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Fotos: Antoninho Perri

Perigo na pista 5 Pesquisa feita por Felippe Benavente Canteras constatou altas concentrações de metais potencialmente tóxicos, entre os quais chumbo e cromo, em canteiros das rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Dom Pedro I. O trabalho foi orientado pela professora Silvana Moreira, da FEC.

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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015 - ANO XXIX - Nº 634 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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NO CHÃO DE FÁBRICA Tese do economista Daniel Pereira Sampaio revisita as perspectivas teóricas acerca da desindustrialização no país, avaliando seus impactos na economia nacional. Segundo o autor do estudo, o fenômeno apresenta efeitos regionais distintos, afetando sobretudo São Paulo, em razão de o Estado ter um parque produtivo mais diversificado. A pesquisa foi orientada pelo professor Fernando Cézar de Macedo Mota, do Instituto de Economia (IE).

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A mercantilização do sistema previdenciário A física quântica e o voo dos pássaros

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Atividades físicas e remoção da insulina

Modelo simula planetas gerados por ‘pedrinhas’

Tese analisa grupos de mulheres no Facebook

Revisão constata fraudes em 64 artigos científicos

Na vala, indícios de um massacre de 7 mil anos

TELESCÓPIO

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Fábrica desativada em Campinas: autor da pesquisa analisou obras de autores que concordam e discordam da tese segundo a qual o país passa por um processo de desindustrialização


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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Predador insustentável As atividades de caça e pesca promovidas pelo homem têm características e impactos ecológicos bem diversos das praticadas por outras espécies predadoras, mostra artigo publicado na revista Science. Ao contrário de outros predadores da natureza, o ser humano visa principalmente animais adultos, no auge de sua capacidade reprodutiva, e tende a predar mais outros carnívoros do que herbívoros. Caçadores e pescadores humanos matam presas adultas até 14 vezes mais que outros predadores, o que afeta a capacidade das espécies visadas de repor suas populações, informa a equipe canadense responsável pelo estudo. No caso de carnívoros, eles são abatidos por seres humanos a uma taxa até nove vezes maior do que outras espécies. A situação é especialmente grave na pesca: “pescadores exploram populações adultas de sua presa numa taxa superior à de qualquer outro predador do planeta”, diz o artigo, que vê um efeito especialmente acentuado no Oceano Atlântico. Em nota, o pesquisador Chris Darimont, da Universidade de Victoria, diz: “Nossa tecnologia de matança, perversamente eficaz, os sistemas da economia global e um gerenciamento de recursos que prioriza benefícios de curto prazo criaram o superpredador humano. Nosso impacto é radical”.

De pedrinhas a planetas Os planetas gigantes gasosos do Sistema Solar podem ter nascido de uma acumulação inicial de “pedrinhas” com diâmetros de um centímetro a um metro – e não de colisões entre planetesimais, enormes rochedos de mais de 100 quilômetros. Um modelo que simula, com sucesso, a formação de planetas gigantes a partir de pedrinhas aparece na edição mais recente da revista Nature.

Tanto Júpiter quanto Saturno são, em essência, gigantescas bolas de gás, mas cientistas acreditam que esses mundos devem ter nascido em torno de núcleos sólidos, com dez vezes a massa terrestre. O processo de formação desses núcleos – e a razão pela qual eles dão origem a gigantes gasosos, e não a mais planetas como a Terra ou Marte – é alvo de debate. O modelo apresentado na Nature, que simula uma lenta acumulação de pedrinhas que vão, por sua vez, originar os planetesimais, leva à formação de um a quatro gigantes gasosos, a uma distância de 5 a 15 Unidades Astronômicas (UA) do Sol. A zona dos gigantes gasosos no Sistema Solar começa a 5 UA.

Furacões no EUA e fogo na Amazônia: causa comum? As mesmas condições oceânicas que estimulam a formação de furacões violentos no Caribe, como o Katrina que atingiu os EUA em 2005, produzindo um dos maiores desastres naturais da história daquele país, geram o fluxo de ar seco em direção à Amazônia que torna a floresta mais vulnerável a incêndios, diz estudo conjunto da Nasa e da Universidade da Califórnia, publicado no periódico Geophysical Research Letters. O trabalho aponta uma influência do Atlântico Norte no risco de fogo na bacia do Rio Amazonas. De acordo com nota divulgada pela Universidade da Califórnia, as mesmas águas quentes que dão energia para a formação de furacões puxam as chuvas tropicais mais para o norte, “sugando” a umidade que poderia proteger a floresta. A mecânica, de acordo com os autores, é direta: se a temperatura das águas na superfície do Atlântico Norte se eleva acima do normal, menos chuva cai na Floresta Amazônica.

Foto: Cassini Imaging Team/Nasa/Divulgação

Saturno, com a sombra dos anéis projetada em sua atmosfera; o planeta pode ter crescido a partir de uma minúscula semente

Erosão dos cometas Quebras e rachaduras fotografadas na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko podem ter sido causadas pelo estresse térmico sofrido pelo astro à medida que se aproxima e se afasta do Sol ao longo de sua órbita, diz artigo publicado no periódico Geophysical Research Letters por pesquisadores que trabalharam com dados levantados pela sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia (ESA). “Fraturas são onipresentes na superfície do núcleo”, escrevem os autores. “Aparecem em cenários variados e mostram diferentes topologias (...) No entanto, concluímos que a erosão térmica por radiação solar é responsável por criar a maioria das fraturas observadas”. O cenário mais comum, diz nota divulgada pela ESA, são redes de fraturas estreitas com até 250 metros de extensão, que se espalham por superfícies planas. “Em algumas localidades”, diz a nota, “as fraturas parecem se cruzar em padrões poligonais, e ângulos retos – na Terra e em Marte, isto frequentemente representa sinal de que o gelo se contraiu abaixo da superfície”.

em laboratório, o impacto de materiais comumente encontrados em meteoritos contra uma mistura de água, bicarbonato de amônio e nitrogênio, os ingredientes supostos dos oceanos e da atmosfera da Terra antes do surgimento da vida. Como resultado, foram extraídas as bases citosina e uracila, que aparecem no DNA e no RNA, e uma série de aminoácidos, como glicina e alanina. O experimento é descrito no periódico Earth and Planetary Science Letters.

A mão mais antiga A descoberta do mais antigo osso fossilizado de mão semelhante aos que existem nas mãos dos seres humanos atuais é descrita no periódico online Nature Communications, do grupo Nature. O osso, uma falange, foi encontrado num sítio de 1,8 milhão de anos na Tanzânia. Esse osso difere tanto das falanges de australopitecos quando das do Homo habilis. De acordo com os autores do artigo, vinculados a instituições da Espanha, Estados Unidos, África do Sul e Tanzânia, a descoberta sugere que homininos de anatomia mais próxima da moderna coexistiram com o Homo habilis na região.

Massacre neolítico Uma vala coletiva de cerca de 7.000 anos atrás, contendo os restos de pelo menos 25 corpos humanos, com sinais de violência, foi descoberta na Alemanha. Os achados são descritos no periódico PNAS. O sítio arqueológico pertence à chamada Cultura LBK da Europa Central, cujos padrões de violência são alvo de discussão entre cientistas. “O desaparecimento da LBK da cena neolítica tem sido retratado, com frequência, como resultado de conflito e convulsão social, culminando num pesadelo apocalíptico de guerra e canibalismo”, escrevem os autores, vinculados a instituições europeias e sul-africanas. “Embora esse cenário possa parecer exagerado, a ‘crise’ proposta ao final da LBK tem atraído muita atenção, especulação e debate”. O novo local de massacre se soma a outros três vinculados à LBK, encontrados na Alemanha e na Áustria. Ele se destaca dos demais pela presença frequente de ossos quebrados nas pernas das vítimas, o que sugere o uso sistemático de tortura. Vistas em conjunto com descobertas anteriores, essas evidências “indicam que o massacre de comunidades inteiras não era uma ocorrência isolada, mas um evento frequente na fase final da LBK”.

Impacto na origem da vida Experimentos realizados por uma equipe japonesa sugerem que o impacto de meteoritos nos oceanos da Terra primitiva pode ter dado origem às unidades químicas fundamentais da vida, como aminoácidos – os blocos que formam as proteínas – e as bases hidrogenadas que compõem o DNA. A equipe liderada por Yoshihiro Furukawa, da Universidade Tohoku, simulou,

Fraude na revisão No início da última semana, a editora internacional de periódicos científicos Springer – que em maio se fundiu à Macmillan Science and Education, responsável pela Nature – anunciou a retratação de 64 artigos publicados em dez diferentes revistas, por conta de fraude no processo de revisão pelos pares. A maioria das retratações envolve trabalhos de autores asiáticos, publicados em periódicos das áreas de biologia e medicina. “O processo de revisão é uma das pedras fundamentais da qualidade, integridade e reprodutibilidade da pesquisa, e encaramos seriamente nossas responsabilidades como seus guardiões”, diz nota divulgada pela empresa. “Estamos revendo nossos processos editoriais para evitar novas manipulações desse tipo no futuro”. De acordo com o blog Retraction Watch, com essa nova onda de retratações da Springer já são mais de 250 os artigos invalidados por conta da descoberta de que os dados de contato dos revisores, indicados pelos autores ou pelo órgão de fomento, eram falsos – muitas vezes, endereços de e-mails fraudados, que enviavam os textos de volta para os autores, que então “revisavam” e recomendavam a publicação de seus próprios trabalhos. Desta vez, no entanto, parece que os autores também foram vítimas: os falsos revisores seriam agentes de consultorias de formatação e de pré-edição de texto contratadas, em boa-fé, pelos cientistas. Os pesquisadores que forem inocentados na investigação em curso deverão ser convidados a submeter novamente seus artigos.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Social, mas mercantilizado Pesquisa do IE aponta continuidade do processo de exploração do sistema previdenciário brasileiro pelo setor privado Fotos: Antoninho Perri

pansão no período analisado, por causa de um crescente número de pessoas que tem recorrido às instituições financeiras para comprar um plano privado de aposentadoria. “Outro movimento nessa direção está sendo feito pelos funcionários públicos, que estão transitando para os fundos de pensão. A conjunção das transformações ocorridas nos três compartimentos caracteriza, portanto, o que consideramos um processo de mercantilização do sistema previdenciário brasileiro, uma vez que as condições de aposentadoria dos brasileiros veem cada vez mais encolhido o seu papel como direito social, sendo substituído por formas mercantilizadas de acesso”, defende.

NEOLIBERALISMO

Atualmente, de acordo com o estudo, menos de 5% dos aposentados ganham mais que quatro salários mínimos, o que está longe do teto, que gira em torno de seis salários mínimos

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

sistema previdenciário brasileiro passa, desde 1988, por um processo de mercantilização que não foi revertido depois de 2002, ano em que o Partido dos Trabalhadores assumiu o governo federal. A constatação é da dissertação de mestrado do economista Lucas Salvador Andrietta, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp. O trabalho, que foi orientado pelo professor Eduardo Fagnani, contou com bolsa de estudo concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação. De acordo com o autor do estudo, embora os governos do PT [dois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro da presidente Dilma Rousseff] tenham se apoiado sobre o discurso da priorização da dimensão social, as bases institucionais da previdência pública, cujos princípios foram esboçados na Constituição de 1988, permanecem sob ameaça permanente de desestruturação no período considerado. “De fato, ocorreu uma inflexão real de alguns indicadores macroeconômicos, o que contribuiu para a ampliação do mercado de trabalho formal e de algumas políticas sociais, com reflexos positivos sobre a Previdência Social. Entretanto, o sistema previdenciário como um todo tem transitado para um modelo mais mercantilizado”, afirma Andrietta. A Constituição de 1988 é tomada como marco inicial na pesquisa do economista porque a Carta representou um avanço, em termos formais, no que se refere à garantia dos direitos previdenciários do brasileiro. Pela primeira vez, a legislação estabeleceu o princípio da universalidade, ou seja, de que todos os cidadãos passariam a ter assegurada uma aposentadoria, pelo menos em nível básico, sem que necessariamente tenham contribuído para o sistema ao longo da vida. “A seguridade social estabelece a aposentadoria e outros benefícios como direitos de cidadania, como é o direito à saúde e à educação”, compara o autor da dissertação. Nesse sentido, continua Andrietta, a Constituição de 1988 pode ser considerada como uma trincheira formal, por meio da qual alguns direitos foram concretizados, como é o caso da aposentadoria rural. Ocorre, porém, que ainda durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, forças contrárias a esses avanços começaram a agir no sentido de desestruturar as bases da previdência pública. Tal projeto foi executado de diversas maneiras, mas o estudo do economista destaca duas delas:

