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Foto: Antoninho Perri

O maior acervo de Grassmann

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A professora e artista plástica Lygia Arcuri Eluf (foto), do Instituto de Artes, doou à Unicamp 220 gravuras em metal de Marcelo Grassmann (1925-2013). As obras foram adquiridas, via financiamento da Fapesp, para fundamentar pesquisa da docente sobre a trajetória do artista, considerado o maior gravurista brasileiro por muitos críticos. Quinze obras de Grassmann serão expostas em mostra a ser inaugurada no próximo dia 2, na Biblioteca Central César Lattes (BCCL), onde ficará o acervo, que será o maior do artista numa instituição pública do país.

Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju

Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015 - ANO XXIX - Nº 630 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti

Diagnosticando a hanseníase em 5 minutos 3

A biomédica Estela de Oliveira Lima desenvolveu um método simples, inovador e de baixo custo de diagnóstico da hanseníase. O procedimento (foto) permite que a doença seja detectada em cerca de cinco minutos. Concebida no Laboratório Innovare Biomarcadores da Unicamp, a pesquisa teve orientação do professor Rodrigo Ramos Catharino, contou com a colaboração de cientistas da Fiocruz (RJ) e foi publicada na revista Analytical Chemistry.

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Lei Rouanet fica só na boa intenção A influência de Alberti na arquitetura colonial

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Venezuela dá exemplo em habitação popular

O tataraneto de um neandertal

Um encontro com Alceo Bocchino

Transparência e ética na pesquisa

Comida saudável é convite ao ócio

TELESCÓPIO

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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

TELESCÓPIO

CARLOS ORSI

Resolvido mistério da morfina Pesquisadores britânicos e australianos anunciam, em artigo publicado na revista Science, terem encontrado o gene responsável por uma enzima essencial para a criação de alcaloides como ópio e morfina pela papoula. Somada a avanços recentes que permitiram reconstituir parte da rota bioquímica da morfina em uma variedade transgênica de levedura, a descoberta abre caminho para a produção de opioides sem a necessidade de cultivar a flor. “Agora que a rota biossintética para a morfina está completa, pesquisadores podem investigar abordagens mais eficientes, baseadas em micróbios, para os analgésicos opiáceos”, diz nota divulgada pelo periódico. Quando a criação da rota parcial para morfina em leveduras foi anunciada, a revista Nature publicou artigo chamando atenção para os dilemas éticos e legais envolvidos.

Foto: Svante Pääbo, Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology/Divulgação

carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Mandíbula humana pré-histórica onde foi encontrado DNA de neandertal

Gatos estressados

Humano com tataravô neandertal Análise genética do material extraído de uma mandíbula humana de cerca de 40 mil anos atrás, encontrada na Romênia, determinou que ela contém de 6% a 9% de DNA neandertal, o que sugere que o indivíduo em questão “teve um ancestral neandertal de quatro a seis gerações atrás”. Trata-se do ser humano de parentesco mais próximo com os neandertais já descoberto. A espécie humana moderna chegou à Europa entre 45 mil e 35 mil anos atrás, mesmo intervalo de tempo em que o homem de neandertal, que se encontrava no continente há centenas de milhares de anos, foi extinto. A causa do desaparecimento dos neandertais ainda é um mistério, mas sabe-se que houve um certo grau de miscigenação entre as espécies. O artigo sobre a mandíbula romena, de autoria de um grupo internacional de pesquisadores, está publicado na revista Nature.

Atmosfera que evapora O planeta Gliese 436b, descoberto em 2010 orbitando o astro Gliese 436, na constelação de Leão, tem parte de sua atmosfera “soprada” para o espaço pela radiação da estrela, diz artigo publicado na revista Nature. No fim de 2013, pesquisadores da Nasa já haviam anunciado que o planeta tem nuvens na atmosfera. Gliese 436b tem massa semelhante à de Netuno, mas sua órbita é bem próxima à da estrela, com uma distância de apenas 2% da que separa a Terra do Sol. A perda de atmosfera foi detectada a partir de observações feitas na parte ultravioleta do espectro, enquanto o planeta passava pela linha de visão entre sua estrela e a Terra. Os autores da descoberta, ligados a instituições da Suíça, França e Reino Unido, foram capazes de detectar uma “atmosfera expandida”, para além da que já havia sido descoberta por meios ópticos, que não só envolve o planeta mas também se dilata, como uma cauda.

menos de um milhão de anos no local, diz artigo publicado no periódico Nature Communications. Os autores, da Holanda, Alemanha, Suécia e Reino Unido, estudaram a cratera Istok, localizada no hemisfério sul do planeta e formada entre cem mil e um milhão de anos atrás. O artigo atribui a presença de água corrente na superfície da cratera, no passado, a ciclos de clima quente causados por mudanças na órbita marciana.

Conservadores mais focados Pessoas politicamente conservadoras tendem a acreditar mais em livre-arbítrio e na ideia de que as principais causas do sucesso ou do fracasso são internas – isto é, dependem da disposição e do talento pessoal. Já os politicamente liberais são mais críticos da ideia de uma responsabilidade predominantemente individual, e preferem chamar atenção para fatores sociais e econômicos. Uma série de três experimentos conduzidos por psicólogos de instituições dos Estados Unidos indica que essas convicções têm impacto na capacidade de perseverança e de atenção dos indivíduos, com conservadores, em geral, se saindo melhor em testes desses dois atributos do que os liberais. Os autores do trabalho, publicado no periódico PNAS, afirmam que seus resultados podem ajudar a determinar que tipo de incentivo é mais capaz de estimular diferentes indivíduos a ter boa performance, dependendo da inclinação política: conservadores respondem melhor a discursos motivacionais e de avanço pessoal, enquanto que liberais tendem a ser mais estimulados pelo ambiente e pelo contexto social.

Os véus de Vênus O tamanho observado do planeta Vênus depende do tipo de luz usado para fazer a medição, informa artigo publicado no periódico Nature Communications. Observações realizadas durante o trânsito do planeta diante do Sol, ocorrido em 2012, mostram que o raio planetário total, incluindo a atmosfera, se apresenta até 100 km maior do que o valor padrão, se a medida for feita com raios-X e ultravioleta, em vez de luz visível. Trânsitos de Vênus são ocorrências raras, que vêm em pares – geralmente, há apenas um par a cada século. Por conta disso, o evento de 2012 foi usado para a realização de uma série de observações, incluindo a da equipe franco-italiana que mediu o raio do planeta usando frequências de luz cada vez mais energéticas, até chegar aos raios-X.

Nota do Grupo Nature afirma que a descoberta de que a atmosfera venusiana pode chegar até 100 km acima da altitude padrão terá implicações para o planejamento de novas missões ao planeta, e também para a administração das sondas que orbitam Vênus atualmente, já que o arrasto atmosférico pode ser maior que o previsto. O resultado também terá implicação para o estudo de planetas localizados foram do Sistema Solar.

Um grupo de veterinários da Universidade Autônoma de Barcelona publicou, no periódico Journal of Feline Medicine and Surgery, um artigo que enumera os principais sintomas que o estresse provoca em gatos domésticos. Entre as causas do estresse nos felinos, estão “relacionamento ruim com humanos”, “mudanças no ambiente” e “conflitos com outros gatos”. A lista de sintomas apresentada no artigo inclui redução da vontade de brincar, aumento na produção de urina, aumento na agressividade e redução no comportamento exploratório. Os autores advertem, porém, que “a resposta ao estresse de um determinado gato dependerá não apenas do ambiente (...) mas também do temperamento do indivíduo”. E o temperamento do gato, por sua vez, “depende de sua constituição genética e de suas primeiras experiências”.

‘Comida saudável’ estimula sedentarismo Alimentos que apelam para o rótulo “saudável” ou “fitness” tendem a tornar os consumidores complacentes, levando-os a comer mais e a fazer menos exercício, diz estudo publicado no periódico Journal of Marketing Research. “Marcar um produto como ‘fit’ aumenta o consumo por parte de quem está preocupado em perder peso”, escrevem os autores, ligados a instituições dos EUA e da Alemanha. “E esses consumidores, aparentemente, veem o rótulo ‘fit’ como um substituto dos exercícios”, reduzindo assim a atividade física. O artigo tratou dos efeitos do rótulo “fitness” nos níveis de consumo e atividade física de consumidores preocupados com o peso. Voluntários receberam pacotes com mixes de nozes, castanhas e frutas secas, alguns dos quais estavam marcados “fitness”, para que se servissem à vontade. Depois, pediu-se que se exercitassem em bicicletas ergométricas. Entre os voluntários preocupados em controlar o peso, o efeito da rotulagem foi significativo: esses participantes comeram muito mais dos mixes marcados “fitness”, e queimaram muito menos calorias nas bicicletas.

Água corrente no passado de Marte

‘Science’ discute ética e transparência na pesquisa A revista Science traz, em sua edição da última semana, dois artigos de opinião sobre as dificuldades que o sistema formado por universidades e periódicos enfrenta para se manter à altura do ideal de uma ciência capaz de detectar as próprias falhas e corrigi-las de modo transparente. Há propostas para aperfeiçoar o processo de revisão pelos pares, e também de mudanças na estrutura de incentivos na academia, com a criação de mecanismos que premiem os pesquisadores pela publicação de estudos relevantes, e não apenas pela quantidade de trabalhos. “Cientistas devem ser recompensados por publicar bem, não por publicar frequentemente”, diz resumo divulgado pela revista. Já o artigo sobre transparência oferece um conjunto de oito medidas que podem ser tomadas, em conjunto ou separadamente, para tornar a ciência mais aberta. As medidas incluem a exigência de um padrão de qualidade para citações; o compartilhamento dos dados brutos por meio de repositórios públicos; o compartilhamento do software usado na análise; e a imposição de padrões de transparência pelos periódicos como requisito para a aceitação dos artigos, entre outros. A lista completa das medidas propostas está online em https:// osf.io/ud578/ .

Análise de sedimentos arrastados por fluxos de água nas paredes de uma cratera de Marte sugerem que uma grande quantidade de gelo e líquido deve ter existido há

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015 CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

esquisa realizada no Laboratório Innovare Biomarcadores da Unicamp pela biomédica Estela de Oliveira Lima, orientada pelo professor Rodrigo Ramos Catharino, possibilitou o desenvolvimento de método inovador, simples, não invasivo e de baixo custo para o diagnóstico da hanseníase, conhecida desde os tempos bíblicos como lepra. O trabalho foi publicado na edição de março da Analytical Chemistry, a mais conceituada revista da área. O Innovare, que tem como foco de estudo a área de saúde, atua na localização de moléculas de importância para diagnósticos, processos, medicamentos, cosméticos e alimentos em geral. A nova metodologia proposta é de extrema simplicidade: uma plaqueta de sílica de um cm ² é sobreposta à pele e levemente pressionada por um minuto, tempo suficiente para que o material adsorva as substâncias presentes na sua superfície. Ela é então depositada em um tubo com metanol, o álcool de estrutura mais simples dessa função química, que dissolve as substâncias adsorvidas da pele pela sílica. Com uma seringa, o líquido sobrenadante é transferido para um espectrômetro de massas de alta resolução, onde são caracterizadas as moléculas presentes. Este procedimento permite, em cerca de cinco minutos, identificar marcadores lipídicos em pacientes da hanseníase diretamente a partir de “imprint” de pele, usando a espectrometria de massas como estratégia analítica. Atualmente, o teste considerado padrão ouro no diagnóstico da hanseníase é a histopatologia diagnóstica e a baciloscopia, diretamente dependentes de biópsia de pele, processo invasivo e de baixa sensibilidade para as formas mais brandas da doença. Em vista disso, o desenvolvimento de um método rápido, sensível e não invasivo assume grande importância no diagnóstico assertivo da hanseníase. A ideia da pesquisa resultou de um grande insight, conta Rodrigo: “Sabíamos que, com as tiras de sílica, podíamos fazer análise da composição de cosméticos fotoprotetores nelas diretamente aplicados. Tivemos então a curiosidade de verificar a adsorção dos cosméticos, quando aplicados diretamente sobre a pele, pressionando levemente essas tiras sobre ela. Descobrimos, então, dissolvendo os produtos absorvidos em metanol e utilizando o espectrômetro de massa, que ocorria não só a adsorção dos componentes do cosmético como de outras substâncias presentes na epiderme. Veio o insight: por que não testar o procedimento para identificar doenças que se estabelecem na pele? Em um congresso, conversando com a pesquisadora Cristiana Santos de Macedo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de Manguinhos (RJ), acertamos a realização desse trabalho em colaboração”. Na oportunidade discutiu-se a melhor maneira da coleta, a região da pele a ser priorizada para aplicação das tiras e o tipo de paciente. Cristiana encarregou-se da coleta do material e triagem dos pacientes de hanseníase em suas manifestações mais severas, ficando a cargo do Innovare testar o procedimento no diagnóstico da doença, localizando os biomarcadores responsáveis por ela e a melhor forma de análise. O docente enfatiza: “Estabelecemos uma emblemática colaboração entre duas instituições de renome, e prol da saúde pública, sem a preocupação com a propriedade do projeto”.

A DOENÇA

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica, que se manifesta principalmente por lesões cutâneas, com a diminuição da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. Tais manifestações decorrem da presença do bacilo Mycobacterium leprae, agente causador da doença, que acomete principalmente células cutâneas e nervos periféricos. Trata-se de uma doença sistêmica, que ataca o organismo como um todo, concentrando-se preferencialmente sobre a pele e regiões mais frias do corpo como dedos, orelhas e nariz. Os doentes que desenvolvem as suas formas mais graves são os que apresentam maior carga bacteriana. Coube ao médico norueguês G. A. Hansen identificar o bacilo causador da doença, em 1873. Em suas manifestações iniciais a hanseníase leva ao surgimento de manchas brancas, que podem ou não apresentar perda de sensibilidade e evoluem para a formação de lesões. Nos casos mais graves, a própria reação inflamatória que combate o Mycobacterium leva à destruição dos tecidos e à atrofia das extremidades. Atualmente, o tratamento preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é curativo, embora não ocorra regeneração dos tecidos já destruídos. Como existem outras doenças de pele que também se manifestam como uma mancha esbranquiçada, o seu diagnóstico inicial pode ser complicado. Ao leitor menos avisado, pode parecer estranho uma pesquisa que se preocupe em identificar um método de diagnóstico para a hanseníase, historicamente conhecida como lepra até meados do século 20 e cujos registros datam de cerca de três mil anos. Muitos a julgarão uma doença dos tempos bíblicos. Mas, até três décadas atrás, mais de 120 países ainda apresentavam altos índices de prevalência da doença, embora sua queda tenha sido acentuada, pois, já em 2012, a OMS constatou que menos de 20 deles, situados em geral ao longo da Linha do Equador, em que a doença se mostra mais prevalente, apresentavam ainda incidência maior que mil casos novos por ano.

