Ju 612

Page 1

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014 - ANO XXVIII - Nº 612 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

O mundo para todos

6 e7

A Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) lançou este ano seis editais de mobilidade internacional, contemplando pela primeira vez funcionários da Unicamp, além de professores e alunos dos colégios técnicos mantidos pela Universidade. Foram investidos cerca de R$ 2 milhões nas chamadas. “Não podemos pensar em internacionalização se esse conceito não for transformado em cultura e se não houver o envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade universitária”, afirma o reitor José Tadeu Jorge.

Ilustração: Luis Paulo Silva

Fotos: Divulgação

2

O bioindicador que vem das abelhas

8

Mitos e verdades sobre a farmácia da vovó

3

Técnica identifica lesão do melanoma

9

Impactos da divulgação científica na internet

4

Para melhorar a vida de amputados

12

Foto: Reprodução

A geografia nas obras de Rugendas


2

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

Um bioindicador produzido pelas abelhas Fotos: Divulgação

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisa desenvolvida para a tese de doutorado da farmacêutica bioquímica Renata Cabrera de Oliveira comprovou a viabilidade do uso do pólen apícola como bioindicador de contaminação ambiental por agrotóxicos. O estudo, orientado pela professora Susanne Rath, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, e coorientado pela pesquisadora Sonia Cláudia do Nascimento Queiroz, da Embrapa Meio Ambiente, constatou a presença de defensivos em sete de 21 amostras coletadas em apiários comerciais da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. “Se as substâncias estão no pólen, é sinal de que estão também no ambiente. Isso revela a necessidade de maior controle em torno do uso desses produtos”, afirma a autora do trabalho. O estudo conduzido por Renata foi dividido em três partes. Inicialmente, ela coletou, entre março de 2012 e maio de 2013, 145 amostras de pólen de um apiário experimental instalado na área da Embrapa Meio Ambiente, localizada na cidade de Jaguariúna, vizinha a Campinas. Nas imediações do apiário, a pesquisadora espalhou amostradores passivos, espécie de esponjas que retêm contaminantes do ambiente, a fim de estabelecer uma relação quantitativa entre a concentração encontrada nos amostradores e os níveis de contaminação das amostras de pólen apícola. Ao analisar as amostras de pólen e as esponjas quanto à presença de 26 substâncias, a farmacêutica detectou a presença em quantidade reduzida de dois agrotóxicos, bioletrina e pendimetalina, ainda que ela tivesse conhecimento prévio do uso de diferentes defensivos por parte de agricultores da vizinhança. A autora da tese explica que o resultado provavelmente se deveu ao fato de o apiário estar situado dentro de uma área de microrreserva ambiental, que funcionou como barreira de proteção contra os defensivos agrícolas. “Se o apiário estivesse localizado em um ponto distante da microrreserva, provavelmente o resultado teria sido outro”, infere Renata. A segunda parte da pesquisa consistiu em analisar amostras de pólen de apiários comerciais de Ribeirão Preto, importante centro produtor de mel do Estado de São Paulo, onde a pesquisadora encontrou um quadro completamente diferente do anterior. Naquele município, conforme a autora da tese, já havia o registro de mortes excessivas de abelhas, e os apicultores se mostravam bastante preocupados com a situação. Houve caso de produtor que perdeu uma colmeia inteira, provavelmente por causa da contaminação por agrotóxicos. Lá, Renata coletou 21 amostras, sendo que em sete delas foram encontradas presenças significativas dos agrotóxicos alacloro, aldrin, bioaletrina, endossulfan alfa, fempropatrim, permetrina e trifluralina, alguns deles pertencentes à classe dos organoclorados, que são potencialmente cancerígenos e cujo uso é proibido pela legislação. Segundo Renata, a análise também identificou a presença de piretroides em algumas amostras, substâncias muito utilizadas em inseticidas domésticos. “Como no Brasil não há legislação que estabeleça limites para a presença desses contaminantes no pólen apícola, nós tivemos que extrapolar os dados com base no que é determinado para outros alimentos. Em uma das amostras nós identificamos a presença de uma quantidade de agrotóxicos dez vezes acima do permitido

Pesquisa do IQ constata que pólen apícola fornece evidências de contaminação do ambiente por agrotóxicos para alimentos. Isso é extremamente preocupante, pois oferece pistas de que o mel também pode estar contaminado. Sem falar que o pólen apícola tem sido muito utilizado como alimento, podendo ser comprado em qualquer loja de produtos naturais. Por causa da falta de controle e fiscalização, há uma boa chance de as pessoas estarem ingerindo esses produtos apícolas contaminados”, alerta. Para que uma quantidade tão expressiva de agrotóxicos atinja as colmeias, prossegue Renata, é necessário que a concentração dessas substâncias no ambiente seja muito elevada. “A pesquisa não fez essa correlação quantitativa, visto que não foi possível utilizar os amostradores passivos em Ribeirão Preto. No entanto, o estudo fornece uma forte evidência de que está havendo um uso indiscriminado de defensivos agrícolas por parte dos agricultores”, considera. A pesquisadora lembra que, nesse caso, a fonte de contaminação está próxima dos apiários, pois as abelhas viajam, em média, de dois a três quilômetros por dia em busca de alimento. Em casos excepcionais, esse deslocamento pode chegar a sete quilômetros. Além de comprovar que o pólen apícola é viável como bioindicador de contaminação ambiental por agrotóxicos, o estudo demonstrou ainda que o método pode ser aplicado a qualquer apiário ou mesmo adaptado para a análise de outros tipos de amostras, como água ou outros alimentos. A terceira e última etapa da pesquisa desenvolvida por Renata consistiu na avaliação da afinidade de dois agrotóxicos (aldrin e malation) com o pólen apícola. A pesquisadora

O estudo analisou pólens coletados em apiários comerciais de Ribeirão Preto (fotos): das 21 amostras analisadas, sete apresentaram presença significativa dos agrotóxicos alacloro, aldrin, bioaletrina, endossulfan alfa, fempropatrim, permetrina e trifluralina

explica que o pólen é composto por 20% de proteína e uma quantidade pequena de gordura, propriedades que fazem com que tenha afinidade com certas substâncias, mas não com outras. “Nós fizemos um estudo de sorção, que normalmente é aplicado para avaliar o comportamento das substâncias nos solos. Não encontramos na literatura nenhum protocolo para o estudo de sorção de substâncias químicas em alimentos. O que constatamos foi que o aldrin, que é três vezes mais apolar que o malation, demonstrou uma afinidade também três vezes superior a este. Ainda assim, o malation também demonstrou grande afinidade com o pólen”, informa.

Renata adianta que pretende dar continuidade à pesquisa durante o pós-doutorado que desenvolve no próprio Instituto de Química. Um dos objetivos é avaliar a afinidade de outras substâncias pelo pólen apícola e propor um modelo matemático que permita estimar a afinidade dos agrotóxicos pelo pólen. A expectativa de Renata, que contou com bolsa de estudos concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), é que os dados gerados pela sua pesquisa sirvam à formulação de políticas públicas que exerçam maior controle sobre a contaminação ambiental e de alimentos por agrotóxicos. Foto: Antoninho Perri

Publicação Tese: “Avaliação do potencial do pólen apícola como bioindicador de contaminação ambiental por agrotóxicos” Autora: Renata Cabrera de Oliveira Orientadora: Susanne Rath Unidade: Instituto de Química (IQ) Financiamento: Fapesp

A farmacêutica bioquímica Renata Cabrera de Oliveira, autora da tese: se os agrotóxicos estão presentes no pólen, é sinal de que também estão no ambiente

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Raquel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Diana Melo Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


3

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014 MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

quipe coordenada pelo professor Eduardo Valle, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, está criando soluções originais para a triagem automática do melanoma, a forma mais perniciosa de câncer de pele. Ao contrário de muitos grupos, que utilizam métodos mais conservadores de representar o conhecimento médico, os pesquisadores da FEEC estão empregando técnicas agressivas de reconhecimento de padrões em imagens, por meio do chamado aprendizado de máquina. O objetivo da pesquisa é facilitar a identificação precoce das lesões, melhorando dessa forma o prognóstico da doença. Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), órgão do Ministério da Saúde, o Brasil registrou cerca de 6 mil casos de melanoma em 2012. Dois anos antes, foram contabilizadas 1,5 mil mortes. Assim como em outros tipos de câncer, no caso do melanoma tempo é sinônimo de vida. Embora seja muito agressivo, esse tipo de tumor também está entre os mais curáveis, desde que seja diagnosticado precocemente. Entretanto, as chances diminuem rapidamente com o passar do tempo devido à tendência da doença de se espalhar para outros órgãos do corpo. “Justamente por isso a triagem automática se apresenta como uma ferramenta importante, principalmente em comunidades isoladas ou socialmente desfavorecidas, onde a presença permanente de um dermatologista é mais difícil” explica o professor Valle. Segundo ele, se cada paciente tivesse que passar por um atendimento detalhado, a fila seria enorme e os custos, inexequíveis. “Submeter os pacientes ao processo de triagem automática e encaminhar ao dermatologista somente aqueles que realmente precisam de tratamento especializado permite o atendimento de um grande número de pessoas, com um número limitado de profissionais. É importante destacar que essa técnica não tem a pretensão de substituir o médico, mas sim de auxiliá-lo na tomada de decisões”, acrescenta o docente da FEEC. Chegar a uma ferramenta que ofereça tal suporte à medicina, reconhece o professor Valle, não é uma tarefa trivial. A missão requer a superação de desafios altamente complexos. Um deles diz respeito à capacidade da técnica de distinguir, por meio do reconhecimento de padrões de imagens, uma lesão cancerígena de uma não cancerígena, tarefa que não é fácil nem mesmo para um olho humano treinado. A literatura científica registra que os pesquisadores que adotam métodos tidos como convencionais procuram mapear, de forma muito direta, o conhecimento médico em cima do conhecimento da máquina. Dito de forma simplificada, o diagnóstico do melanoma é feito principalmente com base no famoso critério ABCD sobre a lesão: A para Assimetria, B para irregularidade da Borda, C para Cor, e D para Diâmetro. “Técnicas convencionais tentam mapear diretamente esses critérios para a máquina, usando processamento de imagem para detectar a borda e identificar se ela é irregular ou não. Entretanto, o que temos aprendido ao longo do tempo é que essas técnicas calcadas na forma como o ser humano faz o diagnóstico não são as que têm a melhor acurácia. Isso acontece porque elas não usam as melhores potencialidades da máquina. Ao forçar demais o raciocínio humano em cima da máquina, nós não aproveitamos as maiores características desta, entre elas a capacidade de olhar muitos detalhes de forma rápida e em paralelo”, diz Valle. São justamente esses atributos da máquina que a equipe da FEEC procura explorar ao máximo. “A nossa abordagem não tenta mapear explicitamente os procedimentos médicos. O que estamos fazendo é usar técnicas agressivas de reconhecimento de padrões de imagens. Isso é feito por meio do chamado aprendizado da máquina. A partir de um conjunto de imagens anotadas, no qual o médico aponta o que é e o que não é melanoma, a máquina faz o reconhecimento e ela própria decide o que deve e o que não deve merecer atenção. Ou seja, a máquina reconhece determinados padrões de textura, cores e formas que caracterizam o melanoma. Os resultados que temos obtidos são compatíveis com o estado da arte desse tipo de pesquisa”, assegura Valle. Em termos percentuais, a literatura aponta que as principais técnicas de reconhecimento de imagens aplicadas ao diagnóstico do melanoma alcançam uma precisão que varia de 80% a 90%. Há muita incerteza, tra-

Agressividade do bem Pesquisadores da FEEC utilizam técnicas agressivas de reconhecimento de padrões de imagem para identificar o melanoma Foto: Divulgação

A triagem automática do melanoma é uma tarefa desafiadora pois a diferença entre a lesão cancerosa (linha superior) e a não cancerosa (linha inferior) muitas vezes é sutil

zida pela falta de preocupação com a reprodutibilidade dos resultados alcançados por diferentes técnicas de triagem automática da doença. “Cada pesquisador utiliza uma base de dados distinta, sendo que as bases variam enormemente em dificuldade e tamanho. Além disso, os pesquisadores também utilizam técnicas diferentes e que não são descritas detalhadamente, o que dificulta a sua reprodutibilidade. Ademais, o programa de computador gerado na pesquisa raramente é divulgado”, elenca o professor Valle. De acordo com ele, os índices de acurácia obtidos pela sua equipe estão acima dos 90%. Tão importante quanto ampliar a precisão da técnica, entende o pesquisador, é garantir a reprodutibilidade dela. “Nós trabalhamos como uma base de dados alemã, que não é nossa, mas que estamos negociando para que se torne pública. Quanto ao código do programa, ele é nosso e já está no ar para que os interessados tenham acesso”, informa. Questionado sobre quais as maiores dificuldades enfrentadas para fazer com que a pesquisa chegasse ao patamar atual, Valle responde que o maior problema foi obter uma base de dados com as anotações médicas. Ele conta que foram meses de trabalho até conseguir as informações, graças à intermediação de uma pós-doutoranda do seu grupo e à generosidade de um pesquisador alemão, que cedeu o material. Posteriormente, a equipe conseguiu comprar uma segunda base de dados anotada, que pertence a uma editora italiana. Esta conta com mil imagens. “Outra dificuldade é estabelecer cooperação com o pessoal da área médica, que é indispensável nesse tipo de estudo. O médico não somente ajuda a obter e

