Universo Visual (Edição 94)

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SETEMBRO | ano XIV | no 94 | Jobson Brasil

universovisual.com.br

60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia O maior evento científico da oftalmologia brasileira reúne ciência, homenagens, mobilização, confraternização e até caminhada.... GOIÂNIA ILUSTRADA

A jovem capital apresenta o roteiro certo para quem busca conhecer e realizar uma imersão ao Brasil Central

Centro Cultural Oscar Niemeyer, Goiânia

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CONSELHO EDITORIAL 2016 Publisher & Editor

Flavio Mendes Bitelman Editora Executiva

Marina Almeida Editor Clínico

Catarata

Glaucoma

Retina

Carlos Eduardo Arieta Eduardo Soriano Marcelo Ventura Miguel Padilha Paulo César Fontes

Augusto Paranhos Jr. Homero Gusmão de Almeida Marcelo Hatanaka Paulo Augusto de Arruda Mello Remo Susanna Jr. Vital P. Costa

Jacó Lavinsky Juliana Sallum Marcio Nehemy Marcos Ávila Michel Eid Farah Neto Oswaldo Moura Brasil

Lentes de Contato

Tecnologia

Adamo Lui Netto César Lipener Cleusa Coral-Ghanem Eduardo Menezes Nilo Holzchuh

Uveíte

Cirurgia Refrativa

EDITORES COLABORADORES

Mauro Campos Renato Ambrósio Jr. Wallace Chamon Walton Nosé

Oftalmologia Geral

Córnea e Doenças Externas

Marcos Pereira de Ávila

Newton Kara José Rubens Belfort Jr. Administração

Cláudio Chaves Cláudio Lottenberg Marinho Jorge Scarpi Samir Bechara

Ana Luisa Höfling-Lima Denise de Freitas Hamilton Moreira José Álvaro Pereira Gomes José Guilherme Pecego Luciene Barbosa Paulo Dantas Sérgio Kandelman Estrabismo

Ana Teresa Ramos Moreira Carlos Souza Dias Célia Nakanami Mauro Plut

Paulo Schor Cláudio Silveira Cristina Muccioli Fernando Oréfice

Plástica e Órbita

Antônio Augusto Velasco Cruz Eurípedes da Mota Moura Henrique Kikuta Paulo Góis Manso Refração

Aderbal de Albuquerque Alves Harley Bicas Marco Rey de Faria Marcus Safady

Jovens Talentos

Alexandre Ventura Bruno Fontes Paulo Augusto Mello Filho Pedro Carlos Carricondo Ricardo Holzchuh Silvane Bigolin

Redação, administração, publicidade e correspondência: Publisher e editor Flavio Mendes Bitelman

Edição 94 – ano XIV – Setembro 2016

Rua Cônego Eugênio Leite, 920 Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05414-001 Tel. (11) 3061-9025 • Fax (11) 3898-1503 E-mail: marina.almeida@universovisual.com.br Assinaturas: (11) 3971-4372 Computer To Plate e Impressão: Ipsis Gráfica e Editora S.A. Tiragem: 16.000 exemplares

Editora Marina Almeida Diretora de arte Ana Luiza Vilela Gerentes comerciais Fabiana Fenti e Jéssica Borges Gerente administrativa Juliana Vasconcelos Colaboradores desta edição: Juliana M. Ferraz Sallum, Keila Monteiro

de Carvalho, Leopoldo Magacho, Maria Antonieta Leopoldi, Paulo Schor e Rodrigo Bueno (artigos); Adriana do Amaral, Davi Gentilli, Flávia Lo Bello, José Vital Monteiro, Luciana Rodriguez e Tatiana Ferrador (texto); Antônio Palma (revisão); Regina Vicari (tradução). Importante: A formatação e adequação dos anúncios às regras

da Anvisa são de responsabilidade exclusiva dos anunciantes.

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As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos autores. Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida sem a autorização da Jobson Brasil. A revista Universo Visual é publicada sete vezes por ano pela Jobson Brasil Ltda., Rua Cônego Eugênio Leite, 920 Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05414-001. A Jobson Brasil Ltda. edita as revistas View, Universo Visual e Host&Travel by Auroraeco viagens.

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Sumário

editoriais

Edição 94 - Setembro 2016

Caros colegas,

Arquivo Universo Visual

A

s Olimpíadas que terminaram em agosto marcaram de vez a grande capacidade do povo brasileiro, ficamos todos muito orgulhosos com o sucesso. Foi um marco na nossa história recente! A oftalmologia esteve presente e colaborando. Finalmente setembro está chegando e com ele o Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que tenho a honra de presidir juntamente com José Beniz e Francisco Lima. Várias matérias desta edição dão a exata dimensão da importância dos congressos do CBO agora unificados na sua 60ª edição. Vai ser um grande congresso. Esperamos todos de braços abertos. Vários textos de grande interesse para nossos leitores. Paulo Schor fala de algo intrigante: Descondicionamento do Olhar. A saúde pública ocular continua prioridade máxima do CBO como destaca nosso presidente Homero Gusmão de Almeida. A preocupação do oftalmologista brasileiro com as causas prevalentes de cegueira mais uma vez esta estampada nas páginas da revista com textos como a Cegueira e Baixa Visual na Infância com opinões de renomados especialistas brasileiros e Refração na Criança, pela Professora Keila Monteiro de Carvalho. O paciente com glaucoma tem muitas dúvidas e o artigo do Dr Sanchez nos ajuda a respondê-las de maneira pratica e precisa. Boa leitura a todos. Até Goiânia !

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Bem-vindos ao 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia

22 Inovação

Programação Científica CBO 2016

28 Gestão

Saúde ocular no país. As barreiras que impedem o acesso da população brasileira ao atendimento oftalmológico

34 Em pauta

Cegueira e baixa visão na infância: Até quando?

38 Jogos Olímpicos

Rio 2016: a excelência do H. Olhos garante a boa visão dos atletas olímpicos Encarando o glaucoma do ponto de vista do paciente

Encontro da oftalmologia nacional

A

Caleidoscópica festa da oftalmologia brasileira está para começar. No centro do Brasil, na cidade de Goiânia (GO), uma multidão esperada de seis mil médicos oftalmologistas e mais três mil pessoas necessárias para a realização do evento e a exposição comercial paralela reúnem-se para realizar o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. Como em todas as edições anteriores, o eixo central do evento é a sua programação científica. A Universo Visual se sente honrada em poder participar mais uma vez desse encontro que reúne os grandes nomes da oftalmologia brasileira. Nossa equipe editará o jornal diário UV News – que circulará nos três primeiros dias de congresso – sempre com a proposta de que, com esse trabalho, possamos contribuir como ferramenta de conhecimento, comunicação e intercambio entre profissionais, com o objetivo de proporcionar a oportunidade privilegiada de aperfeiçoamento e atualização. Bom congresso a todos!

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Oftalmologia chega ao seu 60º Congresso. Acompanhe a entrevista com os presidentes

44 Glaucoma

Marcos Ávila Editor Clínico

Flavio Mendes Bitelman Publisher

06 Entrevista

fbitelman@universovisual.com.br

54 Lentes de contato

Inovando para o sucesso da adaptação de lentes de contato multifocais

60 Refração

O erro de refração não corrigido em criança

66 Retina

19o Congresso Mundial da Retina Internacional

68 Glaucoma

Como os exames complementares podem auxiliar (ou não) o diagnóstico do glaucoma

72 Ponto de Vista

Descondicionamento do Olhar

74 Notícias e produtos 76 Dicas da redação 80 Agenda

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entrevista

Oftalmologia chega ao seu 60º Congresso em Goiânia Com a fusão do Congresso de Prevenção da Cegueira ao Congresso Brasileiro de Oftalmologia, CBO chega a marca histórica

Arquivo pessoal

DAVI GENTILLI

Francisco Lima, José Beniz e Marcos Ávila

E

ntre os dias 3 e 6 de setembro será realizado o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Goiânia (GO). Este evento traz uma grande novidade. Até o ano passado, os Congressos Brasileiros de Oftalmologia eram bianuais, ocorrendo sempre em anos ímpares. Nos anos pares eram realizados os Congressos de Prevenção da Cegueira. Mas no ano passado, o Conselho Deliberativo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) aprovou a fusão dos dois eventos, tornando o Congresso Brasileiro um evento anual. A numeração dos eventos foi reorganizada, somando-se os 38 Congressos Brasileiros e os 21 Congressos de Prevenção da Cegueira. O Congresso que acontece este ano, que seria de Prevenção da Cegueira, será o primeiro convertido em Congresso Brasileiro. Em entrevista à Universo Visual, os presidentes do evento, Marcos Ávila, professor titular da Universidade

Federal de Goiás (UFG) e sócio proprietário do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos (CBCO); José Beniz, professor da UFG e chefe dos Serviços de Córnea e Uveítes do CBCO e Francisco Lima, chefe do Departamento de Cirurgia de Glaucoma do CBCO, explicam essa mudança e comentam os principais destaques científicos e o que está por vir no evento. Confira. Revista Universo Visual - Este será o primeiro Congresso Brasileiro de Oftalmologia num ano par depois da fusão dos dois congressos do CBO aprovada no ano passado. Qual a expectativa para o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia? Marcos Ávila - Eu acho importante salientar que esse congresso marca uma nova época dentro do CBO. Antes, os congressos eram divididos em Congresso Brasileiro de Oftalmologia nos anos ímpares e Congresso de Prevenção

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da Cegueira nos anos pares. Mas os dois congressos eram muito parecidos. A partir deste ano, nós unimos o que vinha sendo feito nos Congressos Brasileiros com os de Prevenção da Cegueira. Eram 21 Congressos de Prevenção e mais 38 Congressos Brasileiros. E então, nós propusemos que fosse unificado dentro de um congresso único, foi aceito no Conselho Deliberativo e passamos hoje ao 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. A Academia Americana de Oftalmologia já tem as suas dezenas e dezenas de congressos, a sociedade francesa outras dezenas de congressos, e nós agora temos o orgulho de dizer que o CBO está no seu 60º Congresso anual, ou seja, é muita coisa. Sessenta Congressos Brasileiros de Oftalmologia é sem dúvida uma marca histórica. Isso para nós tem um significado muito grande, que é essa união dos congressos dentro de uma única filosofia de congresso, um congresso grande, estruturado, que traz para a oftalmologia o conhecimento necessário para os seus membros e isso para nós é muito importante. Essa fusão dos congressos foi uma proposta pessoal minha, eu achei que era o momento, achei que a oftalmologia estava madura para isso, propusemos, o Conselho Deliberativo aprovou e ficamos muito satisfeitos, porque o Congresso de Prevenção, apesar do aumento no número de participação, no número de inscrições, de participação da indústria, ainda deixava um pouco a desejar. Agora nós temos. E a oftalmologia precisa de um congresso anual grande. Isso aumenta o número de praticantes, aumenta a importância e traz para a oftalmologia brasileira o reconhecimento mundial de uma sociedade que tem 60 congressos. UV - Como estão os preparativos finais do congresso? Qual é a expectativa de público? Ávila - Está na fase final. Temos um programa científico espetacular. Está quase tudo pronto. Toda a organização local pronta, incluindo centro de convenções, transporte, alojamento, hotéis, festas, secretaria local, segurança, atividades sociais... tudo absolutamente pronto. Nós estamos perto de 3.000 inscritos 40 dias antes do congresso, o que é um recorde e já mostra um grande sucesso. Francisco Lima - Existe uma dúvida com relação à expectativa de público para esse congresso, porque ele seria Congresso de Prevenção da Cegueira. Muitas pessoas tinham o costume de vir apenas aos Congressos Brasileiros e não ao de Prevenção da Cegueira, indo a congressos uma vez a cada dois anos. Estamos traba-

lhando muito, mas como é a primeira vez que isso acontece, temos uma dúvida com relação ao comparecimento. Estamos esperando 4.000 pessoas, mas estamos prontos caso venha um público menor por causa dessa alternância que havia entre os congressos. UV - Por que foi escolhido como tema oficial Prevenção da Cegueira e Deficiência Visual na Infância? José Beniz - Porque os temas oficiais se alternam. Como a oftalmologia tem inúmeros temas, já fazia algum tempo que não se abordava oftalmopediatria. É um tema extremamente atual em termos de necessidade da saúde pública brasileira. Esse foi o principal motivo. E também para fazer uma reciclagem em um tema extremamente importante, que é tratar o mais precocemente possível problemas visuais na infância. Ávila - É uma situação muito bem delineada dentro do CBO. O que acontece é que temas de grande destaque e importância da oftalmologia são selecionados previamente, anos antes, e são depois apresentados no Conselho Deliberativo, que reúne a representatividade de todos os oftalmologistas. Cada tema é apresentado e debatido e, na sequência, os oftalmologistas votam qual seria de mais relevância. Esses temas são escolhidos após votação pelos oftalmologistas no Conselho Deliberativo. UV - Do final do ano passado para cá, a medicina tomou conhecimento de diversos males que o vírus da zika pode causar em fetos e em adultos, inclusive problemas oculares. O que o congressista encontrará sobre a zika no evento? Beniz - O tema do vírus da zika vai ser abordado de forma importante, com os mais recentes avanços em diagnóstico e prevenção das sequelas causadas pela infecção do vírus da zika, especialmente em gestantes. Foram relatadas recentemente alterações retinianas e de nervo óptico e também de doenças externas oculares na presença dessa infecção. Esses temas são novos e serão certamente abordados em palestras e debates durante o congresso. Ávila - Com certeza nós teremos todas as causas de cegueira na infância debatidas. Os números preliminares não mostram uma prevalência, uma incidência muito alta de lesões oculares causadas pelo vírus da zika que possa nos causar um alarme em proporções gigantescas, mas isso será debatido. As causas de cegueira durante a gestação, como a toxoplasmose, defeitos congênitos, infecções como a zika, a catarata congênita, ambliopia,

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que é uma diminuição funcional da visão causada por falta de óculos em um dos olhos, serão todas debatidas. Isso faz com que as crianças tenham uma deficiência ocasionada por não utilizarem adequadamente a parte do cérebro ligada ao olho que precisa de óculos. Há um universo gigante com que nós estamos preocupados. Desde a gestação intrauterina até depois do seu nascimento, para descobrir outros fatores que possam causar cegueira ou baixa visual. UV - Quais são os temas controversos que deverão gerar mais discussão nesse congresso? Ávila - Acredito que o tema da célula-tronco deve gerar um bom debate. Outros temas que vejo são o diabetes causando prejuízos para a visão, degeneração macular relacionada à idade, que é a maior causa de cegueira irreversível depois dos 60 anos, glaucoma, que é uma importante causa de cegueira no Brasil e está com uma programação muito bem estruturada para o congresso. E não poderia deixar de mencionar a catarata e a cirurgia de catarata no Brasil, em que pé estamos, que tecnologias estão sendo utilizadas para o tratamento cirúrgico da catarata... O congresso é grande. O Congresso Brasileiro de Oftalmologia está hoje entre os cinco maiores do mundo. As temáticas são muito amplas. Não tem área da oftalmologia que deixará de ser coberta pelos debates. UV - Que novidades diagnósticas e terapêuticas serão apresentadas este ano? Ávila - Se nós olharmos pelas patologias, veremos que os novos equipamentos serão apresentados na área comercial. Dou destaque para os novos aparelhos de tomografia de coerência óptica para diagnóstico da mácula e do glaucoma e os lasers para a cirurgia de catarata e cirurgia refrativa. Também os antiangiogênicos, os protocolos de uso, de exame e acompanhamento após as injeções dessas substâncias. Beniz - Em catarata, atualizações em cirurgias feitas com o laser de femtossegundo e o grande avanço com as lentes intraoculares multifocais e trifocais. Em uveítes, certamente, as novidades sobre o vírus da zika. Em retina, avanços nos aparelhos de diagnóstico, especialmente a angiografia por OCT. Em ceratocone, as formas de aplicação de crosslinking e as mudanças nos formatos de anéis intraestromais. Em transplante de córnea, os avanços nos transplantes lamelares DSAEK, DMEK e o DALK.

UV - Quem são os convidados internacionais e o que apresentarão no congresso? Beniz - São inúmeros palestrantes internacionais nas diversas subespecialidades. Em retina, devem vir João Paulo Castro e Sousa, de Portugal, e Suber Huang, dos Estados Unidos. Em córnea, teremos William May e Michael Belin, ambos dos Estados Unidos. Em catarata e refrativa virão António Limão Oliveira, de Portugal; Tat-Keong Chan, de Singapura; William May dos Estados Unidos também terá um espaço para falar de cirurgia de catarata; Fritz Hengerer, da Alemanha; George Waring IV, também dos Estados Unidos, e a Karolinne Maia Rocha, que é brasileira, mas é professora da Universidade da Carolina do Sul. Em plástica, virá Angela Dolmetsch, da Colômbia, e em visão subnormal, Catarina Paiva, de Portugal. UV - Devem vir autoridades ao congresso? Quem? Francisco Lima - Nós estamos esperando ministro do Supremo Tribunal Federal, o governador do Estado, membros do Ministério da Saúde, parlamentares... estamos esperando, sim, autoridades. Mas normalmente eles confirmam a presença uma semana antes. UV - Há programação de espaços para debater a atuação política da oftalmologia no congresso? Lima - Sempre, nas atividades do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, tudo o que diz respeito à classe é discutido extensamente e o CBO se envolve diretamente em vários tipos de simpósios. Às vezes, não todos os temas de defesa de classe dentro de uma mesma atividade, mas de uma maneira ou de outra, todos os temas que envolvem o exercício da oftalmologia, da boa prática da oftalmologia e a saúde visual da população brasileira são discutidos. UV - O Curso Fundamentos de Oftalmologia reuniu a programação básica do congresso em Florianópolis em dois dias intensos e lotou as salas onde foi realizado. O que os senhores esperam desse curso este ano? Lima - Nós esperamos que o Curso Fundamentos de Oftalmologia seja um sucesso ainda maior. Essa foi uma ideia do Wallace Chamon, que trouxe também várias outras novidades para o congresso de Florianópolis do ano passado e por isso ele segue na Comissão Científica do CBO para levar adiante essas atividades que foram um sucesso. Ávila - Eu acho que o lançamento do curso, que é realizado nos dois primeiros dias do congresso, foi um grande sucesso. E este ano esperamos até mais, porque foram

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introduzidas algumas mudanças para melhor, não na estrutura, mas no conteúdo técnico, com alguns temas acrescentados. Nós achamos que esse curso realmente preenche uma lacuna para o médico que está na prática há algum tempo, mas principalmente para o jovem que está entrando agora, para que ele tenha os fundamentos sólidos, as diretrizes do CBO em relação ao bom atendimento ao paciente no consultório e ambulatórios, no serviço público, enfim. Que os bons fundamentos e as boas práticas, bom protocolos e diretrizes do CBO passem a toda a comunidade. UV - O congresso do ano passado inovou com diversos formatos novos de apresentação de conteúdo e teve boa receptividade. Esses formatos terão continuidade em Goiânia? Haverá mudanças? Beniz - Nós vamos continuar exatamente o mesmo formato de Florianópolis, que foi muito apreciado pelos congressistas. Então nós estamos estendendo na mesma tônica, de ser um congresso com bastante participação interativa dos palestrantes, com discussões com os congressistas. Uma novidade na programação do 60º Congresso será a realização da 1ª Copa InterOftalmo do Conhecimento, que será um jogo de perguntas e respostas em oftalmologia e será disputado entre equipes formadas pelos cursos de especialização credenciados pelo CBO. UV - Está prevista a realização de uma Marcha contra a Cegueira. Como será essa atividade? Ávila - Eu não quero falar muito para não tirar a surpresa dessa atividade. Mas em linhas gerais, vai ser um mosaico humano que será feito aqui no centro olímpico, que está sendo inaugurado agora, em poucos dias. É um lugar maravilhoso, a cerca de 500 metros do Centro de Convenções, onde será realizado o nosso congresso. Lá nós temos um campo grande para esportes olímpicos, incluindo o gramado de futebol. Os congressistas vão se encontrar lá no domingo pela manhã e formar esse mosaico humano. De lá, vamos caminhando de volta para o Centro de Convenções por volta de 8h, 8h30 da manhã. E lá, vamos nos encontrar dentro do anfiteatro principal, onde teremos algumas falas da diretoria do CBO e dos presidentes do Congresso e o sorteio de um carro. Essa marcha vai ser muito interessante e isso é para chamar a atenção das autoridades em relação ao problema da cegueira no Brasil, ao problema da causa e prevalência da cegueira. Eu acho que isso faz com que a oftalmologia brasileira continue mostrando a sua

preocupação com as questões sociais e com a questão da cegueira, principalmente nas camadas menos favorecidas da sociedade. UV - O que o congressista pode esperar da programação social? Ávila - Em Goiânia, nós temos a tradição de boas festas. Os congressos aqui realizados são congressos de muito boas festas, muitas participações. E não poderia ser diferente este ano. Nós temos uma festa que será realizada no dia 5 de setembro e será realizada num lugar maravilhoso, que é o Centro de Convenções da Universidade Federal de Goiás. Nós teremos o cantor Leonardo, a banda Venosa tocando rock e a DJ Sophia Dalla Voguet, que é hoje um sucesso em todo o Brasil. Então, a parte gastronômica da festa está muito bem preparada e eu acho que vai ser um grande sucesso. As pessoas, afinal, querem estudar, aprender, participar, e ao final querem também um momento de congraçamento, de reencontro e de um pouco de alegria dentro do contexto do próprio congresso. Acho que a programação social deve ser espetacular. Lima - Não poupamos esforços nas atrações. Serão sorteados três carros zeros, teremos uma festa única para todos os congressistas e não teremos o jantar dos palestrantes, que criava uma segregação, separava os palestrantes dos demais congressistas, que reunia apenas os palestrantes, os conselhos do CBO... Então nós vamos ter uma festa para todo mundo, para o aluno, para o congressista, para o diretor do CBO, com música boa e comida boa. Nós recebemos alguns comentários na internet de pessoas que falavam que era um absurdo a gente gastar tanto com essas atividades e que deveríamos gastar menos com isso e reduzir o valor da inscrição. Mas é preciso fazer um contrapeso. Se você não tivesse festa, se você não tivesse sorteio, você não reuniria todo mundo. Não existe evento científico no mundo, sempre foi e sempre será, em que não tenha algum sorteio, alguma coisa que agregue todo mundo, que reúna todos numa mesma atividade. Porque esses espaços que reúnem todo mundo permitem a discussão, a conversa informal, permitem que as pessoas se conheçam. Você imagina um congresso que não tenha nada disso, cada um ia comparecer às aulas de seu interesse, só de catarata, só de retina, e essa pessoa ficaria em um congresso por quatro dias e não ia se encontrar com ninguém, porque não teria aquela grande atividade que reúna todos. n

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Bem-vindos ao 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia Ciência, homenagens, mobilização, confraternização e até caminhada... JOSÉ VITAL MONTEIRO

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caleidoscópica festa da oftalmologia brasileira está para começar. No meião do Brasil, na cidade de Goiânia (GO), uma multidão esperada de seis mil médicos oftalmologistas e mais três mil pessoas necessárias para a realização do evento e a exposição comercial paralela reúnem-se para realizar o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. Como em todas as edições anteriores, o eixo central do evento é a sua programação científica. Fruto de dois anos de trabalho de dezenas de integrantes da Comissão Científica do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), essa programação, composta de cerca de 400 horas/aula, empenha-se em atingir todas as áreas da Especialidade em diferentes graus de especificidade, com o objetivo de atender aos interesses de todos os congressistas, desde os que ainda estão em formação até experimentados peritos.

