Revista Teletime - 154 - Maio 2012

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Ano 15

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mai2012

www.teletime.com.br

antenas vs. cidades Operadoras e municípios se enfrentam na implantação de infraestrutura nas áreas urbanas

convergência Vídeo online e sob demanda ganha força e já incomoda players tradicionais de TV

INTERNET Provedores de SCM investem em redes óticas próprias para concorrer com as incumbents



Presidente Rubens Glasberg Diretores Editoriais André Mermelstein Claudiney Santos Samuel Possebon (Brasília) Diretor Comercial Manoel Fernandez Diretor Financeiro Otavio Jardanovski

Editor Samuel Possebon Editora Adjunta e Editora de Projetos Especiais Letícia Cordeiro Editor de Mobilidade Fernando Paiva Redação Daniel Machado, Wilian Miron, Fernando Lauterjung, Helton Posseti (Brasília) Leandro Sanfelice (Vídeo repórter) Consultor Especial Cláudio Dascal Arte Edmur Cason (Direção de Arte); Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica); Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora) Departamento Comercial Bruna Zuolo (Ger. de Negócios) Ivaneti Longo (Assistente) Inscrições e Assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente) Circulação Patricia Brandão (Gerente) Marketing Harumi Ishihara (Diretora) Gisella Gimenez (Gerente) Administração Vilma Pereira (Gerente) TELETIME é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401, Conj. 603 CEP: 01243-001 - Telefone: (11) 3138-4600 e Fax: (11) 3257-5910 - São Paulo, SP. Sucursal SCN Quadra 02 Bloco D, sala 424 – Torre B - Centro Empresarial Liberty Mall - CEP: 70712-903 - Fone/ Fax: (61) 3327-3755 - Brasília, DF. Jornalista Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem autorização da Glasberg A.C.R. S/A

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Samuel Possebon

FOTO: arquivo

.:Editorial

samuca@con­ver­ge­com.com.br

Mobilidade: a síntese de uma nova lógica

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este mês de maio a Converge Comunicações, que edita a TELETIME, realiza a 11a edição do Tela Viva Móvel. Trata-se de um evento pioneiro no Brasil e que logo no começo da década passada passou a tratar de conteúdos e aplicações para telefonia móvel. Olhar para o que aconteceu nestas onze edições do evento é entender um pouco a dinâmica recente da indústria de telecomunicações. Em sua primeira edição (ainda em 2004, quando o evento acontecia duas vezes ao ano), duas questões se colocavam: se a tecnologia CDMA seria mais apropriada para o transporte de dados (a Vivo, na ocasião, lançava o seu serviço Vivo Play, baseado em redes EVDO) e o que poderia ser feito para desfazer a péssima imagem que o WAP deixava como forma de acesso à Internet por aparelhos móveis. O grande Serviço de Valor Adicionado na época era o ringtone, a Nokia era a empresa referência quando se falava em handsets e o mercado de SMS no Brasil ainda era praticamente inexistente. E, no fundo, quem dava as cartas da indústria eram as teles, decidindo conteúdos, terminais, preços e modelos de negócio. De lá para cá, uma revolução impressionante tomou conta da indústria de mobilidade. Primeiro com a expansão das redes GSM e com os serviços de dados trazidos pelas evoluções da tecnologia, como o EDGE. Depois chegaram os smartphones e a popularização de recursos como SMS, câmeras embutidas e e-mail. As maiores inovações em termos de serviços agregados apareciam em um estranho modelo de negócio de uma empresa canadense chamada BlackBerry, que vendia o aparelho e cobrava uma assinatura mensal do serviço (e só era conhecida de quem ia aos EUA), e em termos de hard­­ware os celulares da Palm eram aqueles mais inovadores, com telas touch e alguns aplicativos integrados. Eram os primeiros smartphones. Mas no começo de 2007 começou o fenômeno iPhone, que trouxe duas revoluções: de um lado, uma mudança impensável na interface do usuário e na forma como ele interagia com seu aparelho; de outro, um novo modelo de negócios baseado em lojas de aplicativos e conteúdos independentes da operadora (até então, tudo o que entrava no celular passava

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por ela) e em uma política de compartilhamento de receitas com o tráfego de dados (a Apple, para quem não se lembra, ganhava em cima dos planos de dados da AT&T). Esse segundo modelo não vingou por muito tempo, pois pressupunha exclusividade entre a operadora e o fabricante de handsets, e logo a Apple percebeu que, para ela, vender o iPhone para qualquer um era muito mais interessante do que ficar amarrada a clientes de uma única operadora por país. A revolução das lojas de conteúdos e aplicativos, contudo, perdurou. O lançamento do sistema operacional Android, do Google, um ano depois, levou a revolução do iPhone ao limite, já que o sistema operacional rompeu a barreira do hardware e passou a estar presente no portfólio de novos fabricantes, como Samsung, HTC, LG e outros, que de uma posição marginal no mercado tornaram-se líderes globais. Desse momento em diante, as operadoras saíram do jogo. Elas não decidiam mais os handsets que as pessoas queriam, não vendiam mais os serviços agregados, não associavam mais as suas marcas a aparelhos e ainda sofriam as críticas por não entregarem uma rede satisfatória razoável. E o que é mais curioso: o advento das redes 3G, que supostamente seriam a grande revolução das teles em termos de Internet móvel, se tornou uma mera obrigação para elas. Ou alguém lembra de ter saudado sua operadora como revolucionária quando lançou o serviço 3G? A partir daí, o mercado de desenvolvedores de aplicativos explodiu, os provedores de conteúdo ganharam espaço, a produtividade dos usuários aumentou, a telefonia móvel se tornou mais divertida. E com a onda dos tablets (uma onda que até hoje a Apple surfa quase absoluta) a mobilidade rompeu a barreira do celular, ganhando um novo dispositivo, até então ignorado. A mobilidade caminha para uma nova onda de inovações, com os serviços de quarta geração na infraestrutura de acesso e aplicações (e até mesmo sistemas operacionais) que funcionam inteiramente em nuvem. É certo que nesse cenário as teles serão mais demandadas, pois elas é que entregam a infraestrutura. E a aposta de todas elas para voltar ao jogo das aplicações e conteúdos são as transações bancárias e o gerenciamento dos dados que ficam armazenados na nuvem. Parece pouco para quem já deu todas as cartas.


154 Número

w w w . t e l e t i m e . c o m . b r

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Ano 15 | Mai12

Capa

6 Imbróglio jurídico

Leis municipais divergentes atrapalham a instalação de antenas das operadoras móveis no País. Cumprimento das metas de cobertura do 4G já é colocado em dúvida.

Terminais

10 Os gargalos do 4G

Fragmentação das faixas de espectro gera escassez de terminais e pode retardar a adoção de serviços sobre as redes LTE no mundo.

Estratégia

12 Aposta alta

BlackBerry 10 é anunciado como o novo sistema que ajudará a RIM a permanecer no jogo dos smartphones high-end e a competir no 4G nos EUA.

Entrevista

13 Plano de ação

Vice-presidente e diretor geral da RIM para o Brasil, Peter Gould fala sobre a importância do País na estratégia global da empresa e sobre como tornar o BlackBerry um ‘sistema de longo prazo’.

Convergência

18 Virando a chave

Segmento de televisão lança modelos de conteúdo sob demanda e via streaming. Players norte-americanos se mexem e mudanças começam no Brasil.

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Política

22 Revisão de modelo

Governo sinaliza com a disposição de promover mudanças no marco regulatório das telecomunicações no País. Ideia, segundo o ministro das Comunicações, é “rever o modelo”.

Regulamentação

24 Mudanças à vista PGMC deve ser aprovado pela Anatel até junho e atacar um dos principais problemas do setor, que é a falta de concorrência e regulação no mercado.

Fornecedores

28 Definindo os papeis

Fabricantes nacionais apoiam iniciativas protecionistas, mas apostam menos no desenvolvimento de tecnologias e mais na tropicalização e especialização.

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Internet

30 Mania de grandeza

Estimulados por novas demandas de mercado e mudanças regulatórias, pequenos e médios provedores SCM começam a construir suas redes óticas para oferecer serviços triple play aos clientes.

Internacional

32 A disputa continua

Principal evento de broadcasters nos Estados Unidos evidencia a falsa cordialidade entre os radiodifusores e as operadoras no que diz respeito à liberação do espectro para a banda larga móvel.

Editorial 3 | Ponto de vista 34 | Ponto & Contraponto 38 ilustração de Capa: Santiago Cornejo/fstockfoto/shutterstock/editoria de arte converge

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Wilian Miron

miron@convergecom.com.br

Terra de ninguém

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o mesmo momento em que a telefonia móvel se expande no Brasil em ritmo acelerado, ultrapassando 250 milhões de linhas ativas, encontrar uma solução para a instalação de antenas e estações radiobase (ERBs) para atender a essa crescente demanda aparece como o novo desafio de operadoras e governo. O assunto preocupa menos pelo custo, que já é alto, e mais pela falta de entendimento que resolva o entrave burocrático sobre quem deve regular a colocação destes equipamentos. Hoje, os projetos de expansão das teles estão amarrados por legislações estaduais e municipais fragmentadas, e a solução parece distante. As empresas alardeiam que isso pode impedir o cumprimento das metas de cobertura previstas na quarta geração, o governo federal sinaliza com uma Lei Geral das Antenas e o Congresso já se mexe. Mas, segundo especialistas ouvidos por TELETIME, o impasse é grande e ocorre porque há um conflito de interesses sobre a questão, que também esbarra nas competências legislativas das esferas federal, estaduais e municipais. Estão neste pacote a discussão relevante sobre possíveis efeitos da radiação não-ionizante às pessoas e interferência em equipamentos de hospitais e escolas, por exemplo; e o próprio impacto das obras para construção da infraestrutura necessária para a instalação dos equipamentos sobre o meio ambiente e a qualidade de vida nas cidades. A confusão começa porque nos assuntos relativos à preservação do meio ambiente, a obrigação é comum e concorrente entre os três entes da Federação, conforme dispõem os artigos 23 e 24 da Constituição Federal. Soma-se a isto o direito exclusivo dos municípios de regular sobre o uso do solo e o urbanismo. Por se tratar, novamente, de assunto constitucional, pensar em uma lei única que regulamente esta atividade torna-se um desafio ainda

Santiago Cornejo/fstockfoto/shutterstock

Regras divergentes impostas pelos municípios têm dificultado a construção de infraestrutura de telecomunicações nas cidades brasileiras. Uma solução que contemple as necessidades urbanísticas e o interesse da indústria parece estar distante.

maior. A solução, segundo advogados procurados pela reportagem seria uma improvável emenda na Constituição e a federalização do tema. Em meio a essa complexidade, mais de 200 cidades já contam com leis específicas (e diferentes) para regular a colocação de equipamentos como ERBs e antenas para telefonia móvel, mesmo em imóveis particulares. Os casos considerados mais latentes são o Decreto nº 34.622/11, do Rio de Janeiro, e a Lei nº 13.756/04, da cidade de São Paulo. No município fluminense, a alegação da prefeitura é de garantir a preservação das características urbanísticas

“que fazem a cidade ser considerada uma das mais belas do mundo”, afirma o secretário municipal de conservação e serviços públicos do Rio, Carlos Roberto Osório. “As operadoras pensam que aqui é a ‘casa da mãe Joana’ e colocam equipamentos obsoletos indiscriminadamente, prejudicando o maior patrimônio do município, que é cidade turística”. Em São Paulo, o tema foi parar na Justiça há um mês e pode culminar com a retirada de 2.677 antenas, ou mais de dois terços dos equipamentos instalados na cidade. Segundo a Prefeitura, os aparelhos estariam irregulares por desrespeitar as restrições de local, como zonas residenciais, e causar prejuízo à estética da cidade. O município também identifica como problema o fato de a proliferação desenfreada dos equipamentos impedir que as empresas os instalem cumprindo a distância mínima entre antenas e hospitais. Esta extensão foi estipulada em 100 metros entre os dois pontos, para evitar a suposta interferência em aparelhos dos centros médicos. E aí começa a confusão, pois esse argumento foge à competência da municipalidade, uma vez que a decisão técnica sobre radiofrequência é prerrogativa da Anatel, órgão federal responsável por dizer qual a distância adequada para o sinal de uma ERB não interferir no bom funcionamento de outros equipamentos eletrônicos. Outra lei municipal polêmica está em vigor na cidade catarinense de São Bento do Sul desde 2004. O texto sancionado pelo prefeito à época diz que entre os requisitos necessários para a aprovação está a apresentação de “estudos técnicos que comprovem que a transmissão de radiação eletromagnética não é prejudicial à saúde da população”, a exemplo da determinação paulistana, fugindo da alçada do município. Para o diretor do SindiTelebrasil, Carlos Duprat, a solução para estes

Em São Paulo, o tema foi parar na Justiça há um mês e pode culminar com a retirada de 2.677 antenas. 6 Teletime mai_2012


“a iniciativa do grupo executivo da copa é interessante porque eles podem fazer pressão para cobrar uma solução de curto prazo. Afinal, a questão exige uma solução mais política do que jurídica.”

FOTO: divulgação

Moraes Souza, advogada espeassuntos poderia ser cializada em telecomunicações. menos traumática, Fonte do Ministério das caso houvesse um Comuni­ cações explica que o parâmetro que in­­ compromisso ainda será ratififluenciasse os municado com as prefeituras e os cípios ao criar uma governos estaduais, mas a nova legislação para negociação para a inclusão regular o assunto. Laine Moraes Souza, advogada desses prazos já foi articulada Isto, segundo ele, é a com algumas prefeituras. proposta de Lei Geral Existe ainda a possibilidade poder dos municípios de das Antenas, assunto que tem sido de, na assinatura final do zelar pela qualidade urbadebatido entre o Ministério das documento, algumas prefeituras pedinística das instalações. Comunicações e o sindicato das operarem prazo maior, mas a ideia do goverAtualmente, a iniciativa mais próxidoras. “Temos discutido os pontos mais no é fechar o prazo de 60 dias com ma de harmonizar o tema no Brasil é a relevantes para o setor com o Minicom, todas elas. Ainda estão sendo definidos Resolução nº 8 do Grupo Executivo da que já tem alguns conceitos e pretende os critérios para saber se determinada Copa do Mundo 2014 (Gecopa), que dá apresentar, em breve, um projeto do rede atenderá ou não ao evento, condiprazo até o final do ano para um acerto Executivo ao Congresso”. Além de ção para que o benefício seja concedido. entre estados e municípios para criar garantir regras mais claras para o uso mecanismos que deem condições para as do solo e para a questão urbanística, o Boa intenção operadoras cumprirem as metas de projeto visa também proteger as 54 mil Numa tentativa de sanar o problecobertura do 4G para a Copa do Mundo antenas distribuídas Brasil afora. ma, o senador Vital do Rego (PMDB-PB) 2014. O documento foi divulgado em O presidente da Telcomp, João apresentou no último dia 24 de abril um abril pelo Gecopa e pede que as licenças Moura, concorda com Duprat sobre a projeto de lei (PLS 117/2012) que, se para instalação dos equipamentos sejam urgência em se debater o assunto e aprovado, deixará exclusivamente a concedidas em até 60 dias. Embora a acrescenta que “é fundamental a criacargo da Anatel as determinações sobre iniciativa seja boa por cobrar soluções, ção de regras homogêneas sobre a a implantação de redes de telecomuniinicialmente ela tem pouco efeito prático questão”. Entretanto, o representante cações. Isto ocorreria através de uma no que diz respeito à intervenção nas leis das operadoras competitivas afirma que alteração no Parágrafo Único do Artigo municipais, uma vez que a regulamentao desafio de construção de infraestrutu145 da Lei Geral de Telecomunicações ção de determinados assuntos são consra deve ser debatido de maneira ampla, (LGT ou Lei 9472/97), que trata da titucionalmente da competência dos sob a proposta de criação de programas implementação e funcionamento de municípios. “É uma iniciativa interessanpara incentivar a melhoria das redes de redes de telecomunicações. No entanto, te porque eles podem fazer pressão para telecomunicações. E, segundo ele, entre a advogada Laine Moraes afirma que o cobrar uma solução de curto prazo. os pontos a serem abordados estaria a projeto é inconstitucional por conta de Afinal, a questão exige uma solução mais importância de se agilizar a outorga das uma confusão de conceitos que ele car política do que jurídica”, comenta Laine autorizações necessárias para a instalação dos aparelhos. “Falta perspectiva estratégica para o trato das telecomunicações no País. Será que ter um sinal de qualidade não é do interesse dos munísecretário de conservação e serviços públicos do Rio de Janeiro, Carlos Roberto cipes?”, questiona Moura ao argumenOsório, afirmou que a prefeitura local estuda a retirada de duas mil antenas em tar sobre a dificuldade encontrada pela situação irregular, caso as operadoras não apresentem uma solução para manter iniciativa privada ao construir infraesos equipamentos sem ferir as paisagens da capital fluminense. “Hoje todos os trutura de telecomunicações. equipamentos em operação na cidade estão instalados de maneira ilegal”, comenta, ao lembrar que o Decreto do Executivo municipal fixou prazo de seis meses para as empresas No último seminário ConvergeTec, regularizarem as antenas. “Eles fizeram pouco caso e só nos procuraram, por meio do realizado por TELETIME em abril, o SindiTelebrasil, quando o prazo estava no final”, argumenta. Para Osório, o grande diretor de planejamento e redes da Oi, problema está na proliferação das estruturas consideradas por ele “um monte de Luis Alveirinho, que até assumir esse equipamentos obsoletos”, diferentes daqueles usados na Europa, por exemplo. “A maior cargo era o principal responsável pelas parte das operadoras é de fora e em outros países não se vê uma degradação estética”. Ele ressaltou que não é intenção do prefeito justificar a decisão especulando sobre temas redes da Portugal Telecom, em Portugal, que estariam fora da competência do poder local. “Não queremos falar sobre radiação ou lembrou que por lá existe a regra do como o serviço deve ser prestado. A nossa intenção é defender o patrimônio urbanístico do acordo tácito, em que a operadora faz Rio de Janeiro”. Já em São Paulo as alegações ultrapassam, em parte, os limites de um pedido para instalação de uma regulamentação do município. Exemplo são as exigências para trocar antenas de lugar por ferirem a distância mínima de escolas e hospitais, como alegam os procuradores antena e o município precisa responder municipais nas ações que correm na Justiça paulista. Ou seja, nem todas as antenas em 15 dias. Se não o fizer, é como se o podem ser regularizadas sem que se troque o local de instalação, caso a prefeitura ganhe pedido estivesse aprovado. Essa media causa. Neste caso, quem insistir em manter uma antena irregular pode pagar caro, uma da, sem dúvida, agiliza a instalação das vez que em 2010 a multa para quem mantém infraestrutura sem as licenças locais passou antenas (que no Brasil chegam a ficar de R$ 6 mil para R$ 100 mil. Segundo a prefeitura paulista, o problema não é a falta de fiscalização: apenas no ano passado foram aplicadas 846 mil multas. Nenhuma foi paga. por mais de seis meses em análise pelas prefeituras), mas fragilizam o

