AMORIM, Vivyan A. F, de Barros, (2020) Roteiro de Análise Fílmica O Voo da Beleza

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ROTEIRO DE ANÁLISE FÍLMICA Aluna: Vivyan Alexya Ferreira de Barros Amorim Graduanda de bacharelado em Ciências Sociais na UFAL. 1. Título do filme: O voo da beleza (2012). 2. Ficha técnica: Um filme etnográfico dirigido por Alexandre Fleming Camera Vale durante os anos 20102011 e lançado em junho de 2012. Direção e produção: Alexandre Flaming Camera Vale Produção de set: Clébio Viriato Ribeiro Pós-produção: Valdo Siqueira Consultoria para Finalização: Paulo Morgado Direção de Fotografia: Alex Meira Câmeras: Alex Meira e Clébio Viriato Ribeiro Som direto: Rui Ferreira Trilha Sonora Original: Edinho (direto) Direção Musical: Alexandre Flaming Camera Vale e Valdo Siqueira Citações Musicais: “Nature boy” de Eden Ahbez (na voz de Ney Matogrosso); “Non je ne Regrette rien” de Michel Vaucaire; “São tantas coisas” de Roberta Miranda e “Marcia Baila” de Rita Mitsouko. Decupagem: Bruno Xavier Montagem: Rui Ferreira, Arnaldo Formiga, Bruno Xavier, Léo Fuser e Débora da Costa Finalização: Débora da Costa Revisão de legendas: Edson Rodrigues Créditos Iconográficos: Estudo Antropométrico de Homossexuais Efeminados Extraído de Além do Carnaval de James Green, 2000. Designer gráfico e Capa da Mídia: Alexandre Santos Pessoas entrevistadas: Camille Cabral, Estela Rocha, Geovana Telles, Tina Rodrigues, Sabrina, Patrícia, Rosa Baiana, Samantha, Cindy, Ingrid, Celso Coutinho, Louis-Georges Tin, Marcos Gutiérrez, Marc Auguin e Allan. 3. Informações sobre o filme:


Um filme patrocinado por Banco do Nordeste e Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Ceará; Produzido pelo Clan do Cinema e com o apoio de: PASTT (Associação Prevenção, Ação, Saúde e Trabalho para Transgêneros); Universidade Federal do Ceará; Laboratório D’Antropologie Sociale; École des Hautes Études en Sciences Sociales; Lisa; Itaú Cultural; Expressão Gráfica; ATRAC (Associação de Travestis do Ceará); NIGS (Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades); MAISH; CAPES. Com a realização de LEO (Laboratório de estudos da Oralidade) e FCPC (Fundação Cearence de Pesquisa e Cultura). Um filme vencedor dos prêmios: Prêmio Festival for Rainbow em 2012 (por Menção honrosa de melhor documentário) e do Prêmio Pierre Verger em 2016 da Associação Brasileira de Antropologia (por Melhor pesquisa para documentário). * Dados sobre o autor e diretor do filme Voo da beleza (2012): Alexandre Fleming Camara Vale é graduado em Ciências Sociais (1989 a 1993) pela Universidade Federal do Ceará, possui mestrado em Sociologia (1995 a 1997) pela Universidade Federal do Ceará e doutorado em Sociologia e Antropologia (2000 e 2005) pela Universidade Federal do Ceará. Tem pós-doutorado com especialidade em sexualidade e cinema na antropologia visual (2013 a 2014) pela Université de Strasbourg (UNISTRA – França). É professor associado na Universidade Federal do Ceará e coordenador do Laboratório de Estudos de Oralidade (Unilab/UFC). Atua em seus estudos, pesquisas e na produção de filmes etnográficos com as temáticas de gênero, sexualidade, LGBT, cinema e na antropologia visual com etnografias fílmicas. * Organização de evento que foi realizado por Alexandre Fleming Camera Vale que está relacionado ao filme O voo da Beleza (2012): VALE, Alexandre Fleming Camara. Lançamento Internacional do filme O Voo da Beleza. 2012. (Outro). * Produções bibliográficas de Alexandre Fleming Camera Vale (algumas e principalmente as que estão relacionadas ao filme “O voo da beleza”) VALE, Alexandre Fleming Camara. O voo da beleza: experiência transgênero, política sexual e migração. In: 32º Encontro Anual da ANPOCS, 2008, Caxambu. 32º Encontro Anual da ANPOCS. São Paulo: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, 2008.


