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Foto: Antoninho Perri

Papel gera

língua eletrônica 4 Tese da pesquisadora Emília Katarzyna Witkowska Nery (foto) aborda dois sistemas que têm o papel como base: um sensor para análise simultânea de glicose, ácido úrico e colesterol; e línguas eletrônicas para análise de bebidas, entre as quais água, cervejas e vinhos.

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015 - ANO XXIX - Nº 637 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: André Kassab

QUILOMBOS

conquistam terra, direitos e autonomia 6a8

Morador em estrada vicinal que corta o quilombo de Ivaporunduva

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Sensor economiza água ao controlar irrigação Uma liga de aço para rodas ferroviárias

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Um livro e um projeto temático, ambos frutos de pesquisas desenvolvidas em SP pelo Nepam da Unicamp, revelam como comunidades quilombolas, depois de décadas de luta e isolamento, foram inseridos no sistema produtivo ao conquistarem seus direitos e a ocupação da terra. O projeto, financiado pela Fapesp e coordenado pela antropóloga Célia Futemma, tem como foco o Vale do Ribeira. O livro “Territórios em disputa: do impasse ao jogo compartilhado entre técnicos e residentes - Parque Estadual da Serra do Mar”, da pesquisadora Eliane Simões, revisita comunidades de quilombolas e de caiçaras em Ubatuba.

Casca do araticum tem propriedades antioxidantes

Clãs de cachalotes adotam dialetos A relação entre a força dos nós e a geometria

Um projeto inovador no campo da saúde mental

Igualdade entre homem e mulher nas ciências sociais

TELESCÓPIO

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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

‘Ralo’ de carbono volta a funcionar

Cachalotes têm dialetos

A capacidade dos oceanos ao redor da Antártida de retirar dióxido de carbono da atmosfera vem se recuperando desde 2002, depois de um período de queda acentuada ao longo das décadas de 80 e 90, diz artigo publicado na revista Science. De acordo com os autores, esta é a “região mais poderosa para captura de CO2 antropogênico” em todo o oceano global. “A grande variação, ao longo de décadas, no ‘ralo’ de carbono do oceano meridional sugere um ciclo de carbono oceânico dinâmico, que varia mais ao longo do tempo do que se pensava”, afirma o trabalho, de autoria de uma equipe internacional. Os pesquisadores analisaram 30 anos de dados sobre o oceano meridional. Os números sugerem que a capacidade de absorção de carbono, o chamado “ralo”, foi menor que o normal entre o início dos anos 80 e até 2002. A partir daí, ela voltou a crescer graças a uma série de fatores, incluindo variações na temperatura da superfície oceânica.

As baleias cachalotes se organizam em sociedades com diferentes dialetos de comunicação que são aprendidos culturalmente, e não mero fruto de variações aleatórias, afirma artigo publicado no periódico Nature Communications. “As relações sociais das baleias cachalotes organizam-se em sociedades de muitos níveis, com um nível superior composto de clãs de indivíduos que se comunicam usando padrões semelhantes de cliques”, escrevem os autores, vinculados a instituições do Canadá, Estados Unidos e Filipinas. “Demonstramos que é improvável que os clãs sejam produto de deriva genética ou cultural”, escrevem, “mas que provavelmente se originam da transmissão cultural, via aprendizado social (...) A transmissão cultural parece a chave para a partição das baleias cachalotes em clãs” que convivem em territórios sobrepostos. O artigo especula que processos semelhantes aos que geram as culturas humanas atuam também em sociedades de outras espécies e “criam estruturas sociais de múltiplos níveis na natureza”.

A origem da farinha O mais antigo sinal do uso, por seres humanos, de um procedimento técnico complexo para a obtenção de alimento vegetal é um vestígio de amido de aveia encontrado numa ferramenta de pedra de 32 mil anos atrás, descoberta numa caverna do sul da Itália, a Grotta Paglicci. O achado e suas implicações para a história da dieta humana são discutidos em artigo publicado no periódico PNAS. “A distribuição quantitativa dos grãos de amido na superfície da mó forneceu informações sobre o manuseio da ferramenta (...) o estado de preservação dos grãos sugere o uso de um tratamento térmico antes da moenda, possivelmente para acelerar a secagem das plantas”, escrevem os autores, vinculados a instituições italianas. Nota da PNAS afirma que os habitantes da Grotta Paglicci podem ter sido o primeiro povo a usar um processo de várias etapas na preparação de vegetais para o consumo – no caso, a produção de farinha de aveia.

O impacto da ostentação A visibilidade da riqueza agrava as consequências nefastas da desigualdade econômica, de acordo com simulação descrita na edição mais recente da revista Nature. Os autores, da Universidade Yale, realizaram um jogo de “bens públicos” – em que os jogadores recebem um capital inicial e são convidados a contribuir, com parte dele, para uma bolsa que depois será partilhada por todos – com mais de 1.400 voluntários. Além de controlar os diferentes graus de riqueza inicial dos participantes, criando redes sociais com três níveis diferentes de desigualdade, correspondentes a índices Gini de zero, 0,2, e 0,4 (para comparação, o Gini brasileiro, em 2012, era de 0,527, segundo o Banco Mundial), os autores manipularam também a visibilidade da riqueza: se cada jogador poderia, ou não, saber quanto capital havia sido dado a seus vizinhos de rede. “Mostramos que a visibilidade da riqueza facilita as consequências negativas da desigualdade inicial – em situações inicialmente mais desiguais, a visibilidade da Foto: Stefano Ricci/Divulgação

Pedra de moer pré-histórica, descoberta em vestígios de farinha de aveia

riqueza levou a desigualdade ainda maior (...) tornar a riqueza visível tem consequências negativas para o bem-estar, gerando níveis menores de cooperação, interconexão e riqueza”, diz o artigo.

Sonar duplo Morcegos da espécie Barbastella barbastellus podem ter não apenas um, mas dois sistemas de ecolocalização; esses mamíferos seriam capazes de emitir dois sinais sonoros, um pelo nariz, apontado para cima, e outro pela boca, apontado para baixo, o que lhes permitiria perseguir presas no ar e, ao mesmo tempo, sondar o ambiente. O estudo que sugere a presença do “sonar duplo” está publicado no periódico PLoS ONE. A presa preferencial desses morcegos, explicam os autores, é um tipo de mariposa sensível ao sonar. Para evitar assustar o inseto, os Barbastella usam um sinal sonoro que é até 99% mais fraco que o dos demais morcegos caçadores. Os pesquisadores, da Universidade de Tubinga, na Alemanha, especulam que o sinal duplo evoluiu para compensar a baixa capacidade que um sonar tão fraco tem para informar o morcego sobre sua posição relativa aos arredores em que se encontra. “Os sinais dirigidos para cima, pelo nariz, podem ser úteis na busca e localização da presa. Sua intensidade baixa evita a detecção antecipada pelas mariposas, mas isso vem à custa de uma forte redução do raio de detecção para o ambiente abaixo do morcego”, diz o artigo. “Os sinais da boca, voltados para baixo, podem ter evoluído para compensar essa desvantagem e ser usados principalmente para orientação espacial”.

A força dos nós Pesquisadores do MIT e da Universidade Pierre et Marie Curie publicam, no periódico Physical Review Letters, artigo que analisa a relação entre a geometria e a força de alguns nós comuns. De acordo com nota divulgada pelo MIT, foram realizados experimentos para determinar como a força necessária para apertar um nó varia com o número de voltas e torções dadas no fio. Os autores lembram que diversos profissionais, de cirurgiões a montanhistas, têm um conhecimento prático sobre quais os tipos de nó mais adequados para determinadas aplicações, e esperam que uma descrição matemática da relação entre forma e força possa permitir que esse conhecimento avance de modo mais sistemático.

EUA reveem regras para testes em humanos O governo dos Estados Unidos prepara a divulgação de regras mais estritas para a realização de testes em seres humanos por pesquisadores financiados com verba pública. As novas normas encontram-se em elaboração há quatro anos. Uma das principais mudanças é a exigência de que os cientistas obtenham per-

missão dos voluntários antes de utilizar os dados obtidos numa pesquisa em novos estudos, não relacionados com o original. Também há revisões para simplificar procedimentos, incluindo a estrutura dos formulários de consentimento.

Cientistas-cidadãos detectam buracos negros O projeto de ciência online Radio Galaxy Zoo, em que “cientistas-cidadãos” – voluntários sem preparo acadêmico específico – são convidados a identificar sinais da presença de buracos negros em imagens de telescópios, e a vincular esses buracos negros às galáxias a que pertencem, completou um ano. Um balanço desses 12 meses iniciais foi publicado no repositório de artigos científicos ArXiv, e aceito pelo periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Os voluntários do projeto passam por um treinamento online antes de receber as imagens para analisar. Até agora, foram capazes de associar 60 mil fontes espaciais de ondas de rádio – geralmente, buracos negros gigantes que emitem jatos de energia ao devorar nuvens de poeira – às galáxias em que se encontram, feito que um astrônomo profissional sozinho só conseguiria completar em 50 anos.

Igualdade nas ciências sociais Levantamento realizado no Reino Unido indica que, diferentemente do que acontece nas ciências físicas e biológicas, há muito poucas desigualdades entre homens e mulheres no financiamento de pesquisas dentro da área de ciências sociais, ao menos entre os britânicos. “Levando-se em conta posições acadêmicas equivalentes, há pouca diferença entre as taxas de pedido de verba, de sucesso nos pedidos e no montante dos fomentos”, diz nota distribuída pela Universidade de Leicester, onde atua Paul Boyle, principal autor do trabalho e ex-executivo-chefe do Conselho de Pesquisa Econômica e Social do Reino Unido. “Mulheres na verdade recebem dotações levemente superiores às de homens em posição equivalente, ainda que a diferença não seja significativa”. Em comentário publicado na revista Nature, Boyle e colegas notam que esses dados contrastam com número do Conselho Europeu de Pesquisa, que constatou que, ao longo de todas as áreas, no período de 2007 a 2013, as mulheres fizeram apenas 25% dos pedidos de financiamento, e receberam apenas 20% das verbas. “Esse padrão é evidente em diferentes proporções entre os domínios disciplinares”, diz o artigo. “Nas ciências físicas e engenharias, mulheres fazem 17% dos pedidos e recebem 15% das verbas; nas ciências biológicas, 30% e 21% e nas ciências sociais, 36% e 31%”. No Reino Unido, é nas ciências sociais que esse padrão de sub-representação feminina é quebrado, mas ainda de modo imperfeito: as cientistas sociais britânicas ficam com apenas 41% das verbas disponíveis, porque “há menos mulheres em altas posições”.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

Pesquisa da FEEC desenvolve sensores capazes de medir a umidade do solo e controlar a irrigação no campo

Contra o desperdício,

a inteligência inteligência Fotos: Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisadores do Departamento de Componentes Semicondutores, Instrumentos e Fotônica (DSIF) da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp desenvolveram um conjunto de sensores inteligentes para uso na agricultura. O dispositivo, que é mais barato e eficiente que os encontrados no mercado, mede a umidade do solo e controla a irrigação da lavoura, contribuindo para reduzir significativamente o desperdício de água. O estudo contou com a colaboração de cientistas da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da própria Unicamp e do Instituto de Pesquisa de Energia da Catalunha e da Instituição Catalã de Pesquisa e Estudos Avançados (respectivamente IREC e ICREA, nas siglas em espanhol), unidades vinculadas à Universidade de Barcelona. A linha de pesquisa voltada ao desenvolvimento de sensores inteligentes deu origem a duas teses de doutorado recentes, defendidas por Maria Bernadete de Morais França e Pedro Carvalhaes Dias. A primeira foi orientada pelo professor José Antonio Siqueira Dias e a segunda, pelo professor Elnatan Chagas Ferreira. Embora com abordagens distintas, os estudos se complementaram e conferiram características inovadoras aos sensores, como explica o professor Siqueira. De acordo com ele, os trabalhos foram dedicados à concepção de dispositivos para promover a aferição da umidade do solo a partir da técnica denominada “transferência de calor”. Ao ser “plantado” no solo, o dispositivo mede a umidade numa determinada área, em diferentes profundidades. Como é dotado de um processador previamente alimentado com uma série de dados, o sistema analisa as informações obtidas e, caso haja necessidade, aciona automaticamente o sistema de irrigação, liberando água pelo tempo e no volume estritamente necessário. Os modelos vendidos comercialmente, conforme o professor Siqueira, fazem uma medição assemelhada, mas não têm a capacidade de tomar decisões. Em outros termos, as informações têm de ser coletadas e interpretadas por uma pessoa, que deliberará por fazer ou não a irrigação. “A grande vantagem dos dispositivos inteligentes é que eles contribuem para o uso racional da água, procedimento imprescindível nos dias de hoje. Infelizmente, ainda registramos um grande desperdício dos nossos recursos hídricos por parte da agricultura. Como não há cobrança ou controle sobre o uso da água pelo setor, o desperdício normalmente é muito grande”, pontua o docente da FEEC. As vantagens proporcionadas pelos sensores inteligentes não se resumem à economia de água, como observa o engenheiro agrícola e pesquisador da Feagri, Tulio Assunção Pires Ribeiro, que também colaborou com as pesquisas. Ele explica que o uso

Sensor em teste em área da FEEC: modelo mais caro tem custo de US$ 2, contra US$ 200 dos dispositivos encontrados no mercado

Pedro Carvalhaes Dias, autor de uma das teses da linha de pesquisa: tornando os sistemas 100% ecologicamente corretos

adequado da água na irrigação ajuda a ampliar a produtividade de uma cultura. “Escassez de água é ruim, mas excesso também é, pois prejudica o desenvolvimento da planta. Além disso, quando a irrigação é exagerada, a água excedente pode arrastar os defensivos agrícolas presentes no solo para o lençol freático, contaminando-o”, adverte. Embora a pesquisa já tivesse obtido um avanço importante a esta altura, o professor Elnatan percebeu que seria preciso ir ainda mais longe. Isso foi feito por intermédio da tese de doutorado de seu aluno Pedro Carvalhaes Dias, que tornou os sistemas 100% ecologicamente corretos. O principal desafio foi encontrar uma alternativa para a alimentação dos dispositivos.

