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Fotografia/Mauro Holanda

Mauro Holanda Três décadas de boa comida

FOTOGRAFIA

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á se vão 25 anos desde a primeira entrevista que fiz com Mauro Holanda. No início de 1996, a matéria destacava a habilidade do fotógrafo, então com 38 anos, de transformar cliques em tentações gastronômicas. Ele se firmava num campo que explodiria nos anos seguintes, com chefes de cozinha ganhando status de celebridade e a comida como um dos temas favoritos de dedos nervosos ávidos por likes.

Olhando as imagens espalhadas pelas cinco páginas da edição de março/abril de 1996 da Revista Abigraf, fica evidente a transformação pela qual passou a fotografia de gastronomia. Mesas fartas, luz de vela, sopeiras de cobre, tapeçaria na parede são elementos que revelam uma produção rica e esmerada, em composições barrocas inimagináveis hoje em dia. Não ne cessa ria men te a comida era a estrela. A am bien tação sim, sobretudo se o objetivo era falar de um restaurante. E, mesmo quando o mote era um prato específico, objetos se cun dá rios disputavam a atenção do observador.

Egresso do cinema, da TV e da moda, o paulista Mauro Salles Holanda de Freitas encontrou na gastronomia o espaço ideal para brilhar. Unindo técnica, olhar treinado e a habilidade para extrair os melhores cliques antes que as preparações perdessem o viço, aproveitou uma oportunidade na revista Gourmet em 1988 para começar a vincular seu nome a esse universo. O prazer de circular pelos melhores restaurantes e de acompanhar a preparação dos pratos era decisivo para o resultado. Mauro interferia no ponto de cozimento, na textura dos molhos, na quantidade de óleo, tudo para que as pes soas tivessem “o desejo de devorar a fotografia”.

MINIMALISMO Com a pergunta sobre o que nos trouxe ao nude gastronômico de hoje começo a nossa conversa. A chegada da tecnologia digital é a resposta ime dia ta, somada à redução dos orçamentos editoriais e pu bli ci tá rios. “Para garantir que tudo estivesse em foco, em alguns casos eu levava câmera de fole, imagina”, relembra Mauro. Mauro Holanda viveu toda a transformação pela qual a fotografia de gastronomia passou a partir dos anos 2000 e continua a nos fazer salivar com imagens primorosas.

Texto: Tânia Galluzzi

A captura digital não intimidou o fotógrafo. No início dos anos 2000 Mauro fotografava para vá rias revistas da Abril como Ana Maria e Contigo, o primeiro núcleo a passar 100% para o digital. “Comprei uma Nikon D 100, passei um mês praticando e achei que não tinha quase diferença, exceto a enorme liberdade de poder fazer quantos cliques eu quisesse. Três meses depois, o editor de arte comentou que eu era o fotógrafo mais bem adaptado ao digital. Mal sabia ele que eu não tinha mudado praticamente nada no fazer fotográfico.”

Os novos olhares im pul sio na dos pela fotografia digital, que colocou no mesmo balaio profissionais e amadores, conduziram à simplificação. A comida em si passou a ser mais valorizada a reboque do reconhecimento dos cozinheiros. O foco, literalmente, passou a ser o alimento, fotografado cada vez mais de perto, sob luz difusa. “Quem abraçou isso de forma mais radical foi o Ricardo D’Angelo, na revista Prazeres da Mesa.”

Atual men te, o destino das fotos de Mauro é a publicidade e a produção de embalagens. Isso sem esquecer o mar ke ting digital dos restaurantes. Ele comenta que ainda am bien ta muita coisa e continua lançando mão da luz direta, mas definitivamente suas imagens mudaram. “Eu permaneci muito tempo preso às amarras da técnica e estética da moda. Até o dia que resolvi agir como um amador e passei a ser tratado ora como um gênio re vo lu cio ná rio, ora como um careta, quando usava minhas re fe rên cias antigas. Tenho agido assim e o trabalho ficou muito mais bacana e divertido”, diz Mauro. “O danado é esquecer aquele Ansel Adams, Irving Penn, Picasso ou Rembrandt que habitam a minha cabeça. Arrisco a dizer que a fotografia autoral não passa dessas lembranças fotografadas.”

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