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Foto: Álvaro Kassab

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

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Em entrevista ao Jornal da Unicamp, o professor Marcio Pochmann, do Instituto de Economia (IE), alerta para o risco de retrocesso na trajetória de redução da desigualdade no país, ressaltando que o aumento do desemprego e uma queda na massa de salários são indicativos de um provável “ponto de inflexão”. Pochmann, que acaba de lançar o livro Desigualdade Econômica no Brasil, obra que faz um apanhado histórico das diferenças de renda e riqueza entre os brasileiros, sai em defesa da chamada “escola de Campinas”, de linha desenvolvimentista, que vem sendo alvo de críticas.

www.unicamp.br/ju

Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015 - ANO XXIX - Nº 635 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Jornal daUnicamp

9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA

Retrocesso à vista?

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Tese aponta desafios da universalização do SUS Como o pai vê a filha com bulimia e anorexia

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Limeira entra na lista das cidades mais poluídas

Pesquisas têm validade checada

A arte do encontro entre o autismo e a dança

As aplicações do ‘cientista robô’

Pela redefinição do gênero Homo

TELESCÓPIO

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Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Checando a validade da pesquisa

Zero chimpanzés

Menos de 50% de uma lista de 100 estudos de psicologia publicados em três importantes periódicos da área, ao longo do ano de 2008, tiveram seus resultados reproduzidos num esforço coletivo de checagem científica, relatado na edição mais recente da revista Science. Nas reproduções, o tamanho do efeito – uma medida da correlação entre as variáveis estudadas – observado caiu 50%, em média, em relação aos trabalhos originais, e apenas 36% das replicações atingiram significância estatística, ante 97% dos estudos originais. Detalhes do projeto estão disponíveis online, em https://osf.io/ezcuj/ , e o artigo final foi disponibilizado gratuitamente no site da Science, http://www.sciencemag.org/ . Reprodutibilidade é uma das marcas do processo científico: em teoria, todo resultado publicado por um pesquisador deveria ser passível de reprodução por outros cientistas dispostos a aplicar os mesmos métodos e a usar materiais equivalentes. A reprodutibilidade reduz o risco de um determinado resultado ser inválido – fruto de erro do pesquisador ou de mero acaso – e, do ponto de vista prático, é o que torna possível a transformação da produção acadêmica em tecnologia e inovação. Há tempos, no entanto, que críticos apontam que a estrutura de incentivos da ciência atual, baseada em número de artigos e de citações, desfavorece os esforços de reprodução e leva à disseminação de falsos positivos: os periódicos de alto impacto privilegiam resultados originais e impressionantes, o que não só torna o esforço de empreender reproduções desinteressante para o cientista, como ainda estimula a “inflação” dos tamanhos de efeito e índices de significância estatística publicados. A despeito do resultado, os autores do artigo concluem sua exposição com otimismo: “Qualquer tentação de interpretar estes resultados como uma derrota da psicologia, ou da ciência em geral, terá de lidar com o fato de que este projeto demonstra a ciência trabalhando como deveria. Há uma abundância de hipóteses sobre como a atual cultura da ciência pode afetar negativamente a reprodutibilidade das descobertas. Uma resposta ideológica seria relevar esses argumentos, desacreditar suas fontes e seguir despreocupadamente. O processo científico não é ideológico. A ciência nem sempre traz o conforto do que gostaríamos que fosse; confronta-nos com o que é”, escrevem.

O governo dos Estados Unidos não recebeu nenhum pedido de autorização para a realização de pesquisas científicas invasivas em chimpanzés, o que sugere que não existem mais estudos biomédicos sendo conduzidos nesses animais, informa o serviço noticioso Science Insider, da revista Science. Esse tipo de estudo tem estado em declínio desde 2013, quando órgãos de fomento dos Estados Unidos passaram a restringir o apoio ao uso de chimpanzés para fins biomédicos. A exigência de permissão federal passou a vigorar neste ano. Ouvido pelo Insider, Robert Lanford, diretor do Southwest National Primate Research Center, disse que nenhum grupo de pesquisas quer ser o primeiro a solicitar autorização – o que chamaria a atenção de ativistas de direitos dos animais e da opinião pública em geral. Lanford diz que o chimpanzé representa um modelo de pesquisa inestimável para a área médica. “A questão é, optaremos por usá-los, ou não?”

Seca causada pelo homem

O pai dos babuínos

Em comentário publicado na edição mais recente da revista Nature, um grupo de hidrologistas baseados no Estado norte-americano da Califórnia, que passa por uma situação crítica de falta d’água, alerta para a necessidade de as autoridades reconhecerem o papel da ação humana na criação do que chamam de “secas antropogênicas”. Desde 2012 que a Califórnia bate recordes de temperatura e experimenta a pior seca do século. “Observações e projeções climáticas indicam que o clima da Califórnia está aquecendo”, diz o artigo. “Secas futuras serão agravadas por ondas de calor mais intensas e mais incêndios florestais (...) aumentará a demanda por energia bem no momento em que a água para geração e refrigeração estará escassa (...) aumentarão as tensões entre prioridades humanas e a parcela devida à natureza”. “À medida que aumentam os efeitos antropogênicos, as lições das secas passadas não podem simplesmente ser aplicadas a eventos futuros”, advertem os autores, pedindo mais pesquisa. “A resiliência da Califórnia a tais eventos futuros não foi investigada. Cientistas de clima e hidrologia focalizam fenômenos de larga escala e dão pouca atenção às condições e aos impactos locais, como a queda na atividade econômica e a redução dos estoques locais de água”.

Artigo de pesquisadores dos Estados Unidos e África do Sul, publicado no periódico PLoS ONE, descreve o mais antigo crânio de babuíno já descoberto. Com mais de 2 milhões de anos, o fóssil foi encontrado na caverna de Malapa, na África do Sul, parte do sítio conhecido como Berço da Humanidade, de onde já foram desenterrados vários fósseis de ancestrais humanos. O babuíno, da espécie extinta Papio angusticeps, é o primeiro fóssil não-hominino encontrado em Malapa – os cientistas envolvidos na escavação buscavam vestígios do hominino Australopithecus sediba quando deram com os restos do animal. A descoberta reforça a hipótese de que o P. angusticeps tem parentesco próximo com os babuínos modernos, principalmente com a espécie Papio hamadryas, conhecida como babuíno-sagrado.

O urso polar Knut, que de 2006 a 2011 foi a principal atração do Jardim Zoológico de Berlim, e que morreu afogado na lagoa de seu cercado depois de sofrer uma convulsão epilética, foi vítima de uma forma autoimune de encefalite que nunca antes havia sido observada em animais não humanos, informa artigo publicado no periódico online Scientific Reports, ligado ao grupo Nature. Ao realizar a autópsia do urso, os autores detectaram uma alta concentração de anticorpos específicos no líquido cefalorraquidiano do animal. Testes mostraram que esses anticorpos atacam partes do cérebro de ratos de um modo quase idêntico ao observado na encefalite autoimune humana. O resultado sugere que problemas autoimunes mediados por anticorpos também podem atacar outros mamíferos, para além da espécie humana.

Foto: Zoologischer Garten Berlin AG/Divulgação

Encefalite de urso polar

Cientista virtual Redefinindo o gênero Homo A definição das características que delimitam o gênero Homo, ao qual pertence a espécie humana atual (Homo sapiens), continua “imprecisa como sempre”, porque “novos fósseis foram sendo atribuídos, de modo pouco sistemático, a espécies de Homo, sem um mínimo de preocupação com os detalhes da morfologia”, queixam-se dois antropólogos americanos na edição mais recente da revista Science. Ambos pedem, em artigo conjunto, uma redefinição do gênero e da espécie a que pertencemos, e a partir do zero: “Se quisermos ser objetivos, quase com certeza teremos de apagar a lista emblemática de nomes em que o registro fóssil hominino se encontra historicamente aprisionado, e começar do começo”. O artigo traça uma breve história das classificações dos fósseis humanos e ancestrais, começando por Lineu, que a 300 anos definiu o gênero Homo com a frase “conhece-te a ti mesmo”, passando pela polêmica que se seguiu à descoberta dos primeiros neandertais no século 19 e o debate no século 20 sobre a posição dos australopitecos na família humana. “Talvez seja hora de esquecer os hábitos provincianos e adotar uma abordagem da sistemática hominina do mesmo modo que os estudantes de outros organismos procedem, especialmente por meio de comparações morfológicas mais amplas e detalhadas”, propõe o texto.

Knut, o urso polar que fez sucesso em Berlim

Um software capaz de assimilar grandes quantidades de dados sobre sistemas dinâmicos e deduzir equações capazes de prever a evolução desses sistemas – basicamente, um “cientista robô” que infere “leis da natureza” a partir de dados observacionais – é descrito no periódico online Nature Communications por pesquisadores dos Estados Unidos. O programa foi batizado de “Sir Isaac”, em homenagem a Isaac Newton. “Nosso algoritmo é um pequeno passo”, disse, por meio de nota, o biofísico Ilya Nemenman, da Universidade Emory, principal autor do artigo. “Ele pode ser descrito como um robô cientista de brinquedo, mas mesmo assim pode ter aplicações práticas. Pela primeira vez, ensinamos um computador a buscar, de modo eficiente, pelas leis subjacentes a sistemas dinâmicos naturais arbitrários, incluindo complexos sistemas biológicos não-lineares”. De acordo com o artigo publicado, usando dados simulados o sistema se mostrou capaz de deduzir corretamente a evolução do movimento dos planetas e produziu previsões precisas do consumo de açúcar por leveduras “a partir de dezenas de pontos de dados, e com mais metade das espécies da interação não tendo sido observadas”.

Noite astronômica na Casa Branca A Casa Branca, residência oficial do presidente e sede do governo dos Estados Unidos, sediará uma nova “Noite Astronômica” em 19 de outubro. Na oportunidade, o Gramado Sul da Casa Branca – de onde parte o helicóptero oficial da Presidência americana – será tomado por cientistas, professores e estudantes para uma sessão de observação das estrelas. A chamada Noite Astronômica da Casa Branca foi instituída pelo presidente Barack Obama me 2009, como parte do esforço para chamar a atenção dos jovens para temas científicos e envolvê-los em atividades educacionais e de pesquisa.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

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Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015

Muito longe da universalização Pesquisa desenvolvida no Instituto de Economia aponta os maiores desafios do SUS Foto: Antoninho Perri

LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

ais de 26 anos após a sua criação, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda enfrenta grandes desafios para cumprir os princípios de universalidade, integralidade e equidade de acesso aos serviços de saúde para todos os brasileiros, formalmente estabelecidos na Constituição de 1988. O principal desafio para isso está na incompatibilidade do SUS com o contexto político e econômico vigente a partir dos anos 1990, quando o país aderiu à doutrina neoliberal. A conclusão é da economista Ana Paula Andreotti Pegoraro, na dissertação de mestrado “Estado e mercado na atenção à saúde no Brasil: os desafios da universalização do SUS”, orientada pelo professor Eduardo Fagnani e apresentada no Instituto de Economia (IE) da Unicamp. “O Brasil continua sendo pautado por um tripé macroeconômico introduzido em 1999, após negociação do governo de Fernando Henrique Cardoso com o Fundo Monetário Internacional: o cumprimento de metas de inflação (tendo como instrumento a alta taxa de juros), o câmbio flutuante e o superávit primário (priorização do pagamento de juros da dívida pública em detrimento das contas correntes em saúde, educação, previdência, etc.). Isso é incompatível com o desenvolvimento social e, especialmente, com o SUS concebido para atender 200 milhões de pessoas. Os recursos para o sistema são parcos (e dificilmente virão mais), quando seriam necessários gastos muito maiores do que os efetivados”, afirma a autora da dissertação. Em sua pesquisa, Ana Pegoraro procurou delinear as relações entre os setores público e privado na assistência à saúde no Brasil em dois períodos distintos: o primeiro contempla os determinantes históricos do sistema de saúde do início do século XX até 1988; e o segundo abarca o pós-1990, quando o país faz a opção pelo neoliberalismo. “Desde os primórdios de sua formação, sempre predominou no sistema brasileiro um forte segmento empresarial operando a saúde em seus diversos componentes, o que responde em parte pelas deficiências estruturais do Estado. Este processo foi intensificado a partir da década de 1940, quando os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) passaram a contratar o setor privado para dar assistência médica aos seus filiados.” A economista afirma que na ditadura militar este modelo foi ampliado à exaustão, tanto que quando o SUS foi criado em 1988, a grande maioria da oferta de serviços de saúde era pelo setor privado. “Na lei, o SUS é público; mas na prática, a oferta era privada. A mercantilização da saúde passou a ser motivo de grande disputa tanto no Parlamento quando no Executivo, e o SUS foi atropelado por este processo histórico de privatização reforçado pela hegemonia da agenda neoliberal. Este é o pano de fundo para se compreender os problemas atuais vividos pelo SUS, passados 26 anos da sua consagração formal pela Carta de 88.”

