UseFashion Journal Junho 2009

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ANO 6 • nº 65 • junho 2009 • Edição Brasileira

moda profissional

reportagem

Magia Cênica

Cenários reforçam o espetáculo dos desfiles | pág. 44

Meias-calças diferenciadas para o inverno 2010 | pág. 22 Depois dos metrossexuais, os beefcakes | pág. 30 Gabriel Felzenszwalb, da InBrands, em exclusiva | pág. 54 Moda em três tempos do verão 2010 | pág. 62

ISSN 1808-6829

R$20,00


Muito mais que inspiração

A UseFashion é a mais completa fonte de informações estratégicas sobre moda. Tudo que sua empresa precisa saber para inovar a cada dia, ampliar negócios e gerar lucros. Pesquisando no portal usefashion.com e no UseFashion Journal, a inspiração ganha cor, forma e valor. www.usefashion.com

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fotos: © Agência Fotosite e reprodução


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nesta edição foto capa: © Agência Fotosite

Capa: Mini Kerti e Frank Dezeuxis realizaram o cenário e a direção artística do desfile de estreia da Ellus 2nd Floor no SPFW na edição de verão 2008. A coleção foi inspirada na obra O Jardim das Delícias do pintor holandês Hyeronimus Bosch.

na capa

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22 ACESSÓRIOS

gente 08 é moda

Meias-calças diferenciadas são o must do inverno 2010.

Looks comentados de Barcelona e Londres. 10 paparazzi

30 MASCULINO

O estilo minimalista em evidência entre as celebridades.

Depois dos metrossexuais, os beefcakes. 44 REPORTAGEM

61 Estilo

A arte da cenografia dá ares de espetáculo aos desfiles.

Ivan Aguilar mostra o seu estilo de vida através de imagens selecionadas por ele.

54 PERFIL

Gabriel Felzenszwalb, CEO da InBrands, holding que tem em seu portfólio os dois maiores eventos da moda nacional, em entrevista exclusiva. 62 EDITORIAL DE MODA

Moda em três tempos: desfiles, campanhas, vitrines. A trajetória do verão 2010 a partir da análise de importantes grifes internacionais. 62

moda 12 VESTUÁRIO

Indústria têxtil e o consumo ecofriendly. 16 vestuário report

As gemas em destaque nos looks. 17 vestuário report

Jeans boyfriend: direto para o guarda-roupa feminino. 18 CALÇADOS & BOLSAS

Criatividade nos metais do inverno 2010. 26 radar internacional

Os estilos romântico e racional em evidência. 28 radar nacional

Estampas para o inverno 2009. 33 MASCULINO REPORT

Barras cuffed: em alta na construção das calças.

58

curtas 06 Portal usefashion.com

Junho é quente no portal. SPFW, Fashion Rio, desfiles masculinos internacionais, além da cobertura de feiras. O Preview de Megatendências para o verão 2011 também é destaque. 07 dicas da redação

Os adesivos Skin For Fun-MTV para lap top; o relógio da 100%; a exposição Super Contemporary e a música da Little Boots. 38 acontece

As tendências apontadas pela Lineapelle para o verão 2011 e as novidades do Minas Trend Preview.

34 infantil

A Rússia como referência folk para a garotada. 36 infantil report

Camisas para os meninos. 37 infantil report

Os melhores fechamentos para roupas de bebês.

58 Campus

4º Prêmio Tok&Stok de Design Universitário, Prêmio Design de Joias IBGM, Aluno da ULBRA na Computer Arts e o desfile da aluna premiada no Next Generation. 78 memória

Diana Vreeland: o centenário de uma das mais importantes editoras de moda do mundo.


expediente visual merchandising

40

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Diretor-Presidente Jorge Faccioni Diretora Alessandra Faccioni Diretora de RH Patrícia Santos Diretor de Redação Thomas Hartmann Diretora de Pesquisa Patrícia Souza Rodrigues

40 vitrine

Fay, em Milão, e Ralph Lauren, nos Estados Unidos. 42 visual de loja

A nova loja da Mustang Jeans na Alemanha.

design

opinião

50 design

O design sustentável em destaque.

52 cultura

Moda e outras coisas. Por Eduardo Motta. 60 opinião

A GlobalShop e os desafios para o varejo, por Vera Azeredo Pereira Barretto.

50

negócios 56 negócios

A importância da participação em feiras.

ao leitor Eles são a primeira impressão que temos, antes mesmo da primeira modelo colocar os pés na passarela. Quando as luzes se acendem, é hora do espetáculo começar. Os cenários dos desfiles têm essa magia: São capazes de nos falar sobre a coleção que está por vir, emocionar e arrebatar nossos sentidos para uma série de significados que vão ganhar a passarela nos próximos instantes. Surpreendentes e belos, eles são o tema da reportagem desta edição. Nada melhor que falar da magia dos desfiles em pleno mês de temporada brasileira. Conversamos com cenógrafos, iluminadores, estilistas. Lembramos de alguns cenários memoráveis e ficamos tomados de uma certa nostalgia. Em Editorial de Moda, desmembramos o verão 2010 fazendo um passeio pelas vitrines, campanhas e desfiles, desse jeito mesmo, em sentido contrário ao ciclo da moda, já observando como grandes grifes levaram para as lojas suas propostas apresentadas nas passarelas internacionais entre setembro e outubro de 2008. São esses produtos que estão nas vitrines internacionais desde março de 2009 e permanecem até o final da temporada, com a chegada do inverno lá em setembro. Uma boa fonte de pesquisa para o mercado brasileiro se preparar para a próxima temporada. Ainda nessa edição, em Masculino, abordamos o comportamento chamado beefcake.

Núcleo de Pesquisa e Comunicação Editora-Chefe Journal Inêz Gularte (Mtb 7.775) Subeditora Portal Aline Moura (Mtb 5.717) Edição de Moda Eduardo Motta (consultoria) Redação Aline Ebert (Mtb 13.687), Fernanda Maciel (Mtb 13.399), Eduardo Pedroso e Juliana Wecki (assistentes) Projeto Gráfico Ingrid Scherdien Produção de Arte Ingrid Scherdien (design gráfico), Eduardo Nipper (tratamento de imagens), Carine Hattge (revisão de imagens), Jucéli Silva e Vanessa Machado (web design) Assessora de Planejamento Angelita Manzoni Equipe de Pesquisa Nájua Saleh e Juliana Nascimento (moda), Aline Kämpgen (assistente de coordenação de imagens), Aline Romero, Carlos Paredes, Eduardo Nipper, Francine Virote, Lisiane Ramos e Thaís de Oliveira (classificação vitrines e desfiles), Vanessa Faccioni (visual de loja) Consultores Angela Aronne (malharia retilínea, underwear e beachwear), Daniel Bender (inovação), Eduardo Motta (calçados e bolsas), Juliana Zanettini (jeanswear), Paula Visoná (malharia circular e vestuário masculino) e Renata Spiller (infantil) Colaborou nesta edição Vera Azeredo Pereira Barretto

UseFashion Journal (ISSN 1808-6829) é uma publicação mensal do Sistema UseFashion de Informações Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Midia Gráfica - RBS

Trouxemos o tema para a moda mostrando campanhas publicitárias e desfiles que já estão evidenciando esse estilo. Na coluna de Vestuário, os desafios da indústria têxtil para se enquadrar na nova ordem mundial que pede por ecoprodutos mais duráveis e a preços acessíveis. Em Calçados & Bolsas, os metais bem mais que utilitários ganharam as passarelas do inverno 2010. Veja como algumas metalúrgicas brasileiras estão apostando na tendência. Na editoria Acessórios, as meias-calças diferenciadas desbancaram as tradicionais cor-da-pele e reforçaram a tendência legwear. No Perfil, uma entrevista exclusiva com Gabriel Felzenszwalb, presidente da InBrands, holding que tem em seu portfólio eventos como SPFW e, a partir dessa edição de verão 2010, o Fashion Rio. Tudo isso e muito mais nesta edição do UseFashion Journal. Boa leitura e ótimos negócios!

Jorge Faccioni Diretor-Presidente

Errata : A legenda correta da foto na página 31 é V.Rom

Vários dos conteúdos que abordamos nesta edição podem ser complementados no portal usefashion.com. Alguns são de acesso exclusivo para assinantes do portal. Ligue 0800 603 9000 e veja como acessar. Os textos dos colunistas e colaboradores são de responsabilidade dos mesmos e não representam necessariamente a opinião da empresa. Todos os produtos citados nesta edição são resultado de uma seleção jornalística e de consultoria especializada, sem nenhum caráter publicitário. Todas as matérias desta edição são de responsabilidade do Núcleo de Pesquisa e Comunicação da UseFashion. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sejam quais forem os meios empregados, sem a autorização por escrito do Sistema UseFashion de Informações.

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por tal u se fa s hion .com con t e ú d o pa r a a s s i nan t e s

foto: © Agência Fotosite

O verão está no ar Coberturas mostram lançamentos para 2010 e 2011 Junho dá a largada na maratona de desfiles que compõem o calendário oficial da moda brasileira. Este é o mês de Fashion Rio, que acontece entre os dias 5 e 10, e de SPFW, de 17 a 23. A novidade dessa edição é que, pela primeira vez, os dois mais tradicionais eventos de moda nacional estão com a mesma direção criativa, sob o comando do badaladíssimo Paulo Borges. É o verão 2010 nas passarelas nacionais.

20 a 24 de junho. O mundo fashion volta toda sua atenção então para Paris, onde os homens ganham as passarelas de 25 a 28. Na Europa, é tempo dos lançamentos de verão 2011.

Em seguida, começa a temporada masculina, com os desfiles internacionais. A função começa em Milão, com a Milano Moda Uomo, de

Junto com os desfiles, o mês de junho é marcado por uma série de feiras nacionais e internacionais. Acompanhe no calendário as datas e agende-se.

Toda a movimentação dos dois maiores eventos de moda brasileira e também dos desfiles masculinos você acompanha no portal www.usefashion.com, em fotos com recurso de zoom, além de resenhas técnicas.

Preview Megatendências 2011

Gisele Bündchen e Paulo Borges nos bastidores do desfile da Colcci verão 2009

foto: UseFashion

Matérias-primas, referências da arte, da cultura e do comportamento que vão nortear as coleções de produtos para o verão 2011 dão origem ao Preview de Megatendências publicadas pela UseFashion. Acompanhe o trabalho de análise realizado por nossos pesquisadores e fique sabendo, com dois anos de antecedência, sobre a temporada que começa com a primavera, em setembro de 2011. Fique de olho no Portal UseFashion e confira. Painel de Tendências da Le Cuir A Paris

UseFashion nas redes sociais fotos: reprodução

Antenada nas últimas tecnologias que ajudam a ampliar seus contatos, a UseFashion criou seu espaço no Twitter (postagens rápidas que chamam Notícias) e também Flickr (fotos-legenda de eventos, campanhas, desfiles...). Os endereços são www.twitter.com/usefashion e www.flickr.com/usefashion

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junho

calendário 2 a 4 – SICC 3 a 4 – Denim by Première Vision 5 a 10 – Fashion Rio 16 a 19 – Pitti Uomo 16 a 19 – FIT 17 a 23 – SPFW

19 a 21 – FIMI 20 a 24 – Milano Moda Uomo 25 a 28 – Semana Masculina de Paris 21 a 22 – Bubble London 25 a 27 – Pitti Bimbo 28 a 30 – Salão Moda Brasil

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dicas

da redação Skin For Fun-MTV

foto: divulgação

A Skin For Fun e a MTV lançaram, através de uma parceria, a coleção de adesivos Skin For Fun-MTV para notebooks e aparelhos Apple. Além de valorizar a peça de forma divertida, os adesivos têm sistema antibolhas, facilitando a aplicação e também a remoção sem deixar resíduos de cola no equipamento. As ilustrações exclusivas levam a assinatura dos artistas Carla Barth, Yan Sorgi, dos Sebográficos e do Estúdio Firmorama. Veja mais: www.mtv.com.br/adesivosmtv

foto: reprodução

Led Watch

Com intuito de desenvolver peças aliando tecnologia, design sofisticado e emoção para quem vê, a “100%” apresenta o Led Watch, um relógio que, ao primeiro olhar, parece apenas uma pulseira sem a tradicional caixa. Parte dos orifícios do metal da pulseira tornou-se a própria digital do relógio exibindo os números apenas quando necessário. Confira: http://www.100per.com/

Super Contemporary foto: reprodução

De 3 de junho a 4 de outubro, o Design Museum abriga a exposição Super Contemporary para comemorar a excelência do design britânico e fortalecer o posicionamento de Londres como capital criativa da Europa. A mostra ilustra toda a explosão inventiva que acontece na cidade, seja ela na arquitetura, no design, gráfico e industrial, na moda e em outras expressões de arte aplicada. Saiba mais: http://www.designmuseum.org/ exhibitions/2009/supercontemporary

foto: divulgação

Little Boots O cenário da música pop britânica está apostando todas as fichas na nova sensação do momento, Victoria Hesketh, mais conhecida pelo pseudônimo de Little Boots que conquistou toda a blogosfera com suas músicas de electro-pop, que já está no topo da lista da BBC Sound of 2009. Com influência em David Bowie, Gary Numan e Kate Bush, a loura conquistou a cena londrina e outras capitais desse estilo de música. Ouça: www.littlebootsmusic.co.uk


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O antebraço é a base preferida das bolsas de mão. O modelo eleito abrange vários elementos que despontaram nas semanas de moda para o inverno 2010. Zíper e corrente como adorno são alguns exemplos.

O modelo Converse, com aspecto destruído e com estampa de caveira, demonstra o gosto pelo punk, mas, nesta produção, remete apenas ao visual despojado.

Cabelos curtos e platinados estão em evidência nas ruas europeias. Os maxióculos casam perfeitamente com este perfil e não há quem tire da moda essas armações gigantes.

Boa e velha T-shirt comanda o espírito do look. De cor neutra, dá destaque à estampa que se encaixa na gama de cores da produção.

O streetwear é complementado pela atitude. A maneira como ela segura a bolsa, e também o óculos aliado ao cabelo, denotam uma elegância à parte, dando outra essência ao conjunto.


