Seafood Brasil #12

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INVESTIMENTOS

Câmbio segura ritmo do fluxo de pescado importado

seafood Os mistérios do Ceará A terra onde o litoral come o camarão e a tilápia produzidos em pleno sertão

PONTO DE VENDA

Pesquisa exclusiva mostra o que esperar do varejo para 2016

brasil

www.seafoodbrasil.com.br

#12 - Out/Dez 2015 ISSN 2319-0450 R$ 20,00


A Seafood Brasil agradece aos nossos leitores e apoiadores que contribuíram para que 2015 fosse um ano de muito aprendizado e conquistas, apesar de todas as dificuldades encontradas no caminho. Esperamos que, em 2016, o nosso setor retome o seu crescimento com toda intensidade e potencial que lhe cabe. A sua colaboração em pautas e seu investimento em espaços publicitários serão cada vez mais fundamentais para sermos capazes de seguir com a nossa missão de transmitir, divulgar e unir os pares do segmento.

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A equipe de colaboradores da Seafood Brasil deseja a você, amigos e familiares um Feliz Natal, além de muita evolução, trabalho e prosperidade para 2016.

Em 2016 te esperamos por aqui. LEMBRE-SE QUE ESTE ESPAÇO PODE SER SEU!


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Editorial

O anúncio da lanchonete

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ntre uma apresentação e outra da última Fenacam, em Fortaleza, reencontrei Rui Donizete Teixeira, veterinário com passagem marcante pelo MPA. O amigo me contou uma anedota que reproduzo aqui, com a máxima fidelidade que a memória permite: “Nos Estados Unidos, um pai resolveu empreender e abriu uma lanchonete de hot-dog. O negócio prosperou, as vendas cresceram e ele conseguiu custear os estudos do filho na universidade.”

equipe, os clientes minguaram, a lanchonete fechou e o pai disse: ‘É, meu filho, você tinha razão.” A moral dessa história quem explica são os entrevistados desta edição. Lá de Jaguaribara (CE), produtores que perderam 100% da produção de tilápias em junho já estão se reerguendo. De Conxemar (Vigo), os europeus entram em ritmo de retomada no comércio de pescado e querem resgatar fluxo com Brasil. Na pesquisa exclusiva com o varejo, alguns fornecedores e compradores dizem que incrementaram vendas em mais de 20% em 2015. A Pif-Paf entra no segmento e a Golden Foods expande a linha. Boas notícias existem, basta querer encontrá-las.

“Para incrementar ainda mais as vendas, ele pensou em fazer uma propaganda em outdoor anunciando algumas promoções. O filho disse a ele que o país estava em crise, que não se deveria gastar dinheiro com isso e, mais, o pai deveria ‘otimizar a operação’ da loja. Não sabendo que o país estava em crise, ele consentiu e agradeceu ao filho pela lucidez. Pouco tempo depois, ele diminuiu a

Inspire-se para um 2016 muito melhor! Boa leitura e boas festas!

Índice

06 Cinco Perguntas

08

36 Ponto de Venda

44 Na Gôndola

Marketing

20 Artigo

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46 Na cozinha

50 Personagem

Capa

Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórteres: Léo Martins, Marcela Gava, Itamar Cardin e Thais Ito Diagramação: Emerson Freire Distribuição: Marcus Vinicius Crisóstomo Alves Tráfego de anúncios: Rosi Pinheiro

Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil Av. Bosque da Saúde, 599 Praça da Árvore - São Paulo (SP) CEP 04142-091 Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Hipólito Yrigoyen, 4021 - C1208ABC C.A.B.A. – República Argentina julio@seafoodbrasil.com.br

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Redação redacao@seafoodbrasil.com.br

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Expediente

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5 Perguntas a Roland Wiefels, diretor da Infopesca

Entrevista

50 anos de marketing do pescado Desde 1965, Roland Wiefels se dedica a estudar como aprimorar a cadeia produtiva do pescado para aumentar o consumo na América Latina; após 20 anos, ele deixa o Infopesca e retoma suas funções no Ibama segundo Wiefels, tem potencial para triplicar. Em 2050, serão 784 milhões de latinos, segundo a ONU, que devem consumir algo em torno de 24 kg per capita de pescado por ano. “O desafio está na expansão da produção aquícola, naturalmente, mas também na organização dos canais de distribuição e de comercialização”, diz o ex-diretor na entrevista a seguir. Seu mandato como diretor do Infopesca termina em janeiro. Foram quatro reeleições depois da primeira eleição. O que, na sua opinião, tornou sua carreira à frente da entidade tão longeva? Quando, indicado pelo Ibama e apoiado pelo governo brasileiro, fui eleito em 1995 entre 17 candidatos, penso que pesou bastante a minha experiência técnica internacional no setor pesqueiro e também o fato de eu não ter tido indicação política. Infopesca é um órgão eminentemente técnico, politicamente neutro, e é na inovação e na adequação técnica às necessidades do setor pesqueiro e aquícola da América Latina que o diretor, junto com a equipe da Infopesca, deve atuar. Nestes 20 anos tivemos muitas mudanças políticas em todos nossos países latino-americanos. Um diretor indicado sobre bases políticas teria naturalmente ficado muito menos tempo neste posto.

Divulgação/Arquivo Pessoal

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Texto: Equipe Seafood Brasil

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oucos profissionais do setor podem se vangloriar de terem empregado meio século de suas vidas no desenvolvimento da aquicultura, pesca e comercialização de pescado. Roland Wiefels, que deixa a diretoria do Infopesca neste mês de janeiro, sentiu surgir o gosto pelo setor ainda em 1965, aos 14 anos, quando embarcou numa traineira para uma viagem de uma semana de pesca de sardinha no sul fluminense. “Esta viagem representou um verdadeiro início de vocação”, conta, nesta entrevista exclusiva à Seafood Brasil. 30 anos depois, Wiefels assumiria um órgão que, sob sua gestão, tornou-se uma referência para governos, associações e o setor privado nos estudos sobre inovação na produção e indústria, competividade e expansão do consumo de pescado em toda a América Latina. Depois da primeira eleição no Infopesca, Roland foi reeleito quatro vezes para mandatos de 4 anos. Agora, retorna ao Ibama, seu órgão de origem, de onde assistirá à sucessão. O novo diretor será eleito em breve na Assembleia Geral do órgão, com os representantes dos 10 países membros, entre 4 candidatos (1 de Honduras, 1 da Colômbia e 2 do Uruguai). O próximo diretor terá de expandir os esforços para incrementar o consumo de pescado na América Latina, que,

Seus 20 anos de carreira coincidem com as duas décadas do Código de Conduta para uma Pesca Responsável, uma referência no mundo todo, mas pouco conhecido no Brasil. A que se deve este desconhecimento e como revertê-lo? O Código de Conduta para uma Pesca Responsável (CCPR) agrupa em 12 artigos um conjunto de recomendações aos países. No Brasil, estas recomendações são seguidas e aplicadas por muitas instituições. Por exemplo, o artigo 11 do CCPR (sobre práticas pós-captura e comércio) é posto em prática pelo SIF/DIPOA do Ministério da Agricultura. Já a Marinha do Brasil está fortemente implicada nos aspectos do artigo 8 (operações pesqueiras), em particular os aspectos ligados à preservação da vida humana no mar e à poluição marinha. O sistema de Registro Geral da Pesca, que estava com o Ministério da Pesca e da Aquicultura e agora está de volta no Ministério da Agricultura, por sua vez, atende a aspectos dos artigos 7 e 8 do CCPR, enquanto que o ICMBio desenvolve os aspectos do artigo 12, ligados à pesquisa. Por sua vez, finalmente, o IBAMA está envolvido em maior ou

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Como compatibilizar interesses do setor privado na expansão da oferta de pescado e as demandas da sustentabilidade? Os interesses do setor privado são de prosperar atendendo às demandas de clientes e consumidores. As demandas de sustentabilidade são de toda a humanidade. Temos vários exemplos das consequências de operações ambientalmente insustentáveis de produção de pescado, levando à exaustão da produção de bacalhau em Terra Nova ou do Mar no Norte, até a da merluza na Argentina ou mesmo em grandes produções aquícolas mal planejadas ou mal gerenciadas, facilitando a disseminação de epidemias como a mancha branca ou a SMP no camarão ou o ISA no salmão, entre outros. Indo além da sustentabilidade, estas produções simplesmente não se sustentaram, levando empresas à falência, os consumidores ao desabastecimento e os meios ambientes à necessidade de muitos anos ou mesmo décadas para se reconstituir. Isto realmente não interessa a ninguém, a não ser um ou outro “pirata” que pensa em ganhar dinheiro rápido, não importando os meios. A divulgação ampla e constante dos conceitos e das boas práticas de sustentabilidade ambiental é portanto indispensável para combater a ignorância. Por sua vez, o controle e uma fiscalização eficaz e severa são igualmente importantes para combater os “piratas”.

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Sua atuação no segmento já ultrapassa os 50 anos, mas o sr. ainda tem disposição para continuar. Como espera conduzir seu trabalho vinculado ao pescado nos próximos anos? Efetivamente, aos 14 anos de idade, em 1965, eu tive a sorte de poder embarcar numa traineira para uma viagem de uma semana de pesca de sardinha no sul fluminense. Esta viagem representou um verdadeiro início de vocação. Desde então, seja nos meus contatos constantes com pescadores (pertenço há décadas à Colônia de Pescadores Z8 de Jurujuba), seja nos meus estudos sempre voltados ao setor pesqueiro, incluindo um mestrado no Brasil, uma pós-graduação na Alemanha e um doutorado na França, ou seja

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ainda nas minhas atividades profissionais desde 1971, quando comecei estagiário na Sudepe, incluindo ainda dezenas de grandes projetos internacionais a partir de 1986 pela FAO, pela ONUDI e outras instituições internacionais, e pelo Infopesca, com atuação em 55 países em todos os continentes, eu tive a oportunidade e a grande sorte de poder acompanhar o desenvolvimento do setor pesqueiro e aquícola numa escala global. No Infopesca, o limite de idade é de 65 anos. No serviço público brasileiro este limite é de 70 anos. Voltei assim à minha instituição de origem que é o IBAMA, onde aplico o preceito “pensar global, atuar local”, incluindo a aplicação na prática dos conceitos ecossistêmicos, de educação ambiental, de combate à pesca ilegal, não reportada e não regulamentada, com a participação de todos os atores do setor. Estes conceitos, como também o do Código de Conduta para uma Pesca Responsável, são amplamente discutidos e aplicados no âmbito mundial e o Brasil pode demonstrar que aqui também estes conceitos são aplicados, em perfeita adaptação à nossa realidade. Um primeiro evento nesta lógica foi o seminário de uso sustentável dos recursos marinhos no Estado do Rio de Janeiro, realizado no último dia 24 de setembro (ver http://www.infopesca.org/ content/taller-sobre-el-uso-sosteniblede-los-recursos-marinos-en-el-estado-de -rio-de-janeiro). Outros seminários estão em preparação e uma unidade voltada à pesca e à aquicultura marinha e de água doce se encontra em formação na Superintendência do Ibama no Rio de Janeiro, onde atuo. Temos inúmeras oportunidades de desenvolvimento sustentável para os nossos recursos marinhos e de água doce. A exemplo do selo SIF de certificação sanitária federal, reconhecido mundialmente, podemos por exemplo pensar num selo Ibama de certificação ambiental federal, facilitando a comercialização mundial dos nossos produtos efetivamente produzidos de acordo com as normas ambientais brasileiras e internacionais. Existem muitas iniciativas construtivas a desenvolver em nosso País.

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Quais são os desafios do setor que o Infopesca terá de atender nos próximos anos? O setor pesqueiro, principalmente na sua componente aquícola, está em pleno desenvolvimento na América Latina. Um dos aspectos que o Infopesca está desenvolvendo já há vários anos é o da expansão dos mercados internos dos nossos países latino-americanos. Podemos tranquilamente pensar na triplicação destes mercados internos, o que levaria os 784 milhões de latinoamericanos previstos pelas Nações Unidas para 2050 a consumirem algo em torno de 24 kg per capita de pescado por ano (só um pouco mais que os atuais 22,5 kg de consumo per capita anual dos peruanos). O desafio está na expansão da produção aquícola, naturalmente, mas também na organização dos canais de distribuição e de comercialização. Por outro lado, a experiência que nossa América Latina desenvolve nesta expansão dos sistemas de distribuição e de comercialização poderá ser aproveitada na África, cuja população está explodindo, devendo quadruplicar até o fim do século (atingindo 4,4 bilhões de habitantes), representando um fantástico mercado a ser abastecido, em grande parte possivelmente com pescado latino-americano se pudermos aproveitar bem nosso potencial de produção, de abertura de mercados e de cooperação entre os dois lados do Atlântico. O Infopesca já começou este trabalho e, em cooperação com Infopêche e Infosamak, tem muito a aportar

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a este gigantesco desenvolvimento do intercâmbio e comércio transatlântico.

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menor grau em praticamente todos os aspectos do CCPR. Isto a nível federal. Podemos agregar também os órgãos estaduais de pesca e de meio ambiente e, em muitos casos, as administrações municipais. Os diversos aspectos do CCPR são assim colocados em prática em todo o País. O que faltaria talvez, é uma coordenação geral para evitar dispersões, interpretações diferentes e uma multiplicação desnecessária de esforços. Por outro lado, esta coordenação geral será sem dúvida fortificada pela coparticipação de todo o setor (pescadores, armadores, aquicultores, indústrias processadoras e comerciantes de pescado, junto com as autoridades federais, estaduais e municipais) na aplicação do código, incluindo aí também todos os aspectos da aquicultura.