HISTÓRICO Na economia cafeeira, conforme a autora da pesquisa, as preocupações dos governos no que concerne à saúde da população se limitavam à criação de condições sanitárias mínimas para as relações comerciais com o exterior e, também, para o êxito da política de imigração que pretendia atrair mão de obra visando à constituição do mercado de trabalho capitalista. “As instituições sanitárias priorizavam os grandes centros urbanos e os portos, enquanto os cuidados com a saúde da população de municípios do interior e de menor importância econômica eram bem

A economista Ana Paula Andreotti Pegoraro, autora da dissertação: “O Brasil continua sendo pautado por um tripé macroeconômico introduzido em 1999, após negociação do governo de FHC com o FMI”

rudimentares. Não se tratava de melhorar as condições de vida da população, e sim de defender os interesses pré-capitalistas através da acumulação cafeeira.” A dissertação traz um histórico da previdência social desde as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), criadas em 1923 e organizadas por empresas e empregados de cada setor produtivo – marítimos, comerciários, bancários, ferroviários, transportes e cargas, servidores públicos. Já aos demais trabalhadores não filiados a tais entidades, restavam os serviços públicos ou outras formas de assistência médica, que eram precárias, restritas e muitas vezes provindas de doações. “As CAPs operavam em regime de capitalização e eram muito desiguais, pois quanto mais forte o setor, como dos bancários, maior era o poder de barganha com os patrões.” Ana Pegoraro conta que, em 1930, Vargas promoveu uma reestruturação do sistema, substituindo as CAPs pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), na condição de autarquias em nível nacional centralizadas pelo governo federal; ou seja, decidiu-se que o Estado responderia a esta questão social de forma universal, ao invés de tratá-la de forma parcial e pontual. “A filiação passou a se dar por categorias profissionais e não mais por empresas. Os IAPs respondiam tanto por serviços de previdência (afastamento ou aposentadoria) como pelos serviços de saúde, bancados por recursos públicos, dos empresários e dos trabalhadores.” Segundo a pesquisadora, a nova dinâmica de acumulação subordinada ao capital industrial fez surgir outras necessidades e aumentar a pressão pela ampliação e criação de políticas sociais. “A política nacional de saúde estava organizada em dois subsetores: de saúde pública, prestada por instituições estatais para toda a população; e de medicina previdenciária,

com serviços oferecidos de forma restrita a alguns trabalhadores urbanos. Havia uma significativa diferença na forma de financiamento: as instituições públicas contavam com escassos recursos orçamentários, enquanto as instituições previdenciárias eram financiadas por contribuições dos trabalhadores, impulsionadas com o desenvolvimento econômico e o crescimento da massa salarial.” A economista acrescenta que o setor de atenção médica no Brasil, à semelhança do que ocorre em outros países, cresce aceleradamente em importância econômica, mobilizando um volume cada vez maior de recursos e permitindo maior acumulação de capital em seu interior. “Este modelo de organização institucional, calcado na segmentação e na discrepante diferença de financiamento, beneficiou o financiamento do setor privado através da canalização de recursos da saúde previdenciária para a construção e expansão de hospitais privados. Nesse sentido, criou mecanismos para que o setor privado ganhasse força e se estruturasse de forma a ter capacidade de defender seus interesses em possíveis tentativas de reestruturação do sistema público.”

TENSÃO

PREVALECE

Ana Pegoraro destaca em seu estudo que a saúde ainda não podia ser considerada um negócio em 1964, mas a clara divisão entre medicina curativa e medicina preventiva, e as abordagens distintas para distintos segmentos da incipiente classe trabalhadora brasileira, deram os primeiros sinais do grande mercado que se tornaria a saúde no Brasil. “Durante a ditadura militar, de 64 a 85, temos um período de modernização conservadora, com uma expansão dos bens públicos ofertados pelo setor privado. Uma modernização, porém, assimétrica em termos regionais, concen-

trada na região sudeste, que privilegiava a medicalização em detrimento da prevenção. Além disso, não era universal: para ser atendido no sistema ainda era preciso apresentar a carteira de trabalho.” A pesquisadora destaca, por outro lado, a existência de diversos serviços públicos de atenção à saúde, como Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Butantan e escolas, hospitais e centros de saúde que asseguraram uma das bases para o projeto de um sistema nacional de saúde no Brasil. “Nesse aspecto, a construção do Sistema Único de Saúde (SUS), inspirado nos valores do sistema de proteção social (Welfare State) formado na Europa do pós-Guerra, veio se opor ao modelo médico assistencial privatista hegemônico durante a ditadura militar. A lógica do seguro, em que se paga para ser assegurado, prevaleceu até a Constituição de 88, quando então se implantou o conceito de seguridade, em que basta ser cidadão brasileiro para ter acesso ao sistema de saúde.” A autora da pesquisa afirma que a globalização dos anos 80 e a adesão do país ao neoliberalismo nos 90 tiveram como consequências a desestruturação dos pilares do Estado brasileiro e a fragilização dos seus instrumentos de atuação, dificultando manter e garantir os direitos de acesso a bens e serviços de saúde. “A agenda liberal e conservadora, com destaque para as diretrizes e orientações políticas do Banco Mundial de incentivo à expansão da iniciativa privada nos serviços de saúde, é antagônica aos princípios do SUS. Na prática, o sistema de saúde passou a viver tencionado entre o que reza a Constituição e o contexto político e econômico favorável aos mercados desregulados – e a privatização da saúde ganhou novo fôlego.” Ana Pegoraro recorda um debate surgido na banca examinadora, dando conta de que embora a Constituição garanta a todos os brasileiros o direito à saúde universal, igualitária e equitativa, esta garantia é muito mais formal do que efetiva. “A Carta de 88 diz que a oferta será pública, mas para isso seriam necessários hospitais públicos, especialmente nas regiões mais pobres do país, o que teria demandado enormes investimentos; mas, no contexto do ajuste macroeconômico ortodoxo, central na agenda dos governos, esses investimentos não ocorreram de forma significativa. Recentemente, o Congresso aprovou um projeto prevendo o ingresso de capital internacional nos serviços de saúde do Brasil. Trata-se de mais um golpe no SUS, ampliando ainda mais a participação privada na captura dos recursos públicos.” A mestre em economia finaliza com outro aspecto discutido na banca, relacionado aos planos de saúde, serviço privado que floresceu com o neoliberalismo. “A história econômica do século XX é marcada pela diferenciação social. A desigualdade faz com que as pessoas busquem ascender socialmente e o tipo de assistência à saúde também é uma forma de diferenciação. Talvez a classe média não queira que o SUS dê certo, pois significaria ser atendida por um mesmo médico ou hospital, ainda que isso seja perfeitamente natural nos países desenvolvidos. Plano de saúde também é demonstração de status, juntamente com o carro e a casa própria. Sem mudar essa estrutura social, não haverá respaldo para manutenção do SUS.”

Publicação Dissertação: “Estado e mercado na atenção à saúde no Brasil: os desafios da universalização do SUS” Autora: Ana Paula Andreotti Pegoraro Orientador: Eduardo Fagnani Unidade: Instituto de Economia (IE)


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Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015

Tese aborda reações do pai a transtorno alimentar da filha Pesquisa revela que, no início da bulimia e da anorexia, sintomas são negligenciados ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

las são bonitas, muito jovens, têm os corpos bem-feitos, mas não se enxergam desse modo. Elas se veem gordas e com uma visão distorcida de si. Com o tempo, ficam com a alimentação por demais seletiva, restritiva, emagrecem de repente ou então comem compulsivamente e logo querem se livrar do alimento que ingeriram. Esses comportamentos refletem transtornos alimentares presentes em duas doenças: a anorexia nervosa, caracterizada pelo emagrecimento patológico resultante de uma dieta alimentar rígida e insuficiente, e a bulimia nervosa, na qual se observam episódios de compulsão alimentar seguidos por comportamentos inadequados e perigosos que têm como finalidade a perda de peso rápido. Como obter apoio? A mãe naturalmente é a primeira a oferecê-lo. Mas o que dizer sobre o pai? Uma pesquisa de doutorado desenvolvida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) indicou que, quando os primeiros sintomas aparecem, os pais não valorizam a perda de peso, por acharem que se trata apenas de um “regimezinho”. Mas, quando percebem a gravidade da doença (que pode levar à morte), estendem as mãos e fazem de tudo para ajudar, buscando desesperadamente um tratamento. O estudo sugeriu, no entanto, que, após a tempestade, vem a bonança. Os pais se aproximaram mais de suas filhas, com as quais passaram a dialogar melhor. Eles atribuíram esse ganho ao tratamento multiprofissional que receberam. Algumas pacientes e seus pais tiveram a sensação de que precisaram da doença para que amadurecessem nesta relação. Foi o “lado bom” do transtorno alimentar.

Essas foram algumas das conclusões do psiquiatra Celso Garcia Júnior, autor desse projeto e coordenador do Grupo Multidisciplinar de Assistência e Estudos em Transtornos Alimentares (Geta) do HC, que contou com a orientação do professor Egberto Ribeiro Turato, pesquisador-líder do Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa. Dos tratamentos disponíveis hoje, segundo o especialista, a abordagem multiprofissional (com psiquiatra, psicólogo, nutricionista e acompanhamento dos pais e familiares) tem sido a mais efetiva. “Obviamente os casos mais leves podem até não requerer todos esses especialistas, mas o acompanhamento multiprofissional é o preconizado pela literatura científica internacional”, destaca. “Nos casos mais graves, o paciente pode necessitar de internação hospitalar.” Atualmente, não existem evidências de que medicamentos sejam eficazes no tratamento da anorexia nervosa. No caso da bulimia, a fluoxetina pode ser útil, desde que associada à abordagem nutricional e psicológica.

TRABALHO O médico explica o que diferencia a anorexia e a bulimia. De acordo com ele, na anorexia nervosa nota-se uma perda de peso intensa e intencional em função da diminuição da ingesta alimentar causada pelo medo de engordar, do desejo de ficar magra e de uma distorção da visão que a doente tem da imagem do próprio corpo, ou seja, mesmo estando desnutrida, sente-se gorda. Então a percepção que a paciente tem do seu corpo é de que ele sempre está maior do que de fato é. “E, mesmo com um quadro de desnutrição, a adolescente continua com restrição alimentar ou com métodos inadequados para perda de peso.” Foto: Antoninho Perri

Na bulimia, também é nítida uma distorção da imagem corporal e uma preocupação obsessiva com o corpo, aliada ao desejo de emagrecer. Contudo, prevalecem os episódios de compulsão alimentar seguidos de vômitos autoprovocados, uso de laxantes e diuréticos ou atividade física excessiva e inapropriada. A justificativa de Celso para estudar esse tema é que, embora os pais não devam ser responsabilizados pela doença das filhas, as relações familiares representam um importante fator nessa clínica, tanto no que diz respeito ao surgimento do transtorno quanto nos resultados do tratamento. A participação da mãe e do pai no tratamento do adolescente pode ser determinante para que se atinja o sucesso terapêutico. Outra justificativa desse estudo é que nas pesquisas realizadas até hoje o pai foi bem menos estudado do que a mãe, principalmente em trabalhos que utilizaram a metodologia qualitativa. “De fato, a mãe costuma ser mais presente na rotina de vida da filha e introjeta mais facilmente a figura de cuidador do que o pai que, com frequência, passa menos tempo em casa interagindo com os filhos, por causa do trabalho. Para avançar esse entendimento, Celso entrevistou 12 pais, genitores do sexo masculino, que tinham filhas em tratamento no Geta. Os participantes falaram livremente o que estavam pensando a partir de uma pergunta disparadora sobre a história de vida deles, a relação com seus próprios pais e com a família, o relacionamento com a filha que estava em tratamento e o impacto do transtorno alimentar em suas vidas. Um achado intrigante, recorda o pesquisador, foi que uma boa parte deles passou a infância na zona rural. O que mais chamou a atenção não foi só isso. Eles começaram a trabalhar cedo na lavoura: um deles aos oito anos de idade. Ainda que fosse natural trabalhar desde a infância na sociedade rural da época, os entrevistados descreveram que essa foi uma experiência que os privou de brincar e os fez sofrer. Sentiam-se também distantes do pai, com quem buscavam um contato afetivo mais presente. Isso tudo pode terlhes trazido um sentimento de abandono emocional na infância. “Eu ouvi o relato emocionado de um pai que descreveu uma crise de pânico enquanto esperava em casa pela chegada do pai dele no fim da tarde”, revela o médico.

EMOÇÃO

O psiquiatra Celso Garcia Júnior, autor da tese e coordenador do Grupo Multidisciplinar de Assistência e Estudos em Transtornos Alimentares do HC: “O acompanhamento multiprofissional é o preconizado pela literatura científica internacional”

Em sua atuação profissional, Celso menciona que, quando os pais começam a perceber o transtorno alimentar da filha, os conflitos familiares aumentam e não são raras reações mais explosivas. “Talvez esses homens tenham mais dificuldade em lidar de forma tranquila com as situações conflituosas que surgem quando tentam convencer suas filhas a lutar contra o transtorno alimentar e a comer adequadamente.” A literatura aponta que os pais vivem a experiência da anorexia nervosa da filha como algo aterrorizante. É como viver um pesadelo acordado: discussões são constantes nas tentativas de fazer a filha doente seguir as orientações médicas e nutricionais. No começo, o pai imagina que a doença é passageira. Não percebe que a perda de peso está ligada a um transtorno alimentar e, quando enxerga a problemática, a situação já ficou mais grave. A experiência chega a ser desesperadora, e é nesse momento que começa a busca por apoio. É um processo trabalhoso e vivido por esses homens como uma fase de enfrentamento dos conflitos em casa, com a adolescente e com outros familiares, isso porque todos ficam estressados. Na pesquisa desenvolvida no Geta, o médico ouviu de

alguns pais como era difícil conversar com as filhas, encontrar as palavras certas sem causar discussão na hora de todas as refeições. “Um dos entrevistados contou-me que não sabia o que dizer e nem o que não dizer à filha, e isso lhe trazia a sensação de que estava de mão atadas diante da menina que poderia morrer por não comer”. Alguns pais abordaram cenas desalentadoras como ter que levar a filha desmaiada ao hospital e procurar tratamento com o medo de que, se não encontrassem, a filha morreria. De fato hoje a anorexia nervosa é o transtorno psiquiátrico de maior mortalidade (batendo a casa dos 15%). Mas, a despeito do seu aumento de prevalência nos últimos 30 anos, também cresceu a oferta de serviços na área, o que possivelmente colaborou para reduzir a mortalidade. Por outro lado, sabe-se que, com o tratamento adequado e iniciado precocemente, existem altas taxas de remissão dos transtornos alimentares entre os adolescentes, a priori quando a família participa efetivamente do tratamento.

