INOVA15

Page 1

ANO 2 | NO 15 | NOVEMBRO 2011

R$ 12,00

EXEMPLAR CORT E SIA

vida nova no IPT Nanotecnologia: esquenta o debate entre cientistas, empresários e governo

Fernando Figueiredo: para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química setor só irá se recuperar no médio prazo



AMANDA PEROBELLI

ANO 2 | NO 15 | NOVEMBRO 2011

editorial EXPEDIENTE Diretor de redação Celso Horta Editor Sérgio Pinto de Almeida Editores assistentes Cecília Zioni Denise Natale Secretaria de redação Sonia Nabarrete Repórteres Clébio Cantares Joana Horta Sucursal Rio de Janeiro Maurício Thuswohl Correspondentes Flávio Aguiar (Alemanha) João Valentino (Estados Unidos) Direção de arte Ligia Minami fotografia Amanda Perobelli Tratamento de imagens Fabiano Ibidi Colaboraram nesta edição Ana Valim Andris Bovo Michelly Cyrillo Fotos de capa IPT: Divulgação Fernando Figueiredo: Amanda Perobelli Contato com a redação revistainova@abcdmaior.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL (11) 4335-6017 publicidade Jader Reinecke ASSINATURAs Jéssica D’Andréa Impressão Leograf Tiragem 25 mil exemplares INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. Travessa Monteiro Lobato, 95 Centro | São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430

sinais de otimismo O otimismo do mundo todo, ricos e pobres, ocidentais e orientais, em torno do Brasil tem razão de ser. Principalmente ao se justapor, como faz INOVA, a realidade da crise internacional às perspectivas promissoras dos projetos nacionais de investimentos em inovação e pesquisa. O contexto da crise financeira mundial, cujo epicentro agora se concentra sobre a Itália e a Espanha, depois de passar pela Grécia, aparece esboçada na avaliação do correspondente em Berlim, Flávio Aguiar, em torno dos dilemas energéticos da Alemanha (página 30). A hipocrisia alemã, que não consegue equacionar seu drama energético potencializado pela crise financeira europeia, contrasta com a segurança de instituições brasileiras como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Agência Nacional da Inovação. Presidente da poderosa agência, o professor Glauco Arbix dá conta do volume crescente de investimentos do país em inovação e conhecimento e anuncia mais R$ 40 bilhões para 2014 (página 34). É uma revolução nas políticas nacionais de governança. Sinais positivos de que o futuro promete abrir novos horizontes à inovação no Brasil também aparecem em outras reportagens desta edição. E a que ocupa o destaque principal na capa, sobre o IPT, é um sinal claro de que os esforços nessa direção não se limitam às iniciativas do governo federal. Alcançam unidades importantes da federação, como o estado de São Paulo, também mantenedor da Fapesp cujo aniversário de 50 anos foi comemorado em Washington, conforme relato do correspondente no Texas, João Valentino (página 32). Outra pá dessa hélice que impulsiona a pesquisa, como defende o presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira, está na empresa. Histórias como a da Marcopolo (página 28) são apenas exemplos de sucesso internacional de empresas brasileiras. Depoimento carregado de certezas quanto à conquista de competitividade da indústria faz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química, Fernando Figueiredo, entrevistado desta edição (página 6). São todos sinais que justificam o otimismo internacional – que também é o de INOVA – em torno do futuro do Brasil no contexto de um mundo em profunda crise. Celso Horta

INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

NOVEMBRO 2011 | INOVA

3



amanda perobelli

Entrevista

Diante do maior déficit comercial do setor químico, Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim, aposta na recuperação

Os rumos da inovação; o camarão; a casa na Lua; a cana-de-açúcar e o carro elétrico

14 Saúde

Os robôs que ajudam na reabilitação de pacientes com fraturas ósseas

6 DIVULGAÇÃO

8 Notas

28 Ônibus Lixo

No Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, lixo reciclável garante descontos na conta de luz de seus moradores

Marcopolo inova na criação e produção de veículos, conquista mercado internacional e continua em expansão

30 Internacional | Berlim

O uso da energia solar na Sardenha e a falta de política energética na Alemanha

32 Internacional | Texas

12

Fapesp Week, o encontro entre cientistas brasileiros e norte-americanos

divulgação

34 Ponto de vista Nanotecnologia

Apesar de muitas dúvidas e incertezas, e ainda sem um marco regulatório, o Brasil estuda, produz, investe e lucra

10

O presidente da Finep, Glauco Arbix, revela o salto que o país precisa dar em matéria de inovação

16 Capa

Padrão de excelência

amanda perobelli

O tradicional IPT, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, é um dos centros selecionados pela Embrapii para gerar inovação industrial

NOVEMBRO 2011 | INOVA

5


entrevista

Fernando Figueiredo

Michelly Cyrillo

michelly@abcdmaior.com.br

Indústria química não cresce como o país Com déficit comercial este ano de US$ 25 bilhões, o setor poderia investir US$ 167 bilhões até 2020, mas só investirá US$ 2,3 bilhões até 2015. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química falta competitividade Fernando Figueiredo preside a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) desde maio deste ano. Antes, fazia parte da Comissão de Economia da entidade e coordenara outras comissões, como a de assuntos jurídicos e de assuntos legislativos. À frente da associação, que reúne 150 das principais indústrias químicas no país, enfrenta uma fase pouco favorável para o setor, às voltas com o que se anuncia o maior déficit comercial da história, US$ 25 bilhões este ano, superando até o registrado em 2008, ano da eclosão da crise financeira global (US$ 23,2 bilhões). Em entrevista à INOVA, Figueiredo comenta a perda de competitividade e aposta suas fichas em recuperação no médio prazo. É que, com a recente criação do Conselho de Competitividade da Indústria Química, previsto no Plano Brasil Maior, as principais recomendações do setor químico começam a ser analisadas pelo governo. A primeira reunião está marcada para o final de novembro. Advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Figueiredo iniciou a carreira em 1978, como gerente do Departamento Legal da Glasurit do Brasil. Até o final do ano passado, foi vice-presidente e membro do comitê executivo do grupo Basf na América do Sul, com responsabilidades nas áreas de plásticos, poliuretanos, catalisadores e produtos químicos industriais, entre outros. É professor de Comunicação Corporativa no Programa de Educação Continuada da Fundação Getulio Vargas e participa do Conselho Superior de Tecnologia e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

6

INOVA | NOVEMBRO 2011

INOVA – Quais os principais problemas da indústria química nacional neste cenário de déficit? Fernando Figueiredo – O problema da indústria química é o baixo investimento em relação ao potencial de mercado, por conta da falta de competitividade. Isso está atrelado a uma série de fatores. De acordo com estudos que fizemos, o setor tem potencial de mercado para investir US$167 bilhões até 2020. Porém, a previsão para efetivação de investimentos, até 2015, é de apenas US$ 2,3 bilhões. INOVA – E por que não há interesse ou condições de os empresários investirem, já que existe esse potencial de mercado? FF – O motivo é a falta de competitividade do setor químico. Nos últimos 12 meses, esse mercado cresceu 10% enquanto a produção caía 2%, perdendo espaço para os importados, que avançaram 33%. Agosto foi o mês recorde da importação. A questão do câmbio é adicional, mas não é o problema fundamental da indústria química. O problema é realmente a falta de competitividade. Muitos optam por fechar plantas no Brasil e importar. INOVA – E qual é a base da falta de competitividade para as empresas químicas do país? FF – Um dos fatores que influenciam diretamente é o custo de produção. De acordo com alguns estudos, no Brasil, o preço do gás é três vezes maior que nos Estados Unidos, por exemplo. Em alguns setores, até 70% do custo de produção se refere à energia. As tarifas de energia brasileiras são das mais caras no mundo. Então, gás e energia não são combinações muito atraentes para investir aqui. INOVA – Que expectativas o setor tem para os próximos anos?

FF – No nosso cenário, até 2020, contando com a perspectiva de o Brasil crescer 4% ao ano, a indústria química crescerá pouco mais de 5%. Só para acompanhar essa expansão, os investimentos precisam ser de US$ 80 bilhões, dos quais US$ 20 bilhões para a química de renováveis. Como esperamos que a indústria química seja superavitária com a exploração de óleo no pré-sal, então será necessário investimento de mais US$ 45 bilhões nessa área. E para aproveitar a matéria prima do pré-sal, mais US$ 15 bilhões. Isso parece pouco, mas é que a produção do pré-sal está prevista para 2016 e o setor espera o surgimento de muitas oportunidades na área, daqui até lá. INOVA – Há investimentos para a inovação? FF – Esse é outro problema do setor. A indústria química é movida à pesquisa e desenvolvimento, e nós também precisamos ter uma política de incentivo, como existe em outros países. Lá fora, plantas-pilotos, próprias para testar se o produto funciona em larga escala e se, de fato, há mercado para cada inovação, recebem financiamento e subsídios enormes dos governos, que praticamente dividem com a indústria o risco da inovação. Esse é um dos temas que temos de tratar. Precisamos conseguir uma política para instalação de plantas-pilotos para facilitar a transposição da pesquisa para o mercado. Por enquanto, o investimento para pesquisas no Brasil é muito baixo. Nas universidades, as pesquisas são raras. E os empresários preferem não assumir os riscos aqui. INOVA – O Plano Brasil Maior prevê incentivos para as indústrias que investirem em inovação. Esse não é o momento para investir em plantas-pilotos?


amanda perobelli

Nos últimos 12 meses o mercado cresceu 10% enquanto a produção caiu 2%, perdendo espaço para os importados, que avançaram 33%. A questão do câmbio é adicional, mas não é o problema fundamental da indústria química. O problema é realmente a falta de competitividade.”

FF – O Plano Brasil Maior prevê crédito para financiamento de pesquisa e desenvolvimento. Nós achamos que não basta aumentar os recursos porque, se o projeto não der certo, o empresário tem de pagar do mesmo jeito. Precisamos de recursos a fundo perdido, como existe em outros países e não aqui. Uma planta-piloto não é barata. Hoje, o projeto sai da bancada para a produção comercial e o empresário assume o risco de arcar com os prejuízos. Ou ele resolve acabar com a pesquisa já na bancada. INOVA – E em que áreas de pesquisa há mais necessidade de investimento? FF – Como disse, o setor químico é movido à pesquisa e desenvolvimento. Investe-se em todas as áreas, de uma forma geral. Mas o destaque é a química verde, porque no Brasil falamos em produtos da agricultura, em produtos renováveis. Pesquisamos mais em produto que em processos e é necessário pesquisar como melhorar os processos, por exemplo, para economizar água, poupar energia, recursos escassos ou caros. INOVA – E como a Abiquim vê a negociação desses pontos com o governo federal? FF – No começo de outubro, tivemos reunião com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e conseguimos aprovar a criação de um grupo de trabalho encarregado de levar as propostas ao Conselho Nacional de Política Energética. O grupo tem 60 dias para apresentar as propostas. Outra noticia é que o governo resolveu criar o Conselho de Competitividade da Indústria Química, como prevê o Plano Brasil. A primeira reunião está marcada para o final de novembro.

INOVA – E o que será abordado nesse Conselho de Competitividade da Indústria Química? FF – Pretendemos discutir todos esses pontos importantes para o setor e o regime especial para desoneração de investimentos na indústria química, apresentado no começo do ano. Nele, se prevê a criação de condições especiais para a inovação e para a construção de fábricas, com desoneração tributária para empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento. Nós calculamos um potencial de pesquisa de US$ 32 bilhões no parque da indústria química até 2020, pois é característico do setor o longo prazo. Com o Conselho, estamos otimistas de conseguir avanços nos itens fundamentais. Outro ponto incluído trata do transporte de produtos químicos nas ferrovias, visando reduzir os riscos de acidentes. Hoje, muitas concessionárias não aceitam transporte de carga química, preferindo grãos e minerais, onde o risco é nulo e o lucro mais seguro. INOVA – E é nesse cenário que o setor espera voltar a ser superavitário. FF – O Brasil pode ser líder na área química e hoje não consegue ser. Este ano, com certeza, o déficit será acima de US$ 25 bilhões, e não tende a acabar no ano que vem e nem no outro. Tudo é de longo prazo neste setor: uma unidade construída agora só começará a operar em 2015, no mínimo. Por isso, o déficit continuará nesses anos. O importante é que há essa preocupação e precisamos tomar medidas urgentes. Esperamos definir o rumo para o setor com o Conselho. Estamos conversando muito com o governo e com os sindicatos de trabalhadores.

