A Aventura do Delfim

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Delfim Texto Mafalda Moniz | Ilustraçþes Vanessa Branco



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Delfim Texto Mafalda Moniz | Ilustraçþes Vanessa Branco


Título A Aventura do Delfim Autoras Mafalda Sousa Moniz, texto Vanessa Correia Branco, ilustrações Revisão científica Prof.Doutora Ana Neto (Universidade dos Açores-Dep.o Biologia) Revisão de Língua Portuguesa Maria Brandão Edição Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores / Ecoteca da Lagoa Tiragem 1000 exemplares (1ª edição) Impressão Nova Gráfica, Lda. Depósito Legal 303600/09

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Prefácio A Aventura do Delfim é um livro dirigido aos mais pequeninos, resultado da contagiante curiosidade científica e carinho pelos mais novos que caracterizam a sua autora. Licenciada em Biologia/Geologia pela Universidade dos Açores e Directora da Ecoteca da Lagoa, a Mafalda Sousa Moniz interessa-se por questões de foro ambiental, particularmente no que diz respeito aos mares dos Açores. Através das páginas deste livro é visível o seu amor pelo ambiente marinho. É gratificante folhear esta obra, cujos conteúdos e concepção gráfica oferecem às crianças uma forma aliciante de entendimento da beleza e riqueza da vida marinha destas ilhas localizadas a meio do Atlântico. Neste livro divertido e colorido, com um golfinho como actor principal, faz-se ainda uma reflexão sobre a fragilidade da diversidade biológica marinha e sobre os perigos que o lixo no mar representa para os organismos que nele vivem. Congratulo a Mafalda por esta iniciativa que, por certo, irá sensibilizar os seus pequenos leitores para a necessidade de conservação do ambiente marinho açoriano. Ana I. Neto Secção de Biologia Marinha Departamento de Biologia - Universidade dos Açores Dezembro 2009


Certo dia, nas ilhas dos Açores, a cerca de 1 milha da costa, ouvia-se, em linguagem de golfinhos: – Cantar, cantar, para todos alegrar! Saltar, saltar, para todos respingar! Pois bem, era o Delfim, um golfinho-comum com 5 anos, que andava por ali… Um golfinho é, por natureza, um mamífero brincalhão e bem-disposto. Mas, meus amigos, este Delfim abusava… e de que maneira!

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Todos os companheiros do grupo o conheciam bem. Por isso mesmo, já não valorizavam algumas das suas brincadeiras, mas também não hesitavam em apontar-lhe um grande problema: a sua grande curiosidade. Delfim queria saber, sempre, o porquê de tudo, tal como os meninos e meninas de 5 anos.

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Todos os dias se ouvia: – Nadar, nadar, para tudo explorar! Procurar, procurar, para tudo investigar!

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O Delfim era um golfinho feliz. Tudo lhe corria bem. Vivia com os pais, tinha alimento em abundância – principalmente lulas e chocos – e brincava sempre que lhe apetecia.

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Um belo dia, perguntou à mãe, Dona Delfinedea: – Mãe, como é a vida dos animais junto à costa? – Pois bem, filho, por vezes, é uma vida difícil, devido a algumas asneiras que os humanos fazem…

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– Que asneiras são essas? – Olha, Delfim, nunca me aproximei muito da orla costeira, porque nós, golfinhos, podemos ser arrojados para praias e costas rochosas, mas o que contam os teus avós é que alguns humanos descuidados deitam o seu lixo ao mar. – Oh, mãe, atirar o lixo ao mar é um grande disparate, não é?

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A mĂŁe respondeu afirmativamente e, depois deste diĂĄlogo, o nosso golfinho-comum compreendeu melhor o que a sua amiga Tita lhe tinha contado, na semana anterior, sobre os perigos do lixo no mar.

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A Tita era a sua amiga tartaruga-careta. Quando se encontravam tinham longas e interessantes conversas, pois, sendo a Tita mais velha do que o Delfim, tinha sempre resposta para as suas perguntas. Foi assim que, num desses encontros, contou ao amigo o sucedido à sua prima Doroteia. – Sabes, Delfim, a minha querida prima Doroteia esteve com muitas dores de barriga e não sabíamos como a ajudar. De repente, ela vomitou e passou-lhe a indisposição.

