Perspectivas 2011

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VidaEconĂłmica 3UHoR ,9$ LQFOXtGR

2011 PERSPECTIVAS MAPA DA RECUPERAĂ‡ĂƒO ECONĂ“MICA

As previsþes para todas as regiþes do Mundo Crescimento, mercados‌ A opinião dos especialistas O que esperam os líderes portugueses

O FUTURO DO DĂ“LAR O maior risco para a manutenção do papel do dĂłlar ĂŠ a grande e crescente dĂ­vida pĂşblica dos EUA. A perspectiva de Martin Feldstein. PĂĄg. 69

PORTUGAL 2011: INĂ?CIO DE UMA NOVA ERA É impensĂĄvel continuar a corrigir o desequilĂ­brio orçamental pelo lado da receita, considera AntĂłnio Saraiva, presidente da CIP. PĂĄg. 22


Sumário

6

Editorial

Europa

Estratégias

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7

11

Está em curso uma recuperação limitada, sujeita a fortes riscos colaterais

A crise financeira ficou para trás da Nissan Carlos Ghosn, director executivo da Nissan e da Renault

É possível que ocorram outras aquisições se o Barclays encontrar activos ao preço certo

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45

Emprego tende a recuperar nos Estados Unidos Os Estados Unidos da América representam um quinto da economia mundial e os seus mercados de equities correspondem a cerca de metade dos mercados globais

Portugal

Redução dos estímulos fiscais ameaça o crescimento em França O próximo ano será decisivo para o Presidente Nicolas Sarkozy, à medida que se prepara para as eleições presidenciais

O pessimista Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia previu a crise financeira global

20

Alemanha cresce ao nível mais elevado dos últimos 20 anos Num período de tendências incertas, 2011 deverá ser um ano de paradoxos

Bob Diamond, CEO do Barclays 18

Zona Euro com crescimento tímido e vulnerável

48

Em defesa do euro Christine Lagarde, Ministra da Economia, Indústria e Emprego da França

50

Reino Unido corta na despesa e elimina 490 mil empregos na função pública O ano será dominado pela implementação da política do governo de coligação

52

Será que os bancos centrais ainda podem influenciar as taxas de câmbio? Howard Davies, Director da London School of Economics

54

Países da Europa Central e de Leste vão crescer em 2011 A recuperação económica será frágil

58

22

FICHA TÉCNICA 24

Editor: Vida Económica Editorial, SA 4049-037 – Porto

26

Director: João Peixoto de Sousa

30

Design gráfico: Célia César, Flávia Leitão e José Barbosa Edição Portuguesa Impressa por Peres-Soctip, Indústrias Gráficas, SA Estrada Nacional 10, Km 108,3 2135-114 Samora Correia – Portugal Copyright Portugal Vida Económica Editorial, SA

As pequenas e médias empresas e o crescimento económico em Portugal

Políticas russas numa encruzilhada eleitoral A Rússia vai defrontar-se com uma encruzilhada no ciclo eleitoral de 2011-2012

Estados Unidos da América

José Fernando Figueiredo, Presidente da SPGM

Chefe de Redacção: Virgílio Ferreira Traduções: Lisbeth Ferreira e Guilherme Osswald

61

G20, Basileia III e o sistema bancário mundial José Galamba de Oliveira, Presidente da Accenture Portugal

Rua Gonçalo Cristóvão, 111

Perspectivas económicas da Rússia continuam altamente sensíveis a factores externos

Portugal 2011: início de uma nova era António Saraiva, Presidente da CIP Confederação Empresarial de Portugal

Economia russa sensível a factores externos

“Portugal. A minha primeira escolha”: o lema para 2011 José Ramos, Presidente da Toyota Caetano Portugal e CaetanoBus

32

Mais informação em tempo de crise

65

Isabel Reis, Directora-Geral, EMC Portugal 35

O destino da economia global vai passar por crescentes pressões inflacionistas mas em contrapartida vai enfrentar delação e um abrandamento da econo.mia

O papel da tecnologia no futuro do sushi Susana Soares, Directora de Marketing da Fujitsu

37

2011: frugalidade, ambição e internacionalização Rui Paiva, CEO da WeDo Technologies

Emprego tende a recuperar nos Estados Unidos

69

O futuro do dólar Martin Feldstein, Professor de Economia na Universidade de Harvard PERSPECTIVAS 2011

3


Sumário 71

Um mundo com múltiplas reservas cambiais

98

Barry Eichengreen, professor de Economia e Ciência Política na Universidade da Califórnia, Berkeley 72

“Sinto-me confortável com o meu lugar na história”

A 1 de Janeiro, Dilma Rousseff será empossada como a primeira presidente mulher do Brasil 102

George Bush apresenta as suas opiniões sobre uma presidência controversa

A montanha-russa monetária na América Latina Mario I. Blejer, Antigo Governador do Banco Central da Argentina

104

Ásia

Dilma Rousseff pretende consolidar ciclo de expansão no Brasil

Comércio mundial deve crescer 7% em 2011 Nas últimas décadas, os volumes de comércio aumentaram quase sempre mais depressa que o rendimento mundial

108

Ameaça terrorista tende a diminuir Apesar de alguns sucessos alcançados em 2010 contra movimentos terroristas de cariz jihadista, os ataques vão continuar

77

China reforça aposta no desenvolvimento e prevê crescer 10%

Energia

A China vai ser testada com um ano de incerteza externa e com grandes desafios. 81

O renminbi segue em frente Martin Feldstein, Professor de Economia na Universidade de Harvard

84

Política interna e política externa na China sintetizam os dois sistemas A liderança do Partido Comunista Chinês (PCC) enfrenta importantes desafios

86

112

A diplomacia do dólar e as décadas perdidas do Japão

Se a recuperação económica se mantiver, a OPEP não terá grandes dificuldades para garantir os níveis dos preços do petróleo

