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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015 - ANO XXIX - Nº 621 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Jornal daUnicamp

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MALA DIRETA POSTAL BÁSICA

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Entre a

lei e o crime

As fronteiras entre o legal e o ilegal na atuação de policiais militares cariocas, e suas implicações, são abordadas no livro “Sentidos de Milícia – Entre a Lei e o Crime” (Editora da Unicamp), da linguista Greciely Cristina da Costa. A obra é resultado de pesquisas feitas ao longo do doutorado da autora, que foi orientada pela professora Eni Puccinelli Orlandi.

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A China já não é mais a mesma

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Controlando as fraudes de energia e a perda de água Aluno com autismo enfrenta barreiras Abordagem policial no Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro

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Um ‘tijolo’ nano de prata e magnetita

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NSF franqueia acesso a artigos Extraindo ouro em tratamento de esgoto Consumo de alimentos e emissão de carbono

TELESCÓPIO

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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Foto: Nasa/JPL/Space Science Institute

Abuso hereditário ou excesso de vigilância? Crianças vítimas de abuso por parte dos pais têm mesmo mais chance de virem a abusar dos próprios filhos, ou isso é apenas mais um preconceito? Estudo realizado nos Estados Unidos, envolvendo pesquisas em registros do Judiciário americano e entrevistas com pais e filhos ao longo de três gerações, tentou responder a essa pergunta, mas acabou produzindo uma nova questão: será que o maior número de casos de abuso registrados entre filhos de antigas vítimas não é produto de um foco excessivo dos serviços sociais nessas famílias – em outras palavras, será que as crianças de famílias sem história de abuso não estão sendo negligenciadas? O trabalho, publicado na revista Science, acompanhou não só o histórico de famílias de vítimas de abuso, mas também de um grupo de controle, sem registro prévio de ocorrências do tipo. Os autores determinaram que adultos que haviam sofrido abuso na infância tinham duas vezes mais chance de serem denunciados aos serviços sociais por abuso infantil, em comparação com adultos do grupo de controle – mas que entre os pais que admitiram, em entrevistas, abusar dos filhos, os com histórico de vitimização tinham duas vezes e meia mais chance de serem formalmente denunciados, em comparação aos do grupo de controle. Isso sugere, dizem os autores, um “viés de vigilância” em operação.

O planeta Saturno, fotografado pela sonda Cassini, da Nasa

de biocombustível estão contando com redução no consumo de alimento para reivindicar benefícios nos gases do efeito estufa. Essas reduções advêm não de um imposto especial sobre o consumo excessivo, mas de aumentos globais de preços”.

Um dia em Saturno Mudança de maré O aquecimento global enfraqueceu a circulação das águas do Oceano Atlântico ao longo da década de 70 do último século, um efeito com possíveis impactos no clima e no nível dos mares. Houve alguma recuperação nos anos 90, mas o fenômeno deve voltar a se agravar caso o degelo na Groenlândia continue, diz artigo publicado no periódico Nature Climate Change. A chamada Circulação de Revolvimento Meridional (AMOC, na sigla em inglês) inclui a mais conhecida Corrente do Golfo, que leva água quente da costa dos EUA para o norte da Europa e é um importante regulador do clima no hemisfério norte. Os autores do estudo, vinculados a instituições americanas e europeias, calcularam que o enfraquecimento da AMOC desde 1975 foi um evento sem precedentes numa escala de, pelo menos, mil anos.

Comida por combustível Análise publicada na revista Science afirma que os principais modelos teóricos, usados pelos Estados Unidos e pela Europa, para avaliar a eficiência do etanol derivado de trigo e milho no combate às emissões de gases do efeito estufa pressupõem, ainda que de forma pouco clara, que a redução da emissão de carbono virá de uma redução no consumo desses alimentos por seres humanos e animais. O trabalho pede maior transparência na elaboração desse tipo de modelo. “Sem creditar a redução no consumo de alimentos, nenhum dos modelos prevê emissões de gases causadores do efeito estufa menores para o etanol do que para a gasolina. Nesse sentido, as emissões menores do etanol dependem de reduções no consumo de alimentos”, escrevem os autores, que concluem: “Independentemente dos méritos de cada modelo, as políticas

Planetas gigantes gasosos não têm superfícies sólidas marcadas por montanhas ou crateras, o que torna difícil estimar a duração de seus períodos de rotação – o tempo que o planeta leva para dar uma volta completa em torno do próprio eixo, e que na Terra corresponde ao dia de 24 horas. O caso de Saturno é especialmente complicado: características do campo magnético do planeta impedem que ele seja usado na medição do dia, como é feito no caso de Júpiter. Na edição mais recente da revista Nature, astrônomos israelenses apresentam um a nova técnica, baseada em medições do campo gravitacional do planeta, e chegam a um resultado de 10 horas, 32 minutos e 45 segundos, com uma incerteza de 46 segundos, no limite inferior das estimativas disponíveis até agora, que vão de 10h32min a 10h47min. Os autores testaram seu método usando-o para recalcular a rotação de Júpiter, e obtiveram o resultado correto, de cerca de 9h55min.

Ouro no esgoto

Asteroides australianos

Pode ser viável extrair ouro comercialmente dos resíduos sólidos que vão parar nas estações de tratamento de esgoto, diz trabalho apresentado na última semana no Encontro Nacional da Sociedade de Química dos Estados Unidos. O levantamento, encabeçado pela pesquisadora Kathleen Smith, da U.S. Geological Survey (USGS), encontrou ainda platina, prata e metais importantes em aplicações tecnológicas, como paládio e vanádio, nos chamados “biossólidos” gerados pelo tratamento de esgoto. “Se conseguirmos nos livrar dos metais indesejados que limitam nossa capacidade de usar os biossólidos como fertilizantes e, ao mesmo tempo, recuperar metais valiosos e outros elementos, todo mundo ganha”, disse Smith, em nota divulgada pela USGS. Para fazer essa recuperação, a equipe da pesquisadora vem adaptando técnicas industriais de mineração, incluindo o uso de produtos químicos normalmente empregados para remover metal de rocha. Muitos desses produtos são considerados danosos para o meio ambiente, mas Smith acredita que, num cenário controlado, eles podem ser utilizados de modo seguro para trabalhar o esgoto.

Dois asteroides, cada um com cerca de 10 quilômetros de diâmetro, atingiram a região central da Austrália há mais de 300 milhões de anos, criando uma zona de impacto de 400 quilômetros, diz artigo de autoria de pesquisadores da Universidade Nacional Australiana, publicado no periódico Tectonophysics. Embora as crateras já tenham sido apagadas pela passagem do tempo, perfurações realizadas pela universidade encontraram vestígios do choque, como amostras de rocha vitrificada pelos impactos, informa nota distribuída pela instituição. E um modelo magnético das profundezas da Terra, no local investigado, revela duas grandes protuberâncias no subsolo, interpretadas pelos autores da descoberta como sinais do “rebote” da crosta após a colisão dupla, provavelmente causada pelos fragmentos de um corpo maior que se partiu antes de atingir o solo.

Nitratos em Marte

Ventos de buraco negro Emissões intensas de energia causadas pela queda de matéria no interior de gigantescos buracos negros são capazes de soprar gás e poeira para fora de galáxias, controlando a quantidade de material disponível para o nascimento de novas estrelas, diz artigo publicado na revista Nature. “Parece haver uma correlação entre núcleos galácticos ativos, que são buracos negros supermassivos que liberam grandes quantidades de energia ao engolir matéria, e a massa e os componentes das galáxias”, diz nota divulgada pelo periódico. A energia desses buracos negros pode movimentar fluxos de gás pela galáxia, afetando tanto a taxa de formação de novas estrelas quanto a composição desses astros. A hipótese ganha apoio com as observações da atividade da galáxia IRAS F11119+3257, descritas no artigo publicado no periódico. O trabalho tem como principal autor Francesco Tombesi, da Universidade de Maryland.

Amostras de solo marciano analisadas pelo jipe-robô Curiosity, da Nasa, indicam que existe nitrogênio fixado, sob a forma de nitratos, em rochas do planeta vermelho. A presença de nitrogênio fixado no solo é essencial para a vida na Terra, e a existência de nitratos em Marte tem importância para as tentativas de determinar se o planeta é, ou já foi, habitável. “Esse nitrogênio fixado pode indicar o primeiro estágio do desenvolvimento de um ciclo primitivo do nitrogênio na superfície do Marte antigo, e teria fornecido uma fonte biologicamente acessível” do elemento, descrevem os autores do artigo que apresenta a descoberta, publicado no periódico PNAS. O trabalho é assinado por uma equipe internacional que inclui pesquisadores dos EUA, México, Espanha, França e Suécia, encabeçada pela Nasa. O artigo especula que a fixação dos nitratos detectados pelo Curiosity no solo marciano teria sido feita pelo impacto de asteroides, ou pela energia de relâmpagos.

Livre acesso A Fundação Nacional de Ciência (NSF, na sigla em inglês), um dos principais órgãos de fomento do governo dos Estados Unidos, publicou em meados deste mês sua política de livre acesso às pesquisas financiadas com verbas suas. Pela nova diretriz, os artigos científicos produzidos como resultado de patrocínio da instituição terão de estar disponíveis gratuitamente, para acesso público, no máximo 12 meses após a publicação em periódico ou apresentação em conferência. Os artigos, no entanto, não serão armazenados num repositório próprio da NSF, mas permanecerão nos websites dos periódicos de origem. A NSF apenas manterá um catálogo dos artigos, com links para os sites correspondentes. Essa estratégia atraiu críticas de pesquisadores, que temem que a dispersão dos trabalhos entre fontes diversas, com critérios de catálogo e armazenamento diferenciados e arbitrários, dificulte a aplicação de estratégias de “data mining” e pesquisa textual. Editores de periódicos, por sua vez, elogiaram a medida, já que evita a redução de receita com publicidade e visitas a seus websites.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Raquel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015

Cerco às fraudes de energia Fotos: Antonio Scarpinetti

Grupo desenvolve equipamento e metodologia de baixo custo e alta produtividade SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

m grupo de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp desenvolveu um equipamento e uma proposta metodológica inédita para a detecção de fraudes de energia elétrica. A proposta consiste numa atividade de pré-inspeção na rede elétrica com o auxílio de um micromedidor de amper-hora (Ah). Os resultados dos trabalhos demonstraram que, em grande escala, o índice de acerto do método seria de, no mínimo, 90%, contra apenas 12% do processo convencional praticado pela distribuidora de energia. Trata-se de uma proposta de baixo custo e de alta produtividade, garantem os pesquisadores envolvidos. O professor José Antônio Siqueira Dias, coordenador dos estudos, informa que os trabalhos foram realizados e financiados por meio de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com a companhia paulista AES Eletropaulo, a maior distribuidora de energia elétrica do Brasil. Atualmente, a empresa, que é responsável por atender 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo a capital paulista, gasta em torno de R$ 65 milhões anuais para combater adulterações, conseguindo identificar apenas 12% dos fraudadores. “A Eletropaulo mantém um programa muito intenso de combate a fraudes. Esse programa recupera valores significativos da ordem de R$ 80 milhões por ano, mas a eficiência dele, considerando os métodos tradicionais praticados, ainda é limitada, sob vários aspectos. Nossas pesquisas inserem-se, portanto, na tentativa de tornar isso mais eficiente. Elas integram um convênio da Aneel financiado pela Eletropaulo. Existe um programa de pesquisa e desenvolvimento da Aneel e, dentro desse programa, nós fizemos esta parceria entre a Unicamp e a Eletropaulo”, contextualiza o docente. Em seu mestrado defendido recentemente, o engenheiro eletricista Luiz José Hernandes Jr. criou uma atividade de pré-inspeção para a detecção de fraudes sem a necessidade da entrada de técnicos da distribuidora de energia nas residências dos consumidores, como é feito, atualmente, pelo método tradicional. A detecção, pelo processo proposto, é realizada no ramal de entrada do cliente, portanto, antes do medidor de energia. Ela só foi possível graças ao desenvolvimento de um micromedidor de amper-hora (Ah), trabalho que integra doutorados do engenheiro

Publicações Dissertação: “Proposta de criação de uma atividade de pré-inspeção para implementação de uma metodologia de ação no auxílio da detecção de fraudes e roubo de energia elétrica” Autor: Luiz José Hernandes Jr. Orientador: José Antônio Siqueira Dias Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Dissertação: “Equipamento eletrônico de baixo consumo com comunicação sem fio para auxílio nas inspeções de detecção de roubo de energia elétrica” Autor: Flávio José de Oliveira Morais Orientador: José Antônio Siqueira Dias Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Tese: “Sistema não invasivo de monitoramento de consumo de energia elétrica baseado em conjuntos nebulosos” Autor: Luis Fernando Caparroz Duarte Orientador: Elnatan Chagas Ferreira Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

“O nosso processo atingiu pleno sucesso. Queríamos produzir um novo método eficaz de inspeção sem entrar na casa do cliente. Você imagina: em 88% dos casos não existem fraudes. Portanto, 88% dos clientes que sofrem esta inspeção estão completamente regulares. Por mais cuidado que o técnico eletricista tome ao se apresentar, não deixa de ser um constrangimento receber uma equipe para investigar se o cliente está fraudando o consumo de energia elétrica.” O estudioso da Unicamp pondera que vários fatores podem reduzir o consumo, sem indicarem, necessariamente, uma fraude. “Equipamentos mais eficientes, a redução no número de moradores da residência, tudo isso pode gerar uma redução de consumo. E estes fatores não são conhecidos previamente pela distribuidora. Até o momento, a única coisa que a distribuidora pode identificar é: aqui houve um comportamento de redução de consumo que pode ser uma fraude.”