Publicação Tese: “Inovação no diagnóstico da hanseníase: potencial método não invasivo associado à espectrometria de massas de alta resolução” Autora: Estela de Oliveira Lima Orientador: Rodrigo Ramos Catharino Colaboradores: Cristiana Santos de Macedo, Maria Cristina Vidal Pessolani, José Augusto da Costa Nery, Euzenir Nunes Sarno (Fiocruz), Cibele Zanardi Esteves e Diogo Noin de Oliveira (Unicamp) Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Biomédica desenvolve método inovador de detecção da hanseníase Trabalho feito em colaboração com a Fiocruz foi publicado na mais conceituada revista de química analítica Fotos: Antonio Scarpinetti

Plaqueta de sílica usada nos exames: adsorvendo em cerca de um minuto as substâncias presentes na pele

duas moléculas especificas do Mycobacterium: uma específica do Mycobacterium leprae (o ácido phthiocerânico) e outra mais específica de gênero, presentes em qualquer Mycobacterium (o ácido α-smegma micólico). Estes resultados mostram que o método permite identificar esses dois marcadores lipídicos presentes nos tecidos do indivíduo com hanseníase, mesmo na pele não lesionada, nos casos mais graves da doença. O próximo passo do estudo, que os pesquisadores já iniciaram, mantida a parceria entre as instituições, é a validação do método para todas as manifestações da hanseníase, particularmente para 30% dos casos em que o paciente pode não apresentar manifestações clínicas típicas como espessamento de nervos e lesões hipocrômicas com perda da sensibilidade. A propósito, Estela afirma: “Por ora podeO professor Rodrigo Ramos Catharino, orientador, e a biomédica mos considerar que o método funciona para caEstela de Oliveira Lima, autora da tese: método simples, não invasivo e de baixo custo sos de grande carga bacteriana e que se mostra aparentemente de grande potencial de eficiência para outras situações, embora não tenha sido testado ainda Dentre esses países remanescentes, o Brasil é um dos que quando a carga bacteriana é mais baixa”. Rodrigo compleainda não conseguiram atingir a meta da OMS que preconiza menta esclarecendo que, mesmo nos casos mais graves, essa taxa de prevalência da doença não superior a um caso a cada metodologia não tinha ainda sido aplicada, pois a biópsia dez mil habitantes. Segundo dados de 2014, do Ministério da sempre se restringiu à parte lesionada com vistas ao diagSaúde, essa taxa é de 1,51 no país (colocando-o, em relação nóstico, pois os ferimentos poderiam estar associados a ouà de hanseníase, apenas atrás da Índia e de nações africanas). tras doenças: “Em relação aos casos mais agudos da doença, As estatísticas mostram que a doença permanece como promostramos que a hanseníase pode ser identificada na pele blema de saúde pública nacional. Ela atinge principalmente mesmo em regiões não lesionadas”. as classes econômicas menos favorecidas, principalmente das regiões Norte e Nordeste. Constituem seus fatores de risco Para os pesquisadores, a metodologia proposta apresentacondições precárias de vida, desnutrição, alto índice de ocu-se promissora para o diagnóstico de hanseníase em todos os pação de moradias e outras infecções simultâneas. seus graus. Destacam que o método de coleta de amostras por meio da placa de sílica é rápido, simples, não invasivo e eficaz para a adsorção de lipídeos da pele, etapa essencial para ALCANCE DA METODOLOGIA a análise com a utilização da ferramenta empregada. Além A principal forma de diagnóstico da hanseníase hoje é a disso, o processamento e análise das amostras com o emprebiópsia, processo invasivo e desconfortável para o paciente, go de espectrômetro de massas de alta resolução mostraramem que o Mycobacterium leprae, assim como alterações histo-se de grande acurácia para a identificação de marcadores lipatológicas, devem ser visualizados na derme, o que limita pídicos diferenciais entre amostras dos indivíduos saudáveis a sensibilidade nos casos em que a carga bacteriana ainda e doentes, independentemente da presença de lesão cutânea. é baixa. O método proposto pelos pesquisadores tem poFrisam, entretanto, que para a comprovação da hipótese, mais tencial para permitir identificar a presença de moléculas da experimentos são necessários, como validação e comparação bactéria na superfície cutânea mesmo quando ainda não tecom outras manifestações da hanseníase. Destacam ainda o nham se estabelecido lesões oriundas das manchas esbranseu baixo custo, que facilita sua utilização no sistema de saúquiçadas que as antecedem. de, que pode ser viabilizada com a utilização de espectrômetros de massas de menor resolução, que além de mais baratos Para o desenvolvimento da pesquisa, foram selecionados não exigem operadores especialmente capacitados. dois grupos: um de indivíduos saudáveis e outro com portadores de hanseníase na sua forma mais avançada, com múlRodrigo se entusiasma ao dizer que “a metodologia é retiplas lesões pelo corpo. Nestes pacientes, foram coletadas volucionária por ser simples. Mas, além disso, ela descortiamostras com a plaqueta de sílica diretamente aplicada sona uma linha de pesquisa voltada para a saúde pública, para bre lesões e, simultaneamente, as aplicações se deram sobre pessoas carentes, e pode vir a ser usada para o diagnóstico de a pele que não apresentava ferimentos, para que pudessem cânceres de pele e de outras doenças que a afetam. Embora ser comparados os resultados. nosso foco tenha sido a hanseníase, abrem-se perspectivas para o diagnóstico de outras doenças igualmente negligenciaA análise dos espectros permitiu estabelecer a comparação das. Vislumbra-se um campo aberto e só estamos no início de entre as moléculas presentes no grupo sadio e doente e, ainum processo que pode vir a ajudar muita gente”. da, entre a pele lesionada ou não dos pacientes. A partir das diferenças que se observam entre os dois grupos foi possível A expectativa de Estela não é menor que a do orientador: identificar moléculas já descritas na literatura e comumen“Se conseguirmos validar o método para identificar hanseníte presentes na pele de um indivíduo saudável. Nos casos ase no seu início, estaremos contribuindo para que se possa dos doentes - independentemente da amostra colhida provir quebrar a cadeia de transmissão da doença no país, que se das partes cutâneas lesadas ou daquelas não atingidas pelas dá através das secreções de vias aéreas e pelo contato com as feridas - foram identificados o mesmo padrão de moléculas lesões, uma vez que quanto mais precoce o diagnóstico mais que indicam resposta inflamatória, morte celular e também cedo se inicia o tratamento”.


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

Refém da iniciativa privada Pesquisa do Instituto de Economia aponta distorções e contradições na Lei Rouanet Foto: Antoninho Perri

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

dinâmica de funcionamento da Lei Rouanet, a partir da sua criação, em 1991, até os dias atuais, imprimiu distorções e contradições nos seus objetivos iniciais, que previam, entre outras finalidades, a descentralização e o estímulo à regionalização da produção cultural, a defesa da autonomia criativa, a priorização das produções originais do país, o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais. Para o pesquisador da Unicamp Franco Galvão Villalta, que acabou de concluir estudo sobre o tema, na prática, a Lei Rouanet não atende a nenhum destes objetivos. Ele sustenta que a Lei nº 8.313, de âmbito federal, conferiu, por meio de recursos públicos, capacidade de comando da atividade cultural a critérios privados. “Se a decisão de financiamento cultural está subordinada a critérios empresariais de decisão, as manifestações culturais desprovidas de tais características dificilmente conseguirão se viabilizar. Por outro lado, esta lógica empresarial induziu no campo cultural um processo de padronização da produção artístico-cultural, comprometendo a diversidade e a multidimensionalidade da cultura brasileira”, afirma. Franco Villalta explica que a legislação é hoje a principal política pública de incentivo ao setor no país. Por meio dela, o governo federal concede até 4% de isenção fiscal sobre o imposto de renda e, em troca, as empresas investem em algum tipo de atividade cultural do seu interesse. São concedidos, anualmente, R$ 1.3 bilhões em isenções fiscais à iniciativa privada para o investimento em cultura. Esta cifra é similar ao orçamento anual do Ministério da Cultura (Minc), compara o estudioso da Unicamp. “Portanto, acaba-se imprimindo uma dinâmica de financiamento da atividade cultural calcada em critérios empresariais, tornam as atividades uma espécie de marketing cultural. As empresas usam a lei e o dinheiro público para promover suas marcas. E elas querem que suas marcas cheguem ao ouvido de que público? Daquele com potencial de maior consumo. Os recursos da lei se concentram no Estado de São Paulo, não porque o Estado produz mais cultura, mas porque é o Estado mais rico, com maior poder de consumo. Estima-se que 40% dos recursos estão centralizados no Estado”, critica. Ainda de acordo com ele, a legislação não democratiza a cultura no país, tanto sobre o aspecto de quem a produz, quanto do público que a consume. “O Cirque du Soleil, por exemplo, vem ao Brasil por meio da Lei Rouanet. Só que a empresa que ganha subsídio fiscal para trazer o Cirque du Soleil, além de se promover, cobra, em média, R$ 300,00 por entrada. A lei concentra muitos recursos em grandes artistas também. Temos o caso da Maria Bethânia que arrecadou mais de R$ 1 milhão para fazer um blog; o Michel Teló, por exemplo, no ano passado, arrecadou R$ 8 milhões. Tem a Cláudia Leite também. Portanto, estes artistas concentram muitos recursos porque trazem muita visibilidade para as marcas das empresas”, aponta. A pesquisa de Franco Galvão Villalta foi conduzida junto ao Instituto de Economia (IE) como parte de sua dissertação de mestrado na área de concentração em economia social e do trabalho. O estudo, apresentado junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico, foi orientado pelo docente José Dari Krein, que atua no Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) do IE. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) financiou o trabalho, concedendo bolsa de estudo ao pesquisador da Unicamp. Além de economista formado pelo IE, Franco Villalta é músico, com graduação em andamento junto ao Instituto de Artes (IA) da Unicamp.

FURTADO E A CULTURA

O economista Franco Galvão Villalta, autor da dissertação: “A lógica empresarial induziu no campo cultural um processo de padronização da produção artístico-cultural” Foto: Arquivo Ascom

O economista Celso Furtado, cujas ideias sobre cultura fundamentaram parte da pesquisa de Villalta: privilegiando a criatividade e a potencialidade humana

A sua dissertação de mestrado avaliou os impactos das políticas públicas no mercado de trabalho na área cultural no início do século XXI no Brasil. Conforme o economista, o seu objetivo foi tentar compreender a dinâmica que o funcionamento da Lei Rouanet trouxe para a realização das atividades culturais e como estas condições de realização da atividade cultural interferiram nas estratégias de sobrevivência daquele que se denomina um agente da cultura. “Na medida em que tornam mais seletivas as manifestações culturais que terão acesso ao financiamento, a dinâmica produzida pela Rouanet interferiu diretamente nas condições às quais os agentes da cultura tiveram que se submeter para viabilizar sua sobrevivência. Os produtores que não conseguiram se adequar às exigências da lei foram eliminados desse sistema. E para os que conseguiram se adequar, eles tiveram, em grande medida, que adequar o seu fazer cultural. E a autonomia criativa, um pressuposto básico para a produção cultural, acaba sendo abandonada”, indica.

ciados, os agentes da cultura levam seus projetos para o mercado, em busca de empresas que se interessem em apoiá-los. “As maiores empresas, principalmente os bancos, criaram suas próprias instituições culturais e passaram a autofinanciar seus próprios projetos. É o caso da Itaú Cultural, empresa vinculada ao Banco Itaú, responsável por expressiva parcela de financiamento das atividades culturais. Posteriormente, o autofinanciamento foi proibido pelo governo federal, mas as empresas passaram a realizar financiamento cruzado, ou seja, duas grandes firmas compactuam financiar as empresas culturais subsidiárias uma da outra”, relata. Já em torno das empresas de menor porte, estruturaram-se, segundo Franco Villalta, “empresas especializadas em captação que ‘organizam’ os recursos das pequenas companhias de uma localidade, bloqueando o acesso pelos grupos aos recursos locais. Para alcançarem esse financiamento, os grupos, subordinados ao intermédio destas empresas de captação, tem que se sujeitar a taxas que atingem 40% do valor total do projeto”, dimensiona.

Neste sentido, complementa o pesquisador, o foco da sua dissertação foi contribuir para que os agentes da cultura tenham maior conhecimento das relações econômicas, “que, de certa forma, influem diretamente sobre as possibilidades colocadas para estes agentes sobreviverem e realizarem aquilo que acreditam.”

O pesquisador da Unicamp informa que empregou, em seu trabalho, a noção de cultura a partir do pensamento do economista Celso Furtado. Em sua justificativa, Franco Villalta afirma que o marco teórico de Furtado permite entender qual deve ser o papel das políticas públicas neste campo. “No pensamento de Furtado, a criatividade e a potencialidade humana constituem o espaço em que as políticas públicas culturais devem atuar. Para ele, cultura diz respeito àquilo que é mais nobre no homem, como indivíduo e como ser social; é o seu permanente esforço para enriquecer de valores o mundo em que vive; é a conjugação daquilo que é, enquanto identidade, com aquilo que deseja ser, enquanto potencial criativo. Em suma, o sistema de cultura seria a ótica dos fins, dos desejos, da intencionalidade humana”, fundamenta. O economista acrescenta que estes conceitos de Celso Furtado estavam presentes nos objetivos da Lei Rouanet e da sua precursora, a Lei Sarney. Ele lembra que Furtado ocupou, entre 1986 e 1988, o posto de ministro da Cultura do ex-presidente José Sarney, sendo um dos principais responsáveis por encaminhar a Lei Sarney. Conforme o estudioso, Furtado objetivava promover a participação da sociedade brasileira nas decisões da produção cultural, de modo que seu funcionamento possibilitasse, em paralelo com o incremento no montante de recursos, a modificação de duas tendências históricas da realização da cultura no país: o rompimento do papel ideológico exercido pelo Estado, sobretudo o governo militar, e estimulo às iniciativas culturais nascidas no seio da sociedade brasileira. “Mas, contraditoriamente, a dinâmica de funcionamento da Lei Rouanet, influenciada pela lógica existente no mercado de captação, deu ensejo a um processo de concentração dos recursos nas atividades culturais que melhor atendem aos objetivos do marketing cultural, instrumentalizando os recursos públicos para financiar uma atividade cultural que não possui a cultura como finalidade última”, lamenta.