O economista Lucas Andrietta, autor da dissertação: “As condições de aposentadoria dos brasileiros veem cada vez mais encolhido o seu papel como direito social, sendo substituído por formas mercantilizadas de acesso”

as emendas constitucionais de 1998 e de 2003. “Somadas a outras mudanças na legislação infrainstitucional, as emendas provocaram importantes alterações no sistema previdenciário nacional”, pontua Andrietta. No trabalho, o economista analisa essas transformações a partir de três “compartimentos” do sistema previdenciário, como ele classificou – Regime Geral, do qual participam os trabalhadores da iniciativa privada; Regimes Próprios de Previdência, onde estão inseridos os funcionários públicos; e Previdência Complementar, que abrange fundos de pensão e planos privados. Segundo Andrietta, no primeiro compartimento ocorreu um significativo achatamento. “O teto do valor das aposentadorias foi sendo defasado ao longo do tempo, tanto em relação à inflação quanto ao salário mínimo. O fator previdenciário jogou drasticamente os valores das novas aposentadorias para baixo. Ao mesmo tempo, com o recente aumento real do salário mínimo, o piso das aposentadorias foi elevado, o que intensificou o que chamamos de achatamento”, explica o economista. Com a elevação do piso das aposentadorias, acrescenta Andrietta, o que se viu foi uma maior concentração de beneficiários nessa faixa – cerca de dois terços dos aposentados recebe o mínimo. “Devido à introdução do fator previdenciário, por meio das alterações promovidas pela emenda constitucional de 1998, ficou cada vez mais difícil para as pessoas atingirem o teto das aposentadorias. Atualmente, menos de 5% dos aposentados ganham mais que quatro

salários mínimos, o que está longe do teto, que gira em torno de seis salários mínimos”, pondera. É importante lembrar, conforme o pesquisador, que a desvinculação do piso dos benefícios em relação ao salário mínimo é um item que está sempre à espreita na agenda de reformas. Em relação aos Regimes Próprios de Previdência aconteceu um estancamento, segundo o autor da dissertação. A partir da emenda constitucional de 2003, os regimes de aposentadoria nos moldes antigos deixaram de existir, o que tem sido operacionalizado de fato nos últimos anos. “Na prática, regras particulares dos funcionários públicos, como o direito à integralidade e à paridade com os servidores ativos, deixaram ou deixarão de existir brevemente. Essas normas foram substituídas por outras, que estabeleceram, por exemplo, que aqueles que ganham menos que o teto do INSS [Instituto Nacional de Seguridade Social] vão seguir as mesmas regras do Regime Geral”, detalha o economista. O contingente de funcionários públicos que se enquadra nessa faixa é grande, como observa Andrietta. Ademais, diz, os servidores que ganham mais que o teto terão a regra do INSS aplicada sobre um determinado valor, sendo que o excedente poderá ser voluntariamente colocado em um fundo de pensão. “É o que está acontecendo com os novos funcionários da Unicamp e de outros órgãos e autarquias públicas”, exemplifica o economista. Por seu turno, a Previdência Complementar experimentou uma significativa ex-

Questionado se esse processo é característico do Brasil ou se é verificado em plano global, Andrietta observa que existe uma relação entre o que acontece no país e no restante do mundo. “Optamos por analisar essas transformações a partir do que se pode chamar de ‘projeto neoliberal’, implantado no Brasil nos anos 1990. Entretanto, o que se verifica aqui também acontece em outros países, nos quais as políticas públicas universais passam ou passaram igualmente por reformas”. Na avaliação do economista, existe uma tendência no capitalismo de transformar tudo em mercadoria. “Do ponto de vista das políticas sociais, podemos dizer que há uma ‘novidade’ nas últimas décadas: os sistemas de proteção social que já estavam estabelecidos, mais ou menos incipientes, passaram a ser vistos como horizontes possíveis de acumulação do capital. Os direitos à previdência social, à saúde e à educação não perderam completamente essa característica, mas passaram a ter uma relação muito íntima com as formas de exploração pelo setor privado. Os estados nacionais passaram a promover ações deliberadas para criar condições para que esses direitos sejam mercantilizados”, aponta. Pelos sinais emitidos pelo governo federal e pelos grupos de interesse mencionados por Andrietta, inclusive com a recente discussão no âmbito do Congresso Nacional sobre a proposta de nova mudança no fator previdenciário, a tendência é de que no Brasil o processo de mercantilização do sistema previdenciário tenha seguimento nos próximos anos, na avaliação do economista. Nesse aspecto, Andrietta enfatiza a forma indireta como a questão previdenciária é discutida, em geral limitada aos aspectos fiscais e atuariais do sistema. “Normalmente, não paramos para pensar nas conexões que existem entre a questão previdenciária e a nossa relação com o mundo do trabalho. É importante lembrar que diferentes estudos indicam que temos, cada vez mais, dedicado nossas vidas ao trabalho. Em outras palavras, estamos trabalhando mais intensamente, numa jornada diária mais extensa, por um período mais longo da vida”. Tal situação pode até ser vista com certa naturalidade, dado que a expectativa de vida no Brasil tem aumentado. Todavia, adverte Andrietta, é preciso colocar obstáculos a essa tendência, de modo a assegurar que cada um de nós não tenha necessariamente que trabalhar até o limite de suas capacidades. “Nesse sentido, as discussões sobre o sistema previdenciário constituem uma trincheira para regular a nossa relação com o mundo do trabalho. Esse debate está no mesmo patamar do que trata da redução da jornada de trabalho, sem redução de salário. Na França, por exemplo, foi aprovada uma lei que proíbe que o trabalhador trabalhe via telefone celular ou internet após a jornada. A nossa relação com a previdência tem que ir além dos cálculos de quanto tempo temos que contribuir e quanto receberemos ao nos aposentarmos”, reafirma.

Publicação Dissertação: “A mercantilização do Sistema Previdenciário Brasileiro (1998-2014)” Autor: Lucas Salvador Andrietta Orientador: Eduardo Fagnani Unidade: Instituto de Economia (IE)


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O mundo macroscópico,

o voo dos pássaros e a física quântica CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

mecanismo que permite que as aves migratórias sintam o campo magnético terrestre para se orientar durante o voo e a aplicabilidade de um conceito antes tido como específico da física quântica a fenômenos do mundo clássico, macroscópico, são os temas de dois artigos publicados em periódicos internacionais de prestígio da área de Física, e que têm, entre seus autores, cientistas do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). O primeiro trabalho encontra, no conceito de “discórdia quântica”, uma forma de quantificar as incertezas que surgem quando se fazem medições imperfeitas em sistemas macroscópicos, cujas propriedades são normalmente descritas pela física clássica, e não pela quântica. “Existe um conceito, o de entropia informacional, que quantifica a informação necessária para se caracterizar por completo um sistema”, explicou o pesquisador Marcos César Oliveira, do IFGW, que participou de ambos os estudos. A entropia informacional foi definida originalmente pelo americano Claude Shannon (1916-2001), o criador do conceito de “bit” como unidade de medida de informação. “Quando dois sistemas estão correlacionados, existe uma entropia mútua, que quantifica essa correlação”. No caso de sistemas quânticos correlacionados, no entanto, o cálculo dessa entropia mútua é modificado pela presença do fenômeno chamado “discórdia” – que deriva do fato de que, no mundo quântico, toda tentativa de extrair informação de um sistema acaba alterando o estado do sistema: assim, qualquer medição feita num dos membros do par correlacionado afeta sua entropia, o que tem repercussão na entropia mútua e, por meio dela, no outro parceiro. “Essa discórdia é dada pela sensibilidade do sistema à perturbação. Então, intrinsecamente, ela mede o quanto o seu sistema é perturbado por medições”, disse Marcos. “Existe uma gama de interpretações a respeito da discórdia, incluindo o fato de que ela pode estar representando uma correlação que é puramente quântica”. Mas no artigo “Nonzero Classical Discord”, escrito em parceria com pesquisadores canadenses e publicado em Physical Review Letters, Marcos e demais coautores argumentam que é possível definir um análogo da discórdia quântica para pares de sistemas clássicos correlacionados, que surge quando a tentativa de medição de um deles é feita de forma imperfeita. A medição imprecisa introduz, no sistema clássico, um caráter probabilístico semelhante ao que domina nos sistemas quânticos. “Pode-se introduzir uma aleatoriedade no sistema clássico. Digamos que tenho num sistema de correlação entre duas variáveis aleatórias, X e Y. Vamos supor que um mágico tem um dado e uma moeda, arranjados de tal forma que, quando o dado dá um número par, a moeda tem uma chance maior de 50% de dar cara”, sugere o pesquisador. “Só que eu não consigo ver direito o resultado do dado, então minha medição do estado dele é imperfeita”. Essa medição imperfeita, disse Marcos, afeta a avaliação que se pode fazer da entropia geral do sistema, de modo semelhante à perturbação que uma medição direta causaria num sistema quântico. O resultado final é um método que aplica o Teorema de Bayes – um princípio fundamental da teoria da probabilidade, que define a chance de se obter um determinado resultado A, dado que já foi obtido um resultado B, correlacionado – à análise da medição imperfeita: “Pode-se escrever uma probabilidade condicional de o dado real ser X, sendo que a medição imperfeita trouxe Y“, explica o pesquisador. “Esse teorema tem consequências importantes, relevantes, principalmente para inferência, porque você pode atribuir uma probabilidade prévia, antes de medir um determinado valor, e obter o que é chamado de estado ou probabilidade posterior, após a medição”. Os autores concluem o artigo apontando que o trabalho reforça a interpretação da discórdia quântica como “uma medida da perturbação de um estado sob medição”, e que além de permitir que sejam levantadas questões sobre o ponto fundamental da separação entre os mundos clássico e quântico, “pode ser relevante para outras áreas, bem estabelecidas, relacionadas à teoria da informação, como a teoria da medida e inferência estatística”.

“Há décadas foi estabelecido que os pássaros utilizam o campo magnético da Terra para se orientar”, disse Marcos, descrevendo experimentos em que a aplicação de campos magnéticos artificiais atrapalhavam o senso de orientação de pássaros, em condições de laboratório. “E para isso existem dois tipos de mecanismo. Um deles, conhecido há mais tempo, usa o fato de que alguns pássaros, como pombos, têm partículas magnéticas no bico. Entretanto, foi feito um experimento mais recentemente em que a conexão dessa região com o cérebro foi interrompida, e mesmo assim, alguns pássaros conseguem se direcionar. Então, deve existir um outro mecanismo”. Uma das principais hipóteses para descrever esse segundo mecanismo supõe a existência de moléculas nos olhos dos pássaros que se separam em pares de radicais químicos sob o efeito da luz e da presença de campos magnéticos. Para produzir um senso de orientação ligado ao campo magnético, no entanto, essa quebra precisa incorporar algum tipo de assimetria, favorecendo uma direção em detrimento das demais. Nos modelos tradicionais que lidam com essa hipótese, a assimetria ocorreria por conta de uma propriedade do mundo quântico conhecida como emaranhamento. Definido por Albert Einstein como uma forma de “ação fantasmagórica à distância”, esse fenômeno, já confirmado experimentalmente, faz com que um par de partículas se mantenha correlacionado, de modo que qualquer alteração numa delas afeta, instantaneamente a outra.

“Esse é um modelo quântico, e há um argumento de que necessariamente você tinha que ter o emaranhamento”, disse o pesquisador. “Que essa forma específica era a única maneira de introduzir essa sensibilidade ao campo magnético. Era isso que introduziria uma referência de direção, porque, senão, o pássaro não teria uma referência”. Essa dependência do emaranhamento, no entanto, é “ruim para o modelo”, disse Marcos. O emaranhamento quântico é um estado muito específico, facilmente destruído por interferências do ambiente. “E se pensarmos na situação que existe nos olhos no pássaro, vemos que há diversas interações acontecendo, a molécula está num meio que gira, que se desloca. É óbvio que o pássaro gira, é óbvio que se mexe o tempo todo. O que diminui muito a aplicabilidade desse modelo”. No artigo publicado pelos pesquisadores brasileiros no periódico “Physical Review E”, é apresentado um modelo alternativo que não depende mais do emaranhamento para produzir a assimetria necessária para que a ave se oriente. “Eliminamos essa restrição de imobilidade e de rotação do pássaro”, explicou o pesquisador. “Definimos uma interação, que é chamada de interação dipolo-dipolo, entre elétrons de pares de radicais químicos. Numa molécula só essa interação é muito fraca, mas há muitas moléculas, e a resultante acaba sendo muito importe. Há um efeito acumulado”, disse. “Então, é isso que vai definir esse referencial para o pássaro”. Fotos: Antoninho Perri

A maneira como aves migratórias, entre as quais os pombos, interagem com o campo magnético da Terra para guiar o voo é tema de um dos artigos

BÚSSOLA DOS PÁSSAROS O segundo artigo publicado recentemente com assinatura de Marcos – agora, em parceria com o aluno de doutorado do IFGW, Alejandro Carrillo, e do físico Marcio Cornélio, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) –, trata da questão de como as aves migratórias interagem com o campo magnético da Terra para guiar o voo.