DIFERENÇAS TÉCNICAS

Micromedidores de amper-hora: índice de acerto chega a 90%, segundo os pesquisadores

O professor José Antônio Siqueira Dias, coordenador das pesquisas: checagem determina se há ou não fraude

de telecomunicações Luis Fernando Caparroz Duarte, orientado pelo professor Elnatan Chagas Ferreira (FEEC), e do engenheiro de computação Flávio José de Oliveira Morais, orientado pelo professor José Siqueira Dias. O docente José Siqueira Dias, que orientou o mestrado de Luiz Hernandes e atua no Departamento de Eletrônica e Microeletrônica da FEEC, explica que o aparelho toma uma medida num período amostral de consumo no ramal de entrada do cliente e compara com a leitura do medidor, instalado dentro da casa do cliente. A partir de diferenças entre estas medidas, determina se existe ou não uma fraude na ligação. Conforme o relato do engenheiro eletricista Luiz Hernandes, um dos grandes problemas que as distribuidoras de energia no Brasil enfrentam são os prejuízos causados pelas chamadas “perdas não técnicas”, originadas, principalmente, por fraudes ou furtos de energia elétrica. Dados da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) indicam que os níveis médios de furtos e fraudes praticados contra as distribuidoras brasileiras corresponderam, em 2013, a 5,60% sobre o total da energia distribuída no país. Este percentual equivale a mais do que o consumo anual do Estado da Bahia. Para a Abradee, tanto o furto como a fraude estão entre as perdas conhecidas como “comerciais”. A Associação distingue os dois termos. “O furto é caracterizado pelo desvio direto de energia da rede elétrica das distribuidoras para o consumidor ilegal, o que faz com a energia seja utilizada, mas não contabilizada como tal, levando às perdas. No caso da fraude, contudo, o consumidor é registrado por parte da distribuidora, mas faz adulterações em seu sistema de fiações elétricas da sua residência/comércio/indústria - de modo que, apesar de consumir uma quantidade X de energia, só pague efetivamente por uma parte menor desse consumo, devido à fraude.”

Luis Fernando Caparroz Duarte (primeiro plano) e Flávio José de Oliveira Morais: aparelho faz medição de período amostral

Luiz José Hernandes Jr.: técnicos da distribuidora de enerão precisam entrar nas residências

Para combatê-las, as concessionárias realizam análises estatísticas e identificam variações de comportamentos de consumos mensais que poderiam indicar potenciais clientes fraudadores, revela Luiz Hernandes. Equipes especializadas promovem inspeções nas instalações de entrada, dentro da residência desses clientes, com objetivo de identificar se de fato existem fraudes. Os resultados desse tipo de atividades são limitados, demandam muito tempo e têm baixa produtividade, além do constrangimento que os consumidores não fraudadores são submetidos, avalia o pesquisador.

O método formulado na Unicamp prevê a instalação um micromedidor no ramal de entrada do cliente. Este aparelho, muito pequeno, é suspenso sobre a rede de energia do lado de fora da residência e fica praticamente imperceptível para o cliente, de acordo com Luiz Hernandes. Durante um período amostral, o micromedidor externo registra uma corrente e o leiturista da concessionária toma para esse mesmo período a leitura do medidor do cliente. Depois são realizadas as comparações. “É aí que vieram os maiores desafios da pesquisa, porque o micromedidor só mede a corrente e não a tensão real, dado que interessa efetivamente para chegar ao cálculo do consumo. O micromedidor faz a medição de apenas um parâmetro. Já o medidor convencional instalado no padrão de entrada das residências mede a tensão, a corrente e consegue saber como estes dois parâmetros estão no tempo. Isso permite calcular a energia ativa. Por isso, tivemos que inferir, com uma margem muito pequena de erro, todas as outras informações por meio de um estudo estatístico”, esclarece. A formulação de um equipamento que identificasse apenas um parâmetro, como o micromedidor, foi uma limitação deliberada para que o aparelho pudesse ser rápido; micro; não utilizasse cabos; e fosse retirado e colocado quase que instantaneamente, de modo que o cliente não percebesse. Além disso, o micromedidor transmite as informações por rádio e sua manutenção é muito simples. Outro aspecto da metodologia foi identificar qual degrau de consumo que representava, de fato, uma fraude. “Começamos isso de diversas formas. Identificamos primeiro os casos onde a Eletropaulo encontrou fraude. A Eletropaulo não leva em consideração somente o degrau de consumo, mas o histórico do cliente, casos de fraudes anteriores, o tipo de atividades e níveis de consumo. Havia um grande acerto da Eletropaulo quando o degrau de consumo era maior do que 43%. Fomos à Eletropaulo e com o auxílio dos técnicos reproduzimos em laboratório várias situações de fraude e erros de instalação. E aí começamos a entender o que ocorre no campo. E nós identificamos que a menor fraude gera um degrau de consumo de 20%”, relata.

TESTES E PRODUTIVIDADE

Além de preciso do ponto de vista metodológico, o processo se mostrou extremamente produtivo, compara o engenheiro eletricista e pesquisador da Unicamp. “Mais do que encontrar a fraude, nós queríamos reduzir o custo e o tempo do processo. Enquanto a inspeção demorava pelo menos uma hora, este processo de instalação do micromedidor passou a ser feito em 30 segundos.” Ele informa ainda que foram feitos testes em escalas reduzidas. A Eletropaulo selecionou os casos, aplicou o método com o micromedidor e fez a inspeção para constatar a eventual fraude. Futuramente, há planos, em uma possível segunda fase do projeto, para testes em larga escala, prevê. “Houve um índice de acerto de 100% nos testes em escala reduzida. Os erros acumulados do nosso processo foram inferiores a 5%. Foi interessante que, em um caso, um profissional da Eletropaulo não encontrou fraude após a inspeção. E eles nos deram o retorno: vocês erraram. Nós insistimos que devia ter uma fraude. A Eletropaulo voltou, fez uma inspeção mais detalhada e encontrou a fraude. Quem testou o nosso método foram os técnicos eletricistas que são, na prática, os responsáveis pela inspeção. Eles passaram a chamar o micromedidor de ‘caguetinha’ porque ele ‘entregava’ de fato o cliente sem precisar fazer a inspeção convencional.”


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015 Foto: Divulgação

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

crescimento econômico trazido pelas reformas liberalizantes na economia chinesa nas últimas três décadas foi acompanhado por uma profunda transformação no perfil da estrutura social: em 2011, pela primeira vez em milênios de história, mais de 50% dos chineses estavam vivendo em cidades, e não mais na zona rural. “Este processo ocorreu não apenas numa taxa rápida, mas numa escala sem precedentes”, escreve o pesquisador chinês Cheng Li, em sua dissertação de mestrado “Labour Surplus Economy Under Transitions - A Case Study Of Chinese Rural Labour Mobility” (Economia de Excedente de Mão de Obra Sob Transições: Um Estudo de Caso da Mobilidade Rural Chinesa), defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp. “Foram necessárias seis décadas para a urbanização da China se expandir de 10% para 50%: a população urbana aumentou de apenas 64 milhões em 1950 para quase 639 milhões em 2010”. A população total do Brasil, para efeito de comparação, é de cerca de 204 milhões, segundo projeção do IBGE. Cheng argumenta, no entanto, que a simples divisão clássica dos trabalhadores entre setores rural e urbano não basta para dar conta da situação chinesa, cuja análise correta requer uma terceira categoria: o dos trabalhadores migrantes “flutuantes”, que dividem seu tempo entre o campo e a cidade. “Na teoria econômica dualista, pressupõese que o mercado de trabalho é dividido em estruturas duais, entre uma divisão urbana e uma rural”, disse o pesquisador, em entrevista ao Jornal da Unicamp. “No contexto de problemas emergentes dentro de economias de excedente de mão de obra, como o fenômeno da escassez de mão de obra, a divisão dualística do mercado de trabalho acaba simplificando a questão e escondendo problemas substanciais, e a aplicação dos modelos existentes, baseados nessa concepção dual, pode levar facilmente a conclusões equivocadas”. Em sua dissertação ele propõe um modelo tripartite, que leva em consideração o setor “flutuante”.

EXCESSO E ESCASSEZ

Parte do crescimento econômico acelerado da China, a partir da abertura econômica iniciada nos anos 80, é atribuída ao excesso de mão de obra disponível no meio rural: uma massa de trabalhadores disposta a migrar para os centros urbanos e se converter em mão de obra para a indústria, recebendo baixos salários, mas ainda assim superiores à renda que obtinham no campo. No entanto, a partir de 2002 e, com mais intensidade, desde 2004, a indústria chinesa se viu confrontada com dificuldades para preencher as vagas disponíveis. Diz a dissertação: “A escassez foi notada pela primeira vez quando poucos migrantes da zona rural chegaram em busca de trabalho no Ano-Novo Chinês, em fevereiro de 2004, e chegou às manchetes em junho, quando muitos jornais estamparam fotos de fábricas montando quiosques na beira das estradas para tentar recrutar trabalhadores”. A situação, prossegue o texto, vem piorando “ano após ano”. Essa redução na mão de obra disponível tem pressionado os salários e levado algumas indústrias a buscar regiões da China onde o índice de urbanização ainda é baixo, ou mesmo outros países, como Camboja e Vietnã. Uma análise dualística da economia sugeriria que a China está chegando a seu ponto de inflexão de Lewis, ou “Lewis turning-point”, tal como teorizado pelo economista, ganhador do Nobel, Sir Arthur Lewis (1915-1991). Esse ponto seria o momento em que não há mais um excedente rural de mão de obra que possa ser transferido para a economia urbana sem um respectivo aumento salarial. Isso causa a entrada da economia em um mundo neoclássico, passando de uma economia baseada no excesso de mão de obra barata para uma economia que enfatiza o uso de capital e tecnologia. De acordo com a Academia Chinesa de Ciências Sociais, “a China está caminhando de uma era de excesso para uma de escassez de mão de obra.”

Deslocamento de chineses no feriado de Chunyun, também conhecido como “Viagem do Festival da Primavera”, período em que trabalhadores migrantes retornam para suas casas: maior migração humana sazonal do mundo

Flutuando entre o campo e a cidade Dissertação analisa mudanças na estrutura social da China, cuja população urbana passou, pela primeira vez, a ser maior do que a rural “No caso chinês, ela também é incapaz de explicar a segmentação da mão de obra industrial, entre migrantes e urbanos fixos. Ela tende a concluir que a mão de obra é suficiente ou escassa, mas negligencia a migração flutuante, que corresponde a mais de um terço dos empregados”, acrescenta. Para dar uma dimensão da relevância dos movimentos migratórios dentro da China, a dissertação descreve o “Chunyun”, ou “Viagem do Festival da Primavera”, uma gigantesca mobilização populacional que acontece na época do Ano-Novo Chinês, quando os trabalhadores migrantes retornam para seus lares, a fim de festejar com a família. “De acordo com estimativas oficiais, houve cerca de 3,62 bilhões de viagens (...) em quarenta dias”, escreve Cheng Li. “Esse número espantoso de passageiros faz do Chunyun a maior migração humana sazonal do mundo”.

DESIGUALDADE URBANA

Os trabalhadores da população “flutuante”, que passam parte do ano no campo e parte nas cidades, acabam ocupando os postos de menor salário e que requerem menos qualificação dentro da economia urbana, aponta Cheng Li.

“Dadas as diferenças em termos de educação e formação profissional, os migrantes rurais, em geral, dificilmente poderiam estar em posição de competir com os trabalhadores urbanos no mercado de trabalho qualificado”, diz a dissertação. “Portanto, para esses migrantes rurais, chegar a um segundo estágio, atingindo o trabalho permanente num setor moderno, seria impraticável. Pelo menos, no caso atual da China.” “É inegável que os migrantes, por meio de educação, experiência e treinamento, poderiam entrar de vez para o mercado urbano, recebendo os mesmos salários e benefícios, o que corresponderia às características do modelo de Lewis”, disse o pesquisador. “No entanto, a teoria pressupõe que o trabalhador é livre para deslocar-se”. Na realidade chinesa, há barreiras institucionais e intervenções do Estado a serem enfrentadas, incluindo o sistema de regras conhecido como Hukou, ou registro de residência, que cria obstáculos burocráticos à mudança permanente da zona rural para as cidades. “Além disso, por conta da ligação entre os trabalhadores migrantes e a prerrogativa de uso da terra arável, o processo não resulta, necessariamente, em residência permanenFoto: Antonio Scarpinetti

MODELO TRIPARTITE O Modelo Tripartite de Oferta de Mão de Obra, apresentado na dissertação, estipula que a causa fundamental do “Lewis turningpoint” não é exaustão da mão de obra rural disponível para a industrialização, mas a elevação dos salários dos camponeses para um nível comparável ao dos migrantes “flutuantes”. Ele também introduz a ideia de que a família toda – e não apenas o indivíduo – deve ser vista como agente econômico em busca de maximizar seus ganhos. “Dessa forma, a mão de obra, mesmo mantendo-se, na realidade, como se fosse ‘ilimitada’, passa a apresentar características de escassez”, disse o autor. “Além disso, o Modelo Tripartite analisa o mecanismo de determinação dos salários dentro de cada um dos três setores respectivamente, o que oferece uma perspectiva macro que está em melhor posição para resolver problemas”. Além disso, o modelo prevê corretamente a segmentação do mercado de trabalho urbano, apontando para suas causas e soluções. “Como diz um velho ditado chinês”, conta Cheng Li, “para desamarrar um sino, é preciso chamar quem amarrou o sino”. O pesquisador acredita que seu Modelo Tripartite pode ser útil, também, na análise da mobilidade internacional da força de trabalho. “Como trabalhadores de países subdesenvolvidos migrando para economias relativamente desenvolvidas, para maximizar a renda da família”, exemplifica, “enquanto barreiras institucionais ou políticas de emprego do país receptor causam uma segmentação do mercado”, como fazem as barreiras burocráticas entre o mundo urbano e rural da China. “Creio que o modelo pode ser usado para analisar os trabalhadores que migram de outros países latino-americanos para o Brasil”.