Marketing & Investimentos

Em compasso de espera Exportadores já consideram o dólar um entrave quase tão importante quanto a obtenção de registro de produtos no Dipoa para vender pescado ao Brasil; ritmo de compras acusa queda, mas não inibe interesse

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Texto e fotos: Ricardo Torres

á é consenso lá fora: o Brasil, pelo seu desempenho econômico em 2015, ficou em segundo plano no comércio global de pescado. Ou pelo menos não se lhe pode atribuir a mesma esperança que brotava em outros países de que, em ritmo mais rápido, os brasileiros entrassem na briga para fornecer o que a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apregoa: mais matéria-prima das águas a um mundo faminto. O cenário não se justifica apenas pelas exportações - em ascensão, mas ainda irrisórias - mas pela diminuição das compras no exterior. A análise dos dados da nossa balança comercial do pescado, ofertados pelo Ministério do Desenvolvimento (MDIC), mostra

como a atividade arrefeceu em 2015. No período entre janeiro e outubro, as importações de pescado caíram 18% em volume. Acrescente mais 9 pontos percentuais negativos para saber como ficou a receita e você entenderá o que faz os exportadores coçarem os cabelos: a desvalorização do real. O intervalo de cotações entre janeiro (US$ 1,00 = R$ 2,64) e novembro (R$ 3,85) se tornou o pesadelo de quem maneja o comércio exterior com o País. A diferença de quase 46% na conversão real-dólar motivou renegociações contratuais com os principais parceiros, como Chile, China, Noruega, Argentina, Vietnã e Portugal e uma imprevisibilidade difícil de contornar. A reação dos parceiros externos já instalados foi baixar o preço, enquanto os brasileiros, diante de um

cenário de retração econômica, diminuiram volumes. Outros efeitos também se notam na disposição de quem já estava com malas prontas com novos produtos para chegar ao Brasil. “Estamos esperando o câmbio se estabilizar, porque o preço dos produtos ainda não permite a compra pelos brasileiros”, contou o gerente comercial da peruana Perupez, Humberto Olivera, na feira Conxemar, realizada em Vigo (Espanha), no último mês de outubro. A empresa quer fornecer dourado do mar (mahi-mahi), além da oferta já exportada a clientes, como a Leardini, de moluscos - como a lula gigante (potón) em anéis e tubos. Ainda assim, ele pretende avançar com a obtenção de mais Dipoas - como os estrangeiros se referem ao registro


Feira Conxemar 2015, em Vigo, marcou a confiança dos europeus na retomada dos fluxos regulares de comercialização de pescado no Velho Continente. Citado por muitos, câmbio prejudica quem quer vender ao Brasil, mas mercado está mais receptivo a importações das espécies disponíveis aqui no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - e deixar as portas abertas para, quando for o momento, ingressar de vez. Também do Peru, a Coinrefri está nos trâmites para uma ampliação de registros no Dipoa para novas apresentações de produto e, assim, incrementar a participação local, segundo comentou a chefe comercial, Fabiola Villalta. “Temos Dipoa para várias espécies (lulas, dourado do mar, anchoveta, cação e merluza), mas apenas algumas apresentações por variedade de cortes, embalagens etc”, disse. O Peru como um todo teve uma redução de 30% nos volumes exportados

BALANÇA COMERCIAL DO PESCADO (CATEGORIA 03 E POSIÇÃO 1604) | JAN-OUT/2015 X 2014 US$ FOB

2015 (jan>out)

IMPORTAÇÕES EXPORTAÇÕES SALDO COMERCIAL

$1.008.935.731,00 $174.792.666,00 -$834.143.065,00

Fonte: MDIC/AliceWeb

2014 (jan>out) $1.257.589.041,00 $166.349.510,00 -$1.091.239.531,00

% -27,80% -5,04% -30,82%

Peso Líquido (kg)

2015 (jan>out)

2014 (jan>out)

256.598.914,00 27.765.279,00 -228.833.635

304.893.883,00 25.278.897,00 - 279.614.986

% -18,82% 8,96% -22,19%

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Humberto Olivera e Dario Alvites Diestra, da Perupez: empresa quer ampliar presença no Brasil com mais registros de produtos no Dipoa


Marketing & Investimentos

TOP 20 PAÍSES EXPORTADORES (CAP. 03) | JAN-OUT 2015 X 2014 País

01/2015 até 10/2015 US$ KG

01/2014 até 10/2014 US$ KG

% US$

% KG

1 - Chile $395.589.554,00 76.575.415 $472.249.804,00 72.898.463 -19,38% 4,80% 2 - China $188.152.001,00 60.179.362 $184.110.584,00 57.930.223 2,15% 3,74% 3 - Noruega $101.396.647,00 16.224.927 $125.609.766,00 21.894.769 -23,88% -34,95% 4 - Argentina $77.130.935,00 24.685.503 $93.551.223,00 30.906.454 -21,29% -25,20% 5 - Vietnã $62.751.011,00 33.549.340 $110.192.222,00 54.997.255 -75,60% -63,93% 6 - Portugal $52.682.718,00 7.392.378 $73.989.408,00 10.803.881 -40,44% -46,15% 7 - Uruguai $11.466.635,00 4.723.676 $19.878.043,00 7.612.947 -73,36% -61,17% 8 - Taiwan (Formosa) $11.022.032,00 4.271.059 $21.031.284,00 8.004.460 -90,81% -87,41% 9 - Espanha $9.848.621,00 4.067.217 $14.391.019,00 4.739.848 -46,12% -16,54% 10 - Peru $7.923.659,00 3.718.804 $11.190.351,00 4.861.853 -41,23% -30,74% 11 - Omã $5.629.243,00 8.930.080 $2.950.411,00 4.666.320 47,59% 47,75% 12 - Marrocos $4.765.831,00 5.513.853 $21.376.429,00 19.182.252 -348,54% -247,89% 13 - Estados Unidos $3.932.061,00 1.544.485 $6.556.844,00 2.252.920 -66,75% -45,87% 14 - Islândia $3.707.517,00 907.464 $4.769.702,00 1.194.234 -28,65% -31,60% 15 - Equador $3.232.807,00 2.406.950 $2.720.565,00 832.304 15,85% 65,42% 16 - Nova Zelândia $2.648.753,00 404.748 $3.880.068,00 405.482 -46,49% -0,18% 17 - Cingapura $1.519.206,00 793.677 $1.506.397,00 451.246 0,84% 43,14% 18 - Japão $941.805,00 270.943 $1.699.433,00 504.582 -80,44% -86,23% 19 - Tailândia $463.531,00 114.142 $275.535,00 94.432 40,56% 17,27% 20 - África do Sul $252.421,00 148.356 $292.029,00 168.736 -15,69% -13,74% TOTAL $945.856.841,00 256.598.914 $1.174.696.595,00 304.893.883 -45,58% 30,47% Fonte: MDIC/AliceWeb

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ao Brasil, mas ela diz que a demanda se mantém para o dourado, anchoveta e merluza que a empresa fornece.

Paco Feixó (Lugar da Santiña) e Ernesto Pereira (Mundimare): bolinhos de bacalhau já estiveram no Brasil com a marca Bom Peixe, Assaí e GPA, mas agora “sobram Dipoas e faltam clientes para este momento”, diz Pereira

Entrevistados no ano passado na Conxemar, quando declararam interesse total no País, os portugueses da Frijobel foram sinceros na edição de 2015 do evento. “Tínhamos 6 países potenciais para desenvolver, o Brasil entre eles. Em seis meses, abrimos Estados Unidos, Canadá, Congo, Hong Kong, Macau e Itália. O Brasil deixou de ser uma prioridade”, disse Pedro Vasconcelos, diretor comercial. O motivo, segundo ele, nem é tanto a situação política e econômica, mas um combo que envolve a morosidade na liberação de registros de produtos no Dipoa e a variação cambial. “O esforço que o País obriga é enorme perto de outros mercados.” A empresa continua embarcando volumes espo-


rádicos de pastel de bacalhau, mas no curto prazo não pretende abrir espaço para novos produtos.

O desempenho, aliado à queda nas compras externas, diminuiu o déficit em 30% entre 2014 e 2015, mas isso não fez muitas cócegas no déficit na

Time da Frijobel na Conxemar: Brasil saiu das prioridades da empresa em 2015

balança comercial do pescado, ainda magistralmente alto: US$ 834 milhões.

No entanto.... Pode ser que tenha deixado de ser prioridade, mas o Brasil segue como aposta para todas as empresas consultadas pela reportagem. Alguns confessam até que o interesse surgiu

quase por acaso, como a dinamarquesa Espersen e sua planta da Lituânia, onde trabalha o gerente de vendas, Antonio Rodrigues. “O mercado brasileiro não foi algo que procuramos, mas que aproveitamos quando surgiu a oportunidade”, revelou. Ele se refere ao acordo assinado em abril entre Lituânia e Brasil que abriu as portas ao

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Já bem posicionada no Brasil e com parceiros locais, como a Maris, a espanhola Noribérica vê um desequilíbrio difícil de contornar para o consumidor brasileiro. A empresa negocia em euro, que também sofreu desvalorização frente ao dólar, embora na casa dos 28%. “O consumo baixou muito e o custo de produção e de importação aumentaram. Os clientes nos pedem novos produtos e embalagens, pois se não for pela diferenciação não vale a pena importar. Produtos importados chegaram mais caros e as empresas brasileiras começaram a se voltar mais ao exterior”, avaliou Miguel Bregieira, responsável pelas vendas no País. Ainda se vê uma reação tímida, mas ele tem razão. Entre conservas, peixes, crustáceos e moluscos, os brasileiros embarcaram 8,96% mais - um total de 27,7 mil toneladas.


Marketing & Investimentos

bacalhau processado no país do leste europeu. Com sede em Copenhagen, na Dinamarca, a empresa possui ainda fábricas na Polônia, Rússia, China e até uma operação com panga no Vietnã. Depois de contatar o Departamento Veterinário da zona geográfica em questão (Klaipeda), semanas depois a Espersen já estava aprovada a exportar seu bacalhau fresco - sem passar pela salga - e no ponto de sal diretamente para o Brasil. Agora o momento é de registrar os produtos no Dipoa. “O Brasil não era tão conhecido como comprador de bacalhau fresco, mas pode ser um mercado em potencial”, disse Rodrigues. Os estoques de 290 toneladas deste e de outros produtos estão à espera da resolução burocrática e de um dólar mais favorável, mas o clima é otimista. “A crise não nos assusta”, completou. A Espersen vem para engrossar o caldo de empresas com atuação na Lituânia que já acompanham há tempo o Brasil. É o caso da Viciunai, talvez a maior em pescado daquele país, que já tem bem posicionadas algumas linhas de empanados e kani no varejo nacional. “A abertura da Lituânia

Abertura de mercado para a Lituânia favorece o ingresso de firmas como a Espersen, de Antonio Rodrigues demorou 2 anos e meio para se concretizar. Exportávamos por outras plantas nossas na Europa, mas agora podemos exportar diretamente outros tipos de produtos”, sinalizou Stephan Verhamme, responsável pelo mercado brasileiro. São 32 registros já aprovados no Dipoa, dos quais 10 estão ativos. “Nossa próxima meta é ingressar com guioza de frango, porco, bacalhau e vegetais.” Outra grande empresa europeia de olho nos nossos 200 milhões de consu-

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Rafael Pinto e Marco Pires, do Grupo Videla, creem que o risco de operar com o Brasil nos atuais patamares de câmbio vale a pena

midores é a barcelonesa Grupo Videla. A empresa, que opera com ampla gama de pescado fresco e congelado, já tem encaminhados 7 registros no Dipoa. “Bacalhau, polvo e sépia já estão homologados”, antecipou Marco Pires, contratado recentemente pelo grupo para atuar como responsável por países de língua portuguesa, notadamente o Brasil. “Nos dá um pouco de apreensão trabalhar com o câmbio desta forma, embora trabalhemos com carta de crédito. Risco existe, mas vale a pena.” É o que pensa também a Marfrío, que já atua por aqui por meio da operação no Peru. “Estamos há seis meses com as embalagens registradas para a lula gigante, dourado do mar e lula tradicional”, indicou César Aller Fernández, chefe de operações da Marfrío-Vieira Peru. Santiago Montejo, diretor geral da matriz da Marfrío, confirmou o interesse no Brasil, mas disse que a recuperação da economia europeia drena as atenções do grupo. “Há seis anos o cenário começou a mudar. Agora há menos intermediários, a negociação é mais direta e somos líderes nas cadeias europeias.” Ou seja, na gangorra do comércio exterior do pescado, quando a Europa vai bem, o Brasil parece ficar para trás.


Responsabilidade global

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á 20 anos, surgia um documento firmado por autoridades de todo o planeta que se tornaria uma referência global em práticas de pesca que atendam preceitos de sustentabilidade. Cancún, no México, viu nascer o Código de Conduta para a Pesca Responsável, pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ ONU). Em outubro de 2015, Vigo, na Espanha, celebrou suas duas décadas de existência com alguns motivos para comemorar e outros para lamentar. É certo que a criação do Código foi capaz de dar origem a políticas de gestão de recursos pesqueiros que reduziram o impacto das capturas nos oceanos, mas a indústria também cresceu, apoiada na explosão do consumo de pescado, e hoje a pesca extrativa tem um paradigma difícil de resolver: como equilibrar o controle de estoques pesqueiros com a sede cada vez maior do mundo por peixes e frutos do mar? Pior: o aquecimento global e a acidificação dos oceanos promove uma migração de espécies que escapa ao monitoramento do setor. Árni Mathiesen, subdiretor geral de Pesca e Aquicultura da FAO, recuperou dados já divulgados no informe SOFIA 2014 (State of Fisheries and Aquaculture) para ilustrar a situação pós-Código. O trabalho mostra que 61,2% dos estoques pesqueiros está plenamente explotado, 10% está subexplotado e 28,8%

sobreexplotado. “Estamos na mesma situação que há 20 anos em relação aos estoques. Isso é uma conquista para nós, mas não é suficiente”, constatou. Se não foi capaz de renegenar estoques, o código ao menos impediu uma queda vertiginosa. Isso foi possível pela incorporação de seus preceitos como política de Estado em diversos países e blocos econômicos, como a União Europeia. “Nós reformamos nossas políticas de pescaria responsábel na UE e certamente o código foi uma referência para isto. Toda a frota da UE agora respeita as mesmas regras para pescar e desembarcar o pescado”, descreveu o comissário de Pesca da UE, Karmenu Vella. No entanto, como asseverou o próprio Vella, a UE é apenas responsável por 5% das capturas mundiais. “Por isso, precisamos nos envolver com outros parceiros em todo o mundo.” Os Estados Unidos surgem como parceiros naturais, pelo alinhamento histórico, da governança dos oceanos. O comissário da UE falou em uma espécie de “momentum” entre os líderes mundiais, que sugere uma ação efetiva, percebido poucos dias antes da Conxemar, durante a conferência Nosso Oceano, no Chile. Na mesma época, o parlamento norte-americano aprovou uma legislação que reforça a fiscalização sobre a pesca ilegal e não reportada, amplia o intercâmbio de informação com países estrangeiros e acentua o perfil punitivo do combate às irregularidades.