O que pensam os municípios

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rega. Dentre eles, está uma desvirtuação do que a LGT chama de redes de telecomunicação. “Nesta parte, especificamente, a legislação está falando da rede lógica e física interna, não da estrutura física externa (construções, torres, entre outros)”, exemplifica. De acordo com a advogada, o caminho para que este projeto tenha validade legal é bem maior do que apenas aprová-lo no Congresso. A alteração pretendida pelo senador vai além do serviço de telecomunicações e envolve temas como ocupação de solo e meio ambiente. “Assim, para que a Anatel fosse a única entidade autorizada a criar normas de instalação de antenas e ocupação de solo para este tipo de serviço, como pretende o PLS, haveria a necessidade de se modificar a Constituição Federal, e não se fazer apenas uma alteração na LGT”. A proposta encontra-se à espera de um relator na Comissão de Infraestrutura do Senado. Conforme apurou TELETIME, a iniciativa caminha paralelamente à Lei Geral das Antenas, ainda em discussão no Minicom. Entretanto, as propostas formuladas entre o minis-

“Falta perspectiva estratégica para o trato das telecomunicações no País. Será que ter um sinal de qualidade não é do interesse dos munícipes?” João Moura, da Telcomp tério e as operadoras podem incrementar o projeto ou futuramente substituí-lo. Técnicos que contribuíram para a formulação do PLS117/2012 discordam da advogada quanto à validade constitucional do projeto. O assunto se tornou complexo por causa da quantidade exagerada de normas sobre um mesmo tema, mas os formuladores acreditam na possibilidade de ganho de causa em uma eventual contestação judicial dos municípios, por se tratar de um assunto demasiadamente ‘teórico’. “Assim como todo projeto que trata de conflito de direito, ele pode ser contestado. E certamente alguém pode levar o mérito ao Supremo (STF). Por outro lado, a melhor maneira de encerrar a polêmica é a federalização deste processo”. Vale lembrar que o próprio Supremo já reforçou o que está na LGT: legislar sobre tele-

Pontos de conflito • São Paulo Lei Estadual nº 10.995/01: Exige distanciamento mínimo de 15 metros entre a base de sustentação da antena e os imóveis vizinhos. • Belo Horizonte Lei nº 8.201/01: Determina 30 metros de distância a partir do ponto de emissão de radiação, na direção de maior ganho da antena, de qualquer ponto de edificação existente em imóveis vizinhos que se destinem à permanência de pessoas. • Fortaleza Lei Municipal nº 8.914/04: restrições rigorosas a instalações de ERBs. Exige licenciamento ambiental, publicação em jornal da solicitação de licença e pagamento de taxa. • Rio de Janeiro Decreto 34.442/11: determina o enterramento de toda rede de cabeamento aéreo, no prazo de cinco anos. Decreto 34.622/11: Veda instalação de antena a 50 metros de hospitais e escolas, em praças e logradouros públicos, nas orlas marítimas e das lagoas, e em fachadas de quaisquer edificações. • Porto Alegre Lei Municipal nº 8.896/01: Limites máximos de exposição humana à radiação eletromagnética menores do que os estabelecidos pela legislação federal. Veda a instalação de antenas em locais sensíveis, como prédios de apartamentos, creches, escolas, quartos de hospitais e instituições geriátricas, locais de trabalho, dentre outros. • Curitiba Lei Municipal nº 11.535/05: Exige licenciamento ambiental prévio à implantação e operação da antena, com renovação anual. Restringe as ERBs a postes tubulares (não é permitida a instalação de torres) e exige estudo de impacto ambiental. Fonte: SindiTelebrasil.

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com é competência da União. Mas a área difusa entre regular serviço e infraestrutura urbana segue polêmica.

Mais antenas A falta de regras homogêneas sobre a instalação de antenas e construção de infraestrutura nas cidades tende a se tornar ainda mais grave com a iminente implantação do 4G no Brasil. Segundo Carlos Duprat, do Sinditelebrasil, conseguir colocar nas cidades os equipamentos necessários para a implantação da tecnologia a tempo de cumprir com as metas do Governo Federal, através da Anatel, é o desafio atual de quem opera telefonia móvel. Afinal, a maneira como a tecnologia será implantada — na faixa de 2,5 GHz — demandará uma quantidade de equipamentos maior do que a previsão inicial das teles, que se mantêm esperançosas com uma futura licitação do 700 MHz. “Operando em faixas altas teremos uma necessidade maior de infraestrutura, mas todos imaginam que o País vá seguir a tendência de dividendo digital e licitar a faixa de 700 MHz para serviços móveis”, comenta. Neste caso, as operadoras poderiam atuar com o 4G em 2,5 GHz nas áreas onde a densidade populacional é maior, à medida que a faixa mais baixa seria usada para atender ao restante das regiões. “Para as periferias seria ideal atender com uma frequência de propagação maior”, diz o diretor do Sinditelebrasil. O edital do leilão de frequências prevê que as operadoras cubram até 2014 as maiores cidades brasileiras, incluindo aquelas escolhidas para sediar jogos da Copa do Mundo. No entanto, ao menos sete destas cidades já têm legislações restritivas à colocação de infraestrutura para telefonia móvel e, em alguns casos, fixa também. E, caso os sites onde os equipamentos estão instalados continuem sendo considerados irregulares pelo governo municipal, as empresas terão dificuldades para atender às exigências do órgão regulador. “Isso cria uma pressão nessa questão de antenas. Afinal, a tendência é que num mesmo site que hoje abriga as tecnologias GSM e 3G, haja também o 4G”, comenta. Neste cenário, a expectativa é que a quantidade de antenas nas cidades-sede da Copa triplique até 2014 para atender à demanda. 



.:Terminais

Letícia Cordeiro

leticia@convergecom.com.br

Ondas desarmônicas

Fragmentação das faixas de espectro utilizadas para 4G pode retardar a adoção de serviços sobre as redes LTE em escala global. Disponibilidade de terminais e roaming ainda são problemas.

Devices por espectro

“a disponibilidade de terminais pode determinar “o sucesso por completo ou fracasso absoluto” da 4G.”

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fal­­ta de padronização de frequências do LTE aponta para uma maior dificuldade em se alcançar uma escala de produção adequada, que, por sua vez, poderá dificultar o acesso da maior parte da população a essa nova tecnologia em um primeiro momento”. Além de impactar no custo dos terminais pela ausência de escala global, a multiplicidade de faixas causa ainda, pelo menos nesse primeiro momento, problemas de roaming. Caso amplamente conhecido foi o lançamento do novo iPad, da Apple, com 4G apenas em 700 MHz. O roaming internacional de devices LTE ocorre nas redes de tecnologia 3G, por ser orientado pelas redes legadas. A GSA contabiliza atualmente 72 operadoras com o LTE em pleno funcionamento em 37 países. “Justamente pela grande diversidade de bandas no 4G, o usuário em roaming internacional tende a ser atendido no HSPA e HSPA+ ainda por algum tempo”, avalia Rocha. Sucesso ou fracasso O diretor de planejamento de rede da Vivo/Telefônica, Leonardo Capdeville, que participou em abril do seminário ConvergeTec, realizado por TELETIME, acredita que a falta de aparelhos preparados para operar em 4G, nas especificações técnicas do modelo a ser adotado no Brasil, é um limitador do interesse das operadoras em fazer rapidamente o 4G no País. Dos 347 modelos de dispositivos 4G disponíveis no mundo, de 63 fabricantes distintos, apenas cinco correspondem às características do que será implantado no mercado brasileiro, aqueles disponíveis na Europa. Por outro lado, os dispositivos 3G somam mais de 2,8 mil modelos. “Para o usuário não importa se é 3G ou 4G, ele quer é ter uma boa experiência de uso”, diz, embora reconheça o 4G como a tecnologia do futuro. “Infelizmente, aprendemos na marra, com a experiência do CDMA, que FOTO: divulgação

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Brasil se prepara para leiloar em junho próximo as primeiras frequências habilitadas LTE FDD para serviços de quarta geração no País, em 2,5 GHz, mas 700 MHz 170 devices já há alguns meses as operadoras móveis 800 MHz Band 20 72 devices nacionais vêm chamando a atenção para 1.800 MHz Band 3 75 devices a escassez de disponibilidade de termi2.600 MHz Band 7 94 devices nais LTE para esta faixa específica. 800/1.800/2.600 MHz 57 devices Isto porque a maior oferta de termiAWS Band 4 72 devices nais ainda é direcionada para o mercado LTE TDD norte-americano, onde as redes LTE, 2.300 MHz Band 40 43 devices começaram a ser lançadas há cerca de 2.600 MHz Band 38 45 devices um ano, mas na frequência de 700 MHz. 2.600 MHz Band 41 5 devices Sozinhos, Estados Unidos e Canadá concentram nada menos do que dois Fonte: GSA, abr/2012. terços das conexões globais em LTE e chegaram ao final de março, segundo Há apenas cinco aparelhos LTE no merestimativas da Informa Telecoms & cado europeu atualmente, segundo Media, com 10,8 milhões de assinantes dados de abril da Global Mobile Suppliers 4G. O maior volume, claro, está nos EUA, Association (GSA). com 10,5 milhões de usuários LTE. Outros mercados importantes tamEm outras regiões do mundo, como bém estão em frequências que não o 700 alguns dos principais mercado da MHz. A China está usando 2,5 GHz; o Europa, a 4G começou a engatinhar apeJapão, 2,1 GHz; e vários mercados do nas mais recentemente, e muitos países Sudeste Asiático adotaram 1,8 GHz. sequer fizeram o leilão das frequências Já no final de 2011, um estudo da Wi­­ da nova geração da telefonia móvel. reless Intelligence, da GSM Association O total de terminais vendidos pode (GSMA), alertava para o risco de tal fragaté parecer animador. Ainda mais se mentação diminuir o passo do desenvollevarmos em consideração as estimativimento da 4G e recomendava iniciativas vas da IDC, que apontam para um total de harmonização do espectro. A previsão de 65 milhões de dispositivos LTE vendida GSMA era de que até 2015 haveria dos globalmente até o final de 2012. Mas pelo menos 38 combinações diferentes de o que pode frear a massificação do 4G frequências para LTE em nível mundial. em nível global é a fragmentação dos O diretor de planejamento estratégico espectros utilizados para a tecnologia. da Samsung, Raphael Rocha, admite que O problema é que atualmente o uso a fragmentação pode, sim, ser um fator a de 700 MHz para LTE está restrito, prainfluenciar a curva de adoção dos dispoticamente, àqueles dois mercados nortesitivos 4G pelo mercado, mas -americanos. Em alguns países da ressalta que ela não deve ser Europa, assim como no Brasil, o espectro vista como uma barreira. “A de 700 MHz ainda está comprometido para transmissões de TV, e as faixas atribuídas à 4G vão de 2,1 GHz a 2,6 GHz. Para complicar, alguns países começaram também a autorizar a alocação de frequências já utilizadas para a telefonia móvel de 2G e 3G em 800 MHz, 900 MHz e 1,8 GHz, o Raphael Rocha, da Sansung chamado re-farming de frequências.


Tri-band: 800, 1.880 e 2.600 MHz Total: 57 dispositivos. 20 20

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Fonte: GSA, abr/2012.

MHz, e acrescentar outras frequências a um modelo já pronto não é o mais complexo. É preciso alguns ajustes, é claro, mas é relativamente simples. O problema é que precisamos conhecer um pouco dos planos das operadoras para o 4G para poder iniciar a produção dos terminais”, avalia Gonçalves. “Estamos acompanhando o mercado bem de perto, mas por enquanto ainda não há previsão de novos lançamentos em LTE que possa ser divulgada”. O Lumia 900 é o primeiro device 4G

Produtos 4G no mercado Total: 347 dispositivos, de 63 fabricantes.

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Compasso de espera Enquanto correm para lançar terminais LTE no mercado norte-americano, os fabricantes mantem um compasso de espera no que se refere à 4G no restante do mundo. O gerente sênior de portfólio da Nokia na América Latina, Marcelo Gonçalves, acredita que apenas a partir do segundo semestre do ano será possível ter uma melhor visão de para onde caminharão as estratégias das operadoras com relação ao 4G, não apenas no Brasil, mas também em outros mercados importantes como o México e a Europa. “Já temos Lumia 900 LTE em 700

Terminais LTE

Modelos

quem determina o ritmo de adoção das tecnologias e o sucesso dos padrões não são as operadoras, mas os terminais disponíveis”, pontua. O problema, coloca Capdeville, não é apenas a frequência de operação em 4G, mas as frequências de fall back (quando o terminal sai da rede 4G e passa a operar nas redes 3G e 2G). Sem o fall back adequado, o celular de 4G simplesmente não fala, pois o serviço de voz continua sendo oferecido nas redes 3G e 2G. Para Rocha, da Samsung, a disponibilidade de terminais pode determinar “o sucesso por completo ou fracasso absoluto” da 4G. Ele também cita como exemplo o lançamento do primeiro CDMA EVDO no Brasil, em 2005. “Naquele ano a Samsung lançava de forma pioneira o modelo Evolution, que permitia taxas de 2,4 Mbps, mais altas do que a maioria das conexões disponíveis hoje, com câmera de 1.3 MP e 40 MB de memória. Mas como ‘ensinar os usuários’ a maximizar sua experiência móvel? Com a navegação baseada puramente em WAP? Os celulares da época eram excelentes modems para notebooks, mas não geravam tráfego através das suas interfaces de usuário nem das suas funcionalidades embarcadas”, comenta. “Hoje, sete anos depois, o usuário de celular e/ou tablet acessa diariamente suas redes sociais, faz o upload de fotos, download de jogos e aplicativos, assiste a vídeos, navega na Internet HTML. O consumidor demanda mais velocidade e mais qualidade nas conexões de dados e os dispositivos móveis se tornaram essenciais no seu dia-a-dia”. Rocha acredita que esses são os pilares que estão ditando a real necessidade de investimentos em redes e produtos 4G, não só no Brasil mas também em todo o mundo.

Fonte: GSA, abr/2012.

mai_2012 Teletime 12

LTE da Nokia e foi lançado primeiramente nos Estados Unidos e no Canadá no início do ano. A versão que desembarca por aqui em junho, entretanto, será a versão HSPA+ do smartphone, destinada à Europa e demais países. A Samsung, por sua vez, segue a mesma linha de raciocínio e aguarda a conclusão do processo licitatório brasileiro para bater o martelo com relação à sua estratégia de 4G para o País. “Teremos então melhores condições de analisar os investimentos e objetivos de cada operadora, bem como confirmar as reais expectativas do governo com relação as metas de cobertura e abrangência para o 4G. A partir desse ponto a Samsung irá acelerar os desenvolvimentos para o mercado nacional seguindo nosso planejamento estratégico e auxiliando todas as partes envolvidas”. A Samsung já está participando de trials tecnológicos com as operadoras nacionais, fornecendo equipamentos e suporte técnico. Também a LG tem como prioridade o desenvolvimento de smartphones com LTE. Tanto que no último Mobile World Congress a fabricante sul-coreana era quem trazia o maior número de lançamentos de aparelhos 4G. A fabricante tem hoje uma quantidade significativa das patentes do LTE, o que permite que o handset da empresa seja mais barato. Com base nisso, e na forte integração com a divisão de displays da empresa (responsável pela fabricação das telas dos televisores e monitores), a LG acredita que será uma das principais competidoras no mercado de celulares nos próximos anos. A proximidade com a área de displays, aliás, é o que explica a aposta da empresa em smartphones com recursos de vídeo 3D, área em que a LG lidera quando o assunto é televisão. Para o Brasil, a operadora ainda não tem planos específicos para celulares 4G, pois isso ainda depende da definição da estratégia das empresas operadoras. Mas já se sabe que no momento em que as redes estiverem disponíveis, a fabricante deve desembarcar por aqui a sua linha de tablets, que até agora tem deixado de fora da disputa com Samsung e Apple. “Achamos que na briga dos tablets, a oportunidade melhor estará quando começar a quarta geração”, diz Jan Petter Kjejshus, diretor da divisão de handsets da LG do Brasil. Ele também diz que antes de definir a estratégia de quais aparelhos chegarão ao mercado brasileiro, é preciso entender a estratégia das operadoras.


