Vozleste edição ESPECIAL - JANEIRO/2014

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Voz da Leste, edição ESPECIAL

São Paulo, SP/ Zona Leste, Janeiro de 2014

OCUPAÇÃO ESPERANÇA A luta por moradia digna

PICHAR É ARTE Correr Faz parte...

ROLEZINHO NA CIDADE QUEM MANDA EM SÃO PAULO?

Conheça alguns movimentos que tentam tornar a cidade socialmente mais justa e democrática e contra quem estamos lutando


EDITORIAL

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ESPECIAL/2014

Pelo Direto à Cidade, mas qual cidade queremos? Perece que 2013 ainda não acabou, que vivemos num contínuo das grandes manifestações que tomaram as ruas de nosso pais em junho. Muitos céticos disseram que aquelas mais de 2 milhões de pessoas protestando não dariam em nada, contudo colhemos frutos que vão alem dos 20 centavos. O Movimento Passe Livre (MPL) conseguiu fazer um grande dialogo com a sociedade e o mesmo ocorreu com vários outros coletivos culturais e politicos que pararam de conversar só entre si e dialogaram e puderam mostrar ao povo que estão do mesmo lado. A mídia conservadora teve que construir posições mais criticas, não dava maispraficar mentindo discaradamente, mas ainda mentem! Desmilitarização da PM, reforma urbana, saude, educação, ciclovias, foi uma explosão de exigencias pelo povo nas ruas, quem não as ouvir terá decretado sua morte política. Uma das lutas que temos que travar com muita concistencia é a do Direito à Cidade. Quem manda na cidade, quem decide sue futuro, seu orçamento, onde será parque, escola, condominio, shopping ou balada? Infelizmente politicos pouco informados ou negligentes com a má qualidade de vida de uma cidade toda feita para carros, shoppings e condominios fechados, cidade desenhada não pelas mçaos do urbanismo do povo mas pela Espaculação imobiliaria que financia quase toda a camara de vereadores e depois destrói o espaço urbano com seus prédios em qualquer lugar. Olhem o que virou a Rua Augusta no Governo Kassab, fora seus projetos higienistas para a Luz, as favelas que pegavam fogo, a proibição de se fazer arte na rua, a proibição do Bolo do bexiga, entre tantos desmandos em favor da especulação. Mas em São Paulo não passarão! Os Rolezinhos no shooping, a luta pelo Parque Augusta, os debates pela Reforma Urbana, a mobilização dos ciclistas, o direito à moradia digna, o pixo e ao grafite, o repúdio á Operação Delegada são algumas das mobilizações que popicam pela cidade exigindo a sensibilização da sociedade e a ação dos governos para contruir uma Urbes que seja de todos e não uma ilha de privilegiados, uma cidade que nos de direito de vivermos no mundo como somos, com o corpo que temos e queremos. Esse ano de Copa e Eleições será a cartase geral do povo brasileiro, dos que os desejam mas principalmente daqueles que os repudiam. 2014, o carnaval não começou, mas a luta já! Marcel C. Couto - Editor São Paulo, Janeiro de 2014.

EXPEDIENTE

• Editores: Elaine Mineiro e Marcel Cabral Couto • Arte e Diagramação: Lese Pierre, Paloma Valéria dos Santos, Patrícia Portugal e Patrícia Mayumi Ishirara • Ilustrações: Ruana Negri, Ebbios, Will Oliveira • Jornalista: Lívia Lima • Colaboradores: Acille Lollo, Escobar Franelas, Daniel Marques da Silva, Danilo Morcelli, Gabriel di Pierro, Helena Silvestre, Luciara Ribeiro, Punk Coutinho, Ruana Negri, Vandei Oliveira Zé • Poesias: Daniel Marques, Douglas Alves, Geórgia Ogando, Pomba Valente, Ruivos Lopes, Samara Silva de Olveira, Valdir Couto • Parceiros: ANEL-SP, Casa de Cultura do Itaim Paulista, Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, Sacolão da Artes, GRCS Escola de Samba Unidos de Santa Bárbara e Sarau o Que Dizem os Umbigos, Jornal O Grito, Jornal Brasil de Fato • Administração: Adriano Borges, Elaine Mineiro e Marcel Cabral Couto • Contatos: e-mail: vozdaleste@gmail.com; facebook: https:// www.facebook.com/VozDaLeste; Blog: vozdaleste.blogspot.com; • Anúncios: anunciosvozdaleste@gmail.com; Cel: 963811073 (Marcel) • Gráfica: Taiga Gráfica e Editora Ltda. Tiragem: 3.000 exemplares.

Realização:

Ilustração: Ruana Negri


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em debate Direito à Cidade A curva do rolezinho é mais embaixo Texto Lívia Lima e Fotos Raul Doria

POLÍTICA

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Dentre as diversas polêmicas envolvendo os rolezinhos, uma questão central que também deveria estar sendo discutida não deveria ser se as liminares dos shoppings estão criando um apartheid social, ou se os shoppings tem direito de coibir pessoas em seu espaço em defesa do direito de ir e vir dos cidadãos. A grande questão que os rolezinhos nos permitem verificar é que a sociedade não sabe o que esperar da juventude, mesmo assim exige que ela atenda suas expectativas. O jovem sempre é visto como problema. O direito do jovem ao lazer, à cultura, ao esporte, não é especificamente direcionado, faltam opções porque justamente não se sabem exatamente que opções devem ser criadas para eles. Dentre os debates nas redes sociais, muitos comentaram que faltam espaços como centros culturais, quadras esportivas nas periferias. Realmente são muito escassos. Mas mesmo se eles existissem, os jovens trocariam o shopping por estes lugares? Considerando os espaços já existentes, muitos excluem a cultura juvenil, sobretudo a periférica, cujo fenômeno musical do funk assusta os mais moralistas, que criticam a sexualização das músicas e até mesmo a apologia às drogas e ao crime. Mas novamente entramos em uma questão: é sempre o adulto quem deve decidir o que deve ser oferecido ao jovem? Quem decide o que o jovem deve ou não gostar, pode ou não escutar, assistir?

Se os jovens não tem acesso à educação de qualidade, como poderão participar de rolezinhos na biblioteca, como muitos estão compartilhando, como vão escutar música erudita? E por que o funk é menosprezado e considerado pior que música erudita? Será que é porque ele é feito por jovens? Por jovens pobres? Os jovens de classes mais altas provavelmente também não se interessam muito por música erudita, mesmo tendo acesso a ela. Eles também vão aos shoppings usando roupas de marca para ver e serem vistos. Também dão seus rolezinhos. Eles também precisam “ostentar”, se destacar, aparecer. Isso faz parte da adolescência. A diferença é que o desejo destes jovens é tolerado, enquanto o dos pobres cria pânico; é uma ameaça ao paraíso artificial que é o shopping center. O jovem branco e rico pode dar rolezinho porque ele tem direito ao “ócio”, enquanto o preto e pobre é destinado ao trabalho. A rebeldia na negação do trabalho pelo jovem periférico assusta. O que fazer com esses jovens? Os chamam de vagabundos, mas será que o jovem tem que sentir vontade de trabalhar? Enquanto nós não temos essas respostas, eles continuam dando seus rolezinhos, descompromissados, eles não estão reivindicando nada, só querem zoar e curtir. É só isso que eles querem. Deixemos os jovens fazerem o que querem, respeitemos suas vontades, sem impor ou decidir por eles. A juventude quer viver.


POLÍTICA

Cerca de 100 famílias sem-teto ocuparam, na madrugada desse 24 de agosto, sábado, uma área na Estrada do Portugal, no bairro Santa Fé, em Osasco (próximo à Rodovia Anhangüera). A ocupação foi batizada de “Ocu-

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pação esperança” e após quatro meses, são aproximadamente 1000 famílias morando no local. A ocupação é produto do déficit habitacional da cidade, que conta com 43 mil famílias inscritas no programa “Minha Casa,

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Minha Vida”. Desde 2009, a prefeitura entregou apenas 420 casas. É preciso que todo movimento sindical, estudantil e popular apóie as famílias acampadas. Uma liminar de reintegração de posse está sendo movida.

A Reforma Urbana e a Cidade que Queremos não cabem no “Minha Casa, Minha Vida” Texto Helena Silvestre, do Movimento Luta Popular


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Não é de hoje que os trabalhadores brasileiros – por conta de seus baixos salários - resolvem sua necessidade habitacional arranjando a vida entre a precariedade e a sobrevivência. As ocupações, a autoconstrução, a ida para cada vez mais longe dos centros urbanos providos de infra-estrutura e serviços, o endividamento para conseguir o mínimo, enfim, mazelas mil que permeiam há tempos o cotidiano dos mais pobres deste país. Muitas lutas foram realizadas, muitos movimentos sociais foram constituídos a partir delas, e, durante décadas, muitos foram os acúmulos políticos e teóricos produzidos em base ao enfrentamento na luta direta, na proposição de soluções, na construção de propostas e consignas que representassem os anseios que estas lutas buscavam responder. O grande problema é que, três décadas depois do período em tivemos nosso mais importante momento de organização popular e sindical combativas, as organizações que provocaram a imaginação dos que desejavam sonhar com um modelo diferente de vida urbana capitularam ao projeto que termina numa pífia e teatral “participação popular”.

É impressionante como muitos governos elevaram ao centro das discussões sobre a cidade os conselhos municipais de habitação, a elaboração de planos diretores, os orçamentos participativos. Estes espaços ou instrumentos, ainda que tenham em sua origem lutas e buscas por um modelo mais democrático de gestão e mesmo de cidade, são hoje praticamente nulos. Foram esvaziados do conteúdo radical que os pariu e tornaram-se apenas instâncias de legitimação popular para os planos que acontecem – estes sim – em espaços que realmente definem a vida urbana. Os reais espaços de decisão não possuem nome nem formato, são encontros entre governantes e empresários, são negociatas entre construtoras, incorporadoras, bancos e políticos. Os que propagam as mentiras de que estes são espaços por onde circula o novo mentem. Sabem das articulações de Cepac´s, das operações urbanas, da especulação imobiliária, da corrupção, do coronelismos na implementação municipal das políticas habitacionais e do propagandismo vazio e cínico na construção da eleitoreira política nacional de habitação.

