Exu na Umbanda

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Se pensarmos na Umbanda e todo sincretismo com o Cristianismo e seus valores, vamos perceber que as mulheres só podem ter dois papéis sociais : virgens/ santas/ mães assexuadas e mulheres “sem vergonha”. Um pulinho para que se conceba a Pombogira como “depravada” ou “prostituta”. Vê-las desta forma, conduz alguns umbandistas a entender esses espíritos como involuídas e passíveis de doutrinação. Há na questão do entendimento da PomboGira dois valores: a imagem que se tem das mulheres e seus desejos e a idéia de que a roupagem define a evolução dos espíritos. Valores que são de influências católicas e espíritas presentes na Umbanda. Associar a sedução e o amor é para mim da Pombogira. Prazer, sedução e amor devem andar juntos e elas para mim nos ensinam sobre isso. Creio que alguns espíritos que trabalham nessa Linha, podem até em uma de suas inúmeras vidas, terem usado a sedução para com isso angariar favores materiais, vida fácil mesmo... E sua missão pode ser nos ensinar que esse não é o caminho. Assim resgatam suas questões e nos ajudam a resgatar as nossas. Mas, entendo as Pombogiras mais como espíritos de “mulheres livres”. Mulheres livres de todas as culturas, independentes, que não se subordinavam a sociedade da época. Livres para fazerem de suas vidas o que queriam e não o que a cultura queria impor a elas. Creio que as Pombogiras trazem isso em sua missão, nos ajudar a compreender mais a “mulher”. Algumas Pombogiras nos trazem outras histórias. Histórias de terem sido vistas também como feiticeiras, ou de terem usado a magia para o mal. Espíritos que estão na Umbanda para nos ensinar também sobre o uso positivo da magia. E disso pouco se fala... Pesquisando sobre a história de nosso país, fui levada a ler sobre a inquisição. No período onde isso aconteceu, profissões e saberes femininos da época, como: parteiras, lavadeiras de mortos, benzedeiras, curandeiras e advinhas; começaram a ser visto como feitiçaria. De outro lado, o Brasil foi pena comum imposta às feiticeiras portuguesas. Isso encheu a colônia de benzedeiras e milagreiras. Transcrevo abaixo (grifos meus) parte de um processo da Inquisição24, de Antonia Maria acusada de feitiçaria em Pernambuco, em 1700. Mulher que havia sido punida com o degredo ao Brasil acusada em processos de bruxaria em Portugal:

Selo da Santa Inquisição

“... No momento da realização do fervedouro chegou o marido de uma delas, Antonio da Silva, que nada sabia. Novamente esse sortilégio não surtiu efeito e ela ensinou ao casal que eles deveriam ir a uma encruzilhada as onze para a meia noite para que o perdão fosse alcançado. O ritual consistia no seguinte: colocar uma mesa forrada c o m u m p a n o v e l h o e n e l a c i n c o b o l i n h o s , c i n c o a z e i t o n a s , c i n c o p e d a c i n h o s d e queijo, cinco figos e cinco pedrinhas tiradas do local. Cada ingrediente desse em um c a n t o d a me sa. E que se re za sse a segu in te o ra ção se m que n ingué m v i s s e o u ouvisse: O p rimeiro bolinh o, que ijo, a ze iton a e fig o se ja m para B a r r a b á s , o segundo bolinho com o mesmo para Califas, o terceiro bolinho com o mesmo para Satanás, o quarto bolinho com o mesmo

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- Um caso de “feitiçaria” em Pernambuco, de Tatiane Trigueiro de Lima, pág 87 da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco, Recife 2001.

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