Seafood Brasil #27

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CINCO PERGUNTAS

Nova ministra da Agricultura quer setor desburocratizado

seafood

MKT & INVESTIMENTOS

Agenda cheia: Alaska, AquaSur, Fenacam, Fiesp, Peixes Nativos, Noruega

brasil

Na esquina do mundo Com restrição de áreas, consolidação de empresas e controles rigorosos, chilenos querem liderar salmonicultura mundial

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#27 - Out/Dez 2018 ISSN 2319-0450


Neste ano o Papai Noel foi generoso e trouxe uma deliciosa novidade: a Genuína Polaca do Alasca, importada dos Estados Unidos direto para o Brasil. Carne macia e suculenta em novo formato de blocos, 100% filé de peixe - muito mais versátil e prático. A única que é congelada apenas uma vez, sem aditivos químicos e com toda a qualidade selvagem, natural e sustentável do Alasca que você já conhece.

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Editorial

Novos ares

O

nossa entrevistada desta edição. Em pleno fechamento a ministra anunciou como secretário da aquicultura e pesca o nome de Jorge Seif Jr., empresário fluminense radicado em Itajaí (SC) e filho do maior armador de pesca do País.

No que tange à aquicultura e pesca, os novos timoneiros do País precisarão lidar com a realidade de fornecer as bases para aterrissar o alegado potencial produtivo que tanto ouvimos nos eventos por aí. O setor já fez sua parte, visitando constantemente o centro de transição em Brasília e buscando um nome de consenso para indicar à nova ministra Tereza Cristina,

Pesca e aquicultura seguirão juntas em uma autarquia vinculada ao Mapa. Provavelmente em diretorias separadas, mas com o ponto em comum de uma violenta turbulência recente com a migração constante de casa a partir da extinção do MPA. O setor (formado também pelos bons quadros públicos que lutam incessantemente em prol da atividade, frise-se) quer paz e ferramentas para crescer e realizar a potência no pescado que nascemos para ser. O novo governo não pode desperdiçar a chance de tornar o Estado capaz de responder a estes anseios. Ricardo Torres - Editor

presidente eleito é pró-produção e a favor do Estado mínimo. A ministra da Agricultura é pró-produção e a favor de um Estado que não atrapalhe o campo. O ministro do Meio Ambiente é pró-produção e anti-Estado. Junto aos demais ministros escolhidos com a coerência dos 57,7 milhões de votos recebidos por Jair Bolsonaro, o novo governo terá o desafio de desempenhar uma gestão que seja, ao mesmo tempo, austera e eficiente. Ou seja, o Estado precisará ser mínimo, mas eficiente na resolução dos problemas de toda a população.

Índice

06 Cinco Perguntas

08 Na Água

52 Na Gôndola

10 MKT & Investimentos 34

36 Capa

Na Planta

54 Suplemento Aquícola 78 Na Cozinha

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Personagem

Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br

Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres

Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil R. Serranos, 232 São Paulo - SP - CEP 04147-030 Tel.: (+55 11) 2361-6000 Escritório comercial na Argentina Av. Boedo, 646. Piso 6. Oficina C (1218) Buenos Aires julio@seafoodbrasil.com.br

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5 Perguntas a Tereza Cristina, ministra da Agricultura

Entrevista

“Terão a importância que merecem” Nova ministra da Agricultura confirma secretaria debaixo do guarda-chuva do Mapa, com quadros técnicos e desburocratização

Q

Nas respostas, mais sucintas e objetivas que as próprias perguntas, Cristina atestou que a pesca e a aquicultura ficarão juntas no formato de uma secretaria junto ao Mapa, mas separadas em duas diretorias técnicas. No fechamento desta edição, o nome definido para assumir a secretaria foi Jorge Seif Jr., empresário do Rio de Janeiro radicado em Itajaí e da cota pessoal do presidente eleito. Filho de um dos maiores armadores de pesca do País, o indicado terá de seguir a linha adotada pela deputada federal

e presidente da Frente Parlamentar da Agricultura: combate à burocracia e insegurança jurídica, autogestão do setor privado e reforço na estatística para subsidiar políticas públicas. A pesca e a aquicultura no Brasil passaram por diversas representações institucionais, desde a extinta Sudepe, criada na década de 1960, até a Seap/PR. O que a senhora pretende fazer para que a pesca e a aquicultura tenham continuidade de representação institucional,

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Michel Jesus/Câmara dos Deputados

uadro técnico especializado, desburocratização e suporte a pesquisa e tecnologia são alguns dos compromissos que a nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina, assume na entrevista abaixo, realizada em novembro. As perguntas foram construídas com base na contribuição de entidades como Abipesca, ABCC, Abrapes, Conepe, Sindipi e PeixeBR, cujos representantes foram consultados por Cristina para colaborar com a definição do futuro da secretaria.


“A aquicultura e a pesca serão tratadas com a importância que merecem e serão elaboradas políticas com ênfase em pesquisa e desenvolvimento, ordenamento e fomento, aliando a sustentabilidade ao incremento da atividade econômica“

Há um ponto similar entre a pesca e aquicultura que é a necessidade de regularização e licenciamento das atividades, seja do ponto de vista ambiental ou jurídico. Como o Mapa, sob sua gestão, pretende compatibilizar o diálogo entre os órgãos de fiscalização e normatização e a necessidade de desburocratizar o setor? A gestão compartilhada vai continuar? A minha postura será de conversar com os diversos órgãos de governo para alinhar políticas de desburocratização e regulamentação, não só com relação à pesca e à aquicultura, mas também com outras atividades do agronegócio. O diálogo será marca dessa nova gestão, buscando simplificar processos e atuar diuturnamente para que o setor cresça de forma permanente.

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Ainda que a produção aquícola cresça a uma média de 10% nos últimos cinco anos, a pesca segue estagnada e o Brasil tem um déficit na balança comercial do pescado superior a US$ 1 bilhão. Na sua visão, o que o novo governo deverá fazer no fomento, controle e ordenamento para realizar o potencial do País, de modo a equipará-lo a potências e às demais proteínas animais do agronegócio brasileiro?

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O ponto-chave para o Brasil se tornar uma potência em pescados é proporcionar um ambiente regulatório que possibilite investimentos na ampliação do parque aquícola nacional, na renovação da frota pesqueira brasileira, no incentivo ao consumo da proteína de pescados, na abertura e manutenção de novos mercados e no fortalecimento da indústria de processamento como elo entre o produtor e o consumidor final. Uma grande diferença do pescado no Brasil em relação aos outros países é o suporte que o Estado dá à pesquisa científica e à estatística, fundamental para a regularização e segurança jurídica da atividade. Como o Mapa pretende trabalhar para apoiar estes órgãos de pesquisa e evitar a vulnerabilidade do setor diante da falta de dados? Reforço que sob o meu comando o uso de sistemas de informação será prerrogativa para o processo de construção e implementação de políticas públicas voltadas para o setor de pescados. Os dados estatísticos coletados não somente através dos sistemas disponíveis no Ministério da Agricultura, mas também a partir do elo primário da cadeia produtiva, serão a fonte informacional para minha gestão frente a esse setor. Não pouparei esforços para munir todos os atores, públicos e privados, das ferramentas necessárias para o correto uso e administração dos recursos pesqueiros.

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Parte do setor enxerga que a pesca deva ser separada da aquicultura, que seria uma atividade zootécnica e, por consequência, mais alinhada ao Mapa. No entanto, há quem prefira a administração conjunta porque todo o resto da cadeia produtiva (setores secundário e terciário) é similar. Qual é sua visão sobre isso? Entendo que a atividade da aquicultura e da captura devam permanecer unidas dentro do novo Ministério, pois se fundem em produtos de pescados. Com relação ao seguro-defeso, a postura será de fiscalizar a solicitação do benefício e apenas aqueles que têm direito deverão recebê-lo (exercer a atividade ininterruptamente, ter registro ativo,

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não receber nenhum outro benefício e nem outra fonte de renda etc.). Aqueles que, porventura, não atendam aos requisitos necessários, terão os benefícios cancelados.

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independentemente de arranjos e acomodações político-partidárias? Criando uma secretaria com pessoal altamente especializado, adotando o uso da tecnologia da informação, desburocratizando processos e retirando atribuições que hoje são do Estado e repassando a responsabilidade ao setor privado com programas de autocontrole. Dessa maneira, o setor ganhará robustez e poderá se desenvolver, cada vez mais, com representação institucional forte dentro do novo Ministério. A aquicultura e a pesca serão tratadas com a importância que merecem e serão elaboradas políticas com ênfase em pesquisa e desenvolvimento, ordenamento e fomento, aliando a sustentabilidade ao incremento da atividade econômica.


saúde dos animais cultivados, principalmente amônia e nitrito. Segundo a empresa, o kit é ideal para quem já possui um oxímetro e disco de secchi.

Aerador mais largo Liberada para comercialização nesta Fenacam, a nova versão do aerador Aquamix incorpora o “flutuador mais largo do mercado”, segundo a Beraqua, que proporciona maior estabilidade. Para otimizar o frete, o flutuador se divide em dois segmentos fixados por um sistema de encaixe por pressão e pelos parafusos do cesto de inox 304. Além disso, a nova carenagem tem duas peças em vez de três, com desenho que protege o motor contra jatos de água de ondas e chuvas fortes com vento.

Na

Água Tecnologia para pesca e criação

Fitase em tilápias A AB Vista aposta na fitase Quantum Blue para reduzir custos de produção, aumentar retenção de nutrientes e diminuir impacto ambiental da tilapicultura. O produto decompõe o fitato encontrado em ingredientes à base de plantas, liberando fósforo. Estudo conduzido junto à UFPR indica que o produto melhora a digestibilidade e retenção de de nutrientes, assim como o status mineral e taxas de conversão alimentar. A NATUREZA É PODEROSA ESPECIALMENTE SE VOCÊ DER UMA FORÇA Desenvolver o poder de mudar o presente não é fácil. Vem do fascínio pelos processos fisiológicos, levando à descoberta. E a descoberta leva à inovação. Na AB Vista compartilhamos esse fascínio. É o que move nosso trabalho; é o que nos conduz. Atrai mentes curiosas que veem as coisas de forma diferente; aqueles que estão determinados a propagar energia e eficiência nutricional, levando a ciência da nutrição para uma nova era. Procuramos constantemente esse salto quântico, sem esquecer que um conjunto de pequenos passos também produz grandes progressos. Nosso desejo é que as pessoas sintam que, na AB Vista, vemos as coisas de forma diferente.

O básico do produtor Para quem está começando na aquicultura ou só precisa do básico, a Alfakit apresenta este conjunto de equipamentos e reagentes para análise dos parâmetros fundamentais à

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Para mais informações, favor contatar marketing.br@abvista.com.

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Extraordinary science brought to life

Resistência a UV A Engepol, do Grupo Nortene, produz geomembranas lisas de PEAD para reservatórios desde 1991. As polimantas, como são chamadas pela empresa, foram desenvolvidas para oferecer alta resistência aos raios ultravioletas e produtos químicos, impedindo a contaminação do solo e água ou oferecendo uma barreira em viveiros ou tanques escavados de peixes e camarões.

Equilíbrio ao animal Não só ao animal, mas à água, principal insumo da aquicultura. É com este foco que a Biomin promove seus produtos probióticos multicepas para estabilizar a qualidade da água, melhorar a qualidade do fundo do viveiro e suportar a saúde intestinal de peixes e camarões.

30 anos de estufas A Zanatta levou à Fenacam a experiência de três décadas em estufas com três modelos de soluções exclusivas da linha ZannaAcqua: circular simples, para tanques menores; circular duplo, para tanques circulares de grandes dimensões com diâmetro de até 22 m; e retangular, para berçários com vão de até 11 m e comprimento múltiplo dos módulos.

Nova fonte de ômega-3 A Cargill foi um destaques da AquaSur, no Chile, com o óleo vegetal Latitude. O produto, extraído de sementes do óleo de canola, funciona como um substituto do óleo de peixe ao oferecer ômega-3. Pesquisa mostra que a substituição pode chegar a 100%, mas a novidade só está disponível no momento para os chilenos e noruegueses.


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Marketing

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& Investimentos

Sem

marasmo entusiasmo

15ª Fenacam mostra que a montanha russa do camarão continua emocionante, mas baixa produção no Ceará e estiagem prolongada limitam entusiasmo com expansão

A

Feira Nacional do Camarão (Fenacam) já teve mais forró. Não que o ritmo mais popular do Nordeste tenha faltado nesta 15ª edição, mas os

corredores do evento mais importante da carcinicultura nacional já estiveram mais animados em anos anteriores. Ninguém aguenta mais falar dela, mas o fato é que a mancha branca ainda

penaliza muita gente, principalmente no Ceará. A ausência de representantes do ex-líder nacional na produção, superado


Tom político Como já era de se esperar, a solenidade oficial de abertura trouxe uma visão impregnada do contexto político atual. Itamar Rocha, oficialmente consultor da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), falou sobre a sensação de estar no limiar de um novo governo que precisará buscar a eficiência do setor público, mas ressaltou que seguirá na cobrança pela restrição nas importações de camarão do Equador no contexto em que a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) deverá ficar abrigada no Ministério da Agricultura. A ABCC viveu momentos de conflito explícito com a gestão Blairo Maggi pelas sinalizações de abertura do mercado a players como o Equador, Vietnã e China em troca de maior receptividade a outras proteínas animais. Em outro tom, Cristiano Maia, presidente atual da entidade, fez um agradecimento explícito à Seap pela Instrução

Normativa que disciplinou a Análise de Risco de Importação (ARI) e frisou não ser contra a compra de crustáceos no exterior. “Pode importar, mas não pode trazer doença.” Talvez a frase também valha para os reprodutores, uma vez que alguns laboratórios já anunciaram a portas abertas e fechadas o desejo de fazer uma nova rodada de importação de material genético. A mudança do governo na esfera estadual também pautou a feira, já que o governador derrotado no pleito estadual, Robinson Faria, ocupou a mesa e discursou na abertura . No último dia do evento, no entanto, a governadora eleita pelo PT, Fátima Bezerra, confirmou o interesse em manter a feira em Natal (RN). “Se depender da nova governadora a feira não sairá daqui de jeito nenhum.” Ela se reuniu com o próprio Rocha para alinhar os detalhes deste apoio, mas publicamente também garantiu que o novo governo apoiará a carcinicultura e piscicultura. Orígenes Monte, empresário do setor e presidente da regional potiguar

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Por outro lado, a estiagem prolongada da Região impede a retomada da tilapicultura, que também se fez sentir no evento. A consequência foi uma visitação mais acanhada, que contrastou com o grande movimento nas palestras dos seminários de carcinicultura e aquicultura, e com a demonstração do poder de fogo de grandes empresas. Uma delas foi a Camanor, que trouxe uma delegação da Tailândia para explicar aos presentes os bastidores e planos da transação que inseriu a companhia nos

negócios da Charoen Popkhand Foods (Veja box na pág. 12).

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desde o ano passado pelo Rio Grande do Norte, foi sentida. Para diminuir perdas com a doença, muitos produtores reduziram as densidades de estocagem em sistemas extensivos, gerando um desaquecimento em cadeia, o que afetou em cheio fornecedores como as fábricas de ração e formas jovens. A Skretting, que há dois anos fez um tremendo barulho com o lançamento da ração para o crustáceo, não enviou nenhum representante e não figurou com estande. Representantes tradicionais, como a Camarati e a Celm/Maris, decidiram não investir na feira.


Marketing & Investimentos

da ABCC, ressaltou o pioneirismo do Estado como fator preponderante para a sobrevivência ao período atual. “Fomos os primeiros a implantar o sistema intensivo coberto, o que o torna imune à mancha branca.” Monte citou ainda a aprovação da Lei Cortez Pereira, que regulamentou a atividade do ponto de vista ambiental, mas disse que a carcinicultura ainda sofre com fiscais que desconhecem a atividade. “Agora exigem GTA [guia de trânsito animal] até para camarão morto.” O empresário comentou ainda que, apesar da “recorrência destas batalhas contra vírus e humanos”, a carcinicultura potiguar está “pujante”.

Caldo de culturas Tanto dentro d’água quanto nos escritórios, dá para dizer que a Camanor nunca teve um caldo de culturas tão complexo quanto agora. “Foram culturas envolvidas de quatro continentes”, explicou o sócio Werner Jost a uma plateia que lotou um auditório auxiliar da Fenacam para acompanhar os bastidores da maior transação já realizada na carcinicultura brasileira: a compra de 40% de participação na empresa potiguar por US$ 17,5 milhões pela gigante tailandesa Charoen Popkhand Foods (CPF). Jost confirmou que o namoro é antigo. “Há 12 anos tenho contato com Robins McIntosh, diretor técnico da CPF para camarões e agora parte do conselho de administração da Camanor.” McIntosh é uma referência global na indústria por ter iniciado a carcinicultura na CPF e a transformado em uma fornecedora de 6 bilhões de pós-larvas anuais e 40 mil toneladas de camarão. Só na costa leste da Índia, a CPF produz cerca de 550 mil toneladas de ração por ano. Este potencial seduziu o fundador da Camanor e os demais sócios, justamente porque os entraves para a expansão do Aquascience - sistema de produção intensivo patenteado pela Camanor, residem na qualidade da genética e da nutrição disponíveis no Brasil. “Temos problemas com a qualidade da ração. A fórmula precisa ser sofisticada para um sistema como o nosso. Nossa conversão alimentar subiu de 1.7 (kg de ração para 1 kg de camarão) para 2.3, o que não se justifica pelos nossos indicadores produtivos.” Por outro lado, a Camanor investe na produção própria de formas jovens no laboratório de Barra do Cunhaú (RN). A estrutura, que deverá passar a operar em janeiro, terá capacidade para produzir 20 milhões de pós-larvas. O objetivo é ter uma solução caseira totalmente adaptada ao sistema Aquascience, mas com genética importada da Tailândia. “Teremos uma estação de quarentena longe da costa, que está em fase de aprovação pelo Mapa. A ideia é fazer importações constantes de reprodutores.” O programa de genética da CP custa em torno de US$ 15 milhões por geração.

