VIU!

Page 1

Nยบ 23 - JANEIRO DE 2015

Fundo do poรงo Em pleno verรฃo, falta รกgua, energia e tem crise


2 viu


editorial

E

sta edição deveria circular na última semana de janeiro. O fechamento, no entanto, foi adiado diante da esperada demissão da presidente da Petrobras, Graça Foster. O mercado especulava e a redação resolveu esperar. O mercado acertou e a VIU! fez bem ouvir o canto do mercado, onde abundam especulações, mas também circulam informações preciosas. O mercado financeiro, por sinal, é sempre muito bem informado. Já Região Sudeste enfrenta o pior ciclo de seca dos últimos 84 anos. Segundo especialistas, este efeito climático será prolongado. A edição da revista VIU! de março do ano passado já tratava deste tema com uma reportagem de capa. As autoridades cochilaram, porque poderiam ter se antecipado com medidas preventivas, mas em ano eleitoral, o calendário urge. Agora, com os reservatórios em baixa, tentam apelar para os planos de contingência. Em algumas cidades, principalmente nas regiões metropolitanas, a população terá que decorar uma palavra que vai fazer parte do dia

a dia: racionamento. Vai faltar água e também energia, porque a matriz energética brasileira é predominantemente movida por sistema hidráulico. A seca volta a ser tema nesta edição, porque o assunto que mexe com o cotidiano da população e com forte reflexo na economia não se esgota. Outro tema relevante nesta edição é a atração que a pena de morte exerce sobre uma parcela considerável da população, especialmente a classe média. O tema voltou à baila com a execução de um brasileiro na Indonésia e a inclusão de mais um na lista de execuções do país asiático. Enquanto isso, em pleno verão, com praias lotadas, a colunista social Hildegard Angel propõe cobrança de ingressos para acesso às praias da zona sul carioca. Já o prefeito de Guarapari, litoral capixaba, afirmou em entrevista a rádio CBN que pobre não é bem vido as praias de sua cidade. É uma demonstração de que no Brasil do andar de cima ainda se associa violência ao Brasil do andar de baixo. Boa leitura.

expediente VIU ONLINE www.viuonline.com.br E-mails: Redação - contato@viuonline.com.br Publicidade – publicidade@viuonline.com.br P.R.Barbosa Mídia e Publicidade Ltda. CNPJ: 06.968.064/0001-67 Redação Diretor Executivo – Roberto Barbosa E-mail: robertobarbosa@viuonline.com.br Macaé – Avenida Atlântica – 2.500, salas 19 e 20 Bairro – Cavaleiros Campos dos Goytacazes – Avenida Senador José Carlos Pereira Pinto, 569 Bairro – Calabouço CEP: 28083-101 São Fidélis – Rua Heitor Collet – 274 Bairro - Barão de Macaúba CEP: 28400-000 São João da Barra-RJ AOD Machado Almeida – 35 Bairro – Nova São João da Barra CEP: 28200-000 Projeto Gráfico e Diagramação Amitié Propaganda – amitiepropaganda@gmail.com Circulação Impressa – Estado do Rio de Janeiro, Norte e Noroeste Fluminense, Região dos Lagos, Região Serrana, Região Oceânica Tiragem: 18.000 exemplares viu

3


Cotidiano

Gosto de

sangue Com execução de um brasileiro na Indonésia, defensores da pena de morte saem do armário Desde a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso, condenado à morte por tráfico de drogas e fuzilado pelas autoridades da Indonésia no dia 17 de janeiro, proliferaram comunidades nas redes sociais comemorando a morte do carioca. De acordo com o jornal El País, eventos falsos chegaram a anunciar a transmissão ao vivo dos últimos momentos de Cardoso com a narração de Galvão Bueno. “Ele merecia isso”, “bem feito!” foram frases que pipocaram em alguns perfis no Facebook. Talvez cause espanto o fato de uma grande parcela de brasileiros festejar a execução de um compatriota no exterior. Mas, pena de morte sempre soou muito bem aos ouvidos da classe média, que elegeu com louvor deputados como Jair Bolsonaro (PP), apologista da ditadura militar, regime que promoveu torturas e execuções no país. “Esses comentários são feitos, principalmente, por grupos conservadores da classe média brasileira. Eles espelham uma demanda por mais repressão contra grupos que no seu imaginário são as fontes da violência”, explicou Joel Birman, psicanalista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em entrevista ao jornal argentino. Agora esta platéia volta a se entusiasmar, desta vez, para festejar a execução de mais um brasileiro. Rodrigo Gularte, de 42 anos, que também está no corredor da morte na Indonésia, por tentar entrar no país, em julho de 2004, com seis quilos de cocaína escondidos em uma prancha de surfe. Sua execução está marcada para o mês de fevereiro. Segundo pesquisa do Datafolha de setembro de 2014, 43% da população apoiam a pena capital no Brasil. 4 viu

Marco Archer Cardoso: execução por tráfico de drogas na Indonésia

Corredor da morte Marco Archer Cardoso (foto) trabalhava como instrutor de voo livre e foi preso em agosto de 2003, quando tentou entrar na Indonésia pelo aeroporto de Jacarta com 13,4 quilos de cocaína escondidos em uma asa-delta desmontada em sete bagagens. Ele conseguiu fugir do aeroporto, mas foi localizado após duas semanas, na ilha de Sumbawa. Archer confessou o crime e disse que recebeu US$ 10 mil para transportar a cocaína de Lima, no Peru, até Jacarta. No ano seguinte, ele foi condenado à morte. Sua execução foi no sábado dia 17. De acordo com o último levantamento do Itamaraty, 3.209 brasileiros estavam presos no exterior até o fim de 2013.

A Fera de Macabu No Brasil já vigorou a pena de morte. A última execução foi a do fazendeiro Manuel da Motta Coqueiro, na cidade de Macaé, no Norte Fluminense ainda no reinado de Dom Pedro II. Ele foi acusado de mandar matar toda a família de um colono de suas terras, na Fazenda Bananal, em Conceição de Macabu. Por conta do episódio, o fazendeiro ficou conhecido como a Fera de Macabu. Sua execução foi por enforcamento e chegou a dividir opiniões. O jornalista José do Patrócinio, o Tigre da Abolição, foi um dos maiores defensores da comutação da pena, que foi a última no Brasil, porque a partir daí, o imperador aboliria a pena capital.

Tendência mundial Ignácio Cano, professor da UERJ e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, afirma que atualmente o Brasil não está sozinho na crença de que a pena capital é uma solução adequada para punir e coibir o crime. “Há uma tendência favorável mundial pela aplicação da pena de morte e pelo endurecimento penal: as pessoas acham que o crime se resolve com uma legislação mais dura. Só que não é assim. As polícias brasileiras matam por ano muito mais gente do que muitos países que adotam a pena de morte. E isso não resolveu absolutamente nada,” disse.


