MARKETING & INVESTIMENTOS
DIRETO DA PRODUÇÃO
Apas abre temporada nacional de feiras
Piscicultura marinha é bom negócio?
seafood Na lata
Demanda crescente por conservas cobra de indústria e importadores uma resposta rápida
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www.seafoodbrasil.com.br
#4 - Jan/Mar 2014 ISSN 2319-0450
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Em seis meses, audiência do site cresce 454%
Aos poucos o site seafoodbrasil.com.br vai se consolidando como uma fonte frequente e confiável de informações para quem faz negócios neste setor. As visualizações de página – o número total de páginas visualizadas – superaram 6830. Só em março, o site recebeu mais de 3380 visitas. Estes números representam um acréscimo de 292% e 454%, respectivamente, na comparação com outubro de 2013.
NEWS
Comércio exterior chama atenção de leitor
Leitor da newsletter quinzenal Seafood Brasil demonstra um interesse peculiar do setor: atenção ao mercado exterior e às exportações de pescados, além de inovações da indústria nacional. Desde que foi lançada, em novembro de 2013, a newsletter já alcançou uma taxa de abertura por disparo próxima a 20%, enquanto a média do mercado é de 15,5%, segundo a ferramenta MailChimp.
Comunidade Revista: 18 parceiros apostaram nesta edição Confira abaixo todos os anunciantes:
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PÁGINA ANUNCIANTE 4ª Capa Alaska Seafood Marketing Institute 2ª Capa San Arawa 3ª Capa Brascod 3 Frescatto 11 Bettcher 13 Árticos 15 Clearwater 21 Grupo 5 25 Karam’s 29 Trutas NR 33 Geneseas 35 Iberconsa 39 Nortindal 45 FoodTec 47 Produmar 50 Sial 51 MercoAgro 57 Maquiplast
Seafood Brasil
Guardiões da saúde
...
Na fan page do Seafood Brasil no Facebook, estamos trabalhando continuamente para demonstrar os benefícios do pescado para a vida do consumidor. Em diversos posts educativos mostramos que, de bebês a adultos, todos os seres humanos podem se beneficiar da ingestão regular de pescado e derivados. ...
Editorial
Quaresma todo ano
O
s 40 dias mais importantes do ano chegaram. É justamente entre o Carnaval e a Páscoa que a cadeia produtiva de pescado tem a maior chance do ano para mostrar seu valor. A penetração no varejo é a maior de todo o ano, as peixarias ganham decorações especiais e, principalmente, a oferta de produtos chega a quadruplicar em algumas das redes. Todo este esforço para garantir que o consumidor cumpra religiosamente o seu ritual de deixar a carne vermelha, o frango e os suínos de lado e privilegiar os peixes e frutos do mar. É um trabalho árduo que começa já em meados do ano anterior, quando as indústrias já procuram garantir o fornecimento de matéria-prima necessária, os departamentos de desenvolvimento de novos produtos quebram a cabeça para criar inovações e os vendedores já discutem com as redes o que terão para oferecer. O reflexo de tanta mobi-
lização se vê nas lojas, mas também na Apas, feira que ganha novamente um guia de visitação na edição em que celebramos o primeiro ano de aniversário da plataforma Seafood Brasil. Se a Peixaria tira a poeira do pescado nas épocas de menor demanda, o mesmo não se pode dizer da Mercearia. Lá o movimento é bom o ano todo, graças à grande oferta de conservas que a indústria brasileira e importadores proporcionam. Este tema, explorado na matéria de Capa, e as demais entrevistas e reportagens que compõem este número, são indicativos de que o Brasil está, aos poucos, preparando-se para transformar o ano todo em uma duradoura e sortida Quaresma. Uma ótima leitura a todos!
Índice
30 Estatísticas
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14 Do Ramo
Marketing
36 Fornecedores
16 Capa
40 Direto da Produção 48 Na Gôndola
52 Na cozinha
26 Ponto de Venda
58 Personagem
Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórteres: Léo Martins, Marcelo Tárraga, Mariana Diello e Mariana Naviskas Diagramação: Emerson Freire Distribuição: Marcus Vinicius Crisóstomo Alves Colaboraram nesta edição: Daniela Dias (texto) e Renato Rocha (foto)
Publicidade comercial@seafoodbrasil.com.br Impressão Vox Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
Sede – Brasil R. Eng. João Monteiro da Gama, 77. Saúde. CEP 04144-120. São Paulo (SP) Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Defensa 441 / 6º G/H (C1065AAG) Buenos Aires (1065) Tel.: (+54 11) 4342-0236
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06 Cinco Perguntas
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5 Perguntas a João Galassi, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas)
Entrevista
“Carne cara abre portas ao pescado no varejo” Diversificação do consumo e inflação de outras proteínas cria cenário positivo para o segmento no autosserviço Texto: Marcelo Tárraga | Fotos: Eliane Cunha/Apas
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ão é só o público final, cada vez mais preocupado com alimentação saudável, que busca o pescado. Ele já se tornou um grande negócio também para o varejo, que enxerga um vasto caminho positivo para os produtos frescos, como os peixes e frutos do mar. Dados da Nielsen de 2013 justificam o interesse: 42% dos brasileiros preferem comprar peixes e frutos do mar em supermercados, enquanto 22% apelam aos hipermercados e 21% continuam a comprar nas tradicionais peixarias. Em entrevista exclusiva à Seafood Brasil, o presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), João Galassi, pontua que essa busca por alternativa saudável impacta no crescimento de vendas de pescado nas lojas, mas os reflexos da economia também influenciam diretamente os indicadores. Estabilidade no mercado de trabalho e aumento de renda das famílias influenciam na compra de produtos perecíveis. Apesar de a economia nacional não apresentar grande aceleração, o momento continua a ser bom para o varejo, que vê as vendas cresceram ano
“Quanto mais cresce a renda média da população brasileira, maior será o crescimento no consumo de pescado em geral.” a ano. Galassi ressalta que as companhias devem aproveitar estes reflexos e apostar em novas variações de produtos e auxiliar, desta maneira, os pequenos e médios empreendimentos. Presidente de uma das maiores associações nacionais, responsável pela feira que já se tornou uma grande vitrine ao segmento (veja na seção Marketing & Investimentos), ele acredita que os produtos frescos podem crescer dois dígitos por ano, se forem bem trabalhados pelas marcas.
Em ano de economia em ritmo lento, Copa do Mundo e Eleições, quais serão as principais características do varejo em 2014? Realmente é um ano atípico. Copa e Eleições devem mexer com o nosso setor, não só nas cidades que sediaram os jogos, mas em todo município que tiver um torcedor apaixonado! O ano realmente começou devagar para um País que vinha crescendo nos últimos anos. Mas, junto com padarias, farmácias e poucos outros setores, o varejo tem sido a cor azul nos relatórios de muitos economistas.
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Quais são os resultados e as observações da Apas neste início de ano em relação ao consumo e às companhias nacionais? O crescimento do setor supermercadista nos últimos anos tem sido favorável e reflete o comportamento das duas principais variáveis que impactam as vendas do setor: emprego e renda. Tanto
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Galassi e a esposa, Virginia, que é diretora de Responsabilidade Social da Apas emprego quanto a renda se mantêm em patamar favorável ao longo dos últimos anos, e isso contribui de maneira decisiva para o crescimento na venda de bens de consumo em geral, inclusive alimentos e bebidas. Nossa inflação ficou abaixo da registrada no País. Uma das apostas para este ano é a variedade. E não basta encher a prateleira com marcas e marcas, mas sim criar opções, ser criativo e acreditar em ações diferenciadas. Como o Marcas Campeãs que ajudou pequenos e médios, e até grandes supermercados, e distribuirá mais de R$ 1 milhão em prêmios. Quanto o setor de perecíveis representa do total e como você enxerga a evolução da peixaria dentro das lojas? Os perecíveis representam, em média, 30% das vendas totais. As vendas da categoria de pescado nos últimos cinco anos cresceram a uma taxa média de 5%. E diante de uma necessidade e busca por alimentação mais saudável a expectativa é de crescimento [de pescados] maior ao longo dos próximos cinco anos, atingindo até 10% de participação..
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Até que ponto os resultados da economia podem influenciar na decisão de escolha de pescado para consumo? O crescimento do consumo de alimentos e bebidas está diretamente relacionado ao aumento no emprego e na renda. Desta maneira, as decisões para o aumento de consumo de pescado e outros tipos de carnes estão relacionadas ao aumento no consumo das famílias. Assim, em um processo gradual, quanto mais cresce a renda média da população brasileira, maior será o crescimento no consumo de pescado em geral. Aliado a isto, os preços também são fatores importantes.
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Como a venda de pescado pode se sobressair diante desse panorama? Os preços das carnes bovinas, carnes suínas e aves impactam no consumo de pescado. Portanto, quanto maior os preços das demais carnes, maior tende a ser o consumo de pescado. E ainda, quanto menor for o preço do pescado maior tende a ser seu consumo. Assim, a inflação no setor de carnes pode em certa medida influenciar nas decisões de consumo do pescado.
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2014 será mais um ano azul para o varejo, diz Galassi, que alerta os empresários do pescado: a inflação da carne e do frango pode beneficiar diretamente a indústria de peixes e frutos do mar. Para ele, o brasileiro agora não quer só uma alimentação saudável, busca acima de tudo preço aliado à qualidade do produto.
Marketing & Investimentos
A maratona das feiras em 2014 Eventos de negócio reúnem atrações para todos os gostos: varejo, food service, tecnologia, comércio exterior, cultivo e até culinária japonesa; agende-se Texto: Ricardo Torres
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melhor preparar os sapatos mais confortáveis à disposição, porque a caminhada será longa. O ano de 2014 reserva opções em todo o Brasil para os interessados na dinâmica favorável das feiras de negócio para a promoção comercial, apresentação de lançamentos, networking, e até fechamento de negócios. De Fortaleza (CE) a Bruxelas (Bélgica), são muitos os locais que já estão se preparando para receber toda a comunidade do seafood em todo o mundo. A primeira e tradicionalíssima data do calendário ferial com relevância para o setor é a Apas, que chega à 30ª edição com 35 mil m² de área de exposição no Expo Center Norte, em São Paulo. Já há alguns anos a feira se tornou uma vitrine informal das empresas de pescado junto ao varejo brasileiro e em 2014 a participação do segmento novamente não é tímida: pelo
menos 30 marcas diretamente ligadas ao setor apresentarão suas novidades e oferta de produtos. Marcas de amplo conhecimento do público continuam a apostar no evento como uma ferramenta de forte projeção da marca. Caso da Brascod. Ainda sob o efeito do lançamento do lombo de bacalhau para churrasco, um produto desenvolvido exclusivamente para o público brasileiro, a empresa participa da feira com uma boa expectativa. “É a melhor possível, uma vez que é a única feira que participamos e temos um contato bem próximo com nossos clientes”, conta Sergio Karagulian, gerente de marketing e trade. E o desempenho crescente dos negócios ainda é mais um fator incentivador: as vendas no autosserviço cresceram 12% no ano passado e a meta para este ano é uma alta de 10%. Uma das novidades apresentadas será a sardinha portuguesa, que já está
em comercialização e, segundo Karagulian, com “bons resultados”. A Gomes da Costa vai transformar seu estande em uma celebração aos 60 anos de atividade com uma série especial dos produtos premium: filé de atum com azeitonas e tomate seco, filé de salmão com alcaparras e filé de sardinha em azeite de oliva. O varejo representado na Apas segue como grande negócio para a empresa, que cresceu 20% em 2013 e espera fechar o ano 12% maior. “A feira é um momento importante para apresentar novidades aos clientes, fortalecer a imagem da marca no trade, do relacionamento e dar andamento a novos negócios”, diz Luis Manglano, diretor de marketing da GDC. O segmento conserveiro terá ainda boa projeção com a Coqueiro, marca da Camil que já se aproxima dos 77 anos de existência. Novidades estão
VEJA AS NOVIDADES EM PRODUTOS NA SEÇÃO NA GÔNDOLA
Outra empresa que vai transformar o estande na feira em festa de aniversário é a Frescatto (Frigorífico Jahu). Prestes a completar 70 anos, faz mistério sobre a participação. “Em termos de produto manteremos basicamente as mesmas linhas Frescatto e Buona Pesca, que já são bastante amplas e atendem a todos os perfis de consumidor. Contudo, teremos uma grande surpresa e quem visitar o stand ficará sabendo em primeira mão”, conta Rafael Barata, gerente de Comércio Exterior. O que a equipe da Seafood Brasil já descobriu é que a empresa vai incorporar pescado do Alasca à sua linha e já tem salmão selvagem em estoque. É para fazer frente a iniciativas como a da Noronha, cuja diversificação do portfólio fez com que a empresa faturasse só até a Quaresma deste ano 78% do que faturou em todo 2013. Quem ri à toa com o desempenho é o Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI), que viu um salto nas importações de salmão chum e pink entre 2012 e 2013. Depois de sair de um patamar de 16 toneladas há dois anos, quando estreou na Apas, o ASMI ajudou a ampliar em 1884% este volume no ano passado, com valorização na cotação de 562%. O varejo parece mesmo ter comprado a ideia do salmão selvagem, que estará representado na Apas e também na Sial (veja mais detalhes adiante) pela própria Noronha, Kalena e Orleans & Castro, além da Damm. “Estamos com uma expectativa muito grande e positiva em ampliar o relacionamento com os parceiros do setor e, principalmente, em divulgar a
marca. Esse tipo de ação faz parte do posicionamento estratégico da empresa em verificar as tendências e novidades do setor”, conta o sócio-diretor, Roberto Veiga. Referência em defumados, a empresa diz preparar o lançamento de quatro novos itens, sem antecipá-los. O selvagem ganha terreno no mercado antes completamente dominado pelo salmão atlântico do Chile. O país chega a Apas com uma participação mais tímida em pescado, mas um fator indica que o Brasil segue como cliente fundamental. A Blumar, que participa do estande chileno junto à AgroSúper/Los Fiordos, desistiu de ir à Bruxelas (veja detalhes sobre a Seafood Expo Global, na Bélgica, mais adiante) para participar da Apas. “Por
meio de duas companhias de longa história nacional e internacional, tais como a Blumar Seafoods e AgroSúper, o Chile vai para a feira com uma oferta de carapau, pescada, mexilhões congelados e o infalível salmão”, conta Óscar Páez, agregado comercial do ProChile no Brasil. As vendas do produto em supermercados cresceram 17% em 2013, aumento superior a 100%, quando os chilenos exportaram 78.950 toneladas (mais detalhes na seção Estatísticas desta edição). “O crescimento se deve principalmente à expansão de produtos de valor agregado, como salmão defumado”, conta Melanie Whatmore, gerente da marca setorial Salmón de Chile. Este ano não terá a participação da marca setorial Patagonia Mussel.
Fenacam em novo local e data Após 10 anos, a Feira Nacional do Camarão (Fenacam) sai do Centro de Convenções de Natal (RN) e será realizada em Fortaleza (CE), no Centro de Eventos do Ceará. A nova data é de 10 a 13 de novembro de 2014, não mais em junho como as edições anteriores. Mas se a data e local se alteraram, a programação técnica e a exposição de insumos, serviços e tecnologia para a aquicultura nacional mantêm a mesma relevância. A edição de 2014 da feira pretende mais uma vez reunir pesquisadores internacionais de renome, mas a programação ainda não foi confirmada. Sabe-se, no entanto, que o evento abrigará o XI Simpósio Internacional de Carcinicultura, o VIII Simpósio Internacional de Aquicultura, a XI Feira Internacional de Serviços e Produtos para Aquicultura e o XI Festival Gastronômico de Frutos do Mar.
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programadas para o evento, mas à reportagem a empresa apenas confirmou que levará o portfólio de sardinha, atum, patês, saladas e molhos certificados com o Dolphin Safe, selo fornecido pelo Earth Island Institute para capturas sustentáveis. Recentemente a empresa investiu em campanha com Rodrigo Hilbert alusiva à Quaresma: 40 dias de prêmios.
Marketing & Investimentos
EXPOSITORES DE PESCADO DA APAS 2014
Gastronomia e food service
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Divulgação/BTS Informa
Produtos, tecnologia e serviços para a alimentação fora do lar é o que vão marcar a realização da Fispal Food Service e da Japan Food Show, nova feira direcionada à gastronomia japonesa. A tradicional Fispal, organizada pela BTS Informa, acontecerá entre 24 a 27 de junho no Expo Center Norte, em São Paulo (SP), e terá mais de 1400 marcas expositoras com novidades para restaurantes, bares, padarias, redes de fast-food, hotéis, catering, refeições coletivas, lojas de conveniência, clínicas, hospitais e escolas. A Japan Food Show está programada para 29 de setembro a 1º de outubro no Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte e tem como algumas das empresas já confirmadas Damm, Frescatto, Geneseas, Hinomoto, MPA e Tozan. A Francal, organizadora do evento, quer apostar no segmento que já reúne mais de 1600 estabelecimentos em todo o País e que deve crescer 13% em 2014.