Takatoshi Ito, professor de Economia na Universidade de Tóquio

Médio Oriente e África

Países emergentes garantem estabilidade nos preços do petróleo

116

DESTAQUES

G20, Basileia III e o sistema bancário mundial Para enfrentar o futuro, cabe aos bancos elevar significativamente o nível de enfoque e rigor em relação à qualidade e à manutenção de dados no conjunto de actividades de front-office e back-office, defende José Galamba de Oliveira, Presidente da Accenture Portugal. Pág. 24

As pequenas e médias empresas e o crescimento económico em Portugal Qualquer solução para o crescimento económico e para o aumento dos níveis de emprego passa necessariamente pelo desenvolvimento do potencial das pequenas e médias empresa, afirma José Fernando Figueiredo, presidente da SPGM. Pág. 26

A energia mais económica continua a ser o petróleo Christophe de Margerie, Presidente da Total, prefere não ver os problemas da indústria a preto e branco

Gestão 88

Em defesa do euro

Estados do Golfo em fase de acalmia política e económica As monarquias do CCG podem esperar um ano calmo e de crescimento consistente, em 2011

92

As erradas ambições monetárias de África Sanou Mbaye, Ex-membro do Banco Africano de Desenvolvimento

118

Mulheres cada vez mas no topo de gestão As 100 mulheres mais influentes nos mercados financeiros da Europa

Internacional 121

O futuro do trading de divisas Hans-Joerg Rudloff, Presidente do Conselho de Administração do Barclays Capital

122

Ganhar para doar Bill Gates e Warren Buffett querem que os bilionários do mundo doem metade da sua riqueza

94

Mercados emergentes alimentam crescimento global Está na mesa uma moderação no crescimento, mas os mercados emergentes vão continuar a alimentar a expansão internacional.

4

PERSPECTIVAS 2011

129

Enquadrar a inovação com as necessidades Menos de metade dos lançamentos de novos produtos efectuados ao longo dos últimos três anos foram bem sucedidos.

Neste estado de emergência, começou a ganhar forma um verdadeiro governo económico europeu, proposto principalmente pela Chanceler alemã, Angela Merkel e pelo Presidente de França, Nicolas Sarkozy. A perspectiva de Christine Lagarde, ministra da Economia de França. Pág. 48


Editorial

Um ano com expectativas positivas

Apesar do clima de instabilidade e de incerteza que tem sido uma constante no passado recente, o ano de 2011 promete ser claramente melhor do que os anteriores. O ciclo negativo dos últimos anos parece finalmente inverter-se. A generalidade dos países retoma um ritmo de crescimento próximo dos níveis que eram considerados normais antes da crise financeira. A recuperação não é - nem poderia ser – uniforme, havendo países e regiões com desempenho e perspectivas claramente mais favoráveis. Na zona Euro o ritmo de crescimento é positivo, mas inferior à média dos países ocidentais. As discrepâncias dentro da própria UE evidenciam uma Europa a duas velocidades, com os países do Sul e a Irlanda claramente pior do que os países do centro e do norte. A Alemanha assume novamente o papel de locomotiva da economia europeia, devendo crescer 3,7% em 2011. Além de ser a maior economia da União Europeia é também a que mais cresce, o que surpreende pela positiva. Num país com a dimensão e o nível de desenvolvimento da Alemanha o crescimento seria teoricamente mais difícil do que nos países onde a base actual é inferior. E o bom exemplo germânico também contempla o equilíbrio das contas públicas, com um défice orçamental de 2,7%, dentro dos níveis fixados em Maastricht antes da crise financeira. Neste surto de crescimento a Alemanha é acompanhada pela vizinha Polónia que cresce a um nível semelhante ou mesmo superior e também com as finanças públicas equilibradas. Para os Estados Unidos, a projecção de crescimento está entre os 2,2% e 2,5%, um valor claramente favorável e positivo para a recuperação global, na medida que se trata da maior economia do mundo. 6

PERSPECTIVAS 2011

A tendência positiva também se reflecte no comércio mundial que deverá crescer 7% em 2011, reflectindo a evolução das trocas comerciais, a interdependência mas também a estabilidade da actividade económica à escala global. As perspectivas para 2011 que apresentamos aos leitores nesta edição especial marcam o início da cooperação entre a Vida Económica e a Universidade de Oxford que se vai materializar em várias vertentes. No ambiente global e competitivo que vivemos é importante que as empresas e as instituições portuguesas tenham acesso a informação e serviços internacionalmente reconhecidos pelos altos níveis de qualidade e excelência.

A Alemanha assume novamente o papel de locomotiva da economia europeia, devendo crescer 3,7% em 2011. Foi também com esse objectivo que no âmbito das publicações para o sector imobiliário desenvolvemos nos últimos anos a cooperação com o IPD – Investment Property Databank, criando serviços de informação que hoje são utilizados pela maioria dos operadores e fundos de investimento portugueses. Esperamos que esta antevisão globalmente positiva da economia em 2011 se confirme, desejando que os leitores extraiam os dados mais relevantes e antecipem as tendências, de forma a identificar as melhores oportunidades nos seus sectores de actividade.

João Luís de Sousa

Director adjunto da Vida Económica


Estratégias

O pessimista Stiglitz, o economista prémio Nobel e 30º lugar no Índice de Global Thinkers, foi um dos primeiros a prever a crise financeira global – e tem sido desde então um dos principais críticos da resposta do governo americano. Em conversa com Benjamin Pauker, da Política Externa, Stiglitz explica porque é que ainda não está a celebrar.

Está preocupado com os movimentos da Reserva Federal que visam o crescimento da economia dos EUA? Joseph Stiglitz: Acho surpreendente que a Reserva Federal tenha sido tão lenta a detectar a natureza dos problemas que a economia americana tem de enfrentar e que seja, irracionalmente, optimista face à persistência dos problemas. Mas talvez isso não seja surpreendente. Ben Bernanke estava na Reserva 18

PERSPECTIVAS 2011

no período em que o Greenspan estava lá a rebentar a bolha, e estava na Reserva quando a bolha estourou. Acho que um erro crítico de Obama foi manter tantas das pessoas que estavam no centro da filosofia económica que tinha contribuído para a criação da bolha e para o movimento de desregulamentação associado. A consequência foi que tentaram minimizar a dimensão do problema.