Pesquisadores do IFGW assinam dois artigos nos periódicos “Physical Review Letters” e “Physical Review E”

O físico Marcos César Oliveira: segundo o pesquisador, um dos trabalhos reforça a interpretação da discórdia quântica como “uma medida da perturbação de um estado sob medição”


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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015

Metais contaminam canteiros de 3 rodovias, revela pesquisa Dom Pedro I, Anhanguera e Bandeirantes têm concentrações acima do que estabelece a legislação Fotos: Divulgação

Dispositivos para medição usados na pesquisa nas rodovias Bandeirantes, Dom Pedro I e Anhanguera

Foto: Antoninho Perri

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

rês das principais rodovias do Estado de São Paulo que dão acesso a Campinas têm o solo contaminado por elementos potencialmente tóxicos, apontou pesquisa inédita desenvolvida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. Em algumas amostras, elementos como o cromo (Cr) e o chumbo (Ch), definidos como metais pesados, estão presentes em elevadas concentrações nos canteiros centrais das rodovias Anhanguera (SP 330), Bandeirantes (SP 348) e Dom Pedro I (SP-65). O estudo também identificou a presença de elementos como vanádio (V), níquel (Ni), cobre (Cu), zinco (Zn) e arsênio (As), em concentrações menores, que não indicam propriamente uma contaminação, mas servem como alerta. Neste caso, também foram detectadas concentrações na rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), que liga Campinas a Cosmópolis, passando por Paulínia. Para o autor da pesquisa, o tecnólogo em saneamento ambiental Felippe Benavente Canteras, os resultados do estudo são preocupantes do ponto de vista ambiental, com riscos potenciais à saúde da população, à fauna e flora. Ele esclarece que os elementos presentes nestas rodovias podem ser dispersos pela ação da chuva e do vento, atingindo o lençol freático e plantações próximas às margens das rodovias. Felippe Canteras alerta também que trabalhadores das rodovias e mesmo os motoristas que trafegam por elas podem sofrer com a presença destes metais. “As partículas presentes nos solos destas rodovias não são inertes. É engano considerar que não apresentam riscos à população, à fauna e flora. Estes elementos tóxicos, presentes na forma de material particulado, são suspensos pela ação vento, carregados por distâncias muito longas ou podem até mesmo alcançar o trato respiratório da população que passa por ali. E, com a chuva, isso pode contaminar o lençol freático também.” O tecnólogo ambiental formado pela Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp atenta para o fato de alguns destes elementos identificados em seu estudo serem cumulativos. Por isso, ele afirma que sua pesquisa fornece dados importantes para a tomada de decisão dos órgãos de fiscalização no sentido de identificarem as fontes poluidoras e estabelecerem intervenções de modo a não haver aumento nas concentrações dos metais pesados. “De modo geral, os resultados servem como alerta, na medida em que a ação do homem, possivelmente, a poluição de automóveis e de indústrias do entorno interferem naquele ambiente. Portanto, um trabalho que deveria ser feito pelos órgãos competentes, a partir dos apontamentos da pesquisa, é a identificação das fontes dessa poluição. É fato que existe uma poluição atingindo o solo e os próprios elementos em maior concentração revelam isso”, sugere o pesquisador. As presenças do zinco e chumbo no solo denunciam um tipo de contaminação característica do tráfego de veículos, revela. “O zinco está muito ligado à queima do etanol. É um elemento presente nos tanques de armazenamento. A questão do controle veicular se limita muito aos gases, mas o carro

Publicação Tese: “Determinação de elementos potencialmente tóxicos em solos superficiais localizados nos canteiros centrais das principais rodovias de acesso da cidade de Campinas (SP), empregando Fluorescência de Raios X: Dispersão por Energia e Reflexão Total” Autor: Felippe Benavente Canteras Orientadora: Silvana Moreira Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Financiamento: Capes e CNPq

A orientadora da tese, professora Silvana Moreira, e seu autor, Felippe Benavente Canteras: resultados preocupantes do ponto de vista ambiental e de saúde pública

Amostras recolhidas em rodovias: altas concentrações de cromo e chumbo, classificados como metais pesados

não emite só aquilo que é volátil e vai para a atmosfera. Obviamente há o desgaste de peças. Outro caso é o do chumbo, que deixou de ser usado como aditivo de gasolina, mas ainda está presente no diesel assim como o enxofre. Temos também o enxofre, presente no diesel brasileiro. Portanto, outros estudos devem ser feitos a fim de precisar com detalhes os indicativos do meu trabalho”, salienta. Felippe Canteras informa que a concentração dos elementos foi comparada com a legislação sobre qualidade dos solos estabelecida pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) do Estado de São Paulo. De acordo com ele, a legislação estabelece três faixas de valores máximos orientadores da qualidade do solo: valores de referência de qualidade; valores de prevenção; e valores de intervenção, que já apontam uma contaminação. Com base na legislação da Cetesb, os resultados dão conta que as concentrações de cromo na rodovia Anhanguera ultrapassaram os valores de intervenção. Na Rodovia dos Bandeirantes e na Dom Pedro I as concentrações de cromo também excederam o valor de intervenção. Quanto ao chumbo, na rodovia Dom Pedro I foram observados valores acima dos de intervenção. Além disso, apenas o vanádio, na Rodovia dos Bandeirantes, não apresentou concentrações acima do valor de qualidade. Todos os outros elementos tiveram, ao menos, uma amostra com resultados acima dos valores de referência de qualidade. “Fizemos cinco coletas entre os anos de 2012 e 2013. Em cada local foram realizadas vinte perfurações para que aquela amostragem garantisse uma representatividade. O objetivo destas amostras foi avaliar o perfil superior do solo, a sua primeira camada. Nestas determinações conseguimos detectar os principais elementos de composição do solo e alguns ele-

mentos de interesse ambiental, característicos de contaminação. Separamos os elementos de interesse ambiental e fizemos uma avaliação mais aprofundada”, relata o pesquisador. Os elementos potencialmente tóxicos foram identificados por meio de duas técnicas de Fluorescência de Raios X, que se complementaram no estudo: Dispersão de Energia (ED-XRF) e Reflexão Total com Excitação por Radiação Síncrotron (SR-TXRF). A pesquisa, apresentada como tese de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da FEC, foi orientada pela professora Silvana Moreira, que atua no Departamento de Saneamento e Ambiente da Unidade. Silvana Moreira coordena há mais de 10 anos projetos de pesquisas sobre o tema. Ela explica que a transferência de poluentes atmosféricos para o solo, principalmente material particulado, ocorre por meio de deposição seca e úmida. “A deposição seca ocorre quando os poluentes se sedimentam no solo. Dessa forma, o vento e os processos de difusão gasosa são os responsáveis pelo transporte desse material para a superfície terrestre. A deposição úmida, por sua vez, ocorre na presença de chuva, que arrasta esse material para o solo.”

TÉCNICAS

Para fazer a identificação por meio das técnicas de Fluorescência de Raios X, o pesquisador da Unicamp contou com a colaboração do professor José Laércio Favarin, do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP); e do físico Carlos Alberto Pérez, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Na Esalq, foram viabilizadas as medidas por Dispersão de Energia; e no Laboratório Síncrotron, as medidas de Reflexão Total com excitação por Radiação Síncrotron. A orientadora Silvana Moreira destaca, dentre as duas técnicas, que o uso da radiação Síncrotron permite a detecção de vários elementos em uma única medida. Outra vantagem é que se pode obter uma sensibilidade analítica alta, permitindo quantificar elementos em níveis bastante reduzidos. Já a técnica por Dispersão de Energia, mais convencional, apresenta limite de detecção de elementos, mas, por outro lado, possui simplicidade operacional, exigindo preparação prévia mínima para as amostras. A Fluorescência de Raios X (FRX) é baseada na irradiação de uma amostra por um feixe primário de raios X. Os átomos da amostra, excitados por esse feixe primário, emitem raios X secundários, que podem ser detectados e gravados como espectros. Este tipo de metodologia destaca-se pelo fato de ser multielementar e não destrutiva. Há ainda a possibilidade de aplicação em diversos tipos de amostras, como sólidas, líquidas e pós. O estudo contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


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Campinas, 24 a 30

Tese analisa impactos regionais

De acordo com estudo do Instituto de Economia, São Paulo é LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Brasil está sofrendo um processo de desindustrialização? Há controvérsias. Em tese de doutorado defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, o economista Daniel Pereira Sampaio avalia autores que discordam e outros que concordam com esta qualificação, a partir de várias perspectivas teóricas: dos descrentes no fenômeno, dos ortodoxos, da doença holandesa como sua causadora e de outros autores heterodoxos (com ênfase nos estruturalistas). Intitulada “Desindustrialização e impactos regionais no Brasil”, a tese teve a orientação do professor Fernando Cézar de Macedo Mota, no âmbito do Centro de Estudos de Desenvolvimento Econômico (Cede) do IE. Considerando a controvérsia, Daniel Sampaio adota a visão “estruturalista” para afirmar que o país está se desindustrializando, sim, ainda que denomine este processo de “relativo”, explicando-o pelo aumento do gap tecnológico em relação às economias desenvolvidas, pela quebra de elos em cadeias produtivas e pela substituição do produto final nacional pelo importado. Em sua opinião, o processo de desindustrialização em marcha apresenta efeitos regionais e setoriais distintos, com duplo efeito sobre a economia paulista, que possui o parque produtivo mais diversificado e a maior parte dos setores modernos, assim como pela rearticulação de um sistema produtivo nacional que tem em São Paulo seu centro mais dinâmico. O economista lembra que a discussão sobre a desindustrialização no país vem se desenvolvendo desde a década de 1980, mas de forma espaçada, sem um debate estruturado como visto nos países desenvolvidos a partir dos 60. “Até onde alcançamos com a revisão da literatura, considero que Pierre Salama (1987) foi o primeiro texto sobre o tema aplicado ao Brasil. Mas o debate contemporâneo sobre a desindustrialização no Brasil tem início com um documento da Unctad [Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento] de 2003, o ‘Trade and Development Report’. Podemos pensar que a discussão veio de fora, mas o presidente da Unctad na época era um brasileiro, Rubens Ricúpero, que escreveu artigos a respeito”. O autor da tese ressalta que este relatório destacou Brasil e Argentina como países desindustrializados, que quebraram o elo de suas cadeias produtivas e passaram por um processo de desarticulação da indústria erigida no modelo de industrialização por substituição de importações. “A controvérsia ganhou fôlego em 2005, quando Bresser Pereira publicou coluna na Folha de S. Paulo pregando que a desindustrialização brasileira era causada pela ‘doença holandesa’: a ideia de que exportar recursos naturais abundantes no país leva a uma apreciação cambial, trazendo muitos dólares para a economia e tornando a moeda local valorizada. Bresser observou este movimento no período de 2003 até 2008, com aceleração da exportação de commodities e concomitante valorização do real”. Sobre os desdobramentos do debate, Sampaio recorda que, ainda em 2005, aconteceu um seminário internacional da Fiesp/Iedi (Federação da Indústrias do Estado de São Paulo e Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que resultou num conjunto de textos acadêmicos abrindo outras posições no debate. “São textos como de Gabriel Palma (Cambridge), Régis Bonelli (FGV-RJ), Júlio Sergio Gomes de Almeida (Unicamp) e Maria Carmen Feijó (Federal Fluminense) e da Fiesp/Iede. A variedade de perspectivas coloca a ‘controvérsia da desindustrialização’ como um capítulo particular e ainda com desdobramentos na história do pensamento econômico brasileiro e latinoamericano.”

É reconhecido na literatura, segundo o economista, que a indústria foi deixada em segundo plano dentre as prioridades da política econômica, sendo que outras agendas foram priorizadas, como da democratização (Constituição de 88), da reforma do Estado e da estabilização monetária. “Outro elemento que impacta a indústria local é uma taxa de juros elevadíssima, com investidores locais e internacionais alocando seu capital para obter uma valorização mais pujante no setor financeiro.” O pesquisador acrescenta que logo na sequência do seminário Fiesp/Iede vieram textos negando o processo de desindustrialização. “Autores dessa vertente argumentam que embora a indústria diminua a sua participação no PIB no longo prazo, ela não deixa de crescer, mesmo que em taxas baixas; e que não há uma mudança substancial na estrutura industrial brasileira, à exceção do setor de refino de petróleo, que é de direção estatal. Porém, entre eles, alguns reviram seu posicionamento diante dos impactos da crise mundial de 2008.”

Fábrica fechada na região de Campinas: segundo o autor da pesquisa, os debates acerca da desindustrialização no país tiveram início na década de 1980

GRUPOS E SUBGRUPOS Depois dos descrentes no fenômeno, e tendo classificado os autores que alimentam a controvérsia em quatro grupos, Daniel Sampaio segue avaliando a posição dos ortodoxos, que acreditam na ocorrência do fenômeno no Brasil, mas em períodos determinados. “Eles sustentam que o problema não é estrutural, mas conjuntural, e coincide com o momento de estabilização monetária e depois com o governo Lula. Ademais, os ortodoxos partem do modelo de crescimento de Solow, que prioriza o aumento da produtividade, independentemente do setor em que isso aconteça – se industrial, de serviços ou agrícola. Por isso, a indústria não teria tanta importância.” O terceiro grupo avaliado pelo economista é de autores heterodoxos que atribuem a causa da desindustrialização à “doença holandesa”, qual seja: a tendência de valorização da moeda nacional por conta da abundância de recursos naturais voltados para a exportação. “Eles veem a desvalorização cambial como mecanismo essencial para promover o desenvolvimento industrial e acreditam que esse elemento seria suficiente para realizar um ajuste automático, como um interruptor. Tocam em problemas centrais, mas dão pouca ênfase a aspectos microeconômicos e territoriais”.

Ao tratar de um grupo maior que denomina de “outros autores heterodoxos”, Sampaio recorre a nova subdivisão, incluindo na primeira as entidades públicas e privadas, como Fiesp e Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). “A Fiesp produz uma infinidade de textos e promove seminários para discutir e propor soluções que impactem em melhorias na competitividade da indústria. O Dieese, por sua vez, traz outra preocupação: se a indústria é o setor com a capacidade de criar empregos de melhor qualidade e maiores salários, a desindustrialização vai eliminar ou reduzir o peso desses postos de trabalho”. Dentro desta subdivisão dos heterodoxos, o autor da pesquisa julga que a leitura

feita pelos “neoschumpeterianos” traz posicionamentos que enriquecem o debate, uma vez que analisam a indústria a partir da dinâmica da inovação. “Eles trazem à tona uma discussão com maior ênfase na dinâmica microeconômica e sua interação com a macroeconomia. Destacam, por exemplo, o aumento das disparidades tecnológicas entre as nações, a política industrial, as transformações na organização das corporações transnacionais e as cadeias globais de valor.”