NOVEMBRO 2011 | INOVA

7


notas

andris bovo

EVENTOS

Os rumos da inovação em debate Seminário promovido pelas revistas INOVA e Carta Capital atrai 800 participantes Os caminhos da inovação no país foram a pauta do seminário Desafios da Inovação no Brasil e no ABC, realizado em 17 de outubro na Universidade Federal do ABC (UFABC), parte da série Diálogos Capitais, promovida pela revista Carta Capital em parceria com a universidade e a revista INOVA. O seminário abriu a Semana Nacional de Ciên­cia e Tecnologia, que teve atividades de divulgação científica em todo o país. Entre os participantes, Mauro Borges Lemos, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), e Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Calmanovici informou que a Anpei pretende quadriplicar o número de seus associados, em dois anos, por meio de incentivos à inovação a partir do Plano Brasil Maior. “Temos 250 empresas filiadas, o que representa apenas dois terços das empresas com esforço em inovação no país. Elas precisam perceber que se não inovarem, não haverá futuro.” Borges Lemos, da ABDI, destacou a importância de novos estímulos para os setores produtivos. “Os empresários precisam sentir a necessidade

8

INOVA | NOVEMBRO 2011

de inovar. Esse é o nosso grande desafio. O Plano Brasil Maior é a retomada do crescimento da indústria brasileira, uma vez que estimula investimento em inovação”, ressaltou. Ricardo Abramovay, professor da Universidade de São Paulo, enfatizou a urgência de novas tecnologias que reduzam a poluição e o consumo de energia. “O aspecto ambiental é fundamental nesse processo. Os materiais são escassos e, por isso, é preciso rever o processo de produção e os novos produtos. Inovação não é para produzir mais e sempre, mas para oferecer bens e serviços que contribuam para o bem estar da sociedade”, disse. O debate dos Desafios da Inovação em São Paulo e no ABC foi mediado pelo diretor da revista INOVA, Celso Horta. No encontro, o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal, Luís Paulo Bresciani, falou sobre as leis municipais, como a de São Bernardo e São Caetano, de incentivo à inovação. “Temos as incubadoras tecnológicas em alguns municípios, os arranjos produtivos em alguns setores, como o metalmecânico, e o desejo por um polo tecnológico”, disse. Assim, “nossos desafios estão em fortalecer a articulação de

acesso aos recursos disponíveis, desenvolver a capacidade de aprendizagem tecnológica empresarial, criar suporte para a difusão e geração da inovação, ter políticas públicas em comum entre os municípios e uma agenda especifica para o ABCD sobre o tema”, explicou. Para o professor Carlos Reis, do Núcleo de Inovação Tecnológica da UFABC, a contribuição da universidade para a inovação deve ser gerar conhecimento sobre todos os diversos âmbitos que englobam o tema. “A UFABC pode incentivar a ampliação neste cenário com a formação de recursos humanos orientados para o surgimento de novas tecnologias”, afirmou. Fausto Cestari, assessor de Inovação da Prefeitura de São Caetano, considerou que os incentivos não estão ao alcance de boa parte das empresas. “As medidas do Plano Brasil Maior contemplam um pequeno percentual delas. Não adianta o empresário querer investir se ele não se enquadrar nessas medidas. Para o micro e pequeno empreendedor fica mais complicado arriscar em inovação.” O evento reuniu cerca de 800 pessoas, e foi transmitido ao vivo para outras 500, por meio da internet.


Inaugurado na Bahia o primeiro Centro de Inovação e Tecnologia Ambiental (Cita) privado do país, instalado no Polo Industrial de Camaçari. O centro, investimento da Cetrel, Empresa de Proteção Ambiental, dispõe de equipamentos analíticos e de testes de desempenho ambiental de produtos feitos a partir de resíduos. Tem laboratórios para simulação de processos de reuso de água, valorização de resíduos em matrizes cerâmicas, poliméricas, metálicas e em produtos que utilizam fibras naturais na estrutura. O centro prevê ainda o desenvolvimento de pesquisas sobre aproveitamento de resíduos industriais para novos produtos, como a chamada madeira de plástico, destinada à construção civil.

Mais criatividade e mais empregos A economia criativa, ou economia da cultura, movimenta bilhões de reais todos os anos no Brasil. Dados do Banco Mundial indicam que a economia da cultura já responde por 7% do PIB mundial e o Ministério da Cultura criou secretaria dedicada ao setor. Uma pesquisa sobre economia criativa feita pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), a pedido da Prefeitura de São Paulo, revela a importância da área na economia paulista e nacional. Segundo o estudo, a participação do emprego formal criativo é de 1,87% do total do emprego formal no Brasil. Comparada com outros setores que são importantes empregadores, a economia criativa destaca-se não só pela capacidade de gerar empregos, mas também pela qualidade e remuneração desses empregos. De 2006 a 2009, a taxa média anual de crescimento do emprego formal no setor chegou a 8,3% no estado de São Paulo e a 9,1% no município. Os setores que se destacam são arquitetura e design, artes visuais, audiovisual, edição e impressão, publicidade e propaganda, informática, pesquisa e desenvolvimento, além de artes perfomáticas.

A Nasa já testou como será a casa do futuro na Lua ou em Marte, daqui a dez anos, segundo a Tecnology Rewiew, publicação do MTI. Os testes incluíram dormir e simular algumas tarefas no protótipo, que foi instalado no deserto do Arizona. A casa tem um formato cilíndrico, com quatro aposentos em seu interior, dois anexos externos para eliminação de poeira e higiene, e uma parte inflável onde ficam os quartos e a área de lazer.

biodiversidade

Camarão cai na rede de pesquisa 15 institutos brasileiros se unem para estudar a biodiversidade marinha Daqui até 2014 um grupo de 20 pesquisadores, docentes e alunos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), vai trabalhar na identificação e delimitação de populações de camarões peneídeos, projeto que acaba de ser aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para integrar-se à rede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Mar. A rede é formada por centenas de pesquisadores de 15 institutos de ensino superior que, em todo o Brasil, estudam a biodiversidade marinha, sob coordenação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A escolha do camarão, explica o professor Pedro Manoel Galetti Júnior, um dos coordenadores do grupo de pesquisadores, se deve ao grande interesse de exploração econômica e à necessidade de levantar informações genéticas para direcionar a legislação sobre o manejo e exploração pesqueira. Isso é fundamental para conservar a atividade e evitar a extinção dos animais, acrescenta.

divulgação

Camaçari ganha controle ambiental

Pesquisadores da UFSCAR: de olho nos camarões penídeos

NOVEMBRO 2011 | INOVA

9


notas

pesquisa

foco nos estudos da cana-de-açúcar

A frota brasileira de carros elétricos é de pouco mais de 70 veículos e sua produção não conta com política de incentivos governamentais. No mundo circulam cerca de três milhões de carros elétricos, sendo 11% no Japão e 2,5% nos Estados Unidos. Os dados são da Associação Brasileira do Veículo Elétrico.

Depois de avaliar todas as pesquisas referentes a cana-de-açúcar em andamento nas diversas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a estatal decidiu concentrar os estudos em algumas frentes de trabalho. Segundo o diretor-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza, as pesquisas atuais estão muito dispersas e a ideia é definir as prioritárias e investir nelas, entrando com força nessas áreas. Duas das primeiras escolhas: uma espécie de cana que fixa o fósforo de maneira mais eficiente no solo e a expansão da canavicultura em regiões onde hoje é pouco desenvolvida.

Setor antecipa sustentabilidade

Jobs em dois livros Inovação, a Arte de Steve Jobs, de Carmine Gallo Editora Lua de Papel, 256 páginas, R$ 29,00 Mostra como Steve Jobs usou sua arte empreendedora para superar concorrentes, atrair clientes e desenvolver produtos revolucionários. E como é possível a qualquer pessoa fazer o mesmo em sua vida profissional e pessoal.

O Mundo segundo Steve Jobs – As frases mais inspiradoras do visionário líder da Apple, de George Beahm Editora Campus Elsevier, 120 páginas, R$ 29,90 Você quer passar o resto da vida vendendo água com açúcar ou quer ter a chance de mudar o mundo? Esta foi a pergunta feita por Jobs a John Sculley, presidente da Pepsi, e que motivou uma virada na sua carreira. Essa e outras frases estão reunidas nesta antologia.

10

INOVA | NOVEMBRO 2011

divulgação

shutterstock

Sondagem feita pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) mostra que o setor tem se antecipado às exigências legais e de mercado no que se refere a metas de redução de emissões de CO2. Entre as empresas entrevistadas as práticas mais comuns são as de gerenciamento de resíduos sólidos (reuso e compostagem), troca de óleos combustíveis por gás natural ou biomassa, redução de perdas térmicas no processo, adoção de tecnologias para maior produtividade das plantações e otimização da queima de licor negro, resíduo poluidor da celulose. Na pesquisa, foram ouvidas 57 companhias, cuja produção equivale a mais de 40% do total nacional de celulose e papel.

Boas práticas agora têm código digital Como conduzir atividades de pesquisa para que delas resulte a melhor contribuição à ciência? A resposta a essa e outras dúvidas rotineiras de pesquisadores pode ser encontrada no Código de Boas Práticas Científicas, recém lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Desenvolvido para servir de base a pesquisadores beneficiários de auxílios e bolsas da Fapesp e para o exercício da avaliação científica pelos assessores da fundação, o código também pode ser utilizado por instituições públicas e privadas que sediam experiências científicas. O manual foi elaborado para disseminar uma cultura sólida de integridade ética de pesquisa assentado em três pilares: educação, prevenção, e investigação e sanções. Define como boas práticas científicas aquelas baseadas no bom senso de pesquisadores e gestores de instituições de pesquisa, na veracidade dos resultados por eles apresentados e na instituição de programas de treinamento.


inovação social

Ana Valim

avalimalberti@yahoo.com.br

Petrobras sai em defesa da infância e da adolescência

Sonda Supermercados arrecada alimentos

A Petrobras vai destinar R$ 48,6 milhões a projetos ligados à criança e ao adolescente, desenvolvidos em 219 municípios brasileiros. Os recursos, destinados ao Fundo para a Infância e a Adolescência, têm de ser aplicados em projetos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes em situação de risco social ou pessoal, de combate ao trabalho infantil, de apoio à profissionalização de jovens e de orientação e apoio sociofamiliar. As cidades foram selecionadas pela empresa considerando os municípios do entorno e região de influência de suas unidades de negócio e as que integram as rotas de abuso e exploração sexual infantil ou regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano.

O Mutirão de Arrecadação de Alimentos, parceria entre a Rede Sonda Supermercados e a ONG Banco de Alimentos coletou 14 toneladas de alimentos, entre os dias 8 e 9 de outubro. Realizado desde 2006, ele marca o Dia Mundial da Alimentação, celebrado no dia 16 de outubro. Neste ano, nas lojas da rede, voluntários convidaram os clientes a comprar alguns gêneros alimentícios para doar a pessoas necessitadas. Entre os produtos, recomendaram leite em pó, farinha láctea, enlatados (milho, ervilha, sardinha etc.), lentilha, óleo, mel, farinha de trigo, de mandioca e de milho. Os alimentados arrecadados serão destinados a 23 mil pessoas atendidas por instituições sociais.

