Ordem & Sociedade

Page 1

João Barcellos

ORDEM &

SOCIEDADE [3ª Edição revista e ampliada com análise ao Caso Mensalão]

Grupo de Debates

NOÉTICA


Jo達o Barcellos


Agradecimentos

Mário G. de Castro Elen Cédron Johanne Liffey Valentina Lyubtschenko Lillian e Manuel Reis Céline Abdullah Ruy Hernández Mariana d´Almeida y Piñon Joana d´Almeida y Piñon Figuera de Novaes Alexandre A. F. Moreira Maria C. Arruda Mário Lamas Marta Novaes Fernanda [Fê] Marques


Índice

Livro Um O(s) Terror(ismos). Sociedade Mundializada & Segurança Pública A Mulher Na Cultura Do Poder Ideologia, Cidadania e Segurança Na Sociedade Globalizada A Importância Do Intelectual Na Segurança Pública & Cidadania Segurança Pública & Municipalidade O Militar No Contexto Civil Serviços De Inteligência Ultima Ratio Regum – Ou: A Velha/Nova Pax Romanum [A propósito do Caso 11 de Setembro de 2001 e suas consequências no âmbito da Política global.] As Bombas ´Terroristas´ Plantadas Por Serviços Secretos

Livro Dois Ordem Pública: Uma Questão Cultural Em Torno Das Polícias Municipais Chavão De Perplexidades Segurança Privada Os Egos Anti-Humanos Que Fazem A Guerra Bárbaros Civilizados Em Expansão

Livro Três Fronteiras Que Destroem Esperanças Estado: Entre a Corrupção e a Cidadania [análise ao Caso Mensalão]


O sistema de monismo epistêmico deve ser substituído pelo dualismo epistêmico que trata diferentemente ciências físico-naturais e ciências psicossociais e humanas; O poder da Força sobre a Razão deve dar lugar ao primado absoluto do Saber sobre o Poder e ao primado da Justiça sobre a Verdade REIS, Manuel – filósofo luso, 2008.

Qualquer lei que eleve a personalidade humana é justa. Qualquer lei que degrade a personalidade humana é injusta [...] Permito-me afirmar que o indivíduo que infringe a lei que a consciência lhe diz ser injusta... está, na verdade, a expressar o mais alto respeito por ela... LUTHER KING, Martin [Jr] – in ´Carta De Uma cadeia De Birmingham´, 1963, apud Ruy Hernandez.

´[...] decretar a legitimidade do assassinato é decretar a mobilização e a guerra dos Únicos. O assassinato coincidirá [...] com uma espécie de suicídio coletivo´ CAMUS, Albert – in ´L´Homme Révolté´ [Éditions Gallimard, 1951]

[...] o Mundo que me cabe é a ara que carrego – e nela sacrifico um Eu que escuta os Outros para ser um Todo humano: esse desconhecido Todo humano que busco a cada dia para ser um Eu nesta Terra que é Cosmo e me é mui cara! MACEDO, J. C. – in ´metalinguagem´, poesia. 1985.


//////////////

Pegando no livro Est-ce dans de ce monde-là que nous voulons vivre? [= É nesse mundo que desejamos viver?], publicado pela Éditions des Arènes [2003], percebe-se que existe uma Magistratura indignada com o corporativismo criminoso da Justiça. Neste caso, a autora do livro citado é a juíza norueguesa Eva Joly que, na Sorbonne, deu origem ao movimento ‘Declaração de Paris’ – um manifesto de guerra aberta contra a impunidade de grandes corporações transnacionais que gozam de privilégios fabulosos junto à Magistratura de muitos países. É a Justiça no centro do questionamento pelas aberrações que vem gerando, corporativa, judicial e ideologicamente.

//////////////


Livro Um

Já vi o Mundo sem Vida E nesse instante Soube-me à margem de tudo. E nesse instante Vi em mim a Vida. Onde estou? Quem sou? Um figurante? Ah, este Eu é (um)a Vida!


O(s) Terror[ismos] “...o terrorismo hodierno não é um fenômeno que se possa vencer, identificando com precisão (?...) o inimigo e declarando-lhe guerra, segundo os meios e os esquemas convencionais dos clássico-tradicionais conflitos armados. Por paradoxal que pareça, ter-se-á de concluir que o terrorismo constitui o melhor aliado de todos os totalitarismos políticos e, bem assim, dos Estados em geral, enquanto eles se mantiverem organizados e a funcionar segundo a cartilha do Poder-Dominação d’abord. A guerra de agressão da Administração Bush (e seus aliados) contra o Iraque, com a consequente ocupação do país sem termo à vista, foi um descabelado ato de terrorismo de Estado... “ REIS, Manuel [autor de A Lição Que Veio De Espanha, Guimarães/Pt, 2004]

‘Ciência sem Consciência é somente a ruína da Alma’ [Rabelais]

‘A Cultura é um laço orgânico entre a Educação e a Antropologia’ [E. Morin]

2000 foi o Ano I do Séc 21, o Milênio III da Era que os traidores de Jesus (lembrem-se: Pedro e Paulo) chamaram de era ‘cristã’. Antes deles e também com fórmulas extremistas de Pensamento e Ação, quer político quer religioso, já os gregos, os egípcios, os hebreus (ainda como tronco árabe) e os povos celtas, haviam se encastelado em estruturas hierárquicomonárquicas de mando político, militar e religioso. E neste Ano I, tal como aconteceu na Queda do Império Romano, eis que as periferias místicas se indignam e manifestam contra uma superpotência – no caso, os EUA e os seus ocasionais Aliados, incluindo aí o ‘filhote’ Israel – e o fazem sob o velho espírito (que já conhecemos da sábia análise de Heráclito) da máxima ‘viver de Morte, morrer de Vida’ – i.e., a Morte como instrumento de realização/perpetuação de uma Causa/Vida quando, fundamentalmente, a meta é dimensionar um Ideal contra a opressão estabelecida por outro... O que levou ao suicídio de Sócrates e de Jesus [leiam-se,


a propósito, as obras ‘Sócrates e Jesus – Esses Desconhecidos...!’, de Manuel Reis, Ed Edicon, São Paulo/Br-2001, e ‘Jesus – The Man’, de Bárbara Thiering), duas mensagens sócio-antropológicas de Liberdade e de Igualdade esquecidas tanto no Ocidente quanto no Oriente, e que urge reler para entendermos como elas, afinal, chegaram até nós, e como pode(re)mos partir para uma batalha cultural que nos conduza a humanização do ‘bicho’ humano. E, este, é o princípio de funcionamento dos sistemas políticos e sócio-econômicos que o Milênio III da dita Era ‘cristã’ (nos) traz no bojo de um Sentimento islâmico traído pela ‘ocidentalização’ de muitos dos seus chefes e de um Sentimento hebraico que ainda não esqueceu o radicalismo sionista dos essênios (também presente em xiitas e sunistas – e, não se espantem, em muitos católicos!)... Estamos diante de uma sempiterna Guerra ‘santa’?! Talvez sim, talvez não... mas, cada um(a) de nós terá, como tem, uma Palavra cidadã e culturalmente consciente a dizer. Ou não...? O que precisamos, hoje – e apesar ‘da Ciência que não acolhe a Humanidade, mas o resultado econômico da sua pesquisa, sob o mando dos poderes estabelecidos e contra as comunidades’ (MACEDO, J. C. - in ‘Poemas De Um Eu Entre Outros Na Financeira Feira Que Nos Algema Globalmente’, Santiago do Chile - 1996, ´Encuentros Anarquistas´) – para conversar (e fazer) a Paz...? Precisamos tornar a polis um Estado de verdadeiro enraizamento sócio-cultural e político, porque ao acabarmos com o Estado absolutista (aquele ‘Deus Mortal’, como diria Hobbes) estaremos secularizando o Ser-religioso, o que, entenda-se, foi a grande luta de Jesus no percurso de Sócrates (como nos lembra em diversos livros Manuel Reis). Dos hebreus aos jesuanos [‘cristãos’ é coisa posterior e já no engajamento da seita pedroniana e pauliniana ao Império Romano, cuja estrutura de mando expansionista, ou católico, tomariam para si... até hoje] passando por hindus, budistas e árabes, a(s) máscara(s) de ‘deus’ sempre acoberta(ra)m uma dinâmica de Terror(ismo), encapelado ou não. O Estado de Israel, por exemplo, foi mais obra dos atos polimil’s (guerrilha urbana) dirigidos por Menachem Begin do que dos atos políticos e intelectuais do Sionismo, o que ensinou e incentivou Yasser Arafat a constituir, no mesmo padrão de ‘terror contra-Poder terrorista’, um grupo contra o já estabelecido Estado judeu nas terras da Palestina...; da mesma maneira que as grandes civilizações americanas caíram pelas ações terroristas do Reio de Castela no percurso aberto/sinalizado pela logística marítima de Portugal, que ajudara a dizimar outros povos na África e na Insulla Brazil (BARCELLOS, João in ‘500 Anos De Brasil’, ensaios/palestras, ed Edicon, São Paulo/Br-2000; ‘Olhar Celta’, TerraNova, São Paulo/Br-2001, ediç limit). E não basta dizer que ‘os tempos eram outros’, o que é preciso é dizer a História tal como ela foi e é à luz dos documentos... Depois da Inquisição e das Cruzadas (lideradas pelo terrorismo global da Igreja ‘cristã’) e das Guerras Santas (islâmicas), desenvolveu-se uma Burguesia que transformou os velhos monopólios mercantis em impérios liberais do Capitalismo logo experienciada nos Sécs 16 e 17, mas sistemicamente trabalhada e operacionalizada no Séc 20 -, experiência radicalizada depois da ruína social e estatal do império polimil soviético [1917-1995] com a ‘Queda do Muro de Berlim’, aí deixando outro império polimil como única superpotência em exercício: os EUA... tal e qual o Império Romano (que nos lembra: ‘nenhum império dura para sempre).

Só existe uma fórmula para acabar com o(s) Terrorismo(s) que nos cerca(m): mais Humanidade, menos Religião/Poder e menos Ganância mercantil. [J. C. Macedo]

O expansionismo militar e político dos EUA cresceu com a Economia global(izada) mas polarizada financeira e politicamente em New York sob observação do Pentágono e a influência da Comunicação Social engajada e servida pelas novas Tecnologias de Informática, o que caracterizou e operacionalizou muito Poder para poucos Ricos e muita Miséria para muitos Povos, com espelhos regionais, ou ‘satélites’ desse mando, entre árabes (Arábia Saudita, Iraque, Irã, Líbia, Egito, Israel, Jordânia, etc), entre americanos (México, Venezuela, Brasil, Chile, Peru, Argentina, etc) e, em geral, na África e entre os ‘tigres asiáticos’. Ocidentais ou ocidentalizados fazem do Dinheiro uma nova Religião e impõem um novo tipo de Escravatura aos povos – o Consumismo. Isto é um Terror(ismo) estabelecido que,


fatalmente, gera um Terror(ismo) de contra-Poder, em qualquer nível e principalmente entre fanáticos (que, aliás, agem tão ‘fundamentalisticamente’ como os detentores da Economia que somente ‘democratiza’ os Ricos... pois, não é correto dizer que o Capitalismo liberal é um sistema justo e... os miseráveis que se contentem com as migalhas e os lixos)...! Este é o quadro do Terror(ismo), hoje. Quem não o compreende ou sofre de cegueira ou não quer. Uma vez, depois de conferenciar sobre ‘os essênios’, questionaram-me: “- O terrorista é um psicopata?”, e eu respondi: “- Alguns que comandam as milícias polimil’s podem até ser... sociopatas (na sua ansiedade pelo Poder), mas os guerrilheiros, urbanos ou não, são seres que operam segundo metas definidas e sabendo que a Morte pode ser (nos seus casos politicamente específicos) uma via de Vida para muitos e muitos outros”... Existem pessoas, e particularmente os pseudo ‘especialistas’ em Terror(ismo) dos departamentos de Inteligência e da Imprensa, que acham ‘o terrorista’ um fanático sem recursos culturais. Não. Na maioria, esse político-militar (polimil) é um Ser que conhece bem e interpreta o Mundo global a partir da problemática antropológica local em que se insere como Cidadão. Não está ‘infiltrado’. É ele mesmo. Qualquer um(a) de nós, em determinadas circunstâncias, pode tornar-se ‘agente do Terror’, oficial/estatal ou pessoal. Qual é a diferença entre um ‘agente secreto’ de um determinado país que comete um crime, oficialmente, e o assalto a um banco efetuado por um guerrilheiro que aí vai buscar fundos para a (sua) Causa?!... Ora, não se pode relativizar a questão do Terror(ismo) ou vamos cair no erro perverso do ‘se não és por mim és contra’. O Terror(ismo) existe e é parte da ação diária do Ser humano. Duvidar disto é esquecer que até um simples porteiro/síndico de prédio assume esse papel a todo o instante, ou que um policial negro esquece a sua cor e atua como um policial branco na represália a uma manifestação anti-racista de negros...! Hoje, e pela ‘reengenharia social’ do fundamentalismo Capitalista, particularmente desde Kennedy a Kissinger e Bush (com os ingleses sempre pelo meio, na sua pirataria de rapina, que os povos colonizados conhecem muito bem), os EUA são o alvo do Ódio de todos os pobres do Mundo, até por que “a instituição Nações Unidas (ONU) foi criada segundo as diretrizes estratégicas da política externa norte-americana” [Acheson, ex-secretário de Estado, nas suas memórias políticas], pelo que jamais se oporá, no seu conselho de ‘segurança’, às atividades terrorista-expansionistas dessa superpotência, a não ser que o Resto do Mundo se resolva a questionar a própria ONU e a transformá-la na mola propulsora para uma Humanidade sem algemas imperialistas... Entretanto, a virada do Milênio, no seu Ano I, já nos mostrou que os países ricos [reunidos no G-7] terão de ceder e ajudar no Progresso humano do Mundo, ou será a Barbárie terrorista... Deixar que milhões de pessoas morram de Fome e de Doenças, enquanto os militares, os políticos governamentais e os religiosos fazem a farra com os dinheiros arrecadados nos impostos públicos, é o mais profundo e humilhante Terrorismo desde que o Ser racional se conhece como tal. “Humanizar é preciso!”, exortava o Grupo Granja (in ‘Humanidade versus Animalidade’, manifesto, Buenos Aires/Arg.-1998; entidade privada de análise sócio-antropológica, com membros em vários países), e eu repito: humanizar o Ser humano é preciso!...


Terror[ismo] d´Estado Winston Churchill & Ruy Barbosa duas faces abomináveis da mesma moeda política

“Sou vivamente favorável à utilização do gás venenoso contra as tribos incivilizadas” W. Churchill

À Guisa De Introdução A humanidade está preocupada com a violência que o terrorismo institucional promove e sustenta ,e, obviamente, com o terrorismo que levanta em oposição àquele, sendo que, quase sempre o terrorista de hoje é aquele que foi instruído e armado e pago pelo terrorismo de Estado em algum momento do seu percurso político... Exemplos? Saddam Hussein e Ben Laden foram instruídos e armados e pagos tanto pelos EUA como pela antiga URSS, assim como pela União Européia [UE]. O terrorismo é bélico e é intelectual: do gás de Churchill e de Hitler às bombas atômicas de Roosevelt e da Família Bush e Clinton, passando pela queima de arquivo de Ruy Barbosa e a ´cara de pau´ do Vaticano no seu apoio tácito à criminosa ´dissolução´ da Teologia da Libertação, enquanto suporte na sublevação política contra as ditaduras militares latinoamericanas. 1. O Esquecido Gás Churchilliano No final da 1ª Grande Guerra do Séc. XX, Winston Churchill era o ministro dos assuntos coloniais da Inglaterra, cujo império estava em declínio na África, no Próximo Oriente e na Ásia, sofrendo até com oposições mais extremadas de povos/tribos, particularmente palestinos, curdos, afegãos e indianos. Os governos de aluguel mantidos pelo Império britânico, a certa altura, recusaram-se a utilizar bombas de gases letais com as comunidades sublevadas e isso deixou Churchill muito irritado e a ponto de dizer: “Não entendo esses melindres a respeito do uso do gás [...] Sou vivamente favorável à utilização do gás venenoso contras a tribos incivilizadas”. E foi utilizado em larga escala. Quantos palestinos, curdos, afegãos e indianos foram dizimados pelo gás churchilliano, entre 1917 e 1920? Sim, o mesmo Churchill ´vivamente´ cristão e ´democrata´ que se mostrou espantado com o gás hitleriano, em 1944!... Oh, hipocrisia das hipocrisias! 2. Queima de Arquivo Barbosiana O famoso abolicionista e político brasileiro Ruy Barbosa, no dia 14 de Dezembro de 1890, então ministro do governo republicano despachou o seguinte: Todos os livros e documentos referentes à escravidão existentes no Ministério das Finanças sejam recolhidos e queimados na sala das caldeiras da Alfândega do Rio de Janeiro. De uma ´penada´ só Barbosa fez desaparecer a história oficial da Escravatura. O próprio congresso brasileiro emitiu nota para saudar o ´exercício´ da política republicana para a queima dos vestígios da ´mancha negra´ do Brasil imperial – o que, também, os monarquistas agradeceram!


Com a Abolição feita por Isabel enquanto golpe político para afastar Pedro Augusto do trono – ele era o ´janota´ egocêntrico que queria ser Pedro 3°, e quase conseguiu... –, os escravos foram soltos e entregues à própria sorte, sem condições de sobrevida. O “cumpra-se” de Ruy Barbosa para queimar a História da Escravatura foi a segunda morte lenta dos escravos, que ficaram sem identidade para se defenderem e exigirem direitos sociais diante do Estado republicano. E, a finalizar. 1- O que une os atos de Churchill e Barbosa são os traços societários do liberalismo doentio que nega a existência de outros povos e faz de um negro um branco quando aquele assume, por exemplo, um cargo na administração branca... Mas, logo que uma comunidade se percebe em risco de extinção e luta contra isso, o Estado imperial age com todo o peso do terrorismo policial-militar, ou impede-lhe o acesso aos registros históricos. Já no Séc. XXI, os EUA lançaram sobre o Iraque e o Afeganistão bombas atômicas com um ¼ da capacidade das lançadas sobre o Japão no Séc. XX, enquanto armava e financiava Israel e a Turquia para esses países fazerem o jogo sujo contra palestinos e curdos. Mas, ninguém fala contra os poderosos que fazem isso, seria uma... falta de educação, nê!? O que é o Povo Negro? Ora, demos merda e cotas universitárias que a negrada ficará feliz... Lá na África, nem merda têm para comer! Branco é a essência da ´civilização´ sob o poder da bomba atômica e das igrejas! Alguém aí acha que não?! Eis o biorracismo que domina a humanidade desde que ela se assumiu como ´civilização´. 2- Membros do Grupo Granja, reunidos em Barueri, São Paulo - Brasil, em Março de 2009, após estudo dos últimos textos filosóficos de Manuel Reis e da produção lítero-histórica e política de outros grupos, incluindo os do poeta J. C. Macedo, resolveram aprofundar as ações socioculturais de humanismo crítico contra a hipocrisia que domina o mundo e faz da globalização financista um poder-condomínio que acarreta a destruição de povos e nações. A humanidade precisa de gente ousada. A humanidade joga contra si mesma. Um dia, a Pessoa Humana se exterminará na Terra, e aí, quem sobreviver poderá viver, finalmente, sem o Deus da Guerra! J. C. Macedo

Não se pode esquecer que pessoas sábias buscam uma Nova Ordem Mundial para recriar a Humanidade no seu Todo social, mas, são poucas; e que existem, também, pessoas inteligentes, mas não sábias, que buscam uma Ordem Mundial para a criação de um Governo Mundial. Entre os sábios estão filósofos e artistas – entre eles, Chomsky, Reis, Popper, Lourenço, etc. – que lutam por uma Humanidade que dê espaço à Vida e à Liberdade; entes as apenas inteligentes (ou, espertas), estão as eternas postulantes à Elite ditatorial, como foi/é o caso de pessoas como o franco-maçon Cecil Rhodes, que tentou, em agenda político-militar financiada pelo próprio e por Rothschild, que só vêem a Humanidade como massa de manobra... O que isto significa? Que não existe Poder ditatorial sem estratégia complementar de grupos pseudo esotéricos, logo, o Terror[ismo] d´Estado é a senha principal da Elite auto instituída, mística e politicamente – e não esqueçamos, à direita, Hitler, Salazar, Pinochet, os generais do Brasil, Franco, etc.; e, à esquerda, Stalin, Fidel, Chávez, etc. –, rumo, e sempre nesse rumo, ao Governo Mundial. Nenhum caudilho o é sem se perceber Senhor político e místico. Assim, o Estado é um instrumento de Terror[ismo] contra o Povo ao qual é negado o direito à Educação e à Cultura, assim como lhe é negada a Informação histórica acerca da Elite governante [em Portugal e no Brasil, por ex., a Ditadura fascista parece que nem existiu; e, na Rússia, os novos czares capitalistas têm obsessão pela retomada da velha Ditadura do ´proletariado´], e por isso a Imprensa, em geral, é parte da estratégia [paga através da publicidade] do mesmo Terror d´Estado.


Racismo & Escravidão Ou: a economia colonialista como base dos impérios pseudo democratas

O mundo ocidental convencionou-se chamar ´democrata´ apenas para eleger as suas bancadas políticas sob condicionalismos ideológicos oriundos da cartilha do Poder-condomínio alimentado por uma Elite velha que se renova monarquicamente no espectro da República. Ninguém foge às regras ditadas e assinaladas pelos caudilhos republicanos – e, tais regras, têm base numa Economia que se perpetua colonialmente, pois, ela nunca age enquanto Política para as comunidades, ou seja, para a Sociedade das Pessoas, apenas para o societarismo identificado com a Pessoa-Objeto, que o mesmo é dizer: com os Escravos que devem obedecer aos interesses capitalistas dos ditadores esclarecidos... E não tenham dúvidas: o Racismo e a Escravidão foram, são e serão, nestes moldes societários, os pólos que sustentam a Elite capitalista, a banca dos liberais-ditadores esclarecidos. Não se pense, entretanto, que isso não aconteceu, ou não acontece, sob outras bandeiras ideológicas: os soviéticos leninistas e stalinistas vivenciaram o mesmo conceito de capitalismo animalesco escudados por um Comunismo que nunca existiu – claro, entendendo-se Comunismo como Sociedade de Pessoas e não de Escravos –, assim como os maoístas e, de certa maneira, os cubanos fidelistas [a não ser que se entenda por Revolução uma ditadura de meio século de políticas nas mãos de um caudilho]!, que é o que, hoje, Chávez quer na Venezuela e muitos pt´s [leia-se Partidos dos Trabalhadores] querem para o Brasil com Lula no meio, embora este tenha dignificado a sua carreira política sendo contrário a um golpe palaciano nesse sentido. Por outro lado, “...associações exotéricas e igrejas institucionais engrossam e engessam os pilares do Liberalismo nas políticas biorracistas e da barbárie capitalista, porque não existe Colonialismo sem a intervenção direta das Congregações Místicas”, como afirmam os filósofos Manuel Reis e Noam Chomsky, e o poeta J. C. Macedo, a par de muitos dignos pesquisadores/cidadãos espalhados pelo mundo. É assim que se entendem as cíclicas “crises econômicas” que abalam o Ocidente. E até altos executivos, que fogem à cartilha dos caudilhos da Elite globalizada, pagam caro por erros de avaliação e de ação nessa conjuntura, como foram os casos de 1929 e 1973, e são os de 2008 e 2009.

Os exemplos do Haiti e de Cuba entre os erros da Gramática capitalista O racista, presidente dos EUA e prêmio nobel da “paz” [1919], Woodrow Wilson [1856-1924], manda, em 1915, invadir o Haiti para “proteger os interesses norte-americanos” na região. Quais são os interesses dos EUA no Haiti? Impedir que uma república parlamentarista se instale sob comando de negros e permitir a colonização da região para exploração com corporações transnacionais norte-americanas tendo a população local como mão de obra escrava. Quatro anos depois, o Sr. WW recebe o prêmio Nobel da Paz...! O que resta do Haiti? Miséria, guerra civil e mais um campo para negociata de armas no meio de conflitos localizados, tão ao gosto dos senhores armamentistas que dominam os EUA e a ONU. A instabilidade social e política em regiões como o Haiti [e Angola e Cabo Verde, e Afeganistão e Iraque e Balcãs, e Sudão e Etiópia, e por aí vai o mapa...] é uma estratégia para manter as fábricas de armamento em plena atividade e dar sustentabilidade de negócio com altos lucros às transnacionais que operam com mão de obra escrava.


Mísseis da URSS, Cuba, EUA & Guerra Fria No caso da política externa dos EUA relativa a Cuba, eis que os interesses imperiais do capitalismo, nos Anos 60, que domina os EUA e a URSS, fazem da ilha tomada por Fidel de Castro o cenário ideal para impor decisões militaristas e diplomáticas, e a própria ONU passa a ser o grande ´braço diplomático´ estadunidense. A ´crise´ de Cuba não é com a economia, é com o poder militar da URSS que ali instala mísseis nucleares direcionados ao território dos EUA. O presidente John Kennedy é pego de surpresa e decide pelo bloqueio militar da ilha “comunista” que, logo, torna-se também embargo econômico considerando que “Cuba não respeita os direitos humanos” [...?!]. É a diplomacia dos hipócritas e colonialistas que, na realidade, estabelece as políticas externas das grandes potências. Nem a URSS nem os EUA querem saber do Povo cubano: a ilha torna-se um ponto de referência no mapa dos imperialismos no Ocidente, e pronto, os cubanos que paguem a festa dos banquetes da Guerra Fria entre norte-americanos e soviéticos. Todos os presidentes dos EUA, de Kennedy a Bush, e o que continua com Obama, pregam a sua Ordem capitalista-católica contra uma Ordem comunista que, dizem, Castro instalou em Cuba – mas, esse embargo econômico, também adotado pela Comunidade Européia [muleta ideológica dos EUA em muitas decisões internacionais, particularmente a partir da Inglaterra], não é o entrave maior a Cuba, que tem na ditadura política do próprio Castro o pior inimigo, tanto que monarquizou o Poder para impor o seu irmão Raul como sucessor. Assim, a decisão de 7 de Fevereiro de 1962 vai continuar a valer enquanto os próprios norte-americanos não perceberem que o embargo não afeta um país que negocia com outros países e que, ali, a vida continua... apesar dos EUA. A famigerada Guerra Fria é a ´bandeira´ oportuna levantada entre as potências URSS e EUA para singrarem as suas lâminas mortíferas sobre nações e povos militarmente indefesos. Entre as questões ´Haiti´ e ´Cuba´, surge no alvo capitalista a dominação velha e sempre renovada das jazidas petrolíferas dos árabes – o novo ciclo da Cruzada da cristandade contra os ´infiéis´ mulçumanos – sabendo-se que os clãs feitos monarquias são pontas de lança dos EUA e da Inglaterra, pelo que qualquer instabilidade nessa estrutura política regional pode ser um golpe contra os interesses do Ocidente. O 1º ´incidente´ acontece com Gamal Abdel Nasser [1918-1970], o presidente do Egito que enfrenta os interesses franceses e ingleses e passa a ser uma ameaça política ao status quo tribal-monárquico dos pró EUA na região árabe; o 2º ´incidente´ é o golpe militar de Saddam Hussein [1937-2006] contra a oligarquia que reina no Iraque, em 1968, e então ajusta um governo de despotismo mesmo tolerando a cristandade e repudiando letalmente, por exemplo, os curdos; e o 3º ´incidente´ é a ascensão de Muamar ALKadhafi que, em 1969, liquida a monarquia e instaura uma república árabe na Líbia, embora que sob regime ditatorial. A gramática colonial européia não domina mais a região árabe e só os EUA, através de Israel, pode determinar uma linguagem política de oposição extremada. É o que acontece em 1966, durante a Guerra dos 6 Dias, quando o Egito perde militar e geopoliticamente para Israel, que atua equipada e sob ordens dos EUA para eliminar o poder político e crescente da liga pan-árabe chefiada por Nasser. Eis por que Israel existe na razão direta dos investimentos bilionários do Governo estadunidense, mas, enquanto for o carrasco militar e policial dos árabes. Isto mostra que para o Poder-condomínio da Elite globalizada só existem alianças enquadradas nos seus interesses de Capital e Lucro. Homens como Hussein servem os interesses dos EUA e da Alemanha; as suas atrocidades são pagas e incentivadas pelo Ocidente que, na sua hipocrisia, vê o Capital e o Lucro no Trabalho das pessoas transformadas em peças de máquinas de gerar Riqueza – Riqueza essa a ser obtida por todos os meios técnicos, militares e policiais disponíveis. Quando o mesmo Hussein deixou de ser ´importante´ para a estratégia do Ocidente, foi descartado. Como é descartada qualquer outra Pessoa que se venda por um Poder efêmero e desligado das raízes nacionais. As políticas mundiais sobre Meio Ambiente interessam aos EUA?, ao Japão?, à China?, obviamente não. O sentido militar da Conquista e do Poder é que rege a Elite capitalista, seja liberal ou comunista. O planeta Terra é mera paisagem a ser destruída se isso for favorável ao Poder.


Por isso é que a Humanidade e o Cosmo só têm interesse para a Elite enquanto ela sobreviver com [e principalmente como] Poder. Notas 1 Haiti (do crioulo Ayiti). País caraibenho que ocupa o terço ocidental da ilha Hispaniola. Na antiguidade conhecida Quisqueya pelos nativos arauaques, ou taínos, e os caraíbas, que habitavam a ilha quando, em 1492, Colombo ali chegou pensando estar a desembarcar na Índia, maas essa ´conquista´ teve um preço: o desaparecimento da população nativa pelo genocídio e a escravidão. No ano 1697 a parte ocidental foi cedida à França e à Espanha que nela passaram a explorar café, açúcar, cacau e ouro negro [escravos africanos]. Na parte ocidental está o Haiti e na oriental está a República Dominicana. Em 1801, o ex-escravo Toussaint l´Ouverture organizou uma revolta, virou governador-geral, mas, logo foi morto pelos franceses. A seguir, em 1803, Jacques Dessalines derrotou os franceses, declarou a independência e virou imperador. Entre assassinatos e genocídios, vários chefes políticos surgiram no Haiti, como Boyer, que levou os dominicanos à independência, Duvalier, Baby Doc, Aristide, Jonassaiant, Manigat, Avril, Estimé, Alexandre, etc. Na primeira década do Séc. XXI, o Haiti continua um país de 9 milhões de habitantes flagelados por intensa guerra civil e pura bandidagem política apoiada pelo Ocidente. 2 Cuba Território insular na América, no norte caraíbenho com fronteira a sudeste com os EUA. O território foi descoberto por Colombo em 1492 na sua hipotética viagem para a Índia. O domínio espanhol em Cuba durou quatro séculos e, em1898, a ilha foi pelos EUA que aí estabeleceram um governo militar. Quatro anos depois, foi proclamada a República em Cuba, mas o governo norte-americano, em 1901, tinha convencido a Assembléia Constituinte cubana a incorporar um apêndice à Constituição da República [Emenda Platt], pela qual se concedia aos Estados Unidos o direito de intervir nos assuntos internos da nova república, negando à ilha, bem como a Porto Rico, a condição jurídica de nação soberana. No dia 1° de Janeiro de 1959, guerrilheiros chefiados por Fidel Castro derrotam o governo pró EUA e a ilha torna-se independente. Hoje, a República [dita] Socialista de Cuba ainda exporta o modelo entre ativistas políticos da extremaesquerda sul-americana e africana.


Sociedade Mundializada e Segurança Pública

“É preciso que o policial e o militar, assim como o político, sejam, antes de tudo, o Cidadão... pois, só isso determina(rá) uma Segurança Pública integrada ao Todo social e impedindo que, em nome de ‘justiça’ de um Poder de poucos, ou de um fanatismo religioso, se faça Terrorismo contra a Humanidade e a Natureza...! CÉDRON, Marc [palestra, Paris/Fr.,2000]

“A nova Economia cerca-nos, domina-nos, faz-nos clientes do global Consumismo, mas não distribui o pão por todos...” foi o que eu disse em recente palestra proporcionada, na Europa, pelo Grupo Granja. Mundializado (ou globalizado) o nosso dia a dia, com as diferenças socioeconômicas mais acentuadas, como pode(re)mos discutir a Segurança Pública? Depois de assistir a um seminário dirigido pelo ecólogo e psiquiatra suíço Marc Cédron, resumi o meu pensamento sobre o assunto... 1 Isso é simplesmente utópico...!, foi (e é, ainda) a resposta que recebi (e recebo) quando oponho a Cultura regional – aquela que cada um(a) de nós carreia no dia a dia e dela é/somos um reflexo – aos estereótipos antropocêntricos do que se diz ser Segurança Pública. Ora, por causa desse antropocentrismo (e, neste caso, pode-se revisitar intelectuais como os portugueses Agostinho da Silva e Manuel Reis, como os brasileiros Bento Prado Jr e Marilena Chauí, entre outros) a Universidade virou muleta intelectual do Poder-condomínio (aquele que produz o Pobre para sustentar o Rico) tendo, sempre, a benção sacrossanta da Igreja (católica, islâmica, budista ou judaica) que se esbanja no eixo da Economia dos fortes! Eh, nem aquele Jesus – o histórico, não o biblicamente instituído – conseguiu ser o ‘cristo’ (guia espiritual) de uma Humanidade embasada no Fraternalismo. Eis que, vivenciar a Globalização sócio-econômica, esta em que todos viramos clientes potenciais do Consumismo cibernético e na qual meia dúzia de endinheirados detêm os poderes de decisão política!, é destruir a raiz antropológica da Humanidade que somos. E se essa meia dúzia decide que o Rico deve ser a maioria absoluta contra a multidão que é o Pobre, então, o Poder-condomínio vai cair um dia como caíram os nazis político-militares e caíram os comunistas, porque a fascização social (dos meios de sobrevivência que sustentam o Pobre) não poderá aguentar a pressão psico-física que, necessariamente, eclodirá... Posto isto, questiono: o que é Segurança Pública quando se arremessa com tolerância zero contra o Pobre, em geral, e tolerância aberta quando se trata de criminosos filhotes desse Poder-condomínio...?! “Ai, isso aí é comunismo!, é anarquismo!, é socialismo!, é guevarismo!, é chinesice...”, logo berram os ignorantes. Não. Nada disso. É Filosofia social embasada na urgente regionalização do Pensamento, porque se não encontrarmos (em nós) uma Ética ecológica assumida cultural e ambientalmente (eis, aqui, o Regionalismo), qualquer indivíduo endinheirado e engajado ao Establishment mundializado vai poder leiloar a Amazônia a troco de favores político-eleitorais. E, no entanto, saiba-se!, é possível encontrar nos corredores do Poder-condomínio globalizado exemplos de Cidadania resultantes do grito social dos movimentos democráticos: é o caso – um entre outros exemplos, claro – das Delegacias de Defesa da Mulher que foram/são uma resposta, em termos de Segurança


Pública, aos anseios do universo feminino, mesmo doendo na alma do Poder patriarcal. Ora, por força das distorções do antropocentrismo que lhe é característica o Poder-condomínio obriga-se a ser um pouco mais do que neoliberal... 2 Os conflitos intercomunitários provam-nos que a Utopia da vivência de raiz cultural é possível e que a Economia mundializada não é alternativa porque, na verdade, é um Capitalismo tão selvagem quanto aquele Comunismo estatal!, só que o neoliberal oferece(-nos) a possibilidade de um paraíso consumista tendo cada um(a) direito a carro novo, casa própria em condomínio verdejante, crédito a perder de vista, e etc e etc... Mas isso só cria mais aberrações sociais nas comunidades com os consequentes conflitos. Só entendendo e mergulhando numa Filosofia ambiental de cunho humanamente ecológico, mesmo!, será possível encarar a Sociedade Civil e, com ela, perspectivar estratégias de Segurança Pública – e, nunca contra ela! Por isso dei, e dou, o exemplo das DDM’s como plataforma de observação e crítica construtiva para todo o sistema policialmilitar. E basta observar o Sistema Penitenciário que, com raras exceções, é um sistema de punição medieval, pois, em vez de recuperar pessoas para a Sociedade ensina-lhes mais recursos criminosos; por um lado, pela companhia de criminosos natos, por outro, pela demora dos Atos Judiciais na solução de casos que nem prisão exigem. 3 Durante muito tempo, na Europa fascista e fascizante, o Policial e o Militar tinham como conceito de Segurança a máxima “abater primeiro, investigar depois”, e só a abertura política e democrática possibilitou estruturar a Ordem e os Agentes da Ordem segundo Leis condizentes com as realidades comunitárias de cada país. Eis o que faz falta na América do Sul e, muito especialmente, no Brasil... Sendo o Brasil um país-continente ele vive tensões sociais intercomunitárias profundas em razão dos absurdos desníveis econômicos provocados pela má distribuição de renda, realidade pouco estudada, em geral, e raramente observada pelas instituições policiais e militares que, a mando de uma Justiça absorta no figurino do Poder-condomínio, atuam politicamente defasadas. O que é preciso é alimentar, gradativamente, nas escolas jurídicas e policiais e militares, uma mudança de Comportamento sócio-cultural e político, para que a Lei e a Justiça sejam instrumentos aplicáveis ao Todo social. 4 Dizer, como ouvimos amiúde, que “é preciso militarizar o cotidiano” é defender, no mínimo, o fascismo social como peça de sustentação da Nova Economia; o que é preciso é saber interpretar as realidades sociais e intervir para melhorar, não para (ajudar a) destruir; é preciso, sim, interagir com Leis que ditem uma Justiça geral, e não particular... por uma fenomenologia (e lembro aqui as premissas filosóficas de Husserl e de Manuel Reis, como de Marc Cédron) que defina a distribuição de Riqueza e não as migalhas mundializadas! Terminando... creio que estamos, ainda!, diante de um problema chamado Segurança Pública, porque a Privada tem o suporte da Economia global...


A Mulher Na Cultura Do Poder A defesa civil do universo feminino não pode significar outro tipo de humilhação pública! Sobre o exemplo cívico das DDM’s

“A Mulher não é nem mais nem menos que uma das faces da Humanidade – e, esta, deve saber se organizar, enquanto Comunidade e enquanto Poder, face ao desafio que é viver a diferença sócio-sexual, nas tensões do dia a dia, criando instrumentos civis e políticos que salvaguardem aquela – a Mulher – da selvageria atrofiante que é o animalesco machismo das sociedades patriarcais...” BARCELLOS, João – in ´A Propósito de Rosalía de Castro e Florbela Espanca´, palestra, Lima-Peru / 1995.

Sociedade vivificada significa cotidianidade amplamente participada por quem de direito – isto é: pela Mulher e pelo Homem que fazem a Humanidade. Uma e outro integram o sistema cósmico que absorve a vivência terrena, independentemente de culturas e de religiões. Somos – nós, os Humanos – uma vivência que sobrevive precariamente porque a Animalidade também nos é parte integrada. Agimos no instante da sensação e provocamos, entre nós e quantas vezes..., a ruptura entre a consciência do valor humano que assimilamos sócio-culturalmente, de geração em geração, e a inconsciência da circunstância que, naquela sensação, provocamos. Eis que, por isso, vivemos a Vida da mesma maneira que, nesta, já vivemos a Morte... E o que existe de mais difícil entre nós, Humanos, é decidirmos o que fazer em nosso dia a dia, sendo que muitas vezes nos atropelamos (socialmente) atropelando os outros! Entre amores e desamores, palavras que não são ditas, ou que o são na hora errada, eis que somos – nós, os Humanos – a Angústia personalizada. Desde há muito tempo – e, hoje, a Arqueologia demonstra-nos o que o francês Antoine Fabre D’Olivet sempre defendeu: as Amazonas existiram, sim, e foram, acrescento eu, uma alternativa ao patriarcalismo religioso que acabou com o comunitarismo matriarcal que ainda encontramos, por exemplo, em algumas áreas da Cultura minho-galaica, no norte português e espanhol, e que na saga caraveleira foi transportada para o Novo Mundo... – pois, dizia, o universo feminino manifesta-se isoladamente, mas, mesmo assim, demonstra a existência continuada de uma filosofia humanamente maternal que o universo masculino mais rejeita por estúpida incompreensão (induzida, cultural e religiosamente) dos valores humanos a que, na verdade, deveria ater-se! O fato de a Mulher se expor como Mulher nos círculos sóciopolíticos do Poder que, regra geral, a ignora, é algo que me anima - a mim, e a qualquer intelectual não engajado aos poderes-de-dominação... – a considerar a existência, mesmo que tênue, de uma luz humanamente cósmica lá nos confins daquele universo masculino que vê nela – a Mulher – tão somente o objeto do desejo de posse e dispersão da casta. E,


aqui, não falo da politicagem que é o feminismo, falo do universo feminino que o é natural e antropologicamente! Quando me falam de movimentos dirigidos pela Mulher, sejam eles sociais ou políticos, culturais ou de instância civil, sinto-me bem... Um dia, em viagem de trabalho à brasileira São Paulo, falaram-me de uma nova ‘construção’ jurídica em torno da Mulher, no âmbito de um processo de defesa que passaria pelas instituições policiais urbanas, ou metropolitanas: “Estão enquadrando delegadas qualificadas para a direção de delegacias de Defesa da Mulher”, ouvi. Confesso que a princípio não entendi, mas, aos poucos fui ouvindo mais informações sobre as tais ddm’s. Da mesma maneira que a Sociedade despertara para a problemática, regional e mundial, do narcotráfico e do terrorismo, a Mulher – porque indefesa diante do discurso e da práxis do machista e anti-social universo masculino – passou a ser ‘olhada’ como vítima da própria Sociedade não-comunitária. E é interessante verificar que este fato se dê, precisa e paradoxalmente, no seio de uma Nação em que o preconceito é o valor predominante... o Brasil. Um país dito do ‘terceiro mundo’ a dar lições de urbanidade aos tais do ‘primeiro mundo’ -, uma vez que são poucos os exemplos conhecidos, na esfera do Poder institucional, de defesa declaradamente pública do universo feminino. E são poucos os países autodenominados ‘civilizados’ que concedem à Mulher o estatuto de participação inequívoca na Sociedade! Entendi aquela ‘construção’ jurídica que levou à concretização institucional das Delegacias de Defesa da Mulher como um sinal claro, e demonstrativo, das possibilidades filosóficas, culturais e políticas, de se intervir, sim, na Sociedade civil para equilibrar os universos feminino e masculino na razão direta da violência que as diferenças sócio-sexuais provocam quando patriarcal e levianamente exploradas. Mesmo com a precariedade jurídico-social-policial em que assentam, as ddm’s são exemplos de que a Sociedade já processa a identidade feminina como conditio sine qua non para a preservação da sua própria institucionalidade tão apregoada no discurso da Democracia. É, diga-se, um outro ponto de vista do Poder, mas, deve dizer-se, também, é a demonstração da fragilidade social de todo o Poder que, não podendo combater eficazmente as tensões da cotidianidade promove em seu seio um diferencial civil... E, no entanto, é um fato governamental que deve ser apoiado pelas comunidades que recebem essas ddm’s - e, o melhor é dizer: um fato que deve ser apoiado e participado socialmente, já que é uma das raras oportunidades institucionais em que a Mulher é tratada com estatuto próprio!... Por outro lado, o apóio e a participação junto das delegadas policiais que dirigem as ddm’s possibilita que o projeto ddm não descambe em uma farsa político-administrativa e em nova humilhação pública do universo feminino... já que nem sempre é possível, que o digam várias delegadas..., convencer os detentores do poder municipal, ou autárquico, sobre a importância e a amplidão social que representam as ddm’s, tal a ignorância sócio-cultural de que são oriundos. Mas, lá estão elas – as delegadas, numa luta diária pelo re-armamento social e institucional do estatuto da Mulher enquanto ser cósmico baseado na Terra. Tive a oportunidade de dialogar com algumas das delegadas que, da Polícia Civil, foram destacadas para – dirigir, com a comunidade – as Delegacias de Defesa da Mulher, e um fato posso registrar: elas investiram, técnica e socialmente, na nova posição que ocupam na Sociedade; tanto que, na maioria das regiões onde foram instaladas ddm’s, o estúpido e preconcebido machismo recuou quer no nível familiar quer no das ruas. Assim, a simples existência das ddm’s já proporciona uma re-análise do simbolismo anti-social do machismo, o que é, a meu ver, uma vitória sócio-cultural das movimentações políticoinstitucionais que a Mulher vem promovendo para melhorar, também, o mundo angustiante em que vivemos, e não apenas o seu! É que, neste caso, a Mulher é “o indivíduo/pessoa, enquanto centro de consciência autônoma, capaz de edificar a Cultura da Liberdade Responsável primacial e primordial” – como defende o professor e filósofo Manuel Reis (in Em torno das Novas Tecnologias e da Nova Economia, ensaio, Portugal/2000; Ed Edicon/São Paulo/Br-2000). Ora, a instituição ddm é, sem dúvida, uma raríssima abertura da Sociedade que todos, e a Mulher, devem saber aproveitar sem cinismo nem proveitos políticos. Porque a Mulher é aquilo que o Homem é: um Ser Humano com direito à Liberdade.