Em torno desse eixo principal, uma constelação de atividades sociais, culturais, políticas, educacionais, comerciais e de confraternização completam a maratona que, garantem seus organizadores, será única e memorável. “O congresso de Goiânia será excelente oportunidade para a aquisição de novos conhecimentos, troca de experiências, debates científicos e ampliação da união e da amizade entre nossos pares. Isto parece frase de folheto de divulgação, mas o fato é que centenas de pessoas de vários lugares e formações trabalharam durante dois anos para planejar todos os detalhes do evento e esta preparação esmerada vai se refletir na grande experiência que estamos para começar”, declarou Marcos Ávila, Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás e um dos presidentes da Comissão Organizadora do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia.

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ANS participa do congresso

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s principais problemas e dúvidas relacionados com a saúde suplementar e à ação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) serão debatidos em simpósio especial de 4 de setembro, dentro da programação do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. A sessão terá a participação do gerente-executivo de Aprimoramento do Relacionamento entre Prestadores e Operadoras da ANS, José Felipe Riani Costa, do Coordenador da Comissão Nacional de Saúde Suplementar (COMSU) do CFM, Salomão Rodrigues Filho, dos integrantes da Comissão de Saúde Suplementar/SUS do CBO e da Federação das Cooperativas Estaduais de Serviços Administrativos em Oftalmologia (FeCOOESO) e de médicos oftalmologistas interessados na problemática da saúde suplementar.

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Projeções surpreendentes

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Fotos: Arquivo UV

urante o congresso de Goiânia, duas salas serão equipadas com a tecnologia de vídeo mapping, que permite a projeção de vídeos em objetos ou superfícies irregulares e/ou superfícies de grandes dimensões. Por meio de softwares especiais, as projeções serão utilizadas na solenidade de abertura e em atividades didáticas específicas, com a criação de narrativas audiovisuais com combinação de áudio e vídeo em telas de aproximadamente 120 m².

HOMERO GUSMÃO DE ALMEIDA: “Praticamente durante todo o evento a diretoria estará debatendo as condições de saúde ocular, a valorização do médico oftalmologista e o futuro da Especialidade”

FRANCISCO LIMA: “Em torno desse eixo principal, uma constelação de atividades sociais, culturais, políticas, educacionais, comerciais e de confraternização completam a maratona que, garantem seus organizadores, será única e memorável”

JOSÉ BENIZ NETO: “Por meio do aplicativo para smartphones oficial do CBO 2016. Cada congressista tem, na palma de sua mão, a oportunidade de ver o que mais interessa e de planejar sua participação no congresso de Goiânia”

CIÊNCIA PARA TODOS OS GOSTOS A programação científica do evento começa com o Curso Fundamentos de Oftalmologia, considerado como atividade à parte do congresso e que exige, inclusive, inscrição em separado. Criado no Congresso de Florianópolis de 2015, o Curso Fundamentos de Oftalmologia reúne em dois dias (2 e 3 de setembro) toda a programação básica em Catarata, Cirurgia Refrativa, Córnea, Estrabismo, Glaucoma, Neuroftalmologia, Oncologia, Órbita, Refração, Retina, Semiologia e Uveítes. As aulas são ministradas em duas salas separadas e os inscritos na atividade recebem, ao final, filmagens e material completo do que foi apresentado nos dois locais. Fiel ao nome, o Curso Fundamentos de Oftalmologia reúne em extensas aulas expositivas o conhecimento básico de cada subespecialidade abordada. A atividade é coordenada pelo Professor Catedrático da UNIFESP Paulo Augusto de Arruda Mello, que considera que com a implantação do Curso Fundamentos de Oftalmologia, os congressos brasileiros tornaram-se muito mais ágeis e dinâmicos, permitindo que o congressista tenha mais flexibilidade na escolha das atividades de seu interesse. Em 3 de setembro tem início o congresso propriamente dito, com a realização dos Dias Especiais de Catarata; Cirurgia Refrativa; Córnea e Doenças Externas; Glaucoma; Refração e Lentes de Contato e Retina. Nesta atividade, o foco é abordar a atualidade dos conhecimentos em cada uma das grandes áreas da Especialidade. A partir de 4 de setembro, a apresentação da programação científica do congresso diversifica-se. O conteúdo passa a ser exposto em sessões de aulas formais, painéis, cursos de instrução, simpósios, conferências e, no último dia (6 de setembro) em simpósios das sociedades filiadas ao CBO. Cada uma dessas modalidades tem características próprias que influenciam a duração e a forma de intervenção dos vários congressistas, a dinâmica da apresentação e as formas de participação da plateia. “Tivemos o cuidado extremo de terminar toda a programação científica do congresso com vários meses de antecedência, de colocá-la de forma detalhada no site do evento e, uma novidade importante, de torná-la acessível aos congressistas por meio do aplicativo para smartphones oficial do CBO 2016. Cada congressista tem, na palma de sua mão, a oportunidade de ver o que mais interessa e de planejar sua participação no congresso de Goiânia”, afirmou o professor da Universidade Federal de Goiás e

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Fotos: Arquivo UV

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MARCOS ÁVILA: “O congresso de Goiânia será excelente oportunidade para a aquisição de novos conhecimentos, troca de experiências, debates científicos e ampliação da união e da amizade entre nossos pares”

WALLACE CHAMON: “Já no dia 4 de setembro, ocorre a sessão de conferências CED, baseadas nas conhecidas palestras TED da internet. Esta atividade tem o propósito de ampliar os horizontes cognitivos dos médicos oftalmologistas e, por esta razão “é proibido falar de oftalmologia”

Série Oftalmologia Brasileira terá lançamentos no congresso

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ovas edições atualizadas dos seguintes volumes da Série Oftalmologia Brasileira serão lançados durante o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia: 1) Doenças Externas; 2) Glaucoma; 3) Prova Nacional de Oftalmologia; 4) Retina e 5) Uveítes. A Série Oftalmologia Brasileira é o maior esforço editorial já empreendido pela Oftalmologia Brasileira. Sua primeira edição foi lançada em 2008, composta de 16 livros abordando todo o conhecimento consolidado na Especialidade. O conjunto da obra exigiu a colaboração de mais de 400 pesquisadores e resultou numa monumental obra de mais de seis mil páginas. Desde o lançamento, o CBO e o coordenador-geral da coleção, Milton Ruiz Alves, estabeleceram mecanismos para a atualização permanente da obra. Posteriormente foram lançadas outras duas edições da obra e uma versão para internet (tablet e smartfones).

outro dos presidentes do evento, José Beniz Neto. A grade interativa da programação científica do congresso pode ser consultada no site https://cbo2016.com. br/evento/cbo2016/programacao/gradeatividades e o aplicativo pode ser obtido gratuitamente em http://apple. co/1P7Z5bi (IOS) e http://bit.ly/1lyXdfD (Android). E O QUE O CONGRESSO TEM DE NOVO? Ao lado da formalidade que cerca e molda o congresso que, afinal de contas, é feito para difundir o conhecimento científico e promover debates acadêmicos, o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia aposta em inovações para dinamizar a apresentação dos temas e a realização das discussões e para incentivar a participação da plateia. Algumas dessas inovações foram testadas no congresso de 2015, outras foram aperfeiçoadas e pelo menos uma delas, a Sessão Encontro com o Autor, já vem sendo executada há vários anos e perdeu, definitivamente, o rótulo de novidade para se tornar característica dos congressos do CBO. Já no dia 4 de setembro, no primeiro horário, ocorre a sessão de conferências CED, baseadas nas conhecidas palestras TED da internet. Para o coordenador da Comissão Científica do CBO, Wallace Chamon, esta atividade tem o propósito de ampliar os horizontes cognitivos dos médicos oftalmologistas e, por esta razão “é proibido falar de oftalmologia”, brinca. Na sessão CED de Goiânia, os médicos oftalmologistas André Corrêa Maia de Carvalho, Ibraim Viana Vieira, Mauro Toledo Leite, Paulo Schor e Antônio Augusto Velasco e Cruz estarão tratando de temas como a série televisiva Game of Thrones, música e antidisciplinaridade. Contrariando a orientação expressa pelo coordenador, Velasco e Cruz falará sobre Oftalmologia... na Arábia. No mesmo dia haverá uma sessão de Debates sobre Retina, atividade baseada nos debates eleitorais transmitidos pela televisão. Também haverá sessões de Entrevista sobre Cirurgia Refrativa, Neuroftalmologia e Retina, nas quais especialistas em seus respectivos campos serão entrevistados por outros especialistas e o debate e a participação dos congressistas serão incentivados. A sessão de Encontro com o Autor estará acontecendo no local destinado à exposição de pôsteres, quando os autores dos trabalhos receberão a visita e a avaliação de professores dos temas abordados. No dia seguinte haverá Debate sobre Cirurgia Refrativa e Glaucoma e Sessão de Entrevistas sobre Administração, Catarata, Cirurgia Refrativa, Córnea, Estrabismo e

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Glaucoma. O glaucoma também será o tema da sessão Roda Viva, atividade inspirada no programa televisivo de mesmo nome, na qual um especialista é entrevistado simultaneamente por alguns de seus pares. Dia 5 de setembro também marcará a estreia de outra inovação do congresso: a 1ª Copa InterOftalmo do Conhecimento (InterOftalmo), onde alunos de 23 Cursos de Especialização em Oftalmologia credenciados pelo CBO estarão mostrando seus conhecimentos numa gincana de perguntas e respostas. Haverá sistema interativo on-line para análise em tempo real das respostas apresentadas. Em seguida, na mesma sala, haverá a Gincana de Consultório Virtual: Quem será o “Dr. House”?, na qual equipes receberão atores que simularão doenças que precisam ser diagnosticadas e tratadas. No último dia do evento haverá sessões de Entrevista envolvendo especialistas em Catarata e Retina. PROGRAMAÇÃO SOCIAL A programação social oficial do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia começa com a solenidade de abertura, que reunirá as principais lideranças da Especialidade e autoridades no início da noite de 3 de setembro. Ao final da cerimônia haverá o sorteio de um automóvel Hyundai HB 20 e de uma passagem aérea para o encontro da Academia Americana de Oftalmologia (AAO), que ocorre de 15 a 18 de outubro em Chicago (EUA).

Tema Oficial

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revenção da Cegueira e Deficiência Visual na Infância”: este é o título do livro Tema Oficial do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que será lançado durante o evento e apresentado na manhã de 4 de setembro em atividade didática na qual os relatores, editores e autores farão resumos do conteúdo da obra. Durante a sessão, haverá sorteio de exemplares da obra entre os congressistas presentes. O livro tem como relatoras Andréa Araújo Zin e Keila Monteiro de Carvalho. Os editores do livro são Andréa Araújo Zin, Galton Vasconcelos, João Marcelo Furtado, Keila Monteiro de Carvalho e Liana Maria Vieira de Oliveira Ventura. Recebeu também significativa colaboração de Juan Carlos Silva, assessor regional da Organização PanAmericana de Saúde/Organização Mundial da Saúde.

No dia seguinte, logo pela manhã acontece o Mosaico Humano e Marcha Contra a Cegueira, manifestação médico-cívica para sensibilizar meios de comunicação, autoridades e a população para a importância da saúde ocular. Em ginásio esportivo localizado nas imediações do Centro de Convenções de Goiás, haverá a formação de um mosaico humano semelhante às formações observadas em estádios de futebol. Posteriormente, os médicos farão uma marcha até o local das atividades didáticas do congresso. Antes da dispersão, haverá atividades ligadas às empresas que adquiriram cotas do evento e o sorteio de mais um automóvel Hyundai HB 20 e de uma passagem para o encontro da AAO. “Vai ser uma atividade espetacular. Todos os que dela participarem se sentirão engrandecidos. O que vamos formar no mosaico? Este é, talvez, o maior segredo do congresso”, confidencia o chefe do Departamento de Cirurgia do Glaucoma do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos (CBCO) e o terceiro presidente da Comissão Executiva do Congresso, Francisco Eduardo Lima. Finalmente, em 5 de setembro haverá a grande festa de confraternização para todos os congressistas, no Centro de Eventos da Universidade Federal de Goiás. Durante a festa haverá show do cantor Leonardo e apresentação da Banda Venosa (rock dos anos 90 e do início do século XXI). A festa também contará com a animação da DJ gaúcha Sophia Dalla Voguet. Na ocasião, haverá o ultimo sorteio de automóvel e de passagem aérea para o encontro da AAO. Além da programação oficial, as empresas participantes da exposição comercial organizarão festas e encontros para os congressistas durante todo o evento. ATIVIDADES DO CBO Um dos momentos mais esperados do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia é o Simpósio da Comissão CBO Mulher, que ocorrerá na tarde de 5 de setembro. A atividade, coordenada por Luciene Barbosa de Sousa, Keila Monteiro de Carvalho e Maria Cristina Nishiwaki Dantas receberá a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmem Lúcia Antunes Rocha, que dias após o evento assumirá a Presidência da Corte. Além da jurista, o encontro do CBO Mulher contará com a participação da senadora Lúcia Vânia (PSB/GO), que falará sobre a participação feminina na construção da Cidadania, Jeanete Herzerg (preocupações societárias) e Célia C. de Oliveira Sathier (rejuvenescimento facial). A Comissão CBO Jovem também organizará um simpósio destinado aos médicos em início de carreira, em que serão abordados temas ligados à administração, carreira,

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LISTA DOS PRÊMIOS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA

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acadêmico de Medicina Thiago Machado Nogueira é o primeiro autor do trabalho “A comparative study between full-thickness blepharotomy vs. transconjunctival eyelid lengthening technique for correction of upper eyelid retraction in Graves’ orbitopathy”, escolhido para ganhar o Prêmio Conselho Brasileiro de Oftalmologia como melhor trabalho apresentado no 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. Os outros autores do trabalho são Allan Pieroni Gonçalves, Luzia Diegues Silva, Ana Carolina Gonçalves e Mário Luiz Ribeiro Monteiro e a pesquisa foi realizada na Universidade de São Paulo (USP). A lista completa dos trabalhos premiados é a seguinte: PRÊMIO CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA A comparative study between full-thickness blepharotomy vs. transconjunctival eyelid lengthening technique for correction of upper eyelid retraction in Graves’ orbitopathy Autores: THIAGO MACHADO NOGUEIRA, Allan Pieroni Gonçalves, Luzia Diegues Silva, Ana Carolina Gonçalves e Mário Luiz Ribeiro Monteiro Instituição: Universidade de São Paulo (USP) PRÊMIO EDUCAÇÃO EM SAÚDE OCULAR Índice de publicações de trabalhos científicos apresentados em Congresso Brasileiro de Oftalmologia: comparação de 10 anos Autores: MARIANA PEREIRA LEITE DIAS GUMIERO, Janaína Lucila Brabo e Suzana Matayoshi Instituição: Hospital das Clínicas da USP PRÊMIO OFTALMOLOGIA CIRÚRGICA Trocater móvel como instrumental para vitrectomia via pars plana. Análise de cicatrização do colágeno escleral Autores: EDUARDO DE FRANÇA DAMASCENO, Nadyr Pereira Damasceno, Nádia de Campos Oliveira Miguel e Marcos Pereira de Ávila Instituições: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF) PRÊMIO OFTALMOLOGIA CLÍNICA Visual outcomes of intravitreal bevacizumab associated with systemic immunosupression in choroidal neovascularization in Vogt-Koyanagi-Harada disease – a prospective study Autores: CELSO MORITA, Viviane M. Sakata, Sérgio L. G. Pimentel, Marcelo M. Lavezzo, Smairah F. Abdallah, Carlos E. Hirata e Joyce H. Yamamoto Instituição: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USPO

PRÊMIO PESQUISA BÁSICA Paclitaxel associado a nanoemulsão lipídica como um novo agente antifibrótico em cirurgia experimental de glaucoma Autores: MARCELO LUÍS OCCHIUTTO, Vital Paulino Costa, Fátima Rodrigues Freitas, Patrícia Picciarelli Lima e Raul Cavalcante Maranhão. Instituições: Instituto do Coração – FMUSP e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) PRÊMIO REGIONAL CENTRO-OESTE Controle da progressão da miopia com atropina 0,025% Autores: CELSO MARCELO CUNHA, Renato José Bett Correia, Jéssica Teixeira Cunha Instituições: Hospital Geral Universitário (INIC) e Oftalmocenter Santa Rosa PRÊMIO REGIONAL NORDESTE Estudo clínico comparativo entre o dispositivo eletrônico móvel (DEM) e a tomografia de coerência óptica (OCT) para determinação da escavação papilar através de um estudo clínico de não inferioridade com análise mascarada dos dados Autores: ANDRÉA GONDIM LEITÃO SARMENTO, Adriano Sarmento e Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira Instituições: Clínica Oftalmológica Zona Sul e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) PRÊMIO REGIONAL SUDESTE Caracterização molecular e susceptibilidade antimicrobiana de Streptococcus do grupo Viridans isolados de endoftalmite e ceratites Autores: ANA LUÍSA HOFLING-LIMA, Katiane Santin, Paulo José M. Bispo, Willames B. S. Martins e Mírian S. Carmo. Instituição: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) PRÊMIO REGIONAL SUL Comparação da área pré-lâmina cribrosa e camada de fibras nervosas peripapilar usando tomografia de coerência óptica de domínio espectral Autores: ANNE ELISE CRUZ DO CARMO CHAVES, Camila Zanella Benfica, Paulo Augusto de Arruda Mello e Fábio Lavinsky Instituições: Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) PRÊMIO TRABALHO INTERNACIONAL Progression in glaucoma suspects is detected earlier with imaging than standard automated perimetry Autores: ALBERTO DINIZ FILHO, Linda M. Zangwill, Akram Belghith, Robert N. Weinreb e Felipe A. Medeiros Instituições: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e University of California ■

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Programação Científica CBO 2016 Novidade deste ano é a grade totalmente interativa do evento, que permite uma programação personalizada de interesses TATIANA FERRADOR

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ntre os dias 3 e 6 de setembro acontece em Goiânia (GO) o 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, aquele que é considerado o maior evento científico da oftalmologia brasileira. O evento, que tem como Presidente de Honra Homero Gusmão de Almeida, e cuja edição é presidida por Marcos Ávila, José Beniz e Francisco Lima, está cada vez mais dinâmico, completo e atual, com palestras de renomados profissionais nacionais e internacionais, apresentação de temas livres, pôsteres, além de uma ampla feira, com a presença das principais empresas do segmento oftalmológico. Tem como público-alvo médicos oftalmologistas de diversas subespecialidades, profissionais que atuam em clínicas oftalmológicas, estudantes, residentes, fellows, professores universitários ligados à oftalmologia, além de profissionais das áreas afins. Durante o congresso, serão apresentadas técnicas já consagradas em consonância com novas, embasadas por resultados de pesquisas. A ocasião, propícia para o networking e valiosa intercambialidade entre os profissionais presentes, fomentará a comunicação e o intercâmbio de informações sobre a oftalmologia em seus amplos aspectos, além de ser uma excelente oportunidade para a troca de experiências, aperfeiçoamento e atualização. De acordo com o coordenador da comissão científica, Wallace Chamon, foram horas preparando cada assunto que seria discutido no congresso. “O congresso deste ano se diferenciará dos demais, com muitas discussões e poucas aulas formais”, explica. “Haverá entrevistas com grandes

especialistas, conduzidas por profissionais do mais alto gabarito, além de painéis baseados em casos e estudos clínicos que serão discutidos por seis grandes especialistas, sempre com a participação dos presentes. Ao todo, serão mais de 400 horas de programação científica”, afirma. “As formas consagradas de apresentação, de discussão de casos, debates e entrevistas se associam ao uso de novas mídias e de uma grande expansão do conhecimento”, conclui. Vale lembrar que este ano o evento conta com uma grade totalmente interativa, que permite uma programação personalizada de interesses de temas e assuntos. São mais de 400 horas de conteúdo de extrema relevância aos profissionais da área. Os congressistas podem baixar o aplicativo do evento CBO 2016 pela Apple Store ou Google Play. DIVERSIDADE DE TEMAS Como explica o presidente do congresso, Marcos Ávila, esta edição do CBO 2016 traz uma novidade que o torna ainda mais atraente e expressivo: a fusão do tradicional Congresso Brasileiro de Oftalmologia e do Congresso Brasileiro de Prevenção da Cegueira e Reabilitação Visual. “Essa ação, inédita na história do evento, representa maior fortalecimento da especialidade e novas possibilidades de intercâmbio profissional”, argumenta o executivo. O evento tem início com o pré-congresso Curso Fundamentos de Oftalmologia (CFO), coordenado por Paulo Augusto de Arruda Mello, que durante os dois primeiros dias (2/9 e 3/9) abordará temas introdutórios e básicos importantes da especialidade, como o segmento ante-

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inovação

FIQUE DE OLHO! VOCÊ BUSCA NOVIDADES EM TEMAS ESPECÍFICOS? NÃO PERCA ALGUNS DESTAQUES EM: CATARATA:

2/9: CFO sobre segmento anterior - catarata, córnea e cirurgia refrativa 3/9: Dia Especial de Catarata 4/9: Cursos de instrução – Os casos de catarata mais difíceis do ano. Vai encarar? 5/9: Laser em cirurgia de catarata, entre outros. GLAUCOMA:

3/9: CFO sobre Glaucoma e Dia Especial de Glaucoma 4/9: Sessão de aulas formais: Diagnóstico do glaucoma, painéis sobre complicações cirúrgicas, implantes e cirurgias angulares, etc. 5/9: Painel sobre a detecção da progressão no glaucoma, glaucoma e catarata, além de entrevistas sobre Soluções em Glaucoma. Roda Viva sobre O que você sempre quis saber sobre glaucoma, entre outros. RETINA:

2/9: CFO sobre segmento posterior - retina, vítreo e uveítes 3/9: Dia Especial de Retina e Vítreo 4/9: Debates – Grandes temas em retina. Entrevista – controvérsias no tratamento clínico da retina. Painel – avanços no tratamento do descolamento de retina. 5/9: Painel – Tópicos selecionados de retina. 6/9: Entrevista – Desafios no dia a dia em retina. Painel – Avanços tecnológicos em cirurgia retiniana. Entre outros. LENTES DE CONTATO:

CIRURGIA REFRATIVA:

2/9: CFO - catarata, córnea e cirurgia refrativa 3/9: Dia Especial de Cirurgia Refrativa 4/9: Sessão de aulas formais – considerações na indicação das cirurgias refrativas Entrevista – Tratamento das altas ametropias 5/9: Debates – atualidades em cirurgia refrativa Painel – Reoperações e casos complicados em cirurgia refrativa Entrevista – Presbiopia: A nova fronteira da cirurgia refrativa 6/9: Painel – Tecnologias emergentes em cirurgia refrativa, entre outros. TRAUMA:

5/9: Painel – Trauma ocular em situações especiais Painel – Traumatismo ocular na era dos “Black Blocks” Painel – Desafios cirúrgicos no trauma 6/9: Simpósio de Sociedades Filadas – Simpósio da Sociedade Brasileira de Trauma Ocular. CÓRNEA:

2/9: CFO - catarata, córnea e cirurgia refrativa 3/9: Dia Especial de Córnea e Doenças Externas 4/9: Painel – Ceratocone Cursos de instrução – técnicas avançadas em cirurgia corneana Sessão de aulas formais – ceratite infecciosa 5/9: Cursos de instrução – Topografia corneana Painel – Transplante de córnea Painel – Alergia ocular 6/9: Painel – Córnea e outras doenças, entre outros.