CYRELA APOIA PROJETO PARA JOVENS EM SITUAÇÃO DE RISCO

3M ABRE INSCRIÇÕES PARA PRÊMIO UNIVERSITÁRIO

A construtora Cyrela firmou convênio de R$ 212 mil com a prefeitura de São Bernardo do Campo, através da Fundação Criança, que prevê a implantação do Projeto República Jovem e Qualificação Profissional, que beneficiará 44 jovens de 18 a 21 anos. O projeto visa atender jovens recolhidos em abrigos e que, ao completar 18 anos e sem ter vínculos familiares, pela lei, não podem mais permanecer na casa de acolhimento. O convênio vai permitir aluguel de duas casas para 12 adolescentes em situação mais emergencial, e que receberão bolsa-auxílio, vale-transporte e orientação de educadores sociais. O projeto oferece ainda formação profissional nas áreas de hidráulica e elétrica para esses residentes e outros 32 adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade.

O prazo para inscrição ao 4º Prêmio Instituto 3M para Estudantes Universitários está aberto até 5 de dezembro. Criado pelo Instituto 3M de Inovação Social, o objetivo do prêmio é incentivar e reconhecer trabalhos acadêmicos voltados à promoção do desenvolvimento social, com propostas inovadoras, nas áreas da saúde, educação ou meio ambiente. O melhor projeto receberá R$ 30 mil, para sua viabilização, durante um ano. As inscrições (individuais ou em equipes, com orientação de um professor da mesma instituição de ensino) podem ser feitas através do site www.3m.com/intl/br/ mkt/instituto_3m_premio.

C&A INVESTE R$ 15 MILHÕES JUNTO a ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

O Projeto Repórteres Comunitários, composto por integrantes do movimento de moradia e estagiários de Serviço Social da Faculdade de Mauá, em parceria com o movimento de moradia da área do Chafick, em Mauá (SP), e a Associação para o Desenvolvimento da Habitação no Brasil, forma comunicadores para cobrir os acontecimentos locais e, com isso, valorizar os pontos positivos da região. A proposta é dar visibilidade ao processo de organização popular na busca da regulamentação fundiária. O Projeto Repórteres Comunitários também produz e apresenta o programa de rádio O Outro Lado da Cidade, que vai ao ar aos sábados, das 10 às 11 horas, pela Rádio Z FM de Mauá (87.5), e também é transmitido pela internet em www.radizfm.org e disponível em www.intermidia.org.br .

No balanço do biênio 2010/2011, o Instituto C&A informa que investiu R$ 15 milhões em 133 ações voltadas à educação de crianças e adolescentes. As atividades foram realizadas em parceria com 126 organizações sociais e beneficiou 101.726 crianças e 35.876 adolescentes. No mesmo período, o instituto destinou R$ 200 mil do imposto de renda devido aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente dos municípios paulistas de Barueri e São Paulo. Entre as ações permanentes do instituto, está o Projeto Bazar, pelo qual voluntários comercializam, de forma beneficente, mercadorias doadas, envolvendo organizações sociais situadas no entorno das lojas C&A.

REPÓRTERES COMUNITÁRIOS FORMA COMUNICADORES

NOVEMBRO 2011 | INOVA

11


sustentablilidade

Lixo paga a conta de Moradores do Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, recolhem lixo reciclável

Futuramente, toda comunidade estará pagando suas contas de luz com o próprio lixo. Vamos aumentar indiretamente nossa renda e, ainda por cima, resolver o problema histórico que é o acúmulo de lixo no morro.”

shutterstock

José Mário Hilário, presidente da Associação de Moradores do Dona Marta

12

INOVA | NOVEMBRO 2011

Maurício Thuswohl mauricio@abcdmaior.com.br

verbo inovar remete, de imediato, ao universo da ciência, da tecnologia e das invenções. Mas inovação pode surgir também em hábitos e procedimentos e, quando isso ocorre, faz avançar a relação dos seres humanos com o meio ambiente e consigo mesmo. Um exemplo disso aconteceu, há alguns meses, no Rio de Janeiro, e alia uma política inovadora de segurança pública a uma prática socioambiental inovadora. Na segurança pública, a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades antes controladas pelos traficantes de drogas. Na prática socioambiental, a coleta e venda de lixo reciclável. Responsável pelo fornecimento de energia elétrica no Morro Dona Marta, o primeiro a receber uma UPP na zona sul do Rio, a Light lançou, em parceria com a prefeitura, o Light Recicla, projeto-piloto pelo qual são dados descontos nas contas de luz a moradores da comunidade que entregarem lixo reciclável em dois pontos de coleta, especialmente colocados para isso. Nesses locais, batizados de Ecopontos, a empresa recebe materiais como plásticos (sacolas, embalagens, filmes e garrafas PET), papéis (incluindo embalagens longa-vida), vidros, metais (incluindo cds e dvds) e material pvc, além de óleo de cozinha. Em pouco tempo, o acerto da iniciativa ficou demonstrado. Do lançamento, no dia 11 de agosto até 27 de outubro, 981 dos 1.568 clientes da Light no Dona Marta já haviam feito alguma entrega de resíduos recicláveis – que somaram nada menos de 17 toneladas de lixo e 426 litros de óleo de cozinha. O valor de todo esse material no mercado de reciclagem foi calculado e revertido em desconto na conta de luz de cada doador. A

escola de samba Mocidade Unida do Santa Marta trocou tanto lixo reciclável nesses primeiros 40 dias que já tem um bônus equivalente ao valor de seu consumo de energia pelos dois meses seguintes. José Mário Hilário, presidente da Associação de Moradores do Dona Marta, comenta a boa receptividade e as expectativas das famílias em relação a iniciativas inovadoras como essa: “Futuramente, toda comunidade estará pagando suas contas de luz com o próprio lixo. Vamos aumentar indiretamente nossa renda e, ainda por cima, resolver o problema histórico que é o acúmulo de lixo no morro”. O sistema funciona desta forma: o morador do Dona Marta comparece a um dos dois Ecopontos e comprova seu endereço apresentando a conta de luz. O lixo entregue é pesado e seu valor é calculado de acordo com o preço de cada material no mercado de recicláveis. Na cotação do mês de setembro, por exemplo, materiais como plásticos, vidros e papéis proporcionavam descontos que variavam entre R$ 0,10 e R$ 0,25 por quilo. As garrafas pet renderam R$ 1 de desconto por quilo, e o óleo de cozinha, de R$ 0,70 por litro. Materiais metálicos, como alumínio e chumbo, foram os mais bem cotados, entre R$ 2,30 e R$ 2,50 de desconto por quilo entregue. A adesão inicial dos moradores superou as expectativas da Light, que já sonha estender o projeto a todos os clientes no Dona Marta: “A comunidade tem 1,6 mil moradores, que produzem cerca de três toneladas de lixo por mês. Nossa meta é transformar pelo menos duas toneladas desses resíduos sólidos em mais dinheiro no bolso do consumidor que, pagando menos pela conta de luz, pode usar o dinheiro poupado em outras coisas e melhorar a sua qualidade de vida”, afirma Fernanda Mayrink, gerente de Atendimento às Comunidades da Light. Com a chegada da UPP, a comunidade do Dona Marta foi também a primeira a ser


divulgação

de luz e ganham descontos formalizada pela Light, que modernizou a rede elétrica e promoveu a regularização de clientes, com cadastramento de consumidores novos. Essas e outras ações, segundo a empresa, visaram a adaptação do consumo e a possibilidade de pagamento da conta de luz, a melhoria da qualidade do fornecimento de energia e o “resgate da cidadania da sociedade ali inserida”, segundo a empresa.

o pulo do gato Antes, o que imperava era a lógica da ligação clandestina, o popular gato, mas essa realidade mudou: “Até a chegada da UPP, apenas 24 clientes pagavam a conta de luz. Hoje, 97% dos 1.586 clientes da Light no Dona Marta pagam suas contas e em dia”, diz o presidente da empresa, Jerson Kelman. A segurança na comunidade e a oportunidade de implementação de um modelo de sucesso estão na origem do projeto, diz a direção da Light: “O cenário no Dona Marta já era favorável, e a Light optou pela implantação do projeto-piloto nessa comunidade para melhorar a qualidade de vida de seus moradores, a partir de ações sustentáveis, incorporando, inclusive, o conceito de preservação do meio ambiente pela reciclagem de lixo”, afirma Fernanda Mayrink. Ainda segundo ela, as próximas comunidades beneficiadas pelo projeto deverão ser as dos morros da Babilônia e do Chapéu Mangueira, situadas no bairro do Leme, também na zona sul do Rio. Além disso, moradores dos bairros de Botafogo e Humaitá, adjacentes ao morro, também podem aderir ao projeto Light Recicla. Por se tratar de dois bairros tradicionais de classe média e com renda per capita relativamente alta, é dada aos clientes da área a opção de fazer uma ação solidária e doar seus descontos para uma instituição social da comunidade previamente cadastrada pela Light.

Ecopontos: em três meses, 17 toneladas de lixo e 426 litros de óleo de cozinha

QUANTO VALE O LIXO O valor do lixo Material

Desconto

papel, vidro ou plástico

De R$ 0,10 a R$ 0,25 por quilo

garrafa pet

R$ 1,00 por quilo

óleo de cozinha

R$ 0,70 por litro

materiais metálicos (alumínio, chumbo, entre outros)

De R$ 2,30 a R$ 2,50 por quilo

tem desconto pet – refrigerante e água plástico duro – embalagens de xampu, detergente, margarina, baldes, bacias, etc. plástico flexível – sacolas plásticas, embalagens de arroz, feijão, açúcar, etc. cds embalagens plásticas metalizadas pvc – canos, forros, etc. papel – branco, misto (revistas, encartes, etc.), papelão, jornal metais – latas de cerveja e refrigerante, ferros em geral, arames, pregos, bateria de carro, etc. vidro – embalagens, garrafas de cerveja e refrigerante, copos, etc. embalagens longa vida (leites, sucos e achocolatados) óleo de cozinha usado

Não tem desconto lâmpadas em geral pilhas espelhos e vidros planos papel carbono ou plastificado isopores esponjas de aço cerâmicas e porcelanas madeiras fraldas descartáveis espumas óleos lubrificantes cabos e fios tintas tecidos couros pneus

NOVEMBRO 2011 | INOVA

13


saúde

a terapia dos Robôs Pesquisadores usam mecatrônica, jogos e internet para reabilitar pacientes com fra

Reabilitação: informática e robótica

14

INOVA | NOVEMBRO 2011

ergunte a um adolescente qual é o lado positivo em quebrar um osso de seu próprio corpo. Provavelmente, as respostas serão do tipo: faltar às aulas e ficar em casa em frente ao videogame. É possível que, num futuro próximo, esse adolescente acabe mesmo tendo de permanecer em uma clínica, mas bem perto de jogos e joysticks. É o que indicam os resultados de um projeto interdisciplinar realizado por cientistas das áreas de engenharia e saúde na Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP). O método, desenvolvido por um time de especialistas e coordenado pelo engenheiro Glauco Caurin, pretende auxiliar pacientes em reabilitação por fraturas na extremidade distal do rádio, ou seja, o osso do antebraço que liga o cotovelo ao punho. A iniciativa, pioneira no Brasil, consiste na integração de um sistema mecatrônico e interativo que utiliza robôs, computadores, câmeras, sensores, estrutura de rede e internet, ao processo de reabilitação. “O braço do paciente é ligado a um dispositivo robótico que faz o acompanhamento de exercícios indicados por um terapeuta ou clínico”, explica o engenheiro. Ao jogar videogame com um joystick, o paciente realiza movimentos terapêuticos de forma lúdica e sensores do dispositivo monitoram a execução desses gestos. Enquanto a terapia é realizada, dados sobre os exercícios são enviados a um computador, para que o fisioterapeuta avalie a amplitude do movimento, a velocidade e a aceleração. “As avaliações são feitas por dados gravados em tempo real e o histórico do tratamento fica registrado de forma organizada e acessível”, acrescenta o pesquisador. Recém chegado dos Estados Unidos, Caurin trouxe na bagagem a experiência acumulada ao vivenciar o tratamento de pacientes americanos com sistemas robóticos. Nos laboratórios da Engenharia de São Carlos ele realizou experimentos com o aparelho brasileiro e, depois, este-

ve por um ano no Newman Laboratory for Biomechanics Human Rehabilitation, instalado no Massachusets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, para desenvolver a aplicação do sistema em hospitais. “O Newman Lab já faz o uso clínico de seus robôs em mais de 600 pacientes. Dessa experiência, buscamos respostas para questões como protocolos de segurança do paciente”, conta. Para o médico especialista em mão, Fábio Imoto, que compõe o corpo clínico do Ifor, pronto-socorro especializado em ortopedia, traumatologia e reabilitação instalado em São Bernardo do Campo, trata-se de inovação no campo da reabilitação e complementa o uso da robótica no campo da cirurgia, que já é uma realidade. “Acredito que seja uma boa associação, principalmente para tornar mais atraente o tratamento. Não penso que um sistema como esse substitua o terapeuta, mas é uma ferramenta a mais para o bom desempenho das terapias”, avalia.

