Urovirt marco2012

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edição março de 2012


Dr. Carlos D'Ancona Urologia Virtual (UROVIRT) é o órgão de divulgação da Disciplina de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp na Internet. Urovirt é editada mensalmente trazendo revisões de assuntos das diversas subespecialidades da urologia, novidades, controvérsias, bem como informações da Disciplina de Urologia da Unicamp.


corpo EDITORIAL EDITOR ASSOCIADO:

EDITORES:

Dr. Carlos D'Ancona

Dr. Paulo Palma

Dr. Daniel Carlos Silva

CO EDITORES

Dr. Cassio Riccetto

Dr. Ricardo Miyaoka

COMITÊ EDITORIAL - RADIOLOGIA

Dr. Adilson Prando

Dr. Ricardo Souza

COMITÊ EDITORIAL - ANATOMIA PATOLÓGIACA

Dr. Athanese Billis

COMITÊ EDITORIAL

Dr. Guido Barbagli

Dr. Manoj Monga Dr. Mario João Gomes Dr. Mark Soloway

Dr. Matthias Oelke Dr. Philip van Kerrerbroek


caso CLÍNICO edição: março de 2012 Elaine Bronzatto, Daniel Carlos Silva Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

Nefrectomia Parcial Uso de cola biológica no auxílio da hemostasia


caso CLÍNICO edição: Março de 2012 Elaine Bronzatto, Daniel Carlos Silva Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

F.A.S. 56 anos, sexo masculino, atleta, jogador de squash, assintomático. Durante exames de rotina foi observado lesão em rim esquerdo na ultrassonografia. O paciente realizou a ressonância magnética para melhor elucidação da lesão renal, visto que era alérgico a contraste iodado (Fig. 1 a 4).

Figuras 1 e 2: Ressonância magnética, imagens ponderadas em T2, cortes axial e coronal, mostrando lesão expansiva (setas) mesorrenal, hetrogênea.

Figuras 3 e 4: Ressonância magnética, cortes axial e coronal, com contraste para-magnético, com captação discretamente heterogênea. Evidencia lesão (seta amarela) com área de necrose central (*) e proximidade da lesão com o sistema coletor. Na segunda imagem a característica exofítica da lesão fica evidente (seta vermelha).


caso CLÍNICO edição: Março de 2012 Elaine Bronzatto, Daniel Carlos Silva Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

As imagens da ressonância magnética confirmaram tumor sólido, que capta contraste, de características heterogêneas sendo as hipóteses diagnósticas de carcinoma pailífero e oncocitoma. Devido a localização, proximidade com o sistema coletor e o tamanho do tumor foi optado por realizar nefrectomia parcial aberta.

Figura 5: Resfriamento do órgão com soro fisiológico congelado e clampeado pedículo vascular. Lesão tumoral (seta).

Figura 8: colocação da esponja (seta) sobre o leito cruento, fazendo rápida hemostasia.

Figura 5: Resfriamento do órgão com soro fisiológico congelado e clampeado pedículo vascular. Lesão tumoral (seta).

Figura 9: Esponja (seta) interposto entre a sutura do parenquima renal, auxiliando na hemostasia.

Figura 7: esponja, revestida com fibrinogénio e trombina, deve ser umidecida antes de se colocar sobre o leito cruento.

Figura 10: Lesão tumoral ressecada.

Figura 11: Lesão seccionada longitudinalmente, mostrando área de cicatriz central.

