OM Ed 87 FEV 2017

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SAÚDE PÚBLICA SALUD PUBLICA: HITOS, DILEMAS, PERSPECTIVAS Y DESAFIOS. PUBLIC HEALTH: LANDMARKS, DILEMMAS, PROSPECTS, AND CHALLENGES.

ALGOLOGIA ANÁLISE COMPARATIVA DA CAPACIDADE FUNCIONAL ENTRE MULHERES COM FIBROMIALGIA E LOMBALGIA. ALGOLOGY COMPARATIVE ANALYSIS OF FUNCTIONAL CAPACITY AMONG WOMEN WITH FIBROMYALGIA AND LOW BACK PAIN.

GOIÂNIA - ANO VII - Nº 87- FEVEREIRO - 2017

DOENÇA: AS PERGUNTAS AINDA SEM RESPOSTA SOBRE O SURTO DE ZIKA E MICROCEFALIA DISEASE: ZIKA AND MICROCEPHALY: THE KEY UNANSWERED QUESTIONS



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No Brasil, 260 mil pessoas sabem que têm HIV e não se tratam. Estima-se que 112 mil têm o vírus e nem sabem. Previna-se da Aids. Use sempre camisinha e, se preciso, faça o teste de HIV. Mais informações, acesse aids.gov.br


REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ......................................... ANO VII NÚMERO 87 FEVEREIRO - 2017 ......................................... PUBLISHER

SUMÁRIO SUMMARY

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KLÉBER OLIVEIRA VELOSO

......................................... JORNALISTA RESPONSÁVEL

SAÚDE PÚBLICA PUBLIC HEALTH SALUD PUBLICA Saúde urbana: marcos, dilemas, perspectivas e desafios Urban health: landmarks, dilemmas, prospects, and challenges Salud urbana: hitos, dilemas, perspectivas y desafios

SUELI RAUL - DRT-GO/011263JP

......................................... REDAÇÃO E ORTOGRAFIA

ALGOLOGIA ALGOLOGY Análise comparativa da capacidade funcional entre mulheres com fibromialgia e lombalgia Comparative analysis of functional capacity among women with fibromyalgia and low back pain

MARIA LÚCIA PAGLIARINI SAPONARA

......................................... DIAGRAMAÇÃO ODISSEIA COMUNICAÇÃO

......................................... EDITOR DE FOTOGRAFIA DOENÇA DISEASE As perguntas ainda sem resposta sobre o surto de zika e microcefalia Zika:The key unanswered questions

EDMAR WELLINGTON - MTB 1842

......................................... TRADUÇÃO FELIPE HOMSI AGENOR NETO

......................................... CONSELHO EDITORIAL

EDUCAÇÃO FÍSICA PHYSICAL EXERCISE Efeitos e sintomas da privação do exercício físico Effects and symptoms of deprivation of physical exercise review

Dra. ADRYANNA LEONOR MELO CAIADO Dr. ANTÔNIO DA SILVA MENEZES JÚNIOR Dr. CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA Dr. HÉLIO CURADO FRÓES Drª. JULIANA SILVA MOREIRA

NEUROLOGIA NEUROLOGY Estudo liga remédios para renite e insônia a maior risco de demência Dementia ‘linked’ to common over-the-counter drugs

Dr. JOEL DE SANT´ANNA BRAGA FILHO Dr. MARCO ANTÔNIO CARNEIRO Dr. NADIM CHARTER

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Estúdio profissional digital c/qualidade Neumann *Produção audiovisual em geral

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ODISSEIA COMUNICAÇÃO + 55 62 3954.8201 odisseiadamedicina@gmail.com ......................................... CONTEÚDO, DESENVOLVIMENTO, PROJETO GRÁFICO E PUBLICAÇÃO AGÊNCIA ODISSEIA COMUNICAÇÃO CNPJ 11.026.604/0001-23 ......................................... Esta revista é uma publicação da Odisseia Comunicação, agência de publicidade e propaganda, com conteúdo nacional e internacional. A agência é comprometida com a ética, com o desenvolvimento sustentável, com o respeito ao consumidor e com a responsabilidade social. Os pontos de vista aqui expressos refletem a experiência e as opiniões dos autores. Nenhuma parte desta revista poderá ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios empregados sem a autorização prévia, por escrito, da agência e dos autores dos artigos. Esta publicação pode ser acessada, gratuitamente, nas seguintes redes sociais:

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SAÚDE PÚBLICA

PUBLIC HEALTH

SALUD PUBLICA OM

Saúde urbana: marcos, dilemas, perspectivas e desafios

Urban health: landmarks, dilemmas, prospects, and challenges

Salud urbana: hitos, dilemas, perspectivas y desafios

medida que nos aproximamos do segundo decênio deste século, emerge uma questão para pesquisadores de saúde urbana: “Como temos avançado no tema?”. Dez anos atrás, em um fórum publicado por Cadernos de Saúde Pública, nossa pergunta era: “O que é saúde urbana?”. Saúde urbana é a área do conhecimento aninhado na saúde pública que nos permite repensar o impacto na saúde das intervenções do setor público nas cidades, incluindo aquelas que não necessariamente têm origem no setor saúde. A saúde das populações que vivem em ambientes urbanos é função de influências globais, nacionais e locais e de uma rede de determinantes interligados. O cerne fundamental dessa proposição é que os ambientes sociais e físicos definem o contexto urbano e são modulados

s we near the end of the second decade of the 21st century, a question emerges for urban health researchers: “ What progress have we made in the field? ” In a forum published in CSP ten years ago, we asked: “ What is urban health? ”. Urban health is the area of knowledge nested in public health that allows us to rethink the health impact of interventions in cities by the public sector, including interventions that do not necessarily originate in the health sector itself. The health of urban populations is a function of global, national, and local influences and of a network of interconnected determinants. The proposal’s fundamental thrust is that the social and physical environments define the urban context and are modulated by proximal and distal factors and by actors at various levels.

medida que nos aproximamos al segundo decenio de este siglo, a los investigadores de la salud urbana les surge una cuestión: “¿ Cómo hemos avanzado en este tema? ”. Diez años atrás, en un fórum publicado por Cad. Saúde Pública, nuestra pregunta era: “ ¿qué es la salud urbana? ”. Salud urbana es el área de conocimiento, cobijada dentro de la salud pública, que nos permite repensar el impacto en la salud de las intervenciones del sector público en las ciudades, incluyendo aquellas que no necesariamente tienen origen en el sector salud. La salud de las poblaciones que viven en ambientes urbanos está en función de influencias globales, nacionales y locales, y de una red de determinantes interrelacionados. El núcleo fundamental de esta proposición es que los ambientes sociales y físicos definen el contexto urbano y son modulados por

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OM SAÚDE PÚBLICA PUBLIC HEALTH por fatores (proximal e distal) e atores em vários níveis. Assim, as tendências globais, os governos nacionais e locais, sociedade civil, setor privado e mercados modulam as configurações em que tais fatores locais operam. Nesse sentido, a saúde urbana é um campo próspero para tradução do conhecimento, com fortes laços sociais e políticos, guiado por métricas inovadoras (ou seja, indicadores e análises válidos, confiáveis, robustos e bem construídos para avaliar intervenções na cidade que podem impactar a saúde) e estreita associação com a administração pública e as suas relações intersetoriais, incluindo a governança. Este número temático sobre saúde urbana se concentra nos marcos, dilemas, perspectivas e desafios, com destaque para conceitos inovadores e métricas orientados para aferir determinantes urbanos e sociais, bem como políticas públicas, originárias tanto do setor saúde quanto fora dele. A maioria dos artigos neste fascículo considera a interligação dos determinantes urbanos e saúde. Além de abordagens teóricas que envolvem um debate interessante sobre sistemas complexos, considerando que potencialmente podem abranger desde a epigenética até as iniquidades da saúde no ambiente urbano, este volume compreende estudos empíricos com conceitos e métodos inovadores, incluindo aqueles projetados para a avaliação das políticas públicas urbanas construídas sobre um enfoque intersetorial. Além disso, este volume destaca, em um fórum de alto nível, o trabalho dos observatórios em que estão sendo desenvolvidas e testadas as soluções possíveis de saúde urbana para atender às necessidades locais, com base em experiências em todo o mundo e na inteligência de saúde.

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SALUD PUBLICA

Global trends, national and local governments, civil society, the private sector, and markets thus modulate the configurations in which these local factors operate. Urban health is therefore a fruitful field for knowledge translation, with strong social and political ties, guided by innovative metrics (namely valid, reliable, robust, and wellconstructed indicators and analyses for evaluating interventions in the city that can impact health), and close association with the public administration and its inter-sector relations, including governance. This special thematic edition of CSP on urban health focuses on milestones, dilemmas, perspectives, and challenges, featuring innovative concepts and metrics for measuring urban and social determinants and public policies originating both within and outside the health sector. The majority of the articles in this special edition consider the interconnections between urban and health determinants. In addition to theoretical approaches that involve an interesting debate on complex systems, considering that they can potentially range all the way from epigenetics to health iniquities in the urban environment, this volume includes empirical studies with innovative concepts and methods, including those designed to evaluate urban public policies and developed with an inter-sector approach. This special issue also features a high-level forum on the work of urban observatories, developing and testing potential urban health solutions to local problems based on international experiences and health intelligence.

factores (proximal y distal) y actores en varios niveles. Así, las tendencias globales, los gobiernos nacionales y locales, sociedad civil, sector privado y los mercados modulan las configuraciones en las que estos factores locales operan. En este sentido, la salud urbana es un campo próspero para la traducción del conocimiento, con fuertes lazos sociales y políticos, guiado por métricas innovadoras (o sea, indicadores y análisis válidos, confiables, robustos y bien construidos para evaluar intervenciones en la ciudad que pueden impactar en la salud), y su estrecha asociación con la administración pública, así como sus relaciones intersectoriales, incluyendo la gobernancia. Este número temático sobre salud urbana se concentra en los marcos, dilemas, perspectivas y desafíos, enfatizando conceptos innovadores y métricas orientadas para evaluar determinantes urbanos y sociales, así como políticas públicas, originarias tanto del sector salud, como fuera de él. La mayoría de los artículos en este fascículo considera la interrelación de los determinantes urbanos y salud. Además de los enfoques teóricos que llevan consigo un debate interesante sobre sistemas complejos, considerando que potencialmente pueden abarcar desde la epigenética hasta las inequidades de la salud en el ambiente urbano, este volumen comprende estudios empíricos con conceptos y métodos innovadores, incluyendo aquellos proyectados para la evaluación de las políticas públicas urbanas construidas sobre un enfoque intersectorial. Asimismo, este volumen destaca, en un fórum de alto nivel, el trabajo de los observatorios, donde están siendo desarrolladas y probadas soluciones posibles de salud urbana para atender a las necesidades locales, en base a experiencias en todo el mundo y en el área académica de la salud.


ENFERMAGEM

NURSING


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Manter a atenção voltada para a exposição representada por condições de vida urbana representa um forte argumento sustentado por um crescente corpo de evidências de que as causas subjacentes à doença no contexto urbano podem ser encontradas nos ambientes físicos e socioeconômicos. Grandes avanços têm sido realizados em discernir a pobreza como um veneno, o ambiente construído como um dos principais determinantes da saúde e o ambiente social como o apoio benéfico ou maléfico capaz de modular nossa capacidade de permanecer saudáveis. Tendo em conta que a urbanização é global, o global é universal e o universo diz respeito ao nosso planeta, está posto o gigante e complexo quebra-cabeça, entrelaçando os determinantes urbanos. O reconhecimento e a compreensão compartilhada são peças essenciais para melhorar a saúde daqueles que vivem nas cidades e para reduzir a terrível disparidade social presente na maioria dos contextos urbanos. Como colocado por Vlahov: “ ...há momentos na história que são cruciais. Agora, (...) , é um desses momentos ”. Fique sintonizado e tenha uma boa leitura.

SALUD PUBLICA

Maintaining the focus on the exposure to urban living conditions represents a strong argument backed by a growing body of evidence, according to which the underlying causes of disease in the urban context can be found in the physical and socioeconomic environments. Important strides have been made in discerning poverty as a poison, the built-up environment as one of the principal determinants of health, and the social environment as helpful or harmful, capable of modulating our capacity to stay healthy. Considering that urbanization is global, that global is universal, and that the universe relates to our planet, we have a gigantic and complex jigsaw puzzle before us, interweaving urban determinants. Recognition and shared understanding are essential to improve the health of city dwellers and reduce the terrible social disparities in the majority of urban. As highlighted by David Vlahov: “There are times in history that are pivotal moments. Now in 2015-2016 is one of those times. ”. Stay tuned and enjoy the read.

Mantener la atención fijada en la exposición representada por las condiciones de vida urbana representa un fuerte argumento mantenido por un creciente cuerpo de evidencias de que las causas subyacentes a la enfermedad en el contexto urbano se pueden encontrar en ambientes físicos y socioeconómicos. Se realizaron grandes avances en discernir la pobreza como un veneno, el ambiente construido como uno de los principales determinantes de la salud y el ambiente social como el apoyo benéfico o maléfico capaz de modular nuestra capacidad de permanecer sanos. Considerando que la urbanización es global, lo global es universal y nuestro planeta es parte del universo, tenemos entre manos un gigante y complejo rompecabezas, entrelazando los determinantes urbanos. El reconocimiento y la comprensión compartida son piezas esenciales para mejorar la salud de aquellos que viven en las ciudades y para reducir la terrible disparidad social presente en la mayoría de los contextos urbanos. Como lo expuesto por Vlahov: “...hay momentos en la historia que son cruciales. Ahora, (...), es uno de esos momentos ”. Aproveche los contenidos actuales de este fascículo y disfrute de un buena lectura.

Waleska Teixeira Caiaffa. Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Amélia Augusta de Lima Friche. Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Danielle C. Ompad. New York University College of Global Public Health, New York, U.S.A.

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ALGOLOGIA

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Análise comparativa da capacidade funcional entre mulheres com fibromialgia e lombalgia

Comparative analysis of functional capacity among women with fibromyalgia and low back pain

emática de crescente interesse pelos pesquisadores da área da saúde, a dor musculoesquelética crônica configura-se como problema de saúde pública, pois é frequente a superlotação dos serviços em diversas especialidades e níveis de atenção na busca do seu controle. Nesse contexto, a dor crônica é parcialmente legitimada como doença e, na ausência de mecanismos fisiológicos conhecidos, a atenção tem sido voltada para os determinantes psicológicos e sociais da dor. Paralelamente, estima-se que 50% a 60% dos que sofrem de dores crônicas tornam-se parcial ou totalmente incapacitados para realizar as atividades de vida diária (AVD), de maneira transitória ou permanente, comprometendo de modo significativo a qualidade de vida (QV). Esta incapacidade funcional tem como principais causas as dores associadas a condições clínicas crônicas, tais como o câncer, a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), a fibromialgia (FM) e a lombalgia. A FM, síndrome dolorosa de etiopatogenia ainda desconhecida, caracteriza-se por dores musculoesqueléticas em várias regiões do corpo,

ubject of increasing interest on part of health care researchers, chronic musculoskeletal pain is a public health problem because the overcrowding of services in different specialties and levels of attention to control it is frequent. In this context, chronic pain is partially legitimated as a disease and in the lack of known physi¬ological mechanisms attention has turned to pain psychological and social determining factors. In parallel, it is estimated that 50% to 60% of chronic pain patients become partially or totally disabled to perform daily life activities (DLA), in a transient or permanent manner, significantly impairing quality of life (QL). This functional incapacity is primarily caused by pain associated to chronic clinical conditions, such as cancer, acquired immunodeficiency syndrome (AIDS), fibromyalgia (FM) and low back pain. FM, painful syndrome of still unknown etiopathogenesis, is characterized by musculoskeletal pain in different body regions, sleep disorders, fatigue, short-lasting morning rigidity, sensation of edema