Publicação Dissertação: “Labour Surplus Economy Under Transitions - A Case Study Of Chinese Rural Labour Mobility” Autor: Cheng Li Orientador: Carlos Alonso Barbosa de Oliveira Unidade: Instituto de Economia (IE)

MIGRAÇÕES

Cheng Li defende, em sua dissertação, que essa abordagem é inadequada para o cenário chinês. “A abordagem de dois setores é incapaz de fornecer a conexão necessária entre a elevação dos salários reais dos trabalhadores da indústria e o desaparecimento da característica ‘ilimitada’ da mão de obra excedente”, disse o pesquisador.

te na cidade”, disse Cheng Li. A dissertação explica que há diferentes prerrogativas de residência e de benefícios sociais concedidas a trabalhadores urbanos e rurais – incluindo o acesso a terra arável – e que essas prerrogativas são concedidas com base no local de nascimento. “Não é fácil trocar esse status de origem”, explica o texto.

O pesquisador chinês Cheng Li: “O processo ocorreu não apenas numa taxa rápida, mas numa escala sem precedentes”


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015

Físicos produzem ‘tijolo’ de prata

e magnetita em escala nanométrica Material desenvolvido no IFGW tem potencial para aplicações biomédicas Fotos: Antonio Scarpinetti

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

esquisadores do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da Unicamp, conseguiram um feito inédito de nanotecnologia, produzindo minúsculos “tijolos” de prata revestidos de magnetita, um óxido de ferro notável por suas propriedades magnéticas. Antes do processo desenvolvido na Universidade, tentativas de unir prata e magnetita em escala nanométrica haviam produzido apenas dímeros – partículas formadas pela justaposição dos dois metais, unidos por uma superfície de contato – e estruturas chamadas pelos pesquisadores de “flower” (“flor”, em inglês) com um miolo de prata cercado por “pétalas” de óxido de ferro. A configuração produzida na Unicamp tem um bom potencial para aplicações biomédicas, além de suscitar diversas questões de ciência fundamental que precisam ser melhor investigadas, disse o pesquisador Kleber Roberto Pirota, um dos autores do artigo que descreve a inovação, publicado no periódico Scientific Reports, do grupo Nature. “Um caroço de prata revestido com óxido de ferro, e não somente eles grudados por uma superfície comum, tem várias vantagens”, explicou Pirota. “Uma delas é que a prata não é um material biocompatível, então ela estar revestida de óxido de ferro deve facilitar a utilização em aplicações biomédicas”. O artigo publicado na Scientific Reports sugere uma possível aplicação em terapias baseadas em hipertermia, onde campos magnéticos seriam usados para guiar as partículas até o local de um tumor, por exemplo, e depois para aquecê-las, de modo a destruir as células malignas. As partículas produzidas pelo grupo de Pirota têm um núcleo de prata de apenas 4 nanômetros, ou bilionésimos de metro – são menores que vírus. Uma nota publicada em 2013 pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos mencionava a hipertermia magnética como uma abordagem promissora para o tratamento de tumores de próstata e do cérebro, e mais recentemente pesquisadores americanos publicaram um artigo no periódico Nanomedicine descrevendo experimentos sobre o efeito da hipertermia no tratamento de tumores em camundongos, com resultados positivos.

PROPRIEDADES

O efeito de hipertermia, no entanto, pode ser obtido apenas com o óxido de ferro, já que a prata não é um metal magnético. Mas a combinação dos dois metais oferece vantagens, disse o pesquisador argentino Diego Muraca, que participa dos estudos sobre nanotecnologia da Unicamp. “A gente procura criar materiais que sejam bifuncionais”, explicou ele. “Não só para a aplicação médica de hipertermia, mas também para aplicação como marcadores ópticos: a prata tem propriedades ópticas que permitem localizá-la dentro do organismo”. Conjugando os dois metais numa es-

Ímã atrai partículas nanométricas colocadas em tubo de ensaio, em laboratório do IFGW

trutura tipo “core-shell”, ou “núcleo-casca”, então, deve ser possível não só combinar a sensibilidade magnética da magnetita à visibilidade da prata, como ainda isolar o organismo dos efeitos negativos que a prata “nua” poderia vir a ter. “Então, isso também pode ser útil para o transporte de fármacos”, disse. “Se uma pessoa tem uma infecção aguda localizada, vamos supor, administra-se o fármaco no organismo e o fármaco começa a circular pelo sangue, o antibiótico, o anti-inflamatório, até chegar à área afetada. Agora, se você coloca esse fármaco numa partícula magnética, e você coloca um ímã para puxar isso para a área afetada, a concentração de fármaco no lugar que você quer tratar vai ser muito mais eficiente. E se, além disso, você colocar uma partícula de prata tornada biocompatível, você pode ver para onde estão indo essas partículas”. A prata também tem propriedades bactericidas, e há estudos em andamento para o uso de nanopartículas do metal na purificação da água. O combate à poluição representaria mais um caso, dizem os pesquisadores, em que o uso de nanopartículas magnéticas pode fazer diferença. “Há grupos de pesquisa que pegam a partícula de magnetita e fazem o que chamam de funcionalização na superfície, para que ali grude o que você quiser. Então, se você tem água poluída, poderíamos funcionalizar as partículas especificamente para retirar essa poluição da água, depois, usando um ímã, separando-a magneticamente”, disse Muraca.

FABRICAÇÃO

O método de fabricação que deu origem aos nanotijolos de prata revestida também é inovador, pois envolve uma só etapa, e não duas, como o processo usual que produz os dímeros. “Ele é mais rápido. O outro processo levava dois dias para ser concluído, e este leva um dia só”, disse Maria Eugênia Brollo, que também é coautora do artigo.

Kleber Roberto Pirota, Maria Eugênia Brollo e Diego Muraca: artigo publicado no periódico “Scientific Reports”

“Tem um detalhe importante, até agora ninguém tinha conseguido fazer estruturas assim. Era muito comum o pessoal conseguir essa estrutura tipo dímero, e era um desafio científico obter uma estrutura tipo core-shell”, complementou Muraca. “Muitos outros grupos de pesquisa consideravam impossível”. As partículas de prata que entram na formação das estruturas núcleo-casca também são menores que as dos dímeros, que podem chegar a 10 nanômetros. “Aparentemente, o tamanho da prata é determinante para se obter o core-shell”, disse o pesquisador argentino. “A eficiência é um fator importante, mas esse tipo de síntese em uma etapa também possibilitou a própria fabricação: com o outro método que vinha sendo feito, não saía esse tipo de material com núcleo e casca”, disse Pirota.

QUESTÕES BÁSICAS O grupo do IFGW está articulando parecerias para investigar mais a fundo o potencial biomédico dessas nanopartículas, mas Pirota lembra que os focos no Instituto de Física estão no controle cada vez mais refinado do processo de fabricação e, também, na busca de soluções para questões de ciência fundamental que essas partículas trazem. “Queremos conseguir fazer o material de modo reprodutível, e como a gente desejar”, disse. “Por exemplo, talvez queiramos aumentar a partícula de prata, ou diminuir seu tamanho de forma controlada, ou criar um outro tipo de estrutura, esférica ou cúbica”. O pesquisador lembra também que, embora a prata não seja um metal magnético, na configuração em que se vê envolvida pela magnetita ela acaba influenciando as propriedades magnéticas do conjunto. “O contato da prata com esse material magnético pode alterar as propriedades magnéticas. Então, isso tem um interesse do ponto

de vista fundamental, porque a presença dela influencia no magnetismo”. Ainda há várias questões do ponto de vista fundamental a responder, acrescentou ele. “Existem algumas propriedades que aparecem nessa integração da prata com a magnetita e ainda não estão completamente esclarecidas, então a gente tem bastante caminho pela frente antes de entender bem esses materiais”.

ROBÔS

Para a maioria das pessoas, falar em nanotecnologia ainda evoca a imagem de robôs minúsculos, capazes de realizar tarefas em nível molecular. Em uma palestra proferida em 1959, intitulada “Há muito espaço lá embaixo” e que geralmente é considerada um dos marcos fundadores da nanotecnologia, o físico americano Richard Feynman (1918-1988) fala em máquinas capazes de manipular átomos individuais e levanta a possibilidade de “engolir cirurgião”: “Você põe o cirurgião mecânico dentro de um vaso sanguíneo e ele vai até o coração (...) descobre qual a válvula defeituosa, pega uma faca pequenina e corta-a fora”. No entanto, a maior parte da pesquisa publicada na área, hoje em dia, trata de novos materiais microscópicos, não de novas máquinas minúsculas. “A gente ainda quer chegar ao motorzinho”, disse Pirota, a respeito dessa mudança de rumo do campo, nas últimas décadas. “Mas aí você percebe o seguinte: para chegar ao robozinho, você vai usar materiais pequenininhos, e esses materiais pequenininhos não funcionam como o material grande. Então, você tem que mudar o paradigma do que é um robozinho nano”. Na escala nanométrica, explicou ele, várias propriedades dos materiais, incluindo propriedades mecânicas e elétricas, mudam drasticamente. “Eu digo para os meus alunos que esse é o maior interesse de se estudar nanociência ou nanotecnologia: quando você vai reduzindo o tamanho das coisas, não há apenas efeito somente de escala. Não é só miniaturizar e fazer um nano-robô. Isso já seria muito interessante, mas acontece que as propriedades do seu nano-robô vão ser completamente diferentes de um robô grande”. “As propriedades do material na escala nano podem não ter nada a ver com as propriedades do mesmo material em escala volumétrica”, disse Muraca. “O objetivo final ainda pode ser o nanorobô”, completou Pirota. “Mas no caminho até ele as possibilidades que se abriram foram tantas, mas tantas, do ponto de vista da ciência fundamental, que ainda dá muito pano pra manga entender os materiais e sintetizar novos materiais nessa escala. Então, acho que não foi o foco da nanotecnologia que mudou: é que surgiram coisas que ninguém esperava, apareceram muitas surpresas no caminho”.


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Campinas, 30 de março

Por que chamar a polícia de Indagação foi ponto de partida de linguista para tese que originou livro publicado MARTA AVANCINI Especial para o JU

m 2006, em meio à atuação das forças de segurança pública nas áreas de favela do Rio de Janeiro com o objetivo de combater o narcotráfico, começou a circular na mídia um novo nome para se referir à polícia: milícia. O termo, define o dicionário, diz respeito à vida ou à força militar; à força militar de um país ou a qualquer corporação sujeita à organização e disciplina militares. No entanto, a atribuição dessa denominação à polícia naquele contexto remete a uma contradição, relacionada às práticas adotadas por alguns policiais da corporação: invés de efetuar procedimentos legais cabíveis (executar mandados judiciais e prisões), alguns policiais incorporaram práticas ilegais - como a expulsão e até execução sumária daqueles considerados inimigos -, com o objetivo de se estabelecer o domínio nesse espaço. Mais do que isso, vencido o combate, a polícia, então denominada milícia, passava a controlar ilegalmente as relações comerciais e sociais das áreas de favelas, em nome do enfrentamento da criminalidade. Esse foi o cenário que levou a linguista Greciely Cristina da Costa a se perguntar: por que chamar a polícia de milícia? A pergunta foi o ponto de partida para uma pesquisa que resultou em sua tese de doutorado defendido no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e, posteriormente, no livro “Sentidos de Milícia – Entre a Lei e o Crime”, lançado pela Editora da Unicamp. “Meu objetivo não era investigar um discurso da e sobre a criminalidade. Queria compreender o funcionamento da contradição na sociedade a partir de discursos, cujos efeitos de sentido derivam de certas condições de produção e significação”, explica Greciely, que foi orientada pela professora e pesquisadora na área de linguística Eni Puccinelli Orlandi.

DUBIEDADE EM EVIDÊNCIA

A contradição, no caso, se manifesta nas fronteiras dúbias entre o legal e o ilegal, caracterizadas nos modos de atuação policial, ao assumir o controle das áreas favelizadas. “Diante dessa conjuntura social, histórica, política e ideológica, o limite entre aquele sujeito considerado bandido e o outro considerado criminoso é extrapolado a ponto de seus sentidos tornarem-se indistintos”, aprofunda a pesquisadora. Assim, os sentidos de paz, proteção, ordem, segurança, crime, lei etc. são os mais diferentes e apontam para uma contradição. Ou para a existência de “dois mundos em um só”, nos termos de Michel Pêcheux, filósofo francês, fundador da Análise de Discurso, perspectiva teórica que norteia a pesquisa de Greciely. Para Pêcheux, uma palavra ou expressão não tem sentido intrínseco a ela. Diferentemente, seu sentido se constitui nas relações que mantém com outras palavras. O autor considera ainda que o sentido é determinado pelas posições ideológicas. Estas, por sua vez, se constituem na relação com a exterioridade, numa dada conjuntura sócio-histórica.

