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Campinas, 1º a 31 de dezembro de 2014 - ANO XXVIII - Nº 616 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antoninho Perri

Mergulho no cérebro Pesquisa que fundamentou tese de doutorado da neurologista Ana Carolina Coan, defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), combina técnicas que permitem detectar atrofias sutis em regiões cerebrais de pacientes com epilepsia de lobo temporal mesial (ELTM). Orientado pelo professor Fernando Cendes, o estudo foi contemplado com o Prêmio Capes de Teses 2014.

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Transistor detecta chumbo na água Pesquisa radiografa núcleos de inovação Investindo na relação entre médico e paciente Por novos indicadores de fator de impacto Eustáquio Gomes é homenageado em vídeo Invisibilidade social no Porto de Suape

Dentes dão pistas sobre ‘vampiros’ Uma nova fonte limpa de energia? Fundação Gates exige acesso livre

TELESCÓPIO

Exame de neuroimagem no Hospital de Clínicas da Unicamp: fusão de técnicas

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Campinas, 1 a 31 de dezembro de 2014

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Foto: Amy Scott/Divulgação

Dente determina origem de vampiro Estudo publicado no periódico PLoS ONE analisou uma série de seis chamados sepultamentos apotropaicos – literalmente, “que evitam o mal”, ou “que afastam malefícios” – num cemitério polonês do século 17. Os rituais apotropaicos, que incluíam depositar uma foice sobre o cadáver, ou uma pedra em sua boca, eram praticados, principalmente, para evitar que os mortos retornassem como vampiros. Os autores, de instituições dos Estados Unidos e Canadá, usaram uma análise de isótopos de estrôncio dos dentes dos cadáveres para testar a hipótese de que os suspeitos de vampirismo seriam forasteiros ou imigrantes. O resultado, no entanto, foi negativo: a composição dos dentes dos “vampiros” coincidiu com a da população local da época. “Esses dados indicam que os visados para práticas apotropaicas não era migrantes mas, em vez disso, representavam indivíduos locais cuja identidade social ou modo de morrer os marcou com suspeita”, escrevem os autores. “Epidemias de cólera que varreram muito da Europa Oriental durante o século 17 podem ser uma explicação alternativa (...) já que a primeira pessoa a morrer numa epidemia infecciosa tinha, presumia-se, maior probabilidade de voltar da morte como vampiro”.

Esquecendo a história Estudo publicado na revista Science buscou determinar se existe um padrão seguido pelo esquecimento de fatos na memória coletiva – definida como a “representação do passado que é compartilhada por um grupo”. O objetivo era descobrir a taxa com que um fato histórico que é conhecido por 100% da população no instante em que acontece vai, aos poucos, sumindo da lembrança, com o passar das gerações. Os autores, da Universidade Washington de Saint Louis, analisaram a capacidade de estudantes americanos de ensino superior de lembrar os nomes e a ordem dos presidentes do país. Foram avaliadas três gerações de estudantes – de 1974, 1991 e 2009 – e também um grupo paralelo de cerca de 400 adultos, testados em 2014. O que os pesquisadores encontraram, em todos os grupos, foi uma curva de memória em forma de “U”, com um alto índice de lembrança nas pontas – com o presidente que estava no cargo no momento da pesquisa e seus antecessores imediatos, numa extremidade, e os primeiros chefes da república, na outra – e uma forte “amnésia coletiva” no meio, quebrada apenas por alguns pontos excepcionais, como Abraham Lincoln e seus sucessores imediatos. “A memória dos presidentes que serviram durante a vida do indivíduo decai linearmente”, diz o artigo. Quanto aos presidentes de gerações anteriores, os autores escrevem que a forte lembrança de Lincoln e seus sucessores, em todos os grupos, está ligada à Guerra Civil e ao fim da escravidão nos EUA, o que os autores associam ao “efeito de isolamento” detectado em experimentos mais tradicionais de memória, onde se constata que um item destacado numa lista – uma imagem numa relação de palavras, por exemplo – tende a ser mais recordado que os itens “normais”.

bres do mundo, damos alta prioridade não só à pesquisa necessária (...) mas também à coleta e ao compartilhamento dos dados, para que outros cientistas e especialistas possam se beneficiar desse conhecimento”, prossegue o texto. Nota sobre a iniciativa da Fundação Gates publicada pelo blog da revista Nature chama atenção para o ponto mais radical da nova política: a exigência de que os artigos sejam não só disseminados gratuitamente, como também sob uma forma de licença de direito autoral que permite a reutilização livre e gratuita do texto – o que inclui a inclusão em publicações comerciais, a extração de trechos ou dados, a tradução para outras línguas.

Chuva ácida “gelatiniza” lagos no Canadá

Cadáver de mulher morta aos 40 anos e sepultada com foice sobre a garganta, para impedir seu retorno como vampira

Mais fungos perto dos polos Um levantamento da biodiversidade dos fungos mostra que a variedade desses organismos não depende da das plantas: embora nas latitudes mais baixas a biodiversidade dos dois grupos pareça fortemente correlacionada, à medida que se aproxima dos polos, a diversidade das plantas cai bastante em relação à dos fungos. “Isso põe em questão as estimativas atuais da riqueza dos fungos”, que pressupõe uma ligação muito mais próxima com a dos vegetais em todos os ambientes, diz artigo sobre o estudo, publicado na revista Science. As principais variáveis envolvidas na biodiversidade dos fungos, escrevem os autores, são climáticas, “o que traz preocupações sobre o impacto da mudança do clima na disseminação de doenças e nas consequências funcionais da alteração das comunidades de micro-organismos no solo”.

Um novo ar condicionado A revista Nature traz a descrição de um sistema de refrigeração capaz de reduzir a temperatura do interior de um edifício em até 5º C, sem consumir eletricidade, e sob a luz do Sol. Os criadores do sistema, ligados à Universidade Stanford, apresentaram um painel refletor solar que, além de devolver 97% da radiação solar incidente, também elimina o calor interno do edifício, irradiando-o numa faixa do espectro infravermelho para a qual a atmosfera terrestre é transparente, o que faz com que a energia rume para o espaço. “A fria escuridão do Universo pode ser usada como um recurso termodinâmico renovável, mesmo nas horas mais quentes do dia”, diz o artigo. O material testado pelos autores é uma plataforma composta de sete camadas de óxidos de silício e háfnio. Em nota, a Universidade Stanford diz que o material foi criado de modo a ter custo compatível com o uso na construção civil, lembrando que 15% do consumo de eletricidade em edifícios, nos Estados Unidos, vem da refrigeração do ar.

Segredos da fotossíntese Pesquisadores japoneses apresentam, na revista Nature, uma nova descrição da estrutura do complexo de proteína fotossistema II, fundamental no processo de fotossíntese, pelo qual plantas se apropriam da energia da luz do Sol. O fotossistema II usa a energia luminosa para separar os átomos de oxigênio e hidrogênio que compõem a água. A Nature lembra que a possível recriação sintética dessa função poderá representar uma fonte limpa de energia para atender às necessidades humanas. Tentativas anteriores de desvendar a estrutura do complexo levaram a resultados contraditórios, o que sugere que a radiação usada na produção das imagens pode ter danificado as amostras. Os autores do trabalho publicado agora na Nature afirmam ter superado essa dificuldade. “Esperamos que esta estrutura ofereça um plano para a criação de catalisadores artificiais”, escrevem os autores.

Fundação Gates exigirá acesso livre A Fundação Bill & Melinda Gates, estabelecida pelo fundador da Microsoft e uma importante fonte financiadora de pesquisa científica, principalmente na área de saúde, anunciou que, a partir de 1º de janeiro de 2017, todos os artigos produzidos por projetos realizados com seu apoio terão de ser publicados em periódicos de acesso gratuito. “Todas as publicações resultantes de financiamento da fundação, e todos os dados subjacentes à pesquisa publicada serão disponibilizados imediatamente no ato da publicação”, diz nota publicada no website da organização. “Dado o foco da Fundação Gates em melhorar a saúde das populações mais po-

As chuvas ácidas, que reduzem as concentrações de cálcio no solo, vêm prejudicando os pequenos crustáceos tradicionalmente encontrados nos lagos do Canadá, que precisam desse elemento para formar suas carapaças, e favorecendo organismos competidores, dotados de cobertura gelatinosa. Segundo artigo publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B, a população da variedade gelatinosa, Holopedium glacialis, dobrou entre a década de 1980 e meados dos anos 2000, enquanto a da tradicional pulga d’água, ou dáfnia, diminuiu, em lagos de Ontário. Os autores destacam não só o impacto ecológico da substituição, já que as dáfnias representam uma fonte de nutrientes mais rica que o Holopedium, mas também o efeito sobre os sistemas de captação de água para consumo humano: “o aumento na concentração de geleia pelágica poderá impedir a remoção da água do lago para uso residencial, municipal ou industrial”, adverte o artigo. “Os custos de operação da infraestrutura para os usuários de água vai, portanto, subir (...) à medida que aumentam as densidades de cápsulas de geleia que entopem os filtros”.

Centopeia revelada Uma colaboração internacional de cientistas publicou o primeiro genoma completo de uma centopeia, na semana passada. O animal, Strigamia marítima, é uma centopeia venenosa originária da Europa. A espécie não tem olhos, e usa as antenas para caçar. O trabalho foi publicado online no periódico PLoS Biology. Assim como insetos, aracnídeos e crustáceos, as centopeias – parte da classe miriápode – são artrópodes. Um dos líderes do projeto de sequenciamento, Ariel Chapman, da Universidade de Jerusalém, disse, por meio de nota, que “os artrópodes andam por aí há mais de 500 milhões de anos, mas a relação entre os diferentes grupos e a evolução inicial das espécies não são bem compreendidos”, situação que o novo genoma pode ajudar a retificar.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Raquel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Estudo contribui com novos dados sobre crises epiléticas Foto: Antoninho Perri

Qualidade do trabalho desenvolvido na FCM foi reconhecida com o Prêmio Capes de Teses de 2014

Exame de neuroimagem no Hospital de Clínicas da Unicamp

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisa desenvolvida para a tese de doutorado da neurologista Ana Carolina Coan, defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, aplicou de forma concomitante o eletroencefalograma e a ressonância magnética para identificar como as crises epiléticas ocorrem em pacientes com epilepsia de lobo temporal mesial (ELTM) de dois tipos: o que apresenta e o que não apresenta sinais de esclerose hipocampal. A combinação das técnicas permitiu a detecção de regiões cerebrais com atrofias sutis, que não seriam observadas somente por meio da análise visual das imagens geradas pela ressonância magnética. “Também pudemos constatar que o dano neuronal difere entre os indivíduos com uma forma e outra de epilepsia”, afirma a pesquisadora, que obteve o Prêmio Capes de Tese 2014 com o seu trabalho. O orientador do estudo foi o professor Fernando Cendes. O diagnóstico da epilepsia, conforme Ana Carolina, normalmente é feito a partir de uma classificação que leva em conta o tipo de crise epilética descrita pelo paciente e por seus familiares. Com isso, os neurologistas conseguem definir qual região do cérebro é provavelmente a responsável pela manifestação. Assim, um indivíduo com epilepsia de lobo temporal normalmente descreve que sua crise tem início com “uma sensação de frio na barriga, que sobe para a garganta” ou com “um medo inexplicável”. Já o familiar informa que a pessoa “fica parada, com olhar perdido” e sem se comunicar. Todo o evento dura de um a dois minutos. “Hoje, saber que o paciente tem ELTM já é suficiente para decidirmos qual tratamento medicamentoso deve ser instituído. Entretanto, o diagnóstico não nos diz qual é a causa específica da síndrome”, explica a pesquisadora. Para identificar a possível causa da epilepsia, o exame mais utilizado pela medicina é a ressonância magnética cerebral. As imagens geradas pela técnica revelam lesões localizadas nos lobos temporais, como tumores, sequelas de traumas cranianos ou acidentes vasculares cerebrais. Ocorre que essas lesões são responsáveis por somente 10% das ELTMs. Cerca de 70% delas são provocadas por uma atrofia denominada esclerose hipocampal, localizada no hipocampo, estrutura situada na parte interna do lobo temporal. Os outros 20% dos pacientes apresentam exames normais, ou seja, nesses casos a causa da epilepsia é desconhecida. A tese defendida por Ana Carolina foca justamente os dois grupos mais representativos, que respondem conjuntamente por 90% dos casos de epilepsia de lobo temporal. A autora da tese observa que a despeito das causas das crises epiléticas serem diferentes, os pacientes são tratados de forma semelhante. O desafio que a pesquisadora se impôs foi procurar por marcadores na estrutura ou na função do cérebro de pacientes com epilepsia que ajudassem a compreender melhor como as crises ocorrem nos dois diferentes grupos. “Trabalhei com a hipótese de que, apesar de terem características clínicas parecidas, os dois tipos de ELTM deveriam apresentar diferenças na estrutura cerebral [definidas pelos neurologistas como redes neuronais estruturais], bem como nas suas conexões [redes neuronais funcionais]”, informa a autora da tese.

