Edição 60 - Outubro/Novembro

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OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 | ano IX | no 60 | Jobson Brasil

universovisual.com.br

Ética médica

Um debate para toda a vida Rumo ao interior O número de oftalmologistas que optam por trabalhar no interior ou em cidades distantes dos grandes centros urbanos é cada vez maior

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CONSELHO EDITORIAL 2011

Catarata

Glaucoma

Retina

Carlos Eduardo Arieta Eduardo Soriano Marcelo Ventura Miguel Padilha Paulo César Fontes

Augusto Paranhos Jr. Homero Gusmão de Almeida Paulo Augusto de Arruda Mello Remo Susanna Jr. Vital P. Costa

Jacó Lavinsky Juliana Sallum Marcio Nehemy Marcos Ávila Michel Eid Farah Neto Oswaldo Moura Brasil

Cirurgia Refrativa

Lentes de Contato

EDITORES COLABORADORES

Mauro Campos Renato Ambrósio Jr. Wallace Chamon Walton Nosé

Adamo Lui Netto César Lipener Cleusa Coral-Ghanem Eduardo Menezes Nilo Holzchuh

Oftalmologia Geral

Córnea e Doenças Externas

Publisher & Editor

Flavio Mendes Bitelman Editora Executiva

Marina Almeida Editor Clínico

Hamilton Moreira

Newton Kara José Rubens Belfort Jr. Administração

Cláudio Chaves Cláudio Lottenberg Marinho Jorge Scarpi Samir Bechara

Ana Luisa Höfling-Lima Denise de Freitas Hamilton Moreira José Álvaro Pereira Gomes José Guilherme Pecego Luciene Barbosa Paulo Dantas Sérgio Kandelman Estrabismo

Ana Teresa Ramos Moreira Carlos Souza Dias Célia Nakanami Mauro Plut

Publisher e editor Flavio Mendes Bitelman

Edição 60 – Outubro/Novembro 2011

Plástica e Órbita

Antônio Augusto Velasco Cruz Eurípedes da Mota Moura Henrique Kikuta Paulo Góis Manso Refração

Aderbal de Albuquerque Alves Harley Bicas Marco Rey de Faria Marcus Safady

Tecnologia

Paulo Schor Uveíte

Cláudio Silveira Cristina Muccioli Fernando Oréfice Jovens Talentos

Bruno Fontes Paulo Augusto Mello Filho Pedro Carlos Carricondo Ricardo Holzchuh Silvane Bigulin

Redação, administração, publicidade e correspondência:

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Editora Marina Almeida Diretora de arte Ana Luiza Vilela Gerentes comerciais e de marketing

Tiragem: 15.500 exemplares

Debora Alves e Nara Monteiro Gerente administrativa Eliana Caravelli

As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos autores.

Colaboradores desta edição: Adriana do Amaral, Felipe Floresti,

Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida sem a autorização da Jobson Brasil.

Sabrina Duran e Tatiana Alcalde (texto); Carlos Akira Omi, Dácio Costa, Nadia Ajub Moyses e Simone Finzi (artigo); Antonio Palma Filho (revisor).

Importante: A formatação e adequação dos anúncios às regras

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A revista Universo Visual é publicada sete vezes por ano pela Jobson Brasil Ltda., Rua Cônego Eugênio Leite, 920, Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05414-001. A Jobson Brasil Ltda. inclui as revistas View, Universo Visual e Host & Travel

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editoriais

Uma questão de mãe

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o sexto ano do curso de medicina, fui aluno do Professor Cat. Professor titular da pediatria, dedicação exclusiva, uma figura polêmica e rígida em seus conceitos, e na relação interpessoal com seus alunos e assistentes. Aquela figura que impõe respeito, para o bem e para o mal. Talvez tenha sido ele, quem primeiro me apresentou a disciplina da ética. É uma questão de mãe, dizia ele. Como assim? Quando se deparar com uma questão polêmica, onde as leis e os conhecimentos se confundem, pense em sua mãe. Você faria aquilo se fosse sua mãe? Você prescreveria este medicamento se fosse sua mãe? Existem áreas na medicina, e sempre irão existir, onde os conhecimentos ainda não são suficientes para um consenso. Na medicina temos a obrigação de tomar decisões baseadas em evidências científicas. A medicina está em constante adaptação, e justamente por isso a ética é tão importante; e tão facilmente pode ser rompida. O interesse do paciente deve ficar acima de tudo. Por outro lado existem leis e códigos escritos que normatizam nossa atividade. Eu, pessoalmente, não sou muito afeito a estes códigos e leis que regem o comportamento entre os seres humanos. Confesso uma certa tendência ao anarquismo. Mas devo fazer uma ressalva neste ponto, pois o novo código de ética médica deve ser conhecido, lido e respeitado. Leia a reportagem ilustrada pela opinião de gente respeitada no assunto, Samir Bechara (USP), Desiré Callegari (CFM) e Cláudio Lotemberg (Hospital Albert Einstein). Mesmo assim, quando se deparar com uma situação inusitada, onde é tênue o limite entre o certo e o errado, inúmeras vezes teremos que repetir esta pergunta. Você faria se fosse sua mãe? Boa leitura! Hamilton Moreira Editor Clínico

Mudança em tempos modernos

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mundo respira informação. As novidades vêm em tanta quantidade que, às vezes, fica difícil assimilar o que elas representam na prática. Dentro da medicina, então, o exemplo é ainda mais intenso. Nós da Universo Visual sabemos bem disso: estamos sempre antenados para saber que há de mais novo na oftalmologia. Corremos contra o tempo para divulgar as notícias mais fresquinhas, em primeira mão. E é justamente essa evolução em velocidade tamanha o assunto que tratamos na matéria da seção Inovação. Procuramos abordar até que ponto é fundamental estar por dentro de todas as últimas novidades. Em contrapartida, a matéria da seção Gestão, segue em ritmo bem mais calmo e fala de oftalmologistas que optaram por morar e trabalhar no interior ou em cidades distantes dos grandes centros urbanos. Para nossos entrevistados, a escolha foi baseada em duas questões: atuar em um mercado carente de especialistas e poder levar uma vida mais tranquila, com a família, longe da loucura e agitação das megalópoles. A você, leitor, eu desejo paz e sossego para esta maravilhosa leitura. Aproveite! Flavio Mendes Bitelman Publisher fbitelman@universovisual.com.br

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Sumário Edição 60 Outubro/Novembro 2011

08 Entrevista

O novo presidente do CBO fala dos desafios e objetivos de estar à frente da mais importante entidade da oftalmologia brasileira

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De suma importância na prática da medicina, questões de ética médica envolvem valores básicos e constante adaptação à realidade da sociedade

18 Gestão

Em busca de tranquilidade e de novos mercados, cada vez mais médicos oftalmologistas optam por trabalhar no interior ou em cidades distantes dos grandes centros

26 Inovação

A velocidade da informação. Até que ponto é fundamental estar por dentro das últimas novidades?

30 Em pauta

Saiba tudo o que aconteceu no XXXVI Congresso Brasileiro de Oftalmologia

32 Lentes de contato

Complicações ligadas ao uso constante das lentes de contato

40 Glaucoma

Veja o que há de novo na cirurgia de glaucoma

46 Genética Ocular

O estudo das doenças hereditárias do olho ganha cada vez mais espaço na oftalmologia

50 Notícias e produtos 54 Eventos 64 Dicas da redação 65 Agenda

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entrevista Marco Antônio Rey de Faria

Comprometimento e dedicação O novo presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia conta como foi sua trajetória para chegar à frente da entidade e fala sobre quais são os planos para os próximos dois anos

Marina Almeida

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á 13 anos ele participa de atividades do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Sendo assim, ninguém melhor do que o oftalmologista Marco Antônio Rey de Faria para assumir a presidência da maior e mais importante entidade da oftalmologia brasileira. Com tanto tempo de dedicação, o especialista já mais do que provou que tem conhecimento e comprometimento com o árduo trabalho que é representar a classe oftalmológica nacional e lutar por melhores condições da saúde ocular da população brasileira. Em entrevista à Universo Visual, ele fala dos seus projetos à frente da diretoria do CBO. Acompanhe.

Universo Visual – Como o senhor se sente ao assumir a presidência de uma entidade da importância Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que representa a oftalmologia nacional? Marco Antônio Rey de Faria: Com frio na barriga. Eu sei da responsabilidade que estou assumindo, pois convivi dentro do CBO desde 1998, e portanto, já são 13 anos de convívio, onde participei de todas as diretorias, fazendo parte de diversas comissões. Tudo isso me deu experiência e conhecimento de como funciona o CBO e de sua importância para a oftalmologia nacional. Na vida cada um tem sua missão e sua hora de assumir as coisas, e você não pode correr na hora em que é chamado. Todo mundo em algum momento vai ser chamado para uma responsabilidade maior. E essa é a contribuição que eu vou ter que dar. Serão dois anos de sacrifício, de dedicação, mas sei que será muito importante tanto para minha vida pessoal, quanto profissional.

UV: Quais são seus planos e objetivos para os próximos dois anos à frente da presidência do CBO? Rey de Faria – O primeiro passo é dar continuidade ao que o dr. Paulo Augusto fez. Ele deixou vários projetos encaminhados. Então eu vou ter que cuidar e fazer com que esses frutos se tornem maduros e possam ser aproveitados por todos. Da mesma forma que eu pretendo criar algumas coisas novas. Na verdade, uma administração se faz de ideias que vão surgindo ao longo do caminho. É preciso manter o básico, que já existe, e criar outras coisas novas, e que serão benéficas. Uma das primeiras metas é incrementar o ensino da refração no Brasil. É necessário que o oftalmologista assuma e entenda a grandeza do exame de refração e o que isso significa para o paciente. A refração é o primeiro contato que o oftalmologista tem com o paciente. Muitas vezes é a motivação que o leva a descobrir doenças importantes e que evitam a cegueira. E além do mais, a falta de óculos é a principal causa

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de deficiência visual no mundo. É necessário entender e compreender essa situação, porque essa vai ser a primeira bandeira da minha gestão. UV: Seguindo um pouco nessa linha, quais são as principais dificuldades que a oftalmologia encontra no Brasil? Rey de Faria: A oftalmologia como um todo é uma das especialidades médicas brasileiras que mais se desenvolveu nos últimos anos. A oftalmologia brasileira é hoje, sem nenhuma dúvida, a liderança da América Latina. Não dá para comparar a pujança da nossa pesquisa com outros países da América Latina, porém, enfrenta dificuldades como todo país em desenvolvimento como é o nosso. Aliado a isso, ainda há a diferença geográfica. Ou seja, nós vivemos em vários países. A oftalmologia no Nordeste melhorou muito de 20, 30 anos atrás. Já a região Norte ainda carece de oftalmologistas, além de termos ainda muitas cidades com pouca estrutura socioeconômica e que não dispõem de um oftalmolo-

gista. Então é nossa pretensão, durante esses dois anos, estimular a presença do oftalmologista nas cidades menores, e com isso marcar presença do oftalmologista em todas as regiões. UV: De forma resumida, como foi sua trajetória profissional? Além dos 13 anos participando de atividades do CBO, o que mais o senhor fez? Rey de Faria: Antes de ser presidente do CBO, fui um dos fundadores da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte, e presidente por duas vezes. Fui também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa, além de ter sido presidente desta mesma instituição. Também fiz parte do conselho fiscal por duas vezes. Enfim, já fui membro de várias entidades e associações. Desde 1978 faço parte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e hoje atuo como professor adjunto e professor da disciplina de oftalmologia. E tenho uma clínica particular onde exerço a profissão. n

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Um debate para toda a vida

Ética médica: os valores básicos são eternos, porém precisam estar em constante adaptação às realidades da sociedade

Adriana do Amaral

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a grande maioria das vezes, quando a medicina não é preventiva ou emergencial, o paciente busca ajuda ao sentir algum desconforto físico. Em momentos limítrofes, quando uma doença grave vitima não apenas o indivíduo, mas também a família deste, o médico pode ser confundido com um ser supremo que tem a missão de garantir o alívio à dor, ou mesmo o dom da manutenção da vida sobre a morte. O médico que busca o diagnóstico e a cura, entretanto, é o mesmo homem que tem dúvidas, convive com os seus próprios limites e precisa cumprir regras e condutas técnicas, morais e sociais. Razão por que as entidades classistas investem no Código de Ética Médica que permeia as ações dos profissionais, visando à prática ideal. Afinal, a emoção da ocasião do “Juramento de Hipócrates” passa, e a rotina se faz presente com os seus desafios... Para entender melhor o que realmente significa ética médica, ouvimos especialistas que têm visões muito particulares sobre o assunto. Todos destacam a importância da ética na prática da medicina, contudo o debate existe na forma como as regras são impostas. ÉTICA: LIMITE TÊNUE ENTRE OS DIREITOS E DEVERES DE MÉDICOS E PACIENTES O oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, entende que muito mais do que um conjunto de regras explicitadas num manual, o conceito de ética pode ser resumido como o compromisso intrínseco de responsabilização do seu relacionamento frente ao interesses do próximo. “O personagem central da atividade de um médico é o paciente

e a legitimidade da ética deve estar presente na medida em que ele coloca sempre os interesses do paciente acima de tudo. Se o profissional usar esse raciocínio como um mantra, será capaz de gerenciar todos os desdobramentos que surgirem dessa relação”, comenta. Já o primeiro secretário do CFM (Conselho Federal de Medicina) e presidente da SAESP (Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo), Desiré Callegari, destaca que a questão moral implícita nos conceitos da ética é a mesma da vida de qualquer ser humano, contudo existem nuances no universo ético da prática médica que no profissional tem de ser balizadas. “Pessoalmente, entendo que a ética é algo que nos leva a fazer a nossa parte dentro da sociedade, respeitando os demais. Como conselheiro do CFM, defendo que a questão moral não muda na prática da medicina, porém, além da abordagem genérica, existem nuances técnicas que o médico deve observar”, enfatiza. Por outro lado, o oftalmologista e advogado Samir Bechara, Professor Livre Docente e chefe do Setor de Cirurgia Refrativa da Faculdade de Medicina da USP, diz que a vida é um constante escolher entre o certo e o errado, razão porque sempre será pertinente discutir a ética. “O mundo é complexo e havendo pessoas que vivem em sociedade é inevitável a necessidade de se criar regras que tenham o objetivo da organização”. Ele explica que no patamar básico entre o que é considerado certo e o errado temos a moral, que pode ser relativa dependendo da sociedade onde estamos inseridos. A ética se faz presente quando os valores são conflituosos entre si, norteando a decisão entre o que é válido em determinada circunstância. Mas quando as decisões podem implicar em riscos ou danos, o Direito é a ciência que norteará o impasse.