a anotar dados, mas também torna a interpretação muito mais fina. Esse profissional traz novos conhecimentos e novas visões que os recursos computacionais não conseguem proporcionar”, pormenoriza o professor Valle. Após várias tentativas, prossegue o docente, sua equipe finalmente obteve apoio da médica Flávia Bittencourt, docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi a partir dessa colaboração que o estudo sofreu um significativo impulso. O professor Valle observa que embora o objetivo da pesquisa seja aprimorar a acurácia da técnica, algumas medidas derivativas também merecem atenção. O pesquisador se refere aos resultados “falso positivo” e “falso negativo” proporcionados pela triagem automática. O primeiro não é tão grave, pois é descartado assim que o paciente é examinado de forma detalhada pelo médico. Já o segundo pode trazer sérias implicações, dado que o portador do melanoma não será encaminhado para atendimento na ocasião, o que pode comprometer o diagnóstico e o tratamento precoces. “Existe uma série de medidas associadas que permite verificar se o método está ou não funcionando. Esse protocolo é importante e deve ser seguido”, considera. A despeito dos avanços obtidos, o docente da FEEC avalia que ainda há espaço para aprimorar a técnica. Valle diz que o objetivo não é chegar aos 100% de acerto, mas sim errar tanto quando o médico. “A pesquisa acaba quando a técnica alcançar uma qualidade igual à das anotações médicas, visto que estas não são perfeitas. Elas são feitas por seres humanos, que obviamente são falíveis. Alguns trabalhos da literatura estudam quanto os médicos erram. Embora esse índi-

ce ainda não seja claro, nós estamos tentando determiná-lo. Digamos, por hipótese, que o médico acerte 98% dos diagnósticos. Então, nossa meta será chegar aos mesmos 98%”, esclarece o pesquisador. Valle enfatiza que sua equipe, formada pela pesquisadora Sandra Avila (pós-doutorado), e pelos estudantes Michel Fornalciali (mestrado), Micael Carvalho (mestrado), Ivan Petrin (graduação) e Tiago Ferreira (graduação), trabalha com a perspectiva de que a técnica em questão se transforme futuramente em um produto que possa trazer benefícios à sociedade. “É difícil projetar quando isso poderá acontecer. Como se trata de uma inovação na área da saúde, isso envolve uma série de testes rigorosos, que precisam seguir protocolos experimentais. Os testes clínicos que antecedem o produto, por exemplo, são extensos. De todo modo, nossa expectativa é de que as pessoas possam se beneficiar da nossa pesquisa o mais breve possível”. O docente da FEEC assinala, por último, que a pesquisa em torno da triagem automática tem sido desenvolvida no âmbito do laboratório intitulado Reasoning for Complex Data (Recod), do qual participam outros quatro docentes além dele: Anderson Rocha, Jacques Wainer, Ricardo Torres e Siome Goldenstein. O estudo contra com apoios da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Samsung Eletrônica da Amazônia, Microsoft Azure, Amazon Web Services e Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad). Foto: Antonio Scarpinetti

O professor Eduardo Valle (2º da esq. p/ dir.), acompanhado de integrantes de sua equipe: “Submeter os pacientes ao processo de triagem automática e encaminhar ao dermatologista somente aqueles que realmente precisam de tratamento especializado permite o atendimento de um grande número de pessoas, com um número limitado de profissionais”


4

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

Técnicas cirúrgicas resultam em cotos que melhoram

qualidade de vida de amputado Foto: Divulgação

Foto: Antonio Scarpinetti

Procedimentos pioneiros no país têm permitido, a pacientes, protetização mais fácil, rápida e barata SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

uas pesquisas de doutorado defendidas recentemente na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp relatam o desenvolvimento de técnicas pioneiras no Brasil que têm permitido a preservação, em pacientes amputados, de cotos mais funcionais e de alto desempenho. Os procedimentos utilizam técnicas cirúrgicas elaboradas para otimizar a parte do membro resultante da amputação. Direcionados a membros inferiores, os métodos vêm sendo aplicados com êxito em pacientes do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, sob a coordenação do cirurgião ortopedista Bruno Livani, docente colaborador do Programa de Pós-Graduação da FCM e orientador das pesquisas. Os resultados, conforme o médico da Unicamp, são cotos “desenhados” sob medida, mais fortes e resistentes ao teste do tempo, não havendo a necessidade de múltiplos procedimentos cirúrgicos para correções de próteses. A técnica também tem permitido aos pacientes cotos com capacidades de apoio terminal sem dor, protetização mais fácil, rápida e barata, além de resultados funcionais superiores aos métodos convencionais. “Hoje podemos considerar que, em termos de técnica cirúrgica aplicada à amputação, a Unicamp está num patamar internacional, ocupando posição de vanguarda nesta área. O que nos limita - na verdade, isso não é um limite da Unicamp, mas um limite do país - é a questão da protetização dos pacientes mais carentes, ainda por conta dos custos elevados”, analisa Bruno Livani. O êxito e pioneirismo na área se devem, de acordo com ele, ao fato de os procedimentos desenvolvidos na Unicamp considerarem a amputação como uma técnica cirúrgica elaborada, permitindo evolução e qualidade de vida dos pacientes. A amputação, tradicionalmente vista como um procedimento de mutilação, passa a ser considerada como uma técnica de reconstrução, compara. “A amputação em geral é considerada como um procedimento de fracasso. Parte dos ortopedistas considera que, quando nada deu certo, parte-se para a amputação. E muitas vezes, não é dada a devida atenção para este procedimento. Um exemplo é que ela fica sob responsabilidade de médicos menos experientes. Não raro, a amputação é feita por residentes. E, às vezes, um residente aprendendo com outro residente mais velho. O resultado são cotos de baixa qualidade, o que compromete toda a qualidade de vida destes pacientes ao longo da sua evolução”, expõe Bruno Livani.

DOUTORADOS Os estudos que relatam as novas técnicas foram desenvolvidos pelo fisioterapeuta José André Carvalho e pelo cirurgião ortopédico Maurício Leal Dias Mongon, ambos orientados por Bruno Livani. As pesquisas contaram com a participação do ortopedista e docente da Unicamp Willian Dias Belangero, coordenador da graduação de Ortopedia e Traumatologia da FCM; e do especialista Michael Davitt, responsável pela Unidade de Órtese e Prótese do HC.

O cirurgião ortopedista Bruno Livani, orientador das pesquisas: “A amputação em geral é considerada como um procedimento de fracasso”

O orientador dos trabalhos explica que, em uma técnica convencional utilizada para a amputação, após o corte do membro, o fechamento da musculatura e da pele é feito diretamente nas extremidades ósseas. “Ao longo do tempo, isso faz com que esta camada de revestimento de partes moles fique um pouco mais solta e muitas vezes a ponta deste osso começa a crescer e formar espículas ósseas. Isso requer várias revisões cirúrgicas ao longo dos anos.” As cirurgias de adequação são típicas em crianças e jovens, que a cada dois anos têm que ser submetidos a este tipo de procedimento, acrescenta. “Temos trabalhado num revestimento ósseo na ponta do coto. São várias técnicas, por meio das quais fazemos o corte do membro, mas preservando uma parte de osso nutrida, com vaso e pele junto, e fixamos na ponta, de forma que esse osso consolide. Portanto, não há mais essa questão de mobilidade do osso, ele fica consolidado na parte distal e não há mais a formação de espículas, evitando os múltiplos procedimentos secundários”, revela. Além disso, conforme o ortopedista, nas amputações clássicas, o indivíduo não conse-

Paciente com prótese: métodos vêm sendo aplicados com êxito no Hospital de Clínicas da Unicamp

gue apoiar na ponta do coto porque ele tem dor residual. “Isso torna necessário a elaboração de próteses com descargas em outros pontos. Neste tipo de amputação que nós fazemos, as próteses permitem o apoio terminal porque o paciente faz de forma indolor.” Bruno Livani informa ainda que a escolha do nível de amputação funcional deve ser discutida amplamente para que a intervenção cirúrgica seja única e os melhores resultados sejam alcançados com a reabilitação e protetização. Entre as técnicas cirúrgicas específicas que apresentam vantagens fisiológicas em relação aos procedimentos clássicos, estão a osteomioplastia, ou ponte óssea, e a fusão do calcâneo à tíbia e amputações transtibiais curtas, permitindo a preservação da articulação do joelho. Embora possam ser aplicadas em qualquer tipo de paciente, as técnicas apresentam melhores resultados em crianças, adultos jovens, atletas de alto rendimento e militares. “Eles obtêm um maior benefício porque é um coto de maior endurance”, pontua o médico. Os resultados das teses defendidas por José André Carvalho e Maurício Leal Dias Mongon foram publicados nos periódicos

Publicações Cortical tibial osteoperiosteal flap technique to achieve bony bridge in transtibial amputation: experience in nine adult patients. Mongon ML, Piva FA, Mistro Neto S, Carvalho JA, Belangero WD, Livani B. Strategies Trauma Limb Reconstr. 2013 Apr;8(1):37-42. doi: 10.1007/s11751013-0152-0. Epub 2013 Jan 31. A case series featuring extremely short below-knee stumps. Carvalho JA, Mongon MD, Belangero WD, Livani B. Prosthet Orthot Int. 2012 Jun;36(2):236-8. doi: 10.1177/0309364611430535. Epub 2011 Dec 14. Sensate composite calcaneal flap in leg amputation: a full terminal weight-bearing surface-experience in eight adult patients. Livani B, Castro G, Filho JR, Morgatho TR, Mongon ML, Belangero WD, Davitt M, Carvalho JA. Strategies Trauma Limb Reconstr. 2011 Aug;6(2):916. doi: 10.1007/s11751-011-0118-z. Epub 2011 Jul 26. Pedicled sensate composite calcaneal flap to achieve full weight-bearing surface in midshaft leg amputations: case report. Liva-

ni B, de Castro GF, Filho JR, Belangero WD, Ramos TM, Mongon M. J Reconstr Microsurg. 2011 Jan;27(1):63-6. doi: 10.1055/s-0030-1267831. Epub 2010 Oct 13.

Teses Título: “Vantagens na protetização de amputados transtibiais submetidos a técnicas cirúrgicas não convencionais” Autor: José André Carvalho Orientador: Bruno Livani Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Título: “Retalho osteoperiosteal pediculado para amputações tibiais: descrição de técnica e apresentação de nove casos” Autor: Maurício Leal Dias Mongon Orientador: Bruno Livani Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

internacionais Prosthetics and Orthotics International, Strategies in Trauma and Limb Reconstruction e Journal of Reconstructive Microsurgery, todos com indexação Pubmed. As teses são intituladas, respectivamente, “Vantagens na protetização de amputados transtibiais submetidos a técnicas cirúrgicas não convencionais e “Retalho osteoperiosteal pediculado para amputações tibiais: descrição de técnica e apresentação de nove casos”. Os trabalhos contaram com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

OCORRÊNCIAS

Conforme os estudos, as amputações podem ocorrer por diversas causas, como doenças vasculares e neuropáticas, doenças tumorais, traumas, infecções e má formação das extremidades. Entre as doenças neuropáticas, o diabetes ainda é o responsável pelo maior numero de amputação dos membros inferiores no mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorram duas amputações por minuto relacionadas a diabetes e que no ano de 2025 haverá mais de 350 milhões de portadores da doença. Destes, pelo menos 25% vão ter algum tipo de comprometimento significativo nos seus pés. Atualmente, com o número crescente de diabéticos, a amputação causada pela neuropatia diabética passou também a acometer pessoas mais jovens com 30 ou 40 anos de vida. As doenças vasculares com obstrução arterial também são responsáveis por grande número de amputações acometendo pessoas com faixa etária mais elevada. Já os tumores são a segunda causa de amputação de membros inferiores em crianças, ficando atrás das amputações congênitas. Os traumas por acidentes, sobretudo envolvendo jovens motociclistas, também respondem por grande parte das amputações. “A amputação não é o fim da vida de um indivíduo. Ela pode, inclusive, representar o começo de uma nova etapa. Muitos dos nossos pacientes eram, antes do trauma, indivíduos sedentários, que apresentavam algum tipo de vício. Depois da amputação, encontraram uma nova motivação. Alguns, inclusive, fazem atividades esportivas adaptadas e paraolímpicas. Portanto, tudo depende de como o indivíduo encara isso. Cabe ao médico proporcionar o máximo de desempenho possível para esse indivíduo porque é muito difícil fazer uma reoperação. A amputação primária é a maior chance que o paciente tem de se reintegrar a sociedade.”


