Ju 633

Page 1

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

www.unicamp.br/ju

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015 - ANO XXIX - Nº 633 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Jornal daUnicamp

9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA

LEGIÃO ESTRANGEIRA

3 4

6e7

Pesquisa inédita da socióloga Patrícia Villen sobre a relação entre trabalho e os fluxos imigratórios, no Brasil, preenche uma lacuna acerca do tema e revela uma configuração polarizada da mão de obra. De um lado, uma massa de estrangeiros com perfil “qualificado-especializado”, muitos deles clandestinos, e, na outra ponta, um contingente de “periféricos emergenciais”, composto de refugiados e profissionais que enfrentam condições precárias, inclusive de trabalho forçado. O estudo foi orientado pelo professor Ricardo Antunes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).

Estrutura algébrica e a sequência biológica Combatendo a má conduta científica

9 12

Anil, um potencial anti-inflamatório?

Descoberto planeta de estrela binária

O inventário dos jardins históricos

Parceria impulsiona carreira de cientistas

‘Hereditariedade’ no medo de matemática

TELESCÓPIO

Trabalhadores haitianos durante troca de turno em frigorífico na cidade catarinense de Chapecó

2


2

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Morfina de levedura A criação de uma levedura, geneticamente modificada, capaz de transformar açúcar nos opioides tebaína e hidrocodona é descrita na edição mais recente da revista Science. Na natureza, a tebaína aparece como uma molécula constituinte do ópio, e é usada pela indústria na síntese de analgésicos. Já a hidrocodona é um derivado da codeína, narcótico encontrado naturalmente na papoula, planta da qual é extraído o ópio. Experimentos apresentando alterações genéticas que permitiam a leveduras realizar parte do trabalho bioquímico necessário para converter açúcar em opioides foram publicados em rápida sucessão nos últimos meses, mas este resultado de Stanford é o primeiro a apresentar o ciclo completo. “Opioides são as principais drogas usadas na medicina ocidental para o controle da dor e os cuidados paliativos”, escrevem os autores, em seu artigo. “O cultivo das papoulas de ópio segue sendo a única fonte desses medicamentos essenciais”, o que aponta para a necessidade de modos alternativos de produção. Os autores destacam que seu trabalho representa apenas uma “prova de princípio, e grandes obstáculos permanecem no caminho, antes que a otimização e a produção em escala possam ser atingidas”. Além de seu uso na medicina, derivados da papoula como o ópio, a morfina e a heroína também são alvo de tráfico ilegal, e a possibilidade de drogas semelhantes serem produzidas de modo simples e barato em laboratórios causa preocupação. Em maio, a revista Nature já noticiava que “leveduras artificiais abrem caminho para a heroína caseira”. Os autores do artigo recente na Science afirmam que “discussões abertas de opções para a governança dessa tecnologia também são necessárias, para efetivar de modo responsável as fontes alternativas” de opioides.

Alface espacial Astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) comeram na semana passada, pela primeira vez, uma salada feita com alface cultivada no espaço, informa o jornal The New York Times. A Nasa diz que a capacidade de produzir alimentos a bordo de naves espaciais deve ser fundamental para viagens tripuladas a Marte. Um dos tripulantes da ISS, Kjell Lindgren, mencionou também o benefício psicológico de ver uma planta crescendo na estação. O equipamento onde a alface cresceu, chamado Veggie, é portátil e usa luzes LED como fonte de energia para a fotossíntese.

Esse é o décimo planeta “circum-binário” encontrado pelo Kepler, e o terceiro deles a orbitar na chamada “zona habitável” do sistema, localizada a numa distância do par de estrelas que permite a existência de água em estado líquido e, talvez, vida. Embora o planeta, chamado Kepler-453b, seja muito provavelmente um gigante gasoso, um dos autores do artigo, Stephen Kane, da Universidade Estadual de San Francisco, lembra, em nota, que ele pode ter luas rochosas capazes de suportar vida. O artigo foi aceito para publicação no periódico Astrophysical Journal.

O genoma do polvo A revista Nature da última semana traz um artigo que descreve os resultados do sequenciamento do genoma de uma espécie de polvo (Octopus bimaculoides), realizado por pesquisadores dos Estados Unidos, Japão e Alemanha. Cefalópodes de corpo mole, como povos e lulas, têm os sistemas nervosos mais sofisticados entre os invertebrados, e dispõem de um repertório complexo de comportamentos. Os autores citam uma série de “fantásticas inovações” presentes nesses animais, incluindo “olhos como câmeras, braços preênseis (...) e um sistema adaptativo de coloração notavelmente sofisticado”. “O sequenciamento e a montagem do genoma dos cefalópodes se mostrou um desafio”, diz nota divulgada pelo periódico.

Variação natural cria ‘escada’ do aquecimento global A taxa de elevação da temperatura média global, causada pelo acúmulo de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, tende a se parecer mais com uma escada – com períodos de aparente estabilidade, seguidos por intervalos de clara elevação – do que com uma curva ascendente contínua, diz artigo publicado na revista Science. No entanto, os degraus tendem a se “estreitar” – com períodos de estabilidade mais e mais curtos – à medida que as concentrações de CO2 na atmosfera aumentam.

Sumiço das borboletas

O autor, Kevin E. Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, aponta como provável causa dos chamados “hiatos” do aquecimento global – períodos de estabilidade, como o registrado entre 1998 e 2013 – fenômenos como o El Niño e a Oscilação Decadal do Pacífico. Essa oscilação é um processo complexo que faz, em sua chamada “fase negativa”, com que mais calor seja aprisionado nas águas profundas do oceano. Trenberth adverte que o clima encontra-se sujeito a grandes variações naturais não ligadas à mudança climática causada pelo homem, e que essas variações de curto prazo precisam ser levadas em conta nos modelos climáticos. “À medida que as concentrações de gases do efeito estufa se elevam mais e mais, a tendência negativa decadal da temperatura média global torna-se mais improvável. Mas haverá flutuações nas taxas de aquecimento e grandes variações regionais (...) é importante esperá-las e fazer preparação para elas”, escreve o autor.

O Reino Unido corre o risco de assistir a uma extinção em massa de borboletas sensíveis à seca nas próximas décadas, adverte artigo publicado na revista Nature Climate Change. Os autores do trabalho, vinculados a instituições britânicas, lembram que o aumento no número de eventos extremos, previsto nos cenários de mudança climática, “podem ter impactos drásticos na biodiversidade, principalmente se limites meteorológicos forem cruzados”. Depois de trabalhar com dados sobre a evolução das populações de borboletas na Grã-Bretanha, analisando-os à luz de diversos modelos de mudança climática, os autores concluem que um grande número de extinções pode ocorrer até 2050. Estratégias para salvar as borboletas, diz o artigo, devem incluir a restauração da conectividade de hábitats fragmentados pela atividade humana e a redução nas emissões de gases causadores do efeito estufa.

Medo de matemática dos pais prejudica filhos

Telescópio no Chile detecta mundo jovem

Filhos de pais que têm medo de matemática tendem a aprender menos da matéria ao longo do ano letivo, principalmente quando recebem ajuda paterna ou materna na hora de fazer o dever de casa, diz estudo publicado no periódico Psychological Science. O mesmo grupo de pesquisadores responsável pelo trabalho, da Universidade de Chicago, já havia determinado que a atitude negativa de professores para com a disciplina também afetava negativamente o aprendizado da matemática. “Essas descobertas indicam que a atitude dos adultos para com a matemática pode ter um papel importante no desempenho das crianças”, diz nota divulgada pelo periódico. Na mesma nota, a autora principal do estudo, Erin Maloney, diz que uma ideia a tirar do trabalho é a de que não basta aos pais se envolverem com a vida escolar dos filhos, ajudando na lição. “Precisamos de melhores ferramentas para ensinar os pais a ajudar os filhos”, acredita.

O instrumento Imageador Gemini de Planetas, instalado no Telescópio Gemini Sul, baseado no Chile, fez sua primeira descoberta de um planeta localizado fora do Sistema Solar. O astro, com massa estimada em duas vezes a de Júpiter, foi descoberto graças à detecção direta de suas emissões de calor pelo Gemini, e está em órbita da estrela jovem (com cerca de 20 milhões de anos) 51 Eridani. O Sol, em comparação, tem mais de 4 bilhões de anos. O espectro do planeta indica uma atmosfera rica em metano e vapor d’água. O artigo que descreve a descoberta está na revista Science.

Foto: Nasa

Terra deve ter 11 bilhões de habitantes até o fim do século A população mundial pode chegar a 11,2 bilhões de pessoas em 2100, ante o total atual de 7,3 bilhões, disse o diretor da Divisão de População da ONU, John R. Wilmoth, durante o Joint Statistical Meetings (JSM) de 2015. O JSM é a maior convenção de estatísticos da América do Norte. De acordo com Wilmoth, a ONU estima que a probabilidade de a população global parar de crescer ainda neste século é de apenas 23%. O principal motor do crescimento populacional previsto para o século 21 é a África. A população do continente deve passar de 1,2 bilhão para algo entre 3,4 bilhões e 5,6 bilhões até 2100.

‘Superparcerias’ fortalecem carreira científica Planeta de estrela dupla Astrônomos de uma equipe internacional publicaram, no repositório gratuito de artigos científicos de exatas ArXiv, artigo descrevendo a descoberta, nos dados levantados pelo telescópio espacial Kepler, de um planeta em órbita de uma estrela binária – um sistema formado por duas estrelas que giram uma em torno da outra.

Folhas de alface crescendo no aparelho Veggie, a bordo da ISS, sob luzes LED vermelha e azul

Uma análise estatística de centenas de colaborações entre cientistas mostra que “superparcerias” – laços extremamente fortes de colaboração entre pesquisadores, que perduram por longos períodos – são mais produtivas e geram trabalhos mais citados do que colaborações eventuais. O artigo que descreve a análise dos tipos de parceria científica aparece no periódico PNAS. Essas colaborações “para toda a vida” são “um fator importante no desenvolvimento de uma carreira”, escrevem os autores, de instituições da Itália e dos Estados Unidos.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

3

Matemática da vida

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

eúna, em um grupo de pesquisa, um engenheiro eletricista, um engenheiro agrônomo, duas matemáticas e dois biólogos. Depois, deixe que busquem a melhor forma de diálogo e de utilização de seus conhecimentos, naturalmente distintos, em favor de um objetivo comum. O resultado, foco desta reportagem, foi um estudo original cujo saldo acaba de ser publicado pelo periódico científico Scientific Reports, pertencente ao grupo que edita a prestigiada revista Nature. O artigo sugere que a evolução das sequências biológicas, considerada aleatória, não é tão casual assim. “O que constatamos é que essa aleatoriedade responde a uma estrutura algébrica, que em alguma medida orienta a constituição dessas sequências”, afirma o pesquisador Marcelo Mendes Brandão, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp, um dos autores do trabalho. Além de Brandão, integram a equipe de pesquisadores o professor Reginaldo Palazzo Júnior, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp; e duas de suas ex-orientandas de mestrado e doutorado, Andréa Santos Leite da Rocha e Luzinete Cristina Bonani de Faria. Completam o time dois representantes da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq-USP): o professor Márcio de Castro Silva Filho e a doutoranda Larissa Spoladore. A linha central da investigação adotada por eles foi o uso de códigos corretores de erros (ECCs, na sigla em inglês), aplicados às sequências de DNA, estrutura que carrega as instruções genéticas dos organismos vivos. O professor Palazzo Júnior explica que os ECCs são comumente utilizados em transmissão e armazenamento de dados digitais. Assim, estão presentes em equipamentos que compõe o cotidiano das pessoas, como smartphones, TVs e notebooks. A função dos códigos corretores de erros, como o nome indica, é corrigir as falhas que ocorrem durante a transmissão ou armazenamento da informação. A ideia de aplicá-los às sequências biológicas, conforme o docente, veio do fato de haver semelhanças entre os dois sistemas. Para elucidar melhor esse ponto, Brandão se vale de um exemplo. Imagine um transmissor responsável pelo envio de dados para um satélite, que por sua vez transmite essas informações para um receptor. Enquanto os dados cumprem a sua trajetória, podem ocorrer interferências de diversas ordens, que podem causar a perda de bytes e comprometer a integralidade das informações. Nesse caso, os ECCs promovem a correção do erro ao longo do percurso, de modo a garantir que os dados cheguem ao destino de forma fidedigna. “No plano biológico o processo é praticamente o mesmo. O DNA passa a informação para o RNA mensageiro, que por sua vez o transmite para uma proteína. O sistema biológico também possui um mecanismo de correção de erros do DNA para o RNA e deste para a proteína”, detalha o pesquisador. A despeito das semelhanças entre os sistemas, transpor os códigos de correção de erros do universo da matemática para o da biologia não foi uma tarefa trivial, como observa Luzinete Faria. Inicialmente, segundo ela, as pesquisas tinham o objetivo de obter novos conhecimentos acerca da evolução biológica com vistas ao desenvolvimento, em etapa posterior, de plantas transgênicas. O insight para a realização do trabalho aconteceu durante uma palestra do professor Márcio de Castro, no 56º. Congresso Brasileiro de Genética, em Guarujá, no ano de 2010. Ao apresentar uma sequência gerada pelo código corretor de erro, havia a introdução de um códon de terminação da tradução (TGA) na sequência de uma proteína ao invés do códon TGG [responsável pelo aminoácido triptofano]. Este “erro” gerado pelo código provocaria o término da síntese de uma proteína, inviabilizando a sua função. Ao término da apresentação,

Estudo sugere que a evolução das sequências biológicas não é tão aleatória quanto se acredita e que responde a uma estrutura algébrica

Fotos: Antonio Scarpinetti

Marcelo Brandão, pesquisador do CBMEG: “O que constatamos é que essa aleatoriedade responde a uma estrutura algébrica, que em alguma medida orienta a constituição dessas sequências biológicas”