GSSI: a certificação dos certificados Outra iniciativa chamou a atenção, tanto no programa oficial quanto nos eventos paralelos que ocorrem simultaneamente ao congresso da FAO. A Iniciativa Global para os Produtos de Pescado Sustentáveis (uma tradução livre para Global Sustainable Seafood Initiative), que foi apelidada por jornalistas de “a certificação das certificadoras”. Na verdade, trata-se de uma articulação entre ONGs, empresas de pescado, especialistas e organizações governamentais que pretendia criar um padrão global de equivalência de sistemas de certificação - fato consumado com o lançamento da GSSI Global Benchmark Tool, em Vigo. A novidade causou grande repercussão pelo que de fato representa: uma tentativa de harmonizar grandes selos ecológicos privados, tais como Marine Stewardship Council, Friends of the Sea, Naturland, Dolphin Safe e outras. “A ferramenta de referência global da GSSI é necessária porque o panorama de certificação de produtos pesqueiros é confuso, já que existe um número crescente de programas de certificação no mercado. É importante ter uma referência global baseada em documentos aceitos em nível internacional que identificam e reconhecem os programas de certificação críveis existentes e que apoia outros programas para que melhorem”, dizem os responsáveis pelo GSSI. A elaboração da ferramenta GSSI contou com a participação de sócios-patrocinadores como a Sodexo, American Seafoods, Darden (dono da Red Lobster), Trident Seafoods, Marine Harvest, High Liner e muitos outros, além de sócios afiliados como a própria FAO e WWF. Leia este QR Code com seu dispositivo móvel ou acesse este link para ler a primeira versão da ferramenta GSSI (em inglês): bit.ly/ferramentaGSSI

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Congresso celebra os 20 anos do Código de Conduta para a Pesca Responsável com sinergia entre Estados Unidos e União Europeia


Marketing & Investimentos

CONXEMAR A feira da península ibérica

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ntre 5 e 9 de outubro, em Vigo, o mundo abriu os olhos para os negócios nos dois países que mais consomem pescado na Europa, mas também ficou atento ao Congresso da FAO que celebrou os 20 anos do Código de Conduta para a Pesca Responsável. Veja quem passou por lá:

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Da esq à dir.: Vanessa Salomão e Cristine Vinhal (Interatlantic), Ricardo Bermejo (Satel), Márcio Ortega (Fênix) e Luis Cabaleiro (Interatlantic)

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Chefs contratados pela empresa Cabomar e a linguiça de lula

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Vítor Amaral Dias (JS Seafood)

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Joaquin Joel Piedra Maza e Oscar Osvaldo Alesi (CNC SAC)

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Rossinna Núnez Melgar e César Aller Fernández (Marfrío-Vieira Perú)

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José Madeira e Nicole Stangeland (Alaska Seafood Marketing Institute)

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Claudia Salazar e Alex Lesser (Pesquera Villa Alegre)

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Deborah Pousa Torres (Comex-Andina)

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Ricardo Torres (Seafood Brasil) e Ugo Caboni (Adriatic Sea)

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Chef Salvatore Margheritina (Gimar)

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Gonzalo López (Rotogal)

José Madeira (ASMI), Miguel Bregieira (Noribérica), Ricardo Pedroza e Gustavo Pedroza (Camarões do Brasil)

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Ricardo Torres (Seafood Brasil) e Julio Torre (REDES & Seafood)


Clima de festa contida toma conta da 12ª Fenacam

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12ª edição da feira bateu recorde de expositores e visitantes, mas o clima ficou dividido: confiança na continuidade do desenvolvimento aquícola brasileiro, com uma pitada de receio pelo aumento do custo de produção e insegurança institucional com a extinção do MPA. 02

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Mauricio Dorigatti (AcquaSystem) e recepcionistas do estande

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Alysson Alencar (Celm/Maris), Marcelo Borba (ABCC), Hudson Makson (Celm/Maris)

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João Felipe Moutinho Sant’Anna (Minorgan) e João Manuel (Guabi)

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Douglas Argenton e Ivanor Caleffi (Farol) e Felipe Cabanne (Aquativ)

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David Kawa (Sansuy), Carlindo Filho (Bentevi Piscicultura) e Rodrigo Tiba e Marcelo Castagnolli (Sansuy)

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Equipe da Camarati chefiada por Jeroen van Tilburg (2º no topo, a partir da dir.)

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Jairo Marinho, Simone Araújo, Márcia Rocha e Sara Tonezer (Nexco)

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Ambrósio Bacca (Brusinox), Jenner Menezes (Biofish), José Fritsch (Consultor), Glauber Oliveira (Adagri), Luiz de Souza Viana (Mútua)

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Bruno Turini e Viviane Turini (MCassab)

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William Bujanda e Karen Quaas (Laitram)

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Severino Neto (Mercadinhos São Luiz), Cristiano Maia (ACCC), Alexandre Pereira, Expedito Ferreira da Costa (Celm/Maris) e Alexandre Reis (Bomar)

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Equipe da Aquavita compartilhando estande com Alexandre Weege e Anderson Weege (Weemac)

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Marketing & Investimentos

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Alejandro Jirón e Federico Banzer (Promens), Wilmer Avila (Megasupply) e Dorian Xerri (Promens)

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Magnus Miller, Tatiane Seibel e Carolina Freitas (Akso)

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José Raimundo Santos, Adenilton Pereira e Marcelo Costa (Coopecon) e Josué Epitácio (Tudo do Mar)

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Ra’anan Ariav, Mauricio Graziani e Etan Bendheim (Phibro)

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Eduardo Amorim (PeixeBR), Sylvio Santoro (Axial), Tobias Aguilar (Regal Springs/

Tilabras), Altemir Gregolin (Brazpeixes) e João Carlos Lodo (Aquadelta)

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Eric Routledge (Embrapa), Jenner Menezes (Biofish), Luiz Viana (Mútua), Altemir Gregolin (Brazpeixes), Alexandre Freitas (Embrapa)

Pedro Dias Jorge (Chemours), Adriano Morales, Frederico Tomiita e Luiz Eduardo Conte (Suiaves)

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Richard Towner e Gerardo Martínez (Regal Springs/Tilabras)

Gleidson Gomes (Maris), Charles Mendonça (Camarões do Brasil) e Neto Pascoal (Maris)

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Guilherme Blanke e Marcelo Uchoa (Noronha) e Alessandro Ferreira (AVF Aquicultura)

Cristiano Maia (ACCC), Itamar Rocha (ABCC) e Gentil Linhares (Bomar)

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Chris Cobb (Australian Trade Comission), Alitiene Pereira (Embrapa Meio Norte),

José de Arimateia Queiroz (Gesplan), Antonio Albuquerque (Aceaq) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)


Compesca se fortalece

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o evento tradicional de fim de ano, a Câmara Setorial de Pescado da Fiesp celebrou a consolidação do encontro de todos os elos da cadeia produtiva com novidades: Silvio Romero Coelho (consultor) e Pedro Pereira (Brascod/Bom Porto) assumiram como coordenadores-adjuntos. As reuniões da plenária serão realizadas bimestralmente, intercaladas com reuniões de coordenação. 01

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Jiro Yamada (Acapesp), Sandra Takahashi (Nordsee) e Koji Sakaguchi (Rancho da Traíra)

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Silvio Romero (consultor) e Elias Carneiro Jr. (Receita Federal)

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Luiz Ayroza (IPesca), Pedro Pereira, Silvio Romero e Roberto Imai

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Mauro Nakata (Piscicultura Cristalina) e Eduardo Amorim (PeixeBR)

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André Camis e Wagner Camis (Sítios Urbanos)

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Silvio Romero, Angela Pellegrino Missaglia e Johan der Hartog (GMP+ International)

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João Donato Scorvo e Célia Scorvo (AptaSP), Itamar Rocha (ABCC) e Hiroshi Kaneko (Kanemar)

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Pedro Pereira e Ivan Lasaro (Opergel)

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Francisco Medeiros e Eduardo Amorim (PeixeBR), Deputado Estadual Itamar Borges e Roberto Imai (Compesca)

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Fabiano Peppes, Tatiana Neves (Projeto Albatroz), Paula Canhadas e Marco Cantuária (ConsultaLegal)

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Marketing & Investimentos

Uma noite de gala

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Havana Club, luxuoso salão de festas instalado no mezanino do Hotel Renaissance, na capital paulista, recebeu os parceiros e convidados do Alaska Seafood Marketing Institute no Brasil (ASMI), na noite de 09 de dezembro. Os anfitriões, José Madeira e Carolina Nascimento, distribuíram troféus aos importadores e parceiros do órgão, enquanto os presentes degustavam as delícias do Alasca. 01

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José Madeira (ASMI)

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Tiago Bueno (Seafood Brasil), chef Heaven Delhaye e Gilberto Bucholtz

Marcelo Eiger e Iryna Bokan (Trident Seafoods)

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Geraldo Neves e Maciel Correia (Costa Sul)

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Rossana Pancorvo e Ivan Lasaro (Opergel) e Conceição Zeppelini (Asia & Japan Food Show)

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Kazuo Nojiri (Kampomarino) e Roberto Veiga (Damm)

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Importadores e distribuidores parceiros da ASMI homenageados no evento

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Chef André Kawakami

Marcos Galvão (GPA), Paula Monteiro (Brascod), Pedro Pereira e Sergio Karagulian (Brascod), Rafael Guinutzman e Kauhe Alves (GPA)

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José Alberto Kacelnik e Pablo Rillo (Ecil) e Guilherme Blanke e James Loureiro (Noronha)

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Mauricio Monteiro (Piscare), Paula Monteiro (Brascod), urso Nanook, mascote do Alasca, Pedro Pereira e Sergio Karagulian (Brascod)

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Chefs de cozinha do Renaissance e convidados com o urso Nanook


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Artigo

O novo código de processo civil A melhor escolha para o empresário com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil será a arbitragem para contratos Texto: Robson Almeida Souza e Marco Cantuária Ribeiro*

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m 18/03/2016 entrará em vigor a Lei 13.105/2015, que será nacionalmente conhecida como Novo Código de Processo Civil. O Código disciplinará todos os processos que envolvam discussões na seara civil, incluindo-se os oriundos das relações havidas entre pessoa jurídica.

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As críticas que já reverberam na comunidade jurídica dizem respeito aos ritos processuais estabelecidos na nova Lei, que, segundo entendimentos aos quais nos alinhamos, servirão para aumentar ainda mais a demora na finalização do processo. Assim, a arbitragem será o caminho mais rápido e menos oneroso ao empresário. Caso este opte pelo processo judicial, certamente terá de esperar por muito mais tempo que o razoável para ter acesso ao seu direito. Importante asseverar, por oportuno, sobre a importância da prática do direito preventivo, que visa identificar o problema e mitigá-lo, pré-produzindo provas que permitirão inclusive que se tenham melhores armas para uma eventual disputa arbitral.

Com efeito, a arbitragem foi instituída em nosso país pela Lei 9.307/96, e recentemente alterada pelas Leis 13.105/2015 e 13.129/2015. Tudo bem, mas o que é arbitragem? Trata-se de um instituto que possibilita de forma legal e constitucional o uso de uma alternativa na busca da resolução de conflitos, não sendo necessária a utilização do Poder Judiciário. A busca de soluções sem a possibilidade de utilizar o Judiciário pode trazer grandes economias e aumenta consideravelmente a sensação de Justiça, vez que o resultado da demanda é alcançado num curto espaço de tempo. A arbitragem se desenvolve perante uma câmara arbitral, onde as partes, desde que convencionado antecipadamente no contrato através de uma cláusula denominada compromissória, estipulam que se houver algum conflito daquele contrato especificamente, será dirimido por uma câmara arbitral, que pode ou não ser previamente indicada pelas partes.

No lugar dos juízes, as partes deverão elencar cada, um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, que recomenda-se seja um especialista na questão em litígio. Assim, por exemplo, se a controvérsia ocorrer em virtude da desavença de valores, o ideal é que o árbitro seja um contador, matemático ou economista. Iniciados os procedimentos para arbitragem, a decisão deverá ser proferida no prazo máximo de 6 meses. Da decisão tomada pelo(s) árbitro(s), não caberá nenhum recurso, nem mesmo para o Judiciário. De posse da sentença arbitral, caso a parte vencida não cumpra voluntariamente a decisão, o vencedor poderá executar a sentença na Justiça comum, ou seja, a sentença arbitral é um título executivo extrajudicial. Insta salientar, como orientação preventiva, a necessidade da busca por orientação jurídica para o aperfeiçoamento dos contratos empresariais visando à inclusão da cláusula compromissória, requisito imprescindível para que se possa buscar uma


está embutido em seus serviços ou produtos e a demora na resolução lhes é benéfica.

São muitos os outros pontos que tornam a arbitragem um instituto altamente vantajoso para os negócios, mas ainda são poucos os empresários que concordam em adotar essa prática, pois, culturalmente, ainda não estamos acostumados a ter uma pessoa que não seja um juiz togado decidindo nossos problemas.

O entendimento que Justiça é ter a possibilidade de conhecer a sentença, seja ela qual for, em tempo razoável e hábil para que a empresa estabeleça novo rumo e se enquadre nas melhores práticas de mercado faz do uso da arbitragem, sem dúvida, a melhor decisão a ser tomada.

Ainda, contra as objeções daqueles que se manifestam como ser caro o uso da arbitragem ou que são contra o uso dessa ferramenta, é preciso entender que o Judiciário, com sua morosidade, somente é interessante para empresas que incessantemente sofrem ações por maus produtos ou serviços, já que o custo judiciário

Assim, com a entrada do Novo Código de Processo Civil no início de 2016, a arbitragem certamente ganhará um maior espaço nos contratos firmados entre empresas e até mesmo entre particulares, pois será o caminho mais curto e financeiramente mais econômico para solucionar um problema.

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*Advogados e sócios do escritório ASCR Sociedade de Advogados, especialistas em Direito Empresarial e idealizadores da ferramenta CONSULTA LEGAL (Acesse: bit.ly/ CONSULTALEGAL). Contatos: robson@ascr.adv.br; marco@ascr.adv.br

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câmara arbitral com a finalidade de solução do conflito.

O sabor que faz a diferença


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A fome da aquicultura

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cearense

Expansão da carcinicultura em água doce e resistência de tilapicultores no sertão mostram que povo cearense é vocacionado para a aquicultura; no entanto, custo de produção segue muito alto e rivaliza com a seca na lista de maiores dificuldades

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Texto e fotos: Ricardo Torres

ão foram poucos os que se incomodaram com a fala do empresário e pesquisador malaio Farshad Shishehchian logo na abertura da 12ª Feira Nacional do Camarão. Enfático, ele provocou a plateia ao dizer com todas as letras que o camarão brasileiro é o mais caro do mundo. Disse mais: em uma hipotética abertura de mercado ao camarão internacional, rapidamente os produtores nacionais estariam fora do negócio. Ao mesmo na questão do preço, ele tem lá sua razão. Se considerarmos os preços praticados nas irrisórias exportações brasileiras com a média de todas as

variações de camarão importadas pelos Estados Unidos até outubro (com ou sem cabeça, empanado, cozido, congelado etc), a diferença é de US$ 2,44. Trocando em miúdos: enquanto o país que mais importa o crustáceo no mundo pagou, até outubro, US$ 9,38 o kg, o Brasil praticou um preço médio de US$ 11,82. Em 2004, auge do fluxo exportador brasileiro, o preço médio praticado por kg era de US$ 4,04. Por que o camarão brasileiro chegou a este patamar? A Seafood Brasil foi até o Ceará em busca de respostas para estas e outras questões. A primeira conclusão é que, como toda atividade agropecuária, o setor sofre neste momento com


acirrada competição existente no setor. No entanto, conseguimos apurar com a ajuda de Marcelo Borba, conselheiro da ABCC, o custo de produção do Litopenaeus vannamei (espécie padrão para a carcinicultura nacional) em uma fazenda semintensiva situada no Rio Grande do Norte, cujo nome omitiremos. Segundo a fonte consultada, o custo produtivo de 1 kg do camarão 80-100 (80 a 100 exemplares por kg), tamanho mais comum, gira em torno de R$ 12,54. Do total, cerca de R$ 5 corresponde à ração, grande pesadelo das planilhas de custos dos produtores. A seguir, vem o custo de mão de obra, em torno de R$ 2,50, seguido pela pós-larva (R$ 1,50), impostos (R$ 1,25). Energia elétrica, outros insumos, custos administrativos e financeiros, além de manutenção e depreciação compõem os cerca de R$ 2,20 remanescentes. Competir lá fora se torna complicado, mesmo com o dólar favorável.