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ALGOLOGY and paresthesias. On the other hand, low back pain is considered a major cause of morbidity, physical and psychosocial incapacity, being originated by mechanical-degenerative factors, including structural disorders, biomechanical deviations, or the in¬teraction of both4. In addition, a recent study has shown a positive correlation of this type of pain with workload, and minor negative correlation with regular physical activity. Due to their chronicity, limitations caused by musculoskeletal pain go beyond functional capacity because they have a major impact on QL, especially evidenced by impairment of DLA and physical exer¬cises of patients, who in general are females in professionally active age groups. Several of these females end up quitting their jobs and suffering psychological problems with social repercussion, such as depression and anxiety6. Such repercussions were observed by studies developed with patients seen in pain outpatient settings. The high prevalence (30% to 40%) of chronic pain in Brazil calls the attention to the need for studies trying to characterize chronic pain-related incapacity. Understanding the impact of pain on ac¬tivities and exercises may orient the type of health professionals in¬terventions for a better assistance to chronic musculoskeletal pain patients, so that this pain is treated in all its dimensions, preventing the appearance of other diseases and chronic conditions such as obesity, diabetes mellitus and hypertension, among others. So, this study aimed at comparing functional capacity between fe¬males with FM and low back pain, evaluating musculoskeletal pain repercussions in the practice of daily activities and physical exercises. METHOD

distúrbios do sono, fadiga, rigidez matinal de curta duração, sensação de edema e parestesias. Por sua vez, a lombalgia é considerada importante causa de morbidade, incapacidade física e psicossocial, sendo originada por fatores de natureza mecânico-degenerativa, incluindo desordens estruturais, esvios biomecânicos, ou a interação de ambos. Além disso, recente estudo comprovou correlação positiva desse tipo de dor com a carga no trabalho e pequena correlação negativa com atividade física regular. Pelo caráter crônico, as limitações ocasionadas pelas dores musculoesqueléticas vão além da capacidade funcional, pois representam impacto importante na QV, principalmente evidenciado pelo comprometimento nas AVD e nos exercícios físicos de seus portadores, que geralmente são mulheres em faixa etária profissionalmente ativa. Muitas dessas mulheres acabam afastando-se do emprego e sofrendo problemas psicológicos com repercussão social, como depressão e ansiedade. Tais repercussões foram observadas em estudos desenvolvidos com pacientes atendidos em ambulatórios de dor. A alta prevalência (30% a 40%) de dor crônica na população brasileira alerta para a necessidade de estudos que busquem caracterizar a incapacidade oriunda de quadros dolorosos crônicos. O conhecimento do impacto causado pela dor na atividade e exercício pode direcionar o tipo de intervenção dos profissionais de saúde para uma melhor assistência aos pacientes com dor musculoesquelética crônica, a fim de que esta seja tratada em todas as suas dimensões, evitando o surgimento de outras doenças e condições crônicas como obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial, entre outras. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo comparar a capacidade funcional entre mulheres com FM e lombalgia, analisando as repercussões das dores musculoesqueléticas na prática de atividades diárias e de exercícios físicos destas mulheres. OM 10

This is a piece of the projects called “Tactile Technology to Evaluate Pain in Fibromyalgia People” and “Tactile Technology to Evaluate Pain in Low Back Pain People”, carried out by the Tactile Tech¬nology Re-


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MÉTODO Este é um recorte dos projetos intitulados “Tecnologia Tátil para Avaliação da Dor em Pessoas com Fibromialgia” e “Tecnologia Tátil para Avaliação da Dor em Pessoas com Lombalgia”, realizados pelo Grupo de Pesquisa em Tecnologia para o Cuidado Clínico da Dor e Cuidados Paliativos, da Universidade Estadual do Ceará (TECDOR/UECE). Trata-se de estudo descritivo e quantitativo sobre a capacidade funcional para o desempenho de atividades diárias e exercícios em indivíduos com dores musculoesqueléticas. No período de maio de 2005 a julho de 2006, 83 pacientes foram selecionadas em Hospital Público de Ensino de Fortaleza/CE, as quais procuraram o Ambulatório de Ortopedia e Traumatologia para tratamento da dor musculoesquelética crônica. Os critérios de inclusão compreenderam: idade entre 25 e 65 anos; diagnóstico de lombalgia ou fibromialgia há, pelo menos, um ano; consentimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) sobre os protocolos de pesquisa. Nesta pesquisa, 14 mulheres (16,9%) foram excluídas por apresentarem evidência de déficit cognitivo ou de atenção que impossibilitava a compreensão das questões contidas no instrumento de coleta de dados. Portanto, a amostra final foi formada por 69 pacientes. Os dados sobre a realização de AVD, prática de exercícios físicos e suas capacidades para efetuá-los foram obtidos a partir de perguntas abertas contidas no Questionário de Avaliação da Dor Musculoesquelética (QADME). Este questionário, adaptado do “Instrumento para avaliação da pessoa com dor crônica”9 contém questões abertas e fechadas inseridas em 11 partes sobre, respectivamente: identificação, dados antropométricos, dor principal, outras dores, enfrentamento da dor, alimentação, atividades e exercícios, sono e repouso, percepções, sexualidade, valores e crenças. A aplicação do questionário foi realizada durante consultas de enfermagem de avaliação da dor crônica realizadas por pesquisadores enfermeiros e acadêmicos de enfermagem membros do TECDOR/UECE.

search Group for Pain Evaluation and Palliative Care (TECDOR/UECE). This is a descriptive and quantitative study about functional capacity to perform daily activities and physical exercises of individuals with musculoskeletal pain. In the period from May 2005 to July 2006, 83 patients were se¬lected from a Public Teaching Hospital of Fortaleza/CE, who have looked for the Orthopedics and Traumatology Ambulatory to treat chronic musculoskeletal pain. Inclusion criteria were: aged between 25 and 65 years; diagnosis of low back pain or fibromy¬algia for at least one year; consent and signature of the Free and Informed Consent Term (FICT) about research protocols. In this study, 14 females (16.9%) were excluded for having evidence of cognitive or attention deficit which precluded the understanding of questions of the data collection tool. So, final sample was made up of 69 patients. Data regarding DLA, practice of physical exercises and their ca¬pacity to practice them were obtained from open questions of the Musculoskeletal Pain Evaluation Questionnaire (MDPEQ). This questionnaire, adapted from the “Tool to evaluate people with chronic pain”, has open and closed questions divided in 11 parts about, respectively: identification, anthropometric data, major pain, other pains, coping with pain, eating, activities and exercises, sleep and rest, perceptions, sexuality, values and beliefs. The questionnaire was applied during nursing visits to evaluate chronic pain carried out by nurse researchers and nursing students, members of the TECDOR/UECE. The association of type of pain, sociodemographic characteristics and activities performed by patients was analyzed with Chi-square (2) and Fisher-Freeman-Halton tests. Mean age, number of children and 11 OM


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Analisou-se a associação entre tipo de dor, características sociodemográficas e atividades praticadas pelas pacientes com os testes de Qui-quadrado (.2) e Fisher-Freeman-Halton. Compararam-se as médias de idade, número de filhos e de renda familiar entre as mulheres com lombalgia e FM por meio dos testes t de Student e Mann-Whitney. Os dados foram processados no programa EPI-INFO, e fixado para as análises o nível de significância p < 0,05. RESULTADOS A tabela 1 reúne as características sociodemográficas da amostra estudada de acordo com o tipo de dor musculoesquelética apresentada. Observou-se que os dois grupos foram homogêneos quanto às variáveis: estado civil, ocupação e nível de escolaridade. Chamou a atenção o fato de que, das 44 mulheres casadas, a maioria tinha FM (56,8%). No entanto, verificou-se que o tipo de dor não apresentou associação estatisticamente significativa com as variáveis: estado civil (p = 0,289), ocupação (p = 0,349) e escolaridade (p = 0,907). A tabela 2 reúne as médias das variáveis: idade, número de filhos e renda familiar segundo o tipo de dor musculoesquelética. Do total de 69 pacientes avaliadas, 50,7% apresentava lombalgia e as demais FM (49,3%). Conforme informações registradas no questionário, a queixa principal das pacientes incluía dor na coluna lombar (56,0%), do tipo insidioso (69,0%) e contínuo (54,5%), presente durante período de um a três anos (30,0%). OM 12

family income were compared among females with low back pain and FM by Student’s t and Mann-Whitney tests. Data were processed by the EPI-INFO program considering significant p < 0.05. RESULTS Table 1 shows sociodemographic characteristics of the sample ac¬cording to the type of musculoskeletal pain. Both groups were homogeneous as to variables: marital status, oc¬cupation and education level. It has called the attention the fact that from 44 married females, most had FM (56.8%). However, it was observed that the type of pain had no statistically significant association with the variables: marital status (p = 0.289), occupa¬tion (p = 0.349) and education level (p = 0.907). Table 2 shows means of variables: age, number of children and family income according to the type of musculoskeletal pain. It is observed that mean age and family income were equal for both groups. On the other hand, females with low back pain had fewer children as compared to females with FM, being this difference considered statistically significant (p < 0.001). From 69 evaluated patients, 50.7% had low back pain and the oth¬ers FM (49.3%). According to questionnaire information, major patients complaint included lumbar spine pain (56.0%), insidious (69.0%) and continuous (54.5%), lasting from one to three years (30.0%).



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VARIÁVEIS RELACIONADAS À CAPACIDADE FUNCIONAL Os dados referentes à análise comparativa da capacidade funcional nos dois grupos encontram-se distribuídos na tabela 3. Constatou-se grande parte das pacientes com lombalgia (45,7%) garantindo possuir energia para realizar exercícios físicos e atividades cotidianas, enquanto apenas 17,6% das que apresentaram FM a referiram (p = 0,019). Por outro lado, a realização de atividade física independeu do tipo de dor (p = 0,731), pois em ambos os grupos a maioria relatou não praticar exercícios físicos (p < 0,001). Daquelas que realizavam atividade física, as citadas com maior frequência foram a caminhada e a ginástica/alongamento. Nos dois grupos, também houve prejuízos nas atividades ocupacionais, domésticas e de lazer, porém estes em menor proporção (21,7%, 21,7% e 13,0%, respectivamente).

DISCUSSÃO O perfil da amostra (Tabela 1) corrobora com a observação de outros autores quanto à estimativa de dor crônica na população brasileira, com predominância em mulheres, casadas, desempregadas e com baixo nível socioeconômico e de escolaridade. Quanto ao fato da maioria das casadas serem fibromiálgicas, pesquisa também verificou resultado semelhante. Ao analisar 40 mulheres (20 com FM e 20 sem FM) em ambulatório de Clínica Médica, os autores constataram diferença estatisticamente significativa quanto ao estado marital entre os dois grupos, sendo as pacientes com FM em sua maioria casadas e as controles com parceiros, mas não casadas. OM 14

FUNCTIONAL CAPACITY-RELATED VARIABLES Table 3 shows data of the comparative analysis of functional ca¬pacity for both groups. It has been observed that a large part of low back pain patients (45.7%) assured having energy to practice physical exercises and daily activities, while just 17.6% of FM patients have reported this (p = 0.019). On the other hand, the practice of daily activities was independent of the type of pain (p = 0.731) because in both groups most pa¬tients have reported not practicing physical exercises (p < 0.001). From those practicing physical activities, the most frequently men¬tioned were walking and gymnastics/stretching. Both groups had impairment of occupational, domestic and lei¬sure activities, however in a lower proportion (21.7%, 21.7% and 13.0%, respectively).

DISCUSSION The sample profile (Table 1) confirms observations from other au¬thors with regard to chronic pain estimates among Brazilians, with predominance of females who are married, unemployed and with low socioeconomic and education levels. As to the fact that most married females had FM, a research has also observed such result. In evaluating 40 females (20 with FM and 20 without FM) in a Medical Clinic Ambulatory, authors have observed statistically significant differences in marital status between groups, being most FM patients married and control pa¬tients had partners, but were not married. Mean age was similar for both groups (Table 2), confirming results of


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Nos dois grupos houve semelhanças nas médias de idade (Tabela 2), corroborando com os resultados de outras pesquisas com amostras semelhantes. Por outro lado, pesquisadores analisaram amostra similar à da presente pesquisa e encontrou idade média das pacientes do grupo FM bem maior do que no grupo controle, sendo esta diferença estatisticamente significativa (p = 0,03). Já no que diz respeito à diferença do número de filhos nos dois grupos, não foram encontrados estudos abordando essa variável e que pudessem corroborar com os resultados da presente pesquisa. Quanto à localização da dor, a prevalência da coluna lombar em ambos os grupos foi igualmente evidenciada em recente estudo desenvolvido em unidade de pronto atendimento de hospital municipal no Rio Grande do Sul. Os autores confirmaram a dor lombar como um dos principais motivos de busca pelo serviço, sendo a queixa principal de 52 pacientes (18,5%), ficando atrás apenas das dores em membros superiores e inferiores relacionadas a fraturas e/ou contusão, em 64 pacientes (22,77%). No que se refere aos dados relacionados à capacidade funcional (Tabela 3), constatou-se que as mulheres com diagnóstico de lombalgia têm um nível de energia mais satisfatório do que as fibromiálgicas para realizar exercícios físicos, atividades ocupacionais, domésticas e de lazer. Essa falta de energia geralmente advém dos sintomas de fadiga crônica e rigidez, mais comuns na FM. Utilizando instrumento específico para avaliar a capacidade funcional (Questionário Roland-Morris Brasil de Incapacidade), pesquisa com 17 indivíduos com lombalgia crônica mostrou prevalência de apenas 23,5% de incapacidade funcional, concordando com a tese de que esta capacidade é mais reduzida nas pacientes com FM. A queixa álgica na região lombar não foi vista como fator atrelado à incapacidade, apenas limita a realização de certas atividades diárias. Legitimando, estudo comparativo entre 16 mulheres com FM e 15 mulheres sem o diagnóstico mostrou que as mulheres com FM apresentam impacto negativo na QV com redução da capacidade funcional, aumento da dor e piora do estado geral de saúde. Pacientes fibromiálgicas apresentam níveis mais altos de dor, o que acarreta limitações funcionais e físicas, menor

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other studies with similar samples .On the other hand, researchers have evaluated a sample similar to ours and have found significantly older mean age in FM patients as compared to control group, being this difference statistically sig¬nificant (p = 0.03)10. As to the difference in number of children in both groups, we were unable to find studies addressing such variable which could con¬firm the results of our study. As to pain location, the prevalence of lumbar spine in both groups was equally evidenced by a recent study developed in an emergen¬cy service of a municipal hospital of Rio Grande do Sul. Authors confirmed lumbar pain as one of the major reasons to look for the service, being the major complaint of 52 patients (18.5%), and second only to upper and lower limbs pain related to fractures and/or con¬tusion in 64 patients (22.77%). As to functional capacity data (Table 3) it was observed that fe¬males with low back pain have a more satisfactory level of energy than FM females to practice physical exercises, labor, domestic and leisure activities. This lack of energy is in general caused by chronic fatigue and rigidity, more common in FM. Using a specific tool to evaluate functional capacity (Roland-Mor¬ris Brazil Incapacity Questionnaire), a study with 17 chronic low back pain patients has shown functional incapacity prevalence of just 23.5%, in line with the thesis that this capacity is more reduced in FM patients. Lumbar pain was not observed as a factor pegged to incapacity, but just as limiting the performance of some daily activities. A comparative study with 16 females with FM and 15 females without the diagnosis has shown that females with FM had nega¬tive impact on QL with decreased functional capacity, increased pain and worsening of

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flexibilidade, fadiga muscular, falta de condicionamento aeróbico e menor capacidade para realizar atividades de vida diária. Em outra pesquisa com 38 mulheres com diagnóstico de FM, os resultados mostraram uma dificuldade moderada à incapacidade grave quando avaliada sua capacidade funcional. Ou seja, houve correlação significativa entre a dor e o nível de capacidade funcional para atividades diárias. Nesse contexto, constata-se a existência de uma relação cíclica entre os diversos fatores condicionantes da FM e a incapacidade funcional. Fadiga muscular, rigidez e dor musculoesquelética contínua e difusa são frequentemente relatados pelas pacientes, sendo cada um destes distúrbios as causas e, concomitantemente, as consequências da piora do quadro sintomático e da capacidade para trabalho e exercício nas mulheres com FM. O fato da maioria das pacientes não praticar exercício físico também foi considerado preocupante, mostrando-se uma das variáveis mais implicadas na avaliação da capacidade funcional (p < 0,001), pois o percentual encontrado (72,5%) é significativamente alto, assim como em pesquisa com 30 portadores de lombalgia crônica, apresentando prevalência de inatividade física de 64,7%. Quanto aos principais exercícios físicos realizados (caminhada e alongamento/ginástica), já foi evidenciado que a atividade física, seja ela cardiovascular, de fortalecimento ou alongamento, está associada ao bem estar físico, mental e a inclusão social dos indivíduos. Embora haja destaque aos benefícios clínicos do exercício reduzindo a intensidade da dor crônica, os efeitos fisiológicos envolvidos ainda são incertos; algumas vezes, o efeito analgésico é contraditório. Cabe ressaltar que apenas o fato de realizar uma atividade física no cotidiano não implica fator de proteção para a coluna, sendo o tipo de exercício, o nível de atividade, a carga de trabalho e a postura corporal na infância/ adolescência cuidados que merecem atenção. Mas é certo que a prática de atividades físicas contribui para a prevenção de síndromes dolorosas na coluna por proporcionar, por intermédio de programas de força e flexibilidade, maior conscientização da postura. Outra constatação disso é que a prática da atividade física já foi considerada OM 16

general health status. FM patients have higher levels of pain, which leads to functional and physical limita¬tions, less flexibility, muscle fatigue, lack of aerobic conditioning and less capacity to perform daily activities. In a different study with 38 females diagnosed with FM, results have shown moderate difficulty to severe incapacity when their functional capacity was evaluated. That is, there has been signifi¬cant correlation between pain and the level of functional incapacity for daily activities. In this context, there is a cyclic relationship between different FM conditioning factors and functional incapacity. Muscle fatigue, ri¬gidity and continuous and diffuse musculoskeletal pain are often reported by patients, being each one of these disorders the causes and, at the same time, the consequences of symptoms and worse labor capacity of FM females. The fact that most patients did not practice physical exercises was also concerning, and was the most implied variable in functional capacity evaluation (p < 0.001), because the percentage (72.5%) is significantly high, similarly to a study with 30 chronic low back pain patients with prevalence of physical inactivity of 64.7%. As to primarily practiced physical exercises (walking and stretch¬ing/ gymnastics), it has already been shown that physical activity, be it cardiovascular, strengthening or stretching, is associated to physical and mental well being and to social inclusion of individu¬als. Although clinical benefits of exercises are stressed for decreas¬ing chronic pain intensity, physiological effects involved are still not clear; sometimes the analgesic effect is contradictory. It is worth stressing that just the fact of practicing daily physical activities does not imply a spinal protective factor and type of exercise, level of activity, workload and body posture in childhood/adoles¬cence deserve attention. But it is certain that physical activities contribute for the prevention of spinal painful syndromes for pro¬viding, through strength