4/9: Painel – Lente de contato no consultório Painel – Lente de contato: casos especiais Sessão de aulas formais – lentes esclerais

Acompanhe a grade do evento:https://cbo2016.com.br/evento/cbo2016/programacao/gradeatividades

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rior (catarata, córneas e cirurgia refrativa), e o segmento posterior (retina, vítreo e uveítes). O CFO é, também, uma importante ferramenta para os congressistas, que poderão direcionar a escolha dos assuntos de interesse na programação científica do CBO 2016. Ainda no sábado, dia 3, acontece o Dia Especial, programa conjunto CBO e Sociedades de Especialidades, que contemplará uma diversidade de temas, entre os quais se destacam a Catarata, Cirurgia Refrativa, Córnea e Doenças Externas, Glaucoma, Retina, Refração e Lentes de Contato. Cada um deles contará com grandes sessões específicas para congressistas que buscam atualização, graças à apresentação de cases de sucesso, que suscitarão um debate e troca de experiências de extrema valia aos profissionais e entusiastas da área de saúde oftalmológica. Lembrando que cada tema será conduzido por um ou mais palestrantes e terá mediação de discutidores especialmente convidados graças à familiaridade com cada tema. Em alguns dos painéis, speakers internacionais darão sua valiosa contribuição para um conteúdo ainda mais completo e abrangente. As sessões de apresentação oral, três no total e com até sete temas em cada uma delas, terão duração de cerca de 50 minutos e irão congregar trabalhos científicos com a presença de vários palestrantes e apresentadores, além de coordenador e comentador. Entre temas de destaque estão o Tratamento da ambliopia refratária com o uso de levodopa associada a oclusão total do olho dominante, com apresentação de Mariana Zaira Moraes Lima Ribeiro; o Controle da progressão da miopia com atropina 0,025%, por Celso Marcelo Cunha; o Impacto da inflamação subclínica na função visual na doença de Vogt-Koyanagi-Harada (DVKH): estudo prospectivo desde a fase aguda, conduzido por Marcelo Mendes Lavezzo, entre outros. Nos dias 4 e 5 de setembro, a sessão de aulas formais trará temas como a oncologia ocular no consultório (Tumores SAF1); Doenças pouco diagnosticadas em doenças externas oculares (Córnea SAF3) e ainda o Centro diagnóstico em oftalmologia (Propedêutica SAF1). Já os painéis, mais de 60 no total, contarão com casos clínicos ou pontos que serão discutidos sob mediação do coordenador, sempre de maneira inovadora e com aplicabilidade imediata em clínicas e consultórios de todo o país. Temas como catarata, lente de contato, estrabismo, plástica, córnea, banco de olhos, glaucoma, úvea, neuro, retina, tumores, refrativa, pediatria, administração, órbita, tumores, VSN, entre outros, trarão conceitos atuais de diagnóstico, tratamento e prevenção. “Nós e os demais responsáveis pela organização do CBO

2016 trabalhamos com muito carinho e dedicação para que esta edição do evento seja a mais completa da história da Oftalmologia nacional, e um momento único de atualização científica e construção de novos laços profissionais”, afirma o presidente. O CBO 2016 já confirmou a presença de vários convidados internacionais, de países como Colômbia (Angela M. Dolmetsch), Portugal (Antônio Limão Oliveira, João Paulo Castro e Sousa e Catarina Paiva), Alemanha (Fritz Hengerer), Estados Unidos (George Waring IV, Karolinne Maia Rocha, Michael W. Belin, Suber S. Huang e William May), e Cingapura (Tat-Keong Chan). Além, claro, de mais de 600 convidados nacionais especializados em oftalmologia. Uma vitrine com os profissionais mais bem preparados do Brasil e do mundo, dispostos a compartilhar conhecimento, técnica e vanguardismo na área médica. ■

Por que participar do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia? Trata-se do maior evento científico da Oftalmologia brasileira; Contará com palestras de renomados profissionais nacionais e internacionais, além de apresentação de temas livres e pôsteres. Reunirá as principais empresas brasileiras do segmento oftalmológico. Apresentará técnicas consagradas e novas técnicas da especialidade. Divulgará ao público participante resultados de pesquisas, fomentará a comunicação e o intercâmbio entre os profissionais. Nele estará presente a vanguarda da Oftalmologia brasileira. O evento atrairá por volta de cinco mil congressistas, favorecendo a troca de experiências e proporcionando momentos privilegiados de aperfeiçoamento e atualização. A Comissão Organizadora trabalha para que esta edição do CBO seja a mais completa da história da Oftalmologia nacional.

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Saúde ocular no país As barreiras que impedem o acesso da população brasileira ao atendimento oftalmológico FLÁVIA LO BELLO

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ão diversos os problemas que impedem o acesso da população brasileira a um atendimento oftalmológico adequado. O maior empecilho, segundo os especialistas, é a gestão ineficiente dos recursos na área da saúde, o que culmina com a falta da presença do especialista no atendimento primário de saúde, além de resultados ineficazes desse atendimento ou até, algumas vezes, desastrosos. Para contornar esta situação, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia

(CBO) vem se empenhando em apresentar propostas que garantam, com um mínimo de qualidade, maior acesso da população aos serviços de oftalmologia no Brasil. Para o médico oftalmologista Homero Gusmão de Almeida, presidente do CBO, a falta de atendimento oftalmológico na Assistência Básica do SUS (Sistema Único de Saúde) sobrecarrega as clínicas especializadas para consultas de rotina e exame de refração para prescrição de óculos. Ele diz que em 2010 a OMS (Organização

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Mundial da Saúde) considerou a deficiência visual um grave problema de saúde global e chamou atenção para o fato de que, com o conhecimento e tecnologias atuais, 80% das deficiências visuais advêm de causas evitáveis. De acordo com o especialista, a pesquisa Global Data on Visual Impairments (WHO, 2012) apontou que, globalmente, as principais causas de deficiência visual são erros de refração não corrigidos e catarata - 43% e 33%, respectivamente. Paulo Augusto de Arruda Mello, professor titular de Oftalmologia da Unifesp/EPM, concorda com o presidente do CBO, salientando que o maior problema atualmente no acesso à atenção de saúde oftalmológica é a inexistência do médico oftalmologista realizando o atendimento básico à população, embora, de acordo com a OMS, o número de oftalmologistas no país seja suficiente para atender a população brasileira “Se nessa atenção básica de saúde realizada no SUS tivermos o atendimento oftalmológico, em muito irá aliviar o atendimento secundário ou de alta complexidade, pois muitos pacientes poderão ter seus problemas resolvidos com a atenção primária, sem que haja necessidade de se dirigir a um serviço mais complexo, que além de tudo é mais caro”, esclarece. Outro problema impactante na área da oftalmologia, segundo Arruda Mello, é o resultado, muitas vezes, ineficaz da consulta médica, como por exemplo a falta de acesso a óculos ou medicamentos. “De nada adianta o médico realizar uma consulta oftalmológica adequada se o paciente não tem condições de adquirir os óculos ou a medicação necessária; então é preciso pensar nisso também. Hoje existe uma série de empresas fazendo óculos de baixo custo, o que resolve em parte o problema”, revela. Além das consultas, o professor destaca que também existe uma necessidade de tornar as cirurgias oftalmológicas mais acessíveis à população. “Esse é outro aspecto relevante, porque algumas patologias em oftalmologia só se resolvem com a cirurgia. Dessa forma, tornar estes procedimentos viáveis à população é de fundamental importância.” “Quando nos referimos à população brasileira, devemos salientar que a maior parte da mesma se encontra localizada em centros urbanos e somente uma minoria nas regiões rurais”, comenta Virgilio Centurión, oftalmologista do IMO – Instituto de Moléstias Oculares. Partindo desta premissa, o médico explica que do ponto de vista do atendimento médico, esta população urbana pode ser dividida em quatro grupos: os que procuram atendimento privado ou particular (percentual ínfimo), os possuidores de convênios ou planos de saúde, os

Projeto mais acesso à saúde ocular

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Projeto de Lei 6545/13, que tramita na Câmara, dispõe sobre a inclusão de serviços básicos de prevenção oftalmológica nas atividades escolares do ensino fundamental. Tal iniciativa vai ao encontro do Projeto “Olhar Brasil”. Se as unidades básicas de saúde e escolas, onde for possível, tiverem oftalmologistas para oferecer palestras de prevenção contra a cegueira e higiene do ambiente de trabalho, organizarem triagens de avaliação de acuidade visual, realizarem refração, fizerem pronto-atendimentos para afecções oculares corriqueiras, acompanharem patologias crônicas como o glaucoma e a prevenção de outras afecções oculares relacionadas com doenças sistêmicas, teremos assegurada saúde ocular de qualidade para nossa população, que ainda desfrutaria de serviços em níveis mais complexos de atendimento oftalmológico menos saturados e com utilização otimizada.

que utilizam o SUS (grupo maior) e os que dependem exclusivamente da benemerência. “O SUS, que deveria ser o exemplo para todo o sistema de saúde nacional, apresenta problemas básicos, como o da má gestão e da politização, que tem como consequências nefastas a ineficiência e corrupção endêmica, como a maioria dos serviços públicos”, opina o especialista. Para o médico, a pergunta que não quer calar é a seguinte: “Se temos, em quantidade e qualidade, os profissionais capacitados para resolver os problemas oftalmológicos da população brasileira, por que dificultar ou não permitir o livre acesso da população a estes profissionais? É como diz o ditado popular: ‘criar dificuldades para vender facilidades’.” O oftalmologista enfatiza que o melhor acesso ao atendimento oftalmológico passa obrigatoriamente pelo credenciamento universal. “Temos um número suficiente de oftalmologistas certificados legalmente em consultórios, hospitais e centros de cirurgia de alta qualidade que resolveriam o problema oftalmológico do maior grupo em foco, dos usuários do SUS e da saúde suplementar”, assegura.

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Fotos: Arquivo UV

ESFORÇOS DO CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA Segundo Gusmão de Almeida, tem sido enorme o esforço do CBO na construção de um programa que realmente proporcione acesso da população a um atendimento oftalmológico com um mínimo de qualidade. “Diversos estudos sugerem que de 100 pacientes 80 terão suas necessidades atendidas em consultas simples, de rotina, solucionadas com tratamento clínico e principalmente prescrição de óculos, e somente 20 necessitarão ser encaminhados às clinicas para atendimento e exames especializados”, salienta o médico. Ele afirma que na falta de acesso a uma consulta de rotina, os pacientes com problemas oftalmológicos se dirigem às clinicas especializadas, locais que estão preparados para cirurgias e exames mais complexos e que, assim, sofrem enorme congestionamento de seus ambulatórios. “A presença da Oftalmologia na Atenção Básica de Saúde corrige

HOMERO GUSMÃO DE ALMEIDA: “Tem sido enorme o esforço do CBO na construção de um programa que realmente proporcione acesso da população a um atendimento oftalmológico com um mínimo de qualidade”

PAULO AUGUSTO DE ARRUDA MELO: “O maior problema atualmente no acesso à atenção de saúde oftalmológica é a inexistência do médico oftalmologista realizando o atendimento básico à população”

VIRGÍLIO CENTURION: “Temos um número suficiente de oftalmologistas certificados legalmente em consultórios, hospitais e centros de cirurgia de alta qualidade que resolveriam o problema oftalmológico do maior grupo em foco, dos usuários do SUS e da saúde suplementar”

esse gargalo que restringe enormemente o acesso da população à consulta oftalmológica”, destaca. Na opinião de Centurión, da parte dos prestadores de serviços - os oftalmologistas - é preciso manter e melhorar o nível das residências e valorizar o diploma de especialista e, assim, ganhar confiança da população, com eficiência. Da parte do SUS e planos de saúde, ele vê o credenciamento universal como única solução, pois estimula a concorrência e a meritocracia. “Ganha a oftalmologia como um todo e o paciente, que se beneficia com melhores serviços. Oferecer o melhor aos pacientes é o objetivo principal da nossa profissão”, atesta. Para Arruda, uma solução viável é o atendimento através de consultórios móveis, que circulem por diferentes municípios. “Esse é um tipo de atendimento programado que ajudaria muito, pois não haveria a necessidade de um oftalmologista fixo na cidade que tem uma demanda muito pequena de atendimento. Médicos e equipamentos ociosos geram um custo perdido.” Outro recurso apontado pelo oftalmologista, e que facilitaria muito no acesso ao atendimento oftalmológico, é a telemedicina. De acordo com o médico, muitos atendimentos podem ser feitos de uma maneira adequada, com qualidade de Primeiro Mundo, utilizando-se o recurso da telemedicina e evitando transportar o paciente para um centro especializado. “Hoje, através de uma mídia como a telemedicina, muitos dos casos que geram dúvida em um atendimento básico podem ser resolvidos por um grupo a distância. Além de eliminar a necessidade de deslocar o paciente para um centro mais longe, evita-se um atendimento mais complexo, o que gera um custo menor para o sistema de saúde”, avalia Arruda Mello. Para Centurión, a oftalmologia é uma especialidade “tecnologia-dependente”, “o que é uma maravilha quando observamos os avanços em todas as suas subespecialidades”, diz o oftalmologista, enfatizando que esta dependência tecnológica leva o profissional a ter a possibilidade de diagnósticos mais precisos, com terapêuticas mais eficientes. “O contraponto está no custo da tecnologia, que a meu ver só tem uma solução: compartilhamento de gastos com o paciente e a fonte pagadora”, afirma o especialista, salientando que a ciência prática, aprovada pelos órgãos competentes, não pode parar só porque a ineficiência do setor público e interesses das companhias privadas demoram a aceitá-la. “O médico não pode deixar de oferecer estes avanços tecnológicos ao melhor interesse do paciente. A solução, ainda que discutível, é o compartilhamento de despesas.”

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PROPOSTAS DE MELHORIA O presidente do CBO revela que, em recente reunião, o CBO apresentou ao ministro da Saúde a proposta da inserção do médico oftalmologista como membro dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). “Trata-se de uma real possibilidade de se articular uma ampliação na oferta de consultas oftalmológicas, com exame de refração e também prevenção das principais causas de cegueira - glaucoma, retinopatia diabética, catarata, degeneração macular relacionada à idade.” Ele diz que a presença do oftalmologista proporcionaria ainda a implementação de programas de educação continuada para os membros da equipe de Saúde da Família, como os agentes comunitários de saúde, no acompanhamento dos tratamentos prescritos, na orientação de forma correta de se instilar colírios, na higiene ocular e outros cuidados básicos. “Não temos dúvidas de que a presença da Oftalmologia na Atenção Básica do SUS será um divisor de águas na qualidade do atendimento à população”, complementa Almeida. Sobre o projeto do CBO “Mais Acesso à Saúde Ocular” (ver boxes), o médico afirma: “Este é um ambicioso programa de assistência oftalmológica à população que foi cuidadosamente elaborado pelo professor Milton Ruiz na gestão anterior. Aguardamos um momento mais favorável para retornar ao diálogo com o governo.” Ele esclarece que, de certa maneira, as propostas atuais do CBO contemplam parte do projeto ”Mais Acesso”. “Queremos mencionar outra distorção no atendimento oftalmológico, também de enorme preocupação do CBO: a ocorrência de mutirões itinerantes montados em carretas para cirurgia de catarata”, alerta o presidente do CBO, lembrando que a catarata é a segunda causa de cegueira recuperável no Brasil. De acordo com o oftalmologista, nessas ações, milhares de cirurgias são realizadas em condições frequentemente inadequadas de segurança. “Pacientes são examinados em avaliações incompletas, apressadas e que muitas vezes são portadores de outros problemas oftalmológicos concomitantes que não são identificados”, aponta, destacando que não há atendimento pós-operatório adequado e muitos pacientes que são abandonados, uma vez que a ação é itinerante, são acudidos pelas clínicas locais. “O que nos surpreende é que essas ações são remuneradas regiamente, enquanto a rede de clínicas/hospitais credenciados segue com enorme ociosidade pela falta de recursos do SUS. Isso é o que denominamos de programa sus-real!”

Programa de oftalmologia comunitária para atuar na atenção primária em oftalmologia

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ropostas alternativas, em estudo pelo CBO, para o residente em Oftalmologia, propõem alterar o momento em que o médico recém-formado atuará, como prevê a lei que institui o programa “Mais Médicos” (12.871/2013), na Residência em Medicina Geral da Família e Comunidade (Art. 6º e 82º). Se ele puder fazê-lo após cursar um ou dois anos de especialização, poderá oferecer uma contribuição maior à sociedade. Como benefícios, o novo oftalmologista comunitário ocuparia os vazios nos 65% dos municípios brasileiros que não têm oftalmologistas. O residente de Oftalmologia, com um ano ou dois de treinamento na área específica, será mais útil, oferecendo um atendimento oftalmológico mais resolutivo do que um recém-formado, sem tal qualificação, poderia oferecer. Ainda, manterá um vínculo com o corpo docente de sua Residência, facilitando a teleconsultoria e o ensino a distância.

Para Gusmão de Almeida, os profissionais entendem que essas ações podem ser bem-vindas, mas desde que bem planejadas, com critérios bem estabelecidos, em regiões em que não exista assistência oftalmológica instalada e que obedeçam às regras rigorosas de segurança para saúde dos pacientes. “Estamos vivendo hoje uma economia de guerra na área da saúde, cada centavo é importante e o desafio hoje na medicina é baixar o custo sem perder a qualidade”, avalia Arruda Mello, ressaltando que é aí que reside o grande problema, o de que, muitas vezes, se perde a qualidade na tentativa de se baixar o custo. “Esses mutirões desastrosos são o maior exemplo disso. Essas complicações a que assistimos em alguns mutirões são o resultado de uma tentativa de reduzir custo, mas sem prestar atenção para a qualidade do atendimento, que é essencial em medicina”, conclui o professor. ■

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em pauta

Cegueira e baixa visão na infância: até quando? Prevenção e atendimento imediato podem erradicar a cegueira e reverter os índices de baixa visão LUCIANA RODRIGUEZ

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m 1997, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que em 45% das crianças que ficavam cegas isso ocorria por causas evitáveis, sendo acometidas basicamente por deficiência de vitamina A, sarampo, catarata, retinopatia da prematuridade, erros de refração ou baixa visão. Estimativas recentes indicam que há, no mundo todo, 285 milhões de pessoas com visão comprometida, sendo 39 milhões de cegos e 246 milhões de pessoas com baixa visão. Entre as crianças de zero a 14 anos, há 1,4 milhão de cegos e 17,5 milhões de crianças com baixa visão. Segundo Renato Neves, diretor do Eye Care Hospital de Olhos, em 1999 foi lançado um plano global chamado VISION 2020, com o intuito de erradicar, em todo o mundo, esses casos de cegueira que poderiam ser evitados através de prevenção e atendimento imediato. “Vários planos subsequentes vieram, de forma mais realista, para ajustar esse propósito às condições que de fato estão disponíveis às populações. O mais recente é o Global Action Plan (GAP), que prevê uma redução de 25% entre 2014 e 2019 desses problemas visuais que comprometem parcial ou totalmente a visão”, comenta Renato. PRINCIPAIS CAUSAS E PREVENÇÃO A deficiência de vitamina A (xeroftalmia) é uma importante causa de cegueira infantil evitável. “Trata-se de uma vitamina indispensável para garantir a acuidade visual, bem como o crescimento/desenvolvimento adequado da criança. Em casos graves, a falta dela pode provocar ulceração e necrose da córnea. Na população infantil, a principal causa da falta de vitamina A está relacionada a carências alimentares. Por isso, é muito importante incluir alimentos ricos em vitamina A na dieta, ou seja, alimentos alaranjados

(cenoura, abóbora, mamão, manga, etc.) ou verde-escuros (brócolis, espinafre, escarola, etc.). Leite, laticínios e gema de ovo também são fontes importantes dessa vitamina. Vale lembrar que o primeiro sintoma da deficiência de vitamina A é a cegueira noturna. Por isso, é fundamental prestar atenção às crianças”, explica o diretor da Eye Care. Em relação ao sarampo, Neves frisa que é uma doença que compromete significativamente a visão, quando não tratada a tempo. “É importante contar com a imunização contra o sarampo em larga escala para reduzir a morbidade e mortalidade infantil. Epidemias de sarampo são relativamente raras hoje em dia, embora entre 2013 e 2014 o Ministério da Saúde tenha registrado mais de 200 casos da doença em Pernambuco e poucos casos em outros Estados. De toda forma, a campanha nacional de vacinação contempla essa imunização.” Neves ressalta também a catarata, outra importante causa evitável de cegueira em crianças. “Nos últimos anos a indústria oftalmológica desenvolveu técnicas, equipamentos e lentes intraoculares (LIOs) menores e muito potentes, apropriadas para crianças. Há crianças que recorrem às LIOs com apenas um ano de vida, sendo fundamental um acompanhamento em longo prazo para garantir que a visão da criança está recebendo a melhor correção possível.” Além disso, a retinopatia da prematuridade tem ocasionado cegueira em crianças no mundo todo. São cerca de 50 mil crianças cegas pela doença. “A deficiência visual causada pela retinopatia ocorre por causa do descolamento de retina tracional. Um exame de rotina realizado em bebês prematuros permite a identificação de formas graves da doença. Os tratamentos geralmente envolvem fotocoagulação ou crioterapia para reduzir a cegueira”, diz Neves. Já a perda de visão devido a erro de refração é mais

