mmjornal 6

Page 1

Director – Mark Deputter \ quadrimestral \ distribuição gratuita

Jornal 6

Ab un dâ nc ia

Abril | Julho 2011 no Teatro Maria Matos


Abril 2

Maio 5

16h00

B Fachada É P’ra Meninos

16h00

B Fachada É P’ra Meninos

domingo 22h00

B Fachada É P’ra Meninos

sexta

18h00

22h00

B Fachada É P’ra Meninos

7

10h00

10h00

Luís Correia Carmelo • Contapetes para bebés

10h00

Luís Correia Carmelo • Contapetes para bebés

sexta

21h30

Benjamin Verdonck & Willy Thomas • Global Anatomy

9

11h00

sábado

3 4

segunda

7

quinta

8

e

16h00

sábado

10

domingo

13

Benjamin Verdonck & Willy Thomas • Global Anatomy

18h00

Benjamin Verdonck • Kalender | Zwart

6

sábado

11

quarta

13 sexta

14

21h30

16 17

domingo

Truta • Ivanov

Truta • Ivanov

Truta • Ivanov

18h30

Super Disco

21h30

Truta • Ivanov

18h00

Truta • Ivanov

20

22h00

Grouper • Sleep

segunda

Ben Frost

teatro

performance

música

conversa

dança

projecto educativo

Conferência Dois Graus

21h30

Gisèle Vienne, Dennis Cooper & Jonathan Capdevielle • Jerk

11h00

Joana Antunes • PÉ ante PÉS

11h00

e

e

Gisèle Vienne, Dennis Cooper & Jonathan Capdevielle • Jerk Joana Antunes • PÉ ante PÉS

17

21h30

Jéranium & Man’hu Le Chronophone: concert mécanique à contretemps

18

21h30

Jéranium & Man’hu Le Chronophone: concert mécanique à contretemps

20

21h30

CaboSanRoque Torn de nit: serenata per a orquestra mecànica

18h30

Super Disco

sábado

21h30

CaboSanRoque Torn de nit: serenata per a orquestra mecànica

28

16h00

Cláudia Andrade, Maria de Vasconcelos, Letícia Liesenfeld & Pére Cabaret • Abundância

29

11h00

Cláudia Andrade, Maria de Vasconcelos, Letícia Liesenfeld & Pére Cabaret • Abundância

21

30

10h00 e

segunda 14h30 Oficinas do mês a partir dos 14 anos | Férias da Páscoa | performance | Rita Natálio • Pensar em voz alta Escolas do 3.º Ciclo e Secundário | dança | Francisco Camacho • Vamos dançar?

Conferência Dois Graus

Bang On A Can All-Stars • Brian Eno’s Music For Airports

15

domingo 22h00

Vladislav Delay Quartet

22h00

21h30

sábado

quarta

às

18h00

sábado

sexta

sábado

às

14

quarta

sexta

10h00

domingo 16h00

21h30

15

22h00

16h00

terça

quinta

25

21h30

21h30

quarta

Luís Correia Carmelo • Contapetes para bebés

quinta

Cláudia Andrade, Maria de Vasconcelos, Letícia Liesenfeld & Pére Cabaret • Abundância


Junho

Julho

4

21h30

Camille Boitel • L’Immédiat

5

18h00

Camille Boitel • L’Immédiat

21h30

Camille Boitel • L’Immédiat

8

22h00

Syracuse Ear (Margarida Garcia, Chris Corsano, David Maranha & Manuel Mota)

15

21h30

Luís Guerra de Laocoi • Qqywqu’ddyll’o’

16

21h30

Luís Guerra de Laocoi • Qqywqu’ddyll’o’

17

21h30

Luís Guerra de Laocoi • Qqywqu’ddyll’o’

18

18h30

Super Disco

sábado

21h30

Luís Guerra de Laocoi • Qqywqu’ddyll’o’

20

19h00

Pieter Ampe & Guilherme Garrido • Still Difficult Duet

sábado

domingo

6

segunda

quarta

quarta

quinta

sexta

segunda

21 terça

22

quarta

27

segunda

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

6

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

8

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

9

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

11

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

12

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

13

21h30

Mundo Perfeito & Dood Paard • The Jew

quarta

7

quinta

espaço alkantara

21h30

5

terça

Pieter Ampe & Guilherme Garrido • Still Standing You

sexta

sábado

segunda

terça

quarta

Dia da Abundância

16

sábado

16h00 às

20h00 18h00 às

24h00 21h30

Pieter Ampe & Guilherme Garrido • Still Standing You

19h00 20h00 às

22h00 22h00

Nancy Elizabeth / James Blackshaw

22h00

TERRA2 aoarlivre Forced Entertainment • Quizoola! Jacob Kirkegaard Banquete Respigador Francisco López

Oficina do mês a partir dos 14 anos | Férias do Verão | performance | Cláudia Dias • O que é representar?

Co m pr a

line On

www.teatromariamatos.pt Bu

y

O

n li ne


O fim da abundância Algures no século XVIII, o Ocidente enterrou o pensamento cíclico que tinha moldado a visão do mundo desde o início da civilização humana e apostou num desenvolvimento linear em direcção ao futuro. O paradigma definido pelos ciclos da vida e da morte, da sementeira e da colheita foi suplantado pelo paradigma da extracção e da transformação mecanizada. A Terra deixou de ser um ambiente que precisava de ser cuidado e trabalhado para dar fruto e começou a ser visto como um reservatório inesgotável de produtos e matérias-primas para uma indústria transformadora, impulsionada por tecnologias cada vez mais sofisticadas. O círculo tornou-se numa linha recta: extracção — transformação — consumo — lixo. Durante dois séculos, ninguém parecia estar consciente de que o novo modelo estava assente numa premissa irrealista de abundância infinita na natureza, mas em 1972, Limits to Growth, o mais famoso relatório do Clube de Roma — um think tank que debate desde os anos 60 questões relacionadas com o desenvolvimento sustentável —, causou consternação ao demonstrar inequivocamente que o Paradigma da Abundância estava rapidamente a esgotar-se. O modelo de crescimento económico que tinha trazido riqueza a uma parte do mundo estava a chegar aos seus limites à medida que recursos naturais cruciais, como o petróleo e a água potável, começavam a escassear. Quarenta anos mais tarde, as conclusões do Clube de Roma mantêm-se inalteradas, suportadas por um leque de provas e evidências cada vez mais preocupantes. Sabemos que o efeito de estufa produzido pela actividade humana irá interromper ciclos climatéricos que ditam o destino do planeta há centenas de milhares de anos. A poluição dos oceanos e das águas potáveis continua a aumentar exponencialmente, ao mesmo tempo que a biodiversidade diminui a um ritmo vertiginoso. E o repentino crescimento económico das chamadas novas potências está a exercer uma pressão cada vez mais difícil de suportar sobre os poucos recursos naturais que nos restam. A Abundância chegou ao fim, o planeta chegou a um ponto de exaustão. Todas as previsões apontam para a chegada inevitável do Paradigma da Escassez. Como preparar-nos para uma mudança tão radical? Como romper com a lógica que (de)formou a face da Terra nos últimos 300 anos? Como reformular o discurso de crescimento económico que continua ligado ao conceito da Abundância? Como mudar hábitos? Como desenvolver novas visões mobilizadoras, apesar da ameaça da escassez global? “É obvio que o actual caminho do desenvolvimento global é insustentável a longo prazo, mesmo tendo em conta o enorme potencial do mercado e da inovação tecnológica. Precisaremos de novas ideias e estratégias para assegurar que melhores condições de vida para a crescente população mundial possam ser harmonizadas com a conservação de um clima viável e a manutenção de um ecossistema frágil, do qual depende toda a vida no planeta.” (Clube de Roma, Um caminho novo para o desenvolvimento global, 2009)


Não é por acaso que os dois espectáculos que problematizam de forma mais crua uma sociedade obcecada pela colecção desenfreada de bens materiais são mudos. Em L’Immédiat e em Global Anatomy, as personagens não comunicam, nem partilham nada, tentam apenas manter-se de pé na sua luta inglória contra um mundo cheio de objectos, mas vazio de sentido.

Outras propostas do festival FIMFA Lx11 vão no sentido oposto, reciclando materiais e dando uma vida nova a objectos e máquinas destinadas ao lixo, transformando-as em instrumentos sonoros: Le Chronophone de Jéranium & Man’Hu e a orquestra mecânica da fábrica de bolachas de CaboSanRoque.

Num contexto muito diferente, Pieter Ampe & Guilherme Garrido encarnam a Abundância na sua relação tempestuosa e na sua actuação hiper--energética em palco. Still Difficult Duet e Still Standing You são verdadeiras explosões físicas e emocionais.

Dois projectos deste quadrimestre estão directamente ligados ao tema da escassez e do desenvolvimento sustentável: o projecto TERRA² e o programa de debates e seminários Dois Graus. O primeiro consiste num programa de criação artística para o espaço público, cujos resultados serão apresentados no nosso Dia da Abundância; o segundo trará ao Teatro Maria Matos uma série de artistas e agentes culturais nacionais e internacionais com experiência concreta no desenvolvimento de projectos de arte e ecologia, para reflectir sobre Arte, Aquecimento Global e Desenvolvimento Sustentável.

Christopher Marlowe é, sem dúvida, um dos escritores que exprime mais fielmente a visão barroca de um mundo exuberante, caótico e inconstante. No seu estilo inconfundível, confronta os espectadores com um mundo de intrigas, mentiras e reviravoltas. O Mundo Perfeito e a companhia holandesa Dood Paard revisitam The Jew of Malta, uma das suas obras-primas, escrita no final do século XVI.

O Projecto Educativo do Fechamos a temporada com o Dia de Teatro Maria Matos Abundância com um programa para todos. dedica dois projectos Em Quizoola!, os Forced Entertainment ao tema da Abundância. invocam a imensidão de factos e saberes Na oficina das férias da — interessantes, aborrecidos, inesperados Páscoa, Pensar em voz alta, ou absolutamente inúteis — sobre nós próRita Natálio aborda, com um prios e o nosso mundo, numa performance grupo de adolescentes, o admide “pergunta-resposta” durante seis horas. rável e ilimitado mundo novo das Jacob Kirkegaard e Francisco López captam novas tecnologias de comunicação. os sons que nos rodeiam — na cidade de Cláudia Andrade, Maria de Vasconcelos, Lisboa e no próprio Teatro Maria Matos — e Letícia Liesenfeld & Pére Cabaret perguntransformam-nos em dois concertos únicos taram aos alunos de cinco turmas do 1.º Ciclo o que é para e irrepetíveis. No mesmo dia, aoarlivre, a eles a Abundância. Numa série de oficinas desenvolvidas tradicional tarde no Jardim das Estacas diricom estes alunos, impulsionaram um processo criagida aos mais pequenos e suas famílias, será tivo colectivo que deu origem ao espectáculo dedicada ao tema da Abundância. Abundância.

Abundância

um mapa de afinidades


música

B Fachada É P’ra Meninos Sala Principal público domingo 3 e segunda 4 Abril geral 22h00 12€ / Com desconto 6€ | Duração 90 min

Podíamos dizer que 2010 terminou em grande, com a edição de B Fachada É P’ra Meninos, mas basta passar os olhos pela longa lista de feitos do jovem cantautor nos últimos tempos para percebermos que o ano encerrou com a mesma energia e hiperactividade que tem demonstrado desde 2007. O ritmo com que tem composto e lançado discos é alucinante, mas em nenhuma altura adulterou a sua progressão e maturidade artística, criando uma expectativa que nunca foi defraudada, consolidando o seu estatuto com salas esgotadas e convites mediáticos ao alcance de poucos. Eis que 2011 é a vez de B Fachada e dos mais pequenos. Um álbum conceptual, inspirado pela infância, onde se recuperam ideias, mitos, histórias de todos nós, sem a moralidade que seria expectável encontrar numa obra deste tipo. É esta intenção que importa sublinhar, e, nesse sentido, este disco acaba por ser, realmente, para todas as idades, identificando-se tanto com o universo infantil, como com as memórias dos, agora, adultos. Da sopa contra a qual se luta ingloriamente à expectativa da chegada de um novo irmão, da angústia do primeiro dia de aulas à emoção do namorico de Verão, tudo é cantado com uma impressionante sensibilidade e inteligência neste retrato do início das nossas vidas.

6

Jornal

crianças acompanhadas de adulto

Palco da Sala Principal sábado 2 e domingo 3 Abril 16h00 Criança 2,50€ / Adulto 5€ | Duração 35 min

B Fachada É P’ra Meninos estreia-se finalmente ao vivo com convidados surpresa, em duas versões especialmente concebidas para a nossa sala. À tarde, crianças e músicos sobem juntos ao palco, com adereços e brinquedos, e aproveitando a proximidade para criarem e partilharem cumplicidades. À noite, as histórias ganham outra vida e tomam conta do palco, reforçando o conceito de um trabalho que, depois de ganhar o pódio em 2010, conquistou um lugar no cancioneiro contemporâneo português.