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“Ao assistir um paciente o médico decide o tempo todo, seja o diagnóstico, o tratamento, os riscos e até os custos dos procedimentos. E não existe a decisão única, pois ela varia caso a caso. Nos planos da ética e da moral, se o médico faz ou desfaz, ele só prestará contas para a própria consciência, mas se a lesão acontecer, ele prestará contas à sociedade, através dos órgãos competentes que tratam dos direitos do paciente”, explica Bechara. CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA: UM NORTE QUE BALIZA A PRÁTICA MÉDICA IDEAL Se pensarmos na quantidade de informações geradas desde 1988 (quando surgiu o primeiro Código de Ética Médica Brasileiro), sejam elas culturais ou tecnológicas, nos surpreenderemos com a mudança que ocorreram em uma geração. Pois é justamente esse o período que foi analisado e que resultou no Código de Ética Médica vigente desde abril de 2010 (publicado em 17 de setembro de 2009). Após dois anos de debates entre centenas de formadores de opinião de todas as áreas de atuação na sociedade, o novo código resultou da revisão, ampliação e atualização da versão anterior. Além da inserção das questões inerentes às tecnologias incorporadas à prática médica, o novo código resgata o lado “humanista” da medicina ao explicitar o direito da autonomia do paciente. “Quando entrega a decisão da autonomia do paciente para o médico exercitar, o novo código resgata o ideal da relação médicopaciente que nesses anos todos estava desgastada”, observa Callegari. Para ele, esse foi o melhor código que se podia fazer. “O documento contempla praticamente tudo o que se imaginar referente às questões éticas que o médico enfrenta hoje em dia. Muitas resoluções que foram sendo produzidas pelo Conselho Federal e unidades regionais

ao longo do tempo foram incorporadas. Também nos preocupamos em finalizar um conteúdo o mais enxuto possível, numa redação bastante acessível, para facilitar a compreensão”, avalia. Como um documento de conduta ética, o código veda aos médicos uma série de práticas que, inclusive, são passíveis de punição em processos conduzidos pelos Conselhos Regionais. “O Código de Ética Médica se baliza na ética e veda atitudes que ferem a ética, demarcando as atitudes aceitáveis. É um documento que deve ser lido, assimilado e respeitado”, afirma Callegari. No total, são 95 páginas contendo 25 princípios fundamentais do exercício da Medicina, 10 normas diceológicas, 118 normas deutológicas e quatro disposições gerais. E como está escrito no Código: “Normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão, inclusive nas atividades relativas ao ensino, à pesquisa e à administração dos serviços de saúde, bem como quaisquer outras atividades em que se utilize o conhecimento advindo do estudo da Medicina”. VALORES E COMPETÊNCIAS Sem medo de polemizar, Lottenberg observa que limitar o conceito da ética a um conjunto de regras é: “uma maneira muito reducionista de ver o papel de um médico”. E defende a tese de que é necessário “cuidar” da ética a partir de um conceito mais amplo, de governança, lembrando que o Código de Ética Médica proíbe algumas práticas e aceita outras. Para ele, os valores que são constituídos ao longo da vida são bens inegociáveis e devem permear as ações de todos os indivíduos. Comparando os valores às raízes de um a árvore, ele explica que o moral e os costumes mudam com a evolução da sociedade, mas os valores éticos são permanentes. “Se o médico não tiver raízes fortes, ele não será capaz de mensurar o que é eticamente adequado numa sociedade mercantilista. O grande problema é que a liderança parece não estar devidamente preparada para o exercício da atividade médica, por lacunas na formação acadêmica que não visa à formação de gestores”. Por sua vez, Bechara defende a necessidade do Código de Ética Médica, argumentando que as leis ou códigos nada mais são do que a norma escrita que norteia para situações conflituosas. “No plano da moral e da ética, o pressuposto da honestidade pode bastar. No plano do direito, contudo, não apenas o paciente está envolvido, mas toda a sociedade espera que o médico tenha uma conduta jurídica”, salienta. Enquanto Callegari argumenta que o Código é um documento válido em todo o país, pois “o norte ético é

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Alguns destaques do novo Código de Ética Médica Quanto ao paciente: O paciente precisa dar o consentimento; O médico deve aceitar as escolhas do paciente; O médico não pode abandonar o paciente; O paciente tem direito à cópia do prontuário médico; O paciente tem direito a uma segunda opinião e a ser encaminhado a outro médico. Quanto à prática médica: O médico é obrigado a declarar conflitos de interesses; O médico é obrigado a denunciar a prática de tortura; O médico pode recusar exercer medicina em locais inadequados; O médico não pode participar de propaganda; É obrigatório incluir o número do CRM em anúncios; O sigilo médico deve ser preservado, mesmo após a morte; O médico não pode ter relação com comércio e farmácia. A responsabilidade médica é pessoal e não pode ser presumida; O médico deve evitar procedimentos desnecessários em pacientes terminais; O médico não pode receitar sem ver o paciente (fonte: CFM)

único”, Lottenberg pede o aprofundamento do debate e da transparência: “O Código de Ética Médica tem de ser adequado frente à incursão de atores que cada vez mais modificam a sua sistemática comportamental”. RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE Os colegas, entretanto, concordam na importância da preservação e promoção da relação ideal entre os médicos e seus pacientes. Argumentando que o novo Código de Ética Médica busca resgatar essa relação que estava sendo desgastada, o primeiro secretário do CFM destaca o novo viés do documento que intensifica a autonomia do paciente, embora ressalte que a essa autonomia não é outorgada para as decisões pertinentes ao médico, pois cabe a profissional orientar frente às opções terapêuticas, acatar o desejo e direito de uma segunda opinião e até mesmo a vontade do paciente para decidir a continuidade da terapêutica em casos extremos, e desde que este tenha condições para tal. Já Bechara pondera que a postura paternalista do médico de antigamente ficou mesmo no passado. “Hoje o paciente tem o direito de saber o que tem, para ele e o médico decidirem juntos as opções terapêuticas. No conflito ético de se ter mais de uma opção moralmente válida, ou teoricamente certa, quando a escolha vai ser subjetiva tentando alcançar o melhor interesse do paciente, ninguém melhor do que ele para ajudar o seu médico a identificar o seu melhor interesse”, conta. ÉTICA NA PRÁTICA OFTALMOLÓGICA “Eu não posso enxergar a minha atividade como oftalmologista como um zelador de olhos. Eu tenho de aproveitar a minha entrevista com o paciente para ajudar a dar a ele algo que envolva conforto visual, melhor qualidade de vida, inserção na sociedade”, acredita Lottenberg. Complementando, Bechara argumenta: “O pressuposto da autonomia do paciente e do compartilhamento da decisão médica é muito pertinente na oftalmologia, onde na maioria absoluta das vezes não estamos diante de situações urgentes”. E QUANDO O CÓDIGO DIZ: É VEDADO AO MÉDICO? Os colegas acreditam que o olhar ético tem de acompanhar a evolução da sociedade, mas não concordam com todos os tópicos do Código de Ética. Quanto às condições de trabalho, por exemplo, Callegari alerta que os médicos não devem assumir o risco de exercer a medicina quando não houver condições para tal e, sobretudo, denunciar o fato. O que é endossado pelo oftalmologista Bechara: “Como toda a medicina está pautada no melhor interesse do paciente e, em havendo uma situação que sem condição de trabalho a

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divulgação

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CLAUDIO LOTTENBERG: Está faltando à visão do estadista para o médico entender o conceito da ética e as necessidades frente ao paciente

SAMIR BECHARA: O debate sobre a ética sempre será atual e pertinente. E cabe ao médico ouvir o seu paciente e decidir o melhor, de acordo com os interesses deste. Assim ele fará uma medicina gratificante, com muito pouca chance de ter problemas éticos ou jurídicos

segurança o bem estar dele estiver em risco é importante que o médico denuncie”. E adverte: o paciente nem sempre é capaz de identificar essas situações e às vezes o médico, na boa fé de tentar fazer o melhor, pode assumir o trabalho em condições adversas e inclusive ser penalizado por isso. A associação do médico com farmácias, por exemplo, proibida pelo código é questionada pelo oftalmologista Lottenberg. Lembrando o fato que vivenciou ao visitar a cidade de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, ao lado do então Presidente Luis Ignácio Lula da Silva, ele acredita que em situações adversas como a extrema pobreza a prática não deveria ser condenada, em prejuízo à prática médica. Entretanto, com sua visão de advogado, Bechara pondera que historicamente o código limita ou veda o comércio, pelo médico, para proteger o paciente, impedir conflitos de interesse e a decisão médica “viciada”. Havendo necessidade de debater casos isolados, Callegari lembra que os conselhos regionais estão abertos às discussões. COMPARTILHAR CONHECIMENTOS, SEM EXPOR O PACIENTE Quanto à posse do prontuário, é unanimidade que o médico apenas é o guardião do documento e que uma cópia pode ser solicitada em qualquer momento pelo seu dono: o paciente. Além disso, o prontuário é inviolável e não deve ser divulgado sem a autorização prévia. O direito à segunda opinião é considerado bem-vindo. Pois todos consideram que a prática garante maior segurança para o médico e principalmente para o paciente. Compartilhar e debater casos complexos com outros especialistas, somando opiniões em busca do tratamento ideal, incluindo

DESIRÉ CALLEGARI: Eu recomendo que todos os médicos leiam o código de ética médica como aquilo que irá balizar a vida profissional quando os questões éticas aparecerem

o paciente nessa discussão é mais do que saudável. Mas e quando o paciente é uma pessoa pública e a sociedade tem interesse na evolução da doença e recuperação da saúde? Discrição é a resposta. Ou seja, as instituições devem divulgar apenas um boletim médico objetivo e os médicos responsáveis só podem se pronunciar com a autorização do paciente e, em caso de impossibilidade deste, dos familiares. Acostumado a assistir pacientes famosos como esportistas, artistas e políticos, tanto no hospital que preside quanto no consultório particular, Lottenberg não fala sobre eles. “A projeção que tenho e que a mídia me deu como formador de opinião resulta do meu trabalho. Nunca aproveitei disso como forma de publicidade”, explica. O sigilo pertence ao paciente e a informação obtida através da atividade médica resulta de uma relação de confiança. A intimidade desde sempre deve ser respeitada, concordam os colegas. Onde termina o direito do paciente e começa o dever do médico? Como agir nos casos onde o doente recusase a continuar o tratamento? “Vivenciamos uma barreira muito difícil de ser superada atualmente, que é saber com exatidão o que é a vida e o que é a morte, Inclusive graças à evolução da tecnologia e sua capacidade de manter o paciente vivo, continua Lottenberg. “Em situações terminais, vale à pena postergar a vida se o paciente não quer? Devemos levar em consideração a vontade do paciente? Há momentos em que o paciente pode decidir, e outros em que a família tem de interagir”. Como se vê, ainda há muitas questões a serem pensadas e discutidas, mas de uma maneira geral, a vontade do paciente deve ser respeitada desde que ele tenha condições clínicas para decidir. n

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gestão

Rumo ao interior Vem crescendo nos últimos dez anos o número de médicos que optam por trabalhar no interior ou em cidades distantes dos grandes centros urbanos. O que os leva a seguir para longe das capitais? Quais os desafios e vantagens dessa escolha?