Em termos de inovação, os visitantes terão um prato cheio no estande do Grupo 5, que terá um aquário com espécies vivas e levará as marcas Geneseas, Karam’s Mar, Pascoal/Danbru e Vivenda do Camarão. Enquanto esta última apresenta um novo camarão empanado para o autosserviço, a Pascoal mostra seu leque de receitas portuguesas. Já a Karam’s Mar finca de vez o pé no varejo com a linha de cação, merluza, polaca e panga em novas embalagens. É o palco certo para novidades. “A
EMPRESA PAVILHÃO RUA 1 Alaska Seafood Vermelho 7/R/S Damm Kalena Noronha Orleans & Castro 6 Árticos Vermelho 21 7 Ayamo Vermelho 5/O 8 Bom Porto Azul 7/C/D 9 Camil/Coqueiro/Femepe Branco 11/12/J 10 Copacol Branco B/7/F/G 11 Di Salerno Branco 15/J 12 Frescatto Verde 16/15/M 13 Fundación ExportAR Branco 11/13/15/H 14 Gomes da Costa Branco 11/H/I 15 Grupo 5 Vermelho 8/O/P Geneseas Karam’s Mar Pascoal Vivenda do Camarão 20 Mar Nobre Verde 19/20-0 21 Peru Branco 13/G Produmar 23 ProChile Branco 11/G Agrosúper/Los Fiordos Blumar 26 ProEcuador Verde 6/J/K Asiservy Expotuna Marbelize Promarosa 31 Poli Alimentos Vermelho Q/S 32 Premium Distribuidora Branco 21/I 33 Queiroz Galvão/Potiporã Vermelho 11/S 34 Riberalves Branco 7 35 Soguima Verde 11/J
Apas é realmente uma feira de negócios e não simplesmente um encontro entre fornecedores e clientes para tirar foto. Foi através das contínuas participações que o G5 desenvolveu novas ideias e produtos, firmou parceiras com fornecedores e, acima de tudo, captou seus principais clientes”, conta o Diretor Comercial do G5, Rodrigo Joaquim. A Copacol chega para a feira com reforço na linha de derivados de tilápia, como filés in natura e empanados, steak,
tirinhas e um novo empanado com formatos infantis. Já a linha Mar traz filé de salmão, camarões, sardinhas, merluzas, abadejo e outras. “A Copacol é muito conhecida no segmento de frango, mas sempre precisamos estar atentos às tendências do mercado de pescado”, conta Valdemir Paulino dos Santos, gerente comercial de carnes. Depois da Apas, a empresa vai se preparar para voos internacionais com a participação na Expo Milão, na Itália, em 2015.
Brasil cresce em Bruxelas
Arquivo Seafood Brasil
Se o ano passado os visitantes da European Seafood Exposition, em Bruxelas (Bélgica), puderam se deliciar com as costelas de tambaqui brasileiras, este ano a oferta de delícias nativas será ainda maior. Neste ano em que a feira passa a se chamar Seafood Expo Global, o Pavilhão Brasileiro terá uma área de 256 m² – mais que o dobro em relação ao de 2013 – e oferecerá espaços individualizados com estrutura para as empresas expositoras, que devem arcar apenas com os custos da viagem – fruto de uma ação do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Oito empresas e um sindicato passaram no processo seletivo do MPA e integrarão o evento: Biofish Aquicultura, Blaze Comex, Bomar, Leardini, Oceanos, Brazfish, Premier Pescados, Ranac e o Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca no Estado do Ceará (Sindfrio). No pavilhão brasileiro, estas empresas poderão contar com a ajuda de recepcionistas bilíngues e uma chef para preparar degustações. A oferta de produtos será mais uma vez liderada pelo valorizado tamboril, popularmente conhecido como peixe-sapo, que atinge altas cotações no exterior. As ovas de tainha, mexilhões, lagostas e peixes amazônicos também terão presença garantida, mas a escassez mundial de vannamei e o bom momento para o negócio da exportação do crustáceo deve fazer com que o camarão se torne o principal item buscado pelos estrangeiros.
No caso da Soguima, mais suspense. É que a empresa disse que prepara novidades para a Apas que só serão
conhecidas na visita ao estande. No mais, a empresa vai expor as postas, lascas e processados com valor agregado à base de bacalhau com as marcas Reymar (Gadus morhua) e Pescamar (Gadus macrocephalus). Ainda na esfera dos portugueses, a Brasmar também vai apresentar novidades, mas do ponto de vista institucional: em dezembro de 2013 o grupo Metalcon, do qual faz parte, implantou a operação brasileira de produtos de pescado, que terá a marca Mar Nobre. Além do bacalhau, a empresa investe em camarão, misturas com mariscos, polvo e um leque abrangente de outras espécies.
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A oferta de bacalhau continua forte na feira, pois além das já citadas Brascod e Pascoal, a Riberalves e a Soguima também marcam presença. Já no quinto ano de participação, a Riberalves leva sua linha de bacalhau dessalgado e congelado, bolinhos de bacalhau e filé de polaca do Alasca. É com este portfólio enxuto que a empresa cresceu 50% em volume de vendas no ano passado no Brasil. “Acreditamos que em 2014 seguiremos com forte crescimento em nossa operação brasileira”, conta o Diretor Comercial, Marcelo Nasser.
Marketing & Investimentos CALENDÁRIO DE FEIRAS 2014 FEIRA
DATA
LOCAL
Apas Seafood Expo Global Fispal Tecnologia Sial Brazil Fispal Food Service Abad Food Tec Merco Agro Equipotel Alimentaria Brasil Fispal Tecnologia Nordeste Fispal Food Service Nordeste Fenacam
De 5 a 8 de maio De 6 a 8 de maio De 3 a 6 de junho De 24 a 27 de junho De 24 a 27 de junho De 4 a 7 de agosto De 5 a 7 de agosto De 9 a 12 de setembro De 15 a 18 de setembro De 15 a 18 de setembro De 4 a 7 de novembro De 4 a 7 de novembro De 10 a 13 de novembro
Expo Center Norte - São Paulo/SP Expo Bruxelas - Bruxelas/Bélgica Pavilhão do Anhembi - São Paulo/SP Expo Center Norte - São Paulo/SP Expo Center Norte - São Paulo/SP Expo Trade Convention Center - Pinhais/PR Expo Unimed - Curitiba/PR Parque de Exposições Trancredo Neves - Chapecó/SC Parque Anhembi - São Paulo/SP Parque Anhembi - São Paulo/SP Centro de Convenções de Pernambuco - Olinda/PE Centro de Convenções de Pernambuco - Olinda/PE Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza/CE
Quem também estreia é a importadora Árticos, especializada em pescado do Atlântico Norte. “É de extrema importância para nossa empresa este evento em virtude de poder colocar os nossos produtos em evidência para todo o mercado”, diz o diretor Axel Pétur Ásgeirsson, que já distribui no mercado
Gadus morhua, saithe e ling em filés a granel de 1 kg a 2 kg com a Norlandia. A novidade para a Apas é a linha de postas e filés embalados individualmente de 300g a 500g, além da grande aposta da empresa: a “pasta de ovas de bacalhau defumadas” Delikat. É uma espécie de caviar de bacalhau, que
chega ao Brasil para o varejo e food service diretamente da Noruega. Com matriz em Montevidéu (Uruguai) e filiais em Itajaí (SC) e em Veraval (Índia), a Ayamo engrossa o grupo das surpresas da feira, que conta ainda com a Queiroz Galvão e sua Potiporã
Embalagem, processamento, ingredientes e aditivos, refrigeração, logística, EPIs, tratamento de efluentes. Tudo isso em um ambiente próximo a polos produtores de carne, repletos de frigoríficos, propício à visitação, realização de negócios e pesquisa de mercado. Estas são as propostas das feiras regionais especializadas em cárneos e lácteos MercoAgro, em Chapecó (SC). A 10ª MercoAgro - Feira Internacional de Negócios, Processamento e Industrialização da Carne acontecerá de 9 a 12 de setembro, no Parque de Exposições Tancredo Neves. A forte presença da indústria pesqueira e o crescimento da piscicultura no Estado tendem a motivar a participação de visitantes do setor. A organizadora BTS Informa espera mais de 600 marcas expositoras na área de 15 mil m², que terá, além da exposição, o X Seminário Internacional da Carne, que será realizado durante dois dias e é promovido em parceria com o SENAI de Chapecó. Outro evento paralelo que enriquecerá a programação é o Inova MercoAgro, uma amostra das universidades dentro da feira e que este ano ganhará o nome de “Inova MercoAgro Carne e Leite”. Sulmaq, Frinox, SEW, Tramontina, Selovac, Mundial, Intercasing, Plasmetal, Frigostrella estão entre os expositores. Ainda no contexto regional, a novidade fica por conta da International FoodTec Brasil, uma iniciativa da Koelnmesse GmbH com organização da Hannover Fairs Sulamérica, que pretende criar uma opção para tecnologia em produção, processamento e embalagem em Curitiba (PR). A feira, que acontece entre 5 e 7 de agosto, já está com todo o seu espaço superior a 7 mil m² comercializado, segundo a organização. O evento terá pavilhões temáticos e internacionais, como o da Itália. A programação paralela contará com seminários técnicos realizados em cooperação com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e o Senai, que também oferecerá consultoria no estande. Bettcher, Bremil, Cozzini Middleby, Handtmann, Incomaf, Marel, Multivac, New Max e Ulma Packaging são algumas das empresas confirmadas. Com um tom mais generalista, abarcando toda a indústria alimentícia e de bebidas, a Fispal Tecnologia espera mais de 60 mil profissionais do setor entre 3 e 6 de junho no Pavilhão do Anhembi (SP). Estes terão contato com um mundo de máquinas, equipamentos e serviços que supera duas mil marcas expositoras.
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As vitrines da tecnologia
ruana Produmar tem se tornado uma marca mais popular no varejo. É para reforçar esta imagem que a campanhia decidiu renovar a participação na Apas no estande daquele país. Já são mais de 40 rótulos aprovados pelo Dipoa, entre os quais as lulas, vieiras, cação, dourado do mar, anchoveta, polvo e moluscos bivalves. “É muito importante que o público brasileiro conheça mais da Produmar e que possamos reforçar nossas relações comerciais e realizar negócios frutíferos como os que já estamos fazendo no Brasil”, relata Draguich Balarin, Gerente Comercial.
Desde que inseriu uma linha de produtos com embalagens exclusivas para o Brasil no Pão de Açúcar, a pe-
O Equador também volta a desembarcar no Brasil, desta vez com quatro empresas da área: Asiservy, Expotuna,
Marbelize e Promarosa. Já os argentinos não confirmaram, até o fechamento desta edição, quais players de pescado participarão da Apas no estande da Fundación Exportar.
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Alimentos, além da Poli Alimentos. A Ayamo tem uma oferta tradicional demandada pelo varejo brasileiro, como polaca, salmão, bacalhau, linguado, panga, tubo e anéis de lula e cação azul, além de surimi e empanados. No caso da Potiporã, a presença reforça um portfólio diversificado que inclui frutas do Nordeste para exportação, mas também denota uma maior preocupação com a reestruturação dos canais de venda de camarão e outros. A Poli Alimentos, parte do grupo Multifoods, vai valorizar as já tradicionais Costa Sul, Maris e a chilena Puerto de Humos, marcas que representa.
Do Ramo
O perfil dos players
Congelado a bordo A aposta da Iberconsa no congelamento a bordo como garantia de qualidade é o que move a empresa na busca por maior penetração de seus produtos no mercado brasileiro Texto: Julio Torre
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Também cresceu o protagonismo de empresas radicadas na Patagônia e uma delas é a Iberconsa, filial do grupo espanhol homônimo que, com frota e plantas na província de Chubut, é uma fornecedor consolidado do mercado brasileiro. “Já estamos há dez anos no País e, ainda que seja difícil competir com os asiáticos, com qualidade e presença fomos construindo uma sólida carteira de clientes”, conta Pablo Basso, Diretor Comercial da Iberconsa Argentina. Para o produto congelado a bordo, a qualidade está respaldada pela marca Antártida Pesquera Industrial (API), com uma gama que inclui filés e HGT de merluza e hoki, abadejo HGT, cavala inteira e outras espécies, assim como lulas inteiras, seus
Divulgação/Iberconsa
Divulgação/Iberconsa
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istoricamente, o vínculo comercial com a Argentina se alimentou da merluza capturada pelos barcos com gelo de Mar del Plata e processada nas suas plantas. Mas com a incorporação do congelado a bordo, ampliou-se o horizonte das artes de pesca e cresceu a oferta de produtos, somando alternativas como lula, merluza de cola ou hoki e camarões Pleoticus muelleri.
Barco congelador de arrasto API V, um dos 7 que integram a frota da empresa tentáculos ou tubos limpos. “Concluída a safra”, conta Basso, “seguimos processando lula em terra com a marca Iberpesca, que identifica nossa planta de Puerto Rawson e de onde saem nossos produtos certificados e aprovados pelo Dipoa.” A empresa já é familiar ao mercado brasileiro por ter liderado as importações de tubo limpo e outros produtos nos anos prévios à penetração massiva do pescado asiático. “A polaca do Alasca e o panga nos prejudicaram, mas a merluza ainda conta com preço superior e reconhecimento de qualidade que lhe permite manter uma importante participação no mercado”, conta Basso. Para atender à demanda, a Iberconsa Argentina conta com três barcos de pesca de arrasto congeladores a bordo. Cada um deles
Pablo Basso, diretor comercial da Iberconsa na Argentina vai para operações de pesca que duram de 45 a 60 dias e regressam ao porto com 800 toneladas de produto acabado. A pesca de lula está a cargo de 2 barcos jiggers que têm capacidade de 400 toneladas cada um. A frota ainda se completa com 3 barcos camaroneiros que terminam cada viagem com 70 toneladas de langostinos congelados no porão. “Do ponto de vista de armadores de pesca, essa diversidade de frota é uma das fortalezas da nossa empresa e, para nossos clientes, garantia de um fornecimento regular”, conta Basso. Os barcos congeladores efetivamente possibilitam frescor e qualidade superior, tanto pelas vantagens associadas a um congelamento imediato como pela homogeneidade da elaboração a bordo. Essa experiência dá segurança ao entrevistado para desafiar:
“Os compradores podem abrir qualquer caixa aleatoriamente que a qualidade será a mesma”, diz. O Grupo Iberconsa segue apoiado nesta convicção desde a matriz na Espanha, que já celebra 30 anos de história, com barcos operando na Argentina, Namíbia e África do Sul. No porto de Vigo, o grupo detém estruturas frigorificadas próprias já tradicionais no mercado espanhol, que ainda conta com 96 lojas de varejo da cadeia própria Hiperxel e delegações em quase todo o país. Já em Portugal e na China os escritórios comerciais estendem o alcance do grupo, que cobre a América Latina por meio da sua filial argentina. E é justamente lá que reside o maior desafio do responsável comercial da região: fazer com que mais produtos da Iberconsa cheguem ao mercado brasileiro.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 15
Capa
O cardume conserveiro Os atores nacionais e estrangeiros que conduzem a nova fase de diversificação da indústria de conservas enxergam desempenho positivo nos últimos anos, mas cadeia produtiva ainda enfrenta desafio de fortalecer o diálogo
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 16
Texto: Daniela Dias | Fotos: Seafood Brasil/Divulgação/Empresas
A
umento da vida útil do pescado, melhor conservação, praticidade no manuseio, facilidade de transporte e a possibilidade de trabalhar com preços competitivos no mercado são os principais temas que orientam a busca por inovação na indústria de conservas. A sardinha continua a imperar, segui-
da por atum e afins, e a maré parece “estar para peixe”, mas a falta de pescado gera temores de ociosidade na indústria e ainda deixa muita gente com o pé no freio. Com cadeira cativa na mesa dos brasileiros, a sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis) é o produto
mais importante desse mercado e representa 70% do lucro das empresas de beneficiamento, segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Opção viável para todos os bolsos, incluindo àqueles de famílias provenientes das classes D e E. “É um produto fácil de ser encontrado, você acha sardinha em qualquer padaria
Divulgação/GDC
e o tempo de validade conta muito, no mínimo quatro anos para a embalagem fechada”, conta Sidnei Rosa, gerente geral da Crusoe Foods. Encontrada naturalmente nas regiões Sul e Sudeste, é no Nordeste que a sardinha se faz mais presente na mesa, como indica a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, divulgada em 2010. “Essas diferenças estão relacionadas com o costume de se consumir peixe em cada região”, explica Mutsuo Asano Filho, Diretor de Planejamento e Ordenamento da Pesca Industrial do MPA.