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O piercing na boca e o cabelo propositalmente mal arrumado rompem com a sofisticação do preto e dão outro norte ao conjunto em si.

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A camisa de flanela xadrez remete ao grunge, principal movimento dos anos 90 e ícone da despreocupação com o visual.

Os elementos distribuídos nesse visual trazem um equilíbrio entre o despojado e o elegante, assim como tem acontecido na moda atual.

Dica: invista nos abotinados. Atenção para os detalhes do sapato, com atacadores compostos por ganchos e botões como adornos.


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p ap ara z zi

Sem excessos fotos: © Agência Fotosite

Por Paula Visoná

Naomi

Watts

Nadja A

Elsa Pataki e Scarlett Johansson

uermann

O estilo atemporal representado tanto pelas modelagens clássicas como pelo jogo de preto e branco foi a opção de celebridades na hora de conferir o desfile da dupla Dolce & Gabbana. Interessante a escolha, já que o estilo da dupla une elementos sobrepostos para a criação de peças. Nesse sentido, a presente onda de glamour recatado, que tem prevalecido em várias passarelas internacionais para o próximo inverno, parece que dá mostras de seus desdobramentos. Pelo menos é o que fica claro a partir dos vestidos sequinhos escolhidos por Elsa Pataki e Scarlett Johansson, e também pelo conjunto discreto usado por Naomi Watts. Já a modelo Nadja Auermann apostou na dupla preto e branco, ousando tanto no detalhe da lingerie, evidenciado pelo decote, quanto na transparência da camisa.



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ve s t uário

Hebei Jigao Chemical Fiber | Expofil | verão 2011

Produtos mais duráveis a preços justos Consumo ecofriendly aponta novos desafios para indústria têxtil Por Angela Aronne *

Quando abordamos consumo sustentável, seja em produtos orgânicos ou em produtos cujo processo de fabricação agridam menos o meio ambiente, não estamos tratando de algo inédito. Entretanto, o que propomos, neste momento de indefinições econômicas, é pensar na construção de alternativas. Ao pesquisar novas tendências, conferindo as apostas dos principais fornecedores de matéria-prima do mundo, percebemos que é impossível fugir do tema ecologia e da sua relação com a indústria têxtil. O assunto envolve, mesmo que subjetivamente, propostas de megatendências em todas as temporadas desde o final da década passada até hoje.

Fibras sintéticas continuam, mas vão perdendo força, pois as combinações entre elas estão se tornando mais escassas. É bastante provável que sejam combinadas às naturais na maioria dos produtos que serão lançados no mercado nas próximas estações. Fibras naturais como o algodão, o linho e o cânhamo, bem como os produtos e embalagens recicláveis tendem a crescer. A novidade já aparece em malhas feitas a partir de Pet reciclado, como feito pelas empresas brasileiras Aradefe e LC Malhas de Brusque (SC).

O que temos para o futuro é a preocupação em desenvolver fibras adequadas aos padrões de exigência das políticas de proteção ambiental - sem deixar de lado a estética característica de produtos de moda. Exemplos aparecem em profusão. O mercado de jeanswear, apesar de trabalhar muito com processos de beneficiamentos químicos, também colabora para movimentar cada vez mais este mercado da sustentabilidade. Na Denim by Première Vision de verão 2011, a marca Berto expôs linha de denim com fibras tratadas e tingimento orgânico. A Kuroki trouxe linha de denim confeccionada em 100% algodão orgânico e em lavagens naturais. E assim por diante.

Entretanto, um bom exemplo de sintético vem da Rhodia, com o nome de Nytia®. Trata-se de tecnologia de aplicação de poliamida em tecidos utilizados em artigos têxteis e acessórios para combinar a exigência de mais resistência com o aspecto fashion/moda. O Down Corning’s Active Protection System, da Philips, é outra referência interessante. Ele é um sistema inteligente de tecido multicamadas com revestimento de silicone com a capacidade de reagir a impactos, tornando-se mais rígido quando há uma força excessiva na superfície do tecido (especialmente útil em atividades militares e esportivas). Com isto, além de adquirir uma funcionalidade interessante, dura mais. A roupa quase descartável que consumimos hoje, que atende à necessidade do conceito de fast fashion, começa a ser pensada de forma diferenciada.

A feira Expofil de inverno 2011 segue com esta tarefa. A Hebei Jigao Chemical Fiber, que participa do evento, promete abastecer o mercado com produção de 30 toneladas de polpa de bambu, 10 toneladas de fibras de linho e 40 mil toneladas de polpa de algodão, com processo de produção menos agressivo ao meio ambiente, por meio de tecnologia de ponta apoiada em pesquisas na própria empresa.

* Angela Aronne é consultora de moda da UseFashion, especialista na área de malharia retilínea, lingerie e beachwear. Tem formação universitária na área de comunicação e é pós-graduada em Moda, Consumo e Comunicação pela PUCRS. Atuou por mais de 15 anos nas áreas de desenvolvimento de produto e coleção em empresas como Paramount, Lacoste e Privet Label.

Botto Poala | Pitti Filati | verão 2011


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fotos: UseFashion

Berto | Denim by Première Vision | verão 2011

Bottonificio B.A.P. | Denim by Première Vision | verão 2011

Fórum de Tendências Expofil | verão 2011

Botto Poala | Pitti Filati | verão 2011

All in One & Co | Denim by Premiere Vision | verão 2011


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ve s t uário

O mercado dá início ao processo de amadurecimento dessa nova visão em determinadas linhas de produtos menos sazonais, como jaquetas com design clássico, mochilas, e alguns produtos da linha esportiva, feitos para durar 10 anos ou mais. Algodões são pensados para resistir 30% mais à água e a outros processos de desgastes da fibra. O couro segue na mesma direção, como mostra a italiana Antica na Lineapelle para o verão 2011. No evento, a presidente da empresa, Cinzia De Stefano, fez testes no próprio estande colocando um pouco de água sobre as peças e mostrando que a gota não era absorvida. O que podemos perceber, diante deste panorama mundial, é que a recessão impulsiona e cria oportunidades. Uma das mais importantes diz respeito ao reposicionamento quanto à política de preços aplicada aos chamados ecoprodutos. O consumidor pressiona por produtos ecológicos, mas não está disposto a pagar esta conta sozinho. Talvez o principal motivo do preço alto seja o fato de que as empresas precisem repassar ao consumidor o custo que têm com pesquisas e com processos especiais de desenvolvimento destes produtos. Os têxteis ficam ora restritos a iniciativas promocionais para divulgar as ações das empresas, ora a produtos com alto valor agregado, destinados ao mercado de luxo. Este fato se explica “pela lógica da consciência ambiental, que ainda tem como base a lucratividade influenciada pela demanda”, segundo os autores Christopher Freeman e Luc Soete, no livro The Economics of Industrial Innovation. O que temos para o futuro, independente disso, são os caminhos apontados pelas tendências. Eles confirmam um crescente desejo do consumidor por artigos sustentáveis, recicláveis e que levam em conta, desde sua produção até sua comercialização e uso, o impacto que será causado ao meio ambiente. A classe média, com cerca de 50% da população global, está com maior poder de compra e cada vez mais divida em subclasses com comportamentos diversos. Para atender a este consumidor, a indústria têxtil precisa criar condições acessíveis de compra para os produtos ecológicos colocando no mercado linhas alternativas. Além disso, deve pensar de forma mais amadurecida em produtos com maior valor agregado e com muito mais durabilidade. O consumidor vai pensar cada vez mais em novos modos de viver. Focado em qualidade de vida, ele vai ponderar se vale a pena consumir tanto e escolherá de forma mais atenta o que vai comprar. A crescente consciência e o amadurecimento do consumo sustentável levam inevitavelmente à redução do consumo, ao neofrugalismo, e à preocupação com produtos mais duráveis. Portanto, esta deve ser a principal preocupação do mercado. Produtos de qualidade, que respeitem novas políticas na relação custo/ benefício, minimizando o impacto do alto preço ao consumidor, devem ser prioritários nas estratégias da indústria têxtil para as próximas coleções. E-Fabrics e NOW (Natural Organic World) são duas certificações importantes para quem quiser ingressar neste mundo. Nas fotos ao lado, confira alguns looks de grifes nacionais que já estão engajadas na causa da sustententabilidade em suas coleções. Boa pesquisa! Cavendish | Fashion Rio| inverno 2009

Redley | Fashion Rio| inverno 2009


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fotos: © Agência Fotosite

Osklen | SPFW | inverno 2009

Reserva | SPFW | inverno 2009


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ve s t uário report

Preciosidades Por Juliana Zanettini

fotos: © Agência Fotosite

Gemas em destaque

Etro | Milão | verão 2010

Matthew Williamson | Nova York | inverno 2010

Naturais ou artificiais, as gemas não mais exercem somente o papel de decorar os modelos para festas, mas estão nos looks comerciais. Neles, as pedras de maior valor são intercaladas com materiais mais populares, preferencialmente tingidos. Essa dualidade pode ser vista em grandes maisons como a Lanvin. Porém, é entre as marcas jovens que as gemas ditam moda desde as coleções de verão, permanecendo também para o inverno 2010.

Lanvin | Paris | verão 2010

Em Nova York, Matthew Williamson mesclou quartzos, canutilhos, miçangas e linhas de bordado sobre o colo. No caso da Etro, com maior intensidade na parte superior do vestido, gemas tingidas pediram por colorações intensas, já que a base era de tom neutro. Para completar, pequenas contas de cristais formaram desenhos de contornos.


ves t uário

report

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Boyfriend Vs. skinny boyfriend Direto para o guarda-roupa das mulheres

Por Juliana Zanettini fotos: © Agência Fotosite

House of Holland | Londres | verão 2010

Calças de fit boyfriend com corte que faz uma alusão às five pockets masculinas definitivamente conquistaram espaço no guarda-roupa feminino. De silhueta solta e preferencialmente com barras dobradas, bastou que a atriz Kate Holmes desfilasse pelas ruas o modelo para que ele virasse febre. Sua versão soltinha fomentou boas pautas entre as apostas para o verão 2010, ganhando pernas retas, caixa larga e fundilho caído. Apesar desta proposta seguir firme para o inverno 2010, é interessante reforçar

DSquared2 | Milão | inverno 2010

que uma versão mais ajustada do modelo começou a aparecer entre os destaques para ambas as temporadas. Trata-se da skinny boyfriend, em fit mais ajustado. A Blue Blood propõe pernas levemente justas para o inverno 2010. Ao invés de dobradas, as barras da skinny boyfriend, sugerida pela Dsquared2, ganharam construção repaginada, com a sobreposição de barra. Para saber mais sobre estes jeans que estão conquistando as mulheres, acesse o portal www.usefashion.com e veja Report.


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c alç ados & bol s a s

fotos: © Agência Fotosite

Marc Jacobs | Nova York

Gianfranco Ferré | Milão


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Marni | Milão

Alma metaleira excesso e depuração reforçam a beleza dos metais Por Inêz Gularte consultoria: eduardo motta Eles estão sempre na moda. Até pouco tempo atrás, entretanto, cumpriam principalmente um papel utilitário na confecção de bolsas, cintos e calçados. Atualmente, mudaram de posição, unindo à funcionalidade um papel determinante na estética dos produtos. “Quando você olha para uma bolsa ou um calçado seus olhos param no metal, percebe? Ele é o protagonista da história que o estilista está contando, tanto que, geralmente, o metal é o suporte escolhido para simbolizar a marca”, ressalta Vinicius Prado, coordenador do Studio Altero Design, da metalúrgica Altero, com fábrica em Sapiranga. Monogramas e logomarcas das grandes marcas de luxo estão mesmo gravados sobre o metal. Cabe à força e a beleza dele traduzir o valor da marca. “O metal se adequa perfeitamente às vertentes que os grandes estilistas estão seguindo. Isso tem a ver com o movimento punk e todo aquele universo dos anos 80”, explica Vinicius. Para ele, os metais têm na moda um papel simbólico, permitindo trazer à tona reinterpretações dos

comportamentos que marcaram época, sejam eles conservadores ou de vanguarda. Nos desfiles internacionais de inverno 2010, encontramos ótimos exemplos de metais aplicados a calçados e bolsas de forma criativa. Há uma vertente que aponta para o excesso e abusa dos metais para muito além do utilitário. Marcas como Claudio Montias, Givenchy e Marc Jacobs criaram modelos com base nessa linha. Elas apostaram principalmente na aplicação de peças em tamanhos médios e grandes, amenizados pela mistura com a pedraria. Na sandália Givenchy, os cravos afiados, típicos do estilo punk, os spikes, estão por todo o calçado, desde o salto e solado até o cabedal. No entanto, no conjunto há uma certa inocência, quase um romantismo, aguçado pelo tom de azul clarinho bem esmaecido. Ele quebra a agressividade dos cravos e cria um paradoxo. Outra linha aponta para experimentações no design. Gianfranco Ferré cobriu a parte de trás do salto com placas prateadas criando efeito es-

pelhado. Na Marni, o fecho funciona como alça e se junta às correntes. Giuseppe Zanotti pontua rebites aqui e ali sobre as tiras do cabedal, com delicadeza, em harmonia com as argolas que unem as tiras de couro e as fivelas. O estilista Roberto Cavalli foi o que levou o uso dos metais ao extremo. Na sua coleção de inverno 2010, ele se estende ao vestuário, em blusas, saias, luvas e outras peças recobertas de ilhoses e rebites. Nas bolsas e calçados os metais crescem e aparecem. Para a Metalúrgica Daniel, de Novo Hamburgo, a aposta para o inverno 2010 está nas fivelas com roletes móveis e fixos em diversos tamanhos, peças com pinturas e texturas diferenciadas, enfeites como tops, montagens de peças, que por suas dimensões podem se tornar cabedais, pregos em zamak (para solados em madeira e PU), além de cravos, botões e ilhoses. Conforme Régis E. Ruschel, do setor de Produção e Desenvolvimento da metalúrgica, eles estão aparecendo em grande quantidade nos cabedais.


