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ANO 2 | NO 12 | AGO 2011

R$ 12,00

andris bovo

EXEMPLAR CORT E SIA

pacto de inovação De olho no Brasil Estudantes estrangeiros descobrem um novo País

maurício borges O presidente da Apex-Brasil fala sobre a nova política para exportação, baseada em inovação

APEX-Brasil/Divulgação

plano brasil maior enfrenta a desindustrialização




editorial

Atraindo inteligência – É só enxergar o que está ocorrendo nas ruas e supermercados. Na Europa e Estados Unidos, o comércio está vazio. Europeus e americanos não enfiam a mão nos bolsos para nada. Não consomem nada. E, aqui, veja as ruas... Eles não estão interessados apenas em comprar a Schin para controlar 100% das cervejarias brasileiras. Eles querem cada centímetro do Brasil... Colhida em conversa de padaria, a observação empírica do renomado publicitário Eduardo Fischer – recém chegado de viagem à Europa e Estados Unidos –, a crise financeira de proporções ainda insuspeitas, está no centro dos desafios colocados aos brasileiros no futuro imediato. Ao mesmo tempo em que aparece como pesadelo, também motivou o governo da presidente Dilma Rousseff a anunciar neste início de agosto o Plano Brasil Maior. Resgatar a competitividade e a capacidade de inovação da indústria brasileira, ameaçada pela invasão de importados, é o novo foco da política industrial do governo brasileiro e o objeto da reportagem especial desta edição. “É como se fosse um incêndio na fábrica” alerta o deputado federal José De Filippi (PT/SP), na mesma reportagem, para justificar a necessidade de governo, empresários e trabalhadores repactuarem políticas que possam garantir competitividade e inovação para a indústria brasileira. O calor desse “incêndio”, aliás, já vinha motivando sindicatos tradicionalmente atentos aos interesses dos trabalhadores, como o dos Metalúrgicos do ABC, a se mobilizarem em busca de alternativas para “apagar o fogo”. Depois de inúmeras iniciativas de buscar o diálogo com empresários e governo, em meados de julho, metalúrgicos decidiram ir às ruas para exigir providências, ocupando a Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, como mostra a foto de capa desta edição.

ANDRIS BOVO

Depois de incluir a palavra inovação no nome do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – e, por

extensão, tudo que ela representa – o ministro Aloizio Mercadante explica decisões estratégicas contidas no Plano Brasil Maior, entre elas a capitalização da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a criação da Embrapi, a Empresa Brasileira de Pesquisas Industriais, a Embrapa da indústria. Mas o Plano traz ainda outras iniciativas igualmente ousadas. Entre elas, pela primeira vez se fala em renúncia fiscal com contrapartida em investimentos em inovação e preservação de componentes da indústria nacional. Uma pancada nas importadoras de automóveis. Outra medida de importância igualmente estratégica, embora possa ser considerada apenas como primeiro passo – experimental – é a desoneração da folha de pagamentos. O conjunto de decisões resumidas nestas páginas de INOVA, independente do que venha a representar de fato para a indústria brasileira, por si mesmo é um sinal extremamente positivo para o Brasil. Com o Plano, a presidente Dilma Rousseff mostrou que seu governo não está de mãos amarradas e dará continuidade aos avanços conquistados durante os oito anos do governo Lula. Sem deixar que o poder lhe suba à cabeça, e sem esmorecer diante do pessimismo e das contradições da mídia conservadora, ela vem enfrentando e superando obstáculos que normalmente imobilizam governos sem espinha dorsal. Com isto, depois de seis meses de governo, tudo indica que, sob o comando da primeira mulher presidente, o Brasil vai continuar caminhando para um futuro de justiça social e desenvolvimento sustentável. É o que explica o fato de estar hoje entre os países que mais atraem inteligência internacional, como revelam as reportagens do correspondente Flávio Aguiar e da repórter Rosangela Dias.

o editor


ANO 2 | NO 12 | AGO 2011

6 Entrevista

Um mês antes das novas medidas: manifestação de metalúrgicos do ABC e de São Paulo

Maurício Borges Presidente da Apex-Brasil avalia os entraves da exportação brasileira, a disputa com a China e o papel da inovação

20 Pesquisa

Inovação Psicóloga conclui que inovação e criatividade acontecem mais em empresas nascentes

21 Produto

Odontologia O material que era usado apenas na construção civil vai parar na boca dos pacientes

ANDRIS BOVO

22 Internacional

Educação O correspondente Flávio Aguiar conversa com estudantes alemães que só querem saber do Brasil

a vez do plano maior 12 Medidas do governo mexem com a indústria brasileira e podem provocar um salto de inovação 16 Governo, trabalhadores e empresários

enfrentam o desafio do futuro

25 Intercâmbio

Educação A prática se inverte e os professores estrangeiros desembarcam no Brasil

26 Política Social

Segurança No combate à criminalidade, estados do nordeste utilizam métodos da administração privada na gestão pública

28 Investimentos

Automóveis Montadoras instaladas no Brasil encaram os chineses

29 Tecnologia

Plástico O plástico de origem renovável já está no mercado

30 Sustentabilidade

Lixo Tem quem não acredite, mas a Usinaverde garante que transforma o lixo e não polui

Valter Campanato | ABr

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dilma rousseff Tudo pela inovação: mais dinheiro, mais bolsas de estudo e novas políticas

33 Tecnologia

Transporte Simulador de comboios fluviais treina técnicos no transporte de combustíveis

38 Ponto de Vista

Patricia Tavares Magalhães de Toledo Com mais núcleos de inovação tecnológica, a parceria entre universidades e empresas fica muito mais fácil

EXPEDIENTE: INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 DIRETOR: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) EDITOR: Sérgio Pinto de Almeida EDITORa assistente: Sonia Nabarrete Participaram desta edição: Claudia Mayara, Clébio Cavagnolle Cantares, Joana Horta, Laís Correard, Maurício Thuswohl e Rosângela Dias. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami TRATAMENTO DE IMAGENS: Fabiano Ibidi DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 4335-6017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Jéssica D’Andréa Impressão: Leograf Tiragem: 25 mil exemplares

AGOSTO 2011 | INOVA

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entrevista

Maurício Borges

Celso Horta

celso@abcdmaior.com.br

Maurício Borges é PhD em direito internacional e mestre em direito comercial europeu pela Universidade de Bristol, na Inglaterra. À frente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), tem a missão de ampliar a presença do produto brasileiro no mercado internacional, apostando em tecnologia e inovação. Mineiro, nascido em Patos de Minas, foi coordenador de inovação e gerente da área internacional da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi) e gerente de comércio exterior no Sebrae de São Paulo.

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FOTOS: APEX-Brasil/Divulgação

novas rotas para as exporta


exportações brasileiras Presidente da Apex-Brasil, entidade organizada durante o governo Lula, Maurício Borges tem a missão de liderar as empresas brasileiras para que exportem mais e produtos com maior valor agregado INOVA – A sua presença na Apex-Brasil significa que o Brasil parou de exportar inteligências? Maurício Borges – Fui pesquisador, bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Fui para o exterior e vivi essa realidade. Desde a década de 1990, os pesquisadores começaram a querer voltar para o Brasil. Você vê um retorno e um aumento das parcerias e a troca está acontecendo cada vez mais. Há pouco tempo isso não acontecia porque não havia estrutura aqui. Hoje nós temos laboratórios, centros de pesquisa e alta tecnologia e os centros de pesquisa internacionais estão buscando esses profissionais para fechar parcerias bilaterais, não apenas importando o pesquisador. Estive na Inglaterra e vi um centro de pesquisas, em Bristol, estudando a molécula da mandioca. Com recursos de fundos europeus, essa pesquisa está sendo estendida para um centro de pesquisas no Brasil. INOVA – Segundo o discurso do empresariado brasileiro, é impossível enfrentar o mercado externo com as atuais taxas de juros e de câmbio. Como a ApexBrasil responde a essa reclamação? MB – Juros e câmbio podem alavancar, mas não podem ser uma moeda de troca. A Alemanha é hoje um dos maiores exportadores do mundo e sua mão de obra é muito cara. A Inglaterra é outro exemplo. Não sou ingênuo, sei que existem outros fatores que pesam nessa balança, como investimentos, tecnologia, design e inovação, que fazem com que você se torne mais ou menos competitivo e supere essa questão (juros e câmbio) ou outras. INOVA – Antes de assumir a presidência, como gerente técnico e diretor de negócios, o senhor estruturou e coordenou os atuais Projetos Setoriais Integrados (PSI). Como definir as prioridades por setor? MB – Nós organizamos as ações por complexos – alimentos, bebidas e agronegócios; casa e construção civil; entretenimento e serviços;

máquinas e equipamentos e moda, tecnologia e saúde. Dentro desses complexos, estão os setores. No de construção, por exemplo, você tem o moveleiro, o cerâmico, a infraestrutura. A opção de organizar um complexo é poder oferecer um programa setorial integrado de apoio às empresas. Esses programas são bianuais e promovem as ações brasileiras em missões, rodadas de negócios e feiras. Esse agrupamento é uma forma estratégica de promoção comercial dos produtos e serviços do País. A moda hoje não é só o calçado, é a jóia, são produtos de maior valor agregado. INOVA – Há a opção de priorizar setores que oferecem produtos com alto valor agregado? MB – Essa sempre foi uma opção da agência. Incentivar, buscar mais valor aos produtos brasileiros, por meio da agregação de tecnologia. O setor de confecção, por exemplo, evoluiu muito e trabalha com nanotecnologia, softwares de corte ou construção de imagem. INOVA – As multinacionais instaladas em território nacional, assim como as montadoras, não dispensam as ações da Apex-Brasil em suas políticas de exportação? MB – Você trabalha com a cadeia produtiva. É lógico que não temos de sustentar as multinacionais, mas elas reúnem um número muito grande de fornecedores, 100% nacionais. As autopeças, por exemplo, que desenvolvem tecnologia para empresas estrangeiras com unidades aqui, podem também fornecer para outras empresas e outros países. Isso já está acontecendo. Uma ação que nós fizemos e vamos continuar fazendo é localizar novos mercados para essas empresas e eliminar intermediários. INOVA – Evitar intermediários é uma das formas de aumentar as exportações? MB – Sim. Nós descobrimos, por exemplo, que uma mangueira produzida aqui era comprada pelos Estados Unidos, beneficiada lá e depois enviada para a África do Sul. Nós levantamos essa informação e a leva-

mos para a empresa produtora, que passou a dirigir diretamente esse negócio, sem o intermediário. A missão da Apex-Brasil é fazer essa comunicação acontecer. INOVA – O que a Apex-Brasil tem a oferecer do ponto de vista de políticas de apoio à regionalização, no âmbito das exportações? MB – Existe uma série de políticas, não só no sentido da regionalização, mas apoio a setores que estão instalados em regiões que possuem, não só potencial exportador, como de crescimento, de competir no mercado internacional. Temos o Projeto de Extensão Industrial Exportadora (Peiex), que visa à estruturação do potencial exportador. Nos próximos meses, vai ser instalado mais um escritório do Peiex na região do ABCD. Em 2010, a Apex foi escolhida pelo International Trade Center (ITC), da ONU, como a melhor agência de promoção comercial do mundo entre os países em desenvolvimento, e eu credito nossa premiação, em grande parte, a esse programa inovador. INOVA – O que há de inovador no Peiex? MB – O programa leva uma ferramenta de apoio para as empresas que buscam exportar. Ele cria um processo de apoio contínuo, que começa mostrando quais são os passos a serem dados para que se tornem mais competitivas. Os empreendedores recebem o apoio de um instituto de pesquisa e de consultores, que fazem o diagnóstico da capacidade da empresa, e depois vão pensar nas atividades que essas empresas têm de realizar para atingir níveis de competitividade para a internacionalização. Os resultados do programa já são realidade. Você encontra em várias regiões do País, nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, casos de empresas que passaram por essa experiência e que começaram a exportar, sejam elas microempresa, média, ou grande empresa. E nesse processo trabalhamos com mais manufaturas do que com commodities. São empresas de calçados, de móveis, de software. AGOSTO 2011 | INOVA

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INOVA – Há uma crítica à dependência das commodities na balança comercial brasileira. Há alguma política de valorização de produtos manufaturados? MB – A gente não pode negar o peso e a importância que as commodities têm para o País. Mas temos que lembrar que, atrás das commodities, há muita tecnologia, pesquisa e desenvolvimento. Acredito que, agora, o Brasil vem conseguindo aumentar, talvez não ainda o desejável, suas exportações em termos de valor agregado. Hoje você tem a Embraer, que está entre os maiores exportadores brasileiros, e muitas que estão entrando no mercado. A partir de 1990, você percebe a presença de mais empresas com esse perfil. O setor de tecnologia da informação, liderando vários segmentos, como serviços bancários, exportação de games, softwares de jogos. Outros exemplos são os segmentos das tecnologias médico-odontológicas, calçadista, de defesa. Então já existe uma resposta. INOVA – Como a Apex-Brasil pensa a estratégia de competitividade com a China? MB – Nós vemos a China como oportunidade. É um país com uma classe média de 300 milhões de habitantes, uma população classe A que, em 2015, deve chegar a 150 milhões e acho que hoje nós podemos fornecer para esses dois públicos. O setor calçadista, por exemplo, acabou de realizar uma missão empresarial itinerante, em Pequim, Xangai e Hong-Kong. Quatro empresários decidiram montar um showroom permanente. E esse trabalho todo começou com um estudo da Apex-Brasil que mostrava um mercado para empresas com produtos de alto valor agregado. A partir da informação comercial, eles decidiram se instalar no país.