O professor José Antonio Siqueira, da FEEC: “A grande vantagem dos dispositivos inteligentes é que eles contribuem para o uso racional da água, procedimento imprescindível nos dias de hoje”

É que para funcionar no campo, os sensores teriam que ser dotados de baterias, que têm autonomia limitada, algo em torno de três meses. “Imagine uma grande fazenda, na qual seria necessário instalar mil sensores ou mais? Trocar as baterias de todos eles a cada 90 dias seria muito caro, trabalhoso e demorado. Além disso, quando a bateria é substituída, o dispositivo tem que ser desligado. Ao ser religado, ele precisa ser reconfigurado, pois é dotado de um relógio de tempo real. Todo esse processo geraria um custo enorme, sem contar que ao final de sua vida útil, essas baterias teriam que ser descartadas”, pondera o docente. A solução para o problema veio da Universidade de Barcelona, mais especificamente por intermédio do professor Andreu Cabot, que atua no IREC/ICREA. O docente coordena uma linha de pesquisa em torno de geradores termoelétricos de energia, que fazem uso de materiais nanométricos. Ao tomar conhecimento das investigações conduzidas pelos pesquisadores da FEEC, por meio da leitura de artigos científicos, ele percebeu que as duas áreas poderiam promover um diálogo profícuo. Assim, Andreu propôs uma parceria entre as instituições, que foi formalizada em 2013. Graças a essa colaboração, os sensores desenvolvidos na FEEC incorporaram a nanotecnologia, com o emprego de resistores termossensíveis nanoestruturados de quantum dots, e passaram a ser alimentados por um sistema de colheita de energia [Energy Harvesting, no termo em inglês], temas que foram abordados na tese de doutorado de Pedro Carvalhaes Dias. Esse tipo de tecnologia converte energia térmica em energia elétrica. Dito de modo simplificado, o sistema transforma o calor do ambiente em energia elétrica, que por sua vez que faz com que os dispositivos de medição de umidade do solo funcionem por toda a sua vida útil, sem necessidade de baterias.

O pesquisador Tulio Ribeiro, da Feagri: “Escassez de água é ruim, mas excesso também é, pois prejudica o desenvolvimento da planta. Além disso, quando a irrigação é exagerada, a água excedente pode arrastar os defensivos agrícolas presentes no solo para o lençol freático, contaminando-o”

Segundo o professor Siqueira, essa tecnologia é mais robusta para a aplicação em plantações do que as células solares, cuja operação depende obviamente da presença de luz solar. “No caso dos coletores de radiação térmica, essa condição não é necessária. Não é preciso ter luz solar, basta calor. Além disso, o funcionamento do sistema não vai ser afetado caso um pássaro faça sujeira sobre o sensor”, assinala, em tom descontraído, o docente. A despeito de todos esses atributos, os dispositivos desenvolvidos nos laboratórios da FEEC têm um custo expressivamente menor que os dos similares encontrados no mercado. Dentre os vários modelos de sensores desenvolvidos na Unicamp, a versão mais barata, segundo o professor Siqueira, sai por ínfimos 0,85 centavos de dólar. Já a mais cara fica em torno de 2 dólares. “O modelo de sensor mais barato do mercado que apresenta desempenho semelhante gira em torno de 200 dólares. Ou seja, além de ser mais eficiente, a nossa tecnologia também é muito mais barata”, compara. Segundo o pesquisador, a pesquisa deve gerar duas patentes. A equipe já está trabalhando na elaboração dos pedidos de depósito. “Ainda temos que melhorar um ou outro ponto do sensor, mas nossa expectativa é de que essa tecnologia possa ser transformada futuramente em um produto comercial. Entretanto, para que isso aconteça, é preciso que haja uma mudança de atitude em relação ao meio ambiente. Assim como outros recursos naturais, a água não pode continuar sendo desperdiçada como é atualmente”, pondera.

INCÊNDIO Em visita à Unicamp, onde participou da banca de avaliação da tese de Pedro Carvalhaes Dias, defendida no início de setembro, o professor Andreu Cabot considerou a parceria entre a Unicamp e a Universidade de Barcelona muito importante para o desenvolvimento e a aplicação do conhecimento. Ele também enfatizou a relevância da associação de diferentes áreas do saber para a busca de um objetivo comum. “Atualmente, muitas disciplinas se mesclam com o objetivo de desenvolver novos materiais, novos produtos. Como o desafio é muito complexo, a multidisciplinaridade é indispensável para que obtenhamos avanços”, avalia. O resultado da parceria entre Unicamp e Universidade de Barcelona foi tão positivo que os pesquisadores já pensam em dar continuidade às investigações de forma colaborativa, mas abordando novos temas. “Estamos analisando a possibilidade de ampliarmos o nosso foco de ação. Fomos procurados pela Universidade de Washington, que está interessada em participar de um projeto voltado para o desenvolvimento de sensores para a identificação de incêndios em florestas. A ideia é associar o conhecimento dos norte-americanos sobre o tema à capacidade do IREC de produzir nanopartículas capazes de detectar gases e fumaça e ao conhecimento da FEEC na área de instrumentação eletrônica. Acreditamos que essa junção pode gerar resultados muito interessantes”, infere o professor Elnatan.

O professor Andreu Cabot, da Universidade de Barcelona: parceria com a Unicamp foi importante para o desenvolvimento e a aplicação do conhecimento


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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

Fazendo o papel de sensor Substrato celulósico é a base de língua eletrônica e de sistema que analisam de glicose a bebidas LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

papel está presente no mundo da química analítica há séculos, mas somente há dez anos ocorreu a sua redescoberta como um substrato valioso para sensores de plataformas analíticas, iniciando-se um boom nas pesquisas com esta finalidade. A constatação é da pesquisadora Emília Katarzyna Witkowska Nery, que acaba de apresentar tese de doutorado focando o desenvolvimento de dois sistemas tendo o papel como base: um sensor para análise simultânea de glicose, ácido úrico e colesterol; e línguas eletrônicas para análise de bebidas (água, cervejas e vinhos). Os dispositivos são do tipo POCT (Point of Care Test), que podem ser manuseados por leigos e os resultados analisados imediatamente ou transmitidos a um laboratório. “Podemos listar facilmente algumas das inúmeras vantagens desse substrato celulósico, incluindo propriedades mecânicas, estrutura fibrosa tridimensional, biocompatibilidade e biodegradabilidade, facilidade de produção e modificação, preço razoável e disponibilidade em todo o mundo. Essas características fazem do papel uma primeira escolha para sensores descartáveis e plataformas de sensores integrados”, afirma a autora na tese intitulada “Dispositivos analíticos a base de papel para análise de interesse clínico e alimentício”, orientada pelo professor Lauro Tatsho Kubota e defendida no Instituto de Química (IQ). Emília Nery lembra que os primeiros sensores deste tipo remontam há 2.000 anos e que hoje, apesar de a maioria dos testes populares oferecerem somente respostas do tipo “sim” ou “não”, já temos no mercado aqueles que também medem concentrações, como o de pH. “As técnicas atuais possibilitam desenvolver maior número de testes quantitativos, com várias análises ao mesmo tempo e apresentando os dados de maneira simples para leigos. Aqui no laboratório do professor Lauro Kubota, os trabalhos em papel começaram alguns anos antes do meu, e eu quis dar sequência por se tratar de um material facilmente modificável, levando-se muito pouco tempo entre se ter a ideia e desenvolver um dispositivo.” Segundo a pesquisadora, em trabalho com polímero, por exemplo, que exige técnicas mais complexas de microfabricação, o tempo para produzir um dispositivo é bem maior e, muitas vezes, sem trazer os resultados desejados. “Com o papel também pode não dar certo, mas basta imprimir e recortar outras folhas para insistir no teste – se a opção é a impressão com cera criando uma parede hidrofólica, já se tem um microcanal para passagem da amostra. Muitos grupos iniciaram suas pesquisas por causa da técnica extremamente simples, rápida e barata. Já foram desenvolvidas inúmeras técnicas de fabricação e metodologias de detecção, sendo que agora se busca viabilizar aplicações efetivas desses dispositivos.”

COLESTEROL,

ÁCIDO ÚRICO E GLICOSE A primeira parte do projeto de Emília Nery envolveu o desenvolvimento de sistemas para análise de glicose, colesterol e ácido úrico em amostras biológicas (com detecção colorimétrica e eletroquímica), a avaliação dos métodos de quantificação de proteínas imobilizadas no papel e a revisão dos métodos de imobilização enzimática. “Alguns sistemas baseados em papel já foram propostos, mas nenhum deles realiza a análise de três compostos em um único dispositivo. Além disso, os outros sistemas são baseados na quantificação de peróxido de hidrogênio, com uso de uma enzima auxiliar, a peroxidase – que não é empregada no meu sistema, reduzindo o custo e a complexidade do sensor.” A pesquisadora explica que passou por várias etapas e por vários problemas, desde a dificuldade inicial de detectar os três analitos (amostras com glicose, ácido úrico e colesterol) simultaneamente. “A glicose é facilmente detectável, em qualquer tipo de dispositivo; já para colesterol, a parede não pôde ser feita de cera, pois a amostra perpassa esse material; e com o ácido úrico, a

Fotos: Divulgação

Acima, sistema de língua eletrônica para a análise de amostras de cerveja; abaixo, aparelhos de análise eletroquímica de glicose, colesterol e ácido úrico

“Simplificando, podemos dizer que a língua eletrônica procura imitar o reconhecimento biológico pela língua e nariz. A língua possui sensores que não são tão seletivos e fornecem um sinal bastante complexo enviado ao cérebro para análise – analogicamente, a resposta dos sensores potenciométricos é analisada por quimiometria.” A pesquisadora testou diferentes tipos de isolamento, bem como de papel e de eletrodos para obter sensores estáveis capazes de executar medições em amostras líquidas, chegando a um primeiro dispositivo para identificar adulterações em águas minerais. “Conheço quem viajou para a Índia e ficou com medo de comprar água mineral por achar que a garrafa tinha sido enchida na torneira e, portanto, com contaminantes. No Brasil isso também acontece e nem precisa ser intencional: se o recipiente for mal lavado, podem surgir bactérias ou outra contaminação orgânica e inorgânica.” Como cada água mineral possui uma composição diferente, podendo variar inclusive de poço para poço, Emília Nery observa que o sensor não vai determinar o tipo de contaminação (por bactérias ou excesso de ferro, por exemplo), e sim que há algum composto estranho. “Coletei águas minerais engarrafadas, diretamente na fonte, de torneira e também de lago (‘falsificadas’). Foi possível distinguir as águas minerais e as falsificadas, e ainda utilizei parte das amostras para treinar o sistema, que as classificou corretamente como adulteradas e não adulteradas. O aproveitamento foi de cem por cento.” Em relação à cerveja, considerada a terceira bebida mais popular do mundo e a primeira entre as alcoólicas, a autora da tese testou 34 tipos de várias marcas. “Pela lei de pureza da Alemanha, a cerveja deve ser composta apenas de lúpulo, malte e água. Porém, muitos produtores, para diminuir o custo, adicionam milho, arroz ou mesmo açúcar ou caramelo, sem informar os consumidores na embalagem. A língua eletrônica permitiu medir o pH de todas as amostras, prever o teor alcoólico de mais da metade, discriminar alguns tipos de cerveja de outras, a presença dos ingredientes essenciais, tipo de fermentação e adição de corantes ou estabilizadores, de outros cereais e de açúcar ou caramelo.”

VOLUME DE AMOSTRA área de detecção não coloria uniformemente, formando um anel. Tive então que criar um dispositivo para cada analito.” O passo seguinte, segundo a autora da tese, foi juntar os três dispositivos em um, onde o fluxo de amostra não se dá de um lado ao outro, e sim de cima para baixo: são três camadas de papel (quantidade que pode variar), havendo, além da zona de controle, uma zona para cada analito. “Nesse caso já foi possível juntar glicose e ácido úrico. O colesterol, porém, ainda foi detectado em dispositivo separado, sem impressão de cera, mas com diversos métodos de microfabricação e impregnação com polímeros, num desenho que deve permitir a retenção de amostras e uma resolução suficiente.” A estabilidade para armazenamento e transporte dos sensores foi outro aspecto

avaliado por Emília Nery, uma preocupação que não aparece na literatura relacionada a outros dispositivos baseados em papel, embora eles sejam geralmente submetidos a temperatura elevadas. Ela estudou 33 métodos de imobilização com base em diferentes fenômenos de absorção, por meio de simples microencapsulação em gel, acompanhando a atividade enzimática por 24 semanas. “Obtive uma estabilidade de vinte semanas, o que é bastante considerável.”