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c alç ados & bol s a s Banhos Os banhos nos metais apontam para tonalidades douradas, pratas foscas e também para as pretas. O designer da Altero conta sobre as apostas da empresa: “O mercado demorou um pouco a massificar o banho ouro, nos diversos tons dourados, e agora verificamos o pico da curva de maturidade dessa tendência. Ofertamos alguns tons mais sofisticados, com o ouro 9k (mais parecido com o ouro real) e o 9k escovado, um dos símbolos máximos de sofisticação em dourado. Para a vertente étnica, desenvolvemos um banho específico, o Indian Gold, um ouro levemente avermelhado. O Níquel Italiano e o Grey, clássicos, também fazem parte de nossa coleção. Por fim, temos um banho texturizado artesanalmente, que simula madeira com perfeição, traduzimos isso como pintura-madeira-cedro.”

Givenchy | Paris

Roberto Cavallli | Milão


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fotos: © Agência Fotosite

Marc Jacobs | Nova York

Giuseppe Zanotti | Milão

fotos: divulgação

Metais da coleção Etnia e banhos da Altero

Peças da Metalúrgica Daniel


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aces sórios

Bem mais que meias Meias-calças arrebatam olhares e conquistam estilistas Por Inêz Gularte consultoria: renata spiller Rendadas, listradas, xadrezes, trabalhadas ou lisas. Brilhosas ou opacas. Em nylon, tricô, lurex e outros materiais, elas tomaram conta das passarelas do inverno 2010 propondo novas texturas e combinações. É a tendência que vem sendo chamada de legwear, que traz o foco da moda para as pernas femininas e vem com tudo nas novíssimas meias-calças. Esqueça as tradicionais cor-da-pele. A proposta dos estilistas é bem mais criativa. Vale, por exemplo, ousar nas padronagens. Mas quem pensa apenas nos xadrezes, se engana. O que vale é criar efeitos, enganar o olhar. Meias que se transformam em uma extensão do calçado, como a proposta por Marithé et François Girbaud, são um bom exemplo. Mas vale também fazer o contrário. Que tal a meia como continuação da roupa? O trabalho com estampas e cores, como o de Eley Kishimoto, mostra bem como essa combinação pode ser original.

E a novidade não veio apenas por meio dos desenhos. Paetês, miçangas, cristais e pedrarias também deram às meias-calças novos ares. Na Miu Miu, as pedras foram bordadas sobre o tricô, criando uma continuação da saia. Na Emanuel Ungaro, a escolha foi por grandes paetês prateados, bordados sobre o fio 40. Na Doo Ri, a meia rendada foi salpicada como que por pontos de luz, em um misto de romantismo e requinte. Outra vertente que ganhou força nas passarelas do inverno 2010 apostou no brilho. A BCBG Max Azria veio de dourado. Mas outras marcas usaram fios em cores como preto, vermelho e azul, refletindo luz e brilho. Na prática A questão agora é entender como toda esta ostentação que apareceu nos desfiles deve chegar ao público brasileiro. Tratando-se o Brasil de um país tropical, com certeza deve haver algumas adaptações. Para a equipe de estilo da Trifil,

que também detém a marca Scala, toda essa opulência deve se diluir por aqui em fios com brilho, fios tridimencionais ou bicolores e em novas texturas. “A meia-calça, há algum tempo, perdeu a função de proteção. Hoje ela modifica o look, interage, recria a forma. Agora estamos na fase de pesquisa de tendências, escolha de referências, mas, sem dúvida, a tecnologia é o nosso foco. Fios inteligentes que, mais do que embelezar, tragam benefícios para quem veste”. A Trifil informou ainda que, quanto às estampas, existe um desejo por peças com desenhos inspirados em formas orgânicas, e a releitura de padronagens clássicas, às vezes ampliando, às vezes reduzindo as formas. Disse também: “A renda, que parece ter sido redescoberta nessa estação pelas consumidoras, se firma no mercado ganhando novos desenhos e cores. É a tendência do feminino romântico que se mistura com a força das formas simétricas que abriram frente no verão e agora se impõem no inverno”.


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fotos: Š Agência Fotosite

Doo Ri | Londres

Emanuel Ungaro | Paris

Miu Miu | Paris

Chanel | Paris


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aces s贸rios

Estampas

Alexander McQueen | Paris

Marni | Mil茫o

Anna Sui | Nova York

Paul Smith | Londres

detalhes


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Continuação do calçado fotos: © Agência Fotosite

Marni | Milão

Marithé François Girbaud | Paris

Continuação da roupa

Brilho

BCBG | Nova York

Eley Kishimoto | Londres


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rad ar intern ac ion al v e r ão 2010

Românticos A forma romântica do laço se espalhou pelo vestuário, bolsas, calçados e acessórios. Um clássico da feminilidade atemporal com fôlego para impulsionar boas vendas.

Giambattista Valli | Paris Miu Miu | Paris

Sonia Rykiel Paris

Chloé | Paris

Brian Atwood | Milão

Valentino | Paris

Christian Lacroix | Paris

Dolce & Gabbana | Milão

Lanvin | Paris


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fotos: © Agência Fotosite

Racionais As formas arquitetônicas da estação impõem linhas pouco convencionais e enveredam pelo desenho geométrico. Irregulares ou regulares, elas mantêm o shape do produto e trocam o décor pela concisão.

Yohji Yamamoto | Paris

Etername | Paris

Roger Vivier | Paris

Jil Sander | Milão

Roger Vivier | Paris

Pierre Hardy | Paris

VHB | Paris

Nina Ricci | Paris

Calvin Klein | Nova York


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r ad ar n ac ion al i n v e r no 20 09

É Pop! Tendo a estampa como ponto de partida, aqui, os motivos gráficos e o mix de referências entram em cena privilegiando cores elétricas. Propondo uma moda jovem e divertida, vale reforçar os abstratos geométricos e os simpáticos personagens lúdicos.

Prita Gomes

Nina Moraes para Jean Monnier foto: Tiago Sá

Clube Noir

Kipling

Alessa | Fashion Rio

Swatch

Grendene ZAXY


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Colcci

Etiqueta New Color

fotos desfiles: © Agência Fotosite

Andarella

Crysalis

fotos still: divulgação

Tênis Coolidge | Onitsuka Tiger

Puket

Coven | Fashion Rio


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m a s c ulino foto: © Agência Fotosite

David Gandy na passarela de verão 2010 da Dolce&Gabbana


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Um homem truculento? Músculos e outras vaidades definem comportamento beefcake Por Fernanda Maciel Consultoria: Paula Visoná

Depois dos metrossexuais, em que a vaidade definia cuidados extremados com a aparência, demandando tempo e dinheiro em cosméticos, acessórios e roupas de grife, o comportamento masculino toma outra vertente. A nova onda é o estilo beefcake. Algo como ‘bolo de carne’ na tradução para o português. Saem as roupas e cremes e entra em cena o próprio corpo. Essa estética define um homem musculoso, tórax quase sempre nu e de aparência rústica. Praticamente ao estilo de um lenhador, ele cumpre o papel de representar uma figura fetichista e sexualizada, bem fixada no imaginário feminino. Na moda, é interessante prestar atenção nos looks propostos por Miuccia Prada para o verão 2010. Socióloga de formação, Miuccia tende a antecipar comportamentos em suas coleções, propondo looks que só serão entendidos mais tarde, quando uma determinada corrente comportamental se tornar conhecida do grande público. Apesar de não ter utilizado modelos musculosos nas passarelas, a Prada descobriu o dorso masculino a partir da utilização de decotes profundos. Chamou a atenção para a parte superior do corpo, justamente a zona que simboliza a força masculina, associada ao aspecto de proteção que o homem pode cumprir junto à sua prole. A Prada parece interessada em recuperar dados da masculinidade, ainda que atualizados e um tanto quanto andróginos. O fato é que os beefcakes parecem ser homens que cultuam a força, explorando esse aspecto pela exposição do corpo. Mostram que estão aptos a desenvolver sua competência masculina de proteger os mais frágeis. “O beefcake pode

até ser comparado a um lenhador, porém, não é um homem básico e nem inocente. Ele tem controle dos elementos estéticos e usa isso com maestria”, aponta Eduardo André Teixeira Ayrosa, professor de Comportamento do Consumidor na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE/FGVRJ). Ayrosa argumenta contra a suposta falta de vaidade do beefcake e atualiza o tipo. Mesmo que incorpore atrativos primitivos e dispense o que se considera um bom trato frente à moda e make, ele manipula seus artifícios em função de uma estética determinada. Para Ayrosa, essa mudança no comportamento masculino é a evolução dos padrões de idas e vindas, pois o beefcake é apenas um tipo antigo que retorna ao centro das atenções. Cada época teve seus representantes, nem todos tão viris quanto um lenhador, mas preenchendo o mesmo espaço nas fantasias de grupos que demandavam imagens masculinas, entre eles mulheres e homossexuais. Nos anos 20 eram os astros Rudolph Valentino e Ramón Novarro; nos anos 40, Guy Madison, Sterling Hayden, Tyrone Power. Na década seguinte, as revistas sobre cinema apresentavam fotos dos atores Tony Curtis, Jeff Chandler, Robert Conra, entre outros, de sunga ou shorts – indo ao encontro do grande número de publicações de revistas que abordavam o fisiculturismo. Atualmente, o ator de 007, Daniel Craig, o modelo David Gandy, garoto-propaganda da linha de perfumes da Dolce&Gabbana e o astro de Wolverine, Hugh Jackman, são os ícones dessa

estética que cultua o homem truculento. Pelo menos na aparência. Nem todo homem musculoso, desleixado e semivestido pode ser considerado beefcake. O próprio personagem Wolverine, em cartaz nos cinemas recentemente, causa discussões. “Eu o vejo como um ser com um fim na vida, tem uma obsessão por uma forma de justiça que só ele entende. Esses desconfortos espirituais são coisas típicas dos góticos, os velhos ‘darks’ dos anos 80, os emos, esse seres sensíveis. Metrossexuais e beefcakes não têm mente. Metrossexuais são funcionalmente superficiais, beefcakes são essencialmente carne (alcatra, contra-filé...), nenhum dos dois tem pendor para a reflexão, menos ainda para depressão. Olhando dessa forma, Wolverine não é beefcake. Além disso, Wolverine faz o estilo camiseta-branca-jaqueta-de-couro, raramente aparece sem camisa, nunca sem calças. Ele está no limiar. Tem a ver com a estética beefcake, sim, mas na margem. Porém acredito que Hugh Jackman é beefcake”, argumenta Ayrosa, tirando a responsabilidade do personagem e passando-a para o ator. Ao contrário do estereótipo másculo de outros tempos, o beefcake de hoje sabe como explorar as roupas que veste a seu favor, revelando que foi atravessado por correntes culturais que antecederam sua configuração atual. Aí é que a coleção da Prada parece chegar a um ponto novo: a força apenas não basta, é preciso aliar isso às sensibilidades contemporâneas, objetivando um estilo que tanto privilegie a força como a beleza.


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m a s c ulino foto: © Agência Fotosite

Prada | Milão | verão 2010


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Barras cuffed Por Juliana Zanettini

fotos: © Agência Fotosite e UseFashion

Detalhe como elemento forte para construção das calças

Vitrine Diesel | Nova York | inverno 2009

Junya Watanabe | Paris | inverno 2010

As barras dobradas ou cuffed marcam presença nas passarelas masculinas há pelo menos duas temporadas. O simples ato de dobrar as barras para modernizar o styling ganhou tamanha importância que os estilistas decidiram pensar neste detalhe como elemento forte para a construção das calças. Renovando a modelagem, que antes era arquitetada levemente ou totalmente afunilada, a Diesel pontuou um clima street e descontraído, tendo as barras dobradas como recurso para criar volumes. Já outras marcas apostaram no refinamento, utilizando o jeans de caráter alinhado, enfatizando cortes ajustados e barras discretamente dobradas. A modelagem, aqui, pede por cortes secos e comprimentos mais curtos que o tradicional. Para enriquecer, uma vez que a parte interna das barras é exposta, vale investir nos forros coloridos em tecidos de algodão, a exemplo do modelo apresentado por Junya Watanabe. Uso nas ruas | Barcelona

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fotos: reprodução

Folk russo Tradicionais Matrioskas inspiram coleções Por Fernanda Maciel Consultoria: Renata Spiller Mistura de referências antigas com novas técnicas, aliada à busca de inserir mais cultura na vida das crianças, levou muitas grifes internacionais a apostarem na vivência multicultural da garotada. Referências culturais russas, por exemplo, conquistaram importantes marcas infantis. Agatha Ruiz de la Prada, Elsy e Nolita Pocket, que desfilaram na Pitti Bimbo, apresentaram a inspiração étnica partindo das tradicionais Matrioskas. Feitas em diversos materiais, sendo a madeira o mais utilizado, as Matrioskas são constituídas por uma série de bonecas colocadas umas dentro das outras, da maior (exterior) até a menor (única que não é oca). A sua forma é simples, mais ou menos cilíndrica, arredondada e mais estreita na parte superior, onde se situa a cabeça da boneca. Não têm mãos (exceto as que com superfícies pintadas).

O grau de sofisticação das Matrioskas, que diferencia os modelos, reside na complexidade dos motivos expressos. Outra característica de distinção das diversas peças são as figuras que encarnam: de imagens femininas vestidas com trajes tradicionais campesinos a personagens de contos de fadas e antigos líderes da União Soviética. O desfile da Nolita Pocket já denunciava no cenário, com a passarela coberta de neve e uma grande boneca como entrada para as modelos, que sua coleção tinha como referência a cultura russa. Junto a isso, a marca mostrou toques de anos 70, dando continuidade à coleção de verão e transformando Matrioskas em bonecas de pano adornando peças ou sendo levadas como brinquedos. No desfile da Elsy, além de Paris e Londres, São Petersburgo pode ser vista

como referência na coleção, porém, de maneira mais sutil, com delicados enfeites de cabelo e com peças mais pesadas abusando no uso de peles. Agatha Ruiz de La Prada fez das Matrioskas grandes aplicações e silks e aproveitou para inserir representações ingênuas de flores e do coração, símbolo da marca, levando a cultura russa para o universo simples da criança. A Molo Kids apresentou na feira Bubble London uma coleção com referências em diferentes culturas, entre elas a russa, que pôde ser notada em camisetas cobertas por estampas de dezenas de Matrioskas. Confira também a Megatendências Infantil Mobilidade para o inverno 2010, no portal www.usefashion.com, e atente para outras referências multiculturais.