“Dentre as múltiplas práticas de violência que temos acompanhado no Brasil e no mundo, Greciely analisa algumas bastante sensíveis do ponto de vista social, histórico e simbólico, justamente porque tratam de nossa segurança”, analisa Eni Orlandi. Em seu trabalho, complementa a orientadora, a pesquisadora põe em cena a tensão entre o legítimo, o legal e o ilegal. “É um trabalho que fala de sentidos que saem do lugar quando o enquadramento do espaço é a favela, e o imaginário da segurança e da criminalidade fazem funcionar o discurso da milícia”, conclui Eni. Para construir a pesquisa, Greciely se valeu de um conjunto diversificado de fontes. Inicialmente, a pesquisadora se deteve sobre a compreensão do modo como milícia era definida em diferentes discursos – o da mídia, o de pesquisadores e o de moradores do Rio de Janeiro. Depois, incorporou à análise o discurso jurídico, enfocando algumas proposições e leis aprovadas relacionadas à tipificação da formação e atuação de milícias e investigou a forma pela qual a milícia era significada por imagens na internet, além de definições em dicionários e enciclopédias virtuais, como a Wikipedia. Por fim, analisou entrevistas realizadas com moradores das favelas e áreas controladas por milícias e notícias publicadas nos jornais “O Globo” e “O Dia” que mencionavam a palavra milícia, publicadas entre janeiro de 2005 e setembro de 2007. As entrevistas haviam sido realizadas por pesquisadores do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Tanto as entrevistas quanto as matérias jornalísticas foram cedidas a Greciely pelo pesquisador Ignacio Cano, que integra o laboratório, e havia usado esse material em seus estudos.

Foto: Fotografia, sem autori

Para Greciely Cristina da Costa, “essa imagem parece condensar o sentido de ‘domínio’ atribuíd A força do corpo, da presença e da posição marca o poder da milícia, nesse espaço, observado,

UMA DUPLA VIOLÊNCIA Os discursos dos moradores foram importantes para o delineamento da pesquisa, assinala Greciely. Ela tomou contato com os discursos dos moradores das favelas num artigo publicado por Ignacio Cano e Carolina Ioot numa coletânea sobre o tema. “Em um dos fragmentos apresentados, o entrevistado relata que no meio dos policiais havia milicianos, e que a comunidade ficava muito confusa, pois não sabia se eles cumpriam o papel de polícia ou de milícia”, conta ela. Ou seja, a confusão residia na dificuldade de distinguir como um mesmo sujeito podia ocupar a posição de policial e miliciano, caracterizando uma contradição. Esse tipo de percepção, enunciada no discurso do morador da favela, remete ao lugar difuso e ambíguo ocupado pelos milicianos. Existem os policiais que, além de milicianos, são moradores da favela – ou seja, são de “de dentro”, muitas vezes significados como “protetor”, chamados pelos entrevistados de “polícia-morador”, que “toma conta da comunidade”. Em contrapartida, há aqueles que vêm de fora, denominado miliciano e significados como “invasor”, aquele que “toma a comunidade”.

Outro entrevistado enfatiza a dificuldade de distinguir polícia e milícia, enunciando repetidamente, segundo Greciely, que “ninguém sabe dizer” o que é milícia e o que é polícia. Ao final, ele conclui que os próprios milicianos são policiais. Para Greciely, este discurso remete ao que ela caracteriza como “lugar de indistinção” ocupado pelo miliciano, pois ele é dois no espaço de um, conforme analisa Eni Orlandi no livro “Interpretação: Autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico”. A indistinção, que na fala aparece como “ninguém sabe dizer”, estaria relacionada ao próprio funcionamento ambíguo da milícia, podendo ser parafraseada por “ninguém pode dizer”. Ou seja, ninguém pode dizer que a milícia é formada por policiais, constituída por agentes da Lei, do Estado. “Grosso modo é possível afirmar que a milícia ocupa um lugar habitado pela duplicidade da presença-ausência do Estado”, defende a pesquisadora. Segundo Eni Orlandi, a milícia assume, na análise da autora, “o lugar da autoridade”, que pode significar a pre-

Fotos: Antonio Scarpinetti

Sino Este livro se fundamenta teoricamente na Análise de Discurso e busca compreender o funcionamento da denominação milícia em diferentes discursos tendo em vista o processo de produção de efeitos de evidência posto em movimento pela ideologia. Ao longo da compreensão empreendida, considerando a denominação enquanto mecanismo ideológico, quatro pontos principais são observados: 1) em certa instância, a denominação milícia recobre a violência policial ao dar outro nome à polícia, desvinculando a milícia da instituição policial; 2) por outro lado, é o lugar de policial que configura e sustenta o sentido de milícia enquanto protetora; 3) todavia, ela tem sua prática associada a grupos criminosos, por isso é então significada como criminosa, um desdobramento da polícia; 4) e, por fim, a existência da milícia estaria ligada a um espaço material político-simbólico determinado: a favela, pois é nesse espaço que ela se impõe.

A linguista Greciely Cristina da Costa, autora do livro: “Diante dessa conjuntura social, histórica, política e ideológica, o limite entre aquele sujeito considerado bandido e o outro considerado criminoso é extrapolado a ponto de seus sentidos tornarem-se indistintos”

Autora: Greciely Cristina da Costa é doutora em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Fez estágio doutoral na Université de Paris 13. Tem publicado artigos e capítulos de livros na área de Análise de Discurso. Organizou com Débora Massmann a coletânea Linguagem e Historicidade, publicada pela RG Editores, e traduziu o livro Os pré-discursos: Sentido, memória, cognição, de Marie-Anne Paveau, pela Editora Pontes, também em parceria com Débora Massmann.


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o a 12 de abril de 2015

e milícia? pela Editora da Unicamp

ia, disponível em: http://poemaseconflitos.blogspot.com/2009/02/jogo-duro-contra-milicia.html. Acesso em julho de 2011/Reprodução/Divulgação

Trechos Entrevistador: Não sabe se os milicianos estão ali para cumprir seu papel de polícia ou se estão ali para entrar. Depois que a milícia saiu, vê se meu raciocínio está correto, o tráfico retornou. Entrevistado: Retomou. Entrevistador: E agora a polícia está fazendo essas incursões periódicas e tem esse posto lá. Entrevistado: Isso. Lá. Só que tem milicianos que frequentam no meio desses policiais [sic]. Então a comunidade fica muito confusa. Você está me entendendo? Fica muito confusa. Se ele está cumprindo o papel dele de polícia [sic] ou de milícia.

* Entrevistado: Lá existe a milícia... o poder paralelo expulsou, né?... eu atuava na comunidade, e lá cerca de quatro anos atrás a milícia expulsou esse poder paralelo. Prontamente algumas pessoas morreram, e hoje eles fazem a segurança do local.

* Entrevistado: [A milícia] É a mesma coisa; mesma coisa, só que pior porque o tráfico não cobra e eles são piores que eles cobram, eles têm o império deles lá.

*

do à milícia, recuperando o já-dito de poder exercido por ela. , vigiado, dominado”

sença da segurança e, também é “lugar do crime”, já que este deixa de ser considerado como o lugar do criminoso, pois se aloja no lugar da autoridade. “A criminalização do espaço da favela é correlata, desse modo, à imagem da milícia como prática de segurança”, ressalta Eni. Essa duplicidade caracteriza uma dupla violência contra os moradores das favelas: a ausência e a presença do Estado. Novamente, é o discurso de um entrevistado que aporta essa percepção. “O lugar do morador é marcado pela exposição à violência, pela dupla violência engendrada pela presença-ausência do Estado, pela negação de direitos, pela imposição de dispositivos normativos específicos que derivam da própria Lei, pelo espaço de negações, cujos sentidos são atualizados por certos dizeres sobre a favela face a um imaginário estereotipado, sustentado por uma imagem marginalizante”, aprofunda Greciely. Embora esteja no meio – ao lado da impunidade e da violência, entre os sentidos embaralhados de lei e de crime

Entrevistado: Já colocaram eles como autoridade, tem essa referência – vou falar com os meninos -, então a gente fica até assim, porque eu sou uma pessoa que ainda acredita na instituição da polícia, entendeu? E nós somos muito assim... sentimos muito a falta de autoridade dentro das comunidades, entendeu? Em nossos bairros, em nossos municípios, eu acho que o que está faltando é isso, essa autoridade, mas eu posso te dizer que a maior ausência do Estado está na corrupção porque nós, na época que eu morava lá, que o tráfico ainda existia, nós víamos contêiner entrando lá pra dentro e muitas das

– o morador é um sujeito capaz de inventar, resistir e de se deslocar conforme novos sentidos lhe são possíveis. A resistência por parte do morador se configura quando ele procura escapar desses sentidos, não significando seu espaço como favela, uma vez que dizer favela é atribuir certos sentidos negativos a esse espaço. Isso acontece também quando a favela passa a ser chamada de “comunidade”, ou “aglomerados subnormais” (para o IBGE), ou “bolsões de pobreza” (para os especialistas). A troca de nomes, porém, não acarreta a mudança das práticas. “A repressão é o que é oferecido ao morador, seja em que nome ele se envelope”, afirma Eni.

SENTIDOS TÊNUES E TENSIONADOS A partir da análise dos discursos, à luz das teorias e perspectivas propostas por Michel Pêcheux e Eni Orlandi, a pesquisadora observou que a milícia é interpretada como domínio -, ao passo que o termo controle é associado à policia, e comando é vinculado ao narcotráfico.

vezes víamos viatura acompanhando, né? Infelizmente essas coisas acontecem.

* Entrevistado: Continua em sem se ver [a polícia], só nessa forma de milícia. Você sabe que são policiais militares, mas que não têm identificação nenhuma de policiais militares e a polícia propriamente não aparece.

* Entrevistado: [...] parece que você é vigiada 24 horas, você é monitorada. Entrevistador: Por que você tem essa sensação? Entrevistada: Porque eles vigiam muito as pessoas... Entrevistador: Eles quem? Entrevistada: Os milicianos (muda o tom, fica mais baixo). Entrevistador: Mas eles se apresentaram pra você? Entrevistada: Eles se apresentaram porque eu tinha um trailer lá, tinha um negócio lá e eles se apresentaram pra receber semanalmente o meu dinheiro. Na época eles me pediram trinta reais por semana. [...] Entrevistador: Você fechou a sua barraquinha especificamente por causa disso? Entrevistada: Por causa disso. Eu não aceito dar dinheiro a eles. Se você trabalha, você precisa receber, não pagar. [...] Entrevistador: Como é que eles resolvem essas coisas? Entrevistada: Quando tem alguma morte, eles matam alguém, alguma coisa, fica tudo... você não vê nada, não sai nada na imprensa, as pessoas só sabem que foram eles que mataram, mas fica tudo por isso mesmo... [...] Entrevistada: É uma máfia, um quartel a bem da verdade.

Segundo ela, a interpretação da milícia como domínio aparece tanto no discurso dos moradores das favelas, quanto nos outros tipos de documento analisados. Greciely explica que domínio dá sentido à milícia a partir de duas instâncias: domínio arbitrário, imposto, forçado, violento, sem possibilidade de oposição; e domínio instaurado como autoridade, gestor, poder legítimo. “Essas duas instâncias de significação em confronto me permitiram compreender o quão difícil é suportar o fato de que a milícia não se configura como um poder paralelo como é o do narcotráfico. Ao contrário, é um desdobramento da polícia, que se forma e atua à sombra do Estado”, analisa. E como a milícia assume essa configuração num espaço marginalizado como a favela, ela impõe seu domínio, tornando-se invisível. “Ou melhor, tornando indizível essa sua configuração, a sua real existência”. A decorrência dessa configuração (de invisibilidade) é a dificuldade de puni-la, condená-la e bani-la, já que é como se ela não existisse na realidade.

opse

Autora: Greciely Cristina da Costa Editora da Unicamp Páginas: 240 Preço: R$ 44,00

A professora Eni Orlandi, orientadora da pesquisa: “É um trabalho que fala de sentidos que saem do lugar quando o enquadramento do espaço e a favela, e o imaginário da segurança e da criminalidade fazem funcionar o discurso da milícia”


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015

Estudo revela barreiras na escola

para crianças com autismo ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

autismo infantil, cunhado recentemente como Transtorno do Espectro Autista (TEA), engloba alterações na comunicação, na socialização e comportamentos restritos e repetitivos. A sua manifestação ocorre em geral antes dos três anos. Em idade escolar, são muitas as dificuldades para que o aluno consiga inserção em sala de aula e termine a sua escolarização. Sobre esse tema, pesquisa de mestrado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) desenvolvida no município de Campinas sugeriu que o aluno com Transtorno do Espectro Autista está sendo introduzido na escola regular mas que ainda enfrenta muitos problemas, tanto para acompanhar a escola como para se adaptar à rotina, à questão da socialização com outras crianças e ao conteúdo. Não obstante isso, 80% das crianças do município com este tipo de transtorno matriculadas no sistema de ensino estão hoje no ensino regular, um fato significativo segundo Mariana Valente Teixeira da Silva, autora da dissertação. A pesquisadora vê longe, fruto de observação. Relata que as características desse transtorno têm influenciado todas as etapas da escolarização, inclusive do ponto de vista social, já que muitos jovens preferem se relacionar com objetos a manter relações interpessoais e outros tendem a buscar o isolamento. Apesar dessas características influírem na adaptação à escola, é certo que o ambiente escolar precisa, com agilidade, se adequar à realidade para acolher melhor essas crianças e lhes proporcionar mais oportunidades de aprendizagem.