EN On his presentation of B Fachada É P’ra Meninos, this young singer-songwriter brings to Teatro Maria Matos two different versions of the universe expressed in his record, creating a scenographic environment where, song after song, the great myths of childhood unfold: Father Christmas, the first day at school or the birth of a sibling. In the afternoon, he will be joined onstage by parents and children, and in the evening, he will perform another version for a broader audience. voz, guitarras, teclados B Fachada voz, guitarra Lula Pena

contrabaixo, voz Martim guitarras, voz Francisca Cortesão bateria, percussão Mariana


© Daniela Garcia

histórias | co-produção 12 aos 24 meses

Luís Correia Carmelo Contapetes para bebés Sala de Ensaios quinta 7 e sexta 8 Abril 10h00 sábado 9 Abril 11h00 e 16h00 Criança 2,50€ / Adulto 5€ | Duração 25 min

Um espectáculo singular repleto de histórias contadas a partir de um objecto único: os “contapetes”. Feitos de tecido e com cores, formas e volumes diversos, são livros transformados em tapetes ilustrados. A cada um deles corresponde uma pequena história, que convida os mais novos a brincar com os sons e com os sentidos, propondo associações entre cor e espaço, forma e volume, ritmo e textura. Simultaneamente, os bebés são estimulados a construir as primeiras articulações e construções frásicas, combinando os elementos mais básicos da frase. Passo a passo, os bebés são introduzidos no território fantástico da narrativa. EN “Contapetes” are rugs made out of illustrated books. Each rug represents a space for discovery, where children can take the first steps into the fantastic world of storytelling. The short stories challenge children to play with sounds and meanings, and encourage them to articulate their first words and sentences. concepção, construção e dinamização Luís Correia Carmelo design editorial Nuno Ramos co-produção Pé de Mosca, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Municipal de Faro e Maria Matos Teatro Municipal no âmbito da rede

co-financiada por

Jornal

7


teatro

(Antuérpia Bruxelas)

Benjamin Verdonck & Willy y Thomas Global Anatomy Sala Principal sexta 8 e sábado 9 Abril 21h30

12€ / Com desconto 6€ | Espectáculo sem palavras | Duração 90 min “Benjamin Verdonck e Willy Thomas criaram uma performance impossível de categorizar. Este teatro cru, generoso e do it yourself representa uma linguagem teatral absolutamente única.” Júri do Theaterfestival 2008 (selecção das dez melhores peças de teatro flamengo e holandês)

Depois da sua passagem pelo Teatro Maria Matos com Nine Finger (alkantara festival 2008), criado em colaboração com Alain Platel e Fumiyo Ikeda, Benjamin Verdonck regressa a Lisboa, desta vez com Willy Thomas, numa produção do Teatro Nacional Flamengo (KVS), para nos apresentar um espectáculo burlesco, na melhor tradição da comédia slapstick.

No início não havia nada… excepto uma porta vai-e-vem, duas cadeiras cor-de-laranja e uma mão cheia de pinheiros de plástico. Após uma breve luta com a porta, Benjamin Verdonck entra em cena, nervosamente seguido pelo ingénuo Willy Thomas. À excepção das suas peúgas brancas, estão completamente nus e aparentemente vulneráveis, mas prontos a meter mãos à obra. Com a curiosidade e determinação de crianças, começam a sua exploração do mundo. Mas todos os esforços são em vão e todas as suas construções degeneram inevitavelmente num caos absoluto… Num fluxo de imagens alternadamente cómico e melancólico, Global Anatomy mostra-nos a vanglória de todos os esforços humanos em construir um mundo com significado.

EN In this burlesque performance without words, Willy Thomas and Benjamin Verdonck

8

Jornal

show us a world devoid of meaning and purpose. Like overgrown children, they courageously take on one impossible endeavour after the other, only to fail most ridiculously. In its own peculiar and hilarious way, Global Anatomy shows us the vanity of all human effort to create a meaningful world.

concepção e interpretação Benjamin Verdonck e Willy Thomas produção KVS agradecimentos Toneelhuis e CAMPO


© Koen Broos

palestra performance

(Antuérpia)

Benjamin Verdonck j Kalender|Zwart Palco da Sala Principal domingo 10 Abril 18h00

Preço único 6€ | Duração 1h25 | Em inglês sem legendagem

Como criador e actor, Benjamin Verdonck procura muitas vezes o espaço público para investigar como a arte pode desempenhar um papel significativo. Em 2009, criou Kalender, uma série de intervenções no espaço público. Ao longo de 365 dias, realizou mais de 150 acções em vários locais da sua cidade natal Antuérpia. As acções podiam ser de grande ou pequena dimensão, planeadas ou impulsivas, como o aparecimento de um pássaro gigante morto numa sexta-feira 13, ou a construção de um balcão de apoio feito de papel para os imigrantes “sem papéis”. Estavam sempre associadas a dias santos, feriados, aniversários, acontecimentos geopolíticos e assim por diante. Quando terminou a 2 de Janeiro de 2010, Kalender gerou todo um arsenal de personagens, cenários, diálogos, rumores e fábulas. Após um ano a trabalhar em espaços públicos, Benjamin Verdonck regressa ao espaço do Teatro com Kalender|Zwart (Calendário|Preto) para contar a história deste percurso.

Conheça todo o processo de Kalender em www.kalender09.be

EN  From January 3rd 2009 until January 2nd 2010, Benjamin Verdonck developed the project Kalender in his native city of Antwerp: a series of more than 150 small and large activities in public places, related to traditional holidays, the cycle of the seasons, geopolitical shifts and life as we know it. In Kalender|Zwart, Benjamin Verdonck returns to the theatre to tell us about his experience.

criação e interpretação Benjamin Verdonck co-produção Toneelhuis e KVS apoios Antwerpen Open, KVS, Toneelhuis e CAMPO Jornal

9


© José Frade

teatro | co-produção

Truta Ivanov de Anton Tchekov Sala Principal quarta 13 a domingo 17 Abril quarta a sábado 21h30 domingo 18h00 12€ / Com desconto 6€ | Duração 2h30 com intervalo As peças de Tchekov são melancólicas e povoadas por personagens cansadas e desiludidas, assim manda a tradição. Mas Tónan Quito e os outros membros da companhia Truta decidiram olhar para Ivanov como se fosse a primeira vez e descobriram um texto repleto de humor, recheado de cenas dramáticas e com personagens bigger than life. Mais do que um drama psicológico ou do que uma reconstrução sociológica de uma época de fin de siècle, o Ivanov da Truta é um exercício de puro teatro, que liberta o texto de Tchekov de camadas de pó e o mostra pelo que é: um diamante em bruto. Na peça, Ivanov, um homem banal como muitos outros, vê-se confrontado com o tédio da sua situação familiar e social, com o desgosto e com a angústia. Tem de gerir as suas dívidas, as suas culpas e as pressões dos que o rodeiam, até que, não percebendo o sentido da sua vida, compreende o que deve fazer… E decide: acabar. E acaba a peça. Estreado no ano passado no Teatro Maria Matos para um público entusiasta e depois de uma digressão nacional, Ivanov regressa agora ao nosso palco.

EN Tradition has it that Tchekhov’s plays are staged as melancholic contemplations on the fall of aristocracy. But Tónan Quito and his company Truta decided to look at the text of Ivanov as if it were for the very first time and discovered a play full of humour, drama and bigger-than-life characters. From under the layers of dust, the play emerges as we’ve never seen it before: a rough, sparkling diamond. 10

Jornal

autor Anton Tchekov tradução José Sinde Filipe revisão da tradução Luís Lima Barreto direcção artística Tónan Quito produção e divulgação Truta/Henrique Figueiredo cenografia Fernando Ribeiro figurinos Ana Limpinho iluminação Daniel Worm D’Assumpção colaboração Patrícia Costa interpretação António Fonseca, Carla Maciel, João Pedro Vaz, Joaquim Horta, Paula Diogo, Pedro Lacerda, Raul Oliveira, Rúben Tiago, Rita Durão, Sílvia Filipe e com a participação de Carla Galvão na criação música Melech Mechaya músicos Francisco Caiado, João Graça, João Novais e Miguel Veríssimo co-produção Maria Matos Teatro Municipal Truta é uma estrutura financiada pelo Ministério da Cultura/DGArtes no âmbito da rede

co-financiada por


música

Grouper p Sleep Em colaboração com a Galeria Zé dos Bois

Palco da Sala Principal quarta 20 Abril 22h00 12€ / Com desconto 6€

Liz Harris vive fascinada pelos intrincados processos da nossa memória, pelo modo como esta se comporta nos diferentes momentos da nossa vida ou do nosso dia-a-dia, e pela maneira como reage ao sentimento de perda ou à sensação de felicidade. Sleep é uma peça transdisciplinar que nos tenta colocar em contacto com a gestão da memória e que nos confronta com os instantes que precedem o desligar da consciência, imediatamente antes do estado de vigília ceder a um estado de adormecimento. Esse limbo encantatório é conseguido embalando-nos em ressonâncias de som e de luz e simulando uma experiência imersiva que nos remete para universos oníricos, ilustrada pela reflexão de luz sobre superfícies de água, por movimentos ondulatórios ou pela dança da luz sobre espelhos. Para o alcançar, Liz Harris manipula, em três locais distintos do espaço performativo, magistrais loops de voz, de piano e de field recordings, enquanto três ecrãs projectam vídeos também da sua autoria. Toda a experiência e proximidade são ampliadas pela colocação do público no centro da concepção cénica, de forma a envolvê-lo pelo som e pelas imagens.

Incluída no programa de residência artística de Liz Harris na Galeria Zé dos Bois, Sleep tem nesta noite a sua estreia europeia — depois de uma primeira apresentação no Berkeley Art Museum, Califórnia, 2010 — numa versão composta em exclusivo para o palco do Teatro Maria Matos. EN On her European debut of Sleep, Liz Harris invites us to an intimate session where dreamy video projections and the subtle manipulation of field recordings and tape loops surround us on stage, making us feel like we are quietly drifting in-between the states of vigil and sleep, and allowing us to hypnotically confront our own memories. som e vídeo Liz Harris Jornal

11


© Bjarni Grímsson

música

Ben Frost Sala Principal segunda 25 Abril 22h00 12€ / Com desconto 6€

Tal como By The Throat, o imponente e marcante álbum de 2009 de Ben Frost, onde a electrónica provou ser unificadora de emoções, imagens e muitos géneros musicais, também os seus concertos se perpetuam como essenciais e eternos. Recuperamos, pois, parte adiada da primeira edição do Fim-de-semana Especial, em 2010, numa altura em que o músico, nascido na Austrália mas islandês de coração, se prepara para longos voos que o irão afastar dos palcos durante uma considerável temporada. Voltamos a desafiá-lo a recriar By The Throat em toda a sua dimensão épica, explosiva e texturada, com a ajuda de Borgar Magnason — um dos mais talentosos e polivalentes músicos e arranjadores islandeses — numa altura em que a sua agenda também inclui Solaris, uma peça sinfónica com Daníel Bjarnason que parece ganhar vida própria em alguns festivais importantes, a sua bolsa Rolex na companhia e orientação do mestre Brian Eno, e The Wasp Factory, uma grandiosa produção teatral e musical baseada no livro clássico e bestseller de Iain Banks. Uma agenda incrivelmente preenchida que só se justifica pelo carácter absolutamente revolucionário que Frost imprime no seu trabalho e, em particular, em By The Throat. Agora, há que recolher o fruto desse labor e apreciá-lo; tal como nós o faremos nesta noite. EN After having visited us with Nico Muhly and friends, Ben Frost returns to present us with his masterpiece By The Throat, one of the most fascinating examples of how electronics is not a state, but a language capable of unifying emotions, images and many musical genres. 12

Jornal

computador, guitarra, piano Ben Frost contrabaixo Borgar Magnason


música

Vladislav Delay Quartet Q Sala Principal quinta 5 Maio 22h00 12€ / Com desconto 6€

O segredo de Vladislav Delay tem sido revelado aos poucos. Um segredo apenas para quem ainda não reparou que as magníficas polifonias electrónicas dos seus variadíssimos projectos a solo nascem do facto de Sasu Ripatti, o nome verdadeiro do finlandês Vladislav Delay, ter começado a sua carreira como percussionista. Explode, de 2005, concebido em conjunto com AGF, revelou parte significativa das suas habilidades acústicas; em trio, com Moritz von Oswald e Max Loderbauer, Ripatti assumiu-se finalmente como um esplendoroso percussionista, preenchendo espectros e revelando a mesma noção rítmica que possui quando opera as suas estratégias hipnóticas nas máquinas. Em 2010, Delay activa mais um projecto, integrando Mika Vainio — finlandês, metade Pan Sonic, activista preponderante do design sonoro eléctrico-digital dos últimos 15 anos —, Lucio Capece — argentino, uma referência crescente do saxofone e clarinete no contexto da improvisação — e Derek Shirley — canadiano, amante praticante do affair entre jazz experimental e o noise. Juntos formam um quarteto imponente, que faz uma revisão do jazz contemporâneo explorando até ao limite os espaços e silêncios que ocupam os seus interstícios sonoros. Dizendo por outras palavras, cumprem uma das muitas visões de Delay sobre a música ambiental. EN Vladislav Delay’s new project is easily integrated into a certain notion of contemporary and experimental jazz, but it also shows yet another one of his takes on ambient music. In this virtually acoustic quartet, Delay explores uninhabited silences, spaces and rhythms, presenting new ideas for something we thought we already knew.

bateria, percussão Vladislav Delay electrónica Mika Vainio saxofone, clarinete Lucio Capece contrabaixo Derek Shirley Jornal

13


música

Bang On A Can All-Stars Brian Eno’s Music For Airports Sala Principal quarta 11 Maio 22h00 15€ / Com desconto 7,50€