VISÃO

ESTRUTURALISTA

A tese de Sampaio alinha-se com o método e análise da vertente estruturalista, integrada por autores como Wilson Cano,

O economista Daniel Pereira Sampaio, autor da pesquisa: “A variedade de perspectivas coloca a ‘controvérsia da desindustrialização’ como um capítulo particular e ainda com desdobramentos na história do pensamento econômico brasileiro e latinoamericano”


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de agosto de 2015

s da desindustrialização no país

é o Estado mais afetado por ter parque produtivo diversificado Fotos: Antoninho Perri

Legenda da foto principal >> Legenda da foto principal >>

Luiz Gonzaga Belluzzo e Ricardo Carneiro. “Recorrendo à abordagem histórico-estrutural, esses autores argumentam que as causas da desindustrialização remontam à ‘Crise da Dívida’ dos anos 1980, sendo agravada pela rápida abertura comercial e financeira daquela década e pelo Plano Real, e intensificada pelos efeitos da crise internacional de 2008. Tudo o que se construiu no modelo desenvolvimentista que vigorou entre 1930 e meados dos 80 está sendo desmontado: a integração produtiva, a integração regional, o próprio parque produtivo e suas cadeias”. A partir da leitura estruturalista, o pesquisador organizou quatro categorias analíticas de desindustrialização, que permitem a sua avaliação a partir de múltiplas escalas espaciais. “Isso é importante por causa da questão regional, pois São Paulo chegou a concentrar mais da metade da produção industrial nacional, conectando cadeias produtivas pelo país. Porém, fala-se em desindustrialização como se a nossa indústria fosse distribuída de forma homogênea no território, ou seja, sem destacar a elevada heterogeneidade que marca a nossa formação econômica regional”. A primeira categoria foi denominada de desindustrialização absoluta, que significa o fechamento generalizado de unidades locais industriais, com a redução absoluta do número de empregos industriais. “Optamos por não analisar esta categoria, já que teríamos que descer ao nível do município ou do setor industrial, o que fugiria do escopo da pesquisa. É a categoria mais grave, que geralmente serve a autores que não veem desindustrialização no país, visto que confundem este processo somente com a desindustrialização absoluta – como a indústria cresce, inexiste o fenômeno, argumentam”. Conforme Daniel Sampaio, a segunda categoria mais grave já se encontra no plano da desindustrialização relativa, em que

é analisado também o aspecto qualitativo: ela ocorre por meio da substituição do produto final nacional pelo produto importado. “Empresas brasileiras que eram predominantemente industriais estão se tornando predominantemente mercantis. É o caso da empresa que antes fabricava produtos têxteis e agora está importando similares de países asiáticos (com destaque para a China) e usando a marca para expandir sua rede de lojas. O que é extremamente grave, já que se deixa de gerar emprego, renda e progresso técnico na própria indústria e em sua cadeia – e este dinheiro passa a circular em território estrangeiro, contribuindo para o crescimento de outros países”. A desindustrialização pela redução do conteúdo nacional é a terceira categoria observada pelo economista. “Trata-se da utilização crescente no produto brasileiro de insumos, partes, peças e componentes vindos diretamente do exterior. Com isso, a empresa brasileira torna-se paulatinamente uma montadora. Na área de eletrônicos, temos exemplos do que chamamos de perda de elos em cadeias produtivas”. A última categoria é da desindustrialização pelo aumento do gap tecnológico, em que o autor da tese recorre à análise histórica para avaliar o aumento da distância do Brasil em relação à dinâmica tecnológica e produtiva mundial. “Se no período da industrialização substituindo as importações, o país se aproximava dos padrões vigentes nos países desenvolvidos, a ruptura daquele processo – com a crise da dívida, a abertura comercial, políticas restritivas do Plano Real – fez aumentar o gap tecnológico. O mundo realizou sua terceira revolução industrial (da informática e robótica) na década de 80 e já caminha para a quarta (da nano e biotecnologia e das energias renováveis). Ao passo que o Brasil, que sequer realizou a terceira revolução, vê inclusive o parque de máquinas e equipamentos sendo desmontado”.

Publicação Tese: “Desindustrialização e impactos regionais no Brasil” Autor: Daniel Pereira Sampaio Orientador: Fernando Cézar de Macedo Mota Unidade: Instituto de Economia (IE)

Os economistas Wilson Cano (alto), Luiz Gonzaga Belluzzo (centro) e Ricardo Carneiro (acima), da vertente estruturalista: causas da desindustrialização remontariam à “Crise da Dívida” dos anos 1980

QUESTÃO

REGIONAL

No último capítulo da tese, o pesquisador aborda a desindustrialização do ponto de vista regional, a partir da perspectiva da integração nacional. “Há uma desindustrialização mais forte em São Paulo pela própria natureza da industrialização brasileira. O estado perde por ter uma indústria mais complexa, diversificada e com setores tecnologicamente avançados, e também por suas conexões regionais – perde duplamente. Por esta perspectiva vemos outros elementos como a ‘fragmentação espacial’, em que algumas regiões crescem mais que a média do país por se relacionarem diretamente com o exterior; as guerras fiscais, em que municípios e Estados oferecem incentivos fiscais para atrair empresas; e a guerra dos portos, que fazem o mesmo para atrair importações, intensificando o processo de desindustrialização”.

Sampaio julga que sua tese avança em determinados aspectos e lança novas perguntas, concluindo que a desindustrialização ocorre de fato no Brasil e é um dos principais problemas a serem enfrentados no século XXI. “Contudo, não há perspectiva de uma retomada da industrialização, sobretudo com a agenda atual de restrição fiscal. Vejo desenhos de políticas para dar novo fôlego à indústria nacional, como de expansão do consumo, inclusão social, expansão do ensino técnico e superior, financiamento ao desenvolvimento de ciência e tecnologia, expansão da infraestrutura de transportes e incentivos à exportação, dentre outras. Mas a indústria continua fora da agenda prioritária do governo e o empresário também não investe, visto que as expectativas na indústria estão baixas e a riqueza capitalista é alocada em outros circuitos que geram elevados retornos, principalmente o financeiro”.


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Uma grande aula de história SILVIA HUNOLD LARA shlara@unicamp.br

udo começou no Arquivo Nacional de Cuba, há alguns anos, quando uma carta dirigida ao general Máximo Gómez chamou a atenção dos historiadores. Trata-se de um pedido comercial escrito em inglês, datilografado em tinta roxa no papel timbrado de uma firma belga: depois de contar a história de sua família e falar de seus ideais, um comerciante de charutos de Antuérpia chamado Édouard Tinchant solicitava autorização para usar o nome e a imagem do grande líder militar das lutas pela independência de Cuba nas caixas de charutos que ele fabricava. O pedido era incomum e o relato, além da Guerra Cubana pela Independência, mencionava a Revolução Haitiana, a Guerra Civil e a Reconstrução nos Estados Unidos. Rebecca Scott seguiu as pistas fornecidas pelo documento e logo Jean Hébrard juntou-se a ela para puxar os fios que os levaram a uma interessantíssima pesquisa e a produzir esse livro excepcional, que já recebeu muitos prêmios. Provas de liberdade conta os esforços de Rosalie, escravizada por volta de 1785 na Senegâmbia e levada para Saint-Domingue (depois Haiti), para se libertar e manter seus filhos fora da escravidão. Sua história e a de sua família, por cinco gerações, envolvem eventos cruciais na África, na América e na Europa do final do

século XVIII até a Segunda Guerra Mundial. Nessa odisseia que atravessa o Atlântico várias vezes, todos lutaram para manter a dignidade e o respeito, desafiando o preconceito racial e a exclusão, cultivando os laços que uniam os vários descendentes e valorizando as escolhas dos antepassados. A narrativa, simples e cativante, está baseada em uma pesquisa detalhada e extensa, e consegue discutir com grande acuidade e rigor histórico questões complexas como a luta por direitos em diferentes contextos jurídicos numa época de grandes transformações sociais. O texto consegue mesclar vários níveis de análise. O que está em primeiro plano é a defesa da liberdade – desde a ação individual de Rosalie, passando pelos discursos em prol dos direitos civis das mulheres proferidos por seu neto na Convenção Constitucional da Luisiana, até o drama de uma noiva para sobreviver nos campos de concentração nazistas. Mas essa é também uma história da construção de direitos: de ser livre, de ir e vir, de casar e ter filhos, de viver e sobreviver, de votar e ser votado. As ações dos vários membros da família, em circunstâncias diversas, mostram que os contornos e os limites da cidadania não eram fruto apenas de artigos constitucionais, mas de atitudes e estratégias que testavam e punham à prova definições legais e jurídicas. Tais aspectos, presentes em outras narrativas históricas, ganham aqui proporções ainda mais significativas, pois envolvem contextos racializados. No mundo

escravista e nas sociedades do período pós-abolição, nas Américas e na Europa, a liberdade e a cidadania eram ainda mais difíceis e precárias para os descendentes de africanos. Nesse contexto, as lutas por direitos civis se entrelaçavam àquelas que buscavam a igualdade racial. Mas há ainda a dimensão econômica. Os modos de vida e os negócios familiares organizados em torno da fabricação e do comércio de charutos no circuito atlântico e europeu permitem ultrapassar os episódios da vida doméstica. Descortina-se, assim, uma rede comercial de longa distância por meio da qual a fama dos charutos cubanos foi inventada e reinventada várias vezes. Os esforços de vários membros da família para provar a condição de livres, defender seus direitos de cidadania e manter firmas comerciais sólidas constituem o pano de fundo para uma reflexão arguta sobre as condições da pesquisa histórica e sobre o lugar dos documentos na vida das pessoas. A cada passo, a cada viagem pelo Atlântico, a trajetória da família precisou ser registrada e contada – e Rebecca Scott e Jean Hébrard mostram como esses papéis serviram de guia para a história que narram. Por tudo isso, Provas de liberdade é uma grande aula de história. Uma obra magistral, de interesse tanto para estudiosos das ciências humanas, como para leitores não especializados. Silvia Hunold Lara é professora do Departamento de História do IFCH-Unicamp.

SERVIÇO Título: Provas de Liberdade – Uma odisseia atlântica na era da emancipação Autores: Rebecca J. Scott e Jean M. Hébrard Tradução: Vera Joscelyne Editora da Unicamp Páginas: 296 Área de interesse: História Preço: R$ 68,00

Pesquisa explora potencial da vassourinha Cientistas do CPQBA realizam caracterização genética de variedades da espécie Foto: Antoninho Perri

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

onhecida como vassourinha-docampo ou alecrim-do-campo, a Baccharis dracunculifolia, um arbusto que se encontra facilmente na beira de estradas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, é comumente vista como uma espécie invasora em pastagens brasileiras, mas diversos estudos, realizados no país e no exterior, têm revelado o grande potencial da planta em áreas que vão da medicina à conservação ambiental. No Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, a doutoranda Camila M.B. Belini, da Unesp Botucatu, realizou uma série de experimentos, incluindo o cultivo e a caracterização genética de variedades da espécie encontradas em diferentes altitudes do Estado de São Paulo, a fim de iniciar o processo de melhoramento para o cultivo. A planta já tem valor econômico reconhecido: tanto suas folhas são fonte de um óleo essencial aromático, como também a própolis verde, produzida por abelhas que visitam a B. dracunculifolia, é exportada para diversos países. O “Brazilian green propolis” (“própolis verde brasileiro”), como é conhecido no exterior, tem sido alvo de pesquisas, principalmente no Japão, por conta de suas propriedades medicinais. A produção de própolis verde para exportação acontece principalmente no município de Bambuí, Minas Gerais. “É importante a gente ter o conhecimento de como cultivar a espécie e extrair os produtos dela, para evitar o extrativismo, que pode levar à sua extinção”, disse Camila. A pesquisadora Glyn Mara Figueira, do CPQBA, coorientadora da tese de doutorado da Camila, acrescenta: “Para muitos agricultores, o alecrim-do-campo é uma praga de pastagem e por isso o removem, porém seu cultivo torna-se importante para extração do óleo essencial, produção da própolis verde e recuperação de áreas degradadas e contaminadas”.

Glyn Mara Figueira, coorientadora do trabalho, e a pesquisadora Camila Belini em área de cultivo da vassourinha, no CPQBA: aplicabilidade em vários campos

“O alecrim não tem só o uso para produção da própolis verde”, lembrou a coorientadora. “Ele é aromático, produz um óleo essencial que tem um grande interesse para a indústria de fragrâncias, além do seu potencial antimicrobiano. Há uma tese, defendida em Minas Gerais, que diz que ela pode ser usada na biorremediação de solo, porque sequestra metais pesados. Então, é uma planta que tem potencial amplo”. As pesquisadoras lembram que o alecrim-do-campo é uma planta pioneira, que cresce rapidamente e tem uma semente muito leve, que se espalha com facilidade. “Você planta numa área e ela já vai colonizando tudo”, disse Camila, reiterando o potencial da espécie na recuperação de áreas degradadas. “É uma planta importante, por tudo isso que oferece, em produtos e em importância ecológica”. Em seu trabalho, Camila coletou sementes da B. dracunculifolia em diferentes alti-

tudes do território paulista – em Ubatuba; na região de Campinas; e em Campos do Jordão. As populações naturais foram analisadas química e geneticamente em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas e ESALQ/USP. Foi instalado um teste de procedências e progênies (descendência) no campo experimental do CPQBA para o processo de seleção e melhoramento da espécie. No experimento de campo foram cultivadas 1.800 plantas que foram colhidas, pesadas e caracterizadas. “A gente avaliou o rendimento do óleo essencial e a capacidade de rebrota”, disse Camila. A análise avaliou o conteúdo de trans-nerolidol, o principal composto do óleo essencial presente nas folhas, que é usado na indústria alimentícia e de perfumes. “Vimos que as plantas provenientes de Campos do Jordão, cultivadas em Campinas, eram mais abundantes em trans-nerolidol do que as outras”, acrescentou a pesquisadora.

“Isso mostra, então, que o esse composto não é influenciado pelo ambiente, e sim é uma característica genética”, disse Glyn, já que os acessos de Campos do Jordão, cultivados em Campinas, mostraram-se mais produtivos. “A capacidade de rebrota revelou uma técnica importante para o ganho de massa foliar, que já foi repassada aos produtores da própolis verde”, acrescentou. “Porque, à medida que cresce, em condições naturais, o alecrim-do-campo tem uma maior proporção de galhos que de folhas. Um dos seus nomes populares, vassourinha, é porque antigamente as pessoas a utilizavam como vassoura”, explicou. A coorientadora explica ainda que tanto o óleo essencial como a resina usada pelas abelhas são retirados das folhas do alecrim. Esses dois processos ocorrem em momentos diversos, o que permite que uma mesma plantação seja usada para os dois fins. “O óleo é retirado na época da floração, mas a abelha prefere visitar a planta em outro momento, quando as folhas estão novas, para a produção da própolis verde”, disse ela. “Então, na verdade, esses produtos são complementares”.