TRAJETÓRIAS A pesquisa de Mariana, orientada pela professora Adriana Lia Friszman de Laplane, procurou estudar a escolarização dos sujeitos com TEA no município de Campinas. Foi realizado um estudo descritivo que analisou os microdados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2009 a 2012. O trabalho buscou identificar os alunos com Transtorno do Espectro Autista, bem como mapear as trajetórias de escolarização dos alunos com autismo, por consistir no grupo mais numeroso dentre os que compõem o TEA. Na primeira fase da investigação, Mariana traçou as trajetórias escolares de todos os alunos com autismo matriculados no município de Campinas. Foram mais de 800 trajetórias. As trajetórias escolares foram acompanhadas ano a ano por meio das matrículas. Nesta tarefa, a mestranda verificou em qual escola o aluno estava matriculado, em que série, se a escola era rural ou urbana e outras questões, entre elas se havia atendimento especializado oferecido ao aluno. Para tanto, foi utilizado o software estatístico SPSS.

Pesquisadora analisou trajetória de alunos com TEA, além de entrevistar integrantes de 18 famílias Os mesmos dados foram empregados para todos os alunos com autismo de Campinas em todos os anos – de 2009 a 2012. A isso Mariana chamou de trajetórias escolares. A seguir, foram criadas categorias denominadas trajetória completa, incompleta, parcial e parcial com retenção. Nas trajetórias completas, os alunos apareciam matriculados em todos os anos; nas incompletas, num só ano desse período; nas parciais, estiveram matriculados, saíram e voltaram; nas parciais com retenção ou completa com retenção, estiveram matriculados na escola porém sofreram algum tipo de retenção escolar: saíram, voltaram e continuaram no mesmo ano escolar. Conforme a estudiosa, na pesquisa predominaram as trajetórias incompletas e as parciais. As expectativas estavam voltadas para as trajetórias completas. “Esperávamos que os alunos estivessem matriculados em todos os anos do período avaliado. Não foi o que ocorreu: saíram e não voltaram mais ou saíram e voltaram, ficando nessa instabilidade”, revela. Tem mais: a mestranda percebeu que, mesmo com essa instabilidade, ainda notou-se uma baixa retenção escolar, o que vem sendo encarado como algo positivo pela sociedade, por sentir que os alunos estão progredindo no sistema. Mas, na verdade, os relatos de família e a análise dos dados mostraram que talvez esse processo esteja mais relacionado com a política de progressão continuada, que tem anos específicos para fazer a retenção. “Só que os alunos progridem e não são vistos em suas reais necessidades”, lamenta a autora. Também nessa primeira fase, Mariana fez uma caracterização do transtorno no município – através de dados obtidos pelo software – que revelou um decréscimo de matrículas de alunos com TEA (de 893 alunos em 2009 para 519 em 2012), sendo que a maioria deles, que está matriculada no ensino regular, na etapa do ensino fundamental das redes estadual e municipal, refere-se ao sexo masculino e não recebe atendimento especializado.

volvimento dos Autistas em Campinas (Adacamp), instituição especializada que oferece cuidados na área de saúde e educação em contraturno escolar. A Adacamp também assiste a crianças mais velhas que participam de projetos de mercado de trabalho. Mariana obteve uma amostra de cada faixa etária, para ter uma ideia ampla do processo de ensino. Foram cinco sujeitos com idade entre zero e cinco anos, oito sujeitos entre seis e 15 anos, e cinco sujeitos acima de 15 anos. Suas famílias foram entrevistadas. Os principais relatos, conta ela, apontam para a contribuição positiva da escola, contudo indicam problemas como a permissividade da escola para com esses alunos, a influência do grau de comprometimento do transtorno, a repetência e as dificuldades ao longo do ensino médio. Quanto aos obstáculos de cruzar a linha do ensino médio, eles simplesmente iam progredindo, embora com grandes limitações para seguir o conteúdo, que se tornava mais extenso, e a socialização, que se tornava mais complexa. Tantos foram os empecilhos que, dos cinco sujeitos acima de 15 anos, somente dois chegaram ao ensino médio. Não houve avaliação no ensino superior porque nenhum aluno da Adacamp estava matriculado nesta etapa de ensino. “E os dois que concluíram o ensino médio se preparavam para tentar esse novo desafio”, explica a psicóloga. No momento, Mariana atua como psicopedagoga na Sobrapar – Crânio e Face. Trabalha com crianças autistas e com ou-

tros transtornos do desenvolvimento, num grupo de intervenção comportamental infantil chamado Grupo Conduzir. Ela afirma que, ao fazer aprimoramento no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre) “Prof. Dr. Gabriel O. S. Porto”, da Unicamp, teve o primeiro contato com crianças com autismo e começou a se interessar por elas. Além de atendêlas, contribuía com um grupo de orientação aos pais. Foi aí que percebeu o quão difícil era essa escolarização. Desta forma, o seu estudo, além de colaborar para a educação em si, no sentido de investimentos em políticas para melhorar essa inserção das crianças na escola, contribui para a adaptação e o acolhimento dos alunos. “Também pretendíamos mostrar para a família que sua percepção é importante para essa escolarização. É um conjunto nesse processo: família, escola e outros profissionais”, frisa.

Publicação Dissertação: “Trajetórias escolares de alunos com transtorno de espectro autista e expectativas educacionais das famílias” Autora: Mariana Valente Teixeira da Silva Orientadora: Adriana Lia Friszman de Laplane Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Capes

Foto: Antoninho Perri

ENTREVISTA Na segunda fase do trabalho, a pesquisadora entrevistou as famílias de 18 sujeitos, para avaliar suas percepções com relação à escolarização, “a fim de acrescentar esses dados aos quantitativos”. Essa investigação foi efetuada entre 2013 e 2014 na Associação para o Desen-

Nomenclatura surgiu em 2014 Transtorno do espectro autista é o termo utilizado atualmente para se referir às crianças com diagnóstico de autismo, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação. Com a publicação do DSM- 5, em 2014, surgiu a nomenclatura Transtorno do Espec-

tro Autista, que conflui essas síndromes numa mesma categoria. “A nomenclatura TEA se presta a proporcionar um diagnóstico mais preciso, propiciando uma avaliação com melhor sensibilidade e especificidade por parte dos profissionais, a fim de que haja uma intervenção mais precoce”, informa Mariana. Mariana Valente Teixeira da Silva, autora da dissertação: ambiente escolar precisa adequar-se à realidade


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Sistema controla

Engenheiro civil propõe metodologia para aprimorar os trabalhos de redução de desperdício

perdas de água em redes de distribuição CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

controle das perdas de água constitui um problema universal. Segundo relatório do Banco Mundial, cerca de 40% a 50% do volume da água tratada no mundo é perdido em razão de vazamentos. Estima-se que essas perdas tenham um custo global para as empresas de saneamento superior a 14 bilhões de dólares anuais. Face à complexidade dos sistemas de distribuição de água, as suas divisões em sistemas menores, que delimitam várias áreas de abastecimento, permitem analisar isoladamente cada uma dessas áreas e definir e orientar ações localizadas que possibilitam uma gestão mais adequada. Para tanto, a rede de abastecimento de água é dividida nos denominados Distritos de Medição e Controle (DMC’s), que abrangem áreas menores de controle, mais gerenciáveis em termos de pressões e vazões, o que facilita a redução de perdas que ocorrem no sistema de distribuição. Com efeito, após a implantação dos DMC’s o gerenciamento das perdas de água é realizado através do monitoramento das pressões e vazões. O gerenciamento das pressões possibilita, com sua redução, a diminuição das perdas. Por sua vez, a medição das vazões permite identificar áreas com níveis elevados de vazamentos. A detecção e localização de vazamentos constitui a principal ação utilizada após a identificação do aumento da vazão. Embora existam diversos métodos e equipamentos para localizar vazamentos, os recursos acústicos são mais utilizados. Eles captam as vibrações decorrentes do movimento de água fora do tubo, em contato com o solo. Embora os DMC’s tenham aplicação relativamente recente, trata-se de uma prática internacionalmente aceita como uma das mais eficientes para a redução de perdas de água no abastecimento público, pois facilita a análise e a identificação de problemas. A prática e a metodologia são utilizadas pelas maiores e mais sérias companhias de saneamento do mundo e estão incorporadas à filosofia da moderna gestão do processo de distribuição de água. Essas constatações levaram o engenheiro civil José do Carmo de Souza Júnior a desenvolver dissertação de mestrado em que avalia a utilização dos DMC’s como ferramenta efetiva na gestão de perdas de água e a propor uma metodologia para aprimorar os trabalhos de redução dessas perdas. O estudo foi orientado pelo professor Paulo Vatavuk, do Departamento de Recursos Hídricos (DRH), da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. O pesquisador também atua como funcionário da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), no município de Bragança Paulista, empresa onde trabalha há 18 anos.

A pesquisa apoia-se em estudo de caso relativo à implantação de DMC’s no município de Bragança Paulista. O autor definiu como objetivos específicos discutir alternativas para implantação de DMC’s no município; apresentar formas de gerenciamento de perdas de água; propor uma metodologia para aprimorar a gestão dessas perdas, utilizando como suporte um sistema de informações geográficas; avaliar através de indicadores de desempenho e da utilização de balanço hídrico as perdas verificadas. O levantamento de dados e a avaliação dos DMC’s implantados lhe permitiram comparar a situação anterior e posterior à implantação desses distritos, a aplicação dos conceitos de gerenciamento das pressões e vazões e a caracterização da área de estudo.

Levantamento de dados do DMC

Fluxograma apresenta a metodologia proposta para redução de perdas de água utilizando os Distritos de Medição e Controle (DMC´s) como ferramenta de gestão

Desenho do DMC no SIG Verificação dos limites em campo Sim

Não

Limites conferem?

Ajuste do desenho do DMC no SIG

CONCEITOS

O autor esclarece que as perdas de água são classificadas em reais e aparentes. As reais correspondem aos volumes que não chegam ao consumidor devido a vazamentos em componentes do sistema de abastecimento como reservatórios, adutoras, redes e ramais. As perdas aparentes correspondem ao volume consumido, mas não medido e decorrem de fatores como erros de medição nos hidrômetros, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastramento comercial. Como suporte aos trabalhos foi utilizado um Sistema de Informação Geográfica (SIG), em que os dados relativos aos clientes e de infraestrutura das redes de abastecimento, entre outros, são georreferenciados, podendo ser visualizados de forma integrada em um mapa do município, possibilitando uma análise mais abrangente e com maior agilidade. Por sua vez, na elaboração do balanço hídrico, que possibilita dimensionar os tipos de perdas ocorridos, são considerados os volumes de água que entram no sistema, consumos autorizados faturados e não faturados, que permitem chegar então às perdas aparentes e reais. Com base em estudo de caso, José do Carmo apresenta as ferramentas utilizadas para o gerenciamento das pressões e vazões e propõe uma metodologia para intensificar os trabalhos de redução de perdas em DMC’s. Para tanto, ele utiliza o SIG, indicadores de desempenho adotados pela International Water Association (IWA) e a elaboração do balanço hídrico com a utilização do software gratuito WB-EasyCalc, do Banco Mundial. O pesquisador considera que os resultados demonstram que a ferramenta possibilita uma gestão efetiva através de ações focadas inicialmente nos DMC’s que apresentam os maiores índices de perdas de água.

ESTUDO DE CASO

Com efeito, os dados se mostram efetivamente promissores. A partir da metodologia proposta pelo pesquisador foram identificaFoto: Antoninho Perri

José do Carmo de Souza Júnior, autor da dissertação: alternativas para a implantação de DMC’s em Bragança Paulista

Levantamento dos volumes micromedidos no SIG

Há telemetria no DMC? Não Realização da leitura em campo

Não

Sim

Necessita nova verificação em campo?

Sim

Levantamento dos volumes macromedidos

Elaboração do ranking dos DMC’s com maiores perdas

Cálculo do índice de perdas (L/LIG*DIA)

Balanço hídrico das águas dos DMC’s com maiores perdas

Cálculo do percentual de águas não faturadas

Ações para redução de perdas nos DMC’s com maiores perdas

Fonte: Elaborado pelo autor

dos os DMC’s com maiores índices de perdas de água no município. Para o estudo de caso foi selecionado o DMC Jardim América, em que a perda de água se revelou mais elevada. Após a priorização e realização de serviços neste DMC o autor constatou uma queda significativa nas perdas de água. O índice de perdas por ligação passou de 643 litros por ligação, por dia, l/(ligação*dia), em janeiro de 2014, para 282 litros por ligação, por dia, l/ (ligação*dia), em julho de 2014, e o índice de águas não faturadas no mesmo período caiu de 43,46% para 30,75%. O autor justifica a utilização do indicador por ligação por dia pelo fato de a maioria dos vazamentos ocorrerem nos ramais que saem da rede de distribuição de água para as residências. Diante disso, quanto maior a quantidade de ramais maior a probabilidade de vazamentos, o que explica o fato de a maioria dos vazamentos ocorrerem em áreas com maior densidade de ligações. Ele considera que a metodologia proposta na dissertação para a gestão de perdas de água com a utilização dos DMC’s constitui uma ferramenta que pode ser utilizada pelas empresas de saneamento para redução das perdas nas redes de distribuição. Para José do Carmo, “o gerenciamento através de DMC’s possibilita a atuação de maneira mais focada e eficiente pois, como se sabe, os recursos financeiros são geralmente escassos para a realização de trabalhos destinados à redução de perdas. Particularmente o direcionamento das ações para os DMC’s com maiores perdas permite alcançar resultados mais rápidos e efetivos, proporcionando maior redução dos volumes perdidos nas redes de distribuição”.