Sim, nós ocupamos! Há quem diga da radicalidade deste ato e das tantas outras vias possíveis de diálogo. A estes respondemos: A radicalidade com que nossas vidas seguem sendo privatizadas, com que nossas comunidades tornam-se mercadoria para especuladores, com que nossos sonhos tornam-se propaganda eleitoreira, nos lançaram a uma situação em que a barganha mínima para nós é tudo. A cidade que vivemos é injusta, desigual, com o medo desenhado em seus muros e grades, com o genocídio estampado nos quepes e fardas, com lindas famílias estampadas em jornais de venda de imóveis que se aconchegam debaixo de mendigos friorentos nas calçadas. A cidade que vivemos tem mais casas vazias que pessoas a procurar abrigo – e fecha os olhos. A cidade que vivemos fez da terra -símbolo da geração da vida – a mercadoria que simboliza a escravidão dos pobres. A cidade que vivemos transformou a palavra “participativo” em piada, a palavra violência em cotidiano, a palavra humano em carnes enlatadas no transporte público que engorda milionários.

POLÍTICA Sim, nós ocupamos! E dizemos em ações, que não queremos cercas, que não queremos medo, que não queremos grades, que não aceitaremos genocídios, que nos levantamos contra a venda de nossas vidas e sonhos. Sim, nós ocupamos! E dizemos aos nossos, da nossa classe, os que ainda não estão conosco; que venham, que somem, que fortaleçam, que redescubram seus direitos, sua força, seu poder. Que relembrem o que é sonhar, que se armem para lutar pelo sonhos então.

Sim, nós ocupamos! E aos que nos governam – muitos dos quais já estiveram um dia também passando a noite sob lonas pretas – dizemos que a cidade que queremos, que a Reforma Urbana que necessitamos não se gera em gabinetes, reuniões e conferências; não! Produz-se na luta, no embate, no confronto, na democracia direta e construção coletiva, no sonho da revolução, se produz na esperança – que nos move à luta mesmo em meio ao caos de fumaça de óleo diesel. Sim, nós ocupamos! E por querermos a lua, nossa ocupação é esperança! Por uma cidade onde caibam todas as cidades! Nas Lutas e Nas Ruas, eis de onde sai a Reforma Urbana que o povo precisa!

“Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso” (Bertold Brecht)


POLÍTICA

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Carta de Repúdio contra a Operação delegada Operação Delegada, prioridade municipal? Texto Gabriel Di Pierro, membro do Conselho da Cidade/Voz da Leste

O gestão Haddad se autodefine como um governo popular. De fato, o atual prefeito foi eleito com o voto massivo das periferias paulistanas e é apoiado por um conjunto importante de forças ligadas aos movimentos sociais da cidade. Também é verdade que muitos espaços de diálogo com a população foram fortalecidos, retomados ou criados, em consonância com o desejo daqueles que defendem uma democracia plena. Um dos importantes momentos de consulta do primeiro ano de mandato foram as audiências públicas relativas à proposta apresentada pela gestão para o seu Plano de Metas. Naquele momento foi expressa de forma contundente a demanda, especialmente em plenárias nas periferias, da retirada de uma meta que até então constava no Plano: a Operação Delegada. A Operação, como define o próprio documento do Plano de Metas, é um “acordo entre a Prefeitura e o Governo do Estado em que o policial militar faz hora extra oficialmente e recebe pagamento da prefeitura de São Paulo”.

O texto descritivo da meta dizia: “Reformular a Operação Delegada utilizando 1/3 do efetivo para o patrulhamento noturno em áreas com altos índices de violência.” Mas porque a população pobre, negra e periférica se oporia a essa proposta? Ora, responsável por alguns dos piores momentos da história da segurança pública no Brasil, como o Massacre do Carandiru, a polícia militar paulistana tem mantido a incrível média de 508 mortes oficiais por ano. Em 2006 foi agente de uma resposta violenta contra as periferias, quando houve várias denúncias de execução sumária, motivando a criação das Mães de Maio, formada por familiares de jovens pobres assassinados por policiais. Em 2012 mais uma nova onda de mortes levaram o então Delegado Geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro de Lima, a reconhecer a possibilidade da existência de grupos de extermínio na polícia - denunciados também na reportagem “Em cada batalhão da PM tem um grupo de extermínio” (Caros Amigos, 2012)-, além de apontar que

as vítimas tiveram suas fichas criminais consultadas antes de serem mortas. A relação civil morto x policial morto na capital em 2012 foi de 35,8, quando as referências do que seria tecnicamente admissível indicam um coeficiente máximo de 10,0 civis por PM. Como aceitar a versão de mortes em confronto? Quando, no ano passado, a Operação Saturação da PM ocupou a favela de Paraisópolis, várias situações de abuso foram denunciadas pelos moradores e associações. Uma adolescente de 17 anos foi atingida no olho por uma bala de borracha e perdeu a visão. No início de 2013 foi a região do Campo Limpo que sofreu os horrores da violência policial. Ali, um grupo de PMs, conhecidos dos moradores do bairro, foi responsável por uma chacina de 8 pessoas em janeiro, conhecida pela execução do Dj Lah, e que motivou a ida dos secretários municipais de Direitos Humanos e de Promoção da Igualdade Racial à região para uma audiência pública em que o município também foi chamado a agir. Os poucos familiares que se

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dispuseram a denunciar foram duramente intimidados, enquanto os policias continuavam a agir livremente na região. Os movimentos que procuraram o Secretário Estadual de Segurança ouviram de seu assessor que não havia canal de denúncia seguro. Frente a uma polícia altamente letal, que conta com o funcionamento de grupos de extermínio no seu interior, que vai às periferias disposta a executar jovens pobres, sobretudo negros, sem a possibilidade de denúncia, quem se sentirá seguro com a proposta da Operação Delegada? Aparentemente, foi por conta dessas questões que, após o ciclo de consultas, a secretária de planejamento Leda Paulani reconheceu o problema: “A população reclamou muito da violência dos policiais. A Operação Delegada não era uma meta nossa de campanha e não é prioridade do governo. Segurança é uma questão de Estado que o Município contribui na medida do possível.” Assim, justificou a retirada dessa política do Plano de Metas. Contudo, ao apresentar a Proposta Orçamentária Anual para 2014 e o Plano Plurianual 2014-2017, o mesmo governo não só ressuscitou a proposta, mas também deu a ela prioridade absoluta. A Operação Delegada deverá receber, segundo esse documentos, um aporte de R$ 110 milhões por ano, o que representa mais de 2,5 vezes o orçamento destinado à Guarda Civil Metropolitana (que por sua vez, deverá contar com pouco mais de R$ 45 milhões/ano).

Isso nos leva, inevitavelmente, a nos perguntar qual o papel que o município assume para si em relação à segurança pública. Será que ao invés de pensar o problema da segurança de forma inovadora, investindo numa GCM que seja capaz de garantir o respeito aos direitos humanos e prevenir a violência, a gestão prefere assumir o discurso de guerra, de investimento do policiamento ostensivo e armado, que vem se mostrando ineficiente e brutal? E como um governo pode, de um lado se propor a combater o racismo e a mortalidade de jovens negros por meio da criaçãode uma Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e do Programa Juventude Viva e, ao mesmo tempo, investir pesadamente na Polícia Militar? Porque a fala do seu Secretário de Direitos Humanos, Rogério Sotilli, que se posicionou contrário à Operação, não foi ouvida? O resultado disso está bem registrado: no final de outubro passado no Parque Novo Mundo um policial da Operação Delegada assassinou a tiros um jovem de 17 anos, um dia após a execução do jovem Douglas por outro PM, quando antes de morrer perguntou ao seu matador: “Porque o senhor atirou em mim?” São jovens como Douglas, cidadãos pobres e negros como Amarildo que mostram a necessidade de reinventar a segurança pública no país e também na cidade de São Paulo. Um governo que se diz popular não pode repetir os velhos erros em relação ao tema, ou a velha prática das elites nacionais de eliminar e descartar a sua população pobre por meio do uso da força policial, sobretudo de forma ilegal e violenta. Para que se faça o uso legítimo do termo “governo popular”, o governo Haddad precisa urgentemente colocar em prática o que ouviu do povo nos espaços de diálogo. Não à Operação Delegada. não à violência policial. Não à morte da juventude preta, pobre e periférica. Por uma cidade que respeite os direitos humanos de seus cidadãos, independente de classe, gênero, raça ou orientação sexual. Por uma gestão efetivamente democrática e popular.


entrevista

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Luiz Alberto Mendes Depoimentos e fotos por Escobar Franelas.

Pelas fotos, Luiz Alberto Mendes, 59 anos, lembrava Jorge Mautner. Ledo engano: o Luiz assemelha-se ao Jorge sim, mas pela compreensão histórica e filosófica da realidade, não por semelhança física. Depois de 30 anos e 10 meses preso, vários livros publicados e coluna mensal na revista Trip, revela muito das marcas do cárcere, no sentido antropofágico de quem veio, (sobre)viveu e venceu. Lúcido e arguto, diz que pagou as contas sociais que devia e que os livros o salvaram. Este depoimento foi colhido no quarto-sala-escritório de sua casa, onde produz freneticamente.

(Iniciação) Aconteceu assim. Eu tinha matado um cara na cadeia, tava condenado a 132 anos, daí apareceu um cara lá que queria me comer. Eu era molequinho, plantei-lhe a faca... aí ele morreu. Fui tirar castigo, cela forte e tal, tinha um cara que morava em frente e pelo encanamento da privada a gente trocava idéia. Ele começou a me falar de livro, eu nunca tinha lido um livro em minha vida, eu nem sabia ler direito... A primeira história que ele me contou foi do Victor Hugo, Os Miseráveis. Foi interessante porque era de noite que ele podia me contar, às 9 e meia apagava a luz, mas à meia-noite, às 2, às 4 e às 6, acendiam de novo, os caras passavam e a gente tinha que fingir que estava dormindo. Apagou a luz, tirava água da privada e ficava trocando idéia. De vez em quando um inadvertido soltava um barro lá em cima e huuummm... (faz careta) aquele cheirão, era o maior veneno. Quando saí do castigo o cara mandou uns livros pra mim. Ele estava preso a uns 6 anos, um poeta, diferenciado dos outros, inteligente, culto. Ele me deu um rascunho de uma carta para passar a limpo para minha mãe, porque eu nem sabia escrever. Mandei pra ela, fazia 2 anos que estava sem contato. E eu sou filho único. Quando ela escrevia, eu passava pra ele, lia, escrevia, dava pra mim, eu passava a limpo e mandava pra ela. Até que comecei a modificar as cartas por conta da intimidade com minha mãe. Chegou ao ponto em que o dispensei, “agora deixa que eu mesmo converso com ela”. Concomitantemente, eu estava aprendendo a ler. Lia 5 minutos, doía os olhos; 10, doía a cabeça; mais um pouco, o pescoço; depois a coluna. Fui engrenando até chegar ao ponto de ler 12, 14 horas por dia. Lia desesperadamente, até hoje sou assim. No momento estou lendo 3 livros. (Avanços) Então comecei a escrever pras pessoas, primeiro pra minha mãe, depois outro, fui me correspondendo com um monte de gente. Cheguei a me corresponder umas 50 pessoas, Angola, Moçambique, Miami, Portugal, Brasil.