ALGOLOGIA fator positivo na QV de pessoas com FM. Em ensaio clínico randomizado com 42 portadoras da síndrome, os resultados confirmaram que a combinação em longo prazo de exercício aeróbico, fortalecimento e flexibilidade melhora o estado de saúde psicológico e a QV dessas pacientes. Também já foi comprovado que o tratamento por hidrocinesioterapia de fibromiálgicas com idades entre 35 e 55 anos proporcionou redução do quadro álgico e melhora da QV. Observou-se redução, em todas as pacientes, da sintomatologia dolorosa característica da doença e significativa redução da fadiga e dos distúrbios do sono. Houve melhoria na realização das AVD e profissional, uma vez que o Questionário de Impacto da FM, aplicado antes e após o tratamento, indicou que o tratamento aquático permitiu que as pacientes passassem a realizar atividades antes dificultadas pela sintomatologia dolorosa, rigidez e fadiga. Portanto, cabe aos profissionais de saúde que atendem essa clientela conhecer o quadro de dor e as modificações funcionais desses pacientes, procedendo à avaliação completa que contribua com o diagnóstico e o tratamento das alterações que causam desconforto, com o intuito de melhorar a QV dessas pessoas. Para tanto, é necessário aplicar escalas validadas cientificamente e utilizá-las como complemento da avaliação da dor e da capacidade funcional de pessoas que sofrem com este tipo de dor, além de referenciá-las aos tratamentos já reconhecidos como eficazes, tais como programas de exercícios físicos, alongamento, caminhada e hidroterapia; além dos programas educativos, cognitivo-comportamentais e de reabilitação. O tratamento deve incluir, portanto, uma equipe interdisciplinar que desenvolva de maneira sistemática habilidades de autorregulação necessárias à manutenção de um estilo de vida ativo e independente, adicionando atividades específicas ao plano diário ou semanal e o acompanhamento regular. Finalmente, o acompanhamento destes pacientes não deve excluir o componente psicológico. Este, apesar de não produzir a dor, compõe o quadro e modula sua expressão. Portanto, o apoio psicológico vai contribuir para a reprogramação desse sujeito e a ideia de reprogramação física e psíquica

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and flexibility programs, more posture awareness. Another evidence of this is that the practice of physical activities has already been considered a positive factor for the QL of FM patients. In a randomized clinical trial with 42 FM patients, re¬sults have confirmed that the long term combination of aerobic, strengthening and flexibility exercises improves psychological health status and QL of these patients. It has also been proven that treatment with hydrokinesiotherapy of FM patients aged between 35 and 55 years has relieved pain and improved QL. It was observed improvement, in all patients, of painful symptoms characteristic of the disease and significant im¬provement in fatigue and sleep disorders. There has been improve¬ment in performing daily life and professional activities, since the FM Impact Questionnaire applied before and after treatment has shown that water treatment allowed patients to perform activities otherwise made difficult by pain, rigidity and fatigue. So, it is up to health professionals assisting these patients to know their pain and functional changes, by a thorough evaluation which contributes to the diagnostic and treatment of changes causing dis¬comfort, aiming at improving QL of these patients. For such, it is necessary to apply scientifically validated scales and use them as a complement of pain and functional capacity evalua¬tion of people suffering with this type of pain, in addition to refer them to treatments already known as effective, such as physical ex¬ercise, stretching, walking and hydrotherapy programs; in addition to educational, cognitive-behavioral and rehabilitation programs. So, treatment should include an interdisciplinary team systemati¬cally developing self-regulation skills needed for the maintenance of an active and independent lifestyle, adding specific activities to daily or weekly plan and regular follow up. Finally, the follow up of these patients should not exclude the psy¬chological component. This, although not inducing pain, is part of the symptoms and modulates their expression. So, psychologi¬cal support will contribute for reprogramming the subject and the idea of physical and

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deverá ser central no tratamento. É preciso que os profissionais garantam ao sujeito doente a sua voz, instituindo em sua prática a valorização do “escutar, compreender “e negociar” como recursos mobilizados pela prática clínica para a viabilização do encontro clínico. CONCLUSÃO Mulheres com FM apresentaram pior capacidade funcional que aquelas com lombalgia, merecendo atenção dos profissionais de saúde para avaliação contínua e precisa da qualidade da dor, do condicionamento físico e da capacidade para realizar exercícios nesses pacientes, visando ao tratamento mais eficaz e que garanta QV.

psychical reprogramming should be central to the treatment. Professionals have to assure to ill subjects their voice, instituting in their practice the value of “listening, under¬standing and negotiating” as clinical practice resources to make the clinical meeting feasible. CONCLUSION Females with FM have worse functional capacity as compared to low back pain patients and deserve attention of health profes¬sionals for continuous and thorough evaluation of the quality of pain, of physical fitness and capacity to practice exercises, aiming at a more effective treatment assuring QL.

Ana Clara Patriota Chaves. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS), Universidade Estadual do Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brasil. Ana Clara Patriota Chaves. Master Student of the Post-Graduation Clinical Care in Nursing and Health Program. State University of Ceará. Fortaleza, CE, Brazil. Ana Cláudia de Souza Leite. Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brasil. Ana Cláudia de Souza Leite. Doctor in Nursing. Professor of the Nursing Graduation Course, State University of Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brazil. Lucilane Maria Sales da Silva. Doutora em Enfermagem. Coordenadora e Docente do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS), Universidade Estadual do Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brasil. Lucilane Maria Sales da Silva. Doctor in Nursing. Coordinator and Professor of the Post-Graduation Clinical Nursing and Health Care Program (PPCCLIS), State University of Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brazil. Paulo César de Almeida. Doutor em Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. Paulo César de Almeida. Doctor in Public Health. Post-Graduation Clinical Care in Nursing and Health Program. State University of Ceará. Fortaleza, CE, Brazil. Roberta Meneses Oliveira. Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS), Universidade Estadual do Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brasil. Roberta Meneses Oliveira. Master in Clinical Health Care. Doctorate Student of the Post-Graduation Clinical Nurs¬ing and Health Care Program (PPCCLIS), State University of Ceará (UECE). Fortaleza, CE, Brazil. Sherida Karanini Paz de Oliveira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. Sherida Karanini Paz de Oliveira. Doctorate Student of the Nursing Post-Graduation Program, Federal University of Ceará. Fortaleza, CE, Brazil.

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As perguntas ainda sem resposta sobre o surto de zika e microcefalia

Zika: The key unanswered questions

surto levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência internacional devido à ligação entre a infecção e milhares de casos suspeitos de bebês nascidos com microcefalia no Brasil. Mas ainda existem muitas perguntas sem respostas. Por exemplo, quantas pessoas foram realmente infectadas nas Américas? A melhor estimativa da infecção pelo zika vírus está entre 500 mil e 1,5 milhão, o que mostra uma grande margem de erro. Qual a porcentagem de pessoas em uma área afetada que realmente estão sendo infectadas pelo vírus? Todas elas? Ainda não sabemos.

his grainy image is one of the few pictures of the Zika virus. The infection has prompted the World Health Organization to declared a global health emergency due to the link to thousands of suspected cases of babies born with small brains - or microcephaly - in Brazil. But there are still many, crucial, unanswered questions. How many people have been infected in the Americas? The best estimate of Zika infections is between 500,000 and 1.5 million - which is quite a wide margin of error. What percentage of people in an affected area are getting infected? Is it everyone? We don’t know.

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Abaixo algumas das perguntas sem respostas sobre a doença. POR QUE O SURTO É TÃO EXPLOSIVO? Uma teoria é que o vírus passou por uma mutação e ficou mais infeccioso. Outros especialistas afirmam que pode ser simplesmente o caso de que

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WHY THE EXPLOSIVE OUTBREAK? One theory is that the virus has mutated to become more infectious. Alternatively, some experts argue it could simply be a case of the virus reaching areas where people are densely packed together and there are huge numbers of mosquitoes. 21 OM


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ele esteja chegando a áreas que são muito povoadas e próximas umas das outras. E onde há uma população enorme de mosquitos. QUEM PODE TRANSMITIR A DOENÇA? Cerca de 80% das pessoas não apresentam sintomas – apesar de este número precisar ser mais investigado. Não se sabe se estas pessoas também podem espalhar o vírus e nem mesmo a razão de elas não apresentarem os sintomas da doença. O ZIKA VÍRUS CAUSA MICROCEFALIA? É o maior medo em relação ao surto. A ligação entre o zika vírus e a má-formação ainda é uma “forte suspeita”. Houve um aumento no número de casos de microcefalia nas regiões do Brasil que registraram casos de zika. No entanto os exames para provar a ligação entre o vírus e a má-formação ainda não foram finalizados. QUAIS SÃO OS RISCOS DA DOENÇA? Aqui as perguntas relativas às mulheres grávidas se multiplicam: se o vírus causa a microcefalia, qual a frequência em que isto acontece? Toda infecção leva a más-formações? Ou é apenas algo em torno de um em cada cem casos? Ou talvez um em cada 10 mil? Por enquanto não se sabe o quanto as mulheres grávidas precisam se preocupar com o surto. EXISTE UM PERÍODO MAIS ARRISCADO DURANTE A GRAVIDEZ? Se o zika vírus realmente causa microcefalia, é importante saber quando a mulher foi infectada? Foram feitas algumas sugestões de que o primeiro trimestre (as primeiras 12 semanas) seria o período crucial para que ocorresse a má-formação, mas outros médicos sugeriram que pode haver risco até a 29ª semana. E estes riscos podem mudar com o tempo.

WHO IS INFECTIOUS? Around 80% of people have no symptoms when they get the virus - although this figure needs further investigation. It’s not known if they can also spread the virus or even why they are asymptomatic. DOES IT CAUSE MICROCEPHALY? It’s the biggest health concern in the outbreak, yet the link with Zika and birth defects is still only “strongly suspected”. Parts of Brazil that have seen cases of Zika have, several months later, also seen a surge in microcephaly. However, the trials to prove the link have not finished. HOW RISKY IS INFECTION? If the virus does cause microcephaly, how often does this happen? Does every infection lead to birth defects? Or is it one-in-100? One-in-10,000 perhaps? At the moment it’s not clear how worried pregnant women should be. IS THERE A RISKY PERIOD IN PREGNANCY? If the virus causes microcephaly, does it matter when you are infected? There have been some suggestions that the first trimester (the first 12 weeks) is key, but other doctors have hinted there might be risks as late as 29 weeks. And those risks could change over time.

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COMO A DOENÇA PODE AFETAR O CÉREBRO? Algumas infecções, como a rubéola, podem prejudicar o cérebro de bebês durante a gravidez. Mas ainda não se sabe como o zika vírus pode atravessar a placenta e prejudicar o crescimento do cérebro. APRESENTAR OS SINTOMAS DA DOENÇA MUDA O NÍVEL DE RISCO? Cerca de quatro em cada cinco pessoas infectadas não vão desenvolver os sintomas. Mas estes casos apresentam os mesmos riscos de microcefalia que os casos onde a pessoa doente apresenta os sintomas como febre e manchas vermelhas na pele? Ainda não está claro. Há também o problema da síndrome de Guillain-Barre, que já foi ligada ao zika vírus, e ainda não se sabe quais pacientes correm o risco maior. O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA ÁFRICA E NA ÁSIA? O vírus foi detectado pela primeira vez na África e, em seguida, em partes da Ásia, até chegar ao Brasil e se espalhar. Então estes continentes têm populações gigantescas suscetíveis a surtos do zika? Ou o zika já estava nestes lugares há anos sem ser detectado e, sendo assim, a maior parte destas populações já é imune? É difícil estabelecer o tamanho da ameaça global sem saber esta resposta. QUAL É O NÚMERO REAL DO AUMENTO DOS CASOS DE MICROCEFALIA?

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HOW COULD IT DAMAGE THE BRAIN? Some infections, such as rubella, can damage the brains of developing babies during pregnancy. But it is not known how Zika could be crossing the placenta and damaging brain growth. DOES DEVELOPING SYMPTOMS CHANGE THE RISK? Around four-in-five people infected will not develop symptoms. Do silent infections carry the same risks of microcephaly as those which result in a fever or a rash? There is also the rare neurological disease Guillain-Barre syndrome that has been linked to Zika infection and we don’t know which patients are most a risk. WHAT’S GOING ON IN AFRICA AND ASIA? The virus was first detected in Africa and then parts of Asia until it reached Brazil and then spread. So do these continents represent giant vulnerable populations susceptible to Zika outbreaks? Or has Zika been around and undetected there for years, so that most of the population are immune? It is hard to establish the global threat without knowing the answer. HOW BIG IS THE SURGE IN MICROCEPHALY REALLY? 23 OM


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Existem grandes questionamentos a respeito da qualidade dos dados coletados tanto antes do surto de zika como depois. Os números dos anos anteriores aos registros da doença podem ter sido subestimados. E o número de casos suspeitos podem ser superestimados. A DOENÇA PODE SER TRANSMITIDA POR OUTROS MOSQUITOS? O zika vírus é transmitido pelo Aedes aegypti, mas existe o temor de que possa ser transmitido por também por outros mosquitos como o Aedes albopictus, conhecido como “tigre asiático”. E este mosquito prefere climas mais temperados, como o de algumas partes da Europa. QUAL É O RISCO DA TRANSMISSÃO ATRAVÉS DE RELAÇÃO SEXUAL? Parece que a grande maioria dos casos de transmissão ocorre por picadas do mosquito Aedes aegypti. O mosquito pica uma pessoa infectada e passa o vírus para a próxima pessoa que picar. A transmissão por relação sexual já foi ligada a alguns casos da doença, mas não se sabe o quanto este tipo de transmissão é comum. Uma pessoa pode ficar imune à doença?

There are big questions about the quality of the data, both before the outbreak of Zika and now. The figures for previous years may be underestimates, and the number of suspected cases is an overestimate. CAN IT BE SPREAD BY OTHER MOSQUITOES? The Zika virus is spread by the Aedes aegypti mosquito, but it is confined to tropical and sub-tropical countries. There is concern that Zika could be spread by other mosquitoes too such as the Asian tiger mosquito. This species prefers more temperate climes such as parts of Europe. HOW BIG A RISK IS SEX? It seems likely that the overwhelming majority of cases are spread by the Aedes aegypti mosquito where the insect bites a person with the virus and passes it onto the next person it bites. But sexual transmission has been implicated in a couple of infections. It’s unknown how common this is.

SE A PESSOA É INFECTADA COM O ZIKA VÍRUS UMA VEZ ELA FICA PROTEGIDA PELO RESTO DA VIDA, COMO SE FOSSE SARAMPO? OU É PRECISO TER A DOENÇA VÁRIAS VEZES PARA FICAR IMUNE? QUANTO TEMPO DURA A IMUNIDADE?

WHAT ABOUT IMMUNITY? ARE YOU INFECTED ONCE AND THEN PROTECTED FOR LIFE, LIKE MEASLES? OR DOES IT TAKE MULTIPLE INFECTIONS TO ACHIEVE IMMUNITY? HOW LONG DOES IMMUNITY LAST?