LÍNGUAS ELETRÔNICAS

A segunda parte do projeto foi voltada ao desenvolvimento de sensores potenciométricos e sua aplicação em sistema de língua eletrônica para análise de água (visando principalmente falsificações nas águas minerais) e classificação de cervejas e vinhos. Foto: Antoninho Perri

A terceira etapa foi da aplicação da língua eletrônica para discriminar 11 tipos de vinho, uma bebida mais cara e bastante sujeita a falsificações, sobretudo quanto à origem. “Assim como o champanhe, há vinhos característicos de uma região cujo nome é apropriado por outros produtores. A ideia era classificar as amostras por origem geográfica, casta de uva e outros fatores que lhe dão sabor, mas identifiquei apenas o tipo de uva; para conseguir outras informações precisaria incluir mais eletrodos. Ainda para a tese, procurei minimizar o volume de amostra necessária para cada tipo de análise, com o uso de pastilhas de papel e medição em condições de escoamento, chegando a quantidades de 40 microlitros.” Na opinião de Emília Nery, entre os dois conjuntos de sensores que desenvolveu, as línguas eletrônicas estariam mais próximas que virarem produtos comerciais, visto que foram aplicadas para amostras reais e com resultados próximos dos exames laboratoriais. Quanto ao outro grupo de sensores, falta incluir a detecção de colesterol. “Para os usuários, os sensores de glicose, ácido úrico e colesterol funcionariam similarmente a um teste de gravidez. Já a língua eletrônica seria uma segurança para o turista na compra da água e um dispositivo útil para os produtores de cerveja – inclusive das artesanais, que precisam acompanhar o tempo de fermentação.”

Publicação Tese: “Dispositivos analíticos a base de papel para análise de interesse clínico e alimentício” Autora: Emília Katarzyna Witkowska Nery Orientador: Lauro Tatsho Kubota Unidade: Instituto de Química (IQ) A pesquisadora Emília Katarzyna Witkowska Nery, autora da tese de doutorado: dispositivos possibilitam resultados imediatos


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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

Grupo desenvolve liga de aço para roda ferroviária Fotos: Divulgação

Adição de elemento químico vanádio resulta em dispositivo que pode ser usado no transporte de cargas pesadas CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

estes realizados com uso de um equipamento desenvolvido por pesquisadores brasileiros, por meio de parceria entre a Unicamp e a USP, revelaram que uma liga de aço com adição do elemento químico vanádio, criada pela empresa MWL Brasil, tem bom potencial para ser usada em rodas ferroviárias de uma nova geração de vagões utilizados no transporte de cargas pesadas, como carvão, minério de ferro ou grãos. Essas rodas farão parte de uma nova categoria, chamada Classe D, que foi definida há menos de cinco anos pela Association of American Railroads (Associação de Ferrovias da América do Norte – AAR, na sigla em inglês). Os testes que puseram o aço com vanádio em destaque para essa aplicação são descritos em tese de doutorado defendida na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, pela pesquisadora Solange T. Fonseca. “Uma das maneiras de se reduzir os custos no transporte de cargas é aumentando a quantidade de carga transportada por vagão”, explica o resumo da tese de Solange. “Isto eleva a tensão no eixo do vagão e, consequentemente, a roda deve possuir maior dureza, sem perda da tenacidade para suportar o desgaste”. O trabalho segue relatando que “para atingir os níveis de dureza necessários estão sendo desenvolvidas rodas ferroviárias com aços microligados, definidos como aços carbono-manganês contendo pequenos teores (menores que 0,5% em massa) de elementos de liga como o nióbio, vanádio, molibdênio e titânio”. A pesquisadora explica o papel desses microligantes: “A adição de elementos de liga que são fortes formadores de carbonetos como o nióbio, vanádio e titânio favorecem o crescimento de nanopartículas compostas por seus respectivos carbonetos. Essas nanopartículas ancoram-se à estrutura microscópica do aço, tipicamente em uma região que chamamos de contorno do grão austenítico. Isto reduz o crescimento desse grão, produzindo aços com uma estrutura mais refinada, o que aumenta a resistência mecânica e a tenacidade”.

Solange Fonseca, autora da tese: “Uma das maneiras de se reduzir os custos no transporte de cargas é aumentando a quantidade de carga transportada por vagão”

Equipamento desenvolvido por pesquisadores da USP e da Unicamp: dois motores com precisão de milésimos de milímetro

“A empresa MWL Brasil, fabricante de rodas ferroviárias forjadas, criou o ‘alloy design’ (“projeto da liga”) dos aços microligados, e o meu doutorado foi estudar o comportamento microestrutural e mecânico destes aços, além da construção de uma máquina de fadiga de contato. Como resultado, temos que o aço com adição de vanádio é um forte candidato para homologação junto à AAR, pois atendeu a todos os requisitos da norma”, disse ela.

TESTES

A tese relata que, em 2008, a MWL do Brasil passou a desenvolver rodas ferroviárias fabricadas com aços microligados. A partir de 2012, tornou-se necessária a criação de uma máquina de ensaio de fadiga de contato que atendesse às especificações da norma da AAR. A máquina usada nos testes, criada em parceria com a Escola Politécnica da USP, é formada por dois motores com precisão de mícrons – milésimos de milímetro – que giram de modo independente, gerando, no contanto, uma perda de massa que simula o desgaste normal da roda do trem contra os

trilhos. “Para um estudo de rotina a máquina deve monitorar: temperatura, vibração e perda material por desgaste”, disse Solange. “O número de rotações é definido pela norma da AAR, que estabelece dois ensaios de fadiga de contato utilizando a mesma máquina, apenas alterando o número de rotações e o deslizamento. Um dos ensaios estabelece 500.000 ciclos para um deslizamento 0,75% de um disco com relação ao outro. O calor gerado pelo atrito pode modificar a microestrutura da roda e causar um desgaste prematuro. Por isso, deve ser monitorado”. O estudo envolveu a análise da microestrutura formada nos aços das rodas ferroviárias, e o monitoriamento através das chamadas curvas de resfriamento contínuo (CRC) do metal. “Ferrita, cementita, martensita, bainita e austenita são fases possíveis de se formar em aços médio carbono durante o processo de fabricação ou no regime de trabalho. As fases são porções homogêneas de um sistema que possui características físicas e químicas uniformes, segundo a definição de W. D. Callister Jr. Já as microestruturas são características estruturais de uma liga (por exemplo, as estruturas dos grãos e da fase) que estão sujeitas a observação sob um

microscópio, ainda de acordo com Callister Jr”, explicou a pesquisadora. William D. Callister Jr. É um importante autor na área de ciência e engenharia de materiais, responsável por um livro introdutório sobre o assunto largamente adotado no ensino superior. “Cada fase tem uma propriedade mecânica característica. Por exemplo, a ferrita é dúctil e a martensita é frágil. As microestruturas podem ser alteradas na presença de mudanças de temperatura, pressão em relação ao tempo, ou de tensões impostas externamente. A microestrutura é capaz de definir características importantes nas rodas, tais como propriedades mecânicas e sua vida útil”, completou Solange. “Com as curvas de resfriamento contínuo, fizemos o mapeamento das microestruturas que podem ser encontradas durante diferentes velocidades de resfriamento. O controle dessas velocidades é uma técnica versátil utilizada na fabricação de aço pelas indústrias”, disse Solange. “Essas curvas são importantes, pois indicam as temperaturas e os tempos em que aparecem as microestruturas que podem fragilizar a roda, ou aumentar sua resistência durante a fabricação, ou ainda podem auxiliar na investigação do desgaste prematuro ou na fragilização durante o uso”. Os aços testados que continham vanádio se mostraram melhores que os contendo nióbio e molibdênio, e os sem a presença de microligantes. “O aço vanádio apresentou propriedades mecânicas, resistência e tenacidade, superior aos demais. Essas propriedades são importantes na vida útil da roda”, disse ela. A tese explica que o protótipo da máquina de fadiga de contato (disco contra disco) forneceu resultados confiáveis até 250.000 ciclos, não atingindo o valor mínimo especificado pela AAR. “Entretanto, a experiência adquirida foi essencial para projetar um novo protótipo, que está em comissionamento”, diz o texto.

PATENTE

A nova máquina, disse Solange, deve estar pronta nos próximos meses. A pesquisadora está fazendo pós-doutorado nos Estados Unidos, na Colorado School of Mines, na área de microscopia eletrônica, mas tem a intenção de voltar ao Brasil para continuar trabalhando na questão. “Quando retornar, pretendo continuar os estudos na área de tribologia – o estudo do desgaste e do atrito – juntamente com a microscopia eletrônica, atacando este mesmo problema”. Solange lembra que o transporte ferroviário de cargas vem crescendo em importância no Brasil. “O sistema ferroviário nacional é o maior da América Latina. A movimentação de cargas pelas ferrovias brasileiras cresceu 50%, subindo de 305 milhões de toneladas úteis, em 2001, para 460 milhões de toneladas úteis em 2014”, disse a pesquisadora, citando dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Outras informações da ANTT apontam o aumento no número de vagões em operação, que passou de 72 mil, em 2006, para 96 mil, no ano passado, num aumento de mais de 30%. Os investimentos na rede também tiveram elevação nos últimos anos, mais que triplicando entre 2004 e 2014. Além disso, os estudos realizados poderão dar origem a propriedade intelectual: “O ‘alloy design’ da roda foi desenvolvido pela empresa MWL Brasil, que será responsável pela patente do mesmo. Porém, o projeto da máquina de desgaste, realizado pela USP em parceira com Unicamp, poderá gerar patente para Unicamp”.

Publicação Tese: “Efeito de adições de vanádio, nióbio e molibdênio na estrutura e propriedades mecânicas de aços com 0,7% C utilizados na fabricação de rodas ferroviárias” Autora: Solange T. Fonseca Orientador: Paulo Roberto Mei Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)


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Campinas, 14 a 20 d

Quilombolas do Ribeira assegura

Projeto temático coordenado por pesquisadora do Nepam mostra LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Os quilombolas do Vale do Ribeira não estão mais isolados, isso é fato”, afirma a professora Celia Futemma, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp. “Há uma interação com instituições e pesquisadores externos e várias ações conjuntas visam dar visibilidade à luta das comunidades quilombolas para que atinjam seus objetivos. Ao mesmo tempo, eles estão extremamente conscientes politicamente e, hoje, têm maior acesso à informação para ganhar ainda mais conhecimento. Eles sabem de seus direitos.” De 2007 a 2012, a bióloga e antropóloga Célia Futemma coordenou um projeto Fapesp sobre populações locais e conservação dos patrimônios natural e cultural, e continua atuando em comunidades da região tendo uma aluna de doutorado avaliando as atividades de turismo empreendidas por jovens quilombolas. “O trabalho da Unicamp se dá em colaboração com a professora Cristina Adams e sua equipe da USP, que lá chegaram em 2003 para um projeto avaliando os impactos do uso e ocupação do território por comunidades quilombolas em solos remanescentes da mata Atlântica.” Segundo a pesquisadora do Nepam, os estudos no Vale do Ribeira, ao sul do Estado de São Paulo, têm mostrado como descendentes dos quilombolas se organizam para garantir a ocupação produtiva das terras reconhecidas na Constituição de 1988. “O reconhecimento dos territórios traz dois pontos importantes: primeiro, que o título é coletivo, concedido à associação da comunidade e não ao indivíduo, sem direito a alienação (a propriedade não pode ser arrendada, alugada ou vendida); outro aspecto é a diferença de jurisprudência em relação aos indígenas, que embora tenham direito ao uso e ocupação da terra por tempo indeterminado, ela continua pertencendo ao Estado.” Célia Futemma explica que seu projeto Fapesp tratou mais especificamente da análise institucional, pesquisando o histórico de luta das comunidades quilombolas pelo território e também as regras que estão por trás dos sistemas agrícolas. “No Vale do Ribeira vivem mais de 60 comunidades autodenominadas descendentes de ex-escravos afro-brasileiros, em áreas variando de 2 mil a 6 mil hectares, muitas ainda não reconhecidas ou em fase de regulamentação. Dentro de quase toda comunidade existem áreas particulares, cujos proprietários convivem bem ou com dificuldades com os quilombolas, cabendo ao Itesp [Instituto de Terras do Estado de São Paulo] mediar os conflitos.” Desde a Abolição, recorda a antropóloga, escravos fugidos, libertos ou abandonados por seus donos ocuparam aquelas terras e viveram praticamente isolados de agentes externos. A partir da década de 1950, a abertura da BR-116 (que liga São Paulo ao Paraná) e suas ramificações permitiu a entrada de fazendeiros com gado e de extrativistas cobiçosos do palmito-juçara. “A presença de grileiros trouxe tensões na luta pela terra, paralelamente ao movimento contra a construção de barragens como de Tijuco Alto, provocando a resposta de agentes sociais dando suporte às comunidades quilombolas: vieram a Igreja Católica com as Irmãs Pastorinhas, o Itesp, o ISA (Instituto Socioambiental) e os pesquisadores, todos muito atuantes até hoje.”