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fotos: © Agência Fotosite e UseFashion

Nolita Pocket | Pitti Bimbo

Agatha Ruiz de la Prada| Pitti Bimbo

Elsy | Pitti Bimbo

Molo Kids | Bubble London


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Camisas para os meninos Por RENATA SPILLER

fotos: © Agência Fotosite e UseFashion

Detalhes em foco

MINI A TURE | Buble London

Calvin Klein | Pitti Bimbo

Peça-chave para o inverno 2010 do guarda-roupa dos meninos, a camisa ganha espaço em diferentes padronagens e estampas, sendo usada em looks casuais, com jeans, jaquetas e sobrepondo camisetas. Colarinho, bolsos e punhos são os detalhes em foco nas peças dos garotos, como apresentado na coleção da marca MINI A TURE, que apostou no contraste com a padronagem da peça. Para deixar mais divertido, atente para os silks e aplicações, como a No Added Sugar, que utilizou a parte das costas para o detalhe.

No Added Sugar | Buble London

A camisa em vichy também é a proposta em diversas marcas, entre elas a DQueen Dking. Atenção para os botões contrastantes e para os bolsos que, além do abotoamento, diferenciam-se pelo fole do tecido enviesado.


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Fechamentos diferenciados para o tricô Conforto e facilidade para vestir os bebês são prioridades na modelagem

Por RENATA SPILLER fotos: UseFashion

Fiorucci | Pitti Bimbo

Clayeux | Premier Kids

Tiny Minymo | Premier Kids

Fechamentos diferenciados são requintes para a malha retilínea infantil. Para os bebês, a preocupação é no conforto proporcionado e também na facilidade de vestir. As cavas raglã permitem maior mobilidade para a criança ao usar uma blusa de tricô. Além disso, o abotoamento facilita a passagem pela cabeça, permitindo também que a gola fique rente e sem deformações. Com fechamento lateral, o cachecoeur é um modelo perfeito de casaco para bebês. Ele deixa o peito livre para o apoio e não atrapalha quando a criança é pega no colo ou deitada de bruços. Com amarrações ou com botões, o destaque fica para os tricôs leves. Já o fechamento acordado traz a possibilidade da diversificação de materiais, acabamentos e o uso de trabalhos artesanais, ressaltando também referências étnicas. Metais, gregas, fitas de veludo e cetim são os principais aviamento utilizados, além dos pompons, que decoram cordões nos fechamentos por amarrações. Detalhe divertido para peças infantis. Confira outras imagens e novos assuntos de Report em www.usefashion.com

Me Too | Premier Kids


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acontece

mais de US$ 1 milhão para o brasil Com 12 pavilhões e 1.120 expositores, a Lineapelle, feira de couros, tecidos sintéticos e acessórios para calçados, bolsas e decoração, foi realizada entre 15 e 17 de abril, em Bolonha. Segundo projeção da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), nos próximos 12 meses os negócios fechados no evento movimentarão mais de US$ 1 mi para o setor de componentes brasileiro. Para o verão 2011, as cores pastel, combinadas entre si ou isoladas, foram destacadas nos couros ou sintéticos trabalhados mais naturalmente, principalmente nobuck e camurça. As cores vivas, como verde, amarelo, coral e turquesa, apareceram nos materiais laminados e envernizados para buscar um aspecto “úmido”.

fotos: UseFashion

Do ponto de vista da textura, couros e sintéticos seguiram três direções principais: natural, réptil e efeito amassado. No quesito tingimento, os pigmentos naturais foram utilizados preferivelmente, fazendo referência ao tie-dye. Já a estamparia surgiu bastante marcada e con-

trastada, inspirada em desenhos tribais e estampas de animais, principalmente de cobra e de onça. Com essa liberdade de misturas, a feira apontou ao mercado uma pitada de ousadia, permitindo um mix das referências citadas, criando pontos de surrealismo: a aparência de pele cobra pode vir em tom pastel e as formas orgânicas podem vir misturadas com acessórios tecnológicos. Conforme o vice-presidente de Mercado Externo da Assintecal, Evandro Kunst, o evento constituiu uma oportunidade única para os empresários conhecerem o que existe de mais atual e as tendências do setor coureiro-calçadista, além de apresentar a inovação e tecnologia dos produtos brasileiros para importadores de diversos países como: Espanha, Portugal, Índia, Turquia, México, Estados Unidos, Senegal, China, França, Brasil, Coreia do Sul, Taiwan, Egito e África do Sul. Confira no portal www.usefashion.com a cobertura completa: 21 textos e 330 imagens com zoom.

Zabri

Leather Dream

PPS Tannerie

Antica

Giardini

Bopell

Morelli

Priante

Juan Poveda

entrevista

Lineapelle | verão 2011 A estilista Antonella Bertagnin, responsável pela área de tendências da Lineapelle conversou com a equipe UseFashion sobre o impacto da crise econômica na moda. Confira: UseFashion: Por que apesar do medo de errar, a indústria da moda deve se forçar a ser mais criativa e ousar? Antonella Bertagnin: Porque se a moda investir apenas no básico, não vai a lugar nenhum. É exatamente o que eu digo aos expositores nas palestras que dou antes do evento. As pessoas que consomem roupas já estão cheias de coisas básicas no guarda-roupa. Consumimos moda não somente por necessidade, mas por uma fantasia, um desejo. Nesses tempos difíceis é exatamente o período em que surgem as melhores estratégias. UF: Para criar um desejo de “não posso viver sem”, é preciso, então ser especial. Mas não são os produtos básicos que duram mais? AB: Esse é o ponto. Escolher o básico hoje é um erro. Mas não basta ser apenas algo que chame a atenção. Precisa ser feito de um modo que dure, esteticamente e materialmente. Porque, ainda mais na moda italiana, a forma como é feito o produto, a qualidade da matéria-prima, em outros termos, a perfeição artesanal, manual ou com maquinário, é muito valorizada. UF: Não criar um produto efêmero quer dizer que se deve pensar em peças que resistam a outras estações? AB: Exato. Nós inclusive propusemos, na Area Trend, uma área que se chama “Essenziali”. Que não quer dizer básico, mas que quer dizer essencial mesmo, ou seja, peças ou referências que são da coleção passada e ainda continuam. UF: O principal tema da Area Trend, deste ano, é Mondo Fluido (Mundo Fluído). Tem a ver com a facilidade atual de absorver tendências de vários lugares ao mesmo tempo? AB: É claro que a globalização da comunicação, por causa da internet, faz tudo ficar mais próximo e vemos como se comporta a moda em outros lugares de modo muito mais rápido. Mas eu acredito que o resultado disso não tem que ser simplesmente perder a identidade. Pelo contrário: as identidades se cruzam, se entrelaçam, mas cada um continua sendo o que é. O resultado é poder criar um puzzle, uma mistura que não é homogênea. UF: Qual sua opinião da moda brasileira no cenário atual do mercado? AB: Falo muito do Brasil nas minhas palestras aos expositores. O Brasil é um mercado emergente, e isso se sente. Observo não só a questão econômica, mas também a referência estética que vem dos brasileiros, como uso das cores, o aspecto solar, presentes inclusive no inverno, que combinam muito com o sul da Itália. No norte temos mais o costume de não usarmos tantas cores no inverno e a tendência, hoje, pede cada vez mais o contrário. E isso vocês têm.


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Belo Horizonte dá a largada Minas Trend Preview | verão 2010 A 4ª edição do Minas Trend Preview, que aconteceu entre os dias 28 de abril e 2 de maio, mostrou que o evento entrou definitivamente para o calendário da moda brasileira. Realizado pela FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais), com organização da Dupla Assessoria, o evento aconteceu em Alphavile - Lagoa dos Ingleses, Nova Lima, Grande Belo Horizonte, ocupando uma área de 10 mil m², com 166 expositores de várias cidades brasileiras e sala de desfile com capacidade de 500 lugares. O orçamento foi de cerca de R$ 7 milhões. Grandes marcas dos segmentos de vestuário, calçados e bolsas, acessórios e bijuterias participaram do evento e apresentaram o preview do verão 2010. Entre elas, Patachou, Alphorria Cult, Coven, Claudia Mourão, Cristófoli, Mary Design, Bárbara Bela, Arezzo e Schutz. Cerca de oito mil pessoas passaram pelo Salão de Negócios, entre compradores nacionais e internacionais, jornalistas, empresários do setor e estudantes. Em quatro dias, o Minas Trend Preview ofereceu uma programação intensa com desfiles individuais e coletivos, palestras de tendências e muita informação de moda. Entre as novidades dessa edição, os desfiles individuais trouxeram o mesmo clima dos grandes eventos de moda realizados em São Paulo e Rio de Janeiro, como, por exemplo, a riqueza de detalhes nos cenários. Nos já tradicionais desfiles coletivos, as passarelas contaram com as participações das

modelos Isabeli Fontana, Izabel Goulart, Isabela Fiorentino, Daniela Sarahyba e a atriz Débora Nascimento. Outro destaque foi a palestra com o tema “Tendências do novo consumidor em tempos de crise”, ministrada por Sérgio Machado e Gert Van de Keuken do Studio Li Edelkoort. Mesmo em tempos de crise, o evento superou as expectativas dos organizadores e marcas. Segundo expositores, o crescimento em comparação com a edição anterior foi de 20% em negócios fechados por expositores. Segundo avaliação de Eloysa Simão, da Dupla Assessoria, esses números são estimulantes. “Essa edição inseriu definitivamente o evento no calendário de moda e negócios do país, ao trazer importantes compradores de várias regiões e de outros países ao evento”, ressaltou. Para o presidente da FIEMG, Robson Braga de Andrade, o resultado dessa edição prova que o setor mineiro da moda cresceu junto com o evento e vem atingindo cada vez mais seu objetivo: incentivar a indústria da moda e toda a sua cadeia produtiva. “No início, a intenção era fazer o Minas Trend Preview importante no calendário nacional. Agora, temos um sonho maior ainda. Ser o principal evento de moda do país”, completa o presidente. A próxima edição já tem data marcada entre os dias 3 e 7 de novembro de 2009. Para acompanhar os lançamentos, acesse o portal www.usefashion.com e veja a cobertura completa.

Mary Design fotos: UseFashion

foto: © Agência Fotosite

Luiza Barcelos

Coven

Patachou


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v i t rine

fay Planos, recortes e cores vivas fazem parte da vitrine da coleção de verão 2010 da Fay em Milão. A equipe responsável pelo visual merchandising da marca foi inteligente ao jogar com painéis em posições diferentes com iluminação indireta ao fundo. Este recurso dá a impressão do espaço parecer maior. A combinação de cores também trouxe recursos interessantes na imagem. O branco destaca os looks dos manequins, em harmonia com os tons presentes nos detalhes da ambientação. Ideias para serem usadas em vitrines de qualquer ocasião e segmento.


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fotos: UseFashion

ralph lauren A Ralph Lauren de Nova York preparou uma vitrine coloridíssima, no melhor estilo Riviera Francesa. Uma grande sacada no mundo do visual de loja é o apelo emocional; mexer com os sentimentos das pessoas de forma positiva é quase garantia de venda. E, nesse ponto, esse exemplo é bárbaro. Ao reproduzir muito bem o clima de verão, leva os clientes para o que, nessa época, é puro luxo: sol, calor e praia.


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v i s ual de loja

Segunda maior loja da grife inaugurada em Stuttgart

Mustang Jeans Nova loja na Alemanha reafirma projeto de expansão Por Inêz Gularte

A Mustang Jeans inaugurou, em abril deste ano, sua segunda maior loja do mundo, em Stuttgart, na Alemanha. Na contramão da crise econômica mundial, a grife anunciou que o projeto de expansão está mantido e tem como meta chegar a 480 lojas próprias em 2010 (hoje são 198) e dobrar a receita para 200 milhões de euros.

calçados e acessórios masculinos em destaque.

O ar despojado aparece ainda nas calças jeans, que parecem flutuar dentro da loja, suspensas por finas correntes que pendem do teto. Poltronas em couro complementam a ambientação.

Projeto e ambientação

Dentre as cores, o vermelho, na mesma tonalidade que serve de pano de fundo à logomarca da grife, é o elemento de unificação do design, pontuando aqui e ali o projeto e integrando todos os ambientes da loja.

Com 450m², o espaço de vendas em Stuttgart é distribuído em dois pisos. No primeiro, encontramos a coleção de vestuário masculino e feminino. No andar superior, uma área dedicada aos

O vidro que recobre a fachada permite a visualização do ambiente interno e transforma, em alguns pontos, o espaço de vendas em uma extensão da vitrine.

Desde a inauguração da sua loja principal em fevereiro deste ano, a grife já abriu 11 lojas e uma franquia em apenas seis semanas. E já declarou que pretende implantar mais 20 lojas na Alemanha, chegando a 58 em operação no país até o final de 2009.

Aço, carvalho e concreto são os principais materiais usados na composição do projeto. O piso em madeira de carvalho é sobreposto, em algumas áreas, por aço escovado. Este detalhe guia os clientes pelo espaço interno, desenhando caminhos entre os produtos e interligando os setores da loja. O teto rebaixado também auxilia na demarcação dos espaços, sinalizando nichos e aumentando a impressão de movimento. Os expositores são em aço e em madeira. Calças, camisas e tênis estão dispostos não apenas em cabides e prateleiras, mas também em ganchos em torno de pilares arredondados. O ar despojado aparece ainda nas calças jeans, que parecem flutuar dentro da loja, suspensas por finas correntes que pendem do teto. Poltronas em couro complementam a ambientação.


