresso contará com a participação de universidades do Brasil, da Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. Serão quatro dias de palestras, debates, mesas-redondas e diversas atividades culturais a serem desenvolvidas no Centro de Convenções e no Ciclo Básico II. Confira o programa completo no link http://www. preac.unicamp.br/augm/. Mais informações podem ser obtidas mediante contato com os telefones 19-3521-4741/ 3521-4751 ou e-mail augm@reitoria.unicamp.br

Teses da semana  Ciências Médicas - “Complacência arterial central em idosos após diferentes sessões de exercício de força muscular” (mestrado). Candidata: Amanda Veiga Sardeli. Orientadora: professora Mara Patrícia Traina Chacon Mikahil. Dia 29 de setembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da FCM. “Reconstrução neurovascular com Stents diversores de fluxo no tratamento de aneurismas e dissecções” (mestrado). Candidato:

Leonardo Abdala Giacomini. Orientador: professor Helder Tedeschi. Dia 2 de outubro de 2015, às 14 horas, no anfiteatro de neurologia da FCM.  Computação - “O problema da ordenação de permutações por reversões e transposições” (mestrado). Candidato: Andre Rodrigues Oliveira. Orientador: professor Zanoni Dias. Dia 2 de outubro de 2015, às 9 horas, no auditório do IC.  Educação - “Professores interinos, extranumerários, temporários: relações de trabalho flexíveis nas escolas estaduais paulistas (1930-2015)” (mestrado). Candidata: Gislaine dos Santos Pereira. Orientadora: professora Aparecida Neri de Souza. Dia 28 de setembro de 2015, às 9 horas, na FE.  Engenharia de Alimentos - “Aspergillus Section Nigri em Bulbos de Cebola - ocorrência, identificação e produção de fumonisina B² e ocrotoxina A” (mestrado). Candidata: Rachel Bertodo. Orientador: professor Anderson de Souza Sant’Ana. Dia 29 de setembro de 2015, às 14 horas, no auditório do Departamento de Ciências de Alimentos da FEA.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Rigidez de grafos e aplicações” (mestrado). Candidata: Ana Flávia da Cunha Lima. Orientador: professor Carlile Campos Lavor. Dia 28 de setembro de 2015, às 8 horas, na sala 226 do Imecc. “Modelo de otimização por fluxo de tempo de interrupção para o planejamento de alocações de chaves em sistemas de distribuição de energia elétrica” (mestrado profissional). Candidata: Gracielle Heleno da Silva Carvalho. Orientador: professor Celso Cavellucci. Dia 30 de setembro de 2015, às 9 horas, na sala 253 do Imecc. “Modelagem Fuzzy para a epidemiologia da doença de Chagas” (mestrado). Candidata: Anny Mirleni Almeida Silva. Orientador: professor Laecio Carvalho de Barros. Dia 30 de setembro de 2015, às 13h30, na sala 253 do Imecc. “Reformulação de um problema de programação não linear com restrições multiobjetivo” (doutorado). Candidata: Viviana Analia Ramirez. Orientador: professor Roberto Andreani. Dia 30 de setembro de 2015, às 14 horas, na sala 226 do Imecc. “Identidades polinomiais em álgebras de grupo e a Conjectura de Hartley” (mestrado). Candidato: Ramon Códamo Braga da Costa. Orientador: professor Lucio Centrone. Dia 30 de setembro de 2015, às 15 horas, na sala 221 do Imecc. “Análise de impacto ambiental de plantações transgênicas” (doutorado). Candidato: Rinaldo Vieira da Silva Júnior. Orientadora: professora Solange da Fonseca Rutz. Dia 1 de outubro de 2015, às 10 horas na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Estudo clínico do conteúdo infeccioso e inflamatório de dentes com insucesso do tratamento endodôntico” (doutorado). Candidato: Marlos Barbosa Ribeiro. Orientadora: professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes. Dia 28 de setembro de 2015, às 9 horas, na sala da Congregação da FOP.  Química - “Aluminofosfatos lamelares: formação de nanocompósitos com poliolefinas por polimerização in situ” (doutorado). Candidata: Aline Cristiane dos Ouros. Orientadora: professora Heloise de Oliveira Pastore. Dia 2 de outubro de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