Mesmo sendo a sardinha líder na preferência, as espécies de atum e afins – categoria que inclui o bonito-listrado – têm maior acolhida pelo consumidor de maior poder aquisitivo. Sua pesca acontece principalmente no Rio de Janeiro, Santa Catarina e também Rio Grande do Norte e região, e é orientada pelos regulamentos da Comissão Internacional para a Conservação dos Atuns do Atlântico (ICCAT), que estabelece normas para pesca de atuns naquele oceano. A comissão determina uma captura total permitida que é dividida em cotas. Como o país nem sempre consegue atingir o estabelecido, o governo federal permite que empresários arrendem barcos de outros países, com parte da frota brasileira, para conseguir o índice e permanecer com acesso ao grupo. O histórico deste arrendamento tem passagens polêmicas, que serão tratadas oportunamente em outra reportagem da Seafood Brasil.
mais recentes do volume de captura são de 2012, com um total de 95.920 toneladas, 22.416 toneladas mais do que no ano anterior. Observando essa quantidade, fica difícil imaginar que há uma década a produção de sardinha era bem menor, quando chegava, em 2004, a 16.975 toneladas, de acordo com estatísticas então compiladas pelo IBAMA.
A captura de sardinha também aumentou, segundo o MPA. Os dados
A oscilação acentuada na oferta de ano a ano faz a indústria diminuir a
O crescimento no volume de captura, para parte dos especialistas, ainda não torna o Brasil autossuficiente no negócio. Abraão Oliveira, do Comitê da Indústria de Conservas da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA) – entidade que representa 98% da indústria de conservas, com empresas como Grupo Camil, Gomes da Costa, Crusoé Foods, Conservas Rubi e Piracema –, relembra que, hoje, é preciso um volume de 120 a 140 mil toneladas para atender à demanda.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 17
Depositphotos.com
Toalete do atum em fábrica da GDC: indústria supera deficiência de matéria-prima com importações
Capa
Os principais players de conservas no Brasil
Arquivo pessoal
A mais recente pesquisa Líderes de Venda, conduzida pela Nielsen e publicada pela revista SuperHiper, mostra que a dobradinha Gomes da Costa e Coqueiro/Camil, respectivamente primeira e segunda em todas as regiões, ainda lideram com folga no atum e na sardinha. Robinson Crusoe é a principal novidade do ranking 2014 e é a quarta em algumas Regiões. Beira-Mar repete desempenho de 2013 se consolida como terceira marca do varejo na média nacional.
Abraão Oliveira, do Comitê da Indústria de Conservas da Abia, acredita que o diálogo é fundamental para fortalecer o setor pressão no pedal do acelerador. Ainda que os índices estejam altos agora, sempre está à espreita o temor por crise. A baixa brusca na história recente da sardinha, quando a captura passou das 83.500 toneladas, em 2009, para 58.866 toneladas, em 2010, fez soar um alarme vermelho nas empresas.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 18
Naquela época, consolidou-se a importância do já implementado defeso marinho. Fixada em dois períodos, de 1º de novembro a 15 de fevereiro e de 15 de junho a 31 de julho, essa medida atua nos picos de reprodução e recrutamento da espécie para protegê-la e garantir sua continuidade. E tem funcionado. Ninguém nega que o defeso auxilia toda a cadeia produtiva, na medida em que garante a manutenção da biomassa. Ainda assim, há de ser considerar que o tempo de pesca efetiva é de sete – e não 12 meses ao ano. Restrição essa que também exige da indústria adaptações para lidar com os períodos em que não conta com o pescado, como a manutenção de um estoque, que em alguns casos pode chegar a três meses de reserva. “Queira ou não é preciso ter um estoque mínimo, um pulmão, trazer de fora o suficiente para o caso de ocorrer uma calamidade na pesca. Temos uma folha de pagamento para manter durante todo o ano”, diz Rosa.
Gomes da Costa
A marca mais tradicional do segmento no País é, desde 2004, espanhola. A Gomes da Costa lidera o mercado de pescados enlatados tanto nos segmentos de atum como de sardinha, com 49% de participação segundo a Nielsen. A empresa, que completa 60 anos em 2014, foi adquirida há dez anos pelo Grupo Calvo, líder na Espanha e comercializa seus produtos no Brasil com as marcas Gomes da Costa e 88. Aqui no Brasil, com duas fábricas em Itajaí (SC), uma de produtos e outra de embalagens, atualmente conta com 2 mil funcionários e gera 7.500 empregos indiretos. Trabalha com sardinha, atum e outros peixes, como cavalinha, arenque, anchoveta, salmão, bonito e mexilhão também são comercializados pela marca. Recentemente, o portfólio ampliou com a entrada da marca nos segmentos de vegetais em conserva e congelados de pescado, como empanados de merluza. “Também importamos algumas matérias primas como salmão”, explica Luis Manglano, Gerente de Marketing Corporativo. Segundo ele, a GDC exporta enlatados para 28 países incluindo América Latina, África e outros países.
Camil: Coqueiro, Alcyon, Pescador e Navegantes
A Coqueiro foi fundada em 1937, em São Gonçalo (RJ), como uma indústria de licores. Pouco tempo depois passou a produzir conservas de sardinha. Em 1973, foi comprada pela Quaker Oats/Pepsico. Sua capacidade de produção aumentou bastante quando criou, em Itajaí (SC), um entreposto para receber, congelar e armazenar pescados nos anos 1980. No final de 2011, mais uma vez a marca mudou de dono e passou a integrar o portfólio da Camil Alimentos, que também detém a estrutura e as marcas da Femepe (Alcyon, Pescador e Navegantes). Atualmente é uma das líderes do mercado e oferece um mix de 17 versões diferentes de sardinha e atum. Entre as opções comercializadas no mercado, estão patês, atum em pedaços, atum ralado, saladas de atum, molhos com atum, além de sardinha ao óleo de soja, sardinha com molho de tomate ou com ervas finas.
Os importadores
A brasileira Ampex Food Holdings deu início às suas atividades em 2010, sob a batuta de José Eduardo Simão – ex-Gomes da Costa e empresário com experiência, até então, de quase 40 anos no mercado. Embora sua linha Beira-Mar de conservas tenha começado apostando no atum tailandês, atualmente a empresa tem portas abertas para fornecedores como Equador e o Peru para abastecer sua linha com atuns, sardinhas e também anchovetas. Em fevereiro, inaugurou um serviço de distribuição direta para o food service. Outros importadores correm por fora com boa projeção no mercado, como a Eurofoods – que distribui atum com as marcas Saint Paul e Andaluzia –, e a Santar – com os atuns CPC e Nordmar. A equatoriana Marbelize tem ainda na marca Zuppa seu porto-seguro no Brasil.
Crusoe Foods
Integrante do grupo espanhol Jealsa-Rianxeira, que está no mercado desde 1956 nos ramos da pesca, envase de pescado e energia –, a Crusoe Foods há 10 anos entrou no Chile com a marca Robinson Crusoe. Chegou ao Brasil em 2010, com a intenção de importar sardinha, atum, salmão e mexilhão em conserva. À época, o imposto de importação praticamente dobrou e houve uma baixa nos volumes de captura de sardinha a nível mundial. “Nesse período, a empresa reavaliou sua estratégia e decidiu ter uma fábrica em território brasileiro”, conta Sidnei Rosa, diretor geral da Crusoe Foods. A melhor saída foi adquirir ativos da Leal Santos, em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, tradicional conserveira. No local foi implementado o maquinário para processar a sardinha e o atum. E, em dezembro de 2011, a Robinson Crusoé iniciou a venda de produtos. No fechamento desta matéria, a empresa confirmou que a ampliação da fábrica que está conduzindo em São Gonçalo do Amarante (CE), em parceria com a R&B Aquicultura, deve ficar pronta em breve e fechar 2014 com 60 toneladas de atum e sardinha por dia e 9 milhões de latas por mês. O investimento supera R$ 20 milhões.
ATUM E BONITO Brasil
1° GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
2° COQUEIRO/CAMIL
3° BEIRA MAR/BEIRA MAR
4° 88/GOMES DA COSTA
5° PESCADOR/CAMIL
Nordeste
Top 5% 81,7
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
88/GOMES DA COSTA
SAINT PAUL/SAINT PAUL
MG, ES, RJ (int.) GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
88/GOMES DA COSTA
ZUPPA/MABELIZE
94,6
GDE RJ
COQUEIRO/CAMIL
88/GOMES DA COSTA
BEIRA MAR/BEIRA MAR
ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
93,5
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
89,7
GDE SP
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
CPC/CPC
PESCADOR/CAMIL
78,1
SP (interior)
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
88/GOMES DA COSTA
CPC/CPC
72,7
PR, SC e RS
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
PESCADOR/FEMEPE
86,1
MS, GO e DF
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
88/GOMES DA COSTA
RUBI/RUBI
87,4
As categorias permanecem inalteradas, com Gomes da Costa na dianteira
Brasil
1° GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
2° COQUEIRO/CAMIL
3° BEIRA MAR/BEIRA MAR
4° 88/GOMES DA COSTA
5° ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
Top 5% 93,4
Nordeste
98,1
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
88/GOMES DA COSTA
BEIRA MAR/BEIRA MAR
ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
MG, ES, RJ (int.) GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
88/GOMES DA COSTA
BEIRA MAR/BEIRA MAR
PESCADOR/FEMEPE
95,4
GDE RJ
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
PESCADOR/FEMEPE
88/GOMES DA COSTA
97,6
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
GDE SP
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
88/GOMES DA COSTA
ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
96,7
SP (interior)
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
BEIRA MAR/BEIRA MAR
88/GOMES DA COSTA
ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
94,4
PR, SC e RS
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
ROBINSON CRUSOE/CRUSOE FOODS
BEIRA MAR/BEIRA MAR
PESCADOR/FEMEPE
90,7
MS, GO e DF
GOMES DA COSTA/G. DA COSTA
COQUEIRO/CAMIL
88/GOMES DA COSTA
BEIRA MAR/BEIRA MAR
RUBI/RUBI
96,6
Robinson Crusoe ingressa a lista e fica na quinta colocação. As quatro primeiras posições não se alteram
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 19
SARDINHA
Capa
A busca por matéria-prima alternativa
relação ao ano de 2012, com importação de 13.389 de toneladas de sardinha em conserva. Crescimento que reflete alterações nas regulamentações brasileiras do setor que beneficiaram indústrias tailandesas e peruanas.
Já em relação ao produto acabado, em 2013 houve crescimento de 44% em
Há aproximadamente dois anos no Brasil, o Peru deu um salto em 2013 com a exportação de sua anchoveta (Engraulis ringens) enlatada é comercializado nos supermercados Extra em São Paulo, com a marca Beira-Mar. “É um país pesqueiro, tem uma biomassa muito importante. É uma indústria muito grande tanto em congelados quanto em conserva”, diz o conselheiro do Peru no Brasil, Antonio Castillo. A importação é alvo de críticas. Para Cléverson Neves, administrador judicial das Conservas Rubi e Piracema, a importação de produto acabado pode representar um risco ao produto nacional. “O Brasil vem sendo observado por indústrias internacionais, que não são submetidas às nossas mesmas exigências sanitárias e entram no
Divulgação/MPA
Para preencher o que falta, o setor tem optado por comprar o produto de fora. Oliveira explica que, atualmente, os principais fornecedores de sardinha para conservas para o Brasil são Marrocos e Omã, com participações de 80% e 20% do volume total importado. Nos
primeiros dois meses do ano de 2014, a importação de sardinha foi de 7.336 toneladas, uma redução de 35% comparando-se ao mesmo período de 2013. Em todo o ano passado, as importações foram de 42,2 mil toneladas.
Atuns e afins representam cerca de 30% do lucro das empresas de beneficiamento, diz MPA
AS 17 ORIGENS PRINCIPAIS DAS CONSERVAS IMPORTADAS (capítulo 16, produto acabado)
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 20
2012 (janeiro a dezembro)
2013 (janeiro a dezembro)
2014 (até fevereiro)
#
Descrição do País
US$ FOB
Kg
Preço médio Kg
US$ de P2
1
Equador
6.337.177
1.472.257
$4,30
2
Tailândia
3.467.227
1.390.123
$2,49
3
Peru
2.497.300
804.490
$3,10
4
El Salvador
1.162.830
385.560
$3,02
4.814.665
1.433.065
$3,36
0
0
5
Portugal
1.139.017
209.074
$5,45
7.564.075
1.308.729
$5,78
5.580.263
991.383
$5,63
6
Uruguai
365.050
123.960
$2,94
2.022.326
673.084
$3,00
2.038.722
640.690
$3,18
7
Marrocos
332.207
90.000
$3,69
459.343
126.000
$3,65
51.868
17.144
$3,03
8
China
237.329
102.000
$2,33
2.644.312
1.182.310
$2,24
3.721.365
1.609.950
$2,31
9
Argentina
179.251
26.803
$6,69
1.735.305
345.412
$5,02
2.919.936
669.628
$4,36
10
Itália
172.799
9.111
$18,97
92.212
4.570
$20,18
290.049
19.928
$14,55
11
Espanha
86.162
5.523
$15,60
1.535.803
289.334
$5,31
800.879
98.919
12
França
27.192
44
$618,00
94.700
136
$696,32
59.046
84
$702,93
13
Alemanha
213.803
17.059
$12,53
422.566
27.255
$15,50
14
Chile
651.489
174.952
$3,72
955.561
212.979
$4,49
15
Estados Unidos
64.771
3.100
$20,89
0
0
$-
16 Noruega
40.349
4.645
$8,69
0
0
$-
0
0
$-
9.218
2.500
17
Vietnã
Fonte: AliceWeb/MDIC
Kg Líquido de P2
Preço médio Kg
US$ de P3
Kg Líquido de P3 Preço médio Kg
40.647.086
9.895.660
$4,11
25.645.176
6.887.158
36.542.499
13.762.995
$2,66
29.259.961
10.761.220
$2,72
16.535.607
4.749.305
$3,48
3.121.387
858.191
$3,64
$3,72
$-
$8,10
$3,69
BALANÇA COMERCIAL DAS CONSERVAS - 2013-2014 (capítulo 16, produto acabado) ANO
2013
Embora tenha entrado no País com um preço mais baixo, o Peru não pôde dar o nome de sardinha ao seu produto após uma negociação diplomática com o governo brasileiro e teve que se conformar com a denominação anchoveta, seu verdadeiro nome de origem. O caso quase gerou um contencioso na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde os peruanos tinham a in-
2014
Mês
Valor importado (US$ FOB)
Valor Exportado (US$ FOB)
JAN 9.008.230
1.645.048
FEV 9.817.937
1.934.258
MAR 10.778.744
1.706.016
ABR 9.489.991
584.647
MAI 7.023.852
942.567
JUN 5.553.717
840.358
JUL 11.360.507
1.685.612
AGO 11.266.079
1.602.601
SET 8.533.774
1.505.337
OUT 10.567.171
1.631.009
NOV 12.763.996
1.083.134
DEZ 9.494.347
1.891.636
JAN 9.009.721
2.164.476
FEV 6.993.820
1.590.520
Fonte: AliceWeb/MDIC
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 21
mercado com um custo inferior”, opina o especialista. Ele cita como exemplo o próprio Peru, que não teria, na avaliação dele, um parque siderúrgico que suporte adequadamente o fornecimento de aço para a embalagem e nem pesca de sardinha que suporte uma grande produção. “O governo precisa estar atento a isso”, diz.
Capa
1970: o auge da indústria
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2014 • 22
Divulgação/Sindipi
O Brasil já chegou a produzir, na década de 1970, 250 mil toneladas de sardinha. O Rio de Janeiro se converteu em um dos principais polos processadores desta matéria-prima, concentrado nas cidades de Niterói e São Gonçalo, mas quando os estoques ficaram sobreexplotados com a ausência total de uma política de manejo, o setor colapsou. Foi neste contexto que o eixo pesqueiro brasileiro começou a se consolidar mais ao Sul, para a região de Itajaí, Navegantes e Porto Belo (SC). Um novo colapso quase ocorreu em 2000, quando a captura baixou para 17 mil toneladas. Com a política de ordenamento e proteção da sardinha adotada em 2003, com os dois defesos um no verão e outro no inverno, voltou a crescer para perto da casa de 100 mil toneladas, onde se mantém até hoje.
tenção de contestar a limitação por considerá-la uma barreira técnica. Se no começo essa diferenciação incomodou os peruanos, agora eles querem usar isso como argumento para potencializar as características das anchovetas. “Temos identificado em nossas pesquisas com o consumidor que o produto tem agradado por sua consistência mais escura e firme, argumenta. Outro país vizinho se destaca na balança comercial das conservas, justamente no produto de maior valor agregado: o atum. As importações de atum em conserva somaram 8.631 toneladas em 2013, das quais 7.112.83 toneladas são provenientes só do
Equador. “O atum tem um peso muito grande nas nossas exportações, mais que ele só o petróleo e a banana”, conta o novo diretor do escritório comercial do Equador no Brasil, Alexis Villamar Fabara. Geradora de sete mil empregos diretos, a produção de produto naquele país acontece na planície de Manabi e sai pelo porto de Malta. São 18 plantas de processamento para absorver a quantidade de captura. “A latinha de atum no Equador vai na lancheira para a escola”, conta. Segundo Villamar, as exportações para o Brasil crescem cada vez mais e entre janeiro e fevereiro de 2014 já atingiram quase US$ 6 milhões. Em 2013,
as importações daquele país chegaram a quase US$ 40 milhões. As latinhas menores são absorvidas pelas grandes redes de supermercado e as demais pelas cadeias de restaurante. No varejo, as marcas mais comuns para a venda destes produtos são a Van Camp’s, vendida no Carrefour, além da CPC e Beira-Mar. Outro ponto para se preocupar seria a entrada no Brasil pela quantidade de barreiras impostas pelo país. “Só há dois anos conseguimos abrir espaço para o produto, mas ainda encontramos dificuldades, é um processo que exige muito diálogo com o Itamaraty”, conta. Para promover o produto, o conselheiro acredita no papel que deve desempenhar o escritório comercial. “É preciso sempre fortalecer a relação do importador com o exportador, realizar feiras de negócios e também atuar diretamente com o consumidor com degustações nos supermercados”, justifica. Já as exportações de atum em conservas finalizaram 2013 com 3.202 toneladas. Só nos dois primeiros meses de 2014, foram 777 toneladas provenientes de Santa Catarina. As latinhas são destinadas a mais de 25 países, mas 85% dessas exportações vão para o mercado argentino, segundo Oliveira, do comitê de conservas da ABIA. No caso das sardinhas, as conservas brasileiras saem daqui para mais de 14 países, mas sua presença é mais forte no Mercosul, com volume de 773 toneladas.