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INOVA – Mas existe o temor de que nossa indústria possa morrer antes de chegar à China... MB – Eu não posso ser competitivo no câmbio. Eu tenho que ser competitivo no design, na tecnologia, na inovação. O foco competitividade, simplificação dos processos, toda essa política tem de ser direcionada. Existe uma nova política, que está sendo desenhada, e vai criar oportunidades de exportações, porque eu vou trabalhar com empresas mais inovadoras. INOVA – Qual mercado tem mais peso? MB – O mercado chinês está realmente crescendo muito. Mas há, por exemplo, uma demanda muito grande para a África, principalmente no setor de construção, de alimentos e têxteis. Na época da crise, em 2008, enquanto o mundo reduzia importações, Angola crescia nos setores mais delicados, como moda. As exportações cresciam mais lá do que no resto do mundo. INOVA – E as relações de comércio com a América Latina? A atual configuração política ajuda? MB – Para alguns segmentos existem grandes parceiros na América Latina. O Uruguai, por exemplo, é um de nossos principais compradores de vestuário e confecções. A Colômbia está demandando cosméticos, jóias, calçados. E a atual configuração política ajuda, sim. Países como Cuba, Paraguai, Venezuela, que vêm promovendo o crescimento de suas classes médias, demandam produtos de maior valor agregado.

INOVA – Já alcançamos o respeito no mercado internacional pela qualidade de nossos produtos? MB – Nós identificamos que os parceiros internacionais olham determinados produtos brasileiros e se sentem seguros em comprá-los. Como no setor médico-odontológico, o importador sabe que aquele produto passou por uma série de processos de segurança, que tem muita tecnologia embutida. Uma máquina de corte que é muito respeitada por sua qualidade, assim como muitos outros produtos. E isso é resultado de uma política de oito anos, implantada pelo expresidente Lula. Hoje a presidente Dilma está dando continuidade a esse processo. INOVA – A Apex-Brasil colaborou para a criação da Associação Brasileira de Biotecnologia (BrBiotec). Por que investir nesse segmento? Podemos exportar biotecnologia? MB – O Brasil já desenvolveu muita tecnologia no campo da biotecnologia, tecnologia reconhecida não só aqui, nas Américas, pela excelência. É um setor de ponta, capaz de alavancar as exportações em vários segmentos dentro do setor tecnológico, e que tem feito a diferença. Esse é um negócio potencial com a China. A BrBiotec é um produto bastante inovador, dirigido a pequenas e médias empresas que hoje estão fazendo um trabalho muito importante. INOVA – O Brasil está fazendo investimentos na marca Made in Brasil? MB – Sim. Eu acredito que o governo federal esteja fazendo grandes investimentos para a marca Made in Brasil. A marca passou a ser utilizada e respeitada. Hoje as empresas sentem orgulho e segurança quando apresentam a etiqueta, o que há dez anos não acontecia. O empresário tinha receios em apresentar a origem brasileira. E esse Made in Brasil tem o reconhecimento em vários países por significar qualidade, tecnologia, sustentabilidade, segurança, confiabilidade.



notas

china

empresários Brasileiros na super Feira de Cantão

Federações de indústrias brasileiras estão montando verdadeiras caravanas para levar seus associados à Feira de Cantão, na China, que deverá acontecer no próximo mês de outubro. A feira será gigantesca e ocupará uma área de 1,13 milhão de metros quadrados, com um total de 57.136 estandes de 23.559 expositores. Dividida em três fases, a primeira delas é a mais procurada pelos brasileiros, ao concentrar os fabricantes de máquinas. Mas o interesse dos empresários vai além: aproveitando o dólar barato, eles também têm interesse em importar insumos e até mesmo produtos acabados.

Mega parque tecnológico de U$S 10 bilhões

Outra grande atração da China é o Parque Tecnológico de TI. O parque está sendo erguido na província de Chengdu, no oeste do país, com investimentos de US$10 bilhões. Já existem 200 empresas, com cerca de 30 mil empregados instaladas no local. O projeto prevê ainda a construção de condomínios, com prédios residenciais, áreas de comércio e de lazer. Quando concluído, deverá ter 600 mil moradores.

programe-se SETEMBRO 15 a 17 de setembro | Ecoenergy | Feira Internacional de Tecnologias Limpas e Renováveis para Geração de Energia | No Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, com exposição comercial, palestras e conferências sobre o tema. Informações: www.mundofeiras.com/ecoenergy

NOVEMBRO 3 a 5 de novembro | Recicla Nordeste 2011 | No Centro de Convenções do Ceará, em Fortaleza, sobre o tema “Reciclando a sustentabilidade”. Informações: www.reciclanordeste.com.br 16 a 18 de novembro | Rio Infra-Feira de Produtos e Serviços para Obras de Infraestrutura | No Riocentro, no Rio de Janeiro, com participação de fabricantes de máquinas, equipamentos, acessórios, que mostrarão produtos, serviços e inovações. Informações: www.rioinfra.com.br

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Senador quer mais institutos tecnológicos A tese é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e foi defendida em plenário: o Brasil precisa dar um salto que o transforme em produtor de bens com alto conteúdo de inteligência e o primeiro passo para isso é a “revolução na educação”. Para esse salto, Buarque sugere a criação de institutos tecnológicos, como o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), direcionados a setores de energia, biotecnologia, inteligência artificial, nanotecnologia, genética, desenvolvimento sustentável e telecomunicações, entre outros. Também propõe a criação de uma política salarial que fortaleça a pesquisa, permitindo que os “cérebros” do País se dediquem a atividades no setor de ciências e tecnologia. O que não pode mais acontecer, segundo o senador, é o caso de um jovem que concluiu o doutorado em nanotecnologia na Bélgica e, de volta ao Brasil, por não encontrar trabalho, resolveu prestar concurso para a Polícia Civil e a Polícia Federal.

Inovação premiada Oito empresas selecionadas entre 24 finalistas receberam o Prêmio Nacional de Inovação concedido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC). Um total de 427 projetos de 254 empresas foram inscritos na competição, dividida em quatro categorias: Gestão de Inovação, Competitividade, Design e Desenvolvimento Sustentável. A Zenite Soluções de TI, de Recife, foi a vencedora na categoria Gestão de Inovação, na modalidade micro e pequena empresa. A indústria implantou melhorias nos processos de produção, como a instalação de um software para avaliar a produtividade, além de programas que estimulam os empregados a atuarem de forma inovadora. Na modalidade média e grande empresa, a vencedora em Gestão de Inovação foi a Siemens, de São Paulo, empresa onde os processos inovadores ocorrem de forma sistematizada. O Prêmio Nacional de Inovação tem o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).


divulgação

Finep apoia 24 projetos inovadores De 140 empresas inscritas, 24 foram selecionadas para receber acompanhamento e apoio da área de investimentos da Finep, por meio do projeto Inovar. Os contemplados participaram do I Fórum Sul Brasileiro de Investimentos, promovido pela Federação da Indústria do Paraná, com participação das entidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e pela Associação Brasileira de Private Equaty & Venture Capital (ABVCAP). Foram escolhidas oito empresas de cada Estado. Participaram empresas classificadas em dois grupos, as nascentes, com faturamento anual de até R$ 5 milhões, e as crescentes, com faturamento anual entre R$ 5 milhões e R$ 35 milhões. Durante o evento, as empresas apresentaram seus negócios a investidores, na expectativa de receber apoio financeiro para a realização de seus projetos. No conjunto, esses projetos envolvem investimentos de R$ 86,5 milhões, em ideias inovadoras nascentes ou já em desenvolvimento. O fórum, realizado em Curitiba, no mês de julho, foi o primeiro a contar com a participação da Financiadora de Estudos e Projetos Finep. “Desde o início do Inovar, temos consciência de que o sucesso e a sustentabilidade das nossas atividades de investimento e empreendedorismo estão relacionados com a redução da nossa atuação no mercado e é isto que vemos aqui”, disse Patrícia Freiras, superintendente da área de investimentos da Finep. Especialistas da Finep participaram da avaliação das empresas e seus projetos, oferecendo transferência de tecnologia, responsabilidade e expertise para os organizadores em todas as etapas do evento.

A mão como uma senha As 3.672 agências do Bradesco e toda a sua rede de autoatendimento no País estão aposentando a senha para adotar um sistema de biometria que lê a palma da mão do cliente. Funciona como um scanner que captura o padrão da imagem vascular, única para cada pessoa. A biometria é uma das mais avançadas tecnologias de segurança, substituindo as senhas com vantagens, segundo técnicos do banco.

Oscar do Design para dez brasileiros

Um capacete inteligente para motoqueiros que permite a entrada de ar e evita embaçamento da viseira. Um biombo que possibilita maior aproveitamento da madeira. Um biscoito em forma de mexedor de café. Estes são alguns produtos criados no Brasil e que foram contemplados com o prêmio International Design Excellence Awards, o Idea, por serem inovadores na fusão de praticidade, tecnologia e sustentabilidade. O melhor projeto do Brasil nessa premiação, promovida anualmente pela Industrial Designers Society of America (IDSA), foi o projeto Fiat Mio, carro-conceito desenvolvido com base em uma plataforma aberta na web. O Fiat Mio ganhou bronze e o ouro da competição foi para o avião americano Boeing 787 Dreamliner, desenvolvido para proporcionar maior conforto aos passageiros, sem gerar desperdícios – por exemplo, a iluminação interna do aparelho é de LED, que imita as luzes reais do dia e da noite.

Réveillon em Copacabana com Sustentabilidade

Dinamarca troca lixo por energia limpa

A licitação para escolha da empresa que produzirá o tradicional réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, vai exigir das concorrentes que apresentem projetos de sustentabilidade. Os projetos deverão conter propostas de soluções para reduzir ou neutralizar a emissão de carbono e estimular a reciclagem de lixo produzido na festa. O secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Melo, explica a exigência como forma de inserção na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio+20), a ser realizada na cidade em junho do ano que vem, duas décadas após a Rio 92.

A Dinamarca, que já processa 100% do lixo que produz, agora vai comprar resíduos de países do Norte e do Leste Europeu, como Alemanha e Polônia, para alimentar uma nova usina de processamento de lixo, em construção na capital, Copenhague. A usina, da cooperativa de Amargerforbraeding, será a segunda maior do país. O tratamento de lixo reduz a emissão de dióxido de carbono, principal gás responsável pelo aquecimento global, e produz biogás, usado na Dinamarca para aquecimento de casas, substituindo combustíveis fósseis. AGOSTO 2011 | INOVA

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especial competitividade industrial

MetalĂşrgicos do ABC e de SĂŁo Paulo param a via Anchieta: na defesa da indĂşstria e do trabalho

crescimento jogo e garantir o

andris bovo

Um plano para virar o

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Maurício Thuswohl

mauricio@abcdmaior.com.br

Plano Brasil Maior é a grande aposta do governo para fortalecer a indústria nacional. Abre perspectivas para a criação de uma nova política industrial e aumenta os incentivos à inovação Maior: “A presidente reafirmou seu compromisso com a produção e o emprego. Acho que o movimento sindical saiu daqui satisfeito com o que ouviu”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, presente à reunião. Na base do novo modelo de gestão da indústria, os Conselhos de Competitividade Setorial terão a participação dos empresários e serão subordinados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, que também é tripartite. O governo prevê a criação de 25 conselhos, com destaque para o conselho do setor automobilístico, cuja perda de competitividade era apontada como um dos mais graves problemas pelos trabalhadores. Para aumentar o poder de fogo do setor, o novo regime tributário, criado pelo Plano Brasil Maior e confirmado pela Medida Provisória 540 editada pelo governo, prevê redução dos descontos de IPI até 2016 para as montadoras instaladas no Brasil que agregarem conteúdo nacional em suas produções e investirem em inovação. Nobre define a confirmação da participação dos trabalhadores na gestão da nova política industrial como “um golaço”. Ele foi um dos que mais se queixou da pouca participação dos sindicatos durante a elaboração do plano, mas reconhece que o governo procurou ser o mais discreto possível antes do anúncio oficial das medidas, de forma a evitar uma onda de especulações entre os setores da sociedade: “A participação nos conselhos, como reconheceu a própria presidente, foi conquistada pelas seguidas mobilizações dos trabalhadores”, disse. O sindicalista diz esperar que o conselho do segmento automobilístico “seja representativo, trazendo gente que conhece o setor, que vive o setor e que tem propostas”, e faz uma observação: “É preciso ter poder de decisão e implementação, como foi com a Câmara Setorial da Indústria Automobilística em 1992. Aquele espaço reuniu o que havia de melhor no setor, tanto pelo lado dos trabalhadores quanto pelo lado dos empresários, e tinha poder de decisão e vontade de executar. Você discutia, buscava o consenso e implementava. Ideias como a do carro popular e a do carro flex nasceram ali.”