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comum em crianças de países asiáticos e que têm alto grau de miopia, distúrbio que aumenta com o tempo. De acordo com o especialista, a miopia é causada pela influência de genes, bem como fatores ambientais. “Diante da nova realidade, que obriga as crianças a passarem seu tempo livre em ambientes fechados e focadas em aparelhos eletrônicos (TV, videogame, computador, celular, etc.), é preciso estabelecer mais atividades ao ar livre para proteger as crianças de miopia. Além disso, consultar um médico oftalmologista e usar óculos para correção são atitudes que contribuem para a qualidade de vida da criança, bem como para seu desenvolvimento social e educacional”, explica. Estudos recentes de erros de refração sugerem que a prevalência de baixa visão funcional é aproximadamente o dobro da prevalência de cegueira. “Hoje, há quase três milhões de crianças em todo o mundo que poderiam se beneficiar de serviços oftalmológicos voltados para elas. Segundo a OMS, uma pessoa apresenta baixa visão quando existe uma acuidade visual inferior a 3/10. A causa de baixa visão pode ser congênita ou adquirida. Assim, qualquer patologia ou lesão que afete desde a parte mais anterior do globo ocular (córnea), passando pelas suas estruturas intraoculares, até a retina, nervo óptico e sistema nervoso central pode culminar numa baixa visão. A incapacidade de adquirir novas informações visuais leva à falta de estímulos, fazendo com que o sistema visual permaneça subdesenvolvido. O exame oftalmológico é um passo importante para perceber o potencial visual das crianças e a forma como elas utilizam a visão para ultrapassar suas limitações. Os bebês com baixa visão necessitam de estímulos extras para o desenvolvimento da consciência visual, a ponto de despertar o desejo de ver tudo o que os rodeia”, finaliza o oftalmologista. A oftalmologista Rosa Maria Graziano, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), considerou outro importante aspecto que pode interferir na ocorrência de cegueira ou baixa visão. “A prevalência da cegueira varia conforme o índice de desenvolvimento econômico e a mortalidade infantil. Em países em desenvolvimento e com alta mortalidade infantile, os principais comprometimentos são os corneanos por infecção e avitaminose A, catarata congênita e glaucoma congênito. Os países ricos e com baixa mortalidade infantil têm na retinopatia da prematuridade uma das suas principais causas”. Rosa Maria ressalta ainda um trabalho realizado por Maria Aparecida Haddad e colaboradores, no HC/FMUSP, que mostra as principais causas de cegueira infantil, envolvendo 3.210 pacientes. “A prevenção da cegueira infantil deve começar no pré-

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em pauta

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natal, pois durante a gestação as estruturas oculares estão suscetíveis a danos genéticos ou teratogênicos. Gestantes devem ter seus riscos avaliados, realizar no pré-natal pesquisa para doenças infecciosas e se necessário devem ser encaminhadas para clínicas especializadas, visando tratar a mãe e o feto precocemente”, lembra Rosa Maria. A oftalmologista frisa ainda que o teste do Reflexo Vermelho (RV) é um exame rápido, barato, seguro, não invasivo e uma das formas de prevenção à cegueira mais eficiente no diagnóstico precoce de doenças que comprometem o eixo visual como a catarata e o glaucoma congênitos, doenças retinianas e sequelas de trauma ocular. “O Reflexo Vermelho deve ser realizado em todo recém-nascido nas primeiras 72 horas de vida ou antes da alta hospitalar. O exame de triagem será realizado pelo pediatra. Quando o RV estiver ausente ou suspeito, a criança deverá ser avaliada pelo oftalmologista com urgência, que realizará, além do RV, um exame mais abrangente visando o diagnóstico etiológico.” De acordo com Rosa Maria, o teste do RV deve ser realizado anualmente (pelo menos com 1 e 3 anos) e não somente no berçário, pois muitas doenças passíveis de diagnóstico pelo método podem aparecer mais tardiamente, como retinoblastoma, toxocaríase, toxoplasmose, entre outras. Além disso, a médica lembra que os exames oftalmológicos periódicos devem ser realizados pelo menos a cada dois anos, visando fazer o controle de refração, estrabismo e prevenção de doenças. Conforme relato de Rosa Maria, as crianças com cegueira ou baixa acuidade visual apresentam desenvolvimento

CÉLIA NAKANAMI: “Impacto da cegueira infantil: maior taxa de mortalidade abaixo de cinco anos e sérios prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo, gerando dependência de auxílio externo no aprendizado e atividades de rotina escolares”

ELIANA CUNHA: “Não resta dúvida que a inclusão no ensino regular é o caminho, por excelência, de promover o desenvolvimento das crianças com deficiência visual, porém é preciso uma atuação ampla com programas de capacitação e formação dos educadores”

global prejudicado, pois a visão é um dos mais importantes sentidos no seu desenvolvimento físico e cognitivo. “Através da visão, percepções externas são recebidas, processadas e irão interferir nos valores adquiridos do mundo exterior. As imagens captadas pelos olhos são transmitidas aos centros corticais, onde serão decodificadas e interpretadas, e para tanto todas as estruturas da via óptica devem estar livres de qualquer comprometimento.” “A deficiência visual tem um custo muito alto para a sociedade, a família e o paciente. Gasta-se com o tratamento da doença e suas sequelas. As residências e locais de trabalho precisam ser adaptados e os familiares podem perder dias de trabalho no cuidado com a criança. A deficiência visual infantil tem um impacto social ainda maior quando se calcula o número de anos vividos com cegueira ou baixa visão que estas crianças terão pela frente”, conclui. IMPACTO DA DOENÇA A oftalmopediatra Célia Nakanami, da Unifesp, também ressaltou o grande impacto da cegueira infantil: maior taxa de mortalidade abaixo de cinco anos e sérios prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo, gerando dependência de auxílio externo no aprendizado e atividades de rotina escolares, o número de anos vividos com a deficiência visual adquirida na infância e consequente perda de oportunidades, baixo desempenho escolar, necessidade de serviços de educação especializada e material adaptado, aumentando os custos econômicos para a família e para a sociedade. Na vida adulta, limita a escolha de carreira, emprego, menor renda, maior risco de morte, quedas e acidentes, dificuldades com atividades de vida diária, dependência de terceiros, baixa autoestima e perda da qualidade de vida. “Apesar das alterações oculares irreversíveis, crianças com baixa visão possuem alguma visão residual capaz de ser utilizada e que lhes permitirá a aquisição de habilidades que, por sua vez, irão facilitar as etapas do seu desenvolvimento global. A detecção e o tratamento precoce dessas alterações oculares são vitais para que a criança possa utilizar seu potencial visual funcional capaz de realizar atividades diárias de rotina (comer, se vestir, andar, etc.).”, comenta Célia. A oftalmopediatra lembra ainda que a OMS considera como uma das prioridades a cegueira infantil e a baixa visão nas suas estratégias de combate à cegueira através do desenvolvimento e implementação de programas eficazes para seu controle nos três níveis de atenção à saúde, com objetivos bem estabelecidos. “Ações e atividades estratégicas de promoção e educação, prevenção (imunização, pré-natal),

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AÇÕES DE APOIO A Fundação Dorina Nowill para cegos trabalha há 70 anos em prol da inclusão da pessoa com deficiência visual – cegos e com baixa visão – por meio de produtos e serviços especializados. Programas individualizados de reabilitação para adultos e habilitação de crianças são elaborados de acordo com as necessidades específicas de cada pessoa. Cada uma recebe atendimentos de uma equipe multidisciplinar, formada por oftalmologistas, ortoptistas, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, pedagogos e professores de orientação e mobilidade. Para a porta-voz da Fundação Dorina, Eliana Cunha, especialista em visão subnormal e deficiência visual, no cenário da deficiência visual infantil no Brasil, uma análise importante diz respeito às questões educacionais: Dados recentes do Censo Escolar INEP/MEC, de 2015, indicam que há um total de 930.683 estudantes com deficiências matriculados na educação básica do país. Este número significa uma taxa de inclusão na ordem de 81%. Desses, 7.154 são estudantes cegos, com uma taxa de inclusão de 79,5%, e 68.279 com baixa visão, indicando uma taxa de 94% de inclusão. Segundo Eliana, os números indicam um cenário muito promissor, porém, quando analisada a prática como essa inclusão ocorre, é possível perceber que o processo de educação inclusiva está muito longe de se realizar de maneira efetiva e com qualidade. “Relatos das crianças com deficiência visual e de suas famílias, bem como dos professores e diretores de escolas públicas e privadas, revelam que há um grande despreparo na formação dos professores e um desconhecimento quanto às temáticas que envolvem as questões educacionais desses alunos. Não resta dúvida que a inclusão no ensino regular é o caminho, por excelência, de promover o desenvolvimento das crianças com deficiência visual, porém é preciso uma atuação ampla com programas de capacitação e formação

ROSA MARIA GRAZIANO: “A deficiência visual infantil tem um impacto social ainda maior quando se calcula o número de anos vividos com cegueira ou baixa visão que estas crianças terão pela frente”

Fotos: Arquivo UV

detecção (triagem) de problema ocular na atenção básica, referência para serviços especializados para diagnóstico, e condutas de tratamento clínico e/ou cirúrgico na atenção de média complexidade, referência para tratamento mais específico e/ou habilitação/reabilitação visual para aqueles com deficiência visual irreversível na alta complexidade. Na cegueira infantil incluem-se o controle específico da catarata infantil, dos erros de refração (hipermetropia, miopia e astigmatismo), ROP, baixa visão, infecções oculares congênitas, opacidade de córnea e todas as principais causas de cegueira infantil de acordo com a região”, pontua.

RENATO NEVES: “Os bebês com baixa visão necessitam de estímulos extras para o desenvolvimento da consciência visual, a ponto de despertar o desejo de ver tudo o que os rodeia”

dos educadores e incentivos às práticas inclusivas”, relata. De acordo com Eliana, a Fundação Dorina tem como um pilar de trabalho a educação inclusiva. Este trabalho é desenvolvido por meio de palestras, capacitações e sensibilizações de professores e profissionais da educação. “Realizamos no último ano cerca de 50 palestras inclusivas para educadores de São Paulo, com a finalidade de preparar esses profissionais para receber alunos com deficiência visual. E já são percebidos resultados muito importantes no ambiente escolar, comunicados pelos participantes. E a necessidade motivou a continuidade dessas palestras, tanto que vamos realizar mais uma etapa deste projeto. Outra ação é a plataforma www.trocandosaberes.org.br, com uma série de vídeos que esclarecem de forma didática várias dúvidas sobre a deficiência visual.” “A família também ocupa um importante papel nesse cenário e é envolvida em todas as etapas do atendimento. A família recebe apoio e orientação com o objetivo de fortalecermos os vínculos familiares. Nossos programas de educação especial oferecem condições para o desenvolvimento das crianças por meio de atendimentos que incentivam a aprendizagem e a adaptação social, orientação à família e à escola. São direcionados de acordo com as fases de desenvolvimento da criança: Intervenção Precoce, de 0 a 3 anos; o Desenvolvimento de Habilidades, de 4 aos 6 anos; e a Complementação Educacional, de 7 aos 17 anos. Cada programa atende às especificidades de cada indivíduo, propiciando seu desenvolvimento pleno”, explica Eliana. ■

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jogos olímpicos e paralímpicos

Rio 2016 mostra que esporte também é saúde

A excelência do H. Olhos garante a boa visão dos atletas olímpicos ADRIANA DO AMARAL

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onsiderados o maior evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos têm como objetivo estimular a competição sadia entre povos de todo o mundo. A cada quatro anos, centenas de países se reúnem para disputar um conjunto de modalidades esportivas. A própria bandeira olímpica representa essa união de povos e raças, pois é formada por cinco anéis entrelaçados, representando os cinco continentes e suas cores (sendo o anel azul correspondente à Europa, o anel amarelo à Ásia, o preto à África, o verde à Oceania e o vermelho às Américas).

Em agosto de 2016, pela primeira vez na história da América Latina e quase um século após a estreia brasileira nos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro tornou-se sede olímpica. De 5 de agosto a 18 de setembro de 2016 acontecem os Jogos Olímpicos (17 dias) e Paralímpicos (11 dias) Rio 2016. Para se ter uma pequena noção da grandiosidade do evento, somadas as duas competições, mais de 14.500 atletas competem em 65 diferentes esportes. Falando em modalidades esportivas, há novidades na edição deste ano: a volta do golfe após 112 anos, e do rúgbi, após 92 anos; e as estreias da canoagem e do triatlo nas Paralimpíadas.

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jogos olímpicos e paralímpicos

de abertura, o número de atendimentos diários na edição de Londres, em 2012, já havia sido superado. Segundo Mauro Campos, diretor Clínico do H. Olhos, qualquer integrante de uma das delegações pode realizar uma consulta oftalmológica gratuitamente, explicando que o serviço prestado é completo e inclui consultas, exames, medicamentos, fornecimento de óculos e lentes de contato. Diariamente, 13 profissionais revezam-se no atendimento das 7 às 23 h. São três consultórios e uma estação de triagem oftalmológica, além de um setor de adaptação de lentes de contato e prescrição de óculos. “É uma infraestrutura completa, elaborada para oferecer, com alto padrão de qualidade, consultas e exames; programas de educação e orientação e de pesquisa, com definição do perfil epidemiológico, prevalência das afecções e demandas dos atletas; serviços de doação de óculos e lentes de contatos; e outras ações”, afirma Campos. O contrato firmado inclui atendimento primário e secundário, e se houver necessidade de assistência cirúrgica, o paciente será encaminhado para um hospital de retaguarda. Curiosamente, o serviço ainda se adequava à rotina, e a equipe do H. Olhos já era surpreendida com casos mais graves e alguns procedimentos chegaram a ser realizados na própria Vila Olímpica. Entre eles: um calázio, uma fotocoagulação e um caso de retinopatia diabética e catarata. “Esta é a primeira vez que a triagem é realizada por tecnólogos oftálmicos e todos os pacientes serão examinados por oftalmologistas. Até então, nas outras edições dos Jogos, a triagem era feita por optometristas e apenas entre 10% e 15% dos pacientes eram encaminhados para médicos oftalmologistas”, explica Campos. REALIDADES DÍSPARES, ASSISTÊNCIA INTEGRAL Desde 24 de julho, data de abertura oficial da Policlínica da Vila Olímpica, cerca de 900 pessoas já passaram pela clínica oftalmológica instalada no local. A grande procura vem de países sem atendimento especializado e onde o tratamento oftalmológico possui um custo elevado. “Existem casos em que é a primeira vez que a pessoa visita um oftalmologista. Estamos fazendo retinografias, exames mais detalhados e, aproximadamente, 70% das consultas foram relacionadas à refração, com os pacientes saindo do local com óculos em mãos, gratuitamente”, relata Fidelix. O serviço agrada atletas e delegações, que, como forma de reconhecimento, entregam pins oficiais de seus países

e lembranças para os profissionais voluntários. “Mais do que proporcionar atendimento médico, desejamos levar o bem-estar aos atletas e delegações, ampliando sua qualidade de vida”, comenta o gestor de Responsabilidade Social e Pesquisa do H. Olhos, Rodrigo Viana. Esclarecendo que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) garante assistência médica e odontológica gratuita para os atletas e comitivas, Campos observa que muitos entre os desportistas, apesar de integrarem a elite dos atletas mundiais, não têm acesso à oftalmologia de qualidade em seus países (com destaque para os africanos, venezuelanos e as delegações asiáticas). Com a oportunidade, as filas começaram cedo. “O nosso serviço é um dos poucos que trabalham no período integral estipulado”, salienta. O apoio à competição reforça o papel social do H. Olhos, pois ainda existe uma carência expressiva no acesso à oftalmologia ao redor do mundo. Com essas consultas, desta vez por médicos, muitas afecções poderão ser detectadas e os pacientes melhor orientados. Outro destaque é a realização de um estudo epidemiológico, que será importante para enriquecer os atendimentos em edições futuras. Iniciativas direcionadas à questão social não são novidade para o H. Olhos. Além de um extenso programa de educação continuada com conteúdo voltado à formação de agentes de saúde ocular, o hospital é mantenedor do Instituto Verter, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada em 2005, que desenvolve ações na área de educação, pesquisa, assistência e projetos de responsabilidade social. O Verter, com suas parcerias, tem cerca de 130 voluntários ativos e já esteve em 25 ações de assistência à medicina oftalmológica em comunidades carentes, com cerca de 10.000 pessoas assistidas gratuitamente, mais de 6.000 óculos doados e 150 cirurgias viabilizadas. POUCOS PARÂMETROS TORNARAM A EXPERIÊNCIA AINDA MAIS DESAFIADORA As regras para participar das Olimpíadas e Paralimpíadas são peculiares. Das restrições na divulgação das marcas associadas, limitações no acesso e segurança esmerada, até mesmo a adequação da proposta de prestação de serviços foi um desafio. As negociações começaram em 2015. “Não se trata de uma concorrência, mas de uma escolha do COB. Baseado no histórico de Londres, nós realizamos um estudo e apresentamos um projeto. Não apenas de atendimento, mas incluímos uma ação de educação para promoção da saúde. Fomos

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escolhidos pela melhor proposta e depois convidados a nos tornarmos fornecedores. Assim, ao invés de receber pelo serviço, o faríamos voluntariamente. Se fosse o contrário, nem a minha mãe iria saber que eu estava na Rio 2016”, brinca Fidelix. Como fornecedor, o H. Olhos pode explorar a marca Rio 2016, credenciado como serviço de qualidade. “Não tínhamos ideia do que iria acontecer, mas sabíamos que atenderíamos os melhores atletas do mundo. Representando a oftalmologia brasileira, fizemos questão de realizar tudo da melhor forma possível, inclusive realizando exames que não estavam incluídos dentro da primeira proposta”, completa Campos. O gerenciamento dos estoques é um dentre tantos desafios. Afinal, o que será usado durante as Olimpíadas e Paralimpíadas teve de ser entregue com antecedência. “Tudo é checado e conferido, da quantidade de colírios às armações dos óculos. Afinal, numa Olimpíada, os mínimos detalhes podem comprometer os resultados dos Jogos, o desempenho e segurança dos atletas”, detalha Fidelix. TRABALHO VOLUNTÁRIO “A essência do trabalho durante os Jogos Olímpicos é voluntário, pois visa diminuir os custos do maior evento esportivo do planeta. A Olimpíada, para nós, é uma oportunidade única, fantástica e inesquecível”, conta Fidelix. Relatando que a primeira turma de voluntários foi mais difícil de montar, pelo ineditismo do trabalho, e nas semanas seguintes a preocupação foi manter a qualidade do serviço. A maioria dos oftalmologistas atua em São Paulo e para comprometer o mínimo possível a rotina profissional, realizamos um esquema de revezamento semanal. “Estamos trabalhando muito mais do que deveríamos, mas também interagindo com pacientes do mundo todo, inclusive aqueles que não falam inglês e a comunicação acontece”, revela. Com tantos idiomas é natural que a comunicação aconteça de forma surpreendente. Fidelix exemplifica o caso da paciente ucraniana que estava sem tradutor, e coincidentemente um técnico russo que fala inglês serviu como intérprete durante a consulta. “A nossa equipe está motivada, achando o máximo interagir com pessoas de todo o mundo”, salienta. Mas também há limitações: os acessos aos alojamentos dos atletas são proibidos, assim como os alimentos são vetados, sendo permitido trazer de fora apenas garrafa d’água lacrada. Assistir aos jogos, então, apenas com ingressos pagos.

A infraestrutura da Vila Olímpica permite aos médicos suprir as necessidades diárias, mas coube ao H. Olhos providenciar hotéis para voluntários. No escopo de trabalho está o atendimento às delegações, sem restrições, pois os atletas podem ser acometidos por doenças variadas. Já os demais voluntários apenas serão assistidos em casos de emergência. Relatando que o H. Olhos já atuou na Special Olympics Brasil, em 2009, disputada por pacientes com déficit intelectual, e também soma experiência em situações críticas, como na Amazônia. “A experiência na Rio 2016 marcará a história do H. Olhos”, finaliza Campos. ■

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glaucoma

Encarando o glaucoma do ponto de vista do paciente Um cirurgião que é um paciente com glaucoma e um médico especializado em glaucoma compartilha o que aprendeu Ralph M. Sanchez Trabalha na empresa Glaucoma Consultants of the Capital Region. Ele fez várias viagens, ensinando o tratamento do glaucoma e técnicas cirúrgicas a oftalmologistas nos países em desenvolvimento em todo o mundo.

Adaptado do artigo “Seeing Glaucoma from The Patient´s Perspective ”, publicado na Review of Ophthalmology, de junho de 2016.

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or vezes, são os desafios que enfrentamos na vida que de fato nos transformam nas pessoas que somos. Venho tratando o glaucoma há várias décadas, mas o meu caminho até aqui envolveu muitas reviravoltas inesperadas - mais notadamente, receber um diagnóstico de glaucoma quando tinha 20 anos. Pode parecer loucura, mas receber este diagnóstico levou-me a mudar minha carreira e assumir um compromisso sério na vida que nunca me senti motivado a fazer até então. Portanto, embora eu não deseje o glaucoma para ninguém, de alguma forma aquele diagnóstico foi uma bênção disfarçada. Nos meus primeiros anos do colegial eu era muito interessado em ciências e medicina. Pensava em seguir a carreira médica, e consegui ser aceito na Johns Hopkins. No entanto, a experiência pré-medicina não foi o que eu esperava. Fiquei desencorajado pelo nível de competitividade; os alunos eram muito conscientes e determinados a obter altas notas, sem aparentemente avaliar onde estavam se envolvendo. Portanto, dentro de um ano mudei meu curso para filosofia e mais tarde me graduei. Durante esse período, comecei a realizar trabalhos sociais e ajudei a implementar um programa de ensino para crianças na periferia de Baltimore. Quando me formei, consegui um emprego em período integral na universidade coordenando

este programa, onde trabalhei durante alguns anos. A seguir, por volta dos 25 anos, eu estava dirigindo na estrada para Nova Jersey, quando percebi que minha visão ficava intermitentemente embaçada. Procurei um oftalmologista e descobri que minha pressão intraocular estava muito baixa, 30 mmHg. Na época, eu não sabia nada sobre glaucoma, mas o médico me pareceu muito alarmado. Sabendo que eu havia sido estudante da Johns Hopkins, ele se ofereceu para me colocar em contato com algumas pessoas da equipe da Hopkins and Wilmer Eye Institute para obter uma segunda opinião e para um tratamento mais especializado do que o que ele poderia me oferecer. Obviamente, meu diagnóstico foi confirmado, e eu comecei a usar colírios e fazer tratamento. Esta experiência despertou minha curiosidade sobre o glaucoma, portanto, procurei aprender o máximo possível, pelo menos em parte, como uma maneira de afastar meus próprios medos da doença. Eventualmente, eu pedi para trabalhar na pesquisa do glaucoma, e tornei-me um técnico de laboratório em um grupo de pesquisa do glaucoma do Instituto Wilmer. Desnecessário dizer que, nos três anos seguintes eu aprendi muito a respeito do glaucoma. Por fim, aquilo reacendeu meu interesse pela faculdade de medicina - mas desta vez eu era muito mais velho e sabia exatamente o que eu queria aprender e buscar. Isto facilitou muito.