Quando me perguntam como é que desenvolvi um estilo, nem sei se tenho, só escrevo da maneira que acho mais bonita, legal, interessante. Se me filiasse a uma escola, seria à de Graciliano Ramos, que diz “a palavra é feita para dizer e não para enfeitar”, entendeu? Participo desse quase minimalismo, tenho como ideal a frase ou palavra que diga tudo o que tem pra dizer, seja numa poesia ou texto. Sou um idealista das letras. (Avanços literários) Teve um momento em que percebi certas coisas, comecei a fazer umas poesias, crônicas, contos... Quanto mais sentimento eu colocasse naquilo que expressasse, mais estaria no texto. É uma visão de leitura diferente daquilo que se tem como leitura tradicional. O que entendo de literatura não é mais uma interpretação de signos ou de símbolos. É mais abrangente. (Aulas) Fui professor de História na cadeia por 10 anos, pelo Telecurso. Para dar aula, você tem que estudar, e eu queria dar a melhor aula, já gostava de História, comecei a penetrar certos livros e autores, Boris Fausto, Leôncio Basbaum. Li caras que produzem, criticam, comentam e fazem História. Tive uma professora, dra. Rachel Gazolla, da pós-graduação de Filosofia na PUC. Escrevi pra ela, ela começou a mandar uns livros. Eu começava a ler, mandava minhas dúvidas, e uma vez por mês ela respondia as cartas, digitadas em papel contínuo, 30, 40 páginas, me mandando mais coisas e livros. Ela me orientou durante mais ou menos 5 anos, juntei Fi-

losofia com História e não me especializei, mas tenho conhecimento razoável. Conheço todas as correntes filosóficas desde os pré-socráticos até os pós-modernos. De cada escola conheço os principais, li os livros, alguns em francês, que aprendi na cadeia. Não sei falar ou escutar pois aprendi sozinho, lendo. Tive experiências com conhecidos envolvidos com literatura, uma companheira que era professora de literatura, outra que era psicóloga. Minhas relações eram com pessoas desse campo. (A comunicação de homem preso) Em tudo o homem parece com o animal. Se falar que o animal não fala, ele fala sim! Ele tem suas expressões, suas palavras. Quando escrevia as cartas, eu conquistava as pessoas com o que tinha a dizer. Depois, o mais difícil: trazê-la para dentro, me visitar, passar pelada pela revista. A pessoa vinha, tinha uma mesa com uma tabuinha, nem podia tocar na mão. Eu não tinha o que dizer, a maior humilhação e a pessoa ficava ali, 40 minutos. Depois tinha que conservar. Desenvolvi uma capacidade de convencimento. (A literatura hoje) Hoje se escreve melhor que antigamente. Para fumar um cigarro demorava uma, duas páginas. O livro que é fácil de ler, você não se afasta dele, o escritor trabalhou para tornar fácil aquilo que é complexo na cabeça. Se puder definir numa palavra eu defino. É aquela coisa de buscar a pureza mesmo, a beleza da idéia encenada pela palavra. Porque a palavra tem essa coisa mágica, né?

(Livros: livre) Me envolvi totalmente com livro, aula, projetos, tudo que era negócio cultural na cadeia, todos os cursos que apareceram eu fiz, o que tinha pra aprender, aprendi. Criei assim uma personalidade que, se não chego a gostar completamente – pois a gente tem falhas, né? E as falhas dão uma tristeza, uma coisa na gente... – mas dá pra viver comigo mesmo. (Teorias de comunicação) Quando saí da cadeia, fiquei na casa de uma sobrinha. Lá tinha 4 cachorros e comecei a lidar com eles, primeiro para não me morder. Comecei a gostar deles, e eles de mim. Me envolvi com aqueles cachorros. Aos poucos, conheci comida, veterinária, vitaminas, vacinas, raças. Depois plantas. Hoje há estudos de que as árvores, quando são atacadas por uma larva ou outra coisa, elas se comunicam vibratoriamente, numa freqüência, avisando que estão sendo atacadas. Então você vê que até as árvores se comunicam. Quando bato os olhos numa árvore, sei se é velha, nova, se está bem aguada, se está recebendo nutrientes, eu faço uma leitura da árvore. Quando encontra alguém que gosta, você fica só olhando? Claro que não! Você abraça, beija, pergunta como vai a mente, o coração, se está gostando de alguém, vai tomar informações importantes. Por quê? Porque você está fazendo uma leitura daquela pessoa, você está envolvendo seus sentimentos. Isso pra mim é ler, e eu trabalho com isso. (Literatura marginal?) Não faço literatura marginal. Sei escrever na norma culta e também do jeito dos caras. E


CULTURA

vou te falar, eu disputo mesmo, meu último livro foi finalista do Prêmio Jabuti. E não disputo mais porque fui um preso, há preconceito pra caralho. Tem gente que nem dá chance de ler o que produzo, porque acha sou vulgar, bruto, sem educação, sem cultura, base pra conversar com ele. E aí quando vem trocar idéia cai do cavalo, porque não vai ganhar de jeito nenhum, pois estudei realmente, estudava o dia inteiro, enquanto eles estudavam 2 ou 3 horas. (O exercício da escrita) Escrever se torna um prazer, mas antes é uma tortura. Exemplo: o texto da Trip, que é mensal, o editor manda “meu, o tema é este”, e me dá o prazo de uns 5 dias pra entregar. Minha cabeça começa a esquentar, fico nervoso, e olha que já faz 9 anos. Até agora me pesa a responsabilidade de ter coluna numa revista com 70 mil exemplares. E ter superar cada um, fazer o melhor, vários colunistas, disputo com os caras e eles são bons pra caralho, têm nome. Mas se por o meu texto com alguns deles, eles não fazem literatura, eles escrevem. (Teoria de experiência carcerária) Não somos mais seres naturais, somos culturais. Não viemos mais da natureza, pois ela pouco nos influencia. Os instintos já não nos dominam mais. Então, está por nossa conta. Estudei muito para entender a mim, porque houve momentos em que eu me perguntava, “sou ladrão, bandido, matador, que porra que eu sou?”. A nível antropológico, funciona mais ou menos assim: você pega um moleque que roubou um xampu e coloca aqui, preso. Você pega um cara que assaltou um banco e põe aqui. E um cara que sequestrou uma garota. Um que estuprou e outro que tentou passar no

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aeroporto com cocaína. Bota junto, enterra em pé e abandona. Tá preso, já era. O homem é um ser que produz cultura onde estiver. É da natureza humana. Somos homo culturalis. A cultura irá produzir aos ali congregados, cada um com modus operandi, posição e espaço criminal, conhecimento, ali abandonados. Não é oferecido nenhum outro tipo de cultura a eles, senão a que trazem. Lógico, vão desenvolver a cultura do crime. É uma coisa que quando entra não sai mais. Você não a perde, não é que nem comida que você comeu, cagou, já era. É uma coisa que permanece pra sempre. A sociedade não entra nas prisões, abandona na mão dos diretores de cadeia, que só tratam o cara na base do cano de ferro e da cela forte – hoje já não mais, pelo evento do PCC, pois se fizer isso, morre. Às vezes o cara sai na rua pensando em ficar numa boa, mas aquilo está dentro dele. Se não tiver conhecimento do que está nele, vai ser dominado. Foi o que aconteceu comigo, por muitos anos. Embora lesse e estudasse, minha mente era criminosa, procurava um dinheiro para arrumar meu castelo. (Redenção) Em 1999, entra na Casa de Detenção a atriz Sophia Bisilliat com um projeto chamado Talentos Aprisionados. A sociedade culturalmente dentro da cadeia, querendo dar uma chance a quem tivesse algum talento. Veio o Fernando Bonassi para uma oficina de literatura, e eu era encarregado da escola lá, tínhamos 900 alunos e 25 professores presos. Eu tinha escrito um texto, estava querendo me psicologizar. Isso há uns 13 anos atrás. Queria entender quem era, esses questionamentos todos, “será que não sou capaz de

conviver com as outras pessoas?”, onde principiei por contar pra mim a minha história. Minha mãe ia me visitar, fazia um monte de perguntas e eu fui reconstruindo. Sou autodidata, fui escrevendo, depois fui ler. É lógico que esse negócio de psicologia é questionável, é uma ciência ainda por se fazer. Mas entendi, passei trocentas vezes por perigo, baleado 6 vezes, 2 balas no corpo, rebeliões, os caras na cadeia dando tiro e a gente correndo que nem rato se escondendo, passei por mil situações de morte e sempre escapei. E nunca fiquei sozinho, sempre tive alguém. Quando minha mãe, depois de 20 anos, teve derrame e não pode mais me visitar, casei, tive 2 filhos. Também nunca fiquei duro, sempre dei um trampo, tinha alguma coisa pra fazer, arrumava um troco, sabe? Ganhava 80% de um salário mínimo para dar aula. Pensei então que era muita coisa para ser só acaso. Percebi que tinha algo me botava pra frente. Alguns dão o nome de Deus, outros dão outro nome, eu não sei que nome dar. Passei a ter uma confiança na vida. Isso me tranqüilizou bastante. Mostrei o texto (Memórias de Um Sobrevivente) para o Fernando e ele achou que era um puta livro. Pediu para mim revisar, eu fiz. Ele digitou e fomos procurar editora. A primeira que oferecemos foi a Companhia das Letras e eles já chamaram pra negociar. Daí publiquei. Passado algum tempo, saí da prisão. O Paulo (Lima), da Revista Trip, tinha me procurado, e quando saí da prisão já tinha minha coluna fazia 2 anos. (Sobre o livro Tesão e Prazer) O título e a capa deste livro não tem nada a ver comigo. Foi o editor que tentou uma jogada de marketing