VALE, Alexandre Fleming Camara.; PIMENTEL, Herbert. A tecelagem como modelo da palavra: notas sobre a etnografia e as imagens de Marcel Griaulle. In: Alexandre Fleming Câmara Vale. (Org.). França e Brasil. Olhares cruzados sobre imaginários e práticas culturais. 1ed.São Paulo: Annablume, 2012, v. , p. 173-184. VALE, Alexandre Fleming Camara. Antropologia, sexualidade e gênero: um diálogo em construção. In: Alexandre Fleming Câmara Vale. (Org.). França e Brasil. Olhares cruzados sobre imaginários e práticas culturaus. 1ed.São Paulo: Annablume, 2012, p. 67-86. VALE, Alexandre Fleming Camara; LIMA, S. O. Notas sobre a figuração imagética de. In: Alexandre Fleming Câmara Vale. (Org.). França e Brasil. Olhares cruzados sobre imaginários e práticas culturaus. 1ed.São Paulo: Annablume, 2012, p. 185-200. VALE, Alexandre Fleming Camara. O Voo da Beleza: experiência trans e migração. 1. ed. Fortaleza: Editora RDS, 2013, v. 1., p. 318. VALE, Alexandre Fleming Camara. O Voo da Beleza: experiência transgênero e processo migratório. OPSIS (UFG), v. 1, p. 54-68, 2007. VALE, Alexandre Fleming Camara.. Lessor de la beauté: transphobie, immigration et prostitution à Fortaleza e à Paris. Hommes et Migrations. Documents (Cessou em1986. Cont. ISSN 1142-852X Hommes & Migrations (1987)), v. 1281, p. 25-40, 2009. * Participação em eventos de Alexandre Fleming Camera Vale (relacionados ao filme “O voo da beleza”) Sexualidades Contemporâneas: pluralidade de discursos e práticas. O voo da beleza: experiência transgênero e processo migratório. 2008. (Seminário). I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem. Etnografia, imagem e recepção. 2008. (Seminário). 32º Encontro Anual da ANPOCS. O voo da beleza: experiência transgênero, política sexual e migração. 2008. (Congresso).


III Encontro de Ciências Sociais do Estado do Ceará. O Voo da Beleza: Experiência Transgênero e processo. 2009. (Encontro). II Colóquio França Brasil: olhares cruzados sobre o imaginário e as práticas culturais. Sexualidades, parentalidades e migrações. 2009. (Outra). Seminário em comemoração ao Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Apresentação do curta metragem: Voo da Beleza.. 2011. (Seminário). II Trans Day NIGS - Seminário Transfobia, Identidades e Cidadania Trans..Apresentação e debate sobre o vídeo Voo da Beleza. 2011. (Seminário). IV Visualidades. Lançamento do filme "O Voo da Beleza", seguido de Conferência e Debate. 2012. (Encontro). I Fórum Estadual sobre a Política da Saúde do Homem..Apresentação do filme "O Voo da Beleza". 2012. (Encontro). Cycle de Débats entre Cinéma et Recherche "Cinesthesis" de l'Association des Chercheurs et Étudiants Brésiliens en France (APEB-Fr). Le vol de la beauté. 2012. (Encontro). Cine Freud. Apresentação e debate do filme "O Voo da Beleza". 2013. (Outra). Mostra Itinerante Múltiplos Brasis. Exibição do filme "O Voo da Beleza", seguido de debate. 2013. (Outra). Sertão da Diversidade. Exibição do filme "O Voo da Beleza". 2017. (Outra) IX Congresso Internacional da ABEH. Exibição do filme "O voo da beleza". 2018. (Congresso). Converda com o realizado (Cine UFPel). Exibição do Filme "O Voo da Beleza". 2018. (Outra). 4. Trabalho de análise: 4.1 Descrição: O filme em sua maior parte é focado no relato de cada mulher transexual, ou seja, em suas experiências como imigrantes (como chegaram na França, as condições insalubres que eram submetidas no início e a melhora dessas condições apesar de ainda terem que se submeterem