5

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

Para baratear o bioetanol Foto: Divulgação

Modelagem matemática descreve o processo de produção de enzimas a partir de fungo isolado na Amazônia LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

m gargalo nas pesquisas brasileiras para a produção de etanol a partir do bagaço de cana-de-açúcar (etanol de segunda geração) é o alto custo das enzimas, necessárias para decompor em açúcares este e outros materiais lignocelulósicos abundantes no país. Neste processo chamado de hidrólise enzimática são usadas enzimas que “quebram” o bagaço para acessar e se alimentar do açúcar. Estas enzimas são produzidas por microrganismos, neste caso, o Trichoderma harzianum, fungo selvagem isolado na Amazônia pela Embrapa Instrumentação (São Carlos), que possui um convênio de desenvolvimento tecnológico com o CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol). O Trichoderma harzianum é o foco da dissertação de mestrado de Lucas Gelain, orientada pela professora Aline Carvalho da Costa, na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, e coorientada pelo pesquisador doutor José Geraldo da Cruz Pradella, no CTBE. Aline Costa explica que o trabalho do aluno consiste na modelagem matemática para descrever o processo de produção de enzimas por este fungo. “O Trichoderma harzianum se alimenta de material lignocelulósico da natureza, que contém celulose, e por isso damos a ele bagaço de cana como fonte de carbono para que produza enzimas celulolíticas. E nós usamos essas enzimas para hidrolisar o bagaço e produzir açúcar, mas para outra finalidade, que é o bioetanol.” De acordo com Lucas Gelain, a modelagem matemática e as simulações são importantes ferramentas para avaliar o processo de fermentação e elaborar estratégias para a sua otimização. “Queríamos relacionar a produção de enzimas com o crescimento celular e o consumo do bagaço. O maior problema neste trabalho foi obter os dados experimentais a partir de um material que é insolúvel e que no processo de fermentação submerso dificulta a estimação, por exemplo, da concentração de células. Tivemos que buscar alguns métodos indiretos para estabelecer essas estimativas. A parte experimental foi desenvolvida no CTBE.” A professora da FEQ esclarece que na fermentação são utilizados um microrganismo (no caso, o fungo) e um substrato geralmente solúvel, como por exemplo, o caldo de cana da produção de etanol de primeira geração. “Nesse substrato é fácil determinar a concentração de células: uma amostra é centrifugada, secada até a massa constante e o que sobra é célula; já no segundo caso, não sobram apenas células, mas também bagaço,

Cultivo do fungo filamentoso Trichoderma harzianum contendo bagaço de cana-de-açúcar pré-tratado

e não sabemos em quais proporções. Esta foi a parte mais difícil da pesquisa e que ainda não está completamente resolvida. Temos uma estimativa, que julgamos satisfatória, mas o aluno vai aprofundar a investigação em seu doutorado.” O autor da dissertação também realizou testes com uma sonda de capacitância para estimação online da concentração de células. O equipamento adquirido pelo CTBE mostrou-se uma alternativa interessante em meio solúvel, mas sofreu interferências na associação com o bagaço de cana, o que impediu seu uso para uma análise quantitativa. “Por isso, optamos por um método que, embora apresente um erro em relação à composição do bagaço, é mais preciso do que a sonda. Agora, no doutorado, vamos dar um passo atrás e usar um material mais simples, celulose pura microcristalina, buscando parâmetros mais precisos.” Lucas Gelain sugere que sejam realizadas alterações nos modelos e novos ensaios com concentrações diferentes de substrato para melhorar o ajuste e aumentar a confiabilidade dos modelos. “Para estimar os parâmetros e descrevermos bem o sistema, fizemos experimentos variando a concentração inicial do bagaço e acompanhando a cinética do processo. Os modelos descreveram satisfatoriamente o processo, mas é claro que ainda falta melhorar alguns aspectos. Eles também permitem comparar microrganismos para escolher aquele de maior potencial.” O objetivo do aluno no doutorado, traçado juntamente com seus orientadores, é desenvolver um controle ótimo de alimentação, adotando a chamada batelada alimentada, ao invés de adicionar todos os nutrientes de

uma vez no reator, como se fez nesta dissertação de mestrado. Aline Costa observa que, embora o fungo precise do bagaço para produzir as enzimas, o excesso do nutriente pode inibi-lo por um mecanismo chamado de repressão catabólica. “Na batelada alimentada, o fungo vai consumindo o substrato aos poucos e se desenvolve muito melhor e rapidamente. A pergunta difícil de responder é em que velocidade alimentá-lo. Por isso, precisamos de um modelo que permita fazer esse cálculo matematicamente.”

OTIMIZANDO A PRODUÇÃO Segundo a professora da FEQ, obtidos os modelos, a proposta de doutorado é que o aluno encontre uma forma de otimizar a produção de enzimas barateando seu custo a partir da mesma quantidade de bagaço. “Para produzir etanol celulósico ainda dependemos de empresas estrangeiras que vendem as enzimas a um preço ainda mais caro. Um objetivo do CTBE é alcançar a chamada produção ‘on-site’, dentro da própria usina de etanol de segunda geração – e é aí que se encaixa a tese do aluno.” Em sua linha de pesquisa, Aline Costa trabalha com todas as fases do processo de etanol de segunda geração: produção de enzimas, pré-tratamento, hidrólise e fermentação. “O bagaço de cana é constituído basicamente de celulose, hemiceluloses e lignina. Quando hidrolisamos a glicose para transformá-la em etanol, ela é consumida pela Saccharomyces cerevisiae, uma levedura usada em todas as usinas – este processo é mais fácil. Também estou começando a trabalhar com as pentoses (açúcares de cinco carbonos separados das hemiceluloses), um processo menos conhecido.”

Fotos: Antonio Scarpinetti

A docente informa que seu trabalho é bastante próximo ao do CTBE, onde é pesquisadora associada, assim como muitos da Unicamp e de outras instituições. “Temos um contrato de oito horas (um dia por semana), via Universidade, que me repassa parte do valor da consultoria. O CTBE é um lugar bem interessante para fazer pesquisa, pois os alunos têm estreito contato com a indústria e lidam com problemas reais, experiência essencial na engenharia química. Contamos com equipamentos e plantas pilotos em escala mini-industrial, em espaços que não possuímos na Unicamp.” Conforme Lucas Gelain, é possível fazer uma simulação de toda a planta da produção de etanol de segunda geração, havendo blocos de pré-tratamento, hidrólise, fermentação e separação. “O objetivo do CTBE é justamente maximizar a produção de bioetanol e diminuir os custos e também o consumo de energia. Com nosso modelo implementado no bloco de produção de enzimas, tornamos a simulação na planta ainda mais real.” Aline Costa explica que se trata da chamada biorrefinaria virtual, onde são usados todos os modelos desenvolvidos e também testadas novas rotas. “A produção de etanol de segunda geração é complicada porque tudo deve estar integrado: alguém estudando a produção de enzimas só teria a visão do próprio processo, sem ver o que vem antes e que vai influenciar no seu trabalho, nem o que vem depois. Isso só se consegue colocando todos os modelos juntos na biorrefinaria virtual. E, se este fungo mostrar potencial e for indicado para uso no processo industrial, o modelo será fundamental: sem ele, a implantação vai depender de testes na planta (que são caros) e de gastos com reagente e horahomem, enquanto a modelagem matemática permite inúmeras simulações simplesmente teclando no computador.”

EXCESSO DE BAGAÇO A hidrólise enzimática de materiais lignocelulósicos oferece uma ótima alternativa para a produção de matéria-prima para vários produtos comerciais além do bioetanol, como ácidos orgânicos e outros produtos químicos. No caso da cana, cada tonelada processada para produzir bioetanol ou açúcar gera aproximadamente 0,3 tonelada de bagaço, que na usina é empregada para gerar energia térmica e elétrica – ainda a destinação mais viável. No entanto, vêm sendo estudados processos para minimizar a demanda de energia nestas usinas, o que vai resultar em excesso de bagaço suficiente para proporcionar mais combustível sem aumento da área plantada de cana. A professora Aline Costa afirma que a tecnologia do etanol de segunda geração já está dominada e que há empresas no Brasil e no exterior iniciando operações comerciais. “Esse etanol ainda não está nas bombas e imagino que ainda existam vários problemas a resolver. Sabemos que o CTBE, por exemplo, tem condições de produzi-lo, mas não ainda em grande escala e a preço competitivo. Outras empresas, porém, já se dizem capazes disso, inclusive a um custo menor que o de etanol de primeira geração, embora eu desconheça esses dados.” José Geraldo Pradella, coorientador da dissertação, acrescenta que um dos maiores gargalos econômicos na produção do etanol de segunda geração é justamente o preço das enzimas. “Linhagens mais produtivas deste microrganismo, menos sensíveis à inibição pelo substrato e mais aptas a produzir enzimas, estão sendo pesquisadas no CTBE, sendo que a modelagem matemática a ser desenvolvida vai ser de grande utilidade para minimizar os custos de produção deste insumo”.

Publicação

Lucas Gelain, autor da dissertação de mestrado: “Os modelos permitem comparar microrganismos para escolher aquele de maior potencial”

A professora Aline Costa, orientadora: “Na batelada alimentada, o fungo vai consumindo o substrato aos poucos e se desenvolve muito melhor e rapidamente”

Dissertação: “Modelagem matemática da produção de enzimas utilizando Trichoderma harzianum em meio submerso e bagaço de cana-de-açúcar como fonte de carbono” Autor: Lucas Gelain Orientadora: Aline Carvalho da Costa Coorientador: José Geraldo da Cruz Pradella Unidades: Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp e Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE)


6

Campinas, 3 a 9 de

Em diálogo com o Fotos: Antoninho Perri

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

ívia Salvador, funcionária da Seção de Recursos Humanos do Colégio Técnico de Limeira (Cotil), administrado pela Unicamp, retornou de viagem a Portugal no começo de outubro. Depois de passar um mês na Universidade do Porto, onde fez um curso de coaching e participou de diversas atividades, ela conta que voltou modificada pela experiência. “Adquiri vários conhecimentos nessa viagem, tanto no plano profissional quanto no pessoal. Tenho certeza de que vou aplicar muito do que aprendi nas minhas atividades diárias no Cotil”, antevê a servidora. Lívia integra um grupo de 21 contemplados no edital de mobilidade internacional dirigido aos funcionários técnicos e administrativos, lançado este ano pela Universidade. É a primeira vez que esse segmento profissional tem a oportunidade de participar de um programa do gênero. Proporcionar experiências internacionais a funcionários, estudantes e professores faz parte do plano estratégico da Unicamp de se tornar uma instituição de classe mundial. “Não podemos pensar em internacionalização se esse conceito não for transformado em cultura e se não houver o envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade universitária”, afirma o reitor José Tadeu Jorge. Em conformidade com este princípio, a Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) lançou este ano seis editais de mobilidade internacional, que exigiram investimentos da ordem de R$ 2 milhões, recursos originários do orçamento da Universidade. Dentre as chamadas, três contemplam de forma inédita segmentos da comunidade universitária, o que revela o caráter único da estratégia que vem sendo desenvolvida pela Unicamp. Além dos funcionários, também foram contemplados pela primeira vez com programas de mobilidades professores e alunos dos colégios técnicos. Ademais docentes e estudantes de graduação e pós-graduação das áreas de humanidades, que não eram atendidos pelo Ciência sem Fronteiras (CsF), programa do governo federal, foram igualmente beneficiados com linha específica, denominada “Humanas sem Fronteiras”. No caso dos servidores, foram concedidas 21 bolsas, cada uma no valor de R$ 14 mil, para o cumprimento de um período de 30 dias no exterior. Propostas aprovadas com menor tempo de permanência receberam recursos proporcionais. De acordo com o vice-reitor executivo de Relações Internacionais, professor Luis Cortez, o edital de mobilidade de funcionários recebeu 30 inscrições, número considerado bom por se tratar da primeira experiência. Para concorrer a uma das bolsas, os servidores tiveram que cumprir uma série de exigências, entre elas fazer contato com uma instituição estrangeira e propor a participação em atividades como estágios, visitas técnicas e cursos de treinamento. O ponto fundamental da proposta, conforme Luis Cortez, era que a atividade pretendida tivesse correlação com as funções desempenhadas pelo funcionário na Unicamp. Em seguida, de posse da carta-convite da universidade de destino, os concorrentes ainda tiveram que se submeter a uma entrevista em inglês. Concluído o intercâmbio, o contemplado tinha a obrigatoriedade de apresentar, 15 dias após o retorno ao Brasil, um relatório sobre as atividades desempenhadas. “Considerei o processo seletivo muito bom. Não tive dificuldades em cumprir as exigências do edital”, atesta a servidora Lívia Salvador. No caso do edital “Humanas sem Fronteiras”, o programa destinou 12 bolsas para docentes e 48 para estudantes de graduação e pós-graduação. Os professores receberam bolsa no valor de R$ 7,5 mil para o cumprimento de um período de dez dias no exterior, durante o qual promoveram visitas técnicas com o objetivo de explorar novas parcerias, fomentar a realização de pesquisas cooperadas e impulsionar a mobilidade estudantil. Já a bolsa dos estudantes foi de R$ 12,5 mil, para custear seis meses de intercâmbio. Em relação aos colégios técnicos, foram lançados dois

programas, um destinado ao atendimento de seis propostas de docentes [diretores, coordenadores de curso e professores] e outro voltado ao acolhimento de uma proposta estudantil. Os professores receberam bolsas de R$ 7,5 mil para custear sete dias de estada na instituição anfitriã. Nesse período, os contemplados buscaram novas oportunidades de cooperação acadêmica e de mobilidade estudantil. Além das três linhas citadas, a Unicamp também lançou este ano os editais Cooperação Mundial, que ofereceu 48 bolsas a professores (24) e alunos de graduação e pós-graduação (24); Mobilidade de Redes, que concedeu bolsas tanto de curta quanto de longa duração a estudantes, docentes e pesquisadores no âmbito das redes universitárias das quais a Unicamp participa; e Faepex Internacional, voltado à recepção por dois ou três meses de estudantes estrangeiros de graduação e pós-graduação. Esse conjunto de medidas, observa o vice-reitor de Relações Internacionais, está em sintonia com a política de internacionalização da Universidade, que tem como base dois eixos principais: relevância acadêmica e reciprocidade. Neste modelo, continua Luis Cortez, as faculdades e institutos assumem o protagonismo das ações. “É fundamental que as unidades de ensino e pesquisa decidam, com base nos princípios da relevância acadêmica e reciprocidade, que tipo de internacionalização atende aos seus interesses. O que é bom para as engenharias não é necessariamente bom para a medicina”, compara. A Vreri vem promovendo reuniões com representantes das faculdades e institutos para discutir essas questões. Dentro desse novo contexto, reforça o vice-reitor de Relações Internacionais, os coordenadores de graduação e de pós-graduação cumprirão um papel muito importante. “Nós não queremos que esses coordenadores se limitem a assinar a documentação relativa à mobilidade dos estudantes. Queremos que eles orientem esses alunos sobre qual a melhor escolha para cada tipo de intercâmbio”, pontua Luis Cortez. Tais cuidados, diz o dirigente, também visam à correção de algumas distorções criadas com ao longo do tempo. Atualmente, a Unicamp envia muitos alunos de graduação ao exterior, mas ainda recebe poucos estudantes estrangeiros. Na pós-graduação, a Universidade envia um número considerado reduzido de estudantes, e recebe um pouco mais, sendo a maioria da América do Sul. “Temos o desafio de equilibrar esses indicadores e de buscar mais parcerias com instituições de outros continentes”, defende. O dirigente observa, ainda, que internacionalização não se faz somente com viagens ao exterior. “Isso pode ser feito, por exemplo, através da realização de cursos em nossos campi com a participação de especialistas estrangeiros de reconhecida competência. A medicina, por exemplo, tem dificuldade de mandar estudantes para o exterior porque o curso é muito intenso e porque os alunos, lá fora, não podem lidar diretamente com pacientes. Uma maneira de contornar essa dificuldade é promover cursos de verão aqui, com a participação de renomados especialistas do exterior”, pondera Luis Cortez. A despeito das iniciativas já tomadas, o vice-reitor de Relações Internacionais considera que a Unicamp precisa fazer algumas lições de casa para impulsionar ainda mais a sua internacionalização. Uma delas diz respeito ao oferecimento de cursos e disciplinas em inglês. “Hoje nós temos 38 disciplinas na Universidade que são oferecidas em inglês. Não é um número desprezível, mas ele precisa ser significativamente melhorado e alcançar mais faculdades e institutos. Metade destas disciplinas é oferecida por uma única unidade, o Instituto de Computação (IC), sendo que quase todas no nível da pósgraduação. Atualmente, estamos construindo um portal em inglês, cujo objetivo é melhorar a nossa comunicação com o mundo. No espaço virtual, pretendemos disponibilizar diferentes conteúdos em inglês, como aulas, cursos e eventos científicos”, adianta.