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raro ver um paciente “desmoronar” e revelar como ele ou ela está se sentindo. Mas se você quer atender bem seus pacientes – além de se assegurar de que eles estão ouvindo o que você está dizendo - você precisa perceber o estado em que ele/ela se encontra após ouvir a notícia. Os medos que os pacientes com glaucoma frequentemente têm incluem: - medo de ficarem cegos; - medo de fazer perguntas ao médico; - medo de que a perda da visão os fará perder o emprego; - medo de não conseguirem arcar com as medicações prescritas; - medo da dor durante ou após a cirurgia; - medo de que um procedimento cirúrgico—ou mesmo um colírio—irá mudar a aparência de seus olhos. Os médicos devem Felizmente, esses medos dievitar usar uma mesma minuem significativamente com linguagem para todos o passar do tempo, à medida que os pacientes aprendem a conviver ou usar “termos com sua doença e têm sucesso no médicos”; ao invés tratamento. O medo nunca dedisso, adapte suas saparece completamente, mas o choque inicial aos poucos vai deexplicações de acordo saparecendo.

O OUTRO LADO DA LÂMPADA DE FENDA Tendo sido um paciente com glaucoma, posso dizer que a experiência é difícil de avaliar, se você não passou por ela. Hoje, quando eu trabalho com pacientes com glaucoma especialmente no início do tratamento – sei exatamente o que eles estão sentindo. Isto me coloca em uma posição única de lidar com os medos que o paciente pode ter receio de expressar - medos que o médico pode desconhecer. Aqui, gostaria de compartilhar algumas coisas que aprendi como resultado de ser um médico especializado em glaucoma e um paciente com glaucoma.

• Saiba que um diagnóstico de glaucoma pode ser uma experiência muito assustadora. Essencialmente, você está sendo informado de que pode perder sua visão, que é o maior medo de muitas pessoas. O diagnóstico inicial é muito perturbador e pode mudar radicalmente a vida. Já vi pacientes chorarem ao ouvir a notícia, e entendo perfeitamente esta reação. Quando descobri que tinha uma doença que poderia me levar à cegueira, havia momentos em que eu com o nível ficava transtornado. Lembro-me de de conhecimento • Certifique-se de esclarecer questionar “Por que eu?” E pensar que é improvável que o glaucoma o quão injusto aquela era. do paciente leve à cegueira quando tratado O impacto foi ainda maior quanadequadamente. Considerando do me disseram pela primeira vez que é quase certo que os pacientes que eu precisaria fazer uma cirurirão sentir um pouco de medo, uma das coisas mais imgia. Lembro-me do médico me dizer que a melhor coisa portantes que você pode fazer é tranquilizá-lo(a) durante a fazer era uma trabeculectomia. Após este anúncio, o as primeiras visitas, especialmente quando a doença é meu oftalmologista continuou a falar durante 20 minutos, diagnosticada pela primeira vez. Certifique-se de que o explicando o que aquilo significava. Sinceramente, não paciente entenda que o glaucoma é muito tratável, algo me lembro de nada que ele disse após informar-me de que pode ser controlado, e que muito poucos pacientes que eu precisava de cirurgia. Fiquei em estado de choque. ficam cegos em decorrência dele. (Por exemplo, veja a Lembro-me de sair da sala de exame para o corredor e tabela acima). ver uma grande cópia de uma pintura de Van Gogh. Olhei Ao mesmo tempo, você deve enfatizar que isto é condipara ela como nunca havia olhado para nenhuma pintura cional. A condição é que o paciente tome as medicações, antes. A constatação de que eu poderia perder a visão siga suas instruções e compareça às consultas. Isto pode de fato me afetou. Foi um momento muito assustador. significar o uso de colírios e/ou a realização de procedimenDevido a essas experiências, sou muito sensível à matos cirúrgicos periodicamente durante o resto da vida do neira como os pacientes podem se sentir ao saber que paciente, mas se ele(a) estiver disposto(a) a permanecer têm glaucoma ou que precisam fazer uma cirurgia. Os no programa, é muito provável que a doença permanecesentimentos de um paciente nem sempre são óbvios, porrá sob controle, preservando a visão que o paciente tem que na maioria das vezes os pacientes não os revelam. É

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glaucoma

PROGNÓSTICO VISUAL AO LONGO DA VIDA PARA PACIENTES COM GPAA OU GPN MOMENTO

NA APRESENTAÇÃO

NA VISITA FINAL À CLÍNICA

RAZÃO PARA A VISÃO FRACA

Nº DE PACIENTES COM GPAA/GBP ELEGÍVEIS PARA CERTIFICAÇÃO DE VISÃO PARCIAL OU CEGOS VISÃO PARCIAL

CEGOS

Dano por glaucoma isoladamente

1 (0,8 por cento)

0

Glaucoma mais outra patologia

7 (5,8 por cento)

0

Total

8 (6,6 por cento)

0

Dano por glaucoma isoladamente

8 (6,6 por cento)

0

Glaucoma mais outra patologia

9 (7,4 por cento)

4 (3,3 por cento)

Total

17 (14 por cento)

4 (3,3 por cento)

Um estudo retrospectivo de 2004 envolvendo 121 histórias de caso de pacientes caucasianos com glaucoma primário de ângulo aberto (n=113) ou glaucoma de pressão normal (n=8) observou que o diagnóstico não levou à cegueira em 96,7 por cento dos pacientes. Todos os que ficaram cegos tinham outras patologias oculares além do glaucoma. Apenas 14 por cento se qualificaram para certificação de visão parcial em sua visita final antes do óbito, e desses apenas 6,6 por cento se deviam ao glaucoma isoladamente.

atualmente. Tal entendimento deve ser útil para acalmar os receios do paciente. • Tenha em mente que a perda do campo visual pode ser invisível para o paciente. Uma das coisas surpreendentes que aprendi ao ter glaucoma é que você pode perder uma quantidade significativa do campo visual sem perceber. Eu tenho uma perda significativa do campo em ambos os olhos, inclusive um grande degrau nasal e escotoma arqueado em um olho. Extraordinariamente, nunca percebi nenhum defeito em minha visão naquele olho. Meu outro olho tem um defeito paracentral muito próximo da área de fixação e, novamente, até me esqueço dele a menos que eu cubra o outro olho e deliberadamente tente achar o defeito usando uma tela de Amsler. Ironicamente, os livros de medicina sobre glaucoma que descrevem a perda do campo visual mostram grandes pontos pretos nas imagens, como se um paciente olhasse para o mundo e enxergasse grandes manchas pretas. Não é isso o que acontece; sua mente não sabe o que você está deixando de ver. É por isso que muitos pacientes vão perdendo a visão ao longo dos anos sem perceber. (Desnecessário dizer porque a triagem da visão é tão

importante.) Por esta razão, quando você de fato percebe uma perda da visão é importante discutir os resultados do campo visual com o(a) paciente e explicar o que os laudos estão mostrando, bem como por que ele(a) pode não estar ciente do problema. A adesão ao tratamento pode depender da compreensão por parte do(a) paciente de que ele(a) está de fato perdendo a visão, apesar de não perceber. • Saiba a escolaridade e o nível de entendimento de seu paciente. Conseguir que os pacientes entendam o que estamos dizendo é essencial para a adesão ao tratamento. Eles têm que entender a doença; acreditar que ela pode ser tratada; e entender o que nossos tratamentos estão fazendo, para que se sintam motivados a seguir nossas instruções. Na realidade, os pacientes possuem escolaridade e níveis de compreensão muito diferentes, mas tendemos a dar as mesmas explicações a todos. Acredito firmemente que mesmo pacientes com pouca instrução formal irão entender se você expressar o que está acontecendo em uma linguagem adequada e usar analogias adequadas. Por outro lado, os oftalmologistas são notórios em resumir tudo. Temos nossos termos

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trabalhar em uma linha de montagem, por exemplo, da qual ele(a) literalmente não pode se afastar para pingar um colírio na hora certa, ou pode não ser permitido que eles levem colírios nas áreas de trabalho. Você precisa perguntar sobre as limitações que seu paciente pode ter em termos de poder usar colírios durante o horário de trabalho.

Os médicos precisam estar cientes de que os pacientes podem perder uma quantidade significativa do campo visual sem se dar conta disto. Este campo 10-2 do olho esquerdo do autor revela um defeito paracentral denso, mas ele raramente percebe o déficit, a menos que procure especificamente por ele.

técnicos próprios, e se você usar esses termos ao falar com os pacientes, eles podem não ter ideia do que você está falando. • Pergunte sobre a rotina diária de seu paciente e esquema de uso dos colírios. A maioria de nós trabalha das 9 às 17 h e tendemos a supor que nossos pacientes também. Na verdade, muitos pacientes trabalham no turno da noite; se o fazem, eles têm de ficar acordados algumas horas a mais para visitá-lo no consultório. Você mede a pressão intraocular deles e está boa e baixa, e você pensa que está tudo ótimo. A realidade é que você está medindo a pressão na posição sentada durante as horas normais de sono do paciente. Às 03:00 da manhã, quando eles estão trabalhando em seu turno, sua PIO pode ser duas vezes mais alta. Se você souber o tipo de rotina que seus pacientes têm, pode não apenas avaliar o nível de pressão, levando isto em consideração, mas terá uma ideia melhor de quando eles devem estar usando seus colírios e tomando as medicações. • Pergunte se o paciente pode usar a medicação no trabalho. Pingar colírio durante o trabalho pode ser difícil ou impossível para alguns pacientes. Uma pessoa pode

• Pergunte sobre o sistema de suporte do paciente. Já vi pacientes idosos com pressões mal controladas que na maior parte do tempo estão por conta própria quando se trata de tomar suas medicações. Eventualmente eles vão para uma casa de repouso, e de repente as medicações começam a funcionar perfeitamente. Sem ajuda, o paciente ou estava esquecendo de usar o colírio ou perdendo a visão do olho. Na verdade, é difícil usar perfeitamente o colírio mesmo se você for totalmente competente. Minha memória é perfeitamente intacta e uso meus colírios seguindo um esquema, mas há dias em que meu esquema é interrompido e não consigo me lembrar se pinguei ou não o colírio. Naturalmente, seguir um cronograma de aplicação pode ser ainda mais difícil se você tem limitações de memória e não tem ninguém para ajudá-lo. Um paciente idoso pode apresentar em um dia uma pressão 8 mmHg mais alta do que o normal; se você perguntar se ele usou o colírio, ele provavelmente dirá que sim, mas nem sempre eu fico convencido. Portanto, posso pedir para o paciente retornar alguns dias ou uma semana depois e medir novamente. Se a pressão baixou, pode valer a pena perguntar sobre o sistema de suporte do paciente. (Se a pressão ainda estiver alta, então você pode ter um problema diferente nas mãos.) • Pergunte se o paciente pode controlar e arcar com os custos do colírio que você está prescrevendo. A adesão pode ser prejudicada por vários fatores além do esquecimento e da dificuldade de aplicação do colírio. O custo é um fator importante para muitos pacientes. Alguns pacientes invariavelmente irão lhe dizer, “Não posso pagar por esses medicamentos.” Outros não irão lhe dizer isso; eles simplesmente não irão usá-los. Acredito que compete a nós, considerando os aspectos econômicos do tratamento, perguntar se o paciente tem condições de arcar com o tratamento médico. Como você sabe, a adesão pode também ser prejudicada por um esquema complexo. Por vezes você pode poupar tempo e dinheiro de todos, perguntando aos seus pacientes diretamente, se têm condições de aplicar diversas doses do colírio em diferentes horários do dia. Eu

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Permanecer motivado pode ser particularmente difícil para os pacientes com glaucoma. Eles estão cansados. Muitos deles têm esta doença há anos ou décadas e realizaram incontáveis avaliações do campo visual e usaram litros de colírio ao longo de sua vida. Para alguns deles isto não constitui um problema, mas outros sofrem com esta condição. Se você quer que eles sejam bem sucedidos na contenção da doença, você tem que lembrar que a motivação dos pacientes pode estar diminuindo; você precisa encorajá-los a seguir em frente e aderir ao protocolo. Parte dessa estratégia é fornecer feedback positivo: “Você fez um bom trabalho em sua visão”, ou “Posso dizer que você está DOUTOR, CONHEÇA A SI MESMO fazendo um ótimo trabalho com Fazer com que o paciente eno colírio porque seu nervo óptico tenda a doença e as razões para o aparenta estar bem e sua presuso dos medicamentos que você são está estável. Mantenha o bom prescreve é essencial para obter Nas últimas trabalho!” A realidade é que seus a adesão ao tratamento. Os médidécadas, temos pacientes são as pessoas que cuicos devem evitar usar uma mesdam de sua própria doença. Eles ma linguagem para todos ou usar testemunhado convivem com ela todos os dias e “termos médicos”; ao invés disso, muita melhora em seguem seu protocolo, enquanto adapte suas explicações de acordo termos de mudar você os vê apenas alguns minutos com o nível de conhecimento do durante o ano. Você deve transpaciente. (Acalmar os medos de nosso modelo mitir a eles que reconhece seus um paciente antes de prosseguir médico-paciente esforços e que eles estão fazendo também irá ajudar a garantir a para uma estratégia um bom trabalho. compreensão.) Educar o paciente é outro asPara de fato ajudar os pacienmais consensual pecto importante do tratamento tes com glaucoma, você também adequado e, embora isto possa deve estar ciente de suas próprias levar tempo, é mais necessário limitações e tendências. apenas no início ou quando você enfrenta problemas. À medida que os pacientes entendem e aderem ao tra• Lembre-se que estamos aqui para aconselhar o patamento, as visitas se tornam mais curtas e mais fáceis ciente e fornecer suporte e motivação, não apenas ser porque os pacientes sabem porque estão em seu consultécnicos. Há várias razões pelas quais nós, como médicos, tório. No longo prazo, vale a pena você despender tempo podemos perder o foco e acabar apenas “fazendo o trabalho” educando seus pacientes desde o início. de passar para o próximo paciente. Não ter experiência anterior como paciente com glaucoma, evidentemente, é parte • Conheça suas próprias limitações. Todos nós comparedo problema para muitos médicos. Porém, um outro fator é cemos ao consultório com diferentes níveis de experiência, coque a medicina e os fatores econômicos atuais, desumaninhecimento e conforto quando se trata de controlar diferentes zaram amplamente o processo da medicina, nos levando a tipos de doença ocular. Para o oftalmologista geral, controlar agir como técnicos. Na pressa de manter nossos negócios, o glaucoma pode ser muito desgastante considerando a podemos facilmente subestimar nosso aconselhamento e quantidade de medicamentos e efeitos colaterais e opções suporte ao paciente. Além disso, controlar a parte técnica cirúrgicas; mesmo os especialistas em glaucoma acham isto da medicina é relativamente fácil em comparação com o difícil e podem cometer erros. O ponto é que não há nenhuaconselhamento do paciente. No entanto, isto não muda o ma vergonha em obter aconselhamento ou encaminhar um fato de que aconselhamento e suporte são exatamente o paciente a um especialista. Tenho visto médicos reterem um que muitos de nossos pacientes necessitam. direi: “Este de fato é um esquema complicado de seguir, você terá condições de mantê-lo?” Alguns dirão: “Claro, sem problema, é a minha visão que está em jogo e ela é importante para mim, portanto vou seguir o esquema”. Outros dirão, “Provavelmente não.” (Certamente, para que esta conversa seja eficaz, você precisa manter uma combinação de boa comunicação e confiança para que o paciente se sinta à vontade para ser franco.) Quando você sabe que a adesão ao tratamento vai ser difícil para o seu paciente, vale a pena considerar a cirurgia. Pode haver um risco maior direto, mas no longo prazo, controlar a pressão é o que irá preservar a visão.

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pacientes com glaucoma? Você dispõe do equipamento adequado para ajudar a diagnosticar a doença? Apenas medir a pressão e examinar o nervo óptico não é de fato adequado nos dias atuais, tendo em vista que podemos realizar uma tomografia de coerência óptica e medições quantitativas da camada de fibras nervosas, paquimetria da córnea ou histerese e análise sofisticada da progressão. A menos que você esteja realmente equipado para controlar o glaucoma, deve pedir a ajuda de um especialista. Esta é a razão pela qual é importante estar ciente de seu nível de experiência para não errar ao invés de usar o especialista como um recurso. Reserve tempo para fazer um telefonema e esclarecer uma dúvida. Em seguida, determine se o paciente precisa ser examinado por um especialista. Não espere até que você não consiga pensar em mais nada a fazer, e encaminhe o paciente a um outro profissional.

Fazer com que o paciente entenda a doença e as razões para o uso dos medicamentos que você prescreve é essencial para obter a adesão ao tratamento. Os médicos devem evitar usar uma mesma linguagem para todos ou usar “termos médicos”; ao invés disso, adapte suas explicações de acordo com o nível de conhecimento do paciente. (Acalmar os medos de um paciente antes de prosseguir também irá ajudar a garantir a compreensão.)

• Cuidado com a ideia preconcebida de que o glaucoma irá inevitavelmente levar à perda da visão. Nem todo médico é otimista com relação aos resultados do glaucoma no longo prazo. O problema é que se você acredita que, eventualmente, todas as pessoas ficarão cegas em consequência do glaucoma, você estará propenso a aceitar que a perda do campo visual do seu paciente está piorando ao longo do tempo, ao invés de perceber que você precisa mudar sua estratégia, buscar a ajuda de um especialista ou considerar uma terapia alternativa ou cirurgia. Infelizmente, tenho visto muito este comportamento.

paciente com glaucoma até que ele(a) apresente doença em estágio final para, então finalmente, encaminhá-lo a um especialista quando o que poderia ser salvo é muito pouco e muito tarde para isso. Por outro lado, tenho visto pacientes que estavam recebendo tratamento excessivo, com múltiplos colírios para doença mínima, se tanto. Outro problema é usar métodos não realistas para tentar obter resultados. Por exemplo, tenho visto pacientes com pressões de 40, nos quais o oftalmologista optou por realizar trabeculoplastia seletiva a laser (TSL). O médico não se deu conta de que uma TSL não irá reduzir esta alta pressão até uma zona segura e está apenas retardando um tratamento mais definitivo. Não estou sugerindo que um oftalmologista geral deve hesitar em tratar o glaucoma; mas, por outro lado, a experiência limitada com estas medicações e cirurgias pode levar a problemas, gastos desnecessários e resultados insatisfatórios para seus pacientes. Há também problemas de tempo e equipamento. Você de fato tem o tempo necessário para aconselhar os

AGIR MAIS COMO UM PARCEIRO DO PACIENTE PRODUZIRÁ MELHORES RESULTADOS. Penso que podemos fazer melhor. Precisamos ter um alto padrão de resultados e um limiar baixo para mudar nossa abordagem. Se percebemos que um paciente está piorando, nossa conclusão deve ser que não estamos fazendo o suficiente. Estamos deixando de perceber alguma coisa. Pode ser que o paciente não esteja usando seu colírio, mas cabe a nós descobrir e fazer algo a respeito. Acredito que se nos mantivermos em um padrão mais elevado, vamos oferecer tratamentos mais bem sucedidos. • Evite o modelo autoritário, paternalista de tratar. No passado, muitos médicos em todas as áreas da medicina seguiam um modelo autoritário “de cima para baixo”, sobre como os pacientes devem ser tratados. Os oftalmologistas não eram exceção: “Leve este colírio e retorne dentro de um mês, vamos ver como está a sua pressão.” Neste modelo, pouca atenção é dada à explicação das razões para o tratamento, a minimização dos medos do paciente ou sua

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você deve fazer extensos comentários no prontuário sobre motivação. Esta é a receita para obter resultados insatisa conversa mantida e a explicação fornecida por você. Se fatórios, porque um paciente que não apresenta nenhum você tem um bom relacionamento com seu (sua) paciente sintoma nem tem consciência de que está perdendo a visão e a escolha dele(a) levar à perda da visão, é pouco provável é improvável de aplicar um colírio que arde, que tem muitos que ele(a) o culpe. efeitos colaterais ou que altera a cor da pele, especialmente se ele não sabe a razão. O MELHOR DA MEDICINA Nas últimas décadas, temos testemunhado muita meDesenvolver glaucoma quando jovem deu-me um sentido lhora em termos de mudar nosso modelo médico-paciente muito mais profundo de objetivo e direção. Motivou-me a para uma estratégia mais consensual. No entanto, a ofme esforçar de uma maneira que de outra forma eu não talmologia ainda é uma das áreas mais conservadoras da o faria. Deu-me a oportunidade de medicina neste aspecto; muitos de estudar e aprender; viajar e ensinar; nós continuam a usar uma abore propiciou-me uma perspectiva didagem terapêutica paternalista ferente sobre a vida e os obstácue autoritária. Tomar uma decisão los que todos nós enfrentamos. O consciente de agir mais como um glaucoma me ajudou a definir quem parceiro do paciente irá produzir Tomar uma decisão eu sou e o que sou capaz de fazer. melhores resultados (e pacientes Faço 60 anos este ano. No início, mais felizes). consciente de agir quando eu decidi estudar medicina, mais como um um dos meus maiores medos era • Respeite os valores e desejos parceiro do paciente que eu não fosse capaz de contido paciente. Já ouvi falar de ménuar sendo médico devido à perda dicos que usam a possibilidade de irá produzir melhores da visão. Este não foi o caso, como perda da visão como uma amearesultados (e pacientes frequentemente acontece, com as ça, como se a cegueira fosse uma mais felizes) coisas que tememos. Nossos pacienpunição por não seguir as orientes com glaucoma compartilham tações do médico. Supõe-se que medos semelhantes, mas a realidao tratamento envolve educação, de é que a maioria deles irá manter estabelecer uma relação baseada sua visão enquanto viverem. Como na confiança e habilitar o paciente médicos, devemos tranquilizá-los informando-os de que a assumir a responsabilidade pelo tratamento da doença. eles têm uma excelente chance de manter sua visão com os tratamentos que podemos oferecer (e teremos, sem • A realidade é que os pacientes nem sempre condúvida, tratamentos ainda mais eficientes no futuro). Vale cordam com nossas recomendações. Por exemplo, já ainda observar que os obstáculos na vida, independenteencontrei pacientes cuja doença progrediu até o ponto mente de quão assustadores sejam, por vezes, nos levam em que eles têm apenas o movimento da mão ou a pera realizar grandes coisas. cepção da luz. Posso recomendar um procedimento, mas Quando se trata de empatia com os pacientes, tenho às vezes o paciente quer apenas que a natureza siga seu uma vantagem, porque sei como é estar do outro lado curso. (A razão pode ser simples, de que o paciente não da lâmpada de fenda. Mas todos nós já enfrentamos uma deseja vir ao seu consultório a cada duas semanas para ter doença uma vez ou outra (e provavelmente iremos enfrentar algo monitorado e/ou tratado.) Acredito que, desde que novamente quando ficarmos mais velhos). Lembrar o que os pacientes entendam as consequências de não seguir se sente pode nos ajudar não apenas a fornecer aconsenossas recomendações, devemos respeitar sua autonomia lhamento médico, mas também dar aos nossos pacientes e valores e deixar a decisão em suas mãos. A verdade é que o apoio que eles necessitam, quer isto signifique minimizar estamos aqui como consultores; nosso trabalho é melhorar seus medos, dar a eles um reforço positivo para seus esa qualidade de vida como o paciente a vê, não como nós a forços, ajudá-los a contornar obstáculos práticos em suas vemos. As pessoas têm diferentes metas e prioridades. vidas ou apenas garantir-lhes que estaremos lá, sempre Certamente, eu entendo o medo da responsabilidade que precisarem de nossa ajuda. legal quando um paciente se recusa a seguir o nosso conIsso é o que se espera da medicina. ■ selho. Se o paciente diz: “Não, eu não quero fazer isso”,

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Inovando para o sucesso da adaptação de lentes de contato multifocais Liane Touma Falci Oftalmologista, formada pela Faculdade de Medicina da USP-SP e atualmente está como Gerente Médica Senior para a América Latina, na Johnson & Johnson Vision Care.