A resposta para estas perguntas pode nos dizer quanto tempo o surto pode durar e indicar se uma vacina pode realmente ser eficaz.

These answers will tell us how long the outbreak could last and indicate whether a vaccine would be effective.

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Efeitos e sintomas da privação do exercício físico

Effects and symptoms of deprivation of physical exercise review

osso objetivo foi revisar os efeitos e sintomas desenvolvidos durante a privação do exercício físico, principalmente em praticantes com dependência de exercício físico e com transtorno de imagem corporal, por meio de revisão sistemática. Foram utilizados artigos científicos disponíveis na base de dados do Pubmed, Scienc Direct, Cochrane, Ebsco Host, Ingenta Connect e Scopus, além de livros sobre o tema, sendo o período limitado de 1970 a 2009. Como critérios de inclusão foram utilizados trabalhos com a temática privação de exercício tanto em dependentes como em não dependentes e estudos com essa metodologia. Assim, foram selecionados 63 trabalhos, sendo 4 livros e 59 artigos científicos. Os estudos encontrados demonstraram que a privação do exercício físico é um fator determinante para o surgimento de alterações negativas no dependente de exercício físico, tanto em um contexto fisiológico (tolerância, limiar de dor) quanto psicológico (ansiedade, depressão, irritabilidade). Além disso, há relatos de que o surgimento dessas alterações ocorre em ambos os gêneros e após 24-36 horas sem essa prática. Nessa linha de raciocínio, o indivíduo com transtornos de imagem corporal também pode desenvolver alterações fisiológicas e psicológicas negativas semelhantes às desenvolvidas pelo dependente de exercício físico durante a privação, pois o exercício físico é utilizado pelo praticante com transtorno de imagem corporal

ur objective was to review the effects and symptoms developed during exercise deprivation, mainly in people with exercise dependence and body image disorder, through a systematic literature review. Articles available at the following databases were used: Pubmed, Science Direct, Cochrane, Ebsco Host, Ingenta Connect and Scopus, as well as books on the subject, limiting the studied period to 1970-2009. Inclusion criteria were works on the theme of exercise deprivation both in dependent and non-dependent individuals and studies with that methodology. Thus, 63 items, of which 4 books and 59 scientific papers, were selected. The analyzed studies demonstrated that physical exercise deprivation is a determining factor for the onset of negative changes in people dependent on physical exercise, both physiologically (tolerance, pain threshold) and psychologically (anxiety, depression, irritability). Furthermore, there are reports that the onset of these changes occurs in both genders and after 24-36 hours without exercise. In this line of reasoning, individuals with body image disorders may also develop negative physiological and psychological changes similar to those developed by the exercise dependent during deprivation, since physical exercise

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para ganho ou perda de massa corporal na tentativa de amenizar a insatisfação com a própria aparência física. Como conclusão é possível afirmar que a privação do exercício físico colabora para o surgimento e desenvolvimento de variáveis fisiológicas e psicológicas negativas. FUNDAMENTAÇÃO Classicamente tem sido demonstrados na literatura científica que a prática regular do exercício físico proporciona inúmeros benefícios, entre eles, podemos citar melhoras nos aspectos fisiológicos relacionados aos sistemas cardiorrespiratório, muscular, endócrino e nervoso. Além desses benefícios, a esfera psicológica também é beneficiada por essa prática, com evidentes impactos nos fatores psicobiológicos refletidos por uma redução de escores indicativos de depressão e ansiedade, melhora da função cognitiva, resultando em uma melhor qualidade de vida. Mesmo considerando tais benefícios, um corpo de evidências tem apontado que, quando praticado de forma compulsiva,

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is used in individuals with body image disorders, to gain or lose body mass, in an attempt to attenuate dissatisfaction with their physical appearance. In conclusion, it is possible to say that deprivation of physical exercise contributes to the emergence and development of negative physiological and psychological variables. RATIONALE Classically, it has been shown in scientific literature that regular physical exercise provides numerous benefits, such as improvements in physiological systems related to the cardio-respiratory, muscular, endocrine and nervous systems. Besides these benefits, the psychological aspect is also benefited by this practice, with obvious impacts on psychobiological factors reflected by a reduction of scores indicative of depression and anxiety, and improvements in cognitive function, resulting in an improved quality of life.

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o exercício físico pode acarretar em alterações negativas. Tal compulsão pode ser referida como uma necessidade incontrolável de se exercitar, o que está relacionado com a existência de uma condição conhecida como dependência de exercício físico. Uma vez impedido de realizar essa atividade, o mesmo pode desenvolver diversas alterações negativas tanto do ponto de vista fisiológico quanto psicológico. O primeiro relato sobre os efeitos da privação do exercício físico data da década de 70 e já demonstrava alterações nos estados de humor com o desenvolvimento de diferentes sintomas. Em estudos posteriores, mesmo utilizando metodologias e populações distintas, também se observou o desenvolvimento de sintomas tanto físicos quanto psicológicos em praticantes que foram privados do exercício físico. Nessa linha de raciocínio, conhecer tais sintomas pode contribuir para identificar o nível de dependência e auxiliar no controle da compulsão pelo exercício físico. Este artigo tem como objetivo abordar os principais efeitos e sintomas desenvolvidos durante a privação do exercício físico. MATERIAL E MÉTODOS O estudo constituiu-se como uma revisão sistemática sobre os efeitos e sintomas da privação do exercício físico. Foi utilizando como fonte de pesquisa livros relacionados com o assunto e artigos científicos específicos disponíveis e indexados pela base de dados PubMed ISI e Medline, Scienc Direct, Cochrane, Ebsco Host, Ingenta Connect e Scopus, no período de 1970 a 2009. Foram utilizados trabalhos publicados em inglês e/ou português e, na busca bibliográfica, foram utilizados os seguintes descritores: exercise deprivation, overtraining, exercise dependence, exercise withdrawal, exercise addiction, utilizando-se os boleanos específicos destas bases a fim de obter diversos arranjos de busca, maximizando tanto a abrangência quanto a qualidade da pesquisa. A seleção dos artigos teve como critérios de inclusão: (a) pesquisas com privação de exercício físico em não dependentes de exercício físico e em dependentes de exercício físico; (b) estudos que utilizaram como metodologia a

Even considering such benefits, a body of evidence has been indicating that, when practiced compulsively, exercise may result in negative changes. Such compulsion can be referred to as an uncontrollable urge to exercise, which re-lates to a condition known as physical exercise dependence. Once prevented from performing this activity, the individual can develop several negative changes, both physiological and psychological. The first report on the effects of exercise deprivation date from the 1970s and already demonstrated mood changes with the development of different symptoms. Later studies, even when using the different methodologies and populations, also found the development of both physical and psychological symptoms in individuals who had been deprived of physical exercise. Taking that into account, understanding these symptoms may help to identify the level of dependence and help to control the compulsion to exercise. There fore, this article aims to address the main effects and symptoms developed during physical exercise deprivation. Material and methods The study was established as a systematic review on the effects and symptoms of physical exercise deprivation. The following were used as sources: books on the subject and specific scientific papers available and indexed on PubMed ISI and Medline, Scienc Direct, Cochrane, Ebsco Host, Ingenta Connect and Scopus, from 1970 to 2009. Papers published in English and/or Portuguese were used, and for the bibliographic search the following keywords were used: “exercise deprivation”, “overtraining”, “exercise dependence”, “exercise withdrawal”, “exercise addiction”, using specific Boolean for these bases in order to obtain various arrangements and maximize both the scope and the quality of the search. Article selection followed the inclusion criteria: (a) re-search with physical exercise deprivation in physical exercise non-dependent

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and dependent individuals, (b) studies that used exercise deprivation methodology. Animal studies were not considered, nor were those developed for dissertation or thesis, being that our limitation. Through the above mentioned keywords, 3053 papers were found, of which 123 were eligible for this review. However, 60 studies had no information related to symptoms and effects of exercise deprivation, so 63 works, being 4 books and 59 scientific articles (including 12 review articles and 47 original articles) were used for the final composition. First report on physical exercise deprivation

privação de exercício. Não foram considerados estudos envolvendo animais de experimentação, nem aqueles desenvolvidos por dissertações e teses, sendo essa a nossa limitação. Por intermédio dos descritores citados foram encontrados 3053 artigos científicos, dos quais 123 foram elegíveis para compor a presente revisão. No entanto, 60 trabalhos não dispunham de informações relacionadas aos sintomas e efeitos da privação do exercício, desta forma, para a composição final foram utilizados 63 trabalhos, sendo 4 livros e 59 artigos científicos (sendo 12 artigos de revisão e 47 artigos originais).

The first report on physical exercise deprivation was done by Baekeland in 1970. In the study, the author aimed to examine the effects of a month of physical exercise deprivation on sleep patterns and psychological well-being of physically active subjects. However, he found great difficulty in recruiting volunteer runners who exercised five to six days per week and who were willing to abstain from physical exercise for a month. This difficulty remained even when financial incentives were offered to volunteers, and only individuals who regularly ran three to four days a week could be included in the study. During a month of exercise deprivation, the participants reported a reduction in psychological well-being, experiencing various symptoms during deprivation, such as increased tension, increased number of awakenings during sleep, sexual tension and anxiety. This difficulty faced by the author and the attempt to understand why some people refused to go without physical exercise even when offered a financial incentive was the basic point of studies involving dependence and lack of exercise, and represents the basis for all research that ensued. It represents a landmark for the research on

O PRIMEIRO RELATO SOBRE A PRIVAÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO O primeiro relato realizado sobre privação do exercício físico foi realizado por Baekeland, em 1970. Nesse estudo, o autor tinha como objetivo examinar os efeitos de um mês de privação do exercício físico no padrão de sono e bem estar psicológico de sujeitos fisicamente ativos. No entanto, ele encontrou uma grande dificuldade em recrutar corredores voluntários que se exercitavam de cinco a seis dias por semana e que estivessem dispostos a se privar da prática do exercício físico por um mês. Tal dificuldade permaneceu mesmo quando foi oferecido incentivo financeiro aos voluntários, sendo possível incluir no estudo apenas indivíduos que corriam regularmente de três a quatro dias por semana. Durante o período de um mês de privação do exercício físico, esses participantes relataram redução no bem estar psicológico apresentando durante a privação, além de diversos sintomas como aumento de tensão, aumento no número de despertares durante o sono, tensão sexual e ansiedade. Essa dificuldade encontrada pelo autor e o questionamento do por quê algumas pessoas se recusavam a ficar sem realizar exercícios físicos, mesmo quando oferecido incentivo financeiro, foi o ponto elementar dos estudos que envolvem dependência e privação de exercício físico, e representam à base de todas as pesquisas que se seguiram desde então, caracterizando um marco divisor na pesquisa sobre a privação do exercício físico. 29 OM


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SINTOMAS E EFEITOS DA PRIVAÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO EM DEPENDENTES E NÃO DEPENDENTES A prática de exercício físico regular produz resultados positivos que são refletidos tanto na esfera fisiológica quanto psicológica, entretanto, a privação dessa atividade resulta em alterações negativas que comprometem as esferas mencionadas e a qualidade de vida. Essas alterações estão relacionadas ao desenvolvimento de sintomas e sensações negativas que podem resultar em alterações de comportamento, alterações fisiológicas e distúrbios de humor durante a retirada desse comportamento compulsivo, sendo mais evidente em praticantes que apresentam características de dependência de exercício físico. Antes de descrever os efeitos da privação no praticante com dependência de exercício físico é importante conceituar esse comportamento para melhor entender como a prática compulsiva dessa atividade pode influenciar no comportamento psicossocial desse indivíduo. A dependência de exercício físico é definida como “uma ânsia de atividade física que resulta em uma necessidade de se exercitar incontrolável e que se manifesta no comportamento fisiológico e/ou sintomas psicológicos”, podendo ser caracterizada como uma obsessiva e doentia preocupação com o exercício físico, no entanto as suas causas ainda não são bem descritas. Apesar disso, sabe-se que é um comportamento multifatorial, podendo tornar-se um fator determinante no comportamento, vez que o seu praticante desenvolve uma incontrolável necessidade de se exercitar, independentemente dos problemas, tanto da ordem social, profissional, comportamental e fisiológica. Baseados nessa temática, Antunes e cols., em seu estudo com corredores de aventura, observaram que eles apresentavam escores de dependência de exercício físico, mas não apresentaram indicativos relacionados a alterações do estado de humor, o que corrobora com o estudo de Rosa e cols., que também não encontrou diferenças nesse parâmetro antes e após a realização de um teste de esforço realizado até a exaustão máxima, utilizando, nesse estudo, voluntários dependentes de exercício físico, não dependentes de exercício físico e sedentários, sugerindo não ter existido alterações de humor nos grupos estudados. OM 30

physical exercise deprivation. SYMPTOMS AND EFFECTS OF PHYSICAL EXERCISE DEPRIVATION IN DEPENDENT AND NON-DEPENDENT The practice of regular exercise produces positive re-sults that have both physiological and psychological impact. However, the deprivation of this activity results in negative changes that impairs physiological and psychological aspects and the quality of life. These changes are related to the development of symptoms and negative feelings that may result in behavioral changes, physiological changes, and mood disorders during withdrawal of the compulsive behavior, being more evident in individuals who present the characteristics of physical exercise dependence. Before describing the effects of deprivation in individuals with physical exercise dependence it is important to conceptualize this behavior to enable a better understanding of how the compulsive practice of this activity can influence the psychosocial behavior of that individual. Physical exercise dependence is defined as “a craving for physical activity that results in an uncontrollable need to exercise and that manifests itself in physiological behavior and/or psychological symptoms”. It can be characterized as an obsessive and unhealthy concern with physical exercise, however, its causes are not well described. Nevertheless, it is a multifactorial behavior and may become a determining factor in behavior, as the individual develops an uncontrollable need to exercise, regardless of social, professional, behavioral and physiological problems. Based on this, a study by Antunes et al with adventure racers, noted that they had exercise dependence scores, but did not present indications of mood changes, which is consistent with the study by Rosa et al., which also found no differences in this parameter before and after performing an exercise test until maximum exhaustion. This suggests that there were no mood changes in the groups studied, as


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É importante considerar que a dependência de exercício físico pode ocorrer sob duas perspectivas. À primeira, conhecida pelo termo positive addiction, descreve que o praticante de exercício físico utiliza essa ferramenta sempre com doses maiores para referir sensações de euforia e bem estar. A segunda, conhecida pelo termo negative addiction, se contrapõem à primeira, onde o praticante pode aumentar a prática de exercício físico com o intuito de diminuir as sensações de angústia, ansiedade, depressão e irritabilidade. No estudo de Antunes e Rosa, a amostra não foi privada de exercício físico, o que potencialmente implicaria no surgimento de sintomas negativos de humor, além de colaborar com a compreensão do grau de dependência de exercício físico, o que poderia justificar os resultados encontrados pelos autores. Parece, de fato, que os sintomas da dependência de exercício físico estão intimamente relacionados com a privação dessa atividade. Isso parece ser mais evidente quando observamos os critérios descritos para caracterizar a dependência do exercício físico. Entre estes estão alguns relacionados com a privação do exercício físico, tais como: - Sintomas de abstinência relacionados a transtornos de humor (irritabilidade, depressão, ansiedade etc), quando interrompido a prática de exercícios físicos. - Alívio ou prevenção do aparecimento da síndrome de abstinência por meio da prática de exercícios físicos e rápida reinstalação dos padrões prévios de exercícios. - Sintomas de abstinência após um período sem prática de exercícios físicos. Hausenblas e cols., em seu estudo, analisaram as possíveis variações diurnas em relação aos seus estados de humor durante a privação do exercício físico. Os autores observaram que os voluntários com menores níveis de dependência de exercício físico, quando privados, não desenvolveram alterações nos estados de humor que pudessem ser expressos por escores elevados nessas medidas. Entretanto, os voluntários com maiores níveis e sintomas de dependência do exercício físico apresentaram maiores alterações nessa mesma variável na mesma circunstância, desenvolvendo um comportamento similar aos dias em

the study used volunteers who were: physical exercise dependent, non dependent, and sedentary. It is important to consider that exercise dependence may occur from two perspectives, the first known by the term “positive addiction,” which describes that the individual uses the exercise as a tool with increasing doses to obtain feelings of euphoria and wellbeing, and the second is known by the term “negative addiction”, which is opposed to the first, and where the individual may increase physical activity in order to lessen feelings of distress, anxiety, depression and irritability. In the studies by Antunes and Rosa the sample was not deprived of exercise, which would potentially involve the emergence of negative mood symptoms, as well as helping to understand of degree of physical exercise dependence, and that could justify the results found by the authors. It seems indeed that the symptoms of physical exerci-se dependence are closely related to the deprivation of this activity. This seems to be more evident when we look at the criteria described to characterize physical exercise dependen-ce, including a few related to exercise deprivation, such as: - Withdrawal symptoms related to mood disorders (irritability, depression, anxiety, etc.), when exercise is discontinued. - Relief or prevention of withdrawal syndrome onset by means of physical exercise and rapid resumption of previous exercise patterns. - Withdrawal symptoms after a period without physical exercise. In their study, Hausenblas et al. analyzed the possible diurnal mood variation during physical exercise deprivation. The authors observed that when deprived, volunteers with lower levels of exercise dependence did not developed mood changes that could be expressed by high scores 31 OM