Para tentar identificar esses pormenores, a pesquisadora valeu-se da combinação do eletroencefalograma e da ressonância magnética. A composição das duas técnicas, classificadas de “multimodais”, proporcionam maior precisão de diagnóstico, dado que elas se complementam. “O eletroencefalograma nos dá informações sobre a atividade cerebral com uma resolução temporal excelente, da ordem de milissegundos, mas tem uma resolução espacial ruim. Por outro lado, a ressonância magnética tem uma resolução espacial muito boa - é possível visualizar com precisão toda a anatomia cerebral -, mas uma resolução temporal ruim, da ordem de vários segundos. O uso das duas técnicas ao mesmo tempo permite somar informações”, esclarece. Em complemento às duas técnicas, Ana Carolina usou softwares especiais que possibilitaram a realização de medidas específicas nos dois grupos de ELTM. “Graças a essa abordagem, nós conseguimos detectar várias regiões cerebrais com atrofias sutis, que não seriam identificadas apenas por meio da avaliação visual das imagens geradas pela ressonância magnética. Os resultados confirmaram a nossa hipótese inicial, pois verificamos que o dano neuronal difere entre os dois grupos de pacientes. Ademais, constatamos que outros dados clínicos, como a frequência das crises epiléticas, também têm influência nessa rede de dano neuronal estrutural dos pacientes”, resume a pesquisadora. Já as redes neuronais funcionais foram detectadas por intermédio das alterações de fluxo sanguíneo cerebral, observadas nos exames de ressonância magnética realizados no momento em que o eletroencefalograma mostrava a ocorrência de descargas epiléticas inter-ictais [descargas cerebrais que ocorrem mesmo quando os pacientes não estão tendo crise]. “Apesar das descargas observadas nos eletroencefalogramas dos dois grupos de pacientes terem sido semelhantes, as redes neuronais funcionais observadas se mostraram diferentes”, revela a autora da tese. Ao todo, segundo Ana Carolina, foram estudados 150 portadores de epilepsia. Uma das grandes vantagens do estudo, de acordo com a neurologista, é que ele tem como base exames que são realizados rotineiramente para o diagnóstico e o acompanhamento dos pacientes com ELTM. “A diferença fundamental é que, na pesquisa, nós utilizamos softwares especializados para fa-

Foto: Divulgação

Segundo a neurologista Ana Carolina Coan, autora da tese, o uso concomitante do eletroencefalograma e da ressonância magnética permite a detecção de regiões cerebrais com atrofias sutis

zer análises mais detalhadas desses exames”, reforça. O trabalho desenvolvido por Ana Carolina foi direcionado, ainda, a pacientes que apresentam crises refratárias ao uso de medicações antiepiléticas. Para esses indivíduos, uma possibilidade é o tratamento cirúrgico, com a remoção da região específica do lobo temporal responsável pelos sintomas. O tratamento cirúrgico, entretanto, demanda uma investigação complexa, que inclui a realização de outros exames, a fim de definir qual região do cérebro deve ser removida e se essa remoção será capaz de controlar as crises, sem causar danos aos pacientes. Mesmo assim, no longo prazo, somente 60% dos indivíduos operados permanecem livres de crise. “Com o uso concomitante do eletroencefalograma e da ressonância magnética, pudemos identificar quais pacientes poderiam se beneficiar da cirurgia. Em outras palavras, mostramos que o uso dessas técnicas pode ajudar a selecionar melhor os pacientes que devem ser submetidos a esse tipo de intervenção”, enfatiza a neurologista. Segundo Ana Carolina, que realiza atualmente o pós-doutorado nos Estados Unidos, mais especificamente na Cleveland Clinic Foundation, o estudo terá continuidade em duas distintas linhas. A primeira delas

dará seguimento às investigações para tentar desvendar como a rede de dano estrutural se desenvolve nos pacientes com ELTM, assim como o motivo de ela ser diferente entre pacientes com esclerose hipocampal e não lesionais. “Também estamos estendendo a análise do uso concomitante do eletroencefalograma e da ressonância magnética na avaliação pré-operatória de pacientes com outros tipos de epilepsias”, adianta. Questionada sobre como recebeu a notícia de que a sua pesquisa havia sido contemplada com o Prêmio Capes de Tese 2014, Ana Carolina afirma que se sentiu honrada. “É sempre um grande incentivo ter o seu trabalho reconhecido. Acima de tudo, sintome privilegiada por ter a possibilidade de trabalhar em um grupo de pesquisa multidisciplinar, bem estruturado e com importante reconhecimento internacional, sob a supervisão do professor Fernando Cendes. O prêmio é sem dúvida fruto de horas de dedicação, mas ele nunca seria possível sem a estrutura física e humana que temos no Laboratório de Neuroimagem da Faculdade de Ciências Médicas Unicamp”, considera.

A SÍNDROME

A epilepsia é provavelmente tão antiga quanto o próprio homem. Há relatos de que os povos antigos consideravam os portadores da síndrome como seres tomados por maus espíritos ou demônios. Não por acaso, a palavra “epilepsia” vem do grego epilambanein, que significa tomar, capturar, possuir. É considerada uma síndrome, caracterizada por crises espontâneas e recorrentes. No Brasil, ela atinge entre 1% e 2% da população, o que representa um contingente de 2 a 4 milhões de pessoas. Já a epilepsia de lobo temporal mesial (ELTM) corresponde a mais da metade das epilepsias em adultos.

Publicação Tese: “Diferenças clínicas e de alterações cerebrais estruturais e funcionais entre epilepsias de lobo temporal mesial com e sem sinais de Esclerose Hipocampal” Autora: Ana Carolina Coan Orientador: Fernando Cendes Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)


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Autor da pesquisa busca uma versão seletiva e portátil de dispositivo LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

xiste uma demanda mundial para detecção de contaminação na água, com a exigência de dispositivos cada vez mais sensíveis a vários tipos de particulados. Dentre os muitos contaminantes, os mais perigosos são os íons de metais como chumbo, ferro, níquel, cobre e cádmio. E o chumbo se destaca porque no passado foi amplamente utilizado em encanamentos de construções, assim como na fabricação de baterias e cabos elétricos. Os danos que este metal pode causar à saúde humana vão desde disfunções renais, complicações nas vias respiratórias, abortos e mal de Parkinson, até alguns tipos de câncer que podem levar à morte. O desenvolvimento de um dispositivo denominado transistor de efeito de campo sensível a íon (Isfet, na sigla em inglês), específico para detectar chumbo em água, foi o foco da dissertação de mestrado de Rodrigo Reigota César, apresentada na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. A pesquisa teve orientação do professor Jacobus W. Swart e coorientação da pós-doutoranda Angélica Denardi de Barros, no âmbito do Centro de Componentes Semicondutores (CCS). Rodrigo César explica que o dispositivo tipo Isfet vem sendo utilizado nas áreas química e biológica devido à sua aplicação no diagnóstico médico, no meio ambiente e na indústria alimentícia. A partir de um Isfet capaz de identificar cátions e ânions em água, o autor da dissertação criou uma versão seletiva para chumbo. “Realizei um estudo do estado da arte e do funcionamento deste dispositivo, detalhando todo o processo de fabricação, bem como a sua caracterização estrutural e elétrica. Ele pode ser aplicado para detecção de pH [indicador de acidez, neutralidade ou alcalinidade] e concentrações de chumbo na água.” O professor José Alexandre Diniz, diretor do CCS, que representou o orientador Jacobus Swart nesta entrevista, disse que além da especificidade para chumbo, o aluno buscou um sensor da menor dimensão possível, portátil, que permitisse fazer medidas em campo. “Houve desafios como de produzir uma membrana para detectar a presença e adsorver o contaminante na água e que fosse seletiva, pois tais dispositivos detectam outros metais afora o chumbo. O passo seguinte foi produzir o sensor, um dispositivo com terminais que mudam a condutividade elétrica como resposta de sensibilidade para aquele tipo de contaminante.” De acordo com a pós-doc Angélica Barros, que foi orientada de Diniz no mestrado e doutorado, se antes havia muito chumbo nos encanamentos e outros materiais de construção, hoje existe o problema do descarte destes resíduos na natureza, o que provoca a contaminação em cadeia. “O lixo contamina o solo e a água que nós bebemos, assim como bebem os animais dos quais nos alimentamos. Daí a importância de contar com um sensor portátil que possamos levar até possíveis fontes de contaminação, principalmente de água, e verificar o que está acontecendo ao longo da cadeia.” O autor cita na dissertação informações de estudos anteriores, como a de que a contaminação por chumbo pode ocorrer pelo ar, ingestão de água contaminada ou de alimentos preparados com esta água. É descrito um caso relacionado ao mel, em que a partir da água contaminada por chumbo, foram afetadas as flores, o pólen, as abelhas, o próprio produto e, por fim, os seus consumidores. Diante da comprovação de danos à saúde como os já mencionados, e de outros

Transistor de silício detecta presença de

chumbo na água Fotos: Antoninho Perri

Rodrigo Reigota César, autor da dissertação, e a pesquisadora Angélica Denardi de Barros, coorientadora, em laboratório do CCS: processo de fabricação detalhado

como ao sistema nervoso central, cardiovascular e musculoesquelético, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estipulou que a concentração de chumbo em água deve ficar entre 2 e 10 nanogramas por mililitro.

NO SILÍCIO, A INOVAÇÃO

O diretor do CCS considera este trabalho de mestrado inovador por envolver membranas produzidas em cima de silício – os produtos similares não são – justamente para permitir sua ligação a um circuito integrado. “É um processo único, mas trata-se de um primeiro desenvolvimento, até chegarmos ao protótipo final. O que temos atualmente é um capacitivo integrado a um transistor de efeito de campo sensível ao íon, o Isfet – e se temos um Isfet feito em silício, está-se usando uma tecnologia de processadores. Ou seja, feitos a membrana e o transistor, agora vamos trabalhar num circuito integrado para viabilizar todo o processamento num mesmo chip.” Angélica Barros participou como coorientadora da dissertação de mestrado porque os materiais utilizados na pesquisa foram escolhidos por conta dos resultados de sua tese de doutorado. “O foco de Rodrigo César esteve em controlar a membrana em cima do filme de óxido de titânio, que é depositado sobre uma lâmina de silício – materiais que estudei em minha tese. Foi um trabalho em paralelo: eu forneci a base do dispositivo, que ele complementou para torná-lo seletivo para chumbo. Já tínhamos a base esteticamente pronta e sabíamos aonde poderíamos chegar.”

O dispositivo: transistor também pode ser usado na detecção de pH

A pós-doutoranda observa, entretanto, que a ideia não poderia ser concretizada sem a parceria do professor Oswaldo Luiz Alves e seu grupo do Instituto de Química. “Ele forneceu os materiais que foram desenvolvidos no LQES [Laboratório de Química do Estado Sólido]: o fosfato de cério fribroso [CeP], que é a membrana sensitiva, e os filmes finos de óxido de titânio [TiO2] depositados em cima de uma lâmina de silício. Rodrigo teve que aprender com eles o processo de deposição do material, além de toda a teoria na área de elétrica, para alcançar esse resultado.”

DIMENSÃO REDUZIDA

Rodrigo César afirma que este dispositivo, na forma como foi desenvolvido, não existe

Publicação Dissertação: “Desenvolvimento de transistor de efeito de campo sensível a íon (isfet) para detecção de chumbo” Autor: Rodrigo Reigota César Orientador: Jacobus W. Swart Coorientadora: Angélica Denardi de Barros Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) O professor José Alexandre Diniz, diretor do CCS: próximo passo é viabilizar o processamento num mesmo chip

na literatura, e que seu objetivo no doutorado é aprimorá-lo para, aí sim, apresentar um Isfet portátil que permita detectar o chumbo na própria fonte, dispensando o processamento posterior dos dados. “Para a detecção de chumbo na água, geralmente são usados eletrodos para colher a amostra que precisa ir a laboratório. Nossa meta é obter imediatamente o resultado, ainda no campo”. Além do Isfet, o autor da dissertação estudou o eletrólito-isolante-semicondutor (EIS), já que ambos os dispositivos de efeito de campo apresentam como vantagens a pequena dimensão, a fácil fabricação e a possibilidade de se fazer vários dispositivos em uma única lâmina. Segundo o professor José Alexandre Diniz, para garantir a portabilidade do dispositivo será preciso reduzir bastante a dimensão a que se chegou nesta pesquisa de mestrado, de 3 por 3 milímetros para algo em torno de 100 por 100 mícrons (medida que equivale à milésima parte do milímetro). “Não é nada fácil colocar a membrana nessas dimensões, mas conseguimos que ela tivesse sensibilidade para chumbo. Se não for possível reduzir o dispositivo, vamos tentar um arranjo de pequenos transistores em paralelo.” Este trabalho proporcionou ao aluno a publicação de três artigos em periódicos. Dois deles – “Electrolyte-Insulator-Semiconductor field effect device for pH detecting” e “Thin titanium oxide films obtained by RTP and by Sputtering” – foram aceitos no SBMicro 2014 (Symposium on Microeletronics Technology and Devices), o principal evento voltado à fabricação e modelagem de microssistemas e circuitos integrados, da Sociedade Brasileira de Microeletrônica; e o terceiro – “Electrolyte Insulator Semiconductor structure for Pb+ detecting” – no Eurosensor 2014.


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Pesquisa revela como agências de inovação veem seu ambiente no país Levantamento foi feito em parceria firmada entre Universidade de Cambridge e Unicamp Foto: Camila Kater

VANESSA SENSATO Especial para o JU

Universidade de Cambridge, em parceria com a Unicamp, acaba de divulgar relatório sobre sua pesquisa a respeito dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) brasileiros, em alguns casos também nomeados como “agências de inovação”. Os NITs são os órgãos dentro das universidades e institutos de pesquisa que são responsáveis pela gestão da inovação nestas instituições. A pesquisa – que foi enviada para 193 NITs brasileiros, sendo respondida por 33, por meio da plataforma Survey Monkey – foi complementada por um workshop presencial, realizado em março deste ano, em Brasília, que trouxe para discussão 11 NITs brasileiros, o Consulado Britânico e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Além da extensão de dados quantitativos, o diferencial dos resultados apresentados no relatório de Cambridge frente às pesquisas nacionais é a presença de dados qualitativos, que abordam a visão dos NITs sobre seu ambiente, o que incluiu seu ponto de vista sobre a Lei de Inovação e sobre o apoio para as atividades de transferência de tecnologia e de proteção à propriedade intelectual em cada uma das instituições. Especialista em políticas públicas, o professor da Universidade de Cambridge responsável pela pesquisa, Finbarr Livesey, explica que embora sua atuação não seja diretamente ligada aos NITs brasileiros, seu objetivo foi trazer insumo adicional para a discussão que permeia a revisão do Marco Legal da Inovação no Brasil. “Levantamos alguns pontos que podem ser discutidos pelos especialistas nacionais”, coloca Livesey. Entre os resultados de destaque, o relatório de Cambridge aponta que, embora a Lei de Inovação torne mandatória a constituição de NITs dentro das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT), mais da metade dos respondentes não acredita que seu NIT receba apoio adequado dentro de suas instituições, e 63% dos respondentes não acredita que os pesquisadores são incentivados de maneira suficiente para trabalharem com os NITs.