DDM´s & Lei Maria da Penha A sociedade brasileira reagiu decididamente contra a violência doméstica que ainda marca o cotidiano e obrigou o Poder central a agir legislativamente. Conhecida como Lei Maria da Penha, a Lei nº 11.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente Lula, em 7 de Agosto de 2006, “Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências”. O caso que originou a lei: a farmacêutica Maria da Penha, que dá nome à lei contra a violência doméstica [caso nº 12.051/OEA de Maria da Penha, também conhecida como Leticia Rabelo Maia Fernandes], foi agredida pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la, na primeira com arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda por eletrocução e afogamento. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado. A chamada Lei Maria da Penha passou a ser um instrumento decisivo para coibir mais a violência contra a Mulher, dentro e fora do Lar, e é agora parte do tripê Sociedade-DDM-LMP, caso exemplar de ação pela Cidadania.

Mulher: Uma Luta De Sempre Pela Liberdade O filósofo português Manuel Reis sintetiza, assim, toda a batalha que a Mulher teve e tem pela frente enquanto as religiões contrárias à Palavra jesuana [Jesus], incluindo e principalmente a católica: “O acesso da mulher, como do homem, ao estatuto de ‘cristão revestido’, ou seja, de ‘ministro’ no sentido atual, no protestantismo, por exemplo, confirma o traço característico de uma religião do Espírito, ao passo que o cristianismo católico permanece uma religião psíquica, entrada no terceiro milênio sem ser capaz de reconhecer a paridade espiritual humana, para além do dimorfismo sexual. Nisso, de maneira visível, mas igualmente sobre todos os outros pontos, ela estagna no sistema de contenção segregado pela psique paranóica e atormentada de PAULO de Tarso, que escreve, em 57 e 65: ‘Como em todas as Igrejas dos santos, que as mulheres fiquem caladas nas assembléias, visto que não lhes é permitido tomar a palavra; que elas se mantenham na submissão, tal como a própria Lei lhes ordena [...]. ‘Se elas querem instruir-se em algum ponto, que elas perguntem ao seu marido em casa; porquanto é inconveniente, para uma mulher, falar numa assembléia’. / 1 Cor. 14, 34-35:


´Durante a instrução, a mulher deve guardar o silêncio, na submissão total. Eu não permito à mulher ensinar nem dar ordens ao homem. Que ela se mantenha tranquila. Foi Adão, de fato, o primeiro a ser formado, Eva veio depois [...]. ‘E não foi Adão que se deixou seduzir, mas a mulher que, seduzida, se tornou culpável de transgressão’”. Em tempo e sempre atual: O homem e profeta Jesus viveu o seu mi[ni]stério político e esotérico rodeado e dialogando com o universo feminino e foi a sua companheira Madalena quem recebeu a incumbência de divulgar a boa nova e não nenhum dos seus ´discípulos´... Ou seja: a Igreja pedro-paulina repudia a Mulher e ao fazê-lo repudia a essência universalista da Palavra jesuânica...! E assim, a maioria Mulher que se situa no universo judaico-cristão-árabe continua calada, submissa. É preciso, pois, que a Mulher perceba que só será Pessoa por inteiro quando se libertar das algemas impostas pelo corporativismo religioso e social!

Ideologia, Cidadania & Segurança Na Sociedade Globalizada Policiais, terroristas/revolucionários, narcotraficantes, militares, informantes-testemunhas, fundamentalistas místicos, leis, políticos e coisas tais!

Introdução 1 Um dia, em Portugal, na escola das primeiras letras, uma professora disse-me, depois de observar a minha atenção sobre os históricos guerreiros que viviam nos castros lusitanos: “Os romanos infiltraram os seus soldados entre os velhos celtas, e, aos poucos, ou mataram ou prenderam os chefes dos clãs chegando ao domínio da região celtibera”. Entendi muito cedo o que é a luta pela sobrevivência do Poder... E nunca esqueci aquela lição. Trinta anos depois, na Colômbia, ouvi de uma anarquista: “O teu Poder está no Saber que tens e na sua utilização consciente, mas nunca deixes que outros te digam como fazer o teu dia a dia: só és Poder gozando a tua Liberdade de decisão sobre o teu Eu!” Estas duas lições estão constantemente no meu Pensamento, particularmente quando analiso a ‘ciência’ que é saber estar para poder ser, recordando aqui Heidegger. Vivo culturalmente


em raízes européias, mas assumo as circunstâncias socioculturais sul-americanas em que me insiro como Cidadão e como Intelectual. Está na hierarquia não assumida como ação social, sim como pólo político-burocrático, um dos paradigmas da nossa vivência – absolutismo que, aliás, logo aprendemos (e sentimos) quer na escola quer no trabalho. Quando nos perguntamos ‘– Como viver a vida?’ em meio às pré-estabelecidas Classes Sociais procuramos, na verdade, uma saída/alternativa à revolta íntima que, se nos atrofia pela impotência revelada, por um lado, também nos lança na aventura do ‘- Tenho de sobreviver!’... É que nem todos nós pertencemos às classes dominantes e se até essas lutam fatalmente pelo Poder e pela divisão do mesmo entre si, imagine-se o abismo que as separa de que produzem a riqueza: o Povo. E, este, produtor incansável do berço dourado da Burguesia capitalista e da comunista, vive uma luta titânica na maioria das vezes não para atingir (ou tirar) o Poder que as classes dominantes detêm por opressão institucional ou não, mas para ser o que é... principalmente quando agregado as interesses da Religião, a eterna arma que os poderosos utilizam para manter o Povo nessa ‘burocrática’ ação de (sobre-)vivência observando os princípios pré-estabelecidos da Hierarquia sociopolítica. Para quem não quer observar nem seguir as regras da Hierarquia sócio-política resta a marginalidade, seja ela social, política, econômica, cultural ou religiosa. O que, face à Lei geral que rege a Ordem social dos poderosos, configura o Crime. Que, quando o Estado institucional é o alvo, transforma-se em Crime de lesa Pátria. Para as classes dominantes este é (deve ser) o quotidiano legal e ilegal, para quem vive paralelamente é apenas o ato de (sobre-)viver na circunstância sócio-política mesmo que tal ato seja um viver criminoso na perspectiva do Poder. E, no entanto, quando os hoje marginais tomam as rédeas das classes dominantes eles tornam-se Poder e embebedam-se/enamoram-se pelos hierarquizantes gestos do ato de governar. E, neste instante, urge perguntar: quando a Revolução acontece onde está o Crime? E mais: quando a Sociedade se transforma, técnica e culturalmente, tal Revolução é em si um Crime face ao conservadorismo das hierarquias institucionalizadas também nesses campos?

Introdução 2 Diante destes dois mundos, Poder ou contra-Poder, eis nos a viver um dilema ‘– Afinal, em que instante personificamos o Terrorismo?, quando somos Poder ou quando somos contraPoder? Nascemos para estar, é verdade, mas até para um simplório e ignorante estar precisamos aprender a ser com a consciência de alguém que tem por meta a vida plena.

Da Discussão Sobre Sociedade entre os campos social e técnico-científico & Da Revolução Naquele instante, ainda no Século XIX, em que o notável investigador-historiador Martins Sarmento – após muitos e muitos anos observando, de sua casa, as ruínas de velhas vilas que geraram vida nos picos de vários montes em Guimarães, no norte de Portugal... – decidiu revelar o que a sobreposição sócio-militar e cultural, por um lado, e o tempo, por outro, esconde(ra)m, a História Celtibera mostrou-se na plenitude superficial da primeira abordagem. Nos sítios castrejos (as vilas fortificadas e erigidas sempre em pontos altos e estratégicos) descobertos no ardor arqueológico daquele intelectual despontou, afinal, um pouco daquilo que originou a confluência de culturas que, logo, deram corpo a uma Lusitânia multirracial e, desta,


a Portugal. O ideal de lar fortificado desenvolvido pelos povos pré-celtas e pelos celtas ficou no consciente quotidiano português que, em vista disso, batalhou para erguer uma Nação com fronteiras definidas, o que aconteceu com o primeiro rei Afonso Henriques, a partir de Guimarães até Lisboa, em sua fantástica expansão territorial, e ampliou-se na visão ultramarina do infante e duque Pedro (irmão do falso navegador infante Henrique, que esteve em Sagres, mas onde não existiu ´escola náutica´ alguma, e só a mitificação manuelina para enterrar a odisséia dos cavaleiros da Ordem de Santiago até ao rei João II, que tinham visão nacional e não feudal), a partir de Coimbra, onde estavam centradas, antes da Batalha d´Alfarrobeira (leiase, a propósito, ´A Maldição Da Memória Do Infante Dom Pedro E As Origens Dos Descobrimentos Portugueses´, do prof. Alfredo Pinheiro Marques). Mas, aqui, interessa-nos somente o continente, onde uma Sociedade ergueu-se na miscigenação de sangues e culturas visigoda, celta, grega, romana, árabe, vândala, e outras. Aquela vivência matriarcal que definia os traços do cotidiano nos sítios castrejos (ou citânias) perpetuou-se no inconsciente social minho-galaico e influenciou a definição da estrutura sócio-cultural e política de Portugal. Mas, tal passado sociocultural não interessa(va) desenterrar na perspectiva político-religiosa dos poderes instituídos, e ao trabalho exemplar de Martins Sarmento foi sucessivamente negado o apoio oficial do Estado português...! Ao lembrar, aqui, esse intelectual português e um pouco dos quês da Sociedade portuguesa, quero demonstrar como uma Nação nem sempre é uma Sociedade aberta. Realmente, depois que definiu o seu traçado territorial, Portugal mergulhou naquela cultura castreja que denomino como lar fortificado, e por aí deixou-se ficar; depois da ‘onda expansionista quinhentista’ perdeu-se na vastidão que não lhe lembrava o lar fortificado e retornou a esse umbigo para saber-se (ou perder-se novamente) no seio de uma Península Ibérica que respira ares europeus em ‘artes’ econômicas que lhe sonegam a pátria condição. No contexto mundial, Portugal é um fato exemplar do Estado que se ausenta da governabilidade pátria para assumir um estado psicológico: está por estar embora que não o seja! E se entre o rei Afonso Henriques e o rei João II viveu Portugal o Estado que o é por direito de conquista, depois de Manuel I até ao reinado republicano absolutista de Salazar, esse mesmo Portugal reduziu-se ao simples estar territorial e combatendo qualquer (r)evolução política, social, cultural ou tecnológica. Um país na sombra histórica. E só. ‘Orgulhosamente só’. Durante a ‘onda expansionista quinhentista’ alimentou-se dos ‘subsídios’ que forçadamente as colônias lhe enviavam, hoje, na ‘nova economia’ dos reis-banqueiros e da Europa economicamente unida, ei-lo novamente a viver de ‘subsídios’... Portugal não vive a sua pátria condição, está mentalmente! Razão tinha/tem Pessoa ao berrar poeticamente aos quatro cantos do mundo ‘minha pátria é a Língua portuguesa’! Um dia, instauraram a República contra a Monarquia, mas aquela tornou-se tão politicamente absolutista quanto esta e, numa madrugada primaveril de 1974, a velha República abriu-se ao mundo. Mas foi só um delírio militar que acabou por fazer Portugal retornar definitivamente ao umbigo ibérico, ‘castro mental’ em que ora jaz. Neste meio tempo, alguns quiseram revolucionar o lar fortificado, mas aquele que é ‘quem mais ordena’ – como canta(va) Zeca Afonso na sua balada –, o Povo, deixou-os em Revolução umbilical com sabores transnacionais, e logo nomeados de agentes do Terrorismo pelos poderes da Democracia social-capitalista. Com ou sem golpe de Estado, com ou sem movimentos contra, com ou sem fascismo social, Portugal é o exemplo da Nação onde a Sociedade não se faz pela Cidadania, sim pela ‘fulanização’ do quotidiano gerado pelas políticas econômica e social tendo a Cultura como tapume e até como meio termo entre os cada vez mais pobres e os cada vez mais ricos. Embora este seja um exemplo localizado, a política econômica mundializada tornou toda e qualquer Nação refém dos desígnios da rapina financeira e tecnológica que meia dúzia de poderosos processa, assim, a Humanidade não vive em cada Cultura uma Nação, mas uma aculturação de ‘pensamento único’ que oprime todas as nações, sendo esta situação política e religiosamente fundamentalista o eixo da História belicista do Mundo que somos, e o será..., porque o Poder estabelecido, político e/ou religioso, não dá ao Povo os conhecimentos históricos que lhe permitiriam viver em Verdade – i.e., em Liberdade! Situação de conflitos locais e continentais, de interesses pessoais e de grupos, e raramente de vivência da pátria condição. Cada vez mais as pessoas preferem se organizar em máfia e lutar por interesses economicamente próprios, ou politicamente direcionados, como no caso daqueles que ousam a Revolução Social face às miseráveis condições de vida que a Revolução Técnico-Científica trouxe, e traz, porque ideologicamente orientada para dar suporte ao Poder estabelecido –


esta coisa que eu nomeio de Poder-condomínio, porque a uns poucos privilegiados é dada a condição de viver e à multidão que é o Povo pede-se mais Trabalho... Mas até mesmo aqueles que lutam pela Revolução Social prestam-se, na maioria das vezes, a assumir o papel do Poder neo-conservador, i.e., daquele Poder-condomínio travestido de mui liberal e democrático! Daí os revolucionários que viram terroristas e dos policiais e militares e políticos que viram máfia... Numa Sociedade completa e exatamente perfilada pelo Consumismo só mesmo uma Nação anacrônica como Portugal para viver como lar fortificado/castro mental até que a ‘árvore das patacas’ desapareça, porque os portugueses vivem na pétrea condição da falência e sem alternativas/soluções próprias, razão pela qual nenhuma Revolução ali vingou por inteiro, e só o ‘golpe d’Estado de 1974’ permitiu algo novo, da mesma maneira que os revolucionários feitos terroristas por lá continuariam como heróis em movimento não fossem alguns dissidentes terem determinado o seu fim uma vez que personificavam a ‘revolução’ de uns e não a Revolução Social politicamente assumida pelo Povo. Mas se em Portugal a questão é extremamente localizada, já na Itália, nos EUA, na Colômbia, nos países do Leste europeu, no Brasil e nos países do Oriente, a máfia atua política e militarmente com suportes sócio-culturais de envergadura popular, ao que se junta um grupo extremamente violento e mundializado – o narcotráfico, cuja influência atinge a própria governabilidade em alguns países e ainda subsidia conflitos bélicos localizados, como os levados a cabo pelos EUA e os amigos do G-7 para controle de áreas estratégicas. É neste contexto, também, que a Revolução Técnico-Científica desenvolve-se mais por interesses de grupos transnacionais e econômicos do que pela Humanidade em si. Ora, o que é preciso é levar o Consumismo às últimas consequências mesmo que isso exija maiores agressões ao eco-sistema que nos serve de berço e de sobrevida. Este é o lema da política liberal. O que interessa para os liberais não é a Sociedade, não é a Nação, só o valor comercial do cotidiano lhes interessa e, nesta base, qualquer cidadão (militar, engraxate, político, executivo, pedreiro, pintor, bombeiro, intelectual, etc) que se lhes oponha é terrorista, saiba ou não ele o que tal significa exatamente! Esta é a Sociedade em que vivemos e nenhuma Filosofia, à parte algumas premissas de Kant e do marxismo (o autêntico, de Marx, não o dos pseudo-comunistas tão terroristas quanto os fascistas...), conseguiu alternativas tendentes a tornar a Humanidade mais humana. Isto significa que aquela Sociedade Aberta encontrada na Cultura Castreja (não se confunda com Cultura Castrense = vivência militar) era, na verdade, uma Filosofia de abordagem à Vida, sensibilidade poética que o Consumismo simplesmente arruinou, pois, com este vive-se para ‘estar’, e naquela época vivia-se para ‘ser’. E quem somos nós, afinal? Que tipo de Sociedade podemos viver enquanto Humanidade que se autodestrói num quotidiano que é mais Animal que humano?! Vive-se, i.e., vivo eu e vivem todos, a calamitosa situação anti-filosófica de ‘estar’ porque a isso ainda temos algum ‘direito’... Que tipo de Sociedade aqueles que teimam em viver a Cidadania podem discutir?

Desideologização Global versus Cidadania Os caudilhos ibéricos – Salazar e Franco – fizeram do lema deus, pátria, autoridade a bandeira sócio-policial e cultural com que emolduraram o antropocêntrico Governo fascista, o mesmo lema e a mesma bandeira que, ainda nos Anos 70, Pinochet utilizaria no Chile e Médici e compadres generais no Brasil do golpe de 1964 que muitos, à semelhança do que se passou em 1974 em Portugal, chama(ra)m de ‘revolução’... Épocas de sombra e de desesperança que, hoje, na virada para o 3° Milênio, revivemos através da Nova Economia imposta pelos liberais e pela qual somos submetidos a um fascismo social de consequências


humanas desastrosas, como já verificamos na política estatal-policial soviética do Comunismo e da pseudo Ditadura do Proletariado evolucionada por Lenin e continuada criminosamente por Stalin numa afronta vergonhosa ao conceito filosófico de Socialismo. E se com os comunistas a Ideologia foi o motor que movimentou políticos e militares, com os liberais e os neoliberais da Nova Economia é a Desideologização que movimenta e fortalece a máfia, em geral, e faz os militares – enquanto braço principal do Estado – buscarem conflitos regionais para fortalecerem, também, as estratégias governamentais de dominação dos países mais tecnologicamente privilegiados. Conflitos que implodem, também, entre mafiosos como entre revolucionários, uma vez que uns e outros geram em suas ações ‘pequenos poderes’ que contradizem ‘códigos de honra’ que, aí, produzem dissidências ideológicas ou não. Qual a diferença entre um caudilho fascista, um chefe mafioso, um chefe fanaticamente religioso e um chefe revolucionário ditatorial?..., nenhuma! Daí as dissidências em grupos revolucionários como entre os islâmicos, ou entre os portugueses PRP (Caso Dinizes) e Projecto Global (Caso Barradas, etc), em grupos mafiosos como a transnacional yankee de origem italiana Cosa Nostra (Caso Buscetta, o mafioso preso no Brasil e a quem os policiais locais arrancaram as unhas numa inequívoca demonstração de ´inteligência´, tendo-se em conta a seriedade dos dados contidos no Mulheres Da Máfia´, de Clare Longrigg), e em grupos comunistas, como o PC Brasileiro (Caso Cabo Anselmo), além de muitos casos em grupos como o irlandês IRA, o basco ETA ou o colombiano FARC. E isto porque os grupos da Economia Paralela, como a máfia e o narcotráfico, atuam sob fulanização de interesses, enquanto aqueles que apregoam a Revolução Social e Religiosa, apesar das ideologias, caem precisamente nessa mesma fulanização, como aconteceu com Fidel (em Cuba), Otelo (em Portugal), Osama bin Laden e Yasser Arafat (com a Al Qaeda e a Al Fatah, respectivamente, entre os fundamentalistas islâmicos), Menachem Begin (com o seu sionista Irgun), Rolihlahla (o famoso Nelson Mandela, entre os sul-africanos), os ‘globais’ Chacal (França) e Carlos (Argentina), Tirofijo (na Colômbia), entre outros exemplos, além de que não se pode esquecer que filósofos de peso apoiaram e apregoaram o fascismo suicida dos militares de Hitler, ou o Terrorismo estatal dos Sovietes (na URSS, através do KGB) e o Terrorismo institucional das transnacionais dos EUA (com Rockfeller e a CIA à cabeça), enquanto muitos artistas (como António Ferro, Almada-Negreiros, em Portugal, e Menotti del Picchia, no Brasil) forjaram a fachada cultural fascista... e que, hoje (para poderem ser subsidiados pela Nova Economia), os judeus perseguem outros árabes da mesma maneira que foram perseguidos pelos nazis em função do boicote econômico declarado e praticado pelo Sionismo contra a Alemanha..., e já possuem, até, bomba étnica (manipulada pelo Mossad). Então, Ideologia é agora um campo de batalha filosófico e cultural desenvolvido pelos intelectuais mais ousados e contrários à Cultura ocidental antropocêntrica que rege a Mundialização de alguns interesses contra a Humanidade tendo como base a Desideologização das políticas sociais. Aplicada esta questão ao modus vivendi dos revolucionários – e observo aqui a exceção às questões nacionais da Irlanda e do País Basco –, agora descomprometidos com as velhas bandeiras dos sovietes e esquecidos do stalinismo, registra-se que eles têm como ‘norte’ a sobrevivência daquele status antifascista que durou até final dos Anos 70, daí que em muitos casos a organização revolucionária tornou-se um bando de salteadores, quer políticos quer religiosos (lembrando aqui os fundamentalismos fanáticos de católicos e de islâmicos que, creio, estarão na base das guerras do Séc 21, contrapondo-se ou não aos Poderes instituídos e seus terrorismos)! A facilidade com que este tipo de ex-organização revolucionária se presta à convivência com a máfia e o narcotráfico [...veja-se o caso da milícia UCK, do Kosovo, ou a milícia Farc, da Colômbia] demonstra, em definitivo, que a Desideologização proposta e desenvolvida pela Nova Economia alcançou aquele patamar do fascismo social que desagrega tudo e todos ao proclamar a hierarquização absoluta dos chefes, que já conhecemos das estruturas políticoreligiosas dos árabes, cujo continente é, por isso mesmo, um continente de Miséria de muitos em meio à Riqueza dos chefes (o que contraria a própria e sábia e nativa Cultura árabe).


Objetivando Segurança Em Meio Ao Condomínio Que O Poder É

Ao expor o crime organizado da Cosa Nostra, o ex-chefão siciliano Don Masino (na realidade Tommaso Buscetta) levou à Justiça quase meia centena de mafiosos e, entre eles, o primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, logo ‘absolvido’ pela mesma Justiça subordinada ao Poder institucional; exatamente o que os políticos portugueses fizeram com Otelo, acusado, sob demonstração de farta documentação, de ser ele mesmo uma ‘componente’ e o fundador do Projecto Global, organização originariamente revolucionária que, por falta de condições objetivas e nacionais, tornou-se um bando de salteadores – como em tribunal declararam os dissidentes, e estes, mesmo sem o favorecimento de um programa de apoio a testemunhas... instrumento jurídico utilizado pela Itália e pelos EUA no Caso Buscetta. Na realidade, o mafioso italiano atuou para salvar a pele, enquanto os revolucionários portugueses se afastaram da organização e decidiram acabar com ela. Ação idêntica à do Caso Cabo Anselmo, no Brasil. Vem esta questão da ‘testemunha privilegiada’ a talhe de foice para demonstrar que, seja no campo econômico seja no revolucionário, a Ideologia não é mais o carro-chefe no campo das ações; uns tentam salvar-se custe o que custar e, outros, sentindo o fim das ‘vanguardas ideológicas’ desligam-se e acabam com a hipocrisia dos movimentos. E, no entanto, em meio a estas ações regionais e continentais, favorece-se no fundo o Poder que, atrelado à Economia mundializada, torna-se ainda mais forte. Porém, acrescento, e é importante: se um revolucionário chega ao Poder ele se integra gradativamente às conveniências burocráticas e filosóficas das estratégias conservadoras que lhe servem de base. Não menciono aqui ‘se um mafioso’ porque, esse, regra geral, ou está no ou serve o Poder... E veja-se que o Poder e a ‘sua’ Justiça observam, em geral, tolerância zero para um ladrão de carteiras e tolerância aberta para os criminosos do colarinho branco!, e só tocam nestes quando é necessário pacificar o Povo sacrificando este ou aquele figurão... De tal sorte vêm acontecendo as movimentações sociais que os grupos ideologicamente posicionados para defenderem os direitos das classes desfavorecidas passaram a viver, desde os Anos 80, uma declarada e política autodestruição, e até os velhos partidos comunistas viram-se obrigados a mudar de nome e de estratégia para não colidirem com os ‘novos interesses’ (leia-se alienação pelo Consumismo) daqueles que dizem defender e, hoje, estão até no centro de escândalos de corrupção nos aparelhos d´Estado [observe-se o Caso Mensalão, no Brasil, com uma parte da cúpula do PT lulista condenada com pesadas penas por terem montado e alimentado quadrilhas no âmbito do Poder]. Eis que a Sociedade é hoje, na verdade, um bolsão universal manipulado pelos poderosos da Nova Economia. Ou seja: falar hoje de pena de morte, por exemplo, é quase uma obscenidade, porque as classes desfavorecidas estão pré-destinadas pelo Consumismo a um endividamento pétreo que as leva à morte lenta, enquanto os políticos e a magistratura vivem de pançudos salários e ´direitos´ que a classe trabalhadora nunca terá! Ou seja: o Terror[ismo] é uma arma do Estado acionada segundo conveniências político-econômicas e judiciais. Uma barbárie continuada em nome da Democracia. Obviamente, quem se opõe é antidemocrata...


Então, quando a Violência irrompe nas cidades e nos campos de forma desorganizada, ou politicamente manipulada à Direita ou à Esquerda, o Poder responde que o Terrorismo deve ser combatido. Sem mais. Mas como a Violência é cada vez mais uma resposta à não distribuição de renda, ela espalha-se por todas as camadas e faz da Sociedade um barril de pólvora - e, nos casos da América do Sul, uma guerra civil não-declarada. Isto levou as elites sociais e políticas e militares a construírem condomínios, não na perspectiva da antiga cultura castreja, que objetivava o bem-comum, mas na perspectiva da defesa personalizada do Poder instituído. E pronto. De um lado esse Poder-condomínio e do outro os bairros de pau e lata, fazendo aqui uma leitura abrangente de alguns textos do escritor português Manuel Reis sobre o assunto. A questão é: a burguesia defende-se, mas quem defende os Povos da opressão sistemática exercida por esse Poder mundializado...? Eis que, de fato, e pelos vistos ‘de direito’, o Povo está condenado à morte lenta porque lhe tiraram o direito à Educação e à Cultura, mas deram-lhe a ‘alternativa’ de ser feliz tornando-se ‘consumidor’ da mesma Sociedade que o condena. É por esta razão que a pena de morte é aplicada nos EUA e na China, por exemplo, a indivíduos que não os da elite. A antiquíssima lei do chicote é o exemplo que hoje temos no escravagismo tecnológico e econômico! A questão não é mais de Ideologia, é de Humanidade em autodestruição!, porque se cada um(a) de nós precisa de um(a) ‘guarda-costas’ para se defender de uma imposição política ou de uma clonagem científica, e mesmo para ir ao cinema ou ao teatro, então, a Humanidade deu lugar à mais primária Animalidade...! ´A história é regida por leis condicionadas pela covardia dos indivíduos´, lembra Albert Camus – no seu ´O Homem Revoltado´ – citando e analisando a ´ideologia´ de André Breton. Pois, “...todo o Totalitarismo tem base na covardia da[s] Pessoa[s] que alcança[m] o Poder escravizando a Liberdade dos outros, particularmente quando a[s] Pessoa[s] otimiza[m] o seu ´querer umbilical´ para um exercício ´revolucionário´ de simples sobrevivência intelectual e/ou social...”, a pinçar, aqui, a opinião de J. C. Macedo sobre o mesmo assunto [in ´Debate Ideológico - Nº4´, opúsculo mimeografado e clandestino, p.3, ´FP´s25´, assinado ´Rui´/´Alexandre´/´Éolo´, pseudônimos políticos, Minho-Braga/Pt, 1982].


A Importância Do Intelectual Na Segurança Pública & Cidadania

Quando se diz que ‘o cidadão não participa da sua própria segurança’ não se expressa a verdade sobre o assunto, pois, deve-se dizer ‘quando ele – o cidadão – tiver as ferramentas políticas propícias ao desenvolvimento da Cidadania aí, sim, a Segurança Pública terá dele o envolvimento total.

BARCELLOS, João in O Cidadão-Intelectual No Contexto Da Urbe Violenta (palestra, Rio de Janeiro, Br. / Buenos Aires, Arg., 1995)

Parte 1ª

Dar ao Cidadão a Cidadania a que ele faz jus não deve ser nem uma promessa políticoeleitoral nem um obscuro desafio para transformar a Sociedade em um campo de concentração. Abrir a Sociedade à Liberdade que ela transporta em si mesma é, a meu ver, o desafio maior de cada um(a) de nós, o que não significa que cada um(a) de nós deva ser ou transformar-se em policial ou militar no âmbito da Defesa Pública. Ao visitar, nos Anos 70, a velha planta da Citânia de Briteiros, na região portuguesa de Braga, lembrei-me do alto nível organizacional que a Sociedade Celta preservava a par da barbaridade da sua sobrevivência sócio-militar face aos ataques, primeiro, dos romanos e, depois, dos cruzados católicos – e, realmente, a Sociedade Celta acabou por fraquejar em alguns pontos face ao Império romano e ser completamente dominada pela Igreja católica porque não permitiu que os seus cidadãos se tornassem nem polícias nem militares: permitiu simplesmente que o Celta fosse um Celta vivendo a decadência da sua própria maneira de viver a Vida e, com essa atitude sociocultural, abriu-se à passagem de outros povos miscigenando o seu sangue. Quero ilustrar com este exemplo da Sociedade Celta o significado pleno do ser-Cidadão: “[...] e uma vez que ninguém assume a Cidadania sem se aperceber da Sociedade que representa, porque todos somos uma Sociedade e dela vivenciamos um todo político, policial, cultural, social, etc e etc, ou afundamos com ela ou vivenciamos a conquista de novos valores que irão enfocar uma nova Ordem. Então, face à violenta Urbanidade em que nos inserimos neste Século 20, particularmente nas grandes metrópoles americanas e um pouco nas européias, podemos perspectivar não um afundar em razão da realidade das crises de identidade sócio-culturais e, sim, uma retomada da Sociedade que, depois das Navegações do Século 15, tornou-se um Mundo Global. A participação do Cidadão nas estratégias da Segurança Pública passa, pois, por uma avaliação muito pessoal do que é a Sociedade e daquilo que o Poder Instituído lhe oferece como garantia de Vida! Assim, o Intelectual, por


exemplo, habitualmente tido como um ser empantufado face às questões mais violentas ou mais absurdas da Urbanidade contemporânea, vem assumindo cada vez mais (e, digo, melhor) uma personalidade de intervenção sociocultural e não pelo fato de se sentir ameaçado no seu dia a dia, não, mas pelo fato de nos últimos dois séculos deste Milênio Dois da dita era cristã se ter apercebido da importância do Cidadão que o é estando e que, agindo, faz frente às apetências mórbidas dos vários setores mais próximos à liturgia da Morte quotidiana, como aqueles que fizeram a Inquisição católica ou aqueles que fizeram o Fascismo, ou os que, sob o manto de dogmas tardios de um fundamentalismo anti-histórico e anti-social, personificam o Terror contra o Terrorismo institucionalizado que, na verdade, os criou... e, ainda, aqueles que se arvoram de Fazedores da Revolução com o interesse único da tomada do Poder...”, como expliquei em palestra que fiz no Rio, em 1995. Não podemos fechar as portas da Liberdade a nós mesmos, porque o masoquismo político é uma entidade psico-psiquiátrica sempre à espreita de uma oportunidade para se mostrar na Sociedade. Eis que a importância do Intelectual, como Cidadão presumivelmente mais atento aos pormenores socioculturais que se manifestam nas políticas cotidianas da Urbe massificada por interesses vários - mercantis, culturais, políticos, etc -, é uma importância fundamental porque ele pode (e, na maioria dos casos, deve) criar canais de discussão que levem ao debate geral sobre Segurança Pública & Cidadania. Como a apetência pelo Terror, seja o promovido pelo Estado seja o promovido por Grupos Políticos à Esquerda e à Direita, está sempre na pauta dos acontecimentos socialmente previsíveis... é preciso que o Intelectual faça parte da linha de atuação sócio-política que não permite a equação desideológica do ‘deixa andar’. E quando falo do Terror faço-o sobre acontecimentos governamentais como a ‘Operação Condor’ (nos Anos 70), que envolveu o Brasil, o Chile, a Argentina e o Paraguay, todos sob orientação ideológica dos EUA (leia-se CIA e Pentágono), na caça aos políticos marxistasleninistas e aos anarquistas que pregavam o Socialismo, o nacional-fascismo de Salazar (em Portugal) e de Franco (em Espanha) na perseguição a todos quantos se lhes opunham, as ações político-militares dos EUA na região arábica e no conflito judaico-palestino, e no Vietnam, ou acontecimentos revolucionários como os originados pelo grupo alemão ‘BaaderMeinhoff’ (nos Anos 70) ou o português ‘FP’s-25’ (ou ´Projecto Global´, nos Anos 80). Ou seja: no caso governamental, o exercício do Poder que se quer preservar absoluto e a coberto das religiões; no caso revolucionário, o agrupamento de interesses políticos e para-militares com objetivos de ferir quer o Poder capitalista quer a Democracia fragilizada na sua necessária abertura político-econômica. Ao que se junta, desde os Anos 70, ações de Terrorismo global praticadas pelos Narcotraficantes e, regionalmente (nos casos chileno, brasileiro e paraguayo, ou entre árabes), aquelas praticadas por Grupos de Extermínio ou milícias. Diante disto, como deve se comportar o Intelectual? Como é que escritores, artistas plásticos, filósofos, jornalistas, editores e docentes, entre outros, podem intervir na Sociedade como apoio setorial direcionado à busca da Paz? Quando, “nos Anos 60, quatro ´bombas´ ideológicas incendiaram o Fascismo, em Portugal, a Intelectualidade não soube aproveitar tais eventos – a saber: 1- a dissidência e fuga, com a ajuda da CIA, do chefe da PIDE, António da Fonseca Costa; 2- a ´operação vagô´, gizada por Hermínio da Palma Inácio e Henrique Galvão, que resultou no primeiro seqüestro político de aeronave para ação pacífica contra o Fascismo, no mundo; 3- pelo mesmo grupo, o sequestro do navio ´Santa Maria´; e 4- a fuga de ´Annie´, a filha do último chefe da PIDE, Silva Pais, que se juntou ao Governo revolucionário de Cuba...” [J. C. Macedo – in jornal anarquista ´Jeroglífo´, Argentina, 1989], a força sociocultural e acadêmica lusa poderia, aí, ter incendiado ainda mais o ´regime católico-fascista de Salazar´, mas não o fez!

O primeiro passo está nas fronteiras do seu quintal: ao se integrar lúdica e socialmente no bairro onde habita o Intelectual já dá, com esse gesto, um passo gigantesco na ajuda aos que buscam um quotidiano pacificado. E se, a par disso, ele participa no Jornal do bairro com artigos ou opiniões sobre a Cidadania e a Segurança Pública, aquele primeiro passo torna-se


um gesto de universal Humanidade pela fértil Solidariedade que desperta em todos. Quando uma Comunidade local desperta para a realidade adversa que a cerca e mina, principalmente a realidade da Violência gratuita e a das Drogas que fere a sua Juventude..., logo um novo universo humano ressurge no horizonte, porque a consciência cívica da Cidadania é uma conquista sociocultural da qual toda a Pessoa consciente deve participar. Por isso, quando digo que o Intelectual deve participar da Comunidade não o faço porque o Intelectual não participa, o que acontece é que são raros os exemplos do Intelectual em função sociocultural comunitária. E se a participação na Imprensa regional é uma abertura ao diálogo dos simples – mesmo quando essa Imprensa é jogada economicamente pelo Poder autárquico (o que é vulgar no Brasil e no conjunto latino-americano) –, deve dizer-se que existem aqui exemplos honrosos de brava luta pela Liberdade. Portanto, quando o Intelectual o-é-sendo a Sociedade, regional ou nacional, logo reage tomando ciência dos quês da precária Cidadania que vivencia. Do mesmo jeito que o Intelectual é um cidadão mais completo quando integrado ao seu bairro por organizações de base como a Associação de Moradores. Ou seja: quando o Intelectual se julga o ´+´ por aquilo que representa na Sociedade, e assim atua, põe em risco a sua própria Cidadania e fica isolado no plano da Segurança Pública – tão isolado quanto o Povo castigado por impostos; mas, quando ele pensa e existe como parte integrante de um Povo, aí a Sociedade progride. Uma das razões que leva o Intelectual a manter distância quer de policiais quer de militares é o velho conceito de Liberdade: nunca se envolver com a Ordem institucional mesmo quando ela lhe faculta um cotidiano distante do Povo socialmente sofrido. Um conceito ideologicamente falho, porque a Liberdade existe para o Intelectual quando é uma dádiva da Democracia onde também o Povo bebe o direito à Vida! E mais: a Liberdade de cada um(a) de nós depende da Liberdade vivida também por policiais e militares que asseguram a Ordem institucional. Eis que o Intelectual não é um Ser isolado... A sua participação em ações cívicas que envolvem policiais, militares e organizações de base (como associações sindicais e de moradores, Imprensa regional, etc), que buscam a necessária parceria social para o bem-estar comunitário, é tão importante quanto o seu posicionamento social e profissional. Em toda a América do Sul assiste-se, por um lado, ao alargamento das atividades de Violência gratuita como do consumo de Drogas, e por outro, à destruição gradativa da Família. O que, com maior ou menor grau, também acontece na Europa, na Ásia, na África e nos EUA... Nenhum continente está livre destas pragas geradas pela própria Humanidade. A participação do Intelectual em programas cívicos de combate à Violência e às Drogas deve ser o mais ampla possível, porque a Violência e as Drogas são o espelho mais visível da destruição quotidiana da Humanidade. Aquele velho conceito de que Intelectual não deve estar com a Ordem instituída queria dizer, antes de mais, que o Intelectual ativo e entre policiais e militares era tido como informante dos mesmos. O que não era nem é o caso: a parceria sócio-cultural pela Paz no combate à Violência e às Drogas exige, sim, a participação ativa do Intelectual – ou, ele será parte ativa no apoio a quem gera a Violência e a quem processa e vende Drogas...! Eis a questão. Tão simples como ser livre, ou não. Tão simples como estar na Sociedade ou estar contra ela. Ora, quando um Intelectual politicamente ativo nas franjas revolucionárias se apercebe dos desvios ideológicos ele tem duas opções em uma: afastar-se e acabar com a organização na qual incorporou os seus sonhos revolucionários. Da mesma maneira que aquele envolvido com o narcotráfico que resolve, pondo em risco a própria vida, acabar com o esquema quando se apercebe que a sua atividade era unicamente um dos instrumentos da Morte e da destruição da Família... E isto é estar com a Sociedade, não é denunciar pura e simplesmente, é acabar com o Terror desenvolvido por grupos. E, de um modo geral, o Intelectual sempre encontra o velho dilema: participar ou não participar da Sociedade que lhe solicita o apoio? Isolado, o Intelectual é simplesmente uma peça humana; quando integrado à Sociedade ele espelha o progresso que as parcerias cívicas proporcionam.


