Seafood Brasil #43

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MKT & INVESTIMENTOS

NA COZINHA

O retorno de Boston, Apas e Aquishow (e uma espiada na AquaSur e Gulfood)

Inovação em cortes e produtos anima restaurantes pelas margens e criatividade

brasil

Agite bem antes de crescer

Demanda nacional e nova fase exportadora estimulam desenvolvimento tecnológico da aquicultura brasileira

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SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

seafood

#43 - Fev/Mar 2022 ISSN 2319-0450


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Editorial

A volta do fantasma

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inflação voltou a ser um problema crônico do Brasil. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) acelerou em abril e subiu 1,73%, a maior variação mensal para o indicador desde fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior alta para abril desde 1995 (1,95%). Com guerra na Ucrânia, lockdown na China e as Eleições no Brasil, os especialistas preveem indicadores recordes (acima de 7%) no final do ano e com dois dígitos no acumulado do ano até agosto. O pescado tem saltado menos que a média da inflação medida pelo IPCA, mas acompanha o aumento de custos de produção e distúrbios na cadeia de abastecimento. Em março, o crescimento foi de 0,87% sobre o mês anterior e de 3,69% no acumulado em 12 meses. O Índice Ceagesp, que mede a variação dos preços de uma cesta de cerca de 150 produtos, revelou um salto de 4,89% em março. O pescado teve uma alta acima do índice, o

influenciando diretamente, terminando o terceiro mês de 2022 com inflação de 5,61%. A pressão inflacionária de toda a conjuntura sobre os alimentos assusta e foi sentida na Páscoa. Muitos resultados positivos nas vendas do grande varejo, por exemplo, foram inflados pela subida nos preços, mas não constituem aumento real. Na produção, a escalada do preço dos combustíveis e dos grãos para a nutrição animal pressiona a aquicultura, que vai contornar cada vez mais os problemas internos com o aumento das exportações. Na importação, o dólar volta a crescer e preocupa o mercado de filés mais baratos, que já nesta Quaresma ficou sem muitas opções também pelos problemas com a merluza na fronteira. Em um ano que tinha tudo para representar uma grande retomada, o caldo é complexo e frio, mas o setor não deve deixá-lo entornar. Boa leitura!

Ricardo Torres - Editor-chefe

Índice

06 5 Perguntas

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24 Capa

08 Na Água

52 Na Gôndola

10 MKT & Investimentos 20 Caiu na Rede

54 Especial

60 Estatísticas

68 Na Cozinha

22 Na Planta

82 Personagem

Expediente Redação

redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor-chefe: Ricardo Torres Editor-executivo: Léo Martins Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Foto da capa: Spring Genetics

Comercial

comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Impressão

Máxi Gráfica A Seafood Brasil é uma publicação da

Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

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5 Perguntas ao subsecretário de pesca e aquicultura da Argentina, Carlos Liberman

Entrevista

“Nosso papel conjunto: alimentar o mundo” Na esteira de uma programação intensa de reuniões governamentais e rodadas de negócios, o subsecretário de pesca e aquicultura da Argentina veio ao Brasil para reaquecer vínculo comercial Texto: Ricardo Torres

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Argentina quer voltar a ter protagonismo na pauta importadora de pescado do Brasil. A delegação que desembarcou em Brasília no início de abril reuniu mais de 20 empresários e altas autoridades do governo argentino, como o ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca, Julián Andrés Domínguez. Junto a ele estava o subsecretário de pesca e aquicultura da Argentina, Carlos Liberman, que nos concedeu esta entrevista apenas um dia depois de o governo brasileiro “flexibilizar” a entrada de merluza argentina por 60 dias. Com muitas cargas paradas na fronteira em razão da presença de parasitas microscópicos identificados na reinspeção nos postos fronteiriços, os argentinos celebraram a liberação até 03 de junho. A decisão técnica, ainda que temporária, veio depois de uma forte atuação diplomática que deverá encaminhar a situação para um entendimento conjunto definitivo entre os entes sanitários de ambos os países. Nesse clima, Liberman disse que “ia embora com uma perspectiva muito boa sobre o Brasil”: ele se refere também ao camarão vermelho da Patagônia - um item ainda pouco popular por aqui, mesmo um ano após o STF liberar a importação. Popular mesmo é a aquicultura por aqui, uma das referências para a Argentina implantar um projeto estratégico, suportado pelo Estado, de exportação

de trutas arco-íris - que os hermanos também querem vender ao Brasil. Notamos que o volume de importações de produtos pesqueiros argentinos pelo Brasil tem caído nos últimos anos. A que se deve isso?

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Em primeiro lugar, a pesca da Argentina acumula anos de crescimento sustentado. O comércio de pescado da Argentina cresceu em todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos, Europa e Japão; temos presença em mercados onde não estávamos. Isso também está relacionado ao fato de que a nossa oferta de camarões vermelhos (langostinos) cresceu de 30 mil toneladas a mais de 220 mil toneladas, o que está ligado a modificações do regime de administração da pesca argentina, de respeito integral ao ciclo biológico e de

reprodução de langostinos. Agora nós vamos capturá-lo em zonas diferentes ao que fazíamos antes e em momentos distintos, o que nos trouxe muito êxito. Este nível de crescimento não se vê refletido na comercialização entre empresas argentinas e brasileiras. A medida judicial [Ação Civil Pública] fez com que o Brasil fosse o único país ao qual não fornecemos o langostino em todo o mundo. Essa situação se reverteu há um ano e agora estamos na etapa de nos inserirmos no mercado brasileiro. Além do camarão vermelho, há outros problemas de ordem técnica e diplomática que interferem na importação de merluza, por exemplo. Qual é a principal dificuldade para que a situação se estabilize e não haja tantos problemas na fronteira?

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De que forma o Brasil pode apoiar o projeto de expansão da aquicultura argentina? Iniciamos uma nova etapa que é a de desenvolvimento da aquicultura. Nos últimos 20 anos, a Argentina cresceu na pesca: exportávamos US$ 700 milhões e, no ano passado, chegamos a US$ 2 bilhões, ainda que em pandemia. A etapa que vem agora é crescer pela aquicultura, na qual o Brasil tem muita experiência, assim como outros países que tiveram saltos magníficos nos últimos anos.

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Por decisão política, conveniência e por saber que podemos fornecer mais alimentos aos argentinos e ao mundo, criamos uma direção nacional de aquicultura e temos recursos para financiar projetos de aquicultura. Temos uma lei nacional de aquicultura, à qual aderiram 10 províncias e, até o final do ano, teremos mais seis províncias.

Estamos desenvolvendo ainda no INIDEP [Instituto Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Pesqueiro] um projeto para pesquisar outros produtos, como o pez limón [Seriola lalandi, ou olhete] em sistema de recirculação de águas - em apenas 10 dias já se inscreveu uma empresa que pretende fazer este cultivo, cujo produto é reconhecido por suas qualidades para o sushi em distintos mercados, de alto valor comercial. Em julho do ano passado, a província da Terra do Fogo aprovou por unanimidade um projeto de lei que proíbe a criação de salmão em seu território. Como ficaram os projetos para a espécie na Argentina?

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Foi uma decisão soberana da província, que nós como nação respeitamos. O povo da Terra do Fogo vislumbrou alguns antecedentes na produção de salmão que não viram com bons olhos e tinham o temor de que isso poderia ocorrer nela. Está proibido apenas na Terra do Fogo, não em outras áreas da Patagonia. Para o argentino, a produção em respeito ao meio ambiente é fundamental. Não teríamos podido crescer nos últimos 20 anos porque pescamos mal: crescemos porque pescamos bem. E para isso, se necessita pesquisar e investir. Podemos dizer ao consumidor que ele é capturado em total equilíbrio

com o meio ambiente e pescar melhor implica pescar mais. Quando se pesca bem, se pode pescar mais, assim como quando se foca na captura de tamanho adulto e grande, também se pesca melhor. É uma das mensagens que queremos passar ao mundo. Como o senhor vê essa questão de exploração massiva de recursos pesqueiros na região por barcos chineses? O que o Estado argentino pode fazer a respeito? Qualquer incursão ilegal em nossas águas nós iremos sancionar conforme a Convemar [Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar]. E de fato nos ocorreu, há dois anos, ter três capturas ao final de uma safra de um barco de bandeira portuguesa e dois de bandeira chinesa. Fizemos como pede a lei: capturamos os barcos, os multamos e foram liberados após o pagamento da multa.

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Os barcos que estão na milha 201 não são apenas chineses: há de muitos países e, posso te dizer que para o caso da lula [calamar], claramente há mais barcos asiáticos. Mas na captura de merluza, há muitos barcos europeus, espanhóis e portugueses, capturando volumes muito importantes que estão em crescimento nos últimos anos. Não se trata de apenas um país, mas uma grande quantidade de países que pesca na milha 201. O diálogo entre os países é constante e a possibilidade de discutir mecanismos jurídicos nunca se apaga ou se esgota. No ano de 2020, enviamos um projeto de lei que agravou notavelmente o valor de sanções por pesca ilegal: qualquer barco que ingresse ilegalmente em nossas águas, o agravamento é 30 vezes superior à sanção, que equivale a 3 milhões de litros de combustível - e se é reicindente a 6 milhões. Além disso, incorporamos três barcos patrulheiros e mais um este ano - um barco de tecnologia francesa capaz de detectar incursões a muitas milhas de distância. O tema ocupa o Estado nacional e vamos defender nossa soberania sobre nossos recursos.

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Temos um papel compartilhado que é o de alimentar o mundo e hoje, vou embora com uma perspectiva muito boa do Brasil. Eu tinha uma sensação antes de me juntar às autoridades brasileiras e de nos juntarmos aos empresários brasileiros, agora tenho outra. Pudemos planejar vários objetivos para harmonizar os protocolos e que as distintas posições se encontrem. Creio que nas próximas semanas teremos como pavimentar este caminho.

Sabemos que podemos ampliar não apenas em termos de volume, mas de espécies. Somos capazes de cultivar produtos como a truta arcoíris, mexilhão, ostras, vieiras, pacu, e a tilápia, que também está em nosso horizonte. Este ano, estamos próximos a iniciar as primeiras exportações de trutas argentinas, cultivadas sem antibióticos na Patagônia - estamos pensando em exportar 10 mil toneladas em quatro anos. Já neste ano, exportaremos 2 mil, no ano que vem 5 mil e assim por diante.

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Nas últimas semanas [especialmente em março], tivemos problemas com a comercialização de merluza a partir da mudança de alguns mecanismos de fiscalização nas fronteiras do Brasil [reinspeção na entrada e não no SIF de destino]. Tivemos uma reunião com o novo ministro de Agricultura do Brasil, Marcos Montes, com o ministro de Agricultura da Argentina, Julián Domínguez, e o secretário da aquicultura e pesca, Jairo Gund. Sendo assim, tivemos um espaço muito construtivo, reconhecemos a irmandade que temos entre os dois povos que nos leva a potencializar os negócios de nossas empresas.

“A pesca e o comércio da Argentina cresceram em todo o mundo. Este nível de crescimento não se vê refletido na comercialização entre empresas argentinas e brasileiras.”


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Água Tecnologia para pesca e criação Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

Dieta nova na área

No flow das esteiras

Uma dieta que substitui os rotíferos, alimento usado pela grande maioria das espécies de peixes marinhos cultivados, é a grande novidade da INVE Aquaculture. A linha de ração Natura pRo e ExL é o resultado de anos de pesquisa da empresa que possibilita aos incubatórios diminuírem seus usos de rotíferos em mais de 50%. Além de melhorar a qualidade dos alevinos e seu índice de sobrevivência, a nova linha ainda traz outros benefícios aos incubatórios como aumento da flexibilidade do sistema de produção e redução dos custos e riscos de produção.

Projetada para quem espera ter uma redução de mão de obra durante o processo de despesca em tanques escavados, a linha de esteiras de despesca da Weemac otimiza o manejo dos peixes, trazendo assim maior agilidade ao dia a dia do produtor. Feita em estrutura de aço galvanizada e com motor de 7 HP, o equipamento possui capacidade de peso de 200 kg e de 20 kg por caixa. A linha está disponível em comprimentos de 6 m, 8 m e 10 m, mas também pode ser personalizada no tamanho desejado pelo usuário.

Vacinadora Made in Brasil

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A MSD Saúde Animal lançou em março aquela que é considerada a primeira máquina de vacinação automática de tilápias 100% brasileira. Trata-se da AutoFish DC 5000, equipamento que tem capacidade de operar até 5 mil peixes por hora e gerar um aumento de mais de 316,6% na capacidade produtiva da atividade quando comparada com a vacinação manual. Ainda segundo a empresa, a nova solução, além de visar o bemestar dos animais, também traz mais segurança e padronização ao processo de vacinação e à contagem das tilápias.

Para sondar o ambiente O Aqua Troll 600, sonda multiparamétrica personalizável, é o destaque da In-Situ do Brasil. Combinando sensores de qualidade de água, a solução tem a capacidade de coletar e analisar dados como qualidade da água, oxigênio e outros parâmetros usando o aplicativo VuSitu Mobile. Impermeável em águas subterrâneas e resistente à corrosão em águas salinas, o Aqua Troll 600 ainda possui sistemas antiincrustantes ativos e tela de status de LCD de leitura rápida para indicadores visuais de prontidão geral.

Incubatórios mais equipados As incubadoras para laboratório e alevinagem são os destaques da Trevisan para a aquicultura. Segundo a empresa, os equipamentos são pensados para atender às mais específicas necessidades de produção e oferecer aos laboratórios de reprodução desempenho e qualidade. Com tela fixa e parte interna lisa que impede o depósito de sujeiras no interior, as incubadoras ainda possuem saída na bandeja com calha e tem capacidade entre 60 litros e 200 litros.


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Marketing & Investimentos

Retomada com suor Na esteira de uma Quaresma com alta no custo de produção, bons resultados para o fresco e dificuldades com os congelados, setor retorna às feiras de negócios no Brasil e no exterior Texto: Ricardo Torres

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resultado das vendas da Semana Santa em 2022 mostra tudo, menos unanimidade. O encaixe no mercado de produtos oriundos da aquicultura no fresco salvou o desempenho de alguns fornecedores, enquanto outros lutaram para repetir o mesmo desempenho dos congelados de todas as origens nos anos pandêmicos. As grandes redes de varejo tentaram driblar a inflação e a indisponibilidade de alguns produtos, como a merluza, para manter ofertas promocionais no período. Mesmo antes da Páscoa, a análise da importação nos três primeiros meses do ano já sinalizava uma diminuição no ritmo da atividade. As compras externas caíram 26,1% em volume, conforme o Painel do Pescado, embora o gasto médio com os produtos importados tenha subido 59,6%. Do outro lado da balança comercial, a tilápia caminha rapidamente para se situar no topo do ranking de itens despachados ao exterior, puxando o crescimento de 36,2% nos volumes embarcados.

A deterioração da economia brasileira e a base alta de consumo costurada em 2020 e 2021 afetaram o desempenho. Fevereiro de 2021 representou o melhor mês das importações em quatro anos, com mais de 40 mil toneladas; já este fevereiro foi o pior mês dos quatro trimestres anteriores, com 28 mil toneladas. As dificuldades ajudam a explicar por que a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) calcula uma diminuição nas vendas de 17% no balanço da Quaresma. “As vendas de pescado congelado e fresco oriundo das indústrias tiveram um declínio em relação ao boom de vendas dos anos 20/21”, disse à Seafood Brasil o presidente da entidade, Eduardo Lobo. “No atual cenário, com tudo aberto e várias opções de alimentos, além de uma redução da renda familiar pelo aumento geral de custos e preços, o consumidor é conduzido a escolher proteínas mais baratas.” Uma das associadas da entidade, a Crusoe Foods aponta a dificuldade

das indústrias em repassar os aumentos aos clientes. “A Quaresma foi boa, pois conseguimos alcançar a meta de vendas do primeiro trimestre - mas o custo tem subido bastante. Então, há um repasse que estamos tentando fazer aos clientes ou a conta não fecha”, sublinha o controller da empresa, Fernando Botelho. A conta não fechou nem para o grande varejo. Fontes consultadas pela Seafood Brasil indicam que o faturamento desta Quaresma até o Domingo de Páscoa foi praticamente anulado pela inflação dos itens mais relevantes para a categoria. Em uma das redes consultadas, o volume de congelado caiu 8,8% com uma inflação de 17%, enquanto os itens resfriados subiram 9,10% e uma alta nos preços de 3%. Lino Francisco Faccina, representante comercial da New Fish, crava: “Esta foi a Páscoa do peixe fresco.” Para ele, o êxito dos itens resfriados foi grande, principalmente das espécies provenientes da aquicultura. “De fato, tivemos uma venda muito expressiva no período.


A Frumar foi outra indústria que sentiu as agruras da baixa variedade de espécies em volume relevante. “A Páscoa foi organizada dentro do

2019

2020

2021

2022

40k

30k

20k

10k

0

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

que nos programamos, apesar das poucas variedades de peixe - o filé de peixe nacional, por exemplo, havia pouquíssima oferta”, sinaliza o diretor, Ederson Krummenauer. “Sendo assim, nossa base foi tilápia, salmão, cação, panga e camarão. Também tivemos

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

bastante dificuldade na questão da merluza e com peixes mais baratos”, complementa. Ainda assim, a Frumar foi uma das que celebrou o resultado positivo: o volume foi 35% superior ao da Páscoa do ano passado, com faturamento 60% maior.