Baseada no artigo originalmente escrito por Kurt Moody, Sheila Hickson-Curran, Ben Wooley e David Ruston, “Innovating for multifocal fitting success”, descreve as características técnicas e desempenho clínico da nova lente de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL.

O

s présbitas continuam ainda uma parcela muito pequena dentre os usuários de lentes de contato (LC), já que relativamente poucos são readaptados, a partir de suas lentes anteriores de visão monofocal, com lentes de contato multifocais, e quase o mesma quantidade de pacientes, a cada ano, deixa de usar LC.1,2 O abandono do uso de LC multifocais também é maior do que o que acontece com lentes monofocais3, não só devido à insatisfação com a visão, mas também por questões relacionadas ao envelhecimento do olho, tais como alterações do filme lacrimal e conforto reduzido. As lentes de contato multifocais diferem entre fabricantes e marcas, e se comportam de forma diferente no olho de cada indivíduo. Uma LC que proporciona boa estabilidade visual e conforto – e tem óptica otimizada de acordo com a variação do tamanho pupilar que acontece com a idade e com a refração para longe – tem o potencial para aumentar a prescrição de LC multifocais e melhorar as taxas de sucesso. Além disso, a LC deve ficar bem centralizada sobre o olho, ser feita de um material compatível com o olho em envelhecimento, e estar disponível em uma modalidade flexível e fácil de usar para os pacientes. Apresentaremos, a seguir, uma nova opção de LC de uso único e descarte diário, 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL, projetada para atender a essas necessidades específicas dos pacientes. As características técnicas da

lente serão examinadas em relação a visão, conforto, saúde ocular e sucesso da adaptação, e detalharemos como fazer a seleção adequada da LC e o seu desempenho clínico. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS A LC de uso único e descarte diário 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL apresenta um desenho asférico otimizado, com centro para perto (CN – Centre Near). Está disponível com três adições para perto e é fabricada a partir do reconhecido material etafilcon A, da 1-DAY ACUVUE® MOIST com tecnologia LACREON®. VISÃO Desenho óptico otimizado para o tamanho pupilar Sabemos ser importante otimizar a distribuição da potência óptica dentro da zona óptica, de modo que esta distribuição coincida com o tamanho médio pupilar da população.4 Enquanto a maioria dos oftalmologistas está ciente de que o tamanho da pupila varia de acordo com diferentes intensidades de luz, com a idade e com o foco para perto, a variação de acordo com o erro de refração para longe não é comumente conhecida.5 Esta variação tem o potencial de impactar o desempenho visual com lentes de contato multifocais. Dumbleton et al6 mediu o tamanho da pupila e acuidade visual entre 304 pacientes com idade entre 18-78 anos (idade média de 39,5 ± 14,2 anos) em três níveis de

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Pupila DIMINUI com a idade

Figura 1: Variação do tamanho pupilar de acordo com a idade, nos níveis de luminância baixa e alta (n = 304, idade 40-78)6 [Diagramas da íris/pupila apenas para fins ilustrativos] luminância: 250cd/m2 (diurno simulado), 50cd/m2 (iluminação interna) e 2,5cd/m2 (direção noturna simulada). A população foi dividida em pré-présbitas (≤39 anos), présbitas iniciais e intermediários (40-54 anos) e présbitas estabelecidos (≥ 55 anos). O estudo constatou que a idade e a refração para longe, bem como a luminosidade, afetam o tamanho da pupila e a acuidade visual (VA – Visual Acuity). Os pacientes mais velhos e hipermétropes têm tamanhos pupilares menores, e essa diferença é mais significativa em baixa luminosidade. A Figura 1 ilustra a diminuição gradual de tamanho médio da pupila em relação à idade. A Figura 2 mostra que, na mesma faixa de presbiopia, míopes também têm pupilas maiores do que hipermétropes. Os autores concluem que este estudo apoia a necessidade de variações de desenho óptico para as lentes de contato multifocais não só de acordo com o poder refrativo para perto, mas também com base na refração para longe. A maioria dos, mas não todos, desenhos multifocais das LC gelatinosas já no mercado, apresentam variação de acordo com o tamanho pupilar relacionado à idade.4 No entanto, o princípio do desenho incorporado na 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL, conhecido como Tecnologia IntuiSight™, considera a variação do tamanho pupilar de acordo com o erro refrativo para longe e com a idade. Este desenho distribui o poder óptico dentro da parte

Míopes têm pulipas MAIORES que os hipermétropes

Figura 2: Variação do tamanho pupilar de acordo com a refração para longe, nos níveis de luminância baixa e alta (n = 304, idade 40-78)6 [Diagramas da íris/pupila apenas para fins ilustrativos] da lente que é utilizada, com base no tamanho pupilar, e proporciona correção para longe, para visão intermediária e para perto. Isto resulta em 183 desenhos ópticos otimizados, com centro para perto, ao longo das faixas de poderes refrativos e adições. Desenho óptico otimizado para a profundidade de foco A Figura 3 mostra diferenças nos desenhos de adição baixa, média e alta de 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL, para um olho “desacomodado”, focado em um objeto distante. Engenheiros ópticos avaliaram o desempenho destes desenhos, considerando o círculo de borramento criado por um raio de luz incidente na retina. O objetivo era minimizar a área de borramento para maximizar a visão; isto foi conseguido através de um modelo computadorizado, baseado em milhares de pontos de dados clínicos recolhidos ao longo de 10 anos. A mínima área de borramento aumenta progressivamente, como esperado, com o aumento da adição para leitura, mas as diferenças são relativamente pequenas. A faixa, sobre a qual o borramento permanece constante (profundidade de foco da lente), aumenta da adição baixa à alta. Em cada caso, a profundidade de foco total é uma combinação dos sistemas visuais da lente e do paciente. Os pacientes que utilizam adição baixa têm uma maior amplitude de acomodação do que os pacientes que necessitam de Este artigo tem apoio educacional da Johnson & Johnson Vision Care SETEMBRO 2016 universovisual 55

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Figura 3: Representação esquemática dos desenhos nas adições baixa, média e alta, com foco em objeto distante - sem acomodação. Profundidade de foco e círculo de borramento retiniano aumentam com a adição.

uma adição média ou alta, portanto a LC com baixa adição é projetada para fornecer menor profundidade de foco. A Figura 4 ilustra o tamanho do ponto de todos os três desenhos com um alvo de perto a 40 centímetros e com a acomodação residual respectiva para cada adição. Note que na retina, o círculo de borramento e, por conseguinte, a qualidade da visão, são semelhantes para todos os três desenhos. Alinhamento com a pupila, e superfície ocular Com LC gelatinosas multifocais, a qualidade da visão que a lente pode proporcionar, quando no olho, é impactada pela centralização da lente e pela manutenção da complexa óptica. Se esta complexa óptica de superfície frontal for significativamente alterada quando a LC se desloca sobre a córnea, ou se a LC estiver desalinhada em relação ao centro pupilar, o resultado visual poderá ser comprometido. A lente de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL foi especificamente projetada para refletir a forma e a função naturais do olho em envelhecimento, um conceito que, combinando as três características fundamentais da lente, é descrito como EYE-INSPIRED Design™ (Figura 5). A superfície posterior central asférica se adapta intimamente à curvatura corneal, para manter a integridade do sistema óptico de superfície anterior, e a periferia esférica

Figura 4: Representação esquemática dos desenhos de adição baixa, média e alta, com alvo de perto (com acomodação). O diâmetro do círculo de borramento aumenta apenas ligeiramente com a adição, apesar da perda da acomodação. da superfície posterior permite boa centralização para otimizar a adaptação da LC e alinhar o desenho óptico com a pupila. CONFORTO Estabilidade do filme lacrimal A escolha do material para lentes de contato gelatinosas multifocais é quase tão importante como a escolha do desenho, especialmente porque a estabilidade do filme lacrimal diminui com a idade.7 O objetivo é selecionar um material que mantenha um filme lacrimal estável e que, portanto, ofereça um desempenho visual consistente e minimize os sintomas de ressecamento e desconforto. O material utilizado na 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL é o reconhecido material etafilcon A das lentes de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST com tecnologia LACREON®. Koh et al8 utilizaram o método de aberrometria para investigar a estabilidade do filme lacrimal em um grupo de usuários sintomáticos de lentes de contato gelatinosas de descarte diário. Aberrações de alta ordem totais e ressecamento ocular subjetivo, em usuários 1-DAY ACUVUE® MOIST, uma lente que tem o agente umectante polivinilpirrolidona (PVP) incorporado à sua matriz em toda sua espessura9, foram significativamente reduzidos quando comparados aos resultados obtidos com uma lente do mesmo material sem PVP (1-DAY ACUVUE®).

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Estes autores concluíram que incorporar PVP na matriz da lente proporciona umectabilidade na superfície da lente que ajuda a manter um filme lacrimal estável. Estudos também mostraram que a PVP não desaparece ao longo do tempo de uso da lente, mantendo-se nela durante todo o dia, para prover sensação de conforto duradoura.10,11 Com 1-DAY ACUVUE® MOIST, 83% de usuários raramente ou nunca experimentaram irritação dos olhos (e apenas 1% apresentou irritação ocular frequente).11 Biocompatibilidade com a lisozima Pesquisas recentes têm também trazido um melhor esclarecimento sobre a biocompatibilidade do etafilcon A com a lisozima, uma proteína natural do filme lacrimal. Em poucas horas de uso de lentes de contato, até mesmo as LC de descarte diário acumulam depósitos, incluindo a lisozima.12 Enquanto a lisozima tem propriedades benéficas em seu estado natural, ativo, foi demonstrado in vitro que a sua desnaturação desencadeia a liberação de marcadores inflamatórios que podem levar a irritação.13,14 Estudos laboratoriais demonstraram que, devido à sua composição química específica, o etafilcon A atrai seletivamente quantidades significativas de lisozima, mantendo-a em seu estado nativo funcional. Tem sido demonstrado in vitro que este material ajuda a manter baixos níveis de liberação de biomarcadores inflamatórios.13 Desenho de borda O desenho de borda é outra característica da lente conhecido por influenciar a sensação de conforto coma LC. O desenho INFINITY EDGE™, presente nas LC 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL, dá à lente um perfil de borda lisa, cônico, com o ápice localizado posteriormente e mínima espessura de borda, para minimizar a interação com as pálpebras. Maior espessura de borda pode levar a uma maior interação com as pálpebras e desconforto.15 Desenho de borda, biocompatibilidade com a lisozima e umectabilidade incorporada na matriz, combinados com baixo módulo, todas estas características contribuem para que a 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL ofereça uma experiência de uso confortável e as tornem particularmente adequadas para o olho em envelhecimento. SAÚDE Fisiologia da córnea Além do conforto para o paciente, um impacto mínimo sobre a fisiologia da córnea é uma preocupação primordial na adaptação de qualquer lente de contato. Moezzi et al16 compararam o edema corneal presente em olhos abertos

entre olhos que usaram 1-DAY ACUVUE® MOIST e olhos sem lentes de contato. Edema corneal central e periférico com a lente de contato esférica de hidrogel durante o uso diário foi <1,5% e comparável ao do olho sem lente de contato. Hiperemia limbar e bulbar, e tingimento corneal foram também insignificantes. Lentes de contato de descarte diário têm taxas muito baixas de eventos corneais infiltrativos (CIEs), de acordo com um estudo observacional recente de um ano de duração.17 Esse amplo registro de vigilância pós-comercialização não encontrou eventos adversos graves, nem eventos corneais infiltrativos (CIEs), e encontrou apenas uma quantidade muito baixa de eventos adversos não-graves, sintomáticos, e inespecíficos. Em 471 anos de uso por paciente de 1-DAY ACUVUE® MOIST, ocorreram apenas três eventos adversos não-graves (0,6% por ano). Nos 121 pacientes com idade superior a 40 anos, que juntos somavam 97 anos de uso de lente de contato, a taxa de eventos adversos sintomáticos com esta lente foi novamente zero por cento. A lente de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST também incorpora bloqueador ultravioleta classe 2, que ajuda a proteger contra a transmissão de radiação UV prejudicial para o olho. Desempenho clínico O desempenho clínico desta nova lente foi investigado em um estudo multicêntrico recente realizado nos EUA. Este estudo de duas semanas, realizado em 21 locais, considerou já usuários de lentes de contato para presbiopia (incluindo multifocal, distância esférica com os leitores e usuários de monovisão).18 Um total de 275 présbitas participou, com uma faixa etária de 40-67 anos e idade média de 50 anos. A prescrição para longe variou de +4,00DE a -6,00DE, com 181 míopes e 94 hipermétropes, e poderes de adição de +0,75DE a +2,50DE. Os pacientes foram agrupados de acordo com a adição para leitura, como Low (n= 76), Mid (n= 89) e High (n= 110). Os investigadores seguiram fielmente o Guia de Adaptação ao adaptar os indivíduos com as lentes de contato de descarte diário 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL. A excepcionalmente elevada taxa de sucesso foi de 94% após, aproximadamente, 10 dias de uso, com apenas dois pares ou menos de lentes utilizadas (quatro ou menos lentes no total); 81% foram adaptados com sucesso com três lentes no total (primeiro par, mais uma mudança) e 69% com o primeiro par testado. As lentes de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL entregaram visão nítida e clara, em todas as distâncias, Este artigo tem apoio educacional da Johnson & Johnson Vision Care SETEMBRO 2016 universovisual 57

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1. Óptica adequada para atender às variações pupilares naturais que ocorrem com a idade e o poder refrativo 2. Superfície posterior asférica na parte central e esférica na periferia para centralizar as lentes de contato precisamente sobre a área pupilar 3. Feita com o reconhecido material de etafilcon A, e com tecnologia LACREON®, que oferecem conforto e estabilidade do filme lacrimal

Figura 5: As características do desenho EYE-INSPIRED Design™ da lente de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL

com desempenho consistente em todas as faixas de poder refrativo e adições. Isso ocorreu mesmo com os pacientes présbitas mais difíceis de adaptar (adições Mid e High). No geral, 86% dos pacientes obtiveram acuidade visual (AV) para distância de 0,0 (6/6) ou melhor. Quase todos (98%) conseguiram AV intermediária de 0,1 (N8 a 65 cm) ou melhor, e uma proporção similarmente elevada (95%) atingiu 0,2 (N6 a 40 cm) ou melhor para perto. Níveis de AV elevados foram alcançados em todas as distâncias para praticamente todos os pacientes, com adição Low, Mid ou High. Míopes e hipermétropes alcançaram igualmente elevados níveis de AV para longe, para perto e para visão intermediária. Esta lente de contato mostrou excelente centralização em uma ampla quantidade de olhos (considerada clinicamente centralizada ou ligeiramente descentralizada em todos os indivíduos). De fato, a lente se mostrou centralizar bem em uma gama de formatos corneais, de diferentes etnias, com leituras ceratométricas de 8,71 mm a 6,95 mm (38,75DE a 48,50DE). Esta ótima compatibilidade física é devida aos elementos de desenho óptico da lente, que, ao os alinhar adequadamente com a pupila do paciente, proporciona um posicionamento otimizado para a correção óptica. A nova lente também reduziu os sintomas de ressecamento, em comparação com as lentes anteriormente utilizadas pelos pacientes; na visita de duas semanas, 72% raramente ou nunca apresentavam sensação de ressecamento em comparação com 55% antes da readaptação.

O tempo médio de uso confortável foi de 13 horas, ou 89% do tempo médio de uso total (14,3 horas). PROCESSO DE ADAPTAÇÃO Tal como acontece com todas as lentes de contato multifocais, ler o Guia de Adaptação, e segui-lo, é o primeiro passo para o sucesso. Outras dicas de adaptação incluem voltar ao início e realizar um exame de refração completo e minucioso antes de determinar o máximo poder positivo para longe. Para otimizar a prescrição final, evite o foróptero e opte por utilizar armação de prova com lentes com abertura total. Avalie a visão usando situações do mundo real e um sistema de pontuação, ao invés da AV isolada. Para uma adaptação ótima e fácil, e menor tempo de cadeira (“chair time”), os oftalmologistas devem seguir as recomendações do Guia de Adaptação. Olhando para cada etapa em detalhe, o processo de adaptação é o seguinte: Etapa 1 – Refração para longe • Selecione pacientes com <1,00DC • Determine o máximo de refração esférica positiva que ofereça a melhor acuidade visual (evitar hipocorrigir hipermétropes ou hipercorrigir míopes) • Aplique a correção de distância ao vértice se >±4,00DE Etapa 2 – Determine o olho dominante • Melhor determinar pelo teste de borramento com lente de +1,00DE, pois isso ajuda a identificar o olho que menos tolera borramento para longe

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Etapa 3 – Seleção da adição para perto • Determine o mínimo necessário para dar ao paciente a visão de perto satisfatória • Consulte a tabela fornecida para escolher entre adição Low, Mid e High das lentes de contato Etapa 4 – Desempenho visual • Dê 10 minutos para a adaptação das lentes nos olhos • Avalie a visão para longe, a visão para perto e a intermédia, usando exemplos do “mundo real” (por exemplo, olhar do outro lado da rua, por todo o consultório, e o telefone celular) e verifique se atende o padrão requerido para a condução de veículos (se o paciente dirigir) • Se a visão para longe ou para perto não estiverem satisfatórias para o paciente, mude uma lente conforme indicado no Guia de Adaptação • Deixe o paciente testar esta opção por três ou mais dias, e reavalie o resultado visual, se necessário O Guia de Adaptação define os ajustes necessários a serem feitos no olho dominante e no não dominante, para potencializar a visão para longe ou para perto, com base na adição para leitura e na dominância. Os resultados do estudo evidenciam como, com o Guia de Adaptação, as lentes de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL oferecem uma experiência de adaptação previsível e positiva, de modo a minimizar o tempo de cadeira (“chair time”), uma vez que os ajustes necessários podem ser feitos na primeira visita com uma alta probabilidade de sucesso. Dependendo das necessidades do paciente, uma combinação de opções de correção visual pode ser desejável.19 Óculos, lentes de contato para longe, e lentes de contato para longe mais óculos para leitura, podem ser úteis para fornecer flexibilidade para diferentes situações visuais. A modalidade de descarte diário é particularmente adequada para présbitas por este motivo. Enquanto a monovisão pode servir para alguns pacientes que requeiram adição baixa, à medida que envelhecem e precisam de uma adição maior, eles podem experimentar certo embaçamento (“ghosting”) e pior desempenho visual subjetivo, com o aumento da disparidade entre os olhos.20 A monovisão também pode interferir com a percepção de profundidade, a visão noturna e o desempenho da visão intermediária.21 Finalmente, lembre-se que a comunicação eficaz com o paciente é um elemento importante para o sucesso da adaptação de lentes de contato multifocais, e que se deve considerar uma discussão detalhada sobre o estilo de vida do paciente, a profissão, as expectativas que ele tem sobre

esta modalidade de correção visual.22 Pense cuidadosamente sobre suas conversas com présbitas, seja sensível às suas necessidades e demonstre a diferença que as lentes de contato multifocais podem fazer na vida de seus pacientes. Os pacientes com maior probabilidade de sucesso na adaptação podem ser aqueles que têm uma forte motivação para usar lentes de contato, sejam eles já usuários de LC ou não. Mas tente não pré-julgar o interesse dos pacientes em LC multifocais; muitos podem não ter conhecimento sobre a possibilidade de correção visual com lente de contato e talvez queiram saber sobre todas as opções disponíveis para eles. Não espere até que os pacientes notem mudanças na visão de perto para já conversar sobre a presbiopia e suas possíveis correções. Note que adiar a adaptação de LC multifocais em présbitas não só os coloca em condições de adaptação mais difíceis, como também se perde a oportunidade de apresentá-los aos benefícios de lentes de contato multifocais em um estágio inicial. CONCLUSÕES As lentes de contato 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL utilizam uma tecnologia inovadora, que oferece um desenho óptico otimizado, baseado na adição e no erro refrativo para longe, a fim de proporcionar visão ideal para os pacientes. A superfície posterior asférica/esférica mantém a centralização da óptica da lente sobre a área pupilar, para uma estabilidade visual desejada e adequada. A lente está disponível na flexível e conveniente modalidade de descarte diário, e no reconhecido material etafilcon A, com excelentes umectabilidade, conforto e baixa taxa de eventos adversos. O sofisticado desenho inspirado no olho e o simplificado processo de adaptação brindam uma elevada taxa de sucesso de adaptação, com mínimo tempo de cadeira (“chair time”). Com esta mais recente inovação, os oftalmologistas têm a capacidade de atender as necessidades do olho em envelhecimento, aumentar a taxa de prescrição de lentes de contato multifocais e proporcionar benefícios reais aos pacientes présbitas. ■

Este artigo foi originalmente publicado como Moody K et al. Innovating for multifocal fitting success. Optician (2015) 249; 6509: 12-17. Referências disponíveis através do e-mail: Ltouma@its.jnj.com, com Dra. Liane Touma Falci, Gerente médica senior da Johnson & Johnson Vision Care. Este artigo tem apoio educacional da Johnson & Johnson Vision Care SETEMBRO 2016 universovisual 59

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Refração na criança Arquivo pessoal

O erro de refração não corrigido em crianças está associado com déficit visual permanente se não corrigido a tempo

Keila Monteiro de Carvalho Professora Titular Oftalmologia FCM/UNICAMP

O

erro de refração não corrigido em crianças está associado com déficit visual permanente se não corrigido a tempo, antes de completar o desenvolvimento visual, levando a aumento da morbidade e até mesmo redução de oportunidades educacionais.1 Considera-se de grande importância os testes de triagem visual como a tomada da acuidade visual, pois identificam as crianças com diferenças entre os dois olhos ou baixa visão bilateral.2 As crianças identificadas devem ser submetidas ao exame refracional e consequente prescrição para uso da correção óptica. No caso de a criança apresentar baixa visão mesmo após prescrição óptica é importante a prescrição dos auxílios ópticos, dependendo da idade e necessidades educacionais. A prescrição de óculos convencionais para as crianças com baixa visão é o preâmbulo da reabilitação visual por vários motivos. Em primeiro lugar, incorpora modificações cosméticas no visual, facilitando a conexão com as pessoas à sua volta. Também é conhecido o fato de que a refração é fundamental, pois a imagem retiniana necessita estar em foco para possibilitar os testes com os auxílios ópticos.3 A determinação do erro de refração tem características especiais na criança com baixa visão. Muitas vezes são crianças com outras deficiências associadas, geralmente

neurológicas, como paralisia cerebral, deficiência visual de origem cerebral, surdez e outras condições de comorbidades.4 A medida da acuidade visual de crianças em fase préverbal ou com dificuldades de informação e interação é feita pela aplicação de testes de resolução, sendo o teste composto por cartões de Teller o mais utilizado (Figura 1). Para crianças informantes e não alfabetizadas (a partir de 2 anos de idade) são aplicados testes de reconhecimento, sendo o teste com Lea Simbols® um dos mais utilizados (Figura 2). As tabelas de acuidade visual de longe, EDTRS®, e de perto, Lighthouse®, são indicadas para crianças alfabetizadas e adultos. A notação da acuidade visual de longe medida a 1,5 m (corresponde a 5 pés) é feita dando ao numerador da fração o número 5 e ao denominador o valor do optotipo lido pela criança. Por exemplo, enxergou 5/200 significa que enxergou o optotipo 200 a 1,5 m de distância, ou o equivalente a 20/800. No exame refratométrico objetivo deve-se proceder à retinoscopia sob cicloplegia, que é o “padrão ouro” da refração de lactentes e crianças jovens, com utilização de ciclopentolato 1%. Instila-se uma gota em cada olho, e o exame é realizado após 30-40 minutos, que é o pico de ação da droga. Em íris muito pigmentadas acrescenta-se uma gota de tropicamida 1%.5

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1.