COOPERAÇÃO Caurin ressalta que o conceito de robótica do projeto se volta justamente para a cooperação e não para a substituição. “O robô coopera com o terapeuta, se torna um auxiliar. O papel do terapeuta é indispensável no processo”, comenta. O robô brasileiro trabalha especificamente movimentos para o punho com a utilização de três jogos, também desenvolvidos internamente. No MIT, o pesquisador pôde observar a introdução da robótica para os tratamentos de braços e tornozelos, além do desenvolvimento de um robô que auxilia a realização de caminhadas. O equipamento ainda é produzido em escala reduzida e seu preço é estimado em R$ 100 mil. Fábio Imoto, do Ifor, não considera o custo um obstáculo para a implantação do sistema em hospitais e clínicas de reabilitação. “É o preço que se paga pela informatização, pela tecnologia. Os aparelhos são muito modernos, com corpos menores,


FOTOS: divulgação

obôs turas no osso do antebraço e tudo isso exige pesquisa, estudo, inovação, e tem seu custo”.

TRATAMENTO COM GAMES O futuro das reabilitações tem base na inserção de novas tecnologias, interativas e lúdicas, diz o fisioterapeuta Fabio Navarro Cyrillo, responsável pela introdução de videogames na clínica de fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Ele comprova a obtenção de resultados mais positivos com o sistema, principalmente no que diz respeito à dedicação dos pacientes ao tratamento. “O conhecimento humano e a boa formação do profissional são indispensáveis, não há mais razão para ter medo das tecnologias. O uso de robôs para reabilitação já é realidade no exterior e o Brasil não pode ficar para trás.” Desde 2008, o uso do Wii, videogame da japonesa Nintendo, que ganhou popularidade entre os jovens por divertir e ao mesmo tempo ajudar a suar a camisa, é um recurso da clínica universitária em terapia de reabilitação. De lá para cá, mais de 200 de seus pacientes se beneficiaram com a incorporação de games aos tratamentos e, recentemente, a Unicid adquiriu um Xbox Kinect, da Microsoft. “O Xbox Kinect é uma evolução do Wii, já que o equipamento não necessita de controle, pois o sistema faz a leitura do corpo do jogador. Além disso, o movimento é mais preciso, completo e mais semelhante aos realizados nas atividades diárias”, explica Cyrillo. Na área médica, a pesquisa do robô brasileiro tem apoio de duas professoras, Helenice Coury e Iracema Serrat Vergotti Ferrigno, ambas doutoras da USP, e do fisioterapeuta Emygdio José L. de Paula. Também tem colaboração do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC), criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação de São Carlos, da USP. (JH)

Game Xbox Kinect: o sistema faz a leitura do corpo

NOVEMBRO 2011 | INOVA

15


especial pesquisa

divulgação

IPT um novo momento 16

INOVA | NOVEMBRO 2011


Joana Horta joana@abcdmaior.com.br

A injeção de recursos, a contratação de pessoal e uma nova política de pesquisas revitalizam o tradicional instituto de São Paulo. Prova disso é que ele foi selecionado pela recém-criada Embrapii para atuar na área de bionanotecnologia Centro de Bionanomanufatura, no Senai, processos e automação, e no Instituto Nacional de Tecnologia, o complexo de petróleo e gás. O ministro Aloizio Mercadante destaca ter o IPT a experiência de um centro de excelência voltado à inovação, com foco no atendimento das demandas da indústria. “O IPT faz um trabalho importante nessa área. Sabemos de sua capacidade e já estamos trabalhando com a instituição na área de gaseificação do etanol, uma das vertentes para aumentar a eficiência energética do combustível”, disse o ministro, durante a assinatura do memorando de intenções para a criação da Embrapii, com a Confederação Nacional da Indústria.

Precisamos inverter o jogo e nos colocarmos mais como agentes de inovação do que apenas coadjuvantes das empresas contratantes.” João Fernando G. de Oliveira, diretor presidente do IPT

Marco histórico O IPT faz parte do complexo de faculdades e institutos que compõem a Universidade de São Paulo. Composto por dezenas de prédios e vários laboratórios em área do campus universitário, foi fundado em 1899 e tem na sua história seu maior aliado. A competência de seus pesquisadores permitiu resistir aos anos de baixos investimentos e construir um presente atrativo, através de um plano de parcerias para investimentos e desenvolvimento. Na década de 1970, foi transformado em sociedade anônima vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. No início dos anos 2000, já não conseguia mais acompanhar as intensas transformações nas ciências e no escopo industrial nacional: sem investimentos, até 2007, caminhava a passos lentos. No entanto, um buraco de 80 metros de profundidade, próximo às instalações do instituto, levou o Estado a lhe conferir a atenção devida. O acidente, ocorrido no começo de 2007 nas obras da Estação Pinheiros do Metrô, é relembrado por seus funcionários como um marco histórico,

amanda perobelli

os estudos para implantação do gás de iluminação nas ruas de São Paulo, na década de 1930, ao desenvolvimento de expertises em engenharia naval e oceânica, que permitiram ao Brasil caminhar rumo à era do pré-sal, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) esteve e está presente nas principais etapas do desenvolvimento tecnológico nacional. Não é à toa que, ao anunciar a recém-criada Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o ministro Aloisio Mercadante, da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), convidou a instituição para participar do projeto desde a experiência-piloto, com o objetivo de gerar inovação industrial. Com estrutura enxuta, o orçamento inicial da Embrapii é de R$ 90 milhões, para os 18 meses da etapa experimental, sendo R$ 30 milhões em 2011 e R$ 60 milhões em 2012. A verba deste ano será dividida igualmente entre os três institutos selecionados para a fase: o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do MCTI, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai­Cimatec) e o IPT, em São Paulo. À frente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira sente-se à vontade para tocar a experiência. “Estamos acostumados a desenvolver tecnologia em suas fases de teste. O desenvolvimento da gestão da Embrapii está nessa etapa”, afirma. “O diálogo com o ministério é para a criação de um grupo gestor, da sua operacionalização a partir de centros de pesquisas já existentes, novos investimentos, sem a criação de mais uma estatal.” A Embrapii deve seguir o modelo de gestão da Fundação Fraunhofer, organização alemã de pesquisa, cujos 58 institutos espalhados pela Alemanha empregam mais de 12 mil pessoas, com trabalhos em diferentes campos de pesquisa. Como na Fraunhofer, os institutos brasileiros foram selecionados por áreas de competência: bionanotecnologia, no IPT, que investe R$ 50 milhões no

NOVEMBRO 2011 | INOVA

17


especial pesquisa

divulgação

fotos: amanda perobelli

ponto de partida para um grande plano de reorganização de seus recursos humanos. É que, contratado pelo Metrô para investigar as causas do desastre, o IPT pôde recuperar o atraso sofrido nos anos anteriores. Em 2008, sob nova direção, o instituto iniciou a elaboração de um plano de aperfeiçoamento de gestão, infraestrutura e direcionamento de suas pesquisas. À frente do IPT desde então, Oliveira tem se empenhado pelas transformações e pelos novos rumos da instituição. Engenheiro por vocação e artista de coração, João Fernando Gomes de Oliveira sonha voltar a tocar jazz e a tirar fotos, como na juventude. Enquanto isso não se torna realidade, mantém a mente aberta em busca de inovação. “Nós assumimos o desafio de colocar mais criação dentro da organização, com foco na prestação de serviços de testes e certificações. Precisávamos inverter o jogo e nos colocarmos mais como agentes de inovação do que apenas coadjuvantes das empresas contratantes”, revela o executivo. Os novos rumos não foram escolhidos aleatoriamente, mas seguem propostas de seu conselho estratégico, composto por nomes “da pesada”, como os define Oliveira. Entre eles estão o empresários Paulo Guilherme Aguiar Cunha, do Grupo Ultra, Carlos Tadeu da Costa Fraga, da Petrobras, Edmundo José Correia Aires, da Braskem, Pedro Luiz Barreiros Passos, da Natura, e Carlos Henrique de Brito Cruz, da Fapesp. “Havia um diagnóstico e a conclusão

1899

Antônio Francisco de Paula Souza cria o Gabinete de Resistência dos Materiais, que realiza estudos sobre a qualidade e a resistência de materiais em construção civil.

18

INOVA | NOVEMBRO 2011

1910

Pesquisas sobre as propriedades do cimento e do concreto de produção nacional. Estudos para as primeiras galerias de águas pluviais de São Paulo.

1920

Estudos de materiais e de fundação que deram origem ao primeiro arranha céu do Brasil, o Edifício Martinelli.

1930

Apoio tecnológico para grandes empresas ferroviárias de São Paulo como a São Paulo Railway, Paulista, Mogiana, Sorocabana e Central do Brasil.


Nahus, a memória viva do IPT A trajetória do IPT tem muito da história de vida de seus pesquisadores. Trabalhando há 42 anos nos laboratórios de pesquisa com madeiras, Marcio Augusto Rabelo Nahuz representa uma das principais referências do instituto: ele é sua memória viva. de que o instituto precisava melhorar sua gestão, ser mais ágil”, comenta Oliveira. Com o replanejamento em mãos, o IPT foi ao governo do Estado, à época, o governador José Serra, e pediu financiamento para fazer as mudanças. Deu certo, e recebeu uma considerável injeção de recursos. “Até então, dependíamos de investimentos de financiadoras científicas, como Capes, CNPq e BNDES. Em 2008, o governo paulista assinou liberação de R$ 150 milhões para o triênio 2008-2010.” Com esse aporte, conseguiu atrair novos contratos das financiadoras e elevou de R$ 108,6 milhões, recebidos em 2007, para R$ 165,5 milhões a verba disponível para 2010 e a R$ 204 milhões para 2011. “Sem essa revitalização, provavelmente não estaríamos no plano-piloto da Embrapii”, pontua Oliveira. “Os investimentos são a prova de que, na esfera federal, estadual e no setor empresarial – as três pás da hélice que movem o desenvolvimento –, há uma visão muito mais esclarecida sobre a importância da ciência inovadora. Isso significa que temos chances reais de crescer.” A partir de 2008, o IPT buscou também novas competências, abriu concurso, contratou cerca de 230 funcionários e aumentou o número de pesquisadores. Ancorado no estreitamento de relações corporativas e institucionais, passou a desenvolver um programa de capacitação no exterior e enviou 25 pesquisadores para diferentes países.

1934

O Laboratório de Ensaios de Materiais dá origem ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas, sob o comando de Ary Torres. São realizados ensaios com o gás de iluminação na cidade de São Paulo.