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A falta de diversidade dos peixes marinhos foi motivo de preocupação. “O extrativismo deixou muito a desejar em termos de sortimento, faltou muito item, como robalo e namorado”, conta Faccina. Outra estratégia foi usar o descongelamento técnico para ofertar produtos estocados, como corvina e tainha. “Assim, contornamos a falta de produto e não sentimos tanto a elevação dos custos.”

IMPORTAÇÃO MENSAL DE PESCADO 2019-2022 | TON/MÊS

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Vendi muito pacu, pintado, pirarucu e tambaqui. Aliás, até essa espécie [tambaqui] faltou no mercado.” O executivo confirma que a tilápia foi o carro-chefe do ano em termos de volume para a New Fish, mas poderia ter sido ainda melhor. “Faltou muito produto acabado, como filé de tilápia. No final, muita gente queria filé e os principais fornecedores não tinham.”


Marketing & Investimentos

A volta do supermercado do autosserviço Feira Apas Show retorna ao formato presencial com todos os pavilhões do Expo Center Norte repletos, apesar de número mais discreto de expositores de pescado

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a turbinada edição de 2022, a Apas Show vai lançar mão de toda a estrutura do Expo Center Norte, em São Paulo (SP), para acolher mais de 800 expositores nacionais e internacionais. Após dois anos em um limbo que parecia eterno, a feira volta com números superlativos. Entre os dias 16 e 19 de maio, em torno de 100 mil visitantes devem percorrer o espaço com uma área total de exposição de 75 mil m2. No entanto, o pescado terá uma participação mais discreta que anos anteriores: serão 24 stands com empresas concentradas nestes itens [a seguir, confira o mapa completo da feira atualizado até 08/04]. No auge da presença do pescado na maior feira de supermercados da América Latina,

em 2015, havia mais de 50 expositores com itens de pescado no portfólio. Isso correspondia a aproximadamente 8% da feira, um número importante dada a discreta participação da peixaria entre as categorias dos supermercados. Os espaços neste ano foram bastante disputados. A edição de 2022 está praticamente vendida desde 2019 e os expositores que decidiram entrar neste ano tiveram de contar com a sorte ou a desistência de algumas empresas. Foi o caso da Frumar. “Fechamos a Apas no final de março, faltando pouquíssimos estandes”, conta o diretor, Ederson Krummenauer. Atualmente com 90% das operações focadas no food service, a empresa quer usar a feira para apresentar ao varejo nacional uma nova linha de produtos para supermercados. “[Esta linha] hoje é conhecida apenas no Sul; no restante do País, somos conhecidos como atacadistas - fornecedores para distribuidores e indústrias.” Estreitar o contato presencial com o segmento supermercadista também é a intenção da Crusoe Foods. Segundo o controller, Fernando Botelho, a participação no evento no início deste pós-pandemia gera muita expectativa. “Nossa intenção é apresentar alguns produtos novos que traremos ao mercado e ver como estará de público. Normalmente, conseguimos ter alguns negócios feitos ali na feira. Afinal, é bom voltar a estas atividades”, celebra.

Neste ano, veremos a estreia na Apas da indústria de camarão pernambucana Carapitanga, que reservou o único stand de pescado do pavilhão amarelo. A empresa fechou recentemente um acordo com o BIG Bompreço, que marca a diversificação para além do food service. Será também a primeira Apas da Seara Alimentos como uma marca de pescados, cuja linha já conta com 24 itens. Na briga pelo protagonismo com a tilápia, as cooperativas assumiram a dianteira no evento: C.Vale, Copacol, Cooperativa Lar, Frimesa e Aurora levarão suas soluções com o peixe de crescimento produtivo mais rápido dos últimos anos. Nenhum dos outros players nacionais dedicados à tilapicultura resolveu ou conseguiu participar da Apas em 2022. Outra ausência sentida é das empresas chilenas de salmão. Com exceção da Blumar, que virá junto ao estande do ProChile, nenhuma outra companhia salmoneira terá estande exclusivo na Apas. De acordo com a nossa apuração, o custo elevado da feira, a falta de foco no pescado e a preponderância das vendas do produto no food service podem ter interferido na decisão. Melhor para o Alaska Seafood Marketing Institute, que seguirá gerando muito ruído nos corredores do evento com o urso Nanook e a oferta de salmão e polaca selvagem.


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Marketing & Investimentos

ÁREA DE EXPOSIÇÃO: 75 mil m² ATUALIZADA EM 08/04

16 A 19 DE MAIO DE 2022 EXPO CENTER NORTE - SÃO PAULO (SP)

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Procure pelo peixinho!

Navegue entre os peixinhos do mapa e as tabelas acima para encontrar as empresas que ofertarão pescado na Apas Show 2022. Até o fechamento desta edição, não pudemos confirmar as empresas que representarão cada país, mas as localizações estão indicadas na tabela ao lado.


ESTANDE

PAVILHÃO

RUA

EMPRESA

1

110

AZUL

B/2

Alaska Seafood Marketing Institute

2

158

AZUL

A/6

Masterboi

3

179

AZUL

C/D/8

Bom Porto

4

311

CINZA

J/7

Riberalves

5

348

CINZA

G/11/12/13

Chile ProChile

6

361

CINZA

G/15/13/12

Argentina Fundación ExportAR

7

387

CINZA

I/18

Di Salerno

8

505

VERDE

K/L/6

Aurora Alimentos

9

522

VERDE

O/13

Frimesa

10

523

VERDE

L/9

Copacol

11

527

VERDE

J/K/11

Soguima

551

VERDE

O/15

Cooperativa Lar

13

557

VERDE

M/16

Opergel

14

568

VERDE

M/15

Pif-Paf

15

570

VERDE

O/18

GT Foods

16

579

VERDE

L/20

Bom Peixe

17

581

VERDE

M/20

Crusoé Foods

18

666

VERDE

J/K/L/21

Seara Alimentos

19

768

VERMELHO

P/O/12

Mar & Rio

20

799

VERMELHO

R/S/16

C. Vale

21

801

VERMELHO

P/O/18

Korin

22

810

VERMELHO

Q/19

Frumar

23

823

VERMELHO

O/21

Golden Foods

24

1098

AMARELO

D/3

Carapitanga/ Qualimar

12

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LISTA DE EXPOSITORES DE PESCADO


Marketing & Investimentos

Brasil é notícia nos EUA Apex-Brasil leva 11 empresas para feira de Boston e dá contornos mais nítidos à estratégia de ser um grande fornecedor de pescado para o mercado norte-americano

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ão deu no New York Times, como na música de Jorge Ben, mas quase. O Brasil foi notícia nos principais veículos do pescado no mundo durante a última Seafood Expo North America, diante do forte crescimento das exportações de tilápia e do aumento da participação brasileira na pauta importadora de pescado dos Estados Unidos. No ano passado, o Brasil exportou aos EUA 24 mil toneladas, volume equivalente a US$ 217 milhões - 57% a mais do que os norte-americanos gastaram em 2020. Os distribuidores daquele país compram no exterior em torno de 80% do pescado que consomem, especialmente camarão, produtos premium para o food service (como atum e pargo) e filés brancos para o varejo. Esse match entre oferta e demanda naturalmente já posiciona o Brasil como um competidor forte, mas que até então não tinha preço, volume, certificações ou espaço para produtos como a tilápia - normalmente trazida da América Central ou da China. A análise dos dados do Painel do Pescado, porém, mostra o rápido avanço dos volumes aos EUA.

termômetro ideal da ascensão. O gestor de agronegócio da ApexBrasil, Alberto Carlos Bicca, confirma. “Eventos como a Seafood nos permitem ganhar mais visibilidade e reconhecimento e explorar mais opções do mercado internacional. A longo prazo, esperamos uma contínua internacionalização e exposição dos pescados brasileiros. Será possível alcançar US$ 1,5 bilhão de exportações para os Estados Unidos”, prevê. O stand da ApexBrasil representou o ponto de encontro para a delegação brasileira no evento, que contou com 17 empresas e instituições abrigadas no espaço. Durante a feira, a Zaltana anunciou o embarque de um contêiner de 40 pés com uma mescla de cortes de tambaqui e pirarucu para testes no mercado norte-americano. Que esse seja o primeiro negócio de muitos que virão e que consigamos apresentar o tambaqui de Rondônia, da Amazônia e de Ariquemes para todo mundo”, contou Bruno Leite, sócio da Zaltana. A primeira venda da empresa é totalmente voltada para o varejo, mas as expectativas futuras também são para as vendas em atacado.

A feira de Boston, realizada entre 13 e 15 de março, foi outro

O saldo também foi positivo para as outras empresas brasileiras. Vinicius

EXPORTAÇÃO DE PESCADO AOS EUA - 2019 A 2022 | TON/MÊS

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 16

2019

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2021

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3000 2500 2000 1500 1000 500 0

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Mar

Abr

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Jul

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Set

Out

Nov

Dez

Orsi, da trading Ayamo, por exemplo, constatou um grande interesse internacional nos produtos brasileiros, especialmente a tilápia. Um dos maiores fornecedores do produto ao mercado externo, a Copacol, confirmou o surgimento de “muitas oportunidades de negócio”, como disse o trader da empresa Tiago Anderle. Já Juliano Kubitza, da Fider Pescados (MCassab), lamentou as ausências de chineses e russos, mas manifestou boas expectativas para a tilápia brasileira, assim como a GeneSeas, que anunciou ter recebido mais de 30 novos clientes com intenção de comercializar internacionalmente os produtos da empresa nos próximos meses. “Este momento é muito oportuno para crescermos por aqui. Há tempos a tilápia brasileira é uma potência entre os produtos frescos, mas agora estamos também expandindo nossa atuação no segmento de congelados”, afirma o CEO, Vicente Criscio. A empresa também consolidou na feira a sua nova estratégia para a Tropical Aquaculture Products, uma das principais distribuidoras de peixes e frutos do mar nos EUA, que foi adquirida em 2020 pela GeneSeas e passa a ser gerida por Criscio desde o Brasil.


“We’re coming for you” D

urante os três dias de Seafood Expo North America, o estande brasileiro esteve movimentado e foi o palco da tentativa de mostrar como o Brasil quer ajudar a saciar o crescente apetite dos EUA por pescado.

CRÉDITO DAS FOTOS: Elizabeth Padalino (especial para a Seafood Brasil) e acervo pessoal

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01

Jhessica Magalhães e Aline Gonçalves (Allmare)

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Glauco Hassmann e José da Silveira Jr. (Blaze Comex)

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Francisco Medeiros (PeixeBR), Alexandre Vasto e Juliano Kubitza (Fider Pescados), Jorge Seif Jr. e Natali Piccolo (SAP/Mapa)

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Thais Carnevalli e Lucio Moreira Pinto (Coprimar/Mar & Terra)

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Julio Iglesias (Produmar) e Cadu Villaça (consultor)

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Altemir Gregolin (IFC) e Mariusha Gondim (Icapel)

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Michael Rinelli, Alberto Bicca e Cássio Lunas Akahoshi (ApexBrasil)

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Carlos Mello e Christiano Lobo (Abipesca)

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Valdemir Paulino (Copacol) e Louis Bais (Sure Good Foods)

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Arimar França Jr. (Produmar) e César Calzavara (consultor)

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Jean Carlos e Raquel Maísa Jung (Cais do Atlântico)

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Rayana França e Arimar França (Produmar)

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Gustavo Faria (Lex Experts) e Vinícius Zucco Orsi (Ayamo)

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Alfredo Nasser e Leônidas Gondim (Icapel)

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14

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Marketing & Investimentos

Vanguarda chilena Brasil fica entre as seis maiores nações visitantes da Aquasur, maior feira de tecnologia aquícola da América do Sul

O

utra feira que retornou em 2022 após o limbo pandêmico foi a AquaSur, realizada entre 02 e 04 de março na capital chilena do salmão, Puerto Montt. O evento teve mais de 20 mil m2 de superfície de exposição, com 268 empresas expositoras - um aumento de 14% sobre a edição anterior, em 2018, segundo a organização. O alívio do reencontro presencial foi traduzido por uma pesquisa com o público: 68,24% dos expositores consideraram o presencial “insubstituível”, enquanto entre os visitantes a porcentagem subiu para 91%. Outro dado relevante é a participação brasileira no evento: o

Brasil esteve entre os top 6 visitantes do evento, junto a Chile, Noruega, USA, Dinamarca e Espanha. As empresas expositoras, no entanto, foram basicamente chilenas: 90% são sediadas naquele país. Os expositores apresentaram inovações tecnológicas voltadas à integração homem-máquinasoftware da aquicultura 4.0, de modo a automatizar processos e incrementar a eficiência na produção. A feira também serviu para consolidar o posicionamento da indústria salmoneira chilena de melhorar o relacionamento com a

Divulgação/AquaSur

comunidade e o meio ambiente. Entidade que reúne o maior número de empresas do segmento, a SalmonChile anunciou o intuito de converter o Chile no maior fornecedor mundial de reciclagem de redes de pesca e de aquicultura, que ainda geram grande quantidade de resíduos nas praias.

Às portas do Oriente Médio Gigantes brasileiras da proteína levam pescado à Gulfood como parte do portfólio

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A

27ª edição da feira de alimentos e bebidas mais importante do Oriente Médio e do Norte da África teve pescado brasileiro. JBS, Copacol, C.Vale e Bello Alimentos incluíram os itens de pescado no mix de soluções que levaram à Gulfood, no intuito de apresentá-los aos clientes da região. Entre 13 e 17 de fevereiro, elas se somaram a mais de 4.000 empresas de 120 países interessadas no pujante mercado de proteínas dos Emirados Árabes Unidos. O consultor e executivo da Hipra, João Felipe Moutinho Sant`Anna (na foto), respondeu a um convite da certificadora Cdial-Halal e foi ao Dubai

World Trade Centre (DWTC), onde pôde sentir o interesse pela aquicultura brasileira. ”A aquacultura do Brasil hoje está se preparando, verticalizada, com empresas bem estruturadas, produtos bem elaborados e padronizados. É o momento de chegar em uma feira como essa e começar a se posicionar”, disse em vídeo enviado à Seafood Brasil. O gerente de exportações da Bello Alimentos, Cristiano Paludo, confirmou o interesse no segmento. Ele afirmou a Moutinho que a empresa pretende investir “forte nesta verticalização de proteínas

Acervo Pessoal/João Moutinho

que fazem muito sentido no Brasil”. A incorporação recente da Mar & Terra e Coprimar para diversificar a atuação, antes muito concentrada nas aves, comprova isso. Casos similares da C.Vale e Copacol, que também estiveram presentes no evento.


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Caiu na Rede As notícias mais importantes de nosso site no último bimestre

São Paulo adere ao SISBI-POA para o pescado

Em março, o Serviço de Inspeção Estadual de São Paulo (SISP) aderiu ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBIPOA), o que corrige algumas distorções e possibilita que os produtos fiscalizados pelo SISP possam ser comercializados em todo o País. À época, Roberto Imai, diretor da Divisão de Pescado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (COMPESCA/ FIESP) comentou o fato à Seafood Brasil. “Agora, o consumidor brasileiro tem outras opções de produtos de peixes. Já as empresas paulistas ganham competitividade, pois poderão vender para o Brasil inteiro”, apontou.

Potiporã projeta salto de produção de até 50% em 2022 Após finalizar 2021 com aumento de 25% nas vendas em relação ao ano retrasado, a Potiporã projeta aumento na produção de 2022 em torno de 30% a 50%. Apesar da sazonalidade do começo do ano, as boas vendas no fim do ano passado e as novas tendências garantem as projeções otimistas para este ano, como o aumento de produção do camarão eviscerado, produto de maior valor agregado. “Nossa venda para este produto mais do que dobrou”, comenta a diretora, Christianny Maia.

Abipesca e Embrapa fecham parceria

A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) e a Embrapa Pesca e Aquicultura anunciaram uma parceria para receber, discutir e entender as demandas técnicas dos associados e elaborar propostas de projetos que apoiem toda a cadeia produtiva do pescado. Segundo Carlos Mello, diretor técnico da Abipesca, a parceria é importante para aprofundar o desenvolvimento industrial brasileiro. “Agora, temos tudo para avançar e consolidar o nosso setor no Brasil e para sermos competitivos mundialmente.”

Marel adquire Wenger e entra em segmento de extrusão de rações

A Marel, fabricante de equipamentos de processamento de alimentos, anunciou um acordo para adquirir a Wenger Manufacturing, fornecedora de soluções de extrusão de alimentos para nutrição de animais de estimação, animais terrestres ou aquáticos, proteínas vegetais e alimentos ultraprocessados. O investimento total para a aquisição é de US$ 540 milhões. A aquisição representa a criação de um quarto segmento de negócios à Marel, além de aves, carnes e peixes, que deverá contribuir com cerca de 10% da receita total da Marel e 12% do EBITDA.