com o trabalho em sua maioria sendo apenas a prostituição), o relacionamento com suas famílias, o preconceito dos franceses com elas e o não reconhecimento de ser mulher por ser transexual. 0:45 a 0:49 – o foco na mulher (Stella Rocha) se maquiando se olhando no espelho enquanto relata sua vivência e experiência como mulher transexual brasileira na França. 0:50 a 1:14 – Geovana relatando que a mulher transexual (e ela principalmente) tem medo e se preocupa com o medo da feiura, da velhice e da natureza. Pois, para ela, as transexuais lutam contra o tempo, a natureza e a feiura. 1:15 a 2:05 – assim como essa passagem cronometrada específica, há algumas outras durante o filme, onde há uma transição com música ao fundo enquanto mostra a cidade de Paris, as mulheres entrevistadas andando pelas ruas, o rio, os carros passando. 2:32 – apresentação de Camille Cabral que é médica e fundadora da Associação PASTT e que vai ter algumas passagens durante o filme explicando a importância da prevenção, do cuidado, os direitos que as mulheres transexuais possuem e a importância delas conhecerem seus direitos. 7:00 a 7:54 – cenas do filme “Encontrando Bianca – kit anti-homofobia da ECOS: comunicação e sexualidade” que mostra as dificuldades e barreiras que uma pessoa trans sofre durante seu período de transição. 8:51 – após ser relembrado por uma das entrevistadas a época vivida no militarismo (ditadura militar) e as duras abordagens e prisões que ocorriam na época para pessoas trans é mostrado cenas de “Dzi Croquettes” de Tatiana Issa e Raphael Alvarez – Brasil, 2009. 10:40 a 11:17 – mais uma passagem da cidade de Paris com foco nas mulheres trans andando pela cidade enquanto tem um som ao fundo. Analisando a partir de Nichols (2010), o modo que pode-se colocar nessa passagem como característico seria o poético por ter a reunião de fragmentos do mundo no qual está focado o filme – sendo esse no caso, Paris. 13:01 – o professor Clodovick Topic relatando que apesar dessas mulheres trans falarem e estarem aprendendo o francês, por conta da pronúncia ou como forma de discriminação, elas são ignoradas por grande parte dos franceses. 15:56 – a explicação da rua Vila Biron em Paris e como é um lugar por onde todas já viveram (com prédio de moradia em sua totalidade de pessoas transexuais por ser um local mais barato e por não precisar de um comprovante de renda para alugar o local). Após toda a explicação e importância do lugar, aparecem imagens da rua e do prédio, com música ao fundo. 20:38 – em algumas poucas partes, assim como essa, é possível ouvir o Alexandre Fleming fazendo perguntas as entrevistadas. O que evidencia, assim, que apesar de não ser o modo dominante e caracterizador do filme, essas partes específicas de participação de Alexandre evidencia o modo participativo, de acordo com a classificação de Nichols (2010) pois “dá uma sensação da presença em carne e osso, em vez da ausência, que coloca o cineasta em cena” (p.154). 24:50 – imagens de corpos transexuais na mitologia e em seguida imagens com informações históricas do corpo e sobre o processo histórico trans aparecem para ilustrar o que estava


sendo falado – transexuais são pessoas normais, com sentimentos, não são anormalidades, nem muito menos uma doença. 37:00 – explicação sobre Bois de Boulogne, que é o local onde elas e outras mulheres trans se prostituem. 39:30 a 42 – coloca uma reportagem local na TV com a explicação sobre a avenida Bois de Boulogne e em seguida mostra a entrevista de uma travesti com a câmera filmando a tela da TV com a exibição de “Les travestis Pleurent Aussi” de Sebastiano D’Ayala – Paris, 2007 e depois focando na mulher trans Rosa Baiana assistindo. Quase como um enfoque metalinguístico, de uma mulher trans que está sendo entrevistada assistindo a uma entrevista de outra mulher trans. 46:34 – cena do documentário “A Parada” de Simone Lima, 2009. 49:49 – Alexandre Fleming perguntando o significado de alguns vocabulários que elas utilizam entre si. 50:01 – Explicação das mulheres trans de como foi a Lei da Recolagem passiva que foi criada em 2002 e aplicada em 2004 pelo ministro Nicolas Sarkozy com o intuito de prender as mulheres trans que faziam prostituição, como forma de puni-las e colocá-las como não morais pois ou elas pagavam o valor de 2600 euros (na época, a moeda era o franco) ou ficavam presas por seis meses. Assim as mulheres trans passaram a ser perseguidas. 52:40 a 52:52 – imagem da Monalisa (colorida) e logo em seguida a imagem da mulher trans Geovana (em preto e branco) em um jornal parisiense noticiando a denuncia feita pela mesma as agressões sofridas. 55:45 a 56:46 – passa uma imagem de revista com os dizeres “até onde vai a intolerância?” e depois uma vendedora parisiense do Mercado de Pulgas falando que não importa qual seja a sexualidade da pessoa mas que ela tem que saber se comportar e não demonstrar afetos com outros na frente de ninguém. Assim, analisando a partir dos modos de Nichols (2010), e levando em conta que essa passagem tem o intuito de trazer o questionamento para o primeiro plano, questionando a pergunta e nos fazendo questionar a nossa consciência com os problemas da representação do outro; o modo caracterizado nessa parte é o reflexivo pois nesta parte o autor tenta reajustar as nossas suposições e expectativas do público sem acrescentar conhecimento novo a categorias existentes mas apontando para nossas expectativas e suposições sobre o mundo que nos cerca, quase como nos deixando “com uma pulga atrás da orelha” com aquele questionamento, provocação feita. 57:23 – Jean-Mark Augin da Associação L’amicale du nid, falando das três associações comunitárias que existem para as mulheres trans na França: a PASTT, a Parité e o Ônibus das mulheres. 58:00 – explicação do termo “voo da beleza” que é o título do filme. As mulheres explicam que essa expressão era utilizada para quando uma mulher trans estrangeiras – pós implementação da lei da “vadiagem” - eram levadas num ônibus por policiais e ficavam totalmente isoladas numa prisão ou “calabouço” como as mesmas descrevem, até ter um voo de volta para o seu país de origem, onde são acompanhadas por policiais franceses no voo