GENÉTICA A análise genética realizada até agora, explicam as pesquisadoras, foi suficiente para distinguir entre as diferentes populações de alecrim-do-campo, mas um trabalho mais aprofundado é necessário para buscar os genes responsáveis pelas características desejadas – seja a capacidade da planta de regenerar solos contaminados, seja a produção de quantidades maiores de óleo essencial ou de resina para as abelhas. O trabalho faz parte da tese de doutorado de Camila, “Conservação e avaliação da composição de óleo essencial e diversidade genética de populações naturais e avaliação na produtividade em teste de procedências e progênies de Baccharis dracunculifolia dc. (Asteraceae)”, que será defendida na Unesp no fim de agosto, tendo como orientadora a pesquisadora Marcia Ortiz Mayo Marques, da Faculdade de Ciências Agronômicas do campus de Botucatu da Unesp. A pesquisa contou com apoio da Fapesp.


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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015

Em busca de um novo alvo para o combate do diabetes Fotos: Antonio Scarpinetti

Pesquisa do IB investiga efeitos do exercício físico na remoção da insulina presente no sangue MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisa desenvolvida em modelo animal para a dissertação de mestrado da biomédica Mirian Ayumi Kurauti, defendida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, constatou que a realização de exercícios físicos contribui para reduzir os níveis do hormônio insulina no sangue de camundongos obesos. Segundo o estudo, as atividades físicas concorrem tanto para a redução da secreção do hormônio pelo pâncreas quanto para o aumento da remoção da insulina presente no plasma, processo denominado clearance. O trabalho, executado no Laboratório de Pâncreas Endócrino e Metabolismo do IB, teve a orientação do professor Antonio Carlos Boschero. A alta concentração de insulina no sangue, classificada como hiperinsulinemia, é um dos fatores associados à obesidade e ao diabetes do tipo 2. De acordo com a autora da dissertação de mestrado, este excesso de insulina no sangue pode induzir resistência do organismo ao hormônio, prejudicando a sua ação. A principal função da insulina no organismo é reduzir a concentração de açúcar no sangue. Portanto, uma deficiência da produção e/ou ação desse hormônio aumenta os níveis de açúcar no sangue, o que caracteriza o diabetes. “Nosso objetivo foi buscar evidências que possam vir a contribuir para a formulação de um possível tratamento para o combate a doenças relacionadas à hiperinsulinemia, como a obesidade e o diabetes tipo 2”, explica. Nesse sentido, prossegue Mirian, ela decidiu investigar o mecanismo por meio do qual o exercício físico ajuda a combater a hiperinsulinemia em camundongos obesos, prevenindo consequentemente a resistência do organismo à insulina. “A atividade física é indicada por médicos e educadores físicos para pacientes obesos e diabéticos. A ciência tem bem registrados os benefícios que isso traz para as pessoas, inclusive em relação à prevenção de doenças cardiovasculares. Já é sabido, por exemplo, que o exercício reduz a secreção do hormônio pelo pâncreas. Entretanto, não havia qualquer estudo que associasse a atividade física com o aumento da remoção da insulina no plasma em obesos”, afirma. O clearance de insulina, esclarece a biomédica, ocorre principalmente no fígado, mas também pode ocorrer em outros tecidos responsivos à insulina, como o músculo. O processo acontece da seguinte forma. O hormônio é inicialmente captado pelas células do órgão. Em seguida, uma enzima denominada IDE [Insulin Degrading Enzyme, em inglês], promove a sua degradação. “No estudo, nós avaliamos a função do exercício físico sobre a modulação do clearance de insulina e da expressão dessa enzima, que é fundamental nesse processo”, reforça Mirian.

Publicação Tese: “O exercício físico agudo reduz a insulinemia através da redução da secreção e aumento do clearance de insulina em camundongos obesos” Autora: Mirian Kurauti Orientador: Antonio Carlos Boschero Unidade: Instituto de Biologia (IB)

Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a prática de atividades físicas orientadas, de intensidade moderada, durante meia hora por dia, é suficiente para que a pessoa deixe de ser sedentária

Entidade sugere meia hora/dia de exercícios Na pesquisa que desenvolveu para a sua dissertação de mestrado, a biomédica Mirian Ayumi Kurauti constatou que os exercícios físicos contribuem para reduzir os níveis de insulina no sangue, ao submeter camundongos a uma única sessão de exercício físico. A autora do trabalho alerta, porém, que essa prática não é recomendada para seres humanos. “Na minha pesquisa, o que eu fiz foi uma prova de conceito. No caso da prática de exercícios físicos por parte das pessoas, o recomendável é que eles sejam de intensidade moderada, distribuídos ao longo da semana”, adverte. A indicação de Mirian encontra amparo nas orientações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). De acordo com a entidade, a prática de atividades físicas orientadas, de intensidade moderada, durante meia hora por dia, é suficiente para que a pessoa deixe de ser sedentária. Os 30 minutos, conforme a SBEM, podem ser contínuos ou divididos em três períodos de 10 minutos cada. “Quando se fala em exercícios, o mais importante é que você pratique alguma atividade que se adapte ao seu estilo de vida e que seja do seu agrado. Caso contrário, são muitas as

chances de interrupções. Pequenas modificações no hábito diário – como subir escadas, saltar do ônibus um ponto antes, passear com cachorro, varrer, cuidar do jardim, lavar o carro etc. – podem ajudá-lo a se movimentar mais e servir como um estímulo para o início de uma atividade física diária”, destaca a entidade em sua página eletrônica. Os efeitos benéficos da atividade física, continua a SBEM, ocorrem para as pessoas que se exercitam com regularidade. Aqueles com IMC entre 25 e 30 (sobrepeso), nestas condições, podem ter um risco menor de desenvolver diabetes e outras doenças metabólicas do que os sedentários. De acordo com o United States Departament of Health and Human Services, é importante que os adultos pratiquem duas horas de atividades anaeróbicas (musculação localizada) por semana, além dos 30 minutos de caminhada intensa por dia. Nos casos de pessoas com diabetes, hipertensão, obesidade e com problemas no metabolismo ósseo, por exemplo, é preciso ter um cuidado especial na escolha dos exercícios a praticar. Nestes casos, é imprescindível o acompanhamento de um profissional.

Os testes foram feitos em camundongos. A biomédica utilizou três grupos de animais: controle, obesos sedentários e obesos exercitados. Os dois últimos tiveram a obesidade induzida através de uma alimentação hiperlipídica, ou seja, rica em gordura. “Nós avaliamos diversos parâmetros e verificamos a redução da concentração de açúcar no sangue e a melhora da sensibilidade à insulina nos camundongos obesos submetidos a uma única sessão de exercício físico, durante três horas, em esteira. Também constatamos a redução da secreção da insulina pelo pâncreas”, relaciona. Parte dos resultados, observa a autora da dissertação de mestrado, era esperada, em razão dos registros presentes na literatura. “No entanto, a constatação mais importante da pesquisa, e que ainda não havia sido investigada, é que a atividade física também contribui para aumentar a remoção da insulina no sangue, provavelmente através do aumento dos níveis da enzima IDE no fígado e no músculo de camundongos obesos. Agora, precisamos avançar em relação a essa questão. Nosso desafio é descobrir quais mecanismos moleculares estão envolvidos na geração desse efeito”, adianta a biomédica. O que está no horizonte da pesquisa, conforme Mirian, é definir um eventual novo alvo terapêutico. “Se nós identificarmos qual molécula é modulada pelo exercício físico, poderemos, por hipótese, desenvolver um fármaco que module igualmente a expressão dessa molécula. Isso seria especialmente positivo para obesos e diabéticos que precisam realizar atividades físicas, mas que não podem fazê-lo por causa de algum tipo de impedimento”, pormenoriza a biomédica. Essa busca já está sendo cumprida pela pesquisadora, que iniciou o doutorado no IB. Paralelamente ao estudo que sustenta a tese, Mirian desenvolve uma pesquisa que objetiva justamente identificar que molécula é modulada pelo exercício físico e que leva ao aumento da principal enzima que degrada a insulina, a IDE. “Encontrei uma forte candidata, que é uma molécula secretada pelo músculo quando este entra em contração. Trata-se da Interleucina 6, que é uma citocina. Eu avaliei o comportamento da molécula durante o exercício físico em camundongos magros, divididos em três grupos: sedentários, exercitados e exercitados com inibição da Interleucina 6. Quando inibimos a molécula, percebemos que a IDE não aumenta nos camundongos exercitados”, pormenoriza a biomédica. Em outras palavras, quando inibida, a molécula não reduz os níveis de insulina no organismo. “Uma vez identificada essa candidata, abrimos caminho para investigar que mecanismos essa molécula utiliza para aumentar a expressão da enzima que degrada o hormônio. Vale reafirmar que essa abordagem é nova na ciência. A maioria dos tratamentos foca ou na secreção da insulina pelo pâncreas ou na ampliação da sensibilidade do organismo ao hormônio”, completa a biomédica, que contou com bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A biomédica Mirian Kurauti, autora da dissertação de mestrado: “A constatação mais importante da pesquisa, e que ainda não havia sido investigada, é que a atividade física contribui para aumentar a remoção da insulina no sangue”


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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015

“Os documentários de Geraldo Sarno (1974-1987): sertão, poesia e religiosidade” (mestrado). Candidato: Felipe Corrêa Bomfim. Orientador: professor Gilberto Alexandre Sobrinho. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala 2 da Pós-graduação do IA. “Eros & Thanatos: uma análise dos elementos harmônicos e motívicos da derradeira obra de Arno Roberto von Buettner” (mestrado). Candidato: Luis Giovelli. Orientadora: professora Lenita Waldige Mendes Nogueria. Dia 27 de agosto de 2015, às 14h30, na sala 41 do IA.  Biologia - “Efeito das mudanças no nível da precipitação sobre o funcionamento de ecossistemas nas bromélias fitotelmatas” (mestrado). Candidato: Sandra Benavides Gordillo. Orientador: professor Gustavo Quevedo Romero. Dia 28 de agosto de 2015, às 13h30, na sala IB11 do prédio da Pós-graduação do IB.  Ciências Médicas - “Avaliação do risco de lesões no ombro em indivíduos tetraplégicos atletas e sedentários” (doutorado). Candidato: Giovanna Ignácio Subirá Medina. Orientador: professor Alberto Cliquet Junior. Dia 24 de agosto de 2015, às 10 horas, no prédio da CPG da FCM. “Avaliação da função renal em pacientes com carcinoma de cabeça e pescoço tratados com cisplatina: comparação entre o método do EDTA-51Cr e o clearance de creatinina estimado” (mestrado). Candidata: Camila Mosci. Orientador: professor Celso Radio Ramos. Dia 25 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da Radiologia da FCM.

Painel da semana  Transformações da Matriz Energética Global – Convergências Estratégicas entre Brasil/EUA/ China - Fórum acontece no dia 24 de agosto, das 9 às 18 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (PENSES), o evento tem como objetivo discutir os desafios colocados pelas transformações da matriz energética global e examinar propostas de políticas para enfrentá-los, no âmbito das relações do Brasil com os EUA e com a China. O Fórum é gratuito. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.gr.unicamp.br/penses/forum_matriz_energetica/  Música nos Hospitais - No dia 26 de agosto, às 12h30, no Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” (Caism), o SAE Ação Cultural organiza uma apresentação musical com Erivan Duarte e Eddy Andrade. O evento faz parte do projeto Música nos Hospitais. Concebido no início de 2011 dentro do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, o duo apresenta releituras de clássicos do jazz e da bossa nova. Com formação instrumental de violão e contrabaixo, no repertório são abordados compositores consagrados como Tom Jobim, Moacir Santos, João Donato, Bill Evans, Miles Davis, entre outros. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-7393 ou e-mail everaldo@sae.unicamp.br  Simetria - No dia 27 de agosto, às 16 horas, no auditório do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), o professor José Brum (IFGW) ministrará colóquio sobre conceito de Simetria e como podemos aplicá-lo para entender o mundo material. Mais detalhes pelo e-mail orlando@ifi.unicamp.br  Encontro de novos docentes e pesquisadores da Unicamp - Evento acontece no dia 28 de agosto, às 14h30, no Auditório II da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (APFU). Participam docentes e pesquisadores admitidos no período de 1º de julho de 2014 a 30 de junho de 2015.  UPA - O evento “Unicamp de Portas Abertas (UPA)” 2015 será realizado no sábado, dia 29 de agosto. Veja todos os detalhes na página eletrônica http://www.upa.unicamp.br/  Imagens médicas e processamento de sinais - Até 30 de agosto. Este é o prazo para quem deseja enviar trabalhos para o VII Simpósio de Instrumentação e Imagens Médicas e para o VI Simpósio de Processamento de Sinais da Unicamp. As principais áreas de pesquisa envolvidas no evento são: Engenharia Biomédica e Processamento de Sinais. O Simpósio de Instrumentação e Imagens Médicas está sob a organização do professor Eduardo Tavares Costa. Já o de Processamento de Sinais está sob a responsabilidade do docente Romis Ribeiro de Faissol Attux. Os eventos ocorrem no dia 21 de outubro. Mais detalhes pelo linkhttp://www.sps.fee.unicamp.br/ ou telefone 19-3521-3704.  Prêmio Paepe - Até 31 de agosto estarão abertas as inscrições para o Prêmio aos Profissionais da Carreira Paepe. Iniciativa da Reitoria da Unicamp, o prêmio visa contemplar anualmente os servidores técnicos e administrativos que se destacam por meio de iniciativas e projetos que contribuam para a melhoria da Universidade. Serão premiados trabalhos nas categorias de melhor projeto da unidade/órgão ou grupo de unidades/órgãos e melhor projeto da universidade. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail prepaepe@unicamp.br ou no sitewww.dgrh.unicamp.br/ premiopaepe  Obras raras - Em comemoração ao Ano Internacional da Luz, a Diretoria de Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL) está organizando uma mostra de livros e periódicos que retratam a luz e seus desdobramentos na ciência, tecnologia, arte, cultura, natureza e cotidiano. A mostra é composta por 16 livros e 14 periódicos especiais e raros. Visitas podem ser feitas no 3º andar da BCCL, 9 às 17h30, ate o final de agosto. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6468 ou e-mail mira@unicamp.br