Os agricultores quilombolas, conforme a pesquisadora, dividem a terra entre o cultivo de subsistência e culturas de maior apelo comercial, como a banana e a pupunha. “A população local procura o equilíbrio entre as suas tradições de uso da terra e as restrições impostas pela legislação ambiental, como por exemplo, às queimadas para abrir o roçado e à caça. Pesquisadores atuantes no Ribeira estudam outras formas de uso do território, que passam pelo resgate e preservação de tipos de sementes de cultivares locais e o inventário cultural dos quilombos.” Em sua análise institucional, Celia Futemma verificou que as regras de usufruto pelos comunitários foram se tornando mais complexas no decorrer do tempo. “Antigamente, a distribuição da terra entre as famílias era informal: se alguém queria abrir um roçado ou construir sua casa, escolhia uma área, respeitando-se o espaço das demais famílias. Posteriormente, o governo estadual dividiu o território em lotes retangulares e deu um título de propriedade a cada família. Com a Constituição de 88 determinando que a terra seja coletiva, muitas daquelas famílias abriram mão dos seus títulos em prol da associação da comunidade.” A docente da Unicamp observa, porém, que esta transição não foi tão fácil, pois sendo os títulos individuais, várias famílias quilombolas venderam suas áreas a preços irrisórios. “Não investiguei a fundo essa questão, mas talvez explique a existência de propriedades particulares que são motivos de conflitos. Teria que montar toda a cadeia dominial para confirmar se uma propriedade pertence realmente a tal pessoa. O fato é que os comunitários, incluindo-se os líderes, preferem o título coletivo, em que toda ação envolvendo a gestão do território é submetida à comunidade, em reuniões frequentes.”

COMPLEXIDADES

escolas de classe média de São Paulo e de outros Estados. “As crianças visitam áreas agrícolas e conhecem a história dos quilombolas, contada por velhas lideranças, ao passo que jovens da comunidade atuam como agentes ambientais, levando os visitantes até atrações como a Caverna do Diabo e as inúmeras cachoeiras.” É verdade, observa Célia Futemma, que muitos jovens e também adultos saíram para São Paulo, Curitiba e cidades maiores das redondezas. Entretanto, com a conquista da terra, há pessoas que voltaram para a comunidade 20 ou 30 anos depois, já com suas famílias. “Jovens também voltaram e outros desistiram de sair para continuar na luta e zelar pelo território. Um terceiro movimento é o intercâmbio entre os quilombolas que ficaram e os que estão nas cidades, graças aos recursos de comunicação, havendo ainda a interação com os agentes externos, que resulta em ações conjuntas para angariar recursos e dar mais visibilidade à luta quilombola.”

PÓS-88

De acordo com Célia Futemma, as leis ambientais vêm trazendo restrições para os quilombolas em relação ao tradicional rodízio de culturas e ao licenciamento do próprio roçado. “A licença precisava ser solicitada à Cetesb a cada um ou dois anos, frequência que dificultava o plantio de determinadas culturas. Muitas famílias deixaram de plantar e os jovens se sentiram desestimulados para o trabalho na roça, que já é árduo. Com a proibição da queimada e a necessidade de licenças para a roça, houve protestos em 2009 e um pedido de ajuda à ISA e universidades para intermediar um acordo com a Cetesb: a partir de 2011, o licenciamento passou a valer por períodos de cinco a dez anos.” A pesquisadora do Nepam conta que a garantia da terra incentivou quilombolas a investirem na pupunha, uma cultura perene, diferente das anuais de mandioca, feijão ou milho, que são cultivares itinerantes. “Eles mantêm o plantio de subsistência, com vários tipos de cará e de banana, além de outras frutas, mas também compram produtos no mercado. Pesquisa da equipe da professora Cristina Adams mostra uma mudança de dieta nos últimos anos, com consumo maior de calorias processadas – farinha branca, pão, biscoito.” As comunidades também vêm apostando em outras atividades econômicas, diz a professora, lembrando que na comunidade Ivaporunduva o turismo apresenta-se mais consolidado, com uma pousada e visitas quase diárias de Foto: Antonio Scarpinetti

Vista panorâmica de comunidade quilombola, rodeada pelas florestas de Mata Atlântica: região é bastante montanhosa

Prática agrícola de pequena escala de hortaliças, tubérculos e legumes

A pesquisadora Celia Futemma, coordenadora do projeto: “A população local procura o equilíbrio entre as suas tradições de uso da terra e as restrições impostas pela legislação ambiental”

Vista de bananal na comunidade de Ivaporunduva


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am direitos e ganham visibilidade

a como comunidades garantiram a ocupação produtiva das terras Na opinião da pesquisadora, os quilombolas do Vale do Ribeira estão conscientes politicamente. “Vemos a desenvoltura na fala, a clareza de raciocínio e o acesso à informação facilitada. Eles conhecem seus direitos. Os líderes acima dos 60 anos também se expressam muito bem e inclusive dão palestras em eventos sobre o histórico do seu povo e os patrimônios cultural e natural. Com esse propósito, o Nepam da Unicamp sediará em setembro um seminário sobre esse tema, com espaço para que as ‘vozes comunitárias’ apresentem suas experiências.” A professora da Unicamp ressalta como outro fruto da interação o Inventário cultural de quilombos do Vale do Ribeira, livro publicado pelo ISA que traz ricas informações histórico-culturais de todas as comunidades da região: tanto sobre o patrimônio material (equipamentos para produção de farinha de mandioca, pilões e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de 1791), como imaterial (cantorias, danças e festejos). “Juntamente com

Fotos: Lúcia Munari

o ISA, eles organizam eventos comunitários, como a Feira de Sementes em agosto e participam de encontros político-sociais reunindo quilombolas de todo o país. O Circuito Quilombola, iniciativa voltada ao turismo também apoiada pelo ISA, conta com a participação de mais de dez comunidades.”

POLÍTICA CONSOLIDADA Célia Futemma considera a conquista do território como fundamental para a luta dos quilombolas, mas adverte que no Estado de São Paulo apenas 32 comunidades foram reconhecidas e seis tituladas. “A conquista é importante para que possa haver toda essa mudança, com garantia de direito à moradia e aos sistemas produtivos, bem como às atividades de turismo. Mais do que a posse, eu colocaria a garantia da terra como ponto chave para que as famílias possam investir em suas atividades e seus modos de vida. Outro dado importante diz respeito à cobertura vegetal:

cada comunidade tem mais de 80% da mata Atlântica preservados. A presença dos quilombolas foi decisiva para que a floresta ficasse em pé.” A pesquisadora do Nepam não vê riscos de retrocesso em relação à titulação da terra, processo que é conduzido pelo Itesp, com o Incra atuando apenas em casos muito específicos envolvendo terras de particulares ou da União. “Para nós pesquisadores, o mais importante é a autonomia demonstrada por eles para o bom gerenciamento dos territórios, em que pesem problemas como na educação básica, que precisa melhorar. De qualquer maneira, os filhos dos quilombolas estão estudando mais que os pais, que estudaram mais que os avós. Temos então uma população mais educada formalmente, o que significa a valorização das comunidades e o sentimento de pertencimento.” Leia mais sobre comunidades quilombolas na página 8.

Fotos: Célia Futemma

Vista do curso do Rio Ribeira, que margeia as comunidades quilombolas

Diversidade de produtos agrícolas cultivados, que são vendidos na Feira de Sementes na cidade de Eldorado

Foto: Álvaro Kassab

Vista parcial de Ivaporunduva, às margens do rio Ribeira


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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015 MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

o contrário do que considera a maioria dos gestores, os conflitos são inerentes à vida em sociedade. Portanto, não são solucionáveis, mas geradores de oportunidades de diálogo e de construção de consensos temporários. A compreensão permeia, em boa medida, o livro Territórios em disputa: do impasse ao jogo compartilhado entre técnicos e residentes - Parque Estadual da Serra do Mar, escrito por Eliane Simões, pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp. A obra, resultado da sua tese de doutoramento, orientada pelos professores Lúcia da Costa Ferreira e Carlos Alfredo Joly, traz detalhes acerca dos processos decisórios decorrentes da gestão da presença de comunidades tradicionais (quilombolas e caiçaras) em Unidades de Conservação, particularmente no Parque da Serra do Mar, localizado em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo. De acordo com Eliane Simões, os conflitos tratados na publicação decorrem da diferença de posições entre as comunidades tradicionais, que ocupam há décadas os territórios transformados em Unidades de Conservação, e os atores governamentais, responsáveis pela gestão destas. “As Unidades de Conservação, tanto no âmbito nacional quanto estadual, começaram a ser criadas na década de 1970, ainda no período do regime militar. Na ocasião, a proposta se baseava primordialmente na preservação ambiental. Assim, quando da efetivação destas unidades, as comunidades tradicionais e suas atividades econômicas foram relegadas a um plano secundário”, explica. Na prática, conforme a autora do livro, foi instaurada uma situação de predomínio da conservação ambiental em detrimento da qualidade de vida de quilombolas e caiçaras. Esta visão perdurou por longo tempo, até que, a partir dos anos 2000, o entendimento a respeito da questão começou a mudar. Nessa fase, observa a pesquisadora do Nepam, diálogos entre as partes envolvidas com o tema começaram a ser exercitados e consensos, construídos. “Obviamente, por se tratar de um assunto complexo, determinadas propostas geraram tensões de diferentes graus”, pontua. Naquele instante, o principal desafio a ser superado era a busca por políticas públicas que conciliassem a manutenção das diversidades ambiental e cultural presentes nos territórios sobrepostos, formados pelas Unidades de Conservação e pelos Territórios Tradicionais. “Um aspecto importante foi o entendimento de que a presença das comunidades tradicionais nesses territórios não era indesejada. Ao contrário, ela é histórica e precisa ser garantida e desenvolvida, além de valorizada. A partir dessa compreensão, começou a ser desenhado um modelo de gestão compartilhada, que gerou ações muito interessantes. O livro procura narrar esse processo, marcado por dificuldades, mas também por avanços”, afirma Eliane Simões. Na obra, são consideradas quatro comunidades tradicionais de quilombolas e caiçaras, situadas nos núcleos de Cambury, Vila de Picinguaba, Sertão de Ubatumirim e Sertão da Fazenda. Ao todo, elas são constituídas por aproximadamente 1.200 moradores. Foram esses residentes que deflagraram o processo de conversação, ao reivindicarem acesso a direitos de cidadania, como fornecimento de eletricidade, comunicação, transporte etc. A mobilização, segundo a autora do livro, deixou claro para todos os envolvidos que a garantia desses serviços era necessária à sobrevivência das comunidades e, consequentemente, também à conservação ambiental, já que os residentes estabelecem relações intrinsecamente integradas com a paisagem local. Entretanto, os agentes governamentais se viram diante da dificuldade de garantir aos quilombolas e caiçaras o acesso a esses direitos, sem que isso atraísse a atenção de especuladores imobiliários, visto que estes já estavam presentes na região. “Num primeiro instante, ocorreram diversos conflitos, alguns deles violentos. Tivemos registros de ameaças à integridade física de funcionários e ocupações das sedes administrativas do Parque. De outro lado, à medida que foram impossibilitados de exercer suas atividades econômicas, os moradores, assediados por turistas ou especuladores, passaram a vender suas áreas de uso e ocupação. Isso criou um problema socioambiental importante, porque muitas dessas pessoas que se desfizeram de seus bens foram ocupar trechos localizados em áreas de riscos, como encostas de morros e margens de rios”, relata Eliane Simões.

Diálogos possíveis Livro narra processo de negociação entre gestores e comunidades tradicionais que vivem no Parque Estadual da Serra do Mar Fotos: Divulgação

A pesquisadora Eliane Simões, autora do livro, com o líder quilombola Genésio dos Santos: “Um aspecto importante no processo de diálogo foi o entendimento de que a presença das comunidades tradicionais nesses territórios não era indesejada. Ao contrário, ela é histórica e precisa ser garantida e desenvolvida, além de valorizada”

Aos poucos, porém, os momentos de tensão foram atenuados, graças ao amadurecimento das partes e ao avanço do diálogo. “Atualmente, nós estamos em um patamar bem mais avançado. Instalou-se a compreensão de que a presença das comunidades nos territórios contribui para a conservação ambiental, principalmente se é constituído um processo participativo para interpretação do conflito e estabelecidas negociações conciliatórias, reinterpretando o arcabouço jurídico que assegura os direitos socioambientais. Uma consequência importante dessa mudança de posição foi a formulação do Plano de Uso Tradicional, cujo objetivo foi traçar um planejamento para o território ocupado pelas comunidades quilombolas e caiçaras. Esse instrumento, que funciona como uma espécie de microplano diretor, estabeleceu critérios para o uso da terra e projetou o crescimento dessas comunidades”, detalha a pesquisadora do Nepam. As ações e diretrizes, continua Eliane Simões, foram discutidas e trabalhadas no âmbito da Câmara Técnica de Cambury. Foram realizadas oficinas, traçados mapas, ministrados cursos de capacitação e promovidos estudos técnicos. Houve também o cadastramento dos residentes e a avaliação de iniciativas envolvendo comunidades próximas, como Trindade, no Rio de Janeiro, onde o foco das ações foi o turismo. “Tudo isso contribuiu para a formulação do arcabouço técnico e jurídico do plano, que contemplou medidas voltadas à preservação tanto dos aspectos sociais quanto ambientais. Esse instrumento tem servido de referência para as negociações relativas a outras comunidades tradicionais e entes governamentais, inclusive de fora do Estado de São Paulo”, destaca a autora da obra. O livro Territórios em disputa: do impasse ao jogo compartilhado entre técnicos e residentes - Parque Estadual da Serra do Mar já teve duas sessões de lançamento, uma na Unicamp (25 de junho) e outra em Ubatuba (28 de maio), esta última durante o Festival da Mata Atlântica.