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Brasil segue sem saber a situação de mais de 90% das espécies pescadas

Os resultados da Auditoria da Pesca 2021 da Oceana, divulgados em março deste ano, apontam que apenas 8 dos 117 estoques pesqueiros têm seu status conhecido, sendo impossível identificar um quadro geral sobre as situações de pesca excessiva (sobrepesca) e prejudica a capacidade da autoridade pesqueira de equilibrar o uso e a conservação dos recursos pesqueiros. Apesar dos limites de captura serem ferramentas importantes para manter a produção em níveis sustentáveis, a auditoria constatou que a medida ainda não é adotada para quase nenhuma das espécies marinhas exploradas – 96% dos estoques pesqueiros não tem Planos de Gestão.


Zaltana comemora primeira venda de tambaqui e pirarucu aos EUA na SENA

O POST MAIS LIDO EM NOSSO INSTAGRAM – FEV/MAR 2022 Confira o post na íntegra lendo esse QR Code:

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O embarque de um contêiner de 40 pés com uma mescla de cortes de tambaqui e pirarucu para testes no mercado norteamericano foi anunciado pela Zaltana Pescados. O negócio, que foi a primeira venda da empresa para os EUA, foi fechado na Seafood Expo North America, em março, e teve foco totalmente voltado para o varejo. Segundo Bruno Leite, sócio da Zaltana, as expectativas futuras é que novos negócios também sejam feitos para o atacado e o food service.


Na

Planta

turbulência, a entrada do produto na parte da turbina ainda é vedada por meio de um selo labiríntico. Por fim, a bomba ZMB possui um sistema de acoplamento Bombadur ACDG que dispensa alinhamento.

Tecnologia em processamento de pescado Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

Flexibilidade para baixos volumes O TRFStart é o destaque da Torfresma para quem procura algum paletizador para linhas de baixo volume. Segundo a empresa, a solução é flexível e foi projetada para trabalhar com produtos e mosaicos de diferentes tamanhos justamente por utilizar garra do tipo pinça ou a vácuo. O TRFStart pode ser instalado em áreas de tamanho reduzido e ainda conta com uma estação de carga manual para alimentar paletes vazios ou remover os paletes cheios.

Para o ar fluir livre, leve e solto A Multivac (não confundir com a homônima de embalagens) apresenta seus dutos de ar MPU. A solução utiliza um painel pré-isolado na fabricação dos dutos, tudo para acelerar o processo de fabricação, garantir um isolamento térmico ideal e dar uma circulação mais confortável ao ar. Ainda segundo a empresa, os dutos em painéis MPU possuem grande estanqueidade, além de reduzirem os custos de sustentação por serem mais rígidos e cerca de 20% mais leves que os dutos tradicionais.

Nos embalos do flowpack

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Centrifugando o gelo Projetada especialmente para refrigeração industrial, a bomba centrífuga de uma etapa ZMB da Bombadur conta com um sistema de câmara de desgaseificação que não permite a formação de bolhas e a eventual cavitação. De acordo com a empresa, para evitar

Agilidade, praticidade e produtividade na hora de embalar itens de pescado como o salmão. Essas são as promessas que a Ulma Packaging espera cumprir com a Sienna, máquina embaladora Flowpack horizontal. Com três soldas, a solução realiza embalagens tipo almofada, além de incorporar

desenvolvimentos pensados especialmente para produtos considerados irregulares ou de difícil arraste.

Temperatura firme na produção O condensador evaporativo da Engefril é um equipamento de refrigeração pensado para indústrias que precisam garantir estabilidade térmica. A solução possui baterias de serpentinas construídas em tubo de aço carbono diâmetro de 25,4 mm e testadas a uma pressão de 25kgf/cm². Já os tubos são inclinados em direção ao coletor de saída do condensador para facilitar a drenagem do óleo e diminuir a quantidade de refrigerante nas serpentinas. Por fim, o condensador vem com um conjunto de motobomba centrífuga tipo monobloco, com motor blindado e montado em posições que procuram facilitar o acesso para manutenção.

Combinando tratamentos A Vibropac traz ao mercado uma solução para indústrias que se preocupam em como tratar seus efluentes: a Unidade Combinada – VUC. Desenvolvida para a aplicação em pré-tratamento de efluentes, o equipamento possui capacidade de 400 I/s e pode integrar de duas a três funções, como peneiramento, desarenação, e remoção de óleos e gorduras. Segundo a empresa, as Unidades Combinadas são fornecidas em módulos para facilitar a montagem e reduzir os custos de obra civil e área de instalação.


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Despescando a evolução Avanços da piscicultura se refletem na nova fase exportadora da aquicultura brasileira, que acelera a busca de tecnologia produtiva com vistas ao ganho de performance - com benefícios também ao mercado interno

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Texto: Fabi Fonseca | Edição: Léo Martins e Ricardo Torres

O

s discursos do peixe como proteína do futuro e o Brasil como um dos principais fornecedores mundiais do produto ganharam corpo nos últimos anos. É evidente que o País cada vez mais consolida a posição no rol de alternativas para alimentar os 9,7 bilhões de pessoas que seremos em 2050, principalmente em razão do rápido crescimento da aquicultura.

Avanços tecnológicos, institucionais, científicos e crescentes investimentos do exterior subsidiam a nova fase exportadora da tilapicultura brasileira, que abre cada vez mais caminhos para outros produtos aquícolas e pesqueiros. “A piscicultura passa nesse momento por um processo de evolução numa velocidade muito mais rápida do que aconteceu com as outras proteínas

de origem animal, principalmente aves, suínos e ovos. Esse processo acontece por conta da paralisação do segmento no Brasil durante décadas e as oportunidades surgiram muito rapidamente. Ou seja, é tudo muito recente”, conta o diretor-presidente da PeixeBR, Francisco Medeiros. Segundo Medeiros, nos últimos anos os arranjos produtivos têm ficado


Apesar da pandemia da Covid-19, aquicultura brasileira segue crescendo ano a ano e atingiu 841.005 toneladas produzidas em 2021

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Medeiros também enxerga que há cada vez menos espaço para a produção fora da legislação ambiental e sanitária. “Hoje, ainda temos uma grande quantidade de peixes sendo produzidos e comercializados sem essa segurança legal, principalmente na região Norte e Nordeste. Essa é uma realidade em que trabalhamos para que mude o mais rápido possível e para que possamos efetivamente nos transformar em um grande produtor de proteína à base de peixe”, projeta Medeiros.

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mais claros para o setor privado, estimulando investimentos. “Nós estamos sim no processo de evolução. É uma ebulição efetiva do setor, mas de maneira ordenada porque sabemos hoje quais os modelos de negócios que têm sucesso na política atual. Há alguns anos, cinco ou sete anos atrás, isso não era tão bem definido. Agora sim”, completa. “É fundamental para que esse crescimento que acontece hoje na piscicultura, e mais especificamente da tilapicultura, seja consolidado dentro de todos os parâmetros de legalidade. Nós estamos vivendo num mundo em que os relacionados à sustentabilidade são extremamente importantes. Principalmente as questões relacionadas ao meio ambiente, social e econômico”, pontua.

Acervo/Seafood Brasil

Acervo/Seafood Brasil

Evolução da aquicultura nacional vista nos últimos anos é sustentada, sobretudo, por avanços tecnológicos, institucionais, científicos e os crescentes investimentos do exterior


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A regularização da criação em águas públicas, de fato, aparece entre as principais demandas do setor. A coordenadora-geral de aquicultura em Águas da União da Secretária de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Juliana Lopes da Silva, ressalta que entre os anos de 2019 e 2021, a gestão da SAP trabalhou para adequar ações que viabilizem o desenvolvimento sustentável da atividade em Águas da União para “dar segurança jurídica para o setor produtivo, gerando emprego e renda”, fala.

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A mudança que proporcionou maior celeridade a todos os processos foi a alteração da Lei 9636/98, que dispõe sobre a regularização, administração, aforamento e alienação de bens imóveis de domínio da União, retirando a obrigatoriedade da licitação quando se tratar de Águas da União para fins de aquicultura. Também foi publicado o Decreto 10.576/2020, que dispõe sobre a cessão de uso de espaços físicos em corpos d’água de domínio da União para a prática da aquicultura, além da Portaria SAP/MAPA nº 412/2021, que estabelece procedimentos complementares para a cessão de uso dos espaços físicos em corpos d’água de domínio da União para fins de aquicultura. Ainda, foi publicada a Portaria conjunta SAP/MAPA - SPU/ SEDDM/ME nº 396/2021 que melhora os procedimentos operacionais entre a SAP e SPU para cessão de uso de Águas da União para fins de aquicultura. Já a lista de demandas necessárias para a consolidação da piscicultura no Brasil conta com outro grande vilão: o licenciamento ambiental. “Acredito que a maior dificuldade no desenvolvimento da atividade hoje não está ligada à SAP e sim aos órgãos estaduais de meio ambiente, pois o maior gargalo da atividade é o licenciamento ambiental”, pontua Juliana Lopes.

Em fevereiro deste ano, durante o webinar “Norwegian Brazilian Aquaculture Summit”, Francisco Medeiros reforçou o marco regulatório ambiental como o principal desafio que os brasileiros vão enfrentar até o final da década para consumirem pescado dentro ou bastante próximo a média per capita mundial - atualmente em torno de 20,5 kg. “Especificamente, a maior parte dos produtores, e posso falar a nível Brasil, ainda não tem o seu licenciamento ambiental”, falou à época. Neste caso, há impacto no sistema financeiro nacional que financia a produção no Brasil e tradicionalmente do agronegócio porque, como lembra Medeiros, “há exigência do licenciamento ambiental para liberação de recursos aos Estados e aos produtores.” Na tentativa de facilitar esse entrave, em janeiro deste ano, o governo federal, junto à Caixa Econômica Federal, anunciou novidades para o crédito de aquicultura contempladas no Plano Safra. O governo informou que o imóvel onde está localizada a piscicultura não necessita estar legalizado no âmbito fundiário e o produtor pode oferecer outro imóvel para garantia do empréstimo. Já o restante segue as regras do mercado financeiro e, principalmente, a manutenção da necessidade de licenciamento ambiental. “É um avanço na área de financiamento. Agora, o setor vai continuar a trabalhar para derrubar a exigência do licenciamento ambiental da piscicultura como pré-requisito do financiamento, pois esse é o maior gargalo de acesso ao crédito no Brasil”, comentou Medeiros à Seafood Brasil. Em outra frente, em tramitação desde o ano passado, o projeto de lei (PL 9/2021) do senador Zequinha Marinho (PSC-PA) busca dispensar empreendimentos aquícolas de pequeno e médio portes da obrigatoriedade do licenciamento

ambiental. A proposta altera a lei que estabelece a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca (Lei 11.959, de 2009) e regula as atividades pesqueiras com a justificativa de que a prática ainda sofre com “excessiva carga tributária e entraves burocráticos”, disse o senador. Conforme a PL, para serem considerados empreendimentos de pequeno e médio portes, eles também terão que se enquadrar em regras definidas. “A dispensa de licenciamento não exime os empreendimentos aquícolas da observância das normas ambientais, tampouco suprime a competência fiscalizatória do órgão ambiental competente. Ela apenas desburocratiza a instalação e operação desses empreendimentos”, finaliza o senador. No entanto, é importante lembrar que a questão de licenciamento ambiental ganhou novos capítulos, depois que a Lei complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011 do Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi promulgada: agora, a responsabilidade desse assunto foi

Arquivo Pessoal/Divulgação

Institucional destravado

Juliana Lopes da Silva pontua que o maior gargalo da atividade no Brasil é o licenciamento ambiental


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Uso de Águas da União vem se expandindo no País De acordo com dados do Boletim Aquicultura em Águas da União 2020 da SAP, que apresenta as principais informações do Relatório Anual de Produção (RAP), a piscicultura em Águas da União vem se expandindo no País. Conforme a publicação, foi registrado no ano de 2020 o aumento de 16% na produção declarada - passando de 61.371 toneladas em 2019 para 71.512 toneladas no ano seguinte. Em 2020 também foram assinados 114 contratos de cessão para produção em Águas da União - nos anos anteriores, foram assinados 80 contratos (2018) e 46 contratos (2019). Segundo o documento, as principais espécies de interesse econômico cultivadas no País, foram: a tilápia (70.111 toneladas), o pacu (738 toneladas), o tambaqui (296 toneladas), o tambacu (170 toneladas) e o piauçu (150 toneladas). Outras espécies também vêm sendo cultivadas no Brasil, porém, em quantidades menores, como é o caso do matrinxã, pirapitinga, dourado e bijupirá. Juntas, essas espécies somaram 47 toneladas produzidas em Águas da União no ano de 2020.

transferida para os Estados. E isso engessa mais ainda mais esse gargalo. “A maioria dos Estados brasileiros não tinha legislação a respeito. E alguns nem se preocuparam em fazer e outros que se preocuparam, fizeram de uma maneira que praticamente viabiliza o negócio”, explica Medeiros. Segundo ele, hoje, os principais Estados produtores têm uma legislação regular - alguns têm legislações ambientais consideradas “boas”, como Mato Grosso do Sul, Paraná, Tocantins e Mato Grosso. No entanto, Estados importantes para produção, como por exemplo, Minas Gerais, até hoje, ainda tramitam a lei. “No caso do Estado de São Paulo, até tem uma legislação. Porém, os produtores não conseguem atender as exigências da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB)”, informa. “Ou seja, toda essa situação mostra que esse ainda é o principal gargalo para o produtor, haja vista que

não há liberação de recursos se não tiver licenciamento ambiental.” Conforme Medeiros, para ajudar os Estados a resolverem essa questão, a Peixe BR também atua com suporte técnico e assessoria técnica para elaboração de leis e normas.

Tilápia como protagonista Neste momento de ebulição da aquicultura nacional, a estrela da atividade é sem dúvidas a tilápia. A PeixeBR calcula uma produção de 534.005 toneladas em 2021, 63,5% do total - proporção muito próxima à apurada pelo IBGE um ano antes, de 62,3% do total. Embora o apetite do mercado interno continue mais acentuado que o ritmo de crescimento da tilapicultura, as empresas mais estruturadas fincaram o pé no comércio global, com despachos regulares de produto a mercados tradicionais, como

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ESPÉCIES MAIS EXPORTADAS PELO BRASIL | JAN-MAR 2022 2022-kg

2021-kg

var%kg

2022-US$

2021-US$

var%US$

Outros

5.024.580

3.472.306

44,7

29.925.496

14.689.024

103,7

5,956

4,23

Atuns e Afins

3.403.321

3.209.808

6

16.456.758

13.029.121

26,3

4,835

4,059

19,1

Tilápias

1.941.992

471.976

311,5

6.386.208

1.735.183

268

3,288

3,676

-10,6

Corvina

1.270.258

1.137.831

11,6

2.501.160

1.706.327

46,6

1,969

1,5

31,3

Pargos

894.098

583.941

53,1

8.635.028

3.904.789

121,1

9,658

6,687

44,4

Subprodutos

377.014

249.338

51,2

4.446.334

4.068.913

9,3

11,794

16,319

-27,7

Cavalinhas

280.106

25.602

994,1

453.929

153.017

196,7

1,621

5,977

-72,9

Lagostas

267.190

210.536

26,9

9.008.642

5.094.562

76,8

33,716

24,198

39,3

Sardinhas e Sardinelas

147.681

152.404

-3,1

502.670

484.432

3,8

3,404

3,179

7,1

Camarões

119.882

23.781

404,1

878.483

338.090

159,8

7,328

14,217

-48,5

Tubarões e Raias

100.527

171.129

-41,3

460.685

847.910

-45,7

4,583

4,955

-7,5

Tambaquis

27.326

88.717

-69,2

153.702

203.548

-24,5

5,625

2,294

145,2

Salmões e Trutas

12.176

13.430

-9,3

109.202

86.479

26,3

8,969

6,439

39,3

Ovas

9.058

60

14.996,70

114.802

3.136

3.560,8

12,674

52,267

-75,8

Sépias e Lulas

8.676

6.933

25,1

64.950

53.491

21,4

7,486

7,715

-3

Bacalhaus

4.515

1.115

304,9

27.725

8.416

229,4

6,141

7,548

-18,6

Merluzas

3.450

68.967

-95

16.868

199.049

-91,5

4,889

2,886

69,4

Mexilhões

2.191

1.139

92,4

13.492

7.892

71

6,158

6,929

-11,1

Vieiras e Abalones

1.119

965

16

7.653

5.684

34,6

6,839

5,89

16,1

Polvos

995

74.992

-98,7

10.476

356.659

-97,1

10,529

4,756

121,4

Polaca-do-Alasca

734

188

290,4

4.377

1.095

299,7

5,963

5,824

2,4

Ostras

114

47

142,6

774

240

222,5

6,789

5,106

33

Curimatãs

30

237.326

-100

107

392.494

-100

3,567

1,654

115,7

Fonte: Painel do Pescado

2022-Preço Médio 2021-Preço Médio

var%PM 40,8


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No total do ano passado, a comparação da tilápia com outros produtos mais tradicionais da oferta exportadora brasileira já sinalizava que o produto caminhava para se tornar a primeira espécie na pauta exportadora. Nos primeiros três meses do ano a tendência se manteve: a tilápia foi a terceira espécie mais exportada, com uma ascensão proporcional bem mais intensa que os demais produtos: (+311,5% em volume e +268% em receita). Menos barulhento que a tilápia, vem aí o camarão: as diferentes espécies do crustáceo cresceram 404% no trimestre.