SINAIS Celso defende que o pai da paciente deva ser estimulado a participar do tratamento da filha de forma mais efetiva. “Ele deve ser chamado. Não devemos esperar simplesmente que a mãe e a filha peçam sua presença”, aconselha. “Temos incentivado no Geta que, sempre que possível, se faça um contato direto com o pai da adolescente, convidando-o a ir ao ambulatório.” Para os pais que desconhecem os sinais dos transtornos alimentares, eles devem estar atentos primeiramente à perda de peso. Alguns comportamentos alterados podem ser reveladores, entre eles fazer restrição alimentar (diminuir a quantidade e qualidade dos alimentos, e aumentar a seletividade), evitar as refeições em família e entrar no banheiro logo após as refeições, e praticar atividades físicas exageradas e inadequadas. Celso comenta que, nos dias atuais, a insatisfação com o corpo é muito comum mas que, nos indivíduos com anorexia nervosa ou bulimia, é vivida de forma extremamente distorcida. Nesses transtornos, expõe o psiquiatra, é muito frequente que os pacientes não procurem ajuda e acabem não sendo diagnosticados pelos clínicos – pediatras, clínicos gerais e nutricionistas. Desde a sua criação em 2005, o Geta, que é vinculado ao Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da FCM, já atendeu mais de 120 pacientes. Atualmente são acompanhados 35 pessoas, adultos e adolescentes com mais de 13 anos, de ambos os sexos. Casos novos são recebidos todos os anos. O Geta funciona no Ambulatório de Psiquiatria, localizado no segundo andar do HC, e as atividades são desenvolvidas às segundas-feiras das 7h30 às 12h30. Os pacientes que necessitam desse atendimento são encaminhados pelo médico do serviço de saúde da cidade de origem deles através de contato com a DRS VII.

Publicação Tese: “Experiências de vida relatadas por genitores masculinos de adolescentes diagnosticadas com transtorno alimentar em tratamento ambulatorial: um estudo clínicoqualitativo” Autor: Celso Garcia Júnior Orientador: Egberto Ribeiro Turato Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)


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Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015

Técnicas potencializam absorção de compostos bioativos da soja Pesquisadora da FEA obtém ingrediente alimentício com grande teor de equol Foto: Antoninho Perri

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

ma pesquisa com resultados potencialmente benéficos para a saúde humana sempre desperta grande interesse. É o que se depreende da dissertação de mestrado desenvolvida no Laboratório de Bioquímica de Alimentos e apresentada junto à área de Ciência de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp pela nutricionista Lívia Dias de Queirós. O trabalho recebeu orientação da professora Gabriela Alves Macedo e consistiu na biotransformação de compostos fenólicos de extrato hidrossolúvel de soja, popularmente conhecido no Brasil como leite de soja, para a obtenção de produto rico em compostos bioativos, assim chamados os que desempenham alguma função benéfica à saúde humana. Embora, segundo a Anvisa, devam ser considerados leites produtos que contenham certa porcentagem mínima de lactose, neste texto o extrato solúvel de soja será denominado simplesmente de leite de soja, como usualmente conhecido. Os processos de biotransformação desenvolvidos pelas pesquisadoras mostraram-se de alto potencial e levaram à obtenção de um ingrediente alimentício com grande teor de isoflavonas bioativas e equol na forma biodisponível, substância com atividade muito superior às próprias isoflavonas. O produto obtido encontra aplicação na área biotecnológica, principalmente como ingrediente para a indústria alimentícia e/ou nutracêutica. Outra aplicação é o seu uso como anti-inflamatório e quimiopreventivo. O ineditismo do trabalho motivou o pedido de patente dos processos desenvolvidos.

UMA

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA As isoflavonas, também chamadas de flavonoides, encontradas em níveis elevados na soja, têm sido extensivamente estudadas devido aos seus efeitos benéficos na prevenção de muitas doenças hormônio-dependentes, incluindo cânceres como os da mama, cólon e próstata, doenças cardiovasculares, osteoporose, além de ação no controle dos níveis de colesterol e diminuição de alguns sintomas da menopausa. Contudo, pesquisas têm revelado que a eficácia clínica destes compostos fenólicos está relacionada à capacidade do indivíduo transformar as isoflavonas em equol que, segundo a literatura, é produzido exclusivamente pela ação da microbiota intestinal. Estabelecida a relação entre as isoflavonas de soja e o equol, estudos clínicos verificaram que nem todos os adultos saudáveis são capazes de produzir equol, mesmo com o consumo diário de alimentos à base de soja. Embora as razões dessas diferenças não estejam totalmente esclarecidas, elas são associadas à composição da microflora intestinal, etnia, idade, hábitos alimentares, entre outros. Pesquisas evidenciam que vegetarianos e indivíduos de origem asiática apresentam maior capacidade para a produção de equol e consideram que tal fato está relacionado, provavelmente, a diferenças significativas da macrocomposição das dietas bem como ao consumo regular de alimentos à base de soja, como ocorre nas culturas orientais. Corroborando estes fatos, as pesquisas mostram que em torno de 50% dos orientais são capazes de produzir equol contra apenas cerca de 30% da população ocidental.

Lívia Dias de Queirós, autora da dissertação, ao lado de um aparelho de cromatografia de alta eficiência, capaz de identificar e quantificar moléculas pequenas com alta precisão

A eficiência biológica do equol, que chega a ser dez vezes maior que as isoflavonas, decorre de seus efeitos anticarciongênicos, propriedades anti-inflamatórias, maior atividade por receptores estrogênicos e atividade antioxidantes superiores aos demais isoflavonóides. Portanto, a ação benéfica e mais eficaz dos alimentos à base de soja depende da capacidade do indivíduo produzir equol. Mas outro fato importante que deve ser considerado é o da absorção e a biodisponibilidade das isoflavonas. Com efeito, nos alimentos as isoflavonas encontram-se, predominantemente, na forma conjugada com açúcares, conhecidas como formas glicosiladas. O organismo humano não absorve com eficiência estas formas glicosídicas. Somente as isoflavonas livres da molécula de açúcar, as agliconas, são capazes de atravessar a membrana plasmática sendo, então, necessárias as transformações das formas glicosiladas em agliconas, estas sim bioativas. Estas transformações podem ser conseguidas através de processos fermentativos e enzimáticos. Utilizando estes recursos in vitro no leite de soja a pesquisadora detectou modificações no perfil fenólico das amostras desse leite biotransformado, decorrente de um aumento na concentração das isoflavonas agliconas em relação às glicosiladas. Ela constatou ainda um significativo aumento na concentração de equol, no teor fenólico total e na capacidade antioxidante, quando comparados com os do leite de soja sem tratamento. Frise-se que na dieta oriental a proporção do consumo de isoflavonas na forma aglicona é mais elevada do que na forma glicosilada uma vez que os alimentos de soja fermentados, que apresentam maior teor de agliconas, correspondem a cerca de um terço do total de alimentos à base de soja consumidos por esses povos. Nesse contexto, os produtos à base de soja constituem uma forma de aumentar as formas bioativas das isoflavonas na dieta, com potencial de serem transformadas em equol. É o caso do leite de soja, substrato com potencial para produção de novos alimentos com apelo saudável e de baixo custo de produção. Com base nos conhecimentos disponíveis e nos resultados obtidos na pesquisa, Lívia afirma: “A hidrólise de isoflavonoides glicosilados pela enzima tanase, que

utilizamos em nossa pesquisa, e que leva à formação das moléculas agliconas, bem como a formação de equol, independentemente da ação da microbiota intestinal, constitui relato inédito na literatura, pois demonstramos que é possível desenvolver um processo in vitro para obtenção deste composto bioativo sem a presença de bactérias intestinais, utilizando apenas uma biotransformação enzimática”.

AS

PATENTES

Com a ideia de produzir um produto com o equol já biodisponível, de forma que os indivíduos pudessem usar de seus benefícios independentemente da sua microbiota ser capaz ou não de metabolizar as isoflavonas do leite de soja, a pesquisadora desenvolveu três diferentes processos. No primeiro, utilizando microrganismos que são próprios da microbiota humana, fermentou o leite de soja com bactérias lácticas probióticas, normalmente utilizadas na produção de iogurte, pois pretendia um produto final que, além do equol, fosse rico em outros compostos que fazem bem à saúde. Nesse procedimento ela imitou o que acontece no organismo humano provido de microrganismos intestinais. No segundo processo, ela utilizou uma enzima, já produzida há vários anos no próprio laboratório, a tanase, obtida através do fungo Paecelomyces variotti. A respeito, diz: “Foi um tiro no escuro porque não sabíamos se essa enzima levaria as agliconas a equol. Neste caso, partimos do leite de soja fermentado de acordo com o processo anterior e aplicamos a enzima, com a ideia de potencializar a transformação. No terceiro processo utilizamos apenas a enzima”. Nos três processos ocorreram transformações das isoflavonas em suas formas ativas e delas formou-se o equol. Ela comparou os resultados com base nos dados obtidos na cromatografia líquida de alta eficiência. Os resultados mostraram que em decorrência dos três processos de biotransformação propostos a quantidade de equol produzida foi superior quando comparado ao extrato inicial, o leite de soja in natura, e que, com a utilização apenas da enzima, o aumento na quantidade de equol foi superior ao constatado nos demais processos. Isto significa que a ação isolada da enzima se mostrou mais eficiente na biotransformação das isoflavo-

nas de soja. Ela constatou, ainda, que em relação ao leite originalmente produzido e o tratado apenas com a enzima, a diferença é dez vezes maior. Frise-se que o leite de soja inicial já tem uma fração de equol, que não exerce efeito significativo no organismo. Além das análises cromatográficas, ela mediu no produto obtido a capacidade antioxidante, importante no combate aos radicais livres. Determinou também a quantidade de fenóis totais e quantificou as isoflavonas nas amostras, o que lhe permitiu caracterizar o método mais eficiente. Sobre o diferencial do trabalho, a autora esclarece: “Os estudos já realizados afirmam que o equol só pode ser obtido pela fermentação através da microbiota intestinal. Nunca tinha sido proposto um processo que utilizasse apenas uma enzima para chegar a ele. Nosso estudo foi o primeiro a fazê-lo a partir de um processo biológico in vitro, que levou ao registro da patente, pois até hoje somente biotransformações fermentativas com microrganismos haviam sido propostas”. O trabalho revela uma nova forma de biotransformação dos compostos fenólicos do leite de soja para obtenção de um produto rico em compostos antioxidantes, principalmente o equol, sugerindo sua utilização como ingrediente para bebidas funcionais, opção para indivíduos não produtores deste composto bioativo. A pesquisa terá continuidade no novo laboratório da equipe da professora Gabriela Alves Macedo, no Departamento de Alimentos e Nutrição, como parte da tese de doutorado de Lívia. Serão então realizados estudos in vitro e in vivo para otimização do processo desenvolvido e comprovação dos efeitos fisiológicos inclusive em células animais.

