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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014 - ANO XXVIII - Nº 615 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti

Por um campus tranquilo 3 4 9 11

A expectativa de vida em pequenas áreas Processo amplia vida útil de leite

Embriologia é tema de e-book Algodão renasce no Norte de Minas

Por uma medicina mais transparente Seca decretou fim do Império Assírio ‘Vento’ é obstáculo para nascimento de estrelas

TELESCÓPIO

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A transparência e a participação da comunidade universitária marcaram a elaboração do Programa Campus Tranquilo, cujo eixo é formado pelo tripé prevenção, informação e convívio. “A cultura da paz proposta pela ONU, a prevenção primária e a vigilância comunitária foram adotadas como premissas do programa”, afirma o coordenador-geral da Universidade e do projeto, professor Alvaro Crósta.


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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Transparência na medicina A edição da última semana da revista Newsweek traz uma longa reportagem sobre a necessidade de maior transparência na divulgação dos resultados dos testes clínicos que levam à aprovação ou rejeição de novas drogas. A revista nota que a íntegra dos testes, com todos os dados obtidos, muitas vezes só fica disponível para os órgãos reguladores e não chega aos periódicos científicos e, por meio deles, aos médicos. Além disso, muito do que vem a público acaba filtrado pelo chamado “viés de publicação”, a tendência dos pesquisadores de só oferecer às revistas especializadas trabalhos com resultados positivos, o que pode fazer com que médicos ou mesmo agentes de saúde pública não envolvidos no processo regulatório permaneçam na ignorância de riscos e limitações importantes dos tratamentos aprovados. A reportagem, em inglês, pode ser lida neste link: http://www.newsweek. com/2014/11/21/medical-science-has-data-problem-284066.html .

Imagem: Suresh Sivanandam; Dunlap Institute for Astronomy & Astrophysics

“A inteligência do computador é capaz de processar muito mais informação e de investigar todos os resultados possíveis de uma maneira que é quase impossível para uma pessoa fazer sozinha”, disse, por meio de nota, um dos autores do trabalho, Howard Williams. “Então, mesmo que um membro da audiência já tenha visto uma versão desse truque antes, a Inteligência Artificial pode usar princípios matemáticos e psicológicos para criar inúmeras novas versões”. O quebra-cabeças, chamado “Doze Magos de Osíris”, pode ser encontrado neste link (https://qmagicworld.files.wordpress. com/2014/10/the-twelve-magicians-of-osiris-web-pack.pdf), que inclui também uma explicação da ciência por trás da “magia”. Já o truque de cartas está disponível como um aplicativo para celulares Android, na loja do Google Play (https://play.google.com/store/apps/details?id=com.phi.phoney).

O fim dos assírios Honestidade em teste Três economistas da Universidade de Zurique publicam, na revista Nature, um experimento realizado para testar a hipótese de que os grandes bancos internacionais fomentam, entre seus funcionários, uma “cultura de desonestidade” que teria sido uma das causas da grave crise econômica desencadeada em 2008, e descobriram que os bancários de uma grande firma internacional não são mais desonestos que a população em geral – exceto quando se lembram de que são bancários. Participaram do estudo 128 funcionários de “um grande banco internacional”, que não foi identificado no artigo. Eles foram divididos em dois grupos, sendo que um respondeu a um questionário genérico – perguntando, por exemplo, quantas horas de TV o voluntário assistia por semana – e o outro, a um questionário criado especificamente para fazer a pessoa se lembrar de seu vínculo profissional com o mercado financeiro. Depois, pediu-se que cada voluntário jogasse uma moeda para o alto 20 vezes, num espaço privado, e registrasse o resultado da sequência. Para cada arremesso, os voluntários sabiam qual resultado – cara ou coroa – traria um prêmio de US$ 20. O grupo que respondeu aos questionários genéricos informou 51% de arremessos premiados, ante 58% do grupo que manteve a identidade profissional em evidência. Trapacearam 26% dos bancários. Os autores afirmam que o efeito é específico da categoria, já que estudos-controle feitos com estudantes e outros grupos de profissionais não reproduziram o efeito.

Computador cria truques de mágica Um software de inteligência artificial desenvolvido por pesquisadores da Queen Mary University of London foi capaz de criar um truque de mágica com cartas e um quebra-cabeça “mágico”, depois de assimilar o funcionamento de truques estabelecidos e de receber informações sobre a psicologia da ilusão, diz artigo publicado no periódico Frontiers in Psychology. Ambos os truques se valem de princípios matemáticos para funcionar.

Superpopulação e seca levaram ao fim do Império Assírio, no século 7 antes da era comum, argumenta artigo publicado no periódico Climate Change. O chamado Novo Império Assírio chegou a dominar praticamente todo o Oriente Médio, do Egito ao Golfo Pérsico, incluindo terras que hoje pertencem a Israel, Palestina, Turquia, Síria e Iraque, no início do século 7 AEC, mas décadas depois já se encontrava em desintegração, fraturado por guerras civis. Os autores do novo artigo, baseados nos Estados Unidos e na Turquia, associaram informações sobre o clima da época ao conteúdo de uma carta escrita por um astrólogo ao rei, informando que “não houve colheitas” no ano de 657 AEC. Dados paleoclimáticos corroboram o informe do astrólogo, e análises dos padrões de clima da região indicam que a seca de 657 foi apenas uma em uma série que se estendeu por vários anos. Além disso, a população de cidades como a capital, Nínive, teria sobrecarregado ainda mais a economia. “Não estamos dizendo que os assírios de repente morreram de fome ou foram forçados a fugir das cidades e vagar pelo deserto”, disse, em nota, um dos autores do artigo, Adam Schneider, da Universidade da Califórnia em San Diego. “Estamos dizendo que a seca e a superpopulação afetaram a economia e desestabilizaram o sistema político até o ponto em que o império não era mais capaz de conter a desordem interna e a agressão de outros povos”.

Urânio derretido Pela primeira vez, cientistas conseguiram realizar uma análise detalhada do dióxido de urânio em estado líquido. Radioativo, o dióxido de urânio é um importante componente do combustível de reatores nucleares, e pode derreter-se e vazar, no caso de acidentes nesse tipo de instalação. A compreensão das propriedades do material liquefeito é importante por questões de segurança, mas tanto seu caráter radioativo quanto as altas temperaturas envolvidas dificultam a pesquisa. O estudo, realizado com o uso de raios-X emitidos por um síncrotron e amostras aquecidas por raios laser, foi publicado na revista Science, e revelou diferenças importantes na forma como os átomos de oxigênio se organizam entre os estados líquido e sólido.

A galáxia NGC 4522, do Aglomerado de Virgem, com seu rastro de gás e poeira, soprado pelo vento, destacando foto luz infravermelha. A galáxia move-se para baixo, no plano da imagem

Domínio fóssil O consumo de combustíveis fósseis no mundo deve continuar a crescer por pelo menos mais duas décadas, prevê a Agência Internacional de Energia (AIE), em seu mais recente relatório anual, divulgado no início do mês. E esse crescimento será impulsionado, principalmente, por Ásia, África, Oriente Médio e América Latina. A demanda mundial por petróleo cru deve continuar crescendo até estabilizar-se em 2040, chegando a 104 milhões de barris por dia, e a demanda por carvão deve atingir seu nível máximo em 2020. Já a demanda por gás natural continuará a subir, mesmo no cenário pós-2040. O relatório lembra que os temores quanto à segurança da matriz nuclear fizeram com que a maioria das democracias ocidentais deixasse de lado planos para expansão do setor, e pelo menos metade dos mais de 400 reatores nucleares operacionais no fim de 2013 terão sido desativados até 2040. O papel das fontes renováveis e de baixo carbono tende a crescer nas próximas décadas, mas mesmo assim mais 1 trilhão de toneladas de dióxido de carbono serão emitidas pela atividade humana até 2040.

Crédito e coração Estudo realizado com dados de mais de mil moradores da Nova Zelândia indica uma correlação entre o score de crédito – um dado estatístico usado para avaliar a probabilidade que uma pessoa tem de honrar seus compromissos financeiros – e a saúde do sistema cardiovascular. O trabalho, de autoria de pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia, foi publicado pelo periódico PNAS.

A pesquisa conclui que há uma correlação negativa entre os dois fatores: quanto menor o score de crédito, maior o risco de doenças cardiovasculares. Os autores afirmam que disparidades de renda familiar não bastam para explicar o efeito, que parece envolver fatores de “capital humano”, como nível educacional, capacidade cognitiva e capacidade de autocontrole. Essas características de capital humano “respondem por cerca de 44% da correlação entre scores de crédito e risco cardiovascular”, diz o artigo. Como muitos desses fatores se desenvolvem na infância, os autores concluem que “atitudes características, comportamentos e competências (...) desenvolvidos na primeira década de vida dão conta de uma porção significativa do elo entre score de crédito e risco cardiovascular na meia-idade”.

Vento esteriliza galáxias O “vento” produzido pelo movimento de uma galáxia através da nuvem de gás que existe no centro dos aglomerados galácticos remove dela o material necessário para o nascimento de novas estrelas, diz estudo publicado no Astrophysical Journal. A descoberta, resultado de uma série de observações dos telescópios espaciais Hubble e Spitzer, confirma a hipótese de que, à medida que uma galáxia “livre” é capturada por um aglomerado, encontra a nuvem de gás do centro do conjunto e, ao deslocarse nesse meio, vê átomos e moléculas de seu interior serem soprados para longe, sem que suas estrelas ou outros objetos de maior massa sejam perturbados. A conclusão ajuda a explicar porque galáxias de aglomerados têm menos gás e menos formação de estrelas que galáxias livres. As observações descritas no Astrophysical Journal mostram um rastro de hidrogênio que vai ficando para trás, à medida que a galáxia se desloca.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Raquel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Mortalidade investigada Nepo participa de estudo que está estimando a esperança de vida em pequenas áreas do Brasil Fotos: Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

expectativa de vida no Brasil avançou consideravelmente nas últimas cinco décadas – passou de 48 anos em 1960 para 73 anos em 2010. O dado, ainda que relevante, não é suficiente para retratar de forma fidedigna as diferentes realidades presentes em um país ainda marcado pela desigualdade social. Assim, é muito provável que um cidadão nascido e criado em Campinas (SP) tenha uma esperança de vida superior à de outro cidadão que sempre viveu no sertão da Bahia. Mas qual seria essa diferença de perspectiva entre eles? É o que uma equipe de pesquisadores, um deles da Unicamp, está tentando responder. O grupo está desenvolvendo um estudo com o objetivo de estimar um indicador de mortalidade e saúde para pequenas áreas brasileiras. Um dos pesquisadores envolvidos nessa empreitada é o demógrafo Everton Emanuel Campos de Lima, que integra o Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo) da Unicamp. Além dele, também fazem parte do esforço os professores Bernardo Lanza Queiroz; da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Flávio Henrique Miranda de Araújo Freire, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Marcos Roberto Gonzaga, também da UFRN. De acordo com Everton Lima, estimar a esperança de vida para um país é uma tarefa fácil quando comparada com estimativas desse indicador em pequenas áreas. “No caso das pequenas áreas, apesar da existência de dados, estes são de má qualidade e geralmente apresentam diferentes tipos de erros”, explica. Outro fator complicador refere-se à qualidade das informações. O pesquisador do Nepo afirma que o nível de cobertura do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), de responsabilidade do Ministério da Saúde, progrediu consideravelmente nos últimos anos, alcançando o índice de 95% em 2010. Além disso, também houve alguma melhora em relação à qualidade da informação. Para ficar em um único exemplo desse avanço, 49,5% dos óbitos registrados no Estado da Paraíba não tinham indicação da causa da morte no ano 2000. Em 2011, essa taxa caiu para 8,7%. “Entretanto, precisamos qualificar ainda mais esses dados. Ainda há municípios das regiões Norte e Nordeste nos quais 50% dos óbitos ainda não são declarados”, diz. E as dificuldades não param por aí. Em um estudo que conduziu em parceria com a epidemiologista e demógrafa Luciana Correia Alves, sua colega de Nepo, Everton Lima chegou a uma conclusão preliminar preocupante. Segundo ele, pode ser que haja um movimento de omissão de determinados tipos de morte no país, especialmente os causados por fatores classificados como externos, como os homicídios e os acidentes de trânsito. “A partir das infor-

nós temos como contornar esse problema”, assegura o pesquisador do Nepo. A ideia principal da abordagem, prossegue Everton Lima, é a aplicação do método em forma de cascata. Os pesquisadores corrigem inicialmente os dados relativos às macros e mesorregiões, para depois desagregá-los para as pequenas áreas. “Isso requer um tempo bastante largo, pois estamos falando de aproximadamente 5,5 mil municípios ou de 5,5 mil diferentes estimativas de taxa de mortalidade. Felizmente, como contamos com um grupo qualificado de programadores, nós conseguimos automatizar boa parte do processo”. O pesquisador do Nepo faz questão de observar que a despeito de o método estar proporcionando bons resultados, ele está em construção e ainda pode sofrer ajustes. “Assim que a metodologia estiver totalmente consolidada, nós pensamos em avançar com a pesquisa e estender esse tipo de trabalho em relação à América Latina. Um ponto importante e que tem norteado o trabalho do grupo é disponibilizar os dados e as programações, assim que possível, em uma página da internet, para que outros pesquisadores possam ter acesso a eles”, adianta.