RobertoBarbosa robertobarbosa@viuonline.com.br

O estômago vota

Fator inesperado

São João da Barra, no Norte Fluminense, é uma cidade onde o voto está muito longe de ser ideológico. Ali o voto é geneticamente fisiológico. A escolha dos dirigentes públicos – seja em cargos executivos ou legislativos – é ditada pelo estômago dos eleitores e nunca pela sensatez ou aptidão administrativa dos gestores. O atual prefeito da cidade, José Amaro de Souza Neco (PMDB), ex-vereador, conquistou o mandato com apoio da então prefeita Carla Machado em 2012. Ainda antes da posse, em janeiro de 2013, os dois entraram em rota de colisão. Atualmente estão em campo adversário, trocando insultos em redes sociais ou publicamente. É a roupa suja na lavanderia virtual.

São João da Barra já começa a discutir o processo sucessório de 2016, quando criadora e criatura deverão se enfrentar nas urnas. A ruptura é ruim para os dois, porque dividi o grupo e cria o ambiente para um fato novo no processo sucessório: o deputado Bruno Dauaire (PR), filho do ex-prefeito Betinho Dauaire. Jovem advogado formado pela Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, Bruno se elegeu deputado estadual ano passado. Ainda não está inserido no debate sucessório. É possível até que esteja desnutrido no que se refere a percentual de intenção de votos, mas detém condições objetivas de disputar a sucessão: tem um partido, tem mandato de deputado, a família tem tradição política – o pai foi prefeito, o avô Alberto Dauaire foi deputado e prefeito – e terá, portanto, um palanque natural. Poderá despontar como algo novo, sem contar que será o único a entrar na corrida sucessória sem nada a perder.

Em São João da Barra, o prefeito José Amaro de Souza Neco convive com insubordinação dos auxiliares: ele reina, mas não governa

Ele reina, mas não governa Neco tinha todas as condições de fazer uma boa gestão na cidade que é sede do porto do Açu. Mas sua conduta lembra o trecho da música que se imortalizou na voz de Elis Regina: “ainda somos os mesmos como nossos pais”. No caso em quesão, leia-se “ainda somos os mesmos como os nossos antecessores”. Em São João da Barra o prefeito não faz nada diferente do que antecessora fazia, mas a percepção é de que o governo patina e de que o município estagnou. Um dos maiores méritos de Carla Machado era o exercício da autoridade. Sua doutrina administrativa era orientada no preceito “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. O auxiliar que não seguisse as ordens aprendia que a porta da sala era a serventia da casa. Já o sucessor peca neste quesito. A insubordinação de alguns auxiliares é notória. Neco manda e poucos obedecem. Fica a impressão de que sofre a síndrome “rainha da Inglaterra”: reina, mas não governa.

38 mil quentinhas No quesito transparência, existem situações nesta cidade que carecem de explicações. Uma delas é o gasto descontrolado na saúde. A prefeitura recentemente comprou 38 mil quentinhas para distribuir entre os médicos. Cada uma saiu a R$ 16,40. Em qualquer restaurante da esquina um prato bem preparado pode ser comprado pela metade deste valor. Esta é apenas uma gota no oceano de verdades inconvenientes. Na terra de Narcisa Amália, comida tem a cotação do ouro.

viu

5


cidades Para onde ele vai?

Ary Pessanha (no detalhe) tem água em abundância na Fazenda Capivari

Senhor das águas

Em período de seca, quem tem água tem tudo. Na Lagoa Feia, manancial localizado entre Campos dos Goytacazes e Quissamã, no Norte Fluminense, o senhor das águas responde pelo nome de Ary Pessanha, conhecido empreiteiro de obras públicas e proprietário da Fazenda Capivari, uma extensão de terras que tomou parte da própria Lagoa. Segundo denúncias da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Flexeiras e São Miguel do Furado, o empreiteiro dispõe de um sistema de barragem e máquinas que lhe permite controlar a saída de água da Lagoa Feia para o Canal do Major. Assim garante abundância em sua propriedade e deixa dezenas de pequenos produtores à míngua. O Canal do Major foi construído pelo antigo DNOS – órgão extinto no governo Collor – visando canalizar água da Lagoa Feia para a Lagoa da Lama, percorrendo outros afluentes até desaguar na Barra do Furado. A intervenção do empreiteiro está provocando um dano ambiental sem precedentes aos pequenos produtores, porque a falta de água corrente nos canais abriu caminho para o avanço da água do mar e consequentemente a salinização das terras.

O prefeito de Macaé, Dr. Aluízio (PV), está se firmando como um interlocutor regional junto ao governo do Estado e governo Federal. Ele está organizando uma frente de prefeitos da zona produtora de petróleo para enfrentar a crise econômica que assola a Região. O PMDB já observou os compassos da marcha e enxergou que o futuro do homem é promissor. Aluízio já tem convite para trocar de legenda. Pensa em buscar outro ninho depois do carnaval. O PMDB seria o plano A e PSB seria o plano B. Mas o PV não está de braços cruzados. Para segurar o filiado ofereceu o comando da direção regional. Ou seja, Aluízio, caso queira, será o presidente dos Verdes.

Chupa São Fidélis!

São Fidélis é uma pequena cidade no Norte Fluminense que se projetou ao longo dos anos como cidade poema. Mas no cotidiano está muito mais para uma tragédia. A prefeitura está sendo investigada no inquérito da Operação Ave de Fogo, que apura fraudes em licitações. O governo do prefeito Luiz Fenemê (PMDB) está em pânico. Ninguém quer ser secretário na administração, porque virou atividade de risco. Recentemente, cinco pessoas declinaram do convite para assumir a secretaria de educação. A seca é uma das piores dos últimos anos e servidores começam a enfrentar atraso nos pagamentos. Agora o nome da cidade que está sendo citado na novela “Império”. A personagem Magnólia, vivida pela atriz Zezé Polessa está abusando do bordão “chupa São Fidélis”. 6 viu

Fenemê e o vice Magno Rocha: Chupa São Fidélis!


Táticas de Alair

Retomando território

O ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, retomou o trabalho como radialista. Está diariamente participando do programa “Em cima da hora”, na FM Educativa, em Campos dos Goytacazes. Paralelamente, está no comando da secretaria de governo da esposa, Rosinha Garotinho. Na Educativa, Garotinho está light. A emissora tem uma programação voltada para as classes A e B. Portanto, fala para a classe média, público que nas últimas eleições em Campos se mostrou indiferente na hora do voto. Sem alarde, Garotinho pode ter iniciado uma retomada de território. Em 1988, quando foi prefeito da cidade pela primeira vez, ele chegou ao poder turbinado por uma insatisfação da classe média com a política local. No governo a missão será azeitar a máquina administrativa em meio ao ajuste para enfrentar a crise.

