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Campinas, 22 a 28 de junho de 2015 - ANO XXIX - Nº 629 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Fotos: Antoninho Perri / Reprodução

Vultos (in)visíveis 6 e7

A literatura brasileira está no centro dos livros Dois letrados e o Brasil nação - A obra crítica de Oliveira Lima e Sérgio Buarque de Holanda (Editora 34) e Cenário com retratos – Esboços e perfis (Companhia das Letras), que acabam de ser lançados por Antonio Arnoni Prado, crítico, ensaísta e professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. As obras, que segundo o intelectual dialogam entre si, abordam desde intérpretes consagrados do Brasil, entre os quais Oliveira Lima, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, até a inserção de escritores tidos como marginais no espaço da criação, temática que ocupa parte significativa da produção de Arnoni.

O professor Antonio Arnoni Prado: analisando o espaço da criação literária no país

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A reconfiguração do mercado de trabalho Sensores em granjas incrementam produção

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‘Fisgadas’ e platitudes nos livros de autoajuda

Ações democráticas em bando de babuínos

Os malefícios da fumaça do cigarro

Efeitos da propaganda na pregação antissemita

Teoria da Relatividade e o universo quântico

TELESCÓPIO

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TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

Rastreando caçadores de elefantes Análises do DNA de 28 lotes de marfim apreendidos por autoridades permitiram que cientistas determinassem a localização das áreas da África onde a caça ilegal dos animais é intensa, diz artigo publicado na revista Science. Os autores do estudo, de instituições dos EUA e da França, se basearam em toneladas de marfim apreendidas entre 1996 e 2014, e num mapa da distribuição geográfica de certos trechos de DNA de elefante. “Os resultados sugerem que os maiores pontos de caça ilegal na África podem estar concentrados em apenas duas áreas”, diz o artigo. Essas são regiões da Tanzânia e de Moçambique. “O aumento da segurança nesses dois lugares poderá ajudar a reduzir futuras perdas de elefantes na África, e a desarticular essa forma de crime organizado transnacional”, prossegue o artigo.

Babuínos democráticos Animais que vivem em estruturas sociais complexas e hierarquizadas decidem seus movimentos coletivos por meio de consenso democrático ou seguindo a orientação “tirânica” de seus líderes? Pesquisa realizada com uma tropa de babuínos no Quênia, a partir do rastreamento dos deslocamentos de indivíduos via GPS, mostrou que esses animais seguem uma espécie de democracia mediada por “formadores de opinião”: em vez de seguir o rumo ditado por líderes fortes, os babuínos se deslocam pela floresta na direção indicada por uma maioria de pequenas lideranças, os “iniciadores”. “Em vez de seguir preferencialmente indivíduos dominantes, babuínos têm maior probabilidade de seguir quando diversos iniciadores concordam”, diz o artigo que descreve o estudo, publicado na revista Science. “Quando há conflitos quanto à direção de movimento, babuínos optam por uma direção em detrimento da outra quando o ângulo entre elas é grande, mas chegam a um meio termo quando é pequeno”. O artigo, de autoria de pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha, prossegue afirmando que “os resultados (...) sugerem que a ação coletiva democrática, emergindo a partir de regras simples, é disseminada, mesmo em sociedades complexas e estratificadas”.

Einstein destrói o quantum A Teoria da Relatividade Geral, proposta por Albert Einstein há 100 anos, pode explicar a misteriosa transição entre o mundo quântico, onde as partículas subatômicas parecem existir numa sobreposição de estados – localizando-se, por exemplo, em vários lugares ao mesmo tempo –, e o mundo clássico, macroscópico, onde os objetos existem em estados únicos e bem definidos. A ideia é defendida em artigo publicado no periódico Nature Physics. De acordo com a teoria de Einstein, a presença de massa causa uma curvatura no espaço-tempo, que nós sentimos como a força da gravidade. Um dos efeitos dessa curvatura é a chamada dilatação temporal: o tempo passa mais devagar onde a gravidade é mais forte.

Foto: Joe Turner Lin/Divulgação

Os autores do artigo na Nature Physics, ligados a instituições da Áustria, Estados Unidos e Nova Zelândia, calculam que esse efeito de dilatação temporal, mesmo quando induzido por campos gravitacionais relativamente fracos, é suficiente para produzir a chamada “decoerência quântica” e forçar as partículas a entrar em estados definidos no momento em que se unem para formar um objeto composto, como uma molécula ou um grão de poeira. “A dilatação temporal induz um acoplamento universal entre os graus internos de liberdade e o centro de massa de uma partícula composta”, escrevem os autores, sugerindo que suas deduções sejam testadas em experimentos futuros. “As correlações resultantes levam à decoerência da posição da partícula (...) Demonstramos que mesmo a tênue dilatação temporal da Terra basta para afetar objetos na escala micrométrica”.

O “moinho de umidade” criado na Universidade Columbia, nos Estados Unidos

Nuvens na Lua A Lua não tem atmosfera, mas é cercada por uma nuvem permanente de poeira, produzida pelo impacto contínuo de partículas de alta velocidade liberadas por cometas, diz artigo publicado na revista Nature. Essas partículas se chocam com a superfície lunar e, literalmente, “levantam a poeira” que vai então formar a nuvem. Os autores, de uma equipe internacional, valeram-se de dados coletados pela sonda Lunar Atmosphere and Dust Environment Explorer (LADEE), da Nasa, lançada em setembro de 2013. Auras de poeira já haviam sido detectadas ao redor de outros satélites de planetas do Sistema Solar, mas nunca em torno de astros revestidos por rególito – nome dado ao “solo”, formado por rocha triturada, de corpos como a Lua ou Marte. O artigo acrescenta ainda que a nuvem detectada pela LADEE é assimétrica, torna-se mais densa em períodos de chuva de meteoros e, curiosamente, tem características que não permitem explicar o brilho em torno da Lua avistado pelas missões tripuladas Apollo 15 (de 1971) e 17 (de 1972).

Capital natural Como parte de suas comemorações de 100 anos de publicação, o periódico PNAS lançou uma seção especial de textos sobre “capital natural” – os serviços fornecidos por ecossistemas e que raramente são incorporados ou levados em conta nos cálculos econômicos e na formulação de políticas públicas. Nota divulgada pela publicação diz que “os artigos identificam ligações entre decisões específicas e resultados para o bem-estar humano e do ecossistema, e demonstram como esse tipo de evidência pode ajudar na reforma de instituições, incentivar a preservação e levar a práticas duradouras de desenvolvimento sustentável”. O artigo introdutório da série afirma que “a consciência da dependência humana em relação à natureza está numa máxima histórica, a ciência dos serviços ecossistêmicos avança rapidamente (...) mas a implementação bem-sucedida ainda está nos estágios iniciais”.

Movido a umidade

época (rádio e cinema), e que funcionou especialmente bem quando vinha a reforçar preconceitos pré-existentes.

Pesquisadores baseados nos Estados Unidos apresentam, no periódico Nature Communications, um motor experimental capaz de gerar eletricidade e produzir movimento a partir da evaporação de minúsculas gotas de água. A tecnologia, chamada HYDRA (sigla em inglês para “músculos artificiais movidos a higroscopia”) usa esporos de bactéria presos a fitas de filme plástico. Nos esporos, a água fica confinada em cavidades de tamanho nanométrico. Esses esporos se dilatam na presença de umidade, absorvendo água, e encolhem em ambientes secos. Dependendo da umidade do meio, as fitas impregnadas com os esporos mudam de curvatura, esticando-se ou contraindo-se, como fibras musculares reais. Associadas em paralelo, essas fitas aparecem em vídeos de demonstração divulgados pelo Grupo Nature, girando rodas ou erguendo pesos (há um pequeno documentário sobre o projeto, em inglês, aqui: https://www. youtube.com/watch?v=Vj2kuZm-aCA).

A sonda europeia Philae, que se desativou há sete meses na superfície do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, quando suas baterias se esgotaram, voltou a funcionar. A Philae foi o primeiro artefato humano a pousar suavemente na superfície de um cometa, em 2014. A descida ocorreu num local mal iluminado pelo sol, no entanto, o que levou a um esgotamento prematuro de sua energia. Com isso, a sonda entrou em estado de dormência. No último dia 13, o satélite Rosetta, companheiro da Philae que se mantém em órbita do cometa, recebeu sinal de que a pequena sonda havia recuperado energia suficiente para sair da hibernação.

Doutrinação nazista

Metano em rochas de Marte

A doutrinação antissemita da população alemã pela máquina de propaganda nazista ainda afeta as opiniões das pessoas expostas a ela durante o governo de Adolf Hitler, de 1933 a 1945, diz artigo publicado no periódico PNAS. “Os alemães que cresceram durante o regime nazista são muito mais antissemitas que os nascidos antes e depois desse período”, escrevem os autores, vinculados a instituições dos EUA, Inglaterra e Suíça. “A parcela de antissemitas firmes, que respondem a um conjunto de questões sobre judeus de modo radical, é de 2 a 3 vezes maior que na população como um todo”. O trabalho se baseou em pesquisas de opinião pública conduzidas na Alemanha em 1996 e 2006. Os autores buscaram, a partir dos dados demográficos dos entrevistados, isolar quais características tornaram a propaganda nazista efetiva, e concluíram que ela foi mais eficiente quando incorporada à educação escolar, menos quando apresentada na mídia de massa da

Meteoritos marcianos contêm metano, diz estudo publicado no periódico Nature Communications. A origem dos traços de metano detectados na atmosfera de Marte no início da década passada continua a ser um mistério – o gás é rapidamente destruído pela radiação solar, o que significa que deve haver uma fonte a produzi-lo de forma contínua – e a presença de vida microbiana no subsolo do planeta já chegou a ser apontada como hipótese explicativa. No trabalho da Nature Communications, pesquisadores do Canadá e da Escócia relatam que, trituradas, rochas de origem marciana liberam um gás que contém metano. “A ocorrência (...) oferece forte apoio aos modelos nos quais qualquer forma de vida em Marte provavelmente existe/existiu num hábitat abaixo da superfície, onde o metano podia ser uma fonte de energia e de carbono”, escrevem os autores.

Sonda ressuscita em cometa

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Fábio Reis Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


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Tese analisa reconfiguração do mercado de trabalho no Brasil Autor de estudo desenvolvido no IE vê avanços no período de 2004 a 2014 Foto: Divulgação