Tatiana Alcalde

A

tualmente em qualquer grande cidade o oftalmologista em começo de carreira encontra dificuldade de iniciar o seu próprio consultório”, afirma o oftalmologista Rodrigo Doyle Libero. Carioca, ele cursou a faculdade de medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Depois de concluída em 2005 seguiu para São Paulo onde iniciou a residência médica na Unifesp. Com o fim da residência em 2008, o jovem médico deu entrada na especialização em glaucoma e cirurgia refrativa e passou exercer sua profissão. “Eu, como a maioria de meus colegas, trabalhávamos em grandes clínicas, que apesar de ser um caminho natural e interessante, não apresentava grandes perspectivas de ascensão na carreira”, conta. Histórias semelhantes a essa no Brasil, principalmente no Sudeste, são cada vez mais comuns, já que hoje, a concentração de oftalmologistas é muito grande, o que torna um mercado saturado e muito competitivo. Segundo dados do Censo Oftalmológico 2011, editado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, do total de profissionais que atuam no Brasil, 56% concentra-se na região Sudeste. Soma-se a isso, o fato de que mais da metade dos oftalmologistas brasileiros atuam nas capitais (53%). Com a alta concentração de oferta em determinadas regiões do país e nas capitais dos Estados, a remuneração do médico é menor, o que aliado ao custo de vida elevado das grandes cidades torna a migração para o interior uma opção interessante. Alternativa que Doyle passou a considerar desde o período de residência. “Ficava atento às informações sobre a situação econômica de várias cidades, assim como dados sobre o número de oftalmologistas em cada região do país. Após isso buscava contatos nas cidades e visitava algumas”, lembra. Em abril de 2010 a grande mudança aconteceu. Doyle

e sua esposa, a também oftalmologista Karina Watanabe, abriram as portas da própria clínica na cidade de Ipiaú, região Sul da Bahia, que conta com cerca de 45 mil habitantes. “Conhecia um médico importante da região que muito me ajudou e estimulou no início dessa mudança”, conta. DE LÁ PARA CÁ O principal motivo que levou Doyle e sua esposa para o interior tem levado muitos outros profissionais a fazerem o mesmo caminho. Basta comparar os dados do Censo Oftalmológico 2011 com os de dez anos atrás. Em 2000, a porcentagem de médicos oftalmologistas que

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No Brasil, principalmente no Sudeste, são cada vez mais comuns mudanças para cidades menores, já que hoje, a concentração de oftalmologistas é muito grande o que torna um mercado saturado e muito competitivo

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RODRIGO DOYLE LIBERO E SUA ESPOSA KARINA WATANABE: Abertura da clínica oftalmológica na cidade de Ipiaú, região sul da Bahia, que tem 45 mil habitantes

apropriada para o oftalmologista trabalhar”, explica. VANTAGENS Doyle acrescenta a essa lista a menor concorrência. Longe dos grandes centros a concentração de oftalmologistas é menor, o que cria uma boa oportunidade para abrir uma clínica ou um consultório. “O fato de existir uma oferta menor de profissionais, possibilita uma melhor comunicação com as operadoras públicas e privadas de saúde, proporcionando maior liberdade no exercício da profissão”, justifica. “Do ponto de vista profissional, você se destaca no mercado e tem maior possibilidade de se estabelecer mais rapidamente. E se você tem uma subespecialização, há um campo aberto”, resume Wilma. Do ponto de vista pessoal, a qualidade de vida é o principal fator para atuar fora dos grandes centros urbanos. Nascida e criada no interior de São Paulo, Wilma fez especialização e pós-graduação em São Paulo, no Hospital das Clínicas. Nesse período, experimentou o que é viver no ritmo de uma cidade grande. Resolveu mudar-se para Taubaté quando concluiu os estudos também por considerar que a vida em uma cidade menor é mais confortável para a família e para a criação dos filhos, além de não ter de enfrentar um trânsito estressante. “É fácil para se locomover e isso torna tudo mais prático”, diz. Outro aspecto importante para Wilma é a estrutura da cidade. “Taubaté é considerada de porte médio; não é um local tão sem estrutura”, explica. “Não queria estar num município que não oferecesse coisas mínimas, como escola, livraria e outras coisas ao meu alcance”. DESAFIOS Mudar-se de um grande centro urbano para uma cidade mais afastada tem seus desafios. “Existem muitas diferenças que devem ser superadas inicialmente”, comenta Doyle. “A atuação como oftalmologista no interior

foto: arquivo Universo Visual

foto: arquivo pessoal

atuavam nas capitais chegava a 60%. De lá pra cá houve uma redução de sete pontos percentuais. Ou seja, nos últimos anos o número de médicos que optam por trabalhar no interior ou em cidades afastadas dos grandes centros urbanos vem aumentando. Hoje, seis Estados brasileiros têm mais oftalmologistas no interior do que na capital. Em São Paulo há 5.727 profissionais do setor, sendo 2.182 na capital e 3.545 no interior. Em Minas Gerais são 1.097 oftalmologistas no interior contra 832 na capital. E no Espírito Santo, são 188 trabalhando em cidades interioranas e 171 na capital. No Rio Grande do Sul, 573 atuam em cidades fora dos grandes centros, enquanto 419 estão na capital. No Estado vizinho, Paraná, há 554 oftalmologistas nas cidades interioranas e 482 na capital. Para completar o cenário do Sul do Brasil, Santa Catarina conta com 444 especialistas atuando no interior contra 166 na capital. “Eu vejo na prática o que o Censo indica”, comenta a oftalmologista Wilma Lelis Barboza, que trabalha na cidade de Taubaté, interior de São Paulo. “Quando vim para o Vale do Paraíba, onde a cidade está situada, não devia ter nem cinco subespecialistas na região. Hoje, dez anos depois, há um grande número de colegas”, conta. Para o oftalmologista e ex-presidente do CBO, Paulo Augusto de Arruda Mello, o que é interessante observar nesse Censo é que não só houve uma interiorização dos médicos, mas uma coisa que não sabíamos é que 11% dos oftalmologistas atuam em mais de um município, ou seja, cerca de 1.600 profissionais. “Vários fatores favorecem a interiorização. A começar pelo número crescente de oftalmologistas - de 2001 para 2011 houve um aumento de aproximadamente 65%”. Além disso, Arruda Mello enumera a facilidade de locomoção de uma cidade para outra e o fato de que há municípios mais assistidos em termos médicos. “Como a cidade consegue ter assistência médica, passa a oferecer uma estrutura local mais

WILMA LELIS BARBOSA: Trabalha e mora em Taubaté, interior de São Paulo, por considerar que a vida em uma cidade menor é mais confortável para a família e criação de seus filhos

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gestão

CENSO 2011 UF

População

Oftalmologistas

RO

1.560.501

65

Oftalmologistas/habitantes 1/24.770

PA

7.588.078

243

1/32.290

AC

732.793

19

1/38.568

MA

6.569.683

145

1/46.265

AP BRASIL

Situação

668.689

13

1/55.724

190.732.694

17.992

1/10.622

RELAÇÃO OFTALMOLOGISTA/HABITANTES POR ESTADO E REGIÃO

Região

NORTE

NORDESTE

SUDESTE

SUL

CENTRO-OESTE

UF

População

Oftalmologistas

Oftalmologistas/ habitantes

TO

1.383.453

65

AM

3.480.937

147

1/9.033

RO

1.560.501

65

1/6.909

RR

451.227

16

1/7.699

PA

7.588.078

243

1/7.163

AC

723.793

19

1/7.691

1/15.386

AP

668.689

13

1/55.724

PE

8.796.032

651

1/13.512

BA

14.021.432

1.036

1/13.534

PB

3.766.834

225

1/16.741

RN

3.168.133

203

1/15.762

CE

8.448.055

537

1/15.732

SE

2.068.031

116

1/17.828

PI

3.119.015

163

1/19.018

AL

3.120.922

164

1/19.385

MA

6.569.683

145

1/46.265

SP

41.252.160

5.727

1/7206

RJ

15.993.583

2.111

1/7.587

ES

3.512.672

359

1/9.785

MG

19.595.309

1.929

1/10.243

PR

10.439.601

1.036

1/10.077

SC

6.249.682

610

1/10.262

RS

10.695.532

992

1/10.782

DF

2.562.963

599

1/4.279

GO

6.004.045

474

1/12.667

MS

2.449.341

186

1/13.169

MT

3.033.991

161

1/19.202

BRASIL

190.732.694

17.992

1/10.724

Carente: menos que um oftalmologista para 18.000 habitantes

Adequado: um oftalmologista para um número de habitantes entre 17.000 e 18.000

Situação

Saturado: mais que um oftalmologista para 17.000 habitantes

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fotos: arquivo Universo Visual

gestão

PAULO AUGUSTO DE ARRUDA MELLO: A cidade tem que oferecer condições para o exercício da profissão. Quem está iniciando não tem equipamento, mas precisa dele tanto para diagnóstico, quanto para tratamento

tende a ser mais integral, já que você deve e consegue na maioria dos casos resolver o problema do paciente em uma consulta. Nos grandes centros, ao contrário, há uma segmentação grande dentro da oftalmologia e de diversas especialidades médicas, o que exige do profissional de um grande centro que migra para interior, mudanças de conceito e de forma de atendimento médico”, completa. Para Maurício Maia, oftalmologista há 11 anos em Assis (SP), o investimento no próprio negócio, bem como a necessidade de torná-lo autossustentável, além de montar equipes de colegas com alta qualificação profissional nas diversas subespecialidades da oftalmologia para se conseguir o mesmo nível de competitividade com grandes centros, é o grande desafio de quem trabalha longe das capitais. Atuando na mesma cidade desde que deu seus primeiros passos na carreira, Maia afirma que sua experiência foi altamente produtiva. “Precisamos criar instituições que possam ter alta capacidade de resolução. Não podemos ‘terceirizar’ custos como operar em grades hospitais que tenham uma estrutura cirúrgica já estabelecida na área”, acredita. “Isso resulta na necessidade de alto investimento financeiro, o que é desafiador e torna o início das atividades no interior mais difícil, entretanto mais empolgante e com necessidade de aprimoramento constante”, diz. Entretanto, a falta de estrutura pode se tornar mais que um desafio. Pode ser um grande obstáculo para a interiorização da oftalmologia. “A cidade tem que oferecer condições para o exercício da profissão. Quem está iniciando não tem equipamento, mas precisa dele tanto para diagnóstico quanto para tratamento”, explica Arruda Mello. “Dificilmente um município atrai um médico se o hospital local não tem microscópio, não tem equipamento para uma cirurgia de catarata etc. Se não houver condições para diagnóstico, tratamento clínico e tratamento

MAURÍCIO MAIA: Há 11 anos o oftalmologista atua em Assis, interior de São Paulo, que é a mesma cidade onde deu seus primeiros passos na carreira

cirúrgico, o oftalmologista não é atraído”, reforça. Para que o médico possa se radicar em um local, outros dois fatores também são fundamentais: salário e plano de carreira. Ambos caminham lado a lado. “Tal cidade no interior do país oferece um salário espetacular, mas o médico não vai. Por quê? Não há plano de carreira, perspectiva”, aponta Arruda Mello. “Ele não vai deixar uma posição na capital, que pode não ser tão boa, para abraçar uma imediatamente melhor, sem saber se na semana seguinte estará empregado”. Ainda assim, Arruda Mello acredita que a interiorização tende a crescer nos próximos anos tendo em vista o desenvolvimento das cidades distantes dos grandes centros urbanos. “E o mercado não vai se saturar dentro da próxima década. Falamos muito de Sudeste, mas ainda há muito espaço”, comenta Wilma. De fato, segundo dados do Censo Oftalmológico 2011, apesar da interiorização da oftalmologia, com mais cidades cobertas com assistência, ainda há diferenças significativas entre as regiões brasileiras. Em poucas áreas o número de especialistas é considerado ideal, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde (um oftalmologista para 17.000 habitantes). O Piauí é o Estado com a menor cobertura – 5% das suas cidades contam com assistência oftalmológica. O Acre também está na lista dos mais carentes, tendo somente 9% das cidades com oftalmologistas. Ao considerar a relação entre oftalmologista/habitante, todos os Estados da região Norte, três da região Nordeste (Piauí, Alagoas e Maranhão) e um do Centro-Oeste (Mato Grosso) são áreas carentes (veja a tabela). Espaço não falta. “Para o recém-formado, seguir para o interior é uma boa alternativa, porque os grandes centros concentram mais médicos, o que leva a uma concorrência maior. Mas ele só irá se encontrar estrutura e plano de carreira”, finaliza Arruda Mello. n

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inovação

Último suspiro de inovação Com a ciência e tecnologia evoluindo mais rápido que nunca, principalmente na área médica, oftalmologistas são mergulhados em um mar de informação. Mas até que ponto é fundamental estar por dentro de todas as últimas novidades? Felipe Floresti

O

mundo respira informação. Internet, livros, televisão, todo mundo, o tempo todo, está contando uma história nova, apresentando um dado novo, um ponto de vista diferente, um experimento. É tanta informação que, na maioria das vezes, fica difícil assimilar todas as novidades e o que elas representam na prática. Dentro da medicina o exemplo é ainda mais intenso. Novos medicamentos e aparelhos surgem um atrás do outro a fim de curar novas e antigas doenças. O oftalmologista chefe do setor de cirurgia refrativa e professor adjunto livre-docente da Unifesp, Paulo Schor, sabe bem o que é isso. Ou melhor, tenta saber. Como pesquisador, é sua função estar a par das novidades de sua área. “Estou no olho do furacão. Uma estrutura universitária onde o conhecimento precisa ser produzido. Para produzir, você precisa estar atualizado”, explica. O trabalho é intenso. Só em eventos, como congressos, simpósios e cursos, já participou de mais de 400 durante sua carreira, sendo outros 15 ele o responsável pela organização. A lista também inclui mais de 80 artigos