INTERNACIONALIZAÇÃO Para o pesquisador Everton Lima, “se o país pretende assegurar uma velhice digna e saudável para as pessoas que estão na meia-idade atualmente, o momento de começar a agir é agora”

mações que analisamos, nós concluímos que entre 10% e 20% das mortes provocadas por homicídios e acidentes de trânsito ou são omitidas ou mal declaradas. Não sabemos dizer, porém, se isso é proposital ou se decorre de falhas involuntárias no momento do registro”, esclarece o demógrafo. Everton Lima acrescenta, porém, que o esperado é que as mortes provocadas por causas externas sejam 100% registradas, uma vez que envolvem a intervenção de autoridades policiais e a confecção de boletins de ocorrência (BOs). Para melhorar a qualidade dos dados e, consequentemente, aperfeiçoar as estimativas de mortalidade em pequenas áreas, o grupo de pesquisadores está aplicando uma nova metodologia, que combina técnicas demográficas tradicionais com modelos estatísticos avançados. Uma ferramenta que tem sido muito utilizada pelos cientistas é a chamada estatística bayesiana.

Dito de modo simplificado, ela se difere da estatística clássica por ter uma base matemática mais robusta. “A estatística bayesiana é aplicada em situações nas quais há pouca disponibilidade de dados. Nesses casos, a sua acurácia é significativamente superior à dos métodos convencionais”, pontua Everton Lima. De acordo com o demógrafo, há municípios em que é difícil calcular a taxa de mortalidade, pois há poucos óbitos, seja porque a população é realmente longeva ou por falhas de registro. Ademais, é também em pequenas cidades que subnotificações de óbitos têm impacto importante na taxa de mortalidade. Quando isso ocorre, surge o que os especialistas classificam de “flutuações aleatórias”, o que impede que os indicadores de mortalidade sejam calculados apenas dividindo o número de óbitos pelo da população. “Usando a estatística bayesiana em associação com os métodos demográficos,

O demógrafo Everton Lima, pesquisador do Nepo: estimar a esperança de vida para um país é uma tarefa fácil quando comparada ao desafio de estabelecer um indicador para pequenas áreas

Ademais, continua Everton Lima, o grupo pretende ampliar o número de participantes, inclusive com vistas à internacionalização das pesquisas. “Nós queremos incorporar à equipe dois pesquisadores do Instituto Max Planck, cuja sede fica na Alemanha e onde tive a oportunidade de trabalhar. Além disso, também pretendemos contar com a colaboração de pesquisadores brasileiros da Fundação Oswaldo Cruz [Fiocruz] e do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [IPC-IG/PNUD], que funciona em Brasília”, informa. Mas afinal, por que é tão importante estimar com acurácia a mortalidade em pequenas áreas de um país como o Brasil? Porque esse tipo de informação é fundamental para a orientação de políticas públicas em diferentes áreas, responde o pesquisador do Nepo. “Trata-se de uma ferramenta que contribui para a tomada de decisões. Consideremos como exemplo o fato de a população brasileira estar envelhecendo. Se o país pretende assegurar uma velhice digna e saudável para as pessoas que estão na meiaidade atualmente, o momento de começar a agir é agora. Primeiro, precisamos saber de quanto será essa população daqui a 30 anos. Depois, temos que preparar a infraestrutura adequada [saúde, lazer etc] para atender a esse segmento, que necessita de cuidados específicos”, assinala Everton Lima. Outra utilidade para esse tipo de ferramenta, conforme o demógrafo, está na elaboração de tábulas de vida, que são utilizadas pela Previdência Social para o cálculo de riscos previdenciários. Em outras palavras, é o tipo de informação que ajuda na definição da idade em que o contribuinte pode se aposentar. Nesse ponto, Everton Lima faz um destaque importante. Segundo ele, no Brasil alguns dos cálculos previdenciários são feitos com base em tábulas formatadas nos Estados Unidos, país cujos habitantes guardam evidentemente pouquíssimas semelhanças com a população brasileira. “Esse tipo informação é de interesse do Ministério da Previdência, na medida em que cresce o número de Regimes Próprios de Previdência Social, especialmente no nível municipal. Então, estimativas de tábulas de mortalidade para esse nível geográfico são de suma importância para uma implementação adequada desses regimes de previdência”, justifica. Everton Lima considera que a pesquisa que objetiva estimar o índice de mortalidade em pequenas áreas do Brasil está entrando em sua terceira rodada de trabalho. A primeira contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Nós tentamos um novo financiamento para a segunda rodada, mas não conseguimos. Agora, estamos submetendo novamente o projeto ao CNPq e a outras agências de fomento, com o intuito tanto de ampliar o foco do trabalho quanto de agregar novos pesquisadores ao grupo”, reforça.


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Fusão de técnicas amplia vida útil de leite pasteurizado Fotos: Divulgação

Foram analisados cor, doçura, sabor, adstringência, amargor e acidez do produto

ADULTERAÇÃO,

CONSUMO E MUTAÇÃO

CRISTIANE KÄMPF ck.ascom@gmail.com

m estudo realizado pela professora Adriane Antunes, do curso de Nutrição da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), permitiu a obtenção de um leite desnatado que é, ao mesmo tempo, pasteurizado, microfiltrado e deslactosado (com redução de 90% ou mais da quantidade de lactose original) e que, além disso, possui estabilidade por até 50 dias – o prazo normal fica entre 3 a 5 dias. O produto obtido por este somatório de tecnologias é inovador e inexistente, tanto no Brasil como em outros países. Os resultados da pesquisa foram publicados com destaque no Journal of Dairy Science, da Associação Americana de Laticínios. A pesquisa, desenvolvida em parceira com pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) de Campinas, associou três técnicas já existentes: a microfiltração, a pasteurização e a quebra da lactose (açúcar do leite responsável por intolerância alimentar em mais de 65% da população mundial de adultos). Foram realizadas análises físicoquímicas, microbiológicas e sensoriais, estas últimas com a participação de 24 provadores durante todo o período da pesquisa. Eles analisaram cor, doçura, sabor, adstringência, amargor e acidez do produto armazenado sob refrigeração por 50 dias, para constatar até quando o leite se mantinha adequado para o consumo. Adriane explica que a microfiltração é uma tecnologia que pode ser considerada como uma esterilização a frio. “O leite é forçado a passar sob pressão por uma membrana de cerâmica e, durante esta passagem, os microorganismos e seus esporos são retidos. Esta técnica, portanto, não emprega calor para a inativação microbiana, mas sim uma barreira física, o que permite preservar as características sensoriais e nutritivas do produto”, esclarece. No Brasil não é permitido a venda de leite embalado não pasteurizado (diferentemente do que acontece, por exemplo, na França, onde se comercializa leite microfiltrado cru). Por esse motivo, e para ampliar ainda mais a validade do produto, o grupo de pesquisa optou por associar a microfiltração com a pasteurização. Esta última é um processo térmico que submete o leite a uma temperatura de 62 graus por 30 minutos (pasteurização longa) ou 72 graus por 15 segundos (pasteurização curta). “Este tratamento elimina agentes biológicos que podem causar doenças, mas o leite pasteurizado mantém uma microbiota com capacidade de resistir ao calor. Estas bactérias continuam vivas e, apesar de não fazerem mal à saúde, vão estragar o produto, que então dura pouco, em torno de 5 dias”, afirma a pesquisadora. No Brasil, o tipo de leite mais comercializado atualmente é o UHT (conhecido como “leite longa vida” e que recebe um tratamento térmico intenso - entre 130 a 150°C por 2 a 4 segundos, permitindo que o produto tenha validade de cerca de 4 meses). Os intolerantes à lactose encontram no mercado atualmente apenas a opção de leite deslactosado obtido por UHT. No entanto, como explica Adriane, depois de aberto, a cor do produto sofre modificação apresentando-se mais escura e escurecendo ainda mais nos dias subsequentes. Ela pontua que algumas marcas comerciais apresentam esse escurecimento mesmo antes de o produto ser aberto. “Essa cor mais escura pode ser responsável pela rejeição do produto por alguns consumidores. Pensamos então em fazer a associação de tecnologias e resolver também esta questão da cor do leite deslactosado obtido por UHT, permitindo a obtenção de um produto interessante do ponto de vista nutricional e sensorial e que apresentasse vida estendida”, afirma.

A máquina utilizada pelos pesquisadores para a microfiltração do leite, importada da França com verba da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é um equipamento que pertence ao Ital e que custa cerca de R$ 180 mil. Atualmente, nenhuma empresa brasileira de laticínio utiliza o sistema com a finalidade de obter leite de validade estendida.

Equipamento usado nos testes: leite passa pelo processo de microfiltração

De acordo com Adriane Antunes, existem atualmente movimentos contrários ao consumo de leite e derivados por diferentes motivos, tanto filosóficos (o ser humano seria o único mamífero que consome leite ao longo da vida) como fisiológicos (intolerância à lactose, alergia às lactoproteínas, desordens genéticas no metabolismo da galactose, etc). Segundo ela, somam-se a estas polêmicas as constantes fraudes às quais o leite tem sido submetido. “É fato que grande parte dos consumidores de leite pertence a grupos vulneráveis como crianças, gestantes e idosos, o que tornam as fraudes ainda mais graves, ainda que sejam inaceitáveis, independemente do público e fase da vida em que o leite é consumido”, declara. Sobre as recorrentes denúncias, ela acredita que sempre houve adulteração do produto no país, embora agora tenhamos mais notícias devido tanto ao aumento do controle de qualidade como ao aumento do número de denúncias. A docente explica que o leite é um produto muito fácil de ser adulterado, por ser líquido e por poder ser misturado perfeitamente com água. “Várias são as fraudes que têm se observado, desde adição de água até emprego de substâncias químicas. Este é um grave problema e deve ser combatido de forma exemplar e definitiva”. Quando perguntada se pessoas adultas deveriam continuar tomando leite, já que, como informa o artigo, 65% da população mundial de adultos apresenta algum grau de intolerância à lactose, Adriane explica que, geneticamente, a grande maioria dos seres humanos é capaz de secretar a enzima necessária para quebra do açúcar do leite apenas na primeira infância. Depois do desmame, a produção da enzima lactase (que digere a lactose, o açúcar do leite) tende a diminuir. No entanto, ao longo da história humana, alguns indivíduos desenvolveram uma mutação genética que lhes permitiu continuar com a capacidade de digerir o leite. “Isto se deu devido ao fato de algumas populações terem domesticado o gado para comer a carne. Em algum momento, passaram a beber o leite, para matar a fome ou até mesmo por escassez de água. Algumas mães, vendo que seu leite secava, passaram a dar o leite da vaca para seus filhos. Além disso, quando o leite de vaca era armazenado em marmitas de barro ou em bolsas feitas com estômago de bezerro acabavam virando respectivamente iogurte e queijo, produtos que agradaram o paladar de nossos ancestrais. Tais fatos favoreceram o início de uma relação do homem com o leite”, coloca. A mutação ocorreu em diferentes partes do mundo e por eventos genéticos independentes. O gene que determina que a enzima lactase permaneça sendo produzida na vida adulta é herdado por gene autossômico dominante e, assim sendo, é facilmente transmitido entre diferentes gerações. Adriane acredita que a adaptação do homem ao consumo de leite possivelmente garante benefícios evolutivos à espécie. “Por isso a natureza tem optado por tornar cada vez mais frequente esse padrão genético”. Ela também afirma que, como o ser humano está vivendo mais, há uma variação de fatores que apontam que é recomendável ter boas fontes de cálcio na dieta para conter os riscos aumentados de osteoporose. “E as melhores fontes de cálcio continuam sendo o leite, os queijos e os iogurtes. Embora haja outras fontes, como as folhas verdes, a quantidade de consumo teria que ser muito maior do que a habitual para suprir a quantidade recomendável”.

Acesse o artigo em h t t p : / / w w w. s c i e n c e d i r e c t . com/science/article/pii/ S0022030214004937 A professora Adriane Antunes, autora do estudo: resultados da pesquisa foram publicados no Journal of Dairy Science


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Prevenção, informação e convívio são a base do ‘Campus Tranquilo’ Debates, transparência e envolvimento da comunidade marcam a elaboração do programa LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

os últimos meses foram realizadas mais de vinte reuniões com a participação da comunidade universitária, nas unidades de ensino e pesquisa e órgãos da administração, para discutir a construção do Programa Campus Tranquilo. De acordo com o professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp e do Programa, a base da proposta é transformar os campi da Universidade em espaços tranquilos que permitam que a dinâmica da vida universitária se realize. “Esta proposta está sendo construída de forma transparente e participativa. Durante as reuniões muitas sugestões foram apresentadas e a proposta foi sendo construída a partir destes debates. A cultura da paz proposta pela ONU, a prevenção primária e a vigilância comunitária foram adotadas como premissas do programa e ao longo dos debates as diferentes proposições foram consolidando um tripé de sustentação da proposta: prevenção, informação e convívio.” A última reunião foi organizada em conjunto com as entidades representativas dos estudantes (DCE), dos funcionários (STU) e dos docentes (Adunicamp) e agora o Campus Tranquilo será apresentado ao Conselho Universitário (Consu). “A ideia é adotar a prevenção como elemento estruturante das ações de segurança, compreendendo intervenções imediatas, como melhoria da iluminação dos campi, ajustes na cobertura vegetal, instalação de bases fixas e móveis de apoio à comunidade; e ações de mais longo prazo, como treinamento e capacitação do corpo de vigilantes em temas operacionais (primeiros-socorros, aumento do uso de tecnologia da informação e de monitoramento), até temas de maior profundidade como direitos humanos”, explica Alvaro Crósta. O coordenador-geral da Universidade prossegue explicando que o segundo eixo, o da informação, está voltado a criar canais para facilitar a comunicação da comunidade, tanto para aspectos de segurança quanto de convívio. “A meta é permitir o uso de sistemas Wi-Fi na maior parte das áreas comuns e apoiar estas interações com sistemas APPs para celulares. O resultado será a criação de canais de comunicação da comunidade entre si e com a administração central. Para o eixo convívio, a proposta é ocupar os campi com atividades culturais e esportivas. Quanto maior o uso pela nossa comunidade, maior será a ocupação e apropriação dos espaços e, com isso, a redução da sensação de vulnerabilidade e dos problemas relacionados à segurança. Estamos criando eventos em diferentes espaços e horários do dia e, também, academias ao ar livre para incentivar a prática de exercícios físicos.”