Voltemos então a 4:33, o epifânico statement de John Cage, para escutarmos o espaço como fonte sonora e palco dos acontecimentos. Uma concepção que Brian Eno absorveu — reza a história que foi à custa de uma temporada forçada na cama de um hospital, imobilizado por um acidente grave — e formalizou em alguns pressupostos incontornáveis para reaprender o conceito do ambientalismo. Music For Airports nasce assim, dessa vontade de ocupar espaço e tempo, em que a nossa percepção condiciona e é condicionada por uma miríade de fenómenos circundantes. Esta obra-prima, na sua essência, é uma permanente instalação sonora com múltiplos graus de apreensão, consoante a disponibilidade para nos envolvermos pelas geniais e assombrosamente simples estruturas dos seus loops. O desafio de traduzir esta arte de colagem em estúdio para o domínio da instrumentação clássica só poderia estar ao alcance do ensemble Bang On A Can, que fazem desde o final dos anos 90 a versão acústica definitiva, milagrosa e emocionante deste glorioso artifício de Brian Eno. Depois de Music For Airports

14

Jornal

se ter tornado uma peça singular na música experimental, a revisão instrumental dos Bang On A Can atribuiu-lhe, e por consequência também à ambient music, um estatuto erudito e essencial da música do final do século XX. Hoje vamos sentir justamente esse lugar na história ao termos a sorte de ainda escutarmos Glamour Girl de Lukas Ligeti, I Buried Paul de Michael Gordon e Workers Union de Louis Andriessen na primeira parte desta noite dedicada a Brian Eno. EN When Brian Eno presented his Music For Airports at the end of the 70s, it represented the official beginning of ambient music as we know it. The acoustic live reinterpretation of this masterpiece, in its vibrating and distinctive format, has been played since 1998 by the well-respected contemporary ensemble Bang On A Can All-Stars. violoncelo Ashley Bathgate baixo Robert Black piano, teclados Vicky Chow percussão David Cossin guitarra eléctrica Derek Johnson clarinetes Evan Ziporyn


© Alain Monot

música

teatro

Gisèle Vienne Dennis Cooper & Jonathan Capdevielle p Jerk (Grenoble)

Palco da Sala Principal sexta 13 e sábado 14 Maio 21h30 12€ / Com desconto 6€ | Em inglês sem legendagem | Duração 55 min | M/16

Um espectáculo a solo para um marionetista, a partir de uma novela de Dennis Cooper. Jerk é uma reconstituição imaginária — estranha, poética e sombria — dos crimes cometidos pelo serial killer americano Dean Corll que, com a ajuda de dois adolescentes, David Brooks e Wayne Henley, assassinou mais de vinte rapazes no estado do Texas, em meados da década de 70. Durante a sua pena de prisão perpétua, David Brooks aprendeu a arte das marionetas para enfrentar as suas responsabilidades na participação nos crimes. Na peça, a sua personagem reconstitui os assassinatos de Dean Corll, utilizando marionetas para interpretar todos os papéis. Jerk mistura sem complexos sexualidade e violência, num registo digno da estética gore. A acção, por mais realista que seja, parece estar no limite da ficção. O aparente realismo do espectáculo, a narração linear e o facto de se inspirar numa história verdadeira, conseguem, paradoxalmente, mergulhar o público numa atmosfera de irrealidade e estranheza.

EN Jerk is an imaginary reconstruction — strange, poetic and sombre — of the true story of the crimes perpetrated by American serial killer Dean Corll who, with the help of two teenagers, killed more than twenty boys in the mid-70s. Jerk is a solo for a puppeteer that unabashedly mingles sexuality and violence using hand puppets for all the roles. a partir de um romance de Dennis Cooper encenação e concepção Gisèle Vienne dramaturgia Dennis Cooper música Peter Rehberg e El Mundo Frio de Corrupted luz

Patrick Riou criação em colaboração e interpretação Jonathan Capdevielle vozes gravadas Dennis Cooper e Paul P estilismo Stephen O’Malley e Jean-Luc Verna marionetas Gisèle Vienne e Dorothéa Vienne Pollak maquilhagem Jean-Luc Verna e Rebecca Flores guarda-roupa Dorothéa Vienne Pollak, Marino Marchand e Babeth Martin professor de ventriloquismo Michel Dejeneffe desenhos Jean-Luc Verna, Courtesy Air de Paris administração e produção Bureau Cassiopée, Anne-Cécile Sibué, Lénor Baudouin, Alix Sarrade e Rachel Ciora acompanhamento técnico Equipa de Le Quartz direcção técnica Nicolas Minssen produtor associado DACM com a colaboração de Le Quartz co-produção Le Quartz, Centre Chorégraphique National de Franche-Comté à Belfort no contexto do l’accueil-studio e do Centro Parraga apoio Ménagerie de Verre no contexto do studiolab A companhia DACM é apoiada pelo Drac RhôneAlpes/Ministère de la culture et de la communication, Région Rhône-Alpes, Conseil Général de l’Isère, Ville de Grenoble e Culturesfrance para as suas digressões internacionais Gisèle Vienne é artista associada de Le Quartz – Scène Nationale de Brest Jornal

15


© Susana Neves

dança 12 aos 24 meses

Joana Antunes PÉ ante PÉS Sala de Ensaios sábado 14 e domingo 15 Maio 11h00 e 16h00 Criança 2,50€ / Adulto 5€ | Duração 40 min

PÉ ante PÉS propõe uma experiência de partilha entre pais e bebés, através de uma partitura de movimentos. Numa altura em que a linguagem primordial ainda é a do corpo, as crianças experienciam o seu primeiro contacto com a dança, enquanto os pais relembram as primeiras sensações da infância: como foi o primeiro passo, o primeiro sabor, o primeiro som, o primeiro toque? No espectáculo, cria-se um espaço onírico onde os bebés podem interagir com vários estímulos aos cinco sentidos. Do início ao fim, pais e filhos participam na criação do espectáculo, reproduzindo, em cena, o ambiente de conforto e de segurança do “ninho” familiar.

EN PÉ ante PÉS proposes the sharing of experiences between parents and babies. This is a performance which seeks to create a dream-like space, where children can get in contact, and interact with a range of varied stimuli to the five senses.

conceito, direcção artística e figurinos Joana Antunes ambiente sonoro José Lemos cenografia Fernando Ribeiro desenho de luz Wilma Moutinho fotografia Susana Neves interpretação Alexandre Sá e Joana Antunes assistência e produção executiva Alexandre Reis produção Asas de Palco co‐produção Centro Cultural Vila Flor, Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e Theatro Circo apoio à produção A Oficina e O Espaço do Tempo residência artística O Espaço do Tempo 16

Jornal


instalação/concerto teatro

Jéranium & Man’hu Le Chronophone:

(Naillat)

concert mécanique à contretemps Palco da Sala Principal terça 17 e quarta 18 Maio 21h30 Público geral e famílias com crianças a partir dos 8 anos 12€ / Com desconto 6€ | Espectáculo sem palavras | Duração 60 min

Um espectáculo-instalação-concerto aleatório criado por verdadeiros respigadores e coleccionadores de sons. Uma orquestra de máquinas, algumas delas accionadas por motores, entoa uma sinfonia com uma partitura completamente aleatória e sempre nova. O sorteio que precede cada concerto compõe uma música inédita, que determina o conjunto de dados necessários para a criação musical, até à intervenção, instrumental ou não, de dois músicos-mecânicos. Depois da poesia sonora de Pendule (apresentado no FIMFA LX9), Jéranium & Man’hu regressam ao Teatro Maria Matos com uma série de máquinas sonoras

amplificadas, dispostas em semicírculo no palco. No centro, um conjunto de instrumentos, mais ou menos convencionais, permitem que dois músicos-mecânicos acompanhem as máquinas. Ao fundo, um grande relógio activa as máquinas e fornece-lhes indicações para o seu funcionamento…

EN This is an installation-concert-show. An orchestra of machines, arranged in a semi-circle on stage, plays out a symphony based on a completely aleatory and alwayschanging score. A big clock activates the machines and provides them with information on how to perform. Two musical mechanics keep the orchestra going…

concepção, construção e músicos-manipuladores Jéranium e Man’hu Jornal

17


instalação /concerto

© Scott Chasserot

teatro

CaboSanRoque q Torn de nit: serenata per a orquestra mecànica

(Barcelona)

Sala Principal sexta 20 e sábado 21 Maio 21h30 12€ / Com desconto 6€ Em catalão e castelhano com legendagem | Duração 75 min

“Cheira a baunilha no auditório. Um ecrã revela imagens de bolachas no tapete transportador, caindo para serem empacotadas, enquanto um operário recorda a música que a máquina fazia e como qualquer alteração nesta música, na melodia ou no ritmo o alertava para problemas mecânicos. Quatro músicos, operários de som, tocam de novo esta máquina. Um espectáculo fantástico.” Luis Hidalgo, El País CaboSanRoque reaproveitou grande parte do equipamento de uma fábrica de bolachas abandonada para construir uma orquestra mecânica completa, com secções de sopros, cordas e percussão. Os pistões, electroválvulas, roldanas, motores e tapetes transportadores que passaram os últimos 25 anos a produzir bolachas, são recombinados para construírem uma nova fábrica, agora destinada à produção de música. A renovada fábrica apresenta uma coreografia mecânica de pistões que fazem dançar o acordeão ao ritmo do Cha Cha Cha, de electroválvulas que fazem soar as trompetas de Jericó, e alguns barcos que cospem nuvens de farinha, anunciando a sua partida. A própria maquinaria com os seus movimentos mecânicos transporta-nos até aos momentos de fuga mental que assediavam os 18

Jornal

operários, enquanto passavam horas, dias, anos, repetindo os mesmos gestos diante de uma fila de bolachas na linha de produção. Graças aos esforços do sindicato conseguiu-se uma pausa para uma sandes. EN CaboSanRoque recycled part of the machines in a biscuit factory to build a complete mechanical orchestra, comprising wind, string and percussion sections. The pistons, the electric valves, the pulleys, the engines and the conveyor belts, which have been producing biscuits for the last 25 years, are now recombined so as to create a new factory, destined to produce music. composição musical CaboSanRoque concepção e realização da orquestra mecânica CaboSanRoque interpretação Roger Aixut, Alberto Mezquíriz, Josep Seguí e Laia Torrents cenografia, guarda-roupa e caracterização CaboSanRoque filmagem das imagens do espectáculo CaboSanRoque e Shankara Films iluminação Juanjo Surribas espaço sonoro Guiu Llusà construção da orquestra mecânica e produção CaboSanRoque co-produção Temporada Alta 2009 — Festival de Tardor de Catalunya-Interreg IV e Centro Párraga com a colaboração do Institut Català d’Industries Culturals e Institut Ramon Llull


© Pere Borrell

teatro | co-produção a partir dos 6 anos

Cláudia Andrade Maria de Vasconcelos Letícia Liesenfeld & Pére Cabaret Abundância Uma criação com cinco turmas do 1.º Ciclo

Palco da Sala Principal sábado 28 a segunda 30 Maio sábado 16h00 domingo 11h00 segunda 10h00 e 14h30 Criança 2,50€ / Adulto 5€ | Duração 60 min

À partida, será difícil percebermos o que é que uma criança entende por muito ou por pouco, se chega, se ainda falta, se tem fim, se é preciso mais, se não chega ou se é demais. Estas e outras perguntas traduzem o material sobre o qual este espectáculo inédito foi criado. Ao longo deste ano lectivo, Cláudia Andrade, Maria de Vasconcelos, Letícia Liesenfeld e Pére Cabaret trabalharam intensivamente com cinco turmas do 1.º Ciclo sobre o que é para eles a Abundância. Os materiais recolhidos nas entrevistas e nas oficinas desenvolvidas com estes alunos impulsionaram o processo criativo colectivo que deu origem a este espectáculo. No vazio do espaço em branco a história da Abundância vai crescendo e desenrolando-se com base num bem que parece ser escasso, mas que é, na verdade, infinito: a imaginação. EN  Throughout this school year, four artists and five groups of elementary school children have worked actively together in order to explore what they understand by the word Abundance. Using the material collected from interviews and workshops with the children, they have developed a performance, where imagination takes centre stage expressing their view on the meaning of Abundance.

criação colectiva Cláudia Andrade, Maria de Vasconcelos, Letícia Liesenfeld e Pére Cabaret concepção e interpretação Cláudia Andrade e Maria de Vasconcelos espaço plástico e sonoro Pére Cabaret apoio ao movimento e à dramaturgia Letícia Liesenfeld assistência de cenografia Paulo Ferro co-produção Maria Matos Teatro Municipal e Próxima Estação Associação Cultural projecto desenvolvido com a participação dos alunos e professores das escolas EB1 Bairro de São Miguel, EB1 Fernando Pessoa, EB1 n.º 33 Santo António e EB1 n.º 121 e Jardim de Infância do Campo Grande Jornal

19


© Vincent Beaume

teatro/novo circo

Camille Boitel L’Immédiat

(Clermont-Ferrand)

Sala Principal sábado 4 e segunda 6 Junho 21h30 domingo 5 Junho 18h00 Público geral e famílias com crianças a partir dos 8 anos 12€ / Com desconto 6€ | Espectáculo sem palavras | Duração 70 min

“Um espectáculo imperdível. Seis artistas-acrobatas tentam manter o equilíbrio no meio de uma confusão mirabolante e de uma delirante cascata de catástrofes. O absurdo da condição humana e do mundo é o verdadeiro tema deste magistral desmoronamento teatral. Uma festa!” Rosita Boisseau, Le Monde L’Immédiat é uma surpreendente combinação de novo circo, dança e teatro, uma comédia alucinante que nos remete para o universo cénico do cinema mudo. O palco está coberto de centenas de objectos espalhados desordenadamente: uma tábua de engomar, panelas, um escadote, baldes, um baú velho, uma mesa bamba, bancos, cadeiras. As personagens tentam traçar o seu caminho através de um cenário caótico à medida que tudo desaba e desmorona ao seu redor. Neste espectáculo, Camille Boitel oferece uma visão trágica da condição humana, num mundo em que