A começar pelo laboratório de produção de pós-larvas (como são chamados os camarões prontos para a engorda), que depende fortemente de insumos importados. “No laboratório, quem manda é o dólar”, ilustra Rômulo Machado Coutinho, diretor técnico da

Camarati. “Comecei o ano com o cisto de artêmia a R$ 290 o kg, agora ele está sendo vendido a R$ 430 o kg. E não posso agregar este valor ao valor da pós-larva porque meu cliente também sofre com isso.” Insumo mais caro do laboratório, o cisto de artêmia é um microcrustáceo que vem dos EUA pelo volume e qualidade superior e serve de alimento ao camarão em sua fase larval. Na Tailândia, que supera as 300 mil toneladas anuais, o custo de produção de 1kg de camarão fica em torno de US$ 3,47. Já no Brasil, os custos de produção são mantidos normalmente em sigilo pelo produtores, receosos com a

A ração é mesmo um ponto a se melhorar, segundo Hudson Makson Rocha Lucena, engenheiro de pesca e gerente da produção na Celm Aquicultura, a segunda maior fazenda do País. “Existe uma diparidade muito grande na qualidade das rações. Há três anos, a ração era melhor do que é hoje. O resultado de crescimento era diferente. Sei que a natureza muda, que a genética evolui,

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uma combinação de fatores desfavoráveis, tais como o custo de energia elétrica, dólar valorizado (muitos insumos são importados), alto custo das rações, combustíveis, entraves no licenciamento ambiental e mão de obra cara e escassa. “O custo de produção no Brasil é mais alto que o custo de venda do camarão fora do País”, avalia Shishehchian.

Shishehchian atribui isso à eficiência da produção. “O custo de produção é muito caro, a eficiência é muito baixa. A qualidade da pós-larva, a genética do camarão, a nutrição, tudo isso precisa melhorar”, comentou. Ele defende um modelo de produção intensivo ou superintensivo, comum na Ásia, onde o camarão cresce 6 gramas em 30 dias. Já no Brasil, segundo observou, são 70 dias para crescer os mesmos 6 gramas. Um dos aspectos que interferem diretamente no desempenho é a ração. A crítica do asiático é ao tamanho do grão da ração chamado de pellet. “Quando eu comento isso com as empresas, elas dizem que todo mundo na América do Sul faz assim. Então todo mundo está errado. 95% da produção mundial vem da Ásia.”


Capa

Radiografia da carcinicultura brasileira em 2014 Fazendas de Engorda 2.000 Unidades

Fábricas de Ração 9 Unidades

Área de 23.000 ha produz 85.000 ton/ano Receita: R$ 1.350.000.000,00

Produção: 126.000 Ton Receita: R$ 378.000.000,00

Maturação e Larvicultura 32 Unidades

Beneficiamento 32 Unidades

Produção: 20.000.000.000 pós-larvas Receita: R$ 170.000.000,00

Produção: 40.000 Ton Receita: R$ 130.000.000,00

mas ainda assim não justifica. Fora o custo, que sobe com o câmbio mas não regride com ele”, critica. Ainda assim, ele diz que parte da culpa é do próprio produtor, que tem boas rações e outros insumos à disposição, mas não quer pagar mais caro.

Modelo em transição

Receita total do segmento: R$ 2.028.000.000,00 Fonte: ABCC

PRODUÇÃO DE CAMARÕES NO BRASIL 2014 X 2015 (PREVISÃO) Estados Produtores

Estimativa ABCC (Ton) 2014

Projeção ABCC (Ton) 2015

Ceará 46.000 50.000 Rio Grande do Norte 25.000 15.000 Bahia 2.900 4.200 Pernambuco 2.300 1.200 Sergipe 2.700 1.300 Paraíba 2.300 1.600 Piauí 2.900 1.760 Alagoas 238 250 Maranhão 350 350 Santa Catarina 180 200 Paraná 100 100 Rio Grande do Sul 32 40 Produção Total do Brasil 85.000 76.000

COMPOSIÇÃO DE CUSTO MÉDIO DE PRODUÇÃO DO CAMARÃO L. VANNAMEI EM SISTEMAS SEMI-INTENSIVOS (RN) E INTENSIVO (CE) Ceará

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Itens

Grande Produtor

Rio Grande do Norte Grande Produtor

Médios Produtores

Pequeno Produtor

Ração 38% 25% 39% 32% 23% Pós-Larvas 9% 15% 9% 12% 7% Energia Elétrica 8% 4% 6% 9% 9% Mão-de-Obra 6% 14% 25% 24% 23% Outros Insumos 4% 4% 5% 6% 5% Impostos 12% 12% 12% 12% 12% Beneficiamento 17% 21% 0% 0% 0% Manutenção, Depreciação, Logística, Custos Financeiros e outros 3% 5% 4% 5% 5% Custos administrativos e Financeiros 3% 18% Total (%) 100% 100% 100% 100% 100%

A carcinicultura como se conhece hoje no Brasil é uma atividade recente, mas suas origens remontam à década de 70. Nesta época, muitos produtores surgiram praticamente ao acaso, oriundos de outras atividades. “Quem começou uma das primeiras fazendas do País foi meu pai, o holandês Jan van Tilburg, que trabalhava em uma empresa de sal no Rio Grande do Norte. Certa vez, nos reservatórios de até 80 hectares de lâmina d’água que a empresa tinha, tiraram um volume de camarão que representou 30% do faturamento da empresa”, relembra Jeroen van Tilburg, atual diretor do grupo Vannalife, que engloba empresas como a Camarati e a Sea Farm. A história é similar à de outro empresário bem-sucedido no segmento, o aracatiense Expedito Ferreira da Costa, fundador da Celm Aquicultura. Carregador de sal de uma empresa situada em Aracati (CE), ele sentia nas pernas os camarões que pululavam nas salinas. Desconfiado de que ali havia um novo negócio, propôs ao dono da salina se seu salário pudesse ser pago em camarão. O dono não levou muito a sério e aceitou a proposta; alguns anos depois, teve de vender toda a propriedade para o ex-funcionário, que montaria ali a segunda maior fazenda de camarão do Brasil. Os dois empresários padeceram de problemas similares no início, decorrentes da total falta de experiência do cultivo do camarão em escala. Espécies locais como o rosa (Farfantepenaeus brasiliensis ou paulensis), comum na costa brasileira, não se


adaptavam bem aos viveiros, à ração, não cresciam mais do que 7g, entre outros problemas. Jan recrutou biólogos do Equador e, junto a outros holandeses, começaram a atividade em Guamaré, no Rio Grande do Norte. “Não havia ração, usávamos de galinha. Perdemos dinheiro a rodo para ganhar experiência”, relata o filho Jeroen. Enquanto isso, seu Expedito contou com a ajuda de um dos primeiros engenheiros de pesca do Brasil, Itamar Rocha, para importar matrizes de vannamei. Foi então que o negócio se tornou viável, inicialmente em grandes áreas adaptadas das salinas, com viveiros de mais de uma dezena de hectares com baixas densidades de estocagem (camarões por m²). É o sistema mais comum no Equador. Hoje, esse modelo está em xeque. Com a escassez de água, energia elétrica e mão de obra, a indústria do camarão já não enxerga no sistema extensivo o futuro da atividade. É assim que, aos poucos, o Brasil começa a trilhar o caminho asiático. “No equatoriano trabalhase com berçários intermediários, onde os camarões passam 30 dias e depois vão ao viveiro de engorda”, explica Jeroen. Isso permite que se tenha um giro maior nos viveiros de engorda, já que parte da vida do animal é desenvolvida em berçários. “Na Ásia,o camarão é colocado direto em áreas confinadas, não se usa muito a questão de berçários.” Hoje, a Camarati usa um sistema misto. “Fizemos um berçário para cada 2 viveiros. Depois de 30 dias ele passa

pro viveiro e já abre espaço para outro. Com isso conseguimos fazer 4,5 ciclos ao ano para um camarão de 12g a 14g, que teria 2,5 ciclos ao ano”, detalha o executivo. Esse plano é para uma fazenda projetada para 250 toneladas por ano em 24 hectares. Na Celm, a área mais antiga da fazenda abriga viveiros de 7,9 hectares ou 6,5 hectares. “Estes foram os primeiros construídos, em 1998, mas este modelo já não se usa muito. A partir de 2000, mudamos o modelo para viveiros menores de 2 hectares, com canaletas de abastecimento de água onde diminuíamos a perda”, conta Hudson Lucena. São duas fazendas com três módulos produtivos que totalizam 640 hectares, com uma produção média em torno de 3000 kg por hectare. O próximo passo é adotar um modelo trifásico, baseado em raceways - ou berçários secundários - que acrescentarão um estágio a mais de desenvolvimento das pós-larvas para aumentar o número de ciclos produtivos ao ano.

Boas notícias Em um ano com expectativa de queda na produção, para 76 mil toneladas, duas boas notícias aliviam o panorama adverso e animam os produtores. Uma delas tem impacto direto na composição de preços e pode forçar uma queda dos preços do camarão no mercado interno nos próximos meses: o produtor de camarão cearense, equivalente a 65% da produção nacional, está praticamente isento de ICMS.

Para Hudson Lucena, da Celm/Maris, existe uma disparidade grande na qualidade das rações para camarão Em 17 de novembro, depois de longa mobilização dos carcinicultores associados à Associação Cearense dos Criadores de Camarão (ACCC), o governador Camilo Santana (PT) assinou um decreto que estende aos carcinicultores o benefício de tributação especial do ICMS de 0,20% nas operações internas e interestadual. Na prática, os produtores que não passavam o camarão por um entreposto de beneficiamento e o vendiam fresco vão pagar agora 0,2%, e não mais 17% de ICMS. E vão poder vender fora do Estado, para feirantes de grandes centros como Rio ou São Paulo, por exemplo. Ainda na esteira das boas perspectivas, Cristiano Peixoto Maia, presidente da ACCC, disse na abertura da Fenacam que a meta cearense é dobrar a produção em cinco anos, desde que haja isenção de PIS/Cofins para toda a

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higiene e qualidade na limpeza do seu pescado beneficiado

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Capa Pílulas da Fenacam Aprender com quem já errou O Chile enfrentou uma grave crise sanitária no salmão a partir de 2007 que o obrigou a reinventar a própria indústria. Foi com os erros cometidos no passado recente que o segmento aprendeu e, agora, expõe ao Brasil a alta tecnologia de que dispõe para a produção aquícola com segurança e eficiência. Um delegação do Chile, composta por 10 empresas fornecedoras de insumos, equipamentos e serviços, desembarcou na Fenacam e viu muitas oportunidades. “O momento de crise é justamente quando se deve entrar no mercado brasileiro”, explica Roberto Mattos, da Electric Works, especialista em automação industrial. “Quando está tudo bem é difícil romper esta barreira, mas como há uma necessidade real de otimizar os recursos, esse é o momento.” Ingrid Salgado Vivar, gerente geral da empresa especializada em pintura naval Reloncaví, vê vantagens na relação com os chilenos. “Porque todos nós já passamos por erros. Já nos equivocamos e já sabemos como corrigi-los. Pagamos caro por aprender fazendo. Agora estamos presentes para oferecer nosso conhecimento, tecnologia, para aumentar a eficiência.”

Automatização no processamento é caminho para grande escala A Maris, a Vivenda do Camarão e a Cajucoco já têm uma, mas a ideia da Laitram Machinery é espalhar suas máquinas de descascar camarão e fornos para cozimento por todo o Brasil. A empresa aplica até hoje um conceito criado pelo fundador, que acidentalmente pisou em um camarão e viu que a casca saiu inteira. “Houve melhoras, mas basicamente segue sendo o mesmo equipamento. Agora existe um sistema de alimentação automático por computador, que demanda mais camarão conforme for necessário. Possui controles digitais, uma tela mostra os parâmetros para o controle de qualidade. Estamos chegando a um rendimento muito similar à mão de obra humana”, conta William Bujanda, gerente de vendas para a América Latina. Essa linha pode substituir até 400 funcionários focados em descascar camarão. Karen Quaas, gerente de marketing e vendas, vê nos fornos de cozimento uma nova tendência. “O interesse em processar camarão descascado e cozido cresce muito para o mercado local.”

Um entrave para o ingresso dos equipamentos chilenos é a questão tributária, segundo Ximena Navarro, gerente de desenvolvimento da fornecedora de leds para estimulação de crescimento Bioled. “Quase 70% do custo do equipamento é de impostos. Na Argentina pago apenas o IVA, mas aqui há outros impostos.” Mónica Salgado Vivar, gerente geral de Sitecna, concorda: “Enquanto essas políticas sejam tão restritivas, vou ter de somar 70% no meu custo, não consigo chegar”.

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Outra forma é chegar com consultoria, caso do Centro Tecnológico de Capacitação do Chile. “Temos um staff de especialistas e professores que vivem na indústria do salmão há 30 anos. Podemos fazer uma espécie de capacitação, no Brasil ou no Chile, por meio de seminários com tradução simultânea e depois vem a fase de consultoria e projetos”, detalha o gerente, Daniel Gómez. Lucas Maglio, gerente de projetos da AEX Group, dedicada à engenharia de tanques e fundo, crê que a chave está na adaptação. “Não podemos aplicar exatamente o que existe no Chile aqui, mas tentar adaptar isso ao Brasil é o melhor caminho”, conclui.