O reitor José Tadeu Jorge: “Não podemos pensar em internacionalização se esse conceito não for transformado em cultura e se não houver o envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade universitária”

Experiên Um comunicado da diretoria do Colégio Técnico de Limeira (Cotil), distribuído em abril deste ano, despertou a atenção da funcionária da Seção de Recursos Humanos da unidade, Lívia Salvador. O texto informava que a Unicamp acabara de lançar, pela primeira vez, um edital de internacionalização dirigido exclusivamente a seus servidores técnicos e administrativos. Depois de ler o documento, ela viu que tinha as qualificações necessárias para concorrer a uma das bolsas. Lívia fez a inscrição, investigou qual instituição estrangeira oferecia uma atividade de seu interesse, fez o contato, acertou os detalhes e se submeteu a uma entrevista em inglês. Foi aprovada em todos os critérios e, no começo de setembro, finalmente embarcou rumo à Universidade do Porto, em Portugal, onde permaneceu por 30 dias. Em Portugal, Lívia diz ter vivido experiências novas e importantes nos planos pessoal e profissional. “Na Universidade do Porto eu participei de atividades muito interessantes, como uma visita técnica que durou uma semana e que era dirigida a visitantes originários de países de língua portuguesa. Nela, a instituição expôs o seu projeto de internacionalização, mostrou sua estrutura de ensino, pesquisa e extensão e detalhou algumas das ações dirigidas exclusivamente aos estrangeiros. Achei a iniciativa tão esclarecedora que pretendo elaborar um projeto sugerindo que a Vreri adote alguns dos procedimentos em suas ações de relações internacionais”, afirma. Além disso, Lívia também fez um curso de coaching, do qual era a única aluna estrangeira. “O curso foi muito proveitoso. Ele foi focado na liderança, em aspectos de gerenciamento. Um tema que me agradou bastante foi como agir diante de questões externas que não pode-

mos mudar. Nesse caso, a alternativa é mudarmos a nós mesmos para podermos superar as adversidades”, diz a servidora, que já antevê o uso dos conhecimentos obtidos em suas atividades rotineiras. Como nem só de trabalho vive o homem [neste caso, a mulher], Lívia teve tempo de visitar outras universidades e passear por algumas cidades. Esta experiência também foi classificada por ela como “incrível”. “É importante entrar em contato com outra cultura e observar como o estrangeiro encara o mundo, como ele se organiza e busca soluções para os problemas. Isso sem falar da experiência gastronômica, que foi simplesmente maravilhosa. Eu nunca comi um bacalhau tão bom na vida quanto o de lá. Como se não bastasse, também tem os doces portugueses, que são incomparáveis. O pastel de nata, que a gente conhece como pastel de Belém, é de comer rezando”, relata. Questionada se recomendaria esse tipo de experiência a outros funcionários, Lívia responde positivamente. “Sem dúvida. É um aprendizado único. Eu voltei transformada”. Aluna do curso de licenciatura em Música do Instituto de Artes (IA), Mariana Ciabotti ainda estava cumprindo intercâmbio na Universidade de Southampton, na Inglaterra, quando concedeu entrevista por e-mail. Beneficiada pelo programa “Humanas sem Fronteiras”, a estudante faz estágio em uma escola primária inglesa, onde participa das aulas de música. “Está sendo muito interessante identificar as diferenças e semelhanças com as escolas brasileiras”, conta. Mariana também considera que a experiência, que qualifica como “incrível”, lhe proporcionará crescimento tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Perguntada que aspecto mais a tem impressionado na Inglaterra, a estudante responde que é a pontualidade dos ingleses. “As aulas e reuniões começam exatamente na hora marcada, sem atra-


7

novembro de 2014

mundo O reitor Tadeu Jorge reforça a necessidade de se criar um ambiente de internacionalização na instituição que envolva todos os segmentos universitários. “A exigência de internacionalização em relação a docentes e estudantes ocorre naturalmente. Experiências internacionais tornaram-se indispensáveis à produção científica e à colocação no mercado de trabalho. O mesmo não acontecia com os funcionários da Universidade e com os estudantes e professores dos colégios técnicos. Por isso estamos oferecendo estímulos também a estas áreas, de modo a fazer com que a internacionalização se torne parte da rotina da instituição. Esta é a base para que a Unicamp assuma futuramente a condição de escola de classe mundial”, considera Tadeu Jorge. Vivências internacionais, prossegue o reitor, têm a capacidade de transformar as pessoas para melhor, por causa dos aprendizados obtidos durante a permanência em um país estrangeiro. O contato com outras culturas e hábitos é sempre enriquecedor. “Se uma pessoa passar 15 dias no interior de Minas Gerais, por exemplo, ela voltará diferente. Ela certamente vai conhecer pessoas interessantes e aprender coisas novas. Se a viagem é para outro país, a experiência se torna ainda mais intensa. Isso proporciona mudanças, pois a pessoa incorpora novas visões. Institucionalmente, isso é muito relevante. Se a pessoa retorna enriquecida, ela muito provavelmente trará novos elementos para a sua atividade na Universidade”, analisa o reitor. De acordo com ele, se o “fôlego orçamentário” permitir, a ideia é não somente relançar os editais em 2015, como ampliá-los. “Fazer internacionalização não é algo trivial ou barato, mas é uma prioridade para a Unicamp”, assegura. Nesse aspecto, Tadeu Jorge assinala que a Universidade tem que pensar em dois tipos de internacionalização, que ele distingue em “para cima” e “para baixo”. A primeira vertente diz respeito às parcerias com instituições que estão em melhor posição que a Unicamp em alguns parâmetros. Nesse caso, o objetivo da relação é buscar referências para crescimento. A outra ver-

Estratégia de internacionalização da Unicamp é ampliada e atinge novos segmentos da comunidade universitária

tente é voltada à definição de cooperações com instituições que enxergam a Unicamp como parâmetro de excelência. “Esses dois tipos de internacionalização são importantes e precisam funcionar ao mesmo tempo. É o que fazem instituições como Harvard ou o MIT [Massachusetts Institute of Technology]”, exemplifica. Dentro dessa lógica, acrescenta Tadeu Jorge, é necessário que a Unicamp procure estreitar parcerias tanto com instituições dos Estados Unidos e Europa, quanto da África, América Latina e Caribe. “Também não podemos nos esquecer da importância de nos relacionarmos com a Ásia, a China em particular, por causa da sua crescente importância no cenário global. Justamente por isso é que estamos ultimando a instalação do Instituto Confúcio, que deverá entrar em operação no início de 2015. O objetivo é intensificar o intercâmbio de estudantes e docentes e estabelecer novas cooperações científicas entre a Unicamp e universidades chinesas”, adianta o reitor. Embora considere que a Universidade venha trilhando um caminho bem delineado rumo à internacionalização, Tadeu Jorge admite que outros pontos precisam ser atacados para que o objetivo da instituição seja atingido. Um deles é a oferta mais ampla de cursos de línguas para os estudantes. “Estamos reformulando o CEL [Centro de Estudos de Línguas] com o objetivo de qualificar os nossos alunos nesse sentido. O inglês continuará sendo o carro-chefe, mas também queremos oferecer cursos de outros idiomas. Outro aspecto importante, já citado pelo professor Cortez, tem um caráter mais conceitual. Queremos intensificar o envolvimento das faculdades e institutos no processo de internacionalização. As unidades de ensino e pesquisa precisam definir seus objetivos nessa área. Não há um modelo único que possa atender às necessidades das engenharias, das humanidades e da medicina. Assim, cada área tem que nos dizer o que pretende. Em determinado momento, não poderemos avançar sem essas definições de rumo”, reforça.

O vice-reitor executivo de Relações Internacionais, Luis Cortez: “É fundamental que as unidades de ensino e pesquisa decidam, com base nos princípios da relevância acadêmica e reciprocidade, que tipo de internacionalização atende aos seus interesses. O que é bom para as engenharias não é necessariamente bom para a medicina”

ncia transforma participantes Fotos: Divulgação

Foto: Antoninho Perri

Mariana Ciabotti, aluna do curso de Licenciatura em Música, que faz intercâmbio na Universidade de Southampton: estudante destaca importância do intercâmbio e se diz impressionada com a pontualidade dos ingleses

sos nem extensões. Até mesmo o transporte público – metrô, trem ou ônibus – raramente se atrasa. Quando isso acontece, sempre há um pedido de desculpas”, relata. A aluna do IA recomenda a experiência a todos os estudantes de graduação, a despeito do curso que façam, “principalmente para aqueles que estejam dispostos a enfrentar desafios, sejam eles relacionados com a cultura, a língua e o clima de outro país”. Na opinião de Mariana, o processo seletivo do “Humanas sem Fronteiras” é muito justo, visto que o desempate entre candidatos que atendam a todos os requisitos do edital é feito por meio da análise do desempenho acadêmico. “Minha dica para quem está interessado em fazer intercâmbio é ficar atento ao site da Vreri, que publica todos os editais. E o mais importante: busque informações adicionais, mande e-mails, questione!”, recomenda.

Lívia Salvador, funcionária da Seção de Recursos Humanos do Cotil, que passou 30 dias em Portugal, durante entrevista na Unicamp (acima) e em visita técnica na mesma instituição (ao lado): “Adquiri vários conhecimentos nessa viagem, tanto no plano profissional quanto no pessoal. Tenho certeza de que vou aplicar muito do que aprendi nas minhas atividades diárias”


8

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

Estudo mostra obstáculos à inovação Problemas estruturais são maiores gargalos nas áreas de software e serviços de TI Foto: Divulgação

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

s “condições de mercado” foram consideradas um obstáculo de média a alta importância à inovação para cerca de 60% das empresas da Indústria Brasileira de Software e Serviços de TI (IBSS) que não conseguiram inovar entre 2006 e 2008. Foi o que concluiu estudo de mestrado realizado por Rebeca Bulhões Bertoni no Instituto de Economia (IE). “Essas condições foram definidas pela Pesquisa de Inovação (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como uma deficiência de demanda ou um problema na estrutura de oferta do mercado, devido às condições de concorrência ou de capacidade instalada”, informa. Segundo Rebeca, ao contrário do que muitos defendem, o principal problema dessa indústria não é a baixa qualificação dos egressos – a oferta de profissionais no mercado de trabalho, mas o perfil da estrutura de oferta das empresas (demandantes desses profissionais). Esse gargalo, analisa ela, fica mais claro ao questionar que profissional uma empresa que não inova contrataria. O problema da “escassez de mão de obra” e da “queda de produtividade” representariam, a seu ver, apenas a ponta do iceberg, “sinalizando problemas mais profundos e de maior dimensão, como os obstáculos estruturais à inovação”, garante a autora. A sua pesquisa mostrou, a partir de análise empírica, o que impede o desenvolvimento da Indústria Brasileira de Software e Serviços de TI. A ideia foi fornecer evidências para a incapacidade das empresas nacionais internalizarem o processo de inovação. “Procuramos trazer uma análise alternativa e crítica ao senso comum sobre temas muito debatidos no setor, como por exemplo a escassez de mão de obra, a queda de produtividade e as transformações ocorridas no mercado de trabalho de TI”, salienta. Para a autora do trabalho, apesar de existirem obstáculos estruturais à inovação na indústria de informática no Brasil, pouco se investiga sobre esse tema. “O ambiente eleitoral e a lógica de governo – de curto prazo – nos direcionam, frequentemente, à discussão de questões conjunturais da economia e da indústria, confinando a análise econômica à esfera da microeconomia e, eventualmente, ampliando um pouco a análise à esfera macroeconômica.”

Rebeca Bulhões Bertoni, autora da dissertação: plataformas tecnológicas sólidas estão na gênese da indústria

Esses obstáculos, verifica, parecem explicar o problema da queda de produtividade e de outros indicadores de desempenho, bem como o direcionamento desta indústria para produtos e serviços de menor valor agregado, além da precarização do mercado de trabalho de TI com a incorporação de uma mão de obra cada vez mais jovem e menos qualificada. O estudo analisou empiricamente, desde 2003, os principais aspectos estruturais e dinâmicos da IBSS empregando dados do IBGE, Relação Anual de Informações Sociais (Rais), Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e Rais Migra, além da Série Estudos Tecnologia e Observatório Softex. A autora procurou incluir nessa abordagem também questões de fundo histórico, para identificar os obstáculos estruturais à inovação na indústria de software e serviços de TI. Em sua opinião, sob a perspectiva dos teóricos Celso Furtado e Caio Prado Jr., o subdesenvolvimento seria a melhor hipótese interpretativa para compreender as raízes mais profundas dos problemas enfrentados por esta indústria no Brasil.