.:ESTRATÉGIA

A última cartada da RIM

O novo sistema operacional BlackBerry 10 é a aposta da fabricante para permanecer no jogo dos smartphones high-end e competir na 4G nos EUA. Mas foco em terminais 2G e 3G para acelerar crescimento no resto do mundo continua.

O

BlackBerry já foi a estrela do mercado de smartphones, mas depois do iPhone e, sobretudo, com a expansão do sistema operacional Android, a gigante canadense perdeu glamour, market-share e passou a se ver em uma posição delicada em relação aos concorrentes, por não ter um ecossistema de aplicativos tão desenvolvido quanto Apple e Google. Desde que assumiu como presidente e CEO da RIM há cerca de três meses, Thorsten Heins vem trabalhando na reformulação da atuação da companhia para reverter esse quadro. Recentemente, ele apresentou algumas das características no novo sistema operacional BlackBerry 10 (BB10), que é a aposta da empresa para mudar o jogo. Durante a abertura do BlackBerry World 2012, a conferência anual de desenvolvedores da RIM que aconteceu no início de maio em Orlando, Flórida, Heins fez questão de reafirmar sua crença no futuro da empresa. “Desde que assumi como CEO muito já foi dito e escrito sobre a RIM e serei claro: estou aqui porque acredito no valor único que o BlackBerry entrega para nossos clientes diariamente, no potencial dos nossos clientes, que são extremamente engajados, e na paixão dos funcionários por essa empresa”, disse. Os lançamentos do BB10, esperado para o segundo semestre, bem como de novos hardwares compatíveis com o sistema, podem ser analisados como a última grande cartada da RIM para reverter a perda acentuada de market share, principalmente nos EUA e no Canadá, que já enfrentam a primeira corrida do 4G. De acordo com o vice-presidente sênior e diretor regional da RIM para as Américas, Rick Constanzo, a ideia é que os primeiros aparelhos LTE da RIM sejam lançados já com o novo OS. Heins prometeu até o final do ano o primeiro PlayBook com LTE e o foco será o mercado corporativo. “Que­ remos usar o PlayBook para melhorar a produtividade empresarial. Apenas depois será levado

ao consumidor final”, revela. Pode-se assumir que o PlayBook LTE já rode no BB10 e use a frequência de 700 MHz, utilizadas para 4G nos EUA e no Canadá. “Temos uma batalha grande pela frente nos EUA. Ainda não temos um produto LTE; inovamos em soluções touch, mas não a tempo; mas estamos convencidos de que o portfólio do BB10 será um forte competidor e esperamos recuperar market share”, avalia Heins. O teclado físico, que sempre foi um dos grandes, senão o maior diferencial da RIM, não será abandonado. “Trabalhamos durante anos no desenvolvimento e aperfeiçoamento do nosso teclado físico e sabemos o que ele significa para os usuários. Sempre tivemos o melhor teclado físico e estamos trabalhando para trazer essa mesma experiência para o teclado touch”, promete Heins.

a rim tem duas estratégias: uma para o mercado norte-americano e outra para o restante do mundo. O CEO repetiu o discurso de voltar o foco da empresa ao seu core: o mercado corporativo (e governamental) e usuários finais que buscam produtividade tendo o BB10 como motor de crescimento para a próxima década. A estratégia, entretanto, pode ser dividida em duas frentes: uma para o mercado 4G norte-americano e outra para o restante dos 175 países em que atua. A carta na maga são terminais 2G e 3G para aumentar a velocidade de crescimento nesses outros mercados. “A penetração de smartphones em todo o mundo é muito pequena. Mesmo nos EUA e Europa é de apenas 40%; enquanto no Brasil, é de 12% ou 13%, o que é muito pouco”, calcula o vice-presidente e diretor geral da RIM para o Brasil, Peter Gould. Assim, segundo Constanzo, a fabricação e desenvolvimento de aparelhos 3G e até mesmo apenas 2G no atual BlackBerry 7 continuará ain­­da por muitos anos para atender esse mercado com dispositivos de 12 Teletime mai_2012

baixo custo. “No Brasil, por exemplo, a cobertura 3G, apesar de estar crescendo, ainda é embrionária e há muitas áreas apenas com 2G”, justifica Gould. Inovações do BB10 As poucas características do BB10 reveladas realmente prometem alguma movimentação no mercado. Para começar, a RIM prefere chamar o OS baseado na plataforma QNX de plataforma de computação móvel, já que unificará a fragmentação dos seus produtos e servirá tanto para smartphones quanto tablets e até mesmo veículos automotivos. O BB10 terá multi-task de alta performance, com aplicativos rodando ininterruptamente em segundo plano, um fluxo fluído, em tempo real, e integrado em um único ambiente para o usuário. O teclado touch inova ao prometer se adaptar à forma de teclar do usuário, bem como reconhecer automaticamente a língua em que a pessoa está escrevendo. Além disso, sugestões de palavras aparecem na medida em que algo está sendo escrito e, com o deslizar de um dedo, uma palavra pode ser inserida ou descartada. A câmera foi o terceiro e último item revelado. Ao tirar uma fotografia, o usuário poderá selecionar uma área e voltar alguns segundos (ou milisegundos) no tempo para mudar apenas aquela seção da imagem. Por exemplo, se uma pessoa sai com os olhos fechados, é possível selecionar essa área específica e voltar no tempo até que a pessoa esteja de olhos abertos. Heins garante que essas são apenas uma pequena amostra do que o BB10 promete trazer. Vale ressaltar, entretanto, que o timing no mercado de dispositivos móveis é essencial. Basta lembrarmos do WebOS, da Palm, avaliado como um ótimo OS, mas que não chegou a tempo para salvá-la e, mesmo depois de ter sido adquirido pela HP, não vingou. É esperar pra ver.  a jornalista Letícia Cordeiro viajou a orlando a convite da rim.


.:entrevista

Letícia Cordeiro, de Orlando leticia@convergecom.com.br

Volta às origens

Vice-presidente e diretor geral da RIM para o Brasil, Peter Gould comenta a retomada do foco no mercado corporativo e revela a estratégia de smartphones de baixo custo para crescer nos mercados emergentes.

TELETIME - A RIM revolucionou o mercado de smartphones, mas a companhia tem perdido market share. O CEO, Thorsten Heins, reconheceu durante a última divulgação trimestral de resultados que a companhia precisava mudar a estratégia para garantir seu futuro, voltando a focar no mercado corporativo, e foi enfático ao dizer que ao querer abraçar o mundo e focar em tudo correu-se o risco de não fazer nada direito. O que realmente significa focar no core business da empresa? Peter Gould - O DNA, as raízes da RIM estão no mercado corporativo, e acho que o que ele quis dizer era que é difícil ser todas as coisas para todas as pessoas. Não há uma quantidade infinita de recursos de desenvolvimento, de recursos de marketing, de pessoas para servir a todos os mercados. Estamos passando por uma transição pesada, mudando o nosso sistema operacional para o BlackBerry 10. É uma transformação grande. Outros fabricantes já fizeram isso no passado, como a Apple. Essa é a segunda vez que fazemos isso. Tínhamos um sistema operacional em ambiente C++, mudamos para Java e agora estamos mudando para a plataforma QNX, que é a base do BlackBerry 10. Não quer dizer que estamos saindo

forma. E por que uma empresa faria isso? A resposta é que a realidade de hoje de Bring Your Own Device (BYOD) é um movimento que está realmente acontecendo. Você pode escolher ignorá-lo e esperar que esse movimento passe, mas isso seria tolo, porque não vai desaparecer tão cedo. É uma nova tendência e resolvemos abraçá-la. Nossos clientes corporativos estão contando com a gente para incorporar as tendências. As pessoas às vezes perdem de vista algumas das coisas que conseguimos realizar. Temos 300 mil clientes corporativos em todo o mundo, e não me refiro a indivíduos, mas sim empresas. São 300 mil companhias que têm nosso software instalado atrás de seus firewalls. E isso não acontece do dia para a noite, e não acontece sem um alto grau de confiança e, é claro, do foco em segurança e em tudo mais que fizemos. Nosso negócio de software é muito robusto e nossos clientes confiam em nós, construímos essa plataforma. As pessoas precisam entender o quão dedicados estamos para com o mercado corporativo. Não é uma mudança de estratégia que diz que a gente está deixando algum outro mercado para fazer isso. É apenas a reafirmação de que estamos dedicados a este segmento de mercado.

foto: divulgação

N

a RIM desde 1999, Peter Gould participou do lançamento do primeiro produto BlackBerry no mercado, comandou diferentes áreas na América Latina nos últimos cinco anos e agora é o vice-presidente e diretor geral da RIM para o Brasil. Baseado na sede da empresa, no Canadá, Gould faz não apenas a ponte aérea Brasil-Canadá duas ou três vezes ao mês, mas também a ponte das demandas específicas dos requerimentos de um mercado tão particular aos olhos da RIM como o mercado brasileiro.

Peter Gould

do mercado consumer. O que realmente queremos é nos certificar de que aquele core, a proposta de valor do BlackBerry para o mercado corporativo, permanece forte, permaneça intacta, e que os nossos clientes entendam completamente que estamos investindo pesado para assegurar que o sistema BlackBerry exista no longo prazo. E o que o futuro guarda para o mercado corporativo? Coisas como a plataforma Mobile Fusion. Com ela estamos permitindo a capacidade de gerenciar os dispositivos dos nossos concorrentes na nossa platamai_2012 Teletime 13

A RIM tem crescido muito na América Latina, particularmente entre o segmento jovem, que nada mais é do que o segmento consumer. Sim. O BBM (BlackBerry Message) é um fenômeno cultural na América Latina, assim como na Indonésia, grande parte da Europa, Dubai, Venezuela, no mundo todo. É cross segment, atrai jovens e adultos, mas os usuários primários do BBM, o que alimenta o crescimento do BBM, é o segmento jovem. A ideia é atrair usuários em idade jovem e eles se tornam clientes para a vida toda. Muito do que se ouve e lê é baseado no mercado dos Estados Unidos. E os EUA são apenas 7% do mercado global de smartphones. 90% do que se lê, das opi


.:entrevista niões, vêm de lá e não refletem a realidade do mercado brasileiro, da América Latina, da Europa Oriental ou de qualquer outra parte do mundo. É possível dizer que a RIM pode estar caminhando para duas es­t ra­t égias distintas: uma voltada para soluções high end baseadas em BB10 e LTE para os mercados de EUA e Canadá e uma outra para o restante do mundo ainda focada em terminais mais baratos para explorar o potencial das redes 3G e HSPA+? O BB10 será lançado globalmente. Os produtos são lançados em um ciclo e há várias razões para isso, como produção, parcerias com operadoras, certificação. Mas o Brasil terá BB10 quase que imediatamente após os mercados norte-americanos, numa quantidade de tempo razoável, assim como os demais países em que escolhermos lançar os novos produtos primeiro. Esses produtos BB10, é importante entender, são chamados produtos 4G porque é o padrão, ou melhor, está se tornando o padrão nos EUA, e muito por conta de questões de marketing das operadoras, mas também funcionam em redes 3G. Os terminais serão high end, mas também funcionarão com as frequências de 3G, farão o fall back para redes 2G e 3G, até para poder fazer voz, porque a questão da voz sobre LTE ainda precisa ser resolvida. E quanto às demais regiões? Definitivamente vamos continuar com o portfólio do BlackBerry 7 (BB7). Há um número de novos produtos BB7 que já começaram a ser lançados no mercado e chegarão ao mercado brasileiro nos próximos 30 a 60 dias. São aparelhos 3G, ainda sem HSPA+, porque ainda há muitas partes do Brasil e do mundo que apenas têm redes 2G. Na verdade, novos produtos 2G de baixo custo também estão chegando. E isso deve continuar ainda por alguns anos. Continuaremos a fabricar o BB7 no Brasil, trazendo um novo portfólio de terminais low tear, de baixo custo. É um progresso contínuo no mercado de consumer. E lançaremos novos produtos baseados no BB10 no mercado também.

BlackBerry PlayBook

O que realmente queremos é nos certificar de que aquele core, a proposta de valor do BlackBerry para o mercado corporativo, permanece forte. estamos investindo pesado para assegurar que o sistema BlackBerry exista no longo prazo.” Em relação especificamente ao 4G, quando vê esse mercado realmente crescendo ao nível que vemos o 3G no momento? Está a cargo das operadoras e dos governos estabelecer o quão rápido essas redes serão implementadas. No fim, tudo se resume a uma decisão financeira. 4G tem sido implementado em certas partes do mundo e estão sendo definidas as questões com relação às frequências. Mas as operadoras precisam achar uma forma de monetizar essas redes. Elas estão realmente ganhando mais dinheiro por causa das redes 4G? Pois tudo se resume à questão de o consumidor estar disposto a pagar mais. E não creio que estejamos vendo isso ainda. De fato, as pessoas querem pagar menos. Então o desafio para as operadoras é criar fluxos de receita novos ou alternativos para justificar cobranças adicionais ou prover novos serviços inovadores pelos quais as pessoas queiram pagar. Compramos uma empresa chamada NewBay, que é uma provedora de serviços na nuvem white label, e estamos integrando 14 Teletime mai_2012

esses serviços em nossa plataforma. Isso vai permitir que as carriers ofereçam potenciais novos serviços a seus clientes, como música, e conteúdos. Po­derão oferecer cloud services como o BlackBerry Protect para backup de aparelhos na nuvem, que permite que o usuário baixe suas informações em outro handset no caso de perda ou roubo. Nos EUA existe uma corrida armamentista por features, não há outra forma de caracterizá-la. As carriers nos EUA conseguirão aumentar o valor para seus acionistas com isso? O tempo dirá. Estamos extremamente cautelosos com as redes de nossas operadoras. Por que essa preocupação? As operadoras anunciam publicamente seus resultados financeiros e elas perderam um monte de dinheiro. Houve uma transferência de riqueza dos bolsos das carriers para os bolsos de certos fabricantes de devices. E se você é uma operadora, isso não é nada bom. Além disso, também costumava haver planos ilimitados de dados. Em muitas operadoras americanas era possível contratar planos de dados que davam direito ao uso irrestrito dos canos e o que aconteceu é que toda a banda era consumida. O que está acontecendo é que as operadoras estão retirando esses planos ilimitados de dados agora e estão oferecendo planos mais apropriados. A 4G é que tem que fazer sentido do ponto de vista econômico. O Brasil não reflete o sucesso da RIM na América Latina se olharmos do ponto de vista do consumidor final, embora a RIM seja forte no mercado corporativo brasileiro. O que considera que tenha feito do Brasil tão diferente do resto da América Latina? Na América Latina, pelos últimos dois anos somos o provedor número em vendas de smartphones do mercado. No Brasil, temos tido sucesso. Não estamos no mercado brasileiro pela mesma quantidade de tempo que estamos em outros mercados da América Latina. No México, por exemplo, entramos há aproximadamente sete ou oito anos. E realmente só começamos no Brasil há uns três ou


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.:entrevista

O BBM tem um grande apelo junto ao público jovem. É isso que estão mirando no Brasil para fazê-los crescer, para aumentar a velocidade desse crescimento? Estamos investindo fortemente em marketing no Brasil e do ponto de vista do BBM estamos gastando muito tempo com a comunidade de desenvolvedores de aplicativos. Há quase mil aplicativos na App World com conectividade ao BBM, que integram por exemplo Facebook e Foursquare ao aplicativo BBM. Na semana passada havia 5 milhões de downloads por dia e agora provavelmente esse volume já deve estar em cerca de 6 milhões na App World. Uma grande porcentagem desses downloads é de apps conectados ao BBM. Para dar uma ideia da popularidade, temos 77 milhões de assinantes BlackBerry, 55 milhões desses são usuários do BBM e, pelas últimas conversas internas, esse número já pode ter chegado a 60 milhões. E continua a crescer. Acho que acabamos sendo mal interpretados, francamente. As pessoas não acham que estamos crescendo e estamos crescendo absurdamente. Crescemos 59% na comparação anual e isso é um crescimento bem impressionante. No Brasil, cerca de 60% dos assinantes que adicionamos foram adquiridos nos últimos 12 meses. E como está a relação da RIM com as carriers brasileiras? Ótima. Nossas relações com as operadoras no Brasil são muito fortes. Estão todas aqui no BlackBerry World 2012 e tive reuniões com cada uma delas, querem saber mais, aprender mais sobre o BB10. Acho que as operadoras vêem a RIM como os cowboys de

plano de tarifa alto, provavelmente pode pagar R$ 10 ou R$ 15 por mês para ter acesso ao Facebook e BBM e algo mais.

foto: teletime

quatro anos. Abrimos a fábrica em março de 2010. Estávamos no Brasil antes disso, mas é difícil fazer negócios no Brasil a não ser que se fabrique localmente. Se olharmos a Venezuela, México e assim por diante, veremos provavelmente mais BlackBerries do que no Brasil, mas isso é também um reflexo do tempo em que já estamos naqueles mercados. O Brasil é um ambiente diferente, a infraestrutura está chegando lá agora, a cobertura está melhorando, mas é um desafio ainda. Mas o mercado de usuários finais está acontecendo no Brasil. O crescimento do BBM, por exemplo, está começando a decolar.