Da esq. para a dir., Reginaldo Palazzo Júnior, Luzinete Cristina Bonani de Faria e Andréa Santos Leite da Rocha, integrantes do grupo de pesquisa: resultados têm gerado uma saudável polêmica no meio científico

o professor Everaldo Barros, da Universidade Católica de Brasília, fez uma observação que foi fundamental para a realização do trabalho. “Esta alteração gerada pelo código não poderia representar o aminoácido triptofano em organismos ancestrais ou que poderiam representar uma exceção à universalidade do código genético?”, questionou. Ao se debruçar sobre a pergunta, o professor Marcio de Castro verificou que sim, em organismos primitivos o aminoácido triptofano pode ser codificado pelo códon TGA. Estas observações foram identificadas em outras sequências descritas no artigo, que foram cruciais para o estudo sobre a origem e evolução do código genético. Em discussão com o grupo da Unicamp, esta proposição converteu-se naquilo que popularmente é classificado de “pulo do gato”. Os pesquisadores passaram, então, a fazer uma espécie de regressão com base nas informações geradas pelos ECCs. Antes, porém, os cientistas tiveram obviamente que construir esses códigos, de maneira a identificar as sequências biológicas. “O que nós percebemos foi que, para cada sequência biológica, sempre aparecia uma diferen-

ça de posição de um nucleotídeo [composto que auxilia nos processos metabólicos das células]. Em outras palavras, identificamos uma estrutura algébrica ligada a essas sequências, com definição matemática muito bem fundamentada”, diz Luzinete Faria. A pergunta seguinte a ser respondida, acrescenta Andrea Rocha, era o que significavam essas diferenças de posição. A conclusão foi que as sequências biológicas sempre apresentavam um erro, que na linguagem da biologia equivale a uma mutação. Ao lançarem um olhar em retrospectiva, por meio de um estudo filogenético, método que traça a história evolutiva de uma espécie, os pesquisadores constataram que o código revelava uma sequência ancestral. Dito de modo simplificado, o código indicava para uma mutação que ocorrera há milhões de anos e que, por questões evolutivas desconhecidas, foi extinta ao longo do tempo. A constatação foi posteriormente referendada por um teste feito com uma sequência de câncer de mama, como relata Brandão. Ao aplicarem os códigos corretores de erro a ela, os pesquisadores obtiveram, como resposta biológica, o ponto em que

a transcrição iria parar. “Quando voltamos para a sequência do código, agora no âmbito da matemática, encontramos uma região de triptofano [aminoácido que compõe as proteínas dos seres vivos]. O interessante é que quando vamos aos organismos primordiais, identificamos uma sequência semelhante. Portanto, não enxergamos somente a parte matemática indicando que o código era antigo. Também constatamos isso fisicamente”, reforça. Para compreender melhor o que significa essa descoberta, Brandão cita o comentário feito pelo editor da Scientific Reports, segundo o qual o estudo contribuirá para mudar o pensamento sobre a filogenia molecular. Obviamente, por se tratar de uma proposição nova, que aponta para a possibilidade de a aleatoriedade da evolução biológica não ser tão aleatória assim, a pesquisa desenvolvida pelos cientistas da Unicamp e Esalq vinha causando polêmica no meio científico, antes mesmo da publicação do artigo. “Tudo que é novo encontra alguma resistência. Isso é natural. Agora, vamos aguardar as contribuições da comunidade científica ao nosso estudo”, pondera o professor Palazzo Júnior. “Isso sem contar que o trabalho é 100% brasileiro, o que sempre provoca alguma desconfiança por parte da comunidade científica dos países centrais”, completa Andrea Rocha. Mas, afinal, qual a importância dos resultados alcançados pelo grupo de pesquisadores da conexão Campinas-Piracicaba? Quem responde é Luzinete Faria. De acordo com ela, a identificação das mutações ocorridas nas sequências biológicas através do tempo abre caminho para a manipulação genética. “O que está no horizonte é promovermos, por exemplo, intervenções para evitar ou corrigir mutações que possam levar a diferentes doenças”, antevê, com a concordância de Brandão. Os pesquisadores fazem questão de assinalar, entretanto, que a ciência ainda está longe de atingir esse patamar. “Nós identificamos somente um código, mas podem e devem existir muitos outros. Nós conseguimos responder a algumas perguntas, mas estas suscitaram muitas outras, que ainda aguardam por solução. O que nós afirmamos internamente ao grupo é que demos o primeiro passo para o cumprimento de uma longa jornada”, resume Andrea Rocha.


4

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

Debatendo e combatendo a

má conduta científica Representantes da Unicamp participam de conferência sobre a integridade em pesquisa e trazem sugestões e ideias para a PRP

Fotos: Antoninho Perri

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

nstituições de ensino superior que pretendam ganhar relevância no meio científico global serão, cada vez mais, pressionadas a lidar com casos de má conduta científica de forma correta e transparente, sem ceder à tentação do corporativismo, e a estabelecer comitês internos de integridade em pesquisa para evitar um ostracismo internacional. Essa foi uma das principais impressões trazidas pela delegação de professores da Unicamp que assistiu à 4ª Conferência Mundial de Integridade em Pesquisa, realizada no Rio de Janeiro no início de junho. Quando um artigo científico atrai suspeitas de má conduta, o periódico que o publicou só tem condições de investigar o caso até certo ponto, e a partir daí a questão é repassada à instituição a que o pesquisador responsável é filiado. “E quando a revista joga para a instituição e a instituição não responde à altura, a revista pode aplicar sanções: outros cientistas da mesma universidade podem vir a ser proibidos de publicar nesse periódico”, disse Sandro Guedes de Oliveira, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), um dos representantes da Unicamp no evento. “Se uma instituição não resolver os casos dela, a revista pode decidir que ela não vai mais publicar lá”, disse ele. “Então, imagine se, por exemplo, um dia aparece na Nature um caso que a Unicamp não tem como tratar e, a partir daí, nenhum pesquisador da Unicamp publica mais na Nature? Acho que isso ajuda a consertar um pouco o corporativismo, porque acaba afetando outras pessoas, cria uma pressão contrária: a preocupação passa a ser preservar a instituição”. Além de Guedes, representaram a Unicamp na conferência mundial os docentes e pesquisadores Maria Luiza Moretti, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM); Rogério Custodio, do Instituto de Química (IQ); Renata Celeghini, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA); Pedro Luiz Rosalen, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP); e Rosana Almada Bassani, do Centro de Engenharia Biomédica (CEB).

PLÁGIO “Foram apresentados, no evento, números que mostram que as más práticas são mais comuns do que se imagina, em todo o mundo”, disse Rogério Custodio. Foi citada uma pesquisa mostrando que num único campo do conhecimento, a Psicologia, a maioria dos pesquisadores americanos – de uma amostra de mais de 2 mil, sondada pelo periódico Psychological Science – admite ter cometido algum tipo de “ato questionável” em sua carreira, incluindo engavetar resultados negativos (50% dos entrevistados) ou inventar dados (1,7%). Há vários tipos de má conduta científica, que podem ir desde a assinatura indevida de artigos por pesquisadores que, na verdade, não participaram do estudo ao uso de técnicas de análise estatística inadequadas, mas os mais citados na conferência foram os que se reúnem nas categorias plágio, fabricação e falsificação, disse o pesquisador. “Plágio é cópia sem a identificação da autoria, fabricação é quando você inventa um dado ou o resultado de um experimento que na verdade não fez, e falsificação é quando você adultera o resultado de um experimento”, explicou ele. Das três modalidades, o plágio parece ser a mais comum, estimulada pelas pressões por produtividade e pela “cultura de copy-paste” trazida com a disseminação da internet. “A forma de abordar esse problema começa na educação”, disse Renata Celeghini, que também é coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp. “Temos que educar o aluno que está ingressando. Porque o acesso aos dados é muito ágil nesta era da internet. Para o novo pesquisador, pode ser muito difícil discernir o que é dele e o que é de outra pessoa, porque na internet, está tudo muito acessível para o copiar e colar”, disse. “Há um processo educativo que temos que fazer na base, para que possamos ter pesquisadores mais íntegros ao longo do tempo, conscientes dos padrões éticos”.

INCENTIVOS Os palestrantes da conferência também deram atenção à questão da estrutura de incentivos do sistema atual de produção científica, que pressiona os pesquisadores a

Sandro Guedes de Oliveira, IFGW: “Se uma instituição não resolver os casos dela, a revista pode decidir que ela não vai mais publicar lá”

Renata Celeghini, do CPQBA: “Há um processo educativo que temos que fazer na base, para que possamos ter pesquisadores mais íntegros”

Rogério Custodio, do IQ: “Foram apresentados números que mostram que as más práticas são mais comuns do que se imagina, em todo o mundo”

Maria Luiza Moretti, da FCM: “A China vai passar os EUA em número de publicações, mas também é o país com o maior número de retratações”

produzir e a publicar grandes quantidades de trabalhos. O mesmo problema foi alvo de dois artigos em edição recente da revista Science. “Existem as métricas estabelecidas – citações, publicações, o fator h, entre outras – mas os palestrantes apontam que o uso indiscriminado disso acaba criando distorções”, relatou Guedes. “O que um grupo de pessoas que estuda isso recomenda é que se olhe caso a caso, sem generalizar. Um exemplo dado foi o da área de História, onde a literatura local é muito importante. Os textos em português são muito importantes – só que os textos em português não estão indexados nas grandes bases de dados internacionais. Se você for usar os critérios mais usuais para comparar um historiador com, por exemplo, um pesquisador da Medicina, vai acabar concluindo que o pesquisador da Medicina é produtivo e o da História, não. Por isso é preciso observar essas particularidades de cada disciplina. Nenhum indicador é absoluto”, disse ele, citando ideias do Manifesto de Leiden para Métricas de Pesquisa, publicado em abril deste ano na revista Nature. “Na verdade, não se sabe qual a receita”, complementou Custodio. “Numa das sessões a que assisti, o palestrante questionou os quantificadores de produção. E aí alguém perguntou: se todos são inadequados, o que a gente tem que usar? E ele respondeu: não sei”. A afirmação contundente, explicou Custodio, baseava-se na premissa de que estudos que podem não parecer relevantes de imediato podem vir a se tornar a base de algo que terá um papel fundamental no futuro da ciência. Incentivos financeiros à produtividade também podem levar a resultados indesejados, como exemplificou Renata Celeghini. “O que se relatou também, numa palestra a que assisti, é que os pesquisadores chineses recebiam uma verba extra, caso conseguissem publicações em revistas conceituadas: quanto mais publicações, mais recebiam”, disse ela. “Mas eles interromperam os benefícios, pois constataram que o aumento do número de publicações ocasionou falta de qualidade dos manuscritos e aumento drástico do número de plágios”. A situação chinesa foi muito comentada na conferência. “A China foi o país que mais cresceu em número de publicações nos últimos anos. Teve o maior crescimento do mundo. E vai passar os EUA em número de publicações, em breve será o país que mais publica. Mas também é o país com o maior número de retratações, de dados falsos”, disse Maria Luiza Moretti. “Isso pode ser pela pressão do cientis-

ta em publicar, uma cobrança muito grande, provavelmente política. E isso leva um pouco à descrença do dado chinês, uma perda de credibilidade da ciência do país”.

REMÉDIOS Má conduta científica é algo que acontece por toda parte, incluindo em instituições conceituadas – o que muda é a forma como as universidades, os órgãos de financiamento e os governos lidam com a situação. Há países que têm leis, órgãos e políticas específicas para tratar do problema, o que não é o caso do Brasil, disseram os pesquisadores da delegação da Unicamp. Eles também manifestaram desapontamento com o silêncio das autoridades brasileiras presentes na conferência internacional. “Fizeram as saudações de praxe, desejaram a todos uma boa conferência e não disseram nada sobre a posição do Brasil nessas questões”, disse Custodio. Em diferentes países, a formalização dos procedimentos de integridade em pesquisa parte de medida do governo central e, em outros, nasce de medidas das próprias instituições de ensino e pesquisa. Poucas universidades brasileiras, porém, contam com comitês ou conselhos de integridade científica. No caso da Unicamp, Renata Celeghini acredita que comissões já existentes, como o Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEP), Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) e do Patrimônio Genético (Patgen), poderão servir de embrião para um comitê mais geral. “A Unicamp já tem esses três, que já dão um respaldo ético à pesquisa, mas ainda precisa desse maior, que englobaria todos”, disse. A delegação de professores trouxe, do evento no Rio de Janeiro, algumas recomendações que estão sendo repassadas à Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), que pretende realizar um evento de integridade em pesquisa na Unicamp. Os pesquisadores tiveram contato com ferramentas educacionais para ensinar aos cientistas, principalmente aos pós-graduandos, sobre boas práticas de pesquisa, e também com um software para a detecção de plágio. “É possível fazer seminários, workshops, criar disciplinas, de alguma forma você tem que educar o jovem”, disse Custodio. “Existe a falta de conhecimento de que determinadas coisas são erradas. E os alunos aprendem imitando. Você tem, num determinado momento, de mostrar quais são as regras, quais são os princípios da boa prática em termos de pesquisa. Isso não é trivial”.


5

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

Anil é anti-inflamatório e antioxidante, revela estudo

Testes mostram que corante pode ser útil no tratamento de doenças inflamatórias intestinais Fotos: Antoninho Perri

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

índigo, ou anil, um corante de origem vegetal usado pela humanidade há milhares de anos, tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que podem vir a ser úteis no tratamento de doenças inflamatórias intestinais (DII), como a colite ulcerativa e a Doença de Crohn, mostra uma série de estudos em animais descrita na tese de doutorado “Avaliação do Efeito do Alcaloide Índigo em Modelos Experimentais de Colite”, da pesquisadora Ana Cristina Alves de Almeida, defendida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, pelo Programa de Pós-Graduação em Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos. Nos modelos experimentais usados por Ana Cristina, drogas foram usadas para provocar sintomas de colite aguda, crônica e também de inflamação associada a câncer de cólon, em ratos e camundongos, e os animais foram tratados com índigo por via oral. “O modelo que se aproxima mais da doença de Crohn é bastante agressivo. Nesse modelo, o tratamento com índigo reduziu a lesão macroscópica, e isso por si só já é um sinal interessante, porque a lesão é bastante severa”, disse a pesquisadora. “Observamos também que o índigo melhorou alguns marcadores do estresse oxidativo no cólon dos animais que foram tratados”. Nesse modelo, no entanto, não foi detectada redução nas moléculas envolvidas no processo inflamatório. “Mas houve uma ação um pouco mais antioxidante que auxiliou no efeito de proteção”. Já na versão menos severa da inflamação, onde as lesões não são visíveis a olho nu, o tratamento com índigo reduziu alguns sintomas da doença, bem como a presença das moléculas que marcam a inflamação. “Ele não minimizou todos os sintomas da doença, mas alguns, sim: os animais tratados perderam menos peso, houve menor mortalidade. A gente percebe que o índigo teve um efeito protetor”. Ainda é cedo para falar na aplicação dessas descobertas no tratamento de doenças inflamatórias em humanos – são necessários mais experimentos em animais, em modelos que se aproximem mais da forma como a doença se manifesta nas pessoas, antes de se avançar para os testes de segurança em seres humanos e, por fim, para os ensaios clínicos –, mas Ana Cristina lembra que a molécula do índigo não só é abundante na planta original do corante, a indigófera, como pode ser facilmente sintetizada: a maior parte do corante usado hoje não é mais extraído da natureza, mas fabricado por meio de um processo barato e já bem estabelecido.