Parte 2ª

1 a universidade [...] criada para produzir conhecimento, ela se preocupa mais em controlá-lo

Um núcleo de Serviços de Informação [SI´s], enquanto departamento institucional, coleta informações ["inteligência"], no contexto das possíveis ameaças ao Estado. Entretanto, se os SI´s obtêm dados secretos ou confidencias de/sobre um Estado, sem autorização, isso é Espionagem. A lei, em geral, considera criminosa a Espionagem, mas, os Estados não investigam a sua própria atividade nesse campo. Alem da Espionagem, ios SI´s também tentam evitar a ação de serviços de inteligência estrangeiros em seu país com ações de Contra-Espionagem. Muito particularmente pela utilização de intelectuais em suas fileiras, os SI´s da antiga Cortina de Ferro, ou países do Leste ´comunista´, é hoje muito comum perceber em certas análises uma gramática estética errada quanto a esse assunto, como nas peças cinematográficas ´Adeus Lénin´ e ´A Vida Dos Outros´ – a saber: a maior parte da Intelecualidade que serviu os regimes em revolução contra as velhas monarquias o fez com o sentimento da renovação, mas logo entenderam que uma ditadura acabara de substituir outra, pelo que poucas foram a pessoas sábias que seguiram alistadas no processo político e policialesco das ditaduras ´proletárias´ do Leste europeu, e não um caso generalizado; da mesma maneira que as ditaduras fascistas se utilizaram de uma Intelectualidade que buscou honrarias e chefias acadêmicas e não a honra de servir a Ciência, a Tecnologia e a Educação, enquanto pessoas sábias. Logo, raras são as pessoas que se demarcam das ditaduras para se dizerem Intelectualidade pela liberdade de estar e ser. Sobre esta questão quero lembrar uma famosa palestra: “A universidade é uma instituição dominante, além disso, ligada à dominação. Até hoje a universidade [...] formou assessores de tiranos, é o anti-povo. Criada para produzir conhecimento, ela se preocupa mais em controlálo”. Isto foi dito no ´Seminário de Reitores´, em 1978, em João Pessoa [Pernambuco] pelo brasileiro Maurício Tragtenberg [1929-1998], porque a Universidade é um pólo de reprodução do Poder-condomínio onde os seres humanos se experimentam como objetos da máquina capitalista, que pode ser ideologicamente nazista ou stalinista. Em outra palestra, em Campinas, e para falar da ´delinquência acadêmica´, o famoso mestre da pedagogia libertária, muito próximo ao português Agostinho da Silva [1906-1994], dizia que “[...] a maioria dos congressos acadêmicos serve de ´mercado humano´, onde entram em contato pessoas e cargos acadêmicos a serem preenchidos, parecidos aos encontros entre gerentes de hotel, em que se trocam informações sobre inovações técnicas, revê-se velhos amigos e se estabelecem contatos comerciais”, pelo que ele é ainda, mais próximo de Noam Chomsky e de Manuel Reis na análise à gramática fascista que domina a Intelligentsia capitalista. É de tal ato burocrático da Mentalidade enpantufada que são cooptados os/as agentes para os SI´s, tanto nos núcleos das ´panelas´ acadêmicas como nos núcleos empresariais e nas instituições públicas, porque são pessoas inteligentes e muito úteis no seus servilismo por não terem o caráter sublime da sabedoria que é o humanismo crítico, que é a inquietação cultural. Isso não se encontra na Universidade, que não alimenta a ousadia do espírito, a reinvenção da Humanidade para ser mais ela mesma. Nem se pode ignorar que os/as agentes são cooptados para agirem segundo uma “razão de Estado” e sempre “em detrimento do povo”, como gostava de enfatizar Tragtenberg, e outro mestre brasileiro, Mário Schenberg [1914-1990]. O que está em causa no campo da Segurança Nacional é o aspecto corporativista da Elite em meio aos interesses políticos individuais na área financeira – i.e., a ´razão´ de Estado! E quando se fala de corporações, fala-se de associações secretas onde uma gama especial de agentes são cooptados: as lojas esotéricas... “[...] um agente secreto vive da discrição, de códigos e de simulação. O Estado faculta-lhe identificações fictícias, forma-o para se infiltrar em organizações criminais e praticar


contrainformação, investiga-lhe a vida profissional e pessoal, exige-lhe declaração de rendimentos e patrimônio como a um político e pode dispensá-lo alegando meras ´razões de segurança´. Mas fora das paredes do SIS e do SIED há espiões que fornecem fotografias de rosto e se identificam antes de assinarem testamentos espirituais. São vendados e iniciados numa ordem que lhes permite usar sinais, passaporte maçônico e cartão de solidariedade no estrangeiro e em Portugal. Em segredo, usam à cintura aventais decorativos e juram fidelidade e auxílio a uma irmandade composta por políticos, assessores de ministros, empresários, polícias, juízes e jornalistas. Jorge Silva Carvalho é apenas um deles. Integrou a Loja Mercúrio – que iniciou o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais –, mas acabou por transitar para a Mozart n.º 49, porventura hoje a mais poderosa loja da GLLP e que, segundo documentos internos consultados pela SÁBADO, terá entrado em funcionamento em Setembro de 2006 pela mão de Paulo Noguês, vice-presidente do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação e secretário-geral da Associação de Amizade Portugal/EUA, e pela de António Neto da Silva, empresário, ex-deputado do PSD e presidente daquela associação. Organizações que, juntamente com o Instituto Transatlântico Democrático, dirigido por Rui Paulo Figueiredo (venerável da Loja Mercúrio), têm uma forte presença de maçons entre os dirigentes. No ano passado, Silva Carvalho desempenhou na Mozart o cargo de venerável, uma espécie de diretor em funções. É uma loja tão discreta que nem sequer se faz representar em sessões coletivas como o Conselho de Veneráveis e a Assembléia Geral da Grande Loja – que decorreu na sede da GLLP, a 27 de Setembro deste ano, e que foi acompanhada pela SÁBADO. É em salas de hotéis como o Marriott, Vip Zurique ou Penta, ou no 1.º andar de um discreto edifício, na Rua Pereira da Rosa, no Bairro Alto, alugado pelos altos graus da GLLP – designados Supremo Conselho para Portugal –, que se juntam outros “irmãos” membros dos serviços de informações. Um deles será F. R., um tenente-coronel da GNR que já integrou o SIS e que, em 2007, quando Silva Carvalho era chefe de gabinete do SIRP, foi nomeado por Júlio Pereira diretor do Departamento de Segurança, um dos novos quatro departamentos comuns do SIS e do SIED. Outro é o operacional J. A., técnico superior de informações do SIS [...]”. Obs: SIS é Serviço de Informações de Segurança; SIED é Serviço de Informações Estratégicas de Defesa; GLLP é Grande Loja Legal de Portugal; GNR é Guarda Nacional Republicana.

A título de curiosidade, dois símbolos: a Águia e o Mocho. Eles estão presentes em tudo o que é Serviço de Inteligência e Corporação Militar. Segundo uma memorável palestra de J. C. Macedo, em Buenos Aires, no inverno de 1996, para um grupo de intelectuais engajados à Liberdade, “[...] lembremos que a águia tem 13 pontas de penas, logo, a águia na nota de dollar não está lá por acaso, mas por determinação esotérica de Washington, da mesma maneira que o mocho [ou moloch] é parte dos ritos mágicos iniciáticos, ou não; nem a cruz suástica da harmonia é símbolo nazi por capricho de Hitler, mas por determinação de lojas que exotericamente esgrimiram, e ainda esgrimem, um Poder que desejam eternizado na Política – eis o ´segredo´ das lojas que florescem entre os campus da Universidade e o campus do Empresariado, paralelamente ao histerismo mais mercantil do que místico da Igreja-Estado. Os simbolismos dessa malta consumista dizem-nos tudo o que representam imperial e colonialmente”. Muitas vezes confundido como maçon, o poeta anarquista Macedo levou a efeito estudos sobre a integração esoterismo-polícia nos meios associativos e acadêmicos latino-americanos para poder concluir, por exemplo, sobre a destruição política da Teologia da Libertação. Retorno à reportagem jornalística da revista portuguesa. Ela mostra como, hoje, as lojas esotéricas continuam a ser aquele feudo de espionagem que floresceu no Séc. XIX e que, por ex., teve ação preponderante nas políticas oligárquicas que levaram o Brasil à separação de Portugal, mas, sem nunca perder a característica de colônia face às potências econômicas e militares... particularmente a anglo-americana. Já no eixo EUA-URSS verificou-se, e Chomsky não se cansa de demonstrá-lo didaticamente para todo o mundo, aquilo que em menor escala aconteceu no Estado Novo [leia-se Fascismo] português, espanhol, brasileiro, argentino, etc.: a Intelligentsia de mangas d´alpaca agarrou-se às possibilidades de estar-Poder e deixou-se embalar pelos arraiais ideários que pululavam no condomínio da Elite, muito bem ungidos pela Igreja institucional, sempre pró Poder, nunca contra. Isso explica, por ex., a ação de um Jorge Amado no campo stalinista, pois, desconhecia os ´coronéis´ soviéticos e dava porrada nos


´coronéis´ brasileiros, quando deveria tratar a ambos com a mesma escrita crítica; assim como Álvaro Cunhal queria um lusíada liberdade mas esquecia a ditadura que lhe dava base política e logística. E os casos mais paradoxais: os intelectuais e artistas que fugiam da URSS e [ainda fogem] de Cuba com direção aos EUA... de uma ditadura político-militar para uma ditadura político-financeira, porque em ambos os casos a Liberdade não existe – existe só o Capitalismo que faz da Pessoa o Objeto a ser triturado pela Máquina que Chaplin tão bem explicou estética e politicamente! Eis por que a Intelligentsia dará sempre bons ´filhos´ da Universidade para os SI´s. Eis por que intelectuais e artistas serão sempre pessoinhas ótimas para serem cooptadas para os SI´s. Eis por que a Intelligentsia que não aceita ser peça de consumo do Poder passa ser vista e tratada como ´terrorista´. Eis por que uma vertente sinceramente religiosa, mas não opositora da Igreja católica, formou-se entre os latino-americanos para dar à luz a Teologia da Libertação e o próprio Vaticano aliou-se aos SI´s ocidentais para aniquilar a ´padralhada terrorista´. Não existe ideário para agentes secretos, só a utilidade do serviço, como se pode ver e ouvir em ´Casablanca´, aquele filme que muita gente só lembra pela música e pelas características feminina e masculina ali estilizadas. Assim, quando se fala de Intelectualidade como base de alguns aspectos dos SI´s é preciso conhecer a realidade que lhe é peculiar, particularmente a social e a econômica. Seja qual for a Ideologia, e leia-se Sun Tzu [544-496 aC], a Intelligentsia estará sempre sob a mira do Estado para lher ser útil e não para lhe ser oposição. Veja-se e [a]note-se a importância da Agência de Investigação em Projetos Avançados para a Defesa [DARPA], ligada ao Departamento de Defesa dos EUA, e criada em 1958 com ensinamentos das experiências e dos fracassos nazis, onde se desenvolvem secretamente os Sistemas de Controle Futuro [FCS] e onde foi criada a ArpaNet... sim, de uma necessidade militar nasceu a rede mundial de computadores, a Web ou Internet, e por isso ninguém está seguro ao colocar os seus dados na ´rede´ virtual! Logicamente, a DARPA conta com os serviços de intelectuais, técnicos e cientistas de todo o mundo, além de recrutar diretamente as melhores ´cabeças´ que surjam em qualquer esquina. O que interessa é ´olear´ a máquina da guerra para não deixar os EUA perder a posição de ´big brother´ dos interesses ocidentais, católicos e judeus. 2 Praticada desde a antiguidade, a Espionagem teve a sua primeira rede de informações estruturada na Inglaterra, durante o reinado de Elizabeth I [Séc. XVI]. O agente nº1 foi Francis Walsingham, que agiu dentro e fora do país, com diplomatas e artistas (entre eles o dramaturgo Cristopher Marlowe, amigo de Shakespeare que também representava ele-mesmo uma farsa). Mas, o primeiro SI governamental foi criado pelo rei Luiz XIV, na França. No folclore político e polocial, diz-se que o Secret Intelligence Service (SIS), o antigo MI6, é o mais eficiente dos SI´s conhecidos. Os norte-americanos criaram a Central Intelligence Agency - CIA em 1947, substituindo a OSS, um departamento de espionagem do Federal Bureau of Investigation - FBI. No período da II GG, a vitória contra os nazis possibilitou um acordo para troca conhecimentos com a Gestapo, o serviço de espionagem alemão, e a CIA passou a ombrear com o MI6 em ações gizadas em todo o mundo, próprias ou com mercenários. Outro serviço famoso é o Mossad, em Israel, e que complementa muitas das atividades sujas da estratégia dos EUA nos países árabes. Muitos dos atos terroristas dos judeus fundamentalistas, antes do estabelecimento do Estado israelense, deram contribuição decisiva para o ´corpus´ do Mossad, que virou a principal arma de Israel contra os grupos armados palestinos, os refugiados de Gaza e da Cisjordânia, além de ações no Egito e na Síria [o agente Ira Levin esteve anos infiltrado na ponte de comando militar da Síria, descoberto, logo foi torturado e executado]. O que é Espionagem? É a obtenção de dados [estratégicos ou não] secretos de pessoas e/ou institituições para, com eles, conquistar uma vantagem na negociação social, militar, econômica, científica e política. A maior riqueza de uma Nação está em seus dados estratégicos e só uma agência de serviços secretos de alta eficiência pode ´blindar´ tais dados da curiosidade estrangeira; da mesma maneira, a mesma agência pode ´plantar´ dados estratégicos em outra Nação para gerenciar circunstâncias político-militares destinadas, por exemplo, a uma invasão [USA e Iraque] ou ao suporte para um golpe d´Estado [USA e Chile; USA e Brasil]. Assim, a


espionagem de Aparelho d´Estado é uma missão de defesa nacional que, às vezes, ultrapassa fronteiras para missões terroristas. A espionagem, enquanto ato individual contra o próprio Estado é traição. Um estudo mostra que “o austríaco Franz J Messner, naturalizado brasileiro em 1931, com o nome de Francisco José Messner, espionou para o Office of Strategic Services (OSS) enviando informações para Allen W Dulles, na Suíça; no seu contato com a resistência antinazista na Áustria, Messner fez parte do grupo Maier-Messner-Caldonazzi, que a Gestapo acabou por descobrir em 1944; punido como traidor, foi morto em abril de 45 no campo de concentração de MauthausenGusen” [Barcellos, 1991]. A mais ampla rede de espionagem foi montada durante a Guerra Fria e estabelecida entre os EUA e a Inglaterra [CIA e MI6] contra a URSS [KGB] e os seus aliados ´comunistas´, e teve ações diretas relacionadas aos segredos de armamento nuclear, sendo que os SI´s sulamericanos tiveram aí importância fundamental e, principalmente, os portugueses [PIDE]. Agentes dos SI´s envolvem-se em atividades de sequestro e assassinato de pessoas consideradas hostis aos seus países, por isso é que, também, surgem no meio de ações paramilitares com mercenários em golpes de Estado e muita sabotagem, embora a maior parte do serviço ´sujo´ seja feito por gente bem paga pelos próprios SI´s, como foi o caso da guerra EUA/Israel que acabou com as potencialidades árabes lideradas por Nasser na Guerra dos 6 dias, sendo que essas manobras também estiveram ligadas à Guerra Fria... a questão estava em impedir a ascenção da URSS em territórios que antes foram parte do império ocidental, francês e inglês. Hoje, os SI´s fazem as suas guerras privadas em torno de asociações políticas de fundamentalistas terroristas e delas se aproveitam para darem continuidade ao Terrorismo de Estado, uma vez que entre os atos políticos e os do Tráfico de Drogas existe campo de manobra para inventar guerrilhas localizadas e vender todo o tipo de armamento.

...a religião perde em poder espiritual o que ganha por meios materiais quando admite acordos com os que governam o mundo, satisfazendo os baixos apetites... Max Heindel Uma das pontes mais importantes da Espionagem e da Polícia Secreta foi, é e parece que assim vai continuar, a Igreja – toda a Igreja que se transforma institucionalmente em CapelaEstado para dar suporte aos seus caciques hierarquizados. Os Que Sabem À época de Carlos Magno [742-814], quando o Catolicismo estava no auge da conquista de terras no mundo e na batalha contra hereges [leia-se gnósticos e judeus], foram recrutados condes e bispos para serem os Missi Domicini [Missionários do Senhor] e eles estabelecerem o primeiro grande Serviço de Informações a operar no quadro colonial da política societária, ou plutocrática. Foram os olhos e os ouvidos do império cristão de Magno, que obrigou, por exemplo, a população alemã a tornar-se católica sob pena de morte... Os Missi Domicini vieram a influenciar a criação da Vehemgerich [Liga da Santa Corte], conjunto de tribunais secretos cujos associados eram os Wissenden [os que sabem], ou modernamente os ´big brothers´; séculos depois, ´os que sabem´ inspiraram a base da Gestapo e das SS no tempo nazista, cujas experiências foram transmitidas à CIA [EUA], à PIDE [Portugal], à DINA [Chile], ao DOPS [Brasil], ao MI6 [Inglaterra], etc. e etc., e, pela hierarquização e os ritos iniciáticos, tal estrutura serviu também de modelo para as guildas e para os maçons, pelo que não se deve estranhar o ´secretismo´ exotérico (e não esotérico) que as associações místicas e as igrejas-estados tanto copiam e tanto defendem no seio do Poder-condomínio criado pela Elite plutocrática, pois, são parte desse universo anti-humano. Foi nos cavaleiros teutônicos, na mística das gotas d´orvalho que escorriam das crinas dos cavalos das Valquírias e na Vehemgerich que o núcleo hitleriano buscou a base para um pan-germanismo anticristão e, aí, teve o apoio de vários segmentos rosacrucianos e maçônicos e protestantes: a experiência dos tribunais inquisitoriais católicos, suas torturas e biorracismo, inspiraram mais terror durante os ciclos de espionagem entre os Anos 30 e 40 do Séc. XX. Esse ciclo de terror continua no Séc. XXI com os SI´s


estruturados da mesma forma que os Missi Domicini, mas são agora mais sofisticados pela gama de tecnologias que dispõem para processar as táticas terroristas, físicas [focos de guerra] e virtuais [web e vigilância via satélite], e basta lembrar a norte-americana DARPA e os serviços inquisitoriais mantidos pelo Vaticano – os mesmos serviços que atuaram com a CIA para acabar com a Teologia da Libertação. Talvez um dia ´os que sabem´ encontrem coisa melhor para fazer do que proporcionar o Ódio e a Guerra, e entendam que a Paz ´rende´ mais! Nada de hipocrisia... Departamentos policiais e militares ditos SI´s existiram, existem e existirão, e sempre vão ter a colaboração, direta ou não, da Intelectualidade e da Igreja, principalmente quando a Ideologia predominante souber cooptar os interesses desse ´feudo´ acadêmico.

Notas Biblio-Cinematográficas Antonio J. Vilela. Autor de Espiões Na Maçonaria, reportagem com o fotógrafo João Pimental publicada na revista Sábado [[24.2.2009]. Charles Chaplin. Ator e diretor cinematográfico, autor de Tempos Modernos e O Grande Ditador. Florian Henckel von Donnersmarck. Cineasta, diretor do filme Das Leben der Anderen [A Vida Dos Outros], alemanha, 2006. João Barcellos. Autor de Ordem & Sociedade. J. C. Macedo. Poeta e conferencista. Autor de As Cinzas Dum Tempo Perdido e de Utopia, dois livros que tratam do Terrorismo institucional e político no Séc. XX tendo Portugal e o Mundo como referência. Manuel Reis. Autor de Hipotecas Graves Da Civilização Ocidental. Guimarães, Portugal. Maurício Tragtenberg. Palestra Delinquência Acadêmica, no Seminário de Educação Brasileira. Campinas/SP-Br. Max Heindel. Autor de O Mistério Das Grandes Óperas. Buenos Aires, 1921. Michael Curtiz. Diretor do filme Casablanca, 1942. Noam Chomsky. As palestras deste filósofo norte-americano são bandeiras hasteadas pela Liberdade em todo o mundo, por isso, é um ´terrorista´ sob vigilância do próprio Governo. Pablo Allegritti. Autor de El Klan de Hitler. Pastor Petit. Autor de Las Tecnicas de los Servicios de Inteligencia. Sun Tzu (pinyin: Sūn Zǐ). Estrategista militar chinês, autor de A Arte Da Guerra, livro que, além de táticas e estratégias, aborda a ciência política no seu todo social e bélico. Toni Negri. Fundador, nos Anos 60, do grupo editorial Quaderni Rossi ("Cadernos Vermelhos"), no renascimento intelectual do marxismo italiano, fora do controle ´soviético´ do partido comunista local. Agitador político, guerrilheiro e conferencista. Wolfgang Becker. Cineasta, diretor de Goood Bye, Lenin! [Alemanha, 2003].


Segurança Pública & Municipalidade

A Urbanidade socialmente desassistida e a Violência são parte de um todo da Política Pública que teima em não ingressar na Escola e na Comunidade. E, enquanto os políticos não conquistarem para eles mesmos a Cidadania que proclamam eleitoralmente para o Povo, os jovens e o Professorado continuarão sem políticas públicas de Segurança enquanto a Comunidade continuará a sofrer com falta de Estrutura Urbanística e Emprego. A violência urbana é fruto de tal complexidade política e administrativa e ela exige, na Comunidade, forças policiais cada vez mais bem preparadas social e psicologicamente, porque o combate eficaz ao banditismo é feito com estratégias de prevenção e noções exatas de tática repressiva. Mas, até aonde uma Guarda Municipal está preparada par enfrentar o banditismo urbano fortemente estruturado pelo tráfico de drogas e armas, inclusive, com cooptação de militares e policiais? E, na verdade, o que é uma Guarda Municipal? É preciso entender que “a questão da Violência não é somente Social, é também fruto de uma Justiça cujo aparato administrativo e penitenciário não corresponde às realidades do conjunto criminal, o que põe todos contra todos, i.e., ao não considerar uma adequação de políticas públicas de Segurança eis que a Nação age negativamente diante do Povo e permite que este, marginalizado, responda com ações extremadas até dentro do sistema penitenciário. Uma das formas de prevenir a Violência Urbana é considerar benefícios sociais e educacionais na Comunidade e estabelecer uma Guarda local para defesa do Patrimônio e Prevenção ao Crime” [Macedo, 1989]. E é assim que uma “Guarda local”, ou Guarda Municipal, deve ser vista: uma força local para defesa do Patrimônio e Prevenção contra o Crime. A estruturação da Justiça engloba todos os segmentos da Ordem Pública, entre militares e policiais e instituições governamentais, por isso é que uma Guarda Municipal deve ser pensada e estabelecida pelos poderes públicos para efetivar uma Segurança sob coordenação nacional e cooperação permanente entre as diversas corporações. O sucesso de uma Guarda Municipal depende, e muito, da interação do Social com a Ordem Pública, o que significa dizer o seguinte: 1º- não existe policiamento local de prevenção e de guarda patrimonial sem um diálogo direto entre o Governo [Câmara e Prefeitura] e a Comunidade [associações populares de base]; 2º- quando uma Guarda Municipal [GM] é estabelecida apenas sob a orientação da Política local instituída, as falhas estruturais vão surgir logo nas primeiras ações da corporação no confronto com os interesses comunitários, que não são os mesmos da Elite local, mesmo que eleita por sufrágio universal; 3º- a estruturação da GM exige treinamento de defesa pessoal, armamento e acompanhamento psicológico integral; 4º- percepção clara das suas competências operacionais para que não possa, mesmo que por acidente, competir no mesmo campo com a ação de outras corporações, policiais ou militares, mas observar a noção de parceria nas suas demandas locais; e 5º- a relação Comunidade - Poder Público deve impossibilitar que pessoas não qualificadas assumam cargos na corporação para não comprometer a eficácia do todo policial,


ou transformá-lo num todo político. Nestes cinco tópicos estão as realidades internas de uma GM autêntica e orientada, de fato, para servir a Sociedade Civil que lhe dá respaldo. A mobilidade de uma GM está na Logística perfeitamente percebida – i.e.: a Logística não é somente o deslocamento de tropas, ela é, antes de mais, a Informação que garante uma Tática perfeita com sub-ações delineadas na Estratégia anotada na ponte-de-comando. É assim que uma GM tem de se mexer. Ou ser mexida. Se uma GM não possuir a Informação correta sobre o potencial de criminalidade localizado ela não poderá assumir uma ação preventiva, somente uma ação repressiva – e, diga-se, dificilmente uma GM poderá atuar em situação tão extremada, porque ela é preparada para dar respaldo estratégico às corporações, policiais e militares, estruturadas para isso. A consciência do ser-policial no território municipal é a primeira tarefa da ponte-de-comando nas instruções transmitidas aos elementos da corporação, que devem ser enquadrados numa política de humanos na demanda de uma Sociedade local cujas comunidades coexistam harmoniosamente. Sabe-se que “o Município é o ponto mais importante no desenvolvimento de uma política pública de Segurança” [Barcellos, 1993], e que o Poder Local não pode apenas custear o dia a dia de uma Guarda Municipal: “[...] o que o Poder Local pode e deve fazer é promover a Segurança com investimentos sociais e educacionais na Comunidade, enquanto mantém e melhora a sua Guarda, porque o municipalismo só o é quando as partes sociais dialogam para o Progresso sustentado” [Macedo, ibidem]. Portanto, a Segurança Pública depende de uma Municipalidade cuja administração garante o diálogo político permanente.

Paz & Segurança Pública É preciso desmilitarizar a mente para se entender o que é Sociedade Civil e o que é Paz!

O ano 2009 parece ser importante para a meditação e o implemento de algumas ações públicas no campo da Segurança Comunitária, porque o Brasil começa a pensar a Segurança Pública sem o conceito militar/militarista de Defesa Nacional para que surjam políticas públicas a partir das municipalidades de forma a estruturar uma plataforma policial-judiciária sem os ranços coloniais. 1 O velho conceito ditatorial do poder militar caiu quando caíram as ditaduras fascistas e soviéticas, e é preciso que todas as pessoas entendem que ´militar´ e ´polícia militar´ só existem nos quartéis das Forças Armadas [FA´s]; fora dos quartéis, só as estruturas policialjudiciárias e metropolitanas-municipais com grupos/gabinetes de gestão integrada, chamados Grupos de Gestão Integrada [GGI´s]. Eis por que a Democracia brasileira só acontecerá quando o Povo for parte da Segurança Pública e não o “inimigo” [IN], e quando a polícia do tipo


´militar´ estiver devidamente integrada na estrutura policial-judiciária ou na estrutura metropolitana. A conhecida Polícia Militar [PM] só existe no Brasil porque a Elite plutocrática não aceita discutir a desmilitarização mental que lhe é suporte ideológico e por achar que o Povo é, sempre, o inimigo a abater. Enquanto não se entender que a Sociedade Civil o é em Comunidade[s], o conceito militar/militarista de Defesa “nacional” abortará (ou vai tentar abortar) todas as manifestações de Democracia direta pela plenitude política da Cidadania. Se se pensar naquilo que nos cerca diariamente, pode-se questionar: Bombeiros? Ah, por que os Bombeiros são parte da PM?! Por que os Bombeiros não parte da estrutura de Defesa Civil nos municípios, logo, uma corporação municipalizada...?! É ainda aquele ranço colonialista da mente que julga tudo sob a ótica da defesa ´nacional´ para atender, prioritariamente, a Elite. Ao se conceber uma Polícia Comunitária do tipo Guarda Municipal [GM], deve-se perceber desde logo o interesse nacional pela Segurança Pública desde os núcleos – a Família e o Município, e é aí que a Polícia Militar [que não é propriamente militar, uma vez que não é parte das FA´s] deve ser repensada como força metropolitana. 2 A idéia de Segurança Pública deve enquadrar, sempre, a Sociedade no seu Todo humano, e não somente no aspecto societário, i.e., institucional, pelo que é na Comunidade, por ex., que agentes devem ser recrutados e treinados para atividades do tipo ´policiamento municipal´. Obviamente, a esfera do Poder central [ministério, secretaria nacional e programas de nacionais de integração] deve estar presente como ponte institucional e parte do processo, mas o controle efetivo de uma GM deve ser feito por corregedorias com políticas neutras de intervenção técnica e ética, até para coibir o ´apetite´ tradicional dos políticos locais de transformar a corporação em ´sua´ guarda pessoal. É preciso desarmar a mente, desmilitarizar as corporações policiais metropolitanas, para que se quebrem as algemas coloniais que aprisionam, ainda, a Sociedade. Sem a desmilitarização da mente colonial, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania [Pronasci] e a própria Guarda Municipal terão dificuldade no seu assentamento social e político, pois, sabemos..., isso requere integração local, estadual e nacional, no âmbito de uma ação de Poder-civil e não de Poder-militar. Muitas pessoas, até profissionais policiais, militares e judiciais, não percebem que só pelo fato de uma corporação policial-metropolitana circular nas comunidades como ´militar´ é já uma ´bandeira´ socialmente contraditória na circunstância da Democracia que se deseja assentar efetivamente – e vejamos: a) O serviço militar existe para a defesa territorial da Nação; b) O serviço militar deve preservar a Ordem em caso de estabelecimento de Estado de Sítio, seja em caso de Golpe de Estado ou não; c) O serviço militar deve se incorporar à Defesa Civil quando as circunstância o exigem; e d) O serviço militar exerce policiamento no seu território, i.e., entre quartéis, estando o policiamento civil sob orientação das corporações policialjudiciária e metropolitana. Assim, não é nem legítimo que uma polícia metropolitana utilize a denominação ´polícia militar´, como o faz a “PM” que circula em todo o Brasil. E entenda-se: ninguém é contra a PM, o que se quer é a que a PM vista a farda que lhe autêntica: a farda da Polícia Metropolitana, ou, como em outros países, a farda da Polícia de Segurança Pública. Com tantos anos de atividade sob a bandeira ´militar´ é óbvio que a PM criou nichos de interesses sociais e mesmo profissionais; mas, o que importa não é a corporação, ou o corporativismo, o que importa é que na Democracia o Ser-militar é um profissional aquartelado para a Defesa Nacional e não para a atividade em policiamento urbano cotidiano. 3 Nas comunidades está a base do Todo social que pode gerar a Paz – Família, Poder Público, Escola, Núcleos Empresariais, Igrejas, Guarda Municipal, etc. –, e o Todo integrado funciona, a Nação progride de baixo para cima realizando a vera e autêntica Democracia. Aqui assenta, também, o conceito de Sistema Único de Segurança Pública [Susp], que deve ser acarinhado e defendido por toda a Sociedade brasileira. O contato direto das corporações policiais e do judiciário na Rede Municipal de Ensino, por ex., é desde logo o ato primeiro da mudança de paradigma estrutural no garante um humanismo crítico pela defesa dos direitos humanos, até por que o/a Agente Municipal da Ordem deve ser, antes de mais, o/a Agente da Sociedade, pois, não pode ficar isolado da


Comunidade como fica o Agente Militar confinado no quartel, mas, este, por circunstância da sua própria atividade em prol da Defesa Nacional. 4 O Ministério da Justiça [MJ] lançou, para inaugurar o ciclo de debates no âmbito da nova visão de Segurança Pública, o Texto-Base. O ´t-b´ tornou-se já um instrumento de excelência pedagógica ao permitir que as corporações policial-judiciárias busquem conjuntamente soluções locais de importância nacional. Cabe, agora, ao Todo social acompanhar e participar dos encontros municipais que o ´t-b´ propõe para a mudança definitiva do conceito ´militar´ de Segurança Pública.

BARCELLOS, João – in “Segurança Pública e Poder Municipal”, palestra, Barueri/SP, 1993; Lisboa/PT, 2004. CASTRO, Rui – in “Pensar A Cidade Como Casa Em Segurança Da Pessoa Livre”, palestra, Niterói/RJ-Br., 2007. MACEDO, J. C. – in “Terrorismo & Urbanidade: notas e soluções”, opúsculo, ediç do autor. Buenos Aires, Arg., 1987; Rio de Janeiro, Br., 1988.


O Militar No Contexto Civil ensaio-palestra no âmbito do Grupo Granja 2000

I- As Forças Armadas Sob Desígnio Popular II- Forças Armadas Com/No Poder III- Segurança Nacional IV- O Militar No Contexto Civil

INTRODUÇÃO ...tudo no homem depende da civilização. É, portanto, sobre o seu estado social que se apóia o edifício da sua grandeza” D’OLIVET, Antoine Fabre [França, 1767-1825]

Cruamente posta a questão do Ser social e civilizado/civilizador que, aqui, na linguagem ‘dura’, porque verdadeira, do filósofo/historiador Antoine Fabre D’Olivet, mais se afigura – para os nossos tempos de Humanidade abandonada... – como uma procela ideológica! (e lembro também, aqui, Manuel Reis e o seu livro “Sócrates e Jesus – Esses Desconhecidos...!”, ed Edicon, SãoPaulo/Br-2001), importa desencapelar os messiânicos arautos da Sociedade-semPovo, que o mesmo é dizer, “da Riqueza de uns fabricada com a Pobreza de muitos e muitos, sob o manto da Religião que da situação se aproveita” (Tereza de Oliveira, in “O Trágico Mundo Da Aldeia Global”, palestra, Genebra-1993)... O conflito generalizado a partir desta situação sócio-econômica leva-nos à rota ideológica da Liberdade Responsável – ou, como afirma o português Manuel Reis (in “Em Torno Das


Novas Tecnologias E Da Nova Economia”, Cotianet-Br, 2000; e ed Edicon, São Paulo/BR2000), a vera Revolução Social –, pela qual vislumbramos a única alternativa, política e cultural, ao Poder antropocêntrico mundializado através dessa Economia digital que desconhece a maioria e é dirigida e mantida por uma minoria, ato tão ideologizado quanto a quase nenhuma distribuição de renda... E sendo/estando a Economia ‘digitalmente’ globalizada a passar por cima de interesses locais, regionais e continentais, temos como resposta um conflito generalizado (ou melhor: mundializado)... sim! Diante deste quadro, como se pode entender (e até perspectivar) a figura tradicional e nem sempre conservadora do Ser-Militar? Qual a lógica das Forças Armadas no âmbito da aldeia global e das culturas desenraizadas em tal processo globalizante? No início dos Anos 70 duas derrotas militares eram politicamente previsíveis a curto-prazo: a dos EUA, no Vietnam, e a de Portugal, em África (Angola, S. Tomé e Príncipe, Guiné, Moçambique e Cabo Verde). E, também, a implosão ideológico-administrativa e militar da URSS..., além do sofrimento de enfrentar o retorno dos males causados (como o terrorismo), no caso dos EUA. Aquela situação de poderes estabelecidos com base na prepotência da Sociedade Civil, tendo as Forças Armadas como instrumento da repressão institucional (e só), não animou os filósofos a maiores estudos que não fossem os circunstanciais; o que, aliás, já tinha acontecido em relação aos golpes de caserna sul-americanos, aos poderes militarizados dos comunistas e ao evento nazista. Era e é mais fácil e cômodo à maioria dos intelectuais olharem de cima os acontecimentos, nunca interagindo pró ou contra. E foi com o ideal liberal(izador) de um general português, António de Spínola (autor socialmente consagrado do livro “Portugal E O Futuro”, Ed. Arcádia-1971, um desassombro para a época fascista do regime salazarista-caetanista), que a estrutura castrense européia (e, genericamente, a Cultura Ocidental em seu umbigo geopolítico) iniciou um debate ideologizante, a par das primeiras manifestações de globalização da Economia em torno dos interesses/’satélites’ da [ex-] URSS e dos EUA. Eis que o Ser-Militar, quando consciente da sua individualidade/personalidade e da sua natural vocação para o exercício da Cidadania, é capaz, sim, de se tornar um meio social para atingir (e ter consigo o Povo) o fim último do ato civilizatório: desenvolver a Humanidade tirando-a dos calabouços, físicos e psíquicos, com destino à Liberdade. No seu livro, o general Spínola assinala[va] que quanto “...mais forte for a intervenção dos poderes paternalistas na vida social e por mais claras que sejam as opções dadas, mais se enraizará na massa a tendência para culpar o poder”, e que “a contestação generaliza-se a todos os setores [...], mesmo no seio das organizações em que a disciplina mais se enraizou: a Igreja e a Instituição Militar”... Ao abrir esta leitura-análise com as afirmações daquele militar português, que após o Golpe de Estado ‘dos cravos’, em 25 de Abril de 1974, tornou-se Presidente da República, cargo do qual abdicaria, recambolescamente, em Outubro de 1974 [porque o seu neoliberalismo não passava ‘do abrir as portas de Portugal ao mundo liberal’, e, nesse passo, tentou tudo, a partir do Brasil, para derrubar o ´regime abrilista´ que, paradoxalmente (...?!), até lhe era ideologicamente próximo...], pretendo sublinhar que o Ser-Militar, em geral, o é em função da sua Cultura castrense, que raramente o Ser-Civil conhece e que, por tal razão, o leva a posicionamentos equivocados no contexto político nacional e internacional, quando está perante circunstâncias adversas conduzidas – ou ‘alavancadas’ – pelas Forças Armadas.

I Forças Armadas Sob Desígnio Popular Existem muitos intelectuais que (ainda) “fazem dos militares o retrato de seres estranhos, totalmente desprovidos de inteligência (...), como se não fossemos todos feitos do mesmo barro e homens do mesmo povo” (coronel Octávio Costa, in “A Revolução de 31 de Março”, Ed. Biblioteca do Exército, RJ-1966), e é este posicionamento retrógrado que tem barrado uma análise filosófica mais profunda sobre o Ser-Militar e as Forças Armadas. É preciso exorcizar o comportamento intelectual que faz do Militar o bicho-papão do Civil, da mesma maneira que é preciso evolucionar-revolucionar o Intelectual no sentido de uma participação quantitativa e qualitativa na Organização Civil –, o que permitiria a esta um melhor entrosamento político enquanto entidade de crítica construtiva. Ou será que intelectuais altamente produtivos como Camões, que viveu e vivenciou a Cultura castrense, perdeu a noção da crítica por ‘estar’ militar numa circunstância da sua vida?!... Não. Não


perdeu. O que contraria as opiniões, sobre o assunto, de Olavo Bilac (que citarei mais adiante, neste estudo). Realmente, só perde a Razão quem o deseja, ou alienado por terceiros, como foi o caso camoniano na escrita d´Os Lusíadas – o panflo épico que os feudais de ontem e de hoje tentam impor como bandeira cultural portuguesa... só se for a da Casa de Bragança!... Henri Laborit ensina-nos que “...os problemas angustiantes que se põem ao Homem moderno não podem encontrar solução senão numa transformação do seu próprio comportamento” (in “L’Homme et la Ville”, Ed. Flammarion, 1971), o que (nos) remete à ´Histoire Filophosique Du Genre Humane´ (de Antoine Fabre D’Olivet, Librairie Générale des Sciences Occultes, Paris1905; obra publicada no Brasil pela Ed. Ubyassara, RJ-1989, c/ trad. Edmond Jorge). Em relação ao Ser-Militar, o Intelectual não pode simplesmente manter (e alimentar) um comportamento de mera e sistemática oposição empantufada, pois se aquele é protagonista de circunstâncias bélico-políticas assumidas pelo Poder civil é porque, em última instância, o Intelectual não consegue nem ser nem estar organização que impeça, de maneira sociocultural, o abuso de Autoridade!... Ora, antes de atacar o Militar – indivíduo e instituição –, é preciso que o Intelectual (na generalidade, porque existem, felizmente, honrosas exceções!) assuma a base social de uma Política de intervenção que, postas as pantufas de lado, o credenciem decisivamente na luta pela Liberdade. O desabafo do coronel Octávio Costa é legítimo e não é um caso pessoal, é inerente a todos os quartéis e Forças Armadas instaladas no mundo... Entretanto, há que se dizer, e o digo, que a instrumentalização política do Ser-Militar é ainda a problemática maior dessa organização – que de instituição se trata! -, e de difícil equação. Não basta, pois, não ignorar o Intelectual insatisfeito com as Forças Armadas, é preciso que estas tomem rumo civilizacional de acordo com os desígnios do Povo a que pertencem, e não (também, sistematicamente) contra! O diálogo cultural é a instância última onde a Humanidade se (re)encontra. O que não se pode é estigmatizar – qual anátema religiosamente político – a nossa cotidianidade e favorecer a politicagem do ‘quanto pior, melhor’, o que os poderes estabelecidos tanto agradecem, deliciadamente empenhados. Naquele instante português em que Spínola abdicou da Presidência da República, a grande maioria do Povo não entendeu o ato, pensou que, simplesmente, a Esquerda dominou a Direita, e pronto, lá se foi o general do monóculo... – mas não, ele foi-se porque as Forças Armadas, naquele processo revolucionário em curso [prec] tiveram de aceder aos desígnios de um Povo que, sem o saber nem o desejar!, autodestruia-se nas ruas de Portugal alegando, ou ‘defendendo’, ideologias que lhe eram totalmente estranhas. Por isso, não existiu uma Revolução nem um Desenvolvimento pré-revolucionário no país cujos marujos já haviam dado ‘novos mundos ao mundo’. E outro general – Ramalho Eanes, viria a comandar um contragolpe, em Novembro de 1975, e encarcerar o pseudo-revolucionário major Otelo, recolocar o Portugal spinolista nos trilhos da abrilada de 1974 e reposicionar as FA’s nos quartéis! Este exemplo português de descomprometimento anárquico – não se confunda com Anarquia [tudo e todos têm lugar, não precisamos de chefes]... – das Forças Armadas gerou algumas abordagens interessantes sobre o militar no contexto civil europeu. Marc Cédron, psicanalista e ecólogo, afirmou [in “As Forças Armadas Como Eixo Da Revolução”, palestra, Paris-1975] que “...se um civil como o Che foi capaz de [se] organizar, com Fidel, e promover uma guerrilha para revolucionar Cuba, e apear um Poder altamente corrupto e corruptível atrelado a uma Religião não menos desumana, também as Forças Armadas podem – e devem, como aconteceu no Portugal ‘abrilista’ de 1974 – protagonizar a Revolução quando as condições de organização que lhe são atribuídas deixam de existir, ou seja: quando o EstadoNação se desintegra... Aí, as Forças Armadas podem atribuir a si mesmas o papel de fazedoras da Revolução... ou, do combate ao niilismo social circunstancial. O que também aconteceu no Brasil, em 1964, e que por ignorância, também religiosamente alimentada, da Sociedade Civil, o ato transformou-se numa Ditadura militar. No Portugal ‘novembrista’ de 1975 a Ditadura não retornou porque as Forças Armadas foram lideradas por um general [Eanes] e não por um louco, felizmente, desideologizado [o major Otelo], em confronto com os determinismos soviéticos e guevaristas, além dos neo-fascistas, defendidos por alguns partidos políticos locais [...] Coube às Forças Armadas, aliadas com as mais primárias aspirações de um Povo recém colocado sob a luz da Liberdade, depois da turbulência do ‘prec’ [que quase destruiu a própria Instituição Militar], conceber um plano de apoio ao estabelecimento da Democracia, e isto sem a ajuda dos Intelectuais que, como quase sempre, estavam em cima do muro...”. A desassombrada e corajosa análise deste psiquiatra e ecólogo, porque Intelectual


não-empantufado, demonstra, se é que é preciso fazê-lo!, o quanto o Ser-Militar pode servir à sua Nação, ao Povo que lhe é, ou foi, origem. Não existindo, de fato, função moderadora nas sociedades, e sim execução de estratégias geopolíticas e/ou econômicas, as Forças Armadas devem ser a base de uma Defesa institucional, que o sufrágio nacional lhe destina democraticamente e confere pela Carta Constitucional.