o desafio para as operadoras é criar fluxos de receita novos ou alternativos para justificar cobranças adicionais ou prover novos serviços inovadores pelos quais as pessoas queiram pagar.” chapéu branco, os mocinhos, enquanto os bandidos usam chapéu preto. Não estou tentando destruir o negócio delas, estou ajudando-as a viabilizar seu negócio. Quero que tenham sucesso, que sejam lucrativas. Há muitas companhias por aí que estão colocando termos ultrajantes na mesa para fazer negócios, e nós não estamos. Sempre fomos bons para com suas redes. Sempre tratamos nossas operadoras parceiras com respeito e continuaremos a agir assim. Queremos que tenham sucesso, sejam lucrativas, estamos introduzindo novos serviços com todas as operadoras. Se olhar nos sites das teles, verão ótimos planos de tarifas de baixo custo para BBM. Há vários novos planos de serviços que diferentes teles lançarão nos próximos 30 dias. São planos low tear, isto é, baratos, e não de baixa qualidade ou de baixo uso. Isso permite que a carrier introduza alguns planos de tarifa agressivos para o segmento jovem, principalmente. Um jovem de 16 anos, por exemplo, que não possa pagar por um 16 Teletime mai_2012

Quais as perspectivas da RIM para o Brasil e qual papel o País deve desempenhar na estratégia da empresa? O Brasil, é claro, é um mercado enorme, muito importante para a RIM. Temos o que chamamos de os 21 mercados-chave globalmente e o Brasil é um no qual prestamos realmente muita atenção. Estamos investindo, temos escritórios locais, muitos funcionários e infraestrutura. O Brasil é a nossa “beachhead”, nossa cabeça-de-ponte para atacar o mercado da América Latina. E para ter sucesso nessa região é preciso ter uma presença no Brasil. Há uma oportunidade enorme no mercado de PMEs. O nosso maior desafio no Brasil é que todo mundo pensa que BB é apenas para o negócios. E como mudar um pouco isso? Começa pelo reconhecimento do fato de que somos para trabalho, mas também para jogos, entretenimento, para tudo. Para mudar isso, lançamos uma nova campanha de marketing no País. Foi a campanha “Qual é o seu outro lado?”, que coloca o BlackBerry como “For fun. For work. For everything.” A prioridade é quem ainda não tem smartphone ou aqueles que já têm um smartphone, mas não um BB? Ambos. O mercado brasileiro está crescendo muito rapidamente. O mercado global de smartphones está crescendo, mas o Brasil está crescendo especialmente rápido. E acredito que a grande razão para isto é que muitos brasileiros estão tendo sua primeira e muitas vezes única experiência de Internet em um dispositivo móvel. O que é único se comparado a outras partes do mundo. E isso é o que está alimentando o crescimento do mercado de smartphones. Há muitas pessoas no Brasil que têm telefones “burros”, feature phones, e o próximo handset que comprarão será um smartphone. E há também os usuários corporativos, de pequenos, médios e grandes empresas que o estão usando como ferramenta de comunicação. É uma pergunta difícil porque há mercados diferentes e diferentes razões para que as pessoas comprem um smartphone. É similar ao que acontece em muitas partes do mundo, mas há um grande desejo por parte dos brasilei ros de ter acesso à Internet.


A INDÚSTRIA DE TELECOM ESTÁ MUDANDO E O PAINEL TELEBRASIL TAMBÉM. VEM AÍ A 56ª EDIÇÃO DO EVENTO MAIS IMPORTANTE E DECISOR DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES. AGUARDE. DIAS 29 E 30 DE AGOSTO DE 2012, BRASÍLIA, DF.

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Da Tela Viva

.:Convergência

cartas.telaviva@convergecom.com.br

A TV já é 2.0

Novos modelos de entrega de conteúdo, como streaming e oferta sob demanda, já afetam realidade dos players tradicionais nos EUA e começam a ganhar momento no Brasil.

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A

realidade da televisão está mudando. Não só da TV aberta, mas do modelo tradicional de TV por assinatura também. Ca­­nais, pacotes de programação, audiência de massa, tudo isso dá lugar a conteúdos não lineares, por streaming, consumidos sob demanda, em qualquer dispositivo, de forma online, atendendo a gostos e interesses específicos. É o que se pode chamar de TV 2.0. Algo que há alguns anos era um conceito, e que hoje se mostra como uma realidade crescente. Aparentemente os serviços de streaming estão à frente desta onda. O uso de Netflix por streaming em 2011 foi 80% maior do que todos os serviços de vídeo on-demand (VOD) das operadoras de TV por assinatura juntas nos Estados Unidos, segundo Colin Dixon, senior partner da consultoria TDG. Ele participou, em março, do Congresso TV 2.0, organizado pela Converge, que edita a TELETIME, e que discutiu essa nova realidade da TV. Segundo Dixon, as operadoras de TV paga tradicionais gastaram dez anos para construir seus sistemas de VOD e, embora todos os assinantes digitais de pay TV tenham acesso ao VOD nos Estados Unidos – são 45 milhões de domicílios –, estima-se que foram vistas 4,8 bilhões de horas em 2011. O Netflix transmitiu por streaming 2 bilhões de horas somente no quarto trimestre de 2011. “Essa diferença acontece principalmente por conta das interfaces. Na interface de VOD das operadoras é difícil de achar um conteúdo, ela não identifica as preferências do usuário, entre outros problemas”, diz Dixon. “Foi uma oportunidade perdida pelos operadores. Se tivessem levado o OTT (over-the-top) a sério e reconhecido uma oportunidade de servir melhor os assinantes, talvez serviços como o Netflix não existissem”.

Para ele, o modelo de TV everywhere, em que o assinante de TV paga pode ver os conteúdos em qualquer tela, mediante autenticação, levará bastante tempo para ser adotado. Atualmente, dos mais de 100 milhões de assinantes de TV paga nos EUA, pouco mais de 52 milhões têm acesso a TV everywhere, e “apenas” 4,12 milhões utilizam de fato o serviço. A perspectiva é de que em 2016 haja quase 96 milhões de assinantes de TV paga, dos quais quase 90 milhões com acesso ao TV everywhere, e 29,46 milhões de usuários do serviço. “O acesso vai crescer rápido para os consumidores, mas a adoção será lenta”, diz Dixon. “O esforço foi apropriado, mas veio muito tarde, apenas em 2009”. Vídeo online O vídeo consumido de forma online também é uma realidade. Atualmente, 74% dos usuários de banda larga dizem assistir vídeo pela rede. A perspectiva da TDG é de que em 2016 haverá 250 milhões de domicílios no mundo todo assistindo a vídeos da Internet em suas TVs. “E em 2020, nos Estados Unidos, vamos assistir tantos vídeos da Internet quanto dos broadcasters”, diz Dixon. 18 Teletime mai_2012

Entre os serviços de vídeo online, o Netflix é o mais visto nos EUA, com 50,3% dos espectadores de vídeo online utilizando o serviço. Existem atualmente mais de 20 milhões de usuários do Netflix via streaming, acumulados em quatro anos de atuação. A maioria das pessoas que assistem conteúdo pelo streaming do Netflix (44,5%) usa o serviço durante 1,5 hora por semana. Na média, porém, o usuário de Netflix usa o serviço por 5,5 horas semanais. Dixon também traça um paralelo entre a utilização de serviços OTT, como o Netflix, e a TV paga nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa da TDG, os usuários de Netflix estão mais propensos a reduzir suas assinaturas de pay TV (com a mudança de pacotes, por exemplo) do que os assinantes de TV paga. Em 2010, 16% dos assinantes de Netflix estavam propensos a fazer uma redução de suas assinaturas, contra 17% dos assinantes de pay TV. Já em 2011, 25% dos assinantes de TV paga estavam propensos a fazer o “downgrade” de suas assinaturas, contra 32% dos assinantes Netflix. Entre os assinantes inclinados a fazer essa redução, a maioria o faria por não assistir a tantos canais, a ponto de justificar o custo, ou simplesmente por não conseguir mais bancar o serviço. Dixon comenta também que em 2010 a HBO perdeu 1,6 milhão de assinantes, e que embora a utilização do Netflix não seja o fator decisivo, ele certamente influenciou essa perda. Modelos de VOD Em relação aos modelos de negócio praticados pelos serviços de vídeo sob demanda (VOD), parece que o de assinatura é o que vem encontrando maior adesão do consumidor. A análise é de Marcelo Spinassé, presidente da Truetech, empresa que oferece plataforma de distribuição digital para vare-


jistas como Saraiva e Submarino, e também para portais e operadoras de TV por assinatura, como o serviço Sky Online. Ela realizou uma pesquisa com 1,2 mil internautas que já consumiram vídeo sob demanda online em algum dos serviços suportaFrancisco Varela, do YouTube dos pela empresa. Spinassé comentou que embora 90% dos resultados YouTube profissional venham de SVOD (subscription Os gigantes da Internet também se vídeo on-demand), o que essa janela movimentam para lucrar no universo oferece são basicamente títulos de catádo vídeo online. O maior provedor logo, enquanto os lançamentos estão mundial nesse mercado é o YouTube, nas janelas de TVOD (VOD transaciocontrolado pelo Google, e que está busnal). “O TVOD serve para branding, cando uma maior profissionalização de traz relevância, disponibilizando o conseu conteúdo, reduzindo a dependênteúdo mais atual e de maior visibilidacia por vídeos gerados pelo usuário e de para os usuários”, afirmou. aproximando-se de conteúdos profisA pesquisa, realizada no segundo sionais. Para isso, busca formas de semestre de 2011, mostrou que a monetizar este conteúdo. Segundo o maioria dos usuários prefere fazer diretor de Global Platform Partnerships download dos vídeos do que assistir do YouTube, Francisco Varela, que parpor streaming: 82,17% afirmaram assistir aos vídeos por download, enquanto 17,83% veem por streaming. Os motivos para a escolha por download são diversos, mas 44,62% responderam que preferem fazer download por opção, para ter o arquivo no computador. Outros 15,93% disseram que não conseguiram assistir ao vídeo online pois o mesmo travava, e outros 16,49% afirmaram que sabiam que poderiam assistir ao vídeo online, mas quiseram baixar o arquivo porque a Internet era lenta. ticipou do Congresso TV 2.0, a empresa A velocidade da Internet influenciou está se movimentando agressivamente na decisão da maneira de assistir aos para encontrar uma forma de monetivídeos, já que 52% dos entrevistados zar seus parceiros. possuem menos de 2 Mbps de velocidaEntre as ações para criar esse novo de de conexão de Internet. modelo de negócios está a ampliação Apesar dos vídeos serem baixados ou da base, bem como o aumento do conassistidos por streaming online, a maneisumo por parte dos usuários. Para ra preferida para assistir aos filmes é na Varela, trabalhar com dispositivos é a TV: 82% usam o computador para acesforma natural de trazer ao consumo de sar o conteúdo e 74% conectam o PC ou vídeos online bilhões de pessoas que notebook às suas TVs. Entre os outros hoje não estão conectadas dispositivos nos quais os usuáou que não acessam as plarios mais desejam ver os filmes taformas de vídeo. estão o iPad e o iPhone A empresa aposta na evo(17,92%), com destaque também para as TVs conectadas. Quando o assunto é conteúdo, o que os consumidores querem encontrar são os últimos lançamentos (15,46%), séries de TV (10,96%) e conteúdo em alta definição Colin Dixon, da TDG (10,57%).

“Os consumidores estão buscando e comprando em dispositivos móveis os mesmos conteúdos que antes eram exclusivos dos desktops.”

FOTOS: divulgação

O uso de Netflix por streaming em 2011 foi 80% maior do que todos os serviços de vídeo on-demand (VOD) das operadoras de TV por assinatura juntas nos Estados Unidos.

lução dos equipamentos móveis e na capacidade de processamento, que fazem com que smartphones sejam plataformas de consumo e até produção de vídeo. “Os consumidores estão buscando, compartilhando e comprando (em dispositivos móveis) os mesmos conteúdos que antes eram exclusivos dos desktops”, diz, afirmando que 10% dos acessos do YouTube são feitos em dispositivos móveis e atualmente a média é de duas horas de upload de vídeos feitos através desses devices por minuto. Outro dispositivo vital é a própria TV. Varela admite que a capacidade de processamento da maioria das TVs conectadas e outros dispositivos que trazem conexão à televisão ainda é limitada. “Apenas os equipamentos ‘top’ podem oferecer o processamento necessário para navegar na Internet”, diz. Mas ele lembra que a TV “ainda é o centro de consumo de conteúdo nos lares”. Hoje, o YouTube está disponível nas plataformas conectadas dos principais fabricantes, e a estratégia é chegar a todos, inclusive os pequenos. Neste tipo de dispositivo, ele lembra que a qualidade de imagem é fundamental, o que pode ser um problema dependendo da banda disponível. Além disso, o controle remoto ainda é uma questão não muito bem resolvida. Para resolver este problema, o YouTube tem trabalhado para facilitar as buscas e organizar os conteúdos e os canais temáticos. Ele diz que os aplicativos para TVs conectadas já chegaram à terceira geração, e uma quarta está em desenvolvimento. Em relação ao conteúdo, o YouTube montou um fundo de US$ 100 milhões que opera apenas nos Estados Unidos no desenvolvimento de ideias originais de conteúdo em vídeo para a web. No Brasil, Varela disse que o portal de vídeos vem explorando a exibição de eventos premium ao vivo, como o Rock in Rio. Segundo ele, o conteúdo esportivo também é de grande valor na plataforma. Além disso, o executivo apontou interesse em parcerias com distribuidores e produtores independentes. Para monetizar os parceiros, o YouTube vê três possibilidades: recei

“Em 2020, nos Estados Unidos, vamos assistir tantos vídeos da Internet quanto dos broadcasters.”

mai_2012 Teletime 19


.:Convergência ta por publicidade; vídeo on-demand em modelo de cobrança por transação (o que já está em operação em alguns mercados); e assinatura. Este último modelo de negócios ainda está em estudo no portal. Varela acredita que alguns conteúdos segmentados podem despertar atenção de usuários. “Um guitarrista muito bom poderia oferecer uma série consistente de vídeos no YouTube”, citou como exemplo. Local Uma das principais estratégias do portal Terra, um dos mais ativos na oferta de VOD, para conquistar a popularidade de seu novo serviço de vídeo é buscar conteúdos “realmente locais”. Segundo o diretor de mídia do Terra, Pedro Rolla, o SundayTV, novo nome do VOD da empresa lançado em março, conta com uma equipe de “cinco ou seis pessoas” dedicadas a buscar conteúdos locais. “Não é apenas o show do Rafinha Bastos, temos conteúdo regionais no Rio Grande do Sul e no Pará”, exemplificou o executivo no Congresso TV 2.0. Como exemplo, ele cita o “Guri de Uruguaiana”, personagem que grava shows locais em diversas cidades do Rio Grande do Sul. “Os artistas regionais tornam-se importantes divulgadores do nosso serviço em seus shows”, diz. Para o Terra, este conteúdo tem alto valor agregado, a ponto de ser vantajoso comprar o conteúdo, e não apenas adotar o modelo de revenue share. O SundayTV surgiu como uma evolução da plataforma de VOD do Terra e cobre toda a América Latina. Segundo Rolla, a ideia é expandir o serviço a outros territórios. “Não é um produto americano que desembarcou aqui, sem presença local. Vamos começar aqui e podemos ir para os Estados Unidos e a Europa”, disse. O Terra, que já há algum tempo disputa direitos esportivos para a transmissão de grandes eventos, anunciou no começo de maio que terá uma estrutura inédita de cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em julho/agosto, incluindo a transmissão simultânea de dezenas de canais em alta definição com os conteúdos ao vivo das provas, inclusive para dispositivos móveis e TVs conectadas.