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e caiu do cavalo, o livro não vendeu. A imagem da capa é andrógina, uma coisa esquisita, o título é muito pesado, e o livro não é tudo isso, não tem pornografia. (Vida social na cadeia) Depois que me decidi para os livros, sempre vivi rodeado deles. Na cadeia, puta-que-o-pariu, toda vez que caía numa, que eles me mandavam pra longe, eu brigava muito com a diretoria, catimbava, ficava acendendo as fita de tudo, toda treta de contestar junto à diretoria, era eu – quando chegava, os diretores já me chamavam “olha, aqui você fica na manha aí, porque aqui dá pra se viver bem, a gente não vai mexer com você” e tal, e eu “tudo bem, doutor”. Quando chegava lá dentro, os caras me passavam os assuntos e logo tinha alguma reinvidicação. Eu queria ficar em São Paulo – cadeia no interior era só pra visitar, ficava 2 ou 3 meses e me mandavam de volta, porque não me agüentavam. Mandava petição pra juiz, pro Supremo, caguetar tudo o que eu via de errado. Teve juízes que falaram pra mim que eu era o cara que mais fazia petições na região. Tanto que minha mãe, vendo que eu lia alguma coisa sobre Direito, me matriculou no vestibular, mas não era isso que eu queria. Eu sabia de tudo um pouco, tanto que foi eu mesmo que fiz minha unificação de pena. Sempre odiei Direito. Aqui em São Paulo tem uma escola de formação de defensores públicos. Cada turma que tem lá eles me chamam para palestrar. Eles formam 2 turmas por ano, e já há uns 4 anos que me chamam, inclusive agora estão me exportando, pois já estive nas defensorias do Rio, Minas, Bahia. (Citando Bukowski e Salinger) Ninguém chega na ponta de um edifício sem pensar em suicídio. Eu gosto de escritor direto. Não gosto desses caras que usam uma 3ª pessoa, só escrevo na 1ª pessoa. (Livros tabus na cadeia) Houve tempos em que pra gente ler Marx era impossível, não passava na portaria. A gente teve que ler de outras maneiras. Consegui ler o Manifesto Comunista em quadrinhos, na faculdade. Eu lia marxismo antes, contrabando, professores traziam, a gente disfarçava, encapava o livro, ainda como reflexo de 64. Tem cadeia em que até hoje o Código Penal não é permitido, um livro que todo preso tinha que ganhar de presente. Foi condenado? Toma, se vira que é por aí que você foi preso e é por aí que você pode ser livre. (Retribuição) Arrumei financiamento para 6 oficinas

em penitenciárias femininas, mas os diretores não deixaram. Eles sabem que vou lá fazer pensar. As meninas são as melhores alunas do mundo. É apaixonante trabalhar com elas. Elas recebem poucas visitas. Os companheiros delas abandonam 99% na cadeia. 60% dos homens presos têm filhos, as mulheres, 90%. Imagine uma mãe separada de um filho, ou um filho separado de uma mãe. É uma coisa estranha, as mulheres deviam pensar um pouco mais. (Más companhias) Pensando bem, por que elas deviam pensar um pouco mais e os homens não? Aliás, a maior parte delas é cooptada pelos homens, eles é que colocam elas nessa, uns patifes. Tem alguns que são perniciosos, nocivos não só à sociedade, mas ao ser humano. Você convive com eles, percebe a maldade, aquela coisa, você já fica sempre na defensiva, pensado, “se atravessar meu caminho, vou ter que picotar”. (O futuro da infância) A maioria da molecada tá trabalhando nas bocas, fumando. Não tem emprego, os moleques ficam o dia inteiro aí, na esquina. Quando tem, o emprego não só é sub-humano como pagam uma merda. Conheço um cara que tirou 9 meses de cana, uma semana de rua e já estava com uma puta moto de 400 cilindradas. Como é que a garotada vai querer trabalhar, se o cara que saiu outro dia da cadeia já tá com motona, as meninas todas rodeando ele? (Machado de Assis) Gosto de Érico Veríssimo. Agora, um cara que eu acho que para o jovem não dá mais é Machado de Assis. Sabe por quê? Não dá pra trabalhar o texto dele ao nível do jovem atual. Não dá pra você reescrevê-lo. Quem é que se atreveria a fazer uma coisa dessas? O Lima Barreto, no entanto, tem a pegada do agora. Eu conheço ele bem, tem um livro de contos dele que é qualquer coisa de fenomenal.


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recordação

MEMÓRIA ZL

Memorial da Zona Leste Texto e Foto Danilo da Costa Morcelli

Na primeira edição do VDL – em Julho de 2013 – falamos sobre as lutas pela memória em nossa região e apresentamos o Memorial da Zona Leste, equipamento a ser construído na USP-Leste, idealizado na comunidade e tem contado com sua participação ativa. Desde então passaram-se cinco meses de amplas discussões e colaborações. Estamos nos encaminhando para o término do segundo ano de discussões e negociações dentro do Grupo de Memória da Zona Leste. Durante esse processo entrou em pauta a discussão sobre a contaminação da USP-Leste ocasionada por um aterro ilegal e que afeta diretamente a construção do Memorial e o projeto de expansão da USP-Leste. Sendo mais radical, tal questão compromete a existência da própria unidade; os entraves da questão da contaminação dependem mais de uma vontade política do que prática. Se por um lado, a questão do aterro e da contaminação é mais um entrave a ser ultrapassado; ainda persistem antigas questões relativas à participação efetiva da comunidade, à papeis não claros e ao andamento das pesquisas. Fiz algumas provocações naquela primeira edição VDL, apesar da grande participação comunitária e interesse da população em geral, reitero que é sempre necessária nossa mobilização e participação, que por vezes parece não inte-

ressar certos estratos da nossa sociedade. Como exercício prático, pensar na questão da contaminação e na construção do Memorial é pensar nossa memória e história, sobretudo em uma cidade em que suas transformações e velocidade de suas transformações é exacerbada. A construção é um exercício prático de memória. E deve ser assim, um exercício crítico sobre o local em que se instala, e da memória que abriga. O Memorial é a manifestação do poder de reflexão da comunidade e do poder de avaliar suas próprias memórias e projetar um futuro. As discussões sobre o memorial tem rendido muitos frutos positivos para a comunidade de uma maneira geral, uma delas, vou relatar aqui, que é o Centro de Memória de Ermelino Matarazzo. Centro de Memória de Ermelino Matarazzo A nossa comunidade tem reivindicado seus espaços de memória. Estamos reivindicando e agindo com todos os interessados para a construção de um Centro de Memória em Ermelino Matarazzo, que está consolidando seu espaço na antiga casa de veraneio da família no bairro, um lugar simbólico, para abrigar a memória do bairro operário que aqui se constituiu. Um ponto de referência

para moradores e pesquisadores, trazendo um passado desde as antigas fazendas, passando pelas indústrias e as mais variadas festividades e movimentos da comunidade, assim se estende aqui o convite para toda a comunidade e a todos os interessados em participar. Estão previstos três espaços: um destinado à memória fotográfica, um espaço destinado à exposições de objetos e um espaço destinado aos documentos e referências bibliográficas importantes para o conhecimento da história da região e para reflexão da nossa memória. Esperamos que nossa iniciativa incentive a criação de espaços semelhantes nas diversas vilas, distritos e espaços comunitários, que essa iniciativa parta da própria comunidade – detentora de suas próprias memórias e lugares – e de sua capacidade crítica de refletir, e projetar o futuro. Caso tenha interesse entre em contato conosco! A antiga chácara de veraneio da Família Matarazzo está situada na Avenida Abel Tavares, sem número, em Ermelino Matarazzo – SP. O Memorial, chamado após sua institucionalização de Centro de Memória e Cultura da USP-Leste, tem previsão de ser construído no terreno onde existe a chaminé remanescente das ruínas de uma antiga indústria, se situa na Avenida Assis Ribeiro, ao lado da estação de trem da USP-Leste.

“Se não houver frutos valeu a beleza das flores, se não houver flores valeu a sombra das folhas, se não houver folhas valeu a intenção da semente”. Mensagem escrita em um bilhete recebido por Henfil de um militante...


DIREITOS HUMANOS

artigo

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Qual corpo doente?

Pessoas trans* e a Lei Maria da Penha Como a lei brasileira contra a violência de gênero reflete o processo transgenitalizador brasileiro Por Bruno Puccinelli*

É difícil hoje em dia alguém negar a importância da existência da Lei 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha no enfrentamento à violência contra mulheres no Brasil. Fruto de um intenso e contínuo trabalho de movimentos sociais diversos, somando-se aí movimentos feministas locais, nacionais e internacionais; movimentos de trabalhadores; movimentos negros, movimentos LGBTs; dentre outros, a lei tem sido revista de tempo em tempo, mostrando a eficácia do controle social em fazer com que ela vire fato. Dados recentes podem indicar que uma das premissas de qualquer lei, a de prevenir, não se efetiva, mas se atentarmos para as mudanças nas formas de denúncia perceberemos que a lei não tem sido deixada à espera de efetivação sem ação popular. E, aos poucos, temos percebido a importância de ações governamentais e institucionais diversas na defesa do corpo da mulher contra a violência de gênero, que toma esse mesmo corpo como objeto de posse de maridos, namorados, noivos e outros ex-companheiros na maior parte dos casos. Nesse sentido, a lei protege contra a violência de gênero, aí gênero pensado como uma relação de poder desigual produtora de diferenças sociais, o qual relega ao que se chama “feminino” um status menor, submisso, de objeto. Ao que se convenciona chamar “masculino” culturalmente ocorre definir como dominador, superior e proprietário. Obviamente a vida tem nuanças e contextos que podem modificar essa relação, mas a letra da lei costuma visar uma estrutura mais chapada na qual pessoas nascidas biologicamente com pênis conformariam o papel de homens e, o mais das vezes, de agressor. Há dados que corroboram isso, mas a lei mesma tem mostrado a necessidade de mudança no que concerne ao entendimento do que seja violência de gênero. Voltando um pouco na história recente do Brasil vale lembrar de como a lei se efetivou. Em 07 de agosto de 2006, no primeiro ano do segundo mandato de Lula, uma nova regra de punição contra violência doméstica e familiar em mulheres tomava corpo, batizada de Maria da Penha em homenagem à

mulher que por anos procurou ajuda e justiça para o que lhe parecia iminente: ser morta pelo marido. A história data de duas décadas, ao menos, com a tentativa de homicídio do marido de Maria com um tiro, o que a deixou paraplégica, e outra tentando afogá-la e com eletrochoques. Maria não morreu e passou seus dias buscando justiça, o que, no seu caso, se convertia em manter-se viva. Como poder ir atrás de justiça tendo seus movimentos limitados por conta de uma violência tão forte e com o agressor tão próximo e solto? Por questões que tornam o caso de Maria um exemplo ela conseguiu viva levar seu caso à Organização dos Estados Americanos, órgão internacional, e fazer-se ouvir pelos representantes governamentais brasileiros. Mas mesmo esse processo causou a imediata exposição do governo brasileiro em mudança legal. À época, o Brasil se tornou acusado de inferir contra os direitos de milhões de mulheres ao permitir legalmente que agressores e assassinos continuassem soltos ou cumprissem penas muito brandas. O marido de Maria ficou preso por dois anos em regime fechado, outros acusados de crimes similares cumpriram penas alternativas, como o pagamento de cestas básicas, e logo estavam soltos perseguindo suas (ex) companheiras. Já se pode observar na descrição de como o caso de Maria da Penha se tornou amplamente conhecido e exemplo de luta contra a violência contra mulheres que trata-se da proteção legal de um corpo que é social. Apesar da lei versar sobre violência doméstica e familiar, restringindo o escopo de sua vigência ao âmbito privado, logo longe do olhar de outros, sejam vizinhos ou desconhecidos que soubessem das agressões, corroborando a máxima a ser combatida de que “briga de marido e mulher não se mete a colher”, o caso de Maria extravasa os limites nacionais, caindo num órgão internacional para tornar-se de fato uma lei. O corpo a ser protegido é o corpo da mulher, não só o da Maria. A Maria, nesse caso, representa milhões de mulheres. Mas o corpo a ser protegido é o da mulher por quê ela seria mais fraca? Mais dependente? Não e sim.