O estudo anátomopatologico revelou tratar-se de Oncocitoma. O paciente evoluiu bem, retornando às suas atividades profissionais após uma semana da cirúrgica e à prática de esporte 30 dias depois.


caso CLÍNICO edição: Março de 2012 Elaine Bronzatto, Daniel Carlos Silva Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

COMENTÁRIOS Cola biológica teve inicio década 90 na Áustria com os primeiros relatos de caso onde foi usado cola biológica. No início tinha como base colágeno equino e bovino, levando a reação de hipersensibilidade, com avanço da tecnologia da industria farmacêutica, século XX, foi descrito relato de caso com uso de cola biológica a base de fibrinogênio e trombina de seres humanos, com resultados satisfatórios, sendo indicado em cirurgias hepáticas, urológicas, ginecológicas, vascular, torácica e cardíaca. Existem vários tipos de hemostáticos descritos na literatúra, dentre eles, destacam-se os selantes líquido de tecido apresentado como cola biológica e sintéticas, suporte hemostático que apresentam-se como fibras, esponja de colágeno, celulose e gelatina, e por fim , as diatermias auxiliares, cautério, infravermelhos, laser e argônio. Os selantes descritos como esponja medicamentosa formada por uma matriz de colágeno em cuja superfície se encontram os fatores de coagulação: fibrinogênio e trombina humanos em uma matriz de colágeno, a superfície ativa é definida por uma coloração amarela composta por Riboflavina (vitamina B2) que indica o lado que o produto deve ser aplicado na superfície do tecido a ser tratado, o mecanismo de ação reproduz a última fase do processo de coagulação fisiológica, se ativa em contato com o sangue e outros fluídos corporais dando lugar ao coágulo de fibrina, gerando uma hemostasia rápida com selamento, usado como hemostático primário e secundário, é usado em diversas cirurgias, com aplicação segura de 6 a 7 patches, sem evidência de interação farmacológica.

Cola biológica tem mostrado diversos resultados positivos, reduz a necessidade de transfusão operatória, reduz volume de sangramento, menor tempo cirúrgico, menor tempo de hospitalização, menor incidência de linfocele após linfadenectomia, pode ser usado em cirurgias abertas ou laparoscópica, por ser um produto flexível se adapta a superfície do órgão, podendo ser usado em lugares de difícil acesso, tem degradação fisiológica em 12 semanas através do processo de fagocitose e de fibrinólise, sendo substituído por tecido de granulação endógeno sem alterações nos exames de imagem radiológico durante seguimento pós operatório, devido processo de fagocitose num curto espaço de tempo, é um método seguro, com resultados positivos e promissores. Adriano Angelo Cintra, Carlos D'Ancona Departamento de Urologia - Centro Médico Campinas

Referências Bibliográficas: 1

Simonato A et al. The use of a surgical patch in the prevention of lymphoceles after estraperioneal pelvic lymphadenectomy for prostate cancer: a randomized prospective pilot study. J Urol. 2009;182:2285-90.

2

Siemer S et al. Efficacy and safety of TachoSil as haemostatic tratement versus standard suturing in Kidney tumor resection: a randomised prospective study. Eur Urol. 2007;52(4):1156-63.

3 TachoSil. Summary of Product Characteristics. 2005 4

Schwartz M, Madariaga J, Hirose R, Shaver TR, Sher L, Chari R, et al. Comparison of a new fibrin sealant with standard topical hemostatic agents. Arch Surg. 2004;139:1148–54. [PubMed] Richter F, Schnorr D, Deger S, Trk I, Roigas J, Wille A, et al.

of hemostasis in open and laparoscopically 5 Improvement performed parital nephrectomy using a gelatin matrixthrombin tissue sealant (FloSeal) Urology. 2003;61:73–7. [PubMed]


aprendendo por IMAGEM edição: Março de 2012 João Paulo de Pádua, Cássio Riccetto Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

Tratamento da obstrução infravesical pós correção de prolapso vaginal anterior com tela


aprendendo por IMAGEM edição: março de 2012

João Paulo de Pádua, Cássio Riccetto Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

Nos últimos anos difundiu-se o tratamento dos prolapsos genitais com uso de telas sintéticas. Ao mesmo tempo, tem se observado o aparecimento de complicações, como dispareunia, exposição de telas. No presente relato é apresentada paciente que evoluiu com obstrução infravesical após implante de prótese para tratamento de prolapso vaginal anterior e são discutidas as alterativas de tratamento para essa condição.