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O foco será nas larvas “limpas”, livres de patógenos específicos, ou SPF. “Com nosso melhoramento genético e larvas SPF, tivemos melhoria frequente ao longo dos anos. Hoje conseguimos fazer camarão de 150 gramas em 150 dias”, contou McIntosh. A preocupação com a contaminação é uma obsessão, confessa. “Nenhum camarão entra no sistema se tiver traço de doença, a quarentena é longa e rigorosa. Não oferecemos nenhuma dieta viva ou fresca para o camarão e o monitoramento é constante até nos cistos de artêmias.”


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Marketing & Investimentos

15ª Fenacam: a corrida dos fornecedores A necessidade de aumentar a produção sem incrementos de área segue forçando os expositores da Fenacam a se reinventarem para atender à crescente demanda por soluções. Veja a seguir algumas das empresas que foram à feira com este foco:

Expansão intensiva

A Roma está de olho no crescimento da produção intensiva. Com clientes tradicionais no Rio Grande do Norte, a empresa de Tatuí (SP) observa já uma ascensão no Piauí, Paraíba, Sergipe e sul da Bahia. “Toda esta faixa do litoral nordestino está se desenvolvendo, com ritmos diferentes, mas o potencial é enorme”, assegura o gerente comercial, William Rosa. Não por acaso, o foco é nos filmes plásticos extrusados para o revestimento de viveiros, como as geomembranas de polietileno de alta densidade (PEAD). A linha inclui ainda as telas tecidas em tear para sombreamento e controle de temperatura e as de polietileno com resistência UV para alevinagem na piscicultura e separação de reprodutores.

Aposta em novos entrantes

As fazendas com berçários e as larviculturas são os principais clientes de estufas da Tropical, conta Gustavo Rios, gerente comercial, mas a aposta na expansão está em empresários de outros segmentos que começam a monitorar a carcinicultura para investir. “O que sentimos é que muitos aderiram às estufas e muita gente nova quer entrar no negócio já neste sistema intensivo.” O panorama político e a definição de cenários econômicos penalizaram o desempenho do fim do ano, abaixo do esperado, mas a Fenacam consolidou o interesse do Rio Grande do Norte, Ceará e da Bahia nas estufas. Isso levou à criação de um produto específico: Trop Shrimp Farm, uma estrutura galvanizada em tubo de 3 polegadas com largura de 9,60 m até 20 m de largura. “Com ela atendemos qualquer tipo de cliente e situação de tanque ou viveiro, personalizando a entrega”, conclui.

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Ração para águas continentais

Depois de um período fora do mercado, a marca Laguna, da Socil (Grupo Neovia), retorna com foco claro na carcinicultura em águas continentais de baixa salinidade no interior do Nordeste. Para Pedro Etelvino de Góes Neto, gerente comercial aqua da Socil da Região (no centro da foto, junto à equipe de vendas), a linha inclui probióticos e foi desenhada para águas de poço, com foco em densidades de 30 a 50 camarões por m3. A recepção foi boa. “O carcinicultor e piscicultor estão na feira e em busca de soluções tecnológicas. Não só preço, querem soluções porque precisam ser eficientes”, diz. As margens cada vez mais espremidas abrem dois caminhos, seja no camarão quanto no peixe: a improvisação ou a profissionalização. Neto aposta na segunda opção. “Quanto mais o produtor medir e anotar, mais irá valorizar o dinheiro e procurar uma solução tecnológica. Por isso levamos o que temos de solução para encaixar no dele e fazer uma venda consultiva.” Essa “consultoria” nunca foi tão primordial na piscicultura nordestina: a tilápia de 1,2 kg, antes vendida a R$ 7,20 para as tradicionais feiras da Região, hoje não passa de R$ 5,50 e enfrenta a concorrência do Sul e Sudeste. O volume de venda de ração aos tilapicultores caiu 35% na Socil, mas a expectativa é de retomada com venda de 1200 toneladas em 2019.


Upgrade em higienização

Em tempos de mancha branca, a desinfecção já é tão importante quanto qualquer outro insumo para a produção. A Tempclean está atenta à demanda e tem clientes que vão desde a pós-larva até a indústria de processamento, como é o caso da Potiporã. “Nosso objetivo é dar um ótimo resultado aos nossos clientes para que eles possam também oferecer esta qualidade aos seus clientes”, crava Matheus Pontes, gerente comercial para o Nordeste (à esquerda na foto, ao lado da equipe da empresa). A linha inclui vassouras antibacterianas e processos de validação, como lanternas UV, além de detergentes, sanitizantes, limpadores da marca Sparta. Pontes estava otimista. “As duas atividades [peixe e camarão] estão bem aquecidas e o movimento da feira muito bom.”

Economia energética

A oxigenação constante é um dos principais componentes do alto custo energético dos viveiros escavados, que sobe proporcionalmente à intensificação da produção. É por isso que empresas como a Trevisan buscam cada vez criar opções que representem economia no consumo. Segundo Marcelo Trevisan, engenheiro de controle e automação, o novo aerador de 42 pás com redutor engrenado alcança um rendimento 60% maior com motor de 2cv. “Os 14 conjuntos de pás dão capacidade de biomassa a este aerador de até 18 mil kg, antes era de 10 mil kgs.” Oito aeradores entrarão em teste em um novo módulo produtivo na Camanor, mas a expectativa é que o custo se pague antes de nove meses com a economia de energia.

A marca da cal

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O carbonato de cálcio e seus derivados, como a cal e a dolomita, têm muitas aplicações. Na aquicultura, servem tanto para esterilizar viveiros e demais estruturas de cultivo quanto para o controle da acidez na água. Largamente disponível em território nacional, têm fornecedores renomados e outros nem tanto, o que exige esforço para a diferenciação. “Nossa linha é específica para a aquicultura. Existem no mercado vários produtos, mas muitos produtores não sabem diferenciar”, avalia Albert Santiago, vendedor da Carbomil para o segmento (à esquerda na foto). A Fenacam teve esta missão didática, como explica a gerente comercial, Raquel Cavalcante Aguiar (na foto à direita). “Trouxemos alguns materiais para fazer testes na própria feira e mostrar a eficácia do produto.” Outro desafio é a falta d’água e impacto da mancha branca entre Jaguaruana e Aracati, no Ceará, pólo próximo à fábrica da empresa. “Jaguaruana está praticamente parada, até os poços estão sem água. E lá havia 350 hectares de lâmina de viveiros, que hoje não passam de 50 hectares”, lamenta.


Marketing & Investimentos

Água limpa e segura

“O ozônio é um gás que, produzido em alta concentração, é o mais potente germicida que existe. A prova é que somos protegidos por ele”, atesta Samy Menasce, fundador da Brasil Ozônio. Pela primeira vez com estande na Fenacam, o empresário já acumula experiências em mais de 3 mil instalações, incluindo Ambev, Coca-Cola, JBS. No setor, Camanor e Potiporã já são clientes para diversas aplicações. “Basicamente tratando água do mar. Na Potiporã tratamos 50 mil litros por hora para o laboratório. Na Camanor temos na produção e lavagem de tanques com ozônio.” Dimensionado corretamente, um sistema de ozonização pode ser 100 vezes mais potente que o cloro, quebrando as ligações moleculares de qualquer vírus, bactéria, protozoário, fungo e até metais pesados, oxidando-os e permitindo a filtragem. “Nada resiste a ele”, garante.

Biorremediadores

O equilíbrio na composição da água de cultivo é fundamental para bons resultados da engorda. Uma forma de atingi-lo é usando biorremediadores, como os fornecidos pela Kayros Ambiental. Cláudio Caleb Monteiro, diretor da empresa, explica que a atuação é ampla. “Os biorremediadores reduzem fósforo, nitrito, amônia, lodo, algas e até aumentam o oxigênio.” Na feira a Kayros apresentou diversos itens, entre os quais o N-Acqua, produto exclusivo para camarão que também reduz o nitrogênio e possui enzimas digestoras de material orgânico. O setor vai bem, na visão de Monteiro, o que o estimula a expandir até para fora do País: a Argentina deve ser o destino.

Melhor digestão e resistência

O posicionamento do estande logo na entrada da Fenacam ajudou a Bioexperts a consolidar a participação no negócio aqua da empresa, que traz da espanhola Bioibérica soluções para nutrição animal. Especialmente para peixes e camarões, a companhia levou a linha Nucleoforce de extratos hidrolisados de levedura com alta concentração de nucleotídeos livres. Segundo a diretora administrativa Katherinne Lins, os produtos aumentam a resistência a doenças, índices de crescimento, melhora na conversão alimentar e maior taxa de sobrevivência.

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Genética é o caminho

Os executivos da Spring Genetics presentes à Fenacam mostram confiança na demanda por animais geneticamente melhorados. A empresa do Grupo Benchmark já participa do evento pela quarta vez com foco em buscar multiplicadores para a sua tilápia resistente a streptococus, maior crescimento e rendimento de filé, mas já mostra interesse no camarão. “Temos um núcleo genético de camarão na Colômbia, que poderia enviar diretamente ao Brasil”, indica Jan Emil Johannessen, chefe de genética do Becnhmark. “A quarentena que temos em Fortaleza está autorizada para receber quaisquer animais aquáticos”, completa Hideyoshi Segovia, gerente comercial e de operações da Spring. Enquanto não se autoriza a importação de matrizes de vannamei, Hernan Pizarro, diretor comercial da Spring, vê espaço para expansão na tilápia. “Aqui [no Brasil] há experiência com genética de aves e suínos. Vocês entendem o valor por trás de um ganho de 2% de filé ou resistência a doenças.”


Com os dois pés em Natal

A governadora eleita no Estado garantiu e o consultor da ABCC Itamar Rocha confirmou que a Fenacam não deve sair de Natal no próximo ano. Um novo pavilhão está em construção e deverá abrigar a feira, que neste ano sentiu o golpe da estiagem prolongada e difícil recuperação pós-mancha branca.

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Thiago e Cesar Silva (Aquamar)

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Guillermo Illanes (FAV/Abbott), Itamar Rocha (MCR/ABCC), Geraldo Borba Jr. (Nexco) e Roberto Riethmüller (FAV/ Abbott)

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Fábio Sussel (Apta/FishTV), Marisa

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Bruno Paiva, Renato Almeida, Thais Oliveira, Francisco Ximenes, Thaysa Brito, Hugo Botelho, Wellington Rossitto, Maísa Carvalho e Fernando Brito

Sonehara (Camanor) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)

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Marcelo Borba e Otávio Castro (Phileo), Luis Conceição (Sparos) e Flávio Fonseca (Ifam)

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Diego Flores e Dora Cota (Ziegler), Mariana Valdivieso e Pablo Roberto Páez (Prilabsa)

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Altemir Gregolin (IFC), Itamar Rocha e Eliana Panty (IFC)

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Tom Prado, Lucas Tavares e Ricardo Campos (Itaueira)

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Bruno Macedo (Camanor), Diogo Holanda e Ailton Leoncio (Drumattos), Marisa Sonehara e Vinícius Frota (Camanor)

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Clodoaldo De Brito Sobrinho e Max Joel Mucha Franco (Seap), Rui Donizete Teixeira (FAO/ONU), Jessica de Castro Amaral, Carlos César de Mello Júnior,

Aline Vosgrau Fagundes, Kennedy Lacerda e Diogenes Lemainski (Seap)

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Jose Waldomiro Ribeiro Coutinho Filho (Camar), Ricardo e Rafael Pedroza (Camarões do Brasil), Geraldo Cosentino (Squalo), Pedro Furlan (Nativ) e Gustavo Pedrosa (Camarões do Brasil)

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Maria Tereza Sarmento, Érica Silva Araújo, Jaqueline Medeiros Gastelú e Milton Fassarella (Larvi)

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Rafael e Ricardo Pedroza (Camarões do Brasil), José Robson (Potiporã), Gustavo Gutierres (Bom Peixe), Rodrigo Carvalho (G5), Felipe Katata (Mitsubishi) e Marcelo Mayer Varela (Carapitanga)

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Marketing & Investimentos

Qualidade profissional Organizado pelo IPesca, Simcope chega à oitava edição com mudança no perfil do público e preocupação em integração da cadeia

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os peixes não convencionais às estratégias de diferenciação da indústria, o VIII Simpósio de Controle de Qualidade do Pescado (Simcope) mostrou mais uma vez a preocupação em inovar nos temas para ampliar o espectro de participantes, normalmente restritos a representantes

do meio acadêmico. No entanto, a edição realizada entre 9 e 11 de outubro, no Parque da Água Branca, em São Paulo, rendeu desafios à equipe do Laboratório de Tecnologia do Pescado do Instituto de Pesca (IPesca) que foram além da seleção de assuntos e diversificação da audiência.

Homenagens

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O Simcope sempre realiza uma homenagem a personalidades e/ou instituições que atuam no pescado e contribuem para o desenvolvimento da cadeia produtiva. Neste ano, o Secretário da Agricultura de São Paulo, Francisco Jardim, entregou a Esequiel Liuson, superintendente federal da Agricultura em SP, uma placa para homenagear Célio Faulhaber, pioneiro na inspeção federal de pescado, pelos serviços prestados à cadeia ao longo da carreira. O diretor do Instituto de Pesca, Luiz Marques da Silva Ayroza, também foi homenageado na ocasião pelo apoio ao evento. A própria revista Seafood Brasil, representada pelo editor, Ricardo Torres, também foi agraciada com um troféu em reconhecimento e agradecimento ao trabalho executado com o setor. “Afinal, além de informar e divulgar o conhecimento, em cada edição da revista é evidente o comprometimento e o apoio incondicional à cadeia produtiva do pescado”, indica o relatório assinado por Érika Furlan.

O maior deles foi a Lei Eleitoral, que impediu a divulgação massiva do evento no período mais crítico para o sucesso da estratégia. Às vésperas da eleição, a equipe de comunicação do IPesca, órgão vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) não pôde preparar comunicados à imprensa, atualizar as redes sociais, produzir conteúdo para o site do evento, entre outras limitações. Ainda assim, 150 acadêmicos e profissionais da indústria do pescado do Brasil todo participaram do evento. Diferentemente das edições anteriores, os estudantes não compuseram a principal faixa do público. Pesquisa da organização evidenciou que 75% dos participantes eram profissionais do ramo, dos quais 38% destes eram professores universitários. Na visão de Érika Furlan, pesquisadora do IPesca e responsável pela comissão organizadora este ano, esta é a evidência de que o evento adquiriu um papel importante na atualização dos profissionais atuantes no ensino superior, enquanto os estudantes se viram obrigados a restringir a participação. “A queda se deve ao momento de crise financeira vivenciada no País (...) A redução na participação de estudantes repercutiu também no número não tão expressivo de trabalhos apresentados, visto que esta categoria, normalmente, é a responsável pela maioria dos trabalhos inscritos.” Ao todo, 58 trabalhos foram apresentados.


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Marketing & Investimentos

CONTEÚDO MULTIPLATAFORMA Acesse nosso canal para assistir à cobertura em vídeo da 10ª AquaSur: youtube.com/seafoodbrasil

Tiago Bueno, gerente de contas da Seafood Brasil: revista estreou na feira, maior evento aquícola do continente

Shopping aquícola Maior plataforma tecnológica para a aquicultura latino-americana, feira AquaSur completa 10 anos com a missão de dar recursos à necessidade de expansão

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salmonicultura chilena já se aproxima do limite de áreas disponíveis para expansão de cultivos e aposta na tecnologia para melhorar os principais indicadores do negócio: peso médio de despesca, taxa de mortalidade, combate a enfermidades e redução do impacto ao meio. É com este foco que mais de 1000 empresas em 300 estandes levaram à AquaSur, durante os dias 17 a 20 de outubro, os caminhos tecnológicos para endereçar estas questões. A feira é organizada pela Technopress/Editec, grupo editorial com mais de 30 anos de atuação no setor, por meio da revista Aqua.cl.

a disposição para cumprir a meta de se tornar o maior protagonista da aquicultura mundial. O Chile produz mais de 800 mil toneladas de salmonídeos e fatura US$ 4,6 bilhões de dólares.

Alguns brasileiros também fizeram questão de se deslocar a Puerto Montt (Chile) para sintonizar-se com o que o maior polo aquícola do hemisfério sul têm

Francisco Medeiros, diretor presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), participou do evento de olho em tecnologias apli-

Para Eduwaldo Jordão, responsável por vendas da Wenger para toda a América Latina, o maior legado que a feira deixa ao Brasil é justamente a integração da cadeia para atingir este desempenho. “Indústria, governo e o povo estão alinhados na causa do desenvolvimento da salmonicultura. O salmão acabou sendo para o Chile uma forma de divulgar o país, é um exemplo que temos de levar ao Brasil.”

cáveis ao Brasil. “Vemos muito aporte tecnológico na parte de controle, verificação dos sistemas de produção e, mais importante, a preocupação com a sustentabilidade. É uma evolução que vemos na salmonicultura e também uma preocupação nossa no Brasil”, diz. Na mesma linha, Manoel Padilha da Cunha Jr., diretor da Massako Piscicultura, foi em busca de tecnologia e conhecimento para um novo projeto em desenvolvimento no Lago do Manso, no Mato Grosso. “Somos muito carentes em tecnologia, seja em melhoramento genético, passando por sistemas automatizados de alimentação e despesca dos peixes. Aqui encontramos os maiores players do mundo com estas tecnologias.” Veja a seguir alguns dos destaques da feira:


Sem mexilhão dourado

Qualquer tipo de incrustação nos tanques-rede é inimiga do Terminator 3 Mini, o modelo de entrada da MultiPump Innovation (MPI). José Tomás Reveco, supervisor de supply chain, explicou que o equipamento de limpeza atua com fluxo contínuo de água a alta pressão que movimenta um disco giratório capaz de remover mexilhão dourado, algas e outros ameaças à oxigenação nos tanques. Simples de operar, o equipamento só requer uma bomba que impulsione água ao sistema.

Multiparâmetros

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A Innovex oferece “tudo o que se relacione com tomar um dado em tempo real e tornar mais eficiente a produtividade e tomada de decisões”, como define o diretor geral, Patricio Catalán. Neste rol estão sensores, sistemas de transmissão sem fio, monitoramento em tempo real, automatização de injeção de oxigênio nos tanques e serviços oceanográficos. O executivo já esteve na região de Paulo Afonso (BA) para estudar a viabilidade de instalar boias oceanográficas para compartilhar diferentes informações a todos os aquicultores situados ali. “Nisso deveria estar envolvido o governo do Brasil, porque o equipamento poderia melhorar a produtividade do setor sem prejudicar os aspectos ambientais”, adverte.