Workshop realizado em março, na embaixada britânica, em Brasília: na pauta, NITs brasileiros Foto: ASCOM/MCTI

Armando Zeferino Milioni, da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI: “Ainda há espaço para melhorias”

A pesquisa realizada por Cambridge também traz alguns comparativos entre os dados nacionais – levantados na pesquisa – e indicadores no Reino Unido. Um destes casos se refere à taxa média de recusa de uma comunicação de invenção – quando um inventor requisita ao NIT a proteção de uma tecnologia. No Brasil, a taxa média levantada na pesquisa é de 30%, enquanto no Reino Unido, é de 50%. Livesey, da Universidade de Cambridge, coloca que esta

taxa pode indicar “fraqueza” no processo de seleção de tecnologias para o patenteamento entre os NITs brasileiros. Patrícia Leal Gestic, diretora de propriedade intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp, explica que um dos fatores que eleva a taxa de recusa de comunicações de invenção no Reino Unido é a ausência do chamado “período de graça” entre vários países europeus, incluindo o próprio Reino Unido. “No Brasil e nos Estados

ICTs recebem R$ 185,5 mi em projetos com empresas As Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) brasileiras receberam no ano de 2013 R$ 185,5 milhões em projetos que envolvem transferência de tecnologias para empresas, o que representou um acréscimo superior a 50% nos rendimentos recebidos no ano de 2012. A informação será publicada no relatório de divulgação do Formict, Formulário para Informações sobre a Política de Propriedade Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas do Brasil, realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). De acordo com informações do Ministério, 261 ICTs responderam ao Formict em 2014, com relação a seus dados em 2013, mas o formulário com dados do ano de 2013 ainda não foi divulgado em função de restrições relativas ao período eleitoral. Para o secretário Armando Zeferino Milioni, da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec) do MCTI, os dados demonstram que há instituições se beneficiando ativamente do processo de comercialização das tecnologias geradas internamente. “Ainda há espaço para melhorias e o MCTI tem participado ativamente no aprimoramento do ambiente de interação ICT e empresa, por meio de pro-

gramas de incentivo e também na revisão do Marco Legal da Inovação”, coloca Milioni.

REGIÕES MAIS ATIVAS Com relação aos números absolutos de contratos de licenciamento de direitos de propriedade intelectual informados no Formict, observou-se que 25 instituições foram responsáveis por 1.245 contratos de licenciamento, concentrando-se basicamente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. De acordo com Milioni, os contrastes regionais na concentração das ICTs no país e, por conseguinte, dos contratos, são tradicionais da dinâmica do desenvolvimento do nosso país. “É importante ainda enfatizar que o licenciamento não é a única forma de transferência do conhecimento, existem outras modalidades igualmente relevantes, como consultorias, pesquisas colaborativas, surgimento de empresas spin-off, dentre outras, que também poderão gerar rendimentos para a instituição.” Para Milioni, um grande desafio para se ampliar o relacionamento universidade-empresa no Brasil está na estruturação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) que, desde a implementação da Lei de Inovação tornou-se obrigatória para as instituições públicas. “Os NITs se mostraram nacional e

internacionalmente como uma estrutura de interface eficiente entre as instituições científicas e tecnológicas, e as empresas”, avalia Milioni. Segundo dados do Formict, do universo de 261 ICTs que responderam ao Formict em 2014, ano-base 2013, 63,6% informaram que possuem o NIT implementado. As demais estão em implementação ou ainda não deram início ao processo de constituir uma unidade para gerir a política de inovação na instituição. Patrícia Leal Gestic, diretora de propriedade intelectual da Agência de Inovação Inova Unicamp, comenta que o desafio para as ICTs vai além da criação dos NITs. “É necessário que seja definida uma estrutura mínima para o funcionamento do NIT, o que inclui a definição de cargos específicos para atuarem nos NITs, bem como dotação orçamentária”. Segundo a diretora, com os NITs ativos na promoção do relacionamento com as empresas, as ICTs se beneficiam muito além do resultado financeiro. “Entre os ganhos indiretos regionais estão o impacto na geração de novos empregos e a absorção de pesquisadores pelas empresas. Para a universidade, é também interessante ter pesquisadores e alunos cada vez mais próximos das realidades das demandas das empresas”, conclui a diretora.

Unidos, por exemplo, há o que chamamos de período de graça, que nos garante fazer o pedido de patente até 12 meses após a divulgação de informação sobre a tecnologia pelos próprios autores. Já na Europa, se um docente divulga informação sobre a tecnologia por meio de um paper ou em um congresso, o pedido de patente fica inviabilizado pelo requisito novidade absoluta”, esclarece a diretora. Para Patrícia, os NITs mais estruturados no Brasil já possuem metodologia bem definida para subsidiar a decisão de proteger ou não uma invenção e, consequentemente, para garantir a liberdade de operação das tecnologias quando exploradas por empresas. Ana Tokormian, diretora da Agência de Inovação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tem a mesma avaliação e cita a Agência de Inovação da UFSCar como exemplo. “A Agência faz a avaliação do potencial de mercado do invento, de maneira que somente são encaminhadas para patenteamento as invenções que tenham chance de serem licenciadas para spin-offs da Universidade ou empresas já estabelecidas no mercado”, explica. Spinoffs acadêmicas são empresas formadas para comercializar tecnologias desenvolvidas na academia. As diversas rotas para a comercialização da tecnologia desenvolvida na Universidade também foram objeto de análise da pesquisa de Livesey, que apontou o licenciamento de tecnologias como rota mais comum entre os NITs nacionais. Entretanto, um terço dos NITs respondentes não assinaram nenhuma licença no ano de 2013. De acordo com o professor Milton Mori, diretor-executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, há várias questões que envolvem a tendência nacional para a transferência de tecnologias acadêmicas por meio de licenciamento, mas um dos pontos é crítico. “No Estado de São Paulo, por exemplo, a legislação é muito restritiva para a criação de empresas spin-offs por pesquisadores e docentes vinculados a ICTs, que é um caminho mais flexível no Reino Unido e nos Estados Unidos”, avalia Mori. O docente considera que será necessária uma alteração mais ampla no marco regulatório da inovação estadual e federal e também a revisão na Lei do Funcionalismo Público do Estado de São Paulo. “Embora a Lei de Inovação permita, a regulamentação do funcionalismo público no Estado de São Paulo considera como conflito de interesse o licenciamento de uma tecnologia da universidade para uma empresa criada por um docente. Precisamos de uma revisão neste conceito para podermos promover a constituição de mais empresas e levar mais tecnologias da universidade para o mercado”, pontua. Neste contexto, Patrícia comenta que se a legislação atualmente não permite a transferência de tecnologias acadêmicas para empresas spin-off vinculadas a docentes, as universidades, por outro lado, estão se movimentando para apoiar a criação de empresas spin-off por outras vias. Ela cita o recente levantamento entre as chamadas “Empresas Filhas da Unicamp” – grupo de 244 empresas formadas por ex-alunos e ex-docentes, principalmente – que apontou que há pelo menos 20 contratos de licenciamento de tecnologias para estas empresas, sendo oito delas consideradas empresas spin-off. “Entretanto, ainda há um grande desafio com relação à captação de recursos privados para prova de conceito das tecnologias”, coloca a diretora.

Veja a pesquisa da Universidade de Cambridge no link: http://www.inova.unicamp.br/ node/3348


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Campinas, 1 a 31 de

Linha de pesquisa ap de medicina da realid SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

á no primeiro ano de faculdade, os nossos alunos de medicina se deparam com isso, revela o professor Marco Antônio de Carvalho Filho, apontando para a tela Criança morta, de Cândido Portinari. O aspecto dramático da obra, em que uma mãe se curva diante do cadáver de seu filho, é uma amostra da realidade com a qual o estudante passará a conviver dali para a frente. A metáfora empregada pelo médico e docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp exprime a perplexidade vivenciada, muitas vezes, pelo jovem estudante na faixa dos 18 aos 20 anos ao ingressar em um curso de medicina. “Já no primeiro ano, esses estudantes passam a conhecer, de fato, a realidade social do país: visitam unidades de saúde, entram em contato com a pobreza, sofrimento, morte e desigualdade social. Mas, no geral, os cursos não refletem sobre isso. Convivemos com a morte diariamente, e não conversamos sobre ela com os alunos. Ninguém chega e pergunta: o que você sentiu, quando viu, pela primeira vez, uma pessoa morrer? Como foi quando se deparou com o primeiro cadáver na sala de anatomia? Quando participou do atendimento daquela pessoa que morreu, apesar de todos os seus esforços? Quais foram as emoções que vieram à tona?”, reflete o docente. “Nunca ninguém me perguntou sobre isso no curso. Às vezes, você deixa o estudante ou recém-formado sozinho e ele lida muito bem com isso. Outras vezes, não. Expomos o estudante ao problema, o que é bom, mas, ao mesmo tempo, não criamos oportunidades para ele refletir sobre aquilo com a ajuda de profissionais que já se debruçaram sobre isso várias vezes”, completa Marco Antônio de Carvalho Filho. Na outra ponta desta relação, está o paciente. Num caso recente, embora extremo, um médico do município paulista de Sumaré diagnostica as dores de cabeça e problemas com pressão arterial de uma paciente como “falta de ocupação”. Revoltada, a paciente torna a situação pública e entra com uma ação por danos morais. “O médico, de modo geral, tem falhado no seu contrato social. O modelo é falho também. Os modelos de prática médica estão afastados do paciente. Muitos profissionais estão insatisfeitos com a atividade e reproduzem isso na sua relação. Especialistas de grande parte das escolas de medicina do mundo, quando analisam a empatia - que é a capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se nas mesmas circunstâncias – concluem que ela cai progressivamente durante o curso. Isso é ruim porque o estudante entra na faculdade com mais capacidade de ser empático do que quando ele sai. Tem alguma coisa errada no curso. E lidar com tudo isso é um desafio”, reconhece o docente. Carvalho Filho está à frente de um trabalho pioneiro da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), cujo foco é a incorporação de novas práticas pedagógicas para aprimorar a formação da identidade profissional dos futuros médicos. As atividades, resultados de anos de pesquisas e estudos interdisciplinares, vêm permitindo uma verdadeira renovação na prática médica, impactando positivamente, sobretudo, no relacionamento entre médicos e pacientes.

Com ênfase na empatia, novas práticas pedagógicas privilegiam formação da identidade profissional tes de medicina da Unicamp em diferentes estágios de formação. Entre as principais intervenções promovidas junto aos graduandos da FCM, está a simulação de consultas médicas com casos clínicos complexos. O trabalho, realizado com a ajuda de pacientes-atores, formados pelo Instituto de Artes (IA) da Universidade que integram uma companhia teatral, suscita emoções desencadeadas pela doença e pela própria condição de vida do paciente. As simulações são gravadas para subsidiar, posteriormente, o debate em grupo. Há também o treinamento de habilidades interpessoais e de comunicação, além do emprego da narrativa reflexiva em palestras com médicos e pacientes, com ensaios sobre experiências pessoais. “Precisamos, na condição de médicos, nos colocarmos no lugar da outra pessoa e sair daquele encontro com uma proposta que faça sentido para ela. O médico não tem que aprender somente com o médico, ele tem que aprender com o paciente também. A medicina esteve isolada durante muito tempo, perdendo a capacidade de aprender com outras profissões. O professor, por exemplo, precisa se colocar no lugar do aluno para elaborar uma proposta que faça sentido para ele. O ator, também. Portanto, por que atores, professores e médicos não podem ter aula juntos sobre isso?”, propõe o orientador. Marcelo Schweller explica que o estudo utilizou uma escala psicométrica para medir a empatia do estudante. Os resultados demonstraram que a empatia aumentou consideravelmente em praticamente todos os alunos que passaram pelas atividades de intervenções. “A relação médico-paciente é o fundamento da prática da medicina. Entre os fatores que permitem o sucesso dessa parceria, a empatia se destaca como um dos mais importantes. Existem evidências científicas que associam a atitude empática do médico com a satisfação do paciente, melhor adesão ao tratamento e melhores desfechos clínicos”, fundamenta o pesquisador. Ele exibe outros resultados relevantes dos trabalhos. “Apesar da exposição, de atender na frente dos colegas e dos pro-

Estudantes veem simulação de consulta feita por aluna da Faculdade de Ciências Médicas e atriz (no destaque): gravações subsidiam debate em grupo

fessores, mais de 80% dos alunos ficaram à vontade nas consultas simuladas. Quase 100% se sentiram à vontade durante a discussão. Depois da atividade, 94% deles acharam que a capacidade de ouvir o paciente estava melhor; mas não só de ouvir o paciente: 91% acreditam que a capacidade de ouvir o próximo também está melhor.” A motivação dos estudantes após as atividades também aumentou como consequência das intervenções. Depois da atividade, cerca de 60% dos estudantes ficaram

EMPATIA O médico e pesquisador Marcelo Schweller, orientado pelo professor Marco, acaba de defender tese de doutorado em que avalia uma série de intervenções, visando manter ou aumentar a empatia de estudan-

O professor Marco Antônio de Carvalho Filho, coordenador das pesquisas: “O médico, de modo geral, tem falhado no seu contrato social”

motivados a estudar não somente a relação médico-paciente, mas os conteúdos de medicina como um todo. Quase 100% consideraram uma aplicação deste aprendizado na vida profissional e mais de 90%, também na vida pessoal. “O processo pedagógico é baseado no reforço positivo, não sendo raro os alunos se emocionarem durante a intervenção. Para alunos e professores, a atividade resgata a motivação inicial que os levou a escolher a profissão. Os resultados, por outro lado, sugerem que é possível manter ou mesmo aumentar os níveis de empatia por meio de metodologias ativas de ensino em diferentes estágios da formação médica”, conclui Marcelo Schweller. O grupo da Unicamp conta com a colaboração da professora Eloisa Helena Rubello Valler Celeri, do Departamento de Psiquiatria Infantil da FCM; do docente Flávio César de Sá, do Departamento de Saúde Coletiva da FCM e da professora e educadora, Márcia Maria Strazzacappa Hernandez, da Faculdade de Educação (FE). Há, ainda, mestrandos e doutorandos desenvolvendo novas pesquisas na área de metodologias ativas para o ensino de graduação em medicina. Os resultados, conforme o docente Marco de Carvalho, vêm sendo apresentados periodicamente em congressos mundiais de educação médica, como os da Association for Medical Education in Europe (AMEE), realizados em Lyon, na França, em 2012; e em Praga, na República Tcheca, em 2013. “Este é um dos primeiros projetos do país em educação médica apoiado pela Fapesp. Também contamos com o apoio da


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e dezembro de 2014

proxima alunos dade do paciente Fotos: Antoninho Perri

Capes. Simulação muitas escolas de medicina fazem, mas do modo como é feito aqui, é pioneiro não só no Brasil, mas no mundo. Juntamos dois universos para lidar com a parte afetiva da relação médico-paciente: o da psicologia médica e o da simulação. Somos um dos poucos grupos brasileiros que têm apresentações orais anualmente em congressos europeus de educação médica, onde está a vanguarda da área”, destaca.