Foto: Antonio Scarpinetti

Alvaro Crósta recorda que, embora a Unicamp não apresente um quadro agudo de insegurança como em outros campi do país, em um período de 12 anos quatro jovens já perderam a vida em dependências da Universidade, em Campinas e em Limeira. O caso mais recente foi do aluno de engenharia mecânica Denis Papa Casagrande, em setembro de 2013, durante festa no Ciclo Básico. As outras vítimas foram Luiz Felipe Fischer, em 2002, Elgin Tito Borges Junior, em 2003 e Daniel Pereira, também em 2003. “Fatos trágicos como estes, ainda que isolados, transmitem para as pessoas a sensação de insegurança. Acreditamos que o tributo mais significativo que podemos prestar ao Denis e aos demais jovens vitimados é a adoção de medidas preventivas para que tais fatalidades não se repitam no futuro. Se não agirmos logo, e com medidas de prevenção, poderemos vir a ter problemas similares aos de outras universidades que sofrem com a alta incidência de casos de violência.”

PARTICIPAÇÃO

DA COMUNIDADE

De acordo com o professor, levantamentos mostram que os problemas de segurança são semelhantes tanto em países com o nosso grau de desenvolvimento, como também da Europa e América do Norte. “São as soluções adotadas que dependem das características locais. Por exemplo: não defendemos, nem temos amparo legal para adotar a solução norte-americana de uma polícia do campus armada, pronta para agir em qualquer situação de violência. Os mesmos estudos mostram que o sucesso do plano de prevenção depende fundamentalmente da participação da comunidade universitária na sua elaboração e execução. Falamos de uma população extremamente crítica na análise da realidade e junto à qual soluções acabadas não têm êxito.” O coordenador do programa observa que uma das premissas traçadas nas reuniões está na prevenção primária e na vigilância comunitária. “Tanto a instituição como cada aluno, funcionário, docente e usuário do campus devem adotar comportamentos simples e de ordem preventiva em seu dia a dia. Ao passo que a vigilância comunitária tem na raiz a parceria entre a comunidade e o corpo de vigilantes que cuidam da prevenção. A estratégia é baseada em ações proativas, preventivas e educativas. Por meio delas devemos oferecer respostas rápidas e eficientes para situações de risco ou de violência. Os focos estão na prevenção de crime e, ao mesmo tempo, na total garantia das liberdades civis, o que significa prevenção da integridade física e da dignidade das pessoas, assim como a preservação do patrimônio público e do meio ambiente.” Foto: Antoninho Perri

Alunos do Instituto de Artes no campus de Barão Geraldo: programa contempla várias medidas para o período noturno

Ele enfatiza que não há necessidade de contar com a presença ostensiva da polícia no campus, mas que, por outro lado, ela precisa ser acionada no caso de ocorrências criminosas. “Um exemplo foi a recente e frustrada tentativa de explosão de um caixa eletrônico no Ciclo Básico, testemunhada e denunciada à vigilância por estudantes, na qual a polícia, acionada pela vigilância, teve que agir, inclusive com a vinda de uma equipe antibomba para desarmar um artefato deixado pela quadrilha. Isso porque o papel dos vigilantes é preventivo, sem poder de atuar diretamente contra o crime. Mas vale destacar que a atuação da Vigilância vai além da questão patrimonial, pois a própria presença desses profissionais contribui para a integridade da comunidade. Por isso, nossos vigilantes devem ser vistos e tratados pelos membros da nossa comunidade como aliados, o que de fato são na prevenção à violência contra as pessoas”.

NOVAS AÇÕES EM CURSO

O professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Unicamp e do Programa Campus Tranquilo: “Para que tenhamos uma universidade viva, é preciso ter um ambiente de tranquilidade”

Na opinião de Alvaro Crósta, as mais de duas dezenas de reuniões para construir o Campus Tranquilo ofereceram um bom feedback para revisão de certos procedimentos e divulgação de outros que a comunidade desconhecia. “É o caso, por exemplo, da solicitação de escolta no período noturno, por quem precisa caminhar certa distância até o carro ou ponto de ônibus – poucos sabiam deste serviço que já existia e a demanda aumentou depois das reuniões. Também nas reuniões foi apresentada a demanda para que o ônibus circular noturno, que não realizava paradas no trajeto até a Moradia Estudantil, atendesse alunos que moram em repúblicas pelo ca-

minho. Era uma medida simples e as paradas intermediárias já foram implantadas.” Entre as novas ações preventivas em curso citadas pelo coordenador-geral da Unicamp está a tratativa para instalação de uma unidade do Corpo de Bombeiros no campus, que vai atender também ao distrito de Barão Geraldo; e a criação pelo Cecom (Centro de Saúde da Comunidade) do Serviço de Atendimento às Urgências, com ambulância equipada e equipe treinada. Também se encontra em negociação um aditivo ao convênio assinado entre Unicamp e Prefeitura Municipal para que a Cimcamp (Central Integrada de Monitoramento de Campinas) colabore com o monitoramento inteligente do fluxo veicular nas entradas e saídas da Universidade; a medida visa identificar veículos suspeitos, como já é feito em diversas cidades da região metropolitana. Em relação ao tripé que estrutura o Campus Tranquilo, Alvaro Crósta explica que o eixo da prevenção tem como órgão responsável a Prefeitura da Unicamp; o eixo da informação fica a cargo da CTIC (Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação); e o de convívio com a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), órgão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. “A metodologia participativa na construção do programa e no seu desenvolvimento, nos permite incorporar ao conceito de ‘Campus Tranquilo’ o de uma ‘Universidade Viva’, como foi sugerido por membros da comunidade. A mudança no nome transmite bem o nosso pensamento: para que tenhamos uma universidade viva, é preciso ter um ambiente de tranquilidade.” (Continua nas páginas 6 e 7)


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Campinas, 24 a 30 de

Conheça os detalhes das açõ (Continuação da página 5)

A maioria das ações de prevenção do Programa Campus Tranquilo está sob a responsabilidade da Prefeitura da Unicamp, que cuida da infraestrutura e da segurança em um espaço por onde circulam diariamente mais de 80 mil pessoas: 40 mil alunos, 12 mil funcionários e 28 mil usuários externos. O trânsito é de cerca de 40 mil veículos, a metade cadastrada e outra metade que usa as vias apenas como rota de passagem. “A tônica do programa em relação à segurança é a prevenção, porque depois que algum incidente aconteceu, não temos como agir. Para um campus tranquilo devemos cuidar não apenas da segurança, mas também do trânsito, do meio ambiente e da vivência. Qualquer irregularidade traz transtornos à comunidade”, observa o professor Armando José Geraldo, prefeito do campus. Feito o preâmbulo, o prefeito passa a listar as ações em andamento – treinamento e capacitação dos vigilantes, aumento da frota de viaturas de segurança, reativação de bases fixas, expansão e melhoria da iluminação de praças e vias, poda de árvores – e projetos em negociação ou em fase de licitação. VIGILÂNCIA Para a Vigilância já foram concluídos alguns dos cursos de atualização dos profissionais, entre eles, o de primeirossocorros, de combate a incêndio e de comunicação. E um conjunto de cursos adicionais está programado, como de direitos humanos. Foram criados protocolos de procedimentos operacionais para que os vigilantes saibam como agir em cada situação: acidente de trânsito, furto de veículos e objetos, assalto etc. No mesmo sentido, está sendo elaborado um código de conduta para os vigilantes, que possibilitará um melhor entendimento das suas funções por parte de toda a comunidade. Para aproximar a Vigilância do cotidiano da comunidade, estão sendo estabelecidos procedimentos para agilizar o recebimento, análise e resposta às reclamações, bem como sugestões de melhoria. Está previsto o oferecimento contínuo de palestras e cursos de sensibilização, prevenção e redução de situações de risco à comunidade. Estes encontros devem ser organizados em parcerias com a comunidade, seja com órgãos de pesquisa especializados em determinados assuntos, seja com as entidades representativas. Já foram adquiridas mais três viaturas do tipo pick-up e está em licitação um veículo furgão para ser usado como uma base móvel, que vai possibilitar acompanhar de perto os grandes eventos que acontecem na Universidade. A frota atual é de 12 viaturas e 16 motocicletas. Duas bases fixas da Vigilância já foram instaladas (com viatura e moto próprias), uma no Ciclo Básico I – considerado um ponto estratégico devido à grande circulação de pessoas – e outra na Portaria 4, próximo à Reitoria e área de saúde. O Serviço de Escolta no período noturno, para pessoas que precisam se deslocar por relativa distância até o carro ou ponto de ônibus, teve sua demanda ampliada com as reuniões de construção do programa que possibilitaram a sua divulgação. As solicitações devem ser feitas pelo ramal 1-6000.

TRÂNSITO E TRANSPORTE

Convênio em discussão com a Cimcamp (Central Integrada de Monitoramento de Campinas) para monitoramento inteligente das portarias, visando identificar veículos roubados ou suspeitos geralmente usados para ações criminosas, como roubos de outros veículos, motos, sequestros relâmpagos e explosões de caixas eletrônicos. A parceria será firmada em aditivo ao convênio “guarda-chuva” já assinado entre Unicamp e Prefeitura de Campinas que envolve diversas áreas. O ônibus circular Unicamp-Moradia Estudantil, em Barão Geraldo, que não realizava paradas no trajeto depois de

sair do campus, passou a fazê-las principalmente ao longo da avenida Dois, atendendo a estudantes moradores de repúblicas nas imediações. A frequência do circular interno, que conta com cinco carros, também está sendo reavaliada. O grande fluxo de veículos na avenida Roxo Moreira, no ponto em frente à Prefeitura do campus, pode levar à instalação de um semáforo para ordenar o fluxo também de pedestres, devido ao congestionamento que chega à altura do HC no horário de pico. Na pista oposta desta avenida, o objetivo é diminuir a velocidade dos veículos, possivelmente com a implantação de mais uma passagem de pedestres elevada junto à Central de Informações e de uma lombada próxima ao balão de acesso. Também devido à velocidade, medidas semelhantes devem ser adotadas nas avenidas Magalhães Teixeira e Antonio da Costa Santos. Com recursos já reservados, encontra-se em fase final de licitação a contratação de toda a sinalização horizontal do campus.

SISTEMA DE ILUMINAÇÃO Projeto luminotécnico no valor de R$ 2,5 milhões para a melhoria da iluminação está em curso e há possibilidade de usar novas tecnologias baseadas em fibras ópticas e LED. Equipes da Prefeitura do campus vêm realizando correções pontuais na iluminação em vias públicas e praças, onde de um total de 1.800 lâmpadas, menos de uma dezena se encontraram queimadas. Entretanto, em região crítica ao redor do Ciclo Básico, detectou-se que 30% das lâmpadas de fachada estavam inoperantes. A Prefeitura esclarece que só pode intervir na iluminação das unidades mediante autorização e ordem de serviço enviada por seus diretores, o que vale para outros atendimentos, como os relacionados a mato e poda de árvores.

MEIO AMBIENTE Além das rondas da Vigilância que alimentam a Prefeitura com informações sobre problemas de iluminação e ambientais, foi criada a figura do agente fiscalizador, que observa o estado de alambrados, cercas vivas e árvores, assim como o descarte indevido de lixo. Como são muitos os pedidos para poda de árvores, a Prefeitura esclarece que existe uma legislação que impõe limites ao procedimento. Ainda na parte ambiental, será assinando convênio com a Sanasa para utilização de água de reuso na Universidade. Também cabe à Divisão de Meio Ambiente o monitoramento animal, como de capivaras, frequentes no campus.

Armando José Geraldo, prefeito do campus: “Qualquer irregularidade traz transtornos à comunidade”

AMBULÂNCIA

O Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) participa do eixo da prevenção do Campus Tranquilo com duas ações: a implantação de um programa de resgate no campus, com o Serviço de Atendimento Móvel às Urgências, constituído por uma ambulância equipada, motorista e enfermeira padrão; e a criação de academias ao ar livre, com a instalação de equipamentos de baixa carga, visando favorecer a convivência de pessoas em espaços saudáveis, tirando-as da ociosidade e, ao mesmo tempo, fazer a promoção da saúde. “O Serviço de Atendimento Móvel é necessário porque circulam por dia no campus 80 mil pessoas e 40 mil veículos. Temos ainda um grande número de eventos e muita gente fazendo atividade física – segundo dados da FEF, cerca de oito mil pessoas participam mensalmente de eventos esportivos, como futebol, ginástica, vôlei e basquete. São atividades saudáveis, mas que podem resultar em agravos à saúde”, justifica a médica Patrícia Asfora Falabella Leme, coordenadora do Cecom. Outro dado realçado pela médica é que a Vigilância da Unicamp atende a uma média anual de 400 pessoas com agravos à saúde e a 45 acidentes de trânsito com vítimas (ainda que sem gravidade). “Nesse contexto, vale ressaltar as três premissas para um bom prognóstico desses pacientes: rapidez do atendimento, qualidade do atendimento e transporte seguro até o serviço de saúde mais próximo. Atualmente não temos este serviço no campus, pois em que pese a importância do atendimento prestado pela Vigilância, o transporte em viaturas não é o mais indicado.” Rôse Clélia Grion Trevisane, coordenadora adjunta do Cecom, observa que as ambulâncias do Hospital de Clínicas (HC) ficam à disposição unicamente de seus pacientes, não prestando serviços para pacientes externos. “Lembramos um acidente de trânsito ocorrido em frente à rampa do HC onde a vítima teve que esperar o Samu [serviço da Prefeitura de Campinas]. Felizmente, a maioria das ocorrências no campus é sem gravidade. Mas um caso grave que não seja atendido a tempo, não tem preço.” De acordo com Patrícia Leme, a proposta é que o primeiro atendimento seja feito no próprio local, com a enfermeira capacitada a atuar como paramédico, antes da remoção do paciente. “Esse atendimento seguirá o protocolo que vamos estabelecer: em caso leve, o paciente poderá vir para o Cecom; se grave, irá para o HC, onde essa iniciativa foi muito bem recebida. Acreditamos que o serviço esteja disponível até março do próximo ano, mas já recebemos várias demandas de pessoas que souberam do projeto. Vejo nelas uma necessidade de se sentirem protegidas e acredito que o serviço vai contribuir para maior segurança no campus. Sentindo-se seguro em relação à saúde, trabalha-se mais tranquilo.”