“É obrigatório ter estratégia multiplataforma.” Luiz Olivalves, da ESPN

Em toda parte Os programadores tradicionais apontam o investimento em distribuição multiplataforma como uma forma de agregar valor à assinatura de TV, e ainda gerar receitas adicionais nas outras plataformas. O diretor de novos negócios da ESPN, Luiz Olivalves, afirma que a TV por assinatura é o mercado mais forte da programadora, mas destacou a importância da rádio, dos portais e da revista para estar constantemente perto de seu público. Segundo ele, a equipe sempre pensa em como o conteúdo será consumido, gerando-o de forma customizada para ser consumido “no sofá ou fora de casa”. O desafio é como distribuir estes conteúdos nas diversas plataformas. “É obrigatório ter estratégia multiplataforma”, completou. Segundo o diretor de distribuição da Viacom, Rogério Francis, por criar conteúdos destinados ao público jovem, a programadora tem facilidade em levar sua audiência às plataformas digitais. No entanto, ele lembra qual é o negócio principal. “O negócio mais forte continuar sendo o canal linear. Esse conteúdo digital acaba sendo uma degustação dos conteúdos da Viacom”, diz Francis. O diretor de novas mídias da Globosat, Gustavo Ramos, aponta o TV everywhere como uma ação fundamental para proteger o modelo da TV por assinatura e não deixar baixar a guarda para os serviços over-the-top tradicionais. “Queremos fazer isto sempre com as operadoras, não queremos fazer billing ou saber quem é o cliente”, diz o executivo. Segundo ele, no portal

“Só no Brasil, a base de TVs conectadas até 2015 deve ser de 15 a 20 milhões.” Marcelo Varon, da Sony 20 Teletime mai_2012

Muu a Globosat exibe entre 300 mil e 700 mil vídeos por mês, apesar da ainda fraca divulgação do serviço. Boa parte, diz, em dispositivos móveis, através de apps. Já a Bandeirantes prepara uma presença ainda mais forte de seus veículos nas plataformas digitais, com destaque para as TVs conectadas. Segundo o diretor de projetos digitais da emissora, Edson Kikuchi, até junho a maior parte dos veículos do grupo deve entrar nas smart TVs. “O investimento publicitário está em alta e há uma multiplicação dos meios. O grupo de comunicação precisa diversificar para atender os diferentes públicos”, diz. Atualmente, a Band conta com sua programação ao vivo e sob demanda em algumas das principais plataformas de TVs conectadas. O executivo afirma que os lançamentos já contarão com modelos de negócios definidos. Alguns produtos terão publicidade ou serão feitos num modelo por assinatura. “O conteúdo estará nas plataformas dos principais fabricantes. Ainda estamos resolvendo como será o billing, porque cada fabricante tem uma plataforma própria”, diz Kikuchi. Segundo o executivo, explorar todas as plataformas é estratégico para o grupo. “A audiência da TV aberta tem caído consistentemente. O modelo ‘simplista’ da radiodifusão continuará existindo. A questão é que a distribuição tem que passar a ser multiplataforma”, diz o diretor de projetos digitais da Bandeirantes. “Não podemos mais pensar na TV aberta apenas como uma distribuição linear. A produção de conteúdo deve ser pensada para todas as telas”, completa. Em relação à publicidade, Kikuchi diz que o modelo de remuneração terá que mudar e acompanhar a mudança no hábito do consumidor. “O anunciante quer estar onde o consumidor está. Não importa o meio”, completa. TVs inteligentes O mercado de smart TVs, que é central para a evolução dos modelos de TV 2.0, deve ganhar um impulso em 2012, apontam alguns dos principais fabricantes. Segundo Marcelo Varon, gerente de network business – TV product marketing da Sony, em 2011, 20% dos


televisores vendidos eram conectados. A previsão é de que 500 milhões de aparelhos conectados (incluindo smart TVs, blu-ray players e consoles de games) sejam vendidos globalmente até 2015. “Só no Brasil, a base deve ser de 15 a 20 milhões”, diz. No caso da Sony, 85% das TVs e todos os blu-ray players vendidos no ano passado são conectados. A participação de aparelhos conectados nas vendas globais de TVs, aponta Varon, deve saltar de 20% em 2010, para 54% em 2015. Para a América Latina, o salto é ainda maior: de 1% em 2010, para 39% em 2015. Segundo o gerente sênior de produtos TV da Samsung, Rafael Cintra, 2012 deve representar o maior crescimento da categoria de produtos até agora. Em números absolutos, aponta o executivo, o salto deve ser de 2,05 milhões de smart TVs distribuídas em 2011 para 3,73 milhões em 2012. Para Cintra, o aumento da penetração da banda larga é um importante motor para a evolução das plataformas de TV. A expectativa é que 30 milhões de lares estejam conectados em 2013. “A qualidade da banda larga ainda é um problema. Atualmente, apenas três

milhões de lares têm uma boa conexão de banda larga”, lembra. O gerente geral de conteúdo da LG, Milton Neto, concorda que a banda larga é um dos principais fatores que determinam o volume de acesso às pla-

Os programadores tradicionais apontam o investimento em distribuição multiplataforma como uma forma de agregar valor à assinatura de TV, e ainda gerar receitas adicionais nas outras plataformas. taformas de smart TVs. Além deste, enumera a criação de hábito de consumo de conteúdo na modalidade “catch up TV” e o hábito de alugar ou comprar conteúdo premium. “Há um esforço para educar o consumidor sobre a plataforma”, diz. Segundo o executivo da LG, é preciso disponibilizar diferentes perfis de conte-

údos, pois eles ajudam a atrair variados perfis de usuários. Como exemplo, diz que alguém pode começar a usar a plataforma apenas porque gostou do jogo de paciência. “Isso quebra a barreira de entrada na tecnologia”, explica A LG conta hoje com mais de 500 aplicativos, criados por mais de dez desenvolvedores em sua plataforma. Milton destaca que há uma área apenas de conteúdos premium em vídeo e outra dedicada aos apps, para variados perfis de consumidores. Cintra, da Samsung, diz que, globalmente, a Samsung conta com aproximadamente mil aplicativos. Os usuários da plataforma da fabricante já realizaram mais de 10 milhões de downloads em todo o mundo. No segundo trimestre, a fabricante contará com aplicativo para exibir o conteúdo da TV Corinthians. No caso da Sony, a contabilização é diferente. Isto porque a fabricante não tem uma plataforma de aplicativos de games e utilitários. Suas TVs conectadas carregam apenas aplicativos de vídeo. Segundo Varon, já há mais de quarenta canais de vídeo on-demand na plataforma. 


.:Política

Samuel Possebon

samuca@convergecom.com.br

Reforma sem prazo

Governo pretende começar a discutir mudanças no modelo de telecomunicações ao soltar o questionário à sociedade sobre a futura Lei de Comunicação. Mas ainda há pouca clareza sobre o que e como mudar. de uma banda larga prestada em regime público, e uma mudança nesse sentido poderia ser feita em lei, ainda que não seja necessário mexer na LGT. “A Lei é muito clara ao dizer que quem estabelece os serviços públicos é o presidente da República. Se há o desejo de fazer isso, é só fazer”, explica Carlos Ari Sundfeld, advogado que atua para diversas empresas de telecom e que na década de 90 foi um dos autores intelectuais da LGT. “A única dificuldade é que para cada serviço público que se crie, se isso vier acompanhado de obrigações, é ne­­cessário assegurar o equilíbrio da pres­­tação do serviço, e isso muitas vezes encontra resistência nos formuladores de políticas”. Na Anatel , ainda não existe nenhuma formulação definitiva, mas o conselheiro Jarbas Valente tem sido, desde o ano passado, defensor de algumas ideias que se encaixam bem no contexto de um debate sobre um novo modelo. Primeiro em apresentação no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e depois na Campus Party, em fevereiro, o conselheiro colocou algumas ideias na mesa. Entre essas propostas estão: 1) alterar o escopo do atual STFC para en­­ glo­­ bar a oferta de serviços em banda larga; 2) criar um serviço de banda larga em regime público, associado à possibilidade de uso de fundos setoriais; 3) definir modelo de parcerias público-privadas onde a empresa pública estatal venda apenas capacidade de rede para a prestadora que detenha outorga de serviço de telecomunicações; 4) criação de um novo serviço de banda larga no regime público que permita a mudan-

“Corre-se o risco de em 2025, quando terminarem os contratos das teles e a União for assumir o serviço, ainda termos que pagar pela infraestrutura”. Ministro Paulo Bernardo 22 Teletime mai_2012

ça da prestação para o regime privado, após o atendimento pela prestadora dos compromissos assumidos, nos prazos estabelecidos, ou, por fim; 5) criação de um novo serviço convergente, no regime privado, que permita a migração do STFC prestado em regime público, em todas as modalidades, somente após o atendimento pela prestadora de STFC dos compromissos e premissas assumidos, nos prazos estabelecidos. O conselheiro tem dito publicamente ser defensor desta última proposta. Mas é apenas uma ideia e o debate parece estar apenas começando. Em outros países, as revisões de modelo de telecomunicações passaram invariavelmente pelos projetos locais de banda larga e pela mudança de regras de abertura das redes. Modelos como a separação estrutural de redes e serviços, ou a política de open access, foram testados com maior ou menor sucesso em diferentes países. Para o conselheiro Marcelo Bechara, autor da proposta de reestruturação da Anatel que está em consulta até o final do mês (ver matéria de Regulamentação à pág. 24), a agência precisa de uma área que seja a responsável por pensar a atuação regulatória futura, e para isso propôs uma superintendência justamente de planejamento regulatório. Para o governo, por outro lado, mexer no modelo de telecomunicações é adicionar uma nova variável a um cenário já complexo, em que se discute um Marco Civil de Internet na Câmara (onde está inserida a neutralidade de rede), a Lei de Comunicação e questões críticas como tipificação de crimes de Internet, direito autoral e propriedade in­­telectual, que de certa forma também são te­­mas relacionados a esse am­­ bi­­ ente convergente e ainda com muitas divergências. Com tudo isso, vale o registro de que a discussão da reforma do modelo está posta, mas sem prazo para acabar.  FOTO: arquivo

D

esde o começo do ano o governo vem sinalizando a disposição de promover mudanças no marco legal das telecomunicações brasileiras. A ideia é “rever o modelo”, nas palavras proferidas pelo ministro Paulo Bernardo no Seminário de Políticas de (Tele)Comunicações, organizado por TELETIME em fevereiro. Agora, o Mi­­ nistério das Comunicações parece ter encontrado uma fórmula para começar a discussão: vai perguntar ao setor o que deve ser mudado. A ideia é incluir entre os cerca de 50 ques­­tionamentos que devem ser publicados em junho sobre uma futura Lei de Comunicação alguns pontos referentes a possíveis mudanças na Lei Geral de Tele­ comunicações (LGT). Mas fontes familiarizadas com essa discussão garantem: o governo ainda não tem a menor ideia daquilo que pretende ou pode mudar. Paulo Bernardo já havia chamado a atenção para um ponto central em fevereiro: a reversibilidade. Nas palavras do ministro na ocasião, “corre-se o risco de em 2025, quando terminarem os contratos das teles e a União for assumir o serviço, como prevê a lei, ainda termos que pagar pela infraestrutura”. O problema detectado pe­­la Anatel é que as redes de telecomunicações baseadas em pares de cobre estão sendo trocadas por fibra, e por estas novas redes também trafegará o serviço telefônico. Como a reversão prevê a compensação pelo investimento não amortizado, o receio é que, no limite, o governo ainda tenha que pagar por esta rede. Mas as mudanças em vista não ficam restritas a esta questão. A preocupação maior é com o cenário convergente de oferta de serviços e como isso deve ou pode ser regulado. Existe ainda a discussão sempre colocada pelos movimentos de defesa do usuário e democratização das co­­ mu­­nicações em favor


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.:Regulamentação

Helton Posseti e Samuel Possebon

helton@convergecom.com.br e samuca@convergecom.com.br

Um novo paradigma

Anatel se prepara para aprovar o Plano Geral de Metas de Competição, uma das mudanças mais importantes na forma como a agência vai regular o mercado daqui para a frente. Confira o que deve vir por aí. ofertas de referência fossem homologadas. Para o mercado de compartilhamento de infraestrutura de rede de acesso, no compartilhamento de bitstream e aluguel de EILD (Exploração Industrial de Linhas Dedicadas) foi definida a adoção do percentual de 80% sobre o menor preço praticado no mercado de varejo e de 60% sobre o menor preço do varejo para full unbundling. Esses percentuais estão todos mantidos na versão pós-consulta pública, além de outras medidas que serão aplicadas enquanto as ofertas de referência não forem homologadas, como a destinação de 50% da capacidade dos seus backhauls para a venda no atacado enquanto as ofertas não forem homologadas e de 20% da capacidade da infraestrutura passiva (dutos, condutos, postes e torres). Mas a agência foi sensível a algumas manifestações do setor e retirou do PGMC outros pontos que também incomodavam, como a obrigação de instalar ponto de troca de tráfego (PTT) em cada área de registro. A área técnica da Anatel aceitou a sugestão do NIC.br de que a empresa com PMS no mercado de longa distância se conecte aos PTTs administrados pela entidade e celebrem acordos de troca multilateral. Mas quem fará os PTTs será o CGI.br. A Anatel entendeu que seria prejudicial ao mercado deixar que uma prestadora dominante seja a controladora de um PTT. A medida assimétrica para o full unbundling e bit stream também foi, de certa forma, relativizada. As empresas consideradas PMS no mercado de redes de acesso deverão apresentar uma oferta de referência para o comCarsten Reisinger/shutterstock.com

A

o longo do primeiro semestre de 2012, uma série de questões importantes em termos de regulamentação foi decidida pela Anatel. Mas uma em particular deve provocar uma mudança sensível na forma como a agência regula o mercado. É a edição definitiva do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC), que está em fase final de elaboração pelas áreas técnicas da Anatel e deve ser votada pelo Conselho Diretor até o final de junho. O plano ataca um dos principais problemas do setor, que é a falta de concorrência e regulação no mercado de atacado. A abordagem regulatória da agência é a de equilibrar o mercado em seus insumos básicos, como infraestrutura de redes de acesso e links no atacado, para que isso se reflita em mais competição na ponta final do usuário. É uma mudança importante, já que até hoje as principais intervenções da agência se davam sempre no serviço em si. Durante a fase de consulta pública, Oi e Telefônica, as principais afetadas pela proposta da Anatel, alegaram que o PGMC ofendia o princípio da livre iniciativa ao obrigar as empresas a realizarem investimentos exclusivamente para atender às empresas consideradas sem Poder de Mercado Significativo (PMS). Outra crítica foi em relação aos critérios adotados pela Anatel para a definição dos grupos com PMS, bem como os critérios de definição dos mercados relevantes e também algumas medidas assimétricas em si. As empresas também criticaram muito as medidas elaboradas pela Anatel para incentivar os grupos com PMS a serem céleres no processo de homologação das ofertas de referência para capacidade de rede. A proposta final da área técnica é muito parecida com a proposta que foi à consulta pública: a Anatel estabeleceu alguns preços-teto com base no conceito de “retail minus” que seriam usados para a resolução de conflitos até que as

24 Teletime mai_2012

partilhamento em bit stream e full unbundling apenas para as redes de cobre, e ainda assim abaixo de uma determinada velocidade, estabelecida em até 25 Mbps na sugestão da área técnica, ainda passível de revisão pelo Conselho Diretor. Essa oferta será obrigatória nos primeiros cinco anos. Com isso, a Anatel quer estimular novos competidores a investirem em redes, caso queiram ofertar velocidades maiores. E também estimular as incumbents a renovar suas redes, instalando redes óticas, sem que isso venha acompanhado de uma obrigação de compartilhamento. Ao final deste período, a Anatel revisa o mercado para saber se as ofertas de referência devem mudar. Na versão que foi à consulta pública não havia limite de velocidade, restrição por tipo de rede nem restrição no tempo para o compartilhamento (seja em full unbundling ou bit stream). Outra mudança que provoca alívio nas empresas dominantes foi a retirada do mercado de TV a cabo do rol daqueles nos quais serão impostas medidas assimétricas. A agência entende que, como o mercado foi recentemente aberto para novos competidores, não haveria, neste momento, correções competitivas a serem feitas. O mesmo vale para novas redes, como redes de acesso FTTx ou mesmo redes de cobre que sejam otimizadas para velocidades maiores. “As empresas, sejam as dominantes ou entrantes, agora vêm aqui e saem contentes, porque percebem que tentamos fazer uma regra equilibrada”, afirma Carlos Baigorri, assessor especial do gabinete do presidente João Rezende e o técnico


FOTO: divulgação

da agência responsável por conduzir a formatação do PGMC.

Conceito A versão pós-consulta pública do PGMC também sofreu uma mudança conceitual. A Anatel não vai aplicar medidas assimétricas (os “remédios”, como têm sido chamadas) sobre as ofertas de varejo. Será feita uma análise concorrencial de cada mercado para identificar os problemas concorrenciais no varejo, como o monopólio da banda larga pelas concessionárias em alguns municípios, mas os remédios serão aplicados no mercado de atacado, ou seja, na relação entre empresas. A Anatel não deverá impor limites de preços no varejo ou obrigar a comercialização de determinados planos. O que será feito é criar mecanismos (como ofertas de referência obrigatória, unbundling, entre outras) para viabilizar a entrada de competidores nos mercados em que há problemas. Depois da análise do mercado e da definição da empresa com PMS, a Anatel avaliará se há problemas naquele determinado mercado. A existência de uma empresa com PMS não significa necessariamente que haja abuso da posição dominante e que, portanto, a prestadora sofrerá medidas assimétricas. A Anatel está alterando também a metodologia para a definição de quais serão as empresas com poder de mercado significativo em cada mercado relevante. Na versão pré-consulta, a agência listou sete critérios para o grupo ser considerado PMS em cada mercado relevante. Na versão pós-consulta, saíram dois critérios: poder de negociação na compra de insumos, equipamentos e serviços; e acesso privilegiado a fontes de financiamento. Durante a fase de consulta pública, algumas operadoras argumentavam que esse último requisito era demasiadamente subjetivo. Mas a Anatel antecipa que a grande disputa nessa fase final de aprovação do PGMC será justamente na metodologia que definirá quem é e quem não é PMS. “As empresas perceberam que uma série de outros regulamentos, como o de EILD, agora remetem a esse conceito de PMS, e estão preocupadas. Com certeza, o grande foco de pressão será sobre a fórmula que nos permitirá dizer se a

filtro e foi aprovada”. As PMSs alimentarão o sistema com os seus preços e automaticamente o sistema homologa ou não os valores, de acordo com a metodologia de replicabilidade da oferta previamente estabelecida. A oferta de referência poderá ser apresentada por município, por grupos de municípios e até por central telefônica, se a empresa tiver uma condição diferente de preço em determinada área de uma cidade. “A gente não vai falar o preço. Ele faz uma oferta de referência e o sistema homologa ou não”, afirma Baigorri. A definição desse algoritmo de análise da “replicabilidade da oferta” é um dos grandes desafios da Anatel, e como não existe uma referência de custos reais para estimar em que condições de margem as empresas operam (vale lembrar que o modelo de custos de que a Anatel precisa ainda não está pronto), a agência está se baseando em parâmetros internacionais de custos e margens. Além de custos e margens, esse algoritmo validará também prazos de instalação, que também deverão constar nas ofertas de referência. Outro dado importante: esses parâmetros poderão ser ajustados por portaria, a qualquer tempo, caso a Anatel identifique que o remédio não está provocando o efeito desejado. O trabalho de definição desta metodologia conta com apoio, inclusive, da Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda e do Cade.