Numa relação desigual como a de gênero, que produz diferenças que vão além da genitália, a mulher está constantemente submetida a homens. À época das agressões sofridas por Maria muitas mudanças sociais já iam contra a ideia de que mulher significava ser mãe e dona de casa e várias mulheres já começavam a trabalhar e assumir cargos públicos. Mas a legislação civil e penal não era igualitária: tratavam a relação de casamento na ordem moral que dá vantagens ao homem, o qual poderia querer “limpar seu nome” se considerasse que sua esposa o tivesse “sujado”. Isso incluía deixá-la sem renda, sem moradia e sem seus filhos. Não é difícil se sentir fraca diante desse quadro de abandono social. Além disso, e como ainda segue, mulheres ganham salários menores que homens em cargos semelhantes o que agravava a situação de trabalho concomitante ao cuidado dos filhos. A mulher está bem longe de ser naturalmente ou biologicamente mais fraca a ponto de justificar o modo como a lei a tratava. Nesse sentido as relações de gênero não produzem só diferenças anatômicas, como dito acima, mas principalmente diferenças sociais que colocam o que definimos como “homens” e “mulheres” em estratos e esferas sociais diferentes. Reconhecendo algumas dessas premissas diversas mudanças foram adicionadas à Lei Maria da Penha, como, por exemplo, a denúncia feita por outras pessoas, não havendo mais a necessidade da própria agredida ser a denunciadora, e o impedimento da retirada da denúncia. Isso condiz com o reconhecimento de que as mulheres possuem status inferior e necessitam de proteção legal específica em casos de violência. E mais, reconhece que a violência de gênero é social, agride quem for, logo qualquer um pode denunciar e proteger um corpo que é também social. A lei, dessa forma, dá mais autonomia e domínio às mulheres sobre seu corpo. Mas o que isso tem a ver com pessoas trans*? Para quem não sabe as pessoas trans*, de maneira geral, são definidas como transexuais, pessoas que teriam nascido com uma genitália que socialmente corresponde a um sexo (como pênis =

homem, vagina = mulher), mas pessoalmente se identificam com o outro ou questionam essas definições expondo sua estrutura artificial propositadamente ou não. Parece complicado, mas basta pensar que quem está lendo já pensou em alguns nomes para definir essas pessoas sem se dar conta do quanto podem ser ofensivas: “traveco”, “bichona”, “aberração”, “abominação”, “monstruosidade”. Pessoas trans* podem ser homens ou mulheres ou também não se definirem dessa forma binária. Antes de qualquer coisa são pessoas. Mas possuem o mesmo status de pessoa que outras pessoas? Deveriam possuir algum tipo de proteção legal contra agressões físicas, verbais ou sociais aos seus corpos? Na verdade pessoas trans* possuem uma regulação ao desejarem fazer de forma segura o processo transgenitalizador, ou seja, o processo psico-médico de medicação hormonal para transformação do corpo e cirurgias em regiões específicas do corpo para se adequarem a como se entendem. O exemplo mais conhecido é o da retirada do pênis e construção de uma vagina aliado a implantes de próteses mamárias para a arquitetura dos seios, alterações na ossatura da face e pescoço e preenchimento (ou retirada) de massa no quadril. O Sistema Único de Saúde (SUS) prevê o processo transgenitalizador, apesar das inúmeras tentativas de acabar com o serviço. O que conhecemos até hoje é o caso de milhares de pessoas que passaram por processos semelhantes de alteração do corpo e vieram a óbito por falta de acompanhamento especializado ou por negligência dos serviços públicos e privados de saúde. Uma violência calcada na diferenciação social que se faz dessas pessoas e na falta de proteção legal. Mas as pessoas trans* possuem uma regulação, não? Sim, foi o que eu disse acima. Há uma regulação que impede milhões de pessoas de se submeterem ao processo transgenitalizador ao alocarem tais pessoas sob a égide da doença. Quem porventura deseje transformar seu corpo terá que passar por uma equipe multidisciplinar de psiquiatras, psicólogos, cirurgiões, endocrinologistas, entre outro para avaliar se a pessoa sofre de disforia

de gênero, uma doença psiquiátrica em que a pessoa diagnosticada não reconhece no próprio corpo o gênero que a deveria definir pela genitália. Mas se o corpo é social e as noções de homem e mulher, por exemplo, são sociais, por quê essas pessoas são doentes? E por quê deveriam se submeter à categoria de doentes para terem acesso a um serviço público complexo? Qual é o corpo doente: o da pessoa ou o da sociedade? Há muitas nuanças tanto no processo legal quanto na reivindicação da despatologização das identidades trans* internacionalmente contra a categorização do processo transgenitalizador como destinado a doentes, mas a regulação hoje existente evidencia o quanto ao corpo trans* não se permite autonomia. Há também diversos movimentos sociais engajados na despatologização, como feministas, transfeministas, LGBTs, etc. Obviamente há pessoas que passam pelo processo independente do SUS, mas esse tipo de regulação torna qualquer pessoa trans* uma pessoa psiquiatricamente doente, intensifica e prolonga preconceitos. Estamos falando de milhões de mulheres-trans, homens-trans e pessoas-trans que têm vários de seus direitos negados ou submetidos a um “grupo de especialistas” em seu corpo, sem se darem conta de que pouco sabem de suas vontades. Ao ter uma regulação vertebrada na doença não é difícil imaginar que as pessoas trans* irão se adequar a isso para terem o direito de adentrarem num serviço de saúde com acompanhamento e segurança. O corpo que entra no SUS, neste caso, deixa de ser são e autônomo e passa a ser doente e dependente de muitas outras pessoas. É um corpo social e nada autônomo. O corpo é social e sua regulação deixa isso muito claro, seja no caso da violência de gênero ou no caso da violação à autonomia do corpo trans* (o que não deixa de ser violência de gênero). Mas enquanto a Lei Maria da Penha apresenta avanços na busca da proteção legal de um corpo agredido (física, verbal ou psicologicamente) o corpo trans*, para ser “protegido”, precisa se submeter às violações psicológicas e sociais das instituições aptas a realizar o processo transgenitalizador. E isso tampouco se converte na entrada de mais pessoas no processo, que dura anos. Cabe aqui a pergunta: qual corpo doente? Qual corpo está doente e por que é tão difícil conferir autonomia legal a corpos aparentemente tão parecidos e socialmente tão diferentes? *Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realiza doutoramento em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas na área de Estudos de Gênero. E-mail: monobruno@hotmail.com


Se em certa altura tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita, se em certo momento tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim, se em certa conversa tivesse dito as frases que só agora, no meio-sono, elaboro. Se tudo isso tivesse sido assim, seria outro hoje, e talvez o universo inteiro seria insensivelmente levado a ser outro também.

B i c i c l et a Por EBBIOS LIMA

Nunca dei pra isso de ser escritora, por isso penso em compor a autobiografia do que não vivi. Parece que na minha existência há mais um não viver do que fatos. Nunca, por exemplo, tive um cachorro. Nem nunca morri ainda. Parece óbvio dito assim: viver é não ter morrido nunca. Tive certa vez, caminhando na rua, um pensamento que me deixara atônita, quando numa esquina me vi indecisa sobre pegar a minha direita ou continuar, com espanto percebi que estava ali, e estar ali significava ter evitado a morte antes e tanto... — Escrever é salgado como o suor que sai da pele. Às vezes sinto uma dorzinha da saudade de não me ter sido outra. É como dor de cólica, que é como uma fisgada na nossa existência tranquila, que é como uma gota fria numa ducha quente, que é como vírgula no lugar errado, que é como... Para entender uma coisa a gente precisa entender outra coisa que lhe valha em peso. Nisso de não ser escritora eu caibo certinho — as palavras me confundem. Quisera eu ter existido flor. Dói saber que nunca serei flor na vida. Flor ou fruta. Melhor até, esta ultima. Nenhum inventor no

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Álvaro de Campos

mundo será capaz em sua invenção de superar a natureza espontânea de uma fruta. Veja: a mexerica, essa perfeição do acaso. Em pequena eu detestava, hoje sei tanto do seu sabor, de sua ácida doçura, de como já nasce em pedaços de mordida. Nós, a gente toda, tínhamos tudo para sermos espontâneos qual o crescimento das frutas. Eu soube outro dia de um rapaz que criara uma língua tão simples que poderia ser dita por todos os povos. Todos se ouviriam atentos e se compreenderiam. Sugiro, pois, que se reinvente nosso silêncio. Que nos ouçamos com os olhos. Escrever dói. É isso! Faço-o agora com a respiração presa, de um fôlego só. Percebo tanto o que não vivi, é tão clara essa minha ignorância em não ter sido o rapaz que limpou as janelas daquele edifício, os pés que pisou as uvas do vinho que bebo, Klimt ao conhecer as obras de Lautrec, Lautrec ao conhecer as pernas das dançarinas de cancan, uma criança chinesa — é espantoso! nunca saberei como é ter sido criança na china. Minha autobiografia será um grito no vácuo sem atmosfera. Começará comigo

andando de bicicleta. Digo por não ter aprendido nunca a andar de bicicleta. Quando mocinha, minha irmã me carregava sentada sobre o quadro enquanto pedalava. Lembro-me de sentir o som de seu arfar em minha nuca, provavelmente por conta daquele peso amais que eu era. Eu, tão miúda, não pensava no peso que eu era. Nunca vivi essa felicidade simples de pedalar por conta própria. É preciso perder o medo de cair para se equilibrar direito sobre duas rodas. Eu, de tanto medo de cair, caía; até que desisti. No fim da tarde de hoje vi o brilho do sol na poeira das coisas, e vi uma moça, uma bela jovem — lembrava-me as atrizes dos filmes de Godard — andando de bicicleta no silêncio das calçadas. Era como ver alguém lograr o tempo, esse silêncio dela que ia. O vestido todo florido e uma nudez nos olhos (Minha Senhora Padroeira dos Olhos Nus, proteja sempre aqueles olhos, amém!). Quis perguntar-lhe o que sentia quando andava em sua bicicleta. Passou e continuou indo até depois de ficar pequena na distância, lá no final de mim. Gravura do artista afogadence (PE - 1982) Lese Pierre. Produzida em São Paulo no dia 02 de janeiro de 2013. [lesepierre.com.br]