É urgente garantirmos condições tributárias e de financiamento adequadas para o estímulo aos investimentos produtivos e à geração de empregos” Presidente Dilma Rousseff

Wilson Dias | ABr

a manhã de 8 de julho, mais de 30 mil trabalhadores de empresas como Volkswagen, Ford, Scania, Toyota e Mercedes Benz, entre outras, fecharam por algumas horas a Via Anchieta, na divisa entre as cidades de São Paulo e São Bernardo do Campo. O motivo era claro: protestar contra a perda de competitividade da indústria brasileira e o conseqüente risco que isso traz ao Brasil em termos de desindustrialização e diminuição de postos de trabalho. O ato em defesa da indústria nacional, organizado pelos sindicatos de metalúrgicos do ABC – filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) – e de São Paulo – filiados à Força Sindical –, refletiu uma preocupação que hoje envolve governo, trabalhadores e empresários. O diagnóstico comum a todos é de que o setor produtivo brasileiro encontra-se enfraquecido em um contexto marcado pelas altas taxas de juros, pelo câmbio desfavorável e pela concorrência nem sempre leal em um mercado internacional, ainda fortemente influenciado pela crise econômica global iniciada em 2008. Em 2 de agosto, quase um mês após a manifestação dos metalúrgicos, o governo federal lançou um pacote de ações e programas que promete ser o primeiro passo em direção a uma nova política industrial brasileira. Para tornar as empresas nacionais mais competitivas, o Plano Brasil Maior prevê, para os próximos dois anos, desonerações tributárias da ordem de R$ 24,5 bilhões e um maior incentivo aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Entre as principais medidas nesse sentido, estão o fortalecimento financeiro em R$ 2 bilhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (que oficialmente integrou Inovação ao seu nome), e a previsão de uma linha de crédito do BNDES destinado às empresas no valor de R$ 500 bilhões até 2014. O governo convidou os trabalhadores a participar, por intermédio de seus sindicatos e das centrais sindicais, da gestão da nova política industrial brasileira como membros dos Conselhos de Competitividade Setorial. O convite foi feito pela presidente Dilma Rousseff durante uma reunião realizada no Palácio do Planalto, dois dias após o lançamento do Plano Brasil


especial competitividade industrial

Enfrentamos problemas de logística, falta de infraestrutura, necessidade de uma reforma trabalhista e moeda sobrevalorizada artificialmente. Tudo isso ajuda a minar a competitividade da indústria brasileira”

amanda perobelli

Paulo Skaf, Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)

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Concorrência desleal

indústria mais forte

Durante a cerimônia de lançamento do Plano Brasil Maior, a presidente Dilma Rousseff ressaltou a importância estratégica das medidas anunciadas: “Hoje, mais do que nunca, é imperativo defender a indústria brasileira e nossos empregos da concorrência desleal e da guerra cambial que reduz nossas exportações e, mais grave ainda, tenta reduzir o mercado interno que construímos com grande esforço e com muita dedicação. É urgente garantirmos condições tributárias e de financiamento adequadas para o estímulo aos investimentos produtivos e à geração de empregos”, disse. Ao comentar a aprovação pelo congresso norte-americano de um pacote de medidas que amplia a capacidade de endividamento dos Estados Unidos, coincidentemente ocorrida no mesmo dia da divulgação do novo plano para a indústria brasileira, Dilma foi enfática: “Dois de agosto poderá ter um significado especial para o Brasil e o mundo. A decisão do Congresso dos Estados Unidos evitará o pior, mas o mundo viverá um longo período de tensão econômica, resultado dramático da insensatez, da incapacidade política e da supremacia de ambições regionais ou corporativas de alguns países sobre as necessidades globais”. A presidente afirmou ainda que “vivemos um período de turbulência e que o excesso de liquidez imposto pelos países ricos em direção aos países emergentes resulta em opressivo desequilíbrio cambial.” Por sua vez, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que fortalecer a indústria brasileira e dar a ela condições de competir no ambiente extremamente adverso que estamos vivendo hoje é o principal objetivo do plano: “O mundo está em crise, ela já se arrasta há mais de dois anos e os países avançados não dão sinais de resolução dos seus problemas. Pelo contrário, temos visto nas últimas semanas os Estados Unidos à beira de um default, algo que nunca havia acontecido, e a União Européia com problemas em alguns países e equacionando dívidas muito elevadas. Essa situação não vai melhorar, é uma continuação da crise financeira de 2008 e podemos esperar que continue nos próximos dois ou três anos, até que haja uma recuperação desses países.”

Segundo Sérgio Nobre, o Brasil precisa se unir em torno do plano lançado pelo governo: “Defender a indústria brasileira é de interesse de todos os brasileiros porque nenhum país, nenhuma sociedade no mundo que conseguiu erradicar a miséria e garantir o acesso da população ao ensino público e à universidade, que conseguiu universalizar a saúde e construir um sistema de previdência social eficiente, fez isso sem uma indústria muito forte e de alta tecnologia. O Brasil não vai alcançar os seus benefícios sociais, se não tiver uma indústria muito forte.” Nobre aponta como “grandes adversários” da indústria brasileira aqueles setores que ganham muito dinheiro sem gerar um posto de trabalho sequer: “Os bancos, por exemplo. Os importadores também, eles estão fazendo uma farra agora e ganhando muito dinheiro, importando coisas que poderiam ser produzidas no Brasil”. Contra esse time, acredita o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a união com os patrões da indústria é de interesse nacional: “Por mais divergência que a gente possa ter com o empresariado brasileiro da indústria – e vamos ter novamente na próxima campanha salarial –, a produção nacional e a geração de empregos no Brasil é uma coisa que nos une. Não tem sentido nenhum não trabalharmos juntos nesse tema”, diz.

Incêndio na fábrica O deputado federal José de Filippi (PTSP) afirma que a nova política industrial brasileira somente se tornará realidade se houver colaboração entre empresários e trabalhadores: “Os trabalhadores terão de se sentar à mesa com os industriais numa nova perspectiva, não mais na dicotomia entre capital e trabalho. Essa dicotomia não vai deixar de existir, mas os representantes dos dois setores vão ter que negociar. É aí que eu vejo um potencial muito grande. É


amanda perobelli

como se fosse um incêndio na fábrica que, se acontecer, vai fazer com que o industrial perca sua fonte de lucros e de negócios e o trabalhador perca seu emprego. Somadas, a baixa produtividade e a necessidade de inovação imediata de nosso processo produtivo formam um pré-incêndio vindo pra cima da gente”, disse.

Redução do Custo-Brasil

Jose Cruz | ABr

SÉRGIO NOBRE

antonio ledes

róbson braga de andrade

josé de filippi

Entre os empresários, também predomina o apoio ao Plano Brasil Maior, como atestou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Róbson Braga de Andrade: “Essa política reafirma o papel da indústria no desenvolvimento da economia brasileira e prioriza a competitividade e a inovação na estratégia industrial. E, mais importante, ela inaugura um processo. É nossa convicção que a política industrial não se desenvolve em um dia apenas. Temos certeza que o trabalho começa hoje e estaremos juntos com o governo. Nós, da CNI, agradecemos pelas medidas anunciadas, que apontam para uma indústria forte, competitiva e preparada para enfrentar não apenas a concorrência local, mas uma concorrência internacional.” O presidente da CNI, que chegou à Brasília para o ato de anúncio da nova política industrial acompanhado por mais de 50 presidentes de associações setoriais, afirmou que os “muitos desafios” que o País tem pela frente estão corretamente identificados pelo governo: “Precisamos enfrentá-los com sentido de urgência, para que possamos dar competitividade à nossa indústria neste mundo ainda em crise. As medidas anunciadas nos dão a sinalização de uma direção muito correta: a redução do custo dos investimentos no Brasil. A inovação aponta para o futuro, para o desenvolvimento de competências que serão a base de nosso desenvolvimento sustentável”, disse. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, por sua vez, disse apenas que “como medidas iniciais, as ações anunciadas são positivas”. Skaf, no entanto, pede a atenção do governo para outros fatores: “Da porta da fábrica para dentro, as indústrias são modernas. Mas, da porta para fora enfrentamos problemas de logística, falta de infraestrutura, necessidade de uma reforma

trabalhista e moeda sobrevalorizada artificialmente. Tudo isso ajuda a minar a competitividade da indústria brasileira.”

Pacto nacional O deputado federal José de Filippi afirma que o Brasil deve aumentar sua poupança interna para que possa investir em duas áreas que considera fundamentais: a educação básica e tecnológica e a pesquisa e inovação. Ele faz um alerta ao empresariado nacional: “É preciso, em curto prazo, conseguir agregar valor aos nossos produtos. As empresas privadas brasileiras precisam entender que é preciso investir em inovação, não podem ficar dependendo de tecnologia estrangeira. Os países mais desenvolvidos, que são altamente capazes de melhorar sua produtividade por intermédio da inovação, têm uma grande participação da iniciativa privada, que compõe o conjunto dos investimentos nessa área sem esperar que apenas o setor público vá investir.” Filippi defende um grande pacto nacional: “É preciso investir para que as novas gerações possam ser muito mais sensíveis e preparadas para estar presentes na inovação do processo produtivo como um todo. É preciso que trabalhadores e empresários, com a ajuda do governo, possam despertar e desenvolver rapidamente políticas voltadas para isso, seja através de câmaras setoriais, ou de projetos como esse que o governo lançou de bolsas de estudo para cem mil jovens cientistas. É preciso criar no Brasil essa cultura da inovação, da criatividade e do saber fazer de forma mais racional e sustentável. Tenho muita esperança de que a gente vá transformar essa ameaça em uma grande realização.” Ao término da cerimônia de lançamento do Plano Brasil Maior, a presidente Dilma Roussef mandou um recado para empresários e sindicalistas: “Os industriais e trabalhadores podem ter certeza de que esse governo está do lado deles. Se nós não concebemos nosso desenvolvimento sem inclusão social, também não o concebemos sem uma indústria forte, inovadora e competitiva, sólida e geradora de renda e emprego. Esse conjunto de medidas constitui um passo inicial de um diálogo que o governo irá desenvolver com trabalhadores e empresários.” AGOSTO 2011 | INOVA

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especial competitividade industrial

Temos uma nova lei que permite que o estado brasileiro pague até 25% a mais no preço se o produto que nós estamos comprando gera emprego, salário e inovação no Brasil” Aloizio Mercadante, Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

Cinco vezes mais recursos para a inovação A multiplicação de recursos revela o compromisso do governo em traçar seu projeto de desenvolvimento econômico sustentado pela inovação. Nessa tarefa, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) terá papel fundamental, podendo se tornar um banco de fomento, parceiro de empreendedores

Wilson Dias | ABr

Nas palavras do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, o Plano Brasil Maior lançado pelo governo federal coloca “a área de ciência, tecnologia e inovação como um eixo fundamental da nova política industrial e do projeto de desenvolvimento econômico do Brasil”. Essa valorização, segundo o ministro, tem como principal aspecto o fortalecimento da Finep como instrumento de fomento à inovação: “Nós tivemos no ano passado R$ 1 bilhão para subvenção econômica e crédito na Finep. Este ano, já tivemos no primeiro semestre um valor de R$ 3 bilhões e agora a presidente Dilma Rousseff está adicionando mais R$ 2 bilhões. Portanto, estamos falando de cinco vezes mais recursos do que

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nós tínhamos no ano passado, o que mostra claramente o compromisso de aprofundar os esforços em direção à inovação.” A nova musculatura da Finep deve ser o primeiro passo na direção de um objetivo prioritário para o MCTI, que é fazer com que até o final dos primeiros quatro anos de governo Dilma, a Financiadora possa transformar sua atuação e se tornar um banco de fomento, com participações nos moldes do BNDES-Par. Mercadante defendeu o papel da Finep: “Esse conjunto de medidas tem que estar associado a uma visão de longo prazo. Nós só seremos competitivos se formos capazes de inovar, se mudarmos a nossa cultura passiva diante da tecnologia. Temos que ter uma parceria criativa com o setor privado, porque no mundo dois terços das patentes vêm de lá, enquanto no Brasil ocorre o inverso.” Outra novidade importante anunciada pelo ministro foi a mudança na política de compras governamentais: “Temos uma nova lei que permite que o estado brasileiro pague até 25% a mais no preço se o produto que nós estamos comprando gera emprego, salário e inovação no Brasil”. Essa regulamentação ocorrerá especialmente em três setores: saúde, defesa e informática: “O aumento da demanda da população por saúde está aumentando o nosso déficit comercial, que foi de US$ 12 bilhões no ano passado _ US$ 6,5 bilhões em fármacos e US$ 5,5 bilhões em equipamentos médicos. Agora, o SUS vai comprar prioritariamente aquilo que gera tecnologia, perspectiva de progresso e emprego no Brasil”, diz Mercadante. O mesmo procedimento será adotado pelo Ministério da Defesa, que vai priorizar a compra de equipamentos produzidos no Brasil: “Muitas vezes, o soldado que sai da tropa vai ser um operário nas fábricas. Queremos investir e modernizar as nossas Forças Armadas com tecnologia desenvolvida aqui e emprego gerado no Brasil”, diz o ministro, que também defende “um salto em termos de valor agregado e inovação na cadeia da informática e do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação.” “O País começa a avançar em direção a um grande programa de inclusão digital, o Plano Nacional de Banda Larga. Pretendemos permitir que 69 milhões de alunos do Brasil tenham acesso a um computador e à internet. Será um salto de qualidade no sistema educacional, mas isso tem que ser


feito com conteúdo nacional. Esse poder de compra pode permitir que a gente traga uma indústria de semicondutores que só 20 países têm e uma indústria de displays que só quatro países têm”, conclui Mercadante.

Embrapi No dia seguinte à divulgação da nova política industrial do governo, Mercadante cumpriu uma promessa anunciada pelo MCTI em junho e assinou, juntamente com o presidente da CNI, Róbson Braga de Andrade, o memorando de entendimento para a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial (Embrapi). A nova empresa seguirá o modelo da alemã Fraunhofer, que integra 60 centros de pesquisa de diversas áreas, e coordenará em sua etapa-piloto os trabalhos desenvolvidos em três instituições: Instituto de Pesquisas Tecnológicas (São Paulo), Instituto Nacional de Tecnologia (Rio de Janeiro) e Centro de Excelência do Senai (Bahia). Após a etapa-piloto, prevista para durar seis meses, será criada oficialmente a Embrapi. A partir daí, o objetivo é ampliar o raio de ação da nova empresa para outros 30 centros de pesquisa brasileiros até 2014: “Queremos criar um padrão de gestão da inovação, uma metodologia de avaliação do trabalho dos institutos e um critério de credenciamento para futuros institutos. O que nos interessa é o desempenho, e os institutos vão receber por aquilo que realizarem efetivamente na área de inovação”, disse o ministro. O projeto de criação da Embrapi já recebeu R$ 30 milhões do orçamento do ministério este ano.