Portugal OPINIÃO

“Portugal. A minha primeira escolha”: o lema para 2011 José Ramos*

Presidente da Toyota Caetano Portugal e CaetanoBus

terá de ser um ano de acções concretas e opções profundas, priori2011 tariamente concentradas num universo territorial chamado Portugal. Pode ser uma opção egoísta e, à primeira vista, limitada, mas entendo que estamos num tempo de cuidar que nos está mais próximo. Aliás, só poderemos ter uma visão global se começarmos por uma ingerência à nossa escala! Assim, dada a incerteza ainda maior que vivemos e a necessidade de afastar prognósticos pessimistas, decidi concentrar-me num tema que, além de ser 100 por cento português, acredito que seja um promissor desafio para os portugueses enquanto povo diligente e para Portugal enquanto região demarcada. “Portugal. A minha primeira escolha” é um projecto da AEP (Associação Empresarial de Portu-

Privilegiar marcas com rótulo “Made in Portugal” é a maior prova do nosso salutar orgulho nacional; é também sinal da nossa inteligência cívica, na medida em que estamos a preferir produtos concebidos, moldados e produzidos pelos engenho e habilidade lusos. gal) que conta com 470 empresas aderentes que representam 1600 marcas, um volume de negócios de 9 mil milhões de euros e 55 mil postos de trabalho, o qual pretende estimular o consumo de produtos nacionais. Mais do que reduzir as importações, esta iniciativa tem o potencial de contribuir para o aumento da produção nacional, com consequências directas na nossa economia, na taxa de desemprego, no PIB e demais indicadores determinantes para a saúde económico-financeira do nosso País e melhoria dos níveis sociais. Consumir o que é feito em Portugal, por portugueses, é desígnio de cada um de nós e um compromisso de todos perante o futuro deste País 30

PERSPECTIVAS 2011

com mais de oito séculos e uma história digna de engrandecimento de uma nação. Privilegiar marcas com rótulo “Made in Portugal” é a maior prova do nosso salutar orgulho nacional; é também sinal da nossa inteligência cívica, na medida em que estamos a preferir produtos concebidos, moldados e produzidos pelos engenho e habilidade lusos. Pensar o contrário é sinónimo de provincianismo tacanho e mediocridade patriótica. A prova de que fazemos bem está na nossa taxa de exportações. Com um volume superior a 31 mil milhões de euros, é actualmente o mais forte pilar de sustentação da nossa frágil economia, porque os nossos produtos são de excelência, competitivos e diferenciadores. Se os consumidores de outros países preferem o que é feito neste território, por que não somos nós os principais admiradores do que aqui é produzido? Entidades públicas e privadas e o cidadão comum, ao seleccionarem o que é nacional, estarão também a cooperar para a prática de preços mais competitivos, face à concorrência estrangeira, e a dinamizar a nossa oferta, tornando-a mais acessível. De igual forma, estar-se-á a aumentar os índices de sustentabilidade nacionais, ao reduzir o impacto do fluxo da distribuição na produção de emissões poluentes, ao mesmo tempo que se estará a colaborar para aumentar o trabalho e potenciar a riqueza nacional. Em quase todos os sectores de actividade encontramos marcas portuguesas de nomeada. Desde a alimentação, passando pelo vestuário e calçado, até aos transportes, mobiliário e máquinas-ferramenta, Portugal possui marcas de referência, pela sua qualidade, inovação e criatividade. Estamos na NASA e na Casa Branca. Partilhamos da intimidade de muitos xeques milionários do Médio Oriente e integramos cenários de Hollywood. Competimos ao mais alto nível nos Jogos Olímpicos e transportamos passageiros na maior parte dos aeroportos internacionais. Revolucionamos no exigente mundo da saúde e completamos colecções no exuberante mundo da moda… Não é só no futebol que temos os maiores ícones portugueses! Não tão mediáticos, em muitas partes do globo encontra-se valor de marca com as cores da nossa bandeira.


Europa

Zona Euro com crescimento tímido e vulnerável Está em curso uma recuperação limitada, mas inconsistente e sujeita a fortes riscos colaterais, tornando o crescimento da zona euro mais fraco do que qualquer outra grande região a nível global. Apesar de uma forte recuperação de alguns indicadores-chave, e de algumas economias a nível individual, tal como a Alemanha, a periferia da Zona Euro vai continuar vulnerável às fraquezas de uma procura endógena e a choques especulativos exógenos.

Análise Embora as 16 economias da Zona Euro sejam bastante diferentes em termos de dimensão, as cinco maiores – Alemanha, França, Itália, Espanha e Holanda – respondem por cerca de 83% do PIB da região. Enquanto a Zona Euro a nível global sofreu uma contracção durante a recessão global, verificaram-se fortes diferenças na dureza dos efeitos em vários países.

Indicadores positivos Depois de 5 trimestre sucessivos de contracção, o crescimento aumentou, com a maioria dos principais indicadores a registar melhorias na segunda metade de 2010 comparativamente com o ano anterior. Como consequência, as previsões têm vindo a ser corrigidas para cima.

procura crescente de bens de investimento da Alemanha, uma tendência que poderá abrandar na Europa mas que deverá manter-se nos mercados emergentes. Confiança. O indicador do sentimento económico da Comissão Europeia subiu para 104,1 em Outubro, o valor mais elevando em 34 meses, e o Índice de Gestores de Compras para os sectores da indústria e serviços na Zona Euro, embora tenha descido ligeiramente, manteve-se acima dos 55, ainda em terreno bastante positivo. No entanto, é possível que estes valores entrem em declínio em 2011, enquanto as medidas de austeridade fazem efeito.

Motivos de alerta

Inflação. Actualmente nos 1,9%, a inflação vai manter-se, durante o próximo ano, num nível abaixo dos 2%.