Marketing & Investimentos Rastreabilidade total

A Steinsvik é uma das principais fornecedoras mundiais de equipamentos de monitoramento e estruturas de cultivo, como tanques-rede circulares ou quadrados de grande volume. O gerente comercial da divisão chilena, Pablo Campos Ducasse, diz que um dos sistemas disponíveis ao Brasil permite rastrear toda a vida do animal, da alevinagem onde nasceu até as doenças e tratamentos que enfrentou. “Entre nossos clientes temos produtores de salmão, bijupirá, barramundi, camarões, tilápia e outras 15 espécies cultivadas com nossos equipamentos.”

Circuito fechado

Os cultivos com recirculação de água (RAS) são a única saída para países áridos como Israel, onde está situada a multinacional Aquamaof Technologies. Mas Rodrigo Capó, agente de vendas para a América Latina, explica que muitos outros países estão desenvolvendo cultivos de peixes em terra para se aproximar dos centros consumidores, diminuir custos e o impacto ao meio ambiente. Se depender dele, a tecnologia israelense em breve estará no Brasil. “É um mercado interessante, consome 15% do salmão de Chile e pensamos que não só para salmão, mas também para tilápia e pirarucu com a vantagem de ser uma tecnologia de baixo custo e muito amigável ao meio ambiente.”

Bem-estar peixeiro

O abate humanitário já é uma realidade em cadeias mais consolidadas, como aves e bovinos. No pescado a pessão social começa a tomar corpo, mas já há soluções para o problema. No Chile o atordoamento por pistola pneumática é muito comum, mas o escocês Mike Forbes, chefe de vendas e marketing da ACE Aquatech, ao lado de Andrew Gillespie (à esq.), apresentaram na AquaSur uma alternativa premiada na última AquaNor: um atordoador instalado em uma câmara de água que dá choques elétricos em circuito fechado para insensibilizar o peixe por 4 minutos para o abate. Eles mostraram ainda um boneco de peixe capaz de emitir pequenos choques para afugentar predadores e uma câmera 3D que tira fotos de todos os peixes de um tanque de forma a medir a biomassa total.

Direto de Puerto Montt (e arredores)

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Durante a vista da Seafood Brasil ao Chile, em outubro, nossa equipe constatou a presença de brasileiros na 10ª AquaSur, mas também registrou os bastidores das visitas que fizemos a quatro das salmoneiras líderes daquele país: AquaChile, Cermaq, Los Fiordos e Marine Harvest (Leia mais na matéria de Capa).

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Pilar Serranos (AquaChile) e Ricardo Torres (Seafood Brasil)

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Daysy Miranda, Marcelo Alvarez, Juan Cristobal Velasco, Jenaro Correa e Fernando Hott (Los Fiordos)

Tiago Bueno (Seafood Brasil), Matías Serrano (Cermaq) e Felipe Katata (Mitsubishi)

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Aparecido Silva (Aquawire) e Francisco Medeiros (PeixeBR)

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Diego Urrestarazu Gonzalez (Marine Harvest)

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José Mura Jr. e Gisela Mura (Jopejo Agropecuária), Alice Massako Endo Cunha e Manoel Padilha (Massako Piscicultura)

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Eduwaldo Jordão, Claudio Mathias e Mario Nielsen (Wenger)

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Kostas Seferis, João Campos e Tassos Sarigiannis (Aqua Manager)

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Louie Owens (AquaLife) e Fabio Rossi (Marine Equipment)

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Marketing & Investimentos

Novas tendências e velhos problemas Terceira realização da Feira de Peixes Nativos pelo Sebrae explicitou as fragilidades da piscicultura nacional no caminho do desenvolvimento Texto: Fabi Fonseca* | Edição: Ricardo Torres

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salmonelose pode representar para a piscicultura nacional o que o piolho do mar significa para a salmonicultura norueguesa. Os nórdicos gastam em torno de US$ 600 milhões para controlar a doença todos os anos. A salmonelose já é alvo de pesquisa de um grupo de universidades, como a UFMG e a Esalq/USP, além da mobilização da Embrapa Pesca e Aquicultura e Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).

No Brasil ainda não se calcula o impacto dos danos causados aos peixes nativos, mas a preocupação do segmento ficou evidente na última Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce e o 3º Seminário de Tendências e Tecnologias na Piscicultura. O evento aconteceu no Centro de Eventos do Pantanal, nos dias 13 e 14 de novembro, com organização do Sebrae/MT em parceria com a Associação dos Aquicultores de Mato Grosso (Aquamat). Quem expôs a urgência do tema foi Francisco Medeiros, diretor-presidente da PeixeBR. “Ou resolve-se o problema da salmonella, ou o negócio acaba”, cravou. Medeiros revelou que a PeixeBR aguarda a resposta da Embrapa para

parceria em um projeto de combate à enfermidade, mas já conversa com os pesquisadores a respeito. “Estamos neste momento trabalhando para montar uma estratégia de pesquisa para controle efetivo desse risco, como já fazem os produtores de aves e salmão”, explicou. A doença tira o sono, mas a informalidade ainda é o grande mal da piscicultura, na visão de Medeiros. “A salmonella é mais um desafio da piscicultura brasileira dentre tantos que temos que enfrentar para alcançarmos um bom nível de excelência, mas mais importante do que isso é que todo peixe consumido no Brasil tenha passado pelo serviço de inspeção”, declarou. “Não temos um futuro sem um ambiente legal e certificado. Tem que ser da preocupação do produtor a legalização da atividade”, completou. A provocação aos produtores foi parte de um programa de palestras claramente voltado à capacitação, com foco em produção, mercado nacional e internacional, tecnologia, sustentabilidade,


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Marketing & Investimentos Pantanal Pescado A jornada de Cleber Nascimento do Prado Busa começou há três anos, em Itaporã, no interior de Mato Grosso do Sul, quando o administrador de empresas resolveu aventurar-se na criação de tilápias no sítio da família. Como qualquer estreante na piscicultura, as grandes dificuldades foram para colocar o produto no mercado e depois a expansão do negócio. A decisão de abrir um frigorífico surgiu após uma pesquisa no setor. Com a qualificação profissional e consultorias do Sebrae-MS, que mais tarde se tornou parceiro no negócio, a Pantanal Pescado vingou. Atualmente o volume de abate é de 150 toneladas por mês, com capacidade de estocagem de 1000 toneladas. Busa não deixou de trabalhar com as tilápias, mas agora elas são provenientes do Paraná e representam 50% do volume atual. A atividade também inclui tambaquis, pintados e pirarucus de Rondônia. Em 2018, a empresa já faturou R$ 2,5 milhões, mas o empresário quer mais. Para suportar a expansão, a estrutura da empresa - hoje com 300 m2 - vai dobrar em janeiro e os 33 funcionários atuais devem subir para 50. A produção é diversificada com filé de tilápia, postas de tambaqui, peixes inteiros e maior valor agregado. Nos planos também está uma farinheira para dar destino certo às sobras e carcaças dos animais, além de facilitar a entrada no mercado de óleo de peixe. O Centro-Oeste e Sudeste são o principal mercado, mas o Pantanal já está perto de transpor as barreiras nacionais: Busa revelou conversas com compradores do Peru e Canadá.

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políticas públicas, turismo e gastronomia. Os produtores de nativos, que lotaram ônibus do Sebrae oriundos de todas as partes do País, puderam acompanhar inclusive experiências internacionais. No painel “Peru: o país do pescado”, Victor Hugo Rondon Soto, do Ministerio de Comercio Exterior e Turismo do Peru, o chef Luis Cito e Arturo Adolfo Arbulú Zuazo, do Instituto Tecnológico de La Producción (ITP), mostraram as políticas integradas da produção com a gastronomia, turismo e cultura. Suazo disse ainda que o mercado avalia a aquicultura como um caminho para diversificar o potencial financeiro do setor, tanto para o consumo direto (humano) ou indireto (outros fins, como para nutrição animal). “Os empresários estão olhando mais para os aquicultores porque encontraram neles uma maneira de completar sua produção”. Ele reforçou a limitação da pesca extrativa, que sofre, por exemplo, com a instabilidade climática, que afeta a produção e deixa trabalhadores desempregados, consequentemente, elevando custos e gerando prejuízos.

O presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da Confederação Nacional da Aquicultura, Eduardo Ono, foi claro ao dizer para os aquicultores que o fluxo de informação deve ser do consumidor para o produtor, e não o contrário. “Na cadeia do peixe a gente tem o mau hábito de achar que o consumidor precisa comprar o que a gente produz”, enfatizou. Além de estar atento ao gosto do comprador final, é preciso conquistar a confiança do consumidor. Segundo Ono, uma palavra resume o caminho para chegar até lá: qualidade. “O Brasil está muito mais preocupado com a qualidade do processo e as autoridades também, do que com a qualidade final do produto”, frisou. Ele reforçou ainda a importância de se combater a fraude no pescado. “Vamos trabalhar de uma forma mais honesta, senão nosso futuro não será muito brilhante”, afirmou. Como parte desta evolução, Joseir Toppe, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricul-

tura (FAO), enfatizou como aproveitar melhor os recursos já produzidos na pesca e aquicultura. Segundo Toppe, “No processo de filé do pescado, é aproveitado apenas 50% para consumo humano, o restante não é utilizado, embora em muitos lugares use para produção de farinha ou como um ingrediente para ração animal, mas uma boa parte não consome a cabeça, coluna ou vísceras que têm um valor nutricional muito diferente”, comentou. Os especialistas informam que 30% da população mundial tem algum tipo de deficiência em um ou mais nutrientes como zinco ,vitaminas, ferro e cálcio. “Ao mesmo tempo estamos jogando fora partes com estes nutrientes”, disse. Em conjunto a José Borghetti, também da FAO, Toppe reconheceu ser complexo diminuir a porcentagem de proteína descartada. “Eu não penso que no futuro vamos consumir 100% do pescado, mas ao invés de 50% talvez 55%, o que já seria muito, porém temos que buscar maneiras de investir no que não será aproveitado”, assegurou.


O combate ao desperdício começa nas pisciculturas, como elencou Fernando Kubitza, da Acqua Imagem. Para ele, os aquicultores devem percorrer algumas etapas ao caminho do sucesso, como: organização; planejamento; identificação dos problemas; definir soluções e implantar procedimentos de produção com monitoramento; adequação da infraestrutura e equipamentos; capacitação da equipe; adoção de medidas práticas sustentáveis e manter registro para controle. Outra forma de otimizar a atividade é explorar o turismo rural associado à piscicultura, como expôs Carmem Omizolo, sócia-proprietária da Fazenda Hi Fish. A empresa se tornou centro de turístico cultural, científico, tecnológico e gastronômico no Mato Grosso do Sul. “Buscamos integrar as diversas atividades da fazenda e sermos sustentáveis”, falou. Valéria Pires, analista técnica do Sebrae/MT e coordenadora do evento,

considerou que o programa abrangente de palestras ajudou a organização a cumprir as metas. “Conseguimos alcançar os nossos objetivos, tivemos a participação maciça de produtores aqui do Mato Grosso, assim como empresários e governantes. Não só da região e também pelo menos mais 13 Estados do País”, declarou. Segundo a coordenadora, a presença de palestrantes renomados em nível nacional e do exterior enriqueceram o evento. “Foi muito positiva a participação dos palestrantes e até mesmo os internacionais”, disse. “ E vemos que o Mato Grosso não fica fora do que está acontecendo no âmbito internacional, em relação à questão de produção e sustentabilidade do pescado e no desenvolvimento da cadeia como um todo”, concluiu.

Tudo para frigoríficos A feira serviu de palco para o lançamento do Manual de Industrialização do Pescado. No livro estão reunidas informações sobre políticas e legislações referentes à piscicultura em geral, elaborado pelo próprio Sebrae/MT com o apoio dos representantes de instituições durante o Fórum de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Piscicultura no Estado.

* A repórter viajou a convite do Sebrae-MT

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MERLUZA PREMIUM CONGELADA A BORDO


Marketing & Investimentos Expositores nativos

Tanques circulares

Vinícius Faria, da Manso Aquicultura, mostrou na feira deste ano o portfólio da empresa, composto por tanques-redes redondos de 6 m a 20 m de diâmetro. A linha contempla ainda tanques-rede de 3x3 com profundidade de 2 e 3 metros, além de itens modulares de metal em 6x6 a 24m, com telas de 3,5 até 6 metros.

Novo probiótico

Dividida entre a Fenacam e a Feira de Peixes Nativos, a AMMCO Pharma levou à Cuiabá o probiótico Bac3, da Vitafort, que melhora a digestibilidade dos animais e, de quebra, a qualidade da água. Sergio Guimarães, executivo da empresa, mostrou ainda as demais soluções da empresa em biosseguridade, sanidade e nutrição animal.

Para a tilápia do Manso

Com a recente autorização do cultivo da tilápia em tanques-rede no Lago do Manso, os fornecedores estão de olho no potencial do negócio. Um deles foi Marcos Camargo, da PAP Rações, que mostrou a nova linha de rações exclusivas para o peixe.

Despesca mais fácil Câmara fria ajustável

Ração extrusada

Do alevino ao peixe gordo, a VB Alimentos e seu representante Willer Correa mostraram na feira as três linhas da linha Cardume de ração extrusada, completa e balanceada: Cardume Inicial; Cardume Onívoro e Cardume Carnívoro.

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Há 13 anos no segmento de refrigeração, a Kalt Refrigeração segue de perto a expansão da piscicultura local. O executivo Geann Costa se preparou para tirar dúvidas e apresentar uma câmara frigorífica pronta para instalação cuja capacidade de refrigeração é ajustada previamente de acordo com a necessidade.

José Carlos e Antonio Silva, da Têxtil Sauter, aproveitaram a visibilidade da feira para apresentar uma nova rede para despesca de tilápia com mangas, anti-saco e saco com alturas de 3 m a 9 m, de forma a aumentar a concentração de peixes no centro do produto. Além disso, a rede não tem emenda na altura, com laterais entralhadas para maior durabilidade, bóias em poliuretano, corda de 12 mm e chumbo entralhado (14 mm).

Aproveitamento total

Os professores Janessa Ribeiro e Márcio Hoshiba, da UFMT, coordenam com outros dois professores o Núcleo de Estudo em Pescados (Neps). Na companhia de alunos, pretenderam mostrar aos piscicultores o aproveitamento dos resíduos e aprimoramento do processo, com elaboração de farinha, salsinha entre outros produtos com capacidade de escala industrial.

Camarão no cerrado

Quando ainda era estudante, Roosevelt Luciano iniciou um cultivo experimental de camarão vannamei em bioflocos no Parque Atalaia, em Cuiabá. Depois de alguns insucessos, encontrou novos parceiros para dar sequência ao projeto e assim surgiu a Camaoeste - um dos destaques da feira este ano.

Lance certeiro

O engenheiro Philip Conolly iniciou o trabalho com a Engepesca focado na extração, mas a ascensão da aquicultura o motivou a criar diversas soluções para o cultivo. A mais bem-sucedida é a TilápiaNet, criada há 18 anos: em experimentos junto a produtores de tilápias, capturou-se 90% dos peixes em um lance (7.458kg). A malha mais utilizada é a 35mm, para peixes acima de 150 gramas.


Probióticos

Na estrada

A Aquamat já representa mais de 400 empresários do setor aquícola local junto aos órgãos competentes. Na fase atual, como explicou Leonardo Pinheiro, o objetivo é levar informações técnicas, eventos e incentivo à criação de políticas públicas a todo o Estado.

Tanto na Fenacam quanto em Cuiabá, a Trevisan introduziu aos visitantes o novo aerador com pás alternadas, que economiza em mais de 60% a energia elétrica necessária para alimentá-lo para a mesma eficiência de oxigenação. Outro destaque nesta terceira participação na feira, conforme indicou Nedyr Chiesa, foi o alimentador de peixes para 3 mil kg.

Juvenis em bioflocos A Água Funda Piscicultura se especializou na produção de juvenis de tilápia em sistema de bioflocos. Frederico Tanuri esclareceu aos presentes que consegue um preço competitivo para as formas jovens por conta da diminuição do custo com ração proporcionada pela tecnologia.

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Lançamento simultâneo

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A PlaneerZoot, representação da Kera Nutrição Animal no Mato Grosso, levou aos presentes algumas tecnologias em probióticos para peixes e crustáceos. Paulo de Tarso aproveitou para explicar como o produto melhora a conversão alimentar, diminui a mortalidade, acelera o crescimento de larvas, aumenta a resistência à mudança de temperatura, auxilia no ganho de peso e na decomposição da matéria orgânica no lodo.


Marketing & Investimentos

CONTEÚDO MULTIPLATAFORMA Confira todas as fotos do evento em http://bit.ly/bacalhau_noruega

Jogada de craque Noruega segue com pentacampeão Roberto Carlos como garoto-propaganda do bacalhau, que ainda sofre concorrência asiática e efeitos da instabilidade cambial Texto: Fabi Fonseca | Edição: Ricardo Torres

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Museu de Arte Moderna (MAM), em pleno Parque Ibirapuera, em São Paulo, reúne uma coleção de obras de arte. Como culinária e futebol também são manifestações artísticas, o Conselho Norueguês da Pesca (Norwegian Seafood Council) resolveu aproximar os dois mundos em 12 de novembro. Em apresentação a empresários, redes de supermercados e convidados da gastronomia local, detalhou a nova fase da campanha de marketing da marca Seafood From Norway (ex-Norge), lançada na edição 2017 do mesmo evento. O ex-jogador e lateral esquerdo da seleção brasileira Roberto Carlos, embora não estivesse fisicamente no evento, foi um dos destaques do “Seminário 2018 do Bacalhau da Noruega”. O craque foi convocado para estrelar diversos cards de redes sociais e vídeos ao longo do ano em que convida família e amigos para preparar uma receita, enfatizando a conexão entre o “bacalhau autêntico” (Gadus morhua) e a Noruega.

O novo diretor do conselho no País, Øystein Valanes, enfatizou o impacto positivo do jogador na identificação e credibilidade do produto norueguês. O jogador segue como garoto-propaganda no Natal 2018, como parte da campanha com exposição em canais de TV a cabo, mídias e redes sociais. O foco é na popularização do consumo, criação de novas datas fora da Semana Santa e Natal e na diferenciação de outras origens. Valanes segue com a mesma preocupação do antecessor, Vasco Tørrisen Duarte. Apesar de ter a qualidade conhecida nacionalmente, o item ainda sofre com a comparação a outros produtos. “Temos que diferenciar das outras espécies e origens. Usamos o logo em todos os mercados e com os anos será reconhecido em todos os lugares”, disse.