O trabalho estatístico e interpretativo dos dados, feito por pesquisadores, consultores e empresários do setor, chamou a atenção de Rebeca sobretudo pelo fato de ser esta uma indústria de caráter inovador, “com elevado potencial criativo e transformador da economia e da sociedade brasileira – que, paradoxalmente, vinha sofrendo quedas sistemáticas em sua produtividade e inovando menos a cada ano”, aponta. De acordo com a estudiosa, que atua como consultora e pesquisadora na área de inovação, indústria e mercado de trabalho, o que houve é que, na verdade, essa indústria teve sua origem em um mercado já monopolizado por plataformas tecnológicas sólidas, como por exemplo a Windows – o sistema computacional mais popular do planeta. Rebeca atribui isso à falta de espaço para as empresas nacionais competirem, em função principalmente dos efeitos de lockin (“aprisionamento”). Assim, em geral, as oportunidades de negócios ficam restritas a atividades complementares, na brecha dos investimentos de grandes multinacionais como a Microsoft, a IBM e a Oracle. O que acontece com as pequenas empresas nacionais de software? Ao assumirem a posição de parceiras, acabam declarando uma convivência pacífica no mercado, eliminando a concorrência e inclusive a necessidade de inovar. Dessa forma, a Indústria Brasileira de Software e Serviços de TI fica com as atividades menos nobres do setor, e a inserção das empresas nacionais no mercado global é apenas complementar e periférica. “O único espaço em que podemos competir é no mercado de aplicativos”, conta Rebeca. Em relação às políticas públicas para o setor, ela considera que há falta de compreensão acerca das especificidades da IBSS. Não é somente isso. A permanência de valores neoliberais – cujo propósito é privatizar e commoditizar tudo – incentiva a busca de soluções rápidas e a cópia de modelos estrangeiros, crendo na possibilidade de catching-up (“dar o salto”). A hipótese da convergência vai de encontro às ideias apresentadas por Furtado acerca das especificidades do fenômeno do subdesenvolvimento. Conforme esse autor, o processo de acumulação capitalista tenderia, antagonicamente, a ampliar ainda mais o fosso entre centro e periferia.

Os atores interessados em perseguir modelos externos, sem o conhecimento e a preocupação com as necessidades da indústria nacional, são responsáveis pela manutenção do ideal neoliberal nas políticas públicas brasileiras, avalia. Essas políticas não têm redirecionado a indústria para um caminho contrário ao da commoditização. O eixo dinâmico da economia permanece fora do mercado interno e as empresas nacionais continuam sendo incapazes de assumir a liderança no processo inovativo, sustenta a mestranda, que neste estudo foi orientada pelo professor Plínio de Arruda Sampaio Júnior. Do lado da oferta, esse problema pode ser entendido pela escassez de capitais no mercado e pela relação de concorrência desequilibrada entre as empresas nacionais e os oligopólios internacionais. Está relacionado à dependência externa e à forma de inserção subordinada e dependente da indústria brasileira nas cadeias globais de desenvolvimento de software. Do lado da demanda, Rebeca explica que a pequenez do mercado interno e a insuficiência da demanda emanam da profunda desigualdade social ainda hoje reinante no país. O dado mais recente da Pesquisa Anual de Serviços do IBGE aponta que a receita líquida gerada no país pelo conjunto das empresas de informática em 2009 foi de R$ 56,5 bilhões. A projeção para 2014 foi de R$ 83,8 bilhões. Em relação ao conjunto do segmento brasileiro da economia da informação, que também inclui os serviços de telecomunicações, a receita das atividades de software e serviços de TI representou apenas 17,7% da receita bruta gerada pelo segmento em 2013. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a participação da receita do setor continua reduzida, não atingindo 2%.

Publicação Dissertação: “Obstáculos à inovação na indústria brasileira de software e serviços de TI” Autora: Rebeca Bulhões Bertoni Orientador: Plínio Soares de Arruda Sampaio Júnior Unidade: Instituto de Economia (IE)

Da natureza à farmácia: sua avó pode estar certa ANDRÉA TREVAS MACIEL GUERRA atmg@fcm.unicamp.br

livro Os remédios da vovó, da argentina Valeria Edelsztein, é o mais novo lançamento da coleção Meio de Cultura, da Editora da Unicamp, voltada à divulgação da ciência. A autora é professora do Departamento de Química Orgânica da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires. Sua obra anterior, Cocina, limpia y gana el premio Nobel, recebeu em 2012 o primeiro prêmio do concurso de divulgação científica “Ciencia que Ladra”, organizado pela Editora Siglo Veintiuno e pelo jornal argentino La Nacion, vencendo 82 concorrentes de sete países. Ao longo de oito capítulos, Os remédios da vovó nos conduz da farmacologia antiga à farmacogenômica e nos mostra que a melhor farmácia sempre foi a natureza. Dela, os curandeiros do Antigo Egito extraíam as substâncias nas quais se baseava sua medicina tradicional, entre minerais, vegetais e animais (aí incluídos excrementos de hipopótamos e crocodilos). Infelizmente, a maior parte da medicina egípcia perdeu-se durante a Idade Média, juntamente com os ensinamentos dos pais da medicina grega, como Galeno. A autora mostra que, a partir do século XVII, grandes avanços no campo da medicina tiveram suas origens em observações imprevistas com con-

sequências surpreendentes – as chamadas serendipities, das quais a mais conhecida é a descoberta fortuita da penicilina por Alexander Fleming. Outros foram resultado de observação, intuição e bom senso, como a invenção da vacina contra a varíola por Edward Jenner. Muitos outros, ainda, foram resultado de tentativas e erros; sobre eles, junto com alguns lances de sorte, assentaram-se importantes bases da farmacologia. No capítulo que dá nome ao livro, os remédios caseiros resultantes do processo de tentativa e erro são colocados à prova: alguns de fato funcionam, enquanto outros são mitos infundados. Será que comer cenouras melhora realmente a visão e ingerir alho cru diminui os níveis do colesterol ruim? Nadar depois do almoço faz mesmo mal? E quem nunca ouviu falar (ou procurou comprovar pessoalmente) que uma boa canja ajuda a reduzir os sintomas da gripe e que o mel alivia a tosse e a dor de garganta? A autora envereda ainda pelo mundo das bactérias, dos fungos e dos vírus, suas relações ora de luta, ora de parceria com os seres humanos e a resposta de nosso sistema imunológico à invasão de micro-organismos patogênicos. A partir daí relata o desenvolvimento das vacinas, enfatizando o papel central de Louis Pasteur na descoberta da vacina contra a raiva e suas grandes contribuições no campo da microbiologia. Descreve, ainda, a evolução dos antibióticos após o surgimento da penicilina e os mecanismos de resistência bacte-

riana que exigem pesquisa contínua na busca de novas substâncias para substituir aquelas que se tornam ineficazes. Talvez o leitor se surpreenda ao saber que metade dos remédios que se encontram nas farmácias provém do mundo natural. Para chegar a eles, Valeria Edelsztein usa o exemplo da aspirina para mostrar que a química, a medicina e a farmacologia tiveram que percorrer um longo caminho: do isolamento dos princípios ativos das plantas a sua síntese em laboratório e à modificação de suas estruturas para obter fármacos menos tóxicos e com atividade melhorada. Relata, em seguida, os passos para o desenvolvimento da outra metade – os que não provêm da natureza – e todos os obstáculos a serem vencidos em muitos anos de trabalho até que um remédio chegue às prateleiras. Ao descrever ainda o caminho dos medicamentos em nosso corpo (da absorção até a eliminação), a participação fundamental de nossos genes ao conferir individualidade a esse processo e a perspectiva de uma medicina personalizada em um futuro próximo, a obra nos conduz pelo mundo da farmacologia com um texto leve e uma narrativa envolvente. Ao final do livro, o olhar do leitor para uma caixinha de remédios nunca mais será o mesmo. Andréa Trevas Maciel Guerra é professora titular do Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e especialista em Divulgação Científica pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp).

SERVIÇO Título: Os remédios da vovó: Mitos e verdades da medicina caseira Autora: Valeria Edelsztein Tradução: Márcia Aguiar Coelho Editora da Unicamp Área de interesse: Divulgação Cultural e Científica Preço: R$ 36,00


9

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

Pesquisa analisa alcance da divulgação científica na rede Nuvem de palavras mais usadas no âmbito do projeto AlcScens

Autor do estudo também criou site no âmbito de projeto sobre mudanças climáticas Fotos: Antonio Scarpinetti

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

omo deveria ser o site de um importante projeto para avaliação dos impactos das mudanças climáticas na agricultura do Brasil, mais especificamente relacionadas ao setor sucroalcooleiro? Ou, em última instância, como se comportam as notícias de divulgação científica nas redes sociais? As perguntas nortearam a pesquisa de mestrado de Marcos Rogério Pereira, trabalho vinculado ao projeto científico “Geração de cenários de produção de álcool como apoio para a formulação de políticas públicas aplicadas à adaptação do setor sucroalcooleiro nacional às mudanças climáticas” – AlcScens -, que integra o Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais. Marcos integra o grupo de pesquisas da Unicamp e, em 2011, trabalhou no desenvolvimento de um site para o projeto. A página foi reformulada três vezes ao longo de sua investigação acadêmica, e passou a alimentar redes sociais, blogs e microblogs interativos, sites de vídeos, para compartilhamento de artigos, fotos, imagens e áudio, além da publicação de artigos eletrônicos. “Foi um desafio que ganhou novos ares por estar relacionado à produção e divulgação das informações científicas, por envolver a participação de uma equipe interdisciplinar de pesquisa, além da popularização de novas ferramentas de publicação online”, explica. O AlcScens é constituído de 10 núcleos temáticos compostos de pesquisadores brasileiros de diversos centros e núcleos interdisciplinares de pesquisa, além de institutos e faculdades, não só da Unicamp, como também estudiosos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Um dos núcleos é o de divulgação científica, onde Marcos atua. A dissertação foi desenvolvida no âmbito do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), vinculado ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). A orientadora, professora Vera Regina Toledo Camargo, salienta que o Programa Fapesp, ao qual está ligado o AlcScens, foi um dos primeiros que contemplou a área de divulgação científica dentro de mudanças climáticas. “A divulgação abrange todos os grupos temáticos, alinhavando-os. Por isso é de fundamental importância, tanto internamente, entre os pesquisadores, como externamente, difundir o conhecimento para a sociedade”, diz Vera. Marcos acrescenta que ainda é raro que centros produtores de ciência e tecnologia contemplem a divulgação científica como estratégica de diálogo com o público leigo. Nesse contexto, o pesquisador considera inovador o fato de o AlcScens contar com esta equipe.

PROJETO TEMÁTICO

A agricultura e a pecuária são atividades que dependem diretamente das condições ambientais e, portanto, seu desempenho é bastante afetado pelas mudanças climáticas. A cana-de-açúcar se destaca, sobretudo, devido à ampliação da utilização de álcool combustível no Brasil e no mundo, como forma de mitigação das emissões dos gases de efeito estufa (GEE). Se por um lado, há grande interesse no aumento das áreas de plantio, de outro, há várias restrições justificadas pelos impactos possíveis no meio ambiente, na segurança alimentar e nutricional, na dinâmica demográfica e na saúde humana e, também, as preocupações sobre os efeitos das mudanças climáticas na agricultura. Os pesquisadores do projeto preocupam-se com o planejamento dessa expansão, assim o AlcScens envolve especialistas de várias áreas do conhecimento, como climatologia, dinâmica demográfica, segurança alimentar e nutricional, políticas públicas, geoprocessamento, meio ambiente, saúde humana e desenvolvimento científico e tecnológico, além da divulgação científica. O escoamento de toda a produção científica envolvida no projeto deveria ser planejado de forma a atender qualquer pessoa que buscasse informações sobre ele e por meio de qualquer dispositivo ou plataforma, como celulares e tablets. “Daí a proposta de se construir um site acessível, objetivo e fácil de usar, ou seja, entendendo-o como um instrumento de divulgação científica, que procurasse tornar as informações disponíveis para o máximo de pessoas, além de facilitar o acesso ao conhecimento produzido”.

Marcos Rogério Pereira, autor do estudo, com a orientadora, professora Vera Regina Toledo Camargo, e mostrando site desenvolvido por ele (destaque): agricultura e pecuária na pauta

REDES SOCIAIS ON LINE

ACESSIBILIDADE NA WEB

Foram adotadas as recomendações do Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico - o e-MAG, que, por sua vez, está alinhado às recomendações internacionais, mas também estabelece padrões de comportamento acessível para sites governamentais. “As ferramentas e atalhos de navegação do site passaram a oferecer opções os recursos de usabilidade, como maior facilidade de uso, padrões de cores e tipografia, além de texto de fácil leitura, títulos e tópicos claros e em destaque, ou seja, uma navegação simples e intuitiva que contempla ainda recursos técnicos de acessibilidade como títulos hierárquicos, textos alternativos para imagens, navegação pelo teclado ou navegação com outras tecnologias de apoio, esquema de cores e contraste para ajudar na legibilidade”. Segundo o pesquisador, geralmente, quando um site é criado, imagina-se que o internauta irá navegar por todas as informações disponíveis na tela. “Na verdade, em algum momento a pessoa vai clicar no assunto que lhe interessa. Em um trabalho com muitas imagens, a informação fica menos destacada. Por isso removemos muitas imagens para dar destaque aos textos e assim a pessoa tem acesso direto à informação que procura”. No celular, o site também mantém todos os recursos. “Chamamos esse design de ‘responsivo’. Trata-se de um approach que permite um nível de acesso às informações e serviços web independente do dispositivo que a pessoa está usando, uma vez que a experiência de visualização é a mesma de um monitor de computador”, ressalta. Marcos salienta os dados da pesquisa que compravam a importância da acessibilidade. Uma página inclusiva significa, de acordo com o autor, tornar disponível seu conteúdo para quase 46 milhões de brasileiros, ou 24% da população total, que possuem algum tipo de deficiência. As informações são do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também, segundo o estudo, “Panorama do Brasil na Internet”, 28% dos brasileiros com idade entre 45 e 59 anos costumam navegar na internet, porcentagem que chega a 12% considerando apenas os brasileiros com 60 anos ou mais.