Bolsas no exterior Segundo o ministro, a primeira iniciativa a demonstrar o compromisso do governo com a busca pela inovação foi o programa que concederá 100 mil bolsas de estudo “para colocar os melhores alunos do Brasil nas melhores universidades do mundo, especialmente nas áreas de ciências básicas, engenharias e áreas tecnológicas”. Mercadante avalia que esse programa vai permitir também atrair pesquisadores de alto nível do exterior para atuar nas áreas estratégicas para a inovação tecnológica: “Precisamos de apoio dos empresários para ampliar o esforço que o governo vai fazer de 75 mil

bolsas e R$ 3,2 bilhões em três anos.” Esse apoio, segundo o presidente da CNI, já está garantido: “A indústria se compromete com as outras 25 mil bolsas. Estaremos juntos nesse processo, capitalizando com toda a indústria nacional”, disse Róbson Braga de Andrade. O empresário, no entanto, pediu que o governo crie um mecanismo para evitar que as pessoas beneficiadas pelas bolsas sejam cooptadas a continuar no exterior. O ideal, segundo Andrade, seria que os bolsistas pudessem voltar ao Brasil para um período mínimo que correspondesse aquele em que estiveram estudando fora. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, conta uma história que ilustra o que representa a falta de qualificação profissional na indústria brasileira: “Eu fui recentemente visitar uma fábrica da Volkswagen na Alemanha que tem 50 mil trabalhadores. Desse total, cerca de 15 mil estão na montagem de automóveis. Os outros 35 mil estão na engenharia e na gestão. No Brasil, na nossa categoria, nos últimos oito anos o emprego está crescendo numa média de 4% ao ano. Mas onde é o emprego? É na montagem. Não é na engenharia, no desenvolvimento da ferramentaria, no projeto, na gestão”, compara.

Limiar de uma decisão Segundo Nobre, é assim que se percebe que o Brasil precisa ter um conteúdo nacional maior em sua indústria automobilística: “Nós estamos no limiar de uma decisão: se nós queremos ter de fato uma indústria de automóveis e desenvolver automóveis aqui ou se vamos nos transformar em um país importador de veículos, que é o caminho para onde nós estamos indo se as coisas não mudarem. Essa é uma decisão de Estado”, diz. As montadoras transnacionais, segundo Nobre, mantém em seus países de origem tudo aquilo que tem inteligência e qualidade: “Todos os países que avançaram na indústria automobilística, que são produtores e desenvolvem automóveis, têm uma montadora nacional. A Alemanha tem a Volkswagen e a Mercedes Benz, a Itália tem a Fiat, os Estados Unidos tem a General Motors, etc. Essas montadoras traçam uma estratégia a partir do seu país. A falta de uma montadora nacional é um dos proble-

mas que a gente sente no Brasil. O futuro da indústria automobilística brasileira não é decidido no Brasil, é decidido na matriz. Esse é um sintoma importante.” Superar o gargalo da formação de mãode-obra qualificada é o grande desafio, segundo o sindicalista, que afirma que a escolaridade entre os metalúrgicos tem avançado nos últimos anos: “Em 1994, metade da nossa categoria não tinha ensino fundamental completo. Hoje, isso se transformou. Quase 60% tem o segundo grau completo e 13% já tem o superior completo. Agora, se nós queremos produzir coisas de alta tecnologia, a elevação da escolaridade por si só não resolve, é preciso ter uma qualificação técnica e profissional de boa qualidade”, diz.

Escola técnica FEDERAL no ABCD Nobre usa o exemplo de sua região: “O ABCD tem universidades importantes, que são reconhecidas internacionalmente. Mas elas são privadas e a mensalidade custa R$ 1,2 mil. Qual o trabalhador que pode pagar um negócio desses? A gente vê com tristeza o Sistema S, tão importante para os metalúrgicos e que possibilitou inclusive ao ex-presidente Lula ser torneiro-mecânico e ter sua profissão. Apesar de receber recursos públicos, o Senai agora cobra pelos cursos. Hoje, o Lula não poderia seguir sua profissão e chegar aonde chegou. Temos que pegar uma parte considerável da carga tributária brasileira e investir pesado em ciência e tecnologia, investir na estruturação das escolas técnicas no Brasil e garantir o acesso dos trabalhadores à qualificação de maneira gratuita ou que pelo menos seja barata e esteja ao alcance deles.” Os metalúrgicos do ABCD apresentaram ao governo a proposta de criação de uma escola técnica federal na região: “Também estamos trabalhando para ter uma escola técnica própria do sindicato, para fazer esse tipo de formação, o que não é barato. Para levar escolaridade, você precisa de professor, lousa e cadeira. Mas, para fazer formação técnica, você tem que ter laboratórios, máquinas, equipamento moderno. Tudo isso custa muito caro, daí a necessidade de haver investimento público pesado”, diz Nobre. AGOSTO 2011 | INOVA

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especial competitividade industrial

Essa medida (a desoneração da folha) vai estimular o emprego e combater a informalidade. Além disso, terá impacto neutro na Previdência, que será compensada com uma dotação do Tesouro. Todos os setores desejam a desoneração da folha. Estamos começando e vamos prosseguir nesse caminho nos próximos anos”

Wilson Dias | ABr

guido mantega, Ministro da Fazenda

Brasil Maior: um plano de urgência para virar o jogo Estimular a produção, o investimento e a inovação, defender a indústria e o mercado interno, e estimular a exportação e a defesa comercial, esses são os eixos do plano para conferir maior competitividade à indústria nacional Principal razão do lançamento do Plano Brasil Maior pelo governo federal, a perda de competitividade da indústria brasileira se exprime em números. Há cinco anos, segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), o País registrava em sua balança comercial um superávit de US$ 5,3 bilhões no segmento de produtos industrializados. No ano passado, no entanto, a realidade, já sob os efeitos da crise internacional, era muito diferente e apontava para um déficit de US$ 71,1 bilhões. Ou seja, entre 2006 e 2010, a indústria nacional perdeu espantosos US$ 76,4 bilhões para seus concorrentes estrangeiros.

Em 2011, a tendência continua. Dados relativos ao primeiro semestre mostram um déficit de US$ 29,5 bilhões no segmento de produtos industrializados. A produção industrial em junho, coincidentemente divulgada pelo IBGE no mesmo dia do lançamento do Plano Brasil Maior, teve queda de 1,6% em relação a maio. O recuo foi registrado em 20 dos 27 setores pesquisados, e foi mais sentido nos produtos semiduráveis e não duráveis (-2,4%), nos bens de consumo (-2%) e nos bens de capital (-1,9%). Segundo o IBGE, esses números estão em queda constante desde outubro do ano passado. Para reverter essa situação, o governo elaborou um plano com medidas estruturadas em três linhas: estímulo à produção, investimento e inovação; defesa da indústria e do mercado interno; e estímulo à exportação e à defesa comercial. As mudanças têm sete diretrizes: inovação (criar novas competências tecnológicas e de negócios, levando o Brasil à ponta em setores estratégicos), maior investimento (aumentar a eficiência do parque produtivo e nivelá-lo à concorrência mundial), adensamento produtivo (inovar em métodos, parâmetros e incentivos), comércio exterior, qualificação profissional, produção sustentável e competitividade das micro e pequenas empresas (MPEs).

Folha de pagamentos A medida mais aguardada pelos industriais brasileiros, a desoneração da folha de pagamentos, foi confirmada pelo governo. Ela acontecerá em projetos piloto realizados em quatro setores com forte componente de mão-de-obra intensiva e folhas de pagamento elevadas: confecções, calçados, móveis e softwares. A ideia é transferir parte dos 20% da tributação de INSS para o faturamento das empresas. As alíquotas negociadas foram de 2,5% para o segmento de softwares e de 1,5% para os demais, e significarão uma renúncia fiscal estimada em R$ 7 bilhões.


“Essa medida vai estimular o emprego e combater a informalidade. Além disso, terá impacto neutro na Previdência, que será compensada com uma dotação do Tesouro. Vamos criar um grupo de acompanhamento, formado por trabalhadores, empresários e governo, para analisar a sua aplicação em outros setores. Todos os setores desejam a desoneração da folha. Estamos começando e vamos prosseguir nesse caminho nos próximos anos”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O plano também determina a prorrogação até dezembro de 2012 da desoneração do IPI em três segmentos (bens de capital, materiais de construção e caminhões e veículos comerciais leves), com renúncia fiscal estimada em R$ 8 bilhões. Outra medida é a redução de 12 meses para zero do prazo de utilização dos créditos do PIS/Cofins para bens de capital. Com aplicação imediata, essa apropriação terá, segundo o governo, um impacto favorável de aproximadamente R$ 8 bilhões no caixa das empresas.

Programas de financiamento O Plano Brasil Maior prevê também a reativação de antigos programas de financiamento, como o Programa de Capital de Giro (Progeren) e o Revitaliza II, geridos pelo BNDES e voltados ao capital de giro para diversos setores (têxtil, softwares, bens de capital, calçados, confecções, artefatos de couro, autopeças, caminhões, tratores e máquinas, prestação de serviços e tecnologia da informação). O banco estatal promoverá, ainda, um aumento do financiamento para investimentos com juros reduzidos através da ampliação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), prorrogado até dezembro de 2012. Aos programas serão destinados montantes de R$ 10 bilhões (Progeren) e R$ 7 bilhões (Revitaliza II), com taxas entre 9% e 13% ao ano e prazo de até 36 meses.

Mantega anunciou ainda que, a partir de agora, todos os bancos públicos brasileiros só poderão financiar projetos com conteúdo local e geração de empregos no País: “O BNDES já fazia isso, mas outros bancos não. Agora, serão obrigados a fazê-lo. Esse programa vai forçar o conteúdo nacional”, disse o ministro. A ação dos bancos terá o reforço da Finep, que teve R$ 2 bilhões adicionais anunciados para sua carteira de 2011 e distribuirá recursos do Programa de Estímulo à Inovação: “Estamos aumentando o raio de ação da Finep para estimular a inovação tecnológica e a competitividade da produção brasileira”, disse Mantega. O governo também anunciou um programa especial de incentivo tributário para premiar a inovação, o aumento de valor agregado, a produção de conteúdo local e o desenvolvimento tecnológico no país: “Começaremos com a indústria automobilística, tendo em vista a concorrência que existe hoje nesse segmento, mas o programa será ampliado para outros setores”, disse Mantega, acrescentando que estão assegurados os regimes automotivos regionais e também os acordos de complementaridade firmados com Argentina e México.

Estímulo às exportações Outra medida tributária adotada pelo governo é o Programa Reintegra, de estímulo ao setor exportador. Será gerado um crédito presumido de IPI acumulado na cadeia de exportação do setor manufatureiro, que exporta hoje cerca de R$ 85 bilhões. O governo concederá um crédito de 3% sobre o valor exportado. Válida até dezembro de 2012, essa medida tem vigência imediata, com início do pagamento em 90 dias. Seu objetivo principal é acelerar a devolução dos créditos de PIS e Cofins na exportação, acumulados em R$ 19 bilhões.

Outras metas até 2014 Durante a divulgação do Plano Brasil Maior, o governo federal anunciou algumas metas com o objetivo de aumentar a competitividade da indústria brasileira até 2014: Elevar os gastos privados em inovação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico de 0,59% para 0,9% do PIB; elevar de 30,1% para 31,5% a parcela de indústrias produtoras de conhecimento e alta tecnologia; aumentar a qualificação dos trabalhadores brasileiros com pelo menos o nível médio de 53,7% para 65%; ampliar em 50% o número de micro e pequenas empresas inovadoras, de 37 mil para 58 mil; aumentar investimento em capital fixo de 18,4% para 22,4% do PIB; expandir a participação brasileira no comércio exterior de 1,36% para 1,6%; aumentar o número de domicílios urbanos com acesso à banda larga de 13,8 milhões para 40 milhões.

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pesquisa

inovação

Inovar em novas empresas é mais fácil Pesquisa mostra resistência das empresas consolidadas no mercado Um catavento de criança e uma usina eólica têm o mesmo princípio de funcionamento: a ideia de transformar um catavento em uma usina é criativa. Já inovação é o ato de investir em pesquisa, desenvolver a usina e conseguir pessoas que patrocinem esse empreendimento, é transformar a ideia em realidade”

shutterstock

Lisete Barlach, psicóloga e autora da pesquisa

mpresas nascentes investem mais em inovação. Essa constatação faz parte de um estudo elaborado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), que avaliou a importância da criatividade humana no mundo dos negócios. A psicóloga Lisete Barlach, autora da pesquisa, afirma que a criatividade e a inovação são temas próximos, porém diferentes. Por exemplo, um catavento de criança e uma usina eólica têm o mesmo princípio de funcionamento. A ideia de transformar um catavento em uma usina é criativa. Já inovação é o ato de investir em pesquisa, desenvolver a usina e conseguir pessoas que patrocinem esse empreendimento, é transformar a ideia em realidade”, explica. O interesse da pesquisadora pelo assunto teve início durante seu mestrado, quando ela investigou como as pessoas desenvolvem ideias criativas para lidar com situações adversas. “Alguém com uma doença terminal pode desenvolver uma solução criativa para viver o resto da vida com qualidade, apesar da doença”, exemplifica Lisete. Para este novo estudo, defendido como tese de doutorado no ano passado, Lisete analisou seis das 20 entrevistas realizadas com empreendedores que criaram novos negócios no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), a incubadora de empresas da USP. Ela observou que a maioria dos novos empreendedores havia tentado vender seu projeto em grandes empresas (como intraempreendedores), que resistiram em levá-los adiante. Uma das entrevistadas, uma engenheira química que trabalhava como gerente de projetos em uma indústria de adesivos, decidiu desenvolver produtos ecologicamente corretos, sem substâncias tóxicas na composição. “A empresa recusou sua proposta, alegando

que o tempo e o custo para produção seriam muito altos. Ela então pediu demissão e abriu uma pequena empresa para viabilizar sua ideia e acabou prosperando”, afirma a psicóloga.