Amostra de índigo: molécula pode ser processada industrialmente e é abundante na planta original do corante

“Os níveis de pureza podem ser diferentes, mas a molécula do corante fabricado é a mesma que testamos, extraída de Indigofera truxillensis”, disse ela. “Com base nos resultados, não só do meu trabalho como do nosso grupo, outros grupos de pesquisa podem levar adiante o estudo, avaliando melhor o possível efeito toxicológico das moléculas e realizar o estudo em humanos, a pesquisa clínica. Isso pode ser feito por meio de parcerias, ou do interesse de outros grupos de pesquisa”. Em comparação, os melhores tratamentos disponíveis hoje em dia para essas condições são agentes biológicos que afetam o sistema imunológico: caros, de fabricação complexa e tendem a produzir efeitos colaterais. “Esses tratamentos são eficazes, mas têm custo elevado e muitos efeitos colaterais, já que geralmente o tratamento envolve a inibição do sistema imune”, disse a pesquisadora. “Outra coisa que motiva a busca por novos tratamentos é que há pacientes que não respondem aos tratamentos existentes. E às vezes o tratamento pode deixar de ser efetivo para uma pessoa. Na prática, o paciente começa um tratamento, depois tem que passar para outro, e depois de um certo tempo deixa de responder também e tem que mudar outra vez”, descreveu. Essas doenças inflamatórias são mais diagnosticadas no mundo desenvolvido, mas os registros nos países em desenvolvi-

mento vêm crescendo. Em sua tese, a pesquisadora nota que “há aumento significativo da incidência de DII praticamente em todos os países onde há dados relatados, mesmo em locais com poucos casos, como Ásia e América Latina (...) A prevalência e incidência de DII têm aumentado em países em desenvolvimento, o que se deve, possivelmente, a uma maior eficácia na identificação dos pacientes, aliada a maior acesso a ferramentas de diagnóstico, e às mudanças ambientais como industrialização e adoção de estilo de vida semelhante a dos países desenvolvidos”.

DROGAS E VENENOS O índigo é um alcaloide, uma classe de molécula de origem vegetal que inclui diversas substâncias tóxicas ou psicoativas, como cafeína, morfina, nicotina e estricnina. “O alcaloide é o que a gente chama de metabólito secundário, uma classe de produtos que são sintetizados pelas plantas que não estão relacionados ao metabolismo principal, mas que conferem alguma vantagem de sobrevivência”, explicou Ana Cristina. “Os alcaloides geralmente são moléculas pequenas, contendo nitrogênio. Existem vários alcaloides, e a gente ouve falar mais dos perigosos, mas existe uma diversidade muito grande, tanto de estrutura química quanto de atividade biológica no ser humano e em outros organismos”.

A pesquisadora Ana Cristina Alves de Almeida, autora da tese: “O tratamento com índigo reduziu a lesão macroscópica, e isso por si só já é um sinal interessante”

Pesquisas anteriores já haviam testado a toxicidade do índigo em culturas de células e em bactérias, encontrando efeitos negativos. “Encontrou-se um certo efeito mutagênico em uma linhagem de bactérias (Salmonella TA98), e toxicidade em certos tipos celulares (células de adenocarcinoma de pulmão e de mama)”, relatou Ana Cristina. “Por conta disso, avaliei também um pouco da toxicidade no meu trabalho”. A pesquisadora acompanhou os animais, durante o período de tratamento, em busca de sinais de mudança de comportamento, e também analisou a saúde dos órgãos dos roedores, como coração, rins e fígado, após o final do estudo. “Também fiz outro experimento, de toxicidade aguda de dose única: a ideia é dar uma dose bem alta da substância e acompanhar os animais por duas semanas”. “Eles não ficaram doidões”, brincou Ana Cristina, “e nem encontramos sinais de toxicidade. Então, a gente acredita que, in vivo, o índigo não tenha toxicidade alta. Mas, antes de passar isso para um estudo em humanos, ainda há protocolos que precisam ser testados, não só em roedores como também em algum outro animal, diferente do roedor, ao menos ter uma ideia melhor da não toxicidade”.

BIOTA O interesse pelo índigo, disse a pesquisadora, surgiu depois que duas espécies de Indigofera foram estudadas em um projeto temático do programa Biota Fapesp, “Uso sustentável da biodiversidade brasileira: prospecção químico-farmacológica em plantas superiores”, que trabalhou com caracterização química e avaliação farmacológica de extratos e frações, a partir de conhecimentos tradicionais de populações do cerrado brasileiro sobre propriedades medicinais de plantas. Esse projeto, que durou de 2003 a 2008, foi encabeçado por Wagner Vilegas, da Unesp, e teve, entre seus pesquisadores principais, a professora Alba Regina Monteiro Souza Brito, orientadora da tese de Ana Cristina. “Minha tese já não está mais dentro do Biota, mas surgiu dos trabalhos feitos dentro desse projeto”, disse a pesquisadora. “Depois desse projeto inicial, houve outro no guarda-chuva do Biota, ‘Fitoterápicos padronizados como alvo para o tratamento de doenças crônicas’ (em andamento), que levou adiante estudos em algumas das plantas avaliadas, mas a indigófera acabou não sendo selecionada”. Ana Cristina espera ter, até o fim do ano, pelo menos um artigo, escrito e enviado a periódico científico, sobre seu trabalho com índigo. O prosseguimento dos estudos depende de acertos de agenda, já que ela, além de pesquisadora, também é funcionária do IB. “Prestei um concurso no final de 2012 e fui chamada para trabalhar no IB em 2013. Já estava no meio do doutorado quando comecei a trabalhar aqui, como biologista no Departamento de Genética”, disse. “Pretendo ainda fazer alguns ensaios com o índigo, para publicar o meu trabalho de tese de doutorado, mas gostaria de testá-lo num outro modelo, que se aproxima mais da forma como a doença se manifesta em humanos. E talvez fazer alguma outra pesquisa mais relacionada ao câncer colorretal, só que aí já sem o índigo”.

Publicação Tese: “Avaliação do Efeito do Alcaloide Índigo em Modelos Experimentais de Colite” Autora: Ana Cristina Alves de Almeida Orientadora: Alba Regina Monteiro Souza Brito Unidade: Instituto de Biologia (IB)


6

Campinas, 17 a 23

Tese revela configuração polari LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

sta matéria traz análises diferenciadas sobre o trabalho imigrante no Brasil e já estava editada quando seis haitianos foram baleados no centro de São Paulo, em 8 de agosto – os ocupantes do carro ainda dispararam: “Vocês roubam nossos empregos!”. A socióloga Patrícia Villen, autora da tese de doutorado em questão, havia alertado na entrevista que seu estudo vai até 2014 e que o cenário de desemprego acentuado a partir deste ano exporia a figura do imigrante a maior discriminação ou mesmo a manifestações de xenofobia. “Quando, em 2013, um menino boliviano foi baleado na cabeça por assaltantes, de imediato se colocava a dúvida se esta frieza teria se manifestado com a mesma força com uma criança brasileira, pois o repúdio da sociedade – e da polícia – teria sido incomparavelmente maior”, recorda a pesquisadora, a tempo de comentar o atentado de 8 de agosto. “De novo, esses tiros contra os seis haitianos são certeiros no mito da democracia racial, que despenca com mais nitidez nos momentos de crise e desemprego.” Na opinião da pesquisadora, são tiros que simbolizam e sinalizam muitas questões, do passado e do presente. “É claro que essas questões não se resumem ao funcionamento do mercado de trabalho, mas não podem ser compreendidas, nem mesmo verdadeiramente combatidas, sem se considerar essa dimensão. O alvo desses tiros é potencialmente o conjunto dos imigrantes e refugiados provenientes de países periféricos, em particular os não brancos, considerados um acaso emergencial da história da imigração no país, que trazem custos ao invés de riquezas econômicas e culturais.” Patrícia Villen desenvolveu uma pesquisa de doutorado ampla e densa, orientada pelo professor Ricardo Antunes, que pretende cobrir uma lacuna nos estudos sobre o tema no campo da sociologia do trabalho. Dois dados merecem ser inicialmente pinçados: ao mesmo tempo em que a polêmica em torno da contratação de médicos cubanos para trabalhar no Brasil (eram 11.452 em dezembro de 2014) levantava poeira no continente, havia uma massa igual de profissionais estrangeiros (11.796 no terceiro trimestre do mesmo ano, especialmente filipinos) a bordo de embarcações ou plataformas operadas por empresas transnacionais do petróleo, mas ignorados pela sociedade, visto que se encontravam a milhas de distância sobre o mar. “Quando da vinda dos médicos cubanos, houve uma polêmica imediata porque eles chegaram juntos, em massa. Quanto aos filipinos, como não os vemos, é como se não estivessem no país”, observa Patrícia Villen, sobre um dos vários setores do mercado de trabalho imigrante avaliados na pesquisa. “A situação mostra que uma indústria carro-chefe do desenvolvimento nacional vem fazendo uso de uma força de trabalho que, segundo estudos criteriosos, apresenta alto indício de trabalho forçado. Esses trabalhadores não podem se sindicalizar e se submetem a disciplina militar, em duras jornadas diárias e ficam por longos períodos distantes no mar, sem pisar na terra firme dos territórios nacionais.”

Estudo inédito uma de trabalhadores com perfil “qualifica

Foto: Antoninho Perri

A socióloga Patrícia Villen, cuja tese foi desenvolvida no IFCH: “Constatei características diferenciadas com relação à forma de entrada no país, à ideologia por trás desses fluxos, como o tratamento dado pelas leis de imigração, as condições de trabalho e de salário e à componente de sexo”

“Imigração na modernização dependente: ‘braços civilizatórios’ e a atual configuração polarizada” é o título da tese apresentada no Instituto de Filosofia de Ciências Humanas (IFCH). A autora começou a construir este tema durante o mestrado na Universidade de Veneza sobre o contexto de libertação nacional na África, seguido de um curso de especialização sobre migração e racismo, em ambos os casos orientada pelo sociólogo Pietro Basso. “Estava em um centro de excelência na área, no momento em que a Europa vive o fenômeno intensamente. Surgiu então esta chance no IFCH, focando a relação entre trabalho e os fluxos imigratórios no Brasil, junto ao professor Ricardo Antunes e seu grupo de pesquisa, e em diálogo profundo com a professora Rosana Baeninger e seu grupo do Observatório das Migrações em São Paulo.” Embora o fluxo não seja tão elevado como no passado – o Brasil recebeu mais de 4 milhões de imigrantes de 1872 até 1930 – ou mesmo em comparação aos países centrais, Patrícia Villen considera que não se justifica a marginalização do tema, sobretudo na sociologia do trabalho, tampouco o tratamento excessivamente particularizado. “O objetivo da tese foi agir nesta lacuna de estudo e mostrar a abrangência do tema a partir de um ponto de vista mais geral do trabalho na sociedade. Só para citar um exemplo próximo, quando iniciei a pesquisa, o banco Santander

Os agentes da modernização Ao adotar a visão do universo do trabalho imigrante no Brasil em dois polos, Patrícia Villen identificou primeiramente uma imigração com perfil qualificado-especializado – noção que, como lembra, deve ser problematizada na sociologia. “Este polo corresponde ao desenho institucional da imigração no país: fazendo um paralelo com o passado, é um perfil que continua respondendo aos parâmetros seletivos de entrada no Brasil visando à ‘modernização dependente’ e suprindo a escassez de força de trabalho em setores específicos. Digamos que, hoje, esses imigrantes qualificados-especializados são eleitos agentes da modernização do mercado de trabalho para áreas estratégicas da estrutura produtiva brasileira.” A autora da tese observa que neste perfil se destaca o número de autorizações de trabalho concedidas pelo MTE: foram 62 mil autorizações em 2013 e 36,5 mil até setembro do ano passado. “Este perfil qualificado-especializado ganhou muita força de 2007 a 2014, período que privilegiei na tese justamente para explorar a relação entre um momento de aquecimento do nosso mercado de trabalho e o contexto de crise e recrudescimento das políticas imigratórias nos países centrais. As empresas transnacionais e de tecnologia de ponta são polos importantes de atração de gestores estrangeiros, por exemplo. Trata-se de profissionais que, na estrutura produtiva, têm uma posição tanto de controle da produção quanto das finanças e por isso não podem ser considerados como pertencentes à classe trabalhadora. Neste polo, entretanto, também temos assalariados, como os arquitetos, engenheiros e uma gama variada de profissionais que entram no país contratados internamente pelas empresas (os ‘expatriados’) ou não. Em geral, eles encontram mais facilidade para permanecer e trabalhar no país, mas de forma temporária – uma tendência mundial, igualmente manifestada aqui.”