“As empresas, sejam as dominantes ou entrantes, agora vêm aqui e saem contentes, porque percebem que tentamos fazer uma regra equilibrada.” Carlos Baigorri, da Anatel empresa é ou não detentora de poder de mercado significativo, porque ninguém quer ser PMS”, diz um conselheiro da Anatel. Junto com a publicação do PGMC, a Anatel, por meio de atos, irá publicar quais são as empresas consideradas PMS em cada um dos mercados. Outra metodologia que está sendo utilizada é a de “replicabilidade de oferta”, que será baseada no conceito de “retail minus”, ou seja, o insumo (no caso, o uso da rede) não pode custar mais do que o serviço final ao consumidor. Essa metodologia de replicabilidade de oferta será

Oi e Telefônica alegaram que o PGMC ofendia o princípio da livre iniciativa ao obrigar as empresas a realizarem investimentos para atender às empresas consideradas sem Poder de Mercado Significativo. desenvolvida para cada um dos mercados relevantes. “A analogia para a oferta de capacidade de rede de telecomunicações é a de que a farinha nunca pode custar mais do que o pão. É assim que vamos trabalhar”, diz Baigorri. Essa metodologia será aplicada para que as ofertas de referência sejam ou não homologadas. E essa homologação, agora, é função da Anatel, e não mais da Entidade Supervisora, como propunha a consulta pública. Até então, a Entidade Supervisora era responsável por definir a metodologia para a avaliação da oferta de referência e enviá-las para a validação da Anatel. Agora, explica Carlos Baigorri, a Anatel está desenvolvendo um sistema que fará a homologação da oferta de referência e dos prazos das empresas consideradas PMS em cada um dos mercados relevantes. “O processo de homologação das ofertas de referência será feito via software, automático. A empresa coloca a sua oferta e imediatamente já sabe se ela passou no mai_2012 Teletime 25

Entidades Outra sugestão importante da área técnica é uma redução de três para apenas uma entidade independente para realizar funções de acompanhamento do mercado. Deixariam de existir as entidades Comparadora e Representantes dos Grupos sem PMS, e sobraria apenas a Entidade Supervisora, mas com uma função bem diferente da versão pré-consulta se a sugestão da área técnica for mantida após a discussão no Conselho Diretor. Além de definir a metodologia de homologação de ofertas, a Entidade Supervisora também funcionaria como uma espécie de câmara de arbitragem. Essas funções foram bastante reduzidas


.:Regulamentação e agora a Entidade Supervisora será responsável apenas por manter uma plataforma de negociação entre as empresas para compra e venda de capacidade no atacado, sendo que todas as negociações deverão ser feitas por esta entidade. A entidade seria uma espécie de broker (intermediário). A ideia é que as empresas com PMS contratem uma plataforma tecnológica, na qual os interessados nos insumos da PMS possam colocar suas necessidades. O sistema então indicaria a operadora fornecedora daquele determinado insumo em determinada região e seus preços e prazos, que seriam previamente homologados pela Anatel. Outro detalhe importante: a Anatel não permitirá aos operadores que pratiquem livremente políticas de descontos na oferta de atacado, porque o princípio é que as ofertas sejam sempre isonômicas. Mas é possível que a Anatel estabeleça faixas de descontos por volume que sejam válidas em qualquer negociação. Será criado um grupo de implementação dessa plataforma de negociação, que definirá todos os requisitos do sistema e os critérios de acesso. A entidade supervisora poderá cobrar uma taxa por negócio concluído. Na proposta que foi à consulta pública, a Anatel sugeria que cada empresa com PMS em mercados relevantes de atacado criasse uma Base de Dados de Atacado, com acesso remoto e atualizada em tempo real para que os solicitantes pudessem acompanhar a fila de pedidos. A base de dados, que segundo a proposta deveria estar disponível na página principal da operadora na Internet, deveria conter a descrição da oferta, a identificação do solicitante, municípios de origem e destino do pedido, entre outros. Agora a base de dados será usada tão somente para alimentar a plataforma de negociação a ser desenvolvida pela Entidade Aferidora. Isso porque a SEAE, do Ministério da Fazenda, considerou que esse sistema, como originalmente concebido, poderia ser nocivo por criar incentivos ao “alinhamento estratégico entre concorrentes ou ao comportamento predatório entre agentes que conhecem reciprocamente a sua estrutura de custos”. Ao trazer o sistema de homologação da oferta de referência para os seus domínios e transformar a Base de Dados de Atacado em um sistema que apenas fornece as informações para a plataforma de negociação, fica claro que a Anatel

entidade supervisora também funcionaria como uma espécie de câmara de arbitragem. atendeu às sugestões da secretaria. Dos 11 mercados relevantes que na versão em consulta pública foram considerados para a análise e identificação de problemas concorrenciais, a Anatel deve reduzi-los a apenas seis. Alguns, como o mercado de interconexão de redes fixas, foram excluídos, mas a

Anatel deve incluir, por exemplo, o mercado de roaming de dados, onde há indícios de problemas. Em outros casos, como o mercado de interconexão de redes móveis, a agência ainda deve esperar um pouco para tomar medidas, já que desde a consulta pública do PGMC as regras de tarifação fixo-móvel mudaram justamente para forçar uma queda na VU-M. A agência manteve a obrigação de que a concessionária presente em duas área do PGO construa rede de transmissão também na terceira área, nas seguintes condições: chegar em municípios que abranjam 50% da população em 3 anos; 60% em 5 anos e 70% em 7 anos. A Oi será a única afetada pela medida porque existe uma cláusula que isenta a Algar Telecom que, embora seja uma empresa regional, está presente nas três áreas. Vale lembrar que a Oi já havia concordado com esta obrigação quando o Plano Geral de Outorgas foi mudado para permitir a fusão com a Brasil Telecom. 

Casa nova

A

lém de uma nova abordagem regulatória com o PGMC, a Anatel está também propondo uma nova estrutura operacional, com novas superintendências, justamente para adaptar a agência a esta nova realidade convergente do mercado. A consulta vai até o final de junho. As superintendências sugeridas são as seguintes:

1

Superintendência de planejamento regulatório, que terá sob si a gerência de regulamentação, a gerência de planejamento estratégico e a gerência de universalização e projetos.

2 3

Superintendência de fiscalização, que abrigará a gerência de suporte à fiscalização e a gerência de fiscalização, responsável por coordenar as gerências regionais.

4

Superintendência de controle de obrigações, que terá sob si a gerência de controle de obrigações de qualidade, a gerência de controle de obrigações de universalização e a gerência de controle de obrigações legais.

5

Superintendência de competição, que terá uma gerência de acompanhamento econômico, tarifas, preços e custos; uma gerência de resolução de conflitos e acompanhamento de contratos entre prestadoras e; uma gerência de acompanhamento societário e ordem econômica.

6

Superintendência de relações com consumidores terá a gerência de interações institucionais, satisfação e educação para o consumo; gerência de tratamento de solicitações de consumidores e; gerência de canais de relacionamento com os consumidores.

7

Superintendência de gestão interna, que terá uma gerência de tecnologia de informação, uma gerência de desenvolvimento de pessoas e organização e uma gerência de informações e biblioteca.

8

Superintendência de administração e finanças, que terá sob si a gerência de aquisições e contratos, a gerência de infraestrutura e segurança institucional, a gerência de finanças e a gerência de administração pessoal.

Superintendência de outorgas e recursos à prestação, que abrigará a gerência de outorgas e licenciamento, a gerência de recursos escassos e certificação e a gerência de serviços de radiodifusão.

26 Teletime mai_2012


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Brasil precisa de uma política mais contundente de investimentos públicos e privados para poder assumir um papel relevante na área de desenvolvimento e fabricação de equipamentos de telecomunicações, avaliam especialistas consultados por TELETIME. Entre as medidas que precisam ser tomadas está justamente aquela sendo implementada pelo governo: a exigência no médio e longo prazo de compra de produtos nacionais para construção, expansão e atualização das redes das operadoras em troca de benefícios fiscais. Um exemplo é a atual fase vivenciada pela iniciativa privada e pelo setor público para a implantação do 4G. Para o diretor de gestão da inovação do CPqD, Antônio Carlos Bordeaux, o Brasil tem competência para desenvolver tanto hardware quanto software, mas os avanços na fabricação de equipamentos que possam impulsionar também a indústria são retidos pela falta de incentivo a empresas nacionais. Isso faz com que, na maioria das vezes, os principais fornecedores das operadoras locais sejam multinacionais. “Quando o assunto é hardware, eles preferem fazer na Ásia, onde se concentram os principais fornecedores de insumos e os gastos são menores; assim é possível reduzir o custo fixo do produto”, diz. Como exemplo da capacidade brasileira para fazer equipamentos, ele cita as nacionais Padtec e Datacom, que atuam na área de infraestrutura de redes e comunicações óticas. “São empresas que chegam a movimentar R$ 300 milhões por ano e, em alguns casos, estão até exportando. Se não

Palto/shutterstock.com

Desoneração e demais iniciativas protecionistas arrancam elogios da indústria local. No entanto, verba federal para pesquisa e desenvolvimento tem caído 20% ao ano. Solução é concentrar esforços em tropicalização e especialização.

tivessem boa qualidade, não conseguiriam isso”, comenta. Além dos dois exemplos mencionados por Bordeaux, há no País entre oito e dez empresas atuando na fabricação de produtos para redes de acesso e comunicações óticas. Entretanto, o principal desafio de quem almeja produzir equipamentos deste porte no mercado interno é a falta de políticas aderentes à necessidade de fabricantes de médio porte, que precisam arcar integralmente com o chamado “custo Brasil”. “O que o governo está fazendo é incentivar de maneira diferente, porque a necessidade na licitação não pode ser apenas de

“Se sobrevivemos até hoje foi porque nos restringimos a determinados nichos e desenvolvemos produtos muito focados e especializados.” Ivo Vargas, da Parks 28 Teletime mai_2012

ter montagem local, precisa ser algo de grande porte”. Artur João Catto, do Instituto Eldora­ do, elenca outros motivos para a falta de interesse de grandes companhias em investir na produção local. Entre eles está a questão de escala dos produtos, que geralmente são desenvolvidos para serem vendidos em diversos países. “A indústria de telecomunicações divide-se, basicamente, em dois grandes segmentos: infraestrutura e consumo. O segmento de consumo é essencialmente globalizado e, portanto, de altíssimo volume. Seus produtos são sempre definidos para o mercado mundial e isto acontece nos centros mais desenvolvidos”. Segundo ele, por isso, “o trabalho de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil fica prejudicado, limitando-se a adaptações de modelos no caso de produtos de multinacionais e ao desenvolvimento de soluções de nicho por algumas empresas locais”. Catto também afirma que as pesquisas ‘encomendadas’ pela iniciativa privada quase sempre atendem à demanda por incentivos públicos ou exigências de cotas de produção ou desenvolvimento no Brasil para uma empresa que deseja participar de uma licitação. “O investimento em P&D em telecomunicações no Brasil é, em boa parte, decorrente da Lei de Informática (Lei 8.248/91), que concede incentivos fiscais a empresas que realizem P&D e fabriquem no Brasil alguns produtos de informática e telecomunicações”. Segundo ele, para a área de telecomunicações são mais frequentes os projetos de software (aplicações, portais, plataformas de desenvolvimento e sistemas operacionais), ou testes funcionais


de equipamentos, certificação e homologação de produtos e, em menor escala, desenvolvimento de novos dispositivos. Falta de incentivos Na contramão do discurso oficial do governo de investimentos em P&D, elemento essencial para se criar uma produção local competitiva, e até mesmo dos recentes incentivos anunciados em editais de licitação pública, o dinheiro reservado para o desenvolvimento tecnológico tem sido reduzido ano a ano, em média 20%, segundo relatórios de financiamento público para P&D do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Apenas em 2011, dos R$ 7,4 bilhões destinados no orçamento para a área, ao menos R$ 1,7 bilhão foi cortado dentro do quadro geral de despesas da União. Para este ano, além de o montante destinado à área ser menor, R$ 5,2 bilhões, o contingenciamento de verba se repete: foi cortado R$ 1,48 bilhão do orçamento do MCTI. O cenário parece ainda mais grave se for levado em conta que a soma dos valores congelados pelo Governo nos últimos dois anos representa 48,9% dos R$ 7,6 bilhões destinados à área no orçamento de 2010. Com investimentos cada vez menores, em 2011 o Brasil foi responsável por apenas 2,39% dos estudos científicos publicados internacionalmente. Mesmo assim, o volume representa mais de 54% do total de pesquisas publicadas por nações latino-americanas, conforme dados do MCTI. Tropicalização e especialização Neste cenário no qual os incentivos ao desenvolvimento local são abaixo da necessidade da indústria nacional de equipamentos com alto valor agregado, resta aos fabricantes locais a chamada ‘tropicalização’ e adaptação

de produtos para serem vendidos no mercado interno. Um exemplo é o que faz a gaúcha Parks. A companhia acredita na estratégia da tropicalização. E credita a ela o fato de estar completando, em agosto próximo, 46 anos de existência. “Creio que somos o fabricante de telecom mais antigo do Brasil. Naquele tempo havia 60 empresas, hoje esse número não enche uma mão. Sobrevivemos pois aprendemos a pegar a tecnologia e colocar nela características nacionais”, diz o diretor de novos negócios da Parks, Ivo Vargas. “A área de telecom vive de padrões internacionais,

do Vargas, é a especialização. Para ele, é assim que a indústria brasileira está se organizando. E é assim que tem de continuar seguindo, por especialidades. “Não dá para fazer tudo. Por isso a Padtec é expert em DWDM, a Parks em equipamentos de acesso e redes óticas passivas (GPON), a Datacom em switches MetroEthernet de até 400 Gbps, a Digitel em rádios digitais e a AsGa em switches e modems óticos”. Como porta-voz do mercado, ele se posiciona sobre a desoneração e acredita que ela é mais do que necessária em benefício dos players locais. “Nosso grande ofensor em GPON são os asiáticos, sempre muito agressivos comercialmente. Temos que fortalecer nossa indústria”. Para ele, o anúncio do Programa Brasil Maior e a desoneração para novos investimentos em rede deixaram o mercado em compasso de espera. E isso é bom e, ao mesmo tempo, ruim. “É ruim porque os projetos pararam em função dessa lei, o setor está esperando a regulamentação, que deve sair até junho. Alguns investimentos foram postergados”, diz. “Mas se nos afetou negativamente até agora, significa que nos afetará positivamente em breve”, prevê. Para Vargas, o desenvolvimento de novas tecnologias ‘made in Brazil’ está direta e proporcionalmente relacionado ao nível de integração entre a indústria local e as universidades brasileiras. “Estamos competindo contra 45 mil engenheiros da Huawei e uns 30 mil da ZTE, o que é mais da metade da população de Cachoeirinha (RS), onde a Parks está sediada”, diz. “Se as universidades não prepararem profissionais qualificados e a indústria não trabalhar em parceria estreita com esses centros de ensino, não há como competir”. 

Apenas em 2011, dos R$ 7,4 bilhões destinados no orçamento para a área, ao menos R$ 1,7 bilhão foi cortado dentro do quadro geral de despesas da União. não é tão dinâmica e inovadora assim. A grande questão é desenvolver um produto mais focado e customizado ao mercado local”, acrescenta. Para ele, não há demérito algum no fato de a indústria brasileira não desenvolver um tecnologia avançada. “Às vezes acontece, o Ginga está aí para provar; mas se sobrevivemos até hoje foi porque nos restringimos a determinados nichos e desenvolvemos produtos muito focados e especializados”. O executivo cita um exemplo: “estamos trabalhando em uma linha de roteadores parecida com a de um grande fabricante global, mas com uma sequência de software e licenças que entrega só as funções necessárias às operadoras, o que barateia e viabiliza a solução para o mercado brasileiro’. Outra estratégia fundamental, segun-

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Daniel Machado

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Fibra para todos

Motivados por mudanças regulatórias e demanda de mercado, aumenta o número de provedores SCM construindo suas redes óticas próprias.

“Com a demanda crescente por dados, esses provedores perceberam a necessidade de construir uma rede à prova de futuro, por isso a opção pela infraestrutura ótica”.