como há tempos – e o avanque os investimentos aconço do mercado de trabalho teçam e, assim, a economia seria decorrência deste procresça, com consequente cesso. Ocorre que os resulavanço do mercado de traustamente no momento em que tados prometidos com as balho. “Nesse sentido, os são anunciadas medidas econôreformas liberais foram amproblemas do mercado de micas embutindo o risco de maior plamente frustrados, registrabalho seriam fundamendeterioração do mercado de trabatrando-se, ao contrário, tatalmente endógenos: se telho brasileiro, Tiago Oliveira, ecoxas elevadas de desemprego mos desemprego elevado, o nomista do Dieese (Departamento e desigualdade de renda.” problema está nas leis traIntersindical de Estatística e Estudos Sobalhistas; e se a rotatividade Segundo Tiago Oliveicioeconômicos), apresenta tese de doutoraé alta, idem. Já pelo padrão ra, esta frustração e uma do discutindo os avanços observados neste social-desenvolvimentista, mudança significativa no mercado no período de 2004 a 2014, quais é preciso um conjunto articenário internacional – que sejam: queda do desemprego, aumento do culado de políticas públicas, se tornou bastante favoráemprego formal, crescimento real dos sacomo a industrial-tecnolóvel à economia brasileira lários e melhora da distribuição de renda. gica, tributária, salarial e sopor conta do aumento dos Orientado pelo professor Marcelo Proni, o cial para que esses problepreços das commodities autor defendeu a tese em 27 de fevereiro, no O economista Tiago de Oliveira, autor mas sejam minimamente e da demanda por outros Instituto de Economia (IE) da Unicamp. da pesquisa: relacionando avanços enfrentados e, com isso, o produtos exportados pelo a um novo padrão de desenvolvimento Tiago Oliveira relaciona estes avanços a mercado de trabalho possa país – ofereceram as bases um novo padrão de desenvolvimento gestaser melhor estruturado.” econômicas e políticas para do na última década, que denomina “socialgestação do novo padrão de desenvolvimen-desenvolvimentismo”, evidenciando que a to. “O social-desenvolvimentismo procura, DADOS COMPARATIVOS estratégia de crescimento neoliberal não é basicamente, acentuar três motores do deTiago Oliveira recorreu aos dados da adequada para lidar com os problemas estrusenvolvimento: o mercado interno de consuPNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de turais do mercado de trabalho em economias mo, o aproveitamento dos recursos naturais Domicílios) para demonstrar, primeiramensubdesenvolvidas. “Concluo a tese chamane os investimentos em infraestrutura.” te, a queda do desemprego na década de 2004 do atenção para as mudanças na política O autor da tese explica que procurou estua 2014. “A taxa de desocupação da população econômica iniciadas no final de 2014 e que dar particularmente a questão do mercado ineconomicamente ativa era de 9,7% em 2003, prosseguem ao longo deste ano, vendo-as terno de consumo, por dizer mais respeito ao último ano antes do início deste período com preocupação porque indicam possíveis mercado de trabalho. “Há um grande contrasmais virtuoso que abordo em meu trabalho. rupturas no padrão que diagnostiquei para te com o modelo neoliberal, em que o mercaTemos então um movimento de queda seguio período estudado. Aquelas conquistas podo de trabalho é visto como passivo: não deve do de alta da taxa de desocupação, em sintodem estar em xeque a partir de agora.” criar obstáculos para a competitividade da nia com o comportamento do PIB. A queda O economista ressalta, contudo, que sua economia brasileira no mercado internaciose dará de forma mais consistente a partir de preocupação maior na tese foi refletir acerca nal, não deve gerar pressões inflacionárias e, 2006, descendo a 7,2% em 2008.” do processo de reconfiguração do mercado para isso, o salário deve andar sempre abaixo De acordo com o pesquisador, a crise inde trabalho que se iniciou em 2004, visto que do ganho de produtividade. No padrão socialternacional de 2009 provocou um aumento antes ele era marcado pelo desemprego es-desenvolvimentista, o mercado de trabalho do desemprego para 8,3%, mas medidas antrutural, acentuada heterogeneidade produtem papel muito mais fundamental, como piticíclicas que considera exitosas, tomadas no tiva, alta rotatividade e baixos salários. “Perlar do mercado interno de consumo.” mesmo ano, fizeram com que o PIB brasileicebemos um início de reversão de algumas Na visão do pesquisador, os problemas de ro crescesse consideravelmente em 2010. “A destas características, que vai se tornar bem um mercado de trabalho subdesenvolvido são taxa de desocupação voltou a cair e chegou ao mais visível a partir de 2006, tendo como o desemprego estrutural e uma informalidaponto mais baixo em 2012, a 6.2%; em 2013, mudanças principais uma redução significade persistente, os baixos salários e a elevada ano da última PNAD, houve uma elevação tiva das taxas de desemprego; um avanço do desigualdade de rendimentos, e a alta rotatipouco significativa, a 6,5%. Tomando-se os assalariamento, em particular com carteira vidade no emprego. “São desafios dos quais dois extremos, temos uma queda expressiva assinada; um aumento real do rendimento o modelo de crescimento neoliberal não dá de 9,7% em 2003 para 6,5% em 2013.” do trabalho e, ao mesmo tempo, uma dimiconta, pois sua preocupação central é a estaAlém das PNADs, válidas para todo o nuição da desigualdade na sua distribuição.” bilidade da moeda, sinalizando aos agentes país, o autor recorreu à Pesquisa Mensal de privados onde alocar os recursos produtivos O pesquisador recorda que o social-deEmprego (PME), também do IBGE e que se de maneira eficiente – qualquer medida que senvolvimentismo emerge no contexto de restringe às regiões metropolitanas, mas com desestabilize a moeda gera ineficiência. Para fragilização do modelo de crescimento neodados até 2014. “Pela PME, mesmo depois da os neoliberais, o desenvolvimento econômico liberal, no início dos anos 2000. “Pelo modeeclosão da crise internacional, saímos de algo se confunde com a questão da estabilização.” lo neoliberal, era preciso ampliar a abertura em torno de 9% de desemprego em 2009 para comercial e estabilizar os preços para que, O economista do Dieese acrescenta que, 4,3% em 2014, ou seja, para menos da metaa partir de fundamentos macroeconômicos ao Estado, o modelo neoliberal atribui uma de. Um ponto que explica a taxa mais baixa mais sólidos, a economia voltasse a crescer gestão macroeconômica responsável para na década estudada como um todo é a recuperação do crescimento econômico, sobretudo Evolução da Taxa de Desocupação e do Crescimento do PIB entre 2004 e 2008, atingindo um patamar elevado para a economia brasileira, ainda mais Brasil – 2001-2013 em comparação com os anos 80 e 90.” Tão expressivo quanto a queda da taxa de 12,0 desemprego, na avaliação de Tiago Oliveira, 9,7 9,4 9,4 é o aumento do emprego formal (com car9,0 10,0 9,1 8,3 8,5 8,2 teira assinada) no período de 1995 a 2013, 7,2 8,0 que ele dividiu em quatro subperíodos. “De 6,8 6,5 6,2 1995 a 99, a média de ingresso no empre7,5 6,0 go formal foi de 275 mil pessoas ao ano; 6,1 5,7 de 2000 a 2003, passou-se a 1,1 milhão; de 5,2 4,0 2004 a 2011, foram 2,1 milhões de postos 4,0 3,2 gerados, numa aceleração considerável; e em 2,0 2,7 2,7 2,5 2012 e 2013, houve uma desaceleração para 1,3 1,2 -0,3 1,0 0,0 1,3 milhão, mas mantendo um alto patamar. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 O ritmo era bem mais comedido na segunda -2,0 metade dos anos 90.” PIB Taxa de Desocupação O pesquisador considera igualmente expressivo o crescimento real dos salários, Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria. LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br

Criação Média Anual de Empregos Formais em Períodos Selecionados Brasil – 1995-2013

atribuindo o devido peso à política de valorização do salário mínimo acordada entre o governo federal e as centrais sindicais em 2004. “Conforme a PNAD, o rendimento médio mensal dos ocupados estava em R$ 1.171 em 2003, aumentando continuamente a partir de 2005, até R$ 1.673 em 2013. Também houve diminuição importante na desigualdade de renda, segundo o Índice de Gini: considerando o índice mais próximo de 1 como de maior desigualdade, e o mais próximo de zero como de menor desigualdade, ele caiu de 0,553 em 2003 para 0,494 em 2013, mostrando que está melhorando a distribuição de renda na sociedade brasileira.”

RECONFIGURAÇÃO EM CURSO

A questão colocada pelo autor entre as conclusões da tese é em que medida as políticas adotadas no final do ano passado – e ora em curso – indicam uma ruptura no padrão de desenvolvimento por ele descrito. “A meu ver, tais medidas vão claramente de encontro à proposta de sustentar um mercado interno pujante, de consumo de massa. Temos uma contenção de gastos acentuada, que vai atuar pró-ciclicamente, ou seja, vai agravar a recessão da economia e, com isso, aumentar a taxa de desemprego.” Analisando a taxa de desocupação no período pós-crise mundial, o pesquisador atenta que ela se manteve em patamar baixo, mas devido principalmente à diminuição da pressão da população jovem (e também idosa) sobre o mercado de trabalho. “Há uma desaceleração na geração de postos de trabalho, mas insuficiente para aumentar a taxa de desemprego, já que existem menos pessoas procurando trabalho.” Tiago Oliveira acredita que o aumento da renda média da família permitiu a estes arranjos familiares adiarem a entrada dos jovens no mercado. “Mas a partir do momento em que se faz um reajuste fiscal – que por definição é recessivo, ao diminuir a atividade econômica –, ele impacta na renda real da família, fazendo com que esses jovens, mais cedo ou mais tarde, voltem a procurar trabalho e a taxa de desemprego se eleve. Além do fato, em si, de que a geração de postos diminuirá ainda mais.” As medidas econômicas adotadas até agora, conclui o autor da tese, apontam para uma deterioração do mercado de trabalho em termos de renda, geração de postos de trabalho e taxa de desemprego, assim como da sua estruturação. “Os números já mostram uma desaceleração do emprego formal, que vinha sendo um dos grandes pilares da economia. Temos ainda o projeto de terceirização irrestrita, que contribuirá para a desestruturação ainda maior do mercado de trabalho. São medidas que apontam para uma ruptura deste período mais virtuoso que tivemos nos últimos dez anos.”

Publicação Tese: “Trabalho e padrão de desenvolvimento: uma reflexão sobre a reconfiguração do mercado de trabalho brasileiro” Autor: Tiago Oliveira Orientador: Marcelo Proni Unidade: Instituto de Economia (IE)

Evolução do Rendimento Médio Mensal Real dos Ocupados Brasil – 2001-2013

2.500

1.663

1.700 2.096

1.600

1.600

2.000

1.515

1.500

1.319

1.138

R$

Mil Pessoas

1.500 1.400 1.300

1.000

1.300

1.310 1.267

1.200 500

265

1.349

1.371

1.402

2007

2008

2009

1,222 1.171

1.169

2003

2004

1.100

0

1.000 1995 . 1999

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria.

2000 . 2003

2004 . 2011

2012 . 2013

2001 Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.

2002

2005

2006

2011

2012

2013


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A literatura de autoajuda e as estratégias da ‘fisgada’ Foto: Divulgação

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

iga os três mandamentos listados a seguir para se casar com o homem ou a mulher dos seus sonhos: 1º) transforme-se no melhor que puder!; 2º) deixe-o assumir o comando, se for mulher; se for homem, assuma o comando você!; e 3º) siga as regras e, casando com seu amor, viverá feliz para sempre! Estes três exemplos fictícios, embora verossímeis, perpassam os livros de autoajuda sobre casamento, namoro e relações amorosas: a individualidade enquanto estratégia de conquista, a conjugalidade como norma, e as distinções de gênero. Algumas dessas obras constituíram o objeto de estudo da psicoterapeuta e pesquisadora da Unicamp Vera Lucia Pereira Alves, que acaba de lançar o livro Receitas para a conjugalidade: uma análise da literatura de autoajuda (Editora Anna blume, 270 páginas). O livro de Vera Alves é resultado de sua pesquisa de doutorado defendida em 2005 junto à Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. A pesquisa foi orientada pela professora Isaura Rocha Figueiredo Guimaraes, da FE, e coorientada pela docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Adriana Gracia Piscitelli, que atua como pesquisadora do Núcleo de Estudos do Gênero Pagu. O estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e a edição da obra, custeada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Conforme Vera Alves, o leitor que busca neste tipo de literatura receitas para encontrar um parceiro, depara-se, antes de mais nada, com a orientação para que realmente se case, pois o casamento é prescrito como benéfico e salutar ao desenvolvimento emocional. Estar solteiro, ao contrário, não apresenta, de acordo com os livros de autoajuda analisados, os mesmos benefícios da conjugalidade. “Os autores que estudei estabelecem a conjugalidade como norma de ordem do emocional. É como se a pessoa que ainda não encontrou um parceiro errasse em algum momento, portanto, ‘vamos apagar tudo que sabe e vamos aprender algo novo para você ser feliz’. O casamento não é a única forma de se manter ativo e viver em uma sociedade sendo feliz. Esta preconização fica aquém daquilo que temos vivido atualmente. Muitas pessoas na nossa sociedade que não estão casadas por opção e, nem por isso, vivem infelizes”, observa a autora. Ela explica que, embora a conjugalidade seja a meta, a individualização é o caminho. De acordo com ela, as prescrições para o leitor são no sentido de que conquistar um parceiro não depende daquele que se quer conquistar ou do que se faz para isso, mas somente da capacidade daquele que tem essa intenção.

Livro derivado de tese desenvolvida na FE analisa obras sobre casamento, namoro e relações amorosas OBRIGAÇÃO

“No geral, em nenhum momento os autores destes livros apontam para que o leitor esteja em relação. É sempre no sentido de que a pessoa precisa se aprimorar individualmente. Por exemplo: uma frase muito comum na nossa cultura é a de que se você não se ama, você não será capaz de amar o outro. É um pouco em cima deste clichê”, compara. “Observa-se nesta literatura uma primazia do individual. E isso corrobora toda a sociedade mais individualista e impede ou dificulta uma vida em relação. Eles falam muito que a pessoa só pode se relacionar quando estiver bem, feliz. Mas nos tornamos seres melhores em relação. Não se pode ter este ponto de vista linear porque estas coisas são interligadas. E o que eles fazem é uma prescrição muito linear”, critica Vera Alves. Sobre as marcas de gênero a autora afirma que a literatura de autoajuda não apenas reifica distinções, como prescreve sobre aquelas mais marcadas e operantes. Em sua opinião, as obras analisadas representam e estimulam as desigualdades entre homens e mulheres. “São livros muito focados no comportamento da mulher. Em muitos, há orientação para que a mulher tenha um determinado comportamento sexual, por exemplo. Ela não pode ser inexperiente sexualmente, mas, ao mesmo tempo, é ‘desejável’ que não tenha transado com muitos homens. Os autores pregam, por exemplo, que o marido deve ser o provedor da casa, quando hoje existe uma igualdade de condições.”