CURRÍCULO

OCULTO

A perda da empatia ao longo dos anos do curso de graduação tem como umas das causas principais o que os pesquisadores denominam de currículo oculto. “O estudante têm várias experiências na faculdade que não são somente as experiências em sala de aula e supervisionadas. Essas experiências também vão moldando a personalidade e a identidade profissional desses alunos. E nem todas essas experiências são positivas. Isso é o que chamamos de currículo oculto em medicina. O risco é o estudante chegar ao final da faculdade e virar um super-herói diferente”, brinca o professor Marco de Carvalho. Durante o estudo de doutorado, Marcelo Schweller identificou, por meio dos relatos dos estudantes, uma relação conflituosa entre as experiências do currículo oculto em oposição à ideia de uma prática médica pautada na ética, com interesses do paciente em destaque. Conforme o pesquisador, o estudante sente o desconforto proveniente desse conflito, mas não reflete sobre ele, vivenciando suas experiências de maneira anestesiada ou cínica, o que adia o estabelecimento de uma identidade profissional virtuosa. “Queremos formalizar o currículo oculto, trazer para o debate. A formação dos futuros médicos precisa estar pautada em valores e virtudes, que surgem da necessidade primordial de colocar os interesses do paciente acima dos interesses do próprio médico. Para respeitar isso, o médico precisa ter uma fidelidade à verdade científica, mas também à verdade humana”, salienta o docente. Além do conhecimento técnico e das humanidades, como sociologia, antropologia e filosofia, ele precisa ser um bom médico, cuja prática esteja fundamentada na

compaixão ou mesmo na caridade, completa. “Precisa ativamente se colocar no lugar do outro, e preservando sua própria alteridade, reconhecer, entender e compartilhar o sofrimento e angústia causados pela doença. Só assim ele poderá individualizar o plano terapêutico de seus pacientes e elaborar propostas que façam sentido para a pessoa que se encontra doente.” Ainda de acordo com o professor da Unicamp, o debate sobre a formação de uma identidade profissional dos futuros médicos passa por um processo de empoderamento do próprio estudante. “Queremos que o aluno se conscientize sobre isso: ‘bom, eu estou neste momento sendo submetido a vivências e experiências que vão me ajudar a definir quem eu serei.’ Mas que seja um processo ativo de escolha. E neste meio tempo queremos incorporar o debate dos valores e das virtudes para garantir que a prática profissional seja realmente dele, e não um processo repetido. Se na área de humanas este debate é corriqueiro, na área médica ele praticamente não existe. A nossa vontade é que o aluno assuma as rédeas sobre isso, mas baseada em valores e virtudes.” O pesquisador Marcelo Schweller ressalta, por sua vez, que as atividades com apelo realístico que apresentem a medicina de uma forma positiva podem se tornar um fórum para o debate de temas relacionados ao currículo oculto, o que estimula a reflexão sobre o tema. Esse tipo de atividade pode motivar o estudante no processo de ensino-aprendizagem, permitindo a recuperação do significado pessoal e social da prática da medicina, argumenta. “Durante a simulação, cada paciente tem uma dinâmica emocional principal. Tem um caso que trabalhamos com a perda, com o luto. Tem outro caso em que trabalhamos com a questão da autonomia, de como valorizar e incluir a autonomia no plano terapêutico. Outros ainda são centrados no sentimento de raiva, no conflito, na resistência em não aceitar o tratamento. Toda consulta simulada tem uma ambiência emocional por trás”, revela.

FRAGMENTAÇÃO O desenvolvimento tecnológico da medicina passou por um crescimento exponencial no último século, acentua o médico Marco de Carvalho. Com as especialidades e o aperfeiçoamento técnico, o número de doenças que são tratadas atualmente é muito superior àquelas tratadas no passado. Embora tenha contribuído para o bem-estar da sociedade, esta fragmentação impulsionou a prática médica a

“Criança morta”, tela de Portinari: em contato com a realidade

focar mais na doença do que no paciente, pondera o professor. “Isso é um grande problema. Muitas vezes, quando o profissional vai tratar um caso complexo, ele divide em um monte de casos específicos, mas não necessariamente a solução de todas as partes será a solução do todo. Esse é o nosso desafio porque a medicina fragmentou o paciente demais, mas ele continua sendo um só. Às vezes o profissional tem a habilidade de ir até a parte, mas nem sempre tem a habilidade de voltar ao todo. Portanto, a medicina corre o risco de se esquecer do paciente enquanto está cuidando da doença”, alerta. A tese defendida por Marcelo Schweller mostrou que determinadas especialidades médicas também estão associadas aos níveis de empatia de estudantes de medicina. Aqueles que pretendem especialidades com contato direto com os pacientes, como medicina de família, clínica médica, psiquiatria e pediatria, apresentam níveis de empatia maiores que os estudantes que buscam especialidades orientadas por tecnologia ou procedimentos, como anestesiologia, radiologia e patologia.

Publicações Artigo Schweller M, Costa FO, Antônio MÂRGM, Amaral EM, CarvalhoFilho MA. The impact of simulated medical consultations on the empathy levels of students at one medical school. Acad Med. 2014;89(4):632-7. Congressos Apresentação oral do trabalho “The impact of simulation of medical consultations on medical student empathy levels”, de autoria de Marcelo Schweller, Felipe Osorio Costa, Eliana Martorano Amaral, Maria Angela Reis de Goes Monteiro Antonio, Marco Antonio Carvalho Filho no congresso internacional AMEE 2012, em Lyon (França), realizado entre 27 e 29 de agosto de 2012. Apresentação oral do trabalho “It is good to be a doctor: preserving empathy through a positive look into the practice of medicine”, de autoria de Marcelo Schweller, Eloisa Celeri e Marco Antonio de Carvalho Filho no congresso internacional AMEE 2013, em Praga (República Tcheca), realizado entre 24 e 28 de agosto de 2013. Apresentação em forma de pôster eletrônico “Simulated medical consultations with an extended debriefing: Students’ perception of learning outcomes, de autoria de Marcelo Schweller, Silvia Passeri e Marco Antonio de Carvalho Filho no congresso internacional AMEE 2014, em Milão (Itália), realizado entre 30 de agosto e 03 de setembro de 2014.

Marcelo Schweller, autor da tese: “É possível manter ou mesmo aumentar os níveis de empatia por meio de metodologias ativas de ensino”

Tese: “O ensino de empatia no curso de graduação em medicina” Autor: Marcelo Schweller Orientador: Marco Antonio de Carvalho Filho Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: Fapesp e Capes


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Campinas, 1 a 31 de dezembro de 2014

Inulina em escala industrial

Carboidrato é capaz de substituir açúcar ou gordura sem ganho calórico

Fotos: Antoninho Perri

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

m processo de secagem inédito desenvolvido na Unicamp abre caminho para a produção, em escala industrial, da inulina em pó, um carboidrato com propriedades que o tornam capaz de substituir o açúcar ou a gordura sem ganho calórico. Este carboidrato de reserva presente naturalmente em diversos produtos vegetais foi obtido a partir da secagem da raiz de uma espécie pouco comum de chicória, a Cichorium intybus L. O método empregou técnicas complementares de pré-secagem e processamento de raízes da chicória, secagem por ar quente e radiação infravermelha. A pesquisa foi conduzida pela engenheira agrícola Carolina Maria Sánchez Sáenz, sob a coordenação e orientação do docente Rafael Augustus de Oliveira, do Departamento de Pré-Processamento de Produtos Agropecuários da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Os estudos integram doutorado defendido recentemente pela pesquisadora, que atualmente leciona na Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá. O professor Kil Jin Park, da Feagri, coorientou os trabalhos. A docente Juliana Tófano de Campos Leite Toneli, do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC, também colaborou com as pesquisas. A sua dissertação de mestrado, defendida em 2001 na Feagri, desenvolveu também experimentos sobre o tema na Unicamp. O docente e engenheiro agrícola Rafael de Oliveira informa que, atualmente, não há extração natural da inulina no Brasil. “A produção de inulina e sua aplicação industrial já são muito difundidas em países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá. No Brasil, no entanto, ainda não existe produção natural de inulina em escala industrial. Ela é importada ou produzida sinteticamente. Isso torna a sua utilização bastante restrita devido aos custos dos processos”, reconhece. De acordo com ele, as pesquisas da Unicamp podem tornar a utilização da inulina mais acessível às indústrias locais. “Conseguimos otimizar o processo de secagem da raiz de chicória utilizando um tipo de secador que foi panteado aqui na Unicamp. Além disso, ganhamos tempo usando a radiação infravermelha para aquecer muito mais rapidamente o material. Outra vantagem é a secagem em modo contínuo. Isso dá parâmetros para a obtenção da inulina em escala industrial”, ressalta.

CLAUS M. GERMER cmgermer@ufpr.br

obra de Cohen, agora publicada pela Editora Unicamp, apareceu em primeira edição em 1978, e em segunda edição ampliada em 2000. A obra é tida como fundadora de uma corrente – mais propriamente de um grupo de autores – que veio a denominar-se “marxismo analítico”, cujos líderes foram Cohen, John Roemer e Jon Elster. O objetivo do autor, explícito no título, é apresentar uma defesa da teoria da história de Marx, especificamente da tese marxista de que o desenvolvimento das forças produtivas determina o curso histórico da sociedade humana, mas uma defesa baseada em uma profunda e ampla – pode-se dizer radical – reformulação do materialismo histórico, tal como formulado por Marx. Assim, antes de falar do livro, é indispensável mencionar as características gerais do projeto a ele subjacente, o “marxismo analítico”, pois o livro, embora em defesa de uma importante parte da teoria de Marx, constitui um contundente desafio ao marxismo. Essa é a razão pela qual a polêmica em torno do livro girou tanto ou mais em torno da legitimidade do uso do termo “marxismo”, no marxismo analítico, do que em torno do seu objeto. Eis como Cohen define o marxismo analítico: “ser analítico é ser o oposto à forma de pensamento tradicionalmente pensada como parte integrante do marxismo: (...) é o oposto do assim denominado pensamento dialético; (...) é o oposto do que se pode chamar de pensamento ‘holístico’”. Cohen investe, assim, diretamente contra dois pilares do materialismo histórico: a dialética e a concepção holística da realidade. O oposto do pensamento holístico é o individualismo metodológico, base filosófica e me-

Carolina Maria Sánchez Sáenz, autora da tese: energia proveniente do emissor é absorvida pelo produto

O coordenador das pesquisas acrescenta que o próximo objetivo é aprimorar os experimentos no sentido de utilizar a inulina obtida como um agente encapsulante. Neste caso, o composto seria empregado em outros produtos como, por exemplo, sucos em pó. Além de adoçar o suco, a inulina seria um componente nutricional a mais no produto. “Geralmente em produtos naturais como polpas de frutas não é possível fazer uma transformação em pó sem que haja uma aglomeração nas suas partículas. Para fazer isso nós precisamos incorporar um material que dê estabilidade, que faça com que estas partículas grudem uma nas outras. É aí que usamos o agente encapsulante. Queremos, ao invés de colocar 100% de material encapsulante, inserir uma parte de inulina, enriquecendo nutricionalmente ainda mais o produto”, revela. Ele explica que a inulina é utilizada pela planta, no caso a chicória, para armazenar energia. “A inulina é muito interessante porque ela é composta por uma cadeia de frutose com uma glicose no final. E isso faz com que ela somente seja processada no final do nosso intestino. Portanto, quando ingerimos a inulina não temos ganho calórico. Além disso, ela atua como fibra dietética, ou seja, serve de alimento para as bifidobactérias, que são as bactérias boas presentes no nosso intestino. É bom para quem tem diabetes, para quem quer emagrecer, para quem tem problema intestinal... Ela também pode atuar como substituto de gordura sem ganho calórico”, acrescenta. Desde 2001 são desenvolvidos experimentos na Unicamp visando a otimização

Rafael Augustus de Oliveira e a raiz de espécie de chicória: otimizando o processo de secagem

dos processos de concentração e secagem de inulina a partir de raízes de chicória, situa Rafael de Oliveira. Atualmente, ele coordena linha de pesquisa nesta área, financiada pela Fapesp. O docente informa que as técnicas atuais em secagem consomem, em média, entre 20% e 25% da energia utilizada pelo processamento na indústria de alimentos. “Portanto, a necessidade de que sejam explorados novos métodos e combinações de técnicas em secagem”, justifica. O engenheiro agrícola esclarece que para obter a inulina da chicória foi realizada uma pré-secagem das raízes da planta por meio de uma técnica conhecida como HTST, do inglês High Temperature and Short Time (alta temperatura e curto tempo). Esta técnica é combinada com a secagem convectiva contínua com aplicação de radiação infravermelha, visando a obtenção de um produto de qualidade e com baixa demanda de energia elétrica no processo. “Pré-processamos as raízes e colocamos neste equipamento, que é um secador, agitador e misturador. O equipamento foi desenvolvido aqui na Feagri e patenteado como parte da minha tese de doutoramento, orientada pelo professor Kil Jin Park. Fazemos uma pré-secagem para reduzir drasticamente a umidade das raízes antes de entrar na máquina, que pode trabalhar tanto em batelada, quanto em modo contínuo”, explica. Além disso, prossegue Rafael de Oliveira, a secagem é complementada por meio de emissores de radiação infravermelha. “Conseguimos complementar a energia necessária para a secagem mais rapidamente

porque a energia sai do emissor e é absorvida diretamente pelo produto. O ar quente vai passar pelo produto, mas, além disso, o equipamento vai emitir radiação infravermelha para o produto.”