Publicação Dissertação: “Biotransformação de compostos fenólicos do extrato de soja para obtenção de produto rico em compostos bioativos” Autora: Lívia Dias de Queiros Orientadora: Gabriela Alves Macedo Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)


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Campinas, 31 de agosto a

Pochmann vê ris na redução da des

Professor do Instituto de Economia lança livro que, sob uma perspectiva histó CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

economista, pesquisador e docente do Instituto de Economia (IE) da Unicamp Marcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, vê em 2015 um risco de retrocesso na trajetória de redução da desigualdade que o Brasil traçou na primeira década do século 21. “Neste ano temos um fato novo, que é um ponto de inflexão na trajetória, que vem dos anos 2000, em relação à questão da desigualdade”, disse ele. “Nós possivelmente deveremos ter um retrocesso. Já estamos observando um aumento do desemprego e uma queda na massa de salários, diante inclusive dos lucros apresentados pelos bancos: deveremos ter talvez quase 10% do PIB transferido para o sistema bancário em função das altas taxas de juros. Esse quadro põe um ponto de interrogação numa trajetória de redução da desigualdade”. Pochmann falou com o Jornal da Unicamp no lançamento de seu livro Desigualdade Econômica no Brasil, que reúne dados sobre as diferenças de renda e riqueza entre os brasileiros, as classes sociais, municípios e regiões do Brasil, incluindo-os numa perspectiva histórica. “Em primeiro lugar, é preciso entender que a desigualdade que temos hoje tem a ver com o passado. Um passado que se forjou a partir de um processo de exclusão gerado pela escravidão”, lembrou. “É uma desigualdade que tem passado, mas também tem presente, e que resulta, por exemplo, nas ineficiências do Estado brasileiro, da fortaleza do Estado em tributar os pobres e não tributar os ricos: essa é uma questão que resulta das opções que o Brasil tem feito”, afirmou. “Mas eu diria que, pelas experiências recentes que tivemos, que o Brasil pode acelerar o passo e avançar mais rapidamente para construir uma sociedade menos desigual do que a que temos atualmente”. Leia, abaixo, os principais pontos da entrevista de Pochmann: Jornal da Unicamp – Desigualdade é algo necessariamente ruim? É fácil compreender que a pobreza extrema e a miséria devem ser combatidas, mas por que enfocar a desigualdade? Marcio Pochmann – Existe uma confusão, que muitas vezes acontece, entre desigualdade e diversidade. Diversidade, eu diria que, num país como o nosso, é um dos principais ativos que temos: uma riqueza que, no século 19, até no século 20, era vista como uma das razões do nosso atraso, por exemplo no caso da mistura de raças, essa diversidade que o Brasil gerou e que é conhecida no mundo todo. Então eu diria que a diversidade é um elemento positivo. Agora, quando se fala em desigualdade, pode-se medir a desigualdade de oportunidades, a desigualdade de resultados. Por exemplo, nós somos um país que se tornou república em 1889, e levou praticamente 100 anos para oferecer igualdade de acesso à educação básica. Nós não universalizamos a educação, sendo que a base da República, em qualquer país, é a universalização do acesso à educação. E, se hoje temos um acesso universalizado, a qualidade da educação ainda é uma coisa dramática. A educação, dessa forma, reproduz a desigualdade. É como se nós estivéssemos numa corrida de Fórmula 1. Há uma diversidade de marcas, de carros, de pilotos. O ambiente é diverso, mas não há desigualdade no que diz respeito ao patamar mínimo de competição. Agora, a desigualdade é como se tivéssemos uma corrida de Fórmula 1 na qual um corre com carro de corrida, um corre de bicicleta e o outro, de patinete. Então, evidentemente, essa desigualdade não vai gerar resultados satisfatórios, adequados. JU – Seu livro faz um levantamento histórico da questão. Marcio Pochmann – O trabalho trata de um tema que é caro aqui no Instituto de Economia, explorando as diversas interfaces em que a desigualdade se manifesta no Brasil. Apresentamos uma discussão um pouco teórica, entendendo que a desigualdade é um elemento que funda e que se desenvolve no próprio capitalismo, seja ele qual for.

No Brasil, tivemos uma situação extrema, porque praticamente até os anos 90, sobre os quais há dados que podemos comparar, tínhamos uma desigualdade que nos colocava entre os três países mais desiguais do mundo: uma desigualdade extrema, do ponto de vista econômico, do ponto de vista da renda. Nosso enfoque, no livro, é mais econômico, mas procuramos olhar também a questão da desigualdade no mundo, e como o Brasil se coloca. Vemos a desigualdade que se verifica entre as classes: hoje, estamos caminhando para um mundo em que apenas 1% da população terá mais riqueza que 99% da população. Então, um mundo também muito desigual. Depois, fazemos uma reflexão a respeito da desigualdade no Brasil, do ponto de vista das regiões, do território. Por exemplo, a desigualdade que há entre as nossas cidades, os nossos Estados, uma desigualdade que se manifesta do ponto de vista das classes sociais, aqueles que têm propriedade – propriedade da terra, propriedade de títulos financeiros – e a desigualdade entre os indivíduos, entre cor, raça, desigualdade de gênero. O livro na verdade oferece ao leitor uma série sistemática de informações quantitativas, empíricas, uma interpretação teórica e também experiências de outros países que enfrentaram com êxito a desigualdade, o que não é o nosso caso. JU – Mas o país não fez progressos nos últimos anos? Marcio Pochmann – Sim. Nós iniciamos o século 21 combinando crescimento econômico, a presença da democracia e de políticas públicas. Isso nos permitiu, comparativamente aos últimos 50 anos, oferecer resultados significativos na década de 2000. Que foi uma década em que a desigualdade aumentou no mundo, mas em que o Brasil, de forma inversa, conseguiu reduzir, pelo menos, a desigualdade na renda do trabalho. Nós, que éramos o terceiro país mais desigual do mundo, hoje somos o décimo-sexto. Houve uma redução, mas obviamente estamos muito longe, porque somos a sétima economia do mundo. Então, há muito o que fazer. E entendemos que há, neste ano de 2015, um fato novo, que é um ponto de inflexão na trajetória de redução da desigualdade. Possivelmente teremos um retrocesso. Já estamos observando um aumento do desemprego e uma queda na massa de salários, diante inclusive dos lucros apresentados pelos bancos: deveremos ter talvez quase 10% do PIB transferido para o sistema bancário, em função das altas taxas de juros. Esse quadro põe um ponto de interrogação numa trajetória de redução da desigualdade. JU – A escola de economia da Unicamp foi muito criticada, por conta da percepção de sua influência nas políticas econômicas do primeiro mandato de Dilma Rousseff, que desembocaram na situação atual... Marcio Pochmann – Eu diria que há no Brasil, historicamente, uma tensão muito grande quanto à perspectiva do desenvolvimento econômico, entre o desenvolvimentismo e o que hoje é chamado de neoliberalismo. Há uma tensão entre os desenvolvimentistas e a escola que vê basicamente o desenvolvimento como produto do mercado, das forças do mercado. A Unicamp, a escola aqui de Campinas, de certa maneira encarna uma trajetória do pensamento desenvolvimentista que vem desde a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), do pensamento latino-americano. Existem outras escolas também na mesma perspectiva, mas a Unicamp, de certa maneira, caracteriza-se muito mais por trabalhar a perspectiva do desenvolvimento, e esse que já é um debate histórico entre liberais, neoliberais e desenvolvimentistas terminou, de certa maneira, identificado com a Unicamp. Eu não vejo isso necessariamente como um mal, já que marca a importância da escola de Campinas como referência nacional e internacional. Infelizmente, porém, estamos vivendo um momento de cólera, de ódio, que muitas vezes aquilo que é o nosso campo, que é o debate de ideias, acaba sendo ultrapassado por visões que a gente só pode lamentar, porque na verdade não são frutíferas.


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sco de retrocesso sigualdade no país

órica, reúne dados sobre as diferenças de renda e riqueza entre os brasileiros Fotos: Antonio Scarpinetti

A questão mais geral da disputa gira em torno do papel do Estado. Porque temos uma crença de que o capitalismo não se desenvolve, e nem resolve suas crises, que são inerentes, de modo próprio: ele pressupõe a ação do Estado. Então essa é a grande diferença, porque há a crença, renovada em torno do neoliberalismo, que não cabe ao Estado qualquer ação porque, quanto mais houver liberdade da competição, mais ela, por si só, gera o desenvolvimento. Como se o desenvolvimento fosse algo espontâneo, autônomo. Nós não partimos desse pressuposto – acreditamos que o capitalismo, deixado livre à sua própria dimensão, produz mais crises. JU – O desempenho econômico do governo vem sendo usado como argumento contra o desenvolvimentismo.

O economista e professor Marcio Pochmann: “Entendemos que há, neste ano de 2015, um fato novo, que é um ponto de inflexão na trajetória de redução da desigualdade”

“ “ “

“Nós somos um país que se tornou república em 1889, e levou praticamente 100 anos para oferecer igualdade de acesso à educação básica”

“Estamos vivendo um momento de cólera, de ódio, que muitas vezes aquilo que é o nosso campo, que é o debate de ideias, acaba sendo ultrapassado por visões que a gente só pode lamentar”

“A gente aprende e ensina, aqui na escola, que não se faz ajuste fiscal numa economia que está em recessão, porque você corta gastos, isso reduz a atividade econômica e arrecada-se menos na sequência”

Marcio Pochmann – É esquisito, porque a mesma tensão se dá em relação a uma das referências brasileiras para nós, o Celso Furtado. Críticas que se faziam ao governo do João Goulart, como sendo as razões dos problemas que então ocorriam, atacavam a perspectiva desenvolvimentista, e mesmo a pessoa do Celso Furtado.

Quando ao governo da presidenta Dilma, a Unicamp participou dele, mas não em postos-chave. Não tivemos nenhum representante no Ministério da Fazenda. Temos ainda no governo o Luciano Coutinho [professor-titular do Instituto de Economia da Unicamp], que tem um posto importante, a presidência do BNDES, mas que não é o centro da condução da política econômica. Por outro lado, a presidenta Dilma foi estudante aqui, o que é para nós motivo de orgulho. José Serra, hoje senador, foi professor aqui do Instituto de Economia. Tivemos Paulo Renato, infelizmente falecido, que foi ministro da Educação. Temos o ministro Mercadante, hoje na Casa Civil. Então, a escola de Campinas tem produzido quadros que ajudam na condução da República.

lhorar a condição de uns é preciso avançar sobre a participação na renda de outros. É aí que surge o conflito. E esse conflito ficou mais evidente, no nosso modo de ver, no governo da presidenta Dilma, porque a expansão econômica no seu primeiro governo, e aparentemente no início deste segundo, é muito menor do que fora no governo do presidente Lula. Mas à medida que o Brasil crescer mais, haverá mais possibilidades de distribuir renda. As décadas de 60 e 70 foram períodos em que o Brasil cresceu muito mais do que na década de 2000, mas não tinha democracia, não tinha política pública para distribuir, então formamos um país muito desigual. Nos anos 80 e 90, o Brasil voltou a ter democracia, mas não cresceu, então não tinha o que distribuir, a despeito dos avanços da Constituição de 1988. Nos anos 2000, a gente combinou os três: cresceu, com democracia e políticas públicas. Esta segunda década do século está em dúvida. Se não houver crescimento, dificilmente teremos condições de distribuir. JU – Mas o Brasil não é muito dependente do cenário internacional? Marcio Pochmann – Claro que o cenário internacional compromete. Agora, estamos na América Latina, e segundo a Cepal somente dois países não vão crescer: Venezuela e Brasil. Os demais vão crescer. Não tanto quanto gostariam, mas vão. Então, nós sofremos o regime de baixo dinamismo no mundo, mas temos as nossas questões a serem resolvidas internamente. JU – Quais os entraves? Marcio Pochmann – A meu modo de ver, o principal é de natureza política. Não temos uma maioria política voltada para o crescimento e para a distribuição da renda. Somos hoje um país com 86% de sua população vivendo nas cidades, ou seja, a pauta da sociedade é numa pauta urbana. Mas o congresso que emergiu das eleições de 2014 fez com que a maior bancada fosse a dos ruralistas. Há um descompasso entre o que a sociedade precisa e demanda e os representantes que são os responsáveis principais por organizar a política pública no país.

JU – Qual sua avaliação do momento econômico atual? Marcio Pochmann – Bem, entendemos que o Brasil não tinha esse problema fiscal como foi aventado em 2014, que de certa maneira acabou sendo a referência para que a presidenta Dilma viesse a tomar as medidas que tomou. Entendemos que, de fato, o ano de 2014 foi um ano que apresentou problemas fiscais, mas é preciso entender o porquê desses problemas. De um lado, a situação das contas públicas tem a ver com crescimento econômico. Se você tem crescimento econômico, tem mais arrecadação e melhora a situação fiscal de qualquer governo. Quando não há crescimento, você obviamente arrecada menos, como foi o caso em 2014. Ao mesmo tempo, em 2014 nós também tivemos o resultado da opção pelas chamadas políticas anticíclicas, uma série de desonerações, mais de R$ 100 bilhões deixaram de ser arrecadados para os cofres públicos, em função dessas desonerações. De modo que o problema fiscal tem a ver com essas questões. A gente aprende e ensina, aqui na escola, que não se faz ajuste fiscal numa economia que está em recessão, porque você corta gastos, isso reduz a atividade econômica e arrecada-se menos na sequência. Vira um ajuste fiscal quase permanente. O enfrentamento da questão fiscal passa pelo crescimento, não pela recessão. JU – É possível reduzir a desigualdade sem causar conflitos na sociedade? Marcio Pochmann – A melhor forma de distribuir é crescendo, porque quanto mais se cresce, mais fácil é distribuir. À medida que o crescimento é pequeno, para me-

SERVIÇO Título: “Desigualdade Econômica no Brasil” Autor: Marcio Pochmann Páginas: 168 Editora: Ideias e Letras Preço: R$ 35,00


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Compostos mutagênicos no ar colocam Limeira na lista das mais poluídas Fotos: Cristiane Kampf