2.

Figura 1. Modo de apresentação do Cartão de Acuidade Visual de Teller® / Figura 2. Teste de Acuidade Visual com símbolos Lea®. Na retinoscopia, se ocorrer de a imagem do reflexo retinopupilar não ser clara na distância normal de trabalho, pode-se tentar obter o reflexo em distância mais curta, método chamado de retinoscopia radical. Por exemplo, se a retinoscopia for realizada a 20 cm de distância, deve-se usar lente compensatória de 5D.3,6 Na refração objetiva pode-se usar também o autorrefrator, caso a criança aceite, proporcionando uma boa medida da ceratometria, o que facilita a comparação com os achados da retinoscopia que, conforme o caso, não é fácil, seja por falta de colaboração ou por alterações de transparência dos meios e/ou irregularidades corneanas e cristalinianas. Nas crianças pequenas não é possível o uso do “greens”, pois não colaboram e nesse caso deve-se usar as armações de provas. As armações de provas devem ser ajustáveis, confortáveis, segurar várias lentes, colocando as lentes fortes na célula posterior, com boa centralização das lentes, verificando a distância vértice. Outra vantagem de fazer a retinoscopia com uso de armação de provas é que o paciente pode permanecer na sua posição habitual de cabeça, o que é muito útil, por exemplo, nos casos de nistagmo com bloqueio em determinadas posições (adução, inclinação ou lateralização) da cabeça.

Também podemos usar clipes para lentes de provas, colocados sobre os óculos dos pacientes. Esses óculos antigos têm vantagem, pois já estão bem posicionados e possibilitam a sobrerrefração com lentes mais finas, sendo mais rápidos e menos invasivos, pois as crianças permanecem com os óculos habituais. Outro exame que deve ser feito sempre que possível é a sensibilidade aos contrastes (Figura 3). Existem testes especiais para crianças, e até mesmo nenês, sendo um deles um tipo de “carinha” em pranchas e apresentado à criança como olhar preferencial, que é o Teste de Hiding Heidi, da Precision Vision. Muito interessante porque propicia a predição do nível de contraste requerido para atividades. Muitas vezes, havendo baixa sensibilidade aos contrastes haverá necessidade de alterações ambientais, como aumento da iluminação, a serem prescritas associadas à prescrição refracional. Em crianças maiores de 9 ou 10 anos pode-se usar o teste de VCTS - Vision Contrast Test System®. Nesse teste, um dos resultados de interesse prático é que se a criança não enxergar pelo menos três alvos no VCTS®, a magnificação óptica não será efetiva sem propiciar aumento do contraste; nesse caso indica-se uso de videomagnificação, pois aumentam contraste e campo de visão simultaneamente.

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refração

3.

4.

Figura3. Teste de sensibilidade ao contraste de Hiding Heidi. / Figura 4. Tabela de acuidade visual para perto - texto contínuo. A seguir é realizado o teste de visão de perto, já objetivando a predição do uso do auxílio óptico. Utilizam-se tabelas com notação M. As tabelas de perto já são preparadas para ser usadas a 40 cm de distância e já têm notação para verificar quanto falta de adição para ler 1 M. A seguir, é montada, na armação de provas, a lente de adição necessária e o material de leitura será colocado na distância focal da lente. Pode-se verificar a eficiência de leitura com tabela de texto contínuo. Existem várias tabelas para essa finalidade, sendo a MNRead muito interessante, pois é validada. Na Unicamp temos uma tabela criada por nossa equipe, que é curta e rápida para uso em crianças (Figura 4). O próximo passo é a avaliação dos movimentos oculares na leitura, lembrando a função de cada tipo de movimento ocular, a saber: FIXAÇÃO: Estabiliza a imagem do objeto estacionária na fóvea minimizando drifts oculares; SACÁDICOS: Traz a imagem do objeto de interesse para a fóvea; SEGUIMENTO: Estabiliza a imagem de um alvo móvel na fóvea; estabiliza a imagem de perto durante movimento linear de leitura. O exame de motilidade ocular é importante, porque fornece dados importantes como o estado de acomodação-convergência (CA/A), o ponto próximo de acomodação e o ponto próximo de convergência. Quando a idade da criança permite, é realizado estudo completo das amplitudes de vergências e até mesmo o estudo dos movimentos

oculares como sacádicos e de perseguição ocular. Este estudo tem importância em crianças a partir da idade escolar, pois precisamos analisar o grau refracional e suas implicações na leitura. Também pode ser feito o estudo da velocidade de leitura antes e depois da adaptação dos auxílios ópticos. Estudo recente, investigando a relação entre velocidade de leitura e os parâmetros oculomotores e usando análise de regressão múltipla, mostrou que há dois preditores da velocidade de leitura, a saber, o número de sacádicos por sentença e média de duração da fixação. A velocidade de leitura diminui quando o número de sacádicos e duração da fixação aumentam. O número de letras por sacádicos para frente não é um preditor significante. Esses resultados sugerem que, independentemente do tamanho dos sacádicos, algumas ou todas as porções da sentença são temporariamente superadas pelo aumento no número de fixações e a velocidade de leitura é reduzida.7 Em relação à prescrição, a pergunta que surge é: quando corrigir ametropias na fase pré-verbal? O primeiro ano de vida é um período de rápida alteração no desenvolvimento ocular e da refração. A hipermetropia é o achado mais comum. Muitos autores têm estudado a necessidade de correção da hipermetropia para eliminar ou reduzir a acomodação e daí ajudar a prevenir o desenvolvimento de estrabismo.8,9 A maioria dos oftalmologistas concorda que a hipermetropia acima de 5,00 dioptrias (D) em crianças de tenra idade está associada com um risco aumentado de amblio-

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TABELA 1 CONSENSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA PEDIÁTRICA SOBRE A PRESCRIÇÃO DE ÓCULOS NAS CRIANÇAS PRÉ-VERBAIS.11 SBOP sugere que sejam prescritos óculos nos seguintes casos:

MIOPIA (SIMÉTRICA) Idade 0-1 ano Idade 1-2 anos Idade 2-3 anos -4,00 D ou > -3,00 D ou > -2,50 D ou >

HIPERMETROPIA (SIMÉTRICA E ORTOFÓRICA) Idade 0-1 ano Idade 1-2 anos Idade 2-3 anos +6,00 D ou > +5,00 D ou > +5,00 D ou > Reduzir a prescrição em 1 ou 2 D

HIPERMETROPIA (COM ET ACOMODATIVO DE APROXIMADAMENTE 30 DP) Idade 0-1 ano Idade 1-2 anos Idade 2-3 anos > que 2,00 D > que 2,00 D > que 1,50 D Prescrever toda refração sob cicloplegia. Se maior que 3,00 D pode diminuir em 0,5 D na prescrição final

ASTIGMATISMO (SIMÉTRICO) Idade 0-1 ano Idade 1-2 anos Idade 2-3 anos 2,50 D ou > 2,50 D ou > 2,00 D ou >

ANISOMETROPIA Idade 0-1 ano Idade 1-2 anos Idade 2-3 anos Hipermetrópica +2,00 D ou > +1,50 D ou > +1,50 D ou > Miópica -2,50 D ou > -2,50 D ou > -2,50 D ou > Astigmática 2,00 D ou > 1,50 D ou > 1,50 D ou >

1. Ibironke JO, Friedman DS, Repka MX et al. Child development and refractive errors in preschool children. Optom Vis Sci 2011;88(2):181-187. 2. Jeon SH, Kim US. Ten-year results of home visionscreening test in children aged 3-6 years in Seoul, Korea. Sem Ophthalmol 2015;30(5-6):383-8. 3. Carvalho KM. Baixa visão. In: Alves MR, Polati M, Sousa SJ (eds.). Refratometria ocular e a arte da prescrição médica. Rio de Janeiro: Cultura Médica. 2016. 4a ed. p.155-172. 4. Markowitz SN. Principles of modern low vision rehabilitation. Can J Ophthalmol 2006;41:289–312. 5. Alves MR, Polati M, Sousa JF. Refratometria ocular. In: Alves MR, Polati M, Sousa SJ (eds.). Refratometria ocular e a arte da prescrição médica. Rio de Janeiro: Cultura Médica. 2016. 4a ed. p.155-172. 6. Bailey IL. Low vision refraction, in clinical procedures in optometry, 1991. Philadelphia: Lippincott, cap. 81, 762-8. 7. Scherlen AC, Bernard JB, Calabrese A, Castet E. Page mode reading with simulated scotomas: oculo-motor patterns. Vision Res 2008 Aug;48(18):1870-8. 8. Somer D, Karabulut E, Altiparmak. Emmetropization, visual acuity, and strabismus outcomes among hyperopic infants followed with partial hyperopic corrections given in accordance with dynamic retinoscopy. Eye (Lond). 2014;28(10)1165-1173. 9. Rubin SE. Bringing the management of accommodative esotropia into sharp focus. American Journal of Ophthalmology 2006;141(5):914–5. 10 Jones-Jordan, Lisa et al. Spectacle correction versus no spectacles for prevention of strabismus in hyperopic children. The Cochrane database of systematic reviews 8 (2014): CD007738. PMC. Web. 14 May 2016. 11 Consenso da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBPO) sobre “Prescrição de Óculos na Criança PréVerbal”. Disponível em http://sv51.dna.com.br/sbop/webforms/ Interna.aspx? [acessado 14/05/2016]. 12. Watt T, Robertson K, Jacobs RJ. Refractive error, binocular vision and accommodation of children with Down syndrome. Clin Exp Optom 2015 Jan;98(1):3-11. 13. Cregg M, Woodhouse JM, Pakeman VH, Saunders KJ, Gunter HL, Parker M et al. Accommodation and refractive error in children with Down syndrome: cross-sectional and longitudinal studies. Invest Ophthalmol Vis Sci 2001 Jan;42(1):55-63. 14. Doyle L, Saunders KJ, Little JA. Trying to see, failing to focus: near visual impairment in Down syndrome. Sci Rep 2016 Feb 5;6:20444. doi: 10.1038/srep20444. ■

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retina

19o Congresso Mundial da Retina Internacional

Arquivo pessoal

Terapia celular e visão artificial estavam entre os principais assuntos discutidos durante o evento

Juliana M. Ferraz Sallum Professora Afiliada do Departamento de Oftalmologia da UNIFESP; Mestre e doutora em Oftalmologia pela UNIFESP e Johns Hopkins University; Título de Especialista em Oftalmologia e em Genética Clínica

Maria Antonieta Leopoldi e Rodrigo Bueno Advogados do Grupo Retina Brasil

O

19º Congresso Mundial da Retina Internacional ocorreu em Taipei, Taiwan, um país de língua chinesa, em julho de 2016. A pesquisa sobre as distrofias de retina parece ter adentrado numa nova fase de conhecimento, marcada por um crescente número de testes clínicos em diversas frentes. A maioria absoluta das palestras não estava mais focada em pesquisa básica, mas na apresentação e discussão de resultados objetivos de diversos testes clínicos em curso. Atualmente, já é possível se identificar mais de 250 genes cujas mutações são as causas das doenças degenerativas da retina. Também já é conhecido o caminho bioquímico que leva à degeneração e morte das células fotorreceptoras (cones e bastonetes). De forma geral, existem quatro grandes áreas de pesquisa que já estão conduzindo testes clínicos que, caso sejam aprovados, permitirão o início dos tratamentos. Essas áreas são as seguintes: 1. Terapia celular. As técnicas mais promissoras envolvem o transplante de células-tronco, para as quais já existem testes clínicos sendo realizados em pacientes,

especificamente para Stargardt e DMRI seca e em fase inicial para retinose pigmentar, com bons resultados nas fases preliminares. Além disso, existem novas técnicas de transplante de células fotorreceptoras sendo desenvolvidas e testadas com sucesso em animais, especialmente nos EUA, Reino Unido e no Japão. Essas técnicas podem levar ao início de novos testes clínicos em pacientes num futuro próximo, e seriam aplicáveis inclusive para pacientes em estágio avançado da doença. 2. Visão artificial. Muitos grupos ao redor do mundo estão trabalhando no famoso olho biônico. São diferentes modelos e abordagens, e já existem produtos disponíveis no mercado para implante, desenvolvidos na Alemanha (Alpha IMS) e nos EUA (Argus II). Para que se possa ter uma ideia do avanço, já existem mais de 200 pacientes utilizando o implante Argus II. Esses produtos são capazes de restabelecer a percepção de claridade, contrastes intensos e a visão de alguns vultos. Trata-se de uma área muito promissora, com perspectiva de avanço. As pesquisas nesta área objetivam permitir o reconhecimento facial, a restauração da capacidade de leitura e detecção de cores.

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Imagens: reprodução

Figura 1. Visão artificial, uma área muito promissora, com perspectiva de avanço.

3. Estimulação elétrica da retina. O tratamento, que está em fase final de testes clínicos em pacientes, apesar disso já está sendo comercializado na Europa e aguardando aprovação final do FDA (americano). Os resultados apresentados indicam que a estimulação elétrica pode resgatar alguma função das células fotorreceptoras ainda viáveis, bem como diminuir a velocidade do processo de degeneração. No trabalho foram incluídos indivíduos com várias formas de retinose pigmentar, mas somente casos não muito avançados das doenças, pois não se consegue atuar nas células que já estão mortas. Além disso, ficou demonstrado que o processo de degeneração volta ao ritmo normal quando a estimulação é interrompida. O protocolo consistia em uma sessão de 30 minutos por semana. 4. Terapia gênica. É uma estratégia promissora para o tratamento das doenças da retina. Trata-se de um tratamento que substitui genes com variações patogênicas (mutações) por cópias dos mesmos genes sem estas variações patogênicas. A função das células é resgatada com potencial melhora na visão.

Figura 2. Estimulação elétrica da retina, tratamento, que está em fase final de testes clínicos em pacientes

Uma série de testes clínicos está sendo realizada para diversos genes. A mais avançada delas é a terapia gênica para o gene RPE65, que concluiu com sucesso a terceira fase do teste clínico e provavelmente estará disponível no mercado no futuro próximo. Esse é o primeiro resultado de uma série de novos tratamentos que estão em pesquisa. O grupo que participou do evento é bastante diverso, formado por pacientes, familiares, médicos, cientistas e pessoal da indústria farmacêutica e de tecnologia. Durante os dias de congresso, o contato direto entre médicos e pacientes é sempre o ponto alto. Além disso, o contato com pacientes e familiares das mais diferentes culturas traz novas ideias e perspectivas para a melhoria da qualidade de vida hoje. Fato é que do outro lado do mundo as pessoas encaram as mesmas dificuldades e desafios em relação à baixa visão. Mas, acima de tudo, as relações criadas durante o evento fortalecem cada vez mais parcerias em busca de tratamentos das doenças degenerativas da retina. ■

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Arquivo pessoal

Como os exames complementares podem auxiliar (ou não) o diagnóstico do glaucoma

Leopoldo Magacho Professor da FM e da Pós-Graduação da UFG Chefe do Setor de Glaucoma do CEROF-UFG VER – Excelência em Oftalmologia, Goiânia – GO

O

glaucoma é uma neuropatia óptica e da camada de fibras nervosas da retina (CFNR) com repercussões características ao campo visual. Essa é uma definição clássica e muito bem aceita. Então, para diagnosticar e acompanhar o glaucoma, basta avaliar e seguir essas estruturas do olho, certo? Bem, infelizmente às vezes a matemática não é tão precisa assim quando se trata do glaucoma. Há algum tempo que nos deparamos com publicações diversas que visam mostrar qual o melhor método para se diagnosticar, e também avaliar longitudinalmente o paciente com glaucoma. Ainda, se a análise de estrutura (estereofotos, retinografia ou OCT, por ex.) ou de função (campo visual) seria o mais indicado em cada caso. Pela lógica da medicina, é de se esperar que um determinado órgão inicialmente reduza sua função, para apenas depois ocorrer a lesão tecidual definitiva, caso a agressão não seja interrompida. Isso não ocorre no glaucoma. Ou, o que é mais provável, nós ainda não temos aparelhos

capazes de detectar a perda funcional inicial das células ganglionares retinianas (CGR) no glaucoma. A lesão de campo visual geralmente ocorre quando cerca de 40%-60% dessas células já foram perdidas. 1 Atualmente, tem-se postulado que a avaliação da estratégia 10-2 no campo Humphrey, focando a mácula e a maior concentração das CGR, poderia cursar com um diagnóstico mais precoce que o campo 24-2,2 mas ainda distante do começo da doença. Isso gera a conclusão de que campo visual inicial, hoje, não é glaucoma inicial. Claro, não estou focando aqui na percepção do paciente, já que o glaucoma é uma doença comumente de progressão muito lenta. Assim, campo visual com lesão inicial não é percebido nem altera a qualidade de vida do glaucomatoso, o que realmente importa quando avaliamos e tratamos nossos pacientes. Estou abordando o glaucoma “per se”. Mesmo assim, diagnóstico e tratamento precoce são sempre desejáveis. Então, para diagnóstico inicial, precisamos focar na estrutura. Métodos automatizados, como o OCT, oferecem

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Imagens: Reprodução

Caso 1: C.F.A., 35 a, masculino, em tratamento para glaucoma há três anos com duas drogas, desde que exame para concurso mostrou lesão de glaucoma (sic). Míope (-6.75-1.25 120º/-2.50sph), Bio e Gonio: NDN. Sem antecedentes. PIO 14 mmHg AO. Paquimetria: 552 µm/551 µm. Mesmo com defeito de campo visual em local compatível com uma eventual lesão glaucomatosa, trata-se de tilt de disco óptico. OCT, não ilustrado aqui, também falso-positivo.

OD

OE

Caso 2: T.A.A., feminino, 21 a, em tratamento para glaucoma há três anos com um análogo de prostaglandina. Bio e Gonio: NDN. Refere que “irmão tem o mesmo problema”. PIO 16 mmHg AO. Paquimetria: 548 µm/549 µm. OCT falso-positivo; trata-se de aumento fisiológico da escavação, com campimetria computadorizada normal.

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glaucoma

Caso 3: M.H.P., 58 anos, feminino, PIO 18-20 mmHg, exame de rotina porque “tem vários parentes com glaucoma na família”. Bio e Gonio: NDN. Paquimetria: 532 µm/534 µm. Ilustrado apenas OD. OE sem alterações notadas. Paciente com disco óptico fisiológico e campimetria computadorizada normal. Na avaliação da retinografia red-free, nota-se lesão localizada da CFNR (sinal de Hoyt), com correspondência no OCT. Glaucoma inicial.

pacotes estatísticos que visam melhorar o diagnóstico e reduzir a subjetividade de interpretação, avaliando principalmente a CFNR e a mácula no glaucoma. Aparentemente, seria capaz de detectar o glaucoma em estágios ainda iniciais. Entretanto, em recente revisão sistemática, ao se fixar a avaliação em uma especificidade de 90%-95% (para reduzir os falso-positivos), a sensibilidade do OCT variou entre 65%-70%, valores muito baixos para utilizá-lo como fonte única do diagnóstico do glaucoma.3 E com um importante viés: os estudos com essa finalidade incluem grupos de pacientes já como glaucoma, mesmo que inicial, o que teoricamente aumentaria a habilidade de detecção da doença. Sem contar que o registro direto do disco óptico e CFNR supera o OCT na detecção da hemorragia do disco óptico, além de mostrar os detalhes que podem passar despercebidos ao exame direto do paciente, como uma perda localizada da CFNR. E isso falando apenas de diagnóstico. Como exemplo da dificuldade de se avaliar longitudinalmente o glaucoma, em olhos já diagnosticados, a progressão do campo visual foi detectada inicialmente acima de quatro vezes mais que na avaliação do disco óptico. E a combinação de estrutura/função praticamente não foi notada.4 Mais uma vez nos fazendo refletir sobre os conceitos que temos levado ao longo dos anos. Sem contar que é necessário ter em mente as possíveis fontes de erro de cada exame... Com tudo isso, como avaliar

os exames complementares no diagnóstico do glaucoma? Primeiro, sempre avaliar minuciosamente o paciente para apenas depois usá-los como um aliado para confirmar ou descartar uma hipótese gerada clinicamente. Sim, a avaliação clínica do expert é o cerne de tudo! Depois, como uma associação, como o próprio nome significa. Porque a grande variabilidade dos parâmetros que precisamos examinar e do próprio glaucoma (ainda, pelo menos) não nos permite confiar em um único exame complementar. Apenas para ilustrar o exposto, seguem nas páginas 69 e 70 alguns exemplos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Kerrigan-Baumrind LA, Quigley HA, Pease ME, Kerrigan DF, Mitchell RS. Number of ganglion cells in glaucoma eyes compared with threshold visual field tests in the same persons. Invest Ophthalmol Vis Sci 2000 Mar;41(3):741-8. 2. Traynis I, De Moraes CG, Raza AS, Liebmann JM, Ritch R, Hood DC. Prevalence and nature of early glaucomatous defects in the central 10 degrees of the visual field. JAMA Ophthalmol Mar; 132(3):291-7. 3 Oddone F, Lucenteforte E, Michelessi M, Rizzo S, Donati S, Parravano M et al. Macular versus retinal nerve fiber layer parameters for diagnosing manifest glaucoma: a systematic review of diagnostic accuracy studies. Ophthalmology May;123(5):939-49. 4. Ohnell H, Heijl A, Brenner L, Anderson H, Bengtsson B. Structural and functional progression in the early manifest glaucoma trial. Ophthalmology Jun;123(6):1173-80. ■