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que não houve prática de exercício físico. Resultados como estes evidenciam que os efeitos fisiológicos e psicológicos que ocorrem durante a privação do exercício físico podem contribuir para identificar componentes da dependência de exercício físico. O estudo clássico de Sachs & Pargman relata que o surgimento dos sintomas da privação em dependentes de exercício físico ocorre no intervalo de 24-36 horas sem essa prática, sendo evidenciado pelos seguintes sintomas: ansiedade, agitação, culpa, irritabilidade, tensão e desconforto. Já o estudo de Mondin e cols. aponta que durante o período de 24-48 horas de privação do exercício físico já é possível observar o desenvolvimento de distúrbios de humor e diminuição do vigor. Além dessas alterações desenvolvidas pela privação do exercício físico, alguns estudos apontam que muitas vezes o praticante de exercício físico com compulsão por essa atividade pode realizar duas ou mais sessões de treinamento por dia para atenuar ou diminuir os sintomas negativos, podendo o excesso de treinamento contribuir para o surgimento do overtraining. Nessa linha de raciocínio, quando o praticante dependente de exercício físico é impedido da realização sua atividade ele pode desenvolver sintomas e alterações fisiológicas e psicológicas negativas. A partir disso é possível hipotetizar que o surgimento do overtraining em dependentes de exercício físico pode contribuir para agravamento dos sintomas relacionados com alterações de comportamento, alterações fisiológicas e distúrbios de humor, quando o praticante dependente de exercício físico apresenta sintomas de overtraining e, consequentemente, tem que interromper a prática de exercício físico. É importante mencionar que estudos sobre dependência de exercício físico e privação têm sugerido que os sintomas observados com a falta de exercício físico parecem ser semelhantes aos sintomas desenvolvidos durante a abstinência de uma substância viciante, sendo os mais evidentes: irritabilidade, ansiedade, depressão e culpa. Embora os efeitos da prática regular do exercício físico estejam envolvidos

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on these messurements. However, volunteers with higher levels and symptoms of physical exercise dependence showed higher changes in that variable under the same conditions, developing a behavior similar to the days when there was no exercise training. Results like these show that the physiological and psychological effects that occur during physical exercise deprivation can help to identify components of exercise dependence. The classic study by Sachs & Pargman reports that the onset of deprivation symptoms on exercise-dependent indivi-duals occurs 24-36 hours without the practice, and is shown by: anxiety, agitation, guilt, irritability, tension and discomfort. On the other hand, the study by Mondin et al. suggests that during the 24-48 hour period of exercise deprivation it is already possible to observe the development of mood disorders and decreased vigor. In addition to these changes developed by physical exercise deprivation, some studies show that often the indi-vidual with compulsion to exercise may perform two or more training sessions per day to ameliorate or diminish the negative symptoms, and excessive training may contribute to the emergence of overtraining. Therefore, when the physical exercise dependent individual is prevented from training, he/she may develop negative physiological and psychological symptoms and changes. From this, it is possible to hypothesize that the emergence of overtraining in physical exercise dependent individuals may contribute to the worsening of symptoms related to changes in behavior, physiological changes and mood disorders, when the individual presents symptoms of overtraining, and needs to discontinue physical exercise. It is important to mention that studies on physical exercise dependence and withdrawal have suggested that the symptoms observed with lack of exercise appear to be similar to the symptoms developed during withdrawal of an addictive substance, and the most obvious


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com melhoras do ponto de vista psicológico como diminuição da ansiedade, depressão e sentimentos de angústia, as evidências já comentadas mostram que a privação dessa atividade pode causar sintomas desagradáveis. Esses sintomas parecem permanecer mesmo quando distintas modalidades esportivas são observadas. Estudo com corredores tem demonstrado alterações de humor quando esses praticantes são privados de exercício físico. Ainda com o foco nessa população, Anshel observou que corredores privados ou impedidos de realizar exercício físico apresentavam sintomas como irritabilidade, frustração, culpa, depressão, problemas com o sono, problemas endócrinos, dor e tensão muscular. Já Szabo & Parkin, analisando uma amostra de praticantes de arte marcial (karatê shotokan), também puderam observar o surgimento de sintomas negativos durante um período de privação, como raiva, depressão, tensão, frustração, culpa, ansiedade, hostilidade, perturbação total do humor e a diminuição dos aspectos positivos, como vigor, alegria e felicidade. Os sintomas da privação também foram observados em participantes que realizavam modalidades como natação, ciclismo e corrida. O estudo foi realizado durante cinco dias, onde os participantes foram privados do exercício físico do segundo ao quarto dia, e se exercitaram no primeiro e no último dia do estudo. Os resultados revelaram que ocorreram alterações nos estados de humor com o desenvolvimento de sintomas como aumento de tensão, depressão, ansiedade e diminuição do vigor durante o período de privação. Em relação aos gêneros, parece não haver consenso sobre a magnitude dos efeitos da privação. De acordo com Robbins & Joseph, mulheres podem reportar mais dificuldade com o desenvolvimento de sintomas como, irritabilidade, frustração, culpa e depressão durante o período de privação do exercício físico pelo fato de utilizarem essa atividade para combater o estresse diário. Por outro lado, Crossman e cols. apontam que homens podem apresentar maiores desconfortos quando interrompem seus programas de treinamento. No entanto, outras pesquisas apontam que ambos os gêneros podem apresentar diminuição dos aspectos positivos e aumento de sintomas negativos durante a privação do exercício físico. Muitas especulações têm sido feitas na tentativa de explicar os sintomas da privação. Berlin, Kop & Deuster, em seu estudo, utilizaram um grupo expe-

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include: irritability, anxiety, depression and guilt. Although the effects of regular physical exercise lead to psychological improvements, such as decreased anxiety, depression and feelings of anguish, the above mentioned evidence shows that deprivation of this activity can cause unpleasant symptoms. These symptoms seem to persist even when different sports are analyzed. A study with runners has shown mood changes when there is physical exercise deprivation. Also focusing on this population, Anshel30 noted that deprived runners or runners who were unable to exercise presented symptoms such as irritability, frustration, guilt, depression, sleep problems, endocrine problems, pain and muscle tension. Meanwhile, Szabo & Parkin analyzed a sample of martial artists (Shotokan Karate) and also able observed the onset of negative symptoms over a period of deprivation, such as anger, depression, tension, frustration, guilt, anxiety, hostility, total mood disturbance and a decrease in positive aspects such as vigor, happiness and joy. Deprivation symptoms were also observed in participants who practiced swimming, cycling and running; the study was conducted for five days, and participants were deprived of exercise from days 2-4 and exercised on the first and last days the study. The results re-vealed that there were mood changes with the development of symptoms such as increased tension, depression, anxiety and a decrease in vigor during deprivation. In relation to gender, apparently there is no consensus on the magnitude of the effects of deprivation. According to Robbins & Joseph, women may report more difficulty with the development of symptoms such as irritability, frustration, guilt and depression during the period of exercise deprivation, due to the fact that they use this activity to combat daily stress. On the other hand, Crossman et al., suggest that men may have increased discomfort when they interrupt their training programs. However, other studies suggest that both genders may

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rimental formado por não dependentes de exercício físico que foram privados dessa atividade durante 7 dias, observando os sintomas descritos anteriormente. Os autores discutiram que talvez a relação entre a diminuição dos níveis de treinamento e a ocorrência dos sintomas depressivos desenvolvidos poderia ser mediados em parte por alterações fisiológicas e biológicas (como, por exemplo, aumento de marcadores da coagulação e de inflamação). Em outro estudo do mesmo grupo, tentou-se comprovar a hipótese formulada anteriormente e, para isso, os autores analisaram marcadores inflamatórios como IL-6 (interleucina-6), proteína C-reativa, fibrinogênio e sICAM-1 e, após 14 dias de interrupção da rotina de exercícios físicos, os autores não encontram alterações nos marcadores avaliados, o que levou a conclusão de que a privação do exercício físico pode resultar no desenvolvimento de alterações negativas de humor e fadiga, mas não em alterações nos marcadores inflamatórios. O fato de não haver indícios que suportem mudanças fisiológicas em marcadores inflamatórios com a privação de exercício físico pode estar relacionado com inúmeros fatores, entre eles, o período de privação. De fato, existe uma grande diversidade de estudos que avaliaram o intervalo de privação, espaço esse que vai desde um único dia podendo chegar até 30 dias. O estudo conduzido por Niven, Rendell & Chisholm, avaliou as possíveis alterações de humor e insatisfação corporal em praticantes do gênero feminino durante um período de 72 horas de privação de exercício físico. Participaram deste estudo 58 mulheres, que se exercitavam pelo menos quatro vezes por semana. Após o período de privação, as voluntárias apresentaram indisposição e diminuição do bem estar. Além disso, esses sentimentos foram acompanhados de um aumento de tensão e insatisfação corporal. Alterações negativas de humor também foram observadas por Conboy quando o autor avaliou 61 corredores durante 10 dias de corrida e de 2 a 5 dias de privação do exercício físico. O que podemos perceber é que existe uma grande variabilidade nos estudos, quando considerado o período de privação de exercício físico, o que pode justificar as diferenças entre os sintomas relatados. Classicamente o exercício físico é conhecido por conduzir a uma melhora da percepção dos níveis de dor e produzir alterações benéficas no sistema imune, no eixo HPA e na função autonômica. Entretanto, após uma semana de privação do exercício físico foi OM 36

present a decrease of positive aspects and an increase of negative symptoms during exercise deprivation. Many speculations have been made in an attempt to explain the symptoms of deprivation. Berlin, Kop & Deuster used an experimental group composed by non exercise depen-dent individuals that were deprived of physical exercise for 7 days, and observed the previously described symptoms. The authors argued that perhaps the relationship between decreased training and the onset of depressive symptoms could be partly mediated by physiological and biological changes (e.g., increased coagulation and inflammation markers). In another study by the same authors, the hypothesis was tested and inflammatory markers such as IL6 (interleucin-6), C-reactive protein, fibrinogen and sICAM-1 were analyzed. After 14 days of interruption of routine exercise, the authors did not find changes in those biomarkers, leading to the conclusion that physical exercise deprivation may result in the development of negative changes in mood and fatigue, but not in changes in inflammatory markers. The fact that there was no evidence to support physiological changes in inflammatory markers with physical exercise deprivation may be related to various factors, including the period of deprivation. In fact, there is a wide range of studies that evaluated the deprivation interval, ranging from a single day and going up to 30 days. The study by Niven, Rendell & Chisholm evaluated possible changes in mood and body dissatisfaction in women during a 72 hour period of physical exercise deprivation. The study had 58 participants who exercised at least four times a week. After the deprivation period, the subjects felt indisposed and presented a decrease in well-being, and these feelings were accompanied by an increase in tension and body dissatisfaction. Negative mood changes were also observed by Conboy when the author evaluated 61 runners for 10 days of running and 2-5 days of physical exercise deprivation. A great variability in studies is in fact observed when the deprivation period is considered, which may explain the differences


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encontrado aumento de sintomas como dor, fadiga e diminuição da atividade do eixo HPA. Em outro estudo, Aidman & Woollard, observaram o aumento da frequência cardíaca de repouso em corredores de ambos os gêneros após o período de 1 dia de privação do exercício físico. Tal resultado permite a elucidação de um paradoxo bastante interessante quando pontuados benefícios da pratica regular de exercício físico contraposto ao impedimento do mesmo. Isso nos leva a questionar quais seriam os sistemas orgânicos mais sensíveis à privação, uma vez que estudos que avaliaram marcadores inflamatórios, sistema nervoso autônomo e variabilidade da frequência cardíaca não encontraram resultados, ao passo que o estudo com modulação do eixo HPA e o estudo com frequência cardíaca de repouso encontraram. É plausível que praticantes de exercício físico regular, dependentes ou não dependentes de exercício físico, quando privados de realizar sua atividade sofram uma experiência de perturbação dos seus estados de humor, sendo que o dependente enfrenta maiores dificuldades durante a privação. Entretanto é possível que haja realmente pontos mais frágeis em relação ao desenvolvimento desses sintomas apresentados, mas os reais mecanismos envolvidos ainda permanecem pouco elucidados. OS TRANSTORNOS DE IMAGEM CORPORAL E A PRIVAÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO Os transtornos psiquiátricos relacionados à distorção da auto-imagem corporal, como transtornos alimentares ou dismorfia muscular, costumam ser marcados por elevado grau de sofrimento físico e psíquico, sendo associado a perdas sociais e ocupacionais significativas. Entre os transtornos alimentares conhecidos, os principais são anorexia nervosa e bulimia nervosa, sendo que na primeira a prática do exercício físico parece representar um recurso adicional para a perda de massa corporal. Por outro lado, no caso da bulimia nervosa, a compulsão pelo exercício físico está descrito como um potencial no comportamento inadequado compensatório, contribuindo para evitar o ganho de massa corporal. Nessa relação entre o exercício físico e os transtornos

in reported symptoms. Classically, exercise is known to lead to an improved perception of pain levels and to cause beneficial changes in the immune system, HPA axis and autonomic function. However, after a week of physical exercise deprivation there were increased symptoms such as pain, fatigue and decreased activity of the HPA axis. In another study, Aidman & Woollard observed an increase in resting heart rate in runners of both genders after the period of 1 day of physical exercise deprivation. This result clarifies a very interesting paradox when the benefits of regular practice of physical exercise are opposed to its prevention. This leads to questions as to what are the most sensitive organ systems to deprivation, since studies evaluating inflammatory markers, autonomic nervous system and heart rate variability did not find results, while studies with HPA axis modulation and a study of resting heart rate did. It is plausible that people who practice regular physical exercise, dependent or not dependent on physical exercise, when prevented from performing physical activity suffer mood disturbance, while dependent individuals have the greatest difficulties during deprivation. However, it is possible that there in fact are weaker points as to the development of these symptoms, but the actual mechanisms involved remain poorly understood. BODY IMAGE DISORDERS AND DEPRIVATION OF PHYSICAL EXERCISE Psychiatric disorders related to the distortion of body image, such as eating disorders or muscle dysmorphia are often marked by a high degree of physical and mental suffering, and are associated with significant social and occupational harm. Anorexia nervosa and bulimia nervosa are the most widely known eating disorders, and in the first, the practice of physical exercise seems to represent an additional resource for the loss of body mass. In the case of bulimia nervosa, physical exercise compulsion is described as a potential compensatory behavior, helping to prevent body weight gain. The relationship

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EDUCAÇÃO FÍSICA alimentares, alguns estudos já descrevem o excesso de exercício físico como comum entre os praticantes com transtornos alimentares, sendo o exercício físico nessa situação utilizado exclusivamente como ferramenta para perda de massa corporal e melhora da aparência física. No estudo de Mond e cols., conduzido em uma amostra de 3.472 mulheres com idade entre 18-42 anos e que realizavam exercício físico de forma regular, observaram que da amostra total, 322 mulheres utilizavam o exercício físico exclusivamente para controlar ou diminuir a sua massa corporal; 136 mulheres relataram apresentar sentimentos de culpa quando não conseguiam realizar uma sessão do seu treinamento e 116 mulheres apresentavam características de transtornos alimentares. No entanto, como o exercício físico é utilizado exclusivamente como ferramenta para alcançar a massa corporal total desejada, a privação ou impedimento da realização da sua rotina antes de conseguir a massa corporal idealizada poderia contribuir para o aumento de traços obsessivo compulsivos já existentes. Entretanto, após alcançar a massa corporal idealizada, o exercício físico pode perder a sua finalidade, permitindo hipotetizar que o praticante com transtorno de imagem corporal não necessariamente desenvolve compulsão pelo exercício físico. Esta motivação para a magreza é tão pronunciada que pode se afirmar que entre os adolescentes, mais da metade podem estar participando de algum programa de dieta. Ainda nessa perspectiva, 80% das meninas com idade até 18 anos e com índice de massa corporal (IMC) normal, reportaram desejar perder massa corporal. Embora a maioria das atitudes e comportamentos para reduzir a massa corporal total não apresente grandes riscos, a sua presença pode, no entanto, acarretar riscos psicológicos e médicos significativos, sendo associada ao aumento dos riscos subsequentes de desordens alimentares (anorexia e bulimia), o que reforça ainda mais a hipótese. Nesse contexto, atletas do gênero feminino se encontram com maior risco de desenvolver desordens alimentares do que mulheres não atletas com a mesma idade. Os autores apontam, ainda, que a utilização de exercício físico vigoroso com a intenção de queimar calorias foi a forma de controle da massa corporal total mais utilizada pelas mulheres, quer atletas ou não. .Assim, parece bastante razoável que a realização excessiva de exercício