NOVO MERCADO Franco Villalta aponta ainda que o processo de isenção fiscal promovido pela lei criou um novo mercado, o chamado mercado de captação, com elevadas exigências burocráticas e um novo tipo de expertise. Ele relata que as empresas, para conseguirem a isenção de imposto e a liberação desses recursos, precisam fazer um cadastro no sistema da Lei Rouanet e buscar, no mercado, projetos para apoiar. Do outro lado, os agentes culturais elaboram suas propostas culturais em formato de projeto e os submetem à aprovação técnica do governo federal. Uma vez licen-

Publicação Dissertação: “Os impactos das políticas públicas no mercado de trabalho na área cultural no início do século XXI no Brasil” Autor: Franco Galvão Villalta Orientador: Jose Dari Krein Unidade: Instituto de Economia (IE) Financiamento: Capes


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

Unicamp passa a ter o maior

acervo de

Grassmann

Gravuras foram doadas pela professora Lygia Eluf, que coordena pesquisa sobre o artista

Foto: Antoninho Perri

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

Unicamp será detentora do maior acervo, disponibilizado para o olhar público em todo o mundo, de gravuras de Marcello Grassmann (1925-2013), um dos principais artistas gráficos brasileiros. As obras, que foram adquiridas com financiamento Fapesp, para fundamentar a pesquisa da professora Lygia Arcuri Eluf, do Instituto de Artes (IA), foram doadas pela docente à Biblioteca Central Cesar Lattes (BCCL) e estão em processo de incorporação à seção de Coleções Especiais e Obras Raras. Trata-se de três grandes caixas azuis contendo 220 gravuras em metal, especialidade de Grassmann, relacionadas a mais de meio século de produção artística. A coleção é uma entre oito edições das obras, feitas a pedido do colecionador de arte de São Paulo Pedro Hiller, proprietário das matrizes. “O Marcello nunca fez edição, a não ser que alguém encomendasse. Você encontra algumas dessas imagens por aí. O Hiller pegou todas as matrizes e fez oito conjuntos nomeados para Marcello, a família e alguns amigos. Só essas pessoas têm esse acervo, além da Unicamp”, ressalta a pesquisadora. Também há gravuras em metal do artista na Pinacoteca do Estado de São Paulo, mas em número menor. Marcello Grassmann, paulista de São Simão, é tido por muitos críticos como o maior gravador brasileiro, e suas obras estão em acervos dos melhores museus do mundo. Lygia fala de Marcello, assim mesmo, chamando o artista apenas pelo primeiro nome, com muita intimidade. E não é para menos. A professora, também artista gráfica e criadora do Centro de Pesquisa em Gravura do IA da Unicamp, conviveu com Grassmann, de quem era muito amiga, o que a fez conhecer em profundidade as obras. Ele morava em um apartamento em São Paulo e, perto da morte, teve até mesmo dificuldades financeiras, diz Lygia, por conta da absoluta falta de tino comercial. “O Marcello não tinha nenhuma preocupação em vender, ele não sabia fazer isso”. Ademais, as gravuras de Grassmann nem sempre encontravam aceitação. Talvez, observa a docente, não coubessem na parede as figuras sombrias, seres mitológicos, cavaleiros em armaduras, animais estranhos e toda uma escuridão que é parte do universo do artista. “Lygia, vamos escolher as obras mais ‘palatáveis’ para a exposição?”, ele perguntava, quando recebia um convite. “Marcello, nada do que você faz é palatável, é tudo sombrio, tudo de dar medo”, a amiga respondia. “E ele dava risada”, relembra a professora. Não é comum olhar para a morte, sobretudo com doçura e humor. Para Lygia, Grassmann era de uma “linhagem” de artistas que tem um jeito peculiar de ver o mundo. “Nos ensinam a história da arte cronologicamente e não por universos semelhantes. Mas existem pessoas durante todas as épocas que pensam igual. Acredito que o Marcello pensava como determinados artistas que o influenciaram, como o Kubin (Alfred Kubin, 1877–1959, Áustria), Bosch (Hieronymus Bosch, 1474-1516, Holanda), o Dürer (Albrecht Dürer, alemão, 1471-1528). Essa turma pensava assim, tem um modo de olhar o mundo semelhante, não importa se foi na Idade Média, se foi no começo do século 20, ou se foi o Grassmann que morreu há dois anos e tratava a morte com escárnio.”. Lygia conta que o artista tinha um grande acervo de imagens na memória, que ele acionava toda vez que começava um trabalho. A busca dessas referências moveu a viajar recentemente para Viena para refazer alguns passos de Grassmann. Na década de 1950, ele viajou para a Itália e Áustria com o dinheiro que recebeu do primeiro lugar obtido no 1º Salão Nacional de Arte Moderna. Passou longo período estudando as obras do Gabinete de Estampas da Academia Albertina. Em um mês de imersão nas mesmas obras, como parte da pesquisa, Lygia começou a descortinar a biblioteca interna de imagens do gravurista. “Influenciado pelo Goeldi (Oswaldo Goeldi, 1895- 1961, Brasil) que tinha uma correspondência com o Kubin, o Marcello foi terminar a formação dele em Viena e tentar um contato com o artista austríaco. Fiquei um mês ‘olhando’ os artistas que influenciaram o Marcello, sobre os quais ele falava muito. Queria saber o que impressionou tanto o jovem Grassmann e o que tornou esse trabalho dele tão especial”. Lygia encontrou semelhanças entre as obras de Grassmann e trabalhos de Bosch, Bruegel (Pieter Bruegel 1525-1569, Bélgica) e Albrecht Dürer. O mais impressionante, no entanto, foi a relação direta de um trabalho de Marcello com uma gravura de Kubin, que são muito parecidas. A pesquisadora afirma que o senso de humor, “aquela ironia fina do Marcello”, vem desses artistas. “Aquele tipo de simbologia que eles usavam na Idade Média, que para eles era uma coisa completamente diferente do que a gente vê hoje, o Marcello olhou aquilo com olhos contemporâneos. Ele trouxe aquela simbologia transformada”.

A professora e artista plástica Lygia Eluf examina gravura de Grassmann: acervo ficará na Biblioteca Central Cesar Lattes

Exposição vai reunir 15 obras Uma exposição de quinze gravuras do acervo de Marcelo Grassmann doado à Unicamp será aberta no dia 2 de julho no andar térreo da Biblioteca Central César Lattes (BCCL) da Unicamp. A mostra teve a inédita curadoria das funcionárias da BCCL, a diretora Tereza de Carvalho, a bibliotecária Isabella Nascimento Pereira e a técnica em biblioteconomia Fernanda Festa Mira. Elas fizeram uma primeira seleção das obras e depois foram ajudadas pela professora Lygia Eluf. Foram escolhidas gravuras de diferentes períodos, inclusive a primeira em metal feita pelo artista, que utilizou a técnica de ponta seca, que é a gravação direta na placa. “Não era a técnica preferida do Marcello, mas tenho certeza absoluta que algumas obras nunca foram expostas, inclusive esta primeira gravura”, comenta a docente. O artista que “aparece” na exposição é alguém muito próximo do que Marcelo Grassmann foi de verdade, acrescenta a professora, “alguém muito aberto, transparente e embora haja essa primeira impressão de um universo sombrio, era um homem de extrema doçura e de uma generosidade que poucos reconhecem”. Para as funcionárias foi uma experiência singular. “Nem tudo o que escolhemos são coisas que nos agradam no gosto pessoal, isso é uma experiência interessante. É engraçado porque a primeira impressão de um trabalho muito sombrio foi se desfazendo. Selecionar as gravuras me aproximou dele, de uma pessoa que não conheço”, afirma Isabella. Ainda no dia 2, a partir das 15 horas, no auditório da BCCL, haverá um colóquio que reunirá o impressor Roberto Grassmann, irmão do gravador, a gravadora e ex-mulher do artista Zizi Batista, o crítico e professor Leon Kossovitch, o artista plástico Nori Figueiredo e o historiador da arte Denis Molino.

Reconstituir o arquivo de imagens da memória de Marcello Grassmann é um ideal para Lygia que, com a doação do acervo para a Unicamp, pretende dar início, ou “lançar a pedra fundamental”, para a criação de um gabinete de estampas na BCCL, incluindo obras do Centro de Pesquisa em Gravura do IA. “Perceber que essa visão de mundo é especial é entender o Marcello, esse universo, eu acho que mais do que definir as coisas. Vamos tentar desvendar um pouco desse universo sombrio e sarcástico, interessante e inteligente e torcer para que muita gente possa usufruir disso”. As gravuras foram digitalizadas pelas alunas de pós-graduação do IA Angie Niño e Mariângela Guelta, esta fã confessa de Grassmann. “Quando eu era adolescente e visitava exposições em que tivesse um Grassmann, eu parava ali, a exposição acabava para mim. Nunca poderia imaginar que um dia eu estaria de cara com esse material que eu amo tanto”.

PESQUISA Com vigência até maio de 2016, o projeto de pesquisa “Coleção Gráfica: Marcello Grassmann”, de Lygia Eluf, propõe uma investigação na área de procedimentos técnicos tradicionais da gravura em metal na coleção de 220 obras. O trabalho foi dividido em duas etapas. A primeira delas é a realização de um memorial descritivo inventariando as técnicas e variações utilizadas por Grassmann. A segunda etapa prevê uma análise da obra do artista, “considerando como o uso e o desenvolvimento pessoal dessas técnicas permitiu a criação de uma obra com características únicas, que pode ser inserida dentro da produção de ponta da gravura brasileira contemporânea por suas características de extrema qualidade”. A professora exemplifica. Com uma lupa pede uma observação mais atenta para as linhas em duas gravuras do artista. Cerca de quinze anos separam as duas peças. “Nas obras mais antigas, se você olhar a gravura de perto, vai ver linhas muito limpas, secas, a construção da imagem era muito rigorosa. As linhas tinham um caráter mais duro, elas funcionavam fazendo sombras e luzes muito determinadas. Trata-se de uma consequência da técnica de água-forte e do buril que ferem o metal na gravação da placa. O Marcello, com o tempo, foi transgredindo, modificando as técnicas tradicionais da gravura”. Observando a outra gravura, mais recente, esta feita com outro tipo de técnica, Lygia comenta que as linhas se aproximam muito mais de um desenho, “são mais soltas, tem mais fluidez. Isso é decorrência de uma experimentação que ele fez para gravar a mesma coisa, mas com mais liberdade de ação da mão que não ficasse tão condicionado à técnica tradicional”. Nas palavras da docente, a pesquisa tenta demonstrar como os procedimentos técnicos são capazes de alterar a poética do artista. “O universo dele é o mesmo. As figuras da morte, do cavaleiro, da donzela, gente, bicho tudo meio grotesco. Essas figuras não mudam, mas vão ficando mais engraçadas e mais expressivas. É um artista único”. Lygia narra um episódio que ilustra bem o seu interesse pelo trabalho de Grassmann. Ainda na faculdade, ela passeava pela rua Augusta e entrou em uma galeria em liquidação, prestes a fechar as portas. Viu “em um canto” uma gravura do artista, enquadrada, a figura de um cavaleiro e seu cavalo. Com dificuldade de pagar, ainda assim ela comprou a obra e a levou para casa, onde ficou por muitos anos até um dia em que um colecionador foi até sua casa para adquirir trabalhos da própria Lygia. Ocorre que o comprador acabou se entusiasmando e convenceu a professora a vender para ele a gravura de Grassmann. “Fiquei muito arrependida e tentei desfazer o negócio, mas não teve jeito”. Na ocasião da compra do acervo que doou para a Unicamp, Lygia recebeu um presente, de um sobrinho do artista: a gravura do cavaleiro foi retomada. Lygia era jovem quando conheceu Marcello Grassmann e, em meados dos anos 2000, passou a ficar muito próxima do artista. “Quando a gente começava a conversar, ele já na cama, sem conseguir andar, me pedia para eu pegar um livro e mostrava alguma coisa. Ele sempre fez isso e quase morrendo fazia a mesma coisa. ‘Tá vendo isso aqui? Eu ainda vou fazer isso’, ele dizia. Era uma imagem do Dürer, um desenho muito solto, muito bonito”.


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

Tese compara políticas de habitação popular na AL Fotos: Antoninho Perri

Modelo da Venezuela é mais eficiente do que os adotados no Brasil, no México e na Colômbia, constata pesquisadora CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

omparada às políticas de habitação popular adotadas por Brasil, Colômbia e México nas últimas décadas, a da Venezuela, implantada após a eleição de Hugo Chávez (1954-2013), foi a que se mostrou mais eficiente, ao realizar quase uma “reforma agrária urbana” que evita o banimento da população de baixa renda para as periferias, e que realiza também a criação de conjuntos habitacionais que buscam ser sustentáveis e criar novos núcleos urbanos, diz a pesquisadora Beatriz Mioto, autora da tese de doutorado “As políticas habitacionais no subdesenvolvimento: os casos do Brasil, Colômbia, México e Venezuela (1980/2013)”, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp e orientada pelo professor Wilson Cano. “É engraçado dizer isso”, disse Beatriz, referindo-se à conclusão de que a experiência venezuelana, nesse campo, é a mais interessante. “É sempre amedrontador dizer isso, porque a Venezuela é sempre atacada. Acho que o importante da Venezuela, mais do que a experiência em si, é o fato de o Estado ter financiado e ter investido bastante dinheiro por um bom tempo. Daqui para frente, com a crise causada pela oscilação do preço do petróleo, não sei como vai ser”. A pesquisadora lembra que a política venezuelana teve início depois das fortes enchentes do final de 2010 e do início de 2011, que deixaram centenas de milhares de desabrigados. “Era preciso dar uma resposta urgente para o problema social”, disse. “Até então havia uma política muito mais de readequação dos bairros, de reforma, não uma política de habitação em si, mas quando vem essa enchente, com muitos desabrigados, principalmente em Caracas, surge essa política habitacional. E, a despeito de todos os conflitos da sociedade venezuelana, há um consenso de que se precisa botar dinheiro para resolver esse problema urbano e melhorar a vida de todo mundo. O que é diferente da visão de dar casa para pobre, onde não se entende que, ao melhorar a moradia popular, está-se melhorando a vida de todo mundo”.

ENFRENTAMENTO FUNDIÁRIO A pesquisadora explica que o governo venezuelano conseguiu lançar mão de mecanismos para aproveitar espaços de áreas urbanas já consolidadas para fazer política habitacional. “Talvez seja muito forte chamar isso de uma reforma agrária urbana, mas houve meios muito importantes para enfrentar o setor privado, na questão da terra urbana”, disse ela. “Então, fez-se um censo das terras urbanas em Caracas, especificamente, ideia que deveria ser extensiva para todo o país”. Nesse censo, as terras urbanas foram classificadas e, à medida que eram tidas como de uso inadequado – “por exemplo, você tem um depósito abandonado no meio da cidade que só serve para manter aquela terra como reserva de valor”, cita a pesquisadora – a área torna-se passível de desapropriação, mediante pagamento.

Publicação Tese: “As políticas habitacionais no subdesenvolvimento: os casos do Brasil, Colômbia, México e Venezuela (1980/2013)” Autora: Beatriz Mioto Orientador: Wilson Cano Unidade: Instituto de Economia (IE)

“E o preço dessa terra não era um preço absoluto, dado apenas pela localização, mas era um preço, digamos, formado relativamente a terrenos com as mesmas características topográficas e de tamanho, e não só pela localização, que é o que torna a terra sempre mais cara. Então de fato houve enfrentamento, não com o setor privado de edificações em si, mas com o capital imobiliário em geral, da especulação”. Outra experiência venezuelana, que ainda estava dando os primeiros passos quando da elaboração da tese, é a da construção de condomínios sustentáveis, que embora não fiquem em áreas já urbanizadas ou centrais, buscam se converter em novos centros, evitando que a população tenha de se deslocar por grandes distâncias para chegar ao trabalho. “A ideia, no discurso da burocracia estatal que entrevistei, e das visitas que fiz, era fazer desses condomínios, um pouco mais afastados, novas centralidades urbanas, mais ligadas a coisas como sustentabilidade, agroecologia”. A construção desses conjuntos conta com parcerias internacionais, incluindo mão de obra, tecnologia e capital da China.