ACADEMIAS AO AR LIVRE

Ações vão intensificar a atuação da Vigilância; acima, inauguração da primeira academia ao ar livre, dia 10 de novembro, na Praça da Paz: equipamentos de musculação e alongamento

A primeira academia ao ar livre foi inaugurada neste dia 10 de novembro, na Praça da Paz, oferecendo à comunidade 11 equipamentos de musculação e alongamento, sem contraindicações e autoexplicativos: uma placa orienta como deve ser utilizado cada um dos aparelhos. “Esta praça foi escolhida para a primeira academia por causa da proximidade e da possibilidade de integração com as atividades do programa Mexa-se, criado pelo Cecom há dez anos. Mas o espaço está aberto a quem quiser, inclusive no final de semana.” Patrícia Leme observa que se trata de uma iniciativa conjunta da Reitoria, CGU, Cecom, Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) e Prefeitura da Unicamp, e que os equipamentos foram adquiridos com apoio da iniciativa privada. “A academia ao ar livre significa cuidado com a saúde, integração, espaço privilegiado para convivência, cultura da paz, além do mais óbvio, que é a melhoria do condicionamento físico, a tonificação muscular e o controle da pressão arterial e do diabetes. Pretendemos implantar mais duas academias, muito provavelmente no Ciclo Básico II e junto à Casa do Lago.”


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e novembro de 2014

ões em andamento e futuras Fotos: Antonio Scarpinetti / Antoniho Perri

A médica Patrícia Asfora Falabella Leme, coordenadora do Cecom: “Pretendemos implantar mais duas academias”

O professor José Raimundo de Oliveira, coordenador da Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação: “Queremos garantir que as pessoas se comuniquem com tranquilidade”

Margareth Junqueira (à esq.), coordenadora da CDC, e Carmen Lúcia Arruda, supervisora de Ação Cultural: desafio agora é ocupar áreas menos centrais

No eixo do convívio, muita arte e cultura Desde a primeira reunião convocada pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) para expor sua preocupação com a segurança no campus, a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC), órgão vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), entendeu que teria espaço para contribuir com o programa promovendo atividades artísticas e esportivas. “Nosso projeto foi sendo construído aos poucos, até chegarmos a esse formato do Conexão Cultural, que consiste em levar atividades artístico-culturais para os espaços abertos da Universidade. A intenção é promover o convívio, nosso eixo de atuação dentro do Campus Tranquilo”, diz Margareth Junqueira, coordenadora da CDC. Segundo a coordenadora, as atividades do projeto Conexão Cultural foram iniciadas pelo Ciclo Básico, onde é intenso o fluxo de pedestres, e escolheu-se o horário das 17h às 19h para possibilitar a participação de alunos saindo das aulas e docentes e funcionários que preferissem permanecer no campus ao invés de enfrentar o rush no trânsito ou que estejam chegando para os cursos noturnos. “Foram promovidas diversas apresentações artísticas – música, teatro, circo – e já estamos cuidando do planejamento para o ano que vem. Também testamos o horário de almoço, com dois espetáculos circenses, que ficaram lotados.” Carmen Lúcia Arruda, a Malu, supervisora de Ação Cultural, afirma que o desafio agora é avançar em espaços abertos de áreas menos centrais, como da Feagri, do Restaurante da Saturnino (RS) e a própria Praça da Paz, buscando a adesão dos funcionários ao redor. “A marca Conexão Cultural começa a se tornar conhecida e a continuidade das atividades ajudará na formação de um público cativo, sabedor de que em determinados dias do mês alguma atração estará acontecendo no campus.” Margareth Junqueira afirma que além das atividades que produz, a CDC oferece apoio logístico para eventos de outros artistas que tenham algum vínculo com a Universidade e também das unidades, dentro da ideia de fazer do Conexão Cultural uma vitrine a ser ocupada por todos. Nesse sentido, Malu atenta para a preocupação desta gestão em levantar as produções já existentes na Unicamp, que são muitas mas se encontram desarticuladas, quando poderiam fomentar umas às outras. “O interessante no processo de discussão do Campus Tranquilo foi receber inúmeras sugestões que incorporamos, ao mesmo tempo em que nos tornamos mais visíveis. Fomos procurados, por exemplo, por alunos que promovem a Bioart do IB e pela Cia Domínio Público, grupo de dança do IA, e levamos espetáculos ao Cotuca, para Limeira e até o CPQBA. Aos poucos vamos avançando em todos os campi.” A supervisora de Ação Cultural informa ainda que está em trâmite um projeto visando criar, ao lado da Casa do Lago, um espaço para atividades ao ar livre, não apenas com equipamentos, mas também com a instalação de um quiosque para o convívio na sombra. “Temos ainda o bosque da FEF, que deve funcionar como um espaço ‘zen’ para práticas alternativas.”

GUIA CULTURAL No intuito de aglutinar as informações sobre a produção artística e cultural na Unicamp, a CDC criou o Guia Cultural (www.guiacultural.unicamp.br), movimentado através de fan page no Facebook (https://www.facebook.com/GuiaCulturalUnicamp). Margareth Junqueira afirma que embora já cheguem muitas informações, bolsistas passam o dia navegando em busca de atrações para atualizar a página diariamente. “O Guia Cultural é importante porque a Universidade sempre produziu muito, mas as informações ficavam soltas. Reunindo as informações também potencializamos a divulgação e o público. É clicar para a pessoa saber o que tem para ver.”

Show de Almir Côrtes Trio e Harvey Wainapel no âmbito do projeto Conexão Cultural

Aplicativos e incremento das conexões estão entre as prioridades do CTIC

Sistema de informação vai ter botão de alerta No âmbito do Campus Tranquilo, o órgão que cuida do eixo da informação é a Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC), que tem como coordenador o professor José Raimundo de Oliveira e como associada Alice Midori Okusigue. O foco está na conexão sem fio, na conexão via celular e em ferramentas como o Unicamp Serviços (conjunto de aplicativos para celular e smartphone). “Queremos garantir que as pessoas se comuniquem com tranquilidade dentro do campus, oferecendo alternativas para melhorar o sinal de celular e ampliar a cobertura com o sinal de Wi-Fi. Outro objetivo é o desenvolvimento de aplicativos para aparelhos móveis que possibilitem ao usuário a troca de informações com a própria Universidade”, explica o coordenador da CTIC. José Raimundo de Oliveira afirma que a fragilidade do sinal de celular no campus é um problema preocupante, mas sobre o qual a Unicamp não tem controle, já que a melhora da cobertura depende das empresas operadoras. “Já nas primeiras conversas, vimos que não há interesse comercial das empresas em aumentar o número de torres, quando o ideal seria contar com duas ou três estações rádio base (ERBs) bem próximas ou dentro do campus. Conseguimos que uma das operadoras realizasse alguns ensaios de redirecionamento da antena, sem efeito.” Segundo o professor, o uso do celular é praticamente inviável dentro dos prédios, que são construídos de concreto armado, o que significa muito ferro nas paredes e a blindagem do sinal eletromagnético – é a chamada “gaiola de Faraday”. “Já propusemos, dentro do programa, a instalação de reforçador constituído por uma antena para captar o sinal externo, que é levado por cabos até um dispositivo capaz de irradiá-lo pelo interior do prédio. A ideia é obter alguns para testes aqui no Centro de Computação, onde temos o controle, e eventualmente na Reitoria, onde não há sinal.” Uma alternativa apontada por Oliveira e que independe das operadoras é aumentar a quantidade de antenas de Wi-Fi espalhadas no campus, o que já está sendo feito dentro do Programa Campus Tranquilo. “Temos uma cobertura muito boa no entorno da praça do Ciclo Básico, mas ela precisa ser melhorada em áreas como do IFGW, IMECC, IC, Funcamp e Feagri. Também vamos buscar uma padronização, pois é comum perder o sinal ao sair de uma unidade e ter que pedir a senha do outro local. A aquisição do sistema é decisão da unidade, mas podemos sugerir os equipamentos e a sua distribuição dentro do prédio. Para aumentar a conectividade das pessoas dentro dos campi é sugerida a expansão do uso do Eduroam, que a Unicamp foi a primeira a adotar no Estado de São Paulo e permite ao usuário se comunicar tanto aqui como em outras instituições associadas do país e do mundo.” José Raimundo de Oliveira anuncia que a comunidade já vem utilizando o aplicativo Unicamp Serviços para acessar informações de interesse do dia a dia em todos os campi. Já estão disponíveis, por exemplo, serviços de consulta de ramais e de pontos de interesse – um mapa indicando onde a pessoa se encontra e a rota até aonde quer chegar, seja de carro ou caminhando. “Estamos trabalhando para que o Unicamp Serviços seja uma via de mão dupla, permitindo que o usuário também possa transmitir informações à Universidade. Caso observe um problema em qualquer ponto do campus, ele pode simplesmente fotografar e enviar a informação à central. Como o usuário precisa ser cadastrado para utilizar este aplicativo, além de geolocalizar o local onde está o problema, ele também vai identificar o informante.” O “botão de pânico”, como adianta o professor, é uma função que funcionará no Unicamp Serviços para que o usuário acione a Vigilância em caso de situação de risco ou de problemas em determinado local. “É um recurso ainda em fase de desenvolvimento. Existem botões de pânico no mercado, mas desejamos um modelo específico para a Unicamp, pois não nos interessa que seja acionado por alguém fora do campus, até porque não poderemos prestar socorro. Ele também evitará trotes ou alarmes falsos, já que o usuário estará identificado. Enfim, um cenário que idealizamos para a Unicamp é das pessoas desenvolvendo suas atividades no gramado, com a tranquilidade de estar conectado a tudo que precisar.”


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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014

Modificação biotecnológica consegue otimizar potencial oleaginoso de palmeiras

Extraindo mais

propriedades de óleos Fotos: Antonio Scarpinetti

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

s óleos amazônicos são cobiçados internacionalmente pelas suas valiosas aplicações. Muito se fala sobre o valor das palmeiras nativas da Amazônia, de onde eles são extraídos, especialmente para a produção de biodiesel. Essas árvores têm sido alvo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil desde a década de 1970. Tão abundantes são elas na paisagem que, por muito tempo, o Brasil foi reconhecido como pindorama (“terra das palmeiras”). Para se ter uma ideia, hoje são conhecidas pelo menos quatro mil espécies no mundo, a maioria nativas do Brasil e da Colômbia. Grande parte delas é usada como alimentos e é rica em óleo, o que sugere um potencial oleaginoso. Algumas oferecem boas quantidades de óleo na polpa do fruto, outras na semente e outras em ambos. Uma nova pesquisa desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) apontou que a modificação biotecnológica (por via enzimática) dos óleos da Amazônia – como o buriti, o murumuru, o patauá e a estearina de palma –, extraídos de palmeiras, pode ser uma boa opção biológica para ampliar a aplicação desses óleos. Foi a constatação da engenheira de alimentos Paula Speranza em sua tese de doutorado. A sua investigação revelou que a modificação biotecnológica destes óleos brasileiros pode ser uma alternativa para a valorização destas matérias-primas, garantindo maior interesse por sua exploração, principalmente na área farmacêutica e cosmética. O estudo avaliou a fundo a área de modificação de óleos da Amazônia, a fim de observar se as enzimas (proteínas com função biológica de acelerar as reações bioquímicas vitais) conseguiriam atuar nessa modificação e se esse processo aumentaria o potencial biológico das substâncias estudadas, ou seja, se o seu potencial antimicrobiano ampliaria. A engenheira de alimentos empregou duas misturas de óleo e gordura da Amazônia para a produção das bases lipídicas, sendo a primeira delas composta pelo óleo de buriti e pela gordura de murumuru, e a segunda composta pelo óleo de patauá e pela estearina de palma.

MARIA BERBARA mariaberbara@yahoo.com.br

pintor, arquiteto e escritor português Francisco de Holanda termina a redação do pequeno tratado Do tirar pelo natural ral, como ele mesmo informa ao final do texto, no dia 3 de janeiro de 1549. De acordo com diversos estudiosos, esse é o primeiro texto da literatura artística ocidental dedicado exclusivamente à arte de retratar. A expressão “tirar pelo natural”, de fato, embora inexistente no português contemporâneo, foi relativamente frequente durante o Renascimento, aparecendo, igualmente, em italiano. Geralmente compreendida como “retratar”, a expressão original, carregada de energia cinética, implica o esforço ativo, por parte do artista, de extrair do retratado sua forma natural. O tratado é organizado na forma de um diálogo entre Brás Pereira, renomado iluminador português, e Fernando, espécie de alter ego do próprio Francisco. Este último relata que, acompanhando o infante Dom Luís e sua esposa em uma viagem à Galícia, passou pelo Porto, onde se hospedou na casa de Brás Pereira. Durante os oito dias que passou com ele, na volta da romaria, Francisco/Fernando travou diversas conversas com o iluminador, as quais, segundo conta, serviram de base para o tratado. O texto se abre com um pequeno parágrafo que recorda o célebre episódio, relatado por Plínio, o Velho, de como Alexandre Magno cede a bela Campaspe a Apeles, que tão perfeitamente a havia retratado. Em seguida, Fernando e Brás Pereira passam a dialogar sobre distintos preceitos da arte de tirar pelo natural, come-

A pesquisadora Paula Speranza: próximo passo é aplicar óleos (detalhe) em células

Esses óleos foram comprados de empresas da Amazônia e fornecidos a Paula Speranza por um grupo de docentes da Universidade Federal do Pará. A seguir, a própria autora da tese produziu lipases por meio de fermentação, empregadas para modificar os óleos. As lipases, conta ela, são enzimas que agem sobre os lipídios, catalisando as reações químicas dessas moléculas. Essa foi a primeira parte do estudo. A etapa final foi aplicar estes óleos modificados como antimicrobianos.