20

Jornal

tudo parece estar num estado de desastre iminente. Mas L’Immediat não deixa de ser também um elogio ao espírito inventivo e de perseverança do Homem, em confronto com os desastres que causamos e que sofremos. “Cada vez mais aprendemos a falhar com maior virtuosidade”, diz Camille Boitel. “Ao vaguear por este estaleiro improvável, a desordem tem-se tornado cada vez mais familiar, o acidente encrostouse nos nossos corpos.”

criação Camille Boitel interpretação Marine Broise, Aldo Thomas, Pascal le Corre, Camille Boitel, Jérémie Garry e Jacques-Benoît Dardant cenografia Benoît Finker, Thomas de Broissia, Martin Gautron e Martine Staerk desenho de luz Benoît Finker produção Lamereboitel co-produção Le Merlan, Scène National de Marseille, Théâtre de la Cité internationale e Manège Scène Nationale de Reims apoios Ministère de la Culture et de la Communication: DRAC Ile de France e DMDTS Ville de Paris digressão em Portugal Viseu, Teatro Viriato, 16, 17 e 18 Junho

EN L’Immédiate is a surprising combination of new circus, dance and theatre. In this formidable masterpiece, six characters try to find their way on a stage covered with hundreds of large and small objects. As they advance, literally everything collapses around them in an incredible cascade of catastrophes. A disturbing, yet hilarious view on a world on the brink of disaster.

no âmbito da rede

co-financiada por


música

Syracuse Ear y

(Margarida Garcia, Chris Corsano, David Maranha & Manuel Mota) Sala Principal quarta 8 Junho 22h00 12€ / Com desconto 6€

As grandes aventuras são aquelas onde o risco e o desafio estão sempre presentes, criando uma saudável coabitação com a aceitação do erro e do falhanço. A admiração e amizade são, por exemplo, bons fermentos criativos para o sucesso dessa aventura. Margarida Garcia, David Maranha e Manuel Mota partilham discos e concertos como Curia, na companhia de Afonso Simões, e comungam com Chris Corsano uma proximidade de longa data, feita de experiências em palco — Mota já tocou com o genial baterista norte-americano algumas vezes, em duo e com outras formações —, encontros e conversas fora dele. Há uma relação de apreço comum que sempre os fez desejarem trocar ideias como um colectivo coeso e blindado, assumidamente distante do regime aberto da improvisação que todos tão igualmente dominam. O plano mestre, elaborado desde finais de 2010, inclui uma forte atracção pelo rock, mas muitas condições foram deixadas deliberadamente em aberto para que a energia colectiva também produza resultados inesperados. Esta qualidade emerge pela capacidade de diálogo de todos os músicos, desvendando‑se talvez porque Syracuse Ear foi o nome escolhido para o quarteto — é esse jogo de perguntas e respostas, como uma câmara de ecos, que melhor pode definir a dinâmica deste projecto pan-atlântico que se estreia neste dia. EN  Having collaborated on previous projects, Maranha, Mota and Garcia join the exceptional North-American drummer Chris Corsano to set up a quartet that they have been planning for a long time. This quartet springs from the friendship they all share and from the admiration they cultivate for each other’s work. guitarra Margarida Garcia bateria Chris Corsano órgão David Maranha guitarra Manuel Mota Jornal

21


dança co-produção

Luís Guerra de Laocoi Qqywqu’ddyll’o’ Sala Principal com bancada quarta 15 a sábado 18 Junho 21h30 12€ / Com desconto 6€ | Duração 50 min

Qqywqu’ddyll’o’ é um tipo de arte de Laocoi, geralmente dançado por um homem e musicado por uma mulher. A mulher segue sempre uma partitura rigorosa que constitui uma forma ancestral de poesia musical. Cada nuance específica de tempo entre cada som corresponde a uma determinada letra e os próprios sons podem corresponder a diferentes sílabas. O conjunto desses silêncios e sons diferentes resulta em palavras que dão forma a um poema que geralmente se versa sobre as temáticas da beleza, do amor e da elegância. Qqywqu’ddyll’o’ exige que os ouvintes familiarizados com esta arte laocoït contem constantemente os tempos de forma a visualizarem palavras vindas do vazio. O homem é quase sempre um elemento ornamental que se limita a dançar abstracções, tornando-se, para quem está acostumado, na própria banda sonora do texto. A sua dança não deve jamais ilustrar o poema. Qqywqu’ddyll’o’ é uma arte destinada a teatros e deixa-se acompanhar na maioria das vezes por elementos cénicos que retratam elementos geográficos de Laocoi, seja por linhas de relevo ou ainda por imagens fotográficas que encarnem o vento que sempre sopra forte no arquipélago. 22

Jornal

EN Qqywqu’ddyll’o’ is a type of Laocoi art, usually danced by a man and composed by a woman. The woman follows a demanding score that is an ancestral form of musical poetry. The man is mostly an ornamental element only dancing abstract routines, and his dance should never illustrate the poem.

criação e composição coreográfica, cénica e musical Luís Guerra de Laocoi interpretação Luís Guerra de Laocoi (bailarino) e Bruna Carvalho (música) projecção fotográfica Carol Carvalho figurinos Aleksandar Protic técnico luz e som José Iglésias produtora executiva Ana Rita Osório produção Bomba Suicida co-produção Maria Matos Teatro Municipal

no âmbito da rede

co-financiada por


© Reinaldo Rodrigues

dança

Pieter Ampe & Guilherme Garrido

(Bruxelas Lisboa)

Calçada Marquês de Abrantes, nº99 (Santos)

Still Difficult Duet

Still Standing You

espaço alkantara segunda 20 Junho 19h00

Sala Principal com bancada terça 21 e quarta 22 Junho 21h30

Preço único 6€ | Duração 30 min

12€ / Com desconto 6€ | Duração 60 min

O belga Pieter Ampe e o português Guilherme Garrido conheceram-se no Verão de 2006 na escola de dança P.A.R.T.S., em Bruxelas. Nessa altura, embarcaram numa primeira colaboração: Still Difficult Duet. Mais do que uma coreografia harmoniosa, a peça parece ser um constante exercício de equilíbrio entre dois egos e dois corpos hipercinéticos. O resultado foi de tal modo surpreendente, que o espectáculo saltou de imediato do contexto escolar para o circuito internacional. Dois anos após Still Difficult Duet, Pieter Ampe e Guilherme Garrido encontraram‑se de novo no estúdio de dança para criar Still Standing You. Mas por quanto tempo serão capazes de estar juntos e de, sobretudo, suportarem-se um ao outro? Com uma grande intensidade física, analisam os aspectos contraditórios da sua relação: são amigos, rivais, inimigos ou amantes? Sem qualquer tipo de pudor e com uma grande dose de ironia, Ampe e Garrido exploram todas as facetas da sua relação, com uma opulência que faz lembrar a energia inesgotável, porém volátil, de rapazes adolescentes.

EN In Still Difficult Duet and Still Standing You, the Belgian Pieter Ampe and the Portuguese Guilherme Garrido open up a boxful of dance passages and in their own mischievous way give us a glimpse of their kaleidoscopic view on friendship. With a dance idiom entirely their own, they create two highly dynamic performances in which ruggedness, anger and love are entwined in one all-encompassing embrace. Still Difficult Duet coreografia e interpretação Pieter Ampe e Guilherme Garrido produção executiva CAMPO agradecimentos Maus Hábitos, 555, P.A.R.TS./Rosas, Sweet&Tender/SKITe, Valentina Desideri, Robert Steijn e Jean-Marc Adolphe & Pa-f Still Standing You coreografia e interpretação Pieter Ampe e Guilherme Garrido dramaturgia Rita Natálio produção CAMPO co-produção STUK e Buda residência artística espaço alkantara observadora Louise Van den Eede apresentações em Lisboa apoiadas por

Jornal

23


© Lynda Smith

© Harold Thompson

música

Nancy y Elizabeth James Blackshaw Sala Principal com bancada segunda 27 Junho 22h00 12€ / Com desconto 6€

Numa primeira audição, parecem não existir muitos pontos comuns quando escutamos a obra de cada um destes músicos. No entanto, na premente necessidade de descobrirmos a justificação pela qual Nancy Elizabeth e James Blackshaw se encontram ocasionalmente em palco teremos que culpabilizar a folk como parte da razão desta relação. Ainda assim, comungam duas visões e distanciamentos distintos desta herança, com Nancy a procurar a emotividade nas canções, enquanto James desenvolve a gramática que nomes como John Fahey ou Steffen Basho-Junghans impuseram na folk moderna. Por outras palavras, o cânone verbal nas mãos dela, a complexidade virtuosa nas mãos dele. Wrought Iron (2009), o segundo álbum de Nancy, colocou-a num patamar de excepção, assumindo o piano como motor das suas composições e da sua poética visão do mundo, dando-nos uma autoria segura e quente, que tanto nos relembra as polifonias de Joanna Newsom, como o toque etéreo de Josephine Foster. James Blackshaw traz consigo o pesado rótulo de jovem-prodígio depois de um reconhecimento merecido para All Is Falling e The Glass Bead Game, os seus dois últimos álbuns, editados por Michael Gira, onde numa procura por novas e ambiciosas metodologias épicas para as suas composições, se direcciona cada vez mais para a devoção por uma estética minimalista contemporânea, do que para a colheita directa da árvore do alt folk. Tanto Nancy como James actuarão a solo e em duo, provando que, à distância ou em proximidade, a paixão e o virtuosismo com que tecem a sua música só nos podem prometer uma noite inesquecível. EN As followers of a seemingly instrumental complexity, both Nancy and James enjoy challenging each other on solo live shows, playing the piano and the acoustic guitar. Once again they meet on stage to show us how close and distant their individual compositions are, in a quite modern take on the multicoloured inheritance of folk roots. 24

Jornal

guitarra, piano Nancy Elizabeth guitarra, piano James Blackshaw


© Magda Bizarro

teatro | co-produção

Mundo Perfeito & Dood Paard The Jew

(Lisboa Amesterdão)

a partir de The Jew of Malta de Christopher Marlowe Sala Principal com bancada terça 5 a quarta 13 Julho 21h30 (excepto domingo 10) 12€ / Com desconto 6€ | Em inglês com legendagem

The Jew realiza-se no âmbito da terceira edição do projecto Estúdios, encontro anual de artistas portugueses e estrangeiros em Lisboa. Neste ano, a Mundo Perfeito, estru­ tura que promove o trabalho artístico de Tiago Rodrigues, convidou para juntar-se ao projecto uma das mais prestigiadas companhias de teatro contemporâ­neo da Holanda, Dood Paard, que regressa a Lisboa depois da sua passagem pelo alkantara festival 2010 com medEia e Answer me. O elenco, composto por actores holandeses e portu­gueses, trabalhará entre Amesterdão e Lisboa a partir do controverso texto de Chris­topher Marlowe, The Jew of Malta (O Judeu de Malta), uma das obras-primas da dramaturgia univer­sal. Contemporâneo de Shakespeare, Marlowe aborda com crueza a temática da vin­gança e da ganância num clássico que influenciou de forma clara a escrita de O Mer­cador de Veneza, destacando-se ao mesmo tempo desta última obra pela forma vertiginosa como a acção se desenrola e pela ausência de moral, rudeza e verdade das suas personagens. A acção desta peça passa-se na ilha de Malta, lugar de cruzamento de culturas e religiões, onde o dinheiro acaba por imperar como língua franca. Controversa e divertida, esta obra foi escolhida pelos criadores como o texto certo para uma reflexão sobre o poder e o dinheiro que quase sempre estão nos bastidores dos “confrontos de civilizações”, sobre a violência e a forma como o teatro nos revela essa violência.

EN A Dutch/Portuguese cast takes on Christopher Marlowe’s controversial masterpiece The Jew of Malta. Probably written around 1590, the play’s plot is a story of religious conflict, intrigue, greed and revenge, set against the backdrop of the struggle for supremacy between Spain and the Ottoman Empire in the Mediterranean island of Malta. At the time of its creation, the piece stirred great controversy and has maintained this provocative quality to our days. espectáculo criado pelos actores Carla Maciel, Gillis Biesheuvel, Gonçalo Waddington, Kuno Bakker, Manja Topper e Tiago Rodrigues e pelos técnicos André Calado, Julian Maiwald e René Rood texto The Jew of Malta de Christopher Marlowe adaptação Paul Evans comunicação Raymond Querido direcção de produção Dood Pard Marten Oosthoek direcção de produção Mundo Perfeito Magda Bizarro produção Mundo Perfeito e Dood Paard co-produção Dood Paard, Mundo Perfeito e Maria Matos Teatro Municipal

no âmbito da rede

co-financiada por

Jornal

25


© atelier lafme

Inspirados pelo tema da Abundância, celebramos o último dia da temporada com um programa que contempla oficinas, concertos, teatro, instalações e vários outros eventos, dentro e fora do Teatro. Começamos o dia com mais uma edição do aoarlivre, uma tarde inteira de actividades a pensar nos mais novos e nas suas famílias no Jardim das Estacas. O projecto TERRA² apresenta criações de intervenção urbana no espaço público sobre os excessos cometidos em nome de uma abundância que já não existe. A companhia britânica Forced Entertainment traz uma performance épica de seis horas, na qual comprime o mundo num compêndio de duas mil perguntas. Na Sala Principal, Francisco López e Jacob Kirkegaard apresentam dois concertos únicos, criados com os sons que nos rodeiam — da cidade de Lisboa e do próprio Maria Matos. E é na praça ao lado do Teatro que reavivamos a ideia de cozinha comunitária: o público traz os ingredientes e nós preparamos um Banquete Respigador.