Em busca de um diálogo mais forte Se, por um lado, o setor se mostra promissor em relação a décadas passadas, por outro ainda há alguns pontos que não saem da pauta. Em fevereiro deste ano, em meio à construção desta reportagem, uma paralisação de pescadores de sardinha do porto de Itajaí (SC) se iniciou logo após o fim do período de defeso e se estendeu até o dia 06 de março.
Divulgação/Sindipi
Nas primeiras negociações, ocorridas no dia 15 de janeiro, antes mesmo desse período de paralização, ficou
Giovani Monteiro, do Sindipi: discussão sobre preço mínimo da sardinha levou à paralisação
A paralisação só chegou a afetar diretamente e efetivamente o varejo, já que a indústria trabalha com estoque. Para Abrãao Oliveira, do Comitê da ABIA, os preços praticados pela indústria variam de acordo às oscilações do próprio mercado e há que considerar a capacidade estrutural da indústria de absorver de uma única vez as quantidades de sardinha capturadas. “Na prática, a indústria dificilmente pratica o preço mínimo. Por outro lado, também há um limite relativo às quantidades de pescado que a indústria pode absorver de uma só vez”, diz. Mas se sente otimista com o debate e acredita que o diálogo promovido pelas reuniões tem saldo positivo porque estimula os diversos setores a se conhecer melhor. “No conjunto, essa é a perspectiva, promover um debate sereno, de qualidade, que trará ganhos para todos no futuro”, completa.
Uma chance para a água doce Durante a pesquisa que conduzem sobre o processamento térmico na qua-
Anchoveta: importação de conservas do Peru cresceu mais de 500% nos últimos dois anos lidade nutricional e sensorial de peixes brasileiros, estudiosos da Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio de Janeiro como Renata Torrezan perceberam a variedade de pescado que pode passar a fazer parte do universo de enlatados. Para ela, no Brasil ainda há um grande potencial para espécies de água doce. “Ao conviver com a escassez da matéria-prima, as empresas de conservas de pescado devem repensar seus produtos, buscando atingir novos mercados, apresentando sabores e também agregando valor aos produtos já tradicionais”, diz. Além de estudar a tilápia, considerada como uma alternativa adequada para o processamento estudada inclusive pela GDC (Seafood Brasil #3), também se avalia a cachapinta, um cruzamento da cachara e do pintado, cultivadas em cativeiro na região do Pantanal. “Este peixe tem carne saborosa, com baixo teor de gorduras e ausência de espinhas intramusculares e apresentou uma boa aceitação senso-
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Giovani Monteiro, presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca de Itajaí (SINDIPI), explica que o movimento ocorre por uma conjunção de fatores, entre os quais o aumento das despesas, como a do combustível para abastecer embarcações, e entende que o diálogo é o melhor caminho para encontrar um ponto médio para pescadores, armadores e indústria. “Houve um aumento significativo do óleo diesel, o gelo também subiu muito, esse é o momento de todos nós sentarmos para conversar”, explica.
estabelecido o preço de R$1,20 para compra de sardinha, com despesas custeadas pelos pescadores. O acordo ainda não parecia suficiente e veio a greve que só se encerrou ao se estabelecer o preço de R$1,20 para a sardinha normal e R$ 1,40 para a salmorada, livres de despesas. Embora os pescadores não se satisfizessem por completo, aceitaram voltar ao mar depois de uma reunião com representantes da indústria, do sindicato e do governo federal, em que ficou clara a necessidade de todas as partes em se beneficiar da Quaresma. Depois do período voltariam a conversar.
Divulgação/Marco Vargas/Promperú
De acordo com Manoel Xavier, do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Pesca de Santa Catarina (Sintrapesca), a paralisação atendia a reinvindicação antiga. “O movimento aconteceu devido à necessidade da indústria de reconhecer a necessidade de pagamento de um maior preço mínimo pelo quilo da sardinha, estacionado em R$ 1,00 há dez anos”, valor que, segundo a categoria, já estaria defasado. “A R$1,00, se fosse contar com despesas o preço acabava saindo a 70 centavos”, pondera.
Capa
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Rubi e Piracema são marcas que passaram por processos distintos, mas têm uma história jurídica semelhante. As duas tiveram a falência decretada mais ou menos na mesma época. Em comum, as duas massas falidas agora estão sendo observadas de perto pelo administrador judicial Cléverson Neves. Nomeado em 2006 na Piracema e em 2007 na Rubi, ele tem a missão de colocar as contas em ordem na casa, pagar os funcionários, os impostos e saldar as dívidas com os credores para que, no final desse processo, elas possam ser ofertadas no mercado. A Rubi, fundada em 1934, é a empresa de conservas mais antiga do Brasil. Quando enfrentou sua falência contava com uso intensivo de mão de obra, aproximadamente 500 trabalhadores, a maioria da região pobre de São Gonçalo, dado que influenciou na decisão da Justiça de manter sua atividade econômica. A partir daí, o desafio foi gerir recursos e restituir a credibilidade dos fornecedores e meios de distribuição. “Encontramos a empresa num estágio muito delicado. Já estava com a questão sanitária bem comprometida, dívidas, mas identificamos que não houve comprometimento da marca, só faltava gestão séria e austeridade na condução da atividade industrial”, conta Neves. Os resultados já aparecem. Terceira marca no volume de comercialização, a Rubi já demonstra que está se recuperando. Fez parcerias com o segmento de atacados em Goiás onde tem bastante representatividade, assim como em redes de distribuição na região Norte do país. No seu portfólio há desde o mais popular como a sardinha boca-torta, de penetração nas classes D e E – vendida principalmente em Minas Gerais, Goiás, Norte e Nordeste – até edições limitadas, com produtos complementares como a cavalinha ou a sardinha-laje. Mas o grande produto do mercado é a sardinha com cobertura em óleo. A Piracema também é uma empresa do início dos anos 1950, tem por volta de 320 trabalhadores e, como a Rubi, vem quitando suas dívidas e se reinserindo no mercado. Fica na região de São Gonçalo, onde há vários estaleiros de reparos navais e a indústria de conserva. E na empresa é comum encontrar senhoras de 60 anos, que trabalharam lá a vida inteira. Um trabalho que passa de mãe para filha. “A maioria, gente simples, sem muita formação”, exemplifica Neves. Pensando ao mesmo tempo no mercado e no bem-estar dessa população, a empresa fez um convênio com o SESI, criando turma de alfabetização de adultos e qualificação profissional para que os funcionários mais do que processos mecânicos possam entender suas funções. “A preocupação é criar uma condição adequada de alimentação, de instalação dos trabalhadores e manter as plantas industriais ativas”, explica.
Divulgação/Laiz Carvalho/Embrapa
A recuperação da Rubi e Piracema
Cruzamento entre a cachara e o pintado dá origem ao cachapinta, testado pela Embrapa para uso em conserva
rial tanto para o filé como para o patê”, explica a pesquisadora. Outro estudo une unidades e especialidades da Embrapa em Tocantins, Distrito Federal, Mato Grosso e Rio de Janeiro para discutir o uso da matrinxã (Brycon cephalus) e sardinha-de-água-doce (Triportheus ssp., Hemiodus ssp.) como alternativas à sardinha-verdadeira. A pesquisa ainda não foi concluída, mas já aponta um caminho. “Os resultados são promissores em termos de sabor e textura da carne, mas ainda há questões a serem aperfeiçoadas em relação a aparência dos produtos dentro das embalagens”, afirma Daniela De Grandi Freitas, pesquisadora da área de análise sensorial. Segundo a pesquisa, 90% dos consumidores que provaram a matrinxã em conserva estavam dispostos a pagar por este produto entre R$3,00 e R$5,00. Considerando um valor mais alto, entre R$4,00 e R$7,00, 58% dos participantes se dispuseram a pagar o preço, bem mais alto do que o da sardinha tradicional. Por serem de água doce e criadas em cativeiro, essas espécies poderiam ser uma solução complementar para a indústria de conservas.
Em breve, nos melhores supermercados do País
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Ponto de Venda
O bom humor do Walmart
Resultado positivo da peixaria e mudança no perfil de fresco para congelado faz Walmart apostar em praticidade e variedade para alavancar vendas
Texto: Daniela Dias
I
magine uma consumidora que precisa fazer um jantar especial, leve e saudável, mas tem pouco tempo para isso. Ela vai ao supermercado, chega perto da seção de peixes frescos, mas se dá conta de que está atrasada para limpar, despinhar e preparar o alimento. Para facilitar a vida de clientes como esses, nos últimos dois anos a peixaria do Walmart – responsável por cerca de 10% do consumo de perecíveis da rede – está se adaptando às tendências do mercado e investindo mais em congelados e pratos prontos.
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Arquivo/Seafood Brasil
Os números já começam a revelar essa nova história. Nos últimos anos, houve um aumento de volume na ordem de 15% no total da peixaria e um crescimento financeiro na casa de 27%. “Estamos vivendo um momento de transformação, uma migração de peixe fresco para congelado. Hoje, 78% das nossas vendas são de deste tipo de produto”, diz Maurício Almada, diretor de Perecíveis do Walmart Brasil. Os filés, que podem ser de tilápia, de pescada, de panga ou de salmão, representam 40% das vendas e há também opções como sushis e pratos mais elaborados. “Quando você quer fazer uma paella é muito mais simples encontrar todos os ingredientes em uma mesma embalagem; ao oferecer essa possibilidade, agregamos valor ao produto”, explica Almada.
Para se ter uma ideia, o salmão é um exemplo de pescado importado e
Peixe “no iglu”: invenção em loja de São Paulo chama atenção de consumidores comercializado em três versões. No caso do salmão da China, conseguem-se preços mais competitivos. “Ele tem boa qualidade, mas uma coloração não tão forte”, detalha Almada. Por outro lado, pode-se cobrar um pouco mais pelo salmão do Chile, que tem uma cor mais avermelhada, conforme relata o executivo. O salmão mais chamativo entre seus pares é o salmão do Alasca, selvagem e de cor intensa, que possui rótulo de pesca sustentável certificado pela Marine Stewardship Council
(MSC) e é vendido pela Noronha. Segundo Almada, é uma opção atraente aos paladares daqueles clientes de maior poder aquisitivo.
Os números do Walmart • 5 operações de centros de distribuição • 557 lojas no Brasil • 244 lojas só no Nordeste, que respondem por 50% das vendas de pescado • 5 bandeiras que, no varejo, se distribuem em 3 formatos • 65% das vendas de pescado se concentra em hipermercados • 56% do total de congelados da peixaria é importado • 27% é o crescimento total da peixaria em receita e 15% em volume • 10% do consumo de perecíveis da rede vem da peixaria •
40% da venda é de filés
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Fisgar a atenção e fidelizar do consumidor, contudo, é tarefa que exige mais do que a observação das tendências. A proposta é oferecer também variedade. Para tanto, a rede busca ir além da oferta de quantidade e praticidade e deixa à disposição mais opções de um mesmo produto, com distintas faixas de preço. “Estamos realizando um esforço para permitir a escolha do consumidor, buscar mais opções para deixá-lo satisfeito”, diz Almada. Para garantir esse sortimento, o caminho tem sido a aposta nos importados, que já representam 56% do total de congelados da peixaria e são provenientes de diferentes países.
Arquivo/Seafood Brasil
Essa mudança também simplifica a logística para a rede, já que os custos operacionais para manter o pescado em bom estado, de acordo com os padrões sanitários, exige mais cuidados e investimentos, comparando-se aos trâmites necessários para levar produto congelado à loja. Mesmo assim, há quem ainda prefira os frescos, categoria na qual os líderes na predileção do consumidor são o salmão e a tilápia.
Ponto de Venda
Quaresma: o natal da peixaria
A venda sazonal, na Quaresma, costuma render boas notícias aos varejistas que trabalham com pescado. Segundo Almada, do Walmart, logo depois do Carnaval as vendas começam a subir discretamente. Já na Semana Santa elas aumentam e não param mais até a Páscoa, tornando-se mais expressivas do que em qualquer outra época do ano. “É o Natal da peixaria, mas são os últimos dez dias que concentram 67% das vendas e os últimos quatro dias fazem toda a diferença”.
Divulgação/Walmart
Sabendo da preferência pelo bacalhau salgado no período, cuja expectativa de aumento nas vendas é de 15% neste ano, estão sendo oferecidas além do bacalhau saithe e do tradicional bacalhau do Porto, cortes distintos para que este esteja acessível a diferentes públicos, além de opções já previamente dessalgadas. “Muitas vezes a cliente prefere assim, para não ter trabalho em casa”, explica Almada. Misael da Silva (centro) e equipe da Peixaria da loja Jabaquara, em São Paulo (SP)
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Optar pela variedade e pela importação demandou a criação de um programa para assegurar a qualidade dos produtos. Os fornecedores e seus métodos de produção só podem ser escolhidos se estiverem alinhados à Política de Ética na Cadeia de Suprimentos (Ethical Sourcing), cumprindo parâmetros internacionais de respeito às condições de trabalho e meio ambiente e passando frequentemente por auditorias a fim de medir o cumprimento dessas exigências. Por sua vez, o Supply Chain Security replica essa mesma preocupação na questão da segurança, verificando a qualidade dos contêineres, a adequação do armazenamento e do transporte e a correspondência à compra efetuada. Para reforçar o time de controle de qualidade está em desenvolvimento o food safety, critério já em funcionamento nos EUA e que ajudará a verificar se o que está
sendo entregue se trata realmente do que foi solicitado, considerando parâmetros internacionais de segurança alimentar. Além dos projetos e das iniciativas, é no dia a dia que a forma de atender as pessoas no ponto de venda, explicando as características dos produtos
e mostrando disposição em ajudar, cativa o cliente. “Estar de prontidão e disposto a ajudar é importante para fazer um atendimento diferenciado, faz parte do negócio”, conta Misael da Silva, diretor da loja Walmart Jabaquara, em São Paulo, visitada em março pela Seafood Brasil.
Quando começou a operar no Brasil, em 1995, a rede norte-americana tinha um desafio importante. Ganhar mercado onde concorrentes de renome já estavam consolidados e conquistar o consumidor brasileiro. Essa batalha foi parcialmente ganha e, hoje, isso se reflete nos números: a rede dispõe de cinco operações de centros de distribuição, responsáveis pelo abastecimento das 557 lojas espalhadas pelo Brasil. Esses CDs estão localizados no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, na Bahia e em Pernambuco. Só na Região Nordeste são 244 lojas, que respondem por 50% das vendas de pescado, seguida da região
Sudeste, com 112 lojas concentrando 28%, e da região Sul, com suas 201 lojas e 22% das vendas. O Walmart trabalha com cinco bandeiras que, no varejo, se distribuem em três formatos: os hipermercados (Walmart, BIG e Hiper Bompreço), os supermercados (Bompreço, Mercadorama e Nacional) e as lojas de vizinhança (Todo Dia), estas focadas nas classes C, D e E e localizadas em regiões mais afastadas dos grandes centros. “Chego a ter 20 mil itens em um hipermercado, no Todo Dia eu tenho 2 ou 3 mil itens e o básico em regiões mais afastadas. A grande venda nossa [de pescado] se concentra nos hipermercados, é quase 65%”, conta Almada.
O abastecimento da rede de perecíveis também abre as portas a parcerias com os pequenos e médios agricultores que vendem diretamente para o Walmart, um projeto que faz parte do Clube dos Produtores, existente há 12 anos. Há pouco mais de um ano, a empresa firmou parceria com a Cooperativa dos Aquicultores de Águas Continentais (Coopecon), composta por 52 famílias da região do Baixo Sul da Bahia. Essa parceria deu tão certo que, atualmente, a cooperativa abastece os CDs da Bahia e de Pernambuco com tilápia fresca e congelada e o faturamento já chega a R$ 300 mil. Para a Páscoa 2014, até os CDs da região Sudeste receberam o pescado daquela região.