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

Os dados constam nos relatórios preparados pelo Painel do Pescado (acesse em: https://bit.ly/relatorios_ pescado). A tilápia brasileira chegou a 44 países até março deste ano. Só aos Estados Unidos, foram despachadas 1.562,49 toneladas de tilápia um aumento de 353,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O perfil de vendas ao exterior também vem mudando: a exportação aos EUA cresceu principalmente na forma de peixes inteiros congelados: 716,7% mais ante os 3 primeiros meses de 2020, para 1.142 toneladas. A receita com tilápias inteiras congeladas chegou a US$ 3,036 milhões, aumento de 1037,7% sobre 2021.

Anteriormente muito focada em filés frescos aos EUA, a tilápia brasileira já é vendida inteira para o mercado norte-americano a preços competitivos

CRÉDITOS: Flickr

os Estados Unidos, mas também a países africanos, como a Líbia - que saiu do 0 em 2021, para 47 toneladas no primeiro trimestre de 2022.


Potencial da tilápia no cenário global desperta interesse crescente das empresas para investimentos em tecnologia

Horizonte de otimização SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 32

Novas ferramentas tecnológicas dão suporte para crescimento da atividade aquícola, mas é possível avançar mais

E

m um setor em expansão e cada vez mais competitivo como se apresenta a aquicultura brasileira, o papel da tecnologia é de extrema importância. Diariamente, novas ferramentas surgem para ajudar no crescimento das empresas, para uma administração mais eficiente, no aperfeiçoamento e desenvolvimento

de novas soluções para alavancar o segmento. Confira como a tecnologia está sendo aplicada nas principais áreas da aquicultura:

1- Melhoramento genético A seleção genética é uma das principais linhas de trabalho. “Na

última década, o melhoramento animal mudou do cruzamento convencional com pedigree para o genômico, que permite com que o desempenho individual seja previsto usando a análise da sequência de DNA”, pontua Micaele Sales, gerente técnica da Spring Genetics, empresa norte-americana do grupo Benchmark Genetics. Segundo ela,

Spring Genetics

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O foco de um programa de melhoramento genético de tilápias também é produzir peixes que possam ter características específicas, como rápido crescimento para alcançar o peso de abate o mais breve possível, conformidade morfológica que proporciona um animal com melhor rendimento qualidade de filé, maior sobrevivência e bem-estar animal, reduzir o fator de conversão alimentar

A Spring Genetics também possui extensos programas de P&D em andamento para melhorar a resistência a diversas doenças de impacto na aquicultura

- e, consequentemente, o custo de alimentação -, entre outros. Nesse contexto, a GenoMar Genetics Group, subsidiária integral do EW Group GmbH, atua no Brasil com programas de melhoramento genético de tilápia, sob as linhagens GenoMar, Aquabel e AquaAmerica. Já em sua 30ª geração de reprodutores, anualmente, são vendidos mais de 500 milhões de peixes a clientes na Ásia e na América Latina. Com foco inicial em

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A Spring Genetics, empresa que representa a linhagem de tilápia da Benchmark, opera um programa de melhoramento familiar para tilápia do Nilo com um núcleo de operações em Miami (EUA). “Nossa população-base é derivada da população GIFT e passou por 12 gerações de melhoramento para ganho de peso antes de ser introduzida em Miami. Após estabelecer a população-base, a seleção da Spring Genetics foi focada em característicaschave como crescimento, sobrevivência

Com base na experiência desde a compreensão inicial da genômica em seus programas genéticos para salmão do Atlântico, a Benchmark desenvolveu um chip exclusivo de polimorfismo de nucleotídeo único (SNP) de alta densidade para tilápia do Nilo. Como conta a gerente, essa ferramenta foi usada para realizar análises genômicas extensas buscando entender melhor a base genética da resistência a S. iniae, S. agalactiae e Francisella. “Distribuímos reprodutores e alevinos geneticamente melhorados, de alto rendimento e livres de doenças para fazendas, empresas integradas e incubatórios de afiliadas de multiplicação em todo o mundo”, detalha. A empresa ampliou a unidade em Fortaleza (CE) e também em Miami (EUA), de forma a reduzir o tempo de produção das linhas comerciais.

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Sales ressalta que, apesar de ser conhecida como uma espécie robusta e resistente, a produção de tilápia tem sido severamente afetada por bactérias patogênicas como os Streptococcus iniae, Streptococcus agalactiae, Francisella orientalis, e por vírus como o Tilapia Lake Virus (TiLV), que vem causando perdas significativas. “O melhoramento para resistência a doenças promove a saúde e bem-estar dos peixes cultivados resultando em um menor uso de antibióticos, o que torna a produção mais sustentável e econômica”, destaca.

e maior resistência a S. iniae, S. agalactiae e Francisella.”

Spring Genetics

novas tecnologias como a Seleção Assistida por Marcador (MAS) e seleção genômica (GS) permitem prever o ganho genético, mesmo quando os candidatos não foram medidos para determinadas características de seleção.


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Pixabay

dados de qualidade, seja por meio de melhores sensores, câmeras ou outra tecnologia, economiza tempo dos funcionários e minimiza o risco de erro humano. Dados de maior qualidade também significa insights de maior qualidade no futuro.

Entre os benefícios do uso da tecnologia na produção está o monitoramento e controle dos parâmetros físico-químicos da água, manejo e também sanidade dos peixes

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sanidade e ganho de peso, a empresa incluiu novos critérios de seleção de interesse comercial nos programas de melhoramentos de tilápia, como o rendimento de filé e a resistência a doenças específicas. “Todo programa de melhoramento genético normalmente é demandado ou as linhas de pesquisa são orientadas de acordo com as demandas do mercado. Logo, a demanda para aumentar o rendimento do filé seria a viabilidade e a lucratividade dos frigoríficos em relação a isso”, comenta Lucas Granuzzo, brand manager Aquabel do Brasil. Assim, de acordo com ele, a cada 1% de rendimento de filé aumentado, por exemplo, gera-se x reais de lucratividade a mais por kg de tilápia abatida. Sendo assim, considerando os grandes impactos na lucratividade dos frigoríficos, foi a partir da 17ª geração que a empresa iniciou a seleção para

rendimento de filé (proporção do peso do filé sobre peso da carcaça inteira). Entre os resultados obtidos nas últimas 12 gerações de populações reprodutoras de tilápia, foi verificado ainda um aumento relativo no peso corporal de 7,1 pontos percentuais no crescimento por geração, além de ter sido registrado o aumento médio de 0.3 p.p no rendimento do filé por geração.

2- Parametrização de resultados O relatório Seafood Barometer 2021 da PwC, que pesquisou 55 líderes da indústria de aquicultura, revelou que estes pretendem investir fortemente em novas tecnologias para melhorar a biologia, sustentabilidade e lucratividade das fazendas. Entre outros resultados, o relatório destaca que com muita frequência, os dados coletados nas fazendas são incompletos, inconsistentes ou mal formatados. Logo, um investimento em coleta de

“A tecnologia ajuda no monitoramento e no controle dos parâmetros físicos e químicos da água, no manejo e na sanidade dos peixes”, frisa Jair de Sordi, gerente do abatedouro de peixes da C.Vale. A parametrização ainda ajuda a otimizar o arraçoamento dos peixes, com o fornecimento da quantidade certa de alimento, reduzindo perdas de ração. “Outro benefício é que nos permite monitorar a temperatura e a oxigenação da água com mais eficiência. Tudo isso nos ajuda a melhorar a performance de crescimento, reduzir perdas e, em consequência, melhorar a eficiência da atividade”, completa. Vicente Criscio, CEO da GeneSeas e Tropical, lembra ainda que a aquicultura ocorre em condições que não são totalmente passíveis de controle, como por exemplo o clima, temperatura ou condições bacteriológicas. “Você não vê o peixe crescer, como ele se alimenta e seu estado geral. Portanto, nós entendemos que existem ferramentas e processos críticos para nos dar mais controle e diminuir a imprevisibilidade dos resultados dessa engorda”, pontua. Para dar mais performance a esse último ponto, Criscio aponta quatro grupos de ferramentas. O primeiro são os manejos que não são exatamente tecnológicos, mas ajudam de uma forma repetitiva. “Esses processos podem ser documentados e as informações armazenadas em bases de dados. Com as corretas ferramentas analíticas, você tem condições de saber


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Pesquisa para diminuir custos No ano passado, piscicultores da região do Noroeste Paulista e o Instituto de Pesca de Rio Preto desenvolveram formulações de ração que diminuem custos para os produtores de tilápia da região. Foram três produtos desenvolvidos: no primeiro, o produtor utilizou uma alimentação para recria de tilápia, com peso entre 30 g e 300 g que, de acordo com o crescimento do peixe, modifica a exigência dos ingredientes; a segunda formulação é para peixes em fase de terminação, com peso entre 300 g e 900 g; e a última é produzida onde há uma opção para a substituição de ingredientes, de acordo com os custos dos insumos.

Divulgação/Instituto de Pesca de Rio Preto

Conforme o pesquisador do IP, Eduardo Abimorad, a partir das formulações, foi possível reduzir em até R$ 30 mil os custos com alimentos para criar 100 toneladas do peixe. A pesquisa também apontou vantagens no desenvolvimento da tilápia, com redução de 5% de mortalidade e a diminuição de 20 dias do ciclo de produção, que normalmente é de 200 dias.

Uma nutrição mais eficiente é chave para a melhoria das margens dos piscicultores, mas fabricantes de ração alertam que as demais condições da criação são fundamentais para o bom desempenho

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o que deu certo e o que não deu no processo de engorda para analisar o que pode mudar”, fala. O segundo é a base de dados, ou seja, o big data. “Como temos muitas variáveis no processo de arraçoamento, por exemplo, que você precisa considerar o lote, a densidade, quando foi colocado, as amostras que você tira, o peso e crescimento médio, quanto comeu, temperatura da água e nível bacteriológico”, ressalta. O terceiro consiste nas ferramentas tecnológicas, seja de software ou hardware. “No caso de software, temos aplicativos e sistema, que são integrados dentro do nosso ERP para que as informações venham de uma forma mais ágil, nos garantindo condições de apurar o custo real desse

peixe que está crescendo, quanto que está crescendo e a que custo. Depois as ferramentas de hardware envolvem equipamentos, que podem fazer algum tipo de mapeamento submerso para medir densidade, biomassa, tamanho, movimentação ou comportamento”, pontua. E finalmente, a quarta tecnologia é a nutricional, que envolve a capacidade da indústria e da engorda de integrar a produção de ração e de produção do filé. “Isso envolve um laboratório de desenvolvimento e análise de produto para entender os processos através das três primeiras ferramentas, da maneira que você, por exemplo, possa manejar um conjunto de tanques com um tipo de ração, com o mesmo manejo, forma nutrição e condição de água e temperatura,

mas com rações com formulações diferente”, exemplifica. “Assim, é possível saber que tipo de tilápia você vai ter lá na frente, com que rendimento e qualidade de filé ele vai te entregar lá no frigorífico.”

3- Aprendizado de máquina Para o consultor Wagner Camis, o aprendizado das máquinas é uma condição sine qua non, sobretudo após o fim da pandemia da Covid-19. Entre os projetos do consultor está um sistema de monitoramento e medição dos peixes com consequente correção da ração e classificação. Na classificadora, um processo de leitura de contagem acoplado a um software enviaria informações direto para uma central, onde o funcionário só tem que pensar em colocar o peixe na máquina. Porém, para Camis, o aprendizado das máquinas ainda precisa de pessoas que alimentem essas informações. Em abril deste ano, a Cermaq e a empresa BioSort anunciaram que testaram pela primeira vez um mecanismo de classificação que separará os peixes em um curral de


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rede para fornecer acompanhamento personalizado aos animais. O Projeto iFarm vem sendo desenvolvido há dois anos e busca melhorar a saúde e o bem-estar dos peixes por meio de inteligência artificial e aprendizado de máquina. Atualmente, o classificador é controlado manualmente, mas o objetivo é que ele seja autônomo para que, em conjunto com o sistema de sensores do iFarm, possa tomar suas próprias decisões com base em critérios definidos.

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Acervo/Seafood Brasil

Expansão tecnológica da nutrição passa pela forma de administração do alimento e até da armazenagem


Alltech

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Os aditivos e ingredientes complementam atuação da ração, peça-chave no desenvolvimento da aquicultura

4 - Rações de alto desempenho

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A posição global do Brasil como produtor e exportador de grãos parece facilitar o desenvolvimento da nutrição aquícola, mas ainda há inúmeros desafios. João Manoel Cordeiro Alves, gerente de Aquicultura da Guabi Nutrição Animal reforça que o preço é o principal deles. “Estamos passando por esse momento difícil. Existe uma correlação muito grande entre o aumento da produção de ração, o começo de produção de rações extrusadas no mundo e o aumento da oferta de pescado cultivado. Então, é fundamental a ração ou a nutrição adequada para o desenvolvimento da aquacultura”, conta. Para Alves, também é preciso focar no melhoramento do desempenho dos peixes, já que a nutrição, para funcionar corretamente, depende principalmente do ambiente, da saúde e da genética do animal. “As pessoas colocam sobre a nutrição um valor que ela não consegue atingir. Um peixe num ambiente ruim com a melhor ração do mundo não vai bem. Querem que a ração resolva tudo e a ração não resolve”.

Na tentativa de solucionar essa questão, a Guabi desenvolveu nos últimos anos o Sistema Guabi para Alto Desempenho (SIGAD), que é um programa que avalia as propriedades e identifica os gargalos de produção baseados em seis temas: nutrição, manejo, genética, biossegurança, infraestrutura e gestão. “É uma maneira de olhar a piscicultura como um negócio e identificar os gargalos, o que está limitando o crescimento da produção”, disse. “A nutrição cada vez mais vem ganhando destaque no setor, pois é a maior parcela no custo de produção do piscicultor e o cenário de pandemia da Covid-19 nos últimos dois anos resultou em consequências significativas nos custos, disponibilidade e transporte de insumos para serem transformados em alimento para os peixes”, aponta Vinicius Lima, gerente de operações da Raguife. A Raguife vem fornecendo em seu portfólio rações para peixes em fase inicial e destacando a linha Pro Start, um novo conceito focado na eficiência nutricional do animal no ciclo inicial de produção e também na sua saúde.

5 - Aditivos e ingredientes Os aditivos e ingredientes atuam como ferramentas que auxiliam na otimização do desempenho zootécnico e também na rentabilidade ao produtor. “São tecnologias desenvolvidas para otimizar a produção no melhor aproveitamento da dieta utilizada, como no caso das enzimas que potencializam o aproveitamento das dietas utilizadas e assim melhora a conversão alimentar”, explica Daniela Nomura Varandas, coordenadora comercial Aqua da Indukern. Renato de Almeida, gerente de Negócios Aqua na Imeve, reforça que outro fator diretamente relacionado à economia é a redução dos ciclos de cultivo, já que dietas bem elaboradas podem reduzir significativamente o tempo de cultivo de organismos aquáticos. “Além disso, os aditivos possuem também um papel fundamental na manutenção da qualidade do ambiente de cultivo, dietas formuladas estrategicamente com determinados aditivos, podem diminuir consideravelmente resíduos


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Indukern

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importantes como fósforo, nitrogênio e sólidos sedimentados”, completa.

Atuando como ferramentas que auxiliam na otimização do desempenho zootécnico, aditivos e ingredientes ajudam também na rentabilidade do produtor

Almeida lembra que o mercado de aditivos conta com probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos, aglutinantes, antifúngicos, antioxidantes, enzimas, entre outros. Na Imeve, os produtos da linha são baseados em bactérias probióticas. “Elas compõem os produtos tecnológicos que possuem benefícios que resultam em melhor desempenho dos animais e resultados zootécnicos”, diz. Segundo ele, isso acontece devido a alguns fatores, como contribuição enzimática, que melhora a digestibilidade de nutrientes específicos, estimulação da integridade e aumento das vilosidades intestinais, como também ajuda a promover o aumento de células caliciformes no epitélio intestinal. A saúde intestinal de peixes também é uma das plataformas nas quais a atuação da Alltech estão divididas: minerais orgânicos; eficiência alimentar; gestão de micotoxinas;


Crescimento da tilápia no Brasil inspira desenvolvimento de novas tecnologias para sanidade do pescado

Se a utilização de aditivos nutricionais ou aditivos tecnológicos permitem ganhos econômicos e

zootécnicos na produção animal, Luiz Eduardo Conte, sócio-diretor das empresas Ammco Pharma e Suiaves, frisa que a aquacultura tem diferentes oportunidades para introdução de novos produtos. Contudo, a utilização destes exige avaliações científicas adequadas às espécies e ao modelo de produção no Brasil. “Nós estimulamos os principais parceiros comerciais do mercado de aves e suínos a registrar produtos junto ao Mapa. Assim, atendemos à velocidade de crescimento e desafios observados no campo e na melhora da qualidade intestinal,

6 - Vacinação A vacinação preventiva se tornou a principal ferramenta de combate às enfermidades da criação, em especial das tilápias. “A vacinação da espécie no Brasil foi responsável por elevar a atividade a um patamar ainda mais

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e segurança alimentar. “Para o mercado brasileiro, temos pacotes de biotecnologias que englobam diferentes produtos dessas plataformas, para atender de forma personalizada aos desafios do mercado, como manutenção da qualidade de água, sanidade, performance, qualidade do filé, entre outros”, enumera Carolina de Farias, gerente de Vendas da Alltech do Brasil.