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publicados, participação em quase 50 livros, e outras Unidos, Chamon vê uma atualização quase completa das dezenas de produções técnicas. O currículo é grande. A especialidades médicas em média a cada cinco anos. “Na opção por uma vida acadêmica levou o Schor a se manter minha vida, eu vi muitos médicos afirmarem que não atualizado sobre tudo de novo que sai dentro de sua área, precisariam aprender novas técnicas, pois estavam samas este caso não deve servir necessariamente de regra tisfeitos com as técnicas que dominavam. Invariavelmente para todos os oftalmologistas. “Quanto um profissional todos estavam enganados e mudaram sua abordagem”, que tem um consultório no interior de Goiás tem que conta. “Creio que temos que conhecer todas as técnicas estar atualizado? Quanto dessa necessidade é fabricada? novas para informar os nossos pacientes e aprender a Não é tão importante saber do último respiro do último executar as que sejam consagradas pela literatura ciencongresso”, questiona. tífica e façam parte da nossa esPara Schor, apesar da avalanche pecialização”. de novidades que são lançadas na O fundamental, na visão dos medicina, as inovações que realdois oftalmologistas, é saber se mente mudam a forma de um ofatualizar com qualidade, filtrando Apesar da avalanche talmologista atuar não são tantas. as informações recebidas. de novidades que são “É verdade que a informação muda a cada segundo? Não. A anatomia é MÉTODOS DE APRENDIZADO lançadas na medicina, a mesma, o músculo está no mesDesde 1992, a Sociedade Brasias inovações que mo lugar, vários antibióticos são os leira de Laser e Cirurgia em Oftalrealmente mudam mesmos”, afirma. “Primeiro precimologia (BLOSS) consiste em uma samos desmistificar essa teoria de plataforma para a troca de e-mails a forma de um que a medicina é outra”. com objetivo de divulgar conhecioftalmologista atuar A overdose de informação dimento e compartilhar experiênnão são tantas ária a que todos são submetidos, cias pessoais na área. Atualmente mesmo dentro de uma área espesão quase dois mil participantes cífica da medicina, pode muitas veespalhados por mais de dez paízes prejudicar a formação do próprio profissional. “Hoje ses que participam, inclusive, de congressos virtuais, lá temos uma oferta absurda de informação. Toda do mundo chamados de Happy Hour da BLOSS. está no computador. Isso só significa que você tem a sua O fórum é considerado a maior rede de discussão onincompetência completamente revelada. A informação line na área de oftalmologia, sendo uma das principais sozinha não leva a lugar nenhum”, ressalta Schor. fontes de informação e atualização dos profissionais no Já para o oftalmologista Wallace Chamon, professor do país. Para participar, o oftalmologista só precisa se caDepartamento de Oftalmologia da Unifesp, a diferença a dastrar no site (www.bloss.com.br), informando o número diferença é o que se faz com a informação. “Atualmente do seu CRM. é mais fácil obter as informações do que era no passado”, Paulo Schor conhece bem a ferramenta, tendo inclusive diz. “O bom oftalmologista tem mais do que informação, apresentado o primeiro congresso virtual da BLOSS, em ele tem conhecimento”. 2003. Entretanto, ele mesmo reconhece as limitações das Isso não quer dizer que os médicos devem se contentar ferramentas online. “A informação boa tem que estar dispocom o aprendizado obtido na faculdade, mas sim permanível e entrar na cabeça do médico. Existe uma dificuldade necer em um processo de desenvolvimento profissional absurda nesse sentido nas listas de discussão, fóruns online constante. “O curso há 60 anos é igual o que minha filha e congressos virtuais”, afirma. “As pessoas não absorvem vai fazer? Não é verdade”, argumenta o Schor. “O que a a informação tão bem quanto vendo alguém falar, indo a gente vê é que existe uma evolução. A medicina não se aula presencial ou operando um caso”, avalia. Para ele, a destrói e começa de novo. Ela vai se incrementando, como lista assume um caráter meramente informativo, e não pequenos tijolinhos. Se o oftalmologista coloca esses peeducativo. “É uma comunidade onde oftalmologistas têm quenos tijolinhos em sua formação, vai ser um excelente acesso a outras pessoas para troca de informação. Ela não médico. Se você coloca mais microtijolinhos, se torna um é educativa no sentido de que não tem nenhuma filtragem médico fantástico”. de informações”, critica. “Os recursos são facilitadores, Atualmente cursando especialização em educação mémas não substitui o professor e o aluno”. dica na Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Schor acredita que os meios tradicionais off-line ainda

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fotos: arquivo Universo Visual

inovação

PAULO SCHOR: O que a gente vê é uma evolução. A medicina não se destrói e começa de novo

WALLACE CHAMON: O bom oftalmologista tem mais do que informação, tem conhecimento

JOSÉ ROBERTO ALEGRE: O avanço tecnológico está sujeito a barreiras de acesso devido às políticas sanitárias

são mais eficientes. “Não tem segredo do que é educativo e continua sendo muito ativo. As etapas de formação do médico, residência, estágio, e idas constantes a congressos regionais, locais e internacionais, ainda são os melhores jeitos de se informarem e se manterem atualizados”. Congressos científicos, mesmo na internet, são as fontes mais confiáveis, ao lado dos livros e revistas especializadas, pois passam por criteriosas avaliações de comissões científicas que tentam filtrar o conteúdo que será apresentado, mas Schor faz uma ressalva. “Não tem como patrulhar o que se passa na cabeça dos congressistas”. O médico acredita que é papel da universidade formar um profissional criterioso a ponto de conseguir distinguir as informações úteis das que devem ser descartadas. “A gente se preocupa muito em reforçar a parte de metodologia científica na universidade. Somente dessa forma o futuro oftalmologista vai desenvolver consciência crítica para ler alguma informação, em qualquer campo, e perguntar qual a consistência da fonte”. Por via das dúvidas, Chamon faz um alerta sobre o tipo de informação que o médico não deve se ater: “as informações que são enviadas na forma de ‘folhetins’ pelas empresas patrocinadoras devem ser descartados”,

garante. “Com a enorme quantidade de informações que temos que assimilar, é muito importante definir imediatamente o que você não precisa saber. Esses folhetins estão incluídos nessa categoria”. Tanto o Chamon quanto o Schor defendem que um oftalmologista deve comparecer a pelo menos um congresso por ano para se atualizar das novidades na área. “Muito mais do que isso é complicado, mas menos é pouco. Se uma vez por ano vai a um congresso que tem uma diversidade e confiabilidade de informação, ele está suficientemente atualizado”, afirma Schor. INOVAÇÃO TÉCNICA Entre a pesquisa científica e a utilização prática de equipamentos e medicamentos existe um longo processo, que regularmente demora pelo menos um ano e meio, e em boa parte no Brasil atende pelo nome de ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O órgão ligado ao Governo Federal é o responsável pela regulação de todo tipo de medicamento ou produtos destinados à saúde, que vão desde uma simples lâmpada de infravermelho até equipamento de ressonância magnética; de uma compressa de gaze a uma prótese de quadril; e de um meio de cultura até um kit de reagente para detecção de HIV. A regulação da ANVISA, que segundo Schor tem melhorado nos últimos anos, impede ou libera a entrada de um aparelho novo no país, independentemente de como vai ser utilizado. Após a entrada, as sociedades médicas analisam o produto, avaliando se trás mais benefícios ou malefícios à saúde. Se for bem avaliado, as agências médicas recomendam e a ANVISA libera como procedimento não-experimental, indicando que já é utilizado no país de origem e foi testado e aprovado no Brasil, podendo ser utilizado nos pacientes. O diretor da Vistatek Produtos Óticos AS, José Roberto Alegre, é contra o zelo por parte do órgão, defendendo que o registro junto às autoridades sanitárias do país fabricante seria suficiente. “O avanço tecnológico está sujeito a barreiras de acesso devido às políticas sanitárias, que são, a meu ver equivocadas, podendo criar um ‘apagão’ na medicina”, defende. Depois de aprovado, é interesse das empresas que comercializam determinado produto darem todo tipo de treinamento para o médico que deseja passar a utilizá-lo no dia a dia da profissão. “Se é algo simples, como um colírio novo, o oftalmologista não precisa ser treinado. Mas no caso de equipamentos complexos, é de interesse da empresa importadora ou fabricante que ele seja utilizado da melhor maneira possível”, finaliza Schor. n

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em pauta

Oftalmologia em equilíbrio XXXVI Congresso Brasileiro conseguiu reunir cerca de metade dos oftalmologistas ativos do país

Sabrina Duran

A

berto à discussão científica e à apresentação comercial de equipamentos, acessórios e medicamentos, o XXXVI Congresso Brasileiro de Oftalmologia foi extremamente balanceado e produtivo para seus participantes. Realizado na capital gaúcha entre os dias 5 e 8 de setembro, o congresso reuniu 700 palestrantes brasileiros, 22 cientistas estrangeiros, mais de 150 expositores e contou com a presença de cerca de 6 mil participantes, metade dos oftalmologistas ativos no país. Com uma programação intensa de palestras, cursos e workshops, não havia sala do centro de eventos FIERGS que não estivesse lotada. “As expectativas que tínhamos para o congresso superaram todos os quesitos. Trabalhamos dois anos preocupados com tudo, desde questões climáticas, econômicas a geográficas. Mas quando iniciamos, tivemos total apoio dos médicos e da indústria. As manifestações espontâneas foram as mais positivas possíveis”, disse Jacó Lavinsky, um dos presidentes da comissão executiva do congresso. TEMA OFICIAL “Glaucoma primário de ângulo aberto” foi o tema oficial do congresso, apresentado no segundo dia do evento. A escolha do tema, feita por votação há quatro anos por membros do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), contemplou sua importância tanto pelos danos causados pela doença quanto pela evolução nos

fotos: aquivo Universo Visual

ITALO MARCON, JACÓ LAVINSKY E PAULO AUGUSTO: comemoração dos 70 anos de atividades do CBO foi marcada pela excelência da oftalmologia nacional

métodos de diagnóstico, tratamento e, principalmente, pela necessidade de diagnóstico precoce. Durante a palestra de apresentação do tema também foi realizado o lançamento de um livro sobre o assunto, uma espécie de “documento oficial”, nas palavras de Paulo Augusto de Arruda Mello, que encerrou seu mandato de presidente do CBO neste congresso dando lugar a Marco Rey de Faria, que assumirá o comando da entidade pelos próximos dois anos. “A comissão científica do congresso foi muito habilidosa indo atrás de questões atuais. Nesse evento, criamos a chamada Sessão Nobre, trazendo cientistas estrangeiros que estão fazendo pesquisa de ponta e vie-

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ram nos brindar com essa atualização. Foi uma oportunidade para os brasileiros, na sua terra, ter esse conteúdo disponível sem ter que se deslocar a outro país”, disse Ítalo Marcon, também presidente da comissão executiva do congresso. NOVIDADES Em meio a todo conteúdo médico-científico apresentado durante o congresso, um estudo chamou a atenção: o Censo Oftalmológico 2011, recém-concluído pelo CBO, foi apresentado aos participantes mostrando a real dimensão do crescimento do número de médicos oftalmologistas e a relação entre profissionais e a população. Uma das informações mais animadoras do Censo foi a interiorização da oftalmologia com a inclusão de municípios que recebem assistência dos profissionais da área. “A distribuição poderia ser muito melhor, mas o Censo sinaliza uma melhora gradual ano após ano”, afirmou Paulo Augusto de Arruda Mello. Os dados usados no estudo foram obtidos a partir do cruzamento de informações levantadas para o Censo Oftalmológico 2011 com as disponibilizadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ao final de 2010. Outra novidade lançada durante o evento foi o selo de qualidade para profissionais da oftalmologia, uma espécie de certificado oferecido pelo CBO aos médicos e que ficará visível em consultórios, clínicas e na recepção de hospitais a fim de mostrar aos pacientes

que ali trabalha um profissional qualificado. Lançado também durante o evento, a segunda edição da Série Oftalmologia Brasileira, versão editada e ampliada da primeira edição, lançada em 2008. Uma equipe de cerca de 600 oftalmologistas e 60 editores passaram um ano e meio revisando, atualizando e ampliando o conteúdo dos 17 volumes da edição antiga. O trabalho de ampliação rendeu um volume a mais, e a partir de agora todo o conteúdo estará disponível também online. 70 ANOS DE CBO Com apresentação circense, coquetel e bolo, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia comemorou seus 70 anos durante o congresso. Fundado em 1º. de julho de 1941 como Conselho Nacional de Oftalmologia, o atual CBO evoluiu e cresceu gradualmente, tornando-se a mais importante entidade representativa dos oftalmologistas brasileiros. Não poderia ter havido comemoração mais propícia do que esta durante a trigésima sexta edição do congresso nacional, que reuniu profissionais de todo o país ao redor de conteúdo de ponta. “Todos os que compareceram aqui estão saindo diferente do que chegaram. Estão levando novos conceitos e orientações. Evidentemente, não é possível ensinar tudo, mas o estímulo e o que deve ser pesquisado foi devidamente implantado na cabeça de cada congressista”, finalizou Paulo Augusto de Arruda Mello. n

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lentes de contato

Complicações das lentes de contato

foto: arquivo pessoal

Considerada como um dos grandes avanços da oftalmologia moderna, as LC permitem excelente estética e ganho de campo visual, porém complicações ligadas ao seu uso ainda são constantes

Dácio Carvalho Costa

Residência e Doutorado em Oftalmologia pela Unicamp; Coordenador da Residência Médica do Hospital Geral de Fortaleza; Médico Assistente do Hospital das Clínicas da USP