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– O que tinha ela? – Nem imaginas! A minha prima, tem cataratas na vista e, por isso, vê mal. Então, comeu, por engano, sacos de plástico, pensando que eram alforrecas, o nosso alimento predilecto. Felizmente, agora está tudo bem, mas podia ter morrido à fome com o estômago cheio… de plástico. Depois deste triste episódio, a Tita aprendeu a investigar bem o alimento antes de o comer, não fosse acontecer-lhe o mesmo! 16


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Entretanto, passaram-se os dias… as semanas… O Verão já ia a meio e a curiosidade que o Delfim tinha para conhecer o modo de viver na costa continuava a aumentar… Até que, um dia, não aguentou e decidiu fazer um desvio na rota e afastar-se, sorrateiramente, dos pais e do grupo.

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Nadou o mais rápido que pode em direcção à costa, precisamente para o local onde existiam muitos animais e um modo de vida diferente. – Cantar, cantar, para todos alegrar! Saltar, saltar, para todos respingar! Nadar, nadar, para tudo explorar! Procurar, procurar, para tudo investigar! E lá “golfinhava” alegremente o nosso Delfim sem saber o que o aguardava.

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A ondulação costeira estava muito forte. Eram as perigosas marés-de-Agosto que tornavam o mar revolto! De repente, alguém gritou: – Heeee! Cuidado! Vê lá por onde saltas, seu barrigudo! – Mas.. mas….Eu não sou barrigudo, sou apenas corpulento. – Ouve lá, para onde pensas que vais a toda a velocidade? – Quero fazer amigos e conhecer a vida junto à costa das nossas ilhas. – És doido? Não vês que és demasiado grande e podes ficar lá encalhado, se a maré baixar? – Que chatice, queria tanto… O nosso Delfim fez bico de triste…

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– Não fiques amuado. Tem calma. Em primeiro lugar, como te chamas? – Sou o Delfim. – Olá! Eu sou o Sérgio, um sargo, e nasci naquela poça-de-maré ali à frente. É lá que nascem e passam a infância muitas espécies de peixes que só depois de mais crescidos se aventuram no mar. – Que sorte têm vocês! Eu nunca andei na “creche”, disse o Delfim cada vez mais entusiasmado.

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–Pois é, Delfim, as poças são as “creches” de várias espécies marinhas costeiras. São muito importantes para que estas possam continuar a existir nos Açores. Depois de se conhecerem melhor, o Delfim conseguiu convencer o sargo Sérgio a guiá-lo numa visita à costa. – Com cuidado, Delfim! Segue-me!

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– Enaaaa! Tantas algas vermelhas e castanhas. – Estas algas são uma parte importante da dieta de muitos habitantes da costa. – Sargo, quem é aquele lá ao fundo? – Não preciso que me apresentem. Sou o Octávio, o polvo mais esperto das redondezas.

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– Grande “lata”, és mesmo convencido – exclamou o Delfim. Octávio, a minha mãe sempre me disse que fica muito feio vangloriarmo-nos seja lá do que for! – Não sou vaidoso! Ora vejam só! – Ena! O teu corpo está a mudar de cor. Estás muito parecido com as rochas! – Pois é! Estou a camuflar-me para fugir aos predadores. Posso, também, afugentá-los com um jacto de tinta. Digam-me lá se não sou esperto? – Realmente, a natureza foi deveras tua amiga – declarou o Delfim, encantado com tudo o que via.

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De repente, ouviu-se uma vozinha muito tímida: – Pst! Pst! Delfim! Olha que a calma na costa e nas poças-de-maré é enganadora. Temo muito pela sobrevivência da minha espécie. Nós, lapas, estamos a desaparecer.

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Com muita paciência, não fosse ela um molusco, a nossa amiguinha da zona entre marés explicou ao Delfim que os humanos não dão tempo às lapas para se reproduzirem, porque as apanham para comer, quando ainda são muito novas e pequenas. Preocupado, o nosso golfinho lançou uma ideia aos novos amigos. Divulgar este problema aos humanos mais pequenos, pois pareciam-lhe mais amigos da natureza do que os adultos.

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O nosso Delfim estava habituado a comunicar com as crianças, quando encontrava em mar alto barcos de observação de baleias e golfinhos.

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Agora, teria de lhes pedir ajuda. Só não sabia bem como, já que existia um pequeno problema de entendimento entre português e “golfinhês”! A lapinha concordou plenamente, acrescentando que muitas crianças admiravam as poças, porque aprendiam a nadar nelas. – Elas até fazem brigadas de limpeza na costa, evitando que o lixo nos venha cair em cima.

