Viagens sem julgamentos

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Apesar das referências a diferentes geografias, as personagens principais são as pessoas com que o autor se cruzou e procurou observar sem quaisquer julgamentos.

"... a razão da magia das palavras do Rafael vem da sua alma. O carinho que sente pelas pessoas e a atenção que lhes dá, seja quem for, quando elas lhe contam as suas vidas, as suas ideias e os seus gostos." "Ler as suas histórias é como estar a assistir a um filme que não queremos que acabe e do qual não conseguimos desviar o olhar. A sua escrita faz isso mesmo, é uma espécie de máquina que nos transporta para um momento que nem sequer vivemos, mas que conseguimos imaginar muito detalhadamente." Mariana Campos Pereira

ISBN 978-989-768-596-5

www.vidaeconomica.pt ISBN: 978-989-768-596-5 Visite-nos em livraria.vidaeconomica.pt

9 789897 685965

VIAGENS SEM JULGAMENTOS

***

Rafael Campos Pereira

Este livro reúne um conjunto de crónicas com o relato de detalhes e episódios reais vividos pelo autor em viagens por si efetuadas nos cinco continentes.

Rafael Campos Pereira

VIAGENS SEM JULGAMENTOS Rafael Campos Pereira, 56 anos, é casado e pai de 4 filhos. Advogado, dirigente empresarial e conferencista, é presença assídua em inúmeros órgãos de comunicação social, onde escreve sobre um vasto conjunto de temas. Esta é a sua primeira obra publicada.


Ao meu Pai, que me ensinou a gostar de livros e com quem fiz a minha primeira viagem


ÍNDICE

9 PREFÁCIO

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1 – O boletim de vacinas

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2 – O evangelista

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3 – Alma cazaque

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4 – Ela só queria dormir

27

5 – A dúvida

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6 – O segurança

33

7 – O casamento

37

8 – O balneário

41

9 – Um pedaço de croissant

45

10 – Uma metáfora deliciosa

49

11 – A garrafa de champagne

53

12 – O templo

57

13 – O desabafo

61

14 – Nem sequer soube da nossa existência

65

15 – Aeroportos

67

16 – Piqueteros e cacerolazos

71

17 – A Ópera de Sydney


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18 – O telemóvel

77

19 – Nação valente

81

20 – Duas mulheres em Argel

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21 – Só se fosse para dizer bom dia ou boa noite

89

22 – Irmãos estrangeiros

91

23 – Mais difícil de ler do que os caracteres cirílicos

95

24 - Os dias de Banguecoque têm sempre 24 horas

99

25 – Entre o Pacífico e as Caraíbas

103

26 – Treze anos depois

107

27 – A sombra de D. Mario

113

28 – Sem preconceitos nem segredos

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29 – Um bistrot e uma brasserie

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30 – Uma festa portuguesa, com certeza

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31 – Ver para não esquecer


PREFÁCIO Desde que tenho memória, lembro-me do Rafael a planear viagens, a fazer viagens e a relatar as histórias vividas nessas viagens. Conta-as sempre, independentemente do número de vezes, com uma emoção inexplicável, que nos faz sentir sempre como se estivéssemos lá com ele – a respirar o mesmo ar, a pisar o mesmo chão, a falar com as mesmas pessoas. O humor com que as conta faz-nos rir ao longo dos relatos e, apesar do sentimento de presença, nesse momento passado, noutra cidade e noutro país, repentinamente também nos enchemos de um sentimento de pena por não termos estado lá fisicamente. Nas palavras utilizadas pelo Rafael consegue sentir-se o seu amor pela viagem: conhecer culturas novas, ouvir pessoas diferentes, ver finalmente aquilo com que até aí sonhava. Existe uma energia alucinante que nos contagia, que nos dá vontade de pegar numa mala, ir para o aeroporto e fazer exatamente o mesmo. Mas a razão da magia das palavras do Rafael vem da sua alma. O carinho que sente pelas pessoas e a atenção que lhes