LIVROS ANALISADOS A estudiosa da Unicamp analisou 12 livros escritos por autores brasileiros e estrangeiros, empregando a Análise de

Conteúdo (AC) como principal recurso metodológico. Ela dividiu a bibliografia estudada em obras, direcionadas às mulheres, que ensinam a conquistar um parceiro; livros com a mesma temática, direcionados a homens; obras que não fazem distinção entre sexo, e autores que não diferenciam as fases da relação. Entre as obras dirigidas às mulheres estão: Como conquistar um marido negro (Monique Jellerette de Jongh e Cassandra Marshall, Editora Summus); Como fisgar um solteiro (Ana Luisa Carvalho, Editora Gente); Como casar com o homem dos seus sonhos (Margaret Kent, Editora Rocco); Os homens são de morte e as mulheres não ficam por menos: Tudo que nós homens achamos que uma mulher deveria discutir com seu homem (Eduardo Nunes, Editora Novo Século). Por ser um segmento pouco explorado por este tipo de literatura, Vera Alves analisou apenas um livro direcionado aos homens: Como conseguir uma namorada e envolver pessoas (Luiz Moreira e Marcelo Queiroz, Editora Madras). Entre os que não diferenciam sexo, estão: Guia prático da conquista (Sérgio Savian, Editora Gente); Amar é preciso: os caminhos para uma vida a dois (Maria Helena Matarazzo, Editora Gente); O novo casal: as dez novas leis do amor (Maurice Taylor, Seana McGee, Editora Campus); Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? Uma visão científica (e bem humorada) de nossas diferenças (Allan e Barbara Pease, Editora Sextante). Já aqueles que não diferem as fases da relação são: Mistérios do Coração (Roberto Shinyashiki, Gente) e Tudo o que você sabe sobre amor e sexo está errado. Um guia descomplicado para você alcançar a felicidade e realização na sua vida íntima (Pepper Schwartz, Editora Ediouro).

Sobre a escolha deste tema para a pesquisa e, consequentemente, das obras analisadas, Vera Alves lembrou que muitos pacientes atendidos por ela questionavam sobre o sentimento de amor em relação ao parceiro. Confrontavam, por exemplo, essa dúvida sobre o amor ao parceiro com as novelas, filmes e romances de literatura. “Perguntavam-me: ‘você acha que isso é amor?’ A partir dessa vivência profissional houve o interesse em fazer um estudo sobre essa cultura amorosa. E na minha análise, resgatando um pouco isso, eu identifico que, para a literatura de autoajuda, as relações conjugais são quase sinônimos de amor. E, ao colocar esta perspectiva, estes livros deixam o amor na condição do obrigatório”, aponta. A obra é prefaciada pela professora Mariza Correa, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A docente, também pesquisadora do PAGU, escreve que, ao contrastar, por exemplo, a pedagogia explicitada nos livros de autoajuda com a prática psicoterapeuta, Vera Alves “mostra como uma conduz os indivíduos a encontrarem por si mesmo seus caminhos, ao passo que na literatura aqui analisada, a ênfase é num procedimento prescritivo, isto é, sobre o que deve ou não fazer para se atingir a meta analisada.” No capítulo final do livro, a autora de Receitas para a conjugalidade pondera que o objetivo do estudo não foi apontar uma resposta sobre a suposta eficácia de tal literatura. “Como uma pessoa pode aprender a conquistar um parceiro, a tornar-se ela própria um bom cônjuge e assim fazer de sua conjugalidade uma relação duradoura? As respostas que a literatura de autoajuda oferece podem ser encontradas, esmiuçadas nas obras analisadas neste estudo. Se serão eficazes, se funcionarão, isto já é outra questão. Mas, se a pergunta final é qual o significado dos conselhos oferecidos, considero que este estudo pode iluminar algumas respostas (...)”, antecipa. Vera Alves desenvolve, atualmente, pós-doutorado junto ao Laboratório de Pesquisa Clínico-Qualitativa do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Em seu estudo ela está analisando como pacientes portadoras de câncer de mama vivenciam a reconstrução mamária imediata.

Foto: Antoninho Perri

Publicações D ALVES, V. L. P. . Configurações de Gênero e Sexualidade na Literatura de Auto-ajuda. Omertaa (Kessel-Lo), v. 2007/2, p. 01-15, 2007.

Tese: “Receitas para a conjugalidade: uma análise da literatura de autoajuda” Autora: Vera Lucia Pereira Alves Orientadora: Isaura Rocha Figueiredo Guimarães Coorientadora: Adriana Gracia Piscitelli Unidade: Faculdade de Educação (FE) Financiamento: Capes e Fapesp

SERVIÇO

A psicoterapeuta Vera Lucia Pereira Alves, autora do livro: “Os livros deixam o amor na condição do obrigatório”

Título: Receitas para a conjugalidade: uma análise da literatura de autoajuda Editora: Annablume Páginas: 270


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Campinas, 22 a 28 de junho de 2015

Sistema de sensores monitora galpões para frangos de corte Dispositivo pode beneficiar pequenos produtores e incrementar produção Fotos: Divulgação

ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

ideal num sistema de produção de frangos é que os animais recebam proteção e conforto, liberdade de movimentos, água e alimento com qualidade e em quantidade suficientes, além de livre acesso a comedouros e bebedouros. Esse seria um ideal a ser perseguido nos galpões. Nem sempre isso é possível porque as condições de produção não são as mesmas, visto que também o contexto econômico dos produtores não é o mesmo. Nesse sentido, uma tese de doutorado da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) acaba de dar um passo além na direção do conforto e na melhoria da produção nos aviários. O autor, Alison Zille Lopes, desenvolveu um sistema de automação Open Source (aberto), utilizando unicamente ferramentas gratuitas, para aplicação em instalações destinadas à criação de frangos de corte. Foi batizado como Poultrinux [o nome vem de frango (poultry) e Linux], por empregar rede de sensores e o sistema operacional Linux. A iniciativa já despertou interesse da Embrapa. O uso do Linux, conforme Alison, reduz preocupações com detalhes de hardware, permitindo focar no desenvolvimento de uma interface mais amigável. Os mais beneficiados serão os pequenos produtores que trabalham com um mecanismo de acionamento manual, que requer visitas constantes aos galpões para efetuar o monitoramento das condições climáticas desses locais. Ocorre que uma simples visita ao galpão pode colocar em risco a vida dos frangos, altamente sensíveis a esse contato. Já no sistema proposto, o nó sensor (dispositivo equipado com capacidades de sensoriamento, processamento e comunicação) faz a aquisição de variáveis do ambiente térmico sem necessidade de visitas presenciais. Essas variáveis são empregadas por um módulo central no processo de tomada de decisão, que pode ser a definição de valores fixos de temperatura para acionamento em diferentes estágios de ventilação, resfriamento evaporativo ou através de métodos heurísticos, como a rede neural artificial (RNA), implementada no sistema Poultrinux. De acordo com o doutorando, o equipamento que envolve esse sistema possui três módulos: primeiro, o módulo central, que é responsável pela interação com o usuário (configuração do sistema) e o controle automático (responsável pela integração com as demais partes e monitoramento e controle dos sistemas de climatização e iluminação). Segundo, o nó sensor, que é responsável pela aquisição das variáveis do ambiente térmico. Terceiro, o módulo de acionamento, que executa ações de controle da climatização e iluminação. O conforto no galpão, explicou ele, está relacionado à temperatura, à velocidade do ar e à umidade relativa. O mais utilizado para fazer o controle no galpão – no método convencional – consiste em acionar a ventilação acima dos 25ºC. Quando passa de 29ºC, aciona-se a nebulização. “O controle no sistema que acaba de ser desenvolvido é configurável. Dependendo da linhagem do animal ou experiência do produtor, é possível mudar as temperaturas de acionamento. Se o desejado é que a ventilação acione acima de 26ºC, é só configurá-lo”, comparou Alison. O uso das redes de sensores sem fio também facilitou muito a instalação e a evolução do sistema, simplificando o processo de inclusão de novos incrementos (módulos). O novo sistema demonstrou um grande potencial para evolução com a ajuda de estudantes e produtores. “E pode colaborar muito para a avicultura, agregando contribuições de diferentes instituições (de ensino ou pesquisa), seguindo uma estratégia fundamentada no mecanismo de parcerias”, acentuou o doutorando. A sua investigação teve em vista os pequenos avicultores e conseguiu unir no mesmo projeto ensino, pesquisa e extensão. O trabalho, da linha de pesquisa de Automação, foi orientado pelo professor Gilmar Barreto e coorientado pelo professor Fabiano Fruett, ambos docentes da FEEC.

EXPERIMENTO

Alison relatou que, para dar sustentação ao trabalho, fez testes por cerca de dez dias em galpão experimental da Esalq de Piracicaba. Nos primeiros cinco dias, a sua missão foi detectar falhas que poderiam ocorrer na prática. Esse galpão mostrou-se próximo das condições encontradas pelo pequeno produtor no seu dia a dia.

Publicação Tese: “Contribuições para o desenvolvimento sustentável de um sistema de monitoramento e controle de galpões para frangos de corte” Autor: Alison Zille Lopes Orientador: Gilmar Barreto Coorientador: Fabiano Fruett Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

O sensor e o galpão experimental onde foram realizadas as pesquisas, na Esalq, em Piracicaba: controle do sistema de climatização

Fotos: Antonio Scarpinetti

Os professores Gilmar Barreto (à dir.) orientador, e Fabiano Fruett, coorientador: mudanças na cadeia produtiva avícola

Alison Zille Lopes, autor da tese: “Dependendo da linhagem do animal ou experiência do produtor, é possível mudar as temperaturas de acionamento”

Foram avaliados problemas, como por exemplo interferência eletromagnética pela baixa qualidade da linha ou pelos acionamentos de exaustores ou nebulizadores, que seriam obstáculos ao perfeito funcionamento do equipamento. Mas eles foram identificados, solucionados, e novos testes ocorreram. Em outros cinco dias, o equipamento funcionou continuamente, acionando a ventilação e a nebulização, e coletando dados de temperatura, umidade relativa e velocidade do ar no interior do galpão. Conseguiu, a partir das variáveis ambientais, fazer o controle do sistema de climatização. Os testes não foram feitos com animais no galpão, por correrem risco de morte. Deste modo, seria preciso ter a certeza de que o equipamento iria funcionar. Essa então seria uma outra etapa, contou o autor. “Com relação ao custo, é algo que fica em torno de R$1.500,00, mas esse valor pode diminuir, já que, no futuro, a tendência é que o módulo central seja um tablet, o que popularizaria o sistema. Com isso, a redução poderia ser de até R$300,00”, sublinhou ele. Outra ideia seria aumentar a configurabilidade através da produção de módulos que pudessem ser adaptados às necessidades de cada produtor, combinando placas de circuito impresso com propósitos específicos (sensores, transceptor de rádio, bateria). Um produtor poderia escolher, por exemplo, se o nó sensor viria com carregador de bateria integrado. Isto propiciaria reduzir ainda mais os custos.

possibilitam expansão. Como o Poultrinux é Open Source, ele possibilita expansão conforme os recursos que o produtor tem às mãos. Os orientadores do estudo já vislumbram que o projeto poderá incluir os alunos dos diversos cursos de graduação envolvidos nessa temática. Eles irão até o campo, estudarão as condições e farão o equipamento seguindo as regras do produtor, suas normas, o circuito, suas ideias, para que atenda especificamente às suas necessidades. “Vimos que esse projeto tinha um pé na extensão e tinha tudo a ver com o momento do país, em que quase tudo é importado. Os produtos vêm com o hardware, mas e o software? Há controle 100% dessa máquina? Sempre fica essa dúvida. No nosso caso, temos controle 100% desse instrumento de automação e podemos adaptá-lo facilmente às necessidades do produtor rural, além de poder dotá-lo de mecanismos de controle sofisticados como aqueles baseados em redes neurais”, garantiu o professor Fabiano. Para o pequeno produtor, como ele não tem grandes recursos, tudo o que puder economizar para investir num equipamento é algo que acaba impactando o seu orçamento. Então às vezes, quando as empresas têm maiores produtores associados, elas o fornecem. Ocorre que o Brasil é formado por uma grande maioria de pequenos produtores que, infelizmente, sequer tem acesso a um bom produto. Fabiano expôs que seria propício montar um curso de férias para estudantes de engenharia, para ensinar os princípios de instrumentação e de automação. Os alunos poderiam acrescentar outras interfaces no Estado de São Paulo, de Minas Gerais, do Ceará e onde a tecnologia não é capaz de chegar. Para fazer o projeto avançar, seriam necessários mais parceiros, opinou ele, não pessoas dominando o mercado como a única entidade que possa produzir placas ou circuitos. “Com editais na área de extensão universitária, ele certamente avançaria. Garantiria viagens, manteria equipamentos, auxiliaria no deslocamento das equipes e formaria um curso de peso. Ministraria-se a parte experimental no galpão a ser instrumentalizado.” Alison recordou ainda que, quando começaram as discussões sobre o projeto, pensou-se em quem mais iria construir esses equipamentos. “Pensamos em fazer oficinas itinerantes para criar competências nas diferentes regiões do país”, relatou ele, acrescentando que os interessados no sistema podem procurar os idealizadores desse projeto.”

