Transvista de Primavera - Ciclo I

Page 1

este arranjo poético tem caráter AFETIVO-colaborativo.

Ilustração de capa: Tereza Meirelles

Amoràterra

TRANSVISTA! revista sazonal de poesia


TR

S N A

S I V

! A T

O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo. Manoel de Barros


Coletivo

Amoràterra,

colaboradores compartilham suas poesias mais verdadeiras, pois inventadas, a cada estação do ano, buscando um encontro entre temporalidades e afetos não passíveis de cronometragem, um arranjo singelo de cores (cromos), carinhos e temporais!. Segue acon-tecendo feito ninho, inspirado pelos céus abertos de Manoel de Barros, agora estrela ou pássaro de luz/ anhuma/ aranquã - sua voz tem um som vegetal.

Bem-vindos à edição de PRIMAVERA: dedicada a partidas e paridas que merecem nossas infinitas homenagens.


Ă­ndice 0. Sobre o Atraso - p. 06, 07 1. Germinar - p. 10 a 15 2. Florescer - p. 16 a 27 3. Expandir - p. 28 a 39 4. Despencar - p. 40 a 47 5. Simbiose - p. 48 a 56

Lucas Lopes

6. Despetalar - p. 57 a 68


Colaboradores desta edição: Ana Brandão Ana Roman Analuz Andrea Lopes Anita Vaz Bárbara Cruz Bárbara Moraes Bruno Fagundes Cá Raiza Camila de Sá Carina Carvalho Carlos Bressan Carlos Henrique Cecília de Santarém Deborah Erê Fhaêsa Nielsen Gabriela Moreno Isbela Faria Trigo Janaína Moitinho Jô Gomes Juliana Bazanelli Juliana Bernardo Laura Wrona Laurinua Livia Akemi Kishimoto Lucas Lopes Lucas Vieira Maércio Leandro Fadini

Marcelo Borges Marcus Quaresma Mariana Menezes Marina Mariná Miriam Selma Natália Gregorini Pamela Gopi Paulo de Medeiros Rafa Carvalho Renata Brandolizi Ricardo Henrique Rosane Castilhos Syara de Noronha Tamira Flor Tamiris Maróstica Tatiana Henriques Tereza Meirelles Thamata Barbosa Thiago Cohen Thyago Bezerra Vanessa Rosires Vitor Hugo Ramos Yasmin Rocha

p

o

n

t

e


SOBRE O ATRASO

Thi: O atraso é quando dilatamos o agora. Victor: Quando passou a hora combinada ou aparentemente mais oportuna. Anita: Acho que o atraso pode ser filho de um tempo presente na distração. Um compromisso com o instante do tempo. Mas também pode ser uma bússola pra vc ir pensando no tempo de dentro e tempo de fora... como você tem passado no tempo? Rê: Eu sinto como se tivesse perdido a capacidade da pontualidade que eu tinha antes. Em SP não consigo ser mais pontual. Mas boto a culpa no caos da cidade. Tham: Atraso é tempo de um na falta de dois. E tem um velho dito que diz que dois é amor. Então atraso não é amor.


Ou é, amor de um por um só. Amor que não encontra o outro, a tempo... Mas tem tantos outros tempos... Ana Bia: Atraso tem a ver com depois do tempo que se espera acontecer a coisa. Lau: A espera superestimada ou subestimada... rs. Não sei! Detesto quando atrasam mas estou sempre atrasada! Yayá: Atraso é se comprometer consigo mesma e com os outros e amarelar, esquecer... Pam: É mente em um ritmo e coração em outro. Mari: O atraso oferece ao outro a condição da espera. Há modos de lidar com a espera. Mas acho que

a perspectiva da presença podia ser mais celebrada. Lucas: O atraso é um egoísmo. Tama: O atraso às vezes é uma consequencia do mau uso do tempo. Carlitos: Atraso é quando você deixa tudo pra última hora. Precisa de muita energia pra combater. Ana: Duas coisas: 1 chegar depois do combinado. Odeio. Chegar e que cheguem. Falta de consideração. 2 - mania do tempo dançar as coisas. Aí brilha quando entende. Tudo encaixa no demorar. Sincronicidades a verificar.



o meni no viu pousad uma es a nas t pĂŠtala rela e foi s da n co oi A turm ntar para a turm te a falo a. u que zoroav o meni a.* no