Mercado e consumo Marcio Milan, superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) foi um dos participantes do seminário com o tema “Tendências

de Mercado e Consumo Pós-Crise e Eleições”. Segundo o palestrante, pesquisas apontam elevação de quase 2% nas vendas dos supermercados entre setembro de 2017 e o mesmo mês de 2018. Atacadistas e os mini mercados seguem em ascensão. Milan destacou que o cliente deixou de ser “fiel”, para se tornar “multicanal”, procurando preço e qualidade. “No pós-crise não se fala só de preços, embora isso permaneça como um dos [fatores] mais importantes, fala-se também de qualidade e saudabilidade”, comentou. Outro ponto forte é a praticidade: “O consumidor busca mais produtos que facilitam o dia a dia”, esclareceu. O superintendente ainda falou sobre os principais desafios para o setor até 2020. Para ele, o combate ao desperdício de alimentos (uma preocupação financeira e ambiental), é responsabilidade compartilhada de toda a cadeia. A sustentabilidade também é uma preocupação constante, assim como a rastreabilidade.


IMPORTAÇÕES DE BACALHAU E PEIXES SALGADOS | JAN/OUT 2018 Var. 2017 - 2018

Volume (KG) Jan/Out 2018

Volume (KG) Jan/Out 2017

Var. 2017 - 2018

US$/KG 2018

US$/KG 2017

Var. 2017 2018

Noruega

$89.292.508

$89.464.484

-0,19%

15.103.735

16.839.062

-10,31%

$5,91

$5,31

11,28%

Portugal

$51.463.825

$50.830.337

1,25%

5.432.961

6.126.057

-11,31%

$9,47

$8,30

14,16%

China

$14.991.457

$18.733.534

-19,98%

1.875.582

2.774.750

-32,41%

$7,99

$6,75

18,39%

Islândia

$307.957

$219.928

40,03%

46.085

32.800

40,50%

$6,68

$6,71

-0,34%

Reino Unido

$192.588

$81.501

136,30%

11.000

5.000

120,00%

$17,51

$16,30

7,41%

$106.830

$194.542

-45,09%

24.463

59.076

-58,59%

$4,37

$3,29

32,61%

$156.355.165

$159.524.326

-1,99%

22.493.826

25.836.745

-12,94%

$6,95

$6,17

12,58%

Estados Unidos TOTAL

A diretora executiva da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes), Thamires Quinhões, apresentou visão sobre o mercado de pescado importado. Sob a ótica dela, os principais fatores que influenciam diretamente no consumo diário do pescado pelos brasileiros são: a segurança jurídica para dar continuidade ao abastecimento; combate a barreiras sanitárias; políticas de fomento; previsibilidade cambial; e confiança do consumidor nas marcas e produtos relacionados à imagem do setor.

Ligia Talludec, pesquisadora qualitativa sênior da Kantar, trouxe “Insights Qualitativos da Kantar – TNS”. Resultados preliminares reforçam que, por cultura, os brasileiros consomem mais carne vermelha, mas existe potencial para o aumento do pescado. Apontou ainda que o bacalhau tem forte aspecto emocional na cultura nacional, é considerado saudável e está presente na família em dias especiais. Para ela, é preciso levar em consideração o modo de preparo, já que

o produto em geral não é feito pelos mais jovens. A pesquisa ainda evidenciou itens relevantes para o consumidor na hora da compra como: preço, embalagem, aparência, higiene (tanto do produto quanto do supermercado), tamanho e cheiro (característico, porém não forte). “Observa-se que a origem do bacalhau não é levada em consideração pelos brasileiros, o primeiro que vem à cabeça [mais associado] é de Portugal”, revelou.

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Receita (US$) Jan/Out 2017

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Receita (US$) Jan/Out 2018


Marketing & Investimentos

Tribo dos Peixeiros

Foi com este tema que o Departamento de Agronegócio (Deagro) da Fiesp, que agora abrange a aquicultura e pesca, encerrou oficialmente as atividades em 2018. Cocares, chocalhos, músicas e comida típica compuseram o cenário perfeito para o tradicional networking dos happy-hours do Compesca. Antes, a plenária com ABCC, Abrapes, Anepe, Abipesca, PeixeBR, CNA e Sindipi mais uma vez mostrou os pontos de insersecção entre as entidades e pleitos do setor, diante da nova realidade do setor abrigado dentro do Mapa.

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Itamar Rocha (ABCC), Thamires Quinhões (Abrapes), Betinho Oliveira (Anepe/FishTV), Eduardo Lobo (Abipesca), Roberto Imai (Deagro/Fiesp), Francisco Medeiros (PeixeBR), Eduardo Ono (CNA) e Jorge Neves (Sindipi)

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Eduardo Frasson (Bom Peixe),

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Heiji Tamada (Itiban Pescados), José Pereira de Souza (Trovão Pescados), Werner Martins (USP), Roque Oliveira Villarreal (Integra)

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João Crescêncio (Seap/PR), Helcio Honda (Anepe) e Roberto Imai

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Roberto Imai, Altemir Gregolin, Francisco Medeiros e João Crescêncio

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Roberto Imai, Altemir Gregolin (IFC) e Marli Marques (Lagostão)

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Marcelo Toledo (Skretting), João Scorvo (Apta/SP), Felipe Weber (Aruanã/Abla), Célia

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Scorvo Frascá (Aquabio) e Ricardo Dias (Abla)

Eduardo Lobo e Jorge Neves

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Cocares, chocalhos e outros itens indígenas fizeram parte da homenagem à cultura caiçara

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Carolina Nascimento e José Madeira (Alaska Seafood Marketing Institute) e Iryna Bokan (Trident Seafoods)

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Caio Faro (WWF), Cintia Miyaji (Paiche), Adriana Levy e Alex Du Mont (Seaweed)

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Os blocos do Nanook

O urso mais simpático do Alasca recepcionou diversos compradores e distribuidores do varejo para conhecer e cozinhar - todo mundo botou a mão na massa - os fish blocks de polaca do Alasca. Prensados em blocos de 7kg, podem ser depois porcionados na indústria, como é o caso da Noronha Pescados - a primeira a apostar no produto.

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Blocos da polaca, agora parte da família Gadus, lembram os parentes Morhua e Macrocephalus James Loureiro e Guilherme Blanke (Noronha), Laelson Leão de Oliveira (Hirota) e João Luis Miranda (Noronha)

Nanook, Marcos Galvão, Marcela Zampieri , Pedro Coelho e Elane Santos (GPA)

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Márcio Ortega (Fênix), Marcelo Eiger (Trident), Danilo Silveira (Multifoods) e Victor Arruda (Fênix)

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Iryna Bokan (Trident Seafoods) e Tiago Dreher (Komdelli)

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Viviani Menezes (Cencosud) e Carolina Nascimento (Alaska Seafood Marketing Institute)

Pescados com qualidade

Um empr a respe esa que ita o mei ambi ente o

Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor.

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do Exija cedor e n r fo seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr a N t

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O sabor que faz a diferença


Na

Planta Tecnologia em processamento de pescado

Aos pequenos e médios A classificadora compacta da Marel foi projetada para a classificação de pescado em pequenas e médias empresas, ou como um complemento para os grandes que necessitam de fluxos temporários ou sazonais. Apesar de compacta, a companhia garante a robustez e flexibilidade, com o acréscimo da conexão Ethernet para conectá-la a um software de produção.

cas. As embalagens são indicadas a todos os produtos com demanda de barreira ao oxigênio. O objetivo é manter o produto com um prazo de validade muito além do esperado.

Alto índice de congelamento Com variação de 5ºC a -40ºC, a nova unidade condensadora Optyma Semi-Hermética, da Danfoss, foi criada para satisfazer as necessidades de supermercados, grandes centros de distribuição, indústrias alimentícias e outros segmentos com forte demanda de congelamento.

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A Kuraray quer emplacar o filme plástico Plantic também no pescado. O produto tem 80% de material de fonte renovável, com propriedades de alta barreira a gás. A vantagem é

A HP Embalagens, sediada em Cotia (SP), convoca atuais e futuros parceiros a testar produtos com as bandejas em suas plantas frigorífi-

Gó 3 em 1 A Branco Máquinas traz este kit composto de três máquinas: descabeçadora, evisceradora e cilindro lavador. A empresa classifica este projeto como específico para a pescada gó, mas também se aplica para processar sardinhas: descabeçando, eviscerando e lavando.

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que ele é biodegradável em compostagem industrial ou residencial e não necessita de modificações nos equipamentos da indústria de embalagens para ser processado.

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CONTEÚDO MULTIPLATAFORMA Acompanhe os vídeos desta viagem em nosso canal: youtube.com/seafoodbrasil

O vértice sul-americano


Chile muda regulamentação e investe em tecnologia para superar limitação de áreas, críticas da comunidade e atender à crescente demanda global Texto e fotos: Ricardo Torres*

O governo chileno queria fazer o povoamento de salmão, enquanto os japoneses precisavam de novas fontes de matéria-prima para abastecer o consumo crescente de pescado. Um convênio firmado em 1972 provocou a vinda de técnicos japoneses para desenvolver uma piscicultura em Coyaique, a 660 km de Puerto Montt. O objetivo era importar ovas de salmão keta (Oncorhynchus keta), incubá-las e soltá-las no rio para que seguissem seu ciclo e assim estabelecessem um novo recurso pesqueiro na região. Só que os animais não voltavam para desovar. Apesar das frustrações, o governo tinha confiança no potencial do negócio e criou, em 1978, a Subsecretaria de Pesca e Serviço Nacional de

Um dos técnicos era Mario, irmão de Víctor Hugo Puchi. Em entrevista à revista Salmon Expert de agosto, por ocasião dos 30 anos da empresa, contou como o irmão passou a trabalhar na área e, depois de férias em Puerto Montt, ambos decidiram investir na atividade com um companheiro de trabalho chamado Pablo Aguilera. Juntos, fundaram a AquaChile em 1978, dedicada inicialmente à produção de formas jovens. O setor privado também sentiu a necessidade de organizar a expansão e criou a Fundación Chile, um organismo privado com participação do Estado, que adotou a missão de criar inovações de alto impacto para setores estratégicos, como o mineiro e o aquícola. O órgão financiou uma série de pesquisas fundamentais para o setor e criou as bases para a fundação da SalmonChile, em 1986, para agregar as principais produtoras de salmonídeos. A iniciativa desembocou ainda na criação do Instituto Tecnológico do Salmão (Intesal) e até no surgimento da revista Aqua.cl, 30 anos atrás. Naquela época, o Canadá era uma das referências tecnológicas importantes. José Puga soube disso quando a sua empresa de construção, que já mantinha muitos negócios com os norte-americanos, começou a receber muitos técnicos canadenses relacionados à mineração. Alguns deles se tornariam sócios em um novo empreendimento dedicado à salmonicultura, chamado Hatfield Chile, em 1982.

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Ao contrário do que muitos podem pensar, noruegueses e chilenos caminharam paralelamente. Em 1921, o então Instituto de Fomento Pesqueiro (IFOP) chileno importou os primeiros reprodutores de salmão Coho. Muitos estudos foram realizados para criar uma cadeia produtiva e resolver problemas produtivos, mas foi com um acordo com o Japão que se deu o salto necessário, já na década de 1970.

Pesca (Sernapesca). Técnicos governamentais viram de perto a iniciativa dos japoneses de estabelecer tanques no mar para formar reprodutores e produzir ovas localmente, acreditando que isso facilitaria o regresso para a água doce. Isso nunca aconteceu, mas a experiência mostrou que a engorda em condições controladas era possível.

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ão é por acaso que se produz salmão Atlântico (Salmo salar) nas esquinas do mundo: Chile e Noruega têm águas frias, cristalinas e territórios com baixa densidade populacional. O ambiente realmente favorece a indústria mais lucrativa do pescado em todo o mundo, mas está longe de ser o único fator responsável por ter criado as duas principais potências do negócio. A salmonicultura é uma história de pioneiros e desbravadores, que aprenderam a duras penas como dar escala e rentabilidade a um produto cujo ciclo de produção beira três anos.


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Piscicultura para smolts da Los Fiordos: anos de experiência mostraram aos chilenos que uma boa transição entre alevinos (água doce) e a engorda (água salgada) é crucial

peça chave no cardápio e, em apenas 12 anos, o Brasil se tornou o segundo mercado de importância para o Chile no salmão Atlântico”, conta.

Divulgação/Los Fiordos

Anos de aprendizado

Foi ali que um dos filhos, Felipe Puga, teve seu primeiro contato com o segmento. Em 1985, já havia no Chile 36 centros de cultivo, com uma produção total superior a 1.200 toneladas. O menino gostou tanto que foi estudar biologia marinha em 1990 e permaneceu na indústria mesmo depois de seu pai ter vendido a participação. Cinco anos depois ingressou formalmente no negócio como vendedor para mercados internacionais. “Eu era um dos que estavam nas áreas comerciais nesta época. Viajávamos com um mapa para mostrar onde estava o Chile e ninguém sabia o que era o salmão”, relembra Puga. Novamente o Japão foi definitivo. A partir do consumo já estabelecido entre os asiáticos, também emergente entre os norte-americanos, empresas como a

Ventiqueros, Pacific Star (depois Salmones Austral) e Marine Harvest passaram a buscar novos mercados. “No fim da década de 90 o Chile começou a vender salmão ao Brasil”, conta o executivo, que passou por todas estas empresas e hoje dirige as vendas da Cermaq. Não por casualidade, esta foi a época em que os restaurantes orientais começaram a se popularizar entre os brasileiros, culminando com a criação dos rodízios na virada do século. Para consolidar este novo canal e popularizar o consumo também em casa, Puga e outros executivos de 22 empresas apresentaram ao governo, através do Instituto de Promoção de Exportaciones de Chile (ProChile), um projeto de marketing conjunto para criar uma marca-país. Surgia assim o Salmón de Chile. “O salmão passou a ser uma

Se do ponto de vista comercial a indústria do salmão teve muito sucesso, sob a ótica produtiva foi provavelmente a maior curva de aprendizado social, ambiental e tecnológico de todas as atividades que integram a economia chilena. “Fomos tratando de chegar ao máximo produtivo, até que o meio ambiente te diz de uma forma muito dura, com vírus e doenças, que você chegou ao limite”, reconhece Puga. A própria indústria procurou se ajustar, com um Código de Boas Práticas, mas as comunidades no entorno dos centros de cultivo, além dos próprios pescadores e da sociedade civil chilena, aumentaram a pressão sobre o setor privado a níveis inéditos em 2008. Já havia profundas preocupações da opinião pública com a contaminação do mar e do solo abaixo dos tanques, o uso de antibióticos e escapes, até que o vírus da Anemia Infecciosa do Salmão (ISA) disparou um alerta de que a autorregulação não era suficiente para controlar os problemas decorrentes da expansão da atividade. Ela chegou em 2007 e provocou um impacto ainda mais

20 ANOS DE IMPORTAÇÃO DE SALMÃO E TRUTA DO CHILE | 1997 A 2017 Dispêndio (US$)

Volume (KG)

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5.000 1997 1998 1999 2000 2001

Fonte: ComexStat/MDIC

2002 2003 2004 2005 2006 2007

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Marca-país: criação da Salmón de Chile ajudou a consolidar produto nos restaurantes, mas ainda falta ampliar espaço nas gôndolas brasileiras

rar a convivência entre pescadores e aquicultores. Às vésperas da aprovação de uma nova lei de aquicultura, a indústria se antecipou e organizou um fórum de sustentabilidade durante a 10ª Aqua-

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Como explicou Puchi na entrevista, o setor se deu conta de que a regulação era muito fraca para lidar com temas biológicos não previstos, como o ISA. Todos aprenderam, porém. “Foi um choque cultural e social. Afetou a cadeia produtiva em sua totalidade e com um sistema financeiro alerta, retirando recursos do sistema que produzia uma asfixia para os que se enfraqueceram. Foi uma época de 2 a 3 anos nos quais aprendemos de regulamentação e biologia. O Estado também aprendeu e os bancos aprenderam que este é um negócio que não podem abandonar do dia para a noite.”

A Sernapesca reagiu e determinou uma série de medidas, desde restrições à importação de ovas até a criação de áreas delimitadas - os bairros produtivos - com descanso sanitário de três a quatro meses. Houve resoluções de limites de densidades de estocagem de acordo com grupos de concessões, que atualmente constam como ativos nos relatórios financeiros das principais empresas. Outra determinação obriga as empresas a fazer contagem amostral de cáligus um crustáceo parasita que se alimenta do sangue do salmão e é a principal praga atual. A relação com as comunidades locais também foi objeto de novas legislações, que procuraram contemplar inclusive os povos originários, como os índios mapuche, e melho-

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profundo que a morte de metade da biomassa cultivada, o fechamento de fábricas e milhares de demissões.


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Avrim Lazar, do GSSI: “Somos os melhores especialistas naquilo que precisamos melhorar”

ração para criar a própria história e liderar o negócio. “Quando a indústria quer contar a história escolhe imagens ótimas e diz que são ótimas, mas o público não engole. Não existe indústria no mundo que seja boa o suficiente, então você não pode dizer que é perfeito.” Na visão dele, a comparação com outras proteínas animais para reforçar a sustentabilidade da atividade não é suficiente. “Podemos ser bons comparados a outros padrões, mas ainda precisamos melhorar dentro dos nossos padrões. Somos os melhores especialistas naquilo que precisamos melhorar“, concluiu.

Sur, entre 17 e 20 de outubro. A iniciativa partiu da Global Salmon Sustainable Initiative (GSSI), uma entidade com empresas chilenas, canadenses e norueguesas destinada a melhorar processos para reduzir o impacto da

atividade no meio e nas comunidades. O diretor geral da GSSI, Avrim Lazar, falou em autocrítica. A salmonicultura chilena precisa levar todos estes fatores em conside-

*A equipe da Seafood Brasil viajou ao Chile a convite das empresas AquaChile, Cermaq, Los Fiordos e Marine Harvest

Leia mais sobre a 10ª Aquasur na página 20 desta edição.

O CICLO DO SALMÃO Em quase três anos, uma ova se torna um salmão adulto de 6 kg.