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Peixaria Brasil adentro
Depositphotos.com
Estatísticas
Balança comercial: o déficit aumenta Depois de fechar 2013 com importações em alta (15%) e exportações em baixa (13,7%), o volume da balança de pescado abriu 2014 com a mesma tendência, mas os números do primeiro bimestre não garantem que ela se consolide; vannamei brasileiro já está no Vietnã
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Texto: Julio Torre
E
ntre 1º de janeiro de 2013 e o primeiro dia de 2014, a cotação do dólar passou de R$ 2,054 a R$ 2,362, uma valorização de 15% sobre o real. Ainda assim, a importação de pescado cresceu tanto em volume (15%) como em valor (17,6%), com um balanço final de 418.511 toneladas e US$ 1,450 bilhões, entre conservas e outros produtos de pescado. A desvalorização, no entanto, não foi um
estímulo suficientemente importante para as exportações, porque o volume caiu 13,7% e, ainda que a receita tenha subido (3,8%), o preço médio da tonelada vendida ficou 20,3% mais alto. Esse cálculo foi feito com base nos dados que publica em seu sistema Aliceweb a Secretaria de Comércio Exterior, e que para 2014 já mostra um crescimento mais atenuado das importa-
ções. Pelo menos as de produtos in natura, que estão compreendidas no capítulo 03 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Contra 15% do ano passado, o aumento do seu volume no primeiro bimestre deste ano chegou a 2%. Mas não se pode valorizar tanto isso, porque a taxa foi de 0,3% em janeiro e passou a 3,3% em fevereiro, com uma tendência altista que poderia voltar a se consolidar, ratificando o apetite doméstico por seafood.
OS FORNECEDORES DO BRASIL No ano passado, 47 países venderam pescado ao Brasil, mas só 6 repartiram 90% da receita: são os que encabeçam o ranking ao lado. Com exceção da Noruega (-14%), todos incrementaram o volume de vendas. Com a força do pangasius, o volume exportado pelo Vietnã cresceu quase 60%, e foram as sardinhas que deram suporte ao salto de Omã (251%) e Marrocos (24%). O bacalhau em todas as suas variantes domina a receita da Noruega (97%) e Portugal (85%), mas os europeus lideram com vantagens a venda de lombos congelados. O cação azul, finalmente, é a estrela das vendas de Taiwan (89%) e Espanha (80%), que congelam a bordo de seus espinhéis de fundo nas águas do Atlântico Sul-Ocidental.
Por razões distintas, algo parecido parece acontecer com a exportação. Entre janeiro e fevereiro as vendas externas somaram 4.358 toneladas e US$ 17,8 milhões, e sua comparação com o primeiro bimestre de 2013 sugere quedas tanto em volume (-12,8%) como em valor (-4,4%). Mas enquanto janeiro contra janeiro mostra um retrocesso de 23,5% em tonelagem embarcada, a comparação com fevereiro mostra uma queda mais suave, de 0,3%, e bem poderia ser um anúncio de uma tendência crescente para as exportações.
Fornecedores e espécies
PAÍSES
Chile 502.125.440 81.623 55,2 16,4 China 236.934.312 92.280 8,7 20,5 Noruega 149.712.778 26.314 -26,7 -13,7 Argentina 112.929.382 37.795 6,1 12,3 Vietnã 109.173.798 54.700 39,3 59,1 Portugal 96.856.924 14.046 -0,4 7,1 Marrocos 30.218.656 28.469 32,3 24,0 Uruguai 27.972.177 11.473 -3,1 -10,1 Taiwan 19.560.173 9.667 36,6 55,4 Espanha 9.238.217 2.960 -14,5 -48,2 Peru 7.931.444 3.753 -1,7 -2,4 Omã 7.826.990 12.409 244,8 251,1 Islândia 6.534.415 1.727 -8,7 4,2 Estados Unidos 3.265.838 1.812 59,3 15,1 Nova Zelândia 3.027.771 273 910,7 665,2 Cingapura 2.431.297 841 -37,8 -50,3 Equador 2.381.039 788 38,4 25,3 Outros (30) 4.777.812 2.462 22,1 31,1 TOTAL 1.332.898.463 383.392 15,1 12,5
Além da conjuntura, o balanço 2013 ratifica a saúde do mercado doméstico, porque foi o oitavo ano consecutivo com aumento da importação de seafood, com 47 países na lista de fornecedores. Claro que existe uma significativa concentração, porque 90% foi para seis deles e com
IMPORTAÇÕES 2013 PRODUTO
u$s
2013 Tons.
u$s/T
Peixes Vivos 435.599 12 36.345 Frescos ou Refrigerados 369.586.239 59.264 6.236 Congelados 189.571.682 92.552 2.048 Filés de Peixes e Outras Carnes 479.765.782 175.930 2.727 Secos Salgados ou Defumados 272.737.956 48.396 5.636 Crustáceos 904.001 56 16.097 Moluscos 19.070.601 7.148 2.668 TOTAL 1.332.071.860 383.358 3.475
Variação.s/2012 (%) u$s Tons. u$s/T 27,4 11,0 -12,9 58,8 15,1 -27,5 3,9 -2,6 -6,3 19,8 26,6 5,7 -15,7 -3,7 14,3 53,7 76,0 14,5 9,9 46,9 33,7 15,1 12,5 -2,2
IMPORTAÇÕES FILÉS DE PEIXES BRANCOS ORIGEM China Vietnã Argentina Outros TOTAL
u$s
2013 Tons.
151.943.175 73.116 108.502.996 54.341 97.940.826 29.009 32.641.150 6.037 391.028.147 162.503
u$s/T
2013 Variação.s/2012 (%) u$s Tons. u$s Tons.
Variação.s/2012 (%) u$s Tons. u$s/T
2.078 5,99 18,75 -10,75 1.997 39,22 58,50 -12,17 3.376 6,83 13,78 -6,11 5.407 -11,02 -34,71 36,30 2.406 11,83 24,43 -10,12
uma performance bastante homogênea, já que só a Noruega perdeu volume. O Chile continuou em primeiro lugar, melhorando sua performance em toneladas (16,43%) e valor (55,16%), e aumentando em US$ 178 milhões a sua arrecadação sobre 2012. Essa evolução é muito ilustrativa sobre a conjuntura, porque o preço do salmão chileno aumentou 32% em 2013 e ainda assim manteve o ritmo, com um volume que adicionou 14.000 toneladas (22%) ao limite das vendas que havia realizado em 2012. Já se sabe que o salmão é a estrela dos importados e no ano passado não foi diferente: faturou US$ 487 milhões e uma participação de 36,6% na receita total das importações. Na sequência vêm os filés de peixe branco (36%) e todas as variantes de bacalhau (20,5%), mas, entre os itens de maior valor, o bacalhau foi o único que terminou o ano com sua cotação em alta. Entretanto, na hora da análise nem tudo é preço, porque mesmo que a cotação tenha caído (-10,12%), os filés incrementaram significativamente o vo-
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ORIGENS DAS IMPORTAÇÕES
Estatísticas
IMPORTAÇÕES DO SALMÃO ATLÂNTICO ORIGEM
2013 u$s
Tons.
Salmones Multiexport Marine Harvest Chile Pesquera Los Fiordos Empresa não Identificada* Australis Mar Salmones Humboldt Inversiones Pacifico Sur L Salmones Blumar Prod. del Mar Ventisqueros Salmones Camanchaca Acuimag Salmones Friosur Pacific Seafoods Granja M.Tornagaleones Cultivos Yadran Invertec P. Mar De Chiloe Integra Chile Copal Cultivos Marinos Chiloe Intersea Food Chile Outros (48) TOTAL
Variação.s/2012 (%) u$s/T Tons. u$s u$s/T
8.430,1 52.143,6 6.185,4 2,2 30,9 28,1 8.188,5 49.779,6 6.079,2 -36 -17,8 28,4 8.228,4 49.306,6 5.992,2 45,1 102,6 39,6 7.244,5 44.569,2 6.152,2 34,4 76,6 31,4 5.031,9 30.909,7 6.142,8 73,6 140,1 38,3 4.136,5 27.799,4 6.720,5 1.113,7 2.085,8 80,1 3.812,3 25.264,4 6.627,1 320,7 494,4 41,3 3.849,0 24.005,7 6.236,9 -14,3 9,6 27,9 2.685,6 15.952,1 5.939,9 87,8 145,5 30,7 2.554,0 14.639,8 5.732,0 -17,2 7,1 29,3 2.023,1 13.292,7 6.570,6 42,6 165,7 86,4 2.042,4 11.820,8 5.787,7 -45,8 -31 27,3 1.793,4 11.552,5 6.441,8 4.498,4 6.016,3 33 1.848,6 10.983,7 5.941,6 24,5 62,8 30,7 1.642,8 10.792,2 6.569,3 521,6 762,1 38,7 1.476,0 9.344,6 6.331, -5,3 29,4 36,7 1.264,8 8.087,6 6.394,2 266,6 298,7 8,8 1.348,1 7.931,4 5.883,4 125 206,7 36,3 975,8 5.666,3 5.806,7 -42,7 -29,8 22,5 480,4 2.977,5 6.198,3 194,5 238,4 14,9 3.131,1 20.082,7 6.413,9 -25,58 -12,79 17,2 72.187,3 446.902,1 6.190,9 18,72 57,04 32,28
SALMÃO ATLÂNTICO MAIS BARATO
O romance do mercado brasileiro com o salmão chileno não apresenta fissuras. Depois de fechar 2013 com um crescimento de 22% e superar 72 mil toneladas, começou 2014 com a mesma tendência. Mas depois de um primeiro bimestre com 26% mais volume e 47% mais caro, o preço teve uma correção acentuada para baixo, o que gerou turbulências imagináveis entre compradores e vendedores.
Fonte: IFOP. (*) Reserva de identidade
PREÇO DO SALMÃO U$S X TONS. Depositphotos.com
8.000
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lume (24,43%), com um salto espetacular no caso do panga vietnamita (58%).
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MAI
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5.000
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Também cresceu a participação chinesa (18,7%), o que ratifica que a ofensiva asiática não para e se estende ao bacalhau seco e salgado, já que o valorizado Gadus morhua vem perdendo terreno. Tradicionais alicerces da Noruega, as vendas do capítulo 0305 caíram 14,2%, mas na China cresceram 17,4% apesar de o preço ser desvalorizado em relação aos escandinavos em categorias. Resta saber como os asiáticos reagirão à nova normativa do
As sardinhas também estiveram muito valorizadas em 2013, com uma receita de US$ 39,5 milhões, soma parecida com a de 2012: a diferença está na grade de fornecedores, porque Lituânia e Países
O sistema Aliceweb permite discriminar o destino das importações de pescado pelo Brasil por Estado, o que nos permite constatar que 45% do volume de panga importado do Vietnã terminou no pólo catarinense da região de Itajaí e Navegantes, que também ficou com 21% dos filés de polaca chinesa. Mas o principal destino para a polaca, com 59% do volume importado, foi São Paulo – que também foi a escala
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Entre outras espécies com peso no balanço está o cação-azul (Prionace glauca), que custou US$ 45 milhões e teve como fornecedores principais Taiwan e Uruguai. O primeiro foi responsável por quase 100% do produto HGT, e o segundo com postas e filés, procesados em plantas uruguaias mediante o sistema de admissão temporária.
Baixos, que este ano foram responsáveis por 37% do volume, em 2013 desapareceram. Essa ausência foi compensada por Omã e Marrocos, com incrementos de 251% e 25% respectivamente. No total foram 42.261 toneladas de sardinhas, das quais 73% tiveram como destino final o Estado de Santa Catarina.
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governo brasileiro que barra a entrada de pescado com fosfatos adicionados antes do congelamento.
Estatísticas
EXPORTAÇÕES 2013 PRODUTO
u$s
2013 Tons.
u$s/T
Peixes vivos 10.451.647 66 158.358 Frescos ou refrigerados 14.610.894 2.323 6.290 Congelados 74.945.313 24.589 3.048 Filés e outras carnes 2.983.560 445 6.705 Secos, salgados ou defumados 19.460.908 469 41.494 Crustáceos 78.262.414 3.347 23.383 Moluscos 108.263 15 7.218 TOTAL 200.822.999 31.254 6.426 principal da merluza hubbsi argentina, com uma participação de 39%.
Variação.s/2012 (%) u$s Tons. u$s/T 12,6 -1,5 14,3 23,3 11,0 11,1 -18,1 -18,5 0,6 5,5 30,5 -19,2 32,2 43,0 -7,5 35,9 40,0 -2,9 -64,3 -75,0 43,0 6,8 -11,9 21,2
o Estado sulista encabeçou o ranking (41%) e o segundo lugar foi para São Paulo (38%).
DESTINOS DAS IMPORTAÇÕES
Com algumas peculiaridades, tanto São Paulo como Santa Catarina aumentaram a sua participação nas importações. No caso do salmão, por exemplo, os paulistas ficaram com 53% do HGT que chegou do Chile e os catarinenses com 21%, mas na distribuição dos filés essa dinâmica se inverteu e foi de 41% para Santa Catarina e 38% para os paulistas. Os sulistas não tiveram rival com as sardinhas (73%) e tampouco com o panga (45%), mas São Paulo continua como o principal receptor dos filés de polaca do Alasca (59%) e da merluza argentina (39%).
Filés (35,9%), salmões (36,6%) e o bacalhau (20,5%) foram responsáveis por 93% do gasto correspondente ao capítulo 03. A performance das conservas é analisada na materia de Capa desta edição. Vale ainda uma referencia aos DESTINO DAS IMPORTAÇÕES moluscos para mencionar que 70% da ESTADOS Quilos % s/total receita foi concen 2013 2012 Dif. 2012 trada em lulas, cujo São Paulo 144.228.883 37,6 36,3 1,3 fornecedor principal Santa Catarina 110.038.328 28,7 27,4 1,3 também foi a China. Rio de Janeiro 69.650.686 18,2 20,3 -2,1 A intensa campanha de marketing Pernambuco 21.055.992 5,5 6,2 -0,7 realizada desde o Rio Grande do Sul 10.130.819 2,6 1,7 0,9 ano passado surtiu Minas Gerais 5.644.316 1,5 1,3 0,2 efeito sobre os meBahia 4.867.934 1,3 1,6 -0,3 xilhões chilenos, Mato Grosso do Sul 4.617.009 1,2 1,5 -0,3 que fecharam 2013 Paraná 4.574.985 1,2 1,6 -0,4 com um volume de Alagoas 2.744.518 0,7 0,7 0,0 988 toneladas, mais Outros 5.838.495 1,5 1,7 -0,2 que o dobro das 481
IMPORTAÇÕES PEIXES SECOS, SALGADOS, EM SALMOURA OU DEFUMADOS
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PRODUTO Noruega China Portugal Chile Islândia Japão Outros TOTAL
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2013 Tons.
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Variação.s/2012 (%) u$s Tons. u$s/T
148.622.787 25.595 5,81 -26,78 -14,16 -14,70 71.862.855 14.696 4,89 9,33 17,46 -6,92 48.550.131 7.615 6,38 -2,51 5,97 -8,00 1.646.193 100 16,44 -9,16 -12,84 4,22 925.838 159 5,82 68,15 112,07 -20,71 491.885 37 13,43 69,22 62,41 4,19 668.892 196 3,42 -74,75 -64,59 -28,69 272.768.581 48.397 5,64 -15,76 -3,75 -12,49
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Sem surpresas, com o salmão aconteceu o mesmo. Das 58.793 toneladas de HGT que vieram do Chile, o mercado paulistano recebeu 53%, seguido por Rio de Janeiro (22%) e Santa Catarina (21%). Já com os filés, no entanto,
toneladas registradas em 2012. No caso dos crustáceos, o gasto não chegou à casa do milhão de dólares, mas incluiu a compra de 25 toneladas de camarões argentinos, um negócio que colocou essa importação em pé de guerra com a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) e terminou bloqueada por uma medida cautelar da Justiça brasileira. E os carcinicultores devem estar felizes, já que nos primeiros dois meses do ano a ABCC já registra 64,8 toneladas exportadas, o que rendeu uma receita superior a U$S 500 mil, e das quais, surpreendentemente, 63% teve o Vietnã como destino, seguido pela França (com 24 toneladas).
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Fornecedores
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A arte do beneficiamento Obter o melhor rendimento dos peixes, moluscos e crustáceos é uma meta cada vez mais presente nos frigoríficos, que já encontram à disposição uma boa oferta de equipamentos e acessórios elaborados especialmente para o segmento Texto: Ricardo Torres
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C
omo um Auguste Rodin, o operador do trimmer da foto de abertura desta matéria esculpe o filé de salmão para tornar sua apresentação impecável. Essa é uma cena já relativamente comum na indústria da carne aqui no Brasil, onde o aparato já se popularizou no chão de fábrica graças ao trabalho de empresas como a Bettcher. Mas aos poucos ele também vai se tornando objeto de desejo dos frigoríficos de pescado, em uma trajetória similar à percorrida por outros itens da extensa lista de equipamentos e acessórios para processamento de pescado.