para garantir que elas realmente voltem para o seu país. E a viagem é paga pelo país de origem. 4.2. Reconstrução: a) O campo da antropologia na qual o filme se insere é a antropologia visual com atuação focada no desenvolvimento da pesquisa e para a produção do filme etnográfico com o enfoque na temática de gênero, a sexualidade, na luta da vivência do LGBT mais especificamente na transexualidade e, portanto, com o objetivo de evidenciar a vivência das mulheres trans brasileiras em um país europeu e as dificuldades e enfrentamentos que elas enfrentam no cotidiano. b) O filme O voo da beleza (2012), trata-se sobre a vivência de mulheres transexuais brasileiras que se deslocam e tornam-se imigrantes na França com o intuito de ter uma perspectiva melhor de vida. Pois, apesar de não conseguirem ter uma vida fácil como imigrantes e transexuais, elas relatam durante o filme que no Brasil a situação era ainda pior. Além de enfatizarem sempre que o custo de vida no Brasil era muito mais caro – tanto pra alimentação e moradia quanto pra fazer aplicação de silicone, plásticas e hormônios. Essas mulheres que foram entrevistadas durante o filme etnográfico retratam o preconceito sofrido pela família – principalmente no lado paternal – na descoberta de sua transexualidade, onde a maioria foi expulsa de suas casas por isso, além de terem sido agredidas psicologicamente. O filme foi filmado em 2010 mas a maioria das mulheres entrevistadas foram para França no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. E elas relatam a dificuldade de entrar no país sendo mulher trans, pois não eram reconhecidas como mulheres e tinham dificuldades de passar pela segurança migratória (na fronteira) por isso. Relatam o empecilho que é colocado pelas autoridades para elas conseguirem adquirir os documentos franceses e ficarem de maneira legal no país. É com o apoio das associações que existem (como a PASTT) é que elas conseguem ter uma vida um pouco mais digna e acolhidas como o acesso à saúde e a aprender o idioma francês. Assim, o filme “O voo da beleza” em sua maior parte é focado no relato de cada mulher transexual, ou seja, em suas experiências como imigrantes (como chegaram na França, as condições insalubres que eram submetidas no início e a melhora dessas condições apesar de ainda terem que se submeterem com o trabalho em sua maioria sendo apenas a prostituição), o relacionamento com suas famílias, o preconceito dos franceses com elas e o não reconhecimento de ser mulher por ser transexual. c) O modo dominante e caracterizador, avaliando a partir das definições de Nichols (2010) no filme etnográfico O voo da beleza (2012) é o modo expositivo pois se dirige ao espectador diretamente com legendas ou vozes propondo uma perspectiva e expondo, assim, um argumento que remonta a recontar uma história. Utiliza assim de uma lógica informativa que foi transmitida verbalmente pelas mulheres trans e pelos membros organizadores das associações comunitárias. O que facilita a generalização e a argumentação abrangente tendo também as imagens para assim sustentar as afirmações básicas de toda a história que foi contada. - Anexos


Algumas capturas de tela do filme etnográfico “O voo da beleza” que foram marcantes para mim e que estão descritas mais detalhadamente no tópico 4.1 acima.


Referências bibliográficas: NICHOLS, B. Introdução ao documentário. Coleção Campo Imaginético. Editora Papirus. Capinas, SP. 2005. Dados bibliográficos acadêmicos de Alexandre Fleming Camera Vale foram retirados do currículo lattes do mesmo. Acesso em 19/05/2020. Acesso em <http://lattes.cnpq.br/3358019586928320>


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