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betwe-en physical exercise and eating disorders, has been described in some studies, and excessive physical exercise is common among participants with eating disorders, being exclusively used as a tool for losing body mass and improving physical appearance. In the study by Mond et al, conducted on a sample of 3,472 women aged 18-42 years who performed exercise on a regular basis, it was observed that from the total sample, 322 women used exercise exclusively to control or decrease body mass, 136 women reported to feelings of guilt when they could not train and 116 women showed signs of eating disorders. However, as exercise is used solely as a tool to achieve the de-sired total body weight, deprivation or prevention to perform the exercise routine before the idealized body weight is achieved could contribute to the increase of obsessive-compulsive traits that already exist. However, the idealized body weight is achieved, the exercise may lose its purpose, leading to the hypothesis that individuals with body image disorder do not necessarily develop physical exercise compulsion. The motivation to be thin is so pronounced that it is possible that more than half of the teenagers may be on a diet program. In this context, 80% of girls with up to 18 years of age and normal BMI, reported a desire to lose body mass. Although most of the measures and behaviors to reduce the total body mass do not present major risks, their presence may cause significant medical and psychological risks associated with increased risk of subsequent eating disorders (anorexia and bulimia), which further corroborates the hyothesis. Female athletes are, thus, at greater risk of developing eating disorders than non-athlete women with the same age. The authors also suggest that the use of strenuous exercise with the intention of burning calories is the most commonly used way of controlling body mass by women, whether athletes or non-athletes. It seems quite reasonable that excessive physical exercise is an important aspect to the emergence of eating disorders, with approximately 80% of anorexia nervosa pa-tients and 55% with bulimia

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físico seja um aspecto importante ao surgimento das desordens alimentares, com aproximadamente 80% dos pacientes com anorexia nervosa e 55% com bulimia nervosa a envolverem-se em exercício físico compulsivo. Dados como esses podem ser reforçados cada vez mais por intermédio de outros estudos que também apontam a relação entre transtornos alimentares e a utilização do exercício físico como ferramenta para manter ou diminuir a massa corporal total. Nesse contexto, Grave, Calugi e Marchesini, avaliaram 165 mulheres que apresentavam transtornos alimentares e foram hospitalizadas para tratamento. Os autores encontraram que do total da amostra, 39,4% foram diagnosticadas com anorexia nervosa, 17,0% com bulimia nervosa, 43,6% foram classificados como transtorno alimentar não especificado e 45,5 % apresentavam compulsão por exercício físico. Durante as 20 semanas de tratamento hospitalar a que as pacientes foram submetidas, elas não podiam realizar exercícios físicos, os autores observaram, ao final do estudo, que a média do IMC das pacientes havia aumentado os episódios bulímicos e os vômitos auto-induzidos haviam diminuído. O que chamou a atenção nesse estudo foi o fato de que 39 mulheres não completaram o tratamento, evidenciando que os transtornos de imagem corporal e o impedimento da realização de exercícios físico pode ter contribuído para a desistência de 23,6% da amostra. Essa preocupação em reduzir a massa corporal tem sido constantemente associada ao gênero feminino, no entanto, esse desejo de magreza já pode ser observado em praticantes de exercício físico do gênero masculino. Walker, Anderson & Hildebrandt, observaram em uma amostra de 549 homens que 63% tinham o desejo de reduzir a sua massa corporal total em média 8,5 kg. Além da diminuição da massa corporal total, o gênero masculino também parece estar associado a outro tipo de transtorno psiquiátrico chamado dismorfia muscular. Trata-se de um subtipo do transtorno dismórfico corporal que ocorre, apesar da grande hipertrofia muscular, os homens se consideram pequenos e fracos. A dismorfia muscular é um transtorno presente quase exclusivamente em homens e que consiste em uma preocupação específica com o volume corporal e com o desenvolvimento dos músculos. O indivíduo portador de dismorfia muscular apresenta distorção da auto-imagem corporal, percebendo seus músculos pouco OM 40

nervosa engaging in compulsive physical exercise. Such data can be even more strengthened through other studies that also indicate a relationship between eating disorders and the use of exercise as a tool to maintain or decrease total body mass. In another study, Grave, Calugas, Marchesini, evaluated 165 women who had eating disorders and were hospitalized for treatment. The authors found that 39.4% of the participants were diagnosed with anorexia nervosa, 17.0% with bulimia nervosa, 43.6% were classified with an unspecified eating disorder and 45.5% had a compulsion to exercise. During 20 weeks of hospital treatment to which patients were submitted they could not perform physical exercise, and the authors observed at the end of the study an increase in the average body mass index (BMI), as well as a reduction in bulimic episodes and self induced vomiting. It is noteworthy that in this study 39 women did not complete treatment, indicating that body image problems and the inability to exercise may have contributed to the withdrawal of 23.6% of the sample. This concern with reducing body mass has been con-sistently associated the female gender, but this desire for thinness can already be observed in exercising males. Walker, Anderson & Hildebrandt, observed in a sample of 549 men that 63% wanted to reduce total body mass, in average, by 8.5 kg. Besides the decrease of total body mass, males also appear to be associated with another psychiatric disorder called muscle dysmorphia. It is a subtype of body dysmorphic disorder that occurs despite large muscle hypertrophy, when men consider themselves small and weak. Muscle dysmorphia is a disorder present almost exclusively in men and that consists in a specific concern with body volume and the muscle development. The individual with muscle dysmorphia has a distorted body image, considering his muscles underdeveloped, despite evident muscle hypertrophy, which causes him to actively seek to increase muscle mass through excessive exercise and use of ergogenic substances and hyperproteic diets.


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desenvolvidos, apesar da visível hipertrofia muscular, o que o leva a procurar ativamente aumentar sua massa muscular com exercícios físicos excessivos e do uso de substâncias ergogênicas e de dietas hiperprotéicas. O comportamento de compulsão ao exercício físico é o maior fator de predição à satisfação corporal e ansiedade física social, essa compulsão parece refletir inclusive no perfil de corpo idealizado pelos homens que é, em média, 12,7 kg mais musculado do que o seu corpo atual. A esta relação com o corpo foi denominada desordem dismórfica do corpo onde, em vez de existir uma insatisfação patológica com uma parte do corpo, o indivíduo encontra-se insatisfeito com a totalidade do mesmo. Os indivíduos com dismorfia muscular, apesar de serem muito musculosos, acreditam que são menos musculosos do que parecem. Esta crença leva o indivíduo a se tornar obcecado com a realização de exercícios físicos, particularmente com a musculação, levando muitas vezes ao uso de recurso ergogênicos como os de esteroides anabolizantes. Segundo McFarland & Kaminski, a distorção da própria imagem contribuiu para o surgimento de sintomas como aumento da ansiedade, depressão, sensibilidade interpessoal e diminuição da auto-estima. Além disso, os autores relacionam que os comportamentos bulímicos e anoréxicos, obsessivo compulsivos, problemas interpessoais e a utilização de substâncias ergogênicas, podem estar associadas com os sintomas da dismorfia muscular, mesmo quando a insatisfação corporal já foi controlada. Como essa motivação para a magreza já pode ser observado em ambos os gêneros, existe a necessidade de entender o que motiva esses praticantes a utilizarem diversos recursos para atingir o peso idealizado. Nessa ótica, a pressão existente da mídia e da sociedade em geral em relação ao “físico ideal”, tem sido constantemente elencada como principais vilões em relação ao culto do corpo ideal. Fallon & Hausenblas utilizaram em seu estudo uma amostra de 63 mulheres que foram distribuídas em 4 grupos, sendo 2 grupos experimentais e 2 controle. O objetivo dos autores era verificar as possíveis variações de humor desenvolvidas pelo contato com imagens, do que poderia ser considerado como “físico ideal feminino” e com imagens consideradas “neutras”, observando o papel do exercício físico agudo aeróbio nessa variação. No desenho experimental do

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Compulsive exercise behavior is the strongest predictor for body satisfaction and social physical anxiety, and the compulsion seems to be reflected on the ideal body profile for men, which is on average 12.7 kg more muscular than the actual body. This relationship with the body is called a dysmorphic body disorder, where, instead of there being a pathological dissatisfaction with a part of the body, the individual is dissatisfied with the entire body. Individuals with muscle dysmorphia, despite being very muscular, believe they are less muscular than they seem. This belief causes the individual to become obsessed with exercise training, particularly strength training, often leading to the use of ergogenic substances such as anabolizing steroids. According to McFarland & Kaminski, the distortion of one’s own image contributed to the emergence of symptoms such as increased anxiety, depression, interpersonal sensiti-vity and reduced self-esteem; in addition, the authors relate that anorexic and bulimic behaviors, obsessive compulsive behaviors, interpersonal problems, and the use of ergogenic substances may be associated with symptoms of muscle dysmorphia, even when dissatisfaction with the body has been controlled. As the motivation to be thin can already be observed in both genders, there is a need to understand what motivates these individuals to use various resources to achieve the idealized weight. From this standpoint, the pressure of the media and the society in general in relation to an “ideal physique” has been consistently cast as the main villain in relation to the cult of an ideal body. Fallon & Hausenblas, in their study, used a sample of 63 women who were divided into four groups (2 experimental and 2 control groups). The goal was to verify possible mood swings developed by contact with images of what might be regarded as “feminine physical ideal” and images considered “neutral”, and to observe the role of acute aerobic exercise on this. In the experimental design of the study, both groups had contact with the images and answered questionnaires about their

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estudo, ambos os grupos tiveram contato com as imagens e responderam a questionários de humor, sendo que o grupo controle respondeu os questionários antes e após à exposição às imagens, e o grupo experimental, além de ter contato com as mesmas imagens e responder aos questionários, realizou também 30 minutos de exercício físico aeróbio em esteira ergométrica, preenchendo os mesmos instrumentos antes e após o mesmo contato. Embora não tenham sido encontradas diferenças entre os grupos, os autores pontuam que quando em contato com imagens relacionadas ao “físico ideal”, eles apresentaram sintomas de aumento de raiva, depressão e insatisfação corporal. Isso sugeriu que, no caso do grupo experimental, o exercício físico não foi efetivo enquanto estratégia para evitar o desenvolvimento de alterações nos estados de humor negativo, nem pôde evitar a diminuição da distorção da percepção da própria imagem corporal das voluntárias. Esses resultados fizeram os autores concluir que os transtornos de imagem corporal parecem influenciar muito das alterações observadas em praticantes de exercícios físicos excessivos. Compreender, portanto, as motivações para a prática do exercício físico, de forma excessiva, pode contribuir para entender como a privação vai influenciar no funcionamento psicossocial desse praticante com transtorno de imagem

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mood. The control group answered the questionnaires before and after exposure to the images, and the experimen-tal group as well as having been exposed to the same images and answering the questionnaires, also held 30 minutes of aerobic exercise on a treadmill, filling the same instruments before and after the contact. Although no differences were found between the groups, the authors point out that when in contact with images related to the “physical ideal”, the women showed symptoms of increased anger, depression and body dissatisfaction, suggesting that in the experimental group, exercise was not effective as a strategy to avoid changes in negative mood states, nor could it prevent the decrease of body image distortion of the volunteers. These results made the authors conclude that the problems of body image appear to greatly influence the changes observed in individuals who exercise in excess. Therefore, understanding the motivations for the practice of excessive exercise can help to understand how deprivation affects the psychosocial functioning of the individual with body image disorder, in addition, excessive exercise can be one of the indicating factor of individuals with body image disorder.

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corporal. Ademais, o seu excesso pode ser um dos fatores utilizados como indicador de indivíduos com transtorno de imagem corporal. LIMITAÇÕES DOS ESTUDOS SOBRE A PRIVAÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO A avaliação da dependência do exercício físico e, consequentemente, dos efeitos da sua privação pode ser realizada por intermédio de medidas qualitativas (estudos de casos, entrevistas) e quantitativas (questionários de auto relato que avaliam as possíveis alterações de comportamento e distúrbios de humor). Entretanto, mesmo com a utilização dessas medidas, alguns autores apontam limitações nas metodologias utilizadas nas pesquisas. Sobre a privação do exercício físico é possível listar, como limitação para a implementação de estudos nessa linha, a falta de estudos com dependentes primários (motivado intrinsecamente a realizar o exercício físico) e secundários (motivado extrinsecamente a realizar o exercício físico, sendo associado inclusive a distúrbios alimentares e de imagem corporal), a falta de controle das possíveis variações diurnas em relação aos estados de humor durante a privação, a dificuldade de recrutamento, o período de privação a que o sujeito será exposto, a falta de estudos de privação com participantes em seu ambiente natural e a época do estudo. Além disso, a dificuldade no recrutamento de participantes voluntários dificulta uma melhor analise dos efeitos da privação do exercício físico nos estados psicológicos e fisiológicos, vez que a privação voluntária do exercício físico permitiria uma investigação mais sistemática da relação entre exercício físico e os sintomas relacionados com a sua privação. Limitações como essas evidenciam como a concepção dos estudos sobre a privação do exercício físico é variada, tornando difíceis as comparações entre os estudos, por exemplo, os participantes dos estudos variavam entre atletas e praticantes regulares de exercício físico. Portanto, um maior aperfeiçoamento dessas escalas, ou o desenvolvimento de instrumentos mais sensíveis, são necessários para que as investigações possam avançar nos estudos sobre a privação do exercício físico.

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LIMITATION OF STUDIES ON THE DEPRIVATION OF PHYSICAL EXERCISE The assessment of physical exercise dependence and therefore the effects of physical exercise deprivation can be done through qualitative measures (case studies, interviews) and quantitative (self reported questionnaires that assess pos-sible changes in behavior and mood disorders). However, even with the use of these measures, some authors point to the limitations of research methodologies. On the deprivation of exercise, it is possible to list as limitation for the implementation of studies in this line, the lack of studies with primary dependent individuals (intrinsically motivated to perform physical exercise) and secondary (extrinsically motivated to perform physical exercise, being associated with eating and body image disorders), lack of control of possible diurnal mood variation during deprivation, difficulty in recruitment, the deprivation period to which the subjects will be exposed, the lack of deprivation studies with participants in their natural environment and the time of study. Moreover, the difficulty in recruiting volunteer par-ticipants hinders a better analysis of the effects of deprivation of physical exercise on physiological and psychological states, since the voluntary withdrawal of exercise would allow a more systematic investigation of the relationship between physical exercise and symptoms related exercise deprivation. Limitations such as these show how the design of studies on exercise deprivation is varied, making comparisons difficult betwen studies. For example, participants in the studies ranged between athletes and individuals who practiced regular exercise. Therefore, a further refinement of these scales and the development of more sensitive instruments are needed so that investigations can proceed in tudies on exercise deprivation.


EDUCAÇÃO FÍSICA

CONCLUSÃO De acordo com os estudos utilizados neste artigo, pode-se concluir que praticantes com dependência de exercício físico desenvolvem uma necessidade de se exercitar de forma incontrolável e obsessiva. Quando privados de realizar essa atividade desenvolvem diversas alterações negativas sobre os aspectos fisiológicos e psicológicos. Nessa mesma linha de raciocínio, praticantes com transtorno de imagem corporal também enfrentam grandes dificuldades durante a privação, já que utilizam o exercício físico para perda ou aumento do volume corporal, na tentativa de diminuir o seu sofrimento físico e psíquico já desenvolvido devido à distorção da própria imagem corporal. Nesse contexto é importante salientar que as alterações psicológicas e fisiológicas desenvolvidas durante a privação do exercício físico podem aparecer após 24-48 horas de sua privação. Tanto homens como mulheres desenvolvem sintomas semelhantes durante a sua privação. Outro aspecto importante encontrado nas pesquisas são as limitações metodológicas como, por exemplo, a dificuldade de recrutamento de voluntários, o período de privação, a utilização de voluntários dependentes e a falta de controle das variáveis circadianas, onde o seu controle auxiliará na percepção de como a privação pode influenciar no funcionamento psicossocial. Finalmente é possível concluir que, com base nos estudos encontrados nessa revisão, praticantes com dependência de exercício físico e/ou transtornos de imagem corporal durante a privação do exercício físico podem desenvolver alterações de comportamento, alterações fisiológicas e distúrbios de humor.

