Entrevista Yuri Domeniconi

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Treinamento de animais:

solução para o manejo?

Camelo e Yuri Domeniconi Foto: Divulgação

dom do Dr. Dolitter, muitas vezes é preciso recorrer a profissionais capacitados que entendem e se especializam em comportamento animal para que possamos compreendê-los um pouco mais. É mais ou menos nisto que consiste o treinamento de animais exóticos e silvestres que, diferentemente de cães e gatos, ainda são um enigma para muitos lojistas, veterinários e outros profissionais do ramo pet.

“Não gosto de animais que são privados de espaço e de suas necessidades biológicas, mas o treino de animais é muito mais do que um show”

Por Samia Malas

Treinador de silvestres e exóticos

Comunicar-se com os animais nunca foi tarefa fácil para o ser humano. Mesmo que sejamos amantes da natureza ou veterinários com pós-doutorado e especializações em Harvard, entender os anseios e as necessidades dos animais continua um desafio. O assunto já foi até para as telinhas do cinema quando o ator Eddy Murphy interpretou o personagem Dr. Dolitter que entendia e era compreendido por animais de todas as espécies. Bom seria se pudéssemos nos comunicar com os animais através da fala! No entanto, como não possuímos o

Nascido em Cruzeiro do Sul, interior de São Paulo, Yuri Domeniconi hoje vive na cidade maravilhosa. No entanto, como aprendeu a trabalhar com animais em diversas partes do globo, pode ser considerado ‘um cidadão do mundo’. Aos 29 anos já treinou desde gatos e cachorros, até golfinhos, camelos, cangurus, crocodilos, lhamas, grandes serpentes, aves e até um lobo marinho cego, o Tobias do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA), em Salvador-BA, considerado por ele o animal mais fácil de se treinar até os dias de hoje. “Ele era extremamente tranquilo, gostava


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de ficar comigo, estava sempre disposto a aprender novidades. Talvez pela deficiência visual, durante o treino estabelecíamos um contato importante para ele, era quando ele podia explorar mais o recinto; imagino eu que se sentia seguro por estar sendo guiado”, comenta ele. Decidido a tornar-se biólogo e treinador de animais aos 7 anos de idade, fascinado por uma apresentação de orcas e golfinhos treinados no Playcenter, em São Paulo-SP, Yuri realizou seu sonho. Atualmente, trabalha mais com apresentações particulares didáticas, principalmente para crianças, que em treinamento de animais em zoológicos, pois, no Brasil, a filosofia destas instituições ainda é diferente de outros países, como em Portugal, onde o biólogo já trabalhou.

Prática

Segundo Yuri, como cada espécie tem suas particularidades e linguagem diferente, o segredo está em identificar as nuances da comunicação dentro da espécie. “O trabalho de um bom treinador é sempre incentivar o animal a QUERER fazer o exercício que é proposto. Como o de um bom professor que se esmera em fazer as crianças se interessar sempre à aula”, completa. O método utilizado por ele é o do reforço positivo. Assim, ao invés de um cafuné

ou petisco, a recompensa pode ser verbal ou com um brinquedo. No caso de aves, por exemplo, brinquedos vendidos por lojistas são ótimos para distraí-las. Para isto, recomenda objetos que as permite reproduzirem comportamentos que teriam na natureza, manipular com as patas, roer ou bicar. Frutas são igualmente bemvindas! Por vezes associado aos shows e apresentações circenses, o treinamento de animais pode ser muito mal visto por ambientalistas, porém Yuri explica o outro lado da moeda: “Não gosto de animais que são privados de espaço e de suas necessidades biológicas, mas o treino de animais é muito mais do que um show! Treinamos comportamentos que facilitam no manejo veterinário, como, por exemplo, coletar sangue voluntariamente, sem ter que agarrar os animais (...). Além disso, com os animais treinados em zoológicos, podemos sensibilizar as crianças de forma mais fácil, através do contato que elas terão com os animais. Outra aplicação do treino é o Enriquecimento Ambiental, em poucas palavras, o treino ajuda a quebrar a monotonia do dia a dia dentro de uma gaiola.” Por fim, não podemos fugir do objetivo básico de qualquer treinamento de animais: buscar pela harmonia e a boa convivên-

cia entre as espécies. O estilo de vida deste biólogo, que habita em uma chácara totalmente voltada para seus animais, demonstra bem isto. “As araras dormem comigo pela manhã. Antes de levantarmos, elas sabem usar o ‘banheiro’ para não sujarem a cama, dividem o quarto com um gato e o meu cachorro. É isso que eu falo sobre paz. Convivência entre animais que jamais se relacionariam na natureza, todos em harmonia”, conta. Saiba mais: www.beanimal.com.br

O lobo marinho Tobias e Yuri Domeniconi Foto: Instituto Mamíferos Aquáticos salvador

Yuri Domeniconi e Fred, sua arara-de-barrigaamarela ou arara-canindé Foto: Divulgação

Coleta de sangue voluntária de camelo Foto: Divulgação


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