A

s lentes de contato (LC) são um dos grandes avanços da oftalmologia moderna: permitem excelente estética, ganho de campo de visão quando comparadas a óculos e minimizam problemas como anisometropia, afacia e correção refracional em nistagmo. Além disso, avanços como o desenvolvimento de materiais de silicone hidrogel e desenhos asféricos têm permitido melhor oxigenação corneana, maior conforto e menores aberrações ópticas para os usuários de LC. Além dos avanços nas LC em si, houve simplificação dos sistemas de manutenção. Hoje, há predomínio das soluções multipropósito, que proporcionam limpeza, desproteinização, desinfecção em um único produto. Com isso a aderência aos cuidados das LC tem aumentado. Apesar de todos esses avanços, a incidência de complicações não tem diminuído. Essas complicações podem causar a descontinuação do uso das LC e danos visuais irreversíveis. As complicações mais frequentes no con-

sultório são: olho seco, erosões corneanas, epiteliopatias, hipóxia corneana, infiltrados estéreis e infecciosos e a conjuntivite papilar gigante. Abordarei brevemente cada uma dessas complicações a seguir. OLHO SECO O olho seco é a complicação mais comum relacionada às LC. Muitos usuários que normalmente não apresentam olho seco, após algumas horas de LC ou em situações de maior exigência lacrimal passam a apresentar olho seco. As situações associadas à síndrome e LC são: ambientes áridos, excessivamente ventilados, ar condicionado, leituras prolongadas em videoterminais como notebooks, computadores e videogames. Os sintomas referidos são secura, sensação de corpo estranho, ardor e intolerância às LC. O manuseio do portador de olho seco associado às LC baseia-se em medidas ambientais, ergo-oftalmológicas, farmacológicas e substituição do material das LC. Por vezes

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fotos: agradecimento Dra. Denise Fornazari

Figura 1: Infiltrado estéril em usuária de LC. Note as características: único, periférico e não cora com fluoresceína

Figura 2: Infiltrado infeccioso em paciente afácico usuário de LC terapêutica. Note que os infiltrados são mais extensos, coalescentes e centrais do que os estéreis. A região corava com fluoresceína.

o purite. Em relação à viscosidade, é impossível suprimir totalmente O olho seco é a a opção preferencial é pelos lubrios sintomas do olho seco, mas quacomplicação mais ficantes de menor viscosidade, que se sempre é possível aumentar o comum relacionada às não deixam a visão borrada por tempo de conforto com as LC. tempo prolongado e não interajam As medidas ambientais conLC. Muitos usuários com o material da LC. Em minha sistem primariamente em evitar que normalmente não prática tenho dado preferência à ventiladores direcionados para apresentam olho seco, carboximetilcelulose 0,5%. a face, ambientes com ar condiMesmo com todas essas medicionado muitas horas por dia e após algumas horas de LC das, muitas vezes pode ser necesambientes com baixa umidade do ou em situações de maior sário substituir o material da LC ar. O uso de umidificadores de ar, exigência lacrimal passam em uso. Nas LC hidrofílicas de alquer elétricos, quer adaptados, ta hidratação, faço a substituição como plantas d’água, aquários, a apresentar olho seco pelas de baixa hidratação; outra bacias com água, etc. contribui opção que adoto é a substituição muito para o alívio dos sintopor LC que contenham moléculas retentoras de umidade, mas. As medidas ergo-oftalmológicas mais comuns são como a fosforilcolina, ou LC-SiH que tenham tratamentos a orientação quanto à posição correta dos monitores, que as mantenham mais umidificadas como tratamento que devem ficar abaixo da linha dos olhos, intervalar por plasma. atividades em videoterminais e orientações quanto à necessidade de piscar e utilizar iluminação adequada, INFILTRADOS ESTÉREIS principalmente nas atividades de perto. Os infiltrados estéreis se devem à reação imune na Em relação aos lubrificantes oculares, seu uso pode qual há acúmulo de células inflamatórias no epitélio levar a alívio temporário. Ao prescrever um lubrificante corneano formando infiltrado com as seguintes caractepara uso com LC, devemos observar o conservante e a rísticas: periféricos, pequenos, pouca dor ou desconforto viscosidade dos mesmos. Devemos optar por lubrificantes e sem uveíte. Além disso, o epitélio corneano está íntesem conservante ou com conservante pouco tóxico, como

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lentes de contato

Figura 3: Papilas gigantes em usuário de LCR. A eversão da pálpebra superior é imprescindível na consulta de usuários de LC

gro, ao menos inicialmente. A Figura 1 mostra exemplo de infiltrado estéril. Estes infiltrados se devem à sensibilização da córnea ao acúmulo de proteínas e outros materiais nas lentes de contato que aos poucos desencadeiam o processo imunoalérgico. Vários fatores predispõem aos infiltrados estéreis: descarte prolongado das LC, assepsia inadequada, interação entre o material da lente de contato e a córnea, entre a solução de limpeza das lentes e a córnea ou até a interação entre o material da lente e a solução de limpeza. O tratamento da fase aguda consiste na suspensão das LC e introdução de corticoide tópico. Normalmente corticoides de baixa potência ou fluorados são suficientes. Se o epitélio estiver íntegro não há necessidade de associar antibióticos, porém havendo perda da integridade epitelial deve-se considerar a lesão potencialmente infectada e sempre associar antibióticos. Associo eventualmente um lubrificante para amenizar o desconforto. O tratamento tardio é baseado na educação do usuário: descarte das LC na frequência adequada, não dormir com as LC e limpeza das LC com fricção e sem reutilizar a solução. Por vezes necessito trocar a marca e/ou o fabricante das LC quando o paciente cumpre com o descarte e a limpeza adequadamente e persiste com recorrência dos infiltrados. Em casos extremos de alergia a todas as soluções de limpeza, indico o uso de peróxido de hidrogênio ou a adaptação de lentes de contato de descarte diário.

CERATITE INFECCIOSA A ceratite infecciosa é a complicação mais temida dos usuários de LC. Pode levar à perda irreversível da visão e sua incidência é de aproximadamente quatro casos/10.000 usuários/ ano para uso diário e 20 casos/10.000 usuários/ano para uso flexível. Usuários que dormem com as lentes aumentam o risco de ceratite infecciosa em torno de 10 vezes e fumantes de três a oito vezes. Outros fatores de risco para ceratites infecciosas são descarte prolongado, assepsia inadequada, gênero masculino. A principal característica das ceratites infecciosas é a presença de infiltrados. Estes possuem características diferentes dos estéreis: costumam ter o epitélio aberto desde o princípio, são centrais, maiores dos que 1,5 mm, com dor intensa e associado à celularidade na câmara anterior. A Figura 2 mostra exemplo de infiltrado infeccioso relacionado à LC. Os principais agentes de ceratites infecciosas relacionadas às lentes de contato são bactérias Gram + e pseudomonas, além da temida acantameba. O tratamento das ceratites infecciosas é normalmente iniciado com antibióticos. Diante da suspeita de uma ceratite bacteriana devemos julgar seu aspecto para iniciar a antibioticoterapia apropriada. Se a ceratite for periférica, menor do que 3 mm, sem acometer eixo visual, inicio antibioticoterapia empírica com quinolona de 4ª geração. Se a úlcera for central, maior do que 3 mm ou ameaçar o eixo visual, prefiro colírios com antibióticos fortificados: uma cefazolina e um aminoglicosídeo associados. Nesses casos, sempre que possível realizo cultura da úlcera, do estojo e das lentes de contato. A depender da evolução do tratamento e do resultado da cultura, ajusto os antibióticos. Se a resposta não for boa, passo a considerar causas mais raras de ceratites infecciosas, como acantameba, fungo ou herpes. CONJUNTIVITE PAPILAR GIGANTE A conjuntivite papilar gigante (CPG) é uma condição imunoalérgica em que há sensibilização ceratoconjuntival, particularmente da conjuntiva tarsal superior, formando caracteristicamente papilas gigantes nessa área. O processo de formação das papilas gigantes deve-se a trauma repetido da lente de contato na conjuntiva tarsal superior e a processo alérgico no qual a conjuntiva lentamente se sensibiliza, tanto ao material, à solução de limpeza e especialmente às proteínas que se aderem à LC. O quadro clínico é de intolerância à LC, inicialmente após longas horas de uso. Progressivamente o tempo de conforto vai diminuindo. Além disso, há hiperemia conjuntival, prurido que tipicamente se agrava ao serem retiradas as lentes, formação de muco e filamentos, ptose, sensação de corpo estranho e secura obrigando o usuário a utilizar lubrificantes com frequência. A Figura 3 mostra exemplo de papilas gigantes.

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lentes de contato

alterações: a mais facilmente observável é o surgimenOs fatores de risco para o desenvolvimento de CPG to de neovasos na periferia da córnea; e a segunda são são o descarte além do tempo recomendado, limpeza da alterações no mosaico endotelial, identificáveis pela miLC com soro fisiológico ou soluções que não promovem croscopia especular. a efetiva desproteinização, falta de fricção ao limpar as Os neovasos corneanos podem ser toleráveis quando lentes de contato, reutilização da solução de limpeza no avançam 1-2 mm do limbo para o centro da córnea, senestojo, conjuntivite alérgica prévia ou outras atopias. do mais frequentes no quadrante superior, que já sofre O tratamento da CPG é baseado na compreensão de relativa hipóxia por estar coberto sua fisiopatogenia. Em primeiro pela pálpebra. Quando os neovalugar oriento o paciente a dessos avançam mais que 2 mm está cartar as lentes em um período indicada a suspensão das LC ou apropriado e a realizar a limpeza substituição por outra de maior e assepsia da maneira correta e As lentes de contato DK. Estes neovasos podem caufriccionando as LC. Além disso, sar depósitos lipídicos na córnea podemos tentar trocar o material são uma modalidade de e, em alguns casos, sangramento da lente bem como a solução hacorreção óptica segura e intraestromal. Ambos, quando exbitualmente utilizada, caso susprática, capazes de corrigir tensos, podem afetar permanentepeitemos que tenham participamente o eixo visual. ção nesse processo. Outra medida praticamente todos os As alterações endoteliais proeficaz é a utilização de limpadores tipos de erros refrativos. vocadas pela hipóxia são a dimienzimáticos. Estes, muitas vezes, As complicações que nuição do número de células e o são os grandes responsáveis pelo aumento da variabilidade de seu controle da CPG no longo prazo. surgem na utilização das tamanho (polimegetismo), resulEm relação ao tratamento farLC quase sempre são tando em coeficientes de variação macológico, normalmente utilizo devidas, ou agravadas, (CV) acima de 0,4. As alterações um corticoide fluorado nos primeiendoteliais provocadas por LC em ros dias, além de suspender imepelo uso incorreto ou geral são reversíveis após a susdiatamente o uso das LC. Além disfalta de aderência às pensão de seu uso. so, introduzo anti-histamínico de orientações de O tratamento da hipóxia crônica ação dupla como olopatadina ou consiste em reavaliar a modalidaepinastina. Estes anti-histamínicos limpeza e cuidados de de uso das LC e o material. Se têm rápida ação na sensação de o paciente dorme com as LC ou as prurido, porém sua ação na estautiliza durante todo o tempo de vigília, podemos orientar bilização da membrana de mastócitos é mais lenta. Este a diminuição do número de horas por dia com as LC. Se é um dos motivos porque gosto de associar corticoide no o paciente for usuário de LC hidrogel, adapto uma LC de início do tratamento e retirá-lo posteriormente. O antisilicone hidrogel ou até mesmo LC rígidas gás-permeáveis. histamínico pode ser deixado por tempo indeterminado. Se não houver tolerância com a nova forma de uso ou com Quando essas medidas farmacológicas e educacionais o novo material, deve-se avaliar a viabilidade de outros não conseguem controlar o quadro, podemos ainda tentar métodos de correção óptica, como cirurgia refrativa a laser. a adaptação de LC rígida ou, com menos sucesso, LC de descarte diário. CONCLUSÃO As lentes de contato são uma modalidade de correção HIPÓXIA óptica segura e prática, capazes de corrigir praticamente As lentes de contato induzem estado de hipóxia relatodos os tipos de erros refrativos. As complicações que tiva na córnea, que será tanto maior quanto menor o DK surgem na utilização das LC quase sempre são devidas, das LC. Os quadros de hipóxia podem ser divididos em ou agravadas, pelo uso incorreto ou falta de aderência aguda e crônica. As LC gelatinosas de silicone hidrogel às orientações de limpeza e cuidados com as LC. Os oftalrepresentaram grande avanço nesta questão, possibilitanmologistas devem ser capazes de orientar o uso correto do maiores DKs e diminuindo os problemas relacionados e tratar prontamente as principais complicações que à hipóxia. surgem com o uso das LC. n A hipóxia crônica se manifesta clinicamente por duas

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glaucoma

O que há de novo na cirurgia de glaucoma? arquivo Universo Visual

As opções de cirurgia do glaucoma são indicadas em casos de insuficiência do tratamento medicamentoso ou a laser

Carlos Akira Omi

arquivo pessoal

Médico Colaborador do Serviço de Glaucoma da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Mestre e Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Nadia Ajub Moysés

Médica Colaboradora do Serviço de Glaucoma do Hospital de Transplantes Dr. Euryclides de Jesus Zerbini; Ex-Fellow do Serviço de Glaucoma da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC)

O

objetivo do tratamento de glaucoma é reduzir a pressão intraocular (PIO) de forma clínica ou cirúrgica. A cirurgia está indicada em casos de insuficiência do tratamento medicamentoso ou a laser. A trabeculectomia (TREC) é ainda considerada a cirurgia padrão. Ela promove uma nova via, não fisiológica, de drenagem do humor aquoso (HA). Complicações relacionadas ao procedimento podem ocorrer mesmo nas mãos de cirurgiões experientes. A cicatrização no plano conjuntival e episcleral é um fator limitante para o sucesso cirúrgico. Para seu controle, agentes antimetabólitos como a mitomicina C (MMC) e o 5-fluorouracil (5-FU) são amplamente utilizados, mas ao mesmo tempo em que aumentaram o

sucesso cirúrgico, aumentaram também as complicações, como bolsas filtrantes finas e avasculares e endoftalmite. Hipotonia, descolamento seroso de coroide, falência de bolsa filtrante, hifema, hemorragia supracoidal, blebite, catarata, vazamento tardio de bolsa, levam a uma constante busca pelo aperfeiçoamento de novas técnicas cirúrgicas antiglaucomatosas. Em comum, essas técnicas alternativas tentam reduzir a PIO de forma efetiva, simplificar o cuidado pós-operatório e reduzir o risco de complicações. Dentre elas, procedimentos filtrantes mais seguros e procedimentos com abordagem do ângulo da câmara anterior (CA) via ab interno ou ab externo com o intuito de aumentar mecanismos naturais de drenagem do HA.