Dia da Abundância

sábado 16 Julho 16h00 às 24h00

O Cartão Dia da Abundância dá acesso a todos os eventos pelo preço único de 12€, apenas à venda na bilheteira do Teatro. Programa apoiado pela Junta de Freguesia de Alvalade

16h00 às 20h00

18h00 às 24h00

aoarlivre intervenções urbanas TERRA² projecto educativo

teatro

19h00

Forced Entertainment Quizoola!

20h00 às 22h00 Banquete Respigador

música

Jacob Kirkegaard

22h00 música

Francisco López

para toda a família

aoarlivre Jardim das Estacas 16h00 às 20h00 Entrada livre

26

Jornal

• oficinas Multidão

monitores Madalena Matoso e Yara Kono

1x100 Postal para ti

monitores Guida Casella e Leonor Clara

Multiplicador de espécies

Nesta edição especial do aoarlivre, convidamos os mais novos, as suas famílias e os nossos vizinhos a juntarem-se a nós nesta tarde repleta de performances, oficinas e instalações.

monitores Leonor Pêgo e Vanda Vilela (Associação Traços na Paisagem)

EN In this special edition of aoarlivre, taking place on the Day of Abundance, we invite youngsters, their families and our neighbours to come and join us on an afternoon packed with performances, workshops and installations.

monitores Patricia Maya e Viviana Henriques

Mundo perfeito

Pessoas de ba(i)rro

monitores Belisa Sousa e Rita Raposo (Associação Traços na Paisagem)


TERRA

2 Entrada Livre

Arte, Cidade e Desenvolvimento Sustentável 5 criações artísticas para o espaço público

Desenho ar livre

monitores Francisco Pinheiro e Ana Borges

Abundância quanto baste monitores Catarina Claro e Laura Hernando

Transforma-me

monitores Ana Teresa Maga e Alice Neiva

Solargrafia

Comunidade de pais vizinhos do teatro

• intervenções Dia de sol

Ao longo deste dia, apresentamos as criações em vários locais nas imediações do Teatro. EN Without drastic changes in the way we use the resources of our planet, we will need not one but two planets Earth by 2030. Together with Transforma (Torres Vedras), Teatro Maria Matos invites five artists through an open call to create a work of public art dedicated to the themes of ecology and sustainable development. apoios

em colaboração com

parceiro © atelier lafme

Sem alterações drásticas na nossa maneira de usar os recursos naturais, iremos precisar até 2030 não de um, mas de dois planetas Terra. A Transforma e o Teatro Maria Matos organizam um projecto de criação para cinco artistas portugueses e estrangeiros interessados em desenvolver um trabalho artístico sobre temas ligados à ecologia, desenvolvimento sustentável, biodiversidade e aquecimento global, no âmbito da IMAGINE2020 Art and Climate Change Network. O projecto consiste na criação de obras para o espaço público, tais como instalações, happenings, live art e performance, e inclui uma residência artística na Transforma, em Torres Vedras, com tutoria de especialistas na matéria. Todos os processos de trabalho serão documentados e os resultados expostos em Lisboa e Torres Vedras.

Tanto e tão pouco

• espectáculo de teatro/música

O que é muito para alguns pode ser muito pouco para outros. Existe uma única forma de pensar?

18h00

criação Cláudia Gaiolas, Anabela Almeida e Alfredo Martins

• instalações-oficinas Chilreios Urbanos Pousados nas árvores, pássaros de todo o mundo conversam com outros animais. criação Luísa Alpalhão

Chapéus e outras sombras

O que pode acontecer quando a ida à praia se transforma numa ida ao jardim…

Deitados na relva, à sombra, através de uma janela azul que muda a cor das paredes do bairro, até podemos ler cartas nas nuvens.

criação Sofia Farafossa e Tomé Quirino

criação Ana Alveolos e Rita Castro

João Calixto A Debandada Em fuga para outras batalhas mas cheios de histórias para contar, caminhamos para que nos ouçam: “Voltemos para casa!” projecto, direcção e cenografia João Calixto composição e direcção musical João Calixto e banda filarmónica figurinos Mariana Sá Nogueira direcção produção João Chicó co-produção Fosso de Orquestra e Maria Matos Teatro Municipal

Jornal

27


teatro

música

Jacob Kirkeg Palco da Sala Principal 19h00 Preço único 6€ | Cartão Dia da Abundância 12€

Ao longo dos últimos 15 anos, Jacob Kirkegaard tem focado quase toda a sua atenção na vida sonora que nos escapa aos sentidos: espaços acústicos, fenómenos sonoros, ressonâncias e frequências de estruturas ou o comportamento do nosso corpo ao som. Através de um arsenal de estranhos instrumentos com que tem vindo a trabalhar, o artista dinamarquês captará o inaudível do nosso Teatro — frequências e ressonâncias das estruturas e materiais do próprio edifício — para o transformar até à nossa escala, palpável e visível, num concerto e palestra elucidativa e surpreendentes.

Banquete Respigador 20h00 às 22h00 Para garantir a sua presença no banquete traga-nos ingrediente(s) para a confecção do jantar

28

Jornal

O Banquete Respigador reaviva a ideia de cozinha comunitária, para o qual contamos com o contributo das vossas dispensas. Para isso, basta trazer um ingrediente à sua escolha. Na praça ao lado do Teatro, uma cozinha improvisada,

um chef e um pequeno exército de voluntários irão preparar uma refeição com os ingredientes recebidos ao longo de todo o dia. No final, saboreamos os pratos inventados com todos os respigadores.


Forced Entertainment Quizoola! Espaço junto ao Teatro a anunciar sessão contínua 18h00 às 24h00 Preço único 6€ | Cartão Dia da Abundância 12€ Em inglês sem legendagem Quizoola! é um espectáculo de longa duração com base em duas mil perguntas de Tim Etchells. A peça dura seis horas e — tal como acontece nas outras criações de longa duração da companhia — o público é livre de chegar, partir e voltar a qualquer momento. Três actores com maquilhagem de palhaço esborratada, vão-se revezando na escolha de perguntas e improvisando respostas em palco, imprimindo assim uma energia viva e crua à peça. A forma e conteúdo de cada apresentação de Quizoola! permanece num equilíbrio negociado ao vivo entre os actores e o público. À medida que novas perguntas são lançadas e novas respostas inventadas, o ambiente altera-se imprevisivelmente, passando de uma comédia ligeira e de um simples jogo de perguntas para um escrutínio pessoal e uma dura interrogação. Quizoola!

gaard

(Sheffield)

é um espectáculo que explora a nossa necessidade de controlo das miríades realidades e factos do nosso mundo e demonstra o que sabemos há muito: um tolo pode fazer tantas perguntas numa hora, que um sábio não poderia responder num ano.

EN Quizoola! is a game of questions and answers, an interrogation — at once comic and brutal — which soon gets out of control. For six hours, three actors made up as clowns before an audience free to come and go as it pleases, make up two thousand whispered or shouted questions: a live negotiation about what is real and what is acted, what questions to ask and how to answer them. Absurd, intimate, funny, obscure, they explore our need to know, to be sure of ourselves, to define ourselves through language. concepção Forced Entertainment interpretação nas várias apresentações Robin Arthur, Tim Etchells, Richard Lowdon, Claire Marshall, Cathy Naden, Terry O’Connor, Kent Beeson, Mark Etchells, Tim Hall, Jerry Killick, Joe Lawlor, Sue Marshall, Ursula Martinez, Christine Molloy, Sophia New, Dan B. Rogers, Bruno Roubicek, John Rowley e Jim Fletcher texto Tim Etchells e companhia desenho de luz e cenário Richard Lowdon encomenda Lois Keidan e Catherine Ugwu do ICA Live Arts & National Review Of Live Art

música

EN Jacob Kirkegaard will seek to feel the infinitesimal pulse of Teatro Maria Matos, measuring the inaudible frequencies and reverberations of its structure, and revealing a world of sounds that escape our attention in our daily lives.

Francisco López Palco da Sala Principal 22h00 Preço único 6€ | Cartão Dia da Abundância 12€

EN At this open air community banquet a chef prepares whatever ingredients the public brings along. And at the end of the day we all have dinner together.

Conhecido por editar discos com design negro e dar concertos com a audiência vendada ao seu redor, o espanhol Francisco López sempre se preocupou em captar o que o mundo lhe dava para depois processá-lo. Criou um universo único que desde o início da década de 80 tem servido para o colocar na vanguarda do experimentalismo. Francisco López recolherá

os sons de Lisboa que ouvimos todos os dias para remontar mais uma dos suas épicas e demolidoras montagens auditivas, colocando o público no centro da sua tempestade sonora. EN Francisco López collects the sounds we hear everyday in Lisbon to process them into a deluge of sounds that challenge our minds and senses. Jornal

29


© atelier lafme

mm Oficinas A partir dos 14 anos

performance Rita Natálio Pensar em voz alta pág. 31 A partir dos 13 anos

dança Francisco Camacho Vamos dançar? pág. 31 A partir dos 14 anos

performance Cláudia Dias O que é representar? pág. 32

Conversas Super Disco pág. 32 Dois Graus pág. 33

Dossier Abundância Prosperidade sem crescimento ­– A transição para uma economia sustentável págs. 34 a 38


oficina de performance

mm

oficina de dança

mm

a partir dos 13 anos Escolas do 3.º Ciclo e Secundário

a partir dos 14 anos

© Rui Pereira

© Inês Abreu e Silva

férias da páscoa

Rita Natálio Francisco Camacho Pensar em voz alta Vamos dançar? Sala de Ensaios segunda 11 a quinta 21 Abril (excepto sábado 16 e domingo 17) 15h00 às 18h00

Sala de Ensaios quinta 28 e sexta 29 Abril 10h00 Duração 2h | Preço 2€

Duração 27h | Preço 27€ | Inscrições até 5 Abril

Nesta oficina sobre a Abundância aplicada à comunicação, faremos concertos de iPhones, textos falados a 20 línguas, poemas e canções telecomunicados, debates em chat roullette, sessões de ginástica mental em streaming e podcasts sobre a vontade súbita de ficar em silêncio. São bem-vindos monolingues, bilingues, trilingues, aprendizes de linguagem gestual e amantes de gadgets e outras geringonças electrónicas.

Em Vamos dançar?, a dança é protagonista de um espaço de experimentação e descoberta. Uma oportunidade para conhecer e recriar as práticas e metodologias de criação de bailarinos e coreógrafos contemporâneos com percursos importantes no panorama português. Nesta edição especial do Dia Mundial da Dança, Francisco Camacho inicia a oficina com uma conversa, ilustrada por imagens e filmes do seu trabalho, seguida de uma série de experiências práticas.

EN In this workshop, which explores the abundance of media, there will be iPhone concerts, conversations in 20 different languages, telecommunicated poems and songs, chat roulette debates, mental exercise video streaming and podcasts about the sudden wish to be in silence. Monolingual, bilingual and trilingual sign language learners, as well as gadget lovers, are welcome.

EN On this World Dance Day edition of Vamos dançar?, Francisco Camacho starts off the workshop with a conversation, illustrated by photos and films of his own work, and continues with a series of practical experiments. An opportunity to get to know and to recreate the work practices and methodologies of this Portuguese dancer and choreographer.

Rita Natálio tem centrado a sua actividade principal na área da dramaturgia, na escrita de ficção e na criação de peças em torno das temáticas da biografia, identidade e do retrato inspiradas por processos documentais. Colaborou com vários artistas, entre eles João Fiadeiro, Vera Mantero e Cláudia Dias. Pertence à rede internacional de artistas Sweet and Tender Collaborations.

Francisco Camacho estudou em Portugal e nos estúdios de Merce Cunningham e de Lee Strasberg, em Nova Iorque. Trabalhou com Paula Massano, Meg Stuart, Alain Platel e Carlota Lagido, entre outros. Desde 1988, desenvolve trabalho como coreógrafo. Ensina regularmente em Portugal e no estrangeiro. Foi galardoado com o Prémio Bordalo da Casa da Imprensa de 1995 e 1997 e com o Prémio ACARTE/Maria Madalena de Azeredo Perdigão. Jornal

31


oficina de performance

mm

mm

a partir dos 14 anos

férias de verão

super disco

© atelier lafme

super disco

Cláudia Dias O que é representar? Sala de Ensaios segunda 4 a quinta 14 Julho (excepto sábado 9 e domingo 10) 15h00 às 18h00

mmcafé sábados 18h30 16 Abril, 21 Maio, 18 Junho 18h00 Entrada Livre

Duração 27h | Preço 27€ | Inscrições até 27 Junho

Uma oficina é o local onde se exerce um ofício, uma arte, uma profissão, ou seja, é um local de trabalho. É um espaço laboratorial onde se produzem objectos e se ensaiam formas de fazer. A meu ver este princípio aplica-se também à área das artes performativas. Assim, esta oficina será um local de trabalho onde se exerce um ofício que é a representação. Cláudia Dias EN A workshop is a laboratorial space where objects are created and methods are rehearsed. This is a principle that Cláudia Dias will apply in this proposal for the summer holidays, transforming this workshop into a work place for the performing arts.