Para Alfredo Freire, diretor da IAqua, o País já possui bastante tecnologia disponível, embora algumas poderiam melhorar de custo caso houvesse mais competitividade ou capacidade fabril no Brasil. “Considero que ainda importamos muita coisa que poderia ser feita em nosso País. Porém, o ambiente regulatório e de estímulo ao empreendedorismo no Brasil não é muito favorável, o que nos torna dependentes do uso de tecnologias importadas. Mas isso vem mudando”, disse.

PESCADOS

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Vaxxinova/Divulgação

bem como na redução dos desafios sanitários dos animais”, destaca. Segundo ele, com a velocidade de crescimento do setor e expansão dos custos de matérias-primas, aumento de desafios sanitários e a busca pela exportação de camarão e peixes, o setor precisa agendar uma pauta junto ao Mapa para criar estratégia conjunta de trabalho visando atender o mercado.


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Divulgação/Zoetis

Zoetis anunciou a chegada ao Brasil da Fishteq NFT20 em 2021, a máquina que além de vacinar, conta, mede e classifica os peixes

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competitivo do ponto de vista produtivo, da previsibilidade de produção e da segurança alimentar”, comenta Rodrigo Zanolo, gerente de mercado de Aquicultura da MSD Saúde Animal. Ele diz que isso aconteceu devido à redução significativa no uso de antimicrobianos. “Aproximadamente 60% a 70% de toda produção nacional de tilápias é vacinada de forma injetável.” “Mais do que nunca, os custos de produção de tilápias estão elevados, e a vacinação se tornou indispensável para sustentabilidade da atividade, já que reduz mortalidades massivas por estreptococose, e também é forte aliada na melhoria dos índices zootécnicos, redução do uso de antibióticos e do descarte de filés no frigorífico, por possíveis lesões causadas pela bacteriose”, completa Danielle Zanerato Damasceno, gerente técnica e comercial de Aquacultura da Zoetis.

A Zoetis lançou ainda em 2021 a vacinação automatizada NFT-20. Além da vacinação, o equipamento conta, mede e classifica os peixes individualmente, medindo ainda cada um para que a agulha se movimente e injete a vacina num ponto exato. Após cada lote finalizado, também é possível exportar um relatório com os dados e informações consolidadas para um e-mail. A onda da automatização também chegou à MSD, que lançou a primeira máquina de vacinação automática de tilápias com tecnologia 100% brasileira. A AutoFish- DC 5000 tem capacidade de operar até 5.000 peixes por hora, por pessoa, além de trazer mais segurança e padronização ao processo de vacinação e à contagem dos animais. Conforme Zanolo, máquinas de vacinações automáticas buscam ofertar produtividade até cinco vezes superior ao processo manual tradicional.

Também de olho no mercado de soluções sanitárias para a aquicultura, a Hipra vem atuando no Brasil desde 2017 e, atualmente, foca em duas linhas de desenvolvimento: a vacina autógena e a vacinação por imersão. Em julho do ano passado, a empresa apresentou o método inédito de vacinação por imersão ao Brasil que imuniza os peixes através das mucosas das brânquias, boca e pele. Porém, João Moutinho, gerente da divisão Aqua da Hipra, conta que foi percebido que para o alevino a partir de 1 g, o manejo se adapta melhor e a maioria dos grandes produtores que aderiram ao método estão trabalhando nesta faixa. “Esperamos fechar com pelo menos 250 milhões de alevinos vacinados no Brasil”, projeta. O modelo de vacina autógena permite ao produtor atualizar os diferentes desafios. Neste modelo, considera-se sobretudo a coleta de material biológico, como destaca o especialista. “Vamos ao campo, coletamos o peixe que está com sinal clínico e mandamos para o nosso centro de diagnóstico específico. Lá, tem toda uma equipe preparada para fazer o isolamento e identificar qual a bactéria para fazermos uma vacina específica não só para o cliente, mas para o reservatório e a região onde estiver o desafio.” A vacina autógena também é uma das frentes de atuação da Vaxxinova Brasil, que disponibiliza aos piscicultores várias opções de vacinas customizadas. “Com essas vacinas, são isoladas as bactérias causadoras de doenças, sendo então adicionadas na formulação de nossas vacinas autógenas da linha Govaxx”, explica o veterinário Santiago Pádua, gerente de produtos Aqua Vaxxinova. “Dessa forma, podemos customizar o programa de vacinação de acordo com a época do ano, atendendo as flutuações sazonais de patógenos.”


Máquina da MSD acaba de chegar ao mercado para vacinação automática de tilápias com tecnologia 100% brasileira

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Divulgação/MSD

A empresa possui atualmente em seu portfólio oito combinações de patógenos para os tilapicultura, onde são comercializadas vacinas contra diferentes espécies e sorotipos de Streptococcus, além de Lactococcus e Francisella. “Em nossa visão de futuro, o Brasil será o maior produtor global de tilápias na próxima década. Por isso, todo o foco de desenvolvimento de novos produtos e tecnologias relacionadas a gestão de saúde e vacinação para tilapicultura é em nosso País”, completa Santiago.


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Pixabay

Agentes de pesquisa como universidades e empresas privadas têm desenvolvido inovações importantes no segmento

Um empurrão das pesquisas

Diante de tamanhas atividades promissoras oriundas da aquicultura, as pesquisas também são fundamentais para alavancar ainda mais o segmento

O

avanço da ciência se torna fundamental para alavancar ainda mais a atividade nacional, como reforça Manoel Xavier Pedroza Filho, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura. “A pesquisa, seja pública ou privada, tem papel fundamental para o desenvolvimento da aquicultura, pois possibilita avanços por meio da criação de novos produtos e insumos, gerando ganhos de produtividade e abrindo novos mercados”, comenta. Além disso, segundo Filho, a pesquisa pode dar respostas às demandas urgentes, tais como problemas sanitários ou ambientais. “Por exemplo, os avanços que vemos hoje na produção de espécies como tilápia e camarão estão diretamente ligados aos resultados de pesquisa feita por empresas e instituições”, exemplifica. “Outros agentes de pesquisa como universidades e empresas privadas têm desenvolvido inovações importantes, tais como linhagens melhoradas de tilápia, sistemas de produção intensivos, aquicultura multitrófica, ferramentas de tecnologia da informação e sistemas de produção para peixes marinhos”, lembra o pesquisador Filho.


A macroalga Hypnea peseudomusciformes vem sendo explorada em pesquisas e está na fase de ser usada em nível comercial

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Divulgação

Wagner Cotroni Valenti, professor do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura do Centro de Aquicultura da Universidade Estadual Paulista (UNESP) destaca que há muitas tecnologias novas que podem ser usadas pelos produtores quase que de imediato. Porém, precisam ser simples, já que as tecnologias muito caras geralmente levam a problemas operacionais e elevados custos de produção que não são compensados pelo aumento de produtividade, o que pode trazer fracasso. “Podemos citar duas tecnologias testadas e patenteadas. A primeira é o


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Atuação em diversos lados da Embrapa Nos últimos anos, a Embrapa tem desenvolvido soluções para a aquicultura em diferentes áreas como nutrição, processamento do pescado e reprodução. Como exemplo, a Plataforma AquaPLUS, que é uma ferramenta para qualificação, manejo e melhoramento genético de tambaqui, camarão, truta, tilápia, pirarucu e pirapitinga. Outros produtos da Embrapa no segmento são o Centro de Inteligência da Aquicultura (CIAqui) e o Sistema de Inteligência Territorial Estratégica para Aquicultura, o GeoWeb SITE.

Nathaly Garcez

Já os pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF) e da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO) lançaram a publicação Tambaqui - Benefícios Econômicos com a Adoção do Tambaplus Parentesco. No formato online, a publicação apresenta resultados das pesquisas para o desenvolvimento do Tambaplus - uma das ferramentas genômicas mais importantes para os produtores de peixes nativos evitarem perdas na alevinagem e na engorda, especialmente no caso do tambaqui. O estudo ainda apresenta um amplo retrato das tendências econômicas da aquicultura no País.

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Professor Valenti defende que a aquicultura é uma das atividades econômicas com maior potencial econômico nesse momento em que vivemos

cultivo da macroalga Hypnea peseudomusciformes, que é nativa e pode ser cultivada em toda a costa brasileira sem nenhum problema ambiental. Essa tecnologia foi muito bem testada, tanto na parte técnica como na econômica, mostrando muita viabilidade. Ela já está em maturada sendo classificada como TRL 6, ou seja, está na fase de ser usada em nível comercial”, fala.

Potencial da aquacultura multitrófica A aquicultura multitrófica está embasada na combinação de espécies com funções e nichos complementares.

Desse modo, um dos objetivos é explorar melhor os espaços nas instalações de cultivo e o uso da dieta comercial. Como explica o professor Wagner Cotroni Valenti, cerca de 80% da dieta comercial fornecida aos peixes, camarões e outros organismos aquáticos se perde para o meio e não é incorporada na biomassa dos organismos alvo do cultivo. Por isso, a dieta é tão cara: ela representa cerca de 70% dos custos de produção. “Isso acontece porque simplesmente ela é jogada fora, se transformando em poluição e gerando impactos ambientais negativos”, justifica. Porém, segundo Valenti, com a adição de

espécies com necessidades e funções diferentes, consegue-se aproveitar muito melhor essa dieta, “inclusive com ganho de produtividade, redução dos custos de produção, aumento de lucro e melhoria ambiental”. Neste cenário, o professor pontua que a mudança para outros sistemas, como os multitróficos, é fundamental para um desenvolvimento perene da aquicultura no tempo, com aumento da sustentabilidade, tanto econômica, como ambiental e social. “Infelizmente, existe uma certa acomodação na zona de conforto de pesquisadores e produtores que resistem às mudanças”, lamenta. No entanto, ele diz não ter dúvidas de que, no futuro, não haverá espaço para os monocultivos intensivamente arraçoados. “Praticamente toda a produção de organismos aquáticos será em sistemas multitróficos, principalmente peixes e camarões”, defende Valenti. Como exemplo, ele explica que o Brasil tem milhões de hectares de arroz irrigado e, muitas vezes, o preço de venda não cobre os custos de produção. Assim, a adição de peixes e/ou camarões nesses sistemas pode ser realizado com adaptações simples e baratas, gerando uma produção adicional de maior valor que cobriria todo o custo de produção do arroz, resultando em um sistema bastante lucrativo e produtivo. “Os peixes e camarões se alimentam das pragas do arroz e resteva após a colheita, não precisando de ração. Eles ainda fornecem fertilizantes para as plantas, reduzindo o custo com defensivos e adubos. Dá para imaginar o quanto a produção aquícola poderia aumentar no País sem nenhum uso adicional da terra? Sem nenhum problema ambiental?”, reflete.


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Aquishow Brasil: em nova casa Feira quer retomar discussões técnicas e o fomento ao conhecimento dos players da aquicultura, além de gerar novos negócios por meio da área de exposições reformulada

A

11ª edição da Aquishow Brasil finalmente vai acontecer após dois anos de paralisação por causa da pandemia da Covid-19. Para o reencontro do público, a Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP) fechou uma parceria com o Instituto de Pesca (IP-Apta) para fazer o evento no Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Continental, em São José do Rio Preto (SP), entre os dias 24 e 27 de maio. Pela primeira vez fora de Santa Fé do Sul (SP), onde foram realizadas as

dez edições anteriores, a organização quer de uma vez por todas consolidar a Aquishow Brasil na lista das grandes feiras nacionais e internacionais do setor. “É a primeira edição em São José do Rio Preto, cidade com aeroporto, rede hoteleira muito grande, bares, restaurantes etc. Então, todas as características para um grande evento e a parceria com o IP nos permite uma feira ‘pé na água’”, pontua Emerson Esteves, presidente da PeixeSP e membro da comissão organizadora da Aquishow. Ele revela que o evento terá viveiros escavados para montar um showroom de demonstração, por exemplo.

Marilsa Fernandes, também da Peixe SP e integrante da comissão organizadora, conta que eventos como a Aquishow Brasil são fundamentais para gerar discussões e insights nesse sentido. “Não à toa, estamos nos consolidando como a melhor feira de negócios e conhecimento de aquicultura do País e, em breve, pretendemos estar entre os cinco principais eventos do setor no mundo”, pontua. Conforme Fernandes, a feira busca fortalecer, por meio de discussões técnicas, fomento ao conhecimento dos players da cadeia de pescado, promovendo

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Contâiner Sanitários

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EMPRESAS 1

Eco Power

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Pathovet

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Altamar

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Pressag

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SH Telas

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Branco Máquinas

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Ecto

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Cardinal (Agricotec)

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Cadoma

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Multipesca

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MoMa Agro

Iomaq

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Fosfish

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5

Manzoni Industrial

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Iomaq

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Prevet/Peixe Saudável

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ASC

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Aquafeed

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Bonkoski

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Vaxxinova - Ammco Pharma

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Textil Sauter

7

Phibro

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Bonkoski

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Ferraz Máquinas

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Marine Equipament

8

Phibro

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Inata

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TechGround

9

Imeve

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General System

55

Telamarck

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Iaqua

33

Zanatta Estufas

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Trevisan

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Nova Aqua

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AquaGermany

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Caixa Econômica federal

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12

Engepesca

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Brusinox

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Guabi

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Real Fish

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Gov. do Tocantins

59

MQ Pack

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14

Nanobiologic

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Top aeradores

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Calábria Refrigeração

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15

Wenger

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Hipra

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Microvet

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GeoMembrana

16

Kayros Ambiental

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Adisseo

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Kaiser Agro

17

Supra

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Zoetis

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Gl Máquinas e equipamentos

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Sicoob Credicitrus

17

Supra

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Grupo Ambar Amaral

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Exteec

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Plant Fort

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Control Union

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Alam. TOP/Grupo Peixe Bom

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Patense

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Ginegar

20

Bionetix International

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Neovia - Socil

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BioSyn

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Ginegar

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Neovia - Presence

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AquaGenetics

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Induscava

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Nexco

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Marel

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Global Peixe

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46 – MSD Saúde Animal

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Potyara

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Divulgação

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O que esperar da 11ª Aquishow Brasil? Para a 11ª Aquishow Brasil, estão programadas 15 palestras com profissionais reconhecidos no cenário mundial e em diferentes elos da cadeia produtiva de pescado, além de quatro minicursos, um workshop, um painel, um encontro acadêmico, duas premiações, duas competições, uma confraternização e uma visita técnica, conforme a grade de atividades anexada abaixo.

Prêmio Inovação Aquícola vai reconhecer iniciativas de quatro categorias: Academia; Produção; Beneficiamento / Produto Final; e Políticas Institucionais

A tilapicultura, que é muito forte na região Noroeste Paulista, além da produção e o consumo de outras espécies de peixes e crustáceos, como a carpa, o lambari, o salmão e o camarão marinho, serão temas de destaque na feira. “Levamos em conta os objetivos do evento, que são aperfeiçoar a prática de produção de pescado, favorecer a interação e a conexão entre diferentes players e impulsionar as vendas. Tudo isso em consonância com os princípios da sustentabilidade econômica, social e ambiental do setor”, afirma Marilsa Fernandes. Entre os palestrantes esperados, está o colombiano Carlos Mario Ramírez, coordenador nacional Best Aquaculture Practices (BAP) na América do Sul que falará sobre o futuro da aquicultura sustentável. Já Tobías Roman, chefe de operações da Tilabras, abordará os desafios da produção de tilápia em tanques-rede de grande volume no Brasil. Enquanto o professor e escritor José Luiz Tejon apresenta a palestra de abertura “Caminhos da Proteína Aquática para Consolidação do Brasil como um Grande Player do Pescado”. A programação ainda contempla os minicursos, que por sua vez, contarão com profissionais ligados ao IP. O Instituto também organiza o já mencionado 1º ELAPC. Outra novidade da feira deste ano é o 1º Prêmio Personalidades Brasileiras de Aquicultura – Aline Brun & Geraldo Bernardino. A edição também contará com o inédito AquaQuiz, um jogo de perguntas com o objetivo de avaliar os conhecimentos dos participantes sobre o setor. O público ainda poderá acompanhar o painel “Papel e Contribuições das Mulheres para a Aquicultura Brasileira – Passado, Presente e Futuro”, que reunirá 10 vozes femininas para contar suas histórias de vida, seus resultados na aquicultura brasileira e suas perspectivas para o futuro do agronegócio nacional. Ainda está confirmado o torneio Filetador de Ouro, que chega à sua 2ª edição em 2022, mesmo caso do Prêmio Inovação Aquícola. Em parceria com a Aquaculture Brasil e a Seafood Brasil, o prêmio busca mais uma vez reconhecer iniciativas capazes de provocar uma transformação real e perene em toda a cadeia produtiva da aquicultura brasileira.