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ESCLERECTOMIA PROFUNDA NÃO PENETRANTE (EPNP) As técnicas cirúrgicas não penetrantes visam diminuir o risco de complicações ligados à abertura da câmara anterior. Na EPNP ocorre a retirada da membrana trabecular que consiste da parede interna do canal de Schlemm, trabeculado justacanalicular e escleral, mantendo somente o trabeculado uveal e parte do escleral (Figura 1). Seu objetivo principal é permitir a drenagem do humor aquoso lenta e gradativa, impedindo a redução abrupta da pressão ocular. Como preserva a câmara anterior intacta e dispensa a iridectomia, miniminiza a frequência de hifema, descolamento de coroide, câmara anterior rasa e catarata. Os estudos retrospectivos e prospectivos que comparam a EPNP à TREC relatam taxas de sucesso similares, com menor incidência de complicações pós-operatórias e recuperação visual mais rápida com a cirurgia não penetrante. No Brasil, os primeiros estudos foram publicados por Guedes e Guedes em 2001. A curva de aprendizado é longa se comparada à da TREC, exigindo um conhecimento detalhado da anatomia e da histologia do seio camerular para a sua realização adequada. Nossa experiência em oito anos com esclerectomia profunda tem sido animadora devido aos resultados satisfatórios na redução da pressão intraocular, com pós-operatório mais tranquilo e menores índices de complicações. Atalamia, câmara rasa e descolamento de coroide praticamente inexistem. EX-PRESS De forma semelhante a trabeculectomia, o Ex-Press Glaucoma Filtration Device (Alcon Laboratories, Inc., Fort Worth, TX) reduz a PIO ao direcionar o HA da CA para o espaço subconjuntival, formando uma bolsa filtrante. É composto por aço inoxidável e apresenta 3 mm de comprimento, com um diâmetro de 400 µm externo e 50 µm interno (Figura 2). O dispositivo é implantado abaixo de um flap escleral após realizar um pequeno orifício com uma agulha de 26 gauge (modelo P-50) (Figura 3). A sutura do flap escleral e da conjuntiva deve ser realizada com a mesma atenção que na trabeculectomia clássica. Sua abordagem minimamente invasiva apresenta diversas vantagens. Durante o implante há um menor risco de atalamia e não há necessidade de realizar esclerectomia ou iridectomia, reduzindo a inflamação no pós-operatório. Possui um desenho não valvulado com um lúmen interno de 50 µm que promove um fluxo constante e controlado, diminuindo a resistência ao HA e ao mesmo tempo controlando a hipotonia.

fotos: reprodução

1. PROCEDIMENTOS FILTRANTES

Figura 1: Retirada da membrana trabecular na EPNP

Figura 2: Dispositivo Ex-Press

Figura 3: Posição do Ex-Press na câmara anterior

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glaucoma

Figura 4: Expansão do Canal de Schlemm

Figura 5: Cânula com luz na extremidade

O Ex-Press está contraindicado em casos de glaucoma de ângulo estreito e para pacientes com muitas sinéquias anteriores periféricas. O implante foi inventado em 1996. Foi originalmente designado para implante subconjuntival. A técnica de implante abaixo do flap escleral foi introduzida em 2003. Foi aprovado no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril de 2011. Nos Estados Unidos foi aprovado em 2003 e na Europa em 1999. Como o implante do dispositivo é um refinamento da técnica de trabeculectomia, exige do cirurgião experiência em procedimentos filtrantes. Foram realizados pequenos estudos sobre o dispositivo, mas ainda não há um estudo longo, randomizado e controlado. Há necessidade de mais dados para assegurar uma posição do implante no algoritmo de tratamento do glaucoma, mas aparentemente é um dispositivo promissor. 2. PROCEDIMENTOS SEM NECESSIDADE DE FÍSTULA

Figura 6: Extremidade distal que é inserida no canal da Schlemm

Figura 7: Remoção da malha trabecular e da parede interna do canal de Schlemm

CANALOPLASTIA A canaloplastia é um procedimento cirúrgico ab interno combinado com uma esclerectomia profunda. A intenção é melhorar a facilidade de escoamento do HA pela distensão do canal de Schlemm. Inicialmente realiza-se um flap escleral superficial, seguido de um flap profundo até atingir o teto do canal de Schlemm. Um microcateter flexível de 200 µm (iTrack-250A; iScience Interventional, Menlo Park, CA) é inserido para intubar o canal 360o. Um fio de prolene 9.0 é fixado na parte distal do cateter. Ao mesmo tempo em que o cateter é retirado, injeta-se viscoelástico para expandir o canal de Schlemm (Figura 4). A cânula contém um feixe de fibra óptica da qual uma pequena luz é emitida em sua extremidade; essa é visível pela esclera e ajuda a assegurar que a cânula permanece no canal de Schlemm durante o seu percurso ao redor do limbo (Figura 5). Uma sutura circular apertada com o fio de prolene é realizada promovendo uma tração permanente, mantendo o canal de Schlemm expandido e patente. O flap profundo é então removido e o superficial suturado, não permitindo a passagem de HA, criando assim um reservatório intraescleral. O objetivo da cirurgia não é formar uma bolsa filtrante, mas sim aumentar o fluxo de HA pelos mecanismos convencionais, como através dos canais coletores e pela janela de Descemet criada pela esclerectomia profunda para o plexo venoso episcleral. Um estudo de três anos com 168 olhos mostrou uma redução média da PIO de 35%, com uma média de redução nas medicações de 1.9 a 0.5. Em 4% dos casos houve conversão para cirurgia filtrante externa e 6% dos pacientes

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glaucoma

Figura 8: iStent

Figura 9: iStent inserido no canal de Schlemm

tiveram bolsa filtrante persistente por 18 meses. Como limitações, o procedimento cirúrgico é demorado, contraindicado em casos de glaucoma de ângulo fechado (GAF) e apresenta curva de aprendizado longa. TRABECTOME O Trabectome® (NeoMedix Corporation, Tustin, CA) é uma abordagem via ab interno para glaucoma de ângulo aberto que tem como finalidade facilitar o escoamento do HA. É inserido através de uma incisão clear córnea temporal e direcionado ao ângulo nasal sob visão gonioscópica. Sua extremidade distal possui um probe com uma ponta curva que é inserido no canal de Schlemm (Figura 6). O pedal do eletrocautério é ativado, realizando uma ablação na região nasal da malha trabecular e da parede interna do canal de Schlemm. A ponta curva juntamente com a irrigação constante protegem as estruturas ao redor do dano térmico, removendo apenas os tecidos desejados em um ângulo de 60 a 120o (Figura 7). O intuito é promover um fluxo mais fácil e direto do HA ao canal de Schlemm e canais coletores. Um refluxo de sangue das veias episclerais ocorre rapidamente, mas normalmente é autolimitado e desaparece em poucos dias. Desde sua aprovação pelo FDA, em abril de 2004, vem sendo largamente utilizado sozinho ou combinado com a facoemulsificação. O Trabectome Study Group atualmente abrange cirurgiões de 120 centros, sendo

a maioria nos Estados Unidos. A PIO atinge em média 10 mmHg no pós-operatório e cerca de 80% dos procedimentos realizados obtiveram sucesso. Aproximadamente um em dez pacientes necessitou de uma cirurgia antiglaucomatosa adicional durante os primeiros seis meses após o Trabectome. A complicação mais frequente é um pico pressórico autolimitado no primeiro dia de pós-operatório em cerca de 20% dos casos. Também podem ocorrer hipotonia e hifema. As vantagens do procedimento sob as cirurgias filtrantes padrão são a ausência de bolsa filtrante, curta duração, acompanhamento pós-operatório menos rigoroso e poucas complicações graves pós-operatórias. No entanto, nenhum estudo comparou diretamente a segurança e a eficácia da cirurgia com Trabectome com a TREC. ISTENT O iStent (Glaukos Corp., Laguna Hills, CA) é um implante ab interno em formato de L, em titânio, que se fixa no canal de Schlemm (Figura 8). Ele forma uma derivação para a passagem do HA da CA diretamente para os canais coletores, evitando a passagem pela malha trabecular, local de maior resistência à passagem do fluxo. É inserido por uma incisão clear córnea temporal de 2 mm, sob visão gonioscópica, no quadrante nasal inferior (Figura 9). Esse quadrante possui uma grande quantidade de canais coletores. Podem ser

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Figura 10: Gold Schunt inserido entre a câmara anterior e o espaço supracoroidal

Figura 11: Canais internos microtubulares que drenam o humor aquoso da câmara anterior para o espaço supracoroidal

Figura 12: Implante CyPass no espaço supracoroidal

inseridos um ou mais dispositivos neste mesmo quadrante e em uma mesma cirurgia. Após a inserção, um discreto refluxo de sangue é visível, mas normalmente autolimitado. Os estudos disponíveis são apenas para seu implante combinado com a cirurgia de catarata. Alguns estudos mostram um melhor controle da PIO quando é realizado o implante do iStent combinado com a cirurgia de catarata, quando comparado com a realização apenas da catarata. Nesses estudos, as complicações da cirurgia combinada com o iStent não foram significativamente maiores comparada com a cirurgia de catarata sozinha. Tem como vantagem a ausência de manipulação conjuntival. É indicado apenas em casos de glaucoma de ângulo aberto e as complicações mais relatadas são o mal posicionamento do implante e hifema. O iStent está em processo de aprovação pelo FDA e ainda não está disponível para comercialização nos Estados Unidos e no Brasil. No Canadá e em alguns países europeus foi recentemente aprovado para uso. GOLD SHUNT (DRENAGEM SUPRACOROIDAL) O implante do dispositivo Gold Shunt (Solx, Inc., Waltham, MA), ainda em investigação, ocorre via ab externo na parte escleral (Figura 10). Seu intuito é reduzir a PIO através do aumento do fluxo para o espaço supracoroidal. Tem formato achatado e fino, com canais internos

microtubulares que drenam o HA da câmara anterior para o espaço supracoroidal (Figura 11). Resultados com a primeira geração do dispositivo não foram ruins, mas a segunda geração parece ser mais promissora. CYPASS (DRENAGEM SUPRACOROIDAL) O CyPass Glaucoma System (Transcend Medical, Menlo Park, CA) é um dispositivo ainda em estudo inserido via ab interno, através de uma incisão clear córnea. É um dispositivo tubular fino feito de um material altamente biocompatível inserido sob visão gonioscópica no espaço supracoroidal, logo acima da face ciliar (Figura 12). A cirurgia é rápida, dependendo apenas da identificação do local correto de inserção do dispositivo no ângulo. Os resultados iniciais parecem promissores apesar de ainda não publicados CONCLUSÃO Apesar do contínuo aperfeiçoamento das técnicas, ainda não temos uma cirurgia antiglaucomatosa ideal. Mais opções para o tratamento cirúrgico do glaucoma aumentam as chances de disponibilizar uma técnica mais específica para cada paciente, além de reduzir algumas complicações associadas à cirurgia padrão. Estudos grandes, prospectivos e multicêntricos comparando trabeculectomia com as novas técnicas ainda estão em andamento. Resultados futuros irão determinar seu real papel no manejo adequado do glaucoma. n

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genética ocular

Um novo olhar para a oftalmologia: genética ocular

arquivo pessoal

O estudo das doenças hereditárias do olho deixou de ser apenas uma área de pesquisa dentro da oftalmologia para tornar-se uma especialidade

A

Simone Finzi

Médica Assistente do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas - FMUSP

tualmente a genética deixou de ser apenas uma área de pesquisa dentro da oftalmologia para tornar-se uma especialidade. A genética ocular é o estudo das doenças hereditárias do olho. Pacientes com síndromes sistêmicas são encaminhados à oftalmologia para avaliação de quais estruturas oculares foram afetadas, auxiliando assim no diagnóstico e tratamento destas síndromes. Existem ainda diversas síndromes que acometem apenas o olho. No OMIM (http://www.ncbi. nlm.nih.gov/omim), base de dados contendo o catálogo de doenças genéticas, com links para referências bibliográficas, existem 791 síndromes que acometem o olho e 97 síndromes craniofaciais que também acometem o olho. Portanto, existe muito com que o oftalmologista pode contribuir para o diagnóstico de doenças genéticas. As doenças de etiologia genética podem ter herança

multifatorial, cromossômica ou ainda gênica. A identificação da etiologia é base do aconselhamento genético que podemos orientar para o paciente o risco de transmissão da doença, entender quais são as opções do paciente em face deste risco de recorrência e respeitar a família pela decisão tomada e orientá-la da forma apropriada. Para realizar o diagnóstico da doença precisamos realizar toda a propedêutica adequada, com a avaliação da anamnese, exame oftalmológico completo, exames subsidiários, fotografias, sem esquecer da importância do simples desenho do heredograma. Entre as doenças com frequente herança multifatorial, como glaucoma e degeneração macular, a hereditabilidade, fração de risco devido a fatores hereditários, é de 30 a 50%. As variações nos diversos genes contribuem para a doença. Por ex.: existem mais de 30 variantes de genes para diabetes mellitus. A variação em