Anthony Garotinho está de volta à Campos

O prefeito de Cabo Frio Alair Corrêa (PP) está se equilibrando para superar a queda de receita. Promoveu cortes de despesas, eliminou secretarias, transformou algumas em coordenadorias e substituiu alguns auxiliares, como foi o caso da Controladoria e Procuradoria. Tudo sem traumas, segundo explicou em sua página no Facebook. Corrêa compara o comando do secretariado ao trabalho de um técnico a frente de uma equipe de vôlei. “Na administração, muitas vezes, é preciso mudar a tática para vencer. O time também é alterado quando é preciso buscar um empate ou quando nada dá certo. Se fecha na retaguarda para jamais perder o jogo. Se você tem um atleta cansado, deve substituí-lo”, explicou.

Pedra no caminho

O ex-prefeito de Campos dos Goytacazes, Arnaldo Vianna (PDT), terá que superar obstáculos jurídicos para disputar a sucessão de 2016. Sua situação jurídica está embaralhada desde 2008, quando chegou a disputar o pleito com o registro sub judice. Agora mais duas condenações de primeira instância aguardam julgamento no colegiado do Tribunal de Justiça. Nos dois processos a condenação foi por improbidade administrativa. Um dos processos foi motivado por 133 desapropriações na gestão do ex-prefeito. O Ministério Público apontou majoração nos valores de imóveis desapropriados e destacou que eles estavam sem utilização. Um dos imóveis é o prédio da antiga da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), onde funciona a Fundação Municipal de Esportes. Em outro processo, sobre fracionamento de licitações – delito diante da lei 8.666 –, os advogados perderam prazo.

Arnaldo Vianna continua com a situação jurídica embaralhada para 2016 viu

7


economia

A queda de Graça Dama de ferro da Petrobras não resistiu à pressão do mercado O que circulava como boato no mercado financeiro tornou-se fato na terça-feira, dia 3 de fevereiro, no Palácio do Planalto. Durante uma reunião com Graça Foster – a dama de ferro da Petrobras – a presidente Dilma Rousseff decidiu comunicar a troca de comando na estatal. Mudou toda a diretoria. A Petrobras, no entanto, divulgou que Graça Foster e toda a diretoria da Petrobras renunciaram aos respectivos cargos e que novos executivos seriam eleitos pelo conselho de Administração. A mudança era esperada, porque a permanência de Foster tornouse insustentável após a divulgação do balanço estimando prejuízos da estatal na ordem de R$ 88 bilhões. O número desagradou ao governo e foi considerado superestimado até pelos técnicos da empresa. O ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli endossou as críticas. Em entrevista ao jornal “Valor Econômico” ele criticou a contabilidade, por considerar “impossível separar, nas demonstrações contábeis o custo da corrupção de outros fatores de depreciação de investimentos, como câmbio, preço do petróleo e alterações nas condições de mercado”. Em meio à tempesta-

de decorrente da conjuntura internacional desfavorável ao mercado petrolífero e as denúncias de corrupção, a Petrobras tornou-se uma central de informações desencontradas. Foi neste clima, por exemplo, que circulou a notícia sobre a licença do gerente executivo do Departamento Jurídico da empresa, Nilton Maia, na segundafeira, dia 2 de fevereiro. O jornal O GLOBO noticiou que ele foi afastado do cargo, mas a Petrobras informou que ele pediu para tirar férias atrasadas para um tratamento de saúde. Nos últimos meses, Maia era um dos responsáveis pelas Comissões Internas de Apuração (CIAs) abertas pela estatal para investigar denúncias de corrupção da Lava-Jato.

EPICENTRO DA CRISE A Operação Lava Jato é o epicentro da crise que sangra o comando da Petrobras. Quase um ano após o início da investigação que revelou um esquema de corrupção, a presidente da República cedeu à pressão. Apesar dos conselhos de aliados e auxiliares — como o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante —, Dilma se recusava a abrir mão de Graça, considerada uma indicação de sua cota pessoal

Graça Foster: estratégia é evitar a contratação de novas dívidas

para presidir a estatal em 2012. A decisão de substitui-la teria sido tomada semana passada, em reunião do conselho político do governo, no Palácio da Alvorada. Consumada a decisão de mudar o comando, emerge as especulações. Quem vai para o lugar de Foster? Até políticos e técnicos ligados ao PT com perfil para o cargo resistem às sondagens. Não é para menos. A Lava Jato terá um desfecho imprevisível. Um dos perfis necessários para o candidato à vaga é aceitar a conviver com o risco, já que a Operação Lava-Jato terá um desfecho imprevisível e o mercado está numa volatilidade histórica. Tudo indica que a opção da presidente será por um nome do merca-

do. Até a última quartafeira (dia 4 de fevereiro), sete executivos eram apontados como possíveis candidatos ao cargo. O mais citado era Rodolfo Landim, ex-presidente da OGX e ex-diretor da estatal. Também circularam no mercado nomes como Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC) durante o governo Lula; Roger Agnelli, ex-presidente da Vale; Luciano Coutinho, presidente do BNDES; Antonio Maciel Neto, presidente do Grupo Caoa e ex-funcionário da Petrobras; Alexandre Tombini, presidente do Banco Central; e Nildemar Secches, ex-presidente da Perdigão. Mas até o fechamento desta edição, tudo era especulação do mercado.


Em chamas

O CUSTO DA CORRUPÇÃO

Em meio à crise, Petrobras prepara plano de negócios com redução de investimentos A Petrobras está sangrando. A estatal enfrenta uma crise que terá um efeito devastador sobre as finanças e o mercado de trabalho nas cidades do Norte Fluminense e Região dos Lagos, onde se concentra a zona produtora de petróleo da Bacia de Campos. Não é alarmismo. É fato. A estatal é uma espécie de força motriz na cadeia produtiva regional, funcionando como impulsionadora do fluxo de renda. Do mais alto executivo da indústria off shore de Macaé – base de operação na Bacia de Campos –, ao pipoqueiro da esquina, todos se alimentam direta ou indiretamente da indústria do petróleo e do impulso da

Plano de Negócios: Situação é igual a uma plataforma em chamas

estatal. Só que o escândalo de corrupção que emergiu após a Operação Leva Jato levou a empresa a reduzir investimentos e redimensionar sua estrutura operacional. Na mesma Macaé, os efeitos já são visíveis. O comércio e a rede hoteleira registram retração de 10% neste início de ano. O quadro tende a se

agravar. De acordo com a então presidente da estatal, Graça Foster, pouco antes de anunciar eu pedido de renúncia, a estratégia a partir da agora é evitar a contratação de novas dívidas em 2016. Ou seja, há uma reestruturação no Plano de Negócios. A notícia não poderia ser pior, porque o que está ruim nas cidades produtoras deve piorar.