Engenheiro florestal, graduou-se no Paraná onde, durante um congresso, em 1969, conheceu o então diretor da divisão de madeiras do IPT, que o convidou para integrar sua equipe. “Na época, a chamada Divisão Madeiras queria desenvolver inventários florestais. Sabíamos muito pouco sobre quanta madeira existia em diferentes tipos florestais e de que forma essa floresta era constituída”, lembra o pesquisador. Por considerar a madeira um dos principais recursos naturais do Brasil, o instituto esteve sempre à frente das pesquisas sobre o tema. “Eu diria que, em termos de Brasil, na madeira tudo começou aqui. A indústria brasileira trabalhou muito com madeira e a maior fonte de informação sobre esse material, além das universidades, tem sido o IPT”, diz ele. Analisando essa forte atuação do instituto, Nahuz cita algumas conquistas, como a descoberta das fibras curtas do pinheiro, possibilitando cultivo de árvores mais adequadas para a produção de papel. Destaca também a criação de tecnologias para a pesquisa em biodeterioração de materiais, e o fortalecimento das áreas de sustentabilidade. Hoje, a antiga Divisão de Madeiras transformou-se em Centro Tecnológico Florestal, que abrange o laboratório de preservação de madeiras e biodeterioração de materiais, laboratório de papel e celulose, laboratório de madeira e produtos derivados, além de uma seção de sustentabilidade de recursos florestais. Para Nahuz, o ambiente fértil do IPT capacita seus pesquisadores a evoluírem na pesquisa e desenvolvimento. “O crescimento está no DNA do instituto. A diversidade e o estímulo para que o pesquisador se desenvolva são aplicados nos projetos internos e nos contratados. Nossas pesquisas são úteis e têm um fim positivo. Isso é tudo para um cientista.” Segundo o pesquisador, desde a década de 1930, o IPT mantém a maior xiloteca da América Latina. “Temos um verdadeiro laboratório vivo, uma biblioteca composta de pedaços de madeira, que nos permite comparar e buscar alternativas e soluções para o setor”, informa Nahuz. É a Xiloteca Calvino Mainieri, com base de dados de mais de 17 mil amostras de madeiras brasileiras e estrangeiras, disponível em www.ipt.br. 42 anos de IPT: Rabelo Nahuz garante que o crescimento está no DNA do instituto

1940

Participação no projeto e construção de rodovias como a Via Anchieta e Anhanguera. Apoio tecnológico para grandes siderurgias nacionais: Companhia Siderúrgica Nacional, Vale do Rio Doce, Usiminas, entre outras. Cria equipamentos para a indústria aeronáutica. Ganha sede no campus da Universidade de São Paulo.

1950

Estudos dão origem à indústria da cerâmica. Apoio para a construção de hidrelétricas como a Usina de Paulo Afonso e Jupiá. Estudos geológicos no centro do país para a construção de Brasília. NOVEMBRO 2011 | INOVA

19


especial pesquisa

Retorno garantido

também por meio do projeto de Redes Temáticas. Com aporte de R$ 15 milhões, a infraestrutura passou por completo processo de modernização. Os estudos de corrosão estão ligados aos diversos setores da economia e são importantes para evitar o colapso de materiais metálicos. Esse conhecimento fornece subsídios, por exemplo, para especificações e regulamentações de chapas de tanques de armazenagem a parafusos e conectores. O trabalho do IPT nessa área tem contribuído para o desenvolvimento de normas internacionais, como é o caso do tema de corrosividade de dutos destinados a derivados de petróleo. O pesquisador Neusvaldo Lira Almeida calcula que, modernizado, o laboratório do setor de corrosão e proteção poderá elaborar cerca de 900 laudos ao ano. Nos diversos setores espalhados em seus dois andares, atualmente são desenvolvidos 12 projetos de diferentes áreas. “Temos vários tipos de trabalho. São ensaios para empresas que nos procuram para atestar a viabilidade e apontar ajustes em seus projetos, por exemplo. Há ainda demanda por investigação de causas de erros de maquinário ou acidentes, nos quais o IPT aponta medidas para evitar novos incidentes. Além de experimentos de longa duração, como a criação de materiais para a exploração do pré-sal, ou um novo revestimento para a indústria automobilística.”

divulgação

A previsão do instituto é obter do governo estadual investimentos de R$ 230 milhões para os próximos quatro anos. Apenas para o BNDES foram elaboradas 12 novas propostas, no valor de R$ 177 milhões. Além da Embrapii, acordos como os firmados com a Petrobras têm fomentado a modernização do instituto. Em meados de agosto, em parceria com a Petrobras, foi inaugurado o novo Laboratório de Motores, que atua na pesquisa e desenvolvimento de combustíveis, aditivos e motores de combustão, com foco em motores e veículos do ciclo diesel. O laboratório, integrante da Rede Temática de Desenvolvimento Veicular, recebeu investimentos de R$ 5 milhões, a serem aplicados na modernização da infraestrutura e aquisição de equipamentos. Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente executivo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras, considera a nova unidade mais uma etapa na busca pela liderança em fontes alternativas de energia. “Este laboratório representa, dentro do tema desenvolvimento de produtos e motores, o que há de mais moderno em aparato experimental”, afirmou, durante a cerimônia de inauguração do centro. Os investimentos possibilitaram a renovação da bancada de dinamômetro dinâmico do laboratório, onde serão realizados

os ensaios de emissões de motores de combustão, necessários para o desenvolvimento de combustíveis e motores. Na bancada também será possível preparar as certificações de veículos comerciais de acordo com as novas legislações ambientais, como o Euro V do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que entrará em vigor em janeiro próximo, visando diminuir os níveis de poluição emitidos por caminhões e ônibus. O novo laboratório conta com um sistema embarcado com GPS para medição de emissões gasosas regulamentadas. O sistema deve avaliar veículos em condições de uso, elaborar inventários de emissões veiculares e também avaliar novos combustíveis e novas tecnologias veiculares, como veículos híbridos. De acordo com Silvio Figueiredo, pesquisador do laboratório, a renovação na bancada para ensaios de motores transientes coloca o IPT à frente de qualquer outro instituto público de pesquisa da América Latina. “Ainda não estamos em pleno funcionamento. Precisamos agora investir no treinamento da equipe e em novas contratações para efetivar o potencial do laboratório. Esperamos estar em pleno funcionamento em 2012”, afirma. Outro laboratório beneficiado com recursos é o de Corrosão e Proteção, que, desde 2009, recebe investimentos diretos do governo de São Paulo e da Petrobras,

1960

20

Apoio à indústria naval. Torna-se referência internacional em estudos de rochas. Apoio na construção das rodovias Castelo Branco e Via Dutra. INOVA | NOVEMBRO 2011

1970

Controle tecnológico da usina de Ilha Solteira. Participa da construção da rodovia dos Imigrantes e da Ponte Rio-Niterói. Apoia a indústria de calçados paulista. Desenvolve projetos de combustíveis renováveis, o PróÁlcool. Apoio a Itaipu Binacional. Desenvolve e produz peças para a Embraer.

1980

Participação no plano de recuperação da Serra do Mar. Tecnologias na área de segurança contra incêndios e em problemas de assoreamento e erosão. Pesquisa em madeiras de reflorestamento para mobiliário e construção civil. Faz estudos sobre a cravação de estacas off-shore.


Temos vários tipos de trabalho. São ensaios para empresas que nos procuram para atestar a viabilidade e apontar ajustes em seus projetos, por exemplo. Há ainda demanda por investigação de causas de erros de maquinário ou acidentes, nos quais o IPT aponta medidas para evitar novos incidentes.”

amanda perobelli

Neusvaldo Lira Almeida, pesquisador do IPT

A vez da bionanotecnologia Ainda que a verdadeira cidade tecnológica instalada no campus do USP esteja se modernizando, o futuro da instituição também está pautado em novas iniciativas. O Centro de Bionanomanufatura, que acaba de ficar pronto, está sendo equipado, enquanto recebe os últimos acabamentos para a inauguração, prevista para o início de 2012. Até agora foram investidos mais de R$ 50 milhões nesse projeto. A bionanotecnologia é a área de pesquisa capaz de manipular materiais milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo. Hoje, estima-se em mais de mil o número de produtos que contêm nanomateriais disponíveis no mercado mundial. O novo laboratório do IPT estudará o desenvolvimento de organismos vivos, tecnologia de partículas (microencapsulação de componentes químicos e terapia medicinal, como em cosméticos), micromanufatura de equipamentos e metrologia. E uma de suas propostas é privilegiar a busca de soluções sustentáveis. “A minha menina dos olhos, no IPT, é a modernização. E a bionanotecnologia é um símbolo dessa modernidade. Temos um novo prédio, com o que há de mais moderno no mundo”, diz Oliveira, presidente do instituto.

O tamanho do IPT Sede Cidade Universitária São Paulo (SP)

Unidades Franca (SP) São José dos Campos (SP)

Unidades técnicas

13 centros

3

laboratórios

10 seções

Colaboradores

1.000 pesquisadores

160

estagiários e bolsistas

275

funcionários administrativos

1990

Construção da primeira centrífuga para ensaios de modelos reduzidos, em parceria com a Fapesp. Estudos de corrosão para recuperar a Ponte Pênsil, em São Vicente (SP), e Viaduto Santa Ifigênia, em São Paulo (SP). Estudos de plástico biodegradável e controle de qualidade de embalagens.

2000

Enriquecimento da farinha de trigo no combate a anemia ferropriva. Apoio tecnológico ao Programa Pré-Sal da Petrobras. Estudos de impacto ambiental no trecho sul do Rodoanel, em São Paulo. Apoio tecnológico para restauração e conservação do patrimônio histórico – Catedral de Brasília (DF) e Estação da Luz (SP).

Produção científica

36.805

documentos técnicos emitidos em 2009


22

INOVA | NOVEMBRO 2011


NOVEMBRO 2011 | INOVA

23


nanotecnologia

A ciência minúscula que os grandes estão de

Cientistas, empresários e governo discutem uma aliança em torno da nanotecnologia, para o aumento da competitividade do país. E sentem falta de um marco regulatório que paulo segura

Sonia Nabarrete

sonia@abcdmaior.com.br

João Alfredo Saraiva Delgado

divulgação

José Ricardo Roriz

fernando pimentel

24

INOVA | NOVEMBRO 2011

xiste consenso entre os cientistas que a nanotecnologia é uma ferramenta indispensável para aumentar a competitividade da indústria brasileira no mercado global, e que permite a criação de itens realmente inovadores em toda a cadeia do setor produtivo. Entre os exemplos de sua aplicação no Brasil estão as roupas fabricadas com tecido que equilibra a temperatura do corpo à do ambiente, um nanotubo de carbono de grande resistência e capaz de fazer perfurações a oito quilômetros abaixo do nível do mar, em campos de petróleo e gás, ou o cimento mais leve que o convencional e com funções de isolante acústico. Mas, entre os empresários, na prática, não existe consenso sobre a nanotecnologia, vista como um remédio maravilhoso, do qual ainda pouco se conhecem os efeitos colaterais. Sua aplicação depende de alianças entre a academia, a indústria e o governo. E a falta de garantia da segurança de pesquisadores, produtores, consumidores e até do meio ambiente, é outro grande entrave à sua expansão. Os prós e contras da aplicação industrial da nanotecnologia foram o ponto central de debate promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em outubro. Ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a entidade coordena o Projeto Estratégia Nacional de Nanotecnologia, que dá ênfase à aproximação do governo com o setor privado com o objetivo de fazer o plano avançar. Para isso, deu o nome de “Nanotecnologias: da ciência ao mundo dos negócios” ao workshop que realizou em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e

que reuniu representantes dos principais setores industriais em que a nova tecnologia já é usada. Durante o encontro, os pontos obscuros e de atrito que envolvem a questão foram discutidos visando o encaminhamento de soluções. E, embora tenha ficado evidente a insegurança a respeito de nanotecnologia, a relação das vantagens elencadas foi destaque entre os debatedores. A nanotecnologia é um moderno vetor da inovação industrial e de segmentos como a microeletrônica e a biotecnologia, com grande potencial, na opinião de Mauro Borges de Lemos, presidente da ABDI. A nanotecnologia, acrescenta Nelson Fujimoto, secretário de inovação do MDIC, permite fabricar produtos com maior eficiência e a menor custo, revolucionando o cenário produtivo. Por isso, diz Mario Reali, prefeito de Diadema e presidente do Consórcio Intermunicipal do ABC, essa é a porta de entrada para o desenvolvimento de novos produtos e de diferentes setores, contribuindo para diminuir a dependência da região ao trio indústria automobilística-autopeças-petroquímica. João Alfredo Saraiva Delgado, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), segue na mesma linha: “As descobertas da nanotecnologia permitirão redução significativas no consumo de matérias primas e de energia”. Delgado sugere a elaboração de uma agenda para o setor de bens de capital nos próximos 20 anos, focada no potencial da nanotecnologia. José Ricardo Roriz, da Associação Brasileira de Indústria do Plástico (Abiplast), informa que metade das 13 mil empresas do setor dedica-se à produção de embalagens que poderão passar por transformações surpreendentes, com a aplicação da tecnologia.