Incubação

Smoltificação

Primeira alimentação 0,3 g

6g

Engorda

Transporte via wellboat ou por caminhões

Água doce

Água salgada

30g

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Alevinos

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6Kg

Ovas

Alevinos com saco vitelino

50 a 80 dias

Vacinação

Parr

Smolt

9 a 10 meses

18 a 20 meses Fontes: SalmonExpert, AquaChile e fontes consultadas nesta reportagem.


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Marine Harvest

Em sentido horário: despacho de ovas pré-selecionadas, classificador automático que substituiu 30 pessoas e tanques elevados com protocolo de fotoperíodo de acordo com as cepas de salmão

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Colosso

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magine o que significa trabalhar em uma empresa que detém de 25% a 30% do mercado mundial de salmão, com faturamento superior a 3,6 bilhões de euros. A Marine Harvest é o resultado de uma série de fusões na Noruega, que desencadearam uma expansão irrefreável até o momento pela Escócia, Canadá, Ilhas Faroe, Irlanda e o próprio Chile, onde opera desde

1975. A operação é de tal magnitude que esta única companhia produz de salmão mais da metade do que todo o Brasil cultiva entre camarão, tilápia e espécies nativas. Para suportar este volume de 370 mil toneladas anuais, a empresa funciona como um organismo vivo, com cada unidade regional operando de forma autônoma - mas complementar -

desde a genética aos aspectos comerciais. As diferentes divisões internas adotam uma relação cliente-fornecedor e precisam negociar diretamente, como é o caso da Piscicultura Copihue com os centros de cultivo. “Temos vários clientes internos. É um processo em que o cliente nos visita, vem ver amostras de qualidade e chega a um acordo de porcentagem. Depois se faz a venda. É como se fossem empresas


separadas”, detalha Mauricio Rodrigo Díaz, assistente do centro.

passa por filtros UV e de sólidos suspensos, assim como a que sai também.

No dia da visita da Seafood Brasil, três funcionários faziam a amostragem manual das ovas diante dos olhos atentos do chefe de um dos mais de 40 centros de cultivo da empresa em território chileno. Em um passado recente, mais de 30 pessoas contavam desta forma todas as ovas que saíam da planta em uma área de 300 m2. Hoje o sistema foi todo automatizado com contadores de ova que fazem a mesma tarefa a uma velocidade de 100 mil ovas por hora em uma sala de 30 m2.

Na maturação, os reprodutores de 3kg a 5kg são acondicionados em três áreas com 16 tanques com água do rio Copihue que somam 1120 m3 e têm estocagem de 50 kg por m3. Juntos, têm capacidade de engordar 30 toneladas de reprodutores até 10 kg, peso ideal para a desova. Outra área com inauguração prevista para o princípio de 2019 deve elevar a lâmina d’água em 800 m³, o que está sendo encarado como um certo renascimento em Copihue, já que a mesma área foi devastada pela erupção do vulcão Calbuco, em 2016. Além de produzir grandes volumes, a unidade tem a responsabilidade de subsidiar o trabalho genético iniciado em outras unidades. “Nossa genética faz o estudo das famílias, programa cruzamentos e implanta chips para reunir a informação do reprodutor durante toda a sua vida. O estudo continua nos centros de engorda, onde analisam os melhores indivíduos em termos de crescimento, alimentação e resistência a enfermidades”, pontua Díaz.” A busca contínua pela eficiência é marca de uma empresa que já enxer-

ga como se dará o crescimento da salmonicultura mundial. “Estamos perto do limite. A demanda cresce em média 7% e a produção de 2% a 3% por ano. A longo prazo isso se soluciona com tecnologia, ou com fazendas offshore ou de ciclo fechado em terra”, vislumbra Bruno Stingo, atual gerente de vendas da Marine Harvest Chile. É isso que mantém, na visão dele, os preços em um patamar alto, sempre próximo ao recorde histórico. “Ao mesmo tempo devemos ser realistas: há outras proteínas, o salmão tem substitutos. O salmão é o rei da categoria seafood, mas ele tem um limite”, adverte o executivo.

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Planta primária de Caicaén processa 18 mil peixes por dia com 98 pessoas

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Díaz explica que o movimento em prol da automatização é parte do pioneirismo da Marine Harvest. Copihue opera com apenas 9 funcionários, que recebem os reprodutores, engordam, maturam e desovam. A capacidade produtiva é impressionante: são 25 milhões de ovas verdes (recém-fertilizadas) incubadas com água de poço, estéril, cuja temperatura é controlada para atrasar ou adiantar o embrião. Toda a água que ingressa no cultivo

Mauricio Díaz em frente a um dos módulos com reprodutores em Copihue: área de maturação deve chegar a quase 2000 m³ no início de 2019


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Cermaq

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O vigor da Cermaq

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Cermaq é uma espécie de joia que o grupo multinacional e multissetorial Mitsubishi Corporation encontrou quando decidiu entrar de cabeça no negócio do salmão. Os japoneses são conhecidos por demorarem a tomar uma decisão como essa. Quando decidem, porém, colocam toda a energia, pressão e investimento necessários para liderarem aquele segmento. Foi este modus operandi

que surpreendeu o mercado quando o grupo anunciou uma oferta de US$ 1,4 bilhão para adquirir o controle da salmoneira norueguesa e todas as suas atividades no Chile. Em 2014, a cifra era 14% maior do que o valor de mercado atribuído naquele momento. O objetivo era dar musculatura para um futuro líder global em um mercado marcado pela crescente consolidação de empresas.

O grupo japonês desbancou concorrentes que estavam no páreo e, dois anos depois, fusionou a nova companhia com a tradicional Salmones Humboldt. Nascia uma gigante, com 130 licenças de cultivo - que valem muito no Chile - e 15 centros de produção de formas jovens. A etapa mais recente desta ascensão veio com a compra do maior barco de transporte de peixes vivos


Dino Villella, junto a Patricio Saavedra, ambos da Sølvtrans: “Há muitas salmoneiras que importam well boats usados da Noruega e os consertam para usar aqui; este foi construído para a Cermaq a pedido deles.”

(wellboat) em operação na salmonicultura chilena. O Ronia Diamond foi construído pelo estaleiro norueguês Sølvtrans sob medida para a Cermaq, como indica o próprio nome de batismo: em japonês, Mitsu significa três, enquanto Bishi representa diamante.

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A embarcação de US$ 42 milhões é uma pedra preciosa para a operação da Cermaq Chile: dois motores Rolls-Royce Marine de 630 Kw cada movimentam os peixes dos centros de cultivo distantes da costa para os centros de manutenção em terra (acopios). Todo o projeto foi pensado de forma a contemplar princípios de bem estar animal, como explica Patricio Saavedra, capitão e fish master da Sølvtrans. “Os ângulos de trabalho do


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Cermaq

Para Francisco Torres, melhora do constante do processo é chave para aumentar a eficiência da planta

16 polegadas], que permite carregar até 300 toneladas por hora às piscinas, sem gerar tanto estresse aos animais.” Internamente, até os ângulos da tubulação não são retos, de forma a evitar o choque do animal contra as paredes dos canos.

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encanamento, velocidade de sucção e de transporte, além dos volumes, tudo foi pensado de acordo com as normas europeias.” Estes parâmetros não estão determinados no Chile ainda, mas a Cermaq resolveu se antecipar a isso. A começar pelo sistema de propulsão diesel electric, que produz apenas a energia necessária para as tarefas do barco, que são muitas. Três piscinas que totalizam 3.200 m3 armazenam 500 toneladas de peixes, que recebem tratamento de água doce para o controle de parasitas, como o caligus. Isso diminuiu a necessidade do uso de antibióticos nesta fase do processo. Toda a tubulação também foi adaptada, como explica Daniel Cabrera, gerente de logística da Cermaq. “São três tubos de sucção com 20 polegadas de diâmetro [o convencional tem 14 ou

No dia da visita da Seafood Brasil ao Ronia Diamond, o barco fazia a operação inversa, transferindo os peixes do porão do navio ao acopio de Chinquihue. Nesta estrutura semelhante a uma piscicultura continental, tanques de 20x20m abrigam os animais durante no máximo cinco dias. Dentro deste período, por determinação da legislação chilena, as empresas são obrigadas a transferir os animais para a planta de abate. No caso da Cermaq fica tudo mais fácil porque o frigorífico fica em frente ao acopio e se comunica com ele por tubulação. Os peixes chegam vivos ao frigorífico, sugados pela bomba que se conecta ao barco.

Altos volumes A planta de Chinquihue, um bairro de Puerto Montt, faz o processamento primário e filetamento do salmão trazido pelo Ronia Diamond. Ali também é clara a influência oriental. A obsessão pela assepsia já se nota na entrada, quando além da roupa apropriada, lavar botas e mãos e proteger os cabelos e barba, o visitante precisa lidar com um rolo tira-pelos. Tudo para evitar contaminação. Francisco Torres, chefe de controle de qualidade da planta, recebeu

nossa equipe e justificou o rigor com os números impressionantes da estrutura. O edifício de dois andares é capaz de processar 5 mil toneladas por mês ou 45 mil peixes ao dia. Construída em 1988, a planta sofreu uma expansão em 2016 que expandiu a área total para 8200 m2, 250% mais do que anteriormente. “A planta orienta seu processo produtivo a elaborar produtos en pre-rigor mortis, segundo o qual a matéria-prima deve ser processada antes de 8 horas, com a finalidade de melhorar o frescor e qualidade organoléptica do produto final”, diz Torres. “O frigorífico é um dos três que a Cermaq tem para elaborar produtos de qualidade.” Hoje a unidade opera a 80% de sua capacidade com 520 pessoas, que processam o volume acima em dois turnos: 9 horas (5 dias/ semana) e 7,5 horas (6 dias/semana). Além do processamento primário, que consiste no abate e evisceração do produto para o H/ON (formato preferido para o Brasil), a planta também incorporou duas linhas de filés frescos - em breve serão três. “Todos os anos analisamos propostas de melhora do processo para fazer mudanças e/ou solicitar investimentos”, assegura o chefe de qualidade. Tudo para suportar a alta demanda do departamento comercial, desde meados do ano sob a direção de Felipe Puga, ex-Marine Harvest. O executivo é uma autoridade no setor e dá pistas do motivo pelo qual topou o desafio de se transferir à Cermaq. “A indústria do salmão aprendeu que existe um limite que não se pode ultrapassar. O Estado teve um papel regulador e, com tudo isso, chegamos a uma indústria mais ordenada e com preços mais estáveis”, diz. Para ele, a sustentabilidade em aprimoramento foi a isca para os japoneses. “Se a Mitsubishi aposta nesta indústria é porque estamos em um momento mais estável e a caminho de ser uma indústria muito robusta”, conclui.


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AquaChile

Em sentido horário: alimentação automatizada chega aos tanques por tubulação, pontón (balsa flutuante) é a base para os funcionários e insumos do centro de cultivo, tanques têm dispositivos anti-pássaros e anti-leões marinhos, sala de controle verifica comportamento dos animais para medir eficácia de arraçoamento

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Ator da consolidação

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o ano em que completa 30 anos de existência, a Empresas AquaChile consolida também uma mudança fundamental no perfil de empresa enxergado pelo mercado. Durante três décadas a empresa comandada pelas famílias Puchi e Fischer se notabilizou por adquirir concorrentes menores, de forma a consolidar a indústria do salmão. Foi assim que a companhia se tornou a segunda maior salmoneira no Chile

e a sexta em todo o mundo, com 154 concessões, 57 centros de cultivo e 99,7 mil toneladas cultivadas em 2017. A dinâmica começou a mudar em 2015, quando a empresa começou a receber investidas de grupos interessados em comprá-la. Enquanto isso, a AquaChile seguiu seu ritmo tradicional e, em maio de 2018, anunciou a compra da Salmones Magallanes por US$ 225 milhões. Na esteira da transação, a Agrosuper, maior conglomerado de

proteína animal do Chile, entrou pela porta que havia sido deixado aberta e pagou US$ 850 milhões para construir a segunda gigante mundial, com mais de 200 mil toneladas de pescado combinadas. O acordo sacudiu a indústria, que esperava uma consolidação de grandes comprando pequenos, e não gigantes adquirindo outros gigantes. Olhando em retrospectiva, é fácil entender o que a Agrosuper enxergou. A AquaChile encerrou 2017 com um


Principal novidade do frigorífico de Cardonal é a linha de processo de cubos de salmão

Ambos foram povoados em 14 de junho de 2018 com 900 mil peixes de 140 gramas. Os resultados preliminares superaram as expectativas da equipe composta por 12 pessoas. Em 128 dias, os peixes tiveram crescimento de 940 gramas e totalizaram uma biomassa de 804 toneladas. A previsão é despescar já em setembro de 2019 em torno de 766 mil peixes com 5,6kg (4.295 toneladas) o que corresponderia a um período de um ano e seis meses de engorda. Normalmente, o ciclo pode levar até 20 meses para um peso de 5 kg. O desempenho é parte fruto do investimento em genética da AquaInnovo, subsidiária da AquaChile para o melhoramento genético, mas também das características locais e do manejo planejado e executado a partir

O monitoramento é constantemente supervisionado, mas 100% automatizado. “Temos sistemas de câmaras e computadores que controlam os kgs de entrega de ração que fazemos, mas nós mesmos regulamos de acordo com o comportamento dos animais”, explica Danilo Peña, assistente técnico do centro. “Os trabalhadores nos módulos nos avisam do comportamento e nós comprovamos pelas câmaras.” Quando os peixes adotam comportamento errático e se aproximam mais do fundo é quando estão saciados. “Quando estão com alta apetência para comer formam uma espécie de tornado, e aí damos 14kg por minuto, pode ser até 25 kg por minuto, conforme o peso do peixe.” Cerca de 250 peças de cada tanque, ou 10% da população, são retirados periodicamente para amostragens. Os animais são pesados, medidos e tem uma série de parâmetros aferidos, como deformidades, danos mecânicos e contagem de caligus. Tudo para evitar contaminação no cultivo e surpresas desagradáveis no principal frigorífico da empresa, situado em Cardonal, a 5km do centro de Puerto Montt. A companhia conta com outras três plantas de processamento.

É ali que a empresa processa 5 mil toneladas todos os meses. Atualmente a planta opera com 90% da capacidade instalada em dois turnos, com 850 pessoas. São 7 mil m2 de área, na qual a empresa investe em tecnologia para consolidar e criar novos mercados para as exportações, atualmente em 30 mil toneladas anuais. Recentemente, o frigorífico aumentou em 15% a capacidade de recepção de matéria-prima, automatizando a evisceração. Outras inovações foram a criação de uma linha de processo de cubos de salmão e envase skin pack para mercados de filé fresco. Esses são alguns dos ativos de que a Agrosuper vai dispor para buscar a liderança mundial.

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É o caso do centro de engorda Abtao, a 55km de Puerto Montt, que a equipe da Seafood Brasil visitou em um dia de trégua das constantes chuvas da região. O chefe do centro, Daniel Maldonado, nos recebeu na sala de estar do pontón - a balsa flutuante que serve de lar, refeitório, armazém e centro de monitoramento da produção. Da janela, tivemos uma visão privilegiada dos dois módulos produtivos da concessão: um com 10 tanques de 30x30 e outro com 8 tanques de 30x30.

do pontón. “O centro está bastante protegido e abrigado e a logística é muito amigável, mas adotamos uma série de medidas”, diz Maldonado. Uma delas é o protocolo de biosseguridade e contaminação cruzada para funcionários, visitantes ou embarcações que se movem pela área. De fato, há diversas barreiras sanitárias na estrutura.

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Ebitda recorde na sua história (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 142 milhões, segundo o Relatório Anual da empresa publicado este ano. Reflexo de um Plano de Eficiência e Competitividade (PEC) com o qual se envolveram todos os 4.949 funcionários. Os números de 2018 também são superlativos: vendas de US$ 220 milhões no terceiro trimestre e lucro líquido de US$ 15,6 milhões. Mas para além dos resultados financeiros, as unidades produtivas da empresa no Chile se destacam em uma salmonicultura com margens cada vez menores.


Divulgação/Los Fiordos

Capa Los Fiordos

Em sentido horário: centro de transferência, onde os alevinos se transformam em smolts e seguem para os well boats, toda a estrutura funciona com recirculação de água; fábrica de ração ganhou prêmios internacionais por sistema de biofiltro que controla quase 100% dos odores da planta

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Sustentabilidade com frescor e inovação

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a rodovia Panamericana Sur, rumo a Calbuco, há muito mais do que maravilhosas paisagens nevadas. O viajante do ramo vai perceber que, entre árvores frondosas e vegetação densa, esta região ao sul de Puerto Montt concentra diversas fábricas de ração para aquicultura. As gigantes Skretting, Biomar e Ewos estão entre

elas, mas uma fábrica mais acanhada se destaca já quase no acesso à ilha de Chiloé. Do km 174,5, em Pargua (Calbuco), pega-se um curto trecho de uma vicinal para se chegar à fábrica de ração da Los Fiordos, braço da gigante chilena Agrosuper para o pescado. A planta de alimentos pro-

duz exclusivamente para as três pisciculturas, o centro de transferência e os três centros de cultivo do grupo com 103 concessões. Concluída em 2007 com menos de um ano de obra, a estrutura abriga hoje duas linhas de extrusão de 15 toneladas por hora. A capacidade de produção atual supera as 185 mil toneladas anuais, com o apoio de tecnologia dinamarquesa e norte-americana.


Arnaldo Guerra gerencia a fábrica de ração, que produz 185 mil toneladas anuais para abastecer exclusivamente as pisciculturas e centros do grupo

“Para uma dieta mais alta em gordura, como é nosso caso, fazemos o processo a vácuo”. Segundo ele, o processo consiste em preencher de óleo o espaço outrora ocupado por ar, por meio de válvulas de controle de pressão atmosférica.