Ambidestria organizacional A partir das entrevistas, Lisete Barlach observou que a inovação e a criatividade são mais bem aceitas em empresas nascentes, porque as que já estão inseridas no mercado de uma maneira sólida têm a tendência de não identificar aquilo que é novo. “O motivo principal é o que chamamos de ambidestria organizacional, ou seja, o fato de uma empresa precisar manter aquilo que já conquistou e, ao mesmo tempo, inovar permanentemente para não ficar para trás e sair do mercado”, conclui. Romeo Busarello, diretor de Ambientes Digitais, Inovações e Relacionamento com Clientes da construtora Tecnisa, tem um lema curioso para o assunto: “Repetir é preciso, inovar não é preciso. Quando você repete uma prática, ela se torna precisa, eficaz, sem risco. Quando ousa inovar, não há precisão, pode dar certo ou não, é um risco”, exemplifica. Busarello tem colhido bons resultados na Tecnisa, a primeira construtora a vender imóveis através do iPhone, do Twitter e a realizar negócios, inclusive, pela ferramenta virtual Second Life. “Inovação é fruto de muita teimosia e tem um custo. Quem trabalha com isso precisa ir muito além do combinado. Implica em investimentos. O gasto é certo, a receita é uma esperança. A empresa precisa também de alguns requisitos: cultura, estrutura, processo, pessoas, recursos e estratégia. Do contrário, não dá”, avalia o executivo da Tecnisa. (CC)


produto

odontologia

fotos: CÉLIO MESSIAS

Resultado de parceria entre empresa e universidade: novo produto vai para o mercado até o final deste ano

Da construção para o dente Cimento refratário: material da construção civil serve para a odontologia luminato de cálcio é o nome do material que tem tudo para provocar uma verdadeira revolução em procedimentos dentários: vai cortar à metade os custos de tratamento de canal. Com vantagens estéticas, também. Trata-se de um cimento refratário muito utilizado na construção civil, e que, sob a marca comercial de EndoBinder, está em fase de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e poderá estar no mercado, em ampla escala, antes do final deste ano. O projeto nasceu de pesquisas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp), que faz parte da Universidade de São Paulo (USP). Também é desenvolvido pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), com tecnologia transferida para a empresa privada Bindware. A professora Fernanda Panzeri Pires, coor­denadora das pesquisas e responsável pelo Laboratório de Análise de Biomateriais da Forp, diz que o EndoBinder é mais eficiente, biocompatível e barato que o similar atual no mercado. “As características do material permitirão tratamentos odontológicos de melhor qualidade, a um preço mais acessível para os pacientes”, afirma. Na história do cimento, um capítulo à parte é o da divulgação. Segundo a professora, quando o fabricante do material a procurou para desenvolver pesquisas para validação do produto, o laboratório não dispunha de radiopacificador, o equipamento que permite ao dentis-

ta ver a imagem dos canais tratados. “Fizemos vários testes até definirmos o radiopacificador ideal e nosso trabalho foi publicado no periódico internacional de maior impacto no setor, o Journal of Endodontics”, conta a professora. Obtido o equipamento, começou a fase dos testes mecânicos, cujo objetivo era comprovar a resistência do material. Agora, o estudo está em fase de publicação em um periódico da área de cimentos, o Advances in Applied Ceramics. A bateria de testes para validação do produto foi realizada em dentes de ratos, suínos e bovinos. “O material teve melhor resultado no selamento de perfurações dentárias radiculares, causadas por cárie ou traumas.O teste foi muito satisfatório também na recuperação do tecido, pois causa menor inflamação”, avalia Fernanda.

Diferentes usos Outro benefício do EndoBinder é causar menos manchas nos dentes. Segundo a professora, o material hoje no mercado, ao final de um ano, apresentou aspecto acinzentado, enquanto o EndoBinder não mostrou diferença visual na aparência do dente, durante o mesmo período. O produto agora passa por testes para outras finalidades. “Por se tratar de um material bastante versátil, estamos trabalhando para que tenha características de manipulação de modo a permitir outros usos na odontologia. Além dos tratamen-

tos endodônticos, espera-se que possa ser indicado para tratamentos restauradores, como o de proteção da polpa do dente antes de sua restauração final”, adianta a coordenadora. Chegar a esse novo material comprova a importância da aliança entre empresa e universidade: “ambas trabalhando juntas para desenvolver produtos melhores, com mais tecnologia. Isso é prova de que o Brasil tem um nível de ciência semelhante ao de países desenvolvidos”, ressalta Fernanda. E Hebert Rossetto, representante da Bind­ ware, diz ter sido importante o suporte do governo para o desenvolvimento desse projeto e de outros similares. No caso do cimento, houve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito do Programa RHAE, e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). (CC)

A professora Fernanda garante: tratar canal vai ficar muito mais barato


INTERNACIONAL | educação

Os velhos clichês – praia, mulheres, futebol e carnaval – continuam a atrair, mas além deles o País apresenta outros valores para quem quer estudar e viver aqui

Os estudantes al Cresce o interesse sobre o País entre

flávio Aguiar correspondente em Berlim

flavio-aguiar@t-online.de

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INOVA | AGOSTO 2011

– Mario Schenk. Como é costume na Alemanha, Mario, atendendo ao telefone, diz o nome, que aqui se escreve sem acento. – Olá, Mario. Aqui é o Flávio. Nós nos encontramos no Instituto Latino-Americano da Freie Universität-Berlin. Você me falou que está pensando em se mudar para o Brasil. Gostaria de entrevistá-lo sobre isso. Mario resiste um pouco. Diz que não “é um caso típico”. Não vai se mudar para o Brasil por razões econômicas. Insisto: – Não importa, não estou atrás de “casos típicos”, nem de estatísticas. Isso a gente consegue em outro lugar. Estou atrás de uma história de vida. Quero saber como o Brasil entrou na sua vida e como você chegou a essa ideia, de se mudar para lá. Afinal, Mario concorda. Marcamos um encontro num dos cafés da Universidade Humboldt, na antiga Berlim Oriental. Mario me conta a sua história. Nasceu em Potsdam, na antiga Alemanha Oriental, em 1981. Vai fazer 30 anos. Seus pais trabalhavam com música e literatura. Seu pai dirigia um coral, uma banda. Graças a isso, ao contrário da maioria dos cidadãos da Alemanha comunista, conseguiam viajar com facilida-

de para o exterior. Isso, conta ele, o ajudou a abrir seus horizontes desde cedo. Diz também que seus pais participaram do movimento pela abertura na Alemanha Oriental, no fim da década de 80, mas que ficaram decepcionados com o resultado: queriam democratizar o regime, não o fim do socialismo. Enfrentaram tempos duros. Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, perderam seus empregos, tiveram de trabalhar em outras atividades durante 20 anos, até recuperarem suas antigas funções. Ainda no Colégio, por estímulo do avô, Mario passou um tempo no Uruguai, pois estudava espanhol, língua que fala muito bem. Quando entrou no ensino superior, depois da queda do Muro, estudou História Contemporânea na Freie Universität, que no começo foi patrocinada pelos norte-americanos, em Berlim Ocidental, e Estudos de Gênero na Universidade Humboldt, do antigo lado oriental. Movido pela curiosidade que vinha da infância, valeu-se da possibilidade comum na Alemanha para começar a viajar pelo mundo. Ao invés de fazer o Serviço Militar, os jovens podem fazer um Serviço Social. E a Alemanha estimula os jovens a estudar e se formar – durante algum tempo – no exterior. Escolheu o México, onde morou em Tijuana, na


Na visita à namorada brasileira, Ullrich Farias encontra a razão para estudar o País: a novela “América”

Vinte anos ensinando português aos alemães e a gaúcha Zinja Zievell constata: o Brasil virou atração

FOTOS: FLÁVIO AGUIAR

Mario Schenk e as descobertas sobre o Brasil: da terra incógnita ao ponto branco preenchido no mapa

emães de olho no Brasil os estudantes, as salas lotam e até a novela América atrai fronteira com os Estados Unidos, estudando, entre outras coisas, o tráfico de drogas. Nessa altura, com esses interesses, vinculou-se ao Instituto Latino-Americano (LAI) da FU-Berlin, onde começou a estudar português. Ganhou – estimulado pelo pai – uma bolsa para o Brasil, “para estudar um novo idioma.” – Para mim o Brasil era uma terra incógnita. Não era América Latina. Ir para o Brasil era preen­cher um branco no meu mapa, diz ele. Foi para São Paulo. E aí o Brasil virou uma opção. Por quê? Mario diz que há uma questão fundamental: “uma mulher é uma mulher”. Ou seja, ele encontrou o amor da sua vida. Mas houve mais, esclarece.

Fim dos clichês Apesar do trânsito de São Paulo e do custo de vida, coisas que o assustam, até que ele se adaptou muito bem. Conseguiu fazer tudo o que pretendia, em termos dos estudos, que realizou sobretudo na USP. Vai defender o doutorado em Berlim, mas tem planos para viver no Brasil, trabalhar numa ONG, quem sabe no ramo editorial ou no ensino superior. – O Brasil me deu uma “orientação”. Em Ber-

lim, eu me via disperso. O Brasil está vivendo um momento de mudança sócioeconômica e isso é muito atraente. A imagem que se tem hoje do Brasil na Alemanha mistura leveza e grandeza. Os velhos estereótipos (praia, mulheres, futebol, carnaval) estão cedendo espaço, outras imagens estão emergindo. Nesse sentido, o Brasil é um país que eu ainda não captei, e isso me atrai.

A novela “América” Mudança. De novo, essa é uma palavra chave para Ullrich Farias, outro estudante alemão, ligado ao LAI, que também pretende mudar-se para o Brasil, em especial, para o Rio de Janeiro. Também me encontrei com ele na Universidade Humboldt. Ullrich nasceu e cresceu em Emmendingen, perto de Fraiburg, na Floresta Negra, no sul da Alemanha, em 1974. Seu pai era uruguaio e a mãe, alemã (essa história daria uma novela, mas deixemo-la para outra ocasião). O pai era linguista e a mãe, professora na área de literatura e cultura. Ullrich foi pelo mesmo caminho. Estudou espanhol e inglês. Passou uma temporada na Inglaterra, no King’s College, voltando-se para

os Latin American Studies. Morou em Barcelona e, com a mãe, viajou por vários países da América Latina, inclusive o Brasil, ainda criança. Queria ser professor de línguas: além do espanhol e do inglês, alemão. Com os contatos do pai, passou um tempo no Uruguai. Mas como Mario, começou seu contato mais sistemático com a América Latina pelo México, e acabou... no Brasil. – Desde sempre eu pensava num traço de união entre as Américas: a anglo, a hispano e a brasileira. Numa viagem ao Brasil, para visitar uma namorada que eu tinha, assisti a telenovela “América” e fiquei fascinado. Acabei ficando seis meses. Tão forte foi a atração, que Ullrich acabou fazendo sua tese de doutorado, defendida no LAI em julho de 2011, sobre “O imaginário social da telenovela brasileira”, aprovada com louvor. A primeira namorada ficou para trás. Ele agora tem outra namorada brasileira, mas está consciente de que a opção pelo Brasil veio antes. – Morar no Rio significou uma paixão. Sim, havia um pouco de clichê nisso, mas não só. É mais fácil a gente se integrar no Brasil do que em outros países, especialmente da América

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Muitos estudantes buscam o Brasil para fazer ou auxiliar sua formação. Antes isso acontecia com outros países da Europa ou os Estados Unidos. Hoje os estudantes querem ir para fora desse círculo, e o Brasil tornou-se atraente” Zinka Ziebell, professora de português na Alemanha

Latina. É claro que o País tem uma série de deficiências, inclusive na educação. Mas isso está mudando, há muita mudança no ar, até mesmo na educação, nesse momento mais recente. Isso atrai. Abre possibilidades profissionais, posso ser professor de línguas, posso pensar em algo na universidade, por exemplo. Ullrich deixa claro que também optou pelo Brasil por uma questão de qualidade de vida: adora praia e calor humano. E isso, afirma, ele encontrou no Rio. Morou também em São Paulo, conheceu outras cidades, como Porto Alegre, Fortaleza, mas nada se compara, para ele, com a capital carioca. Além disso, a sua namorada vive no Rio de Janeiro. Ele ressalta que vários amigos seus pensam em ir para o Brasil. Um deles, de nome Fabian, já foi. Queria conhecer a América Latina. Começou pelo Rio: foi, viu e ficou. Estudou na Universidade Gama Filho, formou-se, e vai fazer o mestrado a partir deste ano. Por sua vez, Mario Schenk ressaltara na sua conversa ter descoberto que o intercâmbio com o Brasil, na Alemanha, é bem antigo e muito extenso. Ele disse que não sabe muito bem por quê, mas na Alemanha ele nota uma “abertura incondicional” para o Brasil por parte de muita gente.