A evolução é um passo natural de uma indústria que só cresce no Brasil, como avaliam os próprios fornecedores. Na catarinense Brusinox, a divisão de equipamentos para indústria de pescado já representa 65% do total de vendas. A empresa fornece linhas completas para o beneficiamento de peixes de cultivo e de captura, camarão de cultivo e de captura, mexilhões e ostras. “Por linha completa para o beneficiamento entende-se desde a recepção até o congelamento”, explica Daniel Bacca, responsável pelo Departamento de Marketing da empresa.
Os equipamentos ajudam a qualificar os processos dos frigoríficos para aprimorar as características de qualidade do pescado, que vão muito além do frescor. “Envolvem padrões sanitários, peso líquido, uniformidade (tamanho e peso) das peças, aparência, cor, filés ou peças inteiras, eviscerados ou não, com ou sem cabeça, com ou sem pele, com poucas espinhas ou sem espinhas, livre de sujeiras e contaminantes e diversos resíduos, espécie declarada, temperatura, textura da carne, apresentação (IQF, bloco etc)”, tenta resumir Bacca.
Já na Multinox, dona de uma linha similar à concorrente catarinense toda fabricada em Dourados (MS), a participação do pescado é mais discreta, embora ainda importante: 25% de tudo o que a empresa fatura vem do ramo. “Ainda não se tem uma empresa que esteja monopolizando o abate e a produção de pescado no Brasil, então nossos clientes são sempre frigoríficos de pequeno e médio porte, entre os quais podemos citar a Mar &
A companhia aposta na amplitude da linha para incrementar o desempenho. Os equipamentos vão desde a despesca, recepção, abate, evisceração, embalagem, chegando até o carregamento. “Para novas indústrias, toda a linha é solicitada, porém, para pequenos produtores, pesqueiros e pesque-pagues, os itens mais solicitados são os descamadores e evisceradores de peixes de tamanho reduzido.” Os clientes da Multinox estão concentrados nas Regiões Centro-Oeste e Norte, em função do clima quente, que colabora com a produção em cativeiro. As multinacionais também estão muito atentas aos indicadores de evolução do pescado como negócio no Brasil. “A indústria de pescado vem buscando melhorias nos processos, visando ao aumento dos rendimentos e meios que facilitem a produção e gerem produtos com melhor qualidade e aparência, sem o aumento da mão de obra”, conta Tarcisio Barbosa, Gerente de Vendas da Bettcher. Ele valoriza o crescimento do processamento de tilápias. “Vai demandar uma nova geração de soluções para que esta indústria também se modernize e se torne mais eficiente para poder competir no mercado de proteínas com excelentes resultados.” Os trimmers comercializados pela Bettcher servem para plantas
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Descamadora e despolpadeira de pescado da Brusinox: automação em parte do processo é tendência
interessadas em incrementar a performance na gestão de aparas e descartes. “Promovem ganho de produtividade nos mais diferentes processos de remoção e recuperação de carnes e gorduras em diferentes superfícies, aderidas ou não às espinhas, trabalhando a temperatura ambiente ou em baixa temperatura”, conta Barbosa. “Algumas tarefas exigem o uso conjunto do vácuo para um processo conjugado de corte ou raspagem e sucção, amplamente utilizados na indústria em geral.” Como ilustra a foto de abertura da matéria, os trimmers são comumente utilizados na indústria de processamento de salmão. “A retirada de carne
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Esse trabalho minucioso pode render à Brusinox um faturamento de R$ 6 milhões em 2014 só em equipamentos para beneficiamento de pescado – um crescimento de 15%, de acordo com as previsões da companhia. A carteira de clientes é abrangente: Bom Peixe, Vale D’óro, Costa Marine, Camil Alimentos, Leardini, Kowalski, Compescal, Zippy Alimentos, Copacol, Peixes da Amazônia, Komlog, GDC, Natubrás, Vitalmar, M. A. de Lima Loiola, Cajucôco, Nativ Pescados, Potiporã, Pescados Fish, Amasa, M. Cassab, Geneseas, Marpex, Fort Mares, SMG, Silimar Pescados, Russi, entre outros.
Terra e a Zaltana Pescados”, conta Avelino Antonio Girelli, Diretor de Projetos. O executivo crê que a tendência é aumentar significativamente a carteira, de acordo com a quantidade de pedidos de projetos e orçamento, mas ele ressalta as condições para que isso ocorra: “Esta previsão depende de vários fatores, como as linhas de crédito implantadas pelo governo, campanhas de incentivo ao consumo e até mesmo a profissionalização do setor”.
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A preocupação se expressa no conceito adotado pela Brusinox para os aspectos construtivos de equipamentos. Segundo Bacca, eles devem levar em consideração a resistência dos materiais, aplicação para uma ou mais espécies, ergonomia, espaço, facilidade para montar e desmontar, evitar cantos pontiagudos, evitar pontos de acúmulo de sujeira, facilidade para lavar durante a metade do expediente, custo competitivo, evitar pontos que possam contaminar com graxa/ lubrificante, durabilidade, manutenção facilitada para os mecânicos da empresa, funcionamento, amortização, reprodutibilidade das funções, baixa ou oxidação zero de partes e componentes, entre outros pontos.
Fatiadores da marca Geba distribuídos pela Marel foram apresentados recentemente em Boston
Cada vez mais atenta à indústria de pescado no Brasil, a Marel tem uma trajetória que se confunde com a da indústria de pescado dos Mares do Norte. Ela foi fundada na Islândia por dois engenheiros que queriam desenvolver soluções para um controle eficiente da produção em plantas de processamento de pescado. De acordo com Magnús Ólason, business manager da empresa, a participação do segmento no Brasil equivale a 10% das vendas. Bom Peixe, Komdelli,
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escura do dorso, a remoção da linha de sangue e também a limpeza da gordura da interna do Salmão podem e estão sendo feitas de maneira bem eficiente com nossos trimmers. Estamos atuando também em trutas salmonadas”, relata o executivo. Para ele, a indústria de proteínas animais, incluindo pescado, pressupõe muitas etapas que exigem processo manual. “Assim, quanto mais pontos do processamento forem mecanizados ou automatizados, melhor será o resultado e o rendimento do processamento como um todo”, avalia.
Dona de marcas como a Cozzini (máquinas de porcionamento, mixing, esteiras transportadoras, filetadoras, entre outros equipamentos), a Middleby também participa de novos projetos de industrialização no segmento, como na área de empanados e porcionamento. “A participação ainda é tímida, mas vem crescendo ao longo dos últimos anos, mais fortemente nos últimos 3 anos. Acreditamos que deverá representar algo em torno de 5%. Ainda tem muito a crescer”, conta Jairo Brandão, Diretor de Vendas.
Descamadora horizontal de peixes da Multinox: empresa espera mais profissionalização do setor
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Fornecedores
Tarcisio, da Bettcher: indústria busca melhoria nos processos em busca de melhor rendimento e produtividade Leardini, Damm e Frescatto estão entre os clientes da empresa. “O mercado é muito fragmentado, mas está em crescimento e ainda vai se desenvolver muito.” O processamento de salmão é o principal demandante de soluções da Marel, que podem reduzir até 70% do custo de mão de obra. Na última Seafood Expo North America, em Boston (EUA), a empresa demonstrou máquinas como a filetadora MS 2730. Enquanto ela produz filés com possibilidade de ajuste para diversas espécies, a carcaça é automaticamente descartada e separada. Outro equipamento apresentado foi a ProCon Flowline, que usa a tecnologia de rádio frequência RFID para rastrear todos os produtos na linha de processamento, toda mecanizada, para monitorálos em um monitor e então controlar diversos aspectos de rendimento e produtividade. O objetivo é mecanizar o processamento manual em mesas, onde a matéria-prima é constantemente empilhada e armazenada e depois transportada manualmente para outros processos. E é esse “estado-da-arte”, como dizem os estrangeiros, um tanto quanto futurista que estará nas plantas de processamento de peixes, crustáceos e moluscos em breve.
FORNECEDORES
Para raspar e descartar Os trimmers da Bettcher são máquinas descartadoras e raspadoras vendidas nas versões elétrica ou pneumática. Qualquer um dos modelos utiliza lâminas circulares de diferentes diâmetros e ângulos de corte, que procuram proporcionar segurança e precisão.
Da chegada à saída Para linhas completas de processamento, da recepção ao congelamento de pescado, a Brusinox é uma boa opção. O Túnel Helicoidal Brusinox (THB) faz congelamento pelo sistema IQF e reduz perdas por desidratação de peixes, crustáceos e moluscos.
Expert em inox Estruturas e máquinas em aço inoxidável como este eviscerador a vácuo são a especialidade da Multinox. A empresa tem o sortimento completo de aplicações da processamento, da despesca ao transporte.
Guia de Compras BETTCHER: (11) 4083 2516 www.bettcher.com.br BRUSINOX: (47) 3351-0567 www.brusinox.com.br MAREL: (41) 3888-3400 http://marel.com/brazil MIDDLEBY: (11) 3321-5858 http://www.middleby.com.br Filés turbinados A linha Suspentec Cozzini, da Middleby, injeta aparas reduzidas a micropartículas em uma suspensão de salmoura para aprimorar sabor e textura de filés ou postas. Outras linhas da empresa, como a MP Equipment e Alkar, têm aplicações para empanar e defumar.
MULTINOX: (67) 3410-7070 www.multinox.ind.br Leia este código QR para ver o portfólio e outros contatos destas empresas http://bit.ly/SEAfornecedores
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Rapidez e eficiência A Marel também dispõe de linhas completas, mas comercializa soluções avulsas como a filetadora automática MS2370. A máquina se ajusta automaticamente à espécie introduzida e fileta até 25 peixes – com peso entre 2 e 8 kg – por minuto.
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Direto da Produção
Uma atividade 90% terrestre Por intermédio de projetos e pesquisas, piscicultura marinha nacional tenta aprender com fracassos recentes na busca por se viabilizar como atividade produtiva
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Texto: Léo Martins | Fotos: Seafood Brasil/Divulgação
O
pomposo lançamento da então primeira cessão de águas de domínio da União no mar atraiu imprensa, empresários e políticos do calibre do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o ex-presidente Lula, além da equipe da então Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) chefiada pelo
ex-ministro Altemir Gregolin. O evento, realizado em fevereiro de 2009, marcou o ingresso da Aqualider no cultivo do bijupirá ou beijupirá (Rachycentron canadum), mundialmente conhecido como cobia. Os indicadores eram promissores: tecnologia de reprodução dominada, crescimento de 6kg em um ano, produção de 10 mil toneladas por
ano até 2012, mercado comprador com alto poder aquisitivo (Japão) e outras vantagens. Dois anos depois, só o pernambucano Jornal do Commercio assim decretou a falência do empreendimento: “Dez milhões de reais e cinco anos de trabalho se dissolveram em alto mar, a 11 quilômetros da costa da Praia de Boa Viagem”. Má qualidade da ração e
O fracasso das duas experiências desarticulou um movimento empresarial que se formava para tornar a maricultura uma nova vertente do agronegócio nacional, mas deixou um amplo legado: a discussão em torno do melhor modelo para a piscicultura marinha no Brasil. Eduardo Sanches, pesquisador científico do Instituto de Pesca (IP) e responsável por esta linha de pesquisa no órgão, diz que a atividade precisa de persistência. “É caracterizada por esforços isolados, ações empíricas com pouca efetividade técnica e que, em grande maioria, não possuem continuidade”, diz. A médica veterinária Claudia Ehlers Kerber, proprietária da Redemar Alevinos, em Ilhabela (SP), afirma que não faltam atributos de sucesso
Cultivo off-shore é alternativa para países que já possuem áreas abrigadas ocupadas ao Brasil. “Com uma grande extensão territorial de mar, águas mornas e sem estar localizado em rota de furacões, nosso País tem uma enorme capacidade para a produção de espécies marinhas”, justifica. “Turvas ou límpidas, em ambientes abrigados ou de alto mar, das mornas do sul às quentes do nordeste, nossas águas propiciam os mais variados ambientes para a criação de diversas espécies”, explica Claudia. “No entanto, os investidores brasileiros privados ainda não se atentaram para tal oportunidade”, pondera. Para Felipe Suplicy, atual presidente da Marine Equipment, ex-Aqualider e ex-coordenador geral de maricultura do MPA, a atividade está representada por poucos projetos isolados, com pequenos cultivos de bijupirá na região de Ilha Grande (RJ) e litoral norte do Estado de São Paulo. Sanches aponta que os projetos sobreviventes são aqueles que seguem com pequenos tanques-rede em áreas abrigadas, distintos do modelo off-shore. “Cultiva-se principalmente o bijupirá e a garoupa-verdadeira oriundas dos apenas dois empreen-
dimentos produtores de formas jovens de peixes marinhos.” Além da própria Redemar, ele cita também a Itapema, sediada em São Sebastião (SP).
O que criar? Os critérios considerados relevantes à seleção de espécies a serem empregadas na piscicultura marinha, segundo Maria Fernanda Nince, secretaria de planejamento da aquicultura do MPA, estão relacionados às características fisiológicas, como rápido crescimento e eficiência na conversão alimentar da espécie, facilidade de desova em laboratório, alta fecundidade, qualidade da carne do pescado produzido, além de questões econômicas e de mercado. É por estes fatores que muitos optaram e ainda apostam na criação do bijupirá, ainda visto como uma espécie de crescimento rápido e que possui excelente qualidade de carne. “No Sudeste, onde a temperatura é mais amena, essa espécie tem alcançado de 2 a 3 kg em um ano. Ele tem sido vendido a valores acima de R$ 30,00 o quilo, oferecendo um retorno rápido do
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A mesma trajetória de alarde (no lançamento) e discrição (na falência) percorreu a TWB Fazenda Marinha, que inaugurou em 2008 o Laboratório Nacional de Aquicultura Marinha (Lanam), no litoral sul de São Paulo. Na inauguração, com participantes igualmente ilustres, lançou metas ambiciosas: faturamento de US$ 1 bilhão em cinco anos, com produção de 100 mil toneladas de bijupirá e exportação em 24 horas para um supermercado em Paris. Nada disso virou realidade depois que problemas variados, de deficiências de nutrição a tanques-rede destruídos por mau tempo, fizeram o projeto naufragar.
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até acidentes com embarcações foram apontados como razões do fracasso.
Direto da Produção
ESPÉCIES COM MAIOR POTENCIAL DE CULTIVO • Bijupirá (Rachycentron canadum)
• Robalo-peva (Centropomus parallelus)
• Robalo flecha (Centropomus undecimalis)
• Linguado (Paralichthys orbignyanus)
• Tainhas (Mugil liza e Mugil platanus)
• Lutjanídeos (Lutjanus analis e L. synagris)
• Garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus)
• Pampo (Trachinotus marginatus)
• Peixe-rei (Odontesthes argentinensis)
Fonte: Maria Fernanda Nince, secretaria de planejamento da aquicultura do MPA
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investimento a pequenos empreendedores - algo em torno de 1 a 10 toneladas ao ano”, detalha. Mas o pargo, a garoupa e o pampo, conforme Suplicy, estão entre as espécies promissoras. No entanto, diz, esses peixes necessitam de um maior desenvolvimento do pacote tecnológico, antes de serem cultivados comercialmente. “O pampo tem tecnologia desenvolvida, mas não é um campeão de vendas no Brasil. Ele necessitaria de investimentos consideráveis em marketing”, destaca. Claudia enaltece as qualidades da garoupa. “Ela possui um alto preço de mercado, grande resistência a doenças e ao manejo”, revela. Por fim, Suplicy informa que o linguado também tem
potencial, pode ser cultivado a partir de tanques instalados em terra. Sanches faz uma ressalva. Para ele, apesar de diversas espécies apresentarem potencial de criação no Brasil, é necessário definir primeiro o sistema de produção adequado para a nossa realidade social e ambiental. Só então definir qual a espécie mais indicada para o cultivo. Já sobre a adaptação local de espécies estrangeiras, os entrevistados julgam que tal prática não é necessária. “Temos um número grande de peixes brasileiros a serem cultivados e por isso, não precisamos recorrer às espécies estrangeiras. Além disso, não há qualquer melhoria genética disponível em espécies tropicais que justifique
sua aplicação”, opina Claudia. Outro empecilho visto por Suplicy diz respeito à legislação ambiental brasileira. “Devido as nossas leis, mesmo que alguma espécie estrangeira possa ser tecnicamente cultivável no Brasil, a possibilidade de introdução de um peixe marinho exótico é praticamente descartada”, alega. Sanches argumenta que nosso País, rico em biodiversidade marinha, não deve gastar recursos com espécies exóticas. “Embora o caminho seja mais longo para se desenvolver tecnologia com espécies nativas, o resultado é infinitamente mais efetivo”, justifica. “Quem possui garoupas, badejos, ciobas e robalos em sua ictiofauna não deveria gastar recursos com peixes marinhos exóticos”, acrescenta.
Brian O’Hanlon/Joe Ayvazian/NOAA’s Fisheries Collection
Qual modelo utilizar?