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CONCLUSION According to the studies used in this review, we can conclude that exercise dependent individuals develop an un-controllable and obsessive need to exercise, and that when prevented from performing this activity they develop several negative changes on physiological and psychological aspects. Similarly, individuals with body image disorder also face great difficulties during deprivation, since they use physical exercise to increase or lose of body volume in an attempt to reduce their physical and psychic suffering developed due to body image distortion. In thi context, it is important to note that psychological and physiological changes developed during physical exercise deprivation may appear after 24-48 hours of exercise depriva-tion, and that both men and women develop similar symptoms during physical exercise deprivation. Another important aspect found in the researches are the methodological limitations, such as the difficulty to recruit volunteers, the deprivation period, the use of dependent volunteers and the lack of control of circadian variables. The control of these variables will assist in the detection of how deprivation may influence psychosocial functioning. Finally, we conclude on the basis of the studies in this review, that individuals with exercise dependence and/ or body image disorders may develop behavioral changes, physiological changes and mood disorders during physical exercise deprivation.

Hanna Karen Moreira Antunes – Doutora. Professora. Felipe Lopes Terrão – Graduado. Especialista. Marco Túlio de Melo – Pós-doutor. Professor.

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NEUROLOGIA

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Estudo liga remédios para renite e insônia a maior risco de demência.

Dementia ‘linked’ to common over-the-counter drugs.

m estudo ligou medicamentos usados regularmente, incluindo remédios contra insônia, depressão e rinite alérgica, à demência. Pesquisadores da Universidade de Washington acompanharam a saúde de 3.434 pessoas com 65 anos ou mais que não tinham sinais de demência no início do estudo. Eles observaram registros médicos e de medicamentos para determinar quantos tinham ingerido remédios com o efeito anticolinérgico, quais as doses e quantas vezes. Então, compararam esses dados com diagnósticos subsequentes de demência nos 10 anos seguintes. O estudo, divulgado na publicação científica Jama Internal Medicine, apontou que doses mais elevadas e o uso prolongado destes medicamentos estavam ligados a um risco maior de demência em idosos. O perigo aumentava se o consumo fosse diário por três anos ou mais. Todos os medicamentos listados têm efeito anticolinérgico, que bloqueiam um neurotransmissor chamado acetilcolina. Os mais usados foram os antidepressão, tratamentos anti-histamínicos para alergias, como rinite, ou contra a insônia, e para tratamento de incontinência urinária. A maioria dos remédios só é vendida com prescrição médica. Todo medicamento pode ter efeito colateral, e as bulas destes remédios alertam para a possibilidade de redução da capacidade de atenção e memória, e boca seca. Mas pesquisadores disseram que usuários deveriam estar

tudy has linked commonly used medicines, including over-the-counter treatments for conditions such as insomnia and hay-fever, to dementia. All of the types of medication in question are drugs that have an “anticholinergic” effect. Experts say people should not panic or stop taking their medicines. In the US study in the journal JAMA Internal Medicine, higher doses and prolonged use were linked to higher dementia risk in elderly people. The researchers only looked at older people and found the increased risk appeared when people took drugs every day for three years or more. Side-effects All medicines can have side-effects and anticholinergic-type drugs that block a neurotransmitter called acetylcholine are no exception. Patient information leaflets accompanying such drugs warn of the possibility of reduced attention span and memory problems as well as a dry mouth. But researchers say people should also be aware that they may be linked to a higher risk of developing dementia. Dr Shelly Gray and colleagues from the University of Washington followed the health of 3,434 people aged 65 and older who had no signs of dementia at the start of the study. They looked at medical and pharmacy records to determine how many of the people had been given a drug with an anticholinergic effect, at what dose and how often and compared this data with subsequent dementia diagnoses

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NEUROLOGIA cientes de que eles podem estar ligados a um risco maior de demência. O estudo Ao longo do estudo, 797 dos participantes desenvolveram demência. O estudo estimou que as pessoas que tomaram pelo menos 10 mg/ dia de doxepin (antidepressivo), 4 mg/dia de difenidramina (auxílio para dormir), ou 5 mg/dia de oxibutinina (contra incontinência urinária) por mais de três anos teriam um risco maior de desenvolver demência. Os pesquisadores disseram que médicos e farmacêuticos poderão adotar uma abordagem preventiva e oferecer tratamentos diferentes como consequência do estudo. E, quando não houver alternativa, poderiam dar a menor dose pelo menor tempo possível. Alguns dos participantes do estudo concordaram em serem submetidos a uma autópsia após a morte, disse a médica Shelly Gray, que participou do estudo. “Vamos analisar a patologia cerebral e ver se podemos encontrar um mecanismo biológico que pode explicar os nossos resultados”. Simon Ridley, chefe de pesquisa do grupo britânico Alzheimer’s Research UK, disse que o estudo é interessante, mas não definitivo, já que, segundo ele, não há evidências de que essas drogas causem demência. Já Doug Brown, da Sociedade de Alzheimer da Grã-Bretanha, disse: “Há preocupações de que o uso regular de certos medicamentos com efeitos anticolinérgicos, como soníferos e tratamentos de rinite, por pessoas mais velhas pode aumentar o risco de demência em determinadas circunstâncias, o que é apoiado por este estudo”. “No entanto, ainda não está claro se este é o caso, ou se os efeitos observados são resultado do uso a longo prazo ou vários episódios de curto prazo. É necessária uma pesquisa mais robusta para entender quais são os potenciais perigos, e se algumas drogas são mais propensas a terem este efeito do que outras. “Gostaríamos de incentivar que médicos e farmacêuticos estejam cientes desta potencial ligação e aconselhem qualquer pessoa preocupada a falar com seu médico antes de parar com qualquer medicação”.

Fonte: Michele Robert, Health Editor, BBC News on line

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over the next decade. Drugs in the study The US study does not name specific brands, but does outline the types of treatments investigated, which include: Most of the drugs were given on prescription, rather than bought at the pharmacy over-the-counter. The most commonly used anticholinergic-type drugs were medicines for treating depression, antihistamines for allergies such as hay-fever or to aid sleep/promote drowsiness, and drugs to treat urinary incontinence. Nearly a fifth were drugs that had been bought over the counter. Over the course of the study, 797 of the participants developed dementia. ‘Not causal’ The study estimated that people taking at least 10 mg/day of doxepin (antidepressant), four mg/day of diphenhydramine (a sleep aid), or five mg/day of oxybutynin (a urinary incontinence drug) for more than three years would be at greater risk of developing dementia. The researchers say doctors and pharmacists might want to take a precautionary approach and offer different treatments instead. And when there is no alternative, they could give the lowest dose for the shortest time possible. Dr Gray says some of the study participants have agreed to have an autopsy after their death. “We will look at the brain pathology and see if we can find a biological mechanism that might explain our results.” Dr Simon Ridley, head of research at Alzheimer’s Research UK, said the study was interesting but not definitive - there was, he said, no evidence that these drugs cause dementia. Dr Doug Brown, from the UK’s Alzheimer’s Society, said: “There have been concerns that regular use by older people of certain medications with anticholinergic effects, such as sleep aids and hay-fever treatments, can increase the risk of dementia in certain circumstances, which this study supports. “However, it is still unclear whether this is the case and if so, whether the effects seen are a result of long-term use or several episodes of short-term use. More robust research is needed to understand what the potential dangers are, and if some drugs are more likely to have this effect than others. “We would encourage doctors and pharmacists to be aware of this potential link and would advise anyone concerned about this to speak to their GP before stopping any medication.” He said the charity was funding more research in this area to better understand any connections between these and other drugs on the development of dementia. The Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency, which monitors the safety of medicines in clinical use in the UK, said it would review any new evidence. Drug company Johnson & Johnson Ltd said many hay-fever products sold in the UK now contain newer, second generation antihistamines - not the type looked at in the study. Matthew Speers, who represents the UK trade association for manufacturers of over-the-counter drugs, said: “Over-the-counter allergy and sleeping aid products are not intended to be used continuously and people are advised to talk to their pharmacist or doctor if they need to use these products long-term. “There are a range of allergy products on the market which contain a number of different ingredients, many of which were not considered in this study.” Source: Michele Robert, Health Editor, BBC News on line; 47 OM


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NUTRIÇÃO

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Dietas personalizadas podem ajudar a perda de peso.

In search of a personalised diet.

ientistas testaram dietas específicas para diferentes perfis de ‘comilões’. Cientistas britânicos dizem ter identificado, entre as pessoas que comem em excesso, três perfis distintos de “comilões”. Eles testaram dietas específicas para cada grupo e, com base nos resultados, estão esperançosos de que uma abordagem personalizada venha transformar os tratamentos para obesidade no futuro. O experimento, envolvendo especialistas das universidades de Cambridge e Oxford, na Grã-Bretanha, foi tema de um documentário apresentado nesta semana pela BBC. Tradicionalmente, janeiro é um mês em que muitos iniciam - e abandonam - dietas bem intencionadas para perder o excesso de peso. Segundo a equipe britânica, a falta de sucesso da maioria dessas dietas não tem nada a ver com a força de vontade dos envolvidos e, sim, com as características particulares a cada indivíduo: sua herança genética, seus hormônios e a psicologia de cada um. Portanto, solução é, em vez de optar por uma dieta padrão, cada pessoa deve seguir uma dieta feita sob medida para suas necessidades. A teoria foi posta à prova em um experimento envolvendo 75 pessoas de várias cidades britânicas que foram monitoradas em suas casas durante três meses. Os participantes foram divididos em três categorias: aqueles que acham difícil parar de comer, aqueles que têm vontade de comer o tempo todo e os que comem por razões emocionais - quando estão estressados ou ansiosos.

orget the latest weight-loss fad - science may already have worked out what diet is best for you. Experts say a personalised approach could transform the way people lose weight. January is a month when many go on a post-Christmas purge and start dieting. It’s also the month when many fail and go back to their bad eating habits. Scientists say this isn’t just down to a lack of willpower. It is due to a person’s individual make-up - their genes, hormones and psychology. The latest weight-loss theory is that instead of reaching for a one-sizefits-all diet, people should follow one that is tailored to their individual needs. For the first time leading obesity experts and BBC Science have put this theory to the test nationally. Over three months, 75 dieters were put through a series of tests and monitored at home. The study was overseen by scientists from Oxford and Cambridge and their research teams. The study looked at three types of overeaters. Feasters who find it hard to stop eating once they start, constant cravers who feel hungry all of the time and emotional eaters who turn to food when they get stressed or anxious. When it comes to feasters, research shows hormones play a big part in their eating habits. In particular, they produce low levels of certain gut hormones that are released when food arrives in the intestines. These chemical signals travel through the blood to the brain and tell the body when it has had enough food and should stop eating. “Some people have astonishingly low levels of certain gut hormones and are not getting those signals,” says Susan Jebb, a professor of diet and population at Oxford University.

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NUTRIÇÃO Sem Parar Segundo a equipe britânica, baixos níveis de certos hormônios poderiam ajudar a explicar o comportamento de pessoas que, quando começam a comer, não conseguem parar. Quando uma pessoa come, assim que o alimento chega ao intestino, esses hormônios são liberados e viajam pelo sangue até o cérebro, sinalizando para o organismo que a pessoa já ingeriu o suficiente e, portanto, pode parar de comer. “Algumas pessoas têm níveis incrivelmente baixos de certos hormônios do intestino e não recebem esses sinais”, diz Susan Jebb, da Oxford University Desejo Constante Os pesquisadores identificaram, entre as pessoas que comem excessivamente, o grupo daquelas que sentem vontade de comer o tempo todo. Com frequência, os “cérebros famintos” desses indivíduos as levam a buscar alimentos gordurosos e cheios de açúcar. Baixos níveis de certos hormônios podem ajudar a explicar alguns comportamentos alimentícios Esse comportamento teria raízes genéticas: determinados genes interferem na forma como o corpo sinaliza para o cérebro que a pessoa já pode parar de comer, induzindo o cérebro a “pensar” que os estoques de gordura do organismo precisam ser repostos continuamente. “O papel dos genes na perda de peso é inquestionável e graças a mudanças na tecnologia estamos começando a descobrir que genes são esses”, disse Giles Yeo, da Cambridge University. Conforto na Comida Em situações de estresse e ansiedade, a pessoa que come por razões emocionais procura algum tipo de recompensa, ou conforto, no alimento. “As pessoas pensam que fazer dieta é uma questão de força de vontade”, diz Jebb. “Não é por aí. Dietas são uma questão de hábito. Nunca soube de um estudo que concluiu que as pessoas podem perder peso por meio de força de vontade. O que elas podem fazer é mudar seus hábitos”. Então, que tipo de dieta cada um desses três grupos deveria seguir para perder peso?

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Constant cravers always want to eat and their “hungry brains” often want fatty and sugary foods. Scientists know certain genes make people this hungry. They disrupt the way signals are sent to the brain telling it to stop eating, tricking it into thinking fat stores continually need replenishing. “The role genes play in losing weight is unequivocal, but due to changes in technology we are beginning to find out what these genes are,” says geneticist Dr Giles Yeo, from Cambridge University. Emotional eaters reach for food when they are stressed or anxious. When the brain perceives a person is in difficulty, it triggers changes to the body, like the heart rate increasing. This stressed state makes it even harder for people to overcome what they are facing. This sort of eater has developed habits that are hard to break and in stressful times their brains seek out a reward. “People often think diets are about willpower,” says Jebb. “Forget that, diets are about habits. There has never been a study that says people can will themselves to lose weight, but they can change their habits.” So, what diet should each group follow to successfully lose weight? Feasters need a diet that makes them feel full for as long as possible. Scientists suggested a high protein, low glycaemia index (GI) diet. These are foods that boost gut hormone signals and include fish, chicken, basmati rice, lentils, grains and cereals. No potatoes or bread because they don’t make people feel full for very long. “Protein and carbs that are not absorbed quickly are absorbed lower down the gut, producing more hormones that make us feel fuller,” says gut hormone specialist Prof Fiona Gribble, from Cambridge University. Constant cravers have genes that make them feel hungry most of the time. As a result they struggle to diet for seven days a week. Instead they were told to drastically reduce their diet to 800 calories on two days of the week. They ate normally, but healthily, for the other five. This is often called intermittent fasting. “Constant cravers have the toughest job as they have a strong predisposition to being overweight,” says Jebb. “The fasting diet should shock their bodies into burning fat.” “My relationship with food has been quite negative in the past. I now know that is a result of being deliberately deprived of food when I was very small. I would often only be given bread soaked in water. It has taken

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Três Dietas O grupo dos que começam e não param mais de comer seguiu uma dieta cujo objetivo era fazer com que se sentissem satisfeitos o maior tempo possível. Ou seja, uma alimentação rica em proteína e com baixo Índice Glicêmico (alimentos cujo açúcar é absorvido mais lentamente pelo organismo). Por exemplo, peixe, frango, arroz basmati, lentilha, grãos e cereais. Segundo os especialistas, esses alimentos melhoram a sinalização feita pelos hormônios do intestino. A batata não é indicada, já que o açúcar da batata é absorvido muito depressa. “Proteínas e carboidratos de absorção mais lenta são absorvidos mais adiante no intestino, levando à produção, em maior quantidade, dos hormônios que nos fazem sentir mais cheios”, diz a especialista em hormônios do intestino Fiona Gribble, da Cambridge University. Pessoas que sentem vontade de comer o tempo todo têm dificuldade em seguir dietas sete dias por semana. Em vez disso, a equipe recomendou que reduzissem drasticamente a quantidade de calorias ingeridas (para apenas 800 calorias diárias) durante dois dias por semana. Nos outros cinco dias, o grupo foi orientado a comer normalmente, porém de forma saudável. Esta dieta é conhecida como jejum intermitente. Tentações estão por toda a parte “Pessoas que constantemente desejam comida têm mais dificuldade (em perder peso), já que têm forte predisposição a ser obesas”, diz Jebb. “O objetivo dessa dieta é colocar seus corpos em estado de choque para que queimem gordura”. Indivíduos que buscam conforto emocional na comida fazem isso por hábito - e esse hábito é difícil de ser rompido, dizem os cientistas. Além de adotarem uma dieta saudável, foram orientados a integrar grupos de apoio na internet e frequentar reuniões. O objetivo dessas estruturas de apoio era encorajá-los e motivá-los a perseverarem em suas dietas. Também receberam sessões de Terapia Cognitiva Comportamental para ajudá-los a compreender os pensamentos e comportamentos associados à forma como se alimentavam. OM 50

a long time to realise the effect this has had on the way I eat. The study made me realise food was controlling me, now it is the other way round. “Getting support was an essential part of that, weekly meetings were a big help for me. I feel relieved at being classified as an emotional eater because it gives you a footing from which to continue, unless you can see what the issue is you’ve really got no hope of changing. “I lost 1st 11lb (11.3kg) over the 12 weeks and my total weight loss now is 3st 1lb (19.5kg). As my size goes down, my confidence and belief in myself goes up.” Emotional eaters have established bad habits that are hard to break. As well as following a healthier diet, group support was important for them. Encouragement can trigger the motivational part of the brain that helps people overcome stress. By being part of online support groups and attending weight-loss meetings, they were encouraged to stick to their diets. They also had cognitive behavioural therapy to help manage the thoughts and behaviour associated with emotional eating. The study also confirmed other behaviour that could help people in all groups to lose weight. • Eat slowly. This can increase the level of the gut hormones that tell the brain to stop eating • Always eat breakfast. It decreases cravings for bad food. Three quarters of successful dieters have breakfast, says Yeo • Soup makes you feel fuller. Thick soup stretches the stomach and crucially stays there longer. Scientists say it fills you up more than solid vegetables • Tiredness messes with decision making and can increase a desire for unhealthy foods. Recognise this and make shopping lists when you are not hungry The study also put to the test popular beliefs about the effect of exercise and people’s metabolic rate when it comes to dieting, busting ne dieting myth.