Durante a contracção global registada em 2009, a Zona Euro foi bastante afectada. A recuperação foi lenta – mesmo assumindo que as previsões de crescimento para 2011 não são demasiado optimistas, o PIB agregado não deverá conseguir recuperar, até finais de 2011, os valores de 2007. Em contrapartida, outras regiões do mundo vão apresentar evoluções entre modestas e elevadas. A escala de recuperação dos níveis extremamente baixos de 2009 será ainda mais acentuada em 2010, tendo em conta as medidas de um pacote de estímulos aplicados na maioria das economias mais desenvolvidas. Consequentemente, o ritmo de desenvolvimento da produção global e do comércio vai diminuir em 2011, levantando problemas para as regiões mais pobres do mundo:

Procura. As encomendas industriais aumentaram, em Agosto, reflectindo acima de tudo a

1. Modelo de crescimento. A fraqueza relativa da tendência de crescimento na UE e na

Crescimento. De acordo com o FMI, o crescimento vai descer dos 1,7% de 2010 para 1,5%, como reflexo do abrandamento previsto para o comércio global e também como consequência de um euro mais forte. Todavia, a expansão poderá ficar-se pelos 0,5%, afirmou o Banco Central Europeu em Setembro. Desemprego. A taxa estabilizou nos 10,1%, com melhorias relevantes na Alemanha.

RESUMO ESTRATÉGICO • Este ano, o crescimento vai reduzir de um valor estimado de 1,7% para um valor tão baixo como os 0,5%. • A tendência para um crescimento divergente vai continuar – a Alemanha vai beneficiar do modelo de crescimento orientado para as exportações, enquanto os países periféricos (Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha) vão debater-se para conseguir manter um crescimento ainda que modesto. • A ênfase numa rápida redução do défice, combinada com taxas de crescimento reduzidas, vai aumentar as vulnerabilidades dos países periféricos face aos mercados obrigacionistas, fazendo com que estes tenham ainda mais dificuldades em se refinanciarem. PERSPECTIVAS 2011

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Europa OPINIÃO

Em defesa do euro Christine Lagarde*

*Ministra da Economia, Indústria e Emprego da França.

P

ara qualquer pessoa que viva num dos 16 Estados-membros da Zona Euro, o estável sucesso do euro é um assunto tanto técnico como emocional, envolvendo tanto a mente como o coração. Considero incontestável que o euro é vital para a Europa, e, na verdade, para a economia mundial. Antes de mais, é necessário lembrar que a ideia de uma Europa unida começou como um projecto para garantir a paz e a democracia entre os europeus. Quando, em 1999, a nova moeda foi introduzida – e mais ainda quando os cidadãos europeus tiveram a primeira oportunidade de a utilizar em Janeiro de 2002 –, esta foi vista como a prova mais tangível e decisiva de que a integração europeia era uma realidade. É quase um slogan: o euro na carteira e a Europa no bolso. Vinte anos depois da eleição do Parlamento Europeu por sufrágio universal em 1979, a introdução do euro marcava a lógica extensão do sonho Europeu. No entanto, também é preciso lembrar que, quando em 2007 a Eslovénia entrou na Zona

Neste estado de emergência, começou a ganhar forma um verdadeiro governo económico europeu, proposto principalmente pela Chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente de França, Nicolas Sarkozy.

©2010/Project Syndicate

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PERSPECTIVAS 2011

Euro, muitas pessoas defendiam que o país estava de certo modo a entrar na “Velha Europa”. Mas Chipre, Malta e Eslováquia seguiram depois o exemplo e adoptaram o euro como a sua moeda. Desde Dublin, na costa do Mar da Irlanda, a Bratislava, no sopé dos Cárpatos, utilizam-se as mesmas moedas e notas, e estas alargam progressivamente as fronteiras da União Europeia. Amanha vão surgir novos membros, tais como a Estónia, que deverá entrar na Zona Euro a 1 de Janeiro de 2011. Os “Pais da Europa” estavam certos ao afirmar que “a Europa não vai ser feita toda de uma vez”, nem a Zona Europa. A nossa moeda única deve

ser vista como um símbolo inspirador – o símbolo de uma Europa vibrante, atraente e, acima de tudo, coesa. A experiência dos últimos meses demonstrou até que ponto a Europa pode ser coesa. Sem surpresas. A história do euro passou a representar o passo seguinte na contínua saga da economia europeia, que tem estado em constante construção desde o Tratado de Roma. O apoio financeiro prestado à Grécia, o novo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, que criámos para alargar as garantias aos Estadosmembros da Zona Euro com dificuldades; e os nossos esforços para conseguir uma regulação financeira mais eficaz são alguns dos exemplos mais recentes da colocação em prática da coesão da Europa. Reconhecidamente, as várias crises que afectam a Zona Euro destacaram – por vezes de forma flagrante – a necessidade de reformar as nossas instituições e a forma como funcionamos. Alguns têm defendido que as instituições da Europa só avançam em tempos de crise. Talvez o mesmo seja válido para a moeda única, que vai ganhar força e importância com os desafios que ultrapassa. Nos últimos meses, quando praticamente estava a sair da mais profunda crise económica e financeira em quase um século, a Zona Europa passou por alguns dos momentos mais difíceis da sua história, embora em termos de finanças públicas a Zona Euro enquanto todo esteja, de longe, bem melhor que os Estados Unidos ou o Japão. Assim que se soube do aumento da crise financeira da Grécia e das dificuldades vividas por outros Estados-membros, as economias da Zona Euro encontraram-se à beira do abismo. Mas a UE reagiu de forma célere e enérgica, com um programa de apoio à Grécia e com um plano de garantia financeira para toda a Zona Euro. Neste estado de emergência, começou a ganhar forma um verdadeiro governo económico europeu, proposto principalmente pela Chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente de França Nicolas Sarkozy. Após o Conselho da Europa de Junho, em conjunto França e Alemanha traçaram algumas soluções possíveis. Surgiram três pontos principais, relacionados com a necessidade de:


Europa

Países da Europa Central e de Leste vão crescer mais em 2011 A recuperação económica será frágil e os esforços para ultrapassar os efeitos da crise vão travar o crescimento e provocar um aumento dos problemas políticos

Análise RESUMO ESTRATÉGICO • As políticas poderão ser menos estáveis à medida que o eleitorado demonstra um “cansaço da austeridade”, agora que a pior fase da crise económica já passou. • Na maioria das economias da Europa Central e de Leste, a recuperação será frágil e vai depender na saúde continuada da maioria dos mercados da Europa Ocidental. • A dívida pública flutuante resultante do boom vai limitar os empréstimos para habitação, embora as empresas devam começar a procurar formais mais fáceis de aceder a financiamento em 2011. • A consolidação orçamental será a principal preocupação dos decisores políticos, embora a abordagem adoptada seja diferente, desde cortes profundos e assumidos a medidas de cariz mais cosmético e temporário.