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fotos: divulgação

Produtos expostos não apenas em cabides e prateleiras, mas em ganchos

legenda

Teto rebaixado reforça ideia de movimento e auxilia na divisão do espaço


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Magia cênica Cenários emocionam e reforçam o espetáculo dos desfiles Por Fernanda Maciel

As luzes apagadas criam um misto de ansiedade e expectativa, não apenas sobre a coleção que está por vir, mas também sobre o cenário onde tudo vai acontecer. Estamos ali, na sala de desfiles. De repente, vem o aviso do início da apresentação, os patrocinadores dão seus recados, a passarela é descoberta, a música começa, as luzes acendem e então... É hora do espetáculo. O cenário se revela diante dos nossos olhos e a emoção é inevitável. Neste instante, a passarela vira um palco cheio de magia, graças ao trabalho dos cenógrafos. Estes grandes artistas, capazes de nos fazer entrar no clima da coleção, antes mesmo das modelos colocarem os pés na passarela. Ainda não vimos nenhuma peça de roupa, nenhum look, mas já estamos hipnotizados, completamente imersos na mensagem da coleção. Se os cenários são a primeira informação que temos sobre o que está por vir, não é difícil entender porque o sucesso de um desfile, sua repercussão na mídia, o quanto ele vai emocionar, depende tanto do trabalho minuncioso de ambientação e contextualização realizado pelos cenógrafos. Nessa reportagem, vamos relembrar cenários memoráveis e conversar com estes profissionais da criação para entender melhor como acontece a concepção e a realização dos cenários dos desfiles.

* Confira as informações sobre as fotos de abertura no final da reportagem

fotos: © Agência Fotosite

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ilustração: divulgação

Ilustração do projeto... foto: Clarissa Neves

...montagem do cenário assinado por Clarissa Neves e Paulo Waisberg que teve como tema o Rio São Francisco, o Velho Chico...


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O impacto dos cenários é tão grande que muitos desfiles são lembrados por causa de suas improváveis e surpreendentes ambientações. O que dizer da ideia da Ellus, de mergulhar em um grande aquário de vidro, na boca de cena (por onde as modelos entram na passarela), alguns modelos vivos, vestindo as roupas da coleção? Eles ficavam ali, dentro d’água, movendo-se, subindo e descendo, enquanto o desfile rolava passarela adentro. Foi na coleção de verão 2009, não tem como esquecer. E o imenso carrossel que virou passarela no desfile de inverno 2009 da Chanel? E as roupas flutuando, presas apenas por balões, na coleção de verão 2007 de Karlla Girotto? Dá pra não lembrar? O cenário de um desfile é tão especial quanto os looks nele desfilados. “O papel da cenografia como construção do espaço visual do desfile é ambientar e contextualizar, transmitir conceitos ou mensagens. São características concomitantes porque a ambientação é feita através de elementos, formas, cores, materiais que não podem ser desprovidos de significado. A cenografia é responsável por criar o elo de transmissão entre o tema da coleção e o espectador”, ressalta a arquiteta Regina Maria Alves Dias, que escreveu sua dissertação de mestrado, pela universidade Anhembi Morumbi, sobre a cenografia dos desfiles do SPFW. A arquiteta Clarissa Neves, que em 2001 fez seu primeiro cenário para o estilista Ronaldo Fraga, diz que o importante “é o domínio do conceito da coleção para que possamos interpretar a ideia do estilista e transformar na cenografia.”

Para ela, o processo de criação é variado e depende de muitos fatores. “Por vezes o estilista já traz uma visão pronta e até elementos que gostaria de ver na passarela. Outras vezes, a ideia é mais abstrata e vamos agregando elementos visuais à medida que a imagem da passarela/cenário vai se materializando”, explica. Clarissa e seu sócio Paulo Waisberg, com tantos anos trabalhando para Ronaldo Fraga, já têm sintonia suficiente para atender a expectativa dele em relação à cenografia. Nestes oito anos de parceria, o trabalho feito para a coleção de inverno 2006 foi o que mais a marcou. “A cenografia do ‘Festa no Céu’ era uma piscina de bolinhas de plástico, 30mx6m, sob um piso de tela metálica. Além de ter ficado linda nas fotos, no final do desfile as modelos e o Ronaldo Fraga se jogaram no meio das bolinhas. Foi muito divertido”. Ela também cita alguns dos cenários que mais lhe exigiram. “A cenografia da ‘Árvore da Memória’ deu um pouco de trabalho, pois eram árvores feitas com tubos metálicos com uma lâmpada pequena azul na ponta. Tínhamos pouco tempo e a empresa montadora não previu o trabalho que daria passar a fiação elétrica para ligar as lâmpadas. No final deu tudo certo. Em 2002, fizemos o carrossel que girava com as roupas da coleção ‘Corpo Cru’. Não tinha modelos no desfile. O mecanismo que movia o carrossel quebrou quase no final. Os convidados achavam que era parte do show e levantaram para aplaudir, enquanto o Ronaldo Fraga colocava as camareiras na passarela levando os cabides com as roupa na mão. Foi um sucesso”, recorda.

...durante o desfile, modelo na passarela de Ronaldo Fraga.

foto: © Agência Fotosite

Cenários inesquecíveis


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repor tagem

Desde 1999 criando cenários de desfiles, José Marton conta que ao receber o briefing do estilista começa a sugerir os materiais que mais se identificam com a cartela de cores, com a coleção, com as inspirações, e então vai ajustando o que mais atende às necessidades do projeto, traçando ideias, levando em conta os materiais, a iluminação. “É um processo que envolve todo mundo, desde produtor musical até o diretor de marketing. O meu papel é sugerir o que mais se enquadra no desfile”, aponta. Na longa lista de trabalho de cenografia de Marton estão as marcas Lilica Ripilica, Iodice, Alexandre Herchcovitch, Forum, Triton, Cori, Rosa Chá, André Lima, Água de Coco, Vide Bula e Alphorria. Cada uma delas, de uma forma ou de outra, apresentou alguma peculiaridade que desafiou o trabalho do cenógrafo. “O que me deu mais trabalho foi um desfile da Cori, que tinha o cenário de gelo. O trabalho foi no sentido de pesquisa, pois era um material novo. Também me lembro do último que fiz para a Água de Coco, pois precisei adequar o projeto em um espaço não compatível com a ideia”, conta. Segundo ele, um dos cenários que mais o emocionou foi outro que fez para a Cori, em janeiro de 2004. “Esse cenário me deu muita experiência. Foi na Estação das Artes, em São Paulo, junto com uma Orquestra e um DJ.” Faz questão de lembrar ainda, que por duas vezes trabalhou com a Rosa Chá em Nova York. O que mais o marcou foi a realidade completamente diferente em termos de montagem e de mão-de-obra no exterior. “Todo material foi transportado de avião ou de navio e, quando chegou, acompanhei tudo sem colocar as mãos, fiquei só olhando o cenário ser montado e encaixado, pois nada tinha parafusos”. O cenógrafo conta que, durante a criação, precisou levar em conta que haveria necessidade desse transporte e remontagem para que tudo corresse bem. Outro desafio de sua profissão. Mas, se por um lado, há quem não abra mão dos cenários elaborados, por outro, há quem opte por passarelas simples. Para a estilista Simone Nunes, que desfila no SPFW, o cenário deve ajudar a comunicar a mensagem do desfile. “Eles devem estar falando o mesmo assunto. O perigo é quando o cenário vira ‘enfeite’”, alerta. Segundo a estilista, o bom gosto e a criatividade são elementos fundamentais para fazer um cenário importante para um desfile. Ela lembra que o cenário nem sempre é uma forma de mostrar aquilo que quer transmitir ao seu público. “A escolha de ter ou não cenário, para mim, é se naquele momento, dentro do que quero comunicar, preciso dele ou não”, reforça.

Desfile de Maria Bonita Extra - verão 2008 - com cenário de Alberto Renault


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fotos: © Agência Fotosite

Materiais e iluminação Para se compor um cenário, dois itens são fundamentais. A escolha do material utilizado e a iluminação. Segundo Marton, é preciso ter uma experiência muito grande em materiais, para ter a possibilidade de imaginar como cada um funcionará em cena. Também é preciso ter várias opções de custo. “O cenário nestes desfiles está muito próximo das pessoas. Tem que ser bonito ao vivo, na foto e no vídeo. Ou seja, o material deve proporcionar tudo isso e eu preciso fazer isto através de todo meu conhecimento. Substituir materiais trazendo o resultado esperado”, explica Marton. Para Clarissa, a matéria-prima não precisa ser cara. “O cenário ajuda a surpreender e a valorizar a coleção”. Normalmente, o que faz uma * Fotos da abertura: 1 - Viktor&Rolf | verão 2009 2 - Stella McCartney | verão 2009 3 - Ronaldo Fraga | inverno 2006 4 - Poko Pano | verão 2007

boa cenografia de passarela é fantasia, humor, originalidade”, acredita. O luminotécnico Maneco Quinderé, proprietário da Maneco Quinderé e associados, diz que a primeira exigência dos seus clientes é que a luz proporcione um efeito teatral, mas sem atrapalhar o trabalho dos fotógrafos e cinegrafistas. Segundo Maneco, que trabalha atualmente para Forum, Triton e Iodice, a iluminação essencialmente tem que combinar com a coleção e com o tema escolhido. “É quase que um ato cirúrgico. É tão frágil, tão rápido. É um trabalho de seis meses, exibido em 12 minutos. Por isso há pouco ensaio e muita conversa. Como se fosse a primeira tomada da gravação de um filme: sempre é a melhor, tem mais emoção”, resume. 5 - Ellus | verão 2009 6 - John Galliano | inverno 2010 7 - Chanel | inverno 2009 8 - Alexandre Herchcovitch | verão 2005 9 - Movimento | verão 2008

É quase que um ato cirúrgico. É tão frágil, tão rápido. É um trabalho de seis meses, exibido em 12 minutos. Por isso há pouco ensaio e muita conversa.

Maneco Quinderé

Cenografia assinada por Marton para a grife André Lima na coleção de verão 2008


l e v á t n suste

de s ign

colaboração: Carine Hattge e ingrid scherdien

fotos: reprodução e divulgação

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Horta urbana Você já parou para pensar sobre a quantidade de alimentos que jogamos no lixo diariamente? Frutas e vegetais inteiros são desperdiçados! A produção e comercialização em larga escala desses produtos aumentam esse problema. Uma forma de amenizar isso é ter uma hortinha em casa, o que geralmente não ocorre, devido à restrição de espaço. Neste contexto, surgiu o VeggiePatch, um sistema modular para a criação de hortas urbanas, desenvolvido por americanos. É uma espécie de tapete verde, com esferas vazadas, que se adapta a diversos espaços, pois tamanho e contorno são definidos por seus usuários. Com sistema de irrigação por gotejamento, controla a velocidade do fluxo da água sobre a superfície e permite que várias espécies se desenvolvam lado a lado, sem prejudicar seu crescimento e qualidade. Dessa forma, é mais fácil ter alimentos fresquinhos dentro de casa sem precisar de muito espaço, evitando o desperdício e contribuindo com a sustentabilidade do planeta. Confira no site http://veggiepatch.weebly.com/

Carro do futuro Imagine-se no ano de 2020: como serão os meios de transporte? Os apaixonados por ficção científica podem imaginar um veículo com tecnologia ainda inexistente, mas em vista às atuais condições ecológicas, devemos pensar em um futuro sustentável. Felizmente, a indústria automotiva tem procurado alternativas, como combustíveis renováveis, mas ainda há muita pesquisa pela frente. Apresentado em 2007, o “c,mm,n” (Commons) é um carro inovador, tanto em sua forma com design diferenciado quanto em seu funcionamento. Utilizando uma unidade de sistema elétrico, o veículo praticamente não polui o meio ambiente, é prático na utilização dos painéis de controle e proporciona o máximo de conforto. Mais do que apenas um carro, o c,mm,n é uma comunidade que pesquisa formas para o desenvolvimento de uma mobilidade sustentável. Quer saber tudo em detalhes? Visite http://www.cmmn.org/


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Nada além de papelão A agência de comunicação Nothing, situada em Amsterdã, na Holanda, resolveu ser criativa não só em seus trabalhos publicitários, mas também na própria estrutura física da empresa. O escritório foi totalmente construído em papelão, com projeto desenvolvido pelos designers Joost van Bleiswijk e Alrik Koudenburg. Alrik teve a ousada ideia de usar o papel cartão para fazer o interior completo. Joost desenhou todos os detalhes. Apresentando a proposta ao fundador da empresa, Michael Jansen, receberam aprovação para levar o projeto adiante. Todos os móveis do escritório são de papelão compostos por uma série de volumes que se encaixam e não usam nem parafusos, nem cola. O resultado foi uma decoração diferente, acolhedora e 100% ecológica. Veja mais imagens em www.nothingamsterdam.com

Cabides reciclados A GlobalShop, maior feira de produtos e serviços para ponto de venda e varejo, apresentou diversas novidades em sua última edição, que ocorreu em março de 2009, na cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos. Um dos lançamentos foi a linha de cabides Ditto Ecological Paper Hanger, fabricados 100% em papelão reciclado, uma excelente alternativa com posicionamento sustentável e bem menos poluente do que o plástico. Os cabides suportam bem o peso das roupas, não deformam facilmente e podem receber a impressão de imagens diversas. Em duas versões: simples e com clipes de metal removíveis. Saiba mais: www.dittohangers.com


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c ul t ura

p o r E d ua r d o Mot ta *

Moda e outras coisas

foto: Pedro David/divulgação

* Eduardo Motta é designer, consultor de moda da UseFashion, com formação em Artes Plásticas e autor do livro “O Calçado e a Moda no Brasil - Um Olhar histórico”.