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dá, seja quem for, quando elas lhe contam as suas vidas, as suas ideias e os seus gostos. Quando era mais nova, confesso que ficava envergonhada quando o Rafael falava com toda a gente, fazendo aquilo que eu achava serem “perguntas a mais”, mas rapidamente percebi como essas pessoas ficavam contentes por alguém as querer realmente ouvir. Imagino como deve ser estar simplesmente a servir um almoço a um estrangeiro desconhecido, num dia normal, e de repente estar às gargalhadas a falar sobre política, futebol ou sobre o país; vejo a surpresa nas caras deles quando veem a cultura do Rafael e como ele realmente quer ouvir o que eles têm para contar. São estes detalhes que tornam os relatos do Rafael mais cativantes, não havendo outra palavra se não esta para descrevê-los. Ler as suas histórias é como estar a assistir a um filme que não queremos que acabe e do qual não conseguimos desviar o olhar. A sua escrita faz isso mesmo, é uma espécie de máquina que nos transporta para um momento que nem sequer vivemos, mas que conseguimos imaginar muito detalhadamente. Era inevitável que, em algum tempo da sua vida, o Rafael publicasse um livro. Mas tinha de ser um livro como este. Um livro em que consegue conciliar precisamente as 3 coisas que mais o encantam na vida: as viagens, a literatura e as pessoas. A propósito: acho que perceberam que o Rafael é o meu pai. E eu gosto muito que assim seja. Mariana Campos Pereira


1 O BOLETIM DE VACINAS Quando desci as escadas do avião que me trazia pela segunda vez na vida a Luanda não tive tempo de me inebriar novamente com o cheiro da humidade africana. Estava empenhado em vislumbrar o célebre limpa-neves cuja compra teria engordado em comissões os bolsos de alguns membros da nomenclatura média do MPLA. Garantiam-me que o bólide estava perdido no aeroporto de Luanda e eu queria tentar confirmar com os meus olhos as evidências de tão descarada corrupção. Infelizmente ainda não foi dessa que o consegui fazer. Sentia-me responsável pelos meus Amigos Jose Maria e Javier, dois espanhóis de Vigo que faziam então a sua primeira incursão em território africano e que tinham desembarcado uns minutos antes de mim. Não os queria perder de vista. Inquietava-me particularmente a situação do Jose Maria, o qual tinha aversão a agulhas e recusara tomar as vacinas que as autoridades de saúde angolanas determinavam como obrigatórias para todos os estrangeiros que ousassem franquear as suas fronteiras.


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Quanto ao Javier não deveria haver problemas: sujeitara-se em Vigo aos cuidados que me haviam sido prestados no Porto e pelos mesmos 25 euros que eu desembolsara para igual efeito era agora orgulhoso portador de um boletim internacional de vacinas. Quando entrei na gare do aeroporto foi-me fácil descobri-los. Eram os dois que estavam em redor do homem de bata branca e expressão triunfal, com alguns passaportes europeus na mão direita. Um deles era o de Jose Maria e o delegado de saúde estava feliz com as perspectivas de negócio que a manhã lhe parecia oferecer. Que se passa pá? E ele: pois é, portuga, o teu amigo não tem boletim de vacina! Não pode ser, tem que tomar! Expliquei-lhe que o Jose Maria era cidadão espanhol e que tinha uma terrível alergia a vacinas. Olha que se não tens juízo, vais ter aqui amanhã o Embaixador de Espanha a moer-te a porra da pinha. Prossegui a minha alegação, sugerindo a aplicação da multa devida, mas o tipo era tarimbado e não se desmanchava. Fez-nos esperar até ao fim do desembarque e só então se dispôs a abrir o jogo. Vamos lá então tratar do pagamento da multa! Conduziu-nos por um corredor escuro e malcheiroso ao longo do qual se perfilavam os rostos apreensivos de alguns eslavos e de muitos congoleses. Ao que parece, todos eles com as vacinas indispensáveis em falta. O Jose Maria não evitou uma gota de suor quando percebeu os contornos daquela operação: uma única agulha do tamanho de um bacamarte iria percorrer os braços de todos os prevaricadores. Assim mesmo. A seco! Fomos em seguida enfiados num quarto ainda mais fedorento, onde o delegado de saúde nos apresentou ao seu chefe Waldir. Cumpridos os salamaleques, martelei insistentemente os mesmos argumentos já anteriormente expendidos em primeira instância, invocando a alergia do Jose Maria e reclamando a apli-