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fotos: reprodução

genética ocular

um determinado gene também é chamada de SNP (Single Nucleotide Polymorphism). Um polimorfismo de um único nucleotídeo (SNP) que propicia a substituição de um único aminoácido, tirosina por histidina na posição 402 (Tyr402His) no gene CFH implica um risco relativo de 4 a 7 vezes de degeneração macular. As doenças com herança cromossômica têm a alteração de uma grande quantidade de informação do material genético e por isto comprometem outros organismos além do olho. Se a alteração de material genético for muito grande, estão associadas a morte precoce. A síndrome de Down é um exemplo comum de herança cromossômica causada por uma trissomia ou translocação envolvendo o cromossomo 21. O cariótipo auxilia muito no diagnóstico destas doenças. As doenças gênicas com herança mendeliana trans-

mitem-se com herança autossômica dominante, recessiva, ligada ao X ou mitocondrial. A catarata congênita tem frequente herança autossômica dominante, sendo importante lembrar aos pais o risco de transmissão de 50%. O glaucoma congênito tem, por outro lado, herança autossômica recessiva, e o risco de transmissão é de 25% nos casos familiares, principalmente quando se comprova consanguinidade. O daltonismo tem herança ligada ao X, sendo as mulheres carreadoras e os homens afetados. Há também a herança mitocondrial que acontece na neuropatia óptica de Leber, em que apenas a mãe é capaz de transmitir a doença, tanto para filhos como para suas filhas. Os testes genéticos também já estão disponíveis para algumas doenças oftalmológicas. Já deixaram também de ter aplicação apenas na pesquisa, quando eram utilizados para avaliar a função de genes descobertos e auxiliar na identificação de novos genes. O teste genético na Amaurose Congênita de Leber auxilia o diagnóstico precoce da doença, o aconselhamento genético aos pais e familiares, como também melhora o prognóstico da doença. A Amaurose Congênita de Leber é uma distrofia retiniana congênita onde a baixa de acuidade visual é detectada nos primeiros anos de vida. Existem diversos genes relacionados com a doença e a terapia genética já está em fase de pesquisa em seres humanos afetados pela doença em pacientes com mutações no gene RPE65. O tratamento consiste em realizar uma vitrectomia e injetar via sub-retiniana, vetores adenovírus associados (AAV) carregando o gene RPE65. Nos pacientes tratados houve melhora da função retiniana em menos de quatro semanas, persistindo até nove meses. Os pacientes tratados também apresentaram melhora da acuidade visual, redução do nistagmo e aumento do reflexo pupilar à luz. Até recentemente não houve evidência de toxicidade, inflamação e efeitos adversos ao tratamento. Os autores sugerem que o tratamento poderia ser mais eficiente se realizado em crianças com menor degeneração da retina, podendo melhorar a função visual. Perspectivas de terapia gênica têm avançado para uma variedade de doenças da retina, incluindo retinose pigmentar, retinosquise, retinoblastoma, doença de Stargardt e degeneração macular relacionada a idade. Avanços também foram feitos utilizando-se modelos experimentais para outras doenças, como uveíte e glaucoma, embora não esteja ainda disponível. Estas novas pesquisas são muito importantes para novas opções de tratamento baseadas em genes humanos no futuro próximo. n

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fotos: divulgação

notícias e produtos

Parceria de sucesso Foi realizado em Salvador, Bahia, no dia 27 de julho, o evento que marcou a parceria entre a Carl Zeiss e o DayHORC – Hospital de Olhos Ruy Cunha – responsável por introduzir pioneiramente o conceito de day hospital oftalmológico no Estado. Com a participação de 37 médicos oftalmologistas da região, o encontro contou também com uma palestra do oftalmologista Ruy Cunha Filho sobre as lentes Customizadas ZEISS. Segundo Ruy Cunha Filho, realizar a parceria com a Carl Zeiss, uma empresa renomada no mercado óptico, foi muito gratificante. “Assim como nós do DayHORC, a ZEISS também valoriza os profissionais do ramo oftalmológico, o que é imprescindível para a evolução do mercado”, disse.

EXCLUSIVO DESIGN A Mediphacos apresenta ao mercado a ESCLERA, um novo projeto de lente de contato gás permeável escleral com exclusivo design e tratamento superfície por plasma. Complementarmente às tradicionais lentes RGP, a nova lente é uma excelente opção para pacientes portadores de anomalias da córnea como a síndrome do olho seco, e córneas irregulares, incluindo ceratocone, traumas corneanos, degeneração marginal pelúcida, ceratoplastias penetrantes, pós LASIK e RK. Oferece diâmetros variáveis entre 16,5 mm e 18,2 mm e um desenho com curvas de propriedades múltiplas, e que cobre completamente a córnea sem tocá-la, proporcionando uma perfeita estabilidade e excepcional conforto. A lente ainda possui outros benefícios como o inovador tratamento por plasma que consiste em criar uma superfície semelhante à de uma lente hidrofílica, livre de imperfeições e resistente ao depósito de proteínas, o que a mantém incrivelmente limpa.

Auxílio no tratamento do glaucoma Mantendo seu ritmo acelerado, a Germed Pharma anucia seu próximo lançamento na linha oftalmológica. Tratase do Travamed, indicado para redução da pressão intraocular em pacientes com glaucoma de ângulo aberto, glaucoma de ângulo fechado em pacientes submetidos previamente a iridotomia e também para hipertensão ocular. Preocupado com a adesão ao tratamento, o Travamed chega ao mercado com preço acessível e traz informação em braile na embalagem. Com este lançamento, a Germed Pharma tornase o único laboratório no Brasil a oferecer todos os Análogos de Prostaglandinas à classe médica. Disponível em solução oftálmica estéril de 2,5 ml com 0,04mg/ml de Travoprosta.

Descontinuação de medicamento A partir deste mês, a Bausch+Lomb suspende a fabricação e venda do medicamento BetaOphtiole ® (Metipranolol), indicado para pressão intraocular elevada, glaucoma crônico de ângulo aberto, afácico e tipos especiais de glaucoma, como capsular, pigmetar, juvenil e hemorrágico. “Esta foi uma decisão estratégica da empresa, com o objetivo de trazer produtos ainda mais avançados para controlar a pressão intraocular e tratar o glaucoma”, informa Ricardo Ogawa, Gerente Geral da B+L.

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Consultório para ensino de lentes de contato Destinado ao ensino de lentes de contato a residentes de oftalmologia, o Pólo de Ensino do Instituto Soblec de Educação – um consultório totalmente equipado – foi inaugurado em agosto, na sede da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). Na ocasião, estiveram presentes vários nomes expressivos da oftalmologia, entre os quais Cléber Godinho, idealizador da iniciativa, que tem por objetivo preencher uma lacuna na for-

mação dos residentes, uma vez que os serviços de oftalmologia raramente oferecem aulas sobre o assunto, como destacaram Aderbal Alves Jr. e Marcus Safady, respectivamente presidente e vice-presidente (RJ) da SBO. Na foto, Cléber Godinho, Aderbal de Albuquerque Alves, César Lipener, Tânia Schaefer, Aderbal Alves Jr., Juliana Bohn Alves e Ubirajara Moulin de Moraes.

RETINSCAN É APRESENTADO NO CBO 2011

Rapidez e inteligência A Rodenstock acaba de lançar uma nova geração de lentes fotossensíveis em Free Form. Com rápido clareamento, tratamento fotossensível mais avançado aplicado na superfície externa da lente, proteção contra os nocivos raios solares UVA e UVB, a SmartLens 1.6 e 1.67 – primeira lente fotossensível verde do mercado – também possui uma ampla e atraente gama de cores. Total proteção a claridade através da ação rápida e inteligente que se adapta a todas as condições de iluminação.

A Opto aproveitou a última edição do Congresso Brasileiro de Oftalmologia para apresentar um novo produto à classe médica: o RetinaScan. Como já divulgado nesta coluna, trata-se de um fotocoagulador com sistema de varredura automático, que irá reduzir a dor e os efeitos colaterais no paciente e gerar ganhos de até 80% no tempo do procedimento cirúrgico. De acordo com a Opto, o equipamento, já funcional, foi muito bem recebido e irá absorver algumas críticas construtivas e sugestões de melhoria recebidas durante o evento. O RetinaScan tem por objetivo tratar com precisão doenças como retinoblastoma, retinopatia diabética, descolamento de retina, glaucoma e edema macular. O equipamento permite executar uma sequência de até 50 disparos, de diversos desenhos (máscaras), em menos de 700ms – nos sistemas convencionais, é possível efetuar, no máximo, dois disparos neste período.

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notícias e produtos

Facilidade tecnológica A Acaba de chegar ao mercado o eye2phone, um aplicativo para iPhone e iPad, lançado pelo oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo. Disponível na App Store (iTunes) ao custo de R$0,99, o programa é indicado a oftalmologistas, clínicos e pacientes. “Há, por exemplo, uma tabela de longe e de perto, testes de cores para determinar daltonismo, teste de Amsler para detectar alterações na retina, além de lanterna e objeto de fixação, régua para medir o tamanho das pupilas e um diagrama apresentando as estruturas da anatomia ocular”, diz o médico e autor do dispositivo. Mais informações no site www.eyecare.com.br

Tratamento do olho seco A Adapt acaba de disponibilizar ao mercado brasileiro o Adaptis Fresh. Com o biopolímero hialuronato sódico na concentração de 0,40%, obtido por biotecnologia, o produto oferece um grande avanço para o tratamento sintomático do olho seco. Devido à disponibilidade biológica e força muco-adesiva, o produto permanece por mais tempo em contato com os tecidos oculares e prolonga o tempo de ruptura do filme lacrimal, promovendo alívio rápido dos sintomas, de forma intensa e prolongado. Além disso, a terapia de substituição da lágrima com o Adaptis Fresh confere uma proteção natural devido a biotolerabilidade com os tecidos oculares e por apresentar pH e osmolaridade semelhante ao filme lacrimal. Possui propriedades lubrificante, umectante, visco-elástico e regenera o epitélio da córnea.

Programa de educação continuada A Bausch+Lomb acaba de firmar um acordo com a Rede Informática de Medicina Avançada (RIMA) visando oferecer aos oftalmologistas, acesso direto e gratuito a mais de 2.400 publicações médicas internacionais. Em breve a ferramenta também estará disponível para médicos do México e Argentina. Segundo Luiz Fernandes, Diretor Clínico da B+L e responsável pela implementação do programa, o objetivo dessa parceria é dispor aos oftalmologistas as mais importantes e requisitadas publicações médicas, além de outros serviços. “Apenas médicos associados ao CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) e os visitados pela equipe de vendas da B+L poderão se cadastrar e usufruir dos benefícios do programa”, explica. Todos os médicos participantes também poderão receber informações diárias em seus e-mails como alertas de assuntos de seu interesse, além de dispor de um campus virtual completo disponível para seu uso particular.

Com ação antimicrobiana A Look Vision lançou durante o XXXVI Congresso Brasileiro de Oftalmologia uma nova linha de estojos e acessórios para lentes de contato que apresentam em sua composição o Nanox Clean, um componente de ação antimicrobiana que contribui para reduzir o alto índice de infecções e contaminações causadas pela falta de cuidados de higiene e o mau uso das lentes de contato. Com este benefício, a Look Vision propõe evitar que usuários de lentes de contato abandonem o uso por motivo de contaminação, e aumente a adesão de novos pacientes.