Moda e Tédio Fui atrás de um livro sobre moda do filósofo escandinavo Lars Svendsen. Infelizmente, como a obra ainda não foi traduzida para o português, não figura nas livrarias. Uma coisa leva a outra, e em uma delas encontrei um título diferente do mesmo autor, ‘A Filosofia do Tédio’. Como dá para perceber, o assunto não era nem aproximado, contudo, ambos interessaram ao filósofo, e como o filósofo me interessava, voltei sem a ‘Moda’ e com o ‘Tédio’ para casa. Embora a troca pareça estranha, terminei por achá-la justa. É que no livro encontrei uma das boas reflexões que me caíram pela frente nos últimos tempos. É parte de um poema do T S. Eliot, que em dado momento se pergunta: Where is the knowledge we lost in information? (Onde está o conhecimento que perdemos na informação?). Voltando ao Svendsen, uma das coisas que ele diz sobre o tédio é que ele se instala quando há um déficit de significados. Todo mundo quer que sua vida faça sentido. Quando não faz, é tiro certo, somos arrastados sem esboçar resistência para a margem do desinteresse. Joguei a frase na internet e colhi algumas opiniões interessantes. A maioria delas lembra que seria bom voltar-se para os livros. Concordo. Semana que vem deixo o tédio em casa e volto à livraria em busca do que é que a filosofia tem a dizer sobre a moda.


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Moda e Viagens

Moda e Humor

A história do homem é a história das viagens, da odisséia de Ulisses às nossas pequenas e preciosas fugas de feriado. É nas viagens que coletamos informações, alguma experiência e um mínimo de capacidade de lidar com o que não é igual ao que já conhecíamos.

Há alguns anos, a busca de um mote para uma campanha do Sistema UseFashion convergiu até o bolo que ilustra esta página. A ideia era associar objetos fora do terreno da moda com ela mesma. Uma forma didática de explicitar processos e possibilidades de pesquisa e criação. No caso do bolo, este palacete rococó de três andares, a relação estabelecida caiu nos rufos, bordados e laços românticos cor de rosa. Funcionou. No mês seguinte, um lagarto fake, tão verde quando o bolo era cor de rosa, virou o novo garoto-propaganda ao lado de bolsas em couro de crocodilo. Este recurso, de estabelecer vínculos e sentidos pela justaposição de imagens, é um velho truque semiótico. No campo da moda, ele é arroz de festa nas escolas, mas ainda surpreende boa parte da indústria quando empregado para auxiliar na construção do objeto de moda, e não para vendê-lo. No site www.trust-fun.com vi montagens parecidas com a do bolo. No caso, o objetivo era outro, o humor, puro e simples. As imagens estavam organizadas como fatores de uma conta de somar e o resultado eram estas paródias divertidas de looks de moda. A verdade é que todos eles eram realmente vulneráveis à brincadeira, como é possível conferir. Temos, então, o mesmo recurso com destinos diferentes e uma conclusão besta para este texto, travestida de receita, mas que pode ser útil para nós profissionais do ramo, eventualmente acometidos de tensões e dores inexplicáveis no dia-a-dia de trabalho. Moda é negócio, é cultura, mas é como um entretenimento: se não dá para rir de si mesma, aborrece, e o que é pior, também não vende.

Até que sejam realizadas, as viagens são como parênteses vazios, colocados em um ponto à frente, prontos para serem preenchidos com narrativas diferentes das usuais. Tem viagens alucinadas, aquelas dos que vão para não voltar. Tem viagem psicodélica, bad trip, e tem também viagem de pesquisa de moda. Estas eram de um jeito. Hoje são de outro. O campo da moda cresceu, bebe na sociologia, filosofia, semiótica, etnografia, antropologia, cinema, artes visuais, gastronomia, tecnologia, estatística, química e descamba em museus, clubes e em gente passando pela rua. A rua é uma fonte do passado que não perdeu força. Ao contrário. Ela não é erudita, não é especializada, e nem por isso desprivilegiada. Cada um que passa veste um manto de implicações subjetivas, sociais, etc., etc. Uma vez encontrei um profissional em viagem de pesquisa. Convidei-o para assentar um pouco e ver o movimento. Era grande o fluxo de passantes, mas os vazios entre uns e outros criava contornos bem definidos contra o paredão do edifício ao fundo. Fazia calor e era um dia perfeito para observar como as pessoas respondiam ao clima, suas escolhas de cores, as proporções, as combinações de estampas, a adequação com o biótipo, o desempenho dos tecidos, a modelagem, a identificação de marcas, os comportamentos por faixa etária, nível social, hábitos coletivos e singulares, e vai por aí. Insisti outra vez, mas ele argumentou que não tinha tempo a perder, e nem via nenhuma vantagem em ficar ali parado. Eu fiquei por lá. Viajando, como ele mesmo disse. Notei uma indisfarçável conotação pejorativa na palavra viajar.

foto: UseFashion

fotos: reprodução


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p er f il

Gabriel Felzenszwalb O nome à frente da InBrands e do calendário da moda nacional Por Inêz Gularte

Com apenas 33 anos, ele ocupa um dos cargos mais importantes do momento quando o assunto é moda brasileira. CEO da InBrands, holding operacional constituída em 2007 no Rio de Janeiro a partir de recursos do Pactual Capital Partners, Gabriel Felzenszwalb preside um portfólio que inclui os dois maiores eventos de moda brasileira, SPFW e Fashion Rio, além de marcas como Ellus, 2nd Floor, Isabela Capeto, Alexandre Herchcovitch e a revista Mag!. Formado em Engenharia Metalúrgica, com pósgraduação em Administração de Empresas, ele traz

um perfil bastante tradicional no mundo corporativo, mas bem incomum no negócio de moda nacional. Houve quem perguntasse: mas o que um engenheiro entende do assunto? Ao que indicam as notícias que mais causaram frisson no circuito da moda brasileira nos últimos dois anos, tudo.

com a Firjan, que resultou na obtenção da licença para operação e uso da marca do Fashion Rio e da bolsa de negócios Fashion Business por 10 anos. O anúncio, que aconteceu a menos de dois meses do evento carioca, causou surpresa geral e, novamente, agitou o mercado.

O presidente da InBrands esteve à frente da negociação em que a holding adquiriu 50% da Luminosidade, empresa de Paulo Borges, idealizador do SPFW, em agosto de 2008. E mais recentemente, em abril deste ano, à frente da parceria

A UseFashion conversou com Gabriel Felzenszwalb a respeito de sua trajetória profissional e também sobre sua visão do negócio da moda no Brasil.


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fotos: © Agência Fotosite

Movimentação no backstage da 2nd Floor no SPFW

Momentos finais do desfile da Ellus no SPFW

UseFashion: De que maneira sua formação auxilia em seu trabalho?

GF: Continuamos buscando marcas fortes, com potencial de crescimento, e empreendedores alinhados com nossa visão de negócios.

Gabriel Felzenszwalb: Da engenharia, carrego o rigor analítico e a capacidade de estruturar problemas.

UF: Existe interesse por parte da InBrands no Rio Summer? De que maneira?

UF: O senhor está à frente de um dos negócios mais cobiçados quando o assunto é moda nacional. Como chegou a essa posição? GF: Muito trabalho, dedicação e sorte. UF: Como é sua rotina?

GF: O Rio Summer é tocado por uma equipe da mais alta competência. O mercado brasileiro como um todo tem interesse no sucesso do Rio Summer, assim como no sucesso do SPFW e do Fashion Rio. Vale lembrar que uma de nossas marcas, Isabela Capeto, participou do último Rio Summer.

GF: Divido meu tempo entre a supervisão dos negócios existentes no nosso portfólio e a prospecção de novas oportunidades. UF: Ações ousadas de mercado se encaixam em seu perfil profissional? GF: Não. Na InBrands, acreditamos em consistência de longo prazo. UF: Qual a importância da unificação do calendário da moda nacional? GF: Tínhamos dois eventos concorrentes que agora passarão gradualmente a complementares. Todos ganham com cada evento explorando melhor sua vocação. UF: O que podemos esperar da InBrands em termos de novas parcerias na moda?

UF: Na sua opinião, o que falta à indústria da moda brasileira? GF: Moda é negócio. Grandes marcas brasileiras, que despertam enorme desejo de consumo, ainda se apoiam em modelos de gestão ineficientes, onde as contas só fecham a custa de informalidade. Acreditamos que a moda vai seguir o que aconteceu com outros setores: o governo vai intensificar a fiscalização e a sonegação vai diminuir. Com todos pagando seus impostos, só sobreviverão aqueles que souberem aliar imagem e desejo a uma logística e gestão eficientes.

Grandes marcas brasileiras, que despertam enorme desejo de consumo, ainda se apoiam em modelos de gestão ineficientes, onde as contas só fecham à custa de informalidade.

Alexandre Herchcovitch nos bastidores antes do desfile feminino de inverno 2009 no SPFW

UF: Como as empresas de moda do Brasil podem enfrentar a concorrência de produtos asiáticos no mercado interno e externo? GF: Para enfrentar a concorrência internacional, em especial a asiática, as empresas brasileiras precisam ser cada vez mais eficientes e inovadoras, o que é muito difícil, pois precisam aprender a economizar com o que não as diferencia e investir muito no que traz vantagem competitiva. UF: Quais são as principais variáveis de cenário que um empresário de moda brasileiro deve observar? GF: O empresariado brasileiro de moda deve observar, além dos dados econômicos básicos como PIB, renda, crédito e desempenho da concorrência, como anda a qualidade da fiscalização da receita federal e as estaduais. Acredito que práticas informais serão, em breve, coisa do passado e os empresários que não se prepararem podem ter problemas sérios. UF: O que a moda brasileira possui de diferencial competitivo no mercado global? GF: A moda brasileira não é competitiva ainda internacionalmente. Que grifes têm sucesso no exterior? Os custos no Brasil ainda são muito altos. A carga tributária é altíssima, os juros são altos e a cadeia logística é ineficiente. Adicionalmente, os investimentos necessários para ter presença global são grandes e, fora algumas exceções, não há muitas marcas nacionais preparadas para ter presença relevante fora do Brasil.


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negóc ios

Le Cuir | Paris

Pure | Londres

Feiras ao alcance das mãos Associações oferecem incentivos para aumentar participação das empresas Por DAniel Bender

Mostrar o seu produto para o mundo, eventualmente, pode ser uma tarefa complicada, principalmente se a empresa for pequena ou estiver entrando em um mercado novo. Neste momento, participar de feiras do segmento pode ser a chave para o sucesso na empreitada. Em alguns casos, as vendas decorrentes de uma participação bem-sucedida em um evento de porte nacional ou internacional podem movimentar a empresa durante a temporada. Em outros casos, os contatos feitos durante a feira e a possibilidade de conhecer a coleção dos concorrentes em primeira mão compensam o investimento. Com este cenário de vantagens conhecido, várias associações de fabricantes buscam oferecer

incentivos para aumentar a participação de seus associados nos eventos mais relevantes do setor. Em alguns casos, organizar uma excursão para visitar determinada feira ajuda tanto quanto montar um estande coletivo. Em outros, trazer compradores ou jornalistas estrangeiros é o ponto alto do trabalho. Foco no regional Implantado na década de 1980 como uma das ações necessárias para promover o desenvolvimento regional, o Sindvest de Nova Friburgo é uma das instituições-chave para a região que é referência brasileira em moda íntima e praia. Hoje, a entidade promove excursões para feiras

regionais, estandes coletivos em feiras estaduais e um dos maiores eventos nacionais de moda, a Fevest (Feira Brasileira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima). Apesar do sucesso, o foco de atuação da entidade ainda está nas pequenas e médias empresas. Um bom exemplo é a fabricante de moda íntima de Nova Friburgo, Lucitex, que costuma participar de feiras regionais e estaduais com o apoio do Sindvest. O incentivo já vem de longe, desde a primeira Fevest até outras feiras regionais. O resultado, segundo a empresa, tem sido bem satisfatório. É comum que, após um evento, a produção fique comprometida por vários meses devido aos pedidos fechados.


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fotos: UseFashion

Bread & Butter | Barcelona

Ainda assim, segundo Nelci Layola, administradora da empresa, os resultados são em sua maioria intangíveis. “Quando aumentamos a visibilidade de um polo, como é de Nova Friburgo, a cidade passa a ser referência nacional e com isso recebe visitas de compradores todo o tempo, sendo assim, temos reflexo até hoje da primeira feira que participamos”. Voltado para o exterior A Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) mantém um programa robusto em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportação). Trata-se do Brazilian Footwear, que organiza viagens de prospecção

Première Vision | Paris

de mercado, participação nas principais feiras internacionais do segmento e convites a compradores internacionais para eventos no Brasil. Em alguns casos, graças aos incentivos da ...temos reflexo até associação e da Apex, hoje da primeira feiempresas do setor con- ra que participamos. seguiram manter um bom volume de vendas durante o período de Nelci Layola - Lucitex real supervalorizado dos últimos anos. Cerca de 25% do faturamento da Bical, fabricante de calçados infantis de Birigui, São Paulo, vêm

GDS | Düsseldorf

de negócios fechados em feiras, segundo Silton Freire, gerente comercial da empresa. Ainda assim, o objetivo nesses eventos é mais amplo. “Para nós, que já temos uma atuação forte no exterior, as feiras, além de eventos focados em novos negócios e contatos, são também ponto de encontro e de apresentação de coleção de tendências aos nossos representantes e distribuidores das diversas regiões do mundo”, explica. Entre os incentivos do programa Brazilian Footwear para os fabricantes, estão a possibilidade de dividir o custo quando se trata de um estande coletivo, ter subsídio da Apex e até assessoria de imprensa internacional em alguns eventos.