, ferramenta indispensável dê segurança às pesquisas Por exemplo, embalagens com ação antimicrobiana e barreira a gases, além de mais resistentes que as atuais. “A embalagem vai proteger mais o alimento, o que pode mudar até a logística de exportação. O que hoje tem de seguir de avião, poderá ir de navio”, afirma. Fernando Pimentel, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), diz que o Brasil conseguiu enfrentar a forte concorrência asiática, mantendo sua posição no ranking setorial global de 2010, elaborado pelo Fibber Organon, do Instituto de Estudos e Marketing Industrial: é o quarto maior, no mundo, entre as confecções e o quinto entre as indústrias têxteis. Isso é, em parte, efeito do Projeto Têxtil, que, lançado em 2008, pela Abit em parceria com a ABDI, introduz essa tecnologia, além de outras estratégias, como percepção do mercado e integração entre governo, associação e companhias. Pimentel menciona, como um de seus primeiros resultados concretos, a criação de uniformes de trabalho, com características específicas para cada atividade, para a qual a nanotecnologia contribuiu fortemente apontando esses diferenciais. Tomas Casanova, diretor da Rodhia Têxtil na área de fibras, plásticos e engenharia para a América do Sul, cita outro exemplo prático: as inovações aplicadas em roupas para atletas, contribuindo para melhorar o desempenho em competições. “Com a nanotecnologia, podemos desenvolver novas matérias primas e novos processos”, explica. É na indústria automobilística que a nanotecnologia encontra a maior área de aplicação. Marcus Vinícius Aguiar, da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e responsável pela área de engenharia de produtos da Fiat, enumera itens de um veículo com nanotecnologia embutida: “Ela está presente nos motores de combustão interna, para

O que é nanotecnologia As lagartixas andam sobre qualquer superfície e em qualquer direção, até de cabeça para baixo, porque em suas patas existem nanoventosas, que proporcionam fortíssima adesão. As folhas de algumas plantas possuem nanoestruturas que repelem a água. Nanoestruturas presentes nas asas da borboleta azul, ao interagir com a luz, modulam o índice de refração causando o efeito ótico no qual a cor muda com o ângulo de observação ou iluminação. Por nanotecnologia se entende a criação, manipulação e exploração de materiais com escala nanométrica – e nanômetro (cuja abreviatura é nm) é igual a 1 metro dividido por 1 bilhão. O termo nanotecnologia foi cunhado por um professor da Universidade de Tóquio, Norio Taniguchi, em 1957, e referia-se a máquinas que tivessem níveis de tolerância inferiores a 1 micron (1.000 nm). Hoje, quando se fala em um manômetro, trata-se de um bilionésimo do metro. Isso é 100 mil vezes menos que o diâmetro de um fio de cabelo e 30 mil vezes menos que um dos fios de uma teia de aranha. O caminho da lagartixa, a refração da luz nas asas da borboleta – esses e outros efeitos presentes na natureza podem ser obtidos em laboratório e aplicados a produtos e processos, graças à nanotecnologia. Com ela, é possível conferir a um produto novas qualidades como aderência, impermeabilidade, leveza, resistência, cor, entre muitas outras. Ao contrário do se pode imaginar, essa história é antiga. Começa no quinto século antes de Cristo, com Leucipo de Mileto, considerado o mestre de Demócrito, que desenvolveu a teoria de que “tudo seria composto de partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu”, os átomos. Há cerca de 30 anos, laboratórios de todo o mundo realizam pesquisas na direção da miniaturização e, agora, em mais de 60 países desenvolvem-se iniciativas ligadas ao estudo das nanociências e da nanotecnologia, em investimento global que ultrapassa os US$ 5 bilhões. Calcula-se que o mercado global de nanotecnologia, desde a produção até a comercialização de produtos e equipamentos, chegue a algo entre US$ 1 trilhão e US$ 3,5 trilhões em 2015. Os campeões em patentes de produtos nanotecnológicos são os Estados Unidos (540), seguidos pela Ásia (240) e a Europa (154). Uma das características da nanotecnologia é sua multidisciplinaridade, pois é um encontro da química, física, engenharia e biologia. Mas, na escala manométrica, muitas propriedades dessas ciências mudam radicalmente, o que obriga especialistas das diferentes áreas a trabalhar em conjunto para compreender e utilizar as propriedades dos nanossistemas. Os setores que mais têm lançado produtos obtidos por via nanotecnológica ou contendo nanotecnologia embarcada são os de energia, iluminação, automobilismo, embalagens, cosméticos, tecidos, fármaco e esportes. O setor de ciências da vida merece recorte especial: além da área de fármacos, já existe no mercado, aprovados ou em vias de aprovação, diversos produtos nanotecnológicos, entre eles os materiais implantáveis, materiais bioabsorvíveis, materiais para reparação óssea, sensores implantáveis (pressão), sistemas de drug-delivery com sensores e autodosadores (insulina) sistemas de processamento de alta performance e multianálise (DNA), implantes de retina e sistemas de audição. O setor eletrônico de alto desempenho também continua em forte atividade, informa a Cartilha sobre Nanotecnologia, editada pela ABDI, em parceria com a Fundação de Desenvolvimento da Universidade de Campinas (Funcamp).

NOVEMBRO 2011 | INOVA

shutterstock

em de olho

25


Laboratórios da Nanox: primeira empresa de nanotecnologia do país fatura R$ 2 milhões por ano e exporta 40% de sua produção

A nanotecnologia está presente nos motores de combustão interna, para reduzir a emissão de poluentes. Nos vidros eletrocrômicos, para controle da luminosidade dentro do veículo... Na pintura, dando-lhe maior resistência. Nos pneus, que ganharam aderência.” Marcus Vinícius Aguiar, da Anfavea e responsável pela área de engenharia de produtos da Fiat

26

reduzir a emissão de poluentes. Nos vidros eletrocrômicos, para controle da luminosidade dentro do veículo. Na superfície dos vidros, para impedir acúmulo de água e poeira, podendo dispensar limpadores. Na pintura, dando-lhe maior resistência. Nos pneus, que ganharam aderência. Nos estofados, que recebem tratamento antibactericida”.

Marco regulatório Começam aqui a aparecer os contras. Essas inovações, por enquanto, só estão presentes nos automóveis importados, e de luxo. Nos fabricados no país, a nanotecnologia é apenas incipiente, comenta Aguiar, pois “falta uma plataforma de fornecedores e, além disso, o foco do mercado é o carro popular, com produção barata.” Ele acredita que, no setor automotivo, essa tecnologia será introduzida gradativamente, começando pelos componentes eletroeletrônicos. “A nanotecnologia pode facilitar a reciclagem de componentes e ajudar na redução do peso total do veículo, diminuindo os níveis de emissão de gases poluentes e gastos com combustíveis.” O que mais tem retardado a adoção da nanotecnologia nos processos de produção tem sido a falta de um marco regulatório e de estudos que tornem mais seguros a pesquisa, a fabricação e o consumo de produtos nano-

tecnológicos. Marcelo Kós, da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), resumiu bem essa preocupação geral: “Falta uma regulamentação que defina o que é nanotecnologia. Hoje, tudo pode ser e tudo pode não ser. A nanotecnologia precisa ser uma solução segura, dentro das práticas de boa fabricação e da política de atuação responsável que preconizamos”, afirma. A questão da segurança também é preocupação de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo, que sugere em todos os projetos de investimentos em nanotecnologia, que seja reservada uma parcela para estudos e avaliação de seus impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Daniel Minozzi, da Nanox, empresa pioneira no setor, considera natural o temor dos efeitos da nanotecnologia ao ser humano e ao meio ambiente. “O desconhecido é duvidoso e nanotecnologia é desconhecida para a maioria das pessoas. Na Nanox, sofremos com o retardo de lançamento de produtos pela falta de legislação e regulação específica. Talvez esse seja o preço do pioneirismo”, diz ele. Por se tratar de uma tecnologia emergente, não existem ainda padrões consensuais ao redor do mundo, o que torna o debate mais complexo. Nos últimos três anos, várias agências internacionais, organizações e


fotos: divulgação

governos passaram a elaborar recomendações, normas e procedimentos. Procuram chegar a uma definição na linha da Reach (cujo nome é formado pelas iniciais de registro, avaliação, autorização e restrição a produtos químicos – em inglês, registration, evaluation, authorisation e restriction –, os chemicals), conjunto de normas para produtos químicos na área da União Europeia, em vigor desde 2007.

Receita para avançar Hoje, o Brasil precisa exportar 21.445 toneladas de minério de ferro ou 1.742 toneladas de soja para importar 1 tonelada de circuitos integrados. Com esta comparação, Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), defende a aplicação de novas tecnologias no processo industrial. Para sustentar o crescimento, diz ele, as empresas precisam diversificar sua produção e serviços, o que só ocorre quando há ampliação de suas competências. Arbix informa que, para investimentos em nanotecnologia, de 2009 a 2011, a Finep liberou R$ 143 milhões para auxílio a instituições de pesquisa e desenvolvimento e universidades, sendo R$ 104 milhões para projetos e R$ 40 milhões para subvenções a empresas.

Maior empresa de nanotecnologia brasileira quer ampliar mercado Em 2004, Gustavo Simões, André Araújo e Daniel Minozzi, pesquisadores-graduandos de eletroquímica e cerâmica da Universidade São Carlos e da Universidade Estadual de São Paulo, decidiram passar da teoria à prática: transformar pesquisas em soluções para a vida cotidiana e oferecer tecnologia de qualidade às empresas brasileiras. Criaram então a Nanox, a primeira empresa de nanotecnologia do Brasil. Sete anos depois, a Nanox é a maior empresa de nanotecnologia do país, com faturamento anual de mais de R$ 2 milhões e exporta 40% de sua produção. Seus 20 funcionários têm nível de graduação, mestrado ou doutorado, e dedicam 75% de seu tempo ao desenvolvimento de novos produtos e aplicações. A linha de produtos da empresa tem como característica a capacidade de matar microorganismos, como fungos e bactérias. Foi batizada de Nanox Clean e é aplicada aos mais diversos materiais: plásticos, vidros, cerâmicas, tintas e vernizes, por exemplo. O impulso inicial foi dado pela aprovação de um projeto para desenvolvimento de coatings, tintas destinadas a revestimentos nanoestruturados, dentro do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O segundo apoio importante veio com o aporte financeiro de uma empresa de capital de risco, por meio do fundo Novarum, em 2006. Daniel Minozzi, diretor de negócios, afirma que difícil não foi inovar e criar uma linha de produtos. Difícil, segundo ele, tem sido conquistar o mercado. “As dificuldades iniciais ainda persistem, porque são poucos os setores que investem em tecnologias e apostas futuras. Agora, com a estabilização da economia, acreditamos que o perfil do empresário comece a mudar.” O primeiro cliente da Nanox foi a Taiff, fabricante de secadores para cabelos e artigos similares. Ela escolheu o produto como um diferencial de seus aparelhos para evitar proliferação de bactérias durante o uso. Com a mesma finalidade, a tecnologia foi adotada nos bebedouros fabricados pela IBBC, nos materiais e equipamentos odontológicos da Dabi Atlante, na linha branca da multinacional mexicana Mabe, e na linha premium da General Electric. “Passamos agora por uma reestruturação do foco do negócio. Queremos aumentar nossa capacidade comercial, com a transformação de soluções tecnológicas personalizadas em produtos que possam ser mais capitalizados e distribuídos ao mercado. Estamos finalizando a negociação com um grande player internacional, interessado em distribuir mundialmente alguns de nossos produtos”, diz Minozzi. A empresa também desenvolve a aplicação de nanotecnologia antimicrobiana em embalagens de alimentos, com financiamento da Finep. Para iniciar o trabalho, foi necessário obter aprovação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que realizou rigorosos testes para comprovar a segurança do produto. Os produtos da empresa também têm uso em centros cirúrgicos e outros locais onde a contaminação por microorganismos é grande. São clientes da Nanox alguns produtores de cerâmicas e revestimentos, tintas, metais sanitários e instrumentos. Para Minozzi, a mercado tende a se ampliar com o aumento da consciência da segurança que um ativo bactericida oferece. E, se o mercado nanotecnológico crescer, os resultados serão sentidos até na balança comercial brasileira.