* Manoel de Barros: 2001


GERMINAR

“Toda manhã ele ia regar aquele

início

de planta.”*

* Manoel de Barros, Concerto aberto para solos de ave: 1991


Natรกlia Gregorini


enquanto é primavera não sei se acredito nas coisas tão grandes de que é feito o grão de areia mesmo se o silêncio for matéria tão fina a escorrer por dedos desejosos de outros tantos pinçar entre dedos o cílio do acaso pra pedir sorte à maré do meu coração há cerca de quatorze cores que recaem sob o corpo de mulheres desavisadas há um dia que não se acaba apenas porque molhou-se o relógio há névoa tudo o mais as chateações os relances escrever poemas esquecê-los nos sonhos a distância da casa; um sol que nos castiga e o resto sempre névoa, é névoa e leva (Carina Carvalho)


sem querer... quem arrancou a flor pĂŠtala por pĂŠtala duvidava.. bem ou mal, todavia, a primavera se refez sem hesitar. (Camila de SĂĄ)

Thiago Cohen

13


In tempore Para ruir o chão Poesia Matéria de flor no estio Bruta e rubra Da nascença Ser presença Esperança rompendo à casca as sementes Que o vento esvazia e povoa outra estação. (Marcelo Borges)


O entardecer Prepara-nos para Um mundo de sonhos Onde as ilusões mundanas Dissipam-se No etéreo do verdadeiro existir Vagamos na caridade e no verdadeiro amor... Os encontros surreais Dão-nos força para seguir Em busca de reencontrar a própria essência... (Syara de Noronha)

Cativar, plantar e colher. Germinar, matar ou morrer. A semente vira planta, a planta vira colheita. A vida só se cansa quando da morte se aproveita. Semearam lembranças de sentimentos em vida, luzes. Sementes estas, que germinaram cruzes. (Lucas Vieira)

15


FLORESCER


apmatse hoje vestirei minha camisa mais florida . do avesso ĂŠ primavera dentro de mim (Rafa Carvalho) Tereza Meirelles

17



Florescer é ofício para todos os dias com raízes profundas ou sem elas se não as tem é florescer novo é nascer de novo e renascer é acordar para o amor já tecido em e folha e flor hidratado pela chuva que umedece a terra traz viço novo leva embora o ranço e acalenta o viver da nova muda que se faz nascer. (Rosane Castilhos)

19


Paulo de Medeiros


Tem dia brincadeira desses feitos de fazeres e acertações. Meio assim sem nada meio assim com tudo, e no laço em salto brilhos e bumbos. Gosto de dias brincadeira Leves e descalços Solares e ventantes, Úmidos, tão úmidos. Como se viver fosse um livrar-se das botas e deixar a terra molhar os pés, desse jeito mesmo; e de correr e ouvir o som das folhas-gravetos se estourarem enquanto machucam uma fina camada que nem sei. Ah, os dias brincadeira! Quando olho nos olhos e nem me vejo. Ruídos se tornam brilho; e poeiras têm aroma de algodão. Quando cai a noite e os pés doídos, a alma inquieta e sorridente e o coração numa batida simples - aquele compasso velho suave de entusiasmar. (Carlos Bressan)

21


Sou morada de mim e meu Orí nasce assim: TODO FEITO OUTRO feito de barro modela historias que nutre sentidos: é raiz de pé

feito de fogo labareda que aquece o sonho do meu povo: é espírito vivaz feito de vento que carrega ares de tantos outros: e respiro o que me cabe Moram em mim tudo e todos (Gabriela Moreno)

Bárbara Moraes

feito de água transborda sentimentos faz de mim o outro: é colônia de gotas bravas


Alice Haibara

Eu me vi numa grande ĂĄrvore Eu me vi numa grande ĂĄrvore Diante dela finquei pĂŠ na terra Recordei minha amplitude E abandonei toda guerra

23


Nessa árvore reside uma anciã Velha sábia, grande Mãe eterna Sabedoria do horizonte A verdade ela revela Nos seus galhos a direção No céu ela se eleva Todo dia, toda noite Ao alto ela se entrega Nas suas raízes se esconde A conexão secreta Aprofunde, siga em frente Encontre a mulher oculta Nessa sábia eu me revelo Para eu poder ser com clareza Eternamente, eternamente Irradiar toda beleza Das raízes à copa Dos pés à cabeça Nem igual nem diferente Vou fazer a diferença Sou a luz, sou a sábia Sou o segredo da natureza Sou a verdade da árvore Sou filha da grande Deusa. (Ricardo Henrique)