CRISTIANE KAMPF cristiane.kampf@fca.unicamp.br

studo realizado por pesquisadores do Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental (LEAL), da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, revela que o ar da cidade de Limeira está entre os mais mutagênicos do mundo e, portanto, apresenta maior potencial carcinogênico quando comparado com outras cidades. As amostras de ar se revelaram mais poluídas (em relação à presença de substâncias mutagênicas) do que algumas amostras, por exemplo, da região central de São Paulo, considerada uma das mais poluídas da capital, e tão nocivas quanto em cidades como Los Angeles (EUA) e Cidade do México, comumente avaliadas entre as mais poluídas do mundo. O estudo, publicado na semana passada na revista científica americana Environmental and Molecular Mutagenesis (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/em.21970/ abstract), foi coordenado pela professora Gisela de Aragão Umbuzeiro, coordenadora do LEAL, e contou com pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para a professora, o que chama atenção é que uma cidade relativamente pequena como Limeira tenha o nível de mutagenicidade comparável às maiores cidades do mundo. “É um fato que chama atenção do resto do mundo na minha área de pesquisa”. A investigação aponta que, apesar da quantidade total de partículas presentes no ar de Limeira durante os dias de coleta estar dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde em 2005 (e, portanto, já desatualizados), a mistura dos compostos químicos aderidos a estas partículas - provenientes da combustão oriunda de carros e caminhões e das queimadas, como a de cana – pode ser altamente danosa à saúde. A combinação pode causar mutações genéticas e aumentar as chances da ocorrência de doenças como câncer, doenças do coração e doenças degenerativas, além de causar mutações nas células germinativas (que dão origem aos gametas) dos seres expostos. A professora Simone Pozza, docente do curso de Engenharia Ambiental da FT e especialista em poluição do ar, explica que o fator que confere maior ou menor periculosidade às partículas são os tipos de compostos químicos que se juntam ao redor delas. “Portanto, não adianta somente analisar e considerar a quantidade de partículas no ar – temos que levar em conta suas características químicas e o que elas podem causar nos seres humanos e na biota. A quantidade de partículas pode até estar dentro da lei, mas o que importa discutir é o tipo de substâncias químicas que as envolvem. São compostos de alta periculosidade para a saúde e o meio ambiente”, esclarece. Atualmente, tanto a OMS quanto a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e as resoluções do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) não levam este fato em conta para estabelecer seus padrões de risco. As pesquisadoras chamam a atenção para o fato de que, atualmente, a disputa pelo modo como se define o risco envolve inúmeras pressões econômicas e interesses políticos conflitantes, os quais dificilmente têm como prioridade máxima a saúde da população. Entretanto, em 2013, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde, concluiu que a exposição à poluição do ar é carcinogênica para os seres humanos, podendo causar câncer de pulmão e bexiga. A investigação da IARC ainda está em processo de publicação, mas as docentes da Unicamp informam que a conclusão do grupo de trabalho foi de que há fortes evidências que a exposição ambiental à poluição do ar está associada ao aumento de dano genético, mutações em células somáticas e germinativas (que formam os óvulos e espermatozóides) e alterações na expressão gênica que estão associadas ao aumento do risco de câncer em humanos.(http://www.sciencedirect.com/ science/article/pii/S147020451370487X) De acordo com as professoras, os compostos gerados pelas reações químicas que ocorrem na atmosfera em Limeira, gerados pela

Pesquisas da FT revelam que potencial carcinogênico se compara ao de cidades como São Paulo e Los Angeles talvez identificar os compostos mais mutagênicos que poderiam explicar as respostas observadas no estudo já publicado. Esperamos inclusive identificar novos compostos mutagênicos que ainda não foram relatados na literatura”, antecipa Umbuzeiro.

As professoras Gisela de Aragão Umbuzeiro, coordenadora do estudo, e Simone Pozza, na estação de coleta: índices preocupantes

combinação da luz do sol com as queimadas de vegetação (cana, florestas, etc) e a queima de combustível dos veículos, favorecem a formação dos chamados poluentes secundários, considerados ainda mais mutagênicos. “São reações fotoquímicas que ocorrem mais facilmente nos períodos mais secos e com maior intensidade luminosa – portanto, o perigo é maior quando o céu está azul, com sol e sem nuvens. Justamente quando achamos que o dia está mais bonito. Acreditamos que estas reações fizeram com que algumas amostras coletadas em Limeira ficassem mais mutagênicas que as do centro de São Paulo”, afirma Umbuzeiro.

ANÁLISE COMPARATIVA

Em somente 24 horas, o filtro de ar utilizado na pesquisa acumula uma quantidade de sujeira suficiente para deixá-lo preto e até entupi-lo. “Em Estocolmo, na Suécia, a mesma quantidade de sujeira leva uma semana para se acumular”, conta a professora. Durante um dia, passam pelo filtro 1.500m³ de ar e a estação de coleta da FT fica bem próxima a uma rotatória, local de tráfego intenso de carros e caminhões. Como uma pessoa respira menos de 20m³ de ar por dia, caso fosse feita uma comparação meramente ilustrativa, seriam neces-

sários aproximadamente 2 meses e meio para o pulmão humano receber a mesma quantidade de sujeira acumulada no filtro brasileiro em 24 horas. Atualmente a Unicamp está dando continuidade ao estudo, desta vez comparando o ar de Limeira com o de Estocolmo, considerado relativamente limpo em comparação com diferentes cidades do mundo, e de Kyoto, no Japão, que recebe influência do ar poluído da China. As coletas foram realizadas durante o inverno nos três países e já estão sendo processadas para análise pelo grupo de pesquisa de Estocolmo. Será um trabalho de cooperação entre universidades dos três países e a investigação envolverá um controle rígido das variáveis analíticas, para que a comparação seja a mais fidedigna possível. As amostras serão analisadas exatamente da mesma maneira e os pesquisadores terão dados de análises químicas que incluem as determinações de mais de trinta diferentes poluentes orgânicos de grande persistência ambiental, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) e diversos derivados desses compostos, como os nitroHPA e oxiHPA, gerados tanto durante os processos de combustão como pelas reações fotoquímicas. “Iremos ter uma fotografia completa da poluição dos três países e

Controle negativo (à esq.) e positivo: placas demostram o crescimento do número de bactérias mutantes após contato com compostos mutagênicos

Filtros de ar, antes e depois da coleta de ar: em 24 horas, equipamento acumula uma quantidade de sujeira suficiente para deixá-lo preto e até entupi-lo

CANA E DISPERSÃO

O artigo publicado também destaca o fato do Estado de São Paulo ser considerado a maior área de plantação contínua de cana de açúcar no mundo (dados do IBGE 2015), sendo que a colheita da cana normalmente ocorre de maio a novembro, período de tempo seco, com pouca chuva. Como apontam os pesquisadores, apesar do recente processo de mecanização, a colheita manual, que envolve a queima da biomassa, ainda é bastante praticada. Por razões de segurança, a queima da biomassa é permitida somente após o pôr-do-sol, quando os ventos são menos intensos – como consequência, há o aumento da concentração de dióxido de nitrogênio (NO2) no ar, considerado um dos principais gases poluentes da atmosfera. Como a parte central da cidade de Limeira está localizada em um vale (o vale do Tatu), a dispersão dos contaminantes fica ainda mais dificultada, aumentando a periculosidade das impurezas suspensas no ar. Umbuzeiro também compara a atmosfera de Limeira com Cubatão e São Paulo. “Sabemos que em Cubatão o ar apresenta uma grande quantidade de partículas. É como se você estivesse respirando uma terra bem fina. Entretanto, quando coletamos ar no centro da cidade de São Paulo, verificamos que apesar do número de partículas ser menor, os compostos orgânicos aderidos a elas são muito mais perigosos, resultantes da combustão incompleta do diesel e da gasolina. É o que também acontece em Limeira”. Nos experimentos realizados no laboratório da FT, Umbuzeiro e sua equipe mergulham uma parte do filtro que coletou as impurezas do ar em um solvente orgânico, para eliminar as partículas e ficar somente com as substâncias químicas que estavam aderidas a elas. Os compostos são colocados em uma cultura de bactérias e, quando há presença de um composto mutagênico, ele entra nas células da bactéria, assim como pode ocorrer no pulmão. Quando encontra o DNA da bactéria, este composto pode causar uma mutação genética. Os pesquisadores, então, medem a quantidade de colônias mutantes que crescem no meio de cultura, após dois dias de contato. Este ensaio é clássico na área de toxicologia ambiental e é conhecido como teste de Ames ou ensaio Salmonella/microsoma. O procedimento foi descrito nos anos 70 e vem sendo o mais empregado no mundo para avaliar a mutagenicidade de amostras ambientais (ar, água, solo, efluentes líquidos e resíduos sólidos). A professora explica que o teste funciona como um detector químico que informa os tipos de substâncias mutagênicas presentes. Umbuzeiro trabalha com o teste de Ames desde 1986 e acredita que o ensaio já poderia ser empregado pelas agências brasileiras de meio ambiente e saúde para monitorar a qualidade ambiental. Seu sonho é ver o ensaio incluído no monitoramento da qualidade do ar juntamente com os parâmetros tradicionais, como partículas, ozônio, monóxido de carbono, entre outros. Outras sugestões levantadas pelas pesquisadoras referem-se ao aprimoramento de políticas públicas que valorizem o transporte coletivo, o afastamento do trânsito de veículos pesados de áreas com alta concentração de pessoas e o combate contínuo à realização de queimadas.


Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015

9 Foto: Antoninho Perri

Testes demonstram que odor permanece por mais tempo em cabelos que não foram quimicamente modificados ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

m dos componentes que não pode faltar à formulação de um xampu são as fragrâncias, misturas de substâncias que conferem odor a um produto cosmético. Elas podem ser encontradas incorporadas em produtos encontrados em uma ampla variedade nas prateleiras das farmácias e nas gôndolas dos supermercados. Para todos os tipos de consumidor, existem diferentes cheiros: aqueles que lembram a infância – os chicletes e as balas infantis –, e aqueles que remetem às frutas, flores, madeira, plantas, os almiscarados, os cítricos e outros. O desempenho de fragrâncias em cosméticos é estudado mundialmente e, cada vez mais, é tema de pesquisas em cabelo. Especialistas intrigados em saber quanto tempo levava para que as substâncias das fragrâncias permanecessem no cabelo, após uma lavagem, conduziram uma pesquisa no Instituto de Química (IQ). A despeito do resultado não representar um número fechado, ele esteve intrinsecamente ligado ao tipo de cabelo avaliado. Para o hábito do brasileiro que lava o cabelo todo dia, o ideal é que a fragrância permaneça por pelo menos 24 horas, para que o cabelo fique com aspecto limpo, olfativamente falando, até a próxima lavagem. A pesquisa mostrou por exemplo que os cabelos virgens (não modificados quimicamente) retêm mais a fragrância com o passar do tempo. O autor do estudo, André Medice, fez essa constatação em sua dissertação de mestrado, orientada pela docente Anita Jocelyne Marsaioli. Ele explica que, com sua modificação estrutural e química, o cabelo até que é capaz de incorporar em seu interior uma maior quantidade de substâncias: de fragrância ou mesmo de água. Isso acontece porque a sua estrutura interna fica mais porosa com a degradação trazida pela reação de descoloração, criando buracos onde ficam aprisionadas essas substâncias. Quanto maior o grau de descoloração, maior a quantidade de fragrâncias incorporadas no cabelo durante a lavagem com xampu. Ocorre que, pelo fato da estrutura capilar se tornar porosa, a permanência dessas substâncias se mostra mais efêmera no cabelo descolorido do que no virgem, porque saem da estrutura capilar com maior facilidade devido justamente a esses buracos, pelos quais esvaem. Com a degradação da estrutura capilar, diminui-se a barreira física que retém as substâncias que se difundiram para o interior dos fios de cabelo com a lavagem. O pesquisador esclarece mais: quando se avalia a interação de uma substância que está deixando o cabelo e indo para a atmosfera, também é preciso levar em conta a água que está se perdendo na secagem do cabelo. Quando ele é lavado, fica bastante úmido. Então a fragrância é perdida ao longo do tempo e não está só deixando de interagir com o cabelo, mas também está interagindo com a água que está evaporando do cabelo e indo para a atmosfera. Ele aponta que isso significa que, quanto maior a interação dessa substância com a água que está evaporando, menor é a permanência na estrutura capilar. Isso porque essa substância é carreada para a atmosfera. Perdem-se as substâncias das fragrâncias que tiverem maior interação com a água. As que tiverem menor interação, ficam retidas.

Publicação Dissertação: “Retenção de fragrâncias em cabelos caucasianos virgens e descoloridos” Autor: André Luiz Affonso Medice Silva Orientadora: Anita Jocelyne Marsaioli Unidade: Instituto de Química (IQ)

André Medice, autor da pesquisa, e amostras de cabelos usadas nos experimentos: em busca de formulações cosméticas mais eficazes

Químico avalia retenção de fragrâncias de xampus Na literatura, está bem-estabelecido que o cabelo descolorido é uma fibra esburacada e que grande parte do material proteico é perdido com o processo de descoloração. “Contudo, ainda não se sabia sobre o desempenho das substâncias de fragrâncias com essa modificação”, destaca André.