PARA O CAPITAL

Já no caso de México, Colômbia e Brasil, as políticas são feitas sem enfrentamento fundiário, e em parceria com o capital privado. O caso brasileiro, disse Beatriz, é onde há maior participação do Estado como agente financiador, seja por meio de bancos públicos ou políticas como a do FGTS. Essa abordagem comum aos três países, de acordo com a pesquisadora, gera dificuldades como a transferência de populações para as periferias, por conta do preço da terra, a concentração de problemas sociais e de segurança nos conjuntos populares e questões quanto ao tamanho inadequado das unidades e de qualidade das obras. “A partir dos anos 90, principalmente, a ideia é muito mais de prover o crédito para que o mercado faça a habitação. O Estado vira um facilitador que oferece um crédito ou um subsídio ao comprador final. Todo o resto, incluindo a articulação setorial e a localização dos empreendimentos, fica relegado ao setor privado”, descreve ela. “Isso é um traço comum das políticas, um pouco mais intenso nos casos mexicano e colombiano. Na Colômbia, por exemplo, o governo só dava o

Conjunto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida, em Campinas: para a pesquisadora, o Brasil adota uma política de viés neoliberal que segue o receituário internacional

subsídio, agora começou a facilitar mais o crédito, porque a família tinha que buscar o crédito no mercado: ou seja, tinha que provar para o governo que é pobre o suficiente para ter o subsídio, e para o mercado que é rico o suficiente para ter o crédito”. “No México, em geral, quem tem acesso é quem tem emprego formal”, explicou. “O trabalhador informal tem pouco acesso, porque as políticas, a partir dos anos 90, que eram destinadas à população de mais baixa renda, foram sendo ou sucateadas ou sofreram redução de recursos”. Já o Brasil, diz Beatriz, também tem uma política de viés mais neoliberal, dentro do receituário internacional. “Mas a gente tem o crédito dado por fundos públicos, então o Estado tem muito mais controle”. Ela cita programas envolvendo o FGTS e o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), ambos no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida.

PERIFERIA

Ao abrir mão do controle da questão do uso da terra, esses países mais alinhados às políticas neoliberais acabam estimulando um processo de especulação imobiliária e de criação de periferias distantes da infraestrutura urbana, disse a pesquisadora. “Aí aparece o condomínio de grande escala, onde exemplo mexicano aí é paradigmático para as construtoras da América Latina inteira: na bibliografia mais recente, fala-se de conjuntos de 15 mil unidades, de 17 mil unidades e em entrevistas me disseram que haviam sido construídos conjuntos de 50 mil unidades, que são cidades novas, afastadas”. “O modelo mexicano é muito forte nesse sentido”, acrescenta. “São grandes empreendimentos, numa escala de produção enorme, que é a escala que compensa geralmente para as empresas fazerem moradia pra baixa renda. Só que com problemas urbanos muito sérios”.

Beatriz afirma que a política de deixar a decisão sobre moradia popular para os mercados “gera contradições gigantescas, e tende a ter efeitos urbanos bastante complicados”. “Aqui mesmo em Campinas, é só olhar ao redor e ver onde estão os empreendimentos, geralmente em áreas com parca infraestrutura urbana – ou seja, você dá direito a um teto, estrito senso, mas não dá direito à cidade”. “As pessoas não somem ao final do dia de trabalho”, acrescenta Beatriz. “Elas precisam ir para algum lugar”.

FUNÇÃO SOCIAL

A pesquisadora acredita que a legislação brasileira atual, que contempla a função social da propriedade, já permitiria que o Estado exercesse um controle maior sobre a questão fundiária urbana. “Você pode desapropriar um lugar que não está cumprindo a sua função social, e função social não só no sentido da política social, do atendimento à população carente, função social é se você tem um terreno no meio da cidade que você não constrói nada, só mantém aquilo como reserva de valor”, disse. “Pode-se usar o mecanismo de IPTU progressivo primeiro, e depois um mecanismo de desapropriação. Então você define as áreas da cidade onde o dono vai ter que dar uma destinação para aquilo, não vai poder segurar indefinidamente como reserva de valor. Há mecanismos legais para fazer isso, com toda a legalidade capitalística do mundo”. Ela reconhece que a questão, no Brasil, enfrenta resistências culturais – “historicamente, por causa das nossas condições econômicas, a terra virou o que chamo de um refúgio de poupança, e isso em todas as classes”, disse – mas lembra também que esse apego à propriedade legal da terra opera num sistema de “dois pesos e duas medidas”, principalmente no que diz respeito à apropriação indevida de áreas públicas. “Ninguém vai fazer remoção nas áreas de manancial em São Paulo. Mas quando são os prédios do centro, fechados há 30 anos, esperando o momento em que a região vai ser valorizada, você tem uma polícia, todo um aparato estatal para tirar os ocupadores”. O censo fundiário urbano feito na Venezuela, lembra ela, mostrou que a grilagem e a apropriação privada do bem público também acontecem no meio urbano. “Caso fosse feito um censo da terra urbana no Brasil, veríamos que tem muita propriedade privada que, em termos de propriedade privada, não é genuína”.

Beatriz Mioto, autora da tese: “A partir dos anos 90, principalmente, a ideia é muito mais de prover o crédito para que o mercado faça a habitação”


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

A Alberti o que é de Alberti Fotos: Divulgação

Tese aponta possível influência do primeiro tratado de arquitetura em construções coloniais brasileiras MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

s regras contidas no primeiro tratado de arquitetura da história, formulado pelo italiano Leon Battista Alberti em meados do século XV, podem ter influenciado a arquitetura colonial brasileira. A constatação faz parte da tese de doutorado de Giovana de Godoi, defendida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, sob a orientação da professora Gabriela Celani. No trabalho acadêmico, a pesquisadora traduziu as normas albertianas em descrições visuais paramétricas e abordou, de forma inovadora, a questão procedural [relativa a processo] do método desenvolvido por Alberti. A tese de Giovana faz parte de um projeto internacional denominado “Alberti Digital – Tradição e inovação na teoria e prática da arquitetura em Portugal”, cuja coordenação está a cargo do professor Mário Krüger, da Universidade de Coimbra. O objetivo da iniciativa, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de Portugal, é revelar a atualidade e a universalidade da obra de Alberti. No momento de formatar o Alberti Digital, os pesquisadores portugueses perceberam, porém, que seria necessário investigar a possível influência do arquiteto renascentista não apenas na arquitetura do país, mas também em relação às ex-colônias. “Como nós temos um histórico de colaboração com esses pesquisadores, recebemos o convite para integrar o projeto e investigar essa questão no Brasil”, relata a professora Gabriela Celani. O convite também e deveu ao fato de tanto a docente quanto sua orientanda dominarem a “gramática da forma”, método avaliativo empregado em arquitetura. Inicialmente, conforme Giovana, os historiadores portugueses consideraram que Portugal não havia sofrido influência da arquitetura renascentista. Para eles, teria ocorrido uma passagem direta do estilo gótico para o manuelino. “As pesquisas do projeto Alberti Digital comprovaram, entretanto, que construções portuguesas, principalmente igrejas, seguem um padrão que pode ter sido baseado no método albertiano”, afirma. A partir dessa constatação, a autora da tese decidiu pesquisar templos católicos no Brasil que foram construídos por padres jesuítas no mesmo período que os de Portugal, para verificar se a técnica construtiva desenvolvida por Alberti também foi empregada por aqui. Giovana selecionou duas edificações para seu estudo de caso: a Igreja de Nossa Senhora das Graças, em Olinda (PE), e a Catedral da Sé de Salvador (BA). Segundo a pesquisadora, seu trabalho foi baseado no sétimo livro do tratado do arquiteto renascentista, que aborda a construção de edifícios sagrados. A obra completa, intitulada De re aedificatoria, é composta por dez volumes. “No volume que estudei, Alberti normatizou a construção renascentista, formatando regras para que outros arquitetos pudessem aplicá-las. Ele determinou, por exemplo, que o comprimento de uma igreja deve ter relação com a sua largura. Assim, a partir da largura de um templo é possível estabelecer todos os outros parâmetros da construção”, detalha a autora da tese.

Publicação Tese: “Uma interpretação computacional do “de re aedificatoria”: um estudo de caso de igrejas históricas brasileiras” Autora: Giovana de Godoi Orientadora: Gabriela Celani Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

Catedral Basílica de Salvador (à esq.), capital baiana, e a igreja Nossa Senhora da Graça, na cidade pernambucana de Olinda, templos erguidos por jesuítas: influências de Alberti

Após analisar detidamente o sétimo livro do tratado, Giovana desenvolveu diagramas a partir das normas fixadas por Alberti. Nesse ponto, a autora da tese faz uma observação interessante. De acordo com ela, quando elaborou o De re aedificatoria, o arquiteto italiano não inseriu imagens na obra por dois motivos. Primeiro, porque ainda não havia tecnologia que possibilitasse a impressão de ilustrações. Segundo, porque o autor temia que, caso fossem publicadas, as imagens pudessem sofrer distorções. “Conforme alguns autores, Alberti preferiu descrever todas as normas textualmente, por considerar que elas ficariam mais claras”, conta. Estudiosos da obra albertiana chegaram a produzir imagens baseadas nas regras contidas no tratado, mas Giovana preferiu não considerá-las em sua pesquisa. “Nós desenvolvemos os diagramas diretamente dos princípios determinados pelo arquiteto renascentista, justamente para entender o processo proposto por ele. Assim, pudemos estabelecer regras e extrair parâmetros. Quando se tem um vocabulário pré-definido

de formas, você consegue fazer inúmeras combinações para gerar um projeto final”, pormenoriza Giovana. De acordo com a professora Gabriela Celani, a tese é inovadora porque, além de tratar do aspecto dimensional presente na obra de Alberti, ela também aborda a questão procedural, ou seja, de como é o processo de concepção de um projeto, passo a passo. Ela cita um exemplo hipotético, para tornar a explicação mais clara. “Imagine o traçado de uma igreja na forma de um retângulo. A partir dele, é possível fazer subdivisões das laterais, para abrigar as capelas laterais. Estas, por sua vez, podem ser intercaladas com formatos diferentes. Em outras palavras, o tratado cria uma receita que tem que ser seguida sequencialmente. Uma regra depende da outra”, pontua. Giovana utilizou igualmente as regras de Alberti para desenvolver uma gramática da forma, que por sua vez foi empregada na análise das igrejas brasileiras. Dito de forma simplificada, a autora da tese usou os dados das larguras dos templos para definir os demais parâmetros dos projetos. Em seguida, Fotos: Antonio Scarpinetti

Segundo Giovana de Godoi, autora da tese, embora os parâmetros não sejam exatamente iguais, é possível perceber que as duas igrejas brasileiras pesquisadas foram construídas seguindo a metodologia proposta por Alberti

A professora Gabriela Celani, orientadora do trabalho: “O tratado cria uma receita que tem que ser seguida sequencialmente. Uma regra depende da outra”

ela comparou os resultados obtidos com as informações coletadas em arquivos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). “Os parâmetros não são exatamente iguais, mas é possível perceber que as duas igrejas foram construídas seguindo a metodologia proposta por Alberti”, sentencia a pesquisadora. Conforme Giovana, as principais diferenças encontradas dizem respeito às larguras das paredes. “Isso pode ser resultado do tipo de técnica construtiva usada no período. Dependendo da região, usava-se a matéria-prima disponível, como pedra ou barro, o que certamente influenciava no padrão do projeto”, infere a professora Gabriela Celani. “Nós temos a expectativa de que esta tese passe a influenciar na maneira como se estuda a história da arquitetura. É fundamental que reconheçamos que um tratado de arquitetura como o de Alberti tem importância para além das dimensões. Trata-se de uma obra seminal da história da arquitetura”, acrescenta a docente.

Um homem universal Leon Battista Alberti era o que os renascentistas classificavam de “homem universal”. Nascido na cidade italiana de Gênova, em 1404, ele foi um intelectual e artista de múltiplas facetas. Dominava as mais diferentes áreas do conhecimento humano, como a arquitetura, a filosofia, a literatura, a matemática, as artes plásticas, a música e a literatura. Era filho ilegítimo de um bem-sucedido comerciante florentino. Sua formação original foi em Direito, na Universidade de Bolonha. Além de ter formulado o primeiro tratado de arquitetura da história, o De re aedificatoria, Alberti também executou projetos importantes, como os das igrejas de Santo André e São Sebastião, ambas na cidade de Mantova, na Itália. Também realizou intervenções na fachada da igreja de Santa Maria Novella, em Florença. Por causa da importância do seu trabalho, foi nomeado secretário do papa Nicolau V, para quem preparou a Descriptio urbis Romae [Descrição da cidade de Roma], cuja finalidade era promover a remodelação urbanística de Roma. A Alberti são atribuídas frases sobre inúmeros temas, principalmente acerca da harmonia das formas, como esta: “Beleza: ajuste de todas as partes proporcionalmente, de tal forma que não se pode adicionar ou subtrair ou modificar sem prejudicar a harmonia do todo”. O arquiteto morreu em 1472, em Roma.


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

Expectativa é de que pelo menos 50 mil estudantes de ensino de todo o país visitem a Unicamp

Abertas as inscrições

para a UPA 2015 Fotos: Antoninho Perri/Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

s inscrições para a participação na Unicamp de Portas Abertas (UPA) de 2015 foram abertas no último dia 23 e podem ser feitas no site www.upa. unicamp.br. Este ano, a UPA ocorrerá no dia 29 de agosto (sábado). A expectativa da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) é de que pelo menos 50 mil estudantes de ensino médio de todo o Brasil visitem o campus de Barão Geraldo, em Campinas, e participem das inúmeras atividades que serão oferecidas. Um dos principais objetivos da UPA, afirma o coordenador-geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta, é apresentar a instituição aos estudantes de ensino médio, de modo a estimulá-los a concorrer a uma das vagas oferecidas por meio do vestibular. “Historicamente, a Universidade mantém uma forte interação com a sociedade e a UPA é um importante canal de aproximação com o público jovem. Queremos mostrar aos estudantes os diferentes aspectos das nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão”, adianta. Um dos pontos a serem divulgados, continua o coordenador-geral, é o compromisso da Unicamp com a inclusão. Ele lembra que o Conselho Universitário (Consu), órgão máximo de deliberação da instituição, aprovou no final de maio mudanças no Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais), com o objetivo de ampliar a inclusão social em seus cursos de graduação. As alterações estabeleceram a adição de 60 pontos às notas da primeira fase do vestibular, para candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas da rede pública, e mais 20 pontos para candidatos que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas e que também tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas. Além da bonificação na primeira fase, os candidatos que passarem para a segunda fase, e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas da rede pública, contarão com adição de mais 90 pontos na prova de redação e outros 90 nas provas dissertativas. Concorrentes aprovados na primeira fase que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas e que também tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas contarão com mais 30 pontos na segunda fase, além dos 90. A bonificação para a primeira fase (60 ou 60 + 20 pontos) será aplicada para fim de classificação visando à realização da segunda fase. Antes das mudanças, o Paais estabelecia bonificação de 60 pontos apenas após a segunda fase, no caso de candidatos oriundos de escola pública, e de mais

Chegada de estudantes na edição de 2014: inclusão e sustentabilidade estão entre os destaques deste ano

O coordenador-geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta: “Historicamente, a Universidade mantém uma forte interação com a sociedade e a UPA é um importante canal de aproximação com o público jovem”

20 pontos no caso de candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas e oriundos de escola pública. “Esta é mais uma medida dentro do esforço que a Unicamp vem fazendo para ampliar cada vez mais o número de estudantes egressos das escolas públicas em seus cursos de graduação”, diz Alvaro Crósta. Dentre as diversas atividades que estão sendo preparadas para os upeiros, destaque para uma mostra que tratará da evolução da Tecnologia da Informação (TI) no suporte às atividades da Universidade, cuja organização está a cargo do Centro de Computação (CCUEC). “Outro ponto que vamos enfatizar junto aos visitantes são as ações da Unicamp voltadas à sustentabilidade. Vamos abordar, entre outros pontos,

José Reinaldo Braga, assessor da CGU e coordenador-executivo da UPA: programação pode ser acessada por meio de aplicativos

o uso racional da água e da energia”, acrescenta o coordenador-geral. De acordo com José Reinaldo Braga, assessor da CGU e coordenador-executivo da UPA, o aplicativo do evento, que é colocado à disposição dos visitantes, este ano ganha uma versão para o sistema iOS e contará com novas funcionalidades. “Ao instalarem o aplicativo em seus tablets e celulares, os upeiros terão acesso a toda a programação do evento, bem como a mapas e rotas, o que facilitará o deslocamento deles pelo campus”. Tanto o coordenador-geral quanto o assessor da CGU informam que as atividades da UPA, que estão sendo definidas pelas unidades e órgãos da Unicamp, contem-

Confraternização e interação de alunos em demonstração durante o evento no ano passado: visitantes conhecerão as atividades de ensino, pesquisa e extensão

plarão desde palestras até experimentos científicos, passando por apresentações artísticas e culturais. “Acreditamos que a UPA 2015 alcançará o mesmo sucesso das edições anteriores. Vale ressaltar que este sucesso é fruto do envolvimento de toda a comunidade universitária com o evento”, considera Alvaro Crósta. Conforme José Reinaldo Braga, antes mesmo de as inscrições serem abertas, muitas escolas já têm entrado em contato com a CGU para pedir informações sobre a UPA. “A expectativa por parte das escolas e dos estudantes é grande. Estamos trabalhando para recepcioná-los da melhor maneira possível”, assegura o coordenador-executivo do evento.