empreendedorismo

Modelo criado para circular em corredores: adotado para a Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016

ônibus brasileiros rodam Nosso maior legado é o investimento na formação e profissionalização dos colaboradores. Quanto maior o aprimoramento profissional e social da comunidade onde a empresa está, melhor para todos” Paulo Bellini, presidente do Conselho de Administração da Marcopolo

28

INOVA | SETEMBRO NOVEMBRO 2011 2011

Com estratégia diferenciada na produção de veículos, fabrica Clébio Cantares clebio@abcdmaior.com.br

aulo Bellini, presidente do Conselho de Administração da Marcopolo, tem 82 anos e uma rotina inabalável: todo dia percorre a fábrica e conversa com os trabalhadores. Para ele, é desse contato direto que surgem muitas ideias que acabam sendo acatadas pela direção da empresa. E os números indicam que essa postura não será alterada, isso porque a Marcopolo não só é a primeira fabricante brasileira de ônibus, mas a terceira do mundo. Criada há 62 anos e sediada em Caxias do Sul, na serra gaúcha, desde seu surgimento a empresa tem um caráter inovador, e até visionário. Em 2000, por exemplo, a companhia criou o teto removível para veículos. A encomenda era de um cliente do Oriente Médio e os veículos seriam usados na peregrinação para as cidades de Meca e Medina. “Por causa da tradição e religião, os ônibus não poderiam ter teto, já que nada deve existir entre a cabeça dos fieis e o céu”, conta o empresário. Entre os casos curiosos, lembra os veículos com acabamentos em ouro encomendados por xeiques árabes, e veículos com estrutura em aço inoxidável,

para circular em áreas aonde a temperatura chega a 50 graus Celsius negativos.

Inovar na produção “Nosso maior legado é o investimento na formação e profissionalização dos colaboradores. Quanto maior o aprimoramento profissional e social da comunidade onde a empresa está, melhor para todos”. Com este princípio em mente, Bellini passou boa parte de cada ano, nas últimas décadas, em viagens para visitar clientes, estreitar o relacionamento e captar suas especificidades, necessidades e desejos. Muitas vezes, ia acompanhado por alguns de seus executivos. De volta à fábrica, era hora de implementar, na linha de produção, o que fosse necessário para atender à demanda”, continua Bellini. Ele destaca, como característica de seus produtos, a qualidade e a flexibilidade no atendimento a cada pedido. Foi esse o caminho trilhado para inovar e produzir carrocerias “personalizadas”, desenvolvidas de acordo com as características do cliente e do local onde seriam utilizadas. “A empresa construiu seu port­fólio sempre com foco nas necessidades do cliente. A velocidade, a flexibilidade e a qualida-


fotos: divulgação

Fábrica em Caxias do Sul, unidade Ana Rech: produção de ônibus rodoviário, urbanos, micro e mini

rodam o planeta nte brasileira de ônibus torna-se a terceira maior do mundo de foram possíveis graças ao investimento que sempre foi feito em treinamento e na motivação dos colaboradores para que o resultado fosse sempre o melhor: ônibus perfeitos e no prazo solicitado”, afirma.

Preocupação ambiental A partir dos anos 90 a Marcopolo já dominava cerca de 50% da produção nacional, e buscou a internacionalização, até para enfrentar as crises econômicas pelas quais o Brasil passava. Expandiu-se, então, instalando unidades em diversos países, como Argentina, Colômbia, México, África do Sul, Índia e Egito. Com os novos mercados, a empresa teve de ser ainda mais competitiva e oferecer maior velocidade na resposta aos pedidos dos clientes, conta Bellini. “Tivemos de nos reinventar para resistir e pudemos desenvolver tecnologia própria. Evoluímos e conquistamos a imagem de excelência em qualidade dos nossos produtos”, afirma. A busca da inovação se faz em cada detalhe, com foco no conforto e na segurança dos usuá­ rios e na preservação ambiental e sustentabilidade dos produtos.

São mais de 300 profissionais, em várias partes do mundo, envolvidos no trabalho de desenvolver processos, materiais e produtos. Segundo Bellini, o objetivo é dar mais rapidez à montagem do ônibus, com menor agressão ao ambiente. Por isso, é crescente o uso de materiais recicláveis e reciclados, visando também a redução de peso do veículo e assim baixar o consumo de combustível e a emissão de poluentes. Neste final de ano, a empresa conclui um plano de investimentos de R$ 350 milhões, para atender o aumento da demanda prevista até 2015. “A Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016 são dois impulsionadores do mercado brasileiro e demandarão grande investimento em infraestrutura viária e transporte coletivo, com aumento de produção e demanda de ônibus. Estamos preparados e esperando por esse crescimento”, afirma Bellini.

marcos da Marcopolo São 62 anos de atividades e 20 mil funcionários em todo o mundo, 12.600 no Brasil. Em 2010 a maior empresa nacional do setor alcançou 46% do mercado nacional e entre 6 e 7% do mercado mundial. A receita líquida em 2010 foi de quase R$ 3 bilhões e a previsão para 2011 é de R$ 3,25 bilhões, com produção de 30 mil ônibus em todas as suas unidades (Brasil, Argentina, Colômbia, México, Egito, África do Sul, Índia e China). As duas fábricas de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, fabricam 55 ônibus/dia, entre rodoviários, urbanos e micro/miniônibus. Já a Ciferal, localizada em Xerém, Rio de Janeiro, produz 25 ônibus/dia. Do total previsto para 2011, cerca de 19,5 mil veículos serão feitos no Brasil e os restantes no exterior (na Índia estão duas unidades que, juntas, produzem 25 mil ônibus/ano, a maior estrutura do gênero no mundo). A partir de 2012 a fábrica da China – responsável pela exportação para a Rússia – fará carrocerias de ônibus que serão montadas sobre chassis da empresa Nefaz, do grupo russo Kamaz, com quem a Marcopolo formou joint venture em setembro passado.

29


Direto de Berlim Flávio Aguiar correspondente em Berlim flavio-aguiar@t-online.de

O vai e vem da política energética da Alemanha

Sob o sol da Sardenha: cresce o uso de energia solar

interesse pelo tema “energia” me foi renovado, recentemente, numa viagem de férias à Sardenha, na Itália. Lá encontrei máquinas que dão cartões de estacionamento, movidas por um pequeno coletor de energia solar sobre elas. A quantidade de hotéis e restaurantes que usam energia solar é muito grande. Muito original, pensei. De volta à Alemanha, me pus a pesquisar sobre o tema, aqui sempre candente, da substituição da energia produzida em usinas nucleares ou a partir de fósseis (como carvão e petróleo) por energias renováveis. Aparentemente simples, o quadro é para lá de complicado. Na Alemanha a preocupação com energia é tamanha que ela chegou às caixas coletoras de lixo. Estas, aliás, são um caso à parte, pois são decoradas por gente especializada em humor. Encontra-se, por exemplo, numa delas, escrito: “Depósito para todos os corpos de delito”. No caso da energia, encontram-se pela cidade caixas com a palavra “Stromkasten” que, em tradução livre, quer dizer “caixa coletora de energia”. Interessante, como política educativa. Porque a questão é urgente, de um lado, e de longo prazo, de outro.

30

INOVA | NOVEMBRO 2011

flávio aguiar

Maior consumidor de eletricidade da Europa, o país vive um dilema na questão energética

Nas ruas da Alemanha: eram só caixas de lixo, agora são caixas coletoras de energia

Em primeiro lugar, em matéria de energia os números alemães são impressionantes. A Alemanha é a quinta economia do mundo, em termos de PIB, e é também o quinto país consumidor de energia per capita. Antes do acidente nuclear de Fukushima, no Japão, depois da tsunami de 11 de março deste ano, 23% da energia elétrica consumida no país vinha de suas usinas nucleares (um percentual quase igual ao dos Estados Unidos). Ao lado disso, a Alemanha é o quar-

to maior consumidor de carvão do mundo e o terceiro de gás natural, sendo o maior consumidor de eletricidade da Europa. É o quinto consumidor de petróleo no mundo, e seus maiores fornecedores são a Rússia, a Noruega e a Grã-Bretanha. Mexer com um gigante desses não é fácil. Assim mesmo, os planos são ousados. A política energética do país prevê, por exemplo, reduzir as emissões de CO² em 40% em relação ao nível de 1990 até 2020, e 80% até 2050. A meta para as energias renováveis é que elas representem 18% da energia produzida até 2020, subindo a 30% em 2030 e a 60% em 2050. Quanto ao consumo de eletricidade a meta é que as energias renováveis sejam responsáveis por 35% em 2020 e 80% em 2050. O setor vem crescendo e hoje gera 370 mil empregos na Alemanha. Na produção atual, 11,8% vem de biogás, 19,8% de biomassa, 6,6%, de energia solar, as hidrelétricas representam 20,3% e a eólica – considerada a forma mais promissora – 40,4%, vindo o restante de outras fontes. A política energética na Alemanha sofreu duas reviravoltas dramáticas recentemente. Em 2000, o governo federal, então formado por uma coalizão entre o Partido


shutterstock

Social Democrata (SPD) e o Partido Verde (PV), previra o fechamento das 17 usinas nucleares do país até 2021. Entretanto, em 2010, a nova coalizão governamental, da União Democrata Cristã (CDU), o Partido Democrático Liberal (FDP) e a União Social Cristã (CSU), da Baviera, determinou a ampliação do prazo para 2035. Logo depois do desastre de Fukushima o governo voltou atrás: fechou seis usinas, decidiu não reabrir duas que estavam fechadas por problemas técnicos e determinou o fechamento das demais até 2022. Isso não impediu sua popularidade de desabar, tendo a coalizão enfrentado derrotas importantes em eleições regionais.

SOBE A TEMPERATURA Porém o movimento trouxe novas preocupações, entre elas a de aumentar a dependência do país em relação às importações de gás e petróleo russos. Para completar, o verão deste ano, considerado muito frio face à média, retardou a expansão da produção de energia solar. Houve um aumento de 10%, nos últimos meses, no preço da energia elétrica e a demanda não parou de crescer, com a entrada do outono e a proxi-

midade do inverno pressionando a situação. Como se não bastasse tudo isso, a temperatura política no país e na Europa aumentou consideravelmente, com o aprofundamento da crise do euro e o risco de uma recessão profunda trovejando no horizonte. Para contrabalançar esse quadro assustador, a Alemanha passou a importar mais energia de vizinhos próximos: França, República Tcheca e Polônia. Novos problemas se acumularam no horizonte já carregado. Na França, 75% da energia consumida é produzida por usinas nucleares: é óbvio que daí provém a energia exportada para a Alemanha. Na República Tcheca existem duas usinas nucleares, a de Temelin e a de Dukovany, responsáveis pela exportação, e onde, ao contrário da Alemanha as usinas nucleares estão em expansão, com o apoio da população. Ocorre que Temelin é considerada uma das usinas mais inseguras da Europa, tendo já registrado 130 acidentes, embora nenhum de monta, como os de Fukushima e Chernobyl. Ou seja, de momento, a Alemanha terceirizou o problema das usinas nuclea­ res, o que, no dizer do professor Konrad Kleinknecht, ex-membro da direção da Sociedade Alemã de Física, a maior or-

ganização no gênero em todo o mundo, corresponde ao que ele chama de “a hipocrisia alemã” (“Germany Energy Revolution depends on Nuclear Imports”, em www.spiegel.de/international), completando: “A única diferença é que outros países agora correm o risco”. Afirmação relativa, já que Temelin fica a apenas 100 quilômetros da fronteira alemã. A situação, portanto, está longe de estar politicamente resolvida, e até mesmo a atual resolução do governo pode sofrer pressões para ser novamente mudada, embora tenha amplo apoio partidário e da maior parte da população (pelo menos 51%, de acordo com as últimas pesquisas). “Last, but not least”, há o problema do custo. O governo orça o preço da mudança em 55 bilhões de euros (US$ 76,67 bilhões), em dez anos. Porém outras fontes, entre elas o Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW, equivalente ao nosso BNDES, mas sem o mesmo porte), orçam a mudança em 250 bilhões (US$ 348,4 bilhões), uma diferença assustadora. Enquanto isso, para voltarmos à bela Sardenha, o uso de energia solar por lá cresce a 14% ao ano, taxa ainda considerada insuficiente diante do potencial da ilha.