Centro de transferência A Los Fiordos é uma das poucas salmoneiras situadas no Chile que construíram um centro de transferência próprio. Trata-se de uma etapa intermediária no desenvolvimento dos peixes em água doce e água do mar. O objetivo é permitir que os animais cheguem em melhores condições aos centros de engorda, como explica Marcelo Alvarez, chefe do centro de transferência Pargua. “O principal objetivo é dar uma boa smoltificação [série de mudanças fisiológicas em que o salmão se adapta para sair da água doce e ir para o mar].” Como está bem

Centro de transferência comandado por Marcelo Alvarez produz 12 milhões de smolts com 200 g

diante do mar, tem salinidade barata e natural. “Isso garante que o peixe esteja totalmente adaptado à nova fase.” A unidade é capaz de produzir 12 milhões de unidades com 200 g, depois de receber os animais com 33 g das pisciculturas. Quando chegam a 80 g, recebem uma dose de vacinação e depois começam a se aclimatar à água salgada com uma mistura gradual. Todo o processo desenvolvido ali desde 2016, quando a área foi inaugurada, já rendeu melhora significativa no desempenho, garante o técnico. “É o primeiro centro de transferência que temos no grupo, então não há base de comparação, mas certamente a qualidade do smolt é muito superior ao que fazíamos há dois anos. O animal é mais preparado para saúde e crescimento, além da economia de frete. No dia da visita da Seafood Brasil, Alvarez coordenava a transferência de 380 mil smolts. Tudo por tubulação subterrânea a um well boat atracado logo em frente à planta.

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Na fábrica, é possível armazenar até 3 mil toneladas de matéria-prima além de 2600 toneladas de óleo. Guerra explica que apenas 14% do aceite é absorvido pelo pellet da ração:

Alta tecnologia também no processamento dos rejeitos. A empresa instalou um biofiltro para controle de 99,7% dos odores da planta. Basicamente, trata-se de um sistema que retira todos os vapores e partículas com odor da planta e o transfere a uma área externa, em que lascas de madeira retêm as partículas odoríferas situadas no nitrogênio liberado por bactérias.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2018 •

A responsabilidade de Arnaldo Guerra, gerente da planta de ração, é proporcional ao tamanho da operação. “Os centros fazem seu pedido em um sistema centralizado. Nossa gerência de produção no mar avalia o pedido e nós inserimos em nosso fluxo de produção. Depois despachamos ao píer e daí vai em barcos aos centros de cultivo”, explica. A vantagem que ameniza o desafio é fazer parte de um grupo que por um lado fornece proteína animal e compra grãos para todas as unidades.


Polaca em bloco

Na

Gôndola

A Noronha quebra o paradigma do peixe em blocos no Brasil com a importação da polaca do Alasca neste formato. A empresa traz o produto direto da fonte e o porciona em 4 pedaços de 100 g em caixetas de 400 g. Promovido em parceria com o escritório do Alaska Seafood Marketing Institute no Brasil, o produto serve de base para filés empanados, hambúrgueres ou outras preparações.

Maré está para peixe A Casa Maré (www.casamarepescados.com.br) desembarca nas gôndolas virtuais com pratos prontos congelados. Bacalhau às natas, escondidinho de aipim com camarão e risoto de camarão e lula são alguns dos lançamentos do e-commerce, que pretende levar a qualidade da gastronomia ao consumidor final.

A oferta de peixes, crustáceos e moluscos

Para as festas A Opergel se preparou para as festas com dois novos produtos que incrementam ainda mais a linha Oceani. O filé de bacalhau em embalagem de 800 g procura facilitar a vida do varejo, enquanto o filé de merluza de 500 g tem, defende a empresa, “o melhor custo-benefício do mercado”.

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Beneficiados pelo camarão Sempre em busca de novidades, o varejo ganha reforços da Vivenda do Camarão para incrementar as vendas de pescado. A marca acaba de lançar, dentro da linha Especialidades, bobó de camarão e camarão ao catupiry, entre outros, em embalagens individuais de 200 g.

Pé no varejo A AV09 extrapola os limites do atacado e inaugura a linha de marca própria batizada de Ninefish. Os pacotes de 800 g incluem filé de panga e merluza com distribuição em todo o território nacional.

Salmão para passar no pão A Komdelli resgata seu patê de salmão defumado para os petiscos de verão e as cestas natalinas. O produto vem em potes de vidro de 100g com cartucho de papelão e complementa a linha de produtos elaborados da empresa.

De olho na Quaresma 2019 Mais de 500 distribuidores e supermercadistas já podem se preparar para um incremento na linha da marca Inak, já conhecida pelo kani-kama. Distribuída pela Ecil, a marca já programou uma grande extensão de linha para a Quaresma de 2019: filés de merluza, polaca e mapará, postas de cação, camarão 7 barbas e outras novidades.


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SUPLEMENTO ESPECIAL DE TECNOLOGIA AQUÍCOLA

PASSOS DA VANGUARDA

C

hegamos ao 3º Suplemento de Tecnologia Aquícola com o desafio de apontar novos caminhos ao aprimoramento tecnológico tão necessário para a expansão da aquicultura nacional. A tarefa fica mais fácil com a ajuda das empresas consultadas para este material (veja lista ao lado) e a Embrapa Pesca e Aquicultura, que habitualmente nos auxilia a capturar o que há de mais avançado em diversos eixos temáticos, como os indicados abaixo. A aquicultura nacional apresenta uma alta diversidade, como salienta a própria Embrapa. “[São]

Formas jovens peixes

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Formas jovens camarões

no mínimo 36 organismos aquáticos produzidos comercialmente no Brasil, segundo dados do IBGE. Essa diversidade resulta numa grande demanda por tecnologia, haja vista que cada espécie possui exigências diferentes.” No material enviado à Seafood Brasil, a entidade reconhece que a tilápia e o camarão vannamei dispõem de uma maior oferta de serviços e produtos tecnológicos pelo lastro e experiência de outros países, mas ainda é preciso avançar nos nativos, como o pirarucu e o tambaqui. “Ainda apresentam uma carência de tecnologias

Aditivos

Equipamentos

relacionadas a aspectos básicos, como reprodução, nutrição, sanidade, genética e processamento.” Fica aqui nossa contribuição para impulsionar o avanço em várias frentes.

As empresas citadas a seguir viabilizaram a realização deste material com patrocínio: Alliplus, Altamar, Aquabel, Aquatec, Braspeixes, Multipesca, Plantfort, Potiporã, Prilabsa, Spring Genetics, Trevisan e Wenger.

Estruturas

Nutrição


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Centro de Excelência em Aquacultura da FAI do Brasil e Spring Genetics, em Jaboticabal (SP)

Muito além da reprodução

A

estruturação de uma cadeia aquícola passa pelo domínio de todas as etapas de produção de formas jovens. No caso de nativos brasileiros como pacu, surubins, tambaquis e seus híbridos, “a etapa de obtenção de gametas e reprodução artificial foi suficientemente controlada para que a cadeia pudesse se desenvolver”, como sublinham Lucas Simon Torati e Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik, pesquisadores da Embrapa. Só que cruzar indivíduos com sucesso é apenas o começo. A aqui56

cultura comercial precisa de escala, desempenho, ganhos relevantes de sobrevivência de larvas e alevinos, além de regularidade ao longo do ano e atendimento das demandas do setor por meio do melhoramento genético. É neste contexto que ganham cada vez mais espaço empresas como a Spring Genetics, braço da multinacional norueguesa Benchmark Holdings. A companhia se dedica ao melhoramento genético da tilápia do Nilo com o objetivo de aprimorar as características comerciais mais relevantes, como taxa de crescimento, conversão alimentar,

resistência a doenças, rendimento de filé e rusticidade. O programa é projetado e supervisionado pela coligada Akvaforsk Genetics e respaldado no Brasil pelo quarentenário construído em Fortaleza (CE) e pela estrutura biossegura de multiplicação de alevinos situada em Jaboticabal (SP), operada pela FAI do Brasil. A produção no Brasil começou em março de 2017 e hoje se situa em 300 mil alevinos/mês, mas a empresa quer expandir o volume com novos multiplicadores da linhagem genética desenvolvida em Miami (EUA). Um dos principais


diferenciais desta quinta geração é a tolerância a estreptococoses causadas por Strepcococcus agalatiae e Streptococcus ineae. “Isso reduz a necessidade e o custo com antibióticos, por exemplo. Em vez de usar quatro vezes, uso apenas duas ou até deixo de usar com mudanças no manejo”, explica Hernán Pizarro, diretor comercial da Spring. O trunfo da Spring é oferecer a experiência, tecnologia e conhecimento acumulados pela Benchmark Genetics, uma das líderes mundiais em seleção genética e genômica do salmão Atlântico na Noruega. “A chave do nosso negócio é ter um programa de reprodução adequado para cada empresa do grupo. Começamos com o salmão nos anos 70 e esta é a base para nos

mover para a tilápia”, conta Jan Emil Johannessen, diretor de genética da Benchmark Holdings. Dentro deste objetivo, o País tem papel central. “O Brasil tem grandes chances de ser um dos países de crescimento formal mais rápido em genética na tilápia, porque aqui há experiência com genética de aves e suínos. Vocês entendem o valor por trás deste trabalho, quanto é 1% de ganho na conversão alimentar, rendimento de filé, tolerância a doenças”, assegura Pizarro. Os executivos veem com bons olhos a expansão de empresas focadas no melhoramento genético. Para Johannessen, a indústria será mais profissionalizada e exigirá qualidade. “Temos pa-

ciência porque sabemos que o payback do nosso investimento não virá agora, mas em alguns anos.” Nesta linha, Pizarro reconhece que o brasileiro não deve pagar muito mais do que a média do mercado de alevinos, mas vai saber diferenciar os animais do programa da Spring e até de outros concorrentes. “É bom que haja bons trabalhos com genética. O Brasil terá de 3 a 4 bons produtores de genética.” Certamente será um negócio para poucos, apesar do potencial produtivo brasileiro. O alto custo para a construção de uma unidade biossegura, que disponha de equipamentos adequados, é o principal impeditivo a um trabalho especializado. Além da falta de estrutura ideal, falhas na formação dos produ-

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Alevinos produzidos na Aquabel: melhoramento genético vai gerar os animais que a indústria requer

tores podem ter causado um problema sério na atualidade, que é a falta de “diversidade genética por cruzamentos consanguíneos e propagação de híbridos interespecíficos”, como explicam os pesquisadores da Embrapa. Para eles, seria necessário estimar a diversidade genética existente das populações de cativeiro para conservá-la nas gerações futuras. “Nesse aspecto, o setor produtivo se esbarra ainda na falta de protocolos validados para geração de formas jovens estéreis, como a produção de triploides que poderiam agregar valor às cadeias produtivas de forma segura e sustentável.” Eles mencionam ainda a criopreservação, técnica que poderia auxiliar tanto no incremento da diversidade genética nas pisciculturas, quanto para conservar e preservar o genoma para as gerações futuras. É de se esperar, portanto, que este trabalho fique na mão de quem se 58

revele mais capaz. O maior expoente atual em formas jovens para a tilápia no Brasil é a Aquabel, que não para de se expandir depois da compra pelo EW Group, por meio da subsidiária Genomar. A multinacional quer fazer do País um exportador de formas jovens de tilápia com a construção de um centro de melhoramento genético no Tocantins - Estado acaba de liberar o cultivo de espécie em tanques-rede. Já foram investidos R$ 12 milhões só na construção. Além da unidade, a Aquabel pretende construir novas alevinagens para abastecer todos os principais polos produtores com a tilápia geneticamente modificada pelo grupo. Até o fim do primeiro semestre de 2019 haverá três novas unidades, em MG, BA e MT, totalizando 13. Ricardo Neukirchner, fundador e diretor da Aquabel, pontua que todo o investimento provém da percepção de que o alevino é o segredo para incrementar a competitividade e amplia-

ção de mercados para o pescado brasileiro no âmbito doméstico e no exterior. “Os alevinos são a semente de todo o processo de produção. Todo o sucesso da piscicultura depende da decisão correta da origem de sua genética. De nada vale o melhor manejo, alimento, qualidade de água e mercado, se a genética que entrar na sua engorda não tiver potencial para absorver ao máximo esse potencial.” Apesar do momento de baixa no mercado, causado pelo excesso de oferta, ele enxerga claramente uma mudança de paradigma. “A revolução genética está acontecendo. Em breve todos nós sentiremos os seus benefícios e isso permitirá que possamos criar cada vez mais peixes, reduzindo enormemente os custos, distribuindo maior renda aos produtores e principalmente tornando o peixe um alimento cada vez mais acessível a todos os consumidores.”


Ele acredita que a experiência do EW Group na genética do salmão, avicultura e suinocultura será determinante. “O conhecimento e as tecnologias disponíveis hoje utilizadas com sucesso em frangos, por exemplo, já estão sendo usadas em tilápia, e em poucos anos a evolução da genética fará com que a piscicultura e indústria tenham de ser repensadas, uma vez que os peixes crescerão muito mais rapidamente e serão adaptados a diferentes climas, explorando seu potencial genético máximo, com rendimento de filé muito superiores aos apresentados hoje.” Muito em breve, garante o executivo, os benefícios da genética também chegarão aos nativos, tão carentes de tecnologias de reprodução. A Embrapa

ilustra o raciocínio com o exemplo do pirarucu (Arapaima gigas) e de espécies marinhas como o bijupirá (Rachycentron canadum). “Em tais casos, o desafio inicial ainda reside na falta de conhecimento sobre a biologia reprodutiva em ambientes naturais, sobre os fatores ambientais e endócrinos que controlam a reprodução para fundamentar experimentos aplicados em condições de cativeiro.” As pesquisas poderiam evoluir mais rapidamente com biotécnicas como o quimerismo. “Nesta, células primordiais de um organismo doador são implantadas em outro organismo, possibilitando que este produza gametas do doador desejado. Ainda em etapa experimental, tal técnica poderia ser útil na propaga-

ção de espécies com disfunções reprodutivas consideradas mais severas e difíceis de serem contornadas em cativeiro”, concluem Torati e Kirschnik. Empresas citadas

Ricardo Neukirchner (43) 3255-1555 aquabel@aquabel.com.br

Jacqueline de Melo Lima e Micaele Sales (85) 9 9922-3580 ; (85) 9 9753-4968 brazil@spring-genetics.com

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Laboratório da Potiporã: genotipia substituirá a seleção fenotípica

Supremacia do genótipo

A

larvicultura brasileira é pródiga em cruzamentos de indivíduos de bom desempenho frente a desafios sanitários e de crescimento, mas a difícil convivência com a mancha branca mostra que é preciso extrapolar os velhos hábitos. Melhores resultados vêm com investimentos e inovação, como evidenciam os resultados do novo trabalho de melhoramento da Potiporã. Sob a gerência de Roseli Pimentel, o laboratório em Touros (RN) contratou Lachlan John Harris, presidente da Onelabt, para desenvolver a segunda etapa do melhoramento genético da empresa. Se antes a seleção era exclusivamente pelo fenótipo, o trabalho passou a se concentrar no sequenciamento genético do vannamei produzido ali, com o objetivo de formar famílias selecionadas pelo genótipo. “Hoje vamos no DNA do animal para tentar separar 60

grupos familiares e alcançar maior diversidade genética”, diz Pimentel. Com o cruzamento de famílias mais distantes, a Potiporã fez um primeiro lote entre fevereiro e março de 2017. “Havia famílias com 66% de sobrevivência e outras com 1%. Ficou claro que o fenótipo não era a ferramenta para tomar a decisão na hora do cruzamento. O Lachlan chega a dizer que tínhamos famílias resistentes no Brasil, mas as estávamos cruzando errado.” As famílias abaixo dos indicadores requeridos foram descartadas, e as de melhor performance foram cruzadas. Agora são 4 lotes por ano, com 32 famílias cada. “Destas elegemos as 4 melhores famílias para cruzar e dar sequência à larva que seria a produção comercial.” Foi assim que a empresa chegou à larva Supreme, em julho de 2018. Em novembro, durante a Fena-

cam, a produção já estava no sexto lote e, até fevereiro de 2019, o oitavo seria finalizado. A Supreme recebeu este nome porque canaliza as principais mudanças positivas alcançadas com o melhoramento genético. Na Aquisa, parte do grupo desde a entrada de Cristiano Maia, a sobrevivência passou de 10% para 46%, na comparação de outubro deste ano com o mesmo mês de 2017, sem famílias de primos. Isso é uma clara evolução em relação à resistência à mancha branca, que se soma à resistência à Nim adquirida no programa de melhoramento anterior. “Fomos reconhecidos como a melhor larva naquela época, mas quando a mancha branca chegou tínhamos os dois tipos de vírus e perdemos.” O desafio agora é conscientizar os produtores para que assumam seu


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A diretora da Aquatec, Ana Carolina Guerrelhas, confia na segmentação da produção SPF para um nicho muito específico de produtores. “Se eu fosse um carcinicultor intensivo, ia querer SPF. Se não sou intensivo e nem tenho intenção de ser, com viveiros antigos, expostos a tudo, não tem sentido ter uma larva SPF. Se o pessoal que culpa a larva mas tem problemas de manejo tiver uma larva limpa, a quem poderão culpar?”, provoca. Na visão dela, poucos projetos vão concluir que a larva limpa é solução para o cultivo. Mas o fato de não ter uma fazenda exclusiva que demande determinado tipo de larva dá flexibilidade à Aquatec para atender justamente este tipo de cliente. “Talvez teremos de ter 20% de larvas para SPF. Terminamos o ano pensando nesta segmentação, para atender clientelas específicas.” A estrutura modular do laboratório permite o isolamento de determinadas áreas para não haver contaminação com outras larvas.

papel e não culpem as larvas por claras deficiências no manejo. Pimentel conta que há muitos produtores migrando para a carcinicultura intensiva, que exige altos investimentos, mas não fazem com que o sistema se comporte como intensivo. “Tem cabeça de extensivo, biosseguridade de extensivo, mas estrutura de intensivo. O manejo é muito deficiente: seis meses sem lavar o reservatório de água, tubulações ou o teto dos berçários estufados”. Como a temperatura do intensivo é alta, explica, há um caldo de bactérias. Tudo aquilo evapora, gruda e forma um biofilme. “No próximo ciclo contamina tudo de novo.” É por isso que a especialista acredita que há muito por fazer antes de o Brasil começar a trabalhar com larvas SPF (specific pathogen free, ou livre de patógenos específicos). 62

Esta clientela não vem só do Nordeste, como a empresa já havia antecipado na Aquishow de 2018. “Segue muita procura pelo site de São Paulo, Minas Gerais e Brasília, mas com poucas quantidades de larva”, diz Guerrelhas. O perfil é de empresários e produtores sem tradição na aquicultura, que gostariam de entrar no cultivo de camarão, mas não têm informações. “É como se hoje precisasse ter um serviço de extensão. Junto com comprar a larva eles querem saber como fazer, mas é impossível para nós vender larva e ensinar como cultivar.” No Nordeste, a dificuldade continua a ser a convivência com as doenças, que fazem novas vítimas. A mancha branca entrou em Sergipe, o único Estado produtor sem registro da enfermidade até o momento. Ainda que fosse sentido um impacto inicial nas vendas, a perda foi menor do que o esperado por uma

mudança no perfil de compras. “Eles compravam 100% de larva de crescimento e hoje em dia compram resistência com tamanho jumbo. Eles voltaram a densidades baixas, não têm muito para investir, então compram larva robusta e maior”, sublinha Guerrelhas. Ela estima que existam 30 laboratórios ativos no Brasil, com capacidade de produção de 28 bilhões de pós-larvas no total. O levantamento da especialista descobriu que 17 têm capacidade menor de 50 milhões de pós-larvas/ mês, justamente para atender micros e pequenos produtores. Para facilitar o entendimento de todos os perfis de clientes, a Aquatec criou uma distinção entre as larvas de crescimento e de resistência: velocistas x maratonistas. “Ambos chegam, mas um chega mais rápido que o outro.” Hoje a larva de resistência está mais barata que a de crescimento, mas a Aquatec quer dar um novo salto com a importação de reprodutores. “Tenho interesse em fazer uma nova importação de material genético de resistência. Viajamos para vários locais e ainda estamos procurando. Se autorizarem eu vou entrar”, garante Guerrelhas. A última importação do grupo foi em 2007 e o protocolo já existe no Mapa. “Se você importa oficialmente, corta a chance de contrabando.”