METODOLOGIA

O pesquisador mostra a metodologia desenvolvida através de um fluxograma que apresenta as etapas propostas para intensificar os trabalhos de redução de perdas em DMC’s. As principais etapas delineadas são: levantamento de dados do DMC, tais como área de abrangência, número de ligações, entre outros; desenho do DMC no Sistema de Informação Geográfica (SIG); trabalho de campo para confirmação dos limites do DMC e, se necessário, ajuste do seu desenho no SIG; levantamento dos volumes micromedidos no SIG, que são aqueles registrados pelos hidrômetros dos imóveis por um período de

referência, geralmente mensal; levantamento dos volumes macromedidos, obtidos a partir dos volumes registrados pelo medidor de vazão instalado na entrada do DMC; cálculo do índice de perdas por ligação no DMC, obtido da diferença dos volumes macromedidos e micromedidos em relação ao número de ligações de água ativas, indicado em litros/(ligação*dia); calculo percentual de águas não faturadas no DMC; elaboração do “ranking” dos DMC’s com as maiores perdas, o que permite localizar quais deles são prioritários em relação às ações que devem ser desencadeadas para a redução de perdas; balanço hídrico das águas dos DMC’s com as maiores perdas, que tem como objetivo conhecer detalhadamente os volumes de água do DMC, as perdas reais e aparentes, o que é feito através da utilização de software disponibilizado pelo Banco Mundial. O software deve ser alimentado por dados como período considerado; volume de água recebida pelo sistema; volume faturado; usos operacionais, como limpeza de reservatórios; consumos irregulares, com base em histórico do distrito; submedição prevista para os hidrômetros residenciais; extensão da rede; informações financeiras quanto às aguas faturadas e não faturadas. Com base nas informações recebidas o software realiza o balanço hídrico por volume indicando percentualmente os vários tipos de perdas, possibilitando o direcionamento das ações adequadas. O pesquisador lembra que a Sabesp vem trabalhando ao longo dos últimos anos com a implantação dos Distritos de Medição e Controle, que começou em Bragança Paulista em 2007 onde são hoje cerca de 30. O município tem cerca de 150 mil habitantes e mais de 400 km de rede de água, extensão que tornaria mais difícil localizar e enfrentar os problemas sem a implantação dos DMCs.

Publicação Dissertação: “Distritos de Medição e Controle como ferramenta de gestão de perdas em redes de distribuição de água” Autor: José do Carmo de Souza Júnior Orientador: Paulo Vatavuk Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015

Painel da semana  Inclusão escolar - A ideia de educação inclusiva impulsionou, nas últimas décadas, mudanças significativas na educação e orientou a transformação nos sistemas de ensino no Brasil. Porém, os problemas históricos quanto à garantia do direito à educação aos estudantes com deficiência ainda não foram resolvidos. O que é inclusão escolar? Quais são as razões pelas quais ela tem sido proposta e quem são seus beneficiários? Como fazê-la acontecer nas salas de aula de todos os níveis de ensino? Uma das maiores especialistas em inclusão escolar no país, a pedagoga Maria Teresa Eglér Mantoan, responde a essas e outras perguntas no livro “Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer?” (96 p., R$ 35,40), terceiro volume da Coleção Novas Arquiteturas Pedagógicas, da Summus Editorial. O lançamento acontece no dia 31 de março, terça-feira, das 18h30 às 21h30, na Livraria da Vila, Rua Fradique Coutinho, 915 – Vila Madalena, São Paulo.  Silvio Tendler - O premiado documentarista estará na Unicamp, dia 31 de março. Ele ministrará, às 9 horas, na Sala de cinema do Espaço Cultural Casa do Lago, um seminário sobre “Produção de documentários e apropriação dos meios de produção pelos coletivos”. O encontro com Tendler está inserido na programação da disciplina de pós-graduação e do curso de extensão (gratuito) Meio Ambiente, Questão Agrária e Multimeios oferecido pelo Laboratório TerraMãe vinculado a Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) ao Programa de Pós-graduação em Multimeios do Instituto de Artes (IA) e ao Núcleo de Estudos em Pesquisas Ambientais (Nepam). Tendler é formado em História pela Universidade de Paris VII com mestrado em Cinema e História pela École des Hautes-Études (Sorbonne). É membro fundador do Comitê de Cineastas da América Latina e da Fundação Novo Cine Latino-Americano. Ao longo de sua trajetória tem trabalhado com distintas temáticas sociais e ambientais numa perspectiva popular e dos movimentos sociais. Já produziu documentários sobre o contexto histórico e político do Brasil e personagens de destaque, como os longas-metragens “Milton Santos, pensador do Brasil (2001)” e o documentário campeão de bilheteria “Jango (1984)”. Entre as produções sobre temáticas socioambientais e temas mais recentes, destacam-se os médias-metragens “O Veneno Está na Mesa (2011)” e “O Veneno Está na Mesa II” (2014). Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-3477 ou e-mails caroca@unicamp.br e kellen@feagri.unicamp.br  Aula magna - Será proferida aos alunos do Programa de Pósgraduação em Geografia por José de Souza Martins, professor titular e emérito do Departamento de Sociologia (FFLCH- USP), dia 31 de março, às 14 horas, no auditório do Instituto de Economia (IE) da Uni-

camp. O evento é organizado pelo professor Lindon Fonseca Matias, diretor-associado do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. Os participantes receberão certificado. Mais detalhes pelo e-mail associado@ ige.unicamp.br  Produção de biocombustíveis avançados a partir de biomassa da cana - Abertura de workshop internacional entre Unicamp, USP, Unesp e University of Bath ocorre no dia 31 de março, às 13h30, no auditório 2 da Diretoria Geral da Administração (DGA). A organização é da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e da ViceReitoria de Relações Institucionais e Internacionais (Vreri). No dia 1 de abril, o evento acontece das 9 às 17 horas. Mais informações pelo e-mail eventos.prp@reitoria.unicamp.br ou telefone 19-3521-4891.  Bolsas PIBIC/PIBITI - O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica - PIBIC/PIBITI receberá de 1 a 20 de abril as inscrições para o novo processo seletivo de bolsas (quota ago/15 a jul/16). Dentro outros objetivos, o programa visa principalmente despertar a vocação científica e incentivar novos talentos entre os estudantes da graduação. Mais informações no site www. prp.unicamp.br/pibic ou e-mail pibic@reitoria.unicamp.br  Pibic-EM - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) abre, de 1 a 17 de abril, o Edital para submissão de projetos para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio - Pibic EM Unicamp/CNPq – quota 2015-2016. O Programa visa proporcionar aos alunos do ensino médio da rede pública dos municípios de Campinas, Limeira e Piracicaba, a oportunidade de participar no desenvolvimento de um projeto de pesquisa sob a orientação de professores/pesquisadores da Unicamp. Docentes e pesquisadores interessados em participar devem submeter projeto ao Fundo de Apoio ao Ensino e à Pesquisa da Unicamp (Faepex), por meio de formulário eletrônico, que estará disponível durante o período de submissão no site do programa. A PRP concederá aos orientadores um apoio financeiro, na rubrica de material de consumo nacional ou prestação de serviços, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), quando o projeto acolher, no mínimo, 3 bolsistas. Mais detalhes no site http://www.prp.unicamp.br/pibic-em, telefone 19-3521-4614 ou e-mail icjunior@reitoria.unicamp.br  Fórum de políticas públicas e cidadania - Intitulado “Justiça e cidadania: velhos e novos desafios do judiciário brasileiro”, o Fórum Permanente de Políticas Públicas e Cidadania acontece no dia 7 de abril, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento, que terá transmissão ao vivo pela TV Unicamp, está sob a responsabilidade do professor Frederico de Almeida (IFCH). A conferência de abertura será ministrada por Maria Tereza Sadek, professora do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora sênior do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais. Inscrições e outras informações na página eletrônica: http://www.foruns. unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/ politicaspub04.html  Palestra com Joel Dutra - O Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), por meio de sua Área de Orientação Educacional, recebe, para palestra, o professor Joel Dutra (FEA/USP). No dia 7 de abril, às 12h15, na sala CB01 do Ciclo Básico, ela fala sobre “A gestão da carreira como um diferencial de competitividade profissional”. O evento faz parte do Projeto Saiba Mais. Outros detalhes pelo telefone 19-3521-6539 ou e-mail adriane@sae.unicamp.br  Desiguais diferentes: quilombolas e indígenas no Censo de 2010 - Tema será apresentado pela pesquisadora Marta Amaral Azevedo, do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo), e pelo professor José Maurício Arruti, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). O encontro acontece no dia 8 de abril, das 14 às 17 horas, no auditório do Nepo. O evento é organizado pela professora Maisa Faleiros (Nepo) e faz parte da série de seminários Tempo de Debate. Mais informações pelo telefone 19-3521-0363 ou e-mail myrcia@nepo.unicamp.br  Neurociências na Educação Inclusiva - No dia 10 de abril acontece na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp o II Encontro sobre Neurociências na Educação Inclusiva 360º. A programação reunirá educadores, profissionais da saúde, estudantes e pesquisadores, para refletir sobre o papel da educação na aprendizagem neuronal e cognitiva dos indivíduos. Dentre as novidades da edição 2015 do encontro, está a submissão e apresentação de trabalhos pelos participantes em duas modalidades: apresentações orais e pôsteres. As propostas deverão contemplar questões relacionadas à criatividade e aspectos cognitivos, ou ainda às novas tecnologias para o ensino, aprendizado e inclusão. Mais detalhes pelo site http:// www.fcm.unicamp.br/fcm/noticias/2015/neurociencias-na-educacaoinclusiva-recebe-inscricoes

Destaque

Teses da semana  Artes - “Vanguarda, experimentalismo e mercado na trajetória artística de Tom Zé” (mestrado). Candidato: Guilherme Araújo Freire. Orientador: professor José Roberto Zan. Dia 6 de abril de 2015, às 14 horas, na Biblioteca do IA.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Bioadsorção de metais pela semente da moringa oleífera empregando a fluorescência de Raios X por reflexão total com radiação Síncroton” (mestrado). Candidato: Arthur Braga Dias Florêncio Lima. Orientadora: professora Silvana Simabuco. Dia 31 de março de 2015, às 14 horas, na sala CA22 da CPG da FEC. “Fatores que desencadeiam desvios de custos e prazos: estudo no subsetor edificações de Moçambique” (mestrado). Candidata: Elisa Atália Daniel Muianga. Orientador: professor Ariovaldo Denis Granja. Dia 10 de abril de 2015, às 14 horas, na sala CA22 da CPG da FEC.  Engenharia de Alimentos - “Utilização de extratos comerciais derivados de plantas em produtos cárneos: avaliação da atividade antioxidante” (mestrado). Candidata: Camila de Souza Paglarini. Orientadora: professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio. Dia 6 de abril de 2015, às 14 horas, na sala de extensão 2 da FEA. “Efeito da redução de cloreto de sódio e fosfato sobre as propriedades funcionais de emulsões cárneas adicionadas de sais substitutos” (mestrado). Candidato: Vitor Andre Silva Vidal. Orientadora: professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio. Dia 10 de abril de 2015, às 14 horas, no salão nobre da FEA.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Alta disponibilidade em serviços essenciais utilizando virtualização” (mestrado). Candidato: Luciano Eduardo Caciato. Orientador: professor Maurício Ferreira Magalhães. Dia 30 de março de 2015, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC. “Proposta de sistema colaborativo cognitivo de baixo custo para análise e predição de sinais DTV” (doutorado). Candidato: Diogo Gará Caetano. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 31 de março de 2015, às 9h30, na FEEC. “Computação autonômica aplicada ao diagnóstico e solução de anomalias de redes de computadores” (doutorado). Candidato: Alexandre de Aguiar Amaral. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 31 de março de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FEEC. “Modulação em amplitude ortocomplexa usando a álgebra de quatérnions” (mestrado). Candidato: José Luis Hinostroza Ninahuanca. Orientador: professor Luis Geraldo Pedroso Meloni. Dia 6 de abril de 2015, às 10 horas, na FEEC. “Contribuições para o desenvolvimento sustentável de um sistema de monitoramento e controle de galpões para frangos de corte” (doutorado). Candidato: Alison Zille Lopes. Orientador: professor Gilmar Barreto. Dia 7 de abril de 2015, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Dimensionamento de redes IP para o serviço de voz” (mestrado). Candidato: Loreno Menezes da Silveira. Orientador: professor Michel Daoud Yacoub. Dia 10 de abril de 2015, às 10 horas, na sala do laboratório DECOM da FEEC. “Redes ópticas de transporte definidas por software com suporte à virtualização e operação autônoma com base em políticas” (doutorado). Candidato: Marcos Antonio de Siqueira. Orientador: professor Christian Rodolfo Esteve Rothenberg. Dia 10 de abril de 2015, às 10h30, na FEEC.  Engenharia Mecânica - “Controle modal de vibrações em estruturas flexíveis” (mestrado). Candidato: Ronald Richard Huaman Ortiz. Orientador: professor Alberto Luiz Serpa. Dia 30 de março de 2015, às 14 horas, na sala JD02 da FEM.  Física - “Estrutura eletrônica e magnética sob altas pressões: metais de transição 3d/5d e terras raras” (doutorado). Candidata: Larissa Sayuri Ishibe Veiga. Orientador: professor Narcizo Marques de Souza Neto. Dia 30 de março de 2015, às 14 horas, no auditório de Pós-graduação, prédio D do IFGW. “Comportamentos dinâmicos na rede estrela” (mestrado). Candidata: Carolina Arruda Moreira. Orientador: professor Marcus Aloizio Martinez de Aguiar. Dia 10 de abril de 2015, às 10 horas, na sala de seminários do Departamento de Física da Matéria Condensada do IFGW.