Relato do Caso: Paciente com 66 anos, sexo feminino, 3 gestações anteriores, 2 partos vaginais e 1 cesárea, não histerectomizada, antecedente de colporrafia anterior há 10 anos, com prolapso da parede vaginal anterior (cistocele) grau III. Além do prolapso, queixava-se de esforço miccional, esvaziamento vesical incompleto, sem perda urinária ao esforço. Foi submetida a estudo urodinâmico (Fig. 1) que mostrou: cistometria normal, ausência de perda urinária às manobras de esforço e, no estudo fluxo/pressão, fluxo máximo de 4 ml/s e pressão detrusor no fluxo máximo de 70 cm H20, com resíduo de aproximadamente de 50% volume infundido, concluindo-se pela presença de obstrução infravesical associada ao prolapso e a colporrafia prévia.

Figura 1: fase de enchimento vesical a capacidade vesical e complacência são normais e não foi observado contração involuntária do detrusor. Durante manobras de esforço não teve perde de urina. Na fase miccional a Pdet foi de 70cmH2O e o Qmax de 4ml/seg. Caracterizando obstrução infravesical.


aprendendo por IMAGEM edição: março de 2012

João Paulo de Pádua, Cássio Riccetto Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

A paciente foi, então, submetida a uretrolise semicircunferencial com lise da fibrose periuretral e correção do prolapso com uso de tela ancorada no forame obturador e ligamento sacroespinhoso bilateralmente. Evoluiu com retenção urinária após retirada da sonda vesical de demora, 24 horas após a cirurgia. O quadro se manteve após duas semanas, sendo aventada a hipótese de compressão excessiva da uretra pela tela, associada à condição prévia de obstrução. A paciente foi submetida, então, a abordagem cirúrgica, com secção da porção da tela sob a uretra média (Fig. 2 e Vídeo 1) e uretrolise (Fig. 3) com rotação de retalho de Martius (Fig. 4 e Vídeo 2).

Figura 2 e Video 1: exposição da tela na uretra média www.youtube.com/watch?v=CeFNtTcf6 H0

Figura 3: dissecção periuretral extensa circunferencial para lise de fibrose (seta: mixter circundando a uretra).

Figura 4 e Video 2: retalho de gordura do subcutâneo do grande lábio - retalho de Martius - para interposição na região superior da uretra a fim de evitar nova formação de fibrose periuretral. www.youtube.com/watch?v=FgIEa8AiCE o

Houve melhora no esvaziamento vesical, mas com resíduo maior que 250 ml e insatisfação da paciente. A fim se resolver a obstrução, refratária aos tratamentos anteriores, foi proposto à paciente a realização de uretrotomia interna, com incisão às 7h00, utilizando-se a faca de Collins, como demonstrado no Vídeo 3. Video 3: Uretrotomia Interna com Utilização da Faca de Collins http://www.youtube.com/watch?v=w0Q9oCqdqkc Após a uretrotomia, a paciente evoluiu com resolução da obstrução infravesical, e com micção espontânea satisfatória, com resíduo desprezível, no entanto com incontinência aos mínimos esforços. Apesar da insatisfação da paciente optou-se por observação e aguardar o processo cicatricial, que se mostrou eficaz em resolver a incontinência. Após 3 meses da uretrotomia a paciente recuperou a continência. Satisfeita com a micção, sem sintomas obstrutivos e com o prolapso resolvido.