CHICÓRIA

A espécie Cichorium intybus L, além da folhagem, apresenta raízes que podem pesar até 800 gramas. O tubérculo, a principal fonte de inulina, possui cor castanha e formato cónico e alongado. Este tipo de espécie, esclarece o docente, deve ser colhida após sete meses de cultivo, ao contrário da chicória mais comumente consumida, cujo cultivo pode ser feito entre dois e três meses. As raízes de chicória apresentam sabor amargo provocado pela presença da inulina, carboidrato pertencente ao grupo de polissacarídeos.

Publicação Tese: “Secagem contínua de raízes de chicória com aplicação de radiação infravermelha em um secador agitador/ misturador” Autora: Carolina Maria Sánchez Sáenz Orientador: Rafael Augustus De Oliveira Coorientador: Kil Jin Park Unidade: Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) Financiamento: Fapesp

Uma defesa não marxista de Marx todológica das ciências sociais burguesas, adotado pelo marxismo analítico. Cohen define como meramente “técnicas” as correntes teóricas não marxistas constitutivas, segundo ele, do marxismo analítico: 1) as “técnicas de análise lógica e linguística” da filosofia analítica, a corrente filosófica dominante do establishment acadêmico anglófono, no século XX, origem do nome do “marxismo analítico”; 2) as “técnicas de análise econômica” da economia neoclássica, desenvolvimento do que Marx denominou “economia vulgar”, também amplamente dominante em todo o mundo capitalista; 3) a “teoria da decisão”, a “teoria dos jogos” e, mais geralmente, a “teoria da escolha racional”. “(...) que se desenvolveram a partir e ao longo da economia neoclássica” (21); 4) a análise funcionalista, que, embora o próprio Cohen não a acrescente a esta lista, comparece em todo o livro com grande destaque. Considerando o audacioso propósito de realizar uma análise marxista com a inclusão de correntes tão opostas ao marxismo, causa surpresa que Cohen não tenha procurado demonstrar a compatibilidade dessas correntes com os princípios fundamentais do materialismo histórico. Os capítulos que se referem diretamente ao tema central são os capítulos II e III, nos quais o autor procura definir e identificar detalhadamente as forças produtivas e as relações de produção. Esta constitui uma contribuição efetiva ao debate marxista, geralmente limitado aos conceitos mais gerais sobre o tema, dispensando os necessários detalhamento e precisão conceitual. No capítulo VI o objetivo é demonstrar textualmente a defesa de Marx da tese da primazia das forças produtivas e expor a natureza dessa primazia. Mas parte da defesa baseia-se

em princípios não marxistas, como a “natureza humana” permanente, o comportamento racional e a escassez (pp. 190-200). O capítulo VII é uma análise principalmente linguística da tese da primazia e da sua aplicação à explicação da sucessão de modos de produção, em parte divergente da apresentada por Marx. Nesses dois capítulos, “o materialismo histórico foi apresentado mais especificamente (...) enquanto uma teoria funcionalista da história e da sociedade” (p. 295). A luta de classes comparece modestamente, mas Cohen aborda o problema da presença simultânea e não resolvida, na literatura marxista, de duas causas da revolução social, por um lado a contradição Forças Produtivas (FP) x Relações de Produção (RP), e por outro a luta de classes, o “motor da história”, segundo o Manifesto, cujo vínculo ou não é identificado, ou, se o é, não é explicado. Cohen não dá o merecido destaque ao problema, mas fornece, embora ambiguamente, elementos da sua solução. Por um lado, considera que “o poder explicativo da luta de classes é (...) limitado”, por não ser “a explicação fundamental da mudança social”, que é a contradição FP x RP (p. 188). Por outro lado, afirma não suprimir “a luta de classes do centro da história” (p. 339) por ser “um dos principais meios através dos quais as forças produtivas se impõem sobre as relações de produção” (p. 339; itálicos nossos), sem esclarecer quais poderiam ser os outros meios. O último capítulo, acrescentado à edição de 2000, fornece uma nota provocativa à conclusão da obra. Resumidamente, Cohen argumenta que o colapso da União Soviética pode ser considerado um “triunfo” da teoria da história de Marx, pois este afirmara que “uma formação social jamais pe-

SERVIÇO Título: A teoria da história de Karl Marx – Uma defesa Autor: Gerald A. Cohen Tradução: Angela Lazagna Páginas: 504 páginas Editora da Unicamp Áreas de interesse: Ciências sociais e História Preço: R$ 96,00 rece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém” (pp. 447-448). Como isso não havia ocorrido na Rússia antes da revolução, o fracasso do socialismo lá intentado confirmaria essa tese de Marx. Claus M. Germer é professor aposentado do Departamento de Economia da UFPR.


Campinas, 1 a 31 de dezembro de 2014

Em busca de novos indicadores para o fator de impacto Especialistas defendem adoção de critérios que levem em conta o cenário multidisciplinar

Fotos: Antonio Scarpinetti

Rogerio Mugnaini: “Indicadores precisam ser contextualizados ou até substituídos”

MARTA AVANCINI marta.avancini@gmail.com

criação de indicadores que complementem o fator de impacto enquanto critério de avaliação de periódicos e que traduzam mais fielmente a circulação do conhecimento coloca-se como uma necessidade relevante no contexto da produção acadêmica e científica brasileira atual. Tal necessidade se acentua num cenário em que a produção multidisciplinar e interdisciplinar está ganhando cada vez mais espaço. Esses foram os eixos de discussão do evento comemorativo dos 20 anos da revista “Rua”, publicação do Laboratório de Estudos Urbanísticos (Labeurb/Unicamp). “Os indicadores usados para avaliar os periódicos precisam ser contextualizados ou até substituídos”, defendeu o estatístico Rogerio Mugnaini, professor e pesquisador do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), durante sua palestra.

NOVO

Eduardo Guimarães: “Esse modelo tem coagido as ciências humanas a abandonar o livro”

escala que não se vê em outros países, o que possibilita a criação de instrumentos de avaliação próprios, que não dependam estritamente de fontes comerciais. Tal cenário é prejudicial à circulação da produção científica na área de humanas, afirmou o linguista Eduardo Guimarães, que é coordenador do Labeurb. Para ele, uma deficiência do Qualis é o fato de ele se pautar pelo modelo de produção de conhecimento nas ciências exatas e da vida – circulação de resultados nas revistas especializadas. “Esse modelo tem coagido as ciências humanas a abandonar um de seus instrumentos fundamentais de colocar em circulação o conhecimento, o livro”, assinalou Guimarães. Na visão dele, somente o livro é capaz de dar sustentação mais efetiva para certas reflexões que tragam novos caminhos para as ciências humanas. “A circulação de conhecimento nas áreas de ciências humanas no Brasil é bastante relevante”, defendeu. “A área possui outras condições, que não prescinde dos periódicos para fazer seu conhecimento circular na sociedade. Mas que precisa, decisivamente, dos livros”, complementou o coordenador do Labeurb.

INTERAÇÃO

Arlindo Philippi Junior: “Interdisciplinaridade é o caminho para a produção de conhecimento”

SISTEMA

Na opinião dele, é preciso oferecer às comissões responsáveis pela avaliação do sistema Qualis novos indicadores, mais vinculados à realidade nacional, a fim de que elas não se atenham exclusivamente ao fator de impacto. Mugnaini está coordenando uma pesquisa cujo objetivo é desenvolver um sistema de avaliação de periódicos complementar ao Qualis. São vários os problemas e limitações do fator de impacto, apontados pelo pesquisador: desde a excessiva dependência da circulação em revistas de alcance internacional, até o fato de ele não levar em conta a produção de áreas que possuem poucas publicações indexadas – caso da área de História, por exemplo. Nessa medida, apontou Mugnaini, os indicadores usados atualmente pelo Qualis não traduzem fielmente a realidade da produção e da circulação do conhecimento científico no Brasil. A pesquisa de Muganini deverá ser concluída em 2016 e o resultado esperado é um sistema de avaliação complementar ao Qualis. “O Brasil possui peculiaridades principalmente pela abrangência dos esforços que vem empreendendo e que envolvem toda a comunidade científica: a plataforma Lattes, a avaliação da Pós-Graduação e o Projeto SciELO”, explica o professor da ECA. Em razão disso, afirmou ele, o país dispõe de fontes de informação em uma

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A produção multidisciplinar e interdisciplinar são dois desses caminhos. Para Arlindo Philippi Junior, membro do Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a complexidade da sociedade atual leva à interdisciplinaridade. “Este é o caminho para a produção de conhecimento que possibilite um enfrentamento mais adequado dos problemas”, afirmou. Segundo ele, desde o início de 2014, a área do conhecimento interdisciplinar – uma das 48 cadastradas pela Capes – foi a que mais apresentou propostas para a abertura de novos programas de mestrado e doutorado: cerca de 130 propostas num universo de 800.

DESLOCAMENTOS

Eni Orlandi: “A revista ‘Rua’ abriu espaço para a circulação de produções acadêmicas”

Fernando Coelho: “Quanto maior a interação, melhores os resultados”

Para a linguista Eni Orlandi, editora da revista Rua, tanto a multidisciplinaridade quanto a interdisciplinaridade operam deslocamentos da compreensão teórica, num movimento em que são forjadas novas perspectivas de análise, novos conceitos e novos objetos de estudo. É neste contexto que a revista “Rua” se insere, aponta Eni, na medida em que trouxe, nos anos 1990, quando foi criada, um espaço inovador para lidar com os temas relacionados ao universo urbano. “A revista abriu espaço para a circulação de produções acadêmicas que ainda não tinham um espaço legitimado de circulação”, analisou. Um dos efeitos da abertura de canais de difusão dessa produção acadêmica foi o surgimento da linha de pesquisa Saber Urbano e Linguagem, apontou Eni. O assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp Fernando Coelho defendeu que a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade propiciam a melhoria da qualidade do conhecimento produzido. “Quanto maior a interação, melhores os resultados”, enfatizou ele.


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Campinas, 1 a 31 de dezembro de 2014

Filme homenageia Eustáquio Gomes o ano do falecimento do jornalista e escritor Eustáquio Gomes, a RTV Unicamp lança o videodocumentário Eustáquio. Trata-se uma homenagem ao profissional que durante três décadas coordenou a Assessoria de Comunicação da Unicamp e simultaneamente ajudou a divulgar, documentar, e escrever páginas da história da Universidade. Com 38 minutos de duração, o vídeo apresenta depoimentos de 16 docentes e funcionários da Unicamp cuja ligação extrapolava as relações profissionais. O triste episódio do AVC, a figura humana, a produção literária, as viagens, o reconhecimento como escritor e a relação litigiosa com morte imprimem a tônica desse documentário que será lançado no dia 11 de dezembro (quinta-feira), às 18 horas, na Casa do Lago, no campus de Barão Geraldo. A entrada é franca. O vídeo procura mostrar aspectos que faziam de Eustáquio Gomes, apesar de sua importância na Universidade e do respeito que desfrutava como escritor, uma pessoa muito simples. Segundo o diretor do documentário, jornalista e amigo de longa data, Amarildo Carnicel, Eustáquio, também conhecido como Tatá, era admirado pela sua simplicidade e reconhecido pelo seu talento. Destinava às pessoas que admirava, independentemente da posição que ocupassem na Universidade, igual atenção, como ao jardineiro e poeta Sebastião Martins Vidal, um dos entrevistados. “Acho que ele gostava desse meu jeito caboclo”, lembra. O impacto da notícia do acidente vascular cerebral, o drama vivido pela família, a incompreensão por parte dos amigos estão nos depoimentos da secretária Dulce Bordignon e da neurologista Desanka Dragosavac, que revela que naquele

PAINEL DA SEMANA  Etnoecologia e patrimônio biocultural no México - Workshop com Benjamin Ortiz, professor da Universidade Iberoamericana de Puebla, México, acontece no dia 2 de dezembro, às 14 horas, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A organização é de Aline Vieira de Carvalho. Ortiz é o coordenador do Programa de Pós-graduação em Mudanças Climáticas daquela instituição. Mais detalhes pelo e-mail pmariuzzo@ gmail.com.  Encerramento do curso de secretários - A Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU) organiza no dia 3 de dezembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, cerimônia de encerramento do curso de secretários. O evento tem como público-alvo alunos que participaram do curso durante o ano de 2014. Neste ano, a AFPU disponibilizou 360 vagas para toda a Universidade, distribuídas em 12 turmas com carga horária de 60 horas. Mais detalhes: telefone 19-3521-4613 ou e-mail afpu@reitoria. unicamp.br  Pierre Bordieu - O Grupo de Estudos em Bourdieu e Programa de Pós-graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp organizam evento para debater a teoria sociológica de Pierre Bourdieu. Será nos dias 3 e 4 de dezembro, das 9 às 22 horas, no IFCH. O evento contará com conferências e minicursos e objetiva promover o diálogo entre as produções do grupo e a comunidade acadêmica. Mais detalhes no link https://gebu.github.io/encontro-de-estudos-em-pierre-bourdieu/ ou e-mail grupodeestudosembourdieu@googlegroups.com  Inovacred - Com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, acontece no próximo dia 4 de dezembro, na sede do Ciesp Campinas, a “Palestra e Oficina de atendimento sobre Linha de Crédito para Inovação – Inovacred”, que utiliza recursos da Agência Brasileira de Inovação (Finep) para financiar inovação em empresas. A palestra será ministrada por profissionais do órgão de fomento, com início às 18 horas. O público-alvo principal do evento são profissionais e empreendedores de micro, pequenas e médias empresas inovadoras com faturamento de até R$ 90 milhões. Mais detalhes no link http://www.inova.unicamp.br/noticia/3356  Concerto de Primavera - No dia 4 de dezembro, às 20 horas, no teatro do Sesi-Amoreiras, em Campinas-SP, acontece o Concerto de Primavera do Projeto Canarinhos da Terra. O Concerto é um evento artístico onde são apresentadas as produções culturais e musicais do Projeto, desenvolvidas pelos grupos Korallito, Alegretto e Meninos Cantores. Entrada livre. Mais detalhes pelo telefone 19-3249-0583 ou e-mail lpsimoni@uol.com.br  Ambiência de precisão na agricultura de corte - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), por meio do Grupo de Pesquisa em Zootecnia de Precisão e Ambiência Animal, organiza em 12 de dezembro, das 8 às 18 horas, o workshop “Ambiência de precisão na avicultura de corte”. No evento serão abordados temas relativos à ventilação de precisão, resfriamento evaporativo, economicidade no consumo de energia com a escolha e uso correto de equipamentos, entre outros. Mais informações pelo e-mail avicultura.workshop@gmail.com ou telefone 19-3521-1085.  Palestra com Eduard van Wijk - A análise da Emissão Ultrafraca de Fótons (UPE) se tornou parte de recentes avanços em biologia e medicina sistêmica. Esses avanços requerem novos procedimentos para detecção de mudanças de propriedades quânticas de organismos vivos. Alguns dos avanços serão ilustrados com dados de pesquisa de UPE durante o desenvolvimento de patologias como Artrite reumatóide e Diabetes. Para falar sobre o assunto, dia 16 de dezembro, a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) recebe, às 14 horas, em sua Sala de Congregação, o professor Eduard van Wijk (Leiden University). O evento está sob a responsabilidade do professor Cristiano Gallep. Mais informações pelo telefone 192113-3492 ou e-mail gallep@ft.unicamp.br

TESES DA SEMANA  Artes - “Parábolas e fabulações: uma investigação em arte” (mestrado). Candidata: Lia Fernanda Ramos de Oliveira. Orientadora: professora Marta Luiza Strambi. Dia 2 de dezembro, às 9 horas, na sala 2 da CPG do IA. “Sibila: poética em paradoxo” (mestrado). Candidato: Dayan Oliveira Garcia de Castro. Orientadora: professora Luise Weiss. Dia 4 de dezembro, às 15 horas, no IA.