Confiança na aquicultura nordestina A catarinense Weemac, a paulista Biorigin e a israelense Phibro têm em comum uma avaliação positiva sobre o momento da aquicultura no Nordeste. “O movimento aqui na feira está muito bom, além do que esperávamos. Teve gente que quis levar direto da feira o aerador de pá, nosso lançamento para o camarão”, relata Alexandre Weege, da Weemac. Olavo Nunes Silva, da Biorigin (na foto, entre Marielle Gomes, à esq, e Natália Rodrigues), sente que o momento atual de desafios é propício para os produtos que oferecem. “Culturalmente, deixamos o lado de prevenção de lado e tratamos as feridas abertas. Na feira, começaram a enxergar que a prevenção é interessante, é um conceito que tem se fortalecido.” Já a Phibro desembarca seus medicamentos e aditivos para a aquicultura com grande confiança no Brasil . “Doenças são parte do processo de intensificação, pela qual o Brasil vai passar, então nossos produtos pretendem atingir este nicho”, descreve o vice-presidente, Ra’anan Ariav. “Nossa participação já é muito consolidada em suínos e aves, agora a ideia é fazer o mesmo com a aquicultura”, completa Mauricio Graziani, diretor de Marketing e Novos Negócios da Phibro no Brasil.


cadeia, maior união entre o governo e o setor produtivo e mais proximidade das universidades com o setor produtivo. Em âmbito nacional, o mês de novembro também trouxe uma excelente notícia: a criação da Câmara Setorial da Carcinicultura do Ministério da Agricultura. No encontro do dia 25 com diversos representantes do setor aquícola em que recebeu uma “aula”, a ministra Kátia Abreu criou um órgão consultivo que pretende discutir os gargalos e as reivindicações dos carcinicultores, apresentando um diagnóstico e as demandas prioritárias para o setor. Fez o mesmo também para a pesca e a aquicultura, indicando que depois fundirá as pastas.

“Queremos ser grandes produtores e exportadores de camarão e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar os criadores”, declarou a ministra na ocasião. Para isso, no entanto, os produtores disseram ser necessário resolver as questões dos licenciamentos ambientais em âmbito estadual e a cobrança de PIS e COFINS da ração, do camarão e das importações. Outro ponto levantado pelos carcinicultores foi o investimento em um programa de pesquisa e tecnologia voltado para o setor, inclusive com estudos sobre melhoramento genético. A ministra respondeu com uma promessa de que a Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vai preparar uma apresentação sobre os estudos relacionados ao setor. Além disso, diz nota do Mapa, a pasta fará um programa de defesa agropecuária da carcinicultura a fim de evitar contaminação por pragas exóticas e de manter o controle dos vírus que atingem a produção no Brasil. A ABCC saiu da reunião satisfeita. “O sentimento reinante em todos os já nominados participantes da memorável reunião é de que, pela primeira vez em muitos anos, o nosso setor recebeu um tratamento à altura da sua importância para o fortalecimento do setor aquícola e pesqueiro brasileiro”, disse o presidente da entidade, Itamar Rocha.

Sistema extensivo com baixas densidades está em revisão no Brasil; modelo misto entre asiático e equatoriano deve ser referência

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A terra do

camarão

sertanejo

Jaguaruana, município cearense onde até a prefeita é carcinicultora, quer conciliar tradição de fabricar redes artesanais com a expansão da produção de camarões em água doce em pleno semi-árido nordestino

A

de, mas não vejo Fortaleza racionando água. Aí vou sacrificar minha cidade, onde metade da economia depende do camarão, para Fortaleza se banhar com água? Vamos dividir os fardos”, cobra.

O bom humor dura pouco, porque as dificuldades que a seca traz são muitas. Jaguaruana é cortada pelo Rio Jaguaribe, uma das poucas fontes de água na região, que segue a Fortaleza pelo Canal do Trabalhador. Em época de escassez, a briga é a de sempre: o uso agrícola versus o uso para consumo humano. “Consumo humano é priorida-

Para entender a insatisfação da prefeita, note que Jaguaruana é um dos oito municípios com a maior produção de camarão do Brasil, segundo o IBGE. As mais de 3,5 mil toneladas que saem dali injetaram um novo ânimo na cidade, que se acostumou a ver artesãos da confecção de redes passarem grandes apuros até trocarem de atividade. É o caso de Fernanda Ferreira da Silva, diretora financeira da Central dos Criadores de Camarão de Jaguaruana (Cammãrus). “Eu fabricava em casa, vendia a rede a R$ 40 e ganhava R$ 1,50 por rede. Aí começamos a ver que com camarão dava certo.” Hoje, a associação reúne 115 produtores com um

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sensação térmica ultrapassa facilmente aos 40 graus nesta época do ano que antecede o inverno do sertão nordestino. Em Jaguaribara, a 144 km da capital, Fortaleza, não se sente a brisa constante do Oceano Atlântico que afaga os turistas. A temporada de chuvas se aproxima, mas não há sinal de água. “Aqui no Ceará as estações agora são Verão, Mormaço e Quentura, não temos mais Primavera e Inverno”, brinca a prefeita, Ana Teresa Barbosa de Carvalho (PT).

total de aproximadamente 400 hectares de tanques escavados e uma produção por hectare de 3 mil kg. Dar certo significa ter um lucro em torno de R$ 17 mil a cada 90 dias, tempo de duração médio do ciclo produtivo do camarão. É quanto põe no bolso hoje Luis Carlos Silva de Almeida, carcinicultor familiar. Antes de apostar na atividade, em fevereiro de 2013, dependia exclusivamente da criação de ovelhas e plantação de feijão e banana. “Um dia eu estava deitado na rede e precisava de R$ 10, mas não tinha. Fiquei pensando e resolvi tentar [o camarão]”, relembra. O agricultor é um dos que embarcou na febre da carcinicultura no município. Segundo estudo recente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, publicado pelo Diário do Nordeste, em 2013 a cidade tinha 50


criadores em 500 hectares. Em um ano, o contingente subiu para 300 carcinicultores em 2.200 hectares. A prefeita estima que, em 2015, já sejam 400. A explosão chamou a atenção do Ministério Público, que constatou uma baixa taxa de produtores com licença ambiental. Para encerrar a ilegalidade, o MP determinou a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em julho entre a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e Ibama. Em seu despacho, o promotor reconheceu o vazio do Estado que permitiu essa expansão e deu 180 dias para a legalização. O prazo acaba em janeiro, a partir de quando os “ilegais” deverão sofrer a interrupção da atividade, entre outras sanções. A prefeita diz que já foram emitidas quase 100 licenças. “1/4 da produção está legalizada”, diz. Ela reconhece que muitos não se preocuparam em legalizar a produção antes de iniciá-la, mas não quer deixar esse legado. “Quero que Jaguaruana seja conhecida como a terra da rede e do camarão legalizado. Ou então ficaremos com uma cicatriz e ninguém vai nos procurar depois.” Como parte do TAC, a Semace fez em novembro um Mutirão da Legalização da Carcinicultura, em parceria com a prefeitura e a ACCC, para esclarecer a

Fernanda da Silva, diretora da Cammãrus: associação dá preço de referência para evitar ação de atravessadores

população sobre os procedimentos de licenciamento e fiscalização. A prefeitura também resolveu isentar o primeiro passo para a obtenção da licença definitiva, a anuência. “Eu não cobro aqui no município. Preciso do registro do produtor, área, endereço, georeferenciamento e croqui do projeto. Pelo menos fico resguardada de saber de onde se está captando a água e onde se está jogando”, sublinha Ana Teresa.

ana dentro de córregos ou rios perenes, que acabam no verão. Muitos precisariam ter um recuo de 30 m a 130 m para respeitar Áreas de Preservação Permanente (APP) e não têm essa área.” O contexto da seca piora a situação. “A falta d’água diminuiu as densidades, as mortalidades aumentaram com menos trocas de água. Os carcinicultores, de qualquer porte, não estão se adequando às novas realidades das novas doenças, não usam probiótico, acham que camarão é só botar na água e engordar”, preocupa-se Leo, como é conhecido.

Essa é justamente a maior preocupação da explosão desordenada de viveiros, como ilustra o consultor Leonel O consultor auxilia cerca de 10 Araújo Martins Ferreira. “A minha carcinicultores familiares como Luis preocupação é que a maioria das carRegião tem 400 carcinicultores, como Luis Carlos, que apostaram ciniculturas daqui nas altas margens de lucro para entrar na atividade não tem bacia de sedimentação.” Ele calcula em 30% a porcentagem de cultivos que cumprem esta exigência ambiental, necessária para decantar a matéria orgânica das despescas e tornar a água mais limpa para a devolução à natureza. “Muita gente construiu viveiros em Jaguaru-

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Carcinicultor recebe licença de operação da Semace ao lado da prefeita Ana Teresa: 1/4 de produtores do município estão legalizados


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Equipe na aclimatação de pós-larvas e obras de ampliação da engorda: Camarati mantém projeto de expansão, mas já segura ritmo de investimentos Carlos que operam dentro do perímetro irrigado do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). Estes “irrigantes” têm direito a uma cota de água que vem direto do Açude do Castanhão por canais de cimento. Só que a água do Castanhão chega ao município eutrofizada, ou seja, com excesso de nutrientes que permitem a proliferação de algas e moluscos que diminuem o oxigênio ali dissolvido. Muitos recorrem então a um expediente típico do sertão: contratam equipes que cavam poços de até 30 metros de profundidade. Captam essa água do lençol freático, limpa naturalmente pelo filtro biológico da própria terra, e injetam nos viveiros. Esse tipo de cultivo pode superar produtividades de 25 mil kg por hectare/ano, segundo cálculos da ABCC.

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Camarati: uma âncora para os pequenos e micros Caminhões abarrotados de terra cruzam o árido terreno do entreposto da Camarati em Jaguaruana, onde já está instalado o centro de aclimatação e distribuição de pós-larvas. Dali saem 95% das larvas que seguem para os tanques escavados do Alto, Médio e Baixo Jaguaribe, algo próximo a 175 milhões de pós-larvas por ano. “A interiorização é o caminho para a carcinicultura”, opina Jeroen van Tilburg, diretor da empresa. “É uma tecnologia que vai além das técnicas normais de

pós-larva em água salgada. Requer muito mais técnica para criar pós-larva em 0 de salinidade.” A área contempla ainda uma fazenda experimental de engorda. Esta última área dará à empresa a chance de testar o desenvolvimento das próprias pós-larvas em um sistema superintensivo em zero salinidade com diferentes povoamentos. Os atuais 50 hectares de lâmina d’água vão receber mais 26 hectares para produzir 7.500 kg por hectare em densidades maiores e 4.000 kg por hectare em densidades menores. Mas o ritmo não está tão acelerado. Em torno de 60% do projeto original já foi concluído, mas o restante vai se sujeitar à velocidade de expansão do setor. “Era uma coisa impressionante, todo dia chegava cliente novo com viveiros novos para ser povoados. Agora deu uma estagnada, tem gente construindo, mas não na expressão que vinha, porque o custo de produção está muito alto, com energia, combustível e o mesmo preço do camarão”, descreve

Rômulo Machado Coutinho, diretor técnico da Camarati. Isso também afetou a produção total da Camarati, incluindo o laboratório em Aracati, que vai iniciar 2016 com perspectiva de produzir 350 milhões de pós-larvas. De acordo com van Tilburg, de 2013 para 2014 o aumento na produção foi de 100%, mas a crise hídrica e o equilíbrio de custos seguraram o ritmo de expansão em 2015. A fase agora é de investir na qualidade. A empresa acaba de concluir o investimento em um equipamento de PCE, dos Estados Unidos, que permite rastrear todo o camarão que vai entrar na linha de produção da maturação. “São análises que detectam DNA e RNA de vírus, direto na hemolinfa do camarão. Isso vai nos deixar fazer uma seleção através do genótipo para ver se ele vai entrar na produção ou não”, explica Coutinho. O equipamento permitirá 32 análises por hora e 5.000 animais por mês. “Temos um corpo de funcionários que vai trabalhar 24 horas analisando camarão”, relata.

Jaguaruana População estimada 2015:..........................................................................................................33.469 Área (km²):.........................................................................................................................................867,562 Densidade demográfica (hab/km²):.............................................................................................37,16 Índice de Gini:................................... 0,43 (mais perto de 1 = mais desigualdade na renda per capita) Produção de camarão: .....................................................................................................3.798.976 kg Valor da produção: .......................................................................................................R$ 39,889 milhões Fonte: IBGE/PPM 2015


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Os sertões do

Castanhão Nível mais baixo da história do reservatório interrompe trajetória meteórica de ascensão da piscicultura, mas não desanima produtores em Jaguaribara, o município que mais produziu tilápia no Brasil em 2014

“A SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2015 • 32

o sobrevir das chuvas, a terra, como vimos, transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior”. Assim desvelou o impacto das águas no semi-árido Euclides da Cunha em “Os Sertões”, em uma tradução literariamente sofisticada do que o aquicultor Edivando Feitosa, o Padim, conta ao repórter de dentro da picape que singra as secas estradas do sertão de Jaguaribara. A primeira mutação do município, a 254 km de Fortaleza, foi nos anos 2000, quando ele praticamente desapareceu submerso nas águas do Açude do Castanhão - o maior do Ceará, com 6, 7 bilhões de m³. Em 40 dias o açude encheu, quando todos esperavam que isso acontecesse em 10 anos. O que aconteceu uma década depois tampouco foi previsto. A segunda mutação de Jaguaribara, já reconstruída às margens do reservatório, foi o contato

com a tilapicultura. Uma ascensão mais rápida e eficiente na inclusão social que qualquer outra vertente agrícola exercida ali, como a bovinocultura de leite e a fruticultura. “Os fazendeiros foram indenizados e não pagaram a ninguém que trabalhava e vivia naquelas terras”, resgata Padim, atual presidente da Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão (Acritica). O governo então criou três assentamentos: Curupati, Mandacaru e Alagamar, cuja produção agrícola é inexpressiva até hoje. “A piscicultura nasceu aqui por necessidade de sobrevivência.” “O cultivo de pescado foi pensado desde o começo do projeto do Castanhão”, conta o prefeito, Francisco (Francini) Guedes, que recebeu a reportagem em sua casa na manhã do sábado, 21 de novembro. De fato, o projeto assinado em 1985 contemplava a produção de 3.800 toneladas por ano de pescado, quantidade claramente subestimada. “O pessoal pensava

que gaiola era só para criar passarinho. Mas deu tão certo que o pessoal começou a fechar comércio e serviços para entrar na piscicultura”, relembra Padim, ele próprio um caso clássico de quem mudou de vida. Mecânico com 22 anos de profissão, Edivando lacrou a oficina - há cinco anos. Desde então nunca mais a reabriu. Nem precisou. “Meus irmãos já criavam tilápia. Peguei o que tinha de capital e entrei, com mais 9 pessoas.” Tomaram R$ 200 mil do Banco do Nordeste dividido entre todos, via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Teriam dois anos de carência e seis anos para pagar. “Paguei no segundo ano, dividi o dinheiro para os outros e aumentamos em 80% o projeto.” A experiência de muitos como Padim entusiasmou até a juventude jaguaribarense envolvida com o tráfico de drogas. “Os jovens aqui costumam