NOVEMBRO 2011 | INOVA

31


Direto do texas João Valentino correspondente no Texas joaovalentino@abcdmaior.com.br

Da esquerda para a direita: professores Mayana Zatz (USP), Carlos Alfredo Joly (Unicamp), Ricardo Renzo Brentani (USP) e Thomas Lovejoy (George Mason University). Foto maior: professor Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp

Fapesp Week marca início das comemorações dos 50 anos da agência paulista de financiamento e aproxima cientistas brasileiros e norte-americanos

Uma semana de ciência pesquisa brasileira foi um dos importantes assuntos em debates recentes na academia dos Estados Unidos. Entre os dias 24 e 26 de outubro, em Washington DC, o Woodrow Wilson International Center for Scholars (Centro Internacional para Acadêmicos Woodrow Wilson), que tem o objetivo de estimular o desenvolvimento de pesquisas locais e internacionais, sediou a Fapesp Week (Semana da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O evento, parte das comemorações dos 50 anos da agência paulista fundada em 1962, teve a participação de dezenas de pesquisadores brasileiros e norte-americanos, e, além de apresentar um panorama do estudo científico no Brasil, tinha entre as metas intensificar a parceria entre os dois países na área. Como parte do evento, foi aberta a exposição Natureza Brasileira – Mistério e Destino, com uma série de gravuras da expedição do pesquisador alemão Carl Friedrich von Martius

32

INOVA | NOVEMBRO 2011

ao Brasil, feita no início do século 19. Alguns dos mais destacados cientistas brasileiros, ligados a USP, Unicamp, Unesp, Inpe e Instituto Butantan, e que desenvolvem trabalhos financiados pela Fapesp, participaram do evento como palestrantes. Entre os debatedores norteamericanos, havia representantes de instituições como o Museu de História Natural e das universidades de Ohio, Cornell, George Mason, da Pensilvânia, da Califórnia, do Arizona, do Texas, e City College, de Nova York. Os temas que ganharam mais destaque foram os relacionados a biodiversidade, biocombustíveis, novos medicamentos e engenharia genética. Para o presidente da Fapesp, Celso Lafer, um simpósio dessa magnitude mostra a força da instituição em seu meio século de existência e estimula “o fortalecimento da interação entre cientistas no mundo globalizado”. As mudanças globais no clima foram assunto do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara. Ele apresentou os métodos usa-

dos pelo instituto brasileiro para coleta de dados da ação humana sobre o meio ambiente e a sua utilização na prevenção de desmatamentos e na redução de emissão de gases poluentes. O destaque ficou por conta da eficiência do sistema computadorizado para esse fim, que está em desenvolvimento no instituto. O tema foi complementado pelo professor Reynaldo Victoria, do Centro de Energia Nuclear Aplicada à Agricultura, da USP, que falou sobre o Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, que tem investimentos da ordem de US$ 30 milhões feitos pela Fapesp, e que conta com um supercomputador, comprado em parceria pela Fapesp e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, instalado no Inpe. Em sua apresentação, Victoria anunciou a ampliação desse programa, por ele coordenado, de 40 para 60 pesquisas, até março próximo. Assim, como disse o pesquisador, será possível cobrir novas áreas, como “saúde, paleoclimatologia e o papel do Atlântico Sul nas mudanças climáticas”. Outra apresentação bastante concorri-


JVInfante Photography

brasileira em Washington da foi a do biólogo Carlos Joly, da Unicamp, que falou do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, mais conhecido como Biota/Fapesp. O levantamento de dados feitos pelo programa é usado pelo governo paulista na definição de políticas ambientais e é, ao mesmo tempo, voltado para o treinamento de pesquisadores e técnicos do setor, além de fazer mapeamento e análise da origem e da distribuição da fauna e da flora de São Paulo. “O programa é um exemplo importante de como traduzir o conhecimento adquirido em políticas públicas e tem ajudado a aproximar cientistas de formadores de políticas públicas no Estado de São Paulo”, disse o pesquisador. No entanto, apesar de haver um número considerável de projetos ambientais no Brasil, o professor Thomas Lovejoy, da Universidade George Mason, do Estado americano de Virgínia, reiterou a advertência de que a Amazônia está perto de atingir um estado de degradação sem

retorno. Para Lovejoy, que desenvolveu continuada pesquisa na região, o desmatamento e as queimadas, associadas ao aquecimento global, estão arruinando o sistema hidrogeológico amazônico. Se alguns fatores dependem de acordos internacionais, outros devem ser atacados exclusivamente pelo Brasil, como o desflorestamento, que, ao alcançar 20% de sua área original, lançaria a floresta num processo de degradação irreversível. E hoje, segundo ele, esse índice já é de 17%. O Programa de Pesquisa em Bioenergia, que recebe US$ 130 milhões da Fapesp, apresentado por Glaucia Silva, pesquisadora da USP, teve o detalhe de tocar em questão crucial aos Estados Unidos. O tema vem sendo insistentemente discutido no país, que busca meios para evitar crises de energia e reduzir sua dependência dos produtores de petróleo. O ponto de maior interesse foi o desenvolvimento de um bioquerosene para aviões. O estágio atual da pesquisa exige inovações em processos de reações químicas e de separação de partículas, para garantir elevado

grau de pureza ao combustível, condição para seu uso em elevadas altitudes. A pesquisadora também falou do estudo estratégico para sua produção descentralizada, em vários polos brasileiros, com vistas à redução dos custos de transporte. O Brasil se encontra em estágio avançado em pesquisas do gênero, o que proporcionou a assinatura de um acordo entre Fapesp, Embraer e a norte-americana Boeing, líder mundial em produção de aeronaves, para impulsionar pesquisas no setor (assunto abordado na edição 14 de INOVA). Entre as dezenas de outras pesquisas apresentadas na Fapesp Week, também foram debatidos os estudos de células tronco, expostos pela professora Mayana Zatz, da USP, que focou em especial a utilização da pesquisa para tratamento de doenças neuromusculares e caranifaciais; e de produção de medicamentos e vacinas a partir de peçonha e secreções de peixes, aranhas, carrapatos, cobras e lagartos, pelo pesquisador Hugo Armelin, do Instituto Butantan.

NOVEMBRO 2011 | INOVA

33


DIVULGAÇÃO

ponto de vista | Glauco Arbix

O esforço pela tecnologia egundo a agência Reuters, a China está em vias de implementar um plano de investimentos de mais de US$ 1 trilhão nos próximos cinco anos. Ele visa superar a atual condição do país de fornecedor de produtos baratos ao mundo para se transformar em provedor de tecnologias de alto valor agregado. As pretensões do governo chinês de catalisar uma mudança estrutural em sua economia assusta os países avançados e coloca o debate sobre o futuro dos países emergentes em um novo patamar. Tanto pelo volume de recursos, ou pela alteração do padrão de relacionamento da China com os países em desenvolvimento, quanto pela mudança de sua demanda global e pelo desequilíbrio a ser gerado na formação dos preços internacionais. Entre os setores em foco estariam: energias alternativas, biotecnologia, tecnologias da informação equipamentos industriais de alta tecnologia, materiais avançados, carros movidos a combustíveis alternativos e tecnologias para poupar energia e não agressivas ao ambiente. Como se vê, áreas críticas que, de imediato, fazem-nos salivar de inveja, pois, como os chineses, ainda somos frágeis em todas essas dimensões. O dinamismo das economias mais avançadas tem por base as relações entre conhecimento e inovação gestadas no interior das empresas, as vezes explicitadas em departamentos específicos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Além dessa dimensão estritamente privada e interna às firmas, existem ainda articulações com centros e instituições de ciência e tecnologia (C&T), além de um fundamental sistema educacional com largo acesso da população. O conhecimento adquiriu uma função chave nos processos produtivos e nos serviços modernos de tal forma que o padrão de acumulação de ca-

34

INOVA | NOVEMBRO 2011

pital contemporâneo é caracterizado pela chamada economia baseada no conhecimento. Nesta, as atividades de P&D são consideradas como a fonte especialmente relevante para a geração de conhecimento novo, e envolve um processo amplo de capacitações da empresa, como a qualidade coletiva de seus recursos humanos, a capacidade de aprendizado coletivo de sua força de trabalho, a presença permanente de cientistas e engenheiros em centros internos de pesquisa e a vinculação a redes de conhecimento relevantes para o aprimoramento de suas competências. Assim, é amplo o consenso sobre a estreita associação entre desenvolvimento econômico e conhecimento e a inovação tecnológica, e o papel especial das empresas na introdução e difusão de inovações no processo produtivo. No entanto, o consenso não é tão amplo sobre como fazer e difundir inovação tecnológica, especialmente em condições históricas de desenvolvimento econômico de países como o Brasil. Existem duas questões básicas nesse debate. A primeira está relacionada às características das empresas líderes estabelecidas e sua capacidade de acumular recursos e competências em intensidade e densidade suficientes para puxar ou difundir capacidades e progresso por todo o sistema produtivo. A segunda questão diz respeito ao papel das políticas públicas no fomento às atividades de P&D das empresas. As visões do papel das políticas de fomento variam do puro liberalismo de que o sistema de preços é capaz de alocar e estimular eficientemente os recursos de P&D, até a necessidade de intervenção do Estado por meio de políticas de incentivos direcionadas e focalizadas, e mesmo a criação de empresas e instituições de C&T em setores intensivos em tecnologia. O governo da presidente Dilma Roussef foi eleito baseado na segunda

visão, seguida por todas as nações desenvolvidas e por aquelas em processo acelerado de desenvolvimento, independendo da retórica ideológica adotada pelos seus governos. É com essa inspiração que a FINEP se coloca no debate sobre a aplicação dos recursos para a inovação. A instituição investiu cerca de R$ 300 milhões em 2003, e apoiou 70 empresas. Em 2010, executou R$ 4 bilhões e alcançou quase duas mil empresas, um salto gigantesco. E só não aparece maior diante do desafio de investir R$ 40 bilhões em 2014, cifra que estimula o atual debate na FINEP e em todo o governo para a sua plena transformação em instituição financeira. A meta não é mística, mas se baseia na parcela do investimento que o país necessita aplicar, caso pretenda se transformar efetivamente em uma potência energética, alimentar e ambiental. Esse esforço, porém, não deve partir apenas das instituições públicas, mas tem de se localizar nas intersecções com a sociedade, as empresas e centros de pesquisa, nas dimensões regionais e nacional. Superar a dependência do Brasil das commodities é o desafio maior. Por isso mesmo, o desafio chave diz respeito a necessidade premente de desenvolver a qualificação da mão de obra e melhorar a qualidade da educação, sem as quais a capacitação tecnológica das empresas continuará sendo exceção. O país vive um momento especial e, diferentemente de outros momentos da história, há condições reais para uma evolução acelerada a um patamar superior de civilização. No que depender da FINEP como a Agência Nacional da Inovação, esse salto deixará o reino dos sonhos e se tornará parte constitutiva da nova economia brasileira, muito mais inovadora e sustentável. Glauco Arbix é professor da USP e presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Agência Nacional da Inovação.



36

INOVA | NOVEMBRO 2011


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.