Cláudia Dias estudou dança e desenvolveu o seu trabalho nas áreas performativas. Colaborou com a Re.Al, especificamente na estratégia de criação de João Fiadeiro e da Composição em Tempo Real. As suas peças foram já apresentadas na Europa e no Brasil. Pertenceu ao colectivo Ninho de Víboras. Com João Samões e Mónica Mota criou a Associação Os Três Caracóis. 32

Jornal

Mês a mês, as sessões do Super Disco vão reforçando cada vez mais a ideia de que a biografia da nossa vida se esconde atrás de um disco — seja pela mão de músicos ou produtores, ou pela influência de críticos ou divulgadores. É a ingrata escolha de um disco preferido que abre portas a memórias, pessoas, épocas e, claro, a outros super discos, construindo com uma generosa precisão, peça após peça um grande puzzle que estará sempre por concluir. A memória das anteriores sessões do Super Disco está agora mais acessível no arquivo online do Teatro Maria Matos, mas é no mmcafé, diante dos convidados e partilhando a música escolhida, que nos sentimos próximos e participantes da reescrita da história. Recorde as sessões anteriores do Super Disco transmitidas na rádio Oxigénio em www.teatromariamatos.pt/audio-video/super-disco EN We continue welcoming to our mmcafé selected guests who are particularly fond of music and its physical medium. The sessions start off by asking them to justify the (always unfair) choice of a favourite record above all other favourites, and soon the conversation flows through memories and confessions which bring light on the personal history of each individual guest and their passionate relationship with records.

Super Disco um programa da Flur e do Maria Matos Teatro Municipal com os apoios da Rádio Oxigénio e da MK2


© atelier lafme

mm conferência/seminários

Dois Graus

Arte, Alterações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável Sala Principal sexta 6 e sábado 7 Maio 10h00 às 18h00 Programa a divulgar No seu relatório de 2007/8, a United Nations Development Program advogou um limite máximo de 2ºC de aumento da temperatura média no planeta Terra, mas nem a Conferência sobre Mudanças Climáticas em Copenhaga (2009), nem a Cimeira de Cancun (2010) conseguiram assegurar um acordo viável. No entanto, sem acção drástica, ou seja, se as emissões continuarem iguais ao nível actual, todas as previsões científicas existentes prevêem um aumento da temperatura média global que pode chegar aos 4ºC até ao final do século. O aumento da temperatura média não é apenas um problema global, mas também transversal. A emissão de gases de estufa está ligada a todos os sectores da actividade humana e uma redução destas emissões só pode ser alcançada através do esforço de todos. Qual é o papel do sector cultural neste contexto? A arte tem a capacidade de informar e avisar sobre o aquecimento global e as suas consequências? Tem o dever de incitar os espectadores a reduzir a sua pegada ecológica? E os próprios artistas, teatros, festivais, museus, galerias… também não deveriam desenvolver métodos mais ecológicos para produzir, apresentar e distribuir as suas obras artísticas? A conferência Dois Graus abre este debate em Portugal com uma série de intervenções e seminários orientados por académicos, agentes culturais e peritos nacionais e internacionais. No dia 6 de Maio, Peter Tom Jones, investigador na área da Ecologia Industrial na Universidade de Lovaina (Bélgica) e Paul Allen, Director do Centro de Tecnologias Alternativas (País de Gales), apresentam um enquadramento da situação actual e apontam caminhos de transição para uma sociedade sustentável. A organização britânica Julie’s Bicycle é provavelmente a organização mais experiente a nível mundial no desenvolvimento e na aplicação de políticas sustentáveis nas indústrias criativas e nas artes; Helen Heathfield, directora de Energia e Ambiente da organização, apresenta um conjunto de metodologias e medidas para reduzir a pegada ecologica no sector cultural, enquanto Judith Knight da agência artística Londrina ArtsAdmin, aborda o papel das artes na divulgação da problemática. No mesmo dia, dois agentes culturais apresentam os seus projectos e percursos

concretos rumo a sustentabilidade climática e energética: André Soares explica porque razão foi o Boom Festival (Idanha-a-nova) classificado como o festival mais verde da Europa e a dinamarquesa Kigge Hvid apresenta os Index Awards, prémios de design sustentável. No segundo dia, estes e outros peritos orientam uma série de oito seminários diferentes onde serão apresentadas e discutidas metodologias e ferramentas concretas para, por um lado, se abordar o tema na criação artística e na programação e, por outro lado, se reduzir o desperdício e minimizar o impacto ambiental na organização de festivais, gestão diária de teatros e centros culturais, digressões de concertos e espectáculos, desenho de luz, etc. A conferência Dois Graus faz parte de uma série de iniciativas organizadas pelo Teatro Maria Matos e pela Transforma, em Lisboa e Torres Vedras, entre Abril e Julho de 2011, no âmbito do projecto IMAGINE2020 Art and Climate Change. O programa completo será anunciado durante o mês de Abril.

EN Global warming is a transversal problem that needs to be tackled on all levels of society. Also in the arts, a growing number of people are aware of their responsibility and artists and arts organisations all over Europe seek to address the issue in their work and undertake concrete action to reduce the ecological footprint of their activity. On 6 and 7 May, Teatro Maria Matos and Transforma organize a series of debates and seminars about Art, Global Warming and Sustainable Development. Programme to be announced.

em colaboração com

apoios

parceiro

Jornal

33


mm

Dossier

Prosperidade sem crescimento

A transição para uma economia sustentável A Sustainable Development Commission é uma organização independente que aconselha o primeiro-ministro do Reino Unido sobre assuntos relacionados com o desenvolvimento sustentável. Em 2009, encomendou ao Prof. Tim Jackson, professor de Estudos do Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Surrey, Reino Unido, um estudo sobre a economia actual, baseado em modelos de crescimento e nas opções existentes para a transformar numa economia sustentável. O resultado é impressionante e a leitura altamente recomendável, mesmo para cépticos. Aqui publicamos a Introdução, que resume sumariamente a argumentação do relatório. A publicação completa está disponível em: www.sd-commission.org.uk/publications.php?id=914

O

crescimento económico devia gerar prosperidade. Os salários mais altos deviam significar melhores escolhas, vidas mais abastadas e uma melhor qualidade de vida para todos. Pelo menos, é o que nos diz a sabedoria convencional. Mas nem sempre assim é. Os benefícios do crescimento são distribuídos, na melhor das hipóteses, de uma forma desigual. Um quinto da população mundial ganha apenas 2% do rendimento global. Nos países da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), existe um maior índice de desigualdade do que aquele que se verificava há 20 anos. Enquanto os ricos ficaram mais ricos, os salários da classe média dos países ocidentais estagnaram efectivamente muito antes da recessão. Longe de melhorar as condições de vida dos mais necessitados, o crescimento traiu a maioria da população mundial. A riqueza ficou nas mãos de uma pequena minoria de felizardos. A justiça (ou a falta da mesma) constitui apenas uma das razões pelas quais se deve questionar a fórmula convencional para alcançar a prosperidade. À medida que a economia cresce, crescem também as implicações, a nível de recursos, que lhes estão associadas. Os impactos ambientais são já insustentáveis. No último quarto de século, a economia global duplicou, enquanto cerca de 60% dos ecossistemas mundiais têm sido degradados. As emissões de carbono globais subiram 40% desde 1990 (o “ano base” do Protocolo de Quioto). A escassez significativa de recursos essenciais – como é o caso do petróleo – poderá estar a menos de dez anos de distância. É já inconcebível a ideia de um mundo em que tudo continua a funcionar da mesma forma de sempre. Mas conceber-se-á um mundo em que nove biliões de pessoas aspiram ao nível de riqueza alcançado nos países da OCDE? Uma tal economia precisaria de crescer, em relação aos valores actuais, 15 vezes mais até ao ano de 2050 e 40 vezes mais até ao final do século. Quais são as características de tal economia? Qual é a sua base de funcionamento? Oferecerá uma visão credível em termos de prosperidade partilhada e duradoura? Estas são algumas das questões que deram origem ao presente relatório, as quais se inserem numa longa tradição de reflexões sérias sobre a natureza do progresso.

34

Jornal

Contudo, reflectem igualmente preocupações reais e imediatas. Ao longo da última década, as alterações climáticas, a segurança dos combustíveis, o colapso da biodiversidade e as desigualdades globais passaram a estar, rigorosamente, no topo da lista da agenda política internacional. Tratam-se de questões que não podem ser remetidas à próxima geração ou ao próximo ciclo eleitoral. Exigem uma atenção imediata. Por conseguinte, este relatório apresenta uma análise crítica da relação entre prosperidade e crescimento. Começa por reconhecer, desde logo, que as nações mais pobres têm uma necessidade urgente de desenvolvimento económico. Mas, ao mesmo tempo, questiona se o aumento crescente dos rendimentos dos jáabastados será um objectivo político adequado a um mundo constrangido pelos limites ecológicos. Este relatório tem por objectivo, não apenas analisar a dinâmica de uma crise ecológica emergente (que fará possivelmente com que a presente crise económica pareça algo de somenos), mas também apresentar propostas políticas coerentes que facilitem a transição para uma economia sustentável. Em resumo, este relatório desafia a hipótese de continuação da expansão económica nos países ricos, colocando a seguinte questão: é possível alcançar prosperidade sem crescimento?


mm

A Era da Irresponsabilidade A recessão põe em relevo esta questão. A crise bancária de 2008 colocou o mundo à beira de uma catástrofe financeira e abanou os alicerces do modelo económico dominante. Redefiniu as fronteiras entre Mercado e Estado e obrigou-nos a confrontar a nossa incapacidade para gerir a sustentabilidade financeira – já para não referir a sustentabilidade ecológica – da economia global. Este poderá parecer um momento inoportuno para questionarmos o crescimento. Mas não é. Pelo contrário, esta crise permite-nos fazer uma reflexão séria. Trata‑se de uma oportunidade única para abordarmos conjuntamente a sustentabilidade financeira e a sustentabilidade ecológica. Este relatório argumenta que ambas estão intimamente relacionadas. No capítulo 2, argumenta-se que a turbulência actual não resulta de delitos esporádicos ou de simples falhas de vigilância. O mercado não foi abalado por vigaristas ou por órgãos reguladores incompetentes. O mercado foi abalado pelo próprio crescimento. O imperativo do crescimento deu forma à arquitectura da economia moderna. Motivou as liberdades concedidas pelo sector financeiro e foi responsável, pelo menos em parte, pelo afrouxamento das regulamentações e pela proliferação de derivados financeiros instáveis. A continuidade da expansão do crédito foi deliberadamente perseguida enquanto mecanismo essencial para estimular o crescimento do consumo. Este modelo foi sempre ecologicamente instável, demonstrando agora também uma instabilidade económica. A era da irresponsabilidade não diz respeito a distracções casuais ou à ganância individual. Se houve irresponsabilidade, esta foi sistemática, amplamente aceite e com uma meta clara em mente: a continuação e a protecção do crescimento económico. O fracasso desta estratégia é desastroso a todos os níveis, para não falar das repercussões que está a ter em todo o mundo, particularmente nas comunidades mais precárias. Mas a noção de que o crescimento nos pode libertar da crise é também extremamente problemática. As reacções que têm por objectivo restaurar o status quo, mesmo que tenham êxito a curto prazo, fazem-nos simplesmente recuar à condição de insustentabilidade financeira e ecológica.

Redefinição do Conceito de Prosperidade Uma reacção mais adequada será questionar a visão básica de uma prosperidade fundada num crescimento contínuo, ou procurar visões alternativas – segundo as quais os seres humanos possam progredir e, ao mesmo tempo, reduzir o seu impacto material sobre o ambiente. Na verdade, tal como é salientado no capítulo 3, a volumosa literatura sobre o bem-estar do ser humano está repleta de revelações a este nível. A prosperidade tem dimensões materiais inegáveis. É injusto dizer-se que as coisas vão bem quando se verifica uma escassez de alimentos e de abrigo (como é o caso dos biliões de pessoas que vivem nos países em desenvolvimento). Mas também é fácil de ver que a simples equação de quantidade e qualidade, de mais e melhor, é geralmente falsa. Quando não se tem comida há meses e a colheita falha mais uma vez, qualquer alimento que surja é uma bênção. Quando o congelador já está recheado com uma grande variedade de produtos, um extra que seja poderá ser uma sobrecarga, sobretudo se houver a tentação de o comer. Uma revelação ainda mais convincente é que as exigências de prosperidade vão muito além da subsistência material. A prosperidade possui dimensões sociais e psicológicas que são vitais. O ter sucesso relaciona-se, em parte, com a capacidade de dar e receber afecto, de ganhar o respeito dos pares, de contribuir com trabalho útil e de possuir um sentido de pertença e de confiança em relação à própria comunidade. Resumidamente, uma faceta importante da prosperidade é a capacidade para participar significativamente na vida em sociedade. A ideia de prosperidade tem muito em comum com a noção de desenvolvimento enquanto “capacidade para prosperar”, de Amartya Sen. Mas essa noção tem de ser interpretada com cuidado: não se trata de um conjunto de liberdades isoladas, mas de uma série de “capacidades limitadas” para se viver satisfatoriamente – dentro de determinados limites claramente definidos. Uma prosperidade justa e duradoura não pode ser separada destas condições materiais. As capacidades são limitadas, por um lado, devido à escala da população global e, por outro lado, devido aos limites ecológicos do planeta. Ignorar estes limites naturais ao crescimento será condenar os nossos descendentes – e os nossos contemporâneos – a um planeta empobrecido. Inversamente, a possibilidade de os seres humanos poderem prosperar e, ao mesmo tempo, consumir menos causa estranheza. Será disparatado pensar-se que é fácil de cumprir. Mas também não se deve desistir dessa possibilidade irreflectidamente, pois oferece a melhor perspectiva de prosperidade duradoura.