Foto: Reprodução

Convite do lançamento: documentário conta com depoimentos e trechos de crônicas que permitem ao espectador navegar pelo universo literário do escritor

momento estava diante de uma vítima de AVC bastante severo e, ao mesmo tempo, diante de um amigo que, se sobrevivesse, passaria a conviver com sequelas muito graves. O vídeo também mostra uma faceta pouco conhecida de Tatá. O jornalista Marcus Vinicius Ozores, integrante da equipe que estruturou a Assessoria de Comunicação da Universidade, lembra de momentos agradáveis da convivência com o escritor. “Histórias da infância, quando vivia em Minas Gerais, de passagens pelo colégio interno no interior de

“O método BPI para criança: considerações acerca de uma prática corporal com crianças de 7-8 anos” (mestrado). Candidata: Mariana Floriano. Orientadora: professora Graziela E. F. Rodrigues. Dia 5 de dezembro, às 11 horas, na sala 3 da CPG do IA. “Paisagens biográficas pós-coloniais: retrato da cultura local sul-matogrossense” (doutorado). Candidato: Marcos Antônio de Oliveira. Orientador: professor Mauricius Martins Farina. Dia 10 de dezembro, às 9 horas, no IA. “Uma nova retórica para a música contemporânea” (mestrado). Candidato: William Teixeira da Silva. Orientador: professor Silvio Ferraz. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na sala 3 do programa de Pós-graduação em Música do IA. “Dança de rua do ser competitivo ao artista da cena” (mestrado). Candidata: Ana Cristina Ribeiro Silva. Orientadora: professora Julia Ziniani Vitiello. Dia 15 de dezembro, às 10 horas, no Hall de entrada do DAC. “Superfície: notas sobre uma busca poética na editoração” (mestrado). Candidato: Wladimir Vaz Pedroso Júnior. Orientadora: professora Lygia Arcuri Eluf. Dia 18 de dezembro de 2014, às 10 horas, na sala 2 da Pós-graduação do IA. “Fotografia devolutiva” (mestrado). Candidato: Vitor Carvalho Silva. Orientador: professor Mauricius Martins Farina. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, na CPG do IA. “Mapeamento cultural - produção cultural em cidades universitárias, estratégias de incentivo à cultura. Estudo em Salamanca, Espanha (Universidade Salamanca) e Campinas, Brasil (Universidade Estadual de Campinas)” (doutorado). Candidato: Sylla John Lerro Taves. Orientador: professor Edson Prado Pfutzenreuter. Dia 18 de dezembro, às 14h30, no IA.  Computação - “Criptografia visual: métodos de alinhamento automático de parcelas utilizando dispositivos móveis” (mestrado). Candidato: Franz Pietz. Orientador: professor Julio Cesar López “Framework e algoritmos para o problema dinâmico de compartilhamento de veículos” (mestrado). Candidato: Douglas Oliveira Santos. Orientador: professor Eduardo Candido Xavier. Dia 12 de dezembro, às 10 horas, no auditório do IC. “Atribuição de autoria em micro-mensagens” (mestrado). Candidato: Thiago Cavalcante. Orientadora: professora Ariadne Maria Brito Rizzoni Carvalho. Dia 15 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IC. “Algoritmos exatos para problemas de dilatação mínima em grafos geométricos” (mestrado). Candidato: Aléx Fernando Brandt. Orientador: professor Cid Carvalho de Souza. Dia 17 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IC. “Sobrevivência em redes ópticas” (mestrado). Candidato: Helder May Nunes da Silva Oliveira. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia 22 de dezembro, às 10 horas, no auditório do IC.  Economia - “Eficiência dos custos operacionais das empresas de distribuição de energia elétrica no Brasil” (doutorado). Candidato: Robinson Semolini. Orientadora: professora Rosangela Ballini. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão de Pós-graduação do IE. “A sustentabilidade na estratégia empresarial: estudo de caso do grupo Siemens AG” (mestrado). Candidata: Glauce Almeida Figueira. Orientador: professor Bastiaan Philip Reydon. Dia 4 de dezembro, às 15 horas, na sala 20 do pavilhão da Pós-graduação do IE. “Expansão urbana e relação campo-cidade: um estudo a partir do município de Limeira-SP (2003-2013)” (mestrado). Candidato: Rodrigo de Oliveira Taufic. Orientador: professor Humberto Miranda do Nascimento. Dia 12 de dezembro, às 14h30, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.  Engenharia de Alimentos - “Avaliação microbiológica, físico-química e sensorial de Petit Suisse probiótico contendo extrato de casca de jabuticaba” (doutorado). Candidata: Eliene Penha Rodrigues Pereira. Orientador: professor José de Assis Fonseca Faria. Dia 5 de dezembro, às 9 horas, no auditório II do DTA da FEA.  Engenharia Agrícola - “Capacidade de suporte de carga e compactação do solo em área sob cultivo de cana-de-açúcar” (doutorado). Candidato: Oswaldo Júlio Vischi Filho. Orientador: professor Zigomar Menezes de Souza. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro Feagri.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Recirculação de efluente visando a desnitrificação em sistemas combinados anaeróbioaeróbio para tratamento de esgoto sanitário” (doutorado). Candidato: Mario Luiz Rodrigues Foco. Orientador: professor Edson Aparecido Abdul Nour. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses 1 da CPG da FEC. “Avaliação do desempenho hidráulico de um sistema de drenagem de águas pluviais urbanas” (mestrado). Candidata: Andressa Juliana Boldrin. Orientador: professor José Anderson do Nascimento Batista. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, na sala CA22 da CPG da FEC. “Política nacional de resíduos sólidos: impacto nas condições e ambiente de trabalho das cooperativas de catadores de resíduo sólido conveniadas com a prefeitura do município de São Paulo” (doutorado). Candidato: José Francisco Buda. Orientador: professor Bruno Coraucci Filho. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEC. “Avaliação das propriedades do gesso reciclado contendo aditivos” (mestrado). Candidata: Maria Clara Cavalini Pinto. Orientadora: professora Gladis Camarini. Dia 19 de dezembro, às 10 horas, na sala CA22 da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Análise do campo elétrico nas proximidades de uma junção tripla: metal - vácuo - dielétrico através de simulações computacionais das equações de Maxwell” (mestrado). Candidato: Guilherme Mauad Sant’ anna. Orientador: professor Marco Antonio Robert Alves. Dia 2 de dezembro, às 14 horas, na FEEC. “Sistemas microfluídicos em vidro, silício e PDMS” (mestrado). Candidato: Salomão Moraes da Silva Junior. Orientador: professor Jacobus Willibrordus Swart. Dia 10 de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Algoritmo personalizado de agendamento para tráfego de vídeo em Redes LTE com priorização de vídeo” (doutorado). Candidato: Jahyr Gonçalves Neto. Orientador: professor Max Henrique Machado Costa. Dia 11 de dezembro, às 9 horas, na CPG da FEEC. “Imagens de alto alcance dinâmico aplicadas ao mapeamento da distribuição de luminâncias da abóbada celeste” (doutorado). Candidato: Dennis Flores de Souza. Orientador: professor Paulo Sérgio Scarazzato. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses 1 da CPG da FEEC. “Análise do espectro do xenônio cinco vezes ionizado, Xe VI” (mestrado). Candidato: Raphael Akel Abrahão. Orientador: professor Cesar José Bonjuani Pagan. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, na FEEC. “Alta disponibilidade em serviços essenciais utilizando virtualização” (mestrado). Candidato: Luciano Eduardo Caciato. Orientador: professor Maurício Ferreira Magalhães. Dia 15 de dezembro, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC. “Uma nova técnica com tempo de start-up ultra rápido para a confecção de reguladores com charge pump em tecnologia CMOS” (doutorado). Candidato: Walter Luis Terçariol. Orientador: professor José Antônio Siqueira Dias. Dia 15

São Paulo, eram temas que temperavam nossos almoços na Unicamp”, afirma. Mas foi com o jornalista Clayton Levy que Eustáquio privou momentos cujo tema era algo que lhe causava incômodo, apreensão e pavor: a morte. Clayton lembra que numa oportunidade, em tom jocoso, Eustáquio lançou a seguinte questão: “Como pode, alguém como eu, com tanta coisa a produzir no campo da literatura, um dia morrer?” Segundo o jornalista Amarildo Carnicel, a direção e o roteiro do vídeo foram pautados pelas relações de amizade que Eustáquio cultivou durante sua permanência na Unicamp. “Documentário é sempre uma produção autoral. O recorte é totalmente marcado pela subjetividade; não há a necessidade de ouvir o outro lado da história, como numa produção jornalística. Dessa forma, fiquei muito à vontade para escolher pessoas que, em diferentes oportunidades, o Eustáquio me revelou esse apreço”. Dentre os entrevistados estão o reitor José Tadeu Jorge, o matemático João Frederico Meyer, o filósofo Roberto Romano, o historiador da arte Jorge Coli, o compositor Raul do Valle, o educador Ezequiel Theodoro da Silva, o antropólogo visual Etienne Samain, o economista Wilson Cano e os servidores Antônio Félix Duarte, Sandra Caro Flório e Antônio Faggiani. Além dos depoimentos, o vídeo conta com trechos de uma entrevista concedida por Eustáquio à RTV sobre o lançamento do livro O Mandarim e com trechos de crônicas que permitem ao espectador navegar brevemente pelo universo literário do escritor. Eustáquio Gomes publicou 16 livros e produziu mais de 800 crônicas. Em junho de 2010 sofreu um AVC que o obrigou a parar de trabalhar. Em 31 de janeiro de 2014, faleceu em sua residência, vítima de um infarto do miocárdio.