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A tecnologia a qual ele se refere é a passive optical network (PON), que opera com equipamentos nas bordas dos anéis óticos de transporte, reduzindo bastante o consumo de energia, tempo de gerenciamento e manutenção e aumentando a disponibilidade da rede. Além disso, a tecnologia PON tem uma arquitetura ponto-multiponto, que permite que uma única fibra seja compartilhada por 36 ou 72 usuários. A escalabilidade dessas soluções também é comemorada, pois para rentabilizar a operação não é preciso ter 50 mil acessos ou mais, o que viabiliza a entrada de operadoras de pequeno porte no negócio. “Temos clientes que oferecem fiber-to-the-home (FTTH) para 100 a 150 clientes somente e, segundo eles, o investimento já se pagou”, diz Motizuki. Conheço uma operadora que construiu rede ótica somente para mil casas. Enfim, você não precisa ter operação grande. O importante é atender uma região onde exista concentração de demanda e o retorno sobre o investimento seja razoável”, acrescenta Rigatieri. “E atender muito bem esses clientes, de maneira próxima e quase exclusiva, o que os pequenos e médios provedores já estão acostumados a fazer. Aliás, foi com bom atendimento que eles conseguiram competir com as grandes até hoje”. O retorno do investimento (ROI) é outro ponto a ser considerado. Egressos do mundo sem fio, esses provedores estavam acostumados a recuperar bem cedo seus aportes, o que está longe de ser uma realidade no universo das redes óticas. “O ROI de uma operadora 100% wireless é de uns quatro a cinco meses, muito rápido. Numa rede de fibra, pode passar de um ano, varia de 14 a 18 meses, em média, dependendo do modelo de negócios”, alerta o diretor da WDC. “Mas eles estão dispostos a entrar nesse sistema, mesmo que seja inicialmente com redes pequenas. Os benefícios são diversos”. Sobre o CAPEX há ainda FOTOS: divulgação

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s provedores de serviço de De acordo com Celso Motizuki, gerencomunicação multimídia te comercial de sistemas broadband da (SCM) começam a conquistar Furukawa, o fenômeno é recente. “Há um novo espaço no mercado mais ou menos uns cem provedores no e a entrar em um mundo até Brasil trabalhando com fibra até o assientão restrito às grandes operadoras de nante (FTTx), e cerca de 60% a 70% telecomunicações. Esses provedores, instalaram essas soluções em 2011”, diz. que tradicionalmente dependiam dos A construção de infraestrutura links das teles para fornecer conectividacabeada própria e o ingresso no mercade ao cliente final, ou no máximo dispudo de FTTx estão relacionados a divernham de um acesso limitado pela tecnosos fatores. Um deles é o político-regulogia sem fio na última milha, começam latório, com os estímulos do Programa agora a construir suas próprias redes Nacional de Banda Larga e a nova Lei óticas a fim de levar serviços triple play 12.485/11, que substitui a Lei do Cabo aos seus assinantes. Só a Furukawa, e permite que esses provedores ofereprincipal fabricante de cabos óticos do çam agora, sob o mesmo CNPJ, serviBrasil, espera vender 4,5 milhões de ços diversos de comunicação, inclusive quilômetros em 2012, um crescimento vídeo e TV por assinatura. de aproximadamente 10% ante os 4,1 milhões de quilômetros vendidos ao CAPEX e OPEX longo de 2011. E uma das molas propulMas, segundo Motizuki, da Furukawa, soras desses números é, sem dúvida, o há ainda outros dois motivadores muito mercado de provedores SCM, que atualimportantes para a adoção das soluções mente compram quase tanta fibra quanóticas por parte dos provedores: os investo as grandes operadoras no Brasil. timentos (CAPEX) e custos operacionais Estimulados por mudanças regulató(OPEX). “Até 2010 essas empresas não rias e novas demandas de mercado, esses fa­­la­­vam de FTTx com tecnologia de rede provedores estão vivendo aquilo que os passiva (PON) porque era caro. Mas de lá especialistas chamam de “segunda onda” para cá o custo caiu bastante. Com R$ 60 de desenvolvimento. “Há uns 15 anos, mil é possível fazer a instalação dos priesses provedores simplesmente autentimeiros 30 a 40 assinantes e ativá-los, cavam os assinantes para os players de incluindo os equipamentos de ponta e a conteúdo na rede dial-up de uma operacentral”, calcula. dora. Depois de um tempo, notaram que Na parte operacional, a redução de para também serem operadoras precisacustos também é sentida. “Uma rede de vam ter rede, e passaram a investir em fibra ótica com tecnologia passiva não dá cobertura wireless”, resume o diretor manutenção. Seu custo de operação cai geral da WDC Networks, Vanderlei em pelo menos 60% em relação a outras Rigatieri Junior. “O que está acontecendo tecnologias, pois não dispõe de equipaagora é que, com a demanda crescente mentos ativos no meio da rede”, explica por dados, sobretudo serviços de vídeo, o porta-voz da Furukawa. esses provedores SCM perceberam a necessidade de construir uma rede à prova de futuro e fornecer ultra banda larga, por isso a opção pela infraestrutura ótica”, completa. “Eles estão se tornando minioperadoras e gostam de Vanderlei Rigatieri, da WDC Networks ser chamados assim”.


mais um ponto a ser considerado. Muitas dessas empresas estão acordando para o fato de que juntas podem comprar em maior volume e alinhavar me­­ lhores negócios. Elas fazem uma espécie de pool e conseguem uma negociação mais vantajosa, com redução de até 10% no valor que pagariam separadamente. Isso é bom para o fornecedor também, que muitas vezes não consegue trabalhar com volumes muito pequenos”, diz o gerente da Furukawa. “Estamos fazendo nossa parte também, reduzimos em 20% o limite mínimo de valor de compra e, há um ano e meio, contamos com uma estrutura para o atendimento específico desses pequenos e médios provedores”. A nova estrutura criada pela Furukawa, segundo o executivo, também ajuda o provedor a desenvolver o projeto de rede, configurar os equipamentos óticos e até negociar os direitos de passagem dos cabos com as concessionárias de energia elétrica e organizar os documentos necessários para toda essas operação. Desafios Os desafios se apresentam numerosos e complexos no universo das redes óticas. Um deles – e talvez o mais temido – se chama ‘aluguel de poste’. Esses provedores, que em geral dependiam somente da autorização de síndicos de prédios para a instalação de seus POPs wireless, migram para o mundo cabeado e passam a negociar o direito de passagem desses cabos com grandes empresas, as concessionárias de energia elétrica. “Existe aí uma complexidade maior, pois agora se está diante de um grande player. Certamente a negociação com a concessionária de energia é bem mais complexa e bem amarrada”, diz o presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), Eduardo Neger, que aproveita para levantar uma bandeira do setor. “É preciso garantir a isonomia e a competitividade, reduzindo o valor cobrado pelas concessionárias dos provedores. Eles chegam a pagar R$ 13 por poste, contra R$ 2 das grandes operadoras, é uma disparidade. Com uma média de 20 a 30 metros por poste, como competir?”, questiona. O desenho da rede também é um desafio complexo. “Esse é um dos detalhes que tem tirado o sono de quem está planejando uma rede própria de fibra,

“Há mais ou menos uns cem provedores no Brasil trabalhando com fibra até o assinante (FTTx), dos quais 60% a 70% instalaram essas soluções em 2011”. Celso Motizuki, da Furukawa pegar o mapa da cidade e estudar o melhor trajeto, onde haverá maior adesão de assinantes em uma velocidade mais rápida de conexão, onde fazer o splitter e abrir o link para 2, 4, 8, 16 fibras”, destaca Rigatieri. “Mas se você perguntar para dez provedores qual o maior gasto operacional, os dez vão responder que é o custo com o link dedicado da operadora, por isso acreditam que vale a pena investir na rede própria”. Outra coisa é a documentação: “esse provedor local tem um critério mais relaxado da parte de documentação. Só que quando você constroi rede de fibra, o poste não é seu e tudo isso tem de estar muito bem documentado”, diz Rigatieri. “Até porque a concessionária de energia pode te ligar avisando que daqui a alguns dias trocará a rede elétrica de um bairro determinado e você terá de ir lá realocar a fibra. E fazer mudança de rede física muitas vezes é traumático”. “Sem falar do provisionamento do cliente e gerenciamento de rede, tão importantes para aumentar um pacote em tempo real, por exemplo, e até cortar um serviço por falta de pagamento”. E esse mercado, de acordo com Neger, é “de capital intensivo” pois requer aportes constantes, sobretudo no portfólio de serviços. Mas ele dá um passo-a-passo exclusivo para esta reportagem a fim de auxiliar os prove-

dores que estão pretendendo ou já ingressaram no mercado de redes óticas (veja Box). Pioneirismo e sucesso A Life é um dos exemplos mais bem acabados de provedor SCM que investiu em rede própria e deu certo. “Eles foram um dos pioneiros, lá pelos idos de 2006. Lembro-me que na época os demais provedores acharam que eles (Life) estavam ficando “birutas”. Hoje em dia a operadora está tendo de ampliar sua capacidade de rede para atender a demanda” lembra Eduardo Neger, da Abranet, que cita o provedor do interior paulista como a primeira empresa SCM do Brasil a construir uma rede ótica própria. O provedor investiu cerca de R$ 7 milhões para atender as cidades de Pompeia, Garça e Marília, Oriente, Quintana, Vera Cruz e Ocauçu, distantes cerca de 400 quilômetros de São Paulo, com fibra até as residências de seus clientes. Para isso, fibrou toda a cidade e vende links de 1 Mbps, 3 Mbps, 5 Mbps, 10 Mbps e 20 Mbps, com mensalidades à partir de R$ 54,90. Cerca de 90% da rede é híbrida, ou seja, com backbone ótico e ramificações em cabos metálicos padrão Ethernet. Mas nos bairros novos a Life já opera com FTTH. Em 2010, a operadora tinha 5 mil clientes de banda larga e a expectativa para 2011 era de um crescimento na base de 65%.

Três passos para quem quer ingressar no mundo das redes óticas

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Sustentabilidade do negócio: baseado nos cálculos do tamanho da rede, quais os custos de implantação e de operação estimados, na definição do plano de negócios, quanto vai cobrar do cliente, qual o preço de mercado, quanto pagará de imposto. Qual o custo de locação dos postes e quanto pretende investir em mão-de-obra? Se ao final disso tudo a conta fechar no azul ou o prazo do retorno do investimento for razoável, passe para o próximo passo.

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Escolha do fornecedor: análise de tecnologia ótica (GEPON ou GPON), do fornecedor dos equipamentos passivos e ativos, prós e contras de cada um, pós-venda, possibilidade de financiamento pelo BNDES. Fornecedor de banda: compra de capacidade será da Telebrás ou de alguma outra operadora? Qual a qualidade e disponibilidade desejada? Como será a integração com as redes de parceiros?

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Fernando Lauterjung, de Las Vegas

.:Internacional

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Meio limitado

Estados Unidos, com previsão de 12% de crescimento em 2012, para muitas emissoras a proposta é tentadora. Isto porque a penetração da TV por assinatura é muito próxima da penetração da TV aberta, e a recepção de TV por via terrestre é praticamente inexistente no televisor principal dos lares. No caso do leilão parcial do espectro, a emissora mantém seu direito de “must carry”, ou seja, continua tendo seu sinal carregado pelas operadoras locais de cabo. A liberação de espectro por parte destas emissoras menores abre uma oportunidade para os canais mais relevantes, que precisam de todo o seu espectro para conseguir transmitir em alta definição e ainda para dispositivos móveis. Estas emissoras poderão participar mudando seus canais digitais

“Não existe bala de prata para resolver a escassez de espectro. Nós precisamos de novas tecnologias para usar o espectro de forma mais eficiente. Nós precisamos cultivar e expandir o uso de espectro não-licenciado, como wifi.” Julius Genachowski, chairman da FCC 32 Teletime mai_2012

para a faixa VHF. Segundo Genachowski, foi criado um fundo de US$ 1,75 bilhão para financiar o custo de migração para outras frequências. Para ele, o leilão voluntário traz uma “oportunidade sem precedentes” para os radiodifusores melhorarem suas condições financeiras. Mas o chaiman da FCC lembra que o leilão é apenas uma parte do esforço necessário para liberar espaço no espectro de frequências dos Estados Unidos. “Eu venho dizendo desde o início: não existe bala de prata para resolver a escassez de espectro. Nós precisamos de novas tecnologias para usar o espectro de forma mais eficiente. Nós precisamos cultivar e expandir o uso de espectro não-licenciado, como WiFi”. O chairman da FCC garantiu no evento para aqueles que não participarão do leilão que a agência está “comprometida com a continuidade de um broadcast forte e saudável”. Farpas No entanto, para os radiodifusores, a batalha pelo espectro ainda não terminou. Segundo o presidente da NAB, Gordon Smith, a radiodifusão tem um “futuro vibrante”, apesar dos tablets, smartphones etc. Na abertura do evento realizado em Las Vegas, Smith afirmou que o setor está “mantendo seus olhos no futuro”, apesar dos supostos esforços para se diminuir a força da radiodifusão sonora e audiovisual. Segundo ele, foi uma vitória para a TV ter conseguido moldar a legislação sobre o espectro que incentiva que emissoras participem do leilão voluntário de frequências, mas ga­­ rantindo que a­­queles que não quiserem participar estejam fora de perigo. Como parte significativa dos radiodifusores tem interesse no leilão, Smith, e a própria associação, não podem se colocar contra a sua realização. No entanto, fica FOTOS: divulgação

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parentemente, os broadcasters e a FCC, o poderoso órgão estadunidense regulador das comunicações, chegaram a um acordo sobre como liberar espectro da radiodifusão para a banda larga móvel. Segundo o chairman da FCC, Julius Genachowski, que falou durante o NABshow, evento realizado pela principal associação de radiodifusores dos Estados Unidos, que aconteceu em meados de abril, em Las Vegas, a proposta de leiloar toda ou parte das fatias de espectro dos canais de TV foi bem recebida. Para ele, a resposta dos radiodifusores tem sido positiva, com diversas manifestações de interesse em participar do leilão. “Claro que não temos a expectativa de que todos os broadcasters participem. Para muitos, os leilões podem ser uma oportunidade tentadora, para muitos outros, não”, disse. Vale lembrar, pela proposta da FCC os radiodifusores podem participar de três formas do leilão de espectro: com toda a frequência do canal (6 MHz); através da divisão do espectro; e migrando do UHF para o VHF. No caso das emissoras interessadas em dividir seu espectro, elas passarão a transmitir em multiprogramação (quando mais de uma programação é transmitida no espectro destinado a um único canal) com outro canal. Já a migração da faixa de frequência é fundamental para o sucesso da operação, já que para a banda larga móvel é necessário uma faixa ampla destinada a este único serviço. Embora o faturamento publicitário da TV aberta ainda esteja em alta nos

© nab show

Nos EUA, esforço para liberar espectro para a banda larga móvel continua, após o aparente acordo entre radiodifusores e governo. Em evento dos radiodifusores, fica clara a falsa cordialidade entre a FCC e a principal associação do setor.


clara a visão do ex-senador republicano e dos maiores grupos de mídia regionais, que temem a chegada de novos serviços, não apenas pela questão do espectro, mas pela disputa pela atenção dos consumidores e do bolo publicitário. Para Smith, a disputa por espectro ainda não terminou. Segundo ele, a indústria de telecom “quer nos ver fora do mercado”. O executivo da NAB diz que a indústria wireless quer replicar o que os radiodifusores fazem. “Na verdade, eles estão desenvolvendo suas próprias redes de TV móvel, mas precisam de mais espectro para isso. O serviço deles, seguramente, não seria gratuito”, disse. Ou seja, para a NAB, o leilão é uma estratégia das teles para liberar espectro para criar serviços concorrentes com a radiodifusão. Seu principal poder de argumento é a oferta gratuita de entretenimento e informação. “Parece que o governo pode estar na posição de escolher a indústria móvel como vencedora e o consumidor como perdedor”, completou. O executivo provocou ainda as operadoras móveis, afirmando que, mesmo com “todo o espectro do universo”, a arquitetura de “um para um” nunca se compararia à habilidade da radiodifusão de se comunicar com as massas. “Por isso nos últimos 18 meses o número de lares americanos conectados apenas por broadband e broadcast saltou para 23%”, ironizou, em referência ao fenômeno cable-cut, que vem reduzindo a base das operações de TV por assinatura. O presidente da FCC, em seu discurso, também usou palavras duras contra Smith, ainda que com bastante humor: “Nós trilhamos um longo caminho desde a nossa primeira NAB, dois anos atrás – a sua primeira como presidente da NAB e a minha primeira como chairman da FCC. Naquela convenção, que aconteceu pouco tempo depois de apresentarmos a ideia de um incentivo a leilões voluntários para liberar espectro da radiodifusão para banda larga móvel, você me comparou ao ‘Poderoso Chefão’. A propósito, parabéns pelo seu novo contrato de cinco anos com a

“Eles (operadoras de telecom) estão desenvolvendo suas próprias redes de TV móvel, mas eles precisam de mais espectro para isso. O serviço deles, seguramente, não seria gratuito.” Gordon Smith, da NAB NAB. Imagino que mais alguém fez uma oferta que você não poderia recusar.” Versão brasileira No Brasil, a radiodifusão também vem se armando para proteger seu espectro e ainda garantir que a faixa oriunda do dividendo digital não seja destinada a outros serviços. Até 2016, todas as emissoras brasileiras precisam, por imposição legal, terminar o processo de migração da TV analógica para a digital, desligando seus transmissores analógicos. Com isso, será, ou seria, liberado o espectro de 700 MHz, hoje destinado a estas transmissões. No entanto, o prazo legal vem sendo sistematicamente refutado pelas empresas de radiodifusão, que dizem ser técnica e economicamente impossível instalar transmissores em todo o País até 2016. Em entrevista publicada na revista TELA VIVA de abril, Fernando Bittencourt, diretor-geral de engenharia da TV Globo, foi categórico: “Em dois anos não dá para digitalizar algumas milhares de transmissoras. Nem nós e nem os nossos concorrentes conseguirão cobrir o Brasil em tão pouco tempo. Pelo menos não com transmissão terrestre”. Segundo ele, a Globo, com suas afiliadas, cobre 50% dos domicílios com TV e, até a Copa do Mundo de 2014, cobrirá 70%, chegando com o sinal digital a todas as cidades com 50 mil habitantes ou mais. “Já estamos trabalhando e estudando como será o pós 50K (em referência às cidades com mais de 50 mil habitantes), que são os 30% de lares restantes. É um desafio muito grande, pois envolve milhares de retransmissoras. Os desafios são diversos, como o volume de

investimentos, a capacidade de realizar em função do volume de instalações etc. Queremos em um prazo que julgamos adequado completar estes 30%”. Entre os argumentos da Globo, bem como da radiodifusão como um todo, para manter os canais hoje destinados à TV analógica estão a evolução tecnológica, com o conteúdo em 3D e em super alta definição, e a própria regionalização da TV. “Para nós o importante é que a nova tecnologia venha com novos canais, para não sacrificar a tecnologia anterior. Da mesma forma que fizemos com a TV digital. Se fizéssemos uma substituição imediata, seria uma autofagia”, explica Bittencourt. Em relação à expansão regional, o diretor da Globo lembra que “temos um modelo de TV terrestre vitorioso, que permite programação e publicidade local. Não queremos reduzir o nosso modelo”. Para ele, é possível, inclusive após o switch off do analógico, segmentar mais ainda. “Será possível, com mais canais, colocar geradoras em cidades onde hoje não há. Há uma análise econômica a ser feita, mas sabemos que com crescimento do País, teremos muitas cidades que poderão abrigar uma geradora. Isso é bom porque gera conteúdo local e permite vender comercial local, desenvolvendo a economia local. Tratase de algo bom para todos”. O exemplo internacional, para a Globo, é temerário. Segundo Bittencourt, o grupo de mídia já começou a falar com o governo sobre as possíveis aplicações dos canais disponíveis. “A TV aberta é tudo de bom que acontece no Brasil. O movimento mundial é mau exemplo para nós, que temos uma boa TV aberta e que queremos que se mantenha forte. É algo bom para o País”, diz.