Um caso novo na história da imigração no Brasil, conforme a socióloga, é a contratação em massa de estrangeiros dentro do programa Mais Médicos, mostrando como o Estado brasileiro também é consumidor direto desta força de trabalho imigrante e como o racismo se revela mesmo para o perfil qualificado-especializado, em referência à polêmica em torno dos cubanos. Patrícia Villar elaborou quadros estatísticos sobre a participação de professores estrangeiros no ensino superior (4.113 em 2013), na grande maioria contratados por universidades públicas. “Isso está ligado a uma política de internacionalização das instituições, com aumento também no intercâmbio de estudantes. Outro detalhe é que o mercado acadêmico está difícil lá fora. Entrevistei um professor espanhol que já estava contratado em seu país, mas em regime temporário, e veio ao Brasil como turista a fim de prestar concurso para obter um trabalho estável. Se a flexibilização do trabalho é um debate muito vivo entre nós, vemos que este imigrante qualificadoespecializado está fugindo dela.” A pesquisadora entrevistou engenheiros espanhóis fugindo também do desemprego, trabalhando em obras em regime temporário, mas sem poder voltar para junto da família. “Na literatura, este perfil qualificado-especializado geralmente é tratado mais confortavelmente, como se a imigração fosse uma escolha puramente individual, quando também está relacionada às dinâmicas do mercado de trabalho, principalmente com o desemprego estrutural e o avanço de formas de flexibilização na contratação, que geram insegurança e incerteza ou mesmo esta necessidade de migrar.” De acordo com a autora da tese, é marcante a presença de jovens que entram no país como estudantes ou turistas e aqui permanecem à procura de emprego. “Muitos dos imigrantes são do sul da Europa, notadamente portugueses, espanhóis e italianos, que mais sofrem com a crise econômica atual. Ressalto na tese que este perfil qua-

lificado-especializado hoje também é indocumentado – aspecto que descobri na pesquisa de campo, entrevistando fiscais do trabalho que me revelaram a existência inclusive de executivos de transnacionais sem o visto de trabalho, na clandestinidade.” Outra característica apontada por Patrícia no polo da qualificação-especialização é o acentuado desequilibro de gênero, havendo apenas 10% de mulheres: de 62.387 autorizações de trabalho concedidas em 2013, somente 6.659 foram para profissionais do sexo feminino; e em 2014, até o mês de setembro, de um total de 36.508, elas receberam 3.996 autorizações. “Uma exceção está do programa Mais Médicos, em que o número de doutoras supera o de doutores [6.974 e 5.191, respectivamente, totalizando 12.165 médicos estrangeiros até dezembro de 2014].”

NO SETOR DE PETRÓLEO Patrícia Villen destaca em seu estudo a situação na indústria do petróleo, que depois da descoberta do pré-sal, segundo o banco de autorizações de trabalho, já atraiu mais de 10 mil trabalhadores imigrantes, a maioria de procedência asiática, mas também do Leste europeu. “É uma questão que ainda não tinha sido explorada no Brasil, ligada a uma indústria global que se utiliza da força de trabalho de filipinos, chineses e de outras nacionalidades asiáticas especializados nesta atividade a bordo de embarcações e plataformas no mar. Estudos do especialista italiano Valter Zanin indicam que esses imigrantes estão expostos ao trabalho forçado, sob uma disciplina militar e que agrega outros fatores problemáticos como dos filipinos, que são impedidos de se sindicalizar. Não saberia dizer se o caso já se tornou preocupação dos sindicatos, mas o aumento de fluxo exponencial de filipinos nos últimos anos merece estudos urgentes.”


7

de agosto de 2015

izada da mão de obra imigrante

o mostra a existência de duas vertentes: ado-especializado” e outra composta de “periféricos emergenciais” Fotos: Divulgação

Manifestantes na edição de 2013 da Marcha dos Imigrantes, em São Paulo: pesquisa preenche lacuna nos estudos no campo da sociologia do trabalho

construía em Campinas a sua sede para a América Latina, onde engenheiros espanhóis trabalhavam nas obras ao lado de haitianos contratados por empresas terceirizadas de limpeza; na Unicamp vemos inúmeros professores e estudantes estrangeiros; há médicos cubanos prestando serviços no SUS; e no polo têxtil de Americana temos uma concentração de bolivianos. São imigrantes de perfis bastante diferenciados, mas unidos pelo mercado de trabalho. Quis tratar desta configuração polarizada, ainda não constatada em contextos periféricos como no Brasil.” Além de se apoiar em pesquisas internacionais apontando para esta configuração polarizada, a socióloga se debruçou nos bancos de dados do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE) e de outras fontes para destacar os diferentes perfis de trabalhadores. “Pesquisei desde imigrantes com autorizações de trabalho concedidas pelo MTE até os indocumentados [sem visto], refugiados, professores, estudantes e aqueles que entraram como turistas ou por motivo de casamento – analisei essas diferentes categorias em conjunto, mostrando como elas se relacionam com o trabalho. Também constatei características diferenciadas com relação à forma de entrada no país, à ideologia por trás desses fluxos, como o tratamento dado pelas leis de imigração, as condições de trabalho e de salário e à componente de sexo.” A autora percebeu a lacuna sobre o trabalho imigrante ao realizar uma ampla revisão bibliográfica dos estudos já produzidos no Brasil. “Era possível encontrar análises particularizadas, especialmente sobre os bolivianos na indústria têxtil. Porém, não havia estudos sistemáticos sobre o tema, a não ser alguns produzidos na demografia, sobretudo pelo Observatório das Migrações em São Paulo. Também fiz uma pesquisa de campo, entrevistando executivos de transnacionais, professores, médicos, imigrantes haitianos e refugiados. Quis mostrar como o fenômeno é abrangente, presente na indústria, nos serviços, nas finanças e no setor público, com aumento significativo de entrada no país depois da eclosão da crise em 2007.” Segundo Patrícia Villen, o rigor científico necessário para mostrar as diferenças e como elas implicam nas condições de trabalho e na estruturação de vida destes imigrantes no país, levou-a a dividir este universo em dois polos: os de perfil “qualificado-especializado” e os “periféricos emergenciais”. “A divisão em dois polos não deve gerar o equívoco de que existam dois tipos de imigração no Brasil; é preciso rigor para demonstrar as características diferenciadas devidas a fatores como a autorização de trabalho para o profissional qualificado-especializado e da indocumentação presente entre os periféricos emergenciais, bem como outros elementos novos da imigração desses tempos.”

Publicação Tese: “Imigração na modernização dependente: ‘braços civilizatórios’ e a atual configuração polarizada” Autora: Patrícia Villen Orientador: Ricardo Antunes Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)

Os periféricos emergenciais Patrícia Villen lembra que após a abolição do tráfico negreiro em 1850, o fluxo imigratório de trabalhadores livres foi basicamente de europeus brancos, perfil que mudou a partir da segunda metade do século 20, quando a Europa deixou de ser o grande fornecedor de imigrantes para o mundo e transferiu esta condição aos países periféricos do sistema capitalista. “No contexto brasileiro, isso ficou evidente depois da década de 1970, quando teve início o fluxo de coreanos e bolivianos – momento da aprovação do Estatuto do Estrangeiro (1980), que conserva os parâmetros seletivos de imigração ao permitir, praticamente, apenas a entrada deste perfil qualificado-especializado, beneficiando as empresas transnacionais e a importação de tecnologia.” Na opinião da pesquisadora, no regime militar ficou clara a abertura do país para entrada deste fluxo de capital estrangeiro, ao mesmo tempo em que as fronteiras “se fechavam”, entre aspas, para os imigrantes em geral. “Acontece que as fronteiras nunca se fecham, elas são porosas – na expressão de Pietro Basso. É justamente neste período que outro perfil de imigração começa a ganhar corpo sociológico, proveniente de países da periferia do capitalismo, que denominei ‘periféricos emergenciais’ e que expressa um fenômeno global. Aqui, esses fluxos de países periféricos ganham força e podem ser considerados contínuos desde então.” Em decorrência da crise mundial de 2007, como ressalta a autora da tese, o Brasil vem recebendo imigrantes provenientes de outros continentes periféricos, como África e Ásia, e ainda de países latino-americanos fora do Mercosul, sendo um exemplo explícito o do Haiti, arrasado pelo grande terremoto de 2010. “No âmbito do Mercosul temos um acordo de residência e trabalho para imigrantes dos países-membros que começou a ser aplicado em 2009, mas ainda burocratizado pela exigência de vários documentos; não é como o Espaço Schengen da Europa, onde a livre circulação para residência e trabalho dentro dos países signatários é um direito desburocratizado.” Patrícia Villen vê como um agravante dos impactos do fenômeno no Brasil – assim como nos países centrais – as leis imigratórias proibitivas. “Tratamos esses fluxos como uma questão emergencial, como um acaso na história da imigração no país: não são fluxos planejados, nem bem-vindos. No caso dos haitianos, uma mínima parte entra no país com vistos humanitários, conforme uma cota anual insignificante; todos os outros entram clandestinamente pelas fronteiras, solicitando o refúgio para depois ganhar o visto humanitário. É realmente um tratamento emergencial e inclusive discricionário, por depender de um governo que reconheça o caráter humanitário desse tipo de imigração e as pessoas possam permanecer e trabalhar no Brasil.” Uma nova legislação está em discussão no Congresso Nacional, mas a socióloga, que participou de conferências importantes sobre o tema e de duas edições da Marcha dos Imigrantes em São Paulo (2013 e 2014), adverte que continua em aberto uma questão crucial para esses trabalhadores estrangeiros: o trabalho. “Nesta discussão envolvendo direitos humanos (visto, discriminação e violência contra os imigrantes) é preciso incluir a esfera do trabalho. Continua sendo priorizado o fluxo com perfil qualificadoespecializado, enquanto os outros imigrantes e refugiados são tratados de forma emergencial. A questão está colocada: como lidar com esses fluxos no contexto periférico brasileiro, em que a precariedade do trabalho é transversal?”

A socióloga propõe que seja debatida, ainda, a situação dos refugiados, que também têm necessidade de fugir de seus países e buscar trabalho literalmente para sobreviver. “O refúgio é uma modalidade dos fluxos migratórios internacionais que, nesse contexto de crise econômica, guerras e conflitos, ganha força também no Brasil. Embora sejam legalmente refugiados, que viveram situações extremas e, sem a opção de permanecer em seus países, correram risco de morte, creio que devam ser tratados de forma conjunta com outros fluxos de imigrantes, particularmente na questão do trabalho, para que tenham condições de estruturar suas vidas de forma digna em nosso país.” Para Patrícia, as lutas dos imigrantes na esfera do trabalho são conjuntas com as dos brasileiros, não havendo como lidar com a questão de forma fragmentada, visto que está intimamente ligada ao funcionamento do mercado de trabalho. “É certo que o corte da tese de doutorado vai até 2014 e hoje temos um cenário de desemprego que se anuncia grave no país. A figura do imigrante será muito exposta tanto à exploração do seu trabalho como à discriminação, ou mesmo a manifestações de xenofobia, visto o que acontece na Europa, onde os partidos de direita estão em ascensão calcados na hostilização aos imigrantes. É importante perceber que a crise não fará com que os imigrantes deixem de vir; pelo contrário, o cenário anuncia uma intensificação desses fluxos em nível global.”

EXPRESSANDO TRAGÉDIAS A pesquisadora reitera que a presença da força de trabalho do imigrante é estrutural e estratégica, tendo existido sempre na história do Brasil, com seus três séculos de importação do trabalho escravo, a experimentação dos “coolies” (trabalhadores asiáticos) no final do século 19 e a entrada massiva de trabalhadores livres. “É interessante observar que aquele conceito do passado de se importar trabalhadores europeus brancos (que chamo de ‘braços civilizatórios’) para modernizar a economia e trazer uma cultura mais ‘avançada’ pode ser remetido ao perfil atual dos qualificados-especializados, que hoje convive com um universo mais amplo da imigração de proveniência periférica, em grande parte indocumentada. Os fluxos diminuem ou aumentam segundo contextos históricos e econômicos, mas nunca são interrompidos – e o mercado de trabalho é um termômetro para compreender esta oscilação.” Patrícia Villen iniciou sua tese de doutorado com a frase “o Brasil voltou a ser um país de imigração”. Segundo ela, essa ideia gera dúvidas e equívocos no sentido de se perguntar quando a imigração deixou de existir, mas é muito recorrente mesmo em estudos especializados e foi ouvida durante os pronunciamentos de autoridades na 1ª Conferência Nacional sobre Migração e Refúgio (Comigrar), organizada pelo governo federal em meados de 2014. “Foi um evento significativo em que o Estado brasileiro, finalmente, assumiu a presença crescente destes imigrantes. A história da imigração no Brasil foi silenciada, tornou-se invisível, desde os anos 70, o que influencia a produção do conhecimento, bem como as práticas e a mentalidade sobre a imigração no país. Como diz o sociólogo Pietro Basso, os imigrantes de hoje são expressões de sintomas de tragédias que o mundo está vivendo – e não só de guerras e catástrofes naturais, mas também de uma produção ampla e disseminada da pobreza em escala mundial.”


8

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

FEA obtém composto bioativo

de alecrim e cravo-da-índia

Fotos: Antoninho Perri

Engenheiro de alimentos testa novo processo de extração a partir de matrizes vegetais

O pesquisador Giovani Leone Zabot: processo supercrítico tem tecnologia 100% limpa

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ubstâncias naturais extraídas de plantas têm propriedades funcionais que as tornam preferíveis em relação às substâncias sintéticas para aplicação farmacológica e elaboração de bioprodutos. Técnicas de extração, como a que utiliza fluidos supercríticos, vêm se destacando por permitirem a obtenção seletiva de compostos bioativos com elevada pureza e qualidade. Atualmente, os compostos bioativos, industrialmente falando, são produzidos com solventes orgânicos. Estes compostos são alcançados mediante extração convencional. Ocorre que muitas vezes acabam deixando resíduos no extrato e prejudicando a purificação. Consequentemente, interferem nas aplicações no setor industrial. O pesquisador Giovani Leone Zabot viu então a chance de testar em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), um novo processo de extração de compostos a partir de duas matrizes vegetais – o cravo-da-índia e o alecrim – com fluido supercrítico. “O método mostrou aproveitamento maior da matriz vegetal para uma obtenção diversificada de compostos bioativos, permitindo a redução em 28% dos custos anuais de produção”, concluiu o autor no estudo, realizado no período de 2011 a 2015. O processo teve a capacidade de gerar um extrato isento de solvente, com a vantagem de estar disponível na natureza, já que ele é o próprio CO ² , o que facilita o desenvolvimento do processo.

Publicações Artigos [1] G.L. Zabot, M.N. Moraes, A.J. Petenate, M.A.A. Meireles, Influence of the bed geometry on the kinetics of the extraction of clove bud oil with supercritical CO ² , Journal of Supercritical Fluids, 93 (2014) 56-66. [2] G.L. Zabot, M.N. Moraes, M.A.A. Meireles, Influence of the bed geometry on the kinetics of rosemary compounds extraction with supercritical CO ² , Journal of Supercritical Fluids, 94 (2014) 234-244. [3] G.L. Zabot, M.N. Moraes, M.A. Rostagno, M.A.A. Meireles, Fast analysis of phenolic terpenes by high-performance liquid chromatography using a fused-core column, Analytical Methods, 6 (2014) 7457-7468. [4] G.L. Zabot, M.N. Moraes, M.A.A. Meireles, Supercritical fluid extraction of bioactive compounds from botanic matrices: Experimental data, process parameters and economic evaluation, Recent Patents on Engineering, 6 (2012) 182-206.