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

O diálogo entre Horácio e Homero Pesquisa do IEL identifica a presença de elementos homéricos na obra lírica horaciana Foto: Antoninho Perri

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

esquisa desenvolvida para a tese de doutoramento do linguista Alexandre Prudente Piccolo investigou a presença de elementos épicos, principalmente os do poeta grego Homero, na obra do poeta lírico romano Horácio. A abordagem, inédita na forma e na profundidade com que foi executada, foi orientada pelo professor Paulo Sérgio de Vasconcellos, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, e coorientada pelo professor Stephen Harrison, da Universidade de Oxford. De acordo com o autor, um dos desafios do estudo foi identificar como Horácio ajustou [ou “modulou”, como destaca o pesquisador] os elementos épicos em sua obra lírica, mais especificamente nas Odes, compostas por quatro livros. “Muitos pesquisadores lidaram com esses textos, mas com outros enfoques. Além disso, em algumas dessas abordagens o tema com o qual trabalhei foi tratado de forma superficial ou individual”, esclarece Piccolo. O linguista afirma que as orientações dos professores Vasconcellos e Harrison o ajudaram a encontrar bons caminhos para a investigação, que foi feita com base nos poemas escritos originalmente em latim. “Procurei fazer uma leitura minuciosa, para apresentar interpretações originais sobre o texto das odes horacianas”. Como suporte a esse esforço, o linguista também se valeu de uma ampla bibliografia internacional. O fato de ter cumprido parte do período de doutorado em Oxford, segundo Piccolo, foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. “Passar por uma universidade estrangeira, com rica biblioteca na área de Estudos Clássicos, é muito importante para o pesquisador da nossa área, principalmente quando você vai estudar um autor clássico em latim ou grego. No meu caso, essa oportunidade foi muito valiosa, pois, além do vasto acervo bibliográfico, contei com a interlocução estimulante de um especialista na obra do poeta latino. Não menos relevante foi a experiência de vivenciar um ambiente acadêmico tão dinâmico quanto Oxford”. Ao comparar os textos de Horácio com os de Homero, o pesquisador afirma ter identificado tensões de natureza diversa, que decidiu assinalar na forma de semelhanças e diferenças. “No fundo, o que primeiro se percebe é a diferença de gênero. No plano homérico, tem-se a todo instante um verso que é muito elevado, que canta heróis, deuses e suas proezas. Tudo é muito grandioso. Na poesia lírica, porém, esse tom não é o mesmo. Em vários momentos das Odes, Horácio recusa se aproximar desse tom, chegando a dizer que não pode rivalizar com Homero. Não é esse o seu papel. Mas isso não quer dizer que ele não consiga emprestar situações, personagens e temas da épica grega”, explica Piccolo. Um exemplo desses empréstimos está na forma como o texto horaciano reescreve episódios relacionados a Aquiles, personagem da Ilíada. No poema lírico, os feitos do herói grego, decisivo na guerra de Troia, assumem outra dimensão. “Às vezes, essa dimensão tem traços amorosos, às vezes filosóficos, às vezes ilustra uma recusa do poeta em cantar os feitos elevados e solenes da épica homérica”, reafirma o autor da tese de doutorado. Nesse ponto, Piccolo esclarece que, ao identificar as influências épicas presentes na obra lírica de Horácio, ele optou por dividi-las em três categorias e mais um destaque. Este último refere-se a um recurso utilizado por vários autores clássicos, denominado recusatio. “A recusatio era uma estratégia empregada pelos poetas para se afirmar a partir de uma negação. Por exemplo, Horácio registra, em alguns de seus poemas, que gostaria de cantar os feitos de César [Augusto, a partir de 27 a.C.], mas que não conseguiria fazê-lo porque a sua lira não era guerreira”, exemplifica o linguista. Quanto às três categorias mencionadas, Piccolo as classificou da seguinte maneira: as fronteiras entre o amor e a guerra, a passagem pelo submundo e o poema de louvor [também chamado de laudatio] com algo subliminar. Na primeira, o amor surge dis-

Alexandre Piccolo, autor da tese de doutorado: “Embora cada um trabalhe gêneros poéticos distintos, é possível notar diálogos entre os poetas que propiciam interpretações renovadas dos dois textos”

farçado em forma de guerra. Assim, no lugar de cantar batalhas entre heróis épicos, Horácio diz que cantará embates entre rapazes e virgens. Assim, ele compara a paixão de um amigo pela escrava com a paixão de Aquiles por Briseida. “São elementos de que o poeta se vale para modular sua lira erótica e caracterizar amores com traços épicos”, pontua o linguista. A segunda categoria é marcada pela referência ao mundo dos mortos. A passagem pelos infernos, segundo Piccolo, também é um lugar comum nas epopeias antigas. O canto 11 da Odisseia e o 6 da Eneida, lembra o estudioso, são ambientados nesse submundo, quando ora os mortos se aproximam de Ulisses e seus companheiros, ora Eneias adentra na morada dos mortos. “Horácio usa essa ambientação fúnebre em tom lírico, alertando o leitor para a finitude da vida. Dessa forma, qualquer mal se torna pequeno, passageiro: todos nós passaremos pelo

mesmo lugar por onde já passaram grandes heróis, diz o poema. A ode exorta sutilmente seu interlocutor a esfriar a cabeça e aproveitar a vida [carpe diem] antes que a morte chegue”, pormenoriza o pesquisador. A terceira e última categoria refere-se à laudatio, espécie usada pelos poetas para prestar um elogio. Entretanto, Horácio acaba fazendo algo mais quando diz elogiar alguém e, ao mesmo tempo, toma elementos homéricos emprestados. “Em outras palavras, o poeta latino parece fazer apenas um louvor a alguém, mas na realidade ele acaba também louvando a capacidade da poesia de eternizar feitos, pessoas e personagens”, esclarece Piccolo. O recurso aparece, entre outros trechos, quando se mencionam heróis que existiram antes de Agamêmnon e foram esquecidos porque ninguém os cantou. “Dito de outra maneira, a mensagem de Horácio é a seguinte: não importa se existiram ou não;

apenas passará para a memória dos homens aquilo que cantaram os poetas. Portanto, esse poeta tem dons divinos, é um vate, capaz de eternizar a matéria de seu canto, assim como fez Homero no passado”. A ideia de investigar a presença de elementos homéricos na obra de Horácio, de acordo com Piccolo, surgiu já na pesquisa desenvolvida durante seu mestrado, quando começou seu trabalho com o tema. Entre os escritos analisados na ocasião, as vinte Epístolas do livro I de Horácio, há uma em que o poeta, já maduro, escreve para um jovem amigo. Na missiva (Epístola 1.2), Horácio aconselha o rapaz a ler Homero, alegando que na obra do poeta grego é possível encontrar diversos ensinamentos filosóficos, mais valiosos que o de muitos filósofos, e dispersos por exemplos práticos: o comportamento de reis, príncipes, líderes, heróis, amigos, escravos etc. Para Horácio, vícios e virtudes ganham vida nas tramas que Homero canta, basta o leitor refletir e colher o que deseja. Segundo o poeta latino, os textos homéricos tinham tudo o que o jovem precisava saber, sem o enfado de aulas ou manuais normativos. A leitura dessa e de outras cartas, infere Piccolo, garantem que Horácio devia ter travado contato com a obra de Homero desde a infância. “Após vasculhar vários textos e consultar meus orientadores, a conclusão foi de que o tema que escolhi não tinha sido aprofundado anteriormente. Os autores que o abordaram, o fizeram somente por algumas pinceladas, não trataram do conjunto. Assim, minha tese se inicia tratando das variadas menções que Horácio faz a Homero, inclusive nominais”. Na sequência, o linguista defende a tese de que Homero era o autor predileto de Horácio. “Para sustentar essa afirmação, parto para a análise intertextual das Odes, destacando como o lírico romano modula em seus poemas latinos a influência épica do aedo grego. Embora cada um trabalhe gêneros poéticos distintos, é possível notar diálogos entre os poetas que propiciam interpretações renovadas dos dois textos”, considera o autor do trabalho. Piccolo informa que optou por não privilegiar nenhum teórico moderno em particular ao desenvolver a metodologia da sua investigação. “Trabalhei com vários autores e me baseei fortemente em conceitos ligados à noção de intertextualidade. Ao colocar os textos de Horácio e Homero lado a lado, pude identificar de que forma o primeiro modula elementos do segundo. Ao final, consegui recolher mais de 500 remissões intertextuais em que há algo comum entre os poemas”, relata. A partir dessa vasta relação, Piccolo percebeu que poderia agrupar e categorizar suas anotações. “Foi então que as dividi nas já referidas categorias e no destaque dado à recusatio. Por fim, eu diria que a metodologia foi definida pelo próprio caminho que percorri durante os estudos. Como a banca recomendou a tese para publicação, minha próxima tarefa será vertê-la para o inglês, na expectativa de uma circulação mais ampla e abrangente no meio científico”, adianta o linguista. Piccolo contou com bolsa concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência de fomento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), além de período sanduíche em Oxford, com bolsa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação. O pesquisador também obteve uma bolsa-prêmio para jovens pesquisadores, fornecida pela Fondation Hardt, de Genebra (Suíça).

Publicação

Com base em sua pesquisa, o linguista defende a hipótese de que Homero, que viveu 800 anos antes de Horácio, era o autor preferido do poeta latino

Tese: “O arco e a lira: modulações da épica homérica nas Odes de Horácio” Autor: Alexandre Prudente Piccolo Orientador: Paulo Sérgio de Vasconcellos Coorientador: Stephen Harrison Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

 Suprimentos e Logística - Estão abertas, até 12 de julho, as inscrições para o curso de especialização em Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística FEC-0600, do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes (Lalt) da Unicamp. O curso criado em 2004 pelo Lalt, instituição vinculada ao Departamento de Geotecnia e Transportes, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Universidade já formou mais de 250 alunos. Esta será a 18ª turma do curso, que tem como objetivo executar melhorias nas diferentes áreas da Logística por meio da implementação de novos processos e metodologias. Outro objetivo é conhecer os mais modernos conceitos da área, assim como tomar decisões em ambientes e situações complexas. Entender o relacionamento das decisões da área com a estratégia de organização e com as demais funções da empresa, assim como conhecer os impactos das decisões da área no resultado financeiro da empresa e como gerenciar projetos de melhoria e desenvolver as habilidades de aprendizado contínuo, trabalho em equipe e apresentação em público, são outros itens previstos no curso.

Painel da semana  FOP recebe Saulo Sousa Melo - A Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, por meio de seu Departamento de Radiologia, recebe no dia 29 de junho, para palestra, o professor Saulo Leonardo Sousa Melo, residente em Radiologia Oral e Maxilofacial e mestrando em Diagnóstico Oral pela Universidade de Lowa (Estados Unidos). Na FOP, no período da manhã, das 9 às 12 horas, ele falará sobre “Residência e American Board em Radiologia Odontológica”. À tarde, das 13h30 às 17h30, abordará “Laudos em CBCT - Modelo IOWA”. Mais detalhes pelo telefone 19-2106-5384 ou e-mail comunicacao@fop.unicamp.br  Artigos para a Studium - A revista eletrônica Studium, publicação virtual do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, receberá, até 30 de junho, artigos e imagens para a sua edição de número 37. O próximo exemplar da revista abordará coleções de fotografias brasileiras com foco em fotografias modernas e contemporâneas. Os trabalhos devem ser enviados para o e-mail studium37@gmail. com.  Metalogenia - O Instituto de Geociências (IG) sediará, entre 1 e 9 de julho, o Curso Latino-americano de Metalogenia com o tema “Hydrothermal systems: a voyage from the source to the ore”. O curso é aberto para estudantes, acadêmicos e profissionais envolvidos com metalogenia, exploração mineral e mineração. Realizado anualmente desde 1982 em países da América Latina, seu objetivo é difundir os principais avanços científicos na área de Geologia Econômica. Na Unicamp, o curso está sob a responsabilidade do professor Roberto Xavier (IG). Inscrições e outras informações no site http://cms.unige.ch/sciences/terre/research/Groups/mineral_ resources/latinometal/campinas15/campinas15.html  Iniciação científica - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) receberá, de 1 a 15 de julho, as inscrições para o XXIII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp. Interessados devem preencher ficha online e anexar resumo do trabalho, em formulário a ser disponibilizado pela PRP, a partir de 1 de julho, no link www.prp.unicamp.br/pibic. O evento ocorre de 17 a 19 de novembro, no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp. Mais informações pelo telefone 193521-4891 ou e-mail pibic@reitoria.unicamp.br  Desafio Unicamp - No dia 3 de Julho, às 14h30, no Centro de Convenções da Unicamp, será realizada a quinta edição da final do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica, competição de modelos de negócios idealizada pela Agência de Inovação Inova Unicamp. O evento será fechado e restrito às equipes finalistas, com a presença dos avaliadores, mentores, patrocinadores e demais convidados.  Malbatemática - Nos dias 6, 7 e 8 de julho será realizado, no Centro de Convenções da Unicamp (auditórios 2 e 3), o V Seminário Nacional de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática (SHIAM), que é um encontro nacional de professores que lecionam Matemática e cuja programação pode ser acessada no link. https://www.fe.unicamp.br/shiam/programacao.html. Simultaneamente ao evento acontece uma exposição sobre Malba Tahan, como é mais conhecido Julio Cesar de Mello e Souza, cuja imensa contribuição à Educação Matemática brasileira justifica a escolha do dia 6 de maio como o Dia Nacional da Matemática. Com entrada franca ao público, a partir das 12 horas do dia 6 de julho, no auditório 1, estarão à mostra fotos, cartas, manuscritos e publicações daquele que é o precursor da Educação Matemática brasileira. A documentação compõe o acervo de Malba Tahan, que está sob custódia do Centro de Memória da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. No dia 8 de julho está programada a palestra “Vida e obra de Malba Tahan”, no auditório 1. Acontece às 9 horas e será ministrada por Sergio Lorenzato, ex-aluno de Malba Tahan, professor colaborador da FE e o curador da exposição denominada Malbatemática. Lorenzato é o coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática nos/dos Anos Iniciais (GEPEMAI) da FE.  Ciência & Arte no Inverno - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp, em parceria com a Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Campinas, lançará no mês de julho, o Programa-piloto Ciência & Arte no Inverno. O evento, marcado para acontecer de 7 a 21, deve trazer ao campus universitário, 90 estudantes do Ensino Fundamental da Rede Municipal. A abertura do Ciência & Arte no Inverno acontece às 9 horas, no auditório da Legolândia, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Na Universidade, eles desenvolverão oficinas de pesquisa, em diversas unidades, sob a orientação de docentes. O objetivo do Ciência & Arte no Inverno é possibilitar o contato dos alunos com a vida acadêmica e com os profissionais que compõem o ambiente universitário, bem como estimular a vocação para a pesquisa científica e artística, envolvendo-os com os atuais desafios da Ciência e da Arte. O Programa é apoiado pelo Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e Extensão (Faepex). Mais detalhes podem ser obtidos pelo e-mail ciencianoinverno@reitoria.unicamp.br ou telefone 193521-4614.  CAAD Futures - O Congresso Cientifico Internacional “CAAD Futures”, da área de Tecnologia da Arquitetura, que vem se repetindo a cada dois anos desde 1985, será realizado pela primeira vez no Brasil. O evento ocorrerá de 8 a 10 de julho, no auditório do Museu de Arte de São Paulo (MASP), com patrocínio da CAPES, CNPq e FAPESP, e incluirá, além das comunicações científicas de praxe, palestras magistrais de arquitetos de grande destaque ligados à teoria, pesquisa e prática com as novas tecnologias digitais. Cerca de 250 vagas serão abertas ao público externo (não inscrito no congresso) para assistir a essas palestras. A venda de convites será feita pelo próprio MASP, e a renda será doada ao Museu. O valor cobrado para assistir às palestras magistrais será de R$ 50 por dia (R$25 para estudantes), o que dá direito a assistir às palestras das 17 e das 18h. Os ingressos para as palestras serão vendidos diretamente pelo MASP, pelo site http://masp.art. br/masp2010/ (clicar em “comprar ingressos”) ou na bilheteria, no dia do evento. Mais informações sobre o congresso e eventos relacionados a ele (workshops e exposição) podem ser obtidas no site http://caadfutures2015.fec.unicamp.br/