Português “do Brasil” Vivendo na Alemanha há mais de 30 anos, a gaúcha Zinka Ziebell foi professora de português de ambos, Ullrich e Mario, no LAI. Zinka veio para a Alemanha muito jovem, ainda na casa dos 20, por causa de uma paixão e um casamento. Enviuvou, mas ficou. Professora de português há quase 20 anos, deu aulas em algumas universidades alemãs, como a Universidade Tecnológica de Berlim e a Universidade de Bremen. Hoje é professora de português brasileiro no Centro de Línguas da FU e leitora da Embaixada Brasileira no LAI. – Há vinte anos, os estudantes que iam para o Brasil participavam de programas de ajuda ao desenvolvimento. Isso é que dava o tom – até um tanto paternalista – desse intercâmbio. Hoje não é mais assim. O português

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do Brasil era ensinado praticamente só no LAI. Hoje isso mudou radicalmente. O interesse é muito maior e mais diversificado. Muitos estudantes buscam o Brasil para fazer ou auxiliar sua formação. Antes isso acontecia com outros países da Europa, ou os Estados Unidos. Hoje os estudantes querem ir para fora desse círculo, e o Brasil tornou-se atraente. Ela assinala que logo depois da queda do Muro de Berlim, muitos programas de cooperação com o Terceiro Mundo entraram em crise ou em colapso – como os com a África. O próprio LAI passou por uma crise (“pensamos que poderia fechar”), mas sobreviveu e o intercâmbio se reestruturou em novas bases. Segundo ela, isso se deve também a uma maior presença do Brasil em todas as frentes. – Recentemente, houve um dia dedicado ao intercâmbio universitário na FU. Havia três salas: uma dedicada ao “Mundo”, outra à Austrália, e a terceira, tão cheia quanto as outras, ao Brasil. Dos BRICS, os países que chamam mais a atenção dos estudantes são o Brasil e a China: muitos estudantes preferem o português do Brasil e o chinês, em todas as universidades. Agora, há muitos estudantes que vêm do antigo Leste europeu. E o Brasil também passou a ser uma opção de intercâmbio e de destino para eles. No LAI, uma das instituições mais importantes é o novo Centro de Pesquisas do Brasil, que se tornou uma referência nesse campo. Muitas outras histórias como essas de Mario e Ullrich, no quadro pintado pela professora Zinka, podem acontecer, agora que o governo brasileiro anuncia uma disposição mais intensa quanto à cooperação internacional, tanto no sentido de enviar estudantes para o exterior quanto no de trazer alunos e professores de fora para os institutos de pesquisa. É claro que o foco principal desse interesse está nas ciências e na tecnologia. Mas, se esse é o carro-chefe dos programas a serem criados ou reforçados, sempre sobra um pouco de combustível para todas as áreas da pesquisa universitária. Esse pouco pode definir destinos, num momento em que o Brasil redesenha seu perfil internacional.


intercâmbio

educação

Universidades brasileiras, professores estrangeiros Na Universidade Federal do ABC, mais de 10% dos docentes vieram de outros países

rofessores de diversos cantos do mundo têm voltado suas atenções para o mercado acadêmico brasileiro e os motivos para esse aumento de interesse vão desde o crescimento do desemprego em seus países de origem até a expansão dos investimentos do governo federal na área de pesquisa. De olho na demanda de mão de obra altamente qualificada, o Ministério de Ciên­cia, Tecnologia e Inovação anunciou a abertura de concurso público em 2011, para atrair profissionais estrangeiros, interessados em investir em sua carreira no País. “O Brasil hoje investe, cresce, tem estabilidade. Tivemos uma diáspora de cérebros no passado e agora queremos atrair cérebros”, afirma Aloizio Mercadante, titular da pasta. A Universidade Federal do ABC (UFABC) é um bom exemplo dessa nova atração: dos 425 profissionais que formam seu corpo docente, 49 não nasceram no Brasil e quatro já se naturalizaram brasileiros. Desses 49 estrangeiros, 22 vieram da Europa, nove da Argentina e seis da Rússia. O maior exportador indivi­dual, portanto, é a vizinha Argentina.

Duas paixões O espanhol Francisco Javier Ropero Peláez é um desses profissionais. É engenheiro eletrônico, tem doutorado em Neurociência pela Universidade de Madri e em Engenharia Mecatrônica pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha na área de Neurocomputação na UFABC desde 2009, na

qual ingressou por concurso público. No final dos anos 90, Peláez, contratado de uma empresa petrolífera na Espanha, realizava pesquisas nas horas vagas. “Pesquisar era um hobby para mim, até que solicitei uma bolsa para trabalhar em projetos no Japão e consegui. Pedi, então, licença de dois anos no trabalho, porque minha intenção era retornar ao país”, explicou. Mas duas paixões mudaram seus planos: no Japão, percebeu a profundidade de sua inclinação pela pesquisa e, também no Japão, conheceu uma pesquisadora brasileira, por quem se apaixonou e que é, agora, sua esposa. O casal transferiu-se para o Brasil em 1997, e Peláez trabalhou em algumas universidades antes de ser aprovado em concurso público para a UFABC. Ele garante que não pretende voltar a viver na Europa e explica como vê o mercado acadêmico brasileiro e o espanhol: “Na Espanha, a pesquisa é mais voltada para linhas marcadas, a criatividade não é tão valorizada como aqui. Ter mais liberdade para pesquisar e para criar projetos foi uma das minhas motivações. Estou muito contente aqui, porque a UFABC representa uma inovação, com projeto pedagógico inovador que se diferencia de universidades daqui e de fora também.”

Na Espanha, a pesquisa é mais voltada para linhas marcadas, não é tão valorizada como aqui. Ter mais liberdade para pesquisar e para criar projetos foi uma das minhas motivações” Francisco Javier Ropero Peláez, engenheiro eletrônico

AMANDA PEROBELLI

Rosângela Dias

rosangela@abcdmaior.com.br


Rafael Martins

Novo modelo de gestão reduz a criminalidade O programa Pacto pela Vida adota métodos do setor privado e integra governo com a sociedade civil Laís Correard lais.cultura@gmail.com

o primeiro semestre deste ano, o governo da Bahia conseguiu reduzir em 16% o número de homicídios no estado, com a implantação de apenas algumas diretrizes do Programa Pacto Pela Vida. Lançado oficialmente em junho, pelo governador Jacques Wagner, o programa objetiva reduzir os índices de violência do estado, e vem ganhando notoriedade tanto pelos bons resultados alcançados, como pela nova forma de gestão. O primeiro passo foi criar uma política pública de segurança transversal e integrada, em articulação com a sociedade civil, com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, junto com o Ministério Público, municípios do estado e a União. Buscou-se unificar as diversas experiências bem sucedidas em outros estados, como Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Para estabelecer o diálogo efetivo entre todas as esferas, foram criadas as Câmaras Setoriais de Articulação entre as 13 secretarias de governo; a Câmara de Articulação entre o Legislativo, Executivo e Judiciário e o Fórum Estadual de Segurança Pública, com a participação da sociedade civil. De

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acordo com Robinson Almeida, secretário de Comunicação Social da Bahia, “essa integração visa agilizar o cumprimento de mandados, a revisão de penas, a ressocialização de apenados e a priorização de matérias que tramitam na Assembléia Legislativa relacionadas à Segurança Pública. Além de ações coordenadas em todas as áreas, como saúde, educação e cultura, orientadas com vistas à promoção da paz social”. O Pacto pela Vida não prioriza apenas o aumento do efetivo policial, mas dá destaque também à prevenção aliada à repressão qualificada da criminalidade. Para evitar novas ocorrências, o governo iniciou uma série de atividades em localidades com altos índices de criminalidade. A comunidade de Calabar, em Salvador, foi a primeira a receber uma Base Comunitária de Segurança, semelhante às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), do Rio de Janeiro, além da oferta de serviços públicos, como emissão de documentos, exames médicos e cursos profissionalizantes. Paralelamente às ações de prevenção, vem sendo desenvolvido um trabalho para diminuir a impunidade. Para isso foi criado o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) com a missão de identificar as áreas onde ocorrem os crimes, investigar efetivamente todos os casos e retirar

Comunidade de Calabar, em Salvador, a primeira a receber Base Comunitária de Segurança: igual às UPPs do Rio de Janeiro Abaixo, os secretários: Wilson Damásio, secretário de Defesa Social de Pernambuco e Maurício Teles Barbosa, secretário de Segurança Pública da Bahia

divulgação

segurança

Adenilson Nunes

política social


Jogo da Memória ajuda a encontrar criminosos A Secretaria de Segurança Pública da Bahia criou uma nova estratégia para procurar os criminosos mais perigosos do estado: o “Baralho do Crime”, um jogo da memória que está disponível no site da própria secretaria (www.ssp.ba.gov.br). As cartas mostram as fotos dos procurados, o crime de que são acusados e o telefone do DisqueDenúncia. “O baralho foi criado com objetivo de fazer com que a população identifique, memorize e ao mesmo tempo se sinta estimulada a denunciar. E isso já vem ocorrendo”, afirma o secretário da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa. Desde seu lançamento, no mês de junho de 2011, diversas cartas do “Baralho do Crime” sofreram substituições, após os criminosos terem sido capturados pela polícia.

de circulação seus responsáveis. Desde sua abertura, em abril deste ano, houve um aumento expressivo no índice de elucidação dos delitos, chegando a 70% somente nos primeiros dias de sua implantação.

O exemplo de Pernambuco O modelo adotado na Bahia seguiu a experiência bem sucedida no estado vizinho de Pernambuco. Lá, o Pacto pela Vida, criado pelo governador Eduardo Campos há quatro anos, nasceu em razão da necessidade de se encontrar uma ferramenta eficiente para acabar com a violência no estado, especialmente na Região Metropolitana de Recife, cujas ocorrências chegavam a superar índices de cidades como o Rio de Janeiro, com muito mais habitantes. O programa conseguiu alterar esse cenário. Atualmente, em algumas regiões do estado, as estatísticas apontam no máximo 10 homicídios para cada 100 habitantes, números próximos aos que a Organização das Nações Unidas considera como satisfatórios. O estabelecimento de um plano de metas foi fundamental para alcançar tais resultados. De acordo com Wilson Damásio, secretário de Defesa Social de Pernambuco,

“um dos grandes diferenciais do programa foi trazer para a gestão pública a eficiência do setor privado, com a realização de um planejamento estratégico pautado pelo alcance de resultados.” O objetivo é reduzir anualmente 12% dos homicídios em Pernambuco, com base nos dados do ano anterior. A motivação para o alcance dessa meta foi possível apenas depois da introdução de uma política de meritocracia. “A equipe que bate a meta na redução de homicídios recebe um abono salarial e os agentes da área campeã na redução de homicídios ainda recebem um 14º salário”, afirma o secretário. Além disso, são dadas premiações para apreensão de crack e armas de fogo aos delegados que conseguem o maior número de mandados de prisão e às equipes que prendem o maior número de criminosos. São as chamadas Gratificação pelo Pacto pela Vida (GPPV). O secretário explica ainda que, “se os gestores e comandantes não apresentam resultados, eles são substituídos, seguindo a mesma lógica de uma empresa da iniciativa privada.” O monitoramento de tais metas é possível devido a um novo modelo de gestão adotado. As Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP), unidades territoriais criadas

para a implantação de planos integrados permitem o acompanhamento das ações policiais e dos dois principais indicadores: os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) e os Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP).

Bons resultados Wilson Damásio acredita também que o fator de maior influência nos resultados alcançados esteja na atuação da Polícia Militar e da Polícia Civil. “Sem dúvida, o trabalho conjunto de diversos segmentos contribuíram para a redução da violência, mas a ação da polícia ainda é uma questão central quando falamos em segurança pública. Por isso, passamos a integrá-las, desmanchando a prática passada, quando não compartilhavam as informações e chegavam até a ser inimigas”, explica Damásio. Os policiais civis e militares passaram a atuar juntos em operações de repressão qualificada, nas Áreas Integradas e nas reuniões semanais de monitoramento do Comitê Gestor do Pacto pela Vida. E para que a integração se efetivasse de fato foi criada ainda a Academia Integrada de Defesa Social, com o objetivo de unir, desde a formação, os policiais militar, civil e os bombeiros. AGOSTO 2011 | INOVA

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investimentos

automóveis

Contra a invasão chinesa, montadoras investem mais Fábricas planejam mais investimentos para os próximos anos

Fiat – A Fiat completa 35 anos de operações no Brasil dando início ao que chama de maior ciclo de investimentos de sua história. Entre 2011 e 2014, serão investidos R$ 10 bilhões, sendo R$ 7 bilhões destinados à fábrica de Betim, para ampliar a capacidade de produção de 800 mil para 950 mil automóveis e comerciais leves por ano. “O acréscimo de capacidade anual de 150 mil unidades equivale, na prática, à implantação de uma nova fábrica de médio porte”, afirma Elisa Sarti, da área de Comunicação Corporativa da montadora. Outros R$ 3 bilhões serão desti-

nados à implantação de uma nova fábrica em Pernambuco, com capacidade de produção de cerca de 200 mil veículos por ano, o que a companhia considera um investimento estratégico, uma vez que se insere em um amplo programa de industrialização e desenvolvimento econômico e social da região.