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ponto de vista Paulo Schor

Descondicionamento do Olhar

F

iz esse curso (http://www.olhar.com.br/workshop.htm) há mais de 15 anos, e graças a Claudio Feijó conheci mais pessoas que precisavam, por profissão, olhar além da estampa. Era uma oficina de dois dias voltada a fotógrafos profissionais e arquitetos, e um oftalmologista resolveu se intrometer. Uma das primeiras lições foi a de que o fotógrafo deve cortar o que não deseja, na cena, e o arquiteto irá incluir na cena tudo o que quer. E nós? Que ouvimos sobre nitidez o dia todo, mas nem sempre falamos sobre o olhar… A definição de visão muitas vezes é banalizada quando mostramos uma tabela de optotipos e determinamos que uma pessoa “enxerga” 0,9. Muito frequentemente atendemos esses pacientes que nos dizem ter perdido 10% da visão, e nos desdobramos para mudar esse pensamento sobre a sensação visual. Sim, porque ver não é dizer para qual lado estão virados os “Es”. Ver é sentir. Junto com ouvir, tocar, cheirar e provar. Não temos ciência de alguma métrica que pretenda definir quanto uma pessoa cheira! E por isso mesmo deveríamos ouvir e ver além das tabelas de Snellen. Por vezes parece fantasiosa e romântica essa proposta, mas ouso afirmar que não temos escolha. Ou migramos para o entendimento mais profundo dessa dimensão, ou as máquinas vão fazer TODO o nosso trabalho. Digo “todo”, pois já não somos imprescindíveis para medir a acuidade visual central (existem inúmeros aplicativos para isso) nem periférica (os campímetros computadorizados que o “digam”). Também a refratometria é obtida pelos autorrefratores, que podem vir acoplados a um celular! Testes de cores, contraste e acomodação em breve serão disponibilizados em farmácias, e os pacientes virão aos médicos com esses “resultados”, para darmos sentido a tudo isso. Não estou falando de ficção. Leiam The Patient Will See You Now: The Future of Medicine is in Your Hands, de Eric Topol (https://www.amazon.com/Patient-Will-See-YouNow/dp/0465054749) para mais detalhes do presente

(e não futuro) da relação paciente-tecnologia. Somos imprescindíveis “ainda”, mas Paulo Schor não mais como fornecedores é chefe do Departamento de exames e equipamentos de Oftalmologia da aos pacientes. Somos únicos Escola Paulista de como receptores, transforMedicina com atuação madores e emissores de em ótica cirúrgica. sentimentos, a partir de informações captadas. Nossa inteligência não artificial é ainda uma arma poderosa, longe de ser desbancada pelos circuitos integrados. Esse sentimento humano é o que nos mantém indo a congressos e consultas. Precisamos interagir. A experiência de assistir a uma aula ao vivo, mesmo sem perguntar nada, é completamente diferente de “assistir” à mesma aula on-line. Cada suspiro inesperado, olhar sutil ou mudança de luz ambiente nos passa um sinal, muda o contexto, e imprime uma mensagem na nossa mente. A informação pura não existe nesse ambiente, e parece que gostamos muito dessa sensação. Sensação de estar presente, importante e vivo. Walter De Brouwer, CEO da empresa SCANADU (https:// www.scanadu.com/), uma das pioneiras em aplicativos médicos, tenta nos dizer por que os pacientes não deixarão de vir aos médicos. Após um diagnóstico difícil e uma apresentação franca, o médico bate no ombro do paciente e diz “vai ficar tudo bem”. Isso é o suficiente para que o laço mágico se aperte, e a relação médico-paciente brilhe. O paciente vem nos procurar por isso. Por isso também nós procuramos colegas e professores. Não há perigo eminente de o ensino on-line substituir o professor “de verdade”. A relação humana é também a base da medicina, e somos os melhores para realizar essa arte! ■

Dúvidas, críticas, sugestões, fale comigo! pontodevista@universovisual.com.br

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notícias e produtos

Em 15 de agosto aconteceu na Escola Paulista de Medicina/ Unifesp (Anfiteatro Leitão da Cunha), durante o Grand Round, o primeiro Encontro Oftalmológico Sino-Brasileiro, que marcou o início de uma parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Oftalmologia e Ciências Visuais da EPM, coordenado pela Profa. Dra. Denise de Freitas, e a Academia Ophthalmologica Internatio-

Abbott tem novo Country Manager Jean Carlos Rossa é o novo Country Manager do negócio de Cuidados para Visão da companhia no Brasil. Atualmente, cerca de 65% das vendas da Divisão de Cuidados para a Visão da Abbott são provenientes de mercados fora dos Estados Unidos, sobretudo de países emergentes como o Brasil. No mundo, a Divisão alcançou vendas globais de U$ 1,1 bilhão em 2015. Segundo Rossa, a Abbott oferece soluções inovadoras no cuidado com a visão, principalmente no que diz respeito a avanços na cirurgia de catarata. “Vamos continuar aprimorando nossos produtos, que facilitam o trabalho dos médicos e proporcionam resultados de alta qualidade aos pacientes”, ressalta o executivo.

nalis, representada pelos membros Professores Doutores: Zhao Jlaliang, Li Xiaoxin, Ana Luísa Höfling-Lima e Rubens Belfort Jr., que coordenaram o encontro. Presentes estavam, além dos 52 médicos chineses, os alunos, egressos, professores e residentes do Departamento de Oftalmologia, servidores da Unifesp, entre outros visitantes. Os palestrantes chineses transcorreram sobre as inovações e tendências na prevenção da cegueira na China, o boom da miopia e sobre investimentos e pesquisa para utilização de novos medicamentos em tratamentos de doenças oftálmicas.

LÁGRIMA ARTIFICIAL EXCLUSIVA

Imagens: divulgação

Brasil e China, uma parceria oftalmológica

A Bausch+Lomb lança uma lágrima artificial indicada para aliviar e atenuar os sintomas do olho seco. Artelac Rebalance™ tem uma combinação exclusiva de componentes para a hidratação e lubrificação instantânea e duradoura. A ação de Artelac Rebalance™ é possível devido à capacidade de lubrificação e hidratação que os componentes hialuronato de sódio e polietilenoglicol (PEG 8000) conferem ao produto por se ligarem com a água e, também, pela sua característica de formação de um filme sobre a superfície ocular. A eficácia do hialuronato é potencializada na ação sinérgica com o PEG 8000.

Nova solução de limpeza e desinfecção para lc livre de conservantes A Alcon acaba de lançar no Brasil CLEAR CARE* PLUS com HydraGlyde®, um

sistema de limpeza e desinfecção para todos os tipos de lentes de contato, que incluem as gelatinosas, silicone hidrogel e rígidas, à base de peróxido de hidrogênio, que tem alto poder para eliminar bactérias, fungos e Acanthamoeba e não contém conservantes. Isso faz com que todos os usuários de lentes de contato, inclusive os mais alérgicos, possam usá-la com segurança. CLEAR CARE* PLUS com HydraGlyde® é diferente das soluções multipropósito. A limpeza e a desinfeção acontecem através de um processo de neutralização. O produto vem com um estojo único e exclusivo, que possui disco de platina para neutralização, tem ação efervescente e o processo dura seis horas, ou seja, após esse período dentro do estojo, CLEAR CARE* PLUS com HydraGlyde® é neutralizado - transforma-se em solução salina com pH equilibrado e suave, parecido com lágrimas naturais.

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1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL A Johnson & Johnson Vision Care, comprometida em proporcionar a melhor solução para pacientes que precisam de correção visual, traz ao mercado brasileiro a inovação 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL, primeira lente de contato multifocal de descarte diário com tecnologia INTUISIGHT™, que proporciona otimização pupilar para o olho com presbiopia. A oftalmologista e gerente médica da Johnson & Johnson Vision Care, Liane Touma Falci, explica que a lente representa uma grande inovação para a saúde ocular desses pacientes, pois traz desenhos ópticos exclusivos e distintos que se adaptam ao olho para proporcionar a melhor correção visual. O design híbrido de 1-DAY ACUVUE® MOIST MULTIFOCAL é inspirado no próprio olho. O centro asférico e a periferia esférica da lente de contato garantem o encaixe mais adequado, tão necessário à correção visual de qualidade do olho présbita. Além disso, seus desenhos ópticos foram criados de acordo com a idade e com as faixas de erro refrativo. São 61 graus para longe, de +6,00 DE a -9,0 DE (com incrementos de 0,25 DE); e 3 poderes de adição (baixa, média e alta). Ao todo, 183 desenhos ópticos exclusivos e distintos para garantir a máxima precisão e qualidade na correção visual.

CooperVision® lança clariti® 1 day

A CooperVision® traz para o Brasil a primeira e única família de lentes de contato de descarte diário em silicone hidrogel: a clariti® 1 day. Disponível nos desenhos esférico, tórico e multifocal, clariti®1 day foi desenvolvida especialmente para oferecer uma experiência melhor e mais saudável no uso de lentes de contato com a conveniência de uma lente nova todos os dias. As lentes clariti® 1day possuem um alto conteúdo de água, proporcionando uma excelente comodidade durante todo o dia. Com a tecnologia WetLocTM e a hidrofilicidade do seu silicone hidrogel, as lentes clariti®1 day oferecem uma hidratação uniforme na superfície da lente, proporcionando conforto ideal durante todo o dia. Além disso, as lentes possuem alta transmissibilidade ao oxigénio, o que permite garantir 100% do consumo de oxigênio que a córnea necessita para manter os olhos saudáveis.

Mundipharma relança SAFLUTAN©, único da categoria sem conservante A Mundipharma relança SAFLUTAN©, colírio análogo da prostaglandina indicado para o tratamento do glaucoma de ângulo aberto ou hipertensão ocular. O medicamento, que diminui a pressão elevada do olho, evitando a lesão no nervo óptico, é o único da categoria sem conservante e apresenta a mesma efetividade em manter a pressão basal com, aproximadamente, 50% menos efeitos colaterais. Em forma de flaconetes, SAFLUTAN© é indicado para uso noturno e atinge efeito máximo depois de 12 horas, sendo mantido por pelo menos 24 horas.

Errata

Ao contrário do que foi publicado no suplemento “Catarata e Cirurgia Refrativa” - parte integrante da revista Universo Visual ed. 92, de abril de 2016 – no texto Ponto e Contraponto (página 10) o nome correto da oftalmologista é Rachel Gomes.

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dicas da redação

Goiânia ilustrada A jovem capital Goiânia apresenta o roteiro certo para quem busca conhecer e realizar uma imersão ao Brasil Central CLENON FERREIRA

A

cada esquina, um pouco da história do centro do país. Prédios em arquitetura Art Déco caminham lado a lado com gigantescos edifícios contemporâneos, enquanto regiões mais distantes crescem descontroladas em suas extremidades. Bosques, parques, áreas verdes e praças se vestem de cerrado numa troca mútua entre ipês coloridos e árvores frutíferas das quatro estações. Se a cidade de Goiânia fosse resumida em poucas palavras, provavelmente iria se intitular como uma das capitais mais plurais do Brasil, através de uma junção entre cultura singular e gastronomia característica personificadas na imagem de uma jovem senhorinha que acaba de completar pouco mais de 80 anos. Fundada através das mãos e olhares do então governador Pedro Ludovico Teixeira em 1933, a cidade no meio de Goiás foi idealizada para ser a “cidade no meio do sertão goiano” com traços modernistas, arquitetura planejada milimetricamente em valoração ao Art Déco – a cidade

tem a maior concentração de edifícios no estilo do país e só perde para Miami, nos Estados Unidos – e traçada num estilo afrancesado de se desenvolver os conceitos de urbanismo tático. Basta dar um breve passeio pelo centro de Goiânia e você avistará importantes prédios oriundos da década de 30 e 40, a exemplo do Teatro Goiânia, Grande Hotel, Museu Zoroastro Artiaga ou ainda a antiga Estação Ferroviária, símbolos-mor do passado de Goiás. Para quem gosta de história, dar uma volta pelo centro será um prato cheio. Já aos que preferem a calmaria de regiões verdes, a boa saída é se deliciar entre os bosques e parques que a cidade apresenta, entre o gigante Parque Flamboyant, o concorrido Parque Vaca Brava, o charmoso Lago das Rosas ou ainda nos canais aquáticos do Bosque dos Buritis, que comporta também o Museu de Arte de Goiânia, com exposições gratuitas de artistas que compõem a cena cultural do Centro-Oeste, a exemplo de Pitágoras, Siron Franco ou Antônio Poteiro.

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Foto: Kirah van der Lemon Fotos: Divulgação

Acima à esquerda: Centro Cultural Oscar Niemeyer; acima à direita: Estação ferroviária; Abaixo: Parque Flamboyant e a famosa pamonha.

Aos que desejam se prolongar no roteiro natural de Goiânia, o interessante é conhecer o Setor Sul, região nascida e concebida aos moldes da cidade de Veneza, na Itália, apesar de sua maior referência estar diretamente ligada à Radburn (EUA), projetada por Clarence Stein em 1929. Ao invés dos canais, bosques e praças, a região concentra uma das maiores dimensões de áreas verdes de todo o mundo, com lugares que fazem lembrar as cidades-jardins europeias, com obras de diferentes artistas plásticos ilustrados nos muros das casas, nos bancos das praças e nos postes de luz. Em algum momento você vai pensar: eu ainda estou em Goiânia? Das áreas verdes para o concreto monocromático de uma cidade que teima em crescer, Goiânia ainda possui importantes pontos de encontro, como o Centro Cultural Oscar Niemeyer, projetado pelo arquiteto homônimo e que funciona como o Museu de Arte Contemporânea de Goiânia (MAC), uma grande biblioteca para o ensino e pesquisa e

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Foto: João Pedro

dicas da redação

A cidade de Pirenópolis e Caldas Novas são boas opções para quem quer esticar a viagem. Para os amantes de aventura, o destino certo é o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (página ao lado).

uma alameda para eventos de arte e música. Há ainda o Mercado Municipal, que contém parte da tradição goiana, com diferentes mimos para aqueles que não querem voltar de mãos vazias para casa. Tem temperos, doces, compotas, suvenires, artesanatos, restaurantes e cantinas que fazem a alegria dos transeuntes, principalmente os que desejam comer as tradicionais empadas de frango com pequi, uma das iguarias do roteiro do bom goiano. GOSTINHO GOIANO O tradicional “uai” seguido de “sô” é uma dos trava-línguas dos goianos “do pé rachado”, como dito por todos da cidade. Mas o sucesso mesmo é apresentado por meio do cheiro e do paladar de sua comida, prove-

niente da união entre a gastronomia mineira e paulista e os frutos do cerrado goiano, a exemplo do pequi, de gosto e cheiro fortes, amarelo, misturado no arroz, no frango ou em pratos mais contemporâneos, como no Restaurante IZ, do chef Ian Baiocchi, que prepara a iguaria em diferentes apresentações, ou a guariroba, parecida com o palmito, mas de gosto extremamente amargo. Amarelo também é a cor da pamonha, um dos ícones da cidade, quitute feito de milho em sabores à moda, com linguiça e queijo, ou de sal e doce, presente em qualquer esquina de Goiânia. Aos que querem se deliciar com pratos mais fortes, a parada obrigatória é no Restaurante Chão Nativo, entre os pratos típicos do Estado, como o arroz com suã e o leitão pururuca. A receita é se entregar aos prazeres da carne num Estado em que a economia se baseia na agropecuária. É através de uma mistura que dá certo que um dos principais pratos da cidade seja o empadão goiano, com frango, linguiça e ovo cozido, pequi e guariroba, servido no formato de uma torta. No almoço, é sempre bom preparar um tempo para conhecer o Panela Mágica, tradicional restaurante da cidade, que alia gastronomia saudável, tempero goiano e o toque da culinária contemporânea. Para adoçar o passeio, nada melhor que se entregar aos docinhos de Cidade de Goiás, antiga capital do Estado, e que ganharam notoriedade com a poetisa e doceira de mão cheia Cora Coralina. Cada doceira tem sua especialidade, mas os quitutes mais famosos são o pastelinho, uma massa assada recheada com doce de leite, e os doces de frutas. A maioria é vendida nas casas das próprias doceiras. Mas há também as docerias maiores, como a Confeitaria Richesse, onde um dos doces mais concorridos é o bolo dos anjos, que leva brigadeiro de chocolate branco e morango. PARA VIAJAR Cachoeiras, prédios coloniais, esportes aquáticos e turismo ambiental. Esticar a viagem e dar um pulo na cidade de Pirenópolis é a melhor opção para o final de semana. Localizado estrategicamente a 127 km de Goiânia e entre Brasília, o município é uma ode ao passado, com casinhas coloridas na época da colonização brasileira e edifícios históricos, como o Cine Pireneus e a Igreja Santa Bárbara, localizada bem no centro da cidade. Considerado patrimônio histórico mundial, o Pirenópolis recebe anualmente diversos eventos de cultura, a exemplo do Canto da Primavera, do Festival Internacional de Música (Figo), Festival Gastronômico e do Festival de Literatura (Flipiri) e do Festival de Documentário Brasileiro (PirenópolisDoc).

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Com uma representativa carga histórica e cultural para a região central do país, turistas de todo o mundo desejam conhecer a cidade, seja por seus museus, igrejas, edifícios históricos, restaurantes e bares, seja por seu turismo ecológico focado nas reservas naturais e cachoeiras. São mais de 80, cada uma com um diferencial, além de trilhas na mata, veredas, cerrados e campos silvestres. No calor, a dica é pegar o carro e passar à tarde em alguma das cachoeiras que cercam a cidade. O que não falta é opção, como a Cachoeira Bonsucesso, um dos cartões-postais do município. Se continuar a jornada pela região dê um pulo na Chapada dos Veadeiros, uma das principais reservas naturais do Brasil e localizada no nordeste de Goiás. Num primeiro olhar, parece que uma nave espacial pousou no meio da estrada que dá acesso ao município de Alto Paraíso. De perto, os anéis que formam o portal da cidade tomam formas diversas e dão boas-vindas aos viajantes, que só pensam nas trilhas, cachoeiras e rios que a Chapada promete aos aventureiros de plantão. Garrafinha de água na mochila. Protetor solar no rosto. Tênis amarrado, câmera na mão e energia de sobra para atravessar os quase 12 km da Trilha dos Cânions, no Parque Nacional. Para os resistentes, a recompensa é uma vista espetacular de di-

ferentes campos, morros e cachoeiras que a região abriga. Como uma área de preservação ambiental criada para evitar a degradação de ecossistemas, a Chapada dos Veadeiros abrange três importantes municípios do roteiro turístico da região: Alto Paraíso, São Jorge e Cavalcante, cidades que preservam história, tradição e cultura, meio ambiente e lazer. Você pode até se perguntar: mas isto não é paisagem do filme Jurassic Park, clássica franquia de Steven Spielberg? Pode até parecer, mas a Chapada dos Veadeiros é movida pela junção de belas paisagens naturais, cidades que nos últimos tempos passaram por um boom imobiliário e turístico e a fama esotérica, motivada pelo Paralelo 14, linha imaginária que atravessa Machu Picchu, no Peru, e também corta Alto Paraíso. Aos que buscam a calmaria de um bom descanso, água quente e relaxante, que brota da terra na temperatura de 37,5°C com propriedades terapêuticas e medicinais são os motivos que você vai encontrar para conhecer Caldas Novas e sua vizinha Rio Quente, localizadas a 164 km de Goiânia. Juntos, os dois municípios formam a maior estância hidrotermal do mundo, com mais de seis milhões de litros por hora. O local reúne diversos hotéis, parques aquáticos e o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, criado para proteger as nascentes das águas hidrotermais. ■

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LOCAL

INFORMAÇÕES

XXVII Congresso da Sociedade Cearense de Oftalmologia

20 a 22

Fortaleza/CE

www.sco.med.br

XXXVI Congresso do Hospital São Geraldo

27 a 29

Belo Horizonte/MG

www.hospitalsaogeraldo.com.br/ congresso

Simpósio Internacional do Banco de Olhos de Sorocaba

27 a 29

Hospital Oftalmológico de Sorocaba – Sorocaba/SP

sinbos@bos.org.br

NOVEMBRO

EVENTO

II Congresso Ibero-Americano de Oftalmologia

23 a 25

Buenos Aires – Argentina

www.iberoamericanodeoftalmologia.com

19º Congresso de Oftalmologia e 18º Congresso Auxiliar de Oftalmologia da USP

29/11 a 03/12

Centro de convenções Rebouças – São Paulo/SP

www.congressooftalmologiausp.com.br

DATA

LOCAL

INFORMAÇÕES

40º Simpósio Internacional Moacyr Álvaro – Simasp

16 a 18

Maksoud Plaza Hotel São Paulo/SP

info@fernandapresteseventos.com.br

Retina World Congress

23 a 26

Fort Lauderdale – Florida/EUA

www.retinaworldcongress.org

XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Uveítes

9 a 11

Belo Horizonte/MG

sbuveite@gmail.com www.uveitesbrasil.com.br

XXIII Congresso Norte-Nordeste de Oftalmologia

16 a 18

João Pessoa/PB

www.cnno2017.com.br

VIII Congresso Brasileiro de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria

24 e 25

Centro de Convenções Ouro Minas Palace Hotel - Belo Horizonte/MG

clovis@consulteventos.com.br

42º Congresso da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo

06 a 08

Windsor Barra Hotel Rio de Janeiro/RJ

www.sbrv.org.br

OUTUBRO

DATA

NOV/DEZ

agenda 2016

agenda 2017

ABRIL

MARÇO

FEVEREIRO

EVENTO

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anunciantes desta edição

Abbott SAC 0800 55 8689 Página 9

H Olhos Tel. (11) 3050 3333 Página 81

Oda Brasil Tel. (11) 2533 2533 Página 65

Alcon SAC 0800 707 7993 Fax (11) 3732 4004 Página 49 Johnson & Johnson Tel. 0800 728 8281 Cinta e páginas 42, 43 AMP Tel. 0800 13 6006 Página 19

Bausch & Lomb Tel. 0800 702 6464 2ª capa folder, 3ª capa, 4ª capa e páginas 3, 26, 27

Congresso CBO www.cbo2016.com.br Página 71

Cooper Vision Tel. (11) 3527 4100 Fax (11) 3527 4113 Página 17

Fhocus Tel. (11) 5505 8680 Página 39

Med Tec Tel. (21) 2224 9561 Página 63

Ophthalmos Tel./Fax (11) 3488 3788 Página 47

Latinofarma Tel. (11) 4612 0338 Página 21

Optolentes Tel. (51) 3358 1700 Fax (51) 3358 1701 Página 31

Legrand Tel. (19) 3795-9001 Página 51

Rocol/HV Tel. (11) 3549 2855 Fax (11) 3287 9295 Página 73

Look Vision Tel. (11) 5565 4233 Página 23

Medplus Tel. (46) 3309-2380 Página 15

Zeiss Tel. 0800 770 5556 Página 11

Zeiss Tel. 0800 704 7012 Página 33

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