Jornal

35


mm

O Dilema do Crescimento Esta visão não garante que seja possível haver prosperidade sem crescimento. Embora formalmente distinta de uma prosperidade crescente, mantém-se ainda a possibilidade de o crescimento económico continuado constituir uma condição necessária para uma prosperidade duradoura, sendo também possível que, sem crescimento, a nossa capacidade de progresso possa diminuir substancialmente. O capítulo 4 analisa três proposições relacionadas com a defesa do crescimento económico. A primeira delas refere que a opulência material é (afinal de contas) necessária à prosperidade. A segunda afirma que o crescimento económico está intimamente correlacionado com certos “direitos” básicos – de saúde e de educação, por exemplo – que são essenciais à prosperidade. A terceira proposição afirma que o crescimento é instrumental na manutenção da estabilidade económica e social. Existem provas que sustentam cada uma destas proposições. As posses materiais desempenham um papel simbólico importante na nossa vida, permitindo-nos participar na vida em sociedade. Parece existir alguma correlação estatística entre o crescimento económico e os indicadores essenciais do desenvolvimento humano. E a resiliência económica – a capacidade de proteger postos de trabalho e meios de subsistência e de evitar o colapso face aos choques externos – assume, de facto, uma grande importância. As capacidades básicas ficam comprometidas quando as economias entram em colapso. O crescimento tem sido (até agora) o mecanismo adoptado para prevenir o colapso. As economias de mercado, em particular, têm dado grande ênfase à produtividade laboral. Os contínuos aperfeiçoamentos tecnológicos significam que mais produtos podem ser produzidos independentemente da quantidade de mão-de-obra utilizada. Essencialmente, isto significa também que, ano a ano, menos pessoas são necessárias para produzir os mesmos produtos. Desde que a economia se expanda rápido o suficiente para contrabalançar a produtividade laboral, não há problema. Mas se a economia não cresce, existe uma pressão no sentido de reduzir os postos de trabalho. As pessoas perdem o emprego. Com menos dinheiro na economia, há uma quebra na produção, uma redução dos gastos públicos e uma diminuição da capacidade para pagar os juros da dívida pública. Entra-se numa espiral de recessão. O crescimento é necessário dentro do sistema apenas para prevenir o seu colapso. Esta constatação coloca-nos num dilema desconfortável e profundo: o crescimento pode não ser sustentável, mas o “decrescimento”1 aparenta ser instável. À partida, este afigura-se como um teorema de impossibilidade para uma prosperidade duradoura. Mas ignorar as implicações não faz com que estas desapareçam. A incapacidade de encararmos seriamente o dilema do crescimento poderá ser a ameaça mais forte que enfrentamos em termos de sustentabilidade. 1

“Decrescimento” (em francês, décroissance) é um novo termo que se refere à prática de redução (planeada) da produtividade económica.

36

Jornal

O Mito do Desacoplamento A resposta convencional ao dilema do crescimento é exigir um “desacoplamento”: entre o crescimento económico contínuo e o decréscimo contínuo do uso de recursos materiais. Dado que a eficiência é um dos aspectos mais privilegiados pelas economias capitalistas modernas, o desacoplamento possui uma lógica familiar e um apelo óbvio enquanto solução para o dilema do crescimento. Tal como é mencionado no capítulo 5, torna-se vital distinguirmos desacoplamento “relativo” de desacoplamento “absoluto”. O desacoplamento relativo refere-se a uma situação em que o impacto sobre os recursos decresce em relação ao PIB. O impacto pode mesmo assim aumentar, mas aumenta mais lentamente do que o PIB. A situação em que o impacto sobre os recursos diminui em termos absolutos designa-se por “desacoplamento absoluto”. Escusado será dizer que esta última situação é fundamental no sentido de manter a actividade económica dentro dos limites ecológicos. As provas da redução da intensidade da utilização dos recursos (desacoplamento relativo) são relativamente fáceis de identificar. Por exemplo, a energia necessária para gerar uma unidade de produção económica decresceu um terço nos últimos trinta anos. A intensidade do carbono global diminuiu, de cerca de um quilo por dólar de actividade económica, para menos de 770 gramas por dólar. As provas da redução real da utilização dos recursos (desacoplamento absoluto) são muito mais difíceis de obter. As melhorias em termos de intensidade de energia (e de carbono) mencionadas acima foram contrabalançadas por aumentos na escala da actividade económica durante o mesmo período. As emissões globais de carbono decorrentes do uso de energia aumentaram 40% desde apenas 1990 (o ano base de Quioto). Existem tendências globais crescentes relativamente a uma série de outros recursos – por exemplo, uma gama variada de metais e de minerais não-metálicos. O inquietante é que, em alguns casos, nem mesmo o desacoplamento relativo se está a verificar. A produtividade dos recursos na utilização de alguns materiais estruturais (minério de ferro, bauxite, cimento) tem vindo a decrescer globalmente desde o ano 2000, à medida que as economias emergentes constroem infra-estruturas físicas, provocando a aceleração da utilização de recursos. A escala dos progressos exigidos é assustadora. Num mundo com nove biliões de pessoas, todas aspirantes a um nível de rendimentos proporcional ao crescimento de 2% dos salários médios actuais da UE, a intensidade de carbono (por exemplo) teria de diminuir mais de 11% por ano para estabilizar o clima, com uma celeridade 16 vezes superior ao que tem acontecido desde 1990. Em 2050, a intensidade global de carbono precisaria de ser apenas de seis gramas por cada dólar de produção, quase 130 vezes inferior ao que acontece no presente.

Será necessário um investimento económico substancial para possibilitar estes avanços. Lord Stern argumentou que a estabilização do carbono na atmosfera em 500 partes por milhão (ppm) significaria investir 2% do PIB anual em reduções das emissões de carbono. Atingir uma estabilização de 450 ppm exigiria níveis ainda mais altos de investimento. Contando com uma maior necessidade de capital para permitir também a eficiência dos recursos, a substituição de materiais e processos e a protecção ecológica, a escala de investimento total torna‑se problemática. As implicações macroeconómicas de tudo isto são abordadas no capítulo 8. Resumidamente, verificam-se poucos esforços, nos cenários existentes, no sentido de alcançar uma distribuição equitativa de rendimentos em todas as nações. A menos que o crescimento seja restringido nos países ricos, torna-se assustador contemplar as implicações ecológicas de uma prosperidade verdadeiramente partilhada. A verdade é que não existe, de momento, nenhum cenário credível, socialmente justo e economicamente sustentável para o crescimento contínuo dos rendimentos de nove biliões de pessoas. Neste contexto, as suposições simplistas que referem que a propensão do capitalismo para a eficiência nos permitirá estabilizar o clima e prevenir a escassez de recursos não passam de ilusões. Aqueles que promovem o desacoplamento como uma saída de emergência para o dilema do crescimento necessitam de examinar melhor as evidências históricas – bem como a aritmética básica do crescimento.

A “Gaiola de Ferro” do Consumismo Perante as evidências, será fantasista supor que se podem efectuar cortes “profundos” em termos de recursos e de emissões sem se confrontar a natureza e a estrutura das economias de mercado. O capítulo 6 apresenta dois aspectos interligados da vida económica moderna que, conjuntamente, conduzem a dinâmica do crescimento: a produção e o consumo de novos artigos. O móbil do lucro estimula os produtores a procurarem continuamente produtos e serviços novos, melhores e mais baratos. É este processo de “destrução criativa” que, segundo o economista Joseph Schumpeter, estimula o crescimento económico. Para as empresas individuais, a capacidade de adaptação e de inovação – criar, produzir e comercializar produtos, não apenas mais baratos, mas mais modernos e cativantes – é vital. As empresas que fracassam neste processo põem em risco a sua própria sobrevivência. Mas a produção contínua de novidades teria pouco valor para as empresas se não existisse, junto dos agregados familiares, um mercado para o consumo de novidades. O reconhecimento da existência, e a compreensão da natureza, desta procura é essencial. Esta encontra-se intimamente relacionada com o papel simbólico que os bens materiais desempenham nas nossas vidas. A “linguagem dos bens” permite-nos comunicar aos outros – obviamente o estatuto social, mas também a identidade, as afiliações sociais e, até mesmo, (por exemplo, ao darmos e recebermos presentes) aquilo que sentimos uns pelos outros.


mm O ponto de partida terá de envolver a identificação clara das condições que definem uma economia sustentável. Estas condições incluirão ainda uma forte exigência de estabilidade económica que permita a protecção do emprego das pessoas e das capacidades de desenvolvimento das mesmas. Mas esta condição necessitará de ser complementada por condições que garantam uma equidade distributiva, estabeleçam níveis sustentáveis de produção de recursos e de emissões e permitam a protecção do capital natural crítico.

A novidade desempenha aqui um papel absolutamente central, por uma série de razões. Em particular, a novidade transportou sempre informações importantes sobre o estatuto. Mas também nos permite ter aspirações para nós próprios e para as nossas famílias, bem como sonhos de uma vida melhor. Talvez o ponto mais revelador de todos seja a correspondência quase perfeita entre a contínua produção de novidades pelas empresas e o contínuo consumo de novidades pelos agregados familiares. O desejo insaciável do consumidor é o complemento perfeito para a inovação imparável do empresário. Considerados no seu conjunto, estes dois processos auto-reforçantes são exactamente aquilo que é necessário para estimular o crescimento. Apesar desta correspondência, ou talvez, devido à mesma, a procura insaciável de novidades cria uma ansiedade que pode debilitar o bem-estar social. Os indivíduos encontram-se sujeitos à comparação social. As empresas têm de inovar para não perecerem. As instituições são direccionadas para objectivos de consumismo materialista. A própria economia depende do crescimento do consumo para a sua própria sobrevivência. A “gaiola de ferro do consumismo” constitui um sistema dentro do qual ninguém é livre. Trata-se de um sistema inquietante e, em última análise, patológico. Mas funciona a um certo nível. O sistema mantém-se economicamente viável desde que a liquidez seja preservada e o consumo aumente, mas entra em colapso quando um destes factores sofre uma quebra.

O Keynesianismo e o Novo Acordo Ecológico As reacções políticas à crise económica são mais ou menos unânimes em considerar que a recuperação implica o refortalecimento dos gastos consumistas para revigorar o crescimento económico. As diferenças de opinião residem principalmente nas formas de atingir este objectivo. A reacção predominante (keynesiana) assenta na redução combinada dos gastos públicos e dos impostos para estimular a procura do consumidor. O capítulo 7 resume algumas das variações mais interessantes sobre este tema. Realça, em particular, o consenso internacional emergente à volta de uma ideia muito simples. A recuperação económica requer investimento. A orientação ponderada desse investimento no sentido da segurança energética, das infra-estruturas com baixo teor de carbono e da protecção ecológica oferece múltiplos benefícios. Estes benefícios incluem:

•  libertar

recursos para gastos familiares e investimentos produtivos através da redução dos custos energéticos e materiais;

•  reduzir

a nossa dependência de importações e a nossa exposição à frágil geopolítica do fornecimento energético;

•  providenciar

um aumento do emprego absolutamente essencial no sector crescente das “indústrias ambientais”;

•  fazer

progressos no estabelecimento de metas exigentes para redução global do carbono;

•  proteger

os valiosos bens ecológicos e melhorar a qualidade do meio-ambiente para as gerações vindouras.

Em resumo, um “estímulo ecológico” constitui uma resposta eminentemente sensata à crise económica. Proporciona emprego e recuperação económica a curto prazo, segurança energética e inovação tecnológica a médio prazo, e um futuro sustentável para os nossos filhos a longo prazo. Todavia assume-se, por defeito, que até mesmo o estímulo keynesiano “mais ecológico” implica colocar de novo a economia numa condição de crescimento consumista contínuo. Dado que esta condição é insustentável, torna-se difícil deixar de concluir que, a longo prazo, será necessário algo mais. É essencial um diferente tipo de estrutura macroeconómica para um mundo ecologicamente limitado.

Macroeconomia e Sustentabilidade É estranha esta moderna recusa em incentivar algo mais que o crescimento. Os primeiros economistas, como John Stuart Mill (e o próprio Keynes), prognosticaram uma era em que o crescimento teria de parar. O trabalho pioneiro de Herman Daly definiu as condições ecológicas para uma economia estável em termos de constantes reservas de capital físico, capaz de ser mantido através de um baixo índice de produtividade material que respeite os limites das capacidades regenerativas e assimilativas do ecossistema. O que falta ainda é um modelo macroeconómico viável dentro do qual estas condições possam ser alcançadas. Não existe nenhum modelo distinto para alcançar a estabilidade económica sem o crescimento do consumo. Assim como nenhum dos modelos existentes explica inteiramente o facto de a macroeconomia depender de variáveis ecológicas, como é o caso dos recursos e das emissões. Em suma, não existe uma macroeconomia para a sustentabilidade, quando esta é urgentemente necessária. O capítulo 8 analisa as dimensões desta necessidade em maior detalhe. Apresenta os resultados de duas tentativas específicas para desenvolver uma macroeconomia de sustentabilidade. Uma delas sugere que é possível, segundo determinadas suposições, estabilizar a produção económica, mesmo dentro de uma macroeconomia bastante convencional. Um papel essencial neste modelo é desempenhado pelas políticas laborais, no sentido de prevenirem a subida do desemprego. O segundo modelo aborda as implicações macroeconómicas do abandono dos combustíveis fósseis. Afirma que poderá existir apenas uma estreita “janela de sustentabilidade”, através da qual a economia pode passar se quiser fazer esta transição com êxito. Mas, significativamente, esta janela será alargada se uma maior parcela dos rendimentos nacionais for aplicada em poupanças e em investimento. Estes exercícios revelam que uma nova macroeconomia de sustentabilidade é, não apenas essencial, mas possível.