Aline Binns

25


O despertar da Rainha Em um desses vôos noturnos, num dia de cheia no céu vi quando a lua tornou prata o sangue que corre nas veias da terra. Brilhava a cada curva revelando o curso. Corria vivo, margeado pelo destino para levar a mensagem da vida. Tocaram os tambores e as estrelas responderam no céu, como um eco das flores e ervas na mata Perfumes exalavam pelos poros das plantas, uma inspiração profunda preencheu o pulmão do tocador, tocou em transe às notas trazidas pelo cheiro do vento. Da cama de folhas na terra, de seu sonho, tocada pelas aguas prateadas, e ungida pelo sangue da terra, despertou nua e em toda sua natureza de mulher, a Rainha. (Bárbara Cruz)


Alice Haibara

27


EXPANDIR a l a s s o n a d e a o t d e a s h l te com o a i u r o ur .”* sta f . e . e u u r é e o “ o c árv d a l u o az o n quand r ndea o r f e foi

* Manoel de Barros, Concerto aberto para solos de ave: 1991


Colorido Ela ventava trazendo novidades Abram as janelas Joguem fora os restos Varram as sujeiras Ela irá dilacerar... Florindo de uma só vez seus caminhos Limpando a visão distorcida de algum engano colecionado. Trazendo beleza, Transbordando amor. O que irão dizer dessas folhas cambalhoteiras? Desses frutos atrevidos? Dessas flores dionisíacas? Miragem? Miragem? Não, é a primavera! (Andrea Lopes)

29


Tereza Meirelles


Floressência Já é mais que preciso e perfeito viver o novo amanhecer, pra não ter que anoitecer de outras glórias passadas, saciar a sede nas flores do campo, regar os ensaios, escrever novas poesias, recitar versos ainda não declamados, gozar, dançar, cantar, sorrir, chorar, sem culpar o Diabo embaixo da mesa, sem se culpar por não atender Deus à porta de entrada... parar de aceitar que não se sente a libido em chamas, o coração em chamas, a alma mesmo em lama chamando; não depender do dia, das horas, das intempéries climáticas, do pé esquerdo fora do leito, dos sonhos arrependidos, da realidade que se deita e me beija, todos os dias e noites em minha cama... Surpreende-me esta primavera! (Maércio Leandro Fadini)

31


Queer Nossos corpos Reais, Preenchidos por histórias Demais. É o excesso que nos derrama Pelos poros, São as diferenças que nos unem. O grito, por anos, preso na garganta Hoje ecoa Por entre punhos cerrados: Em frente! (enfrente!) (Fhaêsa Níelsen)

Tereza Meirelles


33


cidade A cidade corre rente corrente rente aos abismos dos carros, empilhados, sobre o tempo. ...esperando um ônibus que não vinha, escrevi na minha mão algo bonito: - mas a cidade tem cor? : pois sim, é trama de ente-flor que atravessa o pulmão, e brota no asfalto. (Anita Vaz)


Camila de Sรก

35



Frutas pretas No quintal da minha casa tem três jabuticabeiras Com jabuticabas doces de dar no pé Centenas de frutas pretas oferecendo-se faceiras Aquela do lado de lá Dá as maiores bolinhas e também as mais bonitas Mas seu sabor é ocre e não agrada a qualquer um... Enchem os olhos e a boca de inusitadas sensações Ensinam a chegar devagar... E não ir com tanta sede ao pomar A jabuticabeira do meio Tem copa grande e cheira muito Tem suas filhas todas bem perto Uma da outra Uma a uma Saboreio suas delícias enquanto passeio por ali É a preferida de todas as visitas Mas a do lado de cá Aquela que brotou mais pertinho do coração Ah! Essa sim!

37


Essa me leva a correr pelos quintais da minha infância De mãos dadas com meu filho como se entre nós não houvesse nenhuma distância Seus frutos são pequenos e muito muito doces E cobrem seu corpo de um negro tão profundo quanto a lembrança ... só que com luz Seu brilho reflexo solar Sorri pra mim quando me aproximo Uma aura verde e sempre fresca Me abraça Acolhe E convida a estar Gosto de beijá-la sempre por último Adio esse encontro e depois vou até lá Como se estivesse mais uma vez percorrendo o caminho que leva de volta ao velho jardim passando pela casa da vó, da mãe e das tias Para finalmente chegar em mim (Analuz)


39


DESPENCAR


Deitei na grama, olhei pro cÊu imenso. Imerso. A força da gravidade Ê na verdade o peso do universo. (Bruno Fagundes) Lucas Lopes