do Portal

Vestibular tem 77.760 inscritos Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) recebeu um número recorde de inscrições para o Vestibular Unicamp 2016: 77.760 inscritos. É o sétimo ano consecutivo que a Unicamp registra crescimento do número de candidatos. Nos dois últimos processos (2014 e 2015), o Vestibular Unicamp teve 73.818 e 77.146 inscritos, respectivamente. O aumento em relação ao ano anterior é de 0,8%. No Vestibular Unicamp 2016, os candidatos disputarão 3.320 vagas distribuídas em 70 cursos de graduação da Unicamp. A relação de candidatos por vaga (c/v) praticamente se manteve: de 23,2 no vestibular passado para 23,4 nesta edição. A tabela completa está na página eletrônica da Comvest, assim como o total de inscritos por cidade de prova. Os locais de prova da primeira fase serão divulgados pela Comvest no dia 31 de outubro, também em sua página na internet. A primeira fase será realizada no dia 22 de novembro e a segunda fase acontecerá nos dias 17, 18 e 19 de janeiro de 2016. Antes da primeira fase, haverá provas de Habilidades Específicas para candidatos aos cursos de Música, no período de 24 a 28 de setembro. Para os demais cursos (Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança), as provas de Habilidades Específicas ocorrerão no período de 25 a 28 de janeiro de 2016.

CONCORRÊNCIA

As dez carreiras mais concorridas no Vestibular Unicamp 2016 são: Medicina, com 220 candidatos por vaga; Arquitetura e Urbanismo (111 c/v); Comunicação Social-Midialogia (50 c/v); Ciências Biológicas – Integral (45,4 c/v); Engenharia Civil (45 c/v ); Engenharia Química – Integral (37 c/v); Engenharia de Produção (34 c/v); Artes Cênicas (28 c/v); Ciência da Computação – Noturno (26,3 c/v); História (26,2 c/v) e Engenharia Mecânica – Integral (26,2 c/v).

INCLUSÃO SOCIAL

A Comvest registrou aumento do número de candidatos oriundos de escolas da rede pública inscritos para o Vestibular Unicamp 2016. O índice subiu de 26,6% no vestibular anterior para 28,1% este ano. Já entre os candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (de acordo com a nomenclatura utilizada pelo IBGE), o aumento foi ainda maior, tendo passado de 12,3% no ano anterior para 19,4% do total de inscritos este ano.

Foto: Antoninho Perri

A Comvest aplicará as provas para candidatos com deficiência também na cidade de Ribeirão Preto, além de São Paulo e Campinas, como até o ano passado.

MUDANÇAS

Candidatos no Vestibular Unicamp 2015: Universidade tem crescimento do número de inscritos pelo sétimo ano consecutivo

Calendário Vestibular Unicamp 2016 Inscrições e pagamento da taxa de inscrição

3/8 a 3/9/2015 (pagamento até 4/9)

Provas de Habilidades Específicas de Música

24 a 28/9/2015

1ª fase

22/11/2015

2ª fase

17, 18 e 19/1/2016

Provas de Habilidades Específicas

25 a 28/1/2016

Divulgação da 1ª chamada

12/2/2016

Matrícula da 1ª chamada (não presencial)

13 e 14/2/2016

Divulgação da 2ª chamada

16/2/2016

Matrícula da 2ª chamada (presencial)