EXPERIMENTOS O químico realizou formulações de xampu, incluindo substâncias de fragrâncias bastante conhecidas e de interesse da indústria de fragrâncias. Foi deste modo que ele avaliou o perfil de liberação dessas substâncias após as mechas serem lavadas e permanecerem secando em condições de umidade e de temperatura controladas. Além de constatar que, quanto mais descolorido, mais o cabelo incorpora substâncias de fragrância, o pesquisador também observou que a retenção da substância é menor com o passar do tempo em cabelos descoloridos. A explicação é atribuída à danificação da estrutura capilar. O mestrando usou em seus experimentos matérias primas de fragrâncias como o linalol e o acetato de benzila – substâncias que estão em fragrâncias e de grande importância econômica, largamente presentes nas formulações de cosméticos. Ele monitorou a liberação dessas substâncias entre si e com mais outras três, buscando comparar a retenção delas em cabelo descolorido em relação ao virgem. André avaliou a interação das substâncias em cabelos até seis horas após a secagem. Algumas, como o 2-metil-butanoato de etila e o mintonat, salienta ele, se perderam durante as primeiras horas. Os cabelos estudados eram cabelos padrões, comercializados por empresas especializadas, as quais fazem uma mistura de cabelos provenientes de até oito pessoas, para que se elimine a subjetividade genética da fibra, porém contendo as mesmas características de cor, etnia e curvatura. Essas empresas garantem inclusive que esse tipo de cabelo não tenha sofrido tratamento químico como descoloração, alisamento ou permanente. O mestrando afirma que a fragrância é uma mistura de matérias primas que, além de produzir um cheiro agradável, tem como função permanecer mais na fibra do cabelo ou na pele. Quanto maior a sua permanência, mais duradouro será o perfume nos cabelos. Ele garante que a maior duração da fragrância está diretamente relacionada com a integridade da fibra capilar, pois serão liberadas para o ambiente mais lentamente. “Ficou claro que o cheiro vai durar mais no cabelo virgem”, reforça.

FUNÇÃO

As fragrâncias são o atrativo da formulação de um cosmético. O xampu, no caso, além de deixar o cabelo cheiroso e com aspecto de limpeza, também é usado para conferir odor agradável ao banho. É o que os especialistas classificam de blooming. “Há fragrâncias que são para diferentes tipos de produtos e elas se distinguem em um xampu e em um condicionador”, revela André. Essa avaliação foi efetuada por ele de maneira técnica no estudo. “Não fiz essa avaliação pelo caráter dela, se era agradável ou não, mas sim pela sua estrutura química, suas propriedades físico-químicas e pela sua utilização na indústria de cosméticos.” As fragrâncias são escolhidas conforme o seu público-alvo. Logo, há um direcionamento da composição de matérias primas mais apreciadas pelo segmento das crianças, dos homens e das mulheres. O autor relata que o xampu é basicamente formado por surfactantes, que são os agentes detergentes que retiram a sujeira do couro cabeludo – gordura sobretudo; alguns conservantes; o cloreto de sódio (que confere maior viscosidade ao produto final); a água, que é o componente mais abundante (em 60% do produto); e a fragrância, que visa gerar o impacto sensorial desejado. André acrescenta que a quantidade de fragrância a ser aplicada deve estar em conformidade com o tipo de produto veiculado: se for um xampu ou um leave-on (condicionador que não necessita de enxague). Ressalva que todas as substâncias que aparecem no xampu, ainda que atrativas, possuem um potencial tóxico e devem cumprir a legislação para não causar danos ao ser humano.

APLICAÇÕES

O pesquisador sublinha que notou de maneira analítica e científica o que em geral se faz na indústria subjetivamente, mediante um painel de analistas. Nele, pessoas treinadas têm a missão de averiguar a intensidade do cheiro que permanece no cabelo após a lavagem. “Agora, esses dados técnicos e objetivos podem ser confrontados com os subjetivos.” O estudo de mestrado de André começou sob a orientação da professora Inés Joekes no grupo de pesquisa “Físico-química aplicada”. Com o falecimento da docente, em 2013, ele buscou o grupo de pesquisa de Anita Marsaioli, professora do Departamento de Química Orgânica. “Primeiramente nosso objetivo era entender melhor o que é o cabelo, como base dos estudos. Quando iniciei o mestrado, a professora Inés exigia de nós, seus orien-

tados, que fôssemos primorosos na parte científica e que só déssemos razão para um resultado cientificamente correto”, relembra o químico. Por outro lado, ele também considerou de fundamental a orientação da professora Anita. “Tivemos um novo olhar para a pesquisa, dentro do mesmo tema, em fisico-química, graças à criatividade da professora e ao seu conhecimento em química orgânica”, pontua. Ele acredita que, com a colaboração da docente, conseguiu incorporar algumas técnicas de caracterização do cabelo, como a Ressonância Magnética Nuclear (RMN – técnica espectroscópica), e de caracterização de substâncias de fragrâncias com relação à sua polaridade. “Sem a visão dela, eu não teria acesso e nem interesse por essas técnicas. Vejo que as duas orientadoras atuaram complementarmente na minha formação acadêmica e no projeto de pesquisa.” O conhecimento gerado no trabalho, conclui o mestrando, certamente ajudará a indústria a identificar as substâncias que melhor irão interagir com determinado tipo de cabelo. “Poderemos desenvolver formulações cosméticas mais eficazes que gerem um odor que perdure por mais tempo após as lavagens”, relata. “Esse conhecimento teria aplicações tanto na indústria de fragrâncias como na indústria de cosméticos.” O trabalho de André foi financiado pela Symrise Aromas e Fragrâncias Ltda., empresa que foi prospectada por ele para desenvolver sua pesquisa. Esse estudo continuará na Symrise, e se espera que o conhecimento obtido leve a novas formulações de fragrâncias, visando, cada qual, um cabelo. “Esperamos que os cabelos de fato fiquem cheirosos por mais tempo”, realça. Para a professora Anita Marsaioli, a pesquisa com retenção de fragrância em cabelo é comercialmente relevante porque gerou um maior conhecimento da interação de substâncias voláteis com o cabelo em seu estado virgem e descolorido com peróxido de hidrogênio. O estudo, afirma a docente, mostrou que a diferença na permanência de fragrâncias nos cabelos está ligada à modificação química e morfológica da estrutura capilar com a descoloração. “Tal conhecimento poderá ser útil para desenvolver formulações de modo aos cabelos ficarem cheirosos por mais tempo, melhorando o desempenho de produtos cosméticos como xampus e condicionadores. Além disso, este trabalho trouxe informações importantes sobre a fibra capilar com a caracterização do cabelo descolorido quimicamente, utilizando para isso técnicas de sorção/dessorção de umidade e RMN”, salienta a docente.


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Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015  Orquestra da USP na FCM - Dia 3 de setembro, às 12h30, a Orquestra de Câmara (OCAM) da Escola de Comunicações e Artes da USP faz apresentação gratuita no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp com a regência do maestro Gil Jardim. O concerto terá como convidado, o violinista brasileiro radicado nos Estados Unidos, Cármelo de Los Santos. No repertório, obras de Mozart e Brahms. A apresentação faz parte das comemorações dos 20 anos da OCAM-ECA/USP. A vinda da Orquestra à Unicamp é resultado de uma parceria entre a FCM e o Instituto de Artes (IA) da Unicamp. A entrada é franca.

Eventos futuros

Painel da semana  Prêmio Paepe - Até 31 de agosto estarão abertas as inscrições para o Prêmio aos Profissionais da Carreira Paepe. Iniciativa da Reitoria da Unicamp, o prêmio visa contemplar anualmente os servidores técnicos e administrativos que se destacam por meio de iniciativas e projetos que contribuam para a melhoria da Universidade. Serão premiados trabalhos nas categorias de melhor projeto da unidade/órgão ou grupo de unidades/órgãos e melhor projeto da universidade. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail prepaepe@ unicamp.br ou no site www.dgrh.unicamp.br/premiopaepe  Exposição da BCCL - A Diretoria de Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL) está organizando uma mostra de livros e periódicos que retratam a luz e seus desdobramentos na ciência, tecnologia, arte, cultura, natureza e cotidiano. A mostra, que comemora o Ano Internacional da Luz, é composta por 16 livros e 14 periódicos especiais e raros. Visitas podem ser feitas no 3º andar da BCCL, 9 às 17h30, até o final de agosto. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6468 ou e-mail mira@unicamp.br  Seminário Paulo Freire - O XIII Seminário Internacional Paulo Freire acontece nos dias 1 e 2 de setembro. O evento é organizado pela professora Gláucia Maria Pastore, pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, e coordenado por Francisco Genezio Lima de Mesquita, do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU). A abertura do evento ocorre às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Além das exposições de artesanatos indígenas e mesas de debate, no dia 2 de setembro, na Praça da Paz, haverá o 1º Festival de Hip Hop. Para mais detalhes acesse o link http://www.stu.org.br/ xiii-seminario-internacional-paulo-freire-1-e-2-de-setembro-de-2015/  Curso de Coreano - No dia 2 de setembro, às 14h30, no Centro de Convenções, acontece a cerimônia de inauguração do Curso de Coreano do Instituto King Sejong. Interessados em participar e conhecer a língua e a cultura coreana podem se inscrever de 6 de agosto a 8 de setembro, no site da Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp). O curso será realizado de 12 de setembro a 30 de novembro, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). O diretor do Instituto King Sejong é o professor Yoon Kil Chang, do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. Mais detalhes podem ser obtidos pelos telefones (19) 3521-4646/3521-1520 ou e-mail kimpassion@yahoo. com. Veja outros cursos com inscrições abertas no site da Extecamp http://www.extecamp.unicamp.br/extensao.asp

 Modelagem preditiva em alimentos - De 8 a 12 de setembro ocorre no Rio de Janeiro a 9ª Conferência Internacional sobre Modelagem Preditiva em Alimentos (9th ICPMF). O evento é organizado pelo professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, Anderson de Souza Sant’Ana; pelo Comitê Internacional sobre Modelagem em Alimentos e pela da Elsevier. A conferência tem como objetivo discutir as questões de qualidade e de segurança alimentar enfrentados globalmente através de abordagens quantitativas abrangendo modelagem preditiva e risco. Para mais detalhes e inscrições, acesse o site do evento http://icpmf9.com/  (Des) Equilibrando avessos - O Grupo Dançaberta estreia no dia 10 de setembro, no Auditório do Instituto de Artes (IA), às 20 horas, o espetáculo de dança contemporânea “(Des) Equilibrando avessos”. O espetáculo, que permanecerá no local até o dia 12, é dirigido pela professora Julia Ziviani. O show foi livremente inspirado no livro “Mulheres que correm com os lobos”. Mais detalhes pelo telefone 11-98376-9343 ou e-mail iatemoteo@gmail.com  Corrida e Caminhada da FCM - A I Corrida e a VIII Caminhada da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Unicamp acontecem no dia 13 de setembro (domingo), às 7 horas, no campus da Unicamp. Para a caminhada o percurso será de 5 quilômetros. Já os apaixonados pela corrida poderão participar dos percursos de 5k ou 10k. Para participar basta realizar inscrição pelo site da FCM e levar 1 kg de alimento não perecível no dia da corrida. O recebimento das doações acontecerá às 7 horas, quando também ocorre a retirada das camisetas para os primeiros 300 inscritos. Mais detalhes pelo link http://www.fcm.unicamp.br/fcm/i-corrida-e-viii-caminhada-dafcm. Outras informações: 19-3521-8968.  Trilhas musicais - Fruto de pesquisas acadêmicas realizadas na Unicamp, no dia 14 de setembro, às 9 horas, no Instituto de Artes (IA), será lançado o site do Projeto Trilhas Musicais de Moacir Santos. O objetivo é levar ao público diversas transcrições em partitura de algumas das trilhas musicais compostas por Moacir Santos para o cinema brasileiro, no início da década de 1960 (Seara Vermelha, Ganga Zumba, Os Fuzis e O Beijo). Além disso, outras informações complementares formam o conteúdo do projeto, de modo a ser um ponto de referência sobre o tema, de acesso universal e gratuito. As partituras foram transcritas por Lucas Zangirolami Bonetti e revisadas por renomados músicos, como: Nailor “Proveta”, André Mehmari, Ari Colares, Fernando Corrêa, Fernando Hashimoto, Paulo Moura, Douglas Berti, Sérgio Schreiber e Marisa Silveira Nos últimos anos a obra de Moacir Santos vem sendo recorrentemente resgatada, com uma expressiva quantidade de trabalhos artísticos e acadêmicos. O lançamento é apoiado pelo Rumos Itaú Cultural e pela Fapesp. Mais informações: 11-993929342 ou e-mail lucaszanbonetti@gmail.com

Teses da semana  Biologia - “Avaliação da função da MAGP1 na trombogênese arterial” (doutorado). Candidata: Tallita Vassequi da Silva. Orientador:

Destaque

professor Claudio Chrysostomo Werneck. Dia 31 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala IB11 do prédio da CPG do IB. “Solubilização parcial de membranas de eritrócitos e de sinaptossomas induzida por detergentes não iônicos” (doutorado). Candidata: Bruna Renata Casadei. Orientadora: professora Eneida de Paula. Dia 4 de setembro de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG do IB.  Ciências Médicas - “Avaliação das áreas psicomotoras na Síndrome de Down: Contribuições da terapia ocupacional” (mestrado). Candidata: Carolina Cunha Barros Nobre. Orientadora: professora Lucia Helena Reily. Dia 31 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da FCM. “Percepção das mães de uma comunidade virtual acerca do empoderamento materno nas consultas pediátricas” (mestrado). Candidata: Simone Tenório De Carvalho. Orientador: professor José Martins Filho. Dia 31 de agosto de 2015, às 10 horas, no CIPED. “Proposta de avaliação funcional para crianças com deficiência visual com base na classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde versão para crianças e jovens (CIF-CJ)” (mestrado). Candidata: Paula Vieira Alves. Orientadora: professora Rita de Cassia Ietto Montilha. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, no Cepre. “Avaliação do polimorfismo Y402H no gene CFH e da deleção dos genes CFHR3/CFHR1 em relação à etiologia da Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) em uma amostra da população brasileira” (mestrado). Candidata: Daniela Prescila Dezidério Sacconi. Orientadora: professora Mônica Barbosa de Melo. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro Adilson Leite do CBMEG. “Percepções sobre crianças com dificuldades escolares” (mestrado). Candidata: Letícia da Silveira Ioshida. Orientadora: professora Ivani Rodrigues Silva. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, no CEPRE. “Saúde e trabalho em mulheres adultas: estudo de base populacional no município de Campinas, São Paulo” (doutorado). Candidata: Caroline Senicato. Orientadora: professora Marilisa Berti de Azevedo Barros. Dia 4 de setembro de 2015, às 14 horas, na anfiteatro da FCM.  Educação Física - “Treinamento físico combinado com restrição do fluxo sanguíneo: efeitos sobre marcadores inflamatórios em idosos” (doutorado). Candidato: Thiago Mattos Frota de Souza. Orientadora: professora Mara Patrícia Traina Chacon Mikahil. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Avaliação acústica de salas de controle em estúdios projetados para monitoração de multicanais” (mestrado). Candidato: Tiago Ferreira Mattos. Orientadora: professora Stelamaris Rolla Bertoli. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses 2 do prédio de salas de aula da FEC.  Engenharia de Alimentos - “Extração supercrítica de compostos bioativos da pimenta dedo de moça (Capsicum baccatum L. var. pendulum) assistida por ultrassom” (mestrado). Candidato: Arthur Luiz Baião Dias. Orientador: professor Julian Martínez. Dia 2 de setembro de 2015, às 10 horas, na sala 31 do Departamento de Engenharia de Alimentos da FEA. “Biofilmes monoespécie e multiespécies de patógenos gram-positivos de origem láctea em diferentes substratos” (mestrado). Candidata: Vanessa Pereira Perez Alonso. Orientadora: professora Dirce Yorika Kabuki. Dia 4 de setembro de 2015, às 9 horas, no salão Nobre da FEA.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Estudos, desenvolvimento e construção de um limitador de correntes elétricas com núcleo magnético saturado” (doutorado). Candidato: Fernando Cardoso Fajoni. Orientador: professor Ernesto Ruppert Filho. Dia 31 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Circuitos e componentes para sensores ambientais autônomos alimentados por módulos termoelétricos de energy harvesting: uma contribuição para desenvolvimento sustentável e crescimento econômico ecologicamente correto” (doutorado). Candidato: Pedro Carvalhaes Dias. Orientador: professor Elnatan Chagas Ferreira. Dia 1 de setembro de 2015, às 10 horas, na CPG da FEEC.

“Interface eletrônica para controle de fluxo de potência e controle de qualidade de energia em sistemas de geração distribuída conectados diretamente à rede elétrica” (doutorado). Candidato: Filipe de Nassau e Braga. Orientador: professor José Antenor Pomilio. Dia 4 de setembro de 2015, às 9 horas, na sala LE45 da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Análise dinâmica de estruturas periódicas utilizando uma abordagem de propagação de ondas e técnicas de sub-estruturação” (doutorado). Candidata: Priscilla Brandão Silva. Orientador: professor José Roberto de França Arruda. Dia 31 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala JE da FEM.  Física - “Efeitos das bordas sobre as propriedades eletrônicas do grafeno no regime Hall quântico” (mestrado). Candidato: Daniel Alejandro Solis Lerma. Orientadora: professora Ana Luiza Cardoso Pereira. Dia 4 de setembro de 2015, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Linguagem - “Sobre a emergência das construções com “mas” e seu estatuto discursivo na fala de uma criança” (doutorado). Candidata: Gisele Aparecida de Lima. Orientadora: professora Rosa Attié Figueira. Dia 31 de agosto de 2015, às 13h30, no auditório do IEL. “Tristes” de Ovídio: aspectos da elegia amorosa na elegia lamentosa do exílio” (mestrado). Candidata: Laís Scodeler dos Santos. Orientadora: professora Patrícia Prata. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Plágio no Brasil: entre o modelo, a cópia e a autoria” (doutorado). Candidata: Michele Schmitt. Orientadora: professora Claudia Regina Castellanos Pfeiffer. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Tarefas integradas nos exames de proficiência CELPE-BRAS e TOEFL iBT” (mestrado). Candidata: Maria Gabriela Silva Pileggi. Orientadora: professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala coletiva (I) do IEL. “Eram os deuses magnatas? – A reconstrução textual de Der Ring des Nibelungen pelo teatro de diretor” (doutorado). Candidato: Mateus Yuri Ribeiro da Silva Passos. Orientador: professor Eric Mitchell Sabinson. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de videoconferência do IEL. “Processo criativo das narrativas esparsas no espólio Carolina Maria de Jesus” (doutorado). Candidata: Raffaella Andréa Fernandez. Orientadora: professora Vera Maria Chalmers. Dia 31 de agosto de 2015, às 14h30, no anfiteatro do IEL. “Linguagem, poesiae e cidade colombiana: lineamentos multidimensional-discursivos para a formação de hispanistas no Brasil” (mestrado). Candidato: David Alonso Bueno Baena. Orientadora: professora Silvana Mabel Serrani. Dia 31 de agosto de 2015, às 15 horas, na sala coletiva (I) do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Percolação de primeira passagem” (mestrado). Candidato: Rafael Honorio Pereira Alves. Orientador: professor Christophe Frédéric Gallesco. Dia 3 de setembro de 2015, às 10h30, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Efeito da adição de zinco nas propriedades físico-químicas de adesivos dentários” (doutorado). Candidato: Césa Alberto Pomacóndor Hernandez. Orientador: professor Simonides Consani. Dia 31 de agosto de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP. “Padronização de modelos para avaliar a erosão dentária: diferenciação do potencial erosivo de produtos da dieta, efeito da concentração do ácido e do fluoreto” (doutorado). Candidata: Dayse Andrade Romão. Orientadora: professora Cínthia Pereira Machado Tabchoury. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. “Efeitos de recurso audiovisual sobre a ansiedade de jovens submetidos a exodontia de terceiro molar” (doutorado). Candidata: Juliana Zanatta. Orientador: professor Antonio Bento Alves de Moraes. Dia 31 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro 4 da FOP.  Química - “Estudo geoquímico orgânico com aplicação da quimiometria de petróleos da Bacia de Santos - Aspectos: gênese, maturação e semelhanças com óleos do sudoeste africano” (mestrado). Candidata: Nayara Sayuri Inouê. Orientadora: professora Luzia Koike. Dia 4 de setembro de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

do Portal

Fernando de Tacca mostra fotofilmes em festival de curtas professor Fernando de Tacca, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, e seu orientado de doutorado, o pesquisador Érico Monteiro Elias, são os curadores da Mostra de Fotofilmes Brasileiros, dentro do 26ª Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, megaevento que acontece de 19 a 30 de agosto. Fotofilmes são filmes feitos integralmente a partir de fotografias ou nos quais a linguagem fotográfica é explorada de maneira substancial. Esse tipo de “animação” encontra-se na passagem entre o cinema e a fotografia, sobrepondo aspectos dos dois suportes. O docente da Unicamp afirma que esta Mostra de Fotofilmes é resultado de uma pesquisa desenvolvida a partir de 2007, que permitiu levantar uma série de produções de origens e propostas estéticas extremamente variadas. “É um tema que me motivou desde que li ‘Ilusão Espetacular’ [Brasiliense, 1984], de Arlindo Machado, uma referência nos estudos fotográficos. O autor cita ‘Blow-up’, de Antonioni, aludindo-o ao filme brasileiro ‘Abeladormecida: entrada numa só-sombra’, de Marcelo Tassara: para ele, nas duas narrativas há perda do referente na fotografia, ou seja, quando a imagem explode em grãos de prata e nada mais é reconhecível; são somente imagens.” Segundo Fernando de Tacca, esta citação o angustiou durante anos em que não conseguiu ver o filme. “Sou muito ligado à antropologia visual e, em 1983, Tassara tinha lançado ‘Povo da Lua, Povo do Sangue’, com fotos e áudios coletados por Cláudia Andujar entre os índios ianomâmis, que pude ver nas ações da Comissão pela Criação do

Parque Ianomâmi. Mas foi somente muito tempo depois que assisti ‘Abeladormecida’, ao conhecer Tassara pessoalmente. E então tive contato com as outras produções dele, incluindo a mais importante, ‘A João Guimarães Rosa’ [1968], sobre a conhecida fotógrafa Maureen Bisilliat, que foi o primeiro filme produzido na ECA [Escola de Comunicações e Artes, da USP]. Acabei resgatando toda a sua filmografia.” A Mostra de Fotofilmes Brasileiros será aberta efetivamente no dia 25, com uma mesa em homenagem a Marcelo Tassara, que fará uma apresentação deste filme pioneiro da ECA, com a presença também de Maureen Bisilliat. Entre os 18 filmes programados, dois foram realizados na Unicamp: “Irineu”, de Pablo Gea, produzido na disciplina de Projeto de Fotografia, e “Hotel Savoy”, de Bella Tozini, realizado em uma disciplina da Pós-Graduação em Artes Visuais, ambas ministradas por Fernando de Tacca. A programação completa está na página de Programas Especiais (http://www.kinoforum.org.br/curtas/2015/ programacao-programas-especiais).

LANÇAMENTO DO LIVRO

O professor do IA ressalta que às 18 horas do mesmo dia 25 será lançado o livro “Fotofilmes Brasileiros”, fruto da pesquisa de mestrado de Érico Elias, como uma edição especial do 26ª Festival de Curtas, publicado pela Associação Cultural Kinoforum, organizadora do evento, com apoio do Sesc. “Quando Érico Elias me procurou interessado em fazer um mestrado sobre o tema, começamos o mapeamento desta filmografia, com ênfase no material de Tassara.

Foto: Antonio Scarpinetti

mente por conta do vazio sobre o assunto, e ainda decidiu editar o livro. Agora no doutorado, Elias vem dando sequência à pesquisa a partir de referências internacionais e acaba de ganhar uma bolsa da Fapesp para ficar um ano na França, onde também produzirá um fotofilme sobre Valério Vieira, fotógrafo de São Paulo que ficou conhecido por ‘Os 30 Valérios’, em que ele se retrata no lugar de 30 personagens presentes a um sarau.”

FESTIVAL DE CURTAS

O professor Fernando de Tacca, do Instituto de Artes (IA): curadoria

Ele avançou no levantamento da produção nacional e aprofundou as análises daqueles considerados como as principais referências brasileiras.” De acordo com Fernando de Tacca, o fotofilme é um tema pouquíssimo debatido no Brasil, havendo apenas um vídeo distribuído pela Funarte contendo quatro filmes. “A invisibilidade é total. Tanto que quando propusemos a mostra, a diretora do Festival, Zita Carvalhosa, elogiou muito a ideia justa-

O Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo tem como objetivo o intercâmbio entre a produção latino-americana e a internacional, sem caráter competitivo, exibindo filmes que contribuam para o desenvolvimento do curta quanto à linguagem, formato e forma de produção. A edição deste ano traz 60 curtas vindos de 40 países, fora da América Latina, que é representada por 26 filmes de 11 países. Na Mostra Brasil estão representadas todas as regiões do país, com 51 filmes de 15 estados. O Panorama Paulista tem 29 filmes da capital, interior e litoral. No Cinema em Curso Petrobrás estão 20 curtas produzidos em 13 diferentes cursos de graduação em cinema e audiovisual espalhados pelo Brasil. E completam os Programas Brasileiros dez produções da última temporada das Oficinas Kinoforum. O festival tem ainda 15 programas especiais, entre os quais o de Fotofilmes Brasileiros, além de inúmeras atividades paralelas. A programação completa pode ser visualizada na página do evento: http://www. kinoforum.org.br/curtas/2015/ (Luiz Sugimoto)


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Carlos Brandão evoca o coletivo ao receber título de professor emérito Educador e antropólogo menciona as pessoas com as quais conviveu ao longo de sua trajetória no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Compartir” foi a expressão recorrente no discurso do professor Carlos Rodrigues Brandão em agradecimento ao título de professor emérito da Unicamp, que recebeu em cerimônia na sala do Conselho Universitário, na manhã do último dia 26. Brandão é reconhecido tanto por sua trajetória como educador, antropólogo, ambientalista e poeta, como por sua generosidade e solidariedade. A indicação para a honraria foi feita pelo Departamento de Antropologia e homologada pela Congregação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). “A homenagem me surpreendeu e me alegra muito, mas acho que ela só tem valor se for pensada no plural”, disse Carlos Brandão enquanto aguardava o início da cerimônia, antecipando o tom do seu discurso. “Nesses tempos de individualismo, temos que puxar muitas coisas para o coletivo. Sinto que a homenagem, na verdade, é pluralizada, deve ser estendida a todas as pessoas com as quais eu convivi ao longo desses anos – e foram muitos. Desde funcionários dos velhos tempos até meus alunos que agora são professores e estão até se aposentando.” O professor emérito lembrou colegas como Rubem Alves, também emérito da Unicamp, falecido recentemente, e Roberto Cardoso de Oliveira, com quem criou o Programa de Doutorado em Ciências Sociais (cujos 30 anos seriam comemorados em outro evento, à tarde). “Quando penso no que fiz e em companheiros como Peter Fry e nos jovens professores que foram meus alunos, vejo que todos cumpriram seu papel, cada um à sua maneira: nós nos esmeramos em trabalhar com alunos do ciclo básico até o doutorado, fizemos pesquisas, nos doutoramos, publicamos trabalhos. São trajetórias comuns, não no sentido do banal, mas do realmente plural. Quando uma homenagem como esta recai sobre mim, poderia recair sobre qualquer um de nós.” Escolhida madrinha do homenageado, Emilia Pietrafesa de Godoi, docente do Departamento de Antropologia, revelou a expectativa de Carlos Brandão diante da notícia do título de Professor Emérito. “Ele quis que a homenagem, mais que uma solenidade acadêmica, fosse um momento de reencontros, de celebração da alegria de estarmos de novo juntos, comemorando o que juntos foi feito, enquanto companheiros de docência e pesquisa. Esta generosidade que insiste em ver sempre o ‘nós’ e o ‘entre nós’ para conferir sentido e significado ao que foi feito, é eloquente de como ele percebe e vive a vida e como percebe e vive a sua relação com a Universidade – que nas palavras do professor, é um lugar onde mutuamente nos ensinamos e aprendemos.” O professor Alvaro Penteado Crósta, coordenador geral da Unicamp, que conduziu a cerimônia representando o reitor José Tadeu Jorge, observou que o título de professor emérito, do ponto de vista institucional, é o reconhecimento mais amplo da comunidade pela história de vida e trajetória docente na Universidade. “O foco da homenagem é o trabalho acadêmico,

mas contempla também a contribuição social do professor Brandão, que se dedicou e continua se dedicando a ações de profundo impacto nas áreas de cultura, educação popular e ambiental. Outra ênfase é do intelectual preocupado com a realidade brasileira, ou como ele se define, de uma pessoa pluridisciplinar.” Ao final de seu discurso, Carlos Rodrigues Brandão cometeu a “ousadia de um poema”.