41


destino não! em absoluto o abismo avisa onde está a ele cabe existir a nós d e s p e n c

a

r

(Janaína Moitinho)


3 tempos e o [...] 1. Dei o passo no abismo e corri. Invulnerável, violentei cobras. Mas no escuro, a aranha me envolveu em suas pernas e eu me desfiz com seus toques frágeis. Era quente como a morte. 2. Peguei a fruta do asfalto. Segurei tanto que virou caldo. Seu cheiro era putrefato e lambi. Fiquei murcha, como o amor. 3. Na pequena casa, goteiras furavam meus olhos. Havia ali um cadáver com o sorriso fraturado. Beijei-o tanto que me afoguei e fiquei cinza, como musgos sem cor. [...] Peço que coloque suas mãos em meus seios. Meu leite é vermelho e eu quero ser sua mãe. Eu quero desenhar asas nas suas costas. Mas não me deixe cortá-las, não, não me deixe cortá -las. (Mariana Menezes)

43


Adicionando leveza n. 7: (Marcus Quaresma, 2013)


45


experimento Anhuma: (Camila de Sรก e Thiago Cohen)


47


SIMBIOSE


“caracol é uma solidão que anda na parede.” (Manoel de Barros, 1991) Cecília de Santarém

Ela não sabe das cores no meu sonho que ela pintou. (Ana Brandão)

49


Solidão A casa vazia, a cidade deserta o barulho ausente Sozinha sob o céu azul marinho Mergulho nua no mar de mim O desassossego serena A paixão desinflama Nada mais precisa transbordar porque já não existem bordas Toda a imensidão e eu a nos enamorar Sou só presença! E estar a sós vira plural Já não aceita diminutivo (Lívia Akemi Kishimoto) Lucas Lopes


Peixes danรงam num verdeazul intenso. Um velho em seu barquinho pesca flores. priMARvera! (Renata Brandolizi)

Juliana Bazanelli

51


Eu que sou feito de tantos defeitos tenho de mais bonito em mim meu jeitinho triste de saudade Mas a saudade, em sua ira, tem limite: morte ou poesia Como sou da turma dos desesperados daqueles que não tem talento nenhum para calma ou razão Me vejo de novo com a roleta russa na cabeça, o coração na mão, e o amor perdido em mensagens de celular. (Thyago Bezerra)


amor é tipo derrubar vinho no lençol recém -lavado e achar tão bonito aquele tie-dye. é tipo ficar com bala grudada no dente e adorar sentir gosto de framboesa o dia todo. amor é tipo dançar um balé errado em cima da cama, tropeçar, cair, se estrupiar no chão e abrir um sorriso de orelha a orelha por ter achado o brinco perdido há duas semanas. é tipo se perder no caminho pra um lugar bonito e parar num lugar mais bonito ainda. sei lá. acho que é tipo tudo isso e um pouco menos. (Marina Mariná)

53


Camila de SĂĄ amor ĂŠ terra matilha colorida panapanĂĄ de pernas sorvetes recados adivinhados arabescos verdes chuvas monumentais chuvas deliciosas de tomar sem compromisso os olhos limpos os livros ensopados os olhos ensopados os livros limpos amor ĂŠ terra amor sĂł brota na sociedade dos molhados (Juliana Bernardo)


Linda primavera Primavera!!! O que dizer dela?? Tempo de muitas cores!!! Por todo lado que eu olho! vejo pessoas sorrindo!! Com semblantes relaxados!! Crianças correndo pra lá e pra cá!!! Ouço!! Penso!! Escuto!! E reflito!!! O que será que vejo???? Será que é o saci??? Será a cuca???? Será o curupira??? Será a linda Yara com seus lindos cabelos cor de ouro ondulados!! Olha?!!! E o Saci todo saltitante!! Brincando com os animais!!! Crianças alegres correndo atrás do Saci!! Tentando puxar seu gorro vermelho!!! O Saci é um ser de boa aparência!!! um ser especial!! O grande protetor da mata e dos seres que a habitam!!! (Tatiana Henriques)

55


~ nas águas de Janaína sou um barco a navegar ora à deriva, olhando o mar sou barco levo um pouco deles deixo um pouco de mim sinto-me a fazer a travessia bailando a vida minha missão a de construir pontes de amores sem muitas dores (Yasmin Rocha)