“A TV aberta é tudo de bom que acontece no Brasil. O movimento mundial é mau exemplo para nós, que temos uma boa TV aberta e que queremos que se mantenha forte. É algo bom para o País.” Fernando Bittencourt, da TV Globo mai_2012 Teletime 33


Thomas Wavelet*

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Novas tendências, novos mercados

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ecentes mudanças no setor de telecomunicações, a partir de novas tendências de mercado e demandas de consumo têm colocado em pauta uma nova realidade de negócios e desafios para as operadoras de telecom. Nesse contexto, com os mercados atingindo maturidade e o crescimento da penetração celular chegando ao fim, de onde virão as novas receitas? E como ganhar vantagem competitiva e fortalecer seu papel na cadeia de valor? As redes de telecomunicações têm sido construídas usando diversas tecnologias, plataformas e padrões nas últimas décadas, fazendo das operações um desafio real para as operadoras. Como resultado, a manutenção dessas redes é complexa e de custos elevados, o que afeta a produção de lucros. Com as barreiras entre as tecnologias da comunicação e a TI (tecnologia da informação) desaparecendo, players novos e já existentes entraram no mercado de telecom com diversos serviços baseados em conectividade de banda larga. O sucesso desses serviços, de pessoas-a-pessoas e máquina-a-máquina, tem gerado um crescimento explosivo do tráfego, fixo e móvel, e requerido grandes mudanças para suportá-los. Na comunicação envolvendo pessoas, as expectativas dos consumidores por mais velocidade de conexão, capacidade de storage e disponibilidade têm mudado radicalmente, criando uma demanda crescente por qualidade de serviço. Já a comunicação máquina-a-máquina introduz novos elementos e necessidades específicas, que em muitos casos não são suportadas pelas redes existentes, como pacotes de dados muito pequenos, porém trocados entre um número muito grande de dispositivos e de forma sensível ao tempo de entrega, por exemplo. Diante desse novo cenário, as operadoras precisam, cada vez mais, rever e redesenhar suas estratégias, opera-

ções, portfólio de produtos, sistemas de TI e, é claro, infraestrutura de rede, a partir de um plano estruturado, baseado no conceito de Telecom Business Transformation. Além disso, as operadoras necessitam definir hoje onde aplicar seus investimentos para que estejam prontas para os novos serviços e demandas de negócios. O que transformar e quanto esforço será necessário nesse processo, depende da estratégia de negócio de cada operadora e suas necessidades específicas. Geralmente, o estágio da empresa, tamanho e maturidade do negócio, além das características do mercado, são os pontos determinantes para essa definição. Dessa maneira,

As operadoras precisam rever e redesenhar suas estratégias, operações, portfólio, sistemas de TI e, é claro, infraestrutura de rede, a partir de um plano estruturado, baseado no conceito de Telecom Business Transformation. classificamos as operadoras em quatro categorias, cada uma delas com particularidades específicas. As operadoras incumbentes estão normalmente mais interessadas em melhorar sua capacidade e eficiência operacional e em impulsionar os negócios para expandir market share. Em geral, são reconhecidas como líderes de mercado em termos de clientes, faturamento e cobertura. Operadoras desafiadoras/inovadoras são aquelas geralmente mais abertas que a incumbente para explorar novos modelos e melhorar a experiência do cliente, qualidade de serviço e implementar uma estratégia inovadora para novos serviços, como forma de 34 Teletime mai_2012

aumentar a penetração de mercado. Já as operadoras emergentes procuram por estratégias de penetração de mercado, lançamento rápido de redes e expansão. Uma operadora nessa categoria está geralmente disposta a correr mais riscos comerciais com o objetivo de ampliar seu market share e crescimento. Como resultado, geralmente muda o “cenário competitivo” com pacotes de serviços agressivos e/ou estratégias de preço. Por fim, operadoras de nicho são aquelas interessadas em melhorar seu market share. Elas têm uma base de clientes menor, se comparada com outros concorrentes, mas estão normalmente alcançando um ARPU mais alto e com uma melhor retenção de clientes. Além do market share, a redução de custo e a evolução da rede são também objetivos importantes. São três as principais dimensões a serem desenvolvidas para garantir o sucesso do programa de transformação: a simplificação do número de elementos ou plataformas na rede, operações e negócios, diminuindo assim a complexidade dos processos; a harmonização das diferenças técnicas entre as redes fixa e móvel, de dados e de voz; e uma organização centrada no cliente, sua aquisição, satisfação e fidelização. Essa transformação tem se tornado imperativa. Ela visa não apenas expandir os recursos entregues, mas também proporcionar melhor eficiência e redução de custos para aumentar o lucro da operadora. Isso significa poder capturar novos clientes (sejam eles pessoas ou máquinas) e fontes de receita, expandindo seus negócios para outras áreas, como os setores de saúde e transporte. E, é claro, tornar-se mais eficiente e rentável, ou seja, ser capaz de monetizar, de um ponto de vista de negócio, a experiência total do cliente e a capacidade da rede e organização.  *Diretor de desenvolvimento de negócios da Ericsson para a América Latina.


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.:pontodevista

O SeAC e o vídeo sob demanda

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ecentemente, o mercado de telecomunicações brasileiro acompanhou uma profunda alteração no arcabouço legal dos serviços de TV por assinatura, desencadeada pelo advento da Lei Federal nº 12.485/2011. A referida lei revogou grande parte da Lei nº 8.977/95 (conhecida como Lei do Cabo), abrindo o mercado para participação de capital estrangeiro como controladores das empresas de TV a cabo, além de criar o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC), o qual unificou os serviços de TV a cabo, serviço especial de TV por assinatura, DTH e MMDS, até então objetos de regulamentos apartados pela Anatel. A nova lei também ampliou o âmbito de atuação da Agência Na­­cio­ nal de Cinema (Ancine), outorgando­ -lhe competência para regular e fiscalizar o mercado de programação e em­­ pacotamento de conteúdo audiovisual. A nova lei teve origem no Projeto de Lei da Câmara nº 29, que foi apresentado no início de 2007 e que, desde então, percorreu um lento e polêmico caminho até sua aprovação final pelo Congresso Nacional e sanção presidencial. Recentemente, a Anatel concluiu sua regulamentação e a Ancine ainda finaliza suas Instruções Normativas, cujos textos iniciais já foram submetidos à consulta pública. Embora os regulamentos propostos e até a própria lei – atualmente em análise pelo Supremo Tribunal Federal – ainda gerem infindáveis discussões, tanto do ponto de vista jurídico quanto do ponto de vista comercial, chama a atenção um ponto específico: a natureza regulatória do serviço de vídeo sob demanda (VOD). Tanto a regulamentação do Serviço de Comunicação Multimídia – SCM (Resolução nº 272/2001 e Súmula nº 6), quanto a Lei do SeAC e o respectivo regulamento elaborado pela Anatel preveem a possibilidade de provimento de VOD pelas empresas autorizadas a prestar esses serviços. No caso do SCM, a regulamentação

estabelece que a prestação de VOD não pode se dar de forma irrestrita e simultânea aos assinantes, sob pena de configurar-se como prestação de serviços de TV por assinatura. Já os serviços de TV por assinatura possuíam regulamentos específicos de acordo com a tecnologia adotada (cabo, satélite, microondas), sendo possível o provimento de VOD pelas prestadoras de cada um desses serviços, segundo seus respectivos regramentos, o que foi mantido pela Lei do SeAC. A questão da natureza regulatória do VOD, latente até então, veio à tona diante da definição dada pela Lei do SeAC. Referida lei define que o SeAC pode ser prestado nas “modalidades avulsas de programação e avulsa de conteúdo programado e de canais de distribuição

é perfeitamente possível traçar um paralelo entre o VOD e tratamento que a Anatel tem dispensado ao VoIP. obrigatória, por meio de tecnologias, processo, meios eletrônicos e protocolos de comunicação quaisquer”. O trecho em destaque claramente tem o condão de abranger todas as tecnologias e meios pelos quais o SeAC pode ser prestado, inclusive a Internet. E o que isso afeta a prestação de VOD? Uma leitura rápida desse dispositivo poderia resultar na interpretação – equivocada, em nossa opinião – de que um provedor de VOD (uma locadora de vídeos virtual, por exemplo) seria obrigado a obter a licença de telecomunicações mais adequada (SCM ou SeAC). Essa interpretação, além de ser totalmente literal e não considerar o contexto em que a Lei do SeAC está inserida, é bastante temerária, na medida em que o cenário convergente de serviços de telecomunicações e aplicações de tecnologia da informação por vezes tem gerado confusão entre o que se caracteriza como serviço de telecomunicações e serviço de valor 36 Teletime mai_2012

adicionado (SVA). É amplamente sabido que a prestação de SVA, exclusivamente, não requer a obtenção de qualquer licença perante a Anatel, além de merecer tratamento tributário diverso. Nesse sentido, podemos citar o caso da prestação do serviço de voz sobre IP (VoIP). Ainda que informalmente, pois se trata de uma tecnologia e não de um serviço, a Anatel se manifestou no sentido de que a prestação de VoIP somente poderá ser considerada serviço de telecomunicações caso seu prestador forneça e opere infraestrutura física de telecomunicações (cabo, rádio terrestre, satélite, dentre outros), com capacidade de transmissão, emissão ou recepção de informações. Esse entendimento é bastante razoável e inteligente, pois resguarda empresas que apenas fornecem tecnologia ou software para a comunicação em VoIP, mas não a infraestrutura de telecomunicações em si. É o caso, por exemplo, do Skype, do UOL VoIP e de tantas outras empresas que surgem dia após dia para prestação desse tipo de serviço. Por outro lado, caso o prestador de VoIP, então classificado como SVA, ofereça a infraestrutura de telecomunicações necessária para a prestação do serviço, não restarão dúvidas de que o serviço será classificado como serviço de telecomunicações e que seu prestador deverá obter a licença adequada. Entendemos, portanto, que é perfeitamente possível traçar um paralelo entre o VOD e tratamento que a Anatel tem dispensado ao VoIP. Isso porque a mera disponibilização de conteúdo audiovisual por meio da Internet, sem o fornecimento de infraestrutura de telecomunicações, feita “sob demanda” e sem oferta de uma grade de programação deve ser considerada como Serviço de Valor Adicionado e, como tal, não se submeter à regulação setorial das telecomunicações.  *Sócio e associada de Barretto Ferreira, Kujawski e Brancher Sociedade de Advogados – BKBG.


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Cláudio Dascal

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.:ponto&contraponto

Busca do equilíbrio

A

questão que vem sendo enunciada continuamente e ainda não tem uma resposta é como vai se reequilibrar o modelo de negócios para que as empresas de telecom possam retomar seu quinhão na cadeia de negócios do universo dos Serviços de Valor Adicionado (SVA), sobretudo ante a ameaça crescente de serviços over-the-top (OTT), como Google, Facebook, Amazon e Apple. Desde a introdução do WAP, as operadoras de telecomunicações viram a oportunidade de crescer suas receitas além dos minutos de voz e estimular o tráfego de dados com receitas de valor adicionado. Porém, o universo das aplicações é muito maior do que pensavam até então, e a briga pelas receitas de conteúdos enfrenta outros grandes do mercado, mais habituados com o mundo da Internet do que as empresas de telecom. As telecomunicações móveis e as fixas oferecem uma ampla rede de banda larga, com velocidade e qualidade, e é sobre essa infraestrutura que reside a espinha dorsal da sociedade moderna. A banda larga é essencial para a economia. Sem ela, não há agilidade para manter as transações internacionais. É fundamental no desenvolvimento social, nas atividades colaborativas por redes sociais, no acesso à educação e na participação nos meios produtivos. Sem banda larga, o mundo entraria em colapso. O mercado de telecomunicações, contudo, tem alto grau de regulação por parte dos governos. É o que assegura o melhor uso de recursos escassos, em especial o espectro de frequên­ cias, e também para propiciar melhores condições de competição para que os consumidores tenham serviço a preços competitivos e com qualidade cada vez melhor. Em outra vertente, a tecnologia de telecomunicações segue se desenvolvendo em velocidades que desafiam princípios básicos de amortização de investimentos e que chegam a atropelar a regulação. Novas fronteiras são

rompidas antes que as regulações regionais tenham se adaptado aos patamares anteriores. A grande maioria dos operadores é privada. São empresas oriundas de monopólios estatais e sujeitas a regras de retorno de investimentos que cada vez afeta mais acionistas no mundo todo. O que se viu nos últimos 15 anos foi a proliferação de investimentos privados suportando a gigantesca expansão dos serviços móveis e de banda larga, fixa e móvel. Sem dúvida suportados por um modelo econômico baseado em MOU (minutos de uso) e que tinham um retorno adequado para os investimentos feitos. Acontece que a contínua evolução tecnológica já não permite completar os ciclos de amortização destes investimentos. A invasão dos smartphones faz com que o tráfego de dados cresça a uma velocidade sem retorno de receita correspondente, e cada vez as operadoras de telecomunicações estão vendo menos receitas associadas a este crescimento. Estamos vendo uma situação em que as OTTs são as maiores usuárias desta expansão de redes e de ofertas de smart­­ phones. Mas não estão nem aí para os investimentos que têm que ser feitos para permitir cobertura e evolução das redes de acesso. São empresas, na sua maioria, oriundas do modelo de Internet, onde se beneficiam da rede para gerar modelos de negócio baseados em informação e publicidade, ou comércio de bens que se mostram bilionários. Acontece que estas empresas não entendem o negócio de telecomunicações e sua demanda por investimentos. Sua postura é de que aquela facilidade de rede de alta velocidade IP tem que estar ali, disponível e com qualidade. O equívoco é que estas redes foram supridas pelo capital privado, que tem o mesmo objetivo de retorno de investimentos que as OTTs. Caso as operadoras de telecom não tenham como justificar este investimento, a falta de infraestrutura afetará diretamente o negócio das OTTs. Se as operadoras de telecom não 38 Teletime mai_2012

investirem, teremos impacto direto no nosso modo de vida e na economia mundial. Logo, há um problema que exige diálogo e uma solução que envolva a revisão do modelo de negócio. Mas para isso os governos e agências reguladoras têm que atentar para a simetria regulatória e de impostos, de modo a permitir que a atuação dos diferentes players seja reequilibrada. Caso não se chegue a uma solução de equilíbrio, os governos passarão a ter que investir e disponibilizar infraestrutura fixa e móvel de banda larga, o que pode ser bem complicado nos dias de hoje. Uma das formas das empresas OTTs participarem da remuneração seria uma espécie de tarifa de interconexão, a ser cobrada desses provedores de conteúdo. Mas é uma situação bastante improvável, pois trata-se da Internet. E também porque um mecanismo destes não pode ser resolvido localmente, tem que ser um acerto global, uma situação nunca antes tentada ou vista. As negociações bilaterais tendem a reproduzir o já vivido nas negociações de conteúdo para TV por assinatura, com prevalência de poder de mercado, criando controle de uma sobre a outra. As operadoras não desistem de querer participar do mercado de valor adicionado, mas não acham solução para sua batalha maior com as OTTs, que são as maiores consumidoras de banda e requerem maior investimento na sua infraestrutura. Suas oportunidades estão em aplicações verticais e especializadas. A verdade é que as operadoras são precursoras de tecnologias e facilitadoras de aplicações que utilizem as suas redes. Chamá-las de dumb pipe é injusto, já que são elas que criam as condições para os novos serviços e aplicações e estão sempre na vanguarda na busca de novas receitas. Mas os operadores de telecom querem prover serviços de valor adicionado. É um desejo que sempre esteve nos seus planos, haja vista o cloud computing agora, mobile payment e electronic wallet, além de mobile health e a casa conectada. 


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