INTERESSES

O professor Gilmar enfatizou, ao falar de entregar um produto de qualidade a quem não possui recursos, que o papel da universidade também é oferecer um receituário para os pequenos produtores. “Já ficamos imaginando que eles poderão dobrar a sua produção de frangos. Isso criaria uma revolução na cadeia produtiva avícola do Brasil.” O professor Fabiano foi fundamental para o desenvolvimento dessa pesquisa, salientou Gilmar. “Contribuiu com a ideia de fazer um sistema aberto de tal forma que o pequeno produtor tivesse acesso a ele sem custos, pudesse melhorar seu nível de automação e aumentasse a sua produção.” Por outro lado, lembrou o orientador, Fabiano teve o mérito de enxergar o potencial desse projeto na vida do produtor rural que não tem acesso às ferramentas importadas. Normalmente, os equipamentos já são racionados e não


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Campinas, 22 a 28

ANTONIO ARNONI PRADO, o o Estudioso de escritores marginais, professor do IEL lança dois livros MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

ntonio Arnoni Prado, professor aposentado do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, acaba de lançar dois livros, intitulados Dois letrados e o Brasil nação - A obra crítica de Oliveira Lima e Sérgio Buarque de Holanda e Cenário com retratos – Esboços e perfis. A primeira obra estabelece um contraponto entre as visões que os autores analisados apresentam sobre o Brasil e a literatura brasileira. Já a segunda reúne ensaios sobre autores e temas, com o propósito de fazer uma análise do espaço da criação literária. Embora distintos, reconhece o docente, os livros dialogam entre si. Na entrevista que segue, Arnoni Prado fornece mais detalhes sobre os novos volumes e faz uma reflexão sobre o papel da crítica literária na atualidade. Segundo ele, diante das transformações ainda em curso, é possível que a crítica tenha que se reinventar. Por fim, o intelectual avisa: apesar de aposentado, continua produzindo e olhando com atenção para os escritores marginais, missão que se impôs desde o início da carreira. Jornal da Unicamp – O senhor está lançando dois livros ao mesmo tempo. Eles também foram produzidos simultaneamente? Antonio Arnoni Prado – Não. Eu comecei a trabalhar no livro sobre o Oliveira Lima e o Sérgio Buarque de Holanda em 2002. Fui para os Estados Unidos e fiquei um tempo por lá fazendo a pesquisa na biblioteca do Oliveira Lima, que está abrigada na Universidade Católica, em Washington. Desde então, segui trabalhando no livro. Eu o entreguei à editora há dois anos. O outro livro, Cenário com retratos, foi produzido ao longo da minha carreira. Alguns ensaios têm 15 ou 20 anos. Alguns deles foram burilados para esta publicação. JU – O processo de produção difere de uma obra para outra ou ele segue um padrão? Antonio Arnoni Prado – O trabalho do crítico é complexo. Você pode se deter na análise formal da obra. Mostrar, por exemplo, como um romance inova em relação ao tempo dele, ao conjunto da obra do autor e no que ele se diferencia em relação aos romances de outros autores. Uma análise de personagem, por outro lado, é muito trabalhosa. Cada autor tem uma perspectiva da criação da personagem. As personagens de Machado de Assis são as personagens de Machado de Assis. Não se pode generalizar, a partir da análise de um livro, o conceito de personagem. Quase sempre uma personagem discrepa da outra, mas apresenta singularidades.

O trabalho do crítico é tentar harmonizar as permanências e as ambiguidades presentes na construção da personagem. Sob certo aspecto, é possível dizer que existe alguma convergência de temas, análises e modos de apresentação de personagens em Lima Barreto, Machado de Assis, Érico Veríssimo etc. Entretanto, quando você parte para a análise de uma personagem específica, você depende muito da ação que ela desempenha e da escolha dessa ação. Esta pode, por exemplo, estar mais articulada com o meio social ou fazer uma crítica ao âmbito literário que a circunscreve. Outro aspecto da análise literária que me interessa muito é buscar – e o Antonio Candido é mestre nisso – as articulações da estrutura da obra com a estrutura social. Mostrar como o externo se torna interno. JU – O senhor poderia dar um exemplo desse tipo de articulação? Antonio Arnoni Prado – Um exemplo está em Aluísio Azevedo. A maioria das críticas a esse autor, até a chegada das análises de Antonio Candido, estava muito presa às propostas que a crítica internacional fazia sobre o naturalismo. Dizia-se que o naturalismo era a descrição científica de uma realidade. Tinha um sentido teleológico, finalístico, em relação à ciência. A literatura, nesse sentido, pode esclarecer um determinado dado social ou um contexto político com certa precedência. O que Antonio Candido mostrou foi que, ao se tornar interna, a estrutura externa deixa as suas características naturais para assumir uma marca do autor. Nesse momento, o crítico não está comparando a vida exterior com a interior, mas vendo como é que se articulam o tema, a personagem e os valores presentes no livro e como eles eventualmente remetem ao exterior.

O professor e crítico Arnoni Prado: “A preocupação da crítica do futuro pode nem ser mais – e talvez já não seja – fazer um discurso de avaliação. Pode ser um discurso de arte. As coisas estão muito soltas”

JU – Em Dois letrados e o Brasil nação, o senhor estabelece um contraponto entre os pensamentos de Oliveira Lima e Sérgio Buarque de Holanda. Que elementos caracterizam esses pensamentos?

JU – Um desafio nada trivial, não? Antonio Arnoni Prado – É difícil. É preciso muita reflexão e obviamente o máximo de informação possível sobre o autor e seu estilo, bem como sobre o contexto literário e político do período. Mas a marca pessoal fica e o desafio do crítico está em desvendá-la. Antonio Candido mostra que, em O Cortiço, tanto o português quanto o morador do cortiço e o homem da rua são personagens. O português participa daquele “inferno” com a perspectiva de ganhar dinheiro e sair daquele ambiente. O trabalhador, porém, é uma “coisa” que não evolui. É aí que entra a mão do narrador. Ao internalizar essas questões sociais, o escritor faz da literatura uma espécie de constructo sem saída – tanto na fala quanto no gesto e nas atitudes. Então, a partir de um elemento importante da estrutura da personagem, é possível articular um paralelo entre a obra e a realidade que ela estaticamente propõe construir. Não se trata de dizer que é uma tentativa de explicar a realidade, como fazia o naturalismo. O feixe de relações que o narrador arma para as personagens mais “estranhas”, mais “comandadas” tem que ser muito perfeito, pois aquilo gera dentro do romance uma desestruturação brutal. Assim, quanto mais literariamente culta for uma voz autoral, tanto mais ela vai iluminar a perspectiva sem saída do homem dominado.

SERVIÇO Título: Dois letrados e o Brasil nação A obra crítica de Oliveira Lima e Sérgio Buarque de Holanda Autor: Antonio Arnoni Prado Editora: Editora 34 Páginas: 376 Preço sugerido: R$ 50,00

Antonio Arnoni Prado – Sim, os dois autores oferecem perspectivas diferentes. O Oliveira Lima é um crítico interessante, que tem um grande valor, inclusive por ter se dedicado a divulgar a literatura brasileira no exterior. Ele tinha um comprometimento quase acadêmico com a ideia de que a literatura brasileira tinha que ser vista de um ângulo próximo das verdades que a fundaram. Verdades essas oriundas do universo português. Afinal, foram os portugueses, cuja cultura havia dado Camões e Gil Vicente, que nos colonizaram. Oliveira Lima, que foi educado na Escola Superior de Letras de Lisboa, insistia em ver como saída para a cultura brasileira a adoção de um modelo fecundado pelas projeções do universo intelectual português. No ângulo oposto, Sérgio Buarque, tendo sido um modernista, embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna, tinha posições muito diferentes. Na esteira de Mário de Andrade, Sérgio Buarque propõe, ao contrário das teses de Oliveira Lima, que para ele geraram o academismo, a oratória bacharelesca e a literatura cosmopolita sem cosmopolitismo, a necessidade de buscar um caminho próprio para o Brasil. Era preciso, segundo ele, pesquisar uma linguagem brasileira, bem como os elementos e os titulares dessa linguagem. Sérgio Buarque foi um dos primeiros a tentar promover a integração entre os países da América Latina. Ele insistia numa outra dimensão. É essa divergência com o Oliveira Lima que eu tento mostrar, a partir da crítica literária de Sérgio Buarque. O livro não conclui nada. Não há um terceiro capítulo. Eu falo do Oliveira Lima e depois do Sérgio Buarque. E deixo para o leitor tirar suas próprias conclusões. JU – Já o livro Cenário com retratos é constituído por ensaios. Neles, o senhor trata de alguns autores e temas. Como o senhor alinhava esses conteúdos na obra?

“Quanto mais literariamente culta for uma voz autoral, tanto mais ela vai iluminar a perspectiva sem saída do homem dominado”


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8 de junho de 2015

observador dos invisíveis nos quais reflete sobre o Brasil e o significado da literatura brasileira Fotos: Antoninho Perri

“O trabalho do crítico é tentar harmonizar as permanências e as ambiguidades presentes na construção da personagem”

“Os cadernos de cultura dos jornais tratam hoje de bandas de rock, de cantores, pintores etc. Você não tem mais um nome abalizado da crítica literária escrevendo nos jornais”

Antonio Arnoni Prado – Neste livro, eu procuro basicamente fazer uma análise do espaço da criação literária. Verificar em que momento os autores, que eram tidos como escritores, deixaram de ser escritores porque eram diplomatas, juízes, advogados ou tinham uma inserção social que os qualificava, que atribuía a eles o papel de literatos. Eram eles que tinham que fazer a literatura. Antes de serem literatos, porém, eles tinham repercussão social, tinham poder de mando. A literatura era, portanto, um espaço secundário, tal como a conhecemos hoje. O momento da costura desse espaço literário é o que me persegue; é um tema dos ensaios. Outra questão é que, ao promover essa costura, muitos foram obrigados a se render ao que vinha de cima para poder vender seu peixe. Outros, ao contrário, resistiram. Não reconheceram a importância do que já existia e buscaram projetar a sua linguagem artística. Num segundo momento, eu também busco refletir sobre as circunstâncias que desvirtuaram, em grande parte, esse ideal tão puro de buscar a literatura. Eu estudo esse tema tanto do lado da crítica quanto do lado dos escritores. Aliás, é preciso registrar que os críticos também reconheceram a necessidade de reformar a ideologia passadista que havia na literatura. É o caso de Gilberto Freyre, que se propõe a criar a seminovela, um gênero novo. Gilberto Freyre, diga-se, é um dos maiores escritores da língua portuguesa. Não há escritor melhor que ele quando consideramos o estilo, a elegância, o conhecimento da língua e a versatilidade dos temas. Entretanto, Freyre se torna realmente grande quando escreve livremente, sem pensar em seminovela ou em outros gêneros. Um dos ensaios do livro analisa como Gilberto Freyre descreve os anúncios que os proprietários de escravos publicavam nos jornais, cujos textos eram quase teratológicos. Ao tratarem de escravos fugidos, por exemplo, os textos descreviam as características físicas destes, como um olho cego, uma orelha decepada ou um ferimento na perna. Gilberto Freyre descreve essas molduras sem pensar em seminovela. E aí ele é tão grande quanto Guimarães Rosa. É grande porque passa para o leitor o enquadramento dessa teratologia social imensa de modo elegante, original e extremamente harmônico. O ângulo literário que eu busco nos escritores está nesse trabalho. Ali tem tudo: descrição de personagem, caracterização do espaço e variações harmônicas de forma para descrever o fenômeno da crueldade. Faço essa mesma reflexão do lado da crítica. Faço com Silvio Romero, José Veríssimo, Araripe Junior, Lúcio Cardoso, entre outros, sempre buscando a oposição entre o espaço literário possível e original e as circunstâncias que o deformam. JU – Embora sejam obras completamente distintas, é possível dizer que há um diálogo entre elas? Antonio Arnoni Prado – Perfeitamente. No segundo livro aparecem de modo concreto pequenas manifestações na biografia, na obra, nos projetos dos escritores analisados que rementem às visões de Oliveira Lima e Sérgio Buarque sobre o Brasil e o significado da literatura brasileira. Nesse sentido, há um perfeito diálogo entre os livros. JU – Em um debate recente, o senhor afirmou que dedicou a sua carreira acadêmica a estudar escritores marginais, que não receberam o devido reconhecimento. Por que o senhor se impôs essa missão?