A tragédia

Para o prefeito Francini, demanda agora é por indústrias de insumos que se estabeleçam no município

dizer que, para ganhar da rentabilidade da piscicultura, nem a venda de droga no município chega”, compara Roberto Colares de Holanda Júnior, secretário de infraestrutura e urbanismo. “Tem gente que vendeu a casa em que morava para morar de aluguel e assim entrar na piscicultura. Outros só andavam de bicicleta por aí e hoje têm uma [picape] Hilux. Acumulam patrimônio de mais de R$ 1 milhão. Tudo isso com tilápia”, garante. Tanta pujança, tão rápido, despertou a atenção nacional em 2014, quando o IBGE colocou o município no topo da produção nacional de tilápias. Com a seca de outros reservatórios, os aquicultores do Castanhão viram chegar mais

Em 16 de junho de 2015, Padim recebeu ligações de colegas piscicultores com notícias alarmantes. Perto das 7h, os peixes começaram a subir à superfície e “bocar” fora d’água. Uma hora depois, exaustos e asfixiados, começaram a boiar. De um tanque a outro, a situação se repetia, desesperadora, para quem tinha dedicado a vida àquilo. Os aquicultores da margem esquerda do Castanhão perceberam que algo fora do controle deles acontecia, sem que eles pudessem fazer nada para conter a mortandade. Dois ou três dias depois, mais de 2.000 toneladas de tilápias em todos os estágios de desenvolvimento boiavam nos tanques-rede. “Todo mundo tirando peixe da água e tentando vender, mas já não vencia. Ninguém mais queria peixe, nem de graça. Só não fizemos respiração boca a boca, mas o resto fizemos”, lembra Padim em tom de revolta. Os piscicultores então se articularam e pediram auxílio de técnicos locais e representantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Surgiu a suspeita de que uma manobra na válvula dispersora do Castanhão pudesse ter alterado a vazão, revolvendo o fundo do açude e espalhado a matéria orgânica. Isso teria diminuído a oxigenação da água de forma súbita, matando os peixes. “Aí começamos a

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Foi quando a desgraça aconteceu.

pressionar a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado (Cogerh) e o governo do Estado, mas ninguém resolveu tomar alguma providência. Nenhuma análise foi feita e não tínhamos como provar a suspeita”, diz o aquicultor. A prova e o golpe de misericórdia, segundo ele, vieram na semana seguinte. “Eles fizeram novamente a manobra

DIvulgação/Acritica

De mecânico a presidente da Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão, Padim prosperou com a atividade

companhia para repartir o bolo - ou os três parques aquícolas criados pelo finado Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em Jaguaribara, Alto Santo, e Jaguaribe/Jaguaretama. A ocupação maior se deu na margem esquerda do açude, já que a direita é uma área de proteção ambiental. Em paralelo, a forte demanda de água do Castanhão para o semi-árido e para a região metropolitana de Fortaleza, aliada à falta de chuvas, foi minando a capacidade de reação do reservatório, que fechou junho com 20,34% de sua capacidade.


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Ou é a piscicultura ou não é nada. Eles reduziram a produção, mas estão acreditando que Deus vai mandar chuva e que a transposição do rio São Francisco vai sair”, alerta Holanda Jr..

Dentro da Aplages também funciona a Kardume, um curtume especializado em tilápia, dirigido por Maria da Conceição Viana Silva e morreu o resto dos peixes, derrotando todas as associações da margem esquerda do Castanhão”, constata Padim. O balanço oficial feito pela Secretaria de Pesca de Jaguaribara contabilizou a perda total em 3.510 toneladas, um prejuízo de R$ 21 milhões. Mais de 200 caçambas removeram a maior parte dos peixes, enquanto os cadáveres se acumularam ao longo das rotas no entorno do açude, por falta de um espaço adequado para o descarte. Um ano antes, uma forte variação de temperatura causou o que havia sido a maior tragédia até então: 100 toneladas de peixes mortos. No entanto, para o desastre de 2015, até agora não há uma explicação definitiva. Os produtores creem que um aumento súbito da vazão, sucedido pela brusca diminuição, causou a onda fatal. A Cogerh negou a relação entre a manobra e a mortandade, mas aceitou integrar um Conselho Gestor que passou a consultar as comunidades locais toda vez que decide executar abertura na válvula.

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Lenta recuperação Um mês se passou e a qualidade da água ficou melhor do que os parâmetros pré-acidente. Os piscicultores que tinham condições voltaram a estocar os tanques, mas a maioria queria alguma compensação pelo prejuízo para poder recomeçar. O governador, Camilo Santana, empenhou recursos da ordem de R$ 4 milhões para a compra de ração e alevinos, mas a totalidade da verba ainda não havia sido liberada até o fechamento desta edição. Os bancos renegociaram prazos de empréstimos

e fornecedores deram carência em débitos. Os produtores deslocaram seus tanques para locais mais distantes da parede do reservatório. Desde então, o nível do Castanhão só diminuiu. Em 9 de dezembro, o volume estava em 11,86%. Em um município que se tornou completamente dependente da piscicultura, os prejuízos se espalharam. “Não faltou peixe, mas faltou cliente. Comprador, vendedor, o dono, a maioria dos funcionários, fornecedores, quem vinha de fora, atravessador; diminuiu a metade o movimento”, lamenta Zé Maria Martins da Silva, dono do restaurante que leva seu nome em Jaguaribara. Outro prejuízo mencionado por ele foi a destruição, pelo volume de água, de uma rota informal que levava quem fazia o manejo dos tanques ao açude, mas também facilitava o acesso de ônibus de turismo. O repórter, atento ao clima de desespero que ainda paira na cidade, pergunta se o pessoal não pensa em desistir de vez da atividade. “Você tem que sair daqui entendendo uma coisa: piscicultura não é algo opcional, é sobrevivência.

Essa resiliência sertaneja anima novos projetos vinculados ao polo produtivo que se formou ali, mas que ainda possui grandes deficiências. “Não temos nenhuma grande indústria instalada aqui”, frisa o prefeito Francini. “O que pode estimular muito é a vinda da ração e produção de alevinos. A Poli-Nutri, de São Paulo, já entrou em contato, tem interesse em instalar aqui uma fábrica de ração.” Outra carência é uma estrutura com selo de inspeção estadual ou federal para industrializar o peixe, eviscerado na maioria a céu aberto à beira do Castanhão. Enquanto um pequeno frigorífico construído pela Associação dos Produtores e Processadores de Peixes de Jaguaribara e Lages (Aplages) espera há 11 anos o SIE, o empresário André Siqueira aprovou um projeto inovador. Diretor da Pisces, empresa que produz óleo a partir das vísceras de tilápia, conseguiu a validação da Embrapa para construir um contêiner de 40 pés que servirá como unidade móvel de abate e processamento que se acopla a qualquer estrutura com um banheiro e uma sala de escritório. Terá, no mínimo, selo de inspeção estadual. “Estamos finalizando a planta agora, que depois será validada pela Embrapa”, conta. A reação é nítida e comprova a sabedoria do sertanejo: não é só com a providência divina que o sertão vai virar mar.

Jaguaribara População estimada 2015:..........................................................................................................11.102 Área (km²):...................................................................................................................................668,738 Densidade demográfica (hab/km²):.............................................................................................15,55 Índice de Gini:................................... 0,41 (mais perto de 1 = mais desigualdade na renda per capita) Produção de tilápia: ........................................................................................................16.920.000 kg Valor da produção:................................................................................................. R$ 101,520 milhões Fonte: IBGE/PPM 2015


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Ponto de Venda

Não seja engolido Crise foi protagonista em 2015 e assombrou diversos mercados responsáveis pela saúde da economia nacional; veja como o varejo de pescado reagiu ao cenário e como sua empresa pode se sobressair em 2016

S

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Texto: Léo Martins

e fôssemos realizar aquelas “retrospectivas” no estilo TV Globo, com notícias que dominaram o ano, certamente a tal crise seria a estrela da atração. É aumento de dólar para um lado, escândalo político de outro, ameaça de impeachment, inflação descontrolada etc. “Muitos fornecedores estrangeiros de vários mercados ficam assustados em vender para o Brasil. Afinal,

as notícias sobre nós lá fora não são as melhores”, lamenta Luiz Augusto Tondo, executivo de comércio exterior da Frumar. E para o setor de pescado, não foi diferente. “O ano de 2015 foi atípico, não apenas em nosso segmento, mas para a área alimentícia de um modo geral, que foi diretamente prejudicada com a conjuntura econômica”, relata Diego Fávero, diretor comercial do Grupo 5.

O ano de 2015 para o ramo alimentício foi, no mínimo, desafiador. “Esse foi um ano de muitas provas para o nicho consumidor. O segmento de food service, por exemplo, sentiu uma queda de 20% a 30% no movimento de suas lojas”, expõe Alexandre Stephan, diretor comercial da GeneSeas. Tal queda na venda de pescado se confirma por um levantamento feito pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras)


Isso forçou as empresas a tomarem algumas atitudes, principalmente no que envolve as importações. “Nós reduzimos os volumes comercializados, tornando o mercado bem seletivo. Muitas espécies acabam saindo da demanda pelo custo

Luiz Tondo, da Frumar, em Bruxelas: “puxamos o freio de mão nas compras para podermos nos adaptar a um mercado em transformação”

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em novembro. Segundo a entidade, as vendas do ramo supermercadista acumulam queda real de -1,02% de janeiro a outubro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o Índice Nacional de Vendas Abras. “Com muitas incertezas, aumento da taxa de desemprego e aumento da inflação, já esperávamos um reflexo nas vendas”, confessa o presidente do Conselho Consultivo da ABRAS, Sussumu Honda. “Prova disso é que até o momento, tivemos queda em relação ao ano passado de aproximadamente 1,5%”, relata João Wilson Ângelo da Silva, comprador de FLV e pescados do Super Mercadinhos São Luiz, rede de varejo localizada no Estado do Ceará.

Para Sussumu Honda, da Abras, retração nas vendas do varejo em outubro já era esperada

Divulgação/Acervo pessoal

Silva indica notar esses efeitos desde a Semana Santa. “Percebemos alguns reajustes pequenos mensais, o que nos fez perceber que algo estava errado”, relembra. Conforme Fávero, toda situação se agravou com a subida do dólar, uma vez que 30% do peixe disponível no Brasil depende de fornecimento estrangeiro. Guilherme de Abreu Blanke, diretor comercial da Noronha Pescados, calcula que o real se desvalorizou em 40%. “O ‘lado bom’ é que a queda no consumo está fazendo os custos para compra de produtos nacionais se manterem mais baixos que nos anos anteriores”, aponta.

Divulgação/Abras

“O varejo é o termômetro da inflação. Quando o poder de compra diminui, o resultado direto é a retração do consumo”, reforça Fávero.


Ponto de Venda

diante deste panorama, Blanke crê que a procura de peixes tende a continuar subindo até atingir a média mundial de 16 kg per capita/ano.

Divulgação/Frumar

Já Stephan revela que, em 2015, o segmento também foi afetado por outros fatores. “Houve uma migração para linhas de produtos de pescado mais baratos, o que desacelerou o crescimento do consumo nacional”, alega. Dentro desse contexto, Fávero cita que em períodos instáveis como o atual, a reação imediata do consumidor é sempre buscar alternativas mais baratas – o que é reforçado com o repasse de custo ao peixe –, não somente dentro da nossa área, mas em outras proteínas. “Uma vez que o peixe e frutos do mar já possuem preços acima de outras proteínas, quando o poder de compra do cliente final diminui, todo ciclo de crescimento é prejudicado.”

Preferência nacional pelo salmão obrigou chilenos a baixarem seus preços para manter vendas no Brasil

Os números da crise 5,97% -> foi a inflação do pescado SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2015 • 38

acumulada até outubro

8,49% -> foi a inflação de carnes e peixes industrializados até outubro

5,15% -> foi a inflação de enlatados e conservas até outubro Fonte: Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor IPCA e INPC do IBGE/outubro/2015

alto de aquisição”, explica Tondo. No entanto, Silva frisa que, apesar dos ajustes de preço pós-Semana Santa, esse não é o único motivo que explica a retração do consumo. “O poder de compra do cliente diminuiu e isso piora tudo.” Por outro lado, o faturamento em reais aumentou para o distribuidor, pois o preço por quilo do produto eleva por conta da alta do dólar. “Em cada importação, existe menos moeda estrangeira para fazer aquisições”, diz Tondo. “Parece um contrassenso a entrada de mais dinheiro e menos compra com ele.” Mesmo

Outros elementos também afetaram o crescimento da compra. “No nosso caso, boa parte das operações ficam no Rio Grande do Sul, que recentemente foi afetado por chuvas e enchentes”, lembra Tondo. Esses motivos, agravados pela economia nacional, fizeram a companhia ganhar acréscimo na inadimplência e atraso dos pagamentos por parte dos clientes. “Então, puxamos o freio de mão nas compras para podermos nos adaptar a um mercado em transformação. Bons negócios passaram a serem maus da noite para o dia”, recorda. “A compra reduziu, mas o consumo de proteínas em geral caiu por causa do peso das mesmas no orçamento cada vez mais apertado da população brasileira”, informa Tondo. “E esse é o grande obstáculo do setor: evitar a migração massiva do consumo do pescado para outras proteínas”, opina Fávero. Silva concorda, acrescentando que nessa época, até verduras e frutas estão sendo muito procuradas por causa da onda do vegetarianismo.


Já a tilápia, além dos fatores econômicos, contou com outros elementos para a elevação do custo. “A cadeia produtiva dessa espécie foi gravemente afetada pelos fatores climáticos. A seca recorde registrada na região Sudeste atingiu as áreas de engorda gerando uma grande perda de produtividade e, consequente, desabastecimento do mercado”, lembra Fávero. Quanto ao salmão, conforme Alexandre Stephan, da GeneSeas, por mais que tenha havido negociações por preços melhores em dólares para importar o produto, o aumento cambial gerou aumentos de 15% a 25% no produto em reais. Os demais nichos, tais como a pesca extrativa, também sofreram com o aumento dos insumos ligados à cadeia.

Na Geneseas, João Miranda (esq). e Alexandre Stephan são responsáveis pela política comercial: redução de mark ups no varejo é caminho

oportunidades que geram aumento de consumo, como campanhas de promotoria, novos SKUs para o consumidor e afins”, cita Stephan.

Vamos discutir a relação

Na visão dos fornecedores, as cadeias varejistas buscam manter o retorno financeiro que vinham tendo apesar da queda nas vendas, com aumento da margem. “Isso se reflete no preço de venda e ocasiona mais retração no consumo. Por isso, é preciso um maior equilíbrio para que a venda volte a crescer”, sugere Blanke. Ele observa que o pequeno e médio varejo tem mantido as margens nos preços ao consumidor e “por isso, o setor tem conseguido crescer as vendas neste segmento”.