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PERSPECTIVAS 2011

Até agora, os receios de que a crise económica aumentasse a instabilidade política na Europa Central e de Leste (ECL) demonstraram não ter fundamento. Letónia. De forma incontestável, na Letónia, que sofreu a maior quebra de produtividade da região, o governo de centro-direita foi reeleito apesar dos duríssimos cortes orçamentais de 2009-2010, e das promessas de mais cortes para 2011. Actualmente, a Letónia é citada como um exemplo a seguir pela Grécia e por outros países atingidos pela crise na UE, demonstrando que as acções firmes com vista a controlar o défice orçamental não têm de levar, obrigatoriamente, a uma derrota eleitoral. Estónia. O actual governo de centro-direita parece destinado a ser reeleito em Março, no seguimento do sucesso na manutenção da entrada na Zona Euro e da gradual recuperação económica. Polónia. Noutros locais o cenário político pode ser mais volátil. Na Polónia, apesar do forte desempenho económico durante a crise, a relutância do Governo em tomar decisões pode enfraquecer o apoio popular. Ambos os partidos da oposição tiveram um desempenho mais forte que o esperado nas eleições presidenciais de 2010. Isto aumenta as hipóteses de os partidos actualmente no governo não conseguirem assegurar uma maioria parlamentar depois das eleições de Outubro, reduzindo as probabilidades de reduzção do défice orçamental através da implementação de acções significativas. Existe a possibilidade de os Governos cederem a importantes pressões internas para diminuírem a consolidação fiscal, agora que o pior da crise económica já passou.

Hungria. O ‘cansaço da austeridade” é já visível na Hungria, onde o Governo Fidesz assumiu o mandato em meados de 2010, com a promessa de uma quebra nas políticas inspiradas no FMI e implementadas pelo Governo de orientação socialista. Actualmente, Fidesz está a tentar reduzir o défice orçamental com uma série de medidas oportunas que visam aumentar as receitas de empresas de capital estrangeiro para a evitar ter de voltar atrás com as promessas eleitorais. Roménia. A resistência social em cortar os salários e as pensões tem vindo a crescer e parece pouco provável que o actual Governo sobreviva a 2011, a não ser que a eco-


Europa

Economia russa sensível a factores externos A recuperação está em curso, mas as perspectivas económicas da Rússia continuam altamente sensíveis a factores externos, para além do controlo dos políticos. A consolidação orçamental continuará difícil, apesar do reduzido nível da dívida e das reservas substanciais do país.

Análise Existe um consenso emergente entre os analistas e os políticos de que as perspectivas de curto prazo da Rússia são moderadamente positivas. No entanto, o cenário político – particularmente a política orçamental e a reforma institucional – é confuso.

Perspectivas de crescimento O Ministério do Desenvolvimento Económico é a principal fonte das projecções governamentais para a economia. A perspectiva actual para o PIB é uma taxa de crescimento consistente de 4% ao ano, de 2010 a 2012, com um ligeiro impulso para 4,5% em 2014. Isto é modesto em comparação com a taxa média dos anos de “boom” de 1999 a 2007. Também é modesto em comparação com as perspectivas para o Brasil, a China e a Índia. Contudo, fica confortavelmente acima das projecções para a grande maioria dos países da OCDE (ver Perspectivas 2011: Economia global).

Cuidados pós-crise Como em muitos outros países, empresas e particulares estão a agir com cautela, à medida que emergem da crise: • De acordo com o Ministério da Economia, o crescimento anual de 5% nas vendas a retalho, este ano, será repetido no próximo exercício. • Quanto ao investimento, baixou dramaticamente em 2009 e apenas vai recuperar ligeiramente em 2010. 58

PERSPECTIVAS 2011


Estados Unidos da América

Emprego tende a recuperar nos Estados Unidos Os Estados Unidos da América representam um quinto da economia mundial e os seus mercados de equities correspondem a cerca de metade dos mercados globais de equities em termos de valor. O destino da economia global, se esta se dirige para uma recuperação forte e sustentada em 2011, se vai passar por crescentes pressões inflacionistas, ou se, em contrapartida vai enfrentar deflação e um abrandamento da economia, vai depender, em grande medida, das perspectivas de crescimento dos EUA e das políticas adoptadas para enfrentar os desafios económicos do país.

Análise

• QE2.

A forte recessão de 2008-2009 terminou, oficialmente, em Junho de 2009, e a economia atravessou uma melhoria promissora em finais de 2009 e inícios de 2010. No entanto, houve uma ligeira recaída no Verão de 2010, com o PIB real a ascender aos 1,7% e 2,0% (taxas anuais) no segundo e terceiro trimestres, respectivamente:

A Reserva Federal tem estado tão preocupada com o segundo aspecto do seu mandato de política polifacetada – promover a estabilidade de preços e o ‘emprego total’ – que começou a implementar uma segunda ronda da estratégia QE2 (“no valor de 600 mil milhões de dólares, injectando liquidez na economia de modo a promover a redução das taxas de juro a longo prazo. Ao analisar o estado moribundo da economia, muitas economias tradicionais e os analistas de Wall Street prevêem mais do mesmo para 2011 – mas esta previsão poderá ser demasiado pessimista.

• Mercado de trabalho fraco A taxa de desemprego atingiu os 10% em finais de 2009 e tem-se mantido, aproximadamente, nos 9,6% durante a maior parte de 2010. O crescimento do emprego no sector privado aumentou a ritmo lento – praticamente um terço da velocidade das ‘recuperações normais’.