Antonio Arnoni Prado – De fato, fiz essa opção desde o começo da minha carreira. Se pegarmos as histórias literárias, é possível verificar uma repetição. Desde a Antiguidade, passando pelo Romantismo e o Realismo, é possível notar essa repetição ao estudarmos os grandes autores. Entretanto, à medida que você estuda esses escritores, surge também o “pé de página”, o escritor marginal. A minha tese sobre Lima Barreto é possivelmente a primeira da academia, considerando as grandes universidades brasileiras. Ele não era tido como um grande escritor. Era um autor que não era academicamente reconhecido. Também não se falava em João do Rio. Os escritores que tentavam desarticular o estilo literário do tempo deles não eram publicados. Ou eram publicados de modo precário. Foi a partir da minha tese sobre Lima Barreto que comecei a me interessar por essa temática. Lima Barreto não queria ser literato. Dizia, inclusive, que tinha desprezo pelos escritores. Ainda assim ele escrevia. Ninguém lia, mas ele escrevia. Só foi publicado em 1948 e depois em 1956. A obra ficou repousando na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional. Assim como ele, uma legião de outros escritores viveu a mesma situação. Quando eu estudei essa questão, entendi que havia uma missão a cumprir. Eu poderia ter estudado um escritor reconhecido, que seria mais fácil, mas decidi enveredar por esse caminho, o que me fez descobrir outros autores. Hoje eles estão integrados. O livro Cenário com retratos é uma espécie de conclusão do meu projeto de pesquisa. Eu fico muito satisfeito com a escolha que fiz. É uma contribuição modesta para as novas gerações, que talvez decidam fazer coletâneas ou produzir biografias sobre esses autores. JU – O senhor chegou à Unicamp no final da década de 70 junto com um grupo vindo da USP, tendo à frente o professor Antonio Candido. Como foi contribuir para a construção do IEL? Antonio Arnoni Prado – O Antonio Candido veio para cá a convite do Zeferino Vaz [fundador da Unicamp], em 1976. Zeferino deu carta branca ao Antonio Candido para montar a equipe que daria forma ao IEL. Essa equipe contava com nomes como Roberto Schwarz, Berta Waldman, João Luiz Lafetá, José Miguel Wisnik, entre outros. Uma geração de novos talentos que ofereceu uma importante contribuição à Unicamp, em três dimensões. A primeira delas foi marcar o sentimento da pesquisa factual. Cada um trouxe para a Universidade, na sua área, uma atitude perante a pesquisa, qual seja, a de estudar o tema e discutir os autores profundamente. A segunda dimensão representou uma renovação curiosa, que foi mostrar a importância da teoria literária articulada à linguística. Isso significou uma grande inovação. A terceira dimensão foi definir uma perspectiva crítica. Foi deixar de considerar a literatura somente a partir de um elenco de autores. E passar a consi-

SERVIÇO Título: Cenário com retratos – Esboços e perfis Autor: Antonio Arnoni Prado Editora: Companhia das Letras Páginas: 312 Preço sugerido: R$ 44,90

derá-la, pela primeira vez, a partir da sua construção, a partir da dimensão estética e da dimensão objetiva da linguagem, que dialogava com outras séries literárias. JU – Qual o papel da crítica literária na atualidade? Ela precisa, em alguma medida, reinventar-se? Antonio Arnoni Prado – Sem dúvida. Onde está a crítica hoje? Um dos momentos únicos da discussão destes dois livros talvez tenha ocorrido no debate aqui na Unicamp. Não há especificamente um diálogo entre a crítica e a produção atual, par e passo. Os cadernos de cultura dos jornais tratam hoje de bandas de rock, de cantores, pintores etc. Você não tem mais um nome abalizado da crítica literária escrevendo nos jornais. O espaço que ainda resta está na universidade. Aqui é o lugar. O espaço está cada vez mais rarefeito, e não sei se com alguma razão. Nós ainda não temos um desenho claro do que está surgindo. A preocupação da crítica do futuro pode nem ser mais – e talvez já não seja – fazer um discurso de avaliação. Pode ser um discurso de arte. As coisas estão muito soltas. Qual o destino do livro? Será o e-book? Não sei. Penso que o livro não vai acabar, mas como será essa plataforma que o sustentará? Claro que surgirá um capítulo novo da crítica. Mas com que eficiência? É difícil prever. JU – O senhor se aposentou há dois anos. Como tem sido a sua rotina? Antonio Arnoni Prado – Eu já terminei as orientações. Continuo lendo e trabalhando. Terminei um texto de memórias, que remete ao tempo em que, meninos, jogávamos futebol na rua. Tive o grande prazer de reviver o bairro onde morava em São Paulo, o Tremembé da Cantareira, lá para os lados do Horto Florestal, com os nomes das ruas daquele tempo, da década de 1950. Ali havia somente chácaras. No texto rememoro a vida solta nas ruas em contato com a natureza, num tempo em que sequer poderia imaginar que um dia seria professor. Ali perto havia uma chácara na qual o time do Corinthians se concentrava, com craques como Gilmar, Cláudio, Luisinho, Goiano e tantos outros. Eu e meus amigos acompanhávamos os treinos e até saímos numa foto com os jogadores, que foi publicada no jornal O Esporte. Hoje, eu continuo trabalhando, estudando e olhando sempre para os chamados autores marginais.


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Campinas, 22 a 28 de junho de 2015

Cálculo: um livro para a realidade dos estudantes JAYME VAZ JR. vaz@ime.unicamp.br

m uma lista dos maiores feitos da espécie humana, o Cálculo Diferencial e Integral, ou simplesmente Cálculo, ocupa um lugar de destaque. Com o advento do Cálculo, as ciências tomaram um impulso sem precedentes. Para a Física e a Engenharia, o Cálculo é uma ferramenta tão básica e fundamental, que um dos maiores nomes das ciências, Isaac Newton, não por acaso foi também um dos maiores nomes da história do Cálculo. Mas pensar no Cálculo apenas como uma ferramenta científica é diminuir seu papel. O Cálculo se impõe até por necessidade intelectual, haja vista a presença recorrente de suas ideias ao longo da história. As raízes do Cálculo já estavam na Grécia Antiga, nos paradoxos de Zenão e no método da exaustão. Desde então, séculos foram dedicados à evolução das noções e dos conceitos do Cálculo, passando por nomes como Kepler, Galileo, Pascal, Barrow, Fermat, entre outros, até Newton e Leibniz, e depois por Cauchy, Weierstrass, Dedekind etc. Essa grandiosa história do Cálculo é muito bem relatada por Carl Boyer em The History of Calculus and its Conceptual Development, Dover Publications (1951). Infelizmente, o Cálculo também apresenta outro atributo: é o primeiro grande obstáculo de muitos estudantes universitários. Esse obstáculo, contudo, não nasceu hoje; ele sempre existiu, aqui e em todo o planeta. O que ocorreu, nas últimas décadas, é que o aumento do acesso ao ensino superior fez aumentar, em termos absolutos, o número de estudantes atravancados pelo

SERVIÇO Título: Cálculo – Exercícios resolvidos para os cursos de exatas e tecnológicas Autores: Bárbara de Holanda Maia Teixeira e Edmundo Capelas de Oliveira Editora da Unicamp Páginas: 256 Áreas de interesse: Matemática e Engenharia Preço: R$ 42,00

Cálculo. Nos EUA, a situação chegou a tal ponto que, nos anos 1980, a National Science Foundation (NSF) injetou milhões de dólares em um projeto chamado “Calculus Reform”, com o objetivo de remodelar o ensino do Cálculo, inclusive com a preparação de novos materiais didáticos. Livros usados hoje, inclusive em universidades brasileiras, como os de James Stewart ou de Deborah Hughes-Hallett et al., são frutos do “Calculus Reform”. Artigos publicados no Jornal da Unicamp (veja as edições 581 de 26/10/2013 e 587 de 16/12/2013) mostram, entretanto, que o Cálculo continua sendo uma fonte de dificuldades para muitos estudantes na Unicamp, situação similar em outras universidades. O que acontece, então, com o Cálculo? Qual o mistério que a reforma não reformou? Cada professor tem sua opinião. A minha é bem simples: aprender Cálculo, como qualquer outra área da Matemática, é como aprender a dançar. Não basta assistir a filmes com Fred Astaire e Ginger Rogers para aprender a dançar! É preciso praticar. Praticar muito, em alguns casos, mas, sobretudo, praticar bem. Com a Matemática não é diferente. John von Neumann, um dos maiores matemáticos do século XX, certa vez afirmou: “In mathematics you don’t understand things. You just get used to them”. Nessa necessidade de praticar, onde se encaixa o livro de Teixeira & Capelas de Oliveira? Meu antigo livro de Cálculo, quando estudante, tinha 400 páginas em papel 150x220mm e menos de mil exercícios propostos. Já um best-seller do Cálculo pós-reforma tem mais de 500 páginas em papel 210x275mm e mais de quatro mil exercícios propostos. Um outro tem até mais de 6.500

exercícios propostos. Segundo M. Protter, em um exame dos livros de Cálculo [“Calculus Reform”, The Mathematical Intelligencer 12 (4), pp. 6-9 (1990)], isso representa um “problem of overkill”. É impossível para qualquer estudante resolver tantos exercícios durante um semestre letivo. Mesmo que fosse, seria um nonsense. Para praticar, e praticar bem, é preciso uma seleção criteriosa dos exercícios. Nesse ponto entra Cálculo – Exercícios resolvidos para os cursos de exatas e tecnológicas. Oferecendo uma apresentação judiciosa de problemas, todos resolvidos e comentados, o livro pretende trazer o estudante para o universo do Cálculo e suas aplicações. O Capítulo 1 retoma, através de 114 exercícios resolvidos, o conteúdo dos ensinos fundamental e médio, focando em assuntos que deixam de ser discutidos com a devida profundidade nesses anos, mas que são requisitados no ensino superior. O Capítulo 2, com 76 exercícios resolvidos, é dedicado ao conceito de função, objetivando preparar o estudante para os tópicos inerentes ao Cálculo, como limite (Capítulo 3, 41 exercícios resolvidos), derivada (Capítulo 4, 51 exercícios resolvidos) e integral (Capítulo 5, 44 exercícios resolvidos). O Capítulo 6 traz cinco exercícios resolvidos de recapitulação. Em resumo, é um livro pensado para estudantes que também precisam transpor outros obstáculos matemáticos antes de enfrentar o do Cálculo. É um livro para a realidade de muitos dos nossos estudantes. Jayme Vaz Jr., bacharel e mestre em Física, doutor em Matemática Aplicada, é professor do Departamento de Matemática Aplicada do Imecc-Unicamp, onde foi diretor de 2006 a 2010.

Arquiteta propõe revitalização de espaços públicos esquecidos Fotos: Antoninho Perri

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

ma casinha abandonada na Rua Ferreira Penteado, na região central de Campinas, pode se transformar em um jardim de esculturas, com restaurante e galeria de arte. A Estação Cultura, além de eventos culturais, abrigaria um grande parque esportivo. Terrenos baldios, praças, casas, pontes, qualquer lugar “esquecido” que estivesse localizado no Centro, Vila Industrial, Jardim Chapadão, Botafogo/Bonfim ou Cambuí, poderia fazer parte de uma rede que se conecta, se expande ou diminui, conforme as decisões e usos que a população ajudar a escolher. As ideias que vão ao encontro das propostas de revitalização do centro, fazem parte do trabalho final de graduação da aluna Tainá Ceccato, do curso de Arquitetura da Unicamp. Tainá fez o trabalho com a orientação da docente Silvia Mikami, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). Durante a realização do projeto, ela acompanhou o início da revitalização da Avenida Francisco Glicério, e ainda a votação de um projeto de lei do executivo para que o poder público do município possa encampar imóveis abandonados e propor novos usos. Por meio de contatos com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), a aluna tem apresentado as propostas à Prefeitura de Campinas. “A região central da cidade ainda é muito importante para os moradores, porém é um lugar de passagem, onde as pessoas não permanecem. A ideia da rede é mudar um pouco isso”. A proposta da Rede de Espaços Esquecidos, como denominada por Tainá, é diferente de um corretor ou circuito cultural. “O corredor desenvolve uma única rua em detrimento da tridimensionalidade do espaço urbano. É uma única linha, uma reta ao longo da qual estão alguns equipamentos culturais. A rede pensa a cidade não como linhas – caso em que uma rua é priorizada sobre as demais – mas em planos que se sobrepõem e se conectam de diversas formas. Em relação ao circuito, a rede englobaria vários, estruturados sob temáticas parecidas, podendo ser artes visuais, dança, música, cinema, fotografia, esportes, mobilidade, gastronomia, convívio e literatura”. Na prática esses espaços receberiam intervenções

Uma das propostas do trabalho de conclusão de curso: planos que se sobrepõem e se conectam

A professora Silvia Mikami, orientadora, e Tainá Ceccato, autora do trabalho: conexão em rede dos espaços

e adaptações para que pudessem ser usados, desde bancos, locais para comprar comida e wi-fi público até equipamentos, alargamento de calçadas, arborização. Como espaços esquecidos, o projeto considera, além dos imóveis abandonados, também aqueles que tiveram uma gestão inadequada ou falta de investimento – além dos que já desempenharam importantes papéis históricos. “São espaços de alguma forma negligenciados, corpos estranhos e imóveis na paisagem”, refere-se Tainá. A utilização dos espaços seria uma forma de “retomar o centro tradicional como ponto de confluência de cultura, de forma a otimizar a infraestrutura existente e recuperar a memória coletiva da cidade”. O critério para a escolha de imóveis no projeto foi, segundo Tainá, a potencialidade arquitetônica e urbanística. Vários trechos da cidade a estudante percorreu a pé, com o objetivo de observar o potencial dos espaços de perto.