Teses da semana  Artes - “O papel do contraponto no desenvolvimento da harmonia: uma abordagem a partir do baixo contínuo italiano do século XVII” (doutorado). Candidato: Gustavo Angelo Dias. Orientadora: professora Helena Jank. Dia 25 de agosto de 2015, às 14 horas, no IA. “Um estudo comparativo entre os processos de leitura textual e leitura musical através da audição” (mestrado). Candidata: Maria Lucila Guimarães Junqueira. Orientador: professor José Eduardo Fornari Novo Junior. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, no NICS. “A parte invisível do olhar audiodescrição no cinema: a constituição das imagens por meio das palavras - uma proposta de educação visual para a pessoa com deficiência visual no cinema” (mestrado). Candidata: Isabel Pitta Ribeiro Machado. Orientador: professor Nuno Cesar Abreu. Dia 26 de agosto de 2015, às 14h30, na sala 3 da Pós-graduação em Multimeios do IA. “Uma breve história da mixagem: origem, técnicas, percepção e futuros avanços” (mestrado). Candidato: Danilo Vieira Granato de Araújo. Orientador: professor José Eduardo Fornari Novo Junior. Dia 27 de agosto de 2015, às 10 horas, no Departamento de Pósgraduação do IA. “Procedimentos para reformar um corpo: alternativas performáticas para corpos e objetos” (mestrado). Candidato: Renan Marcondes Cevales. Orientadora: professora Marta Luiza Strambi. Dia 27 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala 2 da CPG do IA. “Academia do choro: performance e fazer musical na roda” (mestrado). Candidato: Renan Moretti Bertho. Orientadora: professora Lenita Waldige Mendes Nogueira. Dia 27 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala 4 do Departamento de Artes Plásticas do IA.

“Avaliação clínica e citogenética molecular das disgenesias gonadais parciais XY” (doutorado). Candidata: Juliana Gabriel Ribeiro de Andrade. Orientadora: professora Andrea Trevas Maciel-Guerra. Dia 25 de agosto de 2015, às 9h30, na sala 5 do CIPED. “Entre a vivência com educadores e a proposta com alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA): Estudo de atividades de arte com materiais sensoriais” (mestrado). Candidata: Marcieli Cristine do Amaral Santos. Orientadora: professora Lúcia Helena Reily. Dia 26 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. “Estudo do efeito da supressão do potencial evocado auditivo P300 em crianças com distúrbio de aprendizagem” (mestrado). Candidata: Thalita Ubiali. Orientadora: professora Maria Francisca Colella dos Santos. Dia 26 de agosto de 2015, às 13h30, no Ciped. “Treino de vibração de corpo inteiro na função motora em pacientes acometidos por Acidente Vascular Cerebral” (doutorado). Candidata: Adriana Teresa Silva. Orientador: professor Donizeti Cézar Honorato. Dia 27 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da neurologia da FCM. “Análise de fluorescência na urina como avaliação de adesão farmacológica em hipertensos resistentes” (mestrado). Candidata: Nathália Batista Corrêa. Orientador: professor Heitor Moreno Júnior. Dia 27 de agosto de 2015, às 9 horas, no auditório da Farmacologia da FCM. “Vivências e Percepções sobre o Programa Mais Médicos: a experiência da Unidade Básica de Saúde Samambaia - Juatuba/MG “ (mestrado profissional). Candidata: Marina Abreu Corradi Cruz. Orientador: professor Edison Bueno. Dia 27 de agosto de 2015, às 13 horas, no auditório do CIPED. “A importância do outro para o processo de produção de narrativas orais de crianças com deficiência intelectual e alterações de linguagem” (mestrado). Candidata: Amanda de Cássia Sales. Orientador: professor Cecília Guarnieri Batista. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. “Prevalência e características clínico epidemiológicas de gestantes com hepatite C atendidas no CAISM - UNICAMP” (mestrado). Candidata: Mariana Salhab Dall’ Aqua Schweller. Orientadora: professora Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro Kazue Panetta do CAISM. “Comparação interespécies da espessura do epitélio e da lâmina própria das pregas vocais” (mestrado). Candidato: Eder Barbosa Muranaka. Orientador: professor Agrício Nubiato Crespo. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da otorrinolaringologia do HC. “Investigação do perfil de mirnas em cérebro de zebrafish após indução de crises epiléticas recorrentes” (mestrado). Candidato: Renato Aparecido de Oliveira. Orientadora: professora Claudia Vianna Maurer Morelli. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da Pós-gradaução da FCM. “Percepção de alunos autores e vítimas de bullying e de seus pais e professores” (mestrado). Candidato: Elizete Aparecida Pazzoto Prescinotti de Andrade. Orientadora: professora Lilia de Souza Li. Dia 28 de agosto de 2015, às 10 horas, no CIPED. “Perfil neuropsicológico e moral de crianças e adolescentes com TDAH e transtornos disruptivos” (mestrado). Candidata: Fernanda Rodrigues Galves. Orientador: professor Paulo Dalgalarrondo. Dia 28 de agosto de 2015, às 13h30, no departamento de Psicologia Médica e Psquiatria FCM. “Anormalidades da substância branca em pacientes com epilepsia de lobo temporal com ou sem crises refratárias” (mestrado). Candidata: Mônica Mingone Cordeiro. Orientador: professor Fernando Cendes. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no laboratório de neuroimagem da FCM. “Psicodinâmica do trabalho: estudo de um grupo de trabalhadores em uma empresa metalúrgica de gestão familiar” (mestrado). Candidata: Daniele Mometti Braz. Orientador: professor Valmir Antônio Zulian de Azevedo. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. “Diagnóstico pré-natal não invasivo aplicado à Síndrome de Gilbert” (mestrado). Candidata: Telma Velozo Cordeiro de Oliveira. Orientador: professor Fernando Ferreira Costa. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do Hemocentro.  Computação - “Fusão de dados utilizando floresta de caminhos ótimos e programação genética para problemas abertos” (mestrado). Candidato: Manuel Alberto Córdova Neira. Orientador: professor Ricardo da Silva Torres. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IC. “Aprovisionamento inter-domínio de caminhos de luz em redes com multiplexação por comprimento de onda” (mestrado). Candidato: Alisson Soares Limeira Pontes. Orientador: professor Nelson Luis Saldanha da Fonseca. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IC.  Educação Física - “Sentidos e significados da Educação Física para a(s) juventude(s)”(mestrado). Candidata: Ana Beatriz Gasquez Porelli. Orientador: professor Jocimar Daolio. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Percepção e desempenho ambiental em praças públicas na cidade de Caraguatatuba – SP” (doutorado). Candidato: Carlos Augusto da Costa Niemeyer. Orientadora: professora Lucila Chebel Labaki. Dia 26 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEC. “Avaliação da eficiência energética de edificações residenciais em fase de projeto: análise de desempenho térmico pelo método prescritivo e por simulação computacional aplicado a estudo de caso de projeto-tipo do Exército Brasileiro” (mestrado). Candidato: Marcus Vinicius De Paiva Rodrigues. Orientador: professor Carlos Alberto Mariotoni. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório Carlos Alberto Mariottoni da FEC. “Intercessão arquitetura e saúde: Múltiplas vozes na composição de territórios habitacionais” (doutorado). Candidata: Mirela Pilon Pessatti. Orientadora: professora Silvia Aparecida Mikami Gonçalves Pina. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses III da FEC. “Avaliação de desempenho dos sistemas prediais hidráulicos e sanitários com ferramentas BIM” (mestrado). Candidata: Carolina Helena de Almeida Costa. Orientadora: professor Arina Sangoi de

Oliveira Ilha. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses 2 da FEC.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Propagação de pulsos de airy em meios dispersivos” (mestrado). Candidato: José Angel Borda Hernández. Orientador: professor Michel Zamboni Rached. Dia 24 de agosto de 2015, às 14 horas, no prédio da CPG da FEEC. “Fotoreceptores em campo elétrico” (doutorado). Candidata: Juliana Guerra Hühne. Orientador: professor Sérgio S. Mühlen. Dia 25 de agosto de 2015, às 9 horas, no IFGW. “Engenharia da função trabalho de eletrodo de porta metálico para futuros nós tecnológicos da tecnologia CMOS” (doutorado). Candidato: Lucas Petersen Barbosa Lima. Orientador: professor José Alexandre Diniz. Dia 26 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala de video-conferência da FEEC. “Sensor baseado em tecnologia SAW, utilizando um único canal e dois caminhos acústicos” (mestrado). Candidato: Carlos Eduardo Teles. Orientador: professor Jacobus W. Swart. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório CCS da FEEC. “Alocação de banda em sistemas de controle via rede pela barganha de Nash” (mestrado). Candidato: Felipe Perez de Oliveira Dias. Orientador: professor Paulo Augusto Valente Ferreira. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. “Desconvolução e separação cega de sinais esparsos e aplicações em sísmica de reflexão” (doutorado). Candidato: Kenji Nose Filho. Orientador: professor João Marcos Travassos Romano. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, na FEEC. “Uma proposta para a determinação da margem de estabilidade de tensão de sistemas elétricos de potência” (mestrado). Candidato: Jhon Alexander Castrillon Largo. Orientador: professor Carlos Alberto de Castro Junior. Dia 28 de agosto de 2015, às 15 horas, na FEEC.  Engenharia Mecânica - “Melhoramento do líquido obtido por pirólise rápida de serragem de eucalipto por meio de misturas para utilização como combustível” (mestrado). Candidato: Luiz Augusto Badan Ribeiro. Orientador: professor Waldir Antonio Bizzo. Dia 25 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala KD da FEM. “Obtenção de autovalores de soluções em série de problemas de condução de calor com condições de contorno convectivas” (doutorado). Candidato: Sérgio Dálmas. Orientador: professor Luiz Fernando Milanez. Dia 25 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala JD da FEM. “Proposta de modelo para estruturação do conhecimento visando a obtenção de vantagem competitiva” (mestrado). Candidata: Kellen Christina Peitl. Orientador: professor Oswaldo Luiz Agostinho. Dia 26 de agosto de 2015, às 9 horas, no auditório do DEMM da FEM.  Filosofia e Ciências Humanas - “Políticas públicas de segurança e as transformações do modelo carcerário brasileiro: a negação da cidadania em marcha” (doutorado). Candidato: Paulo de Tarso da Silva Santos. Orientador: professor Andrei Koerner. Dia 24 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IFCH.  Física - “Aspectos dinâmicos de redes” (doutorado). Candidato: Rafael Soares Pinto. Orientador: professor Alberto Saa. Dia 25 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório de Pós-graduação do IFGW.  Geociências - “Licenciatura, bacharelado e geografia: resistir ou reexistir, eis a questão?” (mestrado). Candidato: Lucas Ferraz Frauches Carvalho. Orientador: professor Rafael Straforini. Dia 24 de agosto de 2015, às 9h30, no auditório do IG. “Cenário regional das oscilações climáticas quaternárias: baixos terraços fluviais no contexto da depressão periférica e do planalto ocidental paulista” (doutorado). Candidato: Daniel Luis Storani. Orientador: professor Archimedes Perez Filho. Dia 25 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “Análise da variabilidade da precipitação pluvial na bacia do rio Paranapanema, em diferentes escalas” (mestrado). Candidata: Maria Alice Borges Batista. Orientador: professor Jonas Teixeira Nery. Dia 26 de agosto de 2015, às 10 horas, no auditório do IG. “O papel da pesquisa agropecuária pública nas inovações organizacionais na agricultura: o caso das indicações geográficas” (doutorado). Candidato: Thomaz Fronzaglia. Orientador: professor Sergio Luiz Monteiro Salles Filho. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “Dilemas de professoras ao ensinarem geografia: a permanência dos estudos sociais nos anos iniciais do ensino fundamental” (mestrado). Candidato: Gabriel Brasil de Carvalho Pedro. Orientador: professor Rafael Straforini. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala A do DGRN do IG. “A gestão da inovação em serviços intensivos em conhecimentos: oportunidades e desafios do big data” (mestrado). Candidato: Fábio Rocha Campos. Orientadora: professora Adriana Bin. Dia 27 de agosto de 2015, às 9 horas, no auditório do IG. “A concepção de natureza em artigos publicados no periódico Química Nova na Escola” (doutorado). Candidata: Maria José dos Santos. Orientador: professor Pedro Wagner Gonçalves. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “Tecnologias da informação e território: política para o setor de software no Brasil” (mestrado). Candidata: Melissa Maria Veloso Steda. Orientador: professor Ricardo Abid Castillo. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “A gestão da inovação em universidades: evolução, modelos e propostas para instituições brasileiras” (doutorado). Candidata: Patricia Tavares Magalhães de Toledo. Orientadora: professora Maria Beatriz Machado Bonacelli. Dia 28 de agosto de 2015, às 8 horas, no auditório IG. “A política nacional de resíduos sólidos e reciclagem de plásticos no estado de São Paulo” (doutorado). Candidata: Rafaela Francisconi Gutierrez Pepinelli. Orientador: professor Leda Maria Caira Gitay. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 horas, no auditório do IG. “Determinação da descarga de massa de contaminantes em meio poroso saturado em ambiente estuarino” (doutorado). Candidato: Paulo César de Melo Negrão. Orientadora: professora Suely Yoshinaga Pereira. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 hora, na sala EB07 do IG. “A produção cerâmica local como fonte de articulação entre química e geociências no ensino médio” (mestrado). Candidato: Sidnei de Lima Junior. Orientador: professor Alfredo Borges de Campos. Dia 28 de agosto de 2015, às 9h30, na sala B do DGRN do IG. “A defesa das riquezas naturais e dos territórios de uso comum pelas comunidades agroextrativistas frente ao avanço das empresas hegemônicas e dos plantios alienígenas de eucalipto na Amazônia maranhense” (mestrado profissional). Candidata: Mariana Leal Conceição Nóbrega. Orientador: professor Vicente Eudes Lemos Alves. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do NEPAM. “Revisitando os mapas em sala de aula: outras possibilidades metodológicas” (doutorado). Candidata: Viviane Lousada Cracel. Orientador: professor Mauricio Compiani. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “Uso da experimentação no ensino médio na disciplina de geografia para abordar a problemática da emissão de gás carbônico em solos cultivados com cana-de-açúcar” (mestrado). Candidata: Renata Correia Costa. Orientador: professor Alfredo Borges de Campos. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala EB07 do IG. “Análise da dinâmica das áreas ocupadas pela cultura canavieira entre 1990 e 2012 no Brasil: uma contribuição ao estudo do circuito espacial produtivo do setor sucroenergético” (mestrado). Candidato: Junior César Pinheiro. Orientador: professor Ricardo Abid Castillo. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.