’Jogo da corda’. A melhor forma de visualizar actualmente a economia dos EUA é vê-la envolvida num poPERSPECTIVAS 2011

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Estados Unidos da América OPINIÃO

O futuro do dólar Martin Feldstein*

*Professor de Economia em Harvard, foi Presidente do Conselho de Assessores Económicos no governo do Presidente Ronald Regan e ex-Presidente do Gabinete Nacional de Investigação Económica dos EUA.

A

política económica da América deseja um dólar mais competitivo dentro e além-fronteiras. Um dólar mais forte a nível interno é um dólar que mantenha o poder de compra graças a uma baixa taxa de inflação. Um dólar competitivo além fronteiras significa que os outros países não vão implementar políticas que, de forma artificial, diminuam o valor das suas moedas de forma a promover as exportação e reduzir as importações. O objectivo de ter internamente um dólar forte tem sido perseguido pela Reserva Federal desde que Paul Volcker atacou a inflação no início dos anos 80. Embora, oficialmente, os Estados Unidos não tenham um objectivo em termos de inflação, os mercados financeiros entendem que as intenções da Reserva são de uma taxa de inflação próxima dos 2%.

O maior risco para a manutenção do papel do dólar é a grande e crescente dívida pública dos EUA. Depois de ter oscilado entre 25% e 50% do PIB no último meio século, os recentes défices comerciais fizeram com que a dívida ascendesse aos 62% do PIB.

©2010/Project Syndicate

E, enquanto a lei obriga a Reserva a garantir um crescimento sustentável bem como uma inflação baixa, os responsáveis entendem que o crescimento sustentável implica uma estabilidade de preços. Durante décadas, os membros do Tesouro dos EUA insistiam que “Um dólar forte é bom para a América”. Mas este lema nunca levou oficialmente a uma acção dos EUA nos mercados internacionais. O Tesouro não intervém nos mercados cambiais para proteger o dólar, e a Reserva não

aumenta as taxas de juro com esse objectivo. Pelo contrário, os EUA dizem aos governos estrangeiros que um eficaz sistema de trocas implica não só a remoção de barreiras comerciais formais mas também a ausência de políticas que visem fazer com que o valor das moedas gere grandes excedentes comerciais. Nos últimos anos, países de todo o mundo têm acumulado grandes volumes de moeda estrangeira, principalmente a China com mais de 2 triliões de dólares, mas incluindose também centenas de milhares de milhões de dólares detidos pela Coreia, Taiwan, Singapura, Índia e pelos países produtores de petróleo. A maioria destes fundos está, actualmente, investida em títulos em dólar. O dólar americano é, e vai continuar a ser, o maior investimento cambial desses países, o que reflecte a importância do mercado de capitais dos EUA e o panorama favorável das políticas governamentais dos EUA. Estas grandes reservas de moeda estrangeira já não são mantidas com o intuito de amortecer desequilíbrios comerciais temporários. Embora alguns dos fundos tenham esse propósito e tenham de ser mantidos na sua forma mais líquida, a maioria são fundos de investimento que são geridos de forma a equilibrar o risco e o retorno financeiro. Isto significa que, ao longo do tempo, estes governos vão tentar diversificar os seus portefólios, afastando-se do actual domínio dos investimentos em dólar. Actualmente, o euro é a principal alternativa ao dólar. Embora a agitação na Europa e as incertezas face ao euro tenham causado algumas trocas de euros por dólares, algures no futuro vai voltar-se a verificar o reequilíbrio a favor do euro. Os países com grandes reservas estão, actualmente, com excesso de dólares, e o seu esforço para equilibrar o risco vai dar valor ao euro, fazendo com que se possa elevar face ao dólar. Há algumas outras moedas que detêm actualmente pequenas proporções desses portefolios, e assim continuará a ser no futuro. O maior risco para a manutenção do papel PERSPECTIVAS 2011

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Estados Unidos da América George Bush fez balanço de 8 anos

“Sinto-me confortável com o meu lugar na história” George W. Bush, que publicou recentemente a sua autobiografia onde apresenta as suas opiniões sobre uma presidência controversa, concedeu uma entrevista a Andrew Roberts.

A última vez que vi George W Bush foi num jantar numa sala de jantar familiar na Casa Branca, pouco antes de deixar funções. A con-

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versa começou com o ex-presidente a recordar como nessa mesma tarde a sua administração tinha decidido nacionalizar as empresas de


Ásia

China reforça aposta no desenvolvimento e prevê crescer 10% A China vai ser testada com um ano de incerteza externa e com grandes desafios relacionados com uma importante reorientação das políticas internas. O desempenho da China nestas circunstâncias terá um importante impacto na recuperação global.

Análise Depois do que o Primeiro-Ministro da China Wen Jiabao denominou de “o ano mais difícil” (2009) e “o ano mais complicado” (2010) no desenvolvimento económico da China neste novo século, 2011 vai demonstrar ser o ano mais exigente. A China tem de tentar manter o momento de crescimento num ambiente mundial de crescimento fraco, tentando definir novas orientações para os próximos cinco anos (de acordo com o 12º Programa para Cinco Anos)

Economia em curso Estima-se que, no próximo ano, a economia se mantenha robusta. • Vai crescer cerca de 10%. • A inflação será mais volátil que este ano, como reflexo do excesso de liquidez e das incertezas políticas num ambiente global de incertezas. Espera-se que as exportações cresçam moderadamente, e o excedente comercial continue a diminuir. •A taxa de câmbio deve subir ligeiramente. As autoridades vão manter o actual re-

gime de taxa de câmbio, recusando as pressões políticas externas mais extremas.