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Dicas Úteis O estudo britânico confirmou outras práticas que podem ajudar pessoas de todos os grupos a perderem peso. • Coma devagar. Isso pode aumentar os níveis de hormônios do intestino que dizem ao cérebro que é hora de parar de comer. • Sempre tome café da manhã. Isso diminui o desejo de comer alimentos pouco saudáveis. 75% das pessoas que tiveram sucesso em suas dietas tomam café da manhã, diz Yeo. • Sopa faz você se sentir mais cheio. Especialistas dizem que uma sopa espessa deixa você mais satisfeito do que legumes sólidos. • Cansaço atrapalha a tomada de decisões e pode aumentar o desejo por comidas pouco saudáveis. Tenha consciência disso e não faça a lista do supermercado quando estiver cansado e com fome. Rompendo Mitos Crenças populares relacionadas ao efeito de exercícios e do índice metabólico do indivíduo sobre a dieta também foram testadas - e derrubadas - pelo experimento. Exercícios podem ajudar a pessoa a perder peso, mas com frequência ela fica menos ativa depois de se exercitar, o que anula grande parte dos benefícios que a atividade física teria trazido. A forma mais efetiva de se perder peso é quase sempre mudar a dieta, os cientistas ressaltam. Outro grande mito associado a dietas é o efeito do índice metabólico sobre a perda de peso, diz Jebb. O índice metabólico tem a ver com a velocidade com a qual seu organismo digere o alimento e o transforma em energia. Esse processo pode ser afetado por muitos fatores, como a idade, gênero e tamanho. Com frequência, pessoas obesas acham que não conseguem perder peso porque têm um metabolismo lento, e que pessoas magras têm metabolismos mais rápidos. “O que sabemos é que pessoas maiores têm índices metabólicos mais rápidos, isso porque têm corações e pulmões maiores”, diz Jebb. “São necessárias mais calorias para manter seus corpos em funcionamento, é como um carro maior que usa mais combustível”. A pesquisadora explica que o índice metabólico diminui à medida que você perde peso. Um teste feito como parte do estudo mostrou que, em média, o índice metabólico de todos os participantes caiu 5% à medida que eles emagreceram. Essa “contra-partida biológica” dificulta a perda de peso a longo prazo para todas as pessoas. É por isso que o peso de uma pessoa que faz dieta se estabiliza a partir de um ponto. Os três grupos foram desafiados a diminuir em 5% seu Índice de Massa Corporal (IMC, fórmula que se baseia na altura, sexo e idade de uma pessoa para determinar seu peso ideal) - mas acabaram perdendo 8%. Coletivamente, os 75 participantes perderam 654 kg. O grupo dos que que sentiam desejo constante de comer teve mais dificuldade. A categoria dos que não conseguem parar foi a que perdeu mais peso. Todos expressaram alívio ao compreender por que tinham tanta dificuldade em emagrecer. “Finalmente entenderam por que sua estrutura biológica trabalhava contra eles e isso lhes deu mais controle e auto-confiança”, diz Yeo. A equipe britânica ressalta que a ciência das dietas personalizadas ainda engatinha, mas diz que a nova abordagem tem grande potencial.

It found exercise can help people lose weight, but there is a catch. Often they are less active afterwards, negating much of the hard work they have done. The most effective way to lose weight is nearly always to change your diet, say the scientists. But one of the great myths of dieting is the role of the metabolic rate, says Jebb. This is the speed you break down food and change it into energy. It can be affected by many factors, such as age, gender and size. Often overweight people think they can’t lose the pounds because they have a slow metabolism and slim people have a fast one. “What we know is bigger people actually have a higher metabolic rate; that’s because they have bigger heart and lungs,” says Jebb. “It takes more calories to keep their bodies ticking over. It’s rather like a big car that uses more fuel.” The metabolic rate goes down the more weight you lose, she adds. One test conducted as part of the study showed on average the metabolic rate of all dieters went down by 5% as they got slimmer. This “biological backlash” makes it harder for everyone to lose weight over time. It’s why a dieter’s weight often plateaus. The three groups were challenged to lose 5% of their body mass - in fact, they lost 8%. It was a collective loss of 103 stones (654kg). Constant cravers had the toughest job and feasters lost the most. Importantly, dieters expressed huge relief at finding out why it was so hard to lose weight. “They finally understood why their biology was working against them and that is very empowering,” says Yeo. It is still early days for the science of personalised diets but there is huge potential is for this approach, say the experts.

Fonte: Emma Ailes, BBC News

Source: Emma Ailes, BBC News; 51 OM


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NEUROLOGIA

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O jovem que vive em ‘déjà vu’ constante.

Terrifying time loop: The man trapped in constant deja vu.

ma das teorias é que déjà vu seria causado por pequenos espasmos no cérebro. O caso extraordinário de um britânico de 23 anos que há oito anos tem experimentado episódios de déjà vu com grande frequência tem intrigado médicos e cientistas. E a suspeita de um grupo de pesquisadores do Reino Unido, França e Canadá é que o problema tenha sido desencadeado por um excesso de ansiedade. Déjà vu (que significa “já visto” em francês) é a expressão usada para descrever aquela sensação de que você já esteve em determinado lugar ou já fez a mesma coisa antes, ainda que o senso comum lhe garanta que isso não é possível. Pesquisas indicam que cerca de dois terços das pessoas experimentam essa sensação pelo menos uma vez na vida, mas se sabe muito pouco sobre suas causas. O jovem britânico com déjà vu crônico chegou a ter de evitar assistir televisão, ouvir rádio ou ler jornais, porque ele sempre sentia que já tinha se deparado com aquelas histórias antes. Segundo Chris Moulin, neuropsicólogo cognitivo da Universidade de Bourgogne que está envolvido no estudo do caso, o jovem tinha um histórico de depressão e ansiedade e uma vez usou a droga LSD na universidade, mas era completamente saudável.

ome researchers believe deja vu is caused by neurons “misfiring” in the brain. Scientists believe the extraordinary case of a 23-year-old British man with “constant deja vu” may have been triggered by anxiety. It is the first time such a link has been made. But what is deja vu - and do we really know what causes it? Most of us know the feeling - the fleeting sensation that you have been somewhere or done something before, when common sense tells you that is not possible. The term deja vu translates literally from French as “already seen”.

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Start Quote Some people with persistent deja vu greet you like an old friend, even though they’ve never seen you before” Dr Chris MoulinCognitive Neuropsychologist According to research, about two thirds of us experience at least one deja vu in our lifetime, yet very little is known about what causes it. The group of scientists from the UK, France and Canada who studied the strange case of the man with “chronic deja vu” think one possible cause of the phenomenon could be anxiety. The man’s condition was so persistent he avoided watching television,



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NEUROLOGY listening to the radio and reading newspapers because he felt he had “encountered it all before”. Dr Chris Moulin, a cognitive neuropsychologist at the University of Bourgogne who worked on the study, says the man had a history of depression and anxiety, and had once taken the drug LSD whilst at university, but was otherwise completely healthy. “This man was striking because he was young, otherwise aware, but completely traumatised by this constant sensation that his mind was playing tricks,” he says. Frightening time loop

“Ele ficou completamente traumatizado com essa sensação constante de que sua mente está brincando com ele”, diz Moulin. Túnel do tempo Segundo o neuropsicólogo, a sensação de que o paciente está revivendo experiências pode durar alguns minutos - às vezes até mais. “Certa vez ele foi cortar o cabelo e, quando entrou na barbearia, teve um déjà vu. Em seguida, teve um déjà vu do déjà vu. E já não conseguia mais pensar em outra coisa.” O britânico diz ter a sensação de que vive preso em um túnel do tempo. E quanto mais angustiado fica, maior parece ser a frequência de suas crises. Segundo os pesquisadores, nas tomografias e exames de seu cérebro, tudo sempre pareceu normal, sugerindo que a causa do déjà vu constante provavelmente é mais psicológica que neurológica. “Esse caso não é suficiente para provar que existe uma ligação entre ansiedade e a sensação de déjà vu, mas ele indica que seria interessante estudar mais a fundo essa relação”, diz Moulin. Ao contrário dos problemas de memória, o déjà vu parece ter maior incidência entre pessoas jovens. Britânico chega a ter déjà vu do déjà vu Teorias Há várias teorias que tentam explicar as causas do déjà vu. Akira O’Connor, psicólogo da Universidade de St Andrews, por exemplo, acredita que, na maioria dos casos, a sensação está ligada a uma espécie de “falha de ignição” momentânea nos neurônios no cérebro, que criaria conexões falsas. “O déjà vu pode ser uma espécie de tique do cérebro. Da mesma forma que temos espasmos musculares ou contrações das pálpebras de vez em quando, pode ser que, às vezes, a parte do cérebro responsável pela memória e sensação de familiaridade tenha uma pequena convulsão”, diz O’Connor. Isso ajudaria a explicar por que o que déjà vu é mais frequentemente entre pessoas que têm epilepsia ou algum tipo de demência. Outra teoria, desenvolvida pela professora Anne Cleary, da Colorado State University, é que a sensação seria causada pela existência de algo genuinamente familiar no entorno de quem a experimenta - como o formato de uma estrutura ou a disposição dos móveis de uma sala. OM 54

For minutes, and sometimes even longer, the patient would feel that he was reliving experiences. He likened the “frightening” episodes to being in the psychological thriller film Donnie Darko. “There was one instance where he went to get a haircut. As he walked in, he got a feeling of deja vu. Then he had deja vu of the deja vu. He couldn’t think of anything else,” says Dr Moulin. For eight years, the man felt “trapped in a time loop”. The more distressed he became by the experience, the worse it seemed to get. Haven’t I read this before? The term deja vu was coined in 1876 by the French philosopher Emile Boirac. It is the overwhelming sense that you have already experienced something before. But there are other, lesser known, phenomena which are thought to be related. Jamais vu - translated as “never seen”, this is the sense that something which should be familiar is alien, for example a common word which suddenly seems strange. Presque vu - translated as “almost seen”, this is the sense of being on the edge of an epiphany or realisation, for example recalling a memory. Déjà entendu - translated “already heard”, this is the sense of feeling sure you have heard something before, like a snippet of conversation or a musical phrase. Brain scans appeared normal, suggesting the cause was psychological rather than neurological. Whilst this case on its own does not prove a link between anxiety and deja vu, it raises an interesting question for further study, Dr Moulin says.


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Para testar sua hipótese, Cleary desenvolveu um jogo de realidade virtual computadorizado chamado “Deja-ville”, em que as pessoas navegam por cenários semelhantes. A natureza fugaz e espontânea do déjà vu faz com que seja muito difícil estudar o fenômeno em laboratório, segundo os pesquisadores. “Os métodos para se tentar induzir um déjà vu ainda são bastante incipientes”, diz O’Connor. “Nós usamos a hipnose e testes que envolvem listas de palavras. Outro método é chamado de ‘estimulação calórica’. Consiste em esguichar água morna nos ouvidos das pessoas.” O´Connor explica que, inicialmente, esse método foi criado para o tratamento de outros problemas, como vertigem, mas os cientistas perceberam que um efeito colateral comum era justamente o déjà vu. “Acredita-se que isso ocorra porque o canal do ouvido é próximo ao lobo temporal, que pode ser responsável por essa sensação”, diz ele. Incidência Não se sabe quantas pessoas sofrem de déjà vu crônico, mas Moulin diz já ter encontrado casos semelhantes ao do jovem britânico - inclusive alguns pacientes que insistiam que já o conheciam em função do problema. “Eles me cumprimentavam como um velho amigo, apesar de nunca terem me visto antes. Alguns falaram comigo por Skype, estavam do outro lado do mundo, mas ainda assim tinham essa sensação”, conta ele. Segundo Christine Wells, da Sheffield Hallam University, desde que a história do jovem foi publicada nos jornais britânicos mais pessoas estão procurando ajuda de especialistas dizendo ter o problema. “Recebi mensagens de pessoas que vivem na Austrália e nos Estados Unidos. Trata-se de uma condição rara, mas há de fato pessoas que dizem que têm ou tiveram a mesma coisa - ou conhecem alguém com o problema.” Para Wells é necessário estudar mais a fundo esse fenômeno.

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Start Quote One idea is that deja vu is a sort of ‘brain twitch’” Dr Akira O’ConnorUniversity of St Andrews Unlike many other memory problems, deja vu seems to occur more in young people. People first experience deja vu at the age of about six or seven, and it happens most often between the ages of 15 and 25, before tailing off as people get older, according to research by Professor Alan Brown at South Methodist University in Dallas. There are several other theories about what causes the sensation. Dr Akira O’Connor, a psychologist from the University of St Andrews, believes that in most cases it is a momentary “misfiring” of neurons in the brain which creates false connections. “One idea is that deja vu is a sort of ‘brain twitch’. Just as we get muscle spasms, or eye twitches, it could be that the bit of your brain which sends signals to do with familiarity and memory is firing out of turn,” he says. He says this fits with evidence that deja vu is more frequently experienced by people with epilepsy and dementia. Deja vu is more frequent for people with dementia and epilepsy Another theory, developed by Professor Anne Cleary at Colorado State University, is that deja vu is the natural result of seeing something genuinely familiar in our surroundings - such as the shape of a structure, or the layout of a room - sparking a false memory. She developed a computerised virtual reality called “Deja-ville” where people navigate around similar landscapes to test the hypothesis. But Dr O’Connor says none of the current theories definitively solves the mystery of deja vu - partly because its fleeting and spontaneous nature makes it almost impossible to reliably study in lab conditions. “Methods of trying to induce deja vu are pretty crude,” he says. “We’ve used hypnosis and experiments using lists of words. Another method is called ‘caloric stimulation’. It’s just squirting warm water into people’s ears. 55 OM



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“It’s meant to deal with various problems like vertigo, but one of the common side effects is deja vu. People have suggested that’s because the ear canal is near the temporal lobe, which may control it,” he says. Beautiful mystery It is not known how many people suffer from the “chronic” version of deja vu, but Dr Moulin has encountered cases before - with some patients even insisting they had already met him because of their deja vu. “People greet you like an old friend, even though they’ve never seen you before. Some of them were on Skype on the other side of the world, but they still had that sense,” he says. Since reports of the 23-year-old man appeared in newspapers, fellow report author Dr Christine Wells, from Sheffield Hallam University, says more people are coming forward. “I’ve had people from Australia and America emailing me. It appears to be something quite rare, but there are people who say they’re experiencing it, or they went through a period of it, or know someone who has,” she says. She says it is an area which needs “a lot more study”. But for some, it is a phenomenon that should remain unexplained. “I’ve had people say to me you don’t really believe in deja vu, do you? Like it’s something paranormal,” says Dr O’Connor. “I’ve had letters from some people who believe strongly that it is something spiritual, quoting the Bible and the Qu’ran. “Some people say I shouldn’t investigate it; that ‘explaining rainbows ruins their beauty’. Personally I’ve always loved getting deja vu - and finding out what causes it just makes the experience more beautiful.”

Mas também há quem defenda que ele não é assunto para a ciência. “Já recebi cartas de pessoas que acham que o déjà vu é algo espiritual e citam a Bíblia e o Alcorão”, diz O’Connor. “Alguns acreditam que eu não deveria estudar isso. Dizem que ‘explicar o arco-íris estraga a sua beleza’. Pessoalmente, sempre gostei de ter um déjà vu - e tentar descobrir o que causa essa sensação apenas torna essa experiência mais bonita.”

Fonte: Emma Ailes, BBC News

Source: Emma Ailes, BBC News 57 OM





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