A divulgação científica do AlcScens também passa pelas redes sociais, especialmente o facebook, cuja página é atualmente administrada pelo coordenador do projeto, o pesquisador Jurandir Zullo. “Foi um dos primeiros objetos de estudo. Percebi que a rede social estava se transformando em uma rede movida pela publicidade. E, então, em determinado momento, as publicações que fazíamos do projeto começaram a ter seu alcance reduzido”, ressalta Marcos. A reflexão a partir daí foi se a informação científica não gerava interação no facebook ou se, afinal, as pessoas não teriam mesmo interesse no assunto. “E tem interesse”, afirma. O autor da dissertação decidiu fazer um teste com uma publicação patrocinada, ou seja, pagou uma quantia para que o post do projeto circulasse na rede. “Foram milhares de visualizações e curtidas, o que nos fez pensar até que ponto isso é válido ou não no caso da divulgação científica, se é válido pagar para ter a informação difundida pela rede”. Há páginas na rede social voltadas à divulgação da ciência, com quase meio milhão de usuários. Mas embora reconheça o papel do facebook como forma de dar visibilidade à informação científica, Marcos ressalta a importância da fonte primária, como é o caso de um website. “Nosso site é o resultado de uma experiência de divulgação científica que procurou preservar e disseminar informações científicas na internet, geradas pelo grupo de pesquisas. As pessoas têm interesse em informação de qualidade e textos bem escritos”. O autor destaca o reconhecimento do trabalho de divulgação do projeto: “O Blog do Clima, do site Planeta Sustentável, um dos mais importantes na área de mudanças climáticas no Brasil, já cita o projeto como uma das principais iniciativas da área de mudanças climáticas no Brasil. Para chegar nesse reconhecimento, você precisa ter um site de informação de qualidade, confiável e que sirva de referência em um ambiente repleto de informações conflitantes, que é a internet”.

Publicação Dissertação: “Produção e divulgação científica na Internet: uma perspectiva tecnológica do projeto de pesquisa em mudanças climáticas” Autor: Marcos Rogério Pereira Orientadora: Vera Regina Toledo Camargo Unidades: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)/ Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor)


10

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

PAINEL DA SEMANA  Vestibulinho do Cotil - O Colégio Técnico de Limeira (Cotil) prorrogou, até 3 de novembro, as inscrições para o Vestibulinho de 2015. O exame será realizado no dia 16 de novembro, às 14 horas, nas cidades de Campinas, Limeira, Americana, Araras, Cosmópolis, Piracicaba e Rio Claro. O Cotil fica na rua Paschoal Marmo 1888, no Jardim Nova Itália, em Limeira-SP. Outras informações pelo telefone 19-2113-3300.  WICaC e SES - O 7º Workshop Internacional sobre Hidrogênio e Células a Combustível (WICaC) e o 1º Seminário sobre Energia e Sustentabilidade (SES) acontecem no dia 4 de novembro, às 8h30, no auditório da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BC-CL) da Unicamp. A organização é do Laboratório de Hidrogênio do IFGW-Unicamp e do Instituto Aqua Genesis. Inscrições e envio de trabalhos no site www. aquagenesis.org.br. Outras informações pelo e-mail wicac-ses2014@ aquagenesis.org.br  ProFIS - A Unicamp recebe, até 4 de novembro, as inscrições para o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS). O Programa destina-se aos estudantes do ensino médio das escolas públicas de Campinas, interessados em fazer a graduação na Unicamp. Para a edição de 2015, o ProFIS oferece 120 vagas. A seleção dos estudantes é feita com base em resultado obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEN), no ano da conclusão do Ensino Médio. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas na página eletrônica http://www.comvest.unicamp.br/vest2015/profis/inscricao/inscricao. html, até as 17 horas. Mais informações: telefones 19-3521-6538, 3521-7648 ou e-mail profis@reitoria.unicamp.br  Formação em música na universidade - O Instituto de Artes (IA) sedia entre os dias 4 e 6 de novembro, o “I Encontro sobre a formação em música na universidade”. Serão três dias de intensa atividade, com mesas-redondas, palestras e apresentação de trabalhos relacionados à pesquisa e à formação profissional em música no Brasil. O evento está sob a responsabilidade da professora Adriana Mendes (Unicamp) e Cristina Tourinho (UFBA). Mais detalhes no link http://efpmusico.com/  Cultura Visual & História - A 2ª edição do Seminário Internacional de Cultura Visual & História acontece entre os dias 4 e 6 de novembro, no auditório do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Inscrições, programação e outras informações no link http://www.iar.unicamp.br/ evento/cultvisualhist  Práticas integrativas e complementares na RMC O Laboratório de Práticas Alternativas Complementares e Integrativas em Saúde (Lapacis) organiza no dia 4 de novembro, às 14 horas,

no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), encontro para debater a política nacional e regional de práticas integrativas e complementares na Região Metropolitana de Campinas (RMC). No evento também serão debatidas as estratégias de colaboração nacional e internacional para a pesquisa e ensino das PIC no Sistema Único de Saúde (SUS). Mais informações: 19-3521-9240 ou e-mail lapacis. eventos@gmail.com  Workshop com a Elsevier - O Espaço da Escrita, órgão da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), e a Coordenadoria de Pós-graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) organizam, dia 4 de novembro, às 14 horas, no Salão Nobre da FEA, o workshop “How to write a world class paper – tips for successful publishing” e “Author’s rights and responsibilities in an ethical context” com representantes da Editora Elsevier. O evento será na língua inglesa e destina-se aos docentes, pesquisadores e alunos de Pós-graduação das áreas de Engenharia e Ciência de Alimentos e afins. O evento é limitado a 90 participantes. Mais informações pelo e-mail workshops. escrita@reitoria.unicamp.br  25 anos do MIT - Em 1989, ano em que foi realizada a Mostra Internacional de Teatro (MIT), Campinas viveu o auge de seu momento cultural: artistas, produtores e diretores de todas as partes do mundo estavam reunidos ali para fazerem da cidade o centro das atenções e o palco de produções nacionais e internacionais. Para comemorar e revisitar esse momento histórico, os produtores voltam à cena, após 25 anos, com a proposta de fazer um balanço do cenário cultural da cidade, tendo como pano de fundo a produção realizada à época, com exposições de fotos, vídeos, material gráfico, do acervo do Arquivo da Unicamp e também com mesas de debates com profissionais ligados ao evento e convidados. O evento Mostra 25 anos, acontecerá de 5 a 14 de novembro, na Estação Guanabara e fará homenagens a personalidades ligadas ao teatro e à Unicamp: Paulo Renato Costa Souza (1945-2011), ex-reitor da Unicamp; Bernardo Caro (1931- 2007), artista plástico e ex-diretor do Instituto de Artes da Unicamp; Adilson Barros (1947-1997), ator e ex-diretor do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp; e Luiz Octavio Burnier (1956-1995), ator e criador do Lume Teatro-Unicamp. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2014/10/23/mit-completa-25-anos-e-produtores-voltam-cena  Concerto da Sinfônica - O maestro Karl Martin, um dos mais festejados da atualidade, e o pianista Fernando Corvisier, referência na pesquisa da obra pianística do compositor Almeida Prado, estão nos próximos concertos da Orquestra Sinfônica da Unicamp, dias 5 (quarta-feira), no Teatro Castro Mendes, e 6 (quinta), na Casa do Lago (Unicamp). No repertório, a abertura La Clemenza di Tito, de Mozart, o Concerto Fribourgeois para piano e cordas, de Almeida Prado, e a Sinfonia nº 8, de Beethoven. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2014/10/27/karl-martin-rege-obra-de-almeida-prado-nasinfonica-da-unicamp-com-solo-do  Jornada Corpolinguagem e Outrarte - No dia 5 de novembro, às 14 horas, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), acontece a XIV Jornada Corpolinguagem e o VI Encontro Outrarte. A organização é da professora Nina Virgínia de Araújo Leite (DL-IELUnicamp). Mais detalhes no site http://www.iel.unicamp.br/projetos/outrarte/xivjornadavioutrarte/, telefone 19-3521-1520 ou e-mail eventos@ iel.unicamp.br  Concepção de Estado segundo o pensamento político crítico - A Faculdade de Educação (FE) da Unicamp junto ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Educação (GPPE/FE-Unicamp) realiza, dia 5 de novembro, às 14 horas, na sala da Congregação da FE, o seminário “A concepção de Estado segundo o pensamento político crítico” com a participação das professoras Eloisa Höffling (FE-Unicamp) e Débora Mazza (FE-Unicamp). O evento é gratuito, sem a necessidade de inscrição prévia. Mais informações: 19-3521-5564.  Redação científica internacional - O Espaço da Escrita, projeto estratégico da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), oferece o curso “Redação Científica Internacional”, dias 6 e 7 de novembro, das 8 às 18 horas, na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). O evento corresponde a um treinamento avançado de 20 horas/aula para acadêmicos que já participaram dos workshops de “Método Lógico para Redação Científica”, ministrados pelo professor Gilson Luiz Volpato (Unesp/Botucatu), realizados entre 2012 e 2014 na Unicamp. Todos participantes deverão ter um manuscrito completo e inédito, com resultados finais ou parciais de pesquisa empírica. Vagas limitadas a docentes, pesquisadores de carreira e alunos de doutorado selecionados. O evento é fechado a 42 participantes das unidades da Unicamp em Limeira. Mais informações: telefone 19-3521-6649 ou e-mail escrita@reitoria.unicamp.br

DESTAQUE

 Vestibulinho do Cotuca - O Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) recebe, até 6 de novembro, as inscrições para o seu Vestibulinho de 2015. Todos os cursos de ensino médio e técnico, nas três modalidades, são gratuitos (Veja lista). O exame de seleção será realizado em 14 de dezembro. Para se inscrever, acesse a página eletrônica www.cotuca.unicamp.br. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail exame@cotuca.unicamp.br  Conexão Cultural no CPQBA - A próxima atividade do Conexão Cultural está prevista para o dia 6 de novembro no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), às 12 horas, quando se exibirá o grupo do Instituto de Artes (IA) “Brilha Mundo”. O evento terá como público inclusive o grupo de idosos que frequentam aulas de plantas medicinais naquele centro de pesquisa. No dia 12 de novembro, às 18 horas, no Teatro de Arena da Unicamp, haverá um show de música com os artistas Almir Côrtes (bandolinista) e Harvey Wainapel (saxofonista e clarinetista). Já no dia 26 de novembro, o Conexão Cultural promoverá o espetáculo de circo com os Irmãos Sabatino na Faculdade e Ciências Aplicadas (FCA), às 18 horas. No dia seguinte, às 13 horas, o mesmo espetáculo acontecerá na frente do Restaurante Universitário (RU) da Unicamp. Todos os artistas mantêm algum tipo de vínculo com a Universidade. O evento é organizado pela Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) da Unicamp. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 193521-1732 ou e-mail cultural@unicamp.br  Palestra - Antonio Lafuente, do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC-Madri), professor-visitante estrangeiro do Programa de Pós-graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM/Unicamp), ministra a palestra “La crítica a la ciencia - o de cómo reconstruir la relación entre la ciencia y sus públicos”. Será no dia 6 de novembro, às 14 horas, na sala LL02 da Faculdade de Educação (FE). O evento é apoiado pela PRP/Faepex. Mais informações: figueiroa@ige.unicamp.br  Habilidades sociais e a formação universitária - O Setor de Orientação Educacional do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) recebe, para palestra, a professora Daniele C. Lopes, da Universidade de Federal de São Carlos (UFScar). No dia 7 de novembro, às 12h15, na sala CB03 do Ciclo Básico I, ela aborda o tema “Habilidades sociais e a formação universitária”. Na palestra, a docente apresentará a importância das habilidades sociais e da competência interpessoal para as relações interpessoais como fator de proteção para diversos problemas de saúde física e psicológica e como requisito para atender às exigências atuais do mercado de trabalho. A docente também abordará sobre o papel possível e necessário da Universidade para atender a tais exigências e descrever alternativas para a formação interpessoal no ensino superior, por meio de experiências do Brasil e do exterior. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6539.  Festival Unicamp de corais - Organizado pelo Centro de Integração, Documentação e Divulgação Cultural (CIDDIC), o X Festival Unicamp de Corais acontece nos dias 8 e 9 de novembro, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). No dia 8, às 20 horas, apresentam-se os seguintes corais: Zíper na Boca, Canarinhos da Terra, Jovem Moema (SP) e Canto Vivo, de Jundiaí-SP. No dia 9, às 18 horas: Zíper na Boca, Grupo Vocal Compasso 22 (SP), Conjunto Vocal Arabesco (Lençóis Paulista), e o Coral da USP – Madrigal Revivis. O evento contará com participação especial da Troupe Per Tutti e está sob a coordenação da maestrina Vivian Nogueira. O Festival é apoioado pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) e pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O auditório da FCM fica na rua Tessália Vieira de Camargo 126, no campus da Unicamp. Entrada franca.