Divulgação

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 50

Além das atividades técnico-comerciais, o público poderá conferir 91 stands, uma represa de 5 mil metros quadrados e um showroom, de mais de um hectare, com dezenas de viveiros escavados, revestidos e de terra.

a interação e a troca de experiências entre eles, além de gerar novos negócios que movimentam a economia como um todo. Fernandes completa que a organização espera receber cerca de 5 mil visitantes de diferentes regiões do Brasil e até mesmo de outros países. “Vendemos ingressos para comitivas dos Estados Unidos, Dinamarca e representantes de praticamente todos os países da América Latina. Em relação à geração de novos negócios, nossa estimativa é gerar em torno de R$ 100 milhões durante e após o evento”, finaliza. A parceria estratégica do IP busca contribuir na aproximação do setor produtivo à pesquisa, o “elo indispensável para o sucesso da aquicultura’’, como destaca Daniella Castelani, organizadora do I Congresso Latino-Americano de Peixes Cultivados (I ELAPC) que será realizado durante a feira deste ano, sob a responsabilidade do IP. “Este evento, consiste em um encontro científico, com recebimento de trabalhos, apresentação de resultados de pesquisa e transferência de conhecimento através de curso com temas da área. O objetivo de tudo isso é agregar mais conteúdo ao evento para também atingir este novo público [acadêmico] de suma importância para a cadeia produtiva”, completa Castelani.

Emerson Esteves e Marilsa Fernandes, lideranças da PeixeSP e membros da comissão organizadora da Aquishow, mantém boas expectativas para a edição deste ano


Desde 2007, tornando a mesa dos brasileiros mais saudável através de uma linha de produtos com tilápia que unem sabor e praticidade, enriquecem o dia a dia e melhoram a segurança alimentar do consumidor. Os alimentos são fáceis de preparar, além de ricos em proteínas e nutrientes essenciais para a saúde.

Tels. +55 (17) 3631-9100 - 99773-0711 Rua Sul, 1723 – Distrito Industrial - Santa Fé do Sul – SP www.brazilianfish.com.br sac@grupoambaramaral.com.br

UMA EMPRESA DO GRUPO

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

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Departamento de Marketing GAA

A garantia de qualidade e a entrega com soluções personalizadas, fazem parte da tradição da Brazilian Fish!


Na

Gôndola A oferta de peixes, crustáceos e moluscos Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

dentre eles empanados, bacalhau, camarões, frutos do mar e a tilápia, que é considerado o carro-chefe da empresa. Ainda de acordo com a Seara, os produtos da linha de pescados foram promovidos como solução a consumidores que buscam não só variedade para as refeições de Páscoa, mas também para serem consumidos no dia a dia.

Roupa nova, cara nova

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 52

A Netuno anunciou novas embalagens para seus produtos, apresentadas oficialmente em março. A empresa buscou modernizar os sacos e pouches com cores diferentes para cada produto, além de colocar uma frente transparente para que o consumidor saiba o que está levando para a casa. De acordo com a Netuno, a ideia dessas mudanças foi facilitar a experiência de compra do público.

A Páscoa é do pescado A Seara apostou em uma forte campanha da linha de pescados para esta Páscoa. A ideia é divulgar os cerca de 20 produtos que ela disponibiliza nesta linha nos mercados do País,

Um mérito para quem busca sabor Já a Copacol traz uma novidade ao mercado: o medalhão de merluza. Lançado para reforçar a linha de pescados, o produto promete levar à mesa dos consumidores sabor, praticidade e leveza no dia a dia com uma carne macia e muito suculenta, tudo para agradar os mais variados paladares. Disponibilizado de forma congelada e em embalagens de 800 g, o produto ainda pode ser encontrado em caixas de 12 kg, cada uma com 15 unidades.

Dia a dia com tudo junto e misturado A moqueca de Saint Peters com camarão é o destaque da GeneSeas para o mercado consumidor. De acordo com a empresa, o produto, que não contém glúten, é ideal para pessoas que procuram mais praticidade em seu dia a dia, porém, sem abrir mão de uma refeição que seja saudável e saborosa. Com validade de 12 meses, a GeneSeas está disponibilizando o produto de forma glaceada em embalagens de 340 g.

Sabor selvagem Sabor e textura marcantes. Esses são os elementos que o salmão selvagem da Komdelli promete entregar para atender aos que têm um paladar mais sofisticado. Disponível em embalagem de 500 g e embalado individualmente, o pacote de salmão selvagem é disponibilizado em filés congelados em pedaços com pele.


A Maris Pescados está apresentando o camarão congelado Frozen Shrimp, produto que promete atender os consumidores que querem praticidade no dia a dia. Genuinamente brasileiro, o produto é disponibilizado sem cabeça e descascados, tudo para facilitar o seu preparo. De acordo com a empresa, o camarão congelado Frozen Shrimp foi pensado para

servir toda a família. Por isso, é encontrado nas gôndolas em embalagens de 2 kg.

Na cauda do sabor A cauda de lagosta é uma das mais recentes apostas da Frescatto. Com baixo teor calórico e alto índice proteico, segundo a empresa, o produto possui uma carne refinada, saborosa e nutritiva, o que faz dele uma opção indicada para quem busca lifestyle leve e saudável. A cauda de lagosta é apresentada de forma cortada e congelada para o público final.

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Visando o público infantil e aqueles que gostam de comer peixes sem espinhas, a Noronha Pescados está lançando as barrinhas de peixe. Composto por pedaços de filé de polaca temperados, empanados, pré-fritos e congelados, o produto também é indicado para ser servido em forma de petiscos. As barrinhas de peixe são disponibilizadas pela Noronha Pescados em embalagens de 300 g.

Praticidade tamanho família

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Barra com nível sempre cheio


Especial

Consumo per capita nacional SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 54

A mensuração do volume de pescado consumido pelos brasileiros continua desafiadora, mas este artigo escrito pelo consultor Wilson Santos traz algumas pistas sobre a evolução do indicador Texto: Wilson Santos | Edição e adaptação: Léo Martins e Ricardo Torres

C

onsiderado um dos principais termômetros de medição de performance da atividade produtiva, o consumo per capita aparente de pescado é um indicador que não dispõe de fontes oficiais desde 2013. O dado mostra o nível de aceitabilidade do segmento junto ao

consumidor brasileiro, bem como a sua competitividade no confronto com outras proteínas animais disponíveis no mercado nacional. Por opção de simplificação, o termo pescado é usado de forma genérica - o total de consumo inclui pescados, crustáceos, mexilhões e ostras.

O consumo per capita é aferido pela: produção total nacional (incluindo pesca marítima); pesca continental; e a aquicultura (mais importações e menos exportações). A quantidade líquida total é dividida pela população brasileira. Também é importante dizer que todas as informações referentes ao comércio exterior de produtos


elaborados (filés, secos, conservas, congelado) são convertidas em pescado inteiro in natura. Dentro desse contexto, projeções, planejamento e comparações, muitas vezes precipitados, são realizados com frequência por instituições, tendo como referência justamente o consumo per capita. Para um país com o crescimento populacional anual e um continente amplo como o do Brasil, o aumento de consumo é um grande desafio. Sendo assim, pequenos ganhos têm uma grande representatividade econômica. Em 2021, para se ter uma ideia, a população brasileira cresceu em 1,5 milhão de pessoas. Esse número equivale a um aumento de consumo total na faixa de 15 mil toneladas de pescado só para manter o consumo per capita anual. Logo, se considerarmos um pequeno aumento de 200 gramas de pescado por ano, a necessidade para uma população de 214 milhões de pessoas alcança 43 mil toneladas de pescado.

55

Sendo assim, podemos concluir que somente para aumentar o consumo em 200 gramas per capita por ano para 2022, a necessidade no incremento de pescado fica na faixa de 60 mil toneladas. Com todo sucesso da piscicultura, o aumento de produção em 2021, comparando

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

Um aumento anual de 1,5 milhão de brasileiros, como ocorreu em 2021, exige ao menos uma produção extra de 15 mil toneladas apenas para manter o consumo per capita anual; com a escassez de matérias-primas nacionais como a sardinha e uma evolução aquícola em ritmo menor que o crescimento populacional, o Brasil recorre à exportação para fechar a conta


Especial QUADRO 1

CONSUMO PER CAPITA DE PESCADO | KG/ANO

14,0

10,0

12,0

11,7

12,0 10,6

10,8

2011

2012

11,1

10,7

11,1

10,6

10,4

10,2

2018

2019

2020

9,7

10,5

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0 2010

2013

2014

2015

2016

2017

2021

Fonte e metodologia: Consultor Wilson Santos

com 2020 foi de 38,1 mil toneladas (informação Peixe BR), o que demonstra a dificuldade em obter ganhos reais no consumo per capita.

Cenários e variáveis do consumo per capita O consumo de 10,5 kg de pescado per capita no ano de 2021 (Quadro 1) mostra uma expressiva recuperação depois de três anos consecutivos de queda motivada por esse desajuste do ritmo produtivo com a demanda.

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 56

Pode até parecer pouco um aumento de 3% no consumo ou 300 gramas per capita/ano, mas representa muito

em toneladas de matéria-prima - em 2021, o brasileiro consumiu mais 75 mil toneladas de pescado.

na piscicultura teve na tilápia o principal motivo, com um aumento de 48 mil toneladas.

Com relação à origem das 75 mil toneladas disponíveis no mercado em 2021 (Quadro 2), acima do ano anterior de 2020, podemos constatar três fatos:

Nos importados, os maiores avanços foram o panga (aumento de 28%), o cação (aumento de 33%) e a cavalinha (importação de 5,1 mil toneladas – em 2020, foi de 1,5 mil toneladas). Estes três recursos representaram cerca de 80% no aumento total dos importados de 30.023 toneladas.

O pequeno aumento na captura local de 6 mil toneladas foi compensado pelo aumento nas exportações na faixa de 7 mil toneladas, gerando assim uma menor disponibilidade ao mercado interno na faixa de mil toneladas. Conforme dados da Peixe BR, o aumento na disponibilidade interna

QUADRO 2 Toneladas disponíveis - Consumo Local

2021

2020

Dif.

Captura Local menos Exportações

723.788

724.784

-996

Aquicultura:Peixes+Carcinicultura+Malocultura

927.005

880.396

46.609

584.589

554.566

30.023

2.235.382

2.159.746

75.636

Importação:Peixes+Crustáceos+Moluscos Total

Já o Quadro 3 mostra o histórico e tendência do consumo de pescado dos brasileiros conforme a fonte de fornecimento. Nele, podemos observar que a consolidação da aquicultura nacional como fonte principal de pescado no consumo interno continuou em 2021, quando atingiu a participação de 41,5%. Isto representa 4,36 Kg per capita/ano e um total de 927.005 toneladas no ano. Entre os recursos importados, constam dois que são importantes


SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

57


Especial QUADRO 3 60,0

56,9

PARTICIPAÇÃO NO CONSUMO PER CAPITA - %

54,4

52,0

50,0

49,3 46,8 39,2

40,0 30,0 20,0

23,7

26,6 19,0

28,9 19,2

28,6

29,7

22,0

23,5

2008

2009

35,5

39,8

39,1

36,1

25,2

33,7

36,3 24,7

24,1

42,4

23,9

39,7 32,8 27,5

33,4

34,5

34,0 33,5

32,1

32,4

36,3 32,8 30,9

35,3

37,9

40,8

32,5 32,1

33,6

32,1

41,5 32,4

30,1 25,7

26,2

19,5

10,0 0,0

2005

2006

2007

2010

2011

2012

Extrativa

players com origem na aquicultura: salmão e panga. Se somarmos os recursos da aquicultura nacional com o importado, a participação no ano de 2021 atinge 50,4%. Isto significa que, pelo primeiro ano, o consumo nacional de pescado com fonte na aquicultura ultrapassa os 50%.

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 58

Por fim, o Quadro 4 coloca o Top 5 das espécies consumidas em 2021 no mercado brasileiro usando o critério de consumo aparente de pescado, valores esses que estão todos convertidos na equivalência em pescado inteiro in natura. Neste cenário, a liderança absoluta no consumo é da tilápia. Conforme informações da Peixe BR, a produção em 2021 teve aumento de 9,8% enquanto a população cresceu (IBGE - base Julho) 0,7%. Desta forma, o consumo de tilápia cresceu 8,7% no Per Capita 2021, dando um salto de 2,30 kg para 2,50 kg. No caso da sardinha, houve estabilidade no consumo, onde cerca de 90 % ocorre na forma de conservas. Aqui, é muito importante salientar que nos últimos 6 anos, a dependência na importação da matéria-prima sardinha ficou em 80%.

2013

2014

2015

Aquicultura

2017

2018

2019

2020

Esse crescimento todo se deu graças ao produto importado - o filé de panga já tem uma identidade própria, conhecimento do consumidor

e cadeia nacional de distribuição no mercado nacional. Por outro lado, o produto nacional já tem estas questões equacionadas: a importação de filé de panga em 2021 foi de 28.519 toneladas, o que equivale a cerca de 85.000 toneladas de peixe in natura. Para finalizar, a merluza está em estabilidade, porém, com tendência de queda. No caso deste pescado, a importação em 2021 foi de 26.878 toneladas, sendo essa a menor dos últimos 4 anos.

CONSUMO 2021 - KG PER CAPITA - TOP

3,00 2,50

2,50

2,00 1,50 1,00 0,58

0,54

Sardinha

Salmão

0,50 0,00

Tilápia

2021

Importação

Enquanto o salmão manteve a estabilidade dos últimos 3 anos, o panga teve um forte crescimento (28%) na importação de 2021, posicionando-se à frente da merluza. A posição de forte consumo do panga coloca um potencial enorme no cultivo para este pescado que começa a despontar no Brasil.

QUADRO 4

2016

0,40

0,38

Panga

Merluza


SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

59


Estatísticas

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 60

Ascensão...

...sem mar de rosas


Piscicultura brasileira cresceu 4,7% em 2021, atingindo a marca de 841.005 toneladas produzidas. Apesar de sofrer impactos da elevação dos insumos e matérias-primas para alimentação animal no ano passado, o número registra um salto que comprova o quanto a atividade segue em desenvolvimento Texto: Fabi Fonseca

“Não foi um ano fácil para os produtores de peixes de cultivo. A

realidade foi muito diversa nos Estados, com alguns mercados encontrando formas de manter ou até elevar os níveis de comercialização e outros enfrentando mais dificuldades”, explica o presidente da PeixeBR, Francisco Medeiros. Ele ainda reforça que a pandemia foi decisiva para este cenário, assim como foi – e é – para toda a economia brasileira.

61

do poder de compra da população também dificultaram a comercialização de peixes com rentabilidade aos produtores, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Mas, apesar de tudo isso, a piscicultura brasileira cresceu 4,7% em 2021 e atingiu 841.005 toneladas produzidas, conforme dados do Anuário 2022 da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

O

segundo ano seguido da pandemia da Covid-19 foi difícil para a aquicultura nacional, com a elevação dos insumos e matérias-primas para alimentação animal. Além da alta de ingredientes fundamentais, como milho e farelo de soja, os microingredientes importados também tiveram reajustes e enfrentaram problemas de abastecimento no ano. No mercado interno, por sua vez, os elevados níveis de desemprego e a redução


Estatísticas 2017

2018

IBGE TOTAL Estado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

Paraná São Paulo Rondônia Santa Catarina Minas Gerais Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Pernambuco Bahia Goiás Rio Grande do Sul Pará Piauí Amazonas Espírito Santo Roraima Tocantins Alagoas Ceará Sergipe Acre Rio Grande do Norte Rio de Janeiro Paraíba Distrito Federal Amapá

PEIXEBR

IBGE

PEIXEBR

547.162 TON

-14,57% Var. %

691.700 TON

7,99% Var. %

579.262 TON

5,87% Var. %

722.560 TON

4,46% Var. %

98.201 47.608 39.884 52.618 31.327 27.979 36.609 18.041 22.792 18.168 16.503 13.741 12.269 10.402 7.574 3.751 9.379 11.542 11.648 22.087 5.479 3.899 17.607 1.490 4.993 820 754

9,82% 47,52% 7,27% 4,19% 57,42% 15,39% -14,81% 1,60% -0,69% -6,44% -1,06% -0,70% -7,66% 7,39% -6,88% -19,68% -4,60% 7,61% 24,30% -37,73% 3,06% -27,25% -4,62% 26,04% -5,95% -57,13% 6,18%

112.000 69.500 77.000 44.500 29.000 26.500 62.000 25.500 17.000 27.500 33.000 22.000 20.000 18.000 28.000 12.000 16.000 14.500 3.500 7.000 6.600 8.000 2.300 4.800 3.000 1.500 1.000

19,66% 6,27% 3,01% 14,60% 26,09% 9,73% 3,51% 5,59% 40,50% 7,84% -2,94% 10,00% 4,82% 5,88% 1,82% 11,11% 8,84% -4,61% 23,67% -41,67% 8,20% 13,96% -8,00% 3,67% 20,00% -42,75% 53,85%

121.479 51.628 50.181 44.445 35.429 27.699 33.975 13.891 22.789 15.351 15.537 14.246 13.631 13.127 8.162 4.073 10.818 11.367 9.344 24.197 4.372 3.826 22.165 1.258 5.116 334 823

23,70% 8,44% 25,82% -15,53% 13,10% -1,00% -7,20% -23,00% -0,01% -15,51% -5,85% 3,67% 11,10% 26,20% 7,77% 8,59% 15,35% -1,51% -19,78% 9,55% -20,20% -1,88% 25,89% -15,60% 2,47% -59,33% 9,24%

129.900 73.200 72.800 45.700 33.150 39.050 54.510 25.850 23.470 30.460 30.630 23.000 23.720 19.310 15.270 13.190 17.100 14.600 8.250 4.900 3.550 8.500 2.410 4.580 2.930 1.500 1.030

15,98% 5,32% -5,45% 2,70% 14,31% 47,36% -12,08% 1,37% 38,06% 10,76% -7,18% 4,55% 18,60% 7,28% -45,46% 9,92% 6,88% 0,69% 135,71% -30,00% -46,21% 6,25% 4,78% -4,58% -2,33% 0,00% 3,00%

¹Até o fechamento desta edição, os dados mais recentes da Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE eram relativos a 2020

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 62

O Paraná seguiu liderando a produção de peixes de cultivo em 2021. O Estado cresceu 9,3% no ano com 188.000 toneladas contra 172.000 toneladas no ano anterior - ou seja, 16.000 toneladas a mais. Em seguida aparece São Paulo, com produção de 81.640 toneladas em 2021, o que representou um salto de 9,4% sobre o ano anterior. Já Rondônia (na terceira colocação) não teve bom desempenho: a produção foi de 59.600 toneladas, um recuo de 9%. O levantamento destaca ainda que entre os 10 maiores produtores de peixes de cultivo do País, sete tiveram crescimento em 2021, com três deles apresentando desempenho negativo. Além de Rondônia, a produção também foi menor no Maranhão - Estado que vinha em alta nos anos anteriores - e Mato Grosso (-9%). Já Goiás deixa o ranking com redução de 1,2% na

produção (29.700 toneladas). Pelo lado positivo, destaque para Pernambuco, cuja produção cresceu 17% (31.930 toneladas) e Mato Grosso do Sul com 37.400 toneladas, representando aumento de 15,5%. Por fim, a comparação com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), já salientada em edições anteriores da Seafood Brasil, evidencia a disparidade das duas bases de dados disponíveis para conhecermos a evolução da piscicultura no Brasil. Conforme os dados do IBGE relativos a 2020, a piscicultura cresceu 4,3% naquele ano, chegando a 551,9 mil toneladas. Os dados fazem parte da Pesquisa Pecuária Municipal 2021.

peixes de cultivo, o que representa 32% do total do País - o desempenho destes três Estados manteve a região Sul na liderança da produção. No entanto, em percentual de crescimento, o Sul só não foi melhor que o Sudeste (152.895 toneladas), que cresceu 8,6% puxado por São Paulo e Minas Gerais.