 Linguagem - “Sentidos para uma história da sociolinguística no Brasil na década de 1970” (mestrado). Candidata: Lívia Helena Moreira e Silva. Orientador: professor Eduardo Roberto Junqueira Guimarães. Dia 24 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Afasia e infância: uma abordagem neurolinguística” (mestrado). Candidata: Stéphanie Dorneles e Silva Pieruccini. Orientadora: professora Maria Irma Hadler Coudry. Dia 24 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala coletiva (I) do IEL. “Narratividade e senso comum: nas rimas dos versos de cordel” (doutorado). Candidata: Fernanda Moraes D’Olivo. Orientadora: professora Suzy Maria Lagazzi. Dia 24 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. “As Minas de Prata e os aspectos da nacionalidade no projeto literário de José de Alencar: a ficcionalização da história e seus diálogos com o presente” (doutorado). Candidata: Rafaela Mendes Mano Sanches. Orientador: professor Jefferson Cano. Dia 24 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Material Start: o percurso de sua construção e a análise do seu uso em sala de aula” (mestrado). Candidata: Paula Rodrigues Furtado. Orientadora: professora Denise Bértoli Braga. Dia 25 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala de videoconferência do IEL. “Trabalho e lazer: um olhar discursivo” (doutorado). Candidata: Laila de Castro Costa. Orientadora: professora Suzy Maria Lagazzi. Dia 26 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “O inglês no ENEM e na escola: práticas de dois professores do ensino médio” (doutorado). Candidata: Flávia Juliana de Sousa Avelar. Orientadora: professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Dia 26 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala coletiva (II) do IEL. “Aspectos referenciais e sociocognitivos dos frames neoliberais na retórica neopentecostal” (doutorado). Candidato: Erik Fernando Miletta Martins. Orientadora: professora Edwiges Maria Morato. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A prática docente mediada por materiais didáticos digitais interativos” (mestrado). Candidato: Jezreel Gabriel Lopes. Orientadora: professora Roxane Helena Rodrigues Rojo. Dia 27 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala coletiva (I) do IEL. “Os frames de Doença de Alzheimer” (mestrado). Candidata: Josie Helen Siman. Orientadora: professora Edwiges Maria Morato. Dia 27 de agosto de 2015, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Facebook: arquitetônica que organiza interações” (mestrado). Candidata: Katia Sayuri Fujisawa. Orientadora: professora Roxane Helena Rodrigues Rojo. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala coletiva (I) do IEL. “Discursos sobre o eu na composição material dos vlogs” (doutorado). Candidato: Guilherme Adorno de Oliveira. Orientadora: professora Suzy Maria Lagazzi. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de videoconferência do IEL. “Metadiscursividade em entrevistas jornalísticas: a inscrição de Mano Brown no campo jornalístico” (mestrado). Candidata: Beatriz Ferreira Silva. Orientadora: professora Anna Christina Bentes da Silva. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala CL14 do IEL. “Samba e Bossa Nova: a relação texto-música na canção popular brasileira” (mestrado). Candidata: Gabriela Ricci. Orientadora: professora Eleonora Cavalcante Albano. Dia 27 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala coletiva (II) do IEL. “A noção de definitude na Síndrome de Down” (doutorado). Candidata: Maria Cláudia Arvigo. Orientadora: professora Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes. Dia 28 de agosto de 2015, às 13h30, na sala de videoconferência do IEL. “O surdo não ouve, mas tem olho vivo – a leitura de imagens por alunos surdos em tempos de práticas multimodais” (doutorado). Candidata: Aryane Santos Nogueira. Orientadora: professora Marilda do Couto Cavalcanti. Dia 28 de agosto de 2015, às 13h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Foucault na formação discursiva da análise de discurso: um autor, um conceito, uma positividade” (doutorado). Candidato: Jefferson Fernando Voss dos Santos. Orientador: professor Sirio Possenti. Dia 28 de agosto de 2015, às 13h30, na sala coletiva (I) do IEL. “A atuação do avaliador no uso dos elementos provocadores na parte oral do exame Celpe-Bras” (mestrado). Candidata: Marcela Dezotti Cândido. Orientadora: professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala CL12 do IEL. “Do oral para o escrito: a narratividade em nheengatu no Alto Rio Negro - AM” (mestrado). Candidata: Patrícia Regina Vannetti Veiga. Orientador: professor Wilmar da Rocha D’Angelis. Dia 28 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala CL13 do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Códigos perfeitos nas métricas de Lee e Chebyshev e interações de funções de Rédei” (doutorado). Candidato: Claudio Michael Qureshi Valdez. Orientadora: professora Sueli Irene Rodrigues Costa. Dia 28 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Avaliação Clínica do efeito do dentifrício à base de própolis sobre a presença de Candida spp na saliva total de pacientes idosos” (doutorado). Candidata: Joseane Rodrigues da Silva Nobre. Orientador: professor Jacks Jorge Junior. Dia 24 de agosto de 2015, às 8h30, na sala de seminários da morfologia da FOP. “Análise dos efeitos biológicos associados à fascina e plectina no carcinoma espinocelular oral” (doutorado). Candidata: Priscila Campioni Rodrigues. Orientador: professor Ricardo Della Coletta. Dia 25 de agosto de 2015, às 9 horas, no salão nobre da FOP. “Tratamento das lesões de bifurcação classe II livres com proteínas derivadas da matriz do esmalte associado ou não a substitutos ósseos: Avaliações clínicas e microbiológicas” (doutorado). Candidato: Lucas Araujo Queiroz. Orientador: professor Enilson Antonio Sallum. Dia 26 de agosto de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP. “Estudo da união dentina-sistemas adesivos que não contém hema: avaliação do selamento dentinário, micropermeabilidade e da resistência de união à dentina imediata e a longo prazo” (doutorado). Candidata: Renata Bacelar Cantanhede de Sá. Orientador: professor Marcelo GIannini. Dia 28 de agosto de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP.  Química - “O uso do método DFT no estudo de cianometalatos de crômio(III)” (doutorado). Candidata: Helen Graci Coelho de Meneses. Orientador: professor André Luiz Barboza Formiga. Dia 25 de agosto de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Elementos metálicos em achocolatados: teores totais e frações bioacessíveis e biodisponíveis” (doutorado). Candidata: Rafaella Regina Alves Peixoto. Orientadora: professora Solange Cadore. Dia 25 de agosto de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Explorando a espectroscopia de imagem no infravermelho e a quimiometria como ferramenta analítica em aplicações farmacêuticas” (doutorado). Candidato: Guilherme Lionello Alexandrino. Orientador: professor Ronei Jesus Poppi. Dia 26 de agosto de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Fermentação da biomassa da casca de laranja, industrial, com utilização da hidrólise enzimática” (mestrado). Candidata: Daniela Zacharias Cypriano. Orientadora: professora Ljubica Tasic. Dia 27 de agosto de 2014, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Redes metalorgânicas análogas ao MIL-101 para a liberação controlada de fármacos” (doutorado). Candidata: Irlene Maria Pereira e Silva. Orientador: professor André Luiz Barboza Formiga. Dia 28 de agosto de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ.


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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015

Estudo analisa o uso de radiers estaqueados em solos tropicais Engenheiro civil avalia emprego de tipo de fundação em solos da região de Campinas

Ilustrações: Divulgação

Radier

Solo

Solo

Ilustrações mostram grupo de estacas (a) e radier estaqueado (b)

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

radicionalmente, as fundações utilizadas na construção civil são constituídas de estacas coroadas por sapatas ou blocos em que se apoiarão os pilares de um edifício. Nesses casos, os cálculos das fundações levam em consideração apenas a capacidade de carga das estacas, desprezando a contribuição devida ao contato do elemento estrutural de coroamento. Quando se considera a contribuição de um elemento superficial de fundação – sapata ou bloco – na capacidade de carga, simultaneamente com as estacas, tem-se o que se denomina radier estaqueado. Nestes casos, o radier apoiado sobre o solo recebe o suporte tanto das estacas como do terreno. A diferença entre o radier estaqueado e os grupos convencionais de estacas é que, neste, o coroamento não está em contado com o solo, conforme mostram as figuras nesta página. Com o advento de prédios cada vez mais altos, em que o tamanho da base não acompanha proporcionalmente o ganho na altura, as cargas da edificação são cada vez mais elevadas e concentradas, demandando blocos de estacas cada vez maiores. Desta forma passou-se a considerar a utilização de radiers estaqueados como fundações adequadas aos carregamentos destas estruturas, com vistas a evitar o recalque do solo, ou seja, seu afundamento e também uma melhor distribuição das cargas sobre o radier e consequentemente às estacas. Nestes casos, eles são constituídos por uma espessa laje de concreto, que ocupa toda a área do edifício, apoiada em estacas dispostas a distâncias calculadas de modo que a capacidade de carga seja compartilhada pelas estacas e também pelo solo em que está apoiado diretamente o radier. É exemplo do emprego deste tipo de fundação o edifício Burj Khalifah, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes, com 828 m de altura. Ele se apoia em um radier estaqueado com 3,5 m de espessura, assente sobre 194 estacas escavadas de 1,5 m de diâmetro e 43 m de comprimento. Estes tipos de fundações, devidamente dimensionadas aos carregamentos que devem suportar, permite maior eficiência na redução de recalques e contribui para a racionalização dos projetos das fundações, em decorrência do melhor posicionamento das estacas, da diminuição de suas quantidades, profundidades e diâmetros, gerando, em consequência, maior economia. Com o objetivo de estudar o comportamento de radiers estaqueados executados em solo da região de Campinas, São Paulo, o engenheiro civil Jean Rodrigo Garcia desenvolveu tese de doutorado em que os analisa experimental e numericamente. O pesquisador – que acumula experiências na construção de hidrelétricas e edificações complexas em grandes centros urbanos, e é atualmente coordenador de projetos de empresa que constrói a linha 2 do metrô de São Paulo – desenvolveu o trabalho junto à área de Estruturas e Geotécnicas da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, sob a orientação do professor José Rocha de Albuquerque. A pesquisa recebeu apoio financeiro da Fapesp e do Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Educação (Faepex) da Unicamp. Nos experimentos, realizados no Campo Experimental de Mecânica dos Solos e Fundações da FEC, constituído de latossolos roxos, argilosos, foram construídos e utilizados blocos de fundação com uma, duas, três e quatro estacas, ensaiados por meio de provas de carga e análises numéricas. O escopo do estudo era o de determinar, a partir dos parâmetros de resistência do solo e do

Estacas (a)

(a) concreto empregado no radier e nas estacas, qual seria o método de análise mais apropriado; que diretrizes devem ser adotadas para elaboração de projetos racionais; e indicar as melhorias na técnica construtiva dos radiers estaqueados. O trabalho se justifica porque poucos são os estudos desenvolvidos sobre o comportamento desses radiers nos solos brasileiros, tropicais, de características únicas por serem decorrentes de um processo de intemperismo, caracterizado pela repetitiva alternância de períodos chuvosos e secos. Nesse processo de lavagem, as partículas menores do solo são carreadas, deixando-o poroso. Daí resultou um solo, com um índice alto de vazios, que o torna suscetível de afundamento (recalque) quando submetido a carregamentos. Nos prédios em que a área de base não é proporcional à altura, as cargas descarregadas no solo não podem ser dispostas em uma fundação convencional, a menos que se adotassem estacas excessivamente profundas e em grande quantidade por bloco, solução economicamente inviável. A alternativa foi então construir uma grande e espessa laje de concreto, o radier, apoiada sobre estacas, de forma que todo o carregamento dissipado sobre ela se distribua entre o solo em que se apoia o radier e sobre as estacas que cooperam na sua sustentação. No exterior essas fundações já foram sobejamente estudadas e instrumentalizadas com a utilização de medidores de deformação colocados nas estacas que indicam a carga que efetivamente chega a cada uma delas. Eles permitem o acompanhamento do que acontece à medida que a construção se desenvolve e viabilizam a comprovação prática do arcabouço teórico que embasaram o projeto estrutural. No Brasil, embora a tecnologia seja utilizada, essa sistemática ainda não é aplicada, empregando-se nos projetos os métodos tradicionais de cálculo, sem a realização de monitoramento durante a edificação. A pesquisa procurou sanar essa lacuna. O conhecimento do comportamento deste tipo de fundação em solos tropicais como os do Brasil poderá contribuir para construções as mais diversas com o emprego de radiers estaqueados.