TESES DA SEMANA  Artes - “Kalarippayatt - uma via para a expressividade” (mestrado). Candidata: Ana Paula Ibañez. Orientadora: professora Marilia Vieira Soares. Dia 27 de outubro de 2014, às 14 horas, na sala 7 do Departamento de Dança do IA. “Parintins: Boi-Bumbá e afirmação identitária. Discurso, representações e identidade no Amazonas contemporâneo” (doutorado). Can-

didato: Rui Manuel Sénico Carvalho. Orientador: professor José Roberto Zan. Dia 31 de outubro de 2014, às 14 horas, no IA.  Biologia - “Tratamentos de aquecimento, inativação térmica e virulência do Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909) de vetores e reservatório em polpa in natura de açaí (Euterpe oleraceae Martius) na doença de Chagas aguda de transmissão alimentar no Estado do Pará, Brasil” (doutorado). Candidato: Rodrigo Labello Barbosa. Orientador: professor Luiz Augusto Corrêa Passos. Dia 30 de outubro de 2014, às 14 horas, no IB.  Computação - “CEO - uma infraestrutura para orquestração de workflows de serviços em ambientes computacionais híbridos” (doutorado). Candidato: Carlos Roberto Senna. Orientador: professor Edmundo Roberto Mauro Madeira. Dia 27 de outubro de 2014, às 14 horas, no Auditório do IC.  Educação - “As crianças invisíveis nos discursos da educação infantil: entre imagens e palavras” (doutorado). Candidata: Solange Estanislau dos Santos. Orientadora: professora Elisa Angotti Kossovitch. Dia 31 de outubro de 2014, às 14h30, na sala de defesa de teses do bloco C da FE.  Engenharia Química - “Obtenção de mistura leite-amora preta em pó por secagem em leito de jorro” (doutorado). Candidato: Matheus Boeira Braga. Orientadora: professora Sandra Cristina dos Santos Rocha. Dia 27 de outubro de 2014, às 9h30, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Desenvolvimento de um modelo para a estimativa da máxima sobrepressão gerada em uma explosão de gás” (mestrado). Candidata: Renata Pinto da Silva Matos. Orientador: professor Savio Souza Venancio Vianna. Dia 3 de novembro de 2014, às 9h30, na sala de defesa de teses do Bloco D da FEQ.  Física - “Estudo da hemodinâmica cortical através da técnica NIRS sob três condições distintas: estimulação visual, realização de exercício físico e apneia em portadores de estenose carotídea” (doutorado). Candidato: Carlos Alessandro Silva dos Anjos. Orientador: professor Roberto José Maria Covolan. Dia 5 de novembro de 2014, às 14 horas, no auditório de Pós-graduação do prédio D do IFGW.  Linguagem - “Fastos II - gênero e metapoesia” (mestrado). Candidata: Raquel Faustino. Orientadora: professora Patrícia Prata. Dia 30 de outubro de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Murilo Mendes e a Matéria de Espanha” (doutorado). Candidato: José Leonardo Sousa Buzelli. Orientadora: professora Maria Eugênia da Gama Alves Boaventura Dias. Dia 31 de outubro de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Os sentidos do percurso da Análise de Discurso no Brasil na voz de pesquisadores da área” (doutorado). Candidata: Maria Eunice de Godoy Machado Teixeira. Orientador: professor Lauro José Siqueira Baldini. Dia 6 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Grupos Abelianos - por - (Nilpotentes de classe 2)” (doutorado). Candidato: Leonardo de Amorim e Silva. Orientadora: professora Dessislava Hristova Kochloukova. Dia 31 de outubro de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Equações diferenciais fracionárias e as funções de Mittag-Leffler” (doutorado). Candidata: Eliana Contharteze Grigoletto. Orientador: professor Edmundo Capelas de Oliveira. Dia 6 de novembro de 2014, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Pterodon pubescens benth: influência da exposição de frutos ao calor no teor de vouacapanos sobre a atividade antiproliferativa in vitro” (mestrado). Candidato: Felipe Cyrillo Lloret. Orientadora: professora Mary Ann Foglio. Dia 30 de outubro de 2014, às 14 horas, no anfiteatro 1 da FOP. “Efeito da composição e aquecimento prévio de infiltrantes sobre propriedades físicas e penetração em lesões iniciais de cárie em esmalte” (doutorado). Candidata: Livia Aguilera Gaglianone. Orientadora: professora Giselle Maria Marchi Baron. Dia 31 de outubro de 2014, às 8h30, no anfiteatro 2 da FOP. “Acesso ao tratamento do câncer bucal na região do colegiado de gestão regional de Campinas-SP” (mestrado). Candidata: Alisa Toledo de Mesquita Sampaio. Orientador: professor Marcelo de Castro Meneghim. Dia 4 de novembro de 2014, às 9 horas, no anfiteatro 2 da FOP.

DO PORTAL

Unicamp assume ensino para crianças da Escola de Música rofessores e alunos do Instituto de Artes (IA) da Unicamp assumirão a retomada das atividades do Centro Escolar de Música Manoel José Gomes (Cemmaneco) junto a 620 crianças de 6 a 14 anos de escolas da rede municipal, a partir do dia 3 de novembro. A conhecida Escola de Música da Cidade esteve fechada por mais de dois anos por causa de irregularidades apontadas pelo Ministério Público na gestão feita por uma organização não governamental. A cerimônia oficial de assinatura do termo de parceria entre a Unicamp e a Prefeitura de Campinas aconteceu na última quinta-feira, com a presença do prefeito Jonas Donizetti, na sede do Cemmaneco, na Vila Marieta. O professor Fernando Hashimoto, coordenador do projeto pela Unicamp, tem a colaboração de três colegas do Departamento de Música, Leandro Barsalini, Adriana Mendes e Paulo Ronqui; de três licenciados pelo IA atuando na supervisão geral; e de mais 27 alunos estagiários que se encarregarão das aulas. Inicialmente são 622 vagas: 320 de musicalização para crianças entre 6 e 10 anos, e 302 para aulas com instrumentos, na faixa de 11 a 14 anos. “É uma oportunidade única, a primeira vez que levamos um projeto de ensino musical deste porte para uma escola da rede de Campinas”, afirma Hashimoto. Segundo o docente, as aulas deveriam ter começado já em agosto, o que não foi possível devido ao difícil trâmite burocrático até se chegar ao atual formato do acordo. “Nos-

so projeto, a princípio, está focado nas escolas municipais dos arredores do Cemmaneco, pois ele faz parte de um projeto maior da Prefeitura, Primeira Nota, que se pretende implantar em cada unidade dos Naeds [Núcleos de Ação Educativa Descentralizada, em cinco regiões da cidade]. Gostaríamos de trazer alunos da periferia, mas preferimos ir até lá e, se o projeto se consolidar, vamos expandi-lo. É um projeto ambicioso, bonito e a Prefeitura está realmente empenhada.” Fernando Hashimoto observa que o investimento vem da Secretaria Municipal de Educação e, portanto, as atividades estão voltadas ao ensino, começando pela chamada musicalização infantil. “Primeiro promovemos um primeiro contato com a música – exposição à música em geral, apreciação, trabalho com ritmo, percepção de melodia – e depois as crianças são apresentadas aos instrumentos, com aulas teóricas e de prática musical. Um dos segredos desta metodologia, um tanto inovadora, é o ensino sempre coletivo, ao invés das aulas individuais. Teremos aulas com todos os instrumentos, como cordas, metais e percussão.” Segundo o professor do IA, estudos já comprovaram que a formação pela música (assim como pelo esporte) contribui não apenas para melhorar a cognição, mas também o desempenho escolar. “O nome do projeto da Prefeitura, Primeira Nota, se refere não só a aprender a tocar um instrumento, mas também a conseguir as primeiras notas nas disciplinas. Além disso, a música, por sua

Foto: Antonio Scarpinetti

O professor Fernando Hashimoto, coordenador do projeto pela Unicamp: “Desconheço uma experiência similar desta dimensão no país”

característica coletiva, promove a interação social ajudando a quebrar barreiras como de diferenças de classe e diminuindo o bullying. Na aula em conjunto as responsabilidades são divididas e o aluno aprende que depende do outro, que não se faz música sozinho.” A expectativa de Fernando Hashimoto é de que este projeto da Unicamp junto à rede de ensino ganhe o reconhecimento da sociedade e, consequentemente, dos políticos,

tornando-se perene depois desses três anos da atual gestão na Prefeitura de Campinas. “Do ponto de vista acadêmico, tenho certeza de que o projeto vai dar bons frutos. Estamos ansiosos porque, além da parte de extensão universitária, é uma oportunidade de pesquisa, já que poderemos observar de perto e no longo prazo um grande grupo de crianças. Desconheço uma experiência similar desta dimensão no país.” (Luiz Sugimoto)


11

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014

Estudo vê relação entre estações do ano e a composição do guaco Fotos: Antoninho Perri

Química investigou também a ação do solvente extrator na concentração dos princípios ativos

Lívia Maria Zambrozi Garcia Passari, autora da tese: contribuindo para os estudos farmacológicos da planta

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

a fisiologia dos vegetais existem dois grupos de substâncias com funções distintas: os metabólitos primários e os metabólitos secundários. Os primários garantem o desenvolvimento, crescimento e reprodução da planta e os secundários geralmente ocorrem em baixas concentrações e seu aparecimento na natureza é determinado por necessidades ecológicas e possibilidades biossintéticas, com funções de defesa contra herbívoros e microorganismos, proteção contra os raios UV, atração de polinizadores e animais dispersores de sementes. Esses metabólicos secundários, que desempenham papel importante na interação das plantas com o meio ambiente, constituem uma fonte de matériaprima rica em compostos ativos ainda inexplorados pela indústria farmacêutica. No grupo de plantas consideradas medicinais situa-se a Mikania laevigata, popularmente conhecida como guaco, amplamente empregada na América Latina no tratamento de uma variedade de doenças e utilizada na forma de chás e xaropes. Estudos fitoquímicos e farmacológicos conferem-lhe propriedades broncodilatadoras, antimicrobianas, anti-ulcerogênicas e anti-inflamatórias. A cumarina é considerada a principal substância química de ação farmacológica presente nessa planta. Mas, além dela, outros metabólicos secundários derivados do acido cinâmico e de diterpenos curânicos têm demonstrado sinergismo para produzir os efeitos farmacológicos esperados no guaco, pois suas ações resultam da mútua interação química entre eles. A literatura especializada aponta vários fatores que influenciam tanto no número como na concentração dos metabólitos presentes nas plantas medicinais e que, portanto, devem ser considerados quando o objetivo é a extração de uma determinada substância. Entre eles são apontados a origem geográfica da planta, sua idade, aspectos agronômicos e ambientais, como a sazonalidade. Estes fatores estão relacionados com a concentração de nutrientes no solo, índices pluviométricos, umidade, temperatura, clima. Além disso, sabe-se que a eficiência da extração dos metabólicos depende da técnica e da natureza do solvente extrator utilizado. Todos estes parâmetros devem ser considerados para efeito de utilização farmacológica de qualquer vegetal. Este quadro, e particularmente a ação dos efeitos sazonal e do solvente extrator na concentração dos princípios ativos, instigaram a química Lívia Maria Zambrozi Garcia Passari a realizar pesquisas sobre o guaco. A parte experimental do seu trabalho foi desenvolvida no Laboratório de Quimiometria em Ciências Naturais na Universidade Estadual de Londrina (UEL), sob a orientação da professora Ieda Spacino Scarmínio, especialista em Quimiometria em Ciências Naturais e coorientadora do trabalho. A pesquisadora esclarece que seu objetivo fundamental foi o de estudar as folhas da espécie Mikania laevigata quanto ao efeito sazonal na composição dos seus metabolitos secundários, concentrando-se na cumarina e no maior número possível de outros compostos que a acompanham. Ela se propôs também a verificar a eficiência da composição de vários solventes e de suas misturas na extração desses metabolitos e enfatiza que “isso só foi possível porque a quimiometria permite, através da aplicação de métodos matemáticos e estatísticos de análise de dados, planejar os experimentos e extrair o máximo de informações uteis para os químicos a partir de uma quantidade enorme de dados disponíveis”.

O processo multivariado possibilita, com o emprego de grande número de sensores analíticos, determinar uma gama muito grande de compostos, o que não podia ser realizado pelos métodos clássicos, para se chegar aos perfis qualitativos e quantitativos das amostras estudadas. O emprego dos métodos quimiométricos foi de responsabilidade do especialista na área o professor Roy Edward Bruns, do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, que participou do planejamento, da interpretação dos dados e das discussões dos resultados obtidos. e contribuiu para a redação de manuscritos para publicação em revistas científicas. O docente lembra que, depois de ter orientado na Unicamp o mestrado e o doutorado da professora Ieda, passou a desenvolver com ela estreita colaboração. Na época em que ela formava os primeiros mestres, como o então ainda novo curso de pós-graduação por ela chefiado em sua universidade não dispunha de um programa de doutorado, Bruns recebeu três de suas alunas para o doutorado, que passaram a ser coorientadas por ela e que, a exemplo de Lívia, apresentaram recentemente suas teses. Financiado pelo CNPq e pela Fundação Araucária (PR), todo o trabalho experimental da pesquisadora foi realizado em Londrina sob a supervisão da professora Ieda e a discussão dos dados e dos resultados foi realizada conjuntamente pelos dois profes-

O professor Roy Edward Bruns, orientador: novidade do estudo está na utilização de métodos matemáticos e estatísticos

sores. As análises realizadas por cromatografia líquida de ultra-eficiência acoplada à espectrometria de massas sequencial foram realizadas no Instituto de Química (IQ) da Unicamp.