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c am pu s

4º Prêmio Tok&Stok Design Universitário Quase R$ 30 mil em premiações A proposta da 4ª edição do Prêmio Tok&Stok de Design Universitário é a criação de um móvel que estimule o ato de descansar. Com R$ 28 mil em premiações, o concurso vai premiar autores e professores orientadores. Podem participar alunos regularmente matriculados em cursos de design de produto e de tecnologia moveleira de nível superior, reconhecidos ou autorizados pelo MEC. Os projetos deverão ser apresentados até o dia 30 de junho, às 18h, na Central da Tok&Stok, em Barueri (SP), ou por Correio, em três pranchas rígidas leves,

no formato A2. O pagamento do prêmio implica na posse do projeto e no direito de produção e comercialização pela Tok&Stok. Além do prêmio, serão pagos pelo fabricante ao designer royalties equivalentes a 5% do custo do produto, descontados os impostos. A decisão da comissão julgadora deverá ser divulgada em outubro, pelo site da Tok&Stok, e a cerimônia de premiação será em novembro, na cidade de São Paulo. O primeiro colocado recebe um cheque no valor de R$ 10 mil e a produção do protótipo. O professor orientador ganha

um vale móvel no valor de R$ 3 mil. Segundo e terceiro lugar também ganham prêmios, de R$ 7 e R$ 4 mil reais, respectivamente. Seus orientadores receberão, cada um, vales para compra de móveis no valor de R$ 2 mil. Confira, nas fotos abaixo, os trabalhos premiados no ano passado, quando o tema do concurso foi “estudar“. Mais informações: www.tokstok.com.br Inscrições: até 30/06/2009

fotos: divulgação

1º lugar - Escrivaninha Rolling, de André Cepollina, aluno da FAAP, São Paulo

2º lugar - Tok&Study, de Helder Filipov, da Universidade Federal do Paraná - UFPR

3º lugar - Cushi, de Maurício Rocha Ribeiro, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, no Rio Grande do Sul

A jurássica arte do Design André Guths tem trabalho divulgado

Antes mesmo de ingressar na faculdade, André já atuava como desenhista. Isso era previsível, visto que sua curiosidade e talento começaram a aflorar precocemente. “Quando pequeno olhava fotos de carros, aviões, pessoas, dinossauros e tentava copiá-las em folhas de papel”, confessa. Mesmo com o gosto pelo desenho, ele diz que, na época, nem passava por sua cabeça a possibilidade de estudar algo do gênero no ensino superior. Mas isso acabou acontecendo naturalmente. Há dois anos, André trabalha em uma agência de comunicação, experimentando e buscando soluções para as mais variadas peças (embala-

gens, logotipos, etc). “Acredito que nada é por acaso. Gosto de atuar com tudo o que estimule meu lado criativo e o design me dá isso”, confessa. Ao ler a revista Computer Arts, resolveu enviar o seu trabalho “The Lost Head”, criado através dos softwares ZBrush, 3DMax e Photoshop. Os editores não só gostaram, como também resolveram fazer uma matéria com André. Essa exposição ampliou ainda mais o engajamento do jovem pelo design. O aluno da ULBRA ressalta, porém, que para obter a plena realização na profissão é fundamental buscar embasamento. Por isso resolveu ingressar na Universidade para lapidar a vocação que

descobriu ainda criança. Para o futuro, André quer fazer trabalhos para grandes marcas, e depois montar uma agência. Desenhos de carros e dinossauros não vão faltar.

foto: divulgação

Carros e dinossauros não saíam da cabeça de André Guths quando criança. Ou melhor, saíam e ganhavam formas por meio de lápis, canetas e papel. O desenho sempre foi a paixão desse jovem que, mesmo ainda no segundo semestre de Design na ULBRA, já tem experiência de alguns anos no mercado. Recentemente, ele colocou um de seus trabalhos na conceituada revista nacional do segmento, Computer Arts.

The Lost Head - trabalho de André Guths


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Next Generation foto: divulgação

Aluna do IPA é a vencedora Carla Bal, estudante do curso de Design de Moda do Centro Universitário Metodista, do IPA, de Porto Alegre, apresentou sua coleção no Donna Fashion Iguatemi como prêmio por ter vencido o concurso Next Generation. Promovido pelo evento, em parceria com as faculdades de moda e estilo do Rio Grande do Sul, o concurso escolhe o melhor novo criador de moda da temporada e viabiliza o desfile de uma coleção própria para o ano seguinte. Carla Bal foi vencedora de 2007.

cursos & concursos Ilustração de Moda Técnicas de Rendering A UCS, Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, através do curso de Tecnologia em Moda e Estilo promove a especialização Técnicas de Rendering para Ilustração de Moda no mês de julho. Destinado a estudantes e profissionais da área, o curso tem o objetivo de capacitar o participante a desenvolver ilustrações de moda, ampliando o domínio dos materiais e auxiliando o aluno a desenvolver um estilo próprio. Saori Adriana Murakami, profissional com atuação na área de desenvolvimento de coleções e produtos, modelagem, pilotagem, consultoria e pesquisa, produção de catálogos e rendering de ilustração será a ministrante do curso.

Na passarela, a coleção batizada de Panca, composta por 20 looks todos eles em preto (11 femininos e 9 masculinos), usou técnicas de matelassê, pregas e tramado. Os tecidos foram meia-malha, tricoline, sarja e moletom. A trilha sonora foi executada, ao vivo, pela banda Império da Lã. Para o coordenador do curso de Design de Moda do IPA, Carlos Ramiro, a participação de Carla Bal em um evento como o Donna Fashion pode significar um estímulo aos demais alunos da graduação.

Quando: 13 a 17/07/2009 Carga Horária: 32h30

Coleção de Carla Bal desfilada no Donna Fashion Iguatemi

Horário: das 15h30 às 18h30 e das 19h às 22h30 Local: Sala de Desenho 305 - Campus 8 Cidade das Artes - UCS Informações: www.ucs.br

IBGM abre inscrições para o 15º Prêmio de Design de Joias Com objetivo de promover a imagem da joia nacional, o IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos) organiza o 15º Prêmio IBGM de Design de Joias. Dividido em três categorias: “Joias da Natureza”, “Joias com Lapidação Diferenciada” e “Brazilian Ear Couture - A Cara do Brasil”, o prêmio incentiva o design de joias, valoriza as pedras brasileiras e suas diversas formas. O vencedor de cada categoria receberá a quantia de R$ 6 mil, o certificado de participação, suas joias expostas em feiras e eventos nacionais e internacionais e a publicação de suas peças no catálogo do prêmio. Destinado a designers, artesãos e estudantes de design, artes, arquitetura a áreas afins, residentes

no Brasil, o 15º Prêmio IBGM de Design de Joias tem como finalidade abrir o campo de trabalho para os designers que buscam qualidade e competitividade da joia brasileira por meio de sua diferenciação pelo design, a melhoria da imagem da joia nacional, identificar tendências de moda e de mercado, incentivar o consumo e provocar a modernização e o desenvolvimento tecnológico.

Inscrições: Pelo site www.ibgm.com até o dia 10 de julho de 2009. Informações adicionais: (61) 3326-3926 com Ana Paula ou Patrícia.

A vez do estudante

Sugira assuntos a serem abordados, opine,

A partir do conceito de Marketing, o workshop Marketing para Negócios de Moda vai debater, no Rio de Janeiro, casos de empresas de Moda. Em três encontros, o workshop será conduzido por Roberto Meireles, Mestre em Educação pela PUC-Rio, pós-graduado em Administração pelo Coppead UFRJ, engenheiro pela UFRJ, com 18 anos de experiência como docente e gestor de cursos de graduação e pós-graduação, com forte atuação na consultoria em educação e no campo do e-learning. Quando: Dias 09/07/2009, 16/07/2009 e 23/07/2009 Horário: das 18h30 às 22h30h

você na Usefashion Campus é um espaço dedicado à publicação de notícias, cursos, eventos, acontecimentos e temas que são do interesse de estudantes e professores ligados aos cursos de moda, estilismo e design. Você pode participar enviando para nossa redação sua contribuição.

Instituto Rio Moda promove Workshop

envie notas a serem divulgadas sobre a programação de sua universidade ou instituição de ensino, sobre trabalhos premiados e atividades extra-curriculares. Estamos aguardando sua participação. Contate-nos através do email: campus@usefashion.com

Local: Hotel Promenade Visconti - Rua Prudente de Morais, 1050 - Ipanema, Rio de Janeiro. Informações: www.institutoriomoda.com.br

Designers Contemporâneos Quem, Onde e Por Quê?

Também com promoção do Instituto Rio Moda, o quickshop “Designers Contemporâneos: Quem, Onde e Por Quê?” vai abordar sobre o talento dos designers mais importantes da atualidade e sua influência nas marcas em que se consagraram. O encontro será conduzido por Alessandra Marins, estilista e consultora de moda, jornalista, graduada pela Facha, com pós-graduação em Gestão Empresarial pela Candido Mendes, e em Cultura de Moda pela Anhembi Morumbi. Quando: 20/06/2009 Horário: das 9h às 16h30 Local: Hotel Promenade Visconti - Rua Prudente de Morais, 1050 - Ipanema, Rio de Janeiro. Informações: www.institutoriomoda.com.br


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opinião

Marcas alinhavam relacionamentos Vera Azeredo Pereira Barretto *

O GlobalShop 2009 reuniu, em Las Vegas, no final de março, profissionais de varejo dos mais variados países. Preocupados com o impacto da crise mundial em seus negócios e inspirados pelos ares da cidade, que prova que o homem é capaz de criar do nada as mais estonteantes realidades, eles discutiam os desafios a serem enfrentados pelo varejo.

Go green and simple Dentre os temas debatidos, percebe-se o discurso da sustentabilidade ganhando força, o que certamente obrigará, cedo ou tarde, os varejistas brasileiros a se mobilizarem. Para os que pensam deixar para mais tarde, vale lembrar que quem sair na frente ganha a bandeira verde como diferencial competitivo. A cultura da simplicidade e uma crescente rejeição aos excessos parece estar ganhando espaço nos diversos segmentos, uma tendência que pode ter suas origens na sustentabilidade: consumir menos ou apenas o necessário para reduzir o impacto de nossa passagem por esse planeta. Mas pode também ter surgido da crise financeira que leva cada um de nós a avaliar com mais cuidado onde e com o que gastar. O fato é que, ao invés de extravagantes embalagens, o consumidor atual talvez prefira uma embalagem elegante, mas que gere um impacto menor ao meio ambiente. O mesmo vale para os projetos – da arquitetura à iluminação, do mobiliário à sinalização. Menos será cada vez mais. Customer centricity Não chega a ser novidade, mas nessa época de vacas magras, o consumidor definitivamente passa a ocupar o centro das estratégias empresariais. Afinal, ele faz valer seus direitos na hora da escolha, detendo, mais do que nunca, o poder de dizer quais empresas serão dignas de atendê-lo. Em última análise, quais sobreviverão e quais perecerão. Até aí, nenhuma novidade. Gerações e mais gerações de profissionais de marketing vêm usando o mesmo discurso desde os anos 1980, sob nomes diferentes, mas, o que outrora foi chamado “o cliente em primeiro lugar”, agora chama-se “customer centricity”. Marca alinhavando relacionamentos Velho ou novo o discurso, pouco importa. O que temos que lembrar é que, quanto mais escassos os recursos financeiros, mais o consumidor quer ter certeza de estar fazendo o melhor pelo seu dinheiro, obtendo o máximo retorno pelo dinheiro gasto, o que os transforma em consumidores conscientes do que querem e ainda mais exigentes.

Vemos fortalecido o papel da marca no varejo, como fator de distinção, para que o cliente considere o produto daquela marca entre suas possibilidades de compra; como fator de diferenciação, para que olhe com mais atenção ou carinho para determinada marca; ou ainda, como fator de fidelização, trazendo de volta o consumidor que já se relaciona com a marca nos diversos canais e que a procura por preferência, por acreditar que desta forma está fazendo mais para si e por seus recursos. Relacionamento é a chave e para isso é preciso cuidar de todos os pontos de contato com o consumidor, planejando com consistência cada interação. É para assegurar maior envolvimento que as marcas contemporâneas adentram o universo de seus consumidores e constroem processos experienciais, sensoriais e perceptivos a partir da imersão nos significados e propostas que oferecem. Isso significa que não basta uma sacada legal e um grafismo ultramoderno para fazer mala direta bacana. É preciso que a comunicação seja elaborada de forma dirigida para o consumidor. Não basta uma loja bem localizada com design premiado, é preciso que o mix de produtos, os preços e a comunicação sejam adequados a seu perfil, tarefa nada fácil, mas cujos resultados são compensadores. As marcas podem ir além se prestarem atenção no que vem ocorrendo com os produtos de higiene e beleza. Antigamente o sabonete lavava o corpo. Hoje lava a alma, afinal promete o relaxamento, a sensação de bem-estar, o embelezamento como resultado do equilíbrio entre corpo e mente. No varejo de moda, poderia oferecer muito mais do que o produto e agregar a experiência que o consumidor tanto busca. O atendimento, por exemplo, é um caminho, agregaria muito à experiência de compra do consumidor. Imagine entrar em uma loja procurando por uma blusa branca e a vendedora, ao invés de simplesmente apresentar as opções disponíveis, tentasse entender a ocasião de uso, o estilo do consumidor e apresentasse não apenas o produto solicitado, mas complementos que, de verdade, fossem ao encontro das necessidades da cliente. Alinhavando todo o relacionamento com a marca e não apenas representando mais itens na meta de vendas. Entre uma loja de jeans e outra, como escolher? Mas, entre uma marca que efetivamente parece entender as necessidades do consumidor e busca com produtos e atendimento atende-las, é fácil escolher, certo? Foi muito gratificante constatar que, em meio à crise mundial, líderes varejistas de toda parte perceberam a importância de investir em suas marcas, em seus pontos-de-venda como espaços onde os consumidores se relacionam entre iguais e se relacionam com o universo da marca. No Brasil, país em que os relacionamentos ganham ainda mais importância, não há nem o que discutir a respeito: é por a mão na massa.

* Vera Azeredo Pereira Barretto é sócia-diretora da Shopfitting, empresa especializada em Store Design, Visual Merchandising e Experiência de Marca. Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi. Especialista em Gestão Estratégica da Comunicação Integrada pela ECA-USP. Membro da Diretoria do POPAI Brasil durante a gestão de 2004 a 2008 e hoje associada. Atua como professora de Desenvolvimento do PDV no curso de pós-graduação de Marketing de Varejo no SENAC e professora de Visual Merchandising no MBA de Fashion Marketing do IED – Istituto Europeo di Design. verab@shopfitting.com.br


es t ilo

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IVAN AGUILAR DESCUBRA UM POUCO SOBRE O ESTILO DE VIDA DO ESTILISTA IVAN AGUILAR EM CINCO FOTOS ESCOLHIDAS POR ELE. “Eu me defino como uma pessoa simples e com estilo determinado pela sobriedade e pela discrição. Não gosto de exageros, e me sinto mais à vontade quando estou usando roupas descontraídas e leves. Adoro andar de patins e, sempre que posso, gasto umas horinhas com meus filhos nas pistas de patinação. Sempre que viajo, busco referências para meu trabalho. foto: © Agência Fotosite

Aproveito também para conhecer os sabores da culinária local. Minhas cidades preferidas são São Paulo, Barcelona e Nova York... Meus sabores preferidos são os pratos à base de frutos do mar. E uma das coisas que mais curto é a praia. Para relaxar, basta um mergulho”.

fotos: div ulgação

sconder na ero me e u Barcelo q o d n a tinho. Qu lá. Meu can sigo para de todos,

Nova Y ork À noite, melhor lu g nosso m undinho ar do mundo pa ...rsrsrs ra esque cer d

o

za.