Para que o cliente final não sinta tanto esses efeitos no bolso, é importante que varejista e fornecedores de pescado trabalhem em conjunto. “Em nosso caso, trabalhamos em parceria para enxergar novas oportunidades na área. Buscamos conjuntamente

De qualquer forma, não adianta endurecer as negociações em um momento em que o empresário brasileiro precisa de parceiros sólidos para remar com mais força contra a maré. “Fornecedor que atuar como âncora vai acabar

perdendo uma ótima oportunidade de fechar parcerias duradoras para um futuro próximo”, afirma Tondo. Já do lado do comprador do varejo também é preciso afrouxar a pressão, segundo ilustra Blanke. Quando ele aperta demais uma negociação, olhando a situação somente do ângulo dele, sem entender que o importador tem hoje toda essa oscilação cambial e dificuldade de fazer programação em médio prazo, todos acabam perdendo. “A negociação tem que ser no sentido ganha-ganha”, diz. E é nesse momento em que o trabalho em equipe da cadeia de pescado deve mostrar união. “Acreditamos que o ramo varejista, em especial as grandes redes, devem se unir com seus principais fornecedores, valorizando as empresas que se mostrarem parceiras e firmar acordos comerciais que possibilitem oferecer melhores preços e promoções para o consumidor.”

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Segundo Diego Fávero, do Grupo 5, a subida de preços foi geral, mas a pressão do câmbio tem diferentes efeitos. “Importados como salmão e bacalhau, por exemplo, sofreram grandes altas”, comenta ele. Camarão e a lagosta também foram afetados, mas no sentido inverso. “No caso deles, com o dólar em alta, a tendência é direcionar a produção para o mercado externo, diminuindo a oferta nacional, o que força a subida dos preços”, relata.

Divulgação/Geneseas

Por mais que o mercado se esforce em não repassar o custo de produção de um peixe para o consumidor, é inevitável que isso ocorra, ainda que seja pouco. “A partir da metade de março deste ano, o dólar começou a subir. Nossos preços foram obrigados a acompanhar, [aplicamos] pelo menos 50% de alta”, lamenta Tondo.


O mercado fala! Para ajudar a compreender a relação do varejo de pescado e a crise econômica, a Seafood Brasil realizou uma pesquisa inédita com os dois principais componentes desse nicho: varejo e fornecedores. Ao todo, 44 empresas de pescado e 8 redes varejistas responderam a um questionário com 8 perguntas. Quer saber o que eles pensam?

Qual é a nota que você dá para a venda de pescado em 2015?

O seu negócio sentiu os efeitos da atual crise econômica?

Apesar de todas as dificuldades econômicas, 27% dos fornecedores de varejo consideraram que o mercado “passou de ano” e deram nota 6 (de 1 a 10). Outros mais divididos deram conceito 5 (23%) e 7 (23%). Por outro lado, das redes de varejo consultadas, três consideraram que 2015 foi mediano e deram a nota 5.

Nova divisão: fornecedores entendem que sentiram muito (45%) e pouco (52%) os desafios do atual cenário. Já do lado do varejo, seis companhias compreenderam que a conjuntura econômica afetou muito, enquanto duas acharam que o momento instável afetou pouco suas redes.

Qual a expectativa de variação de vendas para o Natal de 2015? Mantendo-se mais centrados, quatro das oito redes de varejo consultadas acreditam que o Natal será estável, pensamento sustentado também por 37% dos fornecedores. Apesar do otimismo, 19% dos fornecedores entrevistados ainda acreditam que o período natalino terá uma variação de -10%. Somente 2% apostam em alteração de mais de +20%.

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É o que o Carrefour, única das grandes redes varejistas nacionais consultadas a responder os questionamentos da revista Seafood Brasil, disse fazer. Com a proximidade de datas comemorativas como o Natal, eles afirmaram em nota assinada pela assessoria de imprensa negociar antecipadamente com fornecedores mercadorias como o bacalhau, importado da Noruega, Portugal e China. Outro ponto que Stephan indica é a redução de mark ups, termo usado para mostrar quanto o preço do produto está acima do seu custo. “Se isso acontecer, de fato haverá um estímulo maior de consumo de peixes”, projeta. Outro caminho pode ser a diminuição do ticket médio. “Focar em porcionamentos e embalagens menores que possibilitem um custo encaixado no ‘novo orçamento’ do consumidor também é uma boa”, diz Fávero. Para o especialista, se o varejo tiver a consciência de que é um dos principais canais de ligação da indústria

com o consumidor final, poderá estabelecer novos padrões e tendências. “Comunicar com mais ênfase o cliente sobre as qualidades e diferenciais nutritivos da mercadoria, bem como dar orientações de preparo que quebrem os paradigmas de que o peixe é uma proteína difícil de manipular, é um excelente começo”, comenta Fávero. A sugestão é seguida prontamente pelo Super Mercadinhos São Luiz. “Procuramos trabalhar com produtos novos e ações de divulgação dos produtos, sempre para incentivar o consumo do cliente”, afirma Silva. “Afinal, se nesse momento não é possível fazer o consumo de pescado crescer, pelo menos o varejo precisa se preocupar em mantê -lo”, completa Fávero.

De olho no futuro O nicho supermercadista brasileiro espera desempenho estável para as vendas de final de ano, em relação à mesma época de 2014, de acordo com a Pesquisa de Natal Abras 2015, elabo-

Qual foi a reação da sua empresa perante a crise? Das atitudes imediatas, metade dos varejistas consultados reduziu as compras, forçando os fornecedores a reduzirem sua margem de lucro (25%). Para esse grupo de entrevistados, a reação instantânea foi buscar aumento de eficiência (44%).

rada pelo Departamento de Economia e Pesquisa da entidade. “Levando-se em conta o momento difícil da economia brasileira, esperar um Natal estável (+0,4%), como demonstrado pela nossa pesquisa, é ser otimista”, destaca Sussumu Honda, da Abras. Segundo ele, as encomendas das empresas do setor para a indústria e demais fornecedores continuam, mesmo em volumes menores. O ar otimista também faz parte da área. “Estas são datas com um aumento de consumo forte. Entendemos que mesmo com a crise, este fato não deve se alterar”, prevê Alexandre Stephan, da GeneSeas. João Wilson Ângelo da Silva, do Super Mercadinhos São Luiz concorda: “Temos tudo para acreditar que, mesmo assim, vamos superar as últimas datas de Natal e Semana Santa”, projeta. “As fichas estão prontas para serem novamente apostadas nestas datas tão significativas para nós”, reforça Luiz Gustavo Tondo, da Frumar.


Especialistas acreditam que a crise nacional é mais política do que econômica, opinião essa reforçada pelos fornecedores do varejo. Para 33% dos consultados o maior obstáculo é a instabilidade política, com a alta do dólar (23%) ocupando o segundo lugar. Essas opções também foram as mais escolhidas pelos varejistas: três votos para cada uma.

Qual a expectativa de variação de vendas para a Semana Santa? Apesar do equilíbrio das respostas, a maioria dos fornecedores (26%) entende que a variação também será estável. Porém, 16% acreditam em queda de 20% nas vendas. Dos varejistas indagados, dois entendem que as vendas terão oscilação de -5% e outros dois, de 10%.

Você concorda que, devido à crise, o ciclo de crescimento do consumo de pescado tenha sido interrompido?

Baseado em 2015, como será o comércio de pescado em 2016?

Relativamente divididas, cinco das redes de varejo consultadas apontaram que concordam parcialmente que a evolução do consumo deu uma brecada – duas indicaram que concordam totalmente e apenas uma discordou parcialmente. Nessa onda, 52% dos fornecedores também concordaram parcialmente sobre a interrupção, enquanto 18% discordaram parcialmente. Curiosidade: nos dois grupos de entrevistados, nenhum voto para “discordo totalmente” foi computado.

A maioria (63%) dos fornecedores do varejo tem expectativa regular, mas 21% veem um cenário ruim pela frente. Com perspectiva similar, das oito redes solicitadas, metade também projeta um 2016 regular. Curiosidade: nenhum dos entrevistados dos dois grupos apostou que o próximo ano será ótimo.

Já na opinião de Guilherme Blanke, da Noronha, o Natal será um pouco mais fraco que do ano passado. “Se por um lado o volume geral de venda será menor em 2016, a forte variação do câmbio fará as grandes redes realizarem um volume menor de importação direta, o que abre espaço para as empresas locais venderem mais”, justifica. No caso da Semana Santa, Diego Fávero, do Grupo 5, acredita que a alta do dólar deixará o movimento fraco. “Principalmente por

influência do bacalhau, que sempre teve uma presença forte na mesa dos brasileiros nesta data e há tempos também vinha se tornando uma excelente opção para as ceias natalinas.” Apesar do ambiente desfavorável, Blanke crê que a área vai começar a se acomodar após a Semana Santa do próximo ano. “Haverá uma redução da concorrência, o que é normal em períodos como o atual. Isso fará

Quer conferir essa pesquisa na íntegra? Leia este QR Code com seu dispositivo móvel ou acesse http://bit.ly/pesquisavarejoSB para ver a pesquisa na íntegra.

com que o consumo invariavelmente cresça no segundo semestre de 2016”, acrescenta. Na cultura chinesa, a palavra “crise” tem o mesmo símbolo de “oportunidade”. E eles não estão errados. Esses momentos de dificuldade acabam sendo a ocasião perfeita para você tentar fazer diferente. Basta enxergar o lado bom da situação. “É só dessa forma que saímos da zona de conforto e rumamos para a reinvenção”, conclui Fávero.

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Qual é o maior desafio do atual cenário?


Pif Paf entra no segmento

Na

Gôndola

Com investimento de R$ 2 milhões, a Pif Paf lançou recentemente três marcas: Pif Paf Premium, Ladelli e a PescaNobre. No caso do pescado, centrado na última linha, a marca oferece bacalhau dessalgado congelado, nas opções lombo e em postas, além de filé de tilápia, entre outros desenvolvimentos “que estão por vir”, diz a empresa.

A oferta de peixes e frutos do mar

Lançamentos nacionais

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Salmão dourado a vácuo A Golden Foods inova com filés de salmão embalados a vácuo individualmente para o food service e para os supermercados, que incrementa a linha Golden Fish. No segmento institucional, a embalagem secundária do produto tem 10 kg e os filés vão em embalagens primárias um a um. A versão para o varejo ainda está em produção.

Lançamentos da Conxemar 2015

Medalhão de atum com cogumelos A Lumar Seafood segue na aposta dos medalhões recheados. A nova receita é do atum recheado com cogumelos Duxelle, que ganhou prêmio de inovação no Wabel Frozen Summit, na França. A linha contempla ainda as receitas Sicilian Caponata (berinjela, abobrinha e pimentão vermelho);

espinafre, pinhões e queijo feta; Dátil com bacon e Abóbora com nozes e sálvia.

4 minutos no microondas Rabo de peixe-sapo com vagem e camarão, Bacalhau à primavera, Salmão à Provençal, Merluza com alho, salsinha e azeite. Estas são algumas das receitas da Mr. FiSK que vem em porções individuais, prontas para cozinhar no microondas em até 4 minutos. Basta tirar a etiqueta que envolve a embalagem e aquecer.


Pulpo en Tabla, ou PT, é o nome patenteado deste produto pela Galician Octopus. A empresa pretende conservar uma tradição secular na Galícia, o polvo na tábua, e quer trazê-lo ao Brasil: está em busca de um representante local.

Pasteurizado nas Rías Baixas O mexihão da Cies - nome de uma ilha muito visitada na Galícia - é cultivado em longlines nas rías baixas da região de Vigo, espécie de fiordes sem altitude onde a vida marinha é muito rica na Espanha. O produto é pasteurizado e pode ser conservado apenas refrigerado durante até 60 dias. Já a versão congelada dura 18 meses.

Apresentação de luxo Uma revolução na embalagem “O envase do futuro”. É assim que a Gimar vende a nova embalagem criada pela Bemis para seu salmão defumado. Trata-se de uma selagem dupla: um filme de fundo semi rígido, um filme skin alta barreira e outro filme anti fog como tampa. Trocando em miúdos, o salmão fica isolado a vácuo na base, enquanto outro filme recobre a embalagem e cria uma bolsa de ar que o protege no transporte.

Os lombos de salmão marinados em estilo mediterrâneo e o salmão defumado são dois dos itens mais nobres da linha da Angulas Aguinaga, marca do fundo de investimentos Portobello - que acaba de adquirir a Iberconsa, entre as 25 maiores empresas do segmento na Europa.

sal e louro. Depois é cortado em três tamanhos, pesos e diâmetros distintos. Nesta versão da foto ele já vem na bandeja, mas também pode ser vendido como se fosse um salame.

Let it go, Darth Vader A Fandicosta, que desde o ano passado adota como marca mundial a Maremundi, fechou um acordo com a Disney para apresentar produtos licenciados com os personagens dos filmes Frozen, Star Wars e do desenho Mickey. A ideia é aproximar os pequenos de uma dieta com pescado, como estes empanados de merluza.

Carpaccio de polvo As tapas espanholas ficam deliciosas com este carpaccio de polvo cozido da Meripul, marca da Viveros Merimar. O molusco é pescado nas águas do Marrocos e então cozido com água,

Leia este código para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores

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Polvo atrás de um representante


Na Cozinha O peixe no food service

Fresco ou um falso Dualidade no fornecimento ao food service dá luz a reflexões mais profundas sobre complexidade da cadeia Texto: Marcela Gava e Ricardo Torres | Fotos: Arquivo/Seafood Brasil

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xiste uma dicotomia que gera controvérsias quase na mesma medida que discutir resultado de jogo após uma quarta-feira de futebol. No nosso caso, o “clássico” em questão é o “fresco (ou resfriado, termo mais correto) vs. congelado”. Debater se há ou não diferença de sabor e textura de um produto para o outro inevitavelmente terá um teor maniqueísta, por isso é preciso ir a fundo para dar luz às particularidades do trajeto que o peixe fora d’água percorre até ser degustado pelo cliente do restaurante. Seja em casa ou fora do lar, para potencializar o consumo de pescado é preciso garantir a segurança alimentar. “Tanto o tempo quanto a forma de armazenamento são fundamentais para garantir a qualidade e segurança do pescado”, explica Marília Oetterer professora titular da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq)/USP. Ela argumenta que, por lei, o pescado assim que é capturado tem que receber o auxílio do frio, devido à sua alta perecibilidade. “Os produtos de origem animal são mais perecíveis do que os alimentos vegetais, porque têm mais nutrientes necessários aos micro-organismos deterioradores, como as proteínas e aminoácidos”, fala.