II Forças Armadas Com/No Poder Desde que as antiquíssimas vilas castrejas [citânias] da Península Ibérica, particularmente nas regiões minhota (de Portugal) e galega (de Espanha), foram revisitadas por arqueólogos e historiadores, no Séc. 19, a nossa modernidade recebeu algumas respostas/subsídios sobre a Cultura castrense que estrutura (e é pilar d)a Instituição Militar. Antes deles, historiadores como o grego Heródoto [484-420 aC] deixaram[-nos] apontamentos sobre a vida vilareja dos povos ‘bárbaros’ – sendo que ‘bárbaro’ era o nome dado a todo o estrangeiro -, particularmente aqueles que, apesar dos diversos títulos/nomes, eram dados genericamente como Celtas [BARCELLOS, João – “Civilização Celta”, Cotianet-Br, 1998]. Uma vivência pastoril, nômade, mas quando os clãs [tribos] resolviam se fixar em alguma região, escolhiam locais montanhosos e isolados – e, aí, instalavam uma urbanidade rústica, mas perfeitamente organizada, com o Drud [chefe religioso], o Mayer [chefe militar] e o Kahn [legislador civil sob a orientação do Conselho dos Velhos]: e já com as classes bem definidas, como a Folk [o Povo] e a Leyt [a Elite], da qual saíam os indicados para os cargos de chefia, como nos conta D’Olivet [op. cit.]. Ou seja, uma vila castreja representava, na verdadeira Urbanidade, um Estado-Nação, princípio político-administrativo totalmente copiado pela Monarquia e pela Religião estabelecidas na Idade Média, principalmente, mas com a desvantagem de uma cópia socialmente inferior... pois, criaram instituições regiamente e religiosamente absolutistas. Na Vila Castreja [Castro, Castelo], a organização sócio-militar tinha predominância embora a religiosa fosse considerada de importância maior (na sua pagã) e telúrico-cósmica condição; a grandeza arquitetônica do sítio obedecia às limitações de defesa do clã e, em tal complexo encastelado/murado, a Sociedade Civil impunha as regras gerais, que iam da higiene à alimentação, como se pode verificar [BARCELLOS, João – in “Olhar Celta”, Cotianet-Br, 2000, TerraNova Comunic, São Paulo/Br-2000 ediç limit.] em vários castros minho-galaicos. No entanto, a importância do código militar de defesa era tanta que o Ser-Militar ganhou uma Cultura peculiar na sua vivência intramuros; e é desse código antiquíssimo que sobrevive a Cultura castrense da Honra em defesa do sítio pátrio...! Esta brevíssima amostragem configura um posicionamento de estética do Poder estabelecido – i.e., o Militar no e/ou com o Poder. No exemplo histórico dos povos celtas, cujo sangue guerreiro está no luso-português e por este foi transferido à massa americana-africana onde [se] forjou a Raça brasileira..., o SerMilitar está-Poder mas, na maioria as vezes, é-Poder. Ou, quando não o era, a própria estrutura civil e religiosa cooptava-o na razão direta de interesses de dominação. Talvez por isto, a identidade castrense é politicamente difusa até hoje e leva a incompreensões culturais. Saindo da barbaridade céltica e entrando na barbaridade globalizada dos nossos dias, quando festejamos a chegada/entrada do Séc. 21, do calendário cristão, a situação do SerMilitar é quase a mesma: as Forças Armadas são o garante da Sociedade como um todo organizacional e pátrio; as Forças Armadas não devem agir senão em circunstâncias bélicas geradas do Exterior e que constituam um ataque, declarado ou não, à Nação; as Forças Armadas e o Ser-Militar (na sua consciência de indivíduo-cidadão) devem agir para evitar que o Poder pátrio se desestruture em função de uma Política não-assumida com os desígnios do Povo; e


o Ser-Militar tem o quartel como (sua) residência, de onde pode, ou não, ser cooptado pelo Poder estabelecido. Qual a diferença entre o Guerreiro Celta daquelas vilas castrejas e o Militar da denominada era digital? Aquele outro tinha Liberdade para se expressar até na Assembléia dos Velhos [uma espécie de Senado do Saber] e, este, raras vezes tem a oportunidade para se exprimir... até culturalmente! Aqui está, naquilo que me é dado apreender, o que deixa o SerMilitar plenamente susceptível ao golpe - ou quartelada - nas sociedades que não lhe entendem (...?!) a Cultura própria e o querem (é-estando) como boneco de trapos. Que as Forças Armadas devam estar nos quartéis, sim; que as Forças Armadas devem estar com e/ou no Poder quando a Vontade popular assim o desejar, sim; que as Forças Armadas não devem ferir aquela Vontade golpeando-a e tomando-lhe o Poder constitucional, claro que não...; que as Forças Armadas podem e devem agir em defesa do Povo, sim; que as Forças Armadas devem exercer o [seu] direito sócio-cultural de estar e ser Organização, sim; que as Forças Armadas e o Ser-Militar – enquanto legítimo filho do Povo – devem ter direito de livre expressão, sim... O que não pode é a Cultura castrense isolar-se da Sociedade Civil, pois, o diálogo sócio-cultural e político é a arma serena da Paz na Comunidade vivenciada universalmente! Pode-se dizer, e eu penso nisto sempre que alguma ‘crise militar’ é anunciada pela Comunicação Social de algum país, que um dos perigos que ronda, sistematicamente, os quartéis, é a sempre possível ação (envolvente) de niilismo intramuros, na razão direta da Política civil absolutista e ignorante dos monopólios financeiros; porque as Forças Armadas estão-Poder quando a Nação o deseja/desejar ou são-Poder, da mesma maneira... é que a arma que defende o Povo é a mesma que pode ficar contra o Povo. Querer submeter a Cultura castrense a um beco sócio-político sem saída, de “anular-se no serviço incondicional de governos sem escrúpulos” (como afirmou Juarez Távora, in “À Guisa de Depoimento sobre a Revolução Brasileira de 1924”, O Combate, São Paulo-1927), é jogar a organização nos porões do antropocentrismo político do Poder-condomínio, aquele que submete o Povo à pobreza sob os balcões da riqueza usufruída e não-distribuída na Sociedade (nem ao Ser-Militar...!), pelos senhores absolutos do engenho digital cuja casagrande é o sistema bancário e a senzala os militares...

“...a coação psíquica produz e carreia um impulso obsessivo que, no limite das resistências, leva à liberdade psicológica no âmbito de uma vontade que, por sua vez, produz e carreia ora a revolução ora a contra-revolução.” Marc Cédron [op. cit.]

Desde a Antiguidade que o Ser-Militar é tido como uma coisa-em-si, lembrando aqui aquele conceito hegeliano de ‘força’; até aí, como se diz..., ‘tudo bem’, mas quando, por coação psicológica ele se fecha e se reduz à própria força, advém o perigo do nominalismo, porque ele vivencia então o seu sítio e não admitindo – circunstancialmente, pois – o universo que o rodeia, porque lhe é adverso política e socialmente. A palestra referida de Marc Cédron [que ele repetiu num encontro do Grupo Granja, em Buenos Aires – 1996] observava que tal circunstância peculiar tanto origina a Revolução como a contra-Revolução. Um dos sentimentos que tal situacionismo provoca é o Nacionalismo, que supervaloriza o conceito pátrio, mas fechando a Nação à vivência democrática; ora, é importante que se diga, e repita, que o sentimento Nacional é um dever e é este que deve prevalecer, não aquele outro..., mesmo nas circunstâncias críticas. Ávido da Liberdade, psicológica e física, o Ser-Militar comporta-se de igual modo que o Povo encarcerado nos porões do antropocentrismo político do Poder-condomínio: precisa respirar. É que a coisa, que na linguagem kantiana é o-algo-pensado [ding-an-sich] e entre os latinos a res da pública responsabilidade, hierárquica ou não, mostra a verdadeira Comunidade que o Ser Humano deve formar sob conceitos de Educação embasada na própria Comunidade, como tenta ensinar a perspectiva socrática retomada por Platão [in ´A República´] – i.e., devemos ser, sim, a coisa-em-si pela cósmica essência da Humanidade e não contra nós mesmos! Por outro lado, também não devemos pôr o Militar, como Ser e como Instituição, sob


um discurso mitológico. O mito [relato] é um evento cultural inerente a todos os povos, todas as comunidades, e não podemos transformar a História dos povos numa atitude reducionista para tratar a velha (e nova) questão militar... O Militar deve ser tratado, seja ele Poder ou não, como Ser Humano e no mesmo pé de igualdade do Civil. Nua e crua, a realidade que se pôs ao militar português, em 1974, e aquela que levou o militar brasileiro ao Poder, em 1964, tiveram em comum o absolutismo religiosamente arcaico do Estado Novo, com o Salazarismo, em Portugal, e o Getulismo, no Brasil. As circunstâncias foram diferentes, sim, mas enquanto as FA’s e o Ser-Militar português conseguiram equacionar a questão-Poder e permitiram a instalação da Democracia, as FA’s e o Ser-Militar brasileiro foram empurrados pela ignorância e a ambiguidade ideológica da Sociedade civil [leia-se Classe Média e Intelectualidade Empantufada] para uma Ditadura, como referiu, e muito bem, Cédron [op. cit.]. Pior: os brasileiros não tiveram como evitar, porque a Sociedade fechou-se politicamente com apoio dos EUA e dos grandes grupos econômico-financeiros, a militarização do dia a dia com a transformação – digo melhor: a coronelização – das polícias metropolitanas em ‘polícias’ militares... um caos burocrático que perdura até hoje e que só tem ajudado na subsistência de cartéis limitadores à própria Ordem institucional. A mistura organizacional da questão policial metropolitana na esfera da questão militar é algo que nem nos tempos mais sombrios do fascismo europeu aconteceu, nem a Instituição Militar o permitiria por princípio de defesa da Cultura castrense. O que não foi observado no Brasil com perdas sociais e políticas para o Ser-Militar... Deste caos aproveita-se, com evidências clamorosas, o Poder político, que não quer [!] interferir nesta problemática por ele mesmo criada. É que a instabilidade social gerada deste modo no universo do Ser-Militar coloca-o como ‘devedor’ de serviços face à Sociedade Civil [como aconteceu, de maneira menos radical, com a Guarda Nacional Republicana, em Portugal, de tão manietada que estava pela politicagem salazarista, particularmente na Ordem autárquica]. Então, esse saldo ‘devedor’ do Ser-Militar brasileiro é uma falsa questão, tanto que ele não está nem é Poder. Aliás, nesta nua e crua realidade, quem deve uma explicação à Instituição Militar é precisamente o Brasil civil, porque foi este que desmontou, politicamente, nos Anos 90, toda a rede nacional de pesquisa e trabalho científicos montada pelos militares! “Há duas maneiras de conquistar um país [...], ganhando o controle de seu povo pelas armas ou de sua economia pelas finanças” – desde Eisenhower esta é a estratégia mundializad[or]a dos EUA que, inclusive, apoiaram a escola sociológica chilena de onde saiu a Teoria da Dependência com uma mão de Fernando Henrique Cardoso – o ‘sociólogo’-presidente que acha dispensável disciplinas como Filosofia e Sociologia no âmbito no Ensino Médio..., que o mesmo é dizer, dê-se circo e pão ao Povo, nós pensamos e analisamos por ele!... –, e pela qual foi feita toda a desnacionalização e o sucateamento do parque industrial e científico brasileiro, e, pasmem-se os mais incrédulos..., sem a participação ativa das Forças Armadas. Óbvio, tal dependência político-financeira do Capital digital mundial[izado] acarretou, também, um largo prejuízo humano e material para as FA’s brasileiras. Também, em relação à Nacionalidade... Pasmem-se mais: um sindicalista proletário, do Partido dos Trabalhadores [PT], foi eleito Presidente do Brasil sucedendo a Fernando Henrique Cardoso – mas, no fantasioso arraial do Poder, eis que o presidente-proletário Lula percebeu que uma eleição não é uma revolução, não é uma ruptura, e sim, a continuidade de um sistema que ignora o Projeto Nacional... e lá foi ele a dar continuidade à cartilha liberal da Trupe FHC, agora dita Trupe PT, até que outra Trupe chegue para dar continuidade ao arraial da Elite. Com a experiência do Poder, o presidente Lula percebeu que a Nação teria que ser pensada como tal e, paradoxalmente, é sob a batuta de um presidente sindicalista e não-intelectual, que o Brasil conhece a ruptura com os paradigmas da mente militarizada ao dar voz à NaçãoPovo no campo da Segurança Pública, entre outros exemplos, mas..., como sindicalista, formou ´carteis´ de interesse partidário [petista] no aparelho d´Estado dando espaço para a corrupção institucionalizada [Casos ´Mensalão´ e ´Rose´]. Existe a fácil tendência para se falar das FA’s inglesa, francesa, espanhola, norte-americana, alemã, etc. e etc., num quadro comparativo diante da problemática das estruturas militares sul-americanas e, em particular, a brasileira. Mas não deve[ria] ser assim: cada continente e cada região vive peculiaridades socioculturais e politicamente estruturais – e, em muitos casos, sob determinismos de potências [como os EUA e a Alemanha] quanto a recursos materiais e de profissionalização tecnológica. Quanto ao Brasil, depois da abertura política de 1975, proporcionada pelas Forças Armadas com pressão generalizada da Sociedade Civil, aquelas têm se dedicado à vivência da sua Cultura sem incomodarem o Poder-estabelecido que, não é segredo de ‘estado’..., quer o Ser-Militar por perto, mas não dentro! Ora, não é justo traçar


comparações com a Europa, cujas estruturas militares obedecem aos próprios ritos castrenses e vêm engajadas milenarmente àquela Cultura que se respira numa visita às vilas castrejas. E, em relação a árabes e sul-americanos, os EUA e o G-7 ainda não vêem problemas geopolíticos para se declararem dentro daquela estratégia eisenhoweriana e rockefelleriana e imperialista de dominação de outros países, mas nunca terão a mesma posição diante de qualquer país europeu. Na realidade, o que embasa tal estratégia, está na definição esclarecedora do Prof. Bautista Vidal [in “O Poder Dos Trópicos”, Casa Amarela, São Paulo/Br-1998]: “O problema geopolítico hoje é a busca de alternativa energética ao petróleo”. E esta questão também aflige, e muito, a sensibilidade militar sul-americana que tem na Amazônia o eixo do futuro-hoje, exatamente o eixo que os EUA e o G-7 [e/ou G-20] querem dominar, ou militar ou economicamente!, como querem dominar, no Afeganistão, o fantástico ‘corredor do petróleo’... com ou sem bin Laden [leia-se fanatismo Taleban] no Poder. A era digital globalizada exige integração e/ou exclusão, exige ‘apoio’ social, mas não quer que a Pátria se situe localmente como sítio de um Povo etnicamente assumido. Esta era digital retira a Nacionalidade de um Povo para lhe dar uma face Mundial(izada)... mas irretratável; as suas elites são o Poder estabelecido com base nos comandos econômico-financeiros – é a autodenominada “nova” Economia; comandos que odeiam o código Pátria porque a transnacionalidade monopolista é a condição/meio para a perpetuação do sistema liberal de capitais enquanto bases políticas. É aquilo que o Prof. Manuel Reis [in “Em Torno Das Novas Tecnologias E Da Nova Economia”], entre outros filósofos e analistas sociais, classifica como fascismo social, porque é político e dispensa a utilização da força das armas que lhe foi vital para enquadrar e defender a geopolítica das matérias-primas como o Petróleo, na região árabe, e a Biodiversidade, na região amazônica. Se, até agora, este Poder-condomínio não conseguiu impor um exército transnacional na região árabe – porque os povos locais têm, antes de tudo, que defender as (suas) culturas próprias! –, está em marcha [política e liberalmente orquestrada] a tentativa de formar um exército amazônico sob o comando dos países mais poderosos reunidos no G-7... Neste contexto, a agonia maior das Forças Armadas e do Ser-Militar brasileiro é este anátema político-cibernético que comanda a Questão Regional e não permite a evolução técnicohumana nos quartéis, como acontece, também, em países pequenos como Grécia e Portugal, que aquele Poder-condomínio quer desmilitarizados... que o mesmo é dizer: desnacionalizados na sua essência mátria/pátria É preciso vivificar, como diz aquele intelectual português [também no seu livro “Não Apaguem As Luzes”, Estante Ed., Portugalpersonalizante. Pluralismo e direito à diferença, sim”. Ora, aqui se põe, necessariamente, (um)a velha questão: o Ser-Militar, face à Sociedade-Sem-Povo que é, de fato, a Era digital, pode ou não pode questionar-se?! Na obra “Em Busca Da Identidade – O Exército E A Política Na Sociedade Brasileira” [Ed. Record, RJ-2000], Eduardo Campos Coelho diz-nos o seguinte [p. 116]: “Os militares brasileiros, em quase todas as épocas, sofreram sempre do complexo paisano, da necessidade de ressaltar as suas semelhanças com a sociedade civil e seu espírito. Um reflexo disto é que raramente puderam os militares enunciar outra coisa que não fosse a harmonia ou o equilíbrio entre o Exército e a Sociedade”. Discursos esporádicos de oficiais superiores das FA’s brasileiras têm destoado da estética política do Poder pseudo democraticamente eleito (e digo ‘pseudo’, porque são grupos de interesse internacional que manipulam economicamente o jogo eleitoral com campanhas publicitárias milionárias que nada têm a ver com a res publica)..., discursos como o do almirante Mário César Flores, de crítica aberta ao discurso norteamericano [“Os Estados Unidos agora apóiam a democracia, que parece servir melhor à abertura comercial dos países que importam seus produtos ou, pelo menos, é mais exposta à influência liberal americana (de duvidosa mão dupla) e de organizações relacionadas com o comércio internacional do que com os autoritarismos comumente simpáticos às políticas protecionistas”, in revista Panorama, Instituto de Estudos Avançados, USP, Julho-2000]; realmente, a Diplomacia dos EUA e a dos países amazônicos, com particular incidência no Brasil, há muito que tentam disfarçar o mal-estar político que a estratégia de intervenção imperialista cria, hoje através dos meios econômicos!... É que o conceito de Segurança Nacional está muito diluído pela ação da Economia digital globalizada, e tem criado, por sua vez, certo sentimento de orfandade quanto às FA’s ‘amazônicas’ quando se discute o seu papel junto da Sociedade Civil. O certo é que, seja no Caso Amazônia seja no Caso Segurança, as FA’s têm tido, genericamente, ação pouco decisiva: é o Poder estabelecido regiamente pela Economia mundializada quem decide, mesmo que o Ser-Militar, com isso,


aproxime-se da área de excluídos – i.e., do Povo, que naufraga na procela de uma Sociedade indefesa e sem destino mátrio... porque o Povo significa, para as forças transnacionais uma mera arraia-miúda não incluída no Progresso! O Ser-Militar brasileiro, algemado politicamente ao seu umbigo castrense, é hoje – e a situação é idêntica à do norte-americano, por paradoxal que tal possa parecer...! –, é uma bomba que, em termos de Nação, pode implodir só para berrar bem alto: “Oi, eu estou aqui, e sou povo, e tenho uma terra!” É tão perigosa a situação que as potências inventam/reinventam situações bélicas regionais para ocuparem as suas tropas. Mas se, por exemplo, os EUA podem ‘brincar’ e ser/estar imperialistas em razão do poderio econômico-militar que dispõem, ou a Colômbia tem de resolver os seus graves conflitos internos, já países como o Brasil não têm condições para ‘ocupar’ militarmente as suas FA’s que, realmente, ainda não acharam um meio sociopolítico e cultural para estarem mais perto do contexto das ações que impulsionam a Sociedade Civil. E, por isso, tais condicionalismos fazem das Forças Armadas Brasileiras uma organização que está-Poder... pela convergência situacional transnacional e não pela vontade nacional; mas a apetência pelo ser-Poder é um rastilho que aguarda a chama... que pode ser digital[izada]! Apetece-me, aqui, lembrar que ‘a ociosidade é a mãe de todos os vícios’, esse provérbio exemplar que é fruto da Sabedoria popular. Estar ou ser Poder, quando se fala de forças armadas, é [a]notar a necessidade – e ela é tão evidente...! – de dotar a Organização militar de estruturas sociais que lhe possibilite viver a livre expressão democraticamente assumida pela Sociedade Civil. Ou os civis são seres humanos e os militares são bichos?!... Bichos não, mas são parte integrante daquela “democracia”-sem-Povo que os humanos mais ousadamente críticos, política e filosoficamente, não se cansam de combater. E o Ser-Militar está neste contexto, no caso brasileiro [aqui, como estudo e exemplo], porque lhe é dada a opção única de soldo de miséria tão igual ao do salário mínimo do trabalhador assalariado –, ora, isto demonstra que, sem guarita política, as FA’s não passam de uma mera ‘repartição burocrática’ entre os sistemas do Poder estabelecido. Por isso, o Militar brasileiro, aquele consciente da Cultura castrense que carreia, é um herói! Tão herói quando o Povo que trabalha e gera a Riqueza que alimenta as abusadas elites do Poder digital... Muito diferente desta realidade é a situação geral dos militares europeus, tropas profissionalmente elitizadas, tal e qual as norte-americanas – e, porque ‘satélites geopolíticos’ destas, as israelenses. A Instituição castrense é, na Europa, uma classe que se impõe politicamente sem precisar mostrar as armas!... Diferente, mas com igual sorte da tropa brasileira, são as FA’s africanas, em geral, dominadas pelos interesses de elites teocráticas, como acontecia na Idade Média européia. Depois da ‘descolonização portuguesa’, países como Angola, S. Tomé e Príncipe, Moçambique, Guiné e Cabo Verde, ou a África do Sul, após a queda do ‘apartheid’, entre outros, estabeleceram FA’s sob uma arquitetura algo diferente dos regimes anteriores, mas com a condição única de uma sistematização que tinha/tem como embrião social o Poder étnico-religioso, tal e qual como entre os povos islâmicos. Aqui, cada Chefe de Estado assume automaticamente poderes religiosos e militares atuando regiamente... O que tem de ser entendido culturalmente e não combatido com ‘o terror da bomba atômica contra o estilingue’. No caso sul-americano, à parte a ‘européia sociedade’ da Argentina, existe um exemplo que [nos] retrata fielmente a precária condição do Ser-Militar diante de algum tipo de Poder estabelecido, ou a estabelecer: é a Questão Colombiana, mais conhecida como política da cocainização. De um lado, a guerrilha ideologicamente de Esquerda – grupos como o ELN e as FARC -, que domina um terço do território nacional [principalmente as tropas maoístas das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – Farc’s, fundadas por tirofijo a partir da selva amazônica, há quatro décadas], de outro, a ideologicamente de Direita [grupos para-militares alimentados pelas oligarquias político-econômicas que se constituem em grupos de extermínio, um continuísmo político das ações apoiadas pelos serviços secretos dos EUA, através da famosa Operação Condor, que reuniu vários países sul-americanos contra ‘o perigo vermelho’...], e, no meio, o Povo colombiano, que se obriga a estar forçadamente com ‘alguém’ para não sofrer represálias de todos os lados, pois, também os cartéis do narcotráfico atuam ali como força de Poder ‘instituído’ e já ‘mundializado’. As Forças Armadas da Colômbia obedecem, sim, ao Poder estabelecido, mas, este, em configurações políticas e publicamente assumidas, enfrenta também o desafio das ações diplomáticofinanceiras de Corrupção que chegam a eleger, tal como o faz a Economia mundializada!,


deputados e presidentes, além de dominarem os círculos da Justiça. Uma autêntica máfia que reedita as condições vividas nos EUA, nos Anos 20 e 30. Eis aqui o verdadeiro conflito regional que tem de ser resolvido em termos nacionais e não como complemento de uma ação de estratégia geopolítica de interesses imperialistas – ou, porque conflito envolvendo a região amazônica, com apóio dos outros países fronteiriços. Neste caso, o Povo colombiano está emparedado por uma Violência sem limites que o Ser-Militar amazônico, em geral, deverá analisar sob a consciência de um dever a partilhar com o Ser-Civil...

Algumas situações de conflito bélico local desenvolvidas pelos estrategistas polimil’s da Organização do Tratado Norte (OTAN) já utilizaram, segundo informações geradas na Imprensa norte-americana e européia, recursos do Narcotráfico... da mesma maneira que, na tentativa de envolver a Amazônia no conflito colombiano, os mesmos tratam de ‘cocainizar’ tal conflito para forçar a constituição de um ‘exército amazônico’ sob o comando dos EUA com o pretexto de combater a Droga. Obviamente, as FA’s da região amazônica, como se verifica pelo discurso de alguns oficiais superiores, não se dispõem a ‘jogar com a mesma bola’ dos estrategistas da OTAN, mesmo que isso signifique, e significa, uma dor de cabeça para o Poder instituído, com apoio desabusado da Economia neo-liberal e digital, nesses países. Na Amazônia está concentrada a maior biodiversidade da Terra, e o Brasil é, particularmente, celeiro e pólo energético cobiçado mundialmente. E isto radicaliza ainda mais a angústia das suas FA’s que se vêem impotentes para se manifestarem de um modo pátrio contra esse determinismo político mundial[izado] dentro do próprio Governo brasileiro. O brasileiro, como o colombiano, o equatoriano, o chileno ou o argentino, o uruguayo e o paraguayo, defendem o sítio região que lhes é Pátria, independentemente de questões ideológicas localizadas, não podem, enquanto conscientes da Cultura pátria que localmente defendem, simplesmente esqueceram a sua Identidade para assumirem políticas da OTAN, como erradamente fizeram os ex-países do ‘bloco Leste’ com relação ao extinto Pacto de Varsóvia: seria o suicídio político-militar!

** Pode-se afirmar, então, que a inquietude do Ser-Militar, em geral, está menos embasada no ser/estar-Poder e mais na axiomática e incorruptível Cultura castrense? Com ou de mãos dadas, o Poder – estabelecido ou não, paralelo ou conquistado – é uma mera abordagem do Ser-Militar... e o é (Poder) quando quer, fazendo ou não troar os canhões! **


“O Militar é antes de mais um Pensamento, uma Cultura; fazê-lo ocupar um sítio que não o seu castro – sociedade d’armas em função da Pátria – é forçar o animalesco que todos temos, todos carreamos, e que em certas circunstâncias nos tornam predadores da própria Humanidade. Dê-se ao Militar a expressão de Liberdade que para o Civil tanto se deseja...” BARCELLOS, João [ in “Entre Os Castros E A Revolução”, palestra, Jan. 1988; Paulo Frontin-RJ]

Quando proferi a palestra ora referenciada tinha terminado um estudo sobre ´A Civilização Celta No Conflito Com O Império Romano´ e, ali, na região serrana carioca, comecei a aprofundar-me sobre O Militar No Contexto Civil após uma rápida leitura dos textos de Olavo Bilac (1865-1918) acerca da Questão Militar, e na qual defendia que a tropa não pod[er]ia servir de garante para a defesa da Moral burguesa, e no que aquele poeta parnasiano só tinha razão enquanto civil atrelado à convicção de que “o militar é retrógrado por natureza”; um erro de abordagem intelectual que subsiste até hoje, já que “o espírito sopra onde quer” [como se diz em bom Latim: spiritus ubi vult spirat], e, ao militar, também é lícito viver a Vida suo tempore [no seu tempo]...!

Poder “Ah, o Poder é uma conquista, violenta ou pacífica, mas é o Ser Humano quem lhe produz a circunstância geopolítica”. Joana d’Almeida y Piñon, física (do Grupo Granja), Campinas-SP, 1998

E o Ser-Militar, por mais absurdo que isto possa parecer ao Intelectual, principalmente o empantufado, é um Ser Humano! Já o fato de se viver empantufadamente em meio ao conflito generalizado é uma forma de Poder que nenhum Ser-Militar adotará, ele cumpre o seu desígnio no âmbito guerreiro do código de honra da Cultura castrense. Honra e Moral(idade) fazem parte da vivência castrense, esteja o Militar no ou com o Poder estabelecido. E é uma Cultura peculiar que não deve, nunca, ser menosprezada...


III Segurança Nacional – ‘doutrina’ política, não oriunda da tropa, que suscita o que de pior existe na casta militar quando esta é/ está mal acondicionada na Sociedade – i.e., quando o Ser-Militar não o é no todo e sim no mero e casuístico interesse pessoal... como aquele ou aquela que pretende ‘estar’ na Política para do Erário Público se aproveitar! Quando o Poder não faculta a vivência castrense enquanto Organização, esta vira pretexto para ações fulanizadas e, na maioria das vezes, profundamente ideologizadas. Segurança Nacional é algo tão caro à Sociedade quanto a res publica que deve ser/estar embasada na social urbanidade. – ‘algo’ que não pode ser uma competição de interesses (des)ideologizados, mecanicistas, tem e deve ser (relembro os tempos castrejos) um debate onde coexistam a Inteligência e a Sabedoria participadas, vivificadas, ambiental e ecologicamente. – Eis que a Segurança Nacional não pode ser tida como doutrina, sim, como uma práxis sociocultural da Identidade pátria assumida por todos, não por facções! A mistura explosiva Segurança Nacional + Internacionalismo [= Globalização] fez da exURSS uma potência equivocada ideológica e militarmente, e tal efeito alcançou, qual lenta, mas profunda procela, os centros de decisão dos EUA e da China. Neste contexto, Cuba [já sem a Moralidade conferida mais pelo Che mito romântico do que pelo Che propriamente revolucionário, na sua insistência pela Revolução Permanente Desligada dos Contextos GeoPolíticos, pois, Fidel virou um simples ditador soviético e anti-marxista] é o paradigma daquilo que a Revolução não deve ser. E a URSS implodiu conhecendo a causa desde os eventos stalinistas, mas iniciados por Lenin contrariando a Filosofia marxista; e, na hodierna realidade, quer os EUA quer a China transformaram-se em monstros polimil’s capazes de gerarem, por interesses das oligarquias, um conflito mundial[izado]... e, até, em nome dessa sacrossanta, porque mistificada, Defesa Nacional, atos que temos visto no Oriente e na Europa com ênfase de absolutismo político-militar [=polimil] de fazer corar até Hitler... Nas terras colombianas os guerrilheiros maoístas (...?!) dizem-se ‘defensores’ do espectro de uma Colômbia livre (para eles...), de mãos dadas com os narcotraficantes, enquanto as FA’s acham-se, de direito e de fato, detentoras de tal Política. Eis o caldeirão político, quase ‘choro’ vulcânico, mas nem a uns nem a outros deu o Povo colombiano autorização para agirem tão brutal e impiedosamente... O que se passa na Colômbia é, também, uma hodierna verdade no Brasil, como nos EUA ou na China, ou nos conflitos judaico-árabe-cristãos que já geraram o Estado de Israel e, agora, o pré Estado da Palestina. No caso do Brasil, a angústia vai até ao instante em que as suas comunidades deixem de defender aquilo que desconhecem politicamente, como a Teoria da Dependência – aquela da escola chilena (Cepal) que teve, e tem, como um dos principais ideólogos o sociólogo Fernando Henrique Cardoso – e leia-se, a propósito, “Dependência e Desenvolvimento na América Latina”, de sua autoria – , na verdade, uma tese de entreguismo das nacionalidades sul-americanas aos países ricos reunidos no G-7, hoje. O que se vive no Mundo e no Brasil é um “[...] processo de recolonização da periferia [...] Quais são as características da colônia? Não pode ter armas, não pode ter política externa, não pode ter políticas econômicas internas, não deve ter moeda...”, como afirma Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador exonerado/castigado por ser contrário às políticas de aproximação do Brasil à Área Livre de Comércio das Américas – ALCA [in revista ‘Caros Amigos’, São Paulo/BrJunho de 2001, pp.32 a 37]. Isto não significa[rá] que o Ser-Militar brasileiro vai simplesmente partir para a ignorância, e pimba!, a tropa saiu à rua... Não. O nível de conscientização da Cultura castrense por aqui não é aquele incipiente projeto nacional[ista] do primeiro Imperador, decalcado nas estruturas arcaicas portuguesas – e que por isso quase foi seqüestrado pelos argentinos... – , é uma realidade sociocultural que a Sociedade Civil ainda não conseguiu perceber plenamente. E é para o Brasil que todas as atenções do universo digital[izado] da ‘nova’ banca econômica se voltam: é aqui, no Brasil, que está a definição do progresso energético que vai alimentar a


Humanidade e suas novas tecnologias. Esse ‘algo’ que a Organização militar brasileira percebeu tão bem, mesmo durante os terríveis anos de chumbo da ditadura, nos Anos 70, dando base a notáveis centros científicos e tecnológicos que, nos Anos 90, o neoliberalismo da Economia digital – ou, como dizem alguns: videodolarização - simplesmente destruiu! Por isto, o Militar brasileiro é espezinhado e ignorado no âmbito do ‘desenvolvimento’ que, de tão global[izado], não o atinge como Cidadão, nega-lhe a Cidadania. Mas, como o Militar português soube erguer-se democraticamente em diversas situações-limite, também o brasileiro – no qual pulsa parte daquele sangue guerreiro celta – vai erguer-se e bradar: “O Brasil é a Pátria, não é a capela de uns a favor dos interesses alheios, e é esta Pátria que urge dimensionar na bravura cidadã da nossa Cultura!”, como disse, ou explicitou, Tereza de Oliveira [filha e neta de militares, artista plástica, in “Encontros do Grupo Granja”, Cotia/Granja Vianna-SP, 1996]. O que está em causa não é a Defesa Nacional... Quando este assunto é levantado junto das massas populares, através de enfáticos discursos de nacionalismo retrógrado e pseudofilosóficos, particularmente na ‘fala’ dos filhotes natos da Política neo-coronelística ou miliciana [...aqui, tão iguais aos filhotes do Poder estatal comunista], o que está em causa é a defesa do condomínio elitizado em que o Poder estabelecido transformou-se para estar longe do Povo, a quem sonega insolentemente o suor e o sangue e dá, em troca, um miserável Salário Mínimo. Para se entender esta situação não é preciso viver revolucionariamente... o que é preciso é não fulanizar nem endeusar o Poder, que deve ser estabelecido com bases de alternância democrática a partir de sistemas municipais e/ou regionais e nunca de um conselho de ministros ou deputados. Esta procela chegou, sim, aos centros de decisão dos poderosos agrupados no G-7 e na OTAN, daí que precisem nomear a Segurança Nacional como bandeira geral para o ‘sacrifício’ que é, como dizia Kissinger [Ex-Secretário de Estado norte-americano, hoje, ‘conselheiro’], evitar que o Brasil torne-se um Japão tropical... Exemplo flagrante da paz podre que circula é o fato de o Poder norte-americano se auto afirmar com supremacia até no âmbito do G-7, enquanto a Alemanha se fortalece com um Poder político e econômico que enquadra perfeitamente o Ser-Militar alemão no seu todo social. E se a Alemanha sempre se salvou das próprias ruínas é fato que, agora, é uma Nação que quer ser antes de mais uma Pátria que albergue o próprio Povo alemão... Nunca a essência castreja foi tão fortemente copiada e melhorada como na Alemanha do pós-Queda do Muro de Berlim. Aí, sim, Defesa Nacional é um debate e um propósito que nomeia a Cidadania!, até e enquanto tal. Lembram aquele general neoliberal chamado Spínola?, o das FA’s portuguesas? Pois, foi no convívio com o Ser-Militar alemão que ele se tornou, por si, numa Questão Militar... no pequeno, mas estratégico Portugal, até hoje dominado pelas elites feudais (leia-se, Casa de Bragança e Ordem de Cristo e Maçonaria) – conservadoras e liberais – depois do assassinato, primeiro, do infante-regente Pedro, em Alfarrobeira, e depois, do envenenamento de João II, o que acabou por determinar o fim da Casa d´Aviz (leia-se Casa de Coimbra e Ordem de Santiago)..., com tudo o que esta historiografia (que se deve a Alfredo Pinheiro Marques, agora perseguido pelos novos feudais ´democratas´ do ensino público universitário em Coimbra) tem de revolucionária para a História luso-brasileira! Eis a Questão Militar de hoje, tão resumida quanto possível, em torno da endeusada Defesa Nacional. Como canta(ria) Pessoa, “Minha pátria é a Língua portuguesa”; que o mesmo é dizer, a cada Nação o seu Povo e sua Cultura nativa.


IV O Militar No Contexto Civil ... e, precisamos, cada vez mais, de saber resistir às agressões anti-Humanidade de maneira civil[izada], ou seja, combater a agressão sem instrumentos de estrutura militar, o que não significa que a Cultura e a Organização militares devam ser extintas: o Militar deve assumir, sim, a sua dimensão civil e se integrar à Comunidade Nacional no seu todo, fazer parte do movimento social e político, porque a Comunidade Castrense faz parte do nosso dia a dia, da nossa Cultura ... CÉDRON, Marc – in “Defesa Civil”, palestra, 1974.

Defendo, na área da Educação como nas áreas da Segurança e da Comunicação Social, que a Cidadania deve estar acima de quaisquer outros valores, que

o Ser Humano deve intervir conscientemente naquilo que ele mesmo considera Sociedade e buscar a autêntica vivência humana contra a animalesca condição de quem se nega a assumir a Humanidade enquanto Individualidade em ambiente próprio; Individualidade que, ativa, gera movimento social e,” por isso, sujeita-se a uma Defesa Civil organizada no e para esse meio, e sempre em parceria com o Militar...!

Observo que o Militar é raramente analisado no âmbito da esfera social civil o que é algo que deve preocupar a todos, não somente a Organização Militar. É interessante verificar que as opiniões do famoso poeta Olavo Bilac, já referenciadas neste estudo, chocaram-se frontalmente não com o militar em si, mas com as comunidades político-econômicas que têm aquele como ‘capacho’... E só. Mas se “...existe um meio de analisar profundamente as relações do Ser Humano com o seu ambiente e neste com a Natureza, uma poética fantástica que leva ao Desenvolvimento de todos os sistemas sociais aí envolvidos por uma Ecologia que é local e planetária, ao mesmo tempo” [MACEDO, J. C. in “Poética Do Quotidiano”, opúsculo, ediç. esg., Porto/Pt-1973], também existe um maneira filosófica de encarar a questão: vivendo a Vida! Heidegger, particularmente em ´O Ser E O Tempo´ [de 1927], dá-nos uma lição sobre o que é – ou deve ser – o Humano nas relações com o meio ambiente e ecológico que lhe foi berço sem que tal interferia decisivamente na sua Individualidade, embora lhe seja presente como uma ‘pedra filosofal’... Esta cotidianidade heideggeriana é-nos muito cara, principalmente quando temos em estudo a Questão Militar e suas peculiaridades. Pode se ir mais longe no tempo e relembrar os velhos filósofos gregos, mas interessa-nos uma análise contemporaneamente mais atuante – daí, as lições do velho-novo mestre alemão. Para encarar filosoficamente a Vida precisamos de bases culturais assentes na nossa realidade social e educacional. No caso do Ser-Militar mais ainda... Tanto mais que o queremos solidário com a Sociedade Civil e não solitário! Eis, então, a particularidade do ser em si mesmo e das


suas ações sociopolíticas e militares, em torno da comunidade que é, ou representa – i.e., a maneira filosófica de ver, assistir e participar da Vida tal e qual ela é. É dentro desta natureza de crítica construtiva que devemos observar e dialogar com o Ser-Militar. Porque não lhe somos superiores nem inferiores, somos humanamente iguais...! O que o Tempo também nos ensina a par das lições de Heidegger. E da mesma maneira que precisamos viver a hodierna existência com tecnologias adequadas [alternativas] àquilo que somos regionalmente, como defende Manuel Reis [op. cit.] em seus escritos, ou como Fritz Schumacher [este – nos Anos 60 e – relativamente à adaptação das tecnologias de ponta aos sistemas sociais e econômicos dos países em vias de desenvolvimento], também a Vida militar tem de [saber] adequar-se, com alternativas criativas, à Vida social – pois, só assim ele [o Ser-Militar] se enquadra[rá] nos sistemas civis de vivência democrática, mesmo quando esta não passa de uma mascarada política assumida em sufrágio universal! Aqui está a importância de se observar o Militar no contexto Civil... Quando se ouve o Militar reclamar da falta de incentivos científicos e humanos para a sua estrutura direcionada à Defesa Nacional, deve-se saber ouvir – mesmo! – os ecos daquela essência que é a Cultura castrense. Porque a Sociedade Civil também só lembra das FA’s quando se sente ameaçada de alguma maneira... Entretanto, também falta ao Ser-Militar a sensibilidade básica para se expor socialmente, e não por falta de preparo cultural – como muitos ignorantes assim ‘acham’ – mas por estilo muito peculiar. Realmente, a pouco inserção do Militar nas esferas da ação Civil deve-se mais àquele estilo muito peculiar e menos a um circunstancial [des]interesse do Povo. Nos idos Anos 60 e 70, a Europa discutiu e reformulou a estrutura para-militar de policiamento rural e metropolitano, no âmbito político-administrativo, que possibilitou a formação de um oficialato originado nas próprias instituições no sentido de substituir os coronéis militares que as chefiavam. Resultado? As FA’s passaram a viver a sua peculiar essência castrense e as estratégias de prevenção e de combate ao Crime organizado ficou com a estrutura para-militar de policiamento. Mais: a Sociedade, como já havia acontecido na América do Norte [EUA e Canadá], ganhou estabilidade social e uma Ética profissional que atingiu e melhorou militares e policiais, já que não compete ao Militar a prevenção e o combate ao Crime organizado nem o Policial rural e urbano pode assumir as funções de Defesa Nacional. Eis um exemplo, por mais genérico que ele seja, que deveria ser seguido pelos países sul-americanos e principalmente pelo Brasil, um país continental, onde as FA’s confundem-se com o policial metropolitano transformado autarquicamente em ‘militar’, mas sem vivência castrense...! Pode-se afirmar, contrariando as velhas afirmações de Olavo Bilac, que muitos defendem (ao que parece)..., que a Organização militar encontrou, no eixo Civil, os novos movimentos que a direcionam para uma Modernidade eticamente bem diferente da arcaica estrutura do primeiro troa o canhão e depois pergunta quem é. É, sem dúvida, uma imagem nova: o Militar no contexto Civil. Precisamos conhecer bem as ações que balizam o Civil para podermos discernir, então, o que de bom ele dá à Sociedade, e de como (nesta) ele e o Militar podem e devem interagir em prol do Bem-Estar da Nacionalidade que dizem ser. Foi sobre a emergência dos novos movimentos que vários intelectuais – e principalmente os sociólogos franceses [da ‘Ecole Pratique des Hautes Etudes’], como Alain Touraine – desenvolveram novas teorias e concepções socioeconômicas para adaptação das tecnologias de ponta aos países em vias de desenvolvimento, o que, infelizmente, as elites sulamericanas não quiseram entender e deixaram sucatear os seus parques industriais e as suas estruturas de Defesa Nacional para favorecerem a políticagem [= Política + Sacanagem] da Teoria da Dependência = Ditadura Política de Pensamento Único. Aqui, a contradição é tal [que me perdoe Lewis Mumford, autor de ‘The Myth of the Machine’] que essas elites, em particular as brasileiras, esqueceram que quem as suporta – agora, a ‘nova’ Economia digital – quer e defende a superioridade militar e tecnológica, e não o desmantelamento dessas áreas...! Sim, tais desmantelamentos servem até momentaneamente os interesses neofascistas da Democracia-sem-Povo, mas todo o cuidado é pouco quando as belicosas atitudes socioeconômicas atingem o brio do Ser-Militar... A contradição vai longe: a Organização Militar assim atingida obriga-se a refletir sobre si mesma, a tomar consciência da cotidianidade sociocultural e político-econômica que a cerca, obriga-se a agir em defesa de si mesma!... E pede albergue-quartel mais próximo do Povo do que desse Poder-condomínio que a quer como tapete para limpar os sapatos sociais! Relativamente aos novos movimentos


eis, aqui, um aspecto pouco conhecido (da maioria) embora já em discussão entre cientistas sociais. É preciso, pois, conscientizar a Sociedade Civil no sentido de se paralisar a tendência de certas FA’s para comportamentos do tipo ‘no future’ [ou niilista], radicalização que a pode atingir de forma a destruí-la. Não podemos apenas ‘querer viver’, temos de saber estar-sendo [mais uma vez: Martin Heidegger tinha/tem razão] em meio à Modernidade tecnológica e social, mas sem deixarmos que conceitos e tendências nos arrastem, através de terceirização política, para a não-Razão... É isto que o Ser-Militar deve ter presente na [sua] análise crítica da Sociedade. Porque o Militar deve ter para si uma reserva de Nacionalidade que lhe faculte ser alguém-em-crítica, não somente o alguém-em-armas [precisamente, aqui, o contexto em que ele é mais criticado pelo Civil]! E se tudo em nós depende do que somos em comunidade, recordando D’Olivet, penso que estudar o Militar no contexto Civil é um exercício de Cidadania que, em última instância, ajuda na adequação dos eixos sociais pelo Bem-Estar geral.


SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA Informação

Contra-Informação

Cidadania

I Da história e da importância dos Agentes Secretos

... e é dever da Nação constituída ter ciência de quem é quem dentro das suas fronteiras para não ruir como castelo de papel numa simples brisa de oposicionismo; entretanto, os seus Serviços de Inteligência devem se pautar por uma práxis que não torture a Cidadania... PIÑON, Joana d´Almeida y [n ‘O Cientista Perseguido’ – palestra a propósito de Mário Schenberg, São Paulo/Br., 1999 – Grupo Granja]

Fale-se de um Império e fala-se da Inteligência a serviço da coleta de dados que sirvam para preservar a Segurança do mesmo através de equipes de agentes secretos, vulgo, espiões; o mesmo quando se fala de Nação, Pátria ou Federação de Estados, seja sob o regime de Monarquia seja da República, seja sob regime Capitalista ou Comunista, liberal ou militarizado. Nenhuma (e é insanidade mental pensar o contrário) Nação resiste, pequena ou grande, ao assédio de Conquista expansionista de outras se não souber defender-se estrategicamente com Informações que lhe garantam a Independência e, paralelamente, as Contra-Informações que mantenham o Inimigo (IN) longe das suas fronteiras legalmente constituídas. Todo o Império cai um dia, mais por brigas internas de politicagem fulanizada do que por falha dos Serviços de Informação [SI’s]... caíram, na Antiguidade, impérios como o Egípcio, o Babilônio, o Persa, o Troiano, o Celta – embora este nunca se tenha institucionalizado mercê da dispersão dos ‘clãs’ Mundo afora –, o Romano, o Grego, o Etíope, o Inca, e, contemporaneamente, o Português e o Soviético, enquanto o Mundo aguarda a vez do Norte-Americano...! Em alguns casos, os SI’s poderão estar por detrás do Oposicionismo a este ou àquele Governo ou Governante, mas, na realidade, o Poder cai porque foi conquistado pela força da Oposição, civil ou militar, ou por má administração das políticas governamentais que deve[ria]m garantir a preservação da Pátria. No final dos Anos 30, do Séc. 20, os agentes secretos da Alemanha contribuíram muito para o estabelecimento do 3° Reich com apoio a Hitler; nos Anos 20, os de Portugal ajudaram


Salazar a levantar a Ditadura fascista na condição de dirigente católico radical, enquanto nos Anos 30 os da Espanha fizeram o mesmo por Franco; nos Anos 70, os chilenos ajudaram Pinochet que iniciou uma barbárie em todo o Chile e, nos Anos 60, os brasileiros ajudaram os militares a fechar a ‘janela’ democrática trocando-a por uma Ditadura milico-fascista do tipo Estado Novo salazar-franquista; enquanto isso, nas guerras da Cortina de Ferro, os gritos de Liberdade dos tchecos foram silenciados pela Inteligência soviética na chamada Primavera de Praga, e, na Baía dos Porcos, a Inteligência norte-americana levou a melhor sobre a soviética que foi obrigada a retirar mísseis instalados na Cuba comunista. Eis que não são raros os casos em que os SI’s se envolvem na trama ideológica, e também não são raros os casos em que os mesmos SI’s somente trocam de nome quando as respectivas nações retornam ao Regime democrático... mas a práxis de conseguir, por ex., ter o meio acadêmico sempre por perto continua... Para termos uma idéia mais aproximada do que é um SI’s operando sigilosamente no apoio a Intelectuais e deles fazendo pontes culturais na propagação sócio-política da Liberdade, recordo o que escrevi em 1998: “Nos idos Anos 80, muitos acadêmicos denunciaram publicamente o conflito de interesses resultante do trabalho conjunto entre os Serviços de Inteligência e a Intelectualidade, mais especificamente na esfera da KGB [ex-URSS e agora denominado FSB] e da CIA [EUA], mas no final dos Anos 90 vários pesquisadores e jornalistas demonstraram que muitos cientistas políticos e jornalistas trabalharam e trabalham com o KGB e a CIA [e que até o FBI, órgão policial interno dos EUA, mantém escritórios e agentes no Exterior para controlar ´países amigos´...], mesmo sabendo que os seus serviços serviriam de alguma maneira operações politicamente criminosas como o apoio direto a golpes e assassinatos [Chile/1973, Indonésia/1965, Irã/1953, Op. Condor/AL – Anos 60 e 70, Guatemala/1954..., 1964, Brasil, Congo/1980 (aqui, os belgas fizeram um holocausto africano com mais de 6 milhões de mortos...!), etc e etc] e toda a sanha diplomática da espionagem para eliminar oposições às estratégias defendidas pelos Aliados, nos Anos 40 e no pós GG, e pelo Pentágono [EUA] nos Anos 60 e 70! Ou seja: soviéticos e norte-americanos sempre utilizaram a Intelectualidade [artistas, escritores, cientistas políticos e físicos e químicos...] como pontes especiais de grande valia para os SI’s, inclusive, apoiando financeiramente a ascensão de alguns que, sem tal apoio específico, apesar do valor intelectual ou científico, jamais sairiam do anonimato regional, o que aconteceu também com europeus e sul-americanos. Entre um[a] Intelectual [em atividade cultural ou cientifica] e um Serviço de Inteligência (espionagem, sigilo, golpes) existe uma parede ideológica, mas quase sempre é o meio acadêmico que cede pelo financiamento secreto dos SI’s a projetos que ficariam engavetados! O meio acadêmico deixa de ser objetivo naquilo que lhe é base [a crítica sócio-política e científica] ao tornar-se cúmplice de sigilos e golpes que ferem a Cidadania... No entanto, quando um[a] Intelectual deve juntar-se aos esforços públicos para derrubar o Terror(ismo), institucional ou não, ou para combater as farsas que ferem a História, como a Questão Sionismo-Palestina-Aliados, logo alega, a priori, que tal envolvimento fere o seu espírito urbano... Que hipocrisia!, o que lembra outra questão: a perseguição movida contra o Nazismo e as amplas liberdades dadas ao pseudo-Comunismo e ao Sionismo. A realidade de um SI é a sutil diplomacia entre conflitos, pessoais e acadêmicos e políticos ou econômicos, e quando consegue gerenciar tais jogos de interesses o que fica demonstrado é que todos buscam a sombra do Poder, instituído ou não. Com isto, quero dizer que a espionagem não é somente o serviço público em si e contratado para isso, é também o meio acadêmico quando lhe serve de suporte... Mais uma vez, eis por que se dá tanta importância à função agente secreto e de como quem a serve deve ter uma formação solidamente eclética.


* Exemplo de Estrategista no Brasil

Capitão Affonso Sardinha [o Velho] Entre os Sécs. XVI e XVII viveu na Capitania de S. Vicente – tanto em Santos como em São Paulo – o minerador, banqueiro, militar e político Affonso Sardinha [o Velho]. A certa altura da sua vida, em 1592, já homem ilustre e mais do que poderoso, resolveu adentrar a Câmara de São Paulo, da qual já fora presidente, vereador e almotacel, e ali exigir o título de Capitão das Gentes de Guerra da Villa. Após alguns embates políticos na Casa, ele conseguiu o título com apoio da Capitania... O que tem esta história quinhentista a ver com a história dos serviços secretos?... Tudo. Anos antes, esse desbravador dos caminhos que levariam ao sul pelo oeste piratiningo, descobriu que o Brasil não era uma ´ilha´ pelas falas dos seus escravos americanos, tanto que foi através deles que foi minerar ouro e ferro e prata além do planalto, ao longo do rio Anhamby [Tietê]. Para se tornar o mais poderoso dos colonos da São Paulo dos Campos de Piratininga, ´o Velho´ – ele tinha um filho dito ´o Moço´, mameluco, i.e., fruto de uma relação com uma nativa americana – recrutou espiões entre os seus escravos para saber como e quando poderia avançar para o sul... “Só depois de passar pelo Jaraguá”, ouvia. Ele tinha avançado para oeste até à aldeia-porto Carapocuyba e fazia a ligação entre os rios Anhamby e Jeribatyba [Pinheiros] pela malha do Piabiyu [q.s. ´caminho feito a pé´], estrada ancestral dos guaranis, pois tinha construído fazenda e casa no Ybitatá [Butantã], mas precisava de caminho livre das perseguições orientadas pelos nativos aquartelados no Pico do Jaraguá, onde também existia ouro para explorar. Cercar e dominar o Pico do Jaraguá tornou-se, em 1592, a chave políticomilitar para garantir o desdobramento da política de ´entradas´ para o sul. “Só depois de passar pelo Jaraguá”, ouvia. E ouvia. Ele já minerava ouro em Byturuna [Araçariguama] e instalara a primeira siderurgia das Américas em Biyaçoiaba [Araçoiaba], na região da Floresta de Ypanem, ou Ipanema. Já em 1563 destacara escravos goyanazes seus para combater os guaranis que queriam destruir a Villa jesuítica levantada por Manoel da Nóbrega, em 54; a pedido de Anchieta deslocou escravos de Carapocuyba para os arredores de Piratininga e percebeu que o ponto de ligação entes os nativos hostis à colonização estava no Jaraguá. Mas, ninguém lhe deu ouvidos. Até que o capitão Jerônymo Leitão, seu amigo, e a quem tinha emprestado muito dinheiro para comprar terras, também entendeu que só pela via da infiltração e depois do cerco poderiam ganhar de vez a guerra contra os nativos hostis. Mas, era só um entendimento. Faltava a ação. Faltava o espírito da política militar, da tática para a defesa integral da colonização e para a conquista. Como as suas terras de Ybitátá e Carapocuyba estavam ameaçadas, Affonso Sardinha [o Velho] ordenou-se Capitão das Gentes de Guerra da Villa para dar fim a uma guerra que durava há 10 anos. Infiltrou os seus agentes através de Ybitatá e de Carapocuyba – e, nessa aldeia, pelo portinho fluvial que ligava a outra margem do Anhamby e fazia chegar ao Jaraguá, e, em pouco tempo, com a ajuda do filho e de sua turma de mamelucos, denominou os nativos do Pico. Affonso Sardinha [o Velho] tinha em suas mãos uma reserva estratégica entre o Ybitatá e a Carapocuyba, faltava-lhe eliminar o maior foco estratégico nativo: servindo-se de informações rastreadas entre os escravos criou uma plataforma de inteligência que lhe assegurou a base para uma aproximação tática, e aí tomou o Pico do Jaraguá. Era sua a ´chave´ para o sul através do oeste piratiningo – a ´chave´ que possibilitou a abertura, em menos de 10 anos, para a formação do ciclo das ´bandeiras´, o fim das capitanias hereditárias e a mentalização para uma Nação de falar luso na América do Sul muito antes da ´inconfidência´ mineira. A ação estratégica de Affonso Sardinha [o Velho] proporcionou a primeira história brasileira de intelligentsia a serviço de uma ocupação em expansão colonial. Obs: Do texto-base da palestra de João Barcellos sobre “Affonso Sardinha [o Velho] – Um Senhor Esquecido”, Câmara Municipal de Araçariguama/SP-Br., 2006.

*


II Das adaptações ao Regime democrático o exemplo português A queda do Império português, em 1974, com uma simples e pacífica quartelada – daí a denominação emblemática revolução dos cravos –, levou as antigas províncias ultramarinas africanas [Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde] a reaverem as suas identidades mátrias e as velhas lutas intestinas – i.e., etnicamente sangrentas. Como adaptar conceitos de poder-tribal absoluto ao perfil da Democracia? Ato difícil. De imediato, os grupos étnicos [que, por divergências de Poder tribal, já haviam matado o político e guerrilheiro Amílcar Cabral em plena luta contra o colonialismo português] optaram por instalar o sistema soviético-fascista de Partido Único, a opção mais próxima do absolutismo tribal. Resultado? Uma intensa e interminável guerra civil que arrasou essas regiões em vez de levar os povos para o progresso e a paz. Na mesma época, para garantir a integridade nacional, o estado português suprimiu a PIDE, polícia política de Salazar e de Caetano [o ‘delfim’ que o substituiu], e instalou, no final dos Anos 70, o Serviço de Informações da República [SIR], enquanto a Polícia Judiciária [PJ] alargou o âmbito das suas atuações criando alas de informação, prevenção e repressão ao Crime Organizado, político ou não. Foi, pode-se dizer, uma adaptação rápida dos sistemas policiais às circunstâncias democráticas do Portugal abrilista projetado pelos oficiais spinolistas a partir da Guiné-Bissau [e já com Otelo em missão central], e tão rápida que, já em 1974, foi possível bloquear uma tentativa ‘spinolista’ de assalto ao Poder e, em 75, uma tentativa ´otelista. Esta adaptação não se socorreu dos agentes secretos da antiga PIDE, que após a morte de Salazar passou se chamar de Direcção Geral de Segurança [DGS], agentes que fugiram para Espanha e para o Brasil, na maioria. O respeito à Cidadania passou pela recusa imediata de se cooptar anti-cidadãos como os sanguinários torturadores pidescos. Nesse momento, e vivendo ainda um processo revolucionário em curso [prec], Portugal deu uma lição ao Mundo.

III Da questão brasileira face à Democracia No instante em que se realizava a segunda rodada de conversações que levaria ao Tratado de Tordesilhas, o cientista português Duarte Pacheco Pereira, servindo primeiro a D. João II e depois a D. Manuel I, dizem, defendia acirradamente a integração da Insulla Brazil aos territórios a conquistar, Portugal determinou diplomaticamente a posse dessa “ilha” que velhos mapas registravam e que, na verdade, era um continente desconhecido de todos [Barcellos, João – in ‘500 Anos De Brasil’, ensaios, ed Edicon, São Paulo/Br-2000]. No ano 1496, aquele cientista foi diplomata e foi agente secreto, tanto que ele mesmo fez a navegação de reconhecimento antes da frota cabralina zarpar para o Oriente com parada no hoje Porto Seguro. E cerca de 300 anos depois, os SI’s portugueses, que na época era mais um atributo diplomático, conseguiram que o Brasil se tornasse Nação independente com o pagamento, em ouro, à Inglaterra, dos débitos portugueses junto da aliada que ajudara a conter os ímpetos de Bonaparte na lusa terra... Óbvio, entre os Séculos 10 e 16 era o Vaticano quem mandava na Europa, o Papado investira-se de Império com poderes econômicos e militares, e, por isso, muitos SI’s tinham apoios consideráveis nas redes episcopais católicas, as mesmas que deram apoio direto a Salazar, Franco, Hitler, aos governos ditatoriais do Chile, Argentina e Brasil – i.e., o Mundo dividiu-se entre Capitalismo-Vaticano, Liberalismo e Comunismo, questão bem interpretada pelo execrável Muro de Berlin que, hoje e infelizmente, tem um ´parente´ ideológico na Cisjordânia para dividir israelenses e palestinianos com aqueles a usurparem terras destes!, Meio milênio depois da “...frota cabralina tomar posse da Insulla Brazil, que o cientista, diplomata e espião Duarte Pacheco Pereira, havia registrado – e talvez por isso mesmo não


ficou na História como vero achador da ‘ilha’ Brazil..., da mesma maneira que não se acha na estória oficial o Infante Pedro, mestre da Ordem de Santiago e que, na Casa de Coimbra, originou os estudos e as primeiras acções exploratórias na costa africana, e não Henrique, como enganosamente é dito oficialmente” [Macedo, J. C.] –, encontramos um Brasil independente, mas com gravíssimos altos índices de militarização, mesmo depois da queda da Ditadura Militar – aquela que se permitiu ianquizar ao deixar que a Fundação Rockefeller insinuasse políticas governamentais na direção da Amazônia, e a que Jango [no Brasil] e Kennedy [nos EUA] se opunham radicalmente [o resultado todos conhecemos: todos os opositores morreram e Rockefeller, leia-se Fundação Rockefeller, iniciou uma matança geral entre os Povos da Floresta com apoio de instituições religiosas]; aquela que permitiu a militarização das Forças Metropolitanas de Segurança Pública – que viraram ‘Polícia Militar’– impedindo a melhoria dos serviços na Defesa do Cidadão; aquela que se permitiu ser favorável à instalação de usinas nucleares, em Angra dos Reis, em vez de incentivar a pesquisa científica por Energia Alternativa no maior celeiro energético da Terra [embora, paradoxalmente, os cientistas tenham recebido mais apoio durante esse regime do que no liberal que se lhe seguiu]; aquela que entrou em acordo com os SI’s sul-americanos [Operação Condor], nomeadamente com a polícia política de Pinochet, a DINA, para capturar e silenciar a Oposição aos regimes ditatoriais sob benção católica e orientação da CIA. A militarização no Brasil é tal que o Povo adotou um lema perigoso em plena Democracia: “É tanta violência nas ruas que é melhor os militares retornarem ao Poder!” Mas as Forças Armadas Brasileiras (FAB) também souberam tirar proveito e se integraram decididamente no Regime democrático dele participando ativamente. Então, o que está errado na Segurança Pública e nos SI’s...? Antes de mais, as FAB tratam da Defesa Nacional, é uma questão estritamente militar e ponto final. A problemática da Segurança Pública é uma questão das Forças da Ordem Civil [polícias metropolitana, federal, judicial, municipal...]. O erro está na falta de um sistema policial unificado a nível nacional que descaracterize o corporativismo e a militarização. E talvez sejam as próprias FAB que tenham de intervir para acabar, institucionalmente, com certos ‘enganos’... Com este índice de militarização no Regime democrático, tal mentalidade afeta os SI’s brasileiros? Para um país de dimensões continentais e de Política aberta ao Mundo, depois de 30 anos de chumbo, seria difícil que SI’s como a Agência Nacional de Inteligência[Abin] – que foi no militarismo o Serviço Nacional de Informação [SNI] e depois a Secretaria de Assuntos Estratégicos[(SAE] – e o Programa de Integração Nacional de Informações de Justiça e Segurança Pública [Infoseg] não tivessem em seus quadros agentes secretos – uns sim e outros nem tanto assim – relacionados aos sistemas policiais de repressão e tortura. Ora, o Brasil tem dimensões continentais, não é um pequeno país como Portugal ou a Bélgica, cujas dimensões são idênticas às do Estado carioca, por ex., e até que a Nação, por inteiro, se dê conta do que foi e é o quadro dos SI’s o tempo passa e muitos ex-agentes, principalmente os que atuaram regionalmente, vão ficando até que são descobertos... Mas são perigosos, sim, porque vivem ‘parados no tempo’ em busca de ‘um comuna em cada esquina’ ou transgredindo a legalidade porque bebem na fonte que ensina ‘uma info também se obtém por tortura física e psicológica’ – algo, diga-se, que também existe nos agentes secretos dos países sob tensão polímil permanente, como os dos EUA [a CIA], os de Israel [o Mossad] ou os da Rússia [o KGB]. No entanto, o Brasil é uma Nação em vivência pacífica, pelo que não é possível - e seria hilário - fazer comparações. O que é preciso é que os SI’s brasileiros se enquadrem no Regime democrático e que a sua práxis esteja de acordo com a Cidadania conscientemente democrática. A apetência dos antigos servidores do Regime ditatorial, e de quem nele nasceu e por ele se educou, é de buscar fórmulas repressivas contra tudo e todos. Mas, o que é preciso mesmo, em termos de Serviços de Inteligência, é buscar e analisar infos/dados que permitam à Nação se preservar em Paz dando condições de estabilidade político-social para que a Cidadania seja um ato social em Liberdade e não uma máscara do arbítrio ideológico... Daí a importância de a Abin e o Infoseg, tanto como os SI’s das FAB, atuarem preventivamente e não repressivamente, pelo que a seleção dos seus agentes secretos não deve permitir a integração de ex-agentes repressivos nem de aspirantes a tais cargos do Funcionalismo Público com ‘mentalidade parada no tempo’. Durante os anos 2000 e 2001, a Imprensa brasileira ‘bateu’ forte nas velhas tendências que presidem ao trabalho do Infoseg [pelos dados, ainda ‘buscando infos sobre opositores ao Regime ditatorial’...] e, pior, escancarou a


existência de agentes repressivos ligados à tortura nos quadros da Abin. Isto aconteceu, e acontece, porque o espírito de corpo, que pouco tem a ver com camaradagem e nada com ética, faz emperrar o cruzamento de dados para identificação de pessoas e de instituições, permitindo a mera ação política com a judiciarização do Aparelho. Eis que não basta mudar as siglas dos SI’s, é preciso que as mentalidades mudem, adaptem-se às realidades contemporâneas.

IV Entre a Cidadania e a Contra-Informação A importância de uma Nação ter os seus sistemas policiais unificados está na facilidade que isso oferece ao tráfego de infos entre os vários SI’s. Se um país precisa, depois de analisar infos estratégicas, de lançar contrainformação sobre outro país que se tornou IN, os agentes secretos, em defesa da integridade pátria, só terão êxito se todo o sistema policial e militar, a par do diplomático, atuar sob a mesma bandeira profissional. Mais uma vez: o corporativismo nos sistemas policiais só atrapalha!... E é preciso deixar bem claro que a contrainformação gerada pelos SI’s para o Exterior tem uma filosofia política – a de apoiar a Presidência da República e as FAB, já que quando o caso é Interior [nacional ou regional], essa atividade não pode induzir os agentes secretos a atuarem contra a Cidadania violando direitos fundamentais de quem vive do Trabalho e participa da Sociedade, independentemente da política ou da religião que siga – e, neste enquadramento, exceto as ações sobre o Banditismo individualizado ou grupal - político ou religioso - e o Crime Organizado, político ou econômico, que têm de ser combatidos eficazmente!

V Da espionagem como profissão nos quadros do Funcionalismo Público “(...) os espiões do serviço secreto romano mataram o ex-general e então guerrilheiro Sertório, e então, o Império conseguiu, enfim, bater os povos Celtas estabelecidos na Lusitânia, mais tarde Portugal. A importância da Espionagem é tão antiga quanto as intrigas de Ódio e de Amor!” BARCELLOS, João - in ‘Não Sei Quem Me Olha, Mas Sei Quem Sou’, palestra – Rio de Janeiro/Br., 1996)

Quando, na Parte III deste escrito, faço referência à histórica vivência náutico-científica e de contrainformação de Duarte Pacheco Pereira, o vero ‘achador’ do Brasil, faço-o, porque existem instantes na História em que os atos epistemológicos – e [a]note-se como o nome brazil passou de povo para povo marujo criando ilusões sociais, mas definindo, em si, o ‘algo’ existente... – têm tanta importância quanto um ‘quadro punitivo’. Então, o Brasil foi e é porque sobre sistemas de conhecimento os portugueses dispuseram-se à Aventura de demonstrar que o que é dito vero é. E assim agiu o cosmógrafo e marujo Duarte Pacheco Pereira em todas as conversações que levaram ao Tratado de Tordesilhas que, ainda na época quinhentista, deixou de ter valor diplomático sob o expansionismo colonial que se fez muito além dos propósitos humanos – se é que existiam face ao mercantilismo... – da Coroa portuguesa. Quase uma ficção, aquele cientista-espião dobrou a Diplomacia dos Reis Católicos e a do Vaticano (favorável aos castelhanos), com uma mistura fina de diplomacia e espionagem.


Foi o que aconteceu, também, no início da Santa Inquisição, no Séc. 16, quando o Papado católico autorizou a rede de informações episcopais a exercer um poder real para disciplinar. Mas, como foi possível?... Os bispos, os padres, as freiras, as confrarias e as instituições conventuais, eram autênticos agentes coletores de infos estratégicas e, com tal Poder, a Igreja católica nivelou todos os ‘indivíduos conscientes culturalmente’ como ‘bruxos’ e como ‘anti-cristos’ e todos tiveram a tortura e a fogueira como destino. Veja-se como o conhecimento de infos estratégicas pode ter resultados diversos, bons e maus. Na realidade, sabemos, todo o Poder é conservador... Os revolucionários comunistas no Poder [soviético, chinês, albanês, cubano...] viraram ditadores sob a economia estatal e o partido único de ‘verdades’ dogmáticas; os capitalistas e dirigentes católicos radicais [Salazar, Franco, os generais sul-americanos e os dirigentes norte-americanos] fizeram igual e mesmo sob a economia aberta e globalizada, na qual está instalado, como demonstra muito bem Manuel Reis, um fascismo social..., o que, em tese, confirma a idéia de Thomas Hobbes de que o mundo físico é de causa e efeito. O que a Política imita no mais perfeito materialismo anti-Humanidade...! Da necessidade de o Estado ser e não somente de estar politicamente Poder é que os SI’s tomaram uma característica não menos social, pois, através das infos estratégicas coligidas e filtradas pelos agentes secretos é que o Poder se previne e desarma interesses alheios, quando não aniquila quem lhes deu valor ideológico. O que é um agente secreto?... É, habitualmente, alguém que entra no Funcionalismo Público cooptado ou por concurso. Em todo o caso é servidor à custa do Erário Público. Voltemos um pouco àquela época inquisitorial católica: a Igreja detinha o Poder imperial sobre o mundo político europeu no mesmo nível do seu universo religioso, então, todos os seus membros eram, no fundo, servidores públicos, porque a Igreja ia buscar os seus recursos ao Erário Público – e nunca, na História, viu-se uma instituição tão minada por intrigas como a católica –, daí que os agentes secretos religiosos tivessem sido tão eficazes na denúncia punitiva, mas não na verdade dos dados gerando uma calamidade pública [com a Inquisição torturadora e assassina a Igreja tornou-se, sim, o verdadeiro anti-Cristo]. Este conceito de serviço público de interesses exclusivos do Estado alastrou-se depois ao Poder laico e os departamentos de ação estratégica atuaram como coletores de dados, repressores e torturadores e assassinos, sem a batina, mas com a benção religiosa, como nos casos de Portugal, URSS, Brasil, EUA, Israel, Alemanha, Espanha, China, Itália, etc e etc. A tendência geral de quem busca ser um profissional em departamento de Serviços de Informação ainda é uma demanda nacionalista... Se, por um lado, ser servidor público já é uma vantagem social em muitos países, como no Brasil o é pela formação administrativa induzida pelo Portugal quinhentista, ser membro de uma elite policial nos quadros dos SI’s é melhor ainda, mas... Tal como ao Poder não lhe basta estar, também para o agente secreto é preciso saber ser, porque o respaldo estratégico da Defesa Nacional depende em muitas situações de conflito, político ou bélico, da ética e do profissionalismo desse servidor. Como se forma um agente secreto? a) A formação social e cultural e paramilitar do agente secreto observa níveis comportamentais de autonomia psico-psiquiátrica, fatores a serem estudados profundamente quando do recrutamento do servidor público para os SI’s. E, antes que os novatos cruzem dados de importância vital para a Nação é necessário que os departamentos respectivos cruzem dados sobre cada um dos recrutas. b) Sem um perfil de estabilidade emocional e de rápida adequação às circunstâncias sociopolíticas da Nação, todo o agente secreto cai nas próprias armadilhas. Só a título de exemplo – e já citei os casos da Abin e do Infoseg, no Brasil –, centenas de policiais brasileiros têm preferido o suicídio à busca de soluções psicossociais para aguentarem a pressão da Violência metropolitana. A taxa de suicídios é simplesmente assustadora e mata mais do que muitas guerras regionais...! Ora, no caso do agente secreto todas as circunstâncias da sua vivência têm de ser estudadas para se achar o perfil que lhe preserve a integridade física e moral sob a alta pressão a que o serviço o submete diariamente. Estabelecendo um paralelo, em caso de suicídio de um agente secreto não é apenas o policial que desaparece, acaba também uma linha de infos que tem tudo a ver com a Defesa Nacional.


Especialistas em Psicologia, Sociologia e Psiquiatria, entre disciplinas de índole paramilitar, são tão importantes na formação do agente secreto e nos bastidores dos SI’s quanto uma barraca médica no teatro da Guerra. A dedicação dessas equipes de profissionais faz acontecer outros profissionais, e é o que se espera, sempre, dos departamentos de SI’s que atuam sob a receita do Erário Público. Entre o humanismo e o romantismo? Não. O famoso ‘007’, da ficção novelística, agente envolvido por máquinas poderosas e lindas e disponíveis mulheres, só existe na imaginação. A vida real do agente secreto nada tem de romantismo; às vezes, sim, sabe-se de atos heróicos, mas é uma vida muito árdua. O agente secreto é um profissional que tem de se demonstrar plenamente em qualquer instante, porque vive uma linha de risco entre a vida e a morte – e, com ele, a Nação existe ou não! O agente secreto raramente vive a sua vida, ele vive a vida dos outros: é uma sombra. E se com ele conhecemos o Arbítrio também conhecemos, às vezes, a luz que leva à Liberdade de todos.

As Bombas ´Terroristas´ Plantadas Por Serviços Secretos Grupo Granja [Manifesto / Março de 2004

1- Por que este manifesto?... O despacho do manifesto ´Escutas & Subornos´, do Grupo Granja [20.04.2004], teve ecos em vários meios, mas o mais ruidoso foi o meio anarquista, do qual faz parte o ex-guerrilheiro e poeta/romancista português J. C. Macedo. Embora o manifesto tenha tido como fonte a entrevista de Carlos Costa, ex-chefe do FBI em terras brasileiras, o fato das suas declarações ratificarem informações discutidas em palestras de J. C. Macedo veio a criar uma busca por mais detalhes. Em viagem pela Ásia, Marta Novaes agendou entrevista com J. C. Macedo, enquanto Ruy Hernandez, de Barcelona, ouviu aquele português ontem, dia 22. Entretanto, o Secretariado GG analisou detalhadamente as declarações de Carlos Costa, e elas também corroboram, e autenticam!, o que defendemos no manifesto ´Do Poder Global & do Terror´ [Set., 2001]. Anote-se: “Na sua luta contra o Comunismo [...?!], os EUA treinaram e armaram grupos políticos e diversas facções religiosas árabes, da mesma maneira que a exURSS havia feito no apoio à sua política na região. CIA, KGB e MOSSAD foram e são os serviços de inteligência que tornaram as terras árabes um barril de pólvora e um assentamento de povos culturalmente desterrados e vilmente espoliados na sua cidadania. Um dia essa ação terrorista institucional teria a sua contra partida, isto é, um dia os desterrados e os espoliados puxariam os seus estilingues e, numa ação suicida de terror, surgiriam no dia a dia das potências que dirigem o Mundo global. Foi o que aconteceu em 11 de Setembro de 2001... E agora, a ex-URSS e os EUA unem-se para destruir as suas crias... com a benção do Vaticano.” E agora, leia-se o que J. C. Macedo declarou a Ruy Hernandez, quando questionado sobre o que é “plantar terrorismo” para criar ambientes hostis e/ou favoráveis: “Quando os portugueses, anti-salazaristas e em luta contra o Fascismo, iniciaram, nos Anos 60, a tendência para o ´sequestro de avião em ação pacífica de panfletagem pela Liberdade´, estavam a continuar uma rotina de ações que os próprios serviços secretos – a ´Polícia Internacional de Defesa do Estado´ / PIDE, sempre apoiada pela ´Central Intelligence Agency´ / CIA –, já que nos Anos 20, fizeram explodir a Capelinha da Cova da Iria [onde hoje está o Santuário de Fátima], ação logo


taxada de ´bomba anarquista´, mas nunca reivindicada, e, naqueles mesmos Anos 60, o assassinato do general Humberto Delgado, sobre o qual, até hoje, não se sabe quais as ramificações policiais, ou seja, o grau de colaboracionismo PIDE/CIA, até por que a CIA alertou o ditador Salazar da dissidência da filha de Silva Paes, um dos chefes da PIDE, que fugiu para Cuba, e já tinha ajudado, inclusive, a mostrar como os agentes secretos jogam nos dois lados, na fuga do chefão ´pide´ António da Fonseca Costa, que não aguentou tantos seqüestros, prisões, torturas e assassinatos, para manter o regime de Salazar... Este Costa, desconhecido da maioria dos portugueses e que veio a morrer miseravelmente nos EUA, é o pai de Carlos Costa, que tornou-se um dos chefes do ´Federal Bureau of Investigation´ / FBI, vindo a dirigir o escritório dessa polícia interna do EUA... no Brasil; este Carlos Costa, seguiu os passos do pai até certo ponto, ao não acatar ordens para ações radicais, e, ao aposentar-se [como declarou à revista ´Carta Capital´, Nº283, Março de 2004, Brasil/Br], resolveu abrir o jogo e mostrar como os serviços secretos atuam, de como podem, sim, plantar ´bombas terroristas´ para ´incendiar revoltas´ ou dar ´cobertura´ para fichar/escutar oposicionistas, da mesma maneira que, com milhões de dólares, compram agentes policiais e jornalistas. Recentemente, na Ásia, vários atentados foram executados com material explosivo que só os serviços secretos dos EUA e de Israel possuem, mas as ações foram ´atribuídas´ a grupos extremistas islâmicos... É interessante, também, verificar como Portugal, que iniciou alguns movimentos vanguardistas para o bem e para o mal, volta a estar na pauta da ´coisa´ política e policial... Entretanto, aquela entrevista de Carlos Costa, que tem nacionalidade norteamericana, revela como a tendência do assassinato político está cada vez mais ativa, a serviço de interesses terroristas do Poder instituído, ´eleito´ pelo poder financeiro das multinacionais e não para ser Estado, a representar o Povo. Exemplo? O assassinato do chefe do Hamas por decisão do criminoso de guerra Sharon, que chefia o Governo israelita!... Quando escrevi o livro ´No Limiar Da Utopia´, para cuja edição, em 2002, tive o apoio de amigos de Buenos Aires, de São Paulo e de Barcelona, que fizeram a distribuição alternativa, observei este ´estado de coisas´ e de como Portugal se perdeu nas políticas liberais de pseudo socialistas para cair nas garras de interesses multinacionais, de empresas e serviços secretos, exatamente como acontece no Brasil. No meu último livro, de 2004, ´Cânticos De Vida´, volto a sublinhar essa questão...” [in ´Observar O Mundo. Questionar.´, entrevista conduzida, ´on line´, por Ruy Hernandez, para revista ´En Vivo y Arte´, Barcelona/Esp., Março 2004]. 2 – Israel $ EUA, a mesma saga assassina e mercantil. O assassinato do xeque Ahmed Yassin, fundador do grupo ´Hamas´, anti-Estado de Israel, mostra, por um lado, “...que o conceito de Guerra seguido pelos EUA impregna, desde a criação do Estado judeu, a mentalidade militar israelita, i.e., toda a ação de ´Defesa´ deve ser um Ato-de-Terror[ismo] para alimentar o meio e disponibilizar a eternidade da própria Guerra, e, na verdade, a oposição de Israel a um Estado palestino tem base em tal conceito belicista, que lembra os velhos romanos, a quem os judeus deram as mãos tantas vezes... ontem como hoje”, como afirmou J. C. Macedo na sua intervenção feita diretamente na Conferência Eletrônica ´O Mundo Que Somos E O Que Temos De Combater´, de 2002, por outro lado, mostra e dá razão às declarações de Carlos Costa sobre a loucura que tomou conta do Mundo. Só existe um meio de se acabar com esta loucura: a) é preciso que a Humanidade crie um espaço de reflexão sobre si mesma; b) que a Humanidade valorize o Ato fraternal e não o mercantil e belicista; e c) que a Humanidade crie, a partir das Culturas-de-raiz que embasam os Estados, meios sociais e políticos que possibilitem a Paz e a Cooperação. Fora desta ação, só existe a marcha para a Extinção humana! Lutemos por uma Humanidade socialmente enraizada! Lutemos por Paz e Cooperação que engrandeçam o Estado e façam do Povo, de fato, o esteio da Democracia! Lutemos, porque sem a batalha social e política do Povo, as elites vão acabar com a Humanidade!


Lembrando o Manifesto

´Escutas & Subornos´ “O que está em causa, aqui, não é o que o FBI e a CIA fazem no Brasil, e no Mundo, é o que esses órgãos de espionagem, sediados em todas as embaixadas dos EUA, representam contra a Liberdade dos povos. Os milhões de dólares despejados para controlar a Comunicação Social mostram como os EUA batem nas costas dos “jornalistas” que os apóiam, e como assediam e tentam subornar os Jornalistas que se mantêm eticament e profissionais e não se engajam [´embed journalism´] nos jogos de Poder, regionais e mundiais. Ser ´embed journalist´ já é uma afronta a qualquer código moral profissional, mas ser ´jornalista corrompido´ é bem pior. No que se relaciona ao caso Iraque, é óbvio que os oficiais das Forças Armadas locais foram subornados, mas isso não implicou na “descoberta” das tais ´armas químicas de destruição em massa´. Entretanto, o Caso Brasil tem outros desdobramentos: os EUA querem um implemento rápido do ´Plano Colômbia´ e precisam ter o Brasil ´na mão´, pelo menos no nível ´neutro´. Sobre isto, recordamos uma parte do último encontro eletrônico do Grupo Granja: “[...] se atendermos ao fato de que os norte-americanos alimentam a corrida aos arsenais atômicos, enquanto dizem combater o terrorismo daqueles que eles mesmos armaram [esta é a ´moldura´ do romance ´A Queda...´], verifica-se a dinâmica da força militar: ontem, no Vietnam, imperaram McNamara e Kissinger, criminosos de guerra publicamente notórios; depois, na Líbia, no Irã, em Israel, no Iraque e na América Latina, foi a vez de Rumsfeld e seu seguidor Powell, e hoje, é a vez de Otto Reich fazer no Equador o que já fizera, nos Anos 80, contra a Nicarágua que queria Liberdade e Paz, i.e., a desestabilização social com ações policiais de amedrontamento e golpes financeiros [do tipo dos que arruinaram a Argentina e impediram o crescimento do México e do Brasil, no final dos Anos 90] – o que, aliás, continua no Brasil do proletário-presidente Lula, pois, se este Governo comandado pelo Partido dos Trabalhadores [PT] ainda não partidarizou toda a estrutura governamental ao trocar técnicos e cientistas por quadros ideológicos ´petistas´, um golpe difícil de ser sentido/percebido pelo Povo, já capitulou diante do ´c ompanheiro Bush´... Este atitude políticocorporativista criou uma nova casta de tecnocratas que assume o Poder estabelecido pela Burguesia capitalista: o Sindicalismo. É uma casta que vai à luta para assegurar privilégios que o Povo não dados – ou melhor: que ao Povo são extorquidos. Logo, a casta sindical já se serve no/do banquete burguês. É o Poder mercantil que, reinventado politicamente pelos sionistas contra Hitler e dogmatizado em Bretton Woods, continua a marcar cotidianos, mercados e condomínios de Direito privado... Isto significa um retorno à Questão Tordesilhas: com o Brasil econômica e politicamente nas mãos, os EUA só precisam garantir uma base operacional que não atrapalhe a ´lua de mel´ com o país dos carnavais – o que acontece no Equador. Ali, é feito o que não pode ser executado no Brasil: o implemento do ´Plano Colômbia´, e os EUA já construíram em Manta, perto da Bahia de Caráquez, o maior aeroporto da América Latina pata pouso de aviões transportadores de tanques de guerra...! É a romanização do Mundo na perspectiva yankee. Logo, como o Brasil é peça importante no contexto político e bom aliado, apesar dos ´petistas´ [...?!], aquela base equatoriana será o q-g para uma nova ação vietnamizadora, já que irá garantir o prosseguimento da política externa imperial dos EUA e mostrar, por outro lado, que Israel faz o que faz na outra banda, porque imita os seus ´senhores´ através do ´dividir para reinar´, aquele conceito inglês que arruinou os povos árabes, e quase destruí o Brasil e deixou Portugal a viver do passado inglório...” [´A Queda Dos Império Do Mal´/ Fórum GG, 2004].

GRUPO GRANJA educar é preservar a cultura Tereza de Oliveira / artista plástica e poeta (Brasil, 1914- França, 1998); Marc Cédron, 1949-2001 / psiquiatra e ecólogo (Suíça); Figuera de Novaes, 1929 / artista plástico, professor (QuitoEquador); João Barcellos, 1954 / escritor e editor (Portugal e Brasil); Carlos Firmino, 1963 / professor e jornalista (SPBrasil); Joane d’Almeida y Piñón, 1947 / física e ensaísta (Paris/Fr.); Mário Castro, 1958 / fotojornalista e serígrafo (RJBrasil); Rosemary O’ Connor, 1960 / professora e crítica de arte (Irlanda); Céline Abdullah, 1954 / bio-química (Moçambique); Mariana d’Almeida y Piñon, 1980 / artista gráfica [SP-Brasil].

Serviços Secretos [listinha de consulta] Argentina: SI (Secretaria de Inteligência); Brasil: Agência Brasileira de Inteligência (ABIN); China: Guoanbu; Espanha: CNI (Centro Nacional de Inteligência); EUA: CIA (Agência Central de Inteligência) e FBI (polícia federal); Índia: Bureau de Inteligência; Israel: ha-Mossad le-Modiin ule-Tafkidim Meyuhadim ou Mossad (Instituto para Inteligência e Operações Especiais) e Shin Bet (Agência de Segurança Interna); Japão: IAS (Serviço de Análise e Inteligência); Portugal: Serviço de Informação da República (SIR) que sucede a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE); Inglaterra: Security Service ou MI5 (Serviço de Segurança) e Secret Intelligence Service ou MI6 (Serviço Secreto de Inteligência); Rússia: Federal'naya Sluzhba Bezopasnosti Rossiyskoi Federatsii ou FSB (Serviço Federal de Segurança da Federação Russa), antiga KGB; Venezuela: DESIP (Direção dos Serviços de Inteligência e Prevenção); Holanda: AIVD (Algemene Inlichtingen en Veiligheidsdienst); Alemanha: BFV (Ofício Federal para a Proteção da Constituição) e BND (Serviço Federal de Informações).


Ultima Ratio Regum Ou: A Velha-Nova Pax Romana A propósito do Caso 11 de Setembro de 2001 e suas consequências no âmbito da Política global.