 XII Caeb - Congresso Aberto de Estudantes de Biologia promovido por alunos de graduação e de pós-graduação do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp terá como uma das grandes atrações, nos dias 20 a 24 de julho, duas palestras da pesquisadora israelense Ada E. Yonath, prêmio Nobel de Química de 2009. Ela vem para fazer uma aula inaugural na qual abordará a sua trajetória profissional até receber o Prêmio Nobel. Essa palestra, que acontecerá às 14 horas no Centro de Convenções da Universidade, será aberta ao público. No segundo dia, ela falará a respeito da cristalografia de proteínas apenas para os participantes do congresso. Ada E. Yonat já esteve na Unicamp em 2011.  23ª Sipat - Saúde, sustentabilidade e prevenção de acidentes são alguns temas que serão debatidos por especialistas durante a realização da 23ª edição da Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (Sipat). O evento com o tema “Segurança no trabalho, saúde e sustentabilidade: ações integradas na universidade” ocorre de 27 a 30 de julho, no Centro de Convenções da Unicamp. A abertura oficial será às 9 horas. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas no link www.cipa.unicamp.br. Na primeira palestra, às 10h, a médica Liliana Aparecida de Lima, psicóloga clínica e doutora em Educação pela Unicamp, aborda o tema: Instituto de Psicodrama e psicoterapia de grupo de Campinas”. A Sipat, que será realizada juntamente com as CIPAs Funcamp, Limeira e Piracicaba, é aberta ao público em geral e contará com transmissão ao vivo pelo link http://www.ggte.unicamp.br/transmissao/. Outras informações pelo telefone 19-3521-7532 ou e-mail cipa@ unicamp.br  Metodologias ativas de ensino-aprendizagem - A Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) sediará nos dias 30 e 31 de julho, o Workshop in Active Teaching-Learning Methods. O evento tem como público alvo professores, alunos de pós-graduação e pós-doutorandos, e constitui a 3a edição dos workshops realizados em 2013 e 2014, cujo objetivo é proporcionar um espaço para discussão e troca de experiências sobre metodologias ativas de ensino-aprendizagem. A programação conta com palestras e oficinas sobre ensino integrado, ensino baseado em discussão de casos, uso de clickers em sala de aula, modalidades sensoriais de aprendizagem, estresse e processo ensino-aprendizagem ministrados pelos professores Robert G. Carroll (East Carolina University, USA), Penelope Hansen (Memorial University of Newfoundland, Canada), Beatriz Ramirez (Universidad de Santiago de Chile, Chile), Dee Silverthorn (University of Texas, USA) e Fernanda Klein Marcondes (FOP-UNICAMP). Consute programa detalhado no link www.fop.unicamp.br/ensinofisio/. Inscrições podem ser efetudas até 30 de maio, exclusivamente pelo site do evento.  Mostra Unicamp de Fotografia - Para quem gosta de experiências fotográficas, está no ar o site da Mostra Unicamp de Fotografia 2015, com editais para exposições e oficinas e cursos. As inscrições podem ser feitas até 31 de julho por meio de formulário eletrônico específico (exposições e oficinas). A seleção ocorrerá no período de 10 a 14 de agosto, e os resultados serão divulgados no dia 17 de agosto. Leia mais no link http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2015/06/19/mostra-unicamp-de-fotografia-recebe-inscricoes

Teses da semana  Artes - “Design sonoro e interação em instalações audiovisuais” (doutorado). Candidato: Clayton Rosa Mamedes. Orientadora: professora Denise Hortência Lopes Garcia. Dia 2 de julho de 2015, às 14 horas, na sala de reuniões do NICS. “Dramaturgia colaborativa: procedimentos de criação e formação” (doutorado). Candidato: Rafael Luiz Marques Ary. Orientador: professor Mário Alberto de Santana. Dia 30 de julho de 2015, às 14 horas, na sala 3 da Pós-graduação do IA.  Ciências - “Acurácia do diagnóstico de glaucoma com um sistema de aprendizagem de classificadores híbridos utilizando medidas do disco óptico e camada de fibras nervosas retiniana obtidas por meio de tomografia de coerência óptica de domínio espectral” (doutorado). Candidato: Kleyton Arlindo Barella. Orientador: professor Vital Paulino Costa. Dia 29 de junho de 2015, às 14 horas, no anfiteatro da oftalmologia do HC. “Identificação de proteínas diferencialmente expressas em modelos animais de epilepsia” (mestrado). Candidata: Amanda Morato do Canto. Orientadora: professora Iscia Lopes Cendes. Dia 30 de junho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro da graduação da FCM. “Traços de personalidade em pacientes com transtornos do humor” (mestrado). Candidata: Maíra Esteves Brito. Orientador: professor Paulo Dalgalarrondo. Dia 30 de junho de 2015, às 13h30, no anfiteatro do Departamento de Psiquiatria da FCM.  Computação - “Reconhecimento de emoções baseado em expressões faciais robusto a oclusões” (mestrado). Candidata: Jadisha Yarif Ramírez Cornejo. Orientador: professor Hélio Pedrini. Dia 1 de julho de 2015, às 14 horas, no auditório do IC. “Alinhamento múltiplo de proteínas utilizando algoritmos genéticos” (mestrado). Candidato: Sergio Jeferson Rafael Ordine. Orientador: professor Zanoni Dias. Dia 3 de julho de 2015, às 9 horas, no auditório do IC.  Educação Física - “Métodos analíticos de intervenção para seis parâmetros bioquímicos com aplicabilidade no esporte” (mestrado). Candidata: Flaviani Abreu Guimarães Papaléo Pousa. Orientadora: professora Denise Vaz de Macedo. Dia 7 de julho de 2015, às 9h30, no auditório da FEF. “Determinação dos índices anaeróbios alático e lático em esforços repetidos de alta intensidade utilizando ergômetro específico de tênis de mesa” (mestrado). Candidato: Willian Gabriel Felício da Silva. Orientador: professor Claudio Alexandre Gobatto. Dia 15 de julho de 2015, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Arqueologia da arquitetura (AA): a estratificação tridimensional do tempo” (mestrado). Candidata: Ana Teresa Cirigliano Villela. Orientadora: professora Regina Andrade Tirello. Dia 2 de julho de 2015, às 15 horas, na sala CA22 da FEC. “A conteinerização da carga urbana por meio do baú móvel: os conflitos percebidos e a estratégia de disseminação” (doutorado). Candidato: João Carlos Barreto. Orientador: professor Carlos Alberto Bandeira Guimarães. Dia 3 de julho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses 1 do prédio de aulas da FEC. “Otimização de pórtico plano de concreto armado utilizando algoritmo genético e processo iterativo” (mestrado). Candidato: Wilson

Tadeu Rosa Filho. Orientadora: professora Maria Cecília Amorim Teixeira da Silva. Dia 10 de julho de 2015, às 10 horas, na sala CA22 da FEC. “Determinação de elementos potencialmente tóxicos em solos superficiais localizados nos canteiros centrais das principais rodovias de acesso da cidade de Campinas (SP) empregando fluorescência de raios X: dispersão por energia e reflexão total” (doutorado). Candidato: Felippe Benavente Canteras. Orientadora: professora Silvana Moreira. Dia 28 de julho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses 1 da FEC.  Engenharia de Alimentos - “Caracterização do extrato aquoso de alpiste (Phalaris canariensis L.) e avaliação dos efeitos antioxidantes e hipoglicemiantes” (mestrado). Candidata: Michele Christine Machado de Oliveira. Orientador: professor Marcelo Alexandre Prado. Dia 2 de julho de 2015, às 10 horas, no auditório do DCA da FEA.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Desenvolvimento e caracterização de dosímetros para monitoração individual de trabalhadores ocupacionalmente expostos à radiação combinando as técnicas de termoluminescência (TL) e luminescência opticamente estimulada (OSL)” (doutorado). Candidata: Anna Luiza Metidieri Cruz Malthez. Orientadora: professora Vera Lucia da Silveira Nantes Button. Dia 29 de junho de 2015, às 9 horas, na FEEC. “Contribuição à análise do controle de potências ativa e reativa de um gerador de indução com rotor bobinado conectado a uma rede elétrica com tensão distorcida” (mestrado). Candidato: Ramon Rodrigues de Souza. Orientador: professor Ernesto Ruppert Filho. Dia 30 de junho de 2015, às 10 horas, na sala LE42 da FEEC. “Esquemas de transferência para aprendizado profundo em classificação de imagens” (mestrado). Candidato: Micael Cabrera Carvalho. Orientador: professor Eduardo Alves do Valle Junior. Dia 1 de julho de 2015, às 14 horas, na FEEC. “Soluções acessíveis para sistemas de resposta em sala de aula” (mestrado). Candidata: Jomara Mota Binda. Orientador: professor Eduardo Alves do Valle Jr. Dia 2 de julho de 2015, às 14 horas, na FEEC. “Análise e controle de um sistema mecânico com dados transmitidos através da rede” (mestrado). Candidato: André Marcorin de Oliveira. Orientador: professor Alim Pedro de Castro Gonçalves. Dia 10 de julho de 2015, às 10 horas, na sala PE37 da CPG da FEEC. “Construindo governança eletrônica de cidades: um modelo de implementação de soluções para inovação e otimização da gestão pública” (doutorado). Candidato: Gilberto dos Santos Madeira. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 3 de julho de 2015, às 10 horas, na sala de teleconferências da FEEC. “Influência do reordenamento de matrizes no desempenho de métodos de pontos interiores para programação linear” (doutorado). Candidata: Daniele Costa Silva. Orientador: professor Akebo Yamakami. Dia 8 de julho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEEC. “Caracterização experimental de gorjeio de frequência de chaveamento por corrente injetada de um amplificador óptico à semicondutor” (mestrado). Candidato: Bruno Taglietti. Orientador: professor Evandro Conforti. Dia 28 de julho de 2015, às 14 horas, na sala PE12 da CPG da FEEC. “Contribuição ao estudo e fabricação de sensores de umidade do solo usando a técnica da transferência de calor” (doutorado). Candidata: Maria Bernadete de Morais França. Orientador: professor José Antonio Siqueira Dias. Dia 31 de julho de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEEC.

“Cinética da hidrólise ácida do licor obtido após pré-tratamento hidrotérmico” (mestrado). Candidato: Pedro Yoritomo Souza Nakasu. Orientadora: professora Aline Carvalho da Costa. Dia 30 de julho de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ.  Física - “Transporte quântico em nano-estruturas magnéticas” (doutorado). Candidata: Imara Lima Fernandes. Orientador: professor Guillermo Gerardo Cabrera Oyarzún. Dia 30 de junho de 2015, às 14 horas, no auditório de Pós-Graduação do IFGW.  Geociências - “O tema das mudanças climáticas em cursos de engenharia ambiental da cidade de Uberaba, MG” (mestrado). Candidata: Karina da Costa Sousa. Orientadora: professora Denise de la Corte Bacci. Dia 1 de julho de 2015, às 8 horas, no auditório do IG. “O potencial didático das imagens geocientíficas em livros de textos do ensino secundário: representações gráficas da dinâmica interna da terra” (doutorado). Candidato: Edson Roberto de Souza. Orientadora: professora Denise de la Corte Bacci. Dia 29 de julho de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Aplicações da teoria da decisão e probabilidade subjetiva em sala de aula do ensino médio” (mestrado profissional). Candidata: Andrea de Paula Machado Moreira. Orientadora: professora Laura Leticia Ramos Rifo. Dia 29 de junho de 2015, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Formalidade geométrica e números de Chern em variedades flag” (doutorado). Candidato: Ailton Ribeiro de Oliveira. Orientador: professor Caio José Colletti Negreiros. Dia 30 de junho de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Regularização e conjuntos minimais para sistemas dinâmicos não suaves” (doutorado). Candidato: Douglas Duarte Novaes. Orientador: professor Marco Antonio Teixeira. Dia 6 de julho de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Métodos de aproximação Lagrangeano-Euleriano para leis de balanço e leis de conservação hiperbólicas” (doutorado). Candidato: John Alexander Perez Sepulveda. Orientador: professor Eduardo Cardoso de Abreu. Dia 21 de julho de 2015, às 9 horas, na sala 225 do Imecc. “Sistemas de leis de balanço em problemas de dinâmica de fluidos: modelagem matemática e aproximação numérica” (doutorado). Candidato: Abel Alvarez Bustos. Orientador: professor Eduardo Cardoso de Abreu. Dia 23 de julho de 2015, às 13 horas, na sala 324 do Imecc.  Odontologia - “Estudo para validação do uso de tissue microarray como método para análise imunoistoquímica de ameloblastomas” (doutorado). Candidato: Rodrigo Neves Silva. Orientador: professor Alan Roger dos Santos Silva. Dia 3 de julho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 1 da FOP. “Análise do efeito do inibidor de fasn orlistat sobre a produção de il-10, il-12, ifn-y e tgf-b em células de melanoma murino b16f10” (mestrado). Candidato: Estêvão Azevedo Melo. Orientador: professor Edgard Graner. Dia 3 de julho de 2015, às 14 horas, no anfiteatro 3 da FOP. “Efeito de métodos de avaliação na resistência de união entre cerâmica odontológica e cimentos resinosos” (doutorado). Candidato: Lucas Costa de Medeiros Dantas. Orientador: professor Simonides Consani. Dia 6 de julho de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP. “Avaliação de teste de flexão para cerâmicas odontológicas” (doutorado). Candidato: João Paulo Lyra e Silva. Orientador: professor Lourenço Correr Sobrinho. Dia 6 de julho de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.