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Fotos: Antonio Scarpinetti

TRAJETÓRIA

Carlos Rodrigues Brandão atua principalmente na área de antropologia rural, com pesquisas e escritos voltados para cultura e educação popular, para o campo religioso e, mais recentemente, também para questões ambientais. Seus espaços etnográficos são sempre os espaços de vida e trabalho de populações rurais e tradicionais, que vão desde o interior do Estado de São Paulo, passando por Minas Gerais e alcançando Goiás. Hoje coordena dois projetos de pesquisa sobre cultura popular e patrimônio cultural nos sertões do norte de Minas e no alto médio São Francisco. Em 1998 recebeu o título de Comendador do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e de Professor Benemérito do Centro de Memória da Unicamp (CMU). Em 2006 foi agraciado com a medalha Roquette Pinto da Associação Brasileira de Antropologia. Em 2008 e 2010, com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e pela Universidade Federal de Goiás. No entanto, foi na Unicamp que Carlos Brandão desenvolveu a maior parte de sua vida acadêmica, até a aposentadoria em 1997. Desde então, continua atuando nesta Universidade como professor colaborador, assumindo orientações tanto no Programa de Antropologia como no Doutorado em Ciências Sociais. Na década de 1980, participou da criação do Centro de Educação e Sociedade (Cedes) e do Centro Interno de Estudos Rurais (Ceres). Foi também vinculado ao Núcleo de Pesquisas Ambientais (Nepam). Como docente do Departamento de Antropologia, ministrou disciplinas na graduação e na pós-graduação abrangendo campos que vão da religião e simbolismo à cultura popular e teoria antropológica. Na pós-graduação, foi um dos idealizadores e responsáveis pela criação da área de agricultura e questão agrária do Doutorado de Ciências Sociais. Dois grandes projetos coletivos foram desenvolvidos por ele no âmbito do Departamento de Antropologia e que envolveram estudantes de pós-graduação: um apoiado pelo CNPq, “O sentimento do mundo”, sobre o cerrado e o sertão mineiros; e outro apoiado pela Fapesp, “Homem, saber e natureza”, desenvolvido em contextos rurais de São Paulo (Serra do Mar e Mantiqueira) e do sul de Minas. Destes projetos resultaram livros seminais. Ainda desenvolveu pesquisas em aldeias da Galícia nos anos 1990, quando esteve vinculado como professor visitante à Universidade de Santiago de Compostela – experiência que rendeu três livros, um publicado na Galícia e dois no Brasil.

Cenas da cerimônia de entrega do título de professor emérito a Carlos Rodrigues Brandão: poesia, música e discurso lembrando os colegas, alunos e funcionários


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Campinas, 31 de agosto a 6 de setembro de 2015

Passos para a interação Foto: Divulgação

Pesquisa inova ao usar a dança em abordagem com pessoas diagnosticadas com autismo MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

pessoa dita autista não somente tem a possibilidade concreta e o direito de realizar uma prática artística, como tem muito a ensinar nesse aspecto. A afirmação é da bailarina e coreógrafa Anamaria Fernandes Viana, que defendeu recentemente a tese de doutorado intitulada “Dança e autismo, espaços de encontro”. O trabalho rendeu à autora um duplo diploma, visto que a pesquisa foi desenvolvida em cotutela pela Unicamp e Université Rennes 2, da França. As orientadoras do estudo foram as professoras Marcia Strazzacappa, da Faculdade de Educação (FE), e Christiane Page, da instituição francesa. De acordo com Anamaria, a tese é resultado de uma longa experiência prática desenvolvida por ela na França, país no qual viveu por mais de 20 anos e onde fez o mestrado. Lá, a bailarina e coreógrafa realizou um trabalho diferenciado de dança com pessoas com transtornos mentais. “Foi uma experiência extremamente rica, mas que a meu ver podia ganhar maior dimensão com o suporte teórico. Por isso resolvi abordar o tema no mestrado e agora no doutorado”, explica. A escolha das professoras Marcia e Christiane como orientadoras, conforme Anamaria, foi fundamental para a concretização da pesquisa. As docentes abriram novas perspectivas para o trabalho, que por sua vez ganhou uma importante dimensão multicultural e multidisciplinar. “Na pesquisa, acredito que abracei as culturas do Brasil e da França. Também tive a oportunidade de conciliar vários olhares e saberes sobre o tema abordado, proporcionados pela arte, educação e psicanálise, entre outros”, considera. Anamaria relata que começou a trabalhar com pessoas em situação de transtorno mental desde que se mudou para a França, depois de ter feito a graduação em Dança na Unicamp. Na tese, ela denominou essas pessoas, que eram atendidas por diferentes instituições, de “extraordinárias”. A bailarina conta que ao iniciar a pesquisa não tinha o autismo como objeto único da sua investigação. “Essa definição foi feita posteriormente, graças às orientações da professora Marcia”, pontua. A docente da FE explica que a decisão se deu porque tanto no Brasil quanto na França há pouquíssimos estudos que associam a dança como prática artística ao autismo. “Existem trabalhos que abordam a dança relacionada a outros tipos de transtornos mentais ou deficiências físicas, mas não especificamente ao autismo. Percebemos, então, que este seria um bom caminho para percorrermos”. Segundo Anamaria, para que a tese fosse concluída foi preciso superar inúmeros desafios. O primeiro deles foi encontrar uma forma de estabelecer contato com cada sujeito, na sua singularidade. “Um dos aspectos mais difíceis e também mais importantes dessa prática é reconhecer nossa ignorância. Cada pessoa é uma paisagem em constante movimento. A partir do momento em que pensamos que sabemos algo, a partir do momento em que temos certezas, a possibilidade de cometermos erros cresce. Para que esse trabalho pudesse se desenvolver, foi necessário me deixar aprender com o outro continuamente. Para mim, foi como trilhar um caminho desconhecido, que precisou ser desbravado passo a passo”, relata Anamaria. Outro ponto crucial trabalhado, segundo ela, foi a questão do desejo do outro. A autora da tese explica melhor esse aspecto. “Quando colocamos no outro as nossas projeções de conquistas, às vezes não enxergamos as pérolas que esse outro pode nos oferecer. Assim, nesse tipo de abordagem, é importante ficarmos atentos a essas pérolas, para construirmos paisagens a partir delas”,

O trabalho prático, realizado por meio de oficinas, privilegiou a improvisação e fez uso de objetos como tecidos, sacos de areia, bolas e plumas

Fotos: Antoninho Perri

A bailarina Anamaria Viana: segundo a autora da tese, a pessoa dita autista não somente tem a possibilidade concreta e o direito de realizar uma prática artística, como tem muito a ensinar nesse aspecto

jamais era igual ao outro. Em todas as oficinas, a busca era sempre pela aproximação dessas pessoas extraordinárias, mas dentro do universo de cada uma. Em vez de realizar ações premeditadas, eu me deixava levar por elas. O que posso dizer é que essa experiência me ensinou muito tanto sobre a dança quanto sobre a vida”, garante Anamaria.

COLABORAÇÃO

pormenoriza. Anamaria destaca também a importância da possibilidade de tocar o outro no esforço de aproximação da pessoa autista, algo não muito frequente na França. Ela conta que os franceses, dependendo da região em que vivem, estabelecem diferentes relações com o próprio corpo. Introduzir o toque numa instituição francesa, conforme a bailarina, não foi uma tarefa trivial. “Foi preciso fazer um trabalho com os profissionais locais para que eles pudessem se desfazer de seus casacos de proteção e, consequentemente, descobrir as pessoas com as quais estavam se relacionando. Durante cada percurso, nós cometemos erros, mas aprendemos muito com todos eles. Tudo isso ajudou a construir um método de trabalho que, segundo os relatos dos profissionais, provocou uma mudança radical no olhar que tinham sobre as pessoas acompanhadas por eles”, relata. A metodologia resultante da experiência, observa Anamaria, deve ser encarada não como uma cartilha a ser seguida, mas sim como uma ferramenta a partir da qual cada profissional poderá construir a sua própria

abordagem. “Uma das minhas preocupações foi usar uma linguagem bem acessível, de modo que qualquer interessado no tema, seja ele profissional da dança ou não, inclusive pais de crianças autistas, possa ler”. Segundo a professora Marcia, esse cuidado foi importante, principalmente por causa da carência de bibliografia sobre o assunto, tanto em plano nacional quanto internacional. “Também nesse aspecto o trabalho da Anamaria traz uma importante contribuição às pesquisas da área, dado que a literatura sobre o assunto é muito escassa”, entende. Retornando à questão da interação, a autora da tese informa que trabalhou com pessoas ditas autistas na faixa etária de 7 a 23 anos. De acordo com ela, foi possível estabelecer contato com todas, inclusive com aquelas que apresentavam um diagnóstico de “autismo profundo”. “O trabalho foi realizado por meio de oficinas, com abordagens individualizadas e com a ajuda de objetos como tecidos de texturas diversas, sacos de areia, bolas, plumas, entre outros. Procurei privilegiar a improvisação, de modo que um dia

Em visita ao Brasil para participar de um evento organizado em meados de agosto pelo Laboratório de Estudos sobre Arte, Corpo e Educação (Laborarte), ligado à FE, a professora Christiane Page enfatizou a importância de a tese de Anamaria ter sido desenvolvida no sistema de cotutela entre a Unicamp e a Université Rennes 2. “Entretanto, mais importante que isso foi o fato de o trabalho ter contado com duas orientadoras, o que conferiu à orientanda a oportunidade de construir dois campos de referência”. Christiane também assinalou a relevância do aspecto prático do trabalho realizado por Anamaria. “O meio acadêmico francês é muito teórico. Um ponto que despertou o meu interesse pelo projeto foi justamente a possibilidade de agregar essa prática à investigação teórica”. A docente da Université Rennes 2 manifestou a disposição de dar sequência à colaboração nascida dessa experiência de cotutela. “Como vocês dizem por aqui, em time que está ganhando não se mexe. A ideia é de dar continuidade à cooperação, ampliando os focos de ação. Gostaria muito de promover intercâmbios de estudantes entre as duas universidades”, adianta. De acordo com a professora Marcia, a proximidade dos trabalhos realizados por ela e pela professora Christiane favorece essa continuidade. “Eu faço um trabalho com clown, através da personagem dona Clotilde. A professora Christiane, que também é atriz, tem um trabalho com bufão. Ambas trabalhamos nas interfaces entre arte, educação e saúde. Temos grande afinidade, o que é um aspecto que favorece a parceria”, entende. Para desenvolver a tese, Anamaria contou com bolsa do tipo sanduíche concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Atualmente, a pesquisadora está de volta ao Brasil. Ela acaba de ser aprovada em concurso para professora no curso de Dança da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde ministrará, entre outras, disciplina de dança e necessidades especiais.

Publicação

Marcia Strazzacappa, orientadora e professora da Faculdade de Educação: “O trabalho da Anamaria traz uma importante contribuição às pesquisas da área, dado que a literatura sobre o assunto é muito escassa”

Christiane Page, coorientadora e docente da Université Rennes 2: “Um ponto que despertou o meu interesse pelo projeto foi justamente a possibilidade de agregar essa prática à investigação teórica”

Tese: “Dança e autismo, espaços de encontro” Autora: Anamaria Fernandes Viana Orientadora: Marcia Strazzacappa Coorientadora: Christiane Page Unidade: Faculdade de Educação (FE) Financiamento: CNPq


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