SERVIÇO

Canoa na comunidade de Cambury, ocupação pacífica de parque por moradores de Ubatumirim e reunião entre quilombolas da Fazenda e representantes da Fundação Florestal

Título: Territórios em disputa: do impasse ao jogo compartilhado entre técnicos e residentes - Parque Estadual da Serra do Mar Autora: Eliane Simões Editora: Annablume/Fapesp Páginas: 448 Preço sugerido: R$ 72,75


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Pesquisador avalia ação de fármaco veterinário no solo Químico analisou sorção de resíduos de medicamento descartados no ambiente ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

om o aumento do consumo mundial de carnes e derivados, cresce a demanda por produtos veterinários. Esse uso tem gerado uma elevada quantidade de resíduos que acabam sendo descartados no meio ambiente – tanto em sua forma original como metabolizada. Eles ficam sujeitos a vários processos de transformação, resultando numa diversidade de compostos, alguns com toxicidade que suplanta a dos fármacos originais. Para averiguar o comportamento de substâncias nos solos e de vários compostos de uso veterinário, de modo a avaliar a sua mobilidade, o químico Odilon França de Oliveira Neto determinou em seu estudo de mestrado, desenvolvido no Instituto de Química (IQ), a capacidade de sorção (retenção) do tiabendazol em quatro amostras de solo do Estado de São Paulo: argilosolo vermelho-amarelo, latossolo vermelho-amarelo, latossolo vermelho, neossolo quartzarênico. A investigação teve como foco o tiabendazol, um medicamento antiparasitário de uso veterinário da grande família dos benzimidazóis, aplicado tanto em bovinos quanto na suinocultura e amplamente utilizado como fungicida na citricultura. A conclusão do estudo foi que esse fármaco demonstrou maior capacidade de mobilização nos solos estudados, quando comparados a dados de sorção do tiabendazol em solos europeus. A professora Anne Hélène Fostier, orientadora do estudo, explica que, uma vez no solo, esses produtos podem permanecer ali, ou serem degradados, ou serem transportados por percolação até o lençol freático, ou serem levados diretamente aos rios pela erosão. “Como os produtos veterinários são inicialmente previstos para

combater parasitos ou por serem antimicrobianos, podem apresentar um caráter tóxico para os organismos que vivem no solo ou na água”, diz. O pesquisador conta que o tiabendazol, depois de agir como medicamento, é excretado no ambiente e ainda não é considerado poluente. Ocorre que, no Brasil, não existem, até o momento, dados que elucidem esse potencial poluente, como sugeriu o trabalho de Odilon. O estudo dele integra a vertente de poluentes emergentes do projeto temático da Fapesp intitulado “Resíduos de medicamento veterinário no ambiente”. É coordenado pela professora do IQ Susane Rath e conta com a participação do professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) José Roberto Guimarães.

RISCO De acordo com Anne, um dos dados que seu orientando precisava para avaliar o provável impacto dos resíduos de produtos veterinários no meio ambiente, principalmente sobre os solos, dizia respeito à mobilidade deles. As amostras foram inicialmente coletadas pela Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, empresa com a qual foi estabelecida uma colaboração e que cedeu os solos para o estudo. Anne garante que “essas amostras representam cerca de 80% da cobertura de todos os solos do Estado”. Para avaliar a mobilidade deles, expõe a docente, são em geral determinadas algumas características chamadas coeficientes de sorção. Estes parâmetros propiciam informações sobre capacidade de mobilidade do produto em solos. Agora, como se consegue determinar este parâmetro? O mestrando esclarece que, via de regra, é adotado um protocolo padronizado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) e que esse coeficiente dá a dimensão se o fármaco ficará retido no solo ou se irá percolar por ele. Conforme alguns relatos da literatura, o tiabendazol é sensível à variação do pH. “No estudo, o coeficiente de sorção alterou: quanto mais baixo foi o pH, maior foi a imobilização do tiabendazol nos solos”, explana Odilon. Ele explica que um produto com mobilidade média ou alta percola facilmente, indo para o lençol freático, pois tem baixa inte-

ração com o solo. “Tentamos determinar no trabalho essa capacidade de interagir fortemente com o solo. Se interage muito com o solo, ele vai ser imobilizado onde cai. Se interage pouco, vai para a água do solo e pode ser transportado até o lençol freático. Como é um produto ionizável, o pH interfere nessa capacidade de ficar retido, de percolar.” Comparando esses dados com os do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em três faixas de pH, o tiabendazol sugeriu capacidade de adsorção de baixa a mediana. “Quer dizer que, em determinadas condições (como nas enxurradas), ele pode atingir o lençol freático. Esse é um diferencial em relação a solos de outras regiões do mundo”, admite o autor. Ele expõe que, enquanto na Europa esse fármaco não se mobiliza e fica retido no solo, nos solos brasileiros estudados ele teve uma mobilidade razoável. Esse medicamento é projetado para ser eficiente em baixas concentrações. “Desta forma, se atingir o lençol freático, pode apresentar risco à população, visto que as estações de tratamento não estão preparadas para eliminar esse resíduo, podendo inclusive chegar à torneira e à população”, lamenta. Anne pontua que o estudo de solo envolve uma pequena parte do projeto da Fapesp. “Não temos ainda uma conclusão global. Mas o que ficou evidente foi o potencial de mobilidade desse fármaco. No geral, destacou uma alta capacidade de mobilidade. Este tipo de informação é importante quando se quer fazer uma avaliação de risco ambiental.” Para fazer essa avaliação, recorda a professora, é necessário obter dados sobre toxicidade ambiental. Se o produto é capaz de atingir os solos e os recursos hídricos, também é preciso saber se ele é capaz de trazer danos aos organismos dali. “A avaliação dos fármacos e derivados indicou que eles têm uma certa toxicidade, não negligenciável”, ressalta ela.

SISTEMAS O mestrando realça que, no sistema de agropecuária brasileiro, não existe coleta de resíduo. Se houvesse, ele seria reaproveitado como adubo e, de uma forma ou de outra, o tiabendazol acabaria no solo. “No entanto, as consequências ambientais desse produto ainda não estão esclarecidas. Nem existe legislação que advogue sobre o assunto”, afirma. Foto: Antoninho Perri

Essa situação, conforme Anne, pode ser comparada à dos pesticidas das décadas de 1950 e de 1960. Na época, nada se sabia sobre eles. Eram empregados mas não havia sequer legislação e não se conheciam os efeitos ambientais em larga escala. Atualmente, a situação é a mesma com muitos fármacos. “Eles entram no meio ambiente por várias fontes, sendo uma das mais frequentes as de uso veterinário. Esses produtos são aplicados em rebanhos, em frangos, em porcos. Via fezes e urina, acabam chegando ao solo”, descreve a orientadora. O que ocorre depois: se são degradados, se são transformados em produtos mais (ou menos) tóxicos do que o original, se vão para os recursos hídricos ou se ficam no solo, se são tóxicos aos organismos do solo e aquáticos – tudo isso é assunto para novos estudos, acredita ela. Esses produtos têm uma dose letal, porém não no nível em que chegam ao solo – na faixa de nanogramas por grama de solo. Trata-se de algo ínfimo mas, como são projetados para serem eficientes, podem até alterar a microbiota do solo ou da água, causando danos ambientais.

FRENTES Outras frentes investigadas neste projeto da Fapesp são a toxicidade para organismos do solo e aquáticos. “O grupo da FEC trabalhou por enquanto com minhocas em solos e com alguns organismos aquáticos. Temos que ter organismos-testes para avaliar a toxicidade dos fármacos”, conta ele. Tem ainda a investigação de processos oxidativos avançados que possibilitam degradar diversos compostos orgânicos presentes na água, de tal maneira a obter processos para degradar parcial ou totalmente esses fármacos. A contribuição de Odilon está em mostrar que o Brasil ainda é incipiente em poluentes emergentes, uma classe não contemplada pela lei. “Esperamos que no futuro surja uma legislação que limite o máximo de aplicação e o máximo destes produtos em solo”, salienta Anne. Para o tiabendazol em particular, é preciso verificar as concentrações efetivas que podem ser encontradas, como por exemplo na citricultura ou em fazendas, ou em solos de diferentes tipos de uso. Com isso, tem mais uma vertente no projeto temático que envolve a parte analítica. A expectativa é formar um banco de dados com as características de vários fármacos de uso veterinário, principalmente de antimicrobianos e antiparasitários, a fim de estabelecer as propriedades desses produtos e ter dados sobre a sua concentração no meio ambiente, ou seja, principalmente em solos, mas igualmente em recursos aquáticos do Estado de São Paulo. Assim uma outra vertente do projeto temático será desenvolver métodos analíticos para estudar mais esses produtos, reunir mais dados sobre suas concentrações e seu comportamento no meio ambiente, e criar uma rede de informações. A equipe envolvida no projeto tem no momento 30 participantes, entre pesquisadores e estudantes, estima Anne. Em 2016, esse e outros estudos serão apresentados em um workshop desse temático, para confrontar os resultados da pesquisa. Esse projeto tem duração de quatro anos e apenas acaba de começar, há cerca de um ano.

Publicação Dissertação: “Sorção do tiabendazol em solos do Estado de São Paulo” Autor: Odilon França de Oliveira Neto Orientadora: Anne Hélène Fostier Unidade: Instituto de Química (IQ) Financiamento: Fapesp O químico Odilon França de Oliveira Neto, cuja pesquisa fundamentou dissertação, e a orientadora, professora Anne Hélène Fostier: produto pode atingir o lençol freático


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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

Painel da semana  Ser criança e adolescer em uma sociedade desigual - O Fórum Pensamento Estratégico (PENSES) e o Movimento pela Despatologização da Vida (Despatologiza) organizam, dias 14 e 15 de setembro, no Centro de Convenções da Unicamp, o Fórum “Ser criança e adolescer em uma sociedade desigual”. A abertura do evento acontece às 9 horas. Na sequência será exibido o filme “Território do brincar” com roda de conversa com a autora, Renata Meirelles. As inscrições são gratuitas. Acesse a programação detalhada na página eletrônica http://www.gr.unicamp.br/penses/forum_adolescer/. Mais informações pelo telefone 19-3521-4171 (Luciane) ou e-mail penses@ reitoria.unicamp.br  Trilhas musicais de Moacir Santos - Fruto de pesquisas acadêmicas realizadas na Unicamp, no dia 14 de setembro, às 9 horas, no Instituto de Artes (IA), será lançado o site do Projeto Trilhas Musicais de Moacir Santos. O objetivo é levar ao público diversas transcrições em partitura de algumas das trilhas musicais compostas por Moacir Santos para o cinema brasileiro, no início da década de 1960 (Seara Vermelha, Ganga Zumba, Os Fuzis e O Beijo). Além disso, outras informações complementares formam o conteúdo do projeto, de modo a ser um ponto de referência sobre o tema, de acesso universal e gratuito. As partituras foram transcritas por Lucas Zangirolami Bonetti e revisadas por renomados músicos, como: Nailor “Proveta”, André Mehmari, Ari Colares, Fernando Corrêa, Fernando Hashimoto, Paulo Moura, Douglas Berti, Sérgio Schreiber e Marisa Silveira Nos últimos anos a obra de Moacir Santos vem sendo recorrentemente resgatada, com uma expressiva quantidade de trabalhos artísticos e acadêmicos. O lançamento é apoiado pelo Rumos Itaú Cultural e pela Fapesp. Mais informações: 11-99392-9342 ou e-mail lucaszanbonetti@gmail.com  Desenvolvimento econômico e governança fundiária - Nos dias 14 e 15 de setembro, no auditório do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, acontece o seminário “Desenvolvimento econômico e governança fundiária”. O evento é organizado pelo professor Bastiaan Philip Reydon. A abertura será às 9 horas. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-5716, e-mail mmessias@eco.unicamp. br ou site http://www3.eco.unicamp.br/nea/nucleo/146-destaque/522seminario-desenvolvimento-economico-e-governanca-de-terras

 Dimensões da utopia: história e topografia de uma ideia - Curso será ministrado por Gianluca Bonaiuti, da Università Degli Studi di Firenze (Itália), de 15 de setembro a 6 de outubro, às terças-feiras, das 14 às 18 horas, na Sala de Colegiados do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Com carga horária de 20 horas, é aberto à comunidade da Unicamp. Para se inscrever envie nome completo para o e-mail eventos@iel.unicamp.br. O curso será ministrado em língua inglesa e enfocará três dimensões da utopia: projeto social, projeto espacial e projeto antropotécnico - por meio da análise de vários problemas filosóficos decorrentes da reflexão sobre novos espaços de esperança, incluindo-se a relação entre espaço e desejo, a racionalidade de novos projetos espaciais e a questão da representação política. A partir da leitura de clássicos dos séculos XVI ao século XX, serão desenvolvidas estas e outras questões que dizem respeito aos espaços metropolitanos, aos novos estados e comunidades, à objetivação na literatura utópica, a alguns argumentos críticos em relação à utopia e à representação distópica que caracteriza a imaginação contemporânea.  Artigos para Conceição/Conception - A Revista Conceição/Conception, publicação do Programa de Pós-graduação em Artes da Cena do Instituto de Artes (IA), receberá, até 15 de setembro, artigos e resenhas para a sua próxima edição com o tema Hibridismos e Fricções. Artistas, pesquisadores e professores de Artes da Cena ou áreas afins, podem enviar as suas reflexões no formato de artigos, resenhas ou documentos artísticos (fotos, vídeos e relatos de processos artísticos). A revista também aceita artigos e resenhas em fluxo contínuo fora desta temática. Conceição/Conception é um periódico semestral, online, que abrange os campos do teatro, da dança e da performance. Mais informações no link http://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/ppgac  Prêmios Santander Universidades - Está lançada a temporada de inscrições para a 11ª edição dos Prêmios Santander Universidades, por meio dos quais são incentivadas ideias e projetos de alunos, professores, pesquisadores para a valorização da gestão das Instituições de Ensino Superior no Brasil. As inscrições podem ser feitas no site: www.santanderuniversidades.com.br/premios, até 17 de setembro de 2015.  Exposição de mosaicos - O Espaço Cultural Casa do Lago recebe, de 18 de setembro a 1º de outubro, em sua Galeria, a exposição “Mosaico, vida e arte! Cada um de nós, um mosaico”, da artista Sandra Racy. A expositora é natural de Pirajuí-SP e começou a se interessar por mosaicos há quatro anos. A mostra pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 22 horas, na rua Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp . A entrada é livre.