de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 da CPG da FEEC. “Projeto e fabricação de um sistema sensor de espectroscopia de impedância eletroquímica” (mestrado). Candidato: Erasmo Jose Dias Chiappetta Filho. Orientador: professor Fabiano Fruett. Dia 15 de dezembro, às 15 horas, na FEEC. “Desconexão remota de usuários via smart grid em situações críticas de suprimento: uma alternativa de enfrentamento do fenômeno da rivalidade extrema no consumo de energia elétrica”(tese de doutorado). Candidato: Mauricio Lopes Tavares. Orientador: professor Jose Antonio Siqueira Dias. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na FEEC. “Análise de implementação de funções híbridas no Sistema Brasileiro de Televisão Digital” (mestrado). Candidata: Jackelyn Roxana Tume Ruiz. Orientador: professor Luis Meloni. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na FEEC. “Avaliação de desempenho do enlace reverso de redes celulares que utilizam a técnica cdma com multiportadoras (mc-cdma) em um canal Rayleigh seletivo em frequência” (mestrado). Candidato: Henry Ramiro Carvajal Mora. Orientador: professor Celso de Almeida. Dia 16 de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 da CPG da FEEC. “Geometric Voice: interação dos deficientes visuais com o tratamento de figuras geométricas e sua visualização tátil através de uma impressora braille” (mestrado). Candidato: Cristhian Camilo Moreno Chaparro. Orientador: professor Luiz César Martini. Dia 17 de dezembro, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC. “Análise de desempenho de uma proposta de transmissão oportunista sem fio em canais com desvanecimento Rayleigh e na presença de interferência de co-canal para diferentes esquemas de modulação” (mestrado). Candidata: Nathaly Verónica Orozco Garzón. Orientador: professor Celso de Almeida. Dia 17 de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 da CPG da FEEC. “Medição minimamente invasiva da pressão vesical no homem: instrumentação e aplicação clínica” (mestrado). Candidato: João Carlos Martins de Almeida. Orientador: professor José Wilson Magalhães Bassani. Dia 18 de dezembro, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. “Modulação de amplitude ortocomplexa usando a álgebra de quatérnions de Hamilton” (mestrado). Candidato: José Luis Hinostroza Ninahuanca. Orientador: professor Luis Geraldo Pedroso Meloni. Dia 18 de dezembro, às 10 horas, na FEEC. “Decodificadores de baixa complexidade para códigos LDPC Q-ários” (mestrado). Candidato: Lailson Ferreira dos Santos. Orientador: professor Jaime Portugheis. Dia 19 de dezembro, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Simulação numérica da combustão de uma partícula de biomassa aplicada e caldeiras de bagaço” (mestrado). Candidato: Germán Navarrete Cereijo. Orientador: professor Waldir Antonio Bizzo. Dia 2 de dezembro, às 9 horas, na sala KE da FEM. “Utilização do fator de potência como indicador da eficiência energética no torneamento da liga de alumínio 2011F (Al-Cu)” (mestrado). Candidato: Neimar Sousa Silveira. Orientador: professor Amauri Hassui. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, na sala JE02 da FEM. “Influência das condições de fresamento na integridade superficial do aço inoxidável 15-5PH” (mestrado). Candidato: Luis Antonio Pereira. Orientador: professor Amauri Hassui. Dia 10 de dezembro, às 10 horas, na sala JE02 da FEM. “Proposta para procedimento de avaliação da percepção das melhores práticas em projeto de desenvolvimento de produto” (doutorado). Candidata: Sonia Cristina da Silva Pedreira de Cerqueira. Orientador: professor Olivio Novaski. Dia 17 de dezembro, às 9 horas, no auditório do DEF (DEMM) da FEM. “Avaliação termoeconômica da cogeração no setor sucroenergético com o emprego de bagaço, palha, biogás de vinhaça concentrada e geração na entressafra” (doutorado). Candidato: Aristides Bobroff-Maluf. Orientador: professor Caio Glauco Sanchez. Dia 17 de dezembro, ás 14 horas, no auditório KD da FEM. “Análise de um modelo termohidrodinâmico para mancais axiais” (doutorado). Candidato: Leonardo Carpinetti. Orientadora: professora Katia Lucchesi Cavalca Dedini. Dia 18 de dezembro, às 9 horas, no auditório KD da FEM.  Engenharia Química - “Aproveitamento dos óleos de frituras do município de São Paulo para a obtenção de biodiesel” (doutorado). Candidato: Silvério Catureba da Silva Filho. Orientador: professor Elias Basile Tambourgi. Dia 12 de dezembro, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Análise da eficiência de geradores de energia com biodiesel obtido de óleos de fritura usados” (doutorado). Candidato: Thadeu Alfredo Farias Silva. Orientador: professor Elias Basile Tambourgi. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Física - “Propriedades mecânicas do HCP 4He” (doutorado). Candidato: Edgar Josué Landinez Borda. Orientador: professor Maurice de Koning. Dia 1 de dezembro, às 14 horas, no auditório de Pós-graduação do prédio D do IFGW. “Interação entre portadores e íons magnéticos em poços quânticos de InGaAs/GaAs:Mn” (doutorado). Candidato: Miguel Angel Gonzalez Balanta. Orientadora: professora Maria José Brasil. Dia 4 de dezembro, às 14 horas, no auditório de Pós-graduação do prédio D do IFGW. “Condensação Bose-Einstein em sistemas de átomos de (4)He” (mestrado). Candidato: Vitor Zamprônio Pedroso. Orientador: professor Silvio Antonio Sachetto Vitiello. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Geociências - “Itatiba: entre a região metropolitana de Campinas e o aglomerado urbano de Jundiaí – contribuições ao estudo do processo de macrometropolização de São Paulo” (mestrado). Candidato: Márcio Adriano Bredariol. Orientadora: professora Regina Célia Bega dos Santos. Dia 3 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IG. “Formação de doutores no país e no exterior: impactos na internacionalização da ciência brasileira” (doutorado). Candidata: Milena Yumi Ramos. Orientadora: professora Léa Maria Leme Strini Velho. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “Radioblog na escola: uma proposta para os multiletramentos” (doutorado). Candidato: Heitor Gribl. Orientadora: professora Denise Bértoli Braga. Dia 1 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A palavra prosódica no português brasileiro” (doutorado). Candidata: Priscila Marques Toneli. Orientadora: professora Maria Bernadete Marques Abaurre. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Relações dialógicas em narrativas” (doutorado). Candidato: Lucas Vinicio de Carvalho Maciel. Orientadora: professora Raquel Salek Fiad. Dia 11 de dezembro, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “João Gilberto Noll e a estética do não-eu” (doutorado). Candidato: Diego Gomes do Valle. Orientadora: professora Maria Eugênia da Gama Alves Boaventura Dias. Dia 17 de dezembro, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “A soma dos maiores autovalores da matriz Laplaciana sem sinal em famílias de Gra-

fos” (doutorado). Candidato: Bruno Dias Amaro. Orientador: professor Carlile Campos Lavor. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Sobre sistemas hamiltonianos suaves por partes” (doutorado). Candidato: Wender José de Souza. Orientador: professor Marco Antonio Teixeira. Dia 10 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Introdução aos grafos no ensino médio” (mestrado profissional). Candidata: Carla Cristina Fonte. Orientador: professor Pedro José Catuogno. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Números primos e testes de primalidade” (mestrado profissional). Candidata: Glaucia Innocencio de Jesus Paulo Paiva. Orientador: professor Ricardo Miranda Martins. Dia 15 de dezembro, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Seções áureas e aplicações na rotina das salas de aulas” (mestrado profissional). Candidata: Maria Cláudia Cristofoletti. Orientadora: professora Maria Aparecida Diniz Ehrhardt. Dia 15 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Avaliação da função mastigatória, salivar, antropométrica, e presença de compostos sulfurados voláteis (csv) em adultos jovens” (doutorado). Candidato: Polliane Morais de Carvalho. Orientadora: professora Maria Beatriz Duarte Gavião. Dia 1 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro 4 da FOP. “Desordens temporomandibulares: estudos sobre dor, mastigação e diagnóstico” (doutorado). Candidata: Larissa Soares Reis Vilanova. Orientadora: professora Renata Cunha Matheus Rodrigues Garcia. Dia 2 de dezembro, às 8h30, no anfiteatro 2 da FOP. “Avaliação clínica de 2 anos de restaurações adesivas classe I” (doutorado). Candidata: Priscila Camondy Bertaglia. Orientador: professor Luis Roberto Marcondes Martins. Dia 12 de dezembro, às 8h30, no anfiteatro 2 da FOP. “Dor odontogênica como motivo para procura de atendimento odontológico: uso de medicamentos para controle de dor e outros fatores associados” (doutorado). Candidata: Maria Rachel Figueiredo Penalva Monteiro. Orientador: professor José Flávio Affonso de Almeida. Dia 12 de dezembro, às 8h30, no anfiteatro 1 da FOP. “Estudo prospectivo do retalho posicionado coronariamente associado ou não a matriz de colágeno xenógena no tratamento de retrações gengivais classe i e ii de Miller: resultados clínicos e imunológicos” (doutorado). Candidata: Ana Regina Oliveira Moreira. Orientador: professor Enilson Antonio Sallum. Dia 12 de dezembro, às 8h30, na sala de seminários da área de periodontia da FOP. “Comparação entre a radiografia panorâmica e tomografia computadorizada para o diagnóstico de cistos e tumores odontogênicos” (doutorado). Candidato: Daniel Berreta Moreira Alves. Orientador: professor Marcio Ajudarte Lopes. Dia 12 de dezembro, às 13h30, no anfiteatro 2 da FOP. “Estudo da participação dos reguladores de transcrição gênica vicrk e covr na susceptibilidade de streptococcus sanguinis a opsonização pelo sistema complemento” (mestrado). Candidata: Thaís Rossini de Oliveira. Orientadora: professora Renata de Oliveira Mattos Graner. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro 3 da FOP. “Isolamento e identificação de compostos bioativos da geoprópolis (melipona scutellaris) bioguiado pelo efeito antimicrobiano” (mestrado). Candidato: Laila Facin de Paula Eduardo. Orientador: professor Pedro Luiz Rosalen. Dia 15 de dezembro, às 9 horas, no anfiteatro 1 da FOP. “Influência do uso da ferramenta de redução de artefato no diagnóstico de fraturas radiculares verticais em exames de tomografia computadorizada” (doutorado). Candidata: Ilana Sanamaika Queiroga Bezerra. Orientadora: professora Deborah Queiroz de Freitas França. Dia 16 de dezembro, às 9 horas, no anfiteatro 1 da FOP.  Química - “Estudo da arilação enantiosseletiva de 3-pirrolinas N-protegidas via reação de Heck-Matsuda” (mestrado). Candidato: Danilo Machado Lustosa. Orientador: professor Carlos Roque Duarte Correia. Dia 1 de dezembro, às 14 horas, na sala E312 do IQ. “Síntese total do (−)-criptocariol A” (mestrado). Candidata: Paula Kishi Kuroishi. Orientador: professor Luiz Carlos Dias. Dia 3 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Estudo calorimétrico comparativo do efeito da aplicação de herbicidas na atividade microbiana em diferentes solos” (doutorado). Candidato: Gabriel Jeronymo Curti. Orientador: professor José de Alencar Simoni. Dia 5 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Compósitos de poliamida-6 e fibras de celulose branqueada e semi-branqueadas preparados por extrusão” (mestrado). Candidato: Felipe Cicaroni Fernandes. Orientador: professor Marco-Aurelio de Paoli. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Comportamento de fases de soluções de poliolefinas funcionalizadas e implicação na obtenção de membranas pelo processo tips” (doutorado). Candidata: Rosalva dos Santos Marques. Orientadora: professora Maria Isabel Felisberti. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Mecanização das medidas em ring oven por espectroscopia de emissão óptica em plasma induzido por laser (libs): determinação de cobre em cachaça e identificação de origem” (doutorado). Candidato: Benedito Batista Farias Filho. Orientador: professor Celio Pasquini. Dia 9 de dezembro, às 14 horas, na sala E312 do IQ. “Novas abordagens mecanísticas da reação de Morita-Baylis-Hillman (aza, clássica e assimétrica) por espectrometria de massas” (mestrado). Candidato: Renan de Souza Galaverna. Orientador: professor Marcos Nogueira Eberlin. Dia 12 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Estudos visando à síntese e determinação estrututural do alcalóide Parviestemoamida. Síntese formal dos alcalóides (±)-Estemoamida e (±)-9a-epiEstemoamida” (doutorado). Candidato: Gilmar Araújo Brito Júnior. Orientador: professor Ronaldo Aloise Pilli. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Síntese de grafenos quimicamente modificados e aplicação em células fotovoltaicas orgânicas” (mestrado). Candidato: Nicolau Saker Neto. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 15 de dezembro, às 9 horas, na sala IQ14 do IQ. “Determinação de compostos fenólicos em extrato de carqueja empregando técnicas cromatográficas e eletroforéticas” (doutorado). Candidato: Marcelo Fabiano André. Orientadora: professora Carla Beatriz Grespan Bottoli. Dia 17 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Estudo da precipitação de asfaltenos em petróleos induzida por gases a altas pressões” (doutorado). Candidato: Felipe Mauro Rena Cardoso. Orientador: professor Paulo de Tarso Vieira e Rosa. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, na sala IQ14 do IQ. “Avaliação do potencial da espectroscopia no infravermelho próximo como método de rotina para a determinação de carbono orgânico do solo” (doutorado). Candidato: André Marcelo de Souza. Orientador: professor Ronei Jesus Poppi. Dia 18 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ.


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Navegação

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

riado em 2008 pelo professor Janito Vaqueiro Ferreira, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, o Laboratório de Mobilidade Autônoma (LMA) se propõe a desenvolver pesquisas relacionadas à mobilidade autônoma buscando soluções de baixo custo para veículos aéreos, aquáticos e terrestres que se destinam a realizar tarefas previamente programadas sem condutor. Veículos autônomos constituem hoje uma realidade, mas a generalização de seus usos esbarra nos altos custos dos equipamentos necessários para sua navegação. São eles que garantem a execução da tarefa valendo-se de sensores que possibilitam a percepção do ambiente. Como os sensores de precisão são muito caros, há grande empenho das comunidades científica e industrial no desenvolvimento de sistemas equivalentes de baixo custo com o objetivo de difundir o uso de robótica móvel. Nesses estudos, os métodos de localização constituem uma das áreas de maior interesse com vistas a arquitetar sistemas de menor custo e melhor precisão, de forma a garantir uma navegação segura. Um dos objetivos do LMA é desenvolver tecnologias precisas baseadas em sensores de baixo custo. Como os veículos autônomos devem estar situados de maneira precisa no ambiente em que atuam, sem o que tarefas como navegar em ambiente desconhecido ou seguir uma trajetória previamente estabelecida podem se tornar inviáveis, a sua localização é essencial e particularmente crucial nos ambientes dinâmicos. Embora existam no mercado muitos sistemas de localização precisos, seus custos impõem a procura de soluções alternativas acessíveis. Uma alternativa possível é utilizar um sistema híbrido de localização que, através de um conjunto de sensores mais baratos, permite chegar a resultados igualmente confiáveis. Foi a isso que se propôs a engenheira em multimídia Maria Fernanda Rodriguez Ruiz, graduada pela Universidade Militar Nova Granada, em Bogotá, Colômbia, com o objetivo de desenvolver um sistema de localização híbrida para ser utilizado na plataforma móvel terrestre VILMA - Veículo Inteligente do Laboratório de Mobilidade Autônoma um Fiat Punto, doado pela montadora. A primeira parte do trabalho, orientado pelo professor Janito e coorientada pelo professor Arthur de Miranda Neto, envolveu o desenvolvimento do sistema de localização híbrida. A segunda parte consistiu no desenvolvimento de uma plataforma de simulação computacional para realização dos testes de validação do sistema, permitindo ao mesmo tempo implementá-lo diretamente no veículo real, previsto para o fim do próximo ano. A plataforma real de testes, que começa a receber os dispositivos básicos à medida que os resultados simulados se revelam consistentes, será constituída pelo veículo e toda a eletrônica e o instrumental embarcado, que concretizam a robótica móvel, parte fundamental do projeto.

sem condutor,

mas segura Imagem: Divulgação

Percurso GPS Bússola Câmera-Laser

A pesquisadora esclarece que a dissertação propõe o desenvolvimento de um sistema híbrido de localização composto por vários tipos de sensores de baixo custo, que se apoiam em informações adicionais de mapas digitais armazenadas em um banco de dados que possibilita o reconhecimento de objetos chave utilizados para melhorar a precisão da posição de um veículo terrestre. O professor Janito explica que o sistema de navegação autônoma pode ser caracterizado por cinco áreas principais de pesquisa que envolvem: controle de alto nível, navegação, percepção do ambiente, localização referenciada e controle de baixo nível. Em linhas gerais pode-se dizer que o controle de alto nível reúne e utiliza todas as informações disponíveis e com base nelas toma as decisões finais, a exemplo do que compete a um condutor do veículo. A navegação corresponde à realização da tarefa de deslocamento do veículo a seu destino, e envolve operações de planejamento do curso e de controle da posição do deslocamento, lidando com as diversas condições dinâmicas do ambiente. Esta função é realizada por diversas técnicas e procedimentos convertidos na forma de algoritmos disponíveis no sistema de controle. A percepção, que corresponde à assimilação do ambiente, é garantida pelos sensores e faz a vez da visão do motorista, fornecendo informações do ambiente à navegação, permitindo que o veículo siga adequadamente os contornos da via, identifique a posição de outros veículos e obstáculos. Esta função é realizada

Mapa Digital Objetos Chave Fusão de Dados Localização Híbrida

Representação das informações que compõem a solução de um método de localização híbrida Foto: Antonio Scarpinetti

O professor Janito Vaqueiro Ferreira, orientador, e a engenheira Maria Fernanda Rodriguez Ruiz, autora da pesquisa: sistema híbrido de localização

por uma câmara que, substituindo a visão, dimensiona distâncias e profundidades, tarefas que podem ser complementadas por outros dispositivos como sonar, laser, etc. Aqui a ideia é a de que um conjunto de sensores baratos consiga substituir sensores de alto custo. Assim, por exemplo, um sensor laser que abrange o ambiente 3D em todas as direções, que custa em torno de 250 mil reais, é substituído por vários sensores de baixo custo capazes de realizar a mesma tarefa com precisão semelhante. Os métodos de localização permitem saber exatamente onde está o veículo e garantem a realização de uma navegação segura. Esta etapa utiliza o processo de localização híbrida, assim chamada porque emprega a fusão de vários sensores de forma a minimizar os desvios ou erros de cada um deles. Então a precisa localização do veículo, crucial no processo, passa a ser feita não por um sensor de alto custo, mas por vários de custo reduzido. Por sua vez, a fusão das informações dos sensores é realizada com o emprego de outras informações como as decorrentes de mapas digitais implantados na plataforma. Através desse banco de dados podem ser confirmadas e tornadas mais fidedignas as informações dos sensores, como, por exemplo, a identificação de objetos chave no ambiente como a posição de uma placa de trânsito, permitindo com esta informação realizar uma localização mais precisa do veículo. Isso naturalmente é possível

Cabe ao controle de baixo nível cumprir as tarefas determinadas pelo controle de alto nível e normalmente executadas pelo condutor do veículo. Para tanto ele dispõe de uma automação que juntamente com o controle garante que o veículo execute exatamente as tarefas mecânicas necessárias que envolvem a direção, o acelerador e o freio.