EM REDE

A proposta do projeto é que os espaços se conectem em um sistema único, descrito em um mapa. Dessa forma, diz Tainá, o morador da cidade que visita um ponto, a partir deste receberá informações para dar continuidade às atividades de seu interesse. “A rede seria divulgada em diversos níveis, em um site próprio, panfletos, totens etc”. De acordo com a aluna, a proposta aprofunda e une iniciativas isoladas já existentes como a utilização da Estação Cultura, por exemplo, a reabilitação de imóveis ou ativação de terrenos abandonados e a reforma da Avenida Francisco Glicério. “A união dessas iniciativas isoladas sob o conceito de rede é que permite o entendimento de locais públicos como um sistema único, de tal forma que os equipamentos culturais sejam capazes de intervir uns sobre os outros e, assim, fortaleçam suas potencialidades e a conectividade espacial e programática entre si”. A ressalva feita pela autora do projeto é que tudo isso, entretanto, não funciona sem a educação. Tainá observa que a região central de Campinas está repleta de escolas tanto públicas como privadas. “Um forte incentivo ao uso dos espaços esquecidos deve ser oferecido aos alunos. O resultado desse processo refletirá sobre a própria Rede nos anos futuros, com usuários mais frequentes e uma sociedade mais engajada na manutenção destes e na criação de novos espaços”.


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Campinas, 22 a 28 de junho de 2015

Metais na fumaça do cigarro contaminam estrutura dentária

Fotos: Divulgação

Chumbo, níquel, cádmio e arsênio interferem também no tratamento, aponta pesquisa da FOP SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

etais pesados como chumbo, níquel, cádmio e arsênio, presentes na fumaça dos cigarros, contaminaram a estrutura dentária em um experimento de laboratório desenvolvido pela cirurgiã dentista Jéssica Dias Theobaldo, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp. Pesquisas presentes na literatura científica sobre o tema, citadas no experimento da Unicamp, alertam que a estrutura dentária contaminada poderia atuar como repositório dessas substâncias cancerígenas e disseminá-las no organismo humano. A pesquisa demonstrou também que as substâncias da fumaça de cigarro afetaram o tratamento dentário, prejudicando, por exemplo, a adesão da resina à dentina do dente tratado. Jéssica Theobaldo explica que a exposição da estrutura dentária à fumaça de cigarro diminuiu a capacidade de colagem dos sistemas adesivos utilizados no tratamento de restauração. Tais colas adesivas são empregadas para agregar a resina à dentina, tecido avascular e mineralizado que forma o corpo do dente a ser tratado. “A nossa pesquisa sugere que as restaurações realizadas em pacientes fumantes possam ter uma durabilidade menor. A própria experiência clínica demonstra que os pacientes fumantes têm muitas cáries de raiz, região onde a dentina fica exposta. Isso exige, portanto, um maior acompanhamento pelo cirurgião dentista em pacientes com este histórico”, recomenda a pesquisadora da Unicamp, que é graduada pela FOP. Ela informa que os estudos terão sequência por meio de doutorado na área. O experimento foi conduzido como parte da dissertação de mestrado de Jéssica Theobaldo, defendida em fevereiro último junto ao Programa de Pós-Graduação da FOP. A pesquisa, que investigou especificamente os efeitos da fumaça de cigarro no tratamento dentário, foi orientada pelo docente Flávio Henrique Baggio Aguiar, que atua no Departamento de Odontologia Restauradora da FOP. Houve a colaboração do professor Ubirajara Pereira Rodrigues Filho, do Instituto de Química Inorgânica da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos, e do pesquisador Carlos Alberto Pérez, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financiou a pesquisa na forma de bolsa concedida à pesquisadora.

“É um primeiro estudo, com resultados inéditos e pioneiros. Tivemos dificuldades, principalmente por conta da escassez da literatura científica. Isso impediu que fizéssemos uma discussão mais ampla sobre os resultados alcançados. No doutorado continuaremos nessa linha, tentando avaliar estes resultados em estudos in vivo. Vamos buscar a adesão de pacientes fumantes voluntários e tentar investigar casos mais próximos da realidade, para ver se esses dados se repetem. O objetivo será o de consolidar os resultados existentes”, pondera.

Equipamentos usados nos experimentos: máquina que simula paciente fumando e amostras de blocos de dentes bovinos

CÁRIE E ESMALTE O dente de um paciente fumante é mais suscetível ao aparecimento de cáries, uma das doenças que mais acomete ainda hoje a saúde bucal da população? A resposta a esse questionamento de Jéssica Theobaldo integrou outro resultado relevante da sua pesquisa. “Em relação à cárie não houve diferença entre os dentes submetidos à fumaça e aqueles que não foram submetidos. Importante ressaltar que se trata de um estudo in vitro, que não simula 100% a condição de saúde bucal”, revela. Ainda de acordo com ela, também não houve diferenças em relação ao esmalte do dente tratado, ou seja, a fumaça do cigarro não afetou o tratamento no que se refere à adesão da resina ao esmalte. “No esmalte, que é a parte mais superficial do dente, nós fazemos um condicionamento ácido para poder realizar o tratamento de restauração com o sistema de cola adesiva. Como não houve diferença entre o dente submetido à fumaça daquele que não foi, acreditamos que esse condicio-

namento ácido possa ter removido as substâncias presentes na fumaça. Já na dentina, a parte mais complexa do dente, pode ter havido mais interação e por isso alguns sistemas adesivos foram afetados”, considera. Jéssica Theobaldo esclarece que os experimentos foram realizados em uma máquina de fumaça patenteada em 2011 por pesquisadores do Departamento de Odontologia Restauradora da FOP. Na máquina, que simula um paciente fumando, foram colocados diversos tipos de cigarros e amostras constituídas por blocos de dentes bovinos. O equipamento permitiu, de acordo com ela, a impregnação de pigmentos e substâncias contidas no cigarro nas amostras, reproduzindo in vitro as condições da cavidade bucal de fumantes. A máquina funciona com a aspiração e condução da fumaça através de compartimentos de modo a permitir a deposição dos produtos químicos nos dentes.

Após essa exposição às fumaças, as amostras foram preparadas para um teste que empregou a técnica da microfluorecência por raios x realizada no Laboratório Síncrotron. Conforme a cirurgiã dentista, esta técnica demonstrou ser bastante eficiente, sendo capaz de identificar baixas quantidades de substâncias nas amostras. “Na microfluorescência observamos uma maior quantidade dos elementos cádmio e níquel, e traços de chumbo e arsênio”, pontua Jéssica Theobaldo. Ela informa que o experimento foi realizado com 80 blocos dentais bovinos recém-extraídos. Foram testados diversos sistemas adesivos, entre os mais utilizados, atualmente, nos procedimentos de restauração dentária. A pesquisadora avaliou quatro tipos: um sistema convencional de três passos; um de dois passos; um sistema auto condicionante de dois passos; e um sistema de passo único. Estas colas adesivas foram aplicadas à estrutura dental conforme as recomendações dos fabricantes. Foto: Antoninho Perri

Publicação Dissertação: “Efeito da fumaça de cigarro nas propriedades físicas e químicas do esmalte e dentina e na resistência de união à resina composta utilizando diferentes sistemas adesivos” Autora: Jéssica Dias Theobaldo Orientador: Flávio Henrique Baggio Aguiar Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) Financiamento: Fapesp

A cirurgiã dentista Jéssica Dias Theobaldo, autora da dissertação: “Restaurações realizadas em pacientes fumantes podem ter uma durabilidade menor”


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Painel da semana  Internacionalização da Graduação - A Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU) e a Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (VRERI) organizam nos dias 22, 24 e 26 de junho, das 13h45 às 16h45, na Sala PDG da AFPU, o 1º Encontro de Internacionalização da Graduação. O evento tem como público-alvo Secretários e Supervisores de Graduação ou ainda profissionais indicados pelo Coordenador de Graduação de cada unidade. O evento objetiva facilitar a internacionalização das unidades de ensino e pesquisa da Unicamp por meio da revisão dos procedimentos de apoio às suas relações internacionais. Os encontros combinarão apresentações individuais com trabalhos em grupo. Neles, cada participante será convidado a compartilhar seus saberes sobre a internacionalização de sua unidade e a construir consensos em torno de desafios e propostas de melhoria dos procedimentos atualmente adotados. O programa segue os moldes do 1º Encontro de Internacionalização da Pós-graduação, realizado em abril. Mais detalhes podem ser obtidos pelo e-mail afpu@reitoria. unicamp.br  História da população na América Latina - O Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo) e a Rede Demografia Histórica e História da População da Associação Latino-americana de População (APAP) realizam, de 22 a 23 de junho, o I Seminário de Demografia Histórica e História da População na América Latina. A abertura do evento ocorre às 9h30, no auditório do Nepo. Mais detalhes pelo e-mail maisa@nepo.unicamp.br  Sistemas confiáveis e Redes - A 45ª edição da Conferência Internacional sobre Sistemas Confiáveis e Redes acontece entre os dias 22 e 25 de junho, no Hotel Rio Othon Palace, no Rio de Janeiro-RJ. Atuam como General Chair da Conferência, as professoras Eliane Martins, do Instituto de Computação (IC) e Regina Moraes, da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp. O evento é voltado para a discussão de assuntos relacionados a sistemas que exigem confiabilidade, disponibilidade e segurança (dependable systems). Esta é a primeira vez que a Conferência ocorre no hemisfério Sul. Mais detalhes pelo site http://2015.dsn.org/, telefone 19-2113 3471 ou e-mail daniele@ft.unicamp.br

 Ressonância magnética - O Programa de Pós-graduação em Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp realiza, dia 23 de junho, às 8h30, no Anfiteatro 3 da FOP, palestra sobre ressonância magnética. Ela será proferida pelo pesquisador Sérgio Lúcio Pereira de Castro Lopes, graduado em Odontologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No evento serão abordados os seguintes temas: princípios básicos de RM e protocolo de estudo das ATMs, componentes dos sistemas de RM, princípios físicos básicos de RM e aplicação RM no estudo ATM, e protocolo de aquisição. Lopes é especialista, mestre e doutor em Radiologia Odontológica. Possui ós-doutorado em Neuroimagem e atualmente atua como professor de Radiologia Odontológica na Unesp de São José dos Campos. Mais detalhes pelo telefone 19-2106-5319 ou e-mail luciane@fop. unicamp.br  Palestras com Peter Barlow - O Instituto de Biologia (IB) da Unicamp recebe, para palestras, o professor Peter Barlow, da Universidade de Bristol. O primeiro encontro ocorre no dia 23 de junho, às 14 horas, na sala IB11, no prédio da Pós-graduação. Na ocasião, Barlow abordará o tema “The origins of the quiescent centre concept”. O docente, que estudou botânica na Universidade St Andrews, volta a proferir palestra no dia 25 de junho, às 14 horas, no auditório PA-3 da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, em Limeira-SP. Junto ao professor Cristiano Gallep, ele falará sobre as oportunidades de colaboração e intercâmbio de docentes e discentes, com possibilidades de suporte britânico e nacional com a Universidade de Bristol.  Biossegurança e cultura de segurança - Tema será debatido na próxima edição do Fórum Permanente de Vida e Saúde. O evento acontece no dia 24 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum está sob a responsabilidade dos professores Antonio Gonçalves Filho e Marcelo Lancellotti e será transmitido ao vivo pela TV Unicamp. Programação e outras informações, no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/ forum/htmls_descricoes_eventos/saude79.html, telefone 19-35214759 ou e-mail sonia.mazzariol@reitoria.unicamp.br  Gestão da água - Pesquisadores discutirão o tema em mesaredonda programada para o dia 24 de junho, às 16 horas, no Anfiteatro UL01 da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp. O encontro faz parte do Quartas Interdisciplinares, evento que está sob a coordenação dos professores Eduardo Marandola Jr. e Álvaro D’Antona. A promoção é do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS). O Quartas Interdisciplinares reúne docentes e pesquisadores (da própria FCA e convidados) para debater temas que permitem o exercício da interdisciplinaridade. Mais informações pelo e-mail chs@fca.unicamp.br ou telefone (19) 3701-6674.  Educação social no contexto Latino-americano Tema será debatido na próxima edição do Fórum Permanente de Políticas Públicas e Cidadania. O evento, que será transmitido ao vivo pela TV Unicamp, acontece no dia 25 de junho, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O Fórum está sob a responsabilidade do professor Hélio Lemos Solha. Programação e inscrições no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_ descricoes_eventos/politicaspub12.html. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-4759 ou e-mail sonia.mazzariol@reitoria.unicamp.br

Eventos futuros  Artigos para a Studium - A revista eletrônica Studium, publicação virtual do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, já está recebendo artigos e imagens para a sua edição de número 37. O próximo exemplar da revista abordará coleções de fotografias brasileiras com foco em fotografias modernas e contemporâneas. Os trabalhos devem ser enviados até 30 de junho para o e-mail studium37@gmail.com.  Metalogenia - O Instituto de Geociências (IG) sediará, entre 1 e 9 de julho, o Curso Latino-americano de Metalogenia com o tema “Hydrothermal systems: a voyage from the source to the ore”. O curso