Composto de alecrim: produto pode ser usado na indústria de alimentos

Ele acredita que o meio científico necessita desse tipo de informação para estimular empreendedores a investirem neste setor. Até então, não tinham sido testadas de forma sistemática e aprofundada estas duas matrizes vegetais com a tecnologia proposta no presente estudo: testar a influência da geometria do leito de extração. No Brasil, ainda não havia relatos sobre isso. Mas, segundo o autor, outros testes já tinham sido feitos na FEA, com outros parâmetros de processo (temperatura e pressão principalmente), porém mais com o enfoque de avaliar atividade antioxidante e rendimento dos extratos. Com o novo método, foi averiguada a influência da geometria do leito (a relação altura pelo diâmetro). Avaliou-se se o processo industrial vai diferir do que ocorre em escala laboratorial; a interferência na obtenção dos compostos bioativos, a fim de aplicá-los na indústria de cosméticos, produtos farmacêuticos, alimentício e químico.

DESCOBERTAS

O processo começa com a introdução da matéria-prima no leito extrator. Acontece a pressurização com CO ² , que escoa pelo leito e atua como solvente. Com alta pressão, atinge densidade próxima de líquido e, quando despressuriza, ele se separa do extrato e culmina com o produto final. Trata-se de uma tecnologia 100% limpa, conta o doutorando. O processo supercrítico integra a chamada ‘tecnologia verde’, que não agride o meio ambiente. O pesquisador salientou que adotou o próprio CO² na condição de supercrítico mas que o devolveu para a natureza da forma como foi obtido. Assim, o próprio resíduo da extração pode ser usado como coproduto para outras etapas de processo, entre elas a hidrólise e a obtenção de amido modificado, quando a fonte vegetal é rica em material amiláceo (fonte de amido). Então a geração de resíduo é reduzida.

INTERESSE

Tese: “Obtenção de compostos bioativos de cravo-da-índia e alecrim utilizando tecnologia supercrítica: influência da geometria do leito, intensificação de processos de extração e custo de manufatura dos extratos” Autor: Giovani Leone Zabot Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Financiamento: Fapesp e CNPq

Para o engenheiro de alimentos, o seu estudo foi importante porque trouxe um parâmetro de processo que internacionalmente ninguém havia estudado sistematicamente. “A geometria de leito de extração influencia a etapa de obtenção dos compostos bioativos. Futuramente, poderá estimular aplicação baseada nos dados não somente herdados dessa tese. Poderemos juntá-los e aplicá-los a priori no Brasil, visto que aqui temos uma rica diversidade de matérias-primas”, relatou. Giovani disse que escolheu inicialmente o cravo-da-índia por ele ter boa quantidade de óleo volátil. Essa matéria-prima contém

compostos essenciais como o eugenol, o acetato de eugenila, o alfa-humuleno e o beta-cariofileno. Majoritários, eles perfazem mais de 80% da composição mássica. O cravo-da-índia, lembrou, tem uma boa quantidade de óleo em botões (cerca de 20%). Esse foi um achado. Outro achado foi ter testado ainda uma matéria-prima com menos quantidade de óleo e que fosse proveniente de outra matriz vegetal – as folhas de alecrim. “Conseguimos extrair uma grande quantidade de terpenoides, com atividade funcional para uso na indústria farmacêutica. Poderiam ser utilizados na composição de medicamentos com poder antioxidante, anti-inflamatório e para tratamento anticâncer.” E quais são os benefícios dos extratos? Giovani explicou que o extrato do cravo-da-índia pode ser mais direcionado a aplicações na área odontológica, com grande potencial para uso como anestésico. Já o extrato de alecrim seria mais empregado na indústria de alimentos, pelo seu enorme poder saborizante.

GEOMETRIA DE LEITO

Um dos méritos da investigação de Giovani foi apontar que nem sempre uma condição de geometria de leito, conceito trabalhado nesse estudo, é um parâmetro de processo sistematicamente avaliado. “Não se pode fixá-lo, pois nem sempre fica adequado a todas as matérias-primas em diferentes escalas”, advertiu. O pesquisador conseguiu mostrar que isso também precisa ser levado em conta quando se passa do estudo de laboratório para um estudo piloto. Isso porque um investidor vai querer saber se aquele processo será idêntico quando for levado à escala industrial para investir no processo. Para dizer que será idêntico, é necessário avaliar este parâmetro de processo (geometria do leito), pois ninguém tinha feito isso até o momento de maneira sistemática. A boa notícia é que esse processo já pode ser replicado com ganhos na otimização do tempo, podendo atingir um rendimento mais rapidamente. Para isso, o engenheiro de alimentos utilizou dois extratores. O extrator 1, que é mais alto em relação ao seu diâmetro, demorou cerca de 30% a 40% mais para obter a mesma quantidade de extrato em relação ao extrator 2, que se mostrou mais adequado. A geometria do extrator 1 é de sete vezes a sua altura pelo seu diâmetro e a do extrator 2 é de três vezes a sua altura pelo seu diâmetro. O leito fica situado dentro do extrator. Os experimentos deixaram claro que essa geometria influenciou nos resultados técnicos e na parte econômica.

Giovani esclareceu que, na indústria, quando se encomendam dois extratores, o extrator 2 é mais caro, uma vez que requer uma espessura maior de parede. Entretanto, em termos técnicos, é mais adequado porque, em longo prazo, traz benefícios inclusive à obtenção do extrato do alecrim. O cravo-da-índia não sinalizou diferença significativa. Em um estudo paralelo ao de Giovani, efetuado por Moysés Naves de Moraes na FEA, foi testada a relação com o urucum, que também se mostrou mais adequado adotando-se o extrator 2. Usando a extração com fluido supercrítico, o extrator 2 proporcionou um melhor rendimento e uma composição maior em termos de compostos bioativos em todos os elementos avaliados, para ir à escala industrial. “Como não existe pesquisa detalhada fora do país com essa sistemática adotada, o Brasil está avançando. Com relação a esse parâmetro de processo, somos um dos primeiros grupos de pesquisa a publicar informações acerca desta variável em nível experimental. Minha tese resultou em seis publicações”, acrescentou Giovani. Esse trabalho, financiado pela Fapesp e pelo CNPq, foi produzido no grupo de pesquisa de Tecnologia Supercrítica, coordenado pela professora Maria Angela de Almeida Meireles, orientadora da tese e coordenadora do Laboratório de Separações Físicas, Fracionamento e Identificação de Extratos Vegetais. O engenheiro de alimentos, apesar de acabar de concluir o seu doutorado, possui uma produção científica considerável. Já publicou 18 artigos em periódicos especializados, 40 trabalhos científicos em anais de eventos, integrou cinco projetos de pesquisa sobre Engenharia de Bioprocessos e Separações Físicas, entre outras atuações.

FUTURO

A intensificação de processos produtivos é promissora. Todavia, a utilização dessa técnica de tecnologia supercrítica é recente e precisa ser mais pesquisada, na opinião de Giovani. O uso do alecrim é apropriado para este estudo. Por outro lado, alguns compostos fenólicos (com propriedades que ajudam a prevenir doenças e que possuem atividade anti-inflamatória) dificilmente são extraídos com CO² supercrítico, havendo a necessidade de obtê-los por outras técnicas verdes. Em escalas maiores, a proposição de processos intensificados na obtenção de compostos bioativos de alecrim pode gerar menos resíduos e reduzir custos, a ponto de contribuir com a comercialização desses compostos.


9

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

Estudo sugere ações integradas para atenuar a crise hídrica Foto: Antonio Scarpinetti

Medidas devem ir além da ampliação da oferta, como reúso e redução de perdas SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

o dia 15 de março do ano passado, o nível dos reservatórios do Sistema Cantareira, que abastecem 8,8 milhões de pessoas no Estado de São Paulo, atingiu 8,2% de sua capacidade utilizável, o pior índice já registrado desde a sua criação, em 1974. De lá para cá, as principais medidas propostas pelo governo centraram na ampliação da oferta de abastecimento de água: o aproveitamento dos volumes mortos do Cantareira; a utilização da água da represa Billings; e, mesmo, a possibilidade de transposição das águas do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira. Ao pesquisar as ações que podem contribuir para o aumento da disponibilidade de água da Região Metropolitana de São Paulo, o engenheiro ambiental Ricardo da Silva Manca propõe uma nova diretriz sobre a situação. Ao invés de apenas centrar esforços e recursos na ampliação da oferta de água, o pesquisador da Unicamp aponta que o gerenciamento da demanda é fundamental; e num modelo que contemple ações de modo integrado. Para Ricardo Manca, que acaba de concluir doutorado sobre o tema, as principais ações neste sentido são a redução de perdas e o reúso de água. Ele avalia ainda que as ações governamentais no que se refere ao gerenciamento dos recursos hídricos vêm sendo realizadas muito mais como “gerenciamento de crise” do que como “gerenciamento de risco”, modelo considerado o ideal. “Se os setores de redução de perdas e de reúso de água tivessem avançado nas últimas décadas, os problemas relacionados à escassez de água seriam menores na atualidade. Estima-se que as perdas na Região Metropolitana de São Paulo girem entre 35% e 40% do volume ofertado à população. Reduzir perdas significa aumentar a quantidade de água que já é uma água tratada. No caso do reúso também, porque não depende de chuva. Hoje, há tratamentos que podem elevar a água numa qualidade muito boa”, defende. O pesquisador pondera, no entanto, que estas duas medidas isoladas não seriam capazes de solucionar uma possível falta de água para a sociedade neste momento. “O nosso conceito de gerenciamento integrado para a água é de que seja dada atenção para as oportunidades possíveis, tanto na demanda quanto na oferta, mas nós temos dado pouca prioridade para a demanda. Por isso insistimos na defesa deste tipo de gerenciamento. Devo parar obras de captação, obras exclusivamente na oferta de água? De maneira alguma! Seria um erro excluir qualquer benefício para a melhoria da gestão do recurso, porém, o que o estudo propõe é que a gestão seja feita de forma abrangente, visando todas as opções possíveis e disponíveis”, explica. Ricardo Manca defendeu doutorado junto à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). A tese foi orientada pelo docente José Gilberto Dalfré Filho, que

Represa do Sistema Cantareira, cuja capacidade utilizável atingiu o pior índice em março do ano passado

atua no Departamento de Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais da Unidade. Houve a coorientação do professor Antonio Carlos Zuffo, que atua no mesmo Departamento; e financiamento, na forma de bolsa ao pesquisador, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “A pesquisa do Ricardo chegou a um benchmark, que é o gerenciamento integrado da demanda de água. Essa proposta trabalharia para além da ampliação da oferta de água, ou seja, na redução de perdas, no reúso e também na utilização da água da chuva, na redução do consumo e conscientização da população”, explica o orientador do trabalho. Ainda conforme José Gilberto Dalfré Filho, o estudo é relevante, pois pode municiar o corpo técnico do governo ou mesmo o governante na tomada de decisões que não vêm sendo estabelecidas como prioritárias. “O gerenciamento da oferta apresenta, muitas vezes, um resultado mais rápido e mais aparente. Porém, o gerenciamento integrado da demanda é um trabalho árduo e que nem sempre aparenta resultados impactantes em curto prazo. Mas trabalhar a demanda é extremamente necessário. Se não fizer isso, é como se eu administrasse uma companhia em que os gastos vão aumentando de uma forma descontrolada e, para suprir isso, o foco seja somente em ganhar mais capital.

Isso é uma maneira pouco eficiente de buscar solução. No caso da água, há o agravante de que é um recurso esgotável”, compara o docente da Unicamp. Como parte dos resultados da pesquisa, o engenheiro ambiental desenvolveu uma ferramenta de análise de sensibilidade que permite avaliar o gerenciamento da demanda de água com enfoque em medidas prioritárias do ponto de vista do gestor do sistema de abastecimento. Essa ferramenta aponta, na forma de um acelerador, para diversos tipos de situações possíveis, a partir das medidas que seriam tomadas pelo gestor: situação ruim, regular, boa e a considerada ideal, que é o gerenciamento integrado da demanda de água. “Hoje se busca muito ampliar a oferta. Na tentativa de atender a oferta, o governo ‘esquece’ a demanda. Perdas chegam a 40%. Desse modo, reduzir as perdas pela metade equivaleria à economia de praticamente um Cantareira. Só que o resultado não é rápido: é preciso investir muito em substituição de redes, isso leva tempo e custo. Ao diminuir a demanda, passa-se para uma situação de eficiência, na direção da sustentabilidade. Portanto, esse gerenciamento integrado, proposto pela pesquisa do Ricardo, vai neste caminho”, avalia o coorientador, Antonio Carlos Zuffo. Foto: Antoninho Perri

Publicação Tese: “Hierarquização de ações pré-avaliatórias para o gerenciamento dos sistemas de abastecimento de água” Autor: Ricardo da Silva Manca Orientador: José Gilberto Dalfré Filho Coorientador: Antonio Carlo Zuffo Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Financiamento: CNPq

Da esq. para a dir., José Gilberto Dalfré Filho, Ricardo da Silva Manca, Antonio Carlo Zuffo, respectivamente, orientador, autor e coorientador da tese: modelo deve priorizar o gerenciamento de risco

O estudo da FEC, baseado nos dados do Setor Nacional de Saneamento (SNIS), aponta que no Brasil as perdas totais (reais e aparentes) variam entre 45% e 50% do volume ofertado à população. Em algumas cidades, o índice pode chegar a 70%. “Isso representa 4,68 bilhões de metros cúbicos de água produzidos por ano. Os volumes perdidos levam a conclusão de que metade da água produzida é perdida. Cidades com índices de perdas nesses valores poderiam aumentar o volume disponibilizado para a população adiando a necessidade de obtenção de novos pontos de captação e água importada de outras bacias. A melhoria nos sistemas de abastecimento público é uma tarefa emergente, necessária e com vantagens econômicas e ambientais”, considera o autor da pesquisa.