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Estudo revela que 75% da população brasileira possuem algum tipo de doença ocular Pesquisa realizada nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Índia, França, Reino Unido, Itália e Brasil com adultos, adolescentes e crianças, mostrou que grande parte da população possui algum tipo de doença ocular, como miopia, astigmatismo, hipermetropia e cansaço visual. De acordo com a pesquisa, 75% dos entrevistados brasileiros relataram ter algum tipo de doença ocular. A Itália registrou o maior percentual de pessoas com problemas de visão (84%) e a Índia, em contrapartida, só trouxe 44% de relatos. A miopia aparece como a doença mais comum, em 30% dos entrevistados, com exceção da Índia (11%), onde o cansaço visual foi predominante. No Brasil, a miopia apareceu em 37% dos entrevistados e o astigmatismo, em segundo lugar, com 30%. Crianças e Adolescentes: Outro dado relevante é que 42% dos entrevistados são pais de criança ou adolescente até 17 anos. Dos entrevistados, 32% afirmaram que os filhos têm algum tipo de doença ocular. No Brasil, 23% das crianças e adolescentes têm doenças oculares e em 17% dos casos a miopia é também é predominante em crianças. A população canadense relatou a menor porcentagem de crianças com doenças oculares (21%) e a Itália a maior porcentagem (53%). Ou seja, com isso é possível concluir que crianças, adolescentes e adultos italianos têm muitos problemas oculares. O segundo problema de visão mais frequente entre todos os entrevistados é o astigmatismo (8%), seguida da hipermetropia (6%). Na Índia, a doença que mais aparece, também nas crianças, é o cansaço visual, com 13% de relatos. Conclusão: A pesquisa concluiu que grande parte da população entrevistada no Brasil possui algum tipo de doença ocular (75% dos entrevistados). A Itália, com 84%, é o país com o maior índice de doenças oculares e a Índia, com 44%, é o país com menos casos. A miopia aparece como a doença ocular mais comum entre os entrevistados em geral, com exceção da Índia, que o cansaço visual é predominante. Dos pais entrevistados, com filhos de até 17 anos, 32% afirmaram que seus filhos têm algum tipo de doença ocular. No Brasil 23% das crianças e adolescentes entrevistados possuem algum tipo de problema ocular; 17% têm miopia. No Canadá, a porcentagem de crianças e adolescentes com doenças oculares é menor, com 21% dos casos e a Itália, com 53%, é o país com o maior índice. As crianças indianas, assim como os adultos, também relataram o cansaço visual como principal doença ocular, com 13%. Fonte: Pesquisa realizada pela Harris Interactive e pela Ipsos e encomendada pela Transitions Optical

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eventos

ENCONTRO NACIONAL Maior evento da especialidade no país reúne centenas de participantes e mostra a força da oftalmologia brasileira. Veja quem esteve presente

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O que: XXXVI Congresso Brasileiro de Oftalmologia Quando: De 5 a 8 de setembro de 2011 Onde: Porto Alegre, RS 5 4

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Fotos: Arquivo Universo Visual

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1 vista externa do centro de convenções da FIERGS; 2 cerimônia de abertura; 3 Ítalo Marcon; 4 Jacó Lavinsky; 5 Paulo Augusto de Arruda Mello; 6 Milton Ruiz Alves; 7 Equipe Jonhson&Jonhson; 8 Homero Gusmão de Almeida; 9 Regina Noma

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10 bolo comemorativo 70 anos CBO; 11 Equipe Allergan; 12 Flávio Bitelman, Glória Silvestre e Antonio Cardoso (Essilor); 13 Manuel de Azevedo (Vistatek); 14 Equipe Transitions; 15 palestra estande Allergan; 16 Humberto Tomazini, Jorge Freitas, Fernanda Faria e Patrícia Pera (Alcon); 17 Marcos Ávila e Fernando Oréfice; 18 Carlos Montiel e Reginaldo Kuhn (Alcon); 19 Rubens Siqueira e Juliana Sallum; 20 Giorgio Milo (Alcon), Wagner Dantas (Adapt) e Wilmar Silvino

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21 Walter Takahashi e Flávio Bitelman; 22 Paulo Mello, Oswaldo Ferreira Moura Brasil, André Romano, Jorge Mitre e Walter Takahashi; 23 Ana Luisa Hölfling-Lima; 24 Hamilton Moreira; 25 Acácio Lima e Denise de Freitas; 26 José Augusto Cardillo; 27 Alexandre Muniz, Anderson Santos, Liane Falci Touma, Abner Lobão (Johnson&Johnson); 28 Walter Rossi (Baby), Iranes Picharilo e Evandro Gonçalves (Eyetec); 29 Cleomar Aliane (Allergan), Vital Costa, Jamilly Souza (Allergan) e Carmo Mandia Jr.; 30 Equipe Optivision; 31 Equipe Medvision; 32 dança típica gaúcha

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33 Equipe Optolentes; 34 Equipe Essilor; 35 Carlos Puglia (Allergan) e Remo Susanna Jr.; 36 Clovis Freitas, Ailton Paiva (Allergan) e Luis Guilherme Freitas; 37 Carolina Costa, Leonardo Cunha, Luciana Cunha, Lucas Cunha e Ailton Paiva (Allergan); 38 Marcelo Carletti, Cleomar Aliane E Luis Lopes (Allergan); 39 Ocimar Grilli dos Santos (Visiontronics); 40 Rubens Belfort Neto; 41 Newton Kara José e Newton Kara José Jr.; 42 Márcio Golsman e Marcelo Teracini (Johnson&Johnson); 43 Bruno Nascimento e Joyce Rodrigues (Allergan); 44 Equipe Genom; 45 Gislaine Sachetti, Dora Alonso e Fabio Cavalinni (Bausch+Lomb)

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JANTAR BAUSCH+LOMB Jantar realizado em Porto Alegre pela B+L reuniu diversos oftalmologistas para o lançamento do Besivance® - fluorquinolona de última geração desenvolvida especificamente para uso ocular 2

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Fotos: Arquivo Universo Visual

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1 Calvin Roberts; 2 Neda Shamie; 3 Calvin Roberts e Claudia D´Aquino; 4 Thaise Cleto e Aline Reichel; 5 Roberto Buzato, Gislaine Sachetti, Aline Reichel e Cláudia Soardi; 6 Aline Reichel, Gildo Fujii, Pedro Carricondo e Neda Shamie; 7 Roberto Buzato, Bráulio Marinho, Evandro Calanca, Luiz Fernandes, Mariano Garcia-Valino e Aline Reichel

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CAMINHADA APOS A Associação dos Portadores de Olho Seco (APOS) reuniu no dia 09 de outubro, em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Olho Seco, mais de 60 pessoas para a 1ª Caminhada do Olho Seco realizada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Além da distribuição de camisetas promocionais, a APOS montou um quiosque onde os médicos oftalmologistas da associação estiveram presentes para esclarecer dúvidas sobre a Síndrome do Olho Seco e falar dos novos tratamentos desenvolvidos para a doença, que é cada vez mais comum nas grandes cidades.

Fotos: Nei Santi Jr./Divulgação

O que: 1ª Ca minhada do Ol ho Seco Quando: 09 de outubro de 2011 Onde: Parq ue do Ibirapuer a, São Paulo/ SP

Mais de 60 pessoas participaram da 1ª Caminhada do Olho Seco realizada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo

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eventos

CONGRESSO SBO

l da Naciona ngresso o C I d V ira e O que: e Brasile Sociedad O) logia (SB 1 Oftalmo o de 201 lh ju e d 6 1 a : De 14 Quando neiro/RJ Rio de Ja Onde:

Realizado de 14 a 16 de julho, no Rio de Janeiro, o encontro foi um “aquecimento” para as comemorações dos 90 anos da entidade, marcado para 2012. Na ocasião, o tema oficial do congresso foi diabetes, mas praticamente todas as subespecialidades foram abordadas durante o evento 1

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Fotos: divulgação SBO

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1 Confraternização dos participantes durante um dos intervalos; 2 participantes conferem a programação no estande da SBO; 3 Charles Eric (Essilor), Simone Milani Bransão, Renato Ambrósio, Glória Silvestre e Thomas Bayer (Essilor); 4 No hall de entrada do hotel, o banner já indicava a excelente sinalização, elogiada por todos os participantes; 5 Mário Monteiro e Eduardo Cunha; 6 Valéria Homem e Cleber Godinho; 7 Prof. A. Duarte e Valéria Homem; 8 Flávio Rezende e Edna Almodin; 9 Milton Ruiz Alves e Aderbal de Albuquerque Alves; 10 Miguel Burnier, Paulo Augusto de Arruda Mello, Renato Brito de Alencastro Graça, Aderbal Alves Jr., Marcus Safady, e Miguel Ângelo Padilha

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dicas da redação

divulgação

Ousadia oriental A boa culinária japonesa tem novo endereço em São Paulo. O restaurante Aya abriu as portas no mês de julho, inaugurando um novo conceito: um restaurante contemporâneo, com alma feminina – e sushi de verdade. Localizado no bairro de Pinheiros, o Aya nasce da proposta de valorizar a culinária japonesa tradicional, fugindo do ambiente escuro, sisudo ou impessoal predominantes nos restaurantes japoneses. No menu, ousadia, precisão e iguarias exclusivas que só se encontra nos melhores japoneses da cidade. Os sushis levam ingredientes como vieiras, torô (atum gordo), foie gras, ostras, sal trufado e sal vulcânico do Havaí. O arroz, estrela da cozinha japonesa, recebe no Aya o tratamento que merece: preparado artesanalmente em panela de ferro japonesa, temperado com sakê e vinagre de arroz importados, ganha o sabor, o ponto de cozimento e a liga perfeita. O resultado são bolinhos sublimes, que chegam à mesa com o arroz ainda morno, em contraste com o peixe fresco, como manda a tradição. AYA JAPANESE CUISINE Rua Pedroso de Morais, 141 - Pinheiros, São Paulo/SP

Tel: (11) 2373-6431

Spa tecnológico Recém aberto no Brasil, o SpaCittá trouxe ao país a tendência que conquistou as grandes metrópoles mundiais: o spa tecnológico. São as conquistas da tecnologia a serviço da beleza, do bem-estar, da saúde e do rejuvenescimento. O Spa montou seu menu de tratamentos com este público urbano em mente, de homens e mulheres que exigem rapidez, praticidade e eficiência em um mesmo pacote, com técnicas inovadoras e indolores. Todos os ambientes obedecem a um padrão de conforto e estética visual, com cromoterapia, som ambiente e controle de temperatura, num design de interiores clean, relaxante ou revigorante, dependendo do jogo de luzes oferecido pela fototerapia. Entre os tratamentos disponíveis, está o Oxyjet – trazido para o Brasil com exclusividade pelo Spa que utiliza jatos de oxigênio comprimido a 95% de pureza e soro com densidade compatível com os fluídos corporais e proporcionam um aspecto mais jovem e saudável à pele. O Oxyjet é segredo de beleza de mulheres como a nova duquesa de Cambridge, Kate Middleton e popstar Madonna.

Vila Mariana, São Paulo/SP Tel: (11) 3477-3300 | www.spacitta.com.br

divulgação

SPACITTÁ Av. Onze de Junho, 384

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agenda 2011/2012

2011 EVENTO

NOVEMBRO

XXXII Congresso do Hospital São Geraldo

DATA

LOCAL

INFORMAÇÕES

3a5

Belo Horizonte/MG

Tel.: (31) 3277-8544 www.rhodeseventos.com.br

Simpósio Internacional de Córnea

17 a 19

Banco de Olhos de Sorocaba Sorocaba/SP

Tel.: (15) 3212-7838

14º Congresso de Oftalmologia da USP 13º Congresso de Auxiliar de Oftalmologia

25 e 26

Centro de Convenções Rebouças São Paulo/SP

Tel.: (11) 5084-9174 www.oftalmologiausp.com.br

LOCAL

FEVEREIRO

XXXIII Congresso Mundial de Oftalmologia

16 e 20

Abu Dhabi - Emirados Árabes Unidos

MARÇO

35º Simpósio Internacional Moacyr Álvaro – Simasp

8 a 10

Maksoud Plaza São Paulo/SP

37º Congresso da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo

12 a 14

Hotel Windsor – Rio de Janeiro/RJ

www.sbrv.com.br

XVIII Congresso Norte-Nordeste de Oftalmologia

27 a 29

Bahia Othon Palace Hotel – Salvador/BA

Tel.: (71) 3011-9797 itl@interlinkeventos.com.br

MAIO

EVENTO

9º Curso Internacional de Glaucoma

18 E 19

Maksoud Plaza Hotel São Paulo/SP

Tel.: (11) 5084-9174 / 5084-5284 secretaria.glaucoma@jdeeventos.com.br

XII Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa

ABRIL

DATA

MAIO/JUNHO

2012

30 de maio a Anhembi Parque 2 de junho São Paulo/SP

INFORMAÇÕES

www.woc2012.org info@woc2012.org

www.oftalmo.epm.br/simasp2012

www.cataratarefrativa2012.com.br

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anunciantes desta edição

Acco SAC 015 3313 9220 Página 43

Accutome Tel. EUA (484) 329 2296 Fax EUA (610) 766 0262 Página 53

Alcon SAC 0800 707 7993 Fax (11) 3732 4004 4ª capa e páginas 5, 34 e 35

Allergan Tel. 0800 174 077 ½ capa, 3ª capa e página 7

Bausch & Lomb Tel. 0800 702 6464 Marcador e páginas 16 e 17

Coopervision Tel. (11) 3527-4100 Fax (11) 3527-4113 Página 39

Eyetec Tel. 0800 771 3012 Tel. (16) 3363-3012 Fax (16) 3363-3013 Página 47

Iridex Tel. EUA (650) 962 8100 Apramed Tel./Fax (16) 3368 7137 Página 59

JDE Organização de eventos Tel. (11) 5084 9174 Fax (11) 5574 8261 secretaria.sbg@jdeeventos.com.br Página 63

Johnson & Johnson Tel. 0800 788 281 2ª capa e página 3

Moria Tel. + 33 (0) 1 46 74 46 74 Fax + 33 (0) 1 46 74 46 70 Fax + 33 (0) 1 46 74 46 33 Página 61

Ophthalmos Tel./Fax (11) 3488 3788 Página 21

Optivision Tel./Fax (31) 3284 7325 Páginas 13 e 57

Optolentes Tel. (51) 3358 1700 Fax (51) 3358 1701 Página 37

Look Vision Tel. (11) 5565 4233 Página 9

União Química (Genom) Tel. (11) 5586 2000 Fax (11) 5586 2170 SAC 0800 11 15 59 Página 25

Mediphacos Tel. 0800 727 2211 Página 49

USOphthalmic Tel. (11) 3323 7530 Tel. USA (786) 621 0521 Fax USA (786) 621 1842 www.usophthalmic.com Páginas 23 e 29

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