“É a miséria perpetuada que gera o analfabetismo político que se encobre com o fundamentalismo religioso” NOVAES, Figuera de [Valparaíso/Chile, 2001]

A presença de uma superpotência econômico-militar em lugares estratégicos do Mundo sempre incomoda os outros países. É que, em última instância – e lembro aqui o que o rei francês Luis XIV mandou gravar nos canhões que defendiam os seus interesses: ultima ratio regum [último argumento dos reis]... –, quem comanda essa superpotência age, com o apoio político legal dado pelas instituições legislativas e observando interesses nacionalistas (não universalistas), como aquele monarca francês: regiamente. Que o mesmo quer dizer: absolutamente. Eis, neste exemplo da História, como o ato colonial[ista] tem lastro político e militar na Pax romana... Na manhã de 11 de Setembro de 2001 os símbolos [militar e econômico] da superpotência EUA foram atacados por grupos milicianos do núcleo duro do fundamentalismo islâmico liderado pelo saudita e sunita Osama ben Laden e com o apoio político da sociedade ‘Estudantes de Teologia’ [Taleban], que, até 15 de Novembro de 2001, liderou o Afeganistão impondo condições anti-humanas e anti-islâmicas ao Povo afegão... esse ponto fabuloso e país estratégico que é ponte para o desenvolvimento da Indústria petrolífera local e mundial, ponto fabuloso cobiçado pelos países mais ricos reunidos no G-7, e que a exURSS tentou dominar em vão numa guerra de muitos anos! Por que várias facções afegãs se tornaram tão radicalmente anti-Ocidente? Porque vários povos ocidentais, principalmente os ingleses, dizimaram clãs e culturas ancestrais afegãs, como o escritor e diplomata Eça de Queiroz nos dá notícia no seu Cartas de Inglaterra; odisséia essa retomada, no pós-GG, pelas Nações Unidas [ONU] na instauração do Estado de Israel sobre o esquecimento de outros núcleos nacionais como os Curdos e os Palestinianos; e, após o Caso Kosovar, no qual os EUA, em plena Europa, fizeram da ONU chave-mestra para impor uma [Des]Ordem Mundial institucionalizada aproveitando o combate ao Terror[ismo] desencadeado pelo fascista dito socialista Milosevic. Este tipo de ato colonial[ista] foi muito praticado por Portugal, pela Inglaterra, pela Espanha e pela França, nos Sécs 15, 16 e 17, contra quem se opunha aos desígnios imperiais – e, nos casos português e espanhol, com a agravante de terem a superintendência político-religiosa do Papa católico, como já havia acontecido no Caso Templário e nas Cruzadas. A revolta árabe é uma questão histórica que deve ser lida e observada historicamente, não somente nos limites políticos e ideológicos; e o Caso 11 de Setembro de 2001 tem de ser lido e observado segundo os parâmetros históricos que geram, a partir das políticas expansionistas do Ocidente, um deserto de miséria sobre um lençol petrolífero de imensa riqueza... “É a miséria perpetuada que gera o analfabetismo político que se encobre com o fundamentalismo religioso”, como escreve o judeu anarquista Figuera de Novaes, a propósito do manifesto A América Ferida No Coração E Na Cabeça, do português Manuel Reis. O Terror[ismo] que abalou os alicerces econômico e militar da superpotência EUA não passa, afinal, do eco (que


sempre retorna) do Ato colonial[ista] imposto pelos próprios norte-americanos e seus aliados europeus, a par da ONU, cuja missão deveria ser a de proporcionar a Paz contra a Guerra e não apoiar a Guerra para uma suposta Paz. Logo, e como acontecia com a Pax romana, que tinha parâmetros estabelecidos pelo Poder imperial e colonialista, os norte-americanos resolveram responder ao terrorismo fundamentalista islâmico com o terrorismo alargado da própria estrutura político-militar e em busca de uma Justiça justiceira também amplamente cega. E ninguém consegue Justiça com a cegueira da Injustiça – ou, como argumentou Cícero no âmbito do Direito romano (que é base do Direito ocidental), summum jus, summa injuria [excesso de justiça, excesso de injustiça]. Ou seja, neste caso, a superpotência EUA retoma a vivência templária... O fator guerra é sempre uma conveniência de Poder ou de contra-Poder, e é, também, a marca registrada do viver patriarcal, já que só uma vez na História humana foi exercido o poder matriarcal e através de um núcleo asiático restrito denominado Amazonas... Para se entender a história que levou/leva o papa João Paulo II a concordar e incentivar a guerra terrorista de retaliação dos EUA contra núcleos terroristas islâmicos, leia-se o que o professor e escritor português Manuel Reis nos ensina no seu ensaio ´Hipotecas Graves Da Civilização Ocidental´... “Os cavaleiros templários têm a sua origem na associação fundada em Jerusalém por Hugo de Payens e 7 cavaleiros franceses, em 1119. Juntavam [de modo um tanto ou quanto peregrino...] vida monástica e atividade bélica contra [os supostos] Infiéis – na situação concreta: os muçulmanos ou islamitas. Inicialmente, a sua atividade é explicada e justificada no apoio e proteção aos peregrinos cristãos que rumavam para a terra Santa por caminhos difíceis e perigosos. Esses cavaleiros foram abençoados pelos papas e destacaram-se nas primeiras Cruzadas organizadas para libertar os lugares santos, situados na Palestina, das mãos dos Infiéis sarracenos. Depois, assumiram as tarefas e as preocupações da Cruzada permanente contra os Infiéis e da defesa dos Estados latinos e dos lugares santos. Foram designados de Templários [ou milites Templi] em razão de o seu quartel-general em Jerusalém, cedido pelo rei Balduíno II, se supor edificado sobre o antigo Templo de Salomão – o Templo do Senhor. Assim, em nome do cruzadismo, que era originalmente considerado como um ato d’amor, os Pobres Soldados do Templo logo tornaram-se Ricos, dominadores e corruptos... De comportamentos e objetivos militares puramente defensivos, na sua origem, eles passaram a atuar violenta e cruelmente com a adoção de práticas militares de agressão e guerra ofensiva. Karen Armstrong [in ‘A History of Jerusalem’, Harper Collins Publishers, London/UK-1996, p.282], escreve acertadamente: “...tinham sido proibidos aos monges o porte de armas e o combate, mas logo que a igreja reconheceu os Templários como uma ordo [=ordem] oficial, a violência sagrada encontrava-se – em algum grau – canonizada. Esses monges-soldados corporizavam as duas grandes paixões da nova Europa, guerra e adoração, e bem depressa eles atraíram novos recrutas. Ajudaram a resolver o crônico problema da mão-de-obra do reino e, durante os anos de 1120, os Templários transformaram-se num corpo de elite integrado nos exércitos das Cruzadas, abandonando o objetivo puramente defensivo das suas origens”. O poder econômico e financeiro dos Cavaleiros do Templo = Templários alçou-os à condição de credores endinheirados de reis e papas; e muitas especulações e segredos se foram avolumando ao longo da história ocidental em torno das suas imensas riquezas. Fortemente envolvidos em operações financeiras e bancárias, em razão da sua riqueza e independência diante dos poderes seculares, eram temidos e odiados ou ansiosamente requisitados por príncipes e papas. A par dos judeus diasporizados, os Templários contribuíram poderosamente, através das suas práticas de ajudas financeiras a associações, guildas e ligas de comércio e investimento, para generalizar o chamado prestamo all’interesse – embrião dos juros sobre o dinheiro emprestado bem como da usura; a prática do prestamo all’interesse [que nos inícios tinha sido condenada pela Igreja romana] logo tornou-se tolerada e admitida! Já se vê que num tal ambiente o espírito e a ideologia da Conquista e do Poder-dominação d’ abord estavam definitivamente instalados. A própria guerra ofensiva e de agressão começou, ela mesma, a ser justificada por supostos fins elevados – mas... nas origens [quando ainda estavam na mó-de-baixo do Poder estabelecido...] os cristãos reprovavam toda a espécie de guerra, fosse ela ofensiva ou defensiva! [...] Agostinho de Hipona, no Séc. V, diante do desmoronar do Império romano às mãos dos ‘bárbaros’ invasores, começa ele mesmo a defender a e justificar a guerra defensiva; e, no Séc. XIII, Tomás de Aquino, retomará a mesma tese. Neste contexto da Cultura do Poder-dominação d’abord é óbvio que a Justiça [viável e possível] é sempre a do mais forte e poderoso – a Justiça da Ordem/Desordem estabelecida. Aqui, a Paz não passa, afinal, de um parêntese entre duas guerras. [É conhecida


a sentença latina, política e estratégico-militar, que exprime bem tais realidades: Si vis pacem, para bellum = Se pretendes a paz prepara-te para a guerra...] Era, então, a Pax Romanum...! a ‘pax Christiano-romana’..., tal como hoje acontece com a ‘paz americana’!... Ainda não saímos, historicamente, do horizonte da Cultura do Poder-dominação d’abord...” [in “Hipotecas Graves Da Cultura Ocidental”, ensaio, 1998/99, Centro de Estudos Humanismo Crítico – CEHC, Guimarães/Pt e Terra Nova Comunic + Edicon / Br, 2001]. Esta é a triste realidade histórica, que vivemos, mas que poucas pessoas – e muito especialmente os cristãos catolicamente envolvidos – conhecem... Divulgar a História tal qual ela é, pelos documentos, não é tarefa simples nem fácil, pois, poucos são os poderes instituídos, entre eles o Vaticano [veja-se a questão dos ‘Manuscritos do Mar Morto’...], que se disponibilizam para essa tarefa! Nenhum religioso e nenhum militar é inocente nos combates que, desde sempre, aterrorizam a Humanidade; o primeiro porque deles participa como ‘capelão’ e representante oficial da sua Igreja [cristã, budista, muçulmana, judaica, etc], e é pago para isso pelo Erário Público!..., enquanto o segundo, pago pela mesma fonte, é um profissional ou um miliciano que julga estar defendendo a Pátria quando, ele-mesmo, enquanto membro dessa Pátria, não passa de um elemento sem voz no contexto político e religioso, e aqui, por isso, não passa de um serviçal. No seu livro ´No Limiar Da Utopia´, (/2001, ediç. bibliófila) o português J. C. Macedo, conhecedor das estratégias do Terror[ismo] diz-nos, a propósito da face do Ser humano radical, que, hoje, “A luta ideológica foi trocada por compromissos de política econômica, ou pessoal” [p.156], o que existe é simplesmente o ato pelo ato, aquilo que os franceses designam “pour épater les bourgeois” [para estarrecer os burgueses], como se a luta pela Liberdade se possa resumir a um estrago material ou psicológico...! No seu manifesto, afirma Manuel Reis: “(...) Dir-se-á que a partir desse 11 de Setembro de 2001 – dia fatídico, o Mundo jamais será como dantes. E afoitamente se dirá, também, que, a dizer toda a Verdade, ninguém terá razões válidas e legítimas para se orgulhar do ocorrido. E ninguém se poderá orgulhar da tragédia, porque, desde logo, os supostos atacantes ativos foram os primeiros a quem o tiro saiu pela culatra, enquanto kamikazes. Nunca, em circunstância alguma, é antropologicamente aconselhável pagar um Mal moral com outro Mal moral. Por isso mesmo, o Terrorismo deve ser denunciado e combatido mas, sempre, pelos meios próprios e adequados”. Logo, é necessário que o Ser humano se identifique, se diga, porque “(...) quem não se diz / arma traição” [Macedo, op. cit., p.38]. Nos canhões norte-americanos não está gravada a divisa ultima ratio regum, mas ela orienta toda a ação de retaliação contra os fundamentalistas (arcaicos) do Taleban fazendo de cada islâmico um potencial terrorista em cada esquina do Mundo. Pior: a Nação afegã foi destruída, por um tapete de bombas, em nome de uma Justiça ocidental que desconhece, como sempre, que o inimigo é um núcleo duro terrorista que ressurgirá mais tarde – pois, a ação (norte-americana) de retaliação orientou-se para o aproveitamento da situação, i.e., tornar o Afeganistão mais um ponto estratégico do expansionismo mercantil Ocidental cristão, daí o apoio tácito do Vaticano em mais esta ‘cruzada’ contra o ‘infiel’ mourisco... O Terror[ismo] grupal alimenta, também, o Terror[ismo] institucional. Ao acompanhar os desígnios expansionistas dos EUA, a ONU ausentou-se de si mesma e equiparou-se ao belicismo diplomático do Vaticano. Sim, e diante disto, politicamente visualizada a questão, Darwin tinha razão: vivemos e vivenciamos uma struggle for life [luta pela vida] que desconhece a Humanidade. A propósito disto, lembro de J. C. Macedo [Porto/Pt, 1986; e entrevista publicada na revista anarquista ´En Vivo y Arte´, Barcelona/Esp.-1986]: “[...] e por isso, podemos dizer que 1-

2-

não é possível destruir os núcleos duros do Terror[ismo], porque quem os combate aplica a mesma arma: o Terror[ismo]; no caso do grupo português Projecto Global, quando apresentei a minha visão não-terrorista mas cultural e filosófica, trataram de armar um ato de onde eu não sairia vivo [e devo a minha vida ao companheiro Mário Lamas, que percebeu o ato e me avisou], portanto, o Ser humano radical não muda... nunca!, e isto vale, também, para qualquer núcleo duro, seja ele institucional ou grupal... Os núcleos duros do Terror[ismo] nascem, e às vezes são instruídos, nas políticas expansionistas ocidentais, pelos próprios serviços de inteligência [FBI, CIA, Mossad & Shin Bet, KGB, etc e etc]. Ora, o KGB instruiu radicais islâmicos para


3-

combaterem a turma do FBI/CIA, e estes fizeram o mesmo contra aqueles. Resultado: dependendo da circunstância político-militar, os radicais islâmicos [que sempre tiveram boas relações com o radicalismo português, irlandês, italiano e bascaíno, através da Líbia, da Argélia e do Iraque] ora lutam contra ou a favor desta ou daquela potência – mas... chegará o dia, no caso do Oriente, em que esses núcleos duros do Terror[ismo] vão unir-se para defender aquilo que realmente representam: o destino islâmico. E aí, sim, estaremos diante de um Choque de Culturas [...]

Não é viável, nem hoje nem amanhã, uma luta generalizada contra atos de Terror[ismo], pois, a causa que gera o Terror[ismo] está na própria Sociedade mercantil que destrói a Democracia e o Estado de Direito para suportar o mando absolutista das elites oligárquicas, do que temos exemplos quer na URSS quer nos EUA, na França ou na Inglaterra. O que é preciso é mudar a estrutura política e econômica do Mundo mercantil para uma estrutura de Mundo anarquista – ou seja: para uma estrutura que respeite os povos, suas culturas, e a Natureza que lhes é e dá berço [...]. A realidade é que os atos grupais de violência devem ser tratados nos níveis dos Serviços de Inteligência [SI’s] e não nos níveis de uma guerra entre nações; nos níveis de uma Diplomacia atuante e não nos níveis da destruição de uma Nação ou de Golpes d’Estado politicamente desencadeados por atos militares desastrados. Uma idéia muito clara sobre a causa e o efeito no campo do Terror[ismo] institucional é nos dada pelos laços comerciais que, durante os últimos 40 anos do Séc. XX, uniu a Família Bush e a Família Laden (leia-se, a propósito, o livro “A Fortunate Son: George W. Bush and the Making of an American President”, de Steven Hatfield). Quer os norte-americanos quer os sauditas sempre buscaram, desde que (pela força dos primeiros) se uniram institucionalmente, pólos estratégicos para o desenvolvimento de um mercantilismo em torno do petrodólar – e, aí, anti-ocidentais como iraquianos e afegãos, palestinos e iranianos, tornaram-se inimigos declarados dessa política global e terrorista direcionada para o bem estar dos EUA e seus aliados [o que a ex-URSS também tentou, sem sucesso]. Os Bush e os Laden – aqui, mais apropriadamente, os bin Laden – forçaram atos político-militares e diplomáticos, na área comercial, que geraram pólos estratégicos de sinal contrário, i.e., os extremos tocam-se quando os interesses divergem, política, social e culturalmente. E se os Bush salvaram as suas empresas de comércio petrolífero com a intervenção financeira e diplomática dos Laden, os primeiros tiveram a chance, por isso mesmo, de “eleger” dois presidentes – pai e filho – que, no mesmo sentido de uma política estratégica fundamentalmente anti-Oriente, fizeram dos antigos aliados sauditas inimigos mortais. Neste caso, a Família Bush levou para a Casa Branca a política comercial de empresas familiares e, com isso, envolveu o Mundo em assuntos estratégicos pessoais, que não são nem do Povo norte-americano nem do iraquiano ou do afegão... Os EUA e a Europa precisam de um corredor chamado Afeganistão para o desenvolvimento mercantil da exploração do petróleo naquela região [a ex-URSS também o quis...], e vão fazer aquilo que a Inglaterra e a França colonialistas já tinham feito há muito: patrocinar governos fantoches dizimando os opositores! E durma-se com um barulho terrorista desta envergadura... Em suma, é preciso, também, impedir que uma superpotência tome decisões de guerra global quando o Ato colonial[ista] se volta contra ela mesma... até por que os impérios romano e soviético, francês e português, caíram assim mesmo... É bom não esquecer que a História tem uma ‘bola da vez’ para cada ciclo! É bom não esquecer...


Livro Dois

Já entendo o Mundo como entendo a Vida Sublime instante E continuo à margem de tudo. Paradoxal instante Eis me Mundo a criar em mim a Vida. Sei quem sou. Mas continuo um instante! Ah, este Eu é (um)a Vida!


ORDEM PÚBLICA

Uma Questão Cultural Em Torno Das Polícias Municipais Figuera de Novaes

A presença de João Barcellos em alguns encontros políticos e culturais suscitou vários questionamentos em torno do seu livro ‘Ordem & Sociedade’, no qual analisa, com pragmatismo ideológico, a importância da adesão civil aos programas de Ordem Pública, que não podem ser elaborados sem a participação efetiva da Sociedade. Recentemente, no Rio de Janeiro, durante um evento cultural, e através de uma conferência digital do ‘Grupo Granja’, com foco na América do Sul a partir de Buenos Aires, João Barcellos expôs novamente as feridas de “...uma Sociedade que se sente impotente diante de si mesma, já que a Política, em geral, não que entender que a Ordem Pública deve sr tratada sob o prisma de uma Ação Cultural que desperte, em cada localidade e em cada nação, um Comportamento Civil de atenção ao próximo no âmbito da Responsabilidade Social”. Esta questão é a base do livro ‘Ordem & Sociedade’, edição rapidamente esgotada e que teve larga discussão em círculos fechados, quer na América do Sul quer na Europa. Para este escritor e analista luso-brasileiro, com vários livros publicados também no Brasil, “...é preciso que se entenda a Ordem Pública, não como um caso de militar, mas como um fato social a ser gerenciado, politicamente, a partir das municipalidades, onde a Guarda Civil deve ter uma ação conjunta com as demais entidades policiais metropolitanas e com o Poder Judiciário. Não é mais cabível olhar para a GC e perceber uma entidade de simples defesa do Patrimônio Público Municipal – hoje, a GC tem de efetivar uma Ação Preventiva Contra o Crime, além de assegurar aquele seu papel de defesa da coisa pública municipal. Ou seja: urge instruir, cultural e policialmente, a Guarda Civil enquanto foco imediato para solução da problemática da Violência Urbana que vem no bojo da profunda e hipócrita Desigualdade Sócia”. A experiência européia de João Barcellos no campo da Ação Militar, da Anti-Guerrilha Urbana e da Guerrilha Urbana, nos Anos 70 e 80, do século passado, a par da sua sempre profunda e cuidada área de pesquisas, levou-o a coligir essa série de ensaios a que deu o título de ‘Ordem & Sociedade’, o que o tornou um cidadão de comportamento sócio-cultural ainda mais respeitado. Quando o entrevistei para jornais e revistas de Quito e Buenos Aires, no lançamento de ‘Ordem & Sociedade’, uma frase dele mexeu com muitas pessoas: “E, no entanto, precisamos saber que o tratamento judicial e policial e social contra o Crime Organizado não pode passar pelas Forças Armadas, cuja Cultura Castrense não o permite..., mas, hoje, em função do Poder Paralelo exercido pelo Crime Organizado em grandes metrópoles, os serviços reservados das FA’s devem colaborar, sim e ativamente, com as entidades policiais, porque as FA’s são parte da Sociedade e participar, sugerindo, na formação de polícias metropolitanas com o mesmo objetivo social e o mesmo comando: a erradicação do Crime Organizado. É preciso acabar com os corporativismos policiais e criar polícias que não precisem, porque bem treinadas e bem pagas e orientadas, de transformar a Sociedade numa praça policialesca!” Na última conferência digital, em que se tocou no assunto Segurança Pública, ele foi mais longe: “...e a virtude de uma Sociedade que se quer em Liberdade está, precisamente, no investimento maciço de políticas educacionais, porque a Violência tem de ser vista como um dado cultural negativo no seio da própria Sociedade, custe o que custar”...


Chavão de Perplexidades ‘navigare necesse est’ Carta à Consciência da Militância J. C. Macedo

Na apetência que é a criação de um espírito incentivador para reforçar a moral da militância para uma causa, ainda em projeto, ou quase perdida, surgem frases e lemas que se transformam em bandeiras ideológicas. Lá pelos finais do Séc. XVII, colonos portugueses residentes na São Paulo dos Campos de Piratininga (hoje, a mega metrópole brasileira ´São Paulo´), acharam um lema que os identificava, em definitivo, com a nova postura social, pois, já eram mais brasileiros do que portugueses – e o lema era: ‘non ducor, duco’ (q.s. ‘não sou conduzido, conduzo’). Ainda por essa época, e embora tivesse sido criado no Séc. IV, as cidades mercantis da Liga Hanseática utilizavam o ‘navigare necesse est’ (q.s. ‘navegar é preciso’) e dele fizeram o mais embarcado chavão corporativo. Entretanto, o ‘navegar é preciso’, diga-se, teve origem militar e foi gritado à marujada castrense pelo general romano Pompeu, cerca de 70 anos antes da ‘era cristã’. O lema que, como já vimos, foi também mercantil, veio a ser utilizado na gênese política do Fascismo, pelo poeta D’Annunzio [1863-1938], e depois por Mussolini, que deu a ‘deixa’ para o estabelecimento do Nacional-Socialismo (ou Nazismo) alemão. Este ‘navegar é preciso’ teve, ainda, conotações ideológicas, à Esquerda e a Direita, e nem sempre as pessoas que o utilizavam/utilizam sabiam/sabem da sua origem castrense. Quem melhor percebeu a importância do ‘navigare necesse est’, de Pompeu – o Grande, foi a comunidade financeira judaica que, sob a perspectiva do sucesso da velha da Liga Teutónica de mercadores [do Séc. IV], apoiou a formação da Liga Hanseática (ou Hansa) iniciada com aliança comercial entre Lubeck e Hamburgo [em 1241], logo, um poderosíssimo pólo econômico de escala global, para a época; foi aí que o rei português Manuel I, no Séc. XV, foi cooptar recursos para o que viria a ser a Odisseia Manuelina, depois que ele mesmo tornara não-rentável, irresponsavelmente, o conjunto de ações científico-mercantis estabelecido no ´Plano da Índia´, entre o infante Dom Pedro e o rei João II... Tal descalabro econômico gerou o êxodo lusitano e, logo, um ‘novo’ Portugal na mente dos colonos ‘brasileiros’ estabelecidos no planalto paulistano, aqueles que souberam gritar a sua cidadania com ‘non ducor, duco’. Deve-se entender, pois, que o verso ‘navegar é preciso’, tão cantado da poesia de Fernando Pessoa [1888-1935], interpreta-se no mesmo ritmo incentivador castrense de Pompeu, e, também, no passo heróico fascista-futurista e mussolinista de Filippo Tommaso Marinetti [18761944]. O pessoano ‘navegar é preciso’ é a exaltação do heroísmo e do épico estar já utilizado por Camões [1524-1580] em prol do Poder estabelecido nas linhas feudais-absolutistas, reelaboradas por fascistas e nazis no Séc. XX. A leitura ‘fascista’ de Fernando Pessoa está correta, o que não significa que ele o fosse, ideologicamente, embora o tal Futurismo marinettiano-mussolinista tenha incendiado intelectuais como ele e como Almada-Negreiros [1893-1970], em Portugal, Menotti del Picchia [1892-1988] e Oswald de Andrade [1890-1954], no Brasil... O certo é que ‘navigare necesse est’ [máxima de um general romano para incentivar os seus soldados a entrarem nos barcos e guerra...] foi a ‘janela’ ideológica que levou muita Intelectualidade, à Esquerda e à Direita, para o Nacionalismo heróico e a ingressar nas fileiras fascistas e nazis. No caso (muito ‘esquisito’, para alguns historiadores) da turma da Esquerda existe, hoje, uma montanha de subterfúgios para escapar da indicação de ‘mussolinista’, ‘stalinista’ e ‘hitleriana’. Mas, sabe-se que a Intelectualidade acadêmica, e mais a de origem semita, gosta de se ‘embelezar’ com o Poder... Isto mostra como é importante, para quem milita na ação política, possuir/respirar Cultura; pois, a utilização de um determinado chavão leva, muitas vezes, não ao incentivo, mas à perplexidade.


A militância sem formação/informação cultural não passa de besta-de-carga que carrega o interesse ideológico de quem a quer unicamente como objeto político de manobra, simples peonagem de campanha, como acontece com a ‘tropa castrense’, inibida de opinar! Dirigir e orientar é necessário para um bom navegar, sim; mandar sobre a massa escrava que faz da pessoa um objeto, não. Que esta reflexão sirva de incentivo para que a militância político-militar e cultural busque ter consciência própria nos atos a executar...

Segurança Privada

A nação que vivo o é na comunidade – Deixem-me viver, estar e ser Naquilo que conheço como civilidade Até... para em paz morrer! Jb

O conceito que se tem de Segurança passa por transformações sociais e societárias; primeiro, pelas massas populares, que gostam de se associar às corporações policiais mais próximas quando estas não lhes viram as costas por determinação institucional; segundo, pelas elites, que não gostam de associativismo, mas de reinar com as divisões socioeconômicas. Em tal plataforma de interesses o entendimento torna-se difícil e a Segurança Pública raramente é suficiente para as demandas nos campus rural e urbano... 1 Não se atire pedras às massas populares porque é de vidro o telhado de todas as classes socialmente envolvidas na sobrevivência da Humanidade. Nas grandes metrópoles, amedrontada e acuada pela rotina de roubos e assassinatos, a Pessoa pobre faz o mesmo que a Pessoa rica: busca apoio em vilas-condomínio nas quais se isola sob a proteção de uma Segurança Privada. E, esta, existe na falta da Segurança Pública que nem para si própria a Elite consegue estruturar! 2 Mas, o que é Segurança Privada? Não basta dizer que “no meu bairro não passa o policiamento que pago com impostos, por isso, vou contratar um grupo de segurança particular”, como argumento que já institucionaliza a Segurança Privada em muitos países. E entanto, esta é a realidade social impulsionada pela


Economia do lucro a qualquer custo que vê na Força de Ordem Privada uma subdivisão apropriada para não garantir um Sistema Único de Segurança Pública para o Todo nacional. O sistema de Economia Consumista estabelecido e regiamente defendido pela Elite capitalista não funciona para favorecer o Todo humano, mas sim uma minoria, entre civis, militares e religiosos – e as massas populares não fazem parte do Lucro, mas parte do Trabalho que garante a riqueza e o luxo da Elite. E se as massas populares existem somente para o Trabalho a lógica societária da Pessoa rica é de operar a Segurança Pública no entorno da sua riqueza, do seu luxo, fazendo-a respingar um pouco para as comunidades, particularmente as de Classe Média, que são o grande suporte político-eleitoral e do consumismo, muitas vezes até tampão ideológico entre o Povo e a Elite. Na sociedade hierarquizada a Classe Média ocupa um espaço vital para a renovação cíclica da Elite política e econômica. E, apesar de quase sempre esmagada nos seus sonhos, ela nunca deixa de ser o tapete estendido para a passagem da sociedade senhorial... É esta classe que adora dizer “no meu bairro não passa o policiamento que pago com impostos, por isso, vou contratar um grupo de segurança particular”. E, é claro, a Elite aplaude, estimula. Afinal, isso é parte do jogo falsamente democrático no favorecimento de uma classe contra outra mais abaixo. É na desigualdade social e na falta de Justiça que está a brecha política e policial que leva à contratação de mão-de-obra operacional no campus da Segurança Privada, até por que a maioria dos agentes são ex-policiais e ex-militares e policiais e militares na ativa, mas a fazer em ´bico´ para melhorar a renda familiar. E, em alguns países, já se vê autarquias públicas contratarem serviços privados de segurança para proteção patrimonial e pessoal...! E não é um paradoxo: ao manter as Forças Armadas e as Forças Policiais sob regime salarial baixo, a Elite patrocina uma estrutura privada que lhe serve também como exército na estratégia de alimentar o caos urbano – daí, as milícias em bairros-condomínios de alto luxo, as milícias nas universidades, as milícias na área rural, as milícias nas cidades e nas favelas, e etc., e por aí vai a ´procissão´ da Segurança transformada em mercado de Lucro e, em alguns casos, já um segmento com ´barões´ próprios. Isto é Segurança Privada. Isto é um Povo sem guarida para a Paz e uma Elite que faz da Justiça um corredor ideológico para manter o embate de classes e a humilhação social da desigualdade com miséria e misticismo sob a aliança das igrejas institucionalizadas.

3 “Qui rem publicam salvam esse volunt me sequantur” “Que os voluntários desejosos da salvação da República me sigam.” Roma, Séc. II dC Prevenir e detectar riscos que possam atingir Patrimônio e Pessoa, operando com planejamento e tecnologias específicas, eis o que o/a profissional de Segurança Privada tem como objetivo. E a existência da Segurança Privada impõe, então, que a Sociedade em geral deve integrar-se ao meio da Segurança Pública em diálogo aberto para compartilhar experiências e idéias, um protagonismo comunitário essencial à visão e à ação democrática. Qual é a legitimidades da Segurança Privada? Naquilo que é primacial na defesa da integridade da Pessoa quando o Poder Público não atua: a defesa da Família e do Patrimônio. Já no caso corporativo, ou Vigilância Empresarial, é o direito de defesa de funcionários, bens imobiliários e financeiros, vigilância que pode ser terceirizada na contratação de empresas especializadas e registradas no Ministério da Justiça. Obviamente, a partir do momento em que o Poder Público autoriza e regulamenta a Segurança Privada, ele cria condições para uma troca efetiva de conhecimentos em Inteligência e em Tecnologia nessa área e entre funcionalismo público-judiciário e privado, uma vez que está institucionalizada a convergência de metas/objetivos. Eis o que faz surgir, por ex., eventos do tipo escuta telefônica comprometendo agentes da Ordem Pública e agentes da Ordem Privada... A falta de consciência ética leva ao banditismo, até por que deixa de existir uma fronteira na Segurança quando o próprio Poder Público admite, constitucionalmente, a sua incapacidade operacional, humana e tecnológica, de defender a paz elementar nos lares das comunidades que formam a Nação. O que se passa? A exploração do medo principalmente nos meios populares. A falta de ética culmina em relações


mafiosas gerenciadas pelos setores público e privado, e isso vem do objetivo da Elite plutocrática – a saber: dividir para reinar, impedir que o Povo se aproxime do palco da Política executiva. É o que falam alguns analistas: está instalada a economia da exploração do medo. Da escuta telefônica à extorsão, a cultura do medo faz vítimas em todas as classes sociais para impedir, custe o que custar, a cultura da paz. Por isso é que o eixo Segurança PúblicaPrivada funciona como amortecedor entre classes enquanto a maioria não se decidir a intervir socialmente com políticas de ruptura para uma nova dinâmica de Poder Público. O psiquiatra suíço Marc Cédron e o poeta luso J. C. Macedo diziam que “...policiamento de segurança particular é ato de parceria com a segurança pública, logo, não pode ser analisada como concorrência profissional. O que é preciso é assegurar a defesa das pessoas acuadas pelo terrorismo urbano da ladroagem e da criminalidade, muitas vezes integrada de elementos da própria segurança pública apanhados na rede da prostituição ética que os leva ao ´bico´ da sobrevivência”. É preciso, pois, que o Poder Público e as corporações da Segurança Privada se entendam para que a vigilância corporativa e condômina não se transformem em exército privado a lesar direitos fundamentais da Cidadania. Por outro lado, essa milícia civil é tempo de crise na Ordem Publica podem ser chamadas a integrar forças-tarefa junto com as corporações militares e policiais, algo de que existe registro histórico desde os tempos da República romana dois séculos após os eventos místicos e políticos que originaram o cristianismo. Segurança Privada é um mercado em expansão. O que agentes das corporações policial-judiciárias e militares têm como ´salário´ é uma afronta à dignidade profissional, na maioria dos países, então, surge o ´bico´ como resposta, a prostituição da dignidade no apoio à criminalidade a todo o tipo de terrorismo, até por que se o Poder Público não incentiva com salário justo, muito menos com formação técnica e escolar adequada. Para a maioria das pessoas que ingressam na Segurança Privada o ato é uma resposta à falta de políticas institucionais para a Segurança Pública... e, as empresas privadas oferecem melhores salários e tecnologias operacionais mais avançadas . Então, por que ficar num serviço tecnologicamente obsoleto e sem carreira decente? Eis por que a Segurança Privada é desde sempre é: 1º- Uma atividade ótima para quem gosta de viver à flor da adrenalina; 2º- Uma atividade que permite desenvolvimento pessoal no campo acadêmico e profissional; 3º- Uma atividade de lucros assegurados pela competência em gerenciamento empresarial, contrariamente ao desmazelo e à corrupção que ´enforcam´ as corporações do setor público. Ou seja: um mercado em expansão desde que na antiguidade os figurões da economia e da política precisaram de guarda-costas... 4 Quando o Animal busca proteção para si determina-se em formar um clã com os seus pares, ou enfrenta as adversidades solitariamente; a Pessoa humana faz o mesmo, mas com um raciocínio de abrangência social e tecnológica, quase sempre mesclado de rituais religiosos, só que o clã humano é mais predador do que o clã animal, porque tem capacidade para se extinguir. Que lição tirar desta análise?... 5 Quando se analise uma força-tarefa do tipo Segurança Privada percebe-se a animalidade à flor da pele de quem a contrata: a ferocidade da resistência à violência urbana e/ou rural. É que a Pessoa humana individualiza a sua defesa, no primeiro instinto, privatizando-a, e só depois vai pensar nas possibilidades de políticas públicas de segurança. Seja com for, e sob qualquer ponto de vista ideológico e jurídico, social e econômico, a Segurança Privada é parte do cotidiano capitalista gerenciado pela plutocracia, seja essa plutocracia pseudo comunista ou burguesa. Assim, teremos o eixo Segurança Pública-Privada assegurado enquanto a distribuição de renda e de oportunidades sociais não estiver ao alcance do Todo humano. A Finalizar [sem fechar o diálogo sobre o tema]

Um exemplo português: No mesmo momento em que acontecia o 1º Encontro de Segurança Pública em Cotia, na Grande São Paulo - Brasil, em Abril de 2009, a portuguesa Associação Nacional de Vigilantes [ANV] fez o seu 1º Seminário de Segurança Interna, na cidade de Torres


Novas, sob os auspícios da Revista Segurança e Defesa, tendo como convidados os embaixadores do Brasil e do Timor Leste, oficiais superiores da Polícia de Segurança Pública [PSP], Serviços de Informação [SI´s], Forças Armadas [Exército, Aeronáutica e Marinha] e Guarda Nacional Republicana [GNR], além de ministros de Estado. Diferencial: no caso brasileiro de Cotia, a ausência [para o diálogo] das FA´s, da P”M”, das Empresas de Segurança Privada, etc... No entanto, e conhecendo-se as circunstâncias históricas do Brasil recente, entende-se o ´caso´ mas espera-se mais vontade e profissionalismo. Uma das principais reflexões do seminário português foi feita pelo general Loureiro dos Santos, do Exército, ao chamar a atenção para o fato de, em tempo de paz, ser difícil chamar as FA´s para exercícios ´civis´, o que mostra e demonstra o grau de ética profissional a que chegaram os militares portugueses após o “25 d´Abril de 1974” [o golpe de Estado que derrubou o governo fascista e militarista]: segurança pública é caso de corporações civis, sejam corporações policiais ou de vigilância privada. A vida civil entre janelas, portas e quintais protegidos por grades e câmeras de vídeo, além de guaritas com vigilantes armados, é uma realidade mundial[izada]. Quando as pacíficas e comunitárias citânias [aldeias celtas muradas] deram a lugar às vilas e cidades das monarquias nacionais, as famílias poderosas protegeram-se com exércitos privados, e as massas populares passaram a reivindicar uma Justiça que lhes parecia longínqua. Foi assim [e é apenas um entre muitos exemplos] que aconteceu quando Portugal e a Espanha se ergueram na Península Ibérica enquanto estados monárquicos. E é assim hoje. E assim será enquanto a Segurança Pública não for parte de uma Justiça percebida no Todo social. Isto significa que a Segurança Privada é um elemento do Estado incapaz de proteger a Pessoa Contribuinte com as suas corporações policiais. Isto significa, também, que a convivência entre as corporações da Segurança Pública e da Segurança Privada deve ser assegurada... institucionalmente com regras perfeitamente assimiladas por ambas as partes. Devemos entender que a Segurança Privada não é uma circunstância fortuita, e sim que... ela é uma necessidade social por falta de estruturas de Segurança Pública cuja incapacidade possibilita o aparecimento de Milícias e até de um ´nicho´ econômico gerador de emprego/renda a envolver policiais e militares, cujos salários são socialmente patéticos e equiparados, no Brasil, aos do injustiçado Professorado! Eis que uma análise à Questão Segurança Privada não pode ser um ato leviano e de ofensa ideológica. A realidade social e econômica que suporta a Segurança Privada é um dado histórico que fala por si só.

Bibliografia: ALMEIDA, A. J. (Org.). “MERCOSUL Integração e Impacto Socioeconômico”. Editora Vozes, Petrópolis/RJBr.,1997. BARCELLOS, João – “Tempo de Guerra & Tempo de Paz: Uma Equação Política Pela Justiça Com Cultura Da Paz”. Ensaio-Palestra na apresentação da 2ª ediç de “Ordem & Sociedade”, Curitiba/PR-Br., 2006. BURGOS, Marcelo Baumann (org.) – “A Utopia Da Comunidade”. Brasília: UNB, 1999. CALDAS, Gilberto – “Nova Constituição Brasileira Anotada”, Ed Univ Direito, Brasil-1989. CANOTILHO, J.J. Gomes; Moreira Vital – “Constituição da República Portuguesa (anotada)”, V. 1.4. ed. Coimbra/S.P: Coimbra editora / editora Revista dos Tribunais, 2007. CEDRON, Marc & MACEDO, J. C. – “Comunidade, Segurança Pública e Cidadania”. Palestras. Braga/Guimarães/Porto – Portugal, 1973, 74 e 75. HEGEL, G. W. F. – “Principes de la Plilosophie do Droit”. Gallimard, Paris/Fr.,1940. COSTA, Darc – “Segurança e defesa: uma única visão abaixo do Equador”, in Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília/BR., 1999. MACEDO, J. C. – “A Paz Só É Possível Com Uma Mente Desmilitarizada”. Palestra. Buenos Aires, Arg., 1996. MALGRIDA, Carlos Badia. “El Factor Geografico en La Politica Sudamericana” . Establecimiento Tipografico de Jaime Ratés, Madrid-1919. PEREIRA, Júlio – “Segurança Interna: o mesmo conceito, novas exigências”, in Revista Segurança e Defesa nº3, Portugal, 2007. REVISTA SEGURANÇA E DEFESA [Loures/PT] – livro “Forças Armadas - Uma Visão Para Portugal”, 2009. ZEA, Leopoldo – “Fuentes de la Cultura Latinoamericana”. Fondo de Cultura Económica, México-1995.


Os Egos Anti-Humanos Que Fazem As Guerras Céline Abdullah

1 A África Sob Fogo Colonial A frase é velha, mas sempre atual: ninguém é livre ao tirar a liberdade dos outros. Os africanos sofreram, e sofrem, na alma e no corpo, os efeitos do Colonialismo e suas barbáries: perderam pátrias e culturas, mas souberam reergue-las culturalmente, ou na miscigenação com outros povos a dar origem a linhas como a afro-americana e a afro-brasileira, ou no retorno às suas origens no regaço da mãe-África. O universo social e político do Ocidente precisa entender que as questões tribais africanas fazem parte do processo sócio-cultural regional, que o Ocidente não pode aproveitar-se dessas ‘questões’ para se infiltrar e fomentar, nos “egos propensos ao Poder custe o que custar”, guerras localizadas na África para o estabelecimento do Poder colonial do Ocidente. Depois que os bravos nacionalistas africanos impuseram uma derrota militar ao Colonialismo português, que culminou também na queda do Governo ditatorial sediado em Lisboa, em 25 de Abril de 1974, os EUA e a ex-URSS estabeleceram bases de apoio nas regiões lusófonas da África e fomentaram a Guerra Civil ao abastecer militarmente o ego tribal de ex-combatentes nacionalistas. Assim, o Ocidente – democrático ou não – impôs por mais de duas décadas um lento e pavoroso genocídio entre os africanos. O caso mais terrível aconteceu em Angola – essa nação tão rica materialmente quanto pobre humanamente – e só com a morte, em combate, de Jonas Savimbi, chefe da Unita (que depois de lutar com o Mpla – hoje Governo – contra Portugal, tornou-se uma tribo política alimentada pelo ego do chefe e militarmente pela África do Sul e os EUA), no início de 2002, vislumbra-se a possibilidade de paz para esta região. 2 O Islamismo Como Equilíbrio Entre Culturas Sabemos que os egos se inflamam mais quando religiosamente trabalhados para atuarem como ‘motores’ políticos. Ao contrário do que afirma o Ocidente, o Islamismo não acua culturalmente dessa maneira. Existem grupos fundamentalistas em todos os continentes (a Kkk e o Black Power, nos EUA; Sionistas, em Israel e em todo o mundo; maoístas leninistas como as Farc, na Colômbia; o MST, no Brasil; Al Fatah e Al Qaeda, no mundo árabe; as Milícias cristãs e as Milícias judaicas, em todo o mundo; e muitos outros exemplos), assim, “o Ocidente não pode acusar impunemente o Oriente de fundamentalismo terrorista, de direita ou de esquerda, porque sofre do mesmo mal”, no dizer histórico do equatoriano Figuera de Novaes (in palestra digital, Grupo Granja, Dezembro de 2001). Seria o mesmo que acusar o Catolicismo de todas as práticas terroristas que aconteceram na sua história. “Egos cristãos, egos judaicos, egos hindus, egos budistas e egos islâmicos, sedentos de Poder, foram muitas vezes atiçados pela chama do Absolutismo” (idem), mas foi e é no Ocidente que o Absolutismo mais se pratica politicamente, como se pode verificar pelo Fascismo sionista que domina a


política governamental do EUA (‘fascismo sionista’ que foi tema, também, de uma recente conferência digital do Grupo Granja)! Historicamente, a “...globalidade filosófica para uma Humanidade justa tendo o Ser humano eco-histórico como centro, iniciou-se com o cientista social árabe Ibn Khaldun” (in ‘A Queda Dos Impérios Do Mal’, romance do luso-brasileiro João Barcellos, 2002), assim, o Ocidente está a esquecer a contribuição do Oriente e do Islamismo para a formação da própria Cultura ocidental, o que também o escritor português Manuel Reis (in ‘As Democracias Em Falência No Ocidente’ / ‘Debates Paralelos / Livro 1’, pp. 29 a 41; Edicon-Br, 2002) estuda criticamente e divulga com muita coragem. Antes e depois das Cruzadas cristãs, o Islamismo, apesar de tão confrontado sangrentamente pelo Cristianismo ocidental, comportou-se como linha de equilíbrio entre as sociedades velhas, e assim atua nos nossos dias. É esta linha cultural de pensar e agir que está a trazer para o Islã mais e mais adeptos em todos os cantos do Mundo, enquanto o Cristianismo não pára de decrescer no seu Poder imperial! É por isso que o Ocidente perturba o Oriente através de um Estado sionista implantado onde deveria estar um Estado palestino. É por isso que, definitivamente, a Paz e o Equilíbrio social no Mundo, não interessam ao Ocidente: “o peso imperialista do ego ocidental, político e religioso, fala mais alto do que a Humanidade” (F. de Novaes). Foi a pensar e a agir contra este ato cultural árabe de equilíbrio entre as nações, que os Aliados (EUA-Sionismo-Europa) fizeram do Nazismo o bode expiatório na luta contra o Comunismo (China, URSS, Cuba, Vietnam), e todo o Ocidente paga, até hoje, a vergonha da falta de Identidade cultural e política! Moçambique, Abril de 2002 [ABDULLAH, Céline – bioquímica, membro do Grupo Granja]


Bárbaros Civilizados Em Expansão [...ou, o Absurdo Humano!]