Eventos futuros  Redação científica - O Espaço da Escrita oferece aos docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Unicamp, o curso básico “Método Lógico para Redação Científica”, dia 21 de setembro, às 9 horas, no auditório III do Centro de Convenções da Unicamp. O curso terá 8 horas/aula e será ministrado pelo professor Gilson Luiz Volpato (UNESP/Botucatu). Ele foi organizado para todos que queiram aprender do zero ou aperfeiçoar a escrita de textos acadêmicos desde a perspectiva da ciência empírica. Mais detalhes pelo e-mail workshops.escrita@reitoria.unicamp.br ou no site http://www.cgu.unicamp. br/espaco_da_escrita/cgu-espaco-escrita-eventos_.php  Seis sigma - White Belt - No dia 22 de setembro, das 9 às 13 horas, na Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, acontece um curso introdutório de Seis sigma - White Belt, na modalidade extensão. O curso é organizado pelo professor Marcos Borges (FT). O objetivo é fornecer uma visão geral sobre a metodologia Seis Sigma para possíveis aplicações. Para mais detalhes sobre o curso acesse o link. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-2113-3353 ou e-mail karen@ft.unicamp.br  BITEC - O II Encontro de Pós-graduação em Biociências e Tecnologia (BITEC), evento organizado por alunos do Programa de Pós-graduação em Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos

Destaque

(PPG-BTPB) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, será realizado de 22 a 24 de setembro, com abertura no dia 22, às 17h50, na Sala da Congregação do IB. O BITEC objetiva mostrar diversas possibilidades de estudo e trabalho que os pós-graduandos podem ter ao longo da pós-graduação. Além disso, oferece um período para apresentação de trabalhos científicos. O público-alvo são profissionais da área e alunos. Acesse o programa completo no link http://www.ib.unicamp.br/ bitec. Mais informações pelo telefone 19-3521-1174 ou e-mail bitec@ unicamp.br  Patrimônios, construções participativas e multivocais - Com a finalidade de reunir pesquisadores nacionais e internacionais, gestores públicos e agentes comunitários, será realizado no dia 23 de setembro, o I Seminário Internacional “Patrimônios, construções participativas e multivocais” para abordar temas relativos ao patrimônio material e imaterial em diferentes contextos territoriais. Organizado pelo Laboratório Interdisciplinar do Patrimônio, Ambiente e Comunidades (Lipac/Nepam/Unicamp) e parte da Rede de Pesquisa “Trabajo en red para la acción multivocal en arqueología, antropologia y ambiente – Trama 3”, o evento ocorrerá no auditório do Instituto de Filosofias Humanas (IFCH) da Unicamp, das 8 às 18 horas. Mais informações pelo 1seminariolipac@gmail.com ou no site https://1seminariolipac.wordpress.com/  Mostra de trabalhos de cursos técnicos - O Colégio Técnico de Campinas, o Cotuca, organiza a sua V Mostra de Trabalhos de Cursos Técnicos, dia 24 de setembro, das 9 às 17 horas, no Ginásio do Cotuca (Rua Jorge de Figueiredo Corrêa 735), no Parque Taquaral em Campinas - SP. O objetivo é despertar e incentivar vocações científicas e tecnológicas aos alunos regularmente matriculados em cursos técnicos. Estudantes com conhecimentos na área de metrologia poderão participar do 1º Prêmio Desafio Mahle. Mais detalhes pelo e-mail vanessa@cotuca.unicamp.br ou telefone 19-3521-9906.  IFGW recebe Marco Dias - O Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) recebe, dia 24 de setembro, às 17 horas, em seu auditório, o professor Marco Dias, presidente da Sociedade Astronômica Brasileira. Ele irá falar sobre a participação brasileira em grandes telescópios como o ESO (European Southern Observatory) no Chile e como poderemos aprender mais sobre o Universo com o uso destes aparelhos. Mais detalhes pelo e-mail orlando@ifi.unicamp.br  Imaginários da fé - A Biblioteca da Área da Engenharia e Arquitetura (BAE), por meio do Projeto Lendo Letras e Imagens, organiza, até 25 de setembro, a exposição fotográfica “Imaginários da Fé”, do jornalista e fotógrafo Antonio Scarpinetti, funcionário da Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) da Unicamp. A mostra, que é composta por cenas folclóricas do interior do Estado de São Paulo, apresenta retratos da peregrinação e festa de folias de santos reis na região dos municípios de Olímpia e Guaraci, durante o ciclo natalino e o ciclo dos encontros de congos em maio. A exposição é resultado de um trabalho que não se esgota com a imagem em si, mas que privilegia o contexto, a vivência e o ato da celebração em sua raiz. Visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 22 horas, no 2º piso da Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL). A entrada é livre. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-6477 ou e-mail danif@unicamp.br  Cotuca Aberto ao Público - O Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) organiza no dia 26 de setembro, mais uma edição do Colégio Aberto ao Público. Trata-se de uma oportunidade para os candidatos conhecerem a escola e os cursos oferecidos pela unidade. Neste dia, os laboratórios ficarão abertos à visitação para que os alunos, sob a supervisão de professores, apresentem as atividades desenvolvidas nos cursos do Cotuca. No evento, os visitantes poderão esclarecer dúvidas com alunos e professores. O Colégio Aberto ao Público funcionará das 9 às 17 horas, na Rua Jorge de Figueiredo Corrêa, 735, no Parque Taquaral, em Campinas. Mais detalhes no site http://www.cotuca.unicamp.br/ ou telefone 19-3521-9906.  Deleuze e Máquinas e Devires e ... - O Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho) da Faculdade de Educação (FE) organiza, entre 28 e 30 de setembro, no Centro de Convenções da Unicamp, o VI Seminário Conexões “Deleuze e Máquinas e Devires e ...”. A abertura do evento será às 9 horas. Inscrições, programação e outras informações no link http://seminarioconexoes.wix.com/conexoes, e-mail acamorim@unicamp.br ou telefone 19-3521-5647.

Capes e 9 Menções Honrosas “A satisfação em termos o reconhecimento da qualidade de nossos programas e dos trabalhos de nossos alunos e professores é muito grande, a competitividade do processo de premiação é intensa, e esse resultado traduz a excelência da Pós-Graduação da Unicamp em nível nacional”, ressaltou. Gláucia Maria Pastore, pró-reitora de Pesquisa, disse, por sua vez, que as premiações conquistadas demonstram também o grau de excelência dos trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelos professores e alunos da Unicamp. “O ambiente de pesquisa construído na Universidade através de incentivo aos alunos de graduação na iniciação científica e a consolidação dos cursos de pós-graduação, com grande número de cursos com conceito 6 e 7 que caracteriza a excelência acadêmica, têm se mostrado ponto decisivo para a qualidade da pós-graduação. Isso fica claro no grande número de premiações obtidas”, considerou. O Prêmio Capes de Tese consiste em passagem aérea e diária para o autor e um dos orientadores do trabalho premiado para que compareçam à cerimônia na sede da Capes; certificado de premiação ao orientador, coorientador(es) e ao programa em que foi defendida a tese; certificado de premiação e medalha para o autor; auxílio equivalente a uma participação em congresso nacional para o orientador, no valor de R$ 3 mil; bolsa para realização de estágio pós-doutoral em instituição nacional de até três anos para o autor da tese, podendo converter um ano em estágio pós-doutoral fora do país em uma instituição de notória excelência na área de conhecimento do premiado. A Fundação Carlos Chagas oferecerá aos autores vencedores nas áreas de Educação e de Ensino um prêmio no valor de R$ 15 mil e quatro prêmios na categoria Menção Honrosa no valor de R$ 5 mil cada (dois em cada uma das duas áreas).

 Artes - “O olhar estrangeiro: a obra gravada de Hans Steiner como recorte-modelo para o resgate da gravura no Brasil” (mestrado). Candidato: Paulo Leonel Gomes Vergolino. Orientador: professor Márcio Donato Périgo. Dia 15 de setembro de 2015, às 10 horas, no IA.  Ciências Médicas - “Autopercepção de saúde, estado nutricional e qualidade de vida de idosos atendidos na Atenção Primária de Saúde do município de Vinhedo - SP” (mestrado). Candidata: Cássia de Almeida Merlo Sarzedo Garcia. Orientadora: professora Maria Elena Guariento. Dia 14 de setembro de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. “Aplicação do método FLIM (Fluorescence Lifetime Imaging) em exsudatos no pulmão” (mestrado). Candidata: Ana Paula Racanelli. Orientador: professor Konradin Metze. Dia 15 de setembro de 2015, às 14 horas, na sala verde da CPG da FCM. “Avaliação do controle e da gravidade da asma de acordo com o nível de atividade física habitual, a função pulmonar e a qualidade de vida em crianças e adolescentes” (mestrado). Candidata: Natasha Yumi Matsunaga. Orientadora: professora Adyléia Aparecida Dalbo Contrera Toro. Dia 16 de setembro de 2015, às 9 horas, no CIPED.  Economia - “Seleção e apropriação de biotecnologias agrícolas: uma análise sobre as trajetórias tecnológicas associadas aos organismos geneticamente modificados” (doutorado). Candidato: Vinícius Eduardo Ferrari. Orientadora: professora Maria Ester Soares Dal Poz. Dia 14 de setembro de 2015, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.  Educação Física - “Influência da composição corporal sobre os indicadores de desempenho físico em jovens atletas ao longo da maturação biológica” (doutorado). Candidato: Daniel Leite Portella. Orientador: professor Miguel de Arruda. Dia 14 de setembro de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF. “Contribuição de um programa de intervenção no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de crianças com deficiência intelectual” (doutorado). Candidato: Leandro Martinez Vargas. Orientador: professor Gustavo Luis Gtierrez. Dia 18 de setembro de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Elétrica e de Computação: “Controle cooperativo de sistemas dinâmicos através de redes de comunicação” (mestrado). Candidata: Thais Tóssoli de Sousa. Orientador: professor José C. Geromel. Dia 17 de setembro de 2015, às 10 horas, na FEEC. “Esquemas espectralmente eficientes para redes com retransmissores do tipo amplifica-e-encaminha” (doutorado). Candidata: Diana Pamela Moya Osorio. Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 17 de setembro de 2015, às 14 horas, na FEEC. “Análise de instrumentos musicais através do expoente hurst de banda harmônica - estudo comparativo da quena e de outros instrumentos de sopro” (mestrado). Candidato: Aldo André Díaz Salazar. Orientador: professor Rafael Santos Mendes. Dia 18 de settembro de 2015, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Dinâmica de um autotensionador mecânico sujeito ao atrito seco e rigidez não-linear” (mestrado). Candidato: Pedro Grego. Orientador: professor Robson Pederiva. Dia 18 de setembro de 2015, às 9 horas, na sala KD da FEM.  Odontologia - “A má oclusão e sua relação com a aparência dental e impacto nas atividades diárias de adolescentes brasileiros” (doutorado). Candidato: Armando Koichiro Kaieda. Orientadora: professora Karine Laura Cortelallzzi Mendes. Dia 18 de setembro de 2015, às 8h30, no anfiteatro 4 da FOP.  Química - “Efeitos da irradiação na morfologia e estrutura do cabelo” (doutorado). Candidata: Marina Richena. Orientadora: professora Camila Alves de Rezende. Dia 16 de setembro de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

do Portal

Unicamp tem 3 Prêmios rês pesquisas desenvolvidas na Unicamp foram contempladas com o Prêmio Capes de Tese 2015 e outras nove receberam Menção Honrosa, outorgados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior para as melhores teses de doutorado defendidas em 2014. As pesquisas foram selecionadas em cada uma das 48 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes nos cursos de pósgraduação. A cerimônia de entrega dos prêmios acontecerá no dia 10 de dezembro de 2015, em Brasília. A Unicamp teve duas teses premiadas no âmbito do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH): na área de Ciências Políticas e Relações Internacionais, “A resiliência da política de subsídios agrícolas nos Estados Unidos”, de Thiago Lima da Silva, orientada por Sebastião Carlos Velasco e Cruz; e em Sociologia, “‘Sou policial, mas sou mulher’: gênero e representações sociais na Polícia Militar de São Paulo”, de Marcos Santana de Souza, orientada por Mariza Corrêa. O terceiro prêmio foi para a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), na área de Engenharias IV: “Antecipação na tomada de decisão com múltiplos critérios sob incerteza”, de Carlos Renato Belo Azevedo, orientada por Fernando José Von Zuben. Na mesma cerimônia será concedido o Grande Prêmio Capes de Tese para a melhor tese selecionada em cada um dos três grupos de grandes áreas. Estas duas premiações se dão em parceria com a Fundação Conrado Wessel. Serão concedidos ainda prêmios especiais para as áreas de Educação e de Ensino, em parceria com a Fundação Carlos Chagas. Para Rachel Meneguello, pró-reitora de Pós-Graduação da Unicamp, a Unicamp destacou-se novamente no cenário de pósgraduação nacional no Prêmio Capes 2015.