 Geociências - “Integração de dados sísmicos 3d e de perfis geofísicos de poços para a predição da porosidade de um reservatório carbonático da Bacia de Campos” (mestrado). Candidata: Roberta Tomi Mori. Orientador: professor Emilson Pereira Leite. Dia 10 de abril de 2015, às 9 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “O efeito do telefone celular no sinal da fala: uma análise fonético-acústica com implicações para a verificação de locutor em português brasileiro” (mestrado). Candidata: Renata Regina Passetti. Orientador: professor Plínio Almeida Barbosa. Dia 31 de março de 2015, às 13h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Palavras na ponta-da-língua: uma abordagem neurolinguística” (doutorado). Candidato: Marcus Vinicius Borges Oliveira. Orientadora: professora Rosana do Carmo Novaes Pinto. Dia 6 de abril de 2015, às 14 horas, no centro cultural do IEL. “Discursos sobre bilinguismo e educação bilíngue: a perspectiva das escolas” (mestrado). Candidato: Andre Coutinho Storto. Orientadora: professora Terezinha de Jesus Machado Maher. Dia 8 de abril de 2015, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Os nossos antepassados, de Italo Calvino, como alegoria do sujeito moderno” (mestrado). Candidata: Juliana Zanetti de Paiva. Orientador: professor Eduardo Sterzi de Carvalho Júnior. Dia 9 de março de 2015, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL. “O processo de bootstrapping na aquisição de linguagem” (mestrado). Candidata: Letícia Schiavon Kolberg. Orientador: professor Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes. Dia 10 de abril de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Rasuras em segmentação de palavras” (mestrado). Candidata: Adelaide Maria Nunes Camilo. Orientadora: professora Maria Bernadete Marques Abaurre. Dia 10 de abril de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Uma introdução sobre otimização não linear e o comportamento de problemas simétricos” (mestrado profissional). Candidato: Rian Penachi. Orientador: professor Luis Felipe Cesar da Rocha Bueno. Dia 30 de março de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Códigos, reticulados e aplicações em criptografia” (mestrado). Candidata: Maiara Francine Bollauf. Orientadora: professora Sueli Irene Rodrigues Costa. Dia 30 de março de 2015, às 14 horas, na sala 224 do Imecc. “Redes neurais recorrentes exponenciais Fuzzy baseadas em medidas de similaridade” (mestrado). Candidata: Aline Cristina de Souza. Orientador: professor Marcos Eduardo Ribeiro do Valle Mesquita. Dia 7 de abril de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Sobre o crivo de Eratóstenes-Legendre” (mestrado). Candidato: Marcus Vinicius Silva Nascimento. Orientador: professor José Plínio de Oliveira Santos. Dia 9 de abril de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Estudo dos efeitos da fase óptica na propagação de feixes de laser gaussianos em meios dielétricos estratificados” (mestrado). Candidata: Marina Lima Morais. Orientador: professor Stefano de Leo. Dia 10 de abril de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Alguns problemas elípticos não homogêneos via transformada de Fourier” (doutorado). Candidato: Nestor Felipe Castañeda Centurión. Orientador: professor Lucas Catão de Freitas Ferreira. Dia 10 de abril de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Avaliação biomecânica de próteses fixas implantossuportadas na região anterior da maxila por meio do método extensometroa elétrica” (mestrado). Candidata: Luiza Alencar de Andrade Figueiredo. Orientador: professor Wilkens Aurelio Buarque e Silva. Dia 30 de março de 2015, às 8h30 horas, no anfiteatro 4 da FOP. “Resistência ao micro-cisalhamento de cimentos resinoso fotoativados através de diferentes espessuras de cerâmica” (mestrado). Candidato: Juan Rene Barrientos Nava. Orientador: professor Rafael Leonardo Xediek Consani. Dia 6 de abril de 2015, às 9 horas, na sala da congregação da FOP. “Biocompatibilidade, perfil de permeação e eficácia anestésica de formulações de articaína associada à nanocápsulas de poli (epsloncaprolactona)” (doutorado). Candidata: Camila Batista da Silva. Orientadora: professora Maria Cristina Volpato. Dia 10 de abril de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP.  Química - “Membranas de poli(álcool vinílico) funcionalizadas paraliberação térmica e fotoquímica de óxido nítrico” (mestrado). Candidata: Sarah De Marchi Lourenço. Orientador: professor Marcelo Ganzarolli de Oliveira. Dia 8 de abril de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

do Portal

Água é tema de mostra na BC Área de Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL) expõe, até o final de maio, 18 livros que abordam a temática água. São obras iconográficas com imagens de águas brasileiras, relatórios sobre a seca, viagens por via fluvial e celebrações religiosas. A mostra é aberta ao público em geral e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h30, no 3º piso da BCCL, à rua Sérgio Buarque de Holanda, no campus da Unicamp. A exposição foi montada pelas bibliotecárias Fernanda Cristina Festa Mira e Isabella Nascimento Pereira. Esta é a primeira vez que a Área de Coleções Especiais realiza uma mostra sobre o assunto. Um dos destaques é o relatório em que o engenheiro Lysandro Pereira da Silva, na época chefe titular da subdivisão da Prefeitura Municipal de São Paulo e professor na escola Politécnica da USP, comenta o projeto de retificação do Rio Tietê elaborado por Saturnino de Brito. Outro relatório em exposição trata da consultoria solicitada pelo então presidente do Estado, Bernardino de Campos, ao renomado sanitarista Estevan Antonio Fuertes sobre o desenvolvimento do primeiro projeto de saneamento para a cidade e para o porto de Santos. Ambos são do século XIX. A seguir, a entrevista concedida pela bibliotecária Fernanda Mira ao Portal Unicamp. Portal Unicamp - Por que a Área de Coleções Especiais está expondo uma mostra que envolve o tema água? Fernanda Cristina Festa Mira - Pelo fato de a questão da água (ou a falta dela) ter se tornado um assunto bastante discutido no momento. Foi por isso que procuramos reunir obras que abordassem as variadas facetas da temática tendo a água como fonte de vida,

Foto: Antonio Scarpinetti

As bibliotecárias Fernanda Cristina Festa Mira e Isabella Nascimento Pereira: exposição inédita

indo além de seu uso essencial, prático e racional. Os livros escolhidos abordam o uso simbólico da água e a sua celebração como elemento de purificação e de poesia. A ideia central é mostrar a riqueza material e cultural da água com a finalidade de produzir reflexão aos visitantes sobre o quão pode ser danosa a sua escassez. PU - Como foi o processo de seleção das obras expostas? Fernanda - Realizamos uma pesquisa para identificar os materiais que temos disponíveis em nossas coleções. Após esse trabalho, as obras são reunidas por afinidade específica dentro da temática central. Esse processo é realizado por duas bibliotecárias e, a cada três meses, montamos uma exposição temática. PU - O que os relatórios e as obras iconográficas abordam e a que século pertencem? Fernanda - Os dois relatórios em exposição são obras do século XIX que abordam

a retificação do rio Tietê e o saneamento da cidade e porto de Santos. No primeiro, o engenheiro Lysandro Pereira da Silva, na época chefe titular da subdivisão da Prefeitura Municipal de São Paulo e professor na escola Politécnica da USP, comenta o grande projeto de retificação do Rio Tietê elaborado por Saturnino de Brito. Já o segundo relatório é fruto da consultoria solicitada pelo então presidente do Estado, Bernardino de Campos, ao renomado sanitarista Estevan Antonio Fuertes, para desenvolver o primeiro grande projeto de saneamento para a cidade e do porto de Santos. As imagens iconográficas retratam os recursos hídricos espalhados pelo Brasil. Araquém Alcântara e Otávio Rodrigues retratam em “Águas do Brasil”, de 2007, aproximadamente 130 imagens sobre mar, rios, cachoeiras, animais e pessoas que vivem das águas. Na obra “O rio Pinheiros”, de 2002, são apresentadas: a gênese do relevo paulista, a ocupação das margens, o aproveitamento dos recursos hídricos e as obras necessárias, além de projetos como o Projeto Pomar Urbano que desde 1999 promove medidas que visam revitalizar as margens do rio Pinheiros. A obra “Museu da Água ‘Francisco Salgot Castillon” conta a história do museu localizado na cidade de Piracicaba. No local funcionou a primeira Estação de Captação e Bombeamento de Água da cidade, construída em 1887. PU - Há alguma obra em que a água aparece como elemento simbólico? Fernanda - Sim. Na obra “Festas nas águas: fé e tradição nos rios e mares do Brasil”. Ela aparece como elemento simbólico de purificação, de culto, de limitador de fronteiras e de motivadora de guerras. É a expressão da cultura popular e a sua relação com a água. PU - Em que local o material está exposto para visitação pública?

Fernanda - Os livros especiais estão expostos em seis vitrines localizadas no corredor que dá acesso a Diretoria de Coleções Especiais e Obras Raras (em frente ao elevador). Os demais livros encontram-se dentro da Sala de Obras Raras e podem ser vistos do vidro que separa esta sala da sala de consulta. PU - Em se tratando de obras de coleções especiais, qualquer pessoa pode manipulá-las? Fernanda - Sim. Qualquer usuário pode consultar as obras, desde que preencha uma ficha de identificação e assine que está ciente do regulamento de seu uso e manuseio. O que não permitimos é o consumo de alimentos e bebidas por motivos de segurança e conservação do acervo; também não permitimos o uso de caneta para anotações, somente lápis. Para o manuseio das obras disponibilizamos luvas. Todos os materiais, especiais e raros, não circulam e não são passíveis de empréstimo. Eles devem ser consultados exclusivamente na sala de leitura. PU - Quais mostras já foram realizadas pela Área de Coleções Especiais? Fernanda - Já expusemos obras que envolvem datas comemorativas de grandes autores da literatura, como, por exemplo, o “Centenário de Jorge Amado” (2011) e os “90 anos de Lygia Fagundes Telles” (2012); de acontecimentos históricos, como os “90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922” (2012) e “Exposição de livros vetados pela Ditadura Militar” (2014); ou para divulgar obras do acervo, como as exposições dos periódicos “Propaganda é a alma do negócio? As marcas que fizeram história...”, e “Modas e costumes através dos tempos”; ou ainda exposições direcionadas a eventos organizados pela Universidade, como “Folclore e Literatura de Cordel: mostra de livros e folhetos”, na edição Unicamp de Portas Abertas de 2013. (Hélio Costa Júnior)


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015

Instituto Confúcio será oficialmente inaugurado no próximo dia 22

Alunos começam curso de mandarim na Unicamp Fotos: Antonio Scarpinetti

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

o serem indagados por curiosos sobre o local do primeiro dia de aula de mandarim, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, três estudantes que passavam diante da sala de aula em que seria realizado o curso, não somente se interessaram pela novidade como entraram na sala para assistir à aula de mandarim. Trata-se de um curso de extensão para a comunidade desta Universidade e para a comunidade externa. São três aulas por semana em seis níveis somente no curso básico, perfazendo 50 horas semestrais. A vantagem para aqueles que são da Unicamp é que o curso é gratuito. Para os de fora, o curso está sendo oferecido ao custo de 160 reais. Este é o primeiro curso de mandarim ministrado na Unicamp em iniciativa conjunta com o Instituto Confúcio (IC), envolvendo a Beijing Jiaotong University. Também é ofertado em outros Confúcios espalhados pelo Brasil. Em São Paulo, por exemplo, o Instituto está presente na Unesp, onde soma mais de 600 alunos, e na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), onde chega a 200 alunos. “Estamos otimistas com o curso da Unicamp e imaginamos que ele deve atrair mais atenção ainda com o seu desenvolvimento”, enfatiza o docente do Instituto de Economia (IE) Walter Belik, diretor brasileiro do IC. Da parte chinesa, a atual diretora do IC, a professora Gao Hongyan, deu as boas-vindas aos alunos no IEL no último dia 24, a maioria composta de estudantes da Unicamp. Bárbara Bonfim, 17 anos, primeiranista do curso de engenharia de alimentos, conta que fez mandarim em São Paulo. Como parou e não teve mais contato com a língua, fica com receio de esquecê-la. “Essa oportunidade da Unicamp vem a calhar”, retrata a estudante. Ela revela que se interessou pelo mandarim meramente pelo conhecimento de uma nova língua e que a sua maior dificuldade (e que deve ser a dos alunos também) é

Ideograma na primeira aula do curso iniciado dia 24: 50 horas semestrais

O professor Walter Belik, diretor brasileiro do IC: “O curso deve atrair mais atenção ainda com o seu desenvolvimento”

a identificação dos ideogramas. “Se errar um, o significado muda completamente”, mencionou. Agora Bárbara planeja se comunicar com os chineses nas redes sociais.

Por outro motivo, mas também pelo interesse no mandarim, o pós-graduando Vagner Andrade foi levado a buscar o estudo do mandarim. Vagner, que faz doutorado em ensino

e história de ciências da terra, explica que gosta da China e que pretende desenvolver sua pesquisa lá por meio de um doutoradosanduíche. Estava ansioso pela primeira aula, ministrada pela professora chinesa Wang Li. Tanto Bárbara quanto Vagner se juntaram a 20 alunos inscritos numa das três turmas do curso, que ainda mantém inscrições abertas aos interessados. Segundo Belik, a China é subavaliada em termos de importância para o Brasil, do qual é o primeiro parceiro comercial. “Sabemos pouco dessa cultura. As notícias que chegam de lá em geral vêm através das agências internacionais. A recíproca é a mesma, da China em relação ao Brasil. Logo, a ideia é estreitar os laços entre os dois países”, comenta. “Como essa é uma instituição universitária, então nos interessa muito consolidar as nossas relações culturais e acadêmicas.” Belik pontua que as empresas chinesas têm chegado mais intensamente ao Brasil e que por essa razão o Instituto Confúcio deve aproveitar a sua capacidade empresarial na região de Campinas. Ele destaca a necessidade que o Brasil tem de conhecer melhor os costumes chineses e o modo de se relacionar com a China nos negócios. “Estamos falando de um país com uma tradição de mais de 3 mil anos e com uma população superior a 1 bilhão e 300 milhões de habitantes”, acentua. No dia 22 de abril, será inaugurado oficialmente o Instituto Confúcio na Unicamp. “O curso de mandarim começou um pouco antes”, afirma Belik. No dia da inauguração, a Unicamp receberá uma grande delegação, de 22 estudantes, da Beijing Jiaotong University. Eles virão acompanhados de dois docentes daquela instituição. Será uma nova etapa na relação com o Instituto Confúcio. De 22 a 24 de abril estará ocorrendo então no campus de Campinas uma semana cultural chinesa, com apresentação de filmes, teatro, debates e gastronomia, entre outras atividades programadas.