MÉTODOS DE TOMADA

DE DECISÃO E MULTICRITÉRIOS

Para identificar e hierarquizar as principais ações de atuação na demanda hídrica, Ricardo Manca utilizou dois recursos metodológicos. “Primeiro, nós precisávamos obter informações por meio de um conjunto de especialistas da área. Para isso, recorremos a entrevistas e envio de questionários. Tendo como meta ‘Aumentar a disponibilidade de água’, questionamos, por exemplo: ‘Que nota você daria para a redução de perdas? E para reúso?’” Este método, conforme o engenheiro ambiental, ocupa-se com médias e permite definir as prioridades com base no consenso dos especialistas. Trata-se do Método de Auxílio à Tomada de Decisão Delphi. O outro recurso metodológico, denominado como Multicriteriais, avalia as opções dadas pelos especialistas em multicritérios: econômicos, ambientais, sociais, estruturais e governamentais. “Uma opção pode não ser viável do ponto de vista econômico, mas, do ponto de vista ambiental, ela pode ser muito importante. Portanto, nós podemos criar vários critérios e cruzar esses critérios atribuindo pesos e valores a eles, dando prioridades às diferentes opções. Isso nós fizemos com três métodos multicriteriais: Analytic Hierarchy Process (AHP), Compromise Programming (CP) e Cooperative Game Theory (CGT)”, acrescenta. Após a aplicação dos métodos multicriteriais foi possível a criação da ferramenta de análise de sensibilidade, que avaliou se uma das alternativas escolhidas pelos especialistas cumpriria as prioridades definidas nestes multicritérios. “O que isso significa? Por exemplo: os especialistas concordam que redução de perdas e reuso de água são duas medidas prioritárias. A partir disso, nós inserimos estas medidas na ferramenta. Se o meu resultado não é positivo, significa que eu estou caminhando no sentido contrário às melhores alternativas para o aumento da disponibilidade de água na Região Metropolitana de São Paulo”, ilustra.


10

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015 tores no Brasil: evidências a partir da avaliação de bolsas da Fapesp”. Tema será abordado em seminário pela professora Adriana Bin, dia 20 de agosto, às 9h30, no auditório do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP). A entrada é gratuita e não é necessário fazer inscrição prévia. Para acesso aos textos do seminário ou outras informações, envie e-mail para lees@unicamp.br  Utopia - O Curso “Dimensões da Utopia: História e Topografia de uma ideia” será ministrado por Gianluca Bonaiuti, da Università Degli Studi di Firenze (Itália), de 15 de setembro a 6 de outubro, às terças-feiras, das 14h às 18h, na Sala de Colegiados do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Com carga horária de 20 horas, é aberto à comunidade da Unicamp. Para se inscrever envie nome completo para o e-mail eventos@iel.unicamp.br. O curso será ministrado em língua inglesa e enfocará três dimensões da utopia: projeto social, projeto espacial e projeto antropotécnico.

Teses da semana Painel da semana  Workshop Unicamp x University of York O Instituto de Biologia (IB) e a Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) promovem, de 17 a 28 de agosto, um workshop entre a Unicamp x University of York com o tema “Sustentabilidade e aspectos culturais do Brasil”. Ele será ministrado em inglês e objetiva promover a integração entre os alunos das instituições. São 20 vagas para os estudantes dos cursos de graduação e de pósgraduação da Unicamp e 18 para os já previamente selecionados pela University of York. Mais detalhes pelo link http:// www.ib.unicamp.br/pt-br/node/72  Semana de Química - Com minicursos, palestras, workshops e a participação de convidados internacionais, de 17 a 21 de agosto acontece a 14ª edição da Semana de Química, evento organizado pela All Química, empresa júnior do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. A abertura oficial do evento será às 8 horas, no auditório do IQ. A Semana de Química está sob a coordenação dos estudantes Guilherme Cruz, Caroline Dias e Gabriela Egerland. Na edição passada, o evento contou com a participação de Patrick Gunning, da Universidade de Toronto. Ele realiza pesquisa na área de fármacos, buscando substâncias que suprimem a expressão gênica de proteínas que causam doenças. Para mais detalhes sobre a programação acesse http://www.semanadequimica.com.br/ . Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-3026 ou e-mail sq.unicamp@gmail.com  Minicurso com Javier Uriarte - O minicurso “Fazedores de desertos: guerra, espaço e linguagem na América Latina” será ministrado pelo professor Javier Uriarte, da State University of New York at Stony Brook, de 17 a 21 de agosto, das 17h30 às 19h30, na sala CL13 do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). A organização é do professor Marcos Lopes. Público-alvo: alunos de graduação, pós-graduandos. Inscrições gratuitas. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-1520.  Fórum de Políticas Públicas e Cidadania Evento com o tema “Qual Reforma Política? Condições, limites e alternativas para melhoras a política no Brasil” será realizado em 18 de agosto, às 9 horas, no Auditório do Centro de Convenções da Unicamp, O objetivo é reunir pensadores para debater sobre aspectos práticos e normativos que envolvem o tema de maneira a ampliar e aprofundar os elementos em discussão. A organização é do professor Wagner de Melo Romão. Mais informações pelo telefone 19-3521-4759. Acesse o programa completo no link http:// www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_ descricoes_eventos/politicaspub14.html  Assentamentos rurais - A Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) realiza, de 19 a 21 de agosto, a VII Jornada de Estudos em Assentamentos Rurais, coordenada pela professora Sonia Bergamasco. A abertura do evento ocorre às 9 horas, na Feagri. A Jornada abordará temas ligados à realidade dos assentamentos rurais e as pesquisas desenvolvidas pelo grupo proponente, dando continuidade às discussões e reflexões desencadeadas nos eventos anteriores, sem, contudo, deixar de incluir elementos novos cuja importância está diretamente relacionada com as constantes transformações impostas pela realidade dos assentamentos rurais. A estrutura do evento está divida em blocos principais de discussão, organizados em três mesas-redondas, uma conferência e uma sessão especial, as quais serão expandidas para grupos de pesquisa com apresentações em sessões orais (artigos completos) ou pôsteres (resumos expandidos) de trabalhos submetidos e aprovados por um comitê científico. A VII Jornada contará ainda com um Grupo de trabalho especial, que se debruçará sobre a reflexão e articulação de uma rede de comunicação e interação entre movimentos sociais, assalariados, instituições acadêmicas e de extensão ligadas ao meio rural; além de minicursos. Inscrições e outras informações pelo link http://www.feagri. unicamp.br/jornada ou e-mail jornada@feagri.unicamp.br  SAE Ação Cultural - No dia 19 de agosto, às 12h30, no Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” (Caism), o SAE Ação Cultural organiza uma apresentação musical com Alessandro Perez e Felipe Ribeiro. O evento faz parte do projeto Música nos Hospitais. Felipe Ribeiro e Alessandro Perez se conheceram na universidade. Já atuaram juntos em diversos conjuntos, como a Big Band do Instituto de Artes (IA). Formaram então, o duo instrumental, com o intuito de mesclar em um repertório, as influências de cada um e também os trabalhos que já realizam juntos. O duo, através dos arranjos e improvisos, envolve o público e o leva a apreciar músicas que vão desde o jazz tradicional ao contemporâneo. Mais detalhes pelo telefone 19-35217393 ou e-mail everaldo@sae.unicamp.br  Exposições na GAIA - A Galeria de Arte (GAIA) do Instituto de Artes (IA) da Unicamp organiza, de 20 de agosto a 11 de setembro, as exposições “Resíduos: Água e Tempo”, de Ivanir Cozenios, e “Existe um espaço na alma onde a respiração não cessa, porém ...”, da artista Del Pilar Salum. Entrada franca. Mais informações: 19-3521-6561.  Seminário do LEES - “Trajetória profissional de dou-

“Percepções dos participantes do projeto de gestão do cuidado em rede de Campinas” (mestrado profissional). Candidata: Livia Cristina Benavente Krutzfeldt. Orientador: professor Carlos Alberto Gama Pinto. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala 9 do CIPED.  Computação - “Detetores de falhas em aglomerados: um estudo comparativo” (mestrado). Candidato: Péricles Pompermayer Gumerato. Orientador: professor Luiz Eduardo Buzato. Dia 17 de agosto de 2015, às 10 horas, no auditório do IC. “Computação quântica: autômatos, jogos e complexidade” (mestrado). Candidato: Fernando Granha Jeronimo. Orientador: professor Arnaldo Vieira Moura. Dia 17 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IC.  Economia - “Taxas de juros e spreads bancários: a atuação dos bancos públicos brasileiros no segmento de recursos livres do mercado de crédito em 2012” (mestrado). Candidato: Edson Guerreiro. Orientadora: professora Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sarti. Dia 13 de agosto de 2015, às 16 horas, na sala 23 do pavilhão de Pós-graduação do IE. “Um estudo sobre a evolução da estrutura social e da desigualdade no Brasil (1950-2010)” (mestrado). Candidato: Rodrigo Luis Comini Curi. Orientador: professor Waldir José de Quadros. Dia 14 de agosto de 2015, às 14h30, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE.

 Artes - “Função simbólica das máscaras inteiriças do ritual Tikuna na exposição de longa duração do Museu Amazônico em Manaus/AM” (mestrado). Candidata: Raquel Maia Mattos. Orientador: professor Hermes Renato Hildebrand. Dia 14 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala 3 da CPG do IA.

 Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo “Análise de sistema de contraventamento híbrido aço/concreto para edifícios de múltiplos andares” (mestrado). Candidato: Alexandre Luiz Vasconcellos. Orientador: professor João Alberto Venegas Requena. Dia 10 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala CA22 da FEC.

“Acting em cinema de animação: evolução, singularidades e planejamento na atuação do personagem animado” (doutorado). Candidato: Francisco Carneiro da Silva Filho. Orientador: professor Hermes Renato Hildebrand. Dia 14 de agosto de 2015, às 13 horas, na sala 3 da CPG do IA.

“Panorama brasileiro da auditoria ambiental” (mestrado). Candidato: Gaudêncio José Pinotti Martins. Orientadora: professora Emilia Wanda Rutkowski. Dia 11 de agosto de 2015, às 14h30, na sala CA22 da FEC.

“Através do fotógrafo: intercorrências do ser, agir e olhar em narrativas de personagens fotográficos” (doutorado). Candidata: Gabriela Domingues Coppola. Orientador: professor Fernando Cury de Tacca. Dia 18 de agosto de 2015, às 10 horas, no IA. “A paisagem e o sublime na arte contemporânea: permanências românticas e o entrelaçamento de culturas” (doutorado). Candidata: Márcia Helena Girardi Piva. Orientadora: professora Maria José de Azevedo Marcondes. Dia 19 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala 3 da pósgraduação do IA. “Imagens-espaço: sertões prosa e poesia no cinema brasileiro contemporâneo” (doutorado). Candidato: Diogo Cavalcanti Velasco. Orientador: professor Francisco Elinaldo Teixeira. Dia 20 de agosto de 2015, às 14 horas, na Pós-graduação do Departamento de Multimeios do IA. “A direção de arte no audiovisual brasileiro: uma abordagem sobre Suburbia” (mestrado). Candidata: Milena Leite Paiva. Orientador: professor Gilberto Alexandre Sobrinho. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala AP10 do IA.  Biologia - “Estudos bioquímicos e estruturais da enzima glutaminase-2 (GLS2) de mamíferos” (doutorado). Candidato: Igor Monteze Ferreira. Orientador: professor Andre Luis Berteli Ambrosio. Dia 11 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco O do IB. “Metabólitos secundários de duas espécies de guaco (Mikania glomerata Sprengel e Mikania laevigata Schultz) cultivadas sob condições variadas” (mestrado). Candidata: Cláudia de Lázzari Almeida. Orientadora: professora Alexandra Christine Helena Frankland Sawaya. Dia 21 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco O do IB.  Ciências Médicas - “Qualidade de vida e fadiga avaliada pelos questionários SF-36 e FACIT-F em mulheres com e sem anemia com sangramentos menstrual abundante” (mestrado). Candidata: Camila Stein Montalti. Orientador: professor Ilza Maria Urbano Monteiro. Dia 11 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro CPG da FCM. “Correlação do risco de fratura osteoporótica em 10 anos calculado pelo frax com e sem densitometria óssea em mulheres brasileiras na pós menopausa” (mestrado). Candidata: Yasmin Bastos da Silva. Orientadora: professora Lúcia Helena Simões da Costa Paiva. Dia 14 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da CPG da FCM. “Qualidade de vida e função sexual em mulheres com câncer do colo uterino” (mestrado). Candidata: Regina Celia Grion. Orientador: professor Aarão Mendes Pinto Neto. Dia 18 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro do CAISM.

“Análise de poços de grande diâmetro executados pelo método de escavação sequencial na vertical” (mestrado). Candidata: Paloma Teles Cortizo. Orientador: professor Pérsio Leister de Almeida Barros. Dia 17 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala CA22 do prédio de salas de aula da FEC.  Engenharia de Alimentos - “Redução de sódio em salames: efeito sobre as propriedades bioquímicas, químicas, físicas e sensoriais” (doutorado). Candidata: Bibiana Alves dos Santos. Orientadora: professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio. Dia 13 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório I DTA da FEA. “Mecanismos de aglomeração de polissacarídeos em pó em leito fluidizado pulsado” (doutorado). Candidata: Talita Akemi Medeiros Hirata. Orientadora: professora Florencia Cecília Menegalli. Dia 19 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala 31 do DEA da FEA.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Aproximações Nakagami-m para somas de envoltórias Nakagami-m via casamento de assíntotas e mistura aleatória” (mestrado). Candidato: José David Vega Sánchez . Orientador: professor José Cândido Silveira Santos Filho. Dia 11 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de Pós-graduação da FEEC. “Sensor Hall com geometria octogonal e cancelamento do offset, preparado para o estudo do efeito Piezo-Hall” (mestrado). Candidato: Jose Luis Ramirez Bohorquez. Orientador: professor Fabiano Fruett. Dia 14 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala PE12 da FEEC.