Destaque

é aberto para estudantes, acadêmicos e profissionais envolvidos com metalogenia, exploração mineral e mineração. Realizado anualmente desde 1982 em países da América Latina, seu objetivo é difundir os principais avanços científicos na área de Geologia Econômica. Na Unicamp, o curso está sob a responsabilidade do professor Roberto Xavier (IG). Inscrições e outras informações no site http://cms.unige. ch/sciences/terre/research/Groups/mineral_resources/latinometal/ campinas15/campinas15.html  Iniciação científica - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) receberá, de 1 a 15 de julho, as inscrições para o XXIII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp. Interessados devem preencher ficha online e anexar resumo do trabalho, em formulário a ser disponibilizado pela PRP, a partir de 1 de julho, no link www.prp.unicamp.br/pibic. O evento ocorre de 17 a 19 de novembro, no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp. Mais informações pelo telefone 19-3521-4891 ou e-mail pibic@reitoria.unicamp.br

Teses da semana  Artes - “O processo de aprendizagem do bailarino no momento do espetáculo” (mestrado). Candidata: Karen Adrie de Lima. Orientador: professor Odilon José Roble. Dia 22 de junho de 2015, às 9 horas, no IA.  Biologia - “Evolução de fluorescência, cripsia e comportamentos em aranhas Thomisidae sobre flores” (doutorado). Candidata: Camila Vieira. Orientador: professor Gustavo Quevedo Romero. Dia 26 de junho de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IB.  Ciências Médicas - “Perfil dos pacientes submetidos a biopsia de próstata” (mestrado). Candidato: Felipe Gonçalves Schroder e Souze. Orientadora: professora Miriam Dambros. Dia 23 de junho de 2015, às 09 horas, no anfiteatro do Departamento de Cirurgia da FCM. “Atuação do sistema imune inato e do tecido adiposo e, caracterização farmacológica da pentoxifilina na inflamação hepática” (doutorado). Candidata: Simone Coghetto Acedo Batista. Orientadora: professora Alessandra Gambero. Dia 23 de junho de 2015, às 9h30, no Departamento de Farmacologia da FCM. “Parâmetros nutricionais e efeito da alimentação por gastronomia em crianças e adolescentes com tetraparesia espástica” (mestrado). Candidata: Thaísa Barboza Caselli. Orientadora: professora Maria Angela Bellomo Brandão. Dia 24 de junho de 2015, às 9 horas, no CIPED. “Investigação de vias de sinalização tirosina quinase em neoplasias mieloproliferativas crônicas BCR-ABL1 negativas: interação JAK2/ IRS2 e mutações em KIT” (doutorado). Candidata: Paula de Melo Campos. Orientadora: professora Fabiola Traina. Dia 24 de junho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro do Hemocentro. “Avaliação do polimorfismo rs10490924 do gene LOC387715 em uma população brasileira com degeneração macular relacionada à idade” (mestrado). Candidato: Fabio Endo Hirata. Orientadora: professora Mônica Barbosa de Melo. Dia 26 de junho de 2015, às 9 horas, no anfiteatro de Oftalmologia do HC. “Aplicação de protocolos e métodos em bioinformática para análise de sequenciamento de exomas humanos” (mestrado). Candidato: Murilo Guimarães Borges. Orientadora: professora Iscia Lopes Cendes. Dia 26 de junho de 2015, às 10 horas, no anfiteatro da CPG da FCM.  Engenharia Agrícola - “Efeito da suplementação de vinhaça na produção biológica de álcoois e ácidos orgânicos voláteis por meio de consórcio microbiano” (mestrado). Candidata: Graciete Mary dos Santos. Orientador: professor Ariovaldo José da Silva. Dia 26 de junho de 2015, às 14 horas, no anfiteatro da FEAGRI.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Potencialidades e limitações do uso das geotecnologias para planejamento territorial municipal” (mestrado). Candidata: Eliana Kimoto Hosokawa. Orientador: professor Diógenes Cortijo Costa. Dia 24 de junho de 2015, às 10 horas, na sala CA22 da FEC.

 Engenharia Elétrica e de Computação - “Triagem robusta de melanoma: em defesa dos descritores aprimorados de nível médio” (mestrado). Candidato: Michel Silva Fornaciali. Orientador: professor Eduardo Alves do Valle Junior. Dia 25 de junho de 2015, ás 14 horas, na FEEC. “Um estudo de caso para a previsão de carga de médio e longo prazo brasileira” (mestrado). Candidato: Max Olinto Moreira. Orientador: professor Takaaki Ohishi. Dia 25 de junho de 2015, às 15 horas, na sala de defesa de teses da CPG da FEEC. “Contribuições para a modelagem de cargas para análise estática e dinâmica de sistemas de energia elétrica” (doutorado). Candidato: Tiago Rodarte Ricciardi. Orientador: professor Walmir de Freitas Filho. Dia 26 de junho de 2015, às 9 horas, na sala PE12 do prédio da Pós-graduação da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Instabilidades de um leito granular submetido a um escoamento turbulento” (mestrado). Candidato: Jorge Eduar Cardona Florez. Orientador: professor Erick de Moraes Franklin. Dia 22 de junho de 2015, às 14 horas, na sala JD02 da FEM.  Engenharia Química - “Avaliação de diferentes pré-tratamentos do bagaço de cana-de-açúcar considerando altas cargas de sólidos” (doutorado). Candidata: Luiza Helena da Silva Martins. Orientadora: professora Aline Carvalho da Costa. Dia 23 de junho de 2015, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEQ.  Física - “Caminhos ótimos degenerados em sistemas termicamente isolados” (mestrado). Candidato: Thiago Vaz Acconcia. Orientador: professor Marcus Vinícius Segantini Bonança. Dia 24 de junho de 2015, às 14 horas, na sala de seminários do Departamento de Física da Matéria Condensada do IFGW. “O modelo de Uhlenbeck-Ford e cálculos de energia livre de sistemas na fase fluida” (mestrado). Candidato: Rodolfo Paula Leite. Orientador: professor Maurice de Koning. Dia 26 de junho de 2015, às 14 horas, na sala de seminários do Departamento de Física da Matéria Condensada do IFGW.  Geociências - “O Estado e as empresas multinacionais no desenvolvimento produtivo e tecnológico da indústria automobilística chinesa” (mestrado). Candidato: Rodrigo Diogo Teixeira. Orientador: professor Sérgio Robles Reis de Queiroz. Dia 23 de junho de 2015, às 14 horas, na sala A do DGRN do IG. “Analise geoecológica do parque nacional da Restinga de Jurubatiba e sua zona de amortecimento terrestre utilizando geoprocessamento” (mestrado). Candidato: Saulo de Oliveira Folharini. Orientadora: professora Regina Célia de Oliveira. Dia 24 de junho de 2015, às 9 horas, no auditório do IG. “Zoneamento geoambiental do município de Caraguatatuba-SP” (mestrado). Candidata: Cibele Oliveira Lima. Orientadora: professora Regina Célia de Oliveira. Dia 26 de junho de 2015, às 9 horas, no auditório do IG. “Território e macrossistema de saúde: os programas de fitoterapia no sistema único de saúde (SUS)” (doutorado). Candidato: Luis Henrique Leandro Ribeiro. Orientador: professor Márcio Antonio Cataia. Dia 26 de junho de 2015, às 14 horas, no auditório do IG.  Linguagem - “O fórum online como prática colaborativa de construção de conhecimento sobre morfologia da língua” (doutorado). Candidata: Fabiana Poças Biondo Araújo. Orientadora: professora Inês Signorini. Dia 23 de junho de 2015, às 13h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Em busca do mecanismo psíquico da psicose” (doutorado). Candidato: Walker Douglas Pincerati. Orientadora: professora Cláudia Thereza Guimarães de Lemos. Dia 26 de junho de 2015, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica “Sólidos de Platão e seus duais: construção com material concreto e representações por GeoGebra” (mestrado profissional). Candidato: Cristian Roberto Miccerino de Almeida. Orientador: professor Samuel Rocha de Oliveira. Dia 23 de junho de 2015, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Química - “Elementos inorgânicos em chás: espécies de arsênio, teor total e avaliação da extração de elementos traço no preparo da bebida” (mestrado). Candidata: Raquel Fernanda Milani. Orientadora: professora Solange Cadore. Dia 23 de junho de 2015, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

do Portal

Inaugurado serviço móvel para emergências em saúde comunidade universitária da Unicamp e os visitantes do campus de Barão Geraldo têm, agora, à sua disposição um serviço móvel para resgate e atendimento às urgências e emergências em saúde, sejam traumáticas, causadas por acidentes, ou clínicas. O serviço próprio, que foi denominado como VIDAS (Veículo Interno de Atendimento em Saúde), funcionará 24 horas, inclusive aos finais de semana e feriados. Será coordenado pelo Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) e pela Vigilância do Campus, órgão da Prefeitura Universitária. Os chamados podem ser feitos no telefone 19-3521-6000 ou ramal 1-600, para quem utiliza os telefones internos da Universidade. Além do campus de Barão Geraldo, o Serviço atenderá as urgências e emergências da Moradia Estudantil e do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Clínicas Biológicas e Agrícolas (CPQBA). O VIDAS foi inaugurado no último dia 10 pelo reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, no pátio da Vigilância do Campus, onde o veículo ficará estacionado. “É uma satisfação entregar à comunidade da Unicamp um serviço que é muito mais que um veículo ou uma ambulância. O VIDAS faz parte das medidas do Programa Campus Tranquilo, Universidade Viva. Este é um programa emblemático para a Universidade, construído com a efetiva participação da comunidade, professores, funcionários e estudantes, que opinaram sobre como seriam as providências que a administração

deveria tomar para termos aqui uma condição de viver e conviver, estudar e trabalhar de uma maneira mais adequada”, explicou o reitor José Tadeu Jorge. O coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Penteado Crósta, ressaltou que o Serviço VIDAS integra o eixo da prevenção do Programa Campus Tranquilo, Universidade Viva. “A ideia de termos um serviço de atendimento às urgências e emergências médicas já circulava na Universidade há bastante tempo, porém ela nunca havia sido concretizada. Durante a elaboração do Programa Campus Tranquilo nós fizemos cerca de 30 reuniões em todas as unidades e áreas do campus, e, em muitas dessas reuniões, essa ideia surgiu como uma demanda espontânea dos professores, funcionários e alunos. E desde o início consideramos a ideia excelente porque, do ponto de vista da prevenção, um serviço como este é extremamente relevante. Importante dizer que esta não é a única ação.” Alvaro Crósta revelou ainda que estão bastante adiantadas as negociações com o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo para instalação de uma base da corporação na Unicamp ou até mesmo a sua sede, que funciona há décadas na área central de Campinas. “Estas ações são de grande impacto. Elas colaboram para que a nossa comunidade tenha a tranquilidade de que, caso seja necessário, possa contar com um atendimento de urgência médica ou uma ação que envolva, por exemplo, o Corpo de Bombeiros”, afirmou.

Foto: Antoninho Perri

Autoridades, alunos e funcionários durante a cerimônia de inauguração, no último dia 10: serviço 24 horas

A coordenadora do Cecom, Patrícia Asfora Falabella Leme, lembrou que circulam, em média, 60 mil veículos e 80 mil pessoas diariamente no campus da Unicamp. “Além disso, temos grandes eventos na Universidade, sejam científicos, culturais, esportivos e sociais. Estes são fatores de risco para a ocorrência de agravos à saúde, sejam traumáticos ou clínicos. Esta demanda agora está resguardada com mais esta ação do Programa Campus Tranquilo, Universidade Viva, da Coordenadoria Geral da Universidade.” O prefeito do campus, Armando José Geraldo, acrescentou que a rapidez

do serviço, que será operacionalizado pela Vigilância, será um dos principais ganhos para a comunidade. A solenidade de inauguração do serviço contou com a participação de, além de funcionários, docentes e alunos, do chefe de gabinete da Reitoria, Paulo Cesar Montagner; do chefe de gabinete adjunto, Osvaldir Pereira Taranto; do assessor da CGU, Orlando Fontes Lima Jr.; e dos pró-reitores de Graduação, Luís Alberto Magna; de Pesquisa, Gláucia Maria Pastore; e de Extensão e Assuntos Comunitários, João Frederico da Costa Azevedo Meyer. (Silvio Anunciação)


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Campinas, 22 a 28 de junho de 2015

Rodolfo Ilari recebe o título de professor emérito Um dos pioneiros do IEL, docente relembrou passagens da sua trajetória pessoal e profissional Foto: Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

semanticista Rodolfo Ilari recebeu no último dia 17 o título de professor emérito da Unicamp, em solenidade realizada na sala do Conselho Universitário (Consu). A assembleia universitária foi presidida pelo reitor José Tadeu Jorge e contou com a presença de autoridades da Universidade, familiares do homenageado, professores, estudantes e funcionários. Ilari foi apadrinhado pelo amigo e também professor emérito Ataliba Teixeira de Castilho. Embora protocolar, a cerimônia de outorga do título de professor emérito a Ilari foi marcada pelo tom bem humorado, principalmente por parte do homenageado. Durante sua fala, o semanticista rememorou diversas passagens da sua trajetória pessoal e profissional, algumas delas marcadas por episódios pitorescos. Um dos pioneiros do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), integrante do Departamento de Linguística, o docente relatou as dificuldades de acessar o campus de Barão Geraldo no início da década de 70, quando o piso era de terra batida e os primeiros prédios da Universidade ficavam cercados por canaviais. Ilari agradeceu a homenagem e se disse orgulhoso por ter tido a oportunidade de orientar uma série de profissionais que hoje fazem a diferença no contexto científico e intelectual do Brasil. “Muito mais por méritos deles, obviamente”, registrou, em tom humilde. O professor Ataliba Teixeira

ma de bibliotecas da Unicamp, considerado um dos mais eficientes entre as escolas de ensino superior do país.