À Guisa De Introdução

Ao tempo em que a frota-armada cabralina já, enfim - e para glória íntima do cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira, na verdade, o homem que melhor colaborou e fez desenvolver o ´Plano das Índias´, gizado por João II, de Portugal, e determinou, em Tordesilhas, a essência político-diplomática joanina -, fizera o estabelecimento de uma certeza, e não de um achado territorial, os aventureiros e comerciantes arribavam na mesma costa da Insulla Brasil, perdidos ou não, em busca dos mesmos tesouros. Pelo Ano 4 daquele 1500, um normando de nome Binot Paulmier de Gonneville, aparelhou uma nau e fez-se ao mar em busca das ´coisas boas´ da Índia, mas, na verdade foi dar à costa brasileira da Ilha de Sta Catarina, no sul, exatamente em São Francisco do Sul; de lá, em meio às habituais atribulações marítimas [tempestades e pirataria], fez a torna-viagem levando um carijó adolescente, filho de Arosca, cacique da região. Este ´índio´ foi a única prova da estadia apresentada por Gonneville no ofício ´Relação´, no qual dá o rol dos acontecimentos do seu evento marítimo e depositado no almirantado de Rouen, em 1505. Sabe-se, daí, que o normando embarcou na nau ´L´Espoir´ o jovem filho dos povos da floresta para o devolver vinte luas depois, devidamente ilustrado sobre cristianismo e artilharia. O comerciante, de tão boa amizade travada com os carijós, de Língua guarani, conseguiu erguer uma grande cruz na aldeia – talvez, creio, a mesma que Hans Staden viria a encontrar quando conheceu o povo carijó, naquele meio caminho do piabiyu [= ´caminho do Peru´]. E esse jovem carijó integrou-se socialmente à vida francesa, além de herdar o nome e o brasão da Família Gonneville. É, talvez, neste evento histórico, que se encontra a raiz da dissertação sobre o ´bom selvagem´, feita por J-J Rousseau, no seu ´Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens´, de 1755, pois, embora haja relatos de outras presenças ´índias´ nas cortes européias, a do jovem carijó de nome Essomericq, na certeza, uma invencionice do normando para registrar a oralidade carijó, depois que se viu impossibilitado de o devolver àquela ´grande terra´. A admiração de Rousseau, como a de Michel Montaigne [leia-se ´Dos Canibais´, in Ensaios, 1580], pelo poder de assimilação do progresso e da boa vivência dos filhos dos povos da floresta que arribavam na civilização cristã-ocidental, é uma demonstração – mais uma – da “...civilização que se acha em cada povo e localmente assente, não a barbárie ´criada´ pelo catolicismo no seu afã de determinar seu próprio império sobre a destruição dos povos da floresta...” [MACEDO, J. C. & NOVAES, Figuera de - in ´Barbárie Em Expansão Nas Naus Da Civilização Luso-Cristã´ // ´O Susto: Os Imperialistas Deram-se Conta Da Natureza Anarquicamente Vivida Pelos Povos Da Floresta...!´, prosa poética, opúsculo, p.03, Ediç. dos AA c/ jornal anarquista ´Jeroglífo´, Buenos Aires / Arg., 1989, ediç. esg.]. O naturalista Darwin, que viveu cientificamente por uns meses no Brasil, deve ter percebido muito bem o quanto de Anarquia se fazia um bom selvagem... De tal sorte que o seu termo ´adaptação´, que surge na obra ´A Origem Das Espécies´, de 1859, reforça aquela manifestação de “vivência criativa e anárquica que faz dos povos da floresta gente feliz, civilizadamente feliz, mas que, no contacto com o ato colonizador da civilização cristã-ocidental, torna-se infeliz...” [MACEDO, J. C. & NOVAES, Figuera de – op. cit., p.09]. Por que isto? Porque estava em causa unicamente a expansão do Estado organizado por e com elites, condomínio de interesses onde o Direito, vertido da velha Roma e continuado no Catolicismo, agrega[va] conceitos de Justiça dos senhores contra os povos. A barbárie ´civilizada´ transformou, então, o paraíso anarquista no


front da conquista absoluta e destruidora. É esta barbárie, no Ocidente e no Oriente, que ainda hoje orienta os atos políticos e econômicos das nações militarmente poderosas... Aquele jovem carijó adaptou-se ao viver francês, sim, porque tinha na alma a característica fundamental da vivência comunitária: o bom senso da sobrevivência. E não há barbárie ´civilizatória´ que corte essa raiz do pensamento de quem quer que seja!

Bárbaros Civilizados Em Expansão A tentativa norte-americana de gerar uma ´nova Roma´, através de um Império do Mal via sistema econômico-militar de dominação global, tem apoios diplomáticos na França, na Alemanha, em Israel, em Portugal, na Inglaterra, no Brasil, e outras nações ocidentais, a par das pseudo-teocracias islâmicas do Kwait, da Jordânia, etc, e, embora timidamente na praça pública, mas forte nas sombras, do Japão. A base de sustentação do ato yankee é a mesma que leva ao ato sionista de ocupar a Palestina e dar continuidade a uma guerra, pois, só ela lhe dá a sobrevivência. Ou seja: está criado “...um Direito que limita a Cidadania, mas permite ao Estado imperial barbarizar colonialmente, como define J. C. Macedo no seu, por enquanto, ´impublicável´, romance ´Impérios Do Mal´, terminado no momento da queda de Saddam Hussein, e no qual nos diz das barbáries sofridas pelo Povo alemão sob os bombardeios ´aliados´, já finda a guerra. O que interessa é a ´fala´ dos vencedores, aos vencidos o trabalho de reconstruir vidas e sonhos perdidos, que é o que se passa, primeiro, na retomada da Cidadania palestiniana contra a invasão feita pelo Estado sionista, segundo, no pós-Invasão do Iraque, com sunitas, xiitas e curdos, entre outros, barbarizados por Saddam, enquanto Poder, e por Bush, Sharon, Blair & Company, enquanto invasores, e de cujo ato criminoso não contabilizam os milhares de iraquianos civis mortos nos ataques...” [NOVAES, Figuera de – in ´A Coragem do poeta J. C. Macedo no romance Impérios Do Mal´, entrevistado por Mariana d´Almeida y Piñon p/ TerraNova Comunic, Fev. 2004]. É este “Direito que sustenta as nações poderosas e permitelhes ignorar qualquer tipo de Tribunal Internacional - isso, é só para quem não é do nosso condomínio” [idem], deve rezar assim a sua cartilha colonial. Eis que é uma vergonha pensar e querer discutir coisas do tipo pós/neo Colonialismo, o que existe é Colonialismo/Barbárie, logo, urge discutir, sim, esse Direito societário que está na origem da maioria dos crimes de lesa-Humanidade – discussão esta que aponta, à partida, para uma batalha filosófica: a busca de uma Nova Identidade Comunitária, ou melhor, o retorno à Civilização Comunitária, à Justiça do Justo, ao Direito social. Chega de Barbárie ´civilizatória´! Diz-se muito e pomposamente – ...não são os tapetes vermelhos herdados do imperialismo monárquico?! – acerca dos ´Poderes, independentes e harmônicos entre si, a saber: Legislativo, Executivo e Judiciário, de onde os Códigos civil e penal segundo um Direito fomentador da Liberdade´. Nada mais falso. O que esta tal de ´independência´ e esta tal de ´harmonia´ entre Poderes estabelecidos representa é o absurdo humano - ora, os atos legislativos e executivos deve[ria]m ser embasados em decisões comunitárias, onde o Direito fomenta[ria], de fato, a celebração de uma Justiça plenamente digna do Povo e da Nacionalidade. “Quando o jovem carijó filho de Arosca pisou em terras francesas, naquele quinhentos caraveleiro, adentrou num sistema já em ruínas sociais, representava a ´condição de bárbaro nômade, habitante de um mundo perdido´, segundo Affonso Arinos de Mello Franco [in ´O Índio Brasileiro e a Revolução Francesa´, ensaio, 1937], mas tornou-se ´nobre e abastado cidadão de um grande país´ [idem]. Isto, serve de exemplo para se tecer considerações como: a] o Mundo que conhecemos o é pela criatividade que temos de nos adaptarmos e criarmos circunstâncias humanas, às vezes contra o berço chamado Natureza; b] o Mundo que temos o é enquanto soubermos criar humanidade e não irmos contra nós mesmos; e c] o Mundo será aquilo que a Humanidade determinar para si mesma, enquanto reflexo das circunstâncias humanas” [MACEDO, J. C. & NOVAES, Figuera de – op. cit., p.10].


Com a possibilidade de auto-destruição bem visível nas circunstâncias humanas determinantes da poluição, da guerra e da super-população, sabemos e podemos projetar uma orgia escatológica que abalará a terra, aliás, um abalo que já registra índices de absurdo humano além do imaginável em Civilização! Como parar este ritmo anti-humano que nos empurra, por um lado, e nos engole/destrói, por outro? Por que um filho dos povos da floresta percebeu a sociedade arruinada e foi nela para se enformar na mesma ruína?... Primeiro, não existem povos bárbaros – basta olhar para a primitiva formação comunitária da Europa e para o que se encontrou nas Américas, na África e na Ásia -, existe a barbárie dos povos que se auto-consideram superiores a outros povos; segundo, é tão verdadeira esta afirmativa que aquele ´índio´ transformou-se no ´bom selvagem´ aos olhos de quem via nele o ´canibal´. Ora, se a Civilização pode/deve gerar atos de Civilidade, precisamos entender, definitivamente, que a própria Civilização busca identidades locais para ganhar uma Identidade Humana geral não manipuladora das locais. Os pensadores/pesquisadores dos Sécs XVI a XIX tiveram a percepção das ruínas criadas por atos humanos destrutivos, e os seus estudos foram fundo, principalmente com Hegel, Kant, Montesquieu, Darwin, Descartes, Rousseau, Bacon, Hobbes, Voltaire..., para legarem uma humanidade de espírito crítico no sentido da criação de circunstâncias humanas fomentadores do ser livre. E, hoje, o filósofo Manuel Reis, remata: “...entre ´democracia liberal´ e Democracia Republicana. Quando caímos na consciência crítica de que a primeira não passa, afinal, de uma ilusão e constitui uma traição ao ideário da Democracia, a opção torna-se fácil” [in ´Manifesto para uma Nova Idade do Ocidente e da Humanidade´, p. 147, CEHC + GG c/ Ed Edicon, 2003, ediç esg]. É este ideário comunitário/democrático que deve presidir à concepção de um Direito anti-Barbárie, não a Barbárie a assenhorar-se da Sociedade! [Jan. 2004]


ASSOCIAÇÕES SECRETAS Uma Questão Societária [Conferências de J. C. Macedo entre 1982 e 83, em Portugal, Irlanda e Espanha.]

As Associações Secretas e as Elites I o percurso teocrático e a ancestral hereditariedade auto-divinizada

Tanto para o Bem como para o Mal, as associações secretas místico-políticas sempre tiveram chão social na elite, a feudal, a capitalista e a pseudo comunista, e em todos os continentes e credos. Quando se fala de maçons e de rosa-cruzes, principalmente estes, entre outras ordens, estabelece-se desde logo um ambiente de conspiração, ou de suspense, sempre propício a uma caça às bruxas. E, no entanto, a grande maioria das ordens é de origem católica, mas não necessariamente cristãs, porque a questão que as levou à auto-proclamação assenta no não convencimento em relação à divindade de Jesus, o ‘cristo’ da seita judaica ‘Nazàri’ (por isso, ‘o nazareno’). Por outro lado, raríssimas são as ordens cujas estéticas e filosofias estão longe do Judaísmo, principalmente o sionista: todas almeja(ra)m o Poder Mundial, tal e qual o tipo imperial romano vasado por Pedro e Paulo nos alicerces católicos do Cristianismo (hoje, com ‘trono’ no Vaticano), e que tantas guerras proporcionou, e vai proporcionar no espaço entre o Ocidente e o Oriente. No caso da Maçonaria e da Rosa-Cruz já se sabe, e muitos documentos existem para se aferir essa realidade cruel, que têm como base uma mesma ordem geradora: o Prieuré (ou Ordre) de Sion. Esta ordem atravessa os séculos, e mesmo quando teve de se mascarar com vários nomes (‘Ormuz’ e ‘Compagnie du Saint-Sacrement’, entre outros, até para impor guerrilhas políticas e administrativas para defender as elites, e estar em grandes eventos bélicos, como as horrorosas Cruzadas católicas), o fez sempre para não perder a trilha do Poder político e místico. Entretanto, e antes de maçons e de rosa-cruzes, deve-se observar que a primeira grande ordem estabelecida pelo Prieuré de Sion foi a dos templários, originariamente com 9 cavaleiros, filhos de abastados senhores feudais, que se instalaram em Jerusalém... não para protegerem os peregrinos cristãos, mas para obterem os documentos necessários à continuidade de uma pregação: “Jesus não morreu na Cruz, e Madalena transportou o seu sangue em um cálice”. O achado de ‘algo’ em Jerusalém, durante as escavações ‘templárias’, e que sempre incomodou os papas e os fez gastar fortunas para não ser tornado público, era e é o grande segredo-tesouro de maçons e rosa-cruzes, e que antes era dos templários, e continua sob custódia do Prieuré de Sion. A nem tão mística Ordem dos Cavaleiros do Templo foi, na verdade, um grupo secreto criado por uma associação esotérica secreta que se especializou na especulação bélica e financeira. A questão central era impedir que as linhagens nobres feudais jamais perdessem o controle dos destinos humanos, enquanto elites auto-proclamadas ‘divinas’. Por isso, todas essas ordens fizeram cruzadas (papais, ou não) para acabar com civilizações que as incomodavam, tais como a celta e a cátara, embora algumas das famílias abastadas da Idade Média tivessem, de algum modo, ligações célticas (aqui, mais no campo druídico) e cátaras (ou albigenses); e sabe-se, também por documentos (não há História sem documentos, o resto é Estória), que foi a partir das civilizações celta e


cátara que maçons e rosa-cruzes iniciaram, nas cidades-estados itálicas, a grande virada cultural que gerou a Renascença e, com ela, a Reforma... sempre com o Prieuré de Sion a gerenciar as atividades. Um dos mais exaltados personagens do esoterismo católico-messiânico, o francês Antoine Fabre D’Olivet, observava, no final do Séc. XIX, que “A dignidade real tornou-se hereditária numa única família de classe militar, e essa família, considerada sagrada, tornou-se inviolável”, mas, a irlandesa Hanne Liffey (que conviveu com autor destas linhas) completa, neste ano 82 do Séc. XX, como segue: “A grande odisséia esotérica-católica iniciou-se, na verdade, com os atos do Prieuré de Sion, que maçons e rosa-cruzes fizeram ecoar no Ocidente e no Oriente, atos que postula(va)m o assentamento de um regime mundial tendo monges-cavaleiros como reis, de linhagens elitizadas, e sempre com o catolicismo como base. É daí que se deve observar a fundação de familiar de organizações de monges-cavaleiros, como a da Família Montbard (leia-se S. Bernardo), que estabeleceu a Ordem Cisternense, em 1115, ou a de Vicente de Paulo (‘Compagnie du Saint-Sacrement’, em 1627), tendo a ‘caridade’ como pano de fundo e cobertura social para as ações bélico-financeiras de sustentação das dinastias monárquicas à luz do poder imperial da cristandade. É o conceito de hereditariedade que dogmatiza tanto o ‘sangue real’ como o engodo esotérico-mercantil...” (in ‘Templos e Revoluções’, palestra; Tomar, Coimbra, Vigo, Pamplona e Barcelos - 1982). Lá pelo Séc. XII (1188), tendo o “corte de um ulmeiro” na contenda, a Ordem do Templo dissociou-se do Prieuré de Sion, e cada uma continuou a indicar, hereditariamente, os seus respectivos grãos-mestres, alguns dos quais tornaram-se reis e, hoje, presidentes republicanos (à Direita e à Esquerda) em todo o Ocidente. A proliferação de ordens esotéricas e de seitas místicas (igrejas católicas e anglicanas, orientais, africanas e afro-brasileiras), a partir do fim do Séc. XIX, trouxe uma outra realidade e novas máscaras para o Priorado de Sion... A grande maioria das guerras, ditas ‘santas’, serviram (e sevem) para possibilitar a continuação das elites no Poder, estivessem (ou estejam) elas no campo pseudo-comunista ou no campo capitalista; entre a transformação do Cristianismo (por Pedro e Paulo, traindo a palavra não-institucional de Jesus) em Poder católico (i.e., mundial) e o atual e messiânico baralho de interesses místicos e políticos – e que o Brasil já havia vivenciado com a instalação do Império, com João, e continuado pelos Pedros, sob o comando dos maçons ingleses, cujas facções se batalharam aqui mesmo e com a francesa –, o que está em causa é a continuidade do perfil fascista de perpetuação hereditária das elites. E só. A não ser que surjam documentos das próprias organizações secretas contrariando (...?) tal linha de ação, eis o que elas – na maioria, e sob fachada esotérica – têm como trabalho comum.

II as rupturas, os sábios e as organizações político-militares urbanas anti-fascistas e colonialistas

Nos dias de hoje é notável verificar como a Ordem Rosa-Cruz, criada a partir de uma panfletagem do teólogo alemão Johann Valentin Andréa, entre 1614 e 1616, tornou-se ponto de encontro para os católicos mais intelectualmente abertos à vivência em sociedades progressistas, e de como a Maçonaria não consegue mobilizar o espírito aberto... a não ser para estar no Poder. Quando sábios, como Miguel de Unamuno, enfrentaram a famigerada infalibilidade papal, a partir de países como a Espanha, o mundo esotérico não estava em ruptura – na verdade, e tal como os padres e freiras que se desligam fisicamente, mas não ideologicamente do Catolicismo (por isso, intitulam-se ‘padres’, ‘bispos’ e ‘freiras’ nos seus afazeres conventuais), o que estava, e está, em causa, era/é consolidar as forças católicas num princípio básico: dominar o Mundo. E no caso de Unamuno, que nada tinha a ver com a questão monges-reis / poder mundial, assim como Voltaire e Newton, entre outros, buscava-se o que agora é denominado como Humanismo Progressista. Neste princípio de Humanismo Progressista encontramos núcleos cristãos de atividade social como a Juventude Operária Católica, cuja contribuição para algumas rupturas políticas foi essencial, também, na queda do Fascismo, tanto na Europa como na América Latina, e esteve intimamente ligada, no caso de Portugal, aos eventos que levaram à formação de grupos extremistas anti-fascistas, como ‘PRP’, a ‘LUAR’ e ‘Projecto Global’, e, no caso da Irlanda, a uma cruzada anti-anglicana e extremista a partir do ‘IRA’, aqui, na perspectiva das políticas colonizadoras do Vaticano e com apoio de famílias como a Kennedy. Mesmo com o apoio de segmentos católicos influentes, a luta do ´ETA´, no País Basco, é uma dissidência étnica face


ao centralismo monárquico-parlamentar da Espanha – e este, é um exemplo de luta integradora, e não desintegradora, seja ela violenta ou não, pois, violentos são todos os atos institucionais que impedem a liberdade dos povos.

** A atividade secreta de vários grupos pode ser aferida, em geral, no caso dos povos que falam português, em duas frentes: 1ª - quando os maçons ingleses, franceses e castelhanos, no Séc. XVII, uniram-se para fazer ´ver´ a Portugal as ´grandes vantagens´ de deixar o seu “cantinho à beira-mar plantado” e partir para o Brasil, onde Pombal, com o apoio de iluministas como Luiz António Botelho, da Casa de Mateus, já havia feito o implemento de um centro políticoadministrativo renovador (a capitania de São Paulo) e a futura capital portuguesa, que já estava a ser construída em Pará (a cidade de Belém). O mais interessante é que, neste caso lusitano, ou luso-brasileiro, nada é esclarecido publicamente e, hoje, em 1982, menos de uma década depois da ´abrilada militar´, raras são as pessoas habilitadas a ´conversar´ sobre este tema. Menos ainda, ´conversa-se´ sobre a ardilosa fuga do monarca português para o Brasil, seguindo instruções meticulosas dos maçons ingleses – na verdade, os mais interessados na captura de Portugal, que, antes, dera abrigo à Ordem do Tempo e, através dela, avançara no mar a transformar condestáveis em marujos sob o pavilhão templário, e não o português... A astúcia aracnídea do Prieuré de Sion renovou, em Portugal e em Espanha, o conceito de Colonialismo Católico, apesar dos jesuítas. O mesmo conceito que serviu de base a um dos mais notáveis nautonnier do fascismo católico europeu: Salazar. E depois, o ´socialista´ Mário Soares..., depois de ter ajudado a manter Spínola na distância... Ou seja, “...o Prieuré de Sion sempre sabe escolher as melhores mentes, à Esquerda ou à Direita, para impor o seu jogo de manipulação sociopata. E note-se que tanto Salazar como Soares governaram para o sistema capitalista internacional, que desconhece facções ideológicas” (LIFFEY, Hanne – op. cit.). Por essa ordem de exposições é que a famigerada Descolonização da África ´Portuguesa´ gerou absurdos e bastardos políticos, como o aconselhamento soarista (a par do otelista) para a instalação dos regimes ditatoriais pseudo-comunistas nas ex-colônias à revelia do espírito liberal-capitalista e colonial-católico spínolista. Assim, do infante Henrique (´o navegador´) ao condestável-marujo Cabral, passando por Pombal e a Casa de Mateus, Salazar e Soares, eis que as elites de Portugal reconhecem-se perfeitamente no espectro de ´luzes´ maçônicas e rosa-cruzes instaladas pelo Prieuré de Sion na ibérica península. Ou será que não? Será tudo isto apenas uma encenação política que um Gil Vicente, por exemplo, gostaria de ter em mãos para uma dramaturgia menos esotericamente ambígua do que aquela que deixou para a História? Não. O teatro vicentino é tão atual e profundamente português, que as elites preferem fazê-lo desconhecer... publicamente! E lá se vai a nau... **

Estas linhas são um breve olhar para o campo português e luso-brasileiro sob os estudos, feitos em 1981, destinados a preparar a militância político-militar urbana de instrumentos culturais mais precisos sobre a História, em si, e sobre a ´Questão: Padres em Armas´. Questão esta que já estudamos e que continua a gerar algumas incompreensões, principalmente na acepção de padre, missionário, freira, bispo, pastor no campo das políticas internas do Vaticano, que articula o estabelecimento de “segmentos progressistas” com vista a alargar o convento eclesiástico sem que o foco do poder papal seja atacado. E, mais uma vez, companheiras e companheiros, é preciso anotar o seguinte: a) todas as pessoas que são profissionalizadas no convento cristão para missões pastorais cumprem o seu papel nas respectivas sociedades e comunidades, e b) as pessoas que o poder papal aceita como focos divergentes são, aí, participantes daqueles “segmentos progressistas”, do tipo ´Teologia da Libertação´ ou ‘Progressista’, por isso, continuam a “amar a nossa santa Igreja católica” (como é comum ouvir dessas pessoas) e, também por isso, continuam a intitular-se no grau profissional que representam efetivamente na administração do Vaticano.


Neste apontamento cabe salientar, ainda, que no âmbito da geração de quadros ´progressistas´ para enfrentar a visão humana e progressista dos Sécs. XIX-XX, o Vaticano também gerou uma fileira de dissidências autênticas no seu meio – e são pessoas que, agora, vivem como qualquer um(a) de nós e ganham, a cada dia, novas ferramentas sócio-culturais que as distanciam dos círculos católico-fascistas que, infelizmente, dominam o Ocidente e querem... o Oriente!

III o foco da aranha na teia e o centralismo das elites na batalha contra as liberdades místicas e pelo poder mundial antes defendido pelo judaísmo sionista

Mas, voltemos à questão central... Se existem forças intelectuais a buscar outros rumos para o Cristianismo, de maneira progressista, também existem aquelas que tendem a forçar para o fundamentalismo, como é o caso do arcebispo Lefebvre, cuja força oculta é a outra face do Prieuré de Sion, ou seja, Lefebvre joga o seu jogo por uma política eclesiástica que, forçando ditatorialmente o vórtice papal, o obriga a ser mais aberto – tanto assim, que na sua disputa com Paulo VI levou a melhor: nem o papa o conseguiu excomungar nem ele foi mais além. Eis nos diante da logística política (cujo argumento é, sempre, ‘o segredo’ que faz tremer o Vaticano) do Prieuré de Sion, que atua tanto à Direita como à Esquerda a brandir a ‘espada’ pelo poderio cavaleiresco do velho sistema teocrático dos monges-reis feitos hereditariamente grãos-mestres das diversas associações secretas. Obviamente, a tendência comportamental de uma associação secreta do tipo Prieuré de Sion é fascista, e digo isto com todas as letras... A esse tipo de pessoas, oriundas de elites feudaiscapitalistas, interessa unicamente o Poder com exclusividade, nunca compartilhado. Eis a razão por que o Prieuré de Sion é, verdadeiramente, a fonte subterrânea dos fluxos que acondicionam política e economicamente as sociedades esotéricas cavaleirescamente estabelecidas; a sua atuação orgânica dispõe-se tal e qual a aranha a tecer a sua teia em toda as direções... sem perder o foco centralizador. Daí, o Prieuré de Sion, e todas as suas ´associadas´, operam com uma ambigüidade que lhes permite aparecer através de um gênio renascentista ou de suposto provocador como Lefebvre. É bom que se diga, que se explique, que o Sionismo ao qual me refiro é aquele oriundo da intenção ancestral do ‘povo único de deus’, porque o político foi estabelecido no Séc. XIX por Herzl, de onde o Congresso Mundial Sionista que agregou forças para tornar realidade o novo Estado de Israel, e que, aparentemente, nada tem a ver com os Protocolos de Sion, um documento público adulterado e criminosamente anti-semita, que teve origem nos conventos que assinalam a retomada de forças em torno de uma teocracia mundial. O que, diga-se, também não é estranho à parafernália ideológico-colonial israelita, mas... ao Prieuré de Sion o que dele é! Esta breve apresentação histórica, que de certa maneira continua as palestras de Hanne Liffey e de Marc R. Cédron, entre nós, deve servir de reflexão para que se analisem os sinais que, no quotidiano, recebemos das várias comunidades. Uma pessoa em revolução não é uma decodificadora de sinais secretos, mas deve saber interpretar o que as correntes subterrâneas trazem, às vezes, à superfície.


As Associações Secretas E As Elites Lusas

Parte 1ª Conceitos e Definições

“A dignidade real tornou-se hereditária numa única família de classe militar, e essa família, considerada sagrada, tornou-se inviolável” Antoine Fabre D’Olivet

1 Uma das variantes de sustentação econômica e social da Igreja-Estado, seja a católica seja a islâmica, é a geração de recursos pela manipulação das linhagens aristocráticas, que tantos papas deram e dão ao Catolicismo, e tantos aiatolah´s deram e dão ao Islamismo. O que se entende por linhagens aristocráticas? O estabelecimento de uma sociedade grupal que atua como uma tribo de pessoas que se acham acima da maioria, ou por herança de bens e mente – aqui, falo da Lei Mental, que passava de geração em geração um título nobre na época medieval sob concordância monárquica, política e religiosa -, ou por conquista em roubo/pilhagem de patrimônio alheio. Ou seja: dificilmente alguém é Rico pelo esforço do Trabalho honesto, mas Pobre o é... então, o Rico, que roubou/pilhou ou herdou o que os seus antepassados roubaram/pilharam, estabelece uma linhagem plutocrática, i.e., um Governo/Poder de abastados para o qual trabalha o Povo. Basicamente, isto é a linhagem aristocrática [a malta bem vestida e bem falante, mas, na maioria das vezes, no caso medieval, arrogante e ignorante]. Ainda na Idade Média, abundam os exemplos de filhos de famílias aristocráticas que, não sendo religiosos profissionais, tornaram-se bispos e arcebispos para garantirem bens, junto do Papado católico, das ordens de cavalaria a que pertenciam, uma vez que a Ordem de Cavalaria tinha o registro no Vaticano, que daí extraía bons lucros. 2 No entanto, um outro tipo societário de Igreja não é propriamente uma Cavalaria: é o Budismo, como é o Hinduísmo, etc, entre as ações místicas orientais. Aí, o Poder é já a Mística condição de governar, como já estudamos no caso da Civilização Celta... Por outro lado, também a ação societária do Judaísmo foge à concepção de ´cavaleiro-monge andante´, mas, sem deixar de revelar o ´monge-rei´, figura a que se liga, por exemplo, à ação política e social de Jesus, na sua reivindicação ao Trono de David. Como já explicamos, em 1982, e até com a ajuda da palestra da companheira Hanne Liffey, aquela ação política de Jesus encontrou a força do Império romano e vários estratagemas aristocráticos, por parte de José de Arimateia, que estava bem à-vontade nesse círculo e era apoio estratégico de suma importância na ofensiva de Jesus, a par da filha Madalena, que então estava grávida do próprio Jesus [como revelam documentos de Nag Hammadi e de Qumran]... dizia, vários estratagemas foram utilizados para impedir a morte de Jesus e levar Madalena com o ´rebento´ de sangue real [o tal ´san greal´ que se transformou em ´santo graal´] para fora de Jerusalém, uma vez que não eram os judeus os interessados em liquidar o ´monge-rei e a sua linhagem davidiana´, sim, os romanos... Obviamente, “toda a vivência humana de Jesus foi apagada da Bíblia que veio com o Concílio de Nicéia, onde Jesus passou a ser ´filho de deus´ e ´Madalena, a prostituta´. É caso para dizer: ´engana-me qu´eu gosto...!”, como afirmou Marc R. Cédron na palestra que para nós ministrou em 1982.


3 Estamos, pois, diante de dois sistemas: 1º - o Povo, em geral, a sobreviver a duras penas e a ser ´bala pra canhão´, ou ´carne pra espada e lança e flecha´, ou simplesmente pagador de impostos à Casa Senhorial a que pertence; 2º - a Elite plutocrática, que tudo e todos tem e ainda se acha no direito de reivindicar ´sangue azul divinizado pelas igrejas´, o tal ´diferencial´ entre o Povo e o Poder. Para fugir, tanto dos impostos como da escravatura, o Povo associa-se em grupos sob um sistema de fraternidade secreta – como aconteceu com aquele Jesus... – e nisso faz oposição ao Poder reinante e plutocrático. Também, não existe outra maneira de reivindicar a sua existência. É dessa fraternidade secreta, operária e camponesa, mas também intelectual, que têm origem os movimentos comunista, anarquista, socialista, socialdemocrata, etc e etc. Portanto, o secretismo é quase sempre uma maneira de grupos em processo revolucionário [GPR´s] se escudarem contra as investidas do Poder Estabelecido na sua ordem societária. 4 Para se ter uma idéia do que é o interesse aristocrático e até onde ele pode chegar, é bom sabermos que ele pode chegar à manipulação de documentos para favorecer o situacionismo fascista que sustenta todo o Poder que desconhece o Todo nacional, como foi o caso de Dom Manuel I, de Salazar e das academias/comissões que tratam de coisinhas menores como ´festividades camonianas´, por exemplo – e, no caso de Camões, ainda temos ´Os Lusíadas´, para provar como a Elite faz de um poeta a peneira útil que tapa o sol da Verdade, pois, ´Os Lusíadas´ cantam o Gama, que era Cavaleiro da Ordem de Santiago e vendeu-se, depois, para a Ordem de Cristo, levando parte dos conhecimentos do Plano da Índia que a Casa de Coimbra havia estabelecido desde Pedro [irmão do infante Henrique, o falso navegador] até Dom João II. E enquanto os escribas e estoriadores oficiais continuam a negar a História de Portugal ao Povo Português alimentam-se estorinhas do tipo “é material secreto que só o Estado pode manipular” - o problema é que, em vários casos, nem secreto é, fizeram desaparecer os documentos pelo que eles comprometem em relação à retórica oficial levada da Universidade ao Manual Escolar! Assim como aconteceu com as crônicas relacionadas à humana condição Jesus e que foram simplesmente impedidas de integrarem a Bíblia, pois, seria material para ilibar os judeus e culpar Roma pela hipotética morte de Jesus – ora, era tudo o que o Papado não queria enquanto transformava o Catolicismo no novo Império romano...

** Deixem-me dizer-vos [o melhor é dizer: contar] o que aconteceu comigo, em 1965, na torre dos sinos da matriz de Barcelos: tínhamos um missionário que fundara o ´Grupo Façanhudos´ para envolver, em 1962, jovens em idade escolar e dar-lhes noções de cidadania. Era, na verdade, um missionário muito à frente da padralhada que vemos por aí, domingo a domingo. A nossa sede era lá mesmo, na torre dos sinos. Dos muitos encontros ali feitos, lembro de algumas frases do missionário, porque gostava de anotar o que me parecia mais valioso – ação que ele mesmo insistia deveria ser de todos os ´façanhudos´. Um dia, depois de termos vindo de um acampamento da Franqueira, ele ficou a olhar a bela e bucólica paisagem do rio Cávado nas suas margens de Barcelinhos e Barcelos, e às tantas, virou-se para o grupo a dizer: “Por aqui vinha a barca pequena – por isso o nome ´barca celle´ ou ´barcellos´ – a levar peregrinos para Sant´Iago de Compostela. Imaginem que por aqui andaram os cavaleiros do Templo e os de Santiago, e estes últimos ligados ao Mestre d´Aviz... Imaginem quantos Amadis [aquele cavaleiro andante dos romances de cavalaria, que já vos mostrei] trotaram por aqui, os ´templários´ a defender os senhores feudais e os ´santiagos´ a defender a nação portuguesa, e todos sob a benção da Igreja... O que devemos destrinçar aqui, meninas e meninos, é que com os ´templários´ temos só o jogo dos dinheiros e com os ´santiagos´ temos as águias e as gaivotas com que o rei Dom João II fez os Descobrimentos, porque o infante Dom Henrique era um incapaz e nunca viu nem caravela nem nau na frente dele!...”. Lembro essa lição de história como se estivesse a ouvir, agora, o missionário. Obviamente, e soube-o depois, ele não continuou os estudos para o sacerdócio. Era um daqueles jovens apanhados no conceito estúpido de que “de português, filho mais velho tem que ser padre”. E da lição dele temos aqui uma definição ideológica que interessa: enquanto os ´templários´ se


dedicavam à pilhagem com a nobreza bruta e feudal, os ´santiagos´ participavam de instalar o progresso no país, como era o trato político dos burgueses e cavaleiros ligados à Casa de Coimbra. Por um lado, os burgueses eram criativos e nacionalistas, logo, um perigo para o império papal do Catolicismo... então, e embora todas as ordens de cavalaria e seus patronos devessem obediência ao Vaticano, nunca o papa iria contra os feudais amigos, por isso, sempre a Igreja-Estado católica abandonou os interesses burgueses que lhe poderiam diminuir o Poder, como veio a verificar-se com a queda das monarquias, e, em Portugal, com a queda da Casa de Bragança – a mais feudal e sanguinária linhagem que destruiu a Identidade Nacional Portuguesa tão acarinhada pelo Mestre d´Aviz e por Dom João II...! **

E quando alguém, ou alguma organização, precisa de se esconder para parecer que é algo... diz-se ´secreta´! Eis a razão da existência, ainda hoje, de ordens do tipo Maçonaria e Rosa-Cruz, na verdade e de certa maneira, até que herdeiras do espírito de ´segredismo´ que envolveu principalmente a Ordem do Templo, mas esta, mais em função da Questão Jesuânica. O envolvimento de maçons e de rosa-cruzes na vida monárquica e republicana de Portugal e do Brasil, como da Espanha e da França e Inglaterra, é grande. O período de transição entre a Monarquia e a República foi de muitas ações políticas – mais de bastidores do que públicas – por parte de ordens ditas místicas e de ´cavaleiros andantes´ algo deslocados no tempo, como o poeta Fernando Pessoa... Muito bem. E o ´segredismo´ está precisamente aqui... O que muitas pessoas desatentas, e entre elas políticos e empresários e intelectuais, não vêem, é que “o segredo místico que carreiam as ordens segredistas é o seu enlace político de bastidor com o Poder instituído, pelo que o mito do Poder que o é pelo Segredo mistificou-se para impedir qualquer tipo de representação do Povo e não afastar as eternas famílias feudais em que, por exemplo, a Igreja católica se apóia...”, como já nos disse o companheiro Marc R Cédron a propósito.


Parte 2ª Recreação Poética

Ao Sabor Da História Que Os Poderes Não Contam

1 E então, veio Manuel que catou de Pedro e do segundo João a eira da fortuna feita pela Casa de Coimbra; e nessa zueira deu à Casa de Bragança a velha, estúpida e senhorial beira! Manuel acabou com a Casa de Coimbra para após João ter a sua eira... E tudo era já como antes d´Alfarrobeira! E então, já Manuel continuava os Bragança, fez d´Henrique o infante falso da marítima bastança gizada no Plano d´Índia do irmão Pedro, antes da matança. Manuel o fez e cravou no segundo João a lança... E lá estava a sombra d´Alfarrobeira e uma enferrujada balança! 2 Quis ouvir os ecos e fiz jornada aos territórios da Casa d´Aviz – a dos cavaleiros que o Povo queriam feliz! Morte e sangue parecem-me giz a escrever n´alma a mensagem boa que o Povo sempre quis! 3 “águias e gaivotas”, ouvi de um bom missionário na matriz de Barcelos, “deram a Portugal o direito de o ser pela Casa d´Aviz”. E tudo isso se foi numa batalha infeliz... Os cavaleiros da Paz que eram de Santiago e d´Aviz disseram lá dos túmulos: “Inda o Povo fará o que a gente quis!”


No Coração Do Segundo João cerca-me a Vontade de Ser o que sou e não m´iludir com vozes outras sei de meu avô Pedro a bondade sei de meu tio-avô Henrique a farsa de marujo e do Povo sei que quer um príncipe perfeito não sei se para tudo isso nasci eleito mas sei que herdo de Pedro a jornada do marujo e a construção da República de adulta idade a vingar Alfarrobeira para que tenham paz almas outras e nisto sou o que devo ser

Antes e Depois D´Alfarrobeira [à memória de Pedro e do segundo João, homens da Casa de Coimbra d´Aviz e Santiago, contra os feudais da Casa de Bragança e dos cavaleiros de Cristo]

1 e foi Portugal às sortes em vinte de maio daquele mil quatrocentos e quarenta e nove os feudais d´Afonso o rei africano espezinharam os burgueses de Pedro o infante que d´Henrique era irmão uns queriam a pilhagem e outros uma nação o valoroso infante Pedro quedou-se diante da brutal e sanguinária identidade d´o africano corria aquele ano de quarenta e nove e foi Portugal espezinhado pelo feudal lacaio 2 a ala d´Aviz queria o povo fazia fé e lutava pela mátria história continuar a saga de Afonso Henriques era tudo e era dar ao Povo o que seu era a casa de Bragança não pensava nem queria como a de Coimbra na batalha d´Alfarrobeira achou-se a dura linha ma desgraça havida e os feudais deram vivas à morte de Pedro e à sua própria era que continuar Afonso Henriques pela Nação não era tudo e até os ladrões e assassinos fazem História calaram a ala d´Aviz calaram o Povo 3 e se foi Pedro mas veio João para um outro maio que os feudais em nome de Cristo podiam gozar aquele quarenta e nove para sempre e nem para sempre era a aventura tola d´o africano a enriquecer os feudais e fez João dos homens de Pedro seus aliados no Poder enquanto águias e gaivotas da Nação feito rei como segundo João deixou os burgueses iluminarem a Nação e era tudo o que João queria para vingar Pedro e era tudo o que o Povo queria e os cavaleiros de Santiago enfim punham uma pedra sobre os feudais de linhagem pseudo nobre águias e gaivotas alçaram vôo por um novo maio


O Balcão Do Papado Na História De Portugal & D´Alfarrobeira 1 os feudais eram praça e presa no Vaticano como eram os burgueses mas os feudais praticavam o místico mecenato que dava sustento ao universo de interesses dos feudais feitos papas e em cada cavalo que das ordens levava sinetes eis parte d´abastança e d´alegria do Vaticano os reis e as nações eram parte do papado como eram as ordens de cavalaria e os portugueses disso sabiam e também como o Vaticano atendia placidamente a todos quais fregueses no balcão da Igreja-Estado a mercar com feudais e burgueses e no rol de produtos só havia o interesse do papado na apologia messiânica de uma Igreja que era imperial Estado a morte e a vida eram tidas como simples joguetes o que era preciso era que cada Nação provesse o imperial papado 2 e do primeiro Afonso ao segundo João a lembrar o primeiro e o infante Pedro a cega ideologia do mito mistificado fez de Portugal uma ação em que tudo era remendo e era tudo feito para do papado se conseguir a benção mas dar primazia à burguesia era cometer um político erro que a bispalhada sabia não poder e logo meteu a Nação em estúpidas batalhas e em Alfarrobeira sabia-se da exemplar lição que o Vaticano queria dar à malta de Coimbra e ao benfeitor Pedro o império era o papado e crucificar toda e qualquer rebelião contra os feudais era tarefa dos templários cavaleiros e logo o cerco e logo aos de Santiago e a erradicação da semente chamada Pedro em Alfarrobeira haveria sempre um vencedor e não seria a Nação fez-se forte o Vaticano como império que sabe dar conveniente lição e nem aí o Povo percebeu a fé que o faz cego mais uma vez Portugal era d´alguns e ao Povo era dada a subtil e idiota benção


CRISE & BARBÁRIE: ONTEM E HOJE “Matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus.”