Sul na liderança

Já a região Nordeste também teve seu destaque no ano: atingiu 162.250 toneladas, representando 19,3% da produção nacional. Por outro lado, o Centro-Oeste apenas repetiu o desempenho de 2020, sem avanço ou queda, com suas 111.750 toneladas (13,3% de participação). Por fim, a região Norte (144.810 toneladas), apesar de ter contado com 17,2% do total, fechou o ano passado com redução da produção em 3,3%.

No total, em 2021, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram responsáveis por 269.300 toneladas de

“Todas as regiões do País têm potencial para expandir a produção


PRODUÇÃO DA PISCICULTURA NO BRASIL | 2017 A 2021 | IBGE* X PEIXEBR

2020

2019 IBGE

PEIXEBR

IBGE

2021 PEIXEBR

PEIXEBR

529.621 TON

-8,57% Var. %

758.006 TON

4,91% Var. %

551.908

4,21% Var.%

802.930 TON

5,93% Var. %

841.005 TON

4,74% Var. %

126.608 50.855 48.766 32.499 36.217 28.518 33.989 18.149 19.866 14.700 15.303 14.944 14.084 11.477 7.982 3.911 11.056 10.963 9.788 5.884 1.433 3.629 2.707 1.410 2.380 1.642 861

4,22% -1,50% -2,82% -26,88% 2,22% 2,96% 0,04% 30,65% -12,83% -4,24% -1,51% 4,90% 3,33% -12,57% -2,21% -3,98% 2,20% -3,56% 4,75% -75,68% -67,23% -5,14% -87,79% 12,10% -53,48% 392,32% 4,57%

154.200 69.800 68.800 50.200 38.600 45.000 49.400 29.800 25.500 28.600 29.500 25.000 25.500 19.890 20.596 14.230 18.400 13.300 8.000 2.000 3.690 4.400 3.200 4.700 3.100 1.500 1.100

18,71% -4,64% -5,49% 9,85% 16,44% 15,24% -9,37% 15,28% 8,65% -6,11% -3,69% 8,70% 7,50% 3,00% 34,88% 7,88% 7,60% -8,90% -3,03% -59,18% 3,94% -48,24% 32,78% 2,62% 5,80% 0,00% 6,80%

140.236 54.995 48.390 34.002 35.441 36.381 29.621 16.496 15.203 19.808 14.156 13.952 14.276 8.382 12.375 3.976 11.600 10.791 11.077 6.086 3.575 1.403 1.251 3.005 2.756 1.768 906

10,76% 8,14% -0,77% 4,63% -2,14% 27,57% -12,85% -9,11% -23,47% 34,75% -7,49% -6,64% 1,36% -26,97% 55,04% 1,65% 4,92% -1,57% 13,17% 3,44% 149,46% -61,35% -53,78% 113,11% 15,80% 7,69% 5,26%

172.000 74.600 65.500 51.700 44.300 47.700 46.800 32.390 27.275 30.270 30.062 26.102 25.400 20.250 21.500 18.532 17.500 14.804 10.000 5.500 3.800 4.060 3.280 3.340 3.165 2.060 1.040

11,54% 6,88% -4,80% 2,99% 14,77% 6,00% -5,26% 8,69% 6,96% 5,84% 1,91% 4,41% -0,39% 1,81% 4,39% 30,23% -4,89% 11,31% 25,00% 175,00% 2,98% -7,73% 2,50% -28,94% 2,10% 37,33% -5,45%

188.000 81.640 59.600 53.600 49.100 46.500 42.600 37.400 31.930 31.250 29.700 27.700 24.800 22.100 21.000 18.700 18.300 16.250 12.800 6.500 4.600 3.740 3.570 3.455 3.000 2.050 1.120

9,30% 9,44% -9,01% 3,68% 10,84% -2,52% -8,97% 15,47% 17,07% 3,24% -1,20% 6,12% -2,36% 9,14% -2,33% 0,91% 4,57% 9,77% 28,00% 18,18% 21,05% -7,88% 8,84% 3,44% -5,21% -0,49% 7,69%

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do Exija cedor e n for seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr Nat

O sabor que faz a diferença


Estatísticas ESTADOS X VOLUMES (T.) X ESPÉCIES | PEIXE BR 2021 ESTADO

TILÁPIA

NATIVOS

OUTROS*

TOTAL

1

PARANÁ

182.000

3.800

2.200

188.000

2

SÃO PAULO

76.140

4.800

700

81.640

3

RONDÔNIA

0

59.600

0

59.600

4

SANTA CATARINA

41.700

3.200

8.700

53.600

5

MINAS GERAIS

47.000

1.500

600

49.100

6

MARANHÃO

4.500

37.000

5.000

46.500

7

MATO GROSSO

5.200

37.000

400

42.600

8

MATO GROSSO DO SUL

34.450

2.800

150

37.400

de peixes de cultivo. Esse crescimento, porém, depende de uma série de fatores. Alguns sob a responsabilidade dos governos regionais e federal, outros de infraestrutura, visão mercadológica e adequações ambientais. Mesmo assim, a atividade mantém avanço médio de 5% nos últimos oito anos, segundo levantamento da PeixeBR. Se equacionarmos esses desafios, não tenho dúvidas de que a piscicultura brasileira experimentará um longo período de expansão”, conta Medeiros.

9

PERNAMBUCO

31.800

70

60

31.930

10

BAHIA

27.600

3.500

150

31.250

11

GOIÁS

20.200

9.200

300

29.700

12

RIO GRANDE DO SUL

8.200

1.500

18.000

27.700

13

PARÁ

500

24.200

100

24.800

14

PIAUÍ

9.600

8.500

4.000

22.100

15

AMAZONAS

0

21.000

0

21.000

16

ESPÍRITO SANTO

18.000

700

0

18.700

17

RORAIMA

0

18.300

0

18.300

18

TOCANTINS

250

16.000

0

16.250

19

ALAGOAS

9.500

2.700

600

12.800

20

CEARÁ

6.500

0

0

6.500

Recuo dos peixes nativos

21

SERGIPE

1.300

1.800

1.500

4.600

22

ACRE

40

3.700

0

3.740

23

RIO GRANDE DO NORTE

1.800

70

1.700

3.570

24

RIO DE JANEIRO

3.200

95

160

3.455

25

PARAÍBA

2.700

35

265

3.000

26

DISTRITO FEDERAL

1.800

250

0

2.050

27

AMAPÁ

70

1.050

0

1.120

TOTAL

534.050

262.370

44.585

841.005

Em 2021, foram produzidos 262.370 toneladas de peixes nativos no Brasil (31,2% do total), número esse que representa um recuo de 5,85% em relação a 2020. Para a PeixeBR, entre os fatores que interferiram no segmento está a questão ambiental, a falta de programas oficiais de apoio ao cultivo e dificuldades de mercado.

*Carpas, trutas e/ou pangasius, principalmente

GRUPOS DE ESPÉCIES 2022

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Carpas, trutas e panga 5,3%

Nativos (tambaqui, pintado, pirarucu e híbridos) 31,2%

Tilápia 63,5%


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Estatísticas

Top 5 - Produção de tilápia por Estados 200.000

No top 5 dos maiores produtores de tilápia no Brasil em 2021, o Paraná ficou na primeira posição com 182.000 toneladas. Na sequência aparecem São Paulo (76.140 toneladas), Minas Gerais (47.000 toneladas) e Santa Catarina (41.700 toneladas). Já o Mato Grosso do Sul (34.450 toneladas) apareceu em quinto lugar, fechando assim o ranking

150.000

100.000

50.000

0

Paraná

São Paulo

“Um ponto importante é a questão ambiental. Sem regularização, os produtores não podem obter crédito. É imperioso que os governos estaduais olhem com muita atenção para esse fator, essencial para o cultivo dos nativos reverter a tendência e voltar a crescer”, destaca Medeiros. Conforme o levantamento, a produção de peixes nativos está concentrada nas regiões Norte (143.850 toneladas), Nordeste (53.675 toneladas) e Centro-Oeste (49.250 toneladas). Somente o Ceará não registra presença de nativos.

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 • 66

Potencial do panga e o crescimento das outras espécies Já as “Outras Espécies” (carpas, trutas e panga) foram responsáveis por 5,3% da produção total de 2021, atingindo 44.585 toneladas, número esse 17% superior ao resultado do ano anterior. O período também comprovou o potencial do panga para o clima brasileiro: conforme o levantamento, a espécie permanece puxando essa categoria. Além do panga, favorecido pela liberação de cultivo em alguns Estados – especialmente na região

Minas Gerais

Santa Catarina

Mato Grosso do Sul

Nordeste – há importante produção de trutas e carpas, espécies mais presentes nas regiões Sul e Sudeste. “O panga realmente está caindo no gosto de piscicultores do Nordeste. Com a criação autorizada em mais Estados, a produção avança, porém ainda lentamente”, assinala Francisco Medeiros. Assim como ocorre com os peixes nativos, que carecem de legislação ambiental clara, ele comenta que também é preciso que os governos estaduais olhem com carinho para essa questão, “essencial para possibilitar o acesso dos produtores a um crédito oficial que seja disponível e mais barato”.

Tilápia se confirma no “gosto do povo” O Anuário 2022 da PeixeBR confirmou que a tilápia foi novamente a principal espécie de aquicultura produzida no País. Foram 534.050 toneladas do peixe, um salto de 9,8% em relação ao ano anterior (486.255 toneladas). No geral, a espécie representou 63,5% da produção de peixes de cultivo no ano passado.

O estudo da PeixeBR mostrou ainda que a espécie está presente em todas as regiões do País, com maior ou menor relevância. Na região Norte, por exemplo, onde a criação de peixes nativos é mais tradicional, a tilápia também apareceu, o que pode ser explicado, conforme a entidade, principalmente pela liberação de cultivo por alguns governos estaduais. No Norte, em 2021, foram contabilizados 860 toneladas, um salto de quase 40% sobre o ano anterior (620 toneladas). Seguindo a tradição, o Sul continua liderando a produção da espécie que representa 86% de todos os peixes de cultivo na região, sendo, no total, cerca de 43,4% da produção nacional. Na sequência aparece o Sudeste com quase 27% da produção total de tilápia (144.340 toneladas), com destaque para São Paulo e Minas Gerais - juntos, Sul e Sudeste detêm 70% do cultivo no País. Também avançando na produção da tilápia, o Centro-Oeste teve em torno de 11,5% (61.650 toneladas) e se aproxima do Nordeste (95.300 toneladas) no ano passado, correspondendo a 18% do total.


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SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

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67

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Na Cozinha

REFEIÇÃO

A ocasião faz a


Tendência do uso de novos cortes e produtos chega aos restaurantes alinhada à busca pelo aproveitamento integral de peixes e frutos do mar. Os usos inusitados do pescado são um bom negócio para a saúde do planeta e do bolso dos gestores de restaurantes?

Texto: Melissa Cirino

O ciclo natural da inovação

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A inovação e sustentabilidade são demandas cada vez mais requeridas pela sociedade. É com base nessa tendência que os chefs e restaurantes têm investido no uso de partes não convencionais e na criação de novos produtos derivados do pescado. Novidades, como chorizo de atum, e cortes, como lombo de pacu, surgem para trazer à tona a inovação no mercado, além de evidenciar a versatilidade que o pescado pode oferecer.

Pode não ser tão comum ainda, mas já é possível encontrar por aí produtos com cortes de peixe antes referidos apenas à carne bovina ou de porco. Bons exemplo disso são o filé do lombo e a costeleta de pacu servidos no Lélis Peixaria, em Cuiabá (MT).

SEAFOOD BRASIL • FEV/MAR 2022 •

Bruno Geraldi

N

o século XIX, a presença de tropas francesas em campanhas de guerra exigia que as mesmas tivessem à disposição alimentos que permanecessem em condições de consumo enquanto os conflitos perdurassem. Atendendo a uma demanda do governo, o cozinheiro Nicolas Appert elaborou a técnica que conservava a sardinha em uma lata. E foi desse jeito tão inusitado que nascia a famosa sardinha em lata, usada em larga escala nos dias de hoje.


Divulgação

Na Cozinha

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Costela e filé do lombo de pacu, peixe mais utilizado na Lélis Peixaria, em Mato Grosso

De acordo com Lélis Fonseca, proprietário da peixaria, essa inovação surge de maneira similar às novidades nos cortes bovinos: “Isso é a mesma tendência que se surgiu mundo afora com as carnes que começaram a tirar o T-bone, chorizo, prime rib, e por aí afora”, conta. Ele lembra que a tendência era mundial. “Antigamente, o boi tinha fraldinha, filé e costela. Hoje, ele tem 50 cortes, o que mostra que essa tendência [de criar cortes] veio para ficar. Afinal, tudo o que é diferente, que é bem-feito, agrega bastante”, opina o empresário. Essa nova maneira de lidar com o pescado tem como marco zero o chef espanhol Ángel León e o chef australiano

Josh Niland. Ambos são considerados exemplos de expoentes que colocaram em evidência esse tipo de trabalho por serem figuras importantes no cenário gastronômico mundial. Para o chef formado pela Le Cordon Bleu Pedro Roxo, essa forma de trabalhar com conservação e utilização completa do produto é antiga e uma tendência na gastronomia mundial. “Esse esforço já tem iniciativas no Brasil e no mundo há algum tempo”, informa. “Mas, atualmente, essa prática ganhou status nos restaurantes e virou tendência por conta do trabalho do Ángel León na Espanha, que faz diversas aplicações inusitadas do pescado há mais de 10 anos”, afirma Roxo.

León e Niland também são colocados como referência pelo chef Adriano De Laurentiis, sócio do Restaurante Cais. Adriano afirma que diversas técnicas de charcutaria, fermentação e preservação eram utilizadas na Roma antiga, mas que as mesmas têm ganhado mais notoriedade nos dias de hoje. “León e Josh Niland são exemplos de quem colocou em evidência esse tipo de trabalho. Depois disso houve um crescimento muito grande de locais especializados em pescados tentando colocar em prática essa filosofia”, comenta Laurentiis. Alguns peixes possuem uma maior versatilidade em seus cortes por serem maiores, como é o caso do atum.


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Na Cozinha

Usos inusitados Às vezes, a descrição de alguns pratos não sugere uma chance grande de êxito gastronômico. São os casos do bolo de cenoura com proteína de tilápia e o sorvete com tilápia. Ambos foram resultados de experiências acadêmicas que revelaram possuir potencial, principalmente no quesito nutricional. Nesses casos, a carne da tilápia foi utilizada para intensificar o valor nutricional dos produtos, mas não interfere no sabor. Conheça essas excêntricas combinações:

Foi fruto de uma pesquisa publicada no segundo volume do livro “Ciência e Tecnologia do Pescado: Uma Análise Pluralista”, em 2021. Pesquisadores levantaram a questão de que apesar de apresentar diversos benefícios que contribuem para uma alimentação saudável, o consumo de peixe ainda é inferior em relação a outras carnes. Com o objetivo de alcançar um resultado inovador e saudável, os cientistas utilizaram o filé de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), avaliando suas características físico-químicas e microbiológicas. Em conclusão, o trabalho concluiu que bolos enriquecidos com a proteína da tilápia podem ser uma alternativa de consumo de pescado, independente da faixa etária.