DIFERENCIAL

Os estudos na literatura de caracterização desses óleos já sugeriam que eles tinham uma grande capacidade biológica. “Escolhemos esses óleos justamente por nunca terem sido estudados como deveriam e porque certamente existe um vasto campo a ser explorado”, expôs. A pesquisa, baseada na interesterificação enzimática (que permite modificar as características físicas e propriedades das misturas de óleos), teve a capacidade de produzir novos óleos com características físicas e químicas inéditas na natureza e com maior potencial biológico. Esse método consiste em misturá-los em proporções adequadas, submetê-los a um processo no qual, sob ação de um catalisador

e condições específicas de processamento, promove-se uma reação de modo a desenvolver gorduras com novas propriedades, como a consistência, por exemplo. Paula Speranza comenta, no entanto, que a modificação desses óleos por processo enzimático não é uma tarefa simples, pois não é toda lipase que atua nestes sistemas. Muitas vezes a enzima não se liga ao óleo. Contudo, a pesquisadora ressalta que conseguiu modificar os óleos por via enzimática e aplicá-los em emulsões, que exibiram características que favorecem a aplicação biológica, como a antimicrobiana. Ao longo do estudo, os óleos interesterificados mostraram efeito bactericida contra os patógenos gram-positivos Bacillus cereus e gram-negativo Escherichia coli, efeito não observado com as misturas não interesterificadas. No momento, outros estudos de potencial biológico dos óleos vêm sendo investigados, como a atividade antioxidante e anti-inflamatória. “Os estudos têm indicado resultados promissores neste sentido”, esclarece.

FRUTOS

A autora da tese e sua orientadora, a professora Gabriela Alves Macedo, já entraram com um pedido de patente junto à Agência de Inovação Inova Unicamp para proteger o

projeto de óleos modificados, que ainda está em fase de análise. Como resultado dos estudos, a pesquisadora recebeu bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) para realizar seu pósdoutorado no Departamento de Alimentos e Nutrição da FEA. Agora, Paula Speranza continua fazendo novas avaliações para melhorar a solubilização destes óleos e aplicá-los em células. O propósito é reduzir a ocorrência de doenças e buscar aplicações na indústria farmacêutica e em outros processos. Segundo a engenheira de alimentos, os óleos da Amazônia apresentaram um grande diferencial ao serem comparados a outros óleos. Eles têm compostos minoritários que raramente são encontrados nos óleos em geral. O óleo de buriti, por exemplo, é uma fonte de carotenos, o patauá tem compostos fenólicos e é antioxidante, o murumuru é uma gordura rara e a estearina de palma tem propriedades emolientes, facilmente absorvidas pela pele. A grande sacada do trabalho, opina a doutoranda, é que não há praticamente estudos avaliando esses óleos. “Nacionalmente são de fato muito poucos. E a modificação deles por processo enzimático, então, não havia nenhuma abordagem na literatura.” A pesquisadora explica que, para produzir um óleo que não esteja disponível na natureza e para que ele possa ser mais estável, determinadas aplicações requerem características muito específicas. Foram sugestões da doutoranda otimizar as condições de reação de interesterificação enzimática (o tempo de reação e a concentração de enzimas); avaliar novos efeitos biológicos dos lipídios interesterificados; e investigar novas lipases.

Publicação Tese: “Produção de lipídios especiais por interesterificação enzimática de óleos da Amazônia e influência na atividade biológica” Autora: Paula Speranza Orientadora: Gabriela Alves Macedo Coorientadora: Ana Paula Badan Ribeiro Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)

A arte de retratar durante o Renascimento çando pelo pintar “muito poucas pessoas, e estas muito singularmente escolhidas, pondo mais a perfeição e o cuidado no primor da pouca obra, que no número da muita” (p. 74). Como não escapa ao organizador do volume, Holanda dirige, aqui, uma crítica certeira à tradição pictórica flamenga que se impunha em Portugal e que o português procurava fervorosamente suplantar pelo “modo de Itália”. Em uma passagem de seu tratado Da pintura antigua, Francisco põe na boca do próprio Michelangelo o seguinte comentário sobre a pintura flamenga: “(...) O seu pintar é trapos, maçonarias, verduras de campos, sombras de árvores, e rios e pontes, a que chamam paisagens, e muitas figuras para cá e muitas para acolá. E tudo isto, ainda que pareça bem a alguns olhos, na verdade é feito sem razão nem arte, sem simetria nem proporção, sem advertência do escolher nem despejo, e finalmente sem nenhuma substância nem nervo (...)”. Holanda prega, portanto, a redução à essencialidade e a concentração na figura, que, em seus tratados, associa-se à pintura italiana. Do tirar pelo natural prossegue abordando questões como a devida escolha dos personagens retratados; de que modo o artista se deve posicionar, em relação ao retratado; os distintos suportes do retrato e as três formas de enquadrar o retratado (de frente, perfil e três quartos). Na segunda parte do tratado, Holanda passa a tecer considerações sobre a forma adequada de retratar as distintas partes do rosto – olhos, sobrancelhas, nariz, boca, orelhas – e o resto do corpo, incluindo as vestes.

John Bury, que realizou uma primeira edição crítica do texto holandiano, bem percebeu que o mesmo é repleto de referências à literatura artística italiana contemporânea; o próprio Holanda, de fato, finaliza seu tratado apontando que havia sido escrito em Portugal ao mesmo tempo em que o Da pintura de Alberti era impresso na Itália (p. 117). Porém, nessa passagem, Francisco insiste que não havia lido o texto albertiano, e que as semelhanças entre um e outro – por exemplo, no tocante ao uso do espelho – são coincidências que não caracterizam uma relação de dependência. Nessa mesma passagem, Holanda declara que, embora tenha aprendido de eminentes artistas italianos – entre os quais o próprio Michelangelo –, em sua produção literária não foi precedido por nenhum estrangeiro: “(...) me contento com não ver ir diante de mim algumas outras pegadas de Espanhol, Castelhano, nem Português e porventura nem doutros estrangeiros ou Latinos” (p. 119). Percebe-se, portanto, uma das preocupações centrais do pensador português: destacar a originalidade de seus escritos, sinalizando, ao mesmo tempo, sua opção pelos valores artísticos italianos. A presente edição do tratado holandiano foi organizada por Raphael Fonseca e constitui o resultado de sua dissertação de mestrado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Unicamp. O trabalho aponta para um caminho pouco trilhado no âmbito da produção acadêmica brasileira, que é o da edição crítica de textos fundamentais da literatura artística. A nova edição do tratado Do tirar pelo natural disponibiliza, colocando-

SERVIÇO Título: Do tirar pelo natural Autor: Francisco de Holanda Organização, apresentação e comentário: Raphael Fonseca Editora da Unicamp Área de interesse: História da arte Páginas: 168 | Preço: R$ 32,00 o à luz de pesquisas recentes, um texto cuja importância, se inexistente do ponto de vista de seu impacto (o livro só seria publicado no século XX), revela muito sobre a circulação de ideias relativas ao conceito de retrato na primeira metade do século XVI europeu. Maria Berbara é professora do Departamento de Teoria e História da Arte, no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).


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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014

E-book sobre embriologia humana tem casos clínicos Conteúdo integrado permeia a obra, que tem recursos imagéticos interativos

Fotos: Divulgação

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

ideia de elaboração de um e-book que abordasse embriologia humana surgiu em 1997 quando o médico Luís Antônio Violin Dias Pereira assumiu a responsabilidade das disciplinas de embriologia ministradas nos cursos de graduação do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e resultou de sua percepção de que os materiais de ensino então utilizados eram estáticos, sem dinâmica e de pouca aplicabilidade prática para futuros profissionais que atuariam nas áreas de medicina, enfermagem, fonoaudiologia ou ciências biológicas. O trabalho iniciado em 1999 culminou com o lançamento este ano do e-book Embriologia Humana Integrada: Animações e Casos Clínicos, resultado de 15 anos de trabalho experimental. Com efeito, o material foi sendo usado, à medida que elaborado, pelos alunos da Unicamp que cursam a disciplina Embriologia Humana, oferecida pelo IB, que estuda a gametogênese, a fecundação e demais estágios do desenvolvimento humano. No prefácio do e-book o professor Áureo Yamada lembra: “Era desalentador constatar a dificuldade da grande maioria dos estudantes em assimilar a dinâmica temporal e espacial dos processos do desenvolvimento embrionário e fetal. Neste cenário, L. Violin empreendeu-se num desafiante projeto de aprimorar os métodos de ensino da embriologia humana para tornar o aprendizado um processo prazeroso, estimulante e, sobretudo, despertar o interesse dos estudantes sobre o valor do domínio desse conhecimento no exercício da profissão”. Até então a embriologia humana era ministrada de forma tradicional, expositiva, centralizada no professor. O docente ministrava aulas teóricas apoiado em imagens estáticas de slides. Com o e-book, cada aluno passou a poder utilizar ativamente as animações em sala de aula de forma adequada à sua velocidade de aprendizagem. O recurso, além de um aprendizado mais dinâmico, aproxima o aluno, desde a fase inicial do curso, ao que será a sua realidade profissional, valendo-se de textos ilustrados por imagens dinâmicas e complementados por casos clínicos. O aluno passa a ver com mais clareza a importância do tema para sua futura atividade profissional. Já em 1999, a reforma curricular do curso de medicina da Unicamp ocorre na mesma direção ao considerar como diretriz básica que “o profissional deverá ter uma formação geral, ser competente técnica, humanística e eticamente; ser capaz de trabalhar em equipe, incorporar tecnologia e ter espírito crítico e transformador em relação ao sistema de saúde, respeitando o contexto socioeconômico e a autonomia do paciente”. Luís Vilin, que é coordenador e orientador dos projetos que culminaram no desenvolvimento do e-book, esclarece que o trabalho visou novas estratégias de ensino, criação de novos materiais, procurando abordar não só a embriologia básica mas mostrar ainda sua aplicabilidade, os aspectos humanísticos envolvidos nos casos clínicos e a importância da embriologia na formação do médico. As animações utilizadas no trabalho foram todas criadas por ele e pelas biólogas Marilia Lopes Justino, mestre em Biologia Celular e Estrutural, e Suzana Guimaraes Moraes, mestre e doutora em Biologia Celular e Estrutural, professora associada do Departamento de Morfologia e Patologia da PUC/SP e do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Ambas, pós-graduadas pelo IB da Unicamp sob orientação do professor Violin, além dos conhecimentos específicos de embriologia, em uma feliz simbiose, possuem veia artística, que as credenciaram a elaborar as animações, e possuem conhecimentos computacionais, grande parte deles ampliado e desenvolvido durante a elaboração do e-book.

DESENVOLVIMENTO

Suzana lembra que, no período de 2000 a 2005, em estágio prévio e depois em sua tese de doutorado produziu materiais para o en-

Páginas do e-book, cujo lançamento será no dia 2 de dezembro, na Biblioteca do IB

Foto: Antoninho Perri

Marilia Lopes Justino, Luis Antônio Violin Pereira e Suzana Guimaraes Moraes, os autores do livro: resultado de 15 anos de trabalho experimental

sino ativo de embriologia, como ilustrações, animações gráficas, vídeos e fotografias de embriões, de fetos, de procedimentos cirúrgicos, textos, histórias clínicas, entre outros utilizados em turmas de graduação do curso de medicina entre 2002 e 2004. Utilizando processos avaliativos ela dimensionou a percepção positiva dos alunos frente ao material de embriologia produzido e à metodologia de ensino utilizada. Por sua vez, Marília conta que, no período de 2009 a 2014, em estágio prévio, na iniciação científica e durante a elaboração da dissertação de mestrado revisou, reorganizou e implementou inovações necessárias com vistas a incrementar o material de ensino anteriormente desenvolvido pela sua colega. Resultou daí um formato de enhanced e-learning – educação presencial aprimorada, que foi aplicado como recurso didático no aprendizado de embriologia humana para estudantes de graduação da Unicamp. O professor Violin lembra que com o envolvimento de Suzana no trabalho e em vista dos importantes resultados preliminares obtidos, o projeto inicial tornou-se tema de doutorado que de certa forma serviu como piloto para o ensino de embriologia humana ao mostrar a construção do material e apresentar a metodologia de ensino. Inclusive fotos de exames corriqueiramente realizados durante a gestação e casos clínicos apresentados na tese deram origem a uma biblioteca eletrônica. O material criado e as estratégias desenvolvidas em decorrência dessas contribuições são utilizados atualmente nos cursos de ciências biológicas, medicina, enfermagem, fonoaudiologia, farmácia, fisioterapia (a partir de 2015) e em cursos de pós-graduação e extensão oferecidos pelo Departamento de Bioquímica e Biologia Tecidual do IB, do qual Violin é professor associado. O trabalho contou com a participação de um seleto grupo de professores e pesquisadores: Edson Borges Junior, Assumpto Iaconelli Junior e Rita de Cássia Savio Figueira do Instituto Sapientiae e Fertility - Centro de Reprodução Assistida, São Paulo; Cristina Barros de Araujo Faro, Helder José Lessa Zambelli, Kleber Cursino de Andrade do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo

Pinotti - Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) Unicamp; Denise Pontes Cavalcanti, Marcos Fernando Santos Mello e Ricardo Barini, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; Lourenço Sbragia Neto da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto; Lúcia Elvira Alvares, Mainara Ferreira Barbieri e Shirlei Maria Recco-Pimentel, do Instituto de Biologia da Unicamp. Teve ainda a colaboração de Bianca Moschetti Rivolta Cidro, Carlos Eduardo Santoro Pedroso Filho, Raíssa Haydê Koshiyama de Freitas, Heloisa Maria Ceccotti e Rita Lopes Manzano. O prefácio da obra é do professor Áureo Yamada que acompanhou toda a trajetória dos seus três autores desde o início e durante todo o desenrolar do trabalho e aceitou discutir o projeto, acompanhando-o da concepção ao resultado final. O coordenador do projeto ressalta o envolvimento de técnicos de informática do Ciebig, de alunos de pós graduação participantes do Programa de Estágio Didático (PED) e de professores e colaboradores que auxiliaram no uso do material em sala de aula. Ele destaca ainda a participação da Editora Cedet pela sua proposição alternativa e inovadora de acesso às fontes de material educativo de baixo custo através de um processo que permite sua atualização constante e facilita a aquisição. O lançamento formal do e-book ocorrerá no dia 2 de dezembro, às 13 horas, na Biblioteca do Instituto de Biologia da Unicamp, quando os autores estarão à disposição da comunidade acadêmica. O material já pode ser adquirido através do site www.embriologiahumana.com.br pelo valor de lançamento de R$ 40,00, com direito de uso por um ano.