Gustav Klimt (Baumgarten, Viena, 14 de julho de 1862 — Viena, 6 de fevereiro de 1918) foi um pintor simbolista austríaco. Em 1876 estudou desenho ornamental na Escola de Artes Decorativas. Associado ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento Art nouveau austríaco e foi um dos fundadores do movimento da Secessão de Viena, que recusava a tradição académica nas artes, e do seu jornal, Ver Sacrum. Klimt foi também membro honorário das universidades de Munique e Viena. Os seus maiores trabalhos incluem pinturas, murais, esboços e outros objetos de arte, muitos dos quais estão em exposição na Galeria da Secessão de Viena. Henri Marie Raymond de ToulouseLautrec Monfa (Albi, 24 de Novembro de 1864 — Saint-André-du-Bois, 9 de Setembro de 1901) foi um pintor pós-impressionista e litógrafo francês, conhecido por pintar a vida boêmia de Paris do final do século XIX. Sendo ele mesmo um boêmio, faleceu precocemente aos 36 anos de sífilis e alcoolismo. Trabalhou por menos de vinte anos mas deixou um legado artístico importantíssimo, tanto no que se refere à qualidade e quantidade de suas obras, como também no que se refere à popularização e comercialização da arte. Toulouse- Lautrec revolucionou o design gráfico dos cartazes publicitários, ajudando a definir o estilo que seria posteriormente conhecido omo Art Nouveau. Filho mais velho do Conde Toulouse-Lautrec-Monfa, de quem deveria herdar o título, falecendo antes do pai.


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Por Duilio ‘Punky’ Coutinho* *Artista Plástico, Grafiteiro, Arte-Educador e Dublê de escritor...

PICHAR É ARTE. Correr Faz parte... Muitas vezes eu fico preocupado com determinados rumos que a minha atividade toma e uma delas tem me incomodado muito nos últimos meses: incomoda a maneira como a sociedade encara o graffiti e os grafiteiros. E essa avaliação social da minha arte leva sempre àquela pergunta fatídica:

GRAFFITI OU PICHAÇÃO? Na visão geral, é considerado graffiti um tipo de pintura que tem se popularizado muito nas últimas três décadas aqui no Brasil, as suas variantes são infinitas, vai desde assinaturas de gangs feitas com técnicas primárias (sprays, rolinhos, pincel), até pinturas altamente elaboradas com aerografia (pistolas de gravidade e compressores) em fachadas de lojas, colunas de viadutos, túneis, museus, galerias, e etc. ONDE TERMINA UM E COMEÇA O OUTRO? Isso depende do ponto de vista... Por definição, a palavra graffiti vem do latim, e é plural de outra: graffito. Que no seu mais simples significado,

quer dizer ‘rabisco’, ‘pichação’. Sabemos que na Roma antiga, onde se usavam muito essas definições, não havia rádios, TVs, internet, essas coisas que temos hoje em dia e era comum as pessoas se comunicarem por recados deixados nas paredes, inclusive havia paredes públicas próprias para este fim. Hoje em dia, por motivos diversos, os jovens continuam se comunicando assim. A vida nas grandes cidades gera certo tipo de necessidade de auto-afirmação, que o graffiti vem preenchendo. É muito difícil para adolescentes e jovens se firmarem e serem respeitados no seu meio, só se utilizando dos valores que são oferecidos pela sociedade em que ele vive...

A Educação hoje em dia passa por problemas nunca antes vistos. Os pais, quando existem, geralmente trabalham e tem pouco tempo para os filhos, sendo a educação familiar e escolar delegada a terceiros. Os jovens, por lei, não podem mais trabalhar até os dezesseis anos, aí você raciocina o seguinte: ele passa doze ou treze anos na escola até que conclua o ensino médio, ele sai pro mercado de trabalho sem profissão definida e no caso dos meninos, em fase de alistamento militar... O empresário que lê isso, vai dar emprego pra esse projeto de incompetente que acabou de sair da escola? Mas... Ele também precisa sobreviver, ele também quer um celular e um tênis decente,

ele também quer o reconhecimento por ser útil ao meio em que vive, ele também quer ser respeitado pelos amigos e pelas garotas... Sabe como ele consegue isso tudo? Pichando seu muro. -Você viu só onde o Víndix pichou? – Esse é o comentário na segunda-feira na escola assim que todos vêem a caixa-d’água da Sabesp em frente. Como ele subiu lá? Como ele conseguiu por sua assinatura na coroa de concreto do reservatório? Isso não faz a menor diferença, caro leitor. O importante é que agora ele incomoda, ele existe. Picho, logo existo. A lei e a sociedade chamam isso de vandalismo, dano ao patrimônio público ou privado... Mas para o meu amigo Víndix só significa isso: existo.

Ele está pouco se lixando pro patrimônio, ele não tem nenhum. Ele não sabe o que é destruição de propriedade, até por não ter aprendido ainda a construir uma. Inclusive achar que algo não é arte por que é proibido, é uma grande besteira. Vandalismo é problema de lei, não de Arte. É advocacia, não é Arte. Muitos tipos de arte foram e são proibidos: A Capoeira já foi, o Samba também. O Rock ainda o é em muitos países orientais, o Balé também... O fato de um tipo de Arte ser proibido, não o torna menos arte... Você gasta a maior grana com pintor, tintas, massas, texturas e o garoto em questão tá nem aí, ele acha que aquela textura linda que o senhor colocou na parede, vai deixar o Graffiti dele mais bonito. No caso a vítima é a sua parede, mas poderia ser uma camiseta, uma placa, um muro, uma tela... Geralmente, o grafiteiro nunca visa à parede, ela é só um suporte. Nos meus trinta anos de Graffiti, eu só vi um caso de pichador (Eu), que atacou uma parede visando atingir o dono dela. Sim, graffiti. Pros outros pode ser pichação, mas prá ele é arte. Prá mim também. Lembra daquela máxima da pichação? “Pichar é arte, correr faz parte”. É isso mesmo. Não posso cobrar de um jovem de quinze ou dezesseis anos o mesmo refinamento técnico que tem um profissional de pintura artística. Cada um se expressa do jeito que sabe ou pode. Aliás arte é expressão, não é técnica. Ah! E tem mais: a Sociedade tem a péssima mania de chamar de Graffiti o que acha bonitinho e aceitável esteticamente falando. E chamam de pichação o que as pessoas acham que é feio... Felizmente queridos, o feio não existe! Sempre vai existir alguém que ache lindo a coisa mais feia do mundo. Inclusive, há sempre a confusão que as pessoas fazem de achar que graffiti é uma técnica, mas não é! Você pode grafitar com o material que quiser: crianças grafitam com giz na parede da escola, os primitivos pitecos rabiscavam as paredes das cavernas... Graffiti é um conceito, uma idéia, como é o expressionismo, o cubismo, o modernismo, o anarquismo,...essas coisas. É ISSO: NÃO HÁ DIFERENÇA. O Graffiti é a mais recente e a maior forma de expressão artística popular que toma o mundo. Prá você ter uma idéia da importância disso, a última ocorrência deste tipo foi o Rock n’ Roll a mais de 60 anos atrás...


ARTE

13 A arte na sua essência é expressão, e quando eu analiso um picho desses, eu analiso o que o seu autor quis dizer, o que ele tentou passar pro seus leitores... E uma das coisas que eu mais vejo, são jovens delimitando territórios, jovens que querem ser notados no seu meio, são jovens apaixonados mandando recados para os seus amores, jovens exercitando seu olhar artístico, jovens que existem e essa sociedade-draga, engolidora das personalidades, transforma-os em pequenas peças de um linha de produção de neuróticos sem perspectiva de uma existência um pouco mais vívida. O graffiti na maioria das grandes cidades e de determinados regimes autoritários, sempre funcionou também como forma de protesto, como uma ferramenta de denúncia de um estado de coisas injustas ou erradas. No Brasil dos anos setenta foi ferramenta importante de divulgação das idéias democráticas e de liberdade de expressão. Foi para os punks do mundo inteiro uma forma de expor os males do sistema. Para os muralistas mexicanos uma forma de cultivar sua cultura e para os grafiteiros paulistas uma forma de engordar o orçamento... Kkk, Claro que sim, uma graninha de vez em quando não faz mal prá ninguém! E principalmente isto, tem levado milhares de jovens grafiteiro/as à profissionalização. Já que o graffiti pode ser visto como forma bela de arte pela maioria e como forma de expressão e inclusão pelos grafiteiros, por que não unir as duas coisas? GRAFITTI COMERCIAL? Durante muito tempo, nos meus cursos de Graffiti, eu utilizei essa expressão, mas cheguei à conclusão que graffiti comercial não existe: o Graffiti é espontâneo... Eu me refiro a estas pinturas muito bonitas feitas em lojas e outros tipos de prédios comerciais da cidade. O empresário contrata um destes artistas de rua para que pintem na fachada e as portas de aço da sua loja as marcas e os produtos que vendem. Mas não é. Isso se chama pintura comercial ou publicitária. E nestes cursos o que procuro mostrar ao jovem é que ele pode ganhar dinheiro com isso, mas eles mal sabem compor um orçamento, uma listagem de material, os custos, como dar recibos. E eu ensino isso. Ensino que ele pode viver da sua arte, basta apenas cumprir algumas formalidades, pois o cliente não vai dar dinheiro pra ele só de papo. Precisa por preto no branco, mas infelizmente a nossa “Educação Artística não ensina nem isso... No meu caso, quando eu vendo uma pintura comercial,