Em termos operacionais, assistiremos a diferenças importantes no papel desempenhado pelas variáveis convencionais nesta nova macroeconomia. O equilíbrio entre consumo e investimento, a separação entre gastos do sector público e privado, a natureza das melhorias da produtividade, as condições da rentabilidade: tudo isto terá de ser renegociado. O papel do investimento é particularmente crucial. A sustentabilidade necessitará de um maior investimento em infra-estruturas públicas, tecnologias sustentáveis e manutenção e protecção ecológicas. Estes investimentos irão operar de modo diferente aos gastos de capital convencionais e terão de ser avaliados e geridos adequadamente. Acima de tudo, uma nova macroeconomia de sustentabilidade tem de abandonar a presunção de que o crescimento do consumismo material é a base da estabilidade económica. Terá de ser educada ecologica e socialmente, e acabar com a separação disparatada da economia em relação à sociedade e ao meio ambiente.

Prosperar com Limites A reparação da economia constitui apenas uma parte do problema. A abordagem da lógica social do consumismo torna-se igualmente vital. Esta tarefa está longe de ser simples – sobretudo devido à forma como os bens materiais se encontram tão presentes nas nossa vidas. Mas a mudança é essencial, existindo já esforços nesse sentido. A emergência de um descontentamento com o consumismo e a preocupação crescente em relação à “recessão social” inspiraram uma série de iniciativas com o objectivo de melhorar o bem-estar e de adoptar um “hedonismo alternativo” – fontes de identidade, de criatividade e de significado que se encontram fora do âmbito do mercado. Contra a tendência consumista, já há quem resista ao apelo de “ir às compras”, preferindo dedicar o seu tempo a actividades menos materialistas, como cuidar da sua família ou de outros. Comunidades “intencionais” de pequena escala (como a comunidade Findhorn, na Escócia, ou a Plum Village, em França) estão a explorar a arte do possível. Movimentos sociais mais abrangentes (como o movimento “cidade de transição”) estão a mobilizar as pessoas que desejam viver de uma forma mais sustentável. Estas iniciativas não apelam a todos. Mas proporcionam uma plataforma de aprendizagem de grande valor, dando-nos pistas sobre o potencial para mudanças sociais mais vastas. O capítulo 9 expõe a sua eficácia e limitações. Analisa as razões pelas quais as pessoas poderão ser mais felizes e viver de uma forma mais sustentável se privilegiarem objectivos intrínsecos, que as ligam à família e à comunidade, em vez de objectivos extrínsecos, que as vinculam à ostentação e ao estatuto social. De acordo com estas evidências, a prosperidade dentro de certos limites constitui uma possibilidade real.

Jornal

37


mm

Por outro lado, as pessoas que estão à frente da mudança social são frequentemente assombradas pelo conflito de tentar viver em oposição às estruturas e valores que dominam a sociedade. Estas estruturas representam uma cultura de consumo que transmite uma mensagem errada, penalizando as escolhas ambientais “correctas” e fazendo com que, mesmo as pessoas mais motivadas, não consigam viver de uma forma sustentável sem sacrifícios pessoais. Neste contexto, as advertências simplistas para que as pessoas resistam ao consumismo estão destinadas a fracassar. O acto de persuadir as pessoas a isolarem as habitações, a baixarem o termóstato e a vestirem uma camisola, a utilizarem menos o carro, a caminharem mais, a fazerem férias em casa, a comprarem alimentos produzidos localmente (etc) passará despercebido ou será rejeitado como uma forma de manipulação enquanto as mensagens de consumo apontarem na direcção oposta. Por esta razão, a mudança estrutural tem de estar no centro de qualquer estratégia de abordagem à lógica social do consumismo. Terá de consistir em duas vias fundamentais: a primeira será acabar com os incentivos perversos à improdutiva competição por estatuto; a segunda deverá estabelecer novas estruturas que forneçam às pessoas aptidões para prosperarem – e, particularmente, para participarem significativa e criativamente na vida em sociedade – de formas menos materialistas. As vantagens em termos de prosperidade serão provavelmente substanciais. Uma sociedade menos materialista propiciará uma maior satisfação de vida. Uma sociedade mais igualitária dará menos importância aos bens de estatuto. Uma economia menos orientada para o crescimento irá melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Um maior investimento em bens públicos trará proveitos, a longo prazo, à prosperidade da nação.

Governação e Prosperidade O cumprimento destes objectivos coloca a questão da governação – no sentido mais lato do termo. Como alcançar uma prosperidade partilhada numa sociedade pluralista? Como equilibrar os interesses do indivíduo com o bem comum? Quais são os mecanismos para atingir este equilíbrio? Surgem questões específicas sobre o papel do próprio governo. O capítulo 10 identifica um papel quase indisputável do estado na manutenção da estabilidade macroeconómica. Para o bem ou para o mal, o governo é também “co-criador” da cultura do consumo, moldando as estruturas e os sinais que influenciam o comportamento das pessoas. Ao mesmo tempo, como é evidente, o governo desempenha um papel fundamental na protecção dos “mecanismos de compromisso” que previnem a falta de discernimento na efectuação de escolhas e que servem de apoio às metas sociais de longo prazo.

38

Jornal

A Transição para uma Economia Sustentável As exigências políticas desta análise são significativas. O capítulo 11 apresenta uma série de passos que os governos poderão dar no sentido de efectuarem a transição para uma economia sustentável. O quadro 1 apresenta um resumo destes passos. Inserem-se em três categorias principais:

•  construir uma macroeconomia sustentável •  proteger a capacidade para prosperar •  respeitar os limites ecológicos

A história sugere a existência de uma tendência cultural dentro do governo no sentido de apoiar e incentivar um consumismo materialista e individualista. Esta tendência não é completamente uniforme em todos os países. Por exemplo, diferentes “variedades de capitalismo” atribuem uma maior ou menor ênfase à desregulamentação e à concorrência. Mas todas as variedades vêem o crescimento como uma necessidade estrutural, dependendo directa ou indirectamente (por exemplo, nos mercados de exportação) do consumismo para o atingir. O próprio governo entra em contradição neste ponto. Por um lado, tem o papel de “salvaguardar o futuro” – protegendo os bens sociais e ecológicos a longo prazo; por outro lado, tem a responsabilidade fundamental de criar estabilidade macroeconómica. Enquanto a estabilidade macroeconómica depender do crescimento económico, o governo terá um incentivo para apoiar estruturas sociais que põem em causa o compromisso e que reforçam o individualismo materialista e sedento de novidades. Especialmente quando isso é necessário para o aumento das vendas a retalho. Inversamente, a libertação da macroeconomia desta necessidade estrutural de crescimento irá, ao mesmo tempo, permitir ao governo desempenhar o seu bom papel de apresentar objectivos sociais e ecológicos e de proteger os interesses de longo prazo. A limitante procura de crescimento representa uma distorção terrível do bem comum e dos valores humanos fundamentais. Também enfraquece o papel legítimo do próprio governo. Afinal, o estado é, por excelência, o mecanismo de compromisso da sociedade, bem como o principal agente de protecção da nossa prosperidade partilhada. Necessita-se urgentemente de um novo conceito de governação que envolva o desempenho deste papel.

As propostas específicas partem directamente da análise feita no presente relatório. Mas muitas delas baseiam-se em debates extensos e profundos sobre a sustentabilidade, o bem-estar e o crescimento económico. Algumas das propostas relacionam-se a fundo com as preocupações presentes do governo – por exemplo, a escassez de recursos, as metas de combate às alterações climáticas, a tributação ecológica e o bem-estar social. Parte do objectivo do presente relatório consiste em fornecer bases coerentes para estas políticas, bem como reforçar a acção do governo no sentido de as cumprir. De momento, e apesar dos seus melhores esforços, o progresso em termos de sustentabilidade continua a mover-se a um passo penosamente lento. Além disso, parece cair constantemente no compromisso com o crescimento económico. É essencial uma mudança significativa da vontade política – assim como uma renovada visão do acto de governação. Mas o governo tem agora uma oportunidade única – ao adoptar este passos – de demonstrar liderança económica e, ao mesmo tempo, de defender a acção internacional no âmbito da sustentabilidade. Este processo terá de começar pelo desenvolvimento de uma prudência financeira e ecológica a nível interno, necessitando também de rectificar os incentivos perversos e a lógica social nociva que nos enclausuram numa improdutiva competição por estatuto. Acima de tudo, existe a necessidade urgente de desenvolver uma macroeconomia resiliente e sustentável que não pressuponha um imparável crescimento do consumo. A mensagem mais clara que nos foi dada pela crise financeira de 2008 é a de que o nosso modelo presente de sucesso económico é fundamentalmente defeituoso. Para as economias avançadas do mundo ocidental, a prosperidade sem crescimento já não constitui um sonho utópico. Constitui, sim, uma necessidade ecológica. Tim Jackson Comissário da Economia Comissão de Desenvolvimento Sustentável Março de 2009


Teatro Maria Matos Bilheteira todos os dias das 15h00 às 20h00 em dias de espectáculo, até 30 minutos depois do início do mesmo 218 438 801 bilheteira.teatromariamatos@egeac.pt bilheteira online: www.teatromariamatos.pt Outros locais de venda ABEP | Agência de bilhetes Alvalade | CTT | Fnac São Luiz Teatro Municipal | Ticketline (concertos)

Descontos* desconto 50% menores de 30 anos, estudantes, maiores de 65 anos, pessoas com deficiência e acompanhante, desempregados, profissionais do espectáculo, funcionários da CML e empresas municipais (extensível a acompanhante) desconto 30% grupos com dez ou mais pessoas (com reserva e levantamento antecipado) *descontos não acumuláveis

Projecto Educativo espectáculos 5€ preço único para adultos 2,50€ preço único para menores de 13 anos reservas para escolas Rafaela Gonçalves 218 438 800 projectoeducativomm@egeac.pt

Reservas Levantamento prévio obrigatório até 48 horas antes do espectáculo.

Classificação Os concertos, os espectáculos de dança e os espectáculos do Projecto Educativo têm classificação “maiores de 3 anos”. Os restantes espectáculos incluídos neste programa têm classificação a definir.

Co-produções MMTM em digressão Abril – Julho 2011 Sónia Baptista Um Capucho, Dois Lobos e Um Porco Vezes Três estreia: Outubro 2009 Alcochete, Fórum Cultural, 29 Maio 2011

Aldara Bizarro A Casa estreia: Junho 2010 Alcanena, Cine-Teatro São Pedro, 2 Abril 2011 Leiria, Teatro Miguel Franco, 29 Abril 2011 Gouveia, Teatro-Cine de Gouveia, 7 Maio 2011 Estarreja, Cine-Teatro de Estarreja, 5 Junho 2011

Patrícia Portela & Cláudia Jardim Jogo das Perguntas estreia: Novembro 2010 Lisboa, Galeria Zé dos Bois — O Negócio, 1, 2, 3, 4 e 5 Junho 2011

Real Pelágio Enquanto o meu cabelo crescia estreia: Fevereiro 2011 Braga, Theatro Circo, 1 Junho 2011 Évora, Companhia de Dança Contemporânea, 16, 17, 18 Junho 2011 Guimarães, Centro Cultural Vila Flor, 7, 8, 9 Julho 2011

Luís Guerra de Laocoi Qqywqu’ddyll’o’ estreia: Junho 2011 Montemor-o-Novo, Plataforma Portuguesa de Artes Performativas, Junho 2011

Teatro Maria Matos Como chegar Maria Matos Teatro Municipal Avenida Frei Miguel Contreiras, 52 1700-213 Lisboa comboio Roma-Areeiro metro Roma autocarros 7, 35, 727, 737, 767

Quero receber informação do Teatro Maria Matos Para receber o nosso jornal e newsletter consulte o nosso site

www.teatromariamatos.pt


Bilheteira Online www.teatromariamatos.pt

Agora já pode comprar e imprimir os seus bilhetes em qualquer lugar, beneficiando dos nossos descontos habituais a partir da nossa bilheteira online

Teatro

Equipa

Av. Frei Miguel Contreiras, 52 1700-213 Lisboa

Escritórios Rua Bulhão Pato, 1B 1700-081 Lisboa

teatromariamatos@egeac.pt 218 438 800 geral 218 438 801 bilheteira

mm jornal proprietário EGEAC, EEM director Mark Deputter editora Catarina Medina design e fotografia da capa Luciana Fina e Moritz Elbert morada Calçada Marquês de Tancos, 2, 1100-340 Lisboa sede de redacção Rua Bulhão Pato, 1B, 1700-081 Lisboa tiragem 37.950 exemplares periodicidade quadrimestral tipografia Mirandela

director artístico Mark Deputter programador música Pedro Santos programadora projecto educativo Susana Menezes assistente de programação Laura Lopes gestora Andreia Cunha adjunta de gestão Glória Silva director de produção Joaquim René adjunta direcção de produção Mafalda Santos produtora executiva Ana Gomes produtora do projecto educativo Rafaela Gonçalves estagiária de produção Catarina Ferreira directora de comunicação Catarina Medina gabinete de comunicação Rita Tomás imagem e design gráfico Luciana Fina e Moritz Elbert directora de cena Rita Monteiro adjunta direcção de cena Sílvia Lé camareira Sandra Ferreira director técnico Zé Rui adjunto direcção técnica Luís Duarte técnicos de audiovisual Félix Magalhães, Miguel Mendes, Rui Monteiro técnicos de iluminação/palco Catarina Ferreira, Luís Balola, Manuel Martins, Paulo Lopes bilheteira/recepção Carla Cerejo, Rosa Ramos, Vasco Correia frente de sala Complet’arte - Isabel Clímaco (chefe de equipa), Cristina Almeida, Estevão Antunes, Fernanda Abreu, Marta Dias, Ricardo Simões, Sandra Lameira, Sérgio Torres

www.teatromariamatos.pt Parceiros

Media Partners


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.