18/2/2016

Divulgação da 3ª chamada

18/2/2016

Matrícula da 3ª chamada

22/2/2016

Confirmação de matrícula

26/2/2016

Declaração de interesse por vagas

27 a 29/2/2016

Início das aulas

29/2/2016

No Estado de São Paulo, a Unicamp vai aplicar as provas de seu vestibular em cinco novas cidades (destacadas a seguir). Assim, a partir deste ano serão 25 cidades no Estado: Araçatuba, Avaré, Bauru, Campinas, Franca, Guaratinguetá, Guarulhos, Jundiaí, Limeira, Mogi das Cruzes, Mogi Guaçu, Osasco, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Carlos, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba e Sumaré. Fora do Estado de São Paulo, a Unicamp aplicará as provas de seu vestibular em Brasília. A pontuação do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp (o PAAIS) aumentou e passará a valer já na primeira fase do vestibular. As mudanças aprovadas estabelecem a adição de 60 pontos às notas da primeira fase do Vestibular, para candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas da rede pública, e mais 20 pontos para candidatos que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas e que também tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas da rede pública. Antes, o bônus valia apenas na segunda fase. Além da bonificação na primeira fase, os candidatos que passarem para a segunda fase e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas da rede pública, contarão com adição de mais 90 pontos na prova de redação e outros 90 nas provas dissertativas. Candidatos aprovados na primeira fase, que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas e que também tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas da rede pública, contarão com mais 30 pontos na segunda fase, além dos 90, totalizando 120 pontos. Outra mudança no vestibular refere-se ao aumento do limite máximo de candidatos convocados para a segunda fase em cursos de alta demanda, com 200 ou mais candidatos por vaga. Nesses cursos, o limite será de dez vezes o número de vagas do curso. Antes esse índice era de oito vezes o número de vagas. Os limites para os demais cursos permanecem os mesmos (nos cursos com até 100 candidatos por vaga, o limite de convocação para a segunda fase será de no máximo seis vezes o número de vagas e nos cursos com concorrência entre 100 e 199, será de no máximo oito vezes o número de vagas). (Juliana Sangion)


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A rotina de enfermeiros numa

unidade de transplante de medula CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

os pacientes submetidos ao transplante de medula óssea, atualmente denominado transplante de células tronco-hematopoiédicas (TCTH), os eventos adversos representam ocorrência relevante e inerente ao tratamento. Esses eventos interferem no status clínico desses pacientes e, possivelmente, na demanda de assistência de enfermagem. Com o objetivo de avaliar a relação existente entre a ocorrência de eventos adversos nesses pacientes e a carga de trabalho de enfermagem, a doutoranda em enfermagem, Juliana Bastoni da Silva, desenvolveu, durante 16 meses, pesquisa junto a 62 pacientes submetidos a este procedimento na unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, baseando-se na análise de seus prontuários. Contratada como enfermeira, ela ministra aulas em disciplinas da graduação da Faculdade de Enfermagem (Fenf) da Unicamp e supervisiona aulas práticas de alunos. Do trabalho resultou a tese “Eventos adversos e carga de trabalho de enfermagem em pacientes submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas: estudo de coorte”. Os pacientes do estudo foram acompanhados desde a sua internação até a alta ou eventual óbito. A tese, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), foi orientada pela professora Sílvia Regina Secoli. O estudo fez parte de um projeto mais amplo, denominado Universal, financiado pelo CNPq, realizado em parceria entre os cursos de Enfermagem da USP/ SP e Unicamp, em que contou com a participação da professora Maria Helena de Melo Lima. A motivação da pesquisadora decorreu do fato de ela ter trabalhado no início de sua carreira profissional com pacientes onco-hematológicos, quando começou a interessar-se pelos eventos adversos que os acometem. No estudo ela se valeu do conceito apresentado pelo Instituto Americano do Câncer e, universalmente aceito, que considera eventos adversos quaisquer sintomas, sinais ou doenças desfavoráveis, como exames laboratoriais alterados, temporalmente associados a um tratamento ou procedimento médico. As causas desses eventos adversos nem sempre são passíveis de identificação. Mesmo porque, no caso de transplantes de medula óssea, em que os pacientes tomam diversos medicamentos diariamente (polifarmácia), podem ocorrer danos decorrentes das interações entre eles. A propósito do alcance do estudo ela diz: “Os profissionais de enfermagem percebem que esses pacientes, ao longo das fases do transplante de medula óssea, apresentam mudanças no estado clínico e isso interfere significativamente no cuidado de enfermagem”. A pesquisa baseou-se nos dois tipos de transplantes de medula óssea: o autólogo, em que o paciente recebe enxerto dele mesmo, e o alogênico, quando o enxerto provém de um doador compatível. De um modo geral, em princípio, se esperaria que no paciente submetido ao transplante autólogo a evolução do quadro clínico fosse mais tranquila em relação aos que se submeteram ao transplante alogênico. Apesar de existir um documento do Ministério da Saúde que considera o paciente de TCTH autólogo como semi-intensivo e o alogênico como intensivo, na prática, isso nem sempre se verifica, como foi constatado na pesquisa. Em determinadas situações, os pacientes submetidos ao transplante autólogo enfrentam situações de extrema gravidade e o quadro de pessoal de enfermagem disponível pode não ser suficiente. Além disso, há carências de estudos de enfermeiros nesta especialidade, seja no cenário nacional ou internacional, fato que justificou a realização deste estudo. Em face desse quadro, a autora adotou como objetivo geral do trabalho a avaliação da relação entre ocorrências de eventos adversos e a carga de trabalho de enfermagem demandada por pacientes de TCTH. Constituíram, ainda, seus objetivos específicos a identificação dos eventos adversos nos dois tipos de transplante; a descrição do número e da gravidade desses eventos nesses pacientes nas várias fases do tratamento – condicionamento, infusão e pós-transplante; a caracterização da carga do trabalho de enfermagem demandada por esses pacientes por meio do