Mudanças de paradigmas Em Outubro, o Comité Central do Partido Comunista Chinês anunciou em plenário um novo paradigma de pensamento, que inclui uma mudança em termos de modelo e de estratégia: • Modelo de desenvolvimento. A doutrina do anterior líder Deng Xiaoping de “colocar a economia no centro de todo o trabalho governamental” foi abandonada. O anterior e simples modelo “de crescimento” foi substituído por um modelo mais abrangente de “desenvolvimento” que inclui tanto aspectos económicos como aspectos sociopolíticos. Passou a dar-se mais atenção à igualdade salarial, à distribuição dos serviços sociais, à redução dos desníveis entre o mundo rural e urbano e à protecção ambiental. • Estratégia de procura. O Governo está agora, oficialmente, a apelar a uma transição de uma estratégia conduzida pelos investimentos e exportações para uma estratégia conduzida pelo consumo e pelos investimentos.

RESUMO ESTRATÉGICO • O PIB vai crescer cerca de 10% mas a inflação será mais volátil que em 2010. • Pequim enfrentará mais pressões para alterar a sua actual política de taxa de câmbio, que apenas irá abandonar em circunstâncias extremas. • O impacto do 12º Programa de Cinco anos será, a longo prazo, positivo, mas poderão ser necessário alguns ajustes a curto-prazo. PERSPECTIVAS 2011

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Médio Oriente e África

Estados do Golfo em fase de acalmia política e económica Depois de dois anos economicamente turbulentos, as monarquias do CCG podem esperar um ano calmo e de crescimento consistente, em 2011, que, exceptuando uma maior crise internacional na região, parece improvável assistir a grandes problemas políticos ou económicos.

Análise Não são de esperar grandes tempestades políticas no Conselho de Cooperação do Golfo, em 2011. No entanto, alterações por via de sucessões são possíveis, particularmente na Aráb i a

Saudita, em Omã e Abu-Dhabi. Enquanto o sultão de Omã, Qaboos bin Said Al-Bu Said, está com uma saúde razoável, o problema da sucessão coloca-se mais noutras regiões:

Arábia Saudita O reino tem um acordo estável, através do qual o sultão coroado (82) vai suceder ao rei Abdallah (86); mas se morrer antes do rei Abdallah, o ministro do Interior e segundo primeiro-ministro príncipe Nayef (76) deverá tornar-se o novo príncipe coroado. O verdadeiro desafio é chegar a acordo na transição para a próxima geração de príncipes. Contudo, este é um problema de médio prazo, o qual não deverá colocarse durante cinco ou mais anos. No curto prazo, o maior desafio é a paralisia causada pela potencial sucessão de príncipes com fraca saúde. Abu Dhabi O xeque Kkalifa bin Zayed ad-Nahyan (62) parece ter graves problemas de saúde. O seu irmão, o príncipe coroado xeque Mohammed (49) está na linha de sucessão para governar Abu Dhabi e ser presidente dos Emiratos Árabes Unidos (EAU). No entanto, há a possibilidade de rivalidades

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Internacional

Dilma Rousseff pretende consolidar ciclo de expansão no Brasil A 1 de Janeiro Dilma Rousseff será empossada como a primeira presidente mulher do Brasil. O seu primeiro ano de mandato deve trazer tanto elementos de continuidade como de mudança. Espera-se que ela trabalhe sobre a anterior política social e que se centre na consolidação do crescimento económico. No entanto, o seu estilo pessoal diferente, a experiência administrativa e o desejo de deixar a sua própria marca no governo devem também traduzir-se em algumas alterações nas prioridades políticas e nas suas respostas à evolução global e contextos nacionais.

Análise

RESUMO ESTRATÉGICO • O crescimento deverá atingir cerca de 7,5% em 2010 e 4,5% em 2011, mas os entraves infra-estruturais vão continuar a provocar constrangimentos. • A Presidente eleita Dilma Rousseff terá uma abordagem mais tecnocrata, mas permanece incerta a sua capacidade de gerir os requisitos políticos. • Vão crescer as preocupações relacionadas com a inflação se o Governo preferir não reduzir os elevados níveis de gastos públicos.

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O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva referiu, recentemente, que estava a passar à presidente-eleita Dilma Rousseff um país em muito melhor forma do que aquele que encontrou quando assumiu pela primeira vez funções em 2003. Este ano deve terminar com crescimento de aproximadamente 7,5% e um boom no consumo interno; um excedente primário de 3,3% do PIB; diminuição dos níveis de dívida pública em 41,0% do PIB; investimento directo estrangeiro (IDE) de mais de 30 mil milhões de dólares; um excedente comercial de 15 mil milhões de dólares, e níveis saudáveis de reservas internacionais, níveis recorde de baixo desemprego, e salários a atingir mais de 62% do PIB. No entanto, ainda há uma série de temas que requerem atenção urgente, incluindo as pressões inflacionárias (que se estimam em cerca de 5,8% no final do ano, muito acima do objectivo de 4,5%), elevadas taxas de juro, e uma carga fiscal acima dos 36% do PIB. Outros problemas incluem a má qualidade geral dos serviços públicos, o crescente défice de conta corrente, o fraco sistema educativo e a falta de trabalhadores qualificados, escassez de investimento e a ameaça de uma eventual crise de infra-estruturas.

Panorama político As perspectivas do Brasil para 2011 serão coloridas pela capacidade de Rousseff de impor a sua liderança no Partido Trabalhista (PT) e pelos seus parceiros da coligação (principalmente o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB). Não está ainda claro até que ponto ela será adepta de gerir o braço-de-ferro político que se espera


Energia

Christophe de Margerie, Presidente da Total

A energia mais económica continua a ser o petróleo Christophe de Margerie, Presidente da Total, prefere não ver os problemas da indústria a preto e branco, escreve Rowena Mason. Não é suposto os presidentes executivos das grandes multinacionais do petróleo parecerem um Pai Natal, mas Christophe de Margerie, que é carinhosamente conhecido como Mr Moustache (Sr. Bigodes), é uma excepção a quase todos os estereótipos dos homens do petróleo. O presidente e presidente executivo da Total esteve em Londres para a principal conferência anual da indústria, fazendo uma pausa de uma nação à beira de uma crise de petróleo. Os trabalhadores das refinarias francesas estavam em greve, em protesto contra as alterações que o Governo prevê implementar nas reformas. De Margerie revoltou-se contra os trabalhadores por “misturarem o petróleo com as reformas”