NOVO PLANO DE NEGÓCIOS A zona produtora deve ler com muita atenção o Plano de Negócios 2015/2019 que será divulgado em junho. Ali estará delineado o destino da região nos próximos quatro anos. É hora de cruzar os dedos para que a estatal mantenha investimentos nos campos maduros da Bacia de Campos. Seria um alento, por exemplo, para Rio das Ostras, que está diante de uma queda de arrecadação contínua devido a desaceleração na produção dos poços de petróleo localizados em seus limites geográficos. A situação atual é tão desalentadora, que o prefeito Alcebíades Sabino (PSC) já pensa duas vezes se pretende disputar a reeleição. Uma coisa é certa: a área de exploração será estratégica, mas o aporte de recursos será muito seletivo. “Se a área de exploração era prioritária, hoje ela toma uma dimensão muito maior. É prioritária e seletiva, dentro da própria área do Acordos de Individualização da Produção (AIP). Projetos de menor atratividade, também dentro do AIP, vão para o final da fila. disse a ex- presidente.

Sabino: situaçao é crtítica 9

O novo Plano de Negócios será divulgado em junho e já deve trazer uma reavaliação significativa no projeto da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, e o Comperj, em Itaboraí, no Rio de Janeiro. “O grande mote do nosso plano 2015/2019 é o redimensionamento da Petrobras, em nível da nossa financiabilidade e do que é factível objetivamente ser construído no Brasil ou no exterior”, destacou Graça Foster após participar de uma recente teleconferência com investidores. Sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal, não há alterações nos planos da empresa. A corrupção terá um efeito prolongado na vida financeira e administrativa da estatal. A investigação para apurar as denúncias de corrupção e desvios de dinheiro pode levar até três anos e o custo, só este ano, será em torno de R$ 150 milhões.

O EFEITO PETROLÃO O mercado financeiro já manda sinais agourentos. A agência de classificação de risco Moody’s divulgou comunicado informando que rebaixou todos os ratings (notas) da Petrobras. Entre os rebaixamentos, a agência diminuiu o rating relacionado ao nível de risco da dívida em moeda estrangeira. A classificação passou de Baa2 para Baa3. De acordo com a nota, a mudança de classificação para Baa3 reflete o aprofundamento das investigações sobre a estatal. viu

9


meio ambiente

Não é o apocalipse Pior ciclo de estiagem no Sudeste em oito décadas pode se prolongar até 2021 Não é castigo. Tão pouco é o fim do mundo. É um fenômeno climático. A Região Sudeste está diante da pior seca das últimas oito décadas e tudo indica que o pesadelo será prolongado. Especialistas avaliam que Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais só terão média de chuva acima dos padrões a partir de 2020 ou 2021. Portanto, se eles estiverem certos, serão 10 anos de seca, já que a estiagem começou em 2010 e atinge o ápice a partir deste ano. Até lá, a população terá que aprender a conviver com o racionamento de água e de energia. No Brasil seca também é sinônimo de escuridão, porque a nossa matriz energética ainda é predominantemente hidráulica. Sem água para movimentar as turbinas, as usinas hidrelétricas param. A crise hídrica afeta o dia a dia do cidadão, emperra a produção industrial e entra para a lista de fatores que terão influência direta no desempenho econômico do país. A situação era previsível, mas as autoridades subestimaram. 10 viu

Governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, no lançamento do Plano Emergencial contra a Seca

A edição de número 14 da revista VIU!, publicada em março do ano passado, já apontava os danos provocados pela estiagem naquele período e advertia que o efeito climático não daria trégua. Na ocasião, a reportagem de 4 páginas

ouviu a opinião de especialistas que explicaram as razões da seca. “O país está sendo afetado por um ciclo natural de resfriamento do Oceano Pacífico, que se reflete em alterações climáticas em grande parte do planeta”, destacou um

trecho da reportagem. Um quinto da população brasileira já está sofrendo os efeitos da seca neste início de ano. Ao menos 45,8 milhões de pessoas vivem em regiões em que os níveis dos reservatórios estão abaixo do normal.

Sede e escuridão Ao longo de 2014, a seca levou 1.265 municípios de 13 estados do Nordeste e do Sudeste a decretarem situação de emergência. A informação é do Ministério da Integração Nacional. O procedimento, geralmente adotado por cidades pequenas e médias, autoriza os gestores públicos a pedir recursos federais para ações de socorro e serviços emergenciais. No Sudeste, a gravidade da situação ficou mais em evidência no mês de janeiro, já que o início do verão não trouxe as chuvas necessárias para recuperar os reservatórios. Como resultado, as três maiores regiões metropolitanas do país - São Paulo, Minas e Rio de Janeiro - convivem com a possibilidade iminente de desabastecimento. Embora o governo do Rio negue o risco de racionamento, o volume morto do reservatório Paraibuna, o maior da bacia do Paraíba do Sul, que abastece a Região Metropolitana, está sendo utilizado pela 1ª vez desde sua criação, nos anos 1970. Em São Paulo, o sistema Cantareira, também maior do estado, pode ficar sem água em julho, caso o ritmo das chuvas e a quantidade de água retirada para abastecimento continuem os mesmos.


Ciclo de seca O meteorologista Luiz Carlos Baldicero Molion, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, que deve levar mais seis anos para que o Sudeste volte a ter um regime de chuvas acima das médias históricas. Ele chegou à conclusão após analisar a série de chuvas em São Paulo desde 1888. Segundo ele, o estado teve ao menos outros três ciclos de secas de oito a nove anos ao longo do último século: — Fazendo análise estatística, notamos que o Sudeste teve períodos de seca severa no início da década de 1930, depois de 1959 e em 1976. Como percebemos que a chuva tem ficado abaixo da média desde 2012, concluímos que é mais um período com poucas chuvas de longo prazo, que deve durar até 2020 ou 2021.