Pelos indicadores de crescimento e demanda, bijupirá segue entre as espécies mais procuradas para a piscicultura marinha Maria Fernanda crê que o modelo de águas abrigadas pode apresentar custos reduzidos se comparado ao off-shore. “Ele oferece maior segurança às estruturas de cultivo, deixando-as menos vulneráveis a possíveis fenômenos climáticos e oceanográficos”, explica. Por estarem mais próximos à costa, Maria Fernanda esclarece que esse modelo facilita o acesso aos empreendimentos aquícolas para o manejo das estruturas de cultivo, arraçoamento das espécies e manutenção dos equipamentos.
Eduardo Sanches
Claudia destaca que cada modelo tem vantagens e desvantagens e que a escolha dependerá da área disponível, da espécie e da escala do empreendimento. “O que se deve evitar é cultivar uma espécie oceânica, como é o caso do bijupirá, em ambiente excessivamente abrigado - com pouca energia -, assim como espécies costeiras, como é o caso da garoupa, em sistema off-shore”, orienta.
Eduardo Sanches, pesquisador científico do Instituto de Pesca
Essa pode ser talvez a pista técnica que explique parte do fracasso dos projetos da Aqualider e TWB. “Ao que tudo indica, a complexidade que faz parte do sistema off-shore acabou não sendo
considerada”, opina Sanches. Já Felipe Suplicy afirma que um empreendimento de cultivo de peixes marinhos envolve um planejamento mais acurado. “Costumo dizer que todo projeto é como uma viagem de um astronauta ao espaço. Tudo deve ser muito bem pensado, eliminando todas as chances de erros e tendo soluções prontas ou planos alternativos para qualquer adversidade”, argumenta. “Local, logística, equipamentos, insumos, trabalhadores e mercado são elementos importantes. Esta é uma atividade de risco e não há chance para erros”, acrescenta. Por fim, Suplicy afirma que este é um segmento da maricultura que requer um alto capital. “Para se fazer uma pequena fortuna com a aquicultura é necessária uma grande fortuna”, exemplifica. Claudia concorda. Para ela, empreendimentos em piscicultura marinha off-shore exigem investimentos expressivos, nos quais o principal item de custo, a ração, tem sido um grande problema. “Uma ração de baixa qualidade pode matar os animais e, se não matar, o empreendedor vai ter que oferecê-la em grande quantidade para que o peixe ganhe pouco peso”, diz. “Com uma baixa conversão alimentar, o empreendimento torna-se economicamente inviável”, conclui.
Da academia às águas O investimento em pesquisa continua a ser a forma mais acertada de dar à piscicultura marinha um
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Os modelos tanque-rede em áreas abrigadas e off-shore (alto mar) são os de maior popularidade para a criação marinha. Sanches afirma que qualquer sistema de produção deve ser avaliado dentro de certos parâmetros, levando em consideração a questão da economia de escala e público alvo. “A meu ver, inicialmente deveríamos tentar aproveitar a estrutura da cadeia produtiva do camarão marinho para criar peixes em viveiros e, depois, caminhar para os sistemas mais intensivos e complexos como os tanques-rede”, opina. Suplicy complementa com a informação de que o off-shore está iniciando em países que já possuem décadas de experiência na piscicultura marinha. “Eles estão aderindo a esse modelo porque as áreas abrigadas já estão ocupadas com cultivos. Por isso, não lhes resta outra opção para a expansão da indústria”, justifica.
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Direto da Produção
Investimento em tecnologia
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Os equipamentos de apoio ao cultivo, despesca e transporte podem ajudar a qualificar o cultivo. “Não se pode improvisar e nem usar equipamentos de menor qualidade e durabilidade. A tecnologia e os equipamentos empregados fazem toda diferença entre o sucesso ou fracasso de um cultivo”, resume Suplicy. “Bons equipamentos incluem jaulas marinhas, bombas de despesca, classificadores e contadores e alimentadores automáticos”, cita. Outros países, segundo Claudia, apostam em tecnologias caras e de ponta como gaiolas submersas de grande capacidade, torres de controle com monitoramento de vários parâmetros - inclusive com câmeras submersas vigiando o comportamento dos peixes -, equipamentos submarinos para lavagem das redes e barcos com guindastes para despesca em prol de grandes empreendimentos. “Até chegarmos neste ponto, precisamos fazer nossa lição de casa”, pondera. “Devemos encontrar os lugares com aptidão, escolher a espécie que melhor se adapta e iniciar com empreendimentos pilotos. A tecnologia para este início nós já dominamos”, indica.
desenvolvimento de qualidade. Suplicy aponta alguns projetos que possuem destaque para a maricultura nacional. “A Rede Repimar [Rede de Pesquisa em Piscicultura Marinha da Embrapa], é a principal”, aponta. Segundo ele, essa pesquisa tem destaque por reunir pesquisadores de várias instituições de pesquisas brasileiras. A Rede coopera na realização de pesquisas de nutrição, reprodução, genética, processamento, mercado, manejo e controle ambiental para a criação do bijupirá. Eduardo Sanches lembra que todo trabalho de pesquisa consome tempo e recursos, fatores esses que são restritos no País. Ele cita como exemplo as pesquisas com a garoupa-verdadeira, iniciadas pelo Instituto de Pesca em 2005. “A quantia de recursos aportados chega a ser insignificante perto do que é investido por países que conside-
ram o cultivo marinho como atividade estratégica”, conta. Sanches relata ainda que o IP desenvolve pesquisas sobre tecnologia de produção de peixes marinhos de alto valor comercial e que estejam, de alguma forma, ameaçados ou vulneráveis. Tais critérios são orientados utilizados pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (a IUCN, sigla em inglês para International Union for Conservation of Nature). Atualmente, a espécie alvo das pesquisas no IP é o mero (epinephelus itajara) e avanços relevantes têm sido obtidos na área de reprodução e engorda. “Outras espécies estudadas pela pesquisa foram o robalo-peva, a garoupa-verdadeira, a cioba e o ariocó”, complementa Sanches. Claudia Kerber também destaca pesquisas realizadas pela Redemar Alevinos que, há quatro
Maria Fernanda revela também que a região Sul do País registra a ocorrência de dois centros de produção de formas jovens: o EMA/FURG, no Rio Grande do Sul, para a produção experimental do linguado e o LAPMAR/UFSC, em Santa Catarina, para a produção de robalos, sardinhas e carapebas. Ainda de acordo com Maria Fernanda, existem outros centros de pesquisas espalhados pelo Brasil dedicados somente à produção de juvenis, com destaque para Marinus Aquicultura (Ceará), Labomar (Ceará), Bahia-Pesca (por meio da Fazenda Oruabo), e a
Associação de Maricultores da Baía da Ilha Grande (Ambig). O MPA ainda apoia projetos de unidades demonstrativas de produção de bijupirá nearshore em Angra dos Reis e Parati (RJ), além do Baixo Sul da Bahia. “Nestes locais, além da produção de alevinos, também há capacitação de produtores”, expõe Maria Fernanda. Por fim, a secretária noticia que no Rio Grande do Norte, o MPA garantiu um investimento de R$ 1,5 milhão para a preservação e o aumento da produção de camarão pitú e beijupirá. “Os recursos serão administrados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por meio de acordo de cooperação com o MPA”, completa. Em 2013, especificamente em relação à aquicultura marinha, o MPA colocou à disposição
dos aquicultores, por meio de licitação/ oferta pública áreas em Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Claudia menciona ainda a participação de outras universidades e
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anos, produz alevinos de bijupirá no período do verão. Atualmente, a Redemar está em fase final de desenvolvimento dos protocolos para a produção de alevinos de garoupa.
Maria Fernanda, do MPA: modelo de águas abrigadas é mais barato que sistema off-shore instituições de ensino relevantes. “Elas fazem importantes investigações em áreas relacionadas à nutrição, transporte, produção de formas jovens, manejo, etc.”, informa. A lista não é pequena: Instituto Oceanográfico da USP; Universidade Federal do Ceará; Universidade Federal do Semiárido (UFERSA); Universidade Federal Rural de Pernambuco; Fundação Instituto de Pesca do Rio de Janeiro (FIPERJ); UNESP-Jaboticabal; Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e UNIVALI-SC.
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Desafios, entraves e dicas para novos projetos Se a tecnologia inicial está dominada, sobram outros problemas. O primeiro deles é o acesso ao licenciamento e regularização dos empreendimentos. “No Brasil, a dificuldade de acesso ao recurso, ou seja, a obtenção de licença e permissões é extremamente lento”, reforça Suplicy. Outros problemas citados por Sanches referem-se às indefinições sobre qual sistema de produção deve ser utilizado e com quais espécies devem ser trabalhadas. “Indefinições sobre a disponibilidade de formas jovens, acesso ao crédito e ao seguro e o pouco conhecimento disponível no Brasil sobre patologia de peixes marinhos atrapalham bastante”, complementa. Além disso, a ausência de centros de referência para suporte e treinamento aos produtores, colocando
os empreendimentos em constante situação de risco, também é apontado. “Tudo isso é resultado de uma atividade recente no Brasil, que com investimentos efetivos em pesquisa, inovação e uma forte política pública de fomento, em breve, poderiam vir a ser mais uma opção de investimento”, acrescenta Sanches. Claudia também considera que o ineditismo da piscicultura marinha implica em altos riscos, o que acaba assustando os investidores. “A aplicação de recursos públicos na compra de alevinos distribuídos a preços subsidiados, bem como linhas de financiamento de longo prazo e baixos custos, são necessárias para compensar os riscos e estimular a atividade”, indica. Outro desafio citado por Claudia diz respeito à disponibilidade de mão de obra especializada. “Embora ainda falte experiência ao recém-formado, esses órgãos acordaram para a necessidade de pessoal treinado”, relata. Para contornar a questão, Claudia sugere firmar
acordos de cooperação internacional para permitir que o Brasil se beneficie da experiência disponível. Sanches recomenda uma profunda análise por parte dos empreendedores antes de investimentos em qualquer área. “A análise de casos de insucesso anteriores podem ser úteis para que sejam evitadas duplicações de equívocos passados”, relembra. Por fim, Suplicy aponta outros caminhos. “Selecionar o bijupirá como espécie, planejar o empreendimento com cuidado, não economizar em equipamentos apropriados, não tentar ‘reinventar a roda’ e investir uma boa parte do capital em marketing: é o prenúncio de sucesso em novos projetos”, diz. “Vender para depois produzir. Essa é a melhor dica”, finaliza. Felipe Matias, secretário executivo da Red de Aquicultura de las Américas e outro ex-MPA, em uma passagem pela China, questionou um pesquisador local sobre como seu país conseguia produzir tanto, ao que este respondeu: “Enquanto alguns países efetuam pesquisas sobre peixes marinhos há alguns anos, na China, nós as efetuamos há mais de um milênio!” Como se vê, o sucesso da piscicultura marinha depende muito mais do que se faz em terra do que no próprio mar.
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Direto da Produção
Serranídeos têm alto valor de mercado e são altamente adaptáveis a cultivos em tanques-rede
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Direto do rio
Na
Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar
Mapara, piramutaba (cascudo) e pintado são algumas das apostas que a RioMarc, sediada em Mogi Mirim (SP), leva ao varejo em sacos de 1 kg. A empresa tem três linhas de produtos em pacotes e bandejas: rio, mar e frutos do mar, com um sortimento amplo que inclui ainda cação, abadejo, linguado, sardinha, camarão, polvo, mexilhão e outras espécies.
A seção visitou as gôndolas brasileiras na preparação da Semana Santa e viu uma oferta impressionante de marcas e produtos. Novamente pinçamos do exterior, mais precisamente de alguns produtos premiados na feira Seafood Expo North America, as últimas novidades das empresas estrangeiras. E, como sempre, a Apas também é palco de novidades.
S
E A QUAR
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ERCADO
SUPERM
Lombos congelados
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As embalagens de 500g da espanhola Interatlantic Fish, sediada em Vigo, trazem os lombos de salmão sem pele processados pela Dalian Yanjie Foods, da China. Cada envase tem de 3-4 peças e pode ser descongelado individualmente, rendendo praticidade ao consumidor.
De volta na disputa pelo mercado da tilápia, a Netuno apresenta seus filés congelados em porção individual de 170g ou em embalagem de 1kg. As embalagens trazem um QR Code que, se lido, leva a receitas publicadas no site da empresa. Os produtos são processados na planta de Paulo Afonso (BA).
Salmão a vácuo
A empresa que fabricou os produtos sazonais da Sadia para o Natal passado (ver Seafood Brasil #3) também marca presença no varejo com o filé congelado com pele e sem espinhas, produzido pela JMS Pescados, embalado pela Komlog e vendido com a marca Komdelli.
Bolinho, mexilhão e panga no espeto
MA NOS
Tilápia individual ou em grupo
A Costa Sul chegou para a Páscoa com uma oferta diversificada de lançamentos recentes: filés IQF de salmão congelado em bolsa abre e fecha, mexilhão desconchado congelado direto do Chile e a caixinha com bolinhos de bacalhau. Esta última vem em porção de 270g, indicada para duas pessoas. Outra novidade é o espetinho de panga, com 500g.
Agora com janelinha
A Frescatto atendeu a uma antiga demanda dos pontos de venda e abriu uma janela na sua embalagem do petisco de camarão para torna-lo mais evidente. Temperado e pré-cozido, o produto já vem pronto para consumo, basta descongelar. Acompanha um pote com molho rosé.
Carne de rã
Das poucas marcas à base de carne de rã com penetração nos supermercados, a Ranac segue comercializando suas coxas, bolinhos e rãs inteiras. As peças são padronizadas e congeladas na planta da empresa, em Antonio Carlos, na Grande Florianópolis (SC).
S DA APA
De Portugal para a grelha...
O lombo do bacalhau Brascod recebe um corte longitudinal, que o torna mais aproveitável para a churrasqueira e ainda produz lascas maiores que as tradicionais, aprimorando a experiência de degustar bacalhau na brasa. Outra novidade da empresa é a sardinha portuguesa, cuja comercialização já começou.
...E para frigideira, forno ou micro-ondas
Bacalhau à Zé do Pipo, à Bras e com Natas são as opções em pratos prontos que a Pascoal vai introduzir aos visitantes da Apas. As embalagens têm 250g e, dependendo da receita, podem ser aquecidas diretamente no micro-ondas, forno ou na frigideira.
Camarão com valor agregado
Direto do Peru
Nova roupagem, novos itens
Do bacalhau ao filé de polaca
Desde que se apresentou ao varejo com pratos prontos, em 2012, a Vivenda do Camarão chamou a atenção do segmento com novidades baseadas nas receitas vendidas nas lojas do grupo. Para a Apas 2014, o camarão empanado para o autosserviço é o lançamento mais recente.
Desde o início do ano a Geneseas está com novas embalagens para o varejo. São duas opções, ambas com fecho ZIP abre-fácil: o pacote de 1 kg da marca Tilly e a bolsa de 450g a vácuo com a marca Saint Peters. A novidade para a Apas é a introdução do salmão chileno Integra, que a empresa passa também a distribuir, além de bacalhau, tambaqui e camarão.
Herança dos escandinavos Com figurino 2014
Prestes a inaugurar planta em Indaiatuba (SP), a Karam’s dá novo impulso à linha para o varejo com embalagens totalmente reformuladas. Com visual nobre, as bolsas de 1kg abrigam os cubos, filés e postas de cação, além dos filés de merluza, polaca e pangasius.
A Árticos traz ao Brasil direto da Noruega a pasta de ovas de bacalhau defumadas da tradicional marca Delikat. O produto, vendido em bisnagas, leva em sua formulação óleo de colza, flocos de batata e ovas de bacalhau levemente defumadas. É uma solução para dar requinte aos coquetéis domésticos ou profissionais.
A Produmar desembarcou no Brasil com sua própria marca no ano passado, em convênio exclusivo com o Pão de Açúcar. Agora apresenta sua linha com embalagens adaptadas aos consumidores brasileiros: tubos de lula sem pele, anéis de lula, anchoveta eviscerada sem cabeça e tentáculos de polvo congelado são alguns dos produtos.
O tradicional mix de bacalhau dessalgado e congelado Riberalves ganhou nova roupagem e a companhia do filé de polaca do Alasca, que serão apresentados na Apas. Os pacotes com os filés têm um kg e já estão à venda nos supermercados do País.
Foco na merenda
O Fishggets, empanado de CMS de tilápia com formatos de barquinhos, estrelinhas e peixinhos é a novidade da Copacol. Vendido em embalagens de 1,5kg, o produto é indicado para alimentação escolar.