CONTEÚDOS E USOS

O e-book aborda embriologia humana através de textos, animações, vídeos, imagens, esquemas, casos clínicos, informações sobre malformações e oferece referências biográficas, dispondo todo o conteúdo de maneira integrada. O mestrado de Marilia foi permeado pela ideia de desenvolver a educação presencial aprimorada, que apoia o aprendizado

em meios eletrônicos. Por isso, explica ela, “empregamos diferentes estratégias para a utilização em aula dos textos, das animações, dos casos clínicos e de outros materiais produzidos”. Na forma tradicional, com o auxílio de um projetor multimídia, o professor pode mostrar e explicar as animações, casos, clínicos, imagens, etc. Já na utilização de uma estratégia ativa, o professor apresenta as animações e casos clínicos e posteriormente, no Centro de Informática para o Ensino de Graduação do IB (Ciegib), os alunos revisam os conteúdos abordados por ele utilizando o e-book e tiram dúvidas. Em outra estratégia também ativa, o professor faz uma breve introdução do assunto da aula e convida os alunos a estudarem individualmente uma animação e um caso clinico no Ciegib, e os auxilia a encontrar respostas para as dúvidas que surgem durante o estudo. A aula termina com uma grande discussão sobre o conteúdo estudado. As análises estatísticas e a percepção de alunos e professores sugere que as estratégias ativas permitem melhor retenção do conhecimento a médio e longo prazo.

VANTAGENS DO E-BOOK

Pelas suas próprias características, a obra possibilita várias leituras dinâmicas potencializadas pela utilização de recursos imagéticos. Através desse processo os autores reúnem elementos que lhes permitirão inclusive o aperfeiçoamento do trabalho. A comunicação entre leitores e autores pode ser realizada por um formulário (enviado por e-mail) que está embutido no e-book, ou ainda por acesso à página do Facebook. Para Violin, “a ideia não é apenas a atualização constante, mas também a ampliação do alcance do trabalho. Hoje ele se atém à embriologia básica, mas pretendemos acrescentar no futuro, por exemplo, abordagens sobre as formações de sistemas como o respiratório, digestório, etc. além de constantes aprimoramentos de interface, ferramentas de interatividade, feedback e comunicação entre leitores e autores”. No prefácio o professor Áureo Yamada destaca que a experiência e aprimoramento contínuo do conteúdo do e-book (animações, textos, casos clínicos, imagens, etc), por mais de 10 anos, o qualifica como ferramenta de excelência na área de ensino e aprendizado da embriologia humana. Ele enfatiza, ainda, a disponibilidade e acessibilidade desse material de baixo custo ao contingente de educadores e de estudantes da área de saúde e interessados no conhecimento da embriologia humana e sua contribuição para a melhoria na formação de seus profissionais.

SERVIÇO Título: Embriologia Humana Integrada: Animações e Casos Clínicos Autores: Luis Antônio Violin Pereira, Marilia Lopes Justino e Suzana Guimaraes Moraes Editora: Cedet Preço: R$ 40,00 (direito de uso por um ano) Lançamento: 2 de dezembro, às 13 horas, na Biblioteca do Instituto de Biologia da Unicamp


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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014

PAINEL DA SEMANA  Propostas para fóruns de 2015 - A Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) receberá, até 27 de novembro, as propostas de Fóruns Permanentes para o ano de 2015. Elas serão avaliadas por uma comissão formada por professores e pesquisadores das várias áreas do conhecimento. O resultado final deverá ser divulgado até 19 de dezembro de 2014 e os contemplados serão notificados por e-mail. Saiba mais no link http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2014/10/31/foruns-permanentes-para-o-ano-de-2015  1º Seminário Nacional do Bordado - A Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), órgão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), organiza nos dias 24 e 25 de novembro, nos auditórios 1 e 2 do Centro de Convenções da Unicamp, o 1º Seminário Nacional do Bordado na Unicamp. As inscrições, abertas desde o último dia 25 de agosto, podem ser feitas no link http:// www.preac.unicamp.br/cac/bordado/?page_id=249, em grupo ou individualmente, sendo possível a submissão de até três trabalhos, nos seguintes eixos temáticos: Cultura, Arte e processos criativos; Educação, Filosofia, territorialidade; Saúde e qualidade de vida, e Economia criativa, inclusão social e geração de emprego e renda. Mais informações pelo e-mail terezabarretocosta@gmail.com  Ciclo de debates sobre o ensino médio - Encontram-se abertas as inscrições para o Ciclo de debates sobre ensino médio intitulado “Base nacional comum do currículo: que jogo é este?”, evento a ser realizado em 25 de novembro, das 9 às 12 horas, no salão nobre da Faculdade de Educação (novo local). O Ciclo é promovido pela Linha de Pesquisa Ciências Sociais e Educação da Faculdade

de Educação (FE) da Unicamp em conjunto com o Grupo Interinstitucional Ensino Médio em Pesquisa (EMpesquisa) e o Observatório do Ensino Médio da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2014/11/07/ciclo-dedebates-sobre-ensino-medio  Atualidade do pensamento de Celso Furtado - O Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp organiza evento em memória aos dez anos de falecimento do economista Celso Furtado. Será no dia 26 de novembro, às 9 horas, no auditório do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. O objetivo é discutir a atualidade do pensamento furtadiano e suas principais contribuições em campos como a História Econômica Brasileira e a relação entre Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento. Mas informações: telefone 19-3521-4555 ou e e-mail eventocelsofurtado@gmail.com.  20 anos de Rua - O Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) organiza em seu auditório, dia 26 de novembro, às 9 horas, evento para comemorar os 20 anos de existência da Revista Rua. O evento tem como proposta refletir sobre as políticas científicas e a circulação do conhecimento, debatendo o papel dos periódicos científicos na relação entre a produção, a avaliação e a circulação do conhecimento na área das Ciências Humanas. O objetivo principal da revista é abrir espaço para abordagens de diferentes áreas do conhecimento que tomem o espaço urbano como objeto de estudo. Rua publicou, até 2008, 13 números com periodicidade anual e em formato impresso, quando migrou para o formato eletrônico, passando a ser uma publicação semestral. Mais informações no site http://www.labeurb.unicamp.br/rua20anos ou telefone 19-3521-7900.  Quartas culturais - No dia 26 de novembro, às 13 horas, na Biblioteca Central “Cesar Lattes” (1º piso), acontece apresentação musical de cânticos natalinos com Vilson Zattera, Matheus Kuschick e Fernanda Landim. O evento faz parte do projeto “Quartas culturais da BC-CL” e está sob a organização do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU). Mais detalhes: telefone 19-3521-6501.

EVENTOS FUTUROS  Pierre Bourdieu - O Grupo de Estudos em Bourdieu e o Programa de Pós-graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp organizam evento para debater a teoria sociológica de Pierre Bourdieu. Será nos dias 3 e 4 de dezembro, das 9 às 22 horas, no IFCH. O evento contará com conferências e minicursos e objetiva promover o diálogo entre as produções do grupo e a comunidade acadêmica. Mais detalhes no link https://gebu.github.io/encontro-de-estudos-em-pierre-bourdieu/ ou e-mail grupodeestudosembourdieu@googlegroups.com  Ambiência de precisão na avicultura de corte - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), por meio do Grupo de Pesquisa em Zootecnia de Precisão e Ambiência Animal, organiza em 12 de dezembro, das 8 às 18 horas, o workshop “Ambiência de precisão na avicultura de corte”. Nesta edição serão abordados temas relativos à ventilação de precisão, resfriamento evaporativo, economicidade no consumo de energia com a escolha e uso cor-

DESTAQUE dia 17 de novembro foi escolhido como o Dia Mundial da Prematuridade, para chamar a atenção para um problema que atinge 15 milhões de crianças todos os anos ao redor do mundo. No Brasil, 340.000 bebês nasceram prematuros só em 2012, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do SUS e Ministério da Saúde. Isso significa que nascem 931 prematuros por dia ou 40 por hora, no Brasil, indicando uma taxa de prematuridade de 12,4%, o dobro do índice de alguns países europeus. Esses partos prematuros acontecem quando a gravidez dura menos de nove meses. Eles podem ocorrer de forma espontânea ou induzida. A maioria ocorre de forma espontânea, devido a dois problemas principais: trabalho de parto prematuro e quando a bolsa das águas rompe antes dos nove meses. Os partos induzidos ocorrem em situações nas quais há necessidade de interrupção da gravidez, por problemas da mãe ou da criança. Ainda há muito desconhecimento sobre os mecanismos que desencadeiam o parto prematuro espontâneo. Com o objetivo de compreender melhor as causas da prematuridade, preveni-la e tratar suas consequências, doze estudos brasileiros, dois deles da Unicamp, estão sendo financiados pela Fundação Bill & Melinda Gates, pelo Ministério da Saúde e pelo o CNPq. A chamada “Grandes Desafios Brasil: Prevenção e Manejo dos Nascimentos Prematuros” está investindo 8,4 milhões de reais em pesquisas inovadoras sobre prematuridade desenvolvidas por diversas instituições do país. As soluções que estão sendo testadas variam de comprimidos orais de magnésio, que custam 17 centavos cada um e têm o potencial de reduzir em mais de 20% o risco de um parto prematuro, a pesquisas sobre a influência da poluição do ar nas taxas de prematuridade em metrópoles como São Paulo. Eles terão dois anos para desenvolver seus projetos e testar intervenções que podem ser aplicadas futuramente no sistema de saúde. Em outubro, dados de pesquisa inédita coordenada pela Unicamp foram publicados e podem contribuir para os esforços na redução da prematuridade. O estudo acompanhou durante um ano mais de 30 mil nascimentos em 20 maternidades de referência das regiões Sul, Sudeste e Nordeste e apontou os principais riscos para nascimentos prematuros no país. O objetivo foi identificar e mapear mais de 100 fatores de risco para parto prematuro espontâneo e induzido. É, provavel-

reto de equipamentos, entre outros. Mais detalhes: telefone 19-35211085 ou e-mail avicultura.workshop@gmail.com  Palestra com Eduard van Wijik - A análise da emissão ultra-fraca de fótons (UPE) se tornou parte de recentes avanços em biologia e medicina sistêmica. Esses avanços requerem novos procedimentos para detecção de mudanças de propriedades quânticas de organismos vivos. Alguns dos avanços serão ilustrados com dados de pesquisa de UPE durante o desenvolvimento de patologias como artrite reumatóide e diabetes. Para falar sobre o assunto, dia 16 de dezembro, a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) recebe, às 14 horas, em sua Sala de Congregação, o professor Eduard van Wijk (Leiden University). O evento está sob a responsabilidade do professor Cristiano Gallep. Mais informações pelo telefone 19-2113-3492 ou e-mail gallep@ft.unicamp.br

TESES DA SEMANA  Ciências Médicas - “Síndrome da resposta inflamatória sistêmica após cirurgia estética de mama” (mestrado). Candidato: Carlos Roberto de Oliveira Sauer. Orientador: professor Francisco Hideo Aoki. Dia 28 de novembro de 2014, às 9 horas, no anfiteatro da Comissão de Pós-graduação da FCM.  Computação - “Soluções exatas para o problema cromático da galeria de arte” (mestrado). Candidato: Maurício José de Oliveira Zambon. Orientador: professor Pedro Jussieu de Rezende. Dia 27 de novembro de 2014, às 10 horas, no auditório do IC. “Encriptação com predicados baseada em reticulados” (doutorado). Candidata: Karina Mochetti de Magalhães. Orientador: professor Ricardo Dahab. Dia 27 de novembro de 2014, às 14 horas, no auditório do IC. “Segmentação de imagens médicas usando modelos estatísticos e nebulosos da forma do objeto” (mestrado). Candidato: Renzo Phellan Aro. Orientador: professor Alexandre Xavier Falcão. Dia 28 de novembro de 2014, às 9 horas, no auditório do IC.  Economia - “Limites e transformações na estrutura de capital em Pernambuco no pós-Sudene” (doutorado). Candidato: Fabio Lucas Pimentel de Oliveira. Orientador: professor Wilson Cano. Dia 28 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.  Educação - “Criança, o botão da inocência: as roupas e a educação do corpo infantil nos ‘anos dourados’” (doutorado). Candidata: Fernanda Theodoro Roveri. Orientadora: professora Carmen Lúcia Soares. Dia 28 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco A da Faculdade de Educação.  Educação Física - “Tradução e adaptação transcultural do “Sport Mental Toughness Questionnaire” para a língua portuguesa do Brasil” (mestrado). Candidata: Sheila Molchansky. Orientador: professor Edison Duarte. Dia: 26 de novembro de 2014, às 13h30, na sala de aula 4/5 da FEF. “Modelos de projetos de natação para pessoas com deficiência visual” (mestrado). Candidata: Bruna Breadriol. Orientador: professor José Júlio Gavião de Almeida. Dia 27 de novembro de 2014, às 13 horas, na sala de aula 7 da FEF.