“Dinâmica populacional da mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) em um ambiente com competição: simulações computacionais” (doutorado). Candidato: Miguel Tadayuki Koga. Orientador: professor Akebo Yamakami. Dia 31 de julho de 2015, às 14 horas, na FEEC.

“Avaliação mecânica da fixação com placas de avanço pré-dobradas e placas convencionais para osteotomia le fort i” (doutorado). Candidato: Leandro Souza Pozzer. Orientador: professor Jose Ricardo de Albergaria Barbosa. Dia 8 de julho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 4 da FOP.

 Engenharia Mecânica - “Projeto, construção e teste de protótipo de maca para transporte de crianças entre um até dez anos de idade” (mestrado). Candidato: Alan Ferreira Pinheiro Tavares. Orientador: professor Antonio Celso Fonseca de Arruda. Dia 30 de junho de 2015, às 15 horas, no auditório DEMM (EM39) da FEM.

“Avaliação de intervenções educativas em saúde bucal com escolares” (mestrado profissional). Candidata: Denise Cristina Aceituno Braulio Simpriano. Orientador: professor Fabio Luiz Mialhe. Dia 8 de julho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 1 da FOP.

“Desafios jurídicos quanto ao desenvolvimento e à aplicação de iniciativas de sustentabilidade para biocombustíveis” (doutorado). Candidata: Bruna de Barros Correia. Orientador: professor Arnaldo César da Silva Walter. Dia 3 de julho de 2015, às 9 horas, na sala KD da FEM. “Análise do comportamento do sistema de refrigeração utilizando compressor de velocidade variável” (mestrado). Candidata: Claudia Rosa do Espirito Santo Nobrega. Orientador: professor Luiz Felipe Mendes de Moura. Dia 3 de julho de 2015, às 14 horas, no auditório KD da FEM. “Implementação de uma arquitetura de rede neural de convolução para processamento de imagens FPGA” (mestrado). Candidato: Carlos Caetano de Almeida. Orientador: professor Euripides Guilherme de Oliveira Nobrega. Dia 8 de julho de 2015, às 14h30, na sala KE da FEM. “Sistema especialista pra a trefilação a frio de barras de aço” (mestrado). Candidato: Ivan Alexandre Cotrick Gomes. Orientador: professor Sergio Tonini Button. Dia 27 de julho de 2015, às 9 horas, no auditório K da FEM.  Engenharia Química - “Óleos vegetais como novos coestabilizadores para reações de polimerização em miniemulsão” (mestrado). Candidata: Joice Palma Bigon. Orientadora: professora Liliane Maria Ferrareso Lona. Dia 30 de junho de 2015, às 14 horas, na sala de pós-graduação da FEQ. “Estudo da influência dos bicos injetores sobre o escoamento gássólido e as reações em um riser de FCC via CFD” (mestrado). Candidato: Daniel Cícero Pelissari. Orientador: professor Milton Mori. Dia 8 de julho de 2015, às 10 horas, na sala 7 do bloco E da Extensão da FEQ. “Desenvolvimento de um simulador dinâmico de análise de consequência para indústrias de processos” (mestrado). Candidata: Isabela Barreto Tolentino. Orientador: professor Savio Souza Venancio Vianna. Dia 14 de julho de 2015, às 14h30, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Estudo computacional da influência de bicos injetores e internos em risers industriais de FCC” (doutorado). Candidato: Victor Antonio de Deus Armellini. Orientador: professor Milton Mori. Dia 17 de julho de 2015, às 9 horas, na sala 7 do bloco E da FEQ. “Modelagem e simulação fluidodinâmica de sistemas gás-líquidosólido em leitos de lama usando CFD: síntese de metanol” (doutorado). Candidato: João Lameu da Silva Júnior. Orientador: professor Milton Mori. Dia 17 de julho de 2015, às 13 horas, na sala 7 do bloco E da FEQ. “Estudo da avaliação de ciclo de vida do PLA: comparação entre a reciclagem química, mecânica e compostagem” (mestrado). Candidata: Marina Fernandes Cosate de Andrade. Orientadora: professora Ana Rita Morales. Dia 23 de julho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Estudo do treinamento de uma rede neural do processo de extração líquido-líquido da bromelina” (mestrado). Candidata: Camila Alves Silva. Orientador: professor Elias Basaile Tambourgi. Dia 24 de julho de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Estudo da produção de biossurfactante usando resíduos agroindustriais, com desenvolvimento de modelos estatísticos e sensor virtual por modelagem neural” (doutorado). Candidato: Brunno Ferreira dos Santos. Orientadora: professora Ana Maria Frattini Fileti. Dia 27 de julho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEQ.

“Sistemas adesivos universais: resistência de união ao esmalte e dentina, padrão de fratura e análise ultramorfológica” (doutorado). Candidato: Paulo Moreira Vermelho. Orientador: professor Marcelo Giannini. Dia 17 de julho de 2015, às 8h30, na sala da congregação da FOP. “Avaliação da prevalência de ateromas calcificados da carótida em radiografias panorâmicas de pacientes com câncer de cabeça e pescoço submetidos à radioterapia” (mestrado). Candidata: Renata Lucena Markman. Orientador: professor Marcio Ajudarte Lopes. Dia 24 de julho de 2015, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Eficácia e efetividade dos selantes em lesões proximais incipientes: revisão sistemática e metanálise” (mestrado profissional) Candidata: Sabrina Hundertmarch Paz. Orientador: professor Antonio Carlos Pereira. Dia 27 de julho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro 3 da FOP.  Química - “Antimicrobianos veterinários: controle e qualidade em medicamentos e sorção e determinação em solos” (doutorado). Candidata: Livia Maniero Peruchi. Orientadora: professora Susanne Rath. Dia 14 de julho de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Eletrólito polimérico gel contendo óxido de grafeno reduzido para aplicação em células solares sensibilizadas por corante” (mestrado). Candidato: Paulo Ernesto Marchezi. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 17 de julho de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Aplicação da técnica de RMN 19F DOSY no estudo de misturas complexas” (mestrado). Candidato: Guilherme Fonseca Dal Poggetto. Orientador: professor Cláudio Francisco Tormena. Dia 17 de julho de 2015, às 9 horas, na sala IQ14 do IQ. “Síntese total de diidropiran-2-onas naturais: tarchonantuslactona, criptolatifoliona, criptomoscatonas D1, D2 e E3” (mestrado). Candidato: Luiz Fernando Toneto Novaes. Orientador: professor Ronaldo Aloise Pilli. Dia 21 de julho de 2015, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Espectrometria de massas ambiente aplicada à Química Forense: busca de marcadores para detecção de explosivo ANFO e caracterização de agentes oxidantes inorgânicos” (mestrado). Candidato: Vinicius Veri Hernandes. Orientador: professor Marcos Nogueira Eberlin. Dia 22 de julho de 2015, às 14 horas, na sala IQ14 do IQ. “Complexos de Ag(I) e Cu(II) com sulfonamidas: síntese, caracterização estrutural e estudos de atividade antibacteriana” (mestrado). Candidata: Julia Helena Bormio Nunes. Orientador: professor Pedro Paulo Corbi. Dia 24 de julho de 2015, às 9h30 horas, no miniauditorio do IQ. “Biodiesel: síntese etílica e estabilidade à oxidação” (mestrado). Candidato: Willian Leonardo Gomes da Silva. Orientador: professor Matthieu Tubino. Dia 31 de julho de 2015, às 14 horas, na sala 312 da FEQ. “Síntese do fragmento C1−C35 do macrolídeo oxopoliênico marinisporolídeo A” (doutorado). Candidato: Emilio Carlos de Lucca Júnior. Orientador: professor Luiz Carlos Dias. Dia 31 de julho de 2015, às 14 horas, na Sala IQ01 do IQ. “Dinâmica físico-química da transferência de prótons nos estados fundamental e excitado dos isômeros constitucionais de orto-(2-imidazoil)naftol” (mestrado). Candidato: Luís Gustavo Teixeira Alves Duarte. Orientador: professor René Alfonso Nome Silva. Dia 31 de julho de 2015, às 14 horas, na sala IQ05 do IQ. “Mobilidade de nanopartículas de prata em solos típicos do estado de São Paulo” (mestrado). Candidato: Alejandro Yopasá Arenas. Orientadora: professora Anna Hélène Fostier. Dia 31 de julho de 2015, às 14 horas, na sala IQ14 do IQ.


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015 Foto: Antoninho Perri

Estudo do IEL avalia os efeitos da transmissão telefônica no sinal da fala ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

uando os peritos têm que avaliar um crime cuja única evidência é uma amostra de fala, obtida por meio de interceptação policial, então eles têm que conduzir gravações de outros suspeitos para compará-las. Ocorre que essas gravações não são feitas em telefone e sim em aparelhos de alta qualidade acústica, como microfones e placas de som em ambientes tratados, enquanto as gravações do celular são efetuadas em ambientes abertos, estando sujeitas a interferências, como os ruídos, por exemplo. Um estudo de mestrado do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), envolvendo os efeitos da transmissão telefônica no sinal da fala, mostrou que as modificações nas disposições das vogais podem interferir na percepção de quem ouve. “O abaixamento e a centralização do espaço vocálico fazem com que certas vogais se situem próximas à posição original de outras vogais, o que pode resultar em percebê-las com qualidades acústicas distintas das originais”, concluiu a linguista e foneticista Renata Regina Passetti, autora do estudo. Ao avaliar os efeitos da transmissão telefônica no sinal da fala, Renata conseguiu determinar os parâmetros acústicos modificados e os que permaneceram robustos, inalterados. Foram analisados diversos parâmetros acústicos para as vogais orais do português brasileiro, entre eles as frequências dos primeiros três formantes da fala, a ênfase espectral, a frequência fundamental e a duração interpicos de F0. Segundo a mestranda, entre os parâmetros modificados, estiveram as frequências dos três primeiros formantes, que refletem o modo de vibração ressoante do tubo acústico da fala. “Mas a vogal ‘a’ não foi muito alterada pela transmissão telefônica, por se situar distante dos limiares da frequência de corte do filtro telefônico. Então ela seria uma boa candidata para análise forense.” As frequências dos primeiros três formantes, conta ela, são responsáveis por produzir as qualidades distintivas de uma vogal e modificam-se de acordo com as movimentações de órgãos vocais. Isso tem a ver com as características do trato vocal de cada sujeito. Logo, este parâmetro está associado a características individuais e pode ser analisado a partir da extração por meio de programas de análise fonética. O estudo da fala demonstra que existe uma fonte, um filtro e a fala propriamente. A fonte envolve o sistema respiratório, laringe e cordas vocais. Essas cordas vocais vibram e geram uma energia, um som que é filtrado e separa algumas frequências que dão o timbre da voz. “Mas nosso trabalho não diz respeito ao modo como a pessoa fala e sim como o filtro telefônico age no sinal da fala”, ressalva Renata. “A distorção pode provir de efeitos técnicos como a filtragem específica do canal telefônico, que filtra a energia em uma frequência de banda que varia entre 300 e 3500 Hz. A energia que estiver acima e abaixo desses limites é atenuada, e a informação pode ficar seriamente comprometida.” Essa pesquisa, orientada pelo professor do IEL Plínio Almeida Barbosa, revelou que a transmissão telefônica agiu de forma a aumentar artificialmente os valores de frequência do primeiro formante para todas as vogais orais. Este aumento foi, em média, de 14%. Outros parâmetros, como a frequência fundamental (ligada à entoação da fala) e a ênfase espectral (ligada à intensidade da fala e à produção da energia em alta frequência), foram alterados porque esse filtro acaba cortando faixas de frequências da fala no sinal acústico. Então, em determinadas faixas, não passa informação. A duração interpicos de F0 é um parâmetro associado ao ritmo e à organização da fala do ponto de vista entoacional. Este parâmetro mostrou-se robusto aos efeitos da transmissão telefônica e se manteve inalterado.

A foneticista Renata Regina Passetti, autora do estudo: determinando os parâmetros acústicos modificados e os que permaneceram inalterados

Nem sempre é o que se ouve O uso desses parâmetros, menciona Renata, pode ajudar a determinar a influência do celular no sinal da fala e, com isso, mostrar quais parâmetros foram alterados e quais permaneceram robustos. O projeto de Renata sugeriu aplicações na área forense de reconhecimento de locutor, que é quando se comparam gravações obtidas por telefone com gravações obtidas diretamente (registrada pelo microfone). A mestranda acredita ter contribuído com o conhecimento sobre os efeitos da transmissão telefônica na fala com amostras da fala do português brasileiro. As investigações até aqui eram relacionadas ao alemão, ao inglês americano e ao britânico, além do sueco.

COMPARAÇÃO A linguista salienta que tem havido um aumento nas investigações de crimes com base em amostras de fala de celulares, a fim de identificar as características linguísticas do criminoso para delimitar o conjunto de suspeitos. Por isso é preciso detectar com cautela o grau de modificação acústica da transmissão telefônica ao sinal da fala, de modo que a comparação não gere uma identificação errônea. A transmissão no celular pode ser afetada por fatores ambientais, pela tecnologia ou por fatores relacionados ao falante, que pode adotar determinado comportamento ao falar ao telefone, o que provocaria uma alteração de estilo, a chamada “voz telefônica”. Ao analisar os parâmetros para as vogais orais, os principais achados se relacionaram às frequências formânticas, que são bastante afetadas pela transmissão telefônica. No estudo, percebeu-se que as frequências do primeiro formante, que estão associadas à abertura e ao fechamento mandibular, sofreram um aumento na gravação telefônica. Já as frequências do segundo formante sofreram uma diminuição para as vo-

Publicação Dissertação: “O efeito do telefone celular no sinal da fala: uma análise fonético-acústica com implicações para a verificação de locutor em português brasileiro” Autora: Renata Regina Passetti Orientador: Plínio Almeida Barbosa Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Financiamento: Fapesp

gais anteriores e um aumento para as vogais posteriores. “Essas modificações podem ter consequências perceptuais, uma vez que essas vogais se modificaram a ponto de poderem ser percebidas como outras vogais – por exemplo um ‘i’ como um ‘e’. Portanto, isso pode afetar o modo como ouvimos essas vogais no telefone”, expõe Renata. Associado à frequência fundamental, por exemplo, foi analisado um parâmetro que chama valor de base da frequência fundamental, que é a baseline. Esse parâmetro pode ser relacionado ao modo de vibração neutra das pregas vocais e se mostrou robusto ao efeito do telefone.