Leia este código para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores
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IDADES
AS NOV
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Na Cozinha O peixe no food service
O chef e o mar
Em um ambiente de escassez e especificidades de oferta, diálogo deve ser o alicerce da relação entre fornecedores de pescado e restaurantes Texto: Mariana Naviskas
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Chefs do calibre de Bella Masano (Amadeus), Rodrigo Oliveira (Mocotó) e Thomas Troisgros (Olympe) apresentaram suas dificuldades na obtenção de pescado com qualidade, enquanto Wayner Guimarães (Ribeira Fish), José de Souza “Trovão” e outros especialistas explicaram seus desafios para produzir e distribuir a matéria-prima demandada pelo food service. Entre muitas conclusões tiradas do evento, a necessidade de um diálogo constante se destacou como uma das principais. A conversa franca entre fornecedor e comprador parece ser o caminho correto porque todos ganham, dizem profissionais como André Ahn, chef do restaurante Guaiaó e responsável direto em negociar com fornecedores. “Converso com eles para entender que peixes estão disponíveis e alinho com
Divulgação/Guaiaó
O
dia 16 de dezembro de 2013 pode ter sido apenas mais uma segunda-feira qualquer para muita gente. Mas para a cadeia produtiva do pescado foi um dia daqueles que fica para a posteridade. Em uma iniciativa simples, mas ambiciosa, cozinheiros e pesquisadores envolvidos no Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo convidaram peixeiros, pescadores, jornalistas, acadêmicos, biólogos e consumidores para debater uma questão fundadora: a relação entre quem compra e quem produz ou distribui pescado no Brasil.
o que tenho em mente para elaborar meus pratos. É um trabalho conjunto, pois preciso da ajuda deles para desenvolver a melhor receita. Preciso entender a história daquele pescado, a dificuldade que o pescador teve em pescá-lo”, conta. Para ele, o essencial é dispor de fornecedores que entendam a necessidade por qualidade e percebam que a busca é sempre pelo melhor em qualquer faixa de preço. “A qualidade não está ligada ao preço, mas sim ao trabalho do fornecedor.” Para Ahn, falta muito para a relação entre fornecedores e restaurantes funcionar corretamente. “Os restaurantes precisam conhecer de perto os fornecedores e entender
suas dificuldades, para que se possa exigir mais qualidade. E os fornecedores devem ser mais ousados e arriscar mais em desenvolver novos pescados.” Guimarães coincide com Ahn na importância do diálogo. “Nós precisamos conversar e trocar informações diariamente para falar quais produtos estão disponíveis naquela semana”, conta o empresário, que criou a Ribeira Fish junto à esposa, Queiza Dellaqua, em 2000. Hoje trabalha com alguns dos mais importantes restaurantes de São Paulo, como Mocotó, D.O.M e Sal. “Já temos um perfil de cada um dos restaurantes, ou seja, eu já sei mais ou menos o que eles querem naquela semana. Quando eu encontro uma certa
quantidade de mercadoria bem fresca e que eu sei que posso armazenar uma semana ou duas, eu compro a mais para não deixar os restaurantes ficarem sem essa opção. Mas não é sempre que isso é possível, porque o peixe não pode ficar armazenado muito tempo.” Para contornar o problema, Guimarães opta pela pulverização: trabalha com pequenas entregas todos os dias, ao invés de entregar grandes quantidades de uma só vez. “Eu não gosto de mandar peixes de forma exagerada, porque eles acabam ficando dois, três dias parados no restaurante. Só fazemos isso de sábado, porque não trabalhamos aos domingos e segundas, então os restaurantes compram um pouco mais de mercadoria para esses três dias. De terça-feira em diante, os restaurantes pedem somente o que será utilizado naquele dia. Na manhã seguinte, eles pedem complementos ou fazem novamente o mesmo pedido.” Ao comprar diariamente, os restaurantes conseguem controlar melhor a qualidade, o estoque e a perda de produtos.
Vieiras defumadas do restaurante Guaiaó
Depois de muito escutar e entender as necessidades dos chefs em atacados pesqueiros e em feiras livres, Guimarães apostou no fresco. Ele notou a grande carência por peixe fresco entregue diariamente, tanto pelos horários de entrega, como pela qualidade dos produtos. Encontrou assim um filão de mercado que não era atendido até então. O único problema decorrente disso é a demanda por peixes que estão fora de época. “Os chefs normalmente querem trabalhar com aquilo que o cliente pede no restaurante. Se os clientes querem comer pargo, os restaurantes vão buscá-lo, mas não é toda hora que tem pargo no mercado”. Por isso é importante, na avaliação dele, fazer os restaurantes entenderem essa questão e trabalharem com os peixes disponíveis em cada momento. “Um
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Divulgação/Guaiaó
Andre Ahn, chef do Guaiaó
Arquivo/Seafood Brasil
Arquivo/Seafood Brasil
Na Cozinha
Peixes limpos na Ribeira Fish e o sócio-proprietário, Wayner Guimarães (dir.): entrega pulverizada é diferencial restaurante não pode dizer que ‘só usa robalo’. Precisa haver outra opção. Até porque quando tem pouco produto no mercado, a qualidade dele nem sempre é a melhor. E se a qualidade é boa, o preço aumenta muito.”
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Os chefs costumam ter uma relação de amor incondicional com pescado de mar, mas a água doce cada vez ganha mais espaço na preferência do food ser-
vice - que precisa de volumes constantes e regularidade de oferta de pescado. A Geneseas é uma das empresas que entendem essa dinâmica. Criadora de tilápia, também fornece outros peixes, como salmão e bacalhau, a restaurantes, hotéis, hospitais e escolas. De acordo com Emmanuel Valente, diretor comercial, a empresa possui uma equipe de venda direta e representantes especializados em pescado. “Procura-
Recepção e armazenamento corretos de pescado é obrigação dos restaurantes
mos estar sempre próximos aos clientes, entendendo suas necessidades e, a partir deste ponto, buscamos soluções que os atendam da melhor forma possível, mantendo um relacionamento de parceria a longo prazo, não apenas de fornecimento.” Para ele, a relação com o cliente deve ser baseada na transparência e na mentalidade de fazer uma longa parceria. “Não queremos que os clientes comprem somente uma vez os nossos produtos, mas sim por muitos anos. Esse é o caminho para que as relações sigam um rumo seguro de crescimento. Acreditamos que fatores como garantia de fornecimento constante, qualidade e preço justo são os principais atributos que os clientes buscam.” Outro ponto que escapa do controle é o trânsito de uma grande cidade como São Paulo, que atrasa entregas e gera desconfortos para os dois lados. “Nós fazemos mais de vinte entregas por dia. O responsável por essa parte costuma sair daqui 6h30 da manhã para conseguir entregar tudo certo até meio dia, mas ainda assim existem restaurantes que questionam nosso serviço, o que é um tapa na cara”, conta Guimarães. “Trabalhamos a madrugada inteira, fazemos tudo com qualidade, mas às vezes, devido ao percurso das entregas, acontece algum atraso. Ou às vezes para realizar uma entrega o meu funcionário perde 15,
A responsabilidade dos restaurantes Atentar-se a questões como essas transforma o fornecedor em um parceiro, sempre atento ao que o cliente necessita. Mas em uma relação de confiança, a contrapartida também precisa acontecer. Bella Masano, chef do Amadeus, diz que cada relação é construída a partir das necessidades mútuas e particularidades do produto. “Acredito que estamos no rumo certo. Faz mais de 25 anos que buscamos construir parcerias que nos permitam acesso aos melhores produtos. Isso sem descuidar das questões ambientais e remunerando os parceiros de acordo com os valores de mercado - o que não acontece com a maioria dos pescadores artesanais, que vendem seus produtos para intermediários.” O recebimento e armazenamento de pescado é um dos pontos mais sensíveis deste relacionamento, por ser de responsabilidade quase exclusiva dos estabelecimentos. José de Souza, o Trovão, conta que alguns restaurantes, ao receberem a mercadoria, não mexem no peixe
O Esquina Mocotó é um dos estabelecimentos com uma metodologia clara de armazenamento. Duas vezes por semana, os funcionários fazem a contagem dos estoques e o levantamento de tudo que está em falta. “E uma vez por mês fazemos uma contagem geral, para ter base de quanto estamos gastando, se estamos dentro do limite. A compra de pescado acontece cerca de duas vezes por semana e nós trabalhamos principalmente com pintado e pirarucu”, explica Eduardo Sena, nutricionista do restaurante. Para ele, a relação com o fornecedor supera a questão meramente comercial. “Nos falamos praticamente todo dia. O fornecedor tem que ter aquele companheirismo, tem que existir fidelidade.” Acompanhamento constante é o que norteia as relações entre a rede Giraffas e seus fornecedores. Luiz Lencioni, diretor de Supply Chain e Desenvolvimento de Novos Insumos, atualmente
Divulgação - Giraffas
trabalha com empresas como a DellMare Pescados. “Temos contato praticamente diário, reuniões quinzenais, visitas semestrais na fazenda e frigorífico, além da inspeção de qualidade no recebimento das mercadorias.” O diretor afirma que eles estão satisfeitos na relação com o fornecedor. “Estabelecemos um bom relacionamento, baseado na performance do fornecedor”, explica. A única questão existente é a busca por preços competitivos. “Com o aumento do consumo e mudança no hábito alimentar brasileiro, temos o desafio de atender o volume com custo competitivo. O Giraffas consegue oferecer aos clientes camarão e tilápia a preços acessíveis”.
Eduardo Sena, nutricionista do restaurante Esquina Mocotó
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20 minutos, porque às vezes o responsável por receber em um restaurante não está. Isso é raro, mas acontece e atrapalha nosso trabalho.”
naquele dia e apenas no dia seguinte reclamam que o peixe fornecido não está bom. “É uma questão complicada: eu aceito essa crítica em partes. É uma obrigação de quem recebe as mercadorias mexer no peixe no mesmo dia”, avalia. “Ao deixar ele guardado na embalagem, o peixe fica abafado, esquenta, a temperatura de baixo é diferente da de cima. Então, deve-se ter cuidado ao receber o peixe e armazená-lo corretamente”, aponta o empresário.
Arquivo/Seafood Brasil
Arquivo/Seafood Brasil
Controle de entrada e saída de mercadoria na Geneseas
Tilápia comercializada no Giraffas
Na Cozinha
EXCLUSIVO:
A rede norte-americana Red Lobster, um casual dining de frutos do mar, chegará ao Brasil ainda no primeiro semestre de 2014. Em entrevista exclusiva à Seafood Brasil, Neil Amereno, o Diretor de Relações com Investidores do IMC Brasil – empresa responsável pela operação da Red Lobster no Brasil – dá mais detalhes.
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Desde novembro de 2013, José Ricardo Gravallos é o responsável pela área de supply da rede de restaurantes Applebees. “Um dos nossos fornecedores é o Grupo 5, com quem nós compramos camarão e tilápia.” Ele conta que a relação funciona sem grandes problemas. “É claro que por se tratar de pescados, algumas vezes vem com um tamanho irregular, porque nós trabalhamos com produtos porcionados. Mas imediatamente os fornecedores resolvem qualquer situação. Retiram os produtos, trocam o que for necessário. A relação é bastante boa.” Conhecer o peixe que se compra, embora pareça óbvio, é um desafio. “Muitas vezes, as pessoas que recebem os peixes não conhecem o produto, não sabem dizer se está fresco”, conta Trovão, que aponta ainda o problema da concorrência desleal. “São ‘atravessadores’ que não vendem um produto de qualidade, que compram os peixes em qualquer lugar e vendem a preços baixos. Os restaurantes compram deles e acham que estão fazendo um bom negócio, mas não. A gente briga muito por qualidade e os restaurantes têm que conhecer o peixe para poder valorizar isso.” Ao comprar peixes já limpos, esse problema diminui consideravelmente. “Os restaurantes têm facilidade para julgar se um peixe está bom quando recebem as peças filetadas. Quando eles abrem o pacote, o peixe, obviamente não pode ter cheiro forte, tem que estar com um aspecto apresentável, não pode estar áspero, gosmento. Todos esses itens já mostram se o peixe está bom”, afirma Guimarães. Se o peixe é bom, o cliente volta. Bom para quem fornece, bom para quem cozinha.
Renato Rocha/Arquivo Seafood Brasil
Red Lobster terá três lojas no Brasil
1) Quantas lojas a Red Lobster terá no Brasil? A princípio serão três lojas: na avenida Faria Lima, no Aeroporto Internacional de Guarulhos e no Aeroporto Internacional de Brasília. Teremos uma loja conceito na Avenida Faria Lima, por conta da proximidade dos escritórios onde trabalham muitos dos nossos futuros clientes. Nas outras, focaremos em mercados cativos, conforme a estratégia da companhia, e aeroportos são a nossa prioridade nesse momento. No futuro, devemos abrir lojas em shopping centers também. 2) Como serão as lojas que estão em implantação? A IMC quer que o cliente tenha a experiência Red Lobster e para isso é importante oferecer um ambiente espaçoso e aconchegante. Cada loja terá em média de capacidade de 200 lugares, variando conforme o local que for instalado, e uma média de 50/60 funcionários por unidade. 3) O cardápio seguirá o mesmo modelo do exterior? Vamos manter o cardápio que consagra o Red Lobster – 100% do cardápio é americano, mas os fornecedores foram desenvolvidos em sua grande maioria no Brasil. Além disso, o Brasil é o principal exportador de lagostas e camarão para o Red Lobster no exterior. Também fizemos investimentos no treinamento da nossa equipe a quatro mãos, duas da IMC e duas da Darden, detentora da marca, para oferece a melhor experiência ao consumidor. O chef da casa, Diego Eineck, é especializado em frutos do mar e fez um treinamento intensivo com a Darden nos EUA para se aprimorar em Red Lobster. 4) Além da lagosta, que outros tipos de produtos de pescado a loja terá? No cardápio de Red Lobster há pratos elaborados com camarão, caranguejo, mariscos, linguado, salmão, tilápia, entre outros. Nossos ingredientes são provenientes de fornecedores brasileiros. Com isso, garantimos ter ingredientes frescos e ainda beneficiamos o desenvolvimento do setor pesqueiro no Brasil. Além disso teremos alguns peixes especificamente brasileiros. 5) Quais serão os principais executivos responsáveis pela Red Lobster no Brasil? Os executivos responsáveis pela Leia este QR Code e veja marca no Brasil serão Enric como ser um fornecedor da Besalduch – CEO da IMC Brasil e Red Lobster. Ou acesse Claudia Malaguerra, Diretora de bit.ly/seafoodtvredlobster Operações da IMC.
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Personagem O encantador do ponto de venda A peixaria e os freezers verticais e horizontais no varejo não são os mesmos desde que as empresas de promoção entraram no radar do setor; no comando de 15 promotores, Cadu, da Orus, conta os bastidores do ramo Texto: Ricardo Torres
A
equipe de desenvolvimento de produto elabora um prato pronto revolucionário, o time de marketing cria uma excelente campanha de divulgação e o comercial convence os compradores de que o produto vai ser o diferencial que o varejo precisa. Tudo parece perfeito, até que o produto chega à loja e vai para as câmaras frias, de onde não sai até que a enxuta equipe da peixaria tenha tempo para precificá-lo e posicioná-lo nos freezers. Na fila de prioridades da loja, nem sempre os produtos de pescado chegam ao consumidor no tempo e condições planejadas pelo fornecedor. Para resolver esses e (muitos) outros problemas é que entram em cena os promotores de venda, como os que são supervisionados por Carlos Eduardo Freitas da Silva, da agência gaúcha Orus. Este pernambucano de apenas 28 anos, ex-jogador de futebol profissional, “caiu no peixe” quando foi contratado como promotor da Netuno, quando já morava em São Paulo. Foi com a rotina de visitar 15 lojas por dia que ele aprendeu a falar a língua dos peixeiros.
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Cadu rapidamente se destacou pela capacidade de se misturar à equipe dos pontos de venda e de trazer soluções. “[O ambiente nas lojas] é uma ´guerra`”, conta. “Em uma época, eu chegava cedo às lojas e armava a frente do freezer. Depois os meus clientes passavam pelas lojas e viam os produtos todos desarrumados. Cadu então descobriu que um promotor de uma marca concorrente estava mudando seus produtos de lugar, danificando embalagens e invertendo preços. “Um dia descobri que o cara estava em uma loja. Fui até lá e o chamei pra conversar do lado de fora.” O rapaz reconheceu o que tinha feito e o problema parou. Hoje ele tem uma função estratégica na gestão de marcas como a Prime, Vivenda do Camarão, Karam’s, Trutas NR e Tilly, que começa nos próprios clientes. Ele tem que entender o preço, peso, porcionamento e outras características que definem o posicionamento do produto no varejo, para que possa reagir rápido nas próprias lojas. “O Cadu é o executivo mais importante do meu serviço ao varejo”, diz Diego Fávero, sócio do Grupo 5 – que tem a Orus como fornecedor. “A visão dele possibilitou, por exemplo, uma mudança na lagosta vendida pela Prime”, conta. O crustáceo tinha 500g e era vendido inteiro, mas a substituição por 4 caudas de 120g fez com que o produto, com preço próximo a R$ 50, chegasse a vender meia tonelada nas principais lojas de uma grande rede varejista no Estado de São Paulo. Recentemente promovido a supervisor, Cadu diz não ter perdido a humildade nem com os seus 15 promotores, nem como as equipes das lojas. “Continuo levando o pessoal para comer uma feijoada, pago uma caixa de cerveja, levo para jogar uma bola.” Se nos corredores dos escritórios ele é só mais um anônimo, no varejo Cadu é tão popular quanto os jogadores do seu time do coração, o Corinthians.
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