“Conteúdos da educação física e a pedagogia de Freinet: pintando uma possibilidade para o aluno com Síndrome de Down” (mestrado). Candidata: Camila Lopes de Carvalho. Orientador: professor Paulo Ferreira de Araújo. Dia 28 de novembro de 2014, às 9 horas, no auditório da FEF. “O processo de ensino do judô para pessoas com deficiência visual” (mestrado). Candidata: Gabriela Simone Harnish. Orientador: professor José Julio Gavião de Almeida. Dia 28 de novembro de 2014, às 10 horas, na sala de aula 7 da FEF.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Desenvolvimento de um sistema de gestão de iluminação pública através de redes de sensores e atuadores sem fio” (doutorado). Candidato: Felipe Lorenzo Della Lucia. Orientador: professor Leandro Tiago Manera. Dia 28 de novembro de 2014, às 14 horas, na FEEC.  Engenharia Química - “Melhoramento de coquetéis enzimáticos para a hidrólise do bagaço de cana-de-açúcar” (mestrado). Candidata: Bianca Consorti Bussamra. Orientadora: professora Aline Carvalho da Costa. Dia 26 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Produção e caracterização de fibras eletrofiadas de acetato de celulose com propriedades funcionais obtidas pela incorporação de lignina e óleo essencial de citronela” (doutorado). Candidato: João Vinicios Wirbitzki da Silveira. Orientador: professor Edison Bittencourt. Dia 28 de novembro de 2014, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ.  Geociências - “Uma análise socio-técnica do desenvolvimento do carro a etanol brasileiro” (doutorado). Candidato: Rafael Bennertz. Orientadora: professora Léa Maria Leme Strini Velho. Dia 24 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala A do DGRN do IG.  Odontologia - “Achados de função mandibular e dor na disfunção temporomandibular associada à dor localizada e generalizada” (doutorado). Candidata: Marta Cristina da Silva Gama. Orientadora: professora Celia Marisa Rizzatti Barbosa. Dia 24 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala seminários do depto. de morfologia da FOP. “Biofilme e saliva afetam o comportamento biomecânico dos implantes dentários” (mestrado). Candidato: Dimorvan Bordin. Orientador: professor Wander Jose da Silva. Dia 28 de novembro de 2014, às 8h30, na sala de seminários da Odontologia Social da FOP. “Estudo comparativo das características histopatológicas de tumores odontogênicos malignos e benignos” (doutorado). Candidata: Marisol Martinez Martinez. Orientador: professor Oslei Paes de Almeida. Dia 28 de novembro de 2014, às 9 horas, na sala da Congregação da FOP.  Química - “Ômicas para estudar a influência do cádmio no metabolismo do girassol (Helianthus annuus L.)” (doutorado). Candidato: Cícero Alves Lopes Júnior. Orientador: professor Marco Aurélio Zezzi Arruda. Dia 27 de novembro de 2014, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Estudos visando a síntese de análogos de fostriecina e síntese total e elucidação estrutural das coibacinas a e b” (doutorado). Candidata: Carolina Martins Avila de Sant’Ana. Orientador: professor Ronaldo Aloise Pilli. Dia 28 de novembro de 2014, às 14 horas, no miniauditório do IQ.  Tecnologia - “Sistema de tecnologia assistiva para captar a atenção de deficientes auditivos e surdos” (mestrado). Candidato: Marcelo Sodré Plachevski. Orientador: professor Rangel Arthur. Dia 28 de novembro de 2014, às 14 horas, na Faculdade de Tecnologia.

DO PORTAL

Brasil tem 40 partos prematuros por hora Foto: Antonio Scarpinetti

O obstetra Renato Passini, do Caism: exames identificam riscos

mente, o maior estudo de fatores de risco gestacionais e pré-gestacionais para o parto prematuro já realizado no Brasil, com o enfoque obstétrico do problema. Ficaram de fora desses primeiros resultados, os partos prematuros terapêuticos, aqueles que têm de ser induzidos porque existe algum problema com a mãe, com o bebê ou ambos, caso da pressão alta, por exemplo, que serão publicados no ano que vem. A taxa média de prematuridade detectada na pesquisa foi de 12,3%, bem parecida com a evidenciada pelos dados oficiais do país. O índice foi maior na região Nordeste (14,7%) e menor no Sudeste (11,1%). Quase 80% dos nascimentos prematuros ocorreram entre a 32ª e a 36ª semana de gestação e 7,4% antes das 28 semanas. Quanto mais prematuro for o parto, maior o risco de morte e problemas para as crianças que sobrevivem. Para analisar os principais fatores de risco para o problema, os pesquisadores compararam as condições dos partos pre-

maturos com as dos nascimentos no tempo certo, ou seja, após as 37 semanas. Entre os diversos riscos pesquisados, 14 demonstraram ser importantes indicadores para a detecção precoce de um nascimento prematuro. Gravidez múltipla (de gêmeos ou mais bebês), encurtamento do colo do útero, má formação fetal, sangramento vaginal e menos de seis consultas realizadas durante o pré-natal são os maiores fatores de risco tanto para mulheres na primeira gestação quanto para as que já ficaram grávidas antes. Entre as que já tiveram uma gravidez no passado, parto prematuro e aborto prévio, além do aumento do volume de líquido amniótico ao redor do feto também devem ser levados em conta. A chance de um parto prematuro também foi maior entre mães com menos de 19 anos e sem um parceiro, que fumam e com algumas infecções durante a gestação. “A pesquisa mostra que boa parte dos riscos podem ser identificados pela mulher

e pelos serviços de saúde a tempo do médico intervir para ou corrigir os problemas, ou tentar minimizar suas consequências”, afirma um dos autores do estudo. Segundo o obstetra Renato Passini, do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” - Caism da Unicamp, riscos como a gravidez múltipla e defeitos na formação das crianças (malformações fetais) podem ser identificados com um ultrassom realizado precocemente durante o pré-natal. Caso esses e outros problemas sejam diagnosticados, pelo ultrassom ou pelo exame clínico da gestante, as visitas ao médico têm de se tornar mais frequentes e, o acompanhamento da gestante, ainda mais personalizado. Também é necessária a presença de profissionais de saúde treinados sobre o que fazer nessas situações de risco para traçar uma estratégia de prevenção efetiva e orientar as mulheres sobre comportamentos a serem evitados ao longo da gestação. As gestantes também podem evitar que seu bebê nasça prematuro prestando atenção em alguns sinais e sintomas. Sangramento por via vaginal, aumento de cólicas e alguns tipos de corrimento durante a gravidez são sinais de alerta. Quando eles aparecem, é preciso procurar um médico imediatamente. Mesmo que o sangramento tenham parado, o médico deve ser informado. “Infecções urinárias como cistites e pielonefrites são as mais relacionadas ao parto prematuro”, diz Passini. Alguns tipos de corrimentos podem indicar vaginose bacteriana, outra causa de prematuridade. “Mapear e identificar todos os riscos envolvidos na prematuridade é tarefa difícil, mas se eles forem do conhecimento da mulher e da equipe de saúde que a está atendendo, isso pode ajudar muito na prevenção”, afirma Passini. “Com medidas preventivas, poderemos reduzir os altíssimos custos psíquicos e emocionais e as complicações que o prematuro pode ter na infância e na vida adulta.”


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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014

Agricultores retomam cultura do algodão no norte de Minas LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

issertação de mestrado apresentada por Josilene Andrade Ramos no Instituto de Economia (IE) mostra como pequenos agricultores da cidade de Catuti, no norte de Minas Gerais, retomaram a cultura do algodão abandonada na região utilizando sementes transgênicas, obtendo ganhos importantes de produtividade e recorrendo, ainda que involuntariamente, a um manejo sustentável. A autora atribui esta retomada da cotonicultura ao vínculo dos agricultores familiares com a Coopercat (Cooperativa de Produtores Rurais de Catuti), integrada a uma rede de colaboradores de natureza diversa que assegura sementes certificadas, mercado para o produto, financiamento e assistência técnica. O estudo intitulado “Algodão: redes, tecnologia e meio ambiente” foi orientado pelo professor José Maria Ferreira Jardim da Silveira, no âmbito do Núcleo de Pesquisas Agrícolas (NEA). Josilene Ramos informa que participam da Coopercat cerca de cem famílias de 14 municípios da região de Catuti, em áreas plantadas que não passam de 50 hectares cada, caracterizando-as como de pequenos produtores. “No início, em 2006/2007, eram cinco produtores cultivando algodão em 40 hectares; na safra 2009/2010, eram cerca de 366 hectares e 69 famílias, comprovando o sucesso da cooperativa. Eles são bem organizados e contam com uma rede social forte – até por isso o título da dissertação. No título também inseri o meio ambiente, devido à polêmica em torno da questão dos transgênicos: mesmo em Catuti, parte dos agricultores trabalha apenas com sementes convencionais e é contra a presença do transgênico. Isso reforça a peculiaridade da Coopercat.” Segundo a autora da pesquisa, a adoção de variedades geneticamente modificadas, cujo cultivo foi liberado em 2005, tem levado a um crescimento da cotonicultura em todo o país, com aumento da produtividade e sua retomada em antigas regiões produtoras desfavorecidas pela crise dos anos 1980 e 90, que causaram a sua retração. “O projeto de retomada do algodão no norte de Minas Gerais começou no mesmo ano de 2005. Em Catuti, a maioria das famílias do meio agrícola possui vasta experiência na cotonicultura, que na região remonta aos anos 1940. Porém, com a crise ela foi substituída pela criação de gado, cultivo de feijão e por outras atividades menos empregadoras de mão de obra – o que implicou em migração, redução de renda familiar e desativação das unidades de beneficiamento de algodão.” Josy Ramos descreveu a rede do algodão em Catuti utilizando o programa Netmap, criado pela Schiffer em 2007 e que possui uma vertente qualitativa. Dentre as perguntas feitas ao cooperativado, ela destaca quatro: quais atores estão envolvidos em sua atividade, como se dá a ligação com eles, quão influentes eles são e quais objetivos eles têm. “Chegamos a uma rede com agentes financeiros, comerciais, políticos, de desenvolvimento tecnológico e de proteção ambiental. Não deixa de ser um método subjetivo, mas é baseado em informações de pessoas que estão dentro da rede e têm muito conhecimento sobre ela. Depois, para as análises quantitativas, recorri a outro software, o Pajek.” Compõem a rede de Catuti, além da Coopercat, agentes do setor público como os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário (MDA), Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), Proalminas (Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão), Embrapa Algodão, universidades e institutos de pesquisa (inclusive a Unicamp) e associações comerciais; do setor

Vínculo de lavradores com cooperativa rende ganhos de produtividade Fotos: Divulgação

Aspectos da lavoura de algodão e casas de agricultores no município de Catuti: diminuição de custos devido ao menor uso de defensivos

privado estão a Monsanto (que fornece as sementes transgênicas) e a fábrica de fios (que absorve a produção local); e do setor financeiro, a presença da BCI (Better Cotton Iniciative). “Mostro as relações entre os agentes, que podem ser de via simples ou dupla, de apoio, comerciais, financeiras, subsidiárias, normativas e também de conflito – o MDA, por exemplo, pressionou os agricultores a trabalhar com sementes convencionais, mas eles já estavam decididos pelos transgênicos.” As razões para esta decisão, explica a pesquisadora, são a maior produtividade, maior rentabilidade e, principalmente, a diminuição de custos devido ao menor uso de defensivos. Segundo técnicos da Coopercat, enquanto o cultivo de algodão convencional exige uma média de 15 a 17 aplicações de inseticidas e pesticidas, no algodão transgênico a média é de 5 a 7 aplicações. “Isso melhorou a saúde dos produtores, que adoeciam por carregar o equipamento nas costas e aplicar o veneno manualmente. Entra aí a parceria com a BCI, instituição que foca o cultivo do algodão não só em termos de produtividade e qualidade, mas também a forma de manejo e a qualidade de vida do agricultor. O selo da BCI representa uma vantagem competitiva em relação às outras cooperativas e para obtê-lo existe uma série de regras, entre elas o uso de equipamento de proteção individual (EPI).” Josy Ramos aponta como outro ponto favorável ao meio ambiente a necessidade substancialmente menor de água para o cultivo de algodão transgênico: dados da safra 2012/2013 indicam uma diminuição de 91

mil para 36 mil litros na plantação. “Embora os defensores da semente transgênica acenem com esses dados sobre um manejo mais sustentável, minha dissertação deixa evidente que a questão ambiental, ainda que seja uma preocupação, não é o que norteia a ação dos agentes desta rede. O interesse da maioria é econômico: aumentar a produtividade e rentabilidade dos pequenos agricultores. A sugerida proteção ao meio ambiente com o uso de transgênicos, para eles, é um benefício marginal; o primeiro norte é colocar comida na mesa.” Conforme verificou a autora do estudo, é fato que a Coopercat está utilizando sementes certificadas (Nu Opal, Dp 90 B e Delta Opal), quando um grande problema no Brasil é a existência de um mercado pirata – estimase que 56% das sementes sejam importadas ilegalmente. “A adoção de sementes certificadas fez diminuir consideravelmente a ocorrência de pragas de lagartas, antes frequentes na região. Os resultados obtidos pelos produtores cooperados têm incentivado a entrada de novos associados a cada safra, enquanto os pioneiros na atividade estão aumentando sua área de cultivo e, com as sobras geradas, optando por comprar mais terras a fim de expandir a sua produção.”