Ford – Os R$ 4,5 bilhões que a Ford injetará no Brasil entre 2011 e 2015 representam o maior volume aplicado pela empresa automobilística em suas operações no Brasil, em um período de cinco anos, ao longo de sua história de 90 anos no País. O foco desses investimentos será a nova geração do utilitário esportivo EcoSport, a partir de tecnologia avançada e de alta qualidade desenvolvida em Camaçari, na Bahia. É a primeira vez na história da Ford do Brasil que um veículo desenvolvido pela engenharia brasileira será produzido em outros países. “O desenvolvimento de veículos e plataformas verdadeiramente globais é uma parte essencial do nosso plano One Ford. A Ford Brasil já demonstrou sua habilidade na criação de excelentes veículos, com uma

divulgação

guerra das montadoras no Brasil se acirra. Com o desembarque no País de novos fabricantes, especialmente os chineses – que chegam com marketing agressivo e ostentando seus modelos modernos e mais baratos – está previsto um verdadeiro boom de investimentos no setor. Ninguém quer perder espaço e presença num mercado a cada dia mais promissor. A seguir, os planos das principais montadoras instaladas no Brasil:

Alan Mulally, CEO mundial da Ford, confirma novo recorde de investimentos: até 2015, R$ 4,5 bilhões

equipe tão forte atuando em nosso Centro de Engenharia em Camaçari”, diz Alan Mulally, CEO mundial da Ford.

Volkswagen – A Volkswagen destinará R$ 6,2 bilhões para a ampliação de fábricas e novos produtos até 2014. A principal meta da companhia é chegar à produção de um milhão de veículos por ano. O valor permitirá o desenvolvimento de novos produtos e a ampliação da capacidade de produção das fábricas de São Bernardo do Campo, Taubaté e de motores em São Carlos, todas no estado de São Paulo.

General Motors – O ciclo de investimentos da General Motors, estimado em R$ 5 bilhões até 2012, integrará a expansão da fábrica em Gravataí, no Rio Grande do Sul, o desenvolvimento da nova família Onix de veículos, no Centro Tecnológico de São Caetano do Sul, e no campo de provas de Indaiatuba, em São Paulo. Estão previstas também a duplicação e a modernização do Centro Tecnológico de Engenharia e Design da montadora e do campo de provas de Cruz Alta, em Indaiatuba, incluindo a construção de novos laboratórios e pistas de testes. A fábrica no ABCD, em São Paulo, deve ser modernizada e adequada à produção de novos modelos. O complexo de São José dos Campos, também em São Paulo, será adaptado para a produção de dois novos modelos, e está prevista ainda a construção de uma nova fábrica de motores e componentes em Joinville, Santa Catarina.

Mercedes-Benz – Os investimentos da Mercedes-Benz, no valor de R$ 1,5 bilhão, estão direcionados para o aumento da capacidade de produção de caminhões e ônibus na planta de São Bernardo do Campo, em São Paulo e a expansão da produção de caminhões para a planta de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Nesse montante, também estão considerados investimentos em pesquisas, no desenvolvimento de tecnologias e na modernização das áreas de produção, logística e de serviços.(CC)


plástico Mathias Cramer

tecnologia

R$ 500 milhões de investimentos e nasce um novo plástico: o plástico verde

O PLÁSTICO DO FUTURO

Fabricado desde 2010, material derivado do etanol polui menos gem renovável, em convênio de cooperação com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

MENOS POLUIÇÃO Segundo a Braskem, o plástico verde retira até 2,5 toneladas de carbono da atmosfera para cada tonelada produzida de polietileno, desde a origem da matéria-prima. Funciona como se o material fosse feito de CO2 capturado da atmosfera na fotossíntese da cana-de-açúcar. A empresa destaca que este é o mais competitivo entre todos os plásticos de origem renovável, o que já é amplamente reconhecido pelo mercado. Entre os compradores do produto, destacam-se Tetra Pak, Toyota Tsusho, Shiseido, Natura, Acinplas, Johnson&Johnson, Procter&Gamble e Petropack, entre outras. O plástico verde, de origem renovável, já é utilizado em produtos destinados à higiene pessoal e limpeza doméstica, embalagens de alimentos, brinquedos e utilidades domésticas. O produto final tem exatamente as mesmas propriedades e características do polietileno tradicional, podendo ser processado nos equipamentos dos clientes sem necessidade de adaptações. A Braskem tem intensificado suas pesquisas no desenvolvimento de outros biopolímeros, especialmente do polipropileno verde. Recentemente, acertou

uma parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), de Campinas, no interior de São Paulo, para a instalação de um laboratório de pesquisas na área de biotecnologia. A empresa projeta ainda, para o segundo semestre de 2013, o investimento de cerca de US$ 100 milhões e a capacidade mínima de produção de 30 mil toneladas de propileno verde ao ano. O polipropileno é o segundo plástico mais utilizado no mundo, o que reforça as grandes possibilidades de avanço do setor. (CC) amanda perobelli

embalagem, batizada de PantBlottle está sendo produzida, desde 2010, no Polo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, onde o Grupo Braskem instalou a maior unidade industrial de eteno, derivado do etanol, do planeta. Ali são fabricadas 200 mil toneladas de polietileno verde por ano. A Coca-Cola foi a primeira empresa a aderir à novidade na América Latina. Por ter origem parcialmente vegetal, 30% à base de cana de açúcar, a embalagem reduz a dependência da empresa em relação aos recursos não-renováveis. A cana-de-açúcar utilizada provém de fornecedores auditados, que utilizam essencialmente a irrigação natural, ou seja, a chuva, além da colheita mecânica. Na vanguarda das iniciativas que envolvem o plástico renovável, o Grupo investiu cerca de R$ 500 milhões no Projeto do Plástico Verde, concebido com tecnologia própria. “A Braskem quer contribuir de forma diferenciada para o desenvolvimento sustentável, por meio de soluções inovadoras. O Plástico Verde faz parte de um grande avanço rumo à sustentabilidade”, afirma Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da empresa. Desde 2008, a Braskem desenvolve pesquisas para o projeto de um plástico de ori-

Na garrafas de Coca-Cola, a novidade: primeira empresa a adotar o plástico verde

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lixo

DIVULGAÇÃO

sustentabilidade

Joana Horta

joana@abcdmaior.com.br

Claudia Mayara

claudia@abcdmaior.com.br

A energia

Esquenta o debate sobre a queima de resíduos sólidos á dez anos, um time de empreendedores, entre engenheiros, administradores e pesquisadores, se uniu para desenvolver uma alternativa aos aterros sanitários, principal destino do lixo gerado no Brasil. Como resultado, surgiu a Usinaverde, empresa que desenvolve tecnologias para a eliminação de resíduos sólidos e a geração de energia. Hoje, a empresa mantém um centro de pesquisas na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, onde transforma diariamente 30 toneladas de resíduos sólidos, provenientes de um aterro sanitário carioca. Com o apoio do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os empresários desenvolveram, com tecnologia 100% nacional, o sistema patenteado como Usinaverde. Na unidade, cerca de 50 funcionários trabalham na seleção de resíduos passíveis de reutilização ou de reciclagem, que são separados e retirados, e o restante é incinerado.

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Os gases ácidos resultantes da incineração do lixo são lavados com água alcalinizada e ocorre, então, uma reação química que transforma tais substâncias em sais minerais e água. Além de ser uma opção para o descarte do lixo urbano, a usina também se apresenta como uma alternativa às fontes energéticas. Cerca de 90% do peso do lixo é transformado em eletricidade. Por meio de uma caldeira de recuperação instalada no forno da usina, o calor da incineração dos gases de combustão é reaproveitado, gerando energia elétrica suficiente para abastecer mais de duas mil residências, com consumo médio de 200 kW/ mês. A inovação não fica apenas no campo da destinação do lixo e da geração de energia. De acordo com Henrique Saraiva, diretorpresidente da Usinaverde, atualmente a usina modelo funciona apenas como centro tecnológico e não tem fins lucrativos. “O cerne do negócio está na venda da tecnologia e das patentes para várias cidades brasileiras carentes de alternativas para o descarte do lixo não reciclável. A empresa deve faturar com o licenciamento da tecnologia de proces-

samento, pelos 20 anos que esses contratos costumam durar, com a consultoria para sua implantação e com a assistência técnica”. O módulo comercial da Usinaverde tem capacidade para receber 150 toneladas diárias de resíduos, quantidade produzida por uma cidade com uma média de 180 mil habitantes. Assim, a planta geraria energia suficiente para mais de sete mil residências. Ou seja, cerca de 20% dessa população poderia ser abastecida com seu próprio lixo.

A questão socioambiental Ainda que a Usinaverde defenda e apresente a tecnologia como solução sustentável e ambientalmente correta, há quem não acredita na iniciativa. Alguns ambientalistas não concordam com a solução por utilizar a queima em seu processo. Outra questão polêmica tem sido o embate com os catadores de material reciclável. No mês de julho deste ano, uma manifestação contra o projeto de instalação de uma usina verde foi realizada nas ruas de


Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável: críticas à usina e defesa do emprego

andris bovo

Tecnologia 100% nacional: 30 toneladas diárias de lixo reciclado e energia para duas mil residências por mês

que vem do lixo

no Brasil como alternativa aos superlotados aterros sanitários e à geração de energia São Bernardo do Campo. Mesmo sem citar a tecnologia que seria adotada, o prefeito Luiz Marinho, que levantou o debate, sofreu pressões da sociedade civil organizada para que a iniciativa não fosse levada adiante. Integrantes do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCR) chegaram a protocolar uma ação no fórum municipal de São Bernardo do Campo. Segundo uma das catadoras e membro da equipe de articulação do movimento, Maria Mônica da Silva, o incinerador poderia poluir o meio ambiente do município. “Nós somos contra porque agride o meio ambiente. Queimando os resíduos, terão que extrair novos recursos naturais para produzir mais matéria-prima. Se não cuidarmos do planeta agora, não saberemos como vai ficar daqui a alguns anos”. Além do impacto ambiental, Maria Mônica também destacou os prejuízos sociais com a medida, principalmente com o futuro dos catadores, que vêem no incinerador a desarticulação dos postos de trabalho gerados pela coleta e venda de recicláveis. “Os catadores já fazem parte da sociedade. Com o incinera-

dor serão eliminados postos de trabalho que a reciclagem gera. Nós geramos e movemos a economia local. Colocamos as pessoas de volta à sociedade”, afirma.

Novos resíduos Na opinião da coordenadora do projeto de Coleta Seletiva Brasil-Canadá, Jutta Gutber­let, as usinas de lixo não são sustentáveis e são incapazes de substituir em 100% os aterros sanitários. “A queima dos resíduos gera cinzas tóxicas, que variam entre 20% e 40%, dependendo da tecnologia empregada”, afirma. Jutta ainda critica o reaproveitamento desse material. “As cinzas são um coquetel de materiais de tudo que geramos, portanto é um risco usá-lo”. Como resposta ao movimento ambientalista, Henrique Saraiva, da Usinaverde, defende que, com a tecnologia desenvolvida os resíduos – cinzas que saem da caldeira de recuperação de calor e partículas inertes que saem do forno – podem ser misturados ao cimento e reaproveitados na produção de tijolos. “Uma usina que processa 150 toneladas de lixo por dia tam-

Créditos de carbono A usina modelo da Usinaverde possui certificação como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Em 2007, a tecnologia foi monitorada e atingiu os padrões necessários para receber créditos de carbono. Constatou-se que, além de não liberar metano, gás danoso ao meio ambiente, a usina modelo usa resíduos sólidos em substituição ao combustível fóssil, como o petróleo, para produzir energia. O crédito de carbono é um dos mecanismos de flexibilidade permitidos pelo Tratado de Kyoto – acordo assinado pelas principais nações poluidoras, em 1997, no Japão. O sistema possibilita que os países do Norte cumpram as exigências de redução de emissões de gases poluentes fora de seu território.

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andris bovo

Nas ruas de São Bernardo a manifestação acusa: a usina polui

bém pode gerar tijolos para a construção de uma casa de 50 metros quadrados por dia”. Para ele, o embate na questão ambiental surge em função da falta de conhecimento sobre as novas tecnologias. “O mundo inteiro já utiliza o sistema de queima de lixo. Na Alemanha, isso ocorre há mais de meio século. Em Tóquio, mais de vinte usinas operam transformando resíduos em energia e são instalações urbanas”, argumenta Saraiva. “O Brasil está muito atrasado nessa discussão e entendemos que a Usinaverde tem responsabilidade em estimular esse debate”.

Mestre em direito ambiental, Luiz Carvalho critica: o Brasil está atrasado e desconhece a tecnologia da usina

Mestre e doutorando em direito ambiental, Luiz Carvalho, que presta consultoria ao projeto de inovação formulado pela Faculdade Getulio Vargas (FGV) para a prefeitura de São Bernardo do Campo, concorda com Henrique Saraiva no que diz respeito ao atraso e ao desconhecimento da tecnologia no Brasil. “Países da Europa e da Ásia apresentam muitos casos que mostram um trabalho não apenas econômico dessas usinas, mas também social e pedagógico. Na França, existe uma usina às margens do Rio Sena, mostrando à população que o lixo não some. Como ele é gerado, precisa ter uma correta destinação”, ressalta. “A implementação de usinas termoelétricas que utilizam rejeitos como matéria-prima será uma grande inovação no Brasil. Mas deve acontecer em conjunto com outros processos, o de redução do consumo, o respeito à reciclagem e outras formas de reaproveitamento que estão à frente da incineração”.