eu vendo basicamente três coisas: a mão-de-obra, o material e a minha tag (assinatura de grafiteiro), geralmente essas pinturas são sempre a mesma bosta, e elas não são ‘pichadas’ por outros. Dizem as más línguas, que existem pactos entre grafiteiros e pichadores... Isso é uma gigantesca besteira. Eles simplesmente não ‘picham’o meu trabalho, por que eu sou um deles, eu sou um ‘pichador’... Como é que eles vão grafitar um lugar que já está grafitado? E por mais profissional que seja a minha pintura publicitária, eu sempre uso elementos do graffiti de rua para isso mesmo, para que os outros grafiteiros saibam, que quem fez aquela pintura foi um deles. Por isso é interessante juntar essas coisas, o Graffiti é meio de contestação contra a exclusão social, mas na outra ponta pode ser usado para incluir socialmente e profissionalizar os jovens que de outra forma, não teriam outras oportunidades de serem mais no meio em que vivem. AS ‘OTORIDADES’ Essa é parte mais hilária da discussão, o ex-prefeito de São Paulo, Sr. Gilberto Kassab, alçado a esse posto de carona por ser vice-prefeito de José Serra, prometeu em campanha política, aí sim para o seu segundo e legítimo mandato, que iria acabar com a ‘pichação’ em São Paulo... Hilário ele. Reelegeu-se por que as pessoas adoram ser enganadas: Onde já se viu acabar com o graffiti! Ninguém caro Leitor, em ponto nenhum da história da humanidade conseguiu ou vai conseguir isso. Nem a Era do Gelo conseguiu, nem o Vesúvio. Tá cheio de Graffiti nas ruínas de Pompéia... Enquanto houver um jovem insatisfei-

to com algo e com um pouco de veia artística, o graffiti vai existir. Isso vindo do Sr. Kassab fica muito estranho, pois ele só chegou onde chegou, por que José Serra que era prefeito da cidade, largou o posto depois de dois anos prá se candidatar ao governo do Estado. E se elegeu! Depois de ter registrado em cartório que jamais deixaria a prefeitura no meio do mandato por causa de outra eleição... É por estas e outras que não se tem como cobrar uma postura mais adequada dos moleques, os adultos e dirigentes não dão exemplo! O garoto é proibido de grafitar (Lei nº 9.605 de 1998, promulgada por Fernando Henrique Cardoso), mas o próprio emporcalhou os muros do país todo com cartazes e letreiros horríveis e mal feitos, em suas campanhas prá presidência... Confraria de hipócritas! UM NÓ. Mas uma coisa muito séria precisa ser dita aqui: Nós precisamos de alguma maneira, parar de arriscar as vidas dos nossos jovens. A maioria vive se arriscando a cair de um prédio, ou tomar um tiro, seja do dono do imóvel ou seus seguranças, ou ainda da polícia. Sim. A sua, a minha. Mas não é o que acontece: seguranças de imóveis e os seus donos, sob a desculpa de uma pretensa defesa da propriedade reendem,torturam,espancam, atiram e, ás vezes matam. Os policiais geralmente não chegam a estes extremos, mas já vi e ouvi vários casos de adolescentes que são submetidos a sessões de tortura, onde são obrigados pelos homens da lei a se pintarem mutuamente e depois são largados a própria sorte. Sabendo-se, claro dos problemas de saúde

causados por agressão de tintas e solventes na pele... Hoje em dia, são pouquíssimos os policiais que levam pichadores flagrados, para a delegacia, pois os infratores como diz a lei, devem ser encaminhados para reeducação e para o seio da sua família. O que temos aqui são policiais julgando, e já que julgar é da alçada judiciária, não cabe á polícia dizer o que deve ser feito. Dia destes em uma conversa de bar de com ‘amigos’ policiais entramos nesta discussão e eles foram unânimes em dizer que se pegarem, farão isso. Um chegou até o cúmulo de dizer que “mete bala mesmo”. É lamentável ter que ouvir isso de alguém que é pago por mim e por você pra proteger nossos filhos. Acabou com o meu dia e fui obrigado a dizer pra eles que então poderiam me algemar e me levar pro D.P. em frente, já que desempenho o graffiti a mais de 30 anos... Sou um marginal inominável mesmo. Essas pessoas precisam parar de tratar grafiteiros com essa selvageria. Na França foi criado nos anos 70, a OLGA, uma espécie de repartição governamental que cuida da limpeza das edificações, retirando ou apagando os graffiti. Como sabemos a França é bem diferente do Brasil, é mais rica, mais educada e mais ordeira. Mas o graffiti continua a todo vapor lá, a OLGA também. Existe até hoje e não consegue limpar o país. Lá, um graffiti ficou muito conhecido nos anos 70 e 80 que dizia assim: “Olá Olga! Aí está mais um graffiti para apagar!” Caros Governantes, sejam bem-vindos ao inferno... Pichar é Arte, correr faz parte... É uma reflexão. Só. Em breve no seu muro!


ARTE

14 (Flor,viagem,sol e lua)

poesias Ao homem: a sensibilidade Mostra-te homem, torna-te visível, soma no combate, seja mais sensível. Um macho machucado De corpo ralado. Chora e lembra, de que já fostes um ser pequeninho. De olhos iluminados, um frágil pivetinho. Ninguém é forte para sempre, A todo momento ou a qualquer hora. Homem que é homem, também desaba, desabafa, descansa. Às vezes faz bem a fala mansa. Lágrima rola, rola um dia brocha. Nem tudo é bola, Bate boca ou ereção. Na masculidade pode haver a compreensão, Para com os irmãos ou com as companheiras. Às mulheres o respeito! Lado à lado só riquezas. E se amar à outro, não permita que o impeçam. Demonstrar o amor, vai além do que impuseram... A sexualidade. Manter as aparências só matam as vontades. Fragilidades aos carrancudos! Banho de lágrimas aos durões, que se podam, se deixam, se vão... Lembre-se: Por de trás do peito de aço, ainda bate um coração! por Daniel Marques Sulco E da angústia que sobrar Explico em hora definida

Era uma vez um viajante Que percorreu grandes terras E navegou por mares esbravejantes Para colher um flor lendária que havia no alto duma serra Rezava a lenda Que há muitos anos atrás Um rei foi ao cume da mais alta montanha, fazer ao deus Apolo uma oferenda Para que a alegria em sua terra voltasse a ser vivaz E Apolo se compadecendo Fez surgir do cume daquela montanha uma flor singular Que ao anoitecer começava a cantar E se fechava conforme fosse anoitecendo Mas a flor jamais poderia ser colhida Caso contrário,poderia se contrair mil e uma pestes Sobre o corpo espalhadas feridas E infinitas traças sobre as vestes Porém o viajante de nada estava ciente E lá se foi inocente Para a colheita Dentre o enorme campo florido que passou, aquela foi a flor eleita Justo a proibida! Que lhe poria um fim na vida Mas ele de nada sabia Ia alegre e cantando, sorria Subiu entre cabras, a enorme montanha Se aproximou,e arrancou da terra,a flor E de repente,começou a sentir uma pontada de dor [Que se espalhava] por suas entranhas E começou a se contorcer no chão Principiava-se a maldição Do seu corpo e vestes se apoderar Em seus olhos,a imagem de dor e espanto,era só o que iria sobrar E ao redor A alegria ia desaparecendo E se decompondo em sua mão, a flor E a beleza da província, apodrecendo

Inconstância é só medo E não menos ainda Que essa falta de fim É meio

O que sobrou foi um local deserto Em que ninguém mais passa perto Muito diferente do que antes havia A província agora era deserta e fria

por Pomba Valente

por Geórgia Ogando

Vida de relógio é pilha Dentro da saudade mora a despedida

Ana Cristina Ana talhando seu corpo sob sol e pedra Da grama ao cimento Descalça nos 40 graus do asfalto Nas alamedas , ruas e avenidas Em Itaquera sendo talhada por Pedro Sendo moeda de Pedro Sendo saliva e suor de Pedro Sendo pedra de Pedro Depois... Murilo já sem cordão Murilo contra a parede Murilo sem vida Murilo poça Cidade rápida Esquinas que não esperam Carros que correm Isqueiros que acendem a apagam Ana bordando seus dias de saudade , suor e álcool Ana 17 olhando a fumaça que sobe E mesmo sob o freio barulhento e pesado Ana agora também vai poder voar por Douglas Alves Arrependimento Estou de greve nada grave apenas falta de tempero Cansado de pensar no dia a dia em que meu dia vai chegar A noite sempre vem tento levar essa composição Meu coração que grita inconformado cadê você Pelo escuro aqui sem segredos não vem me ver Essa pagina aberta fechada dentro de mim Estou a fim não só mais de uma dose mereço seu deserto Nesse mundo aberto cria nças brincando me pego No meu orfanato sem momento agora Uma historia apenas não aumento salarial Estou de greve no meu complexo prisional Maria louca com suas loucas fervuras Vida marcada pelo dedo da minha mao Cimento frio que o arrependimento deixou atrás Cenas vermelhas espalhadas pelo chão Busco no cruel aquela paz que me faltou O amor que tanto tempero tem Nessa greve sem minha mae sabendo Que estou sozinho e sem ninguém Socorro é melhor ficar calado cara Sustento cozinhando uma vida a panela Sofrer não se aprende só estou tentando te dizer Apenas pense antes de ser trancado em uma cela Por Valdir Couto

Muito puta Tinha ela onze anos apenas apenas onze anos mas parecia menos tão franzina era a menina! Não lembro o nome dela só aquele que lhe diziam sempre que ela aparecia chamavam-na puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! E ela se perguntava: “por que sou puta? o que é ser puta? por que me chamam puta?” PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! Ela não sabia ela não entendia doía quando diziam: “sua puta!” PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! Sem explicação, ela resignou-se, ela apequenou-se e sentiu-se puta. PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! Era como diziam era como chamavam era como queriam a filha da puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! E ela odiou a si mesma teve nojo do próprio corpo privou-se de vergonha porque chamavam-na puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! Tinha ela onze anos apenas apenas onze anos mas parecia menos tão franzina era a menina! Não lembro o nome dela só aquele que lhe diziam sempre que ela aparecia chamavam-na puta!