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cação da multa. Enquanto me ouviu o Waldir foi preenchendo lentamente uma caderneta que me pareceu familiar. Concluída a operação, estendeu-me um papel manuscrito, dobrado em dois, onde constava o valor da multa. Entregámos-lhe os 20 euros fixados e em troca ele ofereceu-nos o novo boletim internacional de vacinas do Jose Maria. Exactamente igual ao que eu trouxera do Porto e ao que o Javier transportara desde Vigo. Com a importante particularidade de estar antecipadamente preenchido, poupando o Jose Maria à maçada da vacinação. Entretanto, aliviado com o sucesso da operação, o Waldir não resistia a uma lição de moral e civismo: senhor Jose Maria, eu também sou alérgico a vacina. Mas tem de haver formalidade! Por seu turno, o meu amigo Jose Maria exultava de satisfação. Tinha um boletim exactamente igual aos que o Javier e eu próprio tínhamos obtido na Europa. Com duas vantagens inequívocas: cinco euros de poupança e duas vacinas a menos no lombo!

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31 VER PARA NÃO ESQUECER Confesso que estava realmente impressionado com a forma objectiva e directa com que aquela mulher bósnia me narrava os acontecimentos ocorridos vinte anos antes, durante aquele que foi o mais longo conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial. A Guerra da Bósnia durou mais de três anos, prolongando-se até 1995, e foi palco de atrocidades inomináveis. Amina viveu-a entre os 12 e os 15 anos e tinha ainda cravados alguns vestígios de sofrimento. Apesar de tudo, Amina irradiava um ar de bondade quando me descrevia uma das muitas investidas feitas contra os muçulmanos de Mostar. Apontou para as montanhas em frente ao Hotel Kriva Cuprija e explicou que foi de lá que desceram as milícias armadas que atacaram a cidade. Sérvios?, perguntei com naturalidade forçada. Na realidade, dessa vez eram croatas, esclareceu ela tranquilamente, com um esboço de sorriso nos lábios.


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Amina perdeu muito naquele dia. Família, amigos e uma grande parte da sua inocência. Foi também nesse dia que viu ruir a Stari Most, a ponte otomana que desde o século XVI unia as duas margens do rio Neretva e aproximava os diferentes povos da cidade. Ela própria ainda hoje não sabe como foi possível sobreviver ao massacre e à estupidez de uma guerra incompreensível, conduzida desde o início pelas vísceras sanguinárias de três irmãos desavindos. Mostar é hoje partilhada por croatas e muçulmanos de nacionalidade bósnia e faz parte da Federação Croata-Muçulmana. Subsistem também alguns bósnios de etnia sérvia mas na realidade a maioria destes constitui a outra parte do país, entrincheirada na República Srpska. Aparentemente as feridas entre croatas e muçulmanos estão pelo menos anestesiadas. Parecem viver em harmonia e Mostar é um bom exemplo disso. Não se vislumbra um resquício de tensão. A mítica Ponte Velha – a Stari Most - foi reinventada em 2004 dando uma nova energia à cidade e recuperando o fulgor do belíssimo centro histórico. Mas o mais tocante é que, com a reconstrução da ponte e das vielas adjacentes, foi possível reerguer o espírito aberto e tolerante de Mostar. Não obstante, a ressurreição de Mostar não foi feita à custa de lixo escondido debaixo do tapete. Pelo contrário, há marcas de balas em muitas paredes e destroços de muitos edifícios que permanecem por arrasar. Continua tudo bem visível, para que ninguém esqueça o que se passou naqueles anos horríveis. Eu tive o privilégio de ver para não esquecer. Em Mostar, com os meus filhos: o Nuno, o Gonçalo, o Bernardo e a Mariana.


Apesar das referências a diferentes geografias, as personagens principais são as pessoas com que o autor se cruzou e procurou observar sem quaisquer julgamentos.

"... a razão da magia das palavras do Rafael vem da sua alma. O carinho que sente pelas pessoas e a atenção que lhes dá, seja quem for, quando elas lhe contam as suas vidas, as suas ideias e os seus gostos." "Ler as suas histórias é como estar a assistir a um filme que não queremos que acabe e do qual não conseguimos desviar o olhar. A sua escrita faz isso mesmo, é uma espécie de máquina que nos transporta para um momento que nem sequer vivemos, mas que conseguimos imaginar muito detalhadamente." Mariana Campos Pereira

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