“Bom Jesus da Lapa - BA na rede urbana regional e os circuitos da economia urbana” (mestrado). Candidata: Sueli Almeida dos Santos. Orientadora: professora Adriana Maria Bernardes da Silva. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “Era uma vez uma guria de inglês: fazia arte, ensinava, aprendia, alegria” (doutorado). Candidata: Isadora Eckardt da Silva. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 13 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A designação de língua: sentido, argumentação e o texto no ciberespaço” (doutorado). Candidata: Claudia Freitas Reis. Orientador: professor Eduardo Roberto Junqueira Guimarães. Dia 14 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. ““As mais tocadas”: uma análise de representações da mulher em letras de canções sertanejas” (mestrado). Candidata: Amanda Ágata Contieri. Orientadora: professora Terezinha de Jesus Machado Maher. Dia 17 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Ciclone de si: a leitura e a escrita da poesia de Roberto Piva” (doutorado). Candidato: Marcelo Antonio Milaré Veronese. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 18 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A Carteira do Meu Tio, de Joaquim Manuel de Macedo: literatura de viagem e sátira política em tempos de conciliação” (doutorado). Candidata: Carollina Carvalho Ramos de Lima. Orientador: professor Jefferson Cano. Dia 19 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Sertão, sertões e outras ficções: ensaio sobre a identidade narrativa sertaneja” (doutorado). Candidato: Jorge Henrique da Silva Romero. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 20 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Letramentos acadêmicos: o gerenciamento de vozes em resenhas e artigos científicos produzidos por alunos universitários” (doutorado). Candidata: Eliane Feitoza Oliveira. Orientadora: professora Raquel Salek Fiad. Dia 20 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “A constituição dos discursos escritos em práticas de letramentos acadêmico-científicas” (doutorado). Candidata: Ângela Francine Fuza. Orientadora: professora Raquel Salek Fiad. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, sala de defesa de teses do IEL.

 Matemática, Estatística e Computação Científica - “O operador de Fueter e deformações de subvariedades associativas” (mestrado). Candidato: Andrés Julián Moreno Ospina. Orientador: professor Henrique Nogueira de Sá Earp. Dia 13 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc.

 Engenharia Mecânica - “Análise estocástica linear de estruturas complexas usando metamodelo modal” (mestrado). Candidato: Fábio Fialho do Nascimento. Orientador: professor José Maria Campos dos Santos. Dia 17 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala KE da FEM. “Despacho de um arranjo hidro-eólico incluso em um sistema coordenado centralmente: modelo híbrido de otimização com meta-heurísticas” (doutorado). Candidata: Regiane Silva de Barros. Orientador: professor Paulo de Barros Correia. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala JD da FEM.

 Geociências - “Caracterização geológica da estrutura de impacto meteorítico de Santa Marta (PI)” (mestrado). Candidata: Grace Juliana Gonçalves de Oliveira. Orientador: professor Alvaro Penteado Crósta. Dia 10 de agosto de 2015, às 9 horas, no auditório do IG.

“Morbidade materna grave por infecção na rede brasileira de vigilância de morbidade materna grave” (mestrado). Candidata: Lúcia Chaves Pfitscher. Orientadora: professora Maria Laura Costa do Nascimento. Dia 21 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro do CAISM.

“Deslocamento de discursos e práticas docentes de professores de um centro estadual de educação de jovens e adultos (ceeja) considerando a categoria geocientífica “lugar” e suas relações com os sentidos de “ambiente”” (doutorado). Candidata: Terezinha Chagas Carneiro Pessoa. Orientadora: professora Vânia Maria Nunes Santos. Dia 11 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.

“Análise da bateria de testes “Short Physical Performance Battery” de acordo com a classificação de fragilidade em idosos da comunidade – Estudo FIBRA” (mestrado). Candidato: Mateus Joaquim Carreira de Mello. Orientadora: professora Mônica Rodrigues Perracini. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala Laranja da FCM.

“Evolução da agricultura e transformação da paisagem no Cerrado goiano: a dimensão endógena da expansão da agroindústria canavieira” (doutorado). Candidato: Fernando Campos Mesquita. Orientador: professor André Tosi Furtado. Dia 20 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.

“Modelagem e controle de sistemas estocásticos com dinâmica pouco conhecida” (doutorado). Candidato: Rafael Fontes Souto. Orientador: professor João Bosco Ribeiro do Val. Dia 18 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala PE12 da CPG da FEEC.

“Preditores de resposta à quimioterapia neoadjuvante em pacientes com carcinoma luminal de mama” (mestrado). Candidato: Leonardo Roberto da Silva. Orientador: professor Luiz Carlos Zeferino. Dia 20 de agosto de 2015, às 14 horas, no anfiteatro do CAISM.

“Efeito da rosuvastatina na adesão de plaquetas de ratos tratados com dieta padrão e dieta hiperlipídica” (mestrado). Candidata: Gisele Goulart da Silva. Orientadora: professora Sisi Marcondes Paschoal. Dia 21 de agosto de 2015, às 10 horas, no anfiteatro da farmacologia da FCM.

“Diagnóstico da gestão dos recursos hídricos no município de Americana (SP), utilizando geotecnologias” (mestrado). Candidata: Debora Cristina Cantador. Orientador: professor Lindon Fonseca Matias. Dia 20 de agosto de 2015, às 9 horas, no auditório do IG.

“Ensino de inglês para a interculturalidade: investigando práticas e representações discentes no ProFIS/Unicamp” (doutorado). Candidato: Guilherme Jotto Kawachi. Orientadora: professora Cláudia Hilsdorf Rocha. Dia 21 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.

“Identificação e frequência das alterações oftalmológicas na distrofia miotônica tipo 1 (DM1)” (mestrado). Candidata: Karin Suzete Ikeda. Orientadora: professora Keila Monteiro de Carvalho. Dia 19 de agosto de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da oftalmologia do HC.

“Reconhecimento de fala no ruído em adultos com perda auditiva unilateral” (mestrado). Candidata: Thais Melo Seksenian. Orientadora: professora Christiane Marques Do Couto. Dia 21 de agosto de 2015, às 9h30, no anfiteatro da CPG da FCM.

“Tecido junto, para uma educação em ciência da terra” (mestrado). Candidato: Luiz Anselmo Costa Nascimento Ifanger. Orientador: professor Roberto Greco. Dia 20 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala A do DGRN do IG.

“Ambiente colaborativo de tomada de decisão: uma aplicação em reservas internacionais” (doutorado). Candidata: Ana Cláudia Vasconcelos Soares Bulcão. Orientador: professor Takaaki Ohishi. Dia 14 de agosto de 2015, às 14 horas, na FEEC.

 Física - “Imagens e microtomografias de raios-X por contraste de fase e contraste de espalhamento harmônicas” (doutorado). Candidato: Fernando César Lussani. Orientador: professor Carlos Manuel Giles Antunez de Mayolo. Dia 20 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório de Pósgraduação do IFGW.

“Os territórios do trabalhador da atenção básica em saúde” (mestrado). Candidato: Felipe Augusto Reque. Orientadora: professora Silvia Maria Santiago. Dia 21 de agosto de 2015, às 9 horas, no Departamento de Saúde Coletiva da FCM.

Luiz Monteiro Salles Filho. Dia 19 de agosto de 2015, às 9h30, no auditório do IG.

“Contribuições para os estudos prospetivos em ambientes complexos: o caso dos bioplásticos” (doutorado). Candidato: Antonio Umberto Benetti Queiroz. Orientador: professor Sergio Luiz Monteiro Salles Filho. Dia 14 de agosto de 2015, às 14h30, no auditório do IG. “A agenda de pesquisa em oncologia molecular no estado de São Paulo (1971-2013)” (doutorado). Candidato: Renan Gonçalves Leonel da Silva. Orientadora: professora Maria Conceição da Costa. Dia 17 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “Os yawaripë yanomami: da intrusão da rodovia perimetral norte aos processos de resistência dos povos da floresta” (mestrado). Candidata: Cintia dos Santos Pereira da Silva. Orientador: professor Vicente Eudes Lemos Alves. Dia 18 de agosto de 2015, às 14 horas, no auditório do IG. “Processo de integração de áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação após fusões e aquisições” (doutorado). Candidata: Carolina Thais Rio. Orientador: professor Sérgio

“Equação estocástica de reação-difusão e equação estocástica de transporte com coeficientes irregulares” (doutorado). Candidato: David Alexander Chipana Mollinedo. Orientador: professor Pedro José Catuogno. Dia 14 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Caracterização de métricas induzidas por posets hierárquicos” (mestrado). Candidato: Roberto Assis Machado. Orientador: professor Marcelo Firer. Dia 17 de agosto de 2015, às 10 horas, na sala 253 Imecc. “O g(t)-movimento browniano e suas aplicações à geometria” (doutorado). Candidata: Claudia Luque Justo. Orientador: professor Diego Sebastian Ledesma. Dia 18 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Odontologia - “Ações coletivas em saúde bucal: estudo longitudinal em escolares de cidade da região sudeste do Brasil” (mestrado profissional). Candidata: Maria Fernanda de Montezuma Tricoli. Orientador: professor Antonio Carlos Pereira. Dia 18 de agosto de 2015, às 9 horas, na sala de seminários da Odontologia Social da FOP. “Avaliação da idade cronológica em adolescentes e adultos jovens por meio da abertura do ápice dentário” (mestrado). Candidato: Henrique Maia Martins. Orientadora: professora Solange Maria de Almeida Boscolo. Dia 18 de agosto de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.  Química - “Dispositivos analíticos a base de papel para análise de amostras de interesse clínico e alimentício” (doutorado). Candidata: Emilia Katarzyna Witkowska Nery. Orientador: professor Lauro Tatsuo Kubota. Dia 10 de agosto de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Aplicações de ressonância magnética nuclear no estudo: da cirurgia bariátrica, da produção de etanol e da distribuição regioespecífica de triacilglicerídeos” (doutorado). Candidato: Thiago Inácio Barros Lopes. Orientadora: professora Anita Jocelyne Marsaioli. Dia 13 de agosto de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Estudo teórico das propriedades eletrônicas e termodinâmicas e do mecanismo de síntese do ibuprofeno” (mestrado). Candidato: Leonardo Viana das Chagas Lima. Orientador: professor Nelson Henrique Morgon. Dia 14 de agosto de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Estudo computacional da solvatação e anisotropia de fluorescência resolvida no tempo de subtilisina Carlsberg em misturas de água e glicerol” (mestrado). Candidata: Emília Pécora de Barros. Orientador: professor Leandro Martínez. Dia 14 de agosto de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ.


11

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

Explorando o aprendizado lúdico Engenheiro eletricista desenvolve ambiente educacional de baixo custo LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

dificuldade encontrada por ingressantes no curso de engenharia em assimilar conceitos de física levou o engenheiro eletricista Roberto Scalco a desenvolver um ambiente educacional de baixo custo, que simula um laboratório virtual de mecânica clássica, apresentando um detalhe lúdico: o aluno pode manipular os elementos do experimento utilizando o controle remoto do videogame Nintendo Wii. “A ideia foi desenvolver um mouse 3D que permite ao usuário mexer a mão à sua frente, no espaço, ao mesmo tempo em que o cursor, dentro do programa, se movimenta de maneira equivalente. Uma vez que a maioria dos alunos gosta do sistema de jogos Wii, vamos explorar as capacidades de posicionamento e acompanhamento do Nintendo Wii Remote para tornar o aprendizado mais divertido”, explica Scalco. A dissertação de mestrado intitulada “Controle do cursor tridimensional via Wii Remote em ambiente de realidade virtual para o ensino de física” foi orientada pela professora Wu Shin-Ting e apresentada na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). “Escolhemos o controle de videogame como manipulador dos objetos desse ambiente virtual porque muitos alunos já possuem o aparelho, utilizando-o apenas para lazer; se não possuem, é possível adquirir apenas o controle, a custo baixo. Além disso, é um dispositivo que permite a livre movimentação da mão no espaço, sem a necessidade de apoiá-lo em alguma uma superfície”, acrescenta o autor do trabalho. Outra característica interessante apontada por Roberto Scalco é a sensação oferecida ao usuário de estar segurando os objetos do experimento. “O controlador Wii Remote possui um acelerômetro com três eixos e sensores ópticos que podem ser utilizados para rastrear a posição no espaço. E ainda

um gerador de vibrações que acrescenta à experiência do aluno um efeito que chamamos de feedback háptico [relativo ao tato]. Acoplando o Wii Remote a um computador pessoal, via comunicação sem fio Bluetooth, não é necessário o videogame, apenas o controle remoto.” Ao dar aulas de laboratório de física na primeira série do curso de engenharia, o autor da dissertação observou que grande parte dos alunos executa os procedimentos de maneira mecânica, simplesmente seguindo os passos do roteiro, sem estabelecer uma correlação com os conceitos apresentados nas aulas teóricas. “É necessário que os professores desenvolvam estratégias que estimulem os alunos, tanto sob o aspecto da motivação quanto da satisfação em realizar a atividade. Um ambiente gráfico tridimensional possibilita a professores e alunos interagirem com objetos que possuem propriedades físicas, simulando experimentos de laboratório de forma lúdica.” Scalco ressalta quatro características técnicas do hardware do controlador Wii Remote: o acelerômetro, para medir o valor da aceleração do movimento que o usuário faz com a mão; a câmera infravermelha, com imagem em boa resolução; a vibração, provocada por um pequeno motor girando fora do seu eixo de rotação; e a transmissão de dados sem fio pelo protocolo Bluetooth, utilizado em diversos dispositivos de interface homem-máquina. “O ambiente apresenta ao usuário os conceitos científicos utilizando modelos grá-

ficos, indicando as principais diferenças entre forças e velocidades associadas aos objetos que compõem o experimento.” Parte das dificuldades iniciais enfrentadas por alunos ingressantes em exatas, de acordo com o engenheiro, é oriunda de deficiências na manipulação de ferramentas algébricas, bem como na interpretação gráfica de fenômenos físicos. Ele observa que os estudantes também desenvolvem concepções espontâneas sobre fatos que vivenciaram, podendo associar conceitos equivocados a determinados fenômenos, como por exemplo, confundir força com velocidade, ação e reação, altura e gravidade. “Uma simulação traz duas bolinhas sobre a mesa, uma com massa de um quilograma e a outra, dez quilogramas; com o cursor 3D, o usuário pode puxar as duas bolinhas para fora da mesa e verificar que ambas, independentemente da massa, caem ao mesmo tempo no chão. É um teste envolvendo mecânica clássica.”