Teses da semana

MENÇÃO HONROSA

Dentre as pesquisas da Unicamp que receberam Menção Honrosa, três foram detalhadas pelo Jornal da Unicamp: na área de Educação Física, “Realidades e particularidades da formação do profissional circense no Brasil: rumo a uma formação técnica e superior”, de Rodrigo Mallet Duprat, orientada por Marco Antonio Coelho Bortoleto; em Medicina I, “Estudos lipidômicos aplicados à esquistossomose”, de Mônica Siqueira Ferreira, orientada por Rodrigo Ramos Catharino; e em Ciências de Alimentos, “Caracterização química e capacidade antioxidante de azeites de oliva extravirgem provenientes do Brasil e de outros países utilizando técnicas eletroforéticas, cromatográficas e espectrométricas”, de Cristiano Augusto Ballus, orientada por Helena Teixeira Godoy. O IFCH conquistou a mesma honraria na área de História, com “Fortes laços em linhas rotas: literatos negros, racismo e cidadania na segunda metade do século XIX”, de Ana Flávia Magalhães Pinto, orientada por Sidney Chalhoub. Pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), mais um reconhecimento na área de Ciência dos Alimentos: “Enterococcus spp. e Bacillus cereus isolados de processamento de ricota: patogenicidade, formação de biofilmes multiespécie e detecção de autoindutores AI-2”, de Meg da Silva Fernandes, orientada por Arnaldo Yoshiteru Kuaye. O Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) ganhou duas Menções Honrosas na área de Matemática/Probabilidade e Estatística, com “Entropia invariante para sistemas de controle em grupos de Lie e espaços homogêneos”, de Adriano João da Silva, orientada por Luiz Antonio Barrera San Martin e coorientada por Fritz Colonius; e “Analise bayesia-

na de modelos de regressão para dados de proporções na presença de zeros e uns”, de Diana Milena Galvis Soto Víctor, orientada por Hugo Lachos Dávila. Pela Faculdade de Enfermagem (FEnF), Menção Honrosa na área de Enfermagem, com a tese intitulada “Crenças e fatores psicossociais determinantes da adesão aos antidiabéticos orais”, de Fernanda Freire Jannuzzi, orientada por Roberta Cunha Matheus Rodrigues. E a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) também teve uma tese reconhecida: “Cimentos resinosos modificados com aditivos poliméricos tiouretanos: propriedades da camada de cimento e da interface adesiva”, de Ataís Bacchi, orientada por Rafael Leonardo Xediek Consani.

GRANDE PRÊMIO

Para concorrer ao Grande Prêmio Capes de Tese, os autores vencedores do Prêmio Capes de Tese devem apresentar à Capes uma vídeo-aula com duração de 20 a 30 minutos, em CD ou DVD, destinada a estudantes de ensino médio, abordando o tema da tese de doutorado de forma apropriada a tal nível educacional. O CD/DVD com a vídeo-aula deverá ser enviado até o dia 20 de setembro. Em 2015 serão homenageados Emílio Vanzolini (Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias), Aziz Nacib Ab’Sáber (Engenharias, Ciências Exatas e da Terra e Multidisciplinar – Materiais e Biotecnologia) e Antônio Houaiss (Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes, Ciências Sociais Aplicadas e Multidisciplinar – Ensino). O Grande Prêmio consiste em passagem aérea e diária para o autor e um dos orientadores da tese premiada para que compareçam à cerimônia de premiação; certificado de premiação ao orientador, coorientador(es) e ao programa em que foi defendida a tese; certificado de premiação e medalha para o autor; auxílio equivalente a uma participação em congresso internacional para o orientador, no valor de R$ 6 mil; bolsa para realização de estágio pós-doutoral em instituição nacional de até cinco anos para o autor da tese, podendo converter um ano em estágio pós-doutoral fora do país em uma instituição de notória excelência na área de conhecimento do premiado; e U$ 15 mil para o premiado, concedidos pela Fundação Conrado Wessel.


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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

Saúde na casca do araticum PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

Maysa já sabia, por meio dos estudos que antecederam seu trabalho, que a casca do araticum era rica em compostos antioxidantes. Ainda assim precisou refazer a quantificação dos compostos. Além da casca do araticum, ela processou as sementes e o subproduto de outra fruta do bioma cerrado que foi a casca do pequi. O melhor resultado, ou seja, a maior concentração de antioxidantes pôde ser encontrada no extrato da casca do araticum. Para verificar o potencial de proteção do extrato a pesquisadora induziu o estresse oxidativo de células primeiro in vitro e posteriormente em modelos animais. Ela utilizou o quimioterápico Foto: Antonio Scarpinetti

extrato da casca do araticum, uma fruta comum do cerrado, ajuda a diminuir os danos causados pelo estresse oxidativo das células, problema que ocorre quando há, no interior do organismo, excesso das chamadas “espécies reativas”. Os radicais livres são as espécies reativas mais populares, responsáveis pelo envelhecimento e também por doenças como o câncer, a catarata, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. A pesquisa que apontou o resultado promissor com o extrato da fruta foi realizada no Laboratório de Bioaromas da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. A autora da tese de doutorado, publicada no formato de artigos científicos, Maysa do Vale, deu continuidade a estudos com subprodutos da fruta já realizados pelo Laboratório. Araticum é o nome popular da fruta também conhecida por marolo em algumas partes do país. Da família da pinha, a fruta é bastante usada para fazer bebidas e doces.

Pesquisa analisa propriedades antioxidantes de subprodutos da fruta

Maysa do Vale, autora da tese, e o araticum, também conhecido como marolo: refazendo a quantificação dos compostos

doxorrubicina, utilizado no tratamento de tumores. O uso da droga é limitado devido à sua toxicidade, que vai além do efeito farmacológico esperado. “Estes antineoplásicos causam vários efeitos adversos, a doxorrubicina aumenta muito as espécies reativas, sobretudo no coração”, relata Maysa. Maysa administrou o extrato da casca do araticum por quinze dias em diferentes concentrações: 75, 150 e 300 miligramas. “Avaliei o estresse oxidativo por meio de três enzimas antioxidantes: superóxido dismutase, catalase e glutationa redutase”. A pesquisadora utilizou os métodos de determinação da atividade antioxidante Dpph, Teac e Orac, além da quantificação de fenólicos totais. O padrão químico de antioxidante utilizado foi o ácido gálico. “Observamos o equivalente de ácido gálico em cada um dos subprodutos dessas frutas, no meu caso o equivalente foi expresso por grama de subproduto, por grama de casca e por grama de semente”. O melhor resultado obtido foi com a concentração intermediária de 150 miligramas de extrato. Foram avaliadas alterações metabólicas dos animais. “O extrato mostrou efeitos potencialmente interessantes quando da avaliação dos resultados do ensaio in vivo, embora o extrato não tenha sido efetivo para recuperar o peso corpóreo e o peso relativo do coração no período de 24 h após a administração da doxorrubicina. Do mesmo modo, os resultados de Orac do plasma e as atividades das enzimas antioxidantes endógenas, juntamente com as análises histológicas, mostraram resultados promissores”, acentua Maysa. Nos grupos que tiveram a indução do estresse oxidativo, mas sem tratamento com extrato, as análises histológicas mostraram nitidamente que houve muitas lesões. Já naqueles tratados com o extrato, a quantidade de lesões foi menor. As análises também mostraram que a capacidade antioxidante no plasma dos animais mantém-se ativa 24 horas após a última administração. “O significado desse resultado é que, mesmo após um dia transcorrido, o antioxidante estava ativo para poder com-

bater os danos das células”. Outro resultado positivo foi a proteção renal e hepática do antioxidante.

BIOMA SUBAPROVEITADO De acordo com a autora da tese, há muitos trabalhos de pesquisa que analisam propriedades antioxidantes em polpas de frutas. Mas os subprodutos, ou seja, as partes que seriam jogadas no lixo, continuam um pouco esquecidas pelos cientistas. Paralelamente, o Brasil é um dos campeões em gerar subprodutos que podem causar um grande estrago ao meio ambiente, vide o bagaço da laranja. “Durante toda a cadeia produtiva são gerados subprodutos: cascas, sementes, bagaço”, lembra Maysa, justificando a escolha pela casca do araticum. Outro motivo que levou Maysa a escolher o araticum e o pequi foi o fato dessas frutas serem oriundas do cerrado, o segundo maior bioma do Brasil (o primeiro é a Amazônia) e também ainda pouco estudado, segundo a autora. “A valorização do bioma cerrado e a utilização dos subprodutos são duas importantes contribuições do trabalho”. Como a pesquisa mostrou que é possível reduzir estresse oxidativo causado pela doxorrubicina, resta saber se o quimioterápico continuará ativo, após o tratamento com o extrato, para reduzir o tumor. “Reduzir o estresse oxidativo nem sempre é bom. Precisamos ver se a droga continuará ali disponível para o tratamento”, assinala.

Publicação Tese: “Subprodutos de araticum e pequi: estudo da atividade antioxidante dos compostos bioativos na proteção ao estresse oxidativo” Autora: Maysa do Vale de Oliveira Orientadora: Gláucia Maria Pastore Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)

Atividade física, remédio contra a epilepsia SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

ma pesquisa da Unicamp junto a um grupo de 80 pacientes com epilepsia atendidos no Hospital de Clínicas (HC) demonstrou que a prática de atividades físicas pode proporcionar diversos benefícios nos aspectos psicológicos deste grupo. O estudo, conduzido pela educadora física Simone Thiemi Kishimoto, relata que houve, entre os praticantes de atividade física, uma melhora significativa na autoestima, na diminuição dos sintomas depressivos, no aumento da resiliência e na percepção sobre a qualidade de vida. “A epilepsia pode ser considerada como uma das doenças mais estigmatizantes socialmente. A própria origem do nome da doença, que vem do grego e significa ‘ser invadido, dominado e possuído’, demonstra este estigma. A ideia de avaliar os aspectos psicológicos advém, portanto, do fato de que estas pessoas são frequentemente esquecidas e negligenciadas, ficando às margens da atividade física. Elas também estão mais expostas a disfunções sociais, influenciando, deste modo, seus aspectos psicológicos”, situa Simone Kishimoto, que é graduada pela Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. A pesquisadora da FEF informa que estudos disponíveis na literatura científica sobre o tema, citados no seu trabalho, já mostram que a atividade física pode diminuir o número de crises epilépticas, além dos benefícios de promoção e prevenção a saúde de forma geral. “Isso acontece porque, durante a prática física, o organismo libera a beta-endorfina, um neurotransmissor que inibe a atividade epiléptica, atuando como um anticonvulsivante natural. Na corrente sanguínea, esse beta-endorfina produz sensações de relaxamento e bem-estar”, informa. Simone Kishimoto esclarece ainda a diferença entre os termos “atividade física” e “exercício físico”. “Eu avaliei a atividade físi-

ca, que é diferente de exercício físico. A atividade física é o movimento produzido pelo corpo no dia a dia, com gasto energético, como ir ao trabalho a pé, limpar a casa, subir uma escada, etc. Já o exercício físico é planejado, direcionado a um objetivo. Nadar, correr, caminhar e andar de bicicleta são exercícios físicos. Desta forma, todo exercício pode ser considerado uma atividade física. Porém, a atividade física nem sempre pode ser considerada um exercício.” Na pesquisa, conduzida como dissertação de mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação da FEF, Simone Kishimoto avaliou como a atividade física que já era praticada pelos pacientes interferiu em cinco aspectos psicológicos: percepção sobre a qualidade de vida, autoestima, resiliência, sintomas depressivos e estigma. Destes aspectos, o único que não apresentou melhora significativa foi o estigma, revela a educadora física. Foto: Antonio Scarpinetti

