Entrevista a Rute Silva Correia

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Entrevista rute silva correia

tatiana henriques 174 metropolis julho 2015

A vida de Manoel de Oliveira daria, por si só, para fazer um filme ou um livro, como é o caso de Manoel de Oliveira – O Homem da Máquina de Filmar, a mais recente obra de Rute silva correia. A METROPOLIS entrevistou a escritora sobre a elaboração de um livro que tem como protagonista um dos nomes maiores do Cinema Português.


Como surgiu a sua paixão pela escrita? Sempre gostei muito de ler e de escrever. Sempre li muito e tenho uma série de coisas escritas ainda não publicadas. Porquê escrever um livro sobre Manoel de Oliveira? Porque sou uma fã, gosto muito de cinema e dos filmes dele. Aproximei-me dos filmes dele através dos livros da Agustina Bessa-Luís, que é a minha área de estudos na Faculdade de Letras. Depois, apercebi-me de que ele tinha uma história de vida interessantíssima. Além disso, tinha acabado de publicar a biografia da actriz Maria Eugénia e achei que seria interessante abordar então o outro lado, mais intelectual, do nosso cinema. Como foi o seu processo de investigação na construção desta obra? Foi um processo demorado, pois entretanto interrompi-o para escrever um romance, que se chama O ano em que não ia haver Verão. Foi também muito diferente da minha outra biografia, Maria Eugénia: a Menina da Rádio, que escrevi a partir dos meus encontros com a Maria Eugénia. Neste caso, infelizmente, não tive a colaboração directa de Manoel de Oliveira, e acabou

por ser um processo exclusivamente documental, com muito trabalho de investigação. A selecção da informação foi complicada, pois havia muita e dispersa. Acabei por preferir materiais de pessoas que lhe fossem próximas, que tivessem trabalhado com ele, etc. Chegou a conhecer Manoel de Oliveira e entrevistá-lo? Se sim, o que recorda desse momento? Conheci-o há uns anos num jantar em Lisboa mas, nessa altura, não tinha ainda ideia nenhuma de fazer o livro. Anos mais tarde, quando já tinha reunido algum material para a biografia e pensava em entrevistá-lo, ele já não se encontrava com disponibilidade, por motivos de saúde e de trabalho. Confesso que mantive sempre essa esperança, mas ele acabou por falecer no dia a seguir ao livro ficar pronto e lamento muito que não o tenha visto em vida. O que mais a surpreendeu na história de vida de Manoel de Oliveira? Ter sido uma vida tão cheia de peripécias. Ele só se dedicou exclusivamente ao cinema aos 80 anos de idade. Antes disso fez uma série de coisas, foi piloto, acrobata, atleta, modelo... A vida dele foi longa e muito interessante. O que pensa que Portugal e o Cinema em particular perderam com o falecimento de Oliveira? Perdemos um cineasta ímpar e o grande embaixador do nosso cinema. Não sei se haverá, tão cedo, em Portugal, outro nome com o impacto internacional de Manoel de Oliveira. Felizmente, deixou-nos uma obra riquíssima. Quais são os seus próximos projectos? Tenho alguns projectos de que não posso ainda falar, mas certamente continuarei a escrever.

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