Praia , até triste cura tudo o lh u rg e Um m

Pai cor uja Minha fi lha Sofia ,m

inha ale

gria.

ndo com e posso, a u q re Patins p m e .S adora... e preferido Meu esport ue também é fera e ,q minha filha


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edi torial de mod a v e r ão 2010

+ Desfiles: setembro a outubro 2008

MODA EM TRÊS TEMPOS direção de pesquisa: patrícia souza rodrigues edição de moda: Eduardo Motta

fotos: © Agência Fotosite (desfiles) / UseFashion (vitrines) / reprodução (campanhas)

É hora de acionar mais uma maratona de provas de roupa, escolha de casting, definição de trilha, luz, make, etc., etc. Tudo para aproximadamente 20 minutos de desfile e a eternidade sazonal das revistas especializadas. Enquanto isso, o fotógrafo escolhe o melhor ângulo e a equipe define qual peça vestir na modelo da vez, a bela que empresta seu crédito genético para as fotos que irão correr o mundo. Na outra ponta, a loja se agita. Põe abaixo o passado, muda a cor, rearranja o espaço, acerta um padrão mundial e abre espaço para uma nova coleção. Toda estação, as grandes marcas colocam em rotatividade uma imagem de moda e precisam

dar-lhe potência a ponto de torná-la convincente e desejada. Um tripé poderoso dá sustentação a esta busca por visibilidade e empatia comercial em tempo recorde: o desfile, a campanha, a vitrine. Mas, de uma etapa à outra, como cada marca trata a questão? Como fica a unidade de estilo entre estes três pontos de exibição? Na verdade, cada uma delas resolve à sua maneira. Em comum, todas elas constroem uma imagem e negociam, em maior ou menor grau, com a dualidade de se deixar guiar pela demanda e impor uma visão de estilo.

momentos da moda em um só, segundo grandes marcas internacionais. E joga luz sobre o assunto da melhor forma possível: através de imagens. Observamos os desfiles que aconteceram em setembro e outubro de 2008 e analisamos, como as coleções chegaram às campanhas publicitárias das marcas, a partir de janeiro de 2009, nas publicações internacionais. Também nesse mês, as primeiras vitrines do verão começaram a ser montadas no hemisfério norte. É a partir delas, que representam as apostas das lojas sobre o que está vendendo, que iniciamos nossa análise.

A edição a seguir, montada em sentido inverso, ou seja, a partir da vitrine, pode não responder a todas estas perguntas, mas une estes três

Vale lembrar que o verão 2010 continua sendo comercializado até o final de agosto.


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Campanhas:

janeiro a ag osto 2009

+

Vitrine

s: jane iro

a agos to

2 0 09


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Milão

Florença

Milão

Milão

Miu Miu Artsy, jovem e segura. Representar esta combinação de qualidades da mulher Miu Miu caiu nas mãos da atriz Katie Holmes, fotografada por Mert Alas e Marcus Piggott. Para dar lastro cultural à coleção, a marca incorporou a Roma Antiga em motivos decorativos, estamparias e no vestido túnica. O efeito destroyed fala de passado e tradição tanto quanto de contemporaneidade. O clima clássico é reforçado pelas poltronas antigas.

Paris


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Nova York

Nova York

Nova York

Nova York

Oscar de la Renta É tudo sobre luxo no mundo deste costureiro. A beleza clássica da top Raquel Zimmermann, clicada por Craig McDean na campanha, se junta à cadeira aristocrática na vitrine para reafirmar este universo de exclusividade e apreço exagerado pela noção de chic. O passado tem também um gosto anos 60, com outra brasileira, Bruna Tenório, desfilando de coque alto o mesmo conjunto exibido na vitrine.

Nova York


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Nova York

Nova York

Nova York

Donna Karan Pragmática, a americana que faz bonito com a funcionalidade extrema, disparou desfile de muitos vestidos em materiais de aspecto líquido e campanha com imagens extraídas dele mesmo. Desdobrando passarela, campanha e vitrine, um a partir do outro, a marca exibe nos três momentos e de forma linear, o mesmo mundo em tons quentes e comerciais de terra. A campanha é estrelada por Anna Jagodzinska e Constance Jablonski.

Nova York


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Nova York

Nova York

Nova York

Nova York

Chloé Com bela coleção desenhada pela inglesa Hannah MacGibbon a Chloé a certou a mão no desfile, mas se superou mesmo foi na ótima campanha na qual Anna Jagodzinska e Toni Garrn são clicadas por Mikael Jansson. As imagens são contagiantes, com algo de irresistivelmente moderno nas duplas de garotas em movimento. A vitrine retoma o tom do desfile, contido, delicado, e de um romantismo jovem bem adequado aos anos 2000.

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Paris

Paris

Paris

Paris

Max Mara A marca best seller italiana levou o trabalho de styling do desfile para as fotos de campanha em poses de catálogo moderno, com Eniko Mihalik e Lakshmi Menon clicadas por Craig McDean. O fundo neutro da passarela virou um interior todo branco, para as imagens da campanha, reproduzido na vitrine. Ele emoldura o colorido forte da roupa fotografada. O contraste é dado pelas peças expostas em tons claros e tecidos de fibras naturais.

Milão


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Roma

Roma

Nova York

Christian Dior O desfile deságua nas esplêndidas imagens de Gisele. De franja e hiperssexy ela dá substância jovem à tradição Dior na campanha fotografada por Craig McDean. Mas algo se perde no trajeto até a loja, com vitrines apelando mais para o passado da casa e para a consumidora tradicional Dior. Fica de fora a forte carga do erotismo das referências adotadas por Galliano em parte do desfile e nas fotos de campanha.

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Roma

Roma

Milão

Fendi Na vitrine, a marca amenizou o efeito dos vestidos acinturados de grandes ancas salientes, que definiram o desfile e a campanha. Eles foram aliados a looks comerciais, enxutos e desestruturados, lado a lado com os elaborados florais. A variedade das propostas de Karl Lagerfeld - cintura e ancas, transparências, corte a laser, entre outros - deu origem a imagens também diversificadas em cada uma das situações. A campanha com a modelo Toni Garrn foi fotografada por Karl Lagerfeld.

Milão


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Milão

Milão

Dolce & Gabbana O desfile é sempre um espetáculo para a Dolce & Gabbana. Não espere ver tudo aquilo na vitrine, mas as imagens são fortes e realmente ajudam a vender peças básicas, lado a lado com os cobiçados acessórios da marca. No caso da Dolce, a estratégia funciona. Mas é o caso de se perguntar onde foram parar os enormes ombros redondos de Minnie Mouse, apresentados nas fotos de campanha, contra o fundo de um ambiente barroco. Nela, as modelos Lauren Hutton, Karlie Kloss, Chanel Iman, Mariacarla Boscono, Jessica Stam e Caroline Trentini foram fotografadas por Steven Klein.

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Milão

Milão

Milão

Hermès Jean Paul Gaultier imprime o mesmo tom aos três momentos da Hermès. A estética haras-chic da clássica casa francesa convive bem com a nômade global adotada por ele. O que está no desfile, aparece potencializado na campanha com Angela Lindvall fotografada por Darius Khondji, que reforça ao máximo o clima da viagem de aventura. Mas os produtos chegam todos à vitrine e os clássicos da Hermès estão lá, inclusive os lenços estampados e a disputada bolsa Birkin.

Paris


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Nova York

São Paulo

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Giorgio Armani Este hábil criador de roupas e imagens explora com perfeição os momentos de exibição da sua marca. O mundo Armani é concebido para agradar e ele evita impactos transformadores sobre a percepção da cliente. A monotonia bem comportada é redimida pela excelência técnica. Entre o desfile e a vitrine, ele insere a campanha em preto e branco e imprime um clima onírico à sua sempre muito usável coleção. A campanha é estrelada por Sasha Pivovarova, clicada por Mert Alas e Marcus Piggott.

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Milão

Londres

Milão

Milão

Vivienne Westwood O desfile de looks e peças assimétricas, montadas como colagens irreverentes, chegou à campanha com Pamela Anderson, em todo o esplendor do silicone que ela mesma lhe deu. A própria Vivienne, dependurada no maridão, aparece ao fundo, na campanha fotografada por Juergen Teller. A mistura de clássicos da costura inglesa com tudo que há de contravenção pop-erótica das últimas décadas é o que vai também para a vitrine.

Londres


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Paris

Paris

Paris

Lanvin Alber Elbaz cria imagens de luxo, com gosto de alta-costura e acabamento com tratamento visual contemporâneo. A marca faz o mesmo na transposição para a campanha onde Iselin Steiro é fotografada por Steven Meisel e exibe garotas vestidas para matar em ambientes decadentes e sobre sofás detonados. Na vitrine, a receita se repete com sucesso. Estão lá os fabulosos drapes, desta vez vestidos por manequins tipo boneca de pano, em poses não exatamente clássicas e com os acessórios bem coordenados com as roupas.

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Milão

Nova York

Milão

Nova York

Roberto Cavalli O estilista italiano leva à passarela, campanha e vitrine o DNA da marca, composto por estampas, vestidos exuberantes e apelo sexy. Como uma das grifes que mais vende na Itália, a Roberto Cavalli prefere não se afastar da sua zona de segurança. Na campanha, a bela Daria Werbowy é fotografada pela dupla Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin.

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Hong Kong

Milão

Milão

Milão

Moschino A grife italiana fez na passarela o que mais gosta: se divertir. A roupa e os acessórios são feitos para mulheres irreverentes e que não temem pecar pelo exagero. Sob direção criativa de Rosella Jardini, a Moschino foi buscar inspiração nos anos 60. Para a campanha, apostou num grande painel fotográfico com rostos sorridentes. A modelo Yulia Kharlapanova foi clicada por Patrick Demarchelier. Na vitrine, é possível conferir a mistura do pop com o clássico iluminada pelo grande lustre de cristal.

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memória m em ória foto: divulgação

Diana Vreeland "Dinheiro ajuda a tomar café na cama. Estilo ajuda a descer uma escada." Por juliana zanettini

Diana Vreeland nasceu Diana Dalziel em 29 de junho de 1906 em Paris. Apesar de pertencer a uma família de muitas posses, teve infância conturbada, pois eram constantes as cobranças da mãe em relação a sua aparência física, que não era nada agradável. Talvez por este motivo, mais tarde Vreeland tenha adotado um estilo extravagante, buscando diferenciar-se por intermédio da moda. Casou-se com o banqueiro Thomas Vreeland em 1924 e, logo no início da quebra da Bolsa de Nova York, mudaram-se para Londres. De volta a Nova York, em 1937 alavancou sua carreira como colunista da Harper’s Bazaar com a coluna “Why Don’t You…?” na qual sugeria ao leitor dicas como “Por que você não lava o cabelo loiro de seu filho com champanhe?”. Reza a lenda que sua chefe Carmen Snow a viu dançando com seu marido vestindo um modelo Chanel e teve a intuição de que Diana poderia ser uma ótima colaboradora para a revista. E foi o que aconteceu. Na Harper’s Bazaar ela trabalhou por 25 anos, porém foi na Vogue América que se transformou em ícone de moda. Nesta última, ela atuou de 1962 até 1971, transformando a revista na mais importante edição do mundo, revolucionando os métodos de jornalismo de moda. Ela ganhava salário altíssimo, além de motorista particular e crédito ilimitado para a compra de roupas. De temperamento difícil, odiava reuniões e ordenava que suas assistentes usassem bijuterias barulhentas para que ela sempre soubesse quando estavam por perto. Vreeland inclusive demitiu uma funcionária por não gostar do barulho que seus saltos faziam. Com feeling para descobrir novos talentos, foi responsável pelo sucesso de modelos como Twiggy, Verushka e Lauren Hutton, além de consagrar estilistas como Emilio Pucci e fotógrafos como Richard Avedon. Com aguçada sensibilidade, captava a beleza onde poucos podiam enxergar. Logo, Diana se encantou com estranheza de atrizes como Anjelica Huston e Barbra Streisand. Entre algumas de suas célebres frases, a editora afirmou, em 1946, que o biquíni foi a invenção mais importante de todos os tempos depois da bomba atômica. Uma vez que os testes para a explosão foram feitos no Atol de Bikini, daí surgiu o

nome do modelo bombástico. No ano de 1971, com o estouro do orçamento da Vogue, Diana, que tinha equipes de fotógrafos pelo mundo todo, saiu da revista de forma humilhante, pois todos já sabiam de sua demissão, menos ela. Em 1972, graças à amiga Jackie Onassis, ela se tornou consultora do Instituto de Vestuário do Metropolitan Museum of Art. Criou exposições como “The World of Balenciaga” (1973), “Hollywood Design” (1974), “The Glory of Russian Costume” (1976), e “Vanity Fair” (1977). Pobre e cega morreu em 22 de agosto de

1989. Na cama, recebia a visita diária do amigo André Leon Talley e contava-lhe que seus olhos haviam se cansado de ver coisas bonitas. Certamente Diana Vreeland foi a mais importante editora de moda de todos os tempos, não somente porque foi ela quem inventou esta profissão, mas pela criatividade sagaz e talento apurado para captar tendências. Costumava afirmar: “Sei o que elas vão usar, antes de elas usarem. O que vão comer, antes de comerem. E até mesmo para onde vão antes mesmo de o lugar existir.”




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