A educadora física Simone Thiemi Kishimoto, autora do estudo: melhora no quadro geral dos pacientes

“A atividade física não conseguiu diminuir a percepção de estigma que estes pacientes têm. O termo estigma pode ser definido como uma cicatriz, um sinal relacionado a estereótipos negativos e à rejeição da sociedade. Acreditamos que não houve alterações significativas muito por conta da própria situação de vida do paciente, que trabalha e faz atividade física, mas mesmo assim sofre muito preconceito”, considera. O estudo foi orientado pela professora Paula Teixeira Fernandes, que atua no Departamento de Ciências do Esporte e coordena o Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e Neurociências (Gepen). A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financiou os trabalhos, concedendo bolsa de estudo à pesquisadora. “As pesquisas com atividade física e epilepsia são recentes, com maior ênfase nos últimos 20 anos. Além disso, há uma lacuna de estudos relacionando atividade física aos aspectos psicológicos. Neste sentido, vejo uma importância do meu trabalho, que abre caminho para outras pesquisas na área”, ressalta a autora da pesquisa. Ela situa que dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a diversas formas epilepsia afetam cerca de 50 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, a prevalência varia entre cinco e quatro pessoas para cada 1.000 habitantes. Simone Kishimoto informa ainda que, conforme estudos sobre o tema, a alta incidência das epilepsias nos países em desenvolvimento é decorrente da deficiente assistência pré-natal e maternal, do alto índice de prematuridade, desnutrição, traumas durante o parto, convulsões febris da infância e de infecções, particularmente decorrentes de parasitismo. “Apesar do tratamento terapêutico e medicamentoso, a condição social do doente acaba sendo amplamente esquecida e negligenciada. As crises imprevisíveis e, muitas vezes, dramáticas, fazem com que a sociedade tenha medo em lidar com as pessoas durante uma crise epiléptica. E o doente

acaba sendo estigmatizado por apresentar uma característica diferente da aceita pela sociedade, sendo tratado, muitas vezes, com preconceito pela população. Isso faz com que muitos pacientes escondam sua real condição e se isolem socialmente, influenciando as relações sociais, oportunidades escolares e de emprego e aspectos emocionais”, conta.

GRUPO AVALIADO

Os pacientes atendidos no Ambulatório de Epilepsia do HC foram divididos em dois grupos: ativos e não ativos fisicamente. A educadora física informa que os 80 pacientes adultos avaliados foram diagnosticados com epilepsia de lobo temporal associada à esclerose mesial. De acordo com Simone Kishimoto, este tipo de epilepsia possui alta prevalência entre adultos, sendo um dos tipos mais comum da doença. “Dividimos em dois grupos segundo as classificações do International Physical Activity Questionnaire [IPAQ]: grupo ativo, composto por 61 pessoas e grupo não ativo ou sedentário, composto por 19 pessoas. Dos 80 pacientes, 49 são mulheres e 31 homens. Empregamos este questionário para avaliar os aspectos psicológicos e para cada um destes aspectos foi estabelecido uma escala de pontuação. Dentre os que mais tiveram melhora, pela ordem, foram: autoestima, qualidade de vida, sintomas depressivos e resiliência”, revela.

Publicação Dissertação: “Relações entre atividade física e aspectos psicológicos em pacientes com epilepsia” Autora: Simone Thiemi Kishimoto Orientadora: Paula Teixeira Fernandes Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF) Financiamento: Fapesp


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Campinas, 14 a 20 de setembro de 2015

Brasil e Canadá inovam em

pesquisas sobre saúde mental EDIMILSON MONTALTI Especial para o JU

urante cinco anos, pesquisadores, estudantes, usuários e prestadores de serviços da Unicamp e da Universidade de Montreal investigaram modelos de saúde mental no Brasil e no Canadá. O projeto foi financiado pela Aliança de Pesquisa Comunidade-Universidade (ARUC) do Canadá e buscou influenciar debates acadêmicos e políticos em favor da luta contra o estigma das doenças mentais, aproximar os serviços de saúde, a comunidade e a pesquisa acadêmica. As abordagens de investigação tomaram, como base, metodologias participativas e inclusivas de alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorandos e gerou 40 teses, 54 publicações nacionais e internacionais, oito capítulos de livros, o site www.aruci-smc.org, dentre outros produtos oriundos do projeto. A participação ativa dos usuários no processo de investigação tornou-se um evento sem precedentes no Brasil. “A quantidade de alunos envolvidos no projeto foi enorme. Só de doutorado e pós-doutorado do Brasil foram 35 alunos. O que me encantou no projeto foi fazer ciência aplicável engajada com a comunidade. Essa é uma tendência mundial de pesquisa participativa inclusiva, que no Brasil tem pouco desenvolvimento. Temos, por exemplo, um artigo recém-publicado nos Cadernos HumanizaSUS, publicado pelo Ministério da Saúde, que foi escrito com a participação dos próprios usuários dos serviços da saúde mental”, revelou Rosana Teresa Onocko-Campos, médica do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e coordenadora do projeto ARUC.

O artigo “A experiência de produção de saber no encontro entre pesquisadores e usuários de serviços públicos de saúde mental: A construção do guia GAM” reuniu 27 autores entre docentes, mestrandos e doutorandos da Unicamp, da Universidade Federal Fluminense e Universidade Federal do Rio Grande do Sul e também usuários de serviço de saúde mental dos municípios de Campinas (SP), Novo Hamburgo e São Leopoldo (RS), Rio de Janeiro e São Pedro da Aldeia (RJ), e trabalhadores desses serviços. Segundo Onocko-Campos, o artigo levou dois anos para ser escrito. No Brasil, até a década de 1980, os hospitais psiquiátricos e os asilos eram os principais locais de tratamento para pessoas com problemas mentais graves. A Reforma Psiquiátrica instituiu uma nova política de saúde mental, que teve, como um de seus principais recursos, o desenvolvimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) para o tratamento em saúde mental na comunidade, possibilitando o seguimento ambulatorial e a atenção à crise. Reconhecendo o contexto de utilização pouco crítica dos medicamentos nos tratamentos em saúde mental, bem como o valor simbólico da medicação para aqueles que a utilizam, foi desenvolvida em Quebec, no Canadá, o guia de Gestão Autônoma da Medicação (GAM), para que os usuários tivessem acesso a informações sobre seus tratamentos e pudessem reivindicar seus direitos e até mesmo a retirada da medicação. A versão brasileira não manteve o tema da retirada da medicação, mas reforçou a tomada de decisões compartilhadas entre usuário e profissional de saúde. O guia é dividido em passos, onde a pessoa é convidada a fazer um balanço da própria vida para alcançar uma melhor qualidade de saúde. Foto: Antoninho Perri

A médica Rosana Teresa Onocko-Campos, coordenadora do projeto ARUC: “A direção proposta é a de que o usuário, em vez de ocupar um lugar de dependência na relação com o serviço, tenha o serviço como espaço a partir do qual retome o seu lugar de cidadão”

Projeto rendeu debates, 40 teses, site, 54 artigos nacionais e internacionais, além de oito capítulos de livros “O guia GAM revelou que o uso dos medicamentos aumenta o poder dos serviços de saúde mental, coisa que outras pesquisas avaliativas não haviam conseguido mostrar. A medicação psiquiátrica ainda é usada como forma de controle das pessoas. O grande paradoxo é que descobrimos que a palavra do usuário é pouco ouvida na hora da prescrição da medicação nos serviços comunitários de saúde mental”, disse Onocko-Campos. A pesquisadora da FCM afirma que algumas pessoas têm comparado a medicação psiquiátrica a remédios para hipertensão ou diabetes, como algo que deve ser tomado a vida inteira. A diferença, alega, está na dosagem. Por meio de um exame de sangue é possível ao médico prescrever qual a dose certa para o controle da hipertensão ou diabetes. Já para os medicamentos que afetam percepções e sensações, como os ansiolíticos, não há como ter essa dosagem por meio de exames de laboratório. “Se eu lhe dou um regulador de humor, como vou saber como está o seu humor se não for confiando no que você me disse? Há pessoas que estão tomando há anos medicamentos sem saber dos efeitos colaterais. Queremos trazer a experiência do usuário para a tomada de decisão quanto a uma boa prescrição”, revelou Onocko-Campos. A pesquisa, com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp, respeitou os aspectos éticos e legais implicados no trabalho com pessoas, sobretudo usuárias da rede de saúde mental. Os usuários da intervenção GAM referiam-se ao grupo como um local para troca de um “saber experiencial” sobre o medicamento, no qual cada um pôde contar sua vivência singular com relação ao uso dos psicotrópicos. Nas narrativas dos usuários, os CAPS foram descritos ora como lugar de tratamento e cuidado positivamente avaliado, como fomentador de espaço de escuta, de troca e produção de trabalho, ora como promotor de sentimentos de baixo poder de troca e de participação. Foram identificados vários problemas associados à dificuldade de comunicação sobre esse tema: relações desiguais de poder, coerção, medo, timidez, uso de linguagem técnica, ausência de escuta para a vivência pessoal e atribuição exclusiva de competências. Percebeu-se a existência de um limite tênue entre o cuidado com a saúde dos usuários e a tendência ao gerenciamento absoluto de suas vidas. As pesquisas levaram à constatação de que ainda são necessárias mudanças nas práticas em saúde mental, especialmente no que se refere à valorização da experiência do usuário em seu tratamento. “Nesses cinco anos de pesquisa, o que nos chamou a atenção foi o aspecto da prescrição de medicamento tanto dentro da reforma psiquiátrica quanto nos serviços comunitários, nos quais é feito de forma tradicional, com pouco diálogo com os pacientes, muita verticalidade e assimetria na tomada de decisão entre médicos e pacientes. A direção proposta é a de que o usuário, em vez de ocupar um lugar de dependência na relação com o serviço, tenha o serviço como espaço a partir do qual retome o seu lugar de cidadão. Isso foi uma diferença que apareceu nos estudos comparados entre o Canadá e o Brasil”, revelou Onocko. As pesquisas mostraram que a verticalidade do saber médico sobre o usuário apareceu tanto no Brasil quanto no Canadá, mas o que

torna os usuários brasileiros mais frágeis, sobretudo os pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a baixa escolaridade, o escasso poder aquisitivo, o acesso à boa alimentação, a baixa qualidade da moradia e outros fatores, se comparados ao nível de vida dos usuários canadenses. “Como se não bastasse o estigma da doença mental, que gera uma certa segregação social, a diferença cultural torna os usuários mais fragilizados. Precisamos criar canais de comunicação para que os médicos mediquem corretamente do ponto de vista farmacológico, quando necessário, mas com um grau de permeabilidade com o que os pacientes sentem e acham”, reforçou Onocko-Campos. O projeto como um todo teve um sistema de governança muito particular, pois permitiu inserir os alunos de pós-graduação em grandes grupos de pesquisa e mudar conceitos. Depoimentos de alunos do Canadá e do Brasil mostram que, depois de participarem do projeto ARUC, eles não conseguem fazer pesquisa sobre as pessoas sem pensar o que elas acham. De acordo com Onocko-Campos, a FCM da Unicamp está entrando com outro pedido de financiamento no Canadá. A ideia é desdobrar o trabalho na apreensão do processo do adoecimento, mantendo a ênfase na inclusão do usuário nos estudos participativos, com maior refinamento e qualidade do ponto de vista científico. “Às vezes, tendemos a achar que inovação só existe na área mais dura – engenharia, computação, matemática, física –, mas essa é uma pesquisa inovadora dentro da internacionalização. Por conta desse trabalho, estamos buscando novos convênios com a Universidade de Yale, nos Estados Unidos. E em setembro, vamos para Londres conversar com pesquisadores do Kingdom College, o grupo mais citado do mundo de avaliação de serviços mental. Hoje, as pesquisas são aglutinadas em rede. Essa é uma nova tendência da ciência contemporânea”, revelou Onocko-Campos.

Publicações Artigo: A experiência de produção de saber no encontro entre pesquisadores e usuários de serviços públicos de saúde mental: A construção do guia GAM Autores: Rosana Teresa Onocko Campos, Eduardo Passos, Analice de Lima Palombini et ali Unidades: Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Publicação: Cadernos HumanizaSUS, volume 5, Saúde mental, 2015 Artigo: Human rights and the use of psychiatric medication Autores: Lourdes Rodriguez del Barrio, Rosana Teresa Onocko Campos, Sabrina Stefanello, Deivisson Vianna Dantas dos Santos, Ce´ line Cyr, Lisa Benisty e Thais de Carvalho Otanari Unidades: Universidade de Campinas e Universidade de Montreal Publicação: Journal of Public Mental Health, Vol. 13, nº. 4 2014, pp. 179-188 Artigo: A Gestão Autônoma da Medicação: uma intervenção analisadora de serviços em saúde mental Autores: Rosana Teresa Onocko Campos, Eduardo Passos, Analice de Lima Palombini, Deivisson Vianna Dantas dos Santos, Sabrina Stefanello, Laura Lamas Martins Gonçalves, Paula Milward de Andrade e Luana Ribeiro Borges Unidades: Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal Fluminense, Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Publicação: Ciência & Saúde Coletiva 18(10):2889-2898, 2013


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