ISABEL

O tempo foi passando e ela sempre amargurada levando nas costas o nome puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! E como pesava para ela suportar o triplo do seu peso e mesmo suando frio ainda chamavam-na puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! A menina que há muito não se via mal se olhava no espelho tocou pela primeira vez suas entranhas e entendeu porque chamavam-na puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! E olhou para as mulheres que chamavam-na puta, e olhou para os homens que chamavam-na puta, e disse: “vocês me fizeram puta!”. Uma mulher exibia o crucifixo um homem fazia o sinal da cruz em nome da santíssima trindade fizeram dela puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! PUTA! Puta! E ela entendeu porquê ela era puta, o que era ser puta, porquê chamavam-na puta! E disse: “SOU PUTA, SIM! Puta... e daí? PUTA QUE SORRI! Puta de si! SOU PUTA, SIM! MUITO PUTA!” por Ruivo Lopes* Ruivo Lopes é poeta, educador e ativista, mantém o blog: www.ruivolopes.blogspot.com

Ela entra sem pedir licença Isabel na janela olhando a lua Para agradar a quem deseja é como a própria lua a se olhar Mas é mais admirada na esquina da cerveja É brilho refletido do sol Nas ondas turvas desse mar Isabel imagina o outro lado dessa lua iluminada É sonho invadindo a janela Talvez esteja lá seu amado de quem pode não querer Só que com sua janela fechada O sorriso dessa lua amarela que faz chorar sem perceber por Samara Silva de Oliveira 11/11/2013


ESPECIAL/2014

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ARTE


AGENDA CULTURAL Brinquedoteca e recreação – Clube Escola Guaianazes

O Clube Escola Guaianazes oferece prática aberta de Brinquedoteca e recreação voltada ao público em geral. As atividades acontecem sempre às terças a quintas, das 10h às 11h, e também de quarta e sexta-feira, das 9h30 às 14h30. Os interessados devem se dirigir ao local e levar o RG para fazer a inscrição. Menores de idade têm de comparecer acompanhados pelos pais ou responsável. O QUE Brinquedoteca e recreação QUANDO: de 26/02 a 31/12 Quartas e Sextas das 09:30 às 14:30 Terças e Quintas das 10:00 às 11:00 QUANTO Gratis ONDE Clube Escola Guaianazes http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/esportes/clube_escola/index.php?p=44154 Rua Professora Lucila Cerqueira, 194 Guaianazes - Leste São Paulo (11) 2557-8116 Pratique Birdwatching no PET

Os biólogos e veterinários do Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) elaboraram cinco painéis que irão auxiliar os interessados. O material indica quais espécies de aves existem no local e onde elas podem ser encontradas. O local, além de ser um espaço de lazer para a comunidade, é um dos mais importantes refúgios para animais na zona leste de São Paulo, abrigando 190 espécies de aves fora as outras 30 espécies de animais variados. Quer ver os tão queridos bichinhos? É só chegar. A entrada é livre. Birdwatching QUANDO: diariamente de 21 (Sáb) a 31/12 (Sáb) das 08:00 às 17:00 QUANTO Gratis ONDE Parque Ecológico do Tietê http://www.ecotiete.org.br Rua Guirá Acangatara, 70 Engenheiro Goulart - Leste São Paulo (11) 2958-1477

Museu Afro Brasil comemora 10 anos com exposição portuguesa

Obras e peças da mostra fazem parte do acervo da Faculdade de Ciências de Coimbra A centenária Faculdade de Ciências de Coimbra disponibilizou parte de seu acervo ao Museu Afro Brasil e, com ele, apresenta a exposição “Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber”. A mostra comemora os 10 anos do museu e tem abertura no dia 24 de janeiro, às 19h.A exposição fica em cartaz até 23 de abril e pode ser visitada de terça a domingo, das 10h às 17h. A entrada é Catraca Livre.A mostra reflete sobre a construção do conhecimento científico português em relação aos povos e territórios do além-mar, principalmente na África e no Brasil. Entre as peças e obras expostas, há astrolábios, esferas, lunetas, mapas feitos pelo engenheiro italiano Miguel Ciera no séc. XVIII, cartas geográficas, desenhos, bustos frenológicos, contadores lusíadas (séc. XVI-XVII) e muito mais. O QUE Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber QUANDO: Sex 24/01 às 19:00 de 25/01 a 23/04 Terças, Quartas, Quintas, Sextas, Sábados e Domingos das 10:00 às 17:00 QUANTO Gratis ONDE Museu Afro Brasil http://www.museuafrobrasil.com.br Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº - Pavilhão Manoel da Nóbrega – portão 10 - Sul Parque do Ibirapuera - Sul São Paulo (11) 3320-8900 Exposição fotográfica em São Miguel Paulista celebra os 150 anos de Alice no País das Maravilhas

Sábado, dia 11 de janeiro, às 15h, acontece a abertura da exposição “Retrato de Cena” na Casa de Cultura de São Miguel, zona leste. A entrada é Catraca Livre. Ela é composta por 20 fotografias feitas por crianças, que participaram de uma oficina no local. As imagens foram feitas tendo como modelo cenas do livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Uma homenagem ao autor que também era fotógrafo e ao livro que em 2015 completa 150 anos. A exposição pode ser visitada de segunda a sábado, das 9h às 17h, até o dia 9 de fevereiro. O QUE Esposição “Retrato de Cena” QUANDO: Sáb 11/01 das 15:00 às 17:00 diariamente de 12/01 (Dom) a 09/02 (Dom) das 09:00 às 17:00 QUANTO Gratis ONDE Casa Cultura de São Miguel Antônio Marcos Rua Irineu Bonardi, 169 São Miguel Paulista - Leste São Paulo

16 P.E.G. na Transvisão DESPATOLOGIZAÇÃO DAS IDENTIDADES TRANS

Participando do evento Transvisão (http://spescoladeteatro.org.br/noticias/ver.php?id=3668) que comemora o dia da VisibilidadeTrans, o P.E.G. (https://www.facebook.com/PegProjetoExpressoesDeGenero) promove uma roda de conversa com o psicólogo Dr.Oswaldo Rodrigues do Instituto Paulista de Sexualidade, o Psiquiatra Dr.Eduardo Perin da UNIFESP, a advogada e ativista da ABRAT(Associação Brasileira de Transgêneros) Marcia Rocha e o ator e ativista da ABHT(Associação Brasileira de Homens Trans) Leo Moreira Sá. A conversa será a respeito da revisão do Código Internacional de Doenças(CID 10) que deverá ser reeditado em 2015 com mudanças importantes na esfera da sexualidade: fetichismo, sadismo e travestismo devem deixar de ser transtornos (ufa!!!) e Transtorno de Identidade de Gênero (a forma como a transexualidade é atualmente catalogada no CID10) passará a se chamar “Incongruência de gênero”saindo do capítulo de transtorno mental e indo para “condições relativas à sexualidade”. O QUE - debate sobre a despatologização das identidades trans (sexualidade) QUANDO - dia 30/01 QUANTO - Gratis ONDE - Praça Franklin Roosevelt 210 CentroSão Paulo Que merda é essa? #5: Cuba, médicos e revolução

Desde que a gente é criança escutamos que Cuba é uma ditadura, Fidel Castro come criancinhas e Che Guevara era um guerrilheiro terrorista - ou quase isso. Mais recentemente, a chegada de médicos cubanos ao Brasil, trazidas pelo governo do PT (embora o governo do PSDB na década de 1990 também tenha trazido médicos de Cuba), causou polêmica e demonstrações de apoio e ódio pelo país. Mas, convenhamos, o que sabemos de fato sobre a ilha de Cuba, a revolução de 1959, os guerrilheiros de Sierra Maestra ou o programa que espalhou médicos por dezenas de países diferentes? Pensando nisso, convidamos para o Que merda é essa? #5 o historiador José Rodrigues Máo Júnior, que escreveu sobre a Revolução Cubana e a questão nacional entre 1868 e 1963, e a médica Izabel Marcílio pra fazer um debate sobre Cuba, o programa Mais Médicos e revolução. O debate acontece no dia 31/01, às 19h30, com entrada gratuita. Venha participar e contribuir com a discussão! Entrada franca e, se quiser colaborar com a Casa comprando alguma bebida no dia, lembre-se: só aceitamos dinheiro! O QUE - Debate sobre os médicos cubanos no Brasil, xenofobia e luta de classes QUANDO - 31/01 as 19h30 QUANTO - Gratis, consumo a parte ONDE - Casa Mafalda

ESPECIAL/2014

Cine Libertário - Lingua das Mariposas

Exibições de Filmes e Debates com Tematicas Politicas e Libertárias. Toda ultima sexta feira do mês na Casa da Lagartixa Preta. Venha assistir filmes, trocar ideias e é claro, comer pipoca. Na primeira exibição veremos o filme A Lingua das Mariposas. Segue a sinopse só pra dar vontade rs. O mundo do pequeno Moncho estava se transformando: começando na escola, vivia em tempo de fazer amigos e descobrir novas coisas, até o início da Guerra Civil Espanhola, quando ele reconhecerá a dura realidade de seu país. Rebeldes fascistas abrem fogo contra o regime republicano e o povo se divide. O pai e o professor do menino são republicanos, mas os rebeldes ganham força, virando a vida do garoto de pernas para o ar. O QUE - cinema e debate QUANDO - dia 31/01 as 19h30 QUANTO - Gratis ONDE - Casa Da Lagartixa Preta Rua Alcides De Queirós, Santo André Bloco Fluvial São Paulo de Piratininga

Antes de virar bloco, a ideia surgiu como uma intervenção urbana. Em 2011 o Coletivo Mapa Xilográfico realizou um trabalho em bairros do Jardim Pantanal, Zona Leste de São Paulo: União de Vila Nova e Vila Mara. Com a participação de moradores do bairro, construímos um barco com rodas que navegava pelas ruas remetendo ao fato de que essa área já foi alagada. Em 2013 a intervenção foi realizada em ruas sob as quais passam três rios no bairro do Bexiga. Contando com mais participantes a ação se transformou num bloco de carnaval que vai sair pela primeira vez em 2014, passando pelas ruas por onde correm os rios Saracura e Anhangabaú, debaixo do asfalto. Ensaios: todos os sábados de fevereiro, às 14 horas, no Vale do Anhangabaú. (em frente à fonte embaixo do Teatro Municipal – Monumento à Carlos Gomes – Praça Ramos de Azevedo) Saída do Bloco: Domingo, dia 02 de março de 2014. Local: Praça 14 Bis, esquina com a Rua Cardeal Leme, Bixiga. (Em frente à Vai-Vai) Concentração: 15 horas Saída: 16 horas

telefone: 11 963811073 vozdaleste.blogspot.com facebook.com/VozDaLeste anunciosvozdaleste@gmail.com vozdaleste@gmail.com


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