Publicação Tese: “Eventos adversos e carga de trabalho de enfermagem em pacientes submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas: estudo de coorte” Autora: Juliana Bastoni da Silva Orientadora: Sílvia Regina Secoli (USP) Pesquisadora participante: Maria Helena de Melo Lima Unidade: Faculdade de Enfermagem (Fenf) Financiamento: CNPq

Estudo da Fenf avalia carga de trabalho de profissionais Foto: Antoninho Perri

Juliana Bastoni da Silva (à direita), autora da tese, e a professora Maria Helena de Melo Lima, que participou da pesquisa: acompanhamento de 62 pacientes

emprego do Nursing Activities Score (NAS). Ela considera que o estudo seja o primeiro a ser publicado acerca da carga de trabalho de enfermagem, que utiliza esse instrumento, em unidade de TCTH e que, além disso, se apresenta sob uma perspectiva ainda não estudada, o que configura seu ineditismo. A pesquisa permitiu chegar ao número de horas de trabalho demandadas pelos pacientes de TCTH autólogo e alogênico e, a partir de dados reais, possibilita que gestores de enfermagem possam estimar com mais segurança o número de pessoal adequado para atendimento de pacientes das unidades de TCTH, deixando de tomar decisões como base um documento que nem sempre atende a essa realidade.

ABORDAGEM A unidade de TCTH do HC da Unicamp, campo de estudo, dispõe de nove leitos, 10 enfermeiros, 19 técnicos de enfermagem, além de um enfermeiro diretor e um supervisor. Dos 62 pacientes, com média de 52 anos, acompanhados por meio da análise diária de dados dos prontuários, 24 deles tinham sido submetidos ao transplante autológo e 38 ao alogênico, sendo 53% do sexo masculino e 55% apresentavam pelo menos uma comorbidade, ou seja, outra doença além daquela que o levou ao transplante. O caráter prospectivo do estudo permitiu contato mais próximo da pesquisadora com as equipes de enfermagem e médica, o que possibilitou a obtenção de dados acurados. A carga de trabalho de enfermagem, variável dependente, foi mensurada através do Nursing Activities Score (NAS), instrumento traduzido, validado e bastante utilizado em outras especialidades para medir carga de trabalho, mas ainda não empregado no atendimento aos pacientes de TCTH. Quando a pontuação determinada por esse instrumento ultrapassa 100%, a indicação é de que o paciente demandou mais de um profissional de enfermagem em 24 horas. Neste estudo, os dados indicaram que os pacientes submetidos ao TCTH autólogo e alogênico geraram NAS de 67,3% (16,1 horas) e 72,4% (17,4 horas), respectivamente. Segundo portaria, de 2004, do Conselho Federal de Enfermagem, um paciente de assistência semi-intensiva demanda no mínimo 9,4 horas/dia, enquanto um paciente de assistência intensiva requisita 17,9 horas/dia, o que indica que pacientes de TCTH demandam horas de assistência de enfermagem próximas às de Unidade de Terapia Intensiva. Deste modo, pode-se concluir que pacientes de TCTH autólogo e alogênico exigem um número expressivo de horas na assistência de enfermagem. Dentre as variáveis independentes destacam-se: a ocorrência e gravidade de eventos adversos, classificadas de acordo com o Common Terminology Criteria for Adverse Events (CTCAE) e o índice de gravidade (SAPS II). A utilização deste índice de gravidade mostrou que os pacientes autólogos e alogênicos atingiram aproximadamente 41 e 36 pontos, respectivamente, valores bastante similares aos apresentados por pacientes de UTI, o que evidencia a gravidade

dos pacientes de transplante. A aplicação diária do NAS, associada a um índice de gravidade, forneceu dados que podem auxiliar na adequação do número de profissionais nas unidades de transplante. Além do que, o uso índice de gravidade (SAPS II) e de um escore de risco pré-TCTH contribuíram para a análise mais ampla da carga de trabalho requerida pelos pacientes autólogos e alogênicos. A pesquisadora aponta ainda que a totalidade dos pacientes submetidos ao TCTH, independentemente do grupo, apresentou eventos adversos relativos às categorias (CTCAE) investigações laboratoriais (como função hepática e renal), nutrição e metabolismo, trato gastrointestinal (diarreia, náusea e vômito), sistema sanguíneo/linfático e vascular, os quais variaram quanto ao número e gravidade, durante o período de internação. A análise estatística demostrou que pacientes que morreram durante a internação e aqueles que apresentaram eventos adversos de maior gravidade, relativos às investigações laboratoriais e às alterações vasculares, demandaram maior carga de trabalho de enfermagem. Esses eventos, inerentes ao TCTH, nos pacientes gravemente enfermos e instáveis, demandam ação conjunta da equipe multiprofissional tanto no ajuste das doses dos medicamentos, como no monitoramento das alterações laboratoriais e de outros sinais e sintomas apresentados pelos pacientes. O paciente de TCTH pode apresentar alterações no exame físico, nos sinais vitais, como frequência respiratória, cardíaca, pressão arterial e são os enfermeiros e técnicos de enfermagem que os monitoram 24 horas por dia, à beira do leito.

ALCANCE Para a autora, o trabalho mostra que o paciente de TCTH, em diversas situações, pode demandar assistência intensiva. Ademais, ele pode contribuir para a avaliação das reais demandas no atendimento e, consequentemente, para o melhor dimensionamento da equipe de enfermagem, uma vez que os instrumentos utilizados na pesquisa permitem também identificar os eventos adversos mais graves e mais recorrentes em cada uma das fases do TCTH, além da demanda diária de horas de assistência de enfermagem. Ela enfatiza ainda que como não existem praticamente trabalhos científicos sobre o tema, na área de enfermagem, a pesquisa abre caminho para outros estudos a partir de uma série de elementos nela considerados. Embora na unidade de TCTH do HC/Unicamp exista uma equipe de enfermagem quantitativa e qualitativamente adequada, essa situação, em geral, não corresponde à realidade do Brasil. Juliana enfatiza, entretanto: “Mas para garantia de uma assistência segura em TCTH é necessário que a relação pessoal de enfermagem/paciente considerada adequada seja preservada, ou seja, não seja alterada com deslocamentos de funcionários para outras unidades de internação que, por vezes e, por diversas razões, podem apresentar falta de recursos humanos”.


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Campinas, 28 de setembro a 4 de outubro de 2015

Fotos: Reprodução

A autora analisou três músicas interpretadas por Noel Rosa (à esquerda) e outras três cantadas por João Gilberto: prosódia inspiradora

Entre a melodia, a letra e a fala PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

alar e cantar são duas coisas diferentes, pero no mucho. Aqui está Noel Rosa, em Conversa do botequim, samba de 1935, com o parceiro Vadico: Seu garçom faça o favor de me trazer depressa/ Uma boa média que não seja requentada/ Um pão bem quente com manteiga à beça/ Um guardanapo e um copo d’água bem gelada.../. O compositor explora a coloquialidade, característica importante do samba que surgia na época. Da mesma forma João Gilberto, anos depois, vai fazer de seu “canto falado” uma marca da bossa nova. A chave para o entendimento de uma possível relação entre Noel e João, entre o samba de bossa e a bossa nova e, finalmente, entre a música e a fala, pode estar na parte da gramática que estuda a pronúncia das palavras e frases, a chamada prosódia. Pensar sobre a prosódia e os elementos que aproximam o canto popular brasileiro da fala foi o trabalho da pesquisadora e cantora Gabriela Ricci, que defendeu sua dissertação no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). “Ficamos, eu e minha orientadora, no meio termo entre a Música e a Linguística, utilizando aporte teórico dos dois campos de estudo”, esclarece. Para alguém com graduação em Música e experiência em canto popular, aventurar-se pelo campo da linguística foi um desafio e tanto. Gabriela, com o apoio de sua orientadora Eleonora Cavalcante Albano, levou um ano para definir um método de análise das músicas escolhidas. Por fim decidiram considerar no estudo a letra das canções, a melodia da voz e a rítmica do acompanhamento instrumental, tanto nas partituras quanto em gravações. Com base na fonologia prosódica e na hierarquia melódica, Gabriela observou a maneira

como as frases são construídas comparando a estrutura de pausas estabelecida pelos intérpretes com alguns tipos de segmentação prosódica, ou seja, com os locais nos quais as pausas seriam colocadas num texto falado. Também verificou a acumulação de acentos musicais nas partituras e sua relação com o acento lexical das letras de canções, bem como as mudanças feitas pelos intérpretes na acentuação sugerida pela partitura. Foram estudadas a maior incidência de acentos musicais em sílabas tônicas do que em átonas, aproximando a interpretação das letras das canções à fala; a acentuação musical da melodia reforçada pelo acompanhamento instrumental; e a relação acento musical – acento linguístico, similar nos dois estilos musicais. O papel do acompanhamento musical e sua relação com a melodia também foi avaliado, como uma maneira de cruzar as informações entre letra e melodia. “Considerei alinhamentos da interpretação os locais nos quais havia o ataque (tempo que um som demora a atingir o seu volume máximo) do acompanhamento, coincidindo com o ataque da melodia e o ataque da letra”. Gabriela separou os tempos fortes da música e os identificou nos alinhamentos. “O tempo forte é uma característica rítmica muito importante nos dois estilos isso poderia também mostrar alguma coisa”. A hipótese da pesquisa era de que samba e bossa nova são construídos com base na prosódia do português brasileiro.

RESULTADOS De acordo com Gabriela, a grande característica que faz com que as músicas se pareçam bastante com a fala é o acúmulo de todos os acentos estudados. “Percebemos que os acentos, principalmente os de duração, tendem a coincidir muito com os que você usaria na fala, eles coincidem com as sílabas tônicas”. Os locais onde a música parece

acentuada, prossegue a autora, são aqueles nos quais há maior acúmulo de acento, coincidindo quase sempre com os acentos lexicais da fala. A metodologia utilizada pela autora da dissertação mostrou ainda que as segmentações prosódicas feitas nas análises das canções coincidiram mais nas peças de João Gilberto, na bossa nova, que nos sambas de Noel Rosa. “Uma leitura possível que a gente fez disso é que a preocupação com a fala do texto deve ser maior na bossa nova, apesar de o samba também soar bastante falado. O samba parece dar um pouco mais de importância para a rítmica”, avalia. De Noel Rosa a autora da dissertação selecionou os sambas: Com que roupa, que foi seu primeiro grande sucesso, de 1929, Conversa de Botequim, de 1935, reconhecida como uma das canções que melhor utilizam a prosódia na construção da melodia e da letra, e São coisas nossas, gravada em 1932, e lembrada por utilizar pela primeira vez na canção popular brasileira a palavra “bossa”, em seu refrão. As músicas escolhidas de João Gilberto são todas do “Chega de Saudade”, primeiro disco do intérprete e compositor, de 1959. A música Chega de Saudade, composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, marca o início da bossa nova e traz os elementos que caracterizam o estilo. Bim Bom, também de 1959, explora as inovações trazidas por João Gilberto no que diz respeito à articulação entre canto e acompanhamento. Além disso, foi escolhida por sintetizar o livro homônimo que foi utilizado na pesquisa. A terceira escolhida foi Desafinado, a primeira canção da música popular brasileira a mostrar ao público uma melodia dissonante “que, como sugere o título, chega a soar desafinada aos ouvidos despreparados”, situa a autora da dissertação. Ademais a letra fala da construção da música da bossa nova. Foto: Antoninho Perri

A pesquisadora e cantora Gabriela Ricci, autora da dissertação: aportes teóricos da Música e da Linguística

A conclusão da pesquisa foi a de que os dois estilos de fato concordam muito com a fala. No quesito acentuação, ou seja, acumulação de tom, duração e tempo forte, os dados mostraram um padrão bastante consistente. “Todas as gravações apresentaram grande número de incidência do acúmulo de acentos musicais em sílabas tônicas, enquanto a maioria das sílabas átonas não recebeu nenhum tipo de acentuação musical”, relata. Para Gabriela, essa relação das sílabas tônicas e átonas com os acentos musicais foi um dos elementos que proporcionou a manutenção da prosódia do português brasileiro nas canções. “Nas canções representantes da bossa nova, as pausas coincidem com as frases entoacionais mais vezes do que no samba. A explicação pode estar no fato de que Noel Rosa utiliza um número bem maior de pausas do que João Gilberto, o que pode indicar que na bossa nova a preocupação com o texto era uma constante, enquanto a estrutura rítmica, principal responsável pela caracterização dos estilos, seria colocada em primeiro lugar no samba”, acrescenta a pesquisadora. Gabriela acredita que isso se deve à ideia de que a bossa nova não se caracteriza por um novo estilo de música, mas, sim, uma nova maneira de tocar samba. “O samba, em seu surgimento, tinha a necessidade de se afirmar como estilo utilizando, para tanto, a sua estrutura rítmica autêntica. A bossa nova, por sua vez, já vinha de uma estrutura rítmica bem estabelecida (a do samba) e pode, por isso, tratar com mais atenção a questão do texto cantado”. Outra consideração destacada por Gabriela foi a relação das interpretações com o acompanhamento musical. “O acompanhamento instrumental dá suporte para o que está acontecendo na voz. Os acentos do acompanhamento ajudam na acentuação da fala da letra, ou seja, o acompanhamento é um suporte para que essa interpretação soe mais falada”. Em relação à prosódia a autora salienta que “diversos autores têm especulado sobre a aproximação de Noel Rosa e João Gilberto sem, no entanto, contribuir com análises detalhadas. Apesar da carência de estudos, tem-se a impressão de que, tendo conhecimento da prosódia da língua materna, ambos se inspiravam nela, consciente ou inconscientemente, para a construção das canções”.

Publicação Dissertação: “Samba e bossa nova: um estudo de aspectos da relação texto-música” Autora: Gabriela Ricci Orientadora: Eleonora Cavalcante Albano Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)


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