As crises que Humanidade fabrica para si mesma são de uma barbaridade absurda. Preferese matar com guerras e fomes em vez de se estabelecer a democracia e a paz. E o pior: raras são as guerras e as crises que não são geradas “em nome de Deus”... Estamos em 2009. Russos, norte-americanos, israelenses, palestinos, brasileiros, ingleses, argentinos, portugueses... e etc, matam e matam-se em guerras e guerrilhas civis, ou esmigalhados pela fome causada por meia dúzia de famílias ricas – e estas, acham-se ´elites por linhagem divina´! Nada é feito sem o famigerado máxima societária “em nome de Deus”, logo, nem podemos ficar pasmados quando a nota de dollar dos norte-americanos utiliza a senha publicamente maçônica “nós acreditamos em Deus”. Tamanha é a hipocrisia societária que daqui a pouco até para mijarmos e cagarmos o faremos porque “acreditamos em Deus”!... “Deus” tem as ´costas quentes´ para todos os males que a Humanidade pensa e pratica. Um dos momentos mais tristemente marcantes da Sociedade Humana aconteceu em 1209. 1209 foi um ano fatídico: o Papado cristão convocou uma Cruzada especial contra os cátaros [=puros] ou albigenses [oriundos da cidade de Albi, no Languedoque]; a ordem foi dada pelo papa Inocêncio III, acaudilhada pelo Abade-Geral de Cister, [São] Bernardo, sob chefia do legado pontifício Arnaut Amory. A ´cruzada´ caiu sobre as populações cristãs do Sul de França, com toda a ferocidade e chacinou mais de 20 mil habitantes da cidade de Béziers e arredores, porque, ao lado de Albi, Béziers era um dos grandes centros heréticos [ou não-cristãos]. Os comandos da Cruzada solicitaram aos católicos da cidade que lhes entregassem os cátaros. Ao ouvirem a recusa indignada dos católicos, os cruzados perguntaram ao chefe Arnaut Amory como haveriam de distinguir os heréticos dos católicos e ouviram: “Matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus”!... E logo, toda a população foi passada a fio de espada. A palavra d’ordem do(s) Chefe(s) da Cruzada foi, sem dúvida, cínica e perversa. Como é — deveria saber-se — igualmente cínico e perverso todo o discurso cristão/paulino sobre a Salvação vicária, supostamente operada por Cristo Jesus. Mas esta é uma teologia e um discurso crítico, que têm permanecido ocultos, até hoje, na Cultura ocidental. E anote-se: Bush Jr ordenou às forças armadas dos EUA a destruição do Iraque em nome “de armas biológicas e nucleares escondidas em Bagdad”, o que sabia não ser verdade, e os soldados estão lá até hoje matando e matando-se. No fundo, o que está em causa é o saque das riquezas petroquímicas iraquianas e o controle da água, da mesma maneira que estava em causa, 1209, saquear o dinheiro dos judeus [o que aconteceu em todas as ´cruzadas´], exterminar quem não fosse cristão ou tivesse Madalena como heroína, além da continuidade da política beligerante entre o Ocidente católico e o Oriente islâmico. Estamos em 2009. Milhares e milhares de civis morreram e continuam a morrer no Iraque, e entre eles norte-americanos. Lá por 1209, 20 mil cristãos de Béziers foram massacrados em um só dia pelas espadas de Deus!... O professor-doutor e filósofo Manuel Reis, diz: “Theodor Adorno (da Escola de Frankfurt) ficou pasmado de continuar a haver teologias, depois de ‘o conceito de Deus’ se ter, definitivamente, desmoronado em Auschwitz. E antes... ao longo de dois milénios, não haveremos de ficar pasmados e enraivecidos, por todos os massacres e crimes cometidos pelas ‘santas instituições da Igreja e da Religião’ sempre em nome de Deus e de supostos ‘valores divinos’?!... Onde está o axioma ‘Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ de Jesus


(o Gnóstico supremo), perante a dogmática, brandida por toda a sorte de Pontífices, do Deus transcendente e pessoal, criador do universo, num discurso saturado de paternalismo, cinismo e perversidade?! Os Gregos (espartanos ou atenienses) que avançaram e morreram (em defesa da sua pátria helénica), no Desfiladeiro das Termópilas (contra o invasor Exército de Xerxes, dono do Império persa), ainda encontraram uma causa justa, que a História registrou, com toda a honra e dignidade. Não morreram em vão!...”. O que se coloca hoje é: Aonde estais, ó Deus?! Aonde estais, ó Humanidade?! A crise social e financeira provocada pelas tolices econômicas dos espertalhões banqueiros de plantão, e dos políticos seus aliados, faz com que 2009 passe para a história contemporânea como um dos momentos mais tristes. O que dizer aos milhares e milhares de mulheres e homens desempregados em todo o mundo? Desculpem, Deus deixou-nos na mão, e o papa, o rabi, o aiotolá e outros, não fazem o ´maná´ cair do céu. Ah, e os políticos, caramba, esses continuam empregados com os impostos que pagamos e ainda riem na nossa cara esbanjando esse dinheirinho que roubam indecentemente em festas e na promoção de novos políticos! Depois da cena ´mística´ de 1209 e da ´bolha financeira´ de 1929, será que alguém ainda pensa que 2009 é o fim das crises do Poder-condomínio e do seu ´Deus´...?! Ordem nem sempre é Sociedade, mas a Sociedade só o é quando a Ordem é um bem humano tão anarquista/anarquizante quanto a fé que se deve ter em nós – a Pessoa Humana livre e consciente.

Notas Albert Camus, in ´L'Homme Révolté´. Gallimard, Paris/Fr, 1951. João Barcellos, in ´Ordem & Sociedade´. Edicon & TN Comunic, Brasil, 2004 [2ª Ediç., 2005]. José Dupré, in ‘Catharisme et Chrétienté’/La Pensée Dualiste dans le Destin de l’Europe’, Éd. La Cla-vellerie, Chancelade, 2007/2e. édition, pp.419-421. Manuel Reis, in ‘Despaulinizar o Novo Testamento sob o Signo do Jesuanismo’, Edicon, São Paulo, 2007; ‘Traição de São Paulo’, Liv. Ideal Editora, Guimarães, 2007; e ´Na Crise...´, ensaio-manifesto assinado por diversos grupos, Edicon e CEHC + TN Comunic, 2009.


Livro Três

Nunca deixamos de viver em barbárie, seja pelo instinto (animal) da sobrevivência seja pela fraqueza de uma pessoa se achar mais do que outra pessoa [egoísmo, racismo, ânsia de poder...]. Em ambos os casos está a Pessoa Ela-Mesma incapaz de se sentir/ser Comunidade, por isso, destrói-se e destrói quando em guerra, por isso, corrompe-se e corrompe quando ocupa o Poder (militar, civil e/ou igrejista). E quando o foco é Nação sob fundamentos dogmáticos a cidadania é feita entre fronteiras que negam a humanidade, a solidariedade entre povos. Muros que envergonham, que escondem genocídios para prevalecer a prostituição mental do dogma, da não-verdade dita em leis místicas. Até quando a Humanidade vai aguentar a mentira e a hipocrisia que a destrói e corrompe?


Fronteiras Que Destroem Esperanças

[Do conflito israelo-palestinano no âmbito do eixo Washington-London e da ONU]

Diante da notícia “construir 3000 habitações no esforço continuado da colonização”, barbárie política gizada pelo governo de Israel em oposição ao reconhecimento precário do Estado palestiniano, o grupo de debates Noética debateu a situação e fez circular o panflo que se segue:

[...] E afinal, os judeus de Israel querem ou não querem viver em paz? Se o mundo diz que o Estado da Palestina deve ser um fato político, por que os judeus dizem não e continuam a executar a barbárie fascista e colonialista contra os palestinianos? 1 Você quer saber o que está por detrás das políticas colonial-nazis dos judeus de Israel? Então, leia... A médica Johanne Liffey, escreveu: “[...] Não existe uma única faceta da historiografia judaica que não nos aponte traições e assassinatos em nome do poder tribal, como hoje, pelo poder israelense colonialmente expansionista em terras palestinas, debaixo da óptica dos fundamentalistas sanguinários que incensam as sinagogas e a ignorância popular. Numa palestra feita no âmbito do Grupo Granja, em 1998, a professora Joana d´Almeida y Piñon dizia que ´precisamos desiconizar o ícone para podermos perceber a realidade social judaica e mostrar que esse povo é tão sanguinário diante da sua ânsia colonial quanto os velhos algozes nazis, da mesma maneira que se desvencilhou das seitas místicas antigas (mas judaicas) com guerras intermináveis e sempre com apoio de potências imperialistas. É um povo que de pacífico nada tem...´. O pseudo pacifismo judaico tornou-se um ícone político principalmente a partir da não-resistência à aberração racial nazista. O certo é que – e vários estudos actuais mostram-nos isso – os judeus preferem estar sob um tecto imperial a manifestarem a sua própria expressão, pelo que assim lavam as mãos dos eventos que se seguem e se apresentam como coitadinhos universais; como acontece, agora mesmo, quando sacrificam o povo palestino para darem cobertura à expansão dos seus colonos fundamentalistas. Isto é anti-judaísmo? Não. É dizer simplesmente ´o que é o povo judeu na sua raiz social e religiosa, e em tudo capitalista. Ou será que o judeu Jesus se afastou da sinagoga (sem negar o seu judaísmo, diga-se) apenas por capricho sectário de messias sem igreja?...´, como afirma o poeta J. C. Macedo” [in “Ícones Judaicos Na Evangelização Paulina Dos Gentios”, Col. Palavras Essenciais, Vol.9, 2012 // portal noetica.com.br].


Sempre com pressões do eixo Washington-London, a ONU vem fazendo vistas grossas à ocupação ilegal que os judeus fazem em terras da Palestina, e o governo de Tel Aviv ignora as fronteiras próprias estabelecidas no acordo que permitiu a edificação do Estado de Israel. Com forças armadas (terra, mar e ar) equipadas pelos EUA, o governo de Tel Aviv, que já apoiou a mutilação (quebra de mãos e braços) de jovens palestinianos que resistiam atirando pedras contra tanques de guerra..., decidiu colonizar de uma vez parte de Jerusalém e da Cisjordânia, o que Ban Ki-mon (que preside à ONU) diz ser “golpe fatal contra as negociações de paz na região”. Pois é... Nos casos do Iraque e do Afeganistão, e também na ofensiva contra o Irã, a ONU levou e lava as mãos, e continua a fazer o mesmo no conflito israelopalestino. Então, é hora de a ONU tomar providências e retaliações político-administrativas contra o golpe nazi que é a expansão colonial dos judeus de Israel em campo da Palestina. 2 Poucas horas depois de vários países (na ONU) terem dado mais um passo para a formação do Estado da Palestina, os judeus de Israel [jornal Haaretz] aprovaram a construção de 3000 habitações no âmbito do esforço de ocupação colonial dos territórios que pertencem aos palestinianos. O reconhecimento da Palestina como Estado observador não-membro, pela Assembleia Geral da ONU, permite agora, aos palestinianos, a utilização de recursos políticoadministrativos internacionais para reivindicarem as suas terras e fazer frente ao jogo sujo do governo de Tel Aviv. Ora, como fazer os judeus de Israel parar com tal processo? Retaliando politicamente. Não basta dizer-lhes “renunciem a esse projeto de expansão na terra dos outros”, é preciso fazê-los parar. A comunidade internacional (e também a do eixo WashingtonLondon) fez duras críticas à ação dos judeus de Israel, mas é um blá-blá inconsequente e ótimo para fazer ´boi dormir´. Qual é a solução? Os países que votaram a favor do novo ´status´ da Palestina na estrutura política da ONU, devem agora tomar providências para levar os judeus de Israel a abandonarem os territórios da Palestina e viverem no seu Estado próprio – o mesmo que lhes foi d[o]ado pela ONU e com fronteiras perfeitamente definidas. 3 Em qualquer região da terra a humanidade pode viver em paz, é só se ater à sua dimensão humana e não levar para o campo teológico questões que só dizem respeito ao meio políticoadministrativo em cada nação-estado. [...]

Tudo o que é fronteira barra a liberdade, seja qual for a circunstância que estabeleceu tal fronteira. Ora, o Estado israelense expande-se criminosa e colonialmente em espaços da Palestina sem que a Comunidade Internacional ponha um fim a esse propósito político e religioso. Dizem os judeus que Israel é a “terra prometida por deus”, que eles – os judeus (e só eles...?!) – são o “povo escolhido”. Mas, que “deus” é esse que faz doação de terras a uma minoria e esquece a maioria que faz a humanidade? Isso é Deus? Isso é Religião? Não. Isso é crime de lesaHumanidade e deve ser combatido em luta sociocultural e política por todos os povos. Pior que esse “desatino dogmático anti-republicano em nome de uma divindade que nem plural é, pois, é una a um povo que a criou” [expressão feliz da antropóloga Fê Marques sobre o assunto], é o fato de “Israel levantar o já dito Muro da Cisjordânia para se defender dos interesses palestinos” – e faz isso com armas e dinheiros dos EUA e da Inglaterra, o mesmo eixo político que erigiu o Muro de Berlin após a queda do nazismo. Hoje, de mero Povo acolhido na ONU, os palestinianos têm “Estado acreditado como observador na ONU”. Bem, ainda falta o Povo Curdo... Mas, adiante... O colonialismo francês e inglês deixou marcas profundas entre os árabes, islâmicos e não-islâmicos, e para cimentar as


dissidências tribais e místicas entre esse povos é que os russos e os norte-americanos se aproveitaram apoiando belicamente uns e outros. Resultado: povos armados até os dentes mas sem escolas, sem urbanidade. Isso criou ilhas fabulosamente ricas com o patrocínio do petrodólar, mas não criou escolas nem deu cidadania aos povos árabes, que só recentemente [leia-se “Primavera Árabe”] começou a acordar do estupor político imposto pelas ditaduras fantoches, criadas pelo eixo Washington-London. Entre tudo isso está Israel, belicamente um Estado poderoso diante de jovens com pedras e estilingues, e está a Palestina – a Palestina dividida entre facções políticas e islâmicas radicalizadas por falta de uma estrutura sociocultural que as impede de vislumbrar a paz através da solidariedade, e, com a solidariedade árabe, impedir os desmandos dos judeus de Israel. E então, enquanto o eixo Washington-London conseguir limitar o lento acordar dos povos árabes para as suas próprias razões de vida, Israel continuará a se expandir e a Palestina a se encolher além do Muro da Cisjordânia. Entretanto, a estupidez também grassa entre os políticos e os religiosos fundamentalistas de Tel Aviv: o anúncio de mais assentamentos coloniais como represália ao novo estatuto da Palestina na ONU mostrou ao mundo o lado criminoso desses políticos e religiosos. Falta agora o quê? Que os palestinianos se unam politicamente para reverterem a seu favor o descrédito institucional dos judeus de Israel. Não existe esperança enquanto a humanidade se divide entre muros que escondem desejos de poder, poder e mais poder. Ninguém quis nem quer ler a mensagem que é o fim do Muro de Berlin. Ora, o fim do Muro da Cisjordânia revelará outra realidade: o fim da estupidez política que é o Estado de Israel.

/////////// O grupo de debates Noética substituiu o Grupo Granja e estabeleceu, também, uma revista eletrônica na Web [noetica.com.br], no âmbito das parcerias mantidas pelo Centro de Estudos do Humanismo Crítico / CEHC para a Europa e a América Latina.


Estado: entre a Corrupção e a Cidadania [Do canibalismo político-partidário à corrupção instalada no aparelho d´Estado passando pelo judiciário]

I Cidadania & Estado

O que se define por Cidadania? O bem-estar e o progresso, assentes em estruturas políticoadministrativas públicas, com foco na educação e na saúde de todas as pessoas. Parece uma carta constitucional. E é. É a carta do principio republicano, que a maioria aceita e defende, mas... que permite que punhados de parasitas políticos a corrompam e, às vezes, a destruam em prol de um Poder ditatorial. Por questões teológicas e matérias-primas, bandos de arruaceiros, fardados e agindo em nome de seus senhores, invadem e destroem nações – ontem foram as Cruzadas e a Inquisição do Vaticano com a Espanha e Portugal como pontas de lança; hoje são interesses macroeconômicos de superpotências como EUA e Inglaterra e Alemanha –, usurpam terras, chacinam homens, estupram mulheres e prostituem suas filhas [os bastidores da Guerra dos Balcãs são um exemplo de tal flagrante, entre muitos outros]. Desde que os portugueses e os espanhóis avançaram no mar-de-longo e conquistaram a Índia e a América, o conceito de Estado foi globalizado para dar lugar às “terras ultramarinas” – i.e., terras e povos dominados por novos senhores feudais e em nome de um novo deus que catequisa cruelmente. Na verdade, a definição de Cidadania deveria começar por ser um Estado sociocultural de políticas públicas que constituem o espaço natural de um Povo. E só. Em encontros do CEHC, observamos o seguinte: As velhas aldeias celtas representavam segmentos socioculturais e cada uma cuidava de si com políticas tribais próprias. Foi esse conceito de organização administrativa que originou a cidade-estado e, nesse mesmo conceito, estava já o principio republicano da divisão de poderes [civil, religioso, militar], sendo as pessoas mais velhas a reserva sociocultural. Entretanto, esse conceito não vingou entre outros povos já dominados pelo instinto da igrejaestado. Instinto? Sim, instinto. Porque a religião e poder político só existem como ´unidade´ pelo instinto de sobrevivência das elites. Ou será que “deus” ditou uma carta política além dos mandamentos morais?... Obviamente, não. Mas como os “mandamentos” são uma escrita humaníssima e não outra, as elites, cegas pelo poder, acharam que a política e a igreja seriam o trunfo e a argamassa própria para um império. Assim fizeram os egípcios, assim fizeram os gregos, e logo depois os romanos, e, antes deles, a beber o conceito egípcio de deus único, os hebreus; com as dissidências judaicas originaram-se as seitas místicas, entre elas, a dos Nazàri, que viria ter Jesus como guia espiritual [cristo], cujo suicídio abriria as portas para uma igreja de gentios capitaneada por Paulo/Saulo que, por sua vez, reestabeleceu o conceito de igreja-estado que levaria, mais tarde, o romano Constantino a estar imperador e papa ao mesmo tempo. Foi esse conceito de igreja e império católico que os portugueses e os castelhanos impuseram em seus territórios ultramarinos. E quando o igrejismo é par da política d´Estado a corrupção é um mal que se instala para salvaguardar aparências. E se ainda na


época caraveleira os bons pensadores buscaram no conceito celta a divisão de poderes para a esfera da política d´Estado, o certo é que os igrejistas nunca abandonaram a caravela das elites, não se entregaram ao suicídio para se redimirem dos pecados... perderam o império. Este igrejismo é da cristandade como é islâmico e é judaico, budista e hindu e etc. Ao tempo das caravelas experimentou-se no ultramar uma épica globalizada, hoje, a essência republicana comunga vários credos e corrompe-se igualmente entre as elites econômicas que desconhecem fronteiras d´Estado. É um jogo jogado em que bandos de políticos e religiosos malham no corpo já lascado dos povos oprimidos. Como voltar à essência sociocultural dos celtas? Percebendo que só a fraternidade cria a paz e que a felicidade não está num altar de igreja, mas na busca íntima de cada pessoa. Pois, “deus o é em mim”, dizia o poeta J. C. Macedo, em famoso panflo da TJIA, mimeografado em 1973.

II Estado & Corrupção A idealização do Estado enquanto Ordem e Sociedade pode dar certo se no contexto republicano a Cidadania for um direito sociopolítico que abrange o Todo humano que compõe a Nação. Teoricamente, tudo bem, mas na prática a política d´Estado interpreta a Ordem e a Sociedade como um estágio de alta licenciatura à qual só tem acesso a Elite propriamente dita, e, quem chega lá pela via eleitoral dobra-se às rotinas da máquina político-partidária que determinam o comportamento privado no espaço público. Desde que Niccolò Machiavelli mostrou e demonstrou que o Poder é um jogo socioeconômico para e entre corruptíveis, e que quem penetra em seu pátio de acesso para o estágio de aprender a estar Poder tem por obrigação batalhar por aquela qualidade humanamente negativa, a própria humanidade, em geral, mostrou-se mais inclinada a ser subjugada por tal conceito – que é político, é social e é igrejista – a fazer ouvir anseios de liberdade e tem preferido esconder-se sob os mantos religiosos institucionalmente abençoados. Quem ousa ser voz alternativa à situação de almas vendidas enfrenta a ignorância e a repressão tanto física quanto intelectual. Quando vemos o percurso político de sindicalistas ligados a credos religiosos logo percebemos que jogaram e jogam o jogo machiavelliano, pois, na ponta das ações sindicais está a ascensão ao Poder. E é assim: quando o sindicalismo de resultados socioeconômicos chega ao Poder ele entra no tapete palaciano sem percorrer o pátio do aprendizado, instala-se, quer jogar o seu jogo e, então, corrompe, compra e vende apoios até que o próprio Estado se envergonha dessa máquina geradora de escândalos espantosos, e o Povo percebe-se traído, embora tenha receio de apontar responsáveis pela esbórnia política e financeira. E por que o Povo receia? Porque ele, o Povo, sempre acaba por apanhar mais que as pessoas envolvidas nas quadrilhas encostadas na política d´Estado. Obviamente, a corrupção (a ativa e a passiva) que alimenta os bastidores do Poder é um condomínio social e partidário que, muitas vezes, tem ´parentesco´ na área judiciária e na área social. Ainda hoje, é fácil condenar quem rouba um pedaço de pão para matar a fome e, muito difícil, difícil mesmo..., condenar gente da política, do sindicalismo e do empresariado, envolvida no desvio de bens do Erário Público! Neste pormenor, parece que a humanidade nasceu igual e no mesmo lugar... Mas, existem exceções a essa regra, e em vários países o próprio Aparelho d´Estado e o Judiciário conseguem demolir arquiteturas socioeconômicas erguidas em nome da Democracia e do Povo, no Ocidente e no Oriente.

Caso Mensalão & Lulismo Do Sindicalismo de um Partido dos Trabalhadores à compra e venda de apoio parlamentar no Brasil

O último e gritante exemplo do assalto político aos cofres públicos nos espaços do Estado veio à tona no Brasil. Após a denúncia de compra de votos de parlamentares e respectiva lavagem de dinheiro através de agências de publicidade, no sentido de apoio a ações do Governo Lula, o Parlamento instaurou inquéritos e o Ministério


Público [MP] encaminhou denúncia para a Ação Penal 470, vulgo, mensalão [os parlamentares recebiam mesadas milionárias para votarem, na base aliada, propostas enviadas pelo Governo Lula ao Congresso]. O escândalo poupou Lula nos primeiros momentos, mas já com a definição de pesadas penas para integrantes da cúpula petista [PT], começaram a surgir escândalos periféricos envolvendo até a assessora principal de Lula na representação da Presidência da República na cidade de São Paulo. É claro que a Polícia Federal [PF] investiga indícios apontados pelo MP e, então, o que era para Lula uma reputação arranhada aqui e ali, passou a ser um inferno astral permanente sem que a sua sucessora, a presidente Dilma, pudesse fazer algo contra, enquanto a elite petista, perplexa com a bomba de escândalos, cutucava o judiciário com comunicados sem nexo. Ao que parece, a República retornou aos primeiros anos do rei-imperador João, quando a Monarquia fez do Rio de Janeiro uma baderna política de compra e vende de títulos na busca de espaço de manobra para o Poder luso ali exilado. Com o presidente-imperador Lula a res publica perdeu o seu sentido lógico, e o que era o romantismo de um sindicalista no Poder burguês transformou-se no Estado de corrupção ativa e passiva politicamente oleado com dinheiro público...! Ora, não é o Poder que corrompe, o que corrompe é a ânsia de estar Poder, o que corrompe é o sonho politicamente acaudilhado de ver o mundo pela janela do Poder e tratar a res publica apenas como passarela para um mimo eleitoreiro de partido-dealuguel. Gente da elite petista, como José Dirceu e José Genoino, e etc., sabiam onde estavam e o que almejavam: eternizar Lula e o PT através do próprio aparelho d´Estado. Mas, essa gente teria que agir como as velhas oligarquias, i.e., comprar votos, comprar favores, retirar e esconder dinheiro dos cofres públicos, como ficou comprovado no julgamento dito mensalão que os condenou exemplarmente. Quanto a Lula, ainda o escutamos: não vi, não ouvi. Escândalos movimentados pela sua assessora paulista, Rose, a partir do gabinete da Presidência da República, mostraram que Lula via, ouvia... enfim, sabia. A elite petista repete a saga estalinista: “que morram os que não estão comigo, porque não os escuto nem os vejo”. Imagine-se o PT lulista a dominar a Comunicação e o Judiciário, as suas duas grandes metas depois do Governo Federal. Como entender o mensalão e o franco apetite da elite petista para o culto da personalidade [Lula/lulismo] e o Estado paternalista? Sindicalista carismático, formado nas bases do catolicismo e apoiado por este, Lula tornou-se referência latino-americana na batalha contra o Governo Militar e, cedo, habituou-se à manha do “é dando que se recebe” nas negociações entre trabalhadores e patrões. Virou uma lenda viva e alcançou no Partido dos Trabalhadores o status de figura intocável. Tudo correu bem até à sua eleição para Presidente da República, pois, logo as facções mais ideologizadas do PT ofereceram resistência ao convívio do lulismo paz e amor com as instituições mais arcaicas do capitalismo e da sociedade brasileira. Importantes intelectuais e sindicalistas abandonaram o PT enquanto a elite petista alçava voo capitalista nos gabinetes do aparelho d´Estado. Assim, o Governo Lula transformou o Poder numa ampla sala de negociações no estilo sindicalista tendo a Casa Civil, dirigida por José Dirceu, como eixo, e o PT, dirigido por José Genoino, como intermediador para um poder eterno. Então, Lula poderia até não estar presente nas negociações, mas não poderia alegar “não ouvi, não vi”, nem “tudo o que dizem é mentira e eu não respondo a mentiras”. Com a implosão do mensalão na voz de aliados políticos não recompensados devidamente, o lulismo e a elite petista ficaram acuados nas paredes do palácio presidencial, mas conseguiram, mesmo assim, preservar a imagem de Lula, que viria a conquistar um segundo mandato mercê das políticas populistas e, depois, indicar e eleger a protegida Dilma. Entretanto, Dilma não é Lula e os escândalos, antes contornados politica e financeiramente, acabaram por vir a público com as atuações do MP e da Comunicação Social. Alguns desses escândalos, que estão no livro O Chefe, de Ivo Patarra [publicado clandestinamente em 2006], que acusa direta e explicitamente Lula como chefe dos escândalos que levaram ao mensalão, saltaram para as pautas dos jornais, televisões e rádios, já quando parte da elite petista estava pesadamente condenada pelo Supremo Tribunal de Justiça [STJ]. A imagem do Lula paz e amor foi construída em torno de circunstâncias político-eleitoreiras que o projetaram como “salvador dos pobres” com projetos sociais custeados pelo Erário


Público, e continuados por Dilma, e no entono projetou-se um PT populista perfeitamente enquadrado nas suas necessidades de estar Poder entre capitalistas. Para aguentar tal “construção”, o Governo Lula e o PT engendraram a solução: fazer do Aparelho d´Estado uma máquina geradora de dinheiro para os interesses partidários, logo, corrompendo... Diante de tal quadro político e judiciário, a militância petista veio a público dizer que não foram praticados crimes nem estabelecidas quadrilhas, na velha ladainha de que “revolucionários lutam pela liberdade, não podem ser indiciados criminalmente pela justiça situacionista”; a ladainha bem conhecida de guerrilheiros chilenos, alemães, portugueses, colombianos, italianos, e etc., e por isso, também, os brasileiros reivindicam ainda indenizações milionárias pelo de fato de terem sido presos... e o Governo Lula pagou, e o Governo Dilma continua a pagar... Será que agora guerrilheiro tem carteira sindical?! Eis uma inovação da elite petista. Se a moda pegar alguns governos europeus e latino-americanos irão à falência em menos de um ano! Os petistas e aliados acusam o STJ de ser antiquado, mas a maioria dos ministros são indicados pelo Governo, e o foram por Lula e por Dilma, presidentes que não se interessaram por reformar tanto o quadro partidário quanto o quadro judiciário – pior: ao não reformar o quadro partidário e o quadro judiciário, o Governo Federal deixou de apoiar legislações mais modernas. Ou, talvez tenham pensado que não mexer no judiciário poderia favorecer a conjuntura do Poder petista...! Ora, o PT sem a imagem de Lula e nada é a mesma coisa...! A percepção desideologizada, mas politicamente enraizada em determinados grupos, de que “no Poder eleitoralmente conquistado deve-se criar o Poder-de-Partido e garantir no aparelho d´Estado a sua continuidade”, é uma percepção que fere o republicanismo, uma vez que as pessoas são eleitas pelo Povo para representá-lo e não para fazer dele trampolim nem para o esquecer. Nesta parte, uma das ministras do STJ, durante o julgamento do mensalão, afirmou que só o Povo é soberano para tirar o mandato de alguém eleito. Um erro, uma provocação à res publica, porque eleita ou não para um cargo público, a pessoa deve responder criminalmente pelos atos cometidos e, se julgada e condenada, terá que pagar, inclusive, perdendo o mandato político. Num país colonizado por séculos, o pensamento colonial ainda domina social e judicialmente na defesa corporativista, mas o Caso Mensalão permitiu que o Brasil abrisse os olhos para enxergar realidades políticas e administrativas eternizadas até o último dia do segundo mandato do Governo Lula. Cabe à Sociedade Brasileira avaliar a atual situação histórica e não se permitir perder a carruagem da vera democratização da representação política. E torno a afirmar que não é o Poder que corrompe – corrompe a Sociedade aquela Pessoa que se torna Objeto das engrenagens de consumismo político e econômico e por elas abandona o sentido da res publica e da fraternidade. É o culto ao individualismo exacerbado que faculta a corrupção e o terror[ismo].

III Essência Republicana & Ética A idealização socrática para uma filosofia de fraternidade incendiou paixões em muitas gerações da Humanidade, porque a filosofia da fraternidade compreende a essência da res publica e a ética política necessária, por isso, os velhos gregos queriam a garantia de um governo de homens bons [aristocracia, mas não o que se entende monarquicamente por tal...] para impedir a corrupção na Cidade-Estado e mesmo os erros de análise judicial que impediam a Justiça Social. O próprio Sócrates pagou com a vida por um erro de avaliação judicial, e o mesmo viria a acontecer com Jesus e outros ´cristus´ que se opuseram ao aparelho d´Estado e sua moralidade própria elitizada e misticamente estilizada.

Notas CEHC – Centro de Estudos do Humanismo Crítico, fundado em Portugal por Manuel Reis e Lillian Reis, entre outros intelectuais do pensamento não engajado ao poder-condomínio. A entidade tem sede em Guimarães (Portugal) e escritório para a América Latina, em São Paulo (Brasil). TJIA – Turma de Jovens Intelectuais Anarquistas, fundado em Portugal com professores e estudantes que atuavam clandestinamente entre encontros políticos e sindicais, escolares e sociais.


JOÃO BARCELLOS Escritor / Jornalista/ Pesquisador de História / Conferencista “Há muito radicado nos caminhos da América do Sul, tornou-se um estudioso da Luso-Brasilidade e produziu vários livros sobre o assunto: romances e estudos históricos - um sobre o capitão-general de São Paulo[O Morgado de Matheus, SP-1991] e outros sobre a região cotiana do Piabiyu [Cotia - Da Odisséia Brasileira De São Paulo Nas Referências Do Povoado Carijó, SP-1993; De Costa A Costa Com A Casa Às Costas, SP-1996]. Os seus conhecimentos sobre a sempre presente Cultura Minho-Galaico Sob Referências Célticas permite-lhe alcançar várias rotas de estudos e aprofundar o seu conceito de Ser-Estar Português No Mundo. Filho de família que mistura as linhas de serviço público, tecnologia industrial, comércio, artesanato e literatura, João Barcellos transpõe para os seus escritos essa vivência cultural que aprofundou nas suas andanças jornalísticas - é, assim, um intelectual de vanguarda com bagagem humanística poeticamente assumida! [OLIVEIRA,Tereza de - artista plástica, poeta; Paris/Fr, 1998]” /// “O universo que nos cerca, seja o sistema ecológico seja o sistema humano - e, na realidade, o segundo sobrevive sem o primeiro (somos seres solares e lunares, ou cósmicos) -, é o material de base para as ações intelectuais do escritor luso-brasileiro João Barcellos. Ele é o Ser em busca do Ser entre as coisas da Terra e a floresta do Pensamento. Se o Ser Humano é o que é em função da evolução cósmica, João Barcellos é um poeta que escreve com a coragem de Viver esta evolução natural; e por isto, ele Vive em si mesmo a Humanidade qu e raro encontra nas esquinas do sistema humano. Ele é o Poeta por inteiro na Anarquia do prazer de Viver!... [CÉDRON, Marc - ecologista, psiquiatra; 1999, Zurich/Ch]” /// “Pesquisador de mangas arregaçadas e pé na trilha, eis o historiador e jornalista João Barcellos, do mesmo jeito que é o poeta e o romancista na observação profunda da realidade que faz e que o rodeia. Em todos os seus trabalhos está o ato sociocultural por excelência pela filosofia pura do olhar que abre espaços para a liberdade de estar e ser [NOVAES, Marta - Buenos Aires, Arg., 2010].

Trabalhos Literários POESIA E SEIS CONTOS DUM BARALHO SÓ coletânea [1989, SP]; – ESTÓRIAS POÉTICAS crônicas [1989, RJ]; – TEMPO DE VINGANÇA romance [1990, SP]; – UM LUSO NA ILHA DE SAMPA poema; – COTIA as referência de são paulo na aldeia carijó pesquisa [1991, SP] – UMA CARAVELA DE PRATA romance [1992, RJ]; – MORGADO DE MATHEUS pesquisa/ensaio [SP, 1993 e 2000], 2ª Ediç./SP-Br, 2004; Prêmio Clio de História 2004; – COTIA pesquisa/ensaio; – TEATRO [peças em 1 Ato] ; – DE FERNANDO PESSOA A MACHADO DE ASSIS ensaio/palestra; – CAMÕES / O POETA DO TEMPO LUSITANO ensaio [1991, RJ]; – SIDÔNIO MURALHA / O POETA DA VIDA ensaio/palestra; – MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO ensaio/palestra; – ANTERO DE QUENTAL ensaio/palestra; – CAMILO PESSANHA ensaio; – A CRIAÇÃO POÉTICA ensaio/palestra [1990/91, Rio de Janeiro e Florianópolis]; – O TROPICAL JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS palestra; – OS DESCOBRIMENTOS ensaio [Prêmio Pedro Álvares Cabral, 1990 - SP]; - REFLEXÕES SOBRE FERNANDO PESSOA ensaios/palestras; – A MULHER E A POESIA EM FLORBELA ESPANCA palestra; – CELTAS ensaios/palestras; – DE COSTA A COSTA COM A CASA ÀS COSTAS história brasileira a partir de acutia; – OI, COTIA! / HISTÓRIA PARA CRIANÇAS [com ilustrações de Ricardo Feher]; – O PEREGRINO / A ESSÊNCIA POÉTICA DO SER ensaio/palestra [1995]; – O PEQUENO PEREGRINO e outros contos; – ENTRE O POETINHA E O CANTO DAS VANGUARDAS ensaio sobre Vinicius de Moraes; – CONTOS PARA TODOS contos para jovens [1995]; – CONTOS para jovens [1995]; – ESCRITOS ECOLÓGICOS coletânea de ensaios [São Paulo e Buenos Aires, 1996]; – MÁRIO SCHENBERG / O SER QUE SABIA ESTAR palestra; – JOSÉ DE ALENCAR palestra; – O PEREGRINO / Palestra Primeira e Palestra Segunda [1998]; – TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA / palestra [Ouro Preto/MG,1998]; – AMOR poesias c/ marc cédron joane d'almeida y piñon tereza de oliveira jb mário castro [Grupo Granja, 1999]; – RIO / O ROMANCE NA CIDADE romance; – OUTROS ESCRITOS poesia, teatro, conto [1998]; – EXUBERÂNCIA E FOLIA NO MAR DE LONGO – poema épico [Rio de Janeiro e Buenos Aires, 1998; reescrito em 2004]; – CLUBE BRASIL romance [São Paulo e Buenos Aires, 1992/98]; – O OUTRO PORTUGAL romance [SP-Br, 2000]; – 500 ANOS DE BRASIL ensaios-palestras [SP-Br., 2000]; – BAPTISTA CEPELLOS o poeta do drama brasileiro [com ilustrações de Ricardo Feher, 2000]; – OLHAR CELTA [Portugal e Brasil, 2001]; – ORDEM & SOCIEDADE [1ª Ediç, 2003; 2ª Ediç, 2004; 3ª Ediç, 2009, Brasil e Portugal]; – OUTROS POEMAS coletânea; – EDUCAÇÃO & CULTURA textos vários; – GIL VICENTE ensaio [2001/02]; – PIABIYU ensaio-palestra [1ª Ediç, 2003]; – COMO SE ENCONTRA RELIGIÃO NA CIÊNCIA ensaio [2003]; – CONTOS EXEMPLARES c/ Maria Fernanda Sousa e ilustrações de Wagner Barbosa [2004]; – SAMPA 450 ensaioentrevista [2004]; – HAROLDO DE CAMPOS ensaio (2004); – MITO-HISTÓRIA & ÉPICA ensaios c/ outros autores


[Edicon-Br c/ Grupo Granja – Br, Centro de Estudos do Mar - Pt & Centro de Estudos Humanismo Crítico - Pt, 2005]; – BONIFÁCIO / Princípio & Fim Do Império Bragantino-Brasileiro [e-book, 2005]; – CECÍLIA MEIRELES / A Materna Linguagem Da Vivência [e-book, c/ Rosemary O´Connor, TN Comunic, 2005]; – ALMA AÇORIANA / No Mundo E No Brasil [e-book, c/ Johanne Liffey, TN Comunic, 2005]; – CONTOS & SONHOS lij c/ Johanne Liffey e Márcia Fecchio [inclui o conto “Uma Menina Chamada Koty”]; – POESIA, CONTO & NOVELAS [SP, 2009]; – VIVÊNCIAS sóciopedagógicas [A Opinião De Um Professor ]; – JD NOVA COTIA / Um Bairro De Migrantes; Trabalho Coletivo sob orientação de JB [Edicon & TNComunic, 2005]; – AGOSTINHO E VIEIRA: MESTRES DE SUJEITOS! [c/ Manuel Reis. Ediç FrenProf. Pt, 2006]; – ATO CULTURAL sobre as lic´s [Edicon, CEHC & TC Comunic, 2006]; – GENTE DA TERRA o romance da luso-brasilidade [2007]; ARAÇARIGUAMA – do Ouro ao Aço [Ed Edicon, TN Comunic & Prefeitura de Araçariguama, SP – 2007. Prêmio ´Clio de História´ 2007]; – COMUNICAÇÃO VISUAL [SP, 2008]; – O IMPÉRIO DO CAPITÃO AFONSO [SP, 2009]; FEIJÓ & CEPELLOS / Brasileiros De Cotia [c/ Walter de Castro], 2009; – ESTAMPARIA [SP, 2009]; – COTIA / Uma História Brasileira [SP, 2011]; – DO FABULOSO ARAÇOIABA AO BRASIL INDUSTRIAL [Edicon & CEHC, Brasil-Portugal, 2011]; – IMAGEM ESPECIALIZADA [SP, 2012]. /// Obs: 1todas as obras editadas pela Ed Edicon com exceção de ´Estórias Poéticas´, pela Ed Cadernos Oficina, e de “Agostinho e Vieira...”, pela Ed FrenProf.; 2- alguns livros e palestras estão editadas no formato e-book [noetica.com.br] Coleções Literárias [Coordenação] /// DEBATES PARALELOS Vol 1 [Temas Gerais], 2002; Vol 2 [Temas Gerais], 2004; Vol 3 [Igreja-Estado ou Religião], 2004; Vol 4 [A Palavra Jesuana, Textos Gnósticos & Outras Opiniões], 2007; Vol 5 [´Q´ Jesuânica / Opiniões], 2009; Vol 6 [Educar Para Viver], e-book em noetica.com.br; Vol 7 [Oh, Liberdade!], 2011, e-book, noetica.com.br; Vol 8 [Viver História], 2012 /// PALAVRAS ESSENCIAIS Vol 1 [Políticas Educacionais + Cultura de Raiz = Projeto Nacional], 1ª e 2ª Ediç, 2003; Vol 2 [´Os Lusíadas´ Em Debate], 2004; Vol 3 [Homenagem a Manuel Reis], 2008; Vol 4 [O Filósofo Manuel Reis / A Crise] / Web ´Noética´, 2009; Vol 5 [O Sentido Da Vida], 2010; Vol 6 [Humanismo,. Educação & Justiça Histórica], 2011. [TerraNova Comunic / Ed Edicon / Centro de Estudos do Humanismo Crítico]; Vol 7 [Escritos Luso-Afro-Brasileiros], 2011, e-book em noetica.com.br; Vol 8 [Res Publica], 2012; Vol 9 [Átrio Dos Gentios], web/no ética, 2012. Peças Videográficas A POESIA E O MUNDO, 1988 [Rio, RJ]; O INTELECTUAL E A FAVELA, 1988 [Rocinha, RJ]; A BIBLIOTECA E A COMUNIDADE, 1996 [Paraty, SP]; COTIA: CIDADE CENTENÁRIA, 2006 [Cotia, SP; c/ César Tiburcio]; JD NOVA COTIA: UMA EXPERIÊNCIA LÍTERO-SOCIAL & HISTÓRICA, 2006 [Cotia, SP; c/ César Tiburcio]; ARAÇARIGUAMA: DO OURO AO AÇO, 2006 [Araçariguama, SP; c/ César Tiburcio]; FILOSOFIA & POESIA PELA PAZ, 2007 [Embu, SP, c/ Mariana d´Almeida y Piñon]. Em outras línguas: ‘Familia, Mercancía & Transnacionalidad / la batalla por la Raíz Social es sobrevivir en Humanidad’ [Ediç. ‘Jeroglífo’, Buenos Aires / Arg., 1989; 2. Ediç., 1991; esgotado]; ‘Concept et Tendance: Politique, Marché des Capitaux et Question Sociale’, BARCELLOS, João & OLIVEIRA, Tereza de [Egalité / Maison d’Edition, Paris/Fr., 1996]; ‘Liberté Provisoire – Terreur et Politique contre Nous’ [Egalité / Maison d’Edition, Paris/Fr., 1996]; ‘Freedom and Social Ruptures’, essays and poems, published by Cult Journal, Houston/USA, 1998]. Enquanto leitor crítico, JB escreveu mais de duas centenas de Prefácios e Opiniões; editor, foi responsável pelo jornal O Serigráfico e o Jornal d' Artes, o jornal Tempo de Educar e o jornal Corpus, a par da revista Vida & Construção; editor de Cultura em jornais e rádios regionais; orienta Oficinas de Poesia, palestras em universidades e clubes literários, além de aulas de português e literatura brasileira; em 2008 fundou a revista Impressão & Cores de conteúdo tecnológico. É membro dos restritos grupos intelectuais “Eintritt Frei” [Berlin/De] e "Grupo Granja" [Brasil e Mundo] e colaborador internacional do “Centro de Estudos do Humanismo Crítico” [CEHC, Guimarães/Pt] e fundador do CEHC - América Latina. Integrou o grupo que fundou a Associação Profissional dos Poetas do Estado do Ri o de Janeiro (APPERJ), é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina / IHGSC e da União Brasileira de Escritores [UBE, SP]. Fundou o núcleo “Noética” que tem portal-web como “noetica.com.br”. Endereço Postal Cx Postal nº 16 / 06717-970 Cotia/SP Brasil Web www.noetica.com.br jb.escritor@uol.com.br


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.