O papel social das sinfônicas Foto: Antoninho Perri

Fórum reúne maestros, compositores e gestores LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Gestão orquestral e compromisso social” foi o tema do primeiro evento proposto pelo Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ceddic) da Unicamp dentro dos Fóruns Permanentes organizados pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). O fórum reunindo importantes maestros, compositores e gestores para discutir questões de planejamento artístico e administrativo, bem como os novos papéis das orquestras sinfônicas na sociedade atual, aconteceu no último dia 24 no Centro de Convenções. Além dos mais de 90 inscritos, um público bem mais amplo pôde acompanhar as discussões graças à transmissão ao vivo pela RTV Unicamp para os campi e pela Internet para outras partes do país. Segundo os organizadores, o tema do fórum se justifica plenamente diante do aumento da profissionalização de músicos e gestores da área artística, o que resulta numa melhoria na qualidade dos eventos; e também porque as instituições sinfônicas têm se mostrado cada vez mais ativas no desenvolvimento de programas educativos e sociais, auxiliando na melhoria da condição sociocultural de moradores da periferia, ao mesmo tempo em que amplia o alcance da música erudita. Cinthia Alireti, maestrina da Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU) e idealizadora do fórum, adiantou que seriam discutidas questões que não se aprende na escola, apenas no dia a dia das orquestras. “Existe muita curiosidade sobre como se organiza uma orquestra e como se lidera projetos para a

melhoria social na região em que vivemos. Além das dificuldades administrativas e de planejamento artístico, são desenvolvidos projetos de médio e longo prazo voltados a educação musical, formação de público e inclusão de crianças de áreas carentes. Um exemplo são as chamadas orquestras sociais, em que se ensina sobre determinados instrumentos até termos a orquestra montada. É uma forma de conectar essas crianças e trazê-las para o nosso mundo.” Claudiney Carrasco, professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp e atual secretário municipal de Cultura de Campinas, participou da primeira mesa-redonda do dia, sobre “Projetos sociais e educação musical”. “A educação é o ponto central da discussão, mas vou procurar fazer uma ligação com a gestão da Orquestra Sinfônica de Campinas, que atua em várias ramificações como de formação de público e concertos didáticos em escolas, além de se apresentar nos bairros e trazer aquelas populações para seus espetáculos. Partindo daí, sofisticamos a atuação em projetos efetivamente educativos, como a Escola de Música, agora reaberta, tendo como professores os estagiários do Departamento de Música da Unicamp.” Além de Claudiney Carrasco e de Cinthia Alireti como mediadora, a primeira mesa teve a participação de Adriana Schincariol, da Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP Tom Jobim), e de Edson Leite, diretor da Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP). A mesa sobre “Formação de público e difusão da música contemporânea”, mediada por Denise Garcia, diretora do Ceddic, teve como debatedores o maestro Antônio Borges-Cunha, diretor artístico e regente da Orquestra de Câmara Theatro

Cinthia Alireti, maestrina da Orquestra Sinfônica da Unicamp: “Existe muita curiosidade sobre como se organiza uma orquestra”

São Pedro (Porto Alegre, RS); e o professor e compositor Leonardo Martinelli, da Faculdade Santa Marcelina e também diretor de formação da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. A última mesa, que tratou de “Programação de temporadas artísticas”, foi mediada por Parcival Módolo, regente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, e teve

como debatedores: Jamil Maluf, fundador da Orquestra Experimental de Repertório e regente titular da Orquestra Sinfônica de Piracicaba; Victor Hugo Toro, regente titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Campinas; Lutero Rodrigues, regente titular da Orquestra Acadêmica da Unesp; e Abel Rocha, regente titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Santo André.


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Campinas, 30 de março a 12 de abril de 2015 ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

educação somática é um campo teórico e prático que reúne métodos e técnicas cujo eixo é o movimento do corpo no espaço e o tempo como via de organização e possível transformação de desequilíbrios – estruturais, fisiológicos ou cognitivos – de uma pessoa. Estas pesquisas começaram na América do Norte e Europa no século 19 e se desenvolveram ao longo do século 20. O corpo era sempre visto em sua integralidade: pensamento, sentimento, sensação e movimento, sem uma dicotomia entre mente, cérebro e corpo. Uma pesquisa de mestrado do Instituto de Artes (IA) mostrou que esta maneira de enxergar o indivíduo, a partir dos princípios comuns que regem a maioria das áreas somáticas, pode contribuir muito para o preparo corporal do artista de hip hop nas danças urbanas. “O entendimento de como cada movimento ocorre facilita, por exemplo, a resposta corporal nas batalhas, nas quais os dançarinos necessitam de prontidão corporal, sem tensão, para responder ao movimento do outro”, conclui Ana Cristina Ribeiro, que em sua dissertação adotou conceitos da Ideokinesis, um dos mais antigos métodos somáticos, do início do século 20. A autora retratou na investigação a sua trajetória artística e acadêmica até a construção da Cia Eclipse Cultura e Arte de Campinas, local onde efetuou seu trabalho experimental e do qual foi sócia fundadora com Ricardo Cardoso, o Kico. Trata-se de uma instituição privada, mas atua intensamente com o público juvenil, em vários espaços, oferecendo aulas gratuitas a populações carentes da região, em parceria com a prefeitura local e diferentes escolas de dança.

INTEGRAÇÃO No trabalho, a pesquisadora adotou o conceito de ideokinesis para oferecer aos dançarinos uma percepção das sensações, dos pensamentos engajados para realizar os movimentos, de como cada ação é feita como contribuição para o preparo corporal. Trouxe também os conhecimentos da formação em Educação Física e seus estudos sobre as artes da cena. Ana Cristina dividiu os sujeitos em dois grupos: um de mulheres e outro de homens, todos integrantes da Cia Eclipse. Com as mulheres, escolheu a dança breaking para estudar algumas movimentações. Pela dificuldade das dançarinas em alguns movimentos, optou por usar uma bola de 65 cm de diâmetro, a “bola suíça”, como suporte ao aprendizado qualitativo dos movimentos nas sequências, visto que proporcionam o alinhamento, a capacidade de lidar com o (des)equilíbrio no movimento e fortalecimento da musculatura. Com os homens, ela criou uma apresentação em sua dissertação calcada num texto descritivo sobre o conteúdo do trabalho que, ao ser narrado pela mestranda, era dançado pelos rapazes. A autora descreveu ao vivo o que é a cultura hip hop, inclusive com seus elementos básicos sendo demonstrados em tempo real: o MC - Mestre de Cerimônia, o DJ - no som, o Grafite - desenho criado no momento, a Dança - os dez rapazes dançando juntos, e o quinto elemento - o Conhecimento, que transversalmente aconteceu do início ao final. “O processo de interligar o conhecimento da cultura hip hop com os estudos da Educação Física, as artes da cena e os novos conhecimentos sobre a educação somática trouxe um diferencial para esta arte”, garante Ana Cristina. Outra relação presente em sua dissertação foi o sentido poético da alquimia – as mudanças adquiridas pela artista em relação à realização de sua obra, tão preciosas como o desejo dos alquimistas de transformarem os vis metais como o chumbo em metais nobres como o ouro.

M ovimentos integrados

De acordo com a autora, um trabalho requer dedicação constante para que haja aperfeiçoamento. “No começo, foi difícil perceber como efetuar esta transmutação, como observado na alquimia; contudo, aos poucos ela foi acontecendo. A alquimia foi vista como uma inspiração poética e como um caminho.” Ana Cristina ainda fez um levantamento das companhias profissionais de dança urbana atualmente. Apurou que são pouco mais de 50 no mundo e que, na França, Inglaterra e Alemanha, estão os principais grupos e companhias, por serem os mais organizados e estruturados para circularem seus espetáculos. A pesquisadora admite que a dança de rua no Brasil, que antes era reproduzida pela cópia de movimentações, sem muito conhecimento, hoje constrói linguagens com a música local, como o samba, rappers e repentistas do Nordeste, mostrando-se mais uniforme devido a sua divulgação. Agora, as pessoas sabem identificar o hip hop dance no mundo inteiro – o estilo breaking (b-boys e b-girls), pois já tiveram acesso pela internet, vídeos, cinema e televisão. Além disso, construiu-se uma geração hip hop, ampliando a visão dos quatro elementos específicos: o grafite, a dança, o MC e o DJ. Ana Cristina relata que a geração atual busca trabalhar mais com o quinto elemento, o qual ela reconhece que faz parte da geração hip hop. Em sua opinião, sentir e viver a cultura hip hop vão além de atuar artisticamente em um dos quatro elementos. Agora as

pessoas se identificam com a essência desta cultura, o tipo de música, a forma de se vestir e de se expressar. A vontade de continuar os estudos possibilitariam aprofundar o tema sobre a cultura hip hop e também reunir material mais abrangente sobre o assunto no Brasil e exterior. Sendo aceita no Programa Artes da Cena do IA, Ana Cristina pesquisou como o artista de rua poderia atuar no teatro num palco italiano e quais mudanças seriam necessárias. Como a preparação corporal para o hip hop, em parceria com a educação somática, poderia contribuir para esta mudança espacial e como seria a concepção das danças e de que modo os dançarinos deveriam se preparar para ela? Como seria vista na cultura hip hop esta mudança espacial da cypher (roda de dança) para o palco italiano no teatro? Ana Cristina foi pesquisar, recebendo o apoio institucional da Capes para desenvolver seu estudo. Em 2014, recebeu novo apoio, desta vez da Pró-Reitoria de Pesquisa-Faepex, para apresentar trabalho resultante da pesquisa de mestrado, participar de workshops e visitar o programa de dança da Columbia University em Nova Iorque. Essa estadia possibilitou à mestranda estabelecer um comparativo com outra universidade americana, visitada um ano antes, que também possui um programa específico chamado Hip Hop Education, na Faculdade de Educação da New York University.

O entusiasmo da mestranda com a dança ocorreu mais pontualmente aos 13 anos, a partir de brincadeiras de rua. Repartia com os amigos uma mistura de capoeira e de outras danças. Inventavam, repetiam e atuavam a cada encontro numa esquina do Jardim Estoril, em Campinas. Aos poucos, teve o desejo de ir mais longe. Foi apresentada à universidade por Kico, que na época fazia graduação em Educação Física na PUC-Campinas. Passou a acompanhá-lo nas aulas, optando, mais tarde, por estudar Educação Física na mesma universidade. Na graduação, Ana Cristina confessa que não tinha a pretensão de ser dançarina profissional. Porém, mais tarde, decidiu mergulhar no trabalho, pesquisando, dançando hip hop e construindo as bases para a Cia Eclipse, que completou 12 anos de atividades e foi premiada em diversos editais municipais, estaduais e federais. Isso lhe permitiu fazer viagens nacionais e para os Estados Unidos, Alemanha, França, Suíça, Itália, Argentina, Chile, entre outras. Também ajudou na publicação do livro Dança de Rua, em 2011, pela Editora Átomo, em coautoria com Ricardo Cardoso. A mestranda conclui que, sem a dança, não teria saído de Campinas e nem cursaria o ensino superior. “A dança e a cultura hip hop abriram portas, e continuam abrindo, para o crescimento pessoal, artístico e profissional”, ressalta Ana Cristina, que, além de atuar na Cia Eclipse, leciona em escolas e clubes de Campinas, e em cursos de extensão.

Fotos: Antonio Scarpinetti

Buscando as imagens na ‘ideokinesis’

Publicação Dissertação: “Dança de rua do ser competitivo ao artista da cena” Autora: Ana Cristina Ribeiro Orientadora: Júlia Ziviani Vitiello Unidade: Instituto de Artes (IA)

VOCAÇÃO

Ana Cristina Ribeiro, autora da dissertação, dança na Praça da Paz, na Unicamp: “A alquimia foi vista como uma inspiração poética e como um caminho”

A ideokinesis (ideo=imagem e kinesis=movimento) oferece procedimentos claros e flexíveis para observar o movimento, compreender seu início, percurso e finalização, associando-o a imagens específicas, quase metáforas da ação realizada e que objetivam facilitar a sua compreensão e organização. O método pode permitir mudanças de padrões de movimento e, portanto, de pensamento e comportamento. Seus benefícios aparecem ao longo do tempo. Um deles está no reconhecimento do corpo e entendimento da necessidade de alinhar partes do corpo, mantendo a relação entre elas. Foi trazido ao IA pela docente Júlia Ziviani Vitiello, orientadora da pesquisa, que estudou com os pioneiros da ideokinesis nos EUA. Na dança urbana, tendo alinhamento e força, o bailarino sabe a hora certa de levantar uma perna e sabe que aquele músculo estará lá pronto para dar suporte àquele comando do sistema nervoso. “O movimento melhora de qualidade e é feito com menos estresse, menos esforço e, se executado corretamente, menos lesões corporais, possibilitando que a pessoa amplie sua longevidade na dança”, acentua Ana Cristina.


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