INTERATIVIDADE

De acordo com Scalco, o aluno pode baixar o programa em casa para complementar a experiência presencial feita em sala de aula, simulando os mesmos valores ou adicionando outros. “O professor também pode criar cenas que reproduzam experimentos da física clássica realizados no laboratório presencial, ou introduzir variações de parâmetros para que os alunos possam interagir em novas situações, inclusive fazendo medições com instrumentos virtuais.” Foto: Divulgação

O autor da dissertação demonstrou a validade do Wii Remote como controlador de um cursor 3D promovendo testes de usabilidade com um grupo de 27 alunos voluntários na faixa etária entre 17 e 20 anos, matriculados na primeira série de um curso de engenharia. Eles responderam a questionários aplicados antes e depois da utilização do ambiente virtual. “Os resultados mostraram que o ambiente pode ser utilizado de maneira complementar à aula tradicional, principalmente nas situações em que a aprendizagem acontece por repetição de tarefas. Apresentamos algumas questões e, na sequência, simulações com movimentos bem parecidos; houve um ganho para os alunos.” O engenheiro eletricista comenta que existem outros dispositivos que permitem controlar o cursor de maneira tridimensional – como SpaceBall, SpacePilot ou SpaceNavigator – mas que não dão ao usuário total liberdade de movimentos, uma vez que devem estar apoiados sobre a mesa ou outra superfície. “O movimento do cursor deveria corresponder ao mesmo do Wii Remote para que se justificasse o desenvolvimento do projeto. Para isso, tanto a rotação do cursor quanto a trajetória percorrida são calculadas por meio de recursos integrados ao hardware do controle remoto: o acelerômetro e a câmara.” O mais importante, segundo Roberto Scalco, foi ter criado, a partir da modelagem matemática do cursor 3D, um ambiente que permite aos usuários utilizar o Wii Remote para “segurar” um objeto e movimentá-lo para outro local à sua escolha, mas obedecendo às leis físicas. “O objetivo, afinal, foi construir um ambiente para que o aluno aprenda sobre conceitos de física simulados no laboratório virtual como se estivesse se divertindo com o videogame.”

Publicação

No laboratório virtual: dispositivo permite movimentos livres das mãos, sem necessidade de apoio

Dissertação: “Controle do cursor tridimensional via Wii Remote em ambiente de realidade virtual para o ensino de física” Autor: Roberto Scalco Orientadora: Wu Shin-Ting Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

A música como instrumento de inclusão Foto: Antoninho Perri

Autora de dissertação analisa conteúdo de seis documentários PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

onectar música, inclusão e cinema documentário. A ideia da dissertação de mestrado da pesquisadora Pamela de Bortoli Machado partiu da vontade que ela tinha de reunir três temas que fazem parte da vida dela: pianista de formação clássica, Pamela trabalha em uma organização não governamental católica que atende populações vulneráveis e, quando ingressou na Unicamp, como estudante especial, viu no documentário a chance de explorar as possibilidades da música como instrumento de inclusão social. A dissertação “Representação de inclusão social e digital por meio da música em documentários brasileiros”, apresentada ao programa de pós-graduação em Multimeios do Instituto de Artes (IA) da Unicamp se propõe a analisar seis filmes, lançados entre 2003 e 2011, divididos em dois grupos: o primeiro é formado por produções que mostram a inclusão social por meio da música, e o segundo grupo é composto por filmes que abordam a inclusão de artistas no mercado digital da música. No primeiro grupo, Fala Tu, documentário de Guilherme Coelho, acompanha durante meses a trajetória de três moradores da zona norte carioca que sonham em fazer do rap o seu ganha-pão. L.A.P.A, de Cavi Borges e Emílio Domingos, mostra o bairro do Rio de Janeiro como ponto de encontro de MCs.

A pesquisadora Pamela de Bortoli Machado: documentários como “elementos norteadores que explicitam as problemáticas sociais e digitais e suas relações com a música”

Insurreição rítmica, dirigido por Benjamin Watkins, registra a ação de organizações sociais da Bahia que utilizam as artes afro-brasileiras para a inserção de jovens e crianças. O segundo grupo de filmes reúne o documentário We.Music: Como a web revoluciona a música?, projeto colaborativo sobre o futuro da música nas plataformas digitais, Música.BR, de Fabiano Passos, com aqueles que produzem, negociam, ou apenas consomem música no país, e por último Profissão: Músico, dirigido por Daniel Vargas questionando os artistas e produtores sobre a profissão. Segundo a autora, os músicos que dependem financeiramente da música “sobrevivem a um momento de transformação no mercado musical, em que o download (legal ou ilegal) perde cada vez mais espaço para o streaming de músicas”. Em relação ao primeiro grupo de documentários a autora afirma que “o que há de valioso nos filmes é o contato com os

artistas, desde a clareza das potencialidades como músicos, até a visibilidade da poesia em lugares marcados pelas dificuldades geradas pela desigualdade de renda”. Para discutir o papel da música na inclusão, Pamela primeiro fez um estudo do que significa estar incluído na sociedade e os motivos da exclusão. Os filmes foram analisados sob este viés. “Fazemos uso de documentários brasileiros como instrumento de conscientização e mobilização acerca dessa problemática. O filme apresenta o outro, forja encontros entre indivíduos desconhecidos que são interligados por um elemento comum, no caso a música, ilustrando a própria realidade e dificuldades vivenciadas diariamente”, explica na dissertação. A autora salienta que as experiências apresentadas no conjunto de filmes permitiram a exploração da potencialidade dos documentários como “elementos norteadores que ex-

plicitam as problemáticas sociais e digitais e suas relações com a música, cujo enfoque se torna compreendido ao ser apresentado como prática da vida cotidiana, bem como as implicações, dificuldades e desafios relacionados”. A inclusão social, ou digital no mercado da música, normalmente aparece nos filmes como fruto do trabalho dos próprios artistas, de acordo com o estudo. O depoimento de personagens como em Fala Tu, por exemplo, representa “a voz de narrativas do dia a dia de sujeitos estigmatizados por viver em favelas e comunidades carentes e permite ver o outro para além de tipos predefinidos”. Quem sabe, afirma Pamela, “na singularidade desse sujeito que desbota o quadro de tons cinza, seja possível reconhecer a pluralidade dos modos de agir e ser no mundo social”. Pamela considera importante ressaltar que os documentários, em alguns casos, provocaram mudanças nas vidas dos personagens filmados. Os projetos sociais de Insurreição rítmica ganharam visibilidade. Da mesma forma, a autora acredita que os filmes podem ser usados para estimular pessoas. “Quando mostrei um dos filmes na ONG onde trabalho, eles viram no cinema relatos de mesmos problemas que eles vivenciam e isso causa um efeito de identificação com o outro. Serve de exemplo, é como um recado de que as pessoas são capazes de mudar, causa uma conscientização”.

Publicação Dissertação: “Representação de inclusão social e digital por meio da música em documentários brasileiros” Autora: Pamela de Bortoli Machado Orientador: Fábio Nauras Akhras Unidade: Instituto de Artes (IA)


12

Campinas, 17 a 23 de agosto de 2015

Ricos, mas desconhecidos Fotos: Divulgação

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisa desenvolvida para a tese de doutoramento da historiadora Cristiane Maria Magalhães, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, resultou na elaboração de um inventário inédito acerca do Patrimônio Paisagístico Brasileiro. De acordo com o levantamento, que privilegiou bens que receberam proteção por meio de algum instrumento jurídico de salvaguarda, o país possui 492 desses monumentos, que no estudo foram divididos em 22 categorias, como árvores, balneários e estâncias termais, cemitérios e memoriais, conventos e claustros, fazendas e sítios etc. O trabalho foi orientado pela professora Silvana Barbosa Rubino. A autora da tese de doutorado explica que identificou a necessidade da elaboração do inventário durante as pesquisas, pois inexistia levantamento anterior que apontasse qual a dimensão e as características do patrimônio paisagístico nacional. Os dados obtidos ajudaram a dar sustentação aos objetivos centrais da pesquisa, de contextualizar, qualificar e pontuar sob quais circunstâncias esses bens têm sido protegidos, considerando o período compreendido entre as décadas de 1930, quando foi constituído o primeiro órgão federal de preservação, que deu origem ao atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e 2010, ano do início da pesquisa. Além de inventariar e categorizar as unidades que compõem o patrimônio paisagístico do país, a historiadora também se preocupou em estabelecer a localização desses bens no Google Maps. A iniciativa, segundo ela, é para dar maior visibilidade a esses monumentos, que são em boa medida desconhecidos tanto no Brasil quan-

A historiadora Cristiane Maria Magalhães, autora da tese, no Parque Lage, no Rio de Janeiro: inventário inédito relaciona 492 monumentos paisagísticos no Brasil

to no exterior. “Por meio do inventário, o interessado tem acesso, através do arquivo digital, a um link externo que direciona para a localização exata ou aproximada de cada bem”, assinala Cristiane. Em relação ao estado de conservação dos patrimônios, a autora da tese de doutorado afirma que foram registrados avanços ao longo das últimas décadas, principalmente a partir dos anos 1980, quando ganharam importância os aspectos técnicos relativos a estudos, restauração e preservação dos monumentos históricos e culturais. “No entanto, ainda há muito a ser feito em conformidade com as normativas internacionais e com o

Jardim Botânico, no Rio de Janeiro: jardins históricos contribuem para contar a história de um país e da sua relação com a arte, a arquitetura e as tecnologias de determinado período

Parque das Águas de Caxambu, em Minas Gerais: o local, considerado uma das principais atrações turísticas da região, possui área de 210 mil m2 e conta com 12 fontes de água mineral

que tem sido realizado em outros países há décadas, principalmente em termos de inventário, catalogação, descrição, valoração, preservação e restauração do patrimônio paisagístico”, considera. A despeito do desconhecimento por parte dos brasileiros sobre a importância desse patrimônio e das dificuldades para preservá-lo e divulgá-lo, Cristiane entende que a população nutre uma enorme afeição pelos bens paisagísticos. “Basta visitar o Parque Municipal de Belo Horizonte (MG), o Jardim Botânico (RJ) ou o Parque do Ibirapuera (SP) nos finais de semana, para se ter uma noção da frequência e dos usos feitos pela população. No Rio de Janeiro, os jardins da Casa de Rui Barbosa transformam-se em um berçário diariamente. É lindo ver a quantidade de mães e babás com suas crianças brincando e tomando sol no local. Se no Brasil, diferentemente do que acontece na Europa e nos EUA, a frequência a esses espaços não é maior, credita-se apenas aos estados de abandono e de falta de segurança existente em muitos desses locais, e não à falta de apreço da população brasileira em estar nos parques e jardins públicos ou nos parques nacionais”, assegura. Em sua tese, Cristiane deu especial atenção aos jardins históricos. O foco da pesquisa, conforme a historiadora, decorreu do fato de o tema ser muito pouco abordado pelos pesquisadores brasileiros. Dentro das discussões historiográficas, avalia, a abordagem é inédita. “Não por outra razão, parte significativa da pesquisa bibliográfica e metodológica foi realizada em Portugal, onde cumpri estágio na Universidade de Coimbra, sob supervisão do professor Carlos Fortuna. Lá, pude ter acesso a uma ampla bibliografia internacional especializada e a metodologias atuais no tratamento a esses bens”, esclarece. No trabalho, segundo a pesquisadora, os jardins históricos brasileiros são compreendidos e vistos por crivos simbólicos e conceituais, numa vertente culturalista da história. O Brasil, conforme a historiadora, possui jardins históricos notáveis. Ela elenca alguns deles, como os jardins do Palácio do Catete e Jardim Botânico, ambos no Rio de Janeiro; o Jardim do Hospital São João de Deus, na Bahia; a casa de Monteiro Lobato e o Jardim da Luz, em São Paulo; o Parque das Águas de Caxambu e o Parque Municipal de Belo Horizonte, em Minas Gerais; além dos jardins concebidos pelo paisagista Burle Marx, que estão espalhados por várias cidades brasileiras. Cristiane observa que um jardim histórico é como um museu vivo. “A relevância histórica, cultural e patrimonial dos jardins históricos é inestimável”, defende. Para sustentar a sua afirmação, ela se vale das palavras da pesquisadora espanhola Carmen Añon, segundo as quais cada jardim se inscreve como documento único, que não se repete, com um processo próprio de desenvolvimento; uma história particular, com nascimento, evolução, mutações, degradações etc. Trata-se de um bem que reflete a sociedade e a cultura que o criou e na qual viveu. “Nos dizeres de Jorn de

Precy [filósofo e paisagista islandês que se fixou na Inglaterra no início do século 20], nós temos sobre a terra um tempo limitado. E encontramos, nos jardins, sítios nos quais o tempo para; refúgios nos quais o tempo, sem idade, parece infinito”, pontua a autora da tese. Tanto os jardins históricos quanto os demais monumentos que constituem o patrimônio paisagístico, prossegue a historiadora, contribuem para que a história de uma localidade ou país seja contada. “Nesse sentido, cito a arquiteta e paisagista portuguesa Rita Theriaga. Para ela, as paisagens e o patrimônio paisagístico podem fornecer informações acerca das relações que se estabelecem ao longo do tempo entre as sociedades e o meio natural, podendo como tal contribuir para a compreensão da história, da ciência, da antropologia, da literatura etc. É nesta perspectiva que faz sentido designar ‘paisagem’ como patrimônio cultural, na medida em que são bens em constante evolução e que herdam, se utilizam e se legam às gerações vindouras”. Retomando o tema jardins históricos, Cristiane acrescenta que estes são monumentos locais com características peculiares. Eles não são adjacências da arquitetura ou decorações das cidades, como alguns podem pensar. “Os jardins apresentam valor artístico, valor histórico e valor enquanto memória e identidade de um povo. Estar em um jardim histórico é como caminhar dentro das paisagens de Botticelli, Claude Lorrain, Monet, Frans Post, Nicolau Facchinetti ou Antônio Parreiras. Portanto, a salvaguarda e preservação das características peculiares destes bens culturais contam a história de um país e da sua relação com a arte, a arquitetura e as tecnologias de determinado período histórico”, reforça. O trabalho de Cristiane também deu origem a uma página no Facebook denominada “Jardins Históricos Brasileiros [www. facebook.com/jardinshistoricosbrasileiros], que conta com seguidores de diversos países, e a um site [www.jardinshistoricosbrasileiros.blogspot.com.br). O objetivo dos espaços virtuais é divulgar informações sobre os monumentos e promover trocas de experiências com outros pesquisadores sobre o tema. A tese de doutorado da historiadora contou com bolsa de estudo concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Publicação Tese: “O Desenho da História no Traço da Paisagem: patrimônio paisagístico e jardins históricos no Brasil - memória, inventário e salvaguarda” Autora: Cristiane Maria Magalhães Orientadora: Silvana Barbosa Rubino Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: Fapesp


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.