O TRABALHO

Nos radiers adotados como protótipos foi ampliada a área entre as estacas, que é de três vezes aos seus diâmetros, segundo a norma em fundações tradicionais (grupo de estacas), para cinco vezes o diâmetro, de forma a aumentar a área de contato da laje (radier) com o solo, o que diferencia o bloco de fundação convencional do radier estaqueado. Sobre esses protótipos foram então aplicados carregamentos simulando cargas de uma estrutura real sendo construída. Durante os procedimentos mediram-se através de sensores os deslocamentos verticais, ou

(b)

(b)

Na sequência de desenhos, perspectiva da armação dos radiers de 1, 2, 3 e 4 estacas

(c) Foto: Antoninho Perri

(d)

podem ser utilizadas e que cuidados o seu uso exige na elaboração dos projetos. Para tanto foram feitos testes de convergência e de validação dessa ferramenta em relação aos resultados experimentais”. Ao realizar a validação da ferramenta, o pesquisador confirmou que ela não leva a um resultado 100% condizente com a realidade dos modelos experimentais e, por isso, são recomendados determinados cuidados no seu uso.

CONCLUSÕES

Jean Rodrigo Garcia, autor da pesquisa: testes de convergência e de validação de ferramenta

seja, quanto o radier afundava e como a carga absorvida se distribuía pelas estacas e pelo contato do radier com o solo. É a chamada prova de carga. O pesquisador explica: “Queríamos avaliar se havia diferenças de comportamento e de relações entre a absorção de carga pelas estacas e pelo solo, em função do número de estacas, mesmo para solos porosos como o de Campinas. Para tanto, construímos no campo experimental os quatro protótipos em que foram aplicados os carregamentos até chegar à carga, considerada como última, responsável por um deslocamento acentuado”. Para estabelecer um contraponto entre o real e o que é calculado através de ferramentas numéricas, comumente utilizadas pelos projetistas, o pesquisador utilizou um software tridimensional de elementos finitos. Esse contraponto permite alertar o projetista sobre as limitações e os cuidados que devem ser tomados na aplicação dos elementos numéricos que não conseguem representar totalmente o que ocorre na realidade, seja em relação aos parâmetros do solo, seja pela forma como as cargas são admitidas e distribuídas entre o radier (laje de concreto) e as estacas. A propósito, ele acrescenta: “Para entender melhor o comportamento observado e validar a ferramenta numérica, utilizamos um software baseado em elementos finitos, em modelo tridimensional, de forma a estabelecer um contraponto que pudesse auxiliar os projetistas nas considerações de cálculo para este tipo de fundação. Mesmo porque havia necessidade de determinar com que grau de confiança as ferramentas numéricas

Com base nas análises experimentais e numéricas, o autor concluiu sobre a contribuição entre as parcelas de resistência da fundação em estaca e do contato do radier com o solo: “Chegamos então a determinar como funciona a distribuição de carga nos radiers estaqueados. Em torno de 21% dela se dissipa no radier em contato com o solo e 79% da distribuição é absorvida pelas estacas. Com base nesse resultado, o engenheiro projetista da estrutura pode adotar essa distribuição de carga ao considerar uma edificação no tipo de solo de Campinas, de argila porosa, que chega a São Carlos, passa por Bauru e atinge Ilha Solteira, tornando sua fundação mais econômica e eficaz”. Para Jean, o emprego de radiers estaqueados, mesmo na argila porosa de Campinas, é factível desde que sejam tomadas medidas que possam garantir a o desempenho dessa camada de solo, muito suscetível à ação da água. Dependendo do caso, a camada de solo em que será apoiado o radier deve ser submetido à escavação e compactação, que o torna mais resistente. Nesse processo sua densidade é aumentada em relação à situação original. Ele acrescenta que o emprego de radiers estaqueados permite utilizar técnicas economicamente interessantes no projeto geotécnico porque parte da carga é absorvida pela própria laje em contato com o solo, diminuindo a carga sobre as estacas que passam a ter diâmetros e comprimentos menores, diminuindo a mão de obra e o volume do concreto utilizado.

Publicação Tese: “Análise experimental e numérica de radiers estaqueados executados em solo da região de Campinas/SP” Autor: Jean Rodrigo Garcia Orientador: Paulo José Rocha de Albuquerque Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Financiamento: Fapesp e Faepex


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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015

Afinidades eletivas PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

o Facebook, a rede social mais acessada no Brasil, nem tudo é novidade. Papéis tradicionalmente desempenhados por homens e mulheres se reproduzem com facilidade e as temáticas em debate nem sempre diferem das que nos acostumamos a ver em outras mídias como revistas, jornais e TV. Em contrapartida, criam-se interações que podem ser muito ricas, do ponto de vista da linguagem. Estas considerações fazem parte da tese de doutorado “Os temas e as dinâmicas sociointeracionais em nove grupos criados e gerenciados por mulheres no Facebook”, de Luciane Cristina Paschoal Martins. Luciane partiu da hipótese de que, na rede social, as categorias demográficas tendem a se dissolver em nome das afinidades entre as pessoas. Ou seja, não importa qual a renda, gênero, idade ou raça; o que move as pessoas, ou perfis, é o interesse pelos mesmos assuntos. “As categorias demográficas tradicionais significam menos agora do que significavam antes. Com as ferramentas de rede online, as pessoas se agrupam por afinidades”, afirma a pesquisadora na tese. A hipótese do trabalho foi inspirada nas ideias da pesquisadora de mídia Johanna Blakley, da University of Southern California. De acordo com Blakley, os interesses e valores compartilhados dizem muito mais sobre uma pessoa do que as categorias demográficas. Partindo desse pressuposto e para descobrir se a distinção de gêneros masculino/feminino estaria desaparecendo na mídia social, Luciane decidiu pesquisar as interações em grupos nos quais havia a palavra “Mulheres” no título. São elas, de acordo com dados de uma pesquisa usada na tese, que mais acessam as redes sociais no país, correspondendo a 58,7% da quantidade de acessos. Luciane queria compreender como e com que finalidade as redes sociais são usadas por mulheres brasileiras e como funcionam os grupos criados e gerenciados por elas. A começar, haveria uma relação entre o tema discutido e os papéis sociointeracionais, (papéis que levam em conta fatores, políticos, culturais e históricos) desempenhados nos grupos? Em outras palavras, “como as pessoas se relacionam?”, indaga. O primeiro passo da autora foi mapear os grupos. Após duas filtragens, Luciane chegou a nove, que a aceitaram como participante. Destes, seis tratavam de assuntos genéricos, comumente abordados na tradicional mídia considerada “de interesse das mulheres”: beleza, moda, decoração, saúde, maternidade, culinária. Outros três grupos: “Empoderamento das mulheres na UFRA”, “MNT – Mulheres na tecnologia” e “Manifesto contra o preconceito às mulheres brasileiras” fugiam aos temas associados à mídia “feminina”. Os grupos foram observados no período entre março de 2012 e julho de 2013.

Participantes dos grupos orientam-se, por exemplo, sobre como devem se vestir ou qual a aparência ideal. Da mesma forma são feitos aconselhamentos quando o assunto é relacionamento amoroso. Os textos são longos e não trazem links de notícias. A pesquisadora chama a atenção para a utilização de verbos no imperativo e textos que apresentam características do discurso exortativo com o intuito de influenciar o comportamento da mulher, prescrevendo regras de como agir, muito presente em algumas revistas. O estilo de linguagem utilizado, em tom otimista e familiar, também é comum nos grupos intitulados “Mulheres”. Outra semelhança com as revistas femininas é a presença do imperativo, uma espécie de “armadilha linguística”, definida por alguns pesquisadores. “Embora o tom seja coloquial, há um ordenamento de conduta, uma imposição”, adverte Luciane.

Em relação à discussão de temas polêmicos, a autora da tese verificou que nos grupos “Mulheres” nota-se a tendência a evitar conflitos, o que também já foi percebido na imprensa feminina. “Como alguns desses grupos aceitam apenas participantes do sexo feminino, isso pode reforçar os estereótipos de gênero, como se esses assuntos interessassem apenas às mulheres. Além disso, as representações da mulher nos grupos, assim como nas revistas femininas, refletem o ideal hegemônico de beleza feminina e são estereotipadas”, reforça Luciane. Conforme a pesquisadora, os grupos intitulados “Mulheres” tendem a manter e reforçar os estereótipos de gênero. Nos grupos restantes: “Empoderamento das mulheres na Ufra”, “MNT – Mulheres na Tecnologia” e “Manifesto contra o preconceito às mulheres brasileiras”, a dinâmica é diferente. São abordados temas como

RAÍZES

METODOLOGIA A etnografia tradicional, usada na antropologia, vai a campo registrar o que está acontecendo numa determinada comunidade. São utilizadas fotos, filmagens e anotações de campo. A pesquisadora utilizou como metodologia a etnografia online. “A internet resgatou a etnografia com algumas alterações. A diferença para a etnografia online, que uso na minha pesquisa, é que o trabalho é feito com as ferramentas do meio digital: buscas por palavra-chave, print screen da tela e outros recursos”. A metodologia foi considerada a mais apropriada porque, segundo Luciane, os grupos observados mostram que o Facebook não é um mundo totalmente virtual. “Embora as interações nesses grupos ocorram online, elas são intrinsecamente relacionadas ao cotidiano das pessoas”. Ao todo foram registradas 1907 postagens envolvendo todos os grupos.

“MULHERES” Nos seis grupos homônimos “Mulheres”, ordenados alfabeticamente, predominaram os temas recorrentes na mídia voltada para mulheres. A pesquisadora percebeu várias semelhanças com revistas especializadas no público feminino.

questões de gênero, tecnologia computacional, política, melhorias na universidade, assuntos que, segundo a autora, não aparecem nas mídias voltadas ao público feminino. “O estilo de linguagem utilizada também se diferencia. O tom otimista não é recorrente e o debate e questionamentos são utilizados com maior frequência” salienta. Para a autora da tese é possível afirmar que os grupos voltados para questões sociais, são os que têm maior grau de elaboração dos textos escritos. “Esses grupos parecem tentar romper os estereótipos ligados aos gêneros, buscando abordar temas que tradicionalmente não são considerados como de interesse das mulheres. Além disso, o fato de abordarem questões de gênero indica que os participantes estão abertos a essa discussão, o que poderá auxiliar a romper os estereótipos de gênero”.

Grupos pesquisados e reproduções de páginas do “Facebook”: o virtual como espelho do real e interações interessantes no campo da linguagem

Publicação Tese: “Os temas e as dinâmicas sociointeracionais em nove grupos criados e gerenciados por mulheres no Facebook” Foto: Divulgação

Autora: Luciane Cristina Paschoal Martins Orientadora: Inês Signorini Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

A pesquisadora Luciane Cristina Paschoal Martins: “Com as ferramentas de rede online, as pessoas se agrupam por afinidades”

Luciane não apenas observou e registrou as postagens dos participantes dos grupos e comentários gerados, como participou, enviando dez postagens com indicação de links para notícias de assuntos atuais e que pudessem gerar alguma discussão. Os comentários foram mapeados e, a partir daí, a pesquisadora identificou três tipos de rede nomeadas por ela, com inspiração em raízes da botânica: fechada, pivotante e rizomática. Um exemplo de rede de comentários do tipo fechada, explica a autora, é aquela composta por no máximo três participantes, que iniciam e finalizam o assunto em uma interlocução. “Além disso, esse tipo de rede de comentários se caracteriza pela utilização de comentários dos tipos pergunta e resposta. É o tipo que mais se aproxima de uma conversa face a face”, assinala Luciane. A rede do tipo pivotante envolve vários interlocutores, no entanto os comentários não têm relação entre si, mas remetem ao post inicial. “Uma única postagem, um único pivô, gera várias ramificações, os comentários, mas esses não retomam o assunto e não dialogam entre si”. Luciane observou que esse tipo de rede de comentários é típico das redes sociais. O tipo mais complexo de rede de comentários, que se assemelha a uma roda de conversa, é a rizomática. “Caracteriza-se pela presença de vários tipos de comentários que são retomados por diferentes participantes. A postagem inicial gera comentários que, por sua vez, vão gerar outros. Diferentemente da rede fechada, o assunto não se fecha, isto é, há sempre comentários que ancoram outros, ou seja, que permitem novas participações”. Em cada grupo, a pesquisadora verificou a predominância de um tipo de rede. Nos intitulados “Mulheres”, as redes pivotante e fechada e, nos demais, a rede rizomática. O curioso é que as provocações da autora da tese, realizando dez postagens dos mesmos assuntos em todos os grupos, modificaram os tipos de redes mais comuns em cada grupo. Luciane escolheu temas variados, entre os quais a desigualdade de salários entre homens e mulheres, a submissão feminina no casamento, o preconceito contra as mulheres na ciência, a leitura de um blockbuster como 50 tons de cinza, a contribuição das mulheres no Wikipedia, uma pesquisa sobre a preferência das mulheres em ter homens como chefes. A postagem campeã de comentários foi sobre uma pesquisa na área da genética que prevê a extinção dos homens no mundo. Em alguns casos, as participantes assumiram papéis mais ativos quando um tema diferente foi colocado em discussão. “Isso demostra que as mulheres estão dispostas a discutir novas temáticas, não restritas àquelas tradicionais da imprensa feminina”, ressalta Luciane. De acordo com ela, a internet permite que as identidades sejam ampliadas, que se mostrem todas as identidades dentro dos espaços. “O que eu descobri é que, em parte, a categoria demográfica não fez muita diferença porque as mulheres querem falar de tudo e não só do que seria considerado de interesse delas. Mas, em contrapartida, quando fui analisar as redes e os papeis sociointeracionais, descobri que em alguns grupos, quando o homem entra na discussão, a mulher não entra no debate e o inverso também é verdadeiro. Parece que ainda há divisão dessa categoria de gênero”.


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