Os vegetais, por exemplo, são mais ácidos, o que colabora com a proteção contra a ação microbiana. Já a carne do pescado é tenra, tem pouco tecido conectivo ou de sustentação, como é o caso dos animais terrestres. “E este é mais um fator que facilita a ação dos agentes deterioradores, caso das enzimas existentes na própria carne e vísceras.” De acordo com a professora, camadas de gelo ou um refrigerador a zero grau colaboram para desacelerar parcialmente as reações da própria fisiologia do pescado que ocorrem após a sua morte e a provável ação microbiana adquirida durante a manipulação.

Esfriando a briga Os consumidores aprendem, ao longo dos anos, que o peixe fresco é aquele que saiu do rio ou do mar, não sofreu nenhum tratamento (exceto a conservação em gelo) e, na sequência, é manipulado para ser servido, conforme sintetiza o consultor industrial Uilians Ruivo. “Não está errado, mas em que condições tudo isso se deu? As boas práticas de manipulação, a lavagem adequada do peixe, a qualidade e quantidade do gelo adicionado, a caixa plástica onde ele está acondicionado, a faixa


congelado: dilema? O especialista diz que a conservação em gelo não impede que as reações naturais de alteração microbiológica e enzimática continuem acontecendo. “Elas ocorrem de forma mais rápida se comparado ao produto congelado”, relata. O congelamento é uma opção para manter a qualidade sanitária. “Congelar o peixe logo após a sua captura ou após poucos dias significa parar no tempo todas estas reações. Inúmeros artigos científicos mostram que elas continuam acontecendo, mas de uma maneira muitíssimo lenta a -18°C, se comparado a -10°C ou a -5°C ou ainda a 0°C, que é o caso do peixe fresco, mantido em gelo”, contextualiza Ruivo. Quando se fala em aquicultura, o peixe é muitas vezes levado vivo ao frigorífico em tanques especiais, ou sofre atordoamento no gelo e água para que o abate ocorra na planta industrial. Já no caso da pesca industrial, o mais comum no Brasil é o pescado ser mantido nos porões com gelo

em escamas, uma vez que são raras as embarcações aptas a congelar a bordo. O processo de congelar a matéria-prima é então é transferido aos frigoríficos uma vez que o peixe desembarca em terra firme. Por lá, munido de gelo e água mantidos a zero grau, um tanque de recepção espera a matéria-prima. “Ao permanecer nesta temperatura, o pescado entra em hipotermia – a paralisação garante a reserva energética e o tempo pré-rigor [uma das três fases do enrijecimento cadavérico] será mais longo”, diz Oetterer. O abate ocorre em uma temperatura de cerca de 3°C nas mesas de manipulação. De acordo com a professora, a filetagem e acondicionamento nas embalagens são operações imediatas, e o produto entra em congeladores que trabalham a temperaturas abaixo de -25ºC, conforme exigência da legislação. Nesta etapa, pode receber o glaciamento, que lhe dá uma fina camada de gelo protetor antes de receber a embalagem complementar. O pescado congelado conforme a legislação mantém as características

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de temperatura onde ele foi mantido e os dias decorridos desde o abate até chegar ao prato”, explica.


Na Cozinha

sensoriais e nutricionais íntegras. “O que ocorre na prática é que o congelamento doméstico ou em condições fora da legislação leva à obtenção de um produto que demorou para ser congelado porque a temperatura do congelador é maior do que -25 graus”, coloca Oetterer. Assim, a água presente no músculo, entre as células, congela, formando cristais grandes e deformando as células. No descongelamento ocorre a perda de líquidos, que junto levam nutrientes solúveis em água, o que ocasiona perda de textura e compromete o sabor.

De acordo com ele, é comum encontrar fornecedor que adquire o produto com preço correto, porém, dá um banho de água e resulta em uma opção mais em conta do que a que foi comprada. “É mesma coisa que comprar da Gillette e vender para uma drogaria mais barato do que a própria marca conseguiria vender”, compara. No entanto, isso não invalida o congelado como opção aos restaurantes, na avaliação de Fróes. “Se fosse verdade que o pescado congelado é pior que o fresco, várias pessoas diriam que na cidade americana não se come bem culinária japonesa”, alerta Fróes. O empresário se refere a Nova York, onde uma regulamentação recente exige que os restaurantes congelem todo pescado fresco que vai ser servido cru – a intenção é a prevenção contra parasitas ou bactérias.

Divulgação/Diego Fávero/Grupo 5

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Outro problema que também assola o pescado é glaciamento em excesso. “É uma possibilidade de acrescentar peso”, explica Rodrigo Fróes, administrador do 3F Group, que reúne o restaurante japonês Jam e a distribuidora Morota. Como também comercializa pescado, ele sofre a concorrência de quem opera em desacordo com a

legislação. O Ministério da Agricultura estabeleceu, por meio do Ofício Circular n° 26/2010, o limite máximo de glaciamento em 20%. Fróes exemplifica: “O cliente liga para a minha distribuidora, que só trabalha com frescos, e pergunta quanto custa o quilo do camarão. Digo R$ 60, mas a pessoa argumenta que encontra por R$ 40. Falo que tem de pegar e descongelar o produto usando uma peneira para deixar a água escorrer, dessa forma verá quanto efetivamente está comprando”.

Consultor Uilians Ruivo, em ação na Peixes da Amazônia: é preciso saber em que condições se dá a manutenção do peixe fresco

De fato, com técnicas aprimoradas de congelamento, é possível garantir a qualidade do pescado. No Brasil, o que houve foi uma inversão de valores: o fresco virou a alternativa para que alguns compradores tivessem certeza do que estão adquirindo. “Com o fresco, consigo avaliar e saber se o pescado está no peso

ou não. No caso do congelado, teria de receber a mercadoria e pedir para o fornecedor esperar 48 horas para ter tempo de descongelar e verificar se aquele peso que me deu está dentro da perda de água”, diz Fróes. Ou seja, a escolha da carne fresca não é por ser melhor do que a congelada, mas porque consegue dar mais certeza em relação às características que estão ali. “Olhando a guelra de um peixe fresco, vejo melhor do que no congelado. Além disso, o cheiro do primeiro é mais sensível de ser percebido do que do segundo.”

Há um veredito? Cauê Tessuto é chef e proprietário d’A Peixaria Restaurante, que comercializa peixe fresco. Segundo Tessuto, para trabalhar com fresco é necessário entender a sazonalidade do produto: “Tem de saber que não pode colocar um robalo com banana frita no cardápio, porque vai ter uma época do ano que a espécie não estará disponível”. Dos desafios de trabalhar com essa modalidade de produto, ele destaca o fato de a cadeia ser bem rústica. “O produtor é espremido, então ele tenta reduzir custos e isso acaba refletindo no produto dele”, coloca. Para superar alguns entraves, ele montou sua própria rede de distribuição baseada na pesca artesanal. Chamado Projeto Lagamar, ele atua em Cananéia, Ilha Comprida e Iguape. A ideia é descer e subir a serra para trazer opções para o seu restaurante e para outros estabelecimentos que estiverem interessados em adquirir. “A gente tem essa falsa visão de que o peixe é pescado e, em dois dias, já não está mais fresco. O peixe tem bastante tempo de prateleira se ele for bem pescado e bem armazenado”, coloca. É aí que ele diferencia o peixe bem pescado do mal pescado. “Se um peixe morre no gelo ou tem uma morte medular, vai ter muito mais tempo do que um peixe que


Típico porão refrigerado de navio especializado na pesca da sardinha: peixe fica armazenado no gelo com ambiente climatizado

morreu em uma rede ou saiu do anzol e morreu fora do gelo”, explica.

Depois da captura, Tessuto comenta que a atenção é contínua: “Trabalho com ele embalado e uso gelo em escama com a caixa drenando a água. Tenho de limpar todo dia e trocar a embalagem, porque não posso deixá-la ficar suja”. No caso, o gelo usado é em escama, porque se encaixa melhor entre o peixe.

A garimpagem, ou melhor, a busca na prática, foi o principal processo para entender como comprar peixe fresco. “Muitos peixes têm características diferentes de armazenamento ou ponto do ápice do frescor. Por exemplo, uma corvina marisqueira pode estar linda por fora, mas se não tiver firmeza na espinha que tem ao

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Para discutir o tempo de frescor após captura, é necessário avaliar espécies. Existem peixes cujo nível de conservação é alto, como o atum que é armazenado em barcos grandes e demora entre 12 e 15 dias para voltar à terra. Isso mantido no gelo, sem água. “A meca tem um tempo muito largo, mas outros peixes de carne mais delicada, como a sororoca e o bonito, duram no máximo uma semana”, indica. Claro, tudo isso bem pescado: “Tem de ser tirado vivo da água e abatido no gelo, em acúmulo de água dentro da câmara fria. Isso faz prolongar o tempo de vida dele.”


Na Cozinha Para Rodrigo Fróes, do 3F Group, não é verdade que o congelado seja pior que o fresco, o problema é a adulteração

sair da água, pode contar que foi mal armazenada e ao abrir a carne vai estar manchada.” Tessuto deixa o peixe congelado de lado porque, na sua opinião, faz perder a qualidade: “A não ser que você congele nas máquinas de nitrogênio líquido, você não vai ter um produto nem perto do que ele é fresco”, diz. Para ele, o processo de descongelamento é fatal para o produto. “Fresco é fresco, por isso se valoriza tanto em outros lugares do mundo, como no Japão, que tem até maneiras de abate que estamos longe de chegar.” No congelado, Tessuto defende o que quase nenhuma empresa de pescado pode oferecer. A Natubrás é uma exceção. A empresa catarinense, especiali-

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MCassab

zada em pescado congelado, opera com um sistema baseado no nitrogênio líquido que congela camarão, por exemplo, em 15 segundos. “São 192 graus negativos. No nitrogênio você mantém todas as características organolépticas do produto. Quanto mais rápido vem o frio, mais você mantém as condições originais”, detalha Juliano Túlio, gerente de vendas. Para os restaurantes que operam apenas com produtos frescos da pesca extrativa, a sazonalidade é um grande empecilho. Para Túlio, isso pode ser contornado com um produto congelado que efetivamente conserve a qualidade do produto, mesmo que ele tenha sido pescado há meses. “É o mais próximo do fresco possível, com um tempo de conservação maior do que o convencional.” A Natubrás se ressente do fato de que o preço ainda mande nas escolhas dos compradores do food service. “Às

vezes, eles trocam todas essas vantagens por uma diferença de 1 real”, lamenta Túlio. Ricardo Robles, gerente nacional de vendas da MCassab, concorda. “Em restaurantes, encontramos de tudo. Onde há uma rede de restaurantes onde o comprador é cobrado por resultados e preço, ele deixa a qualidade em segundo plano. Já em um hotel de grande porte, onde o chef determina a compra, a qualidade vem em primeiro lugar.” Foi justamente para não entrar nesta barganha de preço que a MCassab decidiu apostar na tilápia fresca. “Os restaurantes acham que fresco é melhor que o congelado. É errado isso, mas acontece porque a própria indústria queimou o seu produto. O consumidor confia no fresco”, diz Robles. A empresa possui uma planta de processamento em Rifaina (SP) que fica a apenas 8km de distância do seu próprio cultivo. “Com isso, se o cliente fizer pedido hoje até meio dia, amanhã entrego fresco”. Ou seja, com menos de 24 horas desde o abate, o peixe chega ao prato do cliente de um restaurante da capital paulista. Mais fresco que isso, só congelado. Ou será o contrário?

Natubrás

Dois momentos: na MCassab, distância de 8km entre produção e processamento faz produto chegar resfriado em menos de 24 horas ao cliente; na Natubrás, camarão passa por ultracongelamento por nitrogênio em processo que dura apenas 15 segundos


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Personagem

O Aquaman do Nordeste Catador de caranguejo, pescador artesanal, professor, engenheiro de pesca, observador de bordo, carcinicultor e consultor: conheça uma curta e intensa vida dedicada ao meio aquático

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Texto: Ricardo Torres

le não é o rei de Atlantis, como o personagem dos quadrinhos, mas do mar ou da água doce poucos entendem tanto. Hoje com 42 anos, Leonel Araújo Martins Ferreira, ou apenas Leo, dedicou toda a vida ao meio aquático. Nascido em Recife, morou até os 21 anos na praia do Janga, em Paulista (PE), com seus pais. A primeira conexão com a água ele estabeleceu aos 3 anos de idade, em uma piscina. Aos 10 anos, começou as expedições nas praias de Paulista na pesca do siri, camarão, cata do caranguejo no manguezal e pesca de peixe pequeno com vara e anzol. “Na mesma época, construí minha primeira ermbarcação de isopor e fui pescar mar adentro. Comecei a pescar, com apnéia, polvo, lagosta, lagostim e peixes maiores com caça submarina.” Cinco anos depois, a brincadeira ficou séria e ele se filiou à Colônia de Pescadores do município. Passou a pescar em toda a costa do litoral brasileiro. Aos 18 anos, comprou um barco motorizado de madeira com 6 metros para pescar peixe e camarão por arrasto e lagosta. A embarcação tinha sonar, GPS, rádio amador e lhe rendeu quatro anos de trabalho. A necessidade de complementar a educação falou mais alto e ele prestou - e passou - o vestibular para o curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP). Depois de passar como professor pela Fundação Apolônio Salles, em Sergipe, fez seu estágio supervisionado em uma fazenda de camarão no Ceará. O contato com o laboratório e a escala profissional de cultivo lhe deram subsídios para apostar no desenvolvimento da carcinicultura de água doce no sertão do Ceará, contrariando os colegas de faculdade que foram trabalhar em fazendas marinhas.

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Com a queda da atividade em meados dos anos 2000, ele buscou uma oportunidade como observador de bordo, em um projeto da UFRPE com empresas de pesca de atum. Por cinco anos, conviveu com chineses, japoneses, norte-americanos, marroquinos, espanhóis, chilenos e africanos coletando dados de captura e capturas acidentais. “Conseguia me relacionar bem com todos, embora às vezes tinha que colocar alguns no seu lugar. Um capitão chinês inclusive me convidou a trabalhar com ele pelo mundo”, contou. Leo não aceitou. Ouviu o chamado da carcinicultura e voltou à atividade como comprador de camarão em várias empresas, como a Pesqueira Maguary, depois como técnico. A seguir prestou serviço por quatro anos na prefeitura de Camocim como subsecretário de Pesca e Meio Ambiente, assumindo na sequência a Coordenadoria de Pesca Artesanal e Carcinicultura Familiar da Secretaria de Pesca e Aquicultura do Ceará. Três anos depois, agora como consultor autônomo, Leo ouve as demandas e orienta carcinicultores de água doce como os do perímetro irrigado do DNOCS, em Jaguaruana (CE), ou carcinicultores marinhos como os de Parajuru, em Beberibe (CE). Chama todos pelo nome. Fala a língua deles. E continua sem tirar o pé da água.


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