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João Paulo de Pádua, Cássio Riccetto Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

COMENTÁRIOS A obstrução infravesical pós tratamento de prolapsos genitais com telas representa uma complicação infreqüente, mas, quando ocorre, é de grande impacto na qualidade de vida da paciente, já que obriga uso de sondagem vesical de demora ou cateterismo intermitente enquanto não tratada. O presente caso ilustra nossa conduta frente à obstrução: ŸSecção da tela junto a uretra média, já que tal porção da tela pode exercer mecanismo

compressivo e provocar obstrução ao fluxo urinário. Recomendamos que tal abordagem seja a mais precoce possível, após o diagnóstico da obstrução. ŸDissecção da uretra por meio da uretrolise e rotação de retalho de Martius. Essa abordagem

deve ser empregada caso a anterior não se mostre eficaz, e naqueles casos nos quais o diagnóstico da obstrução seja realizada mais tardiamente, prevendo-se maior aderência tecidual local. ŸUretrotomia interna feminina com faca de Collins. Ainda pouco difundida, na literatura,

consititui alternativa nos casos resistentes às manobras anteriores. ŸOs defeitos de integração (exposição, extrusão, erosão e contração) representam, ainda

limites para o emprego generalizado de próteses no assoalho pélvico feminino e a pesquisa na área de biomateriais avança no sentido de se obter próteses com maior biocompatibilidade. ŸComo no caso do tratamento da incontinência aos esforços com slings sintéticos, a melhor

alternativa é a prevenção da obstrução, que no caso das telas sintéticas para correção de prolapsos, pode ser obtida com os seguintes cuidados: Ÿ Ajuste da tela no nível da uretra média, se necessário com a aplicação de pontos

fixando-a a inserção pré-púbica dos ligamentos pubouretrais bilateralmente. Ÿ Aplicação de uma tesoura de Metzembaum sob a uretra no momento do ajuste, a fim de

se garantir um hiato entre a tela e o tecido, o qual deve ser de cerca de 3 a 4 mm. Ÿ Ajuste da tela no nível do corpo vesical, a fim de se evitar dobras e sobreposições, que

determinam maior fibrose local. Ÿ Preservação da parede vaginal, sem ressecções dos excedentes, que naturalmente

apresentaram remodelagem durante o pós-operatório. Ÿ Emprego de próteses de baixo peso e aprovadas especificamente para o emprego no

assoalho pélvico feminino.

Consideramos que os procedimentos apresentados são efetivos e seguros no tratamento da obstrução infravesical pós correção de prolapso vaginal anterior com telas sintéticas de polipropileno monofilamentar comercialmente disponíveis. Cassio Riccetto Professor Livre Docente da Disciplina de Urologia - Unicamp


novas TECNOLOGIAS edição: Março de 2012 Carlos D'Ancona Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

Novo paradigma no tratamento do câncer da próstata


novas TECNOLOGIAS edição: Março de 2012 Carlos D'Ancona Disciplina de Urologia, FCM - UNICAMP

Com o aumento do uso do PSA e a concientização da população masculina em relação ao câncer da próstata, existe um aumento no diagnóstico dessa doença em estádios inicias. Tratamento radical convencional que compreende cirurgia radical e radioterapia estão indicadas no câncer da próstata localizado. Essas técnicas são consideradas eficazes, mas apesar de seu refinamento em radioterapia e cirurgia, estão associados com altas taxas de morbidades como disfunção erétil (30-70%), incontinência urinária (5 – 10%) e sintomas retais (5-20%) dos pacientes. Para mudar esse efeitos colaterais uma nova ideia foi apresentada no Congresso da Sociedade Européia de Urologia, Terapia Fotodinâmica Vascular com Tookad ® Solúvel. O tratamento consiste na administração do Tookad intravenoso e ativado por luz de laser. As fibras de laser são inseridas na próstata sob orientação do ultrassom através do perineum. O medicamento destrói os vasos sanguíneos iluminados, diminuendo o suprimento sanguíneo e de nutrientes para o tumor , preservando os tecidos normais ao redor. Em estudos experimentais, necrose hemorrágica da próstata foi observado. Tookad terapia fotodinâmica poderá ser um tratamento alternativa efetivo em pacientes com câncer da próstata localizado.

USO CLÍNICO

Carlos D'Ancona Prof. Titular e Chefe da Disciplina de Urologia


edição março de 2012 www.urovirt.org.br


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