Thiago Cohen


DESPETALAR “Os pássaros iam carregando os trapos esgarçados do corpo do meu avô. Ele morreu nu.” * * Manoel de Barros, Concerto aberto para solos de ave: 1991

57


Foto: Thiago Cohen


Muitas curvas, nuas, cruas Minhas e suas. Intersecçþes. Escolhas sinuosas: Que o tempo apare suas arestas. (Alba Brito)

59


Versos Brancos Se não queres versos brancos Teço a teia multicolor Rimas aquareladas de valor Na busca pelo teu flanco Que te encantes com meu canto Sem duvidas do ser singelo O sentimento puro é belo Na essência que busca tanto Posso pintar o sete Atravessar um caleidoscópio E verá o que minh’alma reflete: É a soma do colorido Que ao girar veloz Forma versos simples, versos brancos! (Alana Vitória Lacerda Cerqueira)


quero ver as cores do universo através dos seus olhos sentir o cheiro verdadeiro da sua pele, dos seus cabelos e observar sua face nua: a perfeição no conjunto de linhas aparentemente tortas deixe-me ver desenhos nas suas manchas de nascença deixe-me viajar na constelação de suas sardas e pintas conte-me com alegria histórias de cada ruga e de cada cicatriz quero te ver à vontade no seu corpo como ele é ver teu espírito dançar no mundo encantado da matéria conte-me como é ocupar um corpo físico diferente do meu. (Tamira Flor)

61


AGORA das urgências daqui de dentro: te quero aqui e afora... (Laurinua)

Deborah Erê


haikai sempre que decido te tirar da minha vida vocĂŞ estende as mĂŁos vazias de flores, e eu vejo as cores.

Camila de SĂĄ

(Ana Roman)

63


Isbela Faria Trigo


muda a vida a forma muda a cabelo crespo muda o tempo muda passa vira mexe mas o primórdio do tempo o atraso essa lapa de vida não muda são séculos de gente comendo bicho comendo gente rezando tua própria falta de consciência em igrejas e na base da fé Fé ferro no lombo de quem quer ver esse tempo mudar (Cá Raíza)

65


Paulo de Medeiros


Ei nega, não caia nesta onda de desondular suas ondas. De embranquecer suas madeixas, encaracoladas ou crespas. Ei nega, deixe entrelaçar seus fios de cabelo nas linhas trançadas que nos tempos de outrora, sua avó menina, ouvindo histórias debaixo do pé de baobá, se fez rainha. Ou então nega, solte-se nos lenços tingidos de cores e formas e deixe que os laços e amarras em turbantes esculpidos, que navegaram por entre mares carregados de mistérios, lendas das terras dos marfins, coroe sua cabeça. E não negue, Nega, sua negritude, sua pele preta, seus traços negros, sua beleza negra! (Miriam Selma)

67


Se houvesse havia haveria há de vir Um verbo de ligação com um novo significado Ocultaria-me a definir Uma oração de um sujeito indeterminado. (A. Riul) A decisão Sei que irá embora. Terei o prazer de sair, E deixar o mistério de não querer voltar? A porta de casa me da lição de partir! Colocarei objetos e sonhos na mesa. Cortinas de rendas, camas e sofás estendidos, Retratos e lembranças Nos seus devidos lugares. Partirei. Com o pensamento no sentido de ficar. (Vanessa Rosires)

Era lágrima a regar a flor, Era a flor a transformar a dor. (Jô Gomes)


69


gratidão... a todos os queridos leitores e colaboradores sonhadores transvisteiros gente que olha daquele jeito singelo o céu e o chão: abridores de horizontes talvez discípulos do já eterno Manoel de Barros. gratidão pela soma e pela generosidade da alma de quem compartilhou suas palavras, traços, cores, seus tempos férteis seus frutos fartos nesta colheita primaveril de arranjo caleidoscópico. o encontro é de nutrir e florescer, abrindo pontes dentro e fora, entre gentes e linguagens. Talvez rumo ao quintal de nossas proprias casas, onde iremos juntos contemplar, no tronco de um jacarandá ou numa amoreira, a beleza de todos os ciclos e vocações.


FOTO: Juliana Bazanelli

e bem-vindo Uri!

prテウxima estaテァテ」o: VERテグ. 71


Saiba mais do Amoràterra e participe da

TRANSVISTA! email: colheita.transvista@gmail.com site: http://amoraterra.wix.com/amoraterra organizadores: Camila de Sá, Lucas Lopes e Thiago Cohen diagramação e edição: Camila de Sá e Thiago Cohen


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.