RESULTADOS O professor Bruns considera que a novidade no trabalho foi o fato de a pesquisadora utilizar métodos matemáticos e estatísticos para planejar os experimentos o que lhe permitiu considerar o emprego de diversos solventes com o objetivo de determinar previamente quais ou que misturas deles e em que proporções seriam os mais eficazes para extrair a maior quantidade possível dos metabólitos secundários da planta. Os resultados obtidos em laboratório levaram à constatação de que o componente ativo do guaco, a cumarina, era mais abundante no verão do que no resto do ano e, em vista disso, a planta colhida nessa época era a mais adequada à sua extração. Entretanto, ela constatou também que o composto precursor da cumarina, o ácido o-cumárico - assim considerado por lhe dar origem - era mais abundante no inverno e na primavera do que no verão, época então em que a situação se invertia. Ou seja, quando a cumarina está em alta concentração o seu precursor esta em baixa, e vice-versa, dinâmica característica dos sistemas que envolvem transformações químicas. Estas constatações

sugerem a interferência e a importância da sazonalidade no processo interno de transformação da planta, ou seja, nas modificações químicas que ocorrem dentro dela. O estudo se justifica, segundo Lívia, por possibilitar a determinação qualitativa e quantitativa das substâncias que possuem os princípios ativos responsáveis pelos efeitos farmacológicos no organismo. É esse conhecimento científico que permite ratificar o consagrado uso popular do guaco e identificar as espécies mais apropriadas à extração dos seus princípios ativos, mesmo porque cada espécie da planta possui sua composição especifica que pode ser distinguida apenas através da pesquisa. É ela que visa determinar quais espécies podem ou devem ser usadas para a elaboração, por exemplo, dos xaropes comercializados. Apenas com o estudo do perfil químico as espécies de guaco aparentemente muito parecidas podem ser diferenciadas, contribuindo para os estudos farmacológicos dessa planta muito utilizada na América Latina. A propósito, ela lembra que embora vários compostos presentes no guaco estejam perfeitamente caracterizados, caso da cumarina e seu precursor o ácido o-cumârico, além de outros já difundidos, ela identificou a presença ainda do ácido melilótico, cuja existência e medição das abundâncias relativas na planta não tinham sido anteriormente relatadas na literatura.

SOLVENTES Com base em um planejamento estatístico de misturas foram previamente selecionados e depois utilizados, como solventes extratores, acetona, etanol, clorofórmio e diclorometano e suas misturas binárias, ternárias e quaternárias, respeitadas as equivalências volumétricas em cada uma delas. Isoladamente todos os solventes se prestaram às extrações tanto da cumarina como dos ácidos mililótico e o-cumárico. Mas as extrações se mostraram mais eficientes para os dois ácidos quando utilizada a mistura ternaria em que foram adicionadas partes iguais de acetona, clorofórmio e etanol. Já para a cumarina verificou-se que o solvente puro etanol a extrai em maior concentração. A pesquisadora lembra que ”as concentrações dos ácidos melilótico e o-cumárico foram altamente correlacionadas durante todo o ano. As maiores concentrações de cumarina foram obtidas no verão, enquanto que para os ácidos o-cumárico e melilótico as maiores abundâncias ocorreram na primavera. O efeito do solvente também se mostrou significativo. No verão o etanol extraiu a maior quantidade de cumarina, enquanto que as maiores quantidades dos ácidos o-cumárico e melilítico foram extraídas por misturas contendo etanol e acetona nas estações primavera e inverno”. Lívia considera que atingiu seus objetivos principais que eram o de determinar o efeito sazonal na composição dos metabólicos secundários do guaco e o efeito dos solventes e de suas misturas nas respectivas extrações. Credita os resultados ao planejamento estatístico que orientou o trabalho e à utilização dos processos quimiométricos, recursos que podem ser aplicados em outros trabalhos similares envolvendo outros vegetais de forma a estudar e otimizar as condições experimentais.

Publicação Tese: “Estudos quimiométricos dos efeitos do solvente e da sazonalidade nos metabólitos secundários da Mikania laevigata” Autora: Lívia Maria Zambrozi Garcia Passari Orientador: Roy Edward Bruns Coorientadora: Ieda Spacino Scarminio (UEL) Unidade: Universidade Estadual de Londrina (UEL) Instituto de Química (IQ) da Unicamp Financiamento: CNPq e Fundação Araucária


12 o início do século 19, a arte da pintura de paisagem ajudou a geografia a nascer como ciência e o Brasil a se enxergar como país, diz a dissertação de mestrado “A Geografia e a Paisagem Tropical nas Pinturas de Johann Rugendas”, defendida por Vonei Ricardo Cene do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. “A premissa desta pesquisa é que a pintura de paisagem é concomitante ao próprio processo de desenrolar do conceito de paisagem na geografia, havendo assim, uma profunda interconexão entre estes dois atos, o acadêmico, sobre a construção do conceito de paisagem e o prático, sobre a pintura e toda a técnica envolvida”, afirma o trabalho. “Existia uma corrente, muito impulsionada por Goethe [Johann Wolfgang von Goethe, pensador, poeta e escritor alemão, que viveu de 1749 a 1832] e por Humboldt [Alexander von Humboldt, naturalista e filósofo alemão, que viveu de 1769 a 1859] que só se conseguiria transmitir o conhecimento do mundo tropical, em sua totalidade, através da pintura”, disse Cene ao Jornal da Unicamp. “O naturalista estudava a folha, o tamanho da folha, o tamanho da árvore, o tipo de solo, eram estudos feitos por um cientista, mas cada elemento separadamente. Como eu conseguiria representar isso tudo junto? Eu precisaria de um artista, porque só a arte ia conseguir transmitir esse conhecimento científico. Então as coisas caminhavam juntas, não havia uma distinção entre ciência e arte. Era uma junção”, declarou. Os naturalistas europeus que vinham estudar as Américas nos séculos 18 e 19, explica o pesquisador, tinham várias técnicas para preservar e analisar espécimes separadamente, mas não meios de reproduzir a sensação que os cientistas e artistas tinham do conjunto da paisagem. “A grande importância da pintura é que havia várias técnicas de dissecação, taxidermia, de secagem para levar as folhas, os frutos para a Europa”, disse Cene. “Só que você tirava esse elemento de seu meio. Como é esse elemento no seu meio natural? Só a pintura que permitia ver isso. Você então é um cientista, um naturalista, e eu fiz a viagem, levei todos esses materiais para você analisar. Mas se não tiver o quadro ali, você não saberia como era a harmonia dos elementos naturais in situ. Você precisava do artista para transmitir isso, mesmo que na visão particular dele”.

Ciência na

paisagem Imagens: Reprodução

Obras de Johann Moritz Rugendas, que esteve duas vezes no Brasil: pesquisa analisa escolhas do artista alemão

FLAMINGOS

RUGENDAS

O fio condutor da dissertação vem da vida e da obra do artista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), artista que esteve duas vezes no Brasil: primeiro, como membro da expedição científica do cônsul do Império Russo no Brasil, Barão von Langsdorff [Georg Heinrich von Langsdorff, 1774-1852], e depois de forma independente. “O Rugendas, especificamente, era desenhista de uma família que já tinha tradição artística, e que depois vai se tornar pintor”, contou Cene. “Num primeiro momento, ele acompanha Langsdorff, alemão que era um cônsul do império russo aqui no Brasil. É o Langsdorff quem dizia ao Rugendas, nesse primeiro momento, o que devia ser representado ou não na pintura. Mas depois Rugendas rompe com ele e segue por conta própria”. Essa primeira passagem do artista pelo país vai de 1822 a 1825. Ele retorna, depois, para uma estada, de 1831 a 1846, onde além de paisagens, pinta também retratos da família imperial. “Boa parte doas quadros que ele pinta com a família real ou com o imperador tem os retratados no meio e a vegetação ocupando o resto do quadro, para ligar o símbolo do poder político com o símbolo de identidade da terra”, disse Cene. Além de fazer parte do estudo científico das terras tropicais, no Brasil especificamente a pintura de paisagem ajudou a construir o conceito de identidade e de nação, após a independência, conta o pesquisador. “A natureza como peça fundamental na formação de uma nação, ganhou ressonância na elite logo após a independência, por estar apoiada na legitimação dada no imenso território”, diz o texto da dissertação, que mais adiante acrescenta: “Havia a necessidade de

Publicação Dissertação: “A Geografia e a Paisagem Tropical nas Pinturas de Johann Rugendas” Autor: Vonei Ricardo Cene Orientador: Antonio Carlos Vitte Unidade: Instituto de Geociências (IG)

A dissertação lembra a grande influência exercida pelo artista francês e amigo de Rugendas Félix-Émile Taunay (1795-1881), professor de pintura e paisagem da Academia e, posteriormente, seu diretor. “A Academia Imperial esteve, entre os anos de 1824 a 1851, anos de criação e consolidação, estritamente ligada à vida de Félix-Émile o qual fez dela seu projeto de vida”, diz o texto. Taunay tinha uma visão neoclássica da arte, que via como imitação da natureza, o que dava um espaço espacial à pintura de paisagens: “Dentre as contribuições da Academia e de Félix-Émile em sua direção, podemos ressaltar a importância que ele atribui ao trabalho do ensino das artes e do artista (já formado) com a representação da natureza. Félix-Émile acreditava que era preciso estabelecer uma relação entre a natureza e a obra, na qual a obra era uma imitação da natureza”.

unir os diferentes povos que aqui se encontravam, a fim de tornar-se uma única nação. Mas não havia interesse por parte da elite em considerar a história dos nativos, muito menos dos negros trazidos como escravos. Por isso, ocorreu a exaltação da natureza”, como um substituto da história como fator de identidade nacional.

GEOGRAFIA E HISTÓRIA

“Na Europa a história é que cria a geografia”, disse Cene. “Primeiro surge a história, e depois nasce a geografia, como ciência. No Brasil, é a geografia que vai criar a história, na verdade. Num outro sentido de história, mas é a geografia que vai dar essa união dos povos. Era preciso um elemento que unisse todo mundo. A elite não queria a história dos negros, muito menos a dos indígenas. Então, que elemento há para eu usar e unir todo mundo? Como unir todo mundo em torno de um mesmo sentimento? Tem que ser um sentimento que dê orgulho, e que também projete prosperidade, para que todo mundo acreditasse que, através da natureza, era possível gerar desenvolvimento, o que é uma ideia que já existia na época, mesmo fora do Brasil”. A natureza, explica o autor, ajuda a resolver três problemas na fundação do Brasil: o da criação de uma identidade comum dos brasileiros; o da conservação da unidade territorial; e a justificação do império, num continente onde o modo republicano vinha sendo adotado pelos novos países independentes. “Essa floresta é típica do Brasil, então todo aquele território que ela cobre pertence a nós”, relata Cene. “No caso do império, a natureza também vai ajudar, porque projeta a exuberância, o exotismo. É como se dissesse, olha, é exuberante, é daquele país, é típico daquela região, é exótico”. “A natureza é como um quadro em branco, você pode pôr qualquer ideologia política,

qualquer contexto você pode criar lá”, disse. De acordo com a dissertação: “Buscam-se, na geografia, os elementos que pudessem ser usados como símbolos de uma nação, que a unificasse em torno deles. Encontramse, nos estudos geográficos da natureza, fontes para tais símbolos”. E mais adiante: “Vale lembrar que a ciência era tida como elo entre uma nação e a modernidade, ser moderno era ter apreço e promover o desenvolvimento da ciência”. O trabalho cita a criação da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, estabelecida em sede própria em 1826, como sinal do fortalecimento da ligação entre a pintura de paisagem tropical e a ideia de criar uma nação calcada nos símbolos da natureza, processo que vem a fortalecer o reconhecimento artístico de Rugendas no Brasil.

Como a pintura poderia ser usada como instrumento científico, se toda criação artística é subjetiva? “Mas mesmo a fotografia cai nessa questão, tem o ponto de vista do fotógrafo”, disse Cene. “A obra de arte permite uma múltipla investigação: é um documento histórico, é também um elemento de como o artista vê. Então, para saber como ele vê tem que investigar todo o contexto histórico: o que estava acontecendo na política, na filosofia, na arte, por exemplo”. Para além do apuro técnico no desenho detalhado das características de plantas e animais, Cene desvenda algumas das escolhas subjetivas feitas por Rugendas na composição geral de seus quadros. “Na pintura de paisagem dele, a mata sempre aparecia fechada. Por quê? Para dar a ideia de mata virgem: no imaginário da época, a mata virgem tinha que ser fechada. Também tem o coqueiro. Coqueiro era visto como uma coisa típica, uma marca do mundo tropical. Quase todas as obras dele têm coqueiros”. Outro exemplo: “Há também a ideia da natureza ocupar todo o quadro: você via só um pedacinho do céu, o que é diferente da origem da pintura da paisagem na Holanda, onde havia outra concepção, o céu ocupava metade do quadro, havia uma concepção religiosa de aproximar o céu da terra”. E havia também o lado comercial, que às vezes se sobrepunha à fria fidelidade científica. Muitos trabalhos de Rugendas foram reproduzidos pela técnica de litografia e reunidos num livro que fez sucesso na Europa, “Voyage Pittoresque dans les Brésil” (Viagem Pitoresca através do Brasil). “Num dos quadros, ‘Floresta virgem próxima a Mantiqueira’, tem a floresta e dois flamingos lá no meio, sendo que o flamingo não era típico daquela floresta”, exemplifica Cene. “Mas havia essas duas coisas: ele precisava transmitir o conhecimento científico e os europeus se interessavam muito pela questão do exótico, então ele às vezes representava diferentes elementos que nem sempre estariam naquele mesmo lugar”.

Vonei Ricardo Cene, autor da dissertação: “Não havia uma distinção entre ciência e arte” Foto: Antonio Scarpinetti

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Campinas, 3 a 9 de novembro de 2014


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.