Empresas citadas

Ana Carolina Guerrelhas (84) 3241-5200 aquatec@aquatec.com.br

Roseli Pimentel Silva (84) 3693-2072 roselisilva@potipora.com.br


Contra os piratas

U

m entrave complexo à profissionalização da aquicultura brasileira é o uso indiscriminado de produtos sem registro para organismos aquáticos no Ministério da Agricultura, ausência de protocolos de dosagem ou mesmo gambiarras como a administração de medicamentos indicados para suínos e aves. As soluções mirabolantes têm custo alto para quem põe tudo na ponta do lápis, mas o trabalho da indústria de insumos passa por expor e orientar os produtores a respeito dos riscos. “Não devemos duvidar da inteligência do produtor, é o que corre o risco maior e ainda assim produz, então temos de dar um voto de confiança que ele vai entender o que são de fato as soluções para a aquicultura”, explica Paulo Rocha, diretor da Alliplus.

Segundo ele, o trabalho de campo é essencial para evitar o “gato por lebre” na aquicultura. “Nosso trabalho em campo é extremamente personalizado, focado nas problemáticas e desafios de cada produtor. Personalizamos um protocolo para cada fazenda”, conta. O próximo passo será uma série de treinamentos para explicar o que é trabalhar com extrato natural e as certezas dos benefícios aos produtores. Na visão dele, este é um fator primordial para incrementar a popularização dos extratos naturais em geral.

Aos poucos, estes produtos vão se tornando mais populares em virtude do adensamento dos cultivos, seja em camarão ou tilápia, e a necessidade de melhorar o desempenho diante de margens tão apertadas, segundo relatam os pesquisadores da Embrapa Ana Paula Oeda Rodrigues, Lícia Maria Lundstedt, Luiz Eduardo Lima de Freitas e Viviane Rodrigues Verdolin dos Santos. “Para a tilápia e camarão, cadeias produtivas mais desenvolvidas, melhorias na tecnologia de processamento das rações e o uso de imunoestimulantes e nutracêuticos nas formulações são grandes tendências para a intensificação da produção sem prejuízo da saúde animal e qualidade da água dos sistemas.” Com a popularização, porém, veio também a pirataria. “Há casos em que fornecedores colocam óleo de soja e aroma de alho em produtos para simular o óleo essencial e extratos naturais”, conta Rocha. “É uma concorrência extremamente desleal para nós, mas pior ao produtor que vai usar um produto sem nenhum poder fitoterápico.” Ainda assim, os piratas parecem ser a exceção e o desempenho da Alliplus corrobora a responsabilidade dos produtores. Só até agosto, a empresa apurou 27% mais vendas do que em todo o ano de 2017. “Achamos que fecharemos o

ano com 33% de acréscimo de venda comparado a 2017 e só temos a agradecer ao produtor por confiar em nossa palavra e não tem se arrependido.” A empresa ainda colhe os benefícios do lançamento do óleo essencial com ácido lático (Linha Lac). O produto, somado ao óleo essencial com ácido orgânico, tem apurado resultados positivos na piscicultura e na carcinicultura, garante Rocha. “Principalmente na fase inicial, no pós-reversão até um alevino de 30 g e 60 g, tivemos incremento fantástico e o produtor vê a olho nu, na ponta do lápis e no bolso dele.” Em alguns casos, a diminuição da mortalidade em fases iniciais foi de 45% a 15%. Empresa citada

Paulo José Carmo da Rocha (+55 85) 9 9680-5639; (+49 89) 922 699 72 paulo@alliplus.com

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Automação e eficiência

O

olho do tratador na beira do viveiro ainda é mais respeitado que um arraçoador automático. Não se trata de substituir um pelo outro, mas de procurar uma convivência harmônica entre a tecnologia e a experiência humana para aumentar a eficiência na produção. “Atividades rotineiras feitas manualmente, como realização de biometrias, classificação dos peixes, despesca, monitoramento da qualidade da água, fornecimento de ração e processamento dos peixes, começaram a ser realizadas por meio de sistemas automatizados, principalmente em empreendimentos de grande porte”, constatam Adriana Ferreira Lima e Flávia Tavares de Matos, da Embrapa.

Ambas citam diversos itens que começam a se popularizar no Brasil, a exemplo de outras potências do exterior: alimentadores automáticos, que permitem um maior controle da oferta da ração e diminuição do uso de mão de obra; os ‘aquadutos’, tubos para classificação dos peixes que conferem menor estresse aos animais; controle automatizado da qualidade da água por meio da utilização de sondas multiparamétricas com monitoramento em tempo real, permitindo ações rápidas e evitando perdas da produção; bombas de sucção para a despesca, diminuindo o estresse de manipulação dos animais; softwares de gerenciamento, conferindo maior controle da produção, entre outros.

Estrutura da Altamar: sistemas são testados antes da instalação acompanhada nos clientes

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Há uma clara limitação na adoção dessas tecnologias, no entanto, por conta do porte das propriedades. “Os grandes produtores incorporam tecnologias à produção e os pequenos produtores ainda apresentam dificuldades na adoção de tecnologias básicas e consagradas para a produção, como registro de dados e acompanhamento da qualidade de água”, dizem as pesquisadoras. O momento atual é de convivência entre as velhas e novas práticas, como ilustra Marcelo Shei, diretor da Altamar Equipamentos Aquáticos. “A mudança tem sido bastante rápida nesses últimos anos. Estamos em um momento de transição: temos simultaneamente


empresas operando com o conceito de aquicultura tradicional e outras se modernizando rapidamente.” Para ele, a indústria passa a atualizar seus sistemas à medida que haja necessidade de maior biossegurança, controle e estabilização dos processos e competitividade no mercado. A transição também ocorre nos pólos produtivos, que se diversificam com as possibilidades de produção de vannamei longe da costa, e com a popularização da piscicultura. “O surgimento de centros de produção de camarões marinhos afastados do litoral e até mesmo de regiões quentes é uma prova de como a indústria pode se adaptar às exigências e as mudanças para continuar crescendo”, diz Shei. Na visão dele, a piscicultura de água doce mostra como a aquicultura brasileira está mais distribuída, competitiva e diversificada. “Esse crescimento faz com que os problemas com enfermidades fiquem mais constantes e intensos, exigindo um controle muito mais severo das etapas produtivas.” Do povoamento até a despesca, é preciso

medir e registrar todas as informações relacionadas ao manejo (biometrias, consumo de ração, mortalidade, classificação, densidade de estocagem, qualidade da água, processamento etc). “Nesse sentido, os registros de informações da propriedade são essenciais e servem de base para o planejamento e para análises de viabilidade técnica e econômica”, sublinham Lima e Matos.

to de instalações completas, seja de sistemas de recirculação, desinfecção dosada por UV-C e Ozônio ou estruturas de aquecimento e resfriamento de água. Nossa maior presença está nas operações que envolvam reprodução, incubação, alevinagem, produção de organismos-alimento e depuração de organismos aquáticos”, sintetiza o executivo.

A Altamar quer aproveitar esta demanda para identificar e buscar soluções compatíveis com as necessidades e que permitam melhorar a operação. “Desenvolvemos projetos e fornecimen-

Os indicadores de vendas mostram que a aposta na tecnologia tem dado resultado. A empresa, fundada em 2015, calcula que irá dobrar o crescimento ao final de 2018, na comparação com o ano

Soluções Completas em Aquicultura

As instalações de Aquicultura precisam de suporte especializado para um mercado exigente e competitivo A Altamar possui uma equipe multidisciplinar e experiente, capaz de desenvolver projetos, sistemas de filtragem e de recirculação, além de selecionar equipamentos adequados para cada demanda específica

Distribuidora:

(13) 3877 3610

altamar.com.br

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abriga canecas com sensores, onde se calcula o volume da ração pré-cadastrado inicial da ração utilizada colocando o volume dela em gramas por litro g/L. Assim será calculada a quantidade de canecas necessárias até atingir peso desejado pelo usuário e descarregando ao mesmo tempo, podendo ser suspenso o tratamento a hora que precisar, como informa Trevisan. A instalação pode ser feita junto a trator acionado pela tomada de força com alimentadores da própria Trevisan, balsas flutuantes para alimentação de peixes em tanque rede ou mesmo silos estacionários. O acionamento se dá também por motor elétrico ou motor estacionário diesel ou gasolina ou motor hidráulico.

Dosador automático de ração aumenta eficiência da engorda

anterior. “Isso se deu pelo aumento da capacidade de diversificar os produtos e serviços oferecidos pela equipe, que também aumentou significativamente”, reforça o executivo. Há uma preocupação com a atualização constante e desenvolvimento simultâneo de uma linha própria de produtos, além da distribuição de empresas parceiras que a Altamar representa no País, como Azud, Industrial Plankton, Hanna Instruments, Pentair e Proviron. “Hoje possuímos um catálogo completo, incluindo filtros de tambor rotativos, fotobiorreatores, sistemas de monitoramento e controle de parâmetros on-line e mais.”

Arraçoamento controlado Voltando ao caso do tratador, um dos exemplos mais flagrantes da convivência com a tecnologia são os dosadores automáticos de ração, como

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o novo sistema Feed, da Trevisan. “Ele faz o cálculo do volume de ração por sensores posicionados na válvula dosadora, possibilitando uma precisão de 0,5kg para mais ou para menos quando o cadastro da densidade de ração está correto”, explica o engenheiro de controle e automação da empresa, Marcelo Trevisan. Se não houver um especialista imputando os dados corretamente, o sistema não entrega os mesmos resultados. O Feed permite a coleta de dados de ração descarregada em cada viveiro de peixes ou camarão com hora e data por pendrive, descarregando num banco de dados na internet para um relatório completo da ração administrada. Trata-se de um painel com um Controlador Lógico Programável (CLP) industrial que trabalha com uma embreagem magnética. Por meio de sinais elétricos, ela liga e desliga a válvula rotativa que

Como se vê, é cada vez maior a disponibilidade de equipamentos no mercado, mas a automação da aquicultura segue incipiente no Brasil. Na visão da Embrapa, ainda cabe um mea culpa dos fornecedores. “A baixa adoção de tecnologias básicas de cultivo, principalmente por pequenos produtores, pode estar relacionada ao elevado custo dos equipamentos, aos poucos fornecedores e à falta de informação a respeito dos produtos, demonstrando que ainda há a necessidade de investimento em tecnologias mais acessíveis e específicas para o porte dos produtores”, ressaltam Lima e Matos.

Empresas citadas

Marcelo Shei (13) 3877-3610 shei@altamar.com.br

Nedyr Chiesa (44) 3649-1754 nedyr@trevisan.ind.br


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Estufas da Plantfort são uma ferramenta fundamental para o convívio com a mancha branca nos cultivos intensivos

Apoio estrutural

O

aumento da escala de produção traz consigo problemas de sanidade aquícola. A tilapicultura precisa de um maior espectro de vacinas para as doenças bacterianas já existentes e para as mais recentes, como a provocada pela bactéria Francisella sp., cita a pesquisadora da Embrapa Patricia Oliveira Maciel. Já a cadeia do tambaqui sofre as consequências da disseminação de uma endoparasitose provocada por acantocéfalos (a princípio uma única espécie: Neoechinorhynchus buttnerae), frisa Maciel. 68

No cultivo de surubins recentemente foram isoladas bactérias antes encontradas somente em tilápias, “deixando em alerta o potencial de contaminação dos nativos por coabitação”, pontua a pesquisadora. Sem falar nos produtores de camarão vannamei, cuja busca por sistemas de cultivo mais eficientes é frequente, de forma a conviver com a virose da mancha branca e desafios de enfermidades bacterianas. O caminho é adotar boas práticas de manejo para evitar problemas sanitários e melhorar a resposta

produtiva dos organismos cultivados. Do ponto de vista da investigação científica, Maciel defende a pesquisa básica. “As pesquisas chamadas de básicas não poderão ser extintas com pretexto de não serem direcionadas ao setor produtivo, uma vez que serão sempre importantes para melhor se conhecer os patógenos que acometem a aquicultura, bem como desenvolver novas alternativas de prevenção e tratamento. Porém, o caminho para avançar a passos mais largos será realizar pesquisas associadas ao setor privado, como já tem sido feito por algumas instituições.”


Tanques da Multipesca com geomembranas: biosseguridade a custo acessível

Outra alternativa cada vez mais comum é a mitigação dos riscos pelo isolamento das estruturas de cultivo. “Tanto em regiões litorâneas como em áreas não tradicionais os produtores de camarão entenderam que a forma

de se conseguir trabalhar é investindo em biosseguridade”, escreveu a pedido da Seafood Brasil a equipe técnica da Multipesca, formada por Irineu Frederico Feiden, Alysson Azevedo de Menezes e Felipe Cerqueira da Cunha.

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Tanques-rede circulares em PEAD da Braspeixe: antes uma novidade, material já se consolida em pólos como o de Paulo Afonso (BA)

A empresa projeta e constrói sistemas de cultivo que se adequam à proposta dos intensivos. Uma das soluções são os tanques elevados, para cultivo em sistemas fechados. “O cultivo em tanques elevados oferece uma alternativa compacta e eficaz para se produzir tanto as formas jovens para posterior terminação em sistemas que utilizam maiores áreas físicas, ou de realizar o ciclo completo levando os 70

animais até o tamanho final desejado em locais com pouca disponibilidade de água através da adoção dos sistemas de recirculação (RAS), por exemplo”, relatam os técnicos. A expansão destes sistemas foi nítida para a empresa. Em 2017 a Multipesca vendeu cerca de 12 mil metros de geomembrana, com a montagem de projetos em tanques

elevados e com a impermeabilização de viveiros. “A expectativa para 2018, após os contratos fechados no ano anterior, era de continuar a trabalhar para atingir a casa dos 20 mil metros de geomembrana instalados.” A meta foi atingida em seis meses e agora a companhia vai encerrar 2018 com um volume de 40 mil metros de geomembrana instalados. “Este ainda é nosso carro-chefe, mas a


Estrutura metálica das estufas Plantfort é galvanizada a fogo pósfabricação: método garante maior qualidade e resistência à corrosão

venda de equipamentos e insumos para a aquicultura dobrou de 2017 para 2018.” Para o ano que vem, o objetivo é continuar o investimento em novas máquinas e insumos para a aquicultura. Além do revestimento, sistemas fechados demandam uma ferramenta fundamental para o controle de temperatura: as estufas. José Carlos Di Salvo, diretor da Plantfort, já está habituado às estufas agrícolas para fruticultura e horticultura desde 1993, mas as sondagens da carcinicultura levaram a estrutura a outro patamar. “Há três anos, um produtor da Bahia disse que precisava de estufa porque havia surgido a mancha branca e falou em hectares. Estávamos acostumados

São Carlos/SP

+55 16 3368.4102

a vender estufas de 2 mil, 3 mil metros, não em hectares.” Quando ele fechou uma estufa de 1 hectare, ou 8 mil m2, e apurou bons

+55 16 99179.6050 | +55 16 99183.0506

resultados com o cultivo intensivo, os vizinhos seguiram. Já são mais de 100 mil m² de estufas que a empresa de São Carlos (SP) instalou na região. O diferencial é, segundo ele, a

plantfort@plantfort.com.br

71 www.plantfort.ind.br


Aquicultura 4.0 por Alexandre Freitas, chefe geral da Embrapa Pesca e Aquicultura O termo Aquicultura 4.0 é um derivativo natural da Agricultura 4.0, que por sua vez, bebe na fonte da Indústria 4.0, termo cunhado por técnicos e empresários alemães que vislumbraram no início desta década uma nova revolução industrial: utilizar as tecnologias de informação e comunicação (TICs) para interligar máquinas, sistemas e ativos, criando redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor que controlem de forma autônoma os módulos da produção. Ou seja, a indústria 4.0 propõe fábricas “inteligentes”. A aquicultura brasileira terá que acelerar suas revoluções para ser mais competitiva. O aumento da produção e da lucratividade daqui em diante terá de vir de ganhos de produtividade e eficiência, com o uso de tecnologias que auxiliem o aquicultor a produzir cada vez mais usando menos insumos. As ferramentas de TICs podem ajudar muito nesse sentido subsidiando a retroalimentação e a melhoria dos processos em todas as etapas de produção de forma a entregar um produto de maior qualidade e com rastreabilidade até o consumidor final.

presença de cortinas móveis e janelas basculantes que se abrem para baixar a temperatura quando necessário. O próximo passo é automatizar a abertura e fechamento destes dispositivos. Antes das estufas, o engenheiro Di Salvo iniciou a trajetória como produtor agrícola, experiência que deu a ele a dimensão exata dos obstáculos e riscos que um cultivo oferece. E é justamente no controle da mancha branca que reside a principal vantagem das estufas. “A mancha branca pode se manifestar em temperaturas baixas e as mudanças drásticas desta temperatura também podem afetar a produtividade. A estufa consegue garantir um ambiente estável e uma temperatura controlada que garante o não desenvolvimento da doença e uma maior produtividade

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e qualidade do camarão”, indica o empresário. Depois do início na Bahia, a fama das estufas da empresa começou a crescer no setor, até que a Camanor encomendou as estruturas da Plantfort. As características técnicas das estufas foram determinantes para o negócio. A estrutura metálica é galvanizada a fogo pós-fabricação em banho de zinco fundente de acordo com a ABNT ou ASTM-A123. “Este método garante maior qualidade e resistência da estrutura à corrosão”, explica Di Salvo.