CUSTOS E PRODUTIVIDADE

Analisando os dados da safra 2007/2008, a pesquisadora observou que a maioria dos agricultores da Coopercat teve custos de produção variando entre R$ 4,8 mil e R$ 6,8 mil, Foto: Antonio Scarpinetti

Publicação Dissertação: “Algodão: redes, tecnologia e meio ambiente” Autora: Josilene Andrade Ramos Orientador: José Maria Ferreira Jardim da Silveira Unidade: Instituto de Economia (IE) Josilene Andrade Ramos, autora da dissertação: “Eles são bem organizados e contam com uma rede social forte”

sendo que apenas três ultrapassaram os R$ 20 mil. Em 2007, o gasto médio foi de R$ 10.500 para uma área de 4,5 hectares, mas com valores extremos de R$ 871,00 e de R$ 25,6 mil. “A diferença de custos resulta das dimensões das propriedades, do uso de defensivos e de pagamento de mão de obra no plantio e na colheita. Outra variável é que mesmo entre os menores produtores, havia aqueles mais abertos à nova tecnologia dos transgênicos e outros que preferiram plantar menos para ver qual seria o resultado.” Josy Ramos atenta que o gráfico referente à safra 2009/2010 (quarto ano de implementação do projeto de retomada do algodão no norte de Minas Gerais), mostra um aumento no nível de custos, com a maioria dos produtores gastando entre R$ 8 mil e R$ 12 mil. “Temos maior número de produtores e de áreas cultivadas, assim como do nível de custos, mas todos progrediram em termos de produtividade. Esse coeficiente de variação mostra que os cooperativados são mais homogêneos em produtividade, o que não deixa de ser curioso, já que os custos são heterogêneos. Isso poderia nos levar a pensar que a adoção dos transgênicos faz com que a produção entre eles seja equivalente, o que é bom sinal.” A autora da pesquisa também avaliou o relacionamento dos cooperados da Coopercat dentro da rede e constatou que há, efetivamente, uma gama extensa de colaboradores de diversas naturezas que asseguram um mercado, financiamentos e informações, mas também que as relações podem ser mais densas. “Eles reclamam, por exemplo, que a assistência técnica da Emater é mais direcionada a produtores de algodão convencional. A interação se dá majoritariamente com agentes públicos como a própria cooperativa, Embrapa Algodão, Prefeitura de Catuti e Mapa. Cada agente da rede se relaciona no máximo com outros doze agentes, o que representa 33% das relações possíveis. É possível melhorar.” Com um volume médio próximo de 1,7 milhão de toneladas de pluma nas três últimas safras, o Brasil se coloca entre os cinco maiores produtores mundiais, ao lado de China, Índia, EUA e Paquistão. Mas, apesar do ressurgimento da cotonicultura em diversas regiões do país, Josy Ramos observa que o cenário ainda é de grande disparidade produtiva entre regiões como Centro-Oeste e Nordeste. “A desigualdade tem como maiores vetores o nível de escolaridade e o acesso à tecnologia e assistência técnica. Ainda que os agricultores familiares disponham de tecnologias, a dificuldade está na capacidade de inovar. Por isso, a criação de redes sociais tem se mostrado uma alternativa para melhorar este acesso.”

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

Nas entrevistas, a pesquisadora constatou que os próprios agricultores reconhecem a falta de formação – a maioria praticamente não teve contato com a escola – como umas das principais barreiras que enfrentam. “Às vezes, não adianta o técnico apenas levar a semente transgênica e explicar suas características; é preciso acompanhar todo o processo, mostrar os cuidados para uma maior produtividade e orientar, por exemplo, sobre o refúgio (área delimitada para evitar o cruzamento com espécies convencionais). Uma das conclusões e críticas da dissertação é que a assistência técnica precisa ser aprimorada, pois se não for bem feita, isso vai impactar na produção do pequeno produtor. Diria que está se fazendo um investimento com pouco retorno.” De qualquer forma, o histórico de Catuti que Josy Ramos inseriu na dissertação mostra uma evolução importante do município que no Censo de 2010 registrava 5.102 habitantes (42% na área rural): o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que era de 0,413 no ano 2000, considerado muito baixo, atingiu a marca de 0,621 em 2010, fazendo com que o município seja classificado como de desenvolvimento humano médio. “Nós da cidade grande pensamos que os pequenos agricultores vivem em condições ruins, sem acesso a nada. Visitei casas pequenas e modestas, mas bem montadas, com eletrodomésticos como máquina de café, filhos na faculdade e motocicletas. Vivem humildemente, mas com tudo que precisam.”


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Campinas, 24 a 30 de novembro de 2014

Um boi imortal Foto: Reprodução

Apresentação no Festival Folclórico de Parintins, cuja primeira edição foi em 1965: identidade regional

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

Festival Folclórico de Parintins, Amazonas – que ocorre todos os anos no último final de semana de junho, considerado uma atração turística da cidade –, é uma apresentação a céu aberto com participação de várias associações folclóricas. O ponto alto da festa é a competição entre os dois bois folclóricos: o Boi Garantido e o Boi Caprichoso. Nas três noites, eles protagonizam a exploração de temáticas regionais como lendas, rituais indígenas e costumes dos ribeirinhos através de alegorias e encenações. A tradição deste festival, iniciado em 1965, tem trazido contribuições sociais para a afirmação de um sentido de identidade regional que ocorre por meio da ressignificação do evento. “Essa ressignificação substitui o arquétipo de morte e renascimento pela chamada celebração folclórica, visto que o boibumbá parintinense hoje não morre mais e, portanto, não ressuscita”, conclui Rui Manuel Sénico Carvalho em estudo de doutorado defendido no Instituto de Artes (IA). Segundo o pesquisador, que é mestre em música, faz parte dessa mudança a exaltação de personagens regionais como o índio e o caboclo, que atuam como protótipos de discursos e conferem uma nova configuração estética ao festival. Rui conta que escolheu esse assunto pela sua originalidade, já que o Amazonas é pouco estudado em etnomusicologia. “Creio que uma pesquisa relacionada com a região poderia instigar o conhecimento sobre uma parte do Brasil singular, muito rica do ponto de vista cultural.” Ele também se interessou pelo tema por apreciar a cultura amazonense e devido à sua proximidade com o Estado do Amazonas [ele vive em Manaus]. Tudo isso facilitou a sua pesquisa, além do fato de ser regente da Amazonas Band, big band da Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas. “Acabei tendo contato com músicos do boibumbá, com os bumbás de Parintins, com os mestres de bois manauaras e com algumas figuras-chaves do festival”, descreve. O boi-bumbá, afirma Rui, faz parte de uma manifestação muito arraigada no folclore do país. “Tipifica-se na atualidade como uma manifestação cultural popular amazonense. No entanto, o auto do boi remete aos primórdios do Brasil e está presente em diversas regiões”, contextualiza.

O que afinal é o auto do boi? É uma encenação que conta a história da negra Catirina que, grávida, desejou comer a língua do boi mais estimado pelo dono da fazenda em que morava. Para atender o seu desejo, Pai Francisco, esposo de Catirina, matou o melhor animal de seu patrão e, em seguida, fugiu. Perseguido, pediu socorro ao padre, que o auxiliou e fez ressuscitar o boi, para alegria e comemoração de todos na fazenda. Alguns estudiosos apontam Portugal como a origem do auto do boi, comenta o doutorando. Existem muitas similaridades com um folguedo que existia nos arredores de Lisboa até o século 19. Outros sugerem a África Subsaariana (região do atual Senegal) como a origem do bumba-meu-boi brasileiro, manifestação da qual o boi-bumbá parintinense atual deriva. O auto do boi no Brasil inclui personagens centrais da colônia, como o amo do boi (branco, geralmente português), o Nêgo Chico e a Catirina (negros), e o indígena, este incorporado ao longo do tempo. “Eram três grupos em constante interlocução cultural e, ao mesmo tempo deculturados, face ao gestar de uma nova situação antropológica que emergia no país. À sua maneira, o auto do boi aborda a questão da identidade cultural no Brasil”, constata o pesquisador. A tese, orientada pelo docente do IA José Roberto Zan, aborda um recorte geográfico temporal específico: ele não descreve a geografia do boi e as implicações mitológicas. “O surgimento do culto do boi acontece no mesmo período em que passa a dominar o ciclo agrário no Oriente Próximo e a relação do chifre do animal com o quarto crescente lunar, bem como com o arquétipo de morte e ressurreição”, situa. O pesquisador cita Câmara Cascudo, segundo quem o bumba-meu-boi tornou-se o primeiro auto com caráter nacional, na medida em que assimilou, reconfigurou e transformou heranças das diversas matrizes do mosaico étnico da nação brasileira, gestada a partir de 1500. “Apenas posso suspeitar que o complexo mítico do boi, em alguma de suas variantes, já era conhecido pelos contingentes de mão de obra escrava da África, importada para o Brasil, bem como pelos portugueses que para cá migraram”, declarou o folclorista.

NA TRILHA DO BOI Rui realizou o trabalho de campo em Parintins e em Manaus. Esteve em dois festivais na ilha e presenciou a Alvorada do Garantido, quando o boi sai em cortejo na noite de 30 de abril para o primeiro de

maio, inaugurando a temporada anual do boi em Parintins. “Entrevistei intervenientes no processo de elaboração do boi, o que foi muito elucidativo e enriquecedor para a minha pesquisa”, expõe. Em Manaus, ele entrevistou mestres de boi-bumbá da vertente tradicional da representação do auto e músicos que criam as sonoridades da festa, compositores de toadas e mediadores culturais que constroem a narrativa-mestra do Festival Folclórico de Parintins. O doutorando observou como o evento era planejado e como captava a participação popular. “Se por um lado, os mediadores culturais ‘inventavam uma tradição’, por outro, a participação popular legitimava o aspecto folclórico da festa, emprestando-lhe sua identidade primária”. Essa circularidade, entre a invenção de uma tradição e a satisfação de uma necessidade sentida, ressalta ele, consumava o gozo das pequenas diferenças – o caráter afirmativo do senso de identidade regional que se manifesta no evento. A leitura de trabalhos anteriores foi enriquecedora para Rui, embora não houvesse nenhuma pesquisa no campo da etnomusicologia. Mas esses trabalhos não descortinaram um aspecto vital para a compreensão do boi-bumbá parintinense contemporâneo, que é a total obliteração do arquétipo morte e renascimento do boi. De outra via, o músico notou que nenhum dos trabalhos se referia ao significado e ao papel da celebração folclórica, que foram inseridos na reconfiguração estética do festival a partir da década de 1980. E, por fim, há que se destacar a inserção da figura inventada do “índio” no Festival, o que tem por finalidade relacionar o folguedo com uma suposta ancestralidade “indígena”. Os dois protótipos da regionalidade, revela, são o índio, que prefigura a ancestralidade do amazonense, e o caboclo, que é uma construção simbólica urbana do homem que, ao inserir em seu universo aspectos da civilização trazida pelo europeu, concretiza o caminho entre o índio pré-civilizado e a civilização. “Essas são as personagens exaltadas no folguedo que pretendem conferir um sentido de identidade ao evento”, repara. As toadas analisadas em trabalho de campo foram obtidas no próprio festival ou com mestres de boi-bumbá, em Manaus. Outras toadas de cunho mais “tradicional”, como as de Lindolfo Monte Verde, fundador do Garantido, foram transcritas de um CD de toadeiros parintinenses, gravado em

2010. Tais composições foram selecionadas por esses toadeiros a partir da tradição oral popular de Parintins e retrabalhadas para a gravação. “As toadas de cunho mais pop (Vermelho, Tic,Tic,Tac, Canto da Mata) foram transcritas por mim a partir de gravações de apresentações ao vivo, ou de programas de auditório, obtidas no YouTube, e sua análise tem em vista comparar as mudanças operadas no gênero, como parte de um processo de afirmação identitária”, esclarece. “Assim, ao colocar em perspectiva as diferentes toadas, abrangendo um período de cerca de 50 anos, é possível identificar algumas das mais significativas alterações pelas quais o gênero passou.” A pesquisa começou em agosto de 2006 com a coleta de textos sobre o assunto, antes mesmo de Rui ter ingressado no doutorado, em 2010. As toadas analisadas têm uma abrangência de mais de meio século. “O estudo dos aspectos relacionados ao boi levou-me até a Pré-História”, assinala. Uma pesquisa em etnomusicologia é bastante abrangente. Por isso, o pesquisador se debruçou sobre a história do Norte, do Brasil-Colônia, do período da Independência e sobre aspectos relacionados com antropologia cultural, mitologia, sociologia e a história do Amazonas em particular. Rui situa que esse estudo procura ajudar a entender por que a ressignificação do Festival Folclórico de Parintins tem como finalidade gerar um sentido de afirmação identitária regional. O processo agrega um trabalho conjunto entre os que formulam a festa, o poder público, quem a organiza e os brincantes, que dão cor e movimento ao folguedo. “Passei a enxergar, sob a ótica de pesquisador, um tema que se desenrolava numa ilha no meio do Rio Amazonas. Sem nenhuma intenção de cunho essencialista, eu percebia que ressoava algo que nos remetia a um passado muito distante, na história comum da humanidade.”

Publicação Tese: “Parintins: boi-bumbá e afirmação identitária. Discurso, representações e identidade no Amazonas contemporâneo” Autor: Rui Manuel Sénico Carvalho Orientador: José Roberto Zan Unidade: Instituto de Artes (IA)


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