A questão legal A questão legal que envolve a implementação de usinas é um ponto que gera discussões, tanto por parte de quem desenvolve a tecnologia, quanto do lado de ambientalistas e da sociedade civil. A falta de um marco regulatório que defina parâmetros para o funcionamento de sistemas de queima de resíduos e geração de energia deixa um campo aberto para embates e discussões. Nesse sentido, São Paulo já está um passo à frente da realidade nacional. Em 2010, publicou a resolução 079, que estabelece diretrizes e

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condições para a operação e o licenciamento da atividade de tratamento térmico de resíduos sólidos em Usinas de Recuperação de Energia (URE). Outro avanço importante foi a reformulação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apresentada em 2010, no governo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Assim como a resolução paulista, a política nacional se inspira na experiência européia. A PNRS se interrelaciona com outros instrumentos legais, como as diretrizes nacionais do saneamento básico, a lei de prevenção, controle e fiscalização da poluição por óleos e substâncias perigosas e as diretrizes nacionais da educação ambiental. Na análise de Luiz Carvalho, a PNRS prevê a existência de usinas de queima e geração de energia, inclusive como instrumentos inovadores e de suporte à política nacional. “A usina não pode e não deve interferir nos processos de reciclagem ou reaproveitamento. O que deve ser queimado é um material específico que só teria uma possibilidade de destinação correta, o aterro sanitário. Como alternativa, buscando o aproveitamento da energia deste rejeito, encontramos espaço para as tecnologias de recuperação de energia por incineração.” O advogado também conclama a sociedade civil e os movimentos sociais para que acompanhem os processos de instalação e funcionamento das usinas. “Estabelecidos os parâmetros, que são pesquisados e desenvolvidos durante anos, a sociedade deve atuar como agente fiscalizador”, afirma.


tecnologia

transporte

Clébio Cavagnolle Cantares clebio@abcdmaior.com.br

Tecnologia 3D na Hidrovia Tietê-Paraná Transporte de combustível fica mais seguro com apoio de simulador e a inovação está apenas dando suas primeiras braçadas no transporte fluvial no Brasil, as perspectivas são grandes, em especial após a criação do simulador de operação para comboios fluviais na Hidrovia Tietê-Paraná. Resultado de parceria entre pesquisadores do Tanque de Provas Numérico, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e da Petrobras Transportes (Transpetro), o simulador está instalado na sede da empresa, no Rio de Janeiro, para demonstrações e testes. Contou em seu desenvolvimento, também, com apoio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). O equipamento, que tem telas para visualização em 3D, é destinado à análise de procedimentos e dimensionamento de sistemas no treinamento ou na reciclagem de capitães e pilotos fluviais que atuarão no transporte de combustíveis (álcool e biodiesel).

Pronto em quatro meses Segundo Eduardo Aoun Tannuri, professor do Departamento de Engenharia Mecatrô-

nica e um dos coordenadores do Tanque de Provas, o acordo para a elaboração do projeto foi assinado em dezembro de 2010, e, em menos de quatro meses, o sistema já foi apresentado – concluído e pronto para entrar em operação. “É uma tecnologia totalmente nacional e inovadora”, diz o professor, a quem coube coordenar o desenvolvimento do simulador, com participação de 15 alunos de pós-graduação da Poli, além de docentes e técnicos. Tannuri conta que o projeto surgiu da demanda de treinamento de operadores fluviais, em função do aumento do número de comboios que irão operar na Tietê-Paraná. “A Transpetro fará o transporte de biocombustível pela hidrovia, o que requer aumento da segurança operacional. Em média, um treinamento desse tipo poderia levar até dois anos. Com o simulador, pretende-se reduzi-lo a alguns meses”, afirma. O novo simulador permite que os operadores fluviais treinem a execução de tarefas críticas, como passagem sob pontes e eclusas, em condições adversas de chuva, neblina ou perda de propulsão. “O objetivo é garantir maior segurança à operação de transporte fluvial. Já estamos trabalhando na replicação do simula-

dor para uso em sala de aula de instrução para múltiplos alunos, bem como expansões para outras operações fluviais, marítimas e offshore (operações em costas)”, informa o professor.

Desafios na tela 3D Quase como um videogame, o sistema tem um cenário virtual e uma bancada com dois manches, chamados telégrafos, que são manipulados pelo condutor em treinamento para realizar as manobras virtuais. O simulador mostra, em três telas convencionais 3D, um comboio fluvial formado por quatro chatas, que é empurrado pelo navio operado pelo condutor. “As maquetes virtuais são modelos que reproduzem fielmente o ambiente e o equipamento real que está sendo demandado pela Transpetro”, ressalta Tannuri. Os desafios estão no trajeto, que inclui três pontos críticos da hidrovia: a curva do rio Paranaíba, a ponte sob a rodovia SP595, em São José dos Dourados, e a eclusa de Promissão. A ideia dos pesquisadores é continuar os trabalhos até o mapeamento completo do percurso da hidrovia, aproximadamente mil quilômetros.

fotos: amanda perobelli

Eduardo Tannuri, um dos coordenadores do Tanque de Provas: quase um videogame, quase real

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serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

Financiamentos com garantia do BNDES FGI atingem R$ 1,2 bilhão Antes de completar o primeiro ano de sua efetiva entrada em operação, o Fundo Garantidor para Investimentos, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES FGI, realizou 6.773 operações, mais de 90% delas com microempresas e pessoas físicas.

O que é Parceria público-privada, tendo como cotistas o Tesouro Nacional, o BNDES e instituições financeiras habilitadas a contratar operações, às quais o Fundo dá garantia. Criado com estrutura de governança própria, tem patrimônio separado do de seu administrador (o BNDES) e dos demais cotistas, o que o torna independente, sem risco de contingenciamento orçamentário. Por ser um fundo de natureza privada, tem CNPJ próprio.

Objetivo Reduzir o risco de crédito das instituições financeiras no financiamento a micro, pequenas e médias empresas, ao mesmo tempo em que estimula seu acesso ao crédito. Pessoas físicas que trabalham no transporte de carga podem utilizar o programa para a aquisição de bens relacionados ao setor, por meio do BNDES Procaminhoneiro.

Instituições financeiras habilitadas Atualmente são 17, das quais nove do setor privado, grandes bancos, na maioria. Os primeiros a entrar na operação foram Caixa, Banco do Brasil e Bradesco, seguidos por bancos de montadoras, como Scania Banco, Banco Volvo e Banco Fidis, agências de fomento, bancos de desenvolvimento e bancos regionais, como Nossa Caixa Desenvolvimento (SP), Badesul (RS), Investe Rio (RJ) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Itaú Unibanco e Santander estão se preparando para começar.

Como funciona No atendimento a operações de repasse do BNDES. O beneficiário deve pedir financiamento do BNDES em uma das instituições financeiras credenciadas e habilitadas junto ao Fundo. A garantia do BNDES FGI é solicitada pela instituição juntamente com o financiamento e, sendo ambos aprovados, a operação é contratada com garantia do Fundo.

O que pode ser garantido Diversos produtos, linhas e programas do BNDES, como financiamento a investimento, capital de giro, financiamento à produção voltada para exportação, financiamento de projetos de expansão e compra de veículos de transporte, entre outros. A cobertura pode chegar a 80% do risco de crédito em cada operação.

Contragarantias As exigências feitas aos clientes finais para as operações cobertas pelo BNDES FGI são facilitadas. Para operações com valor garantido de até R$ 1 milhão, é exigido somente o aval dos sócios controladores e, adicionalmente, é cobrado um encargo pela concessão da garantia, fixado em função do prazo e dimensionado para cobrir as perdas provenientes da carteira de garantias do BNDES FGI. Esse encargo é repassado pela instituição financeira ao cliente final e financiado junto com o montante da dívida.

Impactos e benefícios O BNDES FGI visa estimular de forma gradual e responsável a inclusão das micro, pequenas e médias empresas no mercado de crédito, em condições mais favoráveis que as do mercado em geral. Mais informações

www.bndes.gov.br/apoio/fgi


Prêmio Santander de Empreendedorismo Até o dia 13 de setembro, estarão abertas as inscrições para o Prêmio Santander de Empreendedorismo, destinado a alunos de graduação e pós-graduação, para estimular a criação e o desenvolvimento de projetos de estudantes com postura empreendedora. O líder e o orientador da equipe vencedora de cada categoria receberão prêmio em dinheiro (50 mil reais) e bolsa de estudos no Babso­­n College, escola de negócios localizada em Wellesley, próxima a Boston, nos Estados Unidos. As categorias são: indústria, tecnologia da informação, tecnologia da comunicação, tecnologia da cultura e educação, produtos e serviços, biotecnologia e saúde. MAIS INFORMAÇÕES

www.santanderuniversidades.com.br/premios

Programa customizado com foco em inovação Programas Customizados são oferecidos pela Fundação Dom Cabral e por eles se faz o diagnóstico da organização interessada e, a partir daí, é estimulada a discussão e a troca de experiências, para gerar e disseminar conhecimento. Nesse trabalho, busca-se desenvolver projetos e atividades que proporcionem maior compreensão e aprofundamento em subtemas da inovação. Para a Fundação, como cada organização tem uma identidade própria, um nível diferenciado de competências, planos e objetivos de desenvolvimento, cada Programa Customizado deve ser construído junto com o cliente para atender a essas demandas. A FDC é considerada a quinta melhor escola de negócios do mundo, em ranking da Financial Times. Criada em 1976, como desdobramento do Centro de Extensão da Universidade Católica de Minas Gerais, é uma instituição autônoma e sem fins lucrativos. Por sua articulação com organismos e entidades internacionais, garante acesso a grandes centros produtores de tecnologia de gestão. Circulam anualmente por seus programas (abertos, fechados e de parcerias) cerca de 30 mil executivos de empresas de médio e grande porte.

Brasil Alemanha parceria acadêmica O Programa Novas Parcerias (NoPa) foi criado para financiar projetos de pesquisa multidisciplinar desenvolvidos em conjunto por instituições, docentes e pesquisadores brasileiros e alemães. No convênio, o Brasil é representado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculado ao Ministério da Educação, e a Alemanha, pela Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).

NoPa OBJETIVOS Apoio ao intercâmbio científico entre grupos de pesquisa brasileiros e alemães, orientados pela demanda dos setores públicos e privados nas áreas fundamentais para o desenvolvimento sustentável: – proteção e gestão sustentável das florestas tropicais; – energias renováveis e eficiência energética; Incentivo à inovação tecnológica no setor produtivo público e privado, a partir de resultados de pesquisas desenvolvidas por instituições qualificadas do Brasil e da Alemanha; Formação de recursos humanos de alto nível nas áreas focais de cooperação.

FINANCIAMENTO Duas viagens de curta duração (entre 10 e 20 dias) para a Alemanha, por ano, aos pesquisadores participantes; Até oito bolsas por projeto nas seguintes modalidades: graduação sanduíche (4 a 10 meses), doutorado sanduíche (4 a 12 meses), pós-doutorado (2 a 12 meses); R$ 10 mil por ano para custeio do projeto.

Duração Até dois anos de duração, por projeto. O financiamento do segundo ano é condicionado à aprovação de relatórios e à disponibilidade orçamentária das agências financiadoras.

MAIS INFORMAÇÕES

www.capes.gov.br/editais/abertos/4737-nopa

MAIS INFORMAÇÕES

www.fdc.org.br

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ponto de vista Patricia Tavares Magalhães de Toledo

A importância do Núcleo de Inovação Tecnológica

divulgação

O núcleo potencializa a atuação das instituições de ciência e tecnologia, reduzindo a distância entre a geração do conhecimento e sua transformação em riqueza e benefícios sociais

o Brasil, é recente o destaque conferido à relevância das parcerias em pesquisa e desenvolvimento entre instituições de ensino e de pesquisa e empresas, que convergem para a promoção da inovação e do desenvolvimento tecnológico do País. Abdicando de algumas poucas instituições com tradição na interação universidadeempresa, ainda é incipiente no País a estruturação de um órgão responsável por centralizar o desenvolvimento de parcerias e iniciativas que estimulem a inovação baseada no conhecimento gerado pela universidade. Se dá, principalmente, a partir da Lei de Inovação, que estipula a obrigatoriedade da criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) em Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT). A formação de um NIT possibilita a potencialização da atuação da ICT, no sentido de reduzir o “grande vale” existente entre a geração do conhecimento e a sua transformação em riqueza e benefícios sociais. Do lado do pesquisador, os NITs constituem-se em uma ferramenta para proteger e transferir os resultados de suas pesquisas. Do lado das empresas, compõem acesso a parcerias para desenvolvimento tecnológico com ICTs. Um exemplo de NIT é a Agência de Inovação Inova Unicamp, cujo início de trabalho foi marcado por uma grande expectativa em relação aos benefícios concretos que uma estrutura facilitadora da cooperação e parcerias com organizações privadas e públicas poderia trazer à universidade. Criada em 2003, com institucionalização anterior à obrigatoriedade da Lei de Inovação, a Agência de Inovação da Unicamp foi constituída como uma resposta à evolução

e o amadurecimento de políticas e práticas da universidade. Seu objetivo principal é articular parcerias com instituições públicas e privadas dirigidas para o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico e para a inovação, beneficiando as atividades de pesquisa, ensino e avanço do conhecimento. Entre seus resultados é possível contabilizar uma média de 50 pedidos de patentes por ano para a Unicamp e mais de 50 contratos de licenciamentos firmados com empresas desde a sua constituição. Fazem parte de suas atividades: o licenciamento de tecnologias, a busca por projetos colaborativos de pesquisa, o incentivo à criação de empresas de alta tecnologia e iniciativas para aprimorar o sistema local de inovação. Enfim, um NIT, enquanto escritório responsável pela proteção e transferência de tecnologia, assume como parte de suas atividades a criação de uma rede que estimule a participação da universidade no ambiente de inovação local. É importante enfatizar sua importância no incentivo à cooperação entre os setores público e privado para maximizar os resultados da difusão do conhecimento científico e tecnológico constituído localmente. O estabelecimento de parcerias e a gestão do relacionamento e de projetos conjuntos são consideradas atividades altamente relevantes para o aprimoramento da pesquisa no país. A experiência da Unicamp, por sua vez, tem demonstrado que o estabelecimento das parcerias entre instituições públicas de ensino e pesquisa e empresas pode diminuir o descompasso que existe entre a ciência, o mercado e a sociedade. Patricia Tavares Magalhães de Toledo é diretora de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologias da Agência de Inovação Inova Unicamp.




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