Entenda o fenômeno Segundo especialistas, o Brasil está sendo afetado por um ciclo natural de resfriamento do Oceano Pacífico, que se reflete em alterações climáticas em grande parte do planeta. Chamado de oscilação interdecadal do Pacífico ou oscilação decadal do Pacífico (PDO, na sigla em inglês), o processo caracteriza-se pela sucessão entre fases quentes e frias na área tropical do Oceano Pacífico. Os ciclos duram de 20 a 30 anos e são mais amplos que os fenômenos El Niño e La Niña, que se alternam de dois a sete anos. Em 1999, o oceano entrou numa fase fria, que deve durar até 2025 e se reflete em El Niños brandos e La Niñas mais intensos. Atualmente, o Pacífico está no auge do ciclo de resfriamento, o que, segundo os especialistas, historicamente provoca quatro anos seguidos de verões com chuvas abaixo do normal na região CentroSul do Brasil. O Brasil enfrentou uma sequência de verões com estiagem entre o fim dos anos 1950 e o início da década de 1960, quando o Pacífico atravessava um pico de temperaturas baixas. Os especialistas também advertem: Teremos racionamento de água e energia.

viu

11


Cada vez mais, uma cidade melhor para se viver. Com os royalties do petróleo, a Prefeitura de Campos promove melhorias em todo o município. O resultado está em toda parte: melhorias nos hospitais, mais proteção para as crianças e adolescentes, obras de saneamento, maior acesso aos serviços de saúde, construção e reforma de escolas e creches, e muito mais. Investir em qualidade de vida é a melhor maneira de garantir o presente e se preparar para um grande futuro.

A maior riqueza de Campos é a sua gente.

Escolas e Creches Modelo Já foram entregues 18 Creches e cinco Escolas Modelo, unidades de alto padrão que garantem às crianças um ambiente melhor para o aprendizado. Cinco unidades foram adaptadas e outras 17 estão em construção.

12 viu

Melhorias nos hospitais

Construção e reforma de UBS

Estão sendo realizadas importantes obras como o novo centro cirúrgico do Hospital Ferreira Machado, reestruturação da emergência do Hospital Geral de Guarus, novo Hospital São José e nova Unidade PréHospital de Travessão.

A saúde ficou muito mais perto de você. A Prefeitura de Campos reformou 70 Unidades Básicas de Saúde (UBS) em todo o município, garantindo um melhor atendimento à população. Também estão sendo construídas novas UBSs em 12 bairros e distritos.

Repasse a conveniados Somente em 2014, foram repassados R$ 79,8 milhões ao Hospital dos Plantadores de Cana, Santa Casa de Misericórdia de Campos, Beneficência Portuguesa, Hospital Escola Álvaro Alvim e Grupo IMNE.


INFORME

Esporte para todos nas Vilas Olímpicas Campos ganhou as Vilas Olímpicas do Parque Guarus e do Parque Santa Clara. Elas estão abertas a toda a população, oferecendo várias modalidades esportivas e área de lazer. Outras sete Vilas estão sendo construídas no município.

Cidade campeã em saneamento

Vacinas: proteção para o seu filho

Campos se tornou um exemplo nacional em saneamento. Com o Morar Feliz e o Bairro Legal, foram 8 mil novas ligações de esgoto. O resultado do investimento foi uma redução da incidência de diversos tipos de doença.

As crianças e adolescentes estão mais protegidos, graças às vacinas Prevenar, contra catapora, contra hepatite A e contra o HPV. A mortalidade infantil caiu 40% e houve uma redução de 60% nas internações por pneumonia.

Águas na Comunidade O programa já beneficia diversas localidades que não são atendidas pela concessionária Águas do Paraíba. Agora a população recebe água potável em casa – uma garantia de saúde. Ao todo, serão contempladas 45 localidades.

viu

13


redessociais WahatsApp em nova versão O WhatsApp lançou uma versão do aplicativo para computadores. A iniciativa atende uma antiga demanda dos cerca de 600 milhões de usuários. Inicialmente, o WhatsApp Web vai funcionar apenas para donos de smartphones Android, Windows Phone e BlackBerry. O iOS ficou de fora por “limitações da plataforma da Apple”. A novidade virá na próxima atualização do WhatsApp, que já está sendo liberada para alguns usuários. Para cadastrar a conta, é preciso acessar, pelo navegador Chrome, o site web.whatsapp.com e ler o código QR que aparecer na tela pelo próprio aplicativo.

Limitações A nova versão do WhatsApp é uma extensão do app do telefone. O navegador apenas mostra as conversas e mensagens que estão no smartphone, mas é preciso que o celular esteja conectado à internet para que o WhatsApp Web funcione, o que limita um pouco a ferramenta.

O real e o virtual

O salto da Microsoft A Microsoft anunciou a integração total do novo Windows 10 entre PCs, tablets e smartphones. Com isso, a empresa que tem Bill Gates entre seus fundadores espera encerrar uma das principais críticas contra o seu sistema operacional entre dispositivos móveis. A empresa patinava neste segmento, porque a reduzida base de usuários tornava a plataforma pouco atrativa para desenvolvedores. Quer uma boa novidade? O Windows 10 é grátis.

A Microsoft espera reconquistar mercado com o Windows 10. Uma das novidades neste novo sistema operacional da empresa é o Windows Holographic, que funciona como óculos HoloLens. A tecnologia é apontada como futuro da computação. O Windows Holographic consiste em um óculos especial de realidade aumentada, que coloca o usuário dentro de um ambiente que mistura o real e o virtual. É possível, por exemplo, “projetar” uma conversa por Skype em uma parede, ou jogar “Minecraft” em hologramas em cima da mesa de jantar. A API do Windows Holographic está disponível no Windows 10 e a Microsoft quer outros fabricantes façam uso tecnologia.

Do tamanho de um botão Já pensou em um computador minúsculo? Ele existe. É uma invenção da Intel. A empresa lançou um equipamento do tamanho de um botão. Trata-se do Curie, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano. O módulo usa uma nova versão do chip Quark e pode ser integrado em uma série de produtos como o botão do paletó, relógios, óculos, brincos e colares. O Curie usa conexão Bluetooth, sensores de baixo consumo de energia, acelerômetro e giroscópio. Ele pode ser alimentado tanto por baterias recarregáveis como por baterias comuns. 14 viu


Um satélite para chamar de seu

Gregória ou Maria: Não se sabe o nome, mas ela é pop e atraiu boas curtidas no Facebook

Ela é pop Não se sabe o nome dela. Nem de onde vem e muito menos a idade. O semblante, no entanto, não esconde que já tem, presumivelmente, mais de 70 anos. Nas últimas décadas, Gregória ou Maria, dois nomes pelos quais é conhecida, se tornou parte do cotidiano da cidade de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Dorme nas ruas, fala com dificuldade, mas detém uma simpatia singular. Nas ruas ela costura a própria roupa, posa para fotos quando solicitada e demonstra um carisa que impressiona os interlocutores. Recentemente, uma foto de Gregória postada na Fanpage do jornalista Roberto Barbosa, no Facebook, obteve mais de 2.500 curtidas. Uma demonstração de que ela é pop.

O Brasil já tem um satélite (foto) para chamar de seu. O satélite sino-brasileiro de sensoriamento remoto Cbers-4 já está no espaço. Ele foi lançado no último dia 7 de janeiro, à 1h26 (no horário de Brasília, 11h26 em Pequim) da base de Taiyuan, a 700 quilômetros da capital chinesa. Este é o quinto equipamento de sensoriamento remoto produzido em parceria entre o Brasil e a China. Em sua conta no Twitter, a presidente Dilma Rousseff disse que o satélite amplia a cooperação Sul-Sul, pois fornecerá imagens aos países da América Latina e da África. “O Cbers-4 é fruto de parceria entre o Brasil e a China e, entre suas muitas aplicações, está o monitoramento do desmatamento na Amazônia”, disse. O satélite foi lançado pelo foguete chinês Longa Marcha 4B. Quando atingiu o ponto ideal da órbita, um comando liberou a trava do dispositivo que prendia o Cbers-4 ao foguete. Impulsionado por molas, o satélite afastou-se do lançador e entrou em órbita 12,5 minutos após o lançamento. Segundo a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Cbers-4 enviou os primeiros dados orbitais às 2h, quando atingiu 742,5 quilômetros de altitude. Ele completa uma órbita em torno da Terra em 90 minutos.

Tecnologia e robótica A tecnologia avança na velocidade do pensamento. A Intel, por exemplo, está promovendo uma verdadeira interação entre computação e robótica. Além do computador do tamanho de um botão , outra grande novidade é o protótipo de roupa com foco nos deficientes visuais. Com pequenas câmeras espalhadas pelo tecido, ela é capaz de perceber a aproximação de pessoas ou obstáculos e emitir uma pequena vibração para o usuário. O projeto será disponibilizado ao público gratuitamente. viu

15


opinião

RanulfoVidigal Economista, mestre e doutorando em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ

Por que as regiões fracassam? Revela a literatura corrente sobre administração de recursos que existem algumas reações de dirigentes de grandes organizações, países ou cidades em ocasiões quando, os mesmos, se defrontam com situações conflitivas e difíceis para encarar ou superar. Vale ressaltar que alguns dirigentes, sequer conseguem identificar adequadamente seus problemas. Outro s conseguem identifica-los, mas não instrumentalizam soluções razoáveis e caminham para o desastre completo. Outros até criam saídas corretas, mas não possuem capacidade gerencial, métrica adequada, acompanhamento e nível de feedback para superar a questão aflitiva, ou implantam a solução de forma lenta. Toda essa introdução é para chamar atenção ao “choque” a ser produzido, com a queda geral das indenizações petrolíferas dos royalties do petróleo nas administrações municipais dos principais municípios produtores de petróleo da região dos Lagos e Norte fluminense. O repasse caiu de maneira forte em janeiro e vai continuar caindo em volume expressivo, em fevereiro, março e, provavelmente, em abril. Nesse quadro fica claro o problema denominado “maldição dos recursos naturais abundantes” e sua aplicação inadequada para gerar o desenvolvimento genuíno em nossas cidades litorâneas. Lembra muito, a estorinha da cigarra e da formiga. Conta a fábula, que enquanto a cigarra cantava e gastava suas reservas estratégicas, a formiga poupava e se preparava para o “inverno” que certamente

16 viu

viria. E veio. O inverno chegou pegando de calça curta algumas administrações. Sabemos todos que, o desenvolvimento requer investimentos maciços em educação e bens públicos. Fazendo uma simples comparação dos dados disponíveis nas contas de gestão observamos a seguinte prioridade do gasto

O petróleo bem usado gera acumulação de capital, tecnologia de ponta e garantias de igualdade de poder político em educação, em quatro importantes cidades do interior fluminense. Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde se localiza uma importante refinaria investe 32%, contra 21% em Macaé (capital do petróleo), 20% em Niterói (a cidade com maior IDH do Estado), e apena 15% em Campos dos Goitacazes – a capital do açúcar e do álcool. O petróleo bem usado gera acumulação de capital, tecnologia de ponta, bem como garantia de igualdade e distribuição equânime de poder político entre cidadãos. A história nos mostra que instituições inclusivas criam igualdade de condições na

largada e maior incentivo para quem se esmera na qualidade. Agora então vejamos como estas mesmas prefeituras gastam seus recursos na “burocracia”. Macaé e Campos despendem, em média 27%, enquanto Duque de Caxias e Niterói, apenas 6%. Com petróleo farto e cotação internacional muito alta, este comportamento, já era temerário. Agora com o somatório de crise de governança da Petrobrás e desabada geral no preço da commodity fica insustentável. Alguns municípios de nossa região correm o risco de reproduzir os modelos denominados pelo pesquisador Peter Evans de “predatórios”, onde as elites dirigentes ricas de petróleo praticam democracia de baixa qualidade, populismo econômico, permitem a doença holandesa, praticam o clientelismo gerando políticas públicas erráticas e alta desigualdade de renda e oportunidades de acesso aos ativos que potencializam prosperidade e bem estar. No meu dicionário não existem nem culpados oficiais, e muito menos salvadores da pátria. Diante de uma conjuntura adversa a saída e dialogar com a sociedade e buscar um novo modelo de estrutura de produção de bens e serviços mais diversificado e sólido, doravante. Avancemos, pois.


sociedade

O embaraço de Hild Colunista social perde a linha ao propor restrição aos pobres nas praias cariocas A colunista social Danuza Leão já experimentou um tufão de críticas ao afirmar na Folha de São Paulo, que “viagens a Paris ou Nova Iorque perderam a graça diante do risco de dar de cara com o porteiro do próprio prédio”. Recentemente quem entrou no olho do furacão foi a também colunista Hildegard Angel. Ao propor medicas raradicais para combater a onda de violência nas praias da zona sul carioca, ela acendeu uma polêmica que ganhou debates acalorados nas redes sociais. Entre as medidas proposta estava a cobrança de ingresso para acesso às praias. O exército dos politicamente corretos entrou em ação e chegou a acusar Hildegard de simpatizar com ideologias nazistas. Era o “plano B radical” publicado no blog da colunista, que em função das críticas retirou o post e admitiu que estava sugerindo medidas antipáticas. “O casos já se instalou no Rio”, escreveu. Definir a proposta de Hildegard como radical é, no mínimo, complacência. É ultraradical.

Hildegard Angel embaraçada após sugerir medidas para limitar o acesso dos pobre às praias do Rio

Imagina se em Macaé o prefeito Dr. Aluízio resolvesse cobrar entrada para que os moradores de Nova Esperança, Malvinas ou qualquer outro bairro pudessem se banhar nas praias dos Cavaleiros ou do Pecado? Ou se a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho cobrasse entrada para que moradores do bairro Santa Rosa frequentassem a praia Farol de São Tomé? Não

faltam simulações para medir o tamanho do absurdo. Assim como não faltam prefeitos malucos para embarcar nesta canoa furada. No balneário de Guarapari, no Espírito Santo, o prefeito Orly Gomes (DEM) anunciou que pretende adotar medidas para receber turistas que gastem o mínimo de R$ 200 por dia. É como se dissesse que pobre não é bem vindo à cidade.

Sonhando Acordado

Intérprete: Athayde Dias

Ser elegante/ É uma coisa que eu sempre desejei/ Em ver o meu nome/ Na coluna social/ E o colunista/ Referindo-se a minha pessoa/‘Embarca amanhã pra Lisboa’/ ‘O banqueiro fulano de tal’/Mas acontece/ Que meu caso é viver de ilusão/ Sonhar acordado /Num quarto fechado/Do meu barracão/ O banco que eu tenho/ Está no jardim / E não guarda dinheiro/ Por isso é que não posso/ Ser elegante/ E nem ir ao estrangeiro

Passeando com o preconceito

No Brasil, com relevantes exceções, o colunismo social flerta com a segregação e o preconceito. Na cidade de Campos dos Goytacazes, a colunista Maria Ester Balbi, que atuou nos jornais Folha da Manhã e O Diário, costumava dizer que “pobre em coluna social só se for folclore”. A colunista, por outro lado, viveu em uma cidade notável por colunáveis que vivem de aparência. É uma turma conhecida por se nutrir de salame e arrotar caviar. O sambista Athayde Dias – ícone do samba de breque na república do chuvisco, que faleceu em 1989 –, ironizou esta fascinação por “vida de elite”. Na letra “Sonhando Acordado”, ele cantava: “Ser elegante é uma coisa que eu sempre desejei/Ter o meu nome na coluna social”, mas explicava a barreira que o separava desta “elegância” (Letra reproduzida nesta página). Athayde Dias, um grande intérprete, vencedor do programa A Grande Chance, de Flávio Cavalcante, na TV Tupi, na década de 70, fez nesta música um verdadeiro desmonte de uma classe que vende o alomoço para comer na janta, mas não perde a pose.

viu

17


psicografia

Salomão Rei de Israel aos 12 anos de idade, por volta de 974 a.C.,

O risco da soberba e da vaidade O personagem psicografado e que manda mensagen nesta edição é o rei Salomão, apresentado como símbolo da sabedoria e da sensatez Poucas coisas são tão tentadoras quanto o poder. De onde emanam decisões brotam seduções. Por isso, o governante precisa ser prudente, sensato, justo e desprovido de ganância. Poucos conseguem. Todos padecem dos mesmos problemas e são afligidos pelas moléstias palacianas. Cercado por aduladores, mulheres, homens e dinheiro, eles não conseguem imunidade contra as tentações e são corrompidos. Para quem não sabe ou nunca experimentou, o poder é doce como mel, mas suas armadilhas também são amargas como o fel. Sei bem o que é isso. Fui rei aos 12 anos de idade, sucedendo meu pai Davi. Antes de ser coroado consulteime com Deus. Com sua infinita generosidade, ele me perguntou o que me satisfaria como dote. Pedi sabedoria. Ele deu e abusei. Tomei por liberdade o que me veio por generosidade, deixando-me levar pela vaidade, adulação e prazeres carnais. Sou, portanto, o exemplo vivo de que a primazia do cargo inebria. No trono tudo é muito fácil. As coisas acontecem em um piscar de olhos. Dos anseios mais complexos às coisas mais simples. São regalias aparentemente infinitas. Todos os súditos juram fidelidade e lealdade até a morte. Dizem o que gostamos de ouvir. Evitam assuntos inconvenientes. Os que insistem em alertar sobre erros são alijados da corte. E assim 18 viu

ficamos vulneráveis aos erros mais banais sem que a reação externa sinalize. A adulação abafa a voz rouca das ruas. Apesar de conhecer o perigo da vaidade, tornei-me um rei soberbo. Empolguei-me com o vai e vem das caravanas que chegavam de todas as partes com presentes em troca de conselhos. Tempos maravilhosos foram aqueles! Não tenho do que reclamar. Ao fazer a opção

Para quem não sabe, o poder é doce como mel, mas suas armadilhas também são amargas como o fel preferencial pela sabedoria, conquistei mais conhecimento, riquezas e honra do que qualquer rei do passado ou do futuro. Reconheço, portanto, que os descaminhos que trilhei são decorrência de escolhas pessoais. Não há como negar. Somos inteiramente responsáveis pelas nossas derrotas. Só os cavardes procuram culpados para as próprias falhas. A sabedoria me conduziu a política da boa vizinhança. Investi na diplomacia para aproximar outras nações. Criei um bloco de livre comércio, estabeleci relações com o Egito dos Faraós, firmei com eles laços familiares, promovendo assim um fluxo financeiro entre nações jamais visto. Nunca

antes na história do meu povo houve tanta prosperidade. Conquistamos glórias sem fazer guerra. O segredo estava na escolha do ministério. Tive ministros à altura do meu reinado. Aliás, o rei tem o ministro que merece. Quem está no trono não deve ignorar um fato: mais difícil do que conquistar a coroa de rei é mantê-la sobre a cabeça. Os atores em cena, as forças em conflitos e a natureza humana exigem capacidade de se autogovernar para tomar as decisões corretas e oportunas. No auge do meu reinado não consegui manter as regras de conduta. Só me dei conta disso à posteriori. No auge da glória, entreguei-me aos prazeres com mulheres pagãs, tive os meus efebos e não resisti à idolatria. Para pagar o luxo de toda a corte e as despesas com numerosos funcionários, precisei aumentar impostos. Afinal, alguém precisava pagar a conta das minhas 700 esposas e 300 concubinas. O império ruiu. Despenquei. Paguei o preço e descobri que a lealdade e a fidelidade dos súditos eram tão efêmeras quanto à vaidade. Destronado, o capim passou a crescer na soleira da minha porta, as ervas daninhas mataram os frutos, os tribunais tornaram-se rigorosos, os aduladores convertem-se em acusadores. Os escribas da corte passaram a criticar, os fieis escudeiros tornam-se guerreiros do sucessor e a minha companhia passou ser a própria sombra refletida na parede. Se você já assistiu este filme, é mera coincidência.


Piscina, Ă rea de Lazer, Suites, Restaurante, Estacionamento Praticidade e melhor comodidade diante das melhores praias de Rio das Ostras, RegiĂŁo dos Lagos e MacaĂŠ Hospedagem para empresas e turistas Telefones para reservas

(22) 9895-6597 | (22) 2764-6999 viu

19


saúde

Cuidado com o rim Período crítico

A desidratação no calor pode lhe trazer um visitante indesejável: cálculo renal No verão, temporada mais quente do ano, a desidratação provocada pelo forte calor é um dos fatores responsáveis pelo aumento dos casos de pedra nos rins. Em algumas cidades, os casos chegam a aumentar 30% durante o período. A ingestão de água – hábito primordial –, sucos, a diminuição de sal e uma dieta rica em frutas e legumes contribuem para a prevenção da doença. Os pacientes, geralmente, relaxam. Só procuram observar os sinais da doença quando estão em crise. Mas os médios advertem: cálculo renal exige cuidado, porque se não for tratado corretamente, pode levar à perda do órgão. “Nesse período, as pessoas acabam desidratando, transpiram mais e o rim tem menos líquido para filtrar. As impurezas do rim ficam concentradas na urina, o que pode levar à formação de cristais que vão formar os cálculos”, explica o urologista Fábio Vicentini. Frutas como a melancia e a maçã têm bastante água e também podem ajudar na prevenção. 20 viu

O período de maior calor dura de quatro a cinco meses. Ele é suficiente para a formação da pedra, que pode se formar em pouco tempo, de 15 a 20 dias. O crescimento dela vai variar. Às vezes continua pequena, mas pode crescer rápido. Pedras a partir de 4 a 5 milímetros (mm) podem causar dor. O risco é maior em indivíduos com histórico na família. A doença atinge 10% dos homens e 7% das mulheres.

Tratamento O cálculo renal pode ser evitado com o consumo diário de água

Dicas para monitorar a hidratação

Um jeito simples de saber se a pessoa está suficientemente hidratada é observar a cor da urina. Segundo o urologista, quanto mais transparente, melhor. Urina amarelada é sintoma de que o consumo de liquido está insuficiente.

Alimentos

O tratamento varia de acordo com cada paciente. O tamanho e a posição da pedra são considerados. Normalmente, 70% das pedras são eliminadas. Uma das formas de tratamento menos invasiva é a litotripsia, uma terapia sem cortes que bombardeia as pedras. Mas há casos em que são necessárias cirurgias.

O consumo em excesso de sal e proteína também favorece a formação de cálculos. Produtos de origem animal, como manteigas, especialmente para pessoas com histórico familiar da doença ou que já tenham manifestado o problema, devem ser consumidos com prudência. O leite desnatado é melhor opção em relação ao integral. Alimentos embutidos como presunto, bacon e linguiça, além de serem proteínas, são ricos em sódio e, portanto, devem ser evitados.


Conforto, novos ônibus e segurança.

É assim que a gente garante o seu transporte, todos os dias! 21 viu


crônica

JoãoVicente Professor e Mestre em Filosofia

O homem e a violência na visão de René Girard Durante o período da Guerra Fria, que iniciou no pós-guerra e se estendeu até final da década de 80 do século passado, o mundo se despertou para o armamento tecnológico e bélico, polarizado entre as duas maiores potências ideológicas do planeta: os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A primeira potência dominava o bloco capitalista; e a segunda, URSS, de orientação socialista, exercia sua influência sobre parte da Europa e países da Ásia. Dizem os experts que o clima de mútua ameaça – cada um dos blocos declarava sua superioridade bélica e nuclear, um em relação ao outro manteve a humanidade e a geopolítica num forçado respeito mútuo. Evitou-se uma violência sem limites, ridicularizada e desconhecida por sofisticados ocidentalistas. Mas, segundo o antropólogo francês, René Girard, essa violência reapareceu sob uma forma inesperada no horizonte da modernidade. Ele fala de “uma vingança absoluta, outrora prerrogativa divina, retorna agora, trazida pelas asas da ciência...”. E, porque “ela é cifrada e medida” impede que a sociedade planetária destrua a si própria, a sociedade que já reúne ou reunirá no futuro toda a humanidade. Um pensamento de perspectivas espiritualistas, talvez, intercepta, sem propósito, esse pensamento laico. A Doutrina Espírita diz o seguinte sobre o destino de nosso orbe terrestre: o Planeta Terra passará do estágio de mundo de provas e expiações para o estágio de regeneração, quando 22 viu

a sociedade planetária será resgatada, por merecimento, a esse “paraíso de regeneração”, fazendo cumprir as palavras de Cristo anunciadas no Sermão do Monte – Bem aventurados os mansos porque herdarão a Terra (Mt. 5, 1-12). Afirma o antropólogo que o ser humano vive angustiado entre a escolha da destruição e a renúncia total à v iolência. Ou a mansidão ou a violência.

A violência reapareceu sob uma forma inesperada no horizonte da modernidade (René Girard)

Ele alerta que essa violência poderá surgir mais uma vez sob a sua face mais perversa, a do totalitarismo que é, entre outras definições, a defesa e imposição intransigente daquilo que se considera a verdade. Diz René Girard que “parece cada vez mais claro que a pressão da violência ou a insistência da verdade, das quais os homens se sentem portadores, têm forçado os modernos a conviver face a face com essa violência e verdade.”.

Isso irá exigir grandes sacrifícios da humanidade que terá a oportunidade de aproveitar este momento para redefinir estratégias religiosas, políticas e éticoideológicas para a construção de um planeta superior e melhor, mesmo que se possa ler em René Girard que “a violência essencial (fundadora) retorna sobre nós de forma espetacular, não somente no plano da história, mas também no plano do saber”.

Luiz Pondé O filósofo, educador e ensaísta Luiz Felipe Pondé, que também é teólogo, e como teólogo já se declarou ateu. Porém, mais recentemente disse acreditar em Deus. Numa entrevista, concedida a uma revista especializada em Filosofia, colocada para ele essa questão de sua mudança de atitude em relação a Deus, ele afirma não ser nem crente e nem religioso. Mas acha que “Deus é um conceito elegante. Prefiro que ele exista.” Ao longo da entrevista, ele faz afirmações surpreendentes, como: acho o ateísmo militante brega e ressentido. Ou então: às vezes a beleza inesperada me faz pressentir algo de divino, mas fracassei 100% em ser crente ou religioso, sou muito trágico para ser crente”.


23 viu


24 viu


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.