GRAVAÇÕES Nessa pesquisa, foram analisados dez sujeitos do sexo masculino. Para cada um deles, foram realizadas duas gravações, totalizando 20. Uma escolha interessante foi que este trabalho tomou por base informações sobre a população carcerária brasileira. “Já que queríamos fazer um estudo que se aproximasse de situações reais, nos baseamos em dados do Ministério da Justiça para compor nosso corpus. De acordo com dados de 2012, 88% da população carcerária era masculina e com faixa etária predominante de 18 a 24 anos. Nossos sujeitos foram selecionados com base nessas informações.” Renata fez as gravações numa sala acusticamente tratada no IEL. Como ela se interessou em analisar apenas os efeitos técnicos do telefone celular, então efetuou gravações simultâneas para comparar gravações via celular com gravações diretas: enquanto os sujeitos falavam com a pesquisadora pelo celular e esta os gravava por meio de um grampo, na frente deles havia um microfone que ia gravando a sua fala natural, sem a interferência de um aparelho. O microfone ficava colocado de forma a não atrapalhar o discurso deles. Como Renata tinha que controlar o processo, para que todos os sujeitos tivessem o mesmo protocolo experimental, ela formou um protocolo designado de “tarefa de mapa”, que consistiu em traçar um trajeto de um ponto a outro. O ponto escolhido foi a praça Arcádia do IEL. Os locutores tinham que falar para a autora do estudo como ela iria da Arcádia ao supermercado Pão de Açúcar, de Barão Geraldo. Essa descrição partia de imagens que eles estavam vendo por meio de slides até chegar ao ponto pretendido. Na sala em que os locutores estavam, tinha o microfone, o projetor de slides e o celular. Renata ficava em outra sala, falando pelo celular, mas gravando ao mesmo tempo. Com as gravações em mãos, ela analisou as vogais orais do português brasileiro – em

posição tônica ([a, e, ɛ, i, o, ɔ, u]) e em posição átona ([ɐ, ɪ, ʊ]). A análise consistiu em observar quais os efeitos da transmissão telefônica sobre essas dez vogais; os efeitos sobre os locutores, ou seja, se os sujeitos eram afetados diferentemente a depender do parâmetro; e sobre o espaço vocálico dos sujeitos – como as vogais de cada sujeito modificaram depois de terem sido passadas pelo telefone. Os pares de gravação permitiram comparar o mesmo conteúdo, mas com qualidades acústicas distintas, uma com as interferências características do filtro telefônico e outra com o sinal da fala sem interferências de aparelhos externos. Conforme a mestranda, geralmente os peritos analisam as vogais porque elas são pontos máximos de energia e pelo fato de serem mais estáveis, por serem produzidas sem obstruções no trato vocal. “Só que os parâmetros que se modificam”, diz ela, “não devem deixar de ser analisados, mas utilizados com cautela, para não serem conduzidas análises equivocadas na situação real. É muito grave afirmar que uma pessoa é culpada, sendo que ela não é”.

INTERCEPTAÇÃO A interceptação é feita por meio de um dispositivo usado pela polícia, que é uma espécie de grampo. Essa ferramenta acabou se tornando fundamental nas investigações ligadas ao crime organizado e ao crime financeiro. Mas apenas pode ser usada depois de esgotadas as outras formas legais de apuração dos fatos. Renata explica que a área de fonética, em geral, está focada na pesquisa. “As nossas gravações são obtidas apenas em caráter experimental. Não temos acesso a gravações reais”, descreve. Para trabalhar em uma situação criminal, é preciso ser concursado da Polícia Federal ou da Polícia Civil. A formação em linguística não faculta o ingresso na carreira de perito criminal. “Ressaltamos que nessa área de reconhecimento de locutor é fundamental que o profissional tenha formação em fonética acústica, por ter conhecimento de procedimentos de análise e descrição de características acústicas que auxiliem na identificação de um indivíduo”, salienta a mestranda. “A nossa expectativa é que a atuação dos foneticistas seja aceita também para o trabalho aplicado.” Há vários estudos na Unicamp que contribuem para a área de fonética forense. No Grupo de Estudos em Prosódia da Fala, orientado pelo professor Plínio Barbosa, existem projetos sobre o telefone celular, ruídos na fala, dialetos, disfarces de fala, entre outros.


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Campinas, 29 de junho a 2 de agosto de 2015

Em compasso de espera Foto: Divulgação

O CASAL TOCA

O fagotista Noël Devos (à esq.) com o maestro e compositor Alceo Bocchino (centro), cuja obra e trajetória foram analisados na tese de doutorado de Jamil Mamedio Bark (à dir.): lembranças de um encontro inesperado

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

Para Noël Devos: o intérprete perfeito, e por sua sugestão”. Quando o fagotista Noël Devos recebeu em 1994 um exemplar de Variações para Fagote e Orquestra, de Alceo Bocchino, e viu a dedicatória de seu autor, imediatamente lhe veio à memória o ocorrido numa noite 40 anos antes, no Rio de Janeiro. Com o teatro lotado e sob o comando do maestro Eleazar de Carvalho, então à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira, Devos iniciou o solo do segundo movimento da Suíte Miniatura. Mais tarde, na coxia, ele encontrou o autor da peça, o mesmo Alceo Bocchino, e sugeriu que, a partir do segundo movimento, o compositor criasse variações do tema, que Devos achou tão bonito. Passadas quatro décadas, Bocchino não tinha esquecido. Estava apenas à espera do tempo certo. E o tempo certo chegou numa apresentação da Orquestra Sinfônica do Paraná. Novamente Devos, um francês radicado brasileiro, tido como mestre dos mestres de todos os fagotistas brasileiros e estrangeiros, estava no palco. Desta vez, interpretando as Variações. Do encontro na coxia foi este o resultado mais concreto. O impalpável foi outro. A amizade e o respeito mútuo atravessaram mais uma década. Estavam acostumados a caminhar em Ipanema, falando sobre os rumos da música no Brasil. Mas, na tarde de 9 de outubro de 2010, seis meses antes de morrer, Bocchino recebeu Devos em casa. A memória neste dia não lhe escapou. Um antigo conhecido, levado pelo fagotista, participaria do encontro, narrado a seguir por Jamil Mamedio Bark, autor de tese sobre a obra de Bocchino. Aos fatos. Devos brincou com Bocchino: “lembra do Jamil, lá do Paraná? Foi meu aluno de fagote. Já tocou com o senhor, também! Ele vai precisar gravar uma entrevista, tudo bem? Ele veio com a esposa, Josely. Bocchino mirou Jamil: “Eu me lembro de você quando entrou na Orquestra Sinfônica do Paraná”. Jamil sentiu-se melhor. O maestro estava em sua banca de seleção. “Então, maestro, estou fazendo doutorado na Unicamp, em Campinas, e a tese será uma análise e interpretação, um estudo das Variações para Fagote e Orquestra da sua obra, do tema da Boneca Italiana Quebrada, segundo movi-

Publicação Teses: “Variações para fagote e orquestra de Alceo Bocchino – estudo analítico e interpretativo” Autor: Jamil Mamedio Bark Orientador: Mauricy Matos Martin Unidade: Instituto de Artes (IA)

mento da Suíte Miniatura”. Bocchino fez que entendeu, mas demorou a acreditar: “Que beleza! Eu mereço essa láurea?”. Cheio de ideias, o pesquisador Jamil, já um músico profissional da Sinfônica do Paraná, tinha na cabeça a vontade de discutir algo que parecia um pouco complicado, que era a diferença entre interpretação e performance. Bocchino, maestro de ouvido absoluto, arranjador, pianista desde os cinco anos de idade, embora com vasta formação que incluía a obtenção de diploma pelo Conservatório Paranaense de Música, em Curitiba, nunca pensou no assunto. “O termo performance está ligado à experiência ao vivo do músico intérprete no palco com seu instrumento, incluindo os gestos e aspectos corporais. É o ato momentâneo da apresentação musical. Já a interpretação designa a leitura da partitura de uma obra, transformar ideias em som, dar vida à partitura, maestro”, ponderou Jamil Bark. Devos entrou na conversa e quis saber o que isso tinha a ver com a obra de Bocchino. “É que, na minha tese, professor, eu pretendo dar sugestões de interpretação para as Variações, então precisa ficar muito claro essa diferença com a performance”. O mestre fagotista ficou orgulhoso do aluno. Ele não imaginava que o músico profissional que ajudou a formar, e que via tocar tão compenetrado na Sinfônica do Paraná, tivesse se tornado um pesquisador tão apurado. “Você tem razão, Jamil, são coisas diferentes”, assentiu o compositor. Em sua pesquisa do doutorado, Jamil “dissecou” todas as nuances da obra de Bocchino. Conhecia a partitura talvez até mais que o próprio compositor, que se assustou quando Jamil lhe garantiu que não seria possível tocar piano em um determinado trecho, como estava descrito, porque senão o fagote não seria ouvido. “Sabe, maestro, eu gostaria que esta obra fosse mais tocada e conhecida, inclusive no meio acadêmico, por isso eu estou pensando em dar o caminho das pedras, para quem quiser interpretá-la. E essa análise tem a ver com as Práticas Interpretativas, que é a minha linha de trabalho na pesquisa”.

O compositor ficou lisonjeado e feliz com o destino da obra. “Devos, me alcance a partitura, quero ver uma coisa”. O professor pegou uma pasta em cima do piano e entregou a Bocchino. “Essa composição deste tema aí, me lembro... eu tinha oito anos de idade e meu pai mandou trazer este mesmo piano. Eu era um garoto de calça curta, mas quando este piano entrou em casa, fiquei com os olhos arregalados. Foi incrível! É como quando você consegue seu fagote... é uma satisfação enorme!”. A exemplo de Bocchino, Jamil também foi precoce. Com 19 anos, ingressou na Sinfônica do Paraná. Achava que não sabia tocar direito e, a cada 15 dias, corria para o Rio de Janeiro para estudar com Devos. O fagote, que instrumento extraordinário! O pesquisador procurou seus antecedentes para realizar a tese. “Já no século 13 buscava-se um som mais grave e com isso o tamanho do instrumento só aumentava. No século 16, a bombarda-baixo chegou a mais de dois metros de comprimento. Depois, o instrumento foi dividido em seções, ‘dobrado’, e só então chegou a 1,35 metros”, explicou. Por uma demanda do compositor alemão Richard Wagner, surgiu o sistema do fagote alemão paralelamente ao sistema francês, o que perdura até hoje. Os orifícios ganharam diâmetro maior nos graves e menor nos agudos, o contrário do sistema francês. O italiano Vivaldi escreveu 39 concertos para fagote solo e orquestra. W. A Mozart compôs o Concerto em Sib Maior que é referência no repertório para fagote e orquestra. “No libreto do CD, consta que a sua obra vem da Suíte Miniatura, do segundo movimento. A ideia veio dos brinquedos quebrados de suas filhas, Gulnara e Rosalba. E deste tema o senhor tirou as Variações, a pedido do professor Devos, não é isso?”, perguntou Jamil. “É isso aí! O Devos foi um sujeito que sempre me deu satisfação na orquestra!”. O maestro não se cansou de elogiar o fagotista.

Apesar de ter sido o autor, Alceo Bocchino não ouvia há muitos anos as Variações para Fagote e Orquestra. Nem tinha como, já que não havia nenhuma gravação da obra. Esta foi oportunidade única. E antes do som, o silêncio e uma expectativa enorme. O duo, formado por Jamil e a esposa, tocou como em dia de estreia. O maestro parecia surpreso com o próprio trabalho. Já havia se esquecido de muito que estava ali. Jamil se antecipou na pergunta: “Se o senhor fosse dar sugestões a um fagotista que quisesse tocar sua obra, quais seriam? O que seria essencial para tocar a obra?” Ele estava muito interessado em tudo que Bocchino pudesse acrescentar. “Todo contraponto que você ouvir, mesmo sendo de poucas notas, é importante e deve ser expressivo. Elas [as notas do contraponto] sempre dizem alguma coisa, mesmo sendo simples”. O pesquisador entendia o que Bocchino estava falando. Jamil procurava expor na tese de doutorado como seria uma interpretação consciente da obra. Porque havia de ser pianíssimo em determinado ponto, a questão do timbre, porque precisava ser “claro” e não “escuro”, a articulação, em tenuto e não staccato. “Admiro muito sua escrita, que é polifônica, remete muito à música brasileira. As melodias, todas as vozes, a malha na redução para o piano e na orquestra, tudo é admirável”, disse Jamil. O autor da tese gostava de estudar para não “tocar simplesmente de forma mecânica ou intuitiva”. Preocupava-se com a análise da estrutura da obra: como o compositor desenvolveu o tema; qual era a técnica utilizada; se ele retomou pedaços do tema criando acompanhamentos; e como trabalhou entre o instrumento solista e a orquestra. Para o pesquisador, interpretação e performance poderiam trabalhar em conjunto, em favor de um trabalho mais integrado. “Professor Devos, percebi que a performance do músico é enriquecida quando ele tem informações históricas, analíticas, interpretativas sobre a obra”, afirmou Jamil. Esse pensamento ele queria levar para a banca de doutorado. O mestre concordou. Mas em relação a tocar as Variações, ele tinha outra dica. “Precisa se divertir com ela, como músico. Então você tem que exteriorizar mais, aproveitando o nosso temperamento aberto, latino. No Scherzo, por exemplo, tem que fazer sentir mais, exagerar, pela articulação – o acento nas duas notas ligadas fica mais rítmico, bem articulado –, e aproveitar o fagote quando faz triste e pouco plangente nas notas agudas, fazendo um pouco mais com o sopro, concretizar e exteriorizar mais. É como o violoncelo em frente da orquestra: se o violoncelo toca bem, aí o som passa. Se tocar como solista sem medo, o som passa, mesmo sem tocar mais forte, ou seja, é a intenção de tocar para fora. Entendeu?” Por hora, chegou o café. Os três: maestro, professor e pesquisador já conversavam à solta. Os últimos acordes executados por Jamil e a esposa ainda ecoavam para Alceo Bocchino. “Eu fico me perguntando: será que fui eu mesmo que fiz isto? O ritmo brasileiro que botei ali vale a pena, funciona muito bem! Tem coisas muito boas ali! Eu nem pensei que fosse tanto assim!” E Jamil achou por bem registrar o encontro numa fotografia.

Gravação integra tese A entrevista de Jamil Bark com o maestro, compositor e pianista Alceo Bocchino, então com 93 anos, foi a última da vida do compositor, que morreu em 7 de abril de 2013, aos 94. Bocchino foi fundador e maestro de diversas orquestras, entre as quais a Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC. Nascido em Curitiba, morava no Rio de Janeiro desde 1946. Foi maestro titular da Orquestra Sinfônica Brasileira de 1963 a 1965. A gravação das Variações para Fago-

te e Orquestra feita durante o encontro foi anexada à tese de doutorado, assim como trechos da entrevista transcrita. A obra foi executada no ano de sua composição (maio de 1994) – primeira audição mundial – pelo fagotista Noël Devos, no Centro Cultural Teatro Guaíra, em Curitiba, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Paraná sob a regência do maestro e compositor Alceo Bocchino. Não houve gravação desta estreia e foi a única execução até hoje.


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