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Nisto, o Delfim avistou uma estrela-do-mar vermelha e disse, entusiasticamente: – Que linda estrela! Caiu do céu Sérgio? – Claro que não! É uma estrela-do-mar. Fazes cada pergunta estapafúrdia – respondeu-lhe o sargo. 32


O Delfim estava maravilhado com as cores e seres que estava a conhecer. Eram muito diferentes de todos os animais que tinha conhecido até agora no mar alto. – Olá estrelinha, és muito bonita! – Peço desculpa, mas não tenho tempo para conversas! Daqui a pouco a maré começa a baixar e tenho de me refrescar enquanto a água cobre esta costa - respondeu-lhe, apressada, a estrela-do-mar.

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O Sérgio tratou logo de explicar ao Delfim o que acontecia assim que a maré baixava. – Com a descida do nível do mar, durante algumas horas, não entra água fresca nas poças-de-maré. Com o calor do sol a água fica mais quente e dá-se a evaporação, que faz com que a água fique, também, um pouco mais salgada. O Delfim ficou fascinado com esta explicação científica e, ao mesmo tempo, impressionado por perceber que os habitantes da costa tinham de ser bastante resistentes para sobreviverem.

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– Sérgio! Sérgio! Que alga é aquela ali à frente? – Ó Delfim, não é uma alga é uma anémona – um animal que vive preso às rochas e que é muito importante para os pequenos camarões que precisam de se esconder. 36


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De súbito, ouviu-se no céu um garajau-rosado muito aflito: – Procura-se, desesperadamente, um golfinho-comum chamado Delfim! – Estou aqui! Estou aqui!

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– Delfim foste muito irresponsável ao afastares-te dos teus pais desta maneira! – Ai! Parece-me que vou levar um grande raspanete – disse o Delfim. – Será bem merecido! Vem, vou guiar-te até eles – disse o garajau-rosado.

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Foi assim, com esta aventura, que o Delfim satisfez a sua curiosidade e aprendeu a conhecer melhor a vida na orla costeira. Amiguinhos, como o Delfim, aprendam vocĂŞs tambĂŠm a admirar e a respeitar os habitantes da nossa costa.

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A Aventura do Delfim permite-nos conhecer alguma biodiversidade, ou seja a variedade de seres vivos que habitam a nossa costa. No entanto, existem muitos outros animais e algas no nosso litoral marinho. Nesta história, alerta-se também para os malefícios do lixo no mar. A prima da Tita, a Doroteia, correu perigo de vida por ter ingerido plástico, pois confundiu a transparência de um saco com a das medusas, um dos seus alimentos predilectos. Sabes quanto tempo demora a degradação de um saco de plástico no mar? Sê um explorador, tal como o Delfim, e procura a resposta a esta pergunta. Investiga mais sobre os perigos do lixo, provocados pelo descuido humano. Podes criar a tua própria história e publicá-la no jornal da tua escola, ou ainda, dinamizá-la sob a forma de teatro com a tua turma. Pela NATUREZA e por todos nós: Divulgar e informar, para todos educar! Preservar e conservar, para o ambiente melhorar!


Mafalda Sousa Moniz Natural de Vila do Porto (1977), Santa Maria. Professora de Biologia e Geologia e pós-graduada em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental pela Universidade dos Açores. Depois de ter exercido docência, na Povoação e Vila do Porto, está, desde 2005, integrada na Rede Regional de Ecotecas dos Açores. Foi Directora da Ecoteca de Santa Maria, entre Outubro de 2005 e Fevereiro de 2008. Desde essa data é responsável pela Ecoteca da Lagoa, valência do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores. Obras publicadas: Brochura – Diversidade na orla costeira, de São Roque a Santa Cruz (2008); Brochura – Diversidade na orla costeira, da Caloura a Ponta Garça (2009). E-mail: ecoteca.lagoa@azores.gov.pt

Vanessa Correia Branco Natural de Lisboa (1977). Designer industrial, formada pela Universidade Lusíada de Lisboa, onde concluiu mais tarde uma Pós-graduação em Comunicação e Imagem, no IADE. Exerceu como designer industrial, actividades nas áreas do vidro e do plástico na Marinha Grande e Torres Novas. É actualmente designer gráfica e operadora de fotocomposição na Nova Gráfica em Ponta Delgada. Para além disso é animadora de festas como artista de pinturas faciais e “freelancer” em projectos de ilustração. 42


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