Sorvete à base de tilápia

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Foi desenvolvido no Paraná por uma pesquisadora da universidade estadual. Através da biotecnologia, a doutoranda Ana Maria da Silva, pensando em ajudar a filha que enfrentava um câncer gestacional e não conseguia se alimentar, conseguiu transformar a carne do peixe da forma sólida para a líquida, possibilitando sua inserção no sorvete com a intenção enriquecê-lo proteicamente. O produto aproveita a carne mecanicamente separada para produzir uma base de sorvete com hidrolisado.

O professor Marcelo Malta alega que essa espécie é uma das poucas que apresenta divisões de cortes como na carne bovina, por exemplo. Malta lembra de uma ocasião, quando chefiava um restaurante em São Paulo, na qual fez um corte de atum selado e mal passado, servindo-o com molho rôti - usualmente servido com cortes bovinos. Ele considerou uma experiência interessante, pois os clientes não identificaram o peixe. “Do atum, a gente consegue tirar diversos cortes que são muito relacionados com a

quantidade de gordura de cada um deles”, diz. Sendo assim, cada corte vai possuir aspectos visuais, texturas e sabores diferentes. “Por isso que o atum é uma exceção, justamente pelo fato de a gente conseguir trabalhá-lo de diversas formas.”

Novos produtos Além dos novos cortes disponíveis, os restaurantes têm se reinventado na maneira como o pescado pode ser apresentado enquanto produto. Nesse contexto, a linguiça de peixe é uma das apostas do restaurante OCYÁ,

Divulgação

O bolo de cenoura enriquecido com tilápia

O restaurante Ocyá aposta na venda da linguiça de peixe como um dos pratos que proporcionam diferenciação em seu cardápio

localizado na Ilha Primeira - Barra da Tijuca (RJ), que tem como uma de suas principais frentes novos produtos e cortes de pescado. “Estamos sempre em busca de novos cortes, novos formatos e novos preparos, buscando sempre desenvolver através de técnicas alguns produtos que diferenciam o OCYÁ de outras casas, como a linguiça de peixe, alguns cortes de peixes defumados e miúdos de peixe, que a maioria dos restaurantes não oferece”, afirma o chef Gerônimo Athuel, proprietário do OCYÁ. Contudo, Athuel reconhece que algumas ideias nem sempre dão certo. Ele lembra que em uma ocasião, a equipe fez um processo de maturação em um peixe que não deu certo. “O produto passou do ponto e, no momento


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Na Cozinha

- Infográfico

A TENDÊNCIA ESPALHADA PELO BRASIL

Mato Grosso do Sul

Rio de Janeiro São Paulo

Veja como os restaurantes avaliam o uso de novos cortes e novos produtos de peixes e frutos do mar em diferentes partes do Brasil

A inovação em águas cariocas O restaurante Ocyá busca conviver harmonicamente com a natureza através da conexão com o mar e a pesca de subsistência; fomentar a economia local através da pesca seletiva e de baixa escala; e reduzir os impactos ambientais causados pela indústria tradicional. Eles conseguem aproveitar a maior parte do pescado, fugindo do desperdício e estimulando a criatividade, pontos que geram um retorno e aceitação positivas por parte do público. Ova maturada, bochecha e cauda de peixe são apenas alguns dos pratos diferenciados que os clientes procuram no estabelecimento. O valor agregado ao produto o torna mais rico, pois oferece sabores variados: “Esse conceito oferece aos clientes uma experiência mais próxima do mundo do mar, oferecendo oportunidade acessível de experimentar produtos diferenciados que geralmente as pessoas não consomem em casa.”, explica o chef Gerônimo Athuel.

A inovação em águas pantaneiras O Mato Grosso é rico em pescado e em diversidade de fazer pescado. Pratos que são considerados inovadores em algumas partes do Brasil, podem ser comuns na região pantaneira. O empresário Lélis Fonseca comenta que a tendência de querer tirar cortes diferenciados do próprio peixe são comuns na região. Alimentos como o kibe de pintado, torresmo de pacu, linguiça de peixe com bacon, e cabeça de pacu, são alguns dos pratos servidos corriqueiramente na Lélis Peixaria. A costeleta de peixe, por exemplo, já é um prato conhecido da população: “A gente chama de ventrecha, que são a costela do tambaqui, do pacu, do tambacu, ou seja, dos ‘peixes redondos’ da nossa região”, comenta Fonseca.

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A inovação em águas paulistas O restaurante Cais acredita que o valor agregado a novos cortes e produtos no pescado podem ser elencados em três pontos principais: sustentabilidade, conceito e sabor. Para o chef Adriano Laurentiis, esses tópicos precisam estar alinhados, ou então se perde o sentido. “Os cortes são deliciosos. Pessoalmente, prefiro comer as nadadeiras e as bochechas, por exemplo, do que o tradicional filé. Se não fosse o caso, se não fosse gostoso, não serviria no restaurante. Isso alinhado a ideia de aproveitamento do pescado e ao discurso, se torna uma grande ferramenta de comunicação.”, complementa o chef. Laurentiis avalia que a experiência é positiva: “[...] no que se diz respeito à margem, isso nos ajuda a poder praticar uma política de preço mais justa, já que menos do animal é descartado, e nós pagamos o preço integral pelo peso dele.”


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Na Cozinha

Para o chef Adriano Laurentiis, a tendência do uso de novos cortes e produtos de pescado está se espalhando pelo País

da execução, a proteína estava desmanchando e não conseguimos atingir o resultado esperado. O mesmo aconteceu com a tentativa de cortes não convencionais como o colar e a costela de peixe.” Porém, ele afirma que como estão sempre promovendo testes de novos cortes, nem todas as tentativas dão certo e errar faz parte. “O importante é manter as tentativas e repetir quantas vezes forem necessárias para atingirmos o resultado que desejamos.”, reforça o chef.

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Já ouviu falar da charcutaria? Ela é uma técnica comumente relacionada ao uso da carne de porco, mas que aos poucos também ganha adeptos no pescado. É o que o restaurante Cais, localizado em São Paulo, comprova ao servir o chorizo de atum.

O restaurante também aposta em opções diferentes de defumados, como a alheira, embutido de origem portuguesa tipicamente elaborado com carne de aves ou porco e temperado com especiarias - no caso do Cais, ele é feito com peixe branco.

Bruno Geraldi

O chef Adriano Laurentiis comenta que o público é atraído pela possibilidade de experimentar pratos que não conseguiriam comer em outros lugares. “A venda das linguiças e peças de charcutaria é ótima e ajuda muito com relação às nossas margens também. Elas são feitas com as aparas e sobras dos filés, ou seja, com aquilo que seria descartado. Conseguimos transformar isso em um ótimo produto que atrai a curiosidade dos consumidores”, afirma o Laurentiis. A casa de peixes e frutos do mar se dedica em transformar produtos convencionais em pratos autênticos. Laurentiis e seu sócio, Guilherme Giraldi, trabalham com as partes menos conhecidas do peixe, como bochecha, papada e nadadeiras.

Além disso, usam as aparas para criar outros produtos, desde linguiças e recheios. “Começamos nosso trabalho de pesquisa em 2019 e, desde então, temos dedicado bastante de nosso tempo e disposição para entender como trabalhar o peixe de maneira sustentável, respeitando o produto e


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Na Cozinha

A alheira de peixe branco é uma das opções alternativas servida no restaurante Cais

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Bruno Geraldi

A professora enfatiza ainda que a utilização de partes do pescado consideradas menos nobres (como a bochecha, a bexiga, o fígado) é comum nos países europeus, e isso tem atraído a atenção dos chefs brasileiros. Ela também reforça que o aproveitamento de um peixe vai além da retirada do filé: “[...] deve-se considerar também as porções cárneas existentes no espinhaço e cabeça, que apresentam importante valor nutricional.”

criando novos subprodutos”, afirma o chef.

produto é uma opção de proteína mais saudável e econômica”, acrescenta.

A equipe do Ocyá estudou a utilização do mesmo produto de maneiras diferentes, visando explorar a criatividade, além de aplicar técnicas para alcançar novos resultados. “A partir do momento que desenvolvemos a ideia do restaurante, atrelado ao conceito da marca, já trouxemos esse novo olhar para peixes e frutos do mar buscando aproveitar o máximo possível de cada produto”, comenta o chef Gerônimo Athuel.

A preocupação com o planeta e o uso consciente de seus recursos estão cada vez mais difundidos no consciente social. A busca pelo consumo sustentável é um hábito que não pode mais ser ignorado. Neste contexto, a professora Camila de Moura, mestre em ciência e tecnologia dos alimentos, o aproveitamento do pescado por completo é uma tendência de mercado que visa o consumo sustentável através da obtenção de produtos eticamente corretos. “Assim, o lançamento de novos produtos no mercado parte da premissa que existem consumidores conscientes e exigentes e dispostos a investir na alimentação e consequentemente na qualidade de vida”, afirma Moura.

Athuel afirma ainda que existem vários fatores que potencializam como tendência essa nova maneira de consumir peixes e frutos do mar: “Um desses fatores é a certeza de que o

Vale a pena investir em novos cortes e produtos de pescado? Apresentar novas opções no cardápio é um aspecto que pode agregar valor, pois amplia o poder de escolha do cliente. É nisso que acredita o chef Alexandre Saber, proprietário do Sassá Suhi, restaurante japonês em São Paulo. “Sempre que temos disponibilidade e boas oportunidades trazemos novidades aos clientes. Em dezoito anos, o Sassá Sushi sempre investiu nessa tendência.”, afirma Saber. Para o chef Gerônimo Athuel, do restaurante Ocyá, investir em novos cortes e produtos de pescados é uma boa estratégia: “Vale muito a pena! Isso faz com que realmente a nossa cozinha tenha um diferencial em relação a outros restaurantes. Além disso, é uma ideia que traz até nós clientes que não viriam caso trabalhássemos de forma mais ‘tradicional’”. Entretanto, o aproveitamento integral do pescado pode ser um desafio. No restaurante Cais, o uso da bochecha do peixe, por exemplo, é


Chorizo de atum com purê de batatas e glacê de porco limitado, tendo apenas de duas a três porções por semana, enquanto o filé de pescado tem uma saída de 90 a 100 porções. Assim, o volume não é muito significante em números absolutos. Apesar disso, o chef Adriano Laurentiis afirma que a aceitação do público é favorável: “No começo foi mais difícil, mas hoje em dia é comum recebermos ligações antecipadas de clientes pedindo para reservar essas peças mais escassas, pois vem ao Cais buscando esse tipo de produto.”

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O empresário Lélis Fonseca, da Lélis Peixaria, possui pontos de vendas de seus produtos em redes

Bruno Geraldi

Por isso, ele reflete que vale a pena investir nessa tendência, o que justifica o esforço de toda a equipe para operacionalizar educar o público para hoje, colherem os frutos dessa aposta: “Não é um trabalho simples, e está longe de ser fácil, mas o resultado final é prazeroso e financeiramente interessante.”


Na Cozinha

O novo sempre vem Alguns dos novos cortes e pratos de pescados citados ao longo dessa reportagem que surgiram nos últimos anos: • Bochechas • Ova maturada • Cauda de peixe • Chorizo de atum • Lombo de pacu

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• Kibe de pintado • Torresmo de pacu • Linguiça de peixe com bacon • Cabeça de pacu • Costeleta de peixe • Nadadeiras

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de supermercado de Cuiabá, e faz questão de ressaltar também a importância da criatividade para que novos produtos sejam aceitos pelo público. “No nosso caso, a inovação de colocar uma nova roupagem na alimentação é bem aceita pelo público. E isso vai da criatividade, que no caso do brasileiro com a alimentação e cozinha, são quase infinitas. Então, eu acho que sempre é muito válido tratar de uma forma diferente.” Já a professora Camila de Moura reforça que o uso de partes não convencionais não é explorado pela indústria pesqueira atualmente. Para ela, a busca pelo uso total do pescado pode trazer benefícios que vão muito além do aspecto nutricional. “Vale ressaltar que a busca pelo aproveitamento integral do pescado não somente diminuiria a pressão sobre os estoques pesqueiros, que ano

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O chef Gerônimo Athuel com um corte de pescado defumado, uma das apostas do restaurante Ocyá

Linguiça de peixe com bacon servida na Lélis Peixaria, em Mato Grosso

após ano vem se mostrando mais escassos, como também a geração de resíduos, que na maioria das vezes são descartados inadequadamente como lixo comum em aterros sanitários ou ainda dispensados na natureza, impactando ambientes aquáticos e a saúde pública”, sinaliza Moura. O chef Athuel afirma que, além de se inspirar em outros chefs que adotam a tendência do uso integral

do pescado em formatos inovadores, esse é um movimento que tem impactado o mundo gastronômico. “Hoje em dia, há diversos restaurantes espalhados pelo mundo que trabalham com novos cortes de pescado, que dão valor para miúdos e órgãos de peixes, olhos, nadadeiras etc. Isso tem revolucionado a forma como se trabalha e se prepara peixes e frutos do mar e tem sido muito importante para o mundo da gastronomia.”


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Personagem

Da laranja ao camarão Tércio Farias fundou uma das maiores distribuidoras nacionais de camarão depois de ver os sucessos e adversidades do pai na citricultura Texto: Ricardo Torres

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ma laranja encurtou o sonho de Tércio Farias em se tornar um jogador de futebol. Durante um dos jogos, um colega atirou uma fruta no gramado e acidentalmente acertou Nivonete Farias, a mãe de Tércio. O pai, Raymundo Sanches, enfezou-se e levou toda a família embora, advertindo o garoto que ele nunca mais voltaria ali. Ironicamente, era a citricultura que botava comida na mesa da família Farias Gonçalves: o pai era um dos maiores distribuidores de laranjas e maracujás para sucos concentrados de todo o Nordeste.

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Aos poucos, os produtores passaram a enfrentar dificuldades para honrar as dívidas das compras antecipadas e passaram a dar as próprias propriedades como pagamento. Raymundo, que sempre havia atuado na área comercial, converteu-se em fazendeiro. Não deu certo. Infelizmente, depois de enfrentar uma severa crise hídrica, perdeu toda a produção. Então, motivado pela difícil situação do pai, Tércio se formou como engenheiro agrônomo, mas logo migrou das laranjas para o camarão. Em 2002, a Valença da Bahia Maricultura era a maior carcinicultura do País, com cerca de 1.000 toneladas mensais direcionadas à exportação. Entre as responsabilidades de Tércio estava o controle de qualidade dos produtos despescados para exportação, mas também o atendimento a restaurantes interessados no camarão. Com foco na exportação, a empresa não tinha volumes em tempo hábil para o mercado interno e o executivo percebeu que havia ali um nicho inexplorado. Tércio iniciou então um negócio de distribuição de camarão e outros itens de pescado, chegando a intermediar a compra de espécies da região Norte para uma grande rede de food service. Apesar de muitas dificuldades, o negócio cresceu e, em 2016, transformou-se na Villa Pescados. No entanto, as adversidades prosseguiram: “Passamos seis meses sem vender quase nada, era uma caixa por dia”.

A virada começou a acontecer com o início da parceria com a Potiporã, em 2018. “A qualidade deixou de ser uma preocupação e pudemos nos concentrar nos canais de distribuição e em construir nossa máquina de vendas.” Tudo caminhava bem até que, dois anos depois, outro tombo: “A pandemia fez com que todos os restaurantes dissessem, de uma hora para outra, que não pagariam mais.” Confiantes na recuperação econômica e zelosos dos funcionários e parceiros, Tércio e os sócios buscaram financiamento, honraram os compromissos e, com um plano estratégico já articulado para incluir canais como delivery, prosperaram em meio à crise. Com a reabertura dos restaurantes, em 2021, Tércio percebeu que todos estavam muito machucados, flertando com a falência, e se debruçou sobre as dores dos parceiros. “Foi um ano em que investimos muito, para ir para cima do que acreditamos: promover experiências transformando vidas.” A empresa foi selecionada para ser acelerada pelo programa Scale-Up, da Endeavor, que culminou na conversão da Villa Pescados em Villa Camarão e triplicou a base de clientes. Em paralelo, celebraram a conquista do selo Great Place to Work por dois anos consecutivos. Em abril, alguns dos maiores executivos C-level (CEO, CFO etc) se reuniram em um evento de conteúdo e experiências da Villa Camarão para falar de tudo, menos camarão. Aos 44 anos, o empresário acredita firmemente que um trabalho sério com o camarão em prol das margens dos restaurantes proporciona uma roda de prosperidade para fornecedores, clientes (internos e externos) e toda a sociedade. Com a expansão para 15 Estados, a empresa chegará a 90 colaboradores diretos. Tércio conta também outros 20 mil beneficiados por essa roda próspera em mais de 1.000 clientes da carteira. O futebol e as laranjas ficaram para trás, mas os sonhos continuam: “Queremos democratizar o consumo de camarão no Brasil.”


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