CARREIRA

Rodolfo Ilari (à esq.) e o reitor José Tadeu Jorge, na cerimônia ocorrida no último dia 17: bom humor marcou entrega da outorga

de Castilho, que apadrinhou o homenageado, alinhavou pontos da carreira científica e intelectual de Ilari e ressaltou a contribuição dele à sua área de atuação, por meio do exercício da docência, da pesquisa e da produção bibliográfica. Tanto o reitor Tadeu Jorge quanto o ex-reitor Carlos Vogt falaram igualmente sobre a importância da produção científi-

ca e intelectual de Ilari, mas também ressaltaram a contribuição do semanticista ao desenvolvimento institucional da Unicamp, seja como diretor do IEL, seja como membro dos colegiados da Universidade. Segundo Tadeu Jorge, além do importante trabalho administrativo realizado à frente do IEL, Ilari colaborou para a formatação do vestibular e para a definição do siste-

Rodolfo Ilari tem graduação em Letras Neolatinas Português e Francês pela Universidade de São Paulo (1967), mestrado em Linguística pela Université de Besançon (1971) e doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (1975). Fez parte do grupo que fundou o Departamento de Linguística da Unicamp, no qual trabalhou até 2007, quando se aposentou. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, tendo trabalhado principalmente nos seguintes temas: linguística românica, semântica, pragmática, aspecto verbal, ensino de língua materna. Publicou livros destinados ao ensino de graduação de linguística (particularmente linguística românica, semântica, e características do português brasileiro). Traduziu várias obras, entre as quais o Breviário de Estética de Benedetto Croce e o Dicionário de Linguística de Trask. Em 2007-2008 foi titular de Português no Instituto de Espanhol, Português e Estudos Latino-americanos da Universidade de Estocolmo. Em 2009-2913 foi editor da Revista da Abralin.

Evento debate desenvolvimento de novos fármacos anticâncer Programa conta com a participação de 35 alunos, a maioria de pós-graduação Fotos: Antonio Scarpinetti

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp e a Rede Ibero-Americana de Investigação em Câncer (Ribecâncer) promoveram, de 15 a 18 de junho, o III Workshop Internacional “Descoberta e desenvolvimento de fármacos anticâncer: do produto natural até a clínica”. Ao todo, 35 estudantes, a maioria de pós-graduação, participam do programa, que é financiado pelo Programa Ibero-Americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (CYTED), plataforma que promove o suporte à cooperação multilateral em ciência e tecnologia, orientada à transferência de conhecimentos, experiências, informações, resultados e tecnologias entre os países da região. De acordo com o diretor da FCF, professor João Ernesto de Carvalho, o workshop foi uma das iniciativas do projeto, cujo objetivo principal é a busca por substâncias que possam compor novas drogas de combate ao câncer. “Trabalhamos de forma integrada com instituições da Espanha, Costa Rica, Panamá, Chile e Guatemala. A grande maioria das substâncias que temos investigado vem de plantas, algumas delas muito promissoras”, afirma. O docente estima que, nos três anos de funcionamento da Rede, já foram analisadas nos laboratórios do Centro Pluridisci-

O diretor da FCF, professor João Ernesto de Carvalho: “A grande maioria das substâncias que temos investigado vem de plantas, algumas delas muito promissoras”

O professor José Luis López-Pérez, da Universidade de Salamanca: destacando a participação de pesquisadores brasileiros no projeto

plinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) cerca de 600 substâncias em culturas de células tumorais humanas. “A cooperação entre os países que integram a Ribecâncer é muito importante porque oferece resultados em duas frentes: formação de recursos humanos qualificados e avanço na descoberta de princípios ativos que, futuramente, poderão compor fármacos para serem usados no tratamento do câncer”, considera. O workshop foi coordenado pelo próprio Carvalho e pelos professores Arturo San Feliciano (Universidade de Salamanca, Espanha) e Valdir Cequinel Filho (Univali-SC). O evento somou 18 sessões teóricas, divididas em três módulos temáticos principais, estruturados de maneira a tratar de forma sequencial e integrada aspectos como a identificação de alvos farmacológicos, o desenho de novos fármacos e a investigação dos princípios ativos mais eficazes, entre outros. De acordo com o professor José Luis López-Pérez, da Universidade de Salamanca, o Brasil tem participação importante no projeto, tanto por causa da excelência de seus pesquisadores, quanto pela sua vasta biodiversidade, que oferece inúmeras fontes para a identificação de substâncias anticancerígenas. Tanto López-Pérez quanto Carvalho afirmaram que, mesmo com o encerramento do projeto, previsto para o ano que vem, as pesquisas terão continuidade por meio de convênios que deverão ser assinados pelas instituições envolvidas.


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Campinas, 22 a 28 de junho de 2015 PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

ara ter acesso a um livro na biblioteca pública, o morador de um bairro pobre da periferia da cidade precisa se deslocar até o centro. Quando chega, encontra geralmente um prédio histórico, de arquitetura grandiosa. É obrigado a guardar seus objetos pessoais. A partir daí terá de localizar o título de seu interesse em um terminal de computador. Muitas vezes, há um código de localização do exemplar, e é preciso percorrer corredores com placas indicativas. Sem a devida ajuda, pode ser impossível conseguir encontrar a publicação. Ainda mais se a pessoa é alguém que lê com dificuldade, que não domina tecnologias da informação ou que não tem dinheiro para o transporte. Para ter acesso ao jornal impresso, o sujeito sai de casa. Se não encontra um exemplar jogado em qualquer canto, basta ir até a próxima banca ou mercadinho, desembolsar R$ 0,25 para ter, em mãos, a edição do dia. Trata-se do tabloide mineiro Super Notícia, o maior jornal de circulação paga do Brasil, de acordo com os últimos dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), tabulados em 2013. São 300 mil exemplares diários, em média. Um fenômeno, de acordo com a autora da tese de doutorado “Super Notícia: Um jornal entre leitores” da mineira Renata Kelly de Arruda, apresentada à Faculdade de Educação da Unicamp. “Aonde a revista ou o jornal de referência não chegam, lá está o Super Notícia”, sintetiza a autora. A pesquisa se insere nos trabalhos do grupo “Alfabetização, Leitura e Escrita - ALLE”, do qual Renata faz parte. A facilidade para encontrar exemplares, o preço e, sobretudo, o fato de tratar de assuntos supostamente do interesse de seus leitores, ou o “encontro do leitor com seu dia a dia” como prefere a autora da tese, é o que garantiria todo esse sucesso (excluindo-se as mídias digitais). Como a maior parte dos jornais populares, o conteúdo do Super Notícia gira em torno do tripé: esporte, violência e sexo. Sempre tem uma “super gata” na capa, várias páginas de esporte, textos curtos, cores chamativas, muitas fotos e ilustrações, seções de utilidade pública e passatempos, horóscopo, piadas, charges; resumos de novelas e programação dos cinemas da cidade. Todos os elementos que deixam muitos intelectuais de cabelo em pé, aqui não fazem tanta diferença. Para Renata, o que importa é que a publicação “parece ter agido nas cidades onde circula como uma espécie de revolução. Transformou o cenário da leitura, produzindo novos costumes, novas práticas e um novo público leitor”. A pesquisadora acredita que a aceitação do jornal favorece excepcionalmente a sociabilidade entre os moradores da cidade e desmistificaria o estereótipo de que o brasileiro não gosta de ler. “O brasileiro lê, o mineiro lê. Mas essa leitura é constituída por materiais não canônicos, e por práticas provenientes de grupos comumente desconsiderados por levantamentos que se dedicam a registrar apenas as disposições de leitores bastante escolarizados e inseridos em meios considerados letrados”. O leitor do jornal seria um usuário e não um consumidor de um bem cultural. “Enquanto o consumo pressupõe passividade, o uso sugere apropriação, subversão”. Segundo a autora, o diferencial da pesquisa em relação a outros estudos já realizados, que avaliaram o Super Notícia, foi debruçar-se justamente sobre o leitor do jornal, “suas maneiras de ler, suas redes de sociabilidades em torno do jornal, os usos que faz desse impresso”. A tese foi desenvolvida com base em entrevistas feitas com doze leitores, editores do jornal, e a observação das práticas de leitura. “Não falamos de sujeitos abstratos, mas situados no espaço e tempo, na vida urbana. Situados, sobretudo, do ponto de vista cultural”.

Um superamigo no dia a dia Fotos: Divulgação

Leitores com o jornal em diferentes locais e situações em Belo Horizonte: segundo a autora da pesquisa, publicação “produziu novos costumes, novas práticas e um novo público leitor”

PRECONCEITO Conforme a pesquisadora, a leitura dos livros de banca, em edições de bolso, assim como dos jornais “populares” como o Super Notícia, ainda é alvo de preconceito em camadas do meio acadêmico. “O estigma do ‘espreme que sai sangue’ atribuído às produções ditas sensacionalistas, parece ainda não ter abandonado o imaginário de grande parte das pessoas. É como se os conceitos de popular e de sensacionalista andassem sempre juntos”. A tese propõe, portanto, que se vá além do julgamento da publicação como veículo de segunda categoria, o que não favoreceria a reflexão. Tanto que a ideia inicial da autora, de tentar descobrir se esse tipo de leitura desencadearia a vontade de ler outro tipo de publicação, foi descartada na primeira reunião de orientação. “Se assim fosse, estaríamos depondo contra nosso próprio entendimento de leitura deste impresso como prática legítima, pessoal, pulsante, desencadeadora de uma série de sociabilidades, excepcionalmente mais ricas e essenciais que uma suposta sofisticação do gosto leitor”. A cultura popular também pode ser vista como uma forma de resistência, um contraponto a uma cultura “civilizatória”. A pesquisadora partilha a ideia dos teóricos que refletem sobre o que seria a “dicotomização” entre dois tipos

de cultura: superior e inferior, as práticas intelectualmente exigentes, sutis e eruditas e as populares, que seriam pouco elaboradas ou até rudes. “O popular não é um mundo à parte, indigno, independente e encerrado em si mesmo. Entender o produto como popular porque transita, foge ao ‘exclusivo’ e é acessível, não pode ser visto como demérito”. A pesquisa ressalta que o papel da leitura como salvadora ou “engrandecedora do espírito” deveria ser relativizado porque no ato de leitura e produção de sentido, entrariam em cena as experiências e os conhecimentos do sujeito. “O leitor do jornal acessa de pronto sua biblioteca interna – seja através da notícia relacionada ao que leu no dia anterior, seja pelo comentário do colega de trabalho que com ele dialoga, seja por leituras e vivências anteriores”. O jornal é visto como um “amigo” presente. Esse modo de prática social não escolar também educa as pessoas, conforme a pesquisa. “Pensamos que, existe um ‘dispositivo pedagógico’ presente na mídia a partir da suposição de que os meios de informação e comunicação constroem significados e atuam decisivamente na formação dos sujeitos sociais”.

TRÊS

POLOS

Para entender como se dá a leitura do jornal, Renata optou por percorrer os “três polos” do circuito do impresso – produção, circulação, recepção. No princípio do trabalho, a autora da tese acreditava que a leitura do Super Notícia acontecia no trajeto para o trabalho, porém, nos finais de semana as vendas se mantêm no mesmo patamar. Renata fotografou pessoas lendo o jornal em vários momentos e ambientes, até mesmo dentro do elevador, com o objetivo de registrar a participação da publicação na rotina dos moradores. Um tipo de leitura completamente diferente daquela realizada “em silêncio e de maneira solitária, em um lugar confortável” que a suposta “leitura válida” de livros impressos requer. O jornal é lido no corre-corre das ruas e produzido no corre-corre da redação, descreve Renata na tese. “E, quando a edição do dia imagina descansar fatigada no display do açougue, logo é trocada por uma moeda de R$ 0,25 e corre, junto a seu novo proprietário, rumo ao ônibus que já está quase fechando as portas. Na viagem até o centro da cidade, sua manchete é assunto. A partida de futebol do dia anterior parece reviver, com toda emoção, ali, no ônibus lotado. Sim, esse jornal não para”, escreve.

Publicação

Capa do jornal: tiragem de 300 mil exemplares diários

Tese: “Super Notícia: um jornal entre leitores” Autora: Renata Kelly de Arruda Orientadora: Lilian Lopes Martin da Silva Unidade: Faculdade de Educação (FE)


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