SIMULAÇÕES

Modelo Matemático

SISTEMA

Engenheira desenvolve método de localização, baixando custo de mobilidade autônoma

porque a câmara detecta uma imagem previamente conhecida e que se encontra registrada no mapa digital, estima através dos seus sensores a localização deste objeto, e finalmente corrige a localização do veículo, o que permite diminuir a incerteza da sua posição. Assim, cotejando as informações dos sensores e as contidas no banco de dados, consegue-se maior precisão quanto à localização, mesmo empregando sensores de baixo custo. Maria Fernanda esclarece que o sistema desenvolvido conta com informações de posicionamento obtidas por um GPS de baixo custo além de outras decorrentes da utilização de um método de localização referenciada. A utilização do método de localização referenciada constitui uma inovação no processo proposto por ela, pois através do reconhecimento destes objetos chave, previamente localizados no percurso a ser percorrido pelo veículo e também devidamente armazenados na base de dados - que pode ser, por exemplo, um sinal de tráfico - é possível ainda fazer eventuais correções de localização do veículo em função da posição do objeto, minimizando ainda mais os erros. Ela estabelece uma analogia: “De forma simples pode-se dizer que o processo é similar ao utilizado por uma pessoa que pretende se localizar em um ambiente desconhecido. Ao se deparar e identificar um elemento de que tenha prévia informação, ela passa a ter um ponto de referência que lhe permite saber onde se encontra”.

Por sua vez, a acuidade ou o desempenho do método de localização proposto precisa ser avaliado e é primeiramente verificado em testes simulados através da utilização da plataforma de localização juntamente com uma plataforma de simulação. Estas plataformas incluem um modelo do Fiat Punto com os sensores embarcados e um mapa digital que incorpora inclusive o banco de dados dos objetos chave. A pesquisadora considera que a arquitetura adotada é de fácil adequação à realização destes testes de avaliação, pois permite simular objetos e sensores bem próximos à realidade. O professor Janito lembra que a simulação permite inicialmente testar todos os recursos e sensores disponíveis sem gastos, sejam eles de alto ou baixo custos, e comparar os seus resultados. E esclarece: “Em nosso caso, mesmo utilizando um GPS simulado de muito baixo custo conseguimos compensar as suas incertezas com o emprego dos demais sensores simulados de baixo custo, o que nos permitiu chegar a excelentes resultados de desempenho da técnica na simulação antes de sua aquisição”. O docente enfatiza que por enquanto foram feitas as simulações em computador, mas que até o final do próximo ano o primeiro protótipo deverá ser testado no campus. Concluídas as simulações e os primeiros testes do protótipo, os pesquisadores pretendem submeter um novo projeto de pesquisa para equipar a plataforma existente com sensores de alto e de baixo custo de forma que, cotejando os resultados, o sistema por eles proposto possa ser validado experimentalmente. Para Maria Fernanda, o trabalho que vem sendo desenvolvido pretende possibilitar a navegação autônoma de veículo terrestre com o emprego de sensores de baixo custo e a utilização de uma proposta de localização híbrida, juntando várias ferramentas de forma a conseguir uma estrutura que leve a uma incerteza menor da localização. As plataformas de localização e de simulação do método foram por ela desenhadas. O sistema de localização utiliza as informações de posicionamento obtidas por um GPS de baixo custo e as decorrentes da localização referenciada e se baseia em um conjunto de dados geográficos disponíveis em uma base de dados que compõem o mapa digital, construído a partir do OpenStreetMap (OSM). A pesquisadora considera que o trabalho conseguiu implementar e integrar diferentes ferramentas como robótica, visualização, base de dados geográficos, modelos 3D, design, servidores locais e que a arquitetura selecionada é de fácil adequação para a realização de testes, pois permite simular objetos e sensores bem próximos da realidade.

Publicação Dissertação: “Desenvolvimento de um sistema de localização hibrido para navegação autônoma de veículos terrestres em ambiente simulado” Autora: Maria Fernanda Rodriguez Ruiz Orientador: Janito Vaqueiro Ferreira Coorientador: Arthur de Miranda Neto Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)


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Contra a invisibilidade, o relevo

Foto: Divulgação

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

s trabalhadores do Complexo Industrial Portuário de Suape, considerado um dos principais polos de investimentos do Brasil, localizado no Estado de Pernambuco, são submetidos a uma condição de invisibilidade social. Embora enfrentem uma série de dificuldades nos âmbitos profissional e pessoal, eles somente são percebidos pela sociedade quando ocorrem conflitos trabalhistas, especialmente greves. A constatação faz parte da dissertação de mestrado do sociólogo Pedro Henrique Santos Queiroz, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. O estudo foi orientado pelo professor Fernando Antonio Lourenço. Em seu trabalho, Pedro Henrique procurou destacar os trabalhadores do Complexo de Suape como sujeitos políticos relevantes. O pesquisador explica que, no dia a dia, eles não recebem esse tipo de reconhecimento. Um sintoma dessa realidade, segundo ele, é a forma como a imprensa noticia os conflitos trabalhistas que ocorrem entre os operários e as empresas que atuam no empreendimento, notadamente o Estaleiro Atlântico Sul, Refinaria Abreu e Lima e Polo Petroquímico. Normalmente, afirma, as matérias são publicadas nos cadernos de Economia e não nos de Política, com ênfase para possíveis ações violentas por parte dos operários. Para destacar os trabalhadores como sujeitos políticos relevantes, o pesquisador procurou entender, antes, como eles são como seres humanos. Pedro Henrique observa que antes de serem operários, eles são filhos, maridos e membros da comunidade. “São pessoas com trajetórias pessoais específicas, dotadas de estruturas psíquicas complexas e que têm sonhos e medos como qualquer um”, pondera. Para realizar a investigação, o sociólogo utilizou uma categoria de análise denominada “experiência”, elaborada pelo historiador inglês Edward Palmer Thompson. A metodologia busca compreender como se dá a apropriação subjetiva das experiências concretas vivenciadas pelos sujeitos históricos. Nesse sentido, Pedro Henrique analisou três experiências distintas dos trabalhadores do Complexo de Suape, que atuam basicamente nas áreas de construção civil pesada e construção naval. A primeira delas foi a experiência de trabalho. Nesse aspecto, o pesquisador analisou os motivos que levavam os operários às ações políticas. A segunda foi a experiência do não trabalho. Aqui, o pesquisador acompanhou, entre outras, as atividades religiosas e de lazer desempenhadas pelos trabalhadores. A terceira e última dimensão foi a experiência de ação política propriamente dita. “Para dar conta desse desafio, eu acompanhei assembleias, assisti a cultos religiosos e visitei espaços públicos. Além disso, também entrevistei operários, sindicalistas e membros do Ministério Público do Trabalho e da Superintendência Regional do Trabalho. Por último, também monitorei as publicações da imprensa local (jornal impresso e sites) e analisei documentos oficiais, como acórdãos e atas produzidas pela Justiça e pelos sindicatos”, elenca Pedro Henrique. Essa massa de dados, conforme o sociólogo, revelou aspectos muito interessantes sobre os trabalhadores do Complexo de Suape. Pedro Henrique diz que durante o período de construção do empreendimento, as duas categorias profissionais tiveram que lidar com um cenário econômico favorável, mas com um quadro político adverso. “Do ponto de vista econômico, a situação era positiva, pois o mercado de trabalho local estava muito aquecido. Como a demanda por mão de obra era muito grande, os salários foram pressionados para cima. Isso favoreceu os trabalhadores nas negociações com as empresas. Tanto é assim que entre 2008 e 2012 as duas categorias obtiveram reajustes salariais bem acima da inflação”, relata. Por outro lado, o quadro político se apresentou desfavorável aos trabalhadores, segundo o autor da dissertação. Pedro Henrique enfatiza que um dos principais problemas enfrentados pelas categorias profissionais sempre esteve associado à ausência de legitimidade das entidades que as representam, a saber: Sindicado dos Trabalhadores da Construção Civil Pesada e Sindicato dos

Contêineres na área portuária de Suape: movimentação de cargas ultrapassou 11 milhões de toneladas em 2011 Foto: Antonio Scarpinetti

Segundo o sociólogo Pedro Henrique Santos Queiroz, autor da dissertação, embora enfrentem uma série de dificuldades nos âmbitos profissional e pessoal, os trabalhadores de Suape somente são percebidos pela sociedade quando ocorrem conflitos trabalhistas, especialmente greves

Metalúrgicos do Estado de Pernambuco. O primeiro é ligado à Força Sindical e o segundo, à Central Única dos Trabalhadores (CUT). “As duas entidades praticam um modelo de sindicalismo burocrático, distanciado das bases e com sérios problemas de democracia interna”, atesta o sociólogo. Outro ponto de dificuldade, acrescenta Pedro Henrique, foram as práticas antissindicais perpetradas pelas empresas. “As empresas, com a conivência dos governos estadual e federal, sempre exerceram pressões e impuseram constrangimentos aos trabalhadores. Uma das formas de coerção são as demissões que ocorrem sempre após protestos ou greves, sendo que algumas alcançam a marca de centenas de trabalhadores. Em alguns casos, os alvos dos desligamentos são membros das comissões de trabalhado-

res e até de integrantes da Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], o que contraria a legislação”, aponta. Ademais, de acordo com o autor da dissertação, os canais institucionais responsáveis por regular o conflito entre trabalhadores e empresas têm se mostrado insuficientes. Pedro Henrique conta que entrevistou representantes do Ministério Público do Trabalho e da Superintendência Regional do Trabalho, que relataram que os órgãos não contam com recursos humanos e materiais adequados para dar conta das demandas existentes. “Embora todos soubessem que a região receberia um empreendimento de grande porte e, por consequência, um grande número de trabalhadores, ninguém se preocupou em ampliar a estrutura dessas instâncias”, diz.

Publicação Dissertação: “Trabalhadores de Suape: Estudo sobre a diversidade de experiências operárias” Autor: Pedro Henrique Santos Queiroz Orientador: Fernando Antonio Lourenço Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: Fapesp

Um ponto importante levantado pela pesquisa, entende Pedro Henrique, foi o surgimento no interior das duas categorias profissionais de um grau de ativismo político independente muito forte. Muito em razão da falta de legitimidade dos sindicatos, os trabalhadores formaram comissões para negociar diretamente com as empresas. “Mas eu diria que esse ativismo independente se expressou de forma bastante errática. Às vezes, ele esteve junto com os sindicatos e noutras, contra eles. Em várias ocasiões essas comissões independentes também apresentaram sérios problemas de representatividade”, afirma o sociólogo. A partir da análise das condições dos operários do Complexo de Suape, Pedro Henrique avalia que está em curso uma crise generalizada dos modelos de representação da classe trabalhadora, entendimento que encontra abrigo nas reflexões do também sociólogo Ricardo Antunes, professor do IFCH. Segundo Antunes, essa crise de representatividade, que ocorre em escala global, se assemelha àquela que marcou a transição das corporações de ofício para os sindicatos. “Está acontecendo algo que nem os trabalhadores e nem os pesquisadores ainda conseguiram identificar plenamente. É possível que estejamos caminhando para um novo modelo de representatividade, mas isso somente poderá ser ou não confirmado no futuro”, pondera Pedro Henrique, que contou com bolsa de estudo concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

MEGAPROJETO O Complexo Industrial Portuário de Suape é considerado um dos principais polos de investimentos do país. Ao todo, foram aplicados R$ 40 bilhões no empreendimento. Sua localização estratégica, na Região Metropolitana do Recife, o mantém conectado a mais de 160 portos em todos os continentes, com linhas diretas da Europa, América do Norte e África. Em 2011, a movimentação de cargas ultrapassou os 11 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. O Complexo de Suape tem área de 13.500 hectares, distribuída em zonas Portuária, Industrial, Administrativa e Serviços, de Preservação Ecológica e de Preservação Cultural. De acordo com os dados disponíveis no site do empreendimento, cerca de 100 empresas encontram-se atualmente em operação, sendo responsáveis por 25 mil empregos diretos. Durante a construção do porto-indústria, conforme Pedro Henrique, as obras chegaram a absorver 60 mil operários. A pedra fundamental do empreendimento foi lançada em 1974, mas a operação somente teve início em 1983.


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