Carência e padronização A falta de padrão em equipamentos e estruturas ainda prejudica a evolução da cadeia de nativos, principalmente, segundo concluem Adriana Ferreira Lima e Flávia Tavares de Matos, da

Embrapa. “Há carência de estudos e informações básicas, como o formato e volume do tanque-rede adequado para cada fase de produção, a densidade de estocagem, métodos e periodicidade de classificação, frequência e taxa de alimentação, dentre outros. Essa carência limita a adoção tecnológica pelos produtores.” Enquanto a pesquisa não aponta caminhos, o setor privado direciona a evolução com base nos resultados obtidos diretamente do mercado. Os municípios de Glória (BA) e Paulo Afonso (BA), região que concentra hoje o maior volume de engorda de tilápia em todo o País, são um bom termômetro. Mahmoud Wehbi, diretor da Braspeixe, é um dos principais fornecedores de tanques-rede ao pólo e sente que a adesão a novos materiais


foi grande. “Antes anunciávamos o PEAD [Polietileno de Alta Densidade] como o futuro dos tanques, hoje ele já é o presente. Além dos produtores atuais, quem entra hoje na atividade já começa com um tanque de grande volume de 50 m3, que substitui 7 ou 8 tanques pequenos.” Passados 17 anos de atuação no mercado, a Braspeixe hoje dispõe de tanques de médio e grande volume, telas em aço inox 304L, passarelas e depósitos flutuantes, comedouros

em sombrite e tampas em tela antipássaro. Wehbi enxerga um crescimento natural dos produtores, que a cada 10 meses compram mais tanques. “Muitos também trocam as telas para inox, que antes eram galvanizadas”, conta. O preço já não é um impeditivo, uma vez que a empresa passou a adquirir o inox no exterior. “Antes custava quatro vezes mais, agora é até mais barato que o nacional.” A maior parte das vendas da empresa é de tanques de 5,65m

de diâmetro, com 3 metros de profundidade. “É o que o pessoal mais usa em reservatório, mas também fazemos maiores de acordo com o plano do cliente. A tendência é ir para maior”, diz Wehbi, atento aos movimentos de expansão do setor no Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins.“Acreditamos que nos próximos 10 anos a produção crescerá muito nestes Estados, que têm reservatórios onde os tanques de grande volume se encaixam perfeitamente.”

Irineu Feiden (45) 3254-3913 multipesca.rondon@gmail.com

José Carlos Di Salvo (16) 3368-4102 plantfort@plantfort.com.br

Empresas citadas

Mahmoud Wehbi (75) 3282-4716 braspeixe@braspeixe.com.br

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Conversão em dinheiro

U

m time de quatro pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura questionados pela Seafood Brasil ressalta o que os produtores notam - ou deveriam notar - no campo: “as conversões alimentares das principais espécies de peixe produzidas no País ainda são relativamente altas (1.6-2.2) quando comparadas, por exemplo, com o salmão do Atlântico, (1.3) que já atingiu um patamar tecnológico elevado”, ressaltam Ana Paula Oeda Rodrigues, Lícia Maria Lundstedt, Luiz Eduardo Lima de Freitas e Viviane Rodrigues Verdolin dos Santos.

Se a ração chega a representar 70% do custo de produção, esta deveria ser a primeira frente de trabalho do aquicultor. A primeira frente é observar e cobrar melhorias nas formulações das rações e práticas de alimentação atualmente empregadas. A situação é mais grave nas fases iniciais, que exigem micropellets. Uma das referências mundiais em fases iniciais é a Prilabsa, empresa transnacional criada no Equador que completará 27 anos em outubro de 2019 e já chegou aos 16 anos de atividade no Brasil. A companhia tem exclusividade para os produtos da

norte-americana Zeigler, pioneira em rações para a aquicultura. A cargo da operação brasileira desde o início, Pablo Roberto Páez conta que quando a Prilabsa desembarcou aqui, o País despontava como a grande esperança mundial para substituir o Equador como potência emergente do camarão. Vieram a ação antidumping, doenças como a NIM e a mancha branca, mas a empresa persistiu. Além das rações, os cistos de artêmia da Mackay Marine Shrimp, trazidos do grande Lago de Sal de Utah (EUA), causaram grande impacto entre os produtores, avalia o

Estrutura da Prilabsa no Brasil foi desenvolvida para preservar qualidade de alimentos para fases iniciais, foco principal da empresa - que completa 27 anos em 2019

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Sistema de extrusão de matriz dupla da Wenger para rações de fases iniciais: processamento de alimentos a peixes e camarões é ponto crítico para melhor FCA

Especialização no processamento Para peixes nativos ainda há um grande caminho a ser percorrido para o desenvolvimento de formulações que atendam às exigências nutricionais específicas de cada espécie, nas diferentes fases do ciclo do cultivo, sublinham os pesquisadores da Embrapa. Essa é a luta da Zaltana, hoje uma das principais processadoras de peixes nativos do País, que montou a própria fábrica de rações em agosto de 2017 para atender à demanda de produção do Estado, principalmente os piscicultores da região de Ariquemes e Vale do Jamari. A planta tem capacidade de processar mais de 130 toneladas/mês em turnos de 14h/dia.

executivo. “Há produtores que dizem que a produção era uma antes da Prilabsa e depois da empresa.” Um dos maiores benefícios alcançados pelos produtos da companhia é a diminuição do tempo de cultivo no viveiro, segundo explica Páez. Em experimento realizado em uma fazenda em Canguaretama (RN), a equipe técnica instalou mangueira porosa de aeração Aerotube (um dos itens da linha), estrutura de estufas individuais, ração indicada para PLs e probióticos. “A produção saiu de 259 kg/ha em 2015 para 412 kg/ha em 2018, com peso final de 10,2 g em 65 dias de cultivo e sobrevivência de 69%, contra 56,3% três anos atrás.” Somado ao pacote de produtos, o conhecimento trazido de pesquisas das marcas representadas, de um convênio com a Universidade de Miami (EUA) e da própria fazenda que a companhia possui no Equador, com 2.000 hectares, foram abrindo mais portas à empresa. Atualmente, a empresa dispõe de uma filial em Aracati (CE) e outra em Natal (RN), 76

cuja estrutura cresceu e abriga uma câmara fria para lula, mexilhão e outros 27 produtos. “Estamos em locais quentes, mas estes são produtos muito voláteis, é preciso conservá-los de acordo com estas características. Não deve ter fluxo de ar, não pode ter luz do sol, e risco de contaminação.” Páez avalia que a Prilabsa deve ter 80% de participação no mercado brasileiro em laboratórios e berçários. O foco sempre foi nutrição para fases iniciais e assim deve permanecer, embora a linha contemple equipamentos, mangueiras, sondas multiparamétricas, bombas, probióticos, aditivos, entre outros itens. Mas há uma novidade no ramo de nutrição: a empresa em breve passará a comercializar a ração japonesa Higashimaru com micragens ainda não disponíveis para variedades de alevinos de água doce e salgada no Brasil. Os produtos serão testados em grandes produtores, ainda mantidos em sigilo, para depois entrar definitivamente no mercado.

No portfólio, rações onívoras formuladas para o tambaqui desde a fase inicial até a finalização e rações carnívoras para pintado e pirarucu, peixes nativos da região. “Queremos ser referência no fornecimento de rações para peixes e na cadeia produtiva do pescado em Rondônia, mas não visamos somente o mercado local. Expandimos nossos negócios para outros Estados, como Acre, Amazonas e Roraima, e também iniciamos a exportação para países vizinhos, como o Peru”, indica a diretora, Luciana Aguiar. Ainda no aspecto das formulações, a ciência enxerga as fontes proteicas alternativas, como farinha de insetos e coprodutos agrícolas, como uma alternativa para a substituição eficiente e sustentável da farinha de peixe nas rações. Os pesquisadores da Embrapa tocam ainda em dois pontos fundamentais da nutrição animal. “Para a tilápia e camarão, cadeias produtivas mais desenvolvidas, melhorias na tecnologia de processamento das rações e o uso de imunoestimulantes e nutracêuticos nas formulações são grandes tendências para a intensificação da produção sem prejuízo da saúde animal e qualidade da água dos sistemas.”


No que tange ao processamento das rações, Eduwaldo Jordão, responsável por vendas em toda a América Latina da Wenger, tenta fazer sua parte. A empresa norteamericana é especializada em máquinas para extrusão e secagem de pellets, que podem colaborar com o Fator de Conversão Alimentar (FCA) tanto quanto a formulação e proteínas alternativas, mas não levam a mesma atenção. “Há casos de conversão alimentar na Índia que saíram de 2.2 para 1.3 com a mesma

formulação, só pelo fato de a ração ser extrusada”, afirma. Em seminário recente organizado durante a 15ª Fenacam, em Natal (RN), Jordão chamou a atenção da plateia - formada por técnicos de diversas fábricas de ração - para um mito corrente no segmento. “Extrusão não é arte, é ciência”, cravou. Na visão dele, as soluções improvisadas prejudicam o desempenho das fábricas de ração e, por consequência, os índices produtivos nas fazendas.

Na linha de ração em micropellets, a Wenger lançou para as Américas o AquaFlex XT, que já foi instalado em fábricas na Ásia e Oriente Médio. “Com duas matrizes, o equipamento duplica a produtividade e pode chegar a até 12 mil kg por hora”, diz Jordão. O equipamento pode produzir rações com micragem de 0.5 mm a 1.5 mm e oferece um controle preciso de densidades, segundo a empresa, tanto para dar grande capacidade de flutuação quanto de submersão - de acordo com as necessidades das espécies.

Eduwaldo Jordão (19) 3881-5060 ejordao@wenger.com

Luciana Aguiar (69) 3516-7801 contato@zaltanapescados.com.br

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Pablo Roberto Páez (84) 3207-7774 prilabsa@prilabsabr.com.br

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Na Cozinha

Divulgação/Mr. Poke

A onda do verão passado

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Busca por uma alimentação mais saudável e saborosa aumenta as apostas no poke, um prato havaiano que se popularizou a partir de 2017 e pode ajudar a impulsionar o consumo de pescado

J

á faz um ano desde que a onda do Verão passado entrou no mercado, mas a expansão de lojas e marcas mostra que o poke continua uma boa pedida para fornecedores e operadores do food service na temporada 2018/2019. Um deles é o Let’s Poke, que nasceu em 2017, no bairro da Vila Olímpia, mas já expandiu para o Itaim Bibi e, em breve, deverá abrir uma terceira loja na Consolação.

Além de saboroso e saudável, outro aspecto positivo do poke é que ele leva a presença do peixe ao cotidiano dos brasileiros, como indica João Marcelo Ramos, um dos três sócios-proprietários do estabelecimento. “Por ser um prato leve, rápido e prático a tendência é que muitos hábitos alimentares de consumo sejam substituídos por ele, aumentando o consumo de peixes consequentemente. Com a onda de comidas fit, é

comum pessoas abrirem mão de pizzas e hambúrgueres para saborear um poke”, disse. Ramos acha que a receita veio para ficar, ao contrário de sensações gastronômicas como a paleta mexicana - picolés artesanais cujas inúmeras franquias e genéricos saturaram o mercado. “Por ter a base no peixe, o poke dificilmente sairá de moda, haja visto o sucesso dos


João Marcelo Ramos, Giulia Zorzi Bottura e Ricardo Bottura, sócios do Let’s Poke: prato leva peixe ao cotidiano dos brasileiros

da no Havaí, o empresário Felipe Scarpa se juntou ao publicitário Thomas Teisseire e ao chef Lucas Marques para investir no Mr. Poke, que hoje tem duas unidades: uma em Pinheiros e outra nos Jardins, em São Paulo.

E foi justamente daí que um dos pioneiros no ramo trouxe a ideia para o Brasil. Quando voltou de uma tempora-

Apesar do crescimento, nenhum dos empresários consultados acredita que a iguaria represente uma ameaça aos

restaurantes japoneses. Para Teisseire, é uma opção que alavanca o consumo do pescado sem afetar outros formatos. “O poke é um novo nicho para o consumo de peixe cru no Brasil, não concorre diretamente com os restaurantes japoneses e é mais uma porta para o consumo desta categoria”, pontuou. A poucos dias para o começo do Verão 2019, tudo indica que o poke segue com tudo. Mas é sempre bom lembrar a principal característica de um estabelecimento especializado: “Número um é servir um peixe de qualidade”, alertou Teisseire.

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Shoel ainda disse que além de um ambiente limpo e seguro, outro aspecto relevante para o negócio é o “astral praiano”: “As características de qualquer restaurante que trabalha com peixe é transparecer um ambiente de limpeza e confiança com um astral bem praia”, completou.

Teisseire vê sustentabilidade no negócio. “O poke surgiu como uma tendência mundial e o Mr. Poke está indo para seu quinto ano de operação com crescimento significativo ano após ano. Reflexo disso são inúmeros empresários apostando no setor”, indica. “Quando começamos não existia poke no Brasil, hoje já temos mais de 50 bandeiras espalhadas por aí.”

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restaurantes japoneses”, opinou. É a mesma visão de Shemuel Shoel, um dos sócios do Poke Haüs, concorrente no bairro do Itaim Bibi, também em São Paulo. “Em vista que temaki na época ficou 15 anos no mercado, acho que o poke também tem tudo para ficar senão igual, até mais.”


Na Cozinha

O que é poke? Shemuel Shoel (dir.), do Poke Haüs, junto ao chef Paulo Ohmura: formato pode superar temakerias em importância e número de lojas

Divulgação/Poke Häus

No dialeto havaiano nativo, seria algo como “cortado em pedaços” e seu principal ingrediente é o peixe fresco. Cortado em cubos, acompanha arroz japonês, molhos, frutas e castanhas, servido em uma tigela (ou bowl).

Cardápio fresco Em geral, nos restaurante especializados o cliente pode escolher uma proteína: salmão, atum, peixe branco, frango ou a opção vegana com mix de cogumelos, ou até formar seu próprio sabor. Depois opta por uma base, que pode ser arroz japonês (gohan), arroz integral ou uma salada. Na sequência indica o topo: em geral grãos, outros vegetais e crispies (crocantes).

No Let’s Poke, o carro-chefe é o aloha, prato com salmão, molho especial da casa, base de arroz japonês para sushi (shari), cenoura, sunomono, manga, castanha de caju caramelizada com gergelim, crisp de couve e tempura. O salmão também está na lista de “queridinhos” do Poke Haüs. No cardápio da casa, o poke de salmão conta com shari, cubos de salmão marinado com molho asiático, cebola roxa, cebolinha, rabanete, sunomomo,

nori, manga, edamame, wakame, coco fresco e gergelim. No cardápio do Mr. Poke, a preferência se dividida entre o tradicional havaiano, Spicy Tuna e a criação da casa, Salmão Tropical: cubos do peixe com molho cítrico, cubos de manga e farofa de macadâmia na base (acompanha salada de pepino, nori em tiras e crispy da casa).

Divulgação/Mr. Poke

Divulgação/Mr. Poke

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Interior do Mr. Poke: restaurante em SP abriu há cinco anos e não vê tendência diminuir


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Personagem

CONTEÚDO MULTIPLATAFORMA Veja o próprio Kollonco Herrero contar sua história no nosso canal: youtube. com/seafoodbrasill Ou escaneie este QR Code com o seu celular.

Ferreiro das salmoneiras Kollonco Herrero aproveita restos das plataformas das estações de engorda de salmão para criar esculturas em ferro

E

xiste uma galinha nativa do Chile que bota ovo azul e não tem plumas no rabo. Raríssima nos dias de hoje, ela é conhecida como galinha mapuche - povo indígena que a batizou com o termo kollonco, que significa “falta de algo”. A falta das plumas atrapalha o acasalamento, já que o galo não consegue montar nela. O chileno Miguel Ángel Burgos Ruiz, 62 anos, é um dos poucos a ter aprendido os segredos da espécie e conseguiu criar algumas kolloncas em Puerto Montt, na entrada da Patagônia chilena. Certo dia, ao ver o galo kollonco dependurado na sua usinagem de ferro, Ruiz tirou uma foto. A imagem serviu para ilustrar o material de divulgação da atividade que surgiu como hobby e hoje é seu principal ganha-pão: esculturas em ferro. Kollonco Herrero, como ficou conhecido na região, forjou sua habilidade artística depois de décadas de trabalho com estruturas metálicas de sustentação. O sonho de manipular ferro, no entanto, começou muito antes da aposentadoria. Quando jovem, Ruiz foi ao sul do Chile com toda a família para colonizar a região de Guaitecas, ao sul da Ilha de Chiloé. “Sempre me senti atraído pelo tema do mar. Me aproximava da costa e via as lanchas partindo e desaparecendo no mar. Eu queria desaparecer também.” É por isso que toda a sua obra é permeada por motivos marinhos, como barcos, sereias, pescadores, salmão e até um escafandro - peça mais curiosa da coleção, que serve como porta-vinho.

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As salmoneiras, aliás, são também provedoras de matéria-prima por conta das estruturas de aço das quais precisam se desfazer periodicamente. Elas são todas perfuradas, o que gera resíduos em forma de pequenos cilindros que o artista usa em todas as suas criações. Além disso, algumas pranchas não utilizadas também servem como base para sustentar as obras. “Assim dou a todo este material uma nova função.” A 10ª AquaSur foi a galeria de arte em que Ruiz expôs suas obras recentemente. Uma das feiras aquícolas mais importantes do mundo não poderia ter sido mais bem escolhida. “Li no jornal que iriam organizar a feira e logo liguei para os organizadores, que me deram este espaço para mostrar minha arte”, conta. “Como agora estou me dedicando 100% a isso, preciso procurar onde expor minhas obras. Considero que tenho o talento, há matérias-primas disponíveis e com isso termino minha vida.”


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