O seu presidente executivo tem ponto de vista que poucos estão dispostos a admitir que partilham; É defensor da OPEP

mas admitiu que é “um motivo de preocupação para os fornecedores” o facto de não poderem fazer muito contra a situação. Desde então os motoristas começaram a armazenar petróleo, há bloqueios nas estradas, as greves fecharam muitas gasolineiras de Paris e os seus aeroportos. Actualmente, De Margerie parece relativamente confiante face ao problema. “O trânsito inglês é pior”, brinca. A Total, o gigante energético avaliado em 122 mil milhões de dólares, encontra-se sozinho entre as principais petrolíferas por diversos motivos O seu presidente executivo tem também um ponto de vista que poucos dos seus colegas estão dispostos a admitir que partilham. É defensor da OPEP, o cartel do petróleo cujos 116

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membros incluem a Arábia Saudita e a Nigéria, insistindo que esta instituição “já não se metemem jogos políticos”. Opõe-se a embargos sobre o comércio com regimes impopulares e acredita que os especuladores contribuem para os elevados preços do petróleo. E, ainda mais controversamente, acredita que é benéfico espalhar a mensagem que os preços do petróleo vão disparar. De Margerie coloca café na sua chávena, mas esta permanece praticamente intacta, à medida que começa a falar num fluxo de consciência sobre os diversos problemas que afectam a indústria petrolífera. “Não nos agrada ter de alertar para os preços do petróleo, mas precisamos de fazê-lo”, diz num tom sério. “Se continuarmos assim, vamos enfrentar problemas reais de acesso à energia. Mais vale dizê-lo agora do que depois sermos confrontados com uma escassez, como aconteceu em 2006”. E existe a probabilidade de o derrame de petróleo da BP ocorrido no Golfo do México se traduzir em diferentes tipos de restrições – restrições regulatórias – que também podem ser preocupantes para o fornecimento energético a nível mundial. “Foi mesmo, mesmo um choque para todos nós”, exclama De Margerie com um suspiro. “Mas não penso que já tenha terminado. Temos de estar no mar profundo porque é lá que se encontra o petróleo e o gás. Temos de desenvolver locais mais difíceis”. A Total não tem uma presença marcante no Golfo dos EUA, pelo que o impacto directo do derrame foi “muito limitado”. Todavia, acrescenta: “Estamos a voltar à ideia do que isto representa para todos nós em termos de alteração do comportamento”. Refere-se à ideia de uma regulação global mais central para a perfuração em mar profundo. “É, verdadeiramente, um problema do Golfo do México. A indústria não pode ser, subita-


Gestão

Mulheres cada vez mais no topo de gestão Apresentamos o perfil de algumas das principais figuras da lista anual da “Financial News” que classifica as 100 mulheres mais influentes nos mercados financeiros da Europa. Elas são algumas das principais directoras financeiras. Muitas delas mantêm-se discretas, pelo que os seus nomes podem muito bem ser pouco familiares.

Mais de um quinto destas mulheres ocupa o cargo de presidente executivo, um terço são directorasgerais, 10 são responsáveis regionais e 15 são chefes de departamento, as restantes são CEO, directoras financeiras, responsáveis de investimento ou directoras de operações. Trabalham em

Aquelas que se encontram na lista querem ser valorizadas pelo seu forte trabalho e contributo, e não apenas por serem mulheres. Tal como referiu Kim McFarland, responsável de operações do Investec: “Quero que as pessoas no meu ambiente de trabalho estejam lá por serem boas, não por causa de quem conhecem ou do seu género”. 118

PERSPECTIVAS 2011

bancos de investimento, gestão de activos, “private equity”, fundos de pensões, regulação, gestão da riqueza, “hedge funds” e especulação. Este ano, a lista das 100 mulheres mais influentes nos mercados financeiros da Europa, compilada pela “Financial News”, uma publicação associada do “The Sunday Times”, reflecte o permanente esforço da indústria relativamente à regulação, o crescente papel da governação corporativa, bem como o importante trabalho de reestruturação das empresas que foi desenvolvido após a crise financeira. Mas a compilação da FN100 Mulheres mais Influentes não está isenta de controvérsia. Por um lado, é importante referir e reconhecer os feitos alcançados por mulheres de topo que são vistas como exemplos a seguir. Por outro lado, aquelas que se encontram na lista querem ser valorizadas pelo seu forte trabalho e contributo, e não apenas por serem mulheres. Tal como referiu Kim McFarland, responsável de operações do Investec: “Quero que as pessoas no meu ambiente de tra-


Gestão

Inovação deve estar enquadrada com as necessidades dos clientes Menos de metade dos lançamentos de novos produtos, efectuados ao longo dos últimos três anos, foram bem sucedidos, apesar de ser cada vez maior o apoio dos executivos à inovação e aos projectos inovadores – revela o estudo Collaborating for Innovation, elaborado pela Capgemini. Uma das principais razões apontadas, como responsável deste cenário, é a incapacidade de responder às necessidades dos clientes, devido à falta de perspectiva e visão. Dado que a colaboração com os clientes foi apontada como sendo uma das áreas menos desenvolvidas pelos fabricantes, é evidente o papel preponderante que a inovação colaborativa irá desempenhar no sucesso da indústria transformadora.

A

s principais conclusões da edição de 2010 revelam a importância cada vez maior e o papel absolutamente determinante e transversal da inovação, enquanto peça chave das estratégias de crescimento das empresas. O estudo da Capgemini analisa a evolução das principais tendências na inovação de produtos e serviços em toda a indústria, a partir das conclusões da última edição deste estudo realizado em 2008. Após um período dominado pela redução de

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PERSPECTIVAS 2011

custos, como principal prioridade, a atenção dos fabricantes volta-se agora para o desenvolvimento de estratégias de crescimento. Como resultado, a inovação lidera as estratégias de crescimento, ganhando uma preponderância cada vez mais evidente, e afirma-se como o principal factor diferenciador e o driver da competitividade. Estas conclusões são corroboradas pelos resultados divulgados pelo estudo, que revelam que 65% (50% em 2008)


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