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Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 13 a 26 de abril de 2015 - ANO XXIX - Nº 622 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

3 MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI Unicamp-DGa

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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antoninho Perri

Os muitOs brasis de

Simon Schwartzman 6 e7

Em entrevista ao Jornal da Unicamp, o sociólogo e cientista político Simon Schwartzman fala sobre temas que dizem respeito ao Brasil contemporâneo, da política à ciência, e que são abordados em três livros de sua autoria que estão sendo relançados pela Editora da Unicamp.

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estudo avalia saúde mental de motoboys O peso do clima na geração de energia

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Comissão da Verdade entrega relatório final a moda infantil nos anos dourados

Incêndios trazem à tona fantasmas de Chernobyl No espaço, um ‘depósito’ de corpos gelados Sol tem ciclo sazonal de atividades

TELESCÓPIO

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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Mudança climática reaviva perigo de Chernobyl A mudança climática em curso vai elevar o risco de fogo nas florestas da Ucrânia e da Bielo-Rússia, e a fumaça e a fuligem desses incêndios lançarão na atmosfera isótopos radioativos, incluindo césio-137, aprisionados há décadas nas plantas dessas áreas, afetadas pelo desastre nuclear da usina de Chernobyl. Em abril de 1986, a usina de Chernobyl, na Ucrânia, sofreu o que ainda hoje é considerado o pior desastre nuclear da história, liberando uma nuvem radioativa que cobriu uma área de 200 mil quilômetros quadrados na Europa Oriental e Ásia. A região mais próxima da usina foi declarada “zona de exclusão”, imprópria para vida humana. Atualmente, florestas cobrem 70% dessa zona. As plantas dessa mata crescem num solo contaminado pelo resíduo radioativo do desastre. Artigo publicado no periódico Ecological Monographs, da Sociedade de Ecologia dos Estados Unidos, aponta que, desde 2002, incêndios na área têm aumentando a deposição de césio-137 sobre a Europa, e que modelos climáticos indicam que eventos assim devem se tornar cada vez mais comuns. “Prevemos que uma área inflamável em expansão, associada à mudança climática, levará a um alto risco de contaminação radioativa no futuro”, escrevem os autores, vinculados a diversas instituições, acrescentando: “A infraestrutura atual de combate a incêndios na região é inadequada, por conta de escassez de fundos e de pessoal”.

pequenos fragmentos de DNA (...) favorece sua ligação em longos polímeros”, disse, por meio de nota, um dos autores do trabalho, o físico Noel Clark, da Universidade do Colorado. O estudo foi realizado em colaboração com a Universidade de Milão.

Química da vida no espaço Pesquisadores dos Estados Unidos, Holanda e Japão descrevem, na edição mais recente da Nature, a descoberta de moléculas baseadas em carbono e nitrogênio, importantes para as reações químicas que, acredita-se, precederam a origem da vida, no disco protoplanetário – uma nuvem e detritos congelados onde planetas podem vir a se formar – localizado ao redor de uma estrela jovem, a 457 anos-luz da Terra. Comentário publicado na mesma edição da revista explica a importância da descoberta, notando que ela mostra “a superfície de um vasto reservatório de corpos gelados que podem levar matéria orgânica volátil para a superfície de jovens planetas rochosos ou a luas de gigantes gasosos (...) onde água em estado líquido é estável”. Essas condições – água em estado líquido e material orgânico – são consideradas essenciais para o surgimento da vida.

Paternidade da Lua DNA automático Fragmentos minúsculos de DNA são capazes de se organizar espontaneamente sob a forma de cristais líquidos que, por sua vez, produzem as ligações químicas necessárias para o surgimento de longas cadeias dessa molécula, sem a necessidade da ação de seres vivos, afirma artigo publicado no periódico Nature Communications. A descoberta dessa propriedade autônoma do DNA oferece mais uma pista sobre como a vida pode ter surgido originalmente na Terra. “Na presença das condições químicas adequadas, a auto-organização espontânea de

A teoria predominante para a origem da Lua postula que, nos estágios finais da formação da Terra, outro planeta, com massa aproximadamente igual à de Marte, colidiu conosco: a Lua seria o resultado da acumulação dos detritos lançados ao espaço pelo choque. Embora explique muitas das características do sistema Terra-Lua, no entanto, essa teoria tem um problema: modelos matemáticos mostram que seria de se esperar que a Lua fosse formada, principalmente, por restos do planeta “invasor”, mas sabese que as rochas lunares são muito parecidas com as da Terra, o que parece contradizer o cenário. Foto: Divulgação

Ilustração da colisão que, acredita-se, deu origem à Lua

Na edição mais recente da revista Nature, pesquisadores de Israel e da França propõem uma solução para o paradoxo: numa simulações de computador do processo de formação do Sistema Solar, eles descobriram que, embora diferentes planetas tendam, de fato, a crescer com diferentes composições, corpos de composição semelhante têm maior probabilidade de colidir uns com os outros durante o processo de formação planetária. “Uma grande parcela de pares de impactadores planetários têm composição quase idêntica. Assim, a similaridade de composição entre a Terra e a Lua pode ser uma consequência natural de um grande impacto tardio”, diz o artigo.

Neandertal incrustado O Homem de Altamura, um esqueleto antigo, descoberto incrustado em depósitos de carbonato de cálcio no fundo de uma caverna italiana, é um neandertal de cerca de 150 mil anos, diz artigo publicado fim do mês passado pelo periódico Journal of Human Evolution. Descoberto em 1993, o esqueleto, encontrado num vão da caverna rico em calcário e onde existe água corrente, foi cimentado no lugar pela formação natural de calcita ao longo dos séculos e, por isso, não pôde ser removido, mas pesquisadores conseguiram obter uma lasca de um osso do ombro para análise e confirmaram que os ossos pertencem à espécie Homo neanderthalensis. “O esqueleto de Altamura está em excelente estado de conservação, com virtualmente todos os ossos pertencentes a um único indivíduo adulto preservados no pequeno espaço em que foi encontrado”, diz o artigo, de autoria de pesquisadores de diversas instituições italianas. Com o resultado apresentado, este espécime passa a ser o mais antigo neandertal a ter seu DNA extraído no mundo.

Mais mulheres nas exatas A formação de classes e grupos de estudos e de trabalho com mais mulheres do que homens, ou apenas com mulheres, pode ajudar a reduzir a evasão feminina das chamadas áreas STEM –sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Ao menos, é o que sugere estudo publicado no periódico PNAS. O título do artigo não deixa margem para dúvida quanto a suas conclusões: “Female peers in small work groups enhance women’s motivation, verbal participation, and career aspirations in engineering” (“Pares femininos em pequenos grupos aumentam a motivação, a participação verbal e as aspirações profissionais das mulheres na engenharia”). A principal autora é Nilanjana Dasgupta, do Departamento de Psicologia e Ciências do Cérebro da Universidade de Massachusetts. Em seu estudo, Dasgupta separou estudantes de engenharia do sexo feminino em três tipos de grupo de trabalho: um com 75% de mulheres, outro com 50% e outro com 25%. “Para as primeiranistas, a composição do grupo teve um grande efeito: as mulheres nos grupos majoritariamente femininos ou paritários sentiram menos ansiedade do que as mulheres nos grupos minoritários. No entanto, entre estudantes avançados, a composição sexual não fez

diferença” na questão da ansiedade, diz o texto. A despeito disso, mesmo as estudantes mais avançadas manifestaram-se menos durante as discussões e foram menos ativas nos grupos de maioria masculina.

Guerra às drogas aumenta crime no México O uso de intervenções militares em áreas do México envolvidas na chamada “guerra às drogas” empreendida pelo governo do país causou uma elevação na taxa média de homicídio dessas regiões, diz artigo publicado no periódico The American Statistician, da Associação de Estatística dos Estados Unidos. Para calcular o impacto das intervenções militares – iniciadas em 2006, durante o governo do então presidente Felipe Calderón – os autores compararam as taxas de homicídio nas regiões afetadas no primeiro ano após as ações com a taxa esperada num cenário “normal” para cada área. O estudo estima que as ações militares resultaram num aumento médio de 11 homicídios por 100 mil habitantes, no conjunto das 18 regiões afetadas, com grande variação de uma região para a outra.

Degelo no Canadá As províncias canadenses de Alberta e Colúmbia Britânica podem perder até 70% de sua cobertura de gelo neste século, de acordo com uma série de simulações publicada no periódico Nature Geoscience. A vazão da água das geleiras para rios e córregos deve atingir um nível máximo entre 2020 e 2040. Os resultados, escrevem os autores, têm implicações importantes para “ecossistemas aquáticos, agricultura, florestas, turismo e qualidade da água”.

Sol também tem estações A atividade solar varia num ciclo “sazonal” curto de 11 meses, que por sua vez interfere no já conhecido ciclo de atividade de 11 anos, responsável pelas fortes tempestades magnéticas que atingem a Terra, diz artigo publicado no periódico Nature Communications, de autoria de pesquisadores ligados ao Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. As mudanças sazonais do Sol parecem ser causadas por mudanças nos campos magnéticos intensos que existem nos dois hemisférios do astro. Esses campos, por sua vez, são causados pela rotação do material no interior da estrela. As faixas de campo magnético se sobrepõem, de acordo com as observações descritas no artigo, e à medida que se movem pelos hemisférios solares causam elevações e reduções da atividade do astro, que atinge o máximo em 11 meses e então começa a diminuir. Os autores comparam esse ciclo ao existente em regiões da Terra onde há apenas duas estações bem marcadas no ano, a chuvosa e a seca.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Raquel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Fotos: Antonio Scarpinetti

Unicamp inova e amplia o alcance dos programas que promovem o contato de jovens estudantes com o ambiente científico MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

Unicamp manterá aberto, entre 1º e 20 de abril, o período de inscrições para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), iniciativa desenvolvida com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão de fomento vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Pibic tem o objetivo de despertar a vocação científica e incentivar novos talentos entre os estudantes de graduação das diferentes áreas do conhecimento. Ao todo, serão concedidas 935 bolsas, no valor de R$ 400 cada uma. Na Unicamp, o Pibic está sob a responsabilidade da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP). Os interessados em fazer a inscrição devem visitar a página eletrônica da PRP (www.prp.rei.unicamp.br/pibic) e preencher um formulário específico. De acordo com a pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, professora Gláucia Pastore, este ano o programa apresentará uma importante novidade. Os trabalhos elaborados pelos participantes, que serão expostos durante o 23º Congresso Interno de Iniciação Científica, marcado para novembro, receberão uma identificação numérica conhecida pela sigla DOI (Digital Object Identifier). De acordo com a professora Gláucia Pastore, o DOI permitirá que os trabalhos sejam localizados, via internet, por quaisquer interessados nos temas neles abordados, de todos os pontos do planeta. “Essa providência dará ainda mais visibilidade aos trabalhos, cuja qualidade vem crescendo ano a ano”, afirma. Com essa maior visibilidade, continua a pró-reitora de Pesquisa, tanto os docentes que respondem pela orientação quanto os alunos de iniciação científica terão as suas responsabilidades ampliadas. “Certamente todos estarão ainda mais comprometidos com a excelência de seus projetos de pesquisa”, considera. Além das 935 bolsas concedidas pelo Pibic, observa a pró-reitora de Pesquisa, outras 35 serão ofertadas pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica nas Ações Afirmativas (Pibic/AF), programa piloto do CNPq que teve início em 2009. Este é dirigido exclusivamente aos estudantes de graduação que ingressam na Unicamp via Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais). O Paais, primeiro programa de ação afirmativa sem cotas implantado em uma universidade brasileira, concede pontos extras no vestibular aos candidatos egressos das escolas públicas e aos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Quem opta pelo Paais recebe 60 pontos a mais na nota final do vestibular. Já os candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas têm, além dos 60 pontos adicionais, mais 20 pontos acrescidos à nota final. “A intenção é propiciar uma oportunidade de formação técnicocientífica também para este segmento, ampliado as nossas ações inclusivas”, explica a professora Gláucia Pastore. Na opinião da pró-reitora de Pesquisa, o contato precoce do jovem com os métodos de investigação científica é extremamente importante, em diferentes perspectivas. É valioso para o aluno, que tem a oportunidade de integrar uma equipe envolvida em linhas de pesquisa que, não raro, estão na fronteira do conhecimento. Assim, ele tem a chance de conciliar o aprendizado teórico em sala de sala com o aprendizado prático obtido em laboratório. “O estudante que faz iniciação científica frequentemente melhora o seu desempenho acadêmico e fica mais preparado para fazer a pós-graduação. Além disso, esse tipo de experiência também conta pontos quando ele concorre a uma vaga no mercado de trabalho”, aponta.

Exposição de pôsteres no 22º Congresso Interno de Iniciação Científica: trabalhos têm crescido em qualidade com o passar dos anos

Em busca de

novos talentos Foto: Isaías Teixeira

Alunos da rede pública de ensino durante atividade do Ciência & Arte nas Férias: versão do programa beneficiará também alunos do ensino fundamental

Do ponto de vista dos docentes que orientam esses jovens, o ganho está na chance de contar com pessoas entusiasmadas e dispostas a aprender. “Dito de forma simplificada, é sempre bom ter sangue novo na equipe”, diz Gláucia Pastore. Justamente por causa das questões virtuosas que envolvem a iniciação científica é que a seleção para participação no Pibic e Pibic/AF tem se tornado cada vez mais rigorosa, de acordo com a próreitora. Um Comitê Assessor avalia, entre outros pontos, o currículo do orientador, a qualidade do projeto de pesquisa e o desempenho acadêmico do estudante. Conforme as normas estabelecidas pelo CNPq, as bolsas devem ser distribuídas segundo critérios que assegurem que os alunos sejam orientados pelos pesquisadores de maior competência científica, que possuam nível de doutor e que estejam exercendo plena atividade de pesquisa. Cada orientador enquadrado no regime de dedicação exclusiva pode inscrever até cinco estudantes de iniciação científica em seu projeto. Além dos dois programas já citados, a PRP também manterá aberto, de 1º a 17 de abril, o período de inscrições para a submissão de projetos para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic/EM), igualmente apoiado pelo CNPq. O Pibic/EM proporciona aos alunos do ensino médio da rede pública dos municípios de Campinas, Limeira e Piracicaba a oportunidade de participar no desenvolvimento de um projeto de pesquisa sob a orientação de professores e pesquisadores da Unicamp. O docente/pesquisador interessado em participar deverá submeter o projeto ao Fundo de Apoio ao Ensino e à Pesquisa da Unicamp (Faepex), através de formulário eletrônico que estará disponível durante o período de submissão no site do programa (www.prp. unicamp.br/pibic-em). A PRP concederá aos orientadores um apoio financeiro, na rubrica de material de consumo nacional ou prestação de serviços, no valor de R$ 4 mil, quando o projeto acolher, no mínimo, três bolsistas.

MAIS JOVENS O esforço da Unicamp em promover o contato precoce do jovem com a ciência envolve outras ações. Uma delas é o Ciência & Arte nas Férias (CAF), que traz anualmente, nos meses de férias escolares de verão, estudantes de escolas públicas da região de Campinas para um estágio nos laboratórios da Universidade. A experiência envolve as grandes áreas do conhecimento, a saber: Artes, Ciências Humanas, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas e da Saúde e Tecnologia. Durante o estágio, os estudantes se envolvem com os desafios atuais da ciência e da arte, com a metodologia do trabalho

científico e da criação artística e com o ambiente humano dos laboratórios de pesquisa. Em 2015, o CAF recebeu 185 alunos da rede pública, contingente que representou um avanço de 17% em relação ao ano anterior. O número de projetos nos quais os jovens estiveram envolvidos também cresceu de um período para o outro – passou de 78 para 88. Devido ao grande sucesso do programa, revela a professora Gláucia Pastore, a Unicamp foi procurada pela Prefeitura de Campinas para oferecer um CAF nas férias de inverno, dirigido a alunos do 9º ano do ensino fundamental da rede municipal de ensino. A finalidade é proporcionar também a esse público um contato precoce com o ambiente científico e suas metodologias. “Inicialmente, faremos um projeto piloto que contemplará 70 ou 80 alunos. Nós escolhemos dez docentes da Universidade, que são vocacionados para o trabalho com esses jovens, para serem os orientadores. Os participantes do CAF de inverno passarão 15 dias na Unicamp, visitando laboratórios, assistindo a palestras e desenvolvendo outras atividades”, adianta a pró-reitora de Pesquisa. A professora Gláucia Pastore informa, ainda, que está em fase final de elaboração outro projeto em colaboração com a Prefeitura de Campinas, este voltado à qualificação da dieta dos alunos da rede municipal de ensino. Profissionais das faculdades de Ciências Médias, Ciências Aplicadas e Engenharia de Alimentos proporão um cardápio diferenciado para os estudantes. “O objetivo desse cardápio não será apenas o de nutrir adequadamente as crianças, mas também de contribuir para que elas ampliem a capacidade de aprendizado, principalmente de matemática. A intervenção será feita inicialmente em duas escolas. Posteriormente, avaliaremos a possibilidade de ampliar a experiência para toda a rede”, detalha.

Gláucia Pastore, pró-reitora de Pesquisa da Unicamp: “O estudante que faz iniciação científica frequentemente melhora o seu desempenho acadêmico e fica mais preparado para fazer a pós-graduação. Além disso, esse tipo de experiência também conta pontos quando ele concorre a uma vaga no mercado de trabalho”


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Pesquisa investiga perfil psicológico de motoboys Fotos: Antonio Scarpinetti

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ovens de todas as idades não escondem que têm um verdadeiro fascínio por motos. E muitos as utilizam em sua atividade profissional, como é o caso dos motoboys. Para corresponder a um anseio de trabalho, a escolha por atuar nessa frente acaba fazendo deles vítimas de uma excessiva pressão social pela velocidade, um símbolo da sociedade pós-moderna. “Só que a pressa que eles têm não lhes pertence. É nossa. Esses jovens apenas exemplificam a sociedade veloz. Representam uma metáfora da própria vida e são a ponta da lança”, concluiu o psicólogo Alex de Toledo Ceará em pesquisa de doutorado defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). No estudo, orientado pelo psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, Alex abordou as diversas dimensões sobre os motoboys especificamente da cidade de Campinas. Traçou um perfil sobre a questão da saúde mental, da constituição da identidade, como esses jovens percebem o trabalho na sociedade, como eles se sentem como motoboys, as características da sua personalidade e o uso de substâncias psicoativas. Foram alvos da investigação 194 sujeitos, todos na faixa etária entre 18 e 34 anos. Esses motoboys, contou Alex, eram jovens com média de 22 anos, em busca do primeiro emprego e que encontram nessa atividade uma certa facilidade de ingresso no mercado de trabalho. Carregam características como um espírito de aventura e de exposição a riscos, um desejo aguçado de liberdade. “Mas junto com isso vem a necessidade de trabalho e de se submeter a tarefas de alta periculosidade, pelo fator de exposição a riscos para quem vive no trânsito.” Em geral, esses rapazes atuam basicamente fazendo entregas de alimentos, sobretudo nas grandes redes de fast foods e em pizzarias. Na maioria, trabalham como deliveries em restaurantes dos bairros centrais de Campinas e na área mais periférica. Além desses motoboys que entregam alimentos, há outros que trabalham com a entrega de documentos – os chamados mensageiros, os quais percorrem de modo singular longos trajetos em suas motos, dividindo-se entre a região de Campinas e a cidade de São Paulo.

PERFIL A categoria de mensageiros foi identificada por Alex ao notar a diferença de papéis no exercício profissional: uns entregavam alimentos e outros, documentos. “Todavia, a responsabilidade é a mesma nessas duas categorias. O que difere é o trabalho”, reparou. Nas entrevistas pilotos, o pesquisador observou que os motoboys cumpriam uma longa jornada de trabalho e tinham que fazer as entregas em curto espaço de tempo. Havia sempre uma urgência, segundo Alex, tanto por parte do entregador quanto por parte do cliente. Eles percorriam grandes distâncias diariamente e, alguns, quando chegavam em casa, se mostravam exaustos e estonteados, mas eufóricos e sem conseguir relaxar, comentou o doutorando. Estabeleciam conexão direta entre o sofrimento psicológico, a relação com o trânsito e o desgaste emocional, o que pode aumentar significativamente o risco de acidentes. Alex obteve informações sobre o uso de drogas, outros transtornos mentais e dificuldades psicoemocionais. O casamento desses dados favoreceu a formação de um perfil dos motoboys avaliados. Esses jovens apreciavam o que faziam, averiguou o psicólogo, relatando dificuldade de trabalharem em outra atividade que não a de motoboy, uma vez que não viam com bons olhos o trabalho em um espaço fechado e com hierarquia. Isso não era para eles. O trabalho nas ruas era uma forma de viver sem grandes cobranças de seus empregadores. Por outro lado, reconheciam que eram alvejados por uma pressão muito perigosa, que podia inclusive levá-los a acidentes fatais.

Psicólogo entrevistou 194 profissionais para fundamentar tese defendida na FCM Mas esses motoboys entendiam que a sociedade dependia deles. Tinham ciência de que, se parassem, a sociedade pararia. “Ela criticava porque os motoboys corriam. Só que ninguém aceita pizza fria e nem documento após o horário bancário. Logo, a sociedade depende deles, porém faz com que trabalhem demais”, alfinetou.

DROGAS

Motoboy em rua de Campinas: profissionais ficam expostos a riscos ao longo de toda a jornada

Uma questão que o pesquisador lhes perguntou foi se eles já tinham sofrido algum acidente? A resposta foi sim para 29,8% dos 194 sujeitos avaliados. É sabido que, desde 2007, as motos passaram a matar até mais que os automóveis no país; e, na última década, 65.671 condutores de motos perderam a sua vida em acidentes por trauma. Os dados estatísticos da tese foram bem específicos. Em São Paulo, nos últimos três anos, de 10% a 20% dos acidentes com vítimas fatais estiveram ligados aos motoboys. “Então não se trata da maioria dos acidentados. Seria estranho que fosse, porque a frota de motos em São Paulo é gigantesca: só na Capital totaliza um milhão. Duzentos mil são motoboys.”

CARACTERÍSTICAS Ao investigar a personalidade, a identidade, o abuso de substâncias e outros transtornos mentais em motoboys, Alex adotou o modelo Big Five, que propõe a

compreensão da personalidade a partir de cinco dimensões: neuroticismo (irritação, vulnerabilidade, impulsividade), extroversão (busca de aventuras e sensações, e voltar-se ao mundo externo), abertura (predisposição a novas ações, ideias e valores), amabilidade (ser amável e se colocar no lugar do outro) e conscienciosidade (ser ordeiro e correto). Avaliando a personalidade, Alex comparou 25 jovens com histórico de acidentes e 25 sem esse histórico. Ele verificou que os acidentados tinham a dimensão “abertura” maior. “Isso me fez pensar um pouco, já que a abertura é uma dimensão mais presente e mais forte nos jovens.” Com o questionário aberto, pôde perguntar a esses jovens como eles se viam como motoboys. Percebeu que essa é uma identidade juvenil em busca de uma oportunidade, mas também de aventura. Então esses sujeitos iam mais à procura de risco que em outras faixas etárias. Ao mesmo tempo, se sentiam discriminados pela sociedade, como os transgressores do trânsito.

Sobre o abuso de substâncias entre os motoboys, Alex ressaltou que esse dado deve ser olhado com muita cautela, visto que a droga mais usada por esses jovens era ilícita – a maconha (20%). E o pior: muitos deles usavam essa substância durante o expediente. Além da maconha, os jovens contaram que consumiam álcool (8%), cocaína (4%), esteroides (3%), ecstasy (2,5%) e crack (0,5%). “Então temos que refletir mais acerca da influência da maconha na capacidade de dirigir. Hoje nós falamos muito da influência do álcool e pouco da influência da maconha no mundo”, considerou. Os dados apontaram ainda que os sujeitos que usavam substâncias psicoativas eram mais ansiosos. “Então vejo que isso tem a ver com a busca do alívio. Agora, não é possível inferir que a ansiedade seja a causa desse consumo, mesmo estando associada às drogas”, expressou. O presente estudo sinalizou que os motoboys que se arriscam mais no trânsito ‘botam pra quebrar’, contudo usam menos álcool. “Esse resultado vai na contramão da juventude que hoje consome álcool em demasia”, contemporizou. “É praticamente impossível ingerir álcool e trabalhar como motoboy.” Ocorre que o álcool não é o maior vilão e sim a maconha, constatou o psicólogo. Mesmo assim, embora 20% dos motoboys empreguem a maconha com frequência, esse é um número menor do que o encontrado entre estudantes universitários brasileiros, que é de 26%, sugeriu Arthur Guerra de Andrade (2012) na literatura. Mesmo assim, o que mais chamou a atenção de Alex foi que esses jovens continuassem usando maconha no trabalho como tranquilizante. “É algo grave, entretanto o principal problema observado foi o sofrimento psicológico – o uso de substâncias, a depressão e a ansiedade generalizada”, revelou.

REGULAMENTAÇÃO Na pesquisa, o autor apurou que a média salarial dos motoboys era de aproximadamente R$ 1.500,00, mas isso às custas de uma carga horária muito apertada, já que esses trabalhadores recebem por entrega. Muitos deles chegavam a trabalhar mais de nove horas por dia. O psicólogo se posicionou. Espera que a atividade seja melhor regulamentada, que os motoboys tenham mais direitos e que a sociedade reconsidere a cobrança que impetra sobre esses jovens. “Que isso seja levado em conta de maneira mais profissional”, alertou. Um dos pontos cruciais do seu trabalho é o cuidado para que não haja nenhuma injustiça contra esses rapazes, e eles sejam apontados como “drogados”. É verdade que fazem uso de substâncias, mas estariam sendo mais estigmatizados do que já são, e na maioria das vezes injustificadamente. O doutorando vê mais esses rapazes como jovens que sofrem, que têm um grande desgaste psicoemocional. “Então o uso de drogas não pode ser visto como um problema central nessa categoria e sim um problema a mais. Isso porque existe um problema ainda maior por detrás dos usuários de drogas – a vida desses jovens”, realçou.

Publicação Tese: “Personalidade, identidade e abuso de substâncias psicoativas e outros transtornos mentais em motoboys” Autor: Alex de Toledo Ceará Orientador: Paulo Dalgalarrondo Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Alex de Toledo Ceará, autor do estudo: “O principal problema observado foi o sofrimento psicológico”


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Estudo faz projeções acerca de precipitação pluviométrica que se transforma em vazão LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

afael de Oliveira Tiezzi, que acaba de obter seu doutorado em engenharia civil na área de recursos hídricos, energéticos e ambientais, afirma que os pesquisadores de sua área evitam o termo “mudanças climáticas” por julgá-lo permeado de uma questão de fé: se é o homem o causador das mudanças ou se elas são parte do processo natural de conformação do planeta. “Não entramos nesta discussão. Partimos do consenso científico de que existe de fato uma variação do clima, independentemente do seu efeito causador. Existindo, estudamos como esta variação pode afetar o uso dos recursos hídricos e, consequentemente, a geração de energia elétrica, foco das nossas pesquisas”, justifica. Rafael Tiezzi é autor da tese “Variabilidade hidroclimatológica e seus efeitos no suprimento de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional”, orientada pelo professor Paulo Sérgio Franco Barbosa, na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. “O impacto da variação climática (ou mudanças climáticas) sobre a geração de energia hidrelétrica é um tema que abordo desde o mestrado em 2007 e que agora se tornou bem atual. Trata-se basicamente de fazer projeções sobre a precipitação da chuva, que se transforma em vazão de rio, vazão que vai ser turbinada na usina.” O engenheiro explica que desenvolveu a tese a partir de um estudo do Hadley Centre da Inglaterra, considerado o principal instituto mundial em pesquisa sobre mudanças climáticas. “É uma simulação nomeada HadCM3, que traz 17 cenários de variações climáticas em todo o planeta para os próximos 90 anos. O Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] regionalizou esse estudo para a América do Sul, mas focando apenas quatro dos 17 cenários: o cenário controle, sem anomalias (Cntrl); de alta densidade de perturbações (High); de baixa densidade de perturbações (Low); e intermediário (Mid), com perturbações entre os cenários Low e Cntrl.” Foi a partir desta regionalização pelo Inpe que o autor da tese transformou os dados de precipitação de chuvas em vazão dos rios que formam as principais bacias hidrográficas brasileiras geradoras de energia – são 26 bacias, onde estão 80% dos nossos rios e se produz 98% da energia elétrica do país. “Trabalhamos com tendências de perdas ou ganhos de volume de água neste período de 90 anos, fornecendo índices mensais de vazão para os quatro cenários e para as 26 bacias. É uma infinidade de dados com os quais geramos valores de ENA (energia natural afluente, ou seja, a vazão transformada em potencial de geração) relacionados a cada um dos quatro subsistemas brasileiros (Norte, Sul, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste), bem como ao sistema interligado inteiro.” Rafael Tiezzi acrescenta que isso tornou possível inferir regiões com problemas futuros de água e possíveis riscos à capacidade de geração de energia. “O resultado final mostra que, para o sistema nacional como um todo, o impacto varia de 10% de ganho a 15% de perda na capacidade de ENA, respectivamente no melhor e no pior cenário. São impactos que devem ser considerados, ainda que o sistema interligado permita enviar energia de uma região para outra que esteja com a capacidade de geração comprometida. Porém, para outros usos de água, como no abastecimento, os efeitos podem ser severos principalmente nas porções Norte e Nordeste.”

Publicação Tese: “Variabilidade hidroclimatológica e seus efeitos no suprimento de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional” Autor: Rafael de Oliveira Tiezzi Orientador: Paulo Sérgio Franco Barbosa Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

Fotos: Antonio Scarpinetti

Tese analisa efeitos da variação climática na geração de energia

A previsão do HadCM3 para os próximos 90 anos inclui inúmeros dados meteorológicos como temperatura da atmosfera, ventos, ventos em superfície, ventos em alta atmosfera e, obviamente, chuvas – cujas informações foram transpostas pelo autor para cada célula de 40 por 40 quilômetros das bacias. “É preciso observar que a meteorologia lida com previsões até um prazo máximo de seis meses e que depois disso passamos à climatologia, que faz projeções de longo prazo. Outra observação é que um aumento de 2 graus na temperatura não implica necessariamente em mais chuvas, pois a resposta dos modelos climáticos não é linear. A título de exemplo, com 2 graus a mais podemos ter aumento de chuva no Sudeste e diminuição no Nordeste, ou vice-versa no caso de 3 graus a mais.”

FATIAS DE TEMPO

O autor da tese recorreu a 83 anos de histórico (1931- 2012) para comparações com os cenários futuros, em que a previsão climática é dividida em fatias de tempo de 30 anos (2011-2040, 2041-2070, 2071-2100), paralelamente à abordagem global dos 90 anos. “Estudos hidrológicos mostram que, a partir da década de 1970 até o início dos 80, houve uma quebra na série histórica com diferenças de vazão muito grandes, o que se deve principalmente ao crescimento das cidades: a ocupação do solo e a mudança de dinâmicas como de infiltração e escoamento da água impactaram na vazão dos rios. Por isso, incluímos na tese um comparativo futuro com os 29 anos de 1984 a 2012, desconsiderando 1983, ano muito fora da curva em termos de cheias.” De acordo com Tiezzi, as comparações com o histórico de 83 anos e com o período 1984-2012 não mostram impactos futuros significativos para o Sistema Integrado Nacional: em relação ao histórico, seria de 10% de ganho de ENA a 7% de perda; e quanto aos últimos 29 anos, de 7% de ganho a 10% de perda. “Por esta lógica, podemos trabalhar com impactos variando de 10% positivos a 10% negativos nos próximos 90 anos. E, nas fatias de 30 anos, verificamos um impacto maior entre 2071 e 2100, que no cenário mais pessimista chega a 15% de perda de ENA.” O pesquisador observa que no Sul, em alguns cenários, existe a possibilidade de repetição dos ganhos de até 100% no volume de água registrados entre 1971 e 1990; e que no Norte e Nordeste as perdas de ENA podem ficar quase 70% abaixo do volume histórico. “Este aumento de 100% na vazão precisa ser estudado mais a fundo, pois isso não significa que as usinas do Sul terão capacidade de acumulação de água para gerar o dobro de energia elétrica. Temos aí um grande nó em termos de planejamento: ou se cria novos reservatórios para armazenar esta água, ou se renova as turbinas das usinas para que fiquem mais potentes. Por outro lado, este aumento pode

agravar o problema de cheias e enchentes na região, o que merece estudos específicos, já que não foi o foco da pesquisa”. A projeção para o subsistema Sudeste/ Centro-Oeste é mais amena, conforme o autor do estudo, que apresenta um gráfico com traços vermelhos (indicando os piores cenários), verdes (os mais positivos) e amarelos (os intermediários). “No Sudeste predominam os traços amarelos, que são negativos em termos de energia natural afluente, mas pouco preocupantes diante dos impactos de até 70% esperados para o Nordeste. São Paulo, por exemplo, apresenta índices negativos de 1% a 4% nas projeções climáticas, o que está na margem de erro do modelo. Até mesmo impactos da ordem de 10% negativos, embora importantes, podem ser controlados com um planejamento bem feito do sistema, através da criação de reservatórios estratégicos e investimento em outras formas de geração de energia. São ações de baixa complexidade, não há necessidade de reformular todo o sistema.”

ACUMULAÇÃO DE ÁGUA

Rafael Tiezzi estudou o mesmo fator ENA para uma área na confluência dos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, que detém 65% da capacidade de reservar água para o sistema elétrico nacional – o chamado polígono de acumulação de águas. Ali ficam cinco cabeceiras dos rios São Francisco, Tocantins e três do rio Grande, com suas respectivas usinas e reservatórios: Emborcação, Nova Ponte, Furnas, Três Marias e Serra da Mesa. São os chamados reservatórios de acumulação, pois conseguem armazenar água para um gerenciamento plurianual (de até cinco anos). “Trata-se de uma região central do país e de transição climática, onde os modelos podem apresentar erros maiores. Mas tivemos uma boa surpresa, pois segundo as modelagens os impactos das alterações climáticas não serão grandes.” Comparando os cenários futuros com o histórico, o autor da tese vê, por exemplo, impactos negativos em Serra da Mesa e positivos em Furnas e em Três Marias, mas sem perturbações importantes na área como um todo. “Vemos até um aumento de vazão, indicando que a acumulação de água não será comprometida. Ainda assim, deve-se pensar nesta problemática do armazenamento, que talvez não seja a solução, mas é um dos mecanismos para garantir a geração de energia. Também é certo que, no sistema interligado, o cenário

mais ameno do Sudeste/Centro-Oeste (responsável por 70% da energia gerada no país) permitiria compensar um impacto negativo nesta região. A questão é que em previsão climatológica, quando se trabalha no longo prazo, há sempre uma incerteza associada.”

CRISE HÍDRICA

Embora reiterando que o foco da tese está na previsão de precipitação de chuvas para a geração de energia elétrica, e não para abastecimento de água, Tiezzi não se furtou a comentários sobre a crise hídrica no Sudeste. “Fiz um gráfico para a região mostrando que nos últimos 14 anos (2000-2014) os valores de ENA ficaram bem abaixo da média histórica: 85,1% em 2001 (quando houve racionamento de energia) e 80,8% no ano passado (muito pior). A falta de chuva pesou bastante neste processo, mas a crise energética de 2001 levou à criação de usinas térmicas, que não precisam de água e deram fôlego aos reservatórios. Quanto ao abastecimento, parte do impacto se deve à falta de um plano B como das térmicas no setor de energia.” Rafael Tiezzi observa que seu estudo sobre o impacto das alterações climáticas nas bacias brasileiras é preliminar, e trabalhando com um horizonte distante, mas espera que estas informações sirvam para outras análises mais pontuais ou regionais. “No planejamento da expansão do sistema elétrico, levase em conta fatores socioeconômicos, como crescimento da população e do PIB, quando somos altamente dependentes do clima para a geração de energia. O que pretendemos é inserir fatores quantitativos (numéricos) sobre futuras alterações climáticas no planejamento do Sistema Interligado Nacional de Energia, principalmente no planejamento de médio e longo prazo.”

O engenheiro Rafael de Oliveira Tiezzi: “Trabalhamos com tendências de perdas ou ganhos de volume de água em um período de 90 anos”


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Campinas, 13 a 26

Livros de Simon Schwartzman ra Editora da Unicamp relança obras do sociólogo e cientista político MARTA AVANCINI Especial para o JU

o longo de pelo menos quatro décadas, o sociólogo e cientista político mineiro Simon Schwartzman tem se dedicado ao estudo de temáticas fundamentais para compreender o Brasil atual. Transitando da organização do sistema político à ciência e tecnologia e, mais recentemente, aos estudos sobre pobreza e política social, Schwartzman oferece uma perspectiva, ao mesmo tempo histórica e comparada, que possibilita entender processos que constituem e caracterizam a sociedade brasileira. Além de pesquisador e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Simon Schwartzman foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1994 a 1998). Também foi professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Universidade de São Paulo (USP), além de ter atuado como pesquisador ou professor visitante em diversas universidades no exterior – entre as quais, Harvard, Columbia, Berkeley e Stanford. Atualmente, é pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), no Rio de Janeiro. A Editora da Unicamp está relançando três obras centrais para compreender o pensamento de Schwartzman: Bases do Autoritarismo Brasileiro; Um Espaço para a Ciência; e A Educação na América Latina e os Desafios do Século XXI. Os lançamentos se inserem no contexto das homenagens à produção acadêmica do intelectual, que completou 75 anos em 2014. Leia a seguir a entrevista que Simon Schwartzman concedeu ao Jornal da Unicamp, na qual ele fala sobre as três obras e tece algumas reflexões sobre o Brasil na contemporaneidade.

O livro não se limita a isso, mas o sistema de São Paulo foi e continua sendo a parte mais importante na área de ciência e tecnologia do país, com instituições próprias e bastante autonomia em relação a Brasília. Então, é possível perceber uma dualidade e coexistência de diferentes Brasis também nesta área. O terceiro livro, A Educação Superior na América Latina e os Desafios do Século XXI, é um trabalho mais recente, que resultou de um curso que realizei no Memorial da América Latina há dois anos. As aulas foram dadas por convidados de vários países da América Latina e do Brasil. Este trabalho, de alguma maneira, retoma o tema da ciência e da tecnologia, porque na América Latina, boa parte da pesquisa se dá dentro das universidades. Então, esses dois temas estão muito ligados.

JU – Em As Bases do Autoritarismo no Brasil o senhor desenvolve dois conceitos-chaves que caracterizariam o sistema político brasileiro, o de autoritarismo e o patrimonialismo

Jornal da Unicamp – Quais são as relações que o senhor enxerga entre os três livros relançados pela Editora da Unicamp e de que maneira eles traduzem o seu percurso intelectual? Simon Schwartzman – O livro mais antigo, Bases do Autoritarismo Brasileiro, é resultado do meu doutorado em Ciência Política, que fiz na Universidade da Califórnia em Berkeley e foi escrito no início dos anos 1970, quando eu trabalhava no Instituto Universitário de Pesquisas Rio de Janeiro (Iuperj). É um livro sobre a evolução do sistema político brasileiro, de suas instituições políticas. Uma de suas teses centrais é que existem diferentes formas de organização da atividade política. Elas podem ser explicadas, de maneira simplificada, como uma forma mais tradicional, organizada de cima para baixo, um Estado centralizado, autoritário, baseado em oligarquias regionais; e outro tipo de política com um caráter mais forte de participação. A estas duas modalidades eu chamava de sistemas de cooptação e de representação. No livro, eu procuro mostrar como, no Brasil, essas duas formas de política disputam espaço, com o predomínio do sistema de cooptação, que era uma aliança entre poder político na capital, Rio de Janeiro, com as oligarquias estaduais. Esta aliança não abria muito espaço à política de representação que se manifestava sobretudo a partir da região de São Paulo, que havia se desenvolvido historicamente à margem do centro político do país, com uma economia e uma sociedade mais moderna, que sempre esteve em tensão com o núcleo mais tradicional de poder. Esta é a tese do livro, que colocava em questão a ideia predominante de que o poder político era, por definição, uma decorrência do poder econômico. No caso do Brasil, eles estavam em constante conflito. Depois, mais tarde, comecei a me envolver cada vez mais com os temas da educação e da ciência e tecnologia. O livro Um Espaço para a Ciência aborda a formação da comunidade científica; é um trabalho que fiz no final da década de 1970. O tema era o desenvolvimento histórico das universidades, da ciência, no Brasil. Aqui, de alguma maneira, encontrei o mesmo padrão, a ideia de diferentes tipos de Brasil convivendo, se considerarmos que o principal projeto universitário do Brasil nos anos 1930 era a Universidade de São Paulo. A USP foi uma tentativa de o Estado de São Paulo ocupar a liderança intelectual e científica do país, para compensar a derrota política que havia sofrido com a Revolução de 1932.

burocrático. O senhor diria que essas características se mantêm válidas para compreender o cenário político atual? Schwartzman – O patrimonialismo continua sendo um conceito importante, pois consiste da ideia que o sistema político é apropriado por grupos sociais que usam o poder como sua propriedade privada. É diferente da ideia clássica de representação, que pressupõe que o governo é formado por pessoas que representam os interesses da sociedade e que estão lá para defender estes interesses. No caso do patrimonialismo, o governo funciona como um grande empreendimento a serviço das pessoas que controlam essa máquina e se apropriam dos recursos públicos que o Estado detém. No Brasil, esse conceito continua sendo muito importante, porque boa parte da política brasileira funciona exatamente nesses termos. JU – Esse traço da política brasileira tem a ver com herança histórica colonial do país?

“Quando a sociedade é débil e a burocracia cresce, ela corre o risco de deixar de atender à sociedade para defender seus próprios interesses, dando lugar ao neopatrimonialismo, ou patrimonialismo burocrático”

“O Brasil é tradicionalmente um país muito excludente. O populismo é uma reação a isto, na medida em que se opõe aos políticos tradicionais, mobiliza as populações mais pobres, promete e distribui benefícios”

“É preciso ser levado em conta que a produção científica é muito pouco usada pela sociedade brasileira, seja para desenvolver uma indústria mais moderna, seja para desenvolver políticas públicas mais competentes”

“Nossos critérios de avaliação da pesquisa são internos, e nem sempre de padrão internacional. Por isso, corremos o risco de perder de vista o que está acontecendo em outras partes do mundo”

Schwartzman – Esse tipo de coisa não acontece apenas no Brasil, mas certamente tem a ver com a nossa história. O Brasil começa como um empreendimento econômico da Coroa Portuguesa, que se organiza para extrair os recursos da economia da madeira, do açúcar e do ouro, através de concessões que eram controladas e pagavam tributos à Coroa. As principais cidades - Salvador, Rio de Janeiro - se desenvolveram como centros administrativos e financeiros com a função de controlar o fluxo de riqueza das exportações, assim como para administrar o tráfico de escravos, mantendo a renda altamente concentrada. Esta combinação de poder centralizado e autoritário e oligarquias subordinadas e dependentes do poder central se mantém depois da independência e continua forte até os dias de hoje. JU – Nesse cenário, como o senhor vê o papel da burocracia e da sociedade civil? Schwartzman – Talvez eu tenha sido otimista demais quando escrevi nos anos 1970, porque eu achava que a sociedade civil brasileira iria ganhar força, reduzindo o papel do centro patrimonialista, da política mais tradicional, e abrindo espaço para uma política semelhante à europeia, com partidos políticos representando a burguesia, o novo proletariado urbano, e os interesses rurais Isso aconteceu em certa medida, mas nos anos mais recentes o que mais se desenvolveu foi o populismo. Esse populismo não é uma coisa nova, existe desde Getúlio Vargas, principalmente nos seus últimos anos, e se tornou uma característica marcante da política brasileira. O populismo, de alguma maneira, reproduz o modelo da política de cooptação, patrimonialista, distribuindo alguns recursos à população que se sente abandonada pela política tradicional e não consegue se integrar à economia moderna, cobrando lealdades e incorporando, de certa forma, novos setores da sociedade ao sistema político. O populismo no Brasil é muito importante, mas quando eu trabalhava com esses temas nos anos 1970, não dei a ele importância que merecia. A burocracia é um componente central das sociedades modernas. A análise mais importante sobre a burocracia é a de Max Weber, que a entende como o modo mais eficiente de organizar a gestão do Estado contemporâneo, sendo ao mesmo tempo racional e legal, ou seja, atuando conforme as regras e normas definidas por lei. No entanto, quando a sociedade é débil e a burocracia cresce, ela corre o risco de deixar de atender à sociedade para defender seus próprios interesses, dando lugar então ao neopatrimonialismo, ou patrimonialismo burocrático; é uma burocracia que, na verdade, exerce o poder não para atender o que a sociedade demanda, mas para atender aos seus interesses. JU – Como o senhor vê o efeito desse tipo de Estado em suas relações com a sociedade? Este é um fator gerador de exclusão, por exemplo? Schwartzman – O Brasil é tradicionalmente um país muito excludente. O populismo é uma reação a isto, na medida em que se opõe aos políticos tradicionais, mobiliza as populações mais pobres, promete e distribui benefícios. O Brasil tem uma sucessão importante de líderes populistas, começando com Getúlio Vargas e depois Adhemar de Barros, nos anos 1940 e 1950, depois temos Jânio Quadros, João Goulart, Collor e Lula que continua nesta tradição. O populismo consegue em alguns casos abalar as instituições tradicionais e abrir espaço para novas lideranças, mas dificilmente consegue se consolidar em novas instituições e formas mais modernas e menos excludentes de organização política e social. JU – De que maneira esse tipo de Estado impacta na produção científica? Schwartzman – O livro sobre a comunidade científica foi escrito no final dos anos 1970, no governo Geisel, que tentou fazer um projeto de Brasil Grande, com indústrias modernas, tecnologia avançada, energia nuclear e capacidade bélica. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia nacional fazia parte deste projeto, e o governo começa a tentar atrair de volta para o Brasil os cientistas que havia deixado o país a partir de 1964, em conflito com o regime militar.


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6 de abril de 2015

adiografam o Brasil contemporâneo Fotos: Antoninho Perri

O sociólogo e cientista político Simon Schwartzman: “O patrimonialismo continua sendo um conceito importante, pois consiste da ideia que o sistema político é apropriado por grupos sociais que usam o poder como sua propriedade privada”

Tendo esse período como pano de fundo, o livro procura mostrar que a comunidade científica não pode ser entendida como um braço de uma política econômica ou de uma política de poder. Para que a comunidade científica se desenvolva, ela precisa ser autônoma, precisa ter liberdade de trabalhar, o que só é possível em uma democracia. Este é o tema central do livro. Quando se tenta desenvolver a ciência e a tecnologia sob comando – seja ele militar ou econômico -, até é possível conseguir alguma coisa, porque nessas circunstâncias é colocado dinheiro na ciência e tecnologia. Mas existem também limitações, pois não se cria uma comunidade científica autônoma, capaz de abrir novos caminhos. Em um período muito curto, de 1976 a 1980, cria-se a pós-graduação no país, há muitos investimentos e uma série de coisas que são feitas no campo da ciência e tecnologia, mas a logo partir dos anos 1980 começa a crise econômica, o governo militar cede o poder em 1985 e o grande projeto de Geisel se desfaz. Mas já havia sido criada toda uma estrutura de cursos de pós-gradução e novas agências de fomento à pesquisa, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o antigo Conselho Nacional de Pesquisas, que se transformou em Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Logo depois, já no governo Sarney, foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia. O resultado foi que a comunidade científica e tecnológica, que havia se expandido nos anos 1970, se transforma em um grupo de interesse que ocupa espaço e é financiado pela nova burocracia pública que havia sido criada naqueles anos. Esta comunidade é muito desigual, com importantes grupos e instituições de alta qualidade desenvolvendo trabalhos relevantes, e muitos outros nem tanto, mas sobrevivendo de toda forma graças aos recursos distribuídos pelo Estado. JU – No livro Um Espaço para a Ciência, o senhor fala sobre o risco de isolamento e complacência da comunidade acadêmica brasileira. O que o senhor quer dizer com isso? Schwartzman – Nos anos 1970 era comum a ideia de que a ciência e a tecnologia brasileira não se desenvolviam como poderiam porque havia uma espécie de “cerco tecnológico”: os países desenvolvidos – Estados Unidos, Europa, e também a União Soviética guardavam para si as tecnologias civis e militares que haviam desenvolvido e não permitiam que o Brasil se apropriasse delas. Acreditava-se, então, que era necessário desenvolver uma tecnologia nossa, protegida, e olhar com desconfiança as aproximações com os centros científicos e tecnológicos de outros países. Não há dúvida que existem segredos militares e comerciais que são protegidos. Os Estados Unidos não vão nos passar a tecnologia de construção de foguetes espaciais ou de uma bomba atômica, e uma companhia que desenvolve um produto sofisticado de grande valor comercial não vai ceder a patente deste produto. Nesse sentido, a ideia de que é necessário desenvolver tecnologia por conta própria não é absurda.

No entanto, no mundo atual, há uma grande circulação internacional de ideias, de conhecimento de contatos, sobretudo entre universidades, mas também nos meios empresariais e governamentais, em que as restrições não existem. Se houver no Brasil uma comunidade científica e tecnológica mais aberta, que faça mais intercâmbio, com mais entrada e saída de pessoas, submetida a critérios de qualidade mais estritos, podemos nos beneficiar mais intensamente desse fluxo internacional de ideias, conhecimentos e competências, inclusive para desenvolver projetos e produtos protegidos por interesses comerciais ou militares. Mas se, preocupados com o “cerco”, instaura-se um processo de fechamento, não é possível ir muito longe. Um exemplo do isolamento foi a política nacional de informática [das décadas de 1980 e início da de 1990], que foi um desastre absoluto porque acreditava-se que o Brasil iria conseguir competir no mercado internacional na área de pequenos computadores, sem atentar para a rápida globalização que estava ocorrendo no setor. Na mesma época em que o Brasil optou pela política de informática, países como a Dinamarca adotaram como política ensinar todos a usarem computadores, fabricados por quem fosse. O Brasil, não, resolveu fabricar computadores, desenvolver seu próprio software e proibir a importação de produtos estrangeiros. Com isto, foram criadas algumas empresas nacionais de computação e um certo número de empregos protegidos, mas o país como um todo, por um tempo, deixou de acompanhar a revolução tecnológica que ocorria no mundo. Esta mentalidade de isolamento ainda existe em boa parte do ensino superior brasileiro. As nossas universidades públicas têm dificuldade para trazer gente de fora, para

mandar gente para fora, não têm alunos internacionais, então não existe muita circulação de talentos. Nossos critérios de avaliação da pesquisa são internos, e nem sempre de padrão internacional. Por isso, corremos o risco de perder de vista o que está acontecendo em outras partes do mundo. JU – Qual o impacto dessa mentalidade sobre a produção científica brasileira? Schwartzman – O sistema de produção de ciência e tecnologia cresceu muito nos últimos anos. Há muitos doutores formados por ano, o número de artigos publicados tem aumentado, mas o impacto internacional da produção científica brasileira é muito pequeno. O número de citações é muito baixo também. Outro aspecto que precisa ser levado em conta é que a produção científica é muito pouco usada pela sociedade brasileira seja para desenvolver uma indústria mais moderna, seja para desenvolver políticas públicas mais competentes, por exemplo, na área ambiental, na área da saúde. Não podemos generalizar, existem setores mais dinâmicos, mas nossa comunidade acadêmica é, predominantemente, uma comunidade científica bastante isolada. O número extremamente reduzido de patentes produzidas por pesquisadores brasileiros são uma manifestação deste baixo impacto.

As obras

Título: A educação superior na América Latina e os desafios do século XXI Organizador: Simon Schwartzman Páginas: 288 | Editora da Unicamp Área de interesse: Educação

JU – Como o senhor vê o ensino superior no Brasil e suas perspectivas, considerando o desafio da ampliação do acesso e o da inclusão, que persiste há vários anos? Schwartzman – A primeira coisa a observar é que o setor público não foi capaz de crescer num ritmo adequado nos últimos anos. Atualmente, cerca de 75% das matrículas no ensino superior estão no setor privado.

Intelectual vai ser homenageado No dia 23 de abril, será realizada uma homenagem especial a Simon Schwartzman, acompanhada do lançamento do livro A Educação Superior na América Latina e os desafios do século XXI. O evento ocorrerá na Livraria da Vila, no Galleria Shopping, em Campinas e integra a programação do seminário internacional “A profissão acadêmica e os desafios da inovação: a experiência internacional nas áreas engenharia, tecnologias, matemática e ciências”. O seminário, que será realizado entre 22 e 24 de abril no auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, está sendo promovido pelo Fórum Pensamento Estratégico da Reitoria da Unicamp (Penses), o Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da

Não há nada mal, em princípio, com o ensino superior privado, mas, no Brasil, com poucas exceções, o setor se organizou sobretudo como uma indústria de venda de serviços educacionais de baixo custo para pessoas que podem pagar pouco e não têm condições de estudar muito. Se as pessoas estão dispostas a pagar por isto, pode-se presumir que estes cursos trazem benefícios. O que ocorreu nos últimos anos, no entanto, foi que o governo federal passou a financiar com recursos cada vez maiores a este setor, através do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Programa de Financiamento Estudantil (Fies), sem critérios claros e uma avaliação de resultados. Agora o Fies está em crise, e o governo pretende introduzir critérios mais estritos de qualidade e necessidade para manter o financiamento. O sistema federal, recentemente, recebeu recursos para sua ampliação, através do programa Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), e com isto abriu mais vagas. Mas existe um problema conceitual sério, que afeta também o sistema paulista, que é que eles pretendem fazer tudo ao mesmo tempo - pesquisa, ensino profissional de qualidade, ensino noturno, inclusão social, ação afirmativa – objetivos nem sempre compatíveis uns com os outros. As universidades públicas são caras, porque os professores são quase todos de tempo integral, embora só uma pequena parte faça pesquisa de qualidade, e porque funcionam como repartição pública, sem flexibilidade para estabelecer prioridades e eliminar gastos inúteis. Começa a haver, a partir deste ano, restrição dos recursos disponíveis, e tudo isso cria um quadro preocupante.

USP (NUPPs-USP), Laboratório de Estudos Sobre Ensino Superior da Unicamp (LEES) e Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp (DPCT/IG). Reunindo especialistas da Argentina, México, Chile, Canadá, Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Finlândia, Rússia, China, Japão, Coréia e Malásia, serão discutidos no evento os impactos das novas dinâmicas de produção do conhecimento nas perspectivas de carreira dos cientistas, na organização do seu cotidiano, nos seus valores e atitudes com relação à vida acadêmica. O seminário é gratuito e será ministrado em inglês. Para mais informações e inscrição, acesse: http://www.gr.unicamp.br/penses/ seminario_profissao_academica/home.html

Título: Bases do autoritarismo brasileiro Autor: Simon Schwartzman Páginas: 296 | Editora da Unicamp Área de interesse: Ciências sociais

Título: Um espaço para a ciência: A formação da comunidade científica no Brasil Autor: Simon Schwartzman Páginas: 416 | Editora da Unicamp Área de interesse: Divulgação científica


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Comissão da Verdade

apresenta relatório final Fotos: Antoninho Perri

Documento resgata fatos vivenciados por docentes, alunos e funcionários da Unicamp na ditadura militar LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

o último dia 1º de abril foi realizada a solenidade de entrega do relatório final da Comissão da Verdade e Memória “Octávio Ianni”, criada pela Reitoria para investigar eventuais arbítrios e violações de direitos humanos praticados contra docentes, alunos e funcionários da Unicamp durante a ditadura militar. O relatório traz logo na introdução a premissa que conduziu o trabalho de um ano e meio: que “a Unicamp não foi uma ilha”, mesmo que livre de grandes ocorrências como invasões pelas forças de segurança, desaparecimentos e mortes. “Sua dimensão e alcance [do sistema repressivo] eram tamanhos que as consequências de seu funcionamento não são traduzíveis simplesmente em números de pessoas diretamente atingidas (presos, torturados, desaparecidos, mortos)”, ressaltam os autores do texto. A professora Maria Lygia Quartim de Moraes, presidente da CVM “Octávio Ianni”, afirmou que a Unicamp realmente não foi tão afetada quanto outras universidades, como UnB e USP, mas também sofreu os efeitos da ditadura militar tendo professores expulsos e alunos presos. “Além de ser fundamental levantar os fatos, também era de nosso interesse – e daí a ‘memória’ – a transmissão desses fatos às novas gerações; para a compreensão de que, em certo momento do país, uma ditadura impôs uma repressão tremenda, prendendo, torturando e cerceando a liberdade de expressão e de manifestação.” Um caso marcante, segundo Maria Lygia, foi o chamado “expurgo na medicina preventiva”, com a demissão de diversos membros do Departamento de Medicina Preventiva e Social (DMPS). “Há o relato de Anamaria Tembellini, companheira de Sérgio Arouca, que fazia parte de uma equipe médica que implementava um programa espetacular em Campinas, em que se tratava o paciente com respeito (e não como um imbecil): explicavam as circunstâncias que levaram à doença, como a água contaminada. Esse mesmo grupo foi para a Fiocruz, no Rio de Janeiro, o que mostra a perda social imediata com a perseguição.” O reitor José Tadeu Jorge definiu o relatório como um marco na história da Universidade, externando “um agradecimento institucional enfático” à CVM pelo trabalho de resgate e esclarecimento de fatos que tinham sido relegados ao esquecimento. “O trabalho da Comissão faz com que este relatório não seja um produto final, mas um marco, um ponto de referência para outras ações tendo como foco a questão da ditadura. O relatório também faz recomendações acadêmicas de extrema relevância; recomendações chamando a Universidade para o seu papel como agente formulador de políticas públicas; e recomendações de caráter interno, que a própria instituição precisa analisar e produzir os resultados elencados. Quero dizer que nos esforçaremos para que todos os oito itens se concretizem.” O professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Universidade, lembrou que a ideia da criação de uma Comissão da Verdade na Unicamp lhe foi sugerida pelo professor Caio Navarro de Toledo. E que ou-

Mesa de abertura da solenidade de entrega do relatório final da Comissão da Verdade e Memória “Octávio Ianni”

tra proposta acatada prontamente foi a de envolver alunos nos trabalhos. “O passado é sempre uma lição e, como a Unicamp é uma instituição formadora de pessoas, consideramos importante a atuação dos alunos dentro do conceito de liberdade e democracia – esses alunos têm enorme poder multiplicador. É uma maneira de recuperar talvez uma falha nossa na formação das gerações atuais, quando vemos apelos pela volta dos militares ao poder.” A palestra de abertura do evento no Centro de Convenções foi concedida por Renan Quinalha, advogado da Comissão da

Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, que elegeu a CVM “Octávio Ianni” como uma das comissões universitárias mais atuantes e exemplares. Ele falou sobre o conceito de Justiça de Transição, concebido no início dos anos 1990 para dar conta do conjunto de medidas visando mudanças de regimes autoritários para democráticos. “Continuam muito parecidas as formas de atuação e de violência por parte de agentes do Estado contra seus opositores, sejam terroristas, bandidos ou que nomes utilizem. Há necessidade deste trabalho de memória e de justiça em relação à violação

de direitos humanos no passado para que este passado não acabe se reforçando no presente, permitindo que tais práticas se perpetuem.” A Comissão da Verdade e Memória “Octávio Ianni”, presidida por Maria Lygia Quartim de Moraes, tem como membros titulares os professores Wilson Cano (IE), Yaro Burian Júnior (FEEC), Ângela Maria Carneiro (IFCH), Caio Navarro de Toledo e o advogado Eduardo Garcia de Lima; e, como suplentes, a doutora em sociologia Danielle Tega (IFCH) e a advogada Fernanda Cristina Covolan.

Maria Lygia Quartim de Moraes, presidente da CVM: “Além de ser fundamental levantar os fatos, também era de nosso interesse – e daí a ‘memória’ – a transmissão desses fatos às novas gerações”

O reitor José Tadeu Jorge: “O trabalho da Comissão faz com que este relatório não seja um produto final, mas um marco, um ponto de referência para outras ações tendo como foco a questão da ditadura”

Alvaro Crósta, coordenador-geral da Universidade: “O passado é sempre uma lição e, como a Unicamp é uma instituição formadora de pessoas, consideramos importante a atuação dos alunos”

Renan Quinalha, advogado da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”: elegendo a CVM “Octávio Ianni” como uma das mais atuantes e exemplares


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Farmacêutico investiga medicamentos que agem no sistema nervoso central Foto: Antoninho Perri

Estudos feitos na FCM atestam que fármacos eram bioequivalentes ao medicamento de referência

O farmacêutico Roberto Fernandes Moreira, autor do estudo: emprego de metodologias analíticas de quantificação do fármaco em plasma humano

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

princípio da bioequivalência comprova a equivalência farmacêutica entre produtos apresentados sob a mesma forma farmacêutica, com idêntica composição de princípios ativos e com comparável biodisponibilidade, quando estudados sob um mesmo desenho experimental. O registro de medicamentos genéricos é um exemplo de utilização dos estudos de bioequivalência, feitos com seres humanos. Uma pesquisa de doutorado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), desenvolvida entre 2009 e 2012 com três medicamentos contendo fármacos que agem no sistema nervoso central (SNC), mostrou que os três estudos de bioequivalência foram obtidos com sucesso do ponto de vista estatístico e dentro dos parâmetros de aceitação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da norte-americana Food and Drug Administration (FDA). O farmacêutico Roberto Fernandes Moreira, autor do estudo, concluiu que esses fármacos – a clorpromazina (antipsicótico), a ondansentrona (antiemético) e a imipramina (antidepressivo) – eram bioequivalentes ao medicamento de referência, apresentando como vantagens o fato de apresentarem métodos bioanalíticos mais sensíveis, robustos e com menor tempo de análise, além de terem um limite de quantificação baixo para este tipo de pesquisa. Ele empregou no trabalho metodologias analíticas de quantificação do fármaco em plasma humano, mediante técnicas mais acuradas de cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas que as descritas na literatura, seja no limite de quantificação ou na velocidade da corrida cromatográfica. Como vai um grande volume de amostras para análise em estudos como esse, todo avanço em termos de tempo de análise é muito bem-vindo. Finalizar um estudo de bioequivalência no entanto não significa que a indústria já possa comercializá-lo como genérico, informa o pesquisador. Existe um processo de registro do produto onde também é preciso provar os dados de manufatura, das matérias-primas e da fabricação.

ETAPAS Segundo o farmacêutico, antes de iniciar a bioequivalência, é necessário efetuar o estudo de equivalência farmacêutica, produzido in vitro, que serve para provar que as duas formulações são equivalentes do ponto de vista de laboratório. Em geral, o estudo de bioequivalência envolve três etapas: clínica, analítica e estatística. Na etapa clínica, é administrado o medicamento-teste em seres humanos saudáveis. São retiradas amostras de sangue antes da sua administração e durante o tempo de ação do medicamento. Essas amostras são centrifugadas, sendo extraído o plasma, que sugerirá o teor de fármaco no sangue para traçar uma curva farmacocinética (o destino dos fármacos após sua administração), isto é, será determinado exatamente a concentração do fármaco pelo tempo de exposição no organismo. A segunda etapa é a analítica e a terceira a estatística. Essa última dirá se os dois medicamentos – o teste e o de referência – são estatisticamente equivalentes. A parte clínica, conforme Roberto, foi realizada na empresa Synchrophar Clínica, um centro habilitado pela Anvisa para fazer internações de voluntários saudáveis. As etapas analítica e estatística ocorreram na Synchrophar Analítica, onde o docente da FCM Ney Carter do Carmo Borges, orientador da tese, é o investigador principal. Tais normas, ou etapas, são aplicadas no Brasil pela Anvisa e pela FDA (Food and Drug Administration), órgão americano de registro de medicamento. Em ambos, a fórmula estatística denominada intervalo de confiança aponta se os resultados são equivalentes ou não. Roberto escolheu esse tema para compreender melhor o estudo de bioequivalência pelo qual passam os genéricos. “Precisávamos entender amiúde o que era isso para melhorar a entrega da formulação e para ter uma maior taxa de sucesso. O gargalo estava justamente nessa etapa, por envolver seres humanos.”

Ele discutiu as vantagens dos métodos analíticos. Isso porque essa parte abrange diversas avaliações das amostras de plasma. Só para se ter uma ideia, para os três estudos de bioequivalência, foi necessária a quantificação de mais de seis mil amostras. Por isso era preciso produzir um método robusto, sensível e específico, frente ao que havia em termos de limite de quantificação (a menor quantidade possível de ser determinada no sangue) e de tempo de análise, posto que, quanto maior esse tempo, maior é o tempo do estudo. Para tanto, a máquina adotada foi a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas. “Se reduzir esse tempo de amostra, de ‘corrida analítica’ ou tempo de análise, ocorre um ganho. Por outro lado, é sabido que essa máquina é cara e que, quanto mais usada, o tempo de análise encarece mais”, observa. Dentro da cromatografia líquida, explana, trabalha-se com a de alta performance e a de ultraperformance. “Enquanto a de alta performance atua com uma pressão de bomba específica, os equipamentos de ultraperformance, mais modernos, agem com uma pressão de bomba superior. Além disso, a corrida analítica mostra-se mais rápida. Então esse foi um objetivo desta pesquisa.” As amostras eram obtidas de pacientes sadios recrutados da sociedade perante o centro clínico habilitado, que passavam por uma bateria de exames, entre eles check-ups de hemograma, eletrocardiograma, sinais vitais. Todas as condições de participação eram analisadas sem custos. Depois os pacientes passavam por novos check-ups para terem alta do estudo. “Há uma rígida fiscalização da Anvisa mas também os participantes ganham acesso a inúmeros exames que, de outra sorte, não seriam oferecidos com rapidez pelo Sistema Único de Saúde”, comenta.

GENÉRICOS Os genéricos entraram no Brasil em 1999 e no momento respondem por 27% de tudo o que se produz de medicamento no país. Nos Estados Unidos, estão disponíveis desde a década de 1970 e perfazem 80% do que é produ-

zido lá. Entre seus benefícios, passam por testes rigorosos até serem registrados, para garantir sua qualidade, e podem ser intercambiáveis a um medicamento de referência. Isso significa que, quando alguém vai comprar um medicamento com prescrição médica, se encontrar um genérico, pode fazer a substituição. Os testes de bioequivalência portanto comprovam a intercambialidade, garantem a equivalência terapêutica e ainda por cima são mais baratos em razão da falta de propaganda. Genéricos não têm uma marca associada ao seu nome, e sua legislação preceitua que sejam 35% mais baratos do que um medicamento de referência. Além dos estudos de bioequivalência, a última etapa do desenvolvimento de um medicamento genérico, o setor industrial precisa compilar todos outros de equivalência farmacêutica, de manufatura e de dados da indústria, que formam o dossiê de registro desses medicamentos. Depois disso, a indústria os submete à Anvisa, para fazer uma análise minuciosa desse conteúdo. Em torno de 180 dias, ela fornece uma resposta com relação ao registro, o qual é publicado no Diário Oficial da União. A empresa ganha um número no Ministério da Saúde, que figura na caixa do produto e então providencia as embalagens para comercializá-lo. A contar da data da realização da bioequivalência, em média demora cerca de dois anos para que o produto adentre o mercado. Mas Roberto avisa que um genérico passa por muitas outras fases até chegar aos estudos de bioequivalência, entre elas o desenvolvimento da formulação, estudos de estabilidade e lotes pilotos em condições de boas práticas de fabricação na indústria. São feitos estudos de estabilidade novamente para comprovar se aquele produto é estável no tempo a ser comercializado. A posteriori acontece um estudo de equivalência farmacêutica, com análises físico-químicas comprovatórias entre o medicamento de referência e o teste do que deverá ser o genérico. Daí vêm os estudos de bioequivalência. É assim, com esse rigor, que definitivamente os genéricos estão se consolidando mundialmente.

Publicação Tese: “Determinação do perfil farmacocinético de medicamentos contendo fármacos de ação central” Autor: Roberto Fernandes Moreira Orientador: Ney Carter do Carmo Borges Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

7ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). A primeira fase da ONHB será realizada de 4 a 9 de maio, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. A organização é da professora Cristina Meneguello. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-1447. Veja o calendário do evento no link http://www.olimpiadadehistoria.com.br/6-olimpiada/blog/novidade/676-Calendario_ oficial

 Desafios aplicados a alimentos - Estão

abertas as inscrições para o Workshop Teórico-Prático Testes Desafio (challenge tests) aplicados a alimentos. O evento, organizado pelo professor Anderson de Souza Sant`Anna, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), apresentará conceitos que visam avaliar a robustez e a estabilidade de formulações de alimentos e bebidas. O workshop acontece entre o dias 27 e 30 de abril, na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), à rua Monteiro Lobato, 80, no campus de Campinas. As inscrições podem ser feitas na seção “Destaque”, no site da FEA http://www.fea.unicamp.br/.

Painel da semana  Projeto Refletir - A Coordenadoria Geral da

Unicamp (CGU) receberá, até 15 de abril, pelo e-mail refletir@reitoria.unicamp.br, propostas para o Projeto Refletir - Encontro Permanente sobre Vivência e Gestão na Unicamp. As propostas devem conter o tema e sua justificativa, objetivo do encontro e o público-alvo esperado dentro da Universidade. Elas podem ser formuladas e encaminhadas individualmente por coletivos organizados da comunidade, pelas entidades representativas – STU, DCE e Adunicamp –, por qualquer órgão da administração central, hospitais, centro e núcleos, institutos e faculdades ou formuladas envolvendo mais do que um destes atores. A princípio, serão selecionadas duas propostas para o ano de 2015. O resultado final será divulgado até 30 de abril de 2015. Todas as propostas recebidas serão avaliadas por uma comissão com representação de todos os segmentos da Unicamp.

 Seminário do Gepale - O Grupo de Estudos e Pesquisas em Política e Avaliação Educacional (GEPALE) da Faculdade de Educação (FE) organiza, dias 13 e 14 de abril, na FE, o seminário “As produções acadêmicas no campo da política e avaliação educacional: uma análise epistemológica”. A abertura do evento será às 8h30. Inscrições e outras informações na página eletrônica https://www.fe.unicamp.br/seminario-gepale/ index.html ou e-mail debora.jeffrey@gmail.com  Música além da pauta - Entre os dias 13 e 16 de abril acontece o VIII Encontro de Educação Musical da Unicamp, que terá como tema “Música além da pauta: a educação musical em diálogo com diferentes saberes”. O encontro ocorre no Instituto de Artes (IA) e terá workshops, oficinas, mesas redondas, comunicações orais e apresentações artísticas. As inscrições podem ser feitas entre 2 de março e 10 de abril. O IA fica à Rua Elis Regina, 50, no campus de Campinas. Informações sobre normas para envio e formatação de trabalhos no site http://www.iar.unicamp.br/educacaomusical/index.php. Mais detalhes pelo e-mail contatoeemu@gmail.com  Congresso Cepid Brainn - De 13 e 15 de abril

acontece o 2º Congresso Cepid Brainn organizado pelo Instituto de Pesquisa em Neurociências e Neurotecnologia (Brazilian Institute of Neuroscience and Neurotechnology - Brainn), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O evento será realizado no auditório do Instituto de Pesquisas Eldorado, em Campinas. Contará com a participação de pesquisadores do Brasil e do exterior de diversas áreas. Inscrições e outras informações no site http://www.fcm. unicamp.br/fcm/noticias/2015/2o-congresso-em-neurociencias-e-neurotecnologia-recebe-inscricoes

 Avanços no combate à violência contra

crianças e adolescentes - Tema será debatido no próximo Fórum Permanente de Políticas Públicas e Cidadania. O evento acontece no dia 15 de abril, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum será transmitido pela TV Unicamp e está sob a responsabilidade da professora Maria de Lurdes Zanolli. Inscrições e outras informações na página eletrônica http:// www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/politicaspub07.html

 Lançamento de livro - Orlando Carlos Furlan,

Assistente Técnico de Unidade (ATU) do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, lança no dia 17 de abril, às 16 horas, no Auditório Zeferino Vaz do IE, o livro “Atitude vencedora: faz toda a diferença”. A publicação foi patrocinada pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) da Unicamp, através de edital público em 2014. Leia mais sobre a publicação em http://www.unicamp. br/unicamp/noticias/2015/03/30/orlando-furlan-atu-doinstituto-de-economia-lanca-livro-de-auto-ajuda

 Gerontologia e Geriatria - O Programa de Pósgraduação em Gerontologia e o Departamento de Clinica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp oferecem o VIII Seminário de Pesquisa em Gerontologia e Geriatria, de 22 a 24 de abril de 2015. A abertura do evento acontece às 8 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O público-alvo são estudantes de graduação e de pós-graduação e profissionais de Gerontologia, Geriatria e áreas afins. Inscrições e mais detalhes no link http://www.fcm.unicamp.br/spgg/  ONHB - Encerram-se no dia 24 de abril, ou até que

o limite de inscrições seja atingido, as inscrições para a

 Fair trade na cafeicultura - Especialistas debaterão o tema na próxima edição do Fórum Permanente de Sociedade e Desenvolvimento. O evento está marcado para o dia 27 de abril, às 9 horas, no auditório do Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum, que será transmitido pela TV Unicamp, está sob a responsabilidade do professor Nilson Antonio Modesto Arraes, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). Inscrições e outras informações na página eletrônica http://www.foruns.unicamp. br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/ soc_e_desenv05.html  Participação, democracia e políticas

públicas - Encontro internacional organizado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp acontece entre os dias 27 e 30 de abril. É aberto aos pesquisadores, docentes, estudantes, agentes governamentais e da sociedade civil, militantes de movimentos sociais e partidos políticos. Inscrições podem ser feitas, até a data do evento, no link http://www.pdpp2015.sinteseeventos.com.br/site/capa.

 Ciência, Tecnologia e Sociedade - Ocorre no

dia 28 de abril, a partir das 9 horas, no auditório do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, o 2º Encontro dos Grupos de Estudo em Ciência, Tecnologia e Sociedade. O evento pretende promover uma maior integração entre grupos de pesquisa da Universidade. O evento é gratuito e aberto aos estudantes e profissionais interessados. O auditório do IG, à rua João Pandiá Calógeras, 51, no campus de Campinas. Mais detalhes pelo telefone 1935214192 ou pelo e-mail jean.dpct@gmail.com

 Curso de jornalismo científico - O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) recebe, até 30 de abril, as inscrições para a 9ª edição do curso de pós-graduação (lato sensu) em jornalismo científico. Para a primeira fase do processo, os candidatos devem encaminhar ficha de inscrição, currículo vitae (máximo 10 laudas) e texto autoral (máximo de três laudas) sobre o tema “O papel da comunicação científica numa sociedade democrática”, identificado com o nome do candidato. Currículo e texto devem ser enviados no formato PDF. As homologações das inscrições estão previstas para 11 de maio, dia em que também será encerrado o envio do material para a Comissão de Avaliação. Os resultados da primeira fase serão conhecidos em 3 de junho. Parte da segunda fase do processo, as provas de escrita e de proficiência em inglês ocorrem no dia 15 de junho, das 14 às 17 horas, nas salas da Engenharia Básica EB-07 e EB-14. Já as entrevistas acontecem no dia 29 de junho, das 9 às 15 horas, nas salas do Labjor/ Unicamp, à rua Seis de agosto 50, prédio da Reitoria V. Os resultados serão publicados no dia 30 de junho e o curso terá início em 10 de agosto. Mais informações no link http://www.labjor.unicamp.br/cursos/pos2015/  Artigos para a Resgate - A “Resgate: Revista In-

terdisciplinar de Cultura” abre chamada pública para edição comemorativa com o tema: “CMU 30 anos: histórias e memórias construídas com base em seus acervos”. Os artigos devem ser submetidos até 3 de maio (nova data), na página eletrônica http://www.cmu.unicamp.br/seer/ index.php/resgate/index. Desde a primeira edição, em 1990, “Resgate” divulga a um público amplo produções acadêmicas da área de Humanidades. A publicação reúne textos de docentes, alunos e pesquisadores de diversas universidades interessados na divulgação de resultados de pesquisas acadêmicas, inclusive mestrado e doutorado. Resgate reserva um espaço também para resenha de obras literárias. Com periodicidade semestral, a revista destaca-se por aproximar a produção acadêmica de um público amplo, por meio da seleção de textos que apresentem a pesquisa científica numa linguagem acessível não somente a pares, mas a leitores em geral. Mais detalhes pelo e-mail resgate@unicamp.br.

Teses da semana

Orientadora: professora Adriana Franco Paes Leme. Dia 28 de abril de 2015, às 8h30, na sala IB11 do prédio da CPG do IB.

 Ciências Médicas - “Quimioterapia em dose den-

sa no tratamento adjuvante do câncer de mama: revisão sistemática da literatura com meta-análise” (mestrado). Candidato: Igor Lemos Duarte. Orientador: professor Andre Deeke Sasse. Dia 17 de abril de 2015, às 13 horas, no anfiteatro do prédio da CPG da FCM.

 Computação - “Problemas online de localização

de instalações e de Steiner” (doutorado). Candidato: Mário César San Felice. Orientador: professor Orlando Lee. Dia 13 de abril de 2015, às 14 horas, no auditório do IC. “Relacionamentos de múltiplo parentesco em filogenia de imagens” (mestrado). Candidato: Alberto Arruda de Oliveira. Orientador: professor Anderson de Rezende Rocha. Dia 24 de abril de 2015, às 14 horas, no auditório do IC.

 Economia - “Superpopulação relativa, dependência

e marginalidade: ensaio sobre o excedente de mão de obra no Brasil” (doutorado). Candidato: Pedro Henrique Evangelista Duarte. Orientador: professor Carlos Alonso Barbosa de Oliveira. Dia 30 de abril de 2015, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão de Pós-graduação do IE.

 Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanis-

mo - “Degradação da lomefloxacina por processos oxidativos avaçados” (mestrado). Candidata: Amanda Marchi Duarte de Oliveira. Orientador: professor José Roberto Guimarães. Dia 8 de maio de 2015, às 14 horas, na sala CA22 da CPG da FEC.

 Engenharia Elétrica e de Computação “Otimização de políticas de manutenção em redes de distribuição de energia elétrica por estratégias híbridas baseadas em programação dinâmica” (doutorado). Candidato: Eduardo Tadeu Bacalhau. Orientador: professor Christiano Lyra Filho. Dia 16 de abril de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEEC. “Software Switch 1.3: implementação de um comutador openflow para experimentação em redes definidas por software” (mestrado). Candidato: Eder Leão Fernandes. Orientador: professor Christian Rodolfo Esteve Rothenberg. Dia 16 de abril de 2015, às 10 horas, na FEEC. “Aplicativo baseado no latex para geração de documentos normais envolvendo expressões matemáticas destinado a usuários com deficiência visual” (doutorado). Candidato: Julian Prada Sanmiguel. Orientador: professor Luiz Cesar Martini. Dia 16 de abril de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. “Contribuições na aplicação de câmeras plenópticas em vigilância e no desenvolvimento de um padrão de abertura codificada” (doutorado). Candidato: Rogério Seiji Higa. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 22 de abril de 2015, às 9h30, na FEEC. “Verificação de assinaturas manuscritas baseadas em seus sons acústicos e wavelet-packets” (mestrado). Candidato: Daniel Angelotti Armiato. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 24 de abril de 2015, às 10 horas, na FEEC. “Contribuição à teoria de sistemas amostrados: análise, controle e estimação” (doutorado). Candidato: Matheus Souza. Orientador: professor José Claudio Geromel. Dia 24 de abril de 2015, às 10 horas, na sala PE11 da FEEC. “Fabricação de micro ressonadores ópticos com alto fator de qualidade utilizando nitreto de silício depositado a baixa temperatura para aplicações em óptica não linear” (mestrado). Candidato: Adriano Ricardo do Nascimento Junior. Orientador: professor Leandro Tiago Manera. Dia 27 de abril de 2015, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Controle integrado de tensão e potência reativa através de aprendizado de máquina” (mestrado). Candidato: Adriano Costa Pinto. Orientador: professor Wlamir de Freitas Filho. Dia 30 de abril de 2015, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Multifuncionalidade de conversores eletrônicos de potência utilizados em microrredes inteligentes” (doutorado). Candidato: Jakson Paulo Bonaldo. Orientador: professor José Antenor Pomilio. Dia 8 de maio de 2015, às 9 horas, na sala PE12 da FEEC.

 Engenharia de Alimentos - “Encapsulação

de ácido gálico em sistemas emulsionados: efeito da composição das fases” (mestrado). Candidata: Andresa Gomes. Orientadora: professora Rosiane Lopes da Cunha. Dia 28 de abril de 2015, às 9 horas, no anfiteatro do DEPAN da FEA.

 Engenharia Química - “Análise termodinâmica

da transformação de biomassa em combustíveis utilizando técnicas de otimização global” (doutorado). Candidato: Antonio Carlos Daltro de Freitas. Orientador: professor Reginaldo Guirardello. Dia 28 de abril de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Processos termoquímicos para processamento de bagaço de cana-de-açúcar: pirólise em leito fixo e gaseificação em leito fluidizado” (doutorado). Candidato: Jaiver Efren Jaimes Figueroa. Orientadora: professora Maria Regina Wolf Maciel. Dia 4 de maio de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.

 Artes - “Avaliação do ensino-aprendizagem de guitarra elétrica e violão popular na licenciatura em música modalidade à distância da Universidade Vale do Rio Verde” (mestrado). Candidato: Endre Solti. Orientador: professor Ricardo Goldemberg. Dia 23 de abril de 2015, às 15 horas, na sala de defesa de teses da Pós-graduação do IA.

 Filosofia e Ciências Humanas - “Compassos e descompassos: a música popular e o tempo da tradição” (mestrado). Candidato: Luã Ferreira Leal. Orientador: professor Renato José Pinto Ortiz. Dia 6 de maio de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IFCH.

 Biologia - “Proteômica baseada em espectrometria

 Geociências - “Depósitos sedimentares, paleos-

de massas na descoberta de candidatos a biomarcadores em câncer e na identificação de novos alvos de ADAM17” (doutorado). Candidata: Rebeca Kawahara.

solos e suas relações com a evolução geológica da Formação Marília na região de Campina Verde (MG) (Bacia Bauru)” (mestrado). Candidata: Julia Cristina Galhardo.

Orientador: professor Alessandro Batezelli. Dia 27 de abril de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “A ascensão do veículo elétrico no século XXI: trajetória tecnológica e ações em curso” (mestrado). Candidato: Edgar Barassa. Orientadora: professora Flávia Luciane Consoni de Mello. Dia 30 de abril de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “O terreno plutono-vulcânico paleoproterozoico paranaíta-colider, sw do Cráton Amazônico (Brasil): evolução geológica e metalogênese do ouro” (mestrado). Candidato: Tiago Bandeira Duarte. Orientador: professor Roberto Perez Xavier. Dia 8 de maio de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.

 Linguagem - “De linguado a lingua(ru)da: gênero e discurso das mulieres plautinae” (doutorado). Candidata: Carol Martins da Rocha. Orientadora: professora Isabella Tardin Cardoso. Dia 24 de abril de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Estudo experimental sobre os nominalizadores -ção e -mento: localidade, ciclicidade e produtividade” (doutorado). Candidata: Maria Luisa de Andrade Freitas. Orientadora: professora Maria Filomena Spatti Sândalo. Dia 24 de abril de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A performance autobiográfica nos quadrinhos: um estudo de Alison Bechdel” (mestrado). Candidata: Aline de Alvarenga Zouv. Orientador: professor Fabio Akcelrud Durão. Dia 8 de maio de 2015, às 16 horas, na sala de defesa de teses do IEL.

 Matemática, Estatística e Computação Científica - “Um estudo de métodos numéricos Galerkin Descontínuo para aproximação de problemas hiberbólicos” (mestrado). Candidato: Felipe Augusto Guedes da Silva. Orientador: professor Maicon Ribeiro Correa. Dia 15 de abril de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Uma extensão da distribuição Birnbaum-Saunders baseada na distribuição gaussiana inversa” (mestrado). Candidata: Luz Marina Ramos Quispe. Orientador: professor Filidor Edilfonso Vilca Labra. Dia 17 de abril de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Códigos lineares via polinômios de permutação” (mestrado). Candidata: Ana Rachel Brito de Paula. Orientador: professor Fernando Eduardo Torres Orihuela. Dia 17 de abril de 2015, às 15 horas, na sala 253 do Imecc. “Ajuste de curvas, uma proposta alternativa aos currículos atuais do ensino médio, focada na interdisciplinaridade e estímulo ao uso de softwares” (mestrado profissional). Candidato: Alessandro Silva Santos. Orientador: professor Lúcio Tunes dos Santos. Dia 27 de abril de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Geometria analítica e vetores: uma proposta para melhoria do ensino da geometria espacial” (mestrado profissional). Candidato: André Luís Novaes. Orientador: professor Roberto Andreani. Dia 8 de maio de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Geometria analítica com enfoque vetorial no ensino médio” (mestrado profissional). Candidato: José Maria Rodrigues. Orientador: professor Roberto Andreani. Dia 8 de maio de 2015, às 16 horas, na sala 253 do Imecc.

 Odontologia - “Estudo dos efeitos do inibidor de ácido graxo sintase orlistat associado a 5-fluorouracil, cisplatina e paclitaxel em carcinoma espinocelular oral: estudo em linhagem celular e em modelo ortotópico” (doutorado). Candidata: Luciana Yamamoto de Almeida. Orientador: professor Edgard Graner. Dia 17 de abril de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.

“Influência do preaquecimento nas propriedades físicas de agentes cimentantes fotoativados através de diferentes espessuras de cerâmica” (mestrado). Candidato: Michele de Oliveira Lima. Orientador: professor Flávio Henrique Baggio Aguiar. Dia 28 de abril de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Violência interpessoal urbana e trauma buco-maxilofacial: análise retrospectiva em relatórios odontolócos de corpo de delito” (mestrado). Candidato: Márcia Pereira Simões. Orientador: professor Eduardo Daruge Junior. Dia 29 de abril de 2015, às 14 horas, no anfiteatro 4 da FOP. “Efeito da disjunção palatina sobre o processo pterigoide, sincondrose esfeno-occipital e sela turca em crânio com relação esquelética classes II e III - análise de elementos finitos” (mestrado). Candidato: Manuel Gustavo Chávez Sevillano. Orientador: professor Felippe Bevilacqua Prado. Dia 30 de abril de 2015, às 9 horas, na sala de seminários II da FOP.

 Química - “Determinação de cocaína e metabóli-

tos em amostras de urina de usuários da droga e em amostras ambientais” (doutorado). Candidata: Iolana Campestrini. Orientador: professor Wilson de Figueiredo Jardim. Dia 22 de abril de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Preparação e caracterização de nanocompósitos de acetato de celulose e nanocristais de celulose” (mestrado). Candidata: Liliane Samara Ferreira Leite. Orientadora: professora Maria do Carmo Gonçalves. Dia 23 de abril de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. Dia 24 “Desenvolvimento de novas técnicas em análises de termoplásticos” (mestrado). Candidato: Marcos Fernando Franco. Orientador: professor Marco-Aurelio De Paoli. Dia 24 de abril de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Óxido de grafeno e óxido de grafeno funcionalizado com nanopartículas de prata: atividade antibacteriana e aplicações em compósitos poliméricos” (doutorado). Candidata: Ana Carolina Mazarin de Moraes. Orientador: professor Oswaldo Luiz Alves. Dia 30 de abril de 2015, às 13 horas, no miniauditório do IQ.


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Tese mostra eficiência da ‘árvore da vida’ no tratamento de águas CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

Moringa oleifera (denominação científica) é uma árvore originária da Índia, que atinge cinco a seis metros de altura, tem flores brancas de extremidades amarelas e produz uma vagem com cerca de 40 cm de comprimento. Os inúmeros estudos relacionados a ela obedecem a duas vertentes principais: suas propriedades alimentícias e terapêuticas e sua utilização no tratamento de águas superficiais inadequadas para consumo ou de águas residuárias provenientes de atividades industriais. Já na antiguidade a moringa teria sido utilizada como alimento e remédio. Escritos sânscritos a mencionariam como planta medicinal e textos hindus fariam referência aos seus usos. Romanos, gregos e egípcios a utilizariam pelas propriedades terapêuticas e também para proteger a pele e purificar a água de beber. Em Êxodo 15, 22-25 haveria referência a esta circunstância: “Moisés fez partir os israelitas do mar Vermelho e os dirigiu para o deserto de Sur. Caminharam três dias no deserto, sem encontrar água. Chegaram a Mara, onde não puderam beber de sua água, porque era amarga, de onde o nome da Mara que deram a esse lugar. Então o povo murmurou contra Moisés: ‘Que havemos de beber?’ Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor indicou-lhe um madeiro que ele jogou na água. E esta se tornou doce. Foi o lugar que o Senhor deu ao povo preceitos e leis, e ali o provou”. Estudos acadêmicos mais recentes revelam grandes concentrações em suas folhas e sementes de vitamina C, cálcio, ferro e proteínas, além da presença de vitaminas A, B, E e sais minerais de cromo, cobre, magnésio, manganês, potássio, zinco, selênio e fósforo. Ela é considerada uma riqueza da natureza e esperança de combate à desnutrição no mundo, e por isso chamada árvore da vida. Campanhas para o seu plantio e uso têm recebido apoio da ONU/Unicef. No comércio existem cápsulas produzidas a partir de suas folhas, casca, raízes, sementes e também mel oriundo de suas flores. Existe ainda uma ampla culinária de doces e salgados que a utilização em suas composições. Outra vertente de estudos está relacionada à utilização da moringa oleífera (grafia em português) na potabilidade de águas superficiais não adequadas ao consumo devido a causas naturais ou antrópicas e à possibilidade de tratamento de águas residuárias provenientes de atividades industriais, como laticínios e curtumes, com vistas ao seu reúso ou descarte, de forma a proteger a saúde humana e preservar o meio ambiente. Nessa direção se desenvolveu a pesquisa do engenheiro civil Heber Martins de Paula, professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão, em tese orientada pela pro-

fessora Marina Sangoi de Oliveira Ilha, no Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. O estudo concentrou-se no uso de suspensões preparadas a partir de sementes de moringa oleífera associada a coagulantes químicos no tratamento da água residuária de usinas de concreto. O pesquisador explica que a operação de usinas de concreto gera água residuária que necessita de tratamento antes da disposição ou reúso. O processo tradicional de coagulação/floculação com a utilização de coagulantes químicos associados à decantação pode gerar resíduos nocivos à saúde humana. Em vista disso, o trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência da moringa como coagulante natural no tratamento da água residual do concreto produzido em usinas.

CONSTATAÇÕES A partir de ampla revisão da literatura nacional e internacional e das observações do que ocorre em usinas de concreto instaladas no Brasil, Heber constatou que cerca de 50% da água utilizada nas usinas de concreto é destinada a lavagem de betoneiras e de pátios. Uma usina de pequeno porte utiliza em torno de 540 m3 de água mensalmente, contabilizada a produção do concreto e as operações que demandam água como a lavagem de veículos, o que corresponde a dez residências com quatro pessoas. Ele considera que não é recomendável que essas águas residuárias sejam despejadas diretamente no solo ou em redes públicas sem tratamento face a elevada alcalinidade, pH , e grande teor de sólidos suspensos e dissolvidos, em que predomina o carbonato de cálcio. Além disso, quando submetidas a tratamento adequado, essas águas podem ser reutilizadas na produção ou na lavagem de pátios ou veículos na própria usina, contribuindo para a conservação desse importante insumo que é a água. O autor esclarece que nos processos de tratamento da água residuária proveniente das usinas de concreto empregam-se usualmente apenas câmaras de decantação e que a inserção do processo de coagulação, que agrega as partículas dissolvidas e suspensas formando flocos sedimentáveis, pode melhorar consideravelmente a qualidade da água tratada. O coagulante mais usado, nos tratamentos convencionais, é o sulfato de alumínio, que produz resíduos nocivos à saúde, que em contato com a pele, os olhos e as vias respiratórias podem causar irritação local e aparecimento de sintomas endêmicos. Para minimizar esses problemas tem sido indicado o tratamento de águas superficiais resíduas com coagulantes naturais como a moringa oleífera. A introdução do conceito de “usinas de concreto verdes” permitirá o reúso da água e da maior parte dos resíduos gerados.

Estudo comprova que moringa tem grande potencial como coagulante primário Na literatura a maioria dos estudos relata o uso da moringa oleífera para tratamento de águas superficiais e poucos trabalhos consideram o seu emprego para tratamento de águas residuárias, em que os resultados já obtidos se revelam auspiciosos para a remoção de sólidos suspensos, redução da turbidez e a retomada de seu aspecto incolor. O melhor potencial de coagulação/ floculação, em relação às várias partes da planta, é conseguido com a utilização de suas sementes descascadas. Esse efeito decorre da presença entre seus componentes ativos de uma proteína capaz de promover a coagulação. Ao considerar a importância do trabalho, o autor destaca que em boa parte das usinas de concreto brasileiras não existe um sistema de gestão da água residuária que minimize o desperdício e o impacto ambiental. Elas se valem de câmaras de decantação em que as partículas sólidas se depositam por gravidade, sem qualquer tratamento. Parte dessa água é reusada na lavagem de caminhões e parte dispersa no solo embora, mesmo no último estágio do processo de decantação, ainda apresente qualidade inadequada para despejo em galerias de águas pluviais e reutilização em sistemas prediais. O estudo desenvolvido mostra que é possível reutilizar parte da água residuária, no próprio sistema, em usos que prescindam de água potável, como bacias sanitárias, lavagem de veículos e a própria produção de concreto. O trabalho se mostra ainda pertinente em decorrência do considerável aumento nos últimos anos do consumo de cimento e automático aumento e ampliação das usinas produtoras de concreto. A pesquisa foi contemplada com o primeiro lugar, em 2014, na 20ª edição do Prêmio CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil) da Inovação e Sustentatibilidade – Concurso Facão Bauer, na Categoria Pesquisa, da qual participaram mais de 80 candidatos. A iniciativa da CBIC, considerada uma das principais premiações da construção civil no Brasil, tem como objetivo incentivar pesquisas de produtos e sistemas inovadores que contribuam para a modernização do processo construtivo. Foto: Antonio Scarpinetti

O engenheiro civil Heber Martins de Paula: estudo investigou uso de suspensões preparadas a partir de sementes de moringa no tratamento da água residuária de usinas de concreto

A PESQUISA

A pesquisa se deu em cinco etapas. A primeira, que se ateve à caracterização da qualidade da água residuária coletada em uma usina de concreto em Catalão, Goiás, que permitiu, por exemplo, a verificação do seu nível de turbidez, alcalinidade, pH etc. Na segunda etapa, já realizada em laboratório, foi avaliada a eficiência do uso combinado do sulfato de alumínio e moringa oleífera, em várias proporções, ambos adicionados em pó na água residuária do concreto coletada em campo. Durante esse procedimento o pesquisador constatou que havia necessidade de certa quantidade mínima de sulfato de alumínio para redução do pH de forma a garantir um processo de coagulação eficiente. A remoção máxima obtida foi de 96%, e se verificou quando a mistura adicionada era composta de 80% de sulfato de alumínio e 20% de moringa. Já na terceira fase, também em laboratório, o pesquisador utilizou a moringa combinada aos pares com os coagulantes sulfato de alumínio e cloreto de ferro, todos em suspensões aquosas (com concentração da solução de 5% massa/volume), pensando inclusive na praticidade de aplicação em campo. Os resultados indicaram que os coagulantes na forma solúvel, principalmente ao associar o sulfato de alumínio e a moringa, foram mais eficientes na remoção da turbidez; isso pode ser atribuído a melhor extração da proteína da moringa. Já no tratamento combinando o cloreto férrico e a moringa, a água tratada apresentou certa concentração de cloreto que poderia inviabilizar sua reutilização na produção de concreto por questões de corrosão nas armaduras. Na quarta etapa Heber procurou otimizar o processo e eliminar o problema. Para a otimização das dosagens de moringa e dos dois coagulantes químicos ele adotou o Delineamento de Composto Central Rotacional (DCCR), com vistas a ampliar a avalição do espaço experimental e reduzir o número de experimentos. As faixas ótimas de dosagem dos coagulantes foram definidas através da Metodologia de Superfície de Resposta associada à ferramenta de Desejabilidade global. Com o emprego dessas técnicas ele chegou à proporção ótima em que deveriam ser adicionados os três coagulantes. A moringa oleífera passou a constituir 46,5% da mistura e o índice de remoção atingiu 99,9%. Por fim, o pesquisador realizou a avalição da eficiência do tratamento proposto, considerando as dosagens ótimas determinadas anteriormente, em amostras coletadas no início e no final da semana de produção da usina, por um período de um mês.

BENEFÍCIOS

Para Heber o trabalho mostra que a moringa tem grande aplicabilidade como coagulante primário ou auxiliar no tratamento das águas residuárias de usinas de concreto. A sua associação aos coagulantes químicos potencializa a remoção de turbidez, apresenta um efeito sinérgico superior à utilização do pó ou do extrato de sementes de moringa como único coagulante. Além disso, a inclusão de um coagulante natural contribui para o desenvolvimento de um ciclo sustentável na produção do concreto, reduzindo o consumo de água e minimizando os resíduos gerados. Os resultados apontam ainda para a possibilidade de reúso da água tratada em diferentes atividades, como lavagem de veículos, rega de jardins, descargas de bacias sanitárias e na própria produção de concreto.

Publicação Tese: “Uso de suspensões preparadas com sementes de Moringa Oleifera associada a coagulantes químicos no tratamento da água residuária de usinas de concreto” Autor: Heber Martins de Paula Orientadora: Marina Sangoi de Oliveira Ilha Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)


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Campinas, 13 a 26 de abril de 2015

Fotos: Divulgação/Reprodução

a r u t l u c a d o t e j b o m u , a Roup

Publicações analisadas pela pesquisadora Fernanda Theodoro Roveri para fundamentar sua tese

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

ais que um produto da indústria da moda, a roupa é um elemento da cultura material que contribui para a compreensão da educação do corpo e de aspectos da vida em sociedade. A conclusão faz parte da tese de doutoramento da pedagoga Fernanda Theodoro Roveri, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, sob a orientação da professora Carmen Lúcia Soares, junto à linha de Pesquisa Educação e História Cultural. O trabalho de Fernanda analisou o lugar das roupas na educação do corpo de crianças nos anos de 1950, considerados como os “anos dourados” no Brasil. As principais fontes utilizadas pela autora foram revistas infantis e de variedades publicadas no período tomado para análise, como Tico-Tico, Cirandinha, Manchete e Jornal das Moças. Na investigação que promoveu sobre os vestuários de meninas e meninos, Fernanda considerou tanto os conteúdos editoriais quanto os materiais publicitários veiculados pelas publicações. “Foi importante olhar para as roupas e para os moldes encartados nas revistas, para entender como o vestuário contribuía para a educação do corpo das crianças da época. De modo geral, foi possível identificar uma clara distinção de gêneros”, afirma. Em relação aos meninos, prossegue a autora da tese, as revistas destacavam a necessidade de os garotos terem um comportamento similar ao dos militares. Assim, as roupas precisavam ser limpas e bem passadas. Os sapatos tinham que estar brilhantes e os cabelos, alinhados com gomalina. “A mensagem presente nas imagens e textos era de que as pessoas precisavam mostrar uma elegância que as distinguissem do grupo rural, visto que os anos dourados eram marcados pelo ideal de progresso, o que incluía a afirmação da vida urbana. Além disso, as peças publicitárias sugeriam que um menino bem vestido provavelmente seria visto como o aluno mais inteligente da turma”, relata a pedagoga. As revistas também transmitiam a ideia de que os garotos podiam brincar e se sujar livremente, dado que tal comportamento era natural da infância. A rua era vista como um espaço privilegiado para a diversão, que muitas vezes era vivenciada ao lado da figura do pai. Já em relação às meninas, os conceitos difundidos pelas publicações eram muito diferentes. “Nos anos 1950, as roupas das garotas eram muito parecidas com as das mães. As peças eram volumosas, o que tolhia a liberdade de movimentos delas, ao contrário do que ocorria com os meninos. A ideia subjacente era a de que as mulheres deveriam ser educadas para serem boas mães e donas de casa. Não por acaso, alguns vestidos, tanto de adultos quanto de crianças, vinham dotados de avental, numa clara referência ao universo doméstico”, pontua Fernanda.

Ainda em relação à distinção entre meninos e meninas, a pesquisadora assinala que os garotos normalmente eram retratados brincando com carrinhos ou jogando bola, enquanto as garotas apareciam brincando de boneca ou com um regador nas mãos. “Um aspecto que me chamou a atenção era o uso frequente de babados e franzidos na altura dos seios das meninas, transformando o corpo da criança em corpo de mulher. Era uma roupa de excessos. As meninas dificilmente apareciam de calça comprida. Mesmo para passear de bicicleta ou brincar no parque, as crianças do sexo feminino eram retratadas sempre de vestido”, reforça a autora da tese. Fotos: Antonio Scarpinetti

Questionada se esses aspectos ajudam a explicar o fato de, hoje em dia, muitas mães vestirem suas filhas como se fossem adultas, a professora Carmen Lúcia Soares faz uma ponderação. De acordo com ela, é problemático estabelecer uma relação direta de situações atuais com as que foram constatadas na tese de Fernanda, que se concentra nos hábitos e costumes dos anos 1950. “Entretanto, nós sabemos que alguns traços permanecem. Um deles é a concepção de que meninos e meninas devem ser educados de forma diferente, e a roupa é um elemento constitutivo dessa educação. Ainda hoje, as meninas são constrangidas em seus corpos ao serem induzidas a usar adereços excessivos. Elas são levadas a eliminar a ideia de conforto nas roupas e calçados. Esse conceito, ao que parece, ainda não foi totalmente superado”. De acordo com a docente, a roupa é um artefato da cultura. Como tal, permite a compreensão da sensibilidade de uma época. “Ao trabalhar com fontes muito específicas, no caso as revistas, Fernanda conseguiu perceber de maneira clara como certas imagens e certas publicidades veiculadas com frequência contribuíam para a construção de uma sensibilidade que colocava a menina como um ser frágil, que, ao crescer, continuaria sendo uma figura frágil, merecedora de proteção dentro do ‘doce lar’”.

A professora Carmen Lúcia Soares, orientadora do trabalho: “A roupa é um marcador de idade, de gênero, de classe social, de religiosidade e de etnia. Em determinados países, a vestimenta é importantíssima para balizar a cultura e os costumes locais”

Citando o historiador francês Daniel Roche, uma das referências teóricas do trabalho de doutorado que orientou, a professora Carmen Lúcia Soares observa que objetos tidos como banais, como as roupas, ajudam a contar parte da história da humanidade, o que outros objetos muitas vezes não são capazes de fazer. Conforme a docente, no livro História das coisas banais, Roche fala do botão, artefato considerado prosaico, mas que na realidade não é tão desimportante assim. “No livro, Roche conta que por muito tempo os botões fizeram parte somente das vestimentas masculinas. As roupas das mulheres só passaram a contar com esse artefato, que facilita o ato de se vestir e de se desnudar, muito tempo depois”, diz. Por fim, tanto orientadora quanto orientanda destacam que, como objeto da cultura, a roupa também é um marcador social, em diferentes níveis. “A roupa é um marcador de idade, de gênero, de classe social, de religiosidade e de etnia. Em determinados países, a vestimenta é importantíssima para balizar a cultura e os costumes locais. O que a tese de Fernanda nos mostra é que a roupa não é uma coisa menor. Ela representa, entre outras dimensões, os valores dominantes de uma determinada época. Além disso, também faz parte do mundo do consumo e das trocas econômicas”, completa a professora Carmen Lúcia Soares.

Publicações ROVERI, F. T. Criança, o botão da inocência: as roupas e a educação do corpo infantil nos “anos dourados”. 2014. Tese de Doutorado em Educação, Unicamp, Campinas, 2014. ROVERI, F. T. Barbie na educação de meninas: do rosa ao choque. São Paulo: Annablume, 2012. ROVERI, F. T. ; SOARES, C. L. . Entre laços, rendas e fitas, onde estão os botões? As roupas de crianças e a educação do corpo (década de 1950). ArtCultura (UFU), 2013. ROVERI, F. T. A roupa infantil nas páginas do Jornal da Mulher: Notas sobre a educação do corpo – década de 1950. Anais do VI Congresso Internacional de História. Maringá, UEM, 2013.

A pedagoga Fernanda Theodoro Roveri, autora da tese: “Foi importante olhar para as roupas e para os moldes encartados nas revistas, para entender como o vestuário contribuía para a educação do corpo das crianças nos anos 1950”

Tese: “Criança, o botão da inocência: as roupas e a educação do corpo infantil nos ‘anos dourados’ ” Autora: Fernanda Theodoro Roveri Orientadora